representaÇÕes arquetÍpicas da bruxa em narrativas ... · bruxa foram construídos...

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689 REPRESENTAÇÕES ARQUETÍPICAS DA BRUXA EM NARRATIVAS INFANTIS CONTEMPORÂNEAS Mariana Garcia Ferraz 1 Resumo:A figura da bruxa sempre esteve presente em narrativas infantis, desde aliteratura clássica até a contemporaneidade. Considerando que tais representações arquetípicas da imagem feminina derivam de um longo processo histórico que permeia o imaginário social de diversas culturas, este estudo propõe-se a investigar os elementos simbólicos dessa construção a fim de assinalar como estas concepções são traduzidas ao público infantil. Para tanto, além de revisão bibliográfica, foram analisados por meio do método da mitocrítica dois livros nacionais, “Uxa, ora fada, ora bruxa” (ORTHOF, 2012) e “A Bruxa do Batom Borrado” (NOVELLO, 2017). Como resultado constatou-se que,apesar de algumastransformações na configuração física e psicológica das bruxas, seu estereótipo ainda permanece na atualidade. Palavras-Chave: Bruxa, Arquétipos, Literatura Infantil. Introdução Nosso imaginário social é composto por diversos mitos e alegorias, e uma das representações mais popularesque vigoram até os dias atuais é a da bruxa, uma figura controversa “que se compõe junto a uma grande variedade de pré-conceitos pensados sobre o feminino, sobre o corpo, a natureza e os ciclos de nascimento, vida e morte” (ZORDAN, 2005, p. 339). Constantemente retratadas como perversas e dotadas de atributos físicos, vestimentas e personalidades peculiares, as bruxas também denominadas por alguns como feiticeiras exprimem uma visão bastante estereotipada e pejorativa das mulheres. Para Silva (2017), esta forma hostil de tratar a condição feminina se deve à longa tradição ocidental misógina e repressiva, que vem sendo construída e propagada desde a Idade Média até os dias atuais. Sob uma ótica psicanalítica, a representação da feiticeira é construída como uma alegoria do mal de cunho altamente moralizador, com o intuito de amedrontar e doutrinar a população a seguir os dogmas estabelecidos pela Igreja Católica (ZORDAN, 2005). Este período de intensa dominação e perseguição,em especial às mulheres, ficou conhecido como “caça às bruxas”e segundo Federici (2017, p. 334) “foi, portanto, uma guerra contra as 1 Graduada em Design Gráfico pela Universidade Estadual de Londrina (2018). Mestranda do programa de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: [email protected].

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REPRESENTAÇÕES ARQUETÍPICAS DA BRUXA EM NARRATIVAS

INFANTIS CONTEMPORÂNEAS

Mariana Garcia Ferraz1

Resumo:A figura da bruxa sempre esteve presente em narrativas infantis, desde aliteratura

clássica até a contemporaneidade. Considerando que tais representações arquetípicas da

imagem feminina derivam de um longo processo histórico que permeia o imaginário social

de diversas culturas, este estudo propõe-se a investigar os elementos simbólicos dessa

construção a fim de assinalar como estas concepções são traduzidas ao público infantil. Para

tanto, além de revisão bibliográfica, foram analisados por meio do método da mitocrítica

dois livros nacionais, “Uxa, ora fada, ora bruxa” (ORTHOF, 2012) e “A Bruxa do Batom

Borrado” (NOVELLO, 2017). Como resultado constatou-se que,apesar de

algumastransformações na configuração física e psicológica das bruxas, seu estereótipo

ainda permanece na atualidade.

Palavras-Chave: Bruxa, Arquétipos, Literatura Infantil.

Introdução

Nosso imaginário social é composto por diversos mitos e alegorias, e uma das

representações mais popularesque vigoram até os dias atuais é a da bruxa, uma figura

controversa “que se compõe junto a uma grande variedade de pré-conceitos pensados sobre

o feminino, sobre o corpo, a natureza e os ciclos de nascimento, vida e morte” (ZORDAN,

2005, p. 339).

