representaÇÕes sociais no discurso publicitÁrio: da

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-graduação em Letras REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO DISCURSO PUBLICITÁRIO: da produção à recepção Helena Contaldo Ferreira Martins Belo Horizonte 2011

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-graduação em Letras

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO DISCURSO PUBLICITÁRIO: da produção à recepção

Helena Contaldo Ferreira Martins

Belo Horizonte

2011

Helena Contaldo Ferreira Martins

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO DISCURSO PUBLICITÁRIO: da produção à recepção

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de doutor em Linguística e Língua Portuguesa.

Orientadora: Juliana Alves Assis

Belo Horizonte

2011

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Martins, Helena Contaldo Ferreira

M386r Representações sociais no discurso publicitário: da produção à recepção / Helena Contaldo Ferreira Martins. Belo Horizonte, 2011.

193f. + 1 DVD : il.

Orientadora: Juliana Alves Assis Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Letras.

1. Publicidade. 2. Análise do discurso. 3. Representações sociais. 4.

Vestibular. I. Assis, Juliana Alves. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós- Graduação em Letras. III. Título.

CDU: 659.1

Helena Contaldo Ferreira Martins

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO DISCURSO PUBLICITÁRIO:

da produção à recepção

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de doutor em Linguística e Língua Portuguesa.

Profª. Drª. Juliana Alves Assis (Orientadora) – PUC Minas

Profª. Drª. Ana Rosa Vidigal Dolabela – UniBH

Prof. Dr. Mozahir Salomão Bruck – PUC Minas (Comunicação Social)

Prof. Dr. Hugo Mari – PUC Minas (Letras)

Profª. Drª. Jane Quintiliano Guimarães Silva – PUC Minas (Letras)

Belo Horizonte, 12 de agosto de 2011.

A um menino-marinheiro-pai, Donato, que se aventurou muito cedo pela vida, mas não pelo

mundo acadêmico. Ficou pouco tempo comigo, mas ensinou o suficiente.

A dois meninos-filhotes, Abner e Gabriela, com os quais espero ter partilhado o gosto pelo

conhecimento.

AGRADECIMENTOS

Agradecer, do latim gratare, significa manifestar gratidão, render graças. É nesse

sentido que todos aqueles cujos nomes menciono aqui merecem meu carinho, meu

reconhecimento, por participarem da minha história e terem colaborado para a conclusão

deste trabalho. Agradeço:

À Coordenação de Capacitação de Pessoal de Nível Superior, CAPES, por conceder a

bolsa de estudos que permitiu cursar a maior parte do doutorado.

Ao Instituto Santo Tomás de Aquino, ISTA, por conceder uma bolsa de estudos no

primeiro ano do curso e, também, por constituir-se, no conjunto de colegas professores e

funcionários, local de fecunda ação pedagógica e, sobretudo, de amizade.

À Secretaria de Comunicação da PUC Minas, pelo atendimento e imediata

disponibilidade de materiais.

Aos funcionários da Lápis Raro Agência de Comunicação, pelo carinho e presteza

com que me receberam e atenderam às minhas solicitações.

Aos publicitários Edmundo Bravo e Múcio Drumond, da ASA Comunicação, pela

atenção e disponibilidade.

À professora Glória Gomide, pela atenção dada no momento inicial da pesquisa e

pelas boas ideias, muitas delas assumidas durante o percurso.

Ao professor Júlio Pinto, sempre incentivador.

Aos professores Robertson Mayrink e Eduardo Braga, do Curso de Propaganda e

Publicidade da PUC Minas, pela interlocução proveitosa e pela indicação de bibliografia

relativa a temas específicos da área.

Ao Claitom, meu amor, “com quem passo e passarei os melhores dias da minha vida”,

por estar ao meu lado.

À minha mãe, Theresa Christina, por todo o incentivo e, também, por me auxiliar, com

sua “cabeça boa”, a elaborar os questionários de pesquisa.

À minha irmã-mãe Sílvia Contaldo, pelo exemplo e ânimo, inclusive no exercício da

vida acadêmica.

À Dani, minha adorável “gordinha”, pelo apoio técnico na preparação da gravação das

entrevistas na agência e por garantir o bom humor sempre que estava presente.

Ao meu irmão Sérgio Donato, que, mesmo de longe, incentivou o trabalho e

possibilitou, logo no início da pesquisa, o encaminhamento dos primeiros contatos nas

agências de comunicação de Belo Horizonte.

Ao meu irmão Donato Eduardo, pelo carinho e pela ajuda na fase inicial de tratamento

e análise dos dados, desvendando segredos do Excel.

Ao Diego, meu “irmãozinho”, com quem sempre posso contar, pela força em todos os

momentos.

À equipe que trabalhou na coleta de dados e aplicação dos questionários (com

disposição ímpar, em um domingo muito ensolarado no Coração Eucarístico): Adilson

Oliveira, Claudinei Nunes, Jânia Almeida. Gustavo Lacerda, Edson Santos Silva, Fernando

Wesley, Abner Contaldo, Gabriela Contaldo, Claitom Ferreira Martins, Sandro Ferreira

Martins, Cleusa Castilho Miranda e Daniel Vítor Miranda (espero que a posterior cerveja

tenha recompensado o trabalho!).

À Fernanda Coelho, amiga, “companheira”, que me ensinou que se partilha, além do

“pão da vida”, o conhecimento e o fazer científico.

Aos amigos que ganhei durante a realização do doutorado: Adilson Oliveira, Jânia

Almeida, Anneliese Carvalho, Ana Rosa Vidigal, Maria Alzira Leite e Renata Gomide.

Aos professores Mário Perini e Milton do Nascimento, pelo exemplo no exercício da

profissão, para sempre inspiradores.

À professora Jane Quintiliano, por sua competência e rigor profissional, pelo estímulo

constante no processo de produção deste trabalho e pela acolhida carinhosa em vários

momentos.

Às secretárias do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas, pela presteza

e simpatia.

Aos meus alunos do ISTA, interlocutores pacientes, incentivadores sempre, e ao Jerry

Segalla, pelo cuidadoso tratamento das fotos e imagens presentes nesta tese.

À querida professora Juliana Alves Assis – de quem herdei o gosto pelas Letras –, por

confiar na minha capacidade (e me transmitir essa confiança) desde o Ensino Médio; e,

especialmente, pela orientação cuidadosa, carinhosa e atenciosa na escrita desta tese.

À professora Malu Matencio, cujo incentivo inicial na elaboração deste trabalho ecoou

em minhas palavras na esperança de honrar sua lembrança.

Ainda que o Mundo seja o solo comum a todos os seres humanos, as posições dentro dele variam e nunca podem coincidir plenamente.

Sandra Jovchelovitch, psicóloga social

RESUMO

O discurso publicitário tem se tornado mais presente em várias instâncias sociais e

paulatinamente passa a ocupar espaços mais significativos. Em decorrência, sua importância

em termos de circulação de valores e crenças tende a aumentar. Este trabalho pretende

apresentar resultados de pesquisa realizada no campo da análise do discurso publicitário,

buscando compreender o processo de circulação, nesse discurso, de Representações Sociais –

assumidas como um sistema de crenças e valores, organizado socialmente no e através do

discurso. Os objetivos específicos que nortearam a pesquisa foram: a) descrever as etapas de

produção da uma campanha publicitária do vestibular da PUC Minas; b) estabelecer o quadro

de referência em que conceitos e valores se formam na sociedade e são expressos pelos/nos

textos publicitários analisados; c) descrever e analisar representações sociais acerca da

Instituição e do tema da campanha a sujeitos pertencentes à esfera da produção e da percepção

da campanha; d) comparar as representações depreendidas nessas duas esferas. A metodologia

compreendeu duas frentes de ação: uma primeira, voltada ao processo de produção da

campanha – através de entrevistas na agência de comunicação e na Instituição e de análise das

peças da campanha; e a segunda, realizada junto a sujeitos de dois grupos, vestibulandos da

Instituição e alunos do Ensino Médio, por meio de questionários, entrevista e grupo de

discussão. As imagens e valores flagrados no discurso dessas duas instâncias – de criação e

recepção – foram confrontados. Os resultados sugerem que tradição e qualidade são as

imagens mais fortes da Instituição e que a campanha reflete seu caráter competente e

moderno. Associadas às representações da Instituição promotora da campanha, aparecem

outras representações, sobre curso superior, sucesso profissional, Instituições públicas e

privadas, e outras relacionadas ao discurso e ao agir publicitários. Pretende-se contribuir para

o aprimoramento da pesquisa em RS em textos veiculados por meios de circulação de massa e

oferecer ao campo de estudos linguísticos, e também aos estudos do campo da comunicação,

novas metodologias de análise que sejam relevantes por apresentar um diálogo entre as duas

áreas, objetivando enriquecer as perspectivas até então adotadas em análises de caráter

linguageiro nos textos publicitários.

Palavras-chave: Discurso publicitário. Representações Sociais. Vestibular.

ABSTRACT

The discourse of advertising has been seen in several social instances and gradually it starts to

occupy more significant spaces. As result, its importance, considering the circulation of social

values and beliefs, tends to increase. This work presents the results of a research fulfilled in

the adverts discourse analysis, in order to investigate the process of social representations

circulation in this discourse, considering social representation (SR) as a system of beliefs and

values, socially organized in and by the discourse. The specific objectives which guided the

research were: a) to describe the production steps of a PUC Minas entrance exam advertising

campaign; b) to establish a scenario of reference in which social concepts and values are

formed and expressed in the society by/in the adverts analyzed; c) to describe and to analyze

social representations concerning the Institution and the campaign’s theme related to subjects

(people) who belong to the campaign production sphere as well as to the campaign perception

sphere; d) to compare the representations inferred in these two spheres. The methodology

comprehended two kinds of action: the first one was devoted to the campaign production

process – by interviews in the agency of communication and in the Institution, and by the

campaign parts analysis; the second action was executed with two groups of people: PUC

Minas entrance exam candidates and high school students, using questionnaires, interview and

group discussion. The images and social values envisaged in the discourse of these two

situations (creation and reception ones) were confronted. The results suggest that tradition and

quality are the strongest images of the Institution and its campaign reflects competency and

modernity as its guiding principles. There are other representations related to the Institution

campaign ones: the representation about higher education, career success, public and private

institutions, and other ones related to the adverts discourse and action. It is aimed to

contribute for the improvement of SR research in mass media texts as well as to offer to the

linguistics and communication areas of study new and significant methodologies of analysis,

presenting a dialogue between these two areas, objectifying to enrich the perspectives adopted

in adverts texts analyses in the language sense.

Word keys: Discourse of advertising. Social Representations. Entrance exam.

RÉSUMÉ

Le discours publicitaire devient chaque jour plus présent dans la vie sociale et occupe peu à

peu des espaces plus significatifs. Par conséquent, son importance dans la circulation de

valeurs et de croyances a une tendance à augmenter. Nous avons le but, dans ce travail, de

présenter les résultats de la recherche réalisée dans le cadre de l’analyse du discours

publicitaire, en essayant de comprendre le procès de circulation, dans ce même discours, des

Représentations Sociales – vues comme un système de croyances et de valeurs, organisé

socialement dans et à travers le discours. On a eu comme des objectifs principaux: a) décrire

les étapes de production d’une campagne publicitaire du concours de baccalauréat de PUC

Minas; b) établir le cadre de référence où des concepts et des valeurs se forment dans la

société et sont exprimés par/dans les textes publicitaires analysés; c) identifier et analyser des

élements verbaux indicateurs des représentations sociales à propos de l’Institution et du thème

de la campagne pour des sujets appartenants à sa production et sa perception; d) comparer les

représentations déduites de ces deux domaines. Méthodologiquement, on a travaillé sur ces

deux fronts: le premier, consacré au procès de production de la campagne publicitaire – à

travers les entrevues à l’agence publicitaire et le second, réalisé avec ces deux groupes: des

candidats au baccalauréat de l’Institution et des eleves du lycée, par moyen de questionaires et

d’un groupe de discussion. Les images et les valeurs rencontrées dans le discours de ces deux

instances – de création et de réception – ont été confrontés. Les résultats suggèrent que

tradition et qualité sont les images les plus fortes de l’Institution et aussi que la campagne

publicitaire est le reflet de son caractère compétent et moderne. Associées aux représentations

de l’Institution promotrice du battage, d’autres représentations apparaissent sur le cours

universitaire: le success professional, les Institutions publiques et privées et d’autres

rapportées au discours et à l’action publicitaires. L’intention est de contribuer à la mise à

niveau de la recherche en RS dans des textes véhiculés par les média et offrir aux études

linguistiques, bien qu’aux études de communication, des nouvelles méthodologies d’analyse

qui soient pertinentes en présentant un dialogue entre les deux domaines, dans le but

d’enrichir les perspectives jusqu’ici adoptées aux analyses langagières dans des textes

publicitaires.

Mots-clé: Discours publicitaire. Représentations Sociales. Baccalauréat.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Departamento de web/Lápis Raro Agência de Comunicação ..................... 68

Figura 2: Setor de atendimento/Lápis Raro Agência de Comunicação ...................... 70

Figura 3: Departamento de criação/Lápis Raro Agência de Comunicação ................ 70

Figura 4: Elementos de descontração no ambiente de trabalho/Lápis Raro Agência

de Comunicação ..........................................................................................................

71

Figura 5: Elemento de descontração no trabalho/Lápis Raro Agência de

Comunicação ..............................................................................................................

72

Figura 6: Departamento de mídia/Lápis Raro Agência de Comunicação ................... 72

Figura 7: Ambiente de trabalho/Lápis Raro Agência de Comunicação ..................... 73

Figura 8: Entrada do Vestibular/Campus Coração Eucarístico .................................. 76

Figura 9: Outdoor – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 ............................... 98

Figura 10: Outdoor Av. Amazonas ............................................................................. 99

Figura 11: Outdoor Av. Raja Gabaglia ....................................................................... 100

Figura 12: Outdoor Av. Pres. Carlos Luz ................................................................... 101

Figura 13: Jornal 1 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 .............................. 101

Figura 14: Jornal 1 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 .............................. 103

Figura 15: Backbus – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 ............................. 104

Figura 16: Backbus – parceria Cemig ......................................................................... 105

Figura 17: Backbus – parceria Projeto Criança Esperança ......................................... 106

Figura 18: Banner metrô – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 ..................... 107

Figura 19: Painel da Estação Gameleira ..................................................................... 108

Figura 20: Painel interno (vagão do metrô) ................................................................ 108

Figura 21: Painel da Estação 1º de Maio .................................................................... 109

Figura 22: Painel 1 da Estação Minas Shopping ........................................................ 109

Figura 23: Painel 2 da Estação Minas Shopping ........................................................ 109

Figura 24: Postal Publicitário – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 .............. 110

Figura 25: Imagens do VT – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 .................. 111

Figura 26: Spot de rádio 1 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 ................... 115

Figura 27: Spot de rádio 2 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 ................... 116

Figura 28: Banner da web (redes sociais) – Campanha Vestibular PUC Minas

1º/2010 ........................................................................................................................

117

Figura 29: Banner em rede social (Orkut) .................................................................. 118

Figura 30: Spot de rádio – ICG MEC 2009 ................................................................ 122

Figura 31: Fonte não serifada ..................................................................................... 138

Figura 32: Destaque “Melhor universidade particular de Minas Gerais” ................... 146

Figura 33: Linhas horizontais e verticais no VT ......................................................... 168

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Questão 1/Fase 3 .............................................................................. 157

Tabela 2: Questão 2/Fase 3 .............................................................................. 158

Tabela 3: Questão 3/Fase 3 .............................................................................. 158

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Parcerias exibidas no VT ............................................................... 113

Quadro 2: Cores .............................................................................................. 138

Quadro 3: Parcerias ......................................................................................... 139

Quadro 4: Qualidade da Instituição e mercado de trabalho ............................ 140

Quadro 5: PUC Aberta .................................................................................... 141

Quadro 6: Ocorrência da qualificação "melhor" para a Instituição ................ 142-143

Quadro 7: Ocorrência da qualificação "boa" para a Instituição ...................... 143-145

Quadro 8: Referência ao principal argumento da campanha .......................... 147

Quadro 9: Comparação entre respostas às questões 4 e 5 ............................... 147-148

Quadro 10: Respostas ao questionário – 2ª fase ............................................. 150

Quadro 11: Informantes do grupo de discussão .............................................. 160

Quadro 12: Opções de cursos e instituições dos informantes ......................... 160

Quadro 13: Instituição de menor preferência .................................................. 163

Quadro 14: Características da PUC segundo os informantes ......................... 166

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Informantes que escolheram a PUC Minas pela tradição .............. 126

Gráfico 2: Fatores de escolha pelo Vestibular PUC Minas (primeira ou

única opção) ....................................................................................................

127

Gráfico 3: Escolha da PUC Minas como única IES para prestar vestibular ... 128

Gráfico 4: Meios de acesso às informações do vestibular .............................. 130

Gráfico 5: Meio/veículo de acesso (campanha publicitária) ........................... 131

Gráfico 6: Avaliação do informante sobre a influência da campanha em sua

escolha .............................................................................................................

133

Gráfico 7: Lista de características da PUC Minas .......................................... 152

LISTA DE SIGLAS

ASA Comunicação ASA

BackGround BG

Confederação Brasileira de Futebol CBF

Criação Publicitária CP

Escola Brasileira de Futebol EBF

Exame Nacional do Ensino Médio Enem

Grupo de Discussão GD

Índice Geral de Cursos ICG

Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística IBOPE

Instituição de Ensino Superior IES

Lápis Raro Agência de Comunicação LR

Linguagem Publicitária LP

Ministério da Educação MEC

Psicologia Social OS

Publicidade e Propaganda PP

Representações sociais RS

Televisão TV

Teoria das Representações Sociais TRS

Universidade Federal de Minas Gerais UFMG

Videoteipe VT

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................19 2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, DISCURSO E PUBLICIDADE.................................24

2.1 Possibilidades de diálogo..................................................................................................24 2.2 Uma passagem pela Teoria das Representações Sociais (TRS)....................................25

2.2.1 A gênese da TRS ............................................................................................................26 2.2.2 O objeto de estudo da TRS: as representações sociais..................................................28

2.2.2.1 Estrutura da RS..........................................................................................................29

2.2.3 Representações e realidade.............................................................................................30

2.3 Discurso e enunciação ......................................................................................................35 2.3.1 Discurso e interação.......................................................................................................36

2.3.2 Discurso e enunciação....................................................................................................39

2.3.3 Discurso e sujeito............................................................................................................43 2.4 Discurso publicitário e circulação de RS........................................................................44 2.4.1 Publicidade e propaganda: panorama no Brasil...........................................................45 2.4.2 Publicidade de produtos ou de valores?.........................................................................48 2.4.3 Panorama sobre as agências de comunicação..............................................................55 2.4.4 O produto (de venda e de texto)......................................................................................57

3 METODOLOGIA................................................................................................................59 3.1 Escolhas metodológicas ....................................................................................................59 3.2 Criação publicitária: entrada no campo ........................................................................62 3.2.1 Ambiente acadêmico.......................................................................................................63

3.2.2 Ambiente profissional.....................................................................................................65

3.2.2.1 Condições de produção na agência de comunicação...............................................67

3.3 O feedback da campanha: coleta de dados .....................................................................75

4 CRIAÇÃO E CIRCULAÇÃO DA CAMPANHA ................. ...........................................79

4.1 (N)a hora do vestibular: o foco da campanha................................................................80 4.2 O processo de criação da campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010..........................82

4.2.1 Briefing ...........................................................................................................................82

4.2.2 Criação............................................................................................................................84 4.2.3 Mídia...............................................................................................................................90 4.3 O slogan e a representação do fazer publicitário...........................................................91

4.4 Peças da campanha...........................................................................................................96 4.4.1 Mídia impressa................................................................................................................96 4.4.1.1 Outdoor........................................................................................................................97 4.4.1.2 Jornal.........................................................................................................................100 4.4.1.3 Ônibus........................................................................................................................102 4.4.1.4 Metrô..........................................................................................................................106 4.4.1.5 Postais publicitários..................................................................................................110

4.4.2 Mídia eletrônica............................................................................................................111 4.4.2.1 Televisão....................................................................................................................112 4.4.2.2 Cinema.......................................................................................................................114 4.3.2.3 Rádio..........................................................................................................................115 4.4.2.4 Internet......................................................................................................................117

5 A OUTRA PONTA DA INTERAÇÃO: REPRESENTAÇÕES NA ATI VIDADE DE PRODUÇÃO DE SENTIDO ...............................................................................................119 5.1 Delineamento do público-alvo: o que a agência e o cliente esperam encontrar?......119

5.2 Composição dos grupos de informantes .......................................................................123 5.3 Percepção sobre a Instituição ........................................................................................124 5.4 Meios de acesso à campanha .........................................................................................129 5.5 Avaliação da campanha .................................................................................................132 5.6 Lembranças e representações........................................................................................134 5.7 Refinando a percepção – segundo questionário...........................................................149 5.8 Terceiro questionário: certificação ...............................................................................155 5.9 Finalizando: entrevistas semiestruturadas e grupo de discussão...............................159

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................171 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................176 APÊNDICES .........................................................................................................................181 ANEXOS ...............................................................................................................................190

19

1 INTRODUÇÃO

Na publicidade, assim como em outros campos, circulam valores, crenças de uma dada

cultura, uma dada sociedade. Esses valores integram representações que são ora aceitas, ora

refutadas pela própria sociedade. Representações que nascem, circulam e, às vezes, depois de

algum tempo, deixam de fazer parte do conjunto de valores dessa sociedade. São

representações sociais (RS) que, concomitantemente a outros domínios discursivos, circulam

também na e através da publicidade. Em meio a outros discursos que transitam pelos meios

de comunicação em massa, o discurso publicitário é veículo e agente deflagrador de

representações. É, em outras palavras, responsável pela circulação de valores na sociedade.

Entretanto, diferentemente do domínio jornalístico, em que se busca a verdade e a

demonstração dos fatos, a publicidade se ocupa do imaginário, do onírico, presentes em um

mundo de promessas do provável e do possível em contraposição ao improvável e ao

impossível da realidade.

Por meio desse discurso, tão impactante na sociedade, já que nos confronta através de

veículos e mídias diferentes, impressas e eletrônicas, vemos circulando crenças e valores que

são assumidos pelos indivíduos.

Dada, então, a importância do discurso publicitário, especialmente no fim do século

XX e início do século XXI, este foi o ambiente de atuação escolhido como campo de

observação e pesquisa desta tese.

Nesse sentido, este trabalho propõe-se a discutir a relação entre o discurso publicitário

e as representações sociais, tendo em vista suas formas de emergência e circulação, partindo-

se do pressuposto de que os discursos, incluindo o publicitário, são ao mesmo tempo meio e

forma pelos quais os sujeitos interagem socialmente. É por meio das práticas, seja dos

diversos grupos sociais, seja individualmente, que os sujeitos agem discursivamente. É pelas

práticas que eles são constituídos, se colocam no mundo, tomam posições, etc.

Tomando, então, o campo da análise do discurso publicitário para a pesquisa cujos

resultados serão aqui demonstrados, busco a compreensão dos processos envolvidos na sua

criação e na sua circulação, a fim de flagrar aí também pistas das representações presentes

nesses processos – as quais, segundo Matencio (2006), dependem de um sistema de crenças e

valores, objeto de um trabalho social no e através do discurso. Essas representações serão

tomadas como objeto de pesquisa à luz de uma vertente da Psicologia Social, a Teoria das

Representações Sociais (TRS). O trabalho pretende contribuir com os estudos linguísticos

20

oferecendo contribuições para um processo de leitura mais eficaz e menos passivo do discurso

publicitário.

Acredito ser o espaço da comunicação em massa um ambiente adequado à

investigação de categorias basilares no processo de formação de representações. Restringindo

ainda mais esse espaço, opto por dedicar especial atenção, como dito anteriormente, ao

domínio do discurso publicitário, por sua riqueza de gêneros, suportes e, consequentemente,

sua presença em praticamente todos os grupos sociais, através de diferentes meios ou suportes

(MARCUSCHI, 2008).

Essa é uma questão importante porque pouco têm sido os trabalhos, na área, acerca do

processo de criação e produção do texto publicitário. Muitos se voltam para a análise do

material linguístico – ou linguageiro – dos anúncios publicitários. Nesses casos, tratam do

enunciado e não da enunciação; do produto e não do processo, como se pretende apresentar

aqui, levando em consideração que desse e nesse processo emergem valores, constituem-se

modos de pensar e agir na sociedade.

Assumo, desse modo, o discurso publicitário como um dos meios pelos quais se

estabelecem e se balizam relações sociais, emergentes de um novo papel do ser humano, o

qual é internalizado pela sociedade e, ao mesmo tempo, referendado e refletido pelas mídias

(discursos publicitário, jornalístico, de entretenimento).

O objetivo geral da proposta que aqui se apresenta é analisar, nesta sociedade

considerada hipermoderna (LIPOVETSKY, 2006), estratégias e processos de produção,

recepção e circulação do discurso publicitário manifesto em uma campanha sobre o vestibular

de uma Instituição de Ensino Superior (IES), em veículos diversos, e como eles contribuem

para a circulação, a manutenção e a mudança de representações sociais, transmitindo e

veiculando valores, regras e padrões comportamentais através de linguagem verbal e não

verbal.

Nortearam a pesquisa os seguintes objetivos específicos:

a) descrever as etapas de produção de uma campanha publicitária, buscando

flagrar, nesse processo, a constituição de representações acerca do fazer

publicitário e do objeto de propaganda, focalizando valores, costumes e

paradigmas que se (re)apresentam nesse domínio discursivo;

b) estabelecer o quadro de referência em que conceitos, valores e paradigmas se

formam na sociedade e são expressos discursivamente pelas/nas entrevistas

realizadas e pelos/nos textos publicitários analisados;

21

c) identificar e analisar elementos verbais e não verbais presentes nas peças

publicitárias da campanha analisada, indiciadores/postuladores/disparadores de

representações sociais, ou seja, categorias discursivas pelas quais conceitos e

valores são adicionados ao enunciado, e de que forma colaboram para a

referenciação desses conceitos e suas RS.

d) descrever e analisar representações sociais acerca da Instituição, do produto

anunciado na campanha de acordo com a percepção do público-alvo, por meio

de três questionários aplicados a sujeitos pertencentes a essa população e,

também, por meio de entrevistas semiestruturadas e grupo de discussão com

sujeitos alunos do 3º ano do Ensino Médio.

e) comparar as representações sociais presentes nos textos analisados com as

informações dos entrevistados – criadores da campanha – e dos informantes –

público-alvo, a fim de depreender a circulação de representações sociais desde

a produção até a recepção da campanha.

Por fim, a pesquisa procurou oferecer ao campo de estudos linguísticos, e também aos

estudos do campo da comunicação, novas metodologias de análise que sejam relevantes por

apresentar um diálogo entre as duas áreas, objetivando enriquecer as perspectivas até então

adotadas em análises de caráter linguageiro nos textos publicitários.

A fim de tentar alcançar os objetivos traçados, a pesquisa foi dividida em duas etapas.

A primeira compreendeu um trabalho de caráter etnográfico por meio de convivência

no ambiente acadêmico de um curso de Publicidade e Propaganda, nas disciplinas Linguagem

Publicitária e Criação Publicitária, e, no ambiente profissional, por meio de visitas a duas

agências de comunicação, a fim de conhecer e tentar compreender o funcionamento dessas

duas dimensões do trabalho publicitário: o ambiente de formação e o ambiente de trabalho do

publicitário.

Necessário se mostrou, para efetivar a proposta de pesquisa que se anunciava, eleger

uma campanha publicitária como objeto de análise. Dentro da disponibilidade possível, e na

perspectiva de flagrar o processo de criação da campanha publicitária, e não apenas o texto já

pronto, optei pela análise da campanha do Vestibular PUC Minas por ser a campanha com

maior público-alvo da instituição. O período de pesquisa de campo coincidiu com a época de

produção da campanha do Vestibular 1º/2010, a qual nos foi disponibilizada pela Secretaria

de Comunicação da Instituição promotora e pela agência de comunicação responsável pela

sua elaboração.

22

A Lápis Raro Agência de Comunicação (LR) é responsável pelo desenvolvimento das

campanhas da PUC Minas desde 2006. Anualmente, a agência realiza as campanhas da PUC

Minas de divulgação do vestibular (cursos de graduação e tecnólogo), da pós-graduação e de

outras formas de admissão, como a transferência externa e a obtenção de novo título. O

vestibular é a principal forma de ingresso na Instituição, envolvendo uma média de 15000

inscritos semestralmente1 (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2009). Além de investigar a trajetória

das campanhas anteriores, a pesquisa se debruçou especificamente sobre a campanha

veiculada no segundo semestre de 2009, uma vez que era a campanha mais próxima do

período previsto para a coleta de dados na pesquisa.

A metodologia adotada, nessa primeira etapa, compreendeu investigação sobre as

condições de produção e recepção de uma campanha publicitária. Ainda na primeira parte da

pesquisa, que se voltou para o acompanhamento do ambiente acadêmico e profissional do

publicitário, procurei observar, em aulas de duas disciplinas, conforme dito acima, no curso

de Publicidade e Propaganda, o discurso de formação do futuro profissional publicitário. Os

registros dessas aulas compreendem as atividades solicitadas pelos professores, a postura dos

alunos na execução das tarefas propostas e o que, nessas práticas, se julgava necessário à

atuação do publicitário. Em seguida, foram realizadas visitas a duas agências de comunicação,

onde foi possível entrevistar (num primeiro momento, informalmente) profissionais com

funções variadas e conhecer o ambiente das agências. Escolhida a campanha a ser analisada,

foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os publicitários responsáveis pela criação

da campanha, na agência, e com representantes da Secretaria de Comunicação da Instituição

de ensino.

A segunda parte da pesquisa, em que se previa a análise da repercussão, junto ao

público-alvo, da circulação da campanha em diversos veículos da mídia, foi subdividida, por

sua vez, em duas fases. Na primeira fase, optei pela aplicação de questionários de avaliação a

um grupo de sujeitos pertencentes ao público-alvo da campanha, isto é, candidatos

efetivamente inscritos no processo do vestibular.

Essa aplicação dos questionários aos informantes pertencentes ao público-alvo ocorreu

em três momentos distintos, como explico a seguir: o primeiro questionário foi aplicado no

dia do vestibular, dentro do campus da Instituição, a 412 informantes. A sequência de

1 Dados de 2009.

23

aplicação dos questionários ocorreu via correio eletrônico, com 20 integrantes do grupo

anterior, no segundo momento, e 9, no terceiro2.

Tendo finalizado essas etapas previstas, dados os números de participantes das etapas

2 e 3 de aplicação do questionário, mostrou-se imperativo acrescentar outra fase de pesquisa,

usando metodologia diferenciada. Nesse momento, foram realizadas entrevistas individuais

semiestruturadas com outros cinco informantes que fazem parte do público-alvo da campanha

analisada, isto é, futuros vestibulandos, alunos da 3ª série do Ensino Médio de uma escola da

rede particular de Belo Horizonte. Em seguida, realizamos um grupo de discussão livre em

que esses informantes assistiram à peça da campanha produzida para televisão (TV) e viram

imagens de peças impressas – outdoor e backbus. Nessa discussão, eles puderam se expressar

sobre o material publicitário e as significações sobre a Instituição daí emergentes, bem como

sobre o impacto daquelas peças na opção de cada um pela Instituição em que iria prestar

vestibular.

Essa etapa final foi importante pois complementou o que se anunciou no resultado das

pesquisas escritas, realizadas com um público maior. No grupo de discussão, as

representações emergem e dialogam à medida que os participantes ouvem a posição do outro

e com ela concordam ou dela discordam, trazendo à cena novas evocações.

Toda essa trajetória, portanto, possibilitou que pudéssemos flagrar em momentos

distintos ideias e valores concernentes ao produto veiculado na campanha e o modo como ele

era percebido e moldado pelos sujeitos envolvidos na interação (enunciadores e

enunciatários).

Esta tese compõem-se, em sua organização, de seis capítulos, a começar por esta

Introdução. O segundo capítulo trata dos subsídios teóricos que nortearam a pesquisa,

especialmente em relação à Teoria da Representação Social, aos conceitos de discurso e

enunciação, além de fundamentos do discurso publicitário. O Capítulo 3 cuida da metodologia

empregada nas fases da pesquisa. Os dois capítulos seguintes, 4 e 5, fornecem análise dos

dados da pesquisa no que concerne às fases de produção e recepção da campanha,

respectivamente. Por fim, as considerações finais, que encerram o trabalho.

2 No dia das provas do vestibular na Instituição, no primeiro momento de aplicação de questionário, 412 sujeitos foram entrevistados. Desses, 293 informaram seu endereço eletrônico, manifestando, assim, interesse em continuar participando da pesquisa. Grande parte desses endereços, porém, estava ilegível, o que provocou considerável diminuição no número de informantes. Obtive apenas 20 respostas ao segundo questionário e 9 ao terceiro.

24

2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, DISCURSO E PUBLICIDADE

Neste capítulo, pretendo apresentar as bases teóricas que orientaram o trabalho e

sustentaram a análise. O que se desejou foi – sem perder de vista o rigor da atividade

científica – buscar articulações entre áreas diversas, que poderiam se combinar para

fundamentar a pesquisa que ora se apresenta. Observe-se, porém, que, com esse expediente,

não se levanta uma bandeira inédita, dado que essa prática tem sido recorrente em trabalhos

nos estudos que têm a linguagem como elemento norteador.

2.1 Possibilidades de diálogo

Assim como a Psicanálise, a Sociologia ou a Filosofia têm se valido de alguns

conceitos oriundos de estudos linguísticos para tratar de seus próprios objetos, mesmo porque

a linguagem é uma atividade essencialmente humana, do mesmo modo, não se mostrando

estanque nem inerte a esse movimento, o campo da Análise do Discurso, que nasce sustentado

por diferentes áreas, continua propondo diálogos quando se trata de procurar entender o

homem, sua ação no mundo e sua relação com os outros seres.

Baseando-me nessa premissa, apresento uma proposta que se apoia fundamentalmente

em dois pilares: por um lado, em abordagens discursivas e, por outro, em uma linha teórica da

Psicologia Social, a Teoria das Representações Sociais (TRS), desenvolvida por Moscovici

(1979) em 1961. Esse diálogo pretende proporcionar uma análise de textos midiáticos, que

envolvem, claro, sujeitos, sociedades, valores.

A linguagem, cada vez mais, tem sido tratada como meio de interação e não apenas

como um instrumento possibilitador de transmissão de informação. Matencio, por exemplo,

define linguagem “como a capacidade humana de simbolizar e de realizar ações simbólicas,

[...] regulada nas e pelas práticas sociais. Pensamento, linguagem e sociedade são, portanto,

realidades indissociáveis” (MATENCIO, 2006, p.4).

Nesse sentido, a autora propõe “articulações entre questões de interesse para as

abordagens discursivas e para a Teoria das Representações Sociais” (MATENCIO, 2006, p.1),

alegando que esses dois campos podem ser considerados complementares em relação ao

funcionamento das práticas sociais de linguagem. Nessa proposta, cujos princípios mais gerais

25

são assumidos neste trabalho, pretende-se basear os estudos em torno da significação no

âmbito da Linguística dos textos e dos discursos, pois esta pode oferecer “categorias analíticas

bem mais produtivas” ao operar com “mecanismos e estratégias de textualização e de

produção de sentido” (MATENCIO, 2006, p.7).

É tomando, portanto, a linguagem como atividade, como um jogo em que os

interactantes desempenham papéis sociais a fim de atingir determinados objetivos e realizar

ações, e que essas ações são reguladas por representações sociais, que se desenvolveu este

trabalho.

2.2 Uma passagem pela Teoria das Representações Sociais (TRS)

Moscovici, em 1961, concluindo sua tese, La Psychanalyse, son image et son public,

inaugura na Europa uma forma sociológica de Psicologia Social. Isso significa que essa

vertente nascia com uma natureza diferente da Psicologia Social estadunidense, em voga na

época, mas mais voltada para o individual e as impressões que o social imprimia no sujeito.

Nesse período, psicólogos e sociólogos lutam pela titularidade da ciência/disciplina Psicologia

Social (PS), ora alegando que foi Comte, com o positivismo, que fundou a PS moderna

(ALLPORT, 1954 apud FARR, 2009), ora atribuindo a Durkheim a responsabilidade pela

origem dos estudos com suas representações coletivas (MOSCOVICI, 2005). Hoje em dia, há

ainda formas rivais na TRS, de cunho “psicológico” dentro da própria PS. Segundo Farr

(2009), esse diálogo é transatlântico, pois relembra a localização EUA/Europa. Divergências

teóricas emergem em todas as áreas do saber, e são até saudáveis por propiciarem a discussão

e alavancarem teorias. Interessam a este trabalho os conceitos desenvolvidos na vertente

europeia da disciplina, os quais já se encontram em franco diálogo com a AD3.

3 Cf. trabalhos desenvolvidos no grupo de pesquisa Leitura, Produção de Textos e Construção de Conhecimentos (LePTeCCo), da PUC Minas, como, por exemplo: BRASILEIRO, Ada Magaly Matias. Um estudo sobre a emoção na interação em sala de aula e suas implicações no envolvimento dos alunos com as atividades propostas e nas representações sociais ali construídas. Tese em elaboração; MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles; RIBEIRO, Pollyanne Bicalho. A dinâmica das e nas representações sociais: o que nos dizem os dados textuais?. Estudos Linguísticos, São Paulo, v.3, n.38, p.229-238, set./dez. 2009; OLIVEIRA, Adilson Ribeiro de. Processos de referenciação, emergência de representações sociais e produção de sentido: um olhar sobre percursos interpretativos na atividade de leitura. (2011) 259f. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-graduação em Letras, Belo Horizonte; e SILVA, Jânia Almeira. Representações sociais de ensino: uma investigação nas atividades discursivas da Educação Especial. Dissertação em elaboração.

26

Nesse sentido, pretendo apresentar um panorama da teoria e dos conceitos com os

quais irei trabalhar.

2.2.1 A gênese da TRS

Em primeiro lugar, é preciso definir o escopo da ciência, que é bastante amplo. A

Teoria das Representações Sociais pretende estudar a forma como os conhecimentos são

sistematizados pelos grupos sociais e se transformam em sistemas de valores e crenças sobre

os quais a sociedade se alicerça e pelos quais seus membros conseguem se comunicar por

meio da linguagem. O primeiro passo é a percepção de que a realidade é representada, é

produzida pelo grupo em que os sujeitos estão inseridos, como explica Abric:

É esta realidade reapropriada e reestruturada que constitui, para o indivíduo ou o grupo, a realidade mesma. Toda representação é, portanto, uma forma de visão global e unitária de um objeto, mas também de um sujeito. Esta representação reestrutura a realidade para permitir a integração das características objetivas do objeto, das experiências anteriores do sujeito e do seu sistema de atitudes e de normas. Isto permite definir a representação como uma visão funcional do mundo, que, por sua vez, permite ao indivíduo ou ao grupo dar um sentido às suas condutas e compreender a realidade através de seu próprio sistema de referências (ABRIC, 2000, p.27-28).

O estudo de Moscovici surgiu da necessidade de se avaliar, na sociedade francesa, o

conceito e a influência da psicanálise. O autor então percebe que há um movimento mais

social do que individual no processo de aquisição e circulação de um determinado conceito.

As bases sobre as quais Moscovici pode desenvolver sua teoria serão brevemente anunciadas

a seguir.

Para Durkheim, de quem Moscovici toma emprestado o termo “representações

coletivas”, tudo se incluía nas representações: ideia, emoção ou crença. Para o sociólogo,

as representações coletivas traduzem a maneira como o grupo se pensa nas suas relações com os objetos que o afetam. Para compreender como a sociedade se representa a si própria e ao mundo que a rodeia, precisamos considerar a natureza da sociedade e não a dos indivíduos. (DURKHEIM, 2001, p.21).

Na sua visão, a sociedade é uma realidade em si, ela tem força autônoma para coagir o

indivíduo. As representações, então, agiriam como suporte para palavras ou ideias. Durkheim

27

elege a Psicologia Social como a disciplina mais equipada para o estudo das representações.

Na Sociologia, porém, não houve dedicação ao estudo de seu funcionamento e

comportamento, embora sua existência fosse tomada como certa, da mesma forma que os

genes o são para a genética tradicional.

A preocupação que se instala é com os fenômenos sociais, que podem ser explicados

tanto pela via da sociedade, como queria Durkheim, quanto pela via do indivíduo, como

pretende a Psicologia. Daí emerge a contribuição da Psicologia Social, que quer dar conta de

um fenômeno social a partir da interação entre os indivíduos.

Wundt, considerado o pai da psicologia, citado por Farr (2009), argumenta que

fenômenos sociais não podem ser explicados em termos de indivíduo, que não é capaz de,

sozinho, inventar uma língua ou uma religião – produtos do povo (comunidade), que só

podem surgir da interação entre indivíduos.

Para Le Bon (1895), também citado por Farr (2009), as massas são irracionais,

enquanto o indivíduo é racional. Freud priorizava o estudo clínico dos indivíduos e passou a

se ater à crítica psicanalítica da cultura e da sociedade. Vivendo entre França e Alemanha, o

psicólogo recebe influência de duas grandes correntes, as quais ele, de certa forma, une. “Ao

passar do nível do coletivo para o nível do individual, ele tinha desenvolvido uma teoria

social da mente humana” (FARR, 2009, p.40), porque, para ele, o indivíduo está inserido na

massa e mantém relação com os outros. O sonho, por exemplo, é sonhado individualmente,

mas influenciado pela cultura da sociedade em que se insere aquele que sonha.

Mead (1934), igualmente citado por Farr (2009), também é figura importante para a

TRS porque, assim como Freud, foi influenciado por Wundt. A contribuição do filósofo

americano à TRS reside na ênfase dada à linguagem, baseada em Darwin. Para o autor, a

linguagem difere os homens dos animais. “Nas sociedades modernas a linguagem é,

provavelmente, quase que a única importante fonte de representações coletivas” (FARR,

2009, p.41). E também, como o fez Moscovici, Mead sintetiza o individual e o coletivo, ao

contrário de Durkheim e Wundt, que preferem antitetizá-los.

A preocupação entre essa distinção se fez presente no nascimento da Linguística, mas

em nível intermediário, quando Saussure diferencia langue e parole: a langue é coletiva, mas

a parole é interativa e não individual.

28

2.2.2 O objeto de estudo da TRS: as representações sociais

A definição de RS surge quando “Moscovici afirma que a noção de representação

coletiva de Durkheim descreve, ou identifica, uma categoria coletiva que deve ser explicada a

um nível inferior, isto é, um nível da Psicologia Social” (FARR, 2009, p.44). Para Moscovici,

“em uma palavra, bem como em mil, a representação social é uma modalidade particular de

conhecimento, cuja função é a elaboração dos comportamentos e da comunicação dos

indivíduos” (MOSCOVICI, 1979, p.17, tradução minha)4. Segundo Farr, representações

coletivas se relacionam com sociedades menos complexas. As sociedades modernas são

caracterizadas por pluralismo e rapidez na economia, política e cultura. Para o autor, “há, nos

dias de hoje, poucas representações que são verdadeiramente coletivas” (FARR, 2009, p.45),

dado o fato de que as sociedades se modificam com muita rapidez. Como a ciência também se

desenvolve rapidamente, ela, como lembra Farr, “é uma fonte fecunda de novas

representações” na visão de Moscovici (FARR, 2009, p.45). “As representações estão

presentes tanto “no mundo”, como “na mente”, e elas devem ser pesquisadas em ambos os

contextos” (FARR, 2009, p.46).

