resenha a ditadura entre a memória e a história
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Napolitano coloca que eventos traumáticos, como golpes de Estado,
ditaduras, entre outros, mobilizam as várias memórias existentes nos diversos
grupos sociais constituintes de uma nação, buscando se fazer dominante, em
uma luta pela memória “autêntica, controlando assim o passado e visando se
impor sobre seus contempor!neos nessa batal"a da memória#
$ssim, “os regimes que emergem desses eventos precisam da "istória
para se %ustificar# &e revolucionários, precisam explicar a ruptura e buscar no
passado as ra'zes da nova sociedade que pretendem construir# &e
conservadores, eles precisam %ustificar a ruptura como forma de manter os
valores dominantes, as "ierarquias e as instituiç(es vigentes na sociedade,
regenerando)as e afastando o que %ulgam ser ameaças * ordem tradicional# +
curioso que o regime militar implantado em -./0 tentou mesclar em seu
discurso legitimador os dois elementos#
+ regime militar foi um regime conservador de direita# 1orm, o
conservadorismo deste está atrelado a uma “tradição de reformismo autoritário
da "istória republicana brasileira# +s militares 2os que deram o golpe3 eram
anticomunistas e contra o modelo de reformas democratizantes da esquerda
trabal"ista, “mas tin"am uma leitura do que deveriam ser as reformas
modernizantes da sociedade brasileira, na direção de um capitalismo industrial
desenvolvido e de uma democracia institucionalizada e sem conflitos, com as
classes populares sob tutela# &egundo Napolitano, “os militares golpistas se
apresentaram como 4revolucionários5 ao mesmo tempo em que defendiam a
ordem, pois pretendiam modernizar o capitalismo no pa's sem alterar sua
estrutura social# Eram antirreformistas, mas falavam em reformas# 6alavam na
defesa da pátria, mas criticavam o nacionalismo econ7mico das esquerdas#
1rometiam democracia, enquanto constru'am uma ditadura# + vis
conservador anticomunista era o 8nico cimento da coalizão golpista 2civil)
militar3 de -./0#
+s golpistas eram "eterogêneos, assim possuindo interesses diversos
sobre o que deveria ocorrer após a derrubada do governo 9oulart# Essa
diversidade de memórias foi um fator que pesou para dificultar a construção de
uma memória oficial sobre o golpe e o regime militar# :uitos grupos que
apoiaram o golpe 2liberais, católicos, etc3 foram se afastando do regime,criticando a censura, a falta de liberdades e a tortura, mesmo antes do $;<#
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$s esquerdas, derrotadas em -./0, tambm eram "eterogêneas, assim
tambm não constitu'ram um discurso em un'ssono sobre o golpe# 1ara o 1=>,
teria sido o radicalismo do grupo brizolista o causador da derrota# + 1artido
“nunca assumiu que sua pol'tica de aliança de classes em nome da revolução
nacional e democrática, lançada em -.<?, tivesse enfraquecido o poder de
reação ao golpe# $ imaginada 4burguesia nacional5, que deveria defender a
democracia nos manuais do 1=>, aderiu ao golpe# @á o trabal"ismo de >rizola
“culpou a "esitação do presidente 9oulart pela derrota, primeiro ao não reforçar
a pol'tica de massa em nome da conciliação, e depois ao não resistir * rebelião
militar iniciada pelo general +limpio :ourão em :inas 9erais# Ae outro lado
"aviam os adeptos da lutada armada, que culparam a estratgia do 4pacifismo5
reformista do 1=>, retirando)se o “4'mpeto revolucionário5 de operários e
camponeses# + 1B, nos anos -.?C, aponta as causas da derrota como sendo
consequências do “autoritarismo e “vanguardismo das esquerdas comunistas
e trabal"istas, que não mobilizaram uma verdadeira base social#
$ssim, a memória fragmentada sobre o per'odo se deu tanto em função
da divisão ideológica entre esquerda e direita como no interior de ambas
correntes ideológicas#
$ constituição de uma memória "egem7nica sobre a ditadura começa a
se desenvolver em meados dos anos -.DC, con%untamente * “distensão ou
abertura pol'tica# Essa memória se difere de uma "istória oficial, esta que
produzida por “uma simbiose entre a memória das elites e a "istória dos grupos
que ocupam o poder pol'tico de Estado# “$ memória "egem7nica sobre o
