respostas auditivas de estado estÁvel em ......avaliação comportamental em crianças de 6 a 48...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROPSIQUIATRIA E CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTO RESPOSTAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS DE 6 A 48 MESES DANIELLE GOMES PINTO RECIFE/2016

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    PÓS-GRADUAÇÃO EM NEUROPSIQUIATRIA E CIÊNCIAS DO

    COMPORTAMENTO

    RESPOSTAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM

    CRIANÇAS DE 6 A 48 MESES

    DANIELLE GOMES PINTO

    RECIFE/2016

  • DANIELLE GOMES PINTO

    RESPOSTAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM

    CRIANÇAS DE 6 A 48 MESES

    Tese apresentada ao Programa de Pós-

    Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do

    Comportamento do Centro de Ciências da

    Saúde da Universidade Federal de

    Pernambuco, para avaliação, para a obtenção

    do título de Doutor.

    ORIENTADOR: Prof˚. Dr˚ Otávio Gomes Lins

    RECIFE/2016

  • DANIELLE GOMES PINTO

    RESPOSTAS AUDITIVAS DE ESTADO ESTÁVEL EM CRIANÇAS DE 6 A 48

    MESES

    Tese apresentada ao Programa de Pós-

    Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do

    Comportamento do Centro de Ciências da

    Saúde da Universidade Federal de

    Pernambuco, para avaliação, para a obtenção

    do título de Doutor.

    Aprovada em 29/02/2016

    BANCA EXAMINADORA

    ______________________________________________

    Prof Dr. Marcelo Morais Valença

    Universidade Federal de Pernambuco

    ______________________________________________

    Prof Dr. Otávio Gomes Lins (Presidente da banca)

    Universidade Federal de Pernambuco

    ______________________________________________

    Profa Dra. Cleide Fernandes Teixeira

    Universidade Federal de Pernambuco

    ______________________________________________

    Prof Dra. Ilka do Amaral Soares

    Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL

    ______________________________________________

    Prof Dr. Sílvio José Vasconcelos

    Universidade Maurício de Nassau

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, por me dar sempre forças apesar do cansaço de seguir lutando pelo meu crescimento

    pessoal;

    Ao Profº Dr. Otávio Gomes Lins, pelos ensinamentos prestados e por sempre me impulsionar

    a crescer intelectualmente;

    À minha família e amigos pelo apoio e compreensão;

    À Fga Katia Albuquerque e ao Serviço de Audiologia do Hospital Agamenon Magalhães pelo

    apoio inestimável;

    Ao Departamento de Fonoaudiologia da UFPE, lugar em que sempre encontrei auxílio e força

    para alcançar meu crescimento profissional;

  • “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena

    Acreditar no sonho que se tem

    Ou que seus planos nunca vão dar certo

    Ou que você nunca vai ser alguém”

    Renato Russo

  • RESUMO

    A utilização de métodos de avaliação que possam refletir uma estimativa abrangente e

    confiável da audição vem assumindo grande importância para o pleno desenvolvimento

    infantil, nos âmbitos, social, cognitivo e linguístico. A resposta auditiva de estado estável é

    um procedimento eletrofisiológico que possibilita avaliar ao mesmo tempo limiares auditivos

    com especificidade por frequências e por orelha. O objetivo deste estudo foi verificar como

    os limiares eletrofisiológicos obtidos pela RAEE podem estimar os limiares auditivos

    comportamentais obtidos pelo exame padrão ouro, a audiometria de reforço visual, em

    crianças com audição normal e perda auditiva de diversos graus, averiguando assim a

    aplicabilidade clínica da RAEE na avaliação audiológica infantil. Foram avaliadas 41 crianças

    de ambos os sexos (28 crianças do sexo masculino e 13 do sexo feminino) com uma faixa

    etária compreendida entre 18 e 48 meses. Obtiveram-se os limiares auditivos de toda amostra

    mediante a RAEE em múltiplas frequências de forma binaural, e dos limiares da VRA com

    fones supra aurais do tipo TDH-39. Foram pesquisadas as frequências de 500, 1000, 2000 e

    4000 Hz em ambos os métodos de avaliação e avaliadas as orelhas separadamente, totalizando

    82 orelhas, sendo 20 com audição normal e 62 com perda auditiva. Os limiares foram

    analisados para calcular suas correlações e outras variáveis. Os resultados encontrados neste

    estudo demonstram que os limiares não variam significantemente com a idade nem com o

    sexo. Em média, foram observados limiares eletrofisiológicos maiores que os limiares

    comportamentais. Ao utilizar os limites de concordância estabelecidos, foi possível verificar

    após a correção do viés, uma discrepância entre a RAEE e VRA de até ±10dB. Os achados

    sugerem que a RAEE possibilita a determinação dos limiares auditivos objetivamente, com

    uma considerável correlação com os limiares psicoacústicos. Recomenda-se, entretanto, a

    realização de novos estudos brasileiros que visem o estabelecimento de critérios mínimos

    necessários para o planejamento e aplicação de protocolos com fins de padronização,

    contribuindo com a validação diagnóstica.

    Palavras-chave: Diagnóstico. Audição. Criança.

  • ABSTRACT

    The use of evaluation methods that can reflect a reliable estimate of hearing thresholds have

    gain a lot of importance and impact on social, cognitive and linguistic child development. The

    auditory steady state response is an eletrophysiologic procedure able to estimate auditory

    thresholds with specificity of ear and frequency. The objective of the following study was to

    verify how the thresholds obtained by ASSR can estimate the thresholds obtained by the VRA

    in children with normal hearing and hearing loss of different degrees. Were evaluated 41

    children of both sex (28 boys and 13 girls), on ages between18 and 48 months. The thresholds

    were obtained with ASSR with multiple and simultaneous stimulation on frequencies of 500,

    1000, 2000 and 4000Hz. The thresholds were obtained with VRA on each ear separately on

    frequencies of 500, 1000, 2000 and 4000Hz with TDH-39 phones. Were evaluated 82 ears, 20

    with normal hearing and 62 with hearing loss. The correlation between the thresholds was

    calculated. The findings of this study demonstrate that the thresholds did not have a statistic

    relevant relation with variables of age and sex. Considering the mean, the eletrophysiological

    thresholds were higher than the behavioral. Using the coherence limits established, after the

    correction of the bias, was found a discrepancy between ASSR and VRA thresholds of

    ±10dB. These findings suggest ASSR can determinate hearing thresholds objectively and with

    a high correlation with psychoacoustic thresholds obtained by the behavioral method. We

    recommend, however that another Brazilian studies be made, so it can be established a

    minimum criteria necessary for the planning and application of pattern protocols, contributing

    with diagnostic validation of ASSR technique.

    Key-words: Diagnosis. Hearing. Child.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuição da casuística de acordo com a idade (média, desvio-padrão, valores mínimos, medianas e valores máximos) e o sexo da amostra (n=41)

    Tabela 2 - Estatísticas descritivas dos limiares obtidos por VRA para cada frequência

    (n=82)

    Tabela 3 - Estatísticas descritivas dos limiares obtidos por RAEE para cada frequência (n=82)

    Tabela 4 - Estatísticas descritivas das diferenças entre os limiares da RAEE e da VRA para cada frequência (n=82)

    Tabela 5 – Intervalos de confiança 95% (IC95) para os resíduos (n=82)

    Tabela 6 - Estimativas dos modelos de regressão linear simples por frequência

    Tabela 7- Tabela de contingência, comparação dos achados da RAEE e da VRA (n=82)

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 – Fisiologia das Respostas Auditivas de Estado Estável. Fonte: Própria autora,

    Recife, 2016

    Figura 2 – Respostas Auditivas de Estado Estável representadas em amplitude e fase. Fonte:

    Própria autora, Recife, 2016

    Figura 3 – Frequências de modulação e portadoras do estímulo e a avaliação por frequência

    específica. Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    Figura 4 – Teste estatístico de coerência de fase (teste T²). Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    Figura 5 – Teste estatístico F. Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    Figura 6, extraída de Rance et al, 2005. Limiares obtidos nas RAEE e no VRA nas

    frequências de 500 a 4000Hz, em crianças normais e com perdas de diversos graus. Demostra

    que à medida que aumenta o grau da perda diminui a diferença entre o limiar comportamental

    e eletrofisiológico.

    Figura 7, extraída de Rodrigues, Lewis, Fichino, 2010. Comparação dos achados de limiar das

    RAEE, PEATE clique e VRA para indivíduos com perda profunda

    Figura 8 – Audiometria de reforço visual com fones. Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    Figura 9- Posicionamento dos eletrodos durante pesquisa das RAEE, Fonte: Própria autora,

    Recife, 2016

    Figura 10 - Representação da pesquisa do limiar eletrofisiológico através da RAEE, Fonte:

    Própria autora, Recife, 2016

    Figura 11 - Captação da resposta e marcação automática no gráfico. Fonte: Própria autora,

    Recife, 2016

    Figura 12 – Gráfico resultado RAEE (ASSR). Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    Figura 13 - Perfis individuais dos limiares obtidos a RAEE e a VRA (n=41)

    Figura 14 – Gráficos de regressão linear simples correlacionando achados da RAEE e da

    VRA nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ASSR – Auditory Steady State Responses

    ANSI – American National Standards Institute

    AASI – Aparelho de Amplificação Sonora Individual

    CCS – Centro de Ciências da Saúde

    cm- Centímetro

    CMV - Citomegalovírus

    CNS – Conselho Nacional de Saúde

    COR – Resposta de Orientação Condicionada

    DATASUS – Base de dados Nacional do SUS

    dB – Decibel

    dB HL – Decibel Hearing Level

    dB NA – Decibel Nível de Audição

    dB NPS – Decibel Nível de Pressão Sonora

    dB SPL – Decibel Sound Pressure Level

    EEG – Eletroencefalograma

    EOAs – Emissões Otoacústicas

    ER-3A- Fone de inserção

    FFT - Fast Fourier Transformation

    FM – Frequência Modulada

    Fz – Eletrodo posicionado na fontanela

    Hz – Hertz

    ISO – International Organization for Standardization

    KHz – Quilo-hertz

    KΩ - Kilohoms

    MASER – Multiple Auditory Steady-Satate Response

    M1 – Eletrodo posicionado na mastóide essquerda

    M2- Eletrodo posicionado na mastóide direita

    min - Minutos

    NHSP Clinical Group – National Hearing Screening Programmes Clinical Group

    nV- Nanovoltz

    PEATE – Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico

    PEATE-click - Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico com click

  • PEATE-FE - Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico Frequência Específica

