heuser (2011) caderno de notas 1 projetos notas e ressonâncias

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    Conselho Editorial

    Ada Kroef (FUNCAP/Fac.Vale do Jaguabibe-CE)

    Betina Schuler (UCS/EMEF Rinco/PM-POA).

    Dris Helena de Souza (SMED/POA)

    Eduardo Pellejero (UFRN)

    Glucia Maria Figueiredo (UNIOESTE)

    Karen Nodari (UFRGS/Colgio Aplicao)Luciano Bedin da Costa (UFRGS/SETREM)

    Ludmila de Lima Brando (UFMT)

    Maria Amlia Santoro Franco (Universidade Catlica de Santos)

    Nadja Maria Acioly-Regnier (Universit Claude Bernard Lyon1)

    Vnia Dutra de Azeredo (PUC/Campinas)

    Comit EditorialCarla Gonalves (UFPel)

    Ester Maria Dreher Heuser (UNIOESTE)

    Sandra Mara Corazza (UFRGS)

    Silas Borges Monteiro (UFMT)

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    Conselho Editorial da EdUFMT

    Presidente

    Marinaldo Divino Ribeiro

    Membros

    Ada Couto Dinucci Bezerra

    Eliana Beatriz Nunes Rondon

    Bismarck Duarte DinizFrederico Jos Andries Lopes

    Janaina Janurio da Silva

    Karlin Saori Ishii

    Marluce Aparecida Souza e Silva

    Taciana Mirna Sambrano

    Marly Augusta Lopes de Magalhes

    Ademar de Lima Carvalho

    Moacir Martins Figueiredo Junior

    Jorge do Santos

    Jos Seram Bertoloto

    Elisabeth Madureira Siqueira

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    Carla Gonalves Rodrigues

    Ester Maria Dreher Heuser (Org.)

    Marcos da Rocha Oliveira

    Mximo Lamela AdPatrcia Cardinale Dalarosa

    Sandra Mara Corazza

    Silas Borges Monteiro

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    Copyright Ester Maria Dreher Heuser (Org.), 2011

    A reproduo no-autorizada desta publicao, por qualquer meio, seja total ou parcial, constituir

    violao da Lei no 9.610/98

    A EdUFMT segue o acordo ortogrco da Lngua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.

    Superviso tcnica: Janana Janurio da Silva

    Reviso textual: Dinaura Batista

    Capa: Leonardo Garbin

    Diagramao e projeto grco: Fausto Alberto Olini

    Impresso: Grca Print

    Editora da Universidade Federal de Mato Grosso

    Av. Fernando Correa da Costa, 2.367. Boa Esperana

    CEP: 78060-900. Cuiab - MT

    Contato: [email protected] - [email protected]

    www.ufmt.br/edufmt

    Fone: (65) 3615-8322 / 3615-8325

    Apoio:

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    Sumrio

    Prefcio/9Mximo Lameda Ad

    Projeto / 13Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio vida

    Observatrio da Educao/CAPES/INEP / 15Patrcia Cardinale Dalarosa

    Notas / 31

    Glossrio das Notas / 33Notas para pensar as Ocinas de Transcriao (OsT) / 37

    Notas 0 Uma Teoria da Criao / 37Notas I Ocinar / 53Notas II Traduzir / 59

    Notas III Cartografar / 81Sandra Mara Corazza

    Ressonncias / 97Notas | Siglas | Sons / 99

    Silas Borges Monteiro

    Linhas para uma (micro)poltica de escrileituras: ler e escrever em

    meio vida e s polticas de Estado / 111Ester Maria Dreher Heuser

    O dito e o no-dito da formao de professores nesta

    contemporaneidade / 121Carla Gonalves Rodrigues

    Posfcio Plagiotropias/ 129Marcos da Rocha Oliveira

    Autores / 132

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    Prefcio

    Mximo Lamela Ad

    Pode-se dizer que a escrita de um incomparvel escritor, comoo foi Paul Valry (1871-1945), est mais que entremeada por rasuras,artifcios da forma, mas quer constituir-se na e pela rasura. Adota a rasuracomo um estatuto paradoxal para a prpria escrita, uma escrita na qualseus procedimentos, operaes, mecanismos, voltam-se composiode textos com ns a express-los para produzir o mximo de efeito aoleitor-ouvinte, leitor que se ouve e hesita a signicar o lido entre som esentido. Por isso a escrita valryana est composta por uma variedadetemtica diletante, e a que apoia sua consistncia, em uma espcie desimultaneidade na qual sensvel e inteligvel atuem em reciprocidade.Operando, evidentemente, por uma relao indissocivel entre teoria

    e prtica, leitura e escrita. Em domnios de interao mtua, no quala escrita e sua outra metade, a leitura, agem como rasura, acabam pordeterminar o apagamento do que foi feito-lido-escrito. O que ca uma mancha de sentido, uma tentativa de deliberar todo um orbe pormeio de qualidades prprias, negar-se ao armar-se, atuar por meio decortes e desvios, evases, reescritas, repeties, atualizaes, por m,incompletudes. Um movimento que no se interessa por uma histriada verdade, mas por uma histria que nada narra, seno, a sua potnciacomo contingncia de composio, um escrever como experimento do

    trabalho de algum que escreve para conhecer, e no escrever o quej conhece. E, mesmo assim, o conhecido de uma escrita se d poruma relao constante com o incognoscvel e imperceptvel de cadaescrito, d-se em um processo inacabado e sempre recomeando pelomeio. Pode-se dizer, ento, que com esse esprito que Valry escrevediariamente, durante mais de 50 anos, o que constitui os 29 volumesde seus Cahiers (no excluindo seus ensaios, conferncias, dilogos,poemas etc.) e com esprito anlogo que entrevejo constituir-se este

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    primeiro volume da Coleo Escrileituras, Cadernos de Notas 1:Projeto, Notas e Ressonncias.

    disso que se trata!O volume est composto por trs peas que se retroalimentam, a

    saber, Projeto,NotaseRessonncias. Essas peas so deliberadamenteanacrnicas e independentes, mesmo que recprocas retroativas erecursivas, ou seja, no podemos conceb-las por uma ordem decausalidade linear, aquela na qual uma causa produz diretamenteum efeito. No entanto, cabe-nos dar-lhe uma composio. O tom dovolume, para usar despreocupadamente uma metfora musical, reverberado a partir das Notas. As Notas, a sua vez, encontram certodinamismo espao-temporal no Projeto e estes (Notas e Projeto) so

    reintroduzidos e interferem no prprio processo do qual fazem parteem Ressonncias. Temos que o produto produtor daquele que oproduz, constituindo, de certo modo, uma atualizao encarnada doprojeto Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio vida ahabitar o campo da Educao. O projeto Escrileituras, coordenadopor Sandra Mara Corazza, traz uma jubilosa ideia de que a Educaose faz e se sente com todo o corpo. Ernesto Sbato, falando de arte,disse, certa vez, que a objeo de Nietzsche a Wagner era siolgica:no se faz ou se sente a arte com a cabea, mas com o corpo inteiro.

    Este Caderno parece afundar nessa premissa; faz do leitor partcipe, decorpo inteiro claro, de um dinamismo espao-temporal que o projetoEscrileituras a ocupar o campo da Educao e caracterizado, aqui,por uma das peas deste conjunto desenvolvida por Patrcia Dalarosa,intitulada Projeto. Por meio de dilogos incessantemente mutveis erelacionais, o texto Notas de Sandra Corazza tensiona as noes decriao, traduo, transcriao, ocina, escrita, leitura, escrileitura,procedimento, avaliao, diferenas, didtica, crtica, texto, cartograa,a uma Educaofuno. Eu funciono, diz a Educao. Procurandocontornar a fadiga pastosa de uma recada sobre opinies acabadas,clichs que se mostram como o m de possibilidades criadoras noplano de uma escrileitura em Educao, faz de si uma autovariao.A Educao, neste Caderno que atua como personagem, ou ainda,criatura do intelecto, procura aumentar seu grau de racionalidade, deconscincia de si, sem almejar verdades, mas, por meio de variedadesirredutveis, ou seja, diferena, fazer com que ocorrncias se contraiamem imaginao. O Caderno nos faz desconar de toda xidez, de

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    qualquer dolo ou condio de generalidade. O seu papel para como projeto Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio vidae, consequentemente, para o campo da Educao, o de combinarordens de grandezas ou qualidades incompatveis, acomodaes quese excluem; excitar a vitalidade imaginativa ampliando, a cada vez, suafunes; classicar as prprias resistncias, gradaes e complexidadesem disposies regulares colhidas em seu campo de irregularidades.Esta Educao procura, incessantemente, o processo dos efeitos quese tornam causas, ou seja, hbitos. Da, sempre a necessidade de fazer-se como autovariao, procurar desfazer em seus efeitos as constantesque se tornam hbitos. Um esgarar de si buscando, naquilo que jachou, os desvios que se bifurcam na superfcie da cultura, como um

    modo de transculturao ou transformao cultural. As Ressonncias,como retroativas e recursivas que so, atuam em trs partes, todasessas trs partes, inseparveis, porm interdependentes, mesmosendo autnomas, foram apresentadas pela voz de seus autores noSeminrio Especial Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio vida ocorrido na Faculdade de Educao da Universidade Federaldo Rio Grande do Sul no dia 09 de maio de 2011- autores estes queso, tambm, coordenadores de ncleos que compem o projetoEscrileituras. Talvez tenha sido Silas Monteiro, em seu texto Notas

    | Siglas | Sons, mais que qualquer outro, o responsvel pela atenos siglas corazzianas como experincia fnica ao modo derridiano dadiffrance. Ateno esta que se fez reverberar em seu prprio nome:Si(g)las, grassando-o pelo meio, destraando, pela poltica derridianado nome prprio, a origem desse autor que fala, j que, como se sabe,a poltica do nome prprio em Derrida trata do uso do ouvido, e seunome confundir-se-ia, assim, com o prprio tema proferido. Pareceter sido Ester Heuser quem, com seu texto Linhas para uma (micro)poltica de escrileituras:ler e escrever em meio vida e s polticas deEstado, soube, mais que apontar, fazer soar um modo de procedimentode uma poltica de foras para uma poltica de ocinar frente perguntao que acontecer?, precedente e procedente de uma Poltica de Estadoque perpassa toda uma constituio do projeto Escrileituras, no semsuas prudncias e multiplicidades. E, qui, tenha sido Carla GonalvesRodrigues que, com seu texto O dito e o no-dito da formao deprofessores nesta contemporaneidade tenha nos dado a ouvir naquelaocasio e a ler nesta, certa necessidade de enlaar a formao docente

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    a uma incomensurabilidade entre o respirar e o atuar na formao deprofessores.

