resenha critica do filme o clube do imperador

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Mário Ferreira Neto, [email protected] 1 MBA em Perícia Judicial e Auditoria: IPECON - PUC/GO Sinopse do filme “O Clube do Imperador” O filme se passa em um colégio interno, em que um professor tenta moldar a personalidade de seus alunos com tradição e honra, baseando na história da cultura grego- romana. Tudo sempre transcorreu bem, de acordo com as regras e padrões da escola, até o dia que ingressa na escola um aluno indisciplinado e rebelde - Sedgewick Bell - filho de um político influente - senador. O professor tenta mudar o caráter deste aluno e ganhar sua confiança. No colégio existia um concurso para escolha do melhor ano do ano, chamado “Senhor Júlio César”, que era uma disputa entre os alunos da classe do professor. O professor observando a mudança repentina de comportamento deste aluno, vislumbrando um futuro brilhante para o jovem, embora com rebeldia e pouco interesse e esforço no estudo, mas durante a fase de classificação, percebeu certa determinação no aluno, com isso, desclassificou injustamente outro aluno para colocá-lo na prova final do concurso. O professor não contava que aquele aluno fosse desonesto e praticasse uma conduta antiética, estava “colando” as respostas das perguntas, porém, praticamente na rodada final da prova oral do concurso fez-lhe uma pergunta que não estava entre as escolhidas, por saber, que possivelmente não acertaria a resposta e assim aconteceu. A decepção foi enorme, pois para esse jovem aluno participar do concurso, o professor foi contra seus princípios, classificou-o, preterindo injustamente outro aluno que tinha sido classificado. 1 Licenciado em Matemática pela Fundação Universidade do Tocantins: Data de Colação de Grau: 5.2.1999 (UNITINS) - Especialista em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras do Estado de Minas Gerais: Data da Conclusão: 5.7.2002 (UFLA/MG) - Especialista em Orientação Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira do Estado do Rio de janeiro: Data da Conclusão: 23.3.2002 (UNIVERSO/RJ) - Especialista em Gestão Judiciária pela Faculdade Educacional da Lapa de São Paulo em convênio com Escola Superior da Magistratura Tocantinense (FAEL/ESMAT) - Pós-graduando do Curso de MBA em Perícia Judicial e Auditoria pela Pontifícia Católica de Goiás em convênio com Instituto de Organização de Eventos, Ensino e Consultora S/A LTDA (PUC-GO/IPECON) - Mestrando em Matemática Financeira pela Rede Internacional de Ensino de Livre (RIEL - ITUIUTABA/MG).

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O filme se passa em um colégio interno, em que um professor tenta moldar a personalidade de seus alunos com tradição e honra, baseando na história da cultura grego-romana. Tudo sempre transcorreu bem, de acordo com as regras e padrões da escola, até o dia que ingressa na escola um aluno indisciplinado e rebelde - Sedgewick Bell - filho de um político influente - senador. O professor tenta mudar o caráter deste aluno e ganhar sua confiança. No colégio existia um concurso para escolha do melhor ano do ano, chamado “Senhor Júlio César”, que era uma disputa entre os alunos da classe do professor. O professor observando a mudança repentina de comportamento deste aluno, vislumbrando um futuro brilhante para o jovem, embora com rebeldia e pouco interesse e esforço no estudo, mas durante a fase de classificação, percebeu certa determinação no aluno, com isso, desclassificou injustamente outro aluno para colocá-lo na prova final do concurso. O professor não contava que aquele aluno fosse desonesto e praticasse uma conduta antiética, estava “colando” as respostas das perguntas, porém, praticamente na rodada final da prova oral do concurso fez-lhe uma pergunta que não estava entre as escolhidas, por saber, que possivelmente não acertaria a resposta e assim aconteceu. A decepção foi enorme, pois para esse jovem aluno participar do concurso, o professor foi contra seus princípios, classificou-o, preterindo injustamente outro aluno que tinha sido classificado.

