reprodução, fator de condição e dinâmica temporal de uma...

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Joana Macedo Reprodução, fator de condição e dinâmica temporal de uma população do marsupial Didelfídeo Marmosops incanus na Serra dos Órgãos. Rio de Janeiro 2007

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Joana Macedo

Reprodução, fator de condição e dinâmica temporal de uma população do marsupial Didelfídeo Marmosops incanus na Serra dos Órgãos.

Rio de Janeiro

2007

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Reprodução, fator de condição e dinâmica temporal de uma população do marsupial Didelfídeo Marmosops

incanus na Serra dos Órgãos.

JOANA MACEDO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ecologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Ecologia.

Orientador: Rui Cerqueira, Ph.D. Prof. Titular Departamento de Ecologia UFRJ

RIO DE JANEIRO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

2007

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Reprodução, fator de condição e dinâmica temporal de uma população do marsupial Didelfídeo Marmosops incanus na Serra dos

Órgãos.

JOANA MACEDO

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2007 Banca examinadora:

___________________________________________

Prof. Dr. Rui Cerqueira Universidade Federal do Rio de Janeiro

(Presidente da Banca)

_____________________________________________ Prof. Dr. Emerson Vieira

UNISINOS

______________________________________________ Drª Rosana Gentile

Fundação Oswaldo Cruz

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FICHA CATALOGRÁFICA

MACEDO, Joana Reprodução, fator de condição e dinâmica temporal de uma população do marsupial Didelfídeo Marmosops incanus na Serra dos Órgãos. Rio de Janeiro, 2007 xxiv, 135 pp. Dissertação: Mestre em Ecologia 1. Título 2. Didelfídeos 3. Dinâmica de populações I. Universidade Federal do Rio de Janeiro II. Teses

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Ilustração Eduardo Viana.

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Agradecimentos

Ao Rui, meu orientador, por ter me aceitado como aluna, mesmo sabendo que eu sou uma péssima aluna, e pela grande ajuda e incentivo, principalmente no final da dissertação. E por ser o grande responsável por toda infra-estrutura que desfrutamos no lab e pela formação de tanta gente boa. Ao Marquinhos, por ter lido parte da dissertação, pela ajuda com os slides, pelas referências emprestadas e por quebrar todos os galhos e ter toda paciência do mundo com a multidão de alunos que o procuram, mesmo tendo muito mais o que fazer. E pelo grande interesse na cada vez mais complicada ecologia de populações. Ao Cadu por quebrar meu galho com a tutoria, pelas bibliografias (mesmo tendo que procurar em todas aquelas pastas sem ordem) e por me mandar fazer um cafezinho de vez em sempre, pra levantar o ânimo do lab. Aos professores do PPGE, principalmente ao professor convidado Paulo Branco, por ter dado a melhor disciplina do curso e os professores Carlos Veranni e Jean Valentin por terem dado uma luz no mundo misterioso dos números. A Ângela por resolver todos os problemas burocráticos, especialmente os relacionados às finanças e materiais das excursões, por ajudar a fazer o laboratório funcionar e pelas caronas pra Tijuca. A Márcia e Sueli pela competência e seriedade e por serem sempre prestativas. A todas as pessoas que tem ou tiveram o privilégio de trabalhar ou freqüentar o Laboratório de Vertebrados, pela oportunidade de participar de conversas apaixonadas e discussões acaloradas sobre ratos e gambás. Aos pioneiros do trabalho no Garrafão, Rosana, Simone, Vitor e Finotti, por terem coletado os primeiros dois anos de dados e ensinado a arte de coletar esses dados e organizar excursões. A todos que tiveram o prazer de participar dos trabalhos de campo no Garrafão, principalmente a galera sinistra de populações e movimentos, que foram os principais responsáveis pela coleta dessa série longa de dados.

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Agradeço especialmente a Fabio, Maira, Sylvia, Diogo, Maja, XL, Fernanda, Marcelle e Paulo pela grande ajuda na organização das excursões, no trabalho de campo e na tabulação dos dados e também por tornarem o trabalho sempre mais divertido. Agradeço a toda equipe de populações pelas frutíferas discussões e idéias. Às meninas do microhabitat, Simone, Paula Aprigliano, Cris, Márcia, Carol e Paula Chernicharo, por terem feito essa parte chata do trabalho de campo, por disponibilizarem os dados (que infelizmente não foram usados aqui), pelas discussões sobre a dinâmica do habitat, pelas jujubas e pela boa companhia. A todos que triaram folhiço e insetos (especialmente Finotti, Fernanda, Diogo, Carol, Guta, Paula Chernicharo e Nadjia) pela enorme paciência. Teria sido impossível coletar os dados usados aqui sem a ajuda e boa vontade de todos os que participaram do trabalho de campo. É impossível citar todos os nomes, mas preciso agradecer aqueles que contribuíram de alguma forma na coleta dos dados que usei e que fizeram do Labvert um ótimo ambiente de trabalho e se tornaram meus amigos: Fabio, Harley, Vanina, Diogo, Maira, Maja, XL, Ana Cráudia, Sylvia, Finotti, Paulo, Carol, Henrique, Maycon, Cris, Márcia, Emiliano, Paula A, Simone, Leo, Marcelle, Biba, Val, Raquel, Érika, Antônio, German. Obrigado brigadistas! Agradeço também a Bernardo, Paula, Priscila Lóra e Marianas 2 e 3, a nova geração de alunos que está dando continuidade a essa longa série de dados, que acaba de completar 10 anos. A Fabio, Harley, Dani, Carol, Vanina, Biba, Paulo e todos que ajudaram nas minhas coletas de Marmosops (que infelizmente só renderam três indivíduos). Ao menino Nélio, por ter me ensinado um jeito zen de manusear os animais, por ser encantador de Philander e de toda sorte de animais ferozes e por ter ajudado com a minha tentativa frustrada de reproduzir Marmosops em cativeiro. A todas as oportunidades que tive de ir para o campo, coisa que amo fazer, apesar de ter que acordar muito cedo e de todos os ácaros, carrapatos, mosquitos, vespas, moscas varejeiras, cobras, íris, taquaras e todo tipo de espinho, calor, frio, chuva, sede, fome, cansaço, machucados, pirambeiras, todas as armadilhas que carreguei e todos os marsupiais ferozes que enfrentei. Sempre valeu a pena passar por tudo isso! Agradeço também por ser o Garrafão um lugar tão lindo e inspirador. Aos moradores e freqüentadores do Garrafão, especialmente ao Zé Elias e Adriano, que nos trataram sempre muito bem e nos ajudaram em várias situações críticas (falta de água, carro atolado, cerveja fiada...).

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Aos bichinhos do Garrafão, muito obrigado por terem colaborado comigo na maioria das vezes, foram muitos bichos e poucas mordidas! Aos lindos e ágeis arborícolas, Caluromys, Gracilinanus, Micoureus e Rhipidomys, aos saltitantes Metachirus e Oryzomys, aos frágeis Trinomys, aos raros e minúsculos Juliomys, Oligoryzomys e Monodelphis e aos meus queridos amigos gambás, por geralmente se comportarem como gambás. Agradeço principalmente aos Marmosops, tão lindinhos que dá vontade de ter um em casa, por gostarem tanto das armadilhas, não se importando em serem abduzidos em troca de um pedaço de bacon, tornando possível esta dissertação. Ao Diogo pela revisão do abstract. A Simone, Finotti e Sylvia pelas discussões e referências sobre séries temporais. Ao Paulo Brito e ao pessoal do INMET por cederem os dados climáticos. A toda turma 97-2, A TURMA MAIS LEGAL DE TODOS OS TEMPOS, e aos agregados. Fabito, Livete, Fabi, Frango, Quito, Coelho, Vivi, Murilo, Meninalice, Maíra, Sylvia, Fazinha, Aninha, Ed, Daniel Fernando, Maycon, Paula, Lawrence, Moniquete, Lú, Robertinha, Fabrício, Chico, Zé Colméia... Muito obrigado por todos os megaeventos memoráveis, churrascos, pizzas, tubérculos, feijoadas e encontros e por serem agora os meus amigos de verdade. Salve a união! Ao bonde da Tijuca, Livete, Fabito, Fabi, Frango, Vivi, Dudu e Moniquete, por serem muito queridos, por todos os momentos tomando muita cerveja e falando muita besteira nos butecos tijucanos, e por serem sempre os últimos a sair das festas! Ao grupo de auto-ajuda dos manés (Harley, Fabito, Lú e eu, explano logo), pelo prazer de rir das próprias derrotas, pelas cervejas e pelo cinema de graça. A toda minha família querida, que mesmo sem entender muito bem esse gosto por bichos fedorentos e florestas cheias de perigos, sempre me deu todo apoio. Aos meus pais pelo suporte financeiro, casa, comida e roupa lavada, pelo amor e por aturarem meus momentos de mau humor crônico. Ao meu pai por ter o dom de resolver com a maior facilidade todos os problemas que um computador pode apresentar e pelo pen drive que facilitou a minha vida. Ao Pedro, muito obrigado por me levar sempre pros sambas, não sei o que seria de mim sem isso! A Claudia pela ajuda imprescindível, cedendo seu loft para meus momentos de isolamento, que foram cruciais para que eu passasse na seleção e saísse da inércia mental no final da redação, obrigada pela

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acolhida, pelo carinho e pelas muitas cervejas. A Suiá, Tomás e Rita, pelas deliciosas conversas, comidinhas, bebidas e filmes, e por terem sempre me recebido com carinho. Ao Hélio por ser um exemplo de pesquisador, e por superar adversidades e continuar sendo um exemplo de pesquisador. Aos queridos teresopolitanos, tia Eliana, tio Lula (in memorian), Lucas, Maria e Rosa, por terem me proporcionado uma infância de muitas aventuras e contato com mato, bichos, montanhas e gambás arrombadores de galinheiro. Ao Lucas pelas intermináveis conversas sobre bichos que temos desde que me entendo por gente. A Clarice, Ana, Julia e tia Lucila e pela torcida. Ao Vitor, que ajuda mesmo quando atrapalha, chamando pra brincar com tanto jeitinho que é difícil resistir, obrigado por trazer muita alegria e por ser o sobrinho mais lindo que uma pessoa pode ter. E não é exagero! Sinto-me realmente privilegiada por ser parte do clã dos Silva, pelas reuniões familiares serem sempre um enorme prazer, e não uma obrigação de datas festivas. A minha Shaiane, por ter sido a minha melhor amiga, por ter feito a minha vida mais feliz, pelo companheirismo, por latir muito no meu ouvido quando eu ficava muito tempo no computador e por ter aumentado meu amor e respeito pelos animais. Obrigada por ter sido um cãozinho tão perfeito. Saudades.

Ao CNPq, PROBIO, FUJB e FAPERJ, pelo financiamento do projeto no qual este trabalho está inserido e a CAPES pela bolsa.

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ÍNDICE GERAL

Índice de Figuras xiii

Índice de Tabelas . xxi

Resumo xxiii

Abstract xxiv

Introdução Geral 1

Estudos de longa duração e sua importância em regiões tropicais 6

Objetivos 7

Métodos Gerais 7

Área de estudo 7

Espécie estudada 12

Coleta dos dados 17

Indicadores da disponibilidade de recursos 20

Capítulo I - Reprodução e parâmetros populacionais do marsupial

Marmosops incanus. 24

Resumo 24

Introdução 24

Objetivos 28

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Métodos 29

Análise dos dados 29

Resultados 32

Discussão 41

Capítulo II - O fator de condição de uma população do marsupial

didelfídeo Marmosops incanus e sua relação com o período

reprodutivo, os recursos e a densidade. 49

Resumo 49

Introdução 49

Objetivos 52

Métodos 52

Resultados 55

Discussão 66

Capítulo III - Dinâmica temporal da abundância populacional e

fator de condição da cuíca Marmosops incanus e suas relações com

o clima e os recursos. 71

Resumo 71

Introdução 72

Objetivos 73

Métodos 74

As variáveis usadas 74

Análises de série temporal 75

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Valores discrepantes 76

Normalidade 77

Tendências 77

Sazonalidade 78

Estacionaridade e diferenciação 79

Autocorrelações 81

Correlações cruzadas 82

Resultados 83

Discussão 110

Considerações Finais 114

Referências Bibliográficas 120

Anexo I 149 Anexo II 171

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Localização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos no estado do Rio de Janeiro. Fonte: www.parquesnacionais.hpg.ig.com.br. 8

Figura 2. Parque Nacional da Serra dos Órgãos – do Dedo de Deus, próximo a área de estudo. Foto: Diogo Loretto. 8

Figura 3. Vista aérea de uma das casas de veraneio do condomínio Garrafão. Foto: Diogo Loretto. 8

Figura 4. Fotografia aérea da área de estudo. A=grade A; B= grade B; C= grade C; AE= auto-estrada Rio - Teresópolis; EV= estradas vicinais; CV= casas de veraneio. Fotografia do Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro. 8

Figura 5. Esquema das grades de captura. GA, GB e GC – grades A, B e C. E – estradas vicinais. A – auto-estrada (BR 116). CH – Cachoeira do Rio Iconha. C – casas. 8

Figura 6. Esquema dos pontos de captura das grades, representados por estrelas de quatro pontas. Números= número do ponto de captura; p= ponto com armadilhas em plataforma nas árvores; i= pitfall de artrópodes; f= coletor de folhiço; tg= armadilha Tomahawk grande. 8

Figura 7. Diagrama ombrotérmico com as normais climatológicas de 1931 a 1960 do município de Teresópolis. 11

Figura 8. Diagrama ombrotérmico do período de estudo, de abril de 1997 a fevereiro de 2005, com dados da estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia do município de Teresópolis. 12

Figura 9. Mapa da distribuição do gênero Marmosops na Mata Atlântica baseado em indivíduos cujas seqüências de citocromo b foram obtidas. M. incanus: círculos pretos - localidade dos indivíduos; área cinza - distribuição. M. paulensis: círculos brancos – localidade dos indivíduos; área listrada - distribuição. Mapa obtido de MUSTRANGI & PATTON, 1997. 14

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Figura 10. Marmosops incanus. Foto: Fabio Pedreira. 15

Figura 11. Fêmea de M. incanus exibindo sinais de atividade reprodutiva. Foto: Diogo Loretto. 15

Figura 12. Philander frenatus. Foto: Fabio Pedreira. 15

Figura 13. Didelphis aurita. Foto: Maja Kajin. 15

Figura 14. Estação de captura com os três tipos de armadilhas no solo. Foto: Diogo Loretto. 22

Figura 15. Coletor de folhiço. Foto: Vitor Rademaker 22

Figura 16. Armadilha do tipo fojo para artrópodes do solo. Foto: Vitor Rademaker 22

Figura 1.1. Box plot mostrando as medianas, quartis e valores máximos e mínimos do número de indivíduos capturados por mês separados pelas respectivas grades de captura (grades A, B e C). 34

Figura 1.2. Porcentagem de fêmeas adultas (pertencentes à mesma geração) com sinais de atividade reprodutiva e sem sinais de atividade reprodutiva por mês. 35

Figura 1.3 Histograma com a distribuição por mês de amostragem das três classes de desenvolvimento com as capturas dos oito anos agrupadas. 35

Figura 1.4 Histograma com número de indivíduos capturados em cada classe de desenvolvimento por mês de amostragem. 36

Figura 1.5. Boxplot com as medianas, quartis e valores máximos e mínimos do tempo de permanência em meses de machos (M) e fêmeas (F). 36

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Figura 1.6. Porcentagem dos indivíduos capturados por geração. 37

Figura 1.7. Número de capturas por mês separadas por geração. 38

Figura 1.8. Índice de abundância MNKA por mês de amostragem 39

Figura 1.9. Taxa de sobrevivência mensal. 39

Figura 1.10. Taxa de recrutamento mensal. 40

Figura 1.11. Regressão entre o número de fêmeas capturadas que se reproduziram na geração t e o número de indivíduos capturados na geração t+1 (R=0,67; R²=0,45; y=11,50+1,97*x; intervalo de confiança de 0,95). 41

Figura 2.1. Box plot com as medianas, quartis e valores máximos e mínimos dos valores brutos do peso (W) e comprimento do corpo (HB) de machos e fêmeas. 56

Figura 2.2 Regressão entre o logaritmo natural do comprimento cabeça-corpo e o logaritmo natural do peso do corpo dos machos (a) e fêmeas (b). 57

Figura 2.3. Covariância entre os coeficientes angulares da regressão entre o comprimento do corpo e o peso de machos e fêmeas. 58

Figura 2.4. Média mensal do fator de condição alométrico; machos –linha preta, fêmeas linha cinza. 58

Figura 2.5. Fator de condição de machos (a) e fêmeas (b) e a porcentagem de fêmeas com sinais de atividade reprodutiva. Fator de condição de machos (c) e fêmeas (d) e a abundância populacional (MNKA). 60

Figura 2.6. Média anual do fator de condição de machos (linha preta) e fêmeas (linha cinza). 62

Figura 2.7. Regressão entre o fator de condição anual e o tempo (em anos) de machos (a) e fêmeas (b). 62

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Figura 2.8. Somatório anual (abril a março) dos indicadores da disponibilidade de recursos (barras) e somatório anual do fator de condição (FC) de machos e fêmeas (linha). a) precipitação anual e FC machos; b) precipitação anual e FC fêmeas; c) artrópodes e FC machos; d) artrópodes e FC fêmeas; e) folhiço e FC machos; f) folhiço e FC fêmeas; g) frutos e FC machos; h) frutos e FC fêmeas. 63

Figura 2.9. Regressões entre o somatório anual dos indicadores de produtividade dos recursos e a média anual do fator de condição de machos e fêmeas. a) artrópodes x FC machos; b) artrópodes x FC fêmeas; c) folhiço x FC machos; d) folhiço x FC fêmeas; e) frutos x FC machos; f) frutos x FC fêmeas; g) precipitação x FC machos; h) precipitação x FC fêmeas. 64

Figura 2.10. Regressão do somatório anual dos indicadores de produtividade dos recursos contra o tempo (em anos). a) biomassa de artrópodes; b) produção de folhiço; c) produção de frutos; d) precipitação. 65

Figura 3.1. Flutuação bimestral dos valores brutos do fator de condição (a), da abundância (b), da biomassa de artrópodes (c) e da abundância de D. aurita (d) e P. frenatus (e). 85

Figura 3.2. Flutuação mensal dos valores brutos da produção de folhiço (a), da produção de frutos (b) e da precipitação (c). 86

Figura 3.3. Diagrama com os dados brutos da abundância (MNKA) de M. incanus agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 87

Figura 3.4. Diagrama com os dados brutos do fator de condição (FC) de M. incanus agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 87

Figura 3.5. Diagrama com os dados brutos da biomassa de artrópodes agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 88

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Figura 3.6. Diagrama com os dados brutos da abundância (MNKA) de D. aurita agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 88

Figura 3.7. Diagrama com os dados brutos da abundância (MNKA) de P. frenatus agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 89

Figura 3.8. Diagrama com os dados brutos da produção de folhiço agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 89

Figura 3.9. Diagrama com os dados brutos da produção de frutos agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 90

Figura 3.10. Diagrama com os dados brutos da precipitação agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas. 90

Figura 3.11. Séries que mostraram tendência ao longo do tempo, de acordo com o teste de Kendall –tau, regredidas contra o tempo (de 0 a 97 meses). A) Fator de condição de M. incanus com R2 =0,1084; b) abundância de D. aurita com R2 =0,3622; c) abundância de P. frenatus com R2 =0,0583. 92

Figura 3.12. Autocorrelograma do fator de condição (FC) após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 96

Figura 3.13. Autocorrelograma da abundância de M. incanus após diferenciação de segunda ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 96

Figura 3.14. Autocorrelograma da produção mensal de folhiço após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 97

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Figura 3.15. Autocorrelograma da produção mensal de frutos após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 97

Figura 3.16. Autocorrelograma da biomassa de artrópodes após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 98

Figura 3.17. Autocorrelograma da precipitação após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 98

Figura 3.18. Autocorrelograma da abundância (MNKA) de D. aurita após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 99

Figura 3.19. Autocorrelograma da abundância (MNKA) de P. frenatus pós diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%. 99

Figura 3.20. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e folhiço. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 103

Figura 3.21. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e frutos. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 103

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Figura 3.22. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e biomassa de artrópodes. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

104

Figura 3.23. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

104

Figura 3.24. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e produção de folhiço. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 105

Figura 3.25. Correlação cruzada entre as séries abundância de M. incanus (MNKA) e produção de frutos. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 105

Figura 3.26. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e biomassa de artrópodes. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 106

Figura 3.27. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

106

Figura 3.28. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e frutos. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de

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defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 107

Figura 3.29. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e abundância de D. aurita. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 107

Figura 3.30. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e abundância de P. frenatus. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%. 108

Figura 3.31. Correlação cruzada entre as séries de produção de folhiço e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

108

Figura 3.32. Correlação cruzada entre as séries de biomassa de artrópodes e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

109

Figura 3.33. Correlação cruzada entre as séries de produção de frutos e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

109

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xxi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1.1. Resultado da análise de variância de Kruskal-Wallis e χ² das medianas para testar a diferença do número de indivíduos capturados por mês nas grades A, B e C e estatística básica. 33

Tabela 1.2. resultado do teste do χ² para a razão sexual por geração com 15 graus de liberdade e nível de significância de 95%. 36

Tabela 1.3. Média e desvio padrão do tempo de permanência em meses de machos e fêmeas. 37

Tabela 1.4. Tempo de duração de cada geração de machos e fêmeas. 38

Tabela 1.5. Peso do corpo em gramas dos indivíduos capturados nos meses de dezembro e fevereiro, onde há sobreposição de gerações. 38

Tabela 2.1. Resultado do teste de Kolmogorov-Smirnov para verificar a distribuição das variáveis peso e comprimento de machos e fêmeas. 55

Tabela 2.2. Resultados do teste t para amostras independentes entre o peso de machos e fêmeas e o comprimento do corpo de machos e fêmeas. N = número; gl = graus de liberdade; dp = desvio padrão. 57

Tabela 2.3. Resultado da correlação de Pearson entre o índice de abundância MNKA e o fator de condição de machos e fêmeas. 59

Tabela 2.4. Resultados da regressão múltipla entre o fator de condição de machos e fêmeas e os indicadores da disponibilidade de recursos. 61

Tabela 3.1. Valores de λ do teste boxcox e suas respectivas transformações. 78

Tabela 3.2. Valores discrepantes encontrados nas séries, com suas respectivas datas de ocorrência e o valor da média mais três vezes o desvio padrão, que foi usado como critério para identificar os valores discrepantes. 91

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xxii

Tabela 3.3. Transformações boxcox e seus respectivos testes de normalidade de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov e os resultados da correlação de Kendall para detecção de tendências. 93

Tabela 3.4. Resultados do teste de Kruskall-Wallis para detecção de padrões sazonais nas séries de dados. Os valores em negrito indicam as séries que apresentam componente sazonal. 94

Tabela 3.5. Resultado do teste de raiz unitária de Dickey-Fuller aumentado. Os valores em negrito indicam as séries que apresentaram raiz unitária, sendo, por conseguinte estacionárias. 95

Tabela 3.6. Autocorrelações significativas positivas (cinza escuro) e negativas (cinza claro) das séries para cada tempo de defasagem em meses (de 1 a 24).

101

Tabela 3.7. Correlações cruzadas significativas positivas (cinza escuro) e negativas (cinza claro) das séries para cada tempo de defasagem em meses (de 1 a 24). 102

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xxiii

Resumo Uma população do marsupial didelfídeo Marmosops incanus foi estudada sob diversos aspectos com o intuito de elucidar a sua dinâmica populacional e estratégias reprodutivas. Os objetivos foram descrever a reprodução e estimar os parâmetros populacionais, investigar a relação entre o fator de condição e a abundância e disponibilidade de recursos e descrever e correlacionar séries temporais de abundância e fator de condição com a precipitação, disponibilidade de recursos e abundância de potenciais predadores. O estudo foi conduzido em uma área de Mata Atlântica de encosta na Serra dos Órgãos, dentro do perímetro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no município de Guapimirim, Rio de Janeiro. Neste trabalho foram usados os dados de um monitoramento bimestral por captura-marcação-e-recaptura de oito anos de duração. Foram capturados 175 indivíduos num total de 434 capturas. A reprodução foi sazonal, indivíduos com sinais de atividade reprodutiva foram capturados entre outubro e fevereiro. Nenhum indivíduo passou por mais de uma estação reprodutiva e a sobreposição de gerações foi muito baixa, o que indica que esse marsupial apresenta padrão reprodutivo semélparo para ambos os sexos. A variação da abundância populacional também teve um padrão estacional, com picos nos meses de agosto e outubro e quedas nos meses de fevereiro e abril. A capturabilidade dos jovens foi baixa, provavelmente devido a um cuidado parental prolongado. O fator de condição mensal também teve variação estacional, exceto nos dois primeiros anos, onde a amplitude da variação foi baixa. A abundância não foi correlacionada ao fator de condição, indicando que baixa competição intraespecífica por recursos. O folhiço foi o único indicador de disponibilidade de recursos relacionado ao fator de condição sem defasagem de tempo. Aparentemente a flutuação do fator de condição está relacionada com a alocação de recursos para a reprodução e sofre pouca influência da variação dos indicadores da disponibilidade de recursos e da abundância populacional. O fator de condição mensal e anual apresentou tendência decrescente nos oito anos investigados. As séries temporais da abundância de predadores apresentaram tendência crescente ao longo do tempo. Apenas a série de biomassa de artrópodes não apresentou sazonalidade. A abundância de M. incanus não parece sofrer uma pressão negativa da abundância dos predadores. A precipitação não apresentou correlações positivas com os parâmetros populacionais, mas foi relacionada aos indicadores da disponibilidade de recursos. Estes por sua vez foram correlacionados com os parâmetros populacionais com atrasos na resposta de até 14 meses, indicando influência na geração seguinte.

Palavras chave: Marmosops incanus, reprodução, semelparidade, dinâmica populacional, fator de condição, série temporal.

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xxiv

Abstract We investigated the population of the didelphid Marmosops incanus under several aspects, to understand its population dynamics and reproductive strategies. The major objectives were to describe the population reproduction and parameters, to investigate the relation between the condition factor, the population abundance and resource availability, to describe and correlate abundance time series, condition factor, rainfall, resources availability and abundance of potential predators. The study was conducted at an Atlantic Forest area, in the Serra dos Órgãos National Park, municipality of Guapimirim, Rio de Janeiro state. Data were collected in bimonthly sampling sessions of capture-mark-recapture, from April 1997 to April 2005, capturing 175 individuals in a total of 434 captures. The breeding season occurred from October to February. No individual remained alive for more than one breeding season, and the generation overlap period was very low, which supports the hypothesis of a semelparous life cycle, a single reproductive event, an unusual reproductive pattern in mammals. The population abundance was seasonal, with peaks in August and October and drops in February and April. There was a low trappability of young, probably driven by an extended parental care. The seasonal pattern was also found for the monthly condition factor, except for the first two years of study, both with low range of data variation. Abundance was not correlated to condition factor, suggesting a low intraspecific competition. Litterfall was the only resource indicator associated with the condition factor. Actually, fluctuation in the condition factor fluctuation was related to energy allocation during the reproductive period, and seemed to suffer slight influences from variation of food resources variation and population density. Monthly and annual condition factor showed a decreasing trend, oppositely to the time series of predator’s abundance. Arthropod biomass was the only time series one that did not present seasonal fluctuation. The abundance of M. incanus seems not to suffer a negative pressure from the abundance of predators. Rainfall did not present positive correlations with population parameters; however, it was related to resources. They were correlated with population parameters with delays of up to 14 months, indicating the influence in the following generation. Key words: Marmosops incanus, reproduction, population dynamics, semelparity, condition factor, time series.

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INTRODUÇÃO & MÉTODOS GERAIS

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2

Introdução geral

A flutuação de parâmetros populacionais e a reprodução podem sofrer

influência de variações no clima e no ambiente (MARTINS et al., 2006; LOE et

al., 2005). Essas variações são chamadas sazonais ou estacionais quando

ocorrem com a periodicidade de um ano, respondendo as mudanças ocasionadas

pelas estações climáticas. A sazonalidade é um dos componentes da variabilidade

ambiental que controla o início e a duração da estação reprodutiva em muitos

organismos (LIMA et al., 2003; MARTINS et al., 2006).

