resenha o mercador de veneza

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O MERCADOR DE VENEZA. Direo: Michael Radford. Produo: Cary Brokaw, Barry Navidi, Michael Cowan, Jason Piette. Luxemburgo: Avenue Picture productions. 2004. 1 DVD (130 minutos).

1. APRESENTAO DA OBRA:

Obra de carter extremamente amplo, O Mercador de Veneza engloba uma viso antagnica de duas vertentes inerentes alma humana: os aspectos que caracterizam a mxima expresso da virtude e da tortuosidade do homem: Pea de carter tragicmico e, por isso mesmo, diferenciada, abrindo espao para a dramaticidade ao lado do prazer do contentamento. Shakespeare consegue a um momento desenvolver discursos paradoxais entre os personagens levando o pblico a refletir as divergncias existentes entre a tica e o Direito sob a luz de vrias correntes, a saber: as partes do contrato, o magistrado e o povo. Em sua dialtica, O Mercador de Veneza deixa claro que a busca pela justia deve ser cautelosa para no correr o risco desta se virar contra o prprio requerente.

2. O AUTOR:

William Shakespeare foi dramaturgo e poeta ingls (1564-1616). Nasceu na cidade de Stratford-upon-Avon, onde estudou e destacou-se no teatro. Aos 18 anos casou-se com uma mulher oito anos mais velha, Anne Hathaway, com quem teve trs filhos. Foi ator e acionista do grupo de lorde Chamberlain e o palco foi um bom negcio para ele: em 1596 j havia refeito a fortuna familiar e obtido um ttulo de nobreza para o pai, e em 1598 instalou-se no Globe Theatre. Escreveu poemas e 154 sonetos publicados em 1609, os quais expressam agitaes, frustraes, homossexualismo, masoquismo. Morreu, ao que se diz, das consequncias de um banquete com Ben Jonson. As 37 ou 38 peas atribudas ao autor so agrupadas em trs perodos: o primeiro seria o das comdias ligeiras; o segundo, marcado pelas decepes pessoais e o terceiro o das peas romanescas. Passou da retrica barroca para o lirismo despojado. Entre suas tragdias mais importantes destacam-se: Romeu e Julieta, Macbeth, Hamlet, O Rei Lear e Otelo. Algumas comdias mais encenadas so: O Mercador de Veneza, A Megera domada e Sonho de uma noite de vero.

3. O CONTEXTO HISTRICO:

Sculo XVI a poca. Veneza o lugar. Assim composto o cenrio da obra de Shakespeare que faz aluso a um grande e importante momento histrico onde a intolerncia aos judeus constitua o carter antissemitista da poca. Apesar de Shylock exigir o cumprimento do contrato na ntegra, ou seja, buscar a justia, ele visto como vilo. E ainda que ele seja ganancioso sofre grandes humilhaes e v na vingana uma forma de reaver sua honra de judeu. Escrita provavelmente em meados de 1600, ou seja, uma poca em que os judeus se ausentaram da Inglaterra, a tragicomdia d ao espectador vises histricas sobre o pensamento ingls do perodo, principalmente no que tange a viso do que seria um judeu pelas prprias falas de Shylock. Teria Shakespeare criado um personagem comum da poca, ou propositadalmente ajudou a propagar e fortalecer o antissemitismo. Tal pea levantou polmicas. Nos territrios nazistas, por exemplo, tornou-se a pea mais popular de Shakespeare nos anos 30 e 40. Aps a segunda guerra mundial, a histria polemizou-se, tornando-se constrangedora e sendo exibidas apenas interpretaes superficiais, vindo a expor inclusive mazelas do preconceito sofridos pelo prprio Shylock.

