mesa redonda arquivo, memória e ditadura - edição 2013

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DITADURA E MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL Janaina Bilate ESS/UNIRIO Projeto: Cultura, Mídia e Direitos Humanos

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Page 1: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

DITADURA E MOVIMENTOS

SOCIAIS NO BRASIL

Janaina Bilate

ESS/UNIRIO

Projeto: Cultura, Mídia e Direitos Humanos

Page 2: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:

DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS

• Capital x Trabalho: lutas para assegurar os interesses das classes;

•Fins da década de 1950 e início da década de 1060 – período histórico

de grande mobilização em nível internacional: Guerras Coloniais em

Angola, Guiné e Moçambique; Revolução Cubana; a conquista da

independência no Vietnam; as lutas dirigidas por Martin Lutherking por

direitos cívicos dos negros; Movimento de Mulheres; a queda do Regime

Apartheid; os Movimentos Estudantis em nível internacional;

• Estratégia do grande capital para frear a efervescência das lutas nos

anos 60 - aliar-se ao autoritarismo militar contra a ameaça

comunista, mormente na América Latina.

Page 3: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:

DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS

• Reducionismo compreendermos apenas a ameaça de frear o avanço doimperialismo em escala internacional como único motivo da emergência de umacontra-revolução preventiva no Brasil (Netto ,1991).

• Capital monopolista nacional – conciliador de modernidade e arcaísmo –reforçando privilégios de grupos restritos da população brasileira e buscandoimpedir que as classes subalternas participassem efetivamente dos processospolíticos decisórios.

• A correlação de forças pré-golpe de 64 sinalizava para uma possívelreordenação do modo de produção capitalista em nível de lógica deacumulação, no sentido da incorporação de demandas das classes subalternaspor instâncias estatais, visto a direção do governo João Goulart.

•Havia possibilidades objetivas gestadas já na década anterior, fruto daiminência de uma das crises do modelo capitalista e da mobilização de forçasdemocráticas vinculadas, em especial, às classes subalternas.

Page 4: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:

DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS• Para Coutinho (2000), a ditadura-militar configura-se um decisivo

fator para a não democratização da cultura em âmbito nacional, de cunho

nacional-popular.

• O regime ditatorial-militar foi protagonista na passagem do capitalismo

brasileiro para a era dos monopólios de Estado.

•Isto desencadeou rebatimentos diretos na direção dos meios de

comunicação de massa, passando estes a serem dominados pelos

monopólios.

“A televisão é o caso mais evidente. Mas o fenômeno se manifesta também

em outras áreas, como a grande imprensa, o cinema, etc.” (2000: 33)

Page 5: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

MOVIMENTOS CONTRA-HEGEMÔNICOS:

DETERMINANTES SÓCIO HISTÓRICOS

•Neste cenário, há também que se considerar as propostas contra-hegemônicas no âmbito da indústria editorial, da imprensaalternativa e do teatro engajado.

•Estes organismos propulsores de cultura contribuíram para aresistência democrática face ao regime, ampliando os espaços devocalização de demandas da sociedade civil, podendo resultarposteriormente em formas diretas de controle democrático daorganização da cultura.

•Para tal, os intelectuais orgânicos contra-hegemônicos dos anos60, articulados diretamente às classes subalternas, desempenharampapel central neste processo de luta contra a ditadura militar.

Page 6: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

LIBERDADE DE EXPRESSÃO X CENSURA: AS

LUTAS POR DEMOCRACIA

Podem me prender, podem me baterPodem até deixar-me sem comer

Que eu não mudo de opinião.Daqui do morro eu não saio não,

Daqui do morro eu não saio não.

Se não tem água, eu furo um poçoSe não tem carne,

eu compro um osso e ponho na sopaE deixo andar, deixo andar

Fale de mim quem quiser falarAqui eu não pago aluguel

Se eu morrer amanhã, seu doutorEstou pertinho do céu

Page 7: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

• Marcelo Ridenti (2000) – nos aponta que grande parte dos intelectuais que

dirigiam a massa na perspectiva das possibilidades emancipatórias e de

igualdade socioeconômica provinham das camadas médias a altas.