Estudar as Representações Sociais é estudar o ser humano enquanto ele pensa.

Segundo Frege, citado por Moscovici (2005), os pensamentos são reais. Tão reais que causam

mudanças no mundo exterior. Entretanto, “somente vale a pena estudar uma representação

social se ela estiver relativamente espalhada dentro da cultura em que o estudo é feito.”

(FARR, 2009, p.46). O que devemos estudar, então, para estudar as representações? Segundo

Moscovici, primeiramente isso significa estudar “as circunstâncias em que os grupos se

comunicam, tomam decisões e procuram tanto revelar, como esconder algo” (MOSCOVICI,

2005, p.43) e, além disso, estudar também “suas ações e crenças – ideologias, ciências e

representações” (MOSCOVICI, 2005, p.43). A Psicologia Social tem se debruçado sobre o

conceito e se (pré)ocupa com a forma como se estruturam e se dinamizam as representações

(MOSCOVICI, 2005) como um fenômeno e não como um conceito apenas. Nesse sentido, o

estudo que aqui se propõe se justifica pela onipresença do discurso publicitário na sociedade

contemporânea. Forçoso se faz estudar as representações sociais que circulam no discurso

publicitário.

4 Em uma palabra, así como sucede en mil, la representación social es uma modalidad particular del conocimiento, cuya función es la elaboración de los comportamientos y la comunicatión entre los individuos.

29

Estudar as representações sociais significa estudar as formas como as sociedades se

constituem, como os indivíduos balizam suas ações no grupo social e, em última instância,

significa estudar como os indivíduos constroem sua realidade. Assumo, com Abric, o

princípio de que não existe uma realidade objetiva, externa. Logo, “toda realidade é

representada, apropriada pelos indivíduos e pelos grupos, reconstruída no seu sistema

cognitivo, integrada no seu sistema de valores dependendo de sua história e do contexto social

e ideológico que os cercam”5 (ABRIC, 2003, p.375, tradução minha). “O conhecimento das

representações sociais é indispensável se queremos compreender os comportamentos e as

práticas sociais, pois elas são as guias da ação, elas orientam as relações, as comunicações e

as práticas sociais”6 (ABRIC, 2003, p.375, tradução minha). Elas atuam como “um sistema de

interpretação da realidade que rege as relações dos indivíduos com o seu meio físico e social,

ela [a representação] vai determinar seus comportamentos e suas práticas” (ABRIC, 2000,

p.28).

O autor, na sequência, define a RS como “um conjunto organizado de informações, de

opiniões, de atitudes e de crenças a propósito de um dado objeto”7 (ABRIC, 2003, p.375,

tradução minha). Ora, esse conjunto só pode ser estruturado socialmente, a partir do discurso.

2.2.2.1 Estrutura da RS

Para se identificar uma representação, deve-se necessariamente levar em conta dois

componentes: seu conteúdo e sua estrutura. A RS se organiza em torno de um núcleo central

constituído de um ou mais elementos que garantem a sua significação (cf. ABRIC, 2000).

O núcleo central da representação possui duas funções essenciais: função geral –

transforma a significação de outros elementos da RS – e função organizadora – unifica e

estabiliza a RS. O núcleo é o elemento mais estável da representação, o que resiste à

mudança. Quando ele muda, a representação muda. É preciso, para definir uma representação,

5 Toute réalité est représentée, c’est-à-dire appropriée par les individus et les groupes, reconstruite dans leur système cognitif, intégrée dans leur système de valeurs dépendant de leur historie e du contexte social e idéologique qui les environne. 6 La connaissance des représentations sociales est donc indispensable si l’on veut comprendre les comportements et les pratiques sociales, car elles sont les guides de l’actions, elles orientent les relations, les communications et les pratiques sociales. 7 un ensemble organisé d’informations, d’opinions, d’attitudes et de croyances à propos d’um objet donné.

30

conhecer os elementos que constituem o núcleo central da representação e como eles se

organizam.

Os elementos periféricos são aqueles que se organizam em torno do núcleo central.

São mais instáveis, mas ao mesmo tempo mais concretos, mais visíveis ao contexto. Eles

podem se transformar e se adaptar ao contexto, mas não com tanta facilidade, pois sua função

também é defender o núcleo central e resistir à mudança.

2.2.3 Representações e realidade

É fato que temos necessidade de compreender a realidade, avaliar os seres e os

objetos, situarmos no mundo, porém, para Moscovici (1979), em primeiro lugar, nós não

conseguimos ver o que está diante de nossos olhos, devido a termos acesso a uma realidade

previamente fragmentada. Em segundo lugar, temos a capacidade de transformar ilusões em

fatos, isto é, o que é aparência passa a ser realidade, de tanto que já nos acostumamos a ver os

fatos de certa forma. É como se, através de esquemas, julgássemos a conclusão antes de ver o

desenvolvimento. E, por fim, possuímos um tipo comum de reação a determinados estímulos

própria da comunidade em que estamos inseridos. São as representações que orientam nosso

agir. “No que se refere à realidade, essas representações são tudo o que nós temos, aquilo a

que nossos sistemas perceptivos, como cognitivos, estão ajustados”, afirma o autor

(MOSCOVICI, 2005, p.32). É a elas que nos voltamos quando agimos. A circulação de RS

ocorre também pela mídia, inclusive no discurso publicitário, que é o objeto deste trabalho.

Nesse discurso, a que chega a invadir o espaço em que se encontra o receptor, sem sua

solicitação, funciona também como um regulador da ação social. Será demonstrado, nos

capítulos 4 e 5, pela análise da campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010, como as

representações emergem no momento da produção do texto e podem ser absorvidas no

momento de sua circulação pelos receptores dos textos.

As representações convencionalizam os objetos, as pessoas e os acontecimentos.

Categorizam, modelam, alocam os novos elementos nos moldes dos já conhecidos. Tratam

dos saberes, dos valores e das crenças da sociedade. Mas como essas representações são

geridas no grupo social? Como são interpretadas pelo grupo? Um sinal é sempre interpretado

em seu contexto, em função de convenções preliminares. Estamos cercados de sinais:

imagens, palavras e ideias que penetram nossos olhos, ouvidos e mente.

31

Para Moscovici, estamos de certo modo condicionados por essas convenções. Nossas

mentes não estão livres delas. Entretanto, é possível buscar uma maior consciência dessas

convenções, não sem algum esforço. A realidade pode ser entrevista pelas convenções,

percepções e pensamentos que nos rodeiam, mas podemos tentar “descobrir e explicitar uma

única representação” (MOSCOVICI, 2005, p.36). Isto é, podemos, de algum modo, ainda que

demande esforço, tomar consciência dessas convenções às quais estamos condicionados e

tentar uma autonomia no nosso pensar e no nosso agir e, no texto publicitário, isso pode ser

percebido com muita clareza. O discurso publicitário quer vender uma imagem que

condiciona o sujeito a agir de determinada forma. Nesse discurso circulam representações

sociais que se materializam na ação dos sujeitos.

Moscovici (1981) explica que as RS são formas de conhecimento social que, assim

como o signo linguístico, possuem dois lados, o figurativo e o simbólico. O símbolo cria o

objeto representado em uma nova realidade. É no contexto dessas experiências únicas entre

sujeitos, ao mesclar experiências, que se constitui a realidade social. Kaës (1984), citado por

Jovchelovitch (2009), pontua que a representação é trabalho de lembrança do que está

ausente, na medida em que só por elas o sujeito é capaz de dar às coisas do mundo uma nova

forma.

Moscovici, o criador da Teoria das Representações Sociais, muito bem disserta sobre a

vivência do indivíduo na sociedade: “os indivíduos, em sua vida cotidiana, não são

unicamente máquinas passivas que obedecem a aparelhos, registram mensagens e reagem aos

estímulos exteriores”8 (MOSCOVICI, 1979, p.37, tradução minha); ao contrário, “têm a

frescura da imaginação e o desejo de dar um sentido à sociedade e ao universo a que

pertencem”9 (MOSCOVICI, 1979, p.37, tradução minha). Entendido dessa forma, o sujeito

não pode ser tomado como o sujeito assujeitado. Ele, sujeito/indivíduo, tem vontades, age, faz

circular conceitos, impõe vontades. Ao mesmo tempo, acolhe e assimila aquilo que a

sociedade lhe oferece. E o faz, acrescento, na e pela linguagem.

O autor ainda afirma que as representações são prescritivas, isto é, têm força e se

impõem, pois vêm de uma estrutura antiga e tradicional. São “o produto de uma sequência

completa de elaborações e mudanças que ocorrem no discurso do tempo e são o resultados de

sucessivas gerações” (MOSCOVICI, 2005, p.37). Quer dizer, são dotadas de força histórica.

8 Los indivíduos, en su vida cotidiana, no son únicamente máquinas pasivas que obedecen a aparatos, registran mensajes y reaccionan a los estímulos exteriores. 9 [...] poseen la frescura de la imaginación y el deseo de dar um sentido a la sociedad y al universo que les pertencen.

32

No caso das propagandas e da construção das marcas, é fácil constatar no mercado a

categorização de uma marca como boa ou ruim, em função não de sua avaliação atual, mas

daquilo que foi construído por gerações anteriores. A título de exemplificação, uma campanha

da Fiat Automóveis, chamada “Rever seus conceitos”, que circulou em 1996, tentava quebrar

um paradigma negativo ao lançar um novo modelo do veículo Palio.

Conforme define Moscovici (2005, p.38), “as representações são entidades sociais,

com uma vida própria, comunicando-se entre elas, opondo-se mutuamente e mudando em

harmonia com o curso da vida; esvaindo-se, apenas para emergir novamente sob novas

aparências”. São mesmo consideradas autônomas e aparecem como realidades

inquestionáveis que temos de confrontar. São tecidas no tempo e na história, em múltiplas

relações. No entanto, é preciso assumir que pessoas e grupos “pensam por si mesmos,

produzem e comunicam incessantemente suas próprias e específicas representações e soluções

às questões que eles mesmos colocam” (MOSCOVICI, 2005, p.45).

Sob esse ponto de vista, todas as interações humanas pressupõem representações que

são capazes de influenciar e orientar o comportamento dos indivíduos e dos grupos.

Moscovici afirma ainda que as representações que lhe interessam são as de hoje, “do

nosso solo político, científico, humano”. Como elas são mutáveis, rapidamente se

transformam, às vezes nem têm tempo de se sedimentar, devido em grande parte aos meios de

comunicação em massa.

Depois de criada, a representação adquire vida própria, circula livremente; novas

representações nascem, velhas representações morrem. A representação se torna fossilizada à

medida que sua origem é esquecida e sua natureza convencional é ignorada (MOSCOVICI,

2005).

Ao eleger como objeto de pesquisa os fenômenos das representações sociais, ocorre

uma simplificação dos fenômenos em relação ao objeto de pesquisa. Isto é, “há uma

simplificação quando passamos do fenômeno ao objeto de pesquisa” (SÁ, 1998, p.22), da

mesma forma que as representações sociais são uma simplificação da própria realidade. Não

se pode falar em representação social sem especificar o sujeito e o objeto da representação a

ser estudada, pois “uma representação social é sempre de alguém (o sujeito) e de alguma coisa

(o objeto)” (SÁ, 1998, p.24).

As representações sociais sustentam a coletividade, pois corporificam experiências,

ideias de forma coletiva. Necessário se faz descrever e explicar as RS como “um modo

particular de compreender e de se comunicar” – responsável por criar a realidade e o senso

comum. De modo geral, elas podem responder a uma necessidade, como uma pessoa ou um

33

grupo que cria imagens que podem revelar ou ocultar suas intenções (distorcidas em relação à

realidade objetiva). Elas também podem responder a um estado de desequilíbrio, como a

criação de compensações imaginárias para restaurar a estabilidade interna. E, ainda, são

capazes de favorecer a dominação impopular, como os grupos que controlam as

representações para manipular o pensamento, por exemplo no caso de propagandas que

exercem coerção forçada em seus destinatários.

“Ao se estudar uma representação, nós devemos sempre tentar descobrir a

característica não-familiar que a motivou, que esta absorveu” (MOSCOVICI, 2005, p.59),

porque é nessa brecha que se restabelece o sentido. O que não é familiar se nota pela ausência

e pela ameaça à ordem estabelecida. Nós julgamos, rotulamos, classificamos e criamos uma

imagem antes de obter informações sobre o ser ou o objeto e, dessa forma, nosso mundo se

enriquece, nesse processo de colocar o não familiar no lugar familiar. É esta a finalidade de

todas as representações, segundo Moscovici: “tornar familiar algo não-familiar, ou a própria

não-familiaridade” (MOSCOVICI, 2005, p.54). O autor quer dizer que é preciso encaixar nos

nossos sistemas de crenças e valores um elemento novo. Ele deve estar em consenso com o

que já é admitido pelo grupo. “A dinâmica das relações é uma dinâmica de familiarização,

onde os objetos, pessoas e acontecimentos são percebidos e compreendidos em relação a

prévios encontros e paradigmas” (MOSCOVICI, 2005, p.55). Seria o mesmo a ocorrer com os

gêneros textuais: são difundidos no grupo, previamente conhecidos, estáveis em sua

formação.

A TRS, segundo Jovchelovitch (2009), mantém – há mais ou menos 30 anos após seu

surgimento – aceso o debate acerca da relação indivíduo/sociedade e da construção dessa

relação. Sendo a TRS uma teoria que “nasceu sob a égide de interrogações radicais”

(JOVCHELOVITCH, 2009, p.63), não poderia jogar para debaixo do tapete essa questão que,

por vezes, apresenta soluções maniqueístas. Não há sujeito sem história, tampouco história

sem sujeito.

A autora afirma que a TRS “se articula tanto com a vida coletiva de uma sociedade,

como com os processos de constituição simbólica, nos quais sujeitos sociais lutam para dar

sentido ao mundo e nele encontrar o seu lugar, através de uma identidade social”

(JOVCHELOVITCH, 2009, p.65). Nesse sentido, acompanhando a explanação da autora, é

preciso tentar entender como o sujeito constrói sua identidade social, identidade de pertença a

um grupo, comungando com os valores e a ideologia desse grupo. Para a autora, a esfera

pública é o lugar da alteridade e é lá que as representações podem ser estabelecidas. Em

34

outras palavras, as representações sociais são fundadas no espaço público, espaço de

desenvolvimento do eu e da alteridade.

Jovchelovitch (2009) recorre a Arendt para definir o conceito de espaço público: é o

lugar onde os homens habitam, com suas diferenças. É lugar de ação e de discurso, lugar de

pluralidade e diversidade. É, enfim, o mundo comum a todas as pessoas, que difere do espaço

privado. Na esfera pública, discordâncias são amenizadas, pois as pessoas são diferentes. “se

fôssemos todos idênticos não haveria a necessidade de comunicação ou da ação sobre o que

nunca varia” (JOVCHELOVITCH, 2009, p.67). É a própria experiência da pluralidade e da

diversidade, em busca do consenso, que sustenta a esfera pública. “É a arena de encontros da

vida pública que garante as condições para descobrir as preocupações comuns do presente,

projetar o futuro e identificar aquilo que o presente e o futuro devem ao passado”

(JOVCHELOVITCH, 2009, p.68). Nesse espaço de diálogo, a comunidade pode “desenvolver

e sustentar saberes sobre si própria – ou seja, representações sociais” (JOVCHELOVITCH,

2009, p.71).

A autora também retoma Habermas, para quem a esfera pública é “o espaço em que os

cidadãos se encontram e falam uns com os outros de forma que garanta acesso a todos”

(JOVCHELOVITCH, 2009, p.70). Nessa esfera, o cidadão pode se ver pelos olhos do outro,

já que “a verdadeira possibilidade de acesso à individualidade reside na presença de outros”

(JOVCHELOVITCH, 2009, p.70).

Guareschi (2007) afirma que os sujeitos representam aquilo que conhecem, o que

pensam, falam. O autor assume que não existe uma separação entre a representação mental, o

sujeito que conhece e o objeto conhecido. “É impossível conhecer sem representações”

(GUARESCHI, 2007, p.31), assegura o autor. As representações são, para ele, uma

construção simbólica do mundo. “A teoria das representações sociais concebe o pensar e a

linguagem como capturados no senso comum, no discurso cotidiano” (GUARESCHI, 2007,

p.32). As crenças e o conhecimento comum são “baseados no passado, na cultura, na tradição

e na linguagem” (GUARESCHI, 2007, p.32) de uma sociedade.

O indivíduo não pensa sozinho: por trás dele há uma associação de indivíduos, uma

unidade social em que ele está inserido. “As Representações Sociais são, pois, entidades

concretas, realidades em si mesmas, conjuntos de saberes e práticas que constituem e ocupam

um espaço vital e simbólico, no qual nos movemos, pensamos, falamos e somos levados a

agir” (GUARESCHI, 2007, p.34).

Então, estudar ou analisar as RS é também analisar os processos de comunicação e

vida que “engendram” e “conferem uma estrutura peculiar a elas” (JOVCHELOVITCH,

35

2009, p.81), ou seja, é preciso cuidar das mediações sociais, nos campos da comunicação, do

trabalho, da natureza, dos ritos, mitos e símbolos que circulam socialmente. Nesse sentido a

escolha pela análise de RS que circulam em meios de comunicação social, como as

campanhas publicitárias, encontra respaldo. Não se chega às RS estudando e juntando as

representações individuais, mas lidando com o social.

As crenças e representações que circulam na sociedade são vistas e avaliadas pelo

indivíduo sob o olhar da sociedade. Charaudeau explica que

as crenças dão conta do mundo quanto à maneira de proceder à regulação das práticas sociais, ao se criarem normas efetivas de comportamento, e também quanto aos discursos de representações produzidos no âmbito do grupo social, para avaliar esses comportamentos, criando-se, assim, normas ideais (CHARAUDEAU, 2006, p.46, grifos do autor).

Ora, essas normas dão conta da constatação das formas de agir na sociedade e da

avaliação que se estabelece sobre elas. Para o autor, “as representações, ao construírem uma

organização do real através de imagens mentais transpostas em discurso ou em outras

manifestações comportamentais dos indivíduos que vivem em sociedade, estão incluídas no

real, ou mesmo dadas como se fossem o próprio real” (CHARAUDEAU, 2006, p.46-47). Isto

é, o autor caracteriza como uma espécie de metadiscurso pelo qual o grupo social baliza suas

formas de comportamento. As representações, nesse sentido, “produzem normas e revelam

sistemas de valores” (CHARAUDEAU, 2006, p.47, grifos meus) por meio das palavras, do

discurso.

Ao lidar com as RS sobre a PUC Minas, lidamos com representações de estudo,

educação, posição social, saber, diploma, etc., que, mesmo sem estarem no alvo da análise, a

perpassam.

2.3 Discurso e enunciação

Os dois conceitos anunciados no título desta seção precisam encontrar definição

sistemática na sustentação da análise que aqui se propõe. Discurso e enunciação, embora não

sejam sinônimos, mantêm uma forte ligação.

36

2.3.1 Discurso e interação

O termo discurso, tal como entendido hoje no campo dos estudos linguísticos, ganha

notabilidade nos anos 60, com o surgimento da Análise do Discurso (AD), quando sua

acepção se difere daquela que era comumente usada: discurso oratório, ou mesmo fala de um

grupo. Na acepção que se assume aqui, com Maingueneau, discurso “pode designar tanto o

sistema que permite produzir um conjunto de textos, quanto o próprio conjunto de textos

produzidos” (MAINGUENEAU, 2001, p.51). Para o autor, “o discurso não é nem um sistema

de ‘ideias’, nem uma totalidade estratificada que poderíamos decompor mecanicamente, nem

uma dispersão de ruínas passível de levantamentos topográficos, mas um sistema de regras

que define a especificidade de uma enunciação” (MAINGUENEAU, 2008, p.19). O discurso

se configura, então, como um todo que garante a ligação entre forma e conteúdo.

A ‘enunciabilidade’ de um discurso, o fato de que tenha sido objeto de atos de enunciação por um conjunto de indivíduos não é uma propriedade que lhe seja atribuída por acréscimo, mas algo de radical, que condiciona toda a sua estrutura. É preciso pensar ao mesmo tempo a discursividade como dito e como dizer, enunciação e enunciado (MAINGUENEAU, 2008, p.19, grifo meu).

Interessam também à Análise do Discurso as possibilidades de leitura e de produção

de sentido desse texto, suas condições de produção, em que contexto, restrito à situação de

enunciação ou sócio-histórico, ele foi gerado e, ainda, seu diálogo com outros discursos.

A Análise do Discurso, como dito, nasce na década de 60 sustentada em três campos

do saber. Sua gênese se ampara sobre um momento histórico em que havia uma preocupação

com a língua enquanto veículo de transmissão e perpetuação ideológica. Nesse sentido, o

Marxismo, a Psicanálise e a Linguística foram a base fundadora de uma disciplina que

recusava o estruturalismo vigente e se abria a novas possibilidades e investigações

(ORLANDI, 1999).

Pela AD busca-se flagrar a linguagem em seu funcionamento, o modo pelo qual o

homem se insere no mundo, de forma simbólica, e se constitui e constitui sua história. Pela

linguagem, a Análise do Discurso permite “conhecer melhor aquilo que faz do homem um ser

especial com sua capacidade de significar e significar-se” (ORLANDI, 1999, p.15). A

linguagem é mediação pela qual o homem se concebe em dada realidade social. Essa

mediação, segundo Orlandi, é o discurso, que tanto possibilita “a permanência e a

37

continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele

vive” (ORLANDI, 1999, p.15).

Em outras palavras, é preocupação da AD adicionar aos estudos da linguagem seu

caráter sócio-histórico, isto é, pensar o sujeito como um ser posicionado histórica e

socialmente, atravessado por outros discursos, além de sofrer intervenções desse contexto.

É a língua em funcionamento, produzindo sentidos, constituída em textos, que

interessa à Análise do Discurso. Orlandi resume o propósito da AD, dizendo que

se a Análise do Discurso é herdeira das três regiões de conhecimento – Psicanálise, Linguística, Marxismo – não o é de modo servil e trabalha uma noção – a de discurso – que não se reduz ao objeto da Linguística, nem se deixa absorver pela Teoria Marxista e tampouco corresponde ao que teoriza a Psicanálise. Interroga a Linguística pela materialidade que ela deixa de lado, questiona o Materialismo perguntando pelo simbólico e se demarca da Psicanálise pelo modo como, considerando a historicidade, trabalha a ideologia como materialmente relacionada ao inconsciente sem ser absorvida por ele (ORLANDI, 1999, p.20).

Reunindo alguns pontos e contrapondo-se a outros, na confluência dessas três áreas,

surge então a Análise do Discurso como tentativa de constituir um novo objeto: o discurso.

Esse objeto vai além da vertente estruturalista, pois a AD vê a linguagem como espaço de

interação entre sujeitos e não como meio de transmissão de mensagens, em que um emissor

transmite a um receptor uma mensagem por meio de um código. Esses espaços – emissor e

receptor – não são separados, mas constituem-se enquanto ação e processo de significação.

Pela linguagem esses sujeitos se constituem, por meio da língua e da história, mas também

são afetados por elas. Por isso, não se pode falar pura e simplesmente em transmissão de

mensagens, mas em produção de sentidos. São muitas as relações envolvidas entre esses

sujeitos e entre os sentidos que produzem para minimizá-los a mera transmissão de

informações (ORLANDI, 1999).

O discurso, para Maingueneau, é uma forma de ação e possui caráter interativo:

A atividade verbal é, na realidade, uma inter-atividade entre dois parceiros, cuja marca nos enunciados encontra-se no binômio EU-VOCÊ da troca verbal. [...] Toda enunciação, mesmo produzida sem a presença de um destinatário, é, de fato, marcada por uma interatividade constitutiva (fala-se também de dialogismo), é uma troca, explícita ou implícita, com outros enunciadores, virtuais ou reais, e supõe sempre a presença de uma outra instância de enunciação à qual se dirige o enunciador e com relação à qual constrói seu próprio discurso (MAINGUENEAU, 2001, p.53-54, grifos do autor).

É inter-atividade por meio da linguagem. “A linguagem é linguagem porque faz

sentido. E a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história” (ORLANDI, 1999,

38

p.25). A linguagem é histórica, é produção de um sujeito que assume posições. A

compreensão, a busca pelos sentidos, parte da ideia de que eles não estão “lá”, mas são

construídos no escopo das relações entre os sujeitos. Resumindo,

a Análise do Discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica em explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se assim novas práticas de leitura (ORLANDI, 1999, p.26-27, grifo meu).

O analista do discurso procura, dessa forma, captar os sentidos possíveis do texto, não

apenas interpretar o texto, ou atravessá-lo para buscar o sentido que está por trás dele. Sua

tarefa é, à luz de suas condições de produção, relacionando sujeito e sentido, entender como

são permitidas as leituras que dali se depreendem; porque foi usada uma forma e não outra;

que efeitos de sentido essa determinada forma provoca. Isso porque “os sentidos não estão só

nas palavras, nos textos, mas na relação com a exterioridade, nas condições em que eles são

produzidos e que não dependem só das intenções dos sujeitos” (ORLANDI, 1999, p.30).

É essa postura que assumo na análise do corpus da pesquisa realizada: não é suficiente

descolar o texto publicitário do seu meio de circulação e analisar seus signos verbais e não

verbais; é mister levar em consideração quem produziu o texto, com que finalidade, qual o

enunciatário desenhado, enfim, as condições de produção do texto são, também constitutivas

do texto. Ao optar pela campanha do Vestibular PUC Minas 1º/2010 como parte do corpus,

foi preciso colher informações sobre seu processo de criação e, ao mesmo tempo, sobre os

efeitos de sentido provocados no destinatário. Os sentidos do texto emergem na interlocução.

Eles não estão nem na produção, nem na recepção, mas na interação entre enunciador e

enunciatário, sujeitos de linguagem.

Os sujeitos envolvidos em atividades de interação social, segundo Matencio,

“selecionam determinadas formas de conceber e de se referir aos objetos, o que os leva a

determinadas ações significantes no processo de negociação de sentidos” (MATENCIO,

2008, p.548). Ainda de acordo com Matencio, cada ação de linguagem “(i) ganha

materialidade por meio de recursos linguageiros; (ii) envolve operações de textualização; (iii)

pressupõe o compartilhamento de saberes; (iv) é essencialmente classificatória; (v) implica a

construção de representações mentais; (vi) relaciona diferentes campos conceituais”

(MATENCIO, 2008, p.548). Assim pode-se estabelecer, para o corpus apresentado para

pesquisa (peças da campanha publicitária, resultados de aplicação de questionários,

entrevistas e grupo de discussão), que, caracterizado como atividade de linguagem, atualiza as

39

ações descritas pela autora. Em relação à campanha publicitária, por exemplo, tomemos o

anúncio: ele se materializa por meio de sons, imagens e palavras, por meios eletrônicos ou

impressos; solicita de seu leitor que contextualize o tema; lida com saberes pré-construídos

quando solicita do leitor que atualize sua imagem sobre a PUC Minas; solicita a classificação

e, mais, a categorização dos objetos de discurso ali tratados; promove e reconstrução de

representações sociais acerca da Instituição, do saber, de vestibular, de carreira, de sucesso,

etc.; nesse aspecto relaciona campos conceituais diversos, no caso, o de educação com o de

posicionamento social ou sucesso profissional.

Não se pode, complementarmente, ignorar que produzir ou compreender um texto é elaborar uma representação mental, em que há integração entre um esquema textual e um esquema de situação, num modelo circunstanciado e integrativo de diferentes saberes, em que a informação perceptiva coordena-se à que se tem estocada de forma estável na memória (MATENCIO, 2008, p.549-550).

Tanto na produção quanto na compreensão do texto publicitário, os sujeitos têm em

mente um esquema de que a imagem a ser passada do produto, da empresa anunciante é

positiva. No caso de uma instituição de ensino superior, essa imagem se relaciona à carreira a

ser seguida e à projeção do sucesso profissional proporcionado pela IES. Os sujeitos fazem

inferências de acordo com o conhecimento de mundo que têm. Uma característica do texto

publicitário é surpreender o leitor/consumidor, levando-o a pensar em uma inferência

inusitada, como acontece com as parcerias divulgadas na campanha analisada neste trabalho.

2.3.2 Discurso e enunciação

A enunciação, por sua vez, á a instância em que se manifesta o discurso, em que os

sujeitos se constroem como tal. Bakhtin define enunciação como “o produto da interação de

dois indivíduos socialmente organizados” (BAKHTIN, 2006, p.116) e, para ele, “mesmo que

não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo

social ao qual pertence o locutor. [...] Não pode haver interlocutor abstrato; não teríamos

linguagem comum com tal interlocutor, nem no sentido próprio nem no figurado”

(BAKHTIN, 2006, p.116). A linguagem, no pensamento bakhtiniano, compreende a

enunciação, pois é vista histórica, social e culturalmente; e uma enunciação vista sob uma

perspectiva discursiva. Sujeito e história se mostram no enunciado.

40

Toda enunciação pressupõe a existência de um enunciador – aquele que se apropria da

língua (BENVENISTE, 1989) – que postula um enunciatário, a quem se dirige, num

determinado tempo e num determinado espaço. O produto dessa interação é o enunciado, o

texto. “Na enunciação, consideraremos, sucessivamente, o próprio ato, as situações em que

ele se realiza, os instrumentos de sua realização” (BENVENISTE, 1989, p.85)

Na enunciação, quando o sujeito se assume locutor e, assim, assume a língua, “ele

implanta o outro diante de si, qualquer que seja o grau de presença que ele atribua a esse

outro” (BENVENISTE, 1989, p.84, grifo do autor). Isto é, o outro pode ser o sujeito a seu

lado, um grupo social, alguém que não está presente fisicamente. Não importa. Para o

Benveniste (1989), posição que endosso neste trabalho, o aparelho formal da enunciação se

constitui repetidamente, mas a cada ocorrência é único, porque as pessoas (eu e tu) se

materializam na enunciação.

Por condições de produção entende-se que deve se levar em consideração, ao analisar

o discurso, os sujeitos envolvidos no processo de produção do texto e a situação em que estão

inseridos. Pode-se pensar tanto em um contexto restrito, como as condições da enunciação,

quanto em um contexto mais amplo, sócio-histórico. É o próprio Pêcheux (1969), citado por

Possenti (2004), quem introduz o termo “condições de produção” para substituir as

“circunstâncias” do discurso. E o retoma em estudos posteriores (1983) junto à noção de

espaço discursivo – que seria regido por condições de produção estáveis e homogêneas.

Maingueneau (2006), tratando da cenografia da enunciação, isto é, do escopo, da cena

da enunciação, propõe que esta não seja vista apenas como o quadro em que se produz o

enunciado. Na visão do autor, -grafia, na composição da palavra cenografia, significa a

representação de um círculo que compreenda o enunciador e o coenunciador, um lugar e um

momento, asseguradores da existência da própria instância enunciativa. Esse enunciador deixa

marcas de sua personalidade no enunciado: seu ethos. O tom, a marca do texto, mesmo que

seja um texto escrito, ou um texto de autoria corporativa, como o da campanha publicitária,

que se deixa entrever na enunciação “permite ao leitor construir uma representação do corpo

do enunciador” (MAINGUENEAU, 2001, p.98).

Os discursos e os sentidos estão sempre inacabados. Um discurso sempre aponta para

outros discursos, um dizer se relaciona com outros dizeres. Para entender melhor essa

questão, é preciso pôr em pauta questão do lugar de que fala o sujeito. A produção de sentido

decorre daí como possibilidade de construção do sentido. Assim, uma vez que nossa

sociedade se articula de forma hierárquica, seja nas relações familiares, seja nas profissionais,

há de se levar em conta o peso da posição ocupada pelo sujeito que enuncia. O lugar do

41

sujeito não é a sua posição. O lugar é empírico, enquanto a posição é discursiva. “O que

significa no discurso são essas posições. E elas significam em relação ao contexto sócio-

histórico e à memória (o saber discursivo, o já-dito).” (ORLANDI, 1999, p.40). O que se

pretende analisar é o discurso produto da enunciação, que é o enunciado. Por sua vez, o

enunciado tem de ser entendido como “marca verbal do acontecimento que é a enunciação”

(MAINGUENEAU, 2001, p.56).

Bakhtin denomina ideologia do cotidiano a “totalidade da atividade mental centrada

sobre a vida cotidiana” (BAKHTIN, 2006, p.123) para diferenciar das ideologias constituídas.

Sua explanação faz-nos pensar na TRS:

A ideologia do cotidiano constitui o domínio da palavra interior e exterior desordenada e não fixada num sistema, que acompanha cada um dos nossos atos ou gestos e cada um dos nossos estados de consciência. Considerando a natureza sociológica da estrutura da expressão e da atividade mental, podemos dizer que a ideologia do cotidiano corresponde, no essencial, àquilo que se designa, na literatura marxista, sob o nome ‘psicologia social’. Nesse contexto particular, preferimos evitar o termo ‘psicologia’, pois importa-nos apenas o conteúdo do psiquismo e da consciência; ora, esse conteúdo é totalmente ideológico, sendo determinado por fatores não individuais e orgânicos (biológicos, fisiológicos), mas puramente sociológicos (BAKHTIN, 2006, p.123).

Nesse sentido, isto é, assumindo o conteúdo do psiquismo como ideológico,

determinado por fatores da coletividade (não individuais), fatores sociológicos, é inevitável a

associação com a posição enunciada por Moscovici em relação à TRS: o sujeito pertence ao

grupo e nesse espaço são negociados, na e pela linguagem, os sistemas de regras e

funcionamento que regula suas ações.

Para o autor, o cerne da enunciação não é interior ao indivíduo, mas exterior: encontra-

se no social. “a enunciação humana mais primitiva, ainda que realizada por um organismo

individual, é, do ponto de vista do seu conteúdo, de sua significação, organizada fora do

indivíduo pelas condições extraorgânicas do meio social” (BAKHTIN, 2006, p.126). Enfim, a

natureza da enunciação é social. A língua, para o autor, é constituída pelo fenômeno social da

interação verbal.

E as interações são ininterruptas, são parte de um fluxo social:

Qualquer enunciação, por mais significativa e completa que seja, constitui apenas uma fração de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta (concernente à vida cotidiana, à literatura, ao conhecimento, à política, etc.). Mas essa comunicação verbal ininterrupta constitui, por sua vez, apenas um momento na evolução contínua, em todas as direções, de um grupo social determinado (BAKHTIN, 2006, p.128).

42

Levando em conta as regras desse jogo imaginário que se joga pela linguagem, e que

de certa forma condiciona os sujeitos, a AD procura levar à compreensão do que está sendo

dito, dentro das condições de produção. “Os sentidos”, conforme conclui Orlandi, “não estão

nas palavras elas mesmas. Estão aquém e além delas.” (ORLANDI, 1999, p.42). Estão no

enunciado, estão nas condições de produção.

É preciso também definir o conceito de formação discursiva porque essa noção

permite adentrar no processo de produção de sentido e pensar em certas regularidades do

discurso. A formação discursiva é o que possibilita, na verdade determina, o que pode e deve

ser dito, numa dada formação ideológica

Todo sentido decorre da formação discursiva em que se inscreve. A formação

discursiva é o que possibilita, na verdade determina, o que pode e deve ser dito, numa dada

formação ideológica. Sabendo que as ideologias materializam-se no discurso, o sentido só

pode ser entrevisto dentro dessas formações. “Tudo o que dizemos tem, pois, um traço

ideológico em relação a outros traços ideológicos. E isto não está na essência das palavras,

mas na discursividade, isto é, na maneira como, no discurso, a ideologia produz seus efeitos,

materializando-se nele” (ORLANDI, 1999, p.43). Como afirma a autora, os discursos são

possibilidades de materialização das ideologias. Elas estão presentes no discurso. As RS são

também materializadas no discurso; ao regular as ações dos sujeitos, elas são movidas,

também, por ideologias.

As formações discursivas não são, segundo Orlandi (1999), blocos homogêneos que

funcionam automaticamente. São, isso sim, heterogêneas, fluidas, e em suas relações se

constituem continuamente. O trabalho do analista é, então, segundo a autora (1999), observar

as condições de produção e verificar o funcionamento da memória, remetendo o dizer a uma

determinada formação discursiva e não a outra. Importante não é, segundo Oliveira,

a opinião ou a imagem que os leitores constroem sobre os objetos de discursos com os quais lidam e nem mesmo a ideologia subjacente à atividade referencial, mas, diferentemente, como e em que medida a emergência de um conjunto de conhecimentos de natureza prática – concebido como representações sociais – interfere em suas opções interpretativas para dado texto (OLIVEIRA, 2010, p.82).

É na enunciação que se materializam as representações, entendidas como a forma pela

qual os sujeitos se organizam socialmente e é nela que circulam as ideologias.

43

2.3.3 Discurso e sujeito

Não há discurso sem sujeito. Nem sujeito sem ideologia. Daí que este é um conceito

caro para a Análise do Discurso. “Enquanto prática significante, a ideologia aparece como

efeito da relação necessária do sujeito com a língua e com a história para que haja sentido”

(ORLANDI, 1999, p.48). No entanto nem a linguagem, nem os sentidos nem os sujeitos são

transparentes: “eles têm sua materialidade e se constituem em processos em que a língua, a

história e a ideologia concorrem conjuntamente” (ORLANDI, 1999, p.48).

A ideologia está presente na língua, na linguagem, no discurso. Pode-se dizer até que

ela é constitutiva do discurso na medida em que ela é formadora, circunscreve o lugar de onde

o sujeito diz.

Esse sujeito não é apenas o sujeito empírico, mas sujeito que se constitui pelo

discurso. Esse sujeito não está pronto. Ele é efeito (POSSENTI, 2003), não é origem. Pelo seu

discurso perpassam história e ideologia. Para Possenti, posição que adoto aqui, ele é um

sujeito “nem livre nem assujeitado” (POSSENTI, 2004, p.78). Isso porque é cerceado por

certas determinações. O sujeito enuncia de uma posição, ele não é fonte do discurso. Quer

dizer, aquilo que ele enuncia já foi enunciado antes, faz parte da memória discursiva, pertence

a uma formação discursiva. O que ocorrem são lampejos de criação, que possibilitam criar a

partir do dado.

De algum modo, o sujeito consegue controlar os efeitos de sentido do que enuncia, ou

pelo menos tenta controlar, ainda que atravessado por outros discursos. Como Possenti

afirma, é preciso pensar que:

o sujeito tenha certa competência; que, mesmo atravessado pelo inconsciente e/ou ideologia, não está impedido de adquirir o domínio de certas regras e de poder controlar, até certo ponto, os efeitos de seu discurso, ou de fazer com que determinados elementos do discurso sofram uma inflexão específica, com efeitos circunstanciais (POSSENTI, 2004, p.88).

O sujeito, enfim, é fonte e ao mesmo tempo destino no processo de linguagem. É dele

a responsabilidade pela assunção de determinada posição e pela produção dos enunciados,

mas é também por ele que a memória de todos os outros discursos se faz presente. É na sua

locução que a ideologia se afirma, ou é combatida: ainda assim ela é trazida pela memória.

Como afirma Possenti (2003, p.30): “o sujeito é segundo em relação a seu entorno – social,

linguageiro, ideológico, cultural, até mesmo biológico”.

44

O discurso publicitário também é lugar de afirmação do sujeito. Nas sociedades

modernas a publicidade tem ganhado destaque tanto em meios de comunicação de massa

quanto em novos suportes, na tentativa, por parte do enunciador, de fazer sua mensagem

chegar ao enunciatário. A história desse discurso passa por transformações na medida em que

a sociedade em que é veiculado também se modifica. Para uma nova sociedade, uma nova

linguagem. Nesse sentido, na seção seguinte irei expor, na medida necessária aos objetivos

deste trabalho, o desenvolvimento do discurso publicitário no Brasil e a forma como, na

organização e gênese dos enunciados ali produzidos, circulam representações sociais.

2.4 Discurso publicitário e circulação de RS

“Comunicação é o que o outro entende, não o que você diz” (MARTINS, 2003, p.26).

Essa frase reflete um dito, do ponto de vista de um profissional da comunicação10, muito caro

aos linguistas: a noção de que o sentido do texto não se encontra nem no texto, nem na

intenção do autor, mas que é um sentido produzido na interlocução.

Nesse sentido, tomo como pano de fundo para esta discussão a tentativa de apresentar,

ainda que brevemente, mas de modo suficiente para os propósitos do trabalho, um panorama

do discurso que se produz(iu) no Brasil no campo da publicidade e a forma como ele é visto

pelos seus agentes/atores.

Inicio trazendo, a título de exemplo da forma como o profissional da comunicação (da

publicidade) lida com seu objeto de trabalho, um exemplo colhido na entrevista realizada com

CG11, supervisora de criação e redatora da campanha objeto de análise do presente trabalho. A

entrevistada relata um episódio ocorrido durante a veiculação de um comercial de vídeo para

um grande cliente de Belo Horizonte, a Drogaria Araújo. A fim de mostrar ao público que o

produto veiculado era de confiança, tentando passar a ideia de que não se deve buscar uma

solução caseira para a resolução dos problemas, a campanha recorreu a metáforas: num

primeiro comercial de vídeo, uma maquiadora nada profissional produz um resultado

desastroso no rosto da pessoa. Em outra cena, um pet shop deixa um cachorro irreconhecível

e, no terceiro, um casal está indo, de carro, a um aniversário. Com um bolo na mão, sentada

10 Zeca Martins é publicitário e editor. Autor de Publicidade é isso aí!, adotado como livro-texto nos cursos de Comunicação Social das principais faculdades de todo Brasil desde 1999, em sua primeira edição. 11 Os sujeitos envolvidos na pesquisa serão designados pelas iniciais, a fim de preservar suas identidades.

45

no banco do passageiro, a mulher pergunta ao marido se não seria melhor perguntar o

caminho. Ele responde que tem um atalho ótimo. Na sequência, eles estão tão perdidos e

distantes do caminho correto que encontram um índio. Esta era a ideia a ser passada

metaforicamente pela campanha: a de que é preciso buscar uma solução segura, confiável,

assim como o Padrão Araújo de Medicamento. Entretanto, ao final do anúncio, como um

toque de humor, os criadores acrescentaram uma cena: o índio roubando o bolo do casal. O

que ocorreu é que alguns telespectadores entenderam o filme como se o casal estivesse

levando o bolo de presente para o índio. A ideia inicial, pretendida pelo produtor, não

correspondeu ao sentido construído pelo enunciatário.

Dessa forma, o que pretendo neste capítulo é buscar uma entrada no fazer publicitário,

procurando de alguma forma traçar algumas metas de conhecimento nesse campo de ação.

Não seria apropriado, a meu ver, eleger um objeto de análise sem trazer à cena as condições

de sua produção, principalmente se esse objeto emerge de uma esfera de atividade social com

a qual não se tem intimidade.

