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resenha ministério das relações exteriores de política exterior do brasil número 78, 1º semestre de 1996 2008

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resenha

ministério das relações exteriores

de política exterior do brasilnúmero 78, 1º semestre de 1996

2008

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RESENHA DE POLÍTICA EXTERIOR DO BRASILNúmero 78, 1o semestre de 1996

Ano 23, ISSN 0101 2428

A Resenha de Política Exterior do Brasil é uma publicação semestral do Ministério das Relações Exteriores, organizada e editada pelaCoordenação de Documentação Diplomática (CDO) do Departamento de Comunicações e Documentação (DCD).

Ministro de Estado das Relações ExterioresEmbaixador Celso Amorim

Secretário-Geral das Relações ExterioresEmbaixador Samuel Pinheiro Guimarães

Subsecretário-Geral do Serviço ExteriorEmbaixador Paulo Cesar Meira de Vasconcellos

Diretor do Departamento de Comunicações e DocumentaçãoMinistro Hélio Vitor Ramos Filho

Coordenação de Documentação DiplomáticaPrimeiro Secretário Henrique Archanjo FerrariSecretário Igor de Carvalho Sobral

Padronização / Editoração eletrônicaHilton Ferreira da Silva

Endereço para correspondência:Coordenação de Documentação Diplomática (CDO)Ministério das Relações Exteriores, Anexo II, 1o subsoloCEP 70170-900, Brasília, DFTelefones: (61) 3411-9273, (61) 3411-9037, fax: (61) 3411-6591

© 2008 Todos os direitos reservados. A reprodução ou tradução de qualquer parte desta publicação será permitida coma prévia permissão do Editor.

Resenha de Política Exterior do Brasil / Ministério das Relações Exteriores. –Ano 1, nº 1 (jun. 1974) -.- Brasília, Ministério das Relações Exteriores,1974 –.

306p.

ISSN 0101 2428Semestral

1.Brasil – Relações Exteriores – Peródicos. I.Brasil. Ministério das Relações Exteriores

CDU: 327 (05)

Departamento de Comunicações e Documentação

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SUMÁRIO

DISCURSOSBrasil – SurinameDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido aoPresidente do Suriname, Runaldo Ronald Venetiann, em Brasília, 10 de janeiro de 1996 ...................... 11

Brasil - ÍndiaDiscurso do Seretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, porocasião do Seminário Brasil-Índia, no Rio de Janeiro, 11 e 12 de janeiro de 1996 ............................... 13

“Seminário Brazil Today”Pronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião do Semínario “Brasil Today”, sobre o tema “Brazilian Initiatives on Economic Integration”. NovaYork, 17 de janeiro de 1996 ............................................................................................................... 17

Brasil - ÍndiaConferência “Conseqüências Sociais da Globalização” ,proferida pelo Presidente da República, FernadoHenrique Cardoso no Indian Internacional Centre, Nova Délhi, 25 de janeiro de 1996 ......................... 23

Visita à ÍndiaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido peloPresidente da Índia, Shanker Sharma, Nova Délhi, 26 de janeiro de 1996 ........................................... 31

OCDEDiscurso do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, porocasião do Seminário da OCDE sobre regras multilaterais de investimento. Brasília, 5 de fevereiro de1996 .................................................................................................................................................. 35

Equador-PeruDiscurso do Ministro de Estados das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda comemoração do primeiro aniversário da assinatura da Declaração de Paz do Itamaraty. Brasília, em16 de fevereiro de 1996 ..................................................................................................................... 37

Brasil - MéxicoDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião da Cerimônia Oficial deChegada ao México, realizada no Palácio Nacional, Cidade do México, 19 de fevereiro de 1996 ........ 39

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4 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Banquete oferecido pelo Presidente dos Estados Unidos MexicanosDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do banquete oferecidopelo Presidente dos Estados Unidos Mexicanos, Ernesto Zedillo Ponce de León, Cidade do México, 19de fevereiro de 1996 .......................................................................................................................... 41

Visita à sede do Departamento do Distrito Federal na Cidade do MéxicoDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião da visita à sede doDepartamento do Distrito Federal, Cidade do México, 19 de fevereiro de 1996 .................................. 45

Sessão solene da comissão permanente do Congresso da UniãoDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na sessão solene da comissão per-manente do Congresso da União, Cidade do México, 20 de fevereiro de 1996 ................................... 47

Conferência O impacto da globalização nos países em desenvolvimentoConferência “ O impacto da globalização nos países em desenvolvimento: Riscos e Oportunidades”.Discurso proferido pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no Colégio do México,20 de fevereiro de 1996 ..................................................................................................................... 53

Brasil - BolíviaPalestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na Chancela-ria boliviana, La Paz, 23 de fevereiro de 1996 ..................................................................................... 65

Brasil - BolíviaDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião daCerimônia de Condecoração com a Ordem do Condor dos Andes, La Paz, 23 de fevereiro de 1996 ......... 71

Brasil- PeruDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do almoço oferecido aoPresidente do Peru, Alberto Fujimori, Brasília, 26 de fevereiro de 1996. .............................................. 75

SG - ONUDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido aoSecretário-Geral das Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali, Brasília, 29 de fevereiro de 1996. ......... 77

Comitê de Cooperação Econômica Brasil-JapãoDiscurso do Secretário-Geral, Embaixador Sebastião do Rego Barros, na VI Reunião Conjunta doComitê de Cooperação Econômica Brasil-Japão, São Paulo, 29 fevereiro de 1996 ............................ 79

Parlamento de Origem LibanesaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido aosparticipantes do II Congresso Internacional de Parlamentares de Origem Libanesa, Brasília, 8 de marçode 1996. ............................................................................................................................................ 83

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5Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Brasil-EUADiscurso do Presidente da República no encontro com representantes da comunidade empresarial daCosta Oeste dos Estados Unidos da América, São Francisco, 10 de março de 1996. .......................... 87

ConferênciaConferência “A Revitalização da Arte da Política” do Presidente da República, Fernando Henrique Car-doso, pronunciada na Universidade Stanford (“Robert Wesson Lecture”), 11 de março de 1996 .......... 91

Brasil-JapãoBrinde do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do banqueteoferecido pelo Imperador do Japão, Tóquio, 13 de março de 1996 .................................................. 101

Brasil-JapãoDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no almoço oferecido por represen-tantes do meio empresarial japonês, Tóquio, 13 de março de 1996 ................................................... 103

Brasil-JapãoDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no Parlamento Japonês, Tóquio, 14de março de 1996 ............................................................................................................................ 107

Brasil - JapãoDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido peloPrimeiro-Ministro do Japão, Ryutaro Hashimoto, Tóquio, 14 de março de 1996 ................................ 113

Condecoração da BandeiraPalavras do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião da Condecoração da Bandei-ra do V Exército dos Estados Unidos da América do Norte, San Antonio, 15 de março de 1996 ............. 117

Reunião Ministerial HemisféricaPronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião da Reunião Ministerial Hemisférica, Cartagena, 21 de março de 1996 ................................... 119

Brasil - ChileDiscurso do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar ofere-cido ao Presidente do Chile, Eduardo Frei Ruiz Tagle, Brasília, 25 de março de 1996 ........................ 123

Comissão Mista Brasil-AlemanhaDiscurso do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, porocasião da cerimônia de abertura da XXII Reunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha de CooperaçãoCientífica e Tecnológica, Joinville, 26 de março de 1996 .................................................................... 127

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6 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

MercosulPronuciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião da Cerimônia de Instalação da Seção Nacional do Foro Consultivo Econômico-Social doMercosul, Brasília, 27 de março de 1996 .......................................................................................... 131

Brasil-Países ÁrabesPronunuciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luis Felipe Lampreia, porocasião do almoço oferecido pelos Embaixadores dos Países Árabes acreditados junto ao GovernoBrasileiro, Brasília, 28 de março de 1996 ......................................................................................... 135

Política Externa - Escola de Guerra NavalConferência do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, naEscola de Guerra Naval sobre o tema “A Política Externa Brasileira”, Rio de Janeiro, 29 de março de1996 ................................................................................................................................................ 137

Brasil- ArgentinaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no almoço empresarial realizado noHotel Sheraton, Buenos Aires, 8 de abril de 1996 ............................................................................. 153

Brasil - ArgentinaBrinde do Senhor Presidente da República, Fernando Herinque Cardoso, por ocasião do Banquete oferecidopelo Presidente da República Argentina, Carlos Menem, Buenos Aires, 8 de abril de 1996 ....................... 157

Sessão Solene do CongressoDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião de Sessão Solene doCongresso da República Argentina, Buenos Aires, 9 de abril de 1996 ............................................... 159

Comissão de Relaçõess Exteriores da Câmara dos DeputadosExposição do Ministros de Estado das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, perante a Comissãode Relações Exteriores da Câmara, sobre o tema “A política externa brasileira no primeiro ano doGoverno Fernado Henrinque Cardoso”, 11 de abril de 1996 ............................................................. 165

MercosulDiscurso do Senhor Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros,por ocasião do “Encontro do Norte sobre o Mercosul”, Manaus, 12 de abril de 1996 ....................... 179

Brasil - PortugalDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do banquete oferecidoao Primeiro-Ministro de Portugal, António Guterres, Brasília, 15 de abril de 1996 .............................. 183

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7Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Dia do DiplomataDiscurso do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião da cerimônia deformatura da turma “Florestan Fernandes” do Instituto Rio Branco, Brasília, 30 de abril de 1996 ....... 187

Dia do DiplomataDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda comemoração do Dia do Diplomata e da formatura da turma “Florestan Fernandes” do Instituto RioBranco, Brasília, 30 de abril de 1996 ................................................................................................ 191

Brasil – Países AfricanosDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo almoço oferecido pelos embaixadores africanos acreditados junto ao Governo Brasileiro, Brasília, 2de maio de 1996 .............................................................................................................................. 197

Projeto “De Tordesilhas ao Mercosul”Pronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião da Inauguração do Projeto “De Tordesilhas ao Mercosul”, Rio de Janeiro, 6 de maio de 1996 ...... 201

Conferência sobre desarmamentoPronuciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, noplenário da conferência sobre desarmamento, Genebra, 14 de maio de 1996 ..................................... 203

Diálogo InternacionalPronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião do jantar de inauguração do Foro do Sol M. Linowitz do diálogo inter-americano sobre o tema“A new Inter-Amercanism for the Global Age”, Washington, 16 de maio de 1996 .............................. 207

Brasil - VenezuelaDiscurso do presidente da República, Fernando Henrinque Cardoso, por ocasião do jantar oferecido aoPresidente da Venezuela, Rafael Caldeira, Brasília, 20 de maio de 1996 ............................................. 211

Curso de política, estratégia e alta administração do exércitoPalestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, paraestagiários do curso de política, estratégia e alta administração do exército (CPAEX) sobre o tema “ APolítica Externa Brasileira”, Brasília, 20 de maio de 1996 .................................................................. 215

Brasil - CanadáDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na cerimônia deassinatura do acordo de cooperação nuclear entre o Brasil e o Canadá, Brasília, 22 de maio de 1996 ........ 229

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8 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Seminário na Universidade de São PauloPronuciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, naabertura do Seminário “Globalização: O que é e quais as suas principais implicações”, promovido pelaFaculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 23de maio de 1996 .............................................................................................................................. 231

Brasil - FrançaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no almoço oferecido pelo ConselhoNacional do Patronato Francês, Paris, 28 de maio de 1996 ............................................................... 235

Brasil - FrançaDiscurso do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no banquete oferecido peloPresidente da França, Jacques Chirac, Paris, 28 de maio de 1996 ..................................................... 239

Brasil - FrançaDiscurso do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião de jantar ofere-cido pelo Presidente da Assembléia Nacional Francesa, Philippe Seguin, Paris, 29 de maio de 1996 .. 243

Brasil - FrançaPalavras do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar ofereci-do pelo Primeiro-Ministro da República Francesa, Alain Juppé, Paris, 29 de maio de 1996 ............... 247

Título de Doutor Honoris CausaConferência do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião dorecebimento do Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lumière, Lyon, 30 de maio de1996 ................................................................................................................................................ 249

Brasil - FrançaBrinde do Senhor Presidente da Replública, Fernanado Henrique Cardoso, por ocasião do almoçooferecido pelo Ministro da Defesa da França na prefeitura da região de Rhône-Alpes, Lyon, 30 de maiode 1996 ........................................................................................................................................... 257

Escola Superior de GuerraPalestra do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, na EscolaSuperior de Guerra sobre “ A execução da Política Externa Brasileira”, Rio de Janeiro, 31 de maio de1996 ................................................................................................................................................ 259

OEADiscurso do Secretário-Geral, Embaixador Sebastião do Rego Barros, no Plenário da XXVI Assembléia-Geral da OEA, Washington, 3 de junho de 1996 ............................................................................... 269

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9Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

MercosulDiscurso do Vice-Presidente da República, Marco Maciel, por ocasião do encerramento do I Semináriosobre Fontes de Financiamento e Fomento a Negócios no âmbito do Mercosul, Recife, 14 de junho de1996 ................................................................................................................................................ 273

Brasil - ParaguaiDiscurso do Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião da Cerimônia deCondecoração com a Ordem Nacional do Mérito do Paraguai, Assunção, 26 de junho de 1996 ........ 275

ATOS INTERNACIONAIS ..........................................................................................................277

COMUNICADOS, NOTAS, MENSAGENS E INFORMAÇÕESNota sobre relatório de ong dedicada a questões de direitos humanos a respeito de comunicações daCorte Interamericana de Direitos Humanos que envolvem o Brasil, 31 de janeiro de 1996 ................. 283

Nota sobre a adesão da França, Reino Unido e Estados Unidos aos protocolos adicionais do Tratado deRarotonga, que estabelece uma zona livre de armas nucleares no Pacífico Sul, 26 de março de 1996 ......... 284

Nota sobre a escalada da violência em Israel e no Líbano, 12 de abril de 1996 .................................. 284

Nota sobre a assinatura do Tratado de Pelindaba, que transforma o Continente Africano em zona livre dearmas nucleares, 12 de abril de 1996 ................................................................................................ 285

ARTIGOS“O desafio da diplomacia”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noJornal de Brasília. 21 de janeiro de 1996 .......................................................................................... 287

“O Brasil e a OMC”Artigo do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, publicadona “Gazeta Mercantil”, e no Diário “La Época”, de Santiago do Chile. Rio de Janeiro e Santiago do Chile,respectivamente, em 26 de janeiro e 17 de fevereiro de 1996 ............................................................ 289

“Um projeto de política externa para 1996”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado naFolha de São Paulo. São Paulo, 28 de janeiro de 1996 .................................................................... 292

“Novas bases para a relação com o México”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado naGazeta Mercantil, 14 de março de 1996 ........................................................................................... 293

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10 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

“Uma nova era nas relações Brasil-Japão”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado naGazeta Mercantil. 28 de março de 1996 .......................................................................................... 295

“Uma diplomacia afirmativa na África”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noCorreio Braziliense. Brasília, maio de 1996 ....................................................................................... 296

Patentes: Um grande passoArtigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noJornal o Globo. Rio de Janeiro, 15 de maio de 1996 ........................................................................ 298

“Les relations Franco-Brésiliennes: À la recherche de temps nouveaux”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado naRevista França-Brasil. Maio de 1996 ............................................................................................... 300

ÍNDICE REMISSIVO .................................................................................................................. 303

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11Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhor Presidente,Ao dar as boas-vindas a Vossa Excelência,

quero manifestar com clareza que é do interesse doBrasil aproximar-se cada vez mais do Suriname.

Atribuímos, assim, grande importância a suapresença entre nós.

Temos acompanhado com atenção osesforços do povo e do Governo de seu país parasuperar os desafios da vida independente, em meioa um contexto internacional nem sempre favorável.

Sabemos também do papel de VossaExcelência na condução, serena e equilibrada, doprocesso de consolidação da democracia noSuriname.

Esta é sem dúvida uma tarefa difícil ecomplexa, mas que a firme determinação dasociedade surinamense haverá de levar a bom termo.

Junto com os princípios da economia demercado, a democracia fincou raízes profundas naAmérica do Sul.

Os ideais democráticos passaram orientar odesenvolvimento das sociedades nesta parte domundo.

Nós, sul-americanos, já não aceitamos, sobqualquer pretexto, desvios em relação ao caminhodemocrático.

O Brasil e o Suriname olham o futuro comotimismo, pois é com plena liberdade política quelograremos lançar bases seguras para odesenvolvimento e garantir melhores condições de

vida para nossos povos.A democracia é a melhor base para a amizade

permanente entre as nações.Este é o momento ideal para relançarmos

nossa já tradicional parceria sobre as bases dosvalores que partilhamos, da vizinhança e da nossacondição de países sul-americanos e amazônicos.

Nossos países estão buscando, com o esforçode profundas reformas internas, uma maiorparticipação nos fluxos internacionais de comércio,tecnologias e investimentos.

O crescimento de nossas economias criaoportunidades para uma cooperação bilateral maisintensa em diversos setores.

Além disso, temos um vasto patrimôniocomum de interesses e afinidades. A defesa dosdireitos humanos e a promoção da justiça social sãoideais que devem nos unir.

Somos países amazônicos comprometidoscom o desenvolvimento sustentável e a proteçãoambiental.

Por isso temos trabalhado juntos paracanalizar o interesse internacional na amazônia eminiciativas concretas de cooperação que efetivamentepromovam seu desenvolvimento de acordo com asaspirações de nossos povos.

Somos também países sul-americanos queassistem a um amplo movimento integracionista emnossa região.

O Brasil tem buscado responder a esse

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido ao Presidentedo Suriname, Runaldo Ronald Venetiann, em Brasília, 10de janeiro de 1996

Brasil – Suriname

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12 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

grande movimento de integração através doengajamento em iniciativas como o MERCOSUL,cujo dinamismo o coloca hoje como o quarto maiorPIB mundial, após a União Européia, os EstadosUnidos e o Japão.

Esta não é uma opção que exclui outras, massim um exemplo dos benefícios que pode trazer oregionalismo aberto para a inserção internacional deum país.

Por isso temos dado atenção especial àcelebração de novos acordos de liberalizaçãocomercial entre o MERCOSUL e nossos parceirosno âmbito da ALADI.

Por isso apoiamos o início de negociaçõessemelhantes entre o MERCOSUL e o Suriname nomais breve prazo possível.

O Suriname é um país a que a geografia e ahistória reservam uma posição de indiscutível relevona política externa brasileira.

Esta posição assume agora importância aindamaior com a perspectiva de integração hemisféricaemanada da Cúpula das Américas.

O Brasil tem enfatizado que este processodeve ter por base os esquemas sub-regionais deintegração existentes e que seus objetivos devemorientar-se por uma política gradual e realista.

É nesse quadro que o Suriname se apresenta

como uma porta de acesso privilegiado ao Caribe,conferindo a nossas relações uma dimensão adicional.

A tudo isso vem somar-se um aspectoessencial do relacionamento brasileiro-surinaimense:o elemento humano.

Nossa vizinhança deve incentivar um maiorintercâmbio fronteiriço que possa contribuir para odesenvolvimento nos dois lados da fronteira.

Além disso, é fundamental que continuemosa priorizar a cooperação técnica bilateral - sobretudoa formação de recursos humanos - que tem produzidoresultados muito positivos para o conjunto de nossasrelações.

Senhor Presidente,Alegro em poder transmitir-lhe, nesta

ocasião, não só a certeza que tenho do potencial decooperação entre nossos países, mas sobretudo aestima que o Governo e o povo brasileiros têm peloSuriname.

Com esse espírito peço a todos que meacompanhem num brinde pela saúde do PresidenteRonald Venetiaan, pela prosperidade do povosurinamês e pelo fortalecimento crescente dos laçosde amizade e cooperação que unem o Brasil e oSuriname.

Muito obrigado.

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13Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Exmo. Sr. Ministro da Ciência e Tecnologia,José Israel Vargas;

Exmo. Sr. Embaixador Gurdip Bedi;Exmo. Sr. Embaixador João Clemente Baena

Soares;Exmo. Sr. Embaixador Samuel Pinheiro

Guimarães;Senhoras e Senhores,Este seminário comprova o interesse e a

importância do relacionamento Brasil-Índia. Arepresentatividade dos participantes e o alto nível dasintervenções feitas indicam claramente a riqueza dequestões envolvidas nesta aproximação, amultiplicidade de seus aspectos relevantes e oconjunto de oportunidades a serem exploradas.

Esta é talvez a questão central que convémdestacar: o interesse pelo futuro das relações indo-brasileiras deve-se ao reconhecimento do enormepotencial que nelas se encerra e que se traduz não sóno adensamento dos vínculos bilaterais, mas tambémna cooperação para a redefinição do sistemainternacional. Redefinição que é uma exigência darealidade global em acelerada transformação quevivemos.

Diante desse panorama, em que incertezas epossibilidades se combinam, as nações não podemperder a perspectiva de longo prazo. Devemresguardar, portanto, sua capacidade deplanejamento estratégico. A política externa brasileiraidentifica, hoje, um conjunto de vínculos estratégicos

e dentre eles está o que desejamos construir com aÍndia.

Brasil e Índia são países em desenvolvimentoque já atingiram, em várias áreas, uma capacidadecompetitiva inquestionável. Com isto, os interessesnacionais, fator decisivo na constituição de umapolítica externa, revelam notável complexidade. Poroutro lado, ocupam Brasil e Índia tradicionalmenteuma posição de destaque em negociaçõesmultilaterais, o que, mais do que uma herança, é umtrunfo a ser explorado e preservado. Por motivoscomo esses, Brasil e Índia não podem operar recortesno conjunto de temas da pauta internacional: devemconsiderá-la em sua totalidade. São nações que nãopodem atuar topicamente, selecionando questõesespecíficas no interior de um quadro de cuja dinâmicapermanecem distanciados. Em síntese, são exemplosde países cuja evolução implica necessariamente aconsideração de sua inserção internacional.

As mesas temáticas em que este semináriofoi organizado refletem este imperativo compartilhado.O cenário político internacional revela uma série dedesafios que nortearão a política global nos próximosanos. Gostaria de enfatizar um exemplo específicoem que a parceria indo-brasileira será vital: a criaçãode instituições internacionais mais democráticas eeficientes pela valorização do princípio darepresentatividade. Brasil e Índia, que auferem osbenefícios da organização democrática em nívelnacional, desejam trabalhar conjuntamente para que

Brasil - Índia

Discurso do Seretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros, por ocasião doSeminário Brasil-Índia, no Rio de Janeiro, 11 e 12 de janeirode 1996

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14 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

o sistema mundial venha a se estruturar sobre umconjunto mais amplo de perspectivas e opiniões, oque muito contribuiria para a estabilidadeinternacional que todos desejamos.

No cenário econômico internacional, segundoitem do programa, destaca-se a perspectiva que seabre com a OMC de estruturação de um sistemacomercial mundial submetido a regras claras. Brasile Índia, nações que realizam processos ambiciososde abertura econômica, tiveram atuação destacadanas negociações multilaterais que, desde o lançamentoda Rodada Uruguai, vêm paulatinamentefundamentando as normas ordenadoras dointercâmbio de bens e serviços. Em vários momentos,as delegações dos dois países puderam trabalhar deforma coordenada, atendendo, com habilidade edeterminação, aos seus interesses nacionais. Estacoordenação se beneficiaria de um planejamentosistemático, capaz de torná-la mais constante e menosreativa a contingências específicas.

O terceiro tópico discutido é central: asperspectivas estratégicas nas relações indo brasileiras.Sabe-se que a autonomia das nações nas próximasdécadas dependerá fortemente de sua capacidadede acompanhar os avanços constantes da pesquisacientífica e de suas aplicações no processo produtivo.Neste contexto, muito já se falou sobre osentendimentos entre países em desenvolvimento naárea de ciência e tecnologia. No caso de Brasil eÍndia, graças à sólida base que ambos puderamdesenvolver, trata-se de uma iniciativa realista,pragmática e de grande potencial. O êxito que foralcançado neste setor geraria, além de benefícios paraos envolvidos, um notável efeito-demonstração,comprovando a viabilidade da cooperação horizontal.Tenho certeza de que os contatos mantidos emdezembro, durante a visita do Ministro José IsraelVargas, terão desdobramentos significativos.

Visitei Nova Délhi em novembro passado.Chefiei a delegação brasileira à terceira reuniãorealizada no âmbito do “Memorando deEntendimento relativo a Consultas sobre Assuntos

de Interesse Comum” e realizei contatospreparatórios para a visita presidencial. Encontrei-me com autoridades da Chancelaria, do Ministériodo Comércio e do Ministério do Meio Ambienteindianos. Fui recebido na “Confederation of IndianIndustry” - CII. Finalmente, em recepção oferecidana Embaixada, tive a oportunidade de encontrarmembros de vários setores representativos dasociedade indiana.

Em todas essas ocasiões, a visita presidenciale as perspectivas que ela abrirá para as relaçõesbilaterais foram tratadas com interesse, expectativae autêntico entusiasmo. Havia um reconhecimentogeneralizado de que países como Brasil e Índia, porsua expressão própria, pelo papel que desempenhamem negociações multilaterais, pela liderança quefrequentemente exercem no grupo dos países emdesenvolvimento e pelo grau de proximidade quetradicionalmente revelam frente a vários temas dapauta internacional, não podem adiar o esforço dedesenvolvimento de seu diálogo. Neste espírito,propus a meus interlocutores a elaboração de uma“agenda comum” Brasil-Índia, que não seria umdocumento específico, mas sim uma meta orientadorados trabalhos setoriais a serem realizados pelos doisgovernos com vistas à gradual formação de umprojeto abrangente e articulado para o futuro dasrelações bilaterais.

Deve ser enfatizado, contudo, que a tarefa aser cumprida não é somente de naturezaintergovernamental. É significativo o papel específicodos setores privados e grande o interesse por elesdemonstrado até o momento. Também em novembropassado, por ocasião da visita do Vice-Ministro deComércio indiano, Senhor Tejendra Khanna, recebiem Brasília numerosa comitiva empresarial. O grupovinha do Rio, onde havia sido realizada reunião doConselho Empresarial Misto estabelecido pelaConfederação Nacional da Indústria e a “Federationof Indian Chambers of Commerce and Industry” -FICCI. As expectativas positivas apresentadas àépoca foram recentemente confirmadas por notícias

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de promissores desdobramentos. Ao governointeressa criar mecanismos de acompanhamento dotrabalho dos Conselhos Empresariais, de modo apoder oferecer-lhes o apoio necessário.

Gostaria de encerrar esta breve intervençãoreferindo-me ao sentido político da visita que oPresidente Fernando Henrique Cardoso realizará nospróximos dias à Índia, a primeira visita de um Chefede Estado brasileiro a esse país amigo. O Presidentedo Brasil será o convidado especial do Governoindiano às celebrações do “Dia da República”. Sua

presença nestas cerimônias representará umaeloquente manifestação da vontade política de doisgovernos, de dois países, de duas nações de inauguraruma nova etapa de seu relacionamento, que seráproveitosa não apenas para ambos os povos, mastambém para a própria comunidade internacional.

Felicito os organizadores e participantes desteseminário pela qualidade da reflexão por elepropiciada, a qual certamente contribuirá para estenovo momento que estamos inaugurando.

Muito obrigado.

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1- Experience in integrationTo fully grasp the importance and the

dimension of economic integration for the Braziliangovernment one must bear in mind that the effortstoward integration in Latin-America accrue decadesof experience in the pursuit of goals that in the past,often proved to be either too ambitious. or simplyuntimely. Actually, these two ingredients - realism andtiming - are key elements in Brazil’s present equationfor economic and trade linkages with its globalpartners.

2.The history of Latin-American integrationefforts shows that realism and timing were not alwayspresent when quite praiseworthy objectives wereoutlined and deadlines set. Such was the case of the1960 Montevideo Treaty. which created the Latin-American Free Trade Association (LAFTA) andestablished that integration should be achieved throughproduct by product negotiations simultaneouslyinvolving all parties of the Association. The rigidity ofthis process completely doomed the LAFTA’schances for success.

3. The Montevideo Treaty of 1980 createdthe Latin-American Integration Association (LAIA).successor to LAFTA, which now allowed for thenegotiations of bilateral or limited multilateralagreements among members of the Association,designated “Partial Scope Agreements”. Concessions

or preferences agreed upon were then applicable onlyto the signing parties of these partial agreements andnot, as was the case with LAFTA, to all members ofthe Association. Even after these new provisions,progress was still slow in the direction of a truly sub-continental free trade area. further still from a commonmarket, final goal of LAIA, as stated in its very 1stArticle. Not all countries were prepared to open theirborders to competitive neighbors, and most had theirviews of foreign trade directed to extra-regionalmarkets. This legal framework, nevertheless, pavedthe way to the open markets thrust which gained forcein the late 80s.

4. By the middle of the past decade, the importsubstitution model was running out of steamthroughout Latin-America and the return todemocracy made old rivalries obsolete. Brazil andArgentina were both returning to democracy andundergoing the first stages of a progressive openingof their two somewhat complementary economies.In 1986 the two started talks that resulted in thebilateral Economic Integration and CooperationProgram, which envisaged the creation of a commoneconomic area to be achieved by a gradual andselective opening of both markets. Several bilateralagreements and protocols were signed until. In 1990,all these instruments were consolidated and includedin the Brazil-Argentina Economic Complementary

“Seminário Brazil Today”

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo Semínario “Brasil Today”, sobre o tema “BrazilianInitiatives on Economic Integration”. Nova York, 17 dejaneiro de 1996

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Agreement No.14 of LAIA, which was the seed ofMERCOSUL.

5. In that same year. Paraguay and Uruguay- countries with economic and political interests highlyintermeshed with those of Brazil and Argentina - wereinvited to participate in the process which culminatedin the creation of MERCOSUL with the signature ofthe Asuncion Treaty in March 1991.

II- Mercosul: an unprecedented initiative6.It is important to underline that since its

origin MERCOSUL was meant to be much more thana mere free trade area. The Asuncion Treaty envisagesthe formation of an enlarged economic space with aunified imports tariff, free circulation of goods andmeans of production (capital and labor), coordinationof economic and trade policies, and joint action onthe contacts with our trade partners.

7. MERCOSUL was an innovation on severaldifferent aspects with respect to previous integrationefforts carried out in the continent. Maybe the mostremarkable distinction was the program of automaticand progressive reduction of tariff duties among thefour members during the 4 year transition period”.

Many wrongly believed the “zero tariffs”objective to be far-fetched and impossible to reach.It is true that a few exceptions remain, but they arefew, they are exceptions. and they are scheduled todisappear over the next few years.

8.Together with the elimination of tariffsapplicable to commerce among the four members,non-tariff barriers to trade (such as quotas.phytosanitary restrictions and others) were mostlyeliminated. With these goals accomplished. theskeptics now began to doubt the attainment of theCustoms Union, which was finally put into effect, righton schedule, on January 1st 1995, also under thelegal framework of LAIA.

9. Last December, in Punta del Este.Uruguay, MERCOSUL approved an “ActionProgram” that outlines the objectives to be attainedby the year 2000. One of the main concerns of the

MERCOSUL 2000 Program is the removal of allremaining tariffs for trade inside the Customs Unionborders. Enduring nontariff barriers or similardispositions should also be completely eliminated or,in some cases, harmonized.

10. The straightening and deepening of theintegration process in other trade related areas arealso a high priority of the Action Plan. On the pathfor the ultimate goal of MERCOSUL – the CommonMarket - several areas will be addressed and newobjectives set out, all to be pursued under theprinciples of gradualism. flexibility and equilibrium.Conversations will be carried out on agriculture,industry, mining, energy, services, communications,transports and infrastructure, tourism, financialmatters, taxation, and macroeconomic policies. In allareas, the four countries will examine ways to furthercooperation, development and harmonization of thevarious national mechanisms. rules and regulations.

III- The positive impact of Mercosul11. With MERCOSUL, for the first time ever,

the Brazilian society as a whole felt the full impact ofintegrating measures in all areas and activities ofeveryday life. It is in production and marketinghowever that the changes are most evident. A quicklook at supermarket shelves and store windows willshow a vastly different array of goods from the onedisplayed just a few years ago.

12. Some segments of the economyunderwent widespread and deep transformations. Theautomobile industry is a patent example of thisinflection. Before the 90s, the national plantsproduced obsolete models that. with few and notableexceptions, had been taken out of the market of theindustrialized countries decades earlier. Moderntechnologies, such as the electronic fuel injectionsystem could not be incorporated to the productionlines due to extremely high import taxes or marketprotection in other areas - informatics in this case.

13. The effects of lower taxes and reducedmarket protection were manifold. It made the industry

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face the competition of modern imported car modelsand allowed the reequipment and updating of theassembly lines. The Brazilian market is now suppliedwith automobiles similar to those sold in the US, Japanor Europe. The market was also stimulated andgrowth resumed. Present production level is over 1.5million units/year. Some projections indicate that, bythe year 2000, Brazil could become the 5th largestautomobile producer in the world.

14. The Brazilian informatics sector is also aparadigm of the changes induced by MERCOSULand the shift to a more open market environment.This industry was protected, for several years, with aclosed borders policy. Today. innovations areunmistakably noticeable. Associations and creativepartnerships with foreign companies are numerous.Prices to the consumer have fallen drastically and upto date technologies are now available at much morecompetitive prices.

15. Maybe the most remarkable feature ofthis new scenario is the emergence of a new mentalityamid the MERCOSUL entrepreneurs. One thatencourages a competitive approach, stricter qualitycontrol, research and development of newtechnologies, productivity increases. labor andbusiness specialization, and the search for newpartnerships - internally and with foreign companies.

IV- Mercosul: A building block16. Greatly stimulated by the positive effects

of the integration process within the borders of theCustoms Union, MERCOSUL is holding fast to thelarger goal of competitively inserting the sub-regionin the international markets. It is by no accident thatthe principles and provisions of the Asuncion Treatyare thoroughly compatible with Article 24 of the CATTand also with the Marrakech Agreement establishingthe World Trade Organization.

17. This fact has been ascertained throughoutthe consultations with the WTO Working Groupspecifically established for MERCOSUL. Theseattributes result from the firm determination of the

negotiating teams to give MERCOSUL a transparentand non-excluding character. accordant to the trueand intended meaning of the term “open regionalism”.

18. The four MERCOSUL members have inmind the importance of the adaptation of theireconomic structures to the highly competitive worldenvironment. With this in mind. a whole section ofthe Punta del Este Action Program was dedicated tothe external relations of MERCOSUL.

19. The emphasis placed by the fourgovernments on the “open regionalism” trait of thegroup should be stressed, for it is one of the majorcornerstones of the MERCOSUL initiative. The fourmember countries view their association not as anend in itself, but as a means to bring the region closerto the objectives of the LAIA. In fact. Article 3 of the1980 Treaty of Montevideo enshrines the“convergence” principle and calls for a “progressivemultilateralization of the Partial Agreements” with aview to the “establishment of the Latin-Americancommon market”. In this same line, the AsuncionTreaty states that MERCOSUL should be considereda step forward in the direction of the integration ofLatin America and its Article 20 leaves the group openfor the accession of other LAIA members.

20. The open nature of MERCOSUL maybe also ascertained by numbers. Although total tradeamong the MERCOSUL members increased by 302%from 1988 to 1994, there was no trade diversion.Actually, extra-regional trade exchanges increased by83% in the same period. MERCOSUL’s share of worldtrade also jumped from 6,5% to 19,5%.

21. As pointed out earlier the fourMERCOSUL governments understand that theenlarged market of the Customs Union has the crucialpurpose of exposing the national enterprises to foreigncompetition, notably in the economic sectors that havebeen under high levels of protection for a long periodof time. This should be an incremental process,cautiously controlled, in order to ensure adaptationand restructuring, and not unnecessary insolvency dueto a hasty and disorderly changing of the economic

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environment.22. One should notice that, especially in the

case of Brazil, the national companies were doublyexposed to foreign competition. On one hand therewas the gradual but quick exposure to the productsof the other three partners. On the other hand. theunified tariff lowered the protection of severalindustries, in some cases rather significantly. Theaverage unified tariff is calculated to be around 12%,consequently beneath the previous Brazilian 14%average, and much lower than the high level ofprotection present in the 80s.

V - Mercosul reaching out23. The next obvious and natural step for

MERCOSUL on the external front was to furtherintegrate its market with those of the neighborcountries also covered by the Montevideo Treaty.The construction of a net of free trade agreementswith other LAIA countries is in the making.Negotiations have a 4+1 format - or 4 + block as inthe case of the conversations with the Andean Group.At this first stage, these agreements strive to give amultilateral framework to all concessions that wereindividually negotiated by the four MERCOSULcountries with the remaining LAIA members. Lastmonth, an agreement with Bolivia was concluded.Negotiations are quite advanced with Chile andsignificant progress was also achieved with Venezuela.

24. The next stage is to establish, for each ofthese agreements, a mechanism similar to the one usedby MERCOSUL during its “transition period”: aprogram of gradual and automatic tariffs eliminationscheduled to take place over a period of 10 years. Inorder to be successful, all these efforts strictly observethe two principles I mentioned in the beginning of theseremarks -timing and flexibility.

VI- The free trade area of the americas25. It Is Brazil’s unfaltering conviction that

these two parameters should guide our endeavors tobring about the most challenging task of our continent

which is the construction of the Free Trade Area ofthe Americas - FTAA - by the year 2005. InDecember of 1994, the Miami Summit, whichcongregated leaders of 34 countries of our continent,adopted a Declaration of Principles and an ActionPlan, which seal a pact for the attainment of“development and prosperity through economicintegration and free trade.

26. We believe that the experience Latin-American countries have had with their successiveregional integration attempts will play a major roleduring the debates and negotiations concerning theFTAA. As I noted earlier, implausible goals anddeadlines were conducive to repeated failures. Thatis why our delegations at the Miami Summit, and atthe Ministerial Meeting, last July, in Denver, tookdistinctive care in stating that we should use theexisting agreements in the region as the foundationsof the FTAA. MERCOSUL in particular could offersubstantial contributions, due to its large experienceaccumulated not only with the negotiations amongthe four members. but also with the above mentioned4+1 talks with the other LAIA members.

27. Brazil firmly believes that this “buildingblocks” approach, while fostering a gradualconvergence of the existing regional agreements -extraordinary assets themselves - will help us avoidthe traps of unrealistic timing and objectives. Duringthe FTAA negotiations, the Latin-American countrieshave stressed the importance of measuring every stepof the way and avoiding unrealistic or unbalancedcommitments.

28. To this effect, the working groups createdby the Denver trade ministerial have been instructedto gather all possible information on previousexperiences and the existing integration mechanisms.

Brazil is actively participating in all workinggroups and strongly hopes that their reports will allowthe ministers gathered in Cartagena, next March, tomake further progress and establish appropriateguidelines to our negotiating teams.

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21Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

VII- Integration and development29. A common trace of Brazil’s various

initiatives listed above is the ultimate goal ofdevelopment and betterment of conditions for thepeoples of all parties. Free trade and integration aresubordinated to that higher purpose. The firstconsiderandum of the Asuncion Treaty clearly reads:“the expansion of our countries domestic markets,through integration, is a vital prerequisite foraccelerating their process of economic developmentwith social justice”. The same principle is present, insimilar words, at the Montevideo Treaty and in theDeclaration of Principles of the Miami Summit.

30. It is to warrant the fulfillment of this goalthat Brazil has shown uncompromising steadfastnessin one aspect of the negotiations: equilibrium. Allingredients and variables present during theconversations should serve the sole purpose ofensuring that all signatory parties benefit from theagreement.

Balance must not be sacrificed for the benefitof immediate political or economic gains. Should thishappen, the inevitable consequence is the signing ofan agreement doomed to be short lived orinoperative. In either case, the parties will be quitereluctant before they make the decision to committime and valuable resources on similar efforts.

31. Brazil believes that the political andeconomic conditions in the Americas are ripe for asure-footed and unwavering course towards therestructuring of our economies through a higher levelof economic linkage in the continent. The road ofeconomic integration should be used withresourcefulness and prudence to avoid the mistakesof the past. New challenges, opportunities, andresponsibilities lie ahead and our partners from theAmericas may rest assured that Brazil will not refrainfrom them.

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23Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

I - Introdução. As Diferentes Acepções daGlobalização.

É um prazer para mim compartilhar com ospresentes algumas reflexões sobre as conseqüênciasda globalização. É desnecessário dizer que um temade tamanha complexidade não pode ser analisado,em todas as suas implicações, numa Conferênciabreve como esta. De qualquer modo, os limites detempo que tenho de respeitar terão um efeito benéfico:serei conciso e assim concentrarei minha atenção nostópicos de interesse particular para países emdesenvolvimento como Brasil e Índia.

A globalização tornou-se uma espécie depalavra da moda. Muitas vezes dita, mas raramentecom o mesmo significado. Trata-se, na verdade, deum daqueles conceitos tão amplos, que é empregadopor diferentes pessoas para explicar fatos de naturezacompletamente diversa. Mesmo quando qualificadacomo “econômica”, a globalização ainda pode serassociada a uma grande variedade de fenômenos.

Possivelmente, a primeira noção que nos vemà mente ao falarmos da globalização econômica é ada sempre crescente expansão dos fluxos financeirosinternacionais e de seu impacto sobre as políticasmonetária e cambial das economias nacionais. Osefeitos da dimensão financeira da globalização sãode certa forma controversos. Se, por um lado, amobilidade dos fluxos financeiros através dasfronteiras nacionais pode ser vista como uma formaeficiente de alocar recursos internacionalmente e decanalizá-los para países emergentes, por outro, a

volatilidade dos capitais de curto prazo e apossibilidade de seu uso para ataques especulativoscontra moedas são considerados como uma novaforma de ameaça à estabilidade econômica dospaíses. Noutras palavras, o movimento virtualmentedesimpedido de grandes volumes de capitais cria,ao mesmo tempo, oportunidades e riscos.

Outro aspecto é a globalização da produçãoe a conseqüente ampliação das correntesinternacionais de comércio. No passado, a regrageral era de que todas as fases da produção de umadeterminada mercadoria fossem realizadas nummesmo país, e esta mercadoria era então consumidalocalmente ou exportada. Isso já não corresponde àverdade. Diminuiu o conteúdo nacional da maioriadas mercadorias, e fases intermediárias na produçãode um bem agora ocorrem em diferentes países. Osprodutos finais, especialmente aqueles mais intensivosem tecnologia, dificilmente podem receber o rótulode serem integralmente feitos (“made in”) num só país.Isto é o resultado da interação de várias novastendências, entre as quais a redução nos custos damobilidade dos fatores de produção e as economiasde escala exigidas por processos produtivoscrescentemente sofisticados.

O comércio internacional de bensintermediários se faz sobretudo entre unidadesindustriais da mesma empresa. As corporaçõesfreqüentemente estruturam suas atividades de modoa atender estratégias de “marketing” e produçãodestinadas a reforçar sua posição competitiva regional

Brasil - ÍndiaConferência “Conseqüências Sociais da Globalização”,proferida pelo Presidente da República, Fernado HenriqueCardoso no Indian Internacional Centre, Nova Délhi, 25 dejaneiro de 1996

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24 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

ou global. Os países são selecionados para receberinvestimentos destas corporações com base noquadro geral das vantagens comparativas queoferecem.

Isto tem levado a um acirrada competiçãoentre países — em particular aqueles emdesenvolvimento — por investimentos externos. Emcontraste com as décadas de 60 e 70, quandojulgavam necessário introduzir controles e restriçõespara disciplinar, em seus mercados, as atividades dastransnacionais, os países em desenvolvimento têmreformulado suas políticas comerciais e econômicas,em parte para oferecer um ambiente domésticoatraente para os investimentos externos, os quais sefazem necessários para complementar as suas taxasinternas de poupança geralmente insuficientes.

A globalização também conduz a umacrescente uniformidade do arcabouço institucional edo quadro regulatório em todos os países. Pois, paraque possa desenvolver-se a globalização daprodução, é preciso que as regras nos diferentespaíses sejam similares, de modo que não venham aprevalecer, em qualquer país, vantagens “artificiais”.Exemplo desta tendência é a introdução, naOrganização Mundial de Comércio, de padrõesinternacionais para os direitos de propriedadeintelectual e para as regras de investimento.

Temas que, no passado, eram consideradoscomo de competência interna de cada país estãoagora sujeitos a regimes multilaterais de regras.Naturalmente que há limites a essa crescenteuniformização de padrões, em razão das própriasdiferenças nacionais. E é complexa a interação entreas tendências globais no sentido da homogeneidadee as identidades nacionais.

Finalmente, a globalização econômica estáassociada a uma revolução nos métodos de produçãoque resultou numa mudança significativa nas vantagenscomparativas das nações. A posição competitiva deum país em relação aos demais é, cada vez mais,determinada pela qualidade de seus recursoshumanos, pelo conhecimento, pela ciência etecnologia aplicadas à produção. Abundância de

mão-de-obra e matérias-primas é vantagemcomparativa de importância cada vez menor, namedida em que aqueles dois fatores de produçãorepresentam parcelas declinantes do valor agregadoem praticamente todos os bens. Esta tendênciairreversível torna improvável que o êxito dos paísesdo Sul derive exclusivamente da mão-de-obra baratae dos recursos naturais.

II - As Conseqüências da Globalização.II.1 - A Mudança no Papel do Estado.

Intimamente vinculada à questão daglobalização econômica é a mudança no papel doEstado. A globalização significa que as variáveisexternas passaram a ter influência acrescida nasagendas domésticas, reduzindo o espaço disponívelpara as escolhas nacionais. Já mencionei que osrequisitos para a competitividade externa levaram auma maior homogeneidade nos aspectos institucionaise regulatórios dos Estados, que tais requisitosdeixaram menor margem de manobra para estratégiasnacionais altamente diferenciadas em relação, entreoutros, ao trabalho e à política macro-econômica. Oequilíbrio fiscal, por exemplo, tornou-se um novodogma, conforme bem ilustra o Tratado deMaastricht da União Européia, que fixa parâmetrosdentro dos quais devem situar-se os números doequilíbrio orçamentário de seus países membros.

Tanto a opinião pública internacional quantoo comportamento dos mercados também passarama desempenhar um papel que antes não tinham naredefinição dos limites possíveis de ação para oEstado. A informação movimenta-se livre erapidamente. Se, por exemplo, circula a notícia deque um determinado país está enfrentando dificuldadespara controlar seu déficit orçamentário ou estaráproximamente elevando suas taxas de juros, osmercados financeiros internacionais tomam, comfundamento nestas notícias, decisões que poderãoter impacto real no país em questão.

Os países, seus líderes e as políticas por elesadotadas estão sob vigilância próxima e constanteda opinião pública internacional. Qualquer medida

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julgada por estas entidades imaterais como passo emfalso pode impor penalidades. Ao contrário, decisõesou eventos interpretados como positivos sãorecompensados. A opinião pública internacional e,sobretudo, os mercados tendem a ser conservadores,a seguir uma certa ortodoxia em matéria econômica.Estabelecem um padrão de conduta econômica quepraticamente não admite desvios num mundo em quehá imensa variedade de realidades nacionais. Ocomplexo processo de ajuste não deve ignorar taldiversidade.

A globalização modificou o papel do Estadonum outro aspecto. Alterou radicalmente a ênfase daação governamental, agora dirigida quaseexclusivamente para tornar possível às economiasnacionais desenvolverem e sustentarem condiçõesestruturais de competitividade em escala global.

Isto não significa necessariamente um Estadomenor, muito embora este também seja um efeitocolateral desejável da mudança de ênfase, mascertamente pede um Estado que intervenha menos emelhor; um Estado que seja capaz de mobilizar seusrecursos escassos para atingir prioridadesselecionadas, um Estado que possa canalizar seusinvestimentos para as áreas vitais na melhoria daposição competitiva do país, tais como infra-estruturae serviços públicos básicos, entre os quais melhoreducação e saúde; um Estado que esteja pronto atransferir para mãos privadas empresas melhoradministradas por elas; um Estado, finalmente, no qualos funcionários públicos estejam à altura dasdemandas da coletividade por melhores serviços.

E tudo isso tem de ser feito num tempo emque os valores democráticos e uma sociedade civilfortalecida tornam ainda mais amplas asreivindicações de mudança. A transformação doEstado tem também de ser conduzida num quadroeconômico de disciplina fiscal e austeridade no gastopúblico, em que o Estado conta com menos recursosfinanceiros.

Não se trata de tarefa simples. Requer umamudança substancial de atitude e determinação para

combater interesses velados dentro do aparatoestatal. Mas não há alternativa. No caso do Brasil,temos, em suma, de reconstruir o Estado sequisermos ter qualquer possibilidade de êxito natransição do modelo autárquico do passado paraoutro em que nossa economia se integre plenamentenos fluxos mundiais de comércio e investimento.

Pode parecer paradoxal que estaremodelação do Estado de nenhuma forma conflitecom ideais tradicionais da esquerda (e orgulho-mede ser fundador e membro do partido que representaa Social Democracia no Brasil). Pois é justamenteisto o que ocorre. Ao realocar seus recursos e suasprioridades para educação e saúde, num país comos grandes contrastes sociais do Brasil, o novoEstado estará contribuindo para a realização de algoem que ele falhou no passado: promover maiorigualdade de oportunidades numa época em que aqualificação e a educação constituem pré-requisitonão apenas para a conquista de um posto de trabalho,mas também para aumentar o grau de mobilidadesocial no país.

Hoje, mais do que nunca, metas caras àesquerda podem ser alcançadas junto com e emvirtude de nossos esforços para aumentarmos ascapacidades nacionais com vistas à participaçãocompetitiva na economia mundial. Além disso, esteEstado remodelado precisa ser ainda mais forte nodesempenho de suas tarefas sociais e melhorpreparado para regulamentar as atividadesrecentemente privatizadas.

As dificuldades no processo de transição dopapel do Estado são sentidas em toda parte e nãopodem ser subestimadas. A reforma da PrevidênciaSocial na França e as difíceis negociações para aaprovação do orçamento nos Estados Unidos sãoexemplos dos obstáculos a serem superados pelosGovernos, basicamente porque não há respostasimediatas e evidentes ao desafio da transição.Abandonar as práticas tradicionais do Estado doBem-Estar não implica deixar de lado a necessidadede melhores padrões de vida para os nossos povos .

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II.2. Algumas Considerações Políticas sobre aGlobalização.

De tudo o que disse até o momento, pode-se ficar com a impressão de que o processo deglobalização responderia apenas às forças demercado. Da perspectiva tanto da alocação derecursos quanto das decisões relativas ao investimentoprodutivo, o mercado é, de fato, o fator decisivo.Mas devemos evitar o erro de tirar, desse fato,conclusões equivocadas.

A primeira dessas possíveis conclusõesequivocadas seria considerar que a globalização, vistacomo resultante unicamente das forças de mercado,esgotaria o debate sobre a questão. Isto não éverdade. Os contornos dentro dos quais o mercadoatua são definidos politicamente. O jogo de poderentre as nações não está ausente, assim como não oestá a possibilidade de cooperação econômicadefinida por Governos. As negociações de comércioexterior ainda são conduzidas por meio do diálogoentre Estados em foros por eles criados, em particularas que dizem respeito à definição das regras quebalizam a competição.

O poder econômico é um fator determinantenestas negociações, bem como na solução de disputascomerciais bilaterais. Em alguns casos, as potênciaseconômicas invocam sua influência para desrespeitaras regras multilaterais por elas próprias propostas.

A questão dos subsídios à agricultura ilustraeste ponto. Por outro lado, os movimentos recentesde criação de processos de integração regional, aque os anos 90 têm assistido, são também iniciativascom as quais os Governos tentam influenciar a direçãoda globalização econômica.

A segunda conclusão perigosa que devemosevitar seria transformar o mercado numa forma deideologia, segundo a qual tudo o que estivesse a favordas forças de mercado fosse visto como bom,positivo, fator de desenvolvimento, ao passo que seriavista como negativa qualquer decisão políticadestinada a moldar as forças da competição.

É justamente o reconhecimento de que há

“limites” ao mercado que permite a nós, países emdesenvolvimento, atuarmos politicamente na defesade nossos interesses nacionais. No entanto, as formasde atuação, de regular o processo de globalização,variam entre os diferentes países em desenvolvimento.

Queiramos ou não, a globalização econômicaé uma nova ordem internacional. Precisamos aceitareste fato com sentido de realismo; do contrário,nossas ações estarão destituídas de qualquer impactoefetivo. Isto não significa inércia política, mas umaperspectiva inteiramente nova sobre as formas de agirna cena internacional.

Precisamos também reconhecer nossasdiferenças. O Sul não pode ser considerado comouma entidade única. A globalização acelerou eaprofundou a diferenciação entre os países emdesenvolvimento em termos de sua capacidade detirar proveito dos fluxos internacionais de investimentoe comércio.

Quando escrevi meus livros sobre a teoriada dependência, a hipótese era a de que o processointernacional do capitalismo condicionavanegativamente o desenvolvimento.

Não o impedia, mas o tornava injusto edesequilibrado. Para muitos, os modelos econômicosautárquicos eram uma possível forma de defesa contrauma integração internacional considerada arriscadae perigosa. Esta visão mudou. Temos de admitir quea participação na economia global pode ser positiva,que o sistema internacional não é necessariamentehostil. Mas, para aproveitar as oportunidades, épreciso ir com cuidado. O sucesso da integração naeconomia global depende, de um lado, da articulaçãodiplomática e da construção de parcerias comerciaisadequadas, e , de outro, da realização de reformasinternas em cada país em desenvolvimento,democraticamente conduzidas.

II.3 - Globalização e a Questão da Inclusão eExclusão.

Gostaria agora de passar ao exame de outraconseqüência da globalização: a questão da exclusão

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e inclusão social. E minha primeira observação é ade que a globalização está dando origem a uma novadivisão internacional.

Os Pontos Cardeais já não explicam de formasatisfatória o mundo. As divisões Leste-Oeste eNorte-Sul eram conceitos que minha geraçãoempregou para lidar respectivamente com a realidadepolítica da Guerra Fria e com o desafio econômicodo subdesenvolvimento. A situação internacionaldesta metade da década de 90 é muito maiscomplexa. O mundo pode ser dividido entre asregiões ou países que participam do processo deglobalização e usufruem seus frutos e aqueles quenão participam. Os primeiros estão geralmenteassociados à idéia de progresso, riqueza, melhorescondições de vida; os demais, à exclusão,marginalização, miséria.

É certo que a globalização produziu umajanela de oportunidades para que mais paísespudessem ingressar nas principais correntes daeconomia mundial. Os Tigres Asiáticos e mesmo oJapão são exemplos significativos. Estes paísessouberam aproveitar as oportunidades dadas pelaeconomia mundial através da adoção de um conjuntode políticas que incluem, entre outras, odesenvolvimento de uma força de trabalho bemtreinada e qualificada, aumento substancial da taxade poupança doméstica, e implementação demodelos voltados para a exportação e baseados naintervenção estatal seletiva em alguns setores.

Para outros países em desenvolvimento maiscomplexos, entre os quais o Brasil e a Índia, aintegração na economia global está sendo feita à custade maior esforço de ajuste interno e numa época decompetição internacional mais acirrada. Nossosavanços são conhecidos, e não tenho dúvidas de quenossos dois países estão tendo êxito em gradualmentecolher os frutos dos laços econômicos maisprofundos que estão estabelecendo com o resto domundo.

O mesmo acredito será válido para aschamadas economias em transição dos antigos países

comunistas, que, não obstante, estão pagando umpreço alto pelo ajuste aos princípios da economia demercado impostos pela realidade atual.

Para os países menores e mais atrasados,prevalece, porém, um grande ponto de interrogação.Serão eles capazes de algum dia poder superar osdesafios da globalização?

Estão seus povos condenados por uma lógicaperversa a viver na pobreza absoluta, a ver suasinstituições ruírem e a depender da ajuda externa nummundo menos predisposto a oferecê-la e malpreparado para canalizá-la de modo eficiente?Reconheço que as dificuldades a serem enfrentadaspor esses países são enormes. No entanto, recuso-me a aceitar que seu destino esteja predeterminadoao fracasso, como se nada pudesse ser feito, comose a comunidade internacional pudesse conviverconfortavelmente com a indiferença e a paralisia emrelação aos países mais pobres. A marginalizaçãoperverte a boa consciência da humanidade.

A marginalização, todavia, não está confinadaunicamente aos países ainda não integrados naeconomia internacional. Ela também está crescendonos próprios países prósperos.

A globalização significa competição com baseem maiores níveis de produtividade, ou seja, maiorprodução por unidade de trabalho. O desempregoresulta assim dos mesmos motivos que levam umaeconomia a ser competitiva. A situação éparticularmente grave na Europa. Os que sãodemitidos nos países ricos podem recorrer amecanismos de proteção social de diferentes tipos;alguns poderão ser treinados para um trabalhosubstituto. Mas pouco poderá fazer-se para aliviar afrustração dos jovens que querem ingressar nomercado de trabalho e não conseguem. A falta deesperança, o consumo de drogas e álcool, odesmembramento da família são alguns dosproblemas trazidos pelo desemprego e pelaconseqüente marginalização. Há um sentimento deexclusão, de mal-estar em vastos segmentos dassociedades ricas integradas na economia global,

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alimentando a violência e, em alguns casos, atitudesde xenofobia.

Como lidar com a complexa questão dodesemprego é um desafio com o qual se defrontampraticamente todos os países que participam daeconomia global. A resposta a ele certamente nãodeve ser encontrada numa reação à globalização, sejamediante um fechamento da economia ao comérciocom parceiros externos, o que apenas agrava amarginalização de um país, seja mediante oestabelecimento de regras muito rígidas nas relaçõesde trabalho, passo que corre o risco de, em vez deestimular, dificultar a criação de empregos.

Apesar de que dificilmente se poderiaconsiderar a criação de empregos umaresponsabilidade direta dos Governos, estes dispõemde uma ampla gama de possibilidades de ação paraatacar o problema. A primeira e talvez mais importantemedida é a promoção do crescimento econômicosustentado, através da adoção de políticas corretas.A segunda seria promover programas dos órgãosoficiais e do setor privado que sejam destinados aoretreinamento dos trabalhadores dispensados porsetores nos quais já não conseguem encontrar umposto de trabalho.

Um terceiro passo seria tornar mais flexível oconjunto de regras relativas às relações de trabalho,de modo a preservar o número de empregos. Estaflexibilização deveria possibilitar, por exemplo, queempresas e trabalhadores negociassem livremente umleque tão vasto quanto possível de tópicos, tais comoo número de horas de trabalho e de dias de férias, aforma de pagamento das horas-extras, etc. Deveriatambém resultar em menores custos para acontratação de trabalhadores.

Por fim, há alguns instrumentos à disposiçãodo Governo que podem ser atrelados à expansão daoferta de empregos, tais como a concessão decréditos pelos bancos estatais e a inclusão deincentivos na legislação tributária.

Em países de grande população como oBrasil e a Índia, deve-se também ter sempre

presentes, ao pensar-se a questão da geração deempregos, as formas de funcionamento da chamadaeconomia informal. Em que medida a economiainformal reduz empregos na economia formal e emque medida oferece postos de trabalho adicionais?Um melhor conhecimento destas questões énecessário para que possamos tirar as conclusõescorretas e adotar as medidas apropriadas.

3. - Conclusão. O Campo para a AtuaçãoInternacional. A Ética da Solidariedade.

Permitam-me agora concluir com algunsbreves comentários sobre o que pode ser feito pelacomunidade internacional para lidar com os efeitosnegativos da globalização econômica, fenômeno queestá aqui para ficar e que influenciará nossas opçõesnacionais no futuro previsível.

Como disse, a globalização gerou a exclusãodos países pobres que ainda não compartilham osbenefícios do processo. Criou também marginalizaçãonos países ricos e naqueles em desenvolvimento quese encontram integrados na economia mundial. Masa globalização também multiplicou a riqueza,desencadeando forças produtivas numa escala semprecedentes. Devemos renunciar aos elementospositivos da globalização, às possibilidades de maiorriqueza por ela oferecidas, e reverter o relógio daHistória, supondo que seja possível fazê-lo? Aresposta a esta indagação é seguramente negativa.

Como, então, podem atuar os Governos eChefes de Estado para atenuar os dolorosos efeitoscolaterais da marginalização numa época em que semodificou e de certa forma se contraiu o papel doEstado?

Assim como os Estados podem reduzir seusdesequilíbrios sociais internamente, também é possívelimaginar um grupo de Estados que seja capaz depropor alternativas para aliviar as conseqüênciassociais da globalização. Não é tarefa simples.Sabemos que os problemas de hoje são de naturezaglobal, como a volatilidade dos capitais mundiais, otráfico de drogas, a proteção do meio-ambiente, as

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migrações, etc.O desafio reside em completarmos a transição

da etapa do reconhecimento de que os problemassão globais para outra fase mais adiantada, na qualestejam criados os instrumentos concretos eestabelecida a mobilização para a mudança.

Sem ter a pretensão de oferecer uma respostacompleta a este desafio, parece-me que um bomcomeço deveria partir do reconhecimento de que aspropostas de mudança devam preencher quatrocondições:

a) a primeira é de que as propostas demudança sejam universais, que possam, pelanegociação, encontrar alguma forma de consenso nosinteresses dos Estados, pobres e ricos, emdesenvolvimento e desenvolvidos;

b) a segunda condição é de que todas aspropostas sejam viáveis, que não sejam irrealistas nemingênuas, que não exacerbem rivalidades;

c) a terceira é de que as propostas sejamcapazes de mobilizar aqueles Estados e outros atoresque contem com efetivo peso para influenciar oprocesso de negociação;

d) e a quarta condição é a de que as propostasincorporem um conteúdo ético que as torne capazesde se situar acima da mística do mercado e do jogode poder.

É chegado o tempo de tentarmos reintroduzira ética da solidariedade nas formas de atuação doEstado e, através delas, no conjunto da sociedade.Os governos não podem fazer tudo, nem aslideranças mundiais. Não obstante, em razão do papelque desempenham, do exemplo que podem dar, osgovernos e seus líderes podem ser catalisadores damudança, trazendo de volta valores éticos numa

época que parece ser deles carente.No plano internacional, a ética da

solidariedade pode levar a novas utopias, ainda quemais modestas, para preencher o vácuo ideológicodeixado pelo colapso das grandes utopias dopassado. A ética da solidariedade deveria inscreverna agenda internacional o tema da cooperaçãointernacional para o desenvolvimento, agora dentrode uma nova perspectiva, que possa combater aindiferença em relação à marginalização, à exclusão,à fome e à doença, problemas que estão na raiz dasquestões das migrações e da violência no mundotodo.

No plano interno de cada um de nossospaíses, a ética da solidariedade deverá estar a serviçoda formação de novas modalidades de parceria entrea sociedade e o governo; deverá auxiliar, através daeducação, a sociedade a organizar-se, de modo queela se torne mais autônoma e menos dependente deGovernos que têm menos recursos; deverá dar maiorimportância ao desenvolvimento da comunidade e àconstrução da nação, da cidadania. Cidadãos e elitesprecisam exercer sua responsabilidade social sequisermos viver num mundo melhor.

Termino aqui meus comentários, ciente deque, apesar de diferentes pela história e geografia, aÍndia e o Brasil compartilham problemas e desafiossemelhantes. Hoje, toquei em alguns deles.Trataremos de enfrentá-los a partir de perspectivasdistintas, mas buscando os mesmos resultados: lutarpela prosperidade mundial, melhorar os padrões devida de nossos povos e reduzir a marginalização desuas camadas mais pobres. Desejo apenas que aÍndia e o Brasil tenham êxito. E que no futuro estejamunidos, trabalhando juntos.

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Senhor Presidente,Quero agradecer as palavras de amizade e

de apreço que Vossa Excelência acaba de pronunciara respeito do meu país e das relações que unem oBrasil e a Índia.

São palavras generosas que bem refletem agrandeza da liderança política indiana, na esteira deGhandi, Nehru, Indira e Rajiv — grandes nomes queajudaram a forjar esta Nação e que ecoam naadmiração dos brasileiros.

Minha comitiva e eu estamos encantados coma hospitalidade que recebemos desde o primeiromomento aqui em Nova Délhi, esta capital queespelha a nova e a velha Índia, as tradições, agrandeza das suas instituições e da sua História, aamabilidade do seu povo.

Gestos e marcas da cortesia e da gentilezatão próprias da alma indiana exprimem o simbolismoque reconheço no convite para que o primeiro Chefede Estado brasileiro a visitar oficialmente a Índia ofaça na condição de “Convidado de Honra” dascomemorações do Dia da República.

Essa hospitalidade prenuncia o sucessopolítico e diplomático desta visita, que realizo poucomais de um ano depois de iniciar meu Governo. Elaserá a prova de que eu estava certo ao incluir, já emmeu discurso de posse, a Índia como uma prioridadeda minha política externa, insistindo em um ponto quepara mim é muito claro: o Brasil não pode mais

permanecer distante da Índia e ignorar astransformações que aqui vêm ocorrendo.

Senhor Presidente,Profundo admirador da Índia, aqui estive duas

vezes, numa delas para presidir o Congresso daAssociação Internacional de Sociologia, e aprendientão a apreciar a valiosa contribuição dopensamento indiano às Ciências Sociais.

É, pois, com um prazer muito especial queeu regresso a este país, agora como Presidente daRepública. Quero contribuir para o projeto comumque estamos construindo: fazer das relações entredois dos maiores países em desenvolvimento umcompromisso de amizade e cooperação abrangentee produtivo, que nos fortaleça no plano internacionale seja um instrumento do nosso própriodesenvolvimento.

A Índia, Senhor Presidente, é uma referênciaúnica e original no universo das nações. Sua grandezaterritorial, a dimensão da sua população, suadiversidade étnica e cultural, a riqueza da sua históriae da sua cultura milenares, a força do seu povo quesoube como poucos tornar-se senhor dos seusdestinos, a sua capacidade e o seu potencialeconômico e científico-tecnológico, a sua sabedoriaque une o tradicional ao que há de mais avançadoem tecnologias de ponta, o dinamismo da suaeconomia e a sua projeção regional e internacional

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido pelo Presidenteda Índia, Shanker Sharma, Nova Délhi, 26 de janeiro de1996

Visita à Índia

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— tudo isso faz da Índia um parceiro de primeiragrandeza para qualquer país do mundo e muitoespecialmente para nós, brasileiros.

E os desenvolvimentos recentes no cenáriointernacional e em nossos próprios países tornam essaparceria não apenas um processo natural e racional,mas um imperativo marcado pela urgência.

É tempo de que o Brasil e a Índia, velhosamigos que se habituaram a encontrar-se sempre forade casa — na ONU, na OMC, em todas as grandesconferências e foros internacionais —, para cultivarum grande entendimento, procurem agora trazer essaantiga amizade para dentro de suas próprias casas.

É tempo de que não mais apenas osGovernos, mas os agentes econômicos e sociais denossos países participem desse processo deconstrução de uma verdadeira relação de cooperaçãoe intercâmbio entre países em desenvolvimentotradicionalmente amigos.

Senhor Presidente,Esta minha visita é um reencontro devido há

muito tempo, desde 1968, quando o Brasil teve ahonra de receber a visita da então Primeira-MinistraIndira Ghandi.

O mundo mudou muito desde então. A paz,a democracia e a liberdade econômica passaram aser as principais forças a impulsionar a Históriacontemporânea.

Nossos países também cresceram ediversificaram as suas economias e o leque das suasparcerias internacionais. E essas alterações só fizeramreforçar o amplo espectro de identidades que nosaproximam, fortalecendo a nossa coordenação emtorno de temas internacionais — políticos eeconômicos — de interesse comum, como ocomércio internacional, o desenvolvimento sustentávele a proteção do meio ambiente.

Identidade, portanto, é a palavra-chave narelação Brasil-Índia, por paradoxal que isso possaparecer quando falamos de países obviamente tãodistintos, tão fortes na sua individualidade.

Somos, como disse, dois dos maiores paísesem desenvolvimento, com uma história e uma tradiçãode defesa da cooperação internacional para odesenvolvimento.

Formamos duas das maiores democracias domundo, consolidadas e atuantes. Somos atoresglobais, com presença geográfica e temáticaabrangente nas relações internacionaiscontemporâneas e uma contribuição positiva econstrutiva a oferecer no cenário internacional e nosforos de concertação e diálogo mundiais.

Somos países que têm projetos muito nítidosde desenvolvimento social, econômico e científico-tecnológico, cujas economias ingressam em fase dedinamismo sustentado e têm potencial praticamenteilimitado.

Hoje, identifica-nos também estarmos ambosengajados em uma grande transformação estruturaldas nossas economias como resposta aos desafiosdo mundo da globalização e da competitividadeeconômica e comercial.

É uma mudança que combina com sucesso aestabilização econômica, a reforma, a aberturacompetitiva ao exterior e a busca de uma inserçãointernacional em sintonia com os novos tempos. Ointeresse da comunidade internacional pelos nossospaíses comprova o acerto desse notávelaperfeiçoamento de rumos que estamos promovendo.

Senhor Presidente,Não vamos ignorar que temos diferenças de

percepção e de ênfase, hoje, com a revolução dascomunicações, não existem mais barreiras entre asregiões, e de que o conhecimento e os contatos sãoconseqüência direta da capacidade de identificar eexplorar interesses concretos.

Já estamos dando alguns passos nessesentido. Esta visita é uma alavanca para iniciarmos oprocesso de nos conhecermos melhor.

Estamos criando molduras institucionaisimportantes para impulsionar as relações: a adidânciamilitar da Índia, seu Consulado-Geral em São Paulo,

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os entendimentos e perspectivas nas áreas política,ambiental, de ciência e tecnologia, cooperaçãotécnica, de saúde e de agricultura, constituem passosimportantes para elevar as relações bilaterais a umpatamar mais condizente com a dimensão de nossospaíses.

Estamos identificando uma agenda bilateralcomum, que vem somar-se à agenda internacionalem que compartilhamos tantos interesses, pontos devista e iniciativas. E estamos envolvendo mais emelhor os nossos empresários e os nossosacadêmicos, de forma a fazê-los participantes desseprocesso.

Esta visita traz também a expectativa brasileirade que o processo de retomada dos contatos de altonível se consolide e que logo tenhamos a visita aoBrasil de Vossa Excelência e do Primeiro-MinistroNarasimha Rao.

Nós estaremos assim consolidando esteprocesso de elevação das relações bilaterais a umnível compatível com a importância dos dois países.Esse é um compromisso nosso, porque o Brasil dehoje tem consciência plena da importância das nossasparcerias asiáticas e da dimensão única que a Índia

ocupa no conjunto dessas parcerias.

Senhor Presidente,Nós estamos dando hoje um grande passo

neste reencontro entre o Brasil e a Índia.Graças à cuidadosa preparação que

antecedeu esta iniciativa tanto aqui na Índia como noBrasil, espero que em pouco tempo possamos nosreferir a esta visita como um marco na construção derelações exemplares entre nossos dois grandespaíses.

E que, a partir de agora, essas nossas relaçõestragam para o plano das realizações concretas acomunhão de muitos interesses e a simpatia que nosassociam há muito no plano internacional.

Com esse espírito, eu quero pedir a todosque se unam a mim em um brinde pela prosperidadee a grandeza do povo indiano, que comemora hoje adata maior do Dia da República, pela amizade ecooperação entre os nossos povos e pela felicidadee ventura pessoais do Presidente Shanker Sharma edo Primeiro-Ministro Narasimha Rao.

Muito obrigado.

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35Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhora Joanna Shelton, Secretária-GeralAdjunta da OCDE,

Senhor William Dymond, Negociador-Chefeem matérias comerciais e de investimentos doCanadá,

Senhor Miguel Rodriguez Mendoza, AssessorChefe para assuntos comerciais da Organização dosEstados Americanos

Senhores Embaixadores e Chefes deDelegação,

Senhores Delegados,É com grande satisfação que encerro este

seminário, iniciativa da OCDE em parceria com aOrganização dos Estados Americanos, oDepartamento de Assuntos Exteriores do Canadá eo Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

O Brasil acolheu este seminário com particularinteresse, o segundo sobre regras multilaterais deinvestimentos e o quarto da OCDE a realizar-se nestepaís. Já foram organizados seminários sobreprivatização, em março de 1994, em São Paulo,sobre preços de transferência, em julho de 1996,em Brasília, e o primeiro sobre regras multilateraissobre investimentos, também em julho de 1996, noRio de Janeiro.

Como enunciou o Ministro Pedro Malan namanhã de ontem, o Governo brasileiro temprocurado, desde o início da década de 90,incrementar suas relações com a OCDE em diversas

áreas de atuação.Desde 1993, o Brasil tem integrado o Diálogo

de Política da OCDE com as dynamic non membereconomies, o qual compreende seminários sobrediferentes temas econômicos, em áreas tais comocomércio, investimentos, tributação, privatização,política de concorrência, meio ambiente e mercadode trabalho. O Brasil também tem participado deseminários informais sobre esses temas no Forumcom as chamadas emerging market economies.

Em 1994, o Brasil tornou-se membro plenodo Centro de Desenvolvimento, órgão que temprestado relevantes contribuições para a análise dequestões afetas ao desenvolvimento econômico eservido como importante instrumento de diálogo entrea OCDE e os países não membros.

Com o intuito de intensificar as relações coma OCDE, o Brasil ingressou em 1996 — tambémcomo membro pleno — no Comitê do Aço, primeiroComitê da OCDE ao qual o país se associouformalmente. Com o mesmo propósito, o Governobrasileiro apresentou à Organização proposta deadesão como observador a quatro outros Comitês— de Comércio; de Administração Pública; deRevisão e Desenvolvimento Econômico; e deInvestimentos Internacionais e EmpresasMultinacionais (CIME).

O Brasil espera, proximamente, completaro processo de adesão a esses Comitês.

OCDE

Discurso do Secretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros, por ocasião doSeminário da OCDE sobre regras multilaterais deinvestimento. Brasília, 5 de fevereiro de 1996

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36 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Especificamente quanto ao CIME, recebirelato muito positivo das consultas — amplas econstrutivas — mantidas na última segunda-feira comDelegação daquele Comitê.

Essa série de iniciativas concretasconducentes à intensificação do relacionamento entreo Brasil e a OCDE revelam horizonte ampliado depossibilidades de cooperação conjunta, as quaisdeverão ser reforçadas e renovadas em iniciativasfuturas.

Nesse sentido, considero bastante proveitosaa realização desse seminário, que permitiu ointercâmbio de comentários, impressões e pontos devista sobre diferentes aspectos e questões relativosàs negociações do Acordo Multilateral sobreInvestimentos, que deverá ser concluído em meadosde 1997 no âmbito da OCDE.

Para o Brasil, o tema dos investimentosexternos e de sua regulamentação multilateral reveste-se de grande importância.

Na percepção do Governo brasileiro, essetema constitui capítulo essencial de conversações enegociações multilaterais, especialmente em contextointernacional conformado pelos processos deglobalização e liberalização das economias.

Se, por um lado, foram muitos os avançoslogrados quanto ao estabelecimento de regrasinternacionais para regular os fluxos de comércio,sobretudo graças à conclusão da Rodada Uruguaido GATT e da criação da Organização Mundial doComércio; por outro, foram poucas as realizaçõesorientadas ao estabelecimento de abrangente quadrojurídico internacional sobre investimentos.

O Brasil tem forte interesse na formação deum quadro internacional de regras consistentes,equilibradas e abrangentes sobre investimentos.

Entendo que a relevância global do temajustificou a constituição pela OCDE de mecanismosde consultas mais sistemáticas com países nãomembros sobre as negociações conducentes a umAcordo Multilateral sobre Investimentos.

As informações prestadas e as consultasmantidas com os negociadores de países membrosda OCDE nesses dois dias, estruturadas em basestécnicas, enfocaram os tópicos fundamentais a seremcompreendidos em um instrumento do gênero doMAI : definição de investidor e investimentos;proteção de investimento; tratamento nacional;solução de controvérsias; privatização; monopólio;e concessões, entre outros.

Tenho a certeza de que futuros debates —como os transcorridos neste seminário em atmosferade transparência e objetividade — muito contribuirãopara uma melhor avaliação por parte dos países nãomembros sobre a evolução no âmbito da OCDE dasregras de investimentos, bem como para o examemais pormenorizado da compatibilidade de suasregras nacionais com o texto do MAI em negociaçãonaquela Organização.

Ao renovar a todos os nossos agradecimentospela contribuição positiva ao êxito do seminário,desejo-lhes uma excelente continuidade de sua estadano Brasil, em particular para aqueles que sebeneficiarão dos próximos dias de carnaval, bemcomo uma ótima viagem de retorno a suas capitais.

Muito obrigado.

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37Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Discurso do Ministro de Estados das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião dacomemoração do primeiro aniversário da assinatura daDeclaração de Paz do Itamaraty. Brasília, em 16 de fevereirode 1996

Equador-Peru

Os países da América se unem hoje com umsentimento comum de satisfação para comemorar oprimeiro aniversário da Declaração de Paz doItamaraty, de 17 de fevereiro de 1995, querestabeleceu a confiança e a amizade entre dois povosirmãos.

Ao longo deste período, vários Governos setêm empenhado no trabalhoso, mas insubstituívelexercício diplomático de favorecer uma soluçãopacífica e definitiva para os problemas entre oEquador e o Peru, em beneficio da estabilidade, dodesenvolvimento e da boa projeção internacional detodo o Continente e particularmente da América doSul.

Estes não são tempos para acrescentarmosdificuldades aos desafios e riscos de um mundo cadavez mais dinâmico e competitivo e de nos desviarmosda luta pelo desenvolvimento sustentável com justiçasocial e plenitude democrática em nossos países.

Depois de um ano do compromisso de 17de fevereiro de 1995, temos, efetivamente, motivospara nos orgulhar. A via da solução pacíficaprevaleceu sobre o recurso à guerra. As partesdiretamente envolvidas lograram notável avanço nocaminho da distensão e do entendimento. Adeclaração que hoje estamos divulgando os Ministrosdas Relações Exteriores da Argentina, do Brasil edo Chile e o Secretário de Estado dos EstadosUnidos registra, com propriedade, esse resultado.

Em fiel cumprimento ao espírito e aos prazos

fixados na Declaração de Paz do Itamaraty, entrourapidamente em vigor um cessar-fogo, pondo fim àperda de vidas humanas; com o desengajamento dastropas na zona de conflito, afastou-se o risco de umrecrudescimento das hostilidades.

Creio interpretar o sentimento de todos aoregistrar meu apreço pela atuação dos ObservadoresMilitares dos Países Garantes, que conceberam eexecutaram, de forma isenta e equilibrada, essacomplexa operação de engenharia militar. A eficiênciae alto sentido profissional demonstrados pelosintegrantes da Missão de Observadores Militares -a MOMEP - e a vontade política que os sustentoucontinuarão a ser essenciais para a consolidação doprocesso de paz.

O silêncio das armas não assegura, entretanto,uma paz duradoura. É preciso conquistá-la. Por essarazão, tão importante quanto a distensão obtida noterreno militar é o passo que foi dado, nas últimassemanas, para superar a causa primeira dessa antigapendência. Este, sim, constitui o motivo maior decelebrarmos esta data e de contemplarmos o futurocom otimisrno.

De acordo com o compromisso soleneassumido em 17 de fevereiro de 1995, osChanceleres do Equador e do Peru reuniram-se emjaneiro passado, em Lima, para - pela primeira vezem mais de meio século - iniciar discussões bilateraisdiretas em torno do encaminhamento das divergênciasentre os dois países. Sei que falo por todos ao fazer

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38 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

uma exortação para o ânimo de reconciliação queesse gesto encerra continue a prevalecer e afortalecer-se no próximo encontro em Quito, abrindocaminho para as negociações substantivas que serealizarão no Brasil.

Esse é o caminho, o diálogo, nunca aconfrontação; a razão, jamais a força. Serão, porcerto, desafiadoras essas negociações. A agenda édensa e os temas se entrelaçam numa teia decondicionantes múltiplos. Haverá necessidade de agirem todos os campos simultaneamente, valorizandoos objetivos maiores para superar resistênciasespecíficas. Acima de tudo, será preciso saberprojetar uma visão de futuro, inspirada no interessede longo prazo dos dois países. Uma visão queenfrente o desafio de buscar formas, mais do que deconvivência pacífica, de desenvolvimento solidário.Esse processo, de dimensão histórica, deveráproporcionar que as Partes se sintam estimuladas aassumir, de forma gradual e progressiva, as tarefas eresponsabilidades de, conjuntamente, assegurarema paz na região e com isso o ambiente básico para oque importa: o desenvolvimento e o progresso social.

Para isso, é decisivo que o Equador e o Perucontinuem adotando medidas de fomento daconfiança mútua, de forma a gerar uma dinâmica deentendimento e boa fé entre todos os segmentos desuas sociedades.

Imbuídos das responsabilidades que oProtocolo do Rio de Janeiro nos impõe, nós, PaísesGarantes, entendemos que temos uma importantecontribuição a dar nesse contexto e vamos continuar

a oferecê-la.Agindo com consistência e prudente

perseverança, poderemos seguir desempenhandopapel de elemento catalisador dessas transformações.o Brasil, de modo particular, sente-se honrado emsediar as históricas negociações programadas paraos próximos meses.

O desafio que o parágrafo 6 da Declaraçãodo Itamaraty lança às Partes é universal: o da buscaconjunta de soluções mutuamente aceitáveis. Somenteassim será possível banir de nosso hemisfério aviolência e a miséria. As atenções da comunidadeinternacional estão voltadas para os acontecimentosem Lima e em Quito, na esperança de que nossaregião saberá fazer valer sua vocação - de que jádeu mostras em tantas outras oportunidades -para asolução pacífica, satisfatória e definitiva dascontrovérsias.

O fiel cumprimento que se vem dandocompromissos consagrados na Declaração de Pazdo Itamaraty descortina condições excepcionais paraque se alcance solução definitiva para esse diferendocentenário. A mensagem que os Países Garantesdirigiram ao Equador e ao Peru, no dia no dia 15 dejaneiro passado, às vésperas do encontro em Lima,continha palavras de reconhecimento e estímulo aesses esforços pela paz e de confiança no seu êxito.o ato que celebramos hoje, estejam seguros, é areafirmação concreta daquelas palavras e traduz acerteza de que reencontramos o caminho daverdadeira fraternidade em nosso Continente.

Muito obrigado.

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39Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Eu quero agradecer as palavras generosascom que o meu prezado amigo, o Presidente ErnestoZedillo, nos está recebendo hoje, oficialmente, nestavisita de Estado ao México.

A imponência deste edifício que traz a marcada riquíssima História mexicana, a inspiração dogrande mural de Diego Rivera, a beleza da cerimôniaoficial de chegada, o calor que o povo mexicano traza este momento, os cuidados de que o Governomexicano cercou os preparativos e agora a realizaçãodesta visita — tudo fala de um clima muito positivopara que este reencontro entre o Brasil e o México,mais do que reavivar uma velha amizade, crie umímpeto novo nas nossas relações.

O Presidente Zedillo e eu assumimos estecompromisso de voltar a colocar os nossos paísesnovamente na lista de prioridades em suas respectivasagendas. Conversando em Bariloche, durante a últimareunião de cúpula ibero-americana, nós pudemosavaliar a importância de que os nossos dois paísesbusquem, pela via de um relacionamento bilateralcompatível com a dimensão e o potencial das suaseconomias, complementar os esforços de reforma,desenvolvimento e integração que fazem tanto noplano interno quanto no plano dos seus respectivosenquadramentos regionais.

De certa forma, nós despertamos, naquele

encontro, para algo que deveria parecer óbvio, masnem sempre é: a política externa de países emdesenvolvimento como os nossos não pode fazer-secom base em exclusões.

Em qualquer lugar em que nos situássemosno mundo, dois países como o Brasil e o Méxicodeveriam necessariamente buscar-se, conhecer-semelhor, explorar oportunidades e compartilharexperiências, às vezes aprendidas com sacrifício.

É uma ilusão pensar que, neste Continente, oêxito econômico e a estabilidade política e social dequalquer dos nossos países pode prescindir do êxitoe da estabilidade dos outros em uma economiaprogressivamente internacionalizada.

Por isso eu aceitei vir ao México e até acelereia realização desta viagem: para que ela desse umaidéia clara da prioridade que nós damos à retomadadas nossas relações no mais alto nível.

Eu estou ansioso para começar o trabalhoque me trouxe até aqui. Se eu puder levar desta visitaum compromisso claro dos nossos Governos sobreuma nova relação, mais aberta e intensa, entre o Brasile o México, acho que teremos cumprido o objetivoprincipal.

Será um primeiro passo, um grande passo,em uma caminhada que podemos voltar a fazer juntos.

Muito obrigado.

Brasil - México

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião da Cerimônia Oficial de Chegada aoMéxico, realizada no Palácio Nacional, Cidade do México,19 de fevereiro de 1996

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41Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Recebo com muita emoção este Grande Colarda Ordem da Águia Asteca com que VossaExcelência homenageia o povo brasileiro na pessoado seu Presidente. Ele se soma às palavras deamizade e afeto que Vossa Excelência acaba depronunciar para dar o tom de perfeito entendimentoque marca esta noite de congraçamento entrebrasileiros e mexicanos.

A história da América é também a história daamizade, da solidariedade e da tolerância entre osseus povos.

O Brasil e o México são dois grandes paísesque se destacaram em nossa região, contribuindopara dar-lhe um sentido de destino e de projeto.

É natural que, em etapa histórica de tãorápidas mudanças, que sinalizam muitos desafios eriscos, mas também novas oportunidades, nossospaíses revivam com novo ímpeto a sua amizadetradicional, compartilhando experiências e buscandoformas de ampliar a sua parceria.

Brasil e México são diferentes em muitossentidos. Pertencemos a sub-regiões econômica eculturalmente distintas, estamos sujeitos a forças quevariam em intensidade segundo os espaçosgeográficos em que nos situamos e temos vivido umadiferente experiência histórica em muitos aspectos.

Mas somos, antes de mais nada, dois países

unidos pela identidade latinoamericana, com muitosdesafios e interesses comuns, que não podemprescindir da relação bilateral na busca de respostasà realidade internacional que se convencionou chamarde “mundo da globalização”.

Esse mundo não pode ser apenas o dacompetição intensa entre os países, nem o da buscainsensível da eficiência tecnológica e dacompetitividade.

Para que esse mundo da globalização façasentido para nossos países, para que o crescimentoeconômico represente um real desenvolvimentohumano, é preciso que ele se sustente nos valores dasolidariedade, da inclusão social e da liberdade.

Como Presidente do meu país, retorno aoMéxico, que já me acolheu outras vezes e onde tenhotantos amigos, para trazer a palavra de um novoBrasil.

Um Brasil plenamente democrático e livre,com a economia estabilizada e em crescimento,aberto ao mundo e comprometido com as reformasestruturais que haverão de sustentar esse amploprocesso de mudança qualitativa do nossodesenvolvimento e de inserção mais proveitosa naeconomia mundial.

Um Brasil que se constrói em torno da noçãode que, sem cidadania, não há soberania, nem

Banquete oferecido pelo Presidentedos Estados Unidos Mexicanos

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do banquete oferecido pelo Presidentedos Estados Unidos Mexicanos, Ernesto Zedillo Ponce deLeón, Cidade do México, 19 de fevereiro de 1996

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estabilidade política, nem crescimento econômicosustentado, nem sequer capacidade competitiva daeconomia. Hoje, a cidadania forte, participativa,reivindicativa, ciosa dos seus direitos e deveres, éum componente fundamental da legitimidademoderna.

Um Brasil em que a democracia seconsolidou e se enraizou no cotidiano, criando oambiente apropriado para o avanço social.

Um Brasil plenamente integrado na Américado Sul, sua primeira e principal circunstância, e queassume a sua participação no MERCOSUL comoum dos elementos decisivos da sua identidadeinternacional.

Um Brasil, finalmente, consciente do sentidouniversal dos problemas dos direitos humanos, domeio ambiente, da segurança e da paz e que, porisso, procura participar ativamente da construção deum sistema internacional inspirado por princípios deeqüidade e justiça.

Nós queremos que a confiança e asoportunidades que voltaram a animar os brasileiros,principalmente desde o lançamento do Plano Real— sustentado já por quase dois anos de sucesso —tenham um impacto cada vez mais positivo sobre asrelações que nos unem aos nossos mais caros etradicionais parceiros em todo o mundo.

Entre eles, o México ocupa um lugar dedestaque. O México é, para o brasileiro mais simples,uma referência sempre afetuosa. As imagens dahospitalidade e do carinho dos mexicanos pelo Brasil,em torno de uma das muitas pontes que nos unem— o gosto pelo futebol —, já fazem parte dosentimento coletivo brasileiro.

E o México é também, para nós, brasileiros,uma síntese da América Latina – das suas paisagenshumanas e geográficas, da sua história e dos seusdesafios, das suas promessas e dilemas.

Poucos povos têm, como o mexicano, umahistória tão rica e uma identidade nacional tão forte emarcante. São três mil anos de cultura e um patrimôniohistórico e arqueológico dos mais ricos em todo o

mundo.O México continua a ser hoje um pólo criador

e irradiador de cultura. Temos, como latino-americanos, orgulho de nomes da grandeza deTamayo, de Juan Rulfo, de Octavio Paz e de CarlosFuentes, homens universais que ajudam a projetarnosso continente.

Senhor Presidente,Se a amizade é o sentimento que o México

evoca nos brasileiros, é o interesse dos mais legítimoso que alimenta nossas relações com este país devastos recursos e extraordinário potencial.

Fora dos âmbitos sub-regionais em queestamos inseridos, há um vasto campo bilateral paraatuarmos.

O MERCOSUL e o NAFTA fortalecem-nospara isso, mas não substituem o bilateral entre paísesda importância e do potencial do Brasil e do México.

Entre o bilateral e o regional não há exclusão;há complementaridade e comunicação.

Somos parceiros importantes no conjunto dasrelações intra-latino-americanas, ainda que estejamosmuito aquém do que se poderia esperar de economiasdo porte, da vocação de dinamismo das nossas.

À medida que se fortalece o nosso setorprivado, que se abrem as nossas economias e seredimensiona o papel do Estado em nossos países,esse intercâmbio ganha novos vetores de aceleração.

É preciso que a ação dos Governos catalise,mas sem substituir, a ação dos agentes econômicosno crescimento do intercâmbio econômico ecomercial bilateral.

Para isso, é necessário mais do que vontadepolítica: é preciso que nós nos conheçamos melhor.

Temos uma agenda extensa e concreta paratratar, uma agenda proporcional ao tamanho denossas economias, ao dinamismo de suas políticasexternas e à extensão dos espaços políticos eeconômicos em que ambos os países procuram atuar.

Não podemos deixar que questões pequenase localizadas prejudiquem o potencial de nossas

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relações: com equilíbrio e pragmatismo é possívelsuperar todas essas questões.

Compartilhamos uma agenda hemisféricacada vez mais complexa, em que a construção deuma verdadeira parceria continental dá uma novadimensão às relações interamericanas e aumenta aresponsabilidade de países como o Brasil e o México.

Nossos países tornaram-se referênciasobrigatórias no quadro mais amplo dos êxitos,desafios e problemas das economias emergentes, quevêm alterando o perfil das relações internacionais e aprópria inserção externa dos nossos países.

Mas nós não queremos assistir passivamentea esse processo. Nossa vontade de participar naconstrução do futuro faz parte de um projeto maiorde reforço da nossa soberania através dofortalecimento econômico e da correção do passivosocial que entrava nosso desenvolvimento pleno.

A parceria de países como o Brasil e oMéxico deve, por isso mesmo, voltar-se para aquelasáreas de entendimento — político, econômico,comercial e de cooperação – que reforcem a nossacapacidade de preservar e ampliar os progressos quejá fizemos em nossa inserção regional e internacional.

Temos experiências importantes acompartilhar. Só para dar um exemplo expressivo,de grande atualidade na escala das prioridadesbrasileiras, o México vem há tempos implementandoprojetos de grande visibilidade na criação edesenvolvimento de pólos turísticos, de que Cancún,

hoje tão familiar aos brasileiros, é perfeito exemplo.Esse conhecimento das experiências mais

recentes dos nossos países será um fator fundamentalpara uma parceria que vá além do simbolismo dosgestos, que altere qualitativamente o perfil da nossacoordenação política, do nosso intercâmbio, da nossacooperação e que tenha um verdadeiro efeitomultiplicador.

E não podemos perder de vista que é nocampo espiritual, da cooperação e do intercâmbiocultural que se completa necessariamente a parceriarenovada que nós desejamos desenvolver entre oBrasil e o México.

Senhor Presidente,A verdadeira solidariedade que podemos

construir entre os nossos países em um momentodecisivo das suas histórias foi o que me animou a virao México.

É com esse espírito e em reconhecimento àcontribuição que Vossa Excelência vem dando aofortalecimento das relações entre o México e o Brasilque, em nome de todos os brasileiros, quero fazer-lhe a entrega do Grande Colar da Ordem do Cruzeirodo Sul.

Receba-o também como prova da gratidãode todos os brasileiros que aqui se encontram pelaamizade e hospitalidade com que o México mais umavez fala ao coração do Brasil.

Muito obrigado.

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45Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Quero agradecer ao povo da Cidade doMéxico a honra que me dá ao fazer-me a entrega,pelas mãos do seu Regente, da Chave da Cidade.Esta é uma homenagem inesquecível para quem, comoeu, conhece há tempos este Vale do México a queAlfonso Reyes sempre se referiu com tanta inspiraçaoe afeto.

Mas hoje, para descrever a complexidadehumana e sócio-econômica da Cidade do México,teríamos de ir muito além das metáforas para referir-nos à vigorosa civilização latino-americana que aquise construiu, com seu patrimônio, seus valores,desafios, problemas e oportunidades.

Esta é uma grande cidade do mundo. Umacidade carregada de história e promessas, de orgulhosjustificados e também de preocupações que nóscompartilhamos em grande medida.

Na Cidade do México, as praças, as igrejas,os palácios coloniais, cada teatro e museu, as ruínasastecas resgatadas da noite dos tempos peloorgulhoso cuidado dos mexicanos com a suamemória, os “pueblos” incorporados à cidade emseu crescimento desmesurado falam da grandeza deum verdadeiro pólo de civilização urbana dasAméricas.

Para qualquer latino-americano, a Cidade doMéxico é uma síntese do que somos: da nossa história,da nossa personalidade culturalmente mestiça, dosnossos projetos e dos nossos desafios. Muito antes

de que a América irrompesse na História do Ocidentecom a viagem de Colombo, já a Tenochtitlán dosAstecas era um grande centro urbano, religioso ecomercial.

Berço de uma grande civilização pré-hispânica, cimento desta nação original e forte que éo México, esta cidade seria também o pólo irradiadorpor excelência da cultura e da vida política eeconômica da Colônia.

Mais tarde, quando o vento da liberdadecomeçasse a fazer do sonho da independência nestanossa América uma realidade a ser construída a cadadia, a Cidade do México continuaria sendo palcodas lutas libertárias e reformistas do século XIX eum ponto de referência obrigatório da Revolução de1910.

Hoje, com a maior concentração urbana epopulacional do mundo, esta cidade encarna algunsdos desafios mais colossais que se apresentam aoespírito humano.

Como conciliar o imperativo da vida urbanamoderna com o desenvolvimento econômico, com obem-estar social e com a convivência respeitosa como meio ambiente?

Como harmonizar o crescimento urbano coma preservação do patrimônio histórico e artísticolegado pelo passado colonial e pré-hispânico?

Como modernizar os nossos países seminchar as nossas cidades, esvaziando o campo e

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião da visita à sede do Departamento doDistrito Federal, Cidade do México, 19 de fevereiro de 1996

Visita à sede do Departamento doDistrito Federal na Cidade do México

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46 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

colocando uma pressão insuportável sobre oshabitantes dos centros urbanos?

Como garantir aos milhões de habitantes dasgrandes cidades acesso aos bens culturais e ao lazer,mantendo a sua ligação ontológica com o restantedo país e com as regiões de que provêm?

Por tudo isso, receber a chave desta cidadeassume para o Presidente de um país profundamentelatino-americano como o Brasil um significadoespecial, como a lembrança de um desafio.

De alguma forma o Brasil, pela pessoa doseu Presidente, se associa hoje à história desta cidade.

E com isso rende homenagem a umametrópole que, nascida em 1325 graças a umacivilização portentosa, atravessa os tempos, passapela história e resiste aos movimentos da própria terrapara afirmar-se como a imagem de um povoprofundamente enraizado na grandeza do seu passadoe na esperança do seu futuro.

Muito obrigado.

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47Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Agradeço muito sinceramente as palavraselogiosas com que Vossa Excelência se referiu a mime particularmente ao Brasil.