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    Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio vidaObservatrio da Educao/CAPES/INEP

    Patrcia Cardinale Dalarosa

    Disparador de cenrios que pensam a Educao come navida,

    o Projeto Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio vidaencontra potncia no ato de criao textual. Uma proposta vazada noplano de imanncia do pensamento (deste mundo) e pretensiosamentealargada na possibilidade da inveno de outros fazeres. Nesse sentido,torna-se corpo e produz matria de pesquisa na prtica operatria desuas ocinas: ocinas de escrileituras, lcus de produo.

    A abrangncia conceitual e territorial deste Projeto implica,entre outros, o estabelecimento de aes partilhadas e desenvolvidaspor dentro e no entorno do conceito de escrileitura, tal como

    armado no prprio ttulo. O trabalho, destarte, inscrito por umavia de experimentaes de leitura-escritas, compreendidas comopossibilidade de efetuaes do pensamento. A partir das indicaes deCorazza,1tomamos a escrileitura como texto que reivindica uma posturamultivalente do leitor, estabelecida na co-autoria entre quem l e quemescreve simultaneamente, em lugarizaes diversas. Assim, a ideiada escrita como um processo de escrileitura,remetido auma escrita-pela-leitura ou uma leitura-pela-escrita, prope um texto aberto sinterferncias do leitor e, portanto, escrevvel ou traduzvel de variadasformas. Trata-se do texto produtivo, do texto que ganha existncia namedida em que o seu leitor um produtor-tradutor de signicaes, desensaes, de sentidos, de conceitos, de vidas.

    Na arquitetura do Projeto, uma superfcie constituda deondulaes, retas, tempos, ngulos, aberturas e desnveis: componentes

    1 2007.

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    da organizao metodolgica pensada atravs de ocinas. Estas, aocontrrio da incorporao de um ofcio, querem a criao de outrosmodos de pensar o vivido no campo das singularidades, querem aexperimentao de outras formas de expresso, de afeces e de modosde enfrentar e ordenar o que no est materializado no campo daaprendizagem. Cada uma das ocinas compreende um convite escritae leitura: escrileitura desdobrada em saberes, histrias, aventuras,problematizaes, musicalidade, arte, fantasias e fruies. O texto,portanto, se exerce como um ato de seduo do pensamento, que seduzo outro porque o deseja. Em Barthes,2temos que o brio do texto (semo qual, em suma, no h texto) seria a suavontade de fruio: l ondeele excede a procura, ultrapassa a tagarelice e atravs do qual tenta

    transbordar, forar o embargo dos adjetivos que so essas portas dalinguagem por onde o ideolgico e o imaginrio penetram em grandesondas. Um modo de texto em que o autor seja entornado na prpriainterseco escrita-leitura-texto, cujo processo de decomposio e dedesocupao dos territrios identitrios permita uma possibilidade deabertura ao inusitado, raridade e ao desejo de escrever.

    Trata-se do trabalho com diferentes linguagens, provocador deoutros modos de relao com a escrita, com a leitura e com a vida.A modalidade de ao proposta por meio de ocinas, dessa forma,

    compreende a experimentao como condio da aprendizagem, umavez que possa convocar ao exerccio do pensamento. Os processosdisparadores da criao textual colocam um problema em cena: a ser lido,falado, enunciado, perguntado, transformado e escrito em suas variadasformas. Como encontramos em Nietzsche,3a vida disparadora, comoobra de arte: quando o desordenamento necessrio criao, bemcomo a afeco, a transgresso e a abertura, ao encontro inesperadocom outro corpo, seja ele um texto, uma imagem, uma pergunta, umpensamento, um humano... Trata-se de pr, em experimentao, o queno se conhece, atravs de uma espcie de infncia do mundo. E, naextenso de sua estrangeiridade, fazer falar e escrever outra lngua naliberao de foras mais criativas.

    O conceito de escrileitura, portanto, insere o Projeto na dimensoimaginativa de toda a escritura ou texto de fruio. Ou seja, faz nascerem

    22008, p.20.32005.

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    novos modos de produo e de inscrio de sentidos, de histrias, devidas, de coisas no mundo, entre outros; que acontecem atravs e entreos espaamentos no pensados, no imenso campo de possibilidadesque h entre os objetos brutos, para dizer da importncia do outrem nacriao. A escrileitura, como exerccio imaginativo, est na abertura.Ela produz intensidades que se distribuem para alm do deslocamentofsico. Como em Deleuze,4podemos experimentar todo o tipo de vidasem, necessariamente, qualquer movimentao fsica:

    As intensidades se distribuem no espao ou emoutros sistemas que no precisam ser espaosexternos (...) quando leio um livro que achobonito ou quando ouo uma msica que acho

    bonita, tenho a sensao de passar por emoesque nenhuma viagem me permitiu conhecer.

    Assim, as escrileituras existem como rizomas abertos a conexesimprovveis, fazendo vazar sentidos e imagens outras: tessituras,velocidades, conexes, intensidades, singularizao. Esquizolinhas...No existem pontos ou posies num rizoma como se encontra numaestrutura, numa rvore, numa raiz. Existem somente linhas.5Portanto,h tipos de linhas muito diferentes na arte, mas tambm numa

    sociedade, numa pessoa.6

    Interessam, aqui, as noes de encontro, deacontecimento e de interceptao do mesmo, para pensar e produzirnovas escritas e aprendizagens. A experimentao entendida comoalgo que fora o pensamento a pensar, com potncia suciente para oesfacelamento daquilo que impede outros modos de relaes, outrasformas de expresso, outras aprendizagens e conexes. Trata-se de ummodo de produo que quer saltar do stio sombreado de velhas rvoresconhecidas do den em direo massa disforme da imaginao,por onde brotam desertos, saqueadores, combates, festas dionisacas

    e intensidades que no se submetem fora da recognio, mas queinauguram novas formas de ler-escrever.

    Na aventura da criao e da reverberao de sentidos, conceitose afectos, a escrileitura produz contgios que convidam inveno

    42001.5DELEUZE; GUATTARI, 1995, p.17.6DELEUZE; GUATTARI, 1992, p.47.

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    de outra lngua, pela qual no h suporte ao re-sentimento. Ocupa-sede conexes estrangeiras palavra generalista e inaugura uma lnguaescapista, inventora de outros conectores.

    Trata-se da disperso lingustica produzida nos espaosintermedirios da comunicao. Espaos, estes, situados entre o dito(nomeado) e o no dito. Brechas por onde a lngua se distrai dos modelosrepresentacionais e fora a palavra a fazer outros nexos, a dizer o queela no poderia dizer. Quando faz passar o pensamento e abre-se para arepetio da singularidade. Dessa forma, o escrileitor pode experimentar-se como corpo-aberto ao movimento da criao de conceitos, como seestes fossem a prpria encosta do guardador de textos. Os conceitos,diz Deleuze,7so totalidades fragmentrias que no se ajustam umas

    s outras, j que suas bordas no coincidem. Eles nascem de um lancede dados, no compem um quebra-cabea. E, todavia, eles ressoam....Para fazer ressoar um conceito, o escritor passa pela terra desrtica, pr-conceitual e anterior escrita: lugar de reverberao da histria. Nesteplano, um conceito pode retumbar e somar-se a outro(s), produzindoum terceiro, quarto, quinto.... novo conceito, inaugurando a diferenaa cada repetio, conexo e deslocamento conceitual. A criao, assimlogo , uma necessidade de efetuao, produzida no estancamento douxo j conhecido e contnuo: quando algo de fora da linguagem fora

    o descontnuo de uma existncia em sua diferenciao.Em Diferena e repetio, Deleuze8 prope a reverso do

    conceito de repetio. O lsofo parte do suposto de que a repetiono a generalidade, opondo-a exatamente quilo que compreendemosenquanto reproduo do Mesmo. Isso faz nexo com a tica pela qual possvel tratar a dinmica da repetio lingustica sem lig-la sideias de equivalncia ou semelhana. Nesse sentido, o escrileitor podeproduzir seu texto no arranjo de conceitos, criando novas linguagensnum processo de repetio como comportamento, mas em relao aalgo nico ou singular, algo que no tenha semelhante ou equivalente.

    Ao tomar a leitura e a escrita no sentido da novidade, o Projetoopera estes conceitos como processos de pensamento. Sendo assim,cada exerccio de pensamento refere uma temporalidade prpria ao

    71997, p.51.81988.

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    perodo de sua aventura: com paradas provisrias, velocidades quepassam da acelerao innita s lentides necessrias, esgotamentos,vos alucinados, desatinos, excessos, escassezes de ideias, combates,multides, inspirao, musicalidade, solido e fome. Remete auma escrileitura que transita em outros tempos que no apenaseste, cronolgico, e que abre passagem para existir ao seu modo, deoutras maneiras possveis para inscrever sentidos, signos e sensaes(conservadas em textos imagticos ou no).

    Escrileituras: um modo de ler-escrever em meio vidacompreende um projeto de pesquisa que pensa o prprio caminho desua investigao, que se utiliza de percursos desconhecidos para traardesvios e operar rupturas no j sabido, reconhecido e legtimo.

    Sua metodologia adquire e produz tonalidades contemporneasna aproximao com Nietzsche, Foucault e Deleuze. Alm deproblematizar e desconstruir as noes de letramento vinculadas losoa humanista, principalmente quando implicadas por conceitosde sujeito, de realidade e de verdade, remete experimentao da terradesconhecida (a ser pesquisada), sem a rmeza do solo platnico-cristo das representaes. Foucault, em seu devir estrangeiro, arrasta-nos estrangeiridade da pesquisa e ao estranhamento de todo o tipo deconvico quando topamos o convite do arquelogo em seu trabalho-

    viagem exploratrio. Assim, o Projeto lana mo da ideia genealgicada disperso, ou seja, de um mtodo cuja preocupao maior est

    justamente no jogo do discurso, no jogo que lhe imanente, no qualseus enunciados aparecem de modo disperso e heterogneo, em umestado tal de revezamento que permite trocas de posies, supresses,substituies e aparies descontnuas, em estado danante, moleculare caide, ao qual se pode imprimir, a qualquer tempo e interesse, umdeterminado ordenamento poltico. Cabe ao mtodo genealgico, ento,pesquisar este solo de estabelecimentos conceituais supostamenteverdadeiros e universais. Ele colocar os conceitos em perspectivagenealgica, investigar as variaes espao-temporais e mudar asperguntas generalizadoras que buscam o que aprender?; o que ensinar?; o que ler?; o que escrever?; o que pensar?,por exemplo, por outras que possam perguntar: quais as condiespossveis para o pensamento?; em que condies acontecem a leiturae a escrita?; como e quando surgem leitores-escritores?.