A atividade reprodutiva das populações animais tem grande importância

para a compreensão da dinâmica populacional, e por isso conhecer o máximo de

detalhes possível à cerca da reprodução facilita o entendimento das flutuações

populacionais e da demografia. O sucesso reprodutivo é obtido em uma

considerável variedade de padrões. Os padrões reprodutivos em mamíferos

variam em função do grupo, tempo de vida, tamanho de ninhada, tempo de

cuidado parental, entre outros (FLOWERDEW, 1987; WEIR & ROWLANDS,

1973). A reprodução dos marsupiais neotropicais tem sido descrita como sazonal

(FLOWERDEW, 1987; CERQUEIRA, 1988) e já foi associada ao fotoperíodo

(BERGALLO & CERQUEIRA, 1994; CERQUEIRA 2005) e ao regime de

chuvas e períodos de maior disponibilidade de recursos (FLEMING, 1973;

QUENTAL et al., 1999; FLOWERDEW, 1987; JULIAN-LAFERRIERE &

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3

ATRAMENTOWICZ, 1990; CERQUEIRA, 1984). O padrão iteróparo de

reprodução é descrito para quase todos os mamíferos, com exceção de algumas

poucas espécies de marsupiais das famílias Dasyuridae e Didelphidae, que

apresentam padrão semélparo (BRAITHWAITE & LEE, 1979; WOOLLEY,

1990; BRADLEY, 1997; OAKWOOD et al., 2001; MARTINS et al., 2006). Foi

sugerido que o marsupial didelfídeo Marmosops incanus apresenta esse raro padrão

(LORINI et al., 1994).

Para se estudar a dinâmica de uma população é preciso obter e entender

os parâmetros populacionais. Esses parâmetros, por sua vez podem ser afetados

pela disponibilidade dos recursos usados. Portanto, determinar quais recursos

disponíveis no ambiente são importantes para a manutenção desta população

ajuda a elucidar os mecanismos da sua dinâmica. A disponibilidade de recursos

pode variar no tempo e no espaço e, como conseqüência, espécies generalistas

apresentam variações nos hábitos alimentares (JULIEN-LAFERRIÈRE, 1999,

LEINER & SILVA, 2007). Essas variações freqüentemente são sazonais e

associadas a fatores como o regime de chuvas, frutificações e flutuação

populacional de presas. O consumo de recursos ótimos, aqueles que suprem as

necessidades da espécie de forma mais eficiente, varia com a sua disponibilidade

no ambiente, e essa variação na disponibilidade faz com que os indivíduos

utilizem alimentos sub-ótimos quando o recurso preferido se torna escasso

(FLOWERDEW, 1987). Quando o ambiente apresenta uma dinâmica sazonal de

disponibilidade do alimento ótimo, é comum que espécies que utilizem esse

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4

recurso ajustem sua própria dinâmica, de modo que o período de maior gasto

energético coincida com o período de maior abundância do alimento ótimo.

Uma maneira de ter acesso à eficiência com que os animais alocam energia

é medindo o acumulo ou perda de massa corpórea. Em animais vivos isso pode

ser medido através da relação entre o peso e o comprimento do corpo. Essa

medida é chamada de fator de condição, e é um parâmetro que pode ser

monitorado ao longo do tempo e relacionado a diversas variáveis com o intuito

de entender a dinâmica entre alocação de energia e disponibilidade de recursos.

Padrões de variação temporal em populações animais têm despertado

grande interesse (MURÚA & GONZÁLEZ, 1985; KENDALL et al., 1999; ERB

et al., 2001), e entender a natureza da variação é um dos principais objetivos

ecologia de populações. Uma maneira de se estudar a flutuação temporal de uma

população é avaliar os mecanismos que a regulam no tempo. A regulação

populacional refere-se ao processo no qual há a redução do tamanho de

populações que estão acima de um nível particular e o aumento no tamanho da

população abaixo deste nível. Recursos limitantes, aqueles mais escassos no

ambiente em relação aos demais, podem determinar esse ponto de equilíbrio,

impondo um limite à reprodução da população (ODUM, 1985; ERB et al., 2001).

Por definição, fatores reguladores têm um efeito denso-dependente, enquanto

fatores limitantes podem ser denso-dependentes ou independentes (BEGON et

al., 1996; ERB et al., 2001).

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5

Uma população pode sofrer influência de fatores extrínsecos, como o

clima, disponibilidade de recursos e interações interespecíficas (BEGON et al.,

1996; ERB et al., 2001) e/ou fatores intrínsecos, como competição

intraespecífica, dispersão ou inibição reprodutiva (ODUM, 1985; BEGON et al.,

1996; ERB et al., 2001).

A caracterização da variação temporal de uma população pode ser feita

através de diversos parâmetros, como a abundância populacional, densidade,

sobrevivência, biomassa, fator de condição, fecundidade e tamanho de ninhada.

Fatores extrínsecos podem promover variações destes parâmetros ao longo do

tempo.

Os processos extrínsecos e intrínsecos operam em escalas de tempo tanto

sazonais como interanuais. Por isso a caracterização da dinâmica populacional

em uma escala plurianual é importante para que se possam detectar padrões

sazonais e cíclicos (LIMA et al., 2001; CRESPIN et al., 2002). Para isso é preciso

entender os componentes da variação dos parâmetros populacionais, como

tendências, sazonalidade, ciclos e ruídos, e investigar a importância relativa dos

fatores que podem ter influência sobre os parâmetros populacionais estudados.

Técnicas estatísticas de análises de série temporal têm sido usadas com êxito no

estudo de variáveis no tempo (KESNER & LINZEY, 1997). Estas técnicas têm

sido apenas ocasionalmente aplicadas a populações de pequenos mamíferos

(GARSD & HOWARD, 1981, 1982; BROWN & HESKE, 1990;

HORNFELDT, 1994; MURÚA et al., 2003; MENDEL et al., no prelo), pois

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6

requerem um conjunto de dados longo e contínuo no tempo (LEGENDRE &

LEGENDRE, 1998).

Estudos de longa duração e sua importância em regiões tropicais

Os estudos de longa duração são de grande importância para investigar

uma série de questões, tais como os efeitos de alterações bruscas no habitat, de

flutuações climáticas (como da Oscilação Sul/El Niño), de florações de taquaras

(JAKSIC & LIMA, 2003) e de mudanças na composição de espécies ao longo do

tempo (CERQUEIRA, 2001). A maioria dos estudos de longa duração com

pequenos mamíferos foi conduzido em regiões temperadas (MARCSTROM et

al., 1990; AGRELL et al., 1992; GETZ et al., 2001) ou em regiões semi-áridas

(LIMA & JAKSIC, 1999; LIMA et al., 2001), onde as variações demográficas são

influenciadas primariamente por fatores climáticos e sazonalidade de recursos

(FLEMING, 1971). Nas florestas pluviais, a alta diversidade e a baixa

sazonalidade dificultam a identificação dos fatores que influenciam a dinâmica

das populações (FLEMING, 1971), onde a competição inter e intraespecífica

têm sido sugeridas como mais influentes. Entretanto, são raros os estudos de

pequenos mamíferos com mais de quatro anos de duração conduzidos em

florestas neotropicais (CERQUEIRA et al., 1993; GENTILE et al., 2000;

RADEMAKER, 2001; VIVEIROS DE CASTRO & FERNANDEZ, 2004;

KAJIN, 2004).

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7

Objetivos

Os principais objetivos deste trabalho foram:

1- Descrever a reprodução e estimar os parâmetros populacionais de M.

incanus;

2- Relacionar a variação do fator de condição às atividades reprodutivas, a

densidade populacional e aos indicadores de disponibilidade de recursos;

3- Investigar a influência da precipitação, dos recursos (biomassa de

artrópodes e produção de frutos e folhiço) e da abundância de dois potenciais

predadores, Didelphis aurita e Philander frenatus, na abundância e no fator de

condição de M. incanus, e o tempo de atraso na resposta dos parâmetros

populacionais a essas variáveis.

Métodos gerais

Área de estudo

O presente estudo foi desenvolvido em área de Mata Atlântica, dentro dos

limites do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Estado do Rio de Janeiro

(Figuras 1 e 2). A área de estudo situa-se na localidade do Garrafão (22°28’28’’S

e 42°59’86’’W), Município de Guapimirim, nos arredores dos afluentes do Rio

Iconha, parte da bacia do Rio Macacú, na face sul da serra.

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8

Figura 1. Localização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos no estado do Rio de Janeiro. Fonte:www.parquesnacionais.hpg.ig.com.br

Figura 3. Vista aérea de uma das casas de veraneio do condomínio Garrafão. Foto: Diogo Loretto.

Figura 2. Parque Nacional da Serra dos Órgãos – vista da estrada do Dedo de Deus, próximo a área de estudo. Foto: Diogo Loretto.

Figura 4. Fotografia aérea da área de estudo. A=grade A; B= grade B; C= grade C; AE= auto-estrada Rio - Teresópolis; EV= estradas vicinais; CV= casas de veraneio. Fotografia do Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro.

AE

A

B

C

EV

CV

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9

A floresta da região é parte de uma das maiores extensões contínuas da

Mata Atlântica remanescente no Estado do Rio de Janeiro (SOS MATA

ATLÂNTICA/INPE/ISA, 1998), sendo a vegetação caracterizada por floresta

ombrófila densa montana (BRASIL, 1992) com dossel alto, fechado e com

presença de sub-bosque. Lianas, palmeiras, epífitas, samambaias e bromélias são

freqüentes; lenhosas comuns na área pertencem aos gêneros Sloanea, Ficus,

Cedrela, Cariniana, Vochysia, Cecropia, dentre outros. A área é de mata contínua,

mas fica dentro de um condomínio, com cerca de 50 casas de veraneio e é

recortada por estradas vicinais (Figuras 3 e 4). A ocupação por casas de veraneio

causa alguma influência sobre a comunidade vegetal e animal (MACEDO et al.,

no prelo (anexo I); MACEDO et al., 2005). A vegetação é de mata de encosta

com dossel alto, fechado e com presença de sub-bosque. A topografia é muito

irregular e a área apresenta diversos cursos d’água.

Foram estabelecidas três grades de amostragem, denominadas A, B e C,

situadas em diferentes altitudes: grade A (22°28’28’’S e 42°59’51’’W) a 748

metros de altitude, grade B (22°28’58’’S e 42°59’08’’W) a 652 metros de altitude,

e grade C (22°29’35’’S e 42°58’50’’W) a 522 metros de altitude (Figura 5). As

distâncias entre as grades são de 853 metros entre A e B e 573 metros entre B e

C. A localidade fica na altura do quilometro 94 da BR 116 (Rio-Teresópolis). A

grade A situa-se a aproximadamente 250 metros da rodovia, a grade B a 427

metros e a grade C a 600 metros.

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10

11 p tg 12 13 p i f tg 14 15 p tg

16 17p i f 18 19 p i 20

21 p i f 22 23 p tg 24 25 p,i

1 p i 2 3 p tg 4 5 p i f

6 7 p i 8 9 p i f 10

11 p tg 12 13 p i f tg 14 15 p tg

16 17p i f 18 19 p i 20

21 p i f 22 23 p tg 24 25 p,i

1 p i 2 3 p tg 4 5 p i f

6 7 p i 8 9 p i f 10

Figura 6. Esquema dos pontos de captura das grades, representados por estrelas de quatro pontas. Números= número do ponto de captura; p= ponto com armadilhas em plataforma nas árvores; i= pitfall de artrópodes; f= coletor de folhiço; tg= armadilha Tomahawk grande. Espaçamento entre os pontos- 20 metros.

Figura 5. Esquema das grades de captura. GA, GB e GC – grades A, B e C. E – estradas vicinais. A – auto-estrada (BR 116). CH – Cachoeira do Rio Iconha. C – casas. Linhas retas - distância em metros entre as grades.

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11

O clima da área foi classificado como mesotérmico-úmido-moderado

(NIMER, 1989). Pelo diagrama ombrotérmico feito com as normais

climatológicas de 1931 a 1960 da estação do Instituto Nacional de Meteorologia

de Teresópolis (INMET, 1979), a região não tem período seco normal, sendo

super úmido de outubro a março (Figura 7). Segundo o diagrama ombrotérmico

feito com dados coletados durante o tempo de estudo, períodos de déficit

hídrico foram pouco freqüentes na região (Figura 8). Durante o período

estudado foi observada temperatura média mensal variando entre 15,7°C e

24,95°C e pluviosidade mensal variando entre 0 mm e 508 mm (dados do

Instituto Nacional de Meteorologia - INMET, Teresópolis). Os meses mais

secos foram junho, julho e agosto. A estação meteorológica de Teresópolis foi

usada por estar mais próxima da área de estudo, em distância e em altitude, do

que a do município de Guapimirim, sendo por tanto mais representativa.

Teresópolis normais 31-60

0

50

100

150

200

250

300

350

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

0

50

100

150

pluviosidade temperatura média

Figura 7. Diagrama ombrotérmico com as normais climatológicas de 1931 a 1960 do município de Teresópolis.

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Espécie estudada

Nos oito anos de estudo reportados nesta dissertação foram capturadas 15

espécies de pequenos mamíferos, sendo sete da ordem Rodentia (Rhipidomys sp.

nov., Oryzomys russatus, Akodon cursor, Juliomys pictipes, Oligoryzomys nigripes, Trinomys

dimediatus e Sciurus aestuans) e oito da ordem Didelphimorphia (Didelphis aurita,

Marmosops incanus, Metachirus nudicaudatus, Philander frenatus, Micoureus paraguayanus,

Gracilinanus microtarsus, Caluromys philander e Monodelphis gr. americana). Para mais

detalhes sobre as espécies capturadas na área de estudo ver anexo I.

A ordem Didelphimorphia possui cerca de 70 espécies distribuídas ao

longo do continente americano, e compreende duas famílias, divididas em cinco

subfamílias e seis tribos, de acordo com a classificação de KIRSCH (1996).

0

100

200

300

400

500

abr/9

7

ago/97

dez/97

abr/9

8

ago/98

dez/98

abr/9

9

ago/99

dez/99

abr/0

0

ago/00

dez/00

abr/0

1

ago/01

dez/01

abr/0

2

ago/02

dez/02

abr/0

3

ago/03

dez/03

abr/0

4

ago/04

dez/04

0

50

100

150

200

250

pluviosidade temperatura média

Figura 8. Diagrama ombrotérmico do período de estudo, de abril de 1997 a fevereiro de 2005, com dados da estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia do município de Teresópolis.

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13

O gênero Marmosops é diverso e amplamente distribuído pelas florestas

neotropicais. São reconhecidas 14 espécies (VOSS et al, 2004), embora estudos

de filogeografia e sistemática sugiram a existência de mais espécies, ainda não

descritas (MUSTRANGI & PATTON, 1997; VOSS et al, 2004).

A Mata Atlântica abriga duas espécies, Marmosops incanus e Marmosops

paulensis. Embora haja simpatria em algumas localidades (Figura 9), inclusive na

Serra dos Órgãos, a diferença entre as duas foi bem documentada por

MUSTRANGI & PATTON (1997), de forma que caracteres externos tais como

peso e comprimento do corpo, tamanho das orelhas, cor das patas traseiras,

pelagem dorsal e transição entre a pelagem dorsal e ventral, possam separar com

clareza as duas espécies.

Marmosops incanus é amplamente distribuído na Mata Atlântica, ocorrendo

de Intervales, em São Paulo à Itabuna, na Bahia, de aproximadamente 10 a 25°

de latitude sul (Figura 9). Na costa habita florestas úmidas do nível do mar até

800 metros de altitude e ilhas continentais como Ilha Grande e Ilha de São

Sebastião. Ocorre também em florestas semidescíduas de Minas Gerais, (onde

pode ser encontrado em altitudes mais elevadas, até 1.300 metros) indo até

Lagoa Santa (MG). Também está presente em florestas de galeria nos domínios

do cerrado e da caatinga, adjacentes à Mata Atlântica (MUSTRANGI &

PATTON, 1997).

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14

Figura 9. Mapa da distribuição do gênero Marmosops na Mata Atlântica baseado em indivíduos cujas seqüências de citocromo b foram obtidas. M. incanus: círculos pretos - localidade dos indivíduos; área cinza - distribuição. M. paulensis – círculos brancos – localidade dos indivíduos; área listrada - distribuição. Mapa obtido de Mustrangi & Patton, 1997.

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15

Figura 11. Fêmea de Marmosops incanus exibindo sinais de atividade reprodutiva. Foto: Diogo Loretto.

Figura 13. Didelphis aurita. Foto: Maja Kaijin.

Figura 12. Philander frenatus. Foto: Fabio Pedreira.

Figura 10. Marmosops incanus. Foto: Fabio Pedreira.

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16

A população de M. incanus (Figura 10) da localidade do Garrafão foi o

objeto deste estudo. Espécimes testemunho foram identificados pela Dr. Lena

Geise (Departamento de Zoologia, Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Essa espécie apresenta pelagem do dorso cinza, podendo ser marrom-

acinzentada, pelagem do ventre com coloração entre o branco e o creme, e

alguns indivíduos apresentam uma coloração fugitiva (que não é conservada em

exemplares mortos) entre o rosa e o salmão, na área de transição entre a pelagem

dorsal e ventral, geralmente próximo ao pescoço e patas anteriores

(MUSTRANGI & PATTON, 1997). As fêmeas não têm marsúpio, e quando

estão lactantes apresentam uma coloração marrom-avermelhada na pelagem

próxima às tetas (BARNES, 1977, LORINI et al, 1994) (Figura 11). Durante a

estação reprodutiva aparece uma deposição de glândulas sebáceas na pelagem da

garganta, formando uma pequena mancha escura (BARNES, 1977, LORINI et

al., 1994), e estas são mais visíveis nos machos. Existem três tipos de pelagem

dorsal, diferentes entre si no comprimento e na textura e que variam de acordo

com a idade e o sexo (OLIVEIRA et al., 1992). A cauda tem aproximadamente

1,5 vezes o comprimento cabeça-corpo, não tem pelos, é cinza e preênsil.

Apresenta máscara negra ao redor dos olhos, indo em direção ao focinho. Tem

dimorfismo sexual bem marcado no comprimento e no peso do corpo, com

machos significativamente maiores que as fêmeas (FONSECA & KIERULF,

1989, MUSTRANGI & PATTON, 1997, MACEDO et al, no prelo (anexo I)) e

na estrutura da pelagem, com machos adultos apresentando um tipo de pelagem

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diferente das fêmeas adultas e dos jovens e sub adultos de ambos os sexos

(OLIVEIRA et al., 1992).

Marmosops incanus não aparenta ser sensível a leves graus de perturbação na

mata, já que foi a segunda espécie mais abundante na área de estudo (MACEDO

et al., no prelo (anexo I)) e tem sido capturada com freqüência alta em

fragmentos de mata (PASSAMANI & FERNANDEZ, 2001; UMETSU &

PARDINI, 2006; OLIFIERS, 2002).

São animais noturnos e usam o sub-bosque com uma freqüência

aproximada de 30% e o chão da floresta 60%, segundo estudo com carretel de

rastreamento (CUNHA & VIEIRA, 2002). São onívoros, mas se alimentam

primariamente de frutos (ÁSTUA DE MORAIS et al., 2003) e insetos

(FONSECA & KIERULFF, 1989, STALLINGS, 1989).

Procedimentos

Coleta de dados

Esta dissertação é parte de um projeto de longo prazo, realizado pelo

Laboratório de Vertebrados (Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia,

Universidade Federal do Rio de Janeiro), que engloba diversas linhas de pesquisa

relacionadas ao estudo de ecologia de pequenos mamíferos, tais como dinâmica

de populações, comunidades, locomoção, preferência de microhabitat, uso de

ninhos artificiais, estrutura da vegetação, microclima, reprodução, variabilidade

genética, abundância de recursos, entre outras. Por isso o delineamento

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experimental utilizado corresponde aos objetivos do projeto como um todo e às

limitações topográficas e logísticas.

O trabalho de captura-marcação-e-recaptura vem sendo feito desde abril

de 1997. Este estudo reportará os dados de abril de 1997 a abril de 2005.

Foram feitas duas excursões de remoção, em dezembro de 1996 e

fevereiro de 1997, com cinco noites de captura cada, para identificação das

espécies. Indivíduos de espécies não identificadas que foram aparecendo ao

longo do estudo foram coletados para identificação por analise morfológica ou

cariótipo, para posteriormente serem depositado na coleção zoológica do Museu

Nacional do Rio de Janeiro.

As excursões de captura-marcação-e-recaptura (CMR) foram bimestrais,

com cinco noites de captura por excursão. CMR consiste basicamente em marcar

os animais capturados e soltá-los, de modo que eles possam se misturar na

população e eventualmente serem recapturados. Os indivíduos foram marcados

com tatuagem na cauda ou corte de falange nos três primeiros anos de estudo e

nos anos posteriores com dois brincos numerados (Ear Tags, National Band Tag

and Co., E.U.A), um em cada orelha para prevenir a perda da identificação.

Cada grade consistiu de um total de 25 pontos de captura, espaçados 20

metros, distribuídos em cinco linhas paralelas, formando um quadrado (Figura

6). Os pontos foram marcados por uma estaca fixa no solo. Em cada ponto

foram colocadas duas armadilhas para animais vivos no chão, uma Sherman

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modelo XLK (com 7,64 cm x 9,53 cm x 30,48 cm) e uma Tomahawk modelo

201 (40,64 cm x 12,70 cm x 12,70 cm), no raio de um metro da estaca (Figura

14). Cada grade tinha cinco Tomahawks grandes modelos 105 (50,80 cm x 17,78

cm x 17,78 cm) distribuídas em formato de cruz ao longo das linhas do meio da

grade, sendo quatro dispostas nas extremidades e outra no centro da grade. A

partir de abril de 2000, todos os 13 pontos de número ímpar de cada grade

receberam uma plataforma suspensa em galhos de árvores com alturas variando

aproximadamente de cinco a quinze metros (Figura 15). Cada plataforma tinha

uma Tomahawk 201 e uma Sherman XLK. Todas as armadilhas foram iscadas

com uma pasta feita de banana, aveia, creme de amendoim e bacon moído, e as

Tomahawks que ficam no chão levaram além da pasta um pedaço de carne e um

de bacon.

As armadilhas foram verificadas e reiscadas de manhã cedo. Dos animais

capturados foram anotados os seguintes dados: número de identificação

individual, espécie, grade e ponto de captura, dentição, peso, tamanho do corpo

e da cauda, sexo, condição reprodutiva, coleta de tecido, presença de

ectoparasitos e observações individuais. Depois de triados, os animais foram

soltos no seu respectivo ponto de captura.

Para cada dia de amostragem foram anotadas as condições de tempo do

dia e da noite anterior.

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Indicadores da disponibilidade de recursos

O folhiço é rico em invertebrados e frutos, os principais itens alimentares

dos marsupiais didelfídeos (SANTORI et al., 1996; CÁCERES, 2002; ASTUA

DE MORAIS et al., 2003; CARVALHO et al., 1999; SANTORI & ASTUA DE

MORAIS, 2004). Embora possam ter hábitos alimentares generalistas, a

flutuação dos principais itens da dieta pode afetar a reprodução e o tamanho das

populações (FONSECA & KIERULFF, 1989). Esses recursos alimentares, por

sua vez, estão ligados a flutuações estacionais no regime das chuvas (CHARLES-

DOMINIQUE, 1983; BERGALLO, 1995). Partindo desses princípios, foram

usados como indicadores da disponibilidade de recursos a produção de folhiço e

frutos, a biomassa de artrópodes de solo e a precipitação.

Cinco coletores de folhiço foram colocados nos pontos 5, 9, 13, 17 e 21

das três grades, formando uma linha diagonal, e nove fojos (pitfall traps) para

coletar artrópodes de solo foram colocados nos pontos 1, 5, 7, 9, 13, 17, 19, 21 e

25 das grades, formando um X (Figura 6).

Seguindo a metodologia usada por RAMOS & PELLENS (1994), os

coletores de folhiço eram caixas quadradas (50x50x20 cm) feitas de madeira ou

folha de alumínio com fundo de tela de nylon com pés de aproximadamente 20

cm de altura (Figura 16). O material interceptado pelos coletores era recolhido

mensalmente e representava a quantidade caída das árvores neste período, ou

seja, o que estava sendo produzido por mês em 0,5 m². Este material foi

separado nas seguintes categorias: folhas, caules, flores/frutos/sementes

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(estruturas reprodutivas), líquens/fungos, folhas de bambu e finos (material

triturado). Terminada a triagem, o folhiço foi seco em estufa a 80°C por 24h e

depois pesado em uma balança, obtendo-se o peso seco. Neste estudo foram

utilizadas as produções de folhiço total, incluindo as seis categorias, e das

estruturas reprodutivas. A produção foi obtida a partir do somatório do peso em

gramas de cada mês, agrupando as 15 amostras das três grades. Neste trabalho

foram usadas as coletas de folhiço de abril de 1997 a fevereiro de 2005.

Modificando a metodologia de BERGALLO (1995), os coletores de

artrópodes terrestres foram fojos (pitfalls) confeccionados cortando-se garrafas

PET de 2 litros ao meio, tendo aproximadamente 25 cm de profundidade e 21

cm de diâmetro. Metade dela foi enterrada mantendo suas bordas no nível do

chão (Figura 17). O coletor era virado com o fundo para cima no período em

que não estava sendo utilizado. Colocou-se água e detergente no fundo do

coletor, deixando-o aberto por três noites. Os insetos foram posteriormente

recolhidos das pitfalls e colocados em potes de plástico com a identificação de

seu respectivo ponto, sendo estes preenchidos com álcool a 70%. Os insetos

foram secos e pesados em balança de precisão no laboratório. As amostras de

abril, junho, outubro e dezembro de 2004 e abril de 2005 foram perdidas em um

incêndio no Laboratório de Vertebrados.

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Figura 14. Estação de captura com armadilhas Sherman, Tomahawk e Tomahawk grande. Foto: Diogo Loretto

Figura 15. Plataforma para captura no dossel, com armadilhas Sherman eTomahawk. Foto Diogo Loretto.

Figura 16. Caixa coletora de folhiço. Foto: Vitor Rademaker.

Figura 17. Armadilha tipo fojo (pitfall) para captura de artrópodes do solo. Foto: Vitor Rademaker

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CAPÍTULO I

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Reprodução e parâmetros populacionais do marsupial Marmosops incanus.

Resumo

A reprodução e a flutuação populacional de Marmosops incanus foi investigada sob vários aspectos. O objetivo foi descrever, com ênfase na reprodução, uma população monitorada bimestralmente há oito anos por captura-marcação-e-recaptura em três grades fixas. O estudo foi conduzido no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, município de Guapimirim, Rio de Janeiro. M. incanus foi a segunda espécie em número de capturas na área de estudo e apresentou sazonalidade na reprodução (que ocorreu de outubro a fevereiro) e flutuação populacional (com picos em agosto e outubro e vales em fevereiro e abril). Não houve sobreposição de gerações, desvio na razão sexual ou captura de fêmeas carregando filhotes. As capturas de indivíduos jovens foram raras. O padrão reprodutivo semélparo, descrito até então para a espécie em um estudo feito em coleções zoológicas, foi confirmado, uma vez que nenhum indivíduo adulto passou por mais de uma estação reprodutiva. Diferente dos marsupiais dasyurídeos, cuja estratégia semelpara já foi bem documentada, as fêmeas de M. incanus também são semélparas e a morte acontece entre 3 e 6 meses após a cópula.

Introdução

O entendimento da dinâmica das populações animais e das questões

ecológicas relacionadas só é alcançado e é freqüentemente depende da análise de

parâmetros bionômicos (LEBRETON et al., 1992).

O principal objetivo da ecologia de populações é estimar a abundância

populacional absoluta ou relativa, avaliar sua flutuação no tempo e no espaço e

estudar as causas dessa flutuação (WALKER et al., 2000). O tamanho de uma

população varia de acordo com a entrada de novos indivíduos por nascimento

ou imigração e com a saída de indivíduos por morte ou emigração. No entanto,

o estudo de populações animais no campo raramente permite que esses quatro

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fatores de variação da abundância sejam observados com clareza, pois

normalmente são computadas apenas as entradas e saídas de indivíduos

(LEBRETON et al., 1992).

Neste contexto, a ecologia de populações concentra-se em compreender a

dinâmica temporal da abundância, que é resultado de diferentes processos

atuando em diferentes escalas de tempo, como a sazonal e a interanual (LIMA et

al., 2001).