Constantemente retratadas como perversas e dotadas de atributos físicos, vestimentas

e personalidades peculiares, as bruxas – também denominadas por alguns como feiticeiras –

exprimem uma visão bastante estereotipada e pejorativa das mulheres. Para Silva (2017),

esta forma hostil de tratar a condição feminina se deve à longa tradição ocidental misógina e

repressiva, que vem sendo construída e propagada desde a Idade Média até os dias atuais.

Sob uma ótica psicanalítica, a representação da feiticeira é construída como uma

alegoria do mal de cunho altamente moralizador, com o intuito de amedrontar e doutrinar a

população a seguir os dogmas estabelecidos pela Igreja Católica (ZORDAN, 2005). Este

período de intensa dominação e perseguição,em especial às mulheres, ficou conhecido como

“caça às bruxas”e segundo Federici (2017, p. 334) “foi, portanto, uma guerra contra as

1 Graduada em Design Gráfico pela Universidade Estadual de Londrina (2018). Mestranda do programa

de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: [email protected].

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mulheres; foi uma tentativa coordenada de degradá-las, de demonizá-las e de destruir seu

poder social”.

Neste cenário, uma imagem arquetípica negativa do gênero feminino – representado

aqui pela bruxa –foi amplamente difundida, alcançando popularidade em obras literárias,

sobretudonaquelas voltadas ao público infantil.Jacoby (2009) aponta que a presença destas

personagens tornou-se notória em narrativas populares transmitidos pela tradição oral e

foram se intensificando e revitalizando conforme os contos clássicos – como João e Maria,

A Bela Adormecida e A Branca de Neve – foram ganhando destaque.

Em geral, admitem-se algumas características representativas do perfil das bruxas

como a “velhice, feiura, canibalismo, poderes especiais, objetos mágicos, dualidade, prática

de malvadezas, convivência com animais, habitat em florestas ou lugares pouco povoados”

(JACOBY, 2009, p. 88). A partir dos anos 1970, todavia, as narrativas infantis vêm

apresentando algumas mudanças com relação aos padrões identitários destas personagens.

Antes renegadas ao papel de antagonistas, atualmente as feiticeiras – bem como outras

criaturas fantásticas e mitológicas –vêm atraindo grande atençãodos jovens leitores e sendo

lançadas como protagonistas destas tramas.

Logo, o objetivo dopresente artigo é apresentar a forma como estes estereótipos da

bruxa foram construídos historicamente e tornaram-se parte do inconsciente coletivo, além

de compreender os efeitos que estas concepções imprimem ao público infantil, mesmo após

a ressignificação contemporânea de sua imagem.

Embora haja estudos teóricos variados referentes à temática da bruxa inserida no

universo infantil, nota-se que a maioria foca exclusivamente na questão literária e ficcional,

não havendo uma análise simbólica mais profunda desta construção social e histórica ligada

à imagem depreciativa da mulher. Assim, a principal justificativa para a realização desta

pesquisa insere-se na relevância e atualidade desta discussão, visto queos estigmas de gênero

sobre a figura da mulher vêm sendo cada vez mais debatidos e refutados. Portanto, destaca-

se o mérito das modificações estruturais dos modelos narrativos literários, sobretudo perante

os recentes desafios que competem à formação social e moral das crianças.

Fundamentação Teórica

Os mitos podem ser entendidos como uma modalidade de discurso do sagrado que

apresenta aos indivíduos diversas noções sobre a construção social do mundo. De acordo

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com Randazzo (1996, p. 55), “aexperiência mitológica é uma experiência espiritual que

surge diretamente da alma humana ou da psique inconsciente”, desse modo, nosso

imaginário coletivo é composto por algumas figuras universais que se estruturam de acordo

com algumas características determinantes.

[...] A mente inconsciente fala através de imagens arquetípicas e

simbólicas, e de padrões de pensamento humano que são a base da

mitologia. Jung acreditava que a psique inconsciente continha em si

arquétipos que existem em ambos os sexos e que representam aspectos

tanto da masculinidade quanto da feminilidade. (RANDAZZO, 1996, p.

101).