golpe 2e sobre o regime como um todo3 exatamente o contrário disso, criando
um fosso entre as elites pol'ticas que mandavam no pa's e os grupos sociais
que tin"am mais influência na 4sociedade civil5 e atuavam sob o signo da
4resistência5#
$ dissociação entre grupos liberais 2pol'ticos e empresários3 e o regime
militar “permitiu a construção progressiva de um discurso cr'tico sobre o regime
que logo se transformou em memória "egem7nica e que fez convergir
elementos do liberalismo com a cr'tica de esquerda# $ imprensa liberal
2apoiadora do golpe de -./03 seria a principal arquiteta de uma “memória com
elementos da cr'tica liberal e da cr'tica de esquerda# $ssim, da “convergênciaimprovável, entre liberais e comunistas 2que reafirmaram sua opção aliancista e
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moderada no enfrentamento do regime3, nasceu a memória "egem7nica sobre
a o regime militar# &egundo Napolitano, para os liberais isso serviria para
“eximirem)se das responsabilidades "istóricas na construção de um regime
autoritário e violento# @á para os comunistas isso era uma estratgia para
“ocupar espaços, denunciando e deslegitimando a ditadura# $ssim, essa
memória se afirmou enquanto ant'tese da ditadura#
6oi essa união 2constituinte da memória "egem7nica3 que fez sucumbir
a memória dos militares na batal"a pela memória# &egundo o autor, “a
legitimação simbólica da ditadura sempre foi frágil e dependeu das benesses
materiais que ela conseguisse distribuir entre as classes mdias e ao
empresariado# “$ partir do final dos anos -.DC, o regime se viu ainda mais
isolado, com sua obra pol'tica e econ7mica cada vez mais questionada por
empresários, intelectuais, trabal"adores, classes mdias# 6oi nesse momento
que se consagrou a derrota dos militares na batal"a da memória, que serviria
tambm “para selar a imagem da 4sociedade)v'tima5 do Estado autoritário,
resistente e cr'tica ao arb'trio#
Ae acordo com Napolitano, “as próprias 6orcas $rmadas, como
instituição, não sabem bem o que dizer para a sociedade sobre -./0 e sobre o
regime, e frequentemente optam pelo silêncio ou pela lógica reativa, tais como
4o golpe foi reativo5 ou 4nós matamos porque o outro lado pegou em armas5#
Embora "a%a predomin!ncia de uma memória "egem7nica, cr'tica do
regime, Napolitano nos c"ama atenção para um importante aspecto desta# “$
vitória da cr'tica ao regime autoritário no plano da memória se fez de maneira
seletiva, sutil e, ao invs de radicalizar a cr'tica sobre os golpistas civis e
militares pela derrocada da democracia em -./0, culparam os radicalismos, *
esquerda e * direita# Ae acordo com essa visão, “o radicalismo do reformismo
de esquerda teria sido o responsável pela crise do governo 9oulart, que perdeu
seu espaço de negociação institucional# Ao outro lado, “o radicalismo da “lin"a
dura militar e da guerril"a de esquerda em -./? foram os responsáveis pela
crise que fez mergul"ar o pa's nos 4anos de c"umbo5# $ssim temos a “teoria
dos dois dem7nios, onde os grupos radicais, * esquerda e * direita, teriam
vitimado a sociedade inocente, moderada e democrática, e o regime
democrático de -./0# =om isso, coloca Napolitano, “ao re%eitar os radicalismosda extrema direita e da extrema esquerda, essa memória atribui
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responsabilidades morais idênticas para atores politicamente assimtricos,
motivados por valores completamente diferentes# Essa leitura, bem recorrente
na impressa liberal, com relação ao golpe e ao regime, direciona cr'ticas “*
censura, * tortura e * falta de liberdades civis, como se fosses desdobramentos
indese%ados de -./?, e não de -./0, simpatizando com a ideia de que antes
-./? teria "avido apenas uma “ditabranda no pa's# &egundo Napolitano, “a
condenação da lin"a dura e da guerril"a, por vias e motivos diferentes, o
cerne dessa memória que pretende reconciliar o >rasil pós)anistia#
Napolitano nos prop(e o seguinte balanço a respeito da memória sobre
o golpe e a ditadura “a memória "egem7nica sobre o regime, em que pese a
incorporação de elementos importantes da cultura de esquerda,
