Ética bruxa

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    Unidade 1: Introduo a matria

    Captulo 1: tica e moraltica a parte da filosofia que estuda a Moral. o estudo dosjuzos da conduta do ser humanos, seja ele bruxo, seja ele trouxa,pois, apesar de termos uma sociedade e normas morais prprias,somos seres humanos da mesma forma que os trouxas. Podemosacrescentar nesse conceito da tica Bruxa, que temos em nossasociedade seres mgicos dotados de raciocnio e que so sujeitos anormas morais tambm. O estudo da tica no deixa de ser umamaneira de formar opinies e orientar o pensamento e aes daspessoas. Moral um conjunto de regras de conduta e comportamentoque so estabelecidas e aceitas pela sociedade. A tica estuda e

    analisa a Moral dos povos, suas normas para o que certo ou errado.tica uma corrente filosfica e Moral, o objeto de estudo da tica.A Moral difere de cultura para cultura. O que considervel aceitvelpara nossa sociedade, pode ser motivo de priso em outras. Algumacoisa terrvel no nosso meio, mas para outros povos e pessoas depocas diferentes poderia ser

    Captulo 2: tica e Histria

    As teorias ticas nascem e desenvolvem-se em diferentes

    sociedades como resposta aos problemas resultantes das relaesentre os homens. Os contextos histricos so, pois elementos muitoimportantes para se perceber as condies que estiveram na origemde certas problemticas morais que ainda hoje permanecem atuaiscomo veremos na unidade 3.

    Captulo 3: Problemas morais e ticos

    A tica no algo superposto conduta humana, pois todas asnossas atividades envolvem uma carga moral. Idias sobre o bem e omal, o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa

    realidade.

    Em nossas relaes cotidianas estamos sempre diante deproblemas do tipo: Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiesem que posso mentir? Ser que correto tomar tal atitude? Devoajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Existealguma ocasio em que seria correto atravessar um sinal de trnsitovermelho?

    Os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente

    condenados por seus crimes ou esto apenas cumprindo ordens?

    http://www.umtoquedemotivacao.com/administracao/breve-historia-da-eticahttp://www.umtoquedemotivacao.com/administracao/breve-historia-da-etica
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    Essas perguntas nos colocam diante de problemas prticos, queaparecem nas relaes reais, efetivas entre indivduos. So problemascujas solues, via de regra, no envolvem apenas a pessoa que osprope, mas tambm a outra ou outras pessoas que podero sofrer asconseqncias das decises e aes, conseqncias que podero

    muitas vezes afetar uma comunidade inteira.

    O homem um ser-no-mundo, que s realiza sua existncia noencontro com outros homens, sendo que, todas as suas aes edecises afetam as outras pessoas. Nesta convivncia, nestacoexistncia, naturalmente tm que existir regras que coordenem eharmonizem esta relao. Estas regras, dentro de um grupo qualquer,indicam os limites em relao aos quais podemos medir as nossaspossibilidades e as limitaes a que devemos nos submeter. So oscdigos culturais que nos obrigam, mas ao mesmo tempo nosprotegem.

    Diante dos dilemas da vida, temos a tendncia de conduzir nossasaes de forma quase que instintiva, automtica, fazendo uso dealguma "frmula" ou "receita" presente em nosso meio social, denormas que julgamos mais adequadas de serem cumpridas, porterem sido aceitas intimamente e reconhecidas como vlidas eobrigatrias. Fazemos uso de normas, praticamos determinados atose, muitas vezes, nos servimos de determinados argumentos paratomar decises, justificar nossas aes e nos sentirmos dentro danormalidade.

    As normas de que estamos falando tm relao como o quechamamos de valores morais. So os meios pelos quais os valoresmorais de um grupo social so manifestos e acabam adquirindo umcarter normativo e obrigatrio. A palavra moral tem sua origem nolatim "mos"/"mores", que significa "costumes", no sentido de conjuntode normas ou regras adquiridas por hbito. Notar que a expresso"bons costumes" usada como sendo sinnimo de moral oumoralidade.

    A moral pode ento ser entendida como o conjunto das prticas

    cristalizadas pelos costumes e convenes histrico-sociais. Cadasociedade tem sido caracterizada por seus conjuntos de normas,valores e regras. So as prescries e proibies do tipo "nomatars", "no roubars", de cumprimento obrigatrio. Muitas vezesessas prticas so at mesmo incompatveis com os avanos econhecimentos das cincias naturais e sociais.

    A moral tem um forte carter social, estando apoiada na tradecultura, histria e natureza humana. algo adquirido como herana epreservado pela comunidade

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    Unidade 2: Princpios ticos

    Captulo 4: Liberdade

    A liberdade uma qualidade que define o homem como serhumano racional. o que nos distingue dos animais, plantas eminerais: o poder de deciso. Estes no agem de forma diferente dainerente sua Natureza, pois no sabem comportar-se de outromodo, ao passo que ns, seres humanos, podemos dizer sim e no,quero e no quero, vou e no vou. Tal como disse Aristteles, Aprincipal caracterstica do homem o fato de este possuir uma almaracional, querendo com isto dizer que o homem distinto de todo o

    ser, pois pensa por ele prprio e pode decidir o que quer ou no fazer.Tomando a liberdade como o poder de decidir por ns mesmos, hque distinguir os vrios tipos de liberdade que podemos encontrar:livre arbtrio (ao consciente e de livre vontade), conscincia (terconscincia e refletir de modo a agir para atingir os fins estipulados),fsica e vital (capacidade locomotora, de respirao), interior (formade pensar e de nos sentirmos livres de esprito poltica (direito aintegrar-mos a sociedade e nela intervir ativamente), moral (modocomo ns agimos), democrtica (direito ao voto livre) e humana(noo de que s o homem pode escolher). No entanto, nem sempretemos presentes todos estes tipos de liberdade na nossa vida.

