resenha formação
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO – UFRPE.
DEPARTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
BAICHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS.
FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
PROFESSORA MARIANA ZERBONE
20. OUTUBRO. 2010.
JOEL GOMES PEREIRA, SUELEN FRANCESCA GUEDES E VERÔNICA
BATISTA ROQUE.
RESENHA: FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL.
Em seu livro Formação Econômica do Brasil (33ª ed. 256 pág,
Companhia Editora Nacional – 2004), o economista e intelectual paraibano Celso
Monteiro Furtado pretende mostrar “...um esboço do processo histórico de formação
da economia brasileira.” Apoiado na vasta literatura histórica sobre os processo de
colonização e povoamento das Américas, Furtado tenta demonstrar o pensamento
econômico vigente a época da formação econômica brasileira, paralelamente a
consolidação das economias de todos os territórios americanos.
Este trabalho é direcionado aos graduandos, principalmente os iniciantes nas teorias
econômicas e sociais ligadas ao desenvolvimento e também a qualquer interessado
em estudar como se deu o processo de criação e consolidação da economia
brasileira.
Celso Furtado é bacharel em ciências jurídicas e sociais e doutor em economia, com
tese sobre a economia brasileira no período colonial.
O livro citado é uma referência. Está dividido em cinco partes a fim de facilitar o
entendimento, e, na primeira parte intitulada Fundamentos Econômicos da ocupação
territorial evidencia os fatores relevantes para a expansão e colonização. Na
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segunda parte, denominada Economia Escravista de Agricultura Tropical, enfatiza a
agricultura. Em sua terceira parte, de nome Economia Escravista Mineira, os
capítulos dissertam sobre a expansão e regressão da região das minas. Uma quarta
parte, Economia de Transição Para o Trabalho Assalariado viria apresentar a
economia brasileira do século XIX, e finaliza com uma quinta parte sobre a
economia do século XX, enfatizando as crises econômicas mundiais, denominado
Economia de Transição Para um Sistema Industrial.
É a parte primeira, analisada a seguir pelos acadêmicos do quarto período de
Ciências Sociais Joel Gomes Pereira, Suelen Fracesca Guedes e Verônica Roque
Batista, que a referida resenha é dedicada.
Esta parte em especial, Furtado separa em sete subtítulos, onde primeiramente
apresenta as idéias de expansão que povoavam o pensamento burguês do século
XV, onde a busca por novos territórios com potencial mercadológico se fazia
necessária, dado o momento de controle das rotas comerciais italianas pelos turcos.
Descoberto os territórios americanos, seus possuidores precisavam ocupá-lo pois
havia muitos outros países europeus que questionavam os direitos de posse de
Portugal e Espanha sobre as novas terras. A Espanha tinha encontrado metais
preciosos no eixo México-Peru, e Portugal acreditava encontrar o mesmo no interior
do Brasil, e embora já possuísse experiências de povoamento de outros territórios, o
Brasil não se prestava as pequenas culturas implantadas em outras colônias,
portanto caberia a coroa portuguesa descobrir uma maneira de aproveitar as terras,
reduzindo os custos de proteção e encontrando um produto capaz de oferecer
grandes lucros.
Furtado explica que a experiência antilhana foi fundamental para Portugal, no
sentido de dominar o mercado internacional do açúcar, produto bastante apreciado
no mercado europeu. Mas, como a tecnologia para o beneficiamento do açúcar
exigia muitos recursos técnicos, o governo português foi obrigado a fazer parceria
com os holandeses para o transporte e o beneficiamento do açúcar e para criação
de mercado em grande escala, reduzindo também os lucros sobre o produto. Mas ao
contrario do que aconteceu nas Antilhas onde a mão-de-obra era farta, no Brasil
esse problema teria de ser solucionado, e o foi com a inserção do escravo africano.
Estavam solucionados o problema da ocupação do território, de mercado, de mão-
de-obra e o problema técnico do beneficiamento e distribuição do produto.