• O operariado participava desta fase da realidade brasileira como sujeitos

passíveis de potencialização de sua consciência crítica e de vocalização de suas

demandas a partir do contato com estes intelectuais e sua arte.

• É no decorrer na organização do movimento operários de fins de 60 e início de

70 que se começa a grande pressão pela abertura democrática.

•Todavia, no âmbito cultural, os intelectuais à frente dos movimentos contra-

hegemônicos nos anos 60 eram em grande parte das camadas médias.

•Somente a partir dos anos 80, no processo da democratização, com a criação do

PT, da CUT, do MST, dos movimentos populares, essa situação começaria a mudar.

Page 8: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

• Celso Frederico - a classe operária face à ordem burguesa autoritária

encontrava-se desmobilizada e acuada.

• Foram os jovens intelectuais da classe média letrada e politizada que

fertilizaram o terreno para a emersão de uma estrutura de produção e

reprodução de bens culturais, núcleos da resistência à ditadura militar.

A efervescência artística do pré-64, expressa no cinema novo, na bossa-nova, nos

Centros Populares de Cultura, desdobrou-se, após o golpe, num amplo

movimento de resistência cultural contra os novos governantes, a censura e o

chamado "terrorismo cultural". A contestação inicial do regime foi feita

basicamente pela intelligentsia radicalizada, num momento dramático em que a

classe operária encontrava-se desmobilizada e sofrendo uma repressão que os

donos do poder não ousavam estender para a classe média intelectualizada. É

este o contexto de onde surgirá o aguerrido movimento estudantil que, a partir de

1966, ocupou as principais cidades do país, desafiando a ditadura. (FREDERICO,

2004)

Page 9: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

• Na voz de Gianfrancesco Guarnieri, Vianninha, José Celso

Martinez Correa, José Renato, Augusto Boal, Chico Buarque, Maria

Betânea, Caetano Veloso, entre tantos outros é que as classes

subalternas viam-se expressas culturalmente.

• Marco na penetração da realidade brasileira nas artes: Eles não

usam black-tie, de Guarnieri alcançou repercussão de grande

monta.

• A ação dramática do texto era centrada no operariado que

vivenciava uma greve. No decorrer da história, o conflito se foca

entre pai e filho com posições divergentes quanto à adesão ao

movimento operário que dirigira uma greve.

Page 10: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

• 1968 – o ano que não terminou (Zuenir Ventura) – destaca que as camadas da

população que estavam à frente do Movimento Estudantil, que tinha como pares

os artistas de teatro, cinema, literatura e televisão eram filhos de políticos, de

advogados, de professores universitários, escritores.

• Freqüentavam os bares da esquerda da moda:

Antonio´s, Degrau, Jangadeiros, Zeppelin, Pizzaiollo, Varanda, todos situadas na

Zona Sul do Rio de Janeiro, e não acessível ao proletariado. E naqueles

tempos, Ipanema e Leblon – regiões com pessoas de alto poder aquisitivo –

tinham a fama de ser o lócus concentrador da intelectualidade brasileira no Rio

de Janeiro.

Naqueles tempos, o trecho entre Ipanema e começo do Leblon tinha a

reputação de pedaço mais inteligente e boêmio do Brasil. Personagens mitológicos como

Vinicius de Morais, Tom Jobim, Carlinhos Oliveira, Chico Buarque podiam ser

encontrados ali com a mesma freqüência com que outros, mais folclóricos, ou estavam

ali, ou nos Chopinics, quadrinhos que Jaguar publicava diariamente no JB. Eram tipos que

o talento do cartunista transformou em protótipos da angústia existencial de uma geração

– a fossa, como se dizia – ou da curtição – como ainda não se dizia: os Hugo (Bidet e

Carvana), o Paulo Góes, o Paulo Garcez, a Márcia, a Duda. (VENTURA, 1988:47).