Como cidadãos do mundo contemporâneo, estamos todos em contato diário com a

publicidade e a propaganda, principalmente nos centros urbanos, onde somos assediados por

anúncios impressos e eletrônicos, por veículos e gêneros diversificados. Entretanto, como

temos acesso apenas ao texto pronto, produto de uma enunciação, pouco sabemos acerca de

sua criação. Sendo assim, como não havia me aventurado ainda no ambiente da criação da

propaganda – conhecia-o apenas do lugar de receptora, público-alvo, ou consumidora –,

julguei necessária uma experiência de imersão nesse universo, a qual será descrita no capítulo

em que se registram os procedimentos metodológicos. Neste capítulo, pretendo, por enquanto,

dedicar-me a uma retomada histórico-contextual da propaganda no Brasil, bem como a uma

breve revisão da literatura na área que atenda aos objetivos do trabalho.

2.4.1 Publicidade e propaganda: panorama no Brasil

O mundo contemporâneo, marcado pela predominância das relações de consumo,

contempla o ápice de um tipo de discurso caracterizado pela sedução, pelo apelo e pela

persuasão: o discurso publicitário. Esse discurso não é novo; ele está presente nas sociedades

desde sua constituição, quando homens pré-históricos penduravam, à entrada de cavernas,

peles de animais, indicando que ali havia material de troca (comunicando, publicizando a

46

informação) (MARTINS, 2003). Desde que o homem existe em sociedade ele pretende

persuadir o outro. Desse modo, o que se entende hoje por publicidade tem mais em comum

com transações comerciais do que o que se entende por propaganda. Esta, sim, refere-se à

propagação de ideias, como fez a Igreja Católica no séc. XVII, ao propagar a ideia de Jesus

Cristo como filho de Deus (GOMES, 2001), por meio da Congregação para a Propagação da

Fé, organização criada pelo Vaticano para, evidentemente, propagar sua doutrina.

Tomaremos aqui a acepção mais comum do termo publicidade para designar o

domínio discursivo a que nos referimos.

O fato é que a propaganda e a publicidade ganham certa importância, e até status, ao

mesmo tempo em que se desenvolvem a sociedade industrial e o consumo de massa. Em

razão disso, a segunda metade do século XIX assiste ao crescimento e à consagração do

anúncio comercial (LIPOVETSKY, 2006). A Revolução Industrial acelera o processo de

produção e de competição entre os produtos.

O advento dos meios de comunicação em massa também contribui, já no século

passado, para o desenvolvimento das técnicas e do modo de fazer publicidade. Desde a

década de 50 do séc. XIX, os investimentos em publicidade televisiva têm aumentado

consideravelmente. O mesmo ocorre neste início de século em relação à internet. Nas revistas,

o texto publicitário chega a ocupar quase 50% do material impresso (Cf. VESTERGAARD;

SCHRØDER, 2000). Espaços reais e virtuais são preenchidos pela propaganda, que alcança –

nos centros urbanos – uma média de duas mil exposições diárias a cada consumidor

(MONNERAT, 2003). Há uma demanda cada vez maior por espaços tradicionais, como o

anúncio impresso, o outdoor, o cartaz, o anúncio televisivo, o spot de rádio, mas há também

um crescimento nos tipos inovadores de suporte em que a propaganda pode ser veiculada. Por

um lado, backbus e busdoors12, uniformes, embalagens, abrigos de ônibus, portas de banheiro

público – só para citar alguns exemplos bem comuns no espaço urbano – são espaços que

compõem a classe de suportes eventuais. São chamados, segundo Marcuschi (2008),

“suportes incidentais” e remetem a qualquer espaço capaz de portar um texto. Segundo o

autor, “É inegável que boa parte dos textos hoje em circulação pelos ambientes urbanos se

acham nesses suportes incidentais” (MARCUSCHI, 2008, p.183). De outro lado, assistimos

ao crescimento do webmarketing com links patrocinados, banners interativos e janelas

publicitárias. A propaganda também está presente em redes sociais, como o Orkut, o

Messenger, o Facebook e o Twitter, que são responsáveis pelo trâmite de dados em tempo real

12 Busdoors: cartazes afixados na parte traseira (backbus) ou lateral dos ônibus.

47

com muito mais facilidade do que já houve na história e são usadas também como veículo de

publicidade e marketing.

Ainda assim, com tão flagrante expansão,

o discurso publicitário tende a ser constantemente um discurso “a mais” do que os outros, pelo menos no que diz respeito à sua apresentação [...]: encartes enchem as caixas de correio, anúncios publicitários interrompem o filme ou o jogo de futebol na televisão, outdoors poluem visualmente as cidades (MAINGUENEAU, 2010, p.198).

Devido ao fato de não ser visto como um discurso importante, sobre o qual os leitores

não se debruçam, valores e crenças podem transitar de forma mais despercebida. Nesse ponto,

segundo Maingueneau (2010), ele se aproxima do discurso literário, considerado como

atividade de lazer, supérfluo.

É importante, neste momento, traçar um perfil desse domínio discursivo no Brasil a

fim de flagrar o desenvolvimento da percepção e do que se considera publicidade em

determinados períodos.

Os primeiros textos publicitários escritos no País datam do início do séc. XIX

(RAMOS, 1985, p.9). Foram veiculados no primeiro jornal impresso, A Gazeta, graças à

necessidade de comercialização de escravos, casas e alguns tipos de serviços. Esses textos se

apresentavam materialmente como uma reprodução das chamadas orais, apregoadas nas

esquinas das grandes cidades. Vale a pena transcrever aqui o primeiro anúncio, publicado no

Rio de Janeiro, em 1800: “Quem quiser comprar uma morada de casas de sobrado, com frente

para Santa Rita, fale com Ana Joaquina da Silva, que mora nas mesmas casas, ou com o

Capitão Francisco Pereira de Mesquita, que tem ordem para as vender” (Cf. RAMOS, 1985,

p.9). Apenas um século depois, em meio à crescente produção em massa, os slogans já

estavam presentes nos textos publicitários; era necessário também que a ‘marca’ se destacasse

entre os consumidores em meio à crescente oferta de produtos similares. As grandes lojas de

departamento popularizaram o comércio e o crediário, para a crescente massa consumidora,

fazendo emergir a capacidade de compra do produto sem os necessários meios para se efetivá-

la. Além dos slogans, a propaganda ganhou, no decorrer da história, imagem – na década de

30 do século passado apenas se usavam fotos de modelos como ilustração – e som – com o

advento do rádio e da TV (que em 1950 levou ao lar do público brasileiro o que até então era

o ápice da tecnologia, a imagem em movimento aliada ao som).

Por volta de 1970, à propaganda cabia a função de informar o consumidor e, também,

reforçar suas atitudes (positivas em relação à marca). Atualmente a publicidade opera, de

48

modo geral, com eixos de componentes em três escalas (objetivo da propaganda, forma de

atingir o público-alvo e especificidade do público-alvo), de modo a reorganizar as tarefas a

determinado público. Por exemplo, a ex-usuários deve-se objetivar reconsiderar o uso da

marca; a consumidores fiéis, reforçar o comportamento, e assim por diante (KING apud

CLEMMOW, 2006).

No Brasil, a conceituação de um consumidor passivo, que tudo aceita, começa a mudar

naquele fim de século. A criatividade passa a ser exigência diante de um consumidor “atuante

e complexo” (RAINEY, 2006, p.9). A propaganda não é mais uma novidade: dessa forma, “os

consumidores cada vez mais ‘julgavam’ determinado anúncio ou a maneira como a

propaganda era apresentada, não só em termos de informação prática e apelo emocional como

também em relação a todos os outros anúncios” (RAINEY, 2006, p.17).

A internet e as novas tecnologias digitais permitem, hoje, à publicidade superar-se

com relação à interação entre anunciante e consumidor, ou seja, permitem uma aproximação

muito forte entre os sujeitos envolvidos no processo. É possível, hoje, por meio de pesquisas

sofisticadas, desenhar finamente o perfil do público-alvo e oferecer a ele um produto

diversificado, baseado, como se postula neste trabalho, nas representações sociais dos grupos

em questão.

2.4.2 Publicidade de produtos ou de valores?

No sentido de buscar maior interação e identificação direta com o consumidor,

algumas campanhas publicitárias têm promovido, mais fortemente nos anos que abrem o

século XXI, o ato de aquisição do produto associado, fortemente, à adoção de um valor, à

assunção de uma postura, à satisfação emocional, à analogia com o prazer físico. Enfim, o

discurso publicitário propõe, hoje, uma reafirmação do modo de vida consumista e capitalista

ao propagandear seus produtos mercantis, ao mesmo tempo em que a sociedade desenvolve

esses valores.

Maingueneau (2010) reflete sobre o tema, dizendo que, “enquanto a publicidade

tradicional colocava em destaque o produto a ser vendido, a publicidade contemporânea busca

a adesão dos consumidores a um certo universo de sentido, ou seja, aquele que é próprio da

instância do discurso em que se constrói esse sentido: a marca” (MAINGUENEAU, 2010,

49

p.195). Dessa forma, o sentido é construído através da marca e não do produto; da ideia e não

do objeto em questão.

Para exemplificar essa posição, tomo como exemplo uma campanha que mostra o ato

de aquisição do produto como uma obrigação social ou familiar (são muitos os exemplos que

poderíamos elencar aqui, especialmente aqueles produzidos para datas comemorativas, como

Dia das Mães ou Dia das Crianças), ou até como uma espécie de satisfação emocional que se

transforma em um prazer corporal. Recente propaganda da concessionária Strada, veiculada

em rádio (voz feminina – cantando), recita o seguinte trecho: “Acabei de comprar o meu Fiat,

nunca senti tanta emoção, o corpo vibra, dispara o coração.” A compra do automóvel é

comparada à emoção de alto grau, acompanhada de reações físicas intensas.

Mais um rápido exemplo: o slogan do Palio 2010 informa: O carro que completa você

(FIAT, 2003). O filme de TV traz à cena um sujeito dividido: corpo e alma não se entendem –

esta quer comer salada enquanto aquele prefere sanduíche, por exemplo – e por isso querem

se separar, em frente a um juiz, até que “concordam” – e se unem – ao dirigir o automóvel.

Essa propaganda toma como verdade o pressuposto de que o ser humano é incompleto e que,

portanto, precisaria do produto para se sentir inteiro, todo, ou seja, completo.

Esse exemplo ilustra um dos meios que o discurso publicitário utiliza a fim de

persuadir o interlocutor: a derrubada de pré-construídos ou mesmo de sua re-apresentação de

forma camuflada. Citelli afirma que a produção de impactos no receptor do texto publicitário

pode levar, “muitas vezes, à indagação ou à pura indignação.” (CITELLI, 1989, p.43). Mas

num momento de “redemocratização da sociedade brasileira é possível à publicidade mexer

com tabus como o do homossexualismo, do complexo de Édipo, temas esses que provocam

incômodo em boa parte dos receptores” (CITELLI, 1989, p.43).

O excesso de exposição à publicidade pode levar o consumidor, de acordo com

Toscani, a ter uma reação contrária aos anúncios: ele “foge dos comerciais, passa correndo as

páginas publicitárias dos jornais, não memoriza mais, a publicidade torna-se transparente”

(TOSCANI, 1996, p.28, grifo meu). Sendo tão vista, em tantos momentos, ela deixa de

existir. Lembre-se o leitor de quantas vezes fechou uma janela de popup sem ao menos ter

visualizado seu conteúdo? Ou aceitou e jogou fora, em seguida, um folheto recebido no

semáforo? Ou, ainda, zapeou entre os canais de televisão durante o intervalo comercial?

Essa avalanche de anúncios e propagandas promove cada vez mais uma busca pela

fidelidade do consumidor, por meio de valorização das marcas mais do que dos produtos

anunciados. Nesse mercado, o desejo do consumidor tem de ser suprido antes mesmo que se

manifeste, ou seja, é preciso criar a necessidade de consumo antes mesmo de ela existir. A

50

história e as imagens das marcas precisam estar bem posicionadas na memória do

consumidor, em consonância com o mercado. A Coca-Cola, por exemplo, cria campanhas que

precisam vender água e açúcar, e faz isso por meio de incitamento à mudança de

comportamento ou à vontade de consumir o produto, utilizando linguagem jovem, ideia de

refrescância, liberdade, etc. A Tang, produtora de sucos em pó, volta ao mercado com um

novo viés associado à sua marca: acréscimo de vitaminas, num discurso atualizado em que há

enorme preocupação com a qualidade dos alimentos consumidos.

No caso da campanha publicitária tomada como objeto de análise, a campanha

Vestibular PUC Minas 1º/2010, poderemos verificar, por meio da proposta de elaboração da

campanha e análise das respostas dos entrevistados, que a imagem e a marca PUC Minas são

decisivas na hora da escolha do “produto”, ou seja, a escolha por uma instituição de ensino

superior na formação acadêmica.

Para a aquisição de outros tipos de produtos, materiais, digamos (brinquedos, móveis,

roupas e acessórios, itens alimentares), o consumidor é atraído ao centro de compras. Ele se

dirige ao shopping center, o templo do consumo, o altar da modernidade, onde se depositam

os desejos e se recebem as bênçãos, que são os produtos. Os objetos que circulam nesse

ambiente sem referência espacial e temporal, segundo Polistchuk & Trinta, “têm o dom de

conferir identidade a seus detentores, àqueles que ostensivamente os consomem, uma

identidade [...] formatada por artes e artimanhas de marketing, destinadas, portanto, a uma

permanente mudança” (POLISTCHUK; TRINTA, 2003, p.40). Os autores ainda ressaltam o

canal pelo qual ao consumidor chegam as novas propostas de compras: “É na vitrine da

televisão que o sujeito encontra, exibida e valorizada, uma dessas identidades”

(POLISTCHUK; TRINTA, 2003, p.40).

Segundo Maingueneau (2010), o papel que anteriormente cabia à literatura, qual seja,

o de ditar as normas sociais e padrões de comportamento, é hoje invadido pelo discurso

publicitário, ao lado de cinema, videogames e clipes de música. Ao lado da internet, que tem

ampliado o número de usuários planetariamente, a televisão é o veículo de maior alcance

publicitário, isto é, o discurso publicitário chega ao público pelos mais variados veículos, mas

é concentrada nesses dois – televisão e internet –, segundo se verá nos dados da pesquisa, que

alcança o maior número de ‘leitores’.

O discurso publicitário assume sua importância nas relações pessoais e na formação

das opiniões de tal modo que são criadas, a partir dele, novas referências a determinados

produtos, através de metonímias de toda sorte (só para citar alguns exemplos bem conhecidos,

Gillette – aparelho de barbear, Bombril – esponja de aço, Cotonetes – hastes com ponta de

51

algodão, Modess – absorvente higiênico)13. Algumas marcas são tradicionalmente conhecidas

por meio de seus “garotos-propaganda” e, se não se tornam líderes de mercado, pelo menos

caem no gosto popular (Galinha Azul Maggi, Elefante Cica, Urso Polar da Coca-Cola,

Baixinho da Kaiser, Fernandinho da camisa USTop). Enunciados tornam-se conhecidos

nacionalmente e são repetidos à exaustão: “Quer pagar quanto?”, “Parece mas não é”, “Não é

assim uma Brastemp”, “Você precisa rever seus conceitos”, “Não basta ser pai” e

“Gelaaada!”14 são jargões que fazem parte do vocabulário popular e acabam influenciando

modelos de pensamento e práticas sociais, inclusive de pessoas que não estão inseridas no

público-alvo da propaganda15. Retomados e ressignificados, esses enunciados se atualizam na

cena em que são utilizados, assim como os provérbios e os jargões. Há marcas claras de

intertextualidade nesses gêneros16.

No discurso publicitário, a instância enunciativa instaurada é composta pelo

enunciador anunciante e pelo enunciatário consumidor. O primeiro, representado por uma

instituição pública ou privada, quer atingir, com seu texto – elaborado por uma agência de

comunicação ou, às vezes, por um departamento de comunicação da própria instituição –, um

enunciatário cujo perfil é desenhado previamente. Sabe-se, por meio de pesquisas de mercado,

sua posição social, classe econômica, faixa etária, idade, sexo e grau de escolaridade, gostos,

valores, interesses. Para que a campanha publicitária cumpra seu objetivo, é preciso, como

afirma Martins, “conhecer bem o público-alvo para falar com ele de modo a mais facilmente

persuadi-lo para as virtudes do produto anunciado” (MARTINS, 2003, p.30).

Esse objetivo não se apresenta uniformemente em todas as campanhas e produtos.

Varia em função do produto anunciado e da relação com o consumidor. Alguns autores são

convictos de que o objetivo primeiro do texto publicitário é vender um produto17. Monnerat,

por exemplo, afirma categoricamente que “o papel da publicidade é vender. Vender um

produto, uma imagem, uma ideia, uma filosofia, ou um hábito novo” (MONNERAT, 2003,

13 Para mais exemplos, ver o site Seven Touch. 14 Os slogans referem-se a campanhas veiculadas nacionalmente, respectivamente aos produtos: Casas Bahia, Denorex, Brastemp, Fiat, Gelol e Schincariol. 15 Ver Anexo A, peças impressas da campanha intitulada “Propaganda. Faz diferença”, veiculada pela Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP) e Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) em 2010, relembrando propagandas famosas e ressaltando a importância de algumas campanhas para os consumidores, a sociedade e a economia. 16 Vale lembrar o discurso do ex-presidente Lula, em 2005, defendendo a economia: “Eu quero dizer a vocês que estou extremamente otimista com a economia brasileira. Quero fazer um alerta aos pessimistas: o resultado deste ano não será nenhuma Brastemp, mas será um bom resultado” (RADIOBRAS, 2005). 17 Toma-se, neste trabalho, a palavra ‘produto’ como objeto a ser anunciado no texto publicitário. Desse modo, tanto pode ser entendido, grosso modo, como um objeto material (automóvel, refrigerante, perfume, por exemplo) ou imaterial (campanha de conscientização sobre a prevenção da AIDS, economia de energia, educação no trânsito, entre outros), visto que, também neste último, é a marca do anunciante (empresa pública ou privada, governo) que é vista como promotora do anúncio e da ideia ali veiculada.

52

p.49). Martins (2003) defende o ponto de vista da publicidade como uma instância que

resolve problemas, seja de vendas, seja de imagens. Clemmow (2006) elenca alguns papéis

que a publicidade desempenha relativamente bem, além de promoção de vendas, como

agregar valor para elevar produtos acima da média, principalmente em produtos alimentícios;

construir valor de marca emotivo18, especialmente nas categorias vestuário e bens duráveis;

disseminar novidades ampla e rapidamente, entre outras. Para Clemmow, a função mais

importante no fazer publicitário está nas mãos do planejador. É ele quem tem de “destilar

problemas complexos até atingir sua essência [da propaganda]” (CLEMMOW, 2006, p.29). Já

Barreto (1982) opta por uma posição consensual e, talvez, mais equilibrada a respeito da

função ou do papel da propaganda (e do publicitário): para esse autor, o profissional deve

identificar o problema que tem de resolver (e esse é justamente, segundo ele, o maior

problema); feito isso, entra em cena a criatividade, que é “solução de problemas”, “que

persuade contingentes humanos – público, mercado – sobre os valores de um produto, um

serviço, ou meramente um ponto de vista” (BARRETO, 1982, p.149). Dentre os autores

apresentados, Barreto (1982) parece apontar para uma linha que leva em consideração todo o

processo de produção do texto publicitário, seus objetivos e papéis. Sua perspectiva põe em

relevo a ação e o propósito da sociedade em que o texto circula. Como veremos no capítulo 5,

momento em que nos voltaremos para a análise do processo de produção da campanha do

Vestibular da IES escolhida, essa perspectiva nos parece mais eficiente do ponto de vista

processual do que as demonstradas anteriormente, pois aquelas levam em consideração

apenas a eficácia de venda do produto ou de assimilação e fidelidade à marca, deixando de

lado o potencial social que advém da recepção do texto – sua chegada ao público receptor.

Tomemos como ilustração do caráter persuasivo da linguagem utilizada no domínio do

discurso publicitário – e da ação e da sensibilidade envolvidas na elaboração de uma

campanha – o caso da Brastemp, uma marca que foi revitalizada em função da representação

social amalgamada pela campanha, conforme estudo realizado por Ribeiro (1994). Constatou-

se, na época, que havia uma queda no consumo de Brastemp – a liderança do setor estava

ameaçada por produtos similares, de preço mais baixo e qualidade inferior. As donas de casa

se deixavam levar por preço e aparência semelhante, mas depois da compra sentiam-se

temerosas de terem cometido um erro (RIBEIRO, 1994). Aí está o mote da campanha:

comprar Brastemp significa segurança e comprar outras marcas, insegurança. A campanha

18 O valor emotivo das marcas pode ser constatado no site Lovemarks, onde se encontram ranks de popularidade das marcas mais “amadas”. Incluem-se na categoria marcas personagens, personalidades, lugares, e há divisão por categorias, como comida, tecnologia etc.

53

então objetivou reforçar essas sensações – percebidas desde o início de sua elaboração – a

partir do slogan “Não é assim uma Brastemp”. O resultado foi o seguinte, na avaliação de

Ribeiro:

O sucesso foi estrondoso. A Brastemp recuperou em pouco tempo a liderança do mercado e reforçou enormemente a imagem de qualidade da Marca. A expressão Não é nenhuma Brastemp incorporou-se rapidamente à linguagem das pessoas para designar coisas não muito boas – não existe uma única menção explícita à qualidade dos produtos Brastemp nos 46 filmes produzidos (RIBEIRO, 1994, p.170).

Outro exemplo de revitalização de marca ocorreu com a Fiat. A empresa percebeu que

sua representação perante o público (cf. MOURA, 2010) era uma imagem, se não negativa,

pelo menos desprestigiada. Os produtos da Fiat eram vistos como inferiores em relação aos

similares. A revitalização da marca (MOURA, 2010) atrelou à empresa a imagem de

novidade, competência, diferença em relação a um conceito já formado. A empresa, que era

tida, pelos consumidores, como desprestigiada, de menor qualidade em relação a outras

montadoras de automóveis, mostra uma cara nova, solicita ao público que reveja seu conceito

em relação ao produto. Por isso, em 1996, no lançamento do automóvel Palio, a Fiat colocou

no ar uma campanha chamada “Rever seus conceitos”, que tentava brincar com estereótipos

para fundamentar a tese de que a marca Fiat mereceria uma “revisão” de conceito. Ou seja, o

produto era bom, apesar do que se imaginava sobre ele.

Esta é uma das características do discurso publicitário: colaborar para a formação e a

circulação de representações sociais nos mais diversos grupos. Mais do que vender o produto,

a publicidade, hoje, procura despertar no consumidor a necessidade de consumir ou de se

(com)portar de determinado modo. “Ninguém compra produtos; compram-se promessas,

compram-se benefícios. Compram-se, enfim, idealizações, projeções, sonhos” (MARTINS,

2003, p.36). Para que esse objetivo seja atingido, ela se vale de recursos linguísticos e não

linguísticos que colaboram para a manutenção, a remodelação ou a refutação de determinados

conceitos.

Na Modernidade, a mídia – a televisiva em primeiro plano – desempenhou (e ainda desempenha) importante papel no âmbito da existência psicossocial coletiva, em sua condição de necessária referência à orientação para a vida do cotidiano, à concretude de processos políticos e à de expressivas transformações culturais (POLISTCHUK; TRINTA, 2003, p.80).

Não se pode perder de vista que o mundo em que se compram (e se vendem) esses

sonhos, essas projeções – associados, é claro, a produtos – é um mundo construído

54

linguisticamente, discursivamente. A linguagem do universo publicitário é a linguagem do

desejo, do poético, trabalhado a fim de levar a mensagem ao público e, talvez, fazê-lo

agir/pensar de determinada forma.

Essa linguagem de sedução é uma forte demonstração do poder da linguagem na atualidade. A palavra publicitária conduz-nos a um mundo e representações discursivas que pretendem direcionar nossos hábitos, nossos desejos, nossos sonhos, impondo uma determinada forma de vida como a única possível e natural, através da manipulação dos valores responsáveis pela construção do imaginário social (MONNERAT, 2003, p.65)19.

Pode-se constatar, então, com Polistchuk & Trinta, que, “perdido em um labirinto de

imagens, o ser humano deste novo tempo habita um mundo construído por “efeitos de

representação”, em que a realidade oferece fortes aparências” (POLISTCHUK; TRINTA,

2003, p.144). Os autores são radicais ao afirmar que, no campo da comunicação social, hoje,

“não há mais verdade moral nem se hierarquizam valores [...]; não há busca de essências

ocultas sob aparências imediatas” (POLISTCHUK; TRINTA, 2003, p.144). Isso quer dizer

que tudo é entregue, dado gratuitamente aos leitores, que acabam mergulhados numa corrente

de imagens que parecem destituídas de fim ou de sentido. Para os autores, “nossa visão parece

cativada por representações excitantes, imagens que proliferam e nos submergem; nossa

audição permanece superstimulada por ritmos que nos são ditados [...] pelo setor fonográfico”

(POLISTCHUK; TRINTA, 2003, p.36).

Charaudeau (2010) afirma que o discurso propagandista pode ser observado “através

dos discursos que circulam em nossas sociedades modernas onde as pessoas veem

manipulação por todo lado” (CHARAUDEAU, 2010, p.57, grifo do autor). O linguista

engloba no campo do discurso propagandista o publicitário, o promocional e o político,

defendendo a tese de que a manipulação ocorre com maior intensidade caso a população

esteja descontente: “o conjunto da população, ou parte desta, terá uma maior propensão para

cair na armadilha da falsa aparência quando vive no descontentamento e se sente impotente

para resolver seus problemas” (CHARAUDEAU, 2010, p.76).

Essa manipulação não seria agravada pela superexposição aos anúncios, que chega ao

cúmulo do suportável? Será que o interlocutor desses anúncios é assim assujeitado?

Destituído de vontade própria, à mercê de uma sociedade que corrompe seus valores e

19 Ilustra essa afirmação o histórico de slogans da Coca-Cola: de Isso faz um bem! (década de 60) a Abra a felicidade e Viva o lado Coca-Cola da vida (anos 2000), há um intervalo na concepção do produto. A Coca-Cola sempre investiu consistentemente em propaganda e procura adequar seus slogans a cada geração (Cf. SLATER, 2004, p.293).

55

desejos? Ou será ele próprio o motor que gira essa máquina, e todo esse aparato é construído

em função de si próprio?

Queremos crer que o sujeito consumidor não é assujeitado, que ele (man)tem sua

autonomia, seu poder de decisão, frente à exposição em massa à publicidade. Segundo

Clemmow, surgem “consumidores mais conscientes de seu papel social, mais seguros, mais

atentos” (CLEMMOW, 2006, p.25). Esses consumidores “estão demonstrando aguda noção

de valor, exigindo tanto boa qualidade quanto preços competitivos. Eles já sabem não apenas

o que é propaganda, mas também o que é marketing e o que é marca” (CLEMMOW, 2006,

p.25).

Por tudo o que foi exposto, creio ser pertinente a ação de nos lançarmos ao estudo do

discurso publicitário na sociedade contemporânea. O impulso para a elaboração deste trabalho

reside na necessidade de se entender como as representações sociais são engendradas nesse

discurso e como elas se disseminam em diversos grupos, chegando a constituir identidades

culturais. Como já assinalado, para atingir esse objetivo, a pesquisa se propôs a acompanhar a

produção e a circulação de uma campanha publicitária (Vestibular PUC Minas 1º/2010) a fim

de compreender a forma como representações sociais circulam nesse domínio discursivo.

2.4.3 Panorama sobre as agências de comunicação

O contexto de criação do texto publicitário envolve geralmente autoria complexa,

composta por uma equipe de profissionais inseridos em uma agência de propaganda. Na

agência, de modo geral o processo de produção da campanha reúne várias frentes de trabalho

conjunto. O texto nasce, comumente, da ideia de uma equipe de criação, passa pelo crivo de

um diretor de arte, em diálogo com um diretor de mídia, para, no fim, atender aos interesses

de um cliente – o sujeito, a empresa que contrata a agência para produzir a campanha. Para a

construção da campanha colaboram ainda uma equipe de atendimento, responsável pela

interlocução com o cliente, e uma equipe de planejamento, que opera em todo o processo. De

certa forma, esse modelo pode ser verificado na produção da campanha do vestibular.

Entretanto, a questão da coletividade é discutida. Barreto, em 1982, afirmava que o trabalho

em equipe não existe. Segundo ele, toda ideia é fruto de uma só pessoa e o que existe é um

grande alarde sobre trabalho em equipe (BARRETO, 1982), como era realizado nas agências

até meados de 1980. Foi nessa época que começaram a surgir os trabalhos em dupla (de

56

criação, de arte, de mídia), sistema adotado até hoje na maioria das grandes agências, como

veremos mais detalhadamente adiante.

Em comparação à produção de textos pertencentes a outros domínios, como o

jornalístico ou o religioso, este é um domínio discursivo peculiar, cuja autoria revela-se, para

o grande público, mais pelo nome da agência (ou do próprio cliente) do que pelos integrantes

da equipe que produz a campanha20. Além disso, o domínio publicitário se vale de gêneros de

outros domínios, como, por exemplo, uma peça produzida para mídia televisiva pode narrar

uma história de cinema, assemelhar-se a um telejornal ou, então, usar depoimentos pessoais,

entrevistas para transmitir sua mensagem. Ainda assim ela seria classificada como pertencente

ao gênero publicitário em função de seu objetivo, seus enunciadores, etc. Definir os gêneros

que são usados no domínio publicitário pode representar certo grau de dificuldade, dada a

ampla forma de variantes envolvidas e tipos de veiculação possíveis.

Para Martins, “a primeira preocupação da criação publicitária [é] tornar uma

informação comum e acessível a todos, ainda mais por se tratar de comunicação de massa”

(MARTINS, 2003, p.25). Assim, essa comunicação não é desprovida de valores e conceitos,

tanto aqueles que o sujeito que produz o texto tem de si quanto os que ele tem do seu leitor. E

isso determina certamente a forma como o que vai ser comunicado se efetiva. Martins (2003),

discorrendo sobre os ruídos na comunicação, como a falta de clareza, o meio inadequado,

descuido técnico ou de linguagem, trata do ruído do preconceito: a voz subliminar que traduz

imagens e valores pré-concebidos e “muitas vezes tidos como inofensivos”, tais como o

caipira de camisa xadrez ou o mecânico sujo de graxa. E conclui (em caixa alta): “propaganda

comercial, embora deva ser executada com ética, não é guardiã de ideologias, crenças e

costumes; é instrumento de vendas e como tal deve ser encarada” (MARTINS, 2003, p.29).

Assim como é impossível descolar um texto da época em que foi produzido, o texto

publicitário carrega nos seus signos verbais e não verbais valores e conceitos da sociedade

que o geriu.

Mas a preocupação com a transmissão de valores e conceitos existe entre os autores.

Toscani, por exemplo, exacerba a responsabilidade dos publicitários. Para o autor, eles “não

cumprem a sua função: comunicar. Carecem de ousadia e de senso moral. Não refletem sobre

o papel social, público e educativo da empresa que lhes confia um orçamento” (TOSCANI,

1996, p.25). Nesse outro polo da questão, um exemplo é a campanha produzida pela agência

DDB para a WWF (World Wildlife Fund – Fundo Mundial da Natureza –, organização não

20 A autoria dos produtos é devidamente reconhecida em premiações específicas e festivais de propaganda dentro e fora do país. No Brasil, estão entre os mais famosos o Prêmio Colunistas e o Prêmio Profissionais do Ano.

57

governamental de conservação global), que trazia a imagem de 100 aviões em direção ao

Word Trade Center, numa comparação frustrada ao número de mortes causadas nessa tragédia

e no tsunami de 2004, com a intenção de alertar a população mundial sobre a proteção ao

meio ambiente. A campanha foi rechaçada nos Estados Unidos e interpretada como uma clara

manifestação de mau gosto em relação à tragédia sofrida por aquele país (HEADLIGHT,

2009)21.

2.4.4 O produto (de venda e de texto)

Não podemos nos esquecer de que o discurso publicitário lida com a mercadoria, com

o produto objeto de venda, todo o tempo. Valores e crenças se materializam nesse discurso,

em forma de representações, mas sua finalidade é o produto. Esse produto, seja ele um

utensílio doméstico ou um imóvel, uma campanha eleitoral ou, como no caso em questão

neste trabalho, a oferta de cursos de uma Instituição de Ensino Superior, tem valor de uso e

valor de troca – que se materializa pelo dinheiro. O produto vale pelo investimento que recai

sobre ele e sobre os benefícios que ele pode trazer ao consumidor. A estética das mercadorias,

segundo Vestergaard & Schrøder, reside na equação entre esses dois valores, pois “ninguém

desejará adquirir um produto que não lhe pareça ter valor de uso, mas, já que o único

interesse do vendedor em sua mercadoria é vendê-la, ficará satisfeito desde que ela pareça ter

valor de uso” (VESTERGAARD; SCHRØDER, 2000, p.7, grifo dos autores). Dessa forma, a

publicidade atua para contribuir com a aparência dos produtos, que devem parecer mais

agradáveis, e o próprio anúncio passa a ser uma realização estética. “O anúncio promete ao

consumidor que sua aquisição e consumo lhe darão juventude, amor, reconhecimento, etc.”

(VESTERGAARD; SCHRØDER, 2000, p.8).

No caso do produto eleito para análise neste trabalho – tomado, por enquanto, como

informação sobre o período de inscrição para vestibular – atribuem-se os mesmos valores,

com algumas diferenças. A aparência “agradável” do produto remete à Instituição, local onde

se pretende obter a “formação”, possibilidade de carreira. A campanha trabalha com noções

de reconhecimento, sabedoria, formação, conceituação, entre outros valores, que devem levar

o consumidor a optar por se inscrever naquele processo seletivo.

21 Peça impressa.

58

Vestergaard & Schrøder “demonstram como os anúncios apresentam uma visão

particular da realidade talhada de acordo com as presumíveis atitudes e valores do público-

alvo” (VESTERGAARD; SCHRØDER, 2000, p.71). Para chegar a essas atitudes e valores

que as agências julgam pertencer ao público-alvo, são realizadas, por sociólogos e psicólogos,

pesquisas de opinião que “procuram determinar os valores e imagens que exercem maior

apelo junto ao público” (VESTERGAARD; SCHRØDER, 2000, p.74). Esse procedimento se

pauta pela necessidade que as pessoas têm de “aderir a valores e estilos de vida que

confirmem seus próprios valores e estilos de vida” (VESTERGAARD; SCHRØDER, 2000,

p.74) e compreender o mundo e seu lugar nele.

A fim de flagrar esses valores e atitudes, costumam ser realizados grupos de discussão

com prováveis consumidores do produto em questão. No entanto, na cidade em que a

pesquisa que ora apresento foi realizada, Belo Horizonte, não há prática de pesquisas desse

tipo patrocinadas ou realizadas pelas agências, conforme relatado em entrevista nas agências

da cidade. Trabalha-se, entretanto, com agências de pesquisa de âmbito mais quantitativo,

como Vox Populi ou IBOPE.

Foi possível perceber, de acordo com os entrevistados, que não se realiza avaliação

posterior da campanha, seja por falta de tempo ou devido ao ritmo de trabalho na agência

(CG), seja por falta de recursos da Instituição (WP).

Dessa forma, este trabalho pretende apresentar também resultados de percepções e

interpretações de um grupo de informantes pertencente ao público-alvo da campanha, a fim de

verificar de que forma a imagem que a equipe de criação e a Instituição pretendiam transmitir

chega ao público-alvo. Essas considerações serão tecidas no Capítulo 6.

59

3 METODOLOGIA

Neste capítulo, tratarei de explicitar os fundamentos metodológicos que nortearam a

pesquisa e a confecção deste trabalho. Para tanto, o presente capítulo se divide em duas

partes: a primeira visa relatar experiência de caráter etnográfico, de observação do meio

acadêmico e do ambiente de trabalho em que atua o profissional publicitário; a segunda

pretende demonstrar os passos de coleta de dados com os informantes da pesquisa e como se

deu o tratamento desses dados.

3.1 Escolhas metodológicas

Os procedimentos utilizados foram: observação in loco e entrevistas semiestruturadas,

na primeira fase; na segunda, foi utilizada a aplicação de questionários impressos e por meio

eletrônico, num primeiro momento, e entrevista semiestruturada e discussão em grupo, num

segundo momento.

As entrevistas foram transcritas segundo as orientações de Filliettaz22 (2008), com

algumas adaptações.

De acordo com Sá,

A construção do objeto de pesquisa pode ser vista como um processo decisório, pelo qual transformamos conceitualmente um fenômeno do universo consensual em um problema do universo reificado e, em seguida, selecionamos os recursos teóricos e metodológicos a serem usados para a solução do problema (SÁ, 1998, p.26).

Na construção dos objetos de pesquisa, relacionados às representações sociais, o autor

orienta: “Em primeiro lugar, precisamos decidir como enunciar exatamente o objeto da

representação a ser considerado, de modo a evitar, pelo menos em um primeiro momento,

uma “contaminação” pelas representações de objetos próximos a ele” (SÁ, 1998, p.25).

Seguindo essa orientação, defini como objeto de pesquisa as representações sociais no

discurso publicitário. Correndo o risco de uma ampla gama de representações serem trazidas à

análise, não houve escolha prévia pela pesquisa de uma RS específica, mas pela forma como

22 As entrevistas foram transcritas com base em Filliettaz (2008). As regras usadas para realizar a transcrição dessa e das outras entrevistas encontram-se no Anexo B.

60

ocorre sua circulação no discurso publicitário. Por meio da análise da criação, da circulação e

da recepção desse discurso, cujo recorte se fez em torno de uma campanha de Instituição

educativa – a PUC Minas –, pode-se entrever a circulação das RS nos vários estágios por que

passa esse texto. Desde sua gênese, até sua recepção pelo público-alvo, são muitas as

representações engendradas. Essas representações acabam sendo, como afirma Sá (1998),

contaminadas por representações próximas. No caso da pesquisa, seriam as representações de

ensino superior, carreira, sucesso profissional, embora no fazer publicitário circulem, por sua

vez, representações tanto sobre esse próprio fazer quanto do texto que é ali construído, que

acabarão refletindo, deixando suas marcas na análise desenvolvida.

Sá continua: “Em segundo lugar, precisamos decidir quais serão os sujeitos – grupos,

populações, estratos ou conjuntos sociais concretos – em cujas manifestações discursivas e

comportamentais investigaremos o conteúdo e a estrutura da representação” (SÁ, 1998, p.25).

Assim, escolhi dois grupos de sujeitos para investigar o conteúdo e a estrutura da

representação. Primeiro, o grupo responsável pela produção do texto publicitário e, segundo,

o público-alvo desenhado como interlocutor desse texto, ou seja, um grupo composto por

vestibulandos.

Como última etapa do processo decisório, o autor orienta a: “decidir o quanto de

‘contexto sócio-cultural’ e de que natureza – práticas específicas, redes de interação,

instituições implicadas, comunicação de massa acessível, etc. – levaremos em consideração

para esclarecer a formação e a manutenção da representação” (SÁ, 1998, p.25). Na pesquisa

cujos resultados são demonstrados nesta tese, as representações eleitas como objeto de

pesquisa diferem um pouco das tradicionais pesquisas da TRS. Isso porque se pretende flagrar

as representações de uma Instituição privada cuja imagem é veiculada por meios de

comunicação. Dessa forma, as práticas são demonstradas através das entrevistas realizadas

com a equipe de produção do texto, incluindo a Instituição promotora e a agência de

comunicação que elaborou as peças da campanha, e do acesso que os sujeitos pertencentes ao

grupo de informantes tiveram ao texto e aos veículos que asseguraram sua divulgação. A

partir dessas escolhas, fui à busca dos métodos de pesquisa que seriam utilizados.

Conforme anunciado na introdução do trabalho, a pesquisa pautou-se por duas etapas

complementares, acompanhadas de pesquisa bibliográfica pertinente ao tema. A forma como

foi desenvolvida a pesquisa possui um caráter etnográfico, sob certos aspectos, à medida que

se apoia sobretudo em entrevistas e na observação participante (SPINK; MENEGON, 2000).

Na primeira etapa, para desenhar o processo de criação do texto, dediquei-me, como já

anunciado, à vivência do ambiente de criação do texto publicitário em um curso de

61

Publicidade e Propaganda e em agências de publicidade. Meu objetivo, ao realizar essas

inserções marcadamente presenciais em um espaço desconhecido (para mim), era, em parte,

conviver com pessoas que atuam na área, que têm interesse por estudar e produzir esse tipo de

discurso e, mais ainda, tentar flagrar, de modo metódico (entrevistas, reuniões) ou cotidiano

(aulas, conversas informais) modos de pensar e de se relacionar com a atividade de criação do

texto publicitário.

E, na segunda, privilegiando o espaço da recepção do texto, a pesquisa se definiu por

métodos de coleta quantitativo-qualitativa de dados, por meio de questionários aplicados a

sujeitos pertencentes ao público-alvo da campanha, que serão descritos a seguir.

Nesse segundo momento, privilegiou-se tanto a utilização de procedimentos

quantitativos quanto qualitativos, inspirados na técnica desenvolvida por Abric (2003), que

parte da evocação livre. Essa técnica possibilita levar o informante a trazer à cena lembranças

mais fortes em sua memória acerca do tema tratado. Só então, em um momento posterior, é

que se oferecem opções a ele, a fim de tentar flagrar as representações mais fortes entre

aquela população.

Essa segunda fase foi dividida em duas etapas. A primeira é composta de uma

sequência de três questionários aplicados a integrantes de um mesmo grupo de informantes. O

primeiro questionário foi aplicado na presença do informante, através de questionário

impresso. Participaram 412 sujeitos. Nessa ocasião, o informante deveria trazer à cena as

associações mais próximas, sua memória sobre a campanha do Vestibular do qual ele

participava; o segundo e o terceiro questionários foram enviados aos informantes através de e-

mail e foram obtidas 20 respostas para o segundo e 9 para o terceiro. Nesses questionários,

solicitava-se ao informante que escolhesse uma dentre as opções apresentadas (elaboradas

com base nas respostas da fase anterior). Ainda nessa segunda etapa, mas com outros

informantes, cinco alunos do 3º ano do Ensino Médio, foram realizadas individualmente

entrevistas orais semiestruturadas. Em seguida esses mesmos informantes participaram de um

grupo de discussão: assistiram, em conjunto, ao videoteipe (VT) da campanha e viram

imagens de peças impressas a fim de, provocados por algumas perguntas e mediados pela

pesquisadora, debater sobre questões relacionadas tanto à campanha quanto aos sentidos que

dela emergem.

É importante esclarecer que não adoto, neste trabalho, a dicotomia

qualitativo/quantitativo, por entender (cf. SPINK; MENEGON, 2000) que, em se tratando de

pesquisa, a subjetividade do pesquisador não pode ser deixada de lado, mesmo que se lide

com dados quantitativos. Levo em consideração que “tanto o objeto quanto o sujeito são

62

construções sócio-históricas: o modo como acessamos a realidade institui os objetos que

constituem a realidade. Dito de outra forma, a realidade não existe independentemente do

nosso modo de acessá-la” (SPINK; MENEGON, 2000, p.76-77).

Em pesquisas da área da Análise do Discurso e da Linguística, são comuns estudos

que focalizem a análise do produto já elaborado, divulgado pelas mídias, ou seja, análise de

propagandas, anúncios, tomados como objeto de estudo. Sem desmerecer a qualidade desses

trabalhos, constata-se que pouco tem se refletido, na área, acerca do processo de criação e

produção do texto publicitário, menos ainda sobre as representações ou valores que nortearam

seus produtores no momento de sua criação e produção.