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Page 1: Resenha critica do filme   o clube do imperador

Mário Ferreira Neto, [email protected]

MBA em Perícia Judicial e Auditoria: IPECON - PUC/GO

Sinopse do filme “O Clube do Imperador”

O filme se passa em um colégio interno, em que um professor tenta moldar a

personalidade de seus alunos com tradição e honra, baseando na história da cultura grego-

romana. Tudo sempre transcorreu bem, de acordo com as regras e padrões da escola, até o dia

que ingressa na escola um aluno indisciplinado e rebelde - Sedgewick Bell - filho de um

político influente - senador. O professor tenta mudar o caráter deste aluno e ganhar sua

confiança. No colégio existia um concurso para escolha do melhor ano do ano, chamado

“Senhor Júlio César”, que era uma disputa entre os alunos da classe do professor. O professor

observando a mudança repentina de comportamento deste aluno, vislumbrando um futuro

brilhante para o jovem, embora com rebeldia e pouco interesse e esforço no estudo, mas

durante a fase de classificação, percebeu certa determinação no aluno, com isso,

desclassificou injustamente outro aluno para colocá-lo na prova final do concurso. O

professor não contava que aquele aluno fosse desonesto e praticasse uma conduta antiética,

estava “colando” as respostas das perguntas, porém, praticamente na rodada final da prova

oral do concurso fez-lhe uma pergunta que não estava entre as escolhidas, por saber, que

possivelmente não acertaria a resposta e assim aconteceu. A decepção foi enorme, pois para

esse jovem aluno participar do concurso, o professor foi contra seus princípios, classificou-o,

preterindo injustamente outro aluno que tinha sido classificado.

1 Licenciado em Matemática pela Fundação Universidade do Tocantins: Data de Colação de Grau: 5.2.1999

(UNITINS) - Especialista em Matemática e Estatística pela Universidade Federal de Lavras do Estado de Minas

Gerais: Data da Conclusão: 5.7.2002 (UFLA/MG) - Especialista em Orientação Educacional pela Universidade

Salgado de Oliveira do Estado do Rio de janeiro: Data da Conclusão: 23.3.2002 (UNIVERSO/RJ) - Especialista em

Gestão Judiciária pela Faculdade Educacional da Lapa de São Paulo em convênio com Escola Superior da

Magistratura Tocantinense (FAEL/ESMAT) - Pós-graduando do Curso de MBA em Perícia Judicial e Auditoria

pela Pontifícia Católica de Goiás em convênio com Instituto de Organização de Eventos, Ensino e Consultora

S/A LTDA (PUC-GO/IPECON) - Mestrando em Matemática Financeira pela Rede Internacional de Ensino de Livre

(RIEL - ITUIUTABA/MG).

Page 2: Resenha critica do filme   o clube do imperador

Os desafios da educação e da docência

William Hundert (Kevin Kline) é um professor da St. Benedictus, uma escola

exclusiva, preparatória e tradicional que recebe como alunos, jovens da alta e elite sociedade

americana.

O professor Hundert dá aulas de história greco-romana referentes aos filósofos gregos

e imperadores romanos, com lições de ética e moral para serem aprendidas. O professor

Hundert é reconhecido por suas boas instruções em sala de aula. O professor Hundert

demonstra muito entusiasmo ao falar para os seus alunos e nas suas fala-explicações, faz

questão de expressar algumas frases filosóficas, inicialmente, frisou que "o caráter de um

homem é o seu destino", também se esforça para impressioná-los sobre a importância de uma

atitude coerente e correta. As suas aulas e rotinas diárias vêm ocorrendo com ordem e

tranqüilidade, devido ao respeito e admiração que os alunos têm pelo professor, em uma

relação de obediência e submissão.

Na escola tudo sempre transcorreu com normalidade, quando em um dia,

repentinamente, chega à escola o aluno Sedgewick Bell (Emile Hirsch), filho de um

importante e influente político norte-americano (Senador), logo à sua entrada na sala de aula,

perturba aquela rotina de ordem e tranquilidade por entrar em conflito - choque - com as

ideologias e posições do professor Hundert. O aluno novato faz questão de revelar à sua

arrogância.

O professor Hundert vê-se desafiado por aquele jovem que, inicialmente, demonstra

ser desinteressado pelos estudos e indisciplinado, aliado à agravante de ser filho de um

Senador relativamente influente nos Estados Unidos. Esse jovem demonstra também que não

mantinha um relacionamento de afetividade, carinho e diálogo com o pai, apesar de suas

tentativas de aproximação, tendo o pai matriculado o filho na escola, porque essa instituição

de ensino atendia a elite americana (impressão pessoal nesta última parte).

