responsabilidade tributaria na arrematação

12
Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.179.056 - MG (2010/0021134-3) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS RECORRENTE : MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE PROCURADOR : GERALDA JÚLIA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) RECORRIDO : CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO HELENA PASSIG ADVOGADO : RONALDSON DE OLIVEIRA NAVES EMENTA PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL EM HASTA PÚBLICA. AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA. ADJUDICAÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 130, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN. OCORRÊNCIA. OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA PROPTER REM. EXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. 1. Discute-se nos autos se o credor-exequente (adjudicante) está dispensado do pagamento dos tributos que recaem sobre o imóvel anteriores à adjudicação. 2. Arrematação e adjudicação são situações distintas, não podendo a analogia ser aplicada na forma pretendida pelo acórdão recorrido, pois a adjudicação pelo credor com dispensa de depósito do preço não pode ser comparada a arremate por terceiro. 3. A arrematação em hasta pública extingue o ônus do imóvel arrematado, que passa ao arrematante livre e desembaraçado de tributo ou responsabilidade, sendo, portanto, considerada aquisição originária, de modo que os débitos tributários anteriores à arrematação sub-rogam-se no preço da hasta. Precedentes: REsp 1.188.655/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 8.6.2010; AgRg no Ag 1.225.813/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 8.4.2010; REsp 909.254/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma DJe 21.11.2008. 4. O adquirente só deixa de ter responsabilidade pelo pagamento do débitos anteriores que recaiam sobre o Bem, se ocorreu, efetivamente, depósito do preço, que se tornará a garantia dos demais credores. De molde que o crédito fiscal perquirido pelo fisco é abatido do pagamento, quando da praça, por isso que, encerrada a arrematação, não se pode imputar ao adquirente qualquer encargo ou responsabilidade. 5. Por sua vez, havendo a adjudicação do imóvel, cabe ao adquirente (credor) o pagamento dos tributos incidentes Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 21/10/2010 Página 1 de 12

Upload: conrado-schramme

Post on 10-Nov-2015

2 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Responsabilidade tributaria na Arrematação

TRANSCRIPT

  • Superior Tribunal de Justia

    RECURSO ESPECIAL N 1.179.056 - MG (2010/0021134-3) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINSRECORRENTE : MUNICPIO DE BELO HORIZONTE PROCURADOR : GERALDA JLIA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)RECORRIDO : CONDOMNIO DO EDIFCIO HELENA PASSIG ADVOGADO : RONALDSON DE OLIVEIRA NAVES

    EMENTA

    PROCESSUAL CIVIL. EXECUO FISCAL. IPTU. ARREMATAO DE IMVEL EM HASTA PBLICA. AQUISIO ORIGINRIA. ADJUDICAO. VIOLAO DO ART. 130, PARGRAFO NICO, DO CTN. OCORRNCIA. OBRIGAO TRIBUTRIA PROPTER REM. EXISTNCIA DE RESPONSABILIDADE TRIBUTRIA.

    1. Discute-se nos autos se o credor-exequente (adjudicante) est dispensado do pagamento dos tributos que recaem sobre o imvel anteriores adjudicao.

    2. Arrematao e adjudicao so situaes distintas, no podendo a analogia ser aplicada na forma pretendida pelo acrdo recorrido, pois a adjudicao pelo credor com dispensa de depsito do preo no pode ser comparada a arremate por terceiro.

    3. A arrematao em hasta pblica extingue o nus do imvel arrematado, que passa ao arrematante livre e desembaraado de tributo ou responsabilidade, sendo, portanto, considerada aquisio originria, de modo que os dbitos tributrios anteriores arrematao sub-rogam-se no preo da hasta. Precedentes: REsp 1.188.655/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 8.6.2010; AgRg no Ag 1.225.813/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 8.4.2010; REsp 909.254/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma DJe 21.11.2008.

    4. O adquirente s deixa de ter responsabilidade pelo pagamento do dbitos anteriores que recaiam sobre o Bem, se ocorreu, efetivamente, depsito do preo, que se tornar a garantia dos demais credores. De molde que o crdito fiscal perquirido pelo fisco abatido do pagamento, quando da praa, por isso que, encerrada a arrematao, no se pode imputar ao adquirente qualquer encargo ou responsabilidade.