Na definiçãofeminina,Randazzo (1996), com base nas perspectivas de Jung e

Neumann, estabelece duas categorias: a da Grande Mãe e a da Donzela. Ressalta-se que tais

aspectos podem, ainda, ser moldados por elementos positivos e negativos. No âmbito

negativo é possível identificar as relações depreciativas que emanam da tradição patriarcal,

exibindo uma figura degradada das mulheres. Aqui, a Grande Mãe torna-se a Mãe Terrível e

a Virgem torna-se a Prostituta. Ambas expressam uma mulher de natureza libertina,

sedutora, selvagem, traiçoeira, perversa e diabólica.

Desse modo, a representação da bruxa insere-se nesta conjuntura, caracterizando

alguns discursos que “encarnam tudo o que é rebelde, indomável e instintivo nas mulheres”

(ZORDAN, 2005, p. 332).Sallmann (2002) descreve o mito da bruxaria como uma invenção

do século XV, situada sob um contexto extremamente conturbado pela hegemonia da visão

cristã, que expressava ideais maniqueístas a partir das noções de bem e mal, Deus e Diabo.

Logo, a perseguição às acusadas de praticarem esta doutrina, de certo modo, expressa uma

reação às inquietudes religiosas da época.

Esta personalidade maléfica da bruxa constitui uma das mais célebres criações do

imaginário social e de maneira simbólica caracteriza os traçados históricos de como a

sociedade enxergava àquelas mulheres que, de algum modo, manifestavam poder através de

ideais que à época eram considerados pecaminosos. Desse modo, constata-se que, as

incriminações se escondiam por trás de uma fachada de repressão, que refreava a autonomia,

os domínios e os saberes femininos.

Apesar de as acusações de bruxarias não recaírem unicamente sob as mulheres, elas

eram, sem dúvidas, as mais afetadas pelas perseguições. Os inquisidores relatavam que as

mulheres desempenhavam este papel com mais frequência, uma vez que a maldade era algo

inerente à natureza feminina. O desconhecimento sobre sua fisiologia tornava a situação

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ainda mais complexa. Logo, aquelas mulheres que possuíam qualquer tipo de conhecimento

ligado às práticas empíricas, como o uso medicinal de plantas e ervas, eram consideradas

suspeitas aos olhos da população. (SALLMANN, 2002).

Zweig e Abrams (1994)apontam que a cultura ocidental foi edificada à margem de

tradições espirituais e religiosas alienantes e por consequência desta perspectiva o corpo

humano tornou-se uma sombra, sendo então reconhecido não mais como uma estrutura

natural, mas como um objeto de vergonha e culpa que emana sensações obscuras com

relação à sexualidade, incorporando desejos reprimidos e prazeres carnais. Ou seja, neste

período,

[...] seus impulsos animais, suas paixões sexuais e sua natureza perecível

foram banidos para a escuridão e transformados em tabus por um clero que

só dava valor aos domínios mais elevados do espírito e da mente e ao

pensamento racional. O advento da era científica viria a afirmar que o

corpo é um mero envoltório de elementos químicos, uma máquina sem

alma. (ZWEIG; ABRAMS, 1994, p. 105).

Ainda na associação com o período de caça às bruxas, Sallmann (2002) e Federici

(2017) destacam o surgimento de um dos livros mais famosos e terríveis difundidos pelo

cristianismo, o Malleus Maleficarum (O Martelo das Feiticeiras). Comumente designado

como a “bíblia” dos inquisidores, este texto escrito pelos dominicanos Heinrich Kraemer e

James Sprenger, e publicado no ano de 1484, destinou-se a identificar e combater os

praticantes de bruxaria e heresia.

A partir da criação deste “manual” ficou ainda mais evidente como a perseguição se

estabeleceu, simbolizando “um meio de desumanização e, como tal, uma forma

paradigmática de repressão que servia para justificar a escravidão e o genocídio”

(FEDERICI, 2017, p. 382). Neste tratado é possível identificarclaramentea figura da mulher

sob a projeção da sombra da grande mãe terrível.