Percebe-se que a arrogância era um traço visível na postura do aluno Sedgewick Bell e

o professor Hundert, que na mais clara tendência behaviorista2, acreditava ter também como

missão a de moldar o caráter dos seus alunos, tentou utilizar-se dessa moldagem. Em certa

aula o professor, chamou o aluno novato à frente, fazendo algumas perguntas, que o aluno não

sabia responder, então o professor fizera as mesmas perguntas para a turma, tendo os demais

alunos, em coro, respondidos aquelas perguntas.

2 O comportamento humano tem sua complexidade revelada nas atitudes que o ser humano pratica no seu dia

a dia. A interação com o meio ambiente e com os outros de sua espécie pode revelar muito da personalidade

de uma pessoa. Behaviorismo é o estudo do comportamento humano por meio do método de estudo da

extrospecção que analisa as manifestações exteriores do ser humano.

Page 3: Resenha critica do filme   o clube do imperador

Naquela oportunidade, o professor aproveitou para fazer a sua colocação ideológica e

repreensão, com refinamentos morais e humilhação para o aluno indisciplinado, que ficou

visivelmente envergonhado. Logo, depois disso o professor procura o jovem, diz acreditar no

seu potencial e o desafia a ingressar em uma competição - concurso anual “Senhor Júlio

César” - de perguntas e respostas sobre os temas ministrados em aula, que disputam uma

prova oral final, dentre os três melhores classificados e o aluno vitorioso tem à sua imagem

afixada na parede da escola como o melhor aluno do ano.

Diante do conflito, o aluno Sedgewick Bell, imediatamente questiona ao professor

Hundert, qual a importância daquilo que é ensinado, demonstrando à sua rebeldia, mas o

professor Hundert, sem expressar nada - silenciosamente - porém, mentalmente considera esse

aluno inteligente e acha que pode colocá-lo no caminho adequado e certo para ter uma

formação baseada nos princípios acadêmicos da escola.

Surge imediatamente a indagação: Mas o que fazer com um aluno com este tipo de

conduta escolar e comportamental?

Os outros alunos da classe seguiam aos padrões desejados pela instituição de ensino e

obedeciam às regras docentes e as orientações do professor, sempre havia algumas diversões

típicas de adolescentes, mas essas brincadeiras, nada que beirasse a “marginalidade” do aluno

recém-chegado. A relação entre professor e estes alunos eram de obediência e submissão.

As aulas seguiam um padrão de instrução tradicional, baseada no livro texto e lições

complementares de outros livros com avaliações escritas e repetitivas como também durante

as aulas de algumas perguntas orais. O professor se colocava como detentor do conhecimento

e procurava explorar a memória dos seus alunos com questionamentos sobre a história da

Roma Antiga, que tinham que decorar ou memorizar nomes, datas e fatos históricos, sem

fazer análises e reflexões críticas dos conteúdos que eram ensinados, assim não se interligava

aos conteúdos o sentido de sua importância para educação e formação profissional do aluno.

A transmissão de conhecimento não é um ritual, uma vez que o ensino não é mecanizado, mas

é ritmo que caminha harmoniosamente com o que convém elucidar o que é aprendizagem

para a formação da cidadania.

Em um momento do filme surgiu uma discussão sobre o conteúdo ministrado e

trabalhado com aquela classe de alunos, exatamente no momento em que o aluno novato e

indisciplinado emitiu sua opinião sobre os fatos tratados e a postura da prática docente do

professor, que era um mero transmissor de conhecimentos.

Naquele instante o aluno teve a coragem de dizer que discordava do professor. O

conflito estava estabelecido. O professor fora desafiado em um dos pontos que mais prezava -

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o domínio do conteúdo. Para piorar a relação entre professor e aluno recém-ingressado, este

professor foi queixar-se do comportamento estudantil do aluno “problemático” ao pai,

alegando que “não se esforça, não presta atenção a aula, não estuda a matéria”, oportunidade,

em que o pai do aluno (Senador) questiona ao professor: “qual é o valor do que ensina para

esses meninos?” Isto é, qual a real importância dos conhecimentos que são transmitidos para a

vida dos alunos, com esse questionamento, o pai faz com o professor possa refletir sobre a sua

prática docente.

Depois, o Senador finaliza dizendo que a função do professor é ensinar, não mudar o

caráter do aluno. O professor se retira da sala em que se encontrou com o Senador - pai do

aluno - desapontado. Observa-se que uma crise se formou na cabeça do professor.