    RAEE – Resposta Auditiva de Estado Estável

    seg - Segundos

    SSEP – Steady-State Evoked Potential

    SSR – Steady-State Response

    SUS – Sistema Único de Saúde

    TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    TDH-39 – Fone supra aural

    UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

    VRA – Visual Reinforcement Audiometry/Audiometria de Reforço Visual

  • SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO...............................................................................................13,14

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS...........................................................................15-19

    REVISÃO DE LITERATURA............................................................................20-50

    OBJETIVOS..........................................................................................................51,52

    MATERIAL E MÉTODO...................................................................................53-70

    RESULTADOS.....................................................................................................71-83

    DISCUSSÃO.........................................................................................................84-99

    CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................100-102

    REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS..........................................................103-109

    ANEXOS...........................................................................................................110-112

    APÊNDICES.....................................................................................................113-162

  • APRESENTAÇÃO

  • APRESENTAÇÃO

    Esta Tese foi elaborada conforme a “Proposta para apresentação de dissertação/tese dos

    programas de Pós-Graduação do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPE”, baseado em

    Souza (2002) e se encontra estruturada da seguinte forma:

    1.Apresentação;

    2. Considerações iniciais;

    3. Objetivos;

    4. Revisão da literatura

    5. Metodologia;

    6. Resultados;

    7. Discussão;

    8. Conclusão;

    9. Referências Bibliográficas

    Encontram-se nos Apêndices os artigos publicados durante a execução desta tese para

    consulta:

    APÊNDICE D

    - Um artigo de revisão sistemática de literatura, formatado de acordo com a Revista Jornal

    Brasileiro de Otorrinolagingologia, intitulado: Respostas Auditivas de Estado Estável e

    avaliação comportamental em crianças de 6 a 48 meses: uma revisão sistemática da literatura.

    APÊNDICE E

    - Um artigo original que será traduzido e enviado a revista Audiology, após as sugestões da

    banca, intitulado: Audiometria por reforço visual e Respostas Auditivas de Estado Estável em

    crianças com audição normal e perda auditiva sensonrioneural.

  • CONSIDERAÇÕES INICIAIS

  • 16

    1 INTRODUÇÃO

    A audição é um dos sentidos primordiais a vida do ser humano. A prevalência da

    perda auditiva supera a das demais doenças detectáveis na triagem neonatal, com cerca de

    30/10000 casos (NATIONAL CENTER FOR HEARING ASSESSMENT AND

    MANAGEMENT, 2003).

    Considerando-se que o contingente populacional brasileiro se encontra, atualmente, ao

    redor 190 milhões de habitantes, e tendo, em 2010, segundo o DATASUS (base de Dados do

    Sistema Único de Saúde – SUS), 2.644.014 milhões de nascidos vivos, espera-se que teríamos

    tido, no país, só em 2010, cerca de 8.000 novos casos de perda auditiva (DA SILVA; LEWIS,

    2013).

    A perda de audição pode ter um impacto negativo no desenvolvimento cognitivo,

    social e emocional do indivíduo (PUPO; BALIEIRO; FIGUEIREDO, 2008). Os sinais da

    perda auditiva em crianças muito pequenas são sutis e de difícil detecção. A necessidade da

    criação de programas de triagem que propiciassem a detecção da perda auditiva o mais cedo

    possível surgiu em decorrência da detecção da perda auditiva ocorrer geralmente por volta dos

    2 anos de idade, quando os pais notam que a criança não fala (NOVAES ET AL, 2012).

    Diversas são as recomendações para definir e regulamentar a triagem auditiva

    neonatal, entre eles destaca-se o Joint Comitte of Infant Hearing (JCIH), que vem divulgando

    e estudando a triagem desde meados de 1970.

    Este órgão recomenda a detecção, diagnóstico e intervenção o mais cedo possível para

    crianças com perda auditiva, através de uma ação integrada e interdisciplinar entre estado e

    nação. Todas as crianças com perda auditiva congênita ou neonatal devem ser identificadas

    antes dos 3 meses de idade e medidas de intervenção devem ser iniciadas antes dos 6 meses

    de idade (JCIH, 2000; 2007).

  • 17

    Tem sido recomendada, para avaliar a audição em recém-nascidos e crianças

    pequenas, a utilização de um conjunto de procedimentos, os quais estão inseridos no

    programa de saúde auditiva, que é composto de três etapas (JCIH, 2000, 2007; COMITÊ

    BRASILEIRO SOBRE PERDAS AUDITIVAS NA INFÂNCIA, 2001; BRASIL,2012):

    1) Triagem auditiva – realizada até um mês de idade através das emissões

    otoacústicas (Emissões Otoacústicas - EOAs e/ou do Potencial Evocado Auditivo de Tronco

    Encefálico - PEATE;

    2) Diagnóstico – (até os três meses) havendo alteração de resposta na etapa anterior,

    encaminha-se a criança para uma avaliação médica otorrinolaringológica, e exames auditivos

    complementares: Imitanciometria, EOA, PEATE – click (potenciais evocados auditivos de

    tronco encefálico com estímulo tipo click) e frequência específica (PEATE – FE), e avaliação

    das respostas comportamentais;

    3) Intervenção – deve ser iniciada antes dos seis meses de idade e consiste na

    amplificação sonora, implante coclear, bem como atendimento à criança e à família

    Atualmente, a pesquisa de potenciais evocados auditivos de tronco encefálico

    (PEATE) que avalia a integridade da via auditiva, tornou-se procedimento consagrado na

    prática clínica por se tratar de um método de avaliação com grande sensibilidade, rapidez e

    objetividade na capacidade técnica de registrar os potenciais elétricos

    (RAMOS;ALMEIDA;LEWIS, 2013). A pesquisa das emissões otoacústicas (EOAs), por sua

    vez, é considerada, o exame padrão ouro para triagem auditiva neonatal, permitindo avaliar a

    integridade das células ciliadas externas da cóclea (JCIH,2007; RAMOS, 2013).

    Entretanto, os testes objetivos do PEATE - Click e das EOAs que vêm sendo

    comumente utilizados nos Programas de Saúde Auditiva, apresentam algumas limitações.

    Ambos não determinam o status audiométrico do sujeito sob teste, ou seja, não determinam

  • 18

    limiar para cada frequência testada, informação imprescindível à programação de próteses e

    do implante coclear em caso de detecção de perda auditiva (OLIVEIRA ET AL, 2015).

    Vale ressaltar que é possível a utilização de estímulos tonais breves, com frequência

    específica (“tones pips” ou “tones bursts”), para a obtenção dos limiares para diversas

    frequências na avaliação auditiva por PEATE –FE (RODRIGUES; LEWIS, 2010; RAMOS;

    ALMEIDA; LEWIS, 2013). Entretanto, a dificuldade na padronização dos estímulos e da

    detecção das respostas, somados ao longo tempo gasto na determinação dos limiares

    eletrofisiológicos de cada frequência em cada orelha separadamente, são fatores que trazem

    desvantagens ao uso do PEATE-FE (RODRIGUES; LEWIS, 2010).

    Além disso, outra limitação da técnica PEATE é que, embora a pesquisa de limiares

    eletrofisiológicos por meio desta técnica seja objetiva (por não requerer respostas

    comportamentais por parte do paciente), a análise da ausência/ presença de resposta depende

    da interpretação (subjetiva) de um profissional treinado (RAMOS; EDIGAR; SIH, 2012).

    Quando um bebê atinge a idade cronológica/desenvolvimento de 5 ou 6 meses,

    observando-se controle de tronco e cervical, a técnica de audiometria com reforço visual

    proposta por Lidén e Kankkunen (1969) pode ser utilizada como método viável na avaliação

    auditiva (FARIAS ET AL, 2014). A VRA ou audiometria de reforço visual é considerada

    técnica padrão ouro na avaliação comportamental da sensibilidade auditiva em crianças

    pequenas (entre 6 meses e 30 meses de idade) capaz de precisar limiares auditivos

    comportamentais entre 500 e 4000Hz (BECK ET AL, 2014).

    Na prática clínica, observa-se que, às vezes, a criança não aceita a colocação dos fones,

    sendo assim, necessário realizar o teste em campo livre. Desta forma, é difícil a detecção da

    perda auditiva unilateral, assim como a definição do grau da perda auditiva bilateral

    assimétrica, visto que são registradas as respostas da melhor orelha (RODRIGUES; LEWIS,

    2010).

  • 19

    Além disso, em populações de difícil testagem ou com algum comprometimento no

    desenvolvimento cognitivo, a realização da VRA não se torna viável, podendo ocasionar

    resultados não confiáveis (VERSOLATTO-CAVANAUGH ET AL, 2009). Outra questão

    relatada na literatura é que na avaliação de crianças abaixo de 1 ano de idade, o

    condicionamento para realização da técnica é mais difícil e as respostas podem não ser

    confiáveis (LEE ET AL, 2008; DIDONÉ ET AL, 2011).

    Nestas situações torna-se imprescindível a utilização de técnicas objetivas,

    eletrofisiológicas. E, mesmo quando respostas comportamentais confiáveis são obtidas, as

    técnicas objetivas podem fornecer informações adicionais importantes.

    A Resposta Auditiva de Estado Estável, caracteriza-se por uma técnica nova, que se

    propõe a detectar limiares eletrofisiológicos por frequência específica de forma objetiva, não

    necessitando do condicionamento do paciente (Farias et al, 2014).

    Avalia as frequências de 500 a 4000 Hz, as chamadas frequências de fala, por

    concentrarem a energia da maioria dos fonemas da fala, fundamentais ao diagnóstico e

    reabilitação auditiva na programação de prótese e implante coclear. Propicia uma avaliação

    confiável, completa e consideravelmente rápida (possibilita uma estimulação bilateral e

    simultânea de frequências), fatores essenciais para a intervenção o mais cedo possível nos

    casos de identificação de perda auditiva na infância (LINS, 2002; SANTOS, 2010).