Eu as recebo como mais uma demonstraçãoda amizade que o povo mexicano devota ao povobrasileiro — uma amizade presente em cadamomento desta visita que marca um necessárioreencontro entre o Brasil e o México.

Essa amizade faz parte do sentimento coletivobrasileiro. Eu mesmo pude testemunhá-la e desfrutá-la em outras ocasiões em que aqui estive, recebidocom carinho e respeito por um povo exemplarmentelatino-americano, imensamente hospitaleiro.

A presença de Vossas Excelências nestasessão de homenagem ao Brasil é prova do interesseque o meu país e as relações que mantém com oMéxico despertam nos responsáveis pelos destinosdesta grande Nação. Em agradecimento, trago amensagem de afeto e amizade do povo brasileiro,pedindo-lhes que sejam os intérpretes dessasaudação junto ao povo mexicano.

Agradeço também por esta oportunidade deme dirigir ao Parlamento mexicano, esta formaconcreta da soberania popular, fonte de legitimidadedo Estado moderno e a expressão por excelênciado que deve ser a cidadania.

Esta é a Casa do Povo, seu melhor

instrumento de participação. Parlamentar como osSenhores, orgulhoso das instituições democráticas domeu país, venho a este Congresso porque é deverdos Governantes desta América prestar tributopermanente às instituições que têm entre suas missõesconsolidar para sempre a democracia na América.

Porque a democracia é a forma de viver econviver em sociedade que nos aproxima do idealde perfeição e de justiça que anima o homem nosgrandes movimentos que transformam a História eaprimoram a civilização.

E porque, em um regime democrático, aPolítica é a forma por excelência de construir diálogo,tolerância e persuasão, consensos sem os quaisnenhum povo é capaz de progredir.

Afinal, o que são a Nação, a soberania, odesenvolvimento, a cidadania, a justiça e os direitoshumanos senão contratos sociais cujo valor eoperacionalidade dependem do seu nível de aceitaçãopela sociedade — da sua legitimidade? Seria ilusóriofalar em soberania ou em poder nacional se essesconceitos não se assentam na força do consenso oudaquilo que está mais próximo dele, que é a vontadeda maioria articulada pelas instituições políticas.

Daí a força que o Parlamento soberano ganhano Estado moderno. Daí a minha devoção aoParlamento.

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, na sessão solene da comissão permanente doCongresso da União, Cidade do México, 20 de fevereiro de1996

Sessão solene da comissãopermanente do Congresso da União

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48 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhores Congressistas,Não esqueço que, durante a vigência de tantos

regimes de exceção neste Continente que agorareencontra o rumo da democracia, o México foi umdos santuários daqueles que fugiram à repressão. Porisso mesmo, o México ajudou a alimentar asesperanças de um renascimento completo daliberdade em outros países das Américas.

Quero por isso homenagear os homenspúblicos e os cidadãos mexicanos que souberamacolher os que buscavam refúgio por suas idéias. Elesajudaram a manter viva no mundo a imagem de umaAmérica generosa e aberta, a mesma que duranteséculos acolheu raças e culturas tão diferentes paramesclá-las e formar aquilo que José Vasconcelos tãosensivelmente chamou de “a raça cósmica”.

Desde a resistência de Moctezuma eCuauhtémoc aos conquistadores espanhóis, oMéxico foi terra de luta pela liberdade, pela suaidentidade e pela transformação social.

A Revolução de 1910 de certa formaantecipou nas Américas o que seriam os grandesmovimentos sociais que tanto impacto teriam nasrelações internacionais no século XX. E muitasconquistas do povo mexicano a partir de entãomostraram que, neste Continente de heranças àsvezes pesadas e realidades amargas, a transformaçãosocial é possível.

Hoje, mais uma vez, os fatos da Históriacomprovam que sem um ânimo permanente dereformar e aperfeiçoar as instituições e as estruturaspolíticas, econômicas e sociais, as nações poderiamficar à deriva em um mundo cada vez mais complexoe competitivo. Essa lição se aprende em todas aspartes do mundo, e muito especialmente na AméricaLatina.

O México que eu hoje visito mais uma vezdá uma demonstração de como um povo pode sercapaz de reunir novamente suas forças e prosseguirfirme no caminho do desenvolvimento e daconvivência amigável e construtiva com as Naçõesdo mundo, promovendo as reformas e fazendo as

correções de rumo para que o país possa continuara atender aos desafios internos e internacionais queos anos 90 trouxeram.

É esse o México que eu quero homenagearaqui nesta Casa. É esse o povo que eu reverenciodesta tribuna que quer ser a sua voz e a expressãodos seus anseios, esperanças e direitos.

Senhores Congressistas,Venho ao México para cumprir um

compromisso que assumi com o Presidente ErnestoZedillo em Bariloche, em outubro de 1995, durantea V Reunião de Cúpula Ibero-Americana. Naquelaocasião, discutimos a importância de que os nossospaíses reafirmem a vertente bilateral das suas relaçõescomo complemento necessário às suas respectivaspolíticas de integração sub-regional.

Era um desafio que nos lançávamos. É umdesafio que estamos procurando enfrentar. É umdesafio que convoca muito mais do que os doisPresidentes.

Afinal, somos dois grandes países emdesenvolvimento, diversos em muitos aspectos, mascom interesses comuns e uma grande capacidade deassociação.

Nosso compromisso com a construção deuma parceria renovada, que leve em conta asnecessidades e os desafios presentes, tem ao menostrês dimensões.

A primeira, interna, é a do impacto social eeconômico que a dinamização das nossas relações,através de projetos e empreendimentos concretos ebem orientados, pode trazer para os nossos povos,em termos de comércio, investimentos produtivos,cooperação e empreendimentos conjuntos. Cada vezmais a diplomacia deve traduzir-se em empregos, emgeração de riqueza, em capacidade de atuaçãointernacional dos nossos países.

A segunda dimensão, bilateral, é a da própriaintensidade das relações entre dois países dadimensão, dinamismo e perspectivas do Brasil e doMéxico. Somos países de grande extensão territorial

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e variedade física, de rica variedade regional efazemos parte de diferentes âmbitos regionais, o queenriquece a nossa identidade internacional.

E a terceira, regional e internacional, é adimensão da contribuição que as nossas relaçõespodem dar para o fortalecimento e a projeção dosnossos países em um mundo em que as relações intra-regionais ganham um dinamismo essencial econtribuem para definir a base da própria inserçãoexterna dos países.

Minha visita ao México é portanto parte deum projeto conjunto, brasileiro e mexicano, paratornar palpável o potencial político e econômico quesempre reconhecemos nas nossas relações. Temosde ser capazes de realizar esse potencial.

Senhores Congressistas,Eu lhes trago a minha confiança nesse projeto,

porque eu lhes trago a palavra de um Brasil que serenova, de um Brasil que cria novas condições parainserir-se no mundo e relacionar-se com os seusparceiros mais tradicionais, como é o caso doMéxico.

O Brasil encontrou caminhos próprios naconsolidação da democracia, hoje uma realidadeinquestionável e inquestionada no meu país, a garantiade que vivemos em um regime de plena cidadania,de liberdade, de controle do Estado pela sociedade.

E o Brasil encontrou esses caminhos tambémna estabilização da economia, na retomadasustentada do crescimento, na integração regional ena abertura econômica refletida, pragmática econscienciosa e em uma política externa universalista,mas profundamente sintonizada com as prioridadesbrasileiras no campo econômico e social.

Minha confiança no futuro da parceriabrasileiro-mexicana vem da convicção de que o queestá ocorrendo no Brasil quase dois anos depois daimplantação do Plano Real já vem tendo efeitos muitopositivos sobre o perfil do relacionamento brasileirocom os seus principais parceiros regionais einternacionais.

Alteraram-se as percepções externas sobreo Brasil desde que começamos a implantar oPrograma de Estabilização.

E isso se deve a alguns êxitos: na vitória naluta contra a inflação, no equacionamento favorávelda nossa dívida externa, na boa condução daspolíticas monetária, fiscal e cambial, que restauraramo crédito interno e internacional do Governo, naretomada sustentada do crescimento e, sobretudo,no impacto social positivo que a estabilização teve,ao restituir poder de compra à moeda e ao fazercessar os efeitos perversos que a inflação tinha sobreos mais pobres, ao desvalorizar os salários e agravara concentração de renda.

Senhores Congressistas,A política externa do Brasil — esta que me

traz aqui — tem procurado ser um instrumento aserviço da estabilização da economia e da retomadado crescimento econômico. Essas são as prioridadesdo povo brasileiro, esse é o mandato que eu recebidas urnas e esse é o caminho que nos apontam osdesafios de uma economia globalizada e competitiva.

Não se trata absolutamente de abandonarprincípios basilares que sempre guiaram a nossapolítica externa em mais de cento e vinte anos de pazininterrupta com nossos dez vizinhos, em uma ativaparticipação nos foros internacionais do pós-Guerrae em uma persistente defesa dos ideais dodesenvolvimento e da cooperação, indispensávelpara que eles se tornem uma realidade.

Trata-se, isso sim, de dar prioridade efetivae cabal às parcerias externas – regionais einternacionais — que possam gerar, comreciprocidade de interesses e resultados, maiscomércio, mais investimentos produtivos, maiscooperação e transferência de tecnologia, uma vozmais forte e legítima nos assuntos políticos eeconômicos internacionais e, especialmente, maisbem-estar e empregos para a nossa população.

Se ouvirmos o nosso povo, ele nos dará asdiretrizes certas para balizar a nossa política externa

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e a nossa ação junto aos nossos parceiros tradicionaise a novos parceiros potenciais.

O povo brasileiro quer a sua soberaniadefendida e o seu país respeitado dentro e fora desuas fronteiras.

Ele quer os seus direitos protegidos e a suaparticipação como cidadão assegurada de todas asformas.

Ele quer amizades internacionais quesignifiquem comunhão de valores e luta por umasociedade internacional mais justa.

Ele quer oportunidades, empregos melhorese mais bem remunerados, acesso aos bens materiaise espirituais da civilização moderna.

Como consumidor, ele quer acesso a bens eserviços a preços justos, com qualidade edurabilidade, e que valorizem o seu dinheiro.

Ele quer cooperação internacional para quese encontrem instrumentos efetivos para a promoçãodos direitos humanos e do desenvolvimentosustentável.

E ele quer que as nossas parcerias setraduzam em fatos que alteram para melhor a suavida diária.

Essa é uma receita elementar. Como em tudona vida de um país, a política externa de uma naçãodemocrática tem que responder a anseios dasociedade e não a diretrizes geradas em gabinetesou em setores particulares ou corporativos.

As grandes linhas da nossa política externaatual procuram responder a esses anseios. Aintegração regional no âmbito do Mercosul, asparcerias com os grandes centros do podereconômico mundial, as relações com os nossosvizinhos, a ênfase na cooperação fronteiriça comoresposta às demandas geradas por essa verdadeiracivilização da fronteira que se desenvolveu em tantasáreas, um trabalho persistente de atualização dapercepção internacional sobre o Brasil do Real e asoportunidades que ele vem gerando — essas sãotodas linhas-mestras de uma política externa que sepretende pragmática porque quer ser profundamente

democrática, funcionando como um instrumento aserviço da transformação da sociedade brasileira.

Se tomamos o exemplo da integração regionalno âmbito do Mercosul, fica patente como esseprojeto serve aos propósitos da estabilização e docrescimento sustentado da economia brasileira, namedida em que o Mercosul amplia o nosso mercado,nos dá uma nova dimensão regional e internacional,amplia a oferta de produtos a preços competitivosno mercado interno, traz o desafio da competitividadepara os nossos produtores, gera oportunidades denegócios e parcerias para os agentes econômicos.

Será também um passo no processonecessariamente cuidadoso e gradual de construçãode um espaço econômico integrado nas Américas.

Ao mesmo tempo, o Mercosul começa abuscar parcerias novas. Estamos negociando formasde aproximação com a Venezuela, o Chile e a Bolívia,além do conjunto inteiro do Pacto Andino. E já demospassos concretos para uma associação mais estreitacom a União Européia.

Em poucos anos, estamos transformando oCone Sul em um espaço de cooperação e convivênciademocrática, graças a uma iniciativa que é um êxitocomprovado de integração no nosso Continente.

Senhores Congressistas,Entre essas áreas, com sentido de prioridade

dada pelos interesses comuns e pela intensidade daagenda, está naturalmente o México.

O Brasil e o México devem procurar dar umsalto qualitativo em suas relações. Não devemostemer o bilateralismo em um mundo de regionalismocrescente. Ao contrário, ele reforça nossas credenciaise abre-nos alternativas. Não deve haver exclusõesnas opções que se apresentam a países como osnossos.

Brasil e México compartilham a identidadede países emergentes, com sociedades que ainda têmum longo caminho a percorrer em matéria deigualdade e oportunidade para todos os seus cidadãose em termos de indicadores sociais e regionais.

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Mais importante: como países que aprendem,nos duros embates da vida real, o valor dademocracia e que estão comprometidos com odesenvolvimento e com a liberdade econômica,estamos procurando ficar em plena sintonia com astendências dominantes na História contemporânea.

A essa identidade comum somamos asdimensões peculiares de cada um de nós para fazerda nossa inter-relação uma ponte múltipla entre duassub-regiões muito diversas do Continente americano.

Às dimensões pacífica, caribenha e norte-americana do México contrapõem-se as dimensõesatlântica, amazônica e platina do Brasil. Estamosjuntos na América Latina, que traduz um modo deinterpretar e integrar as diversas dimensões sub-regionais.

É um vasto espaço para aproximar pela via

da amizade e da cooperação bilateral.Mas é a certeza de que essa aproximação

serve aos interesses dos nossos povos que nos animaa empreender esse esforço, com a ajuda de todos.

Esse é o sentido da minha visita, essa é aexortação que eu trago: por uma parceria maissolidária entre os nossos países.

E esse é também o sentido da visita que façoa este Congresso e do tributo que aqui venho prestarao povo mexicano em seu direito de representaçãosoberana.

Porque os Senhores Congressistas trazemaqui a sensibilidade das regiões e das comunidadesque representam e por isso dão aos interessesnacionais a força da legitimidade que lhes dá sentidoe há de justificá-los perante a História.

Muito obrigado.

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I - Introdução: os desafios do Político diante dofenômeno da Globalização.

É um enorme prazer voltar ao Colégio doMéxico, um dos mais criativos centros do pensamentolatino-americano, onde fui tantas vezes acolhido comgenerosidade e onde sempre encontrei o estímulointelectual para o debate e para a pesquisa.Reencontro amigos de longa data e, sobretudo,recordo os excelentes momentos de convívio e deamizade que a vida acadêmica aqui me proporcionou.

Vou tratar de um tema que se incorporoudefinitivamente à agenda de todos os governantescontemporâneos: a Globalização econômica e osriscos e oportunidades que dela decorrem. Em paísescomo o Brasil e o México, refletir sobre asimplicações deste fenômeno, tanto do ponto de vistainterno como externo, é mais do que um desafiointelectual: é uma necessidade vital.

Não pretendo tratar aqui dessa questão como rigor do homem de ciências. Mesmo porque, emtudo aquilo que tenho lido sobre a Globalização,percebo que falta ainda uma “ teoria unificadora” queexplique em profundidade a gênese dastransformações e o curso dos aceleradosdesdobramentos na realidade econômicacontemporânea. A Academia parece-me estar aindano processo de mapear e de compreender o conjuntode acontecimentos que estão mudando a vida das

nações numa velocidade antes inimaginável.Mas o tempo e as motivações do Político são,

em sua essência, diferentes daqueles do CientistaSocial. O Político não pode esperar pelasedimentação do conhecimento para agir. Se o fizerserá atropelado pelos fatos. Temos, hoje, uma certeza:a da abrangência e da profundidade da mudança eisso nos assombra e nos angustia, dada acomplexidade dos desafios que temos de enfrentar.

A verdade é que, independentemente dosvácuos teóricos existentes, já se conhece o suficientesobre a Globalização para sabermos, com razoávelperspectiva, quais os seus rumos prováveis e em quecampo podemos atuar para amenizar alguns dos seusefeitos mais nocivos e, ao mesmo tempo, parapotencializar as vantagens que estão surgindo para,nos próximos anos, darmos um grande salto emdireção à prosperidade com mais justiça social.

A Globalização, em suas diversas expressões,tornou-se um componente incontornável das decisõesde Governo, condicionando escolhas no planonacional e no de ações externas.

Isso, porém, não nos leva a desconhecer queuma das mais importantes missões da ação políticacontemporânea é a de assegurar que odesenvolvimento esteja orientado por valores, poiso ganho econômico só tem sentido se trouxer maiorbem-estar para os cidadãos. A partir desse

Conferência “ O impacto da globalização nos países emdesenvolvimento: Riscos e Oportunidades”. Discursoproferido pelo Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, no Colégio do México, 20 de fevereiro de 1996

Conferência O impacto da globalizaçãonos países em desenvolvimento

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pressuposto, devemos encontrar os meios einstrumentos para integrar nossos países nos novospadrões de produtividade e competitividade, únicaforma de obter o necessário crescimento econômicosustentável numa economia globalizada.

Este é o foco principal que tenciono dar aesta conferência. Procurarei ponderar sobre algumasdas conseqüências sociais da Globalização,especialmente no que se relaciona aos riscos doaumento da desigualdade interna, em cada país, e noplano internacional, bem como do aumento dochamado desemprego estrutural.

II - Fatos que contribuíram para a superaçãodas teorias tradicionais sobre a assimetria e adependência nas relações econômicas e políticasmundiais.

Um ponto de partida para compreendermelhor a natureza das transformações da realidadeeconômica e política da atualidade é a reflexão sobrealgumas das razões que implicaram a superação dealgumas teorias que procuravam explicar emprofundidade a dinâmica das relações entre o Capitale o Trabalho e sua repercussão na órbita internacional.

É evidente que não tenho a pretensão deesgotar um tema tão complexo em espaço de tempotão curto. Meu objetivo é apenas o de esboçar algunslineamentos que permitam entender um pouco melhoro que está acontecendo no mundo de hoje.

As extraordinárias mudanças que ocorreramde 1989 para cá, entre as quais a aceleração dosefeitos da Globalização, revelaram os limites dasteorias e das ideologias hegemônicas deste século. Eisto não vale somente para o marxismo. Tanto oliberalismo clássico (em virtude das transformaçõesna teoria das vantagens comparativas), como a social-democracia (que sofre a crítica do esgotamento dowelfare state) exigem reformulações radicais queainda não se completaram. Claro: as perspectivashistóricas de que dispunham os seus fundadores eramoutras, pressupondo determinadas formas dedialética entre o interno e o externo, e mesmo de

relação entre o capital e o trabalho, que não maissubsistem.

Mudou o mundo; mudou a natureza doCapital; mudou a natureza do Trabalho. Mudaram,também, os instrumentos necessários paraalcançarmos níveis crescentes de inclusão social.

O que a História não superou no ideárioprincipalmente das ideologias de esquerda foi aaspiração generosa no sentido de que astransformações tivessem o objetivo de incorporar osmais fracos, os mais desfavorecidos. Por isto, o temada desigualdade persiste e ocupa espaço necessáriona reflexão sobre a globalização.

2.1. A dimensão do Capital.Na dimensão do Capital, um dos aspectos a

ressaltar é o de que assistimos a uma verdadeirapulverização de sua propriedade. Hoje, os fundosde pensão e de investimento detêm, por exemplo,posição estratégica no controle do Capital e nadefinição de sua utilização. Isso está diluindo edespersonalizando a relação patrão-empregado nossetores mais dinâmicos e modernos da economia,embora, no Brasil e em boa parcela dos países emdesenvolvimento, o grande empregador ainda sejamas pequenas e médias empresas.

A própria relação empreendedor-empresaestá se alterando: o empresário “schumpeteriano”, ovisionário empreendedor, está sendo substituído oupelos empresários que controlam alguma forma desaber especializado e inovador, ou ainda, pela figurado gerente, que baliza suas decisões por padrões deeficiência e competitividade. A tendência não é novae vem sendo descrita desde os anos 50, mascertamente se reforçou muito nos últimos anos.

Para citar apenas um exemplo que ratificaessas tendências: no Brasil, os fundos de pensãotornaram-se os maiores investidores no processo deprivatização da economia. Os gerentes desses fundospassaram a ter um enorme poder, em termos deopções de investimento na economia, e são, em suamaioria, oriundos dos quadros das empresas públicas.

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Ora, como falar, hoje, com nitidez, de“exploração” do capitalista, de realização da mais-valia, no sentido clássico do marxismo, se umaparcela importante dos trabalhadores começa a setornar sócia do Capital? Sem dúvida, há gruposespecíficos de trabalhadores que souberam construirmelhores formas de acesso ao Capital justamenteporque foram capazes de se organizar de formamoderna.

E fica aqui uma primeira indagação, mais denatureza sociológica do que econômica: adiferenciação do trabalho, derivada da facilidade doacesso ao capital — e, como apontarei, há outrosdeterminantes da diferenciação — consagra somenteformas modernas de organização ou também serveaos que, por artifício político, conseguem consolidarposições corporativas?

Outro elemento crucial é a crescentemobilidade dos fluxos financeiros internacionais e deseu impacto para as políticas monetária e cambialdas economias nacionais. Fica cada vez mais difícilidentificar a procedência dos capitais e, sobretudo,as intenções dos gerentes que os manipulam. A análisedo destino dos lucros e de seus beneficiários se tornatambém uma questão complexa.

Isso não significa que fiquemos desarmadosdiante da volatilidade dos capitais. A constataçãodessa tendência não pode levar à passividade. Ainternacionalização dos fluxos deve corresponder anovos arranjos internacionais para discipliná-los. Ehá espaço para tanto.

2.2. A dimensão do Trabalho.Recordo que na teoria econômica clássica, o

Trabalho, o Capital e a Terra eram os três fatoresbásicos da produção. O fator Trabalho tinha umacaracterística estática, homogênea. A tecnologiaestava associada diretamente ao fator Capital, nãoao Trabalho.

Hoje, como a produção tornou-se mais“intensiva em conhecimento” (knowledge intensive)quem detém esse saber, muito mais do que a empresa,

é o próprio trabalhador. Um exemplo significativodisso é o Sillicon Valley, nos EUA, que cresceu combase no conhecimento, não nos capitais, que afluírama posteriori. Embora este exemplo possa ter algo deesquemático, serve para ilustrar o ponto que pretendiaressaltar: na terminologia de Marx, o capital variávelcresce em importância com relação ao capitalconstante, na medida em que o processo produtivovai ficando mais “intensivo em conhecimento”.

Este fato traz profundas implicações paranossos países e economias. O saber tornou-se umfator de diferenciação no trabalho. A força física e asaptidões gerais foram superadas como elementosdiferenciadores da mão-de-obra. O trabalhoqualificado e criativo, de alto nível, tornou-se fator“escasso”, em comparação com a relativa abundânciade capital que circula pelo mundo. E ainda maisimportante para os países em desenvolvimento: avantagem comparativa que os países periféricosteriam por causa da mão-de-obra abundante e baratapraticamente desapareceu. Ou mais precisamente,localiza-se nos setores mais modernos da economia.Isto reforça a dificuldade de lidar com diferençasinternas em países em desenvolvimento complexos,como os nossos. Tornou-se necessário combinarpolíticas públicas que preservem as áreas modernase competitivas por padrões internacionais com umesforço permanente de incorporar os setoresatrasados, mas intensivos de mão-de-obra.

Outro ponto de extraordinário impacto nasrelações Capital-Trabalho: a modernização daeconomia levou a mão-de-obra industrial — nomarxismo, o proletariado por excelência — a perderespaço para o emprego no setor terciário, um setorem que há baixa capacidade de mobilização (paraefeitos de negociação com os detentores do Capital),maior informalidade e grandes diferenciações de tiposde ocupação e de margens salariais.

É em função dessa mudança no perfil deemprego que a flexibilização das normas trabalhistasestá ocorrendo nos quatro cantos do mundo.

Muitos consideram que essa migração do

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emprego do setor manufatureiro para o de serviçosé um fenômeno negativo. Conceitualmente, contudo,isto é um equívoco: é errônea a percepção de quesomente a indústria pode prover empregos dequalidade. É igualmente ultrapassada a noção de quesomente o setor manufatureiro tem potencialexportador e, portanto, é capaz de promover maisfacilmente o crescimento.

2.3. Algumas conseqüências das novas formasde expansão do Capital, da organização doTrabalho e da relação Capital-Trabalho.

Algumas conseqüências importantes advêmda implementação das novas formas de expansãodo Capital, de organização do Trabalho e da relaçãoentre o Capital e o Trabalho.

Primeiro: se por um lado a mobilidade dosfluxos financeiros através das fronteiras nacionaispode trazer oportunidades reais de crescimento paraas economias emergentes, por outro, a volatilidadedos capitais de curto prazo e a possibilidade de seuuso para ataques especulativos contra moedas sãouma forma de ameaça real à estabilidade econômicae ao nível de emprego dos países. (O México e todaa América do Sul, e mesmo os mercados financeirosmais longínquos, bem sabem o impacto nocivo queessa volatividade pode ter.)

Segundo: o conhecimento tornou-se, comosabemos, um fator concreto de diferenciação entreos trabalhadores, deixando vulnerável a posiçãodaqueles que ocupam a maior parte dos postos detrabalho não-qualificado, sobretudo nos países emdesenvolvimento. Nesse particular, gostaria de fazerum parênteses: essa diferenciação interna na classetrabalhadora faz lembrar, numa primeiraaproximação, a noção de “burguesia proletária”, queno pensamento marxista estava ligada à exploraçãoimperialista.

Ora, não se trata mais disso: a ascensão desetores específicos pode ser positiva e representativados ganhos de produtividade ou da sua capacidadeorganizacional. O problema surge quando as

vantagens cristalizam-se em mecanismoscorporativos, em vantagens desiguais que são frutomuito mais da habilidade política de certos grupos,do que dos avanços na produção. O que pareciamoderno pode tornar-se, assim, conservador,afastado da competição sadia e identificado com asvantagens do clientelismo. Isso ocorre, sobretudo,em certos setores do Estado e leva a que, em algunspaíses, a esquerda tradicional seja utilizada por essesgrupos para a defesa de bandeiras parodoxalmenteconservadoras, no sentido de manutenção desituações de privilégio.

Terceiro, e talvez ainda mais preocupante:diante desse quadro de transformações, quem seriamos novos agentes sociais da construção do futuro?Não mais a “burguesia conquistadora”, uma vez queo capital vai-se despersonalizando; não mais a classemédia como portadora privilegiada de valoresdemocráticos; tampouco o proletariado, órfão dasutopias revolucionárias, depois da derrocada dosocialismo real. Mais adiante voltarei a este tema,que julgo essencial.

Paralelamente às transformações ocorridasnas dimensões do Capital e do Trabalho e na suainter-relação, outros elementos contribuíram para asuperação das teorias que procuravam explicar osistema de relações econômicas e políticas, a partirdo conceito marxista de imperialismo.

Quando Enzo Faletto e eu trabalhamos naconstrução da Teoria da Dependência, o substratodo desenvolvimento na periferia do capitalismo,especialmente na América Latina, era ainternacionalização dos mercados. Porém, naquelemomento, um outro fenômeno se desenhava, aindadifícil de ser percebido em todas as suas vertentespela ótica conceitual dos anos 60: concomitante coma internacionalização dos mercados, o que estavaocorrendo, na América Latina e no Ocidentedesenvolvido, era a internacionalização da produção,a qual traria uma impressionante expansão dascorrentes internacionais de comércio, que passarama crescer muito acima das taxas de crescimento das

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economias nacionais. Antes, a regra prevalecente eraa de que todas as fases da produção de determinadobem fossem processadas num mesmo país. Essamercadoria era consumida localmente ou exportada.A proteção tarifária e não-tarifária, associada àestratégia de desenvolvimento prioritário do mercadointerno, alimentou uma série de projetos nacionaisde desenvolvimento baseados na industrializaçãoprotegida ou, como ficou conhecido na AméricaLatina, no processo de substituição de importações.(Lembro que a estratégia asiática foi diferente, já que,sustentada em melhor perfil de distribuição de renda,voltada para a acumulação interna de capital e detecnologia, o que levaria, mais tarde, a modelos maiseficazes de enfrentamento das questões daglobalização.)

Mas, retornemos ao modelo de substituiçãode importações: o seu esgotamento derivoubasicamente do fato de que o conteúdo nacional damaioria dos bens diminuiu e suas fases de produçãose internacionalizaram. Quanto mais tecnologicamentesofisticado o bem, provavelmente maior será onúmero de países que participaram desde suaconcepção e design, até sua produção e marketing.Essa tendência se fortaleceu, não apenas em razãodo barateamento dos custos de produção (decorrenteda revolução técnica e tecnológica), da maiormobilidade dos fatores de produção e, ainda, daqueda das tarifas de transporte e comunicações. Foiresultado, igualmente, da progressiva redução daproteção tarifária e não-tarifária, em sucessivasrodadas de negociação multilateral em foros como oGATT, patrocinadas principalmente pelos paísesdesenvolvidos, mas que passaram a engajar tambémos países de industrialização recente, ávidos pornovos mercados. Nesse particular, as nações queaderiram mais tardiamente ao GATT, como é o casodo México, tiveram que consolidar suas tarifas emnível mais baixo, dos que haviam acedido ao Acordoem períodos anteriores. É sintomática, na atualidade,a ampliação dos temas tratados pelo GATT, muitosdos quais eram antes reservados à jurisdição interna.

Em decorrência da soma dessesdesdobramentos, cresceu exponencialmente ocomércio intra-firmas, responsável hoje pela parcelamais significativa do comércio internacional. Se, háalgumas décadas, o que interessava aosconglomerados multinacionais era a legislação vigentenos países recipiendários de investimentos sobre aremessa de lucros, busca-se, agora, dar prioridadeà capacidade de determinada nação de produzir bensintermediários ou finais a preços competitivos, nobojo de estratégias corporativas definidasglobalmente. Os países passaram a ser selecionadospara receber investimentos dessas corporaçõesmultinacionais com base no cômputo das vantagenscomparativas que oferecem, entre as quais aqualificação da mão-de-obra que se transformou numfator cada vez mais decisivo.

Várias são as conseqüências dessasevoluções. A primeira delas foi, sem dúvida, oenfraquecimento dos projetos de desenvolvimentonacional de caráter autárquico, fechado ao mercadoexterno. A segunda foi o acirramento da competiçãoentre os países — notadamente os emdesenvolvimento — por investimentos externos. Emlarga medida, as nações têm reformulado suaspolíticas no campo econômico e comercial para atraircapitais, que complementam suas taxas insuficientesde poupança interna, oferecendo-lhes um ambientedoméstico mais atraente e previsível.

Isto também não é novidade. O que estáocorrendo, porém, é diferente dos anos 50, já que omodelo se altera, deixando de haver o investimento“especializado” no Terceiro Mundo e passando aatividade econômica local a se ligar a essas cadeiastransnacionais de produção. Nem sempre essaligação ao exterior é homogênea, especialmente empaíses de dimensão continental, em que o processode modernização não pode alcançar a nação comoum todo. “Separar” partes do território nacional paraum tipo diferenciado de vinculação externa tem sidoa solução encontrada por alguns países.

O acirramento da competição entre as nações

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não excluiu, contudo, a cooperação, que podeassumir várias formas. A principal delas tem sido aintegração regional. A criação de mercadosampliados, seja sob a forma de zona de livre-comércio, seja, num patamar mais avançado, deunião aduaneira, transformou-se num instrumentofundamental para os países em desenvolvimento, noquadro da Globalização. No caso do Brasil, oMERCOSUL tornou-se, no espaço de menos de umadécada, no principal projeto da diplomacia nacional.O MERCOSUL atrai hoje para toda a região umvolume crescente de investimentos de grande porte,com impacto importante na geração de novosempregos.

Estou, assim, convencido de que as políticasde integração regional podem ser mecanismosdecisivos de combate aos efeitos mais danosos daGlobalização.

A terceira conseqüência é o surgimento deuma crescente uniformidade dos Quadros institucionale regulatório de todos os países. Para que a globalizaçãoda produção pudesse avançar, passou a prevalecer anoção hegemônica de uniformização das regraseconômicas e comerciais, de forma a impedir a criaçãode vantagens artificiais em dado país. Exemplar nessesentido é a introdução na Organização Mundial deComércio, de parâmetros internacionais para os direitosde propriedade intelectual e os Acordos de Proteção ePromoção de Investimentos. É evidente, porém, queesse quadro normativo mais homogêneo somentecumprirá o seu objetivo se, na aplicação das normas,houver maior sentido de equilíbrio e, sobretudo, se forbloqueado o uso unilateral do poder econômico.

Também intimamente ligada à questão daGlobalização é a limitação que se impõe à capacidadedos Estados de escolher estratégias diferenciadas dedesenvolvimento, de adotar políticasmacroeconômicas heterodoxas, ou ainda, de sustentarfórmulas rígidas na relação entre o Capital e oTrabalho. Os mercados de capital passaram a atuarcomo verdadeiros vigilantes das gestões nacionais:qualquer medida, por mais correta do ponto de vista

interno, que possa sinalizar um passo em falso oucontrariar o interesse dos investidores externos temcomo consequência a revoada dos capitais de curtoprazo, com sérios efeitos para a saúde do sistemafinanceiro de determinado país.

A ortodoxia ou o conservadorismo dessaespécie de tribunal imaterial, porém influente, trazlimitações à capacidade de operar dos governantes,que, se, por um lado, não podem simplesmenteignorar esses condicionantes da realidadecontemporânea, por outro, têm o dever de buscarnas contradições e nas inconsistências, bem comonas janelas de oportunidade do sistema em gestaçãoestratégias capazes de reafirmar a prioridade dointeresse nacional, de reforçar a vocação de paísescomo os nossos para a autodeterminação soberanae, sobretudo, de consolidar nossa capacidade deinfluir na construção do futuro.

A Globalização está longe de ser umfenômeno que avança de modo uniforme no planointernacional. Seu ritmo obedece a movimentosvariados. O paradigma financeiro, por exemplo, édiferente do comercial. Neste último, as áreas deresistência são muito mais pronunciadas, sobretudonos países desenvolvidos, como provam a questãodos produtos agrícolas, da pesca, e tantos outros.Há uma clara contradição entre o discursoglobalizante e prática, cuja regulação dos limites éditada por negociações diplomáticas. Na áreafinanceira, a abertura certamente é maior, mas nãosignifica que esteja isenta de mecanismos regulatórios,normalmente estabelecidos pelos Bancos Centrais decada país.

A Globalização também tem contribuído paraalterar o papel do Estado: a ênfase da açãogovernamental está agora dirigida para a criação esustentação de condições estruturais decompetitividade em escala global. Isso envolvecanalizar investimentos para a infra-estrutura e paraos serviços públicos básicos, entre os quais educaçãoe saúde, retirando o Estado da função de produtorde bens, de repositor principal do sistema produtivo.

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Em vários momentos, mencionei que uma dasconseqüências sociológicas da modernizaçãoinduzida pela Globalização é a dispersão deinteresses, a fragmentação do Trabalho e do Capital.Ora, o cerne da ação política, hoje, é justamente ode criar um espaço político onde esses interesses seharmonizem racionalmente. É nesse sentido que julgofundamental entender que, com a Globalização, oEstado necessita recompor suas funções. Assim, amissão do Estado de direcionar o desenvolvimento(steering capacity) passa a ser muito mais importantedo que a tentativa comprovadamente ineficaz desubstituir a iniciativa privada na produção de bens ede serviços que não tem natureza essencialmentepública.

Este pequeno elenco de desdobramentoscontemporâneos das relações econômicasinternacionais fornece, em minha opinião, poderososelementos que põem em cheque as teorias queprocuravam explicar a realidade e, sobretudo, asestratégias políticas e econômicas tradicionais queos Estados procuravam seguir na busca docrescimento. Os desafios para enfrentar a novarealidade são imensos e cada vez mais complexos,uma vez que se tornou inviável separar oscondicionantes internos dos externos. Além disso,cria-se uma situação paradoxal, pois ao mesmotempo em que a demanda por eqüidade aumenta emregimes democráticos, até como efeito daglobalização da informação, ela é dirigida a um Estadoque, em razão de seu novo papel, deve intervir menose melhor, tendo opções cada vez mais restritas emtermos de política econômica, em decorrência dasnecessárias disciplina fiscal e austeridade de gastospúblicos.

Exatamente por isso nunca foi tão importantea qualidade do trabalho político. De que maneira, ea partir de que valores, o Governante deve combinaro interno e o internacional; como conciliar a dispersãode pressões e o imperativo da definição de rumosclaros; como compatibilizar os mecanismos clássicosda representação com o anseio crescente de

participação direta da cidadania no processodecisório; como articular o empuxo de valoreseconômicos transnacionais com a necessidade de umaperspectiva soberana? (Eu poderia multiplicar muitomais essas dicotomias.) Sabemos que hoje nãoexistem mais fórmulas ideológicas que teçam, comcoerência, os fios de uma realidade cambiante. Aatitude meramente pragmática do governante éinsuficiente e simplista diante de problemas queenvolvem opções complexas e valores.

Nesse sentido, fica patente que o trabalhofundamental do político, em nossos países, está ligadoaos temas da justiça social. O seu mandato principalvem dos que nada ou pouco têm. Em sociedadescomo as nossas, não podemos nos iludir e tomar aGlobalização como um dado natural da realidade oucomo uma nova forma de ideologia e permitir que seacentuem as dicotomias internas. A desigualdade,embora alimentada pelas assimetrias e injustiças dasrelações interestatais, é ainda essencialmente umproblema nacional. É a nossa capacidade de superá-la, com medidas inteligentes de adaptação à novaconjuntura externa, que marca a ação do estadistade hoje. Queiram ou não os defensores das ideologiasneoliberais, o Estado ainda é uma referênciaobrigatória, como instrumento para organizar astransformações e disso o político contemporâneo nãopode e não deve abrir mão.

III - Algumas conseqüências sociais daGlobalização: os problemas do crescimento dadesigualdade e do desemprego estrutural.

Durante décadas, os países emdesenvolvimento tentaram influenciar, sem grandeêxito, nos foros multilaterais, notadamente naUNCTAD, a construção de uma nova ordemeconômica internacional. A verdade é que, um tantoà sua revelia, essa nova ordem já estava sendo forjadae hoje atende pelo nome de Globalização.

Sem ceder à ilusão de que essa nova ordemresponderia apenas às forças do mercado, emboraelas sejam decisivas, e que o poder dos Estados

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nacionais deixou de ter o mesmo impacto sobre ocurso dos eventos, é justamente o reconhecimentodos “limites” do mercado e da força que certos paísesde grandes dimensões, como o Brasil e o México,têm para influenciar no direcionamento da globalizaçãoeconômica, que nos permite adotar medidas capazesde contra-arrestar os efeitos sociais mais negativosdo fenômeno: a saber o crescimento da desigualdadee o agravamento do desemprego.

Para fazê-lo, contudo, os governantes têm deaceitar, como já afirmei, certos condicionantes daordem econômica em gestação com realismo esentido de pragmatismo.

A novidade do processo e a velocidade dastransformações exigem formas inteiramente novas deagir no cenário internacional.

3.1. Desigualdade e exclusão social.Como vimos, a globalização uniformiza, ao

tempo em que diferencia. A tendência de muitosanalistas e ideológos é exaltar os processosuniformizadores, como se suficientes para criarriqueza e eqüidade. Ora, os temas da diferenciaçãosão decisivos e constitutem talvez o âmago daconstrução de uma perspectiva política daglobalização. Na verdade, a questão do aumento dadesigualdade e da exclusão social que a Globalizaçãoparece de alguma forma alimentar é intricada e dedifícil combate. Manifesta-se tanto no plano internodos países desenvolvidos e em desenvolvimento,como no plano internacional. O paradoxal — e decerta forma até irônico — é que o aumento dadesigualdade se processa exatamente num momentoem que, com o final da Guerra Fria e com a aberturaao exterior dos regimes socialistas maisempedernidos, caminhamos para uma uniformizaçãoinstitucional e uma maior convergência universal devalores.

Na dimensão das relações interpessoais, adesigualdade passa a ser encarada menos como frutoda “exploração capitalista” ou das distorções domodelo de acumulação, do que das diferenças

qualitativas do trabalho, das competências ehabilidades inatas ou adquiridas. A desigualdadematerial é identificada perversamente como resultadode um processo natural de diferenciação entreindivíduos. Essa ruptura do sentimento desolidariedade tem grave repercussão na própria idéiade identidade nacional, como identificou RobertReich, o atual Secretário do Trabalho do GovernoClinton.

Na dimensão das relações interestatais, adesigualdade é vista menos como um fenômenohistórico, político, econômico ou cultural, do quecomo uma incapacidade de adaptação aos novospadrões de produção da economia globalizada ouao quadro institucional e ideológico prevalecente nas“nações vencedoras”. Esse esmaecimento daexplicação econômica, sociológica, histórica ou éticada desigualdade leva ao crescimento da indiferençae da intolerância com relação aos “perdedores”, quesão classificados como os únicos responsáveis porseu próprio atraso.

Ainda no plano das relações entre Estados,passa a prevalecer o conceito de que odesenvolvimento transita pelo cumprimento do “deverde casa”, pela criação interna de condições decompetitividade, antes do que pela cooperaçãointernacional para o desenvolvimento, pelamobilização da comunidade mundial na luta contra amarginalização das nações mais pobres. A existênciada desigualdade e da exclusão passa a ser, tambémperversamente, considerada como um dado naturalda realidade, perdendo-se uma das dimensões maisimportantes do pensamento “conservador”tradicional, que é, como já o disse, a da solidariedade,da proteção dos mais fracos e desassistidos, emnome da defesa de um valor maior, o da coesão ouda harmonia do tecido social.

O verdadeiro desafio, portanto, é ir além doconservadorismo. Sabemos que é indispensávelretomar os valores comunitários e recriar uma éticade solidariedade.

Contudo, não é uma tarefa fácil rearticular os

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instrumentos e instituições que tenham efetivacapacidade de lidar com a desigualdade e a exclusão.

3.2. O aumento do desemprego.A questão do aumento do desemprego é

outro tema que tem inquietado a maioria dosgovernantes e dos cidadãos, principalmente porqueé um fator agravante do processo de aprofundamentoda desigualdade e da exclusão social.

Algumas constatações preliminares sãoessenciais para evitarmos pensar o futuro com osolhos voltados para o passado. A primeira delas éde que já enfrentamos — e passaremos a enfrentarainda mais — o gravíssimo problema do aumentodo chamado “desemprego estrutural”, decorrentetanto da perda de competitividade de certos setoresdas economias antes protegidas por barreiras tarifáriasou não-tarifárias quase inexpugnáveis, como doenorme ganho de produtividade por unidade detrabalho. A segunda, já apontada anteriormente, dizrespeito ao fenômeno da terciarização da economiaque tem contribuído para a transformação da naturezado trabalho em escala global. No Brasil, por exemplo,o setor terciário responde, hoje, por mais de 60%do total de empregos na economia. Este é um fatode grande importância no processo de tomada dedecisões dos Governos.

Os próprios países desenvolvidos não estãoimunes ao problema do desemprego.

Entre os membros da OCDE, o desempregotriplicou entre 1970 e 1992, segundo os dados doInforme de 1993 sobre Desenvolvimento Humanodo PNUD. E por causa dos movimentos migratórios,os problemas do desemprego, no Norte e no Sul,passaram a se tocar.

O temor desse agravamento da situação nospaíses do Norte é que alimenta determinadastentativas de “reação” contra o processo deGlobalização, como é o caso de esquemas deregionalismo mais fechado ou da defesa de tesescomo as de “dumping social” ou de “proteção verde”.Fatias de mercado por nós duramente conquistadas

pela força da competitividade começam a sofrersobretaxas discriminatórias ou ilegais, ou ainda, têmde enfrentar mecanismos de concorrência desleal, emfranco desrespeito às regras multilaterais, como bemilustra a questão dos subsídios à agricultura nos paísesdesenvolvidos.

IV - O papel do Governo no combate aodesemprego. Como gerar mais e melhorespostos de trabalho.

Procurei demonstrar que o desemprego,como tantas outras questões sociais, tem umadimensão internacional. A própria natureza dodesenvolvimento globalizado gera efeitos dramáticos,como aponta a trajetória de alguns paísesdesenvolvidos. Um ponto que procurei enfatizar é ode que não devemos ser passivos diante dosproblemas que a Globalização fez emergir: a definiçãode estratégias nacionais precisas para combater essesmales são absolutamente necessárias e urgentes. Porisso, passo a fazer uma breve reflexão sobre a formapela qual, no Brasil, estamos lidando com o tema dodesemprego.

Um dos principais problemas do Governantede um país democrático como o Brasil, que detémum enorme passivo social, resultado da incúria e dodescaso histórico de suas elites, é a percepçãoequivocada por parte da população de que o PoderExecutivo Federal pode tudo e tem a capacidade dereverter distorções seculares no curso de um mandatopresidencial. É natural que assim seja, sobretudo emrazão dos êxitos que estamos colhendo com aestabilização da economia.

Tenho perfeita consciência de que o problemado emprego, tanto no que se refere à ofertaquantitativa de postos de trabalho, como à qualidadedos novos postos a serem criados, constitui uma dasquestões mais graves a serem enfrentadas peloslíderes políticos em todo o mundo. Porque apreservação e a geração de empregos são passosprévios não apenas para o êxito de qualquer políticasocial, mas também para garantir a própria dignidade

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dos cidadãos.O enfrentamento desse tema complexo,

contudo, não depende somente dos governos, emboraalgumas políticas governamentais sejam fundamentaispara minorar o impacto do desemprego estrutural.

Passo, agora, a enfocar o caso do Brasil que,creio, deverá ter alguma semelhança com o doMéxico. Antes de apontar algumas das medidas quemeu Governo está adotando nesse campo, nocontexto de uma estratégia mais ampla dedesenvolvimento social, seria útil analisar brevementealguns elementos que prevalecem na dimensão daforça de trabalho e do lado da oferta de postos naeconomia brasileira.

Do lado da dimensão da força de trabalho,precisamos estar atentos aos seguintes aspectos: a)o componente demográfico continuará a exercerpressão sobre o mercado do trabalho nos próximos15 anos, período a partir do qual, já se farão sentiros efeitos da atual queda na taxa de fertilidade dapopulação; e b) o componente sócio-cultural doaumento das taxas de participação das mulheres naforça de trabalho.

Do lado da oferta de postos de Trabalho,importa ressaltar que: a) em decorrência da aberturade economia e do imperativo da competitividade eprodutividade, é preciso saber qual será acomposição setorial de uma economia industrialperiférica e integrada a uma nova divisão internacionaldo trabalho; b) está ocorrendo, como já indiquei,uma profunda restruturação produtiva, em razão dasnovas tecnologias, que, por um lado, desvaloriza otrabalho não-qualificado e por outro, exige grandesesforços de recapacitação da força de trabalho; e c)a restruturação organizacional do parque produtivopassa a exigir a abolição de categorias intermediáriasde ocupação, ao tempo em que se processa umainformalização crescente do mercado de trabalho,agravada pela terceirização de funções.

Diante desses condicionantes, como buscarsoluções inovadoras — dadas as limitações de açãodo Estado — que envolvam os diferentes níveis de

Governo, a sociedade civil, sindicatos detrabalhadores e órgãos patronais? Não cabe aquielaborar um receituário aprofundado para atacar oproblema. Menciono apenas algumas das medidas,tanto do lado da oferta como da demanda doTrabalho, que meu Governo já adotou ou está emvias de implementar.

Do lado da oferta de mão-de-obra, estoucomprometido com dois pontos que julgo essenciais:investimento maciço na educação básica e programasabrangentes de capacitação ou retreinamento, comcustos a serem compartilhados com as empresas.

Do lado da demanda de mão-de-obra, nossaação será concentrada: a) na expansão econômicasustentada através de políticas de crescimentoconciliadas com a estabilização; b) nodesenvolvimento de políticas específicas de geraçãode emprego, com a retomada de investimentos deporte nas áreas de infra-estrutura e social (a áreasocial, embora subestimada como geradora deempregos, tem um enorme potencial empregador);c) no apoio técnico e financeiro a uma melhorcapacitação de setores intensivos em trabalho, como,por exemplo, a construção civil, a agricultura familiare o turismo; d) no incentivo fiscal, na melhoria dascondições de financiamento da produção e apoiotécnico às pequenas e médias empresas, que são omaior empregador do País; e) no estímulo, viafinanciamento de bancos estatais de fomento, deprogramas que preservem e gerem empregos; e f)na diminuição do custo do fator trabalho e nasnegociações entre o Capital e o Trabalho para aflexibilização das relações trabalhistas, incluindomedidas que dêem maior autonomia aos sindicatospara a celebração de contratos coletivos de trabalho.

V - Conclusão: a economia globalizada e o futurodos países em desenvolvimento. A demanda poreqüidade.

Estamos vivendo transformações quereorganizarão a política e a economia do próximoséculo. A tarefa de dar sentido humano ao

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desenvolvimento, na era da Globalização, tornou-seum grande desafio, porque temos de lidar não apenascom uma realidade radicalmente nova, masprincipalmente com o vazio ético que a idolatria domercado gerou e que o fim das utopiasrevolucionárias acirrou.

Se, com a Globalização, a economia passa acondicionar o universo da produção e da gestão, omesmo não se aplica ao universo dos valores. Épreciso separar os fatos concretos acarretados pelaGlobalização de uma pseudo-ideologia que se estáconstruindo em torno do fenômeno, com matizes quevão da pregação acrítica e celebratória das “virtudes”do sistema em gestação à afirmação da inevitabilidadeda perda de relevância dos Estados nacionais.

Nesse sentido, precisamos refletir sobrecomo a Globalização, que sinaliza uma era deprosperidade sem igual na história do Homem —um novo Renascimento, como tenho afirmado —pode ser orientada para atender à demanda poreqüidade clamada por 4/5 da humanidade quepadece sob os efeitos da miséria e da doença.

Como reinventar o sentido de comunidadeno plano internacional, para evitar a exclusão sociale a marginalização?

Como reforçar a responsabilidade social daselites culturais e econômicas?

Esta última indagação sobre aresponsabilidade social — e para alguns aresponsabilidade nacional — das elites merece, a meujuízo, uma reflexão um tanto mais detida.Independentemente da “democratização” do Capitalde que tratei antes, e até por sua causa, a mecânicade reprodução das elites se robusteceu. Mas, aomesmo tempo, as elites passam a se fechar na defesade seus interesses mais particulares e mesquinhos, oque ameaça não apenas a idéia de democracia, mastambém o próprio conceito de nação. Essairresponsabilidade das elites gera uma exacerbaçãodo individualismo e uma cultura de conflito que nãopode sustentar-se. Como fazer para reavivar essaresponsabilidade social das elites é um dos grandes

desafios de nosso tempo. O apelo por uma ética dasolidariedade, a redefinição de valores nacionais e,principalmente, a luta contra a desigualdade, que aselites encararam hoje como algo natural e atéaceitável, são ideais que somente a Política, enquantoarte de construção de consensos, pode equacionar.

Tenho a convicção que os países emdesenvolvimento podem contribuir, talvez até maisdo que as nações desenvolvidas, nessa passagemconceitual do domínio da economia para o mundodos valores. Porque nós, mais do que nunca, temosde exercer nossa capacidade criadora pararesponder, a um só tempo, aos desafios da novarealidade e à superação do legado social que nospenaliza e envergonha.

Não se trata de retornar aos ideais dopassado, realimentando utopias que já não explicamo mundo contemporâneo e tampouco se coadunamcom a prevalência dos valores democráticos e daeconomia de mercado. A solução dos problemascontemporâneos ultrapassa as fronteiras nacionais edemanda a mobilização universal.

Central, no quadro de reflexões que procureiesboçar nesta Conferência, é a indefinição queprevalece, nos dias de hoje, sobre quais seriam osagentes sociais da construção do futuro. Não creiomais ser possível identificar uma classe socialespecífica com esse papel de timoneiro da naçãorumo ao desenvolvimento, em meio ao turbilhão damudança. Dar sentido humano ao progresso,reforçando-se a ética da solidariedade, tanto nadimensão nacional como internacional, passou a sercrescentemente um exercício coletivo, disperso,fragmentário, num verdadeiro composto de utopiasparciais. Nenhuma classe ou grupo social detém,hoje, o monopólio na demanda por eqüidade.

Exatamente por isso — volto a insistir — éque precisamos revitalizar os valores essenciais dohumanismo, da razão sábia, da tolerância. Esses são,por excelência, os balizadores da legitimidademoderna. É necessário um engajamento real doGoverno e da sociedade contra a corrente do

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individualismo exacerbado e niilista, que conspiracontra a própria noção de identidade nacional.

Os governantes, os intelectuais, as liderançasda sociedade civil têm um papel decisivo a

desempenhar para que o novo Renascimento possaflorescer em toda a sua força transformadora daHistória.

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IntroducciónHe aceptado con gran gusto esta honrosa

invitación de la Cancillería boliviana para hablarlessobre la política externa brasileña. Es un honor quele agrega mucho a esta visita oficial del cancillerbrasileño a La Paz, porque ésta es una oportunidadsin par para traer a los formuladores y ejecutores dela diplomacia boliviana algunas impresiones sobre elnuevo ritmo que el Presidente Fernando HenriqueCardoso ha imprimido a su diplomacia y sobre ellugar prioritario que en ella ocupan los paísessudamericanos en general y Bolivia en lo particular.

Mi intención es que éste sea tin dialogoabierto, informal, porque es del intercambio francode opiniones que surgen las ideas nuevas que nospueden servir en el permanente ejercicio de mantenerdinámica y actuante — en el sentido mas pragmático—las relaciones entre nuestros países.

Por eso, me interesa mas que nada elintercambio de opiniones que podamos tener enseguida a esta presentación necesariamente genéricacon la que me permito ocupar en los próximosmomentos la atención de todos ustedes.

Primera parte - Una visión general de la políticaexterna brasileña

La diplomacia es una tarea de permanenterecreación de la tradición y del patrimonio que noshá dejado el pasado. Es esa dialéctica entre latradición y la innovación lo que justifica nuestrotrabajo de hacer un puente entre nuestro país y el

mundo.En esa ecuación, se operan cambios seguidos

en sus polos, y esos cambios van transformando lanaturaleza de toda la relación. Cambia el mundo —de la preemmencia de la Guerra Fría a lapreeminencia de la globalización y la competenciaeconómica —, y cambia el Brasil, consolidando sudemocracia y alterando profundamente el modelo dedesarrollo que se basó en la intevención estatal, elcierre de la economía y, hay que reconocerlo, enpolíticas de crecimiento que generaban inflaciónprogresiva.

Al cambiar tan profundamente los dos polosprincipales de la ecuación, es natural e imperativoque cambie la forma de promover su interacción yque se relativicen o se maticen prioridades, enfasis ylíneas de acción. Y aqui entra en escena unadiplomacia mas actuante para promover una nueva ymas eficaz inserción extema de Brasil.

No se trata de abandonar principioscardinales que nos han orientado en más de cientoveinte anõs de paz y cooperación con nuestros diezvecinos y en décadas de labor en pro del desarrolloy de un sistema internacional mas justo y equitativo.Se trata, eso si, de reevaluar permanentemente esepatrimonio de forma a ponerlo al servicio de lo queson hoy las prioridades del pueblo brasileño,encauzadas por el vigor del regimen democrático: laestabilización de la economía, la retomada delcrecimiento con más justicia social y la creación deempleos. Y eso se consigue con un mejor acceso a

Brasil - Bolívia

Palestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na Chancelariaboliviana, La Paz, 23 de fevereiro de 1996

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los mercados internacionales, a los flujos deinversiones productivas y a las tecnologiasindispensables al desarrollo económico.

Se trata, pues, de reforzar relaciones connuestros socios tradicionales, empezando por elMERCOSUR y Sudamérica, los Estados Unidos, laUnión Europea y el Japón, y de ampliarlas haciaaquéllas áeras en el mundo donde han surgido nuevasoportunidades de interacción, como lo son ÁfricaAustral, con la democratización de Sudáfrica y elencauzamiento del conflicto angolano y mozambicanopor la vía política y democratica, el Medio Oriente,con el proceso de paz entre Israel, la OLP y losvecinos árabes, la Europa del Este y obviamente laregión que hoy se conoce como Asia-Pacifico, quejuntamente con la India y Ia República Popular deChina, ha tenido los más fuertes y persistentes índicesde crecimiento económico y desarrollo tecnológico.

Esas áreas prioritarias la diplomacia brasileñalas está abordando con algunos instrumentos nuevos.

Primero, valiéndose del profundo cambio deimagen y percepción del Brasil entre nuestros sociosy entre los agentes económicos internacionales engeneral.

Hay un nuevo interés por el Brasil de lademocracia consolidada y de la estabilizacióneconómica com crecimiento, reforma estructural yapertura hacia ei exterior. Brasil padecía de gravesdolencias que virtualmente lo asilaban incluso dentrodel contexto latinoamericano.

Fuimos, en tin pasado no muy distante y enparte gracias a la forma superficial con que se hacenlos análisis políticos y económicos — fuimos, decía,el “hombre enfermo” de América Latina. en unaalusión al Imperio Otomano en vísperas de la PrimeraGuerra Mundial. Mientras nuestros vecinos hacían elajuste y se proyectaban como promesas deeconomías emergentes, nosostros nos debatíamos enlas complejidades de la consolidación de lademocracia, la purgación de males políticosheredados del pasado autoritario y las dificultadesen alterar estructuras y prácticas económicas propias

de um modelo de desarrollo que sí había funcionadoen el pasado, pero ya se había hecho obsoleto.

Cuando Brasil pudo finalmente abocar-se ala tarea de la estabilización monetaria y de lasreformas, pasando por la negociación exitosa de sudeuda externa, esa disposición — luego hecharealidad – alteró profundamente la señal con la queparticipábamos en el juego de las relacionesinternacionales. Esa nueva proyección externa deBrasil es hoy día un elemento primordial en laconducción de nuestra política externa.

Otro elemento instrumento del que nosestamos utilizando como nunca antes en nuestrahistoria diplomatica es la diplomacia presidencial, osea, el envolucramiento diecto, personal, delPresidente de la República en la conducción deiniciativas diplomáticas, espcialmente a través deviajes.

El Presidente Fernando Henrique fuecanciller, tiene una familiaridad incomún con losasuntos exteriores y un gusto inmenso en hacer politicaexterna personalmente. Además, es un hombre queya tenía una proyección internacional previa, graciasa su larga carrera de sociólogo, cientista política yprofesor. Por todo ello, tiene una disposición y unperfil muy apropiados al ejercicio de una diplomaciade promoción activa de los intereses y de la imagende Brasil junto a nuestros principales sociosinternacionales.

Si uno analiza la agenda de viajesinternacionales del Presidente Fernando Henrique,se dará cuenta de que ella responde intensamente alas prioridades que nos hemos establecido.Sudamérica, con el Mercosur al centro, EstadosUnidos, Portugal, Alemana, Bélgica y la UniónEuropea, China, Malasia, India, México yproximamente el Japón y Francia son viajesconcebidos con sentido de equilibrio y de objetivo.Bolivia está contemplada en ese calendario deprioridades que va cubriendo toda Sudamérica.

Esos viajes obedecen a la idea de relanzaralgunas relaciones e inaugurar otras, siempre en las

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regiones que responden más inmediatamente a losimperativos de la política externa. Y esos imperativosson los de reforzar la inserción externa de Brasil,ampliar el conocimiento internacional sobre lo queocurre en Brasil y en Brasil sobre lo que ocurre enotros países, atraer inversiones y mejorar el accesoa mercados y tecnologias, todo ello con miras asostener y consolidar los éxitos que estamosobteniendo en lo interno. De paso, estamosreforzando nuestro diálogo político com todas lasregiones del mundo, ajustando nuestras iniciativasdiplomáticas a nuestra condición de actor global.

Un tercer elemento es el mismo Mercosur,cuya consolidación, a la vez que es objetivo prioritariode la diplomacia brasileña, nos dio una dimensiónadicional en nuestra propia personalidadinternacional. Yo llegaría a atribuir una partesubstancial del interés que Brasil hoy despierta en elmundo a la opción de la integración regional en elámbito del Mercosur, que ha ampliadoexponencialinente el comercio entre sus miembros yse ha vuelto uno de los elementos más atractivos delas economías de sus Estados-miembros.

Es con esos elementos adicionales deproyección externa que nos lanzamos a la ejecuciónde una agenda de política externa diseñado paraampliar aún más nuestra inserción global, nuestrapresencia en los foros y mecanismos de decisióninternacional y nuestra participación en los flujosglobales de comercio, inversiones y tecnologías.

Segunda parte: Las relaciones intra-latinoamericanas

En la presentación general de la políticaexterna brasileña, he señalado que el Mercosur y todaSudamérica adquieren el sentido de prioridadmáxima. Quisiera hora poner en perspectiva lo quesignifica esa prioridad.

Las relaciones intra-latinoamericanas vienenadquiriendo un carácter especial en el contexto delas políticas exteriores de nuestros países. Cuandose habla de globalización como la característica central

del sistesistemaa económico internacional, hay unatendencia a mirar hacia los grandes polos del podereconómico mundial — Norteamérica, la UniónEuropea y el Pacífico asiático, con Japón al centro— y a privilegiar los aspectos más propiamentemultilaterales de las relaciones económicas,especialmente a la luz del fortalecimiento delmultilateralismo comercial y de la nueva OrganizaciónMundial de Comercio.

Ese abordaje, sin embargo, no debeofuscarnos en la búsqueda perenne del fortalecimientode nuestros propios instrumentos de participación enla dinámica de las relaciones económicasinternacionales.

Lo regional y lo internacional, lo regional ylo extra-regional no son instancias excluyentes o queimpliquen una subordinación estéril. Son ámbitoscomplementarios de actuación, que hay que explotarcom intensidad, con voluntad politica y sentido práctico.

De hecho, entre los instrumentos a nuestradisposición para mejorar nuestra inserción externa yhacerla operativa en el campo interno — generandoempleo y riqueza e actuando en el sentido de latransformación de nuestras sociedades —, variostienen una dimensión especificamente latinoamericanay por ello inciden directamente sobre las relacionesentre vecinos como Brasil y Bolivia. Esos elementosexplican en gran medida el por qué de una iniciativacomo el Mercosur y el por qué del deseo de irloampliando com pragmatismo y con un profundosentido de realismo político y económico.

Un primer elemento que compartimos es lademocracia — sinónimo, en el contexto de laglobalización y de la competencia por inversionesproductivas, de estabilidad política, y por lo tantouna condición básica en el mundo contemporáneo.La gran mayoria de los países latinoamencanos hanhecho de la democracia un tema que los aproximaen la identidad y en la acción, un tema que los hacemirar hacia el futuro de la región y de sí mismos. Lademocracia es una realidad que se ha consolidadoen prácticamente toda la región, com algunos países

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que ya van en la tercera o cuarta elección presidencialplenamente democrática, sin solución de continuidady pese a dificultades que se han sobrellevadogallardamente en la mayoría de ellos.

Internamente, la democracia es la garantia deque los conflictos y los intereses sectoriales encuentrensu cauce normal, de que se generen consensosindispensables a la modernización y aperturacompetitiva de las economías continentales y de quese busquen los medios de fortalecer la acción delEstado en aquellas áreas en que tiene responsabilidadprimordial — la defensa y la seguridad de losciudadanos, la protección del consumidor y, sobretodo, mejoramiento de los indicadores sociales(educación, salud, sanidad, habitación, serviciosbásicos, infraestructura). La democracia, por lo tanto,fortalece a nuestros países y los hace más aptos aljuego internacional y regional.

Un segundo elemento es la integracióneconómica, una respuesta regional al fenómeno de laglobalización y que se viene dando en dos nivelescomplementarios.

El primer nivel es el de la integración regionalen base a identidades y vínculos subregionales, comoel MERCOSUL, que ya alcanza una etapa de uniónarancelaria con gran flexibilidad, y el Pacto Andino.Son mecanismos que amplian la dimensióninternacional de nuestros países, al ampliar el ámbitomás inmediato de sus economías y al agregardimensión a sus mercados.

El segundo nivel es el de la integración físicafronteriza, que se acentúa en las zonas en las que esintensa la presencia humana a uno y otro lados de lafrontera. Brasil, por ejemplo, tiene extensas zonasde contacto con sus vecinos en la región de la cuencadel Plata y en áreas amazónicas, especialmente conBolivia. En uno y otro casos, es la existencia concretade intercambio entre los mercados y de interesespalpables de las poblaciones fronterizas lo queimpulsa ese doble proceso. La integración no creacorrientes de comercio o interconexión física a partirde la nada, sino que actúa sobre una base importante,

preexistente, para ampliarla y dinamizarla.Un tercer elemento es el nivel del comercio

intrarregional latinoamericano, que vieneexperimentando un crecimiento significativo en losúltimos años merced de las políticas de aperturaeconómica en la región y de la retomada delcrecimiento que se siguió al ajuste estructural en variospaíses del Continente.

El cuarto elemento es el grado de proximidadpolítica entre nuestros países. Con el Grupo de Rio,la Conferencia Iberoamericana, el Tratado deCooperación Amazónica, el Tratado de la Cuencadel Plata y los esquemas subregionales de integración,hemos creado una intensa familiaridad entre nuestrosPresidentes y nuestras Cancillerías y foros políticosy económico-comerciales insustituibles en su tareade coordinación e iniciativa. La Hidrovía Paragnay-Paraná es un ejemplo concreto de iniciativa de enormepoder multiplicador para las economías de todos lospaíses de la Cuenca del Plata y marca la fundación deuna etapa nueva en la geopolítica de la región.

Gracias a esos foros, Latinoamérica yparticularmente Sudamérica tienen hoy unapersonalidad política internacional mucho máscompleta y universalmente proyectada que hacealgunos años, cuando nos debatíamos, casi siempreaisladamente, en diversos matices de crisis económicae inestabilidad política.

Esa familiaridad, esa coordinación, esaintensidad de conexiones políticas entre nuestrospaíses es lo que nos permite movilizarnosrápidamente, a veces en grupos más reducidos depaíses más directamente involucrados o interesadosen determinado asunto — para enfrentar situacionesde crisis coyuntural, como la que amenazó nuestraseconomias a principios de 1995 en función de lavolatilidad de los capitales “golondrinas”.

El resultado de la combinación de esoselementos son las relaciones cada vez más estrechasque los países latinoamericanos mantienen entre sí,fortaleciendo la democracia a nivel continental yproyectando hacia el exterior una imagen de cohesión,

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estabilidad y confiabilidad de toda la región y unaconciencia creciente sobre la importancia de lasolidariedad entre nuestrso países, porque lo queafecte negativamente a uno de nosostros terminarápor afectar adversamente, en mayor o menor grado,a todos los demás. De ahí surgió también la base dela respuesta que podemos dar a los desafios,oportunidades y riesgos de la globalización. Esarespuesta es una sóla: tenemos que ampliar la escalade nuestras economías para que puedan desarrollaral mismo tiempo su competitividad y su capacidadde atraer inversiones productivas que generanriqueza, empleos y tecnologías.

Tenemos buenos “assets” a los que estamosagregando el impulso deliberado de la integraciónfísica y económica en la región. La democracia eshoy dia garantia de estabilidad política, una monedade alto valor en el mundo de la globalización. Tenemostradicidn como recibidores de inversiones foráneasy tradición en la economía de mercado, pese alelevado grado de intervención estatal que noscaracterizaba en el pasado.

Tenemos una clase empresarialacostumbrada a la exposición externa y con unacreatividad desarrollada en la adversidad.

Consolidar la democracia, la estabailidadmonetaria, la apertura y la libertad económicas y lasreformas estructurales es por lo tanto el reto paraampliar la base sobre la que se fundan nuestrasrespuestas a la globalización.

Y esas respuestas no se limitan a la integraciónregional, sino que abarcan en un grado hoy muchomás intenso también lo bilateral. Porque lo bilateral ylo regional no se pueden excluir. Se trata, en verdad,de instancias complementarias.

Bajo esa luz, quisiera concluir revisandorápidamente el marco general de las relacionesbrasileñobolivianas.

Tercera parte - Las relaciones Brasil-BoliviaEl ejemplo de las relaciones brasileño-

bolivianas es ilustrativo. Son relaciones se fortalecen

hoy con el acrécimo de una nueva dimensión, ladimensión de las negociaciones cuatro-más-uno entreel Mercosur y Bolivia. Es un proceso que sigue sucurso normal y que apunta hacia la ampliación de losespacios de integración en Sudamérica. El impactode ese proceso en las relaciones bilaterales brasileño-bolivianas y en las relaciones intra-sudamericanas seráenorme. Agragamos más un área de convergenciaen nuestra región, más un espacio de cooperaciónque utlimadamente fortalecerá también la dimensiónbilateral.

Brasil y Bolivia son paises con muchassimilitudes, que van más allá de las identidades básicasque unen, en lo cultural, lo étnico y lo histórico a lospaíses de Latinoamérica. Brasil y Bolivia son paísescon una multiplicidad de vertientes geograficas ogeopolíticas, que nos hacen unas especies de puentesentre subregiones del Continente. Brasil es un paísatlántico, amazónico y platino, de dimensionescontinentales y miembro del Mercosur. Bolivia es unpaís de porte considerable y a la vez andino,amazónico y platino – y miembro del Pacto Andino.Somos también miembros activos del Tratado deCooperación Amazónica y del tratado de la Cuencadel Plata, dos importantes foros regionales decooperación que han ganado trascendencia graciasa la dinámica económica que moviliza todaSudamérica y le agregan una importante dimensionpolítica a la integración.

Con una considerable complementaridadentre sus economias, Brasil y Bolivia empiezan aexplotar formulas capaces de permitir unaprovechamiento óptimo de esa doble circunstanciaque nos asocia: una relativa proximidad fisica y unademanda recíproca considerable por bienesindustriales, alimentos y materias-primas necesariosa nuestro desarrollo.

La Amazonia, antaño barrera intrasponible,hoy es, junto al Pantanal, un área a través de la cuallos dos países se unen. Allí tenemos un patrimonioambiental y de biodiversidad incomensurable, quedebe incentivamos a la cooperación para su

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protección y aprovechamiento en bases sustentables.La próxima Cumbre Hemisférica sobre DessarrolloSustentable ya es um factor de coordinación, consultay concertación entre Brasil y Bolivia. Quieroaprovechar esta oportunidad para reiterar elcompromiso brasileño en cooperar con la Cancilleríaboliviana para asegurar que la Conferencia sea unéxito tanto en términos sustantivos como en susaspectos organizacionales.

Estados de la Amazonia Occidental brasileñamiran hacia Bolivia como una oportunidad en variossectores: como mercado consumidor, como mercadoproveedor, como interconexión con el mundo a travésde los Andes y hacia el Océano Pacífico, socio envariadas formas de cooperación y hasta deinversiones. Y, claro, a través de la interconexión físicay energetica, con el gás, Bolivia y el Brasil del Suresteindustrial se integran, con importante impacto sobrenuestras economias como un todo.

Hemos sido capaces de aislar y encapsularen su dimensión correcta los problemas que a vecesocurren en el área fronteriza merced de la mismaactividad humana que se desarrolla en esas zonas,una actividad muchas veces pionera y aventurera.

La estabilidad politica en ambos países, laretomada del crecimiento, la forma como elContinente há sido capaz de resistir las presionesgeneradas por los problemas en el sistema financieroen princípios del año pasado, la facilidad y franquezacon que nos entendemos y la conciencia crecientede que lo regional es un eslabon indispensable hacialo universal les dan a las relaciones entre países delporte y las características sociales y económicas deBrasil y Bolivia una complejidad que nos acerca aún

más, un sentido único de oportunidad que hay queexplotar en todas sus vertientes y posibilidades.

Estamos intensificando los contactosgubernamentales y en esa labor estamos, por nuestraparte, involucrando los Estados de Brasil que hacenfrontera con Bolivia. Pero esa es una tarea que debetrascender la acción de los Gobiernos para alcanzarla participación de las sociedades y los agenteseconómicos de nuestros países. Afinal, Brasil y Boliviatienen relaciones suficientemente maduras como paraque puedan afectar, muy positivamente si queremos,la vida cotidiana de nuestros pueblos, la operaciondiaria y las perspectivas de negocios de muchos denuestros agentes económicos.

Hace mucho que las relaciones Brasil-Boliviadejaron atrás la retórica de las intenciones parainscribirse en la esfera de las realizaciones y en elmundo más promisor de las oportunidades.

Por todo ello, la amistad brasileño-bolivianava más allá de lo bilateral para inscribir-se en el marcode una verdadera cooperación latinoamericana en unmomento histórico en que nuestro Continente buscaun nuevo patamar de inserción internacional.

Muchas gracias.Luiz Felipe Lampreia, 54, Ministro de

Relaciones Exteriores de la República Federativa deBrasil, es diplomático de carrera. Fue Subsecretariode Asuntos Políticos Bilaterales de la Cancilleria,Embajador de Brasil en Surinam y Portugal,Representante Permanente en Ginebra y Secretario-General de Itamaraty en la gestión del entoncesCanciller Fernando Henrique Cardoso.

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Quero agradecer ao meu querido amigoAntônio Araníbar as afetuosas palavras com que mefaz a entrega desta Grã Cruz da Ordem do Condordos Andes.

Peço-lhe que transmita ao PresidenteGonzalo Sánchez de Lozada o meu mais profundoreconhecimento por tão elevada honraria, que confereum sentido especial ao meu regresso a La Paz.

Guardarei esta prova da amizade e do apreçobolivianos não só como recordação afetuosa deminha visita oficial à Bolívia como Ministro dasRelações Exteriores do Brasil, mas também comomais uma afirmação da antiga e fraterna amizade quenos une.

Se me permite uma nota pessoal e umalembrança, há mais de duas décadas, eu já havia sidoagraciado por seu Governo, no grau de Oficial, navisita do saudoso Chanceler Azeredo da Silveira aeste país. A promoção, ao mais alto grau, na Ordemdo Condor dos Andes tem, para mim, o sentido deculminar uma série de etapas importantes da minhavida profissional. Comecei minha carreira diplomáticacuidando de assuntos da nossa pauta bilateral e hoje,no mais alto posto do Itamaraty, a Bolívia ocupa parteda minha atenção e novamente me distingue com oseu reconhecimento.

É também uma alegria receber estacondecoração das mãos do meu querido colegaAntônio Araníbar, um grande amigo do Brasil. ComoChanceler, ele tem realizado uma obra que vai além

das fronteiras bolivianas para se projetar em toda aAmérica Latina. Graças a ele, a voz da Bolívia chegaa todos os foros regionais e internacionais com brilho,franqueza e serenidade. Sua competência eprofissionalismo merecem as nossas sincerashomenagens.

Esta é também uma oportunidade parareafirmar a importância que atribuímos a nossarelação. Já o fiz há pouco, na conferência que tive ahonra de fazer aqui na Chancelaria e na qual procureicolocar as relações Brasil-Bolívia dentro do marcoconceitual em que ganha sentido, atualidade eperspectiva na política externa brasileira em geral ena América do Sul em particular.

Quero reafirmar o que disse ali — que oreforço de relações bilaterais do porte, da densidadee do potencial das nossas é complemento necessárioe insubstituível nos esforços que fazem os nossospaíses por uma melhor inserção internacional a partirdo fortalecimento dos seus laços no âmbito sub-regional.

O regionalismo ditado pela integraçãoeconômica e pela concertação política não exclui emabsoluto - - ao contrário, pressupõe — o bilateralismoatuante, criativo e bem direcionado que o Brasil e aBolívia vêm procurando praticar, concentrando-seem alguns projetos-chave, mas não descuidando osinúmeros temas próprios da agenda de dois paísesvizinhos que compartilham uma imensa fronteiracomum e muitas identidades.

Brasil - BolíviaDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião daCerimônia de Condecoração com a Ordem do Condor dosAndes, La Paz, 23 de fevereiro de 1996

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Esta visita do Chanceler do Brasil decorrede grande convergência que aproxima ainda maisdois países vizinhos solidamente assentados nosistema democrático e representativo e guiados pelaliberdade econômica. Membros ativos de distintosesquemas de integração regional, nossos paísesdispõem de todo o instrumental necessário paraaperfeiçoar a sua parceria em benefício individual erecíproco em um momento de grandestransformações internas no Brasil e na Bolívia e deprofundas alterações no cenário regional einternacional.

É desnecessário detalhar o arco das amplas,profundas e densas relações Brasil-Bolívia. Nossacooperação vai além do campo comercial, financeiro,cultural, imigratório e de cooperação técnica. Ela seprojeta no plano do entendimento humano, dasre1ações entre as pessoas e os agentes econômicos,muitas vezes ao longo da fronteira onde em váriospontos chegamos a criar uma virtual civilizaçãofronteiriça, reflexo da capacidade dos dois povos demanter contatos na sua vida quotidiana, nos negóciose no trabalho.

A essa rotina intensa das relações se somam,como lembrei, alguns grandes projetos comuns deimpacto positivo direto sobre as nossas economias esobre a nossa relação política.

O primeiro deles, o dos corredoresinteroceânicos, é um desafio a nossa imaginação e anossa capacidade criadora. Por intermédio doscorredores, integraremos horizontalmente nossocontinente, tomando realidade o sonho secular deinterligar, por terra, os dois oceanos. Assim, a Bolívia— país platino, amazônico e andino — poderáusufruir plenamente de sua condição de país decontatos, de irradiação, de trânsito e de interligação,otimizando, assim, de forma plena, suas vantagenscomparativas. O Brasil e o Mercosul inteiro disporá,em direção à dinânica região da Ásia-Pacífico, devias mais curtas e diretas para o seu comérciointernacional.

Outro grande projeto — a aproximação da

Bolívia com o Mercosul — avança a passos seguros,com sentido de realismo e pragmatismo. A conclusão,em Montevidéu, em dezembro do ano passado, doAcordo de Complementação Econômica Bolívia-Mercosul queimou etapas que permitem antever aconclusão, nas datas previstas, de um acordo para oestabelecimento de uma zona de livre comércio entrea Bolívia e os quatro países-membros da uniãoaduaneira. O Brasil recebe esta iniciativa bolivianacom o mesmo agrado com que acolherá os passoscomplementares que a Bolívia vier a dar paraaproximar-se do Mercosul.

Na integração fisica e econômica em que seempenham o Brasil e a Bolívia em várias frentes, oda integração energética, em torno do gás natural,desponta seguramente como o mais promissor e demaior impacto, quer em termos econômicos, querpolíticos.

Estamos falando de um projeto binacional,que só encontra paralelo no passado recente sevoltarmos aos anos 70, quando foram levadas a caboas negociações entre o Brasil e o Paraguai queculminaram com Itaipu, uma das maiores hidrelétricasdo mundo e hoje uma sólida empresa geradora deenergia para os dois países-sócios. Estamos, pois,em vias de recriar um dos momentos mais marcantesde nossa história subregional.

O volume de recursos previstos na construçãodo gasoduto de mil e setecentos quilômetros deextensão, a transferência de tecnologia nela implícita,as perspectivas de implementação de nova matrizenergética brasileira, os pagamentos à Bolívia empelas importações de gás natural — tudo nos faz crerestarmos diante de uma inigualável oportunidade deimprimir às relações Brasil-Bolívia uma feiçãocompatível com o potencial de cooperação entre osdois países e com as exigências dos novos tempos.

Por isso, estamos imprimindo às negociaçõesem torno do projeto do gasoduto um ritmo acelerado,porém cauteloso, de forma a se poder atendersatisfatoriamente todos os interesses envolvidos nesteempreendimento. O lançamento próximo dos editais

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para o início da obra nos permite antecipar o êxitode mais uma iniciativa em nossa já densa rede decooperação.

No plano da cooperação técnica bilateral,acabamos de aprovar o novo programa para 1996-1997, concentrado em cinco áreas prioritárias —saúde, mineração, meio ambiente, agropecuária eapoio a pequenas e médias empresas. São áreas degrande significado econômico e visibilidade social.Estamos também firmando um ajuste complementarao acordo básico de cooperação técnica no campodos estudos geológicos nas áreas limítrofes. São fatospróprios de uma agenda densa e importante.

Muitos outros temas figuram ainda nessaagenda bilateral, mas quero apenas realçar a Cúpulade Desenvolvimento Sustentável de Santa Cruz deLa Sierra, em dezembro, um dos eventos de alto nívelque deverá implementar as decisões da Cúpula deMiami e a única reunião prevista em nível de Chefesde Estado e de Governo.

Estamos trabalhando para que a reunião trateem profundidade, e com sentido pragmático, daequação completa que está por trás dodesenvolvimento sustentável, isto é, a idéia de

crescimento econômico e social associada às noçõesde uso sustentável dos recursos naturais e deproteção e preservação do meio ambiente e dopatrimônio natural.

Esta é, portanto, mais uma área em que oBrasil e a Bolívia poderão trabalhar em coordenaçãocada vez mais estreita, com um reflexo positivo paraas nossas relações e a nossa cooperação.

Senhor Chanceler,Quero concluir este extenso inventário da

relação entre dois países intimamente relacionadosagradecendo mais uma vez a hospitalidade com queme recebe o Governo boliviano e esta condecoraçãoque tanto fala da amizade entre os dois povos.

Estamos dando mais alguns passos graças aesta iniciativa boliviana de receber com tanta distinçãoo Chanceler brasileiro. Nós estamos prontos acontinuar esta caminhada que começou há muitasdécadas e que, para proveito recíproco, vem-seintensificando em ritmo e entusiasmo maisrecentemente.

Muito obrigado.

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75Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Em nome do povo e do Governo brasileiros,quero dizer o quanto me alegra poder recebê-lo emBrasília novamente.

Vossa Excelência honrou-nos com suapresença na cerimônia de minha posse, gesto queinterpretei como uma demonstração de grande apreçopelo Brasil. Ao retribuir esse gesto, no momento emque Vossa Excelência foi reeleito pelo povo peruano,quis também expressar a importância que atribuímosàs relações com o Peru.

Os encontros dos Presidentes do Brasil e doPeru têm sido uma oportunidade para renovarmos efortalecermos uma amizade.

Uma amizade que traduz uma longa históriade paz e entendimento entre dois países unidos pelavizinhança, pelo desafio do progresso e pela vocaçãode liberdade de seus povos.

Nossas relações passaram por umatransformação qualitativa nos últimos anos, comoresposta não apenas aos acontecimentos políticos eeconômicos em cada um de nossos países, mastambém aos processos de integração na região e àspróprias exigências da globalização.

Temos hoje condições de promover relaçõesmais produtivas de intercâmbio, cooperação econcertação.

Somos países amazônicos que conhecem ovalor do seu patrimônio natural e as amplaspossibilidades de cooperação que o desenvolvimentosustentável dessa região proporciona.

O Tratado de Cooperação Amazônica, que

se encontra em fase de revitalização, é um valiosoinstrumento diplomático para a ação que queremoscompartilhar com nossos vizinhos amazônicos.

Nossa situação geográfica ensejaoportunidades reais de integração física queassegurem tanto o acesso dos produtos brasileirosaos portos peruanos do Pacífico, como o deprodutos peruanos aos portos brasileiros do Atlântico.

Temos economias dinâmicas e emcrescimento, mais abertas e estáveis. E a essa basesólida se agregam a estabilidade política e ocompromisso com o desenvolvimento social, doiselementos fundamentais para que os países emdesenvolvimento possam explorar as oportunidadese enfrentar os desafios do mundo da globalização.

Por tudo isso, o Peru é um parceiro próximoe necessário para a diplomacia brasileira, que tem naAmérica do Sul a sua primeira prioridade.

Senhor Presidente,O Brasil e o Peru aproximam-se, hoje, não

mais apenas pela vizinhança geográfica.Nossa união ganhou vigor pelo compromisso

com reformas estruturais e com uma nova estratégiade desenvolvimento, que nos permita lidar com ummundo em rápida transformação.

Sabemos hoje que o desenvolvimentoeconômico, a participação eficaz na economiainternacional, só serão possíveis com a modernizaçãodo Estado, a liberalização econômica e a integraçãoao mercado das massas antes dele excluídas pela

Brasil - Peru

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do almoço oferecido ao Presidente doPeru, Alberto Fujimori, Brasília, 26 de fevereiro de 1996.

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combinação perversa de inflação com recessão.Porque nenhum programa econômico terá

êxito se não contar com a participação da sociedadeem todos os seus níveis.

É a legitimidade democrática que dá força esustentação às políticas econômicas.

Este é o sentido das reformas que estamosimplementando no Brasil. Entendemos

que esse também é o sentido das reformasque Vossa Excelência vem levando a cabo em seupaís.

Os progressos no plano interno de nossospaíses certamente terão efeito positivo sobre asnossas relações. A participação nos fluxos globaisde comércio, investimentos e tecnologias dependecada vez mais de nossa capacidade de viabilizarparcerias externas — regionais e extra-regionais —que possam trazer elementos indispensáveis ao nossodesenvolvimento econômico.

Por isso, além do fortalecimento dos vínculosbilaterais entre os países da região, é de sumaimportância que avance o processo de integraçãoeconômica em curso na América do Sul. Ela écondição necessária para que tenha êxito o ambiciosoprojeto de integração hemisférica.

Com o MERCOSUL, o Brasil já deu passosdecisivos no processo de integração. Ponto centralde nossa política externa, o MERCOSUL já é nossointerlocutor para

outros países e regiões e está identificandonovos parceiros entre os vizinhos sulamericanos,entreos quais o Peru assume importância particular.

Senhor Presidente,Para que esse grande movimento de

regionalização possa efetivamente colocar a Américado Sul no mapa das grandes decisões internacionais,é preciso mais do que o apego aos ideais dedemocracia e liberdade econômica: é fundamental

que logremos construir e preservar um clima de paze segurança, baseado na confiança mútua.

Paz e liberdade são elementos indissociáveisda democracia: ambas são garantia da estabilidade epressuposto do desenvolvimento.

Há poucos dias comemoramos o primeiroaniversário da Declaração de Paz do Itamaraty, querestabeleceu a amizade entre Peru e Equador.

Desde então, o Brasil e os outros três paísesgarantes do Protocolo do Rio de Janeiro têm-seempenhado em favorecer o encaminhamento de umasolução pacífica e duradoura para as pendências entreos dois países. Temos justo motivo para orgulhar-nos de nossos esforços.

Mas foi a vontade política das partes embusca de reconciliação que trouxe os avanços maispromissores.

Não há alternativa ao diálogo, à convivênciapacífica, à democracia, se queremos que nossa regiãoprospere como um todo.

Senhor Presidente,O Peru se projeta hoje como uma das grandes

promessas do desenvolvimento na América Latina.Nós queremos renovar a nossa parceria com

o Peru, nós queremos elevá-la a um patamar maiscompatível com o tamanho das nossas economias, aextensão das nossas fronteiras comuns e a nossasituação estratégica na América do Sul.

Esta visita é a garantia de que estamoscomeçando uma nova era nas relações entre o Brasile o Peru.

E é para festejar este reencontro que queroconvidar todos os presentes a se juntarem a mim nobrinde que faço à crescente prosperidade do povoperuano, à amizade exemplar que une brasileiros eperuanos e à felicidade e ventura pessoal doPresidente Alberto Fujimori.

Muito obrigado.

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77Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

É um prazer para mim, Senhor Secretário-Geral, tê-lo como convidado para jantar em minhacasa. O Brasil orgulha-se em receber um estadistade renome, dedicado a promoção da paz e dodesenvolvimento universais.

Em todas as partes, as pessoas passaram areconhecer no Secretário-Geral das Nações Unidasuma das principais personalidades políticas mundiais.As Nações Unidas sempre foram associadas às idéiasde paz duradoura, de que a razão deve prevalecersob a força, de que o respeito pelos direitos humanosseja observado internacionalmente para que oshorrores de antigos desastres causados pelo homemnão sejam repetidos. No mundo inteiro, a ONU étambém ligada à promoção de melhores padrões devida para toda a humanidade. As pessoas aprenderama respeitá-la e a confiar nela.

Como membro fundador das Nações Unidas,o Brasil está comprometido com a defesa e apromoção dos princípios e propósitos da carta daONU. Nós queremos fazê-lo de todas as formas,através das palavras e através da ação.

Esse compromisso é um dos pilares de nossapolítica externa e reflete valores muito caros aosbrasileiros.

Senhor Secretário-Geral,As Nações Unidas completaram cinqüenta

anos. Este é um momento simbólico, um momento

para reavaliar seu papel em um mundo que mudouprofundamente. Durante as comemorações em NovaYork, em setembro último, nós saudamos, com justarazão, as conquistas das Nações Unidas ao longodos últimos cinqüenta anos. Mas nossa organizaçãodeve ser reformada para que ela possa enfrentar comêxito os desafios das novas realidades internacionaisdo período pós-Guerra Fria. O fim do conflitoideológico traz a perspectiva de fazer da ONU umverdadeiro mecanismo de defesa coletiva, desde quea ela sejam assegurados os meios e o necessárioapoio político para atuar em nome da comunidadedas nações.

Nós não podemos - nós não devemos -permitir que as Nações Unidas fiquem paralisadasjustamente quando sua contribuição é maisnecessária. Nós precisamos estar preparados paramostrar o empenho político de mudar aquilo queprecisa ser mudado, deixando de lado consideraçõesegoístas num debate que envolve muito mais do queuma mera competição por prestígio individual.

A política de poder não pode se tornar umfator dominante no debate sobre a reforma do sistemadas Nações Unidas. Afinal, as Nações Unidas foramcriadas como um instrumento de paz e entendimentouniversais, como um meio de solucionar conflitosatravés da negociação e do diálogo - justamentecomo uma alternativa à política de poder.

Nós devemos ter como objetivo maior um

SG - ONU

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido ao Secretário-Geraldas Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali, Brasília, 29 defevereiro de 1996.

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pacote de reformas coerente e equilibrado. Esta é aúnica maneira de assegurar, a longo prazo, umadistribuição adequada de deveres eresponsabilidades entre os Estados-membros. Osobjetivos da reforma devem guiar-se pelanecessidade de dar à ONU os meios de promover asolução de controvérsias com flexibilidade elegitimidade, de lidar com os desafios dodesenvolvimento criando novas idéias capazes dealiviar a pobreza, de redefinir mecanismos para acooperação entre os Estados.

Em outras palavras, é um imperativo forneceràs Nações Unidas os recursos adequados paradesempenhar seu mandato. A forma mais fácil defazer isso seria que os Estados-membros cumprissemcom suas obrigações financeiras para com aOrganização de maneira razoavelmente pontual.

Senhor Secretário-Geral,0 Brasil tem o firme compromisso de lutar

por uma ONU mais forte e dinâmica. É por isso queestou pessoalmente empenhado em garantir quenossas contribuições financeiras sejam pagas integrale pontualmente. Este não é um pequeno sacrifíciopara um país com tantas necessidades prementescomo o Brasil. Acredito que esta é uma das melhoresformas de mostrar um verdadeiro compromisso comas Nações Unidas nesses tempos difíceis.

O Brasil está demonstrando seu compromisso

com a Carta também em outras áreas, particularmenteatravés da participação em operações de paz comoa UNAVEM-III.

Senhor Secretário-Geral,Nós sabemos bem que a função de

funcionário público internacional número um requer,como Vossa Excelência mesmo já disse várias vezes,um equilíbrio delicado entre realismo eresponsabilidade. Encontrar este equilíbrio é umatarefa difícil, mas Vossa Excelência tem demonstradorepetidamente a sensibilidade política para fazê-lo.

Durante seu mandato, a ONU promoveu umasérie de conferências sobre temas globais. Estasconferências apontaram novos horizontes para osproblemas que afetam a humanidade como um todo.Elas constituem uma parte significativa do êxito dasNações Unidas no inicio da década de noventa.

O Brasil reconhece sua competência à frentedas Nações Unidas. Esteja certo, Senhor Secretário-Geral, do apoio de meu país a seus esforços pararevitalizar nossa Organização.

Com este espírito que quero fazer um brindeaos ideais que criaram as Nações Unidas cinqüentaanos atrás e aos homens e mulheres, como VossaExcelência, Senhor Secretário-Geral, que temajudado a manter viva a chama da esperança paraos povos do mundo.

Muito obrigado.

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79Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Exmo Sr. Hiroshi Saito,Exmo Sr. Minoru Murofushi,Exmo Sr. Chihiro Tsukada,Exmo Sr. Carlos Eduardo Moreira Ferreira,Exm Sr. Osvaldo Moreira Douat,Ilustres representantes da Keidanren e da

CNI,Senhoras e Senhores,É com grande satisfação que participo da

Sexta Reunião Conjunta do Comitê de CooperaçãoEconômica Brasil-Japão. Este evento representaimportante passo para a dinamização do diálogoempresarial entre os dois países.

Em 1995, celebrou-se o Centenário dasrelações diplomáticas entre Brasil e Japão.

Este marco na História comum de nossospovos suscita naturalmente reflexões sobre o passadoque compartilhamos. Por outro lado, convida a umaconsideração do futuro que desejamos construir. Odiálogo nipo-brasileiro pode e deve ser enriquecidoe elevado a um patamar superior de prioridade: esteé o sentido central da visita que o Presidente FernandoHenrique Cardoso fará brevemente.

No campo econômico-comercial, esseadensamento de relações deverá realizar-se nocontexto da globalização dos mercados, dosprocessos de produção e dos sistemas de

informação. Dentre os fatores deste cenário, julgoessenciais: a abertura comercial, a integraçãoeconômica, a intensificação dos investimentosinternacionais e a promoção de empreendimentosempresariais conjuntos.

Antes de tecer meus comentários sobre essesfatores à luz da experiência brasileira recente, devoressaltar que Governos e empresas são parceiros naconformação dos espaços econômicos nacionais aofenômeno da globalização. Ao meio empresarial cabe,entre outras, a tarefa de impulsionar, com dinamismoe criatividade, os empreendimentos. Os Governos,por sua vez, devem estabelecer políticas específicaspara a consolidação de processos sólidos esustentáveis de desenvolvimento. A política deabertura comercial implantada pelo Brasil tempermitido ao país alcançar uma crescente inserçãointernacional, baseada em modelo econômico queprioriza a competitividade empresarial, a formaçãode recursos humanos, a geração de empregos e amodernização tecnológico-industrial.

A liberalização comercial da economiabrasileira foi inicialmente conduzida mediantereformas tarifárias expressivas, as quais, em seuconjunto, resultaram na redução da alíquota médiaincidente sobre as importações de 32,2%, vigenteem 1990, para 14%, em julho de l993, e 12%, em

Comitê de CooperaçãoEconômica Brasil-Japão

Discurso do Secretário-Geral, Embaixador Sebastião doRego Barros, na VI Reunião Conjunta do Comitê deCooperação Econômica Brasil-Japão, São Paulo, 29fevereiro de 1996

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80 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

janeiro de l995.Semelhante redução tarifária foi acompanhada

de significativas medidas dirigidas aodesmantelamento de virtualmente todas as barreirasnão-tarifárias e à plena implementação doscompromissos assumidos em matéria de serviços(GATS) e no Acordo sobre os direitos depropriedade intelectual (TRIPS), concluídos naRodada Uruguai. Hoje, tem o Brasil participadoativamente das conversações, no âmbito daOrganização Mundial do Comércio, para oacompanhamento contínuo e prospectivo daliberalização do comércio internacional.

No contexto interno, em complementaçãoàs políticas monetária e fiscal, a abertura comercialtem gerado benefícios para a estabilizaçãomacroeconômica, ao submeter a economia àconcorrência externa, ao permitir o consumosustentado em setores com crescente demanda e aodiversificar a qualidade da oferta de bens e serviços.

Com o intuito de estabelecer ampla integraçãoeconômica na América do Sul, o Brasil tem-seempenhado em iniciativas relevantes, em parceriacom os países desse subcontinente.

Essa região exibe, hoje, um dos exemplosmais bem sucedidos de integração econômica: oMercado Comum do Sul. Formado por Brasil,Argentina, Paraguai e Uruguai, o Mercosul representaum mercado consumidor de 200 milhões dehabitantes e soma um Produto Interno Bruto (PIB)de mais de US$ 700 bilhões. Constitui, portanto, umdos mais importantes agrupamentos econômicos domundo e espaço dotado de evidentes atrativos paraa realização de investimentos.

O Mercosul - que em 1º de janeiro de 1995tornou-se a primeira União Aduaneira do HemisférioSul - tem-se mostrado, desde a sua criação,instrumento de expansão das quatro economias queo integram. O intercâmbio comercial intra-Mercosulelevou-se de US$ 4,1 bilhões, em 1990, para cercade US$ 12,0 bilhões, em 1994. No mesmo período,as importações do bloco, provenientes do resto do

mundo, elevaram-se de US$ 25,0 bilhões para US$50,1 bilhões. Esses dados comprovam que aformação do Mercosul, como iniciativa de integraçãoaberta, foi muito exitosa na intensificação do comérciotanto intrazona como extra-zona.