    Condicionantes de vrios tipos influenciam a nossa existncia de talmodo que somos muitas vezes levados a questionar Ser que soulivre?. Ao me debruar sobre tal questo, no difcil de concluir quehoje em dia a nossa liberdade consegue na realidade ser um poucolimitada. Desde a poltica tradio, tudo tende a moldar e limitar anossa capacidade de escolha, uma vez que para vivermos emsociedade, temos que ter presente na nossa mente que a nossaliberdade termina onde comea a do prximo. Mas ser que com tudoisto somos livres? A resposta sim. Por muito deplorvel oucatastrfica que possa ser a situao, e tal como diz o autor do livro,

    nunca temos um s caminho a seguir, mas vrios. Recorrendo aindaa outro filsofo que disse: Eu penso logo existo posso deduzirlogicamente que enquanto eu existir estou a pensar. Se recordarmosainda que como ser racional que pensa posso tomar decises, logo,se enquanto existir estou a pensar, e enquanto pensar estou apto atomar decises (ainda que sejam mentais), enquanto existir possotomar decises, ou seja, sou (livre nem que seja de pensar).

    Contudo, esta concluso de que somos sempre livres no nadaagradvel, pois no nos deixa muito espao para desculpas. Apesarde no podermos evitar aquilo que nos acontece, podemos sim

    alterar a forma como reagimos ao que nos aconteceu. Ainda que terem conta que sermos livres no significa obter aquilo que queremos

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    de forma impretervel, pois a nossa capacidade de ao nem semprenos permitir cumprir os nossos fins. Temos sim que tentar viver omelhor possvel com as oportunidades que nos so dadas,encontrando-se aqui o ponto fulcral da responsabilidade de ser livre.A vida tem sentido nico, e no espera por ningum. Nunca podemos

    repetir o mesmo ato, e poucas vezes o podemos emendar, por issotemos que tentar errar o menos possvel, temos que aprender a viverusando a liberdade. A esta arte de viver podemos chamar de tica.

    Captulo 5: Liberdade arte de viver comresponsabilidade

    Se aprender a viver, ou seja, aprender a usufruir corretamente danossa liberdade, escolhendo o que mais nos convm dentro de cadasituao, implica ter que constantemente tomar decises, que focaroutro conceito: responsabilidade. Como j foi dito, a vida no se

    repete, e no nos podemos desculpar do que fazemos pois reagimoscomo queremos ao que nos acontece, de forma mais ou menosforada. Com isto, temos que pensar que se agimos segundo a nossavontade temos que ter a conscincia das conseqncias que asnossas aes podem ter, pois em qualquer situao, mais ou menosdramtica (no considerando os assassnios ou semelhantes, pois soacontecimentos aos quais impossvel qualquer reao) a ultimapalavra sempre nossa. Como tal, se a ltima deciso semprenossa de uma maneira ou de outra, as conseqncias sero sempreda nossa responsabilidade. Responsabilidade , portanto termosconscincia do que fizemos, ou seja, levarmos a nossa liberdade a

    srio.

    Poder de deciso, tica e responsabilidade. Estes conceitos estopresentes na liberdade como j vimos, mas falta ainda outro aspecto,o poltico. Como j foi referido, para vivermos em sociedade, temosque nos respeitar mutuamente, ou seja, limitando a nossa liberdadede modo a que no interfira com a do prximo. Se isto necessriopara viver em sociedade e se considerarmos que precisamos viver emsociedade para sermos felizes (tal como dizia Aristteles: O homem um animal poltico e social e s vivendo em sociedade poderatingir a perfeio), pois o amor, carinho, ateno, entre outros,apenas podemos receber de outros seres humanos, logo, o sistemapoltico a aplicar tem que respeitar e limitar apenas o mnimonecessrio a liberdade de cada um. Devemos, portanto evitarditaduras ou regimes que nos limitem a liberdade de expresso,religio, mobilidade, ou qualquer outra. Hoje em dia, ao falarmos deliberdade, nem sempre nos lembramos de que somos livres todos osdias. Ocupados em rotinas e costumes, nem nos apercebemos quecada movimento, gesto, palavra ou pensamento, apenas possvelporque somos livres de o fazer. Devemos sempre ter a noo de que,a liberdade provm da vida e no da morte, o que significa que

    perante as piores intempries da vida, devemos lembrar-nos de quepara sermos felizes temos que, como j foi falado, utilizar a nossa

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    liberdade da melhor maneira, aproveitando o que h de melhor emcada situao. Com tudo isto, podemos concluir que o fato depodermos decidir-nos deixa decidir tambm o rumo da nossa vida, eque apesar do que nos possa acontecer, devemos sempre tentar noerrar ao reagirmos, pois a vida no volta atrs. Uma vez

    compreendida a unilateralidade da vida, apenas resta aprender aviver com o que fazemos de bem, mas tambm com os nossos erros,tomando responsabilidade por eles e evitando repeti-los, pois nemsempre seremos ns os nicos afetados das nossas aes. Muitasvezes podero ser os outros a sofrer as conseqncias dos nossosatos, e se queremos viver em sociedade, devemos parar a nossaliberdade onde comea a do nosso semelhante, de modo a sermostodos livres em sociedade e ao mesmo tempo, todos responsveis erespeitadores.

    Captulo 6: PrazerComer uma ma, dar um passeio beira mar ou ter uma relaosexual so alguns dos atos que nos podem transmitir prazer. Aofalarmos em prazer, falamos em coisas que nos fazem sentir bem,confortveis com a vida, em suma, alegres. Podemos, portantopensar no prazer como aquilo que gostamos de fazer, pois nos trazfelicidade e alegria. Podemos, contudo, sentir prazer de dois modos:fisicamente e mentalmente. Quando falamos em prazer fsico, oucarnal, falamos em coisas que sentimos com um dos nossos cincosentidos como comer uma ma ou sentir uma brisa suave junto aomar, ao passo que o prazer mental ou psicolgico depende apenas de

    ns mesmos como quando ajudamos algum e nos sentimos felizespor dentro, sem necessariamente recebermos qualquer recompensamaterial ou que possa ser percepcionada. De entre todos os prazeres,quer corporais quer mentais, um dos que nos transmite umasensao de prazer mais intensa o sexo. Quando falamos em sexo,no podemos pensar apenas neste dentro do sentido da procriao.Como claro, uma das suas principais funes, mas isto tambmacontece com os animais! Ento o que torna o sexo, um prazerhumano? muito simples: o afastamento do intento de procriao.Como seres racionais, ao termos uma relao sexual, no apenas como intento de procriao, mas por carinho, amor ou simplesmente porpura vontade, estamos a realizar algo porque queremos, estamos autilizar a nossa liberdade. O sexo, quando por estes motivos, pode serenglobado ao conjunto de aes racionais caractersticas, em que ohomem pensa no que vai fazer e porqu, e executa o que planeou.Independentemente de ser um ato muito instintivo, ns, ser humano,ao contrrio dos animais podemos fazer o que quisermos como porexemplo evitar ter sexo, como fazem os padres que optam pelocelibato. No entanto, se o prazer algo que nos torna a vida maisalegre, porqu o tabu colocado sobre o sexo? Pois este , como j foidito, um dos prazeres mais intensos que se pode experimentar e

    durante toda a histria sempre se teve medo do prazer, uma vezque este uma distrao (quando temos prazer, deixamos de prestar