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Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França estavam na corrida expansionista,
porém, a única potência que poderia concorrer igualmente com Portugal na visão de
Furtado e em seu terceiro subtítulo Razões do Monopólio seria a Espanha, se caso
tivesse interesse em criar mercado de um produto com aceitação internacional posto
que tinha as condições ideais mais não tinha os motivos políticos. Mas a ela só
interessava o lucro das minas de prata e quando não foi mais possível manter sua
hegemonia sobre a América andina, a Espanha contava com uma indústria interna
incipiente e carente de investimentos, uma inflação que repercutia em toda a
Europa, ou seja, uma economia decadente. Isso deixou a coroa portuguesa
monopolizar o comércio até que sua estrutura frágil não suportasse a pressão
internacional.
Também é possível dizer que com o passar dos anos a Holanda, que se mantinha
em guerra com a Espanha desde a formação do próprio território e, talvez, por isso
mesmo tenha aquela se aliado a Portugal no empreendimento açucareiro, sendo
imprescindível no refino e no transporte, foi capaz de concorrer com a produção
lusitana produzindo açúcar nas ilhas do Caribe com a tecnologia fornecida
compulsoriamente por Portugal quando da invasão holandesa no Nordeste,
causando com isso uma baixa significativa nos preços e na quantidade do açúcar
português exportado.
Mas o fracasso do empreendimento português é seguido pelo do povoamento das
colônias da América do Norte, que também representou um esforço inútil para a
França e a Inglaterra, já que não era possível a época criar mais um produto
passível de importação e usar essas colônias para fabricá-lo. Os outros artigos de
produção em pequena escala estavam dando certo nas Antilhas, ajudado pelo
esforço inglês em manter trabalhadores assalariados num regime próximo da
escravidão. Nas Antilhas o plantio do fumo era o principal mas os preços não se
mantinham. Os holandeses, expulsos do nordeste do Brasil, encontraram nessas
ilhas uma estrutura favorável a instalação de um negócio capaz de restaurar a
economia, favorecendo o aparecimento de grandes engenhos e também a troca da
população branca pela escrava. Essa população branca veio a instalar-se nas
colônias Norte-Americanas, que procuravam se afirmar como produtoras de trigo e
que até esse momento não tinham como escoá-lo, e após algum tempo,
transformaram-se em um novo mercado consumidor dos produtos antilhanos, e
fornecedores de animais de carga e madeira para confecção de caixas onde se
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transportavam o açúcar, além do trigo. Mais tarde, as colônias puderam incrementar
a indústria naval e de bebidas alcoólicas. Assim estava criado o mercado
independente de produtos tropicais das colônias da América do norte, semelhante
ao mercado europeu.
Daí para frente, ressalta Furtado, o destino da metrópole colonial portuguesa estaria
fadado ao insucesso, não fosse a cooperação do seu mais forte aliado, a Inglaterra.
A situação na qual se encontrava Portugal requeria ajuda de uma economia mais
organizada e proteção contra os ataques das outras potências, como se deu de fato
pela França. Em troca de privilégios comerciais e concessões em territórios
portugueses, a Inglaterra oferecia a proteção da sua esquadra.
A ultima grande cartada de manter o sistema mercantilista era a descoberta do ouro
brasileiro, que foi capaz de manter a posição política de Portugal durante mais
algum tempo, e obtendo ainda mais controle sobre as áreas do território brasileiro
invadidas por outras nações. Quando da decadência da mineração Portugal não
teve alternativa a não ser se retirar, mas os privilégios obtidos pelos ingleses sobre a
colônia foram transferidos para o Brasil independente, quase que automaticamente.
A Inglaterra reconheceria a independência do Brasil e este reconheceria seu
imperialismo, quadro esse que só viria mudar com o fortalecimento do café na
economia brasileira, ampliando significativamente sua relação econômica com os
Estados Unidos e com o fim do acordo do Brasil com a Inglaterra. Porém, a
economia de base escrava e a indústria incipiente não eram suficientes para fazer o
país avançar na direção do crescimento.