    Tal pesquisa, portanto, coloca em evidncia o drama do

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    saber investigado, posto que esteja atenta as suas irregularidadese variabilidades, problematizando a sua dimenso hegemnico-representacional. , pois, movimento descontnuo que permite explorarem solo desconhecido e encontrar raridades ou individuaes norecobertas pela imagem do pensamento representacional. Assim logo,faz aproximaes entre o pensamento de Foucault e o pensamentodeleuziano. Permite que pensemos a pesquisa como aventura, da qualno se pode desembarcar com o mesmo corpo.

    Por meio de ocinas, a pesquisa prope-se a enfrentar o perigosoplano de imanncia, sobre o qual os corpos encontraro velocidadese variaes innitas. Por onde o pensamento reivindica somente omovimento que pode ser levado ao innito.9Em Deleuze, um conceito

    um estado caide. Algo desta armao compe a imagem de ummergulho no caos, fora da linguagem representacional. Deste mergulho,breve, opera-se um retorno de pensamento: do caos tornado consistente.Uma espcie de salto radical sobre a loucura, na inverso das palavras,no reverso dos sentidos, no abandono de convices, no devir criana...Enm, o prprio acontecimento. O acontecimento, diz Deleuze,10no o que acontece (acidente), ele no que acontece o puro expresso que nosd sinal e nos espera, uma vez que o ator efetua o acontecimento...porque lhe necessrio e no h como no faz-lo.

    Se as caides, as trs lhas do caos, a losoa, a cincia e aarte, so formas de pensamento, como armam Deleuze e Guattari,11so, igualmente, realidades produzidas em planos que recortam ocaos. Planos, estes, que s podem coexistir na dimenso de um estadode sobrevo, uma forma em si de juno a qual Deleuze e Guattarinomearam por crebro. Em se tratando de um Projeto ocupado daaprendizagem enquanto processo de pensamento e, portanto, produtorade leituras e de escritas desejantes, produz um movimento de retornodo estado catico: traa um programa e cartografa o ambiente dapesquisa durante o prprio percurso. Cartogracamente, situa pontosque se sobrepem, recorrncias, detalhes de raridades e intensidades.Trata-se de um mtodo que s possvel no tempo lgico de sua

    9DELEUZE; GUATTARI, 1997, p.53.102000, p.152.111997.

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    produo. Estabelecido nas fronteiras do territrio pesquisado, possuibordas que demarcam extenses de foras, cujas contraes podem, aqualquer tempo, ora repulsar e ora aspirar outros objetos de anlise.Arqueologicamente, as ocinas de escrileituras constituem umametodologia encenada, que deseja colocar o pensamento em cena,desde um modo possvel de pesquisar, desalojado de um contnuo deprocedimentos pr-denidos, mas que compem uma prtica a serinventada, documentada, analisada e produtora de sentidos, afeces,conceitos, relaes e aprendizagens.

    A metodologia de trabalho do Projeto Escrileituras: um modode ler-escrever em meio vida compreende um modo de intervenoinvestigativa nas formas de aprender e, como tal, prev a modalidade de

    ocinas como possibilidade da pesquisa ser realizada por seus prpriosparticipantes. Para tanto, refere um plano de trabalho organizado emtempos, espaos e propostas especcas a cada encontro e tipologia deocina.

    As seis modalidades de ocinas so, inicialmente, propostascomo seis linhas de intensidades a serem multiplicadas numa cartograaintensiva. Como possibilidades territoriais de novas singularizaes,esto articuladas aos trs planos do pensamento apresentados porDeleuze e Guattari: a losoa, a arte e a cincia.12Estes constituem o

    terreno das ocinas propriamente ditas: losoa, teatro, lgica, msica,biografema e artes visuais. Na dimenso aberta de seu texto, o Projetosugere que outras formas de experimentaes possam produzir-se juntoa estas:

    Ocina de artes visuais

    Ocinar em meio s artes visuais: propor a experimentao deobjetos percebidos, porm no estraticados e ainda desconhecidos ao

    intelecto. Trata-se de ver, com os olhos, atravs das sensaes. Comoem Valry,13operar certa disjuno entre o intelecto e a sensao, a mde fazer contato com a imagem em seu estado anterior interpretao,numa espcie de apreenso do fenmeno ainda no codicado no plano

    12Idem.13 2003.

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    dos valores, mas passvel de constituir-se como ponto de partida para asua escritura. Uma escrita que se efetua na expresso do desconhecido,demoradamente tocado pelos olhos (e mos) que, por necessidade,colocaro a viso sobre um suporte. Trata-se do dilogo entre o euque v e o eu que escreve em processo de criao, ou seja, inventa-semesmo aquilo que seja mais familiar na medida em que o modo de ver inventado atravs de sua expresso.

    Deleuze,14em Proust e os signos,convida-nos a pensar a respeitodaquilo que a aprendizagem da literatura e da arte tem a ensinar acercada aprendizagem. Nessa questo, temos que a arte no um alvo, umponto xo a ser atingido, mas um atrator catico, um ponto tendencial,sem possibilitar falar em regimes estveis ou em resultados previsveis.

    Colocar a aprendizagem do ponto de vista da arte coloc-la do pontode vista da inveno. A arte surge como um modo de colocao doproblema do aprender. Toda aprendizagem comea com a inveno deproblemas.

    Neste plano disforme do encontro, temos o nascedouro de umaescritura que faz arte, cujo percurso pode liberar o pensamento daquiloque ele pensa silenciosamente, e permitir-lhe pensar diferentemente.15Assim, tambm, o escritor-artista se arriscar no encontro daquilo queo pensamento ainda no havia pensado ou artistado.

    Ocina de biografemas

    Biografematizar em meio aos corpos que se produzemartistadamente por escritas vvidas. Uma ocina de escriturabiografemtica, implicada por movimentos disparadores do pensamento,o que signica escrever os detalhes de uma vida, as raridades que passamdespercebidas ou que ainda no foram signicadas e partilhadas noplano cognitivo. Transformar detalhes insignicantes (sem signicao

    prvia) em signos de escrita. Utilizar estes signos (aqueles que podemencantar) como disparadores de um novo texto, ou seja, da escrita deuma vida em experimentao e que, portanto, produzida na potnciada inveno de sentidos. Trata-se da inveno de conectores entre

    14 1987.15FOUCAULT, 2007, p.14.

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    co e realidade, entre imaginrio e histria biogrca. Assim, aescritura ccional no menos verdadeira do que aquela que se acreditano terreno da verdade: cada trao, um detalhe, e cada detalhe, umanova escritura. Trata-se, portanto, do acontecimento (escrita) de umabiograa, na qual os traos so inventariados.

    Esta ocina, como as outras, convoca seus integrantes posturada produo: produzir como autor do texto lido, ao ponto de tornar aescrita uma necessidade de reinveno do eu que escreve.

    Ocina de losoa

    Espao de ocinagem do pensamento. Uma ocina de losoa

    convida a pensar o prprio pensamento losocamente. Seu desterritrio habitado por estranhamentos que submetem a razo ao estrangeiro.Trata-se de uma espacialidade capaz de produzir outros modos de falare de escrever o inefvel, seja atravs da dana (jogo e movimento), damsica, do cinema ou do teatro.

    Uma proposta de escrita ocinada por dentro do prprio texto, noqual o dentro comunica-se com o fora da escrita e, na mesma superfcie,passa a conversar com o seu escritor-leitor simultaneamente. Texto deobjetos que se produzem e ganham vida no exerccio da linguagem, e

    que passam a dialogar e a produzir encontros de autorias inesperadas. Oescrileitor tambm considerado texto, pretexto, personagem e escritorque experimenta a superfcie movedia do vivido. Ele compe autoriacom o que encontra ou com quem quer que seja que o encontre.

    Uma ocina provocadora de sentidos e produtora de conceitos naexperimentao de sensaes, afectos, desejos e outras maneiras de sere de escrever o indizvel... O texto, portanto, nico, mltiplo e innito,porque ele se fabrica durante o processo da ocina e toma a direoque lhe surgir com mais energia, durante a ocorrncia de vetores que

    desaam a gravidade das foras. Descontinuamente, novas conexes deconceitos provocam o pensamento e permitem uma existncia possvelno campo da linguagem. Cossutta16 faz referncia ao intermedirioentre a imagem e a forma, entre o vivido e o abstrato em sua abordagemacerca do conceito. Quanto semntica conceitual, Cossutta sugere

    162001, p.40.

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    que o conceito construdo no seio da prpria atividade losca eque o texto rearticula conjuntos nocionais, desloca sentidos xados ecria expresses novas....17Nessa perspectiva, a escrita constitui-se eorganiza-se internamente atravs dos conceitos que consegue anexar ouinventar atravs de composies. experimentao de vida na medidaem que fabrica aberturas escrita, compartilhada no encontro, atravsdo qual, leitores e escritores possam trocar de posies e participar umda escrita do outro: quando ler e escrever confundem-se na prpriacoexistncia.

    Ocinar o pensamento, atravs de relaes textuais, signica ummovimento de armao da losoa como ato de criao. Ela est nacriao de conceitos possveis, como escrevem Deleuze e Guattari:18a

    losoa a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos.

    Ocina de lgica e pensamento matemtico

    Ocinar em meio a referentes que cortam e recortam ocaos. A cincia tratada como um plano de pensamento e, portanto,uma modalidade do aprender que demanda a ordenao lgica doconhecimento. Envolve a inveno e o estabelecimento de relaes entreespaos, formas, grandezas, medidas, nmeros, operaes, funes,

    bem como os modos de criao e de tratamento das informaesorganizadas.

    O plano de pensamento da cincia, tratado por Deleuze eGuattari,19situa um plano de referncia ao qual importa a atualizaodo virtual, o estabelecimento de limites atravs de funes e, portanto,um modo de renncia s variaes innitas do caos.

    Nesse sentido, a potncia do pensamento lgico-matemticoimplica a traduo e a ordenao de objetos, de variveis e de funesprocedentes de problemas. Assim, tambm implica o estabelecimento de

    territrios inventivos e efetuados por necessidade de criao. Trata-se deum plano capaz de produzir cortes no innito atravs de desaceleraesque denem, por sua potncia, objetos passveis de nitude.

    17I bidem, p.42.181997, p.10.19Idem.

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    Ocina de msica e corpo

    Musicalizao como possibilidade de inveno, de sensibilizaoe de problematizao. Esta ocina trata a msica como um modo de

    expresso da linguagem que ela prpria fabrica. Sua potncia consistena abertura a outros modos de sentir e de pensar o vivido. Implica acriao de conectores possveis entre os diferentes modos de expressesmusicais atravs de audies, de performances e de composies quepossam colocar a msica em estado de arranjo textual.