[...] A imagem da bruxa noturna, da mulher que, à noite, se transforma em

ave de rapina, que voa emitindo gritos aterradores, que entra nas casas para

devorar as criancinhas, é, desde a sua origem, um componente importante

do mito demonológico. Essa lenda é verificada desde a Antiguidade, na

literatura romana e na mitologia germânica. (SALLMANN, 2002, p. 27).

Essa representação arquetípica vigorou mesmo após o período da Inquisição, em

especial na literatura infantil, sendo marcada por uma “figura feminina associada ao

grotesco, e às artes da magia, uma imagem de se constitui na tradição oral mais antiga”

(JACOBY, 2009, p. 87). O principal propósito destas narrativas era o de propagar o

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terrornas crianças, de forma a garantir com que obedecessem aos seus responsáveis, agindo

sempre de acordo com os princípios morais da religião.

[...] Como personagem de imaginários em que as fronteiras entre real e

ficcional estão densamente dissolvidas, a típica malvada dos contos de

fadas e de várias histórias infantis traz muitos elementos da figura da bruxa

descrita pela Inquisição. Histórica, a bruxa se modifica dentro das eras,

ficando em sua imagem as marcas que a sociedade lhe impôs. (ZORDAN,

2005, p. 332).

A forma física e psíquica desta personagem é descrita de maneira bastante

padronizada e estereotipada em todas as histórias. Tem-se a figura feminina, geralmente

representada por uma anciã de má aparência, corcunda, com verrugas no rosto, nariz

alongado e curvado, pele enrugada, dentes podres, cabelos brancos e unhas compridas. Já

com relação às indumentárias identifica-se a presença de roupas de tons escuros – em geral

nas cores preta, azul marinho, marrom, roxa e vermelha – com capuzes ou chapéus

pontiagudos e botas.

Além disso, elas utilizam vassouras para voar, caldeirões para preparo de suas

poções, varinhas mágicas para realização de feitiços e livros de magias, vivem em locais

isolados como pântanos e cavernas e estão sempre associadas a animais como sapos, ratos,

morcegos, gatos pretos, corujas e corvos.São notáveis, ainda, por praticar encantos e

envenenamentos e por atrair crianças e seduzir jovens indefesos.

Apesar dessacaracterização clássicaainda possuir forte presença no imaginário

coletivo, por volta da década de 1970 –período marcado pela intensa popularização de

histórias infantis – até os dias atuais, novaspropostas arquetípicas começam a surgir que

passam a caracterizar a bruxa não mais somente como a vilã, mas também como

umapersonagem principal, de caráter bondoso que pode, inclusive, assumir o papel de

heroína. Jacoby (2009) afirma que estes novos formatos da bruxa configuram valores,

aspectos e vivências próprios da pós-modernidade, portanto,são um reflexo direto da cultura

e da sociedade globalizada ao qual estamos inseridos.

Nas Figuras 1 e 2é possível observar dois exemplos destas novas representações na

literatura infantil, sendo um internacional eoutro nacional. Nota-se, pelas capas, que estas

personagens estão sendo tratadas como protagonistas das obras e apresentam tanto

características físicas, quanto psicológicas mais amenas e humanizadas, ainda que com um

tom caricatural e humorístico.

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Considerando que as obras literárias constituem uma fonte para interpretar e dar

sentido ao mundo, ou seja, que possuem uma função pedagógica crucial ao propiciar o

desenvolvimento da fantasia e da imaginação, em especial para as crianças, verifica-se a real

importância destas atualizações contemporâneas nas narrativas. Afinal, estamos diante de

uma nova época, logo, novos artifícios e abordagens temáticas se fazem necessários para

atrair a atenção destes jovens leitores.

Figura 1 – Livro “A Bruxinha Medrosa”.

Fonte: Marlow (2013).

Figura 2 – Livro “A Bruxinha Atrapalhada”.

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Fonte: Furnari (2003).

Metodologia

A metodologia empregada nesta pesquisa constitui uma abordagem qualitativa, de

natureza exploratória, com o objetivo de proporcionar maior proximidade e tornar explícita a

questão examinada. Em geral esse tipo de estudo envolve a construção de hipóteses por

meio de levantamento bibliográfico e análise de exemplos, tornando a compreensão mais

precisa (GIL, 2002).