fundamentalmente uma memória liberal, que tende a privilegiar a estabilidade
institucional e criticar as opç(es radicais e extrainstitucionais# Essa memória
liberal, condenou o regime, mas relativizou o golpe# =ondenou politicamente os
militares da lin"a dura, mas absolveu os que fizeram a transição negociada
29eisel, por exemplo3# “2###3 Aenunciou o radicalismo ativista da guerril"a de
esquerda, mas compreendeu o idealismo dos guerril"eiros# =ondenou a
censura e imortalizou a cultura e artes de esquerda dentro da lógica abstrata
da 4luta por liberdade5# E mais que tudo, a memória liberal autoabsolveu os
próprios liberais que protagonizaram o libertic'dio de -./0 F na imprensa, nas
associaç(es de classes, nos partidos pol'ticos ), culpando a incompetência de
9oulart e a demagogia de esquerda pelo golpe# =om isso, a memória
"egem7nica 2liberal3 propiciou o “aplacamento das diferenças ideológicas e o
apagamento dos traumas gerados pela violência pol'tica, propiciando a
reconstrução de um espaço pol'tico conciliatório e moderado, sob a "egemonia
liberal#
1orm, mesmo a memória "egem7nica não está isenta de sofrer
transformaç(es# $ssim como a "istória, a memória tambm está su%eita a
revis(es, assim como outras memórias não)"egem7nicas tentam buscar seu
espaço na batal"a pela memória#
Napolitano, num segundo momento desse cap'tulo, trata de discutir a
questão da formulação das memórias daqueles2as3 que foram v'timas da
violência do Estado 2no caso, tratando especificamente dos regimes militaresanticomunistas da $mrica Gatina e de seu aparato repressivo3# Essa violência
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por parte do Estado 2atingindo especialmente, mas não só, pessoas ligadas a
movimento de esquerda3 gerou trauma, mesmo naqueles que não
simpatizavam com a esquerda# $ssim, no dizer de Napolitano, “o grau de
atrocidades indiz'veis 2criou3 um mal)estar generalizado que permitiu um
processo de reconstrução da verdade "istórica e a abertura de processos
%udiciais para punir os torturadores e genocidas# 2###3 1ara tal, foram institu'das
4comiss(es de verdade5, oficiais ou extraoficiais, que produziram relatórios
detal"ados sobre as violaç(es dos direitos "umanos em nome da segurança
nacional#
+ ob%etivo de tais comiss(es seria o de “produzir uma verdade que
correspondesse aos fatos ob%etivos da repressão, e não aos fatos alegados
pelas 4verdades oficiais5 das ditaduras, que sempre negaram qualquer tortura
ou desaparecimentos forçados de militantes# Huando muito se falava em
4excessos5 de alguns agentes sem controle, mas %amais os Estados envolvidos
assumiram as práticas criminosas que abrigaram#
Na ausência de uma documentação oficial sobre a violência exercida por
esses Estados, o incentivo ao testemun"o se tornou peça)c"ave tanto como
peça %ur'dica quanto como documento "istórico para realizar a recomposição
da verdade#
+ testemun"o implica em lembrar, no caso dos torturados, trata)se de
superar o trauma gerado pela violência sofrida, assim como superar a forte
tendência ao silêncio para evitar rememorar a "umil"ação e a dor vivida# $ç(es
truculentas de violência das ditaduras geram tambm outros tipos de silêncio,
como o “silêncio dos mortos e desaparecidos que %á não podem narrar sua
dorI o “silêncio da sociedade que sabe, por medo ou conivência# Napolitano
coloca que os militares acreditavam “que o silêncio seria a primeira etapa do
esquecimento, do apagamento da memória e da "istória das cis(es que
ameaçavam cindir a sociedade# 1ara aqueles que teimavam em falar, em
denunciar, em plena vigência do terror de Estado, este l"es reservava mais
repressão ou, simplesmente, o descrdito#
+ estimulo ao testemun"o das v'timas possibilita reconstruir a verdade
abafada pelas ditaduras, tornando aquilo que era esquecimento em memória#
“9era)se, assim, um novo direito, um 4direito * memória5 por parte daquelesgrupos “perseguidos pelo Estado e silenciados pela verdade e "istória oficial#
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Napolitano coloca tambm que “o direito * memória nem sempre
consegue dar conta de todas as contradiç(es ob%etivas da "istória# 1ode abrir