Não seriam estes também importantes aspectos a serem analisados na compreensão e

análise dos discursos: de que forma se processa sua criação? As intenções dos enunciadores

(publicitários/Instituição) criadores se confirmam na circulação dos textos? Julgo essa frente

de trabalho uma importante colaboração se quisermos efetivamente entender, em termos

amplos, como e por que escrevemos, lemos e compreendemos da forma como o fazemos.

O que, em sentido restrito, implica tematizar sobre como certo “modo de se fazer”

orienta a (re)construção e manutenção do que se mostra regular na e para a “manutenção” do

discurso publicitário. Desse modo, revestida dessa hipótese de estudo, houve a necessidade de

conhecer o ambiente de criação publicitária, bem como os atores envolvidos nesse processo,

repercutindo na primeira parte da pesquisa, a qual passo a descrever a seguir.

3.2 Criação publicitária: entrada no campo

Pelo período de um semestre letivo (2º/2009), foi realizada uma parte da pesquisa que

se orientou pela entrada em campo orientada por uma abordagem etnográfica. Daí a escolha

por conhecer o ambiente de produção do texto publicitário in situ tomando como premissa o

fato de que a convivência com pessoas relacionadas à área de comunicação – Publicidade e

Propaganda – tanto em seu ambiente acadêmico quanto profissional é necessária para se

entender como os sujeitos significam (justificam, explicam, mostram, insinuam...) suas ações.

63

3.2.1 Ambiente acadêmico

A entrada no campo iniciou-se pelo ambiente de formação dos futuros publicitários.

Durante o segundo semestre de 2009, mais precisamente durante os meses de agosto e

setembro, por essa experiência tive oportunidade de conviver com alunos do curso de

graduação em Publicidade e Propaganda (PP) da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC

Minas. Após conversa com a coordenadora do curso23, em que se apresentou o objetivo da

pesquisa, foram sugeridas duas disciplinas que poderiam ser úteis para o desenvolvimento da

pesquisa. A primeira, Criação Publicitária (CP)24, seria ministrada no terceiro período do

curso. A segunda, Linguagem Publicitária (LP)25, seria oferecida no sexto período do curso.

Essa distinção foi importante, pois permitiu a observação de graduandos em diferentes

estágios de seu processo formativo. Ambas as disciplinas somavam 4 horas/aula por semana.

Priorizei o acompanhamento de aulas expositivas e apresentações de trabalho dos

alunos em CP; em LP, assisti a aulas expositivas. Pude observar, durante as produções e as

apresentações de trabalhos dos alunos e nas aulas teóricas dos professores, a formação do

profissional de PP, voltada à análise do ambiente em que se insere, do mundo, através de

diversas mídias. Pude perceber, nesse ambiente, a valorização da criatividade e da criticidade.

O embasamento do futuro profissional de Comunicação habilitado em Publicidade e

Propaganda se alicerça, a partir do que foi presenciado nessas disciplinas, muito mais na

prática e na observação de casos (cases) do que em textos teóricos ou metodológicos. Pude

constatar que, embora haja sim uma bibliografia de referência, a maior orientação a esse

aluno, futuro profissional, a que tive acesso é relativa a um estar sintonizado com o mundo a

sua volta e dele/nele buscar as ideias para elaborar seu texto. Essa postura é continuamente

recomendada, em sala de aula, pelos professores nas aulas assistidas. A experiência de campo

confirmou o que dizem os autores a respeito da formação do profissional de comunicação,

como, por exemplo, Martins: “observar atentamente o mundo à sua volta ajuda muito, bem

como estar atento à maneira como outros profissionais trabalham” (MARTINS, 2003, p.17).

Para o autor, a prática do profissional de propaganda “deve ser sinônimo de esforço

conjugado a uma ótima base de informações” (MARTINS, 2003, p.18). O que o autor quer

dizer é que nesse campo de trabalho lidar com a atualidade, com o que emerge na sociedade é

23 Profª. Glória Gomide. 24 Ministrada pelo Prof. Robertson Mayrink, no 6º período do curso. 25 Ministrada pelo Prof. Eduardo Braga, no 3º período do curso.

64

primordial para o sucesso. O publicitário tem de apresentar uma postura “antenada” se quiser

se destacar em sua área. O Ministério da Educação (MEC) apregoa em suas diretrizes que o

egresso do curso de Comunicação Social caracteriza-se por ser criativo e capaz de refletir

criticamente acerca das mídias, das práticas culturais a elas relacionadas. Além disso, esse

profissional está apto a adequar-se “à complexidade e velocidade do mundo contemporâneo”

(BRASIL, 2001, p.17). Em relação ao profissional de Publicidade e Propaganda

especificamente, o MEC enuncia:

O perfil do egresso em Publicidade e Propaganda se caracteriza: 1. pelo conhecimento e domínio de técnicas e instrumentos necessários para a proposição e execução de soluções de comunicação eficazes para os objetivos de mercado, de negócios de anunciantes e institucionais; 2. pela tradução em objetivos e procedimentos de comunicação apropriados os objetivos institucionais, empresariais e mercadológicos; 3. pelo planejamento, criação, produção, difusão e gestão da comunicação publicitária, de ações promocionais e de incentivo, eventos e patrocínio, atividades de marketing, venda pessoal, design de embalagens e de identidade corporativa, e de assessoria publicitária de informação (BRASIL, 2001, p.17).

Como se visualiza, há ênfase nas diretrizes governamentais à dinamicidade do

profissional, ligado a instituições, empresas e ao mercado e tendo de honrar, nesse âmbito,

compromissos que se efetivam pela imagem e comunicação de seus clientes, através de

técnicas e conhecimentos adequados.

No caso específico da Instituição em que vivenciei o convívio acadêmico desse futuro

profissional, a PUC Minas, se prevê um amplo mercado em que o futuro publicitário pode

atuar. O curso:

forma profissionais para atuar na área de comunicação publicitária, que abrange desde agências de publicidade, veículos, departamentos de comunicação e marketing, até fornecedores de serviços de propaganda, como produtoras de vídeo, áudio, estúdios de fotografia, empresas de web, entre outros (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS, 2010, p.66).

A Instituição acrescenta que há um diferencial envolvendo a formação humanística do

aluno, fornecendo a ele capacitação “para se reciclar permanentemente diante das

transformações constantes da sociedade e do mundo da Publicidade e Propaganda e para

buscar, selecionar e hierarquizar informações nos ambientes social e mercadológico.”

(PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS, 2010, p.26).

A formação desse profissional prioriza, portanto, o conhecimento de todo o processo

de criação e produção, mesmo que prefira atuar em um momento particular, como na

65

produção de vídeo, por exemplo. Se ele for um diretor de criação, terá de elaborar um roteiro

que não deixe margens de interpretação ou modificação por parte do diretor de arte ou do

produtor do vídeo. Ele deve entender de todo o processo para que seu trabalho saia conforme

planejado e para que o trabalho se estruture em autoria coletiva. Entretanto, deve também

saber aceitar a colaboração e as sugestões pertinentes da equipe, quando for o caso.

Finda esta etapa de observação e interação com docentes e discentes do curso,

dediquei-me a realizar a mesma tarefa no ambiente de trabalho: nas agências de publicidade

ou agências de comunicação, ambiente profissional aonde se dirige a maioria dos egressos do

curso de Publicidade e Propaganda.

3.2.2 Ambiente profissional

Pelo que se pode constatar no ambiente acadêmico de formação do publicitário, a

partir do que foi observado nas duas disciplinas, essa formação profissional do egresso do

curso de Publicidade e Propaganda parece ser coerente com o ambiente de trabalho que o

aguarda. Nas visitas realizadas a agências de publicidade em Belo Horizonte, pude constatar

que as principais características exigidas do profissional são visíveis no ambiente de trabalho.

A inserção nesse ambiente de trabalho foi dificultada, a princípio, devido à resistência

por parte das pessoas que poderiam me receber nas agências. Por cerca de dois meses houve

tentativas de agendar entrevistas com pessoas relacionadas às agências. A impressão que tive

nos primeiros contatos telefônicos com as agências foi de certa desconfiança do trabalho a ser

realizado ali. Acredito que esse estranhamento se deva ao pouco contato dos profissionais da

comunicação com os da linguística na prática, embora haja trabalhos acadêmicos

desenvolvidos, tanto de um como de outro lado, envolvendo os dois campos teóricos.

Numa tentativa bem sucedida, fui recebida na ASA Comunicação (ASA)26 pelo diretor

de criação, EB, que gentilmente me cedeu uma entrevista e todas as peças da campanha “Que

papelão”, desenvolvida para a BHTrans em 2008. Esse material foi útil para as primeiras

análises e as duas visitas realizadas à agência possibilitaram um primeiro contato com o

ambiente profissional e os sujeitos que atuam ali. Pude perceber, nesse primeiro momento,

que estava lidando com profissionais de certa forma diferentes dos profissionais (de outras

26 A agência é uma das mais antigas e conceituadas em Belo Horizonte.

66

áreas, como escritórios de advocacia, de contabilidade, por exemplo) mais convencionais

(impressão que viria a ser confirmada pelos próprios profissionais da área), que trabalham,

segundo a perspectiva dos profissionais com os quais convivi, em ambiente descontraído,

aberto, com constante interação (verbal, visual e eletrônica – via intranet) entre os setores.

A segunda agência a ser visitada foi a Lápis Raro (LR)27, onde também pude constatar

o mesmo clima descontraído no ambiente de trabalho.

Posteriormente, em função dos próprios objetivos da pesquisa, o material cedido pela

LR se mostrou mais propício à análise. Nessa agência, realizei três visitas presenciais. Na

primeira visita, em que fui recebida pela atendente do Atendimento, ST, tive a oportunidade

de conhecer todos os ambientes da agência. Na segunda, encontrei-me com a dupla de criação

da campanha do Vestibular PUC Minas, CG e DJ28, com quem conversei sobre o processo de

criação da campanha e do texto publicitário de modo geral. Nessa conversa, ficou acertada

uma entrevista com a dupla de criação e um profissional de mídia que havia acompanhado a

elaboração da campanha (DJ). A terceira visita, entretanto, consistiu na realização de

entrevista apenas com a supervisora de criação, CG, pois o outro profissional encontrava-se

em período de férias. Na ocasião, também entrevistei a nova profissional de Atendimento,

ME, que representou o profissional de mídia, impossibilitado de comparecer.

Nessa agência pude me dedicar, nas três visitas realizadas, a analisar as campanhas do

Vestibular da PUC Minas, desenvolvidas semestralmente, e pude participar de todo o

processo de criação da campanha do 1º semestre de 2010.

A primeira impressão ao visitar as agências, como relatado, é a de um ambiente de

trabalho mais extrovertido do que um escritório tradicional. Não há divisórias ou paredes

entre os funcionários, o que propicia maior interação entre as pessoas. A relação entre elas,

justamente pela ausência de “barreiras”, reflete bom humor e alto astral – clima propício à

eminência da criatividade. O trabalho é colaborativo. Martins, de forma descontraída, define:

“gente deprê, macambúzia, sorumbática e baixo-astral não é criativa, por definição e por

impossibilidade ambiental” (MARTINS, 2003, p.20). Essa impressão foi ratificada na

entrevista realizada com a supervisora de criação da campanha, atuante há 17 anos na área.

Martins (2003) ainda aponta como qualidades esperadas desse profissional, além do

bom humor, a irreverência, traduzida pela capacidade de questionar e pela coragem de olhar o

mundo de forma crítica, e a capacidade de trabalhar sob pressão, frequentemente com

27 O primeiro contato com a agência foi feito com a profissional do Atendimento, ST, na PUC Minas. A Lápis Raro é uma agência de grande prestígio em Belo Horizonte, com mais de 20 anos de atuação e uma carteira de mais de 15 clientes. 28 Os entrevistados nesta fase serão identificados pelas suas iniciais.

67

escassez de tempo, de recursos econômicos e de materiais. Foi possível verificar nas agências

visitadas – bem como na postura dos alunos do curso de PP, futuros profissionais – essas

características.

Na sessão seguinte voltarei a essa questão para mostrar como o ambiente de trabalho

influencia a ação dos sujeitos e, consequentemente, a produção do discurso publicitário.

A metodologia da pesquisa incluiu entrevistas semiestruturadas29 com a supervisora de

Criação30 e a funcionária do Atendimento31 na agência Lápis Raro, a partir da escolha pelo

acompanhamento da campanha do Vestibular PUC Minas. Ao mesmo tempo, houve

necessidade de acompanhar junto à Instituição promotora da campanha o processo de criação.

Dessa forma, mantive contato com a Secretaria de Comunicação da PUC Minas e entrevistei o

coordenador de publicidade do Setor de Comunicação da PUC Minas32. Essas entrevistas,

tanto na agência quanto na Instituição, tinham como objetivo flagrar a representação do

sujeito sobre a Instituição promotora da campanha e sobre a própria campanha.

Vejamos então onde e como ocorre esse processo de criação e em que medida as

condições de produção na agência de comunicação influenciam o fazer, o modo de agir dos

atores sociais envolvidos no processo de produção.

3.2.2.1 Condições de produção na agência de comunicação

A agência de propaganda e publicidade – ou agência de comunicação – é um ambiente

de trabalho diferenciado (conforme se poderá confirmar na descrição da agência visitada para

este trabalho, adiante) em que predominam o ambiente criativo e a cooperação entre os

setores – livres de divisórias –, como ilustra a Figura 1:

29 Os roteiros de entrevistas encontram-se nos Apêndices D, E e F. 30 CG, supervisora de criação – agência. 31 ME, atendimento – agência. 32 WP, coordenador de publicidade – cliente.

68

Figura 1: Departamento de web/Lápis Raro Agência de Comunicação Fonte: Foto de Maria Elisa Rocha, 2010

Pode-se perceber, pela imagem, que existem “ilhas” de trabalho, onde é possível a

cada um preservar seu espaço ainda que em constante interação com os demais. O espaço é

customizado, isto é, cabe a cada um personalizá-lo de acordo com suas necessidades e

preferências.

Sendo a criação do texto publicitário um trabalho em que parece prevalecer a ação em

equipe para alcançar o objetivo desejado – qual seja, a produção de uma campanha efetiva

que traga resultados satisfatórios ao cliente e, também, consolide de forma positiva a imagem

desse cliente no mercado –, esse ambiente propicia condições adequadas à interação. É

possível, nesse ambiente de trabalho, que os participantes da produção da campanha

trabalhem em duplas, lado a lado.

Importante notar que cada trabalhador possui seu próprio computador, interligado a

intranet e a internet, o que lhe propicia estar em contato direto com trabalhadores de outros

setores e a informações da rede mundial. Além disso, é constante a troca de material entre

funcionários do mesmo setor ou da mesma ilha: peças gráficas, sonoras, documentos.

Na entrevista realizada na agência, foi pedido que se fizesse uma descrição do

ambiente físico e social de trabalho:

bom, o ambiente físico ele é um::: ... normalmente a gente trabalha numa sala que é como se fosse uma redação de jornal porque é uma sala que tem muita gente . né . [...] então são muitos profissionais que tão envolvidos com trabalhos diferentes é:: o:: é:: um ambiente do ponto de vista físico é um ambiente confuso que a gente trabalha com várias ideias e vários . e vários assuntos ao mesmo tempo né . mas a

69

gente trabalha cada um tendo sua pauta e em cada momento a gente tá cumprindo (CG)

No início da descrição, a entrevistada seleciona um qualificador e o abandona, o que

se pode perceber pela pausa após o artigo e o anacoluto em seguida. Ela opta, após a pausa,

por descrever em vez de caracterizar. Ela descreve o ambiente de trabalho assim: “é como se

fosse uma redação de jornal”. Usando essa comparação, a entrevistada acredita que seria mais

fácil compreender esse cenário. O adjetivo usado então para definir o ambiente é “confuso”,

porque muitas pessoas trabalham ao mesmo tempo em atividades variadas. Nossa intenção, ao

levantar esse questionamento, é tentar compreender como é avaliado o local de trabalho pelo

próprio ator.

Esse modelo de agência surgiu por volta de 1970 e é adotado por muitas agências no

Brasil, nos Estados Unidos e na Europa (STELL, 2001) ainda hoje. Os profissionais da

comunicação atendem a clientes variados de acordo com os trabalhos que surgem. Eles

permanecem sob a supervisão de um diretor (de arte, de mídia, de criação...) responsável pelo

setor e dialogam com outros setores da agência que auxiliam a produção da campanha:

atendimento, web, design.

O setor responsável por manter a comunicação entre o cliente – empresa anunciante –

e a agência é o atendimento. Uma pessoa desse setor – também nomeada atendimento –

responde pelos interesses do cliente na agência e vice-versa: representa a agência perante o

cliente. Após uma reunião com o cliente, o atendimento repassa aos colegas da agência a ideia

a ser desenvolvida. Criação, planejamento e mídia trabalham na ideia proposta pelo cliente, a

partir de uma reunião de briefing33, em que são discutidas propostas e linhas de ação. Muitas

vezes, como é o caso da campanha aqui analisada, o briefing acontece com a presença do

cliente.

Com a ideia desenvolvida em algumas propostas, o atendimento retorna ao cliente, que

faz as devidas sugestões e aprova o projeto final.

No ambiente de trabalho da agência de comunicação, a arquitetura e a decoração

concorrem para a criação de um ambiente lúdico e criativo, conforme apontam as Figuras 2 e

3. São poucas as divisórias entre setores, o que parece favorecer a interatividade constante. Os

funcionários costumam decorar o ambiente com imagens e objetos que remetam à

criatividade.

33 O briefing é um trabalho que antecede a produção da campanha. É o momento em que agência e cliente se reúnem para lançar as bases do projeto. A partir dessa reunião, é preparado um documento que será passado à equipe de criação.

70

Figura 2: Setor de atendimento/Lápis Raro Agência de Comunicação Fonte: Foto de Maria Elisa Rocha, 2010

Figura 3: Departamento de criação/Lápis Raro Agência de Comunicação Fonte: Foto de Maria Elisa Rocha, 2010

Nos detalhes, pode-se perceber a presença, nesse ambiente de trabalho, de elementos

decorativos, mas que, ao mesmo tempo, cumprem a função de tornar o ambiente mais

agradável, mais divertido, mais lúdico.

No departamento de criação, coração da agência, não há divisórias entre as áreas

individuais de trabalho, como se pode constatar na Figura 3, e há maior presença, nessas

71

áreas, de elementos lúdicos. No setor de atendimento, que exerce uma função mais

burocrática, fazendo o contato entre a agência e o cliente, também se pode perceber um

ambiente menos formal, mas não com tantos elementos quanto na criação. Também podemos

ver que há divisórias entre os espaços, como mostra a Figura 4:

Figura 4: Elementos de descontração no ambiente de trabalho/Lápis Raro Agência de Comunicação Fonte: Foto de Maria Elisa Rocha, 2010

Em detalhe, pode ser visto um tabuleiro de tiro ao alvo e alguns outros jogos. São

objetos que podem ser usados com fins de distração, descontração e brincadeira em momentos

de tensão no trabalho. Uma televisão pode ser visualizada no alto da imagem.

Na Figura 5, abaixo, pode-se ver um aparelho de som. A presença de ambos os

equipamentos colabora para o perfil mais livre do ambiente de trabalho.

72

Figura 5: Elemento de descontração no trabalho/Lápis Raro Agência de Comunicação Fonte: Foto de Maria Elisa Rocha, 2010

Figura 6: Departamento de mídia/Lápis Raro Agência de Comunicação Fonte: Foto de Maria Elisa Rocha, 2010

Na imagem acima, também registrada do departamento de mídia, veem-se no detalhe

objetos que personalizam o ambiente individual de trabalho, como brinquedos, fotografias e

objetos de decoração.

Importante destacar, em todas as imagens registradas desse ambiente de trabalho, que

essa configuração e a forma como se organizam os espaços de trabalho são responsáveis,

73

também, pelo discurso que ali se produz. Os atores envolvidos nesse processo colocam em

cena suas crenças, seus valores, para efetivamente produzir textos da forma como o fazem.

CG, supervisora de criação da campanha da PUC Minas, em entrevista concedida à

pesquisadora, caracteriza esse ambiente de trabalho como “caótico”, porque há muitas pessoas

trabalhando em um mesmo ambiente, lidando com assuntos diversos:

tudo no mesmo ambiente... é então são vários profissionais de criação de arte ou de gerência né [...] então são muitos profissionais que tão envolvidos com trabalhos diferentes é o é um ambiente do ponto de vista físico é um ambiente confuso que a gente trabalha com várias ideias e vários e vários assuntos ao mesmo tempo né, mas a gente trabalha cada um tendo sua pauta e em cada momento a gente tá cumprindo (CG)

Segundo a entrevistada, o próprio ambiente causa certa dificuldade de concentração.

Cada pessoa, segundo ela, cria suas estratégias para lidar com isso: “cada um tem o seu fone

de ouvido então a hora do fone de ouvido é a hora que você se isola um pouco pra poder

pensar” (CG).

Figura 7: Ambiente de trabalho/Lápis Raro Agência de Comunicação Fonte: Foto de Maria Elisa Rocha, 2010

O ambiente descrito pela publicitária pode ser visualizado na Figura 7. Vemos um

ambiente de espaços múltiplos, onde convivem profissionais que executam tarefas diferentes

e dividem o mesmo espaço. Eventualmente, essas tarefas são partilhadas, via intranet ou por

meio da oralidade. No detalhe, o uso do fone de ouvido e objetos de decoração.

74

O ambiente de trabalho na agência de publicidade, de acordo com CG,

é um ambiente em que a piada tá sempre presente até pra aguentar o nível de tensão porque a gente faz muitas coisas que são corridas, muitas coisas urgentes, a gente aguenta muita pressão né, de prazo, tal, então é um ambiente muito descontraído, muito gostoso, mas tamém a gente fala palavrão, né, é natural essas catarses são aceitas nesse ambiente porque senão CÊ não aguenta trabalhar num lugar desse né... por isso que é um ambiente mais entre aspas né mais livre, que as pessoas se vestem de um jeito mais livre, que existe uma democracia no jeito de se vestirem... não tem uma formalidade, não é um ambiente formal nem burocrático porque se for assim é muito pior pra criatividade né? (CG)

O discurso da entrevistada deixa entrever a forma como o grupo se posiciona em

relação ao ambiente “convencional de trabalho”: ele não se situa em um espaço formal e

burocrático, é socialmente permitido o uso de palavrões, e essa liberdade também está

presente no modo de se vestir. Dessa forma, o sujeito se constitui na unidade (o grupo é

assim) e se diferencia de outros grupos, porque ali, naquele espaço, são permitidas

determinadas posturas que em outro ambiente de trabalho não seriam.

Nas primeiras incursões nesse ambiente vivi certo estranhamento em relação à

ausência de formalidade, notada principalmente na linguagem e no uso de gírias. A título de

exemplo, no e-mail que enviei ao diretor de criação de uma das agências visitadas, procurei

usar o nível de linguagem adequado tanto ao papel que eu desenvolvia naquela instância, o de

pesquisadora, da área de Língua Portuguesa, etc., quanto ao do meu interlocutor, um “diretor”

de departamento na agência. Redigi uma mensagem, bastante formal, agradecendo-o pelo

agendamento da entrevista, e obtive simplesmente a seguinte resposta: “Valeu!”.

Segundo a supervisora, apesar de ser caracterizado como um ambiente descontraído,

em que são permitidas brincadeiras, o bom senso impera, em função da própria necessidade

de cumprir os prazos dos clientes.

Foi importante conhecer o ambiente de produção da campanha para que pudesse

procurar compreender melhor que valores circulam na instituição, como os integrantes se

relacionam, pois tudo isso interfere na produção da campanha. A partir desse conhecimento,

pude buscar dados para flagrar as representações sociais sobre o fazer publicitário e sobre a

campanha escolhida para análise.

Pelo que foi visto/presenciado nas agências e depreendido da análise das entrevistas

realizadas, podemos pensar em um ambiente de trabalho caracterizado como um escritório,

semelhante a uma redação de jornal ou outros ambientes da comunicação, privilegiado por

espaços lúdicos e grande movimento interativo entre os trabalhadores. Mesmo porque cada

75

setor é responsável por uma “parte” do trabalho, é necessário que haja comunicação entre

eles.

3.3 O feedback da campanha: coleta de dados

Após o período de convivência com profissionais em formação e atuantes no meio

publicitário, acompanhando especificamente a campanha desenvolvida para o Vestibular PUC

Minas 1º/2010 e buscando flagrar as representações depreendidas no âmbito da criação – que

serão retomadas no Capítulo 4, a pesquisa se dirigiu à checagem dessas representações junto

aos receptores. Isto é, pretendeu-se comparar as imagens e valores presentes no discurso dos

enunciadores do texto, os criadores da campanha, o cliente e a agência, com o discurso dos

enunciatários, no caso, candidatos ao concurso vestibular da Instituição.

O texto, produto desse processo, cujo sentido emerge da interação entre enunciadores

e enunciatários, foi avaliado por esses dois grupos de atores participantes.

Essa parte da pesquisa, destinada à coleta de informações relativas à recepção do texto,

foi realizada em dois momentos: no primeiro foi aplicada uma sequência de três questionários

a um grupo heterogêneo de vestibulandos, candidatos ao Vestibular PUC Minas 1º/2010; o

segundo foi realizado com outro grupo de 5 informantes, também vestibulandos, alunos do 3º

ano do Ensino Médio. Foi gravada entrevista individual seguida de grupo de discussão).

O primeiro contato com o grupo de informantes da primeira fase da coleta de dados

ocorreu no dia do Vestibular 1º/2010 da PUC Minas, no campus Coração Eucarístico34. Nesse

dia, um grupo de entrevistadores35 conseguiu que quatrocentos e doze sujeitos respondessem

às questões, que visavam colher dados sobre a constituição do público-alvo, sobre a campanha

e, também, as impressões dos leitores sobre a Instituição.

Os entrevistadores trabalharam in loco, oferecendo um questionário36 impresso aos

candidatos ao vestibular da PUC Minas, no campus, durante o período anterior à aplicação da

prova (cerca de 1 hora antes da prova são abertos os portões da Instituição), no ambiente

mostrado na Figura 8, abaixo:

34 A primeira coleta de dados ocorreu em 15 de novembro de 2009. 35 A equipe foi composta por Adilson Oliveira, Claudinei Nunes, Jânia Almeida, Gustavo Lacerda, Edson Santos, Fernando Wesley, Sandro Ferreira, Cleusa Miranda, Daniel Miranda, Claitom Ferreira, Abner Contaldo e Gabriela Contaldo. 36 Ver Apêndice A.

76

Figura 8: Entrada do Vestibular/Campus Coração Eucarístico Fonte: PUC Online, 2009

Após o recolhimento desses dados, foi necessário comparar os dados discursivos da

equipe de criação, da agência e da Instituição com aqueles obtidos com a abordagem do

público-alvo a fim de comprovar o alcance dos objetivos da campanha e a imagem da

Instituição ali veiculada.

No Capítulo 5 será mostrado o perfil desses informantes para, em seguida, apresentar a

análise de suas respostas.

O número de questionários respondidos nesse momento refere-se tão somente à

disponibilidade de candidatos que aceitaram participar da pesquisa dentro do universo dos

candidatos abordados, no tempo disponível. Esse número (412 informantes) corresponde a

3,4% do total de inscritos no vestibular. Importante ressaltar que a grande maioria dos sujeitos

abordados, sem distinção de sexo ou opção de curso, se prestou a responder ao questionário,

apesar da normal tensão do momento que antecede a prova.

O questionário, de uma página apenas, não solicitava ao respondente que se

identificasse nominalmente. Requeria apenas que ele fornecesse seus dados (idade, sexo e

local de origem), os quais seriam usados somente para fins da pesquisa. O fornecimento do e-

mail era opcional. Os informantes responderam questões sobre as formas como tomaram

conhecimento das informações da campanha e sobre os veículos pelos quais tiveram acesso às

informações do Vestibular.

77

A segunda e a terceira etapas ocorreram por meio eletrônico. Os questionários foram

enviados via e-mail aos informantes37 que, em tese, se dispuseram a continuar participando da

pesquisa e, para isso, forneceram seu endereço eletrônico.

O segundo questionário38 foi enviado a 293 informantes, ou seja, 71% dos

respondentes na primeira fase forneceram meio de contato. Nesse momento, foi perguntado

aos entrevistados se foram aprovados no vestibular da Instituição, se efetivaram a matrícula e,

em caso negativo, a justificativa para sua não efetivação. Foram apurados os métodos de

especificação das características da PUC Minas para os informantes. Desses 293 e-mails

enviados, 119 retornaram como endereços inválidos, o que corresponde a 41% do total de

questionários enviados. Existem, a meu ver, duas hipóteses que poderiam justificar esse

elevado número de endereços inválidos: tanto há, de fato, os endereços ilegíveis quanto os

que deliberadamente são redigidos de forma errônea. Fato é que, dos 293 questionários

enviados, obtive resposta apenas de 20 informantes, o que corresponde a 11% desse total.

Na sequência da coleta de dados, um terceiro questionário39, solicitando ao informante

que assistisse ao vídeo da campanha e respondesse a 5 questões objetivas, foi enviado aos 20

informantes que responderam ao segundo questionário. Nove informantes, 45% do total de

questionários enviados, responderam a essas questões.

Apesar de ter havido uma diminuição quantitativa nas respostas, acredito que o

aspecto qualitativo foi relevante, pois propiciou uma verticalização dos resultados obtidos na

primeira fase em relação à imagem da Instituição veiculada na campanha.

Depois desse momento, houve necessidade de explorar ainda mais os dados. Para isso

foi realizada uma segunda etapa de coleta de dados. A metodologia utilizada nessa etapa final

foi entrevista oral (gravada em áudio) semiestruturada seguida de grupo de discussão40.

Participaram dessa segunda fase cinco informantes, alunos da 3ª série do Ensino Médio da

rede particular de Belo Horizonte.

A entrevista foi realizada individualmente, na própria escola em que os alunos

estudam. Os informantes responderam a questões como: “Você pretende prestar vestibular ao

fim do ano?”. Todos os entrevistados responderam afirmativamente, o que levou à questão

seguinte, sobre o curso pretendido e a(s) instituição(ções) de preferência. Também foi

perguntado ao entrevistado em qual instituição ele não pretendia ingressar e por que motivo.

Ao final, sem ter mencionado em nenhum momento a PUC Minas como “tema” da entrevista

37 Os questionários foram enviados aos candidatos entre fevereiro e abril de 2010. 38 Ver Apêndice B. 39 Ver Apêndice C. 40 Ver Apêndice D.

78

(o convite para participação na pesquisa, em sala, tematizava apenas o vestibular), perguntei a

cada um o que pensava a respeito dessa Instituição, o que vinha à mente quando se falava em

PUC Minas, tentando trazer à cena representações a partir da técnica de evocação livre de

palavras, que, segundo Abric (2003), permite coletar elementos que constituem o conteúdo de

uma representação, ou seja, a atualização dos elementos implícitos ou latentes das RS,

inclusive os mais periféricos.

Na sequência, com os 5 informantes reunidos, foram exibidas a peça da campanha

veiculada em TV e algumas imagens de peças impressas. Eles assistiram ao VT por duas

vezes e em seguida foram orientados a participar de um grupo de discussão temático. Essa

técnica tem por objetivo “explorar possibilidades da dinâmica da interação das pessoas numa

situação artificialmente criada que permita verbalizações espontâneas" (JORDÃO, 1994,

p.48). Normalmente é composto por sujeitos que possuem características comuns –

vestibulandos, no caso – a fim de garantir uma melhor dinâmica interna do grupo, permitindo

troca e conflito de opiniões, importante para a obtenção de respostas para o problema

investigado. A partir de um roteiro, esses informantes foram convidados a expressar suas

impressões acerca da campanha, da(s) instituição(ções) de sua escolha e da PUC Minas. Suas

expectativas em relação à instituição em que prestariam vestibular – expressas na entrevista

individual – foram retomadas, agora em grupo, e discutidas em função da proposta da

campanha. Os resultados estão descritos no Capítulo 5.

Integra ainda os procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica, nas áreas de

Análise do Discurso e Teoria das Representações Sociais, discutidas no Capítulo 2.

79

4 CRIAÇÃO E CIRCULAÇÃO DA CAMPANHA

A pesquisa cujo tema versa sobre a criação e a circulação de representações sociais no

discurso publicitário, tomando como objeto de investigação a campanha Vestibular PUC

Minas 1º/2010, justifica-se por razões de ordem operacional e conceitual. Em primeiro lugar,

dada a época em que foram colhidos os dados da pesquisa, essa campanha estava em processo

de produção e veiculação, o que possibilitou acompanhar essas etapas em tempo real. E, em

seguida, foi possível avaliar a recepção da campanha a partir da coleta de dados no dia do

vestibular. Além disso, julgou-se produtivo, no momento dessa escolha, pesquisar um produto

dessa natureza, qual seja, um produto oferecido por uma instituição educacional, e não um

produto físico de compra e venda (o fato de não se tratar de um objeto que pudesse ser

adquirido instantaneamente, como um detergente ou um carro, permitiu verificar o

relacionamento do público-alvo com o produto e a Instituição promotora). E, por fim, acredito

que o projeto que se desenhava naquele momento possibilitaria dedicar-me a uma pesquisa

que trouxesse resultados à própria Instituição, além de facilidade de aplicação do questionário

no dia do evento (vestibular) também na própria Universidade.

Neste capítulo, apresento inicialmente informações sobre o processo de criação da

campanha, ou seja, procederei a uma análise das condições de produção do texto, resgatadas

por meio de entrevistas realizadas na Lápis Raro Agência de Comunicação e na Secretaria de

Comunicação da PUC Minas, conforme descrito no Capítulo 3. Em seguida, trago os

resultados de análise das peças da campanha, a saber, o material que foi divulgado e circulou

em mídia impressa e eletrônica.

Os resultados obtidos na aplicação dos questionários ao público-alvo e no grupo de

discussão realizado serão apresentados no capítulo seguinte, destinado à recepção do texto.

Desse modo, pretendo abarcar a criação, a circulação e a recepção do texto publicitário para

tentar compreender as representações sociais que motivaram sua produção e verificar, junto

ao público-alvo, como essas representações foram recebidas e, ainda, de que forma elas vão se

(re)construindo no meio social.

80

4.1 (N)a hora do vestibular: o foco da campanha

Nas Instituições de Ensino Superior do País, essa etapa tem sido vivida, há cerca de 10

anos, de modo cada vez mais apreensivo em função da diminuição da demanda (candidatos)

proporcionalmente ao aumento da oferta (cursos/vagas). A cada dia novas instituições são

criadas, o que aumenta a concorrência e a disputa pelos candidatos. Nesse sentido, a

publicidade sazonal dessas instituições pretende fortalecer a marca (o nome da instituição) e

ressaltar suas qualidades, numa tentativa de convencer o candidato a fazer opção por aquele

caminho.

Recentemente, com as novas regras do Ministério da Educação (MEC), passou-se a

adotar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem41) como forma de ingresso nas

instituições, o que fez com que a concorrência ficasse ainda mais acirrada: o candidato prefere

fazer apenas uma prova e a nota obtida no Enem pode ser usada como passaporte para a IES

escolhida.

Diante de tantas ofertas e facilidades, a persuasão que emana na campanha publicitária

dos vestibulares torna-se quase imperceptível, em meio a tantas campanhas de universidades

de qualidade, que prometem, sempre, a melhor formação.

Nesse cenário, a campanha do vestibular PUC Minas tem tentado, já há alguns anos,

além de demonstrar qualidades da Instituição, marcar as características que a diferem das

concorrentes com um discurso que visa promover sua identidade: a qualidade do ensino

oferecido.

Desde 2005, a Lápis Raro Agência de Comunicação cuida da conta da PUC Minas, e

vem investindo na assinatura “Conhecimento que transforma”. Transforma o mundo,

transforma a pessoa, como pode ser demonstrado pelos slogans: “O que você faz, faz o

mundo” (2006), “Prepare-se, o mundo vai precisar do seu conhecimento” (2007) e “A gente

pode transformar o mundo. Pense” (2008). Segundo a Instituição, essa frase-chave –

“Conhecimento que transforma” – tem por objetivo mostrar que a PUC Minas procura “gerar

ações para o desenvolvimento do Brasil e melhoria da qualidade de vida das comunidades,

espírito que move a relação entre ensino, pesquisa e extensão” (PONTIFÍCIA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS, 2006). Todas essas campanhas vêm

41 O Enem foi criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em 1998 com o objetivo de avaliar o desempenho de estudantes na conclusão da Educação Básica. Desde então, o resultado do exame tem servido ao estudante também como forma de ingresso nas IES, públicas e privadas.

81

trabalhando com a imagem e a representação de estudo, conhecimento e universidade como

forma de desenvolvimento pessoal e coletivo, ou seja, com a ideia de que o desenvolvimento

pessoal, por meio da aquisição e construção de conhecimento, é capaz de promover o

desenvolvimento social.

Em 2009, uma nova ideia surge a partir da suspeita, detectada pela própria PUC

Minas, de que a imagem da Instituição estava se tornando distante de classes mais populares

ou talvez nunca houvesse estado próxima. A Instituição detecta que existe um mercado do

qual ela poderia se aproximar. Por meio de pesquisas realizadas pela própria universidade,

constatou-se que a Instituição era tida como “cara” e “difícil”, ou seja, inacessível àqueles que

se inserem nas classes trabalhadoras ou são oriundos de classes sociais mais baixas. Em

resposta a esse questionamento, percebido pela própria Instituição, como dito, a agência lança

a campanha “É pra você”. O próprio slogan já diz, e as peças mostravam, também, que a PUC

era uma instituição em que pessoas de múltiplas origens, pensamentos, classes sociais

poderiam conviver. O slogan constituído por uma afirmação focaliza diretamente o

interlocutor, que se enquadra, se encaixa em qualquer uma das opções oferecidas pela

campanha. Alguns informantes da pesquisa cujos resultados ora se apresentam, inclusive,

relembram a campanha das “carinhas”42 como se fosse a campanha atual.

Mas como a Instituição, trabalhando em conjunto com profissionais da comunicação,

chega a esse resultado, a esse produto? Que perguntas se fazem presentes no momento da

produção de uma campanha que envolve, em média, 15000 candidatos e peças publicitárias

que são veiculados em jornal, rádio, TV, internet, entre outros meios? É sobre essas escolhas

que o presente capítulo tratará, procurando descrever, do ponto de vista da criação, o processo

de elaboração da campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 e seus impactos em relação ao

público-alvo.

A Lápis Raro Agência de Comunicação, responsável pela campanha do Vestibular

PUC Minas, foi o espaço que se elegeu, como já dito, para a realização da pesquisa. Situada

em Belo Horizonte, a agência trabalha em constante parceria com seus clientes, aceitando

deles sugestões no processo de criação e na divulgação de campanhas, conforme descrito no

Capítulo 3.

Passo agora a expor mais detalhadamente o que foi observado e pesquisado durante o

processo de criação da campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010, o qual tive oportunidade de

42 A campanha “É pra você” trabalhava com imagens de pessoas diferentes, cujos rostos, inseridos em quadros, se agrupavam na tela. Daí o nome de “carinhas”.

82

acompanhar tanto na agência quanto na Instituição, e, posteriormente, à análise das RS daí

decorrentes.

4.2 O processo de criação da campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010

A agência de publicidade é a instância que acolhe os sujeitos aptos a criar campanhas

publicitárias e, também, a fomentar estratégias de marketing que alterem positivamente a

(boa) imagem do cliente no mercado, junto ao público.

4.2.1 Briefing

Todo o processo de produção de uma campanha publicitária tem início com o briefing.

O cliente solicita à agência uma proposta, dentro do que for discutido em uma reunião entre o

profissional de atendimento e, geralmente, o responsável pela comunicação na empresa do

cliente. Nessa reunião, denominada briefing, são levantados os objetivos da campanha, a

imagem que se quer passar da empresa (e do produto), as estratégias que podem ser utilizadas,

enfim, há um brainstorming para que o atendimento leve ao profissional de criação e ao de

planejamento as bases sobre as quais eles irão criar e estruturar a campanha.

A reunião de briefing da campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 ocorreu na

Secretaria de Comunicação da universidade e visava tratar de alguns pontos cruciais para a

elaboração da campanha. O briefing é realizado a partir de observação do mercado, ou seja, é

tangenciado pela percepção do que o público-alvo espera da instituição.

Para os fins da pesquisa, julgou-se oportuno assistir a esse evento. Dado que a reunião

da campanha Vestibular já havia ocorrido, e estava em pleno desenvolvimento na agência,

tive oportunidade de presenciar a reunião de elaboração da campanha Vestibular dos Cursos

Tecnólogos, elaborada sempre no mesmo estilo da campanha Vestibular, embora seja

direcionada a um público-alvo diferente43. Ainda assim, foi possível perceber o

43 Esses cursos têm duração máxima de dois anos e meio.

83

funcionamento desse tipo de evento. Posteriormente tive acesso ao documento elaborado a

partir da reunião da campanha em análise, bem como aos primeiros modelos de peças.

Esse documento assinalava – conforme relataram os participantes, representantes da

agência e da universidade – que o discurso publicitário das Instituições de Ensino Superior

vinha se igualando, proclamando qualidade, solidez e currículo capazes de impulsionar a vida

profissional do candidato (futuro aluno) para uma entrada mais rápida no mercado de

trabalho. Em outras palavras, o discurso das concorrentes leva em consideração que é a IES a

responsável pelo sucesso profissional do sujeito. Levemos em conta tudo o que estaria

implícito nessa afirmativa: se a vida profissional vai bem, o sujeito teria, no mínimo, status

social, pois não seria nem um desempregado nem um subempregado; aliado ao status social, a

inserção no mercado de trabalho lhe dá direito a adquirir bens de consumo que tornam sua

vida mais confortável, “tranquila", como carro, moto, aparelhos eletrônicos, bem como direito

a usufruir das opções de lazer – ambos acompanhados de uma carga de status social também.

Ou seja, ingressar em uma instituição de ensino superior, “cursar a universidade”, seria como

adquirir um bem, um “passe” para mudar de padrão de vida.

E, por outro lado, havia a preocupação da Instituição com o mercado e a diminuição

do número de inscrições. Como explica o coordenador da Secretaria de Comunicação: há

vagas ociosas do Enem, aumento do número de vagas nas universidades. Nesse cenário, a

eficácia da campanha é imprescindível. Na avaliação do entrevistado, a campanha colabora

para o bom resultado no número de inscrições, mas ele não isenta a responsabilidade da

Instituição:

a campanha possivelmente fez com que a gente perdesse menos [candidatos] .. ou não tivesse um impacto tão grande .. né::: e::: não só pelo trabalho da agência mas também o trabalho da Secretaria de Comunicação como um todo né/. interlocução com mídia com veículo jornais imprensa e tudo mais (WP)

Ao usar o advérbio possivelmente, ele não afirma com certeza que foi a campanha a

responsável pelo resultado que, no caso, é o de diminuição de perda no número de inscrições.

Os conectivos não só... mas também, como operadores argumentativos de adição,

acrescentam importância do trabalho realizado pela Secretaria de Comunicação, através de

seu diálogo com outros veículos midiáticos e ações pelo site da universidade. É clara a

imagem de que o entrevistado não deixa recair todo o mérito da campanha sobre a agência.