No plano regional, o Brasil também temorientado esforços para a conclusão de acordos delivre-comércio entre o Mercosul e outros membrosda ALADI, mediante o esquema chamado “4 + 1”.Negociações nesse sentido foram iniciadas com aBolívia e estão em estágio avançado com o Chile.Essas iniciativas tendem a definir padrão de ampliaçãoda integração em conformidade com o princípio de“building blocks”.

O projeto de uma “Área de Livre Comérciodas Américas”, a ser negociada até o ano 2005,também se adequa ao referido princípio. Conformeentendimento dos 34 países participantes da Cúpuladas Américas, realizada em Miami, em dezembro de1994, a integração hemisférica deverá ser construídapor etapas, em consonância com os avanços deconvergência obtidos nos esquemas regionais e sub-regionais de integração já existentes nas Américas,tais como o Mercosul e o NAFTA.

Em decorrência da personalidade jurídica dedireito internacional do Mercosul, foi assinado, emdezembro de 1995, Acordo-Quadro Inter-regionalde Cooperação com a União Européia. Primeiro nomundo firmado entre uniões aduaneiras, esse acordoilustra, mais uma vez, a característica fundamental doMercosul como instrumento de integração econômicaaberta. Reflete, por conseguinte, o interesse doMercosul em ampliar seu relacionamento com outrasáreas do globo, não só com as Américas e a Europa,mas também com a Ásia e o Pacífico, no futuropróximo.

Nesse quadro, em que convivem, de modoharmônico e complementar, os processos deglobalização e regionalização, o Brasil tem o firmepropósito de manter o pluralismo tradicional de seurelacionamento econômico, tanto por intermédio decompromissos bilaterais, como mediante

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entendimentos logrados a partir de uma ação doMercosul. Neste momento em que a aberturacomercial colocou o Brasil em linha com osfenômenos de globalização e integração, é renovadaa vocação multilateral do Brasil.

Num mundo em acelerada transformação -marcado pela globalização e a definição de novospadrões de vantagens comparativas internacionais-,o Governo brasileiro tem procurado estabelecerpolíticas, modernizar práticas e rever legislações comvistas a assegurar regime e ambiente econômicospropícios ao investimento e ao investidor estrangeiro,cuja contribuição para a dinamização das economiasnacionais é amplamente reconhecida.

É necessário realçar, ainda, as reformasconstitucionais e legais em curso no CongressoNacional em matéria de capitais estrangeiros, comênfase para os avanços já alcançados quanto aoamplo tratamento nacional conferido a empresasinstaladas no Brasil, bem como para as medidas queincentivam as instituições financeiras estrangeiras aparticiparem progressivamente do mercado nacional.

O Brasil atribui, pois, elevada prioridade àparceria com investidores e empresas estrangeiras,em diferentes setores da economia nacional,

prioridade que se tem traduzido na ampliação daspossibilidades de participação do capital externo eminvestimentos diretos, privatizações, concessões e nosmercados financeiros e de capitais. Devo lembrar,por exemplo, que, no setor de telecomunicações vemsendo implementado vultoso programa deinvestimentos.

Senhoras e Senhores,As exigências da globalização estimulam

iniciativas conjuntas, tanto privadas comogovernamentais. A evolução da política brasileira emmatéria comercial, de integração econômica, deinvestimentos e de parceria empresarial favorece odesenvolvimento das relações com o Japão. Esse,processo, por fim, será desdobrado sobre a base defortes laços políticos, culturais e históricos, marcadosno passado pela imigração nipônica que hoje écomplementada pela presença de nikkeis brasileirosem terras japonesas. O momento, por isto, ofereceamplas condições para o estabelecimento de umanova e mais profunda etapa de nosso diálogo. Estaé, repito, a mensagem que o Presidente FernandoHenrique estará levando em sua próxima visita.

Muito obrigado.

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Em nome do Governo e do povo brasileiros,quero saudar os participantes deste II CongressoInternacional de Parlamentares de Origem Libanesa,que o Brasil tem o privilégio de sediar.

Tenho a certeza de que as conversações aquimantidas e as amizades feitas ou reforçadas vãocontribuir muito para fortalecer o sentido decomunidade que une os cidadãos de origem libanesaem todo o mundo, para aprimorar a sua solidariedadeao Líbano e para o reforçar o seu apoio à causa dapaz no Oriente Médio.

Quero cumprimentar cada uma dasdelegações que vieram enriquecer e prestigiar esteverdadeiro encontro de democracias de várias partesdo mundo, e entre elas a delegação parlamentar daprópria Assembléia Nacional libanesa, chefiada peloseu Presidente, o Deputado Nabih Berry. Na suapessoa e na do Deputado Luis Eduardo Magalhães,Presidente da Câmara dos Deputados e também umilustre descendente de libaneses, quero homenageartodos os participantes deste Congresso.

Peço-lhes que levem aos países e povos aquirepresentados, e à comunidade libanesa em todo omundo, a mensagem de amizade e afeto do povobrasileiro e do seu Presidente.

Senhores Parlamentares,O Líbano é hoje a imagem de uma grande

esperança, um projeto de reencontro com o seudestino de grande pólo irradiador de civilização, de

encruzilhada de caminhos, de ponto de contato entreregiões e culturas. Engajado em sua própriareconstrução com um ritmo e uma vitalidade que nãochegam a surpreender, pelas qualidades do seu povo,o Líbano volta a ocupar um lugar importante entre asparcerias que ressurgem no Oriente Médio.

Todos nós estamos comemorando esserenascimento.

O Brasil tem motivos para isso. Nós temostido há muito tempo a felicidade de receber em nossopaís imigrantes que saíram do Líbano e que vieramformar aqui a maior comunidade de origem libanesado mundo.

Uma comunidade que, desde o seunascimento, tem prestado contribuição insubstituívelao desenvolvimento econômico e ao progressoespiritual do Brasil, criando riqueza, levando ocomércio e a indústria aos mais longínquos rincõesdo nosso imenso território, integrando-seperfeitamente a uma sociedade que se engrandececom a sua variedade étnica e cultural.

Prova maior dessa facilidade de integraçãoda comunidade libanesa no Brasil é o expressivonúmero de parlamentares e demais homens públicosbrasileiros que têm no Líbano uma segunda pátriadistante. Nosso Congresso Nacional conta com maisde 40 parlamentares de origem libanesa, entredeputados e senadores. Quatro Estados sãogovernados por membros da comunidade. Váriasgrandes cidades também.

Parlamento de Origem Libanesa

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido aos participantesdo II Congresso Internacional de Parlamentares de OrigemLibanesa, Brasília, 8 de março de 1996.

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São números que falam por si mesmos. Efalam de uma integração plena, de uma comunidadeque participa plenamente da vida nacional,defendendo não os seus interesses próprios, mas osinteresses das regiões, Estados e comunidades querepresentam.

Senhores Parlamentares,Nós olhamos para a paz e a reconstrução no

Líbano com o entusiasmo de uma sociedade, abrasileira, em cujo seio sempre souberam viver, emharmonia perfeita, comunidades as mais variadas.Particularmente, nós nos beneficiamos muito, aqui,da convivência amistosa e plenamente cidadã dascomunidades árabe e judaica, todas elas marcadaspela mesma saga da imigração.

Nós valorizamos a paz porque nós aconhecemos aqui, no convívio interno e nas nossasrelações externas. Temos o patrimônio de mais decento e vinte e cinco anos de paz ininterrupta comnossos dez vizinhos, uma longa experiência deintegração racial e cultural como país de imigrantes ede base étnica indígena, européia e africana, e umasólida democracia, que permite a participação plenada sociedade, o exercício da cidadania e a conduçãonegociada dos conflitos e demandas.

Esse patrimônio, de que tanto nos orgulhamos,é o que nos permite falar da paz como uma realidadeinsubstituível, que se conquista com determinação ese protege com coragem.

É esse patrimônio que nos tem permitidodécadas de crescimento e hoje uma real possibilidadede dar um grande salto qualitativo no nossodesenvolvimento econômico e social.

E é esse patrimônio que nos permite fazeruma exortação, nos termos mais veementes, pela pazno Oriente Médio.

Para que os povos dessa região, que foi o berçodas mais importantes civilizações da História, possamdedicar-se, com todo o seu valor e o seu potencial, aodesenvolvimento econômico e à justiça social.

Para que se ponha fim ao sofrimento humano

e ao desperdício de recursos que poderiam serutilizados na melhoria da qualidade de vida e nacriação de melhores oportunidades para os maishumildes.

Para que as nações e povos daquela áreacheia de promessas adiadas possam viver em paz,dentro de fronteiras seguras e internacionalmentereconhecidas, e dedicados à cooperação, aocomércio e à crescente integração das suaseconomias, para grande benefício geral.

O Líbano é uma prova de que é possível criarum consenso mínimo em torno da paz e a partir deleir ampliando as áreas de convergência entre as forçassociais e entre os Estados. É preciso que os espíritosse disponham a desarmar-se, a enxergar a realidadecom os olhos postos no futuro e não com osressentimentos e as rivalidades do passado, com arazão e não apenas com a emoção.

O Líbano de hoje se tornou possível tambémgraças aos apelos e à insistência da comunidadelibanesa em todo o mundo em favor da paz e daconcórdia e contra os atos de força, as imposições,as políticas de poder e de terror.

Apelos da mesma natureza em favor da pazem todo o Oriente Médio devem ser feitos por todaa comunidade internacional.

Senhores Parlamentares,Um processo de paz está em curso no Oriente

Médio. Ele é complexo, delicado e movido pelavontade política majoritária dos povos e daslideranças envolvidos, que compreenderam aimportância de pôr fim a um conflito que já seprolonga muito além do que é humanamentesuportável. Que compreenderam que só a paz podedar as condições para que todos os povos da regiãoencontrem o seu destino e se beneficiem, como faz agrande maioria do mundo, das oportunidades que seabriram com o fim da Guerra Fria e a consolidaçãode uma economia globalizada, que produz um grandenúmero de economias emergentes.

Por isso, é nosso dever, como homens

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públicos, como cidadãos de países que desfrutamda paz e como representantes de povos que guardamlaços de amizade fraterna com todos os povos doOriente Médio, exortar as lideranças árabes eisraelenses a perseverar na busca da paz,incentivando-as com a nossa amizade e o nossointeresse.

É nosso dever encorajar os povos da regiãoa apoiar as suas lideranças nas complexasnegociações que estão em curso e que devem resultarnão em ganhos oportunistas de uma ou outra parte,mas no benefício geral de uma paz com segurança ecom garantias de estabilidade.

E é nosso dever apelar à razão daqueles queacreditam que, com a violência e o terror, com aoposição sistemática e principista ao processo de paz,serão capazes de conseguir algum benefício ou quenão acabarão por ser tragados pela espiral deviolência que estão alimentando ou incentivando.

Nossa indiferença agora poderiacomprometer não apenas o processo de paz em quedepositamos tantas justificadas esperanças, mas ospróprios princípios e valores sobre os quais estamoslutando por fazer basear-se o sistema internacional,liberado finalmente das confrontações estéreis e maisapto a promover a cooperação e o intercâmbio entreos povos de todo o mundo.

O Brasil espera que o processo de paz noOriente Médio proporcione uma paz justa,abrangente e duradoura para todos os povos daregião.

Espera também que essa almejada soluçãopacífica leve em consideração o direito do povo

libanês à soberania e independência, conformeprevisto nas resoluções internacionais, em especial a425 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

E espera, assim, que o Líbano, livre deinterferências externas, possa consolidar seu processode reconciliação nacional e voltar a desempenhar umpapel de destaque no cenário político internacional.

Senhoras e Senhores,O Brasil quer ter uma parceria com todos e

cada um dos povos do Oriente Médio — com oLíbano, em especial, ao qual estamos tão intimamenteligados e com o qual estamos rapidamentereconstruindo a sólida amizade que sempre nos uniu.

Nós apostamos na paz como condiçãoprimeira dessa parceria que buscamos com interessee que responde tão bem aos anseios de cada umadas comunidades que aqui representam esses paísese povos.

E nós apostamos na contribuição que podetrazer para esse processo a irmandade que une agrande família libanesa em todo o mundo, hojepresente nesta sala por intermédio de um númeroexpressivo de representantes democraticamenteeleitos em vários países amigos.

E é com esse espírito que eu quero brindar àprosperidade do Líbano, à paz na sua região, àamizade que se renova com todo vigor entre o Líbanoe o Brasil, à felicidade de todos os membros dagrande comunidade libanesa e dos seusrepresentantes aqui reunidos.

Muito obrigado.

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Senhoras e Senhores,Foi com satisfação que aceitei o convite para

este café da manhã, porque estes encontros sãosempre uma oportunidade para que eu possa mostraràqueles que têm interesse pelo Brasil o quantoestamos avançando no processo combinado deconsolidação da estabilidade econômica e defortalecimento das instituições democráticas.

Confesso que o interesse que a Costa Oestee suas particularidades despertam no Brasil tambémme motivaram a participar deste encontro.

Acompanhamos com atenção o papel devanguarda das corporações locais na pesquisa emanufatura de tecnologias de informação.

Estamos cientes do dinamismo da CostaOeste em biotecnologia e na área espacial.

Temos presente a vitalidade da economiaregional em serviços financeiros e em construção civil.

Pude testemunhar em minha experiênciacomo Professor Visitante em Berkeley e em Stanforda qualidade dos centros de estudos e pesquisas aquiinstalados.

Assim, estou atento aos fatores que projetama Costa Oeste como um dos pólos mais dinâmicosde geração de bens e tecnologias do mundoindustrializado.

Mais do que isso, estou convencido de que,com vontade política e discernimento empresarial, épossível construir uma parceria mutuamente vantajosaentre economias emergentes com as características

da brasileira e núcleos dinâmicos como esta regiãodo mundo, não por acaso conhecida como “A Portado Pacífico”.

Sei que a maioria dos presentes teminformações aprofundadas sobre as grandesconquistas que estamos obtendo no Brasil, masmesmo assim julgo importante destacar alguns dosresultados excepcionais do programa de estabilizaçãoeconômica conduzido no Brasil, além de indicar osrumos firmes que devemos seguir no futuro próximo.

A primeira e sem dúvida a mais importanteconquista do Plano Real foi a redução da taxa deinflação, que foi reduzida de um patamar superior a40% ao mês, para um índice mensal, em janeiroúltimo, de 1.82%. Trabalhamos com a previsão deuma taxa de 20% para o corrente ano, um índiceque ainda pode parecer alto para observadoresexternos, mas que, para os brasileiros, que viviamangustiados com os riscos da hiperinflação, representaum grande avanço.

O que os dados comprovam é que o fim dochamado imposto inflacionário transferiu cerca de 7,5bilhões de dólares anuais para as classes maisdesfavorecidas, que antes não tinham acesso aosinstrumentos de indexação.

A economia está a caminho da completadesindexação e os mecanismos de política monetáriae fiscal têm-se mostrado eficazes. Elevaram-se osníveis de poupança doméstica e as reservasinternacionais alcançaram a faixa sem precedentes

Brasil-EUA

Discurso do Presidente da República no encontro comrepresentantes da comunidade empresarial da Costa Oestedos Estados Unidos da América, São Francisco, 10 de marçode 1996.

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de 51,3 bilhões de dólares em dezembro passado,tendo ascendido ainda mais desde então. Issoequivale a mais de 12 meses de nossas importações.

O Governo dispõe, portanto, de recursospara eventuais correções pontuais de rumo, comoas que se fizeram necessárias por ocasião da crisemexicana. Não há pressões inflacionárias reprimidas,como aquelas que comprometeram planos anteriorese tampouco ameaça de desabastecimento.

As condições de sustentabilidade do Plano alongo prazo estão sendo asseguradas.

Tem sido buscado com consistência oequilíbrio das contas públicas. Ganha impulso ocombate à evasão fiscal.

Existe um virtual consenso no Governo, noCongresso e nos segmentos interessados dasociedade civil quanto à importância de uma reformado sistema tributário para a consolidação definitivado Plano.

A reforma tributária deve compreender duasdimensões. Em primeiro lugar, a simplificação dosimpostos e redução da carga tributária,acompanhadas da ampliação do universo doscontribuintes. Em segundo lugar, uma repartição maisadequada de receitas e responsabilidade nos trêsníveis da federação.

Ouço ocasionalmente críticas ao ritmo dasreformas constitucionais, que estaria aquém dodesejável. Essas críticas parecem-me decorrer, namaior parte dos casos, de uma compreensãoimprópria daquilo que representa o processodemocrático.

Como ocorre nos Estados Unidos, as leis noBrasil são feitas com o concurso dos PoderesExecutivo e Legislativo. E ambos os Poderes buscam,também no Brasil, refletir em sua atuação asdemandas, por vezes contraditórias entre si, dasdiversas instâncias da sociedade civil.

Mas já obtivemos resultados muitoimportantes no processo de reforma da Constituiçãobrasileira. As emendas até aqui aprovadas permitirama flexibilização do monopólio do Estado em petróleo

e telecomunicações, o fim da reserva de mercadoem gás canalizado e navegação de cabotagem e aretirada das restrições ao capital externo.

Estamos neste momento dedicados aoacompanhamento da reforma da previdência sociale, em algumas semanas, ao da reforma tributária.

É um processo custoso, de idas e vindas, deresultados nem sempre conclusivos, mas defundamental importância para acomodar os diferentesinteresses em jogo.

Não há outro caminho para assegurar acredibilidade e eficácia das reformas.

Um outro elemento central no esforço deequilíbirio fiscal e de redução da dívida pública é oprocesso de privatização. Sabemos que é necessárioconter a drenagem de recursos públicos para financiardéficits das empresas estatais. As parcerias com osetor privado tornaram-se decisivas para ofinanciamento de um novo modelo dedesenvolvimento.

Na redefinição do papel do Estado queestamos levando adiante, caberá ao setor privadouma presença significativa, sobretudo nosinvestimentos em infra-estrutura. Os recursosorçamentários, por definição escassos, devem serdestinados prioritariamente ao atendimento dasdemandas sociais, que, num país injusto como oBrasil, são, como todos sabem, imensas.

Com a privatização, estamos tambémcontribuindo para elevar a produtividade ecompetitividade de setores importantes da economia,cuja ineficiência se escondia atrás de formas variadasde protecionismo.

As privatizações estão sendo aceleradas.Após as experiências bem sucedidas nas áreassiderúrgica, de fertilizantes e petroquímica, estamosconsolidando a privatização do setor elétrico einiciando a transferência para o capital privado daconcessão para uso das ferrovias e alguns bancosoficiais.

Foram adotados os passos preliminares parao processo de privatização da Companhia Vale do

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Rio Doce, a maior exportadora de minério de ferroem todo o mundo.

Um recente e importante desdobramento doprocesso de privatização foi a aprovação peloCongresso, no ano passado, da lei de concessõesde serviços públicos ao setor privado. O país passaagora a dispor de um instrumento eficaz paramodernizar e expandir os setores de infra-estrutura.

A melhoria das condições de infra-estruturaconcorrerá para a redução dos custos de produção,do que chamamos de “custo Brasil”. Acreditamosestar, desta forma, contribuindo para elevar o padrãode competitividade do parque industrial brasileiro,que já se situa como o mais desenvolvido e integradodaqueles das economias em desenvolvimento.

É imperioso identificar um traço que ajuda asingularizar o Brasil como economia emergente, alémdas variáveis econômicas a que aludi há algunsinstantes. Esse traço é a conjugação de um mercadode dimensões continentais com um regimedemocrático pleno.

O Brasil representa um mercado de cerca de160 milhões de pessoas, cujo poder aquisitivo,sobretudo nos segmentos mais humildes dapopulação, tem-se expandido nos últimos dois anos.O PIB é hoje superior a mais de meio trilhão dedólares, com uma taxa média de crescimento nosúltimos três anos superior a 5% ao ano, consolidandoa posição do país como a maior economia doHemisfério Sul.

Senhoras e Senhores,No processo decisório sobre os

investimentos futuros de suas empresas, um elementofundamental é o de que a economia do Brasil nãomudará de rumo.

Temos hoje a compreensão clara de que aestabilidade de regras, a previsibilidade das medidasa serem adotadas, a sinalização inequívoca deprioridades são dados essenciais para a atividadeprodutiva, para a expansão dos investimentos.

Está superado o quadro de incertezas que

prevalecia há poucos anos no Brasil em razão dealterações bruscas na direção da política econômica.

O Brasil vai crescer agora de formasustentada porque quer e pode crescer.

Para isso, estamos reforçando nossapresença externa, reavaliando parcerias com váriospaíses e grupos de países, em razão do perfildiversificado de nosso comércio exterior.

Nossa projeção externa começa pelaconsolidação do Mercado Comum do Sul, oMERCOSUL, que forma, junto com a Ásia, as duasregiões de maior crescimento econômico mundial naatualidade.

O MERCOSUL, que tem como princípiobásico o regionalismo aberto, sem excluir o reforçodos laços com parceiros comerciais de outras regiões,tornou-se uma espécie de “marca de sucesso”, umfoco de grande interesse da comunidade internacionalpelo êxito que tem demonstrado na intensificação docomércio entre seus quatro membros.

É importante que saibam também que oMERCOSUL está em negociações adiantadas como Chile e a Bolívia para a conclusão de acordos delivre comércio. Tratativas similares já foram tambéminiciadas com outros países da América do Sul,vizinhos do Brasil.

O impulso na direção do livre comércioalcança, na verdade, todo o continente americano,dentro da perspectiva de constituição, a partir dosesquemas de integração subregional existentes(NAFTA, MERCOSUL, PACTO ANDINO, entreoutros), de uma Área de Livre Comércio dasAméricas até 2005.

É importante recordar, ainda, que oMERCOSUL celebrou em dezembro último umAcordo-Quadro com a União Européia parapromover a cooperação econômica e o comércioentre ambas as regiões.

Em minha recente visita de Estado ao México,houve uma manifestação de interesse por parte doPresidente Zedillo de também iniciar um processode aproximação daquele país com o MERCOSUL.

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90 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

A economia brasileira tem crescido com aexpansão do comércio intra-regional, mas isto nãoocorreu em detrimento dos vínculos do País com orestante do mundo. Ao contrário, ampliaram-se nosúltimos anos especialmente o nosso comércio com aÁsia e o volume das nossas importações dos EstadosUnidos, que passou a ter uma balança comercialamplamente superavitária com relação ao Brasil,invertendo uma tendência que se havia estabelecidonos últimos anos em favor de nosso País.

Como os fatos e os dados demonstram, oBrasil retornou à trilha do crescimento sustentado.Mais importante: agora, os avanços na estabilizaçãoeconômica e na consolidação política permitem oencaminhamento dos problemas estruturais do Paíse a superação do grave quadro de desequilíbriossociais que entrava nosso desenvolvimento.

Os brasileiros recuperaram sua auto-confiança e a promessa sempre adiada de um futuro

melhor tornou-se uma possibilidade concreta.O meu Governo está cumprindo e continuará

a cumprir o papel de redefinir o papel do Estado, dedar prioridade aos investimentos na área social, deassegurar a abertura da economia aos fluxos decapitais e tecnologias e, sobretudo, de garantir aestabilidade das regras e a previsibilidade doshorizontes que devem reger a economia.

O Brasil virou um página definitiva de suahistória e encontrará um lugar de destaque naseconomias do século XXI.

É esta a mensagem de confiança que tragoaos representantes da comunidade empresarial daCosta Oeste dos Estados Unidos, os quais, estouseguro, não perderão as excepcionais oportunidadesde investimento e de bons negócios que o Brasil lhesoferece.

Muito obrigado.

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91Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

I - Introdução. O legado de Nabuco.Tem especial significado para mim voltar à

Universidade de Stanford, onde já estive várias vezes,como conferencista e professor visitante. Reconheçona platéia velhos amigos, com quem semprecompartilhei idéias e mantive estimulante convíviointelectual.

Retorno hoje com grande alegria para proferira Robert Wesson Lecture e anunciar a criação, nestaUniversidade, da Cátedra Joaquim Nabuco deEstudos Brasileiros. Trata-se da primeira cátedra deestudos brasileiros numa universidade norte-americana, uma iniciativa possível graças à generosadoação do Grupo Safra, uma empresa privadabrasileira, e à colaboração do “Center for LatinAmerican Studies” e do “Institute of InternationalStudies” desta Universidade.

O patrono desta cátedra, Joaquim Nabuco,foi um grande intérprete de seu tempo. Na luta pelaabolição da escravatura no Brasil; no trabalho querealizou como político e diplomata; nas reflexõeslúcidas, originais e atuais que nos legou; Nabucofirmou sua condição de Estadista, para quem ocompromisso com valores e a justiça sempre orientoua ação pública.

Seus escritos continuam a ser instrumentoindispensável para melhor compreender a própriagênese do Brasil contemporâneo. Nabuco nos mostraque o pacto do intelectual com a verdade devetambém valer na interação do político com arealidade. Para mim, seu exemplo permanece como

uma baliza fundamental: nunca dissociar os problemasde sua análise, a reflexão cuidadosa do desejo desolucioná-los.

Foi um dos grandes nomes da Políticanacional. Usando a definição que ele mesmoempregou, foi Político com “P” maiúsculo, isto é,preocupado com os grandes movimentos da História,com os dramas humanos e da civilização, com ointeresse comum. Tinha uma compreensãosociológica da política, dos efeitos e conseqüênciassociais do ato político.

No caso da abolição, percebeu que a simpleslibertação dos escravos não era suficiente.

Dizia que “a escravidão permanecerá pormuito tempo como a característica nacional do Brasil”,pois havia fincado raízes profundas em nossasestruturas. Dizia, sobre o movimento abolicionista,que “era um partido composto de elementosheterogêneos, capazes de destruir um estado sociallevantado sobre o privilégio e a injustiça, mas não deprojetar sobre outras bases o futuro edifício”. Otriunfo da abolição, segundo Nabuco, não foi seguido“de medidas sociais complementares em benefíciodos libertados, nem de um grande impulso interior,de renovação da consciência pública”.

As palavras de Nabuco foram proféticas. Setrouxermos o mesmo modelo de análise para os fatoscontemporâneos, verificaremos que a restauração dademocracia foi um primeiro passo, necessário masinsuficiente, para corrigir os graves desequilíbriossociais do País.

Conferência “A Revitalização da Arte da Política” doPresidente da República, Fernando Henrique Cardoso,pronunciada na Universidade Stanford (“Robert WessonLecture”), 11 de março de 1996

Conferência

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92 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

É inegável que houve avanços. O Brasil tem,atualmente, instituições políticas democráticas. Masa reconstrução do sistema político ainda não secompletou. A verdadeira “renovação da consciênciapública” defendida por Nabuco e, principalmente, orevigoramento do espaço público, onde se poderiaprocessar a discussão racional de interesses, paratomar de empréstimo as reflexões de Habermas,começam apenas a se esboçar. Temos, assim, umadupla tarefa: uma de natureza intrinsecamente políticae outra, paralela e interrelacionada com a primeira,de natureza mais sociológica, que tem a ver com amodernização da sociedade.

Modificar a estrutura do Estado, em sentidolato, modificar as formas de relação entre a sociedadee o Estado, transformar o padrão de distribuição derenda e ter uma visão clara de que o objetivofundamental é o de aumentar a eqüidade no País sãoos grandes desafios que temos de enfrentar. Isso nãose faz do dia para a noite; é um longo processo. Masisto não pode servir de desculpa para que deixemosde adotar agora as medidas que são possíveis enecessárias.

É sobre a importância da política para venceresses desafios que pretendo falar nesta Conferênciaque intitulei “A Revitalização da Arte da Política”.

II - A Democracia Representativa e seusparadoxos contemporâneos.

Em todos os países em que vigora, ademocracia representativa apresenta necessidade derenovar-se, pois se defronta com problemas taiscomo o desinteresse crescente da população pelapolítica, os elevados níveis de absenteísmo e , maisgrave, um certo grau de hostilidade dos eleitores emrelação aos políticos profissionais. A idéia de “ircontra” os políticos tem gerado dividendos.

Paradoxalmente, é o próprio êxito dademocracia enquanto idéia e sua legitimidadeenquanto valor de alcance quase universal queparecem estar colocando-a sob o fogo cerrado dacrítica, até mesmo de seus defensores.

O significado dessas críticas merece reflexão.Ocorrem num momento em que, no caso do Brasil,estamos passando por um aceleradíssimo processode transformações que propõem novos dilemas acada dia, e em que a ação do Parlamento está sendodecisiva para a mudança.

A democracia representativa é construçãohistórica relativamente recente, para a qual os“founding fathers” da nação norte-americana deramcontribuição valiosa. A idéia de que indivíduosrecebam um mandato em eleições livres para atuarem representação dos interesses da sociedadedifunde-se no Ocidente a partir do século XVIII.Desde então, as instituições da democracia continuamessencialmente as mesmas, ao passo que, dassociedades comparativamente simples de então àscomplexas democracias de massa dos dias atuais, omundo se transformou radicalmente. O desafio é ode aperfeiçoar a democracia, de fazer seuaggiornamento de modo que o ideal democráticocontinue a prevalecer e as instituições nele inspiradassejam eficazes.

As sociedades deixaram de ser homogêneas.Do ponto de vista da economia, já não se pode dividiresquematicamente o tecido social em duas grandesclasses: a burguesia e o proletariado, equivalentes,grosso modo, ao capital e ao trabalho.Economicamente, os indivíduos podem situar-se numamplo espectro de combinações possíveis na relaçãocapital-trabalho. Por exemplo, o trabalhador tornou-se sócio do capital via fundos de pensão, de modoque “diminui” seu interesse em confrontar o capital,de cujos rendimentos dependerá sua aposentadoria.Por outra parte, o trabalho diferenciou-se e oconhecimento passou a representar parcela cada vezmaior do valor agregado da economia mundial. Quemdetém o conhecimento pode atrair os abundantescapitais hoje disponíveis. A indústria do Sillicon Valley,que nos circunda em Stanford, é um exemplo nítidode que o conhecimento associado ao trabalho passoua ser melhor remunerado, porque se tornou escassoem relação ao capital. Isto contrasta com o início do

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processo de industrialização, contemporâneo dasdemocracias tradicionais, clássicas, quando o trabalhoera abundande e pouco qualificado. Os embates entrea burguesia e o proletariado, centrais nos últimos doisséculos, e cuja essência era a distribuição da renda,diluem-se e começam a perder força mobilizadoraem termos de discussão nos espaços públicos.

A complexidade do tecido social traduz-sena diversidade de metas almejadas pelos atoressociais. A noção de progresso passou a englobarobjetivos variados e a própria idéia de “qualidadede vida” se aperfeiçoa a cada dia. Além disso, essesobjetivos são derivados, muitas vezes, de exigênciasque nascem, hoje, no marco da globalização e sãoprojetados para as sociedades nacionais, sem queestas estejam preparadas para atendê-las. Exemplodisso é a legislação ambiental adotada pelos paísesmais avançados, sem dúvida uma conquistaimportante, mas que dificilmente poderá ser aplicadanos países em desenvolvimento sem mecanismos decooperação internacional mais eficientes e generosos.

Do ponto de vista político, a atenuação dasdicotomias clássicas capital-trabalho, burguesia-proletariado e, em termos ideológicos, direita-esquerda, levou ao que Alain Touraine aponta comoo “desaparecimento das categorias sociais, dos atoressociais em si”.

Os indivíduos ou grupos já não se definempor seu papel nas relações sociais de produção, masantes por suas identidades regionais (o caso do Brasilé típico), raciais, culturais ou religiosas. E o exercíciodos direitos civis assegura a proliferação de “novasidentidades”.

Ainda segundo Touraine, “em vez de nosdefinirmos pelo que fazemos, passamos a nos definirpelo que somos”. E não apenas pelo que somos, mastambém pelo que “queremos”, e estes desejos sãomuito diversos. Ampliaram-se assim os objetivos dapolítica: oferece espaço para a adesão de grupo decidadãos a causas mobilizadoras, como a luta pelosDireitos Humanos e pela preservação do meioambiente.

Vivemos, em suma, a fragmentação dosindivíduos em grupos ou “guetos”. Isso tem levado auma simplificação, à crença de que são apenas omercado ou a cultura de massas que reúnem oscidadãos numa identidade nacional. Esmaecem-se osvalores que cimentam as sociedades nacionais ebalizam as relações entre suas camadas. No mundointeiro, o fascínio pelo novo, pelo retrato da realidademostrado pela TV, desvia a atenção dos verdadeiroselementos que compõem a identidade nacional: umahistória comum, uma herança cultural, uma trajetóriacoletiva — com seus êxitos e dificuldades — e umsentido de futuro.

É cada vez mais difícil harmonizar, dentro doespaço público, a atuação dos agentes sociais e asidentidades culturais. Esta é a essência dasdificuldades que enfrentam os instrumentos clássicosda representação, porque muitas demandas, emboralegítimas, são parciais e não refletem o conjunto devalores vinculados a uma identidadeeconômicacultural.

A pólis fragmentou-se; a mediação política,na qual está assente a idéia mesma de democraciarepresentativa, já não cumpre, senão imperfeitamente,sua função de transformar interesses individuais emcoletivos. A intermediação política fica cada vez maismarginalizada, desacreditada, conforme demonstramas pesquisas de opinião.

Partindo da definição clássica de Weber, énatural que a população julgue os governos segundouma “ética de fins”, de resultados, na medida em quecrescem suas demandas na área econômica, na áreada justiça e segurança, pela proteção do meioambiente, pelos Direitos Humanos. Essas demandasampliadas passam a ser o tecido da política. Atendê-las é uma das fontes de legitimidade do governo. Mascomo conciliá-las com a responsabilidade dosgovernantes, que têm a difícil e complexa tarefa dealocar recursos sempre escassos? Como encontraros meios possíveis para atender a este conjuntoampliado de reivindicações?

O diálogo, a intermediação política tem assim

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como campo prioritário menos a discussão do que énecessário fazer e mais o debate sobre como alocaros escassos recursos de um país na solução dedemandas que, se não são conflitivas, certamenteconcorrem entre si. Precisamos alcançar resultadossim, mas com responsabilidade e equilíbrio. Nesseaspecto, vale relembrar as palavras de Nabuco sobreo atributo principal do político: “adaptar os meiosaos fins e não deixar periclitar o interesse social maiorpor causa de uma doutrina ou de uma aspiração”.

Fruto da fragmentação da pólis e da agendapolítica é o enfraquecimento do papel tradicionalreservado aos partidos políticos. O que lhes davaconsistência era a identificação com um ideário quecorrespondia ao interesse de determinadas classesou categorias.

Faziam uma escolha ideológica que sematerializava num programa de ação. Numa épocaem que a disputa ideológica se esmaece, em que asinteresses tornaram-se menos claros e maisdispersos, os partidos políticos correm o risco dever diminuída sua capacidade mobilizadora. Precisamassim encontrar novas formas de mobilização quetranscendam o particular e tenham em vista osinteresses coletivos reais, que já não se identificamtanto com ideologias.

Não que seja ilegítima a atuação partidáriaem causas que envolvam interesses setoriais, mas seráinsuficiente para a defesa dos valores maiores daNação e do bem-estar coletivo. O risco é o de que asimples veiculação de interesses paroquiais acabe pornão diferenciar os partidos, de que os políticostransitem entre eles livremente, em desrespeito aoideário e à fidelidade que devem à sua agremiação.Há riscos também de que se criem ou se desfaçammaiorias precárias, suprapartidárias, instáveis, queacabam por deixar no mesmo plano indiferenciadopolíticos e partidos, dificultando a escolha do eleitor,cuja reação, no mais das vezes, é a de desvalorizar opapel crucial do político e da política. O públicotenderá a ver os políticos como se todos fizessemparte do mesmo universo, de uma instituição que, no

fundo, estaria voltada exclusivamente para seusinteresses enquanto corporação. Se não foremcapazes de dar capilaridade à formação dosconsensos que promovam as mudanças e de impediro uso do poder exclusivamente por grupos einteresses, os partidos estarão deixando de cumprirsua missão de ser um ator chave no espaço público.

Outra causa dos dilemas das democraciasrepresentativas tem a ver com a própria dimensãodos países. Conforme nos recorda Robert Dahl,quando surge, a democracia representativa regiasociedades menores, em que os interesses erammenos difusos, menos complexos, e poderia haverum contato mais direto entre representante erepresentado.

Numa democracia de massa, o elo entre osdois lados da intermediação política tornou-se maisrarefeito. A outorga do voto passa a ser vista comouma espécie de “cheque em branco”, em parteporque, na maioria dos sistemas representativos, opoder de sanção do eleitor em relação ao seurepresentante é limitado, podendo expressar-se, nomáximo, no protesto traduzido na não-reconduçãodo representante ao cargo. Isto ocorre comfreqüência no Brasil. A cada renovação do Legislativo,parte expressiva dos parlamentares não se reelege,independentemente da qualidade do trabalho que fez.

Essas limitações da democraciarepresentativa abriram espaço para avanços dademocracia participativa. A defesa das identidadesde grupo e a atuação de organizações não-governamentais voltadas para temas específicoslevaram a novas formas de atuação que dificultam aintermediação política. Estes grupos dirigem-sediretamente, sem mediação, ao executivo, aosempresários e a outros segmentos envolvidos noprocesso decisório. O crescimento da democraciaparticipativa é um fato positivo, mas não suficiente.A crescente parceria que se estabelece entre Governoe sociedade civil é um passo à frente no processodemocrático. É preciso, porém, alertar para o fatode que a participação direta não substitui a

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representação. Mais importante: no Estado deDireito, é a democracia representativa que elabora eaperfeiçoa o arcabouço legal que rege as relaçõessociais e econômicas da Nação. A participação diretanão pode desrespeitar as normas vigentes; quandoestas necessitam modificações, será sempre aosParlamentos que se recorrerá. Grandes mudançasnão se fazem sem o concurso do Congresso.

No Brasil, o Estado sempre teve um papeldecisivo no campo das relações capital-trabalho.

O liberalismo econômico no sentido clássiconunca foi um traço de nosso caminho histórico parao desenvolvimento. A industrialização brasileira,desde seus primórdios, teve no Estado seu principalpropulsor, seja através de investimentos diretos, sejaatravés da proteção tarifária para a produçãonacional, seja através dos monopólios e das reservasde mercado. O Estado brasileiro sempre intermedioue moldou o conflito entre capital e trabalho e, aotransformar-se também em “empresário”, o Estadopassou a ter interesses diretos no conflito distributivo.O vício do corporativismo no Brasil tem aí uma desuas causas principais.

O corporativismo incrustou-se nas instituiçõesde todos os poderes da república, nos Estados emunicípios, nas estatais. Criaram-se, por exemplo,regimes especiais de aposentadoria para diversascategorias de funcionários públicos. A legislaçãotrabalhista brasileira, concebida durante a ditaduraVargas dos anos 30 e mantida até os dias de hoje, éde cunho paternalista e criou uma Justiça do Trabalhocom representação classista, reforçando a noção deque o Estado é o árbitro por excelência dos conflitosaté mesmo individuais nas relações capital-trabalho.No momento em que o Estado se vai retirando daeconomia pelo esgotamento do modelodesenvolvimentista baseado na industrializaçãoprotegida e na participação direta do Estado naprodução de bens, torna-se necessário reformularnosso arcabouço legal.

De novo, o problema capital-trabalho nãodesapareceu da agenda. Assumiu, isto sim, novos

contornos e não deixa de exigir mecanismos deconciliação. A discussão deve centrar-se, assim, emcomo dar proteção real, efetiva, no longo prazo, aotrabalhador num modelo que transforme o conflitoem parceria, para evitar os vícios do passado.

Uma outra causa que alimenta as dificuldadesda democracia é o fato de que, muitas vezes, faltasubstância ou qualidade no debate público em tornode questões amplas. Não que falte circulação livrede informação; o que parece estar ausente é um bomnível na informação e cidadãos dispostos a criar eassimilar uma informação mais profunda e de melhorqualidade. O valor do debate público não se medeapenas pela qualidade da classe política, mas tambémpela capacidade dos cidadãos de refletirem sobre ointeresse público, formularem suas reivindicações paraas mudanças e se organizarem para que elas seconcretizem. A cidadania consciente cobra e vigia aatuação dos atores e das instituições políticas nocumprimento das demandas que ela, cidadania,previamente apresentou de forma organizada e clara.

Este problema da qualidade do debatepúblico se agrava nas democracias de massa,sobretudo naquelas que têm maior desigualdadesocial — fenômeno que já não se restringe aos paísesem desenvolvimento — já que nelas existe um grandecontingente de marginalizados do processo político,alguns por não se sentirem estimulados a participar,outros porque , mesmo interessados, não são capazesde construir canais apropriados de comunicação. Épreciso que estes contingentes de não-participantessejam incorporados ao espaço público se quisermosque a democracia seja fortalecida. A imprensa temum importante papel a cumprir a este respeito, eretomarei o tema mais adiante.

Todo este quadro que procurei traçar dasdificuldades por que passa a democracia em todo omundo se vê agravado pelo crescente processo deglobalização e enfraquecimento do Estado nacional.Diminui a margem de autonomia do Estado nacondução da política econômica. E há temas que,por sua própria natureza, transcendem hoje as

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fronteiras nacionais. O Estado defronta-se comlimitações em sua capacidade de atender ao conjuntodas demandas sociais que durante algum tempo foi,em escalas distintas, capaz de atender.

E as demandas sociais crescem peladiferenciação da população, pelo aumento daexpectativa de vida, pelo agravamento dodesemprego trazido pela mudança do padrãotecnológico da produção. A incapacidademomentânea de o Estado responder a um nível maiselevado de reivindicações sociais o faz ser percebidocomo inoperante, ineficaz, e a classe política sofrediretamente o impacto adverso dessa percepçãonegativa do Estado.

Desfazer ilusões e criar um maior sentido derealismo sobre as possibilidades de ação do Estadosão essenciais para recuperar a viabilidade dademocracia e despertar a cidadania para a parte quelhe cabe no encaminhamento de seus problemas. OEstado precisa ter formas de agir em áreasestratégicas para que ele seja percebido comoinstrumento político de qualidade, positivo. Talvez sejaesta uma das preocupações centrais de meu governoe, por isso, a liderança que tenho procurado exercerno processo de reformas.

III - A democracia representativa no BrasilNo Brasil, é importante que se diga, a

democracia representativa teve de superar umobstáculo importante que, nos Estados Unidos,jamais se apresentou: o regime de exceção e oautoritarismo, que interromperam, por duas vezes epor longos períodos, o Estado de Direito. Na décadade 80, no momento de transição democrática,acreditávamos, talvez com certa ingenuidade, que oexercício em si da democracia levariaautomaticamente ao aperfeiçoamento dos seusmecanismos de mediação e das relações entrerepresentante e representado e até mais do que isto:à solução dos problemas sociais. Progredimos naconsolidação do Estado de Direito e na democraciano Brasil nos últimos anos, num percurso marcado

por percalços que foram superados com maturidadee equilíbrio.

Se isto nos dá motivo de orgulho, não deveservir de pretexto para manifestações de auto-indulgência em relação ao funcionamento de nossasinstituições. Há espaço amplo para melhorias eavanços. Não estamos imunes aos paradoxos dademocracia representativa. De certa forma, asociedade brasileira caminhou mais rápido do que oEstado, em termos políticos. A capacidade de auto-organização da sociedade, expressa pelamultiplicação das ONGs, pela repercussão dasdenúncias trazidas pela liberdade de imprensa, pelaforça dos movimentos sociais, passou a conduzir oprocesso político, condicionando a ação do Estado.

No Brasil, os dilemas da democraciarepresentativa se manifestam, por exemplo, numgrande número de partidos políticos com contornosdifusos perante a opinião pública, a qual se guia muitomais pelo nome do candidato do que por sua filiaçãopartidária nas eleições. Partidos fragilizados exigemum trabalho redobrado para alcançar as mudanças,na medida em que o esforço de construção demaiorias é feito de forma mais complexa, emnegociações caso a caso, que são tanto mais difíceisquanto mais específica a atéria a ser aprovada. Háquestões de caráter quase plebiscitário, em que érelativamente fácil alcançar os consensos querespondem a claros anseios populares, como foi ocaso da flexibilização dos monopólios e daeliminação das restrições ao capital estrangeiro. Jánas reformas previdenciária e administrativa, estamosdiante de dilemas que pedem a combinação derenúncia a interesses pessoais de curto prazo com aexpectativa de benefícios coletivos de longo prazo.Na reforma fiscal, a dificuldade na negociaçãoprende-se à repartição da arrecadação pelas regiõesdo País.

As reformas atendem assim a demandas dasociedade, mas só podem prosperar na medida quea cidadania participe de seu desenho. No fundo, oque é imprescindível é quebrar a conhecida distância

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entre o Brasil legal e o Brasil real.Outro elemento que ainda não víamos com

clareza na década de 70 era a emancipaçãoacelerada de determinados atores políticos como asnovas representações sindicais e patronais, quepassaram a agir com total independência em relaçãoàs formas tradicionais e tuteladas pelo Estado.Fenômeno semelhante viria a ocorrer com as ONGse as organizações comunitárias. Estes atoresemanciparam-se num duplo sentido: de um lado,passaram a prescindir cada vez mais da intermediaçãodo sistema partidário na defesa de seus interesses ereivindicações, buscando relacionar-se diretamentecom o Poder Executivo (não obstante haverorganizações com forte presença no Legislativo); poroutro lado, começam a interagir em questõescomplexas, outrora de alguma forma arbitradas peloEstado, nas recentes experiências de negociação emtorno dos contratos de trabalho flexíveis. O risco paraa democracia está em alimentar a visão de que asociedade pode tudo fazer sem a presença do Estado;de que os poderes constituídos são, em últimainstância, desnecessários ou “entravam” o progressoe constituem obstáculo à própria liberdade deentendimento direto entre partes num contrato ouconflito.

É necessário encontrar o equilíbrio ideal entrea participação da sociedade e o papel do Estado nadefinição dos princípios que regem a vida dos países.O predomínio do Estado sobre a sociedade conduzao autoritarismo, à tecnocracia, ao clientelismo e aopaternalismo; as pressões desordenadas da sociedadesobre o Estado podem gerar a percepção de ausênciade rumo. Não há receita pronta para encontrar ojusto equilíbrio, mas sabemos que ele é indispensável.

Como afirmava Joaquim Nabuco, “umgoverno, a menos que desconheça a sua missão, nãopode por amor de um interesse comprometer osoutros interesses da sociedade: é na combinação detodos eles que consiste o grande problema daadministração pública...”

Um último elemento que gostaria de assinalar

sobre os dilemas da democracia representativa noBrasil diz respeito ao desafio do tempo de decisão,numa época caracterizada por grande dinâmica nastransformações. A demora para legislar, por exemplo,é associada, injustamente, a imobilismo e ineficiência,quando na verdade a agenda do Congresso nacionalestá sobrecarregada por temas de grandecomplexidade. O Judiciário também tem tido umasobrecarga de trabalho, que tem gerado lentidão nasdecisões da Justiça, com dimensões ainda mais sérias,na medida em que o atraso da justiça em julgar umapendência equivale a uma denegação da justiça(“justice delayed is justice denied”). Este fato mescla-se com o que é percebido como imobilismo noCongresso para suscitar, na população, umadescrença nas instituições, no Governo como umtodo. O tempo da democracia é normalmente maislento. O problema é tanto convencer a cidadania deque isto é natural e de que o aggiornamento dasinstituições demanda tempo, quanto conseguir quese acelerem o ritmo das deliberações dessasinstituições.

IV - Mídia e democracia: o papel da imprensano fortalecimento do espaço público.

É impossível, nas democracias de massacontemporâneas, querer tratar da melhoria dosistema político sem que se tenha presente aimportância do papel dos meios de comunicação.Manuel Castells afirma, com propriedade, que oespaço político foi “capturado” pelos meios decomunicação, por seus fluxos e imagens. Hoje, apolítica que não aparece nos meios de comunicaçãosimplesmente não existe, o que não quer dizer, deacordo com Castells, que a política seja tributáriados meios de comunicação, mas sim que, sem eles,os fatos não conseguiriam desencadear o processomobilizador na população. A política não pode, emsuma, dispensar os meios de comunicação nos diasde hoje.

Este papel acrescido dos meios decomunicação embute , porém, desafios para a

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democracia. É que eles não substituem o espaçopúblico; são apenas um, por mais importante que seja,dos componentes do espaço público. Sua funçãobásica não deve ser engajada, no sentido deconstituição e construção dos eventos, mas sim,através da difusão e da análise dos fatos, auxiliar acidadania a formar juízo sobre os assuntos em pauta.Nesse sentido, estará prestando um serviço aopúblico.

O risco, nos meios de comunicação demassa, é o de simplificar os fatos, de valorizar a parteem detrimento do todo, a frase em prejuízo do texto,a versão em prejuízo do fato real, a imagem emdetrimento da argumentação e, principalmente, deressaltar no acontecimento aquilo que pode despertar“impacto” e não o processo que engendrou esteacontecimento. Há um perigo em se tratar a notíciade modo fragmentado, em não se ter um cuidadomaior com o ritmo mais complexo do pensamentovoltado para a compreensão abrangente dos eventos.O imediatismo pode fazer com que, muitas vezes,não se dê a necessária ênfase à grande notícia dodia, que ela passe até mesmo despercebida,privilegiando-se a “petite histoire”, a intriga, o boato,o “disse - não disse”.

A agilidade na transmissão da notícia é ogrande trunfo dos meios de comunicação, é suaprópria razão de ser. O que é preciso evitar é que,no exercício legítimo de suas funções, os meios decomunicação difundam na opinião pública uma agendasimplificada e negativa, em parte dissociada dos reaisproblemas da nação.

A democracia não se constrói apenas pelosimpulsos da opinião pública, que podem mudar e sãotransmitidos de forma geralmente simplista. Ademocracia depende de instituições sólidas efortalecidas, que têm seu tempo próprio,necessariamente mais lento do que a velocidade dosfluxos da informação. Para lançar mão de umneologismo, é sábio, é sensato fugir da“plebiscitarização” simplista imposta pela imprensaa temas complexos que precisam encontrar seu

encaminhamento pelas instituições, como resultadodo debate público.

Ao fazer esses comentários, não quero demodo algum subestimar a importância dos meios decomunicação na denúncia dos abusos de poder, dacorrupção onde quer que ela ocorra, do maufuncionamento do Governo em todos os seus níveis.Reconheço o importante papel da imprensa na lutatravada contra autoritarismo na América Latina. Noentanto, sua função deve ir além da mera veiculaçãode denúncias, especialmente no Brasil, país que, afinal,vive a plenitude democrática e um momento deotimismo com a retomada do crescimento sustentado.A imprensa precisa ir além de uma atitude“adversarial”. Seu poder mobilizador pode serdecisivo na superação de problemas e na própriaconstrução do consenso.

V - Conclusão. A revitalização da Arte da Política.A expansão do espaço público. A razão naconstrução do consenso.

Como democrata convicto e homem públicoque teve sua trajetória política construída em grandeparte no debate quotidiano no Congresso Nacional,não posso deixar de fazer uma defesa firme,apaixonada mas também racional, do Parlamentoenquanto locus por excelência da construção dosconsensos necessários aos avanços, de preservaçãodos valores mais caros à nacionalidade, sem os quaisela não se reconhece.

Orgulho-me de ser político. Angustia-metestemunhar a perda de prestígio que a política comoprofissão vem experimentando em todo o mundo.

Não vejo como se possa organizar uma açãoconstrutiva abrangente sem a crescente participaçãoda cidadania, sem um Parlamento atuante, sempartidos políticos, sem meios de comunicação cientesde sua responsabilidade maior para com a cidadania,sem podermos cada vez mais aprimorar asnegociações entre os diversos interesses, de formaque ultrapassem o mero — e condenável — “toma-lá-dá-cá”, sem um pensamento crítico capaz de

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elaborar e propor conceitos novos e, principalmente,sem lideranças políticas capazes de deliberar visandoao interesse comum.

A revitalização da arte da política passa pordiversos caminhos, alguns dos quais quero indicar aseguir, animado pelo espírito de contribuir para odebate de uma questão que não apenas eu, comogovernante, mas também a Nação, considerafundamental.

Tocqueville, em sua obra A Democracia daAmérica, afirma que “O governo ama o que oscidadãos amam e naturalmente odeia o que elesodeiam. Essa comunidade de sentimentos, nas naçõesdemocráticas, une continuamente em um mesmopensamento cada indivíduo e o soberano, eestabelece uma secreta e permanente simpatia.” Estaé a motivação que me leva a sugerir algumas linhaspelas quais deve orientar-se a revitalização da arteda política.

O aperfeiçoamento do sistema políticorepresentativo requer a constante evolução das regrasque a definem. O número de partidos, os requisitospara sua constituição, os instrumentos de exercícioda fidelidade partidária, o sistema eleitoral precisamser pensados à luz das novas exigências trazidas pelademocracia de massa. Nada trará mais benefícios àcredibilidade da classe política do que criarmecanismos que a tornem mais responsável peranteas cobranças do eleitorado. Os políticos precisamter incentivos positivos para cumprir bem o seumandato, e tais incentivos devem nascer naturalmentedo diálogo com o eleitor. A oposição é necessária,deve ser vigorosa, porém responsável e guiadasempre pela busca do interesse público. Uma possívelforma de aumentarmos o nível de “accountability”da classe política, de aproximarmos representantese representados é, por exemplo, um sistema quevincule a base eleitoral aos que a representam, deque há exemplos em diversos países. De qualquermodo, creio que o próprio Parlamento deve ser oresponsável pela implementação das medidas quecontribuam para o seu melhor funcionamento. O

Congresso saberá, melhor do que ninguém, encontraros mecanismos adequados.

É imperativo alargar o espaço público deforma a incluir progressivamente aqueles que hojeestão sem voz na defesa de suas causas. Ao mesmotempo, é necessário que todos estejam preparadospara o sacrifício de seus interesses pessoais embenefício da coletividade. Porque o desenvolvimentogeral acabará, num prazo mais longo do que o simplesimediatismo, por repercutir favoravelmente na vidade cada um. Esta é a essência do republicanismo.

A ampliação do espaço público é fundamentaltambém para que os conflitos de interesses sejamencaminhados de forma transparente, livre e,sobretudo, racional. Volto à idéia de Habermas deque deve prevalecer, na discussão pública, oargumento que esteja embasado nas melhores razões.É preciso argumentar para convencer, negociar paraver uma tese ampliar a base de consenso que alegitimará. A ética pública, que deve alimentar a idéiade virtude na política, é fruto da razão, jamaisexpressão da força.

O êxito do Plano Real, por exemplo, é emgrande parte tributário da credibilidade que ele ganhoupela decisão que tomamos de convencer, negociar,explicar cada passo de sua implementação.

Não bastam apenas o aprimoramento doCongresso e das leis do sistema representativo. Nãobasta a ampliação do espaço público. É precisotambém que a cidadania esteja ainda mais preparadapara o exercício democrático.

A educação tem aqui uma função primordiale as instituições de ensino devem, junto com aimprensa, contribuir para que os cidadãos possambem discernir entre alternativas, compreendê-las,propor novas opções, escolher os candidatos querepresentem suas causas e deles cobrar resultados ecoerência. A cidadania não pode esperar que oEstado atenda a suas prioridades se não apresentá-las de forma clara e se não estiver disposta a dar suacolaboração para que propostas se convertam emrealidade, em prol do interesse da maioria.

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Tomando de empréstimo um legadoimportante do pensamento conservador tradicional,tenho me referido à responsabilidade das elites, estasentendidas como aquela parcela de todas os setoresda população que exerce algum tipo de liderança outem papel de representação pública.

Recorro mais uma vez às idéias de AlainTouraine. Para ele, não se pode esperar umareconstrução social — e eu diria também política —a partir apenas dos atores, porque estes tambémprecisam ser, de certa forma, reconstruídos. Em quesentido? Não que os atores sociais tenham“desaparecido”. Ao contrário, um traço dassociedades modernas é justamente a proliferação demovimentos e organizações sociais. Os temas dodebate público ampliaram-se. É fundamental que seencontrem os pontos de aproximação entre finsextremamente variados — derivados da própriafragmentação das demandas da sociedadecontemporânea — e a capacidade política de lhesdar rumo e sentido.

No caso brasileiro, em função principalmenteda luta contra o autoritarismo, a democracia seenraizou na sociedade antes mesmo do que na política,o que torna necessário repensar o processo dearticulação entre o social e o político. Nesse sentido,a atividade puramente política deve ser revalorizada.Em dois sentidos, pelo menos: como espaço dedebate para que seja capaz de garantir que asdemandas se manifestem democraticamente, semseletividades e sem limites; em seguida, comopromotora de bem público, fazendo convergir

objetivos dispersos na direção do interesse coletivo.A negociação é a arte fundamental da política.

Parte da aceitação genuinamente democrática dasdiferenças, da pluralidade, da tolerância; parte daidéia de que se chega à Razão pelo debate, pelaarticulação de consensos. É pela negociação quepodemos superar dicotomias tradicionais e jádesgastadas pelo tempo, como “esquerda” e “direita”,“progressistas” e “reacionários”. É somente pelanegociação que poderemos promover as mudançasnecessárias para alcançarmos o desenvolvimento comjustiça.

Reconheço que nessas minhas reflexões epropostas há uma boa dose de vontade e ideal, masisto é da essência da própria política. JoaquimNabuco reconheceu este fato com a sensibilidade ea acuidade do grande Estadista. Dizia em sua obraPensamentos Soltos que “a Política puramente idealé comparada a uma arquitetura que desprezasse amecânica.

No entanto essa Política será eternamente amais popular de todas, ao passo que semelhantearquitetura ruiria no mesmo instante.”

Para encerrar esta Conferência, gostaria demencionar um belo pensamento de Octavio Paz,inscrito na obra Corriente Alterna: “a História” [eeu acrescentaria também a Política] “é uma invençãodiária, uma criação permanente: uma hipótese, umjogo arriscado, uma aposta contra o imprevisível. Nãouma ciência e sim um saber; não uma técnica e simuma arte.”

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101Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Quero agradecer as palavras de sinceroapreço e consideração com que Vossa MajestadeImperial se referiu ao meu país e ao seu povo.Pronunciadas por Vossa Majestade Imperial, essaspalavras se revestem de um valor simbólico, comotributo inigualável de amizade, como uma homenagemque o povo brasileiro recebe, agradecido elisonjeado.

A mesma amizade que nos foi levada quandoVossas Majestades Imperiais, como príncipesherdeiros, visitaram o Brasil, em gesto que foi repetidopor outros membros da família imperial. A PrincesaSayako, a última a fazê-lo, encantou-nos a todos comseu interesse pelo nosso país e com a sua simpatia.

Os brasileiros que aqui estamos,representando o nosso país, sentimo-nos honradospela distinta hospitalidade com que estamos sendorecebidos nesta terra onde a sabedoria da tradiçãose alia à vitalidade do novo.

Sei que interpreto o sentimento de todos osque me acompanham nesta visita de Estado ao Japãoquando afirmo que estamos sensibilizados peloscuidados e pela delicadeza que cercam cada detalheda programação, cada evento, cada encontro, cadapalavra de acolhida.

São gestos que falam da amizade com orefinamento, a sutileza e os matizes próprios dalinguagem e da cultura japonesas. Gestos que vãocompondo a paisagem de uma extraordinária relação.

Há cem anos nós começamos a construir

essa relação. Nós a vimos crescer e ampliar-se. Foium trabalho que fizemos juntos, brasileiros ejaponeses, com as nossas próprias mãos — mãosque uniram pelo sentimento humano a distância quea geografia, a história, a cultura e o destino nos haviamimposto.

Um trabalho feito por cada imigrante japonêsque deixou a sua terra para encontrar abrigo em umpaís novo, onde foi acolhido com generosidade einteresse, com terra e oportunidade — a maiorcomunidade de origem japonesa fora do Japão.

Uma comunidade próspera e cada vez maisintegrada e respeitada na sociedade brasileira. Umacomunidade que participa ativamente dodesenvolvimento brasileiro e que deu e continua dandouma contribuição insubstituível ao crescimentoeconômico, às artes, à cultura e à ciência do nosso país.

Uma comunidade que criou entre os doispaíses o elo indivisível das relações humanas, a únicaforça verdadeiramente capaz de produzir umaamizade exemplar entre Estados que se situam emesferas geográficas e culturais antípodas.

Promovemos uma intensa relação econômicae comercial entre os dois países, reflexo da pujançaque cada um deles foi gerando, a seu modo, na buscado desenvolvimento e de maior participação na vidainternacional.

Uma relação econômica que nós sempreentendemos como muito mais do que bons negóciosentre bons parceiros, porque há na parceria entre o

Brasil-Japão

Brinde do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, por ocasião do banquete oferecido peloImperador do Japão, Tóquio, 13 de março de 1996

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Brasil e o Japão um elemento de identidade que atorna exemplar.

O nosso diálogo político foi crescendo como tempo, respeitoso e interessado, refletindo aintensidade das nossas relações. Um diálogo quetraduz o entendimento mútuo, a boa empatia que unejaponeses e brasileiros por cima das nossasespecificidades.

E, desde mais recentemente, contamos nessepaciente trabalho de cultivar nossas relações com aexpressiva contribuição de milhares de brasileiros quetentam no Japão aquela mesma sorte, aquele mesmodestino que sorriu a tantas centenas de milhares dejaponeses em nosso país, quando os tempos eramoutros.

Mudam os tempos, Majestade, mudam asnações — e para melhor, no caso do Brasil e doJapão —, mas o sentimento humano é um só e devepresidir sempre a amizade entre os povos.

É esse sentimento que me trouxe a Tóquio,portador da palavra de um Brasil que se renova naesperança e no trabalho, que se fortalece nademocracia e que se orgulha de poder, como nuncaantes, fortalecer as suas amizades e parcerias em todoo mundo.

Entre elas, o Japão ocupa um lugarprivilegiado, conquistado em cem anos de história

comum inaugurada com o Tratado de Amizade,Comércio e Navegação, de 1895, cujo centenárionós estamos comemorando.

A comemoração de um passado de que nosorgulhamos é motivo de confiança no futuro.

Queremos trabalhar junto com os japonesespara que o Japão sempre seja para nós um parceiroprivilegiado e para que, reciprocamente, o Brasilcresça entre as prioridades japonesas nas suasrelações com o mundo.

Ao abrir-nos a sua casa, nesta noite dereencontro entre os destinos do Brasil e do Japão,Vossa Majestade Imperial nos recebe com um sinalencorajador sobre o futuro de nossas relações.

Nós sabemos o quanto esse gesto significana linguagem milenar desta nação, o quanto estecongraçamento entre brasileiros e japoneses traz depromessa e compromisso e fala de uma nova era naamizade entre o Brasil e o Japão.

E é com esse espírito que eu gostaria de pedira todos que me acompanhem em um brinde àprosperidade do povo japonês, à centenária amizadeque une os nossos povos e eleva as nossas relaçõese à saúde e ventura pessoais de Suas Majestades oImperador e a Imperatriz do Japão.

Muito obrigado.

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É com grande satisfação que participo destealmoço .

Minha visita a este país estaria incompleta senão incluísse um encontro com os representantes domeio empresarial, cujo dinamismo e competência sãomotivo de justo orgulho para os japoneses.

O empresariado japonês, por sua visão, porcapacidade gerencial, pela contribuição que deu àpujança atual do Japão, é hoje reconhecido em todoo mundo.

Recentemente, recebi no Brasil umadelegação importante da Keidanren, chefiada peloSr. Hiroshi Saito, cujo trabalho incansável em proldo fortalecimento das relações econômicas entre osdois países quero aqui louvar publicamente.

Naquele nosso encontro em Brasília, o Sr.Saito pediu-me que trouxesse aos aqui presentes umamensagem de otimismo e confiança na parceriaeconômica entre os dois países — a certeza de queestamos ingressando no segundo centenário de nossaamizade com possibilidades novas e promissoras deum relacionamento ampliado.

O que me motiva nesta visita de Estado aoJapão é justamente o desejo de tornar mais ativasnossas relações para consolidar uma parceria maisabrangente, que explore horizontes não-tradicionaisde trabalho conjunto.

O momento atual é muito favorável. É cadavez maior a presença de empresários japoneses noBrasil. Conhecidos por sua prudência, estão voltando

a acreditar no país e a nele investirem.Sei que o interesse renovado pelo Brasil está

diretamente relacionado ao êxito da política deestabilização econômica associada ao crescimento eàs reformas.

A inflação está sob controle. A balançacomercial apresenta superávits e o comércio exteriorbrasileiro quadruplicou nos últimos quatro anos. Ataxa de crescimento da economia está na faixa dos 3a 4% ao ano. As reservas internacionais situam-seem nível confortável, de cerca de US$ 50 bilhões. Eestá havendo, com a estabilização, redistribuição derenda para as camadas menos favorecidas.

Os Senhores estarão seguramente beminformados sobre os números que estão por trás dosucesso do Plano Real. Não vou estender-me maissobre eles.

Quero, isto sim, falar sobre as prioridadesde meu Governo, sobre quais são as tendências paraa economia brasileira.

E começo por assegurar-lhes que meuGoverno tudo fará para preservar as conquistas doPlano Real. Digo isso porque sei que as decisões deinvestimentos são precedidas de análise cuidadosa ede planejamento antecipado.

Um elemento fundamental para que osSenhores tenham presente, no processo decisório desuas empresas, é o de que a economia do Brasil nãomudará de rumo.

Hoje, chegamos à compreensão de que a

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, no almoço oferecido por representantes do meioempresarial japonês, Tóquio, 13 de março de 1996

Brasil-Japão

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estabilidade de regras, a previsibilidade das medidasa serem adotadas, a sinalização clara de prioridadessão dados fundamentais para a atividade produtiva,para a expansão dos investimentos que gerarão maisempregos.

Está ultrapassado o período de incerteza que,até anos recentes, prevalecia no Brasil em razão dealterações bruscas na direção da política econômica,das medidas impostas com surpresa.

São irreversíveis, porque indispensáveis paraa continuidade do crescimento econômicosustentado, processos tais como a abertura daeconomia aos fluxos internacionais de comércio einvestimentos, a retirada do Estado do setorprodutivo, a desestatização, a flexibililização dosmonopólios, a reforma do Estado.

Temos consciência de que precisamos dapoupança externa para, complementando a interna,proporcionar os capitais necessários à expansão daprodução brasileira. Eliminamos de nossa legislaçãoas restrições antes existentes ao capital externo.

O Brasil vai crescer porque quer e agorapode crescer.

Nesse quadro, estamos reforçando nossapresença externa, reforçando parcerias com váriospaíses e grupos de países, em razão do perfildiversificado de nosso comércio exterior e de nossapresença em todos os continentes.

Nossa projeção externa começa pelaconsolidação do MERCOSUL, que forma, juntocom a Ásia, as duas regiões de maior crescimentoeconômico mundial na atualidade.

O MERCOSUL, que tem como princípiobásico o regionalismo aberto, sem excluir o reforçodos laços com parceiros comerciais de outras regiões,tornou-se uma espécie de “marca de sucesso”, umfoco de grande interesse da comunidade internacionalpelo êxito que tem demonstrado na intensificação docomércio entre seus quatro membros.

O MERCOSUL está em negociaçõesadiantadas com o Chile e a Bolívia para a conclusãode acordos de livre comércio; negociações similares

já foram também iniciadas com outros países daAmérica do Sul, vizinhos do Brasil.

O impulso na direção do livre comércioalcança, na verdade, todo o continente americano,dentro da perspectiva de constituição, a partir dosesquemas de integração subregional existentes(NAFTA, MERCOSUL, PACTO ANDINO, entreoutros), de uma Área de Livre Comércio dasAméricas até 2005.

Por outro lado, o MERCOSUL celebrou emdezembro último um Acordo-Quadro com a UniãoEuropéia para promover a cooperação econômica eo comércio entre ambas as regiões.

Neste esforço de aproximação com parceirosque consideramos prioritários, estou procurandoinaugurar uma nova fase na relação do Brasil com aÁsia.

No ano passado, viajei à China e à Malásia;em janeiro último, estive na Índia e, agora, realizoesta visita ao Japão, o grande pólo dedesenvolvimento desta região.

Brasil e Japão estão unidos por laços sólidos,que vão muito além da dimensão econômica. Quandoa Princesa Sayako esteve no Brasil no ano passado,fiz-lhe, de público, um agradecimento da naçãobrasileira pela contribuição que os japoneses derampara formação da nação brasileira.

Sei que também há neste país uma dívida degratidão para com o Brasil, que, em tempos maisdíficeis para o Japão, acolheu, de braços abertos,com generosidade, milhares de japoneses em buscade oportunidade.

Os tempos mudaram, e hoje são brasileirosdescendentes de japoneses que voltam à terra deseus ancestrais para trabalhar.

Estes vínculos tradicionais de amizade são umpatrimônio valioso.

Mas o argumento principal para a retomadadas relações econômicas e comerciais entre os doispaíses é de outra ordem, está assente na percepçãode que o Brasil tornou-se um bom negócio, umparceiro confiável, de que suas perspectivas são

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positivas. E isto é verdade.Vejo com satisfação que esta avaliação

favorável que a comunidade empresarial faz do Brasiltambém é partilhada pelo Governo japonês, cujoEximbank reabriu linhas de crédito para operaçõescomerciais e está concedendo novos financiamentospara projetos no Brasil.

A flexibilização dos monólios, as privatizaçõese as concessões de serviços públicos oferecerãocampo atraente para investimentos externos.

Acompanham-me, para falar-lhes em maiornível de detalhe, em seminários específicos sobre estestemas, três Ministros, os do Planejamento, dasComunicações e da Indústria e Comércio.

É preciso ressaltar que temos conduzido oprocesso de desestatização no Brasil com cuidado,transparência e responsabilidade, o que muitas vezesexige um ritmo mais lento do que aquele registradoem outros países. Estamos privatizando empresas degrande porte, como por exemplo a Vale do Rio Doce,a principal fornecedora de minério de ferro para oJapão.

O Japão não pode ficar fora deste processo,não pode deixar de participar do desenvolvimentobrasileiro, porque o Brasil crescerá em ritmosustentado nos próximos anos. E as oportunidades

de negócios e de investimentos crescerão de modoacelerado.

O Brasil reúne todas as condições para voltara ser uma “success story”. O Estado brasileiro estácumprindo seu papel de promover a estabilização eo crescimento da economia brasileira. Cabe agoraao setor privado de ambos os países detectaroportunidades reais de negócios e materializá-lasnuma expansão dos fluxos entre os dois países. Porisso, minha comitiva inclui expressiva delegaçãoempresarial.

As condições estão dadas para uma novaparceria, mais abrangente e dinâmica, que permitirábem explorar o potencial de duas economiasdinâmicas que guardam entre si notável grau decomplementaridade.

Estamos inaugurando uma nova era nasrelações Brasil-Japão. Uma nova era que respondaaos imperativos dos novos tempos, plenos de desafiose oportunidades. A participação do empresariadojaponês nesse processo é insubstituível. O interesseque este encontro traduz, pelo número e importânciados seus participantes, é motivo de otimismo esatisfação para todos nós.

Muito obrigado.

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Agradeço as palavras de boas-vindas queVossa Excelência acaba de pronunciar em nome dosrepresentantes do povo japonês.

Agradeço também a hospitalidade e agentileza com que minha comitiva e eu estamos sendorecebidos nesta Casa do Povo, símbolo do Japãomoderno.

Trago a este Parlamento a homenagem soleneque lhe presta o povo brasileiro, consciente do papelhistórico que a democracia teve e continua tendo noJapão. Ela fez deste país uma das maiores potênciaseconômicas do globo e uma força em favor da paz eda cooperação entre as nações do mundo eparticularmente da Ásia.

Sei que a oportunidade de falar desta tribunaaos Senhores Deputados, aos Senhores Conselheirose ao povo japonês é um gesto da mais altasignificação, um dos pontos altos desta visita deEstado — uma distinção especial que se faz ao Brasil.

Somos sensíveis a essa distinção.Nós recebemos as palavras e gestos que têm

marcado nossa estada no Japão, e que agora serepetem na Dieta, como prova do interesse com queo Brasil é tratado neste país e do apreço que o povojaponês tem pelo povo brasileiro.

Aceitei o convite para visitar o Japão nestemomento porque sei que esta visita de Estado simbolizauma nova era nas relações entre os nossos países.

Uma era de reencontro e de uma renovadaparceria.

Uma era que se alimenta de progressosimportantes havidos nos dois países, em suas regiõese em todo o mundo, mas que deita raízes em umalonga tradição, laboriosamente acumulada.

São cem anos de amizade, construída nãoapenas sobre a base de negócios, investimentos ecooperação entre dois grandes países, massobretudo a partir do elo criado pela imigração, queuniu indissoluvelmente duas nações.

Poucos Estados no mundo podem orgulhar-se de basear suas relações sobre tamanho patrimôniohumano. Poucos Estados no mundo podemcongratular-se como nós pela forma feliz e perenecom que encurtaram as enormes distânciasgeográficas, históricas e culturais que os separavam.

Antípodas no globo terrestre, somos hoje umexemplo notável e completo do que podem ser aamizade e a cooperação entre um pujante paísdesenvolvido e um grande e dinâmico país emdesenvolvimento.

Por trás dessa realização que é obra de umséculo, olham-nos os rostos anônimos dos imigrantesjaponeses que buscaram no Brasil terra, trabalho eoportunidade.

Ali encontraram um povo disposto acompartilhar com eles, além de sua riqueza material,a sua própria identidade de nação multirracial e abertaao mundo, capaz de conciliar diferentes culturas eem que reina a harmonia tão cara ao povo japonês.

Esses imigrantes e seus descendentes

Brasil-Japão

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, no Parlamento Japonês, Tóquio, 14 de março de1996

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transformaram-se, pelo seu trabalho e pelo eu valor,em uma próspera e diversificada comunidade.

Uma comunidade profundamente brasileira,que mantém os vínculos com a sua terra de origem enos ajuda a cultivar e ampliar os variados laçospolíticos, econômicos e de cooperação que fomosconstruindo com o Japão.

Trouxe comigo alguns representantes dessacomunidade, parlamentares como VossasExcelências, homens públicos de qualidade e grandesserviços prestados à nação e ao povo brasileiros.

Eles são uma entre tantas provas de como acomunidade de origem japonesa se integrouperfeitamente à sociedade brasileira e à vida políticae econômica do nosso país.

Por isso mesmo, eles não representam apenasa comunidade de que fazem parte ou de que sãooriundos, mas sim setores e regiões inteiros. São umexemplo de cidadania, participante e ativa.

Descendentes de japoneses, nisseis ousanseis, eles falam hoje, como brasileiros, por todoo Brasil. E também nos ajudam na tarefa de aprimorarsempre as nossas relações com o Japão.

Nós estamos comemorando cem anos doTratado de Amizade, Comércio e Navegação quedeu início à imigração japonesa para o Brasil e àsnossas relações.

Como Presidente do meu país, eu querotrazer a cada interlocutor meu no Japão, em nomedo povo brasileiro, a expressão do nosso maissincero apreço por tudo o que esses cem anossignificaram para nós, pela riqueza espiritual e peloaporte material que os japoneses trouxeram ao Brasil.

Creio que esse sentimento de gratidão érecíproco e nos permite falar de uma relação quetem uma só vocação, a da amizade, que se enriquecehoje com um intercâmbio humano de dupla direção.

O Brasil olha com atenção ainda maior parao Japão porque sabe que aqui se encontram mais decento e cinqüenta mil brasileiros, um dos maiorescontingentes de estrangeiros neste país. Sãobrasileiros que, em certa medida, ainda que em

números mais modestos, reproduzem a saga daimigração japonesa em direção ao Brasil, trazida pelosmesmo sonhos, pela mesma disposição.

Eles reforçam, com sua presença, seutrabalho incansável, seus sonhos e esperanças, suassaudades da terra distante que não os esquece, aqueleelo indissolúvel das relações humanas que dão umafeição própria, particular, às nossas relações.

Senhores Deputados,Senhores Conselheiros,Além de uma oportunidade para prestar o

nosso tributo de admiração pela democracia japonesae pelo papel histórico do seu Parlamento, minha visitaà Dieta é também uma ocasião para homenagear osmuitos representantes do povo japonês quediretamente se envolveram na tarefa de promover asrelações entre o Japão e o Brasil, muitoparticularmente dentro da ativa Liga ParlamentarNipo-Brasileira.

Ao homenagear todos os parlamentares,japoneses e brasileiros, que se empenharam peloconstante aperfeiçoamento das relações entre o Japãoe o Brasil, quero fazer uma menção especial àmemória do ex-Primeiro-Ministro Takeo Fukuda edo Deputado Michio Watanabe.

Em sua ação, e especialmente comoPresidentes da Liga Parlamentar, eles encarnaram demaneira exemplar a amizade nipo-brasileira. Elescertamente inspiram o trabalho daqueles que hoje seencarregam dessa tarefa e que eu homenageio naspessoas dos deputados Hiroshi Mitsuzuka, KeizoObuchi e Kazuya Ishibasai, respectivamentePresidente e Vice-Presidentes da representaçãojaponesa na Liga Parlamentar.

Vim à Dieta também porque sei do papeldecisivo que o Parlamento japonês desempenha nosassuntos de Estado no Japão e portanto na sua políticaexterna e nas relações com o Brasil. A diplomacia hámuito não se limita ao tratamento dos assuntos entreos Governos, no recolhimento dos gabinetes.

Cada vez mais a diplomacia responde aos

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imperativos da democracia e se faz pública,transparente, argumentativa. O diálogo com asociedade, as forças políticas e o Parlamento é hojeparte da formulação e da execução da política externa.

O Parlamento é por excelência o localprivilegiado dos debates, da inquirição, daidentificação dos interesses nacionais, da busca daverdade e do consenso. Trazer ao Parlamentojaponês a imagem do Brasil que estamos construindoé para nós uma forma de reforçar o interesse quenecessariamente este Congresso nutre pela agendaexterna do Japão, por cada uma das suas parceriasinternacionais e especialmente pelo Brasil.

Nós precisamos desse interesse.

Senhores Deputados,Senhores Conselheiros,A imagem que lhes trago do Brasil fala de um

país muito diferente daquele que alcançou, nos anos70 e início dos anos 80, uma parceria intensa, quaseprivilegiada, com o Japão.

É um país plenamente democrático, em queo Congresso desempenha um papel central na vidapolítica e econômica, compartilhando com oexecutivo muitas das principais responsabilidadespelos destinos da nação.

É um país em que se consolidam osmecanismos de controle da sociedade sobre oEstado, para torná-lo mais eficaz, transparente ejusto.

É um país em que a democracia vem servindocomo alavanca de promoção das reformasindispensáveis para assegurar crescimentosustentável, maior eqüidade e justiça social, maisinvestimentos diretos.

E é um país profundamente comprometidocom a paz e a estabilidade na sua região e no mundo,em nome das quais vem ampliando sistematicamenteseus compromissos em matéria de não-proliferaçãode armas de destruição em massa e de usoexclusivamente pacífico da energia nuclear.

Vossas Excelências têm tido notícias sobre o

desempenho da economia brasileira nestes últimostempos, sobre a sua abertura ao exterior, sobre osajustes que temos feito.

Temos motivos objetivos para um grandeotimismo. Por primeira vez em muito tempo, um planoeconômico brasileiro se sustenta com firmeza porquase dois anos, depois de ter sido implantado deforma gradual, em consulta com o Congresso e asociedade, sem choques, sem surpresas, sem quebrada confiança dos agentes econômicos e dapopulação em geral — ao contrário, com amplo esustentado apoio popular.

Baseando-se em políticas criteriosas noscampos fiscal, monetário e cambial, o Plano trouxeuma estabilização longamente desejada, fazendo ainflação despencar de quase 50 por cento ao mêsem junho de 1994 para os níveis atuais, abaixo de20 por cento ao ano, os mais baixos em mais deduas décadas.

Os efeitos imediatos da estabilização, alémda retomada da confiança, foram a valorização dossalários, o fim do imposto inflacionário que penalizavaos mais pobres, o início de um processo amplo deredistribuição de renda, o aumento do consumo dealimentos e bens pelas classes mais desfavorecidas,a ampliação da produção industrial, o aumentogeneralizado do consumo, inclusive de bensimportados.

O Plano permitiu que se criasse um consensomais forte em torno da necessidade de reformasestruturais indispensáveis à consolidação daestabilidade e do crescimento.

Estamos avançando nessas reformas, queacentuam o quadro de abertura competitiva daeconomia brasileira ao exterior.

Estamos prosseguindo firmes nadesestatização, seja através da privatização deempresas controladas pelo Estado, seja através daabertura de monopólios antes reservados ao setorestatal. É um processo complexo, que demandacuidados, transparência e sentido de objetivos.

Não somos um pequeno país que está

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privatizando algumas poucas empresas deficitárias oumal geridas. Somos uma grande nação que tem umimenso patrimônio público, constante de algumasempresas de porte gigantesco e extraordináriopotencial, que cumpriram — e algumas seguemcumprindo — um papel fundamental nodesenvolvimento brasileiro.

É importante que a desestatização tenha umpapel político, econômico e social, fortalecendo oEstado para que ele possa desempenhar as funçõesbásicas exigidas por um país democrático comgrandes desafios sociais a vencer. Não queremos umEstado menor e mais fraco, queremos um Estadomenor e mais eficiente.

Vossas Excelências são parlamentares ecompreendem melhor do que ninguém que ademocracia tem seus ritmos próprios de decisão, degeração de consensos e de manifestação deexpressivas maiorias. É o que garante legitimidade esustentação às decisões, é o que as torna confiáveise duradouras.

O processo de reformas brasileiro estáavançando, mas convém não esquecer: é umprocesso profundamente democrático e maduro, epor isso necessariamente tem o seu ritual, tem os seustempos. O processo de reformas está em curso e éirreversível. Ele se fortalece na democracia e édemocraticamente que ele se fará.

Outro elemento importante que compõe oquadro mais favorável do Brasil hoje é a integraçãodo país no âmbito do Mercosul e, através da UniãoAduaneira, com outros espaços de integraçãoeconômica ou com parceiros individuais.

O Mercosul é hoje um mercado emconsolidação e crescimento, com um Produto Internode cerca de 800 bilhões de dólares e 200 milhões deconsumidores potenciais – um espaço de notáveldinamismo que já se apresenta como interlocutor depeso no cenário regional americano e internacional.

É uma nova e importante dimensãointernacional do Brasil, uma dimensão que o completae fortalece, ampliando o interesse internacional por

cada um dos seus países-membros individualmente.Trata-se de uma nova realidade, um passo a

mais nas relações de harmoniosa convivência quetemos tido com nossos vizinhos sul-americanos aolongo de mais de 125 anos de paz ininterrupta. Comooutras realidades que caracterizam o Brasil de hoje,essa deverá influenciar positivamente as relações comnossos principais parceiros.

Em cada um dos campos em que se estáprocessando a modernização e a abertura daeconomia brasileira, temos sido responsavelmentecautelosos. Temos feito ajustes nas políticas quesustentam o Plano Real quando necessário, temoscalibrado o ritmo da abertura e até adotado medidassetoriais fortes. Seu único objetivo é preservar aestabilidade e a confiabilidade do conjunto daeconomia brasileira, de modo inclusive a assegurar oprosseguimento da liberalização.

O próprio Mercosul, seguindo um modelo de“regionalismo aberto”, adotou um ritmo deconsolidação realista e pragmático, pois a ninguéminteressa que, em nome de ganhos e vantagensimediatos, mas passageiros, se ponham em riscoobjetivos de mais longo prazo que trarão benefíciosduradouros.

Tenho podido recolher, nas viagens que venhofazendo ao exterior, reações de confiança e otimismoem relação ao que vem ocorrendo no Brasil. Issonos anima, porque precisamos das parcerias externaspara prosseguir no projeto de desenvolvimentobrasileiro.

Precisamos de investimentos diretosprodutivos, que nos tragam mais e melhoresempregos e melhor atendimento da demandacrescente do povo brasileiro por bens e serviços;que nos permitam atender à demanda internacionalpor bens e serviços brasileiros, que já conquistarammercados importantes.

Precisamos de acesso mais desimpedido eampliado a mercados que encontram na ofertabrasileira de bens e serviços melhor qualidade e preço.Precisamos de tecnologias que nos ajudem a ser mais

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competitivos dentro e fora do nosso própriomercado.

E precisamos de uma participação maisintensa nos foros decisórios internacionais,econômicos e políticos, porque temos umacontribuição a dar no continuado fortalecimento domultilateralismo comercial sob a égide da OrganizaçãoMundial do Comércio, na busca de eficiência elegitimidade das Nações Unidas em um mundo emtransformação, na diminuição dos riscos e ameaçasà paz e à segurança internacionais.

Tudo isso está presente na nossa relação como Japão.

Porque, a nova era que começa nas relaçõesBrasil-Japão responde a imperativos destes temposnovos, plenos de oportunidades, desafios e riscos.

Tempos que privilegiam as relaçõeseconômicas, comerciais e tecnológicas entre ospaíses. Tempos que incentivam o diálogo e aconcertação como forma de ampliar interessescomuns e multiplicar as possibilidades de atuação deparceiros tradicionais.

Tempos que exigem que aproveitemos, comsentido prático e olhos postos em resultadosconcretos, o muito que temos a nos unir, aespecificidade da nossa relação — antípodas nageografia, parceiros vigorosos na cooperação e nointercâmbio.

Que nós reconheçamos em toda a suaplenitude o patrimônio que é termos em nossosterritórios grandes comunidades que nos ligam peloque há de mais intenso nas relações entre os Estados,os laços humanos.

Que nós saibamos explorar melhor opotencial de duas economias dinâmicas, emcrescimento e, mais do que nada, com um notávelgrau de complementaridade.

Que nós possamos redimensionar nossasrelações para que elas aproveitem as novas realidadesregionais em que nos inserimos — o Brasil noMercosul e o Japão em uma Ásia que cresce

vertiginosamente em produto e em participação nocomércio internacional de bens, serviços etecnologias.

Que nós possamos aproveitar conjuntamenteas oportunidades que são geradas em nossos paísespelo crescimento econômico e pela ampliação dosseus mercados.

Que nós estejamos mais próximos e mais bemcoordenados na defesa de interesses comuns nomundo: a paz e a segurança, o fortalecimento dasNações Unidas, o fortalecimento do multilateralismocomercial, o desenvolvimento sustentável, a proteçãoambiental, a proteção e a promoção dos direitoshumanos, a defesa da democracia e da liberdadeeconômica.

Em suma, que o Japão e o Brasil inauguremeste segundo século de suas relações com ocompromisso vigoroso de uma parceria abrangentena cooperação econômica e no diálogo político.

Senhoras e Senhores,Nós estamos construindo uma nova relação

sobre uma base sólida e firme, sobre um patrimôniode que japoneses e brasileiros podem e devemorgulhar-se.

A Dieta tem uma contribuição importante adar nesse processo e prova isso ao honrar-me hojeaqui com a sua atenção e o seu interesse.

Eu agradeço esta oportunidade de trazer-lhesaqui a palavra do novo Brasil que reencontra o antigoamigo, o forte aliado, o parceiro importante.

E confio em que estamos todos sendopersonagens de um novo e intenso capítulo da históriamaravilhosa que começou, cem anos atrás, quandoum punhado de imigrantes japoneses aportou nascostas do Brasil, a bordo do Kasato Maru,peregrinos de um novo descobrimento da América,para fundar uma amizade que haverá de durar parasempre.

Muito obrigado.

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113Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Agradeço as palavras amáveis com que VossaExcelência nos distingue nesta noite de continuadocongraçamento entre os Governos do Japão e doBrasil.

Esta homenagem do Chefe de Governo doJapão traduz com grande eloqüência a amizade queeste país devota ao Brasil.

Tenha a certeza, Senhor Primeiro-Ministro,de que o mesmo sentimento nos anima em relaçãoao Japão.

Nós podemos com franqueza falar ementendimento e compreensão entre os nossos países,porque entre nossos povos criou-se há muito o fortelaço criado pela imigração, hoje um fenômeno queinverteu sua centenária direção, mas sempre umarealidade que torna especiais as relações entre oJapão e o Brasil.

Ruth e eu temos desfrutado desde nossachegada, ao lado de todos que nos acompanham, deuma hospitalidade que nos sensibiliza e desvanece. Elarevela a um tempo o refinamento da tradição japonesae um carinho especial pelo Brasil e os brasileiros.

Nós somos gratos por esses gestos e pelasextraordinárias mostras de distinção com que temossido tratados. O Brasil inteiro é sensível a essasdemonstrações.

É como mais um grande símbolo da nossaamizade centenária que se está desenvolvendo estavisita de Estado ao Japão. O seu significado político

é para nós o melhor resultado do esforço que apreparação e a realização de uma visita deste porteimplicam.

Ao atravessar o mundo para promover esteverdadeiro reencontro entre os nossos países, quissinalizar o desejo do Brasil de elevar a parceria como Japão ao mais alto patamar nas nossas relaçõescom o mundo desenvolvido.

Porque, como uma força econômicaindiscutível no plano internacional, o Japão tem umavocação natural de projetar-se além de sua região eum lugar de destaque na era da globalização.

Tenho discutido com meus anfitriões umaagenda que se traduz em um compromisso:desenvolver ainda mais uma relação única entre doispaíses muito diferentes, mas que souberam venceras distâncias que os separam.

Trago aos japoneses a palavra de um novoBrasil, um Brasil que recuperou a sua auto-estima,que está estabilizando a sua economia, fazendo ouaprofundando as reformas indispensáveis e que porisso mesmo está passando por uma amplatransformação.

Nossa realidade nacional é a de umademocracia consolidada, capaz de garantirestabilidade política e social.

Nossos compromissos são com a cidadania,a liberdade econômica e a justiça social.

Nossos desafios, crescer com eqüidade e em

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido pelo Primeiro-Ministro do Japão, Ryutaro Hashimoto, Tóquio, 14 de marçode 1996

Brasil - Japão

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114 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

forma sustentável, gerando empregos e riqueza.Nossos instrumentos são vários. Temos um

plano de estabilização cuidadosamente concebido egradualmente implementado, sem sustos, surpresasou quebra de confiança dos agentes econômicos,apoiado pela população e, sobretudo, eficaz nocombate à inflação, na melhoria dos padrões deconsumo das classes menos favorecidas e naretomada do crescimento econômico.

Estamos vencendo a luta contra a inflação,uma luta que continuamos a travar todos os dias e naqual persistiremos até eliminar definitivamente darealidade brasileira os últimos resquícios da culturainflacionária em que vivemos no passado e que tantodano causou à economia brasileira e aodesenvolvimento social no país.

Temos uma estratégia coerente e cuidadosade desestatização, através da flexibilização demonopólios e da privatização. Não nos referimos asetores sem maior expressão ou a empresasdesimportantes ou com sérios problemasadministrativos, mas de setores de enorme potenciale de empresas de grande porte. Por isso o programade privatização vem sendo conduzidocuidadosamente pelo Governo brasileiro.

Temos avançado com determinação nasreformas estruturais necessárias à abertura daeconomia. Eliminamos restrições à participação docapital estrangeiro na atividade econômica e reservasde mercado em setores como telecomunicações,energia, navegação de cabotagem.

Estamos aprovando, em um processo deampla negociação com a sociedade civil através doCongresso Nacional, uma legislação moderna eabrangente sobre propriedade intelectual, cujosefeitos positivos para a economia brasileira nãotardarão.

Temos uma política externa que buscamaximizar os benefícios trazidos por nossas parceriastradicionais e ampliar nossa presença em todo omundo, e particularmente na Ásia.

Estamos ampliando por todas as formas

nossos compromissos com a não-proliferação dearmas de destruição em massa e com isso melhorandonossas credenciais para ter acesso a tecnologias eparcerias indispensáveis ao nosso desenvolvimento.

No nosso plano regional, formamos oMercosul, um dos espaços econômicos maisdinâmicos do mundo, com 200 milhões deconsumidores potenciais, e uma verdadeira novadimensão internacional do Brasil — um agrupamentoregional que vai ampliando seus laços com os paísesvizinhos e com outras, atraindo cada vez maisinvestimentos.

Conseguimos manter a tendência decrescimento da economia, reforçada pela retomadados investimentos produtivos no Brasil e pelaliberalização econômica em curso.

Este é um movimento irreversível, queestamos administrando de forma cuidadosa,pragmática e realista. Por isso, não se deve confundireventuais correções de rumo com um retrocesso.

O Brasil está inteiramente consciente de quea estabilidade a longo prazo e um melhor participaçãorelativa nos fluxos internacionais de comércio,investimentos e tecnologias passam por uma maiorintegração na economia globalizada que caracterizaesta etapa do desenvolvimento histórico mundial.

Estamos fazendo o que era preciso fazer.Estabilizar, crescer, abrir a nossa economia, de formacompetitiva, à economia mundial e aos fluxos decapitais produtivos e de tecnologias indispensáveisao nosso desenvolvimento.

Por isso o Brasil é hoje e será sempre umparceiro confiável e responsável.

Um parceiro capaz de colocar suas relaçõescom o Japão em um novo patamar.

Porque o Japão tem um papel fundamental adesempenhar no desenvolvimento brasileiro e naconsolidação do rumo positivo que tomamos.

E porque o Brasil oferece ao Japão umaparceria singular e privilegiada neste mundoglobalizado.

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115Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhor Primeiro-Ministro,Minha visita ocorre quando estamos

comemorando os cem anos das relações entreBrasil e Japão. Este é um momento de renovação- um ciclo se encerra e outro se inaugura, pleno depossibilidades, mas com uma nova base narealidade.

Estamos iniciando uma nova era dasrelações nipo-brasileiras, uma etapa que, estoucerto, trará uma proximidade cada vez maior entre

brasileiros e japoneses.É com esse espírito que peço a todos que

se juntem a mim num brinde à prosperidade dopovo japonês, à nossa amizade centenária, símboloda união entre brasileiros e japoneses, e essa novaera que se inicia para nós, à saúde e felicidade deSuas Majestades os Imperadores do Japão e àventura pessoal de Vossa Excelência e da SenhoraRyutaro Hashimoto.

Muito obrigado.

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117Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

É uma grande honra estar em San Antoniopara condecorar a bandeira do V Exército dosEstados Unidos da América com a medalha da“Ordem do Mérito Militar”.

A “Ordem do Mérito Militar” foi criada em1934 para agraciar aqueles cujos feitos merecemespecial reconhecimento por parte das ForçasArmadas brasileiras.

Ao conceder esta condecoração ao VExército, o Brasil reconhece os seus serviços em prolde nossa amizade.

Continua viva na memória de todos osbrasileiros a lembrança da jornada conjunta que aForça Expedicionária Brasileira e o V Exército norte-americano viveram na Itália, em 1944 e 1945, nadefesa dos ideal da liberdade contra o totalitarismo.

Recordo com carinho o momento em querecebi das mãos do Secretário de Defesa, WilliamPerry, por ocasião de minha visita de Estado a estepaís, as flâmulas comemorativas da campanha noNorte dos Apeninos e no Vale do Pó.

Essas flâmulas estão expostaspermanentemente no Museu Nacional dos Mortosna Segunda Guerra Mundial.

Muitos de nossos soldados tombaram comheroísmo naqueles campos de batalha.

Eles foram “soldados da democracia”.Mas o sacrifício deles não foi em vão, porque

juntos os aliados triunfaram sobre a violência, o

obscurantismo e o horror que o nazi-fascismopretendia impor a todos os povos.

Éramos aliados naquele momento;continuamos a ser aliados ainda hoje. Meio séculodepois, o mundo mudou profundamente. E mudoupara melhor.

A democracia e os Direitos do Homemtornaram-se valores universais. Nunca antes aperspectiva de paz mundial pareceu tão próxima.

Os “founding fathers” deste país ensinaram-nos que a vida, a liberdade e a busca da felicidadesão direitos fundamentais de todos os cidadãos naconstrução de uma nação livre.

Está em nossas mãos construir um mundonovo, com mais justiça, liberdade e desenvolvimentopara a enorme massa dos sociamente excluídos, queaguarda com ansiedade o fim de sua miséria.

Não haverá paz duradoura enquantopersistirem a fome e a falta de esperança. A tiraniaprospera na ausência da expectativa de uma vidamelhor.

O desenvolvimento continua a ser a melhorarma de que dispomos para enfrentar qualquer novaameaça à liberdade e ao bem-estar dos povos.

Continua premente contarmos com formasmais generosas e eficientes de cooperaçãointernacional.