A postura de um professor também não é um mero transmissor de conhecimentos ou

informações. O professor deve ser um educador facilitador, mediador e orientador do

conhecimento, porque antes de tudo deve abandonar a ideia de ser um detentor do

conhecimento para passar a ser este facilitador e orientador, adotando atividade e estratégia

que possa favorecer a apreensão de competências e habilidades por parte do aluno. Como diz

Perrenoud3, o professor deve entender que “ensinar, hoje, significa conceber, encaixar e

regular situações de aprendizagem, seguindo os princípios pedagógicos ativos

construtivistas”.

Na realização anual do concurso escolar, intitulado “Senhor Júlio César” a respeito da

Roma Antiga, o professor Hundert, pensativamente por alguns instantes, depois da correção

da prova da última etapa classificatória da competição, resolve “quebrar” silenciosamente

seus princípios éticos e rígidos de tratamento igualitário de seus alunos, por acreditar no

potencial de inteligência e de mudança comportamental do aluno Sedgewick Bell, chega a

ponto de colocá-lo na final do concurso escolar “Senhor Júlio César”, preterindo o aluno que

fora classificado.

Nesse desafio, o professor acaba, desonestamente, forjando uma classificação no

concurso escolar, desviando-se de seu caráter ímprobo e reto para tentar aproximar-se do

aluno e passar-lhe seus conceitos. Percebendo, porém, que apesar de alguns poucos avanços

não consegue mudar o caráter do aluno, o professor entra em um conflito interno sobre o que

são vitórias e derrotas na docência.

O professor passou Sedgewick Bell na frente de outro candidato, com esperança de se

surpreender, confiando que conseguiria mudar o caráter deste aluno e também que o novato

3 PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre (Brasil), Artmed Editora, 2000.

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aluno poderia vencer a competição escolar por seus próprios méritos, porém na realização da

prova final entre os três melhores alunos, o aluno Sedgewick Bell trai a confiança e a

credibilidade que fora depositada pelo professor, consegue arrumar uma maneira de trapacear

- “colar” - na prova oral da tríplice concorrência, porém o professor, a tempo, percebe a

ilicitude estudantil do aluno, relata instantaneamente para o Diretor da Escola, o qual pede e

exige que o professor ignore a conduta praticada pelo aluno.

No início o aluno sentindo-se com o orgulho ferido, pelo que se percebe no desenrolar

do filme, mas o professor busca a mudança de caráter deste aluno, com isso, ganhou sua

confiança, convencendo-o de que era capaz, por esses motivos o aluno, aceita o desafio e

passa a se dedicar aos estudos, inclusive procura um livro comum e único para todos os

alunos na biblioteca para estudar, cujo livro não poderia ser retirado.

Na realização da competência estudantil, percebe-se claramente que o aluno trapaceia

ilicitamente ao “colar” as respostas das perguntas, por ter escritos possíveis respostas em

folha manuscrita e afixado-as na veste - túnica - mas não conseguiu lograr êxito na

competição - ser vitorioso - por ter o professor, ao descobrir a ilicitude na competência, fiz-

lhe uma pergunta que não se relacionava à história da Roma Antiga, sabendo que o aluno não

conseguiria responder corretamente à pergunta, mais uma vez, o professor rompe seus

padrões éticos e morais, por sentir-se obrigado.

Este foi um erro crucial do professor, porque o verdadeiro estímulo para os alunos está

alicerçado no professor conseguir tornar o conhecimento contextualizado, envolvente,

intrigante e interdisciplinar, mostrando para o aluno a importância daquele conteúdo para a

sua formação tanto de vida como de cidadania, não apenas para servir como ferramenta de

engrandecimento pessoal (do ego) e acadêmico (da profissão).

Na escola, colocar os alunos para competirem em um concurso estudantil na forma

como fora vista no filme, não contribui para a convivência escolar harmônica e sadia, porque

se deve estimular a fraternidade. Por outro lado, este tipo de competição, não se desenvolve a

cidadania, por despertar o senso de rivalidade, um com outro, inclusive, foi isso que produziu,

depois de 25 anos, o aluno rebelde procurou uma revanche, mas com objetivo escuso. Em um

contexto de competição intelectual, naturalmente os alunos que possuem dificuldades de

aprendizado, sentem-se menosprezados e rebaixados, certamente vivem momentos infelizes

durante sua escolarização, enquanto que os alunos mais capazes poderão sentir-se como se

fossem seres humanos superiores.