    5. Por sua vez, havendo a adjudicao do imvel, cabe ao adquirente (credor) o pagamento dos tributos incidentes

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 1 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    sobre o Bem adjudicado, eis que, ao contrrio da arrematao em hasta pblica, no possui o efeito de expurgar os nus obrigacionais que recaem sobre o Bem.

    6. Na adjudicao, a mutao do sujeito passivo no afasta a responsabilidade pelo pagamento dos tributos do imvel adjudicado, uma vez que a obrigao tributria propter rem (no caso dos autos, IPTU e taxas de servio) acompanha o Bem, mesmo que os fatos imponveis sejam anteriores alterao da titularidade do imvel (arts. 130 e 131, I, do CTN).

    7. luz do decidido no REsp 1.073.846/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seo, DJe 18.12.2009, "os impostos incidentes sobre o patrimnio (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU) decorrem de relao jurdica tributria instaurada com a ocorrncia de fato imponvel encartado, exclusivamente, na titularidade de direito real, razo pela qual consubstanciam obrigaes propter rem , impondo-se sua assuno a todos aqueles que sucederem ao titular do imvel."

    Recurso especial provido.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justia: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."

    Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Braslia (DF), 07 de outubro de 2010(Data do Julgamento)

    MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 2 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    RECURSO ESPECIAL N 1.179.056 - MG (2010/0021134-3) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINSRECORRENTE : MUNICPIO DE BELO HORIZONTE PROCURADOR : GERALDA JLIA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)RECORRIDO : CONDOMNIO DO EDIFCIO HELENA PASSIG ADVOGADO : RONALDSON DE OLIVEIRA NAVES

    RELATRIO

    O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):

    Cuida-se de recurso especial interposto pelo MUNICPIO DE BELO HORIZONTE, com fundamento nas alneas "a" e "c" do permissivo constitucional, contra acrdo do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais que negou provimento ao recurso do recorrente, nos termos da seguinte ementa (e-STJ, fl. 98):

    "EMBARGOS EXECUO - ADJUDICAO DO BEM - CREDOR - FORMA DE AQUISIO ORIGINRIA - APLICAO ANALGICA DO ART.130 DO CTN. - Quando a transmisso do imvel se opera por venda em hasta pblica, isto , leilo judicial, o arrematante escapa do rigor do art. 130 do Cdigo Tributrio Nacional, porquanto a sub-rogao se d sobre o preo por ele depositado, passando o bem livre ao domnio de quem o arrematou. - O adjudicatrio no ser responsvel por qualquer dvida anterior do executado, recebendo o bem livre e desembaraado de qualquer dbito, mesmo aqueles que so oriundos do direito de propriedade, visto que no h como desconhecer a evidente analogia do instituto da adjudicao com o da arrematao no que toca especialmente a seus efeitos."

    No presente recurso especial, o recorrente sustenta violao do art. 130, caput , do Cdigo Tributrio Nacional. Aponta tambm divergncia jurisprudencial.

    Alega que, na hiptese dos autos, deve haver o pagamento dos tributos, uma vez que o condomnio beneficirio da adjudicao no depositou qualquer valor para ficar com o bem imvel, tendo recebido o bem em pagamento de dvida do condomnio inadimplente com as taxas de condomnio.

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 3 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    Aponta que a arrematao e adjudicao so situaes distintas; na primeira, o arrematante paga pelo Bem levado a leilo, depositando efetivamente o dinheiro, se eximido do pagamento dos tributos que recaem sobre o bem. Por sua vez, na segunda situao, o beneficirio desta no deposita qualquer valor para ficar com o Bem, devendo, portanto fazer o pagamento dos tributos.

    Sem contrarrazes, sobreveio o juzo de admissibilidade positivo da instncia de origem (e-STJ, fls. 133/134e).

    , no essencial, o relatrio.