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    ateno ao que se passa nossa volta, concentrando-nos apenas noque nos est a transmitir prazer), que se pode tornar grande demais.Para que tal no acontea, por e simplesmente proibido ouescondido do povo, porque antigamente a distrao subentendia oabandono de postos na defesa e funcionamento da cidade. Logo, se o

    sexo provoca um prazer intenso, e se o prazer leva distrao (aindaque momentnea), se no se consumarem tantos atos sexuais, adistrao ser menor, o que faria algum sentido h alguns anos atrsvisto que deixar a defesa da cidade vulnervel poderia significar oseu fim. Hoje em dia, tal linha de raciocnio, tornou-se um poucoobsoleta, pois alm de muitas coisas serem feitas por mquinas, como avanar do tempo, o homem apercebeu-se de que tudo tem que terum meio termo, por isso que deixar de lado os tabus e evoluir paraos meios termos. Enquanto esta idia no for interiorizada por todosns, continuaro a existir extremos. Continuaro a existir oschamados puritanos, que se opem a todo o prazer e o condenamprincipalmente o sexo (muitas vezes o puritanismo de certamaneira praticado atravs da proibio policial), os que por esimplesmente para evitarem cair na tentao se tornam adeptos daabstinncia ou ento aqueles que usam e abusam do prazer,deixando passar a sua vida ao lado para se satisfazeremconstantemente. Tal como dizia Aristteles, para se viver bem nopodemos exagerar. No podemos cair na abstinncia nem no exageroe muito menos condenar aquilo que nos torna felizes e nos d prazer,pois todo o ser quer ser feliz, de uma maneira ou de outra. Para quetal posso acontecer, pensemos num outro conceito: temperana.

    Podemos definir temperana como a virtude de que falava Aristteles,ou seja, a faculdade de encontrar o meio-termo das coisas. Uma vezque a maior gratificao que se pode obter de qualquer ato aalegria, que saber por o prazer ao servio da alegria, e aqui quese faz a ligao entre a nossa felicidade, o prazer e a temperana. Oprazer torna-nos felizes, e se for praticado de um modo racionalpodemos ser felizes sem cair no gosto do desgosto. Temos quesaber que a vida um equilbrio desde incio. No podemos encontrarprazer sem dor nem morte sem vida, como tal, tambm temos quesaber ter prazer sem exagerar. Deste modo, que retirar o prazer dascoisas dirias sempre que pudermos, para podermos suportar os

    desgostos que se seguiro. Seguindo os pensamentos de Scrates:s podemos ser felizes se procurarmos nas coisas o seu lado bom, oque significa, que para vivermos o nosso dia ao mximo, temos queaproveitar cada momento e viv-lo o melhor possvel. Ter prazer nosignifica apenas sexo e fazer o que nos apetece. Devemos em vezdisso pensar sempre no que fazemos de modo a atingir um fimsupremo: o de sermos felizes. Apenas assim poderemos retirar o queh de bom em cada situao, por muito deplorvel que esta possaparecer. Apesar de hoje em dia, o conceito de prazer estar um poucodeturpado, quer devido s novas tecnologias, quer devido maiorabertura face ao sexo, este continua majoritariamente a ser praticadocom o intento de atingir a felicidade, o que significa que mais tardeou mais cedo se vo deixar as posies extremas e aderir

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    temperana. Para concluir, h apenas a focar alguns pontosimportantes. O prazer, mental ou fsico, aquilo que nos faz sentirbem, que nos traz alegria. Devido histria da humanidade, o tabuproveniente do medo do prazer sempre limitou e fez sentir as pessoasque se satisfaziam culpadas. Devido a este sentimento de culpa,

    passou a aderir-se a posies extremas: puritanismo, abstinncia eexagero. Contudo, desde que o homem comeou a filosofar, comeoua aperceber-se lentamente de que teria que haver um meio-termoentre extremos e da surgiu a temperana, que tem vindo a permitir aligao amistosa entre o prazer e a alegria, que em conjunto nospermitem ser felizes.

    Unidade 3: Doutrinas ticas

    Captulo 7: Estudo das doutrinas ticasPara facilitar o estudo das doutrinas ticas, ou teorias acerca damoral, preferimos dividi-las nos seguintes segmentos, correlacionadoshistoricamente: tica grega, tica crist medieval, tica moderna etica contempornea

    Captulo 8: tica grega

    Sendo assim, vamos partir do princpio que a histria da tica tevesua origem, pelo menos sob o ponto de vista formal, na antigidadegrega, atravs de Aristteles (384 - 322 a.C.) e suas idias sobre atica e as virtudes ticas.

    Na Grcia, porm, mesmo antes de Aristteles, j possvelidentificar traos de uma abordagem com base filosfica para osproblemas morais e at entre os filsofos conhecidos como pr-socrticos encontramos reflexes de carter tico, quando buscavamentender as razes do comportamento humano.

    Scrates (470-399 a.C.) considerou o problema tico individualcomo o problema filosfico central e a tica como sendo a disciplina

    em torno da qual deveriam girar todas as reflexes filosficas. Paraele ningum pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante no virtuoso, ou seja, s age mal, quem desconhece o bem, pois todohomem quando fica sabendo o que bem, reconhece-oracionalmente como tal e necessariamente passa a pratic-lo. Aopraticar o bem, o homem sente-se dono de si e conseqentemente feliz.

    A virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das aesfundadas em valores morais identificados pela inteligncia e queimpelem o homem a agir virtuosamente em direo ao bem.

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    Plato (427-347 a.C.) ao examinar a idia do Bem a luz da suateoria das idias, subordinou sua tica metafsica. Sua metafsicaera a do dualismo entre o mundo sensvel e o mundo das idiaspermanentes, eternas, perfeitas e imutveis, que constituam averdadeira realidade e tendo como cume a idia do Bem, divindade,

    artfice ou demiurgo do mundo.