Paralelo relevante, coincidência à parte, este tipo de aluno (Sedgewick Bell) é cada

vez mais comum nas salas de aula das escolas brasileiras, porque infelizmente, a entidade

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basilar da sociedade, a família, encontra-se em um contínuo processo de degradação, em

função de alguns desajustes, devido à proliferação das drogas entre os jovens, de vícios de

bebidas e fumos, de violências por descontroles emocionais e pelo elevado número de

separações ou divórcios das famílias.

O professor percebe que se enganou, descobrindo no futuro que, ajudar quem não quer

ser ajudado, é uma missão destinada ao fracasso e à frustração.

Na continuidade da competência estudantil o professor lhe fez uma pergunta sobre

certa pessoa: “Quem foi Amilcar Barca?”, sabendo que o aluno não conseguiria responder

corretamente a pergunta, isso foi o que aconteceu, ao dizer que não sabia a resposta.

A respeito da decepção da confiança e credibilidade depositada no aluno, o professor,

antes de qualquer coisa, é um ser humano, portanto está sujeito a acertos e erros no

desempenho de sua profissão. A imagem do professor como detentor da razão e da moral é

um paradigma que somente deve existir na imaginação, porque ninguém é guardião destes

princípios. João Guimarães Rosa dizia: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de

repente aprende” e também disse: “O homem nasceu para aprender, aprender tanto

quanto a vida lhe permita”.

O filme nos mostra que a história de um bom educador se prolonga e se imortaliza nas

vidas de seus alunos, conduzidas no caminho da aprendizagem. Sabemos que a demanda de

alunos arrogantes e indisciplinados sempre existirá, porém a esperança na educação deve

persistir para que o professor possa também refletir e repensar à sua prática docente. Nesse

sentido o professor expressa o conselho de Aristófanes citado em um dos empolgantes

diálogos do filme: "A juventude envelhece, a imaturidade é superada, a ignorância pode

ser educada e a embriaguez passa, mas a estupidez dura para sempre".

A escola tradicional (St. Benedictus) não havia avançado para os verdadeiros valores

de uma sociedade moderna, onde todos tinham que seguir os mesmos padrões e regras. Ser

um "Senhor Júlio César" na competição escolar era para o aluno, como se fosse um “céu”,

pois sua foto iria permanecer eternamente afixada na parede da escola. A competição escolar,

de certa forma, mostra o individual sobressaindo ao coletivo.

No filme, a ética era esquecida quando os seus “próprios” valores eram colocados

como prioridade. Uma boa educação como um bom educador, na prática não está em torno de

padrões e regras rígidas e também da absorção de informações como se o aluno fosse apenas

um recipiente passivo, mas por valores determinantes para o progresso de uma sociedade, pois

todas as estruturas de educação e tipos de educadores deixam marcas e rastros no intimo de

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cada aluno, seja para o bem ou para o mal, podendo facilitar ou dificultar a aprendizagem do

aluno.

Segundo, Paulo Freire, todos devem ter a consciência da importância da escola e do

educador na formação de cidadãos conscientes e de suas responsabilidades políticas e sociais.

No caso da situação do professor Hundert, o fato de ter dado uma oportunidade a um

aluno arrogante e indisciplinado, por acreditar na esperança de uma mudança pode até, ser

correta, porém se analisarmos que implica em uma negligência de uma conduta ética ou

moral, no momento em que nega ao verdadeiro classificado, o direito de participar da prova

final do concurso, incorre em erro, pois outras formas poderiam ser adotadas, sem o

comprometimento de outro, honestamente classificado.

No filme, ao evidenciar na escola que existe uma disputa que valoriza apenas a glória

individual - vencedor da competição - tem sua imagem afixada na parede da escola para que

os outros vejam que o vencedor é o melhor aluno do ano da escola, ao mesmo tempo, mostra

que educar é ampliar horizontes éticos, filosóficos, morais, políticos e sociais; redefinir metas

e padrões acadêmicos e profissionais; aguçar a sensibilidade; formar para a cidadania e não

simplesmente obter um certificado de conclusão de curso.