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 4 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    RECURSO ESPECIAL N 1.179.056 - MG (2010/0021134-3)

    EMENTA

    PROCESSUAL CIVIL. EXECUO FISCAL. IPTU. ARREMATAO DE IMVEL EM HASTA PBLICA. AQUISIO ORIGINRIA. ADJUDICAO. VIOLAO DO ART. 130, PARGRAFO NICO, DO CTN. OCORRNCIA. OBRIGAO TRIBUTRIA PROPTER REM. EXISTNCIA DE RESPONSABILIDADE TRIBUTRIA.

    1. Discute-se nos autos se o credor-exequente (adjudicante) est dispensado do pagamento dos tributos que recaem sobre o imvel anteriores adjudicao.

    2. Arrematao e adjudicao so situaes distintas, no podendo a analogia ser aplicada na forma pretendida pelo acrdo recorrido, pois a adjudicao pelo credor com dispensa de depsito do preo no pode ser comparada a arremate por terceiro.

    3. A arrematao em hasta pblica extingue o nus do imvel arrematado, que passa ao arrematante livre e desembaraado de tributo ou responsabilidade, sendo, portanto, considerada aquisio originria, de modo que os dbitos tributrios anteriores arrematao sub-rogam-se no preo da hasta. Precedentes: REsp 1.188.655/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 8.6.2010; AgRg no Ag 1.225.813/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 8.4.2010; REsp 909.254/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma DJe 21.11.2008.

    4. O adquirente s deixa de ter responsabilidade pelo pagamento do dbitos anteriores que recaiam sobre o Bem, se ocorreu, efetivamente, depsito do preo, que se tornar a garantia dos demais credores. De molde que o crdito fiscal perquirido pelo fisco abatido do pagamento, quando da praa, por isso que, encerrada a arrematao, no se pode imputar ao adquirente qualquer encargo ou responsabilidade.

    5. Por sua vez, havendo a adjudicao do imvel, cabe ao adquirente (credor) o pagamento dos tributos incidentes sobre o Bem adjudicado, eis que, ao contrrio da arrematao em hasta pblica, no possui o efeito de expurgar os nus obrigacionais que recaem sobre o Bem.

    6. Na adjudicao, a mutao do sujeito passivo no afasta a responsabilidade pelo pagamento dos tributos do imvel

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 5 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    adjudicado, uma vez que a obrigao tributria propter rem (no caso dos autos, IPTU e taxas de servio) acompanha o Bem, mesmo que os fatos imponveis sejam anteriores alterao da titularidade do imvel (arts. 130 e 131, I, do CTN).

    7. luz do decidido no REsp 1.073.846/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seo, DJe 18.12.2009, "os impostos incidentes sobre o patrimnio (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU) decorrem de relao jurdica tributria instaurada com a ocorrncia de fato imponvel encartado, exclusivamente, na titularidade de direito real, razo pela qual consubstanciam obrigaes propter rem , impondo-se sua assuno a todos aqueles que sucederem ao titular do imvel."

    Recurso especial provido.

    VOTO

    O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):

    Na origem, cuida-se de execuo fiscal, na qual se objetiva a cobrana de IPTU, Taxa de Servios Urbanos e Taxa de Fiscalizao de Aparelhos de Transportes, dos exerccios de 1995, 1996, 1997, 1998 e 1999.

    A execuo foi proposta contra ROQUE SATURNINO DE OLIVEIRA e, posteriormente, redirecionada para o CONDOMNIO DO EDIFCIO HELENA PASSIG, ora recorrido, em razo de substituio tributria.

    Com efeito, o ora recorrido passou a figurar no polo passivo da presente demanda, em razo do procedncia da ao de cobrana de dbitos relativos ao no pagamento de taxas de condomnio, com posterior adjudicao do imvel sobre o qual eram cobrados os tributos, ora em discusso.