A estabilidade e a paz internacionaisdependem hoje dos mesmos valores pelos quais

Palavras do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião da Condecoração da Bandeira do VExército dos Estados Unidos da América do Norte, SanAntonio, 15 de março de 1996

Condecoração da Bandeira

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118 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

lutaram os “soldados da democracia”.Por isso, é indispensável que nossas forças

armadas estejam sempre alertas e preparadas paranos proteger da ameaça da perda da liberdade. Porisso, é também importante que as forças armadas doBrasil e dos Estados Unidos se aproximem cada vezmais.

Nossos países, em todo o seu longo convívio

de paz e de respeito mútuo, jamais estiveram tãounidos, na luta pelos mesmos ideais de prosperidadecom justiça.

Ao condecorar a bandeira do V Exército,faço votos para que este momento de recordação ede alegria permaneça como símbolo de nossa uniãoe amizade.

Muito obrigado.

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119Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

O Brasil comparece a esta segunda reuniãoministerial de seguimento da Cúpula das Américasanimado do mesmo espírito construtivo que orientoua nossa participação em Miami, em dezembro de1994, e em Denver, em junho do ano passado.

Nosso compromisso com o processo iniciadoem Miami é firme.

Para nós, fortalecer as relaçõesinteramericanas sobre a base de um expressivocrescimento do comércio e dos fluxos deinvestimentos intra-regionais constitui um instrumentoinsubstituível no marco mais amplo de uma melhorinserção da economia brasileira na economiainternacional.

O Governo brasileiro está seguro de que umaárea de livre comércio nas Américas contribuirácertamente para fortalecer o equilíbrio das nossasrelações econômico-comerciais com todas as regiõesdo mundo e terá um efeito multiplicador importantedentro do país.

O Brasil foi claro no seu compromisso com aconstrução da área de livre comércio das Américas.Em cada oportunidade, seja no processopreparatório da Cúpula e dos encontros posteriores,seja nas próprias conferências que vão balizando oprocesso de integração hemisférica, temos procuradodar uma contribuição afirmativa, realista e pragmática.

Nossa atuação traduz o propósito sincero —e coerente com nossas próprias políticas — de ir

desenvolvendo e consolidando as bases necessáriaspara que os objetivos da Cúpula de Miami seobtenham de maneira firme e plenamente satisfatóriapara todas as partes.

Temos dedicado um intenso esforço internopara chegar às reuniões que vão compondo esseprocesso bem preparados e com um diagnósticoeficiente da realidade da qual estamos partindo e dosobjetivos a que queremos chegar no ano 2005,conforme estipulado na Declaração de Miami.

A realidade de que estamos partindo écomplexa, mas extremamente favorável. Temos naOrganização Mundial do Comércio uma estrutura deregulação e liberalização do comércio já em plenofuncionamento e em processo de aperfeiçoamento.

Temos, nos arranjos sub-regionais deintegração ou liberalização do comércio, importantesfocos de interação econômica, cobrindo praticamentetodos os países do hemisfério e promovendo, com aflexibilidade imposta pelas diferentes realidadeseconômicas em interação, o mais intenso processode liberalização comercial e intensificação decorrentes de comércio intra-regional jamais visto nahistória do nosso Continente.

Temos também a realidade hoje dominantede um Continente que consolida a liberdadeeconômica e a abertura competitiva ao exterior comouma das forças propulsoras do desenvolvimentoeconômico e do progresso social.

Reunião Ministerial Hemisférica

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda Reunião Ministerial Hemisférica, Cartagena, 21 demarço de 1996

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120 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

O peso da abertura comercial na região émuito grande. O Brasil, por exemplo, por força doscompromissos assumidos na OMC e no Mercosul egraças a medidas unilaterais de política comercial,baixou em pouco tempo sua tarifa média de 52% a14% — uma rebaixa tarifária ainda mais considerávelse vista sob o prisma de uma história de substituiçãode importações e de deliberado e necessárioprotecionismo, o mesmo que garantiu no passadoque outras nações pudessem firmar-se como grandespotências industriais.

E temos, finalmente, tudo o que já avançamosno processo de integração hemisférica, com ainstalação de sete grupos de trabalho em Denver eagora mais quatro em Cartagena.

Esses grupos estão coletando dados, fazendoestudos analíticos, mapeando o quadro das relaçõescomerciais e econômicas no continente ediagnosticando a realidade em que teremos de nosmover. Estão trabalhando, em suma, e trabalhandoseriamente, com o apoio e o interesse dos Governos,cumprindo o mandato que lhes foi atribuído.

O progresso substancial nas tarefas dessesgrupos de trabalho nos dará o mais amplo e acuradoquadro jamais traçado das relações hemisféricas edas opções que se abrem diante de nós paraconstruirmos o futuro.

Com isso, preparam o terreno para os passosseguintes que haveremos de dar. Mas é tambémpreciso reconhecer que há outros elementos agindo.Essa realidade positiva que permite visualizar aconstrução progressiva da área de livre comércio dasAméricas convive ainda com manifestações unilateraisde proteção de mercados e de setores. Essasmanifestações modulam e matizam a tendência geralde liberalização e devem necessariamente ser levadasem conta.

A realidade complexa, que abarca das regrasinternacionais da OMC à prática individual dosEstados, passando pelas experiênciasnecessariamente diversas da integração sub-regional,aconselha-nos uma abordagem cuidadosa da

integração hemisférica.Queremos evitar gerar ou alimentar

expectativas irrealistas ou temores, justificados ounão, que possam ser nocivos ao processo a maislongo prazo.

Queremos ir com cautela e sentido deresponsabilidade em áreas onde não existe consensoou onde o consenso será alcançado passandonecessariamente pelas instâncias internacional — aOMC — e sub-regional.

Precisamos estar seguros de que omultilateralismo consagrado na criação da OMC sefirmou como o grande guarda-chuva contratual aregular as relações comerciais entre os Estados egrupos de Estados.

Queremos ter a certeza de que os processosde integração sub-regional estão gerando uma basefirme para que possamos dar o salto em direção aoobjetivo maior da integração hemisférica.

Queremos estar certos de que os processosunilaterais de abertura e reforma econômica, que têmsido a dominante na nossa região, estão-seconsolidando, e de que os avanços que façamos emmatéria de comércio regional contemplem sempre ointeresse maior da estabilidade e do crescimentoeconômico sustentado em todo o Continente.

E queremos certamente dar uma abordagemaberta a todos os temas comerciais e diretamenterelacionados ao comércio internacional, semlimitações que possam desequilibrar o resultado dolongo processo que estamos promovendo.

Não temos de ficar imobilizados enquantoessas certezas não se completam, e certamente nãoestamos imobilizados.

Esta reunião avança substantivamente com acriação de mais quatro grupos de trabalho e com areiteração, em todas as decisões contempladas naDeclaração final, do compromisso assumido emMiami pelos Presidentes.

Esse compromisso foi, é e continuará sendoo compromisso do Governo brasileiro. Esse é osentido da nossa participação em Cartagena. Se

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121Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

insistimos em que não há atalhos para chegar a umobjetivo da magnitude da área de livre comércio dasAméricas, é justamente para valorizar todos osaspectos do processo que estamos colocando em

marcha e garantir que a obra que realizaremos traráa marca da permanência e do interesse consensual.

Muito obrigado.

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123Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhor Presidente,Vossa Excelência sabe que considero o Chile

meu segundo lar. Em seu país, vivemos, Ruth, nossosfilhos e eu, momentos decisivos de nossas vidas.

Aprendemos a admirar o povo chileno, suahospitalidade e seu carinho, que nos tornaram menosdifíceis os anos de exílio. Tenho pelo Chile umaenorme gratidão. Uma dívida de amizade.

Não foi assim por acaso que escolhi seu paíscomo primeiro destino de minhas viagens ao exterior.Ao tomar a decisão de visitar o Chile, percebi quefui motivado por emoções que me tocavamprofundamente. As homenagens que recebeu o Chefede Estado brasileiro em seu país, Presidente Frei,estendiam-se também a um amigo do Chile. Vivi osentimento único de pertencer à nação chilena.

Tenho a certeza de que Vossa Excelência esua comitiva poderão agora encontrar no povobrasileiro as mesmas expressões de amizade e afetoque, para mim, marcaram aquela visita de Estadoque fiz ao Chile há um ano.

Sua visita ao Brasil, que se inicia por estacapital, o levará ainda a outras cidades brasileiras,como São Paulo, cuja pujança econômicaseguramente Vossa Excelência já conhece, e PortoAlegre, cuja localização geográfica meridional a fazser um centro natural de aproximação com os paísesdo Cone Sul.

Recordo-me de que, em nosso encontro em

Bariloche, em outubro do ano passado, lhe fiz asugestão de que incluísse em seu roteiro oficialtambém uma passagem pelo Nordeste do Brasil. E écom satisfação que vejo que Vossa Excelência incluiuSalvador como um dos pontos altos de sua visita. ABahia é um dos retratos do que há de melhor nopovo brasileiro, porque ali se combinam alegria deviver, diversidade étnica, riqueza cultural e a forçaque leva ao desenvolvimento econômico.

Senhor Presidente,Baseados numa história de 160 anos de

relações diplomáticas exemplares, sustentados poruma amizade secular e por uma admiração mútua,temos hoje a nos aproximar interesses concretos. Acomitiva empresarial que o acompanha érepresentativa do que de mais importante o Chileproduz. E isto prova a confiança e a disposição doempresariado chileno de aproveitar as oportunidadesque seguramente encontrarão num Brasil renovado,um país comprometido com a mudança e querecupera sua vocação histórica para odesenvolvimento.

A integração econômica da América do Sulé uma prioridade da política externa do Brasil. Semo Chile, este processo não estará completo, nãopoderá caminhar. O Chile é uma referência obrigatóriaem nossa região quando se fala em desenvolvimentoe em reformas.

Brasil - Chile

Discurso do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido aoPresidente do Chile, Eduardo Frei Ruiz Tagle, Brasília, 25de março de 1996

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124 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

É claro que cada país sul-americano terá suascaracterísticas individuais, seus caminhos própriospara o desenvolvimento, mas todos buscarão no Chileexemplos de como conduzir um amplo processo demodernização de nossas estruturas econômicas.

Muitas das reformas com as quais estoucomprometido desde minha eleição já foram feitasem seu país. A condução da política econômica,marcada pelo cuidado com as contas públicas, e asmedidas adotadas na área do comércio exteriorobtiveram resultados positivos, que são conhecidosem todo o mundo.

Além disso, o Chile logrou elevarsubstancialmente os níveis de poupança interna, queatualmente ultrapassam 25% do Produto Internochileno. Sem este aumento extraordinário da taxa depoupança interna, seguramente não teria sido possívelao Chile dar um salto tão grande e de formasustentada, como tem conseguido.

O Chile hoje é um país que dispõe de capitaispara investimentos no exterior, e o vem fazendo emdiversos países vizinhos como a Argentina, a Bolíviae o Peru. A presença de investimentos chilenos noBrasil ainda não é significativa. Mas estou seguro deque sua participação em nossa economia aumentarácomo resultado da estabilização econômica e doprocesso de privatização que estamosempreendendo. Sei que a área de infra-estruturapoderá oferecer oportunidades excepcionais para osinvestidores chilenos, em particular em energia etransportes.

O crescimento econômico do Brasil nosúltimos anos teve um impacto positivo em nossocomércio com todos os países da América do Sul.

Em 1995, por exemplo, o Brasil setransformou no terceiro parceiro comercial individualdo Chile. As exportações chilenas para o Brasilaumentaram em cerca de 70% em 1995 em relaçãoao ano anterior, dado que adquire relevância aindamaior diante do peso expressivo do setor externo naeconomia chilena.

Esta tendência de crescimento econômico do

Brasil deverá permanecer nos próximos anos,contribuindo para consolidar um espaço econômicosul-americano amplo, integrado e dinâmico.

O Acordo de Livre Comércio Chile-Mercosul, que está em fase final de negociação,poderá ser um passo importante naquela direção,porque propiciará ganhos de escala que se traduzirãonão apenas numa elevação dos fluxos de comércio,mas também em perspectivas promissoras para umaexpansão de investimentos.

Senhor Presidente,Brasil e Chile estiveram juntos em muitos

momentos decisivos da construção da convivênciainteramericana e participamos intensamente, com aótica da nossa região, da busca de padrões derelacionamento internacional que atendessem melhoràs necessidades de países em desenvolvimento comoos nossos.

Hoje, estamos nos integrando plenamente aum mundo cujas duas principais forças, a democraciae a liberdade econômica, são também agentes datransformação qualitativa das nossas sociedades.

Apesar de não termos fronteiras comuns,somos, em tudo e por tudo, vizinhos fraternos.

Sobre essa vizinhança especial queremoscontinuar a construir uma parceria que já se mostradas mais produtivas. Uma parceria que estejafundamentada em nossos laços estreitos de amizadee também na exploração de novas formas decooperação, como a que veremos, nos próximosdias, inaugurada entre as agroindústrias do nordestedo Brasil e do Chile.

Estamos intensificando e aperfeiçoandonossos mecanismos de cooperação política, pelacriação de um sistema ampliado de consulta ecoordenação.

A essas dimensões se agrega hoje, com cadavez maior sentido de urgência, a da integração viáriaentre os nossos países — uma integração que nosfará ainda mais próximos, substituindo em certamedida as fronteiras que nós não temos.

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125Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Esse novo padrão de relacionamento deveocorrer também na dimensão da cultura.

O I Encontro de Cultura, que promoveremosconjuntamente em Salvador, pode ser o ponto departida original e criativo para estender a cooperaçãobilateral a áreas ainda não tocadas pelos nossosesforços e para fortalecer o intercâmbio cultural quejá existe entre o Chile e o Brasil.

Nesses nossos tempos em que a economiaparece reger os destinos dos povos, o fortalecimentodos laços culturais entre nós, povos latinos, éfundamental. É o entendimento da originalidade e dovigor de nossa cultura que nos permitirá uma melhorinserção no mundo contemporâneo, que se sustenteem nossos valores e em nossa identidade. Permanecea fertilidade da contribuição chilena — tanto nas artese na literatura quanto nas teorias sobre a sociedadee na compreensão do que é a América Latina. E istovaloriza muito o diálogo que sempre existiu e agorase institucionaliza entre nós.

Senhor Presidente,Estes encontros entre os Presidentes do Brasil

e do Chile cumprem o propósito de sinalizar, commuita objetividade, que estamos comprometidos como constante aprimoramento das nossas relações.

Estamos construindo uma importante relaçãoentre duas economias dinâmicas da América do Sul.E estamos projetando essa relação no marco maisamplo da integração no Cone Sul. O bilateral e oregional são, em nosso caso, instâncias que secompletam e se fortalecem mutuamente.

É pensando nesse futuro de aproximaçãocrescente entre o Brasil e o Chile que quero convidara todos a que me acompanhem em um brinde àprosperidade do povo chileno, à excelência dasrelações que unem o Brasil e o Chile e naturalmenteà saúde e felicidade pessoais dos meus amigos, oPresidente Eduardo Frei e da Senhora Frei.

Muito obrigado.

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127Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Excelentíssimo Senhor Governador doEstado de Santa Catarina, Doutor Paulo AfonsoEvangelista Vieira;

Excelentíssimo Senhor Embaixador daAlemanha no Brasil, Doutor Klaus Duisberg;

Excelentíssimo Senhor Secretário de Estadodo Ministério da Educação, Pesquisa, Ciência eTecnologia da Alemanha, Doutor Fritz Schaumann;

Excelentíssimo Senhor Secretário-Executivodo Ministério de Ciência e Tecnologia, DoutorLindolpho de Carvalho Dias;

Excelentíssimo Senhor Prefeito de Joinville,Doutor Wittich Freitag; Excelentíssimo SenhorDiretor-Geral do Departamento de CooperaçãoCientífica, Técnica e Tecnológica do Ministério dasRelações Exteriores, Embaixador Carlos Alberto deAzevedo Pimentel;

Demais autoridades,Senhoras e senhores,É com grande satisfação que participo da

abertura dos trabalhos desta 22ª Reunião daComissão Mista Brasil-Alemanha de CooperaçãoCientífica e Tecnológica, colóquio que reúne altasautoridades do campo da pesquisa e contribui paranosso desenvolvimento mútuo.

Para o Brasil, esta reunião ganha realce aindamaior, pois nossa cooperação científica e tecnológicacom a Alemanha é das mais densas de que participa

o País.Nossas atividades conjuntas compreendem

áreas de marcada importância para as relaçõesinternacionais contemporâneas, como informática,espaço, meio ambiente, fontes alternativas e não-poluentes de energia e a capacitação produtiva.

Com o atualizado acordo de cooperação quelogramos concluir na semana passada, conta nossaagenda bilateral com mais um instrumento quepotencializa sua vocação democrática e transparente.

Nesse contexto, inova esta vigésima-segundaedição do encontro, pois não apenas passa em revistaos muitos programas e projetos que compõem apauta de nossa cooperação.

Constitui-se, também, como foro privilegiadode debates para o equacionamento de nossasatividades conjuntas em ciência e tecnologia,congregando representantes das várias unidades daFederação, da sociedade civil e do setor produtivo.

Desse modo, a presença em Joinville dassenhoras e dos senhores representa oportunidadeideal para uma ampla reflexão sobre as grandesdiretrizes que devem orientar nossa cooperação.

Espero, assim, que os debates que serealizarão nesses dois dias repercutam de maneiradireta e criativa nos meios científico e tecnológicodos dois países.

Este encontro se destaca por realizar-se após

Comissão Mista Brasil-Alemanha

Discurso do Secretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros, por ocasião dacerimônia de abertura da XXII Reunião da Comissão MistaBrasil-Alemanha de Cooperação Científica e Tecnológica,Joinville, 26 de março de 1996

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importantes visitas presidenciais de parte a parte;intercâmbio que confere, no mais alto nível, arenovada significação que merecem as relações entreBrasil e Alemanha neste final de milênio. Nossosvínculos se aprofundaram, inclusive por meio dodiálogo consolidado entre o Mercosul e a UniãoEuropéia.

Nosso interesse mútuo, que se expande efortalece, foi corroborado, em 1995, pela exitosarealização da Feira Brasil-Alemanha, a FEBRAL,maior evento comercial sobre a Alemanha já realizadono exterior.

Penso que a escolha do Brasil para sediaraquela exposição reconhece as potencialidades deum país estabilizado economicamente, que seguefirme na busca de seu desenvolvimento sócio-econômico em bases sustentadas.

Desejo manifestar a satisfação do Ministériodas Relações Exteriores pela realização desteencontro em Santa Catarina, Estado para cujodesenvolvimento concorreu em grande proporção oimigrante alemão.

Ao sediar a Comissão Mista, o Estado deSanta Catarina contribui para reforçar o conceito de“Diplomacia Federativa”, diretriz estabelecida peloPresidente Fernando Henrique Cardoso que articulaas iniciativas do Ministério das Relações Exterioresàs várias unidades da Federação.

Gostaria nesse sentido de cumprimentar oGovernador Paulo Afonso Evangelista Vieira e oPrefeito Wittich Freitag pelos esforços queempreenderam para a organização deste evento eagradecer-lhes a gentil acolhida que a gente destacidade e deste Estado oferece aos participantes doencontro.

Joinville tem o mérito adicional de abrigar umainstituição que ilustra de maneira exemplar o sucessoda cooperação brasileiro-alemã. Ao concentrar-seem área de reconhecida atualidade e importânciapara a excelência científica, o Centro deDesenvolvimento Biotecnológico de Joinvillerepresenta motivo de orgulho para nossos países, e

convida à expansão da pesquisa conjunta em áreasde ponta.

Muitas são as outras atividades de nossacooperação que poderiam ser mencionadas, como,por exemplo, os programas que tratam, de modomultidisciplinar, em diferentes regiões e ecossistemas,da questão ambiental.

Destacam-se iniciativas que, com opioneirismo da Indústria Têxtil de Santa Catarina,podem revelar formas inovadoras de se conjugar oimperativo da produtividade e competitividadeeconômica à administração racional dos efeitos daatividade industrial sobre o meio ambiente.

Senhoras e senhores,Penso ser inquestionável o fato de que a

pesquisa científico-tecnológica aplicada à produçãotorna-se um elemento cada vez mais importante nadeterminação do grau de desenvolvimento entre ospovos.

Saber interpretar tal realidade no âmbito dacooperação brasileiro-alemã implica reconhecer queos setores produtivos público e privado terão departicipar em crescente proporção de nossasatividades cooperativas.

Para tanto, creio que deveremos envidartodos os esforços para que se crie ambiente favorávelpara o desenvolvimento da vocação contemporâneade nossa cooperação, que deverá compreender umasérie de iniciativas “economicamente-orientadas”.

No plano jurídico, o estabelecimento dessascondições propícias não poderia prescindir da revisãode nosso Acordo de 1969, esforço a que nosdedicamos com expediência e afinco.

A inclusão de artigos que contemplam aparticipação de entidades de cunho privado permitiuque se atualizasse este texto que, no passado, muitoconcorreu para nosso desenvolvimento comum.

A renovada redação do mais importantemarco jurídico de nossa cooperação, em conjuntocom a realização desta Reunião de Comissão Mista,abre por certo auspiciosos caminhos para o

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relacionamento Brasil-Alemanha no campo daCiência e Tecnologia.

Senhoras e senhores,Desejo aos participantes desta reunião uma

proveitosa sessão de trabalhos, na certeza de quesuas reflexões contribuirão para o incremento das

relações entre nossos países. Trabalhemos para que,por meio da cooperação científico-tecnológica,estreitem-se os profundos laços de amizade queunem Brasil e Alemanha.

Muito obrigado.

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Em nome do Governo brasileiro, querosaudar todos os participantes desta cerimônia deinstalação da Seção Brasileira do Foro ConsultivoEconômico-Social do Mercosul.

A presença de todos os Senhores hoje aquirepresenta um voto de confiança e uma manifestaçãode interesse em um dos maiores empreendimentosdiplomáticos do Brasil, o Mercosul.

O Itamaraty sente-se honrado com mais estaoportunidade de ser o local de convergência deinteresses e percepções que constituem, no fundo, amatéria-prima da diplomacia brasileira.

O Mercosul é mais do que uma obra deengenharia diplomática que mudou a face política eeconômica do Cone Sul do nosso continente. Ele éparte de um projeto maior de desenvolvimento, bem-estar social e inserção competitiva dos países que ocompõem. E é também um espaço de participaçãodas sociedades de cada um dos países-membros,que constituem a razão última da sua própria criação.

Há muito tempo o Mercosul deixou de serum projeto de política externa para tomar-se partedo cotidiano dos cidadãos dos quatro países que ointegram.

As decisões hoje tomadas no âmbito doMercosul têm uma influência direta sobre os interessese decisões de empresários, trabalhadores econsumidores brasileiros, argentinos, paraguaios euruguaios.

Por isso, a integração econômica não se fazapenas com a vontade política dos Governos, mascom o engajamento consciente dos empresários, dostrabalhadores e muito especialmente dosconsumidores.

Cada um deles é um agente econômico, cujasvidas, decisões e julgamentos são influenciados peloprocesso de integração. Por isso, ninguém pode serindiferente ao desenvolvimento do processo deintegração, nem permanecer marginalizado emrelação a ele.

O Brasil tem hoje uma consciência muitogrande em relação a essas necessidades.

Esta seção brasileira do Foro ConsultivoEconômico e Social é uma prova disso. Foi comentusiasmo e grande sentido de dever que os diversossetores da sociedade aqui representados acolherama convocação para integrá-lo e colocá-lo emfuncionamento.

Empresários, trabalhadores e associações deconsumidores precisam trabalhar em equipe naidentificação e defesa dos interesses brasileiros noprocesso de consolidação e ampliação do Mercosul.

Esse compromisso vai assegurar que aatuação do Governo, nos vários foros de negociaçõese deliberação com seus parceiros do bloco sub-regional, esteja em plena sintonia com os anseios dacidadania e dos agentes econômicos.

Nós estamos comemorando nesta semana o

Mercosul

Pronuciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda Cerimônia de Instalação da Seção Nacional do ForoConsultivo Econômico-Social do Mercosul, Brasília, 27 demarço de 1996

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quinto aniversário da assinatura do Tratado deAssunção, de 26 de março de 1991, com a certezade que o Mercosul constitui uma experiênciaintegracionista de grande êxito, um dado novo nasrelações dos seus países-membros com o resto doContinente e do mundo.

Os esforços pela implementação do Mercosultêm sido amplamente recompensado pelos resultadospositivos alcançados nos mais diversos setores.

No campo político-diplomático, criamos umnovo espaço de cooperação, diálogo e concertação.O Mercosul é hoje visto não apenas como umparceiro importante da comunidade internacional, mascomo um expressivo reforço da identidade nacionalde cada um dos seus membros.

O intenso crescimento dos fluxos comerciaisintra-Mercosul no período 1991-1995 contribuiudecisivamente para o crescimento das economiasnacionais e para a geração de postos de trabalhotanto no Brasil, como na Argentina, no Paraguai e noUruguai.

A união aduaneira e o mercado unificado queela representa, com cerca de 200 milhões deconsumidores potenciais, passaram a ser um dadoobjetivo das economias nacionais e um vetorimportante para os investimentos, o planejamentoeconômico e até para o “marketing” dos produtos.

Os consumidores foram beneficiados por umaoferta mais ampla, variada e competitiva de produtosde consumo os mais variados, desde alimentos atébens duráveis de grande sofisticação.

Uma nova realidade, que impulsiona acriatividade, esta dinamizando nossas economias,ajudando-as a responder melhor aos desafios eoportunidades de um mundo competitivo. Esse era oobjetivo do Mercosul, essa é a medida do nosso êxito.

O foro consultivo Econômico-Social é umaconsequência natural dessa realidade.

Senhoras e Senhores,Grande parcela do êxito alcançado pelo

Mercosul pode ser creditada aos mecanismos

institucionais concebidos para sua implementação.A estrutura institucional criada pelo Tratado

de Assunção, e posteriormente aprimorada peloProtocolo de Ouro Preto, dotou o Mercosul demecanismos suficientemente flexíveis para darrespostas às necessidades cambiantes do processode integração e, ao mesmo tempo, capazes degarantir sua segurança jurídica.

A estrutura organizacional do Mercosulcaracteriza-se por sua natureza aberta e democrática.

Foram criados foros negociadores para otratamento de temas tão diversos como assuntoscomerciais, saúde, educação, cultura, meio ambiente,justiça ou transportes.

A eles somam-se órgãos específicosdestinados à representação dos ParlamentosNacionais – a Comissão Parlamentar Conjunta — edos setores econômicos e sociais dos quatro países—O Foro Consultivo Econômico-Social.

A criação, por inspiração brasileira, do ForoConsultivo Econômico-Social do Mercosul veioresponder à necessidade de ampliar os espaços deatuação dos agentes econômicos e sociais noprocesso de integração. Ele é um reflexo natural deuma concepção democrática da política externa euma das melhores respostas ao imperativo daparticipação da sociedade na política externa.

O Mercosul ganha muito com a criação, emsua estrutura organizacional, de um órgão integradoexclusivamente pelo setor privado, dotado decompetência para manifestar sobre quaisquer temasafetos à integração.

Com ele, os setores econômicos e sociaisassumem responsabilidade crescente — ecompartilhada – no processo de implementação doMercosul, ganhando força para influir na conduçãodo processo negociador.

Essa é, mais do que uma expectativa, umagrande certeza do Governo brasileiro. Asrecomendações que o Foro Consultivo Econômico-Social vier a fazer ao Grupo Mercado Comum, órgãoexecutivo do Mercosul, terão grande ressonância,

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133Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

ao guardarem sintonia com os objetivos do processode integração e ao se adequarem às normas geraisque regem o funcionamento do Mercosul na etapade Consolidação da União Aduaneira.

No plano interno brasileiro, o Governo templena convicção de que o núcleo original da seçãonacional, que hoje congrega oito das entidades maisrepresentativas dos setores empresarial, sindical e deconsumidores do país, irá expandir-se para abrangerpouco a pouco os mais diversos segmentos dasociedade brasileira.

Dessa forma, estaremos favorecendo aampliação do debate sobre o processo de integraçãono país e ampliando a participação direta dasociedade brasileira na formulação e implementaçãoda nossa política externa.

Senhoras e Senhores,Nós estamos hoje institucionalizando um canal

privilegiado de diálogo entre os setores público e

privado brasileiros no âmbito da diplomacia daintegração.

Os contatos regulares entre as SeçõesBrasileiras do Foro Consultivo Econômico-Social edo Grupo Mercado Comum em muito contribuirãopara o aperfeiçoamento dos mecanismos queconduzem à definição dos interesses nacionais noprocesso de integração.

As entidades que hoje assinam a ata deinstalação da Seção Brasileira do Foro ConsultivoEconômico-Social, representadas pelos seusPresidentes, desejo formular meus votos de plenoêxito.

Quero interpretar o sentimento de todos aquipresentes ao manifestar a minha convicção de queaqui se inicia uma parceria insubstituível nacontinuação dessa obra de engenharia política, sociale econômica que é o Mercosul.

Muito obrigado.

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135Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Your Excellencies, dear friends,I just wanted to say a few words of sincere

thanks for this warm display of friendship and kindnessso very much in the Arab tradition of hospitality andbrotherhood.

I appreciate this opportunity to exchangeviews with the representatives of the Arab countriesto Brazil on a friendly, informal, and open basis. Thisis an occasion that was long overdue and I am gratefulto you for it.

As you all know, Brazil values and cherishesits friendship with the Arab nations in the same way thatwe value and cherish the extensive contribution that alarge Arab community has brought to our country.

We are proud of the Brazilian-Arabcommunity. It is a hard-working, affluent, andinfluential community, fully integrated into Brazilian life,wholeheartedly sharing our freedoms and our dreamsand strongly participating in our democraticinstitutions.

As a matter of fact, Brazilian economic, social,political and cultural life has been continuouslyenriched by the intense participation of the Brazilian-Arab community.

Many of our most distinguished politicians,businessmen, high-level professionals, intellectuals andartists come from Arab descent and have proudlykept the links with their cultural heritage.

Arabs and Brazilians of Arab descent have

helped to build this country. In fact, many of themwere responsible for bringing development andcivilization to the far reaches of our territory.

They have also taught us a lesson of toleranceand of peaceful and constructive coexistence withother communities of different cultural and ethnicbackground and religious beliefs.

When Brazil preaches peace andunderstanding among countries and nationsworldwide, it is not only because we firmly believe inpeace as a precondition for development and socialprogress; nor is it only because we have now livedfor more than 125 years at continuous peace with allour neighbors — it is also because Brazilian society ownsits very existence and development to the ethnic, religiousand cultural harmony that prevails among Braziliancommunities of very different international origins.

I insist on these aspects in order to reaffirmthat, mainly because of this sound human basis that isirreplaceable in the relationship between sovereignStates, Brazilian-Arab relations are a priority for ourdiplomacy. We have a firm and lasting ground to buildupon and we are committed to those relations.

I wanted to take this opportunity to conveyto you and to your governments this message ofconfidence in the future of Brazilian-Arab relationsand to invite you to work closely with us in order tobring creativity to the ongoing process of furtherstrengthening those relations.

Brasil-Países Árabes

Pronunuciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luis Felipe Lampreia, por ocasiãodo almoço oferecido pelos Embaixadores dos Países Árabesacreditados junto ao Governo Brasileiro, Brasília, 28 demarço de 1996

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136 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

The world has changed and so has Brazil, forthe best, we hope. Our international insertion isdifferent now, since we have been working hard tostrengthen our credentials as a partner both at thepolitical and at the trade and economic levels.

Mercosul has given us a new strength and amore powerful international identity, while more fluidrelations with our main partners both in the developingand the developed worlds have improved ourinternational standing.

I sincerely believe that these trends will havea positive influence in reshaping and strengthening ourrelations with the Arab world.

A strong Brazil with stronger ties to all regionsof the world is the main our goal of our foreign policy.

The policies that we are implementing withone region or individual partner are by no meansdetrimental to the ties that we have with other regionsand partners.

President Fernando Henrique Cardoso ispersonally committed to foreign affairs andunderstands the importance of a balanced internationalinsertion for Brazil.

The Arab world stands high in our list ofpriorities, just as we hope Brazil will be a prioritycountry in the developing world for the Arab nations.

Excellencies,As we reflect upon the realities of the Middle

East and the Arab world in general, we realize thatthe prospects for the improvement of our relationshave never been better.

A peace process is under way in the MiddleEast and, despite the difficulties that are inherent tosuch complex negotiations, their outlook is good.

We all knew it would not be easy. But noneshould think it cannot be achieved. Nobody shouldever be allowed to imagine that there is a substitutefor peace, understanding and good will when so muchis at stake for the Arab, Palestinian and Israeli peoplesin their quest for security, development and socialprogress.

Time has come for an unwavering, impartial

and unconditional support for the peace process andfor the Arab, Palestinian and Israeli leaderships thatare committed to it.

And time has come to make a resolute callto reason to all parties that are reluctant to committhemselves to peace or that may think that violence,destruction, deprivation and an irrational assault oninnocent human lives could be a means to achievemore than peace itself can do.

We strongly believe that peace must be givena chance. Our commitment to helping the peaceprocess is firm. We will do it in a balanced,harmonious way, as shown by the moves we havebeen making in the region.

The Brazilian government stresses the importanceof a successful outcome for the peace process and forall other issues connected to peace in the Middle Eastbecause we see it as a fundamental factor in theresurgence of the Middle East and the entire Arab worldas a dynamic region and as a promising partner for theinternational community as a whole.

We are prepared to work with our Arabpartners in order to take advantage of theunprecedented momentum that we have now in Arab-Brazilian relations.

Our Foreign Ministry is undergoing a processof restructuring so that it can better respond to thechallenges and opportunities that lay ahead of us. Thiswas at the core of the decision to create a Departmentfor African and Middle Eastern Affairs under thedirection of Minister José Vicente Pimentel, a talentedand experienced diplomat.

Again, I would like to emphasize that in noway will any of our policies exclude or downgradegeographic areas or substantive issues that are andwill continue to be pivotal to a foreign policy thatintends to be universal and pragmatic.

With this in mind, I would like to thank youagain for this wonderful meal and for this mostvaluable opportunity for exchanging views that willhelp advance our relations.

Thank you.

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137Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

IntroduçãoQuero agradecer ao Comando da Escola de

Guerra Naval por mais esta oportunidade de medirigir ao seu corpo de estudantes para tratar dapolítica externa brasileira. É de fato um prazer retornarà Praia Vermelha para ter este diálogo com jovensoficiais que se preparam para novas funções decomando na Marinha brasileira.

Eu já tinha tido essa oportunidade em 1993,quando aqui compareci na condição de Secretário-Geral do então Chanceler Fernando Henrique Cardoso.Lembro-me muito bem de que o texto que prepareipara aquela ocasião seria para mim um exercícioproveitoso de organização das idéias e de sistematizaçãodos fundamentos da política externa brasileira.

Era uma época diferente, então. Havíamospraticamente acabado de sair do processo deimpeachment de um Presidente da República etentávamos colocar o país em ordem a partir de umpressuposto básico, talvez o único que nos garantiuo êxito que colheríamos mais tarde: uma democraciaforte, que amadureceu e se consolidou ainda mais naadversidade.

Hoje, três anos depois, a realidade interna einternacional em que nos movemos e muito diversa –em inúmeros aspectos, houve uma sensível melhora.Mas, ao lado de crescentes oportunidades,permanecem muitos dos desafios e riscos que o fimda Guerra Fria apenas tornou mais evidentes.

A diplomacia continua na sua tarefa de

estabelecer, com a melhor relação custo-benefíciopossível, a ponte entre essas duas esferas de existênciado país. O convite que recebi da Escola de Guerra Navalé precisamente para examinar, em suas grandes linhas,a política externa que vêm sendo posta em prática peloGoverno Fernando Henrique Cardoso, situando-a emseus contextos mais importantes.

A visão brasileira de um mundo emtransformação

Há quinze ou vinte anos atrás, quem ousasseantecipar a natureza e o alcance das transformaçõesque alterariam tão profundamente a face do mundoe as relações internacionais, no final dos anos 80 einício dos anos 90, certamente seria visto como umsonhador Uma revolução democrática varreu omundo, começando pela América Latina, e hoje aimensa maioria dos povos vive sob regimesdemocráticos, com novos padrões decomportamento político que afetam a esferaeconômica e social.

Uma revolução econômica se operou:. a basedo esgotamento dos modelos mais fechadosprevalecentes nos anos 50 a 70, e hoje a imensamaioria dos povos vive em sistemas econômicosbaseados na liberdade de mercado, buscandointegrar-se competitivamente com seus vizinhos e naeconomia global.

E também ocorreu uma revolução decomportamento dos Estados, com a crescente

Política Externa - Escola de Guerra Naval

Conferência do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na Escola de GuerraNaval sobre o tema “A Política Externa Brasileira”, Rio deJaneiro, 29 de março de 1996

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138 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

universalização de regras de convivência política eeconômica regulando áreas como a não-protiferaçãode armas de destruição em massa, o comérciointernacional de bens e serviços, a promoção dosdireitos humanos, o desenvolvimento sustentável e aproteção ambiental e assim por diante.

O conceito de globalização, cujo uso hojemuitas vezes se reduz ao aspecto produtivo efinanceiro do sistema internacional, pode ser usadopara compreender precisamente esse fenômenocomplexo: a crescente homogeneização das relaçõesinternacionais.

Democracia, liberdade econômica eparticipação nos sistemas universais de regulação dasrelações entre Estados passaram a ser padrões. Semo fator relativizador da Guerra Fria e com acompetição internacional agora efetivamente centradanos aspectos econômicos e científico-tecnológicos,os países são classificados e interagem com basenesses padrões. Eles se transformaram em umaespécie de “grau zero” das relações internacionais,em que os desvios tem um custo político e econômicocada vez maior e a credibilidade é tanto maior quantomenor for o afastamento dos países desse “grau zero”.E isto porque democracia se traduz em estabilidadee liberdade econômica e participação se traduzemem investimentos, acesso a mercados e a tecnologias,competitividade e empregos.

Se quiséssemos buscar uma síntese dessaampla revolução internacional, nós a teríamos noesfacelamento do bloco soviético, com o colapso dosocialismo real, que não resistiu à corridaarmamentista, à baixa produtividade e à explosão dasdemandas sociais e políticas dos povos que viviamsob aquele sistema.

O fim do bloco socialista operou atransformação mais visível, a mais apregoada aomenos, que alteraria completamente o panoramadescrito vinte anos atrás pelo Chanceler Silveira: ode um mundo bipolar, que estava centrado naconfrontação ideológica e estratégica, ainda quedesde o final dos anos 50 fosse sendo cada vez mais

matizado pelo surgimento de grandes potênciaseconômicas, como a Comunidade Européia e oJapão. Um mundo em que grande parte dos esforçosda comunidade internacional pelo desenvolvimentoeconômico estavam condicionados ou eram afetadospela disputa estéril e sem saída da Guerra Fria e dasdisputas regionais por ela alimentadas.

O caminho das transformações nas relaçõesinternacionais

Mas esse era também um mundo que já traziaem si o germe da mudança, em grande parte fortalecidopelo próprio clima de crise persistente e multidimensionalque marcaria boa parte dos últimos vinte anos.

Com o seu sentido de desordem e o seupotencial de ameaça indiscriminada, a crise tãopresente nos anos 70 e início dos anos 80 evidenciariaa inviabilidade da permanência indefinida do rígidosistema do imediato pós-Guerra, corroído einstabilizado pela perda do poder relativo das duassuperpotências.

Na verdade, o germe da transformação doantigo Sistema já se encontrava nos traços cada vezmais fortes, e hoje dominantes no cenáriointernacional, da multipolarização econômica etecnológica. Falo de um mundo multipolar cada vezmais forte, subjacente ao mundo bipolar da GuerraFria, e que se materializava no agrupamento de paísesem torno de núcleos de polarização (os EstadosUnidos, na América do Norte; o núcleo inicial daCEE, na Europa; e o Japão, na Ásia).

Em outras palavras, e para evitar qualquersimplificação, o mundo bipolar da Guerra Fria já traziaem seu bojo o mundo multipolar — do ponto de vistado poder econômico e tecnológico — que o substituiu.

O germe da transformação encontrava-setambém no crescimento da importância dacompetitividade econômica e tecnológica em relaçãoao poderio militar e estratégico — inclusive eprincipalmente para as duas superpotências de então.A Guerra Fria praticamente concluiu quando o embatese transferiu para uma super disputa tecnológica,

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139Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

corporificada na iniciativa norte-americana do SDI -Strategic Defense Initiative, ou “Guerra nasEstrelas” —, a que a então União Soviéticadesesperadamente tentaria responder enquanto davasinais finais de exaustão econômica e política.Também a medida em que se evidenciava a perdarelativa da participação das superpotências noproduto mundial e no comércio internacional, oprocesso de acumulação internacional se desviavapara países como o Japão, a Alemanha e outros paíseseuropeus e os chamados “Tigres asiáticos”,detentores, ainda hoje, das maiores taxas depoupança e de investimento no globo.

A globalização como fator de transformaçãoE esse mesmo germe da transformação se

encontrava na globalização vertiginosa da economia,tanto na esfera da circulação dos capitais quanto nada produção de bens e serviços. E convenientedesmistificar um pouco o conceito de globalização,que tende a ser percebido imediatamente como umaameaça aos países em desenvolvimento e portantocomo algo que nós deveríamos e poderíamoscombater. A globalização, antes de mais nada,corresponde a um novo processo produtivo em escalamundial. Ou seja, o que antes era produzido de formamais concentrada em um país ou grupo de paísespróximos, hoje é produzido em uma cadeia maisextensa, buscando justamente a melhor relação custo-qualidade-competitividade. Isso naturalmente afetaos fluxos de investimento, que começam a orientar-se pela cadeia produtiva mais estendida e abeneficiar-se da maior abertura proporcionada pelodesejo dos países de participar da cadeia produtiva.

Uma conseqüência natural da globalização daprodução foi seu efeito multiplicador sobre ocomércio internacional, que cresceria em proporçãomuito superior à do produto mundial. E não apenasisso. Ela teria um impacto muito grande sobre aspróprias políticas econômicas dos paísestradicionalmente mais fechados e impulsionaria osprocessos regionais de integração em áreas

dominadas por essas economias mais fechadas.Aspectos básicos da vida dos Estados

soberanos, como o nível da atividade econômica, onível de emprego, a competitividade dos seusprodutos nos mercados externos e nos seus própriosmercados – todos eles aspectos que tem impactodiretamente sobre o nível de bem-estar, a estabilidadepolítica e a estabilidade econômica e, naturalmente,sobre a própria soberania em sentido mais amplo —passaram a ter um grau muito maior de incidência defatores internacionais.

Estabilidade política e econômica, aberturacomercial e aos capitais de investimento internacionaise capacitação tecnológica e em recursos humanospassaram a ser muito mais importantes do queconsiderações geopolíticas ligadas aos fatorestradicionais do poder nacional, como território erecursos naturais. Essas, aliás, são as forças queestiveram por trás da mudança radical de projetonacional de países como o Japão e a Alemanha, queabandonaram pretensões territoriais e hegemônicas paratransformar-se em Estados mercadores — tradingStates —, no conceito feliz de Richárd Rosecrance.

Um mundo de oportunidades, desafios e riscosEssas transformações geraram um mundo

diferente, o mundo em que vivemos hoje. Mas ele édiferente muito mais no sentido de que muitas daforças que se encontravam em segundo plano sob odomínio da Guerra Fria passaram ao primeiro plano,oferecendo algumas oportunidades, masevidenciando, como disse, desafios e riscos para umpaís das características e com os imperativos deinserção externa do Brasil.

Ao dizermos que o mundo contemporâneoapresenta oportunidades, desafios e riscos, nãoestamos inovando em nada, porque essa é acaracterística de qualquer ambiente em que existaatividade humana. O que é preciso fazer e reconhecerque o mundo dos anos 90 apresenta novasoportunidades novos desafios e novos riscos,diretamente vinculados às forças ou tensões que

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passaram a dominar o cenário mundial com a retraçãodas tensões de natureza ideológica e estratégico-militar próprias da Guerra Fria.

Em vez de preocupar-se com a suapreservação e a da sua forma de vida diante dasameaças oriundas de outro sistema político-estratégico, os Estados hoje pensam muito mais nojogo das forças econômicas, com a consciência deque a soberania, o poder nacional e a capacidade deinfluência se ampliam com o fortalecimento daeconomia e dos indicadores sociais.

É do sucesso econômico e social — e nãomais da proteção do guarda-chuva estratégico deuma superpotência ou da doutrina da “segurançanacional”— que dependem os elementosfundamentais para a preservação de um Estado:estabilidade política e social, o crescimentoeconômico sustentável, a geração de empregos, obem-estar da população. E desse sucesso, e não depolíticas de prestígio, que depende a projeçãointernacional dos países.

Há riscos nessa nova realidade? Claro quehá. Mas esses riscos estão ligados muito mais aincapacidade que um Estado tenha de se adaptar parafazer face às novas condições da competiçãointernacional. A marginalização por força de mazelassociais e econômicas internas e pela incapacidade decompetir passa a ser um risco real, com conseqüênciasmateriais e graves prejuízos para a soberania.

Basta citar um exemplo. Em uma situação demercado protegido dentro do modelo de substituiçãode importações, os baixos indicadores sociais de umpaís não representam senão uma redução do mercadoconsumidor real, mas essa redução é administradapelos agentes econômicos que se limitam a adaptara sua produção à escala real do mercado. Em umasituação de mais aberta competição por investimentos,mercados e tecnologia, baixos indicadores sociaispassam a representar um constrangimento direto parao desempenho da economia, para a escala daprodução e para a competitividade dos produtos quedependem em algum grau da qualidade da mão de

obra — portanto, constituem um fator de risco real.Uma sociedade mal integrada e com baixodesempenho econômico é muito mais susceptível deser afetada adversamente por problemas como onarcotráfico, o terrorismo, o crime organizado e acorrupção, subprodutos de mundo ainda longe daperfeição e em que se acirram fatores propulsoresdessas distorções.

Da mesma forma, diante da tendência a quese consolidem regras universais para regular atransferência de tecnologia, a não-proliferação, apromoção e a proteção de investimentos, o acesso amercados, e face à postura claramente competitivacom que os países se voltam para o exterior,configuram-se novas áreas em que a marginalizaçãoe o isolamento tem um preço a ser pago — um preçoque se mede precisamente pelo acesso a mecanismosdecisórios, a mercados, a investimentos produtivose a tecnologias.

Nessa ordem de raciocínio, riscos reaispróprios da atual estrutura internacional convertem-se em desafios e oportunidades quando um país procuraestar na vanguarda da internalização das transformaçõesem curso no mundo. Não falo, naturalmente, de umainternalização acrítica ou subserviente, mas sim de umprocesso refletido de aperfeiçoamento dos mecanismosque nos integram ao mundo.

A esses desafios e oportunidades se somamoutras oportunidades reais surgidas com o fim deconflitos regionais — na África Austral, no OrienteMédio, na América Central — ou com a aberturaeconômica de países como a Índia, a China, o Vietnãou a Rússia e os antigos países socialistas da EuropaCentral e Oriental.

Se apresenta o risco de reduzir-nos a buscarvantagens comparativas que no passado nos teriamcondenado a sermos eternamente uma grande fazendade café e cana-de-açúcar a liberdade econômica queprevalece como força motriz das relaçõesinternacionais de hoje nos abre mercados antes muitorestritos ou fortemente protegidos.

Essa mesma liberdade econômica nos induz

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a buscar fórmulas criativas, entre as quais a daintegração regional, para ampliar a escala e melhorara competitividade da nossa economia — não apenaspara torná-la mais apta a disputar fatias de mercadoe explorar janelas de oportunidade no exterior, mastambém para torná-la mais atrativa para os paísesque dispõem de reservas de capital e de conhecimentotecnológico e buscam parcerias orientados pelosimperativos da globalização da produção e da maiorparticipação nos benefícios do comércio mundial.

A diplomacia brasileira em um mundo emtransformação

A diplomacia que o Governo FernandoHenrique é chamado a exercer deve ser uma respostaa mais completa possível a essa nova realidadeinternacional e aos imperativos internos brasileiros,valendo-se obviamente das condições maisfavoráveis que temos hoje para melhor inserir-nosem nossa região e no mundo.

Mas é preciso desde já fazer duas precisões.A primeira delas é que a diplomacia defende

e projeta no exterior os interesses nacionais, damesma forma que ela procura melhorar a inserçãointernacional do país que representa. Mas ela nãocria interesses, nem pode projetar o que não existe.O país que se encontra por trás da diplomacia é oúnico elemento a partir do qual ela pode operar. Porisso, a diplomacia só poderá responderadequadamente às transformações do cenáriointernacional se essas transformações forem, dealguma forma, internalizadas pelo país.

O patrimônio diplomáticoA segunda é que a diplomacia de um país

como o Brasil opera necessariamente a partir de umpatrimônio diplomático. Ela não admite mudançasirrefletidas ou bruscas, nem barganhas voltadas parao curto prazo, nem jogos de cena ou buscas irrealistasde prestígio.

Temos um patrimônio político construído comos diferentes grupos de países com os quais nos

relacionamos, temos uma tradição de atuaçãoequilibrada e amadurecida nos foros multilaterais etemos interesses claros como grande país continental,com uma economia cada vez mais dinâmica eintegrada ao exterior e que cresce como referendapara outras economias.

Poucas vezes no passado nos moveramveleidades de liderança, a ilusão do prestígioconstruído através de iniciativas de impacto na cenaregional ou internacional ou a miragem de relaçõesespeciais ou alinhamentos automáticos que nãotinham correspondência na escala de prioridades doparceiro. Quando isso ocorreu, rapidamente sepercebeu a limitação do gesto, e se voltou ao cursorefletido de uma diplomacia amadurecida emdécadas de complexas lides internacionais.

Há uma sabedoria na tradição, na memóriae na prudência diplomáticas, não porconservadorismo ou principismo estéril, mas porqueas relações entre Estados se dão ao longo deperíodos extensos da História.

Por isso, o papel da diplomacia brasileira einterpretar corretamente as prioridades nacionais,situando-as dentro do projeto mais amplo do nossodesenvolvimento e procurando servir comoinstrumento dessas prioridades no plano exterior. Sempreconceitos, sem ingenuidade, sem demagogia ouarroubos retóricos.

O Brasil visto pela sua diplomaciaFeitas essas precisões, como podemos

caracterizar o Brasil, seu projeto de desenvolvimentoe suas prioridades atuais, de forma a orientar a açãoda nossa política externa?

Um país continentalPasso por alto aquelas que são as nossas

características intrínsecas — dimensão continental,população, recursos naturais, tamanho do mercadoconsumidor potencial, situação única no HemisférioSul, distante dos grandes pólos de poder comcapacidade de galvanizar economias menores e mais

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próximas — para entrar naquilo que propriamenteda uma dimensão dinâmica a esses fatores.

Em política externa, não basta ser grande eatraente para gerar interesses e promover parcerias,é preciso parecer grande e atraente. Não basta terpoder ou potencial é preciso mostrar esse poder eesse potencial. E a medida dessa grandeza e dessaatratividade é muito relativizada pelo tempo, pelascircunstâncias históricas e, sobretudo, pela própriagrandeza e atratividade dos demais jogadores quese encontram no tabuleiro, jogando o mesmo jogo etentando interpretar ou mudar as regras a seu favor.

Um país com amplo vínculo ao exteriorA resposta àquela indagação - O que somos

do ponto de vista diplomático, na verdade a perguntaque constitui o cerne da reflexão que me proponhofazer aqui — deriva, naturalmente, de uma avaliaçãoda capacidade e da necessidade que o país apresentade relacionar-se com outros países e regiões.

Temos uma tradição de inserção internacionalque nos foi legada pela nossa própria irrupção naHistória como colônia de exportação de produtostropicais e matérias-primas. Nossa formação social,fortemente marcada pela imigração, reforçou ao longodo último século essa vocação universalista do Brasil.

Até pela própria mentalidade aberta ao mundodos brasileiros, nunca foi seriamente admitida entre nós,nem a título de especulação teórica, a idéia da autarquia.

O mundo exterior, que nunca deixou dechegar-nos com a rapidez cada vez mais alucinantedos meios de comunicação, sempre constituiu umpadrão contra o qual nós nos julgamos e julgamos oque fazemos. A referência externa é um componentecentral da psicologia brasileira — um componenteque comparece sem despertar traumas, temores oureceios exagerados, provavelmente porque temosfirmado no inconsciente coletivo o significado de 125anos de paz ininterrupta com nossos vizinhos e asensação de confortável segurança que nos dão anossa própria localização geográfica e as nossasdimensões físicas.

Nossa economia cresceu e diversificou-secom o aporte continuado de capitais de empréstimose de investimentos estrangeiros — ingleses, primeiro,a que se somaram os norte-americanos, os de outrospaíses europeus, do Japão, da própria América Latina.

A presença dominante da economia de mercadoNossa industrialização se fez com grande

dose de intervenção estatal, mas foi centrada nainiciativa privada e, em grande medida, na iniciativaprivada transnacional. Temos uma tradição deeconomia de mercado das mais sólidas nos paísesem desenvolvimento.

Pusemos em prática, é verdade, por longoperíodo, um processo de substituição de importaçõesque foi responsável pela ampliação horizontal donosso parque industrial e por uma complexidade donosso parque produtivo (tanto na área de bens deconsumo quanto de bens de equipamento quanto naárea de serviços). O vigor e a complexidade do nossoparque produtivo nos coloca em posição de vantagemrelativa no conjunto dos países em desenvolvimento.

Durante mais de duas décadas, esse processo— que reservava para o produtor instalado no Brasilum mercado potencial de dimensões continentais —foi responsável pela nossa capacidade de atrairinvestimentos produtivos, que pouco a pouco,contudo, se foram concentrando mais em áreas comoa mineração de ferro e alumínio, até se estancarempor força das limitações geradas pela crise da dividaexterna, alta inflação, excesso de intervenção estatale políticas erráticas na área industrial, comercial emacroeconômica.

Uma presença diplomática próxima do UniversalAo mesmo tempo em que crescíamos a ritmo

acelerado nos anos 70 e consolidávamos adiversificação da nossa economia, fomos capazes deampliar consideravelmente a nossa presençainternacional, em grande parte pela nossa capacidadede atuar, sem excursões, nos mais variados tipos demercado. Geramos parcerias novas ou fortalecemos

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parcerias tradicionais tanto no mundo emdesenvolvimento — América Latina, África e OrienteMédio, em menor proporção na Ásia, à exceção daChina — e no mundo desenvolvido — de que sãoexemplares as relações desenvolvidas com aRepública Federal da Alemanha e com o Japão.

Essa presença global do Brasil era uma parteintegrante da nossa política econômica, que tinha nabusca e diversificação de mercados e na garantia desuprimentos vitais como petróleo e derivados, umapreocupação central, ligada à própria manutenção ecrescimento da nossa atividade econômica. Cada vezmais ficou evidente que parte da nossa atividadeeconômica dependia da dimensão externa da nossaeconomia e da nossa capacidade de ampliar a nossapresença global com as conseqüências político-diplomáticas desse imperativo.

A evolução do quadro econômico internobrasileiro só fez acentuar a dimensão internacionaldo Brasil. A superação do modelo de substituiçãode importações, pela incidência adversa que vinhatendo na competitividade da economia brasileira eaté mesmo por pressões oriundas de consumidoresmais exigentes, obrigou-nos a um exercício deconscientização sobre as tendências dominantes nocenário internacional e no cenário interno dos paísesque figuram na nossa faixa de inserção.

A estabilização como alavanca da inserçãoexterna

O imperativo de estabilizar a economia egarantir bases para o seu crescimento sustentado,tão bem traduzido pelo Plano Real, tem também umaforte dimensão externa, ainda que boa parte das suascondições mínimas digam respeito a questões denatureza interna, como o equilíbrio fiscal, aausteridade monetária e a própria confiabilidade doplano, que desta vez recusou choques, surpresas,intervenção na economia, congelamentos. A própriaabertura da economia ao exterior foi fator fundamentalpara assegurar o êxito do plano: por primeira vez sepôde utilizar a oferta externa para enfrentar a pressão

da demanda provocada pelo aumento do poderaquisitivo da população permitido pelo fim da inflação.

A solução adequada da questão da dívidaexterna, depois de doze anos como hipoteca sobreboa parte da agenda externa brasileira tanto compaíses desenvolvidos como com parceiros emdesenvolvimento, foi também uma condiçãonecessária ao êxito do plano, e a ele se somou nocapítulo das novas credenciais com que o Brasil buscarenovar ou aprofundar suas parcerias no mundo.

Não preciso aqui estender-me sobre o efeitopositivo que a estabilização da economia, o ajuste,as reformas em curso e a retomada do crescimentoem bases mais seguras tem tido sobre a imagem doBrasil no exterior e sobre o crescimento do interesse denossos parceiros pelo Brasil. A percepção do Brasilcomo país de oportunidades e como força emergentena economia mundial parece consolidar-se.

O meu testemunho, depois de um ano e trêsmeses de exercício no cargo e um grande número decontatos com autoridades estrangeiras, no exteriorou no Brasil, é de que nós passamos a ocupar umlugar de realce na agenda mundial. Essa condição foisendo reforçada à medida que fomos avançando nasreformas e que o Plano se mantinha firme. E foireforçada também pela forma como fomos capazesde resistir, precavendo-nos e adotando as correçõesde rumo necessárias, quando do auge da crisefinanceira que assolou alguns países latino-americanosem 1995.

Democracia consolidada, sinônimo deestabilidade

Não preciso tampouco estender-me sobreconsiderações a respeito da consolidação das nossasinstituições democráticas que resistiram, nos últimosdez anos, à morte de um Presidente-eleito e aoimpeachment de outro. Essas instituições têm sidocapazes de canalizar demandas, conflitos econtradições próprias de uma sociedade complexacomo a brasileira.

Do ponto de vista do padrão internacional

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vigente hoje, nossa democracia traduz-se em umtrunfo importante, insubstituível: estabilidade políticae a certeza de regras transparentes no jogo políticoem sentido mais amplo. Combinada à estabilizaçãoeconômica, a estabilidade política passa a ser umfator central da projeção externa brasileira.

Um país com muitos desafios na área socialOutro dado básico da realidade brasileira é

a permanência de indicadores sociais ainda muitoabaixo da média, a funcionar como fator deconstrangimento em várias áreas. Comparado aalguns dos seus competidores internacionais, o Brasilperde em capacitação de mão-de-obra, em escalareal do mercado consumidor frente à escala potencial,em custos sociais (custo da enfermidade, custo dabaixa produtividade), em coesão social.

A concentração social e regional de rendaafeta nosso potencial de desenvolvimento, depoupança e de consumo. E esses aspectos negativos,que é forçoso reconhecer, nos recordam claramenteque o país, embora tenha várias dimensões dedesenvolvimento, enfrenta vários desafios de naturezasocial que ganham sentido de urgência. Seria ilusóriopensar que reduzimos ou eliminamos um traço comumde identidade que nos une à imensa maioria dospaíses em desenvolvimento no mundo.

Somos um país em desenvolvimento, comuma economia industrial forte e inúmeras marcas dedesenvolvimento, mas ainda marcado por muitas dascaracterísticas do subdesenvolvimento e da pobreza.

Esse é um dado primário da nossa inserçãointernacional e portanto uma condicionantefundamental da nossa política externa.

O compromisso com as reformasO amadurecimento político do país e a

consciência dos nossos desafios e constrangimentosgerou um quase-consenso sobre a necessidade e aurgência de reformas que nos permitam reduzir asdisparidades sociais e regionais com medidas eficazese duradouras, que não comprometam a médio ou

longo prazo a estabilidade econômica e o crescimento.Essas reformas se vêm fazendo com o ritmo própriode uma democracia complexa. Já avançamos muitoem matéria de flexibilização de monopólios eeqüidade no tratamento dos capitais nacionais einternacionais.

Temos avançado na privatização, com ascautelas que ela requer. Afinal, como disse oPresidente Fernando Henrique Cardoso em suarecente viagem ao Japão, não somos um pequenopaís que está privatizando uma linha aérea ou doisou três pequenos bancos provinciais. Estamosfalando de empresas de grande porte, que necessitamdo aporte de capitais privados, mas que constituemum importante patrimônio público com grandeincidência sobre o sistema produtivo do país. Ointeresse que essas empresas geram constitui semdúvida um trunfo em nossa relação com nossosparceiros no exterior.

Uma política externa engajadaCom esse panorama interno e internacional,

torna-se mais fácil compreender as linhas-mestras dadiplomacia que o Governo Fernando HenriqueCardoso vêm implementando nestes quinze meses.

Não quero buscar um rótulo que designe essapolítica externa, mas sim caracterizá-la pelos seuselementos definidores centrais. Não andamos atrásde slogans, mas sim de resultados.

Nossa diplomacia é universalista e não-excludente. Essa é uma característica que deriva daprópria inserção internacional do Brasil, um país comrelações equilibradas entre quatro grandes pólos —a Europa, a América do Norte, a América Latina e aÁsia. Buscamos reforçar ou criar parcerias com baseem interesses concretos e naturais, no seu impactono nosso nível de atividade econômica, e no seu papelna configuração de uma rede de presençainternacional do Brasil. Queremos estender essasparcerias em todas as áreas do globo, em especialnaquelas que mostram maior dinamismo, como aÁsia, a última região em que nos restam amplos

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espaços a explorar.Não há elementos ideológicos que presidam

a busca dessas parcerias. Com princípios, mas compragmatismo, buscamos as oportunidades onde elasexistam. E não há, na concepção brasileira, razãopara privilegiar um ou outro relacionamento externo,um ou outro foro internacional ou agrupamentoregional ou temático, em prejuízo ou detrimento deoutros.

Os limites de nossa ação diplomática serãoos limites dos nossos próprios recursos. Sua principalbaliza é o princípio de que é importante para o Brasilassumir, nas suas relações com o resto do mundo,um lugar condizente com as suas dimensões e comas suas características de grande país emdesenvolvimento.

Nossa diplomacia é um instrumento a serviçodo nosso desenvolvimento sustentável com justiçasocial. Isso quer dizer que ela não é um fim em simesma, nem obedece a concepções puramenteintelectuais da realidade mundial ou do nosso própriopaís. Não se ilude com veleidades de liderança oude prestígio. Tem uma consciência aguda dos trunfose dos constrangimentos que o Brasil apresenta, masnão busca confrontos estéreis que possam isolar-nos,nem iniciativas desprovidas do sentido pragmáticoque nos inspira.

Nossa diplomacia tem também umapercepção clara do que é a agenda internacionalcontemporânea, de como ela evoluiu nos últimosanos, de quais são as prioridades reais nessa agendapara um país como o Brasil e de quais são as atitudese os reflexos que não mais correspondem a umarealidade internacional transformada.

Traduzindo em termos práticos relativos aoano de 1996, isso quer dizer que a diplomaciabrasileira é um instrumento a serviço da estabilizaçãoda economia brasileira, da melhoria do nosso acessoa mercados, a investimentos e a tecnologias, e daampliação da nossa presença nos mecanismosdecisórios internacionais que lidem com assuntospolíticos ou econômicos que nos digam respeito.

Para isso, estamos fazendo os ajustesnecessários em nossa ação, ampliamos nossa reflexãoe, embora conscientes da importância do nossopatrimônio diplomático, estamos evitando, a todocusto, ações reflexas, atitudes mecânicas e pré-concebidas e dogmatismos que são in limineincompatíveis com as mudanças que caracterizam omundo e o nosso próprio país.

Por fim, nossa diplomacia é ativa, não reativa,como corresponde a um país que tem interessesconcretos a promover nos mais variados âmbitos dapolítica internacional. Repudiamos toda falsa cautelaque justifica a inação e que pode ser responsávelpor perdermos espaço na cena internacional e temponos movimentos estratégicos que se impõem.

Não queremos chegar tarde as áreas novasque se reincorporam ao convívio internacional, e porisso estamos fazendo uma política ativa na ÁfricaAustral e no Oriente Médio; erigimos em prioridadeconcreta as nossas parcerias com os países daASEAN, possivelmente o núcleo de países que maiscresce no mundo, e atualizamos a nossa relação coma China, a Índia e o Japão; estamos participandocom interesse e espírito aberto e construtivo dosdebates em tomo da reforma das Nações Unidas,da ampliação do Conselho de Segurança, da urgênciade mecanismos que previnam e corrijam os impactosda volatilidade dos capitais sobre as economiasemergentes; e temos estado ativos no seguimento daCúpula de Miami, preocupados em dar um cursopositivo, construtivo e realista ao processo deintegração hemisférica a partir dos arranjossubregionais.

Alguns exemplos de uma diplomacia em açãoSão muitos os exemplos de ações que temos

promovido para tomar palpáveis essas diretrizes. Quinzemeses de política externa particularmente ativa já sãosuficientes para mostrar o grau em que praticamos adialética que se consagrou na nossa história diplomática:a renovação combinada com a continuidade.

Insistindo no fato de que a lista sucinta que

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apresento a seguir e exemplificativa e não exclui outrasáreas de atuação e prioridades da nossa políticaexterna (como a própria União Européia, que sómencionarei de passagem), gostaria de encaminhar-me para o final mencionando alguns desses exemplosda nossa atuação diplomática mais recente.

Diplomacia PresidencialA diplomacia promove os interesses do país

no exterior através de diversos meios — as nossasEmbaixadas, as missões especiais, as viagens doChanceler e outros altos funcionários as missõesempresariais e, evidentemente, as viagenspresidenciais. Não são instrumentos que se excluam;ao contrário, completam-se, no desempenho de umatarefa cada vez mais complexa, em um mundocompetitivo em que os países investem pesadamentena promoção dos seus interesses no exterior.

As viagens internacionais do PresidenteFernando Henrique Cardoso não são apenas oexercício, pelo Brasil, da diplomacia de Chefes deEstado e Governo, característica das relaçõesinternacionais nas últimas décadas e uma prática hojecomum entre os Estados. Elas traduzem também umaestratégia deliberada de nos valermos do instrumentodos encontros de cúpula, com sua capacidade únicade mobilizar meios governamentais, a imprensa e aopção pública, para promover uma atualização dapresença externa brasileira no mundo. Essaatualização se faz ainda mais necessária se pensamosnos desenvolvimentos positivos que o Brasil vemtendo e que é preciso apresentar à comunidadeinternacional.

O programa de viagens presidenciais écoerente com as prioridades da política externa doGoverno. Com sentido de equilíbrio e de abrangência,vamos cobrindo o universo das relações exterioresdo Brasil em termos de parcerias importantes — naAmérica do Sul, na América do Norte, na Europa ena Ásia, futuramente na África e no Oriente Médio.Com esse programa os setores governamentaisresponsáveis por cada um dos aspectos que

compõem as nossas relações com o país visitado sãochamados a participar da preparação substantiva daviagem e depois a fazer o “follow up” indispensávelpara acompanhar os resultados. Ao mesmo tempo,o Presidente tem conseguido colocar a políticaexterna na agenda brasileira, chamando a atençãopara o fato de que um país como o Brasil não podeficar alheio aos mundo exterior e aos nossosinteresses lá fora.

Os resultados que temos colhido são, naminha avaliação, os mais favoráveis possíveis. Bastacitar os países visitados pelo Presidente nestes quinzemeses para se ter uma idéia da importância desseprojeto de diplomacia presidencial: Chile, EstadosUnidos, Portugal, Alemanha, Bélgica e UniãoEuropéia, China, Malásia, Índia, México e Japão,sem contar as posses presidenciais e reuniõesmultilaterais de cúpula em que temos estadoativamente presentes. O Brasil hoje é respeitado eolhado com interesse no exterior não apenas porquetemos uma nova realidade política e econômica aquidentro, mas porque temos sabido promover essarealidade junto aos nossos principais parceirosvalendo-nos da habilidade, da experiência e dointeresse diplomático do presidente da República.

Proteção aos nacionais brasileiros no exteriorTalvez o dado mais novo para a diplomacia

brasileira nestes últimos tempos seja o da imigraçãobrasileira ao exterior. Em países fronteiriços ou empaíses desenvolvidos, o contingente de brasileiros quevive temporariamente ou em bases mais definitivasno exterior aumentou geometricamente, alcançandohoje perto de 2 milhões de cidadãos. A eles se agregaum número crescente de turistas, estudantes eempresários, levados ao exterior pela estabilidadeda moeda brasileira e pelas oportunidades que seabrem fora do país.

A proteção ao nacional no exterior étradicionalmente uma das atribuições básicas dadiplomacia, ao lado da representação, da negociaçãoe da informação. Para a diplomacia brasileira, nunca

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houve uma situação comparável. Os desafios que seabrem para nós são imensos. Além da demanda porServiços cartoriais prestados pela rede consular,aumentam as necessidades de apoio consular abrasileiros e de incentivo a organização dascomunidades brasileiras fora do país. O Itamaratytem passado por uma grande renovação em sua áreaconsular e hoje já concentra cerca de 25% do seuorçamento nas tarefas consulares e de assistência abrasileiros no exterior.

União EuropéiaA Europa tem sido tradicionalmente, em

conjunto, o mais importante parceiro econômico ecomercial do Brasil, responsável por cerca de 30por cento do nosso comércio exterior e por algumasdas mais importantes parcerias individuais do Brasilno mundo, como é o caso da Alemanha, da Grã-Bretanha, da França e da Itália. Embora a Europatenha perdido algo de sua posição relativa nocomércio exterior brasileiro e nos investimentos noBrasil, ela constitui uma das bases do equilíbrio quecaracteriza nossa inserção no mundo nosso interesseé manter e reforçar esse equilíbrio, inclusive porqueestão em curso iniciativas, como a projetadaintegração hemisférica, que poderão incrementar emmuito as relações comerciais e financeiras entre oBrasil e o Continente americano.

Esse é um dos fundamentos da política européiaque temos seguido e que encontra seu melhor exemplona viagem presidencial à Alemanha, em setembro de1995, e na visita à França, agora em maio.

Outras iniciativas semelhantes seguirão,sempre com a preocupação de manter a Europacomo grande parceiro econômico, comercial etecnológico do Brasil.

Estados UnidosMesmo tendo em conta a perda relativa do

poder econômico e político norte-americano aolongo dos últimos 50 anos, as relações com osEstados Unidos continuam sendo um dos paradigmas

da política externa brasileira desde que o Barão doRio Branco, no início do século, operou a mudançano principal eixo de relacionamento internacional dopaís, movendo-o de Londres para Washington. OsEUA são o principal parceiro individual do Brasil ehoje a única potência com real capacidade política eestratégica global. A importância do diálogo político edo intercâmbio econômico-comercial e tecnológico comos Estados Unidos é patente para o Brasil. Ao mesmotempo, cresce a consciência de que esse interesse éuma via de duas mãos, a ser trilhada na base do respeitoe com uma abordagem construtiva e positiva.

A visita presidencial aos Estados Unidos, emabril de 1995, serviu ao propósito de redimensionaressa parceria tradicional do Brasil, valendo-se dosnovos elementos de que dispomos no cenário internobrasileiro: a estabilização, a abertura econômica, asreformas, o crescimento, a consolidação da nossacredibilidade. Ampliamos e avançamos nossa agendacom os Estados Unidos, uma agenda afirmativa, quemostra o compromisso dos dois Governos detrabalhar ativamente pelo fortalecimento dointercâmbio e pela solução das diferenças quenaturalmente aparecem em um relacionamento dadensidade e complexidade do nosso.

Posso dizer hoje com muita tranqüilidade quepossivelmente nunca, desde a Segunda Guerra, foramtão boas e equilibradas as relações Brasil-EstadosUnidos. Com os Estados Unidos, temos tido umdiálogo maduro e franco sobre temas de interessecomum ou iniciativas conjuntas: as relações comerciaisbilaterais, a integração hemisférica, a reforma dasNações Unidas. Graças, em grande medida, aosenormes avanços que fizemos no Brasil, a relação comos Estados Unidos se encontra hoje livre de grandesdiferendos. Nossa agenda, mais do que positiva, éafirmativa, no sentido de que existe uma preocupaçãoconstante em construir sobre os aspectos positivos quevão compondo o universo das relações.

MercosulO Mercosul é talvez, hoje, a síntese do que

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tradicionalmente foi o nosso outro paradigmadiplomático no campo das relações bilaterais: ospaíses do Prata. Mais do que síntese, o Mercosul étambém um símbolo do grande avanço qualitativoque essas relações tiveram a partir da década de 80,quando o signo da cooperação e da parceriacompleta substituiu definitivamente o Signo dacompetição nas relações entre os dois maiores sóciosdo empreendimento, a Argentina e o Brasil.

O Mercosul é área prioritária da políticaexterna brasileira. Mais do que isso, já se consolidoucomo um instrumento de política econômica paracada um dos seus Estados-membros. Com sentidode realismo e pragmatismo e tendo em vista osinteresses da estabilização brasileira para a própriaconsolidação do Mercosul, procuramos adaptar ainiciativa aos imperativos que podem derivar deconjunturas macroeconômicas adversas oupotencialmente arriscadas para os Estados-membros,e creio que temos tido grande êxito. O Mercosulfirma-se como um parceiro internacional e como umimportante reforço à identidade e à projeção externados países que o compõem.

Continuamos a trabalhar pela consolidaçãoda União Aduaneira e a promover as bases para umrelacionamento mais amplo entre o Mercosul e outrospaíses ou grupos de países. Começamos com a UniãoEuropéia, através do acordo de cooperação econômicafirmado em dezembro último em Madri. A intenção échegarmos a um acordo de livre comércio entre as duasregiões, que fortaleça, do nosso ponto de vista, oequilíbrio relativo do comércio exterior dos quatro paísesque integram a nossa união aduaneira.

Estamos atuando também no sentido dechegar a acordos de liberalização comercial entre oMercosul e outros países da nossa região, começandopelo Chile. Pouco a pouco, o Mercosul vaicompletando o seu caráter de nova grande realidadeeconômica e política na América do Sul — um dosnúcleos a partir dos quais será possível ampliar aintegração hemisférica.

América LatinaEstamos ampliando a nossa parceria com

nossos vizinhos latino-americanos, dando ênfase àinterconexão física e à cooperação fronteiriça com essespaíses, respondendo a um interesse concreto cada vezmaior dos agentes econômicos e das populações quenegociam através de nossas fronteiras.

A América Latina volta a ocupar hoje, comvantagens o lugar de destaque que teve em nossocomércio exterior no final dos anos 70 e início dos80; hoje, esse comércio é maior ainda, maisdiversificado e mais equilibrado, e participa com perfilelevado tanto na geração de atividade econômica noBrasil quanto no suprimento de bens de consumo ematérias-primas para a nossa economia.

Um dado a reter é que hoje a Argentina é onosso segundo fornecedor de petróleo, o que revelauma alteração substancial em nosso esquema defornecimentos de petróleo. As visitas presidenciaisao Chile e à Venezuela, em 1995, ao México, emfevereiro último, e à Argentina, em abril, respondema essa diretriz de intensificar ainda mais o intercâmbioe a cooperação bilaterais com países da nossa região.

Em nossa região, a dimensão multilateral, deintegração no âmbito do Mercosul, não substitui nemexclui a dimensão dos relacionamentos bilaterais comtodos e cada um dos países latino-americanos —inclusive, individualmente, com os nossos três sóciosdo Mercosul. A dimensão bilateral e multilateral seintegram perfeitamente, fortalecendo-se mutuamentee contribuindo para que a América Latina consolidea sua posição como um dos quatro grandes blocosde relacionamento externo do Brasil, ao lado doNAFTA, da União Européia e da Ásia.

Integração hemisféricaO Brasil tem participado das reuniões de

seguimento da Cúpula das Américas animado domesmo espírito construtivo que orientou a nossaparticipação em Miami, em dezembro de 1994.Nosso compromisso com o processo iniciado emMiami é firme.

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Para nós, fortalecer as relações interamericanassobre a base de um expressivo crescimento do comércioe dos fluxos de investimentos intra-regionais constituium instrumento insubstituível no marco mais amplo deuma melhor inserção da economia brasileira na economiainternacional.

A realidade de que estamos partindo écomplexa, mas extremamente favorável. AOrganização Mundial do Comércio nos dá umaestrutura de regulação e liberalização do comérciojá em pleno funcionamento e em processo deaperfeiçoamento. Os arranjos sub-regionais deintegração ou liberalização do comércio já sãoimportantes focos de interação econômica. NoContinente, a liberdade econômica e a aberturacompetitiva ao exterior consolidam-se como forçaspropulsoras do desenvolvimento econômico e doprogresso social.

Mas essa realidade complexa que nos permiteser otimistas sobre a integração hemisféricaaconselhanos uma abordagem cuidadosa doprocesso. Queremos evitar expectativas irrealistas outemores que possam ser nocivos ao processo a maislongo prazo. Queremos ir com cautela e sentido deresponsabilidade em áreas onde não existe consensoou onde o consenso será alcançado passandonecessariamente pela OMC e pelos arranjosregionais. E queremos estar certos de que osprocessos unilaterais de abertura e reformaeconômica, que tem sido a dominante na nossa região,estão se consolidando.

Em nossa visão, não há atalhos para chegara um objetivo da magnitude da área de livre comérciodas Américas. Queremos garantir que a obra querealizaremos trará a marca da permanência e dointeresse consensual de todos os países participantes.

ÁfricaNa África, estamos redimensionando nossa

presença e adequando-a a nossa capacidadediplomática.

Apostamos fortemente na pacificação e na

reconstrução de Angola e Moçambique, que tem todoo potencial para serem dois dos nossos mais importantesparceiros no mundo em desenvolvimento. Esse é osentido da nossa participação na UNAVEM-III, aForça de Paz das Nações Unidas que ali conta commais de 1.100 soldados brasileiros — nossa maior forçamilitar fora do país desde a Segunda Guerra.

Estamos também repensando nossorelacionamento com a África do Sul, país que surge,com a sua democratização, como um dos pólos maisdinâmicos de desenvolvimento no Hemisfério Sul,além de ser o foco da atenção quase universal pelassuas potencialidades e pelo seu vigor econômico,ampliado com o fim do embargo e a volta dosinvestimentos. Esses exemplos falam de uma novaperspectiva que se abre para o Brasil na África, quevolta a figurar no horizonte das nossas prioridades graçasa uma feliz combinação de fatores internos brasileiroscom progressos sensíveis no cenário africano.

Oriente MédioTambém no Oriente Médio estamos

reequilibrando nossa presença, a partir da própriaevolução do processo de paz que tenta por fim a umconflito que por décadas assolou a região evirtualmente subtraiu-a ao convívio internacional e aosesforços pelo desenvolvimento. Embora conturbadopor atos de oposição violenta e pelas complexidadespróprias de um intrincado mecanismo negociador, quecoloca em presença muitos interesses e visõesconflitantes e mesmo opostos, o processo de paz noOriente Médio merece o apoio imparcial e decididoda comunidade internacional e o Brasil não poderiaagir diferentemente.

O Líbano se reconstrói, Israel chega a termoscom os palestinos e com vários de seus vizinhosárabes, os olhos do mundo se voltam para a regiãoatras de oportunidades que renascem. Minha visita aIsrael, de 28 a 30 de agosto de 1995, a primeira deum Chanceler brasileiro em 23 anos, teve esse sentidode redimensionar e equilibrar nossa presença noOriente Médio. Meu encontro com Yasser Arafat,

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na mesma oportunidade, para tratar de nossasrelações como Autoridade Palestina por ele presidida,teve esse mesmo sentido de equilíbrio e deaperfeiçoamento da nossa presença na área. OPresidente Fernando Henrique Cardoso encontrou-se em outubro passado com o Primeiro-Ministroisraelense Yitzhak Rabin, tragicamente vitimadodepois, e recebeu Arafat em Brasília no mesmo mês.A partir desse reequilíbrio da nossa presença na áreaqueremos ampliar os contatos no Oriente Médio eestar plenamente presentes no Mediterrâneo Oriental,uma região com vocação para o comércio e asrelações financeiras internacionais.

Ásia-PacíficoNa Ásia, estamos reforçando nossa presença

diplomática, equipando melhor algumas Embaixadasem países dinâmicos, definindo uma agenda e pondoem prática uma ampla iniciativa de diplomaciapresidencial, que começou, em dezembro de 1995,com a visita a China e a Malásia, dois casos desucesso na revolução econômica mais recente quetransforma a região da Ásia-Pacífico no pólo maisdinâmico da economia mundial nos anos 90. Essainiciativa prosseguiu em janeiro com a visita à Índia,devida há mais de duas décadas e voltada a colocarvirtualmente a Índia na tela dos nossos interesses edas nossas boas parcerias na região. E completamosa primeira fase dessa diplomacia asiática com a visitaao Japão, que sinalizou a retomada da relaçãobilateral sobre uma nova base de confiança recíprocae com novos elementos a favorecer a relação. Osresultados foram apreciáveis, tanto do ponto de vistapolítico quanto do ponto de vista econômico.

MTCR e outros mecanismos regulatóriosGraça aos compromissos que assumiu e

consolidou em matéria de controle de exportaçõesde materiais e tecnologias sensíveis e de não-proliferação de armas de destruição em massa, oBrasil foi admitido, em outubro último, no Regime deControle de Tecnologia de Mísseis. A participação

no MTCR foi resultado de um importante processode coordenação interna do Governo brasileiro e deatualização das nossas posições em face dedesenvolvimentos internacionais importantes.Percebendo o desinteresse de manter uma posiçãoprincipista contrária ao caráter restrito do MTCR emmatéria de participação, o Brasil passou a ver noregime uma garantia de acesso a tecnologiasindispensáveis ao desenvolvimento do seu programaespacial. Não abrimos mão do nosso programa; aocontrário, ele se mantém absolutamente intacto dentrode suas características de programa pacíficocontrolado por uma agência civil, a Agência EspacialBrasileira, e já começa a colher os benefícios da nossaadesão ao MTCR na forma do interesse desimpedidode grandes empresas em participar e da possibilidadede ter facilitado o acesso a tecnologias ecomponentes que ainda não temos condições dedesenvolver internamente.

Essa mesma abordagem pragmática nosorienta em nosso pleito de adesão ao Grupo deSupridores Nucleares. Reconhecendo nossacondição objetiva de supridor, queremos assumir asresponsabilidades internacionais inerentes a essacondição e garantir aos nossos parceiros que nósnos pautamos por regras estritas em matéria decomércio de bens e insumos da área nuclear. Trata-se de mais uma credencial em nossa atuação na áreade desarmamento e não-proliferação, que ao mesmotempo facilita o nosso acesso a tecnologias e fortalecea credibilidade geral do país — uma moedaparticularmente apreciada nas relações internacionaisde hoje.

Conselho de SegurançaFinalmente, para encerrar esta lista

exemplificativa, temos procurado influir positivamentenas discussões em torno da reforma do Conselho deSegurança das Nações Unidas, defendendo a tesede que a melhoria da eficácia do órgão, para cumpriro papel renovado que lhe cabe no sistemainternacional pós-Guerra Fria, depende do aumento

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da sua legitimidade internacional e da suarepresentatividade — o que se traduz em um aumentode critérios, de membros permanentes e não-permanentes.

Sem nos mobilizarmos em uma campanha poruma candidatura a membro permanente, temosdeixado claro que defendemos uma reforma doConselho nesses moldes e que estarmos dispostos acolaborar em um Conselho ampliado, se formoschamados a fazê-lo. Mais uma vez, convém que sereafirme: não se trata de um pleito ou de umacandidatura. Não se trata tampouco de uma iniciativade busca de prestígio e liderança. E muito menosestamos subordinando qualquer interesse da nossapolítica externa em geral ou da intensa teia derelacionamentos com nossos parceiros em todo omundo a esse objetivo. Fazemos, isso sim, umadefesa sincera da necessidade de reformar as NaçõesUnidas, até como signo de sua vitalidade ao iniciar-se seu segundo meio século de existência em umambiente internacional inteiramente diverso daqueleque lhe deu origem.

Um voto de confiançaEsta é, em grandes linhas, a diplomacia que

nós procuramos empreender. Espero ter deixadoclaro a forma como ela pretende - e só pode ser -uma resposta coesa e coerente a esse duplo jogo deforças, as que movem o cenário internacional e asque nos movem como Estado soberano em buscada sua realização como Nação.

Ainda é cedo para anteciparmos resultados

ou para julgarmos se estamos no melhor caminho.Para esse exercício, a participação da sociedadebrasileira, através do mundo acadêmico. doCongresso, dos partidos, das associações de classe,dos sindicatos, das organizações não-governamentaistemáticas, é essencial e insubstituível.

O voto de confiança que pedimos à sociedadebrasileira para a política externa que implementamosé sua participação, seu interesse, seu julgamentocrítico construtivo. O Itamaraty não inventa interessesnem define prioridades, ele apenas cumpre ummandato.

Esse é o verdadeiro sentido da políticaexterna em uma sociedade democrática.

As escolas militares tem um papel importantena identificação serena e objetiva de muitos dessesinteresses. Por isso, o diálogo entre o Itamaraty e osmilitares, entre os que defendem a soberania brasileirana paz e os que estão preparados para defendê-lana guerra, é insubstituível. É nesse intercâmbio que oItamaraty encontra seu sentido maior e a políticaexterna se realiza como um instrumento da Nação— uma Nação independente, soberana e por issomesmo apta a lidar com a História não como seuobjeto, mas para fazê-la acontecer.

Quero agora agradecer o interesse dosSenhores e colocar-me à sua disposição paraaprofundar, em debate, quaisquer dos pontos destaexposição ou outros que, pelas óbvias limitações detempo, vi-me forçado a não tocar.

Muito obrigado.

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É uma satisfação estar presente neste almoçoque reúne empresários que têm interesses concretosno relacionamento econômico de nossos países.

Minhas primeiras palavras são dirigidas aoPresidente Carlos Menem, aqui presente.

Refiro-me a um amigo do Brasil, um homemque soube, com determinação e vontade política,ajudar na construção da relação exemplar hojeexistente entre Brasil e Argentina.

Nem sempre foi assim. A geração a quepertencemos o Presidente Menem e eu cresceu vendoo Brasil e a Argentina mais como rivais do que comoparceiros. As múltiplas tentativas episódicas dedesencadear uma parceria mais efetiva nãofrutificaram. Poucos foram capazes de perceber quea aproximação de nossas sociedades era nossodestino histórico. Destino que agora se cumpre eficará como nosso legado para as gerações futuras.

Se chegamos ao ponto em que hoje estamos,isto se deve à coragem e à clarividência daquelesbrasileiros e argentinos que contribuíram para quenos libertássemos do passado e pudéssemos olharpara o futuro. Isto se deve também à maturidade denossas sociedades, que se fortaleceram nademocracia e puderam encarar nossas relações semreceios, sem falsos antagonismos que permearamuma determinada visão do mundo superada pelaHistória. Quero aqui prestar de público um tributo atodos os brasileiros, entre as quais destaco a do ex-Presidente José Sarney, e argentinos que acreditaram

que o Brasil e a Argentina eram sócios naturais.Se os instrumentos da aproximação foram

criados pelos Governos, pelas lideranças dos doispaíses, caberá agora aos agentes econômicos e àsociedade a tarefa de dinamizar ainda mais a parceiraentre os dois países, gerar novas necessidades eidentificar áreas que peçam a ação dos Governos.Sei que, na comunidade de negócios, as decisões deinvestimentos se alimentam da confiança, daprevisibilidade, da percepção de que há rumostraçados e perseguidos com firmeza. E é isto o que oBrasil e a Argentina têm hoje a oferecer. São paísescom projetos nacionais bem definidos, queconvergem em vários pontos e num que consideroessencial: a prioridade conferida à integração. Estejamcertos de que esta será uma meta permanente dosdois países. Tenham este dado sempre presente emsuas decisões estratégicas.

A relação econômica Brasil-Argentina nãodeve ser confundida com o MERCOSUL. Ela vaialém do MERCOSUL. Antecede o MERCOSUL.É a gênese do MERCOSUL. O MERCOSUL é umaplataforma a partir da qual, sem renunciar à defesade nossos interesses nacionais, porque sem apreservação das identidades não há união possível,buscaremos construir um espaço econômicoampliado, integrado, na América do Sul. Estamos naAmérica do Sul. A América do Sul é nossacircunstância geográfica e histórica e queremos agoratransformá-la numa região economicamente dinâmica,

Brasil- Argentina

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, no almoço empresarial realizado no Hotel Sheraton,Buenos Aires, 8 de abril de 1996

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politicamente estável. Somente assim estaremospreparados para enfrentar com êxito os desafios quenos impõe a economia globalizada.

O MERCOSUL é também uma amostra dopotencial de desenvolvimento que existe na Américado Sul. O MERCOSUL tornou-se tão conhecido,passou a ocupar com tanta freqüência a imprensa denossos países e mesmo a internacional, que tendemosa considerá-lo como se há muito tempo fosse partede nossa realidade econômica. Mas isto não éverdade. O MERCOSUL é uma construção recente.Tem apenas cinco anos e, neste curto período, foiextraordinário o percurso que percorremos juntos.Eliminamos gradualmente as barreiras tarifárias e não-tarifárias para o comércio entre os países membros.E com isso multiplicamos por quatro o comércio intra-regional. Negociamos e fixamos uma tarifa externacomum, transformando o MERCOSUL numa UniãoAduaneira com uma política comercial unificada emrelação aos parceiros comerciais das outras regiõesdo mundo. Criamos, enfim, – e esta talvez seja nossamaior conquista – uma verdadeira “cultura daintegração”. Esta “cultura da integração” nos dá basefirme, sólida, para caminharmos em relação ao futuro.

A extraordinária dinâmica de nossas relaçõeseconômicas fez do Brasil o primeiro parceirocomercial da Argentina. E da Argentina o terceiromercado para os produtos brasileiros. São dadosque falam por si sós. Cresce a cada dia o número deempresas brasileiras que aqui se instalam e dasargentinas que fazem o trajeto contrário no rumo doBrasil. A intensidade dos laços que se vão formandogeram a necessidade de informação constante sobreo que se passa em cada um de nossos países. OsMinistros se falam com freqüência. O PresidenteMenem e eu temos hoje um diálogo que, de tãopróximo e freqüente, tornou-se um instrumentopoderoso para bem encaminharmos quaisquerproblemas que possam surgir no nossorelacionamento econômico. É natural que problemasexistam; são a prova de que as relações adquiriramexpressão real, se tornaram densas.

Creio assim haver aqui grande interesse peloque está ocorrendo no Brasil, que é um país querecuperou sua confiança, a capacidade de mobilizaras forças políticas e econômicas necessárias aodesenvolvimento. O Plano Real é apenas o começo,um primeiro passo necessário e importante. Massabemos que o Brasil precisa avançar em diversasáreas, sobretudo na correção dos desequilíbriossociais. Precisamos promover reformas no modo deatuação do Estado, pondo ênfase na prestação deserviços públicos básicos; reforçando, na economia,sua capacidade regulatória e retirando o Estado dosetor produtivo; promovendo, no campo político,novas formas de negociação e de diálogo que deixempara trás modos de atuação política arcaicos, porquebaseados em interesses de grupos e clientelísticos.

A sociedade brasileira sabe que a estabilidadeé o caminho necessário para o crescimento. Talvez oBrasil tenha levado mais tempo para chegar a estacompreensão da realidade econômica. Mas o tempoterá sido necessário para amadurecermos ascondições para o consenso que hoje prevalece noBrasil. Sabemos a direção dos passos a serem dados.

Não há espaço para recuos.Aprovadas no ano passado as reformas do

capítulo econômico da Constituição, o que em si foium ganho importante, estamos agora conduzindo asreformas na área previdenciária, tributária eadministrativa. O saneamento financeiro do sistemaprevidenciário não visa ferir ninguém, mas antesbeneficiar o conjunto dos brasileiros, sobretudo osque não tem qualquer privilégio, pois a reforma darácondições de previsibilidade de benefícios aos quedeixam o mercado de trabalho, sem onerarexcessivamente aqueles que continuam a trabalhar.A reforma na previdência já foi aprovada, emprimeiro turno, na Câmara Federal, e não tenhodúvida de que ela terá cumprido todos os trâmitesno Congresso ainda este ano.

A reforma tributária é outro elementoessencial para a manutenção do equilíbrio das contaspúblicas. Mais do que qualquer outra, a reforma

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tributária exigirá complexas negociações para suaaprovação, pois envolve uma nova repartição dereceitas e responsabilidades nos três níveis deGoverno: União, Estados e Municípios.

Com a reforma administrativa, estaremoscompletando o conjunto de reformas vitais para asustentabilidade do crescimento. Trata-se de umconjunto de medidas que visam essencialmente aelevar a qualidade dos serviços públicos à população,mediante melhor formação e treinamento dosservidores e a eliminação de eventuais excessos depessoal em setores localizados.

Todos estas reformas necessitam negociaçãocom o Congresso Nacional, que não se tem furtadoa deliberar sobre os projetos prioritários que têm sidosubmetidos à sua consideração, todos referentes atemas de grande complexidade. A verdade é que oCongresso tem respondido de maneira exemplar aosanseios da população pela modernização do país.Se o ritmo às vezes pode parecer mais lento do quealguns desejariam, o fato é que tínhamos um enormepassivo de problemas pendentes a serem resolvidos.Em pouco mais de um ano de Governo, avançamosmuito, o que reforça o grau de confiança em relaçãoao futuro do Brasil. E a prova da confiança no paísvem de diversas partes, em particular dosempresários, do exterior e do próprio Brasil, queretomam os grandes investimentos. E isto também ébom para a Argentina. O crescimento econômico doBrasil tem tido um impacto direto e favorável nasexportações argentinas.

Gostaria de tocar agora num tema que julgode extrema importância para o saneamento dascontas públicas e para dar maior competitividade àeconomia brasileira.

Refiro-me à privatização, que sei teravançado muito na Argentina. No Brasil, a primeirafase da desestatização ocorreu de formarelativamente rápida, mas agora já estamos em outraetapa do processo, que diz respeito a empresas degrande porte e/ou concessionárias de serviçospúblicos, exigindo assim cuidado na avaliação do

preço mínimo, das condições para os leilões, bemcomo uma legislação que afetará empresas que lidamcom preços e tarifas públicas. É preciso encontrarum justo equilíbrio entre a lucratividade necessáriadestas empresas que serão privatizadas com a defesado interesse público. Isto será uma novidade paranós. E não queremos adotar medidas comprecipitação.

Queria dizer também algumas palavras sobrea saúde do sistema financeiro brasileiro.

E minha primeira observação é a de quenenhum país poderá alcançar desenvolvimentosustentado no longo prazo se não contar cominstituições financeiras sólidas, que transmitamconfiança ao público e estejam aptas a financiar odesenvolvimento da nação.

Esta função é insubstituível. Ela precisa serexercida com eficácia e temos de pagar um preçopara isto no curto prazo. Por isso, e diante da situaçãoque se verificou em outros países conhecidos, nãohesitei em lançar um programa para a consolidaçãodo sistema financeiro nacional, visando seufortalecimento. O preço a pagar pode ser alto àprimeira vista, mas se justifica porque a alternativapode ser a quebra da confiança e uma corrida aosbancos, de conseqüências imprevisíveis para todosos brasileiros que têm seus recursos em bancos. Eeles são a maioria absoluta de nossa população.Tomamos medidas justas e equilibradas, cujamotivação principal era a de proteger os depositantes,não os banqueiros.

Por isso também não hesitei em tomar adecisão de recapitalizar o Banco do Brasil, uma dasmaiores instituições financeiras do mundo e que têmatividades de fomento nas áreas agrícola e industrial.Não podemos tratar este tema com leviandade, comviés político, com interesses oportunistas. Porque oque está em jogo é o desenvolvimento do país. Masque não reste dúvida sobre a disposição desteGoverno de apurar todos os eventuais ilícitos queforem comprovados. Os banqueiros que gerenciarammal os recursos sob sua guarda arcaram com as

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conseqüências de seus erros, nos termos da lei. Eque não haja dúvidas sobre este ponto: irão para acadeia se condenados pela justiça. Este é umcompromisso de meu Governo. E quero ser cobradopor este compromisso que assumi.

Ao concluir, reafirmo minha convicção deque estamos vivendo um momento de aproximaçãoe dinamismo extraordinário nas relações econômicasentre Brasil e Argentina.

E isto se deve em grande parte à coragem eao trabalho daqueles que acreditam no futuro destarelação e traduzem esta crença na geração de riqueza.Isto se deve a empreendedores como aqueles quese reúnem nos Grupos Brasil e Argentina, que têm omérito de terem sido os pioneiros de umaaproximação que é motivo de justo orgulho paratodos nós.

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Gostaria de dizer umas poucas palavras paraagradecer a meu querido amigo, o Presidente CarlosMenem, e a todos os argentinos, a extraordináriahospitalidade com que temos sido brindados em cadamomento desta visita de Estado.