4. RESUMO DA OBRA: O Mercador de Veneza retrata a adaptao de uma pea teatral escrita por William Shakespeare e se passa na cidade de Veneza no ano de 1596. Nesta poca os judeus eram perseguidos e humilhados pelos cristos e essa prtica era muito comum. Mesmo em Veneza, sendo ela representante da expresso mxima do liberalismo e do poder do sculo XVI. Vivendo como a escria da humanidade, os judeus no podiam possuir imveis, motivo pelo qual praticavam a usura, o emprstimo de dinheiro a juros, o que era contra a lei crist. O jovem Bassnio, com o objetivo de viajar a cidade de Belmonte e cortejar a bela e rica Prcia, pede um emprstimo ao ento amigo Antnio no valor de trs mil ducados, o qual lhe nega ao afirmar que todo o seu dinheiro encontra-se aplicado em embarcaes no exterior. Mas, coloca-se como credor de Bassnio, pondo seu crdito prova em Veneza. Bassnio consegue o emprstimo com o agiota Shylock que, por sua vez judeu, o qual antes de emprestar exige a garantia dada por Antnio de ceder uma libra de sua carne de qualquer parte de seu corpo no caso da dvida no ser quitada no prazo. Um contrato entre as partes firmado e lavrado em cartrio. Parte Bassnio em busca de Prcia, a qual lhe prope um desafio como um requisito para o casamento. Bassnio vence o desafio e ganha de Prcia um anel de noivado. Pouco tempo depois, descobre que Shylock persegue Antnio exigindo a libra de carne, visto que o fiador havia perdido todas as suas embarcaes e estava impossibilitado de quitar a dvida. Bassnio casa e parte para defender o amigo. Segue-lhe Prcia com o intuito de disfarar-se de advogada com trajes masculinos e ajudar a resolver a questo. Shylock exige diante do Doge o cumprimento do contrato, ou seja, a retirada da libra de carne de Antnio. Prcia se apresenta ao Tribunal com o pseudnimo de Baltasar e procura incitar Shylock clemncia e oferece ainda a quantia em dobro, sendo refutadas tais tentativas. Sem argumentos concorda no cumprimento do contrato. Quando, no ltimo momento apresenta novas premissas que no somente anula a sentena, mas condena o prprio Shylock.

5. ANLISE JURDICA DA OBRA:

O Mercador de Veneza constitui-se uma obra de relevado contexto histrico-social, principalmente por retratar uma poca to grotesca e paradoxal, onde a tica e a legalidade do fato jurdico disputam o poder. O Jurista alemo Rudolf Von Ihering afirma categoricamente em sua obra: A Luta pelo direito, que A paz o fim que o direito tem em vista e a luta o meio de que se serve para consegui-lo. o que se observa nesta obra de Shakespeare que se mantm fiel ao discurso do jurista e reala a questo jurdica da histria. Shylock tinha sede de justia, lutava com todas as foras que possua pelo cumprimento da justia, da lei pela fora do contrato. Eis que surge a pergunta que no quer calar: At que ponto o contrato entre as partes legtimo e porventura no existe soberania no seu cumprimento! O Contrato no pode ser visto como um simples acordo firmado entre as partes. A essncia dele que deve ser posta em xeque, ou seja, seus princpios fundamentais que a liberdade contratual e a obrigatoriedade do cumprimento do contrato. Reafirma-se a soberania das partes nas relaes contratuais, no devendo de maneira alguma existir interferncia do poder pblico. O correto permitir que os contratantes detenham o exclusivo controle sobre a regulamentao das peas contratuais, tomando como base, claro, a determinao jurdica vigente em seu territrio. Via de regra, no o que acontece no filme. Shylock enganado com requintes de perfdia, pois uma vez tendo sido-lhe concedido o cumprimento do pacto que tanto desejara, viu a justia virar-lhe as costas, quando num golpe fatal desferido por Baltasar, ficou preso nas garras da prpria justia to querida e buscada. Infere-se, portanto, que preciso cautela ao manifestarmos nossa sede de justia. Do contrrio, por muitas vezes ela pode se voltar contra quem a busca. Recomenda-se, pois, esta grandiosa obra onde reside o apogeu do clamor pela justia, a qual no se conquista sem luta.