Ele insere na sua fala a importância da participação da sua equipe.

84

O desafio para a nova campanha da PUC Minas seria realmente demonstrar em que ela

se diferenciava desse discurso das concorrentes e de que forma isso poderia ser materializado.

Os conceitos de “qualidade” e “segurança” não poderiam ser deixados de lado, mas seria

preciso inseri-los no discurso, provando ao público que não se tratava de (mais) um discurso

“vazio”. No discurso da Instituição emerge essa preocupação. Há embasamento para afirmar a

qualidade da Instituição sustentado nas parcerias. É dessa forma que a Instituição pretende

passar sua imagem ao público-alvo: “a gente não tinha o risco de cair num discurso vazio .

aquele discurso assim de AH a gente tem qualidade .. a gente TEM qualidade olha só essas

empresas aqui podem atestar elas concordam com a gente podem falar que a gente tem

qualidade .. foi daí que surgiu” (WP).

Seria preciso, ainda, não perder de vista informações diferenciais, como o fato de a

PUC ser a universidade que mais investe em pesquisa em Minas Gerais, depois da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e a característica da formação humanística,

que prepara profissionais críticos (Cf. Briefing LÁPIS RARO, 2009).

Acrescente-se a esse desafio a inovação na forma de comunicar com o público, que

deveria ser “impactante” e “atraente” (Briefing LÁPIS RARO, 2009).

Como sugestão do cliente, foi levada à agência a possibilidade de mostrar

depoimentos de ex-alunos que se destacam no mercado, de fornecedores da PUC, de diretores

de empresas que utilizam os serviços da PUC, como a Fiat, a Eletrobrás e a Confederação

Brasileira de Futebol (CBF).

Estava aí lançada a ideia e o mote de trabalho da campanha. Tendo reunido as

observações do mercado, as intenções do cliente e as possibilidades da agência, tem início o

trabalho de criação (produção).

4.2.2 Criação

A partir do que foi discutido no briefing, e em constante negociação com o cliente, a

campanha começa a ser produzida. O departamento de operações da agência, que organiza o

funcionamento dos vários setores, institui uma dupla de criação para trabalhar na campanha.

Essa escolha, de acordo com CG, leva em consideração vários fatores, entre eles afinidade

com o tema/assunto da campanha ou com o cliente, disponibilidade e ajuste dos diretores de

arte e de criação, prazos a serem cumpridos.

85

Com relação ao cumprimento dos prazos, e também ao funcionamento da agência, CG

diz que “o departamento de operações tem que equacionar isso ... é sempre um problema

nunca é uma coisa tranquila [...] são vários clientes querendo prazo específico [...] então

essa escolha também é determinada por prazo e por ajustes entre dentro da agência” (CG).

Pode-se depreender, daí, um problema operacional capaz de interferir na produção do

texto: parece existir certa tensão em relação ao volume de trabalho e o prazo a ser cumprido

para a entrega do mesmo. A dupla que recebe o trabalho sabe que tem prazo definido (e quase

sempre curto) e responsabilidade com a imagem do cliente.

Ao mesmo tempo em que essa dupla é encarregada de criar a campanha, o

departamento de mídia e de design já começa a pensar na forma de veiculação das peças da

campanha.

No caso da campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010, o trabalho de criação, segundo

o ponto de vista da supervisora, foi atípico e bastante simples, porque a ideia e o mote da

campanha já haviam sido fornecidos pelo cliente (PUC Minas). Como relata a supervisora

sobre o processo criativo específico dessa campanha,

a equipe da PUC mostrou pra gente que existia um argumento muito forte e aí ele não é forma, ele é argumento [...] é interessante quando a gente TEM isso na mão porque é muito raro que era a questão das parcerias né Ah: talvez vocês não saibam mas a gente faz o serviço de meteorologia da rede Globo . né a gente vende esse serviço como uma instituição para outras instituições que têm credibiliDAde existe um laboratório da Microsoft aqui DENtro então a PUC trabalha em parceria com a Microsoft ... então coisas que realmente são relevantes e a partir do momento que você pensa NÓ se a Microsoft tem essa parceria com a PUC é porque a PUC tem . um valor que pode ser percebido pelos alunos então . é::: . o processo criativo não foi um processo normal um processo como todos os outros porque a gente já tinha um dado que era um bom caminho pra campanha ...] a gente já reconheceu que contra fatos não há argumentos. Isso era um fato muito forte pra gente desprezar né... no momento em que a gente tinha isso na mão a gente tinha que utilizar isso [...] o que a gente fez foi trabalhar a forma disso (CG)

O argumento forte a que a entrevistada se refere são as parcerias da PUC com outras

instituições de renome, como a Cemig, a Rede Globo, a Microsoft. O fato de existirem essas

parcerias permitiu, segundo CG, a realização de um trabalho mais fácil. Quando ela diz que

esse não foi um processo normal, como todos os outros, pressupõe-se que há uma forma

padrão de agir, um método a ser seguido. Ela supervaloriza o conceito das parcerias na

realização do seu trabalho. E completa:

não foi uma campanha difícil assim . não foi uma campanha que a gente ficou dando voltas pra chegar nela a gente chegou -- a gente foi objetivo na criação porque existia uma coisa muito clara que a gente tinha que explorar . então o que a gente

86

pensou é como que é o melhor jeito de comunicar isso .. o arguMENto era muito forte . então se o argumento era forte a gente tinha que pensar na forma do argumento . porque existem campanhas que não têm um argumento . você tem que construir um argumento e isso é mais difícil nó cê tem que... que que eu vou falar depois de tudo que eu já falei/ que que eu vou falar agora/ nesse caso específico a gente já tinha uma mensagem muito forte que a gente tinha que aproveitar (CG)

O que a entrevistada enuncia permite inferir que ela avalia seu trabalho como difícil,

subjetivo – a criação é fruto de muitos processos –, e, na campanha analisada, ela foi direto ao

ponto: ela trabalha com o fato e precisa apenas pensar em como mostrar ao público esse fato.

Nessa medida, pode-se inferir a concepção de que o discurso publicitário “cria fatos, instaura

realidades”. Esse processo, especificamente, não foi difícil, segundo CG, porque já havia um

fato, uma realidade sobre a qual se falar.

O processo de criação dessa campanha foi, conclui-se, atípico, porque, como disse,

existia um dado, um fato, uma realidade que serviria como argumento para a campanha. A

parceria com as instituições serviu como blindagem para a qualidade da universidade. As boas

qualidades e a imagem positiva da empresa parceira se deslocam para a universidade.

Quando CG afirma que “no momento em que a gente tinha isso na mão a gente tinha

que utilizar isso”, ela parece se referir ao dado, que era a parceria. Entretanto, esse dado só foi

exposto pela instituição naquele momento. Por que isso foi usado nesta campanha e não em

outras, já que as parcerias são antigas? O que impulsiona um dizer – e não outro – não é

apenas a explicitação de verdades, ou de crenças, mas o momento em que esse dizer pode

emergir. Depende do contexto favorável ao seu aparecimento. O processo de criação foi

objetivo porque se quis trabalhar sobre uma informação fornecida pelo próprio cliente.

Quando essa informação não existe, ou quando falta o argumento de autoridade, é preciso

construí-lo.

Por outro lado, é possível constatar que há no discurso da instituição de ensino a

percepção de que a agência se preocupa em olhar para o mercado, para o discurso das

concorrentes, a fim de se situar entre os pares. Como mostra o trecho seguinte, existe a

preocupação com o interdiscurso, com o que as outras vozes dizem sobre o mesmo tema:

essa última campanha por exemplo a gente fez em 2010 foi uma necessidade que a gente percebeu até .. com ajuda da própria agência ... é::: mediana ou não mas observando o discurso mais externo o discurso das concorrentes ... elas começaram a pegar muito forte na questão da preparação pro mercado... e aí de onde veio essa essa essa de onde veio essa motivo nosso pra campanha a gente tem uma relação muito forte com várias empresas é né tanto de de de acessibilidade de informação de trocas etc né convênios com estagiários né tanto de lá pra cá como daqui pra lá que a gente percebeu que a gente podia falar desse tipo de coisa mas com propriedade .. é num a gente não tinha o risco de cair num discurso vazio .

87

aquele discurso assim de AH a gente tem qualidade .. a gente TEM qualidade olha só essas empresas aqui podem atestar elas concordam com a gente podem falar que a gente tem qualidade .. foi daí que surgiu (WP)

Parte da observação do discurso das concorrentes a ideia da campanha: “observando o

discurso mais externo o discurso das concorrentes [...] de onde veio esse motivo nosso pra

campanha”. Se as concorrentes oferecem a melhor qualificação, a PUC também oferece. E

pode provar, através do discurso de outras instituições. O discurso é gerido no interior do

interdiscurso. Os discursos não são constituídos isoladamente para depois serem colocados

lado a lado. Eles são constituídos dentro do espaço do interdiscurso (MAINGUENEAU,

2008).

Nesse sentido, o entrevistado demonstra uma representação do que seja discurso

publicitário na direção de que há o interno e o externo – quando olha para o “discurso mais

externo” –, de que existe sim uma concorrência com a qual é preciso se preocupar, quer dizer,

o texto a ser veiculado pela campanha tem que dizer para o público-alvo mas também tem que

dizer para as concorrentes – demonstrado pela nominalização “o discurso das concorrentes” –,

e, ainda, de que essa concorrência é acirrada – ao relatar que “elas começaram a pegar muito

forte”. Nesse caso, pode-se depreender a seguinte relação condicional: se elas começaram a

pegar muito forte, nós também temos que fazer isso. A consequência da não tomada de atitude

seria a perda de candidatos ou de uma parcela mais significativa do mercado que seria

seduzida pelo “outro” discurso.

Quando o entrevistado afirma que a instituição não corria o risco de cair num discurso

vazio – pois seu discurso era fundamentado –, ele deixa entrever em sua fala a ideia de que o

discurso da concorrência é vazio, já que não pode se apoiar nos mesmos fatos que a

Instituição. Ora, o fazer publicitário, esse discurso que circula nos mais diversos meios,

muitas vezes é mesmo vazio. Vende uma ideia que não corresponde à realidade, quer iludir o

receptor. WP sinaliza que nas campanhas que produz para a Instituição em que atua essa

prática não é corrente.

A Instituição também lança uma autoimagem, aquilo que ela quer que seja trabalhado

na campanha, que é a de uma instituição séria, respeitada pelo mercado, e a melhor opção

para o candidato. Nas palavras do Secretário de Comunicação, a imagem é positiva perante a

sociedade: “a PUC ainda goza -- ainda tem uma uma::: um prestígio muito bom da sociedade

como um todo” (WP).

Apesar de avaliar positivamente essa imagem, afirmando que a PUC tem prestígio da

sociedade, o entrevistado usa o operador ainda, que traz ao seu discurso pelo menos um

88

possível pressuposto: o de que ela caminha para não ter, de que um dia pode não ter mais, ou

pelo menos que já teve anteriormente.

A dupla de criação, então, tendo desenvolvido essa ideia, o argumento principal da

campanha, e definido a imagem que seria apresentada, tinha de pensar na forma de mostrar

isso ao público. O passo seguinte é eleger algumas categorias para a realização do trabalho.

Há uma tarefa a ser cumprida, e os criadores partem de uma ideia já pronta, que, para eles, já

havia sido fornecida pelo cliente.

Como já dito, a verba destinada a essa campanha é reduzida, o que causa certa

preocupação na dupla de criação. É necessário trabalhar dentro das possibilidades. Isto é, de

nada adianta a dupla de criação elaborar uma campanha maravilhosa e caríssima em termos

de mídia e divulgação (CG) se não houver verba para realizá-la.

Essa preocupação transparece nas palavras da entrevistada, quando afirma que se

pensou no uso das cores fortes como forma de chamar a atenção e viabilizar a verba:

não tinha como a gente ficar representando visualmente na mídia exterior [a questão das parcerias] por exemplo fazer uma representação gráfica que significava... a gente chegou à conclusão que a gente precisava dizer claramente né é pra fazer um laboratório de um laboratório tecnológico [...] a maior empresa de software do mundo convidou a PUC . a gente tinha que falar isso né... então como que a gente vai falar isso de um jeito certo mas que também seja bem recebido que chame atenção então a gente NAS peças gráficas a gente usou muito a cor pra chamar atenção do público que é mais jovem pra destacar, pra gente destacar no bojo (CG)

As cores foram usadas com objetivo de destacar, em meio a uma gama de discursos

contendo o mesmo conteúdo (o discurso pesado da concorrência), o discurso da PUC Minas,

enfatizando o argumento das parcerias com grandes instituições. Essas cores respondem à

provocação das concorrentes, que “jogam pesado”. As cores são fortes, modernas, evocam

juventude, alegria, inovação. Verde, laranja, amarelo, azul e rosa em tons fluorescentes. São

cores gritantes, cores que marcam, no mundo exterior e eletrônico, através dos vários canais

de mídia, o espaço da Instituição. Ela “grita” em tons berrantes, que está naquele lugar que lhe

é de direito. Cada cor simboliza uma parceria diferente, como forma de mostrar ao público

que há várias cores, várias parcerias, fortalecendo assim o argumento de apoio no discurso do

outro. As peças da campanha, se vistas isoladamente, não teriam o mesmo peso

argumentativo do seu conjunto.

Na fala da supervisora, citada anteriormente, os trechos negritados permitem entrever

representações acerca do fazer publicitário, porque, segundo ela, há um jeito certo de falar,

uma maneira clara de falar. Essa preocupação repercute na figura do leitor que é ali

89

desenhado: como ele entenderá o texto? De que forma é preciso dizer para que se construa a

coerência textual naquela dada interação?

Assim, a forma de apresentação da campanha em relação à parte gráfica estava pronta.

Para a realização do vídeo, a supervisora conta que também foi usado um recurso de baixo

custo, um programa de internet que transforma imagens em pixels que vão sendo

transformados, por sua vez, em imagens. O tema das parcerias também esteve presente. CG

descreve o vídeo como “uma fotinho como se fosse pixualizada ... você ia se aproximando

[...] cada vez que cê ia se aproximando cê chegava a uma outra imagem” (CG).

Note-se, nessa descrição da elaboração do VT, que o ponto central é o movimento em

direção a uma meta. Quando você se aproxima da imagem, percebe que ela é composta por

muitas outras imagens menores, à semelhança de um mosaico. Inevitável estabelecer uma

comparação com o processo do conhecimento: quando o estudante focaliza um campo do

saber, e nele fica focalizado, descobre, ao chegar ao ponto, que muitos outros saberes se

depreendem dali, que o conhecimento não é estanque, mas relacionado, interligado. E as

parcerias, que irão sendo narradas por um locutor em off, metonimicamente remetem à

escolha da Instituição: entre todas as IES, o candidato escolhe aquela que é chancelada por

empresas de sucesso. Ele escolhe a PUC, ele acerta na sua escolha.

O recurso gráfico utilizado, segundo CG, “tinha tudo a ver com escolha né era a coisa

de escolher e aprofundar” (CG).

A supervisora compara a arte do vídeo à escolha que o candidato faz na hora do

vestibular. “Escolher e aprofundar”, como descreve a entrevistada, pode ser comparado à ação

do candidato, que, entre muitas opções de cursos e instituições de ensino superior, escolhe

uma delas, e se aprofunda naquele campo. Como se pode ver no VT, um pontinho da imagem

é escolhido e, ao aprofundar nele, vê-se uma nova imagem, que mostra a parceria à medida

que uma voz em off a descreve. É uma voz masculina, firme, quase tecnologizada. O que

também pode colaborar na tentativa de passar uma imagem de modernidade da Instituição. A

entrevistada avalia como positivo o resultado do trabalho.

Todas as peças tiveram como slogan “Na hora do vestibular, o que você vai

escolher?”. Dependia agora da equipe de mídia a proposta de divulgação da campanha e os

veículos escolhidos.

90

4.2.3 Mídia

Tendo sido criadas e definidas as diretrizes da campanha, entra em cena a equipe de

mídia. É nessa etapa do processo que são definidos os veículos de propaganda e os prazos de

divulgação.

A Instituição entra como uma opção, a melhor opção entre a concorrência (privada),

mas, para se manter, é necessário que sua comunicação seja trabalhada com mais intensidade,

como aponta CG: “então a PUC precisa trabalhar a comunicação dela constantemente ela

TEM que ter uma presença institucional muito grande e ela não consegue porque ela não tem

fôlego . né de verba ((gesto)) . ela tem que tá de alguma forma presente no imaginário das

pessoas” (CG).

Tanto a agência quanto a Instituição sinalizam a necessidade e a impossibilidade

financeira de aumentar a exposição na mídia e manter atualizado o nome da Instituição. É o

que a entrevistada chama de estar “presente no imaginário das pessoas”, o que deixa entrever

qual é o papel da publicidade.

No trecho seguinte, o coordenador da Secretaria de Comunicação da PUC Minas, WP,

fala sobre o patrocínio do jornal Bom Dia Minas, exibido diariamente pela Rede Globo. Essa

é uma forma de manter o nome da PUC na mídia, fazendo com que seja lembrado pelo

público.

se a gente tem uma mídia hoje a gente trabalha com a Globo Minas com patrocínio do Bom Dia Minas que dá um retorno muito grande pra gente de visibilidade [...] a gente conseguiu que ficasse o ano todo a gente vai ficar com o patrocínio até princípio do ano que vem o espaço que a Globo possibilita dá pra gente esse patrocínio é: . é: fantástico a gente:: um anúncio num horário nobre na Globo que é entre novela e telejornal é uma chamada só a chamada seria uma fortuna [...] então a iniciativa nossa é buscar esses esses momentos aí pra tá mais presente na mídia (WP)

Para a campanha do Vestibular 1º/2010, foram criadas peças para mídia impressa e

eletrônica. Na mídia impressa, a propaganda circulou em jornal, outdoor, postal publicitário,

ônibus e metrô. Na mídia eletrônica, ganhou visibilidade em rádio, televisão, cinema e

internet. Os dois meios receberam exposição durante um a dois meses antecedentes ao

vestibular.

Estando a campanha acessível à população, espera-se que ela cumpra sua função

primeira: levar os estudantes e possíveis candidatos à inscrição para o exame.

91

4.3 O slogan e a representação do fazer publicitário

Como previam os objetivos, a campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 circulou em

meio impresso e eletrônico e contemplou uma das propostas iniciais: provar, por meio de

parcerias, a qualidade da Instituição, que se alia à Cemig, à CBF, à Microsoft44 e a outras

empresas renomadas e reconhecidas nacional e internacionalmente que escolheram a PUC

Minas para desenvolver projetos em conjunto com a Universidade. Não se sabe, ou pelo

menos a campanha não informa, se essas empresas também desenvolvem (ou já

desenvolveram) projetos em parcerias com outras instituições. Para a promoção do nome PUC

Minas, o que importa é se a empresa estabelece, naquele momento, contato com essa

universidade, o que eleva o posicionamento da Instituição ao renome da empresa parceira,

num argumento de autoridade difícil de ser rebatido.

O slogan da campanha escolhida para a pesquisa indaga: Na hora do vestibular, o que

você vai escolher?. O ponto central da questão colocada pela campanha é a possibilidade de

fazer escolhas, na vida profissional. Há aí o pressuposto de que a escolha na hora do

vestibular determina a escolha profissional, daí a grande responsabilidade desse momento na

vida do candidato.

Isso se desenha na concepção das peças, como se pode flagrar no discurso de CG,

quando avalia o que está em jogo na produção dessa campanha:

uma decisão que influi por uma vida [a escolha do vestibular] [...] um assunto mais SÉrio mais delicado mais difícil de tratar principalmente hoje em dia com a quantidade de de concorrente que né . faculdades que se tornaram universidades agora faculdades que surgiram agora e que tão aí à disposição do do nosso aluno (CG)

A entrevistada dimensiona o peso da decisão do vestibular e relaciona a dificuldade

em se tratar do tema com o surgimento de novos concorrentes. Nessa fala, ao usar o sintagma

nosso aluno, a publicitária assume como próprio o público-alvo, que, na verdade, é um futuro

aluno, é o candidato. Nosso, nesse caso, é da PUC. Ela vê como ameaça à Instituição, já que

outras instituições estão à disposição do candidato, então ele teria maior dificuldade na

44 Por questões legais, o nome da Microsoft não pode ser citado na campanha. Usou-se, então uma antonomásia: “a maior empresa de softwares do mundo”.

92

escolha. Consequentemente, o discurso que o leva a escolher a PUC deve ser ainda mais forte,

mais argumentativo. Surgem outras instituições, acirra-se a concorrência, o que interfere no

agir do publicitário. Segundo o que se depreende do discurso de CG, as faculdades “que

surgiram agora” não têm, evidentemente, a tradição da PUC Minas e menos ainda o peso e o

lugar que a Instituição marca no mercado em função de sua história e tradição.

Então, pelo slogan, começamos a delinear as imagens e valores da Instituição que são

veiculados na campanha: credibilidade, competência, a melhor escolha na hora do vestibular.

Possenti (2004), ao analisar slogans da propaganda brasileira, retoma a questão do

interdiscurso. O discurso publicitário de um determinado produto forma um espaço discursivo

em que um discurso de um anunciante destrói o discurso de outro anunciante, o que o autor

chama de simulacro. O simulacro advém do próprio discurso, que pode desvalorizar o

discurso do concorrente, ou do discurso do outro, quando retoma o discurso de outra empresa,

marca ou instituição. O autor exemplifica a ideia com alguns slogans, entre os quais o da

cerveja Skol: “A cerveja que desce redondo”. Quando a peça publicitária assume esse

enunciado, ela afirma que as outras marcas não descem “redondo”, isto é, elas descem

“quadrado”, como se pode concluir das imagens do anúncio, em que as mulheres, ao tomarem

cerveja de outras marcas, ficariam com os seios e as nádegas quadrados. E a ingestão da

cerveja anunciante é o remédio para que tudo volte ao normal (redondo). Vê-se, então, que o

próprio discurso traz à cena o discurso do concorrente, em oposição ao discurso do

anunciante.

No caso do slogan da campanha em análise, pode-se afirmar que ele faz parte também

de um espaço discursivo em que atuam outras instituições de ensino: universidades, centros

universitários, faculdades, todas disputando o mesmo nicho: a escolha do candidato, e

oferecendo as melhores propostas. Daí que seja recorrente no discurso dos produtores a

vontade de diferenciar a Instituição anunciante dos “outros” discursos, que eles já julgam

existir. A publicitária relata que nas campanhas se mostra que

a PUC é Ética... a PUC é baCAna mas esse discurso tá virando paisagem porque todo mundo fala isso né então esse discurso começou a ficar complicado assim a gente começou a discutir como a gente ia fugir desse discurso né porque era um discurso que não tava mais fazendo efeito (CG)

Nessa afirmação, a supervisora de criação discorre sobre os motivos que levaram à

produção da campanha da forma como foi feita. O ponto-chave, como já afirmado, é a

diferenciação do discurso da concorrência. “A PUC é ética, a PUC é bacana”. Todas as

93

instituições de ensino emitem essa imagem sobre si próprias. É o que ela aponta quando diz

que “esse discurso tá virando paisagem”, isto é, para ela, já está banal, comum e ninguém

mais presta atenção nele. A intenção de se diferenciar surge no enunciado “discutir como a

gente ia fugir desse discurso”. Ora, é preciso fugir do que não é bom. Assim é a publicidade:

móvel, volúvel, acompanhando as tendências do mercado, prestando atenção à concorrência –

ao interdiscurso – para estar sempre à frente.

Foi preciso fugir do discurso “paisagem”, isto é, aquele que, por ser exaustivamente

repetido – pela própria Instituição e pela concorrência – deixa de ser notado, e procurar um

diferencial. A ação desenvolvida pela criação para tentar alcançar esse objetivo foi adotar

como mote da campanha o seguinte: é possível provar que a Instituição é realmente a melhor,

porque ela foi escolhida por outras grandes instituições para realizar parcerias. Esse é um

aspecto que se desenha na organização da peça para a televisão de forma muito clara. Entre

todas, lá no fundo, distingue-se a melhor, que é escolhida por outras grandes empresas.

Assim, eu, aluno, devo fazer o mesmo: escolher o certo, o melhor, já comprovado por outros.

A representação de que a PUC seja uma das melhores universidades está presente no

discurso da entrevistada e é, certamente, decisiva na produção da campanha: “porque

acontece muito isso com a PUC por ser uma das melhores universidades ela ela ela atrai

outros discursos parecidos né ela ela puxa a fila de outros discursos parecidos e tava na hora

de mudar esse discurso” (CG).

Note-se que ela avalia a qualidade da universidade como justificativa para que seu

discurso seja seguido, visualizado pelo discurso da concorrência. Avaliação semelhante é feita

pela Instituição:

também a X45 por exemplo vestibular da X tá idêntico a de tecnólogos você bate o olho . professor M inclusive falou cê viu a campanha do vestibular da X/ eu falei assim no::ssa que que aconteceu né/ não entendi que que foi .. pra gente é muito interessante isso pra gente é muito bom . mostra que pelo menos as outras universidades estão buscando o que a gente É hoje vamos dizer assim . né/ elas estão vindo atrás . então a gente tá na frente . interessantíssimo pra gente .. né (WP)

O coordenador relata um diálogo que ilustra sua perplexidade frente à semelhança

entre a campanha da PUC e a de uma concorrente: “cê viu a campanha do vestibular da X/ eu

falei assim no::ssa que que aconteceu né/ não entendi que que foi”. Ele responde à pergunta

do seu interlocutor indagando o que havia acontecido, demonstrando surpresa diante da

45 As Instituições de Ensino Superior particulares citadas pelos entrevistados não serão designadas por seus nomes, a fim de resguardar suas imagens. O objetivo deste trabalho não é compará-las à PUC Minas, mas depreender as imagens construídas sobre elas. As Universidades Federais serão nomeadas normalmente.

94

campanha da concorrente. Em seguida, ao avaliar o discurso da concorrente, avalia

positivamente essa corrida pelo uso dos argumentos lançados pela PUC, dizendo que é

“bom”, “interessante” e “interessantíssimo”, porque a PUC está na frente e a concorrência

vem atrás. Mais uma vez emerge no discurso a representação subjacente a respeito da

publicidade como meio de vencer a concorrência e posicionar-se positivamente junto ao

receptor.

O trecho a seguir, enunciado pela supervisora de criação, coloca em debate outra

questão: pertence ao imaginário social a crença na superioridade da universidade pública em

relação à particular. Essa representação está fortemente presente também no discurso dos

informantes pertencentes ao público-alvo, como se verá no Capítulo 5.

não é uma universidade que vai se colocar competindo com as outras porque ela realmente tem um diferencial em termos de instituição . de de história né/ ela é uma instituição de muito respeito porque ela é uma universidade privada que tem QUAse o status de uma universidade pública né/ ela e a federal estão muito próximas no sentido de escolha e tal . só que isso vem mudando ao longo do tempo com a chegada de muitas universidades então ela compete entre e -- ela compete com as outras universidades pagas e as pessoas muitas vezes tendem a não saber diferenciar (CG)

Segue presente, nesse outro momento da entrevista, a avaliação positiva que a

publicitária faz da Instituição: a universidade possui diferencial, é uma instituição de muito

respeito e, por fim, como um grau máximo de comparação, equipara seu status ao de uma

universidade pública, que, pressupõe-se, seria a melhor na categoria universidade, enquanto a

PUC seria a melhor na categoria universidade privada. O não dito, nesse caso, recai sobre a

qualidade da PUC que, mesmo sendo privada, ou, apesar de ser privada, é (quase) tão boa

quanto a pública.

A representação que se faz sobre a hierarquia das IES é visível nessa fala: a

universidade pública possui um status maior do que a particular. Por isso a PUC é

caracterizada pela entrevistada como uma “quase” pública. Ela não se confunde com as

“outras” instituições pagas, cujo valor é menosprezado.

Toda essa discussão envolvendo o status de instituições públicas e privadas é

justificativa para a necessidade de entrada na concorrência, pela disputa de mercado, que é a

função da publicidade. Apesar de a entrevistada afirmar que a PUC “não é uma universidade

que vai se colocar competindo com as outras”, essa competição já existe, pois em vários

outros momentos de sua fala é possível perceber que há concorrência, disputa. O mercado

educacional, talvez, tenha certo pudor em admitir que faça publicidade e que participe da

95

concorrência, dado que esse discurso carrega uma conotação por vezes pejorativa (ilusória,

ideológica, exagerada), com a qual uma empresa que lida com educação e formação de

valores não queira se unir.

Por fim, a entrevistada afirma que há competição sim, e que esta envolve o status de

instituição pública ou privada. É como se existissem dois tipos de competição: num primeiro

nível, as instituições particulares disputam com as universidades públicas, preferência dos

candidatos; num segundo momento, há uma disputa pelos candidatos remanescentes entre as

instituições particulares. Para CG, há uma subversão nessa concorrência, pois ela se

estabelece entre a PUC, que se equipara à Federal, e não entre a PUC e as demais instituições

particulares.

Na sequência da entrevista, a comparação é retomada em tom definitivo: “ela é a

federal entre as universidades particulares . entendeu é como se fosse assim então isso

precisa ser trabalhado” (CG).

Nessa fala, a entrevistada define a Instituição como sendo a melhor dentre as de sua

categoria através da nominalização “federal”, que tem status positivo. Em seguida, explicando

seu dito, compara: “é como se fosse assim”. Quer dizer, não é, na verdade, mas ela ganha o

status, a importância e a posição de uma universidade pública. Essa informação, segundo a

entrevistada, precisa ser trabalhada, dita, na campanha. Isso pressupõe que ela não é

trabalhada, ou seja, que as pessoas, o público-alvo, não sabem da qualidade e da importância

da PUC Minas, tanto que a confundem com outras universidades pagas. Seria, então, função

do discurso publicitário informar isso ao público-alvo.

O discurso que atravessa o enunciado do slogan, e da campanha, é, enfim, o discurso

da escolha, em primeiro lugar, por um curso superior e, em seguida, pela instituição de ensino

onde ele será cursado. Traduz-se pela escolha da profissão, decisão que requer

responsabilidade e toma grande parte da preocupação do estudante e sua família. Isso é levado

em consideração no processo de desenvolvimento da campanha. A agência de comunicação

ressalta que há dificuldade em trabalhar essa campanha porque, além de a verba disponível ser

menor do que a de outros clientes, como um banco, por exemplo, o tema é de muita

importância para a vida do jovem. A supervisora de criação avalia a campanha da PUC como

um desafio pelo teor das consequências da escolha por uma universidade: “em geral a

campanha da PUC é um desafio muito grande porque em geral é uma campanha que precisa

de... uma ideia bacana... né uma ideia forte uma decisão que influi por uma vida [...] um

tempo muito grande da sua vida” (CG).

96

Na avaliação da entrevistada, o que difere esse tipo de campanha de outras tem a ver

com a importância da escolha, que “influi por um tempo muito grande da sua vida”, da vida

do candidato/aluno. As representações sobre vestibular e carreira aparecem nessa fala,

realçando a responsabilidade social desse discurso.

Mais uma vez é possível estabelecer um diálogo entre a importância da Instituição e a

escolha do “consumidor”. Em princípio, todas as campanhas precisam de uma ideia forte se

pretendem ser bem sucedidas. O que diferencia essa campanha da compra de um sabão em pó,

por exemplo, é a durabilidade do “produto adquirido”. Talvez daí decorra a preocupação dos

criadores da campanha, e a responsabilidade de assumir uma causa importante: “um desafio

muito grande”.

A campanha da PUC retoma em seu slogan a dificuldade desse momento,

interrogando ao estudante sobre sua escolha na “hora” do vestibular, isto é, no ponto

culminante do processo de decisão pelo qual ele passou – momento de conclusão e opção a

partir da avaliação das possibilidades.

Visando atingir o maior número de pessoas, a campanha circulou em meio impresso e

eletrônico, com destaque para as redes sociais e a interatividade no site da Instituição.

4.4 Peças da campanha

4.4.1 Mídia impressa

Todas as peças impressas têm o mesmo padrão: uma cor de fundo referente a cada

parceria da Instituição com outras empresas. Uma frase direta, afirmativa, informa ao leitor a

parceria, corroborando a ideia de que a PUC foi escolhida pela empresa parceira naquele setor

determinado. Em seguida, vem o slogan, em forma interrogativa, direcionado ao leitor: “Na

hora do vestibular, o que você vai escolher?”. Aparecem ainda a logomarca da PUC Minas e a

chancela do título recebido pelo MEC: “Melhor universidade particular de Minas Gerais”.

Esse modelo, como se verá a seguir, estampou outdoors e circulou em jornais, painéis

de ônibus e de metrô. A única exceção, devido ao suporte, foi o postal publicitário, como

mostrarei adiante.

97

Interessa aqui identificar os elementos verbais e não verbais presentes nas peças da

campanha a fim de flagrar possibilidades de ancoragem para o estabelecimento de RS. Em

outras palavras, precisamos localizar nos elementos que constituem o texto, ou no seu

conjunto, marcas, rastros de linkagem com as RS que circulam na produção do discurso

publicitário em foco.

4.4.1.1 Outdoor

O outdoor é o principal veículo de mídia externa. Consiste num painel de 9X3m

afixado em pontos estratégicos das grandes cidades. O nome outdoor, que literalmente

significa “do lado de fora da porta”, é a abreviação de outdoor advertising, publicidade ao ar

livre.

A Figura 9, abaixo, exemplifica a peça criada para esse veículo, desenvolvida para ser

exibida em outdoor duplo, lado a lado. No primeiro, o foco é a informação dada de forma

direta a respeito da parceria: “Para a criação de um centro de inovação tecnológica, a maior

empresa de softwares do mundo escolheu a PUC Minas.”. No segundo, interpela-se o leitor:

“Na hora do vestibular, o que você vai escolher?”. A estrutura argumentativa aqui é bem

clara. Se uma grande empresa, renomada (apesar de não nomeada) elege a instituição, o

candidato também deverá fazê-lo, pois ela é a melhor, de acordo com esse raciocínio. A

divisão do texto em duas partes tem a intenção de provocar o receptor. Destaca-se a pergunta

final.

Em letras menores, a marca da campanha (Vestibular 1º/2010), o período de inscrição,

o site e o telefone da Instituição. Na lateral direita, a logomarca da PUC Minas e, no canto

superior direito, em tamanho menor, a informação “Melhor universidade particular de Minas

Gerais”, título recebido na avaliação do MEC e que, desde então, faz parte das campanhas

veiculadas pela PUC Minas.

98

Figura 9: Outdoor – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

Nas imagens seguintes, podemos ver três exemplos de veiculação desse texto, cada um

estampando uma parceria/cor diferente.

Figura 10: Outdoor Av. Amazonas Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

A primeira (Figura 10) ilustra a parceria realizada com a Microsoft, mostrada na

matriz acima. É possível notar a diferença da intensidade da cor na matriz e no outdoor, bem

mais claro – e menos chamativo – do que o que havia sido previsto. Essa diferença, conforme

99

relatado por DJ, ocorre em função de ajustes técnicos ou de valores (custos) para impressão.

O tom de rosa mais intenso, como o previsto pela agência, apresenta maior apelo junto à

juventude, por ser um tom da moda. O rosa bebê do outdoor é mais suave, mas ainda se

destaca.

Na segunda imagem (Figura 11), vê-se a parceria realizada com a Cemig (Companhia

Energética de Minas Gerais), que atua no monitoramento de tempo e clima. É preciso destacar

que o nome Cemig é de amplo conhecimento em Minas Gerais, daí o uso da sigla, que não

causaria dúvidas aos leitores dessa região. Essa parceria está indicada no outdoor em tom

laranja, também mais claro, menos intenso, do que o que havia sido pré-definido pelo

departamento de criação.

Figura 11: Outdoor Av. Raja Gabaglia Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

A foto seguinte (Figura 12) ilustra uma terceira parceria, realizada com a Fiat, fábrica

de automóveis localizada em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte).

100

Figura 12: Outdoor Av. Pres. Carlos Luz Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

O texto informa: “A Fiat, em parceria com a PUC Minas, implantou laboratórios

automotivos. Uma escolha pela qualidade.”. A cor que identifica essa parceria é verde. O tom

também é mais apagado do que a matriz. O segundo outdoor é semelhante à matriz, ou seja,

traz sempre a pergunta final e as informações sobre data, prazo, telefone e site, além do

logotipo e do título de melhor universidade.

Os exemplos mostrados, aos quais nos reportaremos no momento de análise dos

questionários, deixam entrever que as cores se destacam no ambiente urbano, caótico e

marcado pela superexposição de publicidade. A informação é direta, de leitura rápida. Como

as peças foram desenvolvidas de forma semelhante para todos os veículos, o mesmo irá

ocorrer com a veiculação em ônibus e metrô (mídia externa).

4.4.1.2 Jornal

A mídia impressa em jornal foi mais atuante no interior de Minas Gerais do que na

capital. A agência disponibilizou alguns exemplos desses anúncios:

101

Figura 13: Jornal 1 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

102

Figura 14: Jornal 2 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

As imagens acima reproduzem o design da propaganda veiculada em Belo Horizonte,

mas foram publicadas nos jornais Centro Oeste, de Arcos, e em cinco jornais de Poços de

Caldas, municípios em que também há campus da PUC, além de catorze outros jornais do

interior do Estado, nas cidades próximas aos campi. Em Belo Horizonte, o anúncio foi

veiculado no jornal Super Notícia.

Os dizeres são os mesmos do outdoor. A publicação em rosa refere-se à parceria com

a Microsoft e a azul, em tom intenso também, informa a respeito da parceria com a CBF e a

Escola Brasileira de Futebol (EBF), para criação do Curso de Qualificação de Treinadores do

Futebol Brasileiro (Curso Oficial para Treinadores). São dois parceiros, com nomes extensos,

o que talvez explique a escolha pelo uso da voz passiva na informação dessa parceria: “Na

busca de um sistema inédito de qualificação de treinadores de futebol para todo o país, a

universidade escolhida foi a PUC Minas.” A nominalização na busca deixa pressupor que há

alguém que estava buscando uma universidade de qualidade, alguém que encontrou, após essa

busca, a melhor opção. Outras informações nesse dito intensificam a importância da escolha:

o sistema de qualificação de treinadores é inédito e, além disso, é válido para todo o país!

4.4.1.3 Ônibus

A figura abaixo representa o design da campanha criado para veiculação na parte

traseira dos ônibus (backbus). O padrão é o mesmo do outdoor e do jornal, exceto pelo fato de

que aqui tanto a informação sobre a parceria quanto a pergunta final estão no mesmo plano,

em sequência. A pergunta final aparece em destaque, em fonte maior do que a informação

primeira. Além disso, está presente uma informação adicional neste meio: após a assinatura da

campanha, o prazo de inscrição, endereço eletrônico e telefone da Instituição, há uma

informação sobre a possibilidade de usar a nota do Enem como forma de ingresso: “Informe-

se sobre o uso da nota do ENEM”.

103

Figura 15: Backbus – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

A Figura 15 traz mais algumas peças da campanha. A foto a seguir, de uma delas,

ilustra a parceira realizada com a Cemig, em cor laranja. O texto diz que “Para o

monitoramento de tempo e clima, a Cemig escolheu a PUC Minas.”. Há uma ação de escolha

realizada pela Cemig, cujo objeto é a PUC Minas. A Cemig monitora o tempo e o clima no

Estado. Sendo a empresa a maior autoridade no Estado, a escolha pela universidade eleva o

status da universidade.

104

Figura 16: Backbus – parceria Cemig Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

Da mesma forma, a imagem seguinte traz a parceria realizada com o Projeto Criança

Esperança – desenvolvido pela Rede Globo –, que possui visibilidade nacional.

105

Figura 17: Backbus – parceria Projeto Criança Esperança Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

O texto dessa peça é: “Para a implantação de seu Espaço em MG, o Projeto Criança

Esperança escolheu a PUC Minas.”. Ele traz o mesmo formato da maioria das outras peças,

isto é, informa a parceria que foi realizada com o Projeto Criança Esperança, conhecido

nacionalmente por ser uma iniciativa da Rede Globo com a UNESCO e, mais uma vez, em

interlocução com as outras peças, fortalece a imagem da PUC Minas como Instituição

privilegiada por ter sido escolhida para sediar um projeto de repercussão nacional. A cor

escolhida para essa parceria foi a amarela. Como nos exemplos anteriores, a cor final é mais

tênue do que a que foi projetada. Essa diferença não interfere diretamente no resultado da

campanha, mas é importante demarcar que a cor projetada era mais impactante do que a que

foi veiculada, quer dizer, a intenção era de maior destaque em meio aos outros anúncios.

106

A seguir, serão apresentadas as peças veiculadas no metrô de Belo Horizonte.

4.4.1.4 Metrô

No metrô de Belo Horizonte, foram expostas peças tanto nas estações quanto dentro

dos vagões. A peça é simples, única, como a veiculada em ônibus, e não dupla, como a do

outdoor, como se pode ver na Figura 18, abaixo:

Figura 18: Banner metrô – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

107

A primeira peça traz a parceria com a Fiat, mostrada anteriormente. A segunda não

informa ao leitor com que instituição se realiza a parceria. Como dito, foi usada a voz passiva

para apagar as marcas do sujeito da ação de buscar “um sistema inédito de qualificação de

treinadores de futebol para todo o país” e “escolher a PUC Minas”.

As fotos seguintes ilustram os banners na estação e no vagão do metrô.

Figura 19: Painel da Estação Gameleira Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

108

Figura 20: Painel interno (vagão do metrô) Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

109

Figura 21: Painel da Estação 1º de Maio Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

Figura 22: Painel 1 da Estação Minas Shopping Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

110

Figura 23: Painel 2 da Estação Minas Shopping Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

Na sequência, como último item de mídia impressa, será mostrado o postal

publicitário, com formatação e veiculação um pouco diferente do que foi apresentado até o

momento.

4.4.1.5 Postais publicitários

Os postais publicitários têm ampla divulgação, pois são distribuídos em pontos

estratégicos das cidades. Diferentemente das outras mídias impressas apresentadas até agora,

esta é a única que pode ser não apenas vista, mas também tocada e, até, portada pelo

consumidor.

Devido ao seu suporte – frente e verso –, foi criado um design diferente para as peças

dessa mídia, mantendo o padrão da campanha. O ponto de interrogação sobre a cor da

parceria em questão passa a ocupar a frente do postal, sem nenhuma informação verbal. O

ponto de interrogação, que estabelece a dúvida (iconicamente representa aqui a pergunta

final), leva à certeza de que a PUC Minas é a melhor Instituição, a escolha certa, etc. No verso

do postal estão todas as informações da campanha, já mostradas anteriormente nas outras

peças.

111

Figura 24: Postal Publicitário – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

Notam-se também informações que não foram veiculadas em outras peças:

informações sobre os campi – Belo Horizonte (Coração Eucarístico, Praça da Liberdade,

Barreiro e São Gabriel), Betim e Contagem. E, ainda, uma informação adicional, no pé de

página, em letras miúdas, sobre o local de inscrição: “As inscrições também poderão ser feitas

nos estandes da PUC Minas nos shoppings: Minas Shopping, ViaShopping Barreiro, Betim

Shopping e Big Shopping.”.