Creia-me, Senhor Presidente, que nós,brasileiros, reconhecemos nesses gestos deamabilidade e de atenção, a tradução clara daamizade que se consolidou entre nossos países.

É com tranqüilidade que podemos ofereceruns aos outros oportunidades importantes como estapara afirmar que as relações entre nossos países sãomais que uma prioridade elevada em nossas agendas:são também uma realidade à qual se habituaramnossos povos e nossas sociedades.

As lideranças políticas e os empresários queme acompanham dão testemunho do interesse amploque desperta a nossa aproximação.

A história das relações internacionais oferecepoucos exemplos de países que, ao repensar suasrelações, ao projetá-las no futuro, tenham trazidomudanças tão positivas não apenas na dimensãobilateral, como também em suas próprias regiões.

O Brasil e a Argentina conseguiram fazê-lo, e ofizeram bem. A partir de nossa integração, nasceu oMERCOSUL e o MERCOSUL tem sido decisivo paraacelerar o ritmo da integração da América do Sul.

Isto foi possível porque soubemos semprepreservar a dimensão bilateral de nossa relação. Uma

dimensão que não exclui nem substitui a dimensãosub-regional ou regional de nossas diplomacias; aocontrário, as complementa e lhes dá base firme.

Estou feliz porque participo ativamente desseprocesso de construção de uma amizade exemplarentre países vizinhos e irmãos, que se associam, aotempo em que preservam e fortalecem suasindividualidades.

Este é um projeto de Estado em nossospaíses, mas de Estado democrático. É, portanto,obra de Governos e de sociedades.

Daí provém sua legitimidade. Daí provêm suasperspectivas de permanência e de aperfeiçoamentocontinuado.

Essa é a razão fundamental de nossoreencontro.

Ele é parte de um diálogo amplo, contínuo ede alto nível entre os dois países.

Suas marcas são a franqueza e o interessepróprio de amigos e sócios. De amigos que utilizamsua sociedade para dar a sua amizade uma dimensãoprática, material e produtiva. De sócios que usamsua amizade para negociar e atuar com confiança,com lealdade, com uma sensibilidade que vai alémdo interesse material imediato.

Temos realizado muito sob a égide desseespírito. E, sobretudo, temos conseguido manter umaagenda bilateral dinâmica, ampla e variada, emconstante trabalho de incorporação de novos temas

Brasil - Argentina

Brinde do Senhor Presidente da República, FernandoHerinque Cardoso, por ocasião do Banquete oferecido peloPresidente da República Argentina, Carlos Menem, BuenosAires, 8 de abril de 1996

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e áreas naquilo em que podemos trabalhar juntos,em benefício comum.

Somos países que souberam pôr a serviçode seus interesses comuns a vizinhança e acontigüidade territorial, a semelhança de seus desafiosno campo do desenvolvimento social e econômico esua necessidade partilhada de aperfeiçoarconstantemente sua inserção internacional paraenfrentar os desafios e riscos de um mundo emmudança acelerada.

Criamos valores comuns porque, em nossodiálogo, soubemos respeitar nossas individualidadesnacionais.

Nossas diferenças enriquecem-nos porquesoubemos compartilhar experiências no campo dacultura, dos projetos econômicos, da luta pela justiçasocial.

A história contemporânea de nossos países

tem servido de base para um aprendizado mútuo.E estou seguro de que, a partir deste

reencontro, vamos dar um novo salto nessasrelações, as quais já adquiriram a qualidade deessenciais para nossos países, como atestam as cifrasdo intercâmbio e a extensa lista de assuntos que nosocupam.

Senhor Presidente,Este é o sentimento que trouxe a mim e a

minha comitiva a Buenos Aires. Este é o compromissoque nos anima.

Por isso, quero pedir a todos que meacompanhem num brinde à prosperidade da NaçãoArgentina, à excelência de nossa amizade sempre fortee crescente e à saúde e felicidade pessoal de meuquerido amigo, o Presidente Carlos Menem.

Muito obrigado.

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159Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Que minhas primeiras palavras sejam deagradecimento pelas expressões de amizade econfiança com que o Congresso argentino recebe oPresidente do Brasil em sessão solene.

Pronuncio essas palavras sob a emoção doreencontro com tantos amigos parlamentaresargentinos. Os Senhores são dignos representantesdesta Nação, todos companheiros na luta que esteContinente tem travado e vencido para fazer dademocracia uma referência perene na História queestamos construindo neste Hemisfério.

Falo a Vossas Excelências como alguém quefez sua aprendizagem política no Parlamento, nummomento de dificuldade para o Brasil, de crises e detransformações.

Tenho orgulho daquilo que realizamos,sobretudo porque soubemos manter a devoçãopermanente à democracia, aos valores da tolerânciae do respeito político, valores que sempre orientaramminha conduta pública.

O tributo de admiração e de respeito que oPoder Executivo faz ao Legislativo é parte do ritualda democracia. Transposto às relações entre países,este tributo ganha uma dimensão política — ediplomática — transcendental. Porque os povos daAmérica têm consciência do papel de seus Congressoscomo instrumento da cidadania e de participação easpiram a que seus governantes sejam porta-vozes dessaadmiração quando visitam povos irmãos.

Agradeço-lhes, a oportunidade de fazer essetributo.

Esta é a Casa do Povo argentino e, em razãodisto, o símbolo que melhor representa sua vontadesoberana e seu destino de Nação democrática. Osatos e decisões que aqui se originam vêm marcadoscom o sentido mais profundo da nacionalidade e coma legitimidade que é própria de uma grandedemocracia.

Brasileiros e argentinos, tratamos nossasrelações, afortunadamente, como um patrimônioprecioso, um legado construído cuidadosamente eque será deixado a nossos filhos e netos, umapromessa, enfim, que vai se tornando realidade.

Senhores Senadores, Senhores Deputados,A amizade entre o Brasil e a Argentina e,

sobretudo, a relação estreita que fomos capazes deconstruir nestes últimos anos, são seguramente umaprova de que esta relação era não apenas possível,como também indispensável.

Porque tanto os povos, como os homens, nãopodem viver isolados nem fugir das suascircunstâncias.

E nossa circunstância, enquanto brasileiros eargentinos, é constituída por este vasto panorama decivilização e cultura que nos une e associa no ConeSul da América.

É constituída pela História comum de povos

Sessão Solene do Congresso

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião de Sessão Solene do Congresso daRepública Argentina, Buenos Aires, 9 de abril de 1996

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que nasceram como colônias, fizeram suaindependência e continuam a construí-la como umatarefa à qual temos que nos dedicar quotidianamentena luta pelo desenvolvimento e pela justiça social.

É constituída por nossa geografia e vizinhançainescapáveis, com seu inexorável sentido de destinocompartilhado e realizações comuns.

É constituída pelo vasto pampa e pelas regiõessubtropicais que conformam parte de nossa paisagemfísica e que nos unem no terreno, dando continuidadea nossos territórios e proximidade material a nossosprojetos.

É constituída pela origem diversificada denossa cultura, de nossa paisagem humana que envolveraças distintas e que nos aproximam no espírito,tornando tão fácil nosso entendimento.

Nossa circunstância é constituída ainda pelademocracia, que nos identifica e aproxima, medianteo compromisso comum com a legitimidade, comestabilidade social e política, com a busca deconsenso amplo nos grandes temas e desafios, paraque nossos povos assumam definitivamente o seupapel de sujeitos da História.

Porque é assim, e somente assim, que, coma força e a inspiração democrática dos povos, seconstroem as grandes nações.

Nossa circunstância é, também, a intensarelação econômica e comercial que fomosconstruindo entre o Brasil e a Argentina, à medidaem que nos tornávamos sócios prioritários.

Hoje temos consciência de quanto esseintercâmbio significa, em termos de cifras e de postosde trabalho; o que representa o seu efeitomultiplicador, a sua energia vital e sua escala produtivapara nossas respectivas economias.

Damo-nos conta, hoje, de que, em apenasalguns anos de intenso trabalho integracionista, fomoscapazes de incrementar quatro vezes o valor de nossocomércio bilateral.

Nossa circunstância é o compromisso queassumimos e que continuamos a cumprir com aintegração em nossa região, a qual, com o Mercosul,

modificou não apenas a realidade política eeconômica da América do Sul, como também apercepção que a comunidade internacional tem denossos países.

Nossa circunstância é a civilização de fronteiraque se vem desenvolvendo em modelos deconvivência pacífica entre nossos povos ao longo denossas linhas de limites.

Nossa circunstância é, enfim, essacapacidade que temos de compreender e admirar adiferença que separa as línguas de José Hernandez eJoão Guimarães Rosa.

Há um mesmo sentido humano em duasculturas que foram capazes de criar Martín Fierro eGrande Sertão, Veredas, as inflexões de Jorge LuísBorges e a sensibilidade filosófica de Machado deAssis, para mencionar apenas algumas realizações epersonalidades que projetam nossas culturasnacionais com igual força na dimensão universal.

E por trás desse sentido do humano,encontram-se necessariamente um mesmo sentido dodestino e da convicção de que, juntamente comnossos pares, chegaremos mais rápido e com maiorsegurança aos objetivos que nos propomos: ser povosfelizes, realizados na grandeza de nações mais justase generosas, sócias na riqueza e na paz. E dispostas,com seu exemplo, a contribuir para que a Históriada humanidade continue a ser uma saga de liberdadee de dignidade para todos os homens.

Senhores Congressistas,Venho a Buenos Aires para fortalecer cada

vez mais uma relação que já adquiriu a condição deser mutuamente essencial para o Brasil e a Argentina.

Temos dado passos importantes paratransformar a América do Sul numa região deconvergências, das quais o Mercosul é um exemplovivo.

Podemos nos orgulhar dessa nossa obra, esobretudo, de termos sido capazes de perseverarnesse caminho, muito embora possamos nos sentiràs vezes pressionados por problemas internos ou

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fortemente confrontados pelos desafios de um mundoem mudança constante.

Estamos dando um novo perfil às relaçõesque os países latino-americanos mantiveramtradicionalmente entre si. Nunca antes na História denosso Continente duas nações conseguiram alcançargrau semelhante de integração.

Nunca antes nossos países puderam darrespostas tão coordenadas e verdadeiramenteefetivas aos desafios, oportunidades e riscos queapresentam hoje o sistema econômico internacionale as realidades de poder no mundo.

Nunca antes fomos capazes de demonstrarque a integração não era apenas um sonho depróceres visionários, mas principalmente um projetopolítico que tencionava impor-se a uma realidadeainda incapaz de dar-lhe vida própria — um projetoque lutava por transformar-se em ações políticas dosGovernos da região, mas que encontrava fortesresistências materiais e mentais.

Mudamos isso. E conseguimos fazê-loconjuntamente.

Com uma visão de futuro, mas sem nosesquecermos da experiência do passado.

Sem ignorar os imperativos do presente. Semdescurar do bilateral, porque não há integraçãopossível, não regionalização possível, se a base daqual se parte não é sólida e fértil.

Estamos alcançando hoje uma rede derelações intra-hemisféricas, de uma intensidade únicaem nossos hemisférios. Nela, as dimensões bilateral,sub-regional e regional, são parte de um processomais amplo de resposta do hemisfério à globalizaçãoe às mudanças no sistema internacional.

O bilateral e o sub-regional não são instânciasque se excluem. Ao contrário, são dimensões que secompletam e se fortalecem. Da mesma forma que aconsolidação do Mercosul constitui-se numpatrimônio para as relações entre o Brasil e aArgentina, o fortalecimento de nossas relações temum impacto positivo e multiplicador no âmbito doMercosul.

Por isso, vim a Buenos Aires: para mostrarque o eixo de nossas relações é insubstituível em nossaconcepção do mundo e da América do Sul.

Devemos dar o exemplo de uma amizademadura e respeitosa, de uma relação de confiança ede lealdade, preservando os espaços que sãopróprios de cada nacionalidade, e fazendo floresceros traços distintos de nossas respectivasindividualidades.

Estamos conscientes de que nossa relação ea obra de integração que ela ajuda a construir somenteserão possíveis e terão sentido, na medida que nosfortaleçamos como nações, como povos, com suasidiossincrasias, modos de ser e de pensar, comoculturas nacionais e como Estados soberanos.

Porque somente com manifestações de umasoberania que se afirma e participa podem seconceber as políticas externas de nossos países.

Senhores Parlamentares,Venho a Buenos também, para manifestar

minha convicção de que os avanços que se estãoproduzindo no Brasil em matéria de estabilizaçãoeconômica, crescimento e reformas estruturais,continuarão a ter impacto positivo e multiplicadorsobre nossa relação bilateral e sobre os esforços paraconsolidação do Mercosul.

O Brasil é um país que recuperou a confiança,sua auto-estima, sua capacidade de gerar consensosou maiorias expressivas e de mobilizar grandes forçaspolíticas em prol da mudança e do progresso. E paraisso, o Congresso brasileiro tem contribuído demaneira decisiva.

Temos dado grandes passos com o PlanoReal e as primeiras reformas que flexibilizarammonopólios estatais e que deram homogeneidade aotratamento dispensado a empresas nacionais eestrangeiras. Também avançamos na área depropriedade intelectual e na ampliação doscompromissos brasileiros no campo da não-proliferação de armas de destruição em massa.

Mas isso é apenas o princípio. É uma direção,

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um sentido, e não o ponto de chegada. A chegadaestá mais adiante. E dependerá de nossa capacidadede perseverar nesse rumo por um longo período.Temos uma base forte para fazê-lo. A estabilizaçãoteve no Brasil um impacto muito positivo sobre a áreasocial. E isto se mede com cifras concretas, não comretórica.

Não podemos frustrar as expectativas queforam criadas em torno da possibilidade, pela primeiravez, clara e duradoura, de que nosso país, atravésda estabilidade econômica e da reforma e docrescimento sustentado, alcance finalmente odesenvolvimento com justiça social e eqüidade.

A agenda do prosseguimento das reformasestá definida. Temos que avançar na reforma daPrevidência Social, que já deu seu primeiro grandepasso, há três semanas, na Câmara dos Deputados.Temos que fazer a reforma tributária e do Estado.

Temos que aprofundar o processo deprivatização, com os cuidados que exige o manejode um gigantesco patrimônio público.

Todas essas reformas foram e continuarãosendo objeto de uma ampla negociação com oCongresso e as forças sociais do País.

Não temos a intenção de impor nada.Tampouco temos a intenção de ir contra o sentimentodo povo, em seu afã de consolidar os benefícios querecebeu com o Real. O que se impõe é, acima detudo, a decisão da maioria e, se possível, o consenso.Não estamos fazendo política com o horizonte dedois, três ou quatro anos, e sim, ajudando a concluiro longo e complexo processo de construção de umanação.

Senhores Congressistas,Os resultados desse novo encontro entre os

dois Governos não poderiam ser melhores.Quero deixar-lhes o testemunho da minha

grande satisfação por tudo aquilo que foi possívelalcançar nesse novo encontro entre nossos doisGovernos, tanto no político quanto no econômico.

A estrutura jurídica da amizade brasileiro-

argentina fortalece-se quando a ela agregamos novoscompromissos, ou compromissos renovados quebuscam atualizar o tratamento bilateral de temas deinteresse comum.

Firmamos vários Acordos nas áreas decooperação técnica, espacial e de meio ambiente,de interconcexão energética, de integração física ede formação de recursos humanos. Uma DeclaraçãoConjunta, para a qual permito-me chamar a atençãode todos os Senhores, que serve de marco políticopara esta visita.

Mas o êxito de uma visita, como a que façoneste momento a este país, não pode medir-se apenaspelo número de Acordos e de compromissosfirmados entre os dois Governos.

As conversações que mantive com oPresidente Menem servem ao propósito de preparar,mais do que nada, uma nova etapa de nossasrelações em cada um dos incontáveis campos pelosquais elas se desenvolvem.

Em todas e em cada uma dessas áreas,agregamos uma contribuição, assinalamos umaorientação, identificamos uma prioridade,intercambiamos opiniões francas, destacamos ascoincidências e tratamos com pragmatismo asdiferenças que podem, sim, e devem existir entrepovos orgulhosos de suas identidades e cientes deseus interesses.

É um trabalho conjunto que associa os doisGovernos e que deve também, naturalmente, associaros dois Congressos.

Porque os Parlamentos de nossos países têmtido e continuarão a ter um papel decisivo naconstrução de nossa relação e na sua projeção nasdimensões regional e global.

Esta é mais do que uma mensagem, é umaexortação que quero fazer. A obra de construção paraesta verdadeira relação privilegiada entre o Brasil ea Argentina, e nossa participação conjunta noMercosul exigem um trabalho permanente deintercâmbio de informação, de coordenação e delabor conjunto entre os Governos e as sociedades

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de nossos países.É o que estamos fazendo a nível de Governo,

como provam os numerosos encontros de alto nívele a estreita vinculação profissional e pessoal quemantêm nossos Ministros e funcionários das maisvariadas hierarquias.

É o que estamos fazendo a nível dassociedades, dos contatos cada vez mais freqüentese produtivos entre setores organizados dos meiosempresarial, sindical e acadêmico.

Queremos que os Congressos dos doispaíses, que os Membros do Poderes Legislativosbrasileiro e argentino participem ainda mais dessatarefa. Que se conheçam pessoalmente, que troquemopiniões francas e sinceras, que trabalhem juntosnaqueles temas que integram nossas respectivasagendas nacionais e que são de interesse comum.

Isso é importante para fazê-los avançarconjuntamente e para fazer com que se multipliquemos efeitos benéficos dessa obra comum sobre cadaum de nossos países.

Senhores Senadores, Senhores Deputados,Os Senhores fizeram um gesto de enorme

significado ao honrar o Brasil com esta Sessão Solene.Compraz-me identificá-lo como uma manifestaçãoadicional do compromisso de Vossas Excelênciaspara com nossa relação, para com o Mercosul, paracom a América do Sul e para com o nosso futurocomo Nações.

Em nome do povo brasileiro, queroagradecer-lhes por esta oportunidade e por tantasdemonstrações de amizade.

Muito obrigado.

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IntroduçãoQuero agradecer ao Presidente da Comissão

de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados,Deputado Átila Lins, por esta oportunidade de voltaraqui para fazer uma apresentação sucinta eesquemática das realizações da diplomacia brasileirae dos desafios que permanecem à nossa frente nesteano de 1996.

Como sempre, é um prazer poder participardeste exercício de coordenação entre o Executivo eo Legislativo na implementação da nossa políticaexterna. Como em tantas outras áreas, a políticaexterna pressupõe uma parceria entre o Executivo eo Congresso, com responsabilidades compartilhadas.

Muitas das questões tratadas na Câmara dosDeputados e no Senado Federal têm um forteimpacto sobre a nossa inserção internacional e sobreos esforços que nós temos a obrigação de fazer paraaperfeiçoar as nossas parcerias externas e colocá-las cada vez mais a serviço dos interesses internosbrasileiros.

Agora mesmo o Congresso tem em suaagenda diversos assuntos de interesse direto para amelhoria dos termos do nosso intercâmbio político eeconômico com o resto do mundo. As reformasconstitucionais e diversos acordos que vêm sendoassinados com nossos parceiros são exemplos disso.

É natural que o Itamaraty se volte com atenção einteresse para o que ocorre aqui e que esteja sempredisposto a trazer o aporte da sua experiência e dasua visão do mundo e das relações exteriores donosso país para ajudar a avançar no tratamentodesses assuntos.

Em um Estado democrático, a políticaexterna necessariamente tem de passar por umaavaliação constante das forças sociais e muitoespecialmente do Congresso, instituiçãorepresentativa por excelência. O Itamaraty é sensívela essa realidade e tem procurado ampliar ediversificar os seus canais de comunicação com asociedade brasileira. A Comissão de RelaçõesExteriores da Câmara dos Deputados tem sido umforo privilegiado para esse contato e para umtrabalho conjunto que nós consideramos insubstituível.

Dei uma instrução permanente a meuscolaboradores para que, a exemplo do que faz oChanceler, estejam sempre à inteira disposição daComissão e de cada um dos seus membros titularese suplentes para explicar ou aprofundar temas, tópicosde agenda e iniciativas dentro da área de competênciado Itamaraty. Espero com isso que possamostrabalhar juntos, em parceria, a Comissão deRelações Exteriores e o Itamaraty, para avançar aagenda diplomática brasileira em 1996.

Comissão de Relaçõess Exterioresda Câmara dos Deputados

Exposição do Ministros de Estado das Relações Exteriores,Luiz Felipe Lampreia, perante a Comissão de RelaçõesExteriores da Câmara, sobre o tema “A política externabrasileira no primeiro ano do Governo Fernado HenrinqueCardoso”, 11 de abril de 1996

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O apoio a Estados e MunicípiosQueria anunciar-lhes também, em primeira

mão, que, por instrução expressa do PresidenteFernando Henrique Cardoso, determinei a meuscolaboradores que estudem a institucionalização deuma unidade no Itamaraty destinada a fazer a interfacedo Ministério com os Governos dos Estados eMunicípios em matéria internacional.

A idéia é ter uma unidade adequadamentelotada com diplomatas experientes, que possamassessorar os Governos estaduais e municipais emsuas tratativas com outros Governos, organismosinternacionais e organizações não-governamentaisinternacionais, fazendo a interlocução com asunidades substantivas da Secretaria de Estado dasRelações Exteriores e com nossas Embaixadas eConsulados no exterior.

Essa unidade sistematizaria os contatos, hojedispersos, entre o Itamaraty e os Governos estaduaise municipais, aproximando mais a Chancelaria e ospoderes públicos locais. Seria uma forma de supriruma lacuna importante, decorrente do fato de quecada vez mais as unidades da federação e osmunicípios, e muito particularmente aqueles maisexpostos à vida internacional pela proximidade físicacom países vizinhos, voltam-se para o exterior embusca de investimentos, financiamentos, cooperaçãotécnica e aportes variados.

Essas iniciativas devem ser incentivadas eorientadas a fim de que se somem aos esforços doGoverno federal no cumprimento das suas atribuiçõesconstitucionais em matéria de política externa.

Não tenho ainda uma definição sobre oformato que assumiria essa unidade, mas oimportante é podermos contar com essa oferta deum serviço em grande demanda, que supra aimpossibilidade de o Itamaraty estar presente emtodos os Estados da Federação por razõesorçamentárias e mesmo operacionais.

Um apelo pelas reformas e pela consolidaçãodo Plano Real

Provavelmente nunca antes os êxitos dapolítica externa estiveram tão estreitamente vinculadosaos êxitos que o Congresso obtenha avançando aagenda política, econômica e social do país.

O amadurecimento político do país e aconsciência dos nossos desafios e constrangimentosgeraram um quase-consenso sobre a necessidade ea urgência de reformas que nos permitam reduzir asdisparidades sociais e regionais com medidas eficazese duradouras, que não comprometam a médio oulongo prazo a estabilidade econômica e o crescimento.

Essas reformas se vêm fazendo com o ritmopróprio de uma democracia complexa.

Temos sido enfáticos junto a nossosinterlocutores a respeito da necessidade de se terem conta e respeitar os ritmos e os rituais própriosda democracia na construção de consensos oumaiorias expressivas. Temos sido enfáticos tambémsobre os ganhos, a longo prazo, de decisõesamadurecidas, legítimas e responsáveis. Creio quetemos sido bem compreendidos.

Já avançamos muito em matéria deflexibilização de monopólios e eqüidade notratamento dos capitais nacionais e internacionais.Temos avançado na privatização, com as cautelasque ela requer. Afinal, como disse o PresidenteFernando Henrique Cardoso em sua recente viagemao Japão, não somos um pequeno país que estáprivatizando uma linha aérea ou dois ou três pequenosbancos provinciais.

Estamos falando de empresas de grandeporte, que necessitam de capitais privados, mas queconstituem um importante patrimônio público comnotável incidência sobre o sistema produtivo do país.O interesse que essas empresas geram constitui semdúvida um trunfo na relação com nossos parceirosno exterior.

Uma vez que o nosso interesse comum é apolítica externa brasileira e nossas relações com omundo, quero insistir sobre o efeito positivo que a

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estabilização da economia, o ajuste, as reformas emcurso e a retomada do crescimento em bases maisseguras têm tido sobre a imagem do Brasil no exteriore sobre o crescimento do interesse de nossosparceiros pelo Brasil. A percepção do Brasil comopaís de oportunidades e como força emergente naeconomia mundial se está consolidando.

O Brasil será sempre, lá fora, o que nósquisermos que ele seja, o que nós formos capazesde fazer com que ele seja. Não há imagem que sesustente sem a base firme da realidade, nem se podeviver a ilusão de que a imagem pode substituir arealidade. Com a estabilização e com as reformasem curso, nós mudamos quase que completamentepara positivo o sinal com que figuramos na agendainternacional e na agenda das relações com nossosprincipais parceiros tanto no mundo desenvolvidoquanto no mundo em desenvolvimento. Nãopodemos parar no meio do caminho, nem retroceder.Nunca antes foram tão favoráveis as condições parase fazer política externa no Brasil — uma política derealizações. É preciso aproveitar essas condições,multiplicar o seu efeito benéfico, pô-las a serviço deinteresses muito claros — e prementes — do Brasilem suas relações com o mundo exterior.

Fizemos muito para consolidar uma imagemnova, de credibilidade e confiabilidade, de um paísque é capaz de enfrentar com determinação eautoconfiança os seus problemas.

Demos passos concretos nesse sentido eestamos recolhendo os benefícios. Se não, que falempor si mesmos exemplos como o da extraordináriaelevação do patamar das nossas relações com o Japão,consagrada com a recente visita de Estado do PresidenteFernando Henrique a Tóquio, em março último, ou asensível mudança para melhor das nossas perspectivasde acesso a tecnologias na área espacial com o nossoingresso no MTCR – o regime de controle de tecnologiasde mísseis. Ambos são eloqüentes a respeito do impactodireto que têm sobre a nossa projeção externa avançosque fazemos aqui dentro, em nosso interesse e paranosso benefício.

Temos que abandonar de uma vez por todasa ilusão de que, por sermos um país continental, degrande população e com um PIB considerável,naturalmente estamos destinados a ter importância emesmo a ditar a agenda do nosso relacionamentocom os nossos parceiros em todo o mundo.

Como tenho dito, não basta ser grande erelativamente importante; é preciso atuar emconseqüência, e isso não se faz no exercício deprincipismos estéreis ou na ilusão da autarquia e dofechamento em nome de um falso nacionalismo.

O Itamaraty sente-se à vontade para falar dasoberania nacional, porque nasceu, cresceu e seconsolidou no exercício da defesa dessa soberania.A soberania só é real se por trás dela existir umanação forte, com uma moeda respeitada, com umaeconomia capaz de gerar poupança e investimento,com uma sociedade mais integrada e menos desigual,com uma população mais educada e politicamenteparticipante.

Tudo o que pudermos avançar em matériade reformas que consolidem as tendências positivasobservadas com o Plano Real, com a aberturacompetitiva e responsável da nossa economia e coma retomada do crescimento terá um impacto positivoe fecundador sobre as nossas relações exteriores esobre o fortalecimento da nossa soberania.

Por isso, não queria deixar de começar estaconversa sem fazer um apelo muito direto, muitoobjetivo e profissional, em favor do avançocontinuado das reformas que irão consolidar o PlanoReal e tornar permanentes os ganhos que ele trouxepara a sociedade brasileira. Só assim, do ponto devista da política externa, nós teremos condições deperseverar na via que temos explorado nestesdezesseis meses de Governo Fernando HenriqueCardoso: a de uma diplomacia capaz de revalorizaras nossas parcerias tradicionais e de ir colocando opaís, pouco a pouco, em posição de exercer influêncianos mecanismos decisórios, políticos e econômicos,que gerem as relações internacionaiscontemporâneas. E isso sem qualquer veleidade de

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prestígio falso ou de liderança vazia.Não estamos fazendo nada no plano externo

que não seja para coadjuvar os esforços do povo edo Governo brasileiros por um desenvolvimentosustentável, com estabilidade e mais eqüidade.

Com dois anos de sustentação do Plano Real,o Brasil já mostrou uma diferença fundamental nasrelações com seus parceiros em todo o mundo. Hoje,somos foco de interesse e, mais do que isso, nossaparceria é valorizada por nossos amigos e sóciosinternacionais. Melhorando os termos do nossorelacionamento externo, desimpedindo nosso acessoa mercados, tecnologias e investimentos produtivose apostando na importância relativa do país, nósestamos na verdade ajudando a fortalecer o nível daatividade econômica interna, a gerar e manterempregos e a melhorar a qualidade de vida da nossapopulação.

A diplomacia brasileira em um mundo emtransformação

A diplomacia do Governo FernandoHenrique tem procurado ser uma resposta a maiscompleta possível a uma nova realidade internacionale aos imperativos internos brasileiros, valendo-se dascondições mais favoráveis que temos hoje paramelhor inserir-nos em nossa região e no mundo. Falode um mundo em que, graças ao fim da Guerra Friae das confrontações ideológicas mais virulentas,emergiram com toda a sua intensidade os verdadeirosdesafios da vida internacional: ser mais competitivono plano econômico comercial e tecnológico parapoder extrair da inserção externa o maior númeropossível de benefícios ao menor custo possível.

Esses benefícios são tangíveis. Falo deinvestimentos produtivos em sua permanente buscade uma complexa combinação de estabilidadepolítica e econômica, potencial e dinamismo dosmercados e transparência e segurança das regras.Falo de acesso desimpedido a mercados e atecnologias indispensáveis ao nosso desenvolvimento.Falo de maior participação nos mecanismos

decisórios internacionais, de forma compatível comos interesses, as capacidades e a projeçãointernacional do país.

É isso o que temos procurado facilitar com anossa política externa. Uma política externa depersistente revisão e aperfeiçoamento das nossasparcerias tradicionais e de busca de novas parceriasindividuais ou regionais.

Mas é preciso desde já fazer duas precisões.A primeira delas é que a diplomacia defende

e projeta no exterior os interesses nacionais, damesma forma que ela procura melhorar a inserçãointernacional do país que representa. Mas ela nãocria interesses, nem pode projetar o que não existe.O país que se encontra por trás da diplomacia é oúnico elemento a partir do qual ela pode operar. Porisso, a diplomacia só poderá responderadequadamente às transformações do cenáriointernacional se essas transformações forem, dealguma forma, internalizadas pelo país.

A segunda é que a diplomacia de um paíscomo o Brasil opera necessariamente a partir de umpatrimônio diplomático. Ela não admite mudançasirrefletidas ou bruscas, nem barganhas voltadas parao curto prazo, nem jogos de cena ou buscas irrealistasde prestígio.

Temos um patrimônio político construído comos diferentes grupos de países com os quais nosrelacionamos, temos uma tradição de atuaçãoequilibrada e amadurecida nos foros multilaterais etemos interesses claros como grande país continental,com uma economia cada vez mais dinâmica eintegrada ao exterior e que cresce como referênciapara outras economias.

Poucas vezes no passado nos moveramveleidades de liderança, a ilusão do prestígioconstruído através de iniciativas de impacto na cenaregional ou internacional ou a miragem de relaçõesespeciais ou alinhamentos automáticos que nãotinham correspondência na escala de prioridades doparceiro. Quando isso ocorreu, rapidamente sepercebeu a limitação do gesto, e se voltou ao curso

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refletido de uma diplomacia amadurecida emdécadas de complexas lides internacionais.

Há uma sabedoria na tradição, na memória ena prudência diplomáticas, não por conservadorismoou principismo estéril, mas porque as relações entreEstados se dão ao longo de períodos extensos daHistória.

Por isso, o papel da diplomacia brasileira éinterpretar corretamente as prioridades nacionais,situando-as dentro do projeto mais amplo do nossodesenvolvimento e procurando servir comoinstrumento dessas prioridades no plano exterior. Sempreconceitos, sem ingenuidade, sem demagogia ouarroubos retóricos.

Não quero buscar um rótulo que designe essapolítica externa, mas sim caracterizá-la pelos seuselementos definidores centrais. Não andamos atrásde slogans, mas sim de resultados, e não de quaisquerresultados, mas sim daqueles que se somem aosesforços que fazemos em matéria de políticaeconômica e de política social.

Algumas diretrizes básicas da diplomacia doGoverno Fernando Henrique Cardoso

Nossa diplomacia é universalista e não-excludente. Essa é uma característica que deriva daprópria inserção internacional do Brasil, um país comrelações equilibradas entre quatro grandes pólos —a Europa, a América do Norte, a América Latina e aÁsia — e com presença expressiva nos cincoContinentes.

Buscamos reforçar ou criar parcerias combase em interesses concretos e naturais, no seuimpacto no nosso nível de atividade econômica, e noseu papel na configuração de uma rede de presençainternacional do Brasil. Queremos estender essasparcerias em todas as áreas do globo, em especialnaquelas que mostram maior dinamismo, como aÁsia, a última região em que nos restam amplosespaços a explorar.

Não há elementos ideológicos que presidama busca dessas parcerias. Com princípios, mas com

pragmatismo, buscamos as oportunidades onde elasexistam. E não há, na concepção brasileira, razãopara privilegiar um ou outro relacionamento externo,um ou outro foro internacional ou agrupamentoregional ou temático, em prejuízo ou detrimento deoutros.

Os limites de nossa ação diplomática serãoos limites dos nossos próprios recursos.

Sua principal baliza é o princípio de que éimportante para o Brasil assumir, nas suas relaçõescom o resto do mundo, um lugar condizente com assuas dimensões e com as suas características degrande país em desenvolvimento.

Nossa diplomacia é um instrumento a serviçodo nosso desenvolvimento sustentável com justiçasocial. Isso quer dizer que ela não é um fim em simesma, nem obedece a concepções puramenteintelectuais da realidade mundial ou do nosso própriopaís. Não se ilude com veleidades de liderança ou deprestígio. Tem uma consciência aguda dos trunfos e dosconstrangimentos do Brasil, mas não busca confrontosestéreis que possam isolar-nos, nem iniciativasdesprovidas do sentido pragmático que nos inspira.

Nossa diplomacia tem também umapercepção clara do que é a agenda internacionalcontemporânea, de como ela evoluiu nos últimosanos, de quais são as prioridades reais nessa agendapara um país como o Brasil e de quais são as atitudese os reflexos que não mais correspondem a umarealidade internacional transformada.

Para isso, estamos fazendo os ajustesnecessários em nossa ação e ampliando a nossareflexão. Embora conscientes da importância donosso patrimônio diplomático, estamos evitando, atodo custo, ações reflexas, atitudes mecânicas e pré-concebidas e dogmatismos que são in limineincompatíveis com as mudanças que caracterizam omundo e o nosso próprio país.

Queremos uma diplomacia ativa, não reativa,como corresponde a um país que tem interessesconcretos a promover nos mais variados âmbitos dapolítica internacional.

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Repudiamos toda falsa cautela que justifica ainação e que pode ser responsável por perdermosespaço na cena internacional e tempo nos movimentosestratégicos que se impõem.

Não queremos chegar tarde às áreas novasque se reincorporam ao convívio internacional, e porisso estamos fazendo uma política ativa na ÁfricaAustral e no Oriente Médio.

Erigimos em prioridade concreta as nossasparcerias com os países da ASEAN, possivelmenteo núcleo de países que mais cresce no mundo, eatualizamos a nossa relação com a China, a Índia e oJapão. Estamos participando com interesse e espíritoaberto e construtivo dos debates em torno da reformadas Nações Unidas, da ampliação do Conselho deSegurança, da urgência de mecanismos que previname corrijam os impactos da volatilidade dos capitaissobre as economias emergentes. E temos estadoativos no seguimento da Cúpula de Miami,preocupados em dar um curso positivo, construtivoe realista ao processo de integração hemisférica apartir dos arranjos sub-regionais.

Alguns exemplosSão muitos os exemplos de ações que temos

promovido para tornar palpáveis essas diretrizes.Dezesseis meses de política externa particularmenteativa já são suficientes para mostrar o grau em quepraticamos a dialética que se consagrou na nossahistória diplomática: a renovação combinada com acontinuidade. Insistindo no fato de que a lista sucintaque apresento a seguir é exemplificativa e não excluioutras áreas de atuação e prioridades da nossapolítica externa, gostaria de encaminhar-me para ofinal mencionando alguns desses exemplos da nossaatuação diplomática mais recente.

Diplomacia PresidencialAs viagens internacionais do Presidente

Fernando Henrique Cardoso não são apenas oexercício, pelo Brasil, da diplomacia de Chefes deEstado e Governo, característica das relações

internacionais nas últimas décadas e uma prática hojecomum entre os Estados.

Elas traduzem também uma estratégiadeliberada de nos valermos do instrumento dosencontros de cúpula, com sua capacidade única demobilizar meios governamentais, a imprensa e aopinião pública, para promover uma atualização dapresença externa brasileira no mundo. Essaatualização se faz ainda mais necessária se pensamosnos desenvolvimentos positivos que o Brasil vemtendo e que é preciso apresentar à comunidadeinternacional.

O programa de viagens presidenciais écoerente com as prioridades da política externa doGoverno. Com sentido de equilíbrio e de abrangência,vamos cobrindo o universo das relações exterioresdo Brasil em termos de parcerias importantes – naAmérica do Sul, na América do Norte, na Europa ena Ásia, futuramente na África e no Oriente Médio.Com esse programa, os setores governamentaisresponsáveis por cada um dos aspectos quecompõem as nossas relações com o país visitado sãochamados a participar da preparação substantiva daviagem e depois a fazer o “follow up” indispensávelpara acompanhar os resultados. Ao mesmo tempo,o Presidente tem conseguido colocar a políticaexterna na agenda brasileira, chamando a atençãopara o fato de que um país como o Brasil não podeficar alheio aos mundo exterior e aos nossosinteresses lá fora.

Os resultados que temos colhido são, naminha avaliação, os mais favoráveis possíveis. Bastacitar os países visitados pelo Presidente nestes quinzemeses para se ter uma idéia da importância desseprojeto de diplomacia presidencial: Chile, EstadosUnidos, Venezuela, Portugal, Alemanha, Bélgica eUnião Européia, Nações Unidas, China, Malásia,Índia, México, Japão e Argentina, sem contar asposses presidenciais e reuniões multilaterais de cúpulaem que temos estado ativamente presentes. De minhaparte, tenho também realizado numerosos contatosinternacionais, seja para preparar as visitas

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presidenciais, seja para discutir e gerenciar com meushomólogos as relações do Brasil com numerososparceiros.

Os próximos compromissos presidenciais noexterior visam a fechar o ciclo de retomada decontatos com nossos principais parceiros. Além daFrança, estão na lista, entre outros, a África do Sul,Angola, Itália, Reino Unido, Canadá. São parceirosexpressivos com os quais temos uma agendaimportante a retomar ou a relançar.

O Brasil hoje é respeitado e olhado cominteresse no exterior não apenas porque temos umanova realidade política e econômica aqui dentro, masporque temos procurado ativamente promover essarealidade junto aos nossos principais parceirosvalendo-nos da habilidade, da experiência e dointeresse diplomático do presidente da República.

Proteção aos nacionais brasileiros no exteriorTalvez o dado mais novo para a diplomacia

brasileira nestes últimos tempos seja o da emigraçãobrasileira ao exterior. Em países fronteiriços ou empaíses desenvolvidos, o contingente de brasileiros quevive temporariamente ou em bases mais definitivasno exterior aumentou geometricamente, alcançandohoje perto de 1,5 milhões de cidadãos. A eles seagrega um número ainda maior de turistas, estudantese empresários, levados ao exterior pela estabilidadeda moeda brasileira e pelas oportunidades que seabrem fora do país.

A proteção ao nacional no exterior étradicionalmente uma das atribuições básicas dadiplomacia, ao lado da representação, da negociaçãoe da informação. Para a diplomacia brasileira, nuncahouve uma situação comparável. Os desafios que seabrem para nós são imensos. Além da demanda porserviços cartoriais prestados pela rede consular,aumentam as necessidades de apoio consular abrasileiros e de incentivo à organização dascomunidades brasileiras fora do país. O Itamaratytem passado por uma grande renovação em sua áreaconsular e hoje já concentra cerca de 30% do seu

pessoal nas tarefas consulares e de assistência abrasileiros no exterior.

Ultimamente, temos concentrado esforços nacriação de Conselhos de Cidadãos nas cidades eáreas metropolitanas que concentram expressivascomunidades brasileiras. O objetivo é ao mesmotempo contribuir para a organização dessascomunidades e para a institucionalização de um canalregular entre as nossas repartições consulares e osbrasileiros residentes na sua área de jurisdição, comvistas a melhor proteger seus interesses e prestar-lhes serviços consulares.

MercosulO Mercosul é talvez, hoje, a síntese do que

tradicionalmente foi um dos nossos paradigmasdiplomáticos no campo das relações bilaterais: asrelações com os países do Prata. Mais do que síntese,o Mercosul é também um símbolo do grande avançoqualitativo que essas relações tiveram a partir da décadade 80, quando o signo da cooperação e da parceriacompleta substituiu definitivamente o signo dacompetição nas relações entre os dois maiores sóciosdo empreendimento, a Argentina e o Brasil.

O Mercosul é prioridade da política externabrasileira. Mais do que isso, já se consolidou comoum instrumento de política econômica para cada umdos seus Estados-membros.

Com sentido de realismo e pragmatismo etendo em vista os interesses da estabilização brasileirapara a própria consolidação do Mercosul,procuramos adaptar a iniciativa aos imperativos quepodem derivar de conjunturas macroeconômicasadversas ou potencialmente arriscadas para osEstados-membros, e creio que temos tido grandeêxito. O Mercosul firma-se como um parceirointernacional e como um importante reforço àidentidade e à projeção externa dos países que ocompõem.

Continuamos a trabalhar pela consolidaçãoda União Aduaneira e a promover as bases para umrelacionamento mais amplo entre o Mercosul e outros

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países ou grupos de países. Começamos com a UniãoEuropéia, através do acordo de cooperaçãoeconômica firmado em dezembro último em Madri.A intenção é chegarmos a um acordo de livrecomércio entre as duas regiões, que fortaleça, donosso ponto de vista, o equilíbrio relativo do comércioexterior dos quatro países que integram a nossa uniãoaduaneira.

Estamos atuando também no sentido dechegar a acordos de liberalização comercial entre oMercosul e outros países da nossa região, começandopelo Chile. Pouco a pouco, o Mercosul vaicompletando o seu caráter de nova grande realidadeeconômica e política na América do Sul — um dosnúcleos a partir dos quais será possível ampliar aintegração hemisférica.

Quero reafirmar aqui a importância que oGoverno federal atribui a uma participação intensade todos os Estados e regiões brasileiros noMercosul. Ao contrário do que se chegou algumavez a veicular, o Mercosul não é uma iniciativadiplomática voltada para os Estados do sul do país,mas sim um esforço de integração de todo o mercadobrasileiro aos mercados dos nossos sócios dentroda União Aduaneira. À medida que o Mercosul sevai consolidando e ampliando suas parcerias, outrospaíses sul-americanos — amazônicos, andinos ouplatinos — poderão associar-se, dentro de umaperspectiva de ampliação das correntes de comércioe investimentos em toda a região sul-americana.

Os Estados do Norte e do Nordeste do Brasilcomeçam a incorporar o Mercosul a suas agendas eé fundamental que esse processo se acentue. OItamaraty está à inteira disposição dos representantesdesses Estados no Congresso e dos Governosestaduais para orientá-los nessa tarefa.

América LatinaEstamos ampliando a nossa parceria com

nossos vizinhos latino-americanos, dando ênfase àinterconexão física e à cooperação fronteiriça comesses países. Trata-se de responder a um interesse

concreto cada vez maior dos agentes econômicos edas populações que negociam através de nossasfronteiras.

A América Latina volta a ocupar hoje, comvantagens, o lugar de destaque que teve em nossocomércio exterior no final dos anos 70 e início dos80; hoje, esse comércio é maior ainda, maisdiversificado e mais equilibrado, e participa com perfilelevado tanto na geração de atividade econômica noBrasil quanto no suprimento de bens de consumo ematérias-primas para a nossa economia.

Um dado a reter é que hoje a Argentina é onosso segundo fornecedor de petróleo, o que revelauma alteração substancial em nosso esquema defornecimentos de petróleo. As visitas presidenciaisao Chile e à Venezuela, em 1995, ao México, emfevereiro último, e à Argentina, em abril, respondema essa diretriz de intensificar ainda mais o intercâmbioe a cooperação bilaterais com países da nossa região.

Em nossa região, a dimensão multilateral, deintegração no âmbito do Mercosul, não substitui nemexclui a dimensão dos relacionamentos bilaterais comtodos e cada um dos países latino-americanos —inclusive, individualmente, com os nossos três sóciosdo Mercosul. As dimensões bilateral e multilateral seintegram perfeitamente, fortalecendo-se mutuamentee contribuindo para que a América Latina consolidea sua posição como um dos quatro grandes blocosde relacionamento externo do Brasil, ao lado doNAFTA, da União Européia e da Ásia.

Integração hemisféricaO Brasil tem participado das reuniões de

seguimento da Cúpula das Américas animado domesmo espírito construtivo que orientou a nossaparticipação em Miami, em dezembro de 1994.Nosso compromisso com o processo iniciado emMiami é firme. Ele se expressa não apenas na nossaparticipação cuidadosamente preparada em cadaexercício do processo de seguimento da Cúpula, mastambém no oferecimento, já aceito, de sediar em BeloHorizonte a próxima reunião hemisférica de Ministros

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responsáveis pelo comércio exterior, dandoprosseguimento às reuniões já realizadas em Denver,em 1995, e em Cartagena, em março último.

Para nós, fortalecer as relaçõesinteramericanas sobre a base de um expressivocrescimento do comércio e dos fluxos deinvestimentos intra-regionais constitui um instrumentoinsubstituível no marco mais amplo de uma melhorinserção da economia brasileira na economiainternacional. Para nós, as instâncias bilateral, sub-regional, regional e internacional das nossas relaçõesexteriores não se excluem, mas se completam e sefortalecem. Estamos levando à prática essaconvicção, baseada, de resto, em nossa própriaexperiência.

A realidade de que estamos partindo écomplexa, mas extremamente favorável. AOrganização Mundial do Comércio nos dá umaestrutura internacional multilateral de regulação eliberalização do comércio já em pleno funcionamentoe em processo de aperfeiçoamento. Os arranjos sub-regionais de integração ou liberalização do comérciojá são importantes focos de interação econômica. OMercosul é um exemplo disso. No Continente, aliberdade econômica e a abertura competitiva aoexterior consolidam-se como forças propulsoras dodesenvolvimento econômico e do progresso social.

Mas essa realidade complexa que nos permiteser otimistas sobre a integração hemisféricaaconselha-nos uma abordagem cuidadosa doprocesso. Queremos evitar expectativas irrealistas outemores que possam ser nocivos ao processo a maislongo prazo.

Queremos ir com cautela e sentido deresponsabilidade em áreas onde não existe consensoou onde o consenso será alcançado passandonecessariamente pela OMC e pelos arranjosregionais. Queremos estar certos de que osagrupamentos sub-regionais, como o Mercosul,estão-se firmando de forma irreversível, produzindoefeitos sobre a competitividade e a produtividade dasnossas economias antes de dar passos maiores. E

queremos estar certos de que os processos unilateraisde abertura e reforma econômica, que têm sido adominante na nossa região, estão se consolidando.

Em nossa visão, não há atalhos para chegara um objetivo da magnitude da área de livre comérciodas Américas. Queremos garantir que a obra querealizaremos trará a marca da permanência e dointeresse consensual de todos os países participantes.Por isso, temos insistido em uma abordagemcuidadosa da integração hemisférica, que parta dosblocos sub-regionais em consolidação para irconstruindo o bloco maior da integração hemisférica.

União EuropéiaA Europa tem sido tradicionalmente, em

conjunto, o mais importante parceiro econômico ecomercial do Brasil, responsável por cerca de 30por cento do nosso comércio exterior e por algumasdas mais importantes parcerias individuais do Brasilno mundo, como é o caso da Alemanha, da Grã-Bretanha, da França e da Itália. Embora a Europatenha perdido algo de sua posição relativa nocomércio exterior brasileiro e nos investimentos noBrasil, ela constitui uma das bases do equilíbrio quecaracteriza nossa inserção no mundo. Nossointeresse é manter e reforçar esse equilíbrio, inclusiveporque estão em curso iniciativas, como a projetadaintegração hemisférica, que poderão incrementar emmuito as relações comerciais e financeiras entre oBrasil e o Continente americano.

Esse é um dos fundamentos da políticaeuropéia que temos seguido e que encontra seumelhor exemplo na viagem presidencial à Alemanha,em setembro de 1995, e na visita à França, agoraem maio. Outras iniciativas semelhantes seguirão,sempre com a preocupação de manter a Europacomo grande parceiro econômico, comercial etecnológico do Brasil.

Estados UnidosMesmo tendo em conta a perda relativa do

poder econômico e político norte-americano ao

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longo dos últimos 50 anos, as relações com osEstados Unidos continuam sendo um dos paradigmasda política externa brasileira desde que o Barão doRio Branco, no início do século, operou a mudançano principal eixo de relacionamento internacional dopaís, movendo-o de Londres para Washington. OsEUA são o principal parceiro individual do Brasil ehoje a única potência com real capacidade política eestratégica global. A importância do diálogo políticoe do intercâmbio econômico-comercial e tecnológicocom os Estados Unidos é patente para o Brasil. Aomesmo tempo, cresce a consciência de que esseinteresse é uma via de duas mãos, a ser trilhada nabase do respeito e com uma abordagem construtivae positiva.

A visita presidencial aos Estados Unidos, emabril de 1995, serviu ao propósito de redimensionaressa parceria tradicional do Brasil, valendo-se dosnovos elementos de que dispomos no cenário internobrasileiro: a estabilização, a abertura econômica, asreformas, o crescimento, a consolidação da nossacredibilidade. Ampliamos e avançamos nossa agendacom os Estados Unidos, uma agenda afirmativa, quemostra o compromisso dos dois Governos detrabalhar ativamente pelo fortalecimento dointercâmbio e pela solução das diferenças quenaturalmente aparecem em um relacionamento dadensidade e complexidade do nosso.

Posso dizer hoje com muita tranqüilidade quepossivelmente nunca, desde a Segunda Guerra, foramtão boas e equilibradas as relações Brasil-EstadosUnidos. Com os Estados Unidos, temos tido umdiálogo maduro e franco sobre temas de interessecomum ou iniciativas conjuntas: as relações comerciaisbilaterais, a integração hemisférica, a reforma dasNações Unidas. Esse diálogo tem sido fácil, constantee objetivo. Divergimos quando é preciso, sem ânimode confrontação. Graças, em grande medida, aosenormes avanços que fizemos no Brasil, a relação comos Estados Unidos se encontra hoje livre de grandesdiferendos. Nossa agenda, mais do que positiva, éafirmativa, no sentido de que existe uma preocupação

constante em construir sobre os aspectos positivos quevão compondo o universo das relações.

ÁfricaNa África, estamos redimensionando nossa

presença e adequando-a à nossa capacidadediplomática. Apostamos fortemente na pacificação ena reconstrução de Angola e Moçambique, que têmtodo o potencial para serem dois dos nossos maisimportantes parceiros no mundo em desenvolvimento.Esse é o sentido da nossa participação na UNAVEM-III, a Força de Paz das Nações Unidas que ali contacom mais de 1.100 soldados brasileiros — nossamaior força militar fora do país desde a SegundaGuerra.

Estamos também repensando nossorelacionamento com a África do Sul, país que surge,com a sua democratização, como um dos pólos maisdinâmicos de desenvolvimento no Hemisfério Sul, alémde ser o foco da atenção quase universal pelas suaspotencialidades e pelo seu vigor econômico, ampliadocom o fim do embargo e a volta dos investimentos. OPresidente Fernando Henrique Cardoso deve fazer umavisita oficial à África do Sul, para sinalizar a importânciaque atribuímos à implementação dessa nova relaçãoentre os dois países.

Esses exemplos falam de uma nova perspectivaque se abre para o Brasil na África, que volta figurar nohorizonte das nossas prioridades graças a uma felizcombinação de fatores internos brasileiros comprogressos sensíveis no cenário africano.

Oriente MédioTambém no Oriente Médio estamos

reequilibrando nossa presença, a partir da própriaevolução do processo de paz que tenta pôr fim a umconflito que por décadas assolou a região. Emboraconturbado por atos de oposição violenta e pelascomplexidades próprias de um intrincado mecanismonegociador, que coloca em presença muitosinteresses e visões conflitantes e mesmo opostos, oprocesso de paz no Oriente Médio merece o apoio

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imparcial e decidido da comunidade internacional eo Brasil não poderia agir diferentemente.

O Líbano se reconstrói, Israel chega a termoscom os palestinos e com vários de seus vizinhosárabes, os olhos do mundo se voltam para a regiãoatrás de oportunidades que renascem. Minha visita aIsrael, de 28 a 30 de agosto de 1995, a primeira deum Chanceler brasileiro em 23 anos, teve esse sentidode redimensionar e equilibrar nossa presença noOriente Médio. Meu encontro com Yasser Arafat,na mesma oportunidade, para tratar de nossasrelações coma Autoridade Palestina por ele presidida,teve esse mesmo sentido de equilíbrio e deaperfeiçoamento da nossa presença na área. OPresidente Fernando Henrique Cardoso encontrou-se em outubro passado com o Primeiro-Ministroisraelense Yitzhak Rabin, tragicamente vitimadodepois, e recebeu Arafat em Brasília no mesmo mês.

A partir desse reequilíbrio da nossa presençana área queremos ampliar os contatos no OrienteMédio e estar plenamente presentes no MediterrâneoOriental, uma região com vocação para o comércioe as relações financeiras internacionais.

Ásia-PacíficoA Ásia-Pacífico talvez seja hoje a última

fronteira da diplomacia brasileira, uma região quecomporta uma expansão da nossa presença políticae econômico-comercial. É a região que mais cresceno mundo, uma espécie de vitrine da globalização eda abertura competitiva das economias ao mundo— inclusive economias socialistas, como o Vietnã ea própria China.

Na Ásia, estamos reforçando nossa presençadiplomática, equipando melhor algumas Embaixadasem países dinâmicos, definindo uma agenda e pondoem prática algumas iniciativas de diplomaciapresidencial.

Começamos em dezembro de 1995, com avisita à China e à Malásia, dois casos de sucesso narevolução econômica mais recente que transforma aregião da Ásia-Pacífico no pólo mais dinâmico da

economia mundial nos anos 90.Prosseguimos em janeiro último com a visita

à Índia, devida há muito tempo e voltada a colocarvirtualmente a Índia na tela dos nossos interesses edas nossas boas parcerias na região.

E completamos a primeira fase dessadiplomacia asiática com a visita ao Japão, que emsíntese sinalizou a retomada da relação bilateral sobreuma nova base de confiança recíproca e com novoselementos a favorecer a relação. Os resultados foramapreciáveis, tanto do ponto de vista político quantodo ponto de vista econômico.

Eu mesmo estarei proximamente viajando atrês países da ASEAN — Cingapura, Tailândia eMalásia —, para contatos políticos e exploração deuma agenda econômico-comercial.

Aproveitarei minha estada em Cingapura,onde ainda participarei do Congresso preparatórioà reunião ministerial de novembro sobre aOrganização Mundial de Comércio, para promoveruma reunião de coordenação com os Embaixadoresbrasileiros na área. A idéia é recolher sugestões,críticas e demandas para tentar maximizar a nossacapacidade de atuação diplomática na região.

JapãoConhecendo o interesse particular que as

relações com o Japão despertam nesta Comissão,gostaria de reservar algum espaço para avaliar a visitapresidencial de março último, realizada com o intuitoespecífico de atualizar e aperfeiçoar as relações comum parceiro tradicional do Brasil, que se haviamantido em posição de prudente expectativa emrelação aos desenvolvimentos internos no Brasil.

A visita realizou-se sob o influxo positivo dealguns dados novos na relação Brasil-Japão — apresença, naquele país, de um expressivo contingentede trabalhadores brasileiros, os “nikkeis”, que dãonova substância e novo caráter prático à amizadenipo-brasileira; a participação brasileira no Mercosul; ogrande dinamismo da área da Ásia-Pacífico, ondepredomina o yen como força econômico-financeira; e

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a própria evolução positiva da realidade econômicabrasileira.

A viagem foi também o ponto culminante dascomemorações do Centenário do Tratado deAmizade, Comércio e Navegação, assinado em1895. Quis-se valorizar o patrimônio político ediplomático representado pelos laços humanos entreos dois países — laços que são insubstituíveis nasrelações entre os Estados e que têm um valor própriona promoção das relações econômicas, comerciais,financeiras e de cooperação entre os dois países.

Foi possível recolher dos interlocutoresnipônicos o reconhecimento de que o Brasil vive umanova fase, tanto política quanto econômica, a qualfazia ressurgir nos estamentos governamental eempresarial atenção especial pelo nosso país. Foramunânimes as manifestações de apoio à políticaeconômica, sobretudo pelo êxito do plano deestabilização monetária, sem que a economia tenhaperdido seu ímpeto de crescimento e seu vigor.

Houve manifestações de interesse concretoem expandir investimentos no Brasil e foi significativaa participação do empresariado local nas iniciativaspromovidas pela parte brasileira paralelamente à visitapresidencial.

O Primeiro-Ministro Hashimoto anunciou aliberação de nova linha de crédito para seguro àsexportações no valor de US$ 1,5 bilhão.

Todos esses anúncios de créditos tiveram obenefício adicional de sinalizar positivamente aoempresariado nipônico a confiança renovada doGoverno japonês no Brasil, o que poderá induzirnovos investimentos do setor privado daquele paísno Brasil.

MTCR e outros mecanismos regulatóriosGraças aos compromissos que assumiu e

consolidou em matéria de controle de exportaçõesde materiais e tecnologias sensíveis e de não-proliferação de armas de destruição em massa, oBrasil foi admitido, em outubro último, no Regime deControle de Tecnologia de Mísseis. A participação

no MTCR foi resultado de um importante processode coordenação interna do Governo brasileiro e deatualização das nossas posições em face dedesenvolvimentos internacionais importantes.

Percebendo o desinteresse de manter umaposição principista contrária ao caráter restrito doMTCR em matéria de participação, o Brasil passoua ver no regime uma garantia de acesso a tecnologiasindispensáveis ao desenvolvimento do seu programaespacial. Não abrimos mão do nosso programa; aocontrário, ele se mantém absolutamente intacto dentrode suas características de programa pacíficocontrolado por uma agência civil, a Agência EspacialBrasileira, e já começa a colher os benefícios da nossaadesão ao MTCR na forma do interesse desimpedidode grandes empresas em participar e da possibilidadede ter facilitado o acesso a tecnologias ecomponentes que ainda não temos condições dedesenvolver internamente.

Essa mesma abordagem pragmática nos orientaem nosso pleito de adesão ao Grupo de SupridoresNucleares. Reconhecendo nossa condição objetiva desupridor, queremos assumir as responsabilidadesinternacionais inerentes a essa condição e garantir aosnossos parceiros que nós nos pautamos por regrasestritas em matéria de comércio de bens e insumos daárea nuclear. Trata-se de mais uma credencial em nossaatuação na área de desarmamento e não-proliferação,que ao mesmo tempo facilita o nosso acesso atecnologias e fortalece a credibilidade geral do país —uma moeda particularmente apreciada nas relaçõesinternacionais de hoje.

Reforma das Nações UnidasFinalmente, para encerrar esta lista

exemplificativa, temos procurado participar de formapositiva nos debates sobre a reforma de todos osistema das Nações Unidas em geral — muito além,portanto, do Conselho de Segurança —, como formade torná-lo mais apto a enfrentar as demandaspróprias do mundo pós-Guerra Fria. Paralelamentea essa participação ativa nos debates sobre a reforma

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das Nações Unidas, vimos insistindo também nocumprimento completo e incondicional dasobrigações financeiras dos Estados-membros.

Procuramos influenciar todo o processo deforma construtiva. Fazemos uma defesa sincera eobjetiva da necessidade de reformar as NaçõesUnidas, até como signo de sua vitalidade, ao iniciar-se seu segundo meio século de existência em umambiente internacional inteiramente diverso daqueleque lhe deu origem e em que a Organização tem umpapel de crescente importância a desempenhar.

Por isso mesmo, temos procurado influirpositivamente nas discussões em torno da reformado Conselho de Segurança das Nações Unidas,defendendo a tese de que a melhoria da eficácia doórgão, para cumprir o papel renovado que lhe cabeno sistema internacional pós-Guerra Fria, dependedo aumento da sua legitimidade internacional e dasua representatividade, duas faces de uma mesmamoeda que se chama eficácia e que se obterá comnovos métodos de trabalho e de tomada de decisõese com o aumento criterioso de membros permanentese não-permanentes.

Sem nos mobilizarmos em uma campanha poruma candidatura a membro permanente, temosdeixado claro que defendemos uma reforma doConselho nesses moldes e que estamos dispostos acolaborar em um Conselho ampliado, se formoschamados a fazê-lo.

Mais uma vez, convém que se reafirme emrelação ao Conselho de Segurança: não se trata deum pleito ou de uma candidatura do Brasil, tratadosde forma isolada do processo de reforma da ONUem geral.

Não se trata tampouco de uma iniciativa debusca de prestígio e liderança regional ouinternacional.

E muito menos estamos subordinandoqualquer interesse da nossa política externa em geralou da intensa teia de relacionamentos com nossosparceiros em todo o mundo a esse objetivo. Asviagens presidenciais não têm o objetivo de buscar

ou negociar apoios, como insistem em dizer algunsanalistas. Em alguns dos contatos de alto nível doPresidente da República, o tópico sequer chega aser mencionado.

Isso não quer dizer que não tenhamos amedida exata da importância do processo de reformadas Nações Unidas e especialmente do Conselhode Segurança, nem que não tenhamos consciênciada importância de que o Brasil não se aliene, de queguarde os seus espaços de manobra e preserve osseus interesses de longo prazo, levando em conta ascaracterísticas e os interesses globais do país.

ConclusãoEsta é, em grandes linhas, a diplomacia que

nós procuramos empreender. Espero ter deixadoclaro a forma como ela pretende — e só pode ser— uma resposta coesa e coerente a esse duplo jogode forças, as que movem o cenário internacional e asque nos movem como Estado soberano em buscada sua realização como Nação.

Para esse exercício, a participaçãocontinuada do Congresso é essencial e insubstituível.A Comissão de Relações Exteriores da Câmara dosDeputados tem tido tradicionalmente um papel derelevo nessa participação do Legislativo no exercíciodas suas responsabilidades em matéria de políticaexterna.

O Brasil que nós projetamos lá fora é emgrande medida construído por este Congresso e pelasforças que ele legitimamente representa. Nada melhor,portanto, do que mantermos uma coordenaçãoestreita, porque temos um importante interessecomum. A atenção com que Vossa excelências medistinguem, por certo, é prova de que poderemostrabalhar juntos na promoção desse interesse.

Quero agora agradecer essa atenção deVossas Excelências e colocar-me à sua disposiçãopara aprofundar, em debate, quaisquer dos pontosdesta exposição ou outros que, pelas óbvias limitaçõesde tempo, vi-me forçado a não tocar.

Muito obrigado.

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179Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Excelentíssimo Senhor Vice-Presidente daRepública, Marco Maciel,

Excelentíssimo Senhor Governador doEstado do Amazonas, Amazonino Mendes,

Excelentíssimos Senhores Governadores deEstado,

Excelentíssimos Senhores Senadores eDeputados,

Ilustríssimo Senhor Presidente do SEBRAE,Mauro Durante,

Senhoras e Senhores,É com grande satisfação que venho a Manaus

tratar de um tema de tamanha importância não apenaspara nossa diplomacia, mas também, e cada vez mais,para a economia e a sociedade brasileira. Falar doMercosul é lembrar os êxitos de uma iniciativa que,no curto intervalo de cinco anos, transformou umconjunto de intenções em um esquema de integraçãodinâmico e próspero, que se consolida hoje comoum dos principais campos da ação externa do País ecomo importante fator do desenvolvimento nacional.

O Mercosul é, antes de mais nada, uminstrumento de dinamização econômica, pela aberturade novos e significativos mercados para nossasexportações. A Argentina, com um Produto InternoBruto superior a US$ 200 bilhões, tornou-se nossosegundo maior parceiro comercial individual. Aomesmo tempo, o comércio com Paraguai e Uruguaicresceu de maneira expressiva: as exportações

brasileiras para esses países são, hoje, superiores anossas vendas para parceiros tradicionais, comoReino Unido e Espanha. O intercâmbio entre osparceiros do Mercosul, além de volumoso, passou acobrir uma pauta de produtos altamente diversificada,demonstrando o elevado grau de complementaridadeentre as economias.

Para o Brasil, os resultados comerciaisalcançados até hoje revelaram-se bastante positivos.Nossas exportações para a Argentina, o Uruguai e oParaguai elevaram-se de US$ 1,3 bilhões, em 1990,para US$ 6.1 bilhões, em 1995. Houve, portanto,um crescimento de cerca de 370% em nossas vendaspara os três países, ao passo que as exportaçõestotais do Brasil no mesmo período se elevaram emmais modestos 48%.

Como se não bastasse o enorme incrementode comércio entre os quatro parceiros, o processode integração que culminou na União Aduaneira, nocomeço do ano passado, tem trazido, no casobrasileiro, benefícios para todas as regiões do País,sem exceção.

Crescimento de exportações significa geraçãode empregos, aumento da renda e,conseqüentemente, maior bem-estar para todos.

Aos êxitos alcançados na área comercial,somam-se realizações em setores tão distintos comoeducação, energia, transportes, justiça e meioambiente. O importante fluxo intra-regional de

Mercosul

Discurso do Senhor Secretário-Geral das RelaçõesExteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, porocasião do “Encontro do Norte sobre o Mercosul”, Manaus,12 de abril de 1996

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investimentos demonstra a confiança dos operadoreseconômicos do Mercosul no processo de integraçãoem curso. A união aduaneira criada a partir de janeirode 1995 - a qual representa um mercado consumidorde mais de 200 milhões de habitantes, com um PIBde cerca de US$ 900 bilhões - é, hoje, sem dúvida,um dos mais importantes agrupamentos econômicosdo mundo contemporâneo.

Para além dos benefícios proporcionados àeconomia brasileira, o Mercosul constitui umelemento-chave da atuação externa do Brasil, de seuposicionamento no ambiente continental e global. Aconcretização do Mercosul é, sem dúvida, uma dasprincipais credenciais que temos para apresentar aomundo neste final de século. O Mercosul não ésimplesmente um fator de atração de investimentospara nossos países; é também um importantíssimoacréscimo à nossa credibilidade externa, confirmandoa noção de que podemos atuar de maneira ainda maisintensa e proveitosa no cenário internacional.

Tendo em vista este objetivo, o Ministério dasRelações Exteriores tem procurado ampliar aparticipação da sociedade brasileira no processo deconstrução do Mercosul.

Fazemos isto por meio da disseminação deinformações e da promoção de um diálogopermanente com os diversos segmentos sociais.

Três são as atividades principais que vêmsendo empreendidas pelo Itamaraty nesta tarefa deenvolver a sociedade, cada vez mais, nos esforçosde integração com nossos vizinhos. A primeira delasé a organização de seminários para a divulgação dedados sobre o Mercosul e sobre o andamento dasnegociações com nossos parceiros. Em cidades detodas as regiões do País, nossos diplomatas têmrealizado palestras sobre o tema. Na Região Norte,durante o mês passado, organizamos, com excelentereceptividade, eventos desta natureza em Belém,Porto Velho e aqui em Manaus, com o apoio doSEBRAE e das secretarias estaduais de indústria ecomércio.

A segunda atividade é a criação de pontos

de disseminação de informações sobre oportunidadesde negócios, que atendam primordialmente as microe pequenas empresas. O Departamento dePromoção Comercial do Itamaraty vem instalando,por todo o País, os chamados “pontos focais” do“Sistema de Promoção de Investimentos eTransferência de Tecnologia para Empresas” (SIPRI)e os Pontos Comerciais (“trade points”), voltadospara a identificação de oportunidades de exportaçãoe importação. Estas iniciativas visam a oferecer aopequeno empresário informações sobre eventuaisparceiros em outros países nas áreas comercial,tecnológica e de investimentos. O protocolo que seráassinado hoje entre o Ministério das RelaçõesExteriores e o SEBRAE tem, como um dos seusobjetivos, promover a futura instalação de PontosFocais e “Trade Points” na Região Norte.

Por fim, a terceira atividade diz respeito àparticipação direta da sociedade brasileira noprocesso de decisão do Mercosul. O Protocolo deOuro Preto, assinado entre os quatro países emdezembro de 1994, previa a criação de um ForoConsultivo Econômico-Social, com vistas a reunir osdiversos setores sociais dos países que integram oMercosul. O objetivo era estabelecer um mecanismode consulta mais direto e imediato entre Governos esociedades a respeito dos diversos temas doprocesso de integração.

No último dia 27 de março, após uma sériede reuniões e consultas realizadas com diversossegmentos sociais e econômicos, o Ministro deEstado das Relações Exteriores, Embaixador LuizFelipe Lampreia, presidiu a cerimônia de instalaçãoda Seção Nacional do Foro, que será composta pelaCNI, CNA, CNC, CNT, CUT, CGT, Força Sindicale o Instituto de Defesa do Consumidor. Temos acerteza de que a implementação do Foro permitiráum envolvimento ainda maior da sociedade brasileirana definição dos rumos do Mercosul e em seuconstante aperfeiçoamento.

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Senhoras e senhores,Iniciamos, no ano passado, uma etapa

decisiva no processo de implementação do Mercosul.Deveremos ser capazes de, a um só tempo,consolidar os avanços já alcançados e buscar meiosde articular uma ampla associação do Mercosul comoutros esquemas regionais de integração e outrospaíses, entre os quais os nossos vizinhos amazônicos.

Não é desafio dos mais fáceis. Estamos certos,porém, de que a reiterada vontade política expressapelos quatro Governos, aliada ao inequívoco apoioprestado pela sociedade, constituem a garantia maisimportante de que continuaremos a cultivar oMercosul como um instrumento da prosperidade denossos povos.

Muito obrigado.

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Em nome do povo e do Governo brasileiros,quero mais uma vez saudar Vossa Excelência, seusministros e colaboradores, e a toda a sua comitivaque traz gente tão expressiva da cultura, da economia,dos meios empresariais. É uma visita que nos honra.

Todos ficamos muito sensibilizados com a suadecisão de vir a nosso País na primeira viagem quefaz ao exterior na condição de novo Chefe doGoverno português.

É um sinal muito claro, reconhecido por mime por todos os brasileiros.

É um sinal forte do caráter único que tem arelação de amizade entre nossos países. Revela aconsciência de que compartilhamos múltiplasconvergências.

Tive a nítida percepção do muito quepodemos fazer juntos quando visitei Portugal no anopassado e quero, aqui, reiterar o meu agradecimentopela acolhida. Espero saber retribuí-la com a mesmagenerosidade.

Somos nações democráticas, que avançamrapidamente no rumo do progresso econômico etecnológico e que apostam firme na integraçãocompetitiva às suas regiões e ao mundo.

Nações que sabem ver nas suas principaisparcerias externas um campo fértil de oportunidades.

É legítimo pensarmos que as nossas relaçõespodem ser um instrumento importante para que osdois países possam enfrentar com êxito os desafios

de uma economia globalizada.

Senhor Primeiro-Ministro,Falando a portugueses, não posso deixar de

fazer uma referência pessoal a tantos amigos quetenho no meio político e intelectual. Entre muitos,gostaria de sublinhar os nomes de Mário Soares eJorge Sampaio, antigos companheiros de luta política,exemplares em sua ação na defesa da democracia.

Sei que Vossa Excelência partilha esta mesmatradição política.

O Governo da nova maioria em Portugal foirecebido com entusiasmo e simpatia no Brasil.

Desde a campanha eleitoral, pudemosperceber que os novos dirigentes de Portugal buscamrenovar, de forma criativa e enfática, a relação como Brasil, o que, aliás, já havia sentido no primeiroencontro com Vossa Excelência no Palácio de Queluz,durante minha visita a Portugal.

É natural que a política externa portuguesaencontre seu principal eixo na circunstância regionalimediata e no imperativo geográfico de Portugal, queé a Europa. Mas ela está sendo igualmente objetivae franca ao situar as relações com os demais paísesde língua portuguesa e notadamente com o Brasilcomo um espaço privilegiado para a projeção dosinteresses portugueses.

Nós também entendemos a nossa integraçãono âmbito do MERCOSUL e do nosso próprio

Brasil - Portugal

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do banquete oferecido ao Primeiro-Ministro de Portugal, António Guterres, Brasília, 15 de abrilde 1996

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hemisfério como uma política que não exclui asrelações com outras regiões e países.

Na verdade, nós queremos que a Europamantenha seu peso no conjunto das parceriasinternacionais do Brasil. Existem perspectivas eprojetos para que a presença européia em nossoContinente continue a ser ainda mais importante, numaera de abertura e fortalecimento das economias daAmérica do Sul.

Portugal ocupa um lugar privilegiado nesseempreendimento.

Senhor Primeiro-Ministro,Os avanços que temos feito no Brasil no plano

econômico e na implementação das reformasestruturais certamente terão um impacto positivo parao aprofundamento das relações luso-brasileiras.

O Brasil mudou muito, e com essa mudançaveio também uma alteração muito expressiva dostermos das suas relações com seus principaisparceiros.

O Governo brasileiro tem trabalhado comafinco no fortalecimento e na ampliação das parceriasexternas do Brasil a partir daquilo que se tem feitoaqui dentro.

Esse tem sido o sentido dos inúmeros contatosque tenho tido, dentro e fora do Brasil, com Chefesde Estado e Governo de países amigos.

Esse é o sentido das conversações queestamos mantendo com o novo Governo português.

Brasileiros e portugueses temos tudo paraexplorar ao máximo as circunstâncias tão favoráveisque se apresentam em nossos países do ponto devista político e econômico.

Esta é a hora. Este é o desafio.Temos vontade política.Temos o legado da nossa língua e cultura

comuns, dos laços humanos que se formaram aolongo de quase quinhentos anos de um intensomovimento migratório entre nossos dois lados doAtlântico.

São milhões de portugueses e seus

descendentes que vivem e prosperam no Brasil,contribuindo para o nosso desenvolvimento materiale espiritual.

São milhares de brasileiros que vivem hojeem Portugal, dando o seu trabalho e os seus sonhospara a terra que os acolheu.

Temos uma sólida amizade, que se estende amuitos campos, mas que sobretudo faz com queportugueses e brasileiros nos sintamos em casa, erodeados de afeto, não importa se estamos emPortugal ou no Brasil.

Tudo isso é um patrimônio insubstituível nasrelações entre os Estados. Mas é um patrimônio quetem de ser utilizado com dinamismo.

Não podemos descansar sobre os valores danossa amizade ou a afetividade dos nossos laçoshistóricos e culturais. Nas relações internacionais,essa herança só tem sentido se puder ser traduzidoem realizações concretas.

Os últimos anos foram de renovação emnossa parceria. Ressalto nesse sentido, o bomtrabalho desenvolvido pelos três últimosEmbaixadores do Brasil em Portugal, o ex-PresidenteItamar Franco, o atual Chanceler Luiz FelipeLampreia e o Embaixador José Aparecido de Oliveira.

Temos a feliz sensação de que poderemos irmais adiante e de que, nesse momento, propostasinovadoras poderão dar bons frutos.

Brasileiros e portugueses estão em plenasintonia.

Queremos que a comunidade de idioma ecultura, que compartilhamos com outras cinco naçõesem desenvolvimento da África, nos sirva para atuarmosem conjunto no plano internacional e paradesenvolvermos a nossa própria esfera de cooperaçãoe desenvolvimento, no interesse de todos.

Por isso, estamos empenhados eminstitucionalizar a Comunidade dos Países de LínguaPortuguesa, dando-lhe um sentido prático decoordenação e cooperação entre os sete países quea comporão.

Queremos também que os nossos países

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assumam a condição plena de aliados políticos notratamento das grandes questões internacionais.

E queremos que a familiaridade luso-brasileirasirva ao conhecimento mais objetivo e amplo dosnossos respectivos mercados, especialmente agoraque as transformações se aceleram e se multiplicamas oportunidades para o empresariado brasileiro eportuguês.

Temos que aproveitar a base extensa e sólidade que já dispomos. Temos uma presençaconsiderável de Portugal no Brasil e do Brasil emPortugal.

Nosso comércio bilateral já ultrapassa meiobilhão de dólares anualmente e tem mostrado umritmo de crescimento acelerado, comparável aosmelhores desempenhos do comércio do Brasil comalguns dos nossos parceiros europeus. O volume deinvestimentos recíprocos são expressivos e crescema cada dia.

Com o Acordo-Quadro Inter-Regional deCooperação, assinado em dezembro último em Madri,contamos agora com um processo de aproximaçãoinstitucionalizado entre a União Européia e oMERCOSUL, que haverá de ter um impacto positivotambém na rede das relações bilaterais entre os paísesque compõem em cada agrupamento regional.

Já estamos dando passos firmes nessadireção. O aumento do número de missõesempresariais portuguesas ao Brasil tem sidoacompanhado de um crescente interesse deempresas brasileiras no mercado português. Apossibilidade de “joint-ventures” é real e deve seramplamente explorada.

A própria presença de um número expressivode empresários na comitiva que acompanha VossaExcelência nesta viagem indica o desejo e apossibilidade reais de dar um conteúdo econômicoprático às nossas relações.

Nas relações que estamos construindo entreo Brasil e Portugal, os agentes econômicos terão deter um papel de protagonistas, muito mais do que nopassado.

Senhor Primeiro Ministro,Estamos próximos de um momento

extraordinário do nosso relacionamento, que são ascomemorações do quinto centenário da chegada dosportugueses ao Brasil.

A data será um marco em nossa História, etudo faremos para que ela seja celebrada de modocondizente com a grandeza do momento.

Senhor Primeiro-Ministro,Sensibilizaram-nos muito as indicações do

Governo de Vossa Excelência de que tem a intençãofirme de dar pronta e duradoura solução aosproblemas específicos vividos por brasileiros emPortugal, em particular pelos profissionais que láprocuram trabalho.

Sua intenção já é uma contribuiçãoinestimável que se estará dando ao futuro que se abreàs nossas relações com Portugal.

Senhor Primeiro-Ministro,A integração na Europa, a participação ativa

nos Conselhos da União Européia é outro sinalimportante de um Portugal moderno, que souberenovar-se, que tem hoje uma economia pujante euma democracia consolidada.

O Brasil segue com firmeza os mesmos rumos.Nossas relações nos últimos anos mudaram

muito e isto exigiu— e continua a exigir— de nossaparte um esforço de buscar novos instrumentos paradar a elas maior atualidade.

Não se trata de reinventar o que já existe,mas de olhar com outros olhos, com maior decisão,com sentido de futuro, para um patrimônio dinâmicoque nós temos em comum.

É o que estamos fazendo com esta visita, quedeve ser um marco para fazermos mais por nossospovos.

Por isso, quero pedir a todos que meacompanhem em um brinde pela prosperidade dopovo português, pelo sucesso do seu novo Governo,pela amizade fraterna e sempre renovada que une os

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nossos países, pela saúde e ventura pessoais doPresidente Jorge Sampaio e pela felicidade do

Primeiro-Ministro e da Senhora Antônio Guterres.Muito obrigado.

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187Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhoras e Senhores,É sempre com genuína satisfação que retorno

a esta Casa, que tive o privilégio de dirigir comoChanceler e de cuja competência e dedicação aoBrasil continuo tendo seguidas provas comoPresidente da República.

Caros Formandos,Vocês ingressam na carreira diplomática em

um momento muito especial, que se projeta comoverdadeiro ponto de inflexão na história do país e daHumanidade. Um momento em que a velocidadevertiginosa do progresso técnico e tecnológico éacompanhada por irreversível processo deglobalização econômica. Como pano de fundo, háuma nova realidade política mundial, que se vemdesenhando a partir do fim da confrontaçãoideológica.

Tirando conclusões equivocadas dessa novarealidade, surgem algumas vozes pregando aexistência de uma “crise da diplomacia”, atividadeque tenderia a tornar-se obsoleta nesta era da“revolução da informação”.

Nada mais distante da verdade.É fato que estes novos tempos trazem

desafios adicionais e implicam, forçosamente, novasdemandas em termos de atuação externa. Reforça-se, por conseguinte, a necessidade de atualização ereaparelhamento da Chancelaria e da própria carreira

diplomática. E sei que o Ministro Lampreia estápessoalmente engajado em levar adiante as reformasrequeridas.

São tempos de diplomacia pública; temposde universalização econômica e de grandes temasglobais, como a proteção ao meio ambiente e aosdireitos humanos; tempos de grandes movimentaçõestransfronteiriças de pessoas, bens e capitais; tempos,enfim, da informação imediata, em tempo real, sobreos principais acontecimentos mundiais.

O trabalho da Chancelaria, essencial naexecução da política externa, torna-se mais complexo,com a constante incorporação de novos interlocutorese o fortalecimento de novos agentes que atuam noplano internacional, como organizações não-governamentais e empresas transnacionais.

As unidades da Federação e os municípiosassumem papel mais ativo na esfera internacional. Eisto é positivo.

São cada vez mais freqüentes os contatosdiretos entre Chefes de Estado. Na consolidação doMERCOSUL, por exemplo, o relacionamentopessoal e franco que se estabeleceu entre osPresidentes tem contribuído para a agilização doprocesso e a superação de dificuldades tópicas.

Em nada, porém, essas circunstânciasdiminuem a importância da atuação diplomática. Aocontrário, reforçam-na. Oportunidades eperspectivas ampliadas para a inserção internacional

Dia do Diplomata

Discurso do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, por ocasião da cerimônia de formaturada turma “Florestan Fernandes” do Instituto Rio Branco,Brasília, 30 de abril de 1996

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do Brasil abrem-se em função da nova realidade quese desenha nos planos nacional e global.

Surgem, para o país, novas e clarasprioridades, como a integração sub-regional noâmbito do MERCOSUL e o fortalecimento daassistência consular aos crescentes fluxos de turistase emigrantes brasileiros residentes no Estrangeiro.Reforça-se o compromisso com o desarmamento ea não-proliferação de armas de destruição em massa.Amplia-se o debate, que nos interessa e que seguimosde perto, sobre a reforma do sistema das NaçõesUnidas. Definem-se parcerias de grande importância.

O aperfeiçoamento da competitividade noplano econômico-comercial adquire mais e maisrelevância, ao mesmo tempo em que o poder nacionalpassa, em grande medida, pela capacitaçãotecnológica e pela capacidade de processamento dainformação.

Mais do que nunca, se exigirá dos diplomatasbrasileiros que façam uso da visão ampla e articuladaque possuem dos interesses nacionais no planoexterno.

A chamados como esse, no passado distantee recente, esta Casa de Rio Branco respondeuinvariavelmente com afinco, dedicação e espíritopúblico. São essas as mesmas qualidades com asquais enfrenta, agora, os novos desafios de um mundoem transição.

Senhoras e Senhores,Caros Formandos,É sabido que o processo de globalização, que

vem gerando riquezas como jamais se viu em épocaanterior do desenvolvimento humano, traz tambémum elemento de exacerbação da competitividade, emvários níveis.

Isso não transforma as relações internacionaisem um jogo de soma zero, uma vez que não é precisoque o progresso de uns se dê necessariamente emdetrimento dos demais.

Mas aumenta os riscos de exclusão daquelesque não são capazes de integrar-se nos fluxos

internacionais e reforça a constatação de que semestabilidade interna - política, econômica e social -um país não pode aspirar a uma projeçãointernacional positiva.

Em relações internacionais não há - não podehaver - passes de mágica ou exercícios deilusionismo. O país real estabelece os limites e aspossibilidades da atuação externa.

Procurar dissociar a dimensão externa dainterna é artificial, ilusório e contraproducente.

Não há diplomacia, por eficiente que seja,que possa mascarar um país que se recuse a encararde frente seus problemas e a assumir, comtransparência, as medidas necessárias para suasuperação.

Se a diplomacia brasileira pode hojeapresentar um amplo inventário positivo derealizações, é porque o país efetivamente evoluiu,muito e em muitos aspectos.

Se podemos constatar que há uma melhorimagem do Brasil no exterior - como venho tendo aoportunidade de fazer diretamente em minhas viagens- e se é evidente um maior interesse internacionalpelo país, devemos isso aos avanços concretos jálogrados em termos de aperfeiçoamento institucionale de estabilidade econômica. Devemos isso, emprimeiro lugar, à consolidação da democracia, que aseu turno permitiu a concepção, a implantação e oêxito do Plano Real.

Quando falo de um maior interesseinternacional pelo Brasil, quero deixar claro que nãose trata apenas de uma curiosidade teórica. A cadasemana, tenho recebido grande número deempresários de várias partes do mundo, que vêmanunciar importantes investimentos produtivos no país.

Caberá a vocês, jovens diplomatas que hojese formam, juntar-se à equipe comandada peloMinistro Lampreia na representação desse novo país:de um Brasil que busca ativamente, com realismo eresponsabilidade, uma presença internacionalcompatível com suas dimensões objetivas e com seuprogresso recente; um Brasil ciente de suas

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dificuldades e do muito que ainda tem a avançar, masciente também de sua grandeza; um Brasil semveleidades de poder mas também sem complexosou inibições injustificadas.

Este novo Brasil não pode, em absoluto,admitir a recorrência de fatos como o massacrerepugnante de duas semanas atrás em Eldorado dosCarajás.

Como disse mais de uma vez, este tipo deacontecimento coloca o Brasil na contramão daHistória. Constrange o país, o Presidente e todosaqueles realmente engajados em criar uma naçãomelhor, com maior justiça social.

O Brasil é respeitado, externamente, por suasólida tradição de apego à paz e de repúdio à guerrae à violência.

Não podemos aceitar, em nenhuma hipótese,que a paz e a primazia do diálogo - princípios básicosde nossa atuação externa - pareçam objetivosinatingíveis no plano interno.

É chegada a hora de que cesse o desrespeitoaos excluídos. É chegada a hora de tornar o Brasilum país mais justo !

E este país mais justo, e mais solidário, não éapenas desejável. É também possível.

Mas sua realização não é, jamais poderá ser,a obra de um homem só, ou de um único Poder daRepública. É imprescindível continuar a ter o apoio eo comprometimento do Congresso Nacional e doPoder Judiciário, bem como dos estados e dosmunicípios. Do governo, enfim, em todas as suasesferas e níveis. É essencial o engajamento de toda asociedade e de cada cidadão individualmente.

Daí a urgência em levar adiante as reformasestruturais que irão erguer o Brasil, todo ele e nãoapenas setores ou áreas privilegiadas, a um novopatamar de desenvolvimento e de justiça,consolidando as conquistas econômicas e avançandocom determinação e seriedade na área social.

Meus caros Formandos,Sinto-me pessoalmente honrado, e

comovido, pelo fato de terem vocês eleito comoPatrono a Florestan Fernandes, mestre e amigo cujaausência muito tenho sentido.

Intelectual brilhante, educador inigualável ereferência obrigatória dentro da moderna sociologianacional, esse grande brasileiro legou-nos lições quedevem servir de inspiração a todos: uma trajetóriapolítica marcada pela retidão mais absoluta, adenúncia corajosa das desigualdades e a coerênciade toda uma vida de luta por um Brasil mais justo.

É sintomático, e por todos os títulosalvissareiro, que a cerimônia de hoje apresente comoparaninfas duas professoras do curso de LeiturasBrasileiras.

Esse curso foi criado durante minha gestãono Itamaraty, e nele tive o prazer de dar a aulainaugural, falando sobre as obras de Sérgio Buarquede Holanda, Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior.

O conhecimento profundo do próprio país ématéria básica e insubstituível para o bomdesempenho, pelo diplomata brasileiro, dasimportantes funções que lhe são exigidas.

Aonde quer que estejam, para valer-me domoto de Rio Branco, a memória da pátria deveindicar-lhes o caminho a seguir.

Senhoras e Senhores,Caros Formandos,Assim como no ano passado -

sesquicentenário do nascimento do Barão do RioBranco - a celebração do Dia do Diplomata reveste-se neste ano de significado especial. É que,juntamente com a formatura de duas novas turmasde alunos do Instituto Rio Branco, comemoram-seos cinqüenta anos da criação do Curso dePreparação à Carreira de Diplomata, verdadeiromarco na história do Serviço Público brasileiro.

Digo isso com a experiência de quemvivenciou de perto o funcionamento do Itamaraty.Sinto-me, assim, muito à vontade ao reconhecerpublicamente a importância, para o Brasil, de contarcom uma classe de funcionários que integram uma

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real carreira de Estado, pautada pelo méritoprofissional, pela preocupação da evolução constantee pelo sentido do serviço público em sua acepçãomais nobre.

A vocês que hoje se formam, caberá a honra,mas também a responsabilidade, de fazer parte deuma classe de servidores que sempre se caracterizoupela defesa intransigente dos interesses mais altos dopaís, de integrar uma Casa que se pode orgulhar deuma inabalável tradição de bons serviços prestadosà nação brasileira.

Fonte e guardiã de um inestimável patrimôniodiplomático, esta Casa é hoje conduzida com firmezapelo Ministro Luiz Felipe Lampreia, a quem quero

expressar de público meu reconhecimento e gratidão.O Itamaraty é um modelo, um exemplo a ser

seguido. No Brasil melhor que procuramos construir,não deveria haver mais lugar para o corporativismopequeno e pernicioso, alheio ao interesse comum evoltado unicamente para seus próprios objetivos,muitas vezes em detrimento do futuro do país.

Caros Formandos,O país avança na rumo certo, e com o

concurso de todos seguirá a avançar. Será melhor,mais justo e mais igualitário o Brasil que vocêsrepresentarão. Disso tenho certeza.

Muito obrigado.

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191Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Nós estamos mais uma vez aqui reunidos paracomemorar o Dia do Diplomata e acolher ao convívioprofissional e humano da carreira de diplomata duasnovas turmas do Instituto Rio Branco.

Este Dia do Diplomata coincide também como cinqüentenário da primeira turma do Instituto RioBranco, em 1946. Celebramos cinqüenta anos deprofissionalização institucionalizada dos quadros doserviço diplomático do Brasil, um marco do qual,acredito sinceramente, a Nação inteira se orgulha.

Essa celebração é a razão pela qual fizemosquestão de convidar, para estar conosco aqui, hoje,os ex-Ministros das Relações Exteriores e ex-Secretários-Gerais. É uma felicidade para o Itamaratyter hoje conosco ilustres brasileiros que foram osChefes desta Casa ao longo de mais de três décadas,entre os quais nos rejubila poder incluir VossaExcelência, Senhor Presidente da República.

É a homenagem que quisemos fazer àcontribuição sempre dedicada e criativa das gestõesque antecederam a atual no Itamaraty.

Este é também um tributo que prestamos —os que hoje temos a elevada honra de ocupar osmais altos postos da Casa — à continuidade e aoprofissionalismo da nossa política externa.

Nascida com a nossa independência, adiplomacia brasileira foi formada na defesa sistemáticada nossa soberania, das nossas aspirações ao

desenvolvimento e da convivência harmoniosa comtodos os nossos muitos vizinhos e parceiros.

Ao longo de quase dois séculos, em que acondução dessa política externa vem sendo passadade geração a geração de diplomatas, ela veminterpretando o sentido das mudanças no Brasil e nomundo e projetando os interesses externos de umasociedade cada vez mais complexa para irconstruindo a ponte de muitas vias em que se foramtransformando nossas relações exteriores.

Quero dizer também uma palavra dehomenagem ao próprio Instituto Rio Branco, na figurade alguns dos seus ex-Diretores, que ajudaram comseu trabalho e sua dedicação na construção de umaacademia diplomática de sólido nome e grandeprestígio nacional e internacional.

Senhor Presidente,Os diplomatas que hoje solenemente passam

a integrar os quadros da diplomacia brasileira vêmtrazer à nossa Casa e à política externa brasileira acontribuição insubstituível da juventude, do talento,dos ideais e do espírito público que os fez escolheresta profissão e aceitar os seus desafios.

Estes jovens profissionais decidiram fazer dasua formatura uma homenagem à vida e à obra deFlorestan Fernandes, cujo espírito ilumina estacerimônia na condição de Patrono das duas turmas.

Dia do Diplomata

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião dacomemoração do Dia do Diplomata e da formatura da turma“Florestan Fernandes” do Instituto Rio Branco, Brasília,30 de abril de 1996

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192 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Mestre querido e respeitado da inteligênciabrasileira, figura humana e intelectual que ajudou aprojetar o Brasil universalmente no campo dasociologia e das ciências humanas em geral, FlorestanFernandes indicou e abriu caminhos ao pensamentobrasileiro, com independência e com sensibilidadehumana e social. Os paraninfos que conduzem osnovos diplomatas nesta passagem — as professorasde leituras brasileiras do Instituto Rio Branco, MarizaVeloso Motta Santos e Maria Angélica de Madeira,e o professor de História das Idéias Políticas,Conselheiro Gérson Pires — se destacaram napromoção de um maior convívio destes diplomatascom grandes valores da cultura e do pensamentobrasileiro e universal, dando-lhes os instrumentosessenciais para uma consciência ativa sobre a históriae a realidade do Brasil.

A escolha do patrono e dos paraninfos éexpressiva de um sentimento particular de interessepelo Brasil e pela reflexão sobre o Brasil. Expressa asensibilidade dos novos diplomatas, da sua visão domundo e do seu país. Fala muito bem de uma visãoda própria carreira que a partir de agora vaiconfundir-se em certa medida com suas vidas, seusprojetos e suas realizações.

Senhoras e Senhores,Não há política externa adequada aos

interesses do país sem uma profunda consciênciacrítica e ética e um amplo conhecimento dasrealidades que nos cabe projetar no exterior e ajudara aprimorar no país.

Não há diplomacia com resultados efetivosse os seus agentes não encarnarem, no conhecimentoe na ação, o seu país e os seus projetos, as suasinstituições e os seus compromissos. Se não foremcidadãos na mais ampla acepção do termo. “UbiquePatriae Memor” — a lembrança da pátria em todolugar —, era a divisa de Rio Branco, para recordarque o trabalho do diplomata se faz com uma agudaconsciência sobre o país ao qual serve no exterior.

Graças a essa consciência e a uma aguda

percepção das realidades do poder mundial, RioBranco pôde dar novos rumos à diplomaciabrasileira.

Essa é a lição de Rio Branco: conhecer einterpretar as tendências da história contemporâneadentro e fora do país; responder a elas, tratando-ascomo realidade objetiva e incentivo para a ação; seraberto a mudanças sem perder as tradições e semabrir mão de princípios; e procurar, sempre, colocaras inevitáveis alterações do mundo a serviço dosinteresses do país, participando da história e usandoem nosso favor as oportunidades que ela oferece.Esse é o sentido da nossa ação.

Meus jovens colegas,Nós os acolhemos de braços abertos, com a

tranqüilidade de saber que representarão acontinuidade das melhores tradições desta Casa e,sobretudo, com a certeza de que terão muito trabalhopela frente e uma grande realização pessoal eprofissional.

Vocês se incorporam a esta equipe, presenteno mundo todo, em um momento particular decriatividade e ação da nossa diplomacia. Encontrama carreira muito desafiada do ponto de vista dasubstância do trabalho, da sua missão, dos seuscompromissos. Encontram-na também melhorada doponto de vista salarial e serão chamados a participardo empenho por melhorar as condições objetivas danossa atividade profissional.

Vão participar do trabalho coletivo de criaçãoe implantação da política externa. Um trabalho quedeve ser feito com os olhos postos na realização dopaís como nação – um compromisso que vai realizá-los também pessoalmente, dando um sentidopoderoso às suas vidas como pessoas e cidadãos.

Vão também sentir a responsabilidade que érepresentar o Brasil no exterior, sem esquecer-se deque é preciso constantemente dar contas ao seupróprio país daquilo que estão ajudando a realizar láfora. Há muito não existe mais espaço para odiplomata que se pretende apenas um cidadão do

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mundo, falante de várias línguas e capaz de sentir-seem casa em qualquer capital cosmopolita.

O diplomata hoje deve ser antes de tudo umcidadão consciente e ativo, que projeta a cidadaniano seu trabalho e põe a serviço das relaçõesexteriores do país uma vocação de participação ede serviço público.

Sua ação, seu comportamento, sua disposiçãode contribuir e de prestar contas, a capacidade deconhecer, interpretar e projetar os interessesautênticos da sociedade, a abertura para o diálogopermanente e transparente com aqueles querepresenta — tudo será objeto de cuidadosoescrutínio, de permanente vigilância, de continuadoacompanhamento. E isso é muito bom.