Com o intuito de verificar a correlação entre a visão clássica da figura da bruxa e a

sua concepção contemporânea,será adotada uma análise comparativa, que se ocupa em

explorar as relações de semelhança ou diferença de um determinado fenômeno. De acordo

com Prodanov e Freitas (2013, p. 38) este parâmetro “permite analisar o dado concreto,

deduzindo elementos constantes, abstratos ou gerais nele presentes”.

Será realizada a análise dedois livros nacionais mostrados nas Figuras 3 e 4, a fim de

investigar os elementos gráficos e narrativos que foram conservados ou transformados ao

longo dos anos com relação à figura social e cultural da bruxa. Além disso, este estudo

servirá para identificar a influência destas novas representações para o público infantil e as

implicações destas mudanças para o imaginário social.

A justificativa para escolha destes livros pode ser explicada pelo fato de serem duas

obras que tratam da mesma temática – a personagem bruxa –, porém de modos distintos, já

que foram escritos em décadas diferentes. O primeiro, “Uxa, ora fada, ora bruxa”, foi

publicado pela primeira vez em 1985, pela renomada autora Sylvia Orthof, e teve sua 8ª

reedição lançada no ano de 2012, pela editora Nova Fronteira (Figura 3). Já o segundo livro,

“A Bruxa do Batom Borrado”trata-se de uma produção bem recente, ainda em sua primeira

edição, publicada no ano de 2017, pelo professor e escritor Anderson Novello (Figura 4).

Figura 3 – Livro “Uxa, ora fada, ora bruxa”.

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Fonte: Orthof (2012).

Figura 4 – Livro “A Bruxa do Batom Borrado”.

Fonte: Novello (2017).

O embasamento para esta análise se dará por meio do método da mitocrítica,

engendrado por Durand (1985). Segundo o autor, este método pretende desvendar as formas

simbólicas inseridas em um determinado mito, centrando-se no processo de compreensão da

mensagem de uma dada crítica literária ou artística. “A mitocrítica aborda imediatamente o

próprio ser da 'obra' no confronto entre o universo mítico, que forma o 'gosto' ou a

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compreensão do leitor, e o universo mítico que emerge da leitura de tal obra determinada”

(DURAND, 1985, p. 252).

Logo, se insere como um mecanismo de investigação de discursos sócio históricos

presentes em todo e qualquer relato de caráter mítico.Para tanto, inicialmente adotou-se a

abordagem de levantamento temático da figura histórica e social da bruxa, para

posteriormente serem analisadas algumas narrativas literárias contemporâneas que tratam do

mesmo tópico e, finalmente, dedicar-se a identificar as correlações contextuais que unem

ambas.

Análise e Discussões

O livro de Orthof (2012) se inicia com a descrição da personagem principal, "Essa aí,

de costas, baixinha, gorducha é Uxa, minha amiga bruxa". Uxa é caracterizada como uma

figura que assume duas facetas, a de Bruxa e a de Fada e, para cada ocasião tem uma

fantasia diferente. Descrita como uma pessoa muito indecisa, que muda constantemente de

opinião, às vezes ela se caracteriza “muito loura, muita fada, muito meio princesal” e saí por

ai fazendo “uma porção de bondades”, no entanto “para uma bruxa é difícil fazer tanta

caridade, mas Uxa tenta e o mundo aguenta”.

A personagem passa por várias provações ao longo da história, transforma um táxi

em abóbora, enfrenta um longo caminho até um palácio no qual pretende participar de um

baile e perder seus sapatinhos de cristal, transforma a lente de seus óculos de coração em

chouriço para pagar a corrida ao motorista, mas, finalmente, ao encontrar um príncipe

desiste e corre, “com medo de virar princesa e ter que ser feliz para sempre”.