Em apoio a tese do referido autor, citamos o célebre bacharel em direito Caio Prado
Júnior, em seu livro Historia Econômica do Brasil (43ª edição – Brasiliense – 1998),
que traz capitulo intitulado Caráter Inicial e Geral da Formação Econômica Brasileira,
onde enfatiza “a grande navegação oceânica estava aberta, e todos procuravam tirar
partido dela” referindo-se ao fechamento das rotas italianas e a criação de novas
rotas por Portugal e Espanha seguido de perto por França, Inglaterra, Holanda e até
Dinamarca e Suécia, apoiado pelo pensamento de outros renomados teóricos,
observa que nesse contexto ficaram para traz os paises mal situados
geograficamente ou que mantinham o controle das rotas antigas. Mas Prado Júnior
ressalta que a colonização tinha a intenção primeira de estabelecer o comércio, e só
depois, quando algumas áreas não se prestaram para tal feito por não estarem
povoadas é que se desviou para o saque de madeira, peles e pescados. Destaca
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também que o próximo passo é que foi o povoamento com a implantação ou não da
agricultura, já que houve barganha entre prisões e deportações para as novas terras
descobertas e, mais tarde, nas palavras do próprio autor “É a situação interna da
Europa, em particular da Inglaterra, as suas lutas político-religiosas que desviam para a
América as atenções de populações que não se sentem à vontade e vão procurar ali
abrigo e paz para suas convicções.” A colonização da América tem de ser entendida e
dividida em dois raciocínio: o colono europeu que vinha trabalhar como escravo não
pretendia vir aos trópicos se fosse informado. Preferiu sempre as zonas temperadas e
mais parecidas com o seu habitat europeu. Mesmo os que vinham, assim que
conseguissem livrar-se de sua obrigação comercial e pudesse pagar o transporte
emigrava para áreas de clima temperado. Os que ficaram nas antilhas são os que
tinham dado certo ou vinham comandar outros trabalhadores e essa situação se
manteve até a substituição da mão-de-obra européia pela do negro africano. Na
América do sul nunca houve inserção no momento da colonização. Aqui se pensou
desde o inicio na escravidão do negro africano, pois Portugal já tinha experiência com
trabalho escravo nas Antilhas, um contingente populacional de escravos negros em seu
país e uma população bastante reduzida, como toda a Europa, pelas doenças ocorridas
nos dois séculos anteriores ao inicio das grandes navegações.
Ao que se aplica, o referido volume pode ser tratado como um manual de estudos
econômicos e sociais, devido ao apanhado de teorias resumidas e utilizadas em
citações, ao longo de todo o capítulo. Sua linguagem é de fácil compreensão, muito
embora Celso Furtado se detenha apenas em enumerar os fatos que contribuíram
para a formação da economia brasileira. Em contrapartida, em quase todo o tratado
há referências bibliográficas, material este que deve ser observado pelo leitor, que
tanto serve para indicar a referência do pensamento do autor do referido livro, como
também de fonte onde o graduando ou qualquer outro interessado, deve beber para
complementação do entendimento e reforço de conteúdo.
Assim sendo, para todo aquele que desejar conhecer mais profundamente os fatores
que contribuíram na incipiente economia brasileira, seja estudante ou não, graduado
ou não, recomendo se utilizar desta obra, devido a sua linguagem bastante
acessível aos iniciantes e suas sugestões de leitura paralela indicada aos que
necessitem de maior profundidade.
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Bibliografia:
FURTADO, Celso Monteiro. Formação Econômica do Brasil. São
Paulo. Companhia das letras. 2007.
JUINIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. Brasiliense. 1998.
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Celso_Furtado. Acessado em
17 de outubro de 2010.
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