Porque é assim que funciona um sistemademocrático e é com esse espírito que se faz políticaexterna em uma democracia.

Desde o início desta Administração, temosprocurado fazer do Itamaraty uma instituição maisaberta à opinião pública, à imprensa, ao Congresso,aos Estados e Municípios, às organizações não-governamentais, ouvindo-os, respondendo-lhes,dialogando.

Quero exortá-los a fazer desse objetivo umadiretriz permanente em suas carreiras e no seutrabalho diário. Quero que pensem na política externanão apenas como um trabalho de gabinetes fechadosou de negociações reservadas, mas sim como umatarefa que se cumpre tendo sempre presente a opiniãopública e aqueles que a representam e lhe dão voz einformação.

Porque o nosso trabalho só faz sentido se forpermanentemente avaliado à luz do interesse nacional,que numa democracia não é uma abstração, mas umconjunto de aspirações que permeiam os grupossociais e as regiões do país e que apontam os rumosda ação externa.

Sejam, pois, bem-vindos à nossa Casa, quede vocês depende para continuar sendo umainstituição que alia tradição à criatividade,compromisso com o passado à inovação, respeito

aos princípios éticos e jurídicos à determinação demanter-se em plena sintonia com os tempos e asmudanças.

Caros formandos,Senhoras e Senhores,Quero agradecer de público ao Presidente

Fernando Henrique Cardoso a confiança e o apoioque tem dado ao Itamaraty.

É graças ao patrimônio de uma diplomaciacomprometida com o desenvolvimento e com oaperfeiçoamento da nossa inserção internacional queestamos podendo cumprir uma intensa agenda depolítica externa sob a condução pessoal doPresidente da República.

Uma resposta do Governo a necessidades eprioridades da sociedade brasileira na interação comoutras nações nesta etapa decisiva da vida nacional:eis o que é a política externa que o Presidente daRepública definiu e que, com a diplomaciapresidencial e com o concurso do Itamaraty, vemimplementando.

Nossa política externa se faz em um ambienteinternacional transformado e ainda em mutação. Épreciso compreender a natureza dessa mudança, quecomporta desafios, oportunidades e riscos, e agir emfunção delas. Partimos do princípio, que é premissade qualquer diplomacia responsável, de que nem oisolamento nem o reivindicacionismo utópico eirrealista são viáveis.

Nossos vetores são claros: participarativamente dos mecanismos decisórios internacionais,para reforçar a nossa projeção externa e nossacapacidade internacional, e ampliar o acessobrasileiro a mercados, capitais e tecnologias, gerandomais e melhores empregos em uma sociedade quedeles necessita para ser mais justa e eqüitativa.

Por negociação e persuasão, e não porconfronto, porque essa é a estratégia ditada pelasnossas condições efetivas de poder e capacidade deinfluência, estamos fazendo uma diplomaciaprofundamente comprometida com os objetivos

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centrais do povo brasileiro neste final de século. Essesobjetivos são claros: consolidar a democracia,valorizar os direitos humanos, estabilizar a economiae promover as reformas que permitirão ao Brasilcrescer em forma sustentada, com a valorização dacidadania, a distribuição social e regional de riquezae a proteção ambiental.

Temos um trabalho importante a fazer,reforçando nossas parcerias tradicionais eatualizando-as em função da nova realidade internae regional do Brasil — uma realidade que combinaos progressos feitos na área da estabilização daeconomia e das reformas e a consolidação doMercosul como fator de projeção do Brasil.

Esse trabalho se amplia com o imperativo,que temos cumprido, de garantir acesso aosmecanismos decisórios internacionais e reforçar opadrão de credibilidade e confiabilidade brasileirospara o acesso a tecnologias indispensáveis ao nossodesenvolvimento científico e industrial.

E esse mesmo trabalho importante se estendeà criação de novas parcerias políticas e econômicasonde a evolução das relações internacionais nosobriga a buscar oportunidades, seja na Ásia-Pacífico,na África ou no Oriente Médio.

Há um ano, nesta mesma cerimônia,comemorávamos o bom início da diplomacia doGoverno de Vossa Excelência assinalando o quantohavia sido produtiva a viagem presidencial aosEstados Unidos, marco de uma fase de acentuadacooperação e respeitoso entendimento entre os doispaíses. O mesmo se deu depois com as viagens aoutros parceiros prioritários do Brasil, como Portugal,União Européia, Alemanha, China, Índia, Japão eArgentina.

Em um ano, fizemos novos progressos.Ingressamos no Regime de Controle de Tecnologiade Mísseis, o MTCR, e ganhamos credenciais fortespara podermos prosseguir o nosso programaespacial, cuja finalidade exclusivamente pacífica econdução civil foram reafirmadas e valorizadasperante a comunidade internacional.

Acabamos de entrar para o Grupo deSupridores Nucleares, com apoio unânime,acrescentando aos nossos compromissos com odesarmamento e a não-proliferação uma novacredencial de confiabilidade.

Temos participado intensamente do processode integração hemisférica, que exige de nós umaabordagem realista, prudente e construtiva, em sintoniacom os nossos compromissos no Mercosul e com oritmo de abertura competitiva da nossa economia.

Fundado no caráter democrático dos seusintegrantes, o Mercosul consolida-se como realidaderegional e como parceiro internacional que somapoder e influência aos seus Estados-membros. Nossocompromisso com a consolidação da união aduaneiraé claro, dentro dos princípios basilares que presidirama sua criação — o primeiro dos quais é a democracia,premissa indispensável.

Nosso empenho em consolidar sempre asrelações bilaterais que nos unem a cada um dosnossos parceiros no Mercosul é firme, porque temosa consciência de que o regional e o bilateral não sãoinstâncias que se excluem, mas se completam einteragem positivamente.

Temos praticado uma diplomacia global, tantodo ponto de vista geográfico, cobrindo o globo todoem nossa permanente busca de melhores parcerias,quanto do ponto de vista dos temas que nos têmmantido em permanente mobilização: os direitoshumanos, o desenvolvimento sustentável e a proteçãoambiental, a cooperação contra o narcotráfico, odesarmamento e a não-proliferação, a defesaintransigente da democracia.

As visitas presidenciais têm sido exemplarese instrumentais, nesse sentido. Cobrem uma extensaagenda, com sentido de equilíbrio e harmonia, mastambém com sentido de urgência, porque não hátempo a perder em um mundo globalizado cujo ritmoé o da competição intensa e cuja velocidade é a dainformática e das redes mundiais de comunicação porcomputador.

Essas visitas se têm combinado com um

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permanente esforço da Chancelaria para projetar eexplorar no exterior a nova realidade brasileira, semo propósito fútil de encobrir ou desprezar problemas,mas também sem perder de vista que essa área exigeuma atitude afirmativa, participativa e criativa de partenão apenas do Governo brasileiro, mas também dosnossos agentes econômicos.

Senhor Presidente,Permita-me que diga com legítimo orgulho que

hoje podemos acreditar, como nunca, no nosso país.Este Brasil que reencontra seu destino e

recobra sua autoconfiança pretende ocupar o espaçoque lhe corresponde no cenário internacional. Porisso, adota posições compatíveis com as grandestendências da comunidade das nações modernas. Porisso, quer estar ao serviço da paz mundial e daconcórdia entre nossos vizinhos e amigos. E por issotem a consciência do seu peso e o usa cada vez maisnaturalmente, sem prepotência, sem arrogância, mastambém sem subordinação. O Brasil faz a sua políticaexterna com a clara consciência de que não pode enão deve abrir mão da sua especificidade, nem dadefesa dos seus interesses nacionais.

Senhoras e Senhores,O desafio de uma política externa que reflita

e atenda aos interesses do Brasil de hoje impõe anecessidade de aperfeiçoar e modernizar a nossaCasa, dando-lhe maior transparência e preservandoe valorizando aquilo que fez dela uma instituição deexcelência reconhecida na administração públicabrasileira.

O Instituto Rio Branco tem minha plenaconfiança e minhas instruções diretas para perseverarnas transformações que têm assegurado umaformação do diplomata brasileiro em plena sintoniacom o país e cada vez mais orientada pelas demandasde uma política externa muito ativa.

Mas o aperfeiçoamento e a modernização doserviço exterior brasileiro vai muito além da formaçãoprofissional. Ambos devem fundar-se, antes de mais

nada, em um diagnóstico acurado dos desafios que oItamaraty enfrenta em razão das transformações doscenários interno, regional e internacional do Brasil.

Novos temas, novas formas de interação entreas Chancelarias e entre essas e os demais órgãosgovernamentais e da sociedade civil, os imperativosda diplomacia pública e federativa, os imperativosda diplomacia de Chefes de Estado e Governo, marcaexponencial do nosso tempo, a informatização, abusca de eficiência e de economicidade na gestãoda máquina administrativa federal — essa é umacomplexa realidade que aponta a necessidade dapermanente atualização do Itamaraty, da carreiradiplomática e dos nossos métodos de trabalho.

Estamos trabalhando nessa atualização, coma participação ampla dos quadros do Itamaraty –uma participação que tem sido encorajada eincentivada.

Força é termos sempre por balizas osprincípios e parâmetros que criaram o patrimônioinstitucional da diplomacia brasileira: o mérito, ahierarquia, o senso do dever, o sentido de serviçopúblico e aquelas marcas e distintivos que, aoidentificar-nos com nossos interlocutoresdiplomáticos em todo o mundo, singularizam-noscomo carreira no Brasil.

É um patrimônio que nos distingue. Não opodemos banalizar e dele não abriremos mão.

Meus caros formandos,Fica patente, pelo muito que se pode dizer

em pouco tempo sobre a carreira e a nossa políticaexterna, que vocês encontraram um caminho fértilpara exercer a sua criatividade e a sua cidadania.

Inspirados pelo seu patrono, FlorestanFernandes, e pela figura e pela obra do patrono detodos nós, o Barão do Rio Branco, vocês estãodando este primeiro grande passo profissional nessacarreira que se abre diante de vocês. Desejo que elaos faça muito felizes em todos os planos de suas vidas.

Muito obrigado.

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Quero agradecer ao nosso querido amigo, oEmbaixador do Marrocos, Larbi Reffouh, as palavrasamáveis que me dirigiu em nome de todos osrepresentantes dos países amigos da Áfricaacreditados aqui em Brasília.

Quero agradecer também esta hospitalidadeque nos é estendida, a mim e aos meuscolaboradores, pelo Embaixador da África do Sul,em associação com todos os seus colegas africanos.

Este almoço de confraternização e de trabalhoé uma oportunidade valiosa para nós. Ele traduz apreocupação legítima de trazer-me, de formasistematizada, o interesse de todo o grupo africanopela dinamização das relações entre o Brasil e aÁfrica.

Os Senhores podem ter a certeza de queanalisaremos com todo o cuidado suas ponderaçõese sugestões, sintetizadas no discurso do EmbaixadorReffouh.

O Embaixador Ivan Cannabrava,Subsecretário-Geral de Assuntos Políticos, foiEmbaixador em Angola e tem a sensibilidade e oconhecimento para bem supervisionar os assuntosde interesse das relações do Brasil com a África. OMinistro José Vicente Pimentel, Diretor-Geral doDepartamento da África e do Oriente Próximo, éum profissional da maior competência e que alémdisso goza da minha confiança pessoal paradesenvolver as tarefas de que foi incumbido.

Ele tem a responsabilidade de implementar oprocesso de atualização das nossas relações com aÁfrica e o Oriente Próximo e já começou um trabalhoeficiente de levantamento sistemático dos assuntospendentes com cada um dos países da área e daspossibilidades reais de ampliação do intercâmbio eda cooperação.

O Departamento passou por umareestruturação e está inteiramente voltado para esseesforço. Para isso, conta com diplomatasentusiasmados e comprometidos com a idéia de quea África deve ser para nós uma área de criativaprioridade — um item importante em nossa agendaexterna.

Eu não preciso discorrer aqui perante osSenhores sobre a quantidade de elementos deidentidade que existem entre o Brasil e a África, nemsobre o quanto nós devemos à contribuição culturale étnica do continente africano em nossa formaçãocomo nação soberana e independente — para nãofalar da riqueza material construída aqui pelo trabalhoafricano. Se o Brasil tem a força de criatividade e avariedade que identificam a sua cultura e a própriaforma de ser do seu povo, é porque nós pudemosassimilar esse traço de africanidade que nos identificae singulariza de certa forma entre os países do nossopróprio continente.

Não preciso tampouco estender-me sobre osinteresses compartilhados que nos aproximam como

Brasil – Países Africanos

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião do almoçooferecido pelos embaixadores africanos acreditados juntoao Governo Brasileiro, Brasília, 2 de maio de 1996

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países em desenvolvimento, em graus diferentes, éverdade, mas com desafios, problemas eoportunidades comuns nas áreas econômica, social,ambiental e até política.

O renascimento democrático na África e aadoção de políticas de desestatização e aberturaeconômica competitiva abrem um horizonte novo depossibilidades para os países africanos,contrabalançando em grande medida os problemasque ainda afetam certas áreas e povos do Continente.Combinada com o novo impulso de desenvolvimentoeconômico no Brasil do Plano Real, essa realidadedeve ter um impacto positivo de médio e longo prazonas relações entre a África e o Brasil.

Também a vizinhança dada pelo Atlântico Sul— e que nos aproxima de toda a África, e não apenasdos países ribeirinhos da África Austral e Ocidental— cria um espaço privilegiado de entendimentodiplomático e de cooperação para o desenvolvimentoentre a África e a América do Sul, particularmentecom o Brasil.

Quero dizer-lhes que o nosso compromissocom as relações Brasil-África é firme. A África é umespaço privilegiado e insubstituível da diplomaciabrasileira. Nós somos um ator global das relaçõesinternacionais e temos presença sólida na África —das mais sólidas entre os países em desenvolvimentode fora da região — e uma agenda intensa para ocontinente, de que é exemplar nossa participação naUNAVEM III.

O Presidente Fernando Henrique e eu mesmotemos insistido nesse ponto em diversasoportunidades.

Nossa ação diplomática expressa isso coma objetividade das coisas concretas. Estive emMoçambique para a reunião que permitiu consolidara Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, umainiciativa que tem um importante vetor de políticaafricana do Brasil.

Visitei a África do Sul. Recebemos aqui oPresidente da Namíbia e de Angola, os Chanceleresde Moçambique, da África do Sul, do Quênia. O

Presidente Fernando Henrique deve visitar Angola ea África do Sul neste ano. Em todas as oportunidades,procuro trocar impressões e informações com meuscolegas africanos.

Estamos lotando mais adequadamentealgumas das nossas missões diplomáticas na África,reestruturando o quadro de embaixadas cumulativaspara dar-lhes maior eficiência e estabelecendorelações diplomáticas com sete países africanos comos quais ainda não tínhamos relações ou trocadomissões diplomáticas.

Estamos nos aproximando da Organização daUnidade Africana com a determinação de acompanharmais de perto a realidade política e de cooperação doContinente e de conhecer melhor as formas de interaçãoregional e sub-regional que ali se dão.

Participamos da reunião da SADC, cujaevolução acompanhamos com toda atenção em vistada possibilidade futura, mas real, de estabelecer laçosconcretos de intercâmbio e compromissos deliberalização comercial entre o Mercosul e aqueleagrupamento sub-regional africano.

Temos dado cooperação técnica e deformação de recursos humanos a países africanos namedida das nossas possibilidades — as quais,convém que se diga com franqueza, diferem em muitodaquelas que prevaleceram na década de 70 e iníciodos anos 80, quando houve condições objetivas deoferecer créditos e cooperação subsidiados adiversos países africanos. Hoje as condições sãooutras no Brasil e na África. É preciso trabalhar comessa realidade.

Temos acompanhado com todo interesse aevolução positiva que se registra em alguns paísesafricanos que poderão ser, pelo seu potencial e vigor,molas propulsoras de um renascimento dodesenvolvimento africano em geral. Temos mesmoparticipado dessa evolução em alguns casos.

Estamos presentes em Angola com o maiorcontingente militar enviado pelo Brasil ao exteriordesde a Segunda Guerra Mundial. Nós estamosapostando na recuperação de Angola como país em

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199Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

desenvolvimento e como parceiro tanto do Brasilcomo dos demais países da África.

Estamos atentos ao que ocorre emMoçambique, África do Sul e Namíbia, explorandotodas as possibilidades de cooperação.

Nós queremos parcerias onde elas seapresentem. Parcerias que engajem os dois lados emum esforço comum, criativo, para desenvolver asrelações. Parcerias que mobilizem os Governos e osagentes econômicos dos dois lados, porque asrelações internacionais de hoje comportamnecessariamente uma forte dose de iniciativa privada.Parcerias que levem em conta as oportunidades reaisde cooperação e intercâmbio e que atuem comsentido de realismo, sem gerar expectativasdescabidas, e que se centrem em algumas iniciativasde maior visibilidade e efeito multiplicador.

E nós queremos que as Embaixadas dospaíses africanos no Brasil nos ajudem a buscarfórmulas criativas de promover essas parceriasrenovadas com cada um dos países africanos aquirepresentados e cuja amizade nós valorizamos tanto.O Brasil é uma sociedade complexa e dinâmica,aberta a iniciativas, disposta a explorar todas asoportunidades, e com grande potencial de lançar-seno exterior se os desafios valerem a pena.

Eu os exorto a seguir esse caminho,buscando ativamente as oportunidades de negóciose cooperação que podem estar em vários pontos esetores do país. Eu os exorto a trazerem a Áfricamais para perto do Brasil, explorando as identidadesque nós temos e a simpatia e o interesse naturais queexistem no Brasil pelo seu continente.

As relações com a África devem ir mais alémdo campo econômico. Por isso mesmo — e porquetemos tantos interesses comuns —, estamosampliando nosso diálogo político com a África.

Por isso, dei instruções muito precisas paraque exploremos com nossos parceiros na Zona dePaz e Cooperação do Atlântico Sul duas grandesoportunidades de iniciativas políticas, com reflexopotencial positivo na área de cooperação.

A primeira delas é a assinatura de um Tratadode Desnuclearização do Atlântico Sul, queformalizará a Zona de Paz e Cooperação, dando-lhe existência jurídica sólida, e que irá completando,ao lado de Tlatelolco, Pelindaba, Rarotonga e oTratado de Bangkok, o processo de desnuclearizaçãototal do Hemisfério Sul.

A segunda é a assinatura de um Tratado deProteção do Meio Ambiente Marinho no AtlânticoSul, ao amparo da Convenção das Nações Unidassobre Direito do Mar, como forma de estabelecermecanismos de cooperação na área ambientalmarinha, prevenção e contenção de acidentesecológicos, intercâmbio de informação e atuaçãocoordenada — tudo isso em uma área de altavisibilidade política e de opinião pública.

Nós vamos apresentar essas iniciativasproximamente e esperamos contar com o apoio, acolaboração e o engajamento dos países africanosno seu aperfeiçoamento e na sua concretização.

Como vêem, há muitas possibilidades deestreitarmos nossos laços e de buscarmosoportunidades.

A política externa brasileira tem plenaconvicção de que não pode praticar exclusões ouadotar abordagens estreitas das relaçõesinternacionais do Brasil. Temos insistido nessaconvicção.

Não há incompatibilidade alguma entre o quefazemos no nosso plano sub-regional, com oMercosul, e as relações que podemos e devemosmanter com todos os nossos parceiros tradicionais emais recentes.

Nós estamos fazendo um grande esforçodiplomático em diversas frentes. Nosso único limitesão nossos próprios recursos. A África é e continuarásendo uma dessas frentes, e por isso nós contamoscom o empenho dos Governos que VossasExcelências aqui representam em fazer do Brasil edas relações sulatlânticas uma prioridade e umobjetivo.

Muito obrigado.

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201Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

É com a maior satisfação que dou porinaugurado o projeto “De Tordesilhas ao Mercosul”.O Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty nãopoderia comemorar, de maneira mais expressiva, seu40º aniversário.

Até o momento, o Museu, por uma série devicissitudes, não havia conseguido atender a um dosmais sérios princípios da moderna museologia - o deprocurarem os museus apresentar, de maneiraorganizada, a razão de ser de sua existência.

Ao ser fundado, o Museu funcionava emquatro pequenas salas deste andar térreo do Palácio.Dava a encantadora impressão de um pequenoMuseu de província do século passado, mas teve ogrande mérito não só de conservar, com carinho,importantes peças históricas, mas principalmente aprópria idéia da manutenção de um grande Museude história diplomática.

Quando da mudança da capital para Brasília,abriu-se ao Museu o esplendor de um ambienteprincipesco, notável pela majestade e beleza de suaarquitetura e por várias peças que recordavam olongo período em que o Palácio abrigou o Ministériodas Relações Exteriores. Abriu-se, principalmente,ao público o vasto salão onde trabalhou e faleceu ogrande Rio Branco cuja personalidade e cuja açãopuderam assim ser devidamente valorizadas.

Faltava-nos, entretanto, a maneira desinteticamente apresentar a História Diplomática doBrasil de modo que cada visitante, ao deixar oPalácio, tivesse uma visão geral do que fez adiplomacia por nosso país, antes mesmo de seudescobrimento.

É esse objetivo primordial de um Museudiplomático que, a partir de hoje, nos foi possívelatingir.

Foi o projeto levado a cabo graças àcolaboração da Petrobrás à qual, na pessoa de seuPresidente, apresento nossos mais sincerosagradecimentos.

A “Memória Brasil” que o elaborouespecialmente a seu Diretor Israel Beloch felicito pelasua competência, conhecimentos gerais e bom gosto.

Felicito finalmente o Museu Histórico eDiplomático e, ao fazê-lo, não poderia deixar deressaltar o trabalho de Sílvia Escorel que, de certaforma, foi a alma animadora deste projeto que a eladeve, inclusive, a síntese de nossa história Diplomáticaque vivifica e explica os mapas e a documentaçãoiconográfica aqui reproduzida.

Meus cumprimentos também às secretáriasdo Museu que tanto colaboraram para a execuçãodesta cerimônia.

Muito obrigado.

Projeto “De Tordesilhas ao Mercosul”

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda Inauguração do Projeto “De Tordesilhas ao Mercosul”,Rio de Janeiro, 6 de maio de 1996

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203Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Mr. President,It is an honor and a pleasure for me to address

the Conference on Disarmament as Minister ofExternal Relations of Brazil. As a former PermanentRepresentative of my country in Genebra, I takepersonal satisfaction in the opportunity of returningto meet old friends whose wisdom is always a sourceof inspiration. My prior experience in this hall hasgiven ME first-hand contact with and knowledge. ofthe challenges and responsibilities before theConference on Disarmament, as well as the privilegeof participating in its effort to bring about a worldfree of threat from weapons of mass destruction.

At this critical juncture, Mr. President, it augurswell for the Conference to be presided over by aseasoned and skilled diplomat such as yourself. I wishto commend your deft handling of Conference business,as well as to reiterate the assurance of Brazil’s fullcooperation in the discharge of your difficult task.

I find it particularly gratifying to speak beforethe Conference at a time when Brazil holds thecoordinatorship of the Group of 21, a caucus longknown for its unwavering commitment to world peace,some of whose current members have been callingfor a comprehensive Test-Ban Treary for over fortyyears.

The fact that die Group of 21 has neverhesitated to embrace ideals and to put forwardproposals which may often seem ahead of their time

should give this body food for thought as it strugglesto find new ways of dealing with old demands, suchas the global concern and priority issue that is nucleardisarmament.

President Fernando Henrique Cardoso isdeeply and personally engaged in the cause of peace,disarmament and cooperation in internationalrelations. After all. the achievement of the main goalsof his Administration will be greatly facilitated by aninternational environment as free as possible of armedconflict and tension.

As a country committed to disarmament andnon-proliferation, Brazil believes the internationalcommunity should become further involved insignificant initiatives leading to disarmament, especiallyin the nuclear field. These initiatives should aim atsaving resources from the production of weapons,mainly weapons of mass destruction, and maltingthem available for social and economic advancementin developing countries such as my own.

The creation of a peaceful and stableenvironment that is conclusive to development istherefore a priority for Brazil. We trust that the recentconclusion of the Pelindaba and the Bangkok Treatiesopens na unprecedented opportunity for a nuclear-free Southern Hemisphere, to he achieved through abuilding-blocks approach. Brazil holds that this ispossible and that it reflects the interests of all wholive south of the Equator.

Conferência sobre desarmamento

Pronuciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, no plenárioda conferência sobre desarmamento, Genebra, 14 de maiode 1996

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Mr. President,With the exception of World War II, Brazil

has not been involved in any armed conflict in over acentury. My country maintains exemplary relationsof friendship and cooperation with all of its tenneighbors.

Ours borders have served to unite, rather thanto divide. Brazilian military expenditure is among thelowest in the world in terms of GNP.

Brazil as consistently been involved ininternational disarmament and non-proliferationinitiatives.

Our treaties that ban whole categories ofweapons of mass destruction. We are engage in theeffort currently underway to enhance the effectivenessof the Biological Weapons Convention. We alsoactively participated in the recently concluded reviewprocess of the Convention of Certain Weapons, towhich Brazil acceded last year.

As regards chemical weapons, swiftratification of the CWC by the two main possessorsof that class of weapon seems to us imperative inorder to avert the prospect of such a treaty enteringinto force without those two States, which would sendan incongruous and disturbing signal to theinternational community.

Mr. President,Brazil holds unequivocal and unquestioned

credentials in the field of disarmament andnonproliferation.

The principle that nuclear energy should onlybe used for peaceful purposes was enshrined in the1983 Brazilian Constitution. Since March 1994, allnuclear materials in all nuclear installations in mycountry are subject to full scope International AtomicEnergy Agency safeguards by means of the applicationof the Quadripartite Agreement involving Brazil.Argentina, the Argentine-Brazilian Agency forAccounting and Control of Nuclear Materials andthe IAEA. In May 1994. the Treaty of Tlatelolcocame into force for Brazil, formalizing at the

international multilateral treaty level our renunciationof nuclear weapons.

The application of Tlatelolco provisions to thewhole of Latin-America and the Caribbean for thefirst time brought to a populated region of our planetthe benefits of being a nuclear weapon free zone,including legally negative security assurances on thepart of the nuclear weapon States.

Mr.President,Credentials such as these my country to take

a firm stance in favor of significant and concrete stepsin the field of disarmament. These should be facilitatedby the easing of tensions that followed the end of theCold War, and which prompted a number of welcomedevelopments. I have already highlighted theimportance of steps taken at the multilateral lavel inthe early nineties to ban weapons of mass destruction.To these, one would be remiss not to add the mostrecent unilateral and bilateral actions in the nuclearsphere, such as: the announcement by three nuclearweapon States of the decision to halt fissile materialproduction; ratification of the START-II Treaty bythe United Congress; the decision by the FrenchGovernment to close all land-based nuclear operationswell as French Pacific test-sites; signatures by nuclearweapon States of the Rarotonga and PelindabaTreaties additional Protocols.

All these result not from revised militarydoctrines regarding the role to be played by weaponsof mass destruction, in particular nuclear weapons,in a world fortunately no longer ruled by the derangedlogic of the Cold War. They also represent responsesto new political and economic realities. Internal publicopinion simply does not tolerate bottomless militarybudgets anymore; it also shows growing difficult inaccepting the continuing need for, let alone the moralityof, weapons of such force and indiscriminate effects.

Clearly much more needs to be done if theStates holding stockpiles and arsenals of weapons ofmass destruction are truly to heed the call of significantconstituencies within their own countries, as well as

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of the international community as a whole.The end of nuclear bipolarity had the

immediate result making disarmament seem outdated,both because the former opponents evolved a newpattern of cooperation and because the new securityconcerns - regional conflicts and the so-called non-military threats - are not amenable to solutions in termsof multilateral arms limitation agreements. Thisperception. however, is being superseded by awidespread sentiment of abhorrence of nuclearweapons, as the intense reactions worldwide againstnuclear testing has shown just recently The fact isthat the welcome changes in the relationship betweenthe two main nuclear powers did not abolish theirhuge stockpiles. These arsenals pose today three verydifferent kinds of menace: the risk of nuclear accident;the possibility of nuclear thelf enabling the unthinkablenuclear terrorism; and the very real, threat of de factolegitimating nuclear proliferation. Only workingtowards the complete elimination of nuclear weaponscould confront these dangers.

Brazil therefore sides with those who believemeasures are urgently needed and that theConference on Disarmament should be allowed totake up its rightful place as the primary forum fornuclear disarmament negotiations. We of coursecommend and encourage the START I and IIprocesses, whose full implementations will go a longway in rolling back the two greatest nuclear stockpileson earth.. But START II is still to be ratified by theRussian Federation, which we hope will soon occur.Moreover, the nuclear arsenals of the other nuclearweapons States so far remain beyond the pale of anyphased or time-bound international obligation. If weare to give credence to the recently reaffirmedcommitment to pursue in good faith negotiations oneffective measures relating to nuclear disarmament,this should be followed by a genuine engagement onthe part of all nuclear weapon States in a nucleardisarmament process within the context of the CD,as the sole multilateral disarmament negotiating body.

Allowing for CD expansion through the

immediate implementation of the terms of the decisiontaken last September and contained in document CD/1356, whereby twenty-three States will all assumetogether membership of the Conference, would, forits part, inject new life into enhance therepresentativeness of the CD, thus facilitating its futurenegotiating tasks, one of the very first of which couldbe a fissile material cutoff convention.

If it is true that our attention has recently beenfocused on an early conclusion of a CTBT, this shouldnot prevent us from launching discussions on a cut-off convention. This would be the next logical stagein our work, one that we should not delay in carryingout. Together with the CTBT, the cut-off conventionwill be a significant step in capping the nuclear armsrace. It is thus regrettable that the ad hoc committeeon this issue, whose mandate was agreed upon bythis Conference in the beginning of last year, has notmet so far.

Mr. President,Let me turn the main issue with which the CD

has been grappling for nearly three years now andwhose negotiation I dare to trust is entering its final,decision-making stage. I need not emphasize that tomy country, as well as to most - if not all - of thoserepresented around this table and in this hall, havinga Comprehensive Test-Ban Treaty ready for signatureby the outset of the 51st session of the U.N. GeneralAssembly is more than an aspiration - it is a matter ofgiving concrete expression to the internationalcommunity’s conviction that nuclear tests and all theyrepresent no longer have a place in today’s world.

Indeed, the prohibition to be imposed onnuclear testing is not and should not be made tobecome na end in itself. It Is but a first step. though avery significant one. As a treaty which will ban anactivity inextricably associated with and necessary forcarrying on with the infernal spiral of developing,manufacturing, improving and stockpiling nuclearweapons, the CTBT not only can but should serveas a catalyst for nuclear disarmament. Setting the

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CTBT in its proper context would therefore requireprovisions emphasizing the vertical proliferationconstraint it imposes; highlighting its role in the reversalof the nuclear arms race and in the process of nucleardisarmament; and stressing the need for the completeelimination of nuclear weapons at the earliest possibletime and according to a phased program under amultilaterally agreed process of nuclear disarmament.Given divergence of views regarding these issues, Isubmit these proposals with an open mind as to theirpossible further improvement, given the pressing needat this stage for bridging gaps and for findingformulations which attract general support. The priceto pay for a universal treaty that would be decisivefor nuclear disarmament and for all dimension of non-proliferation is, in our view, well worth the cost.

Thoughout the CTBT negotiations, Brazil hasbeen committed to a treaty that is both meaningful inpurpose and endowed with effective means ofverification. In the coming weeks, the Braziliandelegation, acting on my direct instructions, willredouble its efforts in striving to accommodate allreasonable concerns and to keep the negotiationswithin the timeframe set by the United Nations GeneralAssembly. We are sure that CTBT signature in thenext months is a viable proposition. But for that weneed to see movement not just on the part those whostill show reluctance to accept the most widelysupported formulation for the article on the Treat’sscope, for stance, or on the part of those Who stilladmit exceptions to the ban. We also need to seethat others realize the limits to the general acceptanceof same of their controversial proposals, such asstripping the international Data Centre of analyticalcapacity; creating special arrangements for thepayment of annual verification.

Mr. President,I am well aware that during the first part of

the 1996 session the Ad Hoc Committee on CTBTreceived important contributions from Iran andAustralia and from its own Chairman, AmbassadorJaap Ramaker, toward an early conclusion ofnegotiations. The Conference also heard manyexhortations, not least from the Brazilian delegationitself, to the same effect. Let me be the first to reiteratethis plea on this second part of the 1996 session. Thestakes are too high for the international community tolet this opportunity for concluding the CTBT go by.

Mr. President,Before closing, let me address the issue of

the future role of this body in the edifice of internationalrelations. Some year ago, when the ChemicalWeapons Convention was nearly finished, it wasfashionable to ask if “there would be life after theCWC”. The same doubts seem to have arisen againconcerning the post-CTBT phase.

Brazil does not entertain such skeptielsm. Weare confident that the Conference on Disarmamentwill continue to fulfill an important task in ensuringprogress toward a more peaceful and stable world.Alongside the capacity, respond rapidly to threats tointernational peace and security attributed to theSecurity Council of the United Nations, it is essentialto have a forum where issues related to disarmamentand thus to peace receive a more universal, systematicand prospective treatment. Moreover, there is no lackof areas of disarmament that would warrantnegotiating multilateral agreement by the internationalcommunity. The problem is, as it always has been, toidentify what is considered negotiable by the variousmembers of that community. A spirit of dialogue andflexibility from all quarters will certainly help in devisingthe agenda for the years to come, as we continue tostrive for a world free from weapons of malldestruction.

Thank you.

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We are gathered here tonight, in the Hall ofthe Americas, as representatives of the peoples andnations of this Hemisphere, to pay tribute to SolLinowitz.

This is a man who has anticipated, by hispersonality and by his actions, the spirit of the newInter-Americanism that we are committed toconsolidate in these present times of globalization andregional integration.

Brazilians are proud to join in this celebration.In Brazil we have many prominent members of theInter-American Dialogue. As a representative of theBrazilian government, I bring a word of thankfulrecognition for the instrumental contribution of thisforum as a catalyst in promoting a much neededindependent and balanced discussion of issuespertaining to the development and the improvementof Hemispheric relations.

Our times are calling for a renewed andcreative commitment to the Hemispheric partnership.

Governments of the entire continent areworking on that commitment, not with rhetoricalpurpose, but with a clear bearing and tangibleobjectives.

As ideological barriers erode throughout theworld, as democracy and economic freedom becomethe pattern in international relations, the internationalcommunity moves forward to the consolidation of

universal rules regulating trade and productiveinvestment, technology flows, non-proliferation andthe enforcement of human rights and environmentalprotection.

The way is open for a new kind of internationalcooperation, especially in this Hemisphere, wherethere is a long-standing tradition of interaction amongcountries and peoples.

A new age has come, an age of hope and anage of commitment to a better and a more prosperouslife for all the peoples of the Americas.

We are proud to live in a Hemisphere thatmade democracy its common legacy and its guidingrule.

Within these bounds, we are fighting foreconomic stability and sustained growth. Our goal isto correct the social unbalances that still affect oursocieties and to build a hemispheric system that bringsprosperity to all.

Jobs, not weapons; markets, not political orideological divisions: this is the real challenge that theend of the cold war and of strategic disputes, at theglobal and regional levels, allowed us to face in theirentirety.

The fight for competitive integration into theglobal market and the new world structure cannot bea lonely one. Nor should competition be seen as aravaging battle for business opportunities, financial

Diálogo Internacional

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo jantar de inauguração do Foro do Sol M. Linowitz dodiálogo inter-americano sobre o tema “A new Inter-Amercanism for the Global Age”, Washington, 16 de maiode 1996

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deals and commercial operations.Countries are more and more conscious that

collective action and solidarity, through free tradeagreements, market integration on a sub-regional orregional level, an intense participation at theinternational decision-making process and also strongsets of bilateral relationships are key to approachingglobal markets and global issues.

Credentials, such as political and economicstability, economic freedom and openness, fulladherence to universal rules and regulations and widecredibility, are essential. You either play by the rulesor you don’t play at all.

Countries are aware that they should use acautious, realistic approach in tackling the challengesof this day and age. They must be affirmative inidentifying their objectives, in defining their timetablefor negotiations, in engaging constructively in thesenegotiations and in building upon what they areaccomplishing.

This is precisely what we are doing infollowing-up the commitments reached at the highestlevel at the Miami Summit of the Americas, acornerstone of a new approach towards Hemisphericrelations.

All the new elements in the contemporaryworld structure are present in this pragmatic exerciseof weaving a new pattern of relationship and exchangewithin the Americas.

First of all, developing countries in the regionhave moved towards more open and outward-lookingeconomic policies. Those policies have replaced theimport-substitution policies that had prevailed fordecades as a strategy for development andindustrialization. Several unilateral concessions oradvances have been made by countries in the regionthat realized the importance of exposing theireconomies to outside competition in order to betterrespond to the challenges of quality, cost andproductivity.

We have a global framework for traderelations under the WTO agreements, encompassing

and regulating the world trade agenda and new areassuch as intellectual property rights, investment andagriculture.

We have a regional commitment to politicalunderstanding and practical cooperation in ourContinent as regards the enhancement of and supportfor democracy throughout the region, the fight againstdrugs and organized crime, the fight againstcorruption.

And we have several sub-regional initiatives,such as Mercosul, that clearly show that integrationhas left the world of policy-planning to become astrong reality in the day-to-day lives of our countries,our business communities and our consumers.

As these material and political conditionsunfold, Hemispheric relations gain an unprecedentedmomentum, probably the strongest and the mostaffirmative since the very inauguration of the Pan-American movement a century ago.

Ladies and Gentlemen,Recognizing the importance of Inter-American

relations as a platform for our countries’ bid for abetter participation in the world of globalization, theInter-American Dialogue has shown its wisdom inchoosing Sol Linowitz as the center figure of thisyear’s plenary session. Ambassador Linowitz bringsus his example and inspiration.

An accomplished lawyer, a dedicated publicservant, an outstanding diplomat who served hiscountry on several occasions helping to forge someof the most challenging moves of US foreign policy,Sol Linowitz, as the US negotiator of the PanamaCanal Treaty, has brought to Inter-American relationsa lasting contribution — the engineering of a newpattern of relationship between the most powerfulcountry in this Hemisphere, and indeed in the world,and its developing neighbors.

This new pattern of relationship, based onmutual respect, confidence and a long term vision ofcommon interests, has begun to make the dreamsand ideals of the founding-fathers of Inter-

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Americanism come true.Among these founding fathers, Brazilians are

proud to see the Baron of Rio Branco, our leadingdiplomat and statesman, who identified in the veryfirst moves towards the Pan-American movement atool for promoting better political understanding andsmoother economic cooperation in this continent.

As this century comes to a close, theinspiration of the founding fathers of Pan-Americanismand of men like Ambassador Sol Linowitz encouragesus to endure in the process of renewing Inter-American relations.

These relations can be instrumental inpromoting development, trade, investment,technology transfer and a wide-range cooperationamong the countries of this Hemisphere.

They certainly profit from a growing web ofimproving bilateral relations throughout the region.

And of course they can benefit from the kindof sound, frank and balanced debates that havebecome a trademark of the Inter-American Dialogue.

I am sure that the Sol M. Linowitz Forum willpositively contribute to this dialogue. The oddscouldn’t be better, for the man who inspires thisinitiative knows how to make a difference.

As History unfolds in our Hemisphere, let usfollow his example. Let us leave to future generationsof this Continent the legacy of a new Inter-Americanism that is based on confidence respect anda strong sense of community and of shared interests.

Thank you.

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211Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Em nome de todo o povo brasileiro, eu tenhoo grande prazer de receber Vossa Excelência e suacomitiva.

Ao fazê-lo, saúdo um grande líder políticolatino-americano, um lutador incansável pelademocracia com justiça social e um amigo do Brasilque, como eu, crê na importância estratégico dasrelações entre nossos dois países.

Queremos retribuir a hospitalidade e o afetocom que o povo e o Governo da Venezuelareceberam o Presidente brasileiro na visita de Estadoque fiz a Caracas, há quase um ano. Guardo dessavisita o calor da hospitalidade venezuelana, a nósestendida no dia de sua Festa Nacional, e o apreçopelo diálogo renovado com Vossa Excelência e como povo da Venezuela, terra que me acolheu e ondetrabalhei.

Estes encontros presidenciais revelam aimportância das relações entre o Brasil e a Venezuelae são a expressão concreta de nossa amizade, deuma parceria renovada e duradoura entre dois vizinhosque reconhecem mutuamente sua importância. Vamosjuntos construir um futuro mais promissor para nossospovos.

Sei que sua visita o está levando a outraspartes do Brasil, ao Amazonas e a Roraima.

Estados fronteiriços que encontram naVenezuela uma perspectiva concreta de cooperaçãoe integração, em especial com os Estados de Bolivare Amazonas, cujos Governadores acompanham

Vossa Excelência.Nós o aplaudimos, pela determinação em

construir uma Venezuela forte que é insubstituível parauma América Latina mais unida. Como amigos evizinhos determinados a forjar com seu país umaparceria fundada na integração, estaremos ao ladoda Venezuela na superação de seus desafios dopresente para um futuro mais próspero. A estabilidadee prosperidade da Venezuela interessam ao Brasil.

Tenho acompanhado, Senhor Presidente,seus esforços por reformas profundas na Venezuela.Sei, por experiência própria, que essa é uma tarefadifícil, mas também sei que ela é inadiável.

Nós reconhecemos na Venezuela um país deextraordinária riqueza e potencial e um parceiro como qual temos todo interesse em aprofundar relaçõespolíticas e econômicas e em levar adiante projetosconcretos de cooperação.

Sua geografia e a sua história situam muitoclaramente como um elo entre regiões.

País ao mesmo tempo amazônico, caribenhoe andino, a Venezuela soube projetar em cada umadessas regiões e fazer delas um instrumento definidorda sua identidade e um instrumento de sua inserçãoregional e internacional.

Bolívar, a figura-síntese da História latino-americana e dos sonhos de liberdade e integraçãode nossa região, simboliza a Venezuela que ele ajudoua criar.

Um brasileiro, o General Abreu e Lima.

Brasil - Venezuela

Discurso do presidente da República, Fernando HenrinqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido ao Presidente daVenezuela, Rafael Caldeira, Brasília, 20 de maio de 1996

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imbuído do sentimento americanista e do ideal maiorda liberdade, do fim da opressão colonial, lutou aolado de Bolívar, trazendo para as suas campanhasum pouco do sentimento e do vigor com que osbrasileiros forjaram a sua própria nacionalidade.

A aliança entre brasileiros e venezuelanos vemportanto de muito longe. Talvez não tenhamos podidorealizar inteiramente os sonhos de Bolívar, mas aprópria história nos vai demonstrando que aquelessonhos eram, na verdade, um brilhante projetopolítico, que tem hoje plena vigência e se constituirácom esforço e vontade política, com o engajamentodos Governos e dos povos latinos-americanos.

Assistimos à transformação daquele “sonho”em realidade, quando vemos a América Latina eCaribe, que se integram pragmaticamente, noMercosul, no Pacto Andino, no CARICOM, noMercado Comum Centro-Americano.

Os reais progressos nas negociações entre oMercosul e seus vizinhos andinos e, muitoespecialmente, a Venezuela, permitem-nos anteverpara muito breve um espaço econômico integradoem nossa região, passo indispensável para o projetomais amplo de integração hemisférica.

Senhor Presidente,Nossas relações dizem respeito a interesses

muito concretos dos nossos povos. A proximidadefísica e a vizinhança geram iniciativas e projetoscomuns.

Temos, como a Venezuela, uma vocação deconvergência. Estamos construindo uma agendadensa e rica em iniciativas. Temos o patrimônio deuma velha e sólida amizade. Temos tambémproblemas comuns a enfrentar, com sentido práticoe visão de futuro. E é isso o que estamos fazendo.

O Norte do Brasil estará proximamenteligado por estrada pavimentada à Venezuela, desdeManaus.

Vamos promover a integração energéticaentre nossos países, explorando e em conjunto e comtransparência, todas as alternativas.

Superaremos nossas deficiências pela via daintegração. Juntos seremos mais fortes e melhorpoderemos nos projetar no mundo globalizado.

Concretizados, esses projetos resultarão ematividade econômica, comércio, empregos. E issocontribuirá para nosso esforço comum deestabilidade. crescimento e justiça social.

Senhor Presidente,Nossas relações têm também uma dimensão

regional e internacional importante, porque é precisoque os países sul-americanos se voltem mais uns paraos outros, para poderem promover a cooperação epreservar a democracia em nossa região, para daremum impulso importante à integração no nossocontinente. A América do Sul é hoje uma unidadepolítica e econômica com identidade própria e imagemexterna bem definida, associada à vigência dademocracia e à integração regional.

Este é o quarto encontro de Chefes de Estadodo Brasil e da Venezuela e um período de dois anos.

Temos um compromisso com a integração eum programa de trabalho a cumprir. Nossaschancelarias e a Comissão Binacional de Alto Níveltêm trabalhado intensamente para ampliar o escopode cooperação bilateral. As Declarações de Caracase de Brasília definem nossos propósitos comuns ecomprometem nossa vontade política com resultadosconcretos.

No campo energético, instruí o Ministro deMinas e Energia a enviar missão técnica de alto nívelà Venezuela para explorar com o Governovenezuelano todas as perspectivas que se abrem paraa integração energética entre nossos países, desde ainterconexão elétrica até a parceria petrolífera e osdesenvolvimentos possíveis nas áreas de gás emineração.

Vamos concluir no mais breve prazo possívelnossas negociações sobre o patrimônio deconcessões entre a Venezuela e o Mercosul e lançaras bases para uma zona de livre comércio.

Vamos intensificar nossa cooperação

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amazônica, fortalecendo o TCA.Vamos convocar nossos empresários para

que desenvolvam parcerias criativas e aproveitem osespaços criados por nosso trabalho político.

Vamos pensar em conjunto odesenvolvimento de nossas áreas menos prósperas.O Norte do Brasil e o Sul da Venezuela têm umdestino comum.

Enfrentamos juntos nossos desafiosambientais, desde o zoneamento econômico-ecológico, até a biodiversidade.

Essa é a idéia: que exploraremos seminibições todas as dimensões em que nossas relaçõespossam render benefícios concretos para nossospovos.

Senhor Presidente,A visita de Vossa Excelência constitui desde

já um marco no processo de integração de nossospaíses, que vai além do bilateral e se projeta tambémnos planos regional e internacional.

É com esse espírito que eu convido todos ospresentes a comigo brindarem pela grandeza eliberdade da pátria venezuelana, pela prosperidadedo seu povo, pela parceria intensa que estamosconsolidando entre o Brasil e a Venezuela e pela saúdee ventura pessoais de Vossa Excelência, SenhorPresidente.

Muito obrigado.

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215Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

IntroduçãoQuero dar as boas vindas aos oficiais

estagiários do Curso de Política, Estratégia e AltaAdministração do Exército e agradecer-lhes estaoportunidade de discutir a política externa brasileiraem um clima de cordialidade e franqueza.

O interesse dos militares brasileiros pelapolítica externa é legítimo. Diplomatas e militares lidamcom a soberania e por isso é natural que haja diversospontos em que o trabalho da Chancelaria e asatividades das três forças singulares façam interface.

Esta oportunidade de apresentar e discutir asgrandes linhas da diplomacia brasileira com oficiaisbrasileiros em estágio de aperfeiçoamento é da maiorimportância para o Itamaraty. Além de um exercícioproveitoso de organização das idéias e desistematização dos fundamentos da política externabrasileira, esta é, uma ocasião para conhecer opensamento e o sentimento militar em relação aostemas que nos mobilizam na tarefa de projetar edefender os interesses brasileiros no exterior.

Farei portanto uma apresentação sucinta dasgrandes linhas da política externa que vem sendo postaem prática pelo Governo Fernando Henrique Cardoso,situando-a em seus contextos mais importantes eprocurando mostrar-lhes como a nossa diplomacia buscafazer a ponte entre o interno e o externo.

Nossa política externa hoje se move emfunção das transformações que ocorreram nessesdois planos — no Brasil e no mundo. É preciso,portanto, que tenhamos uma noção clara da naturezae extensão dessas mudanças, para que a parte a serestabelecida pela política externa entre os dois planosseja a melhor possível do ponto de vista da relaçãoentre custos e benefícios.

A visão brasileira de um mundo emtransformação

Há quinze ou vinte anos atrás, quem ousasseantecipar a natureza e o alcance das transformaçõesque alterariam tão profundamente a face do mundoe as relações internacionais, no final dos anos 80 einício dos anos 90, certamente seria visto como umsonhador.

Uma revolução democrática varreu o mundo,começando pela América Latina, e hoje a imensamaioria dos povos vive sob regimes democráticos,com novos padrões no comportamento político queafetam a esfera econômica e social.

Uma revolução econômica se operou, a basedo esgotamento dos modelos mais fechadosprevalecentes nos anos 50 a 70, e hoje a imensamaioria dos povos vive em sistemas econômicosbaseados na liberdade de mercado, buscando

Curso de política, estratégia ealta administração do exército

Palestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, para estagiários docurso de política, estratégia e alta administração do exército(CPAEX) sobre o tema “ A Política Externa Brasileira”,Brasília, 20 de maio de 1996

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216 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

integrar-se competitivamente com seus vizinhos e naeconomia global.

E também ocorreu uma revolução decomportamento dos Estados, com a crescenteuniversalização de regras de convivência política eeconômica regulando áreas como a não-proliferaçãode armas de destruição em massa, o comérciointernacional de bens e serviços, a promoção dosdireitos humanos, o desenvolvimento sustentável e aproteção ambiental e assim por diante.

Parece definitivamente fechado o caminho doisolamento, da autarquia, das opções à margem domainstream das relações internacionais — a margemda democracia, da liberdade econômica, dacredibilidade e confiabilidade. Há um custo claro eintolerável na marginalidade, e esse custo se expressanão apenas em termos político-diplomáticos, mastambém em termos econômicos e sociais.

O conceito de globalização, cujo uso hojemuitas vezes se reduz ao aspecto produtivo efinanceiro do sistema internacional, pode ser usadopara compreender precisamente esse fenômenocomplexo: a crescente homogeneização das relaçõesinternacionais Democracia, liberdade econômica eparticipação nos sistemas universais de regulação dasrelações entre Estados passaram a ser padrões. Semo fator relativizador da Guerra Fria e com acompetição internacional agora efetivamente centradanos aspectos econômicos e científico-tecnológicos,os países são classificados e interagem com basenesses padrões. Eles se transformaram em umaespécie de “grau zero” das relações internacionais,em que os desvios têm um custo político e econômicocada vez maior e a credibilidade é tanto maior quantomenor for o afastamento dos países desse “grau zero”.E isto porque democracia se traduz em estabilidadee liberdade econômica e participação se traduzemem investimentos, acesso a mercados e a tecnologias,competitividade e empregos.

A globalização como fator de transformaçãoO germe da transformação do sistema

internacional ocorrida com a queda do muro deBerlim já se encontrava na globalização vertiginosada economia, tanto na esfera da circulação doscapitais como na da produção de bens e serviços.Muito antes do fim da Guerra Fria, uma transformaçãoestrutural das relações internacionais vinha-seprocessando, inclusive através da ascensão de váriaspotências econômicas que disputavam poder einfluência com as duas superpotências. Ou seja, aomesmo tempo em que se evidenciava a perda relativada participação das superpotências no produtomundial e no comércio internacional, o processo deacumulação internacional Se desviava para paísescomo o Japão, a Alemanha e outros europeus e oschamados “Tigres asiáticos”, detentores, ainda hoje,das maiores taxas de poupança de investimento noglobo.

Não quero entrar aqui em uma discussãosobre se a globalização é de fato o fenômeno recenteque muitos apontam ou se ela já organizava asreclamações internacionais há muito mais tempo. Éconveniente desmistificar um pouco o conceito deglobalização, que tende a ser percebidoimediatamente como uma ameaça aos países emdesenvolvimento e portanto como algo que nósdeveríamos e poderíamos combater.

A globalização, antes de mais nada,corresponde a um novo processo produtivo em escalamundial. Ou seja, o que antes era produzido de formamais concentrada em um país ou grupo de paísespróximos, hoje é produzido em uma cadeia maisextensa, buscando justamente a melhor relação custo-qualidadecompetitividade.

Isso naturalmente afeta os fluxos deinvestimento, que começam a orientar-se pela cadeiaprodutiva mais estendida e a beneficiar-se da maiorabertura proporcionada pelo desejo dos países departicipar dessa cadeia.

Uma conseqüência natural da globalização daprodução foi seu efeito multiplicador sobre ocomércio internacional, que cresce em proporçãomuito superior à do produto mundial. E não apenas

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isso. Ela tem tido um impacto muito grande sobre aspróprias políticas econômicas dos paísestradicionalmente mais fechados e está impulsionandoos processos regionais de integração em áreasdominadas por essas economias mais fechadas.

Aspectos básicos da vida dos Estadossoberanos, como o nível da atividade econômica, onível de emprego, a competitividade dos seusprodutos nos mercados externos e nos seus própriosmercados – todos eles aspectos que têm impactodireto sobre o nível de bem-estar, a estabilidadepolítica e a estabilidade econômica e, naturalmente,sobre a própria soberania em sentido mais amplo —passaram a ter um grau muito maior de incidência defatores internacionais.

Estabilidade política e econômica, aberturaao comércio e aos capitais de investimentointernacionais e capacitação tecnológica e emrecursos humanos passaram a ser muito mais do queconsiderações geopolíticas ligadas aos fatorestradicionais do poder nacional, como território erecursos naturais. Essas, aliás, são as forças queestiveram por trás da mudança radical nos projetosnacionais de países como o Japão e a Alemanha,que abandonaram pretensões territoriais ehegemônicas para transformar-se em Estadosmercadores — trading States.

Oportunidades, desafios e riscosEssas transformações geraram um mundo

diferente, o mundo em que vivemos hoje. Mas ele édiferente muito mais no sentido de que muitas daforças que se encontravam em segundo plano sob odomínio da Guerra Fria passaram ao primeiro plano,oferecendo algumas oportunidades, masevidenciando, como disse, desafios e riscos para umpaís das características e com os imperativos deinserção externa do Brasil.

Ao dizermos que o mundo contemporâneoapresenta oportunidades, desafios e riscos, nãoestamos inovando em nada, porque essa é acaracterística de qualquer ambiente em que exista

atividade humana. o que é preciso fazer é reconhecerque o mundo dos anos 90 apresenta novasoportunidades, novos desafios e novos riscos,diretamente vinculados às forças ou tensões quepassaram a dominar o cenário mundial com a retraçãodas tensões de natureza ideológica e estratégico-militar próprias da Guerra Fria.

Em vez de preocupar-se com a preservaçãoda sua forma de vida diante das ameaças de outrosistema político-estratégico, os Estados hoje pensammuito mais no jogo das forças econômicas,conscientes de que a soberania, o poder nacional e acapacidade de influência se ampliam com ofortalecimento da economia e dos indicadores sociais.

E do sucesso econômico e social — e nãomais da proteção do guarda-chuva estratégico deuma superpotência ou da doutrina da “segurançanacional”— que dependem os elementosfundamentais para a preservação de um Estado:estabilidade política e social, crescimento econômicosustentável, geração de empregos, bem-estar dapopulação. É desse Sucesso, e não de políticas deprestígio, que depende a projeção internacional dospaíses.

Os riscos dessa nova realidade estão ligadosmuito mais à incapacidade que um Estado tenha dese adaptar para fazer face às novas condições dacompetição internacional. A marginalização por forçade mazelas sociais e econômicas internas e pelaincapacidade de competir passa a ser um risco real,com conseqüências materiais e graves prejuízos paraa soberania. Uma sociedade mal integrada e combaixo desempenho econômico é muito maissusceptível ao narcotráfico, ao terrorismo, ao crimeorganizado e à corrupção, subprodutos de um mundoainda longe da perfeição e em que se acirram fatorespropulsores dessas distorções.

Da mesma forma, diante da tendência a quese consolidem regras universais para regular atransferência de tecnologia, a não-proliferação, apromoção e a proteção de investimentos, o acesso amercados, e face à postura claramente competitiva

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com que os países se voltam para o exterior,configuram-se novas áreas em que a marginalizaçãoe o isolamento têm um preço a ser pago — um preçoque se mede precisamente pelo acesso a mecanismosdecisórios, a mercados, a investimentos produtivose a tecnologias.

Nessa ordem de raciocínio, riscos reaispróprios da atual estrutura internacional convertem-se em desafios e oportunidades quando um paísprocura estar na vanguarda da internalização dastransformações em curso no mundo. Não falo,naturalmente, de uma internalização a crítica ousubserviente, mas sim de um processo refletido deaperfeiçoamento dos mecanismos que nos integramao mundo.

A esses desafios e oportunidades se somamoutras oportunidades reais surgidas com o fim ou aatenuação de conflitos regionais — na África Austral,no Oriente Médio, na América Central — ou com aabertura econômica de países como a Índia, a China,o ou a Rússia e os antigos países socialistas da EuropaCentral e Oriental.

Em outras palavras, a liberdade econômicaque prevalece como força motriz das relaçõesinternacionais de hoje nos abre mercados antes muitorestritos ou fortemente protegidos. E ela nos induz abuscar fórmulas criativas, entre as quais a daintegração regional, para ampliar a escala e melhorara competitividade da nossa própria economia — nãoapenas para torná-la mais apta a disputar fatias demercado e explorar janelas de oportunidade noexterior, mas também para torná-la mais atrativa paraos países que dispõem de reservas de capital e deconhecimento tecnológico e buscam parceriasorientados pelos imperativos da globalização daprodução e da maior participação nos benefícios docomércio mundial.

A diplomacia brasileira em um mundo emtransformação

A diplomacia que o Governo FernandoHenrique Cardoso é chamado a exercer deve ser

uma resposta a mais completa possível a essa novarealidade internacional e aos imperativos internosbrasileiros, valendo-se obviamente das condiçõesmais favoráveis que temos hoje para melhor inserir-nos em nossa região e no mundo.

A diplomacia defende e projeta no exterioros interesses nacionais, da mesma forma que elaprocura melhorar a inserção internacional do país querepresenta. Mas ela não cria interesses, nem podeprojetar o que não existe.O país que se encontra portrás da diplomacia é o único elemento a partir doqual ela pode operar.

Por isso, a diplomacia só poderá responderadequadamente às transformações do cenáriointernacional se essas transformações forem, dealguma forma, internalizadas pelo país.

Daí a insistência nas reformas como um fatorbásico de propulsão do país no mundo, como osvetores que nos possibilitarão ser mais competitivostanto para projetar-nos lá fora para atrairmos aquipara dentro os investimentos e as tecnologias quenos ajudarão a crescer com dinamismo.

E a diplomacia de um país como o Brasilopera necessariamente a partir de um patrimôniodiplomático. Ela não admite mudanças irrefletidas oubruscas, nem barganhas voltadas para o curto prazo,nem jogos de cena ou buscas irrealistas de prestígio.

Temos um patrimônio político construído comos diferentes grupos de países com os quaisrelacionamos, temos uma tradição de atuaçãoequilibrada e amadurecida nos foros multilaterais etemos interesses claros como grande país continental,com uma economia cada vez mais impressionante eintegrada ao exterior e que cresce como referênciapara outras economias.

O Brasil visto pela sua diplomaciaFeitas essas precisões, é preciso caracterizar

o Brasil, seu projeto de desenvolvimento e suasprioridades atuais, de forma a orientar a açãodiplomática.

Temos nossas características intrínsecas —

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dimensão continental, população, recursos naturais,tamanho do mercado consumidor potencial, situaçãoúnica no Hemisfério Sul, distante dos grandes pólosde poder com capacidade de galvanizar economiasmenores e mais próximas. E temos o que dá umadimensão dinâmica a essas características.

Temos uma tradição de inserção internacionalque nos foi legada pela nossa própria irrupção naHistória como colônia de exportação de produtostropicais e matérias-primas. Nossa formação social,fortemente marcada pela imigração, reforçou ao longodo último século essa vocação universalista do Brasil.

Até pela própria mentalidade aberta ao mundodos brasileiros, nunca foi seriamente admitida entrenós, nem a título de especulação teórica, a idéia daautarquia.

O mundo exterior, que nunca deixou dechegar-nos com a rapidez cada vez mais alucinantedos meios de comunicação, sempre constituiu umpadrão contra o qual nós nos julgamos e julgamos oque fazemos. A referência externa é um componentecentral da psicologia brasileira — um componenteque comparece sem despertar traumas, temores oureceios exagerados, provavelmente porque temosfirmado no inconsciente coletivo o significado de 125anos de paz ininterrupta com nossos vizinhos e asensação de confortável segurança que nos dão anossa própria localização geográfica e as nossasdimensões físicas.

Nossa economia cresceu e diversificou-secom o aporte continuado de capitais de empréstimose de investimentos estrangeiros — ingleses, primeiro,a que se somaram os norte-americanos, os de outrospaíses europeus, do Japão, da própria AméricaLatina. Temos uma tradição de economia de mercadodas mais sólidas nos países em desenvolvimento. Ovigor e a complexidade do nosso parque produtivonos coloca em posição de vantagem relativa noconjunto dos países em desenvolvimento.

Durante mais de duas décadas, a substituiçãode importações — que reservava para o produtorinstalado no Brasil um mercado potencial de

dimensões continentais — foi responsável pela nossacapacidade de atrair investimentos produtivos, quepouco a pouco, contudo, se foram concentrando maisem áreas como a mineração de ferro e alumínio, atése estancarem por força das limitações geradas pelacrise da dívida externa, alta inflação, excesso deintervenção estatal e políticas erráticas na áreaindustrial, comercial e macroeconômica.

Ao mesmo tempo em que crescíamos a ritmoacelerado nos anos 70 e consolidávamos adiversificação da nossa economia, fomos capazes deampliar consideravelmente a nossa presençainternacional, em grande parte pela nossa capacidadede atuar, sem exclusões voluntárias, nos mais variadostipos de mercado.

Cada vez mais ficou evidente que parte daatividade econômica dependia da dimensão externada nossa economia e da nossa capacidade de ampliara nossa presença global, com as conseqüênciaspolíticodiplomáticas desse imperativo.

A evolução do quadro econômico internobrasileiro só fez acentuar a dimensão internacionaldo Brasil.

A superação do modelo de substituição deimportações, pela incidência adversa que vinha tendona competitividade da economia brasileira e atémesmo por pressões oriundas de consumidores maisexigentes, obrigou-nos a u exercício deconscientização sobre as tendências dominantes nocenário internacional e no cenário interno dos paísesque figuram na nossa faixa de inserção.

A estabilização como alavanca da inserçãoexterna

O imperativo de estabilizar a economia egarantir bases para o seu crescimento sustentado,tão bem traduzido pelo Plano Real, tem também umaforte dimensão externa, ainda que boa parte das suascondições mínimas digam respeito à questões denatureza interna, como o equilíbrio fiscal, aausteridade monetária e a própria confiabilidade doplano, que desta vez recusou choques, surpresas,

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intervenção na economia, congelamentos. A própriaabertura da economia ao exterior foi fator fundamentalpara assegurar o êxito do plano: por primeira vez sepôde utilizar a oferta externa para enfrentar a pressãoda demanda provocada pelo aumento do poderaquisitivo da população permitido pelo fim da inflação.

A solução adequada da questão da dívidaexterna, depois de doze anos como hipoteca sobreboa parte da agenda externa brasileira tanto compaíses desenvolvidos como com parceiros emdesenvolvimento, foi também uma condiçãonecessária ao êxito do plano, e a ele se somou nocapítulo das novas credenciais com que o Brasil buscarenovar ou aprofundar suas parcerias no mundo.

Não preciso aqui estender-me sobre o efeitopositivo que a estabilização da economia, o ajuste,as reformas em curso e a retomada do crescimentoem bases mais seguras tem tido sobre a imagem doBrasil no exterior e sobre o crescimento do interessede nossos parceiros pelo Brasil. A percepção doBrasil como pais de oportunidades e como forçaemergente na economia mundial está consolidando.

O meu testemunho, depois de quase um anoe meio de exercício no cargo e um grande númerode contatos com autoridades estrangeiras, no exteriorou no Brasil, é de que passamos a ocupar um lugarde realce na agenda mundial. Essa condição sereforça na medida em que avançamos nas reformase o Plano se mantém firme.

Democracia consolidada, sinônimo de estabili-dade

Não preciso tampouco estender-me sobreconsiderações a respeito da consolidação das nossasinstituições democráticas que resistiram, nos últimosdez anos, à morte de um Presidente-eleito e aoimpeachment de outro. Essas instituições têm sidocapazes de canalizar demandas, conflitos econtradições próprias de uma sociedade complexacomo a brasileira.

Do ponto de vista do padrão internacionalvigente hoje, nossa democracia traduz-se em um

trunfo importante, insubstituível: estabilidade políticae a certeza de regras transparentes no jogo políticoem sentido mais amplo. Combinada à estabilizaçãoeconômica, a estabilidade política passa a ser umfator central da projeção externa brasileira.

Brasil, país em desenvolvimentoOutro dado básico da realidade brasileira é

a permanência de indicadores sociais ainda muitoabaixo da média, a funcionar como fator deconstrangimento em várias áreas. Comparado aalguns dos seus competidores internacionais, o Brasilperde em capacitação de mão-de-obra, em escalareal do mercado consumidor frente à escala potencial,em custos sociais (custo da enfermidade, custo dabaixa produtividade), em coesão social.

A concentração social e regional de rendaafeta nosso potencial de desenvolvimento, depoupança e de consumo. É esses aspectos negativos,é forçoso reconhecer, nos recordam claramente queo país, embora tenha várias dimensões dedesenvolvimento, enfrenta vários desafios de naturezasocial que ganham sentido de urgência. Seria ilusóriopensar que reduzimos ou eliminamos um traço comumde identidade que nos une à imensa maioria dospaíses em desenvolvimento no mundo.

Somos um país em desenvolvimento, comuma economia industrial forte e inúmeros traços dedesenvolvimento, mas ainda marcado por muitas dascaracterísticas do subdesenvolvimento e da pobreza.

Esse é um dado primário da nossa inserçãointernacional e portanto uma condicionantefundamental da nossa política externa. Não podemosfingir que os esquecemos ou achar que podemosalterá-los pela simples força das imagens.

A importância das reformasO amadurecimento político do país e a

consciência dos nossos desafios e constrangimentosgerou um quase-consenso sobre a necessidade e aurgência de reformas que nos permitam reduzir asdisparidades sociais e regionais com medidas eficazes

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e duradouras, que não comprometam a médio oulongo prazo a estabilidade econômica e o crescimento.Essas reformas se vem fazendo com o ritmo própriode uma democracia complexa. Já avançamos muitoem matéria de flexibilização de monopólios eeqüidade no tratamento dos capitais nacionais einternacionais.

Temos avançado na privatização, com ascautelas que ela requer. Afinal, como disse oPresidente Fernando Henrique Cardoso em suarecente viagem ao Japão, não somos um pequenopaís que está privatizando uma linha aérea ou doisou três pequenos bancos provinciais. Estamosfalando de empresas de grande porte, que necessitamde capitais privados, mas que constituem umimportante patrimônio público com grande incidênciasobre o sistema produtivo do país. O interesse queessas empresas geram constitui sem dúvida um trunfona relação com nossos parceiros no exterior.

Alguns elementos definidores da nossa políti-ca externa

Com esse panorama interno e internacional,torna-se mais fácil compreender as linhas-mestras dadiplomacia que o Governo Fernando HenriqueCardoso vem implementando nestes quinze meses.

Não quero buscar um rótulo que designe essapolítica externa, mas sim caracterizá-la pelos seuselementos definidores centrais. Não andamos atrásde slogans, mas sim de resultados.

Nossa diplomacia é universalista e não-excludente. Essa é uma característica que deriva daprópria inserção internacional do Brasil, um país comrelações equilibradas entre quatro grandes pólos —a Europa, a América do Norte, a América Latina e aÁsia. Buscamos reforçar ou criar parcerias com baseem interesses concretos e naturais, no seu impactono nosso nível de atividade econômica, e no seu papelna configuração de uma rede de presençainternacional do Brasil. Queremos estender essasparcerias em todas as áreas do globo, em especialnaquelas que mostram maior dinamismo, como a

Ásia, a última região em que nos resta amplos espaçosa explorar.

Não há elementos ideológicos que presidama busca dessas parcerias. Com princípios, mas compragmatismo, buscamos as oportunidades onde elasexistam. E não há, na concepção brasileira, razãopara privilegiar um ou outro relacionamento externo,um ou outro foro internacional ou agrupamentoregional ou temático, em prejuízo ou detrimento deoutros.

Os limites de nossa ação diplomática serãoos limites dos nossos próprios recursos. Sua principalbaliza é o princípio de que é importante para o Brasilassumir, nas suas relações com o resto do mundo,um lugar condizente com as suas dimensões e comas suas características de grande país emdesenvolvimento.

Traduzindo em termos práticos relativos aoano de 1996, isso quer dizer que a diplomaciabrasileira é um instrumento a serviço da estabilizaçãoda economia brasileira, da melhoria do nosso acessoa mercados, a investimentos e a tecnologias, e daampliação da nossa presença nos mecanismosdecisórios internacionais que lidem com assuntospolíticos ou econômicos que nos digam respeito.

Para isso, estamos fazendo os ajustesnecessários em nossa ação, ampliamos nossa reflexãoe, embora conscientes da importância do nossopatrimônio diplomático, estamos evitando, a todocusto, ações reflexas, atitudes mecânicas e pré-concebidas e dogmatismos que são in limineincompatíveis com as mudanças que caracterizam omundo e o nosso próprio país.

Por fim, nossa diplomacia é ativa, não reativa,como corresponde a um país que tem interessesconcretos a promover nos mais variados âmbitos dapolítica internacional. Repudiamos toda falsa cautelaque justifica a inação e que pode ser responsávelpor perdermos espaço na cena internacional e temponos movimentos estratégicos que se impõem.

Não queremos chegar tarde às áreas novasque se reincorporam ao convívio internacional, e por

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isso estamos fazendo uma política ativa na ÁfricaAustral e no Oriente Médio; erigimos em prioridadeconcreta as nossas parcerias com os países daASEAN, possivelmente o núcleo de países que maiscresce no mundo, e atualizamos a nossa relação coma China, a Índia e o Japão; estamos participandocom interesse e espírito aberto e construtivo dosdebates em torno da reforma das Nações Unidas,da ampliação do Conselho de Segurança, da urgênciade mecanismos que previnam e corrijam os impactosda volatilidade dos capitais sobre as economiasemergentes; e temos estado ativos no seguimento daCúpula de Miami, preocupados em dar um cursopositivo, construtivo e realista ao processo deintegração hemisférica a partir dos arranjos sub-regionais.

Algumas áreas de atuaçãoSão muitos os exemplos de ações que temos

promovido para tomar palpáveis essas diretrizes.Quinze meses de política externa particularmente ativajá são suficientes para mostrar o grau em quepraticamos a dialética que se consagrou na nossahistória diplomática: a renovação combinada com acontinuidade.

Insistindo no fato de que a lista sucinta queapresento a seguir é exemplificava e não exclui outrasáreas de atuação e prioridades da nossa políticaexterna (como a própria União Européia, que sómencionarei de passagem), gostaria de encaminhar-me para o final mencionando alguns desses exemplosda nossa atuação diplomática mais recente.

Diplomacia PresidencialA diplomacia promove os interesses do país

no exterior através de diversos meios — as nossasEmbaixadas, as missões Especiais, as viagens doChanceler e outros altos funcionários, as missõesempresariais e, evidentemente, as viagenspresidenciais. Não são instrumentos que se excluam;ao contrário, completam-se, no desempenho de umatarefa cada vez mais complexa, em um mundo

competitivo em que os países investem pesadamentena promoção dos seus interesses no exterior.

As viagens internacionais do PresidenteFernando Henrique Cardoso não são apenas oexercício, pelo Brasil, da diplomacia de Chefes deEstado e Governo, característica das relaçõesinternacionais nas últimas décadas e uma prática hojecomum entre os Estados. Elas traduzem também umaestratégia deliberada de nos valermos do instrumentodos encontros de cúpula, com sua capacidade únicade mobilizar meios governamentais, a imprensa e aopinião pública, para promover uma atualização dapresença externa brasileira no mundo. Essaatualização se faz ainda mais necessária se pensamosnos desenvolvimentos positivos que o Brasil vemtendo e que é preciso apresentar à comunidadeinternacional.

O programa de viagens presidenciais écoerente com as prioridades da política externa doGoverno.

Com sentido de equilíbrio e de abrangência,vamos cobrindo o universo das relações exterioresdo Brasil em termos de parcerias importantes — naAmérica do Sul, na América do Norte, na Europa ena Ásia, futuramente na África e no Oriente Médio.

Os resultados que temos colhido são, naminha avaliação, anualmente favoráveis. Basta citaros países visitados pelo Presidente nestes quinzemeses para se ter uma idéia da importância desseprojeto de diplomacia presidencial: Chile, EstadosUnidos, Portugal, Venezuela, Alemanha, Bélgica eUnião Européia, China, Malásia, Índia, México,Japão e Argentina, proximamente a França, semcontar as posses presidenciais e reuniões multilateraisde cúpula em que temos estado ativamente presentes.O Brasil hoje é respeitado e olhado com interesseno exterior não apenas porque temos uma novarealidade política e econômica aqui dentro, masporque temos sabido promover essa realidade juntoaos nossos principais parceiros valendo-nos dahabilidade, da experiência e do interesse diplomáticodo Presidente da República.

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Proteção aos nacionais brasileiros no exteriorTalvez o dado mais novo para a diplomacia

brasileira nestes últimos tempos seja o da imigraçãobrasileira ao exterior. Em países fronteiriços ou empaíses desenvolvidos, o contingente de brasileiros quevive temporariamente ou em bases mais definitivasno exterior aumentou geometricamente, alcançandohoje perto de 2 milhões de cidadãos. A eles se agregaum número crescente de turistas, estudantes eempresários, levados ao exterior pela estabilidadeda moeda brasileira e pelas oportunidades que seabrem fora do país. A proteção ao nacional noexterior é tradicionalmente uma das atribuiçõesbásicas da diplomacia, ao lado da representação, danegociação e da informação. Para a diplomaciabrasileira, nunca houve uma situação comparável. Osdesafios que se abrem para nós são imensos. Alémda demanda por serviços cartoriais prestados pelarede consular, aumentam as necessidades de apoioconsular a brasileiros e de incentivo à organizaçãodas comunidades brasileiras fora do país.

União EuropéiaA Europa tem sido tradicionalmente, em

conjunto, o mais importante parceiro econômico ecomercial do Brasil, responsável por cerca de 30por cento do nosso comércio exterior e por algumasdas mais importantes parcerias individuais do Brasilno mundo, como é o caso da Alemanha, da Grã-Bretanha, da França e da Itália. Embora a Europatenha perdido algo de sua posição relativa nocomércio exterior brasileiro e nos investimentos noBrasil, ela constitui uma das bases do equilíbrio quecaracteriza nossa inserção no mundo. Nossointeresse é manter e reforçar esse equilíbrio, inclusiveporque estão em curso iniciativas, como a projetadaintegração hemisférica, que poderão incrementar emmuito as relações comerciais e financeiras entre oBrasil e o Continente americano.

Esse é um dos fundamentos da políticaEuropéia que temos seguido e que encontra seumelhor exemplo na viagem presidencial à Alemanha,

em setembro de 1995, e na visita à Franca, agoraem maio.

Outras iniciativas semelhantes seguirão,sempre com a preocupação de manter a Europacomo grande parceiro econômico, comercial etecnológico do Brasil.

Estados UnidosMesmo tendo em conta a perda relativa do

poder econômico norte-americano ao longo dosúltimos 50 anos, as relações com os Estados Unidoscontinuam sendo um dos paradigmas da políticaexterna brasileira desde que o Barão do Rio Branco,no início do século, operou a mudança no principaleixo de relacionamento internacional do país,movendo-o de Londres para Washington. Os EUAsão o principal parceiro individual do Brasil e hoje aúnica potência com real capacidade política eestratégica global. A importância do diálogo políticoe do intercâmbio econômico-comercial e tecnológicocom os Estados Unidos é patente para o Brasil.

Ao mesmo tempo, cresce a consciência deque esse interesse é uma via de duas mãos, a sertrilhada na base do respeito e com uma abordagemconstrutiva e positiva. A visita presidencial aosEstados Unidos, em abril de 1995, serviu aopropósito de redimensionar essa parceria tradicionaldo Brasil, valendo-se dos novos elementos de quedispomos no cenário interno brasileiro: aestabilização, a abertura econômica, as reformas, ocrescimento, a consolidação da nossa credibilidade.

Ampliamos e avançamos nossa agenda comos Estados Unidos, uma agenda afirmativa, quemostra o compromisso dos dois Governos detrabalhar ativamente pelo fortalecimento dointercâmbio e pela solução das diferenças quenaturalmente aparecem em um relacionamento dadensidade e complexidade do nosso.

Posso dizer hoje com muita tranqüilidade quepossivelmente nunca, desde a Segunda Guerra, foramtão boas e equilibradas as relações Brasil-EstadosUnidos. Com os Estados Unidos, temos tido um

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diálogo maduro e franco sobre temas de interessecomum ou iniciativas conjuntas: as relações comerciaisbilaterais, a integração hemisférica, a reforma dasNações Unidas. Graças, em grande medida, aosenormes avanços que fizemos no Brasil, a relaçãocom os Estados Unidos se encontra hoje livre degrandes diferendos. Nossa agenda, mais do quepositiva, é afirmativa, no sentido de que existe umapreocupação constante em construir sobre osaspectos favoráveis que vão compondo o universodas relações.

MercosulO Mercosul é talvez, hoje, a síntese do que

tradicionalmente foi o nosso outro paradigmadiplomático no campo das relações bilaterais: ospaíses do Prata. e mais do que síntese, o Mercosul étambém um símbolo do grande avanço qualitativoque essas relações tiveram a partir da década de 80,quando o signo da cooperação e da parceriacompleta substituiu definitivamente o signo dacompetição nas relações entre os dois maiores sóciosdo empreendimento, a Argentina e o Brasil.

O Mercosul é área absolutamente prioritáriada política externa brasileira. Mais do que isso, já seconsolidou como um instrumento de políticaeconômica para cada um dos seus Estados-membros. Com sentido de realismo e pragmatismoe tendo em vista os interesses da estabilizaçãobrasileira para a própria consolidação do Mercosul,procuramos adaptar a iniciativa aos imperativos quepodem derivar de conjunturas macroeconômicasadversas ou potencialmente arriscadas para osEstados-membros, e creio que temos tido grandeêxito.

Continuamos a trabalhar pela consolidaçãoda União Aduaneira e a promover as bases para umrelacionamento mais amplo entre o Mercosul e outrospaíses ou grupos de países. Começamos com a UniãoEuropéia, através do acordo de cooperaçãoeconômica firmado em dezembro último em Madri.A intenção é chegarmos a um acordo de livre

comércio entre as duas regiões, que fortaleça, donosso ponto de vista, o equilíbrio relativo do comércioexterior dos quatro países que integram a nossa uniãoaduaneira.

Estamos atuando também no sentido dechegar a acordos de liberalização comercial entre oMercosul e outros países da nossa região, começandopelo Chile, pela Bolívia e pela Venezuela. Pouco apouco, o Mercosul vai completando o seu caráterde nova grande realidade econômica e política naAmérica do Sul — um dos núcleos a partir dos quaisserá possível ampliar a integração hemisférica.

Firmemente apoiado no caráter democráticode seus membros, o Mercosul surge como umparceiro internacional e como um importante reforçoà identidade e à projeção externa dos países que ocompõem.

América LatinaEstamos ampliando a nossa parceria com

nossos vizinhos latino-americanos, dando ênfase àinterconexão física e à cooperação fronteiriça,respondendo a um interesse concreto cada vez maiordos agentes econômicos e das populações quenegociam através de nossas fronteiras.

A América Latina volta a ocupar hoje, comvantagens, o lugar de destaque que teve em nossocomércio exterior no final dos anos 70 e início dos80; hoje, esse comércio é maior ainda, maisdiversificado e mais equilibrado, e participa com perfilelevado tanto na geração de atividade econômica noBrasil quanto no suprimento de bens de consumo ematérias-primas para a nossa Economia.

Um dado a reter é que hoje a Argentina é onosso segundo fornecedor de petróleo, o que revelauma alteração substancial em nosso esquema defornecimentos de petróleo. As visitas presidenciaisao Chile e à Venezuela, em 1995, ao México, emfevereiro último e à Argentina, em abril, respondema essa diretriz de intensificar ainda mais o intercâmbioe a cooperação bilaterais com países da nossa região.

Em nossa região, a dimensão multilateral, de

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integração no âmbito do Mercosul, não substitui nemexclui a dimensão dos relacionamentos bilaterais comtodos e cada um dos países latino-americanos —inclusive, individualmente, com os nossos três sóciosdo Mercosul. As dimensões bilateral e multilateral seintegram perfeitamente, fortalecendo-se mutuamentee contribuindo para que a América Latina consolidea sua posição como um dos quatro grandes blocosde relacionamento externo do Brasil, ao lado doNAFTA, da União Européia e da Ásia.

Integração hemisféricaO Brasil tem participado das reuniões de

seguimento da Cúpula das Américas animado domesmo espírito construtivo que orientou a nossaparticipação em Miami, em dezembro de 1994.Nosso compromisso com o processo iniciado emMiami é firme.

Para nós, fortalecer as relaçõesinteramericanas sobre a base de um expressivocrescimento do comércio e dos fluxos deinvestimentos intra-regionais constitui um instrumentoinsubstituível no marco mais amplo de uma melhorinserção da economia brasileira na economiainternacional.

A realidade de que estamos partindo écomplexa, mas extremamente favorável. AOrganização Mundial do Comércio nos dá umaestrutura de regulação e liberalização do comérciojá em pleno funcionamento e em processo deaperfeiçoamento. Os arranjos sub-regionais deintegração ou liberalização do comércio já sãoimportantes focos de interação econômica. NoContinente, a liberdade econômica e a aberturacompetitiva ao exterior consolidam-se como forçaspropulsoras do desenvolvimento econômico e doprogresso social.

Mas essa realidade complexa que nos permiteser otimistas sobre a integração hemisféricaaconselhanos uma abordagem cuidadosa doprocesso. Queremos evitar expectativas irrealistas outemores que possam ser nocivos ao processo a mais

longo prazo. Queremos ir com cautela e sentido deresponsabilidade em áreas onde não existe consensoou onde o consenso Será alcançado passandonecessariamente pela OMC e pelos arranjosregionais. E queremos estar certos de que osprocessos unilaterais de abertura e reformaeconômica, que têm sido a dominante na nossa região,estão se consolidando.

Em nossa visão, não há atalhos para chegara um objetivo da magnitude da área de livre comérciodas Américas. Queremos garantir que a obra querealizaremos trará a marca da permanência e dointeresse consensual de todos os países participantes.

ÁfricaNa África, estamos redimensionando nossa

presença e adequando-a à nossa capacidadediplomática.

Apostamos fortemente na pacificação e nareconstrução de Angola e Moçambique, que têmtodo o potencial para serem dois dos nossos maisimportantes parceiros no mundo em desenvolvimento.Esse é o sentido da nossa participação na UNAVEM-III, a Força de Paz das Nações Unidas que ali contacom mais de 1.100 soldados brasileiros — nossamaior força militar fora do país desde a SegundaGuerra.

Estamos também repensando nossorelacionamento com a África do Sul, país que surge,com a sua democratização, como um dos pólos maisdinâmicos de desenvolvimento no Hemisfério Sul,além de ser o foco da atenção quase universal pelassuas potencialidades e pelo seu vigor econômico,ampliado com o fim do embargo e a volta dosinvestimentos. Esses exemplos falam de uma novaperspectiva que se abre para o Brasil na África, quevolta a figurar no horizonte das nossas prioridadesgraças a uma feliz combinação de fatores internosbrasileiros com progressos sensíveis no cenárioafricano.

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Oriente MédioTambém no Oriente Médio estamos

reequilibrando nossa presença, a partir da própriaevolução do processo de paz que tenta pôr fim a umconflito que por décadas assolou a região evirtualmente subtraiu-a ao convívio internacional e aosesforços pelo desenvolvimento. Embora conturbadopor atos de oposição violenta e pelas complexidadespróprias de um intrincado mecanismo negociador, quecoloca em presença muitos interesses e visõesconflitantes e mesmo opostos, o processo de paz noOriente Médio merece o apoio imparcial e decididoda comunidade internacional e o Brasil não poderiaagir diferentemente.

Ásia-PacíficoNa Ásia, estamos reforçando nossa presença

diplomática, equipando melhor algumas Embaixadasem países dinâmicos, definindo uma agenda e pondoem prática uma ampla iniciativa de diplomaciapresidencial, que começou, em dezembro de 1995,com a visita à China e à Malásia, dois casos desucesso na revolução econômica mais recente quetransforma a região da Ásia-Pacífico no pólo maisdinâmico da economia mundial nos anos 90. Essainiciativa prosseguiu em janeiro com a visita à Índia,devida há mais de duas décadas e voltada a colocarvirtualmente a Índia na tela dos nossos interesses edas nossas boas parcerias na região.

E completamos a primeira fase dessadiplomacia asiática com a visita ao Japão, quesinalizou a retomada da relação bilateral sobre umanova base de confiança recíproca e com novoselementos a favorecer a relação. Os resultados foramapreciáveis, tanto do ponto de vista político quantodo ponto de vista econômico.

MTCR e outros mecanismos regulatóriosGraças aos compromissos que assumiu e

consolidou em matéria de controle de exportaçõesde materiais e tecnologias sensíveis e de não-proliferação de armas de destruição em massa, o

Brasil foi admitido, em outubro último, no Regime deControle de Tecnologia de Mísseis. A participaçãono MTCR foi resultado de um importante processode coordenação interna do Governo brasileiro e deatualização das nossas posições em face dedesenvolvimentos internacionais importantes.Percebendo o desinteresse de manter uma posiçãoprincipista contrária ao caráter restrito do MTCR emmatéria de participação, o Brasil passou a ver noregime uma garantia de acesso a tecnologiasindispensáveis ao desenvolvimento do seu programaespacial. Não abrirmos mão do nosso programa; aocontrário, ele se mantém absolutamente intacto dentrode suas características de programa pacíficocontrolado por uma agência civil, a Agência EspacialBrasileira, e já começa a colher os benefícios da nossaadesão ao MTCR na forma do interesse desimpedidode grandes empresas em participar e da possibilidadede ter facilitado o acesso a tecnologias ecomponentes que ainda não temos condições dedesenvolver internamente.

Essa mesma abordagem pragmática nosorientou em nossa adesão ao Grupo de SupridoresNucleares, formalizada no último dia 23 de abril, nareunião de Buenos Aires. Reconhecendo nossacondição objetiva de supridor, estamos assumindoas responsabilidades internacionais inerentes a essacondição e garantir aos nossos parceiros que nósnos pautamos por regras estritas em matéria decomércio de bens e insumos da área nuclear. Trata-se de mais uma credencial em nossa atuação na áreade desarmamento e não-proliferação, que ao mesmotempo facilita o nosso acesso a tecnologias e fortalecea credibilidade geral do país — uma moedaparticularmente apreciada nas relações internacionaisde hoje.

Conselho de SegurançaFinalmente, para encerrar esta lista

exemplificativa, temos procurado influir positivamentenas discussões em torno da reforma do Conselho deSegurança das Nações Unidas, defendendo a tese

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de que a melhoria da eficácia do órgão, para cumpriro papel renovado que lhe cabe no sistemainternacional pós-Guerra Fria, depende do aumentoda sua legitimidade — o que se traduz em umaumento criterioso de membros permanentes e não-permanentes.

Sem nos mobilizarmos em uma campanha porum assento permanente, temos deixado claro quedefendemos uma reforma do Conselho nesses moldese que estamos dispostos a colaborar em um Conselhoampliado, se formos chamados a fazê-lo. Mais umavez, convém que se reafirme: não se trata de umpedido ou de uma candidatura. Não se tratatampouco de uma iniciativa de busca de prestígio eliderança. E muito menos estamos subordinandoqualquer interesse da nossa política externa em geralou da intensa teia de relacionamentos com nossosparceiros em todo o mundo a esse objetivo.Fazemos, isso sim, uma defesa sincera da necessidadede reformar as Nações Unidas, até como signo desua vitalidade, ao iniciar-se seu segundo meio séculode existência em um ambiente internacionalinteiramente diverso daquele que lhe deu origem.

ConclusãoEsta é, em grandes linhas, a diplomacia que

nós procuramos empreender. Espero ter deixadoclaro a forma como ela pretende ser uma respostacoesa e coerente a esse duplo jogo de forças, as quemovem o cenário internacional e as que nos movemcomo Estado soberano em busca da sua realizaçãocomo Nação.

Ainda é cedo para anteciparmos resultadosou para julgarmos se estamos no melhor caminho.Para esse exercício, a participação da sociedadebrasileira, através do mundo acadêmico, doCongresso, dos partidos, das associações de classe,dos sindicatos, das organizações não-governamentaistemáticas, é essencial e insubstituível.

O voto de confiança que pedimos à sociedadebrasileira para a política externa que implementamosé sua participação, seu interesse, seu julgamentocrítico construtivo. O Itamaraty não inventa interessesnem define prioridades, ele cumpre um mandato.

Esse é o verdadeiro sentido da políticaexterna em uma sociedade democrática. As escolasmilitares têm um papel importante na identificaçãoserena e objetiva de muitos desses interesses. Porisso, o diálogo entre o Itamaraty e os militares, entreos que defendem a soberania brasileira na paz e osque estão preparados para defendê-la na guerra, éinsubstituível. E nesse intercâmbio que o Itamaratytambém se baseia para encontrar seu sentido maior:fazer da política externa o instrumento de defesa eprojeção de uma Nação independente, soberana epor isso mesmo apta a lidar com a História não comoseu objeto, mas para fazê-la acontecer.

Quero agradecer o interesse dos Senhores ecolocar-me à sua disposição para aprofundar, emdebate, quaisquer dos pontos desta exposição ououtros que, pelas óbvias limitações de tempo, vi-meforçado a não tocar.

Muito obrigado.

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I would like to welcome you, Mr. Minister,and your party in this visit to Brasilia.

Your presence among us reflects the qualityof the friendship between Canada and Brazil and thecontinued strengthening of our bilateral relations.

This strengthening of our ties gives us motivefor great satisfaction, but it also challenges us toelevate the relationship between our two countries tonew heights.

I am sure that we will face this challenge withdetermination and enthusiasm.

Your Excellency’s visit takes place in aparticularly significant moment for our relations, aswe begin preparations for President FernandoHenrique Cardoso’s official visit to Canada inSeptember.

Your presence here also gives us a uniqueopportunity to review the results of the visit to Brazilof Prime-Minister Jean Chrétien - the first Head ofState or Government to visit President Cardoso afterhe took office in January of last year - and to exchangeviews on the main issues on the international agendaof interest to both our countries.

This first-hand contact among us is extremelyvaluable for better mutual knowledge and for greatercoordination between our countries.

An industrialized nation, an exporter ofcapital, a source of advanced technology and asignificant force in international trade, Canada is a

priority of Brazilian foreign policy.We recognize and appreciate Canada’s

constructive role and traditionally balanced stance inmultilateral fora, its autonomy and its influence on theinternational decision-making process.

We have worked together in areas of ourcommon interest directly linked to our reality ascountries of continental size, with a tradition ofpeaceful and universal participation and with acapacity to act on a global scale.

The protection of the environment and thepromotion of sustainable development; the fight forhuman rights, unimpeded access to high technology;the reform of the United Nations; hemisphericintegration; the strengthening of the multilateral tradesystem, under the WTO; disarmament and non-proliferation of weapons of mass destruction - theseare issues which have been the object of ourcooperation and dialogue.

And this cooperation is reinforced today bythe signing of the Agreement on Nuclear Cooperation,which will allow us to further relations between ourtwo countries in the peaceful uses of nuclear energy,especially in areas such as agriculture, foodconservation, medicine and the generation ofelectricity.

The Agreement has strict physical protectionand safety measures, so as to avoid any risk of nuclearaccident, and is fully compatible with the objective

Brasil - Canadá

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na cerimônia de assina-tura do acordo de cooperação nuclear entre o Brasil e oCanadá, Brasília, 22 de maio de 1996

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230 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

shared by Brazil and Canada of nonproliferation ofnuclear weapons.

Mr. Minister, Brazil and Canada have muchto offer one another.

We have many areas of identity, sharedinterests and common efforts.

But we also have a vast agenda to explore.

We want Canada to play a role in the futureof prosperity, economic freedom and growth withsocial justice that we are building in Brazil.

I am certain that your visit will give a newimpulse to our common goal of bringing closertogether Canadians and Brazilians.

Thank you.

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231Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Eu queria em primeiro lugar agradecer aosorganizadores do seminário a oportunidade queconferem ao Itamaraty, através do Chanceler, departicipar deste exercício de reflexão sobre umfenômeno que se confunde com a própria históriacontemporânea e do qual o Brasil é necessariamenteparticipante.

Eu vejo com satisfação que a montagem doseminário foi presidida por uma dupla orientação. Porum lado, a abrangência dos temas em quenecessariamente deve dividir-se a análise dofenômeno da globalização em suas múltiplasimplicações. E, por outro, a variedade de pontos devista, de opiniões e de abordagens sobre cada umdesses temas, no que deve ser um exercíciodemocrático e aberto de discussão, de contribuiçãocoletiva, mas também pluralista.

Em cada painel, essa preocupação estácontemplada e traduz uma constatação inescapável:a de que a globalização é um processo tão complexoe com tantas ramificações, que o maior erro seriasimplificá-la, transformando-a em um desses chavõesanalíticos que tudo generalizam e banalizam, criandoa ilusão de dar conta da realidade.

Globalização é um conceito inovador emconteúdo, porque sintetiza uma realidade dinâmica,de múltiplas dimensões e graves implicações políticas,econômicas, sociais e culturais. É uma realidade à

qual não se poderia fugir a não ser por uma hipotéticae hoje inviável autarcização da sociedade. Mas étambém uma realidade que pode ser explorada comas cautelas e a determinação necessárias para delaextrair benefícios, com pragmatismo e com sentidode realismo.

De uma forma ou de outra, todos nós lidamosdiariamente com o fenômeno que será analisado pelosparticipantes deste seminário. Ao contrário de outrosfenômenos históricos de repercussão mundial, comoas grandes navegações, as revoluções e as própriasguerras chamadas mundiais, os reflexos daglobalização, pela própria natureza do fenômeno, sãoimediatos e universais e afetam não apenas processoshistóricos nacionais ou regionais, mas a própria vidadiária dos agentes econômicos e dos consumidores.

A qualidade, a quantidade e o ritmo dainformação à nossa disposição; os investimentosprodutivos que geram empregos, riqueza e bem-estar;o próprio nível de emprego; a formulação e aexecução de políticas macroeconômicas e depolíticas sociais; a revisão crítica das estruturaseconômicas e jurídicas vigentes; tudo aquilo, enfim,que tem a ver com o bom desempenho de um paíscomo nação soberana, economicamente eficiente esocialmente integrada e justa é afetado de algumaforma pela globalização nesta fase de consolidaçãodo fenômeno.

Seminário na Universidade de São Paulo

Pronuciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na aberturado Seminário “Globalização: O que é e quais as suasprincipais implicações”, promovido pela Faculdade deEconomia, Administração e Contabilidade da Universidadede São Paulo, São Paulo, 23 de maio de 1996

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Não há nada mais simbólico dessa fase doque as redes mundiais de informação porcomputador. Elas completam a sensação de que adistância e o tempo deixaram de ser fatores decisivospara a circulação de mercadorias, investimentos einformações e para a tomada de decisões emqualquer nível e âmbito em que se organizam associedades e os indivíduos.

O mundo da globalização está marcado poruma homogeneização crescente – ainda que longede completa — das linhas fundamentais docomportamento político e econômico dos Estados.Essa homogeneização faz da democracia e daliberdade econômica forças básicas das relaçõesinternacionais, uma espécie de “grau zero” a partirdo qual os países e regiões são analisados e avaliadosdo ponto de vista da estabilidade e confiabilidadedas instituições e da atratividade e potencial daseconomias.

A unificação dos mercados e dos processosprodutivos; o impacto dos avanços tecnológicos naárea de comunicação; a velocidade dos fluxos decapitais e tecnologias; a importância dacompetitividade no sentido mais amplo comocondição para uma inserção internacional benéficados países; o surgimento ou consolidação de novose importantes atores mundiais do ponto de vistaeconômico e comercial; a prevalência da competiçãoeconômica e tecnológica sobre as disputas políticas,ideológicas e mesmo territoriais entre os Estados —todos esses são apenas alguns exemplos dedimensões importantes do processo da globalização.