O acréscimo de informações se deve ao próprio suporte midiático, que permite ser

visualizado por mais tempo, em relação ao backbus e ao outdoor, por exemplo, e à

possibilidade de o leitor portar consigo a peça. Assim, todos os espaços e possibilidades de

contato com o público-alvo são aproveitados.

Em seguida, trataremos das peças divulgadas em meio eletrônico – televisão, cinema,

rádio e internet.

4.4.2 Mídia eletrônica

A diferença da mídia eletrônica em relação à impressa é a entrada em cena de outro

campo de signos: a imagem em movimento, o som, a música, a palavra oral, que contribuem

para dar significados adicionais à estrutura básica da campanha, como veremos a seguir.

112

4.4.2.1 Televisão

O vídeo46 criado pela Lápis Raro para o Vestibular PUC Minas/1º 2010 mantém a

unidade da campanha e, ao mesmo tempo, traz uma nova informação, um dado significativo,

que é o movimento dos pixels. O vídeo inicia com uma imagem da Terra vista de longe e vai

se aproximando, quadro a quadro, até que uma nova imagem é composta por pequenas cenas.

Uma dessas cenas é escolhida através de um esquadro. Nesse momento, aumenta-se o zoom

dessa cena, formando uma nova imagem, e assim em diante. Enquanto as cenas de escolha e

aprofundamento vão surgindo na tela, uma voz masculina em off vai informando as parcerias

que a PUC Minas realizou com outras instituições. Ao final, a pergunta “Na hora do

vestibular, o que você vai escolher?” é enunciada pela mesma voz em off e fica visível na tela,

sobre fundo amarelo. Em seguida, as informações adicionais e a assinatura da campanha. Ao

fundo, durante toda a locução, ouve-se uma música de fundo (BackGround47) “moderna”,

uma batida que dá ritmo à locução e à sequência de imagens pixualizadas. Abaixo, cenas do

VT exibido tanto na televisão quanto nas salas de cinema.

Figura 25: Imagens do VT – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

46 Ver CD Rom no Anexo C. 47 Inúmeras trilhas de BG estão disponíveis na internet. Por exemplo, no site Free Play Music.

113

O primeiro quadro, da esquerda para a direita, mostra o início do VT, com a fotografia

da Terra. À medida que a câmera vai se aproximando, focaliza-se a América Latina, o Brasil,

a Região Sudeste. Essas imagens são formadas por microcenas, como ilustra o segundo

quadro. Uma delas, depois de ser esquadrinhada por linhas brancas paralelas, na vertical e na

horizontal, recebe um zoom e a câmera aprofunda, trazendo à cena nova imagem: um chip de

computador. A locução fala sobre a Microsoft, que escolheu a PUC para criar um centro de

inovação tecnológica. A imagem do chip também é pixualizada, isto é, sedimentada em

centenas de outras microcenas. Novamente a câmera seleciona uma delas, se aproxima,

deixando entrever outras várias microcenas, e aprofunda. Surge a imagem de um céu azul

com algumas nuvens. Nesse momento, a locução fala da escolha feita pela Cemig para um

serviço de monitoramento de tempo e clima. Após novo processo de pixualização e zoom, a

nova cena é um estádio de futebol. A câmera focaliza por trás, do nível do chão, os pés do

jogador chutando a bola em direção ao gol, enquanto a locução informa sobre um novo

sistema de qualificação de treinadores de futebol para todo o País. A última cena, antes da

entrada do fundo amarelo com a pergunta final em letras pretas, exibe a trajetória da bola

rumo ao gol. Mais uma vez, aparece a ideia de acerto, aliada à escolha. Fazer o gol é acertar.

Da grandiosidade da Terra, na primeira imagem, ao acerto no gol, constrói-se um

caminho de escolhas, aprofundamento e acerto – objetivo perseguido pelo candidato ao

selecionar, no universo das instituições disponíveis, a melhor, para então sair vencedor.

O tempo de duração do VT é curto: 30 segundos. Mas suficiente para informar três

parcerias. No VT, as parcerias não são nomeadas:

Parceria Objetivo Ação Cena Quando a maior empresa de software do mundo

Buscou parceria para a criação de um centro de pesquisa e inovação

Escolheu a PUC Minas

Microchip

Quando a concessionária de energia de Minas Gerais (uma das maiores do mercado energético do país)

Precisou de serviços de previsão e monitoramento das condições de tempo e clima

Escolheu a PUC Minas

Nuvens no céu

Na busca de um sistema inédito de qualificação de treinadores de futebol para todo o país

A universidade escolhida foi a PUC Minas

Chute a gol

Quadro 1: Parcerias exibidas no VT Fonte: VT – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010

114

Pelo Quadro 1, pode-se visualizar a correspondência entre o verbal, o que é dito, e a

imagem, o que é mostrado.

As duas primeiras são referenciadas por meio de antonomásias. Na última, em que se

oculta o sujeito da ação, expressões como “sistema inédito” e “todo o país” colaboram para

sobrepor a importância da escolha pela Instituição – mostra o caráter moderno e amplitude do

projeto.

Essas informações se relacionam em termos de tempo, momento: “quando” se

precisou do serviço, escolheu-se a PUC Minas. O paralelismo é levado à escolha a ser feita

pelo candidato: “Na hora do vestibular”, isto é, quando ele for chamado a escolher, deve fazer

a opção que grandes nomes já fizeram.

São muitas informações a serem absorvidas pelo expectador em pouco tempo, mas

fica a ideia de que mais de uma empresa renomada elege a PUC como sua parceira e de que

existe escolha entre várias possibilidades – representadas pelas microcenas pixualizadas – e

aprofundamento – representado pelo zoom na linguagem visual. O candidato deve escolher a

PUC Minas e, na Instituição, após a escolha, aprofundar seu conhecimento, ser valorizado

pelo mercado de trabalho, enfim, garantir os benefícios que as parcerias sinalizaram para ele.

4.4.2.2 Cinema

Como anunciado anteriormente, a mídia exibida nas salas de cinema é a mesma

apresentada na televisão. O vídeo é exibido nesse veículo antes da sessão de filme. Essa mídia

é eficaz porque o consumidor se encontra focado no anúncio, à espera do filme que vem a

seguir. Não há como mudar de canal. Em contrapartida, atinge um número menor de

expectadores do que a televisão.

Não obtive informações, junto à agência, sobre a frequência de exibição do vídeo nas

salas de cinema ou das redes de televisão que veicularam o anúncio.

115

4.3.2.3 Rádio

O anúncio veiculado em rádio não conta, obviamente, com recursos de imagem;

apenas com recursos de som. É a mídia que necessita chamar a atenção do ouvinte, transmitir

a mensagem em 30 segundos apenas, sem nenhum recurso visual.

Nesse suporte, a voz de locução também é masculina e, ao fundo, ouve-se uma trilha

“moderna” em BG, isto é, em BackGround, música de fundo. É interessante destacar que, ao

contrário do que ocorre no VT, há no spot uma pausa na trilha sonora, antes da pergunta final:

“a trilha para de repente”. Essa pausa brusca pretende provocar impacto no ouvinte,

destacando a pergunta final e a escolha do interlocutor.

A identidade da campanha é mantida nos spots. O ouvinte tem acesso à informação

sobre as parcerias (duas por spot), pergunta final, assinatura da campanha e dados para o

contato com a Instituição, como se pode ver no roteiro a seguir:

Figura 26: Spot de rádio 1 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

116

O spot 1 mostra duas das parcerias exibidas no VT – a realizada com a Microsoft (sem

nominalização) e a dos treinadores de futebol. A duração, assim como a do VT, é de 30

segundos, mas só duas parcerias são mostradas. Nesse veículo, como não há imagem que dê

suporte ao texto, este deve ser enunciado em velocidade um pouco mais lenta.

No spot 2, a seguir, retoma-se a parceria com a Cemig e também é mostrada a parceria

com a Fiat, sem ser nomeada. O texto informa: “A líder de vendas no mercado

automobilístico brasileiro, em parceria com a PUC Minas, implantou laboratórios

automotivos. Uma escolha pela qualidade.” Essa caracterização da Fiat é conhecida pelas

pessoas que acompanham notícias relacionadas à venda de carros, marcas, etc. Por isso, a

empresa pode ser facilmente identificada no anúncio.

Figura 27: Spot de rádio 2 – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

Na sequência, passemos à análise das peças em ambiente digital, que, como se verá,

acompanham o design das peças mostradas até aqui.

117

4.4.2.4 Internet

As ações publicitárias em ambiente digital ganham notabilidade e importância nos dias

atuais, porque é o veículo mais acessado pela juventude, através das redes sociais. Na imagem

abaixo, vemos uma sequência de banners que circularam em rede social. As cores chamativas

são mantidas, assim como a pergunta final e as informações adicionais.

Figura 28: Banner da web (redes sociais) – Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010 Fonte: Lápis Raro, 2009

A diferença aqui em relação às peças impressas é que, em uma mesma peça, estão

presentes três parcerias com três cores distintas, apresentadas em forma de banners, em

sequência. Esses banners vão se alternando na tela do computador. Isso é possível, dentro do

contexto, porque o ambiente digital é mais lúdico, mais interativo, de linguagem mais

dinâmica. Então, com uma visualização, o leitor tem acesso à gama de cores e à informação

de várias parcerias. No outdoor, no ônibus ou no metrô, as peças continham apenas uma cor e

uma parceria, o que poderia ser explicado pelo desejo de informar diretamente o leitor que

está em um ambiente urbano, caótico, cercado por informações vindas dos mais diferentes

canais e desempenhando atividades com os mais diversos propósitos. Na internet, o leitor está

solitário, com a atenção voltada para a tela, e por isso, poderia absorver várias informações

em menos tempo.

118

Na imagem seguinte, é possível visualizar o banner na página da rede social, no caso o

Orkut.

Figura 29: Banner em rede social (Orkut) Fonte: Lápis Raro, 2009

Todas as peças aqui apresentadas, pertencentes a uma mesma campanha, se

interrelacionam, dialogam entre si, seja pelas cores, pelo formato ou pelo slogan.

Nos elementos gráficos, sonoros e linguísticos das peças da campanha, é possível

entrever algumas representações, tanto sobre a Instituição anunciante quanto sobre a ascensão

social por meio da entrada em um curso superior. Essas representações, ao mesmo tempo em

que refletem a expectativa do mercado no que diz respeito à qualificação profissional,

instigam no público-alvo o desejo por galgar esse degrau, apontando para ele os benefícios a

serem conquistados caso ingressem no ensino superior, e não em qualquer instituição, mas

naquela anunciada, a melhor, a escolha certa, segundo a campanha.

Tendo apresentado o que se depreendeu do processo de criação da campanha e a

análise das peças, passo agora à confrontação com os resultados dos questionários coletados

junto a representantes do público-alvo.

119

5 A OUTRA PONTA DA INTERAÇÃO: REPRESENTAÇÕES NA ATI VIDADE DE

PRODUÇÃO DE SENTIDO

Tendo compartilhado com o leitor o processo de produção da campanha e as peças que

circularam nos meios impresso e eletrônico, assim como tendo tentado flagrar algumas das

Representações Sociais surgidas no decorrer do processo de criação, apresento, neste capítulo,

os resultados da segunda etapa de coleta de dados (questionários, entrevistas e grupo de

discussão) aplicados aos dois grupos de informantes pertencentes ao público-alvo. O objetivo

é confrontar esses dados aos resultados da análise do processo de produção do texto, a fim de

flagrar as coincidências ou as diferenças no que concerne às RS que emergiram na enunciação

dos diversos atores acerca da Instituição e do seu perfil. Pretendo delinear o que de fato

conseguiu-se oferecer ao enunciatário e como ele reagiu ao que lhe foi ofertado. Na

sequência, e como objetivo último do capítulo, pretendo expor uma análise dos dados e as

representações que se materializaram na percepção dos candidatos.

5.1 Delineamento do público-alvo: o que a agência e o cliente esperam encontrar?

No briefing da campanha, apontava-se que esta deveria atingir um público com idade

entre 17 e 21 anos, tanto homens como mulheres, pertencentes às classes A, B e C, não só de

Belo Horizonte, Contagem e Betim, mas também de Poços de Caldas, Arcos, Serro e

Guanhães, locais em que a PUC Minas mantém cursos de graduação. Segundo a agência

produtora da campanha, o público-alvo é composto por jovens “em busca do sucesso e da

realização profissional, que estejam buscando a melhor universidade para sua formação”

(Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.3).

Essa é a visão da agência que norteia a produção da campanha, na medida em que

aponta o caminho a ser seguido na obtenção de uma adesão do maior número de candidatos.

Se os candidatos estão buscando sucesso, a melhor universidade para sua formação,

realização profissional, a Instituição tem, então, que mostrar esse perfil. E acredita ter dados

para provar isso. É preciso dizer ao candidato qual é a melhor universidade, e isso foi feito

numa tentativa de usar dados da realidade da Instituição, que são as parcerias. O mote não foi

inventado, não foi criado um artifício.

120

Esses jovens, ainda no ponto de vista da agência, se encontram “angustiados devido à

importância da decisão que precisam tomar [escolher a profissão, escolher a universidade

correta]” (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.3).

Se o jovem está angustiado – e essa é uma forte representação presente na sociedade –

por causa da responsabilidade em escolher uma carreira, a Instituição lhe informa, por meio

da campanha publicitária, um meio para solucionar essa angústia: fazer a escolha certa. O ato

de perguntar (e não de afirmar) é uma estratégia argumentativa elaborada, pois nada é imposto

ao candidato. A escolha “seria” dele. Não se diz “estude na PUC”, “compre” o produto X,

mas sim se deixa entrever a individualidade e a capacidade de, por si só, tomar a decisão mais

acertada baseada em fatos reais, difíceis de serem combatidos.

Enfim, a percepção que o publicitário tem do público que pretende atingir é o que

orienta, norteia o seu fazer, a sua performance durante a ação de criação do texto. Colabora

para a construção dessa percepção a autoimagem da Instituição, e que é passada à agência.

Algumas pesquisas são realizadas a fim de delinear e conhecer melhor esse público-

alvo, conforme informam a agência e a Instituição. Pela Instituição, a última pesquisa havia

sido realizada há dois anos da data da entrevista:

há dois anos atrás a gente fez uma pesquisa de opinião qualitativa . e a gente tirou alguns pontos que::: que foram bem interessantes pra pra PUC Minas inclusive contribuiu pra gente pra: . adequar a é:: a campanha da publicidade que é onde a gente tem mais visibilidade na mídia (WP).

Conhecer o público-alvo é fundamental. Saber exatamente a quem se fala aumenta as

chances de delimitar o que se fala e a forma como se fala.

Na agência, a informação obtida é de que existem programas (softwares) de pesquisa,

além da observação constante de veículos de comunicação direcionados ao público-alvo:

a gente pode falar que a gente utilizou o software da:: Marplan . é:: cuja atualização é trimestral . nesses dois softwares . que é o micro e o /.../ temos acesso aos hábitos de mídia e comportamento social do nosso público . o planejamento também acompanha os principais meios de comunicação jornais revistas e etc para ter acesso às novas pesquisas e tendências para o público e novidades no mercado (ME)

Pode-se apreender dessa fala a preocupação com o novo: “atualização trimestral”,

“novas pesquisas”, “tendências” e “novidades” são expressões que apontam para a

instabilidade do público nessa faixa etária e a necessidade de renovação contínua se a

intenção for atraí-lo. A representação que emerge nessa fala é a da necessidade que a

juventude tem de tudo que é novo, dinâmico, moderno. A campanha deve falar a linguagem

121

desse público, deve procurar saber o que ele pensa para atingi-lo de forma mais eficaz. E essa

representação, de certa forma, rompe com a imagem tradicional da Instituição, como se verá

posteriormente, na quantificação dos dados dos informantes.

A agência tem ciência da forma como esses jovens lidam com os meios de

comunicação, sabe que eles “consomem várias mídias e tecnologias ao mesmo tempo

(internet, TV, MP3, revista etc.)” (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.3).

Daí, acredito, a necessidade de criar uma campanha que abarcasse diferentes veículos,

tanto impressos, já tradicionais, quanto eletrônicos, cujos números de veiculação têm crescido

nos últimos anos. Além disso, os publicitários, retomando o discurso do cliente, pretendem

trabalhar com a imagem de futuros candidatos que “acreditam na transformação social através

da instrução e do conhecimento e valorizam uma formação ética e humanística” (Briefing

LÁPIS RARO, 2009, p.3).

Entretanto, nas peças da campanha valoriza-se sobremaneira a questão do sucesso

profissional. Não há, além do nome da Instituição católica, algum signo que remeta a essa

representação, que se volte à formação ética e humanística. A balança pende mais para a

“transformação social pela instrução e conhecimento” (através da associação com as

parcerias: a melhor instituição pode dar ao candidato a melhor formação) do que para a

valorização da “formação ética e humanística”.

Pode-se depreender ainda, nesse discurso de pré-produção, que já aparece a “melhor

universidade” a ser oferecida aos possíveis candidatos. O verbo usado aqui para definir a

relação com a profissão e com a universidade é o que constará no texto da campanha:

escolher. O enunciatário que se desenha para o produto a ser criado é alguém “angustiado”

porque precisa escolher. A escolha pressupõe comparação. Existem outras opções, existem

outras instituições. Nas peças da campanha se viu como o candidato é chamado a escolher. O

VT bem ilustra isso, assim como os banners e outdoors, quando analisados em conjunto.

Entre todas as opções, as grandes empresas escolheram a PUC Minas. Logo, o candidato deve

seguir essa escolha.

A resposta a essas múltiplas opções vem em forma indagativa: “Na hora do vestibular,

o que você vai escolher?”. Tendo sido apresentados anteriormente os argumentos das

parcerias, a escolha deixa de ser angustiante para esses jovens, pois a direção é única: eles

devem escolher a “melhor universidade particular de Minas Gerais”, título recebido pela

Instituição e que consta como informação em todas as peças impressas da campanha, além de

ter um spot de rádio específico para divulgá-la, como se pode ver na transcrição abaixo:

122

Figura 30: Spot de rádio ICG MEC 2009 Fonte: Lápis Raro, 2009

O fato de acreditar que esses possíveis candidatos procuram uma formação que lhes

possibilite crescimento pessoal e vivência ética e humanística faz com que essas informações

sejam propícias a aparecer na campanha, ainda que veladas – por exemplo, no título de

melhor instituição ou “embutidas” no nome da Instituição. De certa forma, mesmo que não

apareçam como carro-chefe da campanha, elas se fazem presentes como um forte apoio

argumentativo. Por esses motivos os candidatos buscariam sua formação na PUC Minas e não

em outra IES.

Levando a termo o perfil que se desenha para o enunciatário, sujeito a quem a

campanha se volta, podemos constatar não só a predominância de um tipo de candidato,

prioritariamente pertencente a uma faixa etária e seguidor de uma linha de pensamento –

jovem disposto a ir à busca de transformação social, consumidor de várias mídias, etc. –, a

qual nos permite depreender algumas representações sociais aí presentes, como, por exemplo,

a ideia de que esse jovem é urbano, moderno, engajado em uma sociedade politicamente

correta.

Da mesma forma que se desenha o perfil do ingressante na Instituição, a agência

também se preocupa em conhecer o cenário em que esse ingressante se encontra. O sujeito

123

pertencente ao público-alvo não é “descolado” da sociedade em que vive. No briefing há uma

clara preocupação com as modificações introduzidas recentemente pelo MEC, a respeito do

uso da nota do Enem e mesmo a constatação de que as outras instituições também estão

preocupadas com as consequências disso: “Esta mudança está gerando uma instabilidade no

mercado das IES, que ainda não conseguiram definir claramente, quais serão as

consequências para seus negócios” (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.1).

Além de estar atenta às mudanças no cenário educacional, nota-se no briefing que os

problemas mais antigos não foram esquecidos:

a) Acirramento da concorrência no mercado de ensino superior; b) Aumento da oferta desproporcional ao aumento da demanda; c) Aumento do número de processos seletivos por IES, com o objetivo de diminuir

o índice de vagas ociosas (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.1).

A agência avalia também a possível insegurança do candidato frente a essas mudanças

e faz questão de assegurar que, a partir da campanha, ele tire suas dúvidas e encontre

segurança:

Dentre os candidatos, a insegurança também é grande. Embora todos apostem que a mudança trará resultados positivos para a educação do país em médio prazo, reduzindo as disparidades entre as diferentes regiões do país, em curto prazo, a mudança no processo seletivo para ingresso em universidades está causando ansiedade, angústia e incerteza (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.1).

Com base na preocupação demonstrada, a agência vai procurar produzir o texto que

melhor atenda ao candidato, nos moldes e nas características que ela tem em mente. Na seção

seguinte apresento os dados de composição do grupo de informantes, comparando-os ao que

foi idealizado pela agência.

5.2 Composição dos grupos de informantes

O grupo de informantes da primeira fase da coleta de dados foi composto, como

informado no Capítulo 3, por candidatos que se encontravam no campus Coração Eucarístico

no dia do vestibular PUC Minas, em momento antecedente às provas.

Dos 412 informantes, 200 (48,5%) são do sexo masculino e 212 (51,5%) do sexo

feminino. A idade dos entrevistados variou entre 16 e 34 anos. Com menos de 17 anos,

124

encontramos 7 candidatos (1,7%). Os entrevistados na faixa entre 17 e 21 anos, público-alvo

da campanha, totalizam 90,1%. Apenas 32 (7,8%) tinham mais de 21 anos e 2 não

informaram a idade.

Grande parte dos sujeitos que responderam ao questionário informaram ser de Belo

Horizonte e região metropolitana: 316 informantes (76,6%). Outros 86 informantes (20,9%)

vieram do interior de Minas Gerais e 9 (2,2%) de outros Estados. Também 2 entrevistados não

informaram a localidade de origem. Esses dados parecem comprovar que o perfil do público

que se desenha pelo enunciador, tomado aqui amplamente como a agência de comunicação,

espelha a realidade do público-alvo, representado pelos 412 informantes, pois a produção

mostrava-se preocupada, no briefing, em criar uma mensagem que se destinasse ao seguinte

público-alvo: “Segmentação demográfica: 17 a 21 anos; homens e mulheres; classes A, B e

C” (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.3).

O questionário aplicado a esses sujeitos não perguntou sobre o perfil socioeconômico

do candidato. Não há, portanto, como estabelecer se esse critério corresponde à amostra dos

sujeitos pesquisados.

Além disso, a localização geográfica desse público é a capital do Estado e as cidades

em que a PUC Minas mantém campi: “Segmentação geográfica: Estudantes das praças Belo

Horizonte, Betim, Contagem, Poços de Caldas, Arcos, Serro e Guanhães” (Briefing LÁPIS

RARO, 2009, p.3).

5.3 Percepção sobre a Instituição

A campanha do Vestibular PUC Minas 1º/2010 pretendia demonstrar ao público-alvo

as seguintes qualidades/imagens e diferenciais da Instituição, conforme estabelecido no

briefing:

tradição, solidez, segurança em fazer uma escolha assertiva, qualidade, corpo docente qualificado e renomado, facilidade para ingresso no mercado de trabalho, retenção dos melhores talentos (existe uma percepção de que os melhores alunos estão na PUC) e compromisso com a ética e valores humanísticos (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.2-3).

Pode-se notar como aparece no discurso do publicitário a seguinte característica que

será ressaltada na campanha da Instituição: “segurança em fazer uma escolha assertiva”. É a

125

partir dessa representação sobre seu objeto de dizer que o enunciador delineia seu público-

alvo e constrói o texto. Outras características apontadas no briefing, como “corpo docente

renomado” e “compromisso com valores humanísticos”, não foram explicitamente tratados na

campanha, mas podem ser pressupostos pelo que se afirma no texto. Ora, se grandes empresas

escolhem a PUC Minas para desenvolver laboratórios ou criar um centro de tecnologia, para

implantar serviços de meteorologia ou criar um centro de formação esportiva, supõe-se que

isso será feito onde se encontram os melhores profissionais, os mais competentes do mercado.

E são esses profissionais os responsáveis pela transmissão do conhecimento aos alunos da

Instituição. As empresas parceiras, também, não atrelariam seu nome ao de uma Instituição

sobre a qual pairassem dúvidas em termos de ética e idoneidade. Essa linha argumentativa

subjaz, está imbricada na materialidade do texto da campanha.

Esse texto é parte, ainda, de um discurso maior em que se inserem, primeiro, as

campanhas anteriores, desenvolvidas pela mesma agência, as campanhas desenvolvidas pelas

outras agências, antes de 2005, as campanhas realizadas por outras Instituições, com as quais

esta dialoga, num interdiscurso, e, por fim, com outras campanhas publicitárias que não

possuem um caráter “formativo” ou “educativo”, isto é, cujo produto pode ser comercializado

abertamente como objeto de compra e venda, o que não ocorre (ou não deveria ocorrer) com o

produto “educação”.

A fim de flagrar quais desses conceitos foram percebidos/assimilados pelos

enunciatários, preocupei-me em solicitar que o entrevistado apontasse, em ordem de

importância, o(s) motivo(s) que o levou(aram) a optar pelo vestibular na PUC Minas. As

opções disponíveis eram, nesta ordem:

a) tradição,

b) reconhecimento do mercado de trabalho,

c) excelência do curso escolhido,

d) proximidade do local de trabalho ou residência,

e) influência de pais, professores, amigos ou parentes e

f) valor da mensalidade.

Havia, além disso, possibilidade de o entrevistado indicar outro motivo caso não

houvesse sido incluído nas opções listadas.

O Gráfico 1, a seguir, demonstra numericamente os informantes que assinalaram a

opção tradição:

126

Gráfico 1: Informantes que escolheram a PUC Minas pela tradição Fonte: Dados da pesquisa

Foi possível constatar, com base nos dados, que a maior qualidade da PUC Minas,

apontada como principal motivo pela escolha da Instituição pelos entrevistados, parece ser

mesmo a tradição (o renome e a qualidade da Instituição), visto que, ao todo, 293 informantes

(71%) assinalaram essa opção – tradição – como justificativa para sua escolha em prestar

vestibular na PUC Minas. Desses, 247 (60% do total de informantes) apontaram essa opção

como primeira ou única; 37 (12,6%) apontaram esse item como segundo motivo; 8 (2,7%)

como terceiro e apenas 1 (0,3%) como quarto motivo responsável pela escolha da PUC

Minas.

A escolha pelo item tradição destoa em números dos demais itens. Por isso, eles serão

demonstrados em um só gráfico, como se poderá ver abaixo:

127

Gráfico 2: Fatores de escolha pelo Vestibular PUC Minas (primeira ou única opção) Fonte: Dados da pesquisa

A opção tradição é uma qualidade significativa, se se compara sua escolha em relação

às outras: 167 entrevistados (40,5%) escolheram reconhecimento do mercado de trabalho.

Desses, 92 (22% do total de informantes) marcaram como primeira opção, 52 como segunda,

20 como terceira e 3 como a quarta opção.

Dos 412 informantes, 112 (27% do total) assinalaram, como primeiro ou único

motivo, a opção excelência do curso escolhido. Ao todo, 173 informantes registraram essa

opção: 37 como segundo fator de escolha, 22 como terceiro e 2 como quarto fator.

A proximidade do local de trabalho ou residência como fator determinante foi um

item assinalado por 43 informantes. Desse grupo, 14 (3,4% do total de informantes) marcaram

como primeira opção, 5 como segunda, 7 como terceira, 15 como quarta opção e mais 2

informantes marcaram como abaixo da quarta opção.

Alegam ter sofrido influência de pais, professores, amigos ou parentes, 69

informantes, dos quais 27 (6,5% do total de informantes) apontam este como primeiro fator de

escolha.

Somente 18 informantes apontaram o valor da mensalidade como justificativa pela

escolha da Instituição e apenas 3 (0,7%) como primeira ou única opção.

Dois entrevistados listaram motivo diferente: única Instituição a oferecer o curso

pretendido. Apenas 1 entrevistado não informou sua justificativa. O total de respostas a essa

questão ultrapassa o total de entrevistas (412) devido à possibilidade de o respondente optar

por mais de uma resposta.

128

Interessante notar o peso do quesito tradição se for somado a esse resultado o fato de

que 96 (23,3%) candidatos afirmaram que não iriam prestar vestibular em outra IES, ou seja,

a PUC Minas era sua única opção de ingresso no curso superior, contra 315 (76,5%) que

afirmaram que sim, iriam prestar vestibular em outra(s) IES, tanto privadas quanto

particulares. Apenas 1 entrevistado não informou esse dado. A junção desses resultados

permite concluir que quase um quarto dos entrevistados – os que têm a PUC Minas como

única opção de vestibular – prefere estudar em uma instituição de renome e qualidade. Enfim,

os dados apontam para uma representação positiva da tradição da Instituição, já que esse foi o

item escolhido pela maioria dos informantes.

Gráfico 3: Escolha da PUC Minas como única IES para prestar vestibular Fonte: Dados da pesquisa

Até aqui, a partir dos dados mostrados, pode-se perceber que a imagem que a PUC

pretende demonstrar está sendo reconhecida pelo público-alvo. Por outro lado, possibilita

também outra leitura: o peso da tradição como fator de impedimento ou desmotivação para a

Instituição, como se percebe pelas respostas dos entrevistados, especialmente na terceira fase

dessa etapa da pesquisa, como se mostrará adiante. Isto é, ao lado da tradição, há de se ter a

inovação, principalmente em um mundo que valoriza a novidade e o avanço tecnológico,

como se percebe em outras campanhas de instituições educativas. Enfim, os números

mostrados até aqui indicam que a representação que os candidatos têm da Instituição confere

com aquela que se pretende divulgar, preservando a ideia de Instituição competente e, ao

mesmo tempo, tradicional.

129

A leitura que pode ser realizada sobre esses primeiros dados leva a crer que o quesito

tradição está sendo reconhecido pelos informantes e que a intenção da campanha está sendo

cumprida. O tradicional é visto como qualidade positiva, que permite a realização das

parcerias com grandes empresas e desenvolvimento de novas tecnologias, conforme apontado

nas peças da campanha.

5.4 Meios de acesso à campanha

Uma das questões feitas aos entrevistados se referia ao acesso à campanha do

Vestibular PUC Minas 1º/2010. Por acesso pode-se entender o meio ou o veículo pelo qual o

candidato tomou conhecimento do vestibular, seja através de:

a) campanha publicitária,

b) site da PUC Minas,

c) colégios e pré-vestibulares

d) outros meios.

É importante conhecer essa informação visto que ela sinaliza o meio social em que se

encontra o público-alvo. É importante, acima de tudo, saber se a campanha foi vista pelos

candidatos, para depois se pensar em como ela foi compreendida por eles. A campanha tem

como finalidade primordial informar ao futuro candidato a data de realização do exame

vestibular, além de divulgar a imagem da instituição. O briefing anuncia esse objetivo como

básico para a realização da campanha:

Além da função básica da campanha (comunicar que as inscrições estão abertas), nossa campanha tem, como principal objetivo, diferenciar o discurso da PUC dos discursos da concorrência. Discursos que estão se igualando cada vez mais (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.2).

A campanha também é uma forma de construir e solidificar o nome da Instituição

perante o mercado, para que seu discurso se diferencie cada vez mais do discurso das IES

concorrentes.

Dos 412 informantes, 401 (97,3%) afirmaram ter tido acesso às informações do

vestibular por meio da campanha publicitária. Esse dado é bastante relevante, pois traduz o

130

alcance da campanha. Dentre os informantes, é significativo constatar que quase a totalidade

viu/ouviu a mensagem veiculada pela campanha, embora alguns deles (55 entrevistados) não

tenham especificado o meio ou o veículo pelo qual tiveram acesso às informações do

vestibular.

Afirmaram ter tido acesso a essas informações pelo site da PUC Minas 151 candidatos

(36,7% do total de entrevistados). Também receberam informações em colégios ou pré-

vestibulares 165 candidatos (40%). Para essa divulgação, são produzidos catálogos de cursos,

nos mesmos moldes das peças publicitárias (cores, design, slogan), para serem distribuídos

nos colégios e pré-vestibulares. Outros meios totalizaram 36 respostas (8,7%) e 1 entrevistado

não respondeu essa questão. Era facultado aos entrevistados assinalar mais de uma opção.

Gráfico 4: Meios de acesso às informações do vestibular Fonte: Dados da pesquisa

Se 97,3% dos informantes tiveram acesso à campanha do vestibular, é relevante saber

por qual canal/veículo isso ocorreu. O questionário ainda indagava ao sujeito por quais meios

ou veículos da campanha publicitária ele teve acesso às informações do vestibular. A intenção

aqui era quantificar os meios mais eficazes, mais vistos e mais lembrados pelos candidatos.

Questionados, então, sobre os meios/veículos da campanha vistos (em que se poderia

assinalar mais de uma opção), os entrevistados responderam que a Internet (anúncios e redes

sociais) foi o meio mais visto: 162 pessoas (40,4% dos que tiveram acesso à campanha)

assinalaram essa opção. Em segundo lugar, vem a televisão, com 87 pessoas (21,7% dos que

tiveram acesso à campanha). A campanha no outdoor foi vista por 50 pessoas (12,5% dos que

tiveram acesso à campanha). Os resultados por outros meios se mostraram menos

131

significativos: jornal, 18 (4,5%); ônibus, 16 (4%); rádio, 9 (2,2%); postais publicitários, 14

(3,5%) e cinema, 2 (0,5%). A campanha veiculada no metrô não foi mencionada por nenhum

entrevistado. Dentre esses 401 entrevistados que afirmaram ter tido acesso às informações do

vestibular através da campanha publicitária, 55 não informaram o meio pelo qual tiveram

acesso às informações, ou seja, não especificaram o veículo de campanha visto por eles.

Gráfico 5: Meio/veículo de acesso (campanha publicitária) Fonte: Dados da pesquisa

Pode-se perceber que os locais onde se concentra o público-alvo – colégios e pré-

vestibulares – têm predomínio sobre veículos de publicidade tradicionais, como o jornal, a

televisão ou o outdoor em termos de acessibilidade. Um dado que chama a atenção é o

elevado número de informantes que citam tanto a veiculação do anúncio em redes sociais na

internet e anúncios em sites (162) como o acesso ao próprio site da PUC Minas (151),

provando que a publicidade digital vem ganhando mais espaço e demandando maior atenção

por parte dos profissionais. A agência se preocupou com esse dado na produção da campanha,

pois leva em conta, conforme consta na segmentação psicográfica do briefing, que o público-

alvo se compõe por jovens que consumem várias mídias ao mesmo tempo: “Consomem várias

mídias e tecnologias ao mesmo tempo (internet, TV, MP3, revista etc.)” (Briefing LÁPIS

RARO, 2009, p.3).

O texto do briefing possibilita enxergar a posição do enunciador frente à construção do

enunciatário. O sujeito que consome várias mídias é moderno, dinâmico. Nessa concepção

132

foram criadas as peças da campanha. Resta ainda saber se os informantes identificaram essas

características no anúncio e nelas se reconheceram. Para isso, passamos à avaliação da

campanha pelos candidatos entrevistados.

5.5 Avaliação da campanha

O questionário aplicado é composto por duas seções. Na primeira, estão presentes as

perguntas mostradas até este momento, além da opção de curso do candidato informante – não

registrada aqui por não ser relevante para os objetivos da pesquisa. Na segunda seção, há

questões voltadas àqueles entrevistados que tivessem marcado a opção Campanha

publicitária na pergunta 3 do questionário: “Como você teve acesso a informações sobre o

Vestibular PUC Minas?”. Seria improvável solicitar ao entrevistado que avaliasse a

campanha, bem como sua influência sobre a escolha pela PUC Minas, caso este não tivesse

tido acesso a nenhuma peça da campanha por meio de algum veículo de divulgação.

Como já citado anteriormente, 401 entrevistados assinalaram essa opção.

Na segunda seção, o entrevistado era convidado a elencar as lembranças que guardava

da campanha e a imagem da PUC Minas mostrada por ela, sendo sempre recomendado ao

respondente que deveria citar a primeira lembrança que lhe viesse à cabeça. Essa orientação

se justifica pela técnica de evocação livre (ABRIC, 2003), anteriormente exposta, pela qual o

informante responde livremente, sem maiores problematizações. O sujeito fala, dessa forma,

da primeira associação que faz com o que lhe é perguntado, sem interferências ou influências.

Esse procedimento integra uma metodologia mais ampla, mas resume-se a pedir ao sujeito

que liste, a partir de uma palavra dada, todas as palavras ou expressões que lhe venham à

mente. Permite a atualização dos elementos implícitos ou latentes e levanta as dimensões mais

periféricas das RS. O objetivo dessas duas questões é justamente tentar flagrar a sobreposição

das representações da Instituição presentes no momento de elaboração da campanha em

relação às representações dos sujeitos destinatários da campanha. Tratarei desses dados em

próxima seção. Posteriormente, as respostas mais significativas, em termos numéricos, foram

submetidas à apreciação e escolha de parte dos informantes (conforme descrito em seção

posterior).

Os candidatos também foram solicitados a avaliar a influência da campanha da PUC

Minas na sua escolha pelo vestibular naquela Instituição por meio de uma escala de valores.

133

Nesse caso, o candidato marcaria 0 se ele julgasse que a campanha não tivesse influenciado

sua opção pela IES, isto é, ele optaria pelo vestibular na PUC Minas independentemente da

campanha produzida. No extremo oposto, o candidato marcaria 4 caso se sentisse totalmente

influenciado pela campanha, ou seja, se julgasse que a campanha foi extremamente decisiva

na sua opção em prestar vestibular na PUC Minas.

Gráfico 6: Avaliação do informante sobre a influência da campanha em sua escolha Fonte: Dados da pesquisa

Levando em consideração esse critério (influência da campanha na escolha pelo

vestibular na PUC Minas), os entrevistados foram divididos em seis grupos, conforme mostra

o Gráfico 6.

Dos 412 entrevistados, 49 (12%) não julgaram ter havido influência da campanha

(grupo 0); 31 (8%) acharam que a campanha influenciou pouco (grupo 1); 58 (14%) acharam

que a campanha teve média influência (grupo 2); 39 (9%) acharam que a campanha teve

muita influência (grupo 3); 7 (2%) julgaram a campanha totalmente influente (grupo 4) e, o

grupo mais numeroso, com 228 entrevistados, não selecionou nenhuma opção, apesar de a

maioria do total de informantes (401) ter afirmado na questão anterior que teve acesso à

campanha. Esse número é significativo, pois corresponde a 55% do total de informantes. O

elevado número de entrevistados que não se dispuseram a responder à segunda parte das

questões pode ser explicado, a meu ver, pela própria situação em que foram colhidos os

134

dados: o horário antecedente à prova do vestibular, a vontade de se concentrar para a prova,

etc. E também, isso pode ser justificado, em parte, pelo curto tempo para as respostas, às

vésperas da entrada do concurso, e ao nervosismo peculiar do momento.

Dessa forma, iremos de agora em diante nos ater às respostas, dentre o total de

informantes, daqueles que: 1. Tiveram acesso à campanha; 2. Responderam à segunda parte

do questionário, o que equivale a 184 informantes.

5.6 Lembranças e representações

Pretendo, nesta seção, apresentar as respostas obtidas, identificar aí as representações

sobre a Instituição reveladas pelos entrevistados nos questionários a fim de, em seguida,

compará-las com as representações depreendidas no processo de produção dos textos da

campanha. As perguntas feitas aos entrevistados, na segunda parte do questionário, foram:

Qual ou quais lembranças você tem da campanha? (Cite a primeira lembrança que vem à sua cabeça). Você se lembra de como a PUC foi mostrada na campanha? (Cite pelo menos 1 característica da PUC mostrada na campanha).

Como informado anteriormente, a pergunta aberta deixava livre para o entrevistado o

que se pretendia com a sua resposta, ou seja, o questionário procurou não interferir ou

direcionar de qualquer forma a resposta do entrevistado, como prevê a técnica de evocação

livre. A natureza da resposta não é prevista, quer dizer, ele poderia se lembrar de aspectos da

forma ou do conteúdo relativos à campanha do Vestibular para responder à questão 1. Na

questão 2, a pergunta foi elaborada de forma também a deixar em aberto o tipo de

caracterização que se pretendia, isto é, pensou-se em um mínimo de interferência na evocação

de representações dos candidatos.

As informações recolhidas nessas questões podem nos auxiliar a flagrar a imagem que

se constrói da Instituição pelos informantes e, ainda, como se materializaram, no momento da

leitura, as representações da etapa de criação do texto.

O fato de a Instituição existir há mais de 50 anos e, durante esse período, ter

construído uma imagem perante a sociedade, leva a crer que as representações são construídas

ao longo de toda a sua história e não apenas em função de uma campanha específica. Mais

135

ainda, ela carrega no nome o peso de uma Instituição católica. Há uma forte representação

disseminada nesse sentido, visto que a Igreja Católica é precursora no Brasil no campo da

educação, iniciada ainda à época do Brasil Colônia com a chegada dos jesuítas. Outras

congregações religiosas, como os carmelitas, os maristas, os beneditinos, os agostinianos e os

salesianos, entre outros, também participaram ativamente do processo educativo brasileiro. A

educação de qualidade, tradicionalmente, era oferecida por instituições católicas. A

universidade católica também retém essa memória. Logo, esse é um dado presente no

momento da produção do texto publicitário, um fato considerado relevante para a qualidade

do ensino ali oferecido.

Consta no briefing a preocupação em manter a imagem séria já adquirida pela

Instituição. É imperativo para os produtores da campanha: “não devemos nunca, jamais, em

tempo algum, nos esquecermos do alinhamento ético, crítico e humanístico da PUC” (Briefing

LÁPIS RARO, 2009, p.3).

Sendo assim, o olhar que se propõe na análise dos dados é sobretudo calcado na

história da Instituição, mas veiculado por um grupo específico que afirma ter tido acesso pelo

menos à campanha do Vestibular 1º/2010. Isto é, os informantes podem ter tido acesso a

campanhas anteriores – o que certamente influencia sua resposta e sua opção pela PUC Minas

–, já que a campanha foi veiculada em Minas Gerais, local de origem de 97,8% dos

candidatos entrevistados. Além disso, os informantes dispõem de outros meios para ter acesso

a informações sobre a Instituição, como, por exemplo, contato com familiares, amigos,

professores, etc. Entretanto, no questionário aplicado aos informantes as perguntas eram

direcionadas à avaliação e influência daquela campanha em particular.

Segundo a pesquisa, 29 (60,4%) informantes do grupo 0, que afirmam não terem

sofrido influência da campanha ao escolher a PUC Minas para prestar vestibular, deixaram a

resposta 4 do questionário – Qual ou quais lembranças você tem da campanha? – em branco

ou responderam “não”/”nenhuma”/”não me lembro”48. Isso leva a crer que eles não se

lembram da campanha. O mesmo ocorreu com 16 (51,6%) informantes do grupo 1 (que julga

ter sofrido pouca influência da campanha). No grupo 2, 19 (32,8%) (média influência)

responderam da mesma forma e 15 (38,5%) do grupo 3 (muita influência) também. Entre

aqueles que afirmam terem sido totalmente influenciados pela campanha, 3 informantes

(42,9%) – quase a metade – afirmam não lembrar da campanha. Ao todo, 44, 6% dos

informantes que responderam à questão 6, avaliando a influência da campanha do vestibular

48 Foi mantida a grafia de todas as respostas dos informantes transcritas neste trabalho.

136

sobre sua escolha, deixaram em branco a questão 4, isto é, não quiseram ou não souberam

informar a primeira lembrança que lhes vinha à cabeça sobre a campanha.