Entender os processos que influenciam a reprodução dos organismos é

essencial para entender a dinâmica das populações. Segundo BERRYMAN

(2002), a flutuação populacional depende principalmente de nascimentos e

mortes. Por isso, questões como a fecundidade das fêmeas, período reprodutivo,

tempo de geração, estrutura etária, maturação sexual, razão sexual e sistemas de

acasalamento devem ser investigadas sempre que possível, uma vez que a

abundância depende fortemente da entrada de indivíduos por nascimentos.

A reprodução dos mamíferos é usualmente associada a períodos de maior

disponibilidade de recursos, para maximizar o sucesso reprodutivo e a

sobrevivência dos filhotes (FLOWERDEW, 1987; FLEMING, 1973; JULIAN-

LAFERRIERE & ATRAMANTOWICZ, 1990). Alguns mamíferos se

reproduzem oportunisticamente, como roedores cricetídeos e morcegos que

aproveitam picos de chuva ou de disponibilidade de alimentos (WEIR &

ROWLANDS, 1973; FLOWERDEW, 1987; CERQUEIRA & LARA, 1991;

CERQUEIRA, 2005; BERGALLO & MAGNUSSON, 1999; ZORTÉA, 2003;

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KNEGT et al., 2005). Outros se reproduzem estacionalmente, como alguns

marsupiais neotropicais (CERQUEIRA, 1988; CERQUEIRA, 2005;

RADEMAKER. & CERQUEIRA, 2006). A reprodução sazonal nestes

mamíferos pode ser desencadeada por fatores como fotoperíodo, variações

estacionais no regime de chuvas e disponibilidade de recursos (CERQUEIRA,

2005; CERQUEIRA & BERGALLO, 1993; FLOWERDEW, 1987;

CERQUEIRA, 1984; JULIEN-LAFERRIÈRE & ATRAMENTOWICZ, 1990).

Existem diversos padrões reprodutivos em mamíferos, que variam em

função do grupo, tempo de vida, tamanho de ninhada, tempo de cuidado

parental, entre outros (FLOWERDEW, 1987; WEIR & ROWLANDS, 1973). A

grande maioria dos mamíferos é iterópara, ou seja, os indivíduos podem

potencialmente se reproduzir repetidamente ao longo da vida (SMITH &

CHARNOV, 2001). Foram feitos poucos relatos sobre mamíferos semélparos,

cujos indivíduos participam de apenas um evento reprodutivo durante a vida

(BRAITHWAITE & LEE, 1977; WOOLLEY, 1990; BRADLEY, 1997,

LORINI et al., 1994, OAKWOOD et al., 2001). A semelparidade é uma

estratégia de vida que se desenvolve quando a seleção favorece indivíduos que

alocam tanta energia na reprodução que a morte se torna inevitável (YOUNG,

1981, 1990). Ela pode ser facultativa e parece ter forte relação com condições

ambientais desfavoráveis ou de alta sazonalidade, com apenas um curto período

favorável no ano (FLOWERDEW, 1987; HEINO et al., 1996).

Do pouco investigado a respeito da bionomia do marsupial Marmosops

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incanus, foi sugerido que a espécie apresentaria um padrão reprodutivo semélparo

(LORINI et al., 1994). Dentre os mamíferos, apenas machos de poucas espécies

de marsupiais australianos da família Dasyuridae tiveram a estratégia semélpara

bem documentada, em estudos que mostram que os machos iniciam um

processo irreversível de senescência após a cópula (WOOLLEY, 1990;

BRADLEY, 1997). Em geral a morte pós-cópula dos Dasyuridae semélparos é

causada por hemorragias gastrointetinais (OAKWOOD et al., 2001). Estudos

endocrinológicos mostraram que no início da estação reprodutiva os machos

produzem altos níveis de corticoesteroides, que promovem o catabolismo de

proteínas via gliconeogênese (BOONSTRA, 2005; OAKWOOD et al., 2001;

BRADLEY 1999 e 2003). Nos Dasyuridae semélparos, há uma falha no

feedback negativo de adrenocorticotropina, que deveria conter a secreção de

corticoesteroides (BOONSTRA, 2005; OAKWOOD et al., 2001; BRADLEY

1999 e 2003). O uso de proteína como estoque energético permite que pequenos

animais com capacidade limitada de armazenar gordura possam sustentar o

esforço reprodutivo (OAKWOOD et al., 2001).

A estratégia semélpara foi também sugerida para marsupiais da família

Didelphidae, como Marmosops incanus (LORINI et al., 1994), Marmosops paulensis

(LEINER, 2005), Gracilinanus microtarsus (MARTINS et al., 2006) e Monodelphis

dimidiata (PINE et al., 1985).

A semelparidade, sem sobreposição de gerações, faz com que o sucesso

reprodutivo de cada geração seja imprescindível para a manutenção das

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populações. Uma geração mal sucedida pode levar a extinções locais. Se, por

exemplo, algum fator extrínseco afetar consideravelmente a sobrevivência dos

jovens ou o sucesso reprodutivo, a espécie poderia sofrer um grave declínio.

Portanto, essa estratégia de vida deve evoluir não somente em espécies que têm

sobrevivência de pouco mais de um ano e apenas um período favorável à

reprodução (BRAITHWAITE & LEE, 1977), mas também em espécies que

apresentem altas taxas de sobrevivência até o período reprodutivo e alta

resistência a distúrbios estocásticos. As espécies devem então ser mais sensíveis a

variações intrínsecas do que extrínsecas.

Objetivos

Os objetivos deste capítulo foram:

1. Estudar a história de vida do marsupial Marmosops incanus, descrevendo

o padrão de atividade reprodutiva, a flutuação populacional e

estimando parâmetros populacionais e,

2. Verificar a relação do número de fêmeas reprodutivas em cada

geração com a abundância na geração posterior.

Para a consecução destes objetivos serão analisados dados referentes a

estação reprodutiva, indícios de semelparidade, investigação de coortes, estrutura

etária, razão sexual, taxas de sobrevivência e recrutamento, tempo de

permanência e uso do espaço.

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Métodos

Foram usados dados coletados de abril de 1997 a abril de 2005 de captura-

marcação e recaptura para descrever o funcionamento básico da população, por

meio da abundância populacional e reprodução e outros parâmetros que serão

detalhados a seguir. Detalhes sobre a obtenção dos dados estão na seção métodos

gerais.

Análise dos dados

Os testes estatísticos foram feitos utilizando-se o programa STATISTICA

6.0 (STATISOFT, 2000). A normalidade das variáveis usadas foi verificada pelo

teste de Kolmogorov-Smirnov.

A capturabilidade de M. incanus nos tipos de armadilhas utilizados foi

verificada com o intuito de verificar se houve preferência por algum tipo de

armadilha e determinar quais são efetivamente eficazes na captura dessa espécie.

Os tipos de armadilhas e os estratos usados foram: Sherman no chão, Tomahawk

pequena no chão, Tomahawk grande no chão, Sherman na árvore e Tomahawk

pequena na árvore.

Os dados das três grades foram agrupados, assumindo-se que cada grade

representa uma amostra de uma mesma população. Para verificar se existe

diferença no número de capturas entre as grades foi feita uma análise de

variância entre o número de indivíduos capturados por mês de cada grade e um

diagrama esquemático (Boxplot) para descrever a tendência central do número de

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capturas por grade em termos de mediana, quartil e valores máximos e mínimos.

A estação reprodutiva foi determinada pela presença de fêmeas com

atividade reprodutiva na população, uma vez que os machos não apresentam

sinais reprodutivos confiáveis (LORINI et al., 1994). A lactação foi a atividade

reprodutiva considerada, uma vez que a cópula e a gravidez são difíceis de serem

observadas nesses animais (D’ANDREA et al., 1994; HINGST et al., 1998;

GENTILE et al., 2000; MACEDO et al., 2006).

A reprodução foi analisada pela proporção de fêmeas em estado

reprodutivo em relação ao total de fêmeas adultas.

Para testar se a estratégia reprodutiva da população é realmente semélpara,

foi feita uma separação entre as gerações com base no peso do corpo dos

animais. Os meses de senescência da geração mais velha e recrutamento da

geração mais nova foram usados para separar as gerações e verificar se

indivíduos adultos passam por mais de uma estação reprodutiva.

A razão sexual foi verificada para o número de indivíduos capturados por

geração. O teste do χ² (ZAR, 1996) foi usado para verificar se a razão sexual

desviava da igualdade em algum ano.

O tempo de permanência foi estimado a partir do intervalo em meses

entre a primeira e a última captura de todos os indivíduos capturados em pelo

menos duas sessões de captura. O tempo médio de permanência foi calculado

para machos e fêmeas, e apresentado em um diagrama Boxplot. Foram

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desconsiderados os indivíduos pertencentes à última geração (2005) para não

subestimar o tempo de permanência. O tempo máximo de permanência

observado foi assumido como uma medida da longevidade da espécie. Também

foram apresentadas as porcentagens dos indivíduos que foram capturados uma

só vez.

A divisão em classes de desenvolvimento foi feita com base no último

molar funcional da arcada dentária superior, separando-as em quatro categorias,

lactentes, jovens, sub adultos e adultos, de acordo com MACEDO et al., (2006).

O tamanho da população foi dado pelo índice MNKA (Minimum number

known alive) (KREBS, 1966), que é dado pelo número de indivíduos capturados

em i (ni) mais o número de indivíduos capturados antes e depois de i, mas não

vistos em i (Zi). Este índice permite a obtenção de séries contínuas de tamanhos

de população, essencial para a presente análise. Para uma discussão sobre a

escolha do índice MNKA para medir o tamanho da população, ver KAJIN

(2004) e ANEXO II.

A sobrevivência foi estimada como sendo igual ao número de indivíduos

capturados já marcados no tempo i (m i) mais o número de indivíduos capturados

antes e depois de i, mas não vistos em i (Zi) dividido pelo MNKA no tempo (i -1).

Foram desconsideradas a primeira e a última estimativas (junho de 1997 e abril

de 2005) para que a sobrevivência não fosse subestimada.

Sobrevivência = (m i + Zi)/ MNKA i –1

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Onde:

m i = número de indivíduos capturados já marcados no tempo i

O recrutamento foi estimado como o número de indivíduos novos no

tempo i (ni - m i) dividido pelo MNKA i. Foram desconsideradas a primeira e a

última estimativas para não superestimar o recrutamento.

Recrutamento = (ni - m i ) / MNKA i

Para a sobrevivência e o recrutamento foi feita uma correção no intervalo

entre as excursões para 60 dias de acordo com FERNANDEZ (1995), para

uniformizar o intervalo de tempo entre as sessões de captura.

Foi feita uma regressão entre o número de fêmeas capturadas com sinais

de atividade reprodutiva por geração e o número de indivíduos capturados na

geração seguinte. As fêmeas que morreram nas armadilhas foram descartadas,

assumindo-se que essas fêmeas não desmamaram seus filhotes, e por tanto não

contribuíram para a geração seguinte.

Resultados

Foram capturados 175 indivíduos de M. incanus (95 machos e 78 fêmeas)

em 434 capturas, com um esforço total de 52.515 armadilhas-noite e um sucesso

de captura de 0,83%.

Do total de 434 capturas, 300 foram em armadilhas Sherman no chão

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(71,43%), 119 em armadilhas Tomahawk pequenas no chão (28,33%), uma em

armadilha Tomahawk grande (0,24%), nenhuma nas armadilhas Sherman e

Tomahawk pequenas nas árvores. Em oito capturas não foi anotado o tipo de

armadilha. Cinco capturas ocorreram em armadilhas tipo Young (marca Movarti),

que foram usadas apenas nos meses de abril, junho e agosto de 1997.

Recalculando o número de armadilhas noite e o sucesso de captura usando

apenas as armadilhas que foram mais eficientes na captura ou preferidas por M.

incanus, Sherman e Tomahawk pequena do chão, foram respectivamente 36.750 e

1,19%.

A grade A teve um número total capturas de 192, seguida pela grade B

com 140 e C com 102. O número de indivíduos capturados por mês foi

significativamente diferente entre as grades (H = 7,444 p = 0,024) (tabela 1.1 e

figura 1.1). Não houve recapturas entre grades.

Tabela 1.1. Resultado da análise de variância de Kruskal-Wallis e χ² das medianas para testar a diferença do número de indivíduos capturados por mês nas grades A, B e C e estatística básica.

Teste da mediana:c² = 7,238430, gl = 2, p = ,0268

Kruskal-Wallis ANOVA: H (2, N=147) = 7,444 p = 0,024

soma dos mínimo e desvio

N ranks média mediana soma máximo variância padrão

grade A 49 3955,5 2,3673 2 116 0 - 8 5,4456 2,3336

grade B 49 3945,5 2,0816 2 102 0 - 6 2,9099 1,7058grade C 49 2977 1,2857 1 63 0 - 5 1,7500 1,3229

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34

Fêmeas lactantes foram capturadas de outubro a fevereiro, sendo que no

ano de 2001 uma fêmea lactante foi capturada em agosto, o que é um indício de

que a estação reprodutiva começa em nesse mês (acasalamento e gestação de

aproximadamente 15 dias) e os filhotes nasçam entre o final de agosto e início de

setembro. As seções de captura foram realizadas na primeira semana de cada

mês, sendo que em agosto de 2001, excepcionalmente foi realizada na terceira

semana, o que explica a única captura de fêmea reprodutiva nesse mês. Fêmeas

em atividade reprodutiva foram capturadas até fevereiro, e durante o período

reprodutivo 97,9% das fêmeas adultas capturadas estavam lactantes, o que indica

um forte sincronismo na reprodução (figura 1.2). Uma única fêmea não lactante

foi capturada durante a estação reprodutiva, em outubro de

2002.

Box & Whisker Plot

Median 25%-75% Min-Max

A B C-1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Figura 1.1. Box plot mostrando as medianas, quartis e valores máximos e mínimos do número de indivíduos capturados por mês separados pelas respectivas grades de captura (grades A, B e C).

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35

0%

10%20%

30%

40%50%

60%

70%

80%90%

100%

ab

r-9

7ju

n-9

7a

go

-97

ou

t-9

7d

ez

-97

fev

-98

ab

r-9

8ju

n-9

8a

go

-98

ou

t-9

8d

ez

-98

fev

-99

ab

r-9

9ju

n-9

9a

go

-99

ou

t-9

9d

ez

-99

fev

-00

ab

r-0

0ju

n-0

0a

go

-00

ou

t-0

0d

ez

-00

fev

-01

ab

r-0

1ju

n-0

1a

go

-01

ou

t-0

1d

ez

-01

fev

-02

ab

r-0

2ju

n-0

2a

go

-02

ou

t-0

2d

ez

-02

fev

-03

ab

r-0

3ju

n-0

3a

go

-03

ou

t-0

3d

ez

-03

fev

-04

ab

r-0

4ju

n-0

4a

go

-04

ou

t-0

4d

ez

-04

fev

-05

não reprodutivas reprodutivas

Nenhuma fêmea foi capturada carregando seus filhotes. Por isso a classe

de desenvolvimento I não aparece na nossa amostragem da população. Os

adultos foram maioria de junho a dezembro, e os sub-adultos foram maioria nos

meses de fevereiro e abril. Os jovens apareceram de dezembro a junho em baixa

freqüência (Figuras 1.3 e 1.4).

Figura 1.3. Histograma com a distribuição por mês de amostragem das três classes de desenvolvimento com as capturas dos oito anos agrupadas.

0

20

40

60

80

fev abr jun ago out dez

classe II classe III classe IV

Figura 1.2. Porcentagem de fêmeas adultas (pertencentes à mesma geração) com sinais de atividade reprodutiva e sem sinais de atividade reprodutiva por mês.

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36

A razão sexual não foi significativamente diferente de 1:1 (tabela 1.2), mas

no ano de 1999 o número de capturas apresentou um desvio de 3,25 machos

para cada fêmea.

observado esperado observado esperado ²א M:F

1997 21 18,5 16 18,5 0,3378 1,31: 1

1998 19 18,5 18 18,5 0,0135 1,05: 1

1999 13 8,5 4 8,5 2,3824 3,25: 1

2000 11 12 13 12 0,0833 0,84: 1

2001 20 19 18 19 0,0526 1,11: 1

2002 24 22,5 21 22,5 0,1000 1,14: 1

2003 17 21 25 21 0,7619 0,68: 1

2004 12 11,5 11 11,5 0,0217 1,09: 1

soma 137 131,5 126 131,5 7,5066

machos fêmeas

Qui-quadrado = 7,5066 df = 15 p< 0,9420

O tempo médio de permanência foi de 3,31 meses (± 1,95) para machos e

3,71 meses (± 2,12) para fêmeas, sendo e o tempo máximo de permanência de 10

Figura 1.4. Histograma com número de indivíduos capturados em cada classe de desenvolvimento por mês de amostragem.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

ab

r/9

7

ou

t/9

7

ab

r/9

8

ou

t/9

8

ab

r/9

9

ou

t/9

9

ab

r/0

0

ou

t/0

0

ab

r/0

1

ou

t/0

1

ab

r/0

2

ou

t/0

2

ab

r/0

3

ou

t/0

3

ab

r/0

4

ou

t/0

4

ab

r/0

5

classe II classe III classe IV

Tabela 1.2. resultado do teste do χ² para a razão sexual por geração com 15 graus de liberdade e nível de significância de 95%.

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37

meses para ambos os sexos. Os indivíduos que apareceram em apenas uma

sessão de captura representam 54,73% do total de captura dos machos e 43,58%

do total de capturas das fêmeas.

A sobreposição de gerações (captura de indivíduos jovens e adultos no mesmo mês) foi

baixa, como se pode observar nas figuras 1.6 e 1.7. Os meses de dezembro e fevereiro

foram usados para separar as gerações de M. incanus (tabela 1.4). Os dados de captura

mostram que nesses meses ocorrem quase todas as sobreposições de gerações, a maioria no

mês de dezembro e apenas uma no mês de abril de 2005 (tabela 1.4).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

ab

r/9

7ju

n/9

7a

go

/97

ou

t/9

7d

ez/9

7fe

v/9

8a

br/

98

jun

/98

ag

o/9

8o

ut/

98

de

z/9

8fe

v/9

9a

br/

99

jun

/99

ag

o/9

9o

ut/

99

de

z/9

9fe

v/0

0a

br/

00

jun

/00

ag

o/0

0o

ut/

00

de

z/0

0fe

v/0

1a

br/

01

jun

/01

ag

o/0

1o

ut/

01

de

z/0

1fe

v/0

2a

br/

02

jun

/02

ag

o/0

2o

ut/

02

de

z/0

2fe

v/0

3a

br/

03

jun

/03

ag

o/0

3o

ut/

03

de

z/0

3fe

v/0

4a

br/

04

jun

/04

ag

o/0

4o

ut/

04

de

z/0

4fe

v/0

5a

br/

05

96 97 98 99 2000 2001 2002 2003 2004

Figura 1.6. Porcentagem de indivíduos capturados por geração.

Tabela 1.3. Média e desvio padrão do tempo de permanência em meses de machos e fêmeas

macho fêmea

média 3,31 3,714

desvio padrão 1,948 2,122

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38

gerações

0

4

8

12

16

ab

r/9

7ju

n/9

7a

go

/97

ou

t/9

7d

ez/9

7fe

v/9

8a

br/

98

jun

/98

ag

o/9

8o

ut/

98

de

z/9

8fe

v/9

9a

br/

99

jun

/99

ag

o/9

9o

ut/

99

de

z/9

9fe

v/0

0a

br/

00

jun

/00

ag

o/0

0o

ut/

00

de

z/0

0fe

v/0

1a

br/

01

jun

/01

ag

o/0

1o

ut/

01

de

z/0

1fe

v/0

2a

br/

02

jun

/02

ag

o/0

2o

ut/

02

de

z/0

2fe

v/0

3a

br/

03

jun

/03

ag

o/0

3o

ut/

03

de

z/0

3fe

v/0

4a

br/

04

jun

/04

ag

o/0

4o

ut/

04

de

z/0

4fe

v/0

5a

br/

05

de indiv

íduos c

aptu

rados

Os machos adultos desaparecem da população entre outubro e dezembro,

enquanto as fêmeas adultas desaparecem entre dezembro e abril (tabela 1.4).

geração fêmeas machos

97 abr/97 - fev/98 jun/97 - dez/97

98 fev/98 - dez/98 dez/97 - dez/98

99 fev/99 - fev/00 dez/98 - dez/99

2000 jun/00 - dez/00 ago/00 - dez/00

2001 abr/01 - dez/01 fev/01 - dez/01

2002 dez/01 - dez/02 fev/02 - out/02

2003 dez/02 - dez/03 fev/03 - dez/03

2004 fev/04 - dez/04 abr/04 - out/04

Tabela 1.4. Tempo de duração das gerações de machos e fêmeas.

coorte T coorte T +1 coorte T coorte T +1

mín - máx 70-115 15-38 51-75 19-31

média 100 33,25 63,5 27

desv. padrão 15,94 9,76 6,68 4,69

n 11 8 17 8

machos fêmeas

Tabela 1.5. Peso do corpo em gramas dos indivíduos capturados nos meses de dezembro e fevereiro, onde há sobreposição de gerações.

Figura 1.7. Número de indivíduos capturados por mês separados por geração.

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39

As estimativas de sobrevivência e recrutamento, bem como o índice de

abundância estão apresentadas nas figuras 1.8, 1.9 e 1.10. A flutuação da

abundância mostrou um padrão anual bem marcado, com picos entre agosto e

outubro e vales entre fevereiro e abril.

MNKA

0

5

10

15

20

abr-

97

ago-9

7

dez-9

7

abr-

98

ago-9

8

dez-9

8

abr-

99

ago-9

9

dez-9

9

abr-

00

ago-0

0

dez-0

0

abr-

01

ago-0

1

dez-0

1

abr-

02

ago-0

2

dez-0

2

abr-

03

ago-0

3

dez-0

3

abr-

04

ago-0

4

dez-0

4

abr-

05

sobrevivência

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

jun

/97

ou

t/9

7

fev/9

8

jun

/98

ou

t/9

8

fev/9

9

jun

/99

ou

t/9

9

fev/0

0

jun

/00

ou

t/0

0

fev/0

1

jun

/01

ou

t/0

1

fev/0

2

jun

/02

ou

t/0

2

fev/0

3

jun

/03

ou

t/0

3

fev/0

4

jun

/04

ou

t/0

4

fev/0

5

Figura 1.9. Taxa de sobrevivência mensal.

Figura 1.8. Índice de abundância MNKA por mês de amostragem.

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40

recrutamento

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

jun-9

7

out-97

fev-9

8

jun-9

8

out-98

fev-9

9

jun-9

9

out-99

fev-0

0

jun-0

0

out-00

fev-0

1

jun-0

1

out-01

fev-0

2

jun-0

2

out-02

fev-0

3

jun-0

3

out-03

fev-0

4

jun-0

4

out-04

fev-0

5

A taxa de sobrevivência apresenta quedas em dezembro em quase todos

os anos, correspondendo ao período de senescência dos machos.

A taxa de recrutamento ficou acima de 50% na maior parte do período de

estudo, mostrando que captura de indivíduos novos não se dá apenas no período

em que indivíduos de uma nova coorte começam a aparecer nas armadilhas

(entre dezembro e abril), embora haja alguns picos na taxa de recrutamento

nesses períodos.

A relação entre o número de fêmeas que se reproduziram em cada estação

reprodutiva contra o número de indivíduos capturados na geração seguinte foi

positiva e o número de fêmeas reprodutivas em cada geração explicou 45% da

variação do número de indivíduos capturados na geração seguinte (figura 1.11).

Figura 1.10. Taxa de recrutamento mensal.

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41

Discussão

Marmosops incanus foi a segunda espécie mais abundante durante todo o

estudo, sendo menos abundante apenas que o marsupial sinantrópico Didelphis

aurita, o gambá de orelha preta, que provavelmente têm sua alta abundância

favorecida pelos distúrbios causados pelas casas de veraneio (ver MACEDO et

al., no prelo (anexo I), FONSECA E ROBINSON, 1990). A população de M.

incanus também se manteve constante ao longo dos anos de coleta, com ausência

de capturas apenas no mês de abril de 2000.

Nota-se que há um gradiente de preferência de algum fator como altitude,

Figura 1.11. Regressão entre o número de fêmeas capturadas que se reproduziram na geração t e o número de indivíduos capturados na geração t+1 (R=0,67; R²=0,45; y=11,50+1,97*x; intervalo de confiança de 0,95).

1 2 3 4 5 6 7 8 9

nº de fêmeas reprodutivas na geração t

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

ind.

captu

rados n

a g

era

ção t

+1

r=0,6751; r²=0,4557; p=0,0662; y=11,4974874+1,97487437*x

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42

umidade ou algum componente de microhabitat ou microclima (APRIGLIANO,

2003), que faz com que o número de capturas decresça da grade de maior para a

de menor altitude. Mesmo na mata contínua, os animais percebem um mosaico

de microhabitats, microclima e disponibilidade de recursos que podem não ser

medidos ou identificados nas nossas coletas. A densidade do sub-bosque pode

ser um fator importante na densidade populacional de M. incanus. FREITAS

(1998) encontrou relação negativa entre os pontos de captura de M. incanus e o

DAP (diâmetro na altura do peito) das árvores mais próximas às armadilhas na

mesma localidade. Isso indica uma preferência por vegetação com caules mais

finos (também constatada por CUNHA & VIEIRA, 2002), em geral encontrados

em áreas da floresta onde o sub-bosque é mais desenvolvido. AUGUST (1983)

também encontrou relação entre a densidade de Marmosa robinsoni e o

desenvolvimento do estrato arbóreo-arbustivo na Venezuela.

Há uma clara preferência por armadilhas Sherman no chão. É possível que

esses animais se sintam mais protegidos nas Sherman, que parecem tocas, do que

nas Tomahawk pequenas, onde ficam a vista de predadores. A Tomahawk grande

tem a trama de arame muito larga, provavelmente os animais pequenos fogem

por entre as grades (o único indivíduo capturado era um macho pesando 80

gramas) ou seu peso não é suficiente para fechar a armadilha. As armadilhas nas

árvores devem ficar longe do alcance de M. incanus, que apesar das suas

habilidades arborícolas, freqüenta apenas o sub-bosque e o chão da floresta

(FONSECA & KIERULFF, 1989; CUNHA & VIEIRA, 2002; PASSAMANI,

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43

1995). A coexistência entre animais que apresentam dieta e hábitos de vida

semelhantes pode ser promovida reduzindo a sobreposição espacial do uso do

habitat (AUGUST, 1983; BROWN & LIEBERMAN, 1973; DUESER &

HALLET, 1980). Portanto, esse padrão de uso do espaço pode ser acentuado

pela presença de outras espécies de marsupiais de hábitos alimentares

semelhantes, como Micoureus paraguayanus, Gracilinanus microtarsus e Caluromys

philander. Essas espécies usam os estratos superiores da floresta (GRELLE, 2003;

VIEIRA & MONTEIRO-FILHO, 2003; FONSECA & KIERULFF, 1989;

CHARLES-DOMINIQUE et al., 1981) e na área de estudo foram capturados

quase exclusivamente em armadilhas nas árvores (MACEDO et al., no prelo

(anexo I)).

O tempo de permanência menor para os machos é um indício da maior

vagilidade em relação às fêmeas. Espécies com sistema promíscuo de

acasalamento podem apresentar diferenças no uso do espaço entre os sexos, já

que a variação na disponibilidade de alimentos afeta o sucesso reprodutivo e

conseqüentemente os movimentos das fêmeas, enquanto o sucesso reprodutivo

e como conseqüência os movimentos dos machos estão relacionados ao maior

número de fêmeas que ele puder encontrar (CLUTTON-BROCK, 1989;

LEINER, 2005; LORETTO & VIEIRA, 2005). O tempo de permanência

máximo não foi um bom preditor da longevidade porque as fêmeas não foram

capturadas com filhotes lactentes, e a captura de recém desmamados foi rara. As

fêmeas desta espécie não carregam usualmente os filhotes, pois em nenhum

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44

momento as capturamos com a prole. Mas pode-se somar o tempo de desmame

ao tempo máximo de permanência, o que daria aproximadamente 14 meses. Ou

assumir que os nascimentos ocorrem entre agosto e outubro e os machos podem

viver até dezembro do ano posterior (aproximadamente 16 meses) e as fêmeas

até abril do ano posterior (aproximadamente 18 meses).