    Para Plato a alma - princpio que anima ou move o homem - sedivide em trs partes: razo, vontade (ou nimo) e apetite (oudesejos). As virtudes so funo desta alma, as quais sodeterminadas pela natureza da alma e pela diviso de suas partes. Naverdade ele estava propondo uma tica das virtudes, que seriamfuno da alma.

    Pela razo, faculdade superior e caracterstica do homem, a almase elevaria mediante a contemplao ao mundo das idias. Seu fimltimo purificar ou libertar-se da matria para contemplar o querealmente e, acima de tudo, a idia do Bem.

    Para alcanar a purificao necessrio praticar as vrias virtudesque cada parte da alma possui. Para Plato cada parte da alma possuium ideal ou uma virtude que devem ser desenvolvidos para seufuncionamento perfeito. A razo deve aspirar sabedoria, a vontadedeve aspirar coragem e os desejos devem ser controlados paraatingir a temperana.

    Cada uma das partes da alma, com suas respectivas virtudes,estava relacionada com uma parte do corpo. A razo se manifesta nacabea, a vontade no peito e o desejo baixo-ventre. Somente quandoas trs partes do homem puderem agir como um todo que temos oindivduo harmnico.

    A harmonia entre essas virtudes constitua uma quarta virtude: ajustia.

    Plato de certa forma criou uma "pedagogia" para odesenvolvimento das virtudes. Na escola as crianas primeiramente

    tm de aprender a controlar seus desejos desenvolvendo atemperana, depois incrementar a coragem para, por fim, atingir asabedoria.

    A tica de Plato est relacionada intimamente com sua filosofiapoltica, porque para ele, a polis (cidade estado) o terreno prpriopara a vida moral. Assim ele buscou um estado ideal, um estado-modelo, utpico, que era constitudo exatamente como o ser humano.Assim, como o corpo possui cabea, peito e baixo-ventre, tambm oestado deveria possuir, respectivamente, governantes, sentinelas etrabalhadores. O bom estado sempre dirigido pela razo.

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    Eprocede exemplificado:

    Em relao ao meio termo, em alguns casos a falta e em outros o excesso que est mais afastado; por exemplo, no temeridade,que o excesso, mas a covardia, que a falta, que mais oposta

    coragem, e no a insensibilidade, que uma falta, mas aconcupiscncia, que um excesso, que mais oposta moderao.Isto ocorre por duas razes; uma delas tem origem na prpria coisa,pois por estar um extremo mais prximo ao meio termo e ser maisparecido com ele opomos ao intermedirio no o extremo, mas seucontrrio. Por exemplo, como se considera a temeridade maisparecida com a coragem, e a covardia mais diferente, opomos estaltima coragem, pois as coisas mais afastadas do meio termo sotidas como mais contrrias a ele; a outra razo tem origem em nsmesmos, pois as coisas para as quais nos inclinamos maisnaturalmente parecem mais contrrias ao meio termo. Por exemplo,tendemos mais naturalmente para os prazeres, e por isso somoslevados mais facilmente para a concupiscncia do que para amoderao. Chamamos portanto contrrias ao meio termo as coisaspara as quais nos sentimos mais inclinados; logo, a concupiscncia,que um excesso mais contrria moderao. (ibid, p.46)

    Da ser difcil, segundo Aristteles, ser bom na medida em que omeio termo no facilmente encontrado: "Por isso a bondade tanto rara quanto nobre e louvvel".

    A tica de Aristteles - assim como a de Plato - est unida suafilosofia poltica, j que para ele a comunidade social e poltica omeio necessrio para o exerccio da moral. Somente nela poderealizar-se o ideal da vida terica na qual se baseia a felicidade. Ohomem moral s pode viver na cidade e portanto um animalpoltico, ou seja social. Apenas deuses e animais selvagens no temnecessidade da comunidade poltica para viver. O homem devenecessariamente viver em sociedade e no pode levar uma vidamoral como indivduo isolado e sim no seio de uma comunidade.

    O estoicismo e o epicurismo surgem no processo de decadncia

    e de runa do antigo mundo greco-romano.

    Para Epicuro (341-270 a.C) o prazer um bem e como tal oobjetivo de uma vida feliz. Estava lanada ento a idia dehedonismo que uma concepo tica que assume o prazer comoprincpio e fundamento da vida moral. Mas, existem muitos prazeres,e nem todos so igualmente bons. preciso escolher entre eles osmais duradouros e estveis, para isso necessrio a posse de umavirtude sem a qual impossvel a escolha. Essa virtude a prudncia,atravs da qual podemos selecionar aqueles prazeres que no nostrazem a dor ou perturbaes. Os melhores prazeres no so oscorporais - fugazes e imediatos - mas os espirituais, porquecontribuem para a paz da alma.

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    Para os esticos (por exemplo, Zeno, Sneca e Marco Aurlio) ohomem feliz quando aceita seu destino com imperturbabilidade eresignao. O universo um todo ordenado e harmonioso onde ossucessos resultam do cumprimento da lei natural racional e perfeita.O bem supremo viver de acordo com a natureza, aceitar a ordem

    universal compreendida pela razo, sem se deixar levar por paixes,afetos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso aquele que enfrenta seus desejos com moderao aceitando seudestino. O estico um cidado do cosmo no mais da plis.

    Captulo 9: tica crist medieval

    O Cristianismo se eleva sobre o que restou do mundo greco-romano e no sculo IV torna-se a religio oficial de Roma. Com o fimdo "mundo antigo" o regime de servido substitui o da escravido esobre estas bases se constri a sociedade feudal, extremamenteestratificada e hierarquizada. Nessa sociedade fragmentadaeconmica e politicamente, verdadeiro mosaico de feudos, a religiogarantia uma certa unidade social.

    Por este motivo a poltica fica dependente dela e a Igreja Catlicapassa a exercer, alm de poder espiritual, o poder temporal e amonopolizar tambm a vida intelectual.

    Evidentemente a tica fica sujeita a este contedo religioso.

    Os filsofos cristos tiveram uma dupla atitude diante da tica.Absorveram o tico no religioso, edificando um tipo de tica que hojechamamos de tenoma, que fundamenta em Deus os princpios damoral. Deus, criador do mundo e do homem, concebido como umser pessoal, bom, onisciente e todo poderoso. O homem, comocriatura de Deus, tem seu fim ltimo Nele, que o seu bem mais altoe valor supremo. Deus exige a sua obedincia e a sujeio a seusmandamentos, que neste mundo tm o carter de imperativossupremos.