    De forma que foi objetivo do presente estudo observar a possibilidade do uso das

    Respostas Auditivas de Estado Estável na avaliação de crianças entre 6 e 48 meses de idade

    com audição normal e com diferentes graus de perda auditiva, a partir da observação da

    concordância com os achados da técnica padrão-ouro, a Audiometria de Reforço Visual

    (VRA).

  • 20

    REVISÃO DA LITERATURA

  • 21

    2 REVISÃO DA LITERATURA

    Com o advento da Triagem Auditiva Neonatal tem se preconizado o diagnóstico da

    perda auditiva até os 3 meses de idade e a intervenção até os 6 meses de idade (JCIH, 2007).

    O diagnóstico audiológico é realizado por meio de técnicas comportamentais e

    eletrofisiológicas (DA SILVA; LEWIS, 2013).

    As técnicas comportamentais têm o viés de necessitarem do condicionamento e da

    participação ativa do paciente durante sua execução o que acaba por demandar um maior

    tempo de avaliação, além de serem influenciadas por questões como o desenvolvimento

    cognitivo e maturacional do indivíduo sob teste (VERSOLATTO-CAVANAUGH ET AL,

    2009).

    De forma que as técnicas eletrofisiológicas, por serem de caráter objetivo (não

    necessitando da participação ativa do paciente em sua execução), têm ganhado espaço na

    avaliação audiológica infantil, por demandarem um tempo menor de avaliação com

    manutenção de sua especificidade (RODRIGUES; LEWIS, 2010).

    A busca por técnicas específicas, sensíveis e rápidas são fatores essenciais para a

    intervenção o mais cedo possível nos casos de identificação de perda auditiva na infância,

    aspectos que favorecem um menor impacto no desenvolvimento de linguagem oral e escolar

    (PUPO; BALIEIRO; FIGUEIREDO, 2008).

    Os exames eletrofisiológicos têm importância particular na avaliação da integridade

    do sistema auditivo em bebês e crianças pequenas, uma vez que possibilitam, com maior

    precisão, o diagnóstico da deficiência auditiva nessa faixa etária. A utilização desses exames

    tanto como medida principal ou como confirmação de outros testes, é particularmente útil

    nesta população (GRIZ ET AL, 2015).

  • 22

    2.1 Diagnóstico da Perda Auditiva na Infância

    A detecção e a intervenção sobre a perda auditiva o mais cedo possível e

    prioritariamente dentro do período crítico de desenvolvimento da fala, linguagem e

    cognição, que ocorre até por volta dos 2 anos de idade, melhoram o desempenho

    individual independente da magnitude da perda auditiva (PUPO; BALIEIRO;

    FIGUEIREDO, 2008).

    Portanto, é recomendável que todas as crianças sejam submetidas à triagem

    auditiva até um mês de idade, e que todas as crianças com deficiência sejam identificadas

    antes dos três meses de idade. Crianças com perda auditiva confirmada devem receber

    intervenção adequada no mais tardar aos seis meses de idade (JCIH, 2000; JCIH, 2007).

    Os sinais de perda auditiva são de difícil detecção pela simples observação do

    comportamento da criança em seu cotidiano. Estudos sugerem que pais de crianças sem

    fatores de risco suspeitaram inicialmente da perda auditiva apenas aos 15 meses de idade,

    sendo a perda confirmada por volta de 22 meses de idade, de forma que se dependesse

    dessa simples observação a identificação se faria tardiamente e a intervenção, caso

    necessário, também, caso esses responsáveis fossem procurar os serviços de diagnóstico

    apenas após a percepção do comportamento auditivo alterado (RAMOS; EDIGAR; SIH,

    2012).

    Desde a introdução da triagem auditiva neonatal universal, a idade média de

    detecção da perda auditiva diminuiu para dois a três meses de idade para crianças com

    perda auditiva congênita (DA SILVA; LEWIS, 2013). No entanto, a perda auditiva em

    crianças pode ser de início tardio, progressiva ou adquirida. Por essa razão, a presença de

    um ou mais indicadores de risco (Quadro 1) demanda uma avaliação audiológica completa

  • 23

    entre 24 e 30 meses, independentemente dos resultados da triagem neonatal (NOVAES

    ET AL, 2012).

    Quadro 1. “Joint Committee on Infant Hearing” 2007 da Academia Americana de Pediatria:

    Indicadores de Risco Associados à Perda Auditiva Congênita, de Início Tardio* ou

    Progressiva na Infância.

    Preocupação do responsável* em relação a atrasos na audição, fala, linguagem ou

    desenvolvimento

    História familiar* de perda auditiva permanente na infância 3. Permanência em

    Unidade de Terapia Intensiva Neonatal por mais de cinco dias, ou qualquer um dos

    seguintes fatores, independente da duração: oxigenação extracorpórea por membrana*

    Ventilação assistida, exposição à medicamentos ototóxicos (gentamicina e

    tobramicina) ou diuréticos de alça (furosemida), ou hiperbilirrubinemia que requer

    exsanguíneo-transfusão

    Infecções intrauterinas, tais como CMV*, herpes, rubéola, sífilis ou toxoplasmose

    Anomalias craniofaciais, incluindo as que envolvem a orelha e conduto auditivo

    externo, e as anomalias do osso temporal

    Achados físicos, tais como mecha de cabelo branco, associados a uma síndrome que

    curse com perda auditiva neurossensorial ou condutiva permanente

    Síndromes associadas com perda auditiva progressiva ou de início tardio*, como

    neurofibromatose, osteopetrose e síndrome de Usher; outras síndromes frequentemente

    identificadas incluem Waardenburg, Alport, Pendred e Jervell e Lange-Nielsen

    Doenças neurodegenerativas*, como síndrome de Hunter, ou neuropatias sensório-

    motoras, como ataxia de Friedreich e síndrome de Charcot-Marie-Tooth

    Infecções pós-natais com cultura positiva associadas à perda auditiva neurossensorial*,

    incluindo meningite bacteriana e viral (sobretudo herpes vírus e varicela) confirmada

    Traumatismo crânio-encefálico, especialmente fratura da base do crânio/osso

    temporal* requerendo hospitalização

  • 24

    Quimioterapia*

    Otite média recorrente ou persistente por pelo menos três meses

    Fonte: Joint Committee on Infant Hearing Year 2007 position statement: principles and

    guidelines for early hearing detection and intervention programs. Pediatrics 2007;120: 898–

    921

    Além disso, todas as crianças devem receber um acompanhamento contínuo das

    habilidades auditivas (Quadro 2) e de comunicação (Quadro 3) adequados à idade,

    independente dos indicadores de risco ou resultados da triagem auditiva (RAMOS; EDIGAR;

    SIH, 2012).

    Qualquer preocupação dos pais sobre a audição ou atraso na comunicação deve ser

    valorizada. A identificação de qualquer anormalidade deve ser proativa e consistente para o

    diagnóstico o mais cedo possível (DA SILVA; LEWIS, 2013).

    A observação regular dos marcos de desenvolvimento e habilidades auditivas, assim como

    da condição da orelha média deve ser realizada periodicamente. A fala e a linguagem

    apresentam evolução rápida nos primeiros três anos de idade, desta forma, não é apropriado

    esperar mais do que três meses para obter uma avaliação audiológica para afastar a

    possibilidade de existência de perda auditiva (NOVAES ET AL, 2012).

  • 25

    Quadro 2. Desenvolvimento Auditivo Normal na Infância Idade (Meses)

    0–4 meses Deve reagir à sons altos, acalma se à voz da mãe, interromper atividades

    momentaneamente durante a apresentação de som em níveis de conversação

    5–6 meses Deve localizar corretamente o som apresentado em um plano horizontal,

    iniciar a imitar sons em repertório próprio da fala ou pelo menos vocalizar

    reciprocamente com um adulto

    7–12 meses Deve localizar corretamente o som apresentado em qualquer plano, deve

    responder ao nome, mesmo quando falado baixo

    13–15 meses Deve apontar em direção a um som inesperado ou objetos familiares ou

    pessoas quando solicitado

    16–18 meses Deve seguir instruções simples, sem gestos ou indicações visuais; pode

    ser treinado para alcançar um brinquedo interessante, quando um som é apresentado

    19–24 meses Deve apontar para partes do corpo quando solicitado; com cerca de 21

    meses podem ser treinados para realizar audiometria condicionada

    Fonte: Matkin ND. Pediatr Rev 1984;6:151.

    Quadro 3. Critérios para Encaminhamento para Crianças com Atraso da Fala de acordo com a

    idade (meses)

    Aos 12 meses ainda não balbucia ou imita voz

    Aos 18 meses não fala palavras isoladas

    Aos 24 meses Vocabulário de palavras únicas ≤ 10 palavras

    Aos 30 meses Vocabulário com menos de 100 palavras, sem evidência de combinação

    de 2 palavras; ininteligível

    Aos 36 meses Vocabulário com menos de 200 palavras; não utiliza frases telegráficas;

    clareza

  • 26

    Aos 48 meses Vocabulário com menos 600 palavras; não utiliza frases simples;

    clareza ≤80%

    Fonte: Matkin ND. Pediatr Rev 1984;6:151.

    Os sinais para suspeição de perda auditiva são distintos a cada etapa do desenvolvimento

    da criança. Até a idade de três anos, os pais relatam frequentemente desatenção, resposta

    irregular ao som, ou atraso na fala. De três a seis anos de idade, a queixa é de que a fala não é

    clara ou é distorcida. Após seis anos de idade a criança já refere dificuldade de aprendizado

    associada. Entretanto, vale ressaltar que o atraso ou atipia das habilidades de comunicação na

    infância pode ser devido à perda auditiva, mas também pode estar relacionado a outras

    alterações como: afasia, retardo mental, transtornos dentro do espectro do autismo e

    transtornos comportamentais e afetivos, sendo o diagnóstico diferencial essencial para uma

    intervenção adequada (RAMOS; EDIGAR; SIH, 2012).