A reprodução foi marcadamente estacional, o que foi observado por

outros autores que estudaram marsupiais didelfídeos (FONSECA &

KIERULFF, 1989; FLEMING, 1973; LORINI et al., 1994; JULIEN-

LAFERRIÈRE & ATRAMENTOWICS, 1990; RYSER, 1992; AUGUST, 1983;

CERQUEIRA & BERGALLO, 1993; KIMBLE, 1997).

As capturas mostram que as coortes foram bem separadas. Quando houve

sobreposição de gerações esta se deu entre indivíduos adultos com jovens

imaturos e fora da estação reprodutiva, o que impossibilita que ocorra

reprodução entre indivíduos de gerações diferentes.

Os machos adultos desapareceram das amostras antes das fêmeas. O fato

de participarem de apenas uma estação reprodutiva e não terem cuidado parental

(KIMBLE, 1997) pode explicar a longevidade mais baixa em relação às fêmeas.

Os machos do marsupial australiano Antechinus stuartii morrem de duas a três

semanas após o início do período reprodutivo (BRADLEY et al., 1980). Machos

de M. incanus sobrevivem por até três meses após o início do período

reprodutivo. Eles podem não apresentar um estresse pós-cópula tão intenso

quanto o descrito para A. stuartii, e sobrevivem por mais tempo, podendo ter a

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45

chance de cobrir fêmeas que perderam suas ninhadas ou não engravidaram. Ou

no início da estação reprodutiva apenas alguns machos, provavelmente os mais

fortes, fecundam as fêmeas e morrem em seguida, sobrando na população os

machos que não reproduziram e por isso sobrevivem por mais tempo.

As fêmeas adultas mostraram sinais de atividade reprodutiva até

desaparecerem da população, e nenhuma foi encontrada em mais de uma estação

reprodutiva. O fato das fêmeas não terem sido capturadas com filhotes presos as

tetas obscurece a investigação sobre a reprodução da espécie, uma vez que não

se pode obter dados como tamanho de ninhada, desenvolvimento, sobrevivência

e dispersão dos filhotes e o número de ninhadas por fêmea. Pelo tempo que as

fêmeas exibem sinais de atividade reprodutiva, é possível que durante a estação

reprodutiva elas produzam duas ninhadas. O tempo que as fêmeas levam para

desmamar os filhotes é conhecido em algumas espécies de didelfídeos:

aproximadamente 100 dias para Didelphis aurita (MOTTA, 1988), 80 dias para

Philander frenatus (D’ANDREA et al., 1994) e Marmosa robinsoni (EISENBERG &

WILSON, 1981), 55 dias para Monodelphis domestica (KRAUS & FADEM, 1987).

Considerando que no presente estudo as fêmeas mostraram sinais de atividade

reprodutiva do final de agosto até o começo de fevereiro, não podemos afirmar

que as fêmeas só produzam uma ninhada. Mas, segundo LORINI e

colaboradores (1994), a seqüência de desenvolvimento das glândulas mamárias

observada em peles de M. incanus de coleções zoológicas (dividida em grávidas,

início da lactação, final da lactação e pós-lactação) não se repete o que indica

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46

uma única ninhada por fêmea. Pode-se considerar esta indicação como

corroboração da hipótese de semelparidade. Faz sentido que fêmeas que só

produzam uma ninhada durante a vida tenham um cuidado parental mais longo,

com o intuito de aumentar a sobrevivência dos filhotes, do que aquelas que

produzem mais de uma ninhada. Como não alcançam a próxima estação

reprodutiva, as fêmeas adultas de M. incanus podem investir toda energia em uma

única ninhada, mantendo os filhotes protegidos e alimentados enquanto viverem.

Os filhotes se tornariam independentes em um estágio mais avançado de

desenvolvimento, em relação aos didelfídeos iteróparos, o que explica as raras

capturas de jovens, também descritas por LORINI et al. (1994), LEINER (2005)

e PASSAMANI (2003).

O padrão encontrado na flutuação populacional, com picos e vales bem

marcados e estacionais, também pode ser explicado pelo comportamento de

cuidado com os filhotes. No período que os machos adultos desaparecem, as

capturas de jovens ainda são raras, o que causa a queda no tamanho

populacional, acentuada logo a seguir pelo desaparecimento das fêmeas adultas.

A abundância aumenta com o aumento da capturabilidade dos subadultos, e tem

seu pico entre agosto e outubro, quando começam as atividades reprodutivas. Os

vales encontrados são então devidos à baixa capturabilidade dos jovens, e não a

uma diminuição do tamanho da população.

Como era esperado, a relação entre o número de fêmeas reprodutivas por

geração e o número de indivíduos capturados na geração seguinte foi positiva,

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47

com uma geração explicando 45% da variação da próxima geração. Outros

fatores devem ser investigados para definir a porcentagem de influência de

fatores extrínsecos no sucesso da geração seguinte, como a abundância de

predadores, disponibilidade de recursos alimentares e a pluviosidade.

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CAPÍTULO II

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49

O fator de condição de uma população do marsupial didelfídeo Marmosops incanus e sua relação com o período reprodutivo, os recursos e a densidade.

Resumo

A relação entre o peso e o comprimento do corpo de animais pode ser considerada como uma medida de como ele explora os recursos disponíveis. O fator de condição é calculado a partir dessa relação. Nesse trabalho a média mensal do fator de condição alométrico de uma população de Marmosops incanus foi calculado e relacionado com o período reprodutivo, a abundância populacional, e indicadores da disponibilidade de recursos. O fator de condição mensal apresentou flutuação sazonal, com exceção dos dois primeiros anos, onde a amplitude de variação foi baixa. A abundância não foi correlacionada com o fator de condição mensal, que teve seus picos durante a estação reprodutiva. O folhiço foi positivamente relacionado com o fator de condição mensal, mas os frutos e a precipitação apresentaram relação negativa, e os artrópodes não tiveram nenhuma relação. O somatório anual do fator de condição mostrou uma tendência decrescente nos oito anos investigados. Aparentemente a flutuação do fator de condição está relacionada com a alocação de recursos para a reprodução e sofre pouca influência da variação dos indicadores da disponibilidade de recursos e da abundância populacional. O padrão anual encontrado para o fator de condição pode ter relação com ciclos mais longos, como o ciclo causado pelo El Niño. Os recursos alimentares não parecem ser fatores limitantes. A variação no fator de condição pode ser explicada pela reprodução de M. incanus, que investe toda sua energia num único evento reprodutivo.

Introdução

Um parâmetro relevante para estudos da influência de fatores

intrínsecos e extrínsecos nas populações naturais tais como competição

intraespecífica, sucesso reprodutivo e disponibilidade de recursos, é a relação

entre o peso e o comprimento do corpo dos animais. Essa relação é

conhecida como fator de condição, que basicamente mostra através da relação

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50

peso-comprimento o quanto os animais estão acima ou abaixo do peso médio

para o seu comprimento de corpo.

A relevância ecológica do uso dessa relação no estudo de populações

animais é que, para um dado comprimento de corpo, os indivíduos mais

pesados estariam explorando melhor o ambiente do que aqueles mais leves

(GOMIERO & BRAGA, 2003; BERGALLO, 1995). Indivíduos com fator de

condição mais alto teriam taxas de sobrevivência e taxas reprodutivas mais

altas e seriam capazes de lidar mais facilmente com distúrbios ambientais,

baixa disponibilidade de alimentos ou baixas temperaturas (BROCHU et al.,

1988). O fator de condição pode variar com a disponibilidade de recursos, a

estação do ano, o sexo, a idade e a condição reprodutiva dos indivíduos e

pode influenciar na sobrevivência e no sucesso reprodutivo. Pode ser usado

para comparar populações em diferentes localidades, no tempo, em diferentes

estações e em diferentes condições ambientais, ou sob tratamentos

experimentais (BERGALLO, 1995; GOMIERO & BRAGA, 2003).

O fator de condição é um índice muito utilizado em estudos de biologia

e ecologia pesqueira (LE CREN, 1951; BRAGA, 1986; GOMIERO &

BRAGA, 2003; ROCHA et al., 2005; TRIPPIA, 1999; QUEROL et al., 2002),

mas foram conduzidos poucos trabalhos com mamíferos (KREBS et al., 1993;

BERGALLO & MAGNUSSON, 2002; BAILEY, 1968; ANGERBJORN,

1986) e apenas um com marsupiais (BAKKER & MAIN, 1980).

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51

Esse índice foi muito discutido, e foram descritos vários métodos para

calcular o fator de condição (KREBS et al., 1993; LE CREN, 1951; BRAGA,

1985; BOLGER & CONNOLLY, 1989; BRAGA, 1986; 1993; 1997). No

presente estudo, foi utilizado o fator de condição alométrico. Alguns autores

defendem que essa é a melhor forma de se estimar o valor real do fator de

condição, uma vez que não usa um valor teórico fixo determinado pela lei do

cubo, segundo a qual a massa é o cubo do comprimento (que segundo

KREBS e SINGLETON, 1993, reduzem os mamíferos a simples cilindros) e

é válido para se trabalhar dentro de qualquer amplitude de comprimento,

podendo ser usado em todas as fases do desenvolvimento (ROCHA et al.,

2005; GOMIERO & BRAGA, 2003; BRAGA, 1986).

O estudo das variações do fator de condição em oito anos de

monitoramento de uma população do marsupial Marmosops incanus

complementa a investigação da dinâmica populacional desta espécie pouco

estudada e que apresenta uma estratégia bionômica pouco comum em

mamíferos, caracterizada por um único evento reprodutivo durante o tempo

de vida dos indivíduos (LORINI et al., 1994, Capítulo 1 desta dissertação).

A idéia de verificar o fator de condição da população de M. incanus

surgiu da verificação em campo que os animais engordam visivelmente em

uma época do ano e depois emagrecem, quando já estão senescentes.

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52

Objetivos

O objetivo foi relacionar a variação do fator de condição às atividades

reprodutivas, a densidade populacional e aos indicadores de disponibilidade

de recursos, testando as seguintes hipóteses:

1. O fator de condição deve ter relação inversa com a abundância

populacional se a competição intraespecífica por recursos alimentares, uso do

espaço e acesso a fêmeas for alta.

2. Em uma espécie que apresenta apenas um evento reprodutivo o fator

de condição deve ser mais alto nas fêmeas durante o período da lactação

(onde as fêmeas têm seu maior gasto energético) e mais alto nos machos no

início da estação reprodutiva.

3. Os indicadores da disponibilidade de recursos têm relação positiva

com a média mensal do fator de condição se o decréscimo da disponibilidade

de alimentos no ambiente for suficiente para afetar negativamente a

população.

4. O somatório anual do fator de condição tem relação com as

variações anuais dos indicadores da disponibilidade de recursos.

Métodos

Todos os indivíduos de M. incanus capturados foram pesados dentro de

sacos de contenção (preferencialmente sacos pequenos, pesando em torno de

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53

40 gramas) usando dinamômetros do tipo Pesola ™ de 100 ou 500 gramas,

dependendo do peso do animal. O peso do saco de contenção era descontado

e a medida anotada sempre em gramas. O comprimento do corpo foi medido

da base da cauda à ponta do focinho, sempre mantendo o animal esticado e

com a cabeça na mesma linha do corpo. A medida foi tirada com trena e

anotada sempre em milímetros. Cada indivíduo era pesado e medido na

ocasião da sua primeira captura em cada excursão.

O peso em gramas e o comprimento cabeça-corpo em milímetros

foram transformados em logaritmo natural, ajustados pelo método dos

mínimos quadrados e a normalidade dos dados foi verificada pelo teste de

Kolmogorov-Smirnov.

Foi usado o fator de condição alométrico (BRAGA, 1986), que é dado

pela fórmula:

ln W/ (ln HB)β

Onde:

ln W é o logaritmo natural do peso corpóreo em gramas;

ln HB é o logaritmo natural do comprimento da medida cabeça-corpo

em milímetros;

β é o coeficiente angular da regressão entre o peso e o comprimento

cabeça-corpo de todos os indivíduos.

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54

As demandas energéticas podem ser diferenciadas entre os sexos em

virtude da lactação, da maior vagilidade dos machos (CLUTTON-BROCK,

1989; FLOWERDEW, 1987; REISS, 1989) e de períodos de senescência

diferentes (LORINI et al., 1994, LEINER, 2005). Por isso o cálculo do fator

de condição e as análises foram feitos separadamente para machos e fêmeas.

Para testar se houve diferença significativa entre os coeficientes angulares das

regressões entre o tamanho e o peso do corpo de machos e fêmeas foi feita

uma análise de covariância.

Todas as classes de desenvolvimento foram usadas. Indivíduos cujas

medidas não condiziam com as medidas de M. incanus, (medidas anômalas) e

indivíduos que não tiveram uma das medidas anotadas foram descartados do

cálculo do fator de condição.

Para o cálculo do fator de condição mensal foram utilizadas as medidas

de indivíduos pertencentes a uma mesma geração, uma vez que quando há

sobreposição de gerações, indivíduos recém desmamados e senescentes

aparecem juntos, podendo causar uma tendência errônea no cálculo da média

mensal. Foi feita então a média aritmética dos fatores de condição dos

indivíduos capturados em cada seção de captura.

A relação da flutuação do fator de condição mensal de machos e fêmeas

foi verificada com o período reprodutivo e a abundância populacional.

Indicadores da disponibilidade de recursos alimentares (frutos, folhiço,

artrópodes e pluviosidade) também foram relacionados ao fator de condição

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55

mensal através de regressão múltipla. Para as variáveis coletadas

bimestralmente (fator de condição e artrópodes) foram feitas médias

aritméticas entre os pontos adjacentes para substituir os meses sem coleta para

o cálculo da regressão múltipla com as variáveis mensais (pluviosidade, folhiço

e frutos).

A variação do fator de condição anual, dado pelo somatório dos

valores mensais por ano, foi verificada graficamente e relacionada ao

somatório anual dos indicadores da disponibilidade de recursos alimentares. A

divisão entre os anos foi feita de abril a março, para separar as coortes.

Resultados

O peso e o tamanho do corpo de M. incanus apresentaram distribuição

normal (tabela 2.1). Foi encontrado dimorfismo sexual quanto ao peso e

comprimento do corpo, com machos significativamente maiores e mais

pesados que as fêmeas (Figura 2.1).

d p

W M 0,1068 > 0,15

W F 0,1032 > 0,15

HB M 0,1002 > 0,20

HB F 0,0737 > 0,20

Kolmogorov-Smirnov

Tabela 2.1. Resultado do teste de Kolmogorov-Smirnov para verificar a distribuição das variáveis peso e comprimento de machos e fêmeas.

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56

W

HB

M F

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Para o cálculo do fator de condição foram utilizadas 250 medidas,

sendo 125 de machos e 125 de fêmeas.

A regressão linear entre tamanho do corpo e peso foi significativa para

ambos os sexos (p<0,00), mas os machos apresentaram um ajuste melhor à

reta (Figura 2.2).

Os coeficientes angulares (beta) das regressões entre o logaritmo natural

do comprimento cabeça-corpo e o peso do corpo de machos e fêmeas (2,706 e

2,077, respectivamente) foram usados para calcular o fator de condição

alométrico para cada indivíduo.

Figura 2.1. Diagrama com as medianas, quartis e valores máximos e mínimos dos valores brutos do peso em gramas (W) e comprimento do corpo em milímetros (HB) de machos e fêmeas.

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57

LN HB M:LN W M: r2 = 0,7008; y = -9,1913 + 2,7039*x

4,65 4,70 4,75 4,80 4,85 4,90 4,95 5,00 5,05 5,10 5,15 5,20

LN HB M

3,2

3,4

3,6

3,8

4,0

4,2

4,4

4,6

4,8

5,0

LN

W M

4,5 4,6 4,7 4,8 4,9 5,0 5,1

LN HB F

LN HB F:LN W F: r2 = 0,4616; y = -6,2228 + 2,0774*x

3,0

3,2

3,4

3,6

3,8

4,0

4,2

4,4

LN

W F

Figura 2.2 Regressão entre o logaritmo natural do comprimento cabeça-corpo em milímetros e o logaritmo natural do peso do corpo em gramas de machos (a) e fêmeas (b).

a)

b)

N t gl p dp M dp F f p

W machos x fêmeas 250 8,5212 248 < 0,000 0,3765 0,2781 1,8327 0,0008

HB machos x fêmeas 250 8,6884 248 < 0,000 0,1165 0,0910 1,6412 0,0062

Tabela 2.2. Resultados do teste t para amostras independentes entre o peso de machos e fêmeas e o comprimento do corpo de machos e fêmeas. N = número; gl = graus de liberdade; dp = desvio padrão

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58

F(1, 247)=5,9524, p=,01540

(Computados para covariantes nas suas médias)

Barras verticais representam 0,95 de intervalo de confiança

M F3,86

3,88

3,90

3,92

3,94

3,96

3,98

4,00

4,02

4,04

4,06

0,1

0,11

0,12

0,13

0,14

0,15

0,16

0,17

abr/

97

ago/9

7

dez/9

7

abr/

98

ago/9

8

dez/9

8

abr/

99

ago/9

9

dez/9

9

abr/

00

ago/0

0

dez/0

0

abr/

01

ago/0

1

dez/0

1

abr/

02

ago/0

2

dez/0

2

abr/

03

ago/0

3

dez/0

3

abr/

04

ago/0

4

dez/0

4

abr/

05

0,04

0,04

0,05

0,05

0,06

0,06

0,07

FC mensal fêmeas FC mensal machos

Figura 2.3. Covariância entre os coeficientes angulares da regressão entre o comprimento do corpo e o peso de machos e fêmeas.

Figura 2.4. Média mensal do fator de condição alométrico; machos –linha preta, fêmeas - linha cinza.

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59

Foi feita uma análise gráfica da relação entre o fator de condição mensal

e a porcentagem de fêmeas reprodutivas por mês (Figura 2.5). Os picos do

fator de condição mensal foram durante o período reprodutivo em ambos os

sexos.

A análise gráfica da relação entre a abundância, expressa pelo índice

MNKA, e o fator de condição (Figura 2.5) mostra que os picos do fator de

condição ocorrem quase sempre dois meses depois do pico de abundância.

Não há uma relação inversa significativa entre o fator de condição e a

abundância, embora o fator de condição dos machos apresente uma

correlação positiva marginalmente significante (tabela 2.3).

N R p

fc macho x MNKA 43 0,271 0,078

fc fêmea x MNKA 46 0,004 0,978

A regressão múltipla entre o fator de condição de machos e fêmeas e os

indicadores de disponibilidade de recursos (tabela 2.4) mostrou uma relação

positiva entre o folhiço e o fator de condição de machos e fêmeas (p=0,005 e

0,004, respectivamente). Os frutos foram relacionados negativamente com o

fator de condição de machos e fêmeas (p=0,0006 e 0,003 respectivamente) e a

precipitação foi relacionada negativamente com o fator de condição das

fêmeas (p=0,0001). Não foi encontrada relação significativa com os

artrópodes.

Tabela 2.3. Resultado da correlação de Pearson entre o índice de abundância MNKA e o fator de condição de machos e fêmeas.

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60

Figura 2.5. Fator de condição de machos (a) e fêmeas (b) e a porcentagem de fêmeas com sinais de atividade reprodutiva. Fator de condição de machos (c) e fêmeas (d) e a abundância populacional (MNKA).

c)

d)

a)

b)

0

20

40

60

80

100

abr/

97

ago/9

7

dez/9

7

abr/

98

ago/9

8

dez/9

8

abr/

99

ago/9

9

dez/9

9

abr/

00

ago/0

0

dez/0

0

abr/

01

ago/0

1

dez/0

1

abr/

02

ago/0

2

dez/0

2

abr/

03

ago/0

3

dez/0

3

abr/

04

ago/0

4

dez/0

4

abr/

05p

orc

en

tag

em

de

me

as r

ep

rod

utiva

s

0,04

0,05

0,05

0,06

0,06

0,07

fêmeas reprodutivas fc machos

0

20

40

60

80

100

abr/

97

ago/9

7

dez/9

7

abr/

98

ago/9

8

dez/9

8

abr/

99

ago/9

9

dez/9

9

abr/

00

ago/0

0

dez/0

0

abr/

01

ago/0

1

dez/0

1

abr/

02

ago/0

2

dez/0

2

abr/

03

ago/0

3

dez/0

3

abr/

04

ago/0

4

dez/0

4

abr/

05p

orc

en

tge

m d

e fê

me

as r

ep

rod

utiva

s

0,10

0,11

0,12

0,13

0,14

0,15

0,16

0,17

fêmeas reprodutivas fc fêmeas

0

2

4

6

8

10

12

14

16

abr/

97

ago/9

7

dez/9

7

abr/

98

ago/9

8

dez/9

8

abr/

99

ago/9

9

dez/9

9

abr/

00

ago/0

0

dez/0

0

abr/

01

ago/0

1

dez/0

1

abr/

02

ago/0

2

dez/0

2

abr/

03

ago/0

3

dez/0

3

abr/

04

ago/0

4

dez/0

4

abr/

05

0,04

0,05

0,05

0,06

0,06

0,07

MNKA fc machos

0

2

4

6

8

10

12

14

16

abr/

97

ago/9

7

dez/9

7

abr/

98

ago/9

8

dez/9

8

abr/

99

ago/9

9

dez/9

9

abr/

00

ago/0

0

dez/0

0

abr/

01

ago/0

1

dez/0

1

abr/

02

ago/0

2

dez/0

2

abr/

03

ago/0

3

dez/0

3

abr/

04

ago/0

4

dez/0

4

abr/

05

0,10

0,11

0,12

0,13

0,14

0,15

0,16

0,17

MNKA fc fêmeas

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61

O somatório anual (de abril a fevereiro) do fator de condição mensal de

machos e fêmeas apresentou uma tendência decrescente nos anos de estudo

(Figuras 2.6 e 2.7). A tendência decrescente foi encontrada também para o

somatório anual do folhiço (R²=0,37), e os frutos, artrópodes e a precipitação

apresentaram fraca tendência crescente (Figura 2.10).

FC machos - R multiplo = 0,4129 F = 4,7275 R²= 0,1705 df = 4,92

N= 97 R² ajustado= 0,1344 p = 0,0016 erro padrão da estimativa= 0,0061

folhiço β=0,29 frutos β=-0,35 precipitação β=-0,10 artrópodes β=-0,09

erro padrão erro padrão

de beta B de B t (92) p

intercepto 0,1454 0,0038 37,7816 0,0000folhiço 0,1020 0,0006 0,0002 2,8594 0,0053frutos 0,0994 -0,0030 0,0008 -3,5326 0,0006precipitação 0,0991 -0,0001 0,0001 -0,9626 0,3383artrópodes 0,0961 -0,0011 0,0012 -0,9085 0,3660

FC fêmeas - R multiplo = 0,5144 F = 8,2750 R²= 0,2646 df = 4,92

N= 97 R² ajustado= 0,2326 p = 0,00001 erro padrão da estimativa= 0,0061

folhiço β= 0,28 frutos β= -0,28 precipitação β= -0,37 artrópodes β= -0,15

erro padrão erro padrão

de beta B de B t (92) p

intercepto 0,0567 0,0012 46,0126 0,0000folhiço 0,0961 0,0002 0,0001 2,8895 0,0048frutos 0,0936 -0,0008 0,0003 -3,0081 0,0034precipitação 0,0933 -0,0002 0,0000 -3,9935 0,0001artrópodes 0,0905 -0,0006 0,0004 -1,6339 0,1057

O somatório anual da precipitação e dos frutos foram negativamente

relacionados com o fator de condição de machos e fêmeas, sendo que apenas

o fator de condição de fêmeas e os frutos apresentaram relação alta (R²=0,50),

e o somatório anual do folhiço e dos artrópodes foram positivamente

relacionados, com alta explicação para os artrópodes e o fator de condição de

fêmeas (R²=0,54) (Figura 2.9).

Tabela 2.4. Resultados da regressão múltipla entre o fator de condição de machos e fêmeas e os indicadores da disponibilidade de recursos.

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62

0,31

0,32

0,32

0,33

0,33

0,34

0,34

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

0,80

0,82

0,84

0,86

0,88

0,90

0,92

fc anual machos fc anual fêmeas

Figura 2.6. Somatório anual do fator de condição de machos (linha preta) e fêmeas (linha cinza).

Figura 2.7. Regressão entre o fator de condição anual e o tempo (em anos) de machos (a) e fêmeas (b).

a)

b)

y = -0,0019x + 4,1537

R2 = 0,8477

0,32

0,32

0,33

0,33

0,34

0,34

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

anos

fc a

nual m

achos

fc anual machos x anos

y = -0,0063x + 13,446

R2 = 0,6074

0,84

0,86

0,88

0,9

0,92

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

anos

fc a

nual fê

meas

fc anual fêmeas x anos

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63

Figura 2.8. Somatório anual (abril a março) dos indicadores da disponibilidade de recursos (barras) e somatório anual do fator de condição (FC) de machos e fêmeas (linha). a) precipitação anual e FC machos; b) precipitação anual e FC fêmeas; c) artrópodes e FC machos; d) artrópodes e FC fêmeas; e) folhiço e FC machos; f) folhiço e FC fêmeas; g) frutos e FC machos; h) frutos e FC fêmeas.

0

5001000

15002000

2500

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,80,820,840,860,880,90,92

precipitação FC fêmeas

0

500

1000

1500

2000

25001997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,310,3150,320,3250,330,3350,34

precipitação FC machos

0

1000

2000

3000

4000

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,80,820,840,860,880,90,92

folhiço FC fêmeas

0

1000

2000

3000

4000

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,310,3150,320,3250,330,3350,34

folhiço FC machos

0

50

100

150

200

250

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,80,820,840,860,880,90,92

frutos FC fêmeas

0

50

100

150

200

250

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,310,3150,320,3250,330,3350,34

frutos FC machos

0

10

20

30

40

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,80,820,840,860,880,90,92

insetos fc fêmeas

0

10

20

30

40

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

0,310,3150,320,3250,330,3350,34

insetos fc machos

a) b)

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64

y = 0,0003x + 0,3228

R2 = 0,1399

0,32

0,325

0,33

0,335

0,34

5 10 15 20 25 30 35

insetos x fc machos y = 0,0024x + 0,8205

R2 = 0,5437

0,82

0,84

0,86

0,88

0,9

0,92

5 10 15 20 25 30 35

insetos x fc fêmeas

y = 9E-06x + 0,3058

R2 = 0,3006

0,32

0,325

0,33

0,335

0,34

1700 2200 2700 3200

folhiço x fc machos y = 1E-06x + 0,8639

R2 = 0,0004

0,84

0,86

0,88

0,9

0,92

1700 2200 2700 3200

folhiço x fc fêmeas

y = -2E-05x + 0,3323

R2 = 0,0254

0,32

0,325

0,33

0,335

0,34

50 100 150 200 250

frutos x fc machos y = -0,0004x + 0,9243

R2 = 0,5016

0,84

0,86

0,88

0,9

0,92

50 100 150 200 250

frutos x fc fêmeas

y = -2E-06x + 0,3344

R2 = 0,0473

0,32

0,325

0,33

0,335

0,34

1000 1500 2000 2500 3000

precipitação x fc machos y = -1E-05x + 0,9018

R2 = 0,1264

0,84

0,86

0,88

0,9

0,92

1000 1500 2000 2500 3000

precipitação x fc fêmeas

Figura 2.9. Regressões entre o somatório anual dos indicadores de produtividade dos recursos e a média anual do fator de condição de machos e fêmeas. a) artrópodes x FC machos; b) artrópodes x FC fêmeas; c) folhiço x FC machos; d) folhiço x FC fêmeas; e) frutos x FC machos; f) frutos x FC fêmeas; g) precipitação x FC machos; h) precipitação x FC fêmeas.

a) b)

c) d)

e) f)

g) h)

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65

y = 0,1109x + 20,751

R2 = 0,0032

0

10

20

30

40

0 1 2 3 4 5 6 7 8

insetosy = -77,846x + 2936

R2 = 0,3742

0

1000

2000

3000

4000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

folhiço

y = 6,0312x + 128,32

R2 = 0,1499

0

50

100

150

200

250

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

frutos y = 57,615x + 2123,3

R2 = 0,0843

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

precipitação

Figura 2.10. Regressão do somatório anual dos indicadores de produtividade dos recursos contra o tempo (em anos). a) biomassa de artrópodes; b) produção de folhiço; c) produção de frutos; d) precipitação.

a) b)

c) d)

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66

Discussão

A regressão linear entre o tamanho do corpo e o peso foi significativa

para ambos os sexos, mas os machos apresentaram um melhor ajuste,

provavelmente devido a uma variação maior do fator de condição das fêmeas

em virtude do período de lactação.