    Num outro sentido tambm aproveitaram muitas das idias da

    tica grega - principalmente platnicas e esticas - de tal modo quepartes dessa tica, como a doutrina das virtudes e sua classificaoinseriram-se quase na sua totalidade na tica crist.

    Evidentemente, enquanto certas normas ticas eram assimiladas,outras, por sua incompatibilidade com os ensinamentos cristos eramrejeitados. A justificativa do suicdio, por exemplo, foi amplamenterejeitada pelos filsofos cristos.

    A tica crist uma tica subordinada religio num contexto em

    que a filosofia "serva" da teologia. Temos ento um tica limitadapor parmetros religiosos e dogmticos.

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    uma tica que tende a regular o comportamento dos homenscom vistas a um outro mundo (o reino de Deus), colocando o seu fimou valor supremo fora do homem, na divindade.

    curioso notar que ao pretender elevar o homem de uma ordem

    natural para outra transcendental e sobrenatural, onde possa viverum vida plena e feliz, livre das desigualdades e injustias do mundoterreno, ela introduz uma idia verdadeiramente inovadora, ou seja,todos seriam iguais diante de Deus e so chamados a alcanar aperfeio e a justia num mundo sobrenatural, o reino dos Cus.

    Em sua gnese essa tica tambm absorve muito do que Plato eAristteles desenvolveram. Pode-se at dizer que seus dois maioresfilsofos, Santo Agostinho (354-430) e So Toms de Aquino(1226-1274) refletem, respectivamente, idias de Plato e Aristteles.

    A purificao da alma, em Plato, e sua ascenso libertadora atelevar-se ao mundo das idias tem correspondncia na elevaoasctica at Deus exposta por Santo Agostinho.

    A tica de Toms de Aquino tem muitos pontos de coincidnciacom Aristteles e como aquela busca atravs de contemplao e deconhecimento alcanar o fim ltimo, que para ele era Deus.

    A histria da tica complica-se a partir do Renascimento Europeu epodemos chamar de tica moderna s diversas tendncias que

    prevaleceram desde o sculo XVI at o incio do sculo XIX.

    No fcil sistematizar as diversas doutrinas ticas que surgiramneste perodo, tamanha sua diversidade, mas podemos encontrar,talvez como reao tica crist descntrica e teolgica umatendncia antropocntrica.

    Evidentemente essa mudana de ponto de vista no aconteceu aoacaso. Fez-se necessrio um entendimento sobre as mudanas que omundo sofreu, nas esferas econmica, poltica e cientfica paraentendermos todo o processo.

    A forma de organizao social que sucedeu feudal, traz em suaestrutura mudanas em todas as ordens.

    A economia, por exemplo, viu crescer de forma muito intensa orelacionamento de suas foras produtivas com o desenvolvimentocientfico que comeara a fundamentar a cincia moderna - so dessapoca os trabalhos de Galileu e Newton - e desse relacionamento sedesenvolvem as relaes capitalistas de produo.

    Essa nova forma de produo fortalece uma nova classe social - aburguesia - que luta para se impor poltica e economicamente. umapoca de grandes revolues polticas (Holanda, Frana e Inglaterra)

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    e no plano estatal assistimos o desaparecimento da fragmentadasociedade feudal e o fortalecimento dos grandes Estados Modernos,nicos e centralizados.

    Nessa nova ordem vemos a razo se separando da f (a filosofia

    separa-se da religio), as cincias naturais dos pressupostosteolgicos, o Estado da Igreja e o homem de Deus.

    Captulo 10: tica moderna

    Essa ruptura fica muito evidente quando, entre a Idade Mdia e aModernidade, o italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) provoca umarevoluo na tica ao romper com a moral crist, que impe osvalores espirituais como superiores aos polticos, quando defendeu aadoo de uma moral prpria em relao ao Estado. O que importaso os resultados e no a ao poltica em si, sendo legtimos os usosda violncia contra os que se ope aos interesses estatais.

    Examinando as outras qualidades atrs enumeradas, direi quetodo o prncipe deve desejar ser tido como piedoso, e no comocruel; no obstante, deve cuidar de no usar mal a piedade. CesarBorgia era tido como cruel; entretanto, essa sua crueldade haviaposto ordem na Romanha, promovido a sua unio e a sua pacificaoe inspirando confiana, o que, bem considerado, mostra ter sido elemuito mais piedoso do que os florentinos, os quais, para esquivaremda reputao de cruis deixaram que Pistia fosse destruda. Deve

    um prncipe, portanto, no se importar com a reputao de cruel, afim de poder manter os seus sditos em paz e confiantes, pois que,com pouqussimas represses, ser mais piedoso do que aquelesque, por muito clementes, permitem as desordens das quais resultemassassnios e rapinagens. Estas atingem a comunidade inteira,enquanto que os castigos impostos pelo prncipe atingem poucos.(MAQUIAVEL, sd, p.107)

    Na verdade o que estamos presenciando uma extraordinriasugesto para a aplicao de novos valores. A obra de Maquiavelinfluenciar, como veremos mais tarde, outros pensadores modernos

    como o ingls Thomas Hobbes e Baruch de Epinosa, extremamenterealistas no que se refere tica.

    O homem recupera ento seu valor pessoal e passa a ser vistocomo dotado de razo e afirma-se em todos os campos, da cincia sartes. Descartes (1596-1650) esboa com muita clareza estatendncia de basear a filosofia no homem, que passa a ser o centrode tudo, da poltica, da arte, e tambm da moral. Vemos ento oaparecimento de uma tica antropocntrica.

    Como se v, a . dos secs XVII e XVIII manifesta um alto grau deuniformidade: no s ela uma doutrina do mvel mas tambm a

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    sua oscilao entre a "tendncia a conservao" e a "tendncia aoprazer" como base da moral no implica uma diferena radical, j queo prprio prazer no seno o ndice e motivo de uma situaofavorvel conservao. (ABBAGNANO, sd, p.364)

    Thomas Hobbes (1588-1679) consegue sistematizar esta ticado desejo, que existe em cada ser, de prpria conservao comosendo o fundamento da moral e do direito. Para Hobbes, a vida dohomem no estado de natureza - sem leis nem governo - era "solitria,pobre, srdida, embrutecida e curta", uma vez que os homens so porndole agressivos, autocentrados, insociveis e obcecados por um"desejo de ganho imediato".