    Em vez da avaliação auditiva informal baseada na informação dos pais ou na avaliação

    comportamental informal no consultório médico, a avaliação audiológica formal é a única

    forma de certificar-se da audição normal, uma vez que os sinais de perda auditiva na infância

    são sutis e podem ser confundidos com alterações do desenvolvimento. A avaliação da

    audição na infância pode ser obtida, prioritariamente, através dos seguintes métodos (DA

    SILVA; LEWIS, 2013):

    Medidas comportamentais:

    - Audiometria comportamental sem reforço: observação das reações de bebês em perante

    estímulos sonoros de diversas características tais como tambores, pratos, sinos e chocalhos,

    entre outros. Indicada desde o nascimento até seis meses de idade;

  • 27

    - Audiometria comportamental com reforço visual: localização da fonte sonora em um

    alto-falante ou fones de ouvido, reforçada por um estímulo visual atraente. Indicada para

    lactentes jovens com idade superior a seis meses de idade ou com distúrbios neurológicos ou

    psiquiátricos;

    - Audiometria condicionada: após três anos de idade: apresentação do som por meio de

    fones de ouvido ou alto-falante, observando-se o encaixe de um brinquedo em decorrência do

    ouvir do estímulo por parte da criança sob teste.

    Medidas objetivas/Eletrofisiológicas:

    - Emissões otoacústicas transientes: podem ser realizadas após o nascimento, avaliam a

    função coclear, mais especificamente das células ciliadas externas.

    - Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico: Avalia o funcionamento da via auditiva,

    capaz de determinar o limiar eletrofisiológico.

    No entanto, as estimativas comportamentais da sensibilidade auditiva nem sempre podem

    ser obtidas em crianças pequenas e, além disso, geralmente não avaliam cada orelha

    separadamente (CORREA ET AL, 2012). Desta forma, a bateria inicial de testes audiológicos

    para confirmar a perda auditiva em crianças deve incluir medidas eletrofisiológicas/objetivas,

    seguidas por métodos comportamentais adequados a idade da criança avaliada.

  • 28

    2.2 Audiometria de reforço visual

    A avaliação comportamental como o próprio nome sugere tem como objetivo avaliar a

    função auditiva da criança por meio de uma resposta comportamental, seja para determinação

    do seu limiar auditivo (sensibilidade auditiva) ou para verificar se os comportamentos

    auditivos da criança estão compatíveis com a sua faixa etária. (DIDONÉ ET AL, 2011)

    Na avaliação do comportamento auditivo, são apresentados às crianças sons

    instrumentais e/ou sons de fala foneticamente balanceados, esperando-se como resposta

    mudança no comportamento frente ao som. Entretanto, a desvantagem deste procedimento é

    que crianças com perdas auditivas discretas a moderadas podem ser tomadas como normais.

    Por outro lado, crianças com audição normal, mas que apresentem distúrbios comportamentais

    e cognitivos podem ser classificadas erroneamente como deficientes auditivas (NOVAES ET

    AL, 2012).

    Quando um bebê atinge a idade cronológica/desenvolvimento de 5 ou 6 meses,

    observando-se controle de tronco e cervical, a técnica de audiometria com reforço visual

    proposta por Lidén e Kankkunen (1969) pode ser utilizada como método viável na avaliação

    auditiva, até os 3 anos de idade (DIDONÉ ET AL, 2011; HOSHINO ET AL, 2013).

    A VRA é uma das principais técnicas comportamentais para avaliar a sensibilidade

    auditiva em crianças pequenas (HOSHINO ET AL, 2013). Este método é uma modificação da

    resposta de orientação condicionada (COR) de Suzuki e Ogiba (1960). Tem como princípio o

    condicionamento operante estímulo-resposta visual, avaliando-se, quantitativamente, a

    sensibilidade auditiva em diferentes frequências (CAVANAUGH ET AL, 2009).

    A técnica consiste na apresentação de um tom puro modulado (warble), nas frequências

    de 500 a 4000Hz, por meio de alto-falantes, em fones supra auriculares, em fones de inserção

    ou ainda através de vibradores ósseos, ou em campo livre. Sendo associada a resposta de busca

  • 29

    da fonte sonora (movimento de cabeça) um reforço visual, por meio da ativação e iluminação

    de um brinquedo animado tridimensional (NOVAES ET AL,2012).

    Para tanto, é necessário o condicionamento do indivíduo sob teste, ou seja, treinar a

    criança para que a todo momento que o estímulo auditivo seja ofertado, a resposta de busca de

    fonte sonora ocorra, sendo em consequência, o reforço visual, ofertado pelo examinador.

    Portanto, é fundamental que o comportamento de busca não ocorra em resposta ao estímulo

    visual, pois este estímulo serve apenas como reforço ao comportamento de busca da fonte

    sonora (DIDONÉ ET AL, 2011).

    A VRA comumente é realizada em campo livre, pois, na maioria das vezes, durante a

    situação de teste, a criança não aceita a colocação dos fones. Com a apresentação do estímulo

    por meio de campo livre há impossibilidade de detecção de perda auditiva unilateral, assim

    como a definição do grau da perda auditiva bilateral assimétrica, por serem registradas apenas

    as respostas da melhor orelha (CORREA ET AL, 2012).

    Além disso, em populações de difícil testagem ou com algum comprometimento no

    desenvolvimento cognitivo e, até, dependendo do desenvolvimento maturacional do indivíduo

    sob teste, a realização da Audiometria de Reforço Visual não se torna viável, devido a

    necessidade de condicionamento e da participação ativa do paciente durante a avaliação,

    podendo ocasionar resultados não confiáveis (LEE ET AL, 2008; DIDONÉ ET AL, 2011).

    Há, portanto, algumas situações em que se deve aplicar técnicas de caráter objetivo a

    fim de avaliar a audição do sujeito sob teste de forma mais precisa. E mesmo em situações em

    que a avaliação comportamental trouxer resultados confiáveis, nada elimina o uso de técnicas

    eletrofisiológicas a fim de agregar dados ao diagnóstico audiológico (BRASIL, 2012).

  • 30

    2.3 Respostas Auditivas de Estado Estável

    Técnica descrita inicialmente por Aoyagi et al (1994), as Respostas Auditivas de

    Estado Estável (RAEE) são respostas eletrofisiológicas a tons modulados em amplitude e/ou

    frequência que podem ser registradas por eletródios de superfície, tal como os demais

    potenciais evocados corticais ou de tronco cerebral.

    A resposta de 40Hz é a versão do estado estável dos potenciais de média latência.

    Infelizmente a resposta de 40Hz não é confiável em recém-nascidos (LINS ET AL, 2002),

    provavelmente devido ao fato do córtex auditivo e suas conexões não estarem completamente

    desenvolvidos nesta faixa etária, além de serem atenuados durante o sono e sob o efeito de

    anestesia (COSETTI; ROLAND, 2010).

    A faixa entre 70 e 100 Hz tem se mostrado mais efetiva por gerar respostas confiáveis

    em sujeitos adormecidos (RANCE; TOMLIN, 2006; LEE ET AL, 2008). A fisiologia do

    potencial evocado de estado estável se diferencia na cóclea. O som causa polarização e

    despolarização das células ciliadas internas, mas somente a despolarização produz potenciais

    de ação nas fibras nervosas auditivas, assim a saída da cóclea contém um padrão retificado do

    estímulo acústico. Esta retificação faz com que a resposta gerada por um estímulo contínuo,

    modulado em amplitude, possa ser detectada como um pico espectral na frequência de

    modulação (LINS ET AL, 2002; KORCZAK ET AL, 2012).

    As RAEE podem ser gravadas com estímulos específicos por frequência ou estímulos

    de banda larga (não específicos por frequência). Os estímulos de banda larga incluem cliques,

    ruído, ruído de amplitude modulada e chirps, sendo este tipo de estimulação utilizado em

    protocolos de triagem, devido ao fato de gerarem respostas de maior amplitude em um curto

    tempo de estimulação (PINTO, 2012).

    Os estímulos específicos em frequência vêm sendo utilizados na prática clínica em

    protocolos de caráter diagnóstico que visam precisar limiares auditivos para cada frequência

  • 31

    testada e correspondem aos cliques filtrados, chirps de banda limitada, ruído de banda estreita,

    tonepipes, ruído de banda estreita de amplitude modulada e tons puros de amplitude modulada

    e ou frequência modulada (RODRIGUES; LEWIS, 2010).

    Esta especificidade é possível pela própria fisiologia do funcionamento do sistema

    auditivo. Um sinal acústico complexo formado por múltiplas portadoras, moduladas em

    amplitude, onde para cada tom haja uma frequência de modulação específica estimula

    diferentes regiões da membrana basilar, de forma a ativar um grupo de células ciliadas para

    cada uma das frequências portadoras (GHANNOUM ET AL, 2009).

    Os tons modulados são retificados no ouvido interno de forma independente gerando

    componentes espectrais diferenciados que são representados por uma série de picos

    correspondentes às frequências de modulação. Estes componentes que não estão presentes no

    conteúdo espectral dos estímulos são usados para acessar a resposta coclear de cada

    frequência estimulada (Figura 1) (PICTON; VAN ROON; JOHN, 2007; PICTON, VAN

    ROON, JOHN, 2009; COSETTI; ROLAND, 2010).

  • 32

    Figura 1 – Fisiologia das Respostas Auditivas de Estado Estável. Fonte: Própria autora,

    Recife, 2016

    As respostas de estado estável são caracterizadas em amplitude e fase. O espectro de

    resposta usualmente mostra apenas a informação de amplitude. A fase pode ser representada

    por um gráfico polar, que mostra a amplitude como vetor com sua origem em zero e a fase

    como o ângulo entre este vetor e o eixo x (Figura 2)(RODRIGUES; LEWIS, 2010;

    KORCZAK ET AL, 2012).

  • 33

    Figura 2 – Respostas Auditivas de Estado Estável representadas em amplitude e fase. Fonte:

    Própria autora, Recife, 2016

    As frequências de modulação funcionam como marcadores do estímulo, a energia se

    concentra na portadora e em frequências que correspondem a mais e menos a frequência de

    modulação. Os tons de amplitude modulada dispersam menos energia pelo espectro

    favorecendo a avaliação por frequência específica (500 a 4000Hz).

