resenha a imagem da cidade

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LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Cristina Marafon Kevin Lynch foi um arquiteto urbanista cuja formação e atuação foi bastante diversificada. Sua principal contribuição é resultado da pesquisa realizada enquanto lecionava no Instituto Tecnológico de Massachussetts (MIT), juntamente com o também professor Gyorgy Kepes. Esta pesquisa tinha como objeto de estudo a cidade, que era analisada com bases na psicologia e na antropologia e resultou no livro A Imagem da Cidade. O livro de Lynch foi lançado em 1960, um ano antes do lançamento do livro de Gordon Cullen, Paisagem Urbana. É interessante notar que mesmo com formações distintas e com o oceano separando-os, os dois autores tratam de aspectos bastante similares do espaço urbano, cada um com suas particularidades. O próprio termo Paisagem Urbana é utilizado nos dois livros, não necessariamente com a mesma conotação. Para Lynch, a cidade é percebida e produzida pelos mais diversos agentes, essa produção é constante e a percepção é fragmentada, mas sempre lida com o conjunto, nada é percebido em si mesmo, mas na relação com seu entorno. A Imagem da Cidade se estrutura em capítulos e apêndices, sendo que no primeiro capítulo Lynch analisa a fisionomia da cidade a partir de três características, responsáveis pela formação de imagens. A primeira característica é a legibilidade, a capacidade de se compreender e reconhecer com clareza os elementos da cidade. A legibilidade tem muita relação com a coerência entre os elementos, sendo que a coerência também está ligada ao conceito de Cullen de Paisagem Urbana. A segunda característica envolve a estrutura, a identidade e o significado das imagens; a estrutura diz respeito a relação entre o objeto, seu entorno e o observador, a identidade diz respeito à individualidade e o significado é uma característica bastante subjetiva, que diz respeito ao significado, seja ele prático ou emocional, que determinado objeto tem para cada indivíduo. Por esta última ser uma

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Resenha do livro A Imagem da Cidade do autor Kevin Lynch para a matéria de Urbanismo I do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso

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102S. Sandri, J. Stolfi, L.Velho

LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. So Paulo: Martins Fontes, 1997.Cristina MarafonKevin Lynch foi um arquiteto urbanista cuja formao e atuao foi bastante diversificada. Sua principal contribuio resultado da pesquisa realizada enquanto lecionava no Instituto Tecnolgico de Massachussetts (MIT), juntamente com o tambm professor Gyorgy Kepes. Esta pesquisa tinha como objeto de estudo a cidade, que era analisada com bases na psicologia e na antropologia e resultou no livro A Imagem da Cidade.O livro de Lynch foi lanado em 1960, um ano antes do lanamento do livro de Gordon Cullen, Paisagem Urbana. interessante notar que mesmo com formaes distintas e com o oceano separando-os, os dois autores tratam de aspectos bastante similares do espao urbano, cada um com suas particularidades. O prprio termo Paisagem Urbana utilizado nos dois livros, no necessariamente com a mesma conotao.Para Lynch, a cidade percebida e produzida pelos mais diversos agentes, essa produo constante e a percepo fragmentada, mas sempre lida com o conjunto, nada percebido em si mesmo, mas na relao com seu entorno. A Imagem da Cidade se estrutura em captulos e apndices, sendo que no primeiro captulo Lynch analisa a fisionomia da cidade a partir de trs caractersticas, responsveis pela formao de imagens. A primeira caracterstica a legibilidade, a capacidade de se compreender e reconhecer com clareza os elementos da cidade. A legibilidade tem muita relao com a coerncia entre os elementos, sendo que a coerncia tambm est ligada ao conceito de Cullen de Paisagem Urbana.

A segunda caracterstica envolve a estrutura, a identidade e o significado das imagens; a estrutura diz respeito a relao entre o objeto, seu entorno e o observador, a identidade diz respeito individualidade e o significado uma caracterstica bastante subjetiva, que diz respeito ao significado, seja ele prtico ou emocional, que determinado objeto tem para cada indivduo. Por esta ltima ser uma caracterstica subjetiva e, por isso, complexa, Lynch acaba por analisar apenas a estrutura e a identidade dos objetos.