Essas várias dimensões nos afetamdiretamente como nação soberana e provocamnaturalmente o interesse ativo do Governo e dasociedade brasileiros. E, porque a globalização incidediretamente sobre a concepção e a execução dapolítica externa brasileira, interessa muitoespecialmente ao Itamaraty.

Não se trata de um interesse teórico ou dafascinação de um modismo. É uma preocupação quese manifesta com o máximo de objetividade e sem

preconceitos ou passadismos.Ela visa a que a nossa política externa leve

em conta a globalização como realidade internacionalobjetiva, exigindo definições e redefinições depolíticas, um perfil mais ativo no cenário mundial eregional e uma clara consciência dos nossos objetivos,trunfos e limitações.

Visa também a que a diplomacia seja umaresposta adequada e eficiente à inegável carga deoportunidades, desafios e riscos que o processocomporta para uma nação com as características doBrasil.

Afinal, somos um país de dimensõescontinentais e grande população, com uma economiadinâmica e em crescimento, com presença empraticamente todo o mundo e com um comércioexterior equilibrado. Somos também um país comimperativos inadiáveis na área dos indicadores sociaise das reformas que consolidem a estabilização, aabertura competitiva ao exterior e a retomada docrescimento e que fortaleçam o Estado para exercersuas funções básicas e vitais em uma sociedade emdesenvolvimento.

E estamos em uma fase decisiva de transiçãopara uma economia estável, competitiva, mais abertae integrada à economia regional e mundial, e em quea nossa participação no comércio internacional debens e serviços e no acesso aos fluxos deinvestimentos produtivos e tecnologias ainda temvastos espaços para ampliar-se e muitos desafios.

Compreender a globalização implicanecessariamente ter a mente aberta e desinibida depreconceitos ou de formulações puramenteideológicas, que na verdade pouco ajudam acompreender a realidade e nada acrescentam aoinstrumental adequado para lidar com essa realidadesegundo o ângulo de visão em que estejamos.

Diversos elementos próprios do processo deglobalização podem transformar-se em oportunidadesou riscos para um país como o Brasil segundo aabordagem que lhes seja dada. O país está desafiado— criativamente desafiado — pelo fenômeno.

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Tomemos, por exemplo, a democracia, hojesólida e atuante, que estamos consolidando no paíse em toda a nossa região. Ela recebe sem dúvida uminfluxo positivo da globalização, na medida em quese traduz em estabilidade política e social e emconfiabilidade e legitimidade do processo decisório.São características fundamentais, condições mesmo,para participar com ganhos do jogo de uma economiaglobalizada.

A abertura competitiva ao exterior é outraárea em que os desafios da globalização podeminduzir transformações construtivas no Brasil. Sermosmais competitivos, através da melhoria daprodutividade da economia e dos padrões dequalidade e eficiência dos nossos bens e serviços eda diminuição dos custos de produção só pode serbenéfico em todos os sentidos.

Ganha o consumidor brasileiro, essapersonagem fundamental da economia em um paísdemocrático, mas que foi virtualmente esquecido noprocesso de substituição de importações em nomede outros objetivos. Ele passa a ser um ponto dereferência fundamental em um mercado disputadocomposto por 160 milhões de consumidorespotenciais. Suas decisões como agente econômicoindividual passam a ganhar uma extraordináriaimportância porque ele é objeto de uma atentacompetição. Ganha como cidadão ao fortalecer-secomo consumidor.

Ganham os agentes econômicos brasileiros eo nosso mercado de trabalho, na medida em quecompetitividade se traduz em acesso a mercados como conseqüente aumento de exportações de bens eserviços e em maior interesse em investimentos etransferência de tecnologias indispensáveis aodesenvolvimento. E, em geral, ganha a sociedadebrasileira como um todo, porque tem melhorescondições de acesso à informação e aoconhecimento graças à revolução da informática edas comunicações. Com isso, pode munir-se de maise melhores instrumentos para o seu desenvolvimentopolítico, cultural e social.

Não quero com isso desconhecer que háriscos em aceitar passivamente as pressões oriundasde uma economia globalizada e intensamentecompetitiva. Ela relativiza a capacidade dos Estadosde atuar soberanamente e torna absolutamenteimperativo estar preparado para enfrentar uma forteconcorrência externa que se desdobra em várioscampos: na conquista do nosso próprio mercado, naconquista de terceiros mercados, na obtenção deinvestimentos produtivos, no acesso a tecnologias.

Há uma tendência a meu ver simplista deculpar genericamente a globalização pelos males queos países possam estar enfrentando individualmenteou setorialmente. Na verdade, devemos partir dopressuposto de que a globalização é a própria históriacontemporânea em desenvolvimento, e de que seriapueril insurgir-se quixotescamente contra a históriaem vez de procurar explorá-la a nosso favor.

Objetivamente, a maioria dos problemasgenericamente atribuídos à globalização resultam dedeficiências tópicas que apenas são potencializadaspelas novas condições de competição e convivênciainternacional.

Essas deficiências devem ser corrigidas poroutros meios que não o recurso a políticas que jánão têm mais vigência ou plausibilidade econômicaou política, como a autarcização, a substituição deimportações, o dirigismo estatista, as políticastemerárias de déficits fiscais, as políticas decompetitividade baseadas em subvalorização cambialda moeda e assim por diante.

Ninguém duvida de que o desemprego, nasformas perversas com que se manifesta hoje tantonas economias desenvolvidas como nas economiasem desenvolvimento, tem causas que precedem aconsolidação do fenômeno da globalização.

Essas causas se situam, por exemplo, nasbaixas taxas de investimentos, em políticas lenientescom a inflação ou o déficit público, em baixosindicadores sociais, em despreparo da mão-de-obra,em falta de uma abordagem mais agressiva dosmercados nacional e internacional, em falta de

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234 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

políticas transparentes, mas eficientes, de prevençãoe correção de práticas desleais de comércio e, épreciso dizê-lo, na resistência a fazer as reformas queefetivem a passagem dos modelos anteriores dedesenvolvimento e produção para os modelosexigidos pelo mundo que a história está construindopara nós e as gerações futuras.

O Brasil serve de exemplo em vários dessesitens e é com esse reconhecimento que quero finalizarminha intervenção. Nós temos tido um bomdesempenho em nossa reinserção no mundo daglobalização, e isso, em grande parte, graças aosmuitos avanços que fizemos aqui dentro. Mas restamuito a fazer.

Tomemos o exemplo das reformas. Nóssabemos que precisamos de reformas profundas paraconsolidar a estabilização da economia e promovero crescimento, mas há resistências a essas reformasmesmo com a certeza de que elas serãonecessariamente o produto de um amplo processode entendimento democrático. Muitas dessasresistências são puramente ideológicas e desprovidasde sentido prático ou, pior, são puramentecorporativas.

Tomemos o exemplo das práticas desleais decomércio. O mundo tem avançado muito em matériade compromissos internacionais para liberalizar efacilitar o comércio de bens e serviços. A criação daOrganização Mundial de Comércio e a integraçãoregional são sem dúvida capítulos importantes daglobalização, que mostram claramente que, aocontrário do que alguns afirmam, há enorme espaçopara a atuação dos Estados ao lidarem com ofenômeno da globalização.

Mas nós temos de estar mais bem preparadosinternamente para lidar com casos tópicos de práticasdesleais de comércio, e isso não apenas em termosde recursos humanos, mas também em termosinstitucionais e legais, dentro das margens de manobra

que nos permitem nossos compromissosinternacionais e regionais.

Por tudo isso, o debate que aqui se iniciaganha uma importância singular para nós.

Se é em parte verdade que a rigor aglobalização começou com as caravelas de Vascoda Gama e Cristóvão Colombo, ela é um fenômenorelativamente recente no formato e abrangência comque o conhecemos hoje. Por isso ela exige dosformuladores e executores de políticas e dos analistasem geral, antes de tudo, consciência objetiva e crítica,espírito aberto e muito conhecimento das realidadesnacional, regional e internacional. E isso para quepossa ser enfrentada como aquilo que ela realmenteé: um complexo conjunto de oportunidades, desafiose riscos, onde o que importa é a capacidade de darrespostas eficientes e ter ações e reações rápidas eapropriadas, em sintonia com as forças da história enão contra elas.

Muitas dessas respostas são aindaincompletas ou desconhecidas. Muitas já estão emprática, aqui ou em outros países e regiões. Muitasterão de ser corrigidas ou aperfeiçoadas.

Muitas ainda surgirão do debate crítico,aberto e construtivo, de que é exemplo este encontro.

A contribuição que sair daqui será fecunda,estou certo, porque nós precisamos de idéias einstrumentos conceituais e analíticos para melhor vere interpretar o mundo.

Por isso, eu lhes desejo muito êxito em suasapresentações e deliberações, e que este seminárioseja um tributo merecido ao cinqüentenário daFaculdade de Economia, Administração eContabilidade da Universidade de São Paulo, a cujainiciativa devemos esta oportunidade e à qual, comoinstituição de ensino, tanto devem São Paulo e o Brasilinteiro.

Muito obrigado.

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235Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Queria agradecer ao Conselho Nacional doPatronato Francês e, em especial, ao seu Presidente,Jean Gandois, a gentileza deste almoço, que, tenhocerteza, contribuirá para aproximar as comunidadesempresariais do Brasil e da França.

Nossos países estão ligados por laçosestreitos e interesses concretos. É grande a influênciacultural francesa no Brasil, decisiva na formação denossa intelectualidade e de nossas instituiçõespolíticas, assim como é expressivo o volume deinvestimentos franceses no Brasil.

A França e o Brasil vivem um processocomum de transição de seus modelos econômicos.Em ambos os países, o Estado teve um papel históricorelevante ao modelar o próprio processo dedesenvolvimento econômico. Neste momento, osprincípios que estiveram na base de nossos“projetos” de desenvolvimento estão sendo revistospor nossas sociedades, que elegeram Presidentescom programas de Governo que apontam na mesmadireção de dar maior liberdade à iniciativa privadana promoção do desenvolvimento.

Paralelamente a esta orientação menosestatizante do processo econômico, nossos doispaíses vêm se defrontando com problemas comunscomo os (i) da delicada necessidade de reforma dosmecanismos de assistência previdenciária, (ii) daadaptação dos bancos a um novo contexto de menorinterferência do Estado, em que precisam assumir osriscos pelos empréstimos concedidos a empresasprivadas, e (iii) do ajuste das economias nacionais

ao processo de integração regional em que os doispaíses se encontram engajados.

Este conjunto de circunstâncias comuns, deconvergências, indica que o momento é oportunopara o aprofundamento dos vínculos entre os doispaíses; é o momento adequado para que possamosexplorar novas potencialidades, em setores não-tradicionais.

As reformas que estão ocorrendo no Brasiloferecem extraordinárias oportunidades de negóciospara os investimentos estrangeiros. Restabeleceu-sea confiança externa no Brasil, porque o país agoratem um rumo certo e bem definido, em harmonia comas tendências recentes da economia mundial.Sabemos aonde queremos chegar, e o Governo temo pleno respaldo do povo brasileiro, dentro dademocracia, para que possa perseverar e levaradiante as reformas necessárias para darsustentabilidade ao crescimento econômico brasileiro.

Abandonamos qualquer ilusão, nesta épocade globalização econômica, de que poderíamoscrescer de modo autárquico, num modelo fechadoem si mesmo. Sabemos que precisamos contar coma poupança externa em nossos programas decrescimento e estamos adotando as medidasnecessárias para que isto ocorra. Os investimentosprovenientes do exterior aumentaramconsideravelmente nos últimos anos. E esperamosque aumentem ainda mais.

O Brasil é um grande eixo de crescimentoeconômico na América do Sul. Temos dez vizinhos,

Brasil - França

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, no almoço oferecido pelo Conselho Nacional doPatronato Francês, Paris, 28 de maio de 1996

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com os quais estamos criando uma rede de acordosde livre comércio que tornarão o mercado sul-americano integrado e um dos mais atraentes domundo.

É evidente que a integração não sematerializará sem uma infra-estrutura adequada, istoé, sem uma modernização da infra-estrutura brasileirae sua interconexão com as malhas de transportes,energia e comunicações dos países vizinhos.

Nesta área de infra-estrutura há muito queser feito e se abrem grandes avenidas de cooperaçãoem projetos que sejam economicamente viáveis,ambientalmente sustentáveis e socialmente desejáveis.A privatização e a concessão de serviços públicossão um instrumento importante para que isto ocorra.Um bom exemplo desse processo foi a compra daLight, em leilão realizado na semana passado, porum consórcio liderado pela Electricité de France.

Estamos falando, no Brasil, de projetos comoa telefonia celular e a ampliação da rede de telefoniatradicional, de modernização e ampliação de estradas,hidrovias, ferrovias, portos e aeroportos, daampliação da oferta de energia elétrica, desaneamento básico e tratamento de água.

Estamos também falando, no espaço maisamplo da América do Sul, de projetos tais como aconexão inter-oceânica Atlântico-Pacífico (Brasil/Chile e Brasil/Equador), da via expressa São Paulo/Buenos Aires, dos gasodutos Brasil/Bolívia e Brasil/Norte da Argentina, da interligação das Bacias dosRios Paraná e Paraguai, que beneficiará todos ospaíses da região.

Estimativas preliminares indicam que , apenaspara a integração física e energética do Brasil naAmérica do Sul, serão necessários nos próximos dezanos investimentos da ordem de US$ 50 bilhões eminfra-estrutura. A isto devemos somar várias dezenasde bilhões de dólares para a modernização da infra-estrutura brasileira. E estes investimentos terão devir em grande parte de capitais privados nacionais ede investimentos externos, porque queremos andarrápido e manter a economia sem gargalos. Para tanto,

estamos implementando novas formas e mecanismos,mais ágeis, para podermos canalizar de forma eficazos recursos externos para as áreas que delesnecessitam.

Mas não é apenas na área de infra-estruturaque as oportunidades se apresentam neste momentono Brasil. Há outros setores em que há grandepotencial a ser aproveitado, tais como, entre outrosem que o Brasil é competitivo em nível internacional,o agroalimentar, o de papel e celulose, equipamentomédico-hospitalar, química fina, serviços. Emodalidades de cooperação se abrem também emsetores de tecnologia de ponta, como o aero-espacial.

Por que é seguro e atrativo investir nestemomento no Brasil? Não vou citar os números daeconomia brasileira, que todos aqui conhecem emdetalhe. Mas quero, sim, mencionar alguns dos fatoresque dão base de longo prazo à minha certeza de queo Brasil ingressa num novo ciclo de crescimento eprosperidade.

Em primeiro lugar, as variáveis macro-econômicas do país estão sólidas e sadias: a inflaçãoestá controlada, as reservas internacionais estão emnível confortável e o comércio externo do Brasil temcrescido muito em função da maior liberalizaçãocomercial. A estabilidade monetária é a base para ocrescimento sustentado da economia brasileira,porque sem ela não há investimento produtivo e osrecursos financeiros acabam se destinando àespeculação. Tudo faremos para que a estabilidadeeconômica trazida pelo Plano Real seja mantida.

Além disso, há o fato de que a democraciaestá enraizada entre nós, dá transparência aos atosdo Governo, dá estabilidade às instituições, dásegurança jurídica ao investidor.

Estamos numa região em que a paz é umarealidade, em que a democracia vigora, em que aeconomia se abre ao exterior no marco da livreiniciativa tradicional e legalmente assegurada, em queas economias se integram cada vez mais. E o Brasil éum dos principais motores deste processo.

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O maior estoque de investimentos francesesfora da OCDE está no Brasil. Estou certo de que asclasses empresariais francesas, bem como aimportante comitiva empresarial brasileira que meacompanha nesta viagem à França, saberão, emconjunto, aproveitar este momento extremamente

favorável e relançar as relações econômicas ecomerciais entre os dois países, colocando-as numnovo e mais elevado patamar que seja condizentecom as oportunidades oferecidas por este momentode transição e crescimento que vivem Brasil e França.

Muito obrigado.

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Venho a Paris com um objetivo muito claro:o de dar novo vigor ao relacionamento entre o Brasile a França.

Sei que a política externa de seu Governo,Presidente Jacques Chirac, está buscando relançaras relações da França com a América Latina.

E o Brasil também tem o desejo firme devoltar a situar a França como parceiro fundamentalem seu desenvolvimento.

Todos sabem o quanto me sinto pessoalmenteligado a este grande país. Aqui passei anos importantesde minha vida, que foram centrais em minha formaçãocomo sociólogo, como político e, principalmente,como cidadão.

A civilização francesa legou a todos nós umabase universal de valores e de conhecimentos.

Os ideais iluministas forjados neste paíscontinuam a inspirar hoje, mais do que nunca, aconduta de grande parte da Humanidade. Liberdadee democracia, direitos humanos, a busca da eqüidadesão princípios profundamente enraizados na vidadesta nação.

Por isso, ninguém é indiferente aos destinosda França. Todos os que aqui tiveram a oportunidadede viver enriqueceram-se intelectualmente, abriramseus horizontes, refinaram sua sensibilidade para oque é humano e social.

A presença francesa na formação da culturabrasileira moderna foi decisiva. Nomes cardeais dacultura francesa e universal, como Claude Lévi-Strauss e Fernand Braudel, foram professores da

Universidade de São Paulo, no momento de suacriação e deixaram nosso País intelectualmente maisrico, mais bem preparado para entender a si próprio.

Esta é uma das dívidas de gratidão que oBrasil tem para com a cultura francesa. A força e ariqueza dessa cultura sempre foram para nós,brasileiros, e para mim, pessoalmente, muito positivas— uma verdadeira fonte de inspiração, que precisaser mantida e reforçada.

Porque não queremos que a padronização, auniformização cultural que está acompanhando oprocesso de globalização econômica empobreçamo mundo, estreitem os horizontes da humanidade,sufoquem expressões da individualidade, dadiversidade nacional, que são essenciais para aexistência mesma dos Estados.

Mas o patrimônio de nossas relaçõesbilaterais não se limita à dimensão cultural: a Françateve um papel de relevo no desenvolvimento do Brasile sua presença se faz sentir através de investimentosem diversos setores da economia brasileira.

Nos anos 80 e início dos 90, o Brasilatravessou um período de transição democrática ede incertezas no plano econômico, as quaisconsumiram uma quota elevada de nossas energias.

Esta longa travessia brasileira, SenhorPresidente, está superada. Hoje o Brasil é um paísque tem um rumo claramente definido na plenavigência da democracia e no crescimento, dentro daestabilização e de um novo modelo econômico abertoao exterior e, portanto, condizente com as novas

Brasil - França

Discurso do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, no banquete oferecido pelo Presidenteda França, Jacques Chirac, Paris, 28 de maio de 1996

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realidades trazidas pela internacionalização daeconomia.

Sabemos hoje a importância que o Brasil temno mundo e principalmente em sua região. Somosumas das maiores economias do Planeta e peçacentral no eixo de desenvolvimento hoje existente naAmérica do Sul, que se integra celeradamente.

Não é por outra razão que os recursosexternos voltaram a afluir em grandes volumes parao Brasil. E a França, uma das cinco maioreseconomias mundiais, com grupos empresariaismodernos, tecnologicamente competitivos em escalamundial, não pode deixar de ocupar um grandeespaço na economia brasileira. Promover estareaproximação entre o Brasil e a França é o objetivoprincipal desta minha visita de Estado.

Temos hoje condições inigualáveis para quepossamos relançar a parceria francobrasileira comêxito.

Temos a solidez e a tradição de nossaamizade. Temos o conhecimento recíproco que nosdá base firme para o desenvolvimento de projetoscomuns, tanto na esfera governamental, como nainiciativa privada.

Falamos a mesma linguagem na economia ena política e compartilhamos valores e aspirações.Temos o patrimônio de uma forte presença francesano Brasil e de uma considerável identificação de nossopaís com a França.

O Brasil, assim como a França, atravessa umperíodo de transformações profundas como resultadodos desafios e oportunidades trazidos pelaglobalização. Há claros pontos de contato entre oprograma de seu Governo, Presidente Chirac, eaquele que eu defendo no Brasil.

Há, enfim, uma série de similaridades econvergências que apontam para a consolidação deuma parceria franco-brasileira mais eficaz.

É inegável que muitos agentes econômicosfranceses já reconhecem as mudanças que estãoocorrendo no Brasil. Mas é preciso mais. Háoportunidades extraordinárias que se abrem no Brasil

na área de infra-estrutura, em transportes, energia etelecomunicações, todas elas áreas em que a Françadetém tecnologia de ponta.

Nos próximos anos, o Brasil precisará deinvestimentos em infra-estrutura que se elevam adezenas de bilhões de dólares, provenientes em suamaior parte de recursos privados brasileiros e defontes externas. Sabemos que a poupança externa écrucial para o desenvolvimento sustentado do Brasil.

Senhor Presidente,O Brasil sempre acompanhou com interesse

a política externa francesa, caracterizada pelaindependência, pela firmeza de princípios e pelacoragem na defesa dos interesses nacionais de seupaís. Além disso, a França soube marcarinvariavelmente sua presença internacional pelasolidariedade em relação ao mundo emdesenvolvimento e às causas humanitárias.

Hoje, mais do que nunca, este papeltradicional da França é necessário, porque aglobalização, ao multiplicar a riqueza mundial, temtambém tido efeitos colaterais negativos, demarginalização de países e regiões inteiras que estãofora das correntes dinâmicas da economia mundial,bem como de exclusão social no interior das própriassociedades desenvolvidas.

Será sempre visto com bons olhos por paísescomo o Brasil um papel ativo da França noencaminhamento de questões centrais de nossotempo, especialmente para a reintrodução dacooperação internacional para o desenvolvimentocomo tema prioritário na agenda dos paísesdesenvolvidos.

O mundo não pode resignar-se à indiferençadiante da tragédia humana, não pode perder de vistaque o melhor caminho para a paz é a prosperidade ea eqüidade.

Precisamos balizar politicamente o processode globalização e algumas de suas conseqüências,como a volatilidade dos capitais e o desempregoestrutural. E a França e o Brasil, por todo seu

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passado, por toda sua tradição de cooperação, peloconjunto de valores que compartilham, podem edevem ter um papel criativo na resolução destasquestões.

Devemos trabalhar em conjunto.Por sua tradicional postura construtiva e

equilibrada na diplomacia mundial, o Brasil está prontopara contribuir nesse processo.

Senhor Presidente,Que esta minha visita de Estado represente

um marco político no relançamento de nossasrelações. Estou seguro de que nossos países estão

preparados para e desejam ingressar numa era decooperação, de projetos concretos mutuamenteproveitosos, de diálogo e apoio recíproco nosgrandes temas da agenda contemporâneainternacional.

É com este espírito que peço a todos que meacompanhem no brinde que faço à felicidade do povofrancês, à amizade renovada que nos une, ao futurode maior cooperação e parceria que estamosconstruindo e à felicidade e ventura pessoais doPresidente e da Sra. Jacques Chirac.

Muito obrigado.

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Agradeço a generosidade das palavras queVossa Excelência disse sobre meu país, que estãoem harmonia com o clima de amizade e de reencontroque tem prevalecido nesta minha visita de Estado.

A amizade e as relações que unem o Brasil ea França estão baseadas numa ampla comunhão devalores e numa longa convivência. Têm a solidez dasmelhores construções históricas.

Nós, brasileiros, sentimo-nos muito à vontadena França. Este é um país onde encontramos muitosdos traços que ajudaram a conformar a nossa própriaidentidade e o nosso projeto de desenvolvimentoeconômico e social.

Foi em Paris que pude, longe de meu país,aprimorar minha formação como sociólogo e comopolítico. Foi aqui que pude fortalecer ainda mais omeu compromisso com a democracia e seus valores,que a Assembléia Nacional tão bem traduz.

Foi também no período em que aqui vivi quepude apreciar o alcance verdadeiramente universaldo ideário herdado da tradição de luta pela liberdadee pela justiça.

País de vocação universalista pela própriadiversidade de sua formação social, cultural ehistórica, o Brasil não poderia ficar alheio às idéiasrevolucionárias propagadas a partir da França. Essasidéias encontraram nas terras brasileiras campo fértilpara prosperar.

Inspiraram, desde as suas primeiras

manifestações, a nossa luta pela liberdade e pelaconsolidação das instituições políticas democráticas.

Venho a Paris como Presidente de um Brasilque reconquistou sua autoconfiança. Um Brasildemocrático e livre, que soube compreender que aparticipação competitiva no mundo da globalizaçãodeve ser um instrumento do seu própriodesenvolvimento. E essa participação, voltada paraos interesses permanentes do país - de justiça sociale progresso material e cultural -, passanecessariamente pela estabilização da economia, pelareforma do Estado, pela privatização e pela aberturaeconômica.

O Brasil que hoje se reencontra com a Françaestá avançando muito na criação de um ambienteeconômico adaptado às condições da globalizaçãoe capaz de atrair de forma crescente o interesseinternacional pelo país.

É um Brasil que soube entender que asreformas a que nos propomos só podem ter êxito seforem conduzidas dentro do marco da democracia,da liberdade e do respeito pelos direitos humanos.

Estamos empenhados em pôr um fim aoabuso e ao desrespeito contra os direitos humanosno Brasil. Com esse objetivo, lançamos o PlanoNacional dos Direitos Humanos - um programa deação acompanhado de medidas legais concretas queé antes de tudo um compromisso entre o Governo ea sociedade civil. O Brasil que estamos construindo

Discurso do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, por ocasião de jantar oferecido pelo Pre-sidente da Assembléia Nacional Francesa, Philippe Seguin,Paris, 29 de maio de 1996

Brasil - França

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não tolera a violência e a injustiça.

Senhor Presidente,O Brasil vê a parceria francesa também à luz

do imperativo de uma política externa que busca umamelhor inserção do país nos fluxos internacionais decomércio, de tecnologia e de investimentos e umamaior participação no processo decisóriointernacional.

A França é prioridade para a diplomaciabrasileira não apenas como país-chave no processode integração do continente europeu, mas tambémcomo um dos grandes parceiros individuais do Brasil.A Europa sempre representou um fator de equilíbriopara o Brasil em suas relações com o mundo, comonosso principal parceiro comercial. E a França temuma tradição de presença cultural, econômica ecomercial no Brasil - um patrimônio que é precisovalorizar à luz das mudanças que se produziram nomundo, em nossas regiões e em nossos países.

A França tem sido também um aliado de pesona luta pelo estabelecimento de canais mais fluidosde diálogo entre os mundos desenvolvido e emdesenvolvimento e na busca de soluções para osproblemas ligados ao desenvolvimento econômico esocial.

Assim como o Brasil, a França pode atuarcomo ponte para a construção de um ambienteinternacional mais democrático e mais favorável àcooperação internacional para o desenvolvimento.Esta é uma área em que a diplomacia francesa temtradição de atividade e participação.

Senhor Presidente,O Brasil apresenta-se hoje como um país com

muitas possibilidades a oferecer no campo econômico.Como a França, estamos engajados num processo deintegração regional. O Mercosul acrescentou umaimportante dimensão à personalidade internacional decada um de seus quatro membros e vai despontandocomo interlocutor de peso em contatos com outrospaíses e regiões do mundo.

As relações entre o MERCOSUL e a UniãoEuropéia ganham nesse contexto importância singular.O acordo de cooperação econômica que assinamosem dezembro último é o primeiro passo rumo a umaárea de livre comércio que esperamos ver implantadafuturamente entre nossas regiões.

Não se trata aqui de uma visão utópica, masde uma política da diplomacia brasileira baseada nointeresse concreto de manter o equilíbrio quecaracteriza nosso comércio exterior frente a umarealidade regional que aponta para uma crescenteintegração. Esse processo tem como uma de suasreferências o ano de 2005, meta estabelecida emMiami para o término das negociações para a criaçãoda Área de Livre Comércio das Américas.

O fortalecimento do MERCOSUL é pré-requisito para o êxito da integração hemisférica. Porisso estamos negociando individualmente com aquelespaíses cujas características favorecem umaaproximação com o MERCOSUL no curto prazo.A partir desse núcleo inicial, será possível integrartoda a América do Sul e prosseguir com êxito naintegração hemisférica, mas sem descuidar ummomento da construção de um espaço privilegiadode intercâmbio com a União Européia.

É nesse contexto mais amplo que a parceriafranco-brasileira ganha uma importante dimensãoadicional, como fator de aproximação entre as nossasrespectivas regiões.

E os Parlamentos de ambos os países têmum papel de grande importância a desempenhar noprocesso de fortalecimento das relações franco-brasileiras. Como representantes das aspiraçõeslegítimas de nossos povos, o Congresso Nacionalbrasileiro e a Assembléia Nacional francesa sãointerlocutores permanentes para todos os que estãoenvolvidos na formulação da política externa denossos dois países.

Senhor Presidente,Minha visita representa uma reaproximação

entre um grande país em desenvolvimento e um

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expressivo país desenvolvido. Brasil e França têmpeso específico e capacidade de atuação global.

Temos, nos muitos valores quecompartilhamos, a mola propulsora de umrelacionamento que tem tudo para tornar-se cada vezmais sólido e abrangente. Este é o sentido de minhapresença aqui.

É com esse espírito e com a admiração dealguém que aprendeu a fazer política no Congresso

brasileiro que peço a todos que me acompanhemnum brinde à prosperidade do povo francês, àamizade entre brasileiros e franceses, a tudo o que aAssembléia Nacional representa para a França e parao resto do mundo, e à saúde dos representantes dopovo francês e do Presidente da AssembléiaNacional, Philippe Seguin.

Muito obrigado.

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247Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhor Primeiro-Ministro,Vossa Excelência nos recebe com palavras

que são de confiança e amizade para com o Brasil eos brasileiros.

Elas traduzem um interesse sincero da Françapelas relações com o Brasil, e por isso nós nossentimos recompensados.

Desde o momento em que formulou o convitepara que esta visita se realizasse, o Presidente JacquesChirac tem sido incansável no seu compromisso como êxito das conversações que temos mantido aqui.O mesmo podemos dizer de todo o seu Governo.

As iniciativas que o Governo francês vempromovendo indicam que a diplomacia de seu paístem uma visão clara e construtiva das relações daFrança com a América Latina, em geral, e com oBrasil, em particular.

De nossa parte, esse interesse é recíproco.O Brasil quer que as relações franco-

brasileiras aproveitem os muitos impulsos positivose os inegáveis desafios que provêm de um sistemainternacional em constante evolução, dos nossossistemas regionais de integração e da nossa própriarealidade interna.

Nós queremos que as nossas relações dêemum salto qualitativo que as recoloque em um nívelcompatível com a importância relativa dos dois paísese com o sólido patrimônio de amizade e conhecimentorecíproco que acumulamos em décadas de intensointercâmbio e frutífera cooperação.

Nós queremos que a França seja um alvopreferencial no horizonte das nossas relações com omundo desenvolvido, e que o Brasil também continuea ser para a França uma referência forte em suasrelações com o mundo em desenvolvimento.

A França tem sido um parceiro de primeiragrandeza do Brasil, e isso tanto do ponto de vistacomercial e financeiro como do ponto de vista dacooperação cultural, técnica e científico-tecnológica.

E, como um dos grandes propulsores daUnião Européia, tem dado uma contribuição decisivapara que a Europa venha mantendo sua posição comoprimeiro bloco na escala do nosso comérciointernacional e dos investimentos estrangeiros noBrasil.

Senhor Primeiro-Ministro,O Brasil passou por uma revolução

democrática nos anos 80 e por uma revoluçãoeconômica nestes anos 90. Democracia, que setraduz em estabilidade, confiabilidade e transparência;e liberdade econômica, que se traduz emoportunidades e competitividade, são moedas fortesno mercado internacional da globalização e noprocesso decisório que começa tomar nova formadepois de consolidado o fim da Guerra Fria e deestabelecidos os novos desafios e riscos para acomunidade internacional.

Nós estamos participando ativamente desteprocesso em que as regras básicas estão se definindo,

Brasil - França

Palavras do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido peloPrimeiro-Ministro da República Francesa, Alain Juppé,Paris, 29 de maio de 1996

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conscientes da importância do Brasil no cenáriointernacional e de seu peso específico em sua região,convictos de que temos contribuições a dar.

O Brasil vem aumentando sua presença nocomércio e nos fluxos de investimentos e detecnologias em todo o mundo, graças aosaperfeiçoamentos que temos sistematicamenteintroduzido em nosso próprio projeto dedesenvolvimento, que alcançam também a área social,porque sabemos que sem melhorar nossosindicadores sociais as variáveis econômicas não serãocapazes de se sustentar ou de resistir às pressões daglobalização.

A abertura econômica, a desestatização —que combina privatização e quebra de monopóliosestatais em áreas que despertam grande interesse dosagentes econômicos—, a busca de novas parceriase mercados, a intensa participação no processo deintegração regional, através do Mercosul e de suasprojetadas alianças com outros parceiros, e a própriaestabilização da economia têm contribuído para tornaro Brasil um participante mais ativo do sistemaeconômico e político internacional.

Somos um mercado dinâmico e emcrescimento. Temos uma tradição de parceria compaíses que, como a França, participaram dosmomentos decisivos do nosso desenvolvimento

econômico.É imperativo, assim, que a França mantenha

e amplie essa participação quando as oportunidadesse multiplicam e as condições objetivas do Brasilevoluem positivamente.

Temos a possibilidade de oferecer uma novaagenda para as relações franco-brasileiras, umaagenda que combina parceria política e parceriaeconômica e que soma comércio, investimentos,cooperação.

Mesmo sendo diferentes em função do graude desenvolvimento econômico – e social — dosnossos países, falamos uma mesma linguagem: a dademocracia, dos direitos humanos, da liberdadeeconômica, da paz e da cooperação.

E é essa linguagem de identidade que estamosutilizando aqui, nesta visita que marca um reencontroe uma renovação.

É a esse reencontro entre a França e o Brasile a esta renovação permanente da nossa amizadeque eu quero levantar a minha taça, e por isso peçoa todos que me acompanhem em um brinde àprosperidade do povo francês, à amizade semprerenovada e intensa entre a França e o Brasil, à saúdedo Presidente Jacques Chirac e à felicidade e venturapessoais de Vossa Excelência e da Senhora Juppé.

Muito obrigado.

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É com grande honra que recebo o título deDoutor Honoris Causa pela Universidade Lumière-Lyon 2.

Agradeço ao Professor François LaPlatinepor suas palavras de apresentação, que certamentefazem justiça ao Brasil e ao seu povo, mas que, emrelação a mim, terão sido de grande generosidade emotivadas por simpatia pessoal.

A maior parte de minha vida acadêmicadesenvolveu-se em São Paulo. Ali me formei, inicieiminhas atividades de pesquisa, lecionei. Ali, comeceimeu esforço de entender o Brasil, sua complexaformação social, suas formas de inserção no sistemainternacional, sempre decisivas para a análise detantos aspectos de sua evolução.

A USP foi concebida, nos anos 30, em tornoda Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, cujacriação contou com a presença inspiradora deProfessores franceses como Claude Lévi-Straus,Fernand Braudel, Roger Bastide, Paulo ArbousseBastide e tantos outros.

Já se disse que a particularidade do espíritofrancês é sua vocação universal, a força permanentedos ideais iluministas a marcas sua melhor criaçãointelectual. Para mim, como para tantos colegas, aconvivência com a cultura francesa foi decisiva paranossa formação. Fui aluno e assistente de Bastide,devo às suas lições, sobretudo ao seu cuidado emeducar a sensibilidade para a pesquisa. E, destaforma, dar à investigação sociológica a dignidade

científica.Um grande professor brasileiro, Antonio

Cândido, mostrou como a presença francesa nosajudou a melhor entender o Brasil. Nos anos 30,lembrava Antonio Candido, os seus mestres brasileirosusavam categorias do pensamento europeu paraconstruir imagens abstratas de uma realidade vaga,ao passa que os professores franceses obrigavam aolhar o mundo circundante, recorrer às fontes locais,descobrir documentos, investigar a realidade próxima:“os franceses, usando a sua língua, empregando osseus métodos, nos punham dentro do país”. Naformulação sempre clara e precisa de AntonioCandido, encontro o melhor resumo para a liçãofrancesa: as categorias universais valem quando nosensinam a ver a realidade concreta, quandoesclarecem sobre o movimento das sociedades,quando surgem impregnadas historicamente. Braudeldizia que “o Brasil o tornou mais inteligente”. Paranós, a presença francesa nos terá ensinado a ter olhosbrasileiros para as coisas brasileiras, desde talvez avinda de Debret no início do século XIX.

Nem sempre conseguimos seguir a boa lição.Muitas vezes o fascínio com as construções teóricas,nascidas na Europa, nos iludiu sobre nós mesmos.Buscamos descrever classes sociais de queesperávamos um determinado comportamentocoletivo que o cotidiano desmentia. Imaginávamosconflitos onde a história impôs acomodações.Pretendíamos que a nossa evolução tivesse um tempo

Título de Doutor Honoris Causa

Conferência do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, por ocasião do recebimento do Títulode Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lumière,Lyon, 30 de maio de 1996

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mais rápido do que as estruturas permitiam. Dequalquer forma. aos poucos, íamos constituindo, naUSP, mas também em outros centros, um tecido depesquisa e investigação que nos dá hoje maissegurança na compreensão da realidade O trabalhosociológico, como todo o esforço intelectual, serásempre incompleto. Os desafios analíticos se renovampermanentemente, como se a vida das sociedadescontivesse sempre um elemento de surpresas, deinesperado, que foge ao melhor modelo. Hoje, emtempo de transformações rápidas e abrangentes, essaconsideração simples soa quase como turismo. Defato, as realidades do tempo de minha formaçãomudaram, e o Brasil mudou. Hoje, a dialética douniversal e do particular se repõe no marco do quese chama a “globalização” . Hoje, no brasil,superamos as tentações autoritárias e nos voltamospara construir uma democracia real, que conduza àrealização da melhor justiça oral.

No plano nacional e no meio de inserção doBrasil no mundo, enfrentamos questões complexas,tanto analítica como politicamente.

As forças uniformizadoras no plano global sãoclaras e contundentes. Atuam no plano e no plano devalores. As empresas planejam investimentos combase no mercado global. Os capitais financeiros fluemem rápida velocidade e ignoram fronteiras. Asdemandas em matéria de direitos humanos seuniversalizam.

Sabemos, porém, que as forças daglobalização, econômicas e simbólicas, não existemem vazios. Não existem como entidades que valhamem si mesmas. Na verdade, projetam-se sobresociedades nacionais que as absorvem no marco desuas históricas. De novo, o fascínio, agora ainda maisfacilmente explicado, por movimentos universais levamuitos analistas a esquecer a interação, semprecomplexa, entre o sistema mundial e as estruturas,sociais e política de cada nação. De certa maneira,ainda que tenhamos que renovar conceitos, a liçãometodológica central da “teoria da dependência”permanece válida.

A partir dessas considerações gerais, vouapresentar, como tema central de minha aula, “algunsaspectos contemporâneos da questão social”.

Se me permitem, partirei de minha experiênciade político para caracterizar o que é a agenda socialdos tempos presentes. Existem muitas definições dofazer político, mas, no cotidiano, seja no Parlamento,seja no Executivo, o nosso trabalho permanente éaceitar demandas, ordenar-lhes, procurar orientá-laem um “rumo”.

Outros falariam em um projeto, a suporabrangência e coerência que muitas vezes nos faltamno dia-a-dia.

Ora, o que eu posso observar — com basena experiência brasileira e na latino-americana querefletem a universal —, é o fato de que “a agenda dedemandas “sobre o sistema político tem crescido,de forma sustentada e contínua, nos últimos anos.

Nos anos 70, concentra-se na luta contra oautoritarismo e pelo respeito aos direitos humanos,já como reflexo de sociedades que ganhavamcomplexidade, que repeliam as soluções impostas.Atualmente, as demandas talvez tenham perdido seufoco unificador, tenham-se fragmentado, cadafragmento apoiado em atores sociais diversos. Maisprecisamente, as demandas correspondem àconstrução de novos atores sociais com “acessopolítico” ou, pelo menos, com acesso à opiniãopública.

As questões sociais clássicas, como a deeliminar a exclusão social, atenuar desigualdades,proteger os desvalidos continuam, continuam sobformas novas nos países ricos, com a persistênciadas taxas de desemprego e a carga de desesperançaque envolve. Continuam nos países pobres, em queo drama da miséria e da fome está, em muitos casos,longe de encontrar equações simples.

Mas, não se esgotam aí. A marcacontemporânea é a ampliação da agenda social. Nãoé mais a garantia de emprego o que se busca, masde uma ocupação que proteja saúde, física e moral,do trabalhador. A ocupação que permita tempo

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também para o lazer. O significado da “igualdade deoportunidades” se torna complexo em um mundo emque a educação básica não é mais suficiente paraparticipar ativamente do mercado de trabalho e dasopções de lazer.

Os processos migratórios e a facilidade comque se deslocam populações exigem novos padrõesde tolerância e modelos novos de convivência social,orientados por um grau de solidariedade que associedades raramente alcançam.

A temática do meio ambiente, dos direitoshumanos, da proteção das minorias, dos gêneros,da luta contra formas novas de criminalidadetransnacional, a questão das drogas, as questões deseguridade social abrem um leque de demandas quese renova a cada dia.

Essas observações iniciais inúmerasindagações. A expansão da “demanda por eqüidade”terá sentido universal? É um dos aspectos daglobalização? Reflete a experiência de sociedadesrecentemente democratizadas que, de forma natural,ainda não disciplinam o elenco de suas demandas?De que maneira os temas sociais se diferenciam emcada região e nação? De que meios dispomos paraatender ao novo quadro de demandas?

Respostas acabadas para essas questões nãosão conhecidas hoje. O que sabemos, sim, é que asquestões tradicionais e contemporâneas encontrama mesma origem. Nascem com a consolidação docapitalismo na Europa: nascem, portanto, quando asformações sociais perdem rigidez e a mudança seinstala como feitio necessário da vida social.

Os atores deixam de ter lugar pré-determinado em hierarquias: não existem limites paraa imaginação de reformas sociais. As profundasdesigualdades, geradas pela Revolução Industrial,encontram em pouco tempo uma resposta políticaglobal, nas várias formas da luta socialista. Aocrescimento das injustiças corresponde a esperançada máxima justiça. Ao crescimento das injustiçascorresponde a esperança da máxima justiça.

Na verdade, como sabemos, na visão

marxista, a agenda social não se separa de um projetode reforma global que desembocará no “socialismoreal” já no século XX. Paralelamente, no marco docapitalismo, a partir de lutas concretas, vá searticulando, de forma clara, um processo de avançossociais localizados. É a redução da jornada detrabalho, as primeiras formas de previdência social,a consagração dos direitos sociais e econômicos. Osdireitos políticos — e, portanto, a democracia —são o terreno em que frutifica o processo deampliação dos benefícios sociais. Em regra, é a classetrabalhadora que comanda as reivindicações edemandas, voltadas em última instância àtransformação de práticas do Estado.

Outro ponto a salientar é o da unidade deprocesso reinvindicatório, gerado até pelas referênciasideológicas que, mesmo que variassem, sealimentavam de raízes socialistas.

O marxismo foi,. para os de nossa geração,em todos os continentes,. a mais acabada utopia, jáque projetava um futuro de perfeição social e definiaseu agente construtor. Sua falência, porém,. nãoesgota a vontade de aperfeiçoamento das sociedades.Parece mesmo que o contrário ocorre. Se não existemcausas unificadoras, existe clara consciência de que,mesmo nas sociedades desenvolvidas, há o quemelhorar, que o processo de aperfeiçoamento daconvivência é inesgotável.

O traço característico de nossos tempos é,porém, o de abandonar a idéia de uma sociedadequalitativamente nova, a idéia de um “homem novo”,e trabalhar por aperfeiçoamentos concretos (maissaúde, mais educação, mais lazer, etc.). Assim eucaracterizaria a “demanda de eqüidade” em nossosdias.

Hoje, não se articula mais uma noção, desentido universal, dos mecanismos de exclusão social.À globalização corresponde um projeto detransformação social — no sentido forte, de futuroorientado pelo homem — tal como existia nomarxismo. Vimos, aliás, como a própria “aplicação”do marxismo variou em função de condições

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históricas diferenciadas na União Soviética e na China,no Leste Europeu e no Vietnã ou em Cuba.

De outro lado, a hegemonia das perspectivasliberais leva a que se veja, no livre funcionamentodas forças de mercado, a possibilidade de ganhosde produtividade em escala mundial e,consequentemente, uma produção maior de bens eserviços mais baratos. Desta forma, :a questão socialdeixaria de existir como tal e a dinâmica econômicaresolvem os problemas de exclusão. Não é isto oque está acontecendo. A globalização reforçadiferenças e desigualdades, mesmo dentro dos paísesdesenvolvidos, e coloca desafios extremamentecomplexos para os países em desenvolvimento.

Estamos assim, diante de um duplo problema.Não existe uma teoria universal que explique comoredimir a pobreza. Podemos descrever formasconcretas de exploração, mas não dispomos maisde uma teoria geral da exploração, como as que sesustentavam na extração da mais-valia ou na teoriado imperialismo. De outro lado, sabemos que, casoo mundo continue como está, se repetir o padrão decrescimento que hoje prevalece, poderemos criarmais riqueza, mas estaremos criando também maisdesigualdade, até um ponto em que ou consagraremosa agregação ou os conflitos se multiplicarãoinsuportavelmente. São cenários perversos.

O problema do político é justamente comoreverter tais tendências, como recuperar a próprianoção de que é necessário para modelar a sociedadepara uma convivência mais justa. E, também, sabera medida certa da intervenção, para que se preservea força criativa do mercado, evitando-se distorçõesconhecidas.

Na minha lista de problemas, agrego aindaoutro, também de caráter geral. Mesmo seaceitássemos a perspectiva liberal, teríamos queadmitir que os temas sociais são historicamente, emqualquer sociedade moderna, atribuição do Estado.Os limites de atuação são dados, de um lado, pelamoldura ideológica das ações de Governo, que temvariado das soluções sociais-democratas às menos

intervencionistas, no modelo anglo-saxão e, de outropelas próprias possibilidades reais, financeiras egerenciais, de cada situação nacional.

O fato é que, se examinamos as sociedadesdesenvolvidas, um ingrediente importante da criseoficial dos Estados deriva justamente do esgotamentode soluções — historicamente e, alguns casos,dolorosamente conquistadas — para problemasfundamentais, como o da seguridade social. É evidenteque, em sociedade como a brasileira, a crise fiscal sedesenhou quando ainda estávamos longe de oferecerserviços sociais mínimos para a população.

Nos Estados em desenvolvimento,especialmente os que estabeleceram basesdemocráticas, como os da América Latina, aexpansão da agenda social ocorre tendo como pano-de-fundo uma dívida social não resgatada.

Prossegue a luta por direitos básicos, emtermos de saúde, educação e, muitas vezes, pelodireito à própria vida.

O quadro de dificuldades não nos deve imporatitude pessimista. Na verdade, este quadro éambíguo.

Quais são os aspectos positivos?Em primeiro lugar, como apontei, a própria

constatação de que a agenda social se amplia. Opasso inicial de qualquer mudança é a conformidadede ideais, e estes existem. Não tem mais a atraçãodas construções fechadas de utopias totalizantes.Guardam, porém, a vitalidade do que tenho chamado“utopias concretas”. Algo que é, possível perceberde forma muito clara e, portanto, construir.

Em segundo lugar, o fato de que a vidainternacional passa a gerar pressões sobre o Estadonacional, que permanece como alvo de cobrançasdecorrentes de valores construídos pela comunidadeinternacional.

Ao proporcionar maior velocidade natransmissão de informações e mais fácil acesso a essasinformações, o fenômeno da globalização operatambém em favor de uma certa uniformização devalores. Esse fenômeno tem como efeito a tendência

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a que as condições sociais de um determinado país,e consequentemente as suas políticas sociais, sejamsubmetidas ao escrutínio e à pressão internacionais apartir de parâmetros de avaliação homogêneos.

Os resultados das conferências temáticas daONU, o trabalho constante das ONGs, a ação dosmovimentos sociais constituem a base política desseprocesso, que é essencialmente positivo. Pode sofrer,contudo, duas distorções, a primeira, a daseletividade (a media seleciona questões sociaiscontundentes e não disseca as estruturas que asproduzem) e, segunda, a da fragilidade dos meios decooperação internacional, que acabam orientados porproblemas episódicos.

De fato, os desafios da globalização — sepensarmos, p.e., nos eleitos sobre o emprego doinvestimento em tecnologias de ponta, na forçaperturbadora dos fluxos de capital sobre padrões decrescimentos, nas conseqüências sociais de crimestransnacionais, etc — não encontraram, ainda, oarcabouço de idéias e instituições reveladoras denovos e efetivos padrões de cooperação. Estamosdiante tanto da necessidade de correntes constantesde assistência humanitária para países como danecessidade de sofisticados mecanismos para evitaros efeitos perversos da volatilidade de capitais.

Talvez um dos pontos centrais do teste dashipótese de uma disposição dos Estados paratrabalhar modelos novos de cooperação seja areforma da ONU e das instituições econômicasmultilaterias, sobretudo se entendermos que umaredefinição abrangentes de seus mecanismos é omelhor caminho para darmos uma respostapoliticamente inteligente aos desafios da globalização.Há diversos problemas que hoje adquiriram dimensãoverdadeiramente global. No entanto, as instituiçõespolíticas, econômicas e financeiras internacionaisforam concebidas e criadas no final dos anos 40,seus mecanismos decisórios elaborados numcontexto político mundial completamente diferente doatual. O “aggiornamento” destas instituições é umimperativo e o Brasil está pronto a dar para tanto

sua colaboração.Em terceiro lugar, a capacidade de criação

de bens da economia moderna. Talvez hoje estejamosperto de visualizar o que Marx antevia como um “reinode abundância“, determinado pelo formidávelprogresso das forças de produção desencadeadopelo capitalismo. É claro que a possibilidadehipotética de produzir não significa que haveráprodução ou que a produção será distribuída emeqüidade.

O cerne do desafio econômico é político, naforma. em que definirmos os modos de apropriaçãodas imensas possibilidades de riqueza que sedescortinam hoje. O que sabemos, sim, é que asdeterminações de um modo de produção não sãoabsolutas e é suficiente para tanto examinar asvariações possíveis no próprio marco do capitalismo.As ineqüidades, que se repetem em tantas formaçõessociais em países em desenvolvimento, não sãoinflexíveis.

Como superá-las?Passo agora ao quarto ponto de minha lista

positiva, justamente a expansão da democracia.Algum analista apontava para o fato de que, hoje,cerca de 40% da humanidade vive em regimesdemocráticos comparados com talvez 2 ou 3% em1800 e 10% em 1800. É hoje possível correlacionara expansão das instituições democráticas com osavanços sociais, nos diversos planos nacionais emesmo no plano internacional, na medida em que searticulam formas de pressões sistêmicas quefavorecem as liberdades. A possibilidade de modelaras estruturas sociais, para favorecer os excluídos,tem origem no momento em que se dá voz aosexcluídos, tarefa primeira de qualquer sociedadedemocrática. A rigor, não é o Estado o promotordos benefícios sociais: será simplesmente o agentede forças que lhe são anteriores, que o modelam.

Quando o Estado assumiu autoritariamentea solução dos problemas sociais, as conquistas, aindaque reais, dificilmente conseguiram adquirir a vocaçãoda permanência. E, mais grave, foram obtidas a um

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custo, em termos de liberdade, altíssimo. É nestecontexto que vejo o Brasil de hoje, sobre o qual fariauma breve referência. Tenho dito que o Brasil é umpaís injusto. Os exemplos mais contundentes dainjustiça são conhecidos pelos brasileiros e pelaopinião pública internacional. Não é precisodescrevê-los. Mas somos um país em movimento,porque as instituições democráticas se consolidame, mais do que isto, a sociedade se articulademocraticamente. A velocidade e a difusão dosmovimentos comunitários, das ONGs, a presençacrítica rigorosa dos meios de comunicação em massa,o debate parlamentar abrangente são as expressõesmais evidentes da situação democrática brasileira.

Não podemos escamotear a realidade deinjustiça e, ao conhecê-la, a ação política terá umrumo necessário. E claro que a superação dosproblemas sociais não se fará do dia para a noite,por passes de mágicas, pois o Brasil de hoje éresultado de um longo processo histórico e cultural.

É claro que as mudanças dependem de lutapolítica. Existem setores que se beneficiam dassituações injustas, que não prefeririam a simplesprodução dos padrões sociais vigentes. Minhaconvicção é a de que estes setores não serão osvencedores.

Gostaria, ainda, de examinar, para concluir,umas tantas conseqüências da situação brasileira,especialmente a maneira pela qual a democraciamodela certas linhas de ação do Governo.

Como promover as necessárias reformasinternas?

No caso de um país em desenvolvimentocomo o Brasil, este processo passaria por quatropontos essenciais:

a) o primeiro desses pontos diz respeito ànecessidade de tratar simultaneamente o econômicoe o social. Está definitivamente superada a visão deuma política que impere, autônoma e absoluta, emrelação à política social, também esta vista de formaautônoma, mas subordinada, cabendo à segundapapel meramente corretivo dos efeitos perversos da

primeira. Deve haver plena articulação entre ambasse aspiramos a um progresso efetivo. É inegável quenão se pode avançar solidamente no plano social semuma base econômica estável, mas é igualmenteindiscutível que o crescimento econômico sematenção prioritária ao bem-estar da população évazio e, portanto, desprovido de sentido.

b) a necessidade de que amplie e aprofundeo debate político, alargando-se para tanto o espaçopúblico aberto à participação da população. A razãosó será bem constituída se estiver o acesso livre detodos os grupos sociais no debate. A expansão daesfera pública é, pois, essencial para odesenvolvimento de mecanismos eficazes de inclusãosocial. É preciso dar voz a quem não tem capacidadede defender seus próprios direitos.

É preciso também reforçar o papel do homempúblico, do Estadista, em todos os níveis de Governo,em todos os poderes da República. Estadista é quemvisa ao predomínio do interesse geral sobre oparticular e quem tem capacidade de liderar oprocesso de transformações, construindo ascoalizações e associações de interesses para tornarrealidade as mudanças necessárias. O crescimentoda importância do papel do Estado nos processosde mudança social incorre, principalmente. do fatode que, no mundo contemporâneo, pulverizaram-seos atores capazes de atuar no sentido da mudança,sem que um prevaleça sobre outro. Não há mais omonopólio de um determinado agente social — umaclasse ou um grupo — para promover astransformações. E é por isso que, numa sociedadeque define democraticamente as suas prioridades, oEstadista tem um papel a catalisador nas açõeseconômicas, políticas e sociais;

c) é preciso reorientar a ênfase do conjuntode ações sociais do Governo na direção deproporcionar igualdade de oportunidades para todos,promovendo, para tanto acesso universal aos serviçospúblicos básicos, em especial educação e saúde. Essacaracterística é essencial para que nós quebremosas assimetrias existentes. Quando defendendo a

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igualdade de oportunidades, no sentido mais nobreda social-democracia, não estou querendo dizer quechegaremos a uma sociedade igualitária, em termosde padrão de vida, de consumo, de renda. Aigualdade é essencial para que haja maior nivelamentono início da trajetória individual de cada um doscidadãos, permitindo que o talento e o trabalho sejamreconhecidos e justamente recompensados. Aigualdade de oportunidades está assim na própriabase do conceito de liberdade. E nisso sou um grandeadmirador de Tocqueville;

d) para desempenhar a contento o seu papelde promotor de maior igualdade e oportunidades otamanho do Estado não pode ser definido a priori,com base em opções ideológicas. O tamanho doEstado será aquele necessário para bem poderdesempenhar sua função social. O Estado precisaser redefinido, suas prioridades redesenhadasdemocraticamente para poder acompanhar osimperativos ditados por um modo de produçãointensivo em conhecimento. Rediscutir o papel doEstado não significa reduzir sua importância; significa,ao contrário, dotá-lo de instrumentos mais eficazesde gestão e controle, fazê-lo prestar contas de seusatos à população de forma permanente, reforçando

assim seu papel num momento em que muitosacreditaram que a globalização e as forças demercado seriam capazes, por si sós, de ditar o ritmoda vida política, econômica e social.

Os rumos da globalização precisam serbalizados politicamente. E para isto, não podemosrenunciar ao ideal de um Estado cujo poder sejanecessário para colocar o social como prioridade.Não se trata de falar de um Estado mínimo oumáximo, grande ou pequeno, mas sim do Estadonecessário.

Quero terminar minhas palavras com umtributo à vida universitária francesa, de que pudeparticipar de tantos momentos. A minha convivênciacom intelectuais e amigos, como Touraine, Foucault,Aron e tantos outros, as aulas no College de France,a convivência com os alunos em Nanterre nos diasdramáticos de 68, são lembranças fortes epermanentes. Depois do aprendizado com Bastide,essas passagens significaram invariavelmente arenovação de minha admiração pela França, pelainteligência francesa. Daí, a minha alegria pelo títuloque agora recebo.

Muito obrigado.

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Vim à França com o espírito de dar às relaçõesfranco-brasileiras o caráter de uma parceria renovada,compatível com a qualidade que o nossorelacionamento adquiriu ao longo de muitas décadase que responda aos desafios e oportunidades que seabriram para nós e para nossas respectivas regiõesno mundo da globalização e do fim da Guerra Fria.

Todos conhecem a intensidade dos laços queme unem pessoalmente à França. Aqui completeiminha formação de sociólogo e de professor. Aquitive acesso aos elementos que me permitiriam formar-me como homem político com sensibilidade para asdimensões social e cultural do desenvolvimento,porque essa é a lição que a França ajuda a ensinarao mundo.

Mas não sou só eu que devo uma parte daminha formação à França e à cultura francesa.Também o Brasil recebeu e incorporou em suaformação multicultural os valores e as contribuiçõesque a França deu ao mundo.

Há na relação entre nossos países o traçodas antigas amizades, do interesse que perdura háséculos. A França é, de fato, uma referência básicados brasileiros no mundo exterior, e sua contribuiçãopara a formação da cultura nacional brasileira foi muitoalém do interesse dos estudiosos franceses pelarealidade social, cultural e física do Brasil. MinhaUniversidade, a Universidade de São Paulo, porexemplo, foi fundada por grandes nomes da

intelectualidade francesa deste século, com Lévi-Strauss e Fernand Braudel à frente.

Isso basta para expressar a magnitude dapresença francesa no Brasil e a importância dasrelações tanto para nós quanto, acredito, para ospróprios franceses.

Esta visita a Lyon assume para mim umsignificado muito variado. Em primeiro lugar, paraquem fez vida universitária na França, ensinando eaprendendo, é uma honra ser homenageado pelaUniversidade de Lyon com o título de Doutor HonorisCausa. A qualidade acadêmica e intelectual daUniversidade, dos seus professores e alunos, muitosdos quais brasileiros que aqui nos acompanham hoje,é razão mais do que justificada para que eu me sintasensibilizado pela homenagem que me é feita.

Em segundo lugar, já em uma outra dimensão,porque é da maior importância que uma visitapresidencial concebida para relançar as relações doBrasil com a França se estenda pela provínciafrancesa, e particularmente a Lyon, cidade de grandepujança industrial e grande vitalidade cultural.

É preciso que a diplomacia incorpore cadavez mais no seu planejamento e na sua execução adimensão dos países que está fora das capitais. Nomundo de hoje, é necessário compreender que aatividade diplomática não pode ficar restrita aodiálogo das capitais.

É fundamental que o interior participe de

Brasil - França

Brinde do Senhor Presidente da Replública, FernanadoHenrique Cardoso, por ocasião do almoço oferecido peloMinistro da Defesa da França na prefeitura da região deRhône-Alpes, Lyon, 30 de maio de 1996

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forma mais intensa das relações exteriores, e que sejaobjeto do interesse refletido e deliberado dosgovernos e dos agentes econômicos.

O interior dos nossos países é cada vez maisa mola propulsora do desenvolvimento econômico,social e intelectual. É ali onde se encontra muitas vezesa melhor combinação dos traços mais definidores danacionalidade de um povo com a sua capacidade deprogredir e de inserir-se no mundo com a velocidaderequerida pelas mudanças.

O interior do Brasil também é uma prova deque fora dos megacentros industriais existecriatividade, trabalho intenso e muitos resultados noscampos social e econômico.

Por isso, é importante que no Brasil seconheça melhor o que é o interior da França e setenha consciência de que uma parte importante dasnossas relações com este país vai além da regiãoparisiense.

Também por isso é importante que osfranceses conheçam melhor o interior do Brasil esaibam que existe um Brasil imenso fora das nossas

grandes cidades, um Brasil que trabalha e progride,dando uma contribuição insubstituível ao nossodesenvolvimento.

Porque, de forma muitas vezes discreta, masmuito eficiente, é das áreas rurais, das pequenas emédias cidades ou dos centros distantes das capitaisque provêm os maiores estímulos ao progressomaterial e espiritual de um povo.

É isso o que se vê nesta região de Rhône-Alpes. É isso o que se vê nesta cidade de Lyon.

É portanto como uma homenagem a estaparte da França, que representa todas as demaisregiões do interior, que eu peço a todos que comigobrindem à prosperidade do povo francês, àsexcelentes relações de amizade que unem a Françae o Brasil, à saúde do Presidente Jacques Chirac e àfelicidade e ventura pessoais do Ministro CharlesMillon, do Prefeito da Região Rhône-Alpes eSenhora Paul Bernard e do Prefeito de Lyon eSenhora Raymond Barre.

Muito obrigado.

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Senhoras e Senhores,É com grande satisfação que venho à Escola

Superior de Guerra participar deste ciclo deconferências sobre a política externa brasileira. Aformulação e implementação de uma política externaexige exercícios constantes de reflexão sobre seuspróprios fundamentos e é neste contexto que sedestaca a tradição de intercâmbio entre o Itamaratye a Escola Superior de Guerra.

As apresentações já realizadas ofereceramuma visão ampla de vários aspectos políticos eeconômicos de nossa diplomacia. Caberia agoracomplementar esse panorama, e, com este objetivo,pretendo discutir a execução da política externa, istoé, as formas e a capacidade de atuação do Itamaraty.O enfoque será, portanto, institucional, destacandoo que a Casa faz, a sua especificidade e os meioscom que conta.

A execução da política externaAinda que atividades de âmbito ou de

projeção internacional sejam, direta ou indiretamente,desempenhadas por diversas instâncias do GovernoFederal e, em menor medida, pelos governosestaduais e municipais, a execução da política externaé atribuição do Ministério das Relações Exteriores.Sob a liderança do Presidente da República e emcoordenação com os outros órgãos do Governo,cabe ao Itamaraty essa complexa missão e é o seuexercício que o singulariza como unidade

governamental ante as demais.A natureza da política externa é dual. Ela

obedece à articulação entre o interesse nacional e asperspectivas no âmbito internacional. Trata-se,portanto, da defesa externa de anseios domésticos.Assim, a tarefa do Ministério das Relações Exteriorescomo executor da política externa brasileira é buscarfazer prevalecer os interesses específicos da nossasociedade, por meio do diálogo e da cooperaçãocom os demais países.

Este exercício requer, do Itamaraty, umaatuação em sentidos complementares. De um lado,a atuação do âmbito Interno para o Internacional: oMinistério procura “ouvir” a sociedade e traduzir seusinteresses, necessidades e valores nas ações externasdo País. De outro, a atuação do âmbito Internacionalpara o Interno: o Itamaraty avalia as perspectivas econstrangimentos externos e procura informar eorientar a sociedade.

Não basta que o Ministério procure fazervaler os interesses domésticos em meio externo; épreciso também que a sociedade conheça asoportunidades e desafios internacionais para melhoravaliar as suas opções e pontos de vista. Cabe aoItamaraty analisar o contexto internacional — suastendências, configurações de poder em cada questão,os obstáculos a interesses específicos — para melhorinformar a sociedade, a fim de que suas escolhassejam realistas e compatíveis com os recursos depoder e a capacidade de atuação externa do País.

Escola Superior de Guerra

Palestra do Secretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros, na Escola Superiorde Guerra sobre “ A execução da Política ExternaBrasileira”, Rio de Janeiro, 31 de maio de 1996

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260 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Princípios da política externa brasileiraO exercício da política externa deve ainda

fundamentar-se em princípios, que tradicionalmentecaracterizam a atuação diplomática brasileira, comoa prevalência do interesse público e nacional sobre oparticular. O Itamaraty procura defender objetivosnacionais, que atendam à sociedade com um todo, ea defesa do interesse particular só poderá ocorrerquando em harmonia com aquele. Para que sejadefendida pelo Ministério, em sua atuaçãointernacional, a reivindicação privada — o interesseespecífico de uma empresa, grupo, entidade oucidadão brasileiro — deve coincidir com os interessesdo País e com valores que informam a imagem doBrasil no exterior e sua atuação diplomática, como orecurso à solução pacífica de controvérsias, a defesada não-intervenção e da autodeterminação dos povose a ênfase na busca do desenvolvimento.

O outro princípio é o da prevalência da visãode futuro sobre o imediatismo. O Itamaraty procuraatuar tendo em vista a perspectiva de longo prazo,evitando modismos, soluções circunstanciais eprecipitações que desconsideram dificuldades futuras,o grau de desgaste político e a eventual perda decredibilidade. O anseio mais imediato é avaliado combase nos seus benefícios e custos no futuro, não emseus resultados mais visíveis e freqüentemente deapelo mais fácil.

A credibilidade internacional de um paísdepende, em grande medida, de uma atuação externafundada no respeito a valores e princípios. Apendularidade, o recurso a decisões de impacto, asflutuações ideológicas e o oportunismo diplomáticotendem a corroer a confiança junto aos demais paísese a minar a credibilidade externa. Um dos patrimôniosdo Itamaraty e da diplomacia brasileira é o legadode uma atuação fundada em valores permanentes,que conferem regularidade ao comportamentoexterno do País e, portanto, à sua própriarespeitabilidade como interlocutor de seus parceiros.

Este patrimônio é tanto mais precioso porqueos valores que o constituem decorrem do espírito de

moderação que caracteriza o povo, a História e adiplomacia brasileira. O relacionamento harmoniosocom os países vizinhos, o recurso ao diálogo e àcooperação, a defesa permanente da paz e dodesarmamento e o respeito ao Direito Internacionalsão todos fatores da imagem de um país que se fazrespeitar no cenário internacional e de uma diplomaciaque inspira confiança e credibilidade. Como um dosresponsáveis pela construção e preservação destelegado de respeitabilidade, cabe ao Itamaraty atuarnão apenas com vistas a objetivos imediatos, mastambém — e sobretudo — de olhos postos no futuro,ou seja, em obediência ao imperativo de manter acoerência de nossa atuação diplomática.

A observância de princípios e valores nãosignifica, no entanto, que a ação externa devadegenerar em dogmatismo ou principismo extremado.É necessário dispor de pragmatismo e flexibilidadeno tratamento das questões internacionais, quandomenos pelo caráter mutável da agenda internacional,das configurações de poder entre os países e dopróprio estadio de desenvolvimento do País. Porvezes, a mudança tópica é condição para o respeitoa objetivos mais gerais e permanentes. O exercícioda flexibilidade e do pragmatismo não pode,entretanto, implicar o abandono de valoresinvioláveis, que constituem a própria identidade daatuação diplomática do Brasil. Na verdade, orespeito a princípios que nos são caros e o recursoao pragmatismo moderado devem complementrar-se no propósito maior de assegurar os interessesnacionais. O Ministério das Relações Exterioresprocura atuar, portanto, com base em objetivosnacionais permanentes — paz, desenvolvimento,cooperação — e, apenas quando conciliáveis comestes, atua em defesa de objetivos particulares eimediatos reivindicados por grupos ou nacionais.

Formulação e coordenação da política externaInspirado por objetivos permanentes, o

Itamaraty desempenha duas tarefas primordiais queantecedem a execução da política externa: a

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formulação de suas diretrizes gerais e a coordenaçãocom os demais órgãos do Governo e entidades civis.

O processo de formulação da política externacompreende, de um lado, a interpretação e avaliaçãoda realidade internacional e, de outro, a identificaçãodo interesse nacional, em cada uma das situaçõesapresentadas, a partir das necessidades domésticase dos constrangimentos externos. O Itamaraty atuacom base no pressuposto de que a política externabrasileira não pode ser meramente reativa ante osacontecimentos e tendências das relaçõesinternacionais. A ação externa não deve ser umasimples sucessão de respostas caso a caso, sem ummínimo de coerência e articulação de objetivos, meiose princípios. Ao contrário, cabe ao Ministério cotejarinteresses domésticos e a realidade internacional, paraformular diretrizes gerais de atuação que irão permearas escolhas e decisões em cada um dos itens daagenda diplomática. Fundada nestas diretrizes, apolítica externa ganha sentido e torna-se instrumentopara os objetivos mais amplos do Governo e dasociedade.

A tarefa de coordenação da política externacompreende, de um lado, o trabalho de informaçãoda sociedade sobre a realidade internacional e, deoutro, a tarefa de harmonizar posições entre os grupossociais e as diversas instâncias governamentais sobretemas da pauta diplomática. Sob a liderança doPresidente da República, devem combinar-se ointercâmbio de pontos de vista entre Governo esociedade e a coordenação de posições entreMinistérios e entre os Poderes Executivo, Legislativoe Judiciário.

A importância do trabalho de coordenaçãodeve-se à grande multiplicidade e complexidade dostemas da política externa. A multiplicidade de temasexige do diplomata transitar por áreas tão distintasquanto comércio exterior, meio ambiente,desarmamento, direitos humanos, ciência etecnologia, transportes, comunicações, terrorismo enarcotráfico. Não basta, no entanto, que o agentediplomático conheça de modo profundo a realidade

nacional e tenha uma formação ampla capaz dehabilitá-lo a negociar temas de natureza variada. Acomplexidade de cada um dos assuntos exige aarticulação do Itamaraty com os demais Ministériose órgãos do Governo, a fim de que o trabalhodiplomático reflita o tratamento preciso e abalizadodos temas, mantendo a necessária coerência com asposições e políticas que o Governo brasileiro adotano plano doméstico.

O acesso à informação e a exigência do regis-tro histórico

A execução da política externa pelo Itamaratyobedece ainda a dois cuidados básicos: o acesso àinformação e a exigência do registro histórico.

Em consonância com o regime democráticoe com o imperativo de prestação de contas àsociedade, o Ministério procura oferecer amploacesso à informação. É nossa preocupação atuar daforma mais transparente possível. A chamada“diplomacia secreta”, de decisões de gabinetes e derestrições à circulação de informações só se justificaem algumas situações extremas, em que a segurançado Estado, o andamento das negociações com outrospaíses ou o controle de informações econômico-financeiras que podem ser utilizadas maliciosamenteexigem o tratamento sigiloso. À exceção destes casos,a sociedade deve ser permanentemente informadanão apenas porque o Governo deve prestar contade seus atos, mas também para que a sociedadepossa reagir e ter seus interesses registrados noprocesso de formulação política.

Um exemplo recente da necessidade demelhor informar o público sobre as ações da políticaexterna foram as discussões sobre os benefícios dasviagens presidenciais ao exterior. Um tratamentosimplificado por parte da imprensa deixou a falsaimpressão de que as visitas realizadas pelo SenhorPresidente da República rendiam escassos ganhospara o País. Uma das razões para esta interpretaçãoera justamente o fato de que se noticiava apenas aviagem em si, em seus aspectos protocolares, não a

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evolução do relacionamento entre o Brasil e o paísvisitado a partir de então. Os fluxos de investimento,a criação de empreendimentos conjuntos, ointercâmbio científico e tecnológico, ocomportamento da balança comercial e a afinidadede posições em foros internacionais são aspectos quepodem ser influenciados por gestos políticos deaproximação como as visitas de alto nível.

Por não serem sensacionais e por issoreceberem menor atenção da imprensa de massa,esses dados acabam, no entanto, por não seremtransmitidos à sociedade, o que exige do Itamaratyum esfoço adicional de divulgação e informação. Poresta razão, temos intensificado os contatos com aimprensa e a sociedade civil de maneira geral.

Outro cuidado do Ministério das RelaçõesExteriores na condução da política externa é aexigência do registro histórico: todas as decisões depolítica externa devem ser registradas, o que justificao empenho do Itamaraty tanto na preservação deum processo de decisão fundamentado na circulaçãode expedientes quanto na manutenção dos arquivoshistóricos. O compromisso da chancelaria estabelece-se, portanto, com as gerações presentes e futuras,seja pelo acesso às últimas informações sobre apolítica externa, seja pela preservação da memóriade nossa diplomacia.

Um dos maiores trunfos do Itamaraty é termemória institucional que remonta praticamente àépoca da Independência do Brasil.

Atuação diplomáticaComo instrumento primordial da execução da

política externa, o desempenho da atividadediplomática desdobra-se em três funções básicas: arepresentação, a negociação e a informação.

O trabalho de representação, embora o maissimbólico dos três, é o requisito fundamental para aatuação diplomática. Ao ser investido na função derepresentante de seu Governo junto a outro país, odiplomata personifica o Estado que representa: é, aomesmo tempo, uma espécie de porta-voz e de

procurador. Nessas condições, suas ações e palavrasjamais podem dizer respeito à sua condição pessoal.São expressões do Governo que o enviou comorepresentante. Somente sob esta condição podedesempenhar as demais funções associadas aodiplomata: negociar e informar.

A negociação exige do diplomata umapreparação constante. Requer o conhecimento daquestão discutida, a capacidade de avaliar o jogo deforças entre as partes e a habilidade da negociaçãoem si. Permito-me, aqui na Escola Superior deGuerra, traçar um paralelo entre o processo denegociação e as iniciativas militares. Três requisitossão fundamentais em ambas as situações: apreparação prévia, o conhecimento do poder doadversário e a habilidade no momento da ação.

Com certa cautela, seria possível aindaestabelecer uma segunda correlação entre negociaçãoe guerra, a que se refere aos resultados. RaymondAron, que, além de eminente sociólogo, foi um dosprincipais teóricos das relações internacionais,afirmava, inspirado em Clausewitz, que a guerra deveobedecer a um objetivo político, não merecendo serlevada ao paroxismo numa lógica de fins puramentemilitares. Neste sentido, nem sempre a vitória absolutae o aniquilamento total do inimigo seriam os resultadosque mais conviriam a determinado Estado. Asatisfação gerada pela vitória total esconderia osriscos do ressentimento, do rearmamento doadversário e da recorrência do conflito. Aronpergunta-se, por exemplo, se haveria Segunda GuerraMundial caso a Alemanha não sofresse uma derrotatão dura não só nos campos de guerra, mas tambémna mesa de negociação da paz em Versalhes. A vitóriatotal dos aliados revelar-se-ia uma vitória provisória,até novo conflito eclodir em 1939.

Esta lógica do equilíbrio da vitória, temperadapela perspectiva política, também é um elementoindispensável para o sucesso e a permanência dasdecisões alcançadas por meio da negociaçãodiplomática. O diplomata, quando negocia, deve terem mente que os resultados pretendidos não devem

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ser alcançados ao custo da insatisfação de seuinterlocutor. O descontentamento de uma das partesé quase sempre condição para minar o processo denegociação, seja pelo risco de sua interrupção antesde serem tomadas as decisões, seja porque, mesmoquando adotadas, as decisões tenderão a serrejeitadas em momento posterior por uma das partes.O exemplo mais evidente é o dos acordosinternacionais assinados entre dois ou mais governos.O sucesso da negociação só será completo se o seuresultado for de tal maneira satisfatório para as partesa ponto de todos os Governo envolvidos aprovareminternamente e ratificarem o acordo.

Quanto à terceira função básica da atividadediplomática, a informação, pode-se dizer que odiplomata dispõe de condição privilegiada para colhê-la e transmiti-la ao seu país.

Como foi dito anteriormente, o acesso dasociedade às informações que podem embasarescolhas da política externa é uma diretriz que orientaa atuação do Itamaraty e, neste sentido, o trabalhodo diplomata no exterior é indispensável, pois é elequem pode recolher os dados relativos à situaçãopolítica e econômica do país em que está lotado.Quando bem executado, este trabalho não devecircunscrever-se à mera coleta de dados, que, dequalquer modo, poderiam ser obtidos por outrosmeios, como a imprensa; deve compreender tambémum exercício de análise e de interpretação, quesubsidie as ações da Secretaria de Estado em Brasília.

Prestação de serviçosO Ministério das Relações Exteriores atua

também por meio da prestação de serviçosespecíficos, de que se beneficiam tanto o poderpúblico quanto indivíduos, associações e empresas.Neste segundo campo, realiza-se, em conformidadecom o princípio de prevalência do interesse público,uma filtragem das solicitações feitas. Identificam-seinteresses particulares que vão ao encontro dosobjetivos nacionais e contribuem para que sejamalcançados. Essa revisão crítica de demandas - cujo

número tem aumentado rapidamente com a expansãoda agenda internacional e o aprofundamento doprocesso de inserção internacional do Brasil - permiteevitar qualquer tendência de “privatização” da atuaçãodo Itamaraty.

A rede de contatos do Itamaraty é das maisextensas da administração pública, pois a área deatuação dos diferentes órgãos possui muitofreqüentemente uma dimensão externa, que tende,no contexto da globalização, a aprofundar-se e queexige da chancelaria contribuições contínuas.

Essas contribuições se realizam, inclusive, soba forma de cessão de profissionais formados peloInstituto Rio Branco. A Presidência, Vice-Presidênciae Ministérios, por exemplo, possuem, em suasestruturas próprias, assessorias internacionais,ocupadas geralmente por diplomatas. Taisassessorias, e outras unidades dos órgãos executivos,mantêm diálogos contínuos com o MRE sobre suaspolíticas setoriais.

Tomemos como exemplo a área de ciênciae tecnologia. Ninguém ignora a importância que apesquisa científica e sua aplicação aos processosprodutivos passaram a ter para o desenvolvimentonacional. O avanço do conhecimento ofereceperspectivas inéditas para os países que foremcapazes de acompanhar seu ritmo e, pelo mesmomotivo, traz o risco de uma rigorosa cisão entrenações detentoras e desprovidas de capacidadecientífico-tecnológica. Na era da conectividadeeletrônica, em que a informação ultrapassa fronteirascom a velocidade de um comando de teclado, oaspecto internacional de qualquer política científicase aprofunda e evidencia. Respondendo a estatendência, o Ministério de Ciência e Tecnologia e oItamaraty, sob a orientação da Presidência, trabalhamem estreita coordenação, consolidando posições eestratégias brasileiras frente às novas configuraçõesdo cenário internacional.

O MRE cumpre igualmente a função deinformar o Congresso a respeito dos temas da agendainternacional. Cabe ao Legislativo acompanhar a

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execução da política externa e, por vezes, aprovaralguns de seus atos específicos; é o caso, porexemplo, da ratificação de acordos celebrados peloBrasil. Por outro lado, várias normas internasrepercutem no relacionamento externo do País. Istocria para o Itamaraty a tarefa de subsidiarconstantemente o trabalho da Câmara e Senado,enquadrando discussões tópicas no contexto denossa inserção internacional. Fora este apoio aatividades permanentes do Congresso, é precisoresponder também a solicitações pontuais, feitas porpalamentares com base em comunicações recebidasde eleitores, associações profissionais e outrosnúcleos de organização comunitária. A meta do MREé a de garantir transparência em seu diálogo com asociedade, o que torna o relacionamento com osrepresentantes legítimos da população um fator decapital importância.

Dentre os serviços prestados ao público emgeral, podemos mencionar de início a assistência abrasileiros no exterior, tarefa tradicional da diplomaciaque o Itamaraty assumiu como prioritária, emcumprimento de orientações estabelecidas peloPresidente Fernando Henrique Cardoso.

Como instrumento dos interesses nacionais,a política externa acompanha necessariamente aevolução da sociedade. O Brasil revela, em temposrecentes, uma inversão da direção tradicional de seusfluxos populacionais: a vinda de imigrantes, quecristalizou uma nacionalidade pluralista e harmônica,paulatinamente abriu espaço para um movimentosignificativo de brasileiros que seguem para o exterior.

Hoje, já nos aproximamos de um total de 2milhões de brasileiros que vivem fora do País,sobretudo nos Estados Unidos, América do Sul,Japão e Europa Ocidental. A saída desses nacionais,freqüentemente provocada pela crise econômica quesó recentemente logrou-se controlar, não implicaruptura com o País. Pelo contrário, as manifestaçõesconstantemente recebidas por nossa rede consular eo volume de recursos que são anualmente remetidospor brasileiros no exterior - estimados em

aproximadamente 3 bilhões de dólares anuais -comprovam a permanência de profundos vínculoscom a pátria e do desejo de retornar.

Ao número de nacionais emigrados, devemosacrescentar os 3 milhões de turistas brasileiros queanualmente viajam ao exterior. Configura-se, dessemodo, contingente expressivo de potenciais usuáriosde nossos serviços consulares, que englobam, entreoutros, atos notariais, assistência e defesa de direitos.É importante notar o sentido político deste apoio: aatuação do consulado traduz o interesse do Estadopor seus nacionais afastados e sua determinação emprotegê-los. Representa, por isto, um fator depreservação da cidadania, cujas exigências formais,no tocante ao cumprimento de obrigações referentesao serviço militar, justiça eleitoral e receita federal,são atendidas por intermédio da repartição consular.

Buscando responder ao desafio assimconstituído, o Itamaraty reforçou sua estrutura emBrasília - por meio da criação da Diretoria-Geral deAssuntos Consulares, Jurídicos e de Assistência aBrasileiros no Exterior e do Núcleo de Assistência aBrasileiros - e no exterior, com a abertura doConsulado-Geral em Tóquio. Outra importanteinovação foi a implementação de missões consularesitinerantes, que levam serviços e apoio a nacionaisque enfrentam dificuldades para deslocar-se até arepartição consular mais próxima.

Gostaria de referir-me aos Conselhos deCidadãos, foros de discussão informais e apolíticosque reúnem autoridades consulares e representantesdas comunidades de brasileiros no exterior. Essasunidades, que vêm se constituindo nos EstadosUnidos, Japão e Europa, comprovam o interesse doItamaraty em trabalhar junto com a sociedade,ouvindo seus problemas e suas críticas e debatendopossíveis soluções e iniciativas. Com o mesmoobjetivo de melhor assistir os brasileiros no exterior,também estamos divulgando informações sobre asatividades do nosso setor consular por meio dadistribuição de cartilhas.

O MRE atua também na área de promoção

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comercial, estimulando as exportações brasileiras debens e serviços, identificando oportunidades deinvestimentos, disseminando informações sobreoportunidades existentes em mercados internacionaise contribuindo para a transferência de tecnologia.Com isto, contribui-se para uma participaçãobrasileira mais intensa na dinâmica econômicainternacional, fator de crescente relevância para odesenvolvimento do País.

O apoio oferecido destina-se sobretudo àspequenas e médias empresas – cuja capacidade decaptação de informação é, naturalmente, menor - oque não implica em absoluto exclusão de gruposmaiores. Neste contexto, o Itamaraty tem trabalhadoem estreita coordenação com o SEBRAE. Emdezembro de 1995, tive o prazer de firmar em Brasíliaprotocolo entre essas duas instituições para oadensamento do sistema de promoção comercial emtodo o País, a fim de permitir acesso a ampla redede potenciais beneficiários e de aproveitar asperspectivas criadas pelo Mercosul.

Dentre os instrumentos específicos depromoção criados pelo Itamaraty, destacaria, deinício, o SIPRI - Sistema de Promoção deInvestimentos e Transferência de Tecnologia paraEmpresas - que articula Setores de PromoçãoComercial das Missões brasileiras no exterior e“pontos focais”, dos quais já existem vinte e setedistribuidos por todo o País.

Cabe ao SIPRI divulgar no Brasil e noexterior oportunidades capazes de propiciar aportede capitais e tecnologia para empresas nacionais.

Outro importante instrumento, este em fasede implantação, é o Centro de Promoção daEficiência Comercial - CPEC - em que serãocoordenados os diferentes serviços oferecidos peloMinistério para estimular a competitividade dasempresas nacionais. O CPEC terá como uma de suasprincipais funções o apoio à criação, desenvolvimentoe operação de “trade points”: centros facilitadoresde comércio que reúnem os diversos participantesde operações internacionais, tais como alfândega,

câmara de comércio, transportadoras e companhiasde seguro, entre outros. Nove “trade points” - emdiferentes fases de instalação - já existem no Brasil,conectados a uma rede de aproximadamente oitentano mundo.

O terceiro serviço oferecido pelo Itamaratyao público de que gostaria de falar é a divulgaçãocultural. No cenário internacional contemporâneo, acapacidade de uma nação para ocupar espaçospolíticos relevantes e beneficiar-se de oportunidadeseconômicas dependerá fortemente de sua habilidadeem transmitir uma imagem positiva.

Tornar-se conhecido no mundo é fundamentale isto, ressalto, não implica mascarar a realidadenacional. O compromisso com a democracia e atransparência exige igual franqueza no trato, ante asdemais nações, dos desafios que o Brasil enfrenta.O MRE, entretanto, procura dar conhecimento dasações implementadas por governo e sociedade como objetivo de combater tais problemas. Por outrolado, é preciso desfazer imagens estereotipadas pormeio da apresentação de informações sobre aspectosmenos conhecidos de nosso País. Nossa cultura, comsua riqueza característica, representa, neste contexto,importante caminho para a redefinição de visõessimplificadas do Brasil.

Deve ser notado, entretanto, que ao ladodesse sentido político da diplomacia cultural, querevela sua capacidade de atender a interesses doEstado, existe um serviço que é oferecido aosprodutores culturais brasileiros. Por meio doItamaraty, vários artistas puderam ter acesso aopúblico internacional, consolidando, com isto,carreiras que de outro modo poderiam permanecerrestritas ao espaço cultural brasileiro. Este processomutuamente benéfico tem como exemplo clássico opapel do MRE na divulgação da “bossa nova” nosEstados Unidos. Estabeleceu-se uma referênciamarcante da nacionalidade brasileira no mundo eabriu-se espaço para obras que, por sua qualidadeintrínseca, rapidamente tornaram-se autônomas frentea qualquer apoio oficial. Novamente são associados

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interesses específicos e os objetivos gerais queorientam permanentemente a atividade diplomática.

Caberia acrescentar, finalmente, que, aoajudar a canalizar a oferta cultural internacional parao País, o Itamaraty beneficia também o públicobrasileiro. A organização da próxima BienalInternacional de São Paulo, por exemplo, temcontado com o auxílio de nossa rede de Embaixadase Consulados, cuja proximidade com os váriosambientes artísticos do mundo permite identificar econtactar produtores e divulgadores estrangeiroscapazes de contribuir para o êxito do evento.

Com relação à imagem do Brasil no exterior,o Itamaraty julgou necessário intensificar e exercermelhor coordenação de suas atividades de diplomaciapública. Em fins de 1993, foi criada a Coordenação-Geral de Informação e Divulgação, tendo em vistaquatro objetivos básicos:a) divulgar o Brasil no exterior;b) divulgar a política externa brasileira no exterior;c) divulgar a política externa brasileira no Brasil; ed) informar as autoridades brasileiras sobre arepercussão no exterior de políticas adotadas e fatosocorridos no Brasil.

Os trabalhos da Coordenação-Geral vêmsendo desenvolvidos com base no Programa “BrasilHoje”, elaborado por grupo interministerial presididopelo Ministro Luiz Felipe Lampreia. O programapretende divulgar cinco aspectos centrais da realidadebrasileira:a) democracia, dinamismo e complexidade;b) cultura viva e própria;c) apresentação de soluções pela via democrática;d) variedade étnica, climática e de paisagens; ee) atual quadro de estabilidade econômica.

Capacidade de execuçãoA capacidade de execução de qualquer

política externa depende dos meios humanos emateriais disponíveis. Enquanto a disponibilidade derecursos materiais estará sujeita a condicionantes que

muitas vezes fogem ao controle do Ministério, areconhecida qualidade do agente diplomáticobrasileiro resulta de deliberado e permanente esforçode formação e constante aperfeiçoamento no maisalto nível, e é sobre este ponto que me deterei agora.

Recursos humanosFundado há cinquenta anos, o Instituto Rio

Branco é o núcleo formador do diplomata.O rigoroso exame de admissão realizado

anualmente seleciona os mais bem preparadoscandidatos a uma carreira que exigirá não apenasconhecimento intelectual ou de idiomas estrangeiros,mas também a capacidade de responder prontamentea situações práticas urgentes e adversas.

Durante o curso, o futuro diplomata éavaliado sobre matérias das mais distintas, deRelações Internacionais a Prática Consular, de DireitoInternacional Público e Técnicas de Negociação aPrincípios de Gestão Orçamentária. Existe, ao mesmotempo, a preocupação de tirar o aluno da sala deaula para conhecer de perto os mais variadosaspectos da realidade nacional. Assim, são feitasviagens de estudo a diversos pontos de interesse eimportância, como, por exemplo, o Centro deInstrução de Guerra na Selva do Exército emManaus, o Projeto Carajás, o Complexo Hidrelétricode Itaipu ou o Centro Tecnológico da Aeronáuticaem São José dos Campos. Essas experiências, aliadasao extenso currículo acadêmico, consolidarão, nojovem egresso do Instituto, sólida formaçãoprofissional que o habilitará a exercer, no Brasil e noexterior, as múltiplas tarefas que lhe serão assignadasao longo de sua carreira.

Mas o treinamento não se encerra com aformatura no Instituto Rio Branco. Além de estágiosiniciais nas diferentes áreas do Ministério e numaembaixada em país latino-americano, o diplomata,no curso de sua vida funcional, é permanentementeavaliado. De um lado, pelo sistema de promoção pormérito, de Segundo-Secretário a Ministro de PrimeiraClasse, baseado na aferição, pela chefia da Casa,

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do desempenho e conduta profissional do funcionário.De outro, e mantendo o vínculo com o Instituto RioBranco, por meio de dois exames formais de cunhomais acadêmico - o Curso de Aperfeiçoamento deDiplomatas, exigência para a promoção a PrimeiroSecretário, e o Curso de Altos Estudos, em que adefesa de tese de interesse para o Itamaraty érequisito para ascensão ao cargo de Ministro-Conselheiro.

A preocupação com a qualidade de seusquadros não se restringe à classe de diplomatas. Asoutras categorias de nível superior e intermediáriodo Itamaraty - os Oficiais e os Assistentes deChancelaria - também são funcionários concursadoscujo progresso funcional estará condicionado aconstantes avaliações e cursos de especialização etreinamento.

O investimento em seu patrimônio humano éportanto prioridade para o Ministério das RelaçõesExteriores e os resultados dessa política sãoreconhecidos e respeitados por seus interlocutores,o que tem permitido ao diplomata brasileiro enfrentare responder, com elevada proficiência, às cada vezmais complexas e especializadas provas a que ésubmetido em seu trabalho cotidiano.

Recursos materiaisNa mesma época em que se inaugurava o

Instituto Rio Branco, a presença do Brasil no exteriorlimitava-se a cerca de quarenta representaçõespermanentes. Não que isso significasse qualquerpolítica deliberada de isolamento ou regionalismo. Hácinquenta anos atrás, os interesses brasileiros, tantono campo político como no econômico, estavamcondicionados àquela realidade nacional einternacional - um país essencialmente exportador dematérias primas - e vivendo num mundo ainda nafase incipiente da descolonização, em que abipolaridade já começava a ser o fator determinantedas relações internacionais.

Passadas cinco décadas, o perfil da nossapresença diplomática alterou-se sensivelmente. Não

só em função das profundas transformações internasque tornaram o País o maior parque industrial daAmérica Latina, importante exportador de bens eserviços, como também das mudanças radicais nocenário internacional, com o surgimento de dezenasde países, o fim da política de blocos, ainterdependência econômica e o surgimento de novose complexos temas nas agendas multilaterais,regionais e bilaterais.

Coube portanto ao Itamaraty, como defensordos interesses nacionais no exterior, acompanharessas transformações e promover as necessáriasadaptações em sua estrutura interna e externa.

Assim, o corpo funcional do Itamaraty hojeconta com cerca de 3.200 funcionários do quadropermanente, sendo 980 diplomatas, 1.400 Oficiais eAssistentes de Chancelaria e 900 das categorias deapoio, repartidos mais ou menos igualmente entre oBrasil e as missões no exterior. A rede de postos noexterior conta com 164 representações: 96embaixadas, 6 missões junto a organismosmultilaterais, 43 consulados e 19 vice-consulados,localizados na fronteira com nossos vizinhos sul-americanos. A maior parte dessas representaçõesestá localizada na região de interesse mais imediatopara o Brasil: são 70 postos nas Américas, 44 naEuropa, 23 na África, 18 na Ásia e 9 no OrienteMédio.

A expansão da área de atuação da diplomaciaverifica-se também no contexto interno. Além daSecretaria de Estado em Brasília e da tradicionalrepresentação no Rio de Janeiro, foram recentementeinaugurados os escritórios regionais do Nordeste, noRecife, e no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.Essas iniciativas colocam os serviços do Itamaratyem contato direto e à disposição de diferentes setoresda sociedade de uma forma mais imediata, bem comopermitem a captação de informações e aspiraçõesdas distintas realidades regionais no cada vez maispresente processo de integração regional.

Para o funcionamento eficaz de toda essaestrutura, necessita o Itamaraty dispor dos meios mais

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modernos, a fim de poder acompanhar e executarsuas tarefas. Sendo a informação a principalferramenta de trabalho, grande esforço tem sidoempregado em dotar o Ministério de recursosmateriais e técnicos apropriados para seu tratamentoe disseminação. Assim, todos os postos estão hojeinterconectados por meio de moderno sistema decomunicações telegráficas, que permite aretransmissão automática de dados entre as missõese a Secretaria de Estado. Está-se expandindo tambéma utilização do sistema Internet, por meio do qualqualquer pessoa com acesso a essa rede pode extrairvários serviços de utilidade oferecidos através da“Home Page” do Itamaraty, tais como informaçõessobre países e repertório de posições sobre temasde política externa e tópicos oferecidos diretamentepor algumas das principais embaixadas, como as deLondres e Washington.

Na Secretaria de Estado, a necessidade dotratamento cada vez mais ágil de importantes assuntostorna imprescindível o recurso à informática. Por isso,cada diplomata dispõe de seu próprio terminal decomputador, ligado ao banco de dados central,

permitindo o acesso instantâneo a todas ascomunicações telegráficas recebidas e expedidas aospostos. Esse sistema desenvolvido pelo Itamaratypermite a elaboração de um texto e sua transmissãoautomática, pelo próprio computador, a qualquerrepresentação no exterior, eliminando dessa forma aantiga e muitas vezes lenta tramitação manual de papel.

Dotado destes recursos materiais eempenhado na valorização e constanteaperfeiçoamento dos recursos humanos, conformeapresentado anteriormente, o Itamaraty procuradesempenhar sua função primordial: tranformar apolítica externa em instrumento para a realização dosobjetivos nacionais. A diplomacia, por maisabsorvente e complexa que seja, não é um fim em si.É um meio para a consecução de interesses definidosno plano interno e consolidados na execução dapolítica externa. Esta é a tarefa do Itamaraty: fazerde nossa política externa um fator dodesenvolvimento, da segurança e da valorizaçãointernacional do Brasil.

Muito obrigado.

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269Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Senhor Presidente,Senhor Secretário-GeralSenhores Chefes de Delegação,Senhores Delegados,Senhoras e Senhores,Desejo congratular-me com Vossa

Excelência, Senhor Ministro Ricardo Arias, pela suaeleição para a presidência dos trabalhos destaAssembléia-Geral da OEA.

Estou seguro de que sob a orientação deVossa Excelência, chegaremos a resultadosauspiciosos ao final deste evento.

Desejo ainda agradecer, em nome daDelegação brasileira e no meu próprio, a generosahospitalidade que nos oferecem o Governo e o povodo Panamá.

É com especial satisfação que o Brasilparticipa desta Assembléia. Há mais de um séculorealiza-se nesta mesma cidade o Congresso doPanamá, que deixou um valioso legado, o despertarda vocação pan-americana.

Nossa presença em solo panamenho, 170anos mais tarde tem, assim, uma dimensão históricae um significado especial – ela é o testemunho maiseloqüente dos esforços pioneiros de Simon Bolívar,cujas aspirações de integração estão hoje mais pertoda realidade.

Cabe a nós a tarefa de definir os instrumentosque levarão a concretização do ideal bolivariano deuma só nação, constada a partir dos ideais da paz,do desenvolvimento e da prosperidade.

Senhor Presidente,Nunca antes o contexto hemisférico apresentou

perspectivas tão promissoras ao alcance dos ideaisinteramericanos, consagrados na Carta da Organização.Presenciamos um enriquecimento da agenda da OEA edo diálogo hemisférico, resultante do crescentedinamismo do processo de integração regional.