    (PICTON; VAN ROON; JOHN, 2007; PICTON, VAN ROON, JOHN, 2009; COSETTI;

    ROLAND, 2010)

    Estes tons contêm energia apenas na frequência da portadora e duas bandas separadas

    da portadora pela frequência de modulação. A frequência modulada pode ser adicionada à

    amplitude modulada para oferecer um espectro de resposta mais largo, sem ocasionar

    mudanças no espectro de estímulo. O fato de os estímulos serem marcados de formas

    diferentes propicia que as respostas possam ser distinguidas e que se possa apresentar,

  • 34

    portanto, os estímulos combinados bilateralmente e simultaneamente sem risco de misturar as

    respostas (Figura 3).

    Figura 3 – Frequências de modulação e portadoras do estímulo e a avaliação por frequência

    específica. Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    As repostas podem ser gravadas, portanto, em estimulação simultânea de frequências

    portadoras cada uma delas marcada por uma diferente frequência de modulação. Isto é

    possível devido a uma técnica nomeada de MASTER (Multiple Auditory Steady State

    Responses) (LINS, 2002; PINTO ET AL, 2012). A audiometria por múltiplas respostas

    auditivas de estado estável (Multiple Auditory STEady-State Response – MASTER) é uma

    adaptação da RAEE desenvolvida por Picton; Lins e John em Ottawa e Toronto, Canadá

    (LINS; PICTON, 1995; LINS; PICTON; BOUCHER, 1996). (Figura 7).

    Isso se explica porque cada estímulo tem sua frequência de modulação específica que

    pode ser separadamente identificada no espectro do EEG, sem haver mistura de respostas. A

    avaliação pode ser feita de forma mais eficiente e rápida testando-se ambas orelhas

    simultaneamente, um total de oito estimulações 4 por orelha, e 8 respostas podem ser

  • 35

    separadamente identificadas ao final do exame e esta forma de estimulação é utilizada em

    diversos sistemas que fazem a RAEE na atualidade (RODRIGUES; LEWIS, 2010).

    As respostas são identificadas e analisadas quando distinguidas do ruído de registro

    (atividade muscular, interferência de rede elétrica, atividade cerebral) pela comparação de

    respostas na frequência de estimulação com a atividade registrada de outras frequências do

    espectro numa grandeza de 95% por meio de testes estatísticos a coerência de fase ou teste T²

    (Figura 4) e o teste F (figura 5) que são aplicados automaticamente pelo software do

    equipamento. (PICTON; VAN ROON; JOHN, 2007; PICTON, VAN ROON, JOHN, 2009).

    A coerência de fase parte do princípio de que em resposta a um estímulo modulado a

    atividade cerebral seguirá, constantemente, a frequência de modulação deste estímulo. O

    retardo entre o estímulo modulado aplicado e a resposta gerada será constante caso a atividade

    gerada no EEG esteja seguindo o estímulo. Esse retardo pode ser medido pelo ângulo da fase.

    Diferentemente do relacionamento constante entre resposta e estímulo (coerência de fase), o

    ruído captado durante o registro terá um comportamento aleatório. Os valores variam de 0

    (completamente aleatória) a 1 (completamente fechada) (CONE WESSON ET AL, 2002).

  • 36

    Figura 4 – Teste estatístico de coerência de fase (teste T²). Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    Teste F

    O teste F avalia se a amplitude da resposta, mensurada na frequência de modulação é

    maior que a amplitude do ruído, avaliado nas sidebins, frequências adjacentes. Quando

    aplicado o FFT, cada resposta ocorre precisamente em um ponto harmônico do espectro de

    frequências e o ruído se dispersa amplamente neste espectro.

    Figura 5 – Teste estatístico F. Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    Alguns sistemas utilizam as duas formas de análise e outros, as aplicam

    separadamente. Pesquisas sugerem que ambos os métodos estatísticos, teste F e T² e os

    algoritmos por eles aplicados são capazes de detectar as respostas auditivas de estado estável

    de forma precisa (PICTON ET AL, 2003; PICTON; VAN ROON; JOHN, 2007).

  • 37

    As vantagens da aplicabilidade das respostas auditivas de estado estável segundo Lins

    (2002); Korczac et al (2012) são:

    Podem ser registradas até 10 a 20 dB acima dos limiares comportamentais

    usando portadoras de 0,5; 1;2 e 4 KHz;

    Podem ser registradas em lactentes e durante o sono;

    Reproduzem audiogramas comportamentais em pessoas com audição normal

    ou perda auditiva;

    São simples de analisar, pois utilizam estimativas claramente definidas do sinal

    e do ruído, pois ao ocorrerem no domínio da frequência fica mais fácil

    distingui-los através de promediação e técnicas estatísticas bem definidas como

    o teste F e o T2;

    Podem ser avaliadas pelo menos quatro frequências por orelha, diferindo uma

    oitava entre si, além de poderem ser testadas simultaneamente; os resultados

    podem ser apresentados em forma de um audiograma convencional e o teste

    pode ser automatizado.

    Outra vantagem definida por Rodrigues e Lewis (2010) é que a RAEE envolve: níveis

    de saída maiores que estendem o campo de avaliação para perdas de graus maiores.

    Vale ressaltar, que apesar de apresentarem diversas vantagens quando comparadas as

    limitações das demais técnicas utilizadas na avaliação audiológica infantil na atualidade, as

    RAEE apresentam também restrições em sua aplicabilidade. Não são indicadas, por exemplo,

    para avaliação de indivíduos com neuropatia auditiva. Rance e Briggs (2002), Rance et al

    (2005) e Han, Mo e Liu (2006) observaram em seu estudo que houve pouca ou nenhuma

    correlação entre os achados por RAEE em comparação a avaliação por audiometria

    comportamental para indivíduos nesta condição. Diferentemente do PEATE e da Audiometria

  • 38

    por Reforço Visual, cujo uso é possível e as respostas confiáveis, na avaliação de indivíduos

    neuropatas (CORREA ET AL, 2012).

    Respostas Auditivas de Estado Estável e VRA: concordância, viés e variabilidade

    Estudos têm sido realizados de forma a comparar os achados da técnica

    comportamental de Audiometria por Reforço Visual e as RAEE de forma a contribuir para a

    normatização da técnica, entretanto, para que isso seja possível, é fundamental avaliar sujeitos

    normais e com perda auditiva de diversos graus, com protocolos bem definidos, observando a

    correlação entre os achados.

    Na comparação entre as duas técnicas é fundamental levar em consideração que ambas

    são capazes de estimar limiares por frequência, entretanto o fazem de forma diferente e com

    estímulos diferentes. O que por si só contribui para que diferenças entre os achados ocorram.

    É descrita na literatura em geral forte correlação entre as técnicas, com índices que

    variam entre 0,58 a 0,98, dentre as frequências avaliadas (500 a 4000Hz). Entretanto fica

    evidente a diversidade dos protocolos de registro utilizados dentre os estudos existentes sendo

    observadas diferentes formas de estimulação (simples e múltipla), tipo de estímulo (tom puro

    modulado, tonepipe), calibração variada (dB NPS, dB NA) e promediação, filtros e testes

    estatísticos diversos, o que influencia as respostas encontradas e dificulta a comparação entre

    os achados, e a consequente normatização da técnica. O Quadro 4 resume os estudos da

    literatura realizados com crianças na faixa etária dos 6 a 48 meses, demonstrando os

    protocolos utilizados e os índices de correlação obtidos na comparação entre a VRA e a

    RAEE.

  • 39

    Quadro 4 – Estudos comparando os achados das RAEE com VRA segundo método, idade do

    sujeito, calibração dos estímulos e coeficiente de correlação

    Estudos Método da RAEE Idade dos sujeitos Calibração dos

    estímulos

    Coeficiente de

    correlação

    Rance et al, 1995

    Estimulação simples

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    Crianças 29 meses e

    adultos de 56 anos

    RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    250 Hz - 0,96

    500Hz - 0,97

    1000Hz - 0,98

    2000Hz - 0,99

    4000Hz -0,99

    Lins et al, 1996 Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo:

    amplitude modulada

    Teste estatístico: teste

    F

    1 mês a 40 anos RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    Não refere

    Ayoagi et al, 1999 Estimulação simples

    Tipo de estímulo:

    amplitude modulada

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    3 a 15 anos RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,73

    1000Hz – 0,86

    2000Hz – 0,88

    4000Hz – 0,92

    Perez-Abalo et al,

    2001

    Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo:

    amplitude modulada

    Teste estatístico: teste

    F

    6 a 15 anos RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,70

    1000Hz – 0,78

    2000Hz – 0,82

    4000Hz – 0,77

    Rance e Rickards,

    2002

    Estimulação simples

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    1 a 8 meses RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,96

    1000Hz – 0,97

    2000Hz – 0,98

    4000Hz – 0,97

    Rance e Briggs, 2002 Estimulação simples

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    1 a 8 meses RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,86

    1000Hz – 0,81

    2000Hz – 0,93

    4000Hz – 0,89

  • 40

    Cone Wesson et al,

    2002

    Estimulação simples

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    Média 16 meses RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,84

    1000Hz – 0,80

    2000Hz – 0,88

    4000Hz – 0,77

    Stueve e O’ Rourke,

    2003

    Estimulação simples

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    1 a 125 meses RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,82

    1000Hz – 0,90

    2000Hz – 0,83

    4000Hz – 0,83

    Swanepoel, Hugo e

    Roode, 2004

    Estimulação simples

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    10 a 15 anos RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,58

    1000Hz – 0,74

    2000Hz – 0,68

    4000Hz – 0,69

    Luts et al, 2004 Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico: teste

    F

    3 a 14 meses RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,92

    1000Hz – 0,93

    2000Hz – 0,91

    4000Hz – 0,93

    Rance et al, 2005 Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico:

    coerência da fase

    1 a 3 meses RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,96

    1000Hz – 0,97

    2000Hz – 0,98

    4000Hz – 0,98

    Han et al, 2006 Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo:

    tonepipes

    Teste estatístico: teste

    F

    6 meses a 5 anos RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,80

    1000Hz – 0,86

    2000Hz – 0,90

    4000Hz – 0,85

    Duarte et al, 2008 Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico: teste