Page 11: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

O PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO –

DESTAQUE PARA A CULTURA E A LUTA

DEMOCRÁTICA

“ (…) Fato significativo é que, pela primeira vez, o Partido Comunista do

Brasil, legalizado, torna-se um partido de massas; (…) Os sindicatos

operários, embora continuassem atrelados à tutela do Ministério do

Trabalho, começam a ter um peso crescente não só nas lutas econômicas, mas

inclusive na vida política nacional. Também as camadas médias buscam formas

de organização independentes, nos partidos e fora dos partidos:

escritores, advogados, jornalistas criam associações para a defesa de seus

interesses e de seus ideais. Tudo isso amplia o campo da organização material da

cultura; uma ampla e muitas vezes fecunda batalha das idéias começa a ter lugar

entre nós. Há um acentuado empenho social da intelectualidade, um maior

comprometimento com as causas populares e nacionais.” (COUTINHO, 2000:

30)

Page 12: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

AI – 5: 1968

• 1968 – movimentação política intensa por conta das manifestações artísticas e

do Movimento Estudantil. A participação política e as manifestações contra o

regime ganhavam força principalmente nas universidades;

• Congresso da Une no interior de São Paulo;

•Na música - músicas que revelam questionamentos e denuncias acerca do

Regime, e que trava uma batalha de idieias na disputa pelo retorno á

democracia. E, contraditoriamente, as que o legitimavam;

• Destaque para as músicas: Opinião, de 1964, Disparada, de 1966, Carcará, de

1966, Roda Viva, de 1967, Gente Humilde, de 1969, Pra não dizer que não falei

de flores, 1968.; Tropicália, 1968; Geléia Geral, 1968

• No teatro, a I Fera Paulista de Opinião, realizada no e direcionada pelo grupo

do Teatro de Arena, teve como tema norteador “Que pensa você do Brasil de

hoje?”. Destaque Augusto Boal.

Page 13: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

Estudante Edson Luis

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MOVIMENTOS PELA REDEMOCRATIZAÇ.ÃO

• Movimento Operário no ABCD Paulista – 1978 surge e difunde-se o novo

sindicalismo;

•1979 – Greves no ABCD paulista duramente reprimidas – o governo intervém

em 3 sindicatos;

•429 greves ao longo do ano;

•UNE é recriada no Encontro Nacional dos Estudantes em Salvador;

•Nova Lei Orgânica dos Partidos (fim do bipartidarismo);

•1980 – repressão brutal às greves do ABCD;

•46 atos terroristas de direita ao longo do ano;

•Fundam-se PT, PDT, PMDB, PP, PTB, PDS;

•Proibida a festa do jornal Voz da Unidade do PCB;

•1981 – atentado ao Rio Centro;

•Circo Voador é inaugurado no Arpoador;

•1982 – eleições para governadores; IV congresso do PCB;

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MOVIMENTOS PELA REDEMOCRATIZAÇ.ÃO

•1983 – greve dos petroleiros Brasil afora, logo apoiada por metalúrgicos do

ABCD;

•Criação da CUT;

•Greve Geral com adesão sobretudo em São Paulo;

•Milton Nascimento e Wagner Tiso lançam Coração de Estudante;

•1984 – campanha Diretas Já;

•Oscar Niemeyer projeta o Sambódromo;

•Eleições indiretas, elegendo Tancredo Neves, que não assume e em 15/01/1985

Sarney, seu vice, o faz.

•1985: iniciava-se a Nova República;

•1988 – Constituinte e votação da nova Constituição;

•Queda da Censura, a 03/08/1988.

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QUE PAÍS É ESSE ? – LEGIÃO

Nas favelas, no senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a Constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é esse ?

Que país é esse ?

Que país é esse ?

Page 22: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, Carlos Nelson. Cultura e sociedade no Brasil. Belo Horizonte:

Oficina de Livros, 2000.

GRAMSCI, Antonio. Quaderni del Carcere. Edizione critica dell’Istituto

Gramsci. Prima Edizione. Torino: Einaudi Editore, 1975.

NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no

Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 1991.

Page 23: Mesa Redonda Arquivo, Memória e Ditadura - Edição 2013

TESE DE DOUTORADO

BILATE MARTINS, Janaina. Teatro do Oprimido: a experiência de Santo

André/SP. Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social. PUC/SP

2009.

Email: [email protected]