    Para o escrileitor, escrever dar passagem vibrao dossentidos e daquilo que pensado, atravs, mesmo, do modo de olhare de experimentar o mundo. Assim, ele sugere terolhos na ponta dosdedos para tocar a vida com vida. Ter olhos at na ponta da lngua parasentir o gosto de tudo pela primeira vez, como se enchesse de estrelas ocu da prpria boca. Ou seja, trata-se de pensar com o corpo, de dentrodo mundo, longe de qualquer neutralidade, assepsia ou distanciamentocientco; signica sentir a vibrao doe como corpo, tocar e colocar-se num estranhamento sonoro, como que uma viagem infncia quehabita todo o tipo de novidade e, portanto, necessria ao esprito.

    Importa o que se processa no encontro dos corpos: tmpano,pandeiro, mos, papel, cordas vocais, etc. Para alm dos signicados

    do corpo e do pensamento em si mesmos. O que h nos corpos, dizDeleuze,20so misturas: um corpo penetra outro e coexiste com ele emtodas as suas partes, como a gota de vinho no mar ou o fogo no ferro.Um corpo se retira de outro, como o lquido de um vaso.

    Em Nietzsche,21o conceito de corpo aparece voltado arte emseu carter mais subversivo, de modo a impor-se diante do pensamentoracionalista:

    O corpo uma grande razo, uma multiplicidadecom um s sentido, uma guerra e uma paz, umrebanho e um pastor (...) H mais razo no teucorpo do que na tua melhor sabedoria (...) O serprprio criador criou para si o apreo e o desprezo,criou para si o prazer e a dor. O corpo criadorcriou o esprito como mo da sua vontade.

    202000, p.6.212006, p.60.

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    Trata-se, na perspectiva nietzscheniana, de uma corporeidadearmativa, com potncia criadora. Tratar a relao corprea da msicacomo, tambm, sugere-nos o postulado de Spinoza ao referir-se aocorpo humano:22

    O corpo humano pode ser afetado de muitasmaneiras, pelas quais sua potncia de agir aumentada ou diminuda, enquanto outras tantasno tornam sua potncia de agir nem maior nemmenor.

    Ocina de teatro

    No o teatro da representao, mas o teatro realizado no planode imanncia do pensamento, teatro da encenao, que pe em cenao processo de singularizao. Uma ocina de escrileitura teatralconstitui-se como espao de apresentao e de inveno de conceitosainda no pensados ou atuados, os quais, por sua vez, animam e soanimados na traduo de outras formas de expresso: para alm dostextos automticos, asspticos, interpretados e submetidos a exercciosrepresentacionais.

    Experimentao cnica do pensamento: modo de expressoelaborado fora da representao de um eu xo; signica por emmovimento o que produzido entre os corpos ao inventar e desfazerpersonagens. Um modo de expresso textual com mscaras, ecos edisfarces da realidade, que encena a repetio de gestos corpreos dadiferena e, portanto, encena a singularizao possvel de ser vivida eescrita.

    A ocina de teatro permite embaralhar e mudar cdigos delugares, pela intensidade e pela vida armada na potncia do que

    inventado.Dessa form, remete infncia como um lugar de escrileituras.No Abecedrio,23 situando-nos na letra E de Enfance [Infncia],podemos encontrar uma aproximao entre o ato de escrever e a ideiade encenao da infncia:

    222007, p.163.232001.

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    A literatura e o ato de escrever tm a ver coma vida. A vida algo mais do que pessoal. (...)Mas tambm no se escreve pelo simples ato deescrever. Acho que se escreve porque algo da vida

    passa em ns. Qualquer coisa. Escreve-se paraa vida. isso. Ns nos tornamos alguma coisa.Escrever devir (...) escrever mostrar a vida... gaguejar na lngua... Na Literatura, de tanto forara linguagem at o limite, h um devir animal daprpria linguagem e do escritor e tambm h umdevir criana, mas que no a infncia dele. Elese torna criana, mas no a infncia dele, nem demais ningum. a infncia do mundo...

    Caractersticas do eixo comum s ofcinas:transdisciplinaridade;imerso na estrangeiridade dos textos ocinados; aportagem deproblematizaes acerca do vivido; produo de pesquisas; exercciode escrileitura; espao de correlaes entre leitura, inveno,sensaes, afectos e pensamento; vivncia de diferentes processos desingularizao.

    Participantes das ofcinas: estudantes de licenciaturas, no eixoEducao Superior; docentes da Educao Bsica de Ensino, no eixoprossional; alunos da rede pblica de ensino, nos eixos da EducaoBsica e da Educao de Jovens e Adultos.

    Ncleos componentes da Rede de estudo e pesquisa do Projeto:Universidade Federal do Rio Grande do Sul coordenao geral e doncleo UFRGS: Prof Dr Sandra Mara Corazza; Universidade Federaldo Mato Grosso coordenao do ncleo UFMT: Prof. Dr. Silas BorgesMonteiro; Universidade Federal de Pelotas coordenao do ncleoUFPel: Prof Dr Carla Gonalves Rodrigues; Universidade do Oestedo Paran coordenao do ncleo UNIOESTE: Prof Dr Ester Maria

    Dreher Heuser.

    Referncias

    BARTHES, Roland.Ensaios sobre teatro. (Trad. de Mrio Laranjeira).

    So Paulo: Martins Fontes, 2007.

    ____. O prazer do texto. (Trad. J. Guinsburg). So Paulo: Editora

    Perspectiva, 2008.

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    CORAZZA, Sandra Mara. Artistagens: losoa da diferena e

    educao. Belo Horizonte: Autntica, 2006. 84

    _____. (Org.). Fantasias de escritura: losoa, educao, literatura.

    Porto Alegre: Sulina, 2010._____. Os cantos de Fouror: escrileitura em losoa-educao. Porto

    Alegre: UFRGS; Sulina, 2007.

    COSSUTTA, Frdric.Elementos para a leitura dos textos loscos.

    (Trad. Angela de Noronha Begnami). So Paulo: Martins Fontes,

    2001

    DELEUZE, Gilles. Conversaes. (Trad. Peter Pl Pelbart). Rio de

    Janeiro, Editora 34, 1992._____.Diferena e repetio. (Trad. Luiz Orlandi e Roberto Machado).

    Rio de Janeiro: Graal, 1988.

    _____. L ABCDAIRE de Gilles Deleuze. Entrevista com Gilles

    Deleuze. Editorao: Brasil, Ministrio de Educao, TV

    Escola, 2001. Paris: ditions Montparnasse, 1997. 1

    videocassete, VHS, cor.

    _____. Lgica do sentido. (Trad. Luiz Roberto Salinas Fortes). SoPaulo: Editora Perspectiva, 2000

    _____. Proust e os signos. (Trad. Antonio Carlos Piquet e Roberto

    Machado). Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1987.

    _____; GUATTARI, Flix.Mil plats: capitalismo e esquizofrenia, vol.

    1 (Trad. Aurlio Guerra Neto e Clia Pinto Costa). So Paulo:

    Editora 34, 1995.

    _____. O que a losoa? (Trad. Bento Prado Jr. e Alberto AlonsoMuoz). Rio de Janeiro: Editora 34, 1997b. 2 Edio.

    FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. (Trad. Salma Tannus

    Muchail). So Paulo: Martins Fontes, 1999.

    _____. Histria da sexualidade 2: o uso dos prazeres. (Trad. Maria

    Thereza da Costa Albuquerque e Jos Augusto Guilhon

    Albuquerque). Rio de Janeiro: 2007.

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    ____.Microfsica do poder. (Trad. Roberto Machado). Rio de Janeiro:

    graal, 1990. 9 Edio.

    HEUSER, Ester Maria Dreher. Pensar em Deleuze: violncia e

    empirismo no ensino de losoa. Iju: Ed. Uniju, 2010.KOHAN, Walter Omar. Filosoa para crianas. Rio de Janeiro: DP&A,

    2000.

    NIETZSCHE, Friedrich.A gaia cincia. (Trad. Paulo Csar de Souza).

    So Paulo: Companhia das Letras, 2006.

    _____. Assim falou Zaratustra:um livro para todos e para ningum.

    (Trad. Mrio da Silva). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,

    2000._____. Humano, demasiado humano: um livro para espritos livres.

    (Trad. Paulo Csar de Souza). So Paulo: Companhia das Letras,

    2005.

    SPINOZA, Benedictus de.tica. (Trad. e notas de Tomaz Tadeu). Belo

    Horizonte: Autntica Editora, 2007.

    VALRY, Paul.Degas, dana, desenho. (Trad. Christina Murachco e

    Clia Euvaldo). So Paulo: Cosak & Naify, 2003.______. Eupalinos ou o arquiteto. (Trad. Olga Reggiani). So Paulo:

    Editora 34, 1999.

    ______. Introduo ao mtodo de Leonardo Da Vinci. (Trad. Geraldo

    Grson de Souza). So Paulo: Editora 34, 1998.

    ______. Monsieur Teste. (Trad.Cristina Murachco). So Paulo: tica,

    1997.

    ______. Variedades. Org. Joo Alexandre Barbosa. (Trad. MaizaMartins Siqueira). So Paulo: Iluminuras, 2007.

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    Glossrio das Notas

    Sandra Mara Corazza

    CG Crtica Gentica

    DA Didtica-Artista

    DAT Didtica-Artista de Traduo

    DAT-OST Didtica-Artista de Traduo das Ofcinas deTranscriao

    DATiana, DATiano Derivado de DAT

    DiTra Didata-Tradutor

    EA Educao-Artista

    EC

    Esttica da CriaoED tica da Docncia

    EL Escrileitura

    EPT Experimentao de Pesquisa-Traduo

    ET Empirismo Transcendental

    FAC Filosofa, Arte, Cincia

    FoC Forma de Contedo

    FoE Forma de Expresso

    FoEFoC Forma de Expresso + Forma de Contedo

    IN Inventrio

    LiA Lngua-Alvo

    LiC Lngua de Chegada

    LiC OsTiana Lngua de Chegada das Ofcinas de

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    Transcriao

    LiM Lngua Menor

    LiM OsTiana Lngua Menor das Ofcinas de Transcriao

    LiMe Lngua-Meta

    MECAR Mtodo da Cartografa

    OsT Ofcinas de Transcriao

    OsTiana(s),OsTiano(s) Derivado de OsT

    PAFCs Perceptos, Afectos, Funes, Conceitos

    PAT Pedagogia Ativa de Traduo

    PCG Procedimento Crtico-GenealgicoPeCIPesquisa, Criao, Inovao

    PDP Pensamento da Diferena Pura

    PDP + TTC Pensamento da Diferena Pura (PDP) + Teoriasdas Tradues Criadoras (TTC)

    PDP + TTC de MECAR Ponto de vista do Pensamento daDiferena Pura + Teorias das Tradues Criadoras do Mtodo da

    CartografaPEE Procedimento Exploratrio-Experimental

    PER Perspectivismo

    PER-MECAR Perspectivismo do Mtodo da Cartografa

    PER-MECAR das TRATRANS Perspectivismo do Mtododa Cartografa das Tradues Transcriadoras

    PRO Procedimento

    PROs ProcedimentosPROs DATianos Procedimentos da Didtica-Artista deTraduo

    PROsTra Procedimentos de Traduo

    PROsTRA de DAT-OsT Procedimentos de Traduo daDidtica-Artista de Traduo das Ofcinas de Transcriao

    PROTRA Procedimento de Traduo

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    TTCTeorias das Tradues Criadoras

    TRA Tradues

    TRANS Transcriao

    TRATRANS Tradues Transcriadoras

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    Notas para pensar as Ocinas de Transcriao (OsT)

    Sandra Mara Corazza

    NOTAS0

    UMA TEORIA DA CRIAO

    I. Questes

    - Como entender e pensar as OsT, em termos de criao da escrileiturae do pensamento?