    O principal dos bens a conservao de si mesmo. A natureza,com efeito, proveu para que todos desejem o prprio bem, mas afimde que possam ser capazes disso, necessrio que desejem a vida, asade e a maior segurana dessas coisas para o futuro. De todos osmales porm, o primeiro a morte, especialmente se acompanhadade sofrimento. J que os males da vida podem ser tantos que senose prever como prximo o seu fim, fazem contar a morte entre osbens.(De hom., XI , 6)

    Para Hobbes, indivduos que decidem viver em sociedade no somelhores ou menos egostas do que os selvagens: so apenas maisclarividentes, percebendo que, se cooperarem, podem ser mais ricose mais felizes. Seu bom comportamento deriva do seu egosmo. Em

    outras palavras, o que leva dois homens pr-histricos a se uniremnuma caada a um tigre dente-de-sabre, o fato de que, juntos, tmmais chances de mat-lo sem se ferirem.

    Baruch de Espinosa (1632-1677) afirmava que os homenstendem naturalmente a pensar apenas em si mesmos, que em seusdesejos e opinies as pessoas so sempre conduzidas por suaspaixes, as quais nunca levam em conta o futuro ou as outraspessoas. Essa tendncia a conservao, consecuo de tudo que til muitas vezes colocada na obra de Espinosa como sendo aprpria ao necessitante da Substncia Divina.

    Uma vez que a Razo no pede nada que seja contra a Natureza,ela pede, por conseguinte, que cada um se ame a si mesmo, procureo que lhe til, mas o que lhe til de verdade; deseje tudo o queconduz, de fato, o homem a uma maior perfeio; e, de uma maneirageral, que cada um se esforce por conservar o seu ser, tanto quantolhe possvel. Isto to necessariamente verdadeiro como o todo sermaior que a sua parte. (ESPINOSA, 1973, p.244).

    Jonh Locke (1632-1704) atrela a tendncia conservao esatisfao uma concepo de "felicidade pblica". Dizia Locke:

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    Como Deus estabeleceu um liame indissolvel entre a virtude e afelicidade pblica, e tornou a prtica da virtude necessria conservao da sociedade humana e visivelmente vantajosa paratodos os que precisam tratar com as pessoas de bem, ningum sedeve maravilhar se cada um no s aprovar essas regras, mas

    igualmente recomend-las aos outros, estando persuadido de que, seas observarem, lhe adviro vantagens a ele prprio. (Ensaio, I, 2, 6)

    David Hume (1711-1776) seguindo essa linha nos coloca que ofundamento da moral a utilidade, ou seja, boa ao aquela queproporciona "felicidade e satisfao" sociedade. A utilidade agradaporque responde a uma necessidade ou tendncia natural que inclinao homem a promover a felicidade dos seus semelhantes.

    Ao invs de limitar os desejos humanos queles determinadosapenas pelo interesse pessoal (comida, dinheiro, glria, etc), Humepercebeu que muitas das nossas paixes esto baseadas no que elechamava de simpatia - a capacidade de sentir em si mesmo ossofrimentos e at mesmo as alegrias de outrem.

    Essa viso do ser humano como criatura simptica tornavaimpossvel traar, maneira de Hobbes, uma ntida linha divisriaentre o interesse pessoal e o interesse alheio, uma vez que agora possvel encarar o interesse alheio como se ele fosse um interessepessoal. Hume estava propondo uma espcie de razo emocionalpara o comportamento altrusta.

    Para Jean Jaques Rousseau (1712-1778) o homem bom pornatureza e seu esprito pode sofrer um aprimoramento quaseilimitado.

    Talvez a expresso maior da tica moderna tenha sido o filsofoalemo Immannuel Kant (1724-1804).

    A preocupao maior da tica de Kant era estabelecer a regra daconduta na substncia racional do homem. Ele fez do conceito dedever ponto central da moralidade. Hoje em dia chamamos a tica

    centrada no dever de deontologia.

    Kant dizia que a nica coisa que se pode afirmar que seja boa emsi mesma a "boa vontade" ou boa inteno, aquilo que se pelivremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever seriaconseqncia da percepo, pelo homem, de que um ser racional ecomo tal est obrigado a obedecer o que Kant chamava de"imperativo categrico", que a necessidade de respeitar todos osseres racionais na qualidade de "fins em si mesmo". oreconhecimento da existncia de outros homens (seres racionais) e aexigncia de comportar-se diante deles a partir dessereconhecimento.

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    Deve-se ento tratar a humanidade na prpria pessoa como na doprximo sempre como um fim e nunca s como um meio.

    A tica kantiana busca, sempre na razo, formas deprocedimentos prticos que possam ser universalizveis, isto , um

    ato moralmente bom aquele que pode ser universalizvel, de talmodo que os princpios que eu sigo possam valer para todos.

    "Age apenas segundo uma mxima tal que possas ao mesmotempo querer que ela se torne lei universal." (KANT, 1984, p.129)

    Analisando a questo da tortura, por exemplo, me questiono se talprocedimento deveria ser universalizado ou no. Se no posso querera universalizao da tortura, tambm no posso aceit-la no aqui eagora.

    Friedrich Hegel (1770-1831) pode ser considerado como sendo omais importante filsofo do idealismo alemo ps-kantiano.

    Para ele, a vida tica ou moral dos indivduos, enquanto sereshistricos e culturais, determinada pelas relaes sociais quemediatizam as relaes pessoais intersubjetivas. Hegel dessa formatransforma a tica em uma filosofia do direito. Ele a divide em ticasubjetiva (ou pessoal) e em tica objetiva (ou social). A primeira uma conscincia de dever e a segunda formada pelos costumes,pelas leis e normas de uma sociedade. O Estado, para Hegel, rene

    esses dois aspectos numa "totalidade tica".

    Assim, a vontade individual subjetiva tambm determinada poruma vontade objetiva, impessoal, coletiva, social e pblica que cria asdiversas instituies sociais. Alm disso, essa vontade regula enormatiza as condutas individuais atravs de um conjunto de valorese costumes vigentes em uma determinada sociedade em umadeterminada poca.