Instantaneamente, Uxa volta a ser bruxa e se sente aliviada. Muda de traje, coloca um

vestido “bem folgado” e profere,

− Chega de ser fada, estou enfadada! Quero uma boa sopa de bruxa, bem

amaldiçoada, com rabo de rato, morcego assado, pum de velha, melado de

faniquito amanteigado! Faço a sopa, mudo de roupagem, a peruca é de

cabelo lelé da cuca, o chapéu tem uma lua, a varinha de condão virou

vassoura, e lá vou eu, cansei de ser tão boa... e loura!(ORTHOF, 2012, p.

26).

Assim, Uxa aceitasua condição e diz que “a vida com a bruxa, na verdade, é uma

maldade beleza pura”. Ela vai à busca do príncipe que havia encontrado no baile para tentar

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fazê-lo mudar de opinião com relação às suas perspectivas de vida, e o convence a trabalhar

ao invés de se casar com uma princesa. Ao final da história, a bruxa “bota uma língua para

as histórias antiquadas”, mostrando-se uma mulher moderna atenta às tecnologias e

totalmente segura de si. "E assim é Uxa, a bruxa, ora boa, ora ruim, ora antiga, ora

moderna... Afinal, Uxa muda, muda muito, constantemente...Eu acho, sei não, eu acho Uxa

muito parecida com muita gente!" (ORTHOF, 2012, p. 32).

Constata-se, a partir da leitura do livro de Sylvia Orthof, que a protagonista da

narrativa enquadra-se como uma personificação de atributos inerentes a todos os seres

humanos, já que percorre diversos obstáculos e assume uma personalidade inconstante e

mutável, tendo atitudes boas em geral, mas também se desafiando e se recompondo nos

maus momentos. De modo geral, os contos infantis sempre trazem alguma lição de moral em

seu desfecho, e esse caso não é diferente. O ensinamento que se pretende transmitir às

crianças é o de aceitar as diferenças, já que elas fazem parte da natureza e da sensibilidade

humana.

A história é toda escrita em versos e formada por rimas simples que proporcionam

um teor cômico à produção. Este livro constitui-se por seu caráter híbrido, uma vez que há

grande relação entre os discursos verbais e visuais. As ilustrações são apresentadas por

traços caricaturais e cores marcantes, atuando como convergência de sentido, em que as

cenas são construídas de modo à complementar o conteúdo já expresso pelo texto.A Figura 5

mostra, com mais detalhes, as páginas do livro.

Figura 5 – Página 26 e 27 do livro “Uxa, ora fada, ora bruxa”.

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Fonte: Sousa (2016).

Com relação aos aspectos simbólicos que caracterizam a figura da bruxa é possível

notar algumas ligações com as propriedadesparticulares das narrativas clássicas. Sua

representação é tipificada pela aparência exótica, marcada pelo nariz pontudo, uso de chapéu

alongado e vestimentas escuras peculiares,pela posse de objetos emblemáticos como a

vassoura e o caldeirão, além do uso da magia e da presença de animais – como o gato, o rato

e o morcego.Contudo, a personagem também dispõe de acessórios incomuns para uma

feiticeira, como os óculos em formato de coração e uma peruca loira.

No tocante à personalidade verifica-se que Uxa ainda apresenta alguns vestígios da

perversidade característica das bruxas, no entanto ela também foge relativamente aos

padrões, pelo fato de realizar boas ações que impactam positivamente na história.O

equilíbrio conferido pela manifestação das duas identidades heterogêneas – “ora fada, ora

bruxa” – retrata a função psicológica da personagem, que não é tratada aqui como a da vilã

típica, como a sombra da Grande Mãe, mas como uma representação arquetípica mais

próxima do Herói.Vogler (2006) afirma que o arquétipo do Herói pode sim se manifestar em

outros personagens da narrativa, como no caso do antagonista, naqueles momentos em que

manifesta qualidades que são comumente atribuídas como heroicas. O autor ainda atesta

queo Herói só se torna um ser integral, completo e equilibrado ao incorporar todos os

fragmentos que constituem sua personalidade.