Nessas respostas, é relevante como quase a metade dos informantes do grupo 4 não se

lembra da campanha que eles próprios afirmam ter sido decisiva na sua escolha. Os dados dos

grupos 0 e 1 são mais coerentes, pois, se afirmam que a campanha não influenciou sua

escolha, não está presente na sua memória, não os marcou de alguma forma. Isso se mostra

pelo fato de que mais da metade dos entrevistados não apresentam lembrança da campanha.

Os grupos 2 e 3 também se articulam dentro do esperado: uma média de 30% dos informantes

não apresenta lembrança da campanha.

Curioso é notar que, entre aqueles que respondem à questão, ainda existem os que

fornecem dados visivelmente relativos a campanhas anteriores, como é o caso de respostas do

tipo: “um monte de rostos de pessoas” e “que é um vestibular para todos” (retomando o

slogan da campanha: É pra todos), no grupo 1, ou “vários rostos”, “fotos (fotinhos)” no grupo

2. Claramente essas respostas evocam a lembrança de campanha anterior49, realizada pela

mesma agência em 2008. Essa campanha é considerada pela Instituição um avanço na forma

de comunicar com o público, devido ao seu caráter inovador. No briefing da campanha do

Vestibular 1º/2010 faz-se menção a ela com o objetivo de retomar a ideia, não se afastar dessa

linha de raciocínio e comunicar de forma “próxima e calorosa com as pessoas” (Briefing

LÁPIS RARO, 2009, p.2).

Algumas outras respostas remetem possivelmente a campanhas de outras instituições,

dado que não se referem a nenhuma campanha veiculada pela Instituição. São elas:

“professores resolvendo questões”, “comentários de ex-alunos”, “mostrava alunos satisfeitos

com o ensino” (todas do grupo 2). Essas imagens não pertencem ao conjunto de anúncios

realizados pela agência e remetem, todos, ao ambiente de ensino/aprendizagem de modo

geral, o que pode ter levado à assimilação ou troca na memória do informante. Os

entrevistados que trazem à cena esse ambiente reiteram a generalização da memória ao

responder à questão 5, que trata da imagem da PUC veiculada pelo anúncio. O informante que

forneceu a resposta “professores resolvendo questões” informa que a imagem veiculada pelo

anúncio é de “questões difíceis”. O que fala de “comentários de ex-alunos” retoma “qualidade

ensino” e o último, que aponta que a peça da campanha vista “mostrava alunos satisfeitos com

o ensino”, afirma que a imagem da Instituição é de “tecnologia”.

49 Campanha “É pra você”, Vestibular PUC Minas 2º/2008.

137

Alguns informantes se atêm à avaliação da campanha – do anúncio visto/ouvido – ao

responder à questão 4, a respeito da lembrança da campanha: “muito clara e objetiva” (grupo

0), “muito boa”, “panfleto muito bem feito” (grupo 1), “informações claras”, “me lembro de

ser uma ótima campanha” (grupo 2), “boas”, “boa” (grupo 3). Outros optam por informar

(novamente, repetindo a informação dada na questão 3) ou acrescentar o meio pelo qual

tiveram acesso à campanha sem, contudo, fazer nenhuma apreciação ou destacar algum

elemento do mesmo: “baner”, “os folhetos entregues”, “internet” (grupo 0), “amigos, escola,

pré-vestibular”, “o catálogo distribuído nas escolas”, “TV” (grupo 1), “cartazes e panfletos”,

“outdoor”, “propaganda da TV”, “website”, “o site”, “numa revista que eu li”, “sites” (grupo

2), “amigos e televisão”, “foi através do rádio”, “folheto”, “televisão” (grupo 3).

Muitos informantes fizeram menção às cores usadas na campanha, que chamam a

atenção do leitor por serem, como dito no capítulo anterior, relacionadas a juventude,

modernidade. Parte do briefing a preocupação em demarcar espaço, diferenciar o discurso a

PUC do das outras instituições:

Nosso desafio é encontrar uma forma bastante impactante e atraente para falar sobre tudo isso. Como embalar este conteúdo de maneira que realmente faça o público parar para ouvir o que temos a dizer? (Briefing LÁPIS RARO, 2009, p.2, grifo meu).

A agência e o cliente percebem que há um discurso homogêneo e então querem se

destacar entre os discursos concorrentes. Irrompe a necessidade de fazer isso de “uma forma

bastante impactante e atraente”. Há um conteúdo, uma verdade, um diferencial, que precisa

ser “embalado” para que o público o perceba em meio aos outros discursos.

Segundo os produtores, as cores fortes (laranja, verde, amarelo, rosa, azul) foram

usadas com o objetivo de destacar a quantidade de informações veiculadas no anúncio para

aquele momento. A entrevistada CG afirma que “NAS peças gráficas a gente usou muito a cor

. pra chamar atenção do público que é mais jovem pra destacar pra gente destacar no bojo”

(CG).

Quando a entrevistada afirma “nas peças gráficas a gente usou muito a cor” parece

remeter a um recurso central da campanha. A cor é o que se destaca, como fundo para a

mensagem verbal escrita em fonte preta, sem serifa, isto é, sem prolongamento no final das

hastes das letras. Esse tipo de fonte é mais limpo, menos marcado e, justamente por chamar a

atenção para a palavra, é o mais usado em títulos. A fonte não serifada transmitiria a ideia de

138

atitude, de modernidade e de precisão, ao contrário das fontes serifadas, mais desenhadas, que

parecem ser mais tradicionais ou remetem a algo mais antigo.

Figura 31: Fonte não serifada Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

O intuito relatado pela entrevistada, qual seja, o de chamar a atenção do leitor, parece

ter se realizado, pois a cor foi um elemento bastante citado pelos entrevistados, como se pode

constatar nas respostas:

Grupo 0 Cor

Cartaz rosa

As cores usadas na campanha

A cor do papel do cartaz

Cor verde do folheto

Grupo 1

Grupo 2 As cores chamativas

Cor

Grupo 3 Cartazes coloridos e empresas coligadas

1º as cores fortes da campanha/2º a frase

Revista amarela

Cores (amarelo, rosa, verde)

Grupo 4

Quadro 2: Cores Fonte: Dados da pesquisa

139

O grupo 0, que afirma não ter sofrido influência da campanha, é o que mais aponta a

cor como lembrança do anúncio, prova de que esse elemento é marcante e pode traduzir

outros sentidos, como criar uma identidade jovial, moderna, o que também alude a uma

representação de que seja jovem, moderno. Por outro lado, no grupo 4, que afirma ter se

influenciado totalmente pela campanha, nenhum informante cita as cores como primeira

lembrança.

O mote da campanha – as parcerias da PUC com grandes instituições (CBF, Cemig,

Microsoft, Fiat) – não foi lembrado por nenhum informante do grupo 0. Se esse era o

argumento mais forte da campanha em termos de conteúdo, segundo seus criadores, será que

ele não foi entendido por esse grupo? Nos demais grupos, constatamos as seguintes respostas:

Grupo 0

Grupo 1 A instituição é escolhida para parcerias com empresas por sua

qualidade em vários aspectos

Melhor universidade particular/Globo escolheu a PUC, etc.

Das empresas parceiras a PUC

Grupo 2 PUC Minas escolhida pela Microsoft para laboratório

O curso técnico de futebol

Grupo 3 O convênio com a Fiat

Cartazes coloridos e empresas coligadas

Propaganda da parceria PUC-Cemig

Globo

Grupo 4 Fiat

Quadro 3: Parcerias Fonte: Dados da pesquisa

Ainda nesse sentido, entretanto sem mencionar a parceria, houve informantes que

destacaram a qualidade da Instituição ou do curso, principalmente em relação ao mercado de

trabalho. Chama a atenção o grupo 3, com alto índice de recorrência à imagem da PUC como

de qualidade, tradicional, competente, visto que esse grupo se sentiu muito influenciado pela

campanha.

140

Grupo 0 Melhor faculdade particular de MG

Excelência do curso

5 estrelas em Relações Internacionais

Grupo 1 O aspecto idôneo da entidade

Melhor faculdade particular, Globo escolheu a PUC, etc.

Excelência da PUC

Grupo 2 Qualidade de ensino

Tradição da PUC

Informações sobre meu curso

Propaganda, escolha do mercado de trabalho

Inovação

Tradição

Excelência no ensino

Grupo 2 Boa faculdade

Grupo 3 Tradição

Tradição e qualidade de ensino

Cartazes coloridos e empresas coligadas

Que a PUC é a melhor particular de Minas

Qualidade de ensino diferenciado

Conhecimento que transforma

Grupo 3 PUC Minas conhecimento que transforma

Grupo 4 Que é uma boa instituição para um mercado de trabalho

Quadro 4: Qualidade da Instituição e mercado de trabalho Fonte: Dados da pesquisa

Ao lado disso, alguns entrevistados não executam o que solicita a questão, retomando

a função do texto publicitário como lembrança: o próprio ato de fazer a propaganda:

“publicidade” (grupo 0), “propaganda da universidade”, “propaganda, escolha do mercado de

trabalho”, “vestibular PUC-Minas”, “fizeram propaganda da universidade” (grupo 2).

Uma parte destaca como lembrança da campanha o prazo de inscrições do vestibular:

“Início das inscrições para vestibular” (grupo 0), “sobre a data de inscrição, prazos” (grupo 1),

“data”, “anunciando datas do vestibular”, “inscrições abertas” (grupo 2).

A PUC Minas mantém um programa de visitas orientadas à Instituição destinado aos

alunos do Ensino Médio e dos pré-vestibulares. Esse programa, chamado PUC Aberta, tem

141

como proposta “colaborar com os jovens que vivem o momento da escolha do curso superior

de graduação e a Universidade em que gostariam de estudar, contribuindo para que estejam

mais preparados e conscientes de sua opção” (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

DE MINAS GERAIS, 2009, p.1). Lembrando que 40% dos informantes declararam ter tido

acesso às informações do vestibular por meio de colégios e pré-vestibulares, é importante

notar que isso aparece nas respostas dadas à questão 4: a primeira lembrança da campanha é

relacionada à mostra de cursos (PUC Aberta) ou ao material distribuído nas escolas, provando

ser essa uma estratégia efetiva:

Grupo 0 Amostra de cursos

Os folhetos entregues

Da amostra de cursos

Grupo 1 O catálogo distribuído nas escolas

Panfleto muito bem feito

Grupo 2 Cartazes e panfletos

PUC aberta

PUC aberta

Grupo 3 Revista amarela

Folheto

Grupo 4 PUC aberta

Quadro 5: PUC Aberta Fonte: Dados da pesquisa

Essas foram as respostas à questão 4 mais relacionadas ao que se previa na elaboração

da campanha. Como primeira lembrança, ou evocação livre, o conjunto de informantes citou

as parcerias, as cores, a qualidade/tradição da Instituição, elementos e imagens evocados na

produção do texto e agora trazidos à cena no momento da recepção. Passemos às respostas da

questão 5.

A questão 5 solicitava, como dito, ao entrevistado que avaliasse a imagem da PUC

mostrada na campanha em pauta. Por se tratar exatamente de uma campanha da própria

Instituição (e de uma pesquisa realizada nas dependências da própria Instituição), as respostas

tendem a se enquadrar em um campo positivo de avaliação. Certamente isso interfere no

resultado da análise. Importante é notar de que forma essa avaliação positiva ocorre e tentar

desmembrar os valores positivos aí presentes.

142

Assim como nas respostas à questão 4, alto é o índice de informantes que, embora

tenham avaliado a influência da campanha na escala de 0 a 4, não explicitaram o que foi

solicitado pela questão 5. Foram obtidas as seguintes respostas: no grupo 0, 12 informantes

(24,5%) disseram “não”/”não me recordo”/”não me lembro”/”não me lembro bem”/”não, não

me lembro”/”nenhuma”/”não tenho nenhuma lembrança”; 6 informantes (19,4%) do grupo 1

deram respostas semelhantes; 9 (15,5%) do grupo 2; 7 (17,9%) do grupo 3 e 1 (14,3%) do

grupo 4. Ou seja, do total de informantes, uma média de 18% respondeu furtivamente a

questão.

Deixaram em branco essa questão 24 (48,9%) informantes do grupo 0, 10 (32,3%) do

grupo 1, 14 (24,1%) do grupo 2, 10 (25,6%) do grupo 3 e 2 (28,6%) do grupo 4, o que

equivale a uma média de 32% do total.

Somando esses dois resultados, temos um alto percentual de informantes – quase a

metade, em média – que não quiseram/souberam responder a questão 5 e, consequentemente,

não deixaram registro da imagem da Instituição veiculada pela campanha, o que pode

demonstrar que essa campanha, para esses respondentes, não trouxe uma grande

transformação da tradicional imagem já existente.

Entre aqueles que responderam à questão, a avaliação é, de modo geral, positiva.

Podemos agrupar as respostas de acordo com a natureza da qualidade ressaltada, seja ela pela

seriedade, competência etc e tentar mensurar os níveis de excelência dessa avaliação.

Em 2009, a PUC foi avaliada como a melhor universidade privada do Estado, obtendo

conceito 4 no Índice Geral de Cursos do MEC (ICG)50. Como informação importante, esse

dado foi divulgado nas peças publicitárias e é citado, pelos entrevistados, 11 vezes. A menção

a esse dado aparece na forma das seguintes respostas:

Grupo 0 Sim. Foi lembrada como a melhor faculdade particular de MG

Grupo 1 Melhor instituição particular de Minas Gerais

Grupo 2 Como a melhor faculdade particular de MG

Melhor

O melhor em ensino superior (particular)

Como a melhor

Como a melhor universidade particular de MG

Grupo 3 A melhor

50 Informação retirada do site do MEC (PORTAL DA EDUCAÇÃO, 2010).

143

Como melhor opção de ensino

A melhor escolha

Grupo 4 1º lugar

Quadro 6: Ocorrência da qualificação "melhor" para a Instituição Fonte: Dados da pesquisa

Todas essas respostas colocam a Instituição em um nível de superioridade em relação

às demais. Usando o adjetivo “melhor”, o informante a compara às outras, que não são as

melhores, nem tão boas quanto. Por outro lado, há aqueles, em maior número de ocorrências,

que caracterizam a universidade como “boa”, o que não a coloca em primeiro plano,

pressupondo-se que podem existir outras “boas” instituições.

Grupo 0 Como uma boa faculdade

Como uma referência na escolha do mercado

Instituição bem conceituada

Instituição íntegra

Seriedade

Inteligente

Muito bem conceituada

Como uma faculdade com excelência no trabalho

Tradição

Grupo 1 Muito bem

Tradição da mesma

Qualidade nos serviços prestados à sociedade

Como uma boa faculdade

O aspecto idôneo da entidade

Qualidade dos cursos e tradição da Instituição

Moderna, democrática

Organizada

Apresentando bons cursos

Boa universidade

Como uma universidade de qualidade

Passou uma imagem jovem

Faculdade de grande qualidade

144

Como uma boa instituição

Grupo 2 Tradição/modernidade

Bem

Estrutura

Como uma boa instituição de ensino

Excelentes cursos

Diversidade, vários tipos de pessoas

Como uma boa universidade

Reconhecimento no mercado

Uma faculdade boa

Excelência de ensino

Como instituição de qualidade

Como uma instituição de qualidade no ensino

Qualidade ensino

Uma grande instituição

Foi mostrada como uma das melhores

Excelência do curso

Reconhecida pelo mercado

Ótima faculdade

Como um local conhecido e bem estruturado

Ótimo instituto

Bem mostrada sua avaliação. Excelente

Foi mostrada como uma universidade boa

Tecnologia

Grupo 3 Reconhecimento

Excelência, ensino e educação

Como uma boa universidade

Reconhecimento da instituição

Boa

Compromisso

Qualidade. Limpeza

Universidade de tradição

Faculdade de grande qualidade

145

Grupo 4 Como uma universidade de grande tradição e excelência

Ótima universidade

Quadro 7: Ocorrência da qualificação "boa" para a Instituição Fonte: Dados da pesquisa

Essa qualificação, que também surge no discurso da agência, encontra respaldo entre o

público-alvo, como foi demonstrado pelas respostas acima. A supervisora de criação, em sua

entrevista, falando sobre o tipo de discurso, afirma:

a gente começou a discutir como a gente ia fugir desse discurso né porque era um discurso que não tava mais fazendo efeito porque acontece muito isso com a PUC por ser uma das melhores universidades ela ela ela atrai outros discursos parecidos né ela ela puxa a fila de outros discursos parecidos e tava na hora de mudar esse discurso (CG)

No discurso de CG, a PUC é representada como uma das melhores instituições. E na

produção da campanha, a forma de fazer essa informação se tornar material foi, além do

próprio conteúdo, a inserção, em todas as peças, da chancela do título recebido do MEC:

Melhor universidade particular de Minas Gerais, como se pode perceber no destaque da

imagem seguinte:

146

Figura 32: Destaque “Melhor universidade particular de Minas Gerais” Fonte: Mídia Negócios Publicitários, 2009

Pode-se afirmar que o discurso da agência coaduna com a percepção do público-alvo.

Entre os informantes, os grupos 2 e 3 parecem ser os que mais efetivamente captaram

a mensagem proposta pela campanha. Além de seus informantes terem ressaltado qualidades

da Instituição, proporcionalmente, a lembrança com relação à proposta da atual campanha

(parceria com instituições prestigiadas) foi mais referida no grupo 3.

Tomo aqui a referência explícita a esse tópico da campanha, o que comprova, de fato,

a associação da excelência da instituição e o argumento usado pelo texto da campanha, que é

a parceria com grandes empresas. A supervisora de criação da campanha, ao descrever o

processo de criação, aponta esse tópico como o seu mote, argumento que consiste em um fato

sobre o qual não se levantam contradições:

a equipe da PUC mostrou pra gente que existia um:: que existia um argumento muito forte e aí ele não é forma... ele é argumento e ele é interessante quando a gente TEM isso na mão porque é muito raro a gente ter isso na mão... que era a questão das parcerias né::: ah:::: talVEZ vocês não sAibam mas a gente faz o serviço de meteorologia da rede GLObo::: ou (?) a gente vende esse serviço como uma instituição para outras instituições que têm credibilidade... existe um laboratório da Microsoft aqui dentro então a PUC traBAlha em parceria com a Microsoft... coisas que realmente são relevantes e a partir do momento que você pensa NÓ::: se a

147

Microsoft tem essa parceria com a PUC é porque a PUC tem... um valor que pode ser percebido pelos alunos (CG)

Isso não restringe o percentual de entrevistados que relembram esse dado, mas não o

explicitaram. Não se pode dizer que eles, justamente por não o fazerem, tenham

desconsiderado essa lembrança. É o caso, por exemplo, de “referência na escolha do

mercado” ou “Qualidade nos serviços prestados à sociedade”, enunciados que se justificam

pelo argumento apresentado ou se relacionam semanticamente a ele. Em outra instância se

considera resposta como “boa instituição”, pois a justificativa para a evocação dessa imagem

da instituição tanto pode ser comprovada por esse argumento como por outra característica

presente na memória do informante.

Grupo 0

Grupo 1

Grupo 2 Como escolhida por multinacionais pela excelência

Grupo 3 Sim. Instituição ligada com empresas grandes

Me mostrou a parceria da PUC Minas com grandes empresas

Excelência escolhida por empresas de Minas como a melhor

particular

Como a instituição escolhida pela Globo

Grupo 4

Quadro 8: Referência ao principal argumento da campanha Fonte: Dados da pesquisa

No intuito de checar a relação entre a imagem evocada pelo informante e a lembrança

da campanha, vejamos a resposta correspondente:

Grupo 2 PUC Minas escolhida pela

Microsoft para laboratório

Como escolhida por

multinacionais pela excelência

Grupo 3 Cartazes coloridos e empresas

coligadas

Sim. Instituição ligada com

empresas grandes

Que a PUC é a melhor particular

de Minas

Me mostrou a parceria da PUC

Minas com grandes empresas

Propaganda da parceria PUC-

Cemig

Excelência escolhida por

empresas de Minas como a

148

melhor particular

Globo Como a instituição escolhida

pela Globo

Quadro 09: Comparação entre respostas às questões 4 e 5 Fonte: Dados da pesquisa

Dos cinco entrevistados que registraram a imagem de parceria da PUC para comprovar

sua qualidade, três apontaram como primeira lembrança uma das instituições parceiras

(Microsoft, Cemig e Globo). A Microsoft não foi nominalmente citada na campanha, como já

explicitado, em função de uma cláusula contratual que não permite esse tipo de exposição,

conforme relata CG:

a gente teve alguns problemas na hora de fazer a campanha por exemplo ... não podia aparecer o nome da instituição muitas vezes... porque nem todas as instituições autorizaram... [...] por exemplo com a Microsoft a gente falou a maior empresa de software do mundo (CG)

Essa forma de se referir à empresa, a antonomásia “a maior empresa de software do

mundo”, foi comprovadamente reconhecida pelos informantes e citada literalmente. Essa

empresa buscava parceria para criação de um centro de pesquisa e inovação. Já a Cemig, outra

empresa parceira, foi referida como a Companhia Energética de Minas Gerais, qualificada

como “uma das maiores do mercado energético de Minas Gerais”. A necessidade dessa

empresa era a “utilização do serviço de monitoramento de tempo e clima”, já desenvolvido

pela universidade. A parceria foi realizada em 2006 com o Centro de Climatologia MG

Tempo (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS, 2006), hoje

Centro de Climatologia TempoClima (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE

MINAS GERAIS, 2009). A referência à Rede Globo também não aparece nos textos da

campanha nominalmente. No entanto, a relação pode ser percebida por meio da parceria da

CBF e da EBF para criação do Curso de Qualificação de Treinadores do Futebol Brasileiro

(Curso Oficial para Treinadores). Segundo o texto da campanha, uma busca de sistema inédito

de qualificação de treinadores de futebol para todo o País culminou na escolha pela PUC

Minas. A PUC recebe em seu Complexo Esportivo crianças do projeto Criança Esperança,

promovido pela UNICEF e pela Rede Globo. Parece ser essa a relação possível estabelecida

pelo informante. A oração está na passiva, sem agente expresso, o que não permite ao leitor

estabelecer com exatidão a autoria da ação.

149

Em dois grupos foi lembrada a imagem “católica” da instituição, embora essa

informação apareça tão somente no nome da Instituição, inserido no nome PUC Minas

(Pontifícia Universidade Católica): “universidade católica” (grupo 0 e grupo 3). Essa imagem

também pode estar presente, por associação de ideias – levando em consideração que o

informante leva um repertório de conhecimentos e dados para interagir com os textos –, em

respostas que remetem à idoneidade e à integridade da Instituição.

5.7 Refinando a percepção – segundo questionário

Conforme exposto anteriormente, durante a segunda fase da pesquisa foi enviado um

questionário, via e-mail, a alguns informantes, mas apenas 20 entrevistados continuaram

participando da pesquisa. É importante ressaltar que, durante a primeira fase da pesquisa, 293

informantes sinalizaram, fornecendo seu endereço eletrônico, que estariam dispostos a

continuar colaborando com a pesquisa. Entretanto, durante o tratamento dos dados, conforme

já assinalado, constatou-se que muitos endereços estavam ilegíveis. Além disso, 119 dos e-

mails enviados a esses participantes retornaram, o que caracteriza que a leitura do endereço

fornecido foi equivocada ou que o próprio informante forneceu um endereço falso. Não tendo

como checar esses endereços, trabalhamos com as 20 respostas recebidas. Não temos,

infelizmente, como computar o número de desistentes, isto é, aqueles que receberam o

questionário mas não o responderam.

Nesse momento, a pergunta feita ao entrevistado visava a uma certificação ou um

detalhamento da representação da PUC Minas, também através do método de evocação livre

(cf. ABRIC, 2003). Pedia-se ao respondente que citasse três palavras que, para ele, melhor

caracterizariam a PUC Minas: “Se você tivesse que caracterizar a PUC Minas, que palavras

você usaria? Por favor, cite 3 palavras que pudessem traduzir mais adequadamente o que você

pensa.”

As três palavras são informadas na ordem de importância. Abric (2003) prioriza uma

segunda fase de pesquisa, chamada hierarquização, em que as respostas mais citadas na fase

de evocação livre, no primeiro momento, são apresentadas aos entrevistados, que devem

ordenar esses itens, do que mais representa ao que menos representa o objeto em questão.

Como a gama de respostas na primeira fase foi bastante ampla, e também porque não busquei

analisar uma representação específica, mas representações em torno de uma campanha

150

publicitária, julguei mais procedente pedir ao informante que, nessa segunda fase, listasse três

características da Instituição, a fim de comparar esses resultados com os da primeira fase da

pesquisa.

Os resultados ratificam a percepção da imagem obtida junto aos participantes da

primeira fase da pesquisa. Prevalece, como se pode ver no quadro seguinte, uma imagem

positiva da Instituição.

Informante

/ Posição

1ª 2ª 3ª

1 Estrutura graduação nome

2 Excelência preparo visibilidade

3 Insatisfação (preço) organização ótima infra-estrutura

4 Qualidade sucesso competência

5 Tradicional conservadora tendenciosa

6 Tradicional qualidade (de ensino) antiga

7 Competência qualidade tem um dos melhores

ensinos

8 Tradição qualidade conservadora (até

demais)

9 Responsável segura cara

10 Competente qualidade particular

11 Particular cara estruturada

12 Ousada vanguardista irresponsável

13 Tradição renome compromisso

14 Tradição confiança ensino de qualidade

15 Profissionalismo responsabilidade competência

16 Qualidade experiência facilidade

17 Magnânima assustadora atraente

18 Qualidade alto custo (cara) liderança

Quadro 10: Respostas ao questionário – 2ª fase Fonte: Dados da pesquisa

O Quadro 10 expõe as respostas na sequência em que foram dadas porque essa ordem

deixa entrever uma leitura sobre o grau de importância, ou seja, o peso dado a cada uma. Para

151

ilustrar o que estou tentando demonstrar, comparemos as respostas dos informantes 10 e 11.

Para o primeiro, particular é uma imagem que aparece por último, em terceiro lugar, depois

de competente e qualidade. Para o segundo, o adjetivo particular é citado em primeiro

lugar. Isso é indício de que, para ele, essa característica tem maior grau de importância, por

não ser, por oposição, uma instituição de caráter público. Essa característica é importante na

medida em que traduz a necessidade de arcar com os custos do curso superior. A segunda

característica, cara, corrobora essa ideia, levando a supor que a característica particular

esteja em um plano negativo. Entretanto, a fim de retomar um caráter positivo da Instituição,

o informante coloca, em 3º lugar, o adjetivo estruturada. Ele pode estar dizendo que, apesar

de a Instituição ser particular, e ainda mais cara (por ser boa?), ela é estruturada. Há uma

relação entre as três palavras e a sequência em que elas foram listadas.

Tradicional e tradição (com 2 e 3 ocorrências, respectivamente), lideram as respostas

das palavras citadas em primeiro lugar. Três informantes citaram qualidade nessa posição. A

palavra aparece também em 2º lugar, com 4 ocorrências, e em 3º lugar na forma ensino de

qualidade. Competência é lembrada duas vezes na primeira posição e duas na terceira.

Outras ocorrências, nesse sentido, foram únicas, como excelência, profissionalismo e

magnânima, na primeira posição, preparo, organização, sucesso, segura, confiança e

experiência na segunda e ótima infra-estrutura , compromisso, atraente e liderança na

terceira posição. Todas as caracterizações encontram-se no plano de avaliação positiva da

Instituição. Em relação à imagem, foram citados renome, na segunda posição, e nome na

terceira. Essas duas atribuições podem ser consideradas positivas, assim como visibilidade,

na terceira posição, que também se encaixa nesse perfil, porque depreende-se daí que é

importante, para os entrevistados, estudar em uma instituição que não apenas seja de

qualidade, mas que tenha essa qualidade reconhecida.

Características referentes ao caráter de responsabilidade da PUC Minas foram citadas:

responsável (primeira posição) e responsabilidade (2ª posição). Um informante citou

graduação.

Ousada e vanguardista foram citadas, como primeira e segunda posição. Interessante

notar que essas características concorrem com o perfil de tradicional apontado por 5

informantes. O Gráfico 7, abaixo, ilustra essas características. Elas foram agrupadas em

tópicos próximos para facilitar a visualização:

152

Gráfico 7: Lista de características da PUC Minas Fonte: Dados da pesquisa

Todas as caracterizações listadas até agora se alinham a uma visão positiva da

Instituição. Entretanto, algumas foram relacionadas a uma visão negativa, como se vê no

gráfico: assustadora, tendenciosa, antiga e irresponsável. A avaliação conservadora (até

demais), a meu ver, encaixa-se também nesse perfil negativo em função da observação entre

parênteses. Nenhum informante iniciou sua relação de características, se avaliadas

isoladamente, com uma visão negativa. Elas foram citadas em segundo e terceiro lugar (em

sua maioria).

Assustadora pode ser vista, também, como uma característica positiva se pensarmos

em desafio: quem se arrisca a enfrentar algo assustador quer vencer um desafio. Ainda mais

se se alia essa qualidade, que está na 2ª posição, às outras: magnânima e atraente,

respectivamente nos 1º e 3º lugares.

Tendenciosa também recai para o polo negativo. O que tendencia não é bom, tira a

liberdade de pensamento. O informante listou, nesta ordem, tradicional , conservadora e

tendenciosa. O conjunto de características parece indicar que essa não é uma visão positiva.

A última característica pode funcionar como uma justificativa para as duas primeiras: a

Instituição é tendenciosa por se manter fechada diante das modificações do mercado.

153

Antiga foi listada em terceiro lugar, depois de tradicional e qualidade (de ensino).

Esse informante vê a tradição da Instituição como um aspecto benéfico, pois ressalta que há

qualidade, delimitando-a: qualidade de ensino. Isso leva a crer que em outros setores não há

essa qualidade. Talvez porque pese o caráter antigo, a Instituição precise se modernizar.

Irresponsável foi a terceira característica listada pelo informante que apontou ousada

e vanguardista. Nessa posição, irresponsabilidade seria a consequência de uma postura

ousada da Instituição? Tão ousada que levaria o informante a representá-la dessa forma?

Como essas últimas características são ocorrências isoladas, não refletem o que se

pode chamar de representação social da Instituição. Esta é, segundo os dados da pesquisa,

tradicional e de qualidade.

Em termos percentuais, houve um total de 16% de respostas relacionadas a

características negativas (22% se analisarmos o segundo lugar e 27% o terceiro).

Olhando-se o quadro de respostas, pode-se perceber que prevalece uma visão positiva

da Instituição: qualidade é o termo mais citado, seguido por tradicional. A Instituição

promotora da campanha precisaria se preocupar, se é que já não o faz, com essa representação

existente na sociedade, para que ela não se reverta negativamente, como aponta o informante

8: “conservadora (até demais)”. Aliás, essa é uma imagem que se pretendia mudar pela

campanha, como afirma o representante da Instituição:

é uma empresa ainda né . buscando ainda né suas suas origens que é sólida que é competente naquilo que faz e que principalmente tá ligada no que tá acontecendo na sociedade . ela tá ali é: -- a gente buscou tirar um pouco aquela questão de: de antigo antiquado sabe que a gente sente que ainda existe .. né e ligar bastante ela na questão do mercado de trabalho nas coisas que estão acontecendo na sociedade atualizar vamo dizer assim a imagem da PUC Minas (WP)

A intenção da Instituição é atualizar sua imagem, cuja percepção, por parte dos

candidatos, poderia ser negativa em relação à tradição e à natureza religiosa. O entrevistado

aponta uma representação que a PUC poderia ter em seus alunos: antiga, antiquada, frente à

imagem que a concorrência divulga e que é valor na sociedade atual veiculado no discurso

publicitário de modo geral e em outras instâncias: juventude, novidade, modernidade.

Muitas imagens decorrem dessa valoração: ser tradicional não pode significar estar

fora dos valores da sociedade atual, não pode recair para antiquada. A fala do informante

parece ressoar a preocupação da Instituição com essa imagem.

154

Essa característica tem de ser usada positivamente em prol da imagem da Instituição,

que, há mais de cinquenta anos no mercado, construiu ao longo desse tempo uma trajetória de

sucesso.

Além desses 18 informantes, há mais 2 que não foram listados no quadro acima: um

não respondeu à questão e outro citou, como as três palavras que caracterizariam a PUC

Minas, a assinatura da campanha: “conhecimento que transforma”. Por isso, os dados não

foram considerados.

O que se pode perceber acerca das respostas dessa segunda fase, apesar do reduzido

número de informantes, confirma os resultados obtidos na primeira fase, de que a imagem da

Instituição é positiva e tem como principal fundamento a qualidade e a tradição. Podemos

afirmar que esse é o núcleo duro da representação sobre a PUC Minas, com base nos dados

analisados até o momento.

Entretanto, esses resultados não se traduzem em efetivação de matrículas. Dos 20

informantes desta segunda fase, 19 dizem terem sido aprovados. Desses 19, apenas 4 se

matricularam. As justificativas para a efetivação da matrícula passam pelo campo da tradição

e do nome da Instituição. Um informante declarou ter parentes e amigos que estudaram na

PUC Minas, o que retoma o item influência de pais e amigos na escolha da instituição,

apresentada aos informantes da 1ª fase da pesquisa.

Entre os 15 que não efetivaram matrícula na PUC Minas, 6 alegaram motivos

financeiros, como impossibilidade de arcar com os custos do curso, e 7 alegaram preferir

outra universidade, gratuita/federal. As outras justificativas foram relacionadas à

indisponibilidade de horário e problemas com certificado de Ensino Médio.

Vale lembrar que o item “Valor da mensalidade”, que constava na primeira fase da

pesquisa, ficou em uma das últimas opções como motivo de escolha pelo vestibular na PUC

Minas. Pode-se concluir, talvez prematuramente, que essa seja uma questão importante para

se pensar: a Instituição tem seu valor, sua qualidade perante a sociedade. A representação que

vem se desenhando a partir dos dados é positiva. Apesar disso, para garantir que os candidatos

efetivem a matrícula, há que se levar em conta outras questões, pois a decisão, a “escolha”

trabalhada na campanha, não depende apenas dessa representação.

E, ainda, se pensarmos na questão do interdiscurso, o valor da mensalidade é uma

informação recorrente nas campanhas publicitárias de outras instituições particulares, um

apelo significativo.

155

Os dados apresentados até agora constituem as duas primeiras fases da pesquisa. Em

um terceiro momento, houve um cuidado com a identificação do núcleo da representação,

como se verá a seguir.

5.8 Terceiro questionário: certificação

Na sequência de coleta de dados para a pesquisa, foi enviado, aos 20 informantes que

responderam ao segundo questionário, um terceiro e-mail, contendo um link para o vídeo da

campanha do Vestibular PUC 1º/2010 e um anexo mostrando a imagem de um outdoor da

campanha. Solicitava-se ao informante que assistisse ao vídeo e visse o anúncio para, em

seguida, responder às questões apresentadas, que deveriam espelhar sua opinião acerca da

campanha, da imagem da Instituição ali veiculada e dos recursos e elementos das peças

publicitárias que melhor correspondessem, segundo sua escolha, à representação dessa

imagem. A apuração da imagem construída pelo informante ocorre a partir do momento em

que ele tem diante de si opções, isto é, ele não é mais chamado a lembrar, listar, ou

caracterizar, como nas primeiras fases da pesquisa. Ele deveria, agora, dentre as respostas

mais significativas numericamente obtidas na segunda e na terceira fases, escolher aquela que

se ajusta ao que é pedido, de acordo com sua percepção. Vale a pena transcrever o

questionário enviado aos informantes para que o leitor perceba como, de fato, ocorreu essa

etapa de coleta de dados:

Como última etapa da pesquisa, solicito a você que assista ao vídeo de campanha do vestibular da PUC Minas (uma propaganda de apenas 30s!) pelo Youtube, disponível no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=-gtENlypYIo. Veja também o anúncio anexo, um outdoor.

Após ter assistido ao vídeo e lido o anúncio, responda, por favor:

Para você, qual seria a imagem mais adequada para caracterizar a PUC Minas, de acordo com o que foi mostrado na campanha? Assinale apenas 1 item. Instituição de tradição Instituição de seriedade Instituição moderna Instituição arrojada Instituição de excelência Instituição bem-estruturada Para você, o que é mais marcante/incisivo/chamativo no vídeo e no anúncio? Assinale apenas 1 item. Cores usadas Informação de que é “a melhor particular de Minas Gerais” Narração/texto que acompanha as imagens Pergunta final: “Na hora do vestibular, o que você vai escolher?” Recorte/sequência de imagens

156

Outro: Das características listadas na pergunta anterior, aponte aquela que, para você, tem relação mais direta com a imagem da PUC Minas mostrada na campanha. Cores usadas Informação de que é “a melhor particular de Minas Gerais” Narração/texto que acompanha as imagens Pergunta final: “Na hora do vestibular, o que você vai escolher?” Recorte/sequência de imagens Outro:

As três questões traçam um caminho que vai desde a imagem da Instituição

transmitida pela campanha até os recursos que levaram o informante a essa escolha. Não se

pretendeu apenas identificar a imagem da Instituição construída no contato com os textos da

campanha, mas também que recursos usados na campanha melhor representam essa imagem

ou remetem a ela.

Dos 20 questionários enviados, foram obtidas apenas 9 respostas. São dados

significativos, ainda que em escala reduzida. Em relação à primeira questão, as respostas

podem ser vistas na Tabela 1, à frente. Nessa questão, os itens de certa forma dialogam, se

aproximam. Instituição de tradição relaciona-se à Instituição de seriedade, assim como as

características moderna e arrojada pertencem a um mesmo campo de significação.

Prevalece a excelência da Instituição como principal imagem para caracterizar a Instituição,

ao lado do caráter modernidade, com 3 escolhas cada um. O item designado anteriormente

como qualidade encontra respaldo na opção excelência nesta fase. Esse dado pode ser

explicado pela imagem que a campanha pretende mostrar: Instituição que faz parcerias,

atuante no mercado e que, dessa forma, pode proporcionar o melhor ensino ao aluno.

Poderia se esperar que o item Instituição de tradição fosse o mais escolhido nessa

etapa, confirmando os resultados obtidos anteriormente. Entretanto, ele foi escolhido por

apenas 1 dos 9 informantes.

157

Tabela 1: Questão 1/Fase 3

Número de respostas

Instituição de tradição

Instituição de seriedade

Instituição moderna

Instituição arrojada

Instituição de excelência

Instituição bem-estruturada

1

1

3

0

3

1

Fonte: Dados da pesquisa

Ou seja, o que se pode depreender das três etapas da pesquisa é que os dados que

foram coletados na primeira fase foram, em parte, confirmados até a terceira fase, embora a

metodologia utilizada trabalhasse com menor número de informantes. Tradição e qualidade

foram palavras que traduziram as representações que prevaleceram nas fases anteriores,

especialmente a segunda, em que se solicitou ao informante que listasse características da

Instituição. Nesse momento, o item tradição abre espaço para modernidade porque o foco

encontra-se direcionado à campanha. E, como visto, as cores, o argumento das parcerias, as

palavras usadas no texto da campanha são elementos que remetem mais à modernidade do

que à tradição. A representação da PUC Minas como Instituição moderna e Instituição de

excelência, obtidas por esses dados, confirma a intenção e as expectativas que a agência e o

cliente tinham em relação à campanha, quais sejam, apresentar a PUC Minas como uma

Instituição que, ao mesmo tempo em que tem história, tradição, mantém-se atualizada em

relação ao mercado e preza pela qualidade.

O caráter arrojado não teve nenhuma escolha, mas essa imagem da Instituição pode

ser, como dito, associada à opção moderna, que foi escolhida por 33% dos 9 informantes.

A Tabela 2 mostra as respostas dadas à segunda questão, que tratava do recurso mais

chamativo nas peças da campanha. O que se pode observar é uma pulverização nas respostas

acerca do recurso mais chamativo no vídeo e no anúncio.

158

Tabela 2: Questão 2/Fase 3

Número de respostas

Cores usadas

Informação de que é “a melhor particular de Minas Gerais”

Narração/texto que acompanha as imagens

Pergunta final: “Na hora do vestibular, o que você vai escolher?”

Recorte/sequência de imagens

Outro:

1

1

2

3

1

1 (informação sobre as parcerias)

Fonte: Dados da pesquisa

Prevalece, porém, com 3 escolhas, o item pergunta final, que revela o caráter incisivo

da questão da escolha. As outras opções obtiveram uma ou duas respostas cada. Essa

pulverização remete, a meu ver, à importância de todos os recursos presentes na campanha, do

conjunto de recursos utilizados, e não apenas de um deles. É o conjunto de recursos, as cores,

a narração, a sequência de imagens, a informação da classificação do MEC, além da

informação sobre as parcerias, marcada por um dos informantes, que concorre para a

formação do caráter sólido e da imagem positiva da Instituição junto à sociedade. Isso pode

ser ainda corroborado pelas respostas dadas à terceira questão, conforme mostra a Tabela 3:

Tabela 3: Questão 3/Fase 3

Número de respostas

Cores usadas

Informação de que é “a melhor particular de Minas Gerais”

Narração/texto que acompanha as imagens

Pergunta final: “Na hora do vestibular, o que você vai escolher?”

Recorte/sequência de imagens

Outro:

0

3

3

1

1

0

Fonte: Dados da pesquisa

Um informante não respondeu a essa pergunta. As duas questões anteriores se

mesclam aqui, quando se pretende flagrar o recurso responsável pela imagem passada pela

campanha para o informante. Note-se que as cores, como recurso citado anteriormente como

expressão de modernidade, inclusive nas fases anteriores da pesquisa, não foram apontadas

nesse momento por nenhum dos informantes como responsáveis pela imagem da PUC Minas

transmitida pela campanha.

159

No âmbito da produção da campanha, as cores tinham a intenção de diferenciar no

espaço público a PUC da concorrência, demarcar espaço, chamar a atenção para um discurso

que se pretendia diferenciado. No entanto, para esse grupo de leitores, outros recursos

traduziram melhor essa imagem.

A narração e o texto, bem como a informação de que a PUC é a melhor universidade

particular de Minas Gerais, são eleitas como os principais recursos, com 3 escolhas cada um.

São esses, para os informantes, os recursos que mais bem traduzem a imagem da Instituição.

A narração do VT, item escolhido por 33% dos informantes, equivale ao texto presente nas

peças impressas e de internet, que contém o principal argumento da campanha: as parcerias. A

informação do título de qualificação recebido pelo MEC é também informação relevante, pois

foi escolhido por 33% dos informantes. É o reconhecimento de que a autoridade institui um

ranking, que é a melhor dentre outras.

5.9 Finalizando: entrevistas semiestruturadas e grupo de discussão

Nossa pesquisa, pelo que se demonstrou até o momento, foi limitada pelo decrescente

número de informantes no decorrer das três etapas de coleta de dados, haja vista os motivos já

explicitados. A fim de minimizar o prejuízo na análise dos resultados, propusemo-nos a

realizar mais uma fase de investigação, dessa vez utilizando um método qualitativo. O grupo

de informantes foi composto por 5 alunos do 3º ano do Ensino Médio de uma escola da rede

particular de Belo Horizonte51. Os voluntários foram convidados a participar de uma pesquisa

cujo tema era vestibular. Foram realizadas duas etapas: a metodologia utilizada na primeira

foi a entrevista individual semiestruturada e, na segunda, o grupo de discussão, após a

exibição das peças da campanha.