    O ideal tico estava numa vida livre dentro de um Estado livre, umEstado de Direito que preservasse os direitos dos homens e lhes

    cobrasse seus deveres, onde aconscincia moral e as leis do direitono estivessem nem separadas e nem em contradio.

    Dessa maneira, a vida tica consiste na interiorizao dos valores,normas e leis de uma sociedade, condensadas na vontade objetivacultural, por um sujeito moral que as aceita livre e espontaneamenteatravs de sua vontade subjetiva individual. A vontade pessoalresulta da aceitao harmoniosa da vontade coletiva de uma cultura.

    O alemo Karl Marx (1818-1883) tambm via a moral como umaespcie de "superestrutura ideolgica", cumprindo uma funo socialque, via de regra, servia para sacramentar as relaes e condies deexistncia de acordo com os interesses da classe dominante. Numa

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    sociedade dividida por classes antagnicas a moral sempre ter umcarter de classe.

    At hoje existem diferentes morais de classe e inclusive numamesma sociedade podem coexistir vrias morais, j que cada classe

    assume uma moral particular. Assim, enquanto no se verificarem ascondies reais para uma moral universal, vlida para toda asociedade, no pode existir um sistema moral vlido para todos ostempos e todas as sociedades.

    Para Marx, sempre que se tentou construir semelhante sistema nopassado estava-se tentando imprimir um carter universal ainteresses particulares.

    Se entendermos a moral proletria como sendo a moral de umaclasse que est destinada historicamente a abolir a si mesma comoclasse para ceder lugar a uma sociedade verdadeiramente humana,serve como passagem a uma moral universalmente humana.

    Os homens necessitam da moral como necessitam da produo ecada moral cumpre sua funo social de acordo com a estruturasocial vigente.

    Torna-se necessria ento uma nova moral que no seja o reflexode relaes sociais alienadas, para regular as relaes entre osindivduos, tanto em vista das transformaes da velha sociedade

    como para garantir a harmonia da emergente sociedade socialista.

    Captulo 11: contempornea

    Tudo isso, a transformao da antiga moral e a construo danova, exigem a participao consciente dos homens. A nova moral,com suas novas virtudes transforma-se numa necessidade. O homemportanto, deve interferir sempre na transformao da sociedade.

    Uma outra viso nos apresentada no pensamento de Nietzsche(1844-1900), que um crtico veemente e mordaz a toda moralexistente, seja ela a moral socrtica, a judaico-cristo ou a moralburguesa.

    Necessitamos uma crtica dos valores morais, e antes de tudodeve discutir-se o valor desses valores, e por isso de toda anecessidade conhecer as condies e os meios ambientes em quenasceram, em que se desenvolveram e deformaram (a moral comoconseqncia, mscara, hipocrisia, enfermidade ou equvoco, etambm a moral como causa, remdio, estimulante, freio ou veneno)

    conhecimento tal que nunca teve outro semelhante nem possvelque o tenha. Era um verdadeiro postulado o valor desses valores:

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    atribui-se ao bem um valor superior ao valor do mal, ao valor doprogresso, da utilidade, do desenvolvimento humano. E por que? No poderia haver no homem "bom" um sintoma de retrocesso, um perigo, uma seduo, um veneno, um sacrifcio do presente aexpensas do futuro? Uma vida mais agradvel, mais inofensiva, mas

    tambm mais mesquinha, mais baixa?... De tal modo que fosse culpada moral o no ter chegado o tipo homem ao mais alto grau do podere do esplendor? E de modo que entre todos os perigos fosse a moralo perigo por excelncia?... (NIETZSCHE, 1983, p.13-14)

    Para este filsofo, a vida vontade de poder, princpio ltimo detodos os valores; o bem tudo que favorece a fora vital do homem, tudo o que intensifica e exalta no homem o sentimento de poder, avontade de poder e o prprio poder. O mal tudo que vem dafraqueza. Nietzsche anunciou o super-homem, capaz de quebrar atbua dos valores transmutando-os a todos.

    Uma outra corrente dentro da tica o utilitarismo, segundo oqual o objetivo da moral o de proporcionar o mximo de felicidadeao maior nmero de pessoas.

    Para John Stuart Mill (1806-1873), representante da ticautilitarista, a felicidade reside na busca do mximo prazer e domnimo de dor. O Bem consiste na maior felicidade e a virtude ummeio de se atingir essa felicidade, fundamento de toda filosofia moral.

    O credo que aceita a Utilidade ou Princpio da Maior Felicidadecomo fundamento da moral, sustenta que as aes so boas naproporo com que tendem a produzir a felicidade; e ms, na medidaem que tendem a produzir o contrrio da felicidade. Entende-se porfelicidade o prazer e a ausncia de dor; por infelicidade, a dor e aausncia de prazer . [...] O prazer e a iseno de dor so as nicascoisas desejveis [...] como fins; e [...] todas as coisas desejveis [...]o so pelo prazer inerente a elas mesmas ou como meios para apromoo do prazer e a preservao da dor. (MILL, 1960, p. 29-30)

    Da idia de bem como sendo o que traz vantagens para muitos se

    deduziu at mesmo uma matemtica ou clculo moral.

    Estas tendncias aparecem em muitas formulaes ticas,principalmente numa corrente conhecida como pragmatismo.

    O pragmatismo, como doutrina tica, parece estar muito ligado aopensamento anglo-saxo, tendo se desenvolvido muito nos pases defala inglesa, particularmente nos Estados Unidos, no ltimo quarto dosculo passado.

    Seus principais expoentes so o filsofo e psiclogo WilliamJames (1842-1910) e o filsofo educadorJohn Dewey.

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    O pragmatismo deixa de lado as questes tericas de fundo,afastando-se dos problemas abstratos da velha metafsica ededicando-se s questes prticas vistas sob uma tica utilitria.

    Procura identificar a verdade com o til, como aquilo que melhor

    ajuda a viver e conviver. O Bom algo que conduz a obteno eficazde uma finalidade, fim esse que nos conduz a um xito.

    Dessa forma os valores, princpios e normas perdem seu contedoobjetivo e o bem passa a ser aquilo que ajuda o homem em suasatividades prticas, variando conforme cada situao.