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Além da mudança de caráter – expressa pela associação com o lado fada da feiticeira,

que representa suas qualidades de benevolência –, verifica-se, ainda uma transformação nos

tópicos abordados. Com o intuito de tornar a história mais atraente e direcionada ao público

infantil contemporâneo, há algumas contextualizações como a presença de dispositivos

tecnológicos e a negação da personagem em submeter-seàs normassociais, como no caso de

um casamento compulsório com um príncipe.

Conclui-seque estas atualizações são explicadas pelas transformações dos valores e

convenções estabelecidos coletivamente na atualidade, comprovando outra particularidade

da figura arquetípica do Herói: a identificação com o público. Vogler (2006) sustenta que os

Heróis possuem motivações e emoções universais que são reconhecidas por todos os seres

humanos, e suas qualidades não devem defini-los como criaturas previsíveis e perfeitas, mas

como personagens reais que combinam impulsos conflitantes. Logo, quanto mais próximada

realidade do leitor for a narrativa, maior será a sua identificação.

É possível verificar que ainda há uma forte alusão à índole maléfica e instável da

bruxa, no entanto, agora há uma forte presença do humor, o que torna sua imagem mais

flexível aos olhos do público. Tendo em vista a época a qual a primeira edição deste livro foi

lançada – década de 80 –, não podem ser descartadas as evoluções referentes a

estarepresentação que está presente no imagináriocoletivo durante anos. Os símbolos

compartilhados historicamente e culturalmente por uma determinada sociedade

vãomoldando-se ao longo dos anos e novas representações vão surgindo.

No segundo livro a ser analisado, “A Bruxa do Batom Borrado”,identifica-se uma

ruptura ainda mais contrastante. A história, com autoria de Anderson Novello

(2017),começa com a seguinte apresentação: “Na esquina da Rua das Vassouras com a Rua

das Peraltices morava uma Bruxa que não fazia mal a ninguém. Ela gostava de ler revistas

de moda, tomar chá e olhar-se no espelho. E gostava mais ainda de passar batom”. Logo, já

é possível inferir que a personagem possui características muito diferentes das demais

bruxas.

A narrativa discorre sobre o ritual da Bruxa de passar batom, que acontecia

diariamente após o seu tradicional chá das cinco e vinte e cinco, e era constantemente

atrapalhado pelos truques das crianças que moravam em sua rua. O divertimento destes

garotos era o de observar a bruxa olhando-se no espelho, e no momento exato de seu ritual

perturbá-la com o assopro de um apito, o aperto de uma buzina ou campainha, batidas de

tampas de panelas e tambor. Porém, após fazê-la borrar o batom, corriam e se escondiam,

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com medo de serem enfeitiçados e transformados em grilos gigantes, lagartixas, lesmas

pegajosas ou qualquer outro animal asqueroso.

Um dia, no entanto, as crianças resolveram criar coragem e permanecer perto da

janela espiando qual seria a reação da Bruxa. Para a surpresa dos meninos, eles a viram

parada em frente ao espelho, chorando de modo desesperado e tudoo que conseguiram sentir

foi pena. Eles refletiram, então, sobre as inúmeras vezes que haviam feito a pobre mulher

sofrer e arrependidos decidiram mudar suas atitudes. Numa terça-feira qualquer, quando a

Bruxa estava prestes a iniciar o seu ritual, ouviu uma leve batida em sua janela, virou-se para

olhar e deparou-se com as crianças enfileiradas, todas com as caras borradas de batom. Ela

levantou-se lentamente e se aproximou da janela aos poucos,deu um sorriso que logo se

transformou em uma risada alta e descontrolada. Os garotos não aguentaram e gargalharam

junto. Agora, todas as sextas-feiras as crianças vão até a casa da Bruxa para tomar chá e

participar do ritual coletivo de passar batom.

A Figura 6 exibe um recorte das ilustrações presentes no livro de Novello (2017). Por

meio desta imagem observa-se como afigura tradicional da bruxa foi descaracterizada. Os

trajes escuros foram substituídos por roupas e acessórios modernos, coloridos e

descontraídos; não há mais o uso do chapéu pontiagudo clássico, da vassoura ou do

caldeirão; sua aparência é agradável e elegante e suas unhas são bem-feitas, pintadas na cor

vermelha. Os únicos símbolos distintivos, entretanto, que se mantém, são o nariz comprido e

a presença de animais – especificamente da aranha e do gato.