    7 a 30 anos RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,88

    1000Hz – 0,93

    2000Hz – 0,93

  • 41

    F 4000Hz – 0,88

    Linares, 2009 Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico: teste

    F

    1 a 7 anos RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA entre

    0,7 e 0,93

    Rodrigues e Lewis,

    2010

    Estimulação múltipla

    Tipo de estímulo: tom

    puro modulado em

    frequência e

    amplitude

    Teste estatístico: teste

    F

    4 a 36 meses RAEE (dB NPS

    convertido em dB NA,

    usando ANSI para

    fones de inserção)

    VRA em dB NA

    RAEE x VRA

    500Hz – 0,90

    1000Hz – 0,93

    2000Hz – 0,93

    4000Hz – 0,89

  • 42

    A existência de diversos protocolos de registro tem um impacto significante no

    comportamento da resposta encontrada, o que a literatura já vem discutindo. Alguns estudos

    já têm refletido sobre a influência da estimulação múltipla ou simples na amplitude das

    respostas. Picton, Van Roon e John (2007) e Picton, Van Roon e John (2009) referem que

    haveria significativa redução na amplitude de resposta à estimulação simultânea e múltipla

    quando comparada à estimulação de frequências isoladas, principalmente para as frequências

    de 1KHz e 2 KHz, o que refletiria em obtenção de limiares piores para essas frequências

    durante a estimulação múltipla. Lins et al (2002), entretanto, referiram que não haveria

    mudança no padrão de respostas frente à estimulação múltipla e simultânea.

    Outros afirmam que algumas frequências têm limiares naturalmente maiores que as

    demais frequências testadas. Calil, Lewis e Fiorini (2006) na avaliação com RAEE em

    crianças ouvintes entre 3 e 14 meses de idade, avaliando a correlação entre os achados de

    VRA, PEATE e RAEE, observaram que o estímulo de 500Hz apresenta níveis de respostas

    maiores por ter um espectro de frequência semelhante ao ruído interno do paciente e ao ruído

    de fundo, o que poderia influenciar a sua comparação com os achados da audiometria. Apesar

    de referir forte correlação entre os achados dos três exames.

    O tipo de estímulo utilizado também teria sua parcela de influência sobre os limiares

    obtidos nas respostas, pois a via auditiva responderia diferentemente aos tipos de estímulo. O

    efeito de somação dos estímulos de banda larga provocaria o aparecimento de limiares em

    menor intensidade comparados ao tom puro. Os achados do estudo de Linares, 2009, ilustram

    essa situação. Foram avaliadas 23 crianças entre 1 e 7 anos, de forma a comparar os achados

    dos exames de RAEE com os exames de PEATE click, PEATE tone burst e VRA. A

    correlação entre o RAEE e audiometria variou entre 0,70 e 0,93, para a comparação com o

    PEATE click, entre 0,83 e 0,89 e para o PEATE tone burst 0,73 a 0,93.

  • 43

    Na avaliação da correlação para diferentes graus de perda de acordo com a predição do

    limiar auditivo de Jerger (1978), foi revelada uma concordância moderada. Pois, observou-se

    que cinco crianças (21,7%) com perda leve bilateralmente, foram classificadas pelo RAEE

    (tom puro modulado) quando comparado ao PEATE de estimulação de banda larga, como

    perda severa em ambas orelhas e quatro crianças (17,4%) para a orelha direita e duas (8,7%)

    para a orelha esquerda com perda severa, foram classificadas como perda profunda. Esta

    diferença nos achados de limiares entre as técnicas foi justificada pelo tipo do estímulo de

    natureza diferente aplicado em cada uma delas.

    Outra questão que vem sendo relatada é o comportamento da diferença entre os

    limiares comportamentais e eletrofisiológicos em relação ao grau da perda auditiva dos

    sujeitos sob avaliação. Rance et al, 2005 refere que as RAEE superdimensionariam as perdas

    auditivas, pois se observa um comportamento de diminuição da diferença entre os limiares

    comportamentais e eletrofisiológicos à medida que aumenta o grau da perda (Figura 6).

    Entretanto, infere-se que isto de fato não ocorre, este comportamento de diminuição da

    diferença entre os limiares eletrofisiológicos e comportamentais se justificaria pelo

    recrutamento, presente em indivíduos com alteração de caráter neurossensorial (LINS;

    PICTON; BOUCHER, 1996; PICTON; VAN ROON; JOHN , 2009).

  • 44

    Figura 6, extraída de Rance et al, 2005. Limiares obtidos nas RAEE e no VRA nas

    frequências de 500 a 4000Hz, em crianças normais e com perdas de diversos graus. Demostra

    que à medida que aumenta o grau da perda diminui a diferença entre o limiar comportamental

    e eletrofisiológico.

    Há relatos de que as RAEE são capazes de estimar a audição residual. Isso se dá

    porque em muitos casos os aparelhos de PEATE clique, que é a técnica eletrofisiológica para

    determinação de limiar que vem sendo utilizada clinicamente, tem uma limitação de

    intensidade de estimulação que se centra em torno de 90 a 100 dB nNA, já os estímulos de

    natureza contínua apresentados nas RAEE são capazes de estimular em intensidades mais

    fortes, o que possibilitaria mensurar perdas de grau profundo.

    A figura 7 ilustra no estudo de Rodrigues, Lewis e Fichino (2010) uma situação em

    que houve ausência de respostas a VRA e identificou-se resposta a RAEE, na avaliação de

    indivíduos com perda auditiva de grau profundo. Entretanto se discutiu se essa presença de

    respostas a RAEE em maior intensidade poderia estar relacionada a respostas vestibulares e

    não auditivas.

  • 45

    Figura 7, extraída de Rodrigues, Lewis, Fichino, 2010. Comparação dos achados de

    limiar das RAEE, PEATE clique e VRA para indivíduos com perda profunda.

    Fora a natureza diferente dos estímulos, outra questão que teria relação com os

    limiares encontrados e deveria ser levada em conta na comparação entre as técnicas é o tempo

    de promediação. Picton et al (2005) relatou essa questão ao descrever as respostas de um

    mesmo individuo frente a estímulos de tom puro modulado (500Hz a 4000Hz) em

    estimulação bilateral simultânea em comparação a limiares comportamentais, com tempos de

    promediação crescentes às RAEE.

    Primeiramente, com um tempo de gravação de 1,6 min, foram descritos limiares de

    cerca de 30 a 40 dB acima dos limiares comportamentais e após 9,8 min, foram encontrados

    limiares em intensidades menores, com menor variabilidade da diferença entre os limiares

    eletrofisiológicos encontrados e os limiares comportamentais. Em protocolos com tempos de

    gravação abaixo de 2 min descreve-se que não seria possível identificar respostas de estado

    estável com amplitudes menores que 40nV e como a RAEE se caracteriza por uma resposta

    de amplitude/frequência um menor tempo de promediação poderia incorrer em ausência de

    respostas e aumento de falso positivos.

    A própria natureza de avaliação de cada uma das técnicas influenciaria os achados. O

    fato de a RAEE ser objetiva, não necessitar da participação ativa do paciente durante a

  • 46

    aquisição, e a VRA, ser subjetiva, ou seja, requerer uma resposta motora por parte do

    indivíduo sob teste, também teria influência sobre os achados.

    O estudo de Rodrigues e Lewis (2010) reflete sobre esta questão. Os autores

    avaliaram quatorze crianças entre 4 e 36 meses, com diagnóstico de perda auditiva coclear,

    descrevendo a correlação entre os achados da técnica de múltipla estimulação nas frequências

    de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 4000Hz com a audiometria por reforço visual (VRA),

    observando coeficientes de correlação intraclasse de 0,90; 0,93; 0,93; 0,89 para as frequências

    de 0,5, 1, 2 e 4KHz respectivamente, de forma a revelar forte concordância entre as técnicas.

    Entretanto referiram que em algumas das avaliações de correlação observaram-se

    valores negativos, ou seja, as respostas apresentaram-se melhores a RAEE do que a VRA. Isto

    se justificou no estudo, pelo fato de aspectos maturacionais motores influenciarem as

    respostas do VRA e não as do RAEE, uma vez que na VRA se solicita como resposta por

    parte do paciente o movimento de cabeça em direção ao estímulo sonoro.

    Vale ressaltar, contudo, que o esperado é que naturalmente os limiares

    eletrofisiológicos sejam mais elevados que os comportamentais, o que se justificaria

    provavelmente pelo fato de a RAEE avaliar especificamente a via auditiva na altura do

    colículo inferior e a VRA a função auditiva propriamente dita, além dos aspectos inerentes a

    natureza de avaliação diferenciada de ambas as técnicas (KORCZAK ET AL, 2012).

    A literatura tem colocado que os limiares a RAEE se situam em cerca de 10 a 20dB

    acima dos limiares comportamentais (RODRIGUES; LEWIS, 2010). Para se chegar neste

    valor é necessário considerar a existência de um viés a ser corrigido durante a comparação dos

    limiares (Quadro 5). E este viés é esperado frente a natureza de avaliação diferente de ambas

    as técnicas.

    Entretanto ao se considerar puramente a subtração do viés, se limitaria a capacidade de

    se estimar o limiar comportamental até a intensidade de 90 dB, considerando-se que os

  • 47

    equipamentos das RAEE avaliam apenas até a um máximo de 110dB e a diferença máxima de

    viés a ser considerado descrito na literatura situa-se em 20dB.

    Ao se retirar o viés, nós temos que lidar com a variabilidade desta diferença

    intrasujeito, o que acaba por determinar a acurácia relacionada à estimação do limiar

    comportamental a partir do limiar eletrofisiológico. A variabilidade está condicionada ao

    desvio padrão da amostra, esta relação e estes valores de desvio padrão vêm sendo descritos

    na literatura (Quadro 5).