espaço para vitimizaç(es, para distorç(es ideológicas, para invenção de um
passado que nunca existiu# “1ortanto, as narrativas constru'das em processos
de superaç(es de violências pol'ticas e terror de Estado nem sempre são
camin"os para a verdade "istórica, pois tambm estão marcadas pelos
traumas, pelo indiz'vel, pelas feridas abertas mesmo entre as v'timas maiores,
pelas dissidências pol'ticas entre os grupos derrotados, abafadas mas não
superadas#
=omo exp(e o autor, quando acabam as ditaduras, “a sociedade,
mesmo a parte conivente, se diz v'tima# 9rupos sociais que aderiram se
afirmam como resistentes# :ilitantes que apostavam na guerra revolucionária
se colocam como v'timas# :ilitares que cerravam os dentes e aplaudiam a
repressão se dizem refns das circunst!ncias#
+ autor destaca outro trauma provocado pelas aç(es de terror de
Estado o trauma dos familiares dos atingidos pela repressão, principalmente
aqueles que tiveram seus entes queridos desaparecidos# Esse trauma “
menos esquecimento do que presença)ausência dos desaparecidos para seus
familiares e amigos# ;sso, sem d8vida, a face mais perversa desses regimes#
Napolitano, em uma terceira parte do cap'tulo, trata das pol'ticas de
memória# Ele exp(e que “as pol'ticas de memória, o estatuto de verdade e o
lugar do testemun"o se formatam de maneiras diversas, conforme o pa's, e
dependem dos processos de transição# + modelo de transição brasileiro,
transição negociada com o militares feita por uma pol'tica "egemonicamente
liberal e moderada, acabou por neutralizar “as demandas por %ustiça da
esquerda atingida diretamente pela repressão#
$s esquerdas, no final dos anos -.DC, assumiram posturas diversas
2alguns priorizando as alianças pol'ticas para consolidar a abertura pol'tica,
outros se voltando para “milit!ncia social em nome das mudanças estruturais3,
e não investigaram o tema da verdade e da %ustiça contra as violências do
Estado autoritário# Bal fato se deve um contexto onde os militares %á "aviam
perdido a batal"a da memória, portanto não era preciso uma mobilização
espec'fica para se formular uma verdade "istórica# $ssim a concentração dasesquerdas se voltou para a ação oposicionista dentro do sistema pol'tico e
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atravs dos movimentos sociais, uma vez que ainda não estava arran%ada a
negociata conservadora 2transição pactuada3 que levaria * transição para um
Estado de Aireito# Não que as esquerdas ten"am esquecido os crimes da
ditadura, mas naquele momento a questão da %ustiça ficaria em segundo plano,
sendo %ogada para solucioná)la após o restabelecimento do futuro regime
democrático# $ssim, para esses, “naquele contexto, era preciso priorizar a luta
social e pol'tica pela derrubada do regime e pela mudança na estrutura social,
reforçando a presença dos movimentos sociais no cenário pol'tico#
Aentro deste cenário, a literatura do testemun"o sobre o regime, nos
anos ?C, escrita por ex)guerril"eiros de esquerda, acabou por somar forças
com a memória "egem7nica liberal, realizando uma autocr'tica * luta armada,
como algo necessário, mas %á superado, para se opor ao regime#
@á na Nova Jep8blica, tem)se a divulgação de um relatório que
apresentado no formato do livro Brasil: nunca mais, tendo um grande impacto
na opinião p8blica# Nele, com farta documentação, “se revelava o mecanismo
de repressão no >rasil e as formas de tortura que se praticavam contra os
presos# =om essa documentação esperava)se que aç(es %udiciais contra os
torturadores responsáveis pela repressão pudessem ser efetivadas# 1orm, a
cada tentativa de se buscar a punição dos agentes da repressão, os militares
recorriam a Gei de $nistia, que teria “perdoado os crimes da esquerda e da
ditadura# $ssim, “no debate ideológico, a den8ncia da impunidade 2em relação
aos agentes da repressão3 dos militantes de direitos "umanos contraposta
pelos militares com a pec"a de 4revanc"ismo5 daqueles que foram derrotados#
+ embate em torno da validade da lei da anistia permanece at "o%e, com
tentativas de modifica)la seguidas de medidas que impedem tais
procedimentos#
Na sequência, Napolitano fala a respeito da “%ustiça de transição, essa