    O Tribunal a quo asseverou que, quando a transmisso do Bem se d em hasta pblica, o arrematante o adquire em modalidade originria; assim, por analogia, o adjudicatrio tambm no ser responsvel por qualquer dvida anterior sobre o imvel adjudicado, o que afasta a responsabilidade por tributos incidentes at esse momento, verbis :

    "Quando a transmisso do imvel se opera por venda em hasta pblica, isto , leilo judicial, o arrematante escapa do rigor do art. 130 do Cdigo Tributrio Nacional, porquanto a sub-rogao se d sobre o preo por ele depositado, passando o

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 6 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    bem livre ao domnio de quem o arrematou. O adjudicatrio no ser responsvel por qualquer dvida

    anterior do executado , recebendo o bem livre e desembaraado de qualquer dbito, mesmo aqueles que so oriundos do direito de propriedade, visto que no h como desconhecer a evidente analogia do instituto da adjudicao com o da arrematao no que toca especialmente a seus efeitos ." (e-STJ, fl. 100/101, grifo meu)

    No meu sentir, a analogia no pode ser aplicada na forma pretendida pelo acrdo impugnado, pois a adjudicao pelo credor com dispensa de depsito do preo, no pode ser comparada ao arremate por terceiro. As situaes so distintas: na arrematao, o arrematante paga pelo Bem levado a leilo, depositando efetivamente o preo, se eximido do pagamento dos tributos que recaem sobre o Bem. Por sua vez, na adjudicao o beneficirio desta no deposita qualquer valor para ficar com o Bem, devendo, portanto fazer o pagamento dos tributos.

    Nesse passo, importante analisarmos o teor do art. 130 do Cdigo Tributrio Nacional, litteris :

    "Art. 130. Os crditos tributrios relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domnio til ou a posse de bens imveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestao de servios referentes a tais bens, ou a contribuies de melhoria, sub-rogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do ttulo a prova de sua quitao.

    Pargrafo nico. No caso de arrematao em hasta pblica, a sub-rogao ocorre sobre o respectivo preo."

    Em exegese literal, observa-se que a regra do pargrafo nico do artigo supra exime o arrematante de arcar com os dbitos tributrios anteriores, relativos propriedade do imvel, dispensa que resulta do fato de que a sub-rogao referente s obrigaes tributrias do bem ocorreu sobre o respectivo preo, depositado quando da arrematao.

    Pois bem, a arrematao em hasta pblica extingue o nus do imvel arrematado, que passa ao arrematante livre e desembaraado de tributo ou responsabilidade, sendo, portanto, considerada aquisio originria, de modo que os dbitos tributrios anteriores arrematao sub-rogam-se no preo da hasta.

    Nesse sentido:

    "EXECUO FISCAL - IPTU - ARREMATAO DE BEM Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 7 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    IMVEL - AQUISIO ORIGINRIA - INEXISTNCIA DE RESPONSABILIDADE TRIBUTRIA DO ARREMATANTE - APLICAO DO ART. 130, PARGRAFO NICO, DO CTN.

    1. A arrematao de bem mvel ou imvel em hasta pblica considerada como aquisio originria, inexistindo relao jurdica entre o arrematante e o anterior proprietrio do bem, de maneira que os dbitos tributrios anteriores arrematao sub-rogam-se no preo da hasta.

    2. Agravo regimental no provido.(AgRg no Ag 1.225.813/SP, Rel. Min. Eliana Calmon,

    Segunda Turma, julgado em 23.3.2010, DJe 8.4.2010.)

    "PROCESSUAL CIVIL. ARREMATAO DE IMVEL. HASTA PBLICA. MANDADO DE SEGURANA. VIOLAO AO ART. 130, PARGRAFO NICO DO CTN. RESPONSABILIDADE TRIBUTRIA. NUS RELATIVOS AO IPTU E TLP. SUB-ROGAO DOS DBITOS SOBRE O RESPECTIVO PREO. PRECEDENTES.

    1. Nos termos do pargrafo nico do art. 130 do CTN, os crditos relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, sub-rogam-se sobre o respetivo preo quando arrematados em hasta pblica, no sendo o adquirente responsvel pelos tributos que oneraram o bem at a data da realizao da hasta. Nesse sentido a jurisprudncia desta Corte.

    2. A hiptese dos autos se subsume ao entendimento esposado, sendo direito do adquirente receber o imvel livre de nus tributrios, razo pela qual de se determinar a concesso da segurana pleiteada pela recorrente para que seja expedida a certido negativa de dbitos tributrios referentes, to-somente, ao IPTU e TLP, anteriores data da arrematao em 14 de novembro de 2003, bem como o registro da carta de arrematao no cartrio de registro de imveis competente.