    O pragmatismo pode bem ser o reflexo do progresso cientfico etecnolgico alcanado pelos Estados Unidos no apogeu de sua fasecapitalista onde o "esprito de empresa", o "american way of life",criaram solo frtil para a mercantilizao das vrias atividadeshumanas.

    Existe um grande perigo embutido no pragmatismo, que areduo do comportamento moral a atos que conduzam apenas aoxito pessoal transformando-o numa variante utilitarista marcadaapenas pelo egosmo, rejeitando a existncia de valores ou normasobjetivas.

    Uma distoro muito comum em nossa sociedade capitalista abusca da vantagem particular, onde o bom o que ajuda meu

    progresso e o meu sucesso particular.

    No podemos seguir adiante, sem comentarmos a obra do filsofofrancs HenriBergson (1859-1941). Bergson distinguiu uma moralfechada e uma moral aberta. A fechada o conjunto do que permitido e do que proibido para os indivduos de uma sociedade,tendo em vista a autoconservao da mesma. Ela imposta aosindivduos e tem como finalidade tornar a vida em comum possvel etil a todos. "Ela corresponde no mundo humano ao que instinto emcertas sociedades animais, isto , tende ao fim de conservar asprprias sociedades."

    Do outro lado encontramos a moral aberta, nascida de um impulsocriador supra-racional. a moral do amor, da liberdade e dahumanidade universal, que resulta de uma emoo criadora.Enquanto tal, torna possvel a criao de novos valores e de novascondutas em substituio quelas vigentes segundo a moral fechada.

    a moral dos profetas, dos inovadores, dos msticos, dos sbios edos santos. Graas sempre a eles, foi, e possvel, a instaurao deuma nova tica em face da moral vigente.

    Na filosofia contempornea, os princpios do liberalismoinfluenciaram bastante o conceito de tica, que ganha fortes traos

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    de moral utilitarista. Os indivduos devem buscar a felicidade e, paraisso, fazer as melhores escolhas entre as alternativas existentes. Parao filsofo ingls Bertrand Russel (1872-1970) a tica subjetiva.No contm afirmaes verdadeiras ou falsas. a expresso dosdesejos de um grupo. Mas Russel diz que o homem deve reprimir

    certos desejos e reforar outros, se pretende atingir a felicidade ou oequilbrio.

    Para finalizar esse captulo, consideramos ser de grandeimportncia uma anlise dos trabalhos de Habermas e John Rawls.

    Jurgem Habermas, filsofo alemo nascido em 1924, professorda Universidade de Frankfurt.

    Sua obra pretende ser uma reviso e uma atualizao domarxismo, capaz de dar conta das caractersticas do capitalismoavanado da sociedade industrial contempornea. Faz uma critica racionalidade dessa sociedade, caracterizando-a em termos de uma"razo instrumental", que visa apenas estabelecer os meios para sealcanar um fim determinado. Segundo sua anlise, odesenvolvimento tcnico e a cincia voltada apenas para a aplicaotcnica acarretam na perda do prprio bem, que estaria submetido sregras de dominao tcnica do mundo natural.

    necessrio ento a recuperao da dimenso humana, de umaracionalidade no-instrumental, baseada no "agir comunicativo" entre

    sujeitos livres, de carter emancipador em relao dominaotcnica.

    Habermas percebeu a distoro dessa possibilidade de aocomunicativa, que produziu relaes assimtricas e impediu umainterao plena entre as pessoas.

    A proposta de Habermas formula-se em termos de uma "teoria daao comunicativa", recorrendo inclusive filosofia analtica dalinguagem para tematizar essas condies do uso da linguagem livrede distoro como fundando uma nova racionalidade.

    Habermas busca uma teoria geral da verdade, segundo a qual ocritrio da verdade o consenso dos que argumentam e defende aidia de que argumentar uma tarefa eminentemente comunicativa.Por isso, o "discurso intersubjetivo" o lugar prprio para aargumentao.

    Somente se poderia aceitar como critrio de verdade aqueleconsenso que se estabelece sob condies ideais, que Habermaschama de "situao ideal de fala". Ou seja, a razo definidapragmaticamente de tal modo que um consenso racional quando estabelecido numa condio ideal de fala. Para que isso seja possvel,

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    definiu uma srie de regras bsicas, cuja observao condio paraque se possa falar de um discurso verdadeiro.

    Essas regras so, em primeiro lugar, que todos os participantestenham as mesmas chances de participar do dilogo, em segundo,

    que devem ter chances iguais para a crtica. So formas de, quandouma argumentao tem lugar entre vrias pessoas, a eliminao dosfatores de poder que poderiam perturbar a argumentao.

    Uma terceira condio seria que todos os falantes deveriam terchances iguais para expressar suas atitudes, sentimentos eintenes.

    A quarta e decisiva condio afirma que sero apenas admitidosao discurso falantes que tenham as mesmas chances enquantoagentes para dar ordens e se opor, permitir e proibir, etc.

    Um dilogo sobre questes morais entre senhores e escravos,patres e empregados, pai e filho, violaria, portanto as condies dasituao ideal da fala.

    Lembramos que o "discurso autntico" aquele que ocorre compessoas em situao igual, sob condies igualitrias do ponto devista de participao no discurso.

    Habermas ainda defende o projeto iniciado pelo Iluminismo como

    algo ainda a ser desenvolvido e significativo para nossa poca, desdeque a razo seja entendida criticamente, no sentido do agircomunicativo.

    John Rawls, em sua "Teoria da Justia" (1971) afirma que a justiano um resultado de interesses, por pblicos que sejam. Ele fala deuma justia distributiva partindo de um "estado inicial" por meio doqual se pode assegurar que os acordos bsicos a que se chega numcontrato social sejam justos e eqitativos.

    A justia entendida como eqidade por ser eqitativa em relao

    a uma posio original que est baseada em dois princpios: a)cumpre assegurar para cada pessoa numa sociedade, direitos iguaisnuma liberdade compatvel com a liberdade dos outros; b) deve haveruma distribuio de bens econmicos e sociais de modo que todadesigualdade resulte vantajosa para cada um, podendo alm disso tercada um acesso, sem obstculos, a qualquer posio ou cargo.

    A concepo geral de sua teoria afirma que, todos os bens sociaisprimrios - liberdade e oportunidade, rendimentos e riquezas, e asbases de respeito a si mesmo devem ser igualmente distribudas, amenos que uma distribuio desigual desses bens seja vantajosa paraos menos favorecidos

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