que “define)se como o con%unto de approaches que as sociedades
contempor!neas adotam, na passagem ou retorno * democracia, para lidar
com legados de violência deixados por regimes autoritários ou totalitários,
depois de per'odos de conflito ou repressão# +s procedimentos dessa
“passam por três fases, mais ou menos sucessivas# 1rimeiro ocorre a busca
da verdade dos fatos, em contraposição a “verdade oficial das ditaduras# Emsegundo lugar, estabelecida uma ponderada verdade, “passa)se * fase da
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%ustiça ou da punição aos responsáveis diretos e indiretos sobre as violaç(es
de direitos "umanos durante o estado de exceção# $lgumas vezes, a primeira
e segunda fase acontecem num mesmo movimento# 1or fim, “estabelecem)se
critrios para uma pol'tica oficial de reparação, moral, pol'tica ou material, aos
atingidos# No >rasil, com suas particularidades do processo de transição, o
que acontece foge dos padr(es teóricos#
Aesde -..<, temos a seguinte combinação pol'tica de reparação
sistemáticaI alguma pol'tica de memória sem muita consistência, com meias)
verdadesI e nen"uma pol'tica de %ustiça# Esse o formato que tem atuado no
>rasil com relação * “pol'tica de memória do Estado em relação ao regime#
=omo ressalta Napolitano, “no limite, quer dizer que ainda não temos uma
"istória oficial sobre o per'odo, entendida como a narrativa do passado aceita
como base para uma pol'tica "omogênea e coerente de Estado# $ssim, temos
uma pol'tica de Estado esquizofrênica com relação a investigação das
violaç(es dos direitos "umanos durante o regime militar# Enquanto
determinados compartimentos do Executivo do Estado 2como a &ecretaria de
Aireitos Kumanos3 tentam alguma realização de uma pol'tica de memória sobre
o per'odo, outras esferas 2:inistrio da Aefesa3 não conseguem avançar
devido a pressão militar com relação a esse assunto# + mesmo problema se da
no 1oder @udiciário 2com o enfrentamento entre o :inistrio 18blico e o &B6 a
respeito da revisão da Gei de $nistia3# + &B6 %oga a responsabilidade de
revisão desta para o 1oder Gegislativo, este que nem cogita essa possibilidade,
alm de este ser um poder extremamente problemático para compor maiorias#
6ica)se assim quase num imobilismo a respeito do assunto# =omo ressalta
Napolitano, “diante deste con%unto de impasses, o argumento liberal, fiel da
balança desta pol'tica de equil'brio na contradição F condenação moral da
ditadura, sem condenação %ur'dica e efetiva de seus agentes F parece dar o
tom do debate#
:esmo com essas tens(es, uma pol'tica de memória do Estado
brasileiro tem atuando com mais propriedade com a execução de uma pol'tica
de reparação aos atingidos pela repressão# Aesde -..<, com a Gei dos
Aesaparecidos, “o Estado brasileiro assumia sua responsabilidade nos atos de
repressão arbitrários e ilegais que redundaram em mortes e desaparecimentos,responsabilidade que foi plenamente assumida por uma nova lei em LCCL#
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$s tentativas de revisão dos processos de anistia, a pol'tica de
reparaç(es e memória "egem7nica de centro)esquerda, tem gerado
desconforto entre alguns militares ressentidos# + coronel @arbas 1assarin"o,
um desses expoentes ressentidos, que criticam tanto a memória de esquerda
como a memória que "eroiciza o “grupo castelista, estes que se consideravam
ameaçados pela “lin"a)dura dos militares# + ponto central dessa questão
trazida * tona com relação * vitória dos militares em -./0 e a derrota dos
mesmos na batal"a da memória posteriormente#
+utro problema cadente na relação com os militares diz respeito a
abertura dos arquivos da repressão 2tendo)se tambm a própria questão da
dificuldade do Exercito se posicionar, oficialmente sobre o per'odo3# =omo
coloca Napolitano, “em que pesem os avanços desde então, os arquivos dos
serviços de inteligência das três armas ainda continuam praticamente
inacess'veis#
Em LCCD foi lançado o livro intitulado Direito à memória e à verdade,
produzido pela =omissão Especial de :ortos e Aesaparecidos, que pode ser
visto como um pequeno esboço de "istória oficial# Napolitano coloca que, “seus