    - O que o ato de criao?De onde surgem as formas?1Como se d o atode ver, de falar, de interpretar, de escrever num no-lugar, numa no-relao?

    Como pensar do lado de-Fora? O que signica ter uma ideia? O que acontecequando algum diz: Tive uma ideia? O que o ato de pensar (ou de escreverou de criar)? Ser deter-se, e depois partir novamente? Em outras palavras:como possvel o surgimento do novo e a produo do informe?

    - Como considerar os processos de criao, dentre os quais, as criaesliterrias, cinematogrcas, musicais, plsticas, cientcas, at aredao de uma criana na escola?

    - Quais as diferenas entre processos de criao da escrileitura,estruturas e formas?

    - A partir de uma ideia global, um tema musical, um objeto, um

    1FOCILLON, 2001.

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    passo de dana, um ritmo, um fato policial, como algum desenvolveuma melodia, um quadro, um artigo, um ensaio, uma novela? Comoesses primeiros elementos se desmembram em mil partes e servemde fundao obra, em um captulo, uma introduo, uma carta, umpargrafo, um verso?

    - Podemos encarar qualquer elemento de um texto publicado comoo resultado dos manuscritos, croquis, esboos, correspondncias,anotaes em cadernos ou cadernetas, marginlias, que o antecedem?Ou como um elemento que oculta as estruturas fractais presentes nomanuscrito? Como se constri a fractalidade?

    - H uma gnese para cada autor? Para cada sculo? H gnese?No seria mais nietzschiano perguntar se h uma genealogia?

    - Quais seriam (se existem) as matrizes invisveis e originriasem literatura: os gneros literrios, as formas de poesia, os ritmossubjacentes? E em losoa, em msica, em histria, e assim por diante?

    - Existe um capital de formas, conforme Georges Duby (historiador),

    que funcionaria para originar nossas sociedades e produes?

    - Como acredita Brian Goodwin (bilogo canadense), h uma formaoinicial de estruturas, que determina a forma que vai emergir?

    - Concordamos com Jean Petitot (seguindo Husserl), que a forma ofenmeno da auto-organizao da matria?

    - Se qualquer manuscrito comea com uma palavra, uma frase que,aos poucos, constitui uma forma e gera as outras formas, haveria umaforma ou um capital inicial de formas?

    - A forma vem antes do restante, como a palavra estrutura sugere?

    - O texto mvel, instvel, e abala qualquer estrutura ou forma pr-

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    estabelecida, que nasce e morre, segundo a obra se processa?

    - As formas do texto emanam da escritura, enquanto esta vai se

    desenrolando e inclui, at mesmo, o ponto de vista criador?

    - A forma denitiva no pressuposta, mas sempre indita, comosustenta Valry?

    - Aceitamos o que diz Valry: O vcio, o erro fundamental dessesexplicadores de poetas (como este Sr. Mauron quanto a S. Mallarm) proceder sempre no mesmo sentido procurar uma signicao,como em uma anterioridade, como uma causa da forma, enquanto, naoperao real, h troca e cesses recprocas entre rima e escolha depalavras, etc., e a ideia amorfa a qual deve car informe, disposiodo desejo. A obra seria impossvel se fosse um tratado em um nicosentido isto , de versicao?2

    - Os planos, esboos, esquemas pr-denidos (como Flaubert,Proust, Zola executavam) devem, em certo momento da escritura, seresquecidos, para poder acontecer as rasuras, os silncios, a inveno da

    escritura?

    - Como a inveno da escritura faz valer e signicar elementos queantes no tinham a menor importncia? Como ela inclui no mundoelementos at ento ignorados?

    - As concentraes de informaes (como o Google, a Wikipdia,outras) geram a estrutura do texto ou, diretamente, a escritura? Elas

    qualicam e diferenciam a escritura de um romance ou de um autor?

    - Como Mallarm, Foucault, Deleuze, Derrida, pensaram e criaram? EPerec, com os seus vazios sem respostas? Raymond Queneau? Ponge?O grupo Oulipo?

    2VALRY apudBOURJA, 1995, p.13.

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    - E ns? Criamos quando lemos e escrevemos? Como? De que maneira?Sob quais circunstncias? Quando? Onde? Por qu?

    II. Crtica Gentica [CG]

    - Para explicar os objetos preparatrios aos textos literrios (ou a umaobra de arte), penso que podemos aproveitar, do lado da crtica literria,algumas pistas (s algumas, no todas) fornecidas pela correntedenominada Crtica Gentica (CG), desde: a) Louis Hay: germanista,que recuperou, em 1966, os manuscritos de Heine e considerado ofundador da CG; b) Philippe Willemart, da USP, introdutor da CG

    no Brasil; c) Associao dos Pesquisadores do Manuscrito Literrio(APML), fundada em 1985 e que, em 2007, se torna Associao dosPesquisadores em Crtica Gentica (APCG); d) ambas as Associaesvinculadas ao Laboratrio do Manuscrito Literrio e ao Ncleo deApoio em Crtica Gentica da USP.

    - A APCG agrega cerca de 250 a 300 pesquisadores (arquivistas,llogos, editores de textos, crticos literrios, etc.), em 21 instituiesno Brasil, na maioria, ligados s universidades federais; importante,ainda, o Centro de Estudos Genticos da PUC-SP; mais o GT daANPOLL (Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa emLetras e Lingustica http://www.gtcriticagenetica.ufba.br/).

    - A APCG publica a revista anualManuscrtica, editada por Annablume,at o n. 14; e, aps, pela EditoraHumanitasda Faculdade de Filosoada USP.

    - Entre a mo que escreve e o livro publicado, o prototexto: rascunhos,diagramas, rasuras, esboos. O manuscrito literrio a via sinuosa elabirntica que gura o rigor e o acaso do processo de escrita, cosamentaleque o trao na folha em branco reveste de afeto e desejo. A crticagentica , por isso, mais do que uma jovem disciplina; uma pontuaosignicante naquilo que o texto nal e acabado deixou como promessade um outro texto, suplemento aberto ao innito das possibilidadesde realizao, ao ir-e-vir do sentido sempre em processo. Por isso,

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    tambm, desfaz a aura do mistrio da criao, ao detalhar, s vezesat o limite da exausto, o trabalho minucioso de construo artstica,deslocando a noo de autoria ou gnese discursiva.

    - A CG sugere uma nova abordagem dos objetos inventados pelohomem, propondo um livro ou um campo a ser decifrado, antespoucas vezes considerado pela crtica, campo no qual os manuscritosso portadores dos processos de criao ou da ao que faz, como dizValry.3

    - O alvo da CG descobrir como a obra se tornou tal obra.

    - Por exemplo, os ensaios reunidos por Roberto Zular,4no livro Criaoem Processo: ensaios de crtica gentica concentram essa posturaanaltica, nascida no nal dos anos de 1960 na Frana e, logo, acolhidapor grupos de pesquisa no Brasil. Franceses e brasileiros traam, emCriao em processo... as trilhas j percorridas e a contribuio queapresentam para o conhecimento da escritura e do texto. Louis Hay(...), Almuth Grsillon, Philippe Willemart, Jean-Louis Lebrave e TelAncona Lopez, entre outros, oferecem um histrico da discusso e

    buscam denir os conceitos e procedimentos de uma teoria que d contado que Lebrave chama de potica do processo e Grsillon denominaesttica da produo.

    - Ao contrrio do preceito lolgico de xao, na pureza original dotexto nico ou primeiro, que caberia ao llogo reconstituir, os crticosgenticos preferem a aventura do texto mvel (Willemart) que, pelasua dinmica, institui protocolos diferenciados de leitura do fazerliterrio, entendido na sua estrutura mltipla como escrita sem m, namaterialidade de suas formas de inscrio.

    - A CG no Brasil comea, em 1985, a estudar manuscritos literrios.No decorrer das pesquisas, vai-se enriquecendo com pesquisadores

    3WILLERMAT, 2009, p.36.42002.

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    de artes, arquitetura, cinema, pintura, dana, escultura, psicanlise,cincias cognitivas, cadernos dos cientistas, aprendizagem da leiturapor crianas, e at das mdias (especialmente na PUC-SP), o que leva aAPML a operar trs mudanas: a) o estudo da CG no abrange somenteos manuscritos literrios, mas o universo inndvel da criao humana;b) o objeto da CG no , exclusivamente, o estudo preparatrio daquiloque antecede as obras, mas o estudo dos processos de criao, quepodem ser captados tanto nos rascunhos, croquis ou esboos, quanto naobra exposta, no caso do pintor, no texto publicado, para o escritor, nadana executada, quando se trata do danarino, ou no jogo para o atorde teatro, e assim por diante; c) a crtica gentica tambm possvelna era do computador, da produo eletrnica, porque o disco rgido

    mantm todas as mudanas provocadas pelas rasuras ou substituiesdo escritor se tiver o software adequado.

    - Os pontos de apoios tericos mais frequentes da CG so: a semitica; apsicanlise; a lologia; a teoria literria; a histria literria; a lingustica;a estilstica; as cincias; a codicologia (estudo das ligranas); a leituratica das letras (para determinar a autoria); a constituio do papel e datinta (para datar os manuscritos); etc.

    - No sexto encontro da Associao, denominado Fronteiras da criao,foi indicado por Daniel Ferrer5 do Institut des Texts et Manuscrits

    Modernes (ITEM), do Laboratoire du CNRS (Centre National deRecherche Scientique), Unit Mixte de Recherche/ENS (cole

    Normale Suprieure), Paris: http://www.item.ens.fr/ : A crtica genticado sculo XXI ser transdisciplinar, transartstica e transemitica ouno existir.