    Um valor de desvio padrão comumente relatado na literatura é 10dB. Isto significa,

    por exemplo, que os limiares comportamentais estimados para um determinado indivíduo

    estariam entre 20dB acima e 20 dB abaixo do limiar eletrofisiológico obtido ao se considerar

    um intervalo de confiança de 95% (TTLUMAK ET AL, 2007).

    Vale ressaltar que ao se considerar os valores de viés e de variabilidade deve-se

    observar a metodologia dos estudos e os protocolos utilizados. O tempo de promediação

    utilizado na RAEE, por exemplo, teria uma influência direta sobre os valores de desvio

    padrão a serem utilizados na comparação de limiar entre as técnicas. Relata-se que em

    indivíduos normais, os valores de desvio padrão seriam de cerca de 7dB em tempos de

    gravação de 10 min, e de 12 dB em tempos de gravação de 100 seg (PICTON ET AL, 2005)

  • 48

    Quadro 5 – Média da diferença dos limiares das RAEE e respostas comportamentais (viés)

    com valores de desvio padrão, descritos na literatura em estudos realizados com adultos e

    crianças, com a técnica de estimulação múltipla, adaptado de Ttlumak et al, 2007

    Normais Estudo 500 Hz 1000Hz 2000Hz 4000Hz

    Lins et al, 1996 14 ± 11 12 ± 11 11 ± 8 13 ± 11

    Herdman e

    Stapells, 2001

    14 ± 10 8 ± 7 8 ± 9 15 ± 9

    Dimitrijevic et al,

    2002

    17 ± 10 4 ± 11 4 ± 8 11 ±7

    Luts e Wouters,

    2004*

    15 ± 9 10 ± 11 12 ± 7

    Luts e Wouters,

    2004**

    12 ± 7 7 ± 7 9 ± 7 13 ± 7

    Picton et al,

    2005***

    35 ±16 16 ±8 19 ± 9 23 ± 15

    Picton et al,

    2005****

    21 ± 8 7 ± 8 10 ± 6 13 ± 7

    Tlumak et al,

    2007

    17 ± 12 13 ± 12 11 ± 10 15 ± 10

    Elberling et al,

    2007

    11 ± 7 10 ± 7 6 ± 5 13 ± 4

    D’ haenens et al,

    2009

    19 ± 10 15 ± 8 10 ± 8 13 ± 8

    Perda auditiva Lins et al, 1996 9 ± 9 13 ± 12 11 ± 10 12 ± 13

    Dimitrijevic et al,

    2002

    13 ± 11 5 ± 8 5 ± 9 8 ± 11

    Herdman e

    Stapells, 2003

    14 ± 13 8 ± 9 10 ± 10 3 ± 10

    Van Mannen e

    Stapells, 2005

    17 ± 11 15 ± 7 19 ± 9 4 ± 10

    Picton et al,

    2005****

    11 ± 18 -4 ± 9 3 ± 11 5 ± 12

    Vanderverff e

    Brown, 2005

    15 ± 8 9 ± 6 8 ± 6 6 ± 5

    Tlumak et al,

    2007

    14 ± 13 10 ± 13 9 ± 12 8 ± 13

    Lin, Ho e Wu,

    2009

    17 ± 14 15 ± 9 14 ± 8 11 ± 9

    D’ haenens et al,

    2009

    (perda leve)

    14 ± 11 13 ± 8 14 ± 7 13 ± 6

    D’ haenens et al,

    2009

    (perda moderada)

    14 ± 7 10 ± 10 9 ± 6 11 ± 9

    *5 min de promediação

    ** 15 min de promediação

    *** 2 min de promediação

    **** 12 min de promediação

  • 49

    A importância de se estudar os valores de viés e variabilidade a serem aplicados aos

    limiares eletrofisiológicos obtidos nas RAEE de forma a determinar uma formula de predição

    de limiares para cada frequência testada (500 a 4000Hz) para a partir disto estimar limiares

    comportamentais, se dá na possibilidade desta fórmula ser aplicada com eficácia sobre os

    limiares obtidos nas RAEE, em casos onde não possa ser realizada a avaliação

    comportamental.

    Estariam incluídos nestes casos, indivíduos com limitação cognitiva, motora, pacientes

    que não condicionam, ou crianças abaixo de 1 ano de idade em que se relata que as respostas

    comportamentais não seriam tão confiáveis. Fornecendo assim as informações necessárias

    para a programação de AASI e implante coclear para estes indivíduos, que demanda a

    realização prévia de exames de detecção de limiares por frequência específica.

    Ao se escolher uma técnica de avaliação auditiva deve-se levar em consideração o que

    se deseja avaliar e qual o propósito da avaliação, respeitando as limitações e possibilidades de

    cada técnica escolhida. A Resposta Auditiva de Estado Estável demonstra-se uma alternativa

    viável na avaliação audiológica infantil, porém, esta técnica não está normatizada, o que

    limita sua aplicabilidade clínica, sendo necessária a realização de estudos de comparação dos

    achados desta, com de técnicas diagnósticas padrão ouro, e protocolos bem definidos, a fim de

    melhor definir a confiabilidade destes achados.

  • 50

    OBJETIVOS

  • 51

    2 OBJETIVOS

    3.1 Geral

    Verificar a aplicabilidade da técnica resposta auditiva de estado estável para

    determinar os limiares auditivos em crianças com audição normal e perda auditiva de

    diversos graus, com idades entre 6 e 48 meses de idade, levando-se em consideração a

    audiometria de reforço visual como teste padrão ouro para a população investigada.

    3.2 Específicos

    Caracterizar a população de estudo segundo idade e sexo;

    Descrever os perfis individuais dos limiares da RAEE e da VRA em cada frequência

    testada (0,5; 1; 2 e 4KHz);

    Descrever a média dos limiares da VRA e RAEE em cada frequência testada (0,5; 1;

    2 e 4KHz);

    Descrever a média das diferenças dos limiares da RAEE e da VRA em cada

    frequência testada (0,5; 1; 2 e 4KHz);

    Verificar a correlação entre os limiares da RAEE e VRA em cada frequência testada

    (0,5; 1; 2 e 4KHz);

    Indicar fórmulas de predição para limiares comportamentais a partir dos limiares da

    RAEE em cada frequência testada (0,5; 1; 2 e 4KHz);

    Verificar a associação entre os achados da RAEE e VRA em cada frequência

    testada (0,5; 1; 2 e 4KHz);

  • 52

    MATERIAL E MÉTODO

  • 53

    4 MATERIAL E MÉTODO

    4.1 Delineamento da pesquisa

    A pesquisa realizada foi do tipo transversal, de acordo com a temporalidade do

    processo de produção de dados, tendo em vista que esta foi realizada em único momento

    como se fosse um corte transversal do processo em observação; descritiva, quanto ao poder de

    validação das hipóteses, no sentido de que apenas descreve a realidade do grupo estudado; do

    tipo validação diagnóstica, pois se trata da identificação da acuidade de uma técnica em um

    grupo de indivíduos a fim de se conhecer o grau em que o exame é apropriado para medir o

    verdadeiro valor daquilo que é medido (limiar auditivo), verificando assim, a sua

    aplicabilidade no diagnóstico audiológico.

    4.2 Área de estudo

    O estudo foi de realizado em diversos serviços.

    Para a etapa realizada em Recife:

    Parte da coleta foi realizada no Laboratório de Neurofisiologia do Hospital das

    Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), localizado no segundo andar, a

    partir de um recrutamento das crianças advindas do Programa de Saúde Auditiva.

    No Programa de Saúde Auditiva do HC-UFPE são contemplados pela triagem cerca de

    1000 neonatos por ano. O programa conta com a execução dos exames de EOA, PEATE e

    VRA. Os exames de EOA e RCP são realizados numa sala próxima à maternidade no 9º.

    andar, os exames de PEATE e VRA são realizados no 6ºandar do ambulatório de

    otorrinolaringologia. O acompanhamento das crianças em caso de necessidade de retorno é

    possibilitado pelos serviços de egresso e pediatria que funcionam no 2º. andar do ambulatório.

  • 54

    Uma outra etapa foi realizada nos Ambulatórios de Audiologia da Clínica Escola do

    Departamento de Fonoaudiologia da UFPE, a clínica situa-se no bairro da cidade

    universitária, no município de Recife, capital do estado de Pernambuco e tem vinculação com

    o SUS.

    Foi também firmada parceria com o Instituo Isabella Hendrix (Belo Horizonte, Minas

    Gerais) centro de referência para diagnóstico e intervenção em perda auditiva para viabilizar a

    participação das crianças beneficiadas pelo Programa de Saúde Auditiva desta instituição

    (Ocorrendo uma etapa da coleta em Belo Horizonte).

    4.3 População de estudo

    A casuística foi composta por 41 crianças com idades entre 18 e 48 meses, com ou

    sem indicadores de risco para a perda auditiva. A seleção da casuística envolveu amostra de

    conveniência com demanda espontânea. Incluiu-se no estudo crianças de ambos os sexos

    com nível de audição normal e perda auditiva, cujos pais ou responsáveis aceitaram participar

    espontaneamente da pesquisa. As crianças que apresentaram diagnóstico de neuropatia

    auditiva foram excluídas.

    4.4 Variáveis de estudo

    4.4.1 Variável dependente

    Limiares eletrofisiológicos obtidos pela RAEE, referidos como a menor intensidade sonora na

    qual a resposta foi detectada.

    4.4.2 Variáveis independentes

    Sexo: referido como sendo masculino ou feminino;

    Idade: entendida como a idade cronológica do paciente, em meses, no momento da

    coleta;

  • 55

    Limiar auditivo comportamental: referida como a menor intensidade sonora em que o

    tom puro é percebido 50% das vezes em que for apresentado, para cada frequência

    testada (OTUBO; LOPES; LAURIS, 2013).

    Frequência em hertz (Hz): definida como uma grandeza física associada a movimentos

    de característica ondulatória que indica o número de ciclos por segundo (FARIAS et

    al, 2014). Neste estudo foram avaliadas as freqüências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz.

  • 56

    4.5 Coleta de dados

    A coleta de dados foi constituída pela realização de procedimentos audiológicos

    subjetivo e objetivo através da avaliação comportamental e eletrofisiológica, respectivamente.