Essa nova etapa permitiu estabelecer comparações entre as representações obtidas no

grupo de pesquisa da fase anterior e no da atual.

Apresento abaixo a composição do grupo de informantes e, em seguida, as perguntas

realizadas e respostas obtidas na primeira fase dessa coleta de dados, a entrevista:

51 As entrevistas e o grupo de discussão ocorreram em março de 2011, em Belo Horizonte.

160

Identificação do Informante

Idade Sexo

1 L1 17 anos Feminino 2 L2 17 anos Feminino 3 J 16 anos Feminino 4 MP 17 anos Feminino 5 M 18 anos Masculino

Quadro 11: Informantes do grupo de discussão Fonte: Dados da pesquisa

A idade dos informantes condiz com o que era previsto pelo briefing. Embora destoe

do primeiro por ser composto em sua maioria pelo sexo feminino, não considero que tal

característica represente prejuízo à consistência metodológica da pesquisa, tendo em vista os

objetivos aqui propostos.

A primeira pergunta feita aos entrevistados se referia à intenção de prestar vestibular

ao término do ano letivo. Todos responderam positivamente. Questionados sobre o curso e a

Instituição de preferência, emitiram as seguintes respostas:

Informante Curso Instituição 1 L1 Medicina, Geometria UFRJ, instituição federal 2 L2 Direito UFMG, UEMG, UFOP 3 J Engenharia Ambiental UFMG, UFV 4 MP Engenharia Mecânica UFMG 5 M Engenharia Aeroespacial, Engenharia Mecânica UFMG, ITA, PUC Minas

Quadro 12: Opções de cursos e instituições dos informantes Fonte: Dados da pesquisa

Os informantes, sem exceção, anunciaram opção por instituições públicas, exceto M,

que considerou a possibilidade de prestar vestibular na PUC Minas, dada sua insegurança em

passar no vestibular de uma instituição pública. Nenhuma outra instituição particular foi

citada como objeto de interesse dos informantes. A argumentação recorrente dos

vestibulandos recai sobre dois pontos principais: primeiro, o aspecto econômico-financeiro –

eles demonstram preocupação em relação aos pais arcarem com as despesas de instrução em

um curso de nível superior; e, segundo, o status elevado da instituição federal. Mais à frente, à

medida que for se apresentando o discurso dos entrevistados, retomarei esses temas e as

representações que aí residem. Vejamos, primeiro, o aspecto econômico na fala de L1:

L1: EU queri::a estudar mesmo na UFRJ mas meu pai não deixa ele fala que não vai deixar eu morar lá . então eu só tenho uma certeza TEM que ser federal /.../ H: particular? L1: não não mesmo

161

H: você não vai nem nem fazer o vestibular L1: não não vou nem tentar ... (L1)

L1 é categórica quando afirma que pretende cursar o ensino superior em uma

instituição pública. Quando a entrevistadora insiste, questionando duas vezes (“particular?”,

“você não vai nem nem fazer o vestibular”), ela é enfática: “não não mesmo” e “não não vou

nem tentar”. Sua primeira opção de curso é Medicina, oferecido em Belo Horizonte, em

caráter público, apenas pela UFMG. A segunda entrevistada, L2, acena para o mesmo

caminho, justificando sua escolha, em primeiro lugar, pela questão financeira:

H: então você vai tentar:: só federal? L2: só federal H: não vai tentar nem uma particular? L2: é que igual particular meu pai fala que que:: na Z é excelente H: hum hum L2: e:: ele estaria disposto se eu quisesse estudar direito mesmo ele estaria disposto a financiar assim meu estudo mas:: eu não acho certo já que ele pagou meu colégio inteiro eu acho que agora é comigo (L2)

L1 também usa argumentos dessa natureza. Apesar de haver trechos inaudíveis na

entrevista, é possível flagrar o seguinte raciocínio: quem paga escola particular para o filho

tem direito a tê-lo cursando de graça o ensino superior. É a grande contradição do sistema de

ensino brasileiro: por outro lado, os que cursam a educação básica em escolas públicas não

conseguem passar no vestibular de instituições dessa natureza e acabam migrando para as

instituições privadas ou deixando de estudar. Essa é uma representação forte na nossa

sociedade que transparece neste discurso:

H: então . pela sua resposta você levou em consideração pra escolher a instituição é o fato de ser federal? L1: [...] a vida inteira ir para um colégio tipo A é para depois poder:: . sabe investe o tempo todo é para depois ir pra um curso superior pra poder ter o direito de /.../ eu não quero depender dos meus pais por exemplo EU quero dizer /.../ não EU PAGO a faculdade /.../ pra isso te dar o retorno depois (L1)

Essa representação emerge, também, no discurso de MP:

H: Belo Horizonte não tem só tem esse curso lá? MP: é tem que ser bom curso melhor é lá H: ah então tem em outras instituições? MP: tem só que a que eu fiz questão de não ser particular H: daí você não va::i tentar? MP: não H: porque são particulares? MP: hum hum

162

H: por que isso? MP: a:: porque eu eu tenho possibilidade de passar na federal e minha mãe e meu pai não têm como pagar a PUC pra mim (MP)

A informante também não pretende tentar vestibular em uma instituição particular e

justifica sua posição dizendo que tem possibilidade de passar na federal. Ora, se ela tem

possibilidade, existem outros que não têm; e isso ela afirma com a segurança de quem cursou

a educação básica em uma (considerada) boa escola particular. A relação de (in)dependência

financeira dos pais é outro motivo para essa escolha, que está presente na fala das três

entrevistadas, mas é explícita na fala de MP: ficar livre dos pais representa começar uma nova

etapa de vida, ser responsável, arcar com a responsabilidade de suas decisões.

H: então você diria que isso é uma questão:: é::: financeira ou teria algum outro motivo? MP: não pra ficar mais tranquila minha mãe eu não ter que ficar dependendo TANTO mais da minha mãe e do meu pai ficar agora li::vre (MP)

Já o entrevistado M é mais objetivo em sua resposta, quando perguntado por sua

preferência entre PUC e UFMG:

H: é::: e o que que é mais importante assim o que que você leva em consideração pra escolhe::r essa:: essas instituições é o fato de só ter o curso lá:: o que mais? M: não é:: pela fama né? da da universidade é:: ser bom e eu prefiro UFMG que PUC né? não precisa pagar (M)

Usando o verbo no infinitivo, ele não identifica o sujeito da ação de pagar – ele

próprio ou os pais –, ninguém precisa pagar. Ele, de forma direta, aponta para outro motivo

aventado pelos informantes, que é a questão do status da universidade federal: “é pela fama

né?”. L2 e MP também usam esse mesmo tipo de argumento:

H: então você levou em conta para escolher a insti:: a instituição onde você quer estuda::r é:: valo::r é:: parte financeira? L2: não só a parte financeira mas também por estudar em uma universidade federal acho que isso conta muito no meu currículo (L2)

Os entrevistados trazem para o discurso uma forte representação de que as

universidades federais são excelentes e garantem status para quem consegue passar pelo seu

processo seletivo, bastante concorrido, e obter esse título. Essa representação pode ser

percebida na fala de MP, quando perguntada pela sua escolha em prestar vestibular na

UFMG:

163

H: por que que você escolheu a UFMG? MP: a:: mais porque é daqui já moro aqui perto da PUC em Belo Horizonte e porque é federal é uma boa faculdade também (MP)

MP mora perto da PUC Minas, o que seria uma justificativa para lá cursar o ensino

superior. Vale lembrar que, na primeira fase da pesquisa, proximidade do local de trabalho ou

residência era uma das opções do candidato na escolha pela PUC Minas para prestar

vestibular, assinalada como primeiro motivo por 3,4% dos informantes. Quando ela enuncia

“porque é daqui” ela contrapõe-se a outras universidades federais existentes no interior de

Minas Gerais, para onde há um grande fluxo de candidatos. E finaliza: “e porque é federal é

uma boa faculdade também”. “Também” estabelece uma comparação, a meu ver, tanto com

essas outras instituições que não estão no escopo de “daqui” – Belo Horizonte – quanto com a

PUC Minas, que, apesar de estar perto, e ser uma boa faculdade, não é federal.

O mesmo ocorre na fala de J, que deseja um curso que, em Belo Horizonte, só é

oferecido na UFMG:

H: então me fala é:: se tivesse que pensar num num fator DEcisivo é porque só tem o curso:: . na federal? J: hum hum é também pela estrutura da federal é uma faculdade bem conceituada né? (J)

Se na primeira pergunta foi questionado o porquê de o candidato escolher uma

instituição e as características que o levam a tomar essa decisão, na pergunta seguinte houve a

intenção de verificar o contrário: agora se quer saber em qual instituição o aluno não estudaria

– que características negativas possui essa instituição para afugentá-lo.

Informante Instituição de menor preferência52 1 L1 X 2 L2 D, X 3 J Y 4 MP – 5 M Z

Quadro 13: Instituição de menor preferência Fonte: Dados da pesquisa

Dessas respostas, em que foram citadas outras instituições privadas que não a PUC

Minas, consegui absorver algumas representações sobre ensino superior e instituições, a partir

52 Como informado na nota 46, os nomes das instituições particulares serão preservados.

164

das justificativas dadas pelos informantes. L1 titubeia em sua justificativa, mas acaba

argumentando na linha relacionada ao nível de dificuldade do vestibular:

não sei ave maria viu não sei é mais por fama mesmo né? /.../ e também fácil tipo como agora comparado o vestibular em particular entendeu? não é difícil passar no vestibular entendeu? tipo dependendo do CURso da faculdade que nem da PUC mesmo (L1)

A PUC Minas, que ainda não havia sido citada pela informante, aparece

primeiramente no discurso no campo da negatividade, mas com uma ressalva: comparada a

outras particulares, embora dependendo do curso, seria fácil passar no vestibular. Isto é, isso

acontece inclusive na PUC, mesmo que apenas em alguns cursos Em seguida, ela refaz o

discurso já diferenciando a PUC de outras:

em questão de desafio que eu tô estudando tal só ir lá e passar pra entrar É fácil sabe? por outro lado é bom mas essa história de que na Z, X da vida assim não estudaria não sabe aquele curso BARAto? assim na PUC eu gostaria .. porque tem muita coisa tem muita gente que estuda lá mas o desafio (L1)

Na mesma categoria, para L1, estão Z e X. A adjetivação “da vida” (X da vida) é

altamente pejorativa. Refere-se a qualquer uma do tipo, porque não há desafio para ingressar

nesse tipo de instituição. O candidato, depois de tanto tempo de estudo na educação básica,

não se sente testado, desafiado. Além disso, o entrevistado inaugura outra categoria: não só há

diferença entre Instituição pública e privada (leia-se gratuita e paga), mas também há uma

diferenciação entre as instituições pagas: a que é barata e a que não é. Essa parece ser mais

uma forma de caracterizar a instituição, de julgar sua competência. Retomando as respostas

dos informantes do primeiro grupo ao segundo questionário, a caracterização “cara” aparece 4

vezes. Pode ser um ponto dificultador para o ingresso do candidato, mas, ao mesmo tempo, o

valor do investimento pode ser significado como um símbolo de qualidade.

A imagem da PUC surge, então, em outra categoria: apesar de o vestibular ser julgado

fácil, há um desafio. E a informante quer ver reconhecido seu esforço: “em questão de desafio

que eu tô estudando tal só ir lá e passar pra entrar”. A facilidade para entrar na instituição é

justificativa recorrente para eliminá-la das opções do candidato.

L2 cita, em primeiro lugar, entre risadas, a Instituição D. Em seguida, narra um

episódio sobre a Instituição X e afirma:

é:: não meu irmão tentou vestibular lá aí pagou a co::nta não sei ele conseguiu passar por telefone [...] nossa eu achei terrível sério isso aí é uma humilha eu me senti meu

165

irmão se sentiu humilhado e eu me sentiria no mínimo humilhada também passar por teleFOne (L2)

Passar no vestibular por telefone, ou seja, não participar de nenhum processo seletivo,

é humilhante para a informante e coloca essa instituição em péssimo conceito. J, a terceira

informante, cita, também entre risos, a Instituição Y.

é porque:: tipo a Y assim como escola assim eu não gosto não desda:: daquele:: moço tipo analfabeto que passou nos primeiros lugares acho que foi direito não foi? /.../ é passou nos primeiros lugares de direito só por chutAR questão né? [...] eu acho que queima o filme da faculdade comPLEtamente (J)

J relembra um caso bastante divulgado na mídia à época, que foi a aprovação de um

analfabeto. Para ela, “queima o filme da faculdade” porque quem quer ser reconhecido não irá

estudar em uma instituição que não seleciona seus alunos.

Vale notar que essas foram as faculdades citadas pela entrevistada CG para marcar

oposição entre a qualidade da PUC e a da concorrência. Analisando a opção do candidato

como uma decisão racional, pensada – em oposição a uma compra realizada por impulso,

baseada em fatores emocionais, por exemplo –, ao enunciar as instituições, hierarquicamente,

ela muda completamente a entonação ao falar de Y, ao fim da escala. Esse recurso chama a

atenção da entrevistadora e provoca risos. Fica subentendido, a partir desse recurso

supralinguístico, o significado da valoração dessa instituição:

CG: ao longo do tempo . é . então assim . quando cê tá falando de um vestibular específico cê tá puxando pelo lado racional da pessoa né é é um racional que vai fazer aquela decisão ser tomada ... vou fazer PUC ou vou fazer X ou eu vou fazer Y/ né/ HC: até a entonação é ótima né/ Y/ CG: Y ((risos)) (CG)

Apenas a informante MP não responde a essa questão, mesmo após a insistência da

entrevistadora a respeito de uma lembrança negativa de alguma IES.

MP: acho que não tem nenhuma não H: neNHUma te te tem uma lembrança assim negativa? MP: não não tem (MP)

166

O último entrevistado, M, cita a Instituição Z e, da mesma forma que as anteriores, a

enunciação do nome da Instituição provoca risos nele e nas outras quatro informantes que já

haviam sido entrevistadas e permaneciam no mesmo ambiente.

H: então nessa você não quer ficar M: nem passar perto ((risos)) (M)

Ao se perguntar a causa, outra informante, que estava assistindo à entrevista,

interrompe a fala e explica:

porque é uma piada interna sabe com a Z nossa:: quando /.../ a gente falava que a Z é a única faculdade que dá para passar é a Z porque o vestibular é feito pela internet (L2)

Considerados esses dados, pode-se dizer que os informantes operam com a

representação de que quanto maior a instituição mais competitivo e sério é seu processo

seletivo. Esse aspecto também impacta nos estudantes: entrar sem passar por um processo

como esse chega a ser humilhante para o estudante; entrar vencendo um processo com essas

características dignifica o aluno. Assim, o tipo de processo seletivo de uma instituição é

espelho de sua competência.

O resultado desse desafio é a valorização da própria formação. Nesse sentido, a

campanha da PUC Minas aponta para uma resposta a esse desafio: coloca sob a

responsabilidade do candidato a escolha pela instituição e ele irá buscar a excelência, a

melhor instituição.

Em nenhum momento foi dito aos informantes, até a exibição do VT, que o objetivo

era discutir a campanha da PUC, mas, na pergunta seguinte, solicitou-se que eles, assim como

realizado na segunda fase da etapa anterior, relacionassem características da PUC Minas que

viessem a sua mente. Foram obtidas as seguintes respostas:

Informante Características 1 L1 famosa, a melhor universidade privada do país não só do estado e bem

estruturada 2 L2 braSÃO, boa estrutura, biblioteca atraente 3 J o pai (professor da PUC), uma das melhores universidades privadas do país,

excelência 4 MP boa faculdade 5 M a PUC é boa

Quadro 14: Características da PUC segundo os informantes Fonte: Dados da pesquisa

167

Essas respostas corroboram o que foi detectado na primeira fase da pesquisa: uma

representação positiva da Instituição. As características coincidem com o que foi anunciado

anteriormente, relembrando o título recebido, citado por dois informantes, além de outras

características com peso “bom”: bem estruturada, boa faculdade, boa estrutura. Aparece, em

uma resposta, a “excelência”, tão citada nas respostas ao questionário.

Ainda nessa fase de entrevista, os informantes responderam se, caso os empecilhos

citados pela não escolha pela PUC fossem neutralizados (questão financeira, oferta do curso

pretendido), eles estudariam lá. Todas as respostas foram positivas, comprovando o elevado

conceito da Instituição perante esses sujeitos pertencentes ao público-alvo.

Dando início ao grupo de discussão, os informantes assistiram ao VT da campanha e

viram algumas imagens das peças impressas. Eles foram orientados a se manifestar sobre o

que veriam e sobre as impressões, percepções, imagens e sentidos apresentados pela

campanha.

Sobre o vídeo, é importante ressaltar a fala de um dos informantes a respeito da

rapidez das imagens. Isso foi entendido por um deles53 como se a universidade estivesse

querendo mostrar que está desenvolvida tecnologicamente.

a formataÇÃO do:: da propaganda põe mais noção no desenvolvimento a tecnologia como ela tá avançada dentro da faculdade dentro da PUC talvez seja uma (...) forma de mostrar H: dentro da PUC? [...] --: até a voz do homem tá meio tecno robotiZAda H: hum hum --: é:: /.../ tecnologia que hoje sabe é tudo tudo isso de de ter falado da da:: maior empresa de software (GD)

Essa imagem corrobora o que foi proposto na produção do VT, pelo uso do BG

moderno, a narração em off com voz masculina forte. Os recursos utilizados produziram, para

esse grupo de informantes, o sentido pretendido pelos publicitários. A entrevistada qualifica a

narração: “até a voz do homem tá meio tecno robotizada”. O marcador “até” deixa entrever

que há outros elementos que apontam para essa tecnologização avançada mostrada no

anúncio, mas que ocorre “dentro da PUC”. Ela, a informante, bem marcou o espaço de

53 A partir desse momento, durante a realização do grupo de discussão não foi possível identificar as informantes. Apenas M, do sexo masculino, tem sua voz identificada na gravação. As transcrições serão identificadas como GD – Grupo de Discussão.

168

significação de seu enunciado. A representação é positiva, remete a futuro, a

desenvolvimento, a tecnologias avançadas.

Num primeiro momento, a questão da escolha e aprofundamento não surge na

discussão. Mas, quando perguntados a respeito dos recursos usados no vídeo que eram

responsáveis pelas imagens que eles identificaram na campanha, esse tópico emerge:

é:: essa coisa de escolha né você vai fazer o vestibular qual opção que você vai escolher que ele passa por várias linhas não dá para ver direito as imagens mas eu imagino que é:: fazendo sei lá fazendo relação com outras instituições e tal aí daí escolhe abre um quadradinho maior assim (GD)

A informante se refere às linhas horizontais e verticais que se entrecruzam sobre as

pequenas imagens e “escolhem” uma delas, criando a sensação de aprofundamento. A leitura

feita por ela reflete a intenção da agência ao produzir a campanha. As pequenas imagens

sendo escolhidas, o que ela chama de passar por várias linhas, e que faz relação com outras

instituições. Ela continua explicando:

por exemplo um quadradinho que é uma iMAgem de tal coisa pode ser pode ser tanto de outras instituições ou de outras empresas é:: pode mostrar u:: u:: uma empresa lá de futebol que vocês falaram (...) H: os outros quadradinhos? --: é:: mas de escolha mas o que tem muitas opções (GD)

Figura 33: Linhas horizontais e verticais no VT Fonte: Lápis Raro Agência de Comunicação, 2009

Outro informante se manifesta, enfatizando o argumento das parcerias:

169

é tá lá um quadradinho pequenininho aí depois vai passa::ndo vai fala::ndo mas aí abre o leque abre um quadradão grandão que tem mais quadradinho dentro é tipo mostrando que:: que na PUC você tem muitas opções você pode crescer lá dentro (...) --: e que essas opções são grandes chances porque microsoft cemig são grandes empresas (GD)

As parcerias são, para o informante, vistas como um espelho das opções que o

candidato teria ao ingressar na Instituição. São opções para crescer “lá dentro” o sentido que

ele construiu para os quadradinhos, ou seja, as imagens pixualizadas que vão sendo escolhidas

no VT.

No grupo de discussão, um informante se opõe à ideia apresentada anteriormente, de

que os quadradinhos representariam várias opções do candidato na PUC. Na sua fala, ele

afirma que esses quadradinhos representam outras instituições, e as empresas estariam

procurando a melhor instituição, que seria então a PUC:

eu pensei de outra forma pensei cada quadradinho por exemplo cada um representasse não sei alguma instituiçã::o alguma coisa aí é como se as empresas estivessem procura::ndo pesquisando MESmo assim dentro de TUdo e:: (GD)

Sobre as peças impressas, o que mais chama a atenção são as cores, segundo os

informantes.

--: são MUIito chamativas fica passando de carro você vê aquele TREM rosa choque assim você para pra ver (...) é:: atrai a atenção [...] --: aí vai lá e bate o carro /.../ ((risos)) (GD)

As cores são caracterizadas como fortes e vibrantes. Os informantes tentam defini-las:

tipo amarelo atenção o sinal vai fechar ((risos)) é amarelo acho que pode ter alguma coisa tipo a cor é forte você vai ver que a faculdade também é forte alguma coisa assim (...) eu não sei é diferente é uma cor que por exemplo a gente a:: aquela propaganda lá é verde liMÃO não é verde limão não é uma cor que a gente pode definir ah aquele lá é tal verde entendeu? é um verde bonito é sim é rosa pink [...] não é rosa choque

Um dos informantes associa as cores usadas na campanha às cores de marca-texto, que

servem justamente para destacar.

As imagens que provocaram ou permitiram a construção do texto de uma determinada

forma e não de outra, orientada pelos objetivos citados e de acordo com o público-alvo

170

desenhado, emergem na leitura dos sujeitos da pesquisa. O que se esperava da campanha, em

termos de construção e manutenção da imagem da Instituição, parece ter sido alcançado,

embora haja no processo de circulação do texto muitos outros fatores que interferem na

produção do sentido.

Antes de concluir, quero discutir dois pontos que me parecem importantes: para

finalizar a discussão acerca da dicotomia particular X pública, podemos apenas constatar que

as representações são poderosas. A PUC, sendo uma instituição de caráter privado, possui a

qualidade de uma instituição pública, o que foi mostrado desde o discurso da agência até o

dos informantes. Sua representação perante a sociedade oscila entre os dois polos.

qualquer federal /.../ qualquer colégio particular tipo você vai lá e por exemplo ninguém precisa de cursinho pra passar na PUC entendeu? qualquer colégio que você for assim particular que vai ficar que quer te te preparar para o vestibular é federal a primeira coisa que eles vão falar é federal --: é:: mas eles sempre nossos professores sempre enfatizam que a PUC é BOA é uma faculdade boa --: é a PUC realMENTE é uma universidade boa ela tem muitos cursos tem uma organização que pode ser até melhor que a federal (GD)

Outra questão refere-se à representação social já tão cristalizada sobre o discurso

publicitário e a função desse tipo de texto. Sendo um gênero relativamente novo, tal como se

mostra hoje, se se pensar em termos de história humana, não há dúvidas de que ele já faz parte

do imaginário social como o texto que tem a função de iludir, de deslumbrar.

--: ISSO uma forma de mostrar no anúncio publicitário seria esse e outra coisa que chamou minha atenção foi a persuasão mas eu acho que isso:: é comum porque o anúncio publicitário a finalidade é persuadir (GD)

O leitor-consumidor, ciente disso, entra no jogo do discurso, no jogo da sedução. No

caso da campanha em estudo, ele compactua com a ideia veiculada na campanha de que

poderá até ser contratado por uma Microsoft caso estude na PUC, que possa trabalhar na

Cemig, na Rede Globo. Ele realmente tem de acreditar, mesmo sabendo que se trata de um

discurso publicitário, que se trata da verdade.

A questão que interfere no processo dessa campanha, como se pode perceber, é a

financeira e as representações que circulam em torno de instituições públicas e privadas. Esse

foi o ponto forte da argumentação de muitos dos informantes, o que ficou mais visível no

grupo de discussão:

171

eu vejo lá a propaganda da PUC beleza não fez diferença nenhuma pra mim sabe? eu ver essa propaganda sério eu vejo a propaganda beleza a PUC é ótima mas eu não vou estudar lá entendeu? acho que isso é meio inconsciente assim dentro da gente vai estar a gente num /.../ de ver uma coisa assim é:: a UFMG abriu novos polos tecnológicos a gente começa a estuda:::r começa tudo sabe? eu acho que é porque pela nossa sei lá criaÇÃO (GD)

O que o entrevistado afirma é que, embora a PUC tenha realizado uma ótima

campanha, inteligente, chamativa, que mostra as boas qualidades da Instituição, ela não

alterará seu pensamento a respeito de seu desejo de estudar em uma instituição não paga,

alegando que isso vem de sua criação, que faz parte do inconsciente – o que pode ser lido

como uma representação vigente dentro do meio escolar e familiar.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

172

Quero citar, como fator importante e motivador para o desenvolvimento deste

trabalho, certa atenção que sempre dispensei a textos de natureza publicitária que me

chegavam pelos mais diversos meios e suportes: revistas, televisão, panfletos, outdoors e,

mais recentemente, internet. Havia, mormente, uma preocupação com valores e crenças que,

pressentia, circulam ali embreadas nas vantagens do produto oferecido. Como consumidora

comum ou mesmo, posteriormente, como sujeito cuja atividade profissional se volta para a

linguagem, os textos produzidos nesse ambiente há muito me fascinam. Esta é a palavra:

fascínio. A publicidade fascina, encanta, permite mergulhar em um mundo de imaginação e

maravilhar-se com a perfeição. Essa é a forma de encobrir a disputa, a concorrência e a

autoafirmação ali presentes – razões que justificam a existência desse domínio discursivo em

função de uma sociedade que busca a felicidade no consumo. Por este trabalho tive a

oportunidade de questionar, perguntar, indagar; enfim, buscar respostas no processo de

construção de um objeto científico e na caminhada acadêmica.

O discurso publicitário é ambiente fecundo para os objetivos a que se propôs a

pesquisa cujos resultados aqui se apresentam: ele circula em vários níveis sociais, numa

riqueza de gêneros e suportes. Como suporte na busca pelo entendimento do funcionamento

desse discurso e dos valores e crenças percebidos em sua circulação, o trabalho foi

desenvolvido sobre um campo correlacionado de estudos, tentando uma articulação entre a

Análise do Discurso, a Teoria da Enunciação e a Teoria das Representações Sociais. O

diálogo entre esses campos mostrou-se fecundo para as análises depreendidas e permitiu

comprovar que, cada vez mais, o conhecimento precisa deixar de ser arquivado nas

especificidades das disciplinas para dialogar entre ambientes fronteiriços. Aqui,

especificamente, com o aporte da TRS, o olhar sobre o discurso publicitário pode ser ajustado.

No propósito de manter esse campo múltiplo, a pesquisa foi realizada tentando abarcar

os processos de produção à recepção do texto publicitário, a fim de identificar as

representações emergentes em cada um desses momentos. A pesquisa preocupou-se tanto com

as representações do sujeito enunciador, tomado aqui como um sujeito múltiplo, composto

pela instituição promotora da campanha, a PUC Minas, pela instituição produtora da

campanha, a Lápis Raro Agência de Comunicação, quanto com as representações do sujeito

enunciatário, instituído pelo enunciador e a quem o texto se dirige.

Optou-se por acompanhar o processo de produção à recepção da campanha intitulada

Vestibular PUC Minas 1º/2010. Essa escolha ocorreu tanto em função de questões

operacionais quanto metodológicas e, a partir dela, foram instituídos os sujeitos da pesquisa:

173

representantes da Instituição e da Agência de Comunicação responsável pelo

desenvolvimento da campanha, com quem foram realizadas entrevistas, e indivíduos

pertencentes ao público-alvo da campanha, distribuídos em dois grupos de informantes –

candidatos ao vestibular da IES e vestibulandos alunos do 3º ano do Ensino Médio.

Procurou-se trabalhar com um produto que não pertencesse aos bens de consumo

materiais e imediatos; pode-se perceber, a partir dessa escolha, a diferença entre esse tipo de

produto, ou o tema da campanha – inscrição para vestibular –, e outros produtos de consumo

mais palpáveis ou mais imediatos (bens duráveis). Foi possível lidar, na observação dessa

campanha, com representações sobre carreira, profissão, sucesso, instrução, instituições

públicas e privadas.

Foram objetivos perseguidos ao longo da pesquisa: descrever o processo de produção

da campanha, bem como as representações ali presentes; estabelecer o quadro de referência,

os parâmetros em que essas representações se apoiam na sociedade em que circula a

campanha; analisar as peças da campanha, os textos efetivamente produzidos e identificar

representações trazidas pelos sujeitos da pesquisa sobre a IES promotora da campanha e

também representações que coexistem a essas: escolha de profissão, IES, sucesso, carreira, e,

também, pelo próprio gênero eleito para a pesquisa, representações sobre o discurso e o fazer

publicitários.

Sendo assim, assumo neste trabalho que as representações sociais, entendidas como

um sistema real de crenças e valores que regulam a ação nos indivíduos na sociedade,

permeiam a produção e a recepção dos textos. No processo de produção, permanecem no

texto marcas das representações com as quais os enunciadores operam. A PUC Minas,

conforme mostram os dados, mantém uma imagem de instituição tradicional, idônea e

competente. São representações construídas e sedimentadas ao longo de uma história de 50

anos, embasada em características como “particular”, “católica” e “antiga”, por exemplo. Ao

mesmo tempo, a Instituição tem que manter esse espaço e luta por ele, em função das

modificações de um mercado que se faz cada vez mais competitivo. Essas representações,

como mostrou a análise dos dados, estão presentes em sua maioria no momento da produção e

no momento da recepção dos textos da campanha e são partilhadas pelos sujeitos envolvidos

nesse processo.

Os dados mostram, ainda, que os leitores, ao terem acesso às peças da campanha,

significam aquilo que eles mesmos percebem sobre a Instituição, ou seja, eles reconhecem no

texto publicitário características enunciadas sobre a Instituição com as quais eles

compartilham. A PUC Minas, Instituição cujo nome chancela as peças da campanha

174

analisada, foi representada positivamente pelos sujeitos enunciatários no processo de sua

leitura. A leitura, como dito, e sua significação se dá na interação colaborativa e os

enunciadores e coenunciadores partilham, além dos saberes, valores e crenças que os fazem

agir de uma determinada forma e não de outra.

Assumo, neste trabalho, que as RS estão presentes na formação identitária dos sujeitos

que constituem e são constituídos histórica e socialmente pelo discurso. São os sujeitos, nessa

mesma sociedade, que regulam as formas de pensamento e ação, por meio da linguagem,

compartilhando um sistema de crenças e saberes.

Ao longo deste trabalho, foi possível mostrar que as representações podem, sim, ser

flagradas na constituição de textos, inclusive no gênero textual escolhido para análise neste

trabalho, o publicitário.

Vimos que, na produção da campanha publicitária da PUC Minas, já no briefing se

previam expectativas que o público-alvo teria em relação à Instituição. O discurso publicitário

não é um discurso ingênuo; ao contrário, pode revelar comportamentos e desejos dos sujeitos

envolvidos nessa enunciação. Nesse discurso, vende-se uma imagem, um produto, uma ideia,

e isso não é feito de maneira gratuita. A competência desse discurso está justamente no fato

de que aquilo em que seus enunciadores pretenderam encontrar eco em seus enunciatários, ou

seja os enunciatários desse discurso se reconhecem nele e dessa forma significam as suas

próprias representações sociais.

O público-alvo da campanha, aqui representado por um universo de 412 sujeitos

vestibulandos e 5 sujeitos estudantes do Ensino Médio, corresponde ao perfil que se desenhou

na sua criação. Em relação às características demográficas e geográficas, desenhadas ainda no

briefing, a amostra do público-alvo correspondeu às expectativas. Os dados mostraram que

esses jovens procuram espaço na sociedade por meio do curso superior e levam em

consideração, ao escolher a Instituição que lhes fornecerá isso, características como tradição,

competência, qualidade. A campanha publicitária, à qual a grande maioria informou ter tido

acesso antes do vestibular, foi fator importante na decisão para um grupo significativo de

informantes. Os recursos e elementos usados na produção da campanha, como as parcerias

com outras instituições de renome, as cores utilizadas nas peças, a estratégia argumentativa

em forma de pergunta dirigida ao leitor, a informação do título concedido pelo MEC,

concorreram para que as peças fossem avaliadas positivamente e as representações ali

presentes encontrassem respaldo entre o público-alvo. Para esses sujeitos, as representações

que prevalecem sobre a Instituição remetem a uma Instituição moderna e excelente. Segundo

175

os informantes, essas representações são mais visíveis nas peças da campanha pela

informação de que a PUC é a melhor universidade particular de Minas Gerais.

Outro grupo de sujeitos da pesquisa, estudantes do Ensino Médio com intenção de

participar do processo seletivo em instituições diversas, coloca em discussão a questão

superioridade da universidade pública em relação à particular. Várias representações se

mostram nessa afirmação e remetem à necessidade que a Instituição tem de ocupar também

uma posição frente a esse mercado. No discurso dos sujeitos que compuseram esse grupo, foi

possível constatar que há confluência com o que havia sido percebido no discurso do grupo

anterior em relação à Instituição avaliada. Apesar disso, apenas um dos cinco informantes

citou livremente a PUC Minas como Instituição em que desejaria prestar vestibular. Todos os

outros citaram instituições públicas, tidas, para eles, como instituições de maior prestígio

social. Um dos motivos para essa escolha, além do financeiro – e daí surgem representações

sobre futuro, carreira, independência –, reside na suposta facilidade no ingresso nas

instituições particulares, segundo os informantes.

Este trabalho, cujo objetivo primeiro foi analisar as representações sociais que

engendram o texto publicitário e, dessa forma, observar as representações imbricadas na

interação com esse texto nos processos de produção de sentido, não pretende colocar um

ponto final sobre a questão. O que se entrevê é a possibilidade de diálogo entre diferentes

campos do saber e a aplicação de novas metodologias de pesquisa resultantes dessa

articulação.

REFERÊNCIAS

176

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181

APÊNDICE A - Questionário 1

Questionário – Candidatos ao Vestibular PUC Minas 1º/2010 (15/11/2009)

Caro(a) Candidato(a) ao Vestibular PUC Minas 1º/2010, Esta é uma pesquisa realizada por alunos da Universidade. Colabore conosco respondendo às questões abaixo. Agradecemos a sua participação e desejamos que tenha sucesso em sua prova! Se você desejar continuar colaborando com a pesquisa, informe seu e-mail. Seus dados serão utilizados somente para fins desta pesquisa, preservando-se o anonimato dos informantes.

Idade: _____ Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Residência: ( ) Belo Horizonte e Região Metropolitana ( ) Interior de Minas ( ) Outros Estados Opção de curso: _______________________________ E-mail: _______________________________________________

1. Por que você escolheu esta Instituição para prestar vestibular? (Se você quiser indicar mais de um fator, numere-os por ordem de prioridade, começando por 1 para o fator mais importante, e assim por diante). Tradição da instituição (renome e qualidade) Reconhecimento do mercado de trabalho Excelência do curso escolhido Proximidade do local de trabalho/residência Influência de pais, professores, amigos ou parentes Valor da mensalidade Outro. Qual? ___________________________________________________________ 2. Você prestou (ou prestará) vestibular – neste semestre – em outra(s) Instituição(ões)? Não Sim. Qual(is)? __________________________________________ 3. Como você teve acesso a informações sobre o Vestibular PUC Minas? (Escolha pelo menos uma opção). Campanha publicitária Televisão Cinema Rádio Outdoor Internet (anúncios/redes sociais) Ônibus Metrô Jornal Postais publicitários Site da PUC Minas Colégios ou pré-vestibulares Outros.

Responda às questões 4, 5 e 6 se você tiver marcado o item Campanha publicitária na questão 3.

4. Qual ou quais lembranças você tem da campanha? (Cite a primeira lembrança que vem à sua cabeça). ____________________________________________________________________________ 5. Você se lembra de como a PUC foi mostrada na campanha? (Cite pelo menos 1 característica da PUC mostrada na campanha). _____________________________________________________________________________

182

6. A campanha do Vestibular PUC Minas 1º/2010 influenciou, de alguma forma, sua opção pelo vestibular desta Instituição? Marque com X a opção que melhor representa:

0 Não houve influência

1 Pouca

influência

2 Média

influência

3 Muita

influência

4 Influenciou totalmente

183

APÊNDICE B - Questionário 2

Caro/a colaborador/a,

Se você tivesse que caracterizar a PUC Minas, que palavras você usaria? Por favor,

cite 3 palavras que pudessem traduzir mais adequadamente o que você pensa.

Gostaria também de saber se:

A. você foi aprovado/a?

SIM NÃO

B. matriculou-se na PUC Minas?

SIM NÃO

C. Por quê?

184

APÊNDICE C - Questionário 3

Caro XXXX,

Como última etapa da pesquisa, solicito a você que assista ao vídeo de campanha do

vestibular da PUC Minas (uma propaganda de apenas 30s!) pelo Youtube, disponível no

endereço: http://www.youtube.com/watch?v=-gtENlypYIo. Veja também o anúncio anexo,

um outdoor.

Após ter assistido ao vídeo e lido o anúncio, responda, por favor:

Para você, qual seria a imagem mais adequada para caracterizar a PUC Minas, de acordo com

o que foi mostrado na campanha? Assinale apenas 1 item.

Instituição de tradição

Instituição de seriedade

Instituição moderna

Instituição arrojada

Instituição de excelência

Instituição bem-estruturada

Para você, o que é mais marcante/incisivo/chamativo no vídeo e no anúncio? Assinale apenas

1 item.

Cores usadas

Informação de que é “a melhor particular de Minas Gerais”

Narração/texto que acompanha as imagens

Pergunta final: “Na hora do vestibular, o que você vai escolher?”

Recorte/sequência de imagens

Outro:

Das características listadas na pergunta anterior, aponte aquela que, para você, tem relação

mais direta com a imagem da PUC Minas mostrada na campanha.

Cores usadas

Informação de que é “a melhor particular de Minas Gerais”

Narração/texto que acompanha as imagens

Pergunta final: “Na hora do vestibular, o que você vai escolher?”

185

Recorte/sequência de imagens

Outro:

186

APÊNDICE D – Roteiro de Entrevista e Grupo de Discussão realizados com alunos do

Ensino Médio

1º momento (entrevista em separado, com cada aluno)

1. Você pretende prestar vestibular ao fim do ano?

- em que curso?

- cite até 3 instituições em que você gostaria de estudar.

2. Quais aspectos você levou em conta para a escolha da(s) instituição(ões)?

3. Cite até 3 características que, para você, indiquem a qualidade de uma instituição

universitária.

4. Em que instituição universitária você não estudaria de forma nenhuma? Por quê?

5. Cite até três palavras que, para você, melhor caracterizariam a PUC Minas?

2º momento (exibição do vídeo e das peças impressas, em grupo)

3º momento (debate, em grupo)

1. O que mais chama a atenção no vídeo? Por quê?

2. E nas peças impressas? Por quê?

3. Que outras informações são importantes ou chamam sua atenção nesses anúncios?

4. Para vocês, como esses anúncios mostram a PUC Minas? Como ela é caracterizada

por eles, ou seja, que imagem da PUC Minas é mostrada? Quais recursos dos anúncios

colaboram para isso? (eles devem justificar trazendo os recursos dos textos em que se

apoiaram)

5. Que ideia as cores usadas nesses anúncios transmitem a vocês? Por quê? (é preciso

permitir que exista espaço para a verbalização das representações que eles possuem

sobre as cores)

6. A pergunta final, “Na hora do vestibular, o que você vai escolher?”, é, a seu ver,

persuasiva?

7. A imagem que a PUC Minas veicula nesses anúncios poderia, de alguma forma,

alterar a sua opção de ingresso no ensino superior? Caso o aluno não tenha listado a

PUC na primeira parte da entrevista, eu perguntaria, aqui, se, após assistir o anúncio,

ele alteraria sua opinião... ou o contrário, eliminaria a PUC de suas opções...

187

APÊNDICE E – Roteiro de Entrevista realizada com a dupla de criação da Lápis Raro

Agência de Comunicação

Entrevista Lápis Raro A. Dupla de criação (a entrevista será realizada individualmente)

(nome completo) 1. Há quanto tempo você trabalha na agência? 2. Já trabalhou com o cliente PUC Minas anteriormente? Em caso afirmativo, em

que campanha(s)? 3. Como você descreve o ambiente de trabalho (físico e social) na agência? 4. Você se considera satisfeito com o seu trabalho atualmente? 5. Como foi realizada a seleção para atuar na campanha do Vestibular PUC Minas

1º/2010? Você foi designado para essa campanha ou foi uma escolha própria? Por que motivos?

6. Com base no perfil sociográfico do público-alvo traçado pela agência/pelo cliente, que mensagem você pretendeu mostrar na campanha do Vestibular PUC Minas 1º/2010?

7. Como se deu o processo de criação da campanha? 8. Que recursos foram utilizados para chegar ao resultado? 9. Como você avalia o resultado final da campanha? A imagem pretendida foi

passada? 10. Você gostaria de acrescentar alguma informação que você julgue importante ou

tecer algum comentário sobre a campanha?

188

APÊNDICE F – Roteiro de Entrevista realizada com responsável pelo Atendimento da

Lápis Raro Agência de Comunicação

Entrevista Lápis Raro B. Atendimento

(nome completo) 1. A quais meios a agência recorreu para traçar o perfil sociográfico do público-alvo? 2. Histórico da agência: quantos funcionários, quantos clientes e quantos anos de

existência? 3. Há quantos anos a agência cuida da campanha da PUC Minas? 4. Que imagem, ao longo do tempo, a agência tem ajudado o cliente a construir? 5. Para a campanha do Vestibular PUC Minas 1º/2010, houve alguma modificação?

Alguma característica mais importante a ser destacada? 6. Como a agência avalia o resultado final perante o cliente? A imagem pretendida

foi mostrada? O cliente ficou satisfeito?

189

APÊNDICE G - Roteiro de Entrevista realizada com Coordenador de Publicidade da

Secretaria de Comunicação da PUC Minas

Entrevista Secretaria de Comunicação PUC Minas 1. Como a PUC Minas avalia a campanha do Vestibular 1º/2010, produzida pela

agência Lápis Raro? 2. Que imagem a PUC tem pretendido mostrar nos últimos anos? 3. Especialmente nesta campanha, houve alguma modificação nessa imagem? 4. Como a PUC Minas avalia o resultado final da campanha?

190

ANEXO A - Campanha Propaganda. Faz diferença. ABAP e ABA.

191

192

ANEXO B – Regras para transcrição das entrevistas

a) entonação ascendente: / entonação descendente: //

b) pausa breve: . pausa média: .. pausa longa: ...

c) comentários descritivos do transcritor: ((minúsculas))

d) entonação enfática: MAIÚSCULAS

e) prolongamento de vogal e de consoante: :: , podendo aumentar para ::: ou mais

f) indicação de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto (não no seu início): (...)

g) indicação de simultaneidade de falas: sublinhados

h) indicação de trecho inaudível: /.../

i) dúvida acerca da palavra escutada: itálico

j) interrupção na sequência de fala: --

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ANEXO C – CD Rom Vídeo Campanha Vestibular PUC Minas 1º/2010