representações e usos das tecnologias digitais por diferentes grupos de seniores em portugal

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Sessão 3: Seniores na Sociedade da Informação REPRESENTAÇÕES E USOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS POR DIFERENTES GRUPOS DE SENIORES EM PORTUGAL Isabel Dias, Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Lisboa, 4 de Novembro de 2011

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Page 1: Representações e usos das tecnologias digitais por diferentes grupos de seniores em Portugal

Sessão 3: Seniores na Sociedade da Informação

REPRESENTAÇÕES E USOS DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS POR DIFERENTES

GRUPOS DE SENIORES EM PORTUGAL

Isabel Dias, Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Lisboa, 4 de Novembro de 2011

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OBJECTO DE ESTUDO E OBJECTIVOS

Análise das representações e dos usos das tecnologias de informação e comunicação (TIC) por parte de dois grupos de seniores (55 -65 anos e 66 ou mais anos).

Conhecer o uso diferencial que os seniores mais jovens e mais velhos fazem das TIC.

A relação que mantêm com as TIC.

A importância das TIC para o desenvolvimento de competências digitais e de integração social.

Conferência Diversidade Digital, Lisboa, 4 de Novembro de 2011

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CONCEITOS DE REFERÊNCIA

Sociedade em rede: consiste num tipo de organização social que resultou da interação entre, por um lado, a revolução tecnológica baseada nas tecnologias de informação e comunicação (TIC) e na engenharia genética e, por outro, nos processos sociais, económicos, culturais e políticos do último quarto do século XX. Tem uma existência global (Castells, 2005:I).

É no contexto destas sociedades em rede que se desenvolve a vida quotidiana das pessoas, em particular, da nossa amostra.

Estas sociedades assumem, em parte, a existência das novas tecnologias de informação e da comunicação (TIC), como a internet, e adaptam-nas às suas necessidades, aos seus interesses e valores, aos seus projetos.

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CONCEITOS DE REFERÊNCIA

A existência da internet tem permitido aos seus utilizadores situarem-se num novo contexto:

perceber a necessidade de se auto-informar e de se auto-educar num mundo de crescente valorização da formação ao longo da vida e da inovação;

estabelecer redes de comunicação horizontal independentes dos meios de comunicação de massa;

construir a autonomia da sociedade civil global como contrapeso à crise de legitimidade das instituições políticas.

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CONCEITOS DE REFERÊNCIA

Envelhecimento ativo – Este conceito associa o envelhecimento à atividade económica, social e cultural, a qual se prolonga para além da reforma. Preconiza a aprendizagem ao longo da vida e a introdução de um sistema de reforma mais gradual. Refere-se ao desenvolvimento de atividades que permitam otimizar as capacidades individuais e manter um bom estado de saúde da pessoa idosa.

Refere-se ao processo de otimização do potencial de bem-estar social, físico e mental das pessoas ao longo da vida para que este período, que é cada vez mais longo, seja vivido de forma autónoma e ativa (Tamer e Petriz, 2007: 183).

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CONCEITOS DE REFERÊNCIA

Envelhecimento produtivo – um sénior produtivo é todo aquele que se envolve em atividades de realização significativas, pessoalmente satisfatórias e com um impacto positivo nas suas próprias vidas e na dos outros. Um papel produtivo será todo aquele que produz bens ou serviços, remunerados (e.g., emprego) ou não (e.g., voluntariado) (Kaye, Butter and Webster, 2003:204).

“Ativo” não se refere unicamente à capacidade de estar fisicamente ativo, mas também ao envolvimento contínuo dos idosos nas questões sociais, económicas, espirituais, culturais e cívicas (Vallespir e