Ademais, a personagem não demonstra possuir uma personalidade cruel,

manifestando um caráter bastante humano e sensível. Ainda que as crianças tenham medo de

que a mulher lance algum feitiço sobre elas, ao longo da história este receio mostra-se

injustificado, já que a Bruxa não possui nenhum poder mágico.

A narrativa apresenta uma linguagem fluida e descomplicada, composta por

repetições, onomatopeias, hipérboles e ironia. Outro tópico que merece ser destacado é com

relação à nomenclatura da protagonista, que simplesmente é denominada de “Bruxa”, não

apresentando um nome próprio determinante. Este recurso pode ser explicado de duas

maneiras distintas; primeiramente como uma tentativa do autor em gerar um reconhecimento

por parte do leitor, já que a personagem apresenta características inerentes a todos os

indivíduos; ou como uma forma de generalizar as funções psicológicas e arquetípicas de um

determinado grupo – no caso, expresso pelas feiticeiras.

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Figura 6 – Personagens do livro “A Bruxa do Batom Borrado”

Fonte: Novello (2017).

Em geral, nota-se em ambos os livros uma inversão significativa no papel tradicional

das bruxas. Logo, as personagens passam a assumir um papel diferenciado e especial nas

tramas, convertendo seu caráter arquetípico que anteriormente era associado a Grande Mãe

Terrível, para uma relação mais próxima ao Herói, ou, especificamente, ao do “Anti-herói”.

Portanto, na concepção de Vogler (2006, p. 56) esse tipo de protagonista distingue-se

nãonecessariamentepor possui as virtudes tradicionais atribuídas aos heróisou as atribuições

negativas características de um vilão, mas, por dispor de uma postura ambígua e humana,

que desperta um olhar solidário e empático do público ao qual se destina.

Considerações Finais

Este estudo possibilitou uma investigação mais apurada sobre a construção da

imagem da bruxa presente em nosso imaginário coletivo. Desde os primórdios, por meio da

tradição oral dos contos, as sociedades seorganizam a partir de estruturas narrativas

mitológicas que guiam e moldam o comportamento humano. Nesse sentido, destaca-se a

figura da feiticeira que permeou ao longo dos séculos e ainda permanece muito forte na

contemporaneidade, representando uma das facetas do arquétipo da Grande Mãe, ligada a

aspectos negativos, diabólicos, instintivos, perversos e desumanos.

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Mediante pesquisas bibliográficas constatou-se que esta construção se formou como

um instrumento de repressão às sombras da figura feminina, e tal concepção refletiu

significativamente nas representações visuais e mentais depreciativas que configuram a

imagem arquetípica da bruxa – via de regra associadas a mulheres velhas, feias e maldosas,

vestidas em trajes escuros, chapéu pontiagudo, voando em suas vassouras e lançando

maldições – especialmente na literatura infantil clássica.

No entanto, considerando o aspecto mutável de nossa cultura, notou-se o surgimento

de novas interpretações simbólicas e assim, a bruxa passou a protagonizar as narrativas não

mais somente como vilã, mas também como heroína. Essa transformação pode ser

compreendida pela desconstrução de valores tradicionais que evocavam certos estereótipos

pejorativos que inferiorizava a mulher e, atualmente, com a necessidade de trabalhar valores

mais humanos e desprovidos de preconceitos de gêneros, principalmente com o público

infantil, prioriza-se a adoção de novas abordagens com relação à temática.

Por fim, observa-se que esta postura vem se construindo de modo gradativo, e ainda

que alguns padrões tenham sido quebrados ao longo dos anos, devido às modificações

históricas, sociais e culturais, algumas características da bruxa clássica ainda se mantém.

Deste modo, ressalta-se a influência positiva dos livros infantisanalisados, uma vez que

proporcionam debates construtivos que visamà formação de leitores mais críticos e

questionadores.

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