    3. Recurso especial provido.(REsp 909.254/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,

    Segunda Turma julgado em 21.10.2008, DJe 21.11.2008)

    "TRIBUTRIO. RECURSO ESPECIAL. AO DECLARATRIA. ITBI. ARREMATAO JUDICIAL. BASE DE CLCULO. VALOR DA ARREMATAO E NO O VENAL. PRECEDENTE. DISSDIO JURISPRUDENCIAL DEMONSTRADO. DIREITO LOCAL. SMULA 280 DO STF. OMISSO ART. 535, CPC. INOCORRNCIA. RECURSO PROVIDO PELA ALNEA 'C'.

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 8 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    1. A arrematao representa a aquisio do bem alienado judicialmente, considerando-se como base de clculo do ITBI aquele alcanado na hasta pblica. (Precedentes: (REsp 863.893/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCO, PRIMEIRA TURMA, DJ 07/11/2006; e REsp 2.525/PR, Rel. Ministro ARMANDO ROLEMBERG, PRIMEIRA TURMA, DJ 25/06/1990).

    [...]"(REsp 1.188.655/RS, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,

    julgado em 20.5.2010, DJe 8.6.2010.)

    Acrescente-se ainda que caso o preo seja insuficiente, o arrematante no fica responsvel pelo saldo, conforme ensina Bernardo Ribeiro de Moraes:

    "Se o preo alcanado na arrematao em hasta pblica no for suficiente para cobrir o dbito tributrio, nem por isso o arrematante fica responsvel por eventual saldo. (Compndio de Direito Tributrio. 2 vol. 3 Edio, 1995. p. 513).

    Em suma, do lance ofertado pelo arremate descontado o dinheiro para a satisfao do crdito tributrio, o que afasta a responsabilidade do arrematante, porquanto os tributos sero pagos com o dinheiro depositado por esse, ainda que o pagamento no seja suficiente.

    Por sua vez, no caso dos autos, o bem foi adjudicado pelo credor-exequente que o adquiriu em razo de seu crdito (cotas de condomnio), por evidente, sem o pagamento do respectivo preo, ou seja, as cotas condominiais foram quitadas no valor do bem adjudicado, nos termos do art. 708, II, do CPC, verbis :

    "Art. 708. O pagamento ao credor far-se-:I - pela entrega do dinheiro;II - pela adjudicao dos bens penhorados;III - pelo usufruto de bem imvel ou de empresa." (grifo meu)

    Na hiptese, no ocorreu a sub-rogao prevista no art. 130 do CTN, porquanto, do contrrio, seria permitir ao credor adjudicante (Condomnio) exonerar-se do pagamento dos tributos incidentes sobre o Bem, em prejuzo da Fazenda Pblica, que tambm possui o imvel como garantia para o pagamento do tributos executados.

    O adquirente s deixa de ter responsabilidade pelo pagamento do dbitos anteriores que recaiam sobre o Bem, se ocorrer, efetivamente, depsito Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 9 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    do preo, que se tornar a garantia dos demais credores. De molde que o crdito fiscal perquirido pelo fisco abatido do pagamento, quando do leilo, por isso que, encerrada a arrematao, no se pode imputar ao adquirente qualquer encargo ou responsabilidade.

    Por sua vez, havendo a adjudicao do imvel, cabe ao adquirente (credor) o pagamento dos tributos incidentes sobre o Bem adjudicado, eis que, ao contrrio da arrematao em hasta pblica, no possui o efeito de expurgar os nus obrigacionais que recaem sobre o bem.

    Nesse sentido:

    "EXECUO. ARREMATAO. ADJUDICAO. CREDOR. NUS RECADOS SOBRE O BEM. RESPONSABILIDADE TRIBUTRIA. (CTN - ART. 130, pargrafo nico).

    I - O credor que arremata veculo em relao ao qual pendia dbito de IPVA no responde pelo tributo em atraso. O crdito proveniente do IPVA subroga-se no preo pago pelo arrematante. Alcance do Art. 130, pargrafo nico, do CTN).