    Uma carta de anuência foi entregue a cada responsável de cada uma das instituições

    (Clínica Escola de Fonoaudiologia, Ambulatório de Neurofisiologia do Hospital das Clínicas

    e Instituto Isabela Hendrix) durante cada etapa da coleta e encontram-se no apêndice A.

    Em seguida, as mães ou responsáveis foram convidados a participar da pesquisa,

    sendo solicitada à assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)

    (APÊNDICE B). Quando não foi possível a realização dos procedimentos no mesmo dia, um

    agendamento era feito para o período de no máximo uma semana após a data da avaliação

    inicial. Posteriormente era realizada a confirmação do agendamento no dia anterior ao da

    marcação.

  • 57

    Procedimentos

    Os participantes foram submetidos inicialmente à avaliação por PEATE (Potencial

    Evocado Auditivo de Tronco Encefálico) para eliminar a possibilidade de neuropatia auditiva.

    Pois pode haver presença de limiares tonais à audiometria de reforço visual e ausência de

    respostas no RAEE frente à neuropatia auditiva (RANCE; BRIGGS, 2002; RANCE ET AL,

    2005; HAN; MO; LIU, 2006). Sendo os indivíduos com neuropatia auditiva, excluídos do

    estudo. Os indivíduos incluídos no estudo, foram submetidos aos exames de audiometria de

    reforço visual e respostas auditivas de estado estável.

    Audiometria de reforço visual

    A avaliação audiológica subjetiva incluiu a audiometria com reforço visual. Foi

    utilizado um audiômetro modelo 227, marca Interacoustics. A audiometria tonal foi realizada

    em cabina acústica com fones supra aurais do tipo TDH-39 sendo avaliadas as frequências de

    500, 1000, 2000 e 4000Hz. Os estímulos utilizados, tom puro modulado (“warble”), foram

    apresentados através das técnicas descendente e ascendente.

    A criança ficou posicionada dentro da cabina acústica no colo do responsável, com as

    caixas de som a uma distância de 50 cm de cada orelha, equipadas com brinquedos luminosos

    e de frente para um examinador que a distraia, enquanto que o outro examinador operava os

    estímulos (AGOSTINHO; AZEVEDO, 2005).

    Vale ressaltar que as crianças que participaram do estudo permitiram a colocação de

    fones TDH-39 para a aplicação do estímulo sonoro, sendo utilizadas as caixas de som apenas

    para efeito do reforço visual (iluminação do brinquedo) (Figura 8). Foi considerado como

    normal nível mínimo de audição até 15 dB NA (NORTHERN; DOWS, 1989) (ANEXO A).

    Em algumas situações não havia auxiliar de teste disponível, sendo assim, foi utilizado

    um dos pais ou responsáveis para manipular os brinquedos.

  • 58

    O início da pesquisa do limiar auditivo ocorreu após a obtenção de duas viradas de

    cabeça (resposta comportamental: procura da fonte sonora) para o sinal de teste em um

    mesmo nível de intensidade. A partir de então, o estímulo foi apresentado em ordem

    decrescente de intensidade até que a criança não respondesse mais. Subsequentemente, a

    intensidade do sinal de teste foi aumentada e diminuída por meio de um método ascendente-

    descendente convencional em intervalos de 10dB (método descendente) e 5dB (método

    ascendente) (GRAVEL; HOOD, 2001). Foi utilizada como reforço visual, a ativação e

    iluminação de brinquedos.

    Para que esse protocolo clínico fosse seguido, alguns cuidados em relação à

    sincronização do estímulo, padrões de apresentação do reforço e pistas visuais foram

    tomados. O tempo de intervalo para a resposta foi de aproximadamente cinco segundos para

    apresentação do reforço, do contrário, o reforço não era apresentado, e o tempo de

    apresentação do mesmo era de três segundos (AGOSTINHO; AZEVEDO, 2005).

  • 59

    Figura 8 – Audiometria de reforço visual com fones. Fonte: Própria autora, Recife,

    2016

    Respostas auditivas de estado estável

    Quanto ao protocolo da RAEE, foram utilizados dois sistemas. O equipamento

    CHATR EP 200/Otométrics e o Sistema Master.

    CHATR EP 200

    Os estímulos utilizados foram tons puros modulados apresentados bilateralmente e

    simultaneamente, sendo avaliadas as frequências portadoras de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz,

    simultaneamente e em ambas as orelhas, sendo apresentados oitos estímulos (quatro em cada

    orelha) modulados 100% em amplitude e 20% em frequência, nas frequências de modulação

    de 88, 80, 96, 92 Hz, respectivamente para a orelha direita e 90, 82, 98 e 94Hz para a orelha

    esquerda.

    Para realização do exame foi necessária a limpeza da pele do paciente com pasta

    abrasiva e álcool a 70% sendo em seguida realizada a fixação de eletrodos descartáveis com

    gel, posicionados em Fz (eletrodo ativo), M1, M2 (referência) e o terra, sendo que a

  • 60

    impedância dos eletrodos foi mantida abaixo de 5 KΩ e o equilíbrio da impedância entre eles

    não superior a 2 KΩ (Figura 9).

    Sistema MASTER (Multiple Auditory Steady State Responstes)

    O Sistema é uma adaptação da RAEE desenvolvida por Picton, Lins e John em Ottawa

    e Toronto, no Canadá (LINS; PICTON, 1995; LINS; PICTON; BOUCHER,1996). Para

    avaliação do MASTER foram realizados teste e reteste a fim de eliminar a influência de

    problemas técnicos sobre os achados.

    Para preparação da pele para a coleta com o Sistema MASTER foi utilizado álcool a

    70% e esfoliação com pasta abrasiva. Em seguida, foi realizada a colocação dos eletrodos nas

    seguintes posições: o ativo em Fz, a referência em M1 e o terra em M2. Foram utilizados

    estímulos, do tipo tom puro apresentados às crianças por meio de fones de inserção ER- 3A

    nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, modulados 100% em amplitude e 20% em

    frequência, nas frequências de modulação de 80,08, 84,96; 89,84 e 94,73Hz para a orelha

    esquerda; e 78,12; 83,01; 86,91 e 91,80Hz para a orelha direita.

  • 61

    Figura 9- Posicionamento dos eletrodos durante pesquisa das RAEE, Fonte: Própria

    autora, Recife, 2016

    Os estímulos foram apresentados em ambos os sitemas às crianças por meio de fones

    de inserção ER- 3A, começando na intensidade de 50dB NPS, diminuindo em passos de 10

    dB até que não fosse observada mais a resposta, em protocolo automático do equipamento.

    Ao alcançar o limite mínimo estabelecido pelo equipamento, 10 dB NPS, existindo uma ou

    mais frequências com ausência de resposta positiva neste intervalo (40-10 dB NPS), iniciava-

    se a varredura ascendente com estímulos sucessivos a partir de 50 dB NPS, até que se

    obtivesse uma intensidade na qual todas as respostas fossem positivas (figura 10).

    Da mesma forma, ao iniciar a pesquisa do limiar em 50 dB NPS caso não fosse obtida

    resposta positiva em nenhuma frequência, uma varredura ascendente era realizada

    automaticamente.

  • 62

    Figura 10 - Representação da pesquisa do limiar eletrofisiológico através da RAEE, Fonte:

    Própria autora, Recife, 2016

    O tempo de promediação para cada intensidade pesquisada foi de 180 segundos, sendo

    considerada a resposta presente a um intervalo de confiança de 95% por meio do teste F

    (Figura 11). Este protocolo da RAEE para o CHATR EP 200 foi adaptado segundo as

    recomendações do NHSP Clinical Group (STEVENS, J; BRENNAN, S; LIGHTFOOT, G,

    2009).

    Já para o Sistema MASTER foi considerada presença de resposta a identificação

    visual da presença de resposta (pico espectral), diferenciando-a do ruído pela amplitude no

    espectro de frequência e através da avaliação por testes estatísticos F e T² sendo observado

    um intervalo de confiança de 95%. Os picos de frequência correspondentes às frequências de

    modulação devem se apresentar estatisticamente superiores ao nível de ruído. Sendo

    considerada resposta não significante qualquer achado que não se inclua neste intervalo. Este

    processo é realizado de maneira automática pelo equipamento, não sendo necessária a

    avaliação subjetiva por parte do examinador na identificação da resposta.

  • 63

    Figura 11 - Captação da resposta e marcação automática no gráfico, Fonte: Própria autora,

    Recife, 2016

    CHATR EP 200

    MASTER

  • 64

    Para o registro da RAEE, as crianças foram acomodadas confortavelmente em uma

    maca ou, caso fosse necessário permaneciam no colo de suas mães ou responsáveis, em uma

    cadeira com braços. As crianças foram avaliadas, em sono natural, de forma que, quando

    acordavam ou ficavam agitadas, o exame era suspenso, e o responsável solicitado a tentar

    fazer a criança dormir novamente.

    O limiar eletrofisiológico foi determinado como a menor intensidade em que foi

    detectada resposta significativa. O resultado é representado num gráfico que se assemelha ao

    audiograma, demonstrando a menor intensidade da resposta encontrada (limiar) para cada

    frequência avaliada em cada orelha testada (Figura 12).

  • 65

    Figura 12 – Gráfico resultado RAEE (ASSR). Fonte: Própria autora, Recife, 2016

    CHATR EP 200

    MASTER

  • 66

    A RAEE foi realizada, primordialmente, no mesmo dia da audiometria de reforço

    visual. Nas situações em que isso não foi possível, o exame era remarcado para outro dia, num

    período máximo de uma semana.

    Ressalta-se, que os resultados dos procedimentos realizados, bem como os dados

    clínicos dos participantes foram todos registrados em protocolo específico previamente

    elaborado (APÊNDICE C).

  • 67

    4.6 Análise de dados

    Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e inferencial. A fim de

    favorecer uma visualização geral entre os correspondentes limiares da RAEE e VRA, foram

    construídos gráficos dos perfis individuais considerando todos os limiares dos dois métodos.

    A análise descritiva (média, desvio-padrão, mínimo, mediana, máximo e percen