O conflito se torna mais profundo quando o professor deposita a sua confiança e

credibilidade em um aluno, posteriormente se decepciona, ao perceber que, tanto aluno como

professor, utiliza-se da esperteza que se sobrepõe a retidão de caráter e a honestidade.

No filme, essa decepção resta evidenciada quando chega à oportunidade do professor,

galgar o cargo de Diretor da Escola, porém é preterido. A escolha recai sobre alguém bem

mais jovem e que tinha como principal habilidade conseguir dinheiro (arrecadar fundos) para

sustentar o colégio.

Depois de 25 anos, Sedgewick Bell deseja repetir aquele concurso estudantil em sua

cidade e convida o professor e todos os seus antigos colegas que são recebidos com carinho.

Entretanto, no decorrer da competição, o professor descobre, novamente, que seu antigo aluno

continuava a praticar ilicitude - infligir o princípio de moral - e mais uma vez não se dado por

vencido. A revanche da competição tinha apenas a finalidade de anunciar aos colegas de que

era candidato ao senado no lugar de seu pai e queria pedir apoio de todos. O aluno e o

professor discutem, quando estava no toalete. Durante a discussão, o filho de Sedgewick Bell

ouve tudo e compreende ostensivamente e vira as costas para o pai.

O professor revela ao seu antigo aluno que foi desclassificado injustamente, quando

deu à sua vaga na competição ao aluno Sedgewick Bell, no passado, mas o aluno

desclassificado o perdoa. Como prova de seu perdão, coloca seu filho para estudar na escola

Page 8: Resenha critica do filme   o clube do imperador

com o Professor Hundert, pois apesar de tudo via uma honradez. Ainda tinha muito apreço

pelo professor.

A educação de nada serve se não puder ser revertida em crescimento e

desenvolvimento pessoal e coletivo, pois o educador na medida do possível, de acordo com

Paulo Freire, deve educar para as mudanças na busca da autonomia e da liberdade para

promover as capacidades de aprendizagem, propiciando uma formação direcionada à

cidadania consciente e às responsabilidades políticas e sociais, por ser um ser social,

educando e educador, ao mesmo tempo.

O filme nos mostra a importância da didática na educação, por ser um instrumento que

faz com que busquemos soluções para resolver os problemas em salas de aulas. Assim, vem

nos despertar para uma real importância de uma educação verdadeira direcionada à cidadania.

Podemos comparar essa escola com a tendência liberal tradicional, pois ela está

baseada na mesmice com atividades repetitivas e avaliações escritas com perguntas e

respostas. Para participar do concurso escolar, os alunos eram obrigados a passar por uma

avaliação, somente três dos alunos eram classificados para a prova final que era oral. O

professor desclassificou injustamente um aluno para classificar Sedgewick Bell. O professor

se decepciona por perceber que a confiança depositada em seu aluno, não foi correspondida,

quando percebeu ter usado de artifício para trapacear na prova final, algumas respostas (cola

afixada na túnica).

Concluímos que o filme “O Clube do Imperador” nos transmite mensagens relevantes

a respeito da importância da ética e da honestidade, atualmente valores que são deixados de

lado na sociedade brasileira, apenas predominando o capitalismo, o egoísmo, o

individualismo e a prepotência. Porém estas circunstâncias e motivos nos fazem ainda

refletirmos e repensarmos que não se deve desistir de nossos objetivos e ideais, mesmo

existindo alguns contratempos que parecerem impedi-los. No caso do professor, deve-se

espelhar em cada um dos resultados bons e positivos de nossos esforços, não frustrar-se com

os objetivos que não foram alcançados e conquistados, preocupando-se, sempre em fazer o

melhor possível para que cada um dos objetivos desejados possa ser alcançado, mais do que

isso, que contribuam para o bem da sociedade e para a formação da cidadania.

O papel do educador é redimensionar o sentido do aprendizado acentuando valores e

culturas que a sociedade detém. O sentido das buscas e das descobertas implicam em novos

conhecimentos, conforme afirmação de João Guimarães Rosa, novamente, citada: “Mestre

não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.

Page 9: Resenha critica do filme   o clube do imperador

Ressaltamos uma crítica, a educação de base e a educação familiar devem vir de berço,

porque a escola repassa e transmite conhecimentos e pode educar, mas não muda o caráter das

pessoas, apenas pode adequar ou melhorá-lo se quiser e o educando com sua família

permitirem.