textos sobre a con%untura "istórica se aproximam muito da referida 4memória
"egem7nica5 sobre o regime, com um toque a mais de esquerda# $ comissão
contava tambm com um representante dos militares, que discordava da
avaliação realizada, mostrando as tens(es ainda existentes em torno da
batal"a da memória#
Napolitano coloca que, ao longo do governo Gula 2LCCM)LC-C3,
“sintomaticamente, a memória "egem7nica sobre o regime começou a
apresentar fissuras, antigas mas at então pouco vis'veis# +s grupos atingidos
pela repressão conseguiram marcos institucionais importantes na afirmação de
uma pol'tica de memória, ainda que um tanto errática, em várias esferas de
governo# + pro%eto :emórias Jeveladas e o :emorial da Jesistência, “são
exemplos de tentativas de pol'ticas de memória sobre o regime, com foco nos
perseguidos e em busca de reafirmar uma memória "egem7nica de matriz
esquerdista, que começa a ser questionada inclusive na imprensa liberal que
a%udou a constru')la#
&endo um governo de esquerda e tendo a desconfiança da imprensaliberal, indiretamente o governo Gula reacende os debates e os revisionismos
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sobre a memória do regime# “Nesse processo, cresceu a versão brasileira da
“teoria dos dois dem7nios e da responsabilidade da própria esquerda e do
governo 9oulart nos acontecimentos de -./0 e no endurecimento do regime
em -./?# $ equivalência feita entre a responsabilidade pol'tica, moral entre os
pro%etos de sociedade visados por esquerda e direita “ uma das marcas do
revisionismo, ainda em curso cu%os desdobramentos futuros para a "istória e a
memória ainda são descon"ecidos#
Em meio a esse contexto, de conv'vio entre os debates sobre a
responsabilidade das esquerdas pelo ocorrido em -./0 e -./?, e uma pol'tica
de memória sobre o golpe e o regime militar, foi instalada, em LC-L, a
=omissão Nacional da erdade 2=N3# +s ob%etivos desta são “esclarecer o
paradeiro dos desaparecidos e as cadeias de responsabilidades nos casos de
violação de direitos "umanos entre -.0/ e -.??, embora na prática este%a se
concentrando no per'odo do regime militar# $ data expandida teve como
ob%etivo “diminuir a resistência das 6orças $rmadas# + relatório final, de
caráter não punitivo 2embora “possa embasar futuras aç(es na %ustiça3, “será
considerado a "istória oficial do >rasil# =omplementares a comissão nacional,
tambm atuam as comiss(es regionais e institucionais#
$ssim, estamos vivendo num momento de alta da produção de
memórias sobre o regime, fruto da batal"a pela memória# “$o mesmo tempo, a
"istoriografia tambm desenvolve um debate próprio, nem sempre convergente
com as pol'ticas de memória#
&egundo Napolitano, “com a instalação da =N, alguns focos militares
se agitaram 2%á tendo alguns deles reagido3, sobretudo entre os oficiais da
reserva, fazendo eco em algumas vozes civis de direita, ainda minoritárias no
debate# Esses grupos argumentam ser a =N uma ação “revanc"ista e
parcial, “focando apenas as violências dos agentes do Estado e esquecendo a
dos guerril"eiros de esquerda# Aiga)se, uma argumentação frágil, pois,
independentemente de qualquer consideração de ordem ideológica, o fato
que a maioria dos guerril"eiros foi de alguma forma punida, com prisão, ex'lio,
tortura e morte# @á os agentes do Estado que participaram de atos il'citos e
crimes de lesa)"umanidade sequer foram nominados ou intimados oficialmente
pela %ustiça#
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6inalizando Napolitano coloca “*s vsperas de rememorarmos os
cinquenta anos do golpe 2civil3 militar, as lembranças sociais do per'odo
oscilam entre uma memória "egem7nica 2liberal3, perpassada por tens(es e
fissuras crescentes, e um pro%eto de "istória oficial 2=N3 que assume as
responsabilidades do Estado# + desafio está em fazer com que as 6orças
$rmadas o aceitem, como parte da burocracia e do governo, propiciando uma
maior coerência das pol'ticas de Estado sobre o tema#
O Bodas as partes do texto entre aspas são citaç(es do texto de Napolitano#
N$1+G;B$N+, :arcos# $ ditadura entre a memória e a "istória# ;n 1964:
Kistória do Jegime :ilitar >rasileiro# &ão 1aulo =ontexto, LC-0#