    II - Se, entretanto, o bem foi adjudicado ao credor, encargo deste, depositar o valor correspondente ao dbito por IPVA."

    (REsp 905.208/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, julgado em 18.10.2007, DJ 31.10.2007 p. 332.)

    Assim, em se tratando de adjudicao, a mutao do sujeito passivo no afasta a responsabilidade pelo pagamento dos tributos do imvel adjudicado, uma vez que a obrigao tributria propter rem (no caso dos autos, IPTU e taxas de servio), acompanha o Bem, mesmo que os fatos imponveis sejam anteriores alterao da titularidade do imvel (arts. 130 e 131, I, do CTN).

    luz do decidido no REsp 1.073.846/SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seo, DJe 18.12.2009, "os impostos incidentes sobre o patrimnio (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR e Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU) decorrem de relao jurdica tributria instaurada com a ocorrncia de fato imponvel encartado, exclusivamente, na titularidade de direito real, razo pela qual consubstanciam obrigaes propter rem , impondo-se sua assuno a todos aqueles que sucederem ao titular do imvel. " (grifo meu)

    Inequvoco, que s h excluso da responsabilidade pelo pagamento do tributo quando o "arrematante-credor" paga diretamente o preo

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 1 0 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    do Bem. Caso contrrio, ocorrer violao da prpria ordem de credores preferenciais prevista em lei, na qual se insere a Fazenda Pblica, verbis:

    "Art. 186. O crdito tributrio prefere a qualquer outro, seja qual for a natureza ou o tempo da constituio deste, ressalvados os crditos decorrentes da legislao do trabalho."

    Mutatis mutandis, a discusso dos autos muito similar adjudicao de Bem imvel, em decorrncia do no pagamento de cotas de condomnio, que tambm possuem natureza propter rem, em que o adquirente responde pelos encargos condominiais incidentes sobre o Bem adjudicado.

    Neste sentido:

    "PROCESSUAL CIVIL E CIVIL - CONDOMNIO - TAXAS CONDOMINIAIS - LEGITIMIDADE PASSIVA - ADJUDICAO - ADQUIRENTE - RECURSO NO CONHECIDO.

    1 - Na linha da orientao adotada por esta Corte, o adquirente, em adjudicao, responde pelos encargos condominiais incidentes sobre o imvel adjudicado, tendo em vista a natureza propter rem das cotas condominiais .

    2 - Recurso no conhecido."(REsp 829.312/RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, Quarta

    Turma, julgado em 30.5.2006, DJ 26.6.2006 p. 170.)

    Portanto, merece reforma o aresto recorrido, at porque a adjudicao pressupe existncia de vnculo jurdico entre o antigo e o novo proprietrio, o que no ocorre na arrematao.

    Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial.

    Inverto os nus sucumbenciais.

    como penso. como voto.

    MINISTRO HUMBERTO MARTINSRelator

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010

    Pgina 1 1 de 12

  • Superior Tribunal de Justia

    CERTIDO DE JULGAMENTOSEGUNDA TURMA

    Nmero Registro: 2010/0021134-3 PROCESSO ELETRNICO REsp 1.179.056 / MG

    Nmeros Origem: 10024077966109001 10024077966109002

    PAUTA: 07/10/2010 JULGADO: 07/10/2010

    RelatorExmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS

    Presidente da SessoExmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS

    Subprocurador-Geral da RepblicaExmo. Sr. Dr. CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA VASCONCELOS

    SecretriaBela. VALRIA ALVIM DUSI

    AUTUAO

    RECORRENTE : MUNICPIO DE BELO HORIZONTEPROCURADOR : GERALDA JLIA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)RECORRIDO : CONDOMNIO DO EDIFCIO HELENA PASSIGADVOGADO : RONALDSON DE OLIVEIRA NAVES

    ASSUNTO: DIREITO TRIBUTRIO - Impostos - ITR/ Imposto Territorial Rural

    CERTIDO

    Certifico que a egrgia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:

    "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."

    Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Braslia, 07 de outubro de 2010

    VALRIA ALVIM DUSISecretria

    Documento: 1011216 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 21/10/2010 Pgina 1 2 de 12