A terceira e ltima caracterstica a imaginabilidade, a capacidade que um objeto tem de evocar uma imagem forte e viva no observador. a capacidade do elemento de ser lembrado. A imaginabilidade tem muito a ver com a legibilidade, mas um conceito um pouco mais especfico. Na realidade, todas estas caractersticas contribuem para a formao de imagens. Estas imagens so formadas a partir do objeto fsico, mas dependem muito das caractersticas de cada observador, pois sua formao influenciada pelas experincias anteriores de cada indivduo. Assim, temos uma srie de imagens individuais de cada elemento ou conjunto de elementos e analisando um conjunto de imagens individuais, podemos, atravs do reconhecimento de pontos comuns, conceber uma imagem pblica. a imagem pblica que serve de parmetro para a atuao de urbanistas e designers, pois a partir dela possvel perceber pontos que precisam ser trabalhados, locais que necessitam de maior visibilidade ou elementos que impedem a leitura de outros elementos.Aps apresentar essas caractersticas, Lynch analisa, no segundo captulo, determinados locais em trs cidades norte-americanas: Boston, Los Angeles e New Jersey. Para esta anlise, o autor contou com entrevistas com trabalhadores das regies analisadas, com mapas analticos e percursos realizados por pessoas a quem o mtodo j havia sido apresentado. O resultado uma imagem pblica das cidades, no entanto o prprio autor assume a pequena abrangncia da anlise, com poucas entrevistas, argumentando que o ideal seria que mais pessoas fossem entrevistadas e que as caractersticas do pblico entrevistado fossem mais condizentes com a realidade, mas que a imagem obtida a partir desta anlise est bastante prxima da realidade. O autor analisa o quo legvel essas cidades so, quais seus pontos de referncias, o que as difere de qualquer outra cidade ou se elas se diferem de todo. Ainda nesse captulo o autor se utiliza de elementos que so explicados no prximo captulo: as vias, os pontos nodais, marcos, setores e limites.As vias so, para Lynch, um dos elementos mais marcantes da forma da cidade j que so responsveis por ligar os diferentes locais, estruturam os mais diversos elementos e so elementos de destaque pois atravs delas que os percursos so realizados. Os pontos nodais so pontos de encontro, de circulao, de aglomerao, pontos em que uma pessoa decide onde ir a seguir. Os marcos so elementos que se diferenciam na paisagem atravs do contraste, eles se assemelham muito ao conceito de ponto focal de Gordon Cullen, no entanto, no conceito de Cullen estes elementos so reconhecidos necessariamente por sua verticalidade, enquanto que para Lynch, marcos so quaisquer elementos que se diferenciam dos elementos em seu entorno imediato. Setores so reas dentro da cidade agrupadas por possurem caractersticas comuns. Na traduo brasileira este elemento chamado de bairro, mas bairro diz mais respeito diviso reconhecida pelo poder pblico, enquanto que setor se refere a regies que podem abarcar vrios bairros ou se encontrar dentro de determinados bairros de acordo com suas similaridades. Por fim, limites so elementos que separam setores ou que demarcam claramente outros elementos. Lynch coloca que estes limites podem ser vistos como algo intransponvel ou como uma costura que divide mas conecta dois elementos distintos, permitindo a permeabilidade. Por mais que estes elementos sejam categorizados de maneira bastante rgida, no momento de anlise todos precisam ser observados em conjunto e algumas vezes um mesmo objeto pode ser mais de uma coisa. Um exemplo disso, numa escala reduzida, a rodoviria da FAET, a rodoviria se comporta como ponto nodal pois um centro de distribuio para outros locais, funciona como uma via, j que um local de circulao e tambm um marco, talvez no no sentido mais completo da palavra, mas normal utilizarmos sua posio como referncia ao explicar a um desconhecido como chegar a determinado local. Lynch demonstra a importncia da legibilidade de cada um destes elementos ao reforar a importncia que a localizao tem para o ser humano. Um local sem grande diferenciao se torna confuso e este sentimento no desejado. O autor coloca a importncia de se apreender o funcionamento dos lugares e de se conseguir localizar sem grandes dificuldades no espao. Esta apreenso forma uma imagem forte e que ser lembrada.No quarto captulo o autor evidencia a forma da cidade, utilizando exemplos como de Florena, em que a imagem de uma cidade to forte e definida que mesmo aqueles que nunca a conheceram a reconhecem. O autor comea uma discusso a respeito da forma na cidade num momento em que a expanso urbana aumenta o surgimento de metrpoles e reitera a necessidade de se criar identidade para estes lugares, buscar elementos que as diferenciem umas das outras, uma qualidade em falta no mundo globalizado. neste captulo tambm que o autor faz algumas sugestes para o design urbano. Estas sugestes envolvem dez caractersticas que podem ser aplicadas para aumentar a legibilidade da forma da cidade. Por mais que o autor explique o significado de cada uma destas categorias, elas possuem nomes bastante explicativos, so elas: singularidade, simplicidade da forma, continuidade, predomnio, clareza de juno, diferenciao direcional, alcance visual, conscincia do movimento, sries temporais e nomes e significados. No ltimo captulo, o autor basicamente conclui a primeira parte do livro, reforando o processo responsvel pela formao da imagem. O autor ento se utiliza de trs apndices para concluir o livro.No apndice A, o autor retoma a importncia da orientao, cita diversos sistemas referenciais retoma o processo de mo dupla da formao da imagem e discorre sobre o papel da forma, do aspecto fsico neste processo. Neste apndice, o autor inclusive cita desvantagens que podem decorrer da imaginabilidade. Para Lynch, um ambiente carregado de significado se torna to importante que no aceita maiores mudanas, se tornando esttico. Para o autor, alm de apresentar imagens fortes e vivas, um ambiente precisa de imagens que se adaptem, pois como tudo um processo, estas imagens precisam estar sujeitas e abertas as mudanas para manter a comunicabilidade entre os diferentes tempos.

No apndice B, Lynch relata de maneira mais pormenorizada como foram realizadas as entrevistas, incluindo um roteiro com as perguntas e tambm faz uma srie de recomendaes aqueles que iriam aplicar o mtodo posteriormente.

E por fim, no apndice C, Lynch realiza uma anlise mais detalhada de dois locais na cidade de Boston, local vivenciado pelo prprio autor. Os objetos de anlise so um bairro da cidade com caractersticas bastante marcantes e um ponto nodal de grande importncia, mas sem muita visibilidade. nesta parte do livro em que o autor apresenta mais detalhadamente os resultados das entrevistas, apresentando mapas analticos resultantes de todas as fases do processo de anlise, juntamente com respostas mais detalhadas dos entrevistados.Toda o mtodo proposto por Lynch tem como objetivo oferecer subsdios para promover cidades mais significativas e consequentemente mais prazerosas de se viver, pelo menos no vis psicolgico. Se a apreenso da cidade subjetiva, quanto mais elementos puderem ser passveis de leitura maior ser o nmero de pessoas contempladas por estas referncias.RefernciasCULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. Lisboa: Edies 70, 2009Proceedings of the XII SIBGRAPI (October 1999) 101-104

Proceedings of the XII SIBGRAPI (October 1999)