As conquistas alcançadas na defesa dademocracia e da promoção dos direitos humanosampliaram os horizontes da atuação da OEA emáreas cruciais para o afiançamento da paz, doconvívio harmonioso entre as nações e daconsolidação de sociedades mais justas.

A Organização avança decididamente nasuperação dos desafios representados pelapermanência em nossos países, que ainda privaenormes contigentes populacionais dos benefícios doprogresso sócio-econômico. O Governo brasileiroacolhe, assim, com satisfação, a entrada em vigor,em janeiro passado, do Protocolo de Manágua,referente ao estabelecimento do ConselhoInteramericano de Desenvolvimento Integral. O Brasilestá confiante em que o CIDI contribuirádecididamente para a construção de relações aindamais densas entre seus membros, no campo dacooperação solidária.

Apraz-me ressaltar, também, a próximaentrada em vigor do Protocolo de Washington dereforma de Carta, que conclui importante processode atualização dos fundamentos jurídicos daOrganização. A ratificação pelo Brasil deste

OEA

Discurso do Secretário-Geral, Embaixador Sebastião doRego Barros, no Plenário da XXVI Assembléia-Geral daOEA, Washington, 3 de junho de 1996

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instrumento e seu deposto junto à OEA, em 1995,pelo Presidente Fernando Henrique são testemunhofiel do compromisso brasileiro, nos planos interno eexterno, com a causa da Democracia.

Senhor Presidente,O Governo brasileiro acompanha com

interesse os mandados da OEA no cumprimento doPlano de Ação da Cúpula Hemisférica,particularmente nas áreas referentes a democracia edireitos humanos.

O início da década de noventa assinala ummomento no progresso da causa dos direitoshumanos no Brasil, a partir da ratificação do pactoInternacional dos Direitos Civis e Políticos, do PactoInternacional dos Direitos Econômicos, Sociais eCultural, e da adesão à Convenção Americana sobreDireitos Humanos.

Aos compromissos assumidos no planointernacional, acresce-se um aumento da consciênciada necessidade de transparência ao tratamento dosproblemas enfrentados pelo país na área dos direitoshumanos. Nesta matéria, o Governo atua em sintoniacom as exigências da sociedade brasileira e noentendimento de que a preocupação internacionalcom a promoção e a proteção dos direitos humanosé plenamente legítima e deve envolver governo esociedade na tentativa de superação dos obstáculosa fruição de tais direitos. O Brasil tem acolhido, assim,manifestações de preocupação com a situação nessaárea como contribuições válidas. O contato freqüentenão-governamentais e entidades internacionais temcaracterizado a prática do Governo brasileiro, num climade transparência, cooperação e diálogo franco. A nossover, essa é maneira de superar os graves problemascom que o país se defronta na área dos direitos humanos.A mobilização em torno dessa questão, coordenada peloGoverno, cm ativa participação da sociedade visa atraduzir os compromissos consagrados nos textos legaisnacionais e internacionais, em medidas que asseguremo exercício efetivo dos direitos humanos e a todos osbrasileiros.

Um dos passos decisivos em nossacooperação com a Comissão Interamericana deDireitos Humanos consistiu na visita da CIDH aoBrasil no final de 2995. Seus membros tiveram, entãoa oportunidade de reunir-se com o Presidente daRepública, autoridades federais e estaduais, além derepresentantes de entidades particulares, num amplocirculo de contatos que permitiu conhecimentominuciosos da situação dos diretos humanos no país.

O lançamento pelo Presidente FernandoHenrique, no último dia 13 de maio, do ProgramaNacional de Direitos Humanos - em cumprimento auma das recomendações da Conferência Mundial deViena sobre Direitos Humanos - o primeiro noHemisfério, constitui um marco histórico no processode construção de uma ampla cidadania no Brasil.

O programa busca identificar os principaisproblemas e propor reformas na legislação e políticas,com vistas a ampliar o respeito dos direitos e garantiasfundamentais incorporando, também, os seguimentosmais vulneráveis da sociedade. Entre as medidaspropostas ao Congresso Nacional para combater aimpunidade destacam-se a tipificação do crime detortura e a transferência para a justiça comum dacompetência para julgar crimes comuns praticadospor policiais militares.

O Programa Nacional de Direitos Humanosprevê ainda o fortalecimento da cooperação com aComissão e a Corte Interamericana de DireitosHumanos.

Senhor Presidente,O Governo brasileiro apóia o processo de

reflexão sobre o sistema interamericano de direitoshumanos, que dará passo significativo com arealização, no segundo semestre do seminárioorganizado pela Comissão e pela Corte, com estafinalidade. O Brasil entende que a assinatura eratificação da Convenção Americana de DireitosHumanos pelos países da região que ainda nãofizeram reveste se de importância fundamental paraassegurar a necessária abrangência e aplicabilidade

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271Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

ao instrumento básico de proteção dos direitoshumanos no Hemisfério.

A intenção do Governo brasileiro continuarcooperando estreitamente com a Organização emáreas prioritárias é de mútuo interesse. Refiro-me,em particular, às atividades de coordenação peloBrasil do tema Democracia e Direitos Humanos noprocesso de implemantação das decisões do Plano deAção de Miami, no âmbito da Comissão Especial deGestão de Cúpulas Internacionais. A iniciativa que contacom a participação do Canadá. Visa principalmente adesenvolver uma cultura da democracia e a apoiar ospaíses hemisféricos dos direitos humanos.

A cooperação internacional em matéria decontrole de entorpecentes e outro tema prioritáriode nossa agenda. O Governo brasileiro vemconcentrando esforços no tratamento dessa questãonos planos interno, e externo. As dimensões eimplicações políticas do problema das drogasreclamam ação urgente dos governos e intensificaçãode esforços concentrados no encaminhamento desoluções globais, que atendam os aspectos deredução do consumo, do controle da produção e dotráfico ilícito de entorpecentes.

Senhor Presidente,O Brasil tem participado ativamente dos

trabalhos da Comissão Interamericana para oControle do Abuso de Drogas, com vistas àelaboração de uma política regional de amplo alcancepara o combate às drogas. Gostaria de enfatizar, apropósito, que o fortalecimento da CICAD é o passofundamental em direção aos esforços de formulaçãode uma estratégia regional de combate ao consumo,à produção e ao tráfico ilícito de entorpecentes.

O Brasil reitera seu apoio à CICAD. Apróxima visita ao Brasil de seu Secretário- Executivodemonstra a disposição de estreitar o diálogo com aComissão e ampliar as bases de cooperação emmatéria de controle de entorpecentes.

Inspirado nos princípios de parceria e deresponsabilidade compartilhada, o Governo brasileiro

tem estado particularmente ativo na implementaçãode programas de cooperação bilateral antidrogascom países limítrofes. A dimensão de nossas fronteiras,ao lado das particularidades geográficas de algumasregiões, em especial a Amazônia, que dificultamsobremaneira as atividades de vigilância, são imperativosque nos levam a uma cooperação mais estreita com ospaíses vizinhos. Nesse sentido, o Brasil procura formasoperacionais de diálogo, que possam atender com maiorrapidez e eficiência nossas necessidades específicas naluta contra o narcotráfico.

No âmbito interno, não poderia deixar deassinalar o intenso processo de aperfeiçoamento dalegislação anti-drogas, à luz dos dispositivos daConvenção de Viena, de 1988, destacam-se orecente lançamento do Plano de Ação Anti-drogas.Atando, sim, nas vertentes interna e externa dessaquestão, espera o Governo brasileiro chegar aresultados concretos na construção de uma sociedadelivre da ameaça das drogas.

A consolidação da democracia, de um lado,e as perspectivas de desenvolvimento, de outro,reforçadas pelo amadurecimento das políticas demodernização e reforma econômica dos Estados sãoantepassos seguros à conformação da Área de LivreComércio na América. Os benefícios resultantes deuma área consolidada de comércio se traduzem nageração de tecnologias de ponta, de novasoportunidades de empregos e na distribuiçãoequânime do progresso material. Estamos todosempenhados no êxito dessa iniciativa, na qual a OEAtem importante papel a desempenhar, emcumprimento do Plano de Ação de Miami.

O diálogo e a cooperação entre nossaOrganização e as demais entidades envolvidas noprocesso da integração regional podem prestarimportante contribuição à liberalização comercial,especialmente a harmonização das legislaçõesinternas, a que se refere o Secretário-Geral em seudocumento “O Direito Numa Nova OrdemInternacional”.

O Brasil apóia os esforços da Comissão

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Especial de Comércio, de seu Grupo Assessor e daUnidade de Comércio, voltados para o apoio técnicoaos Estados membros em matéria de comércio.

Apraz-me mencionar o oferecimento de sedeno Rio de Janeiro, no Palácio do Itamaraty, para aComissão Jurídica Interamericana, cuja contribuiçãoao processo de integração regional merece o nossoconhecimento. Nos anos recentes, a CJI passou ater uma nova dimensão na OEA, cabendo destacarsua atuação no processo preparatório da ConvençãoInteramericana contra a Corrupção, nova etapa naconformação do Direito Interamericano. O Governobrasileiro está seguro de que o Secretário-Geralcontinuará a prestar todo o apoio que requer aComissão para o pleno desempenho de suas funções.

O Brasil estará sediando em 1997 a IIIReunião de Ministros do Comércio, na cidade deBelo Horizonte. Nesse sentido, julgamos que osdesdobramentos do processo de integração regional,que se têm revelado vertiginosos, devem orientar-sepelos princípios de unidade e equilíbrio.Presenciamos, no momento, importante trabalho deavaliação do novo mecanismo institucional resultanteda Reunião de Cartagema, as reuniões de Ministros,Vice-Ministros e Coordenadores de Grupos deTrabalho, que deverão definir as linhas de atuação noprocesso de integração. Nesse terreno, o Brasil buscamanter atitude construtiva, que favoreça um consenso.É nossa intenção avançar de forma contínua, gradual erealista, tendo em vista manter-se o equilíbrio com asiniciativas adotadas no plano interno.

Senhor Presidente,O Brasil reitera a Declaração do Grupo do

Rio a respeito da chamada Lei Helms- Burton, noentendimento de que seus efeitos e sua aplicaçãoextraterritoriais constituem violação das normas deDireito Internacional e das regras do livre comércio enão contribuem para a luta dos países do hemisfério emprol da democracia e da defesa dos direitos humanos.

A delegação do Brasil gostaria de congratular-se com a Secretaria-Geral da OEA pelos esforços

do Grupo de Trabalho conjunto para a instalação doConselho Interamericano de DesenvolvimentoIntegral, novo marco da Organização em matéria decooperação. As recomendações dos documentos“Uma Nova Visão da OEA” e “Modernização daCooperação e Novas Diretrizes para oFuncionamento do CIDI” constituem princípiosnorteados dos programas de cooperação horizontal,de primordial importância na construção dodesenvolvimento social de nossos países.

A entrada em vigor do Fundo Brasileiro deCooperação no âmbito da OEA e a próximaaprovação dos primeiros projetos apresentados pelosEstados-membros refletem a atenção e prioridadeque o Brasil confere à cooperação horizontal comoforma de apoio ao desenvolvimento.

Não podemos falar de desenvolvimento semdeter-nos nos aspectos da educação e cultura,instrumentos imprescindíveis ao pleno florescimentode nossas gerações e à edificação dos valores dejustiça social. Educação e cultura são poderososelementos de identificação no processo de integraçãoregional e de afirmação da consciência democrática.São múltiplas as possibilidades de atuação da OEAnessa área, em prol da melhoria da qualidade de vidae do bem-estar de nossas postulações.

É motivo de grande satisfação para o Brasila concessão do Prêmio Interamericano de EducaçãoAndrés Bello, de 1995, ao Professor Darcy Ribeiro,em reconhecimento à sua magnífica obra na área daeducação.

Senhor Presidente,Ao concluir minha intervenção neste debate

geral, gostaria de expressar o apoio do Brasil aosesforços do Secretário-Geral de revitalização da OEAem um momento de importância decisiva para todosnós. Estou seguro de que o processo iniciado sob aorientação do Doutor César Gaviria conduzirá aOrganização a um renovado multilateralismo,expressão de nossos legítimos anseios.

Muito obrigado.

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273Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Considero ser hoje um dia de particularimportância para o Nordeste. Pela manhã, tive a gratasatisfação de abrir foro de debates sobre odesenvolvimento científico e tecnológico do Nordeste,participar de assinatura de Convênio para a criaçãodo Centro Nuclear do Recife e de painel sobre asaplicações sociais dessa fonte de energia. Agora tenhoa alegria de encerrar esse seminário sobre instituiçõesfinanceiras.

Se observarmos a trajetória das iniciativasrealizadas e em vias de implementar-se, desde o iníciodesse esforço conjunto de maior integração doNordeste aos mercados econômicos nacional einternacional, verificaremos que esse processoobedece a uma perspectiva estratégica.

As primeiras atividades destinaram-se a abrirum diálogo, que prossegue, sobre as potencialidadesde integração. Em um primeiro momento, tratou-sede promover um debate interno, com osparlamentares, com os representantes dos órgãosexecutivos regionais e estaduais e com osempresários, sobre as opções existentes. Ressaltou-se, sempre, que a alternativa a um programa deintegração competitiva em que fôssemos o agentede nossos interesses seria a absorção passiva doprocesso de globalização. Conclui-se, portanto, pelanecessidade de uma postura dinâmica em reação aesse processo.

Já em uma segunda etapa, abrimos essediálogo aos países do sul do continente. Já

conversamos diversas vezes com os argentinos, cujoVice-Presidente, Carlos Ruckauf esteve aquirecentemente; já realizamos um seminário nosubstantivo com os chilenos, em Salvador, com apresença de toda a cúpula do Governo daquele país,e também uma visita ao pólo de Petrolina/Juazeiro;estamos programando visita ao Uruguai, para a qualgostaria de contar com a participação de dirigentesdas federações de indústria e de agricultura doNordeste.

Enquanto todas essas atividadesinternacionais continuam, dá-se início ao processode discussão dos meios e dos instrumentosdisponíveis para a tarefa de mudar o alcancequalitativo do desenvolvimento nordestino, eprograma-se a implantação de projetos concretos.

Este seminário, ao examinar fontesalternativas de financiamento, enquadra-se nessanova fase, iniciada há duas semanas com o semináriosobre como elaborar projetos, passo preliminar aqualquer ação.

Da mesma forma, como lhes informei, asatividades de que participei pela manhã, não apenasanalisam mecanismos de ação, mas também lançama pedra de atividades concretas.

Além dessa perspectiva estratégica, o que sedeve ressaltar é a nova concepção, a novamentalidade que orienta essa ação. Trata-se daevolução de uma consciência participativa, isto é dacompreensão de que a tarefa de promoção do

Mercosul

Discurso do Vice-Presidente da República, Marco Maciel,por ocasião do encerramento do I Seminário sobre Fontesde Financiamento e Fomento a Negócios no âmbito doMercosul, Recife, 14 de junho de 1996

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274 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

desenvolvimento do Nordeste em níveis competitivosrequer a contribuição de cada um de nós, requer aidentificação de engenharia inovadora para arealização de projetos.

Convivemos com um mundo em que aredefinição do papel do Estado e a exploração denovas formas de participação dos diversos setoresda sociedade no processo de desenvolvimento nãodeixam mais espaço a políticas paternalistas. Somentea construção coletiva, tanto no que se refere ao examedas alternativas quanto aos meios e recursos para asua realização, permitirá a consecução dos objetivosalmejados.

Considero que todos compreendemos essamissão, razão pela qual estamos aqui reunidos. Eressalto, especialmente, os esforços do Itamaraty eda Sudene nessa tarefa.

O Ministério das Relações Exteriores temutilizado a sua capacidade instalada no exterior, asua experiência nos assuntos de política externa e asua progressiva interação com a sociedade brasileira

para imprimir um ritmo dinâmico à integração doNordeste ao Mercosul e aos demais blocoseconômicos, bem como à sua vinculação aosprogramas das agências multilaterais.

A Sudene, com o seu conhecimento da regiãoNordeste e a sua capacidade de mobilização regionaltem intermediado a participação dos agenteseconômicos e governamentais das regiões nesseprocesso.

Os dois órgãos, Itamaraty e Sudene, reúnem-se, assim, para interiorizar o benefícios de uma políticaexterna ativa e para exteriorizar o desenvolvimentodo Nordeste. Em suma, utilizam as possibilidadesinternacionais como um instrumento detransformação regional.

Desejo, pois, ao encerrar este seminárioagradecer a essas duas instituições e transmitir atodos os participantes os meus votos de queobtenham o melhor aproveitamento daspossibilidades oferecidas pelas fontes definanciamento representadas neste evento.

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275Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

É uma honra para mim receber das mãos deVossa Excelência, Presidente Juan Carlos Wasmosy,o Colar da Ordem Nacional do Mérito do Paraguai.

É uma distinção que eu recebo, em nome detodos os brasileiros, como símbolo da amizade entrenossos povos e da disposição de seguirmos trilhandoum caminho de realizações conjuntas.

O Brasil e o Paraguai são mais do que bonsvizinhos. São sócios inseparáveis, ligados pela históriae pela geografia o que possibilitou projetos de grandealcance, que vinculam nossos países de forma sólidae duradoura. como a Itaipu Binacional e oMERCOSUL.

Quando Vossa Excelência, em visita ao Brasilno mês passado, convidou-me a vir a Assunção paracelebrarmos os 30 anos da Ata das Cataratas,instrumento que daria origem ao Tratado de Itaipu,aceitei prontalmente o convite.

Nada mais justo do que homenagear, nestaocasião, a visão de brasileiros e paraguaios que nosantecederam, cujo esforço pioneiro tornou impossívela extraordinária obra de integração bilateral que éItaipu, testemunho eloqüente da capacidade deempreendimento dos povos brasileiro e paraguaio.

Itaipu é produto cuidadoso do trabalho deaproximação e de negociação entre os dois Governos— e também de uma visão de futuro.

Tal empreendimento só se tornou possível porestar solidamente fundado no respeito mútuo e na

busca de benefícios recíprocos.As relações entre Brasil e Paraguai

adquiriram uma dimensão especial graças a Itaipu. Eessa dimensão especial nos dá uma responsabilidadeacrescida na tarefa de sempre trazer de Itaipu ummarco de convergência entre os nossos países.

O desafio que Itaipu nos apresenta hoje é ode torná-la cada vez mais uma empresa sadia eeficiente e moderna como exige a economiacontemporânea.

Estou certo de que sua Diretoria, nascompetentes mãos de Euclides Scalco e MiguelLuciano Jiménez, está à altura desse desafio.

As relações entre o Brasil e o Paraguaitambém se desenvolvem com uma importantedimensão humana: a participação de brasileiros naatividade agrícola paraguaia, especialmente naprodução de soja.

A presença significativa de trabalhadores ede investidores brasileiros neste país é um fato quefortalece ainda mais nossa parceria.

Os números de nosso comércio bilateral têmaumentado de forma sustentada, sobretudo a partirda consolidação do MERCOSUL e da estabilizaçãoda economia brasileira, que combina hojecrescimento econômico com abertura comercial.

A intensidade da vida econômica e social aolonge da fronteira é uma demonstração expressivada densidade de nossas relações.

Brasil - Paraguai

Discurso do Senhor Presidente da República, FernandoHenrique Cardoso, por ocasião da Cerimônia deCondecoração com a Ordem Nacional do Mérito doParaguai, Assunção, 26 de junho de 1996

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276 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Temos muito a fazer para continuar tornandonossa agenda comum a mais positiva e construtivapossível.

O Paraguai é uma referência importante paraos brasileiros no âmbito da Bacia do Prata e assimeste país se apresenta na escala das prioridades daação externa do Brasil.

Senhor Presidente,O Paraguai passou, em abril deste ano, por

um momento que certamente representará um marcoem sua história democrática: a reafirmação dorespeito à legalidade e à ordem constitucional.

A atuação decidida de Vossa Excelência e asdemonstrações de firmeza e de patriotismo do povoparaguaio para salvaguardar a vontade soberanamanifestada em eleições livres e democráticas devemser motivo de justo orgulho para esta Nação e paratodos nós sul-americanos.

A grande maioria da classe política paraguaiatambém teve um papel decisivo naquele momento esoube dar, com civismo, responsabilidade edescortino, o firme apoio na manutenção da ordemconstitucional. É isto que o provo paraguaio e todoo Continente dela esperam.

O Brasil, junto com os demais sócios doMERCOSUL, apoiou e continuará a apoiar ademocracia paraguaia.

Não poderia ser outra a nossa atitude, umavez que partilhamos com o povo paraguaio, comorequisito essencial à nossa cooperação e integração,

a vigência plena do regime democrático e o respeitoaos direitos humanos.

Senhor Presidente,É uma feliz coincidência estar em Assunção

justamente no dia em que se comemora o dia donascimento do excepcional artista Lívio Abramo, quecompletaria nesta data 93 anos de idade.

Lívio, como outros tantos membros da famíliaAbramo que aprendi a admirar e respeitar, foi artíficeexemplar e um símbolo da aproximação entrebrasileiros e paraguaios.

Viveu em Assunção quase trinta anos e adotouo Paraguai como sua segunda pátria, como hojefazem tantos brasileiros. Fez aqui um grande númerode amigos e de admiradores.

E é justamente para deixar registro perenedessa missão cultural pioneira e fertilizadora que LívioAbramo desenvolveu no Paraguai que decidi dar seunome ao Espaço Cultural que hoje inauguramos emnossa Embaixada em Assunção.

Senhor Presidente,Venho ao Paraguai para reiterar a disposição

de avançarmos ainda mais na integração entre nossassociedades.

Trago ao povo paraguaio a mensagem desolidariedade e amizade de todo o povo brasileiro ea minha gratidão pela condecoração que agorarecebo.

Muito obrigado.

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277Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

ATOS INTERNACIONAIS

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República daÍndia sobre o Termo de Referência para aConstituição do Conselho Comercial Indo-Brasileiro(27.1.1996)

Agenda Comum para o Meio Ambiente entre oGoverno da República Federativa do Brasil e oGoverno da República da Índia (27.1.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República daÍndia sobre a Agenda Brasil-Índia para CooperaçãoCientífica e Tecnológica (27.1.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo Básico deCooperação Técnica, fase de Pós-Assessoramento,entre o Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República da África do Sul, sobre oProjeto “Impacto Ambiental Provocado por GrandesBarragens” (29.1.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da Malásia sobre CooperaçãoCientífica e Tecnológica (29.1.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo do Reino Unidoda Grã-Bretanha e Irlanda do Norte relativo a umProjeto de Cooperação Técnica de Suporte àReforma do Sistema de Saúde no Brasil (29.1.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo de CooperaçãoCientífica, Técnica e Tecnológica entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo daRepública de Cuba para a Cooperação na Área deTransportes (30.1.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Popular da Chinasobre Cooperação em Matéria de Quarentena eSaúde Animal (8.2.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Argentina sobreFacilitação de Atividades Empresariais (15.2.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo de CooperaçãoCientífica, Técnica e Tecnológica entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo daRepública de Cuba para a Promoção e oDesenvolvimento dos Correios e dasTelecomunicações (22.2.1996)

Comunicado Conjunto entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República daBolívia (23.2.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo Básico deCooperação Técnica e Científica em Matéria deEstudos Geológicos e Áreas Limítrofes entre oGoverno da República Federativa do Brasil e oGoverno da República da Bolívia (23.2.1996)

Memorando de Entendimento para o Programa deCooperação de 1996/1997 entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública da Bolívia (23.2.1996)

Acordo, por troca de notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública da Bolívia relativo ao Convênio entre oINPE e o SENAMHI (23.2.1996)

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278 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Convênio entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República do Peru sobre aRecuperação de Bens Culturais Roubados ouExportados Ilicitamente (26.2.1996)

Ata de Brasília entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doPeru (26.2.1996)

Comunicado Conjunto entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doPeru (26.2.1996)

Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daCoréia do Sul, que emenda o Acordo para ServiçosAéreos entre seus Respectivos Territórios e Além de11 de agosto de 1992 (29.2.1996)

Acordo-Quadro entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo dos EstadosUnidos da América sobre a Cooperação nos UsosPacíficos do Espaço Exterior (1.3.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o Projeto Aumento daCompetitividade da Pequena e Média Indústria noNordeste (11.3.1996)

Acordo, por Troca de Notas Verbais, entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo do Reinoda Suécia, que Prorroga por um Período Adicional deUm Ano, os Artigos 10 (Parágrafos 2, 5), 11 (Parágrafo2b), 12 (Parágrafo 2b) e 23 (Parágrafo 3) daConvenção para Evitar a Dupla Tributação em Matériade Impostos sobre a Renda, de 25/4/75 (19.3.1996)

Acordo-Quadro sobre Cooperação em PesquisaCientífica e Desenvolvimento Tecnológico entre oGoverno da República Federativa do Brasil e oGoverno da República Federal da Alemanha(20.3.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo Básico deCooperação Científica, Técnica e Tecnológica, emMatéria de Sanidade Agropecuária entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo daRepública do Chile (25.3.1996)

Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública do Chile sobre Mecanismo de Consultas(25.3.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República do Chile sobreCooperação entre as Academias Diplomáticas deAmbos os Países (25.3.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública do Chile sobre Cooperação para aExecução de Estudos e Ações de Interesse Comumna Área de Agricultura (25.3.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doChile no Âmbito da Cooperação e da Co-produçãoCinematográfica (25.3.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doChile (25.3.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública do Chile em Matéria de CooperaçãoDesportiva (25.3.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o Projeto Apoio àImplantação do Centro Nacional de TecnologiaAmbiental, em Curitiba/PR (29.3.1996)

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279Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Protocolo sobre o Estabelecimento de RelaçõesDiplomáticas entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doTadjiquistão (29.3.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o Projeto Elaboraçãode Primeiro Plano de Recursos Hídricos no Estadodo Rio de Janeiro (1.4.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo dos Estados Unidos da Américapara Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscalem Matéria de Imposto sobre a Renda (2.4.1996)

Protocolo sobre o Estabelecimento de RelaçõesDiplomáticas entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doTurcomenistão (3.4.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre a Fase de Follow-Updo Projeto Pós-Graduação em Ciências Geodésicas(4.4.1996)

Protocolo de Intenções entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Argentina sobre Cooperação eInterconexão Energéticas (9.4.1996)

Memorando de Entendimento sobre IntegraçãoFísica entre o Governo da República Federativa doBrasil e o Governo da República Argentina(9.4.1996)

Protocolo Adicional ao Convênio de IntercâmbioCultural, Relativo à Integração Educacional para aFormação de Recursos Humanos em Nível de Pós-Graduação entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Argentina(9.4.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo de CooperaçãoCientífica e Tecnológica entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Argentina sobre Atividades deCooperação entre o Estado do Rio Grande do Sul ea Secretaria de Ciências e Tecnologia da Presidênciada Nação Argentina (9.4.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Argentina sobreCooperação Técnica (9.4.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Argentina sobreCooperação em Matéria Ambiental (9.4.1996)

Acordo-Quadro entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaArgentina sobre Cooperação em Aplicações Pacíficasde Ciência e Tecnologia Espaciais (9.4.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaArgentina (9.4.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o ProjetoDesenvolvimento Urbano em Bairros Populares eApoio a Microempresários do Setor Informal emFortaleza e outros Municípios do Estado do Ceará(11.4.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Portuguesa sobre a Futura Cooperaçãoentre o Instituto Rio Branco e o Instituto Diplomáticode Portugal (15.4.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Portuguesarelativo à Isenção de Vistos (15.4.1996)

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Ajuste Complementar ao Acordo para CooperaçãoTécnica com outros Países da América Latina e Paísesda África, entre o Governo da República Federativado Brasil e a Organização Internacional do Trabalho– OIT, para o Desenvolvimento de Ações eAtividades em Áreas Pertinentes a AssuntosTrabalhistas e Sociais (17.4.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da Malásia relativo à IsençãoParcial de Exigências de Vistos (26.4.1996)

Acordo Comercial entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da Malásia(26.4.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo Básico deCooperação Científica, Técnica e Tecnológica entreo Governo da República Federativa do Brasil e oGoverno da República de Cuba em Matéria de Saúderelativo ao Município de Angatuba (8.5.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo Básico deCooperação Científica, Técnica e Tecnológica entreo Governo da República Federativa do Brasil e oGoverno da República de Cuba em Matéria de Saúderelativo ao Município de Caxias (8.5.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República do Equadorsobre Cooperação entre as Academias Diplomáticasde Ambos os Países (14.5.1996)

Comunicado Conjunto – Ata do Planalto entre oGoverno da República Federativa do Brasil e oGoverno da República Bolivariana da Venezuela(20.5.1996)

Declaração de Brasília entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaBolivariana da Venezuela (20.5.1996)

Ajuste Complementar ao Tratado de Amizade eCooperação entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doEquador sobre Mecanismos e Requisitos Sanitáriospara o Comércio de Pescado e Produtos de Pescado(25.5.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Francesa relativoao Emprego Assalariado dos Familiares dos Agentesde Missões Oficiais de cada Estado no Outro(28.5.1996)

Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Civilentre o Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República Francesa (28.5.1996)

Tratado de Extradição entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFrancesa (28.5.1996)

Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Francesa sobre Supressão de Vistos(28.5.1996)

Acordo-Quadro de Cooperação entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo daRepública Francesa (28.5.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Francesa referente à Cooperação noÂmbito da Reforma do Estado e da Modernizaçãoda Administração Pública (28.5.1996)

Entendimento Específico de Cooperação sobreMicrossatélites entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFrancesa (28.5.1996)

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281Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penalentre o Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República Francesa (28.5.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Francesa relativoà Readmissão de Pessoas em Situação Irregular(28.5.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo dos Estados Unidos daAmérica sobre Transporte Marítimo (31.5.1996)

Termo de Cooperação entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e a União Internacional de

Telecomunicações para Prestar Apoio à ReformaEstrutural do Setor das Telecomunicações(14.6.1996)

Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo dosPaíses da OCDE, relativo ao Ingresso do Brasil noComitê do Aço (17.6.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo do Domínio da Nova Zelândiasobre Serviços Aéreos (18.6.1996)

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COMUNICADOS, NOTAS,MENSAGENS E INFORMAÇÕES

Nota sobre relatório de ONG dedicada aquestões de direitos humanos a respeito decomunicações da Corte Interamericana deDireitos Humanos que envolvem o Brasil, 31 dejaneiro de 1996

A propósito das matérias que vêm sendopublicadas na imprensa em função de relatóriorecém-divulgado por organização não governamentaldedicada a questões de direitos humanos, em que sealega que o Brasil teria sido condenado pela OEA(Organização dos Estados Americanos), o Itamaratydeseja prestar os esclarecimentos que se seguem.

A divulgação de relatórios sobre a situaçãode direitos humanos em todo o mundo ou em paísesespecíficos é forma de manifestação habitual dasONGs. No caso do relatório recém-divulgado, aONG estrangeira tem representação no Brasil efunciona, de acordo com seus métodos próprios, emtotal liberdade, a exemplo do que ocorre com asONGs brasileiras.

Tendo em vista, porém, as referências àcondenação do Brasil, o Itamaraty vem precisaralgumas informações sobre a forma de funcionamentoda Comissão Interamericana de Direitos Humanos(CIDH), a qual foram apresentadas ultimamente trêscomunicações sobre casos ocorridos no Brasil: doisrecentes, o de Corumbiara e o de Nova Brasília, eum antigo, da década de setenta, sobre desaparecidosno Araguaia.

A admissão de comunicações pela CIDH,que não envolve qualquer juízo de valor, é feita comrelação a qualquer país membro da OEA, pois aCIDH é simultaneamente órgão de monitoramentoda Convenção Americana de Direitos Humanos

(“Pacto de São José”) e órgão integrante daOrganização dos Estados Americanos. O Brasil seenquadra nos dois casos. Para a admissão dequalquer petição, é necessário somente opreenchimento de requisitos formais: qualificação dopeticionário, indicação do Estado supostamenteresponsável e o relato dos fatos alegadamenteocorridos.

Os três casos acima mencionadosenvolvendo o Brasil se encontram em fase inicial detramitação, ou seja, a CIDH, por nota enviada pelaSecretaria-Executiva, comunicou a queixa da ONGao Governo brasileiro, solicitando informações. Apartir daí começam a decorrer prazos para aprestação dos esclarecimentos solicitados, suaretransmissão aos peticionários originais, eventuaistréplicas de ambas as partes, etc. Somente apósesgotada uma longa tramitação, em que a CIDH atua,sempre com ânimo cooperativo, para encontrarsolução satisfatória para os dois lados, decide elasobre a elaboração ou não de relatório específicopara encaminhamento às autoridades do Governoenvolvido e, à luz das últimas respostas, pode decidirdivulgar ou não o relatório e suas conclusões.

Sobre os três casos em questão, oprocedimento encontra-se em sua primeiríssima fase,ou seja, a CIDH transmitiu as alegações da ONG aoItamaraty, que por sua vez está em contato com oMinistério da Justiça para a obtenção das informaçõespertinentes.

O Governo Federal dialoga amplamente comtodos os órgãos internacionais de proteção aosdireitos humanos, no entendimento de que o sistemainternacional de proteção a esses direitos é legítimo,

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oferecendo relevante complementação aos esforçosnacionais na matéria. Evidências da seriedade comque o Governo Fernando Henrique Cardoso abordaa questão dos direitos humanos e dialoga com todosos interessados são a elaboração, em curso, sobcoordenação do Ministério da Justiça, de um PlanoNacional sobre os Direitos Humanos, em consultaampla com a sociedade civil, assim como a recentevisita ao Brasil, a convite do Governo, de missão daprópria CIDH. Esta, em dezembro, além de avistar-se com o Presidente da República e todas asautoridades federais e estaduais competentes, podeavaliar diretamente a situação brasileira em váriosEstados da Federação. Durante essa visita, oPresidente da CIDH não deixou de assinalar, emtodas as oportunidades, a seriedade que observavano Governo Brasileiro no tratamento do assunto,sabidamente de grande complexidade.

Nota sobre a adesão da França, Reino Unido eEstados Unidos aos protocolos adicionais doTratado de Rarotonga, que estabelece uma zonalivre de armas nucleares no Pacífico Sul, 26 demarço de 1996

O Governo brasileiro recebeu com grandesatisfação o anúncio feito em 24 de março correntepelos Governos da França, Reino Unido e EstadosUnidos, de adesão desses países aos ProtocolosAdicionais do Tratado de Rarotonga, que estabeleceuma zona livre de armas nucleares na região doPacífico Sul.

Trata-se de uma iniciativa positiva de partede três potências nucleares em favor da não-proliferação de armas nucleares, da proibiçãocompleta de teste nucleares naquela região e daconcessão de garantias de segurança aos países doPacífico Sul, contra o uso de armas nucleares. O gestodos três países reforça o objetivo do estabelecimentodo Hemisfério Sul como área totalmente livre dearmas nucleares, que o Governo brasileiro antevêcomo possível diante da recente conclusão do Tratadode Pelindaba, relativo ao continente africano, e do

Tratado que cria a Zona Livre de Armas Nuclearesno Sudeste Asiático.

O Governo brasileiro tem a firme intençãode continuar apoiando a conclusão, em 1996, de umTratado de Proibição Total dos Testes Nucleares(CTBT, na sigla inglesa), continuará seus esforçosem prol da criação de uma zona livre de armasnucleares no Atlântico Sul, sob a égide da iniciativada Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, eespera que seja possível chegar a um compromissointernacional em torno da completa proscrição dearmas nucleares, no mais breve prazo.

Nota sobre a escalada da violência em Israel eno Líbano, 12 de abril de 1996

O Governo brasileiro vê com grandepreocupação a escalada da violência em Israel e noLíbano e lamenta os sofrimentos das populações civisdesses dois países em função dessa violência. Açõesde força de qualquer natureza, acarretando mortes eferimentos entre civis ou destruição de propriedadescivis, são inaceitáveis e condenáveis em qualquercircunstância.

O Governo brasileiro apela para que a razãoprevaleça entre as Partes envolvidas, de modo quenão se coloque em risco o processo de paz em cursono Oriente Médio, nem se criem falsas justificativaspara estancá-lo ou revertê-lo. O Governo brasileirotem sido enfático e imparcial em sua manifestaçõesde apoio ao processo de paz e continuará observandoatentamente o desenrolar dos acontecimentos naregião.

O Governo brasileiro espera que esseprocesso proporcione uma paz justa, abrangente eduradoura para todos os povos da região, permitindoa retomada do desenvolvimento econômico e social.Reitera ainda, sua expectativa de que, na consolidaçãoda paz no Oriente Médio, se leve em consideraçãoo direito do povo libanês à soberania eindependência, conforme previsto nas resoluçõesinternacionais, em especial a 425 do Conselho deSegurança das Nações Unidas.

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Nota sobre a assinatura do Tratado dePelindaba, que transforma o Continente Africanoem zona livre de armas nucleares, 12 de abrilde 1996

O Governo brasileiro recebeu com grandesatisfação o anúncio da assinatura, na cidade doCairo, em 11 de abril corrente, do Tratado dePelindaba, que transforma o continente africano emzona livre de armas nucleares.

A iniciativa dos países da África reforça oobjetivo do estabelecimento do Hemisfério Sul comoárea totalmente livre de armas nucleares, que oGoverno brasileiro antevê como possível ante aexistência de acordos análogos do continente austral(Tratado da Antártica), na América Latina e Caribe(Tratado de Tlatelolco), no Pacífico Sul (Tratado deRarotonga) e no Sudeste Asiático (Tratado deBangkok).

O Governo brasileiro manifesta seu agradopela adesão da França e do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte aos protocolos adicionaisdo Trabalho de Pelindaba, gesto que espera sejaseguido pelos demais países nuclearmente armadose que confere aos países partes do Tratado a garantiade que não serão atacados ou ameaçados com armasnucleares.

O Governo brasileiro confia em que aassinatura de tratados que criam zonas livres de armasnucleares e a adesão aos respectivos protocolosadicionais por parte dos países nuclearmente armadosirão contribuir para a conclusão, ainda em 1996, deum Tratado de Proibição Completa de TestesNucleares (CTBT, na sigla inglesa), iniciativa quedeverá culminar na adoção, o quanto antes, de acordointernacional para a completa eliminação e proibiçãodas armas nucleares.

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ARTIGOS

“O desafio da diplomacia”Artigo do Ministro de Estado das Relações Ex-teriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, pu-blicado no Jornal de Brasília. 21 de janeiro de1996

A política externa do Brasil tem diante de si odesafio de ampliar e consolidar a presença brasileiranos diversos quadrantes do mundo, em consonânciacom as dimensões do País, sua capacidadeeconômica e sua tradição pacífica.

A ação diplomática brasileira parte de umpatrimônio de realizações. Refiro-me à nossapresença praticamente universal; ao equilíbrio denosso comércio exterior entre quatro grandes gruposde países (a União Européia, o Nafta, a AméricaLatina e a Ásia-Pacífico ); à credibilidade que vimosconstruindo com a democracia, o compromisso coma paz e a não-proliferação de armamentos; e oempenho em adaptar-nos às tendências maisdinâmicas da macro estrutura internacional, emmatéria de competitividade, confiabilidade eliberdade de mercado.

A esse patrimônio soma-se hoje uma novaprojeção internacional do País, resultante dos êxitosobtidos com a estabilização econômica, oencaminhamento satisfatório e duradouro da questãoda dívida externa, na abertura da economia brasileiraà competição internacional, a retomada docrescimento, a melhora dos padrões de consumo dapopulação e o crescimento dos atrativos parainvestimento no País.

Diante dessa nova realidade, o papel de nossadiplomacia se define hoje, claramente, como o decoadjuvar, no plano externo, os esforços do Brasilpor uma nova inserção internacional, que responda

de forma adequada e produtiva à combinação defatores positivos e de desafios nos planos interno einternacional.

Em termos mais concretos, essa formulaçãopode ser traduzida em três áreas básicas de atuação:

- Ampliar onde for possível o número e aqualidade das nossas parcerias internacionais, como triplo objetivo de aumentar nosso acesso amercados, a tecnologias e a investimentos produtivosno Brasil;

- Participar, sem veleidades de prestígio oufalsa liderança, dos foros e mecanismos decisóriosde natureza política e econômica internacional, deforma a coadjuvar com nossa presença e atuaçãonesses foros a ação na primeira área;

- Desenvolver e aperfeiçoar os meiosmateriais de diplomacia brasileira da nossa redeconsular, de forma a dotar a política externa doinstrumental básico para essas tarefas;

Uma listagem não-exautiva das principais tarefasdo Itamaraty no governo Fernando Henrique inclui:

-A consolidação do Mercosul, sua eventualampliação com a incorporação de novos parceiros,seu relacionamento com outros espaços econômicos,notadamente a União Européia e o Nafta e suaincidência na estabilização econômica e na retomadado crescimento do Brasil;

-O fortalecimento das relações com nossosvizinhos latino-americanos e o processo de integraçãohemisférica, especialmente a partir do aprofundamentodas relações com a América do Sul;

-A intensificação das relações com o centrodos três pólos de poder econômico mundial, osEstados Unidos, a União Européia e o Japão;

-A dinamização das relações com a região

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da Ásia-Pacífico, com especial atenção aos novosparceiros emergentes na região;

-O relançamento das relações com os trêspaíses continentais, a China, a Rússia e a Índia;

-O revigoramento das relações com nossosparceiros econômicos tradicionais, acrescidos agorada África do Sul democrática;

-A reforma das nações Unidas;-A participação ativa na consolidação da

Organização Mundial de Comércio e aoperacionalização dos resultados da Rodada Uruguai;

-A proteção internacional dos direitos e odiálogo construtivo com organismos internacionaise organizações não-governamentais sobre o assunto;

-A atuação nos foros políticos e concentraçãode que o Brasil faz parte ou tem interesse em integrar,como o Grupo do Rio, a OCDE, o Grupo dos 15, aConferência Ibero-Americana e a Comunidade dosPaíses de Língua Portuguesa;

- O desenvolvimento das relações fronteiriçascom nossos vizinhos, especialmente através dofortalecimento das interligações viárias e decomunicações e a cooperação em torno dasatividades humanas desenvolvidas ao longo da faixade fronteira;

- A proteção e a assistência aos brasileirosno exterior, o aperfeiçoamento da rede consularbrasileira em função das novas realidades daemigração brasileira e a adequação do regime devistos consulares, com base na reciprocidade detratamento, para ampliar onde for possível osbenefícios de que usufruem os cidadãos brasileirosque viajam ao exterior;

- A adequação da estrutura da diplomaciabrasileira, na Secretaria de Estado e no Exterior, embusca de maior eficiência administrativa damaximização dos recursos humanos e materiais doItamaraty em função das prioridades da políticaexterna.

Ao longo de 1995, cuidamos de avançarnessas várias frentes. Nesse panorama de renovaçãodo Brasil e de consolidação de novas credenciais

para operarmos no plano externo, contamos com umpresidente que tem uma manifesta disposição deexercer um papel protagônico no campo da políticaexterna – marca, aliás, das relações internacionaiscontemporâneas e característica particularmenteimportante da diplomacia hemisférica. A títuloilustrativo, menciono, a seguir, alguns dos principaisdesdobramentos da ação diplomática brasileira noano passado.

Começando pelo Mercosul, o Brasilcontribuiu ativamente para a consolidação da uniãoaduaneira. Esse processo revelou-se vigoroso e,graças à flexibilidade e senso de realismo com quevem sendo conduzido pôde fortalecer-se nãoobstante as dificuldades pontuais que enfrentou,normais em qualquer projeto de integraçãoeconômica. Ao mesmo tempo, a agenda externa doMercosul alcançou de forma notável. Conclui-se arenegociação, em formato 4 + 1, das preferênciasacordadas no passado, em bases bilaterais, como aBolívia, e progrediram os entendimentos nesse sentidocom os demais parceiros sul-americanos. Está emvias de concluir-se a negociação para a associaçãodo Chile ao Mercosul, por meio de um acordo delivre comércio.

No fim do ano, o Mercosul firmou, com aUnião Européia, acordo-quadro de cooperação comvistas à criação futura de uma zona de livre comércioentre os dois grupos.

Com nossos vizinhos e principais parceirossul-americanos, mantivemos um diálogo de alto nível,freqüentee e construtivo. Houve intensa troca devisitas e contratos em todos os títulos, nosso principalparceiro na região. Além da própria Argentina, opresidente Fernando Henrique Cardoso visitou oChile, a Venezuela, o Uruguai e o Peru.

Em outra a atuação marcante na América doSul, coordenamos a tuação dos Países Garantes doProtocolo do Rio de Janeiro em relação aosincidentes fronteiriços entre o equador e o Peru. Opapel dos Garantes foi fundamental no sentido deevitar o agravamento das tensões, permitir o

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estabelecimento de uma zona desmilitarizada epromover o diálogo direto entre as partes.

As relações com os Estados Unidosencontram-se em fase particularmente positiva, peladimensão dos interesses comuns e pelos avanços quese realizam em diferentes campos na construção deuma parceria estratégica. A visita do presidenteFernando Henrique Cardoso aos EUA, em abril,criou as condições para uma interlocução ainda maisfluída. Por iniciativa dos dois presidentes, o chefe doEscritório Comercial da Casa Branca, MickeyKantor, e eu demos início a uma revisão do comérciobilateral com vistas à ampliação do intercâmbio e àmelhoria das condições de acesso de produtosbrasileiros ao mercado norte-americano.

As visitas presidenciais à União Européia, aoReino da Bélgica, à Alemanha e a Portugaldemonstraram o interesse com que as autoridades eo empresariado europeu se voltam para o novoBrasil, democrático, estável e em crescimento.

País que acolheu importantes comunidadesde origem judaica e palestina, o Brasil acompanhacom interesse o processo de paz no Oriente Médio.

Minha visita a Israel e à Faixa de Gazabuscou abrir avenidas de cooperação, entendimentosesses que prosseguiram com a visita ao Brasil dopresidente Yaser Arafat.

Especial atenção vem sendo conferida à Ásia,região de importância crescente no cenáriointernacional. As visitas presidenciais à China e àMalásia significaram nosso interesse em umaaproximação mais estreita com a região. Este ano,estão previstas visitas do Presidente da República àÍndia e ao Japão, país com o qual comemoramos,em 1995, 100 anos de relações diplomáticas.

No que se refere à África, inauguramos novafase no relacionamento com a África do Suldemocratizada, com a troca de visitas em nível dechanceler. Recebemos dos presidentes de Angola eda Namíbia, além dos chanceleres do Quênia e deMoçambique . É importante mencionar, no contextoda política africana, a contribuição que o Brasil vem

prestando ao processo de paz em Angola.Em 1995, o Brasil manteve participação ativa

nos debates conduzidos no âmbito das NaçõesUnidas, sobre os diversos temas da realidadeinternacional. Confirmamos nosso compromisso coma Organização e o interesse em sua reforma, comvistas à modernização e a maior eficácia de suaatuação. O presidente Fernando Henrique estevepresente às comemorações do qüinquagésimoaniversário da ONU, ocasião que manteve inúmeroscontatos com chefes de Estado e de Governo depaíses amigos.

Em relação à ação diplomática brasileira noplano multilateral, é importante ressaltar o ingressodo Brasil no Regime de Controle de Tecnologias deMísseis (MCTR), foro internacional destinado àcoordenação das políticas de controle de exportaçãode equipamentos e tecnologias que possam contribuirpara a proliferação de vetores de armas de destruiçãoem massa. Para o Brasil, que busca maior acesso àstecnologias sensíveis para fins pacíficos, sãoindispensáveis credenciais sólidas de confiabilidadee responsabilidade internacional, como as querepresenta nossa admissão ao MCTR.

Em 1996, a chancelaria brasileira continuaráa perseguir os objetivos fixados pelo Presidente daRepública no início de seu mandato, animada pelaexcelente receptividade que o Brasil vem encontrandono exterior e determinada a ampliar, cada vez mais,os espaços de nossa atuação externa.

“O Brasil e a OMC”Artigo do Secretário-Geral das RelaçõesExteriores, Embaixador Sebastião do RegoBarros, publicado na “Gazeta Mercantil”, e noDiário “La Época”, de Santiago do Chile. Riode Janeiro e Santiago do Chile,respectivamente, em 26 de janeiro e 17 defevereiro de 1996

Ao celebrar o seu primeiro aniversário, aOrganização Mundial de Comércio iniciou umprocesso de avaliação sobre o seu primeiro ano de

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funcionamento e de discussão sobre o futuro dasnegociações comerciais. Em Vancouver, no Canadá,e em Genebra, cidade onde se encontra a sede daOrganização, seus países-membros realizaram, nofinal do ano passado, reuniões para analisar oandamento da implementação dos acordos daRodada Uruguai e para avaliar a conveniência de quenovos temas relacionados a comércio sejamincorporados à agenda da OMC já a partir daprimeira Conferência Ministerial, que ocorrerá emCingapura, em dezembro deste ano.

Os encontros de Vancouver e de Genebraforam marcados pela moderação. A grande maioriados países, desenvolvidos ou em desenvolvimento,têm reconhecido que a agenda futura da OMC, e daReunião de Cingapura em especial, deverá serequilibrada, combinando o trabalho deimplementação dos acordos já existentes com a tarefade assimilação cautelosa de novos temas. A exemplodo GATT, seu antecessor, a OMC fundamenta-seno consenso e no contrato entre as partes que aintegram, e novas propostasde ampliação do escopodas negociações somente poderão ser aceitas casonão exacerbem antagonismos e não ameacem oconsenso a custo preservado nos últimos anos.

A principal conclusão dos encontros foi a deque, ao menos a curto e médio prazo, o maior desafiodos países membros da OMC é assegurar-lhe bomfuncionamento. A estrutura da Organização já estácompleta, mas falta conferir-lhe estabilidade ecredibilidade, o que decorrerá do cumprimentointegral das obrigações da Rodada Uruguai, daobservância dos calendários e do respeito àsdecisões do mecanismo de solução de controvérsias,tarefas que dependem mais da disposição dosGovernos do que da eficiência do Secretariado daOMC.

Para a economia internacional, ofortalecimento do sistema multilateral de comércio, eda OMC em particular, representa a segurança deque eventuais impulsos protecionistas não redundarãono fechamento dos mercados mundiais. Para o Brasil,

com uma pauta de comércio exterior diversificadaem produtos e equilibrada entre os diversos paísescompradores, um sistema multilateral de comércioestável e previsível representa a manutenção demercados abertos em todos os continentes. Comcerca de 1/5 de suas vendas destinadas a cada umde seus principais mercados (o europeu-ocidental, olatino-americano, o norte-americano e o asiático),ao Brasil não interessaria o recrudescimento de umnacionalismo comercial agressivo, a exemplo do queocorreu nos anos 30, ou a divisão da economiainternacional em blocos regionais fechados aocomércio com outras partes do mundo, como algunsanalistas chegaram a prenunciar em meio aosimpasses, depois superados, da Rodada Uruguai.

Pela ótica dos interesses brasileiros, o bomfuncionamento da OMC não significa, no entanto,apenas a preservação de um comércio internacionaldesimpedido e fundado em regras estáveis. Significatambém a garantia de que medidas específicas quevenham a ser adotadas por outros países contraprodutos brasileiros poderão ser coibidas caso sejamincompatíveis com os princípios e acordos previstosna Organização. Países em desenvolvimento comoo Brasil são antes vítimas do que agentes dounilateralismo comercial, e o recurso a um mecanismode solução de controvérsias como o da OMC é omelhor instrumento de defesa contra medidasprotecionistas. Uma das principais diferenças daOMC em relação ao GATT é a existência de umÓrgão de Apelação com poder de julgar mesmoquando não há consenso entre as partes e, mais doque isso, com autoridade para exigir o cumprimentode suas decisões. Brasil e Venezuela, por exemplo,já iniciaram um processo contra os Estados Unidospela imposição do que consideram ser uma legislaçãodiscriminatória às suas exportações de gasolina eaguardam parecer que poderá indicar a necessidadede reformulação da legislação norte-americana oude concessão de compensações comerciais.

Outra vantagem para países emdesenvolvimento como o Brasil decorrente do

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fortalecimento da OMC é a possibilidade de que aOrganização proceda ao disciplinamento de medidasque, apesar de provocarem efeitos na área comercial,não foram suficientemente regulamentadas em forosde comércio. É o caso de medidas comerciasadotadas com base em alegações de caráterambiental e que provocam discriminação contraexportações de países em desenvolvimento. Os selosverdes, por exemplo, que proliferaram a partir demeados da década de 80, baseiam-se quase sempreem critérios de escassa fundamentação científica, quevalorizam processos domésticos de produção nãonecessariamente mais saudáveis do ponto de vistaambiental do que aqueles adotados em outros países.

O Comitê de Comércio e Meio Ambiente daOMC, cujo programa de trabalho foi definido naReunião de Marraqueche, de abril de 1994, e quefoi presidido inicialmente pelo Ministro Luiz FelipeLampreia, pode ser um importante instrumento paradisciplinar o uso de selos verdes e para evitar quesejam criados apenas para proteger indústriasnacionais pouco eficientes.

Consciente destes benefícios proporcionadospelo fortalecimento do sistema multilateral decomércio, a diplomacia brasileira vem atribuindogrande importância à consolidação e ao bomfuncionamento da OMC. Nossa atuaçãofundamenta-se em três prioridades. A primeira e maisgenérica é a preservação do papel do Brasil comoum dos principais atores nas negociações dentro daOMC. Durante a Rodada Uruguai do GATT, o Brasilreforçou a posição de destaque assumida pelo Paísnas rodadas anteriores. Já neste primeiro ano daOMC, a ativa participação brasileira garantiu-nos aescolha para a Presidência do Órgão do Solução deControvérsias, que será desempenhada peloEmbaixador Celso Lafer, cujas qualidades pessoaisforam determinantes na eleição, e a representaçãodo Brasil no seleto “Grupo de Altos Funcionários”que se vem reunindo para discutir o futuro daOrganização. Quanto mais atuante for o Brasil naOMC, mais poderá influenciar seus trabalhos com

vistas a que se concentrem em medidas quefavoreçam a abertura comercial em setores e paísesque representam os maiores mercados para os nossosprodutos.

A segunda prioridade do Brasil na OMC é oaprofundamento da liberalização comercial emsetores tradicionais. Como forma de reduzir asdistorções que caracterizam o comércio de bensagrícolas, em especial pelo recurso abusivo aossubsídios na União Européia e nos Estados Unidos,o Brasil tem advogado o estrito cumprimento doacordo de redução de subsídios à produção e àexportação no setor, cujo término em 1999 lançaránova etapa de negociação. Também privilegiamos aimplementação do cronograma de desmantelamentodo Acordo Multifibras na área têxtil e a ampliaçãodo acesso a mercados para alguns produtosindustrializados e semi-industrializados que ainda sãoinjustificadamente protegidos por barreiras tarifáriase não-tarifárias. A Reunião Ministerial de Cingapuraserá ocasião para avaliar o cumprimento destesacordos negociados na Rodada Uruguai e parareafirmar nosso propósito de que continua a serindispensável a maior liberalização em setorestradicionais.

A terceira e última prioridade do Governobrasileiro em sua atuação na OMC é a de evitar quea eventual assimilação de “novos temas” à agendada Organização se faça de modo precipitado ou emdetrimento dos interesses dos países emdesenvolvimento.

Diversos assuntos têm sido suscitados porpaíses desenvolvidos, como comércio e questõestrabalhistas, regionalismo e investimentos, mas há oreconhecimento generalizado de que a incorporaçãode novos temas à agenda da OMC deve requerer oconsenso entre as partes e o amadurecimento préviodas discussões sobre que aspectos se relacionamdiretamente ao temário comercial. A tarefa de paísescomo o Brasil no tratamento destes assuntos não deveser tanto a de opositores por princípio, mas a depromotores de um debate em que a assimilação de

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novos temas, além de cautelosa e fundada noconsenso, seja equilibrada por avanços nos demaissetores tradicionais da OMC ou em novas áreas quepodem ser do interesse dos países emdesenvolvimento, como comércio e correntesmigratórias, políticas de concorrência e “dumpingfinanceiro” (competição desleal em termos decapacidade de financiamento de exportações).

O sucesso do Governo brasileiro na suaestratégia de participar ativamente das decisões e dopróprio fortalecimento da OMC e de auferir osbenefícios decorrentes da liberalização dos mercadosmundiais dependerá não apenas de nossa atuaçãoem Genebra, mas também e principalmente de nossacredibilidade como parceiros comerciais. Ao contráriodo protecionismo, a liberalização raramente é um atounilateral. Concessões são feitas e regras multilateraissão respeitadas na medida em que os demaisparceiros o fazem.

O Brasil empreendeu um ambiciosoprograma de liberalização comercial nos últimos anose vem pautando sua atuação pelo respeito às regrasemanadas dos acordos que firmou na OMC e noâmbito regional. Tem, portanto, todas as condiçõesde continuar a ser um dos países mais atuantes naOrganização e de utilizá-la como instrumento para oacesso cada vez maior às exportações de seus bense serviços.

“Um projeto de política externa para 1996”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado na Folha de São Paulo. São Paulo,28 de janeiro de 1996

Na entrevista coletiva de 17 de janeiro, opresidente FHC forneceu o marco básico com o qualo Itamaraty está trabalhando para continuar aimplementar a política externa deste governo.

Nela o presidente alinhou alguns doselementos que melhor contribuem para impulsionara nossa política externa, projetar uma imagem positivado Brasil junto aos nossos parceiros e neles alimentar o

interesse demonstrado de tão variadas formas em 1995.O apoio popular ao governo, a sustentação

da estabilidade econômica, o crescimento daeconomia — ainda que inexistam problemas setoriais— , a forma serena com a qual foram tratadosproblemas conjunturais, como a crise financeira queafetou a América Latina, ou questões tópicas comoo desequilíbrio de balança comercial, as mostras deamadurecimento e equilíbrio na forma de fazer políticae de administrar o país e a determinação de prosseguiras reformas estruturais indispensáveis para consolidara estabilidade e o crescimento, fomentar osinvestimentos produtivos nacionais e internacionais etornar o país mais competitivo e dinâmico.

A esses elementos somam-se oamadurecimento da democracia brasileira, que setraduz em estabilidade e transparência — duasmercadorias muito apreciadas no mundo competitivoda globalização — e uma abordagem objetiva epragmática da questão social, sem ranços populistas,com ênfase na educação — o grande trunfo dospaíses que estão dando certo — e sem descuidar aquestão dos direitos humanos.

Somando ao que fizemos em matéria dereforço da nossa credibilidade internacional em 1995,de que é um paradigma o ingresso do Brasil noMTCR — o regime de controle de tecnologiamissilística — temos para 1996 um cenário quaseideal para um grande país em desenvolvimento comoo Brasil se mova em um mundo marcado pelaintegração econômica, pela globalização e pelaintensa busca de parcerias novas ou renovadas. Énesse cenário que a política externa continuará a serum instrumento do projeto de estabilização comretomada sustentada do crescimento.

É também nesse cenário que nóscontinuaremos o trabalho de renovar ou revitalizaras nossas principais parcerias externas, acrescentandoaos países visitados pelo presidente em 1995 o Japão,Argentina, França, Canadá e Itália.

Vamos também aprofundar o compromissocom novas e importantes parcerias que, por razões

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que será longo explorar aqui, ficaram em segundoplano até passado recente – a Índia e a África do Sul.

A dimensão da diplomacia presidencialcontinuará a ser central na promoção dos nossosinteresses no exterior, pois ela provou ser capaz demobilizar os agentes governamentais e econômicose catalisar iniciativas e vontade políticas com paísesque ocupam um lugar de realce em nosso comérciointernacional ou nos fluxos de investimentos etecnologia de que necessitamos.

Na seleção de nossos objetivos diplomáticoscontinua a prevalecer um sentido de relevância eequilíbrio. Centrando nossa atenção na nossavizinhança continental – a América do Sul —, vamosintensificar nossa política asiática e continuarexplorando as oportunidades que surgiram na África,como Angola, Moçambique e África do Sulprenunciando um “renascimento africano”, e noOriente Médio, em vias de pacificação. O Mercosul,EUA, União Européia, Japão, China e Rússiacontinuarão a ser nossos pontos focais.

O bilateralismo clássico que estamosenergizando com a diplomacia presidencial soma-seo intenso multilateralismo destes anos 90. Em 1996a integração e a consolidação do Mercosul — aíincluídas as relações do bloco com outros países ouregiões – continuarão a ocupar grande parte dosesforços da nossa diplomacia econômica.

A OMC será palco de intensa atividade dedefesa dos interesses do comércio exterior do Brasil,que busca competitividade ao tempo em que desejaequidade e “fair play” no acesso a outros mercadose prudência para a consolidação do Real. Aintegração hemisférica, com o seguimento da Cúpulade Miami e da reunião de Denver, é outra áreaprioritária da diplomacia multilateral brasileira,combinando uma vertente política de promoção edefesa da democracia com uma vertente econômicade integração e liberalização comercial que deve sercuidadosamente calibrada e ajustada aos nossosesforços de consolidação do Mercosul e deampliação das suas parcerias em todo o mundo.

E a ONU, que não chegou a completar oprojeto de reforma e fortalecimento dos seus órgãose de melhoria da sua eficiência, continuará a exigirdo Brasil, em 96, um trabalho intenso de reflexão,acompanhamento e participação.

Nossa agenda continua, portanto, intensa evariada. É um reflexo natural do peso específico eda presença internacional global do Brasil, mas étambém o resultado que estamos realizando em nossopróprio país.

Da perseverança na realização desse projetointerno dependem em grande medida a continuidadedos bons resultados que temos alcançado lá fora e aconsolidação da mudança qualitativa que se estáoperando na imagem e na inserção internacionais doBrasil.

“Novas bases para a relação com o México”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado na Gazeta Mercantil, 14 de março de1996

As visitas de presidentes brasileiros aoMéxico haviam ocorrido no final dos nos setenta einício dos oitenta, quando as relações entre os paíseslatino-americanos se desenvolviam no marco maisestrito do bilateralismo, a que se agregava a dimensãodas preferências tarifárias bilateralteramenteacordadas no âmbito da Aladi. Mais de uma décadade intensas mudanças nos cenários internacionais eregionais — a globalização, no primeiro, e a integraçãosub-regional e as reformas no segundo —transformou a base da nossa relação bilateral com oMéxico. Mudou o México, abrindo-se ao exterior eaderindo ao Nafta, e mudou o Brasil, cuja participaçãono Mercosul deu uma nova dimensão externa para oPaís. É natural que as relações bilaterais se adaptema essas transformações – indo além do modestocrescimento do comércio bilateral, passou a favorecer,em menor proporção, o México.

A visita do presidente Fernando HenriqueCardoso ao México obedeceu, portanto, à

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necessidade de redefinir nosso relacionamento comuma das economias mais importantes do hemisfério,tanto em termos de Produto Interno quanto emvolume de comércio exterior ( as exportações em1995 ultrapassaram US$ 79 bilhões, anteimportações da ordem de US$ 72 bilhões ). Comum processo de transformações econômicas semprecedentes na sua história ( que se aprofundou em1995, até como resposta à crise ), o México passariatambém a ter uma influência indireta – positiva ouadversa, segundo o momento – sobre toda a nossaregião. Um relacionamento mais intenso entre o Brasile o México obedece, portanto, à dimensão relativadas duas economias, à intensidade dos processosde transformação e de integração sub-regional queos dois países estão vivendo e à influência queexercem um sobre o outro em razão dos impactosda sua inserção externa.

Além de indiretamente manifestar seu apoioao processo de ressurgimento do México após a crisede 1995, o presidente foi levar essa mensagemespecífica sobre a importância de atualizarmos orelacionamento à luz das novas circunstâncias de cadapaís. O presidente aproveitou também para exporno México um retrato do Brasil do Real, daestabilização e das reformas, de um país que temcrescido como parceiro internacional e que estárelançando suas relações com seus principais sóciosem razão dos avanços que vem alcançando no planointerno.

Ao apresentar esse retrato, o presidenteinsistiu na nova dimensão internacional do Brasil dadapor sua participação no Mercosul: agora umarealidade concreta e indiscutível.

O êxito do Mercosul faz parte, hoje, daprópria identidade de cada um de seus membros,reforçando-as em vez de diluí-la. O presidente deixouclaro que o relacionamento do Brasil com o México,em boa medida, passa pela condição de membro doMercosul, assim como a identidade mexicana demembro do Tratado de Livre Comércio da Américado Norte não é ponto a ser questionado por seus

parceiros.É a partir desse quadro que as bases de uma

nova relação Brasil-México se estão lançando. Opotencial de cooperação entre o dois países podeser constatado pelo simples fato de que, juntos, Brasile México representam um mercado de 250 milhõesde pessoas, com um produto de mais de US$ 900bilhões.

O comércio exterior dois dois países somouUS$ 246 bilhões em 1995 — e está em crescimento— mas menos de 0,4% desse valor corresponde aocomércio bilateral, que ano passado alcançou poucomenos de US$ 1,2 bilhão. Para se ter outro elementode comparação, essa cifra representa pouco maisde 10% do comércio entre o Brasil e a Argentina,que alcançou cerda de US$ 10 bilhões no mesmoano.

Apesar de relativamente modesto, ante seuimenso potencial, o perfil do comércio entre o Brasile o México apresenta grande complementaridade,elemento-chave para engrenar o aumento dointercâmbio ao processo mais amplo da globalizaçãoe da integração sub-regional. A pauta de comérciobilateral é, de lado a lado, composta majoritariamentede produtos industrializados, de alto valor agregado:o principal item de exportação do México para oBrasil no ano passado foram os automóveis depasseio e, em contrapartida, o Brasil teve na vendade autopartes seu principal produto de exportaçãopara o México. Trata-se de um perfil de comérciomaduro entre os dois países. Temos qualidade narelação: falta-nos quantidade.

Esse potencial começa, também a se tornaruma realidade na área de investimentos: sãoinvestimentos produtivos mexicanos instalando-se noBrasil e investimentos brasileiros dirigindo-se aoMéxico. O melhor conhecimento recíproco é, aqui,um fator fundamental, a ser obtido com uma políticamais agressiva de exploração dos mercados de bense serviços, das oportunidades de parcerias entreempresas e de análise das perspectivas abertas comas privatizações e a flexibilização de monopólios

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estarias nos dois países.O fato de que esse novo relacionamento ideal

não se dá mais em bases puramente bilaterais, massim no contexto das inserções regionais de cadaparceiro, não é obstáculo.

Ao contrário, o regional e o bilateral não sãoinstâncias excludentes, mas complementares, queagem em sinergia. Já temos o compromisso derenegociar, até 32 de dezembro deste ano, opatrimônio histórico de concessões comerciaisrecíprocas no âmbito da Aladi em uma basemultilateral entre o Mercosul e o México. A partirdesse acordo, estará construída uma base sólida paraque se alcance um acordo 4 + 1 entre o Mercosul eo México — proposta que a parte mexicana nosadiantou em termos genéricos durante a visita e queestá sendo mais precisada e analisada pelo Mercosulem conjunto.

A visita do presidente da República foi umsinal inequívoco do reconhecimento dessas novasrealidades nas relações entre o Brasil e o México eda vontade política brasileira de dar novas respostasaos desafios e possibilidades do relacionamento entreum Brasil mais forte interna e externamente e umMéxico que retoma o ritmo das suas transformações— um país que deve estar sempre sob a atençãoprioritária do governo e do empresariado brasileiro.Dessa forma, poderemos chegar ao novo patamarque os dois presidentes colocaram como um objetivonas nossas relações.

“Uma nova era nas relações Brasil-Japão”Artigo do Ministro de Estado das Relações Ex-teriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, pu-blicado na Gazeta Mercantil. 28 de março de1996

O Presidente Fernando Henrique Cardosofaz uma das viagens internacionais mais importantesde seu Governo: a visita de Estado ao Japão. Será acoroação das comemorações do centenário dasrelações bilaterais, que já levaram ao Japão o Vice-Presidente Marco Maciel e trouxeram ao Brasil a

Princesa Sayako, filha mais nova do ImperadorAkihito. Mais do que isso, a visita presidencialconsolidará uma nova etapa do relacionamento nipo-brasileiro, sinalizando que a parceria do Japão alcançao topo das prioridades da política externa brasileirae que o Brasil volta a ocupar lugar de destaque naagenda japonesa.

Há bons motivos para isso. Nos últimos anos,mudanças nos planos interno e externo dos doispaíses produziram novas áreas de convergência e deinteresse compartilhado e oportunidades acrescidasde intercâmbio, cooperação e negócios. No Brasil,a consolidação da estabilidade com crescimento daeconomia e as perspectivas favoráveis deencaminhamento das reformas constitucionais recuperama confiança dos agentes econômicos estrangeiros, e dosjaponeses em particular, que têm demonstrado grandeinteresse em voltar a investir no Brasil.

Para dar a exata medida desse interesse, bastalembrar o êxito absoluto do lançamento, em junhoúltimo, de títulos brasileiros no Japão, no que foireconhecido como a melhor operação do gêneroenvolvendo mercados emergentes em 1995.

E se a estabilidade econômica brasileira traza possibilidade de maior participação nos fluxosinternacionais de comércio, capitais e tecnologias, oMercosul, no plano regional, é percebido comoalavanca para uma melhor inserção do Brasil naeconomia mundial. Prioridade máxima da diplomaciabrasileira, o Mercosul oferece uma dimensão adicionalà nossa identidade e se firma como um interlocutorimportante para outras regiões e países, como oJapão, atraídos por um mercado sub-regional de 200milhões de habitantes e com enorme potencial decrescimento.

O Japão, por sua vez, busca canalizar o êxitoeconômico que se tornou a marca registrada do paísem parcerias dentro e fora de sua região. Na Ásia,espaço por excelência da sua projeção externa, oJapão amplia sua presença, privilegiando as relaçõescom as economias emergentes, aproximando-se daChina e tendo participação central em foros regionais

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como a APEC (Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico). Mas a condição de grande potênciaeconômica mundial leva naturalmente o Japão aprocurar áreas de atuação fora do contexto asiáticoe países com os quais desenvolver laços mais sólidosde intercâmbio.

O Brasil, nesse contexto, desponta como umaparceria única no mundo em desenvolvimento forada região asiática, e não mais dentro da estratégiaanterior de supridor de matérias-primas e compradorde bens de capital, mas como mercado parainvestimentos produtivos. Por outro lado, tanto oBrasil quanto o Japão tem hoje maior espaço demanobra no plano internacional e buscam elevar operfil da sua participação nos processos decisóriosmundiais, em foros como a ONU e a OMC. Issonos aproxima e da à relação bilateral elementosadicionais de convergência de interesses.

A esses elementos positivos que permitemfalar em uma nova relação, agrega-se hoje, comosímbolo e como realidade poderosa, a presença noJapão de uma numerosa e ativa colônia brasileira, asegunda maior no país, com cerca de 150 mi1integrantes. São brasileiros que hoje reproduzem, emcerta forma, ainda que em proporção menor, o quea imigração japonesa fez como principal vetor dasrelações entre os dois países ao longo deste cem anos.

Brasil e Japão estão, portanto, diante de umafase particularmente promissora do relacionamentobilateral, que, após atingir um ponto alto na segundametade da década de setenta, com projetos degrande envergadura, passou por uma etapa de menordinamismo, sobretudo em razão dos dados negativosda inflação e da dívida externa brasileira e doinsistente fechamento da economia brasileira, quepredominaram até pouco tempo atrás. Houve umareversão da imagem brasileira; hoje, superados essesproblemas, o Brasil volta a despertar a atenção doJapão como um parceiro confiável e como umarelação produtiva a ser cuidada e promovida.

Nosso objetivo com a viagem do PresidenteFernando Henrique Cardoso é claro: colocar o Japão

no topo das prioridades brasileiras, como umarelação equivalente às mais importantes que nósmantemos no mundo desenvolvido. Afinal, o Japãotem um importante papel a desempenhar nodesenvolvimento brasileiro, especialmente através deinvestimentos produtivos e da expansão da infra-estrutura existente nas áreas energética — mineração,petróleo, eletricidade e gás canalizado —, detelecomunicações e de transporte.

A visita presidencial ao Japão não poderia,portanto, ocorrer em momento mais oportuno. OPresidente Fernando Henrique Cardoso, comoporta-voz por excelência do novo Brasil, vem somaràs credenciais cada vez melhores do País no exteriora credibilidade e o respeito pessoais que despertana comunidade internacional. Além disso, adiplomacia presidencial é hoje uma ferramentainsubstituível na condução das relações externas deum país. É preciso, pois, usá-la, e usá-la bem,sobretudo neste momento em que o Brasil semoderniza e abre suas portas para o mundo.

“Uma diplomacia afirmativa na África”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado no Correio Braziliense. Brasília, maiode 1996

Desde o início do Governo FernandoHenrique, o Itamaraty tem feito uma atualização dasnossas relações com a África, partindo de umlevantamento sistemático dos assuntos pendentescom cada um dos países e das possibilidades reaisde ampliação do intercâmbio e da cooperação,inclusive à luz dos processos de pacificação eestabilização política na região. O Departamento daÁfrica e do Oriente Próximo passou por umareestruturação e esta inteiramente voltado para esseesforço, que traduz a idéia de que a África deve serpara nós uma área de criativa prioridade.

Uma política africana de resultados nos planospolítico, econômico e de cooperação parte dosmuitos elementos de identidade entre o Brasil e a

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África e da contribuição cultural e étnica do continenteafricano em nossa formação como nação soberanae independente — para não falar da riqueza materialcriada pelo trabalho africano. Mas a identidade coma África não pára aí. Também compartilhamos comos países africanos interesses próprios do mundo emdesenvolvimento nas áreas econômica, social,ambiental e até política.

O renascimento democrático na África e aadoção de políticas de desestatização e aberturaeconômica competitiva abrem um horizonte novo depossibilidades para vários países africanos,contrabalançando em grande medida os problemasque ainda afetam certas áreas e povos do Continente.Alguns países africanos poderão ser, pelo seupotencial e vigor, molas propulsoras de umrenascimento do desenvolvimento africano em geral.Combinada com o novo impulso de desenvolvimentoeconômico no Brasil do Plano Real, essa realidadedeve ter um impacto positivo de médio e longo prazonas relações. A vizinhança pelo Atlântico Sul — quenos aproxima de toda a África, e não apenas dospaíses ribeirinhos da África Austral e Ocidental—cria um espaço privilegiado de entendimentodiplomático e de cooperação entre a África e aAmérica do Sul, em especial o Brasil. Queremosexplorar esse espaço.

Nosso compromisso com as relações Brasil-África é firme. A África é um objetivo insubstituívelda diplomacia brasileira. Ternos presença sólida naregião das mais sólidas entre os países emdesenvolvimento — e uma agenda da qual é exemplarnossa participação na UNAVEM III, a maior forçamilitar que enviamos ao exterior desde a SegundaGuerra Mundial e que foi viabilizada, apesar dacontenção orçamentária, como gesto político deprimeira grandeza em relação a Angola e a todo ocontinente africano em geral, para deixar claro que aÁfrica continua sendo prioridade para nós. OPresidente Fernando Henrique tem insistido nesseponto em diversas oportunidades. Nossa açãodiplomática expressa isso com fatos. Visitei a África

do Sul. Fui a Moçambique para a reunião que ultimoua Comunidade dos Países de Língua Portuguesa,iniciativa que tem um importante vetor de políticaafricana do Brasil e à qual temos dado todo apoio.Recebemos os Presidentes da Namíbia e de Angola,os Chanceleres de Moçambique, da África do Sul,da Namíbia e do Quênia. O Presidente FernandoHenrique visitará Angola e a África do Sul neste ano.Em todas as oportunidades, à margem de reuniõesinternacionais, procuro trocar impressões einformações com meus colegas africanos. O diálogocom os países africanos de língua portuguesa éintenso. 0 mesmo ocorre com a Namíbia e a Áfricado Sul. Através da Agência Brasileira de Cooperaçãoe com a participação de entidades do setor privadobrasileiro, estamos empenhados em promover umcooperação mais ativa com alguns países africanos quenos têm apresentado pleitos concretos e promissoresna área de formação de recursos humanos.

Estamos lotando mais adequadamentealgumas das nossas missões diplomáticas na África,reestruturando o quadro de embaixadas cumulativaspara dar-lhes maior eficiência e estabelecendo relaçõesdiplomáticas com sete países africanos com os quaisainda não tínhamos relações ou trocado missões.

Estamos nos aproximando da Organizaçãoda Unidade Africana para acompanhar mais de pertoa realidade política e de cooperação do Continentee conhecer melhor as formas de interação regional esub-regional que ali se dão. Participamos da reuniãoda SADC — Southern Africa DevelopmentCooperation, que acompanhamos com atenção pelapossibilidade futura, mas real, de estabelecerintercâmbio e compromissos de liberalizaçãocomercial com o Mercosul.

Temos dado cooperação a países africanosna medida das possibilidades — as quais,francamente, diferem muito das que prevaleceram nadécada de 70 e início dos anos 80, quando houvecondições objetivas de oferecer créditos subsidiadosa vários países africanos. Hoje as condições sãooutras no Brasil e na África.

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É preciso trabalhar com essa realidade. Nósqueremos parcerias que engajem os dois lados emum esforço comum, criativo, para desenvolver asrelações. Parcerias que mobilizem os Governos e osagentes econômicos dos dois lados, porque asrelações internacionais de hoje comportamnecessariamente uma forte dose de iniciativa privada.Parcerias que levem em conta as oportunidades reaisde cooperação e intercâmbio e que atuem comrealismo, sem gerar expectativas descabidas, e quese centrem em algumas iniciativas de maior visibilidadee efeito multiplicador.

Temos exortado as Embaixadas africanas etodos aqueles que têm um interesse especial pelaÁfrica a que ajudem a buscar fórmulas criativas depromover essas parcerias renovadas. Que ajudem atrazer a África mais para perto do Brasil.

E, porque as relações com a África devem irmais além do campo econômico, estamos propondoaos nossos parceiros na Zona de Paz e Cooperaçãodo Atlântico Sul duas iniciati vas políticas, com reflexopotencial positivo na área de cooperação e altavisibilidade de opinião pública interna e internacional.A primeira é um Tratado de Desnuclearização doAtlântico Sul, que formalizará a Zona de Paz eCooperação, que irá completando adesnuclearização total do Hemisfério Sul. A segundaé um Tratado de Proteção do Meio AmbienteMarinho no Atlântico Sul, com mecanismos decooperação na área ambiental marinha, prevenção econtenção de acidentes ecológicos, intercâmbio deinformação e atuação coordenada.

A diplomacia brasileira tem plena convicção deque não pode praticar exclusões ou adotar abordagensestreitas das relações internacionais do Brasil. Por isso,estamos fazendo um grande esforço diplomático emdiversas frentes ao mesmo tempo. O único limite sãonossos próprios recursos. A África é uma dessas frentes,como prova o extenso inventário do que temos feito ecomo sinaliza o que nós pretendemos continuar a fazercom nossos parceiros na região.

Patentes: Um grande passoArtigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado no Jornal o Globo. Rio de Janeiro,15 de maio de 1996

O presidente Fernando Henrique Cardosoacaba de sancionar o projeto de lei de proteção aosdireitos de propriedade intelectual, tal como aprovadono dia 10 de abril na Câmara dos Deputados. A leique entra em vigor é o resultado de um dos maisabrangentes e extensos processos de consulta enegociação entre o Governo e agentes econômicose grupos sociais interessados, dentro do PoderExecutivo, entre o Executivo e o Legislativo e dentrodo Legislativo. É um exemplo acabado de comofuncionam as instituições democráticas em um paísda complexidade do Brasil e de como é possívelaprovar, com maioria expressiva, legislação modernae com efeitos diretos sobre os investimentos e asrelações comerciais internacionais do Brasil.

O projeto de lei aprovado resguarda osinteresses brasileiros de forma ampla e variada, emuito particularmente naqueles pontos que chegarama suscitar polêmica e uma natural combatividade dosdefensores das diferentes opções. No que se refereà fabricação local, licença compulsória e importaçõesparalelas, a lei apresenta solução adequada para odesenvolvimento tecnológico da indústria nacional emcondições internacionais de competitividade, ao exigira fabricação desde que economicamente viável, eao admitir importações para garantir o atendimentodo mercado em condições normais de qualidade,quantidade e preço. O pipeline contemplado na leipossui salvaguardas suficientes para, em primeirolugar, resguardar os direitos das empresas brasileirasque tenham produzido e comercializado produtos ouque tenham investido para produzir e comercializaresses produtos no Brasil; em segundo lugar, paragarantir que não haverá pagamento retroativo deroyalties nesses casos; e, em terceiro lugar, paraassegurar que não haverá qualquer prejuízo àpesquisa nacional. Em matéria de biotecnologia, a lei

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respeita os limites do Acordo de Trips para opatenteamento de microorganismo e de processosbiotecnológicos, desde que atendidos os trêsrequisitos de patenteabilidade ( novidade, passoinventivo e aplicação industrial ).

As salvaguardas são suficientes para evitar opatenteamento de descobertas, de seres vivossuperiores ou da diversidade biológica brasileira.Finalmente, o prazo de transição de um ano éadequado às necessidades da política industrial etecnológica do Brasil.

Não há vencidos nem vencedores na árdua ecomplexa negociação que se fez desde a proposiçãoinicial do projeto de lei. Ganha o processo decisóriodemocrático, que pode até ser lento se comparadoàs decisões de força, mas é a única garantia de queos resultados são legítimos e destinados a durar.Ganha o Brasil, que aperfeiçoa a sua legislação emuma matéria fundamental no campo dodesenvolvimento científico, tecnológico e industrial.

Passamos a contar agora com uma legislaçãode nível internacional precisamente no momento emque o país vislumbra a possibilidade de dar um saltoqualitativo no seu processo de desenvolvimento e naforma como extrai benefícios das suas relações comseus principais parceiros desenvolvidos.

De fato, do ponto de vista da nossa políticaexterna, a aprovação da lei de patentes vem acrescentar-se a uma série de elementos novos ou renovados quedão uma nova projeção externa ao Brasil — umaprojeção que alia estabilidade política e econômica,abertura competitiva ao exterior, reformas estruturaispara consolidar a estabilização macroeconômica comcrescimento e controle da inflação, compromissos firmesna área de não-proliferação e acesso a tecnologiassensíveis ou duais e garantias amplas de participaçãoplena no sistema multilateral do comércio.

Não se trata, em absoluto, de acompanharmovimentos internacionais de forma crítica oualternada. Trata-se de uma realidade mais direta: oBrasil tem feito o que é preciso fazer na área decomércio, investimentos, não-proliferação e outras,

porque, no mundo da globalização, com suasoportunidades e riscos, não basta contar com ascaracterísticas de país grande e com imenso potencial,é necessário contar com credenciais que nos habilitema ser um participante de pleno direito nesse jogo. Eum parceiro dessa natureza conhece e respeita asregras do jogo, utilizando-as em seu benefício. Osresultados práticos dessa nova projeção são visíveis.A visita presidencial ao Japão, por exemplo, foi claraa respeito da mudança de abordagem em relação aoBrasil. As reformas que estamos fazendo – ecertamente entre elas se inclui a reforma da nossalegislação sobre propriedade intelectual – êm sidoinstrumento na mudança da percepção de curto,médio e longo prazo dos nossos principais parceiros,criando confiança — e confiança se traduz eminvestimentos diretos, mais empregos, mais atividadeeconômica com seu efeito multiplicador.

O impacto positivo da Lei de Patentes nasnossas relações com alguns dos nossos principaisparceiros desenvolvidos é evidente. Eliminamos umaárea de contencioso real ou potencial com graves riscospara nós, que temos reduzida margem de manobraquando confrontados com reações externas que, indodas sanções comerciais ao puro e simples desinteressepor investir aqui, afetam adversamente a nossa atividadeeconômica e reduzem a nossa capacidade de auferirbenefícios da relação econômica internacional.

É claro que a negociação da Lei de Patentesteve também um outro tipo de componenteinternacional forte, na medida que a tramitação internado projeto foi sempre acompanhada com ativointeresse por parte de alguns dos nossos parceiros.Mas a diplomacia brasileira tem sido enfática ao exigirrespeito às peculiaridades e complexidades do nossoprocesso decisório democrático. E hoje temos orgulhode poder dizer que esse processo decisório, ao chegara resultados da maior importância para fortalecer ascredenciais internacionais do Brasil, mostrou umaenorme capacidade de tratar o tema da propriedadeintelectual com isenção, objetividade eindependência.

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“Les relations Franco-Brésiliennes: À larecherche de temps nouveaux”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado na Revista França-Brasil. Maio de1996

A l’invitation du Président Jacques Chirac, lePrésident brésilien, Fernando Henrique Cardoso, estattendu en France — à Paris et à Lyon — les derniersjours du mois de mai 1996, pour une visite d’Etat.Ce sera le retour en France d’un vieil ami, d’unhomme politique dont la carrière universitaire etintellectuelle s’est bâtie en étroit contact avec laculture, l’ Université et la vie françaises. Ce sera aussiune visite vouée à être un appel à 1’approfondissementdes liens traditionnels qui ont toujours uni la Franceet le Brésil.

Le Gouvernement francais a voulu donner laplus grande importance à cette visite, en la qualifiantde visite d’Etat tant du point de vue du protocoleque de l’importance qu’il y accorde. De notre côté,la visite en France fait partie d’une double stratégiede la diplomatic brésilienne, conçue comme uninstrument des politiques de déloppment économiqueet social mises en place au Brésil.

II s’agit, d’une part, de réactiver nos relationsavec la France, un de nos plus importants partenaires,pris isolément. Et ceci, à partir de trois éléments quiont changé la nature même de l’image internationaledu Brésil: en premier lieu les progrès substantiels faitspar le Brésil depuis l’implantation du Plan Real en1994; en second lieu, le succès obtenu par le Présidcntde la République dans le domaine des réformesconstitutionelles qui assureront la consolidation de cePlan; enfin, la reprise de la croissance économiquedans un contexte douvérture de l’économicbrésilienne à la compétition étrangère.

D’autre part, la visite en France vient s’ajouterà un vaste programme de visites internationales duPrésidcnt à certains de nos plus importants partenairesdu monde développé ou en voie de développement,et ce afin de presenter les progrès du Brésil en matière

politique et économique et d’exp1orer les nouvellesvoies de cooperation désormais ouvertes. L’Europeoccupe une place privilégiée dans ce projet, car dierepond d’environ 30 pour cent de notre commerceextéricur — commerce qui montre un équilibreappréciable entre quatre grands pôles: l’Europe, lesEtats-Unis, l’Asie et l’Amérique Latine, avec au centrele Mercosud.

Nous tenons absolument à maintenir cetéquilibre et que l’Furope garde sa place dans nosrelations économiques internationales. C’est d’ailleurscette orientation qui nous a poussés à conclure unaccord-cadre interrégional de coopérationéconomique et commerciale entre le Mercosud etl’Union Européenne, accord signé à Madrid endécembre 1995 et qui est à créer dans un délairaisonable une zone de libre-échange entre ces deuxgroupes régionaux.

Conscient de ce que nos relations vont bienau-delà des relations officielles pour s’inscrire dansun cadre de rapports humains solides et departicipation active des entrepreneurs privés, c’estun Brésil renouvelé que le Président FernandoHenrique va présenter au gouvernement, au peupleet aux agents économiques privés français. Un Brésilbien connu de la France, mais qui regrette une certaineabsence de celle-ci ces dernières années, absencequi s’explique, mais qui ne saurait durer, sous peinepour la France de perdre une place importante qu’ellea toujours occupée en Amérique Latine en général etau Brésil en particulier, pour le plus grand benéficede nos deux peuples. Absence qui, heureusement.commenec à s’estomper, grâce à l’intérêt quecertaines entreprises françaises commencent àmontrer pour le marché brésilien, un marché de 160millions de consommateurs potentiels auxquelsviennent s’ajouter, par la voie de l’union douanière,les quarente millions de consommateurs des autresEtats-membres du Mercosud.

En fait, plusicurs éléments caractérisant leBrésil d’aujourd’hui s’ajoutcnt an trone des intérêtscommuns qui nous unissent à la France: la

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consolidation de notre démocratie, l’importanceaccordée aux attentes de la Société - y compris dansle domaine des droits de l’homme -, notreengagement en faveur de la non-prolifération d’armesde destruction massive, la stabilisation de notreéconomie grâce à une baisse soutenue de notreinflation à un niveau acceptable, la reprise de lacroissance économique avec pour conséquence unplus large accés des couches populaires à laconsommation de biens, des réformes qui permettentde moderniser notre économic tout en la rendanttoujours plus attrayante pour les investisseursinternationaux, la consolidation du Mercosud commegroupe d’intégration régionale et comme interlocuteurinternational valable et reconnu. En somme, nousvoulons mettre au profit des nos relations avec laFrance l’ensemble de perspectives positives quis’ouvrent à notre pays dans plusieurs domaines.

Ces perspectives nous permettent de regarderle monde extérieur comme une source fondamentaled’eléments indispensables à la consolidation de cette“révolution silencicuse” qui se fait au Brésil: desinvestissements productifs, tels que celui que la Régie

Renault vient d’annoncer, un accès plus libre de nosproduits aux marchés consommateurs et un recoursinconditionnel aux technologies indispensables à notredéveloppement scientifique et industriel.

La France a sans aucun doute un rôle jouerdans ce processus de renouvellement de la projectioninternationale du Brésil. Elle peut aussi en bénéficierlargement grâce à sa tradition de présence culturellepolitique et économique au Brésil. Les Francais nousconnaissent mieux probablement que la plupart despeuples développés — témoin, cette tradition desétudes liées au Brésil dans la droite ligne d’un Lévy-Strauss, d’un Fernand Braudel, d’un Roger Bastideet de tant d’autres.

La visite d’Etat que le Président FernandoHenrique doit faire en France sera donc une occasionunique pour que nos gouvernements respectifsrelancent le partenariat entre la France et le Brésil.Se sentant chez lui, trés à l’aise avec la languefrancaise qu’il maitrise parfaitement, le Présidentbrésilien parlera avec son hôte un même langage, celuid’une amitié renouvelée et d’une coopération qui nepeut que s’accroître dans tous les domaines.

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ÍNDICE REMISSIVO

A

Academias Diplomáticas 278, 280Aço 35, 281, 287, 289África do Sul149, 171, 174, 197, 198, 199, 225, 277,288, 289, 292, 293, 297Agricultura 26, 33, 61, 62, 273Alemanha127, 128, 129, 139, 143, 146, 147, 170, 173, 194,216, 217, 222, 223, 262, 278, 279, 289Argentina17, 18, 80, 124, 132, 148, 153, 154, 155, 156, 157,158, 159, 160, 161, 162, 170, 171, 172,179, 194, 204, 222, 224, 236, 277, 279,288, 292, 294Assembléia 83, 243, 244, 245, 269

B

Bolívia50, 71, 72, 73, 80, 89, 104, 124, 224, 236, 277, 288

C

Chile20, 50, 80, 89, 104, 123, 124, 125, 148,170, 172, 222, 224, 236, 278, 288, 289Comissão Mista 127, 128Comitê de Cooperação Econômica 79Conferência 23, 32, 54, 63, 71, 78, 92, 100, 119, 253, 259,270, 288, 290Cooperação 11, 13, 14, 26, 29, 31, 32, 33, 36, 43, 48, 49,

50, 51, 58, 60, 72, 73, 75, 78, 80, 84, 85,89, 93, 104, 107, 108, 111, 117, 124, 125,127, 128, 129, 132, 148, 162, 166, 171,172, 176, 184, 194, 197, 198, 199, 211, 212,224, 236, 240, 241, 244, 247, 248, 253, 259,260, 269, 270, 271, 272, 276, 280, 288,289, 294, 295, 296, 297, 298

D

Declaração de Paz do Itamaraty 37, 38, 76Defesa 117, 180Desarmamento150, 176, 188, 194, 226, 260, 261Dia do Diplomata 189, 190Direitos Humanos93, 243, 270, 271, 283, 284Doutor Honoris Causa 248, 257

E

Energia 72, 109, 114, 124, 127, 160, 179, 212,236, 240, 273Escola de Guerra Naval 137Escola Superior de Guerra 258, 262Estados Unidos da América117, 278, 279, 281Equador 37, 38, 76, 236, 280

F

França25, 147, 171, 173, 222, 223, 235, 237, 239,240, 243, 244, 245, 247, 248, 255, 257, 258,284, 285, 300

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304 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

G

Genebra 203, 290, 292Globalização23, 24, 25, 26, 27, 28, 32, 36, 41, 54,57, 58, 59, 60, 75, 79, 80, 81, 93, 95,113, 138, 139, 161, 175, 187, 188, 216,231, 232, 233, 234, 239, 240, 243, 247,248, 250, 251, 252, 253, 255, 257, 263,273, 292, 293, 294, 299

IÍndia13, 14, 15, 23, 27, 28, 29, 31, 32, 33,104, 140, 145, 146, 150, 170, 175, 194,218, 222, 226, 276, 277, 288, 289, 292Instituto Rio Branco189, 191, 192, 195, 263, 266, 267, 279Investimento24, 25, 26, 36, 54, 57, 62, 81, 90, 139,167, 216, 217, 223, 225, 236, 253, 261,267, 287Israel 13, 66, 149, 175, 201, 284, 289Irlanda do Norte 277, 285

J

Japão12, 27, 79, 81, 101, 102, 103, 104, 105,107, 108, 109, 111, 113, 114, 115, 138,139, 142, 143, 144, 145, 146, 150, 166,167, 170, 175, 194, 216, 217, 219, 221,222, 226, 264, 287, 289, 292, 295, 299

L

La Paz 65, 71Líbano 83, 84, 85, 149, 175, 284

M

Malásia146, 150, 170, 175, 222, 226, 277, 280, 289

Meio Ambiente14, 32, 35, 42, 45, 73, 93, 127, 128, 132,162, 179, 187, 199, 251, 261, 291, 298Mercosul14, 18, 19, 20, 42, 50, 58, 68, 72, 80, 81,93, 104, 110, 111, 120, 124, 128, 131, 132,133, 136, 147, 148, 153, 157, 160, 161, 162,163, 171, 172, 173, 175, 179, 180, 181, 187,194, 198, 199, 208, 212, 224, 244, 265, 274,287, 288, 293, 294, 295, 297México39, 41, 42, 43, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 53,56, 57, 60, 62, 66, 89, 146, 148, 170, 172,222, 224, 293, 294, 295

N

Nações Unidas77, 78, 85, 11, 145, 147, 149, 150, 151,170, 174, 176, 177, 188, 199, 222, 224, 225,226, 227, 284, 289Nordeste123, 172, 267, 272, 273, 274, 278Nova Délhi 14Nova York 77Nova Zelândia 281

O

OCDE 35, 36, 61, 236, 281, 288OEA 269, 270, 271, 272, 283OIT 279ONG 96, 97, 253, 254, 283

P

Países africanos 198, 199, 297Paraguai72, 80, 132, 179, 236, 274, 275, 276Parlamento47, 92, 95, 98, 107, 108, 109, 132, 159, 162, 244, 250Patentes 298, 299Peru 37, 38, 75, 76, 277, 278, 288

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305Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

Pescado 280Portugal66, 70, 146, 170, 183, 184, 185, 194,222, 279, 289Primeiro-Ministro33, 108, 113, 114, 150, 175, 176, 183,184, 185, 186, 245, 247

R

Recursos Hídricos 279Reino Unido 171, 179, 277, 284, 285

S

Saúde12, 25, 33, 58, 73, 102, 115, 125, 132, 155,158, 185, 213, 245, 248, 250, 251, 252, 254,258, 277, 280Secretária-Geral 35Suriname 11, 12

T

Tadjiquistão 278Telecomunicações81, 88, 114, 240, 277, 281, 296Tordesilhas 199Transporte Marítimo 281Tributação 35, 278, 279Turcomenistão 279

U

Universidade 91

V

Venezuela20, 50, 148, 170, 172, 211, 212, 213, 222,224, 280, 288, 290Vistos 288

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306 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 78, 1º semestre 1996

RESENHA DE POLÍTICA EXTERIOR DO BRASILNúmero 78, 1o semestre de 1996Ano 23Capa / Editoração eletrônica e projeto gráfico Hilton Ferreira da SilvaFormato 20 x 26 cmMancha 15,5 x 21,5 cmTipologia Times New Roman 12 x 18 (textos);

Times New Roman 26 x 31,2 (títulos e subtítulos)Papel Supremo 250 g/m2, plastificação fosca (capa),

e 75 g/m2 (miolo)Número de páginas 306Tiragem 500 exemplaresImpressão / Acabamento Dupligráfica Editora Ltda

Departamento de Comunicações e Documentação