O fator de condição alométrico de M. incanus apresentou um

componente estacional, assim como a sua reprodução e abundância. Os picos

do fator de condição mensal de machos e fêmeas ocorreram durante a estação

reprodutiva, e os vales ocorreram ao final desta. O decréscimo do fator de

condição pode então estar relacionado a senescência dos adultos e a entrada

de indivíduos provenientes da nova geração na população, e o aumento

relacionado à alocação de energia para o seu único investimento reprodutivo.

Não foi encontrada relação negativa entre o fator de condição e a

abundância populacional, indicando que a competição intraespecífica por

recursos não afeta a condição dos animais.

O folhiço foi o único indicador da disponibilidade de recursos que teve

relação positiva com o fator de condição mensal. Apesar de não ser

propriamente um item alimentar, o folhiço abriga diversos invertebrados e

pequenos vertebrados que fazem parte da dieta de M. incanus (SANTORI et al.,

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67

1996; FREITAS et al., 1997; SANTORI et al., 1997) podendo ser considerado

um indicador da produtividade geral do sistema (FINOTTI et al., 2003).

A flutuação mensal da abundância de insetos, um dos principais itens

alimentares de M. incanus, não afetou o fator de condição. O fato dos

principais itens alimentares da dieta de M. incanus, frutos e artrópodes, terem

dado relações negativas com o fator de condição mensal pode ser explicado

pelo ajuste feito para desmamar os filhotes na época mais favorável do ano. A

maior parte das capturas de indivíduos jovens ocorreu entre fevereiro e abril

(ver figura 1.3 do capítulo 1 desta dissertação), período correspondente ao

final da estação chuvosa, onde os recursos alimentares seriam mais

abundantes. De fato os frutos apresentam picos nos meses de janeiro ou

fevereiro de todos os anos e os insetos têm seus maiores valores nos meses de

fevereiro (ver figuras 3.5 e 3.9 do capítulo 3 desta dissertação). Entretanto, o

fator de condição mensal tem seus valores mais baixos entre fevereiro e

junho.

O acesso ao suprimento alimentar potencial de uma espécie em seu

ambiente natural não é simples, é preciso conhecer a amplitude de alimentos

usados pela espécie, suas mudanças sazonais em quantidade e qualidade e sua

palatabilidade (FLOWERDEW, 1987). A dificuldade aumenta para animais de

hábitos alimentares generalistas, que usam uma ampla gama de itens

alimentares, e em ambientes tropicais, onde a diversidade de alimentos

potenciais dificulta o seu estudo detalhado. Os indicadores de disponibilidade

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68

de recursos usados neste trabalho mostram a flutuação de importantes itens

da dieta de M. incanus. Mas, para um animal onívoro em uma floresta tropical

úmida, mesmo quando o aporte de frutos, folhiço e precipitação e a captura

de artrópodes são baixos os indivíduos não devem encontrar dificuldade em

encontrar alimento. Alguns estudos relataram uma variação sazonal na

composição da dieta de marsupiais didelfídeos, que indicam que os animais

mudam a sua dieta de acordo com a disponibilidade dos alimentos no

ambiente (JULIEN-LAFERRIERE & ATRAMENTOWICZ, 1990;

CÁCERES, 2002; LEINER & SILVA, 2007; SANTORI et al., 1996;

FREITAS et al., 1997; SANTORI et al., 1997). O fator de condição de M.

incanus pode apresentar relação negativa com frutos e artrópodes porque a

espécie pode potencialmente se alimentar de outros invertebrados,

vertebrados, flores e fungos e porque a diversidade e abundância produzidas

pelo ambiente permitem que os indivíduos não passem por períodos de déficit

de alimentos. De acordo com a teoria do forrageamento ótimo (KREBS &

DAVIES, 1978), os indivíduos mudam seus hábitos alimentares quando o

alimento ótimo não se apresenta em quantidade suficiente para suprir suas

necessidades. Assim, no período em que os filhotes se tornam independentes

a disponibilidade de recursos seria ótima, para maximizar a sobrevivência da

prole e o folhiço seria a fonte “sub-ótima” usada para alocar energia para o

período reprodutivo.

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69

O padrão decrescente do fator de condição anual de ambos os sexos

não foi encontrado nos principais itens alimentares da espécie (os frutos e os

artrópodes) e na precipitação, mas foi encontrado no folhiço, o que reforça a

importância desta variável e indica que as reservas energéticas de M. incanus

dependem da queda do folhiço. Os artrópodes, apesar de não ter relação

mensal com o fator de condição, apresentaram relação anual com o fator de

condição das fêmeas, indicando que pode haver uma relação entre a biomassa

anual de artrópodes e o sucesso reprodutivo das fêmeas.

Os valores mais altos encontrados para o fator de condição anual de

machos e fêmeas (os três valores mais altos foram registrados de 1997 a 1999

em ambos os sexos) podem estar relacionados com a Oscilação sul/El Ninõ

que ocorreu de 1997 até meados de 1998. O fenômeno aparentemente

proporcionou condições ambientais mais estáveis, fazendo com que o fator de

condição mensal não apresentasse uma variação estacional bem marcada e

tivesse uma baixa amplitude de variação. É preciso uma série mais longa de

observações para investigar se M. incanus e outras espécies que são

monitoradas na área de estudo apresentam ciclos em seus parâmetros

populacionais relacionados com a Oscilação sul/El Ninõ.

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CAPÍTULO III

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71

Dinâmica temporal da abundância populacional e fator de condição da

cuíca Marmosops incanus e suas relações com o clima e os recursos.

Resumo

Para se entender as relações entre parâmetros populacionais e variáveis que possam influenciar na sua dinâmica, deve-se levar em consideração o tempo de atraso na resposta das populações a essas variáveis. Análises de série temporais permitem que se correlacionem séries com diversos tempos de defasagem entre elas, realizando, portanto uma análise exploratória que pode elucidar a questão do tempo de resposta de populações sujeitas a monitoramentos de longo prazo às variáveis climáticas, flutuações de recursos, predadores, presas ou variações ambientais. O objetivo aqui foi descrever o comportamento das séries temporais e correlacioná-las com variáveis potencialmente explicativas, de modo a obter o grau de correlação e o tempo de atraso na resposta de cada variável. A abundância populacional de Marmosops incanus e seu fator de condição foram analisados, assim como a precipitação mensal, produção de folhiço, frutos e artrópodes (indicadores da disponibilidade de recursos) e abundância de Didelphis aurita e Philander frenatus (potenciais predadores), como variáveis potencialmente explicativas. As séries da abundância de D. aurita e P. frenatus apresentaram tendência crescente ao longo do tempo e o fator de condição teve tendência decrescente. Apenas a série de biomassa de artrópodes não apresentou sazonalidade. As autocorrelações mostraram que mesmo após a diferenciação a maioria das séries manteve um componente sazonal. As correlações cruzadas significativas foram poucas e fracas, o que sugere que não deve haver um fator extrínseco com forte influência sobre os parâmetros populacionais. A abundância de M. incanus não parece sofrer uma pressão negativa da abundância dos predadores, pois a correlação cruzada mostrou uma influência sazonal (intercalando correlações positivas e negativas) que deve ter origem na flutuação populacional apresentada pelas espécies. A precipitação não apresentou correlações positivas com os parâmetros populacionais, mas foi relacionada aos indicadores da disponibilidade de recursos. Estes por sua vez estiveram correlacionados com os parâmetros populacionais com atrasos na resposta de até 14 meses, indicando influência na geração seguinte.

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72

Introdução

Mudanças periódicas despertam grande interesse no campo da ecologia

de populações. Isso se deve, em parte, porque muitos fenômenos ecológicos e

biológicos são determinados por ritmos geofísicos, em várias escalas, de ciclos

glaciais a ciclos lunares (mensais) e solares (estações do ano e duração do dia)

(LEGENDRE et al., 1981; LEGENDRE & LEGENDRE, 1998). Esses ciclos

são internalizados por organismos e ecossistemas, de modo que ao estudá-los ao

longo do tempo, podemos identificar padrões relativos a fenômenos cíclicos e

sazonais.

Os tratamentos de dados que têm o tempo como fator determinante

apresentam peculiaridades, como a irreversibilidade e a interdependência dos

dados, onde a ordem, o espaçamento no tempo entre as coletas de dados e uma

série de dados completa são cruciais para que se possa extrair os resultados

(RASMUSSEN et al., 1993; LEGENDRE & LEGENDRE, 1998). Para isso

foram desenvolvidas análises estatísticas específicas para trabalhar dados no

tempo. Estas análises são usadas há tempos por economistas, com o intuito de

fazer previsões sobre o comportamento futuro de uma variável pelo estudo do

comportamento de uma longa série passada. Nos últimos anos essas análises têm

se tornado cada vez mais sofisticadas, e têm atraído a atenção de pesquisadores

que trabalham com fenômenos naturais, como ecólogos.

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73

Existem dois objetivos principais nas análises de série temporal: identificar

a natureza do fenômeno observado, representado pela seqüência de observações

e prever valores futuros para a série. Neste trabalho o objetivo foi descrever as

séries e correlacioná-las no tempo com os próprios valores e com outras séries

para estabelecer se existem relações entre as variáveis e com quanto tempo de

atraso na resposta elas ocorrem. Com o intuito de fazer uma analise exploratória

da dinâmica do tamanho populacional e do fator de condição de M. incanus, foi

feita uma análise de série temporal, para verificar se há relação entre a dinâmica

dos fatores intrínsecos com fatores extrínsecos com defasagem de tempo. Os

fatores extrínsecos foram separados como climáticos (precipitação mensal),

indicadores da disponibilidade de recursos alimentares (produção de folhiço,

frutos e artrópodes do solo) e abundância de potenciais predadores (Didelphis

aurita e Philander frenatus).

Objetivos

O objetivo foi identificar variáveis extrínsecas que possam afetar a

população de M. incanus, definir o tempo que os animais levam para responder a

essas variáveis e testar as seguintes hipóteses:

1- A precipitação teria efeito direto nos indicadores da disponibilidade de

recursos e indireto na abundância e no fator de condição de M. incanus;

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74

2- A disponibilidade de recursos teria influência positiva tanto na abundância

(com atraso na resposta de uma geração) quanto no fator de condição (com

curto tempo de atraso na resposta);

3- A abundância dos predadores teria efeito negativo na abundância de M.

incanus.

Métodos

As variáveis usadas

Os parâmetros populacionais usados foram a abundância populacional

(indicada aqui pelo índice MNKA) e o fator de condição de M. incanus. O fator

de condição foi calculado agrupando ambos os sexos com o intuito de diminuir

o número de pontos sem valor. Para detalhes sobre o cálculo do fator de

condição ver o capítulo 2 desta dissertação. A produção de frutos e folhiço, a

biomassa de artrópodes, a precipitação mensal e a abundância dos predadores D.

aurita e P. frenatus (dada também pelo índice MNKA) foram as variáveis

preditoras usadas. Os métodos de obtenção desses dados estão descritos na

seção métodos gerais desta dissertação.

Como os dados de abundância, fator de condição, abundância de

potenciais predadores e artrópodes são bimestrais, os valores para os meses sem

coletas foram interpolados pela média entre pontos adjacentes (RASMUSSEN et

al., 1993; GROPPO, 2005). Para as variáveis com dados faltando (artrópodes –

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75

abril, junho, outubro e dezembro de 2004 e abril de 2005; precipitação – março e

abril de 2005; folhiço e frutos – abril de 1997) foi feita uma substituição pelos

valores estimados pela regressão das séries contra o tempo (GROPPO, 2005),

uma vez que esses pontos estão localizados no início das séries de folhiço e

frutos e no final das séries de precipitação e artrópodes, o que impossibilita o

uso da média dos pontos adjacentes.

Análises de série temporal

Uma série temporal é uma seqüência de observações ordenadas

cronologicamente e registradas em intervalos eqüidistantes (RASMUSSEN et al.,

1993; ANDERSON, 1995; LEGENDRE & LEGENDRE, 1998).

A principal propriedade das séries temporais é que, contrariamente à

maioria das áreas da estatística, onde sempre se procura assegurar que as

observações são independentes, os dados, geralmente, são dependentes

(RASMUSSEN et al., 1993).

Séries temporais podem ser decompostas em vários componentes, que

podem ter significados estatísticos e ecológicos diferentes e podem ser estudados

separadamente. Segundo LEGENDRE & LEGENDRE (1998) os padrões das

séries temporais podem ser descritos em termos de mudança determinística

(tendência), variabilidade periódica (sazonalidade e ciclos) e flutuações ao acaso

(ruído). O primeiro representa um componente linear ou não-linear que muda ao

longo do tempo e não se repete. O segundo componente se repete em intervalos

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76

sistemáticos ao longo do tempo. Já o ruído consiste em flutuações irregulares e

imprevisíveis devidas a perturbações não permanentes.

Tanto a tendência como a sazonalidade e o ruído de uma série temporal

dificultam a identificação de períodos característicos. Portanto, antes de iniciar as

análises é necessário que estes componentes, se presentes, sejam removidos

(RASMUSSEN et al., 1993). A maior razão para tal remoção é tornar a série

estacionária (alguns textos usam o termo fracamente estacionário, ao invés de

estacionário, mas ambos os termos se referem à mesma condição).

Rotina de transformações dos dados utilizada para a análise de série temporal

Valores discrepantes

Nas séries temporais podem ocorrer falhas ou valores discrepantes. Os

dados discrepantes podem indicar problemas ou erros de medições ou

simplesmente dados que atingem valores muito acima ou abaixo da média da

série. Esses valores precisam ser investigados, classificados e se necessário

removidos para dar prosseguimento às análises. O critério utilizado para

identificação dos valores discrepantes foram observações acima ou abaixo de três

desvios padrões da média (x¯±3S) (FORESTER, 2000; GROPPO, 2005). Uma

vez identificado, foi verificado se o valor discrepante aparece com freqüência na

mesma série, o que indicaria a persistência da anomalia. Depois foi averiguada a

possibilidade de o valor discrepante ser devido a erros na coleta e tabulação dos

dados. Havendo a possibilidade do erro, o valor discrepante seria substituído

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77

pela média da série. Se confirmada a acurácia do valor ou a persistência de

valores discrepantes, estes foram substituídos pela média mais três desvios

padrões.

Normalidade

Para verificar se as séries apresentavam distribuição normal, foi usado a

partir dos dados brutos os testes de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk para

aderência à linha reta. Este último é o teste mais robusto na verificação da

normalidade de séries de dados (MCLEOD & HIPPEL, 1994; LEOTTI et al.,

2005).

No caso das séries não apresentarem distribuição normal, a transformação

Box-cox seria utilizada (GROPPO, 2005). A transformação Box-cox consiste na

estimativa do melhor valor para um parâmetro λ tal que o conjunto de dados

transformados Y` seja normalmente distribuído. A relação entre os dados

transformados e os dados originais Y é expressa pela equação: Y` = Yλ , de forma

que a transformação varie de acordo com o valor de λ (tabela 3.1). Fazem-se

transformações nas séries com cada valor de λ até achar aquele que minimize a

soma do quadrado dos erros. Usa-se então esse valor de λ para transformar a

variável. Nota-se que alguns valores de λ conduzem a transformações familiares.

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78

Valor de λ transformação

2 Y`= Y2

1 Y`= Y

0,5 Y`= √Y

0 Y`= loge Y *

-0,5 Y`= 1/√Y

-1 Y`= 1/Y

-2 Y`= 1/Y2

* por definição

Feitas as transformações, o novo conjunto de dados é novamente testado

quanto à distribuição. No caso de alguma variável não ter sua distribuição

normalizada por nenhuma das transformações box-cox, a transformação cujo

valor de W do teste de Shapiro-Wilk fosse mais próxima de 1 seria usada

(GROPPO, 2005).

Tendências

A fim de verificar se as séries temporais seguiram alguma tendência

durante o período do estudo, foi utilizada a correlação de Kendall (τ) entre a

série de dados original e esta mesma série ordenada de forma crescente

(LEGENDRE & LEGENDRE, 1998). Quando τ é significativamente diferente

de zero, a série exibe uma tendência monotônica, isto é, aumenta ou decresce

consistentemente ao longo do tempo (LEGENDRE & LEGENDRE, 1998).

Sazonalidade

Para detectar componentes estacionais nas séries de dados foram

empregadas duas técnicas: diagramas Box-Whisker e o teste de sazonalidade de

Tabela 3.1. Valores de λ do teste boxcox e suas respectivas transformações.

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79

Kruskall-Wallis, no qual diversos grupos de dados da série são comparados para

determinar se as medianas são significativamente diferentes. No caso as variáveis

foram agrupadas por mês.

Estacionaridade e diferenciação

Uma série estacionária exibe o mesmo comportamento em diferentes

intervalos de tempo. Para ser considerada estacionária a série deve possuir

valores normalmente distribuídos e apresentar uma forma de equilíbrio

estatístico, no qual a média e a variância são constantes no tempo e as

covariâncias entre os seus valores dependem apenas das defasagens entre elas

(MONTGOMERY & JONHSON, 1976; PANKRATZ, 1983; ANDERSON,

1995; LEGENDRE & LEGENDRE, 1998). Contudo, muitos processos

observados na natureza são não estacionários (MARGARIDO & MEDEIROS

JUNIOR, 2006; RASMUSSEN et al., 1993). GRANGER & NEWBOLD (1974)

verificaram que séries de dados não estacionários produzem regressões espúrias.

Por isso devem-se identificar séries não estacionárias e modificá-las até que

atinjam a estacionaridade antes de se iniciar as análises.

A identificação da estacionaridade de uma série pode ser feita através da

análise da autocorrelação e da autocorrelação parcial, que exige um

conhecimento sólido de modelos de série temporal, ou através de testes de raiz

unitária, muito utilizados em análises econômicas (MARGARIDO &

MEDEIROS JUNIOR, 2006). O teste usado aqui foi o de Dickey-Fuller

Ampliado (ADF), que tem como hipótese nula a existência de uma raiz unitária.

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80

Quando uma série apresenta raiz unitária, os pressupostos estatísticos de que a

média e a variância devem ser constantes ao longo do tempo são violados, sendo

assim a série é não estacionária (SILVA et al., 2006). O teste de Dickey-Fuller

Ampliado permite que se escolha um número máximo de diferenciações e testa a

presença de raiz unitária de todas as diferenciações da série. Para determinar a

número ideal de diferenciação o programa utiliza o Critério de Informação

Akaike (AIC). O programa utilizado é de autoria de Kurt Annen e está

disponível na rede pelo sítio www.web-reg.de. Para maiores detalhes sobre testes

de raízes unitárias ver MARGARIDO & MEDEIROS JUNIOR (2006) e

DICKEY & FULLER (1981; 1979).

Uma vez identificadas, as séries não estacionárias devem ser

transformadas até que se tornem estacionárias. O método mais simples para

tornar séries temporais estacionárias consiste em diferenciá-las. A diferenciação

torna a série estacionária removendo a tendência, sazonalidade e dependência

serial. A diferenciação converte cada elemento it da série na diferença entre o

elemento it e o elemento it - k, sendo k o tempo de defasagem ou ordem de

integração escolhido para a diferenciação. A ordem de integração refere-se ao

número de vezes em que essa variável deve ser diferenciada até que se torne

estacionária (MARGARIDO & MEDEIROS JUNIOR, 2006; RASMUSSEN et

al., 1993). Se uma variável é integrada de ordem um ou primeira ordem, isto quer

dizer que é necessária a aplicação do operador diferença de ordem um para

torná-la estacionária, ou seja, cada valor da série é convertido na diferença entre

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81

o elemento da série no tempo t e o elemento da série em t-1 (RASMUSSEN et

al., 1993; KESNER & LINZEY, 1997). Este método baseia-se no fato de que o

padrão de dependência serial pode mudar consideravelmente após a remoção da

autocorrelação de primeira ordem, já que autocorrelações para defasagens

consecutivas são dependentes. Contudo, dependendo do grau de sazonalidade da

série, pode haver a necessidade de uma diferenciação sazonal. Neste caso, os

termos da série são substituídos pela diferença entre o elemento da série em t e

em t-12 (RASMUSSEN et al., 1993; KESNER & LINZEY, 1997).

Autocorrelações

Os padrões sazonais e interanuais das séries temporais das variáveis

investigadas foram examinados por autocorrelogramas, utilizando-se o programa

Statistica 6.0 (STATSOFT, INC., 2000).

O autocorrelograma dispõe gráfica e numericamente a função de

autocorrelação, que é uma medida do grau de correlação entre uma série como

observada e esta mesma série iniciada após um tempo de defasagem específico

(lag) (FINERTY, 1976; MONTGOMERY & JONHSON, 1976; LEGENDRE

& LEGENDRE, 1998).

O autocorrelograma mostra os coeficientes das autocorrelações, r, obtidos

através da correlação de Pearson (SOKAL & ROHLF, 1995), em um número

específico de defasagens (FINERTY, 1976). Na prática, o teste de probabilidade

de significância da correlação de Pearson (p) não pode ser considerado, visto que

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os dados não são independentes. Desta forma, como a distribuição de r é

aproximadamente normal, intervalos de confiança podem ser estabelecidos a fim

de identificar valores significativamente diferentes de zero (HIPEL &

MCLEOD, 1994; LEGENDRE & LEGENDRE, 1998).

Para cada defasagem foram então estabelecidos limites de dois erros

padrões (EP) com intervalo de confiança de 95 % para a hipótese nula de r =

0,00 (SOKAL & ROHLF, 1995). Apenas os valores de r que ocorrem fora do

intervalo de confiança são significativamente diferentes de zero (HIPEL &

MCLEOD, 1994). Desta forma, a sazonalidade pode ser visualmente identificada

como um padrão recorrente no autocorrelograma das séries temporais.

O número de termos envolvidos no cálculo da autocorrelação diminui

com o aumento do número de defasagens. Sendo assim, ocorre que, à medida

que a defasagem aumenta, a precisão da estimativa e o número de graus de

liberdade disponíveis diminuem. Por isso, é recomendado que a defasagem

máxima utilizada seja cerca de N/4 (ANDERSON, 1995; LEGENDRE &

LEGENDRE, 1998), o que, neste estudo, equivaleria a 24,25 defasagens (97/4).

Foram então utilizadas defasagens de 24 meses em cada série temporal, com o

intuito de melhor descrever possíveis padrões anuais e interanuais.

Correlações cruzadas

Os efeitos da precipitação na produção de folhiço, frutos e artrópodes,

assim como a influência da precipitação, produção de folhiço total e das

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83

estruturas reprodutivas, artrópodes e a abundância dos predadores D. aurita e P.

frenatus na abundância e fator de condição de M. incanus foram avaliados através

da análise de correlação cruzada, utilizando-se o programa Statistica 6.0

(STATSOFT, INC., 2000). Esta análise, através da correlação de Pearson,

relaciona as variações na série de uma variável resposta com variações na série de

uma variável potencialmente explicativa, com um modelo especificado a priori

(LEGENDRE & LEGENDRE, 1998). Assume-se que a resposta corresponde a

eventos que ocorreram há algum tempo prévio, embora o exato atraso

(defasagem) pode não ser conhecido.

Desta forma, deve-se destacar que, neste estudo, somente os resultados

relativos às defasagens positivas devem ser considerados, pois se referem às

correlações da variação da abundância e do fator de condição com as mudanças

das variáveis climáticas, produção de recursos alimentares e abundância de

predadores ocorrida num espaço de tempo anterior, assim como a variação da

produção de recursos relacionada a uma precipitação prévia.

Resultados

Gráficos com os dados brutos locados contra o tempo e os diagramas box-

plot com o agrupamento dos dados por mês de amostragem, com a mediana,

quartis e amplitude dos dados, foram usados para uma primeira análise visual

das séries (Figuras 3.1 a 3.10).

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84

A abundância apresentou comportamento estacional bem marcado, com

picos nos meses de agosto e vales nos meses de fevereiro e abril, e amplitude de

variação de 0 a 15 indivíduos por mês. O fator de condição, além da

sazonalidade com picos nos meses de outubro (exceção para o ano de 1998) e

vales em abril, mostra um padrão decrescente ao longo dos anos. A queda de

folhiço não apresentou um padrão claro, mas teve seus maiores valores entre os

meses de setembro e novembro, enquanto a produção de frutos teve picos nos

meses de janeiro e/ou fevereiro em todos os anos. A biomassa de artrópodes

também não teve um padrão claro e seus valores mais altos ocorreram nos meses

de fevereiro. Já a precipitação mostrou uma forte sazonalidade, com picos entre

dezembro e fevereiro e vales entre junho e agosto. A abundância de D. aurita

mostrou uma tendência crescente ao longo dos anos e um número maior de

indivíduos nos meses de fevereiro e abril, coincidindo com a época de

recrutamento dos jovens. O número de indivíduos por mês variou de 0 a 24.

Philander frenatus teve a abundância variando de zero a seis indivíduos por mês,

com valores mais altos nos meses de abril e junho, novamente no período de

recrutamento de jovens. Pode-se notar no gráfico uma leve flutuação sazonal e

tendência crescente.

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85

0,05

0,055

0,06

0,065

0,07

abr/

97

out/97

abr/

98

out/98

abr/

99

out/99

abr/

00

out/00

abr/

01

out/01

abr/

02

out/02

abr/

03

out/03

abr/

04

out/04

abr/

05

fc

0

5

10

15

20

abr/

97

out/97

abr/

98

out/98

abr/

99

out/99

abr/

00

out/00

abr/

01

out/01

abr/

02

out/02

abr/

03

out/03

abr/

04

out/04

abr/

05

MNKA

0

3

6

9

12

abr/

97

out/97

abr/

98

out/98

abr/

99

out/99

abr/

00

out/00

abr/

01

out/01

abr/

02

out/02

abr/

03

out/03

abr/

04

out/04

abr/

05

insetos

0

5

10

15

20

25

abr/

97

out/97

abr/

98

out/98

abr/

99

out/99

abr/

00

out/00

abr/

01

out/01

abr/

02

out/02

abr/

03

out/03

abr/

04

out/04

abr/

05

Didelphis

03

69

abr/

97

out/97

abr/

98

out/98

abr/

99

out/99

abr/

00

out/00

abr/

01

out/01

abr/

02

out/02

abr/

03

out/03

abr/

04

out/04

abr/

05

Philander

Figura 3.1. Flutuação bimestral dos valores brutos do fator de condição (a), da abundância (b), da biomassa de artrópodes (c) e da abundância de D. aurita (d) e P. frenatus (e).

a)

b)

c)

d)

e)

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86

0

150

300

450

600

abr/

97

out/97

abr/

98

out/98

abr/

99

out/99

abr/

00

out/00

abr/

01

out/01

abr/

02

out/02

abr/

03

out/03

abr/

04

out/04

abr/

05

folhiço

0

15

30

45

60

ab

r/97

out/

97

ab

r/98

out/

98

ab

r/99

out/

99

ab

r/00

out/

00

ab

r/01

out/

01

ab

r/02

out/

02

ab

r/03

out/

03

ab

r/04

out/

04

ab

r/05

f rutos

0

150

300

450

600

abr/

97

out/97

abr/

98

out/98

abr/

99

out/99

abr/

00

out/00

abr/

01

out/01

abr/

02

out/02

abr/

03

out/03

abr/

04

out/04

abr/

05

preciptação

Figura 3.2. Flutuação mensal dos valores brutos da produção de folhiço em gramas (a), da produção de frutos em gramas (b) e da precipitação (altura em mm) (c).

a)

b)

c)

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87

abr jun ago out dez fev

mês

a)

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

MN

KA

abr jun ago out dez fev

mês

b)

0,052

0,054

0,056

0,058

0,060

0,062

0,064

0,066

0,068

0,070

FC

Figura 3.3. Diagrama com os dados brutos da abundância (MNKA) de M. incanus agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

Figura 3.4. Diagrama com os dados brutos do fator de condição de M. incanus agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

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88

abr jun ago out dez fev

mês

a)

-2

0

2

4

6

8

10

12

AR

TR

ÓP

OD

ES

abr jun ago out dez fev

mês

b)

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

D. aurita

Figura 3.5. Diagrama com os dados brutos da biomassa de artrópodes em gramas agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

Figura 3.6. Diagrama com os dados brutos da abundância (MNKA) de D. aurita agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

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abr jun ago out dez fev

mês

a)

-1

0

1

2

3

4

5

6

7

P.

frenatu

s

abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar

mês

b)

0

100

200

300

400

500

600

FO

LH

IÇO

Figura 3.7. Diagrama com os dados brutos da abundância (MNKA) de P. frenatus agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

Figura 3.8. Diagrama com os dados brutos da produção mensal de folhiço (em gramas) agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

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90

abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar

mês

a)

-10

0

10

20

30

40

50

60

FR

UT

OS

abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar

mês

b)

-100

0

100

200

300

400

500

600

PR

EC

IPIT

ÃO

Figura 3.9. Diagrama com os dados brutos da produção mensal de frutos (em gramas) agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

Figura 3.10. Diagrama com os dados brutos da precipitação mensal agrupados por mês, com os valores máximos e mínimos, os quartis e as medianas.