    - No podemos falar de escola francesa nem de escola brasileira,pois, h pesquisadores que trabalham com Charles Sanders Peirceou com a psicanlise, dos dois lados do oceano, ; uns somente como manuscrito, esboos ou cadernos de anotaes; outros incluem otexto publicado nas suas pesquisas; outros com marginlias, com

    52000.

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    http://www.item.ens.fr/http://www.item.ens.fr/http://www.item.ens.fr/http://www.item.ens.fr/
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    correspondncias ou com edies crticas, partituras, esboos dospintores, vdeos, manuscritos das cincias exatas.

    - As prticas da CG dependem, assim, mais do objeto estudado do quedo fato de pertencerem a um grupo ou a um pas. Por isso, a pesquisa daCG no est ligada necessariamente a um centro, seja So Paulo, PortoAlegre [na UFRGS e PUC-RS], Salvador, Paris, nem a um pas, masa um estudioso que pratica essa abordagem dos processos de criaoe que, no decorrer de colquios, seminrios ou reunies, debate asquestes levantadas com outros participantes.

    - Ao investigar a obra em seu vir-a-ser, o crtico gentico se detm,

    muitas vezes, na contemplao do provisrio. Ele reintegra osdocumentos preservados e conservados um objeto, aparentemente,parado no tempo no uxo da vida. Ele tem, na verdade, a funo dedevolver vida a documentao, na medida em que essa sai dos arquivosou das gavetas e retorna vida ativa como processo: um pensamentoem evoluo, ideias crescendo em formas que vo se aperfeioando, umartista em ao, uma criao em processo.6

    - A CG no tem acesso a todo o processo de criao, mas apenas aalguns de seus ndices. possvel assegurar, contudo, que, vivendoos meandros da criao, quando em contato com a materialidade doprocesso, pode-se conhec-la melhor. O nome da metodologia (CG) sedeve ao fato de que essas pesquisas se dedicam ao acompanhamentoterico-prtico do processo da gnese das obras de arte: Trata-se, naverdade, de uma outra possvel abordagem para a arte, que caminhalado a lado com as crticas das obras, assim como so entregues aopblico.7

    - O objeto da CG o estudo dos processos de criao. Arma Grsillon:8Seu objeto: os manuscritos literrios, tidos como portadores do trao

    6SALLES, 2008, p. 29.7SALLES, 2008, p. 27.82007, p.19.

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    de uma dinmica, a do texto em criao. Seu mtodo: o desnudamentodo corpo e do processo da escrita, acompanhado da construo deuma srie de hipteses sobre as operaes escriturais. Sua inteno: aliteratura como umfazer, como atividade, como movimento.

    - Os temas da CG so: a crtica literria, a correspondncia, a bibliotecados escritores, a histria e a sociedade, os acervos dos msicos, afotograa, o cinema, a arquitetura, o jornalismo, a publicidade, ascincias da mente, etc.

    - Os princpios da CG: vantagem do recorte feito pelo pesquisador,em detrimento do estudo cronolgico da obra; insero do documento

    na rede de criao; o inacabamento de qualquer texto; a viso dosmanuscritos como palimpsestos; a vertigem do autor equilibrada pelabusca da exatido; a dissipao das estruturas anunciadas, reestruturadassob a ao da racionalidade e da inveno; a produo de possibilidadesnos manuscritos aventada pela busca do escritor; a traduo diferenteda transcrio (OsT); o manuscrito visto como um sistema complexo einstvel ou como uma reestruturao dos espaos.

    - H, na CG, predominncia da produo sobre o produto, da escriturasobre o escrito, da textualizao sobre o texto, do mltiplo sobre onico, do possvel sobre o nito, do virtual sobre o ne varietur, dodinmico sobre o esttico, da operao sobre o opus, da gnese sobre aestrutura, da enunciao sobre o enunciado, da fora da escrita sobre aforma do impresso.9

    - Os pesquisadores da CG buscam elaborar uma teoria da criao.

    - Conforme Salles,10a CG surgiu com o desejo de melhor compreender oprocesso de criao artstica, a partir dos registros de percurso deixadospelo artista, mas no se fundamenta em objeto que lhe seja prprio.O estudo do manuscrito literrio seria bastante antigo, assim como os

    9GRSSILON, 2007, p. 19.102008, p.30.

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    estudos dos esboos da pintura ou das partituras musicais, razo porque muitos outros pesquisadores dedicam-se tambm a esses objetos.Porm, o que confere especicidade ao mtodo da CG, o que o distinguede outros estudos que tambm tm esses documentos como objeto, o seu propsito o fato de tom-los como ndices do processo decriao, suportes para a produo artstica ou registros da memria deuma criao, e assim dar um tratamento metodolgico que possibiliteum maior conhecimento sobre esse percurso.

    - Hoje, embora muitos escritores continuem com a caneta e o papel,a maioria digita, deleta e imprime somente a ltima verso do texto.Diante disso, pergunta-se: ainda possvel fazer CG nessas condies?

    - Para responder questo, Willemart11 retoma as palavras de Pierre-Marc de Biasi, e arma que a situao do crtico gentico bem melhordo que antes: Graas salvaguarda automtica e programada (...) semcusto adicional de papel e de tinta, a memria do computador registrartodas as modicaes que, adicionadas umas s outras, contaro a gneseda escritura (...) ser um manuscrito numrico igual ao manuscrito nopapel com acrscimos, substituies, supresses e deslocamentos. No

    se precisar mais legar s bibliotecas nacionais volumes interminveisde manuscritos, mas apenas o disco rgido no qual todos os gestos daescritura, classicados e datados, estaro l, esperando um leitor (...)A era digital no ser o m dos rascunhos, mas talvez seu verdadeirocomeo, sua idade de ouro (...) At aqui a abordagem gentica seocupava apenas de excees: arquivos miraculosamente salvos dadestruio, uma centena de corporacompletos por sculo (...) O queacontecer quando tivermos a integralidade de todos os rascunhos? (...)Numricos por natureza, os rascunhos de hoje tm uma estrutura pronta

    para o clculo. Eles esperam as mquinas que sabero nos ajudar nainterpretao.

    - Desse modo, a primeira etapa de qualquer estudo gentico commanuscritos decifrar, datar, classicar e transcrever de um modo legvel

    112008, p.5.

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    os textos ser dispensvel. Nem se precisar do estudo das ligranas,da anlise da tinta e do papel para ajudar na datao das verses. Vencidaesta primeira etapa, terminam as diferenas entre os geneticistas quetm ou no o manuscrito no papel. Todos se reencontram na procurados processos de criao, mas dependendo do objeto pesquisado, elesse separam uns dos outros. Um pesquisador estudar os processos detraduo adotados por Mallarm ou por Baudelaire; um cognitivistatentar reconstituir o processo mental atuando na escritura; um crticoprximo da psicanlise tentar descobrir em que os processos decriao descobertos enriquecem o conhecimento do ser falante; outrocrtico inspirado por Peirce tentar ler os processos seguindo a teoria dolsofo; outro ainda tentar descobrir como uma estrutura social afetou

    os processos; etc.

    - O crtico gentico acompanha o percurso do autor para desmont-loe, em seguida p-lo em ao novamente, pois seu objeto de estudo ocaminho percorrido pelo artista para chegar (ou quase sempre chegar)s obras (...). , portanto, uma pesquisa baseada em documentos emprocesso, em oposio s pesquisas que se valem de produtos ditosacabados.12

    - Como arma Biasi, a histria dos textos demonstra que a verdade,inseparvel de suas sempre relativas formulaes, no da ordem doacabamento: uma exigncia, algo que se busca, se aprofunda, sealarga, e cuja denio comunicvel, sempre incompleta e provisria, objeto de uma perptua reescritura.

    - O desao da CG mostra-se, assim, indissocivel de uma nova tica, deuma nova poltica e de uma nova prtica da escrileitura.

    12SALLES, 2008, p. 34-35.

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    III. As OsT e a CG

    - A CG, segundo Almuth Grsillon,13prope metforas para explicar

    a criao dos textos literrios, que se encontram em circulao, quaissejam: a) de tipo organicista; b) de tipo construtivista; c) e uma terceira,por ela proposta, que a do caminho.

    a) DE TIPO ORGANICISTA: os textos seriam explicados por noescomo: gestao, parto, engendramento, embrio, aborto, rvore,arborescncia, parentescos, liaes, ramicaes, germinaes,enxertos, etc.

    b) DE TIPO CAMINHO: Grsillon prope a metfora do caminhar viaAntonio Machado, no h caminho; o caminho se faz ao caminhar,ou via o conto de Borges14, O jardim dos caminhos que se bifurcam.So desse tipo as metforas de: percurso, via, atalho, trajetos, traados,encruzilhadas, etc.

    c) DE TIPO CONSTRUTIVISTA (que me parece ser o tipo das OsT):nasce contra a ideia ou imagem do poeta inspirado, contra a poesia

    como ddiva dos deuses ou das musas, etc. A maior reviravolta aquifoi dada pelo texto de Edgar Allan Poe:15A losoa da composio,traduzido e introduzido por Baudelaire, sob o ttulo A gnese de umpoema.

    - Baudelaire16 escreve: Agora, vejamos, o bastidor, a ocina, olaboratrio, o mecanismo interno um poema no nasce nunca, sefabrica.

    - Este um sentido que eu gostaria fosse atribudo s OsT: as OsTfuncionando como bastidores, ocinas, laboratrios, mecanismos

    13 2007.14 2008.15 2009.16 2003.

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    internos, canteiro de obras, fbricas, usinas, mquinas OsT-mquinas17de criao do pensamento e da escrileitura.

    IV. Apoios tericos para as OsT [work in process]

    -Nietzsche, sempre. Ento, Deleuze e sua crtica e clnica, losoa,literatura, teatro, poesia, pintura, msica, cinema: Hume, Kant,Leibniz, Spinoza, Bergson, Foucault, Artaud, Melville, Sacher-Masoch, Proust, Kafka, Woolf, Beckett, Lawrence, Miller, Bene,Bacon, Turner, Eisenstein, Rosselini, Fellini, Resnais, Buuel,Godard...18

    - Os irmos Augusto e Haroldo de Campos, e sua prtica da traduocomo transcriao.19

    - A antropofagia oswaldiana (Oswald de Andrade), com a suaingurgitao distinta: encontrar sua causa, sua lgica, sua reorganizaoprprias, sem confundir-se com as de terceiros.

    - Os tericos da Crtica Gentica e Artstica, com o seu bate-voltacontnuo entre tradio, lngua, inconsciente do escritor, estruturas nasquais se insere, etc., e o texto - sistema circular dotado de um anelde retroao positiva; descendncia com modicao; operaesde fronteira; a ignorncia das origens e a bastardia do texto; a buscade regularidades na irregularidade dos textos; o funcionamento dopensamento; a busca por tornar inteligvel o mundo que nos cerca; etc.

    - De Philippe Willemart (seguindo Deleuze, Condillac e outros): aprimazia do verbo na frase; a maior qualidade do artista denindo-sepor seu sentir e no por seu raciocnio; a roda da escritura, formada

    17Cf. Notas II Traduzir (Procedimentos).18Excerto da Smula da Linha de Pesquisa 09Filosoas da diferena e educa-odo PPGEDU/FACED-UFRGS.19Vide Notas II.

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    por cinco personagens e aes: a) o escritor observa; b) o scriptorinscreve; c) o autor conrma; d) o primeiro leitor que age sempre antesdas interveno do autor rel e rasura; e) o narrador conta.

    - Daniel Ferrer,20indicando que no h uma origem exata da escritura.Para Stendhal e Joyce, no melhor dos casos, h um ponto de partida,uma data, uma primeira carta, um erro de transcrio, um signo. Comoexemplo: Joyce usava 4 procedimentos para destruir a ligao com atradio, ou seja, para fazer a recriao e a xao de uma nova ncorapara sua escritura: a) a inveno de signos para signicar as personagensedipianas; b) a inverso de consoantes das palavras, o P e o K, porexemplo; c) a escrita a partir dos erros de sua copista; d) ou a partir de

    notas tomadas por um amigo.

    - Gilles Deleuze, em inumerveis contribuies: a ideia que aqueleque cria adota um ponto de vista criador (Proust e os signos); em Oque o ato de criao? na raspagem dos clichs (formas) (Lgica dasensao); na ideia no se sabe como algum aprende e imagem dopensamento (Diferena e repetio); cincia, arte e losoa criadoras(com Guattari, O que a losoa?); e tantas outras.

    - Paul Valry, ao tratar do informe; da ideia como informe; dacontingncia da forma; do mtodo de criao; da fabricao daconcha pelo molusco o texto emana do escritor do mesmo modo comoa concha segregada pelo molusco (Eupalinos). Imaginar Valry,perplexo, exclamando: O que cria em ns no tem nome!21

    - Roland Barthes, com diversas noes, como: scriptore o vaivmcontnuo entre o escritor e seu meio/contexto/outros; biografema,contra a cronologia de vida e a iluso biogrca; incidentes,punctuns;preparao do romance; literatura, escritura e texto; e muitas mais.

    202000.211945, p.892.

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    - Jacques Derrida22e o sujeito da escritura: O sujeito da escritura noexiste se entendemos por isso qualquer solido soberana do escritor.O sujeito da escritura um sistema de relaes entre as camadas: dobloco mgico (analisado por Freud), do psquico, da sociedade, domundo. Nesta cena, a simplicidade pontual do sujeito clssico no encontrvel.

    - Michel Foucault: a morte do autor; ontologia do presente; arqueologia;dentre outros conceitos e pontos de vista. [Em vez de uma crticagentica faramos uma crtica genealgica das obras de arte e dostextos?]

    - Michel Serres,23 armando que os grandes homens no so,frequentemente, os polticos, as modelos, os artistas de novela, os quefazem os shows, aqueles que aparecem; mas, so os pesquisadores,os artistas ou os escritores que se debruam sobre o real da natureza,do ser humano ou das obras e tentam entender os processos de criaoou do funcionamento destes objetos, desde o mundo galctico at umasimples ameba, passando pelos manuscritos, os esboos, os croquis,etc..

    - Henri Bergson, e sua crtica do cognitivismo.

    - Marcel Proust, no caderno 57, preparatrio ao Tempo redescoberto,escrevendo: da mesma maneira que a cincia no totalmenteconstituda nem pelo raciocnio do pesquisador nem pela observao danatureza, mas por um tipo de fecundao alternativa de uma pela outra,da mesma maneira, me parecia que no era a observao da vida, nem ameditao solitria que constitua a obra de arte, [mas] uma colaboraode ambos, manobra na qual a ideia, o cenrio [roteiro] levado por umadas duas era, cada um por sua vez, retocado, jogado na cesta de lixo ouconservado pelo outro.24

    222009.232003.24apudWILLEMART, 2002, p.69.

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    - Arthur Rimbaud,25 com sua voyance (vidncia): onde a maiorianada v, ou v apenas o caos nos milhares de informaes, o criadorv regularidades (invariantes), distribudas entre personagens, suasrelaes e seus discursos, as categorias de tempo, espao, ponto de vistae de voz, etc.

    - D. H. Lawrence, em O caos na poesia, com o seu guarda-chuvapara o desejo de caos e para o medo do caos.

    - Para quem se dispuser, a Psicanlise, desde Jacques Lacan (e SigmundFreud), com o conceito de aprs-coup o s depois freudiano; ler detrs para frente; o depois se fazendo de antecmara para que o antes

    possa tomar o seu lugar.26

    - Tambm para quem se dispuser: a Cincia Cognitiva e os chamadoscognitivistas, como Ilya Prigogine e Isabelle Stengers,27a Escola deBruxelas, Jean Petitot, Francisco Varela, Humberto Maturana, BernardPachoud, Jean-Michel Roy, etc.

    - E, ainda, Virginia Kastrup e grupo, com suas pistas do mtodo da

    cartograa;28polticas da cognio;29discusso de um devir criativoda cognio, conforme Luiz B. L. Orlandi,30etc.

    - No se pode deixar de rir quando se embaralham os cdigos:Filosoa-Arte-Cincia-Literatura-Educao. Ideias-foras: Nietzsche,

    Valry, Deleuze, Barthes e ans. Fluxos em fuga ao innito. Atual-

    virtual. A violncia do Fora. Pesquisa do Acontecimento: empiriatranscendental. Formas de expresso puxam formas de contedo. Do

    Prazer de Ler ao Desejo de Escrever. Escrileitura-artista. Imagem dopensamento. Dinamismos espao-temporais. Mtodo da Dramatizao:

    252006.261988a, p.197; 1988b; etc..271986.282010.292008.302007.

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    debaixo do logos, h drama. Esprito: conscincia das inconscincias.Lgica imaginativa. Demnio da possibilidade. Comdia intelectual.Biografemtica: programa, procedimento, operao. Passagens deVida que atravessam o vivvel e o vivido. Fantasias: entre a lngua eo estilo. Mscaras, quimeras, ces. Docente da Diferena: arteso,

    esteta, pesquisador. Esquizo-anlise de minoraes. Micropoltica.Abalos jubilatrios. Acerca do devir-infantil de currculos nmades. 31

    -Et alii... Seguimos.

    31rea Temtica Fantasias de escrileitura: devir-infantil de currculos nmades, in-tegrante da Linha de Pesquisa 09 Filosoas da diferena e educao do PPGEDU/FACED-UFRGS.

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    NOTASI

    OFICINAR

    I. 1. Conceitualizao

    - As Ocinas de Transcriao (OsT) so ocinas processuais dePesquisa, Criao e Inovao (PeCI).

    - Ocinar OsT , assim, fazer PeCI.

    - Por meio de uma arte menor e de um planejamento da desnaturao,

    as OsT constituem um campo artistador de variaes mltiplas, queproduz ondas e espirais; compe linhas de vida e devires reais; promovefugas ativas e desterritorializaes armativas.

    - As OsT so pragmticas porque privilegiam a ao operatria dePerceptos, Afectos, Funes e Conceitos (PAFCs), a partir de obras

    j realizadas, que outros autores criaram na Filosoa, na Arte e naCincia (FAC) , em outros tempos e espaos.

    - As OsT reconhecem as criaes desses autores e obras como assuas efetivas condies de possibilidade, necessrias para a prpriaelaborao e execuo, e, ao mesmo tempo, como o seu privilegiadocampo de experimentao para exercitar possibilidades de PeCI.

    - Ao ssurarem certezas e verdades herdadas, ou mesmo produzidas,as OsT agem nas dimenses tica e esttica, potencializando os uxos

    desejantes que se insinuam entre os blocos epistmicos e sensveis deFAC.

    - Eminentemente crticas, as OsT maquinam as suas composies sobo signo da heterognese contra a homognese, atribuindo primado uidez criadora, em detrimento das normas formais.

    - Embora suscetveis a regimes de aes estveis, as OsT so sistemas

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    abertos, distantes do equilbrio e do apaziguamento, e, mesmo quandoestabilizam suas aes, as OsT bifurcam-se e ingressam em novosregimes de instabilidade.

    - As OsT executam uma autopoiese, enquanto processo de produodo novo, por meio da criao de codicaes (= Forma de Expresso+ Forma de Contedo FoEFoC), em campos de comutabilidade e dediferencialidades, que circunscrevem o seu funcionamento e limites.

    I. 2. Matria

    - A matria principal das OsT a vida.

    - A matria-vida trazida para as OsT por meio de encontros comFoEFoC, produzidas por FAC: formas que compem o mundonatural, animal e humano; foram criadas em outros meios histricos egeogrcos; e so aprendidas com outros.

    - As OsT apropriam-se dessas FoEFoC e, ao mesmo tempo, desaam

    o tempo e o espao que as produziram; levam-nas a escaparem dosmeios e autores que as engendraram; conservam traos de seus PAFCs;agenciam esses traos de outras maneiras; e avaliam o valor de seusefeitos produtivos nas OsT.

    - O realismo das OsT no remete mimese do real, desde que elasprocuram no real o outro misterioso da realidade, que possibilita a suaprpria existncia e as fragiliza, levando-as adiante.

    I. 3. Poltica

    - As OsT so suscetveis a determinaes puramente pensantes epensadas, as quais constroem o seu Empirismo Transcendental (ET),contra o Idealismo e o Racionalismo.

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    - Valorizando a multiplicidade, as OsT funcionam como meios deresistncia e de luta contra a mesmidade e a mediocridade.

    - O gnero das OsT impuro, pois mesclam e cruzam o que passou, oque nos afeta, e os mundos possveis por vir.

    - O mtodo das OsT cartogrco; o seu padro de procedimento diagonal e transversal; o vetor de suas intensidades sensveis einteligveis a dobra.

    - A nalidade precpua das OsT tornarem-se dignas dos acontecimentosque as constituem e que produzem.

    I. 4. Movimentos

    - Extrair acontecimentos das coisas, dos corpos, dos estados de coisas,dos seres: inventando personagens e estabelecendo ligaes entre elese os acontecimentos.

    - Rejeitar as modelizaes connantes, que negam o novo e requerem,apenas, regularidades, mdias e mtricas: priorizando a potica, oprocessual e a reversibilidade.

    - Localizar as Dobras do Mundo, entre as Dobras do Esprito e daMatria: acedendo, assim, aos Planos de Imanncia, de Composio ede Referncia.

    - Capturar e liberar as foras inditas e vitais, que agem sob as formas:trabalhando as potncias que estas carregam e carreiam.

    - Substituir a relao Forma-Matria pela relao Fora-Material:associando obras, autores, criadores e tradutores, em devires de mutaodas culturas.

    - Favorecer culturas do dissenso: reinventando novas formas,

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    signicaes, posies de indivduos e de grupos.

    - Traar, inventar, criar linhas, que dobram os saberes, fazeres, sentires,

    uns sobre os outros: consoando a Filosoa, a Matemtica, a Msica, aSociologia, a Literatura, as Artes Visuais, as Cincias, etc.

    I. 5. Escrileitura

    - As OsT passam, necessariamente, pela Escrileitura (EL).

    - A EL, praticada pelas OsT, acontece em atos de ruptura, dedesterritorializaes e de devires-outros, que so sempre devires-minoritrios.

    - As Formas de Expresso (FoE) da EL precedem as Formas deContedo (FoC).

    - EL instala-se em regies de ser e de pensamento, que portam problemasque no se consegue formular; por isso, pode revelar aspectos dos seres

    que estavam ocultos e abrir circuitos inditos de pensamento.

    I. 6. Procedimento geral

    - Por no comportarem determinismos, todos os momentos, lugares,incidentes e circunstncias das OsT podem vir a se transformar emmveis fecundos de experimentaes.

    - O construcionismo das OsT efetivado por um gesto triplo: inventarum Plano Pr- OsT; dar vida a Personagens Pr-OsT; criar TraduesOsTianas de PAFCs.

    - Desse gesto triplo Plano, Personagens, Tradues , as OsT extraemProblemas para maquinar.

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    I. 7. Pragmtica

    - Partindo de um clich forma, sentido, interpretao, indivduo,

    identidade, subjetividade, conhecimento, certeza, verdade , as OsTanalisam a correspondente imagem dogmtica do pensamento, em seuspressupostos explcitos e implcitos de senso-comum e doxa.

    - As OsT desenvolvem Procedimentos Crtico-Genealgicos (PCG) eExploratrio-Experimentais (PEE) para borrar, escovar, varrer, rasparo clich, por meio do uso de um Diagrama: conjuntos operatrios detraos pr-individuais, irracionais, involuntrios, acidentais, ao acaso,livres, no-representativos, no-ilustrativos, no-gurativos, no-

    narrativos.

    - Liberadas dos clichs pelo Diagrama, as OsT podem seguir devires,em zonas de indiscernibilidade e indeterminao, alm de produzirformas deformadas, guras desguradas, paradoxos, no-sensos.

    - assim que as OsT extraem, arrancam, isolam o material, o gural eo jogo de foras; desfazem os rostos (que so efeitos sobrecodicados)

    e deixam aparecer os devires mltiplos das cabeas; distribuem forasinformais (na tela, na folha, no piso, na areia), pelas quais as partesdeformadas esto em relao com o seu de-Fora; produzem sensaes,ou seja, aes diretas sobre o sistema nervoso, atravs de vivnciassensveis e relacionais; fazem correr linhas de variaes contnuas, emmodalidades e variedades diferentes.

    I. 8. Avaliao

    - Os critrios de avaliao das OsT so: o vital, o interessante e onotvel.

    - As OsT indagam e respondem: Como tornar interessantes e

    notveis Ideias passadas, levando-as a vivifcar outros devires,

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    em cenrios contemporneos, mesmo ao preo de volt-las contra

    si mesmas?

    - A par disso, as OsT avaliam a maior ou menor liberao das

    foras vitais dos participantes (onde quer que estejam represadas),

    trabalhando para que essas foras reencontrem a sua virtualidade,

    via a desestratifcao das camadas sedimentadas de saber, poder

    e subjetividade.

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    NOTASII

    TRADUZIR

    II. 1. Tratamento

    - As Ocinas de Transcriao (OsT), desenvolvidas pelo projetoEscrileituras: um modo de ler-escrever em meio vida (FACED/UFRGS), integrante do OBSERVATRIO DA EDUCAO CAPES/INEP (Edital038/2010), so tratadas pela via de uma Didtica-Artista(DA).

    - A DA das OsT encontra alegria no babelismo de diferena e abertura,relacional e dialgico, passagens e transposies, pluralidade emultiplicidade de lnguas, inuncias e textos. Logo, uma didticatranslingustica, transliterria, transcultural, transpensamental, quenasce e vive em diversas obras de diferentes lnguas: Fico de umindivduo (algum Sr. Teste s avessas) que abolisse nele as barreiras,as classes, as excluses; que misturasse todas as linguagens, aindaque fossem consideradas incompatveis; que suportasse, mudo, todas asacusaes de ilogismo, de indelidade. Este homem seria a abjeo

    de nossa sociedade: os tribunais, a escola, o asilo, a conversao,convert-lo-iam em um estrangeiro. Ora, este contra-heri existe: oleitor de texto, no momento que se entrega a seu prazer. Ento, o velhomito bblico se inverte, a confuso das lnguas no mais uma punio,o sujeito chega fruio pela coabitao das linguagens, que trabalhamlado a lado: o texto de prazer Babel feliz.1

    - DA opera como uma Didtica-Artista da Traduo (DAT), em um

    duplo sentido de transcursos e circuitos de transferncias: o Pensamentoda Diferena, no atinente criao e ao pensar;2as teorias da traduoliterria no Brasil, que lidam com a ideia de traduo como um processocriador, especialmente do lado de Haroldo de Campos3e Augusto de

    1BARTHES, 2006, p.7-8.2DELEUZE, 2003; DELEUZE; GUATTARI, 1992.31972.

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    Campos,4e que so tributrias de Paul Valry, Edgar Allan Poe, WalterBenjamin, T. S. Elliot, Jorge Luis Borges, Lezama Lima, Octavio Paz,Roman Jakobson, C. S. Peirce, Max Bense, Ezra Pound, dentre outros.5

    - Assim, a traduo percorre as OsT, como um dispositivo que asdesencadeiam ou uma prtica que as desdobram.6

    - As OsT pensam que a vida deve ser traduzida, como processo decriao.7Ento, DAT traduz Perceptos, Afectos, Funes e Conceitos(PAFCs) que so lidos, ouvidos, aprendidos com outros, ou comproblemas e questes que se agitam sua volta ou em nosso entorno ,vertendo-os das lnguas em que foram criados, pela Filosoa, pela Arte

    e pela Cincia (FAC), e expressando-os no meio, na cultura e na LnguaMenor (LiM) das OsT.8

    - Porm, DAT no traduz todos os PAFCs, mas privilegia aqueles quemudaram, afetaram ou revolucionaram cada uma das reas de FAC eque, para as OsT, relevam, em termos de um projeto de militnciacultural,9 assim como traduz aqueles PAFCs, cuja obscuridadeou diculdade intencional apresenta maiores desaos de traduo:

    quanto mais inado de diculdades, mais recrivel, mais sedutorenquanto possibilidade aberta recriao,10 seguindo a posio deAugusto de Campos:11nunca me propus traduzir tudo. S aquilo quesinto. S aquilo que minto. Ou que minto que sinto, como diria, aindauma vez, Pessoa em sua prpriapersona.

    - A traduo realizada por DAT , por isso, transcriao e transculturao,j que no s o texto, mas a srie cultural se transtextualizam no

    41986.5 RNAI, 1987; PAES, 1990; LARANJEIRA, 1993; CAMPOS, 2002; MANDEL-BAUM, 2005; MATOS, 2005; OSEKI-DPR, 2005; SANTAELLA, 2005.6CAMPOS, 1976, p.10.7VILLANI, 1999, p.71.8DELEUZE; GUATTARI, 1992.9CAMPOSapudMILTON, 1998, p.206.10CAMPOS, 1992, p.35; MILTON, 1998, p.210.111978, p.7.

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    imbricar-se subitneo de tempos e espaos literrios diversos. Transcodagem. Tropismo. Traduo.12

    - DAT funciona sobre um plano transcendental de traduo-criao,que liga o tempo ordinrio e a produo de algo novo, sem que hajalinha reta, nem nas coisas, nem na linguagem, de modo que a LnguaMenor (LiM) das OsT tem de alcanar desvios femininos, animais,moleculares, e todo desvio um devir mortal.13

    - Traduzir, para DAT, distinguir entre descoberta e inveno daLiM, j que a descoberta incide sobre o que j existe, atualmente ouvirtualmente. Portanto, cedo ou tarde ela seguramente vem, enquanto

    a inveno d o ser ao que no era, podendo nunca ter vindo. 14

    - Talvez, a traduo de PAFCs, no espao das OsT, possa ser chamadades-traduo: no traduo como teoria da cpia ou do reexosalivar, mas como produo da di-ferena no mesmo;15 ou, umaoperao contra a corrente que, mais do que transferir algo do originalpara a lngua de chegada no caso, a LiM das OsT , toma o originaldistante como ponto de chegada para o qual visa expandir a prpria

    lngua;16 e, mesmo, uma crtica de amor e de amador, que cor, som, fracasso de sucesso, e no passa de uma conferncia sobrenada.17

    - A traduo (ou des-traduo) realizada por DAT : chave para asrelaes de OsT com o mundo; uma maneira de introduzir novosmodelos, formas, ideias, gostos, vocabulrios, sintaxes, na rea deestudos e de pesquisa educacional; uma fora motriz de estilosnovos e ideias, nos atos de ler, escrever e pensar, que est no centrode mudanas e desenvolvimentos em Educao; mimtica e no-

    12CAMPOS, 1976, p.10-11.13DELEUZE, 1993, p.12; DELEUZE; GUATTARI, 1977.14DELEUZE, 1999, p.9.15CAMPOS, 2008, p.208.16MANDELBAUM, 2005, p.198.17CAMPOS, 1986, p.10.

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    - Porque uma espcie de anacronismo latente faz com que as literaturascompartilhem espaos e tempos heterogneos e simultneos; e porquea traduo no consiste na assimilao do outro a si mesmo, mas umaaproximao da distncia, uma transposio de uma cultura estrangeiraatravs dos expedientes da escritura que transforma, por assim dizer, aprimeira, j que a traduo no cpia, mas modicao do original. Atraduo DATiana um ato poltico, como defesa da lngua e por issoheterolia, que desfaz no apenas a noo de identidade sedentria,mas, sobretudo a timidez snobda isoglossia.

    - No ato de traduzir, DAT produz correspondances entre Literatura,Filosoa, Artes, Cincias, Educao correspondances pode

    s