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91

Foram observados valores discrepantes na precipitação, folhiço, frutos,

artrópodes e abundância de D. aurita. Apenas a produção de frutos apresentou

valores discrepantes que se repetiram nos anos de 2003, 2004 e 2005, nos meses

de janeiro e fevereiro. Erros de tabulação foram descartados e assumiu-se que

não houve erro na coleta desses dados. Os valores discrepantes foram então

substituídos pela média mais três vezes o desvio padrão (tabela 3.2). Apesar da

precipitação só ter apresentado um valor discrepante, todos os valores

discrepantes observados ocorreram nos meses de maior pluviosidade.

valores discrepantes ¯ x+(3dp) mês e ano

folhiço 566,64 496,3094 dez/02

frutos 50,04; 55,09; 46,14 38,2401 fev/03; jan/04; jan/05

artrópodes 10,4631 9,668202 fev/00

precipitação 508 478,6115 dez/02

D. aurita 24 23,0313 fev/05

O fator de condição de M. incanus e a abundância de D. aurita

apresentaram distribuição normal. O folhiço foi normalizado pela transformação

logarítmica (λ=0) e a abundância, a precipitação, os artrópodes e os frutos foram

normalizados pela raiz quadrada (λ=0,5). As variáveis frutos e abundância de P.

frenatus não tiveram sua distribuição normalizada, de acordo com o teste de

Shapiro-Wilk, por nenhuma das transformações box-cox, por isso foram usadas as

transformações cujos valores de W do teste de Shapiro-Wilk foram mais

Tabela 3.2. Valores discrepantes encontrados nas séries de dados, com suas respectivas datas de ocorrência e o valor da média mais três vezes o desvio padrão, que foi usado como critério para identificar os valores discrepantes.

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92

próximos de 1. Apenas a abundância de P. frenatus não atingiu a normalidade no

teste de Kolmogorov-Smirnov.

Figura 3.11. Séries que mostraram tendência ao longo do tempo, de acordo com o teste de Kendall –tau, regredidas contra o tempo (de 0 a 97 meses). A) Fator de condição de M. incanus (R²= 0,10840); b) abundância de D. aurita (R²= 0,3622); c) abundância de P. frenatus. (R²= 0,0583).

0,050

0,055

0,060

0,065

0,070

0 20 40 60 80 100

meses

fato

r d

e c

on

diç

ão

0

5

10

15

20

25

0 20 40 60 80 100

meses

MN

KA

- D

. a

uri

ta

0

2

4

6

0 20 40 60 80 100

meses

MN

KA

- P

. fr

en

atu

s

a)

b)

c)

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93

A correlação de Kendall para a detecção de tendências foi significante

para o fator de condição, que teve tendência decrescente, e para a abundância de

D. aurita e P. frenatus, que tiveram tendência crescente (tabela 3.3). A figura 3.11

mostra as regressões das séries com tendência contra o tempo, que evidenciam o

comportamento decrescente da série do fator de condição e crescente da

abundância de D. aurita e P.frenatus

box-cox

λ W p d p δ p

MNKA 0,5 0,9847 0,3207 0,0717 > 0,20 -0,0085 0,9030

FC 1 0,9895 0,6466 0,0399 > 0,20 -0,2143 0,0019folhiço 0 0,9890 0,6107 0,0493 > 0,20 -0,0670 0,3364

frutos 0,5 0,9698 0,0256 0,0706 > 0,20 0,0994 0,1538

artrópodes 0,5 0,9947 0,9831 0,0414 > 0,20 0,0336 0,6487

precipitação 0,5 0,9821 0,2223 0,0653 > 0,20 0,1021 0,1426

D. aurita 1 0,9808 0,1681 0,1124 < 0,20 0,4353 0,0000P. frenatus 0,5 0,9671 0,0156 0,1417 < 0,05 0,1857 0,0071

Shapiro-Wilk Kolmogorov-Smirnov Kendall-tau

Os gráficos Box-plot mostraram que quase todas as variáveis exibem

algum grau de sazonalidade e que esta é muito pronunciada na precipitação, na

abundância e no fator de condição (Figuras 3.3 a 3.10). O teste de Kruskall-

Wallis detectou sazonalidade nas seguintes variáveis: fator de condição e

abundância de M. incanus, folhiço, frutos, precipitação e abundância de D. aurita e

P. frenatus (tabela 3.4).

Tabela 3.3. Transformações boxcox e seus respectivos testes de normalidade de Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov e os resultados da correlação de Kendall para detecção de tendências.

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94

MNKA 48,389 p =,0000

FC 55,5696 p =,0000

folhiço 24,2586 p =,0117

frutos 31,543 p =,0009artrópodes 19,7374 p =,0508

precipitação 72,948 p =,0000

D. aurita 20,9712 p =,0337P. frenatus 24,7896 p =,0098

Kruskal-Wallis ANOVA

O teste de Dickey-Fuller aumentado mostrou que nenhuma das variáveis

é estacionária, portanto a diferenciação se fez necessária para todas elas. O teste

também é feito para as séries com diferenciações que são escolhidas pelo Critério

de Informação Akaike (AIC), com o número máximo de 12 diferenciações.

Como usualmente as análises de série temporal só utilizam diferenciações de

primeira e segunda ordem e sazonais, foram apresentados apenas esses

resultados (tabela 3.5). Algumas variáveis, no entanto, não tiveram resultado para

a diferenciação sazonal, em função da “escolha” do AIC. Com o objetivo de

tornar as séries mais uniformes, foram escolhidas as diferenciações de primeira

ordem para todas as variáveis, exceto MNKA, que não atingiu a estacionaridade

com essa transformação. A diferenciação de segunda ordem foi então utilizada

para essa variável.

Tabela 3.4. Resultados do teste de Kruskall-Wallis para detecção de padrões sazonais nas séries de dados. Os valores em negrito indicam as séries que apresentam componente sazonal.

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95

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística-t Probabilidade

FC -0,001528 0,001826 -0,837089 0,405352

D(FC(-1)) 0,701880 0,114128 6,149917 0,000000

D(FC(-2)) -1,050570 0,140603 -7,471873 0,000000

D(FC(-12)) -0,292759 0,126185 -2,320083 0,023215

MNKA -0,013576 0,016188 -0,838630 0,404492

D(MNKA(-1)) 0,201981 0,109435 1,845667 0,069110

D(MNKA(-2)) -0,227519 0,108612 -2,094791 0,039759

D(MNKA(-12)) 0,357320 0,104595 3,416206 0,001054

folhiço -0,002368 0,008118 -0,291703 0,771298

D(folhiço(-1)) -0,538529 0,109097 -4,936256 0,000005

D(folhiço(-2)) -0,494274 0,122119 -4,047473 0,000122

frutos -0,013408 0,036855 -0,363801 0,717088

D(frutos(-1)) -0,746136 0,120125 -6,211336 0,000000

D(frutos(-2)) -0,605088 0,142239 -4,254009 0,000063

D(frutos(-12)) -0,086436 0,113275 -0,763059 0,447956

artrópodes -0,014307 0,022240 -0,643293 0,521652

D(artrópodes(-1)) 0,252192 0,092163 2,736363 0,007470

D(artrópodes(-2)) -0,470837 0,093023 -5,061495 0,000002preciptação 0,014723 0,029964 0,491366 0,624683

D(preciptação(-1)) -0,776050 0,116204 -6,678318 0,000000

D(preciptação(-2)) -0,883247 0,134045 -6,589205 0,000000D(preciptação(-12)) -0,360931 0,116235 -3,105194 0,002732

D. aurita 0,028157 0,020039 1,405077 0,164359

D(D. aurita(-1)) 0,756042 0,120594 6,269344 0,000000

D(D. aurita(-2)) -1,342111 0,145543 -9,221437 0,000000

D(D. aurita(-12)) -0,248454 0,117574 -2,113163 0,038103P. frenatus 0,003070 0,013401 0,229056 0,819466

D(P. frenatus(-1)) 0,320868 0,109232 2,937485 0,004425D(P. frenatus(-2)) -0,895627 0,112516 -7,960009 0,000000

Os autocorrelações das séries diferenciadas estão nas figuras 3.12 a 3.19,

com os respectivos tempos de defasagem em meses (lag), valores da correlação

de Pearson (Corr) e erro padrão (E.P.).

Tabela 3.5. Resultado do teste de raiz unitária de Dickey-Fuller aumentado. Os valores em negrito indicam as séries que apresentaram raiz unitária, sendo, por conseguinte estacionárias.

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96

FC

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 +,205 ,0875

23 +,163 ,0881

22 +,121 ,0887

21 +,007 ,0893

20 -,106 ,0899

19 -,161 ,0905

18 -,215 ,0911

17 -,154 ,0916

16 -,093 ,0922

15 -,047 ,0928

14 -,006 ,0934

13 +,143 ,0939

12 +,289 ,0945

11 +,275 ,0951

10 +,268 ,0956

9 -,022 ,0962

8 -,309 ,0967

7 -,209 ,0973

6 -,111 ,0978

5 -,213 ,0983

4 -,316 ,0989

3 -,213 ,0994

2 -,118 ,1000

1 +,436 ,1005

Lag Corr. E.P.

M NKA

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 +,390 ,0878

23 +,310 ,0884

22 +,167 ,0890

21 +,052 ,0896

20 -,064 ,0902

19 -,241 ,0908

18 -,402 ,0914

17 -,462 ,0920

16 -,392 ,0926

15 -,138 ,0932

14 +,180 ,0938

13 +,460 ,0943

12 +,597 ,0949

11 +,439 ,0955

10 +,170 ,0960

9 -,017 ,0966

8 -,175 ,0972

7 -,346 ,0977

6 -,449 ,0983

5 -,445 ,0988

4 -,366 ,0994

3 -,200 ,0999

2 +,101 ,1005

1 +,645 ,1010

Lag Corr. E.P.

Figura 3.12. Autocorrelograma do fator de condição (FC) após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.13. Autocorrelograma da abundância de M. incanus (MNKA) após diferenciação de segunda ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%.

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97

FOLHIÇO

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,052 ,0875

23 +,008 ,0881

22 +,095 ,0887

21 -,067 ,0893

20 -,012 ,0899

19 +,009 ,0905

18 -,020 ,0911

17 -,028 ,0916

16 +,043 ,0922

15 +,022 ,0928

14 -,090 ,0934

13 +,054 ,0939

12 +,051 ,0945

11 -,101 ,0951

10 +,200 ,0956

9 -,164 ,0962

8 -,023 ,0967

7 +,134 ,0973

6 -,215 ,0978

5 +,178 ,0983

4 -,189 ,0989

3 +,106 ,0994

2 +,097 ,1000

1 -,527 ,1005

Lag Corr. E.P.

FRUTOS

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 +,265 ,0875

23 +,073 ,0881

22 -,124 ,0887

21 -,186 ,0893

20 -,255 ,0899

19 +,050 ,0905

18 +,364 ,0911

17 +,064 ,0916

16 -,235 ,0922

15 -,128 ,0928

14 -,021 ,0934

13 +,134 ,0939

12 +,291 ,0945

11 +,047 ,0951

10 -,200 ,0956

9 -,156 ,0962

8 -,114 ,0967

7 +,071 ,0973

6 +,256 ,0978

5 +,018 ,0983

4 -,220 ,0989

3 -,319 ,0994

2 -,405 ,1000

1 +,301 ,1005

Lag Corr. E.P.

Figura 3.14. Autocorrelograma da produção mensal de folhiço após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.15. Autocorrelograma da produção mensal de frutos após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%.

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98

Artrópodes

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 +,056 ,0875

23 +,065 ,0881

22 +,115 ,0887

21 -,039 ,0893

20 -,171 ,0899

19 -,053 ,0905

18 +,076 ,0911

17 +,010 ,0916

16 -,060 ,0922

15 -,039 ,0928

14 +,045 ,0934

13 +,052 ,0939

12 +,084 ,0945

11 +,045 ,0951

10 -,025 ,0956

9 -,073 ,0962

8 -,081 ,0967

7 -,009 ,0973

6 +,150 ,0978

5 +,017 ,0983

4 -,085 ,0989

3 -,270 ,0994

2 -,456 ,1000

1 +,226 ,1005

Lag Corr. E.P.

Precipitação

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,023 ,0875

23 +,007 ,0881

22 +,043 ,0887

21 -,016 ,0893

20 +,093 ,0899

19 -,147 ,0905

18 -,110 ,0911

17 +,072 ,0916

16 +,085 ,0922

15 +,013 ,0928

14 -,057 ,0934

13 -,017 ,0939

12 -,006 ,0945

11 +,041 ,0951

10 +,144 ,0956

9 -,097 ,0962

8 -,051 ,0967

7 -,083 ,0973

6 +,049 ,0978

5 +,100 ,0983

4 -,138 ,0989

3 +,006 ,0994

2 -,104 ,1000

1 -,303 ,1005

Lag Corr. E.P.

Figura 3.17. Autocorrelograma da precipitação mensal após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.16. Autocorrelograma da biomassa de artrópodes após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%.

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99

D. aurita

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 +,222 ,0875

23 +,008 ,0881

22 -,034 ,0887

21 -,129 ,0893

20 -,149 ,0899

19 +,041 ,0905

18 +,265 ,0911

17 +,119 ,0916

16 -,103 ,0922

15 -,205 ,0928

14 -,208 ,0934

13 +,012 ,0939

12 +,314 ,0945

11 +,091 ,0951

10 -,000 ,0956

9 -,074 ,0962

8 -,117 ,0967

7 -,042 ,0973

6 +,067 ,0978

5 +,022 ,0983

4 -,011 ,0989

3 -,230 ,0994

2 -,436 ,1000

1 +,168 ,1005

Lag Corr. E.P.

P. frenatus

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 +,192 ,0875

23 +,092 ,0881

22 +,201 ,0887

21 -,120 ,0893

20 -,067 ,0899

19 -,091 ,0905

18 -,252 ,0911

17 -,209 ,0916

16 -,016 ,0922

15 -,090 ,0928

14 +,153 ,0934

13 +,159 ,0939

12 +,224 ,0945

11 +,246 ,0951

10 +,018 ,0956

9 -,075 ,0962

8 +,104 ,0967

7 -,278 ,0973

6 -,218 ,0978

5 -,268 ,0983

4 -,076 ,0989

3 +,083 ,0994

2 -,072 ,1000

1 -,073 ,1005

Lag Corr. E.P.

Figura 3.19. Autocorrelograma da abundância de P. frenatus após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.18. Autocorrelograma da abundância de D. aurita após diferenciação de primeira ordem. Corr = r da correlação de Pearson; E.P. = erro padrão. Os valores significativos são representados pelas barras que ultrapassam a linha pontilhada, que representa o limite do intervalo de confiança de 95%..

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100

Nota-se que algumas séries, mesmo após a diferenciação, guardam um

acentuado padrão estacional. O fator de condição e a abundância apresentaram

semelhanças nas autocorrelações (tabela 3.6), e mantiveram a sazonalidade, com

autocorrelações positivas (aproximadamente nas defasagens de 1, 12 e 24 meses)

intercaladas com negativas. O folhiço teve apenas uma autocorrelação forte

(negativa com um mês de defasagem) enquanto os frutos apresentaram

autocorrelações positivas a cada seis meses de defasagem e negativas nos

intervalos, mostrando também alta sazonalidade. A biomassa de artrópodes teve

autocorrelações significativas apenas nos três primeiros meses. A precipitação

apresentou uma única autocorrelação significativa, com um mês de defasagem, e

a diferenciação deixou a série sem vestígios da forte sazonalidade que mostrou

originalmente. As autocorrelações das abundâncias de D. aurita e P. frenatus

também exibiram sazonalidade. A abundância de D. aurita foi autocorrelacionada

positivamente com tempos de defasagem de 12, 18 e 24 meses, e negativamente

com dois, três, 14 e 15 meses. A abundância de P. frenatus mostrou um padrão

sazonal com correlações positivas com 12 e 24 meses e negativas com seis e 18

meses.

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101

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

FC +

-

MNKA +

-

folhiço +

-

frutos +

-

artrópodes +

-

precipitação +

-

D. aurita +

-

P. frenatus +

-

As correlações cruzadas estão representadas nas figuras 3.20 a 3.32. O

folhiço não apresentou nenhuma correlação significativa com a abundância ou

com o fator de condição. Já a produção de frutos apresentou relação positiva

com a abundância com cinco meses de defasagem, negativa com dois meses e

relação negativa com o fator de condição com 12 meses de defasagem. A

biomassa de artrópodes foi relacionada positivamente à abundância com 14 e 15

meses e ao fator de condição com 14 meses de atraso na resposta e

negativamente ao fator de condição com 10 e 11 meses de atraso. A precipitação

teve apenas uma correlação negativa com o fator de condição com três meses de

defasagem. A precipitação teve ainda relação negativa com o folhiço com sete

meses e positiva com o folhiço com seis e oito meses, com a produção de frutos

Tabela 3.6. Autocorrelações significativas positivas (cinza escuro com listras) e negativas (cinza claro com pintas) das séries para cada tempo de defasagem em meses (de 1 a 24).

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102

com um mês e com a biomassa de artrópodes com seis meses. A abundância de

D. aurita teve correlações negativas com a abundância de M. incanus com 10, 11 e

23 meses de defasagem e positiva com sete meses. Já a abundância de P. frenatus

foi correlacionada negativamente à abundância de M. incanus com um, dois, três,

13, 14 e 15 meses, e positivamente com sete, oito, nove, 20 e 21 meses.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

FC x frutos +

-

FC x artrópodes +

-

FC x precipitação +

-

MNKA x frutos +

-

MNKA x artrópodes +

-

MNKA x D. aurita +

-

MNKA x P. frenatus +

-

folhiço x precipitação +

-

frutos x precipitação +

-

artrop. x precipitação +

-

Tabela 3.7. Correlações cruzadas significativas positivas (cinza escuro) e negativas (cinza claro) das séries para cada tempo de defasagem em meses (de 1 a 24).

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103

FC x Folhiço

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

24 ,0010 ,1179

23 ,1482 ,1170

22 -,030 ,1162

21 -,028 ,1155

20 ,0959 ,1147

19 -,068 ,1140

18 -,005 ,1132

17 ,0223 ,1125

16 -,015 ,1118

15 -,094 ,1111

14 -,026 ,1104

13 ,1139 ,1098

12 -,060 ,1091

11 ,1085 ,1085

10 ,0816 ,1078

9 -,136 ,1072

8 ,0917 ,1066

7 ,0740 ,1060

6 -,011 ,1054

5 -,098 ,1048

4 -,112 ,1043

3 -,001 ,1037

2 -,069 ,1031

1 ,0350 ,1026

0 ,0597 ,1021

FC x Frutos

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 ,0146 ,1179

23 -,033 ,1170

22 -,082 ,1162

21 ,0284 ,1155

20 ,1353 ,1147

19 ,1211 ,1140

18 ,1115 ,1132

17 ,0242 ,1125

16 -,063 ,1118

15 -,022 ,1111

14 ,0196 ,1104

13 -,114 ,1098

12 -,248 ,1091

11 -,124 ,1085

10 -,001 ,1078

9 ,1041 ,1072

8 ,2081 ,1066

7 ,0872 ,1060

6 -,033 ,1054

5 ,0354 ,1048

4 ,1046 ,1043

3 ,0005 ,1037

2 -,107 ,1031

1 -,151 ,1026

0 -,186 ,1021

Figura 3.20. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e folhiço. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.21. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e frutos. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

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104

FC x Artrópodes

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,054 ,1179

23 -,137 ,1170

22 -,196 ,1162

21 -,072 ,1155

20 ,0296 ,1147

19 ,0374 ,1140

18 ,0492 ,1132

17 ,0205 ,1125

16 ,0053 ,1118

15 ,1556 ,1111

14 ,2692 ,1104

13 ,0391 ,1098

12 -,139 ,1091

11 -,218 ,1085

10 -,305 ,1078

9 -,066 ,1072

8 ,1338 ,1066

7 ,1116 ,1060

6 ,1226 ,1054

5 ,0953 ,1048

4 ,0752 ,1043

3 -,002 ,1037

2 -,088 ,1031

1 -,049 ,1026

0 -,022 ,1021

FC x Precipitação

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,025 ,1179

23 -,048 ,1170

22 ,0888 ,1162

21 ,1392 ,1155

20 ,0425 ,1147

19 -,052 ,1140

18 -,121 ,1132

17 -,077 ,1125

16 -,012 ,1118

15 ,0239 ,1111

14 -,047 ,1104

13 -,144 ,1098

12 ,0255 ,1091

11 ,1327 ,1085

10 ,0730 ,1078

9 ,1174 ,1072

8 ,0479 ,1066

7 -,118 ,1060

6 ,0481 ,1054

5 ,0692 ,1048

4 -,140 ,1043

3 -,252 ,1037

2 -,125 ,1031

1 ,0467 ,1026

0 ,1355 ,1021

Figura 3.22. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e biomassa de artrópodes. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.23. Correlação cruzada entre as séries de fator de condição e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

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105

MNKA x FOLHIÇO

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,019 ,1187

23 -,009 ,1179

22 ,0490 ,1170

21 ,0755 ,1162

20 ,0112 ,1155

19 ,0851 ,1147

18 ,0750 ,1140

17 -,012 ,1132

16 -,064 ,1125

15 -,145 ,1118

14 -,055 ,1111

13 -,084 ,1104

12 -,079 ,1098

11 ,0796 ,1091

10 ,0763 ,1085

9 ,0899 ,1078

8 ,0403 ,1072

7 ,0246 ,1066

6 ,0388 ,1060

5 -,014 ,1054

4 -,073 ,1048

3 -,106 ,1043

2 -,111 ,1037

1 -,095 ,1031

0 -,049 ,1026

MNKA x FRUTOS

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 ,0081 ,1187

23 ,0248 ,1179

22 -,026 ,1170

21 -,117 ,1162

20 -,088 ,1155

19 ,0651 ,1147

18 ,1646 ,1140

17 ,1966 ,1132

16 ,0975 ,1125

15 -,115 ,1118

14 -,173 ,1111

13 -,074 ,1104

12 ,0019 ,1098

11 ,0151 ,1091

10 -,037 ,1085

9 -,102 ,1078

8 -,057 ,1072

7 ,0534 ,1066

6 ,1587 ,1060

5 ,2644 ,1054

4 ,1362 ,1048

3 -,194 ,1043

2 -,255 ,1037

1 -,070 ,1031

0 -,028 ,1026

Figura 3.24. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e folhiço. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.25. Correlação cruzada entre as séries abundância de M. incanus (MNKA) e frutos. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

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106

MNKA x Artrópodes

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,004 ,1187

23 ,0655 ,1179

22 -,007 ,1170

21 -,206 ,1162

20 -,222 ,1155

19 -,076 ,1147

18 -,016 ,1140

17 -,027 ,1132

16 ,0690 ,1125

15 ,2814 ,1118

14 ,2633 ,1111

13 ,0129 ,1104

12 -,095 ,1098

11 -,089 ,1091

10 -,102 ,1085

9 -,108 ,1078

8 -,111 ,1072

7 -,076 ,1066

6 -,012 ,1060

5 ,0336 ,1054

4 ,0984 ,1048

3 ,2028 ,1043

2 ,1855 ,1037

1 ,0598 ,1031

0 -,062 ,1026

MNKA x Precipitação

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,033 ,1187

23 -,021 ,1179

22 ,0291 ,1170

21 ,0538 ,1162

20 ,1637 ,1155

19 ,1014 ,1147

18 -,048 ,1140

17 -,046 ,1132

16 -,098 ,1125

15 -,104 ,1118

14 -,025 ,1111

13 -,083 ,1104

12 -,058 ,1098

11 ,0849 ,1091

10 ,0403 ,1085

9 ,0792 ,1078

8 ,0896 ,1072

7 ,1148 ,1066

6 ,0983 ,1060

5 -,015 ,1054

4 -,133 ,1048

3 -,171 ,1043

2 -,099 ,1037

1 ,0054 ,1031

0 ,0567 ,1026

Figura 3.26. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e biomassa de artrópodes. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.27. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

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107

MNKA x D. aurita

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,001 ,1187

23 -,234 ,1179

22 -,227 ,1170

21 ,0026 ,1162

20 ,1324 ,1155

19 ,1479 ,1147

18 ,1068 ,1140

17 ,0446 ,1132

16 -,018 ,1125

15 -,035 ,1118

14 -,014 ,1111

13 ,0352 ,1104

12 -,006 ,1098

11 -,228 ,1091

10 -,227 ,1085

9 ,0137 ,1078

8 ,1347 ,1072

7 ,2158 ,1066

6 ,1596 ,1060

5 -,020 ,1054

4 -,082 ,1048

3 -,060 ,1043

2 ,0007 ,1037

1 ,1032 ,1031

0 ,0665 ,1026

MNKA x P. frenatus

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,181 ,1187

23 -,065 ,1179

22 ,1213 ,1170

21 ,2923 ,1162

20 ,3434 ,1155

19 ,2188 ,1147

18 ,1063 ,1140

17 ,0840 ,1132

16 -,056 ,1125

15 -,293 ,1118

14 -,357 ,1111

13 -,237 ,1104

12 -,123 ,1098

11 -,107 ,1091

10 ,0151 ,1085

9 ,3419 ,1078

8 ,4010 ,1072

7 ,2523 ,1066

6 ,1682 ,1060

5 ,0625 ,1054

4 -,112 ,1048

3 -,287 ,1043

2 -,377 ,1037

1 -,339 ,1031

0 -,170 ,1026

Figura 3.28. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e abundância de D. aurita. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.29. Correlação cruzada entre as séries de abundância de M. incanus (MNKA) e abundância de P. frenatus. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

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108

Folhiço x Precipitação

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,028 ,1179

23 ,0013 ,1170

22 -,088 ,1162

21 ,1500 ,1155

20 -,177 ,1147

19 ,1250 ,1140

18 ,0151 ,1132

17 -,155 ,1125

16 ,0552 ,1118

15 -,046 ,1111

14 ,1530 ,1104

13 ,0240 ,1098

12 -,096 ,1091

11 ,1024 ,1085

10 -,054 ,1078

9 -,006 ,1072

8 ,2373 ,1066

7 -,319 ,1060

6 ,2198 ,1054

5 -,190 ,1048

4 ,0119 ,1043

3 ,0439 ,1037

2 ,0437 ,1031

1 ,0640 ,1026

0 -,088 ,1021

Artrópodes x Precipitação

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 -,029 ,1179

23 ,0167 ,1170

22 ,0340 ,1162

21 -,000 ,1155

20 ,0479 ,1147

19 -,051 ,1140

18 -,050 ,1132

17 -,018 ,1125

16 ,0496 ,1118

15 ,1199 ,1111

14 ,0072 ,1104

13 -,119 ,1098

12 -,013 ,1091

11 -,003 ,1085

10 ,0500 ,1078

9 ,0097 ,1072

8 -,084 ,1066

7 -,024 ,1060

6 ,2161 ,1054

5 ,0510 ,1048

4 -,089 ,1043

3 -,108 ,1037

2 -,049 ,1031

1 ,0200 ,1026

0 ,0969 ,1021

Figura 3.30. Correlação cruzada entre as séries de produção de folhiço e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

Figura 3.31. Correlação cruzada entre as séries de biomassa de artrópodes e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

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109

Frutos x Precipitação

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0

0

24 ,0444 ,1179

23 -,138 ,1170

22 -,036 ,1162

21 ,0100 ,1155

20 ,0154 ,1147

19 ,0741 ,1140

18 -,005 ,1132

17 -,104 ,1125

16 -,012 ,1118

15 ,1104 ,1111

14 ,0382 ,1104

13 ,0420 ,1098

12 -,037 ,1091

11 -,142 ,1085

10 ,0439 ,1078

9 ,0013 ,1072

8 -,006 ,1066

7 ,0916 ,1060

6 -,103 ,1054

5 -,165 ,1048

4 ,1298 ,1043

3 ,0326 ,1037

2 ,0143 ,1031

1 ,2871 ,1026

0 ,0373 ,1021

Figura 3.32. Correlação cruzada entre as séries de fator de produção de frutos e precipitação. As colunas ao lado do correlograma representam respectivamente o tempo de defasagem, o r da correlação de Pearson e o erro padrão. As linhas pontilhadas são os limites do intervalo de confiança de 95%.

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110

Discussão

Mesmo sendo a Mata Atlântica um ambiente que não é marcado por

fortes mudanças estacionais, a sazonalidade exerce influência na flutuação de

diversos fatores bióticos (MORELLATO et al., 2000; DAVIS, 1945). Essa

influência é usualmente creditada ao aumento da pluviosidade no verão

(BERGALLO, 1995; FRANKIE et al., 1974; OPLER et al., 1976; REICH, 1995),

que desencadearia um aumento na produtividade do sistema, embora o

fotoperíodo e a temperatura também tenham relação com a fenologia e fisiologia

de plantas e animais (NJOKU, 1963; WRIGHT & CORNEJO, 1990;

CERQUEIRA & BERGALLO, 1993).

As séries de produção de frutos e biomassa de artrópodes atingiram seus

valores mais altos entre dezembro e fevereiro, época de alta precipitação. Já foi

relatado em outros estudos que a produção (ou queda) de folhiço apresenta

sazonalidade mesmo em matas perenifólias, com quedas mais acentuada no

período de transição entre o inverno e o verão (setembro, outubro e novembro),

logo que começam as chuvas (MORELLATO et al., 2000; WRIGHT &

CORDEJO, 1990; MORAES et al., 1998; MENDEL et al., no prelo). Apesar de

não ter mostrado um padrão estacional muito claro, a série de produção de

folhiço teve seus maiores valores nos meses de setembro, outubro e novembro,

corroborando os estudos anteriores supracitados.

As correlações cruzadas foram quase todas fracas (exceção para MNKA x

P. frenatus), o que indica que a intensidade com que cada variável influencia os

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111

parâmetros populacionais foi baixa. Talvez a influência das variáveis extrínsecas

fique diluída frente à grande diversidade de fatores que podem potencialmente

explicar a flutuação dos parâmetros populacionais da espécie ou os maiores

fatores reguladores desses parâmetros seja intrínseco, dependendo mais de

fatores como a fecundidade, densidade e recrutamento do que de variáveis

extrínsecas.

Apesar da alta sazonalidade apresentada pelos dados brutos da série de

precipitação, a autocorrelação da série diferenciada não mostrou sazonalidade, o

que indica que há forte relação dos valores com o mês anterior. As correlações

cruzadas não revelaram a relação esperada entre a precipitação e os parâmetros

populacionais. Entretanto a influência esperada da precipitação sobre os

indicadores da produtividade dos recursos, apesar de fraca, foi encontrada. A

correlação com um mês de defasagem com os frutos mostrou que os picos de

produção (janeiro e fevereiro) ocorrem logo depois do pico de precipitação, e

que houve relação direta sobre a produção de frutos. Já a queda de folhiço foi

correlacionada com a precipitação com maior atraso na resposta, de seis e oito

meses, o que corresponde aproximadamente ao intervalo entre o final da estação

úmida (fevereiro e março) e a transição entre a estação seca e a estação úmida

(setembro, outubro e novembro), quando a produção de folhiço teve seus

valores mais altos. A correlação cruzada indicou uma relação positiva com a

biomassa de artrópodes com seis meses de atraso na resposta, o que indica uma

flutuação (sem defasagem) com picos e vales opostos.

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112

A biomassa de artrópodes teve correlação positiva com a abundância e o

fator de condição, como esperado. Contudo, o tempo de defasagem da

correlação positiva com o fator de condição não foi curto, como foi previsto, e

sim de 14 meses, mesma defasagem encontrada na relação com a abundância. As

correlações cruzadas com 14 meses de atraso na resposta sugerem uma

influência na geração seguinte, já que esse intervalo de tempo corresponde

aproximadamente à longevidade máxima de M. incanus. Assim, a biomassa de

artrópodes disponíveis teria efeito positivo no número e no bem estar da geração

seguinte. A importância dos artrópodes na dieta de M. incanus já havia sido

reportada por outros autores pela análise de conteúdo estomacal (LEINER &

SILVA, 2007; FONSECA & KIERULFF, 1989; STALLINGS, 1989).

Não foi encontrada a relação esperada entre a produção de folhiço e a

abundância e o fator de condição de M. incanus. Já a produção de frutos, apesar

de não ter tido a influência positiva esperada sobre o fator de condição, teve

efeito positivo na abundância com cinco meses de atraso na resposta. Os picos

na produção de frutos ocorrem nos meses de janeiro e fevereiro e se dão

aproximadamente cinco meses após o início da estação reprodutiva (agosto e

outubro), quando ocorrem os picos na abundância. Já foi descrito que o período

reprodutivo de algumas espécies de marsupiais didelfídeos é ajustado de forma

que o desmame se dê na época mais favorável do ano, para maximizar a

sobrevivência dos jovens (FLEMING, 1973; JULIAN-LAFERRIERE &

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113

ATRAMENTOWICZ, 1990). O atraso de cinco meses entre a abundância e a

produção de frutos mostra esse ajuste em M. incanus.

A correlação negativa com a abundância de P. frenatus com 14 meses de

atraso pode representar uma diminuição do número do M. incanus na geração

seguinte devido à predação, mas parece ser provocada pelo componente sazonal

que persistiu na abundância de ambas as espécies, apesar da diferenciação. Isso

porque as correlações positivas e negativas foram fortes e intercaladas, com

intervalos regulares. A relação com a abundância de D. aurita foi mais fraca, mas

teve comportamento semelhante. Sendo assim, essa relação aparenta ser um

reflexo do padrão sazonal das abundâncias, que está mais ligado a fatores

intrínsecos como a reprodução e o recrutamento do que à predação. Portanto

não se pode afirmar que houve influência negativa da abundância de predadores

na abundância de M. incanus. De fato a tendência de aumento na abundância de

D. aurita e P. frenatus não resultou em uma tendência de decréscimo na

abundância de M. incanus.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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115

Considerações finais

M. incanus teve a segunda maior abundância dentre os mamíferos

capturados na área de estudo, indicando que o impacto causado pelas casas de

veraneio não afeta a espécie.

A reprodução foi marcadamente estacional e houve uma clara separação

de coortes. A baixa sobreposição de gerações e o fato de nenhum indivíduo ter

sobrevivido para passar por mais de uma estação reprodutiva confirma o padrão

reprodutivo semélparo.

Nas espécies de marsupiais australianos semélparos da família Dasyuridae,

apenas os machos são semélparos (entram em senescência logo após a cópula e

morrem cerca de três semanas depois). Em M. incanus, ambos os sexos

participaram de apenas de um evento reprodutivo, mas os machos entraram em

senescência e desaparecem da população antes das fêmeas. Porém, o tempo

entre a cópula e a morte dos machos de M. incanus pode chegar a três meses,

indicando que existem diferenças no mecanismo que leva ao óbito. O fato dos

machos morrerem antes das fêmeas pode ser explicado pelo cuidado parental,

que entre os didelfídeos é exclusivo das fêmeas (KIMBLE, 1997). Estas, por sua

vez, mostram sinais de lactação até desaparecerem da população, indicando que

elas protegem e nutrem a prole até o fim da vida. O cuidado parental é mais

longo, se comparado como outros didelfídeos, de forma que o desmame de M.

incanus ocorra com os filhotes num estágio mais avançado do desenvolvimento.

O cuidado parental extenso explica a baixa capturabilidade de jovens nas classes

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116

de desenvolvimento II, pois se a fêmea protegem e provêm alimento para esses

jovens é esperado que a probabilidade de captura em armadilhas com isca seja

baixa.

Uma questão interessante é: o que levou esses marsupiais à estratégia

reprodutiva semélpara? A discussão sobre a pressão evolutiva que levaria a esse

padrão se dá toda em torno de ambientes com alta sazonalidade e períodos

severamente desfavoráveis para os animais (SMITH & CHARNOV, 2001;

YOUNG, 1990). No entanto essa não parece ser a causa da semelparidade de M.

incanus. Kraaijeveld e colaboradores (2003) levantaram a hipótese de que a baixa

taxa de sobrevivência das fêmeas adultas levaria a um esforço reprodutivo

excessivo por parte dos machos para cobrir o maior número possível de fêmeas

e garantir que pelo menos uma desmame seus filhotes. Esse esforço levaria a

evolução da estratégia semélpara. Neste estudo a taxa de sobrevivência decresce

no período em que os filhotes estão sendo amamentados (embora parte do

decréscimo seja devido ao desaparecimento dos machos da população), e a alta

mortalidade durante a lactação pode resultar em alta mortalidade das ninhadas.

Krajewski e colaboradores (2000) sugeriram que a estratégia semélpara evoluiu

diversas vezes em marsupiais, e pode ter mais de um mecanismo que lava ao

óbito pós-copula, assim como mais de uma vantagem evolutiva para o

surgimento dessa estratégia reprodutiva. Seria interessante a criação de colônias

desses animais para testar se existem fatores extrínsecos influenciando o padrão

reprodutivo e se a longevidade permanece a mesma em cativeiro. Um estudo dos

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117

mecanismos fisiológicos e endocrinológicos que levam ao óbito também seria

interessante para comparar com os dasyurídeos semélparos e descrever pela

primeira vez a fisiologia de um didelfídeo semélparo.

A senescência (com significativo decréscimo no fator de condição) ocorre

nos meses de maior disponibilidade de recursos, indicando que a morte dos

indivíduos e a baixa no fator de condição não tem relação com a as condições

ambientais, e sim com o desgaste causado pela reprodução.

Os picos populacionais se deram no início da estação reprodutiva, assim

como os picos no fator de condição mensal, relacionados à alocação de energia

para o único investimento reprodutivo. Não houve então relação negativa entre

o fator de condição e a abundância populacional, que seria um indício de

competição intraespecífica por recursos.

Alguns estudos relataram uma variação sazonal na composição da dieta de

marsupiais didelfídeos, que indicam que os animais adequam sua dieta de acordo

com a disponibilidade dos alimentos no ambiente (LEINER & SILVA, 2007).

No período em que os filhotes de M. incanus se tornam independentes, a

disponibilidade dos principais recursos alimentares (frutos e artrópodes) foi alta,

o que teria efeito positivo na sobrevivência da prole. O folhiço abrigaria a fonte

“sub-ótima” de alimentos, que forneceria o estoque energético para o período

reprodutivo.

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118

O folhiço foi o único indicador da disponibilidade de recursos que teve

relação positiva com o fator de condição mensal sem defasagem. O padrão

decrescente do fator de condição anual foi encontrado também na produção de

folhiço.

Os valores mais altos encontrados para o fator de condição anual

(registrados em 1997, 1998 e 1999) podem ter relação com o El Niño que

ocorreu de 1997 até meados de 1998. O fenômeno aparentemente proporcionou

condições ambientais mais estáveis, fazendo com que o fator de condição

mensal tivesse baixa amplitude de variação. É preciso uma série mais longa de

observações para investigar se M. incanus apresenta ciclos em seus parâmetros

populacionais relacionados com o El Ninõ.

A sazonalidade foi um componente presente em quase todas as séries

temporais, sendo particularmente bem marcada na precipitação, abundância

populacional e fator de condição. M. incanus foi a única espécie na área de estudo

que apresentou este claro padrão sazonal na flutuação da abundância

populacional (dados não publicados).

O que levaria a esse padrão? A história de vida anual, com reprodução

única e sincronizada levaria naturalmente a períodos de alta e baixa abundância,

já que os nascimentos e as mortes dos senescentes se dão em períodos distintos.

Porém, assim como ocorre com outros didelfídeos, o “gatilho” da reprodução se

dá por um sinal do fotoperíodo, e há um ajuste para que o desmame ocorra no

período de maior disponibilidade de recursos alimentares. Apesar de terem sido

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fracas as relações entre os parâmetros populacionais e os indicadores de

disponibilidade de recursos, elas mostraram que os picos na produção de frutos

foram ajustados com o desmame e a abundância de artrópodes tem influência na

geração seguinte, provavelmente via sucesso reprodutivo.

A precipitação não mostrou relação direta com os parâmetros

populacionais, contudo teve relações positivas com os recursos (com atrasos na

resposta de um mês para os frutos, seis meses para os artrópodes e seis e oito

meses para o folhiço).

A biomassa de artrópodes teve correlação positiva com a abundância e o

fator de condição com 14 meses de defasagem, o que indica uma influência na

geração seguinte. Os artrópodes também apresentaram relação anual com o fator

de condição das fêmeas, mais um indício de que a disponibilidade deste item

alimentar pode afetar o sucesso reprodutivo, com reflexos na geração seguinte.

A produção de frutos, apesar de não ter tido a influência positiva esperada

sobre o fator de condição, teve efeito positivo na abundância com cinco meses

de atraso na resposta. Os picos na abundância ocorrem no início do período

reprodutivo e os picos na produção de frutos coincidem com o período de

desmame dos jovens, portanto a defasagem de cinco meses mostra o ajuste para

que o desmame ocorra na época mais favorável do ano.

A tendência de aumento na abundância de D. aurita e P. frenatus não

resultou em uma tendência de decréscimo na abundância, e não foi constatado

que essas duas espécies exerçam influência negativa em M. incanus.

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120

É importante a continuação do monitoramento das populações na área de

estudo para que se possa, além de aumentar o conhecimento acerca da ecologia

de pequenos mamíferos em florestas tropicais, acompanhar o comportamento

dessas populações frente a ciclos climáticos como o El Niño, possíveis florações

de taquara e mudanças no habitat.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO I

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HISTÓRIA NATURAL DOS MAMÍFEROS DE UMA ÁREA PERTURBADA DO PARQUE

NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS, RIO DE JANEIRO, BRASIL.

NATURAL HISTORY OF MAMMALS IN A DISTURBED AREA OF SERRA DOS

ÓRGÃOS NATIONAL PARK, RIO DE JANEIRO, BRAZIL. JOANA MACEDO

1,6, DIOGO LORETTO

2,6, MARCIA C. S. MELLO

3,6, SIMONE R.

FREITAS4,6

, MARCUS VINÍCIUS VIEIRA5,7

& RUI CERQUEIRA6,7

Resumo A fragmentação de populações pode ocorrer mesmo em áreas onde a vegetação original

permaneça contínua, através de impactos na estrutura vegetacional. Isto é de difícil

mapeamento, mas produz uma fragmentação sutil das populações antes contínuas. Para

determinar esses efeitos da fragmentação é preciso primeiro inventariar e monitorar uma

região de mata contínua com algum grau de perturbação. Neste capítulo, apresentamos

um inventário da mastofauna em uma área perturbada do Parque Nacional da Serra dos

Órgãos. Os mamíferos foram amostrados bimestralmente por captura-marcação-e-

recaptura e avistamentos durante quase sete anos. Das populações mais abundantes

foram determinadas as estações reprodutivas, tempo de permanência, peso médio e

tamanho médio de ninhada. Com um esforço de 42.015 armadilhas-noite foram

capturados 669 indivíduos em 1492 ocasiões, de oito espécies de marsupiais e sete de

roedores. Sete espécies foram registradas por avistamentos. A reprodução foi estacional

e concentrada de agosto a fevereiro para a maioria das espécies. Os marsupiais, com

exceção dos arborícolas, estiveram presentes durante todo o estudo, enquanto que os

roedores estiveram ausentes em muitos anos. Casas de veraneio poderiam estar

influenciando a comunidade de mamíferos, tanto provendo alimento para os marsupiais

mais sinantrópicos, como afastando os roedores, principalmente através da ação de cães

e gatos.

Abstract

The fragmentation of populations can occur even in areas of continuous plant

physiognomies because of impacts on the vegetation structure. It may be difficult to

map, but creates a subtle fragmentation of previously continuous populations. The first

step to determine the effects of this subtle fragmentation is to survey and monitor

regions of continuous vegetation with some degree of disturbance. In this chapter, we

present an inventory of the mammal fauna in a disturbed area of Serra dos Órgãos

National Park. Mammals were surveyed bimonthly by capture-mark-recapture and

sightings during 7 years. Reproductive seasons, mean litter size, body mass, and

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFRJ. ([email protected])

2 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ecologia da UFRJ. ([email protected])

3 Mestranda da Pós-graduação em Ciência Ambiental da UFF. ([email protected])

4 Doutora em Geografia/UFRJ, Lab. de Ecologia e Biogeografia - Depto. de Geografia - Inst. de

Geociências - Universidade Federal Fluminense (UFF). ([email protected]).

5 Professor Adjunto do Departamento de Ecologia da UFRJ. ([email protected])

6 Professor Titular do Departamento de Ecologia da UFRJ. ([email protected])

7 Laboratório de Vertebrados, Departamento de Ecologia da UFRJ, CP 68020, Av. Brigadeiro

Trompovsky, s/n – Ilha do Fundão, CEP 21941-590, Rio de Janeiro, RJ.

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residence time of the most abundant populations were calculated. With an effort of

42,015 trap-nights, 8 species of marsupials and 7 of rodents were captured, totaling 669

individuals captured on 1,492 occasions. Seven species were registered only by

sightings. The reproduction was seasonal and concentrated between August and

February for most species. Populations of more terrestrial marsupials were present

throughout the study, whereas populations of rodents were absent in many years.

Weekend houses could be affecting the mammal community, whether providing food

for the more synanthropic marsupials, or scaring away rodents, mainly by the presence

of domestic pets.

Introdução

As abordagens iniciais para o estudo dos efeitos da fragmentação de habitats sobre

populações e comunidades estavam centradas principalmente na relação espécie-área

(McCoy, 1982). Estas abordagens têm sido insuficientes, não apenas do ponto de vista

biológico, mas também porque as situações reais envolvem as populações humanas,

suas atividades e seus problemas. Estes aspectos têm sido apontados cada vez mais

como importantes (Lanna, 1995; Sheng, 1997; Fiszon et al., 2003). A fragmentação de

populações naturais pode ocorrer mesmo em áreas onde a cobertura vegetal original

permaneça contínua, por exemplo, pelo corte seletivo de algumas árvores ou pelo corte

de plântulas e árvores novas do sub-bosque (criando um aspecto de bosque). Este tipo

de impacto pode ser difícil de ser mapeado, já que não produz descontinuidades tão

claras como o corte de toda a mata. Mesmo assim, pode causar uma fragmentação sutil

das populações antes contínuas (Fiszon et al., 2003; Cerqueira et al., 2003; Cabral &

Fiszon, 2004).

Dentro do Projeto de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (PROBIO),

da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, o sub-

projeto “A Fragmentação Sutil: Um Estudo na Mata Atlântica”, coordenado pelo

Laboratório de Vertebrados da UFRJ, tinha como objetivos determinar os efeitos desta

fragmentação sutil sobre a biodiversidade de mamíferos. A área de estudo na Mata

Atlântica foi a Bacia do Rio Macacú, situada nos municípios de Guapimirim e

Cachoeiras de Macacú, na base da Serra dos Órgãos, onde foram estudados os processos

de fragmentação tradicional, com remanescentes florestais inseridos numa matriz de

pasto ou áreas abertas (Vieira et al., 2003). Para determinar os efeitos sutis da

fragmentação era necessário inventariar e monitorar uma região de mata contínua, mas

com algum grau de perturbação penetrando na estrutura da vegetação. Este capítulo se

insere neste contexto, onde descrevemos detalhadamente a composição de uma

comunidade de mamíferos em área de mata contínua perturbada, localizada nos limites

do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no município de Guapimirim. São discutidos

ainda os possíveis efeitos da presença de casas de veraneio e animais domésticos na área

de estudo, bem como os resultados alcançados através de um monitoramento de longa

duração, onde a dinâmica da composição da comunidade de mamíferos é destacada.

Distúrbio causado por casas de veraneio em áreas de proteção ambiental A casa de veraneio é uma forma de ocupação do espaço associada ao desejo de

usufruir de um contato maior com a natureza. Entretanto, estas residências trazem danos

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às paisagens naturais, pois os impactos desta forma de uso são raramente considerados

quando as mesmas são construídas (Fiszon & Cabral, 2004). Não somente a construção,

mas a infra-estrutura e serviços necessários ao acolhimento desta população ocasional,

bem como a construção de vias de acesso, produz fragmentação da paisagem natural

através de desmatamento (Fiszon et al., 2003). Além disso, hortas, pomares, flora e

fauna exóticas (plantas ornamentais e animais de estimação e criação) podem causar

mudanças na estrutura das comunidades de flora e fauna silvestres.

No município de Guapimirim aproximadamente 45% do território é formado de

áreas de proteção ambiental (Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Parque Estadual dos

Três Picos, Estação Ecológica Estadual do Paraíso, Área de Proteção Ambiental de

Guapimirim, dentre outros menores) (Fiszon et al., 2003). Paradoxalmente, a proteção

destas áreas vem estimulando indiretamente a fragmentação florestal, pois exercem

intensa atração às formas de ocupação associadas ao lazer de “fim de semana”, tais

como sítios, chácaras, condomínios e pousadas. Visando manter padrões de conforto

semelhantes aos urbanos, os proprietários constroem melhores vias de acesso,

iluminação, equipamentos como piscinas, quadras esportivas e jardins, causando

desmatamento, poluição e prejudicando a fauna e flora local (Fiszon & Cabral, 2004).

Inventários da fauna de mamíferos e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos Inventários faunísticos periódicos são relevantes formas de conhecer a composição

de espécies de uma localidade, já que o ambiente muda constantemente (Yahnke et al., 1998). Poucos foram os inventários de mastofauna feitos no Parque Nacional da Serra

dos Órgãos. Schirch (1932) e Miranda-Ribeiro (1935) fizeram os primeiros

levantamentos em Teresópolis. Uma década depois, Davis (1945) fez coletas em uma

área próxima à sede do Parque Nacional e em outra localidade do município.

Recentemente, inventários sobre morcegos e mamíferos de médio e grande porte estão

em andamento, inclusive com a redescoberta de muriquis (Brachyteles arachnoides)

(Garcia & Andrade Filho, 2002; Cunha, 2003; Moratelli, 2004).

Estudos de longa duração e sua importância em regiões tropicais Os estudos de longa duração são de grande importância para investigar mudanças

climáticas como o da oscilação sul - El Niño, os efeitos de mudanças bruscas no habitat,

de florações de taquaras nas populações (Jaksic & Lima, 2003) e de mudanças na

composição de espécies ao longo do tempo (colonização e extinção). A maioria dos

estudos de longa duração com pequenos mamíferos foi conduzida em regiões

temperadas (Marcstrom et al., 1990; Agrell et al., 1992; Getz et al., 2001) ou em

regiões semi-áridas (Lima & Jaksic, 1999; Lima et al., 2001), onde as variações

demográficas são influenciadas primariamente pela sazonalidade do clima e recursos

(Fleming, 1971). Nas florestas pluviais, a alta diversidade e a estacionalidade pouco

intensa dificultam a identificação dos fatores influentes na dinâmica das populações

(Fleming, 1971). Nestes ambientes a competição inter e intraespecífica têm sido

sugeridas como os fatores mais relevantes. Entretanto, são raros os estudos de pequenos

mamíferos com mais de quatro anos de duração conduzidos em florestas neotropicais

(Cerqueira et al., 1993; Gentile et al., 2000; Rademaker 2001; Viveiros de Castro &

Fernandez, 2004).

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Materiais e Métodos Área de estudo O estudo foi desenvolvido em uma área de Mata Atlântica no Estado do Rio de

Janeiro, no município de Guapimirim, dentro dos limites do Parque Nacional da Serra

dos Órgãos, na localidade do Garrafão (22°28’28’’ S, 42°59’86’’ W), que fica próximo

ao km 94 da BR 116 (Rio-Teresópolis). Esta área compreende um grande vale, nos

arredores dos afluentes do Rio Iconha, na face sul da Serra. A região de estudo está

compreendida dentro do complexo vegetacional da Floresta Pluvial Montana (Rizzini,

1979).

A vegetação na localidade do Garrafão possui fisionomia formada por estágio

sucessional secundário e maduro, com dois estratos no dossel. O primeiro estrato – sub-

bosque – é composto por indivíduos que alcançam até nove metros de altura, sendo este

considerado o mais úmido em virtude de sua maior interação com o chão da floresta. É

principalmente constituído por arbustos e árvores finas de pequeno porte. O segundo

estrato é composto por indivíduos que variam de nove a 30 m de altura. Não

caracterizam dossel fechado, pois existem descontinuidades representadas pela ausência

ou número inexpressivo de indivíduos neste estrato. Acima dele, sobressaem poucas

árvores emergentes que podem atingir 50 m de altura. A área basal da comunidade

arbórea local é de 37,92 m2/ha (dados não publicados), o que de acordo com outros

estudos (Tabarelli & Mantovani, 1999; Rede de ONGs da Mata Atlântica et al., 2001;

Oliveira, 2002), caracteriza o local como em estágio sucessional avançado. São

características da região cipós e lianas, epífitas (principalmente bromélias), irís ou

palmeiras-de-espinho (Astrocaryum aculeatissimum), palmitos (Euterpe edulis),

pteridófitas e bambuzais (Guadua tagoara).

O clima é mesotérmico-úmido-moderado (Nimer, 1989). Durante o período do

estudo as médias mensais mínimas e máximas de temperatura variaram entre 15,7° C e

24,9° C e a pluviosidade mensal entre 0,2 mm e 508,0 mm. Os meses mais secos foram

junho, julho e agosto. Foram usados os dados climatológicos do Instituto Nacional de

Meteorologia de Teresópolis (INMET - Teresópolis), uma vez que a estação

meteorológica desta cidade fica mais próxima da área de estudo, em distância e altitude,

do que a estação de Guapimirim.

Coleta de dados Duas excursões de remoção, em dezembro de 1996 e fevereiro de 1997, foram feitas

para identificação das espécies de mamíferos. Indivíduos posteriormente capturados e

não identificados em campo também foram removidos para identificação por análise

morfológica ou cariótipo. Todo material removido foi identificado pela Dra Lena Geise

(Departamento de Zoologia, Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e será depositado

no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O monitoramento das populações de pequenos mamíferos foi feito a partir de abril de

1997 até outubro de 2003 em excursões bimestrais de captura-marcação-recaptura, com

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cinco noites de duração. Foram montadas três grades fixas de captura denominadas A, B

e C, situadas em diferentes altitudes, mas com aproximadamente a mesma orientação

(Figura 2). O acesso às grades de amostragem se dá por estradas vicinais de um

condomínio de casas de veraneio, caracterizando uma área sob distúrbio antrópico. A

distância linear entre as grades A e B é de 853 m e entre as grades B e C é de 573 m,

portanto, sem considerar o declive (Figura 1).

A grade A (22º 28’ 12” S, 42º 59’ 50” W) fica a 750 m de altitude média, a cerca de

250 m da rodovia Rio-Teresópolis, 90 m da estrada vicinal e 80 m da casa mais

próxima. Tem cobertura vegetal fechada e contínua, com dossel alto e fechado de

aproximadamente 10 m, com sub-bosque, cipós, lianas, epífitas, taquaras, plantas com

espinhos e gramíneas. O relevo é irregular com suave inclinação na encosta. Um rio

com rochas e quedas d’água passa próximo a grade. Durante as chuvas formam-se

córregos temporários de fundo rochoso. Há muitas pedras e paredões rochosos e as

bases de uma antiga ponte ferroviária.

A grade B (22º 28’ 29” S, 42º 59’ 08” W), com altitude média de 650 m, está situada

a cerca de 430 m da rodovia, 190 m da estrada vicinal e 210 m das residências. Uma

cachoeira de 20 m de altura com rochas formando piscinas naturais passa ao lado da

grade. A grade começa próximo ao final de uma trilha que liga a estrada de terra até a

cachoeira, recortando-a em algumas áreas. A cobertura vegetal é similar a da grade A,

embora haja diferenças na formação do sub-bosque, mais fechado em algumas áreas em

razão da maior presença de bambus, e mais ralo em outras devido ao uso freqüente da

trilha. A topografia é irregular principalmente nos pontos próximos à cachoeira.

A grade C (22º 28’ 46” S, 42º 59’ 22” W) possui topografia irregular com altitude

média de 522 m, está situada a 600 m da rodovia, 260 m da residência mais próxima e a

45 m de uma antiga estrada de terra, inacessível para automóveis, que desce o vale do

Rio Iconha, ligando o Garrafão ao bairro do Limoeiro, na região periurbana de

Guapimirim. A cobertura vegetal é fechada e contínua, com dossel alto de

aproximadamente 20 m e sub-bosque fechado.

Cada grade de armadilhas possuía 0,64 ha, com 25 estações de captura eqüidistantes

20 m. Inicialmente, cada estação recebeu duas armadilhas no chão para captura de

pequenos mamíferos vivos; uma Sherman, modelo XLK (7,64 x 9,53 x 30,48 cm) e uma

Tomahawk, modelo 201 (40,64 x 12,70 x 12,70 cm). Também foram postas cinco

Tomahawks grandes, modelo 105 (50,80 x 17,78 x 17,78 cm), nos pontos mais

extremos e no meio de cada grade. Todas as armadilhas foram iscadas com pasta de

banana, aveia, creme de amendoim e bacon. As Tomahawks do chão foram iscadas com

um pedaço de carne e um de bacon além da pasta. Todas as armadilhas foram sempre

verificadas e re-iscadas de manhã cedo.

Até fevereiro de 2000, cada grade possuía 55 armadilhas por excursão. A partir de

abril de 2000, 13 dos 25 pontos das grades receberam uma plataforma suspensa em

galhos de árvores, com alturas variando de 6 a 20 m. Cada plataforma tinha uma

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Sherman XLK e uma Tomahawk 201. O esforço total de captura foi de 42.015

armadilhas-noite.

Nas excursões de junho, agosto e outubro de 2003 e fevereiro de 2004 foram

montadas seis armadilhas do tipo fojo (pitfalls), para capturar espécies de pequenos

mamíferos não capturáveis em armadilhas do tipo Sherman e Tomahawk. As armadilhas

foram colocadas em um transecto começando a aproximadamente 500 m da grade A.

Cada estação era composta por dois baldes de 30 litros distantes entre si

aproximadamente cinco metros. Telas de nylon foram colocadas entre os baldes

formando corredores para forçar a passagem dos animais até caírem nos baldes. A

montagem de armadilhas de maior profundidade não foi possível, em virtude do terreno

acidentado e pedregoso.

Dos animais capturados foram registrados o número de marcação, espécie, grade e

ponto de captura, dentição, peso, tamanho do corpo e da cauda, sexo, condição

reprodutiva e observações individuais. Depois de examinados, os animais foram soltos

no seu respectivo ponto de captura. Os animais adultos e jovens foram marcados com

dois brincos numerados (Ear Tags, National Band and Tag Co., Newport, Kentuck,

USA), um em cada orelha. Os marsupiais lactentes foram marcados por corte de

falanges (toe clipping).

Para análise dos efeitos da população humana local foram feitas entrevistas semi-

estruturadas com os moradores da região entre abril de 2004 e junho de 2005. Na

entrevista eram feitas 20 perguntas, para caracterizar o perfil dos moradores e suas

casas, e identificar as formas de interação com o ambiente circundante.

Análise dos dados A estação reprodutiva foi determinada pela presença de fêmeas em atividade

reprodutiva. A condição reprodutiva dos machos de roedores foi determinada pela

presença de testículos escrotados. A condição reprodutiva de machos de marsupiais não

é possível de determinação em campo através deste parâmetro, pois desde recém-

desmamados possuem os testículos escrotados. Fêmeas de marsupiais foram

consideradas em atividade reprodutiva quando possuíam filhotes presos às tetas, tetas

inchadas com leite ou inchadas e empedradas. As fêmeas de roedores foram

consideradas em atividade reprodutiva quando grávidas ou lactantes. O tamanho médio

de ninhada foi calculado para as espécies de marsupiais em que foram capturadas

fêmeas com filhotes. Para calcular o peso médio dos marsupiais foram considerados

apenas os adultos com dentição completa (de acordo com Gentile et al., 1995). O peso

médio dos roedores não foi calculado em razão da dificuldade de classificação etária em

campo, por isso foram apenas usadas as amplitudes de massa de cada espécie.

O tempo médio de permanência de machos e fêmeas foi estimado a partir do

intervalo em meses entre a primeira e a última captura de todos os indivíduos que

aparecem em pelo menos duas seções de captura. Foram desconsiderados os indivíduos

capturados pela primeira vez a partir de agosto de 2002, para não subestimar o tempo de

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permanência. O tempo máximo de permanência observado por espécie foi adotado

como uma estimativa de longevidade.

Resultados

Pequenos Mamíferos Em 40 excursões de captura-marcação-recaptura e duas de remoção foram

capturadas 15 espécies de pequenos mamíferos, em um total de 669 indivíduos em

1.492 capturas, um sucesso de 3,53%. Foram ainda marcados 414 filhotes lactentes de

marsupiais. Nas armadilhas do tipo fojo foram capturados um Monodelphis gr. americana, um Marmosops incanus, um Trinomys dimidiatus, um Oryzomys russatus, quatro Oligoryzomys nigripes e um filhote recém desmamado de Didelphis aurita. As

capturas em armadilhas de queda só ocorreram em dias de muita chuva, quando o

acúmulo de água impedia a fuga dos animais.

As espécies capturadas pertencem a duas ordens de mamíferos, Didelphimorphia e

Rodentia. Os marsupiais capturados foram Didelphis aurita (Figura 3), Marmosops incanus (Figura 4), Metachirus nudicaudatus (Figura 5), Philander frenatus (Figura 6),

Gracilinanus microtarsus (Figura 7), Micoureus paraguayanus (Figura 8), Caluromys philander (Figura 9) e Monodelphis gr. americana (Figura 10). Os roedores capturados

foram Akodon cursor, Oryzomys russatus, Oligoryzomys nigripes, Juliomys pictipes

(Figura 11), Rhipidomys sp. nov. (Figura 12), Trinomys dimidiatus (Figura 13) e Sciurus aestuans. A classificação supra-específica baseou-se em McKenna & Bell (1997).

Informações sobre número de indivíduos capturados, peso médio, tempo médio de

permanência para machos e fêmeas, tamanho médio de ninhada e período reprodutivo

estão representados nas Tabelas 2 e 3.

Considerações gerais A estação reprodutiva variou entre as espécies tanto em seu início quanto na sua

duração. A estação reprodutiva das espécies de maior tamanho corporal ocorre do meio

da estação seca ao fim da estação chuvosa. Já as espécies menores reproduzem-se do

início ao fim da estação chuvosa.

Os marsupiais apresentaram dimorfismo sexual quanto ao peso, sendo os machos

adultos sempre maiores que as fêmeas. O tempo médio de permanência foi maior para

as fêmeas da maioria das espécies. Isto pode estar associado ao sistema de acasalamento

promíscuo, onde os machos visitam várias fêmeas (Ryser, 1992; Cáceres 2003), que

uma vez estando na estação reprodutiva tendem a ficar mais restritas a menores áreas de

forrageamento (Ryser, 1992; Hossler et al., 1994; Gentile & Cerqueira, 1995; Cáceres

& Monteiro-Filho, 2001; Loretto & Vieira, 2005). D. aurita e C. philander

apresentaram o maior tempo de permanência, o que indica uma longevidade maior em

relação às outras espécies, o que está de acordo com o estudo de Eisenberg & Wilson

(1981) que descreveram longevidades de 42 e 62 meses para esses gêneros. P. frenatus

teve o menor tamanho médio de ninhada.

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Quanto ao hábito de vida, várias espécies ocupam mais de um estrato da floresta.

Dentre os marsupiais, C. philander é a espécie mais arborícola, com todas as capturas

em armadilhas nas plataformas, assim como em outros estudos (Charles-Dominique

1983; Passamani, 1995; Leite et al. 1996, Grelle 2003). M. paraguayanus e G. microtarsus foram quase sempre capturados nas plataformas, porém também ocorreram

capturas no chão, mostrando que podem usar o estrato terrestre da floresta para

movimentos exploratórios e/ou de forrageamento. M. incanus usa o sub-bosque em seus

movimentos (Cunha & Vieira, 2002), no entanto, restringe-se até este estrato, nunca

subindo mais que cinco metros (Cunha & Vieira, 2002) e ficando mais da metade do

tempo no chão da floresta (D. Loretto, dados não publicados). D. aurita e P. frenatus são espécies mais terrestres, embora sejam capazes de escalar habilmente árvores e

cipós. Apesar disto, D. aurita quando se move acima do solo, o faz indo até o dossel,

enquanto que P. frenatus usa apenas o sub-bosque nestas ocasiões (Cunha & Vieira,

2002). M. nudicaudatus é a espécie mais terrestre de todas, com apenas três registros de

movimentos acima do chão, e em apenas um deles chegando aos 2,7 m (Cunha &

Vieira, 2002; D. Loretto, observação pessoal).

Dentre os roedores, somente Rhipidomys sp. nov. e J. pictipes foram exclusivamente

capturados em armadilhas nas plataformas, mostrando que habitam preferencialmente

este estrato da floresta. Apesar de poucas capturas e de terem sido apenas em

armadilhas no solo, S. aestuans é freqüentemente observado no estrato arbóreo. Isto

sugere movimentos exploratórios e/ou forrageamento da espécie por todos os estratos da

floresta.

Mais de 90% das casas e sítios do condomínio foram visitados, num total de 46

entrevistas. No condomínio, 79% das casas possuem cachorros, 26% possuem gatos,

65% mantêm árvores frutíferas, 33% hortas e 30% algum tipo de criação animal.

Baseado na produção média de lixo per capita no Brasil (600g/hab/dia), estimamos a

produção de lixo no condomínio em 75,6 kg/dia, somente para os moradores do

condomínio. Todos os entrevistados levam o lixo para as caçambas da Prefeitura de

Guapimirim, que se localizam próximas à entrada do condomínio, e 9% dos

entrevistados queimam parte do seu lixo. Muitos moradores relataram que a coleta de

lixo da prefeitura é ineficiente. As três caçambas existentes não são suficientes para

atender as casas do condomínio entre as coletas, feitas semanalmente. Isto gera acúmulo

de lixo em volta das mesmas e freqüentemente esse lixo é revirado por quatis, gambás,

gatos e cachorros, atraindo ainda insetos e ratos para o local.

Avistamentos Os avistamentos de mamíferos silvestres na área de estudo estão listados na Tabela

4. Também já foram avistados andando nas grades indivíduos de M. nudicaudatus, P. frenatus, M. gr. americana e D. aurita, sendo que este último também foi visto por duas

vezes no quintal da base de campo.

Além das espécies silvestres, espécies domésticas ou introduzidas são freqüentes,

como o caso de cães domésticos (Canis familiaris) que costumam ser vistos em todas as

grades de captura; gatos domésticos (Felis catus) com três indivíduos capturados quatro

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vezes em armadilhas (Tomahawk 105) e um rato-de-esgoto (Rattus sp.), visto próximo a

uma casa adjacente a grade A.

Discussão

Comunidade de pequenos mamíferos A comunidade de pequenos mamíferos foi dominada por marsupiais, responsáveis

por 92% dos indivíduos capturados e 89% do total de capturas. As populações de

marsupiais, com exceção dos estritamente arborícolas, estiveram presentes durante todo

o estudo, enquanto que as populações de roedores apresentaram baixa abundância e

estiveram ausentes em vários períodos. Fonseca & Robinson (1990) encontraram

domínio de marsupiais em áreas de Mata Atlântica, atribuindo tal domínio a

fragmentação dos habitats. Outros estudos em área de restinga no Estado do Rio de

Janeiro também encontraram dominância por marsupiais (Cerqueira et al. 1990;

Cerqueira et al., 1993). Charles-Dominique (1983) relatou que marsupiais são

tipicamente mais abundantes em florestas secundárias que em florestas primárias. A

sucessão ecológica em florestas secundárias implicaria em uma maior estratificação e

complexidade do habitat e em oportunidades crescentes para as espécies arborícolas

(August, 1983). A mudança na composição de pequenos mamíferos em áreas

perturbadas pode envolver a substituição de roedores terrestres por marsupiais

arborícolas (Vieira, 1999).

As capturas das espécies mais abundantes, D. aurita e M. incanus, correspondem à

cerca de 60% do total, reforçando a idéia de que as comunidades de pequenos

mamíferos geralmente são dominadas por uma ou duas espécies (Fleming, 1975). A

riqueza de espécies de mamíferos encontrada foi menor que a encontrada por Fonseca &

Kierulff (1989), Stallings et al. (1991), Olmos (1991) e Vieira (1999) em outras áreas de

Mata Atlântica e por Davis (1945) e Miranda-Ribeiro (1935) na Serra dos Órgãos. O

declínio da riqueza de pequenos mamíferos em florestas perturbadas pode ser

considerado um indicador de uma maior e mais disseminada perda de biodiversidade no

ecossistema (Stephenson, 1993). Os pequenos mamíferos são, por vezes, considerados

indicadores ideais da diversidade de fauna e flora, e estudos que usem métodos

padronizados de captura são importantes para medir o efeito do homem sobre os

ambientes em que vivem estas espécies (Stephenson, 1993).

Considerando que a floresta é um espaço tridimensional, é importante que os

levantamentos amostrem diferentes estratos da floresta e não sejam pontuais. Em nosso

estudo C. Philander, Rhipidomys sp. nov. e J. pictipes foram exclusivamente capturadas

em armadilhas nas árvores e M. paraguayanus e G. microtarsus também foram

capturados preferencialmente nestas armadilhas. Este mesmo fato ocorreu em outros

estudos, onde o número de capturas ou o número de espécies aumentou com a subida de

armadilhas, tanto para o sub-bosque (Fonseca & Kierulff, 1989; Grelle, 2003) quanto

para o dossel (Stallings et al., 1991; Vieira, 1999; Grelle, 2003), destacando a

importância do inventário em diversos estratos da floresta. O acompanhamento de longa

duração também é de suma importância para o levantamento de espécies e para um

melhor entendimento sobre a estrutura da comunidade e a dinâmica das populações.

Uma vez possuindo distribuição espaço-temporal fluída, os padrões cíclicos de

distribuição só serão conhecidos com grandes séries temporais.

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Distúrbios causados pelo homem na área de estudo Já foram encontrados próximos às grades dois acampamentos de caçadores

abandonados, três arapucas e três girais. Além disso, moradores locais relatam a

presença freqüente de caçadores nas redondezas. Os caçadores não alteram

significativamente a fisionomia da vegetação, pois usam trilhas discretas na mata, mas

costumam caçar gambás e tatus, além de outros mamíferos menos abundantes como

pacas e cutias. A caça de animais silvestres é um hábito comum, principalmente entre os

caseiros da região. Apesar de nenhum morador ter admitido que seja caçador

atualmente, alguns disseram que costumavam caçar. A maioria dos moradores sabe que

existem caçadores na região e desaprovam a caça, principalmente porque os caçadores

montam armadilhas perigosas na mata, do tipo “trabuco”. Alguns entrevistados

relataram que escutam tiros à noite, e outros já tiveram cães feridos ou mortos por essas

armadilhas. No caso da Serra dos Órgãos, a caça parece estar mais ligada a hábitos

culturais e ao lazer do que ao comércio de animais e a caça de subsistência. Sendo

assim, fica mais fácil lidar com o problema, já que não envolve a subsistência dos

moradores. A educação ambiental com as crianças pode ser um meio eficaz de reduzir a

caça a médio e longo prazo.

Encontros com animais domésticos andando pela mata também são freqüentes. Já

houve um encontro com três cães de caçadores dentro da uma das grades, além de

inúmeros outros encontros com cães e gatos de estimação das casas vizinhas às grades.

É difícil precisar como esse tipo de distúrbio pode influenciar na comunidade de

mamíferos silvestres. A densidade de cães e gatos domésticos na área é provavelmente

mais alta do que seria a de cães e gatos selvagens. A abundância destes animais pode

representar um grande impacto na fauna local (Ruxton et al., 2002), já que têm o hábito

de caçar, como relatado pelos próprios donos. A pressão de predação dos gatos é

apontada como um dos principais fatores antrópicos a afetar a fauna de anfíbios, aves e

pequenos mamíferos (Abbott, 2002; Churcher & Lawton, 1987; Dickman, 1996). Já os

cães podem ter influência sobre os mamíferos predadores de maior porte, por

competição (Butler & Du Toit, 2002).

Por outro lado, a proximidade das casas de veraneio pode afastar predadores

naturais, principalmente felinos, o que favoreceria a ocorrência de marsupiais

relativamente grandes, principalmente os do gênero Didelphis (Fonseca & Robinson,

1990). Além disso, as casas de veraneio provêm alimento extra para as espécies mais

sinantrópicas, como D. aurita, N. nasua e S. aestuans, que podem entrar nas casas para

atacar pomares e galinheiros, além de lixo e ração de animais domésticos. O impacto

dos animais domésticos, da criação animal e das hortas e pomares podem ser

minimizados com medidas simples. Hortas, pomares e criações animais devem ser

cercadas com telas e as rações protegidas de animais silvestres. O terreno também deve

ser cercado para que os cães não saiam para caçar. Gatos deveriam usar coleiras com

güisos, que diminui a habilidade da caça (Ruxton et al., 2002), e, se possível, passar as

noites dentro de casa.

Agradecimentos

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Gostaríamos de agradecer ao Dr. Carlos Grelle pela revisão do manuscrito, Dra.

Lena Geise e MSc.Luciana Pereira pela identificação das espécies, às Profª. Rhoneds

Aldora e Maria de Lourdes Lemos do Departamento de Antropologia do Museu

Nacional do Rio de Janeiro, pela ajuda no levantamento das características históricas da

área de estudo e à MSc. Ana C. Delciellos pela montagem das armadilhas fojo. Vanina

Antunes, Paulo Almeida e Érika Berenguer por ceder gentilmente parte do estudo não

publicado sobre a relação comunidade-entorno, Amanda Lima, Fernanda Pedroza,

Daniele e Camila Rezende pela ajuda com as entrevistas e Diogo Cabral pelas

referências. Agradecemos especialmente aos entrevistados pela solicitude e paciência.

Agradecemos ainda ao Instituto Nacional de Metereologia pelos dados climáticos

cedidos durante todo o período de estudo, e a todos os alunos e amigos do Laboratório

de Vertebrados que ajudaram no trabalho de campo, assim como a ajuda técnica e

administrativa de Nélio P. Barros e Ângela Marcondes. Este trabalho vem sendo

fomentado por auxílios e bolsas das agências: FAPERJ, FUJB, CNPq, PROBIO (MMA

– GEF), PRONEX.

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165

Anexo 1. Número de indivíduos capturados por ano na localidade do Garrafão, Parque Nacional da

Serra dos Órgãos, RJ. (* até outubro)

Espécies 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003*

Didelphis aurita 32 29 43 29 38 45 39

Marmosops incanus 34 24 11 18 25 27 12

Metachirus nudicadatus 17 9 19 13 6 10 9

Philander frenatus 6 7 11 10 10 15 13

Gracilinanus microtarsus - - - 12 1 8 4

Micoureus paraguayanus - 1 - 1 7 7 10

Caluromys philander - - - - 1 2 4

Monodelphis sp. - - - - - - 1

Akodon cursor 8 - - - - - -

Oryzomys russatus - 2 3 5 1 3 5

Oligoryzomys nigripes - - - 1 - - -

Juliomys pictipes - - - 2 - 3 -

Rhipidomys sp. nov. - - - 8 6 8 8

Trinomys dimidiatus - - 1 4 1 6 7

Sciurus aestuans - - - 2 - - -

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166

Tabela 2. Espécies da Ordem Didelphimorphia capturados e os respectivos números de indivíduos machos e fêmeas capturados, número total de capturas, número de filhotes

marcados, período reprodutivo, peso médio em gramas, tempo de permanência médio e máximo em meses, tamanho médio de ninhada e total de capturas em armadilhas no

chão e nas árvores.

Ordem Didelphimorphia

Ninhada Hábito de vida Tempo de permanência

(meses) Média Espécie Sexo N.

ind.

N.

cap.

Filhotes

marcados

Período

reprodutivo Peso médio(g)

Médio máximo (mín-máx) chão árv.

Família Didephidae, Sub-família Didelphinae

Macho 126 1.639,90 (± 372,94) 3,67 (± 2,48) 14 D. aurita

Fêmea 105 472

323 agosto a abril

1.304,60 (± 359,08) 7,12 (± 4,97) 24 7,40 (4-11) 472 0

Macho 54 447,80 (± 86,55) 3,52 (± 2,18) 8 M. nudicaudatus

Fêmea 28 183

57 agosto a abril

327,60 (± 70,40) 3,63 (± 2,15) 8 7,54 (4-9) 183 0

Macho 49 468,50 (± 61,92) 3,45 (± 2,01) 6 P. frenatus

Fêmea 17 166

34 agosto a abril

298,90 (± 25,67) 6,00 (± 4,32) 12 5,71 (5-7) 166 0

Macho 1 M. gr. americana

Fêmea 0 1

0 Não determinado

Sem

registro 1 0

Sub-família Thylamyinae

Macho 79 72,60 (± 25,62) 3,60 (± 2,11) 10 M. incanus

Fêmea 76 367

0 outubro a fevereiro

48,10 (± 11,28). 3,77 (± 1,92) 8

Sem

registro 367 0

Sub-família Marmosinae

Macho 13 159,20 (± 28,73) 10 M. paraguayanus

Fêmea 9 69

0 Não determinado

102,60 (± 17,97) 10

Sem

registro 7 62

Macho 13 39,50 (± 7,35) 2,80 (± 1,09) 4 G. microtarsus

Fêmea 8 58

0 dezembro a fevereiro

27,50 (± 5,10) 4,50 (± 1,91) 6

Sem

registro 13 45

Família Caluromyidae

Macho 3 224,4 22 C. philander

Fêmea 2 25

4 outubro a dezembro

206,2 14 4 0 25

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167

Tabela 3. Espécies da Ordem Rodentia capturados e os respectivos números de indivíduos machos e

fêmeas capturados, número total de capturas, amplitude do peso em gramas, tempo de permanência médio

e máximo em meses, total de capturas em armadilhas no chão e nas árvores e período reprodutivo.

Ordem Rodentia

Hábito de

vida Tempo de

permanência

(meses) Espécie Sexo

N.

ind.

N.

cap.

Peso

máx. e

mín. (g) Médio máximo chão árv.

Período

reprodutivo

Sub-ordem Myomorpha, Família Muridae, Sub-família Sigmodontinae

Macho 14 10 (± 6,73) 18 Rhipidomys sp. nov.

Fêmea 10 61 115 - 34

8 8 0 61

agosto a

dezembro

Macho 15 O. russatus

Fêmea 6 30 95 - 45

4 30 0

agosto a

outubro

Macho 3 2 2 A. cursor

Fêmea 5 28 65 - 30

4 (±3,46) 8 28 0

não

determinado

Macho 5 2 J. pictipes

Fêmea 0 6 31 - 24,5

0 6

não

determinado

Macho 2 O. nigripes

Fêmea 3 5 25 - 19

5 0

não

determinado

Sub-ordem Hystricognatha, Família Echymyidae

Macho 2 T. dimidiatus

Fêmea 11 19 280 - 170

7 10 19 0

não

determinado

Sub-ordem Sciuromorpha, Família Sciuridae

Macho 1 S. aestuans

Fêmea 1 2 210 - 170

2 0

não

determinado

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168

Tabela 4. Espécies avistadas na área de estudo, nome vulgar, local e número de avistamentos

Classificação Nome vulgar Local e número de avistamentos

Ordem Primates, Subordem Euprimates Um grupo de Cebus nigritus foi avistado no chão dentro

Família Cebidae Macaco-prego dos limites da grade A.

Espécie Cebus nigritus (Goldfuss, 1809)

Ordem Carnivora, Subordem Caniformia Foram avistados dois grupos, um na grade C e outro na

Família Procyonidae Quati lixeira do condomínio, e um indivíduo solitário na grade

Espécie Nasua nasua (Linnaeus, 1766) A.

Ordem Pilosa Foram avistados três indivíduos, uma fêmea com filhote nas

Família Bradypodidae Bicho-preguiça proximidades da grade C e um outro indivíduo que estava

Espécie Bradypus variegatus (Schinz, 1825) atravessando a estrada vicinal que leva à grade A.

Ordem Pilosa Foram avistados dois indivíduos do gênero Dasypus.

Família Dasypodidae Tatu Apesar do reduzido número de registros visuais, existem

Gênero Dasypus numerosas tocas de tatus nas áreas das grades.

Ordem Rodentia, Subordem Hystricognatha Um indivíduo foi avistado na grade C. Apesar de ter sido

Família Erethizontidae Ouriço-cacheiro avistado uma única vez, são comuns relatos de cães

Gênero Coendou que mordem ouriço-cacheiro.

Ordem Rodentia, Subordem Hystricognatha Um indivíduo foi avistado dentro da grade C. Em virtude da

Família Dasyproctidae Cutia fuga não foi possível identificar a espécie.

Gênero Dasyprocta

Ordem Rodentia, Subordem Sciuromorpha O avistamento é comum na mata, sendo que já foram vistos

Família Sciuridae Esquilo ou também nas ruas do condomínio, andando sobre muros e

Espécie Sciurus aestuans Linnaeus, 1766 Caxinguelê nos telhados das casas.

Ordem Lagomorpha Foi avistado um indivíduo na grade B.

Família Leporidae Tapiti ou

Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758) Coelho-do-mato

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169

Figura 1. Esquema das grades de captura. GA, GB e GC – grades A, B e C. E – estradas vicinais. A –

auto-estrada (BR 116). CH – Cachoeira do Rio Iconha. C – casas.

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170

ANEXO II

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171

Comparação entre métodos para estimativa de abundância de pequenos

mamíferos. Gisele Costa, Maja Kajin, Joana Macedo, Marcus Vinícius Vieira e Rui Cerqueira

Métodos de estimativa populacional têm diferentes premissas sobre abertura da população e

probabilidade de captura dos indivíduos. O método de contagem MNKA e o estimador Lincoln-Petersen-

Bailey assumem que todos os indivíduos estão sob a mesma probabilidade de captura e que a população

não esta sujeita a nenhuma perda nem aumento. O método de Jolly-Seber também assume

homogeneidade nas probabilidades de captura, mas permite que a população seja aberta. Métodos que

permitem algumas formas de heterogeneidade nas probabilidades de captura estão implementados no

programa CAPTURE, como o método Jackknife, que permite diferenças individuais na probabilidade de

captura. O objetivo deste trabalho foi comparar cinco técnicas de estimativa de abundância entre si,

pressupondo que elas gerarão diferenças significativas devidas as diferentes restrições sobre “abertura de

população” e capturabilidade. Para isto, foram utilizados dados de oito anos de marcação-e-recaptura de

seis espécies, os marsupiais didelfídeos Didelphis aurita, Marmosops incanus, Metachirus nudicaudatus, Philander frenatus, Micoureus travassosi e o roedor sigmodontíneo Rhipidomys sp. nov. Apesar de

subestimar o tamanho da população, principalmente em épocas de maior abundância, o MNKA mostrou

um padrão de flutuação populacional semelhante e significativamente correlacionado (p = 0.000013 R =

0.625; p=0.000024 e R=0.569) ao dos outros métodos. As estimativas do programa CAPTURE e Jolly-

Seber mostraram uma forte desvantagem, que é a necessidade de um grande número de capturas ou

recapturas para obter as estimativas. O coeficiente de variação foi menor para M. nudicaudatus, P. frenatus e M. incanus com o estimador escolhido pelo CAPTURE, e maior para as espécies P. frenatus, M. incanus, M. travassosi e D. aurita com o estimador Jolly-Seber. Apesar da reconhecida importância de

se considerar as variações na probabilidade de captura e da elegância dos modelos, o baixo número de

recapturas restringe o uso dos estimadores de abundância do CAPTURE. Já o índice MNKA e o

estimador Lincoln-Petersen-Bailey, mesmo tendo pressupostos restritivos e pouca sofisticação, não são

tão dependentes do número de recapturas quanto os outros métodos, e mesmo que considerem que não

haja homogeneidade na probabilidade de captura, permitem avaliar a flutuação populacional.

Financiamento: CAPES, CNPq, FUJB, PROBIO/MMA/GEF, PRONEX.

Palavras chave: estimativas de abundância, captura-marcação-e-recaptura, CAPTURE, MNKA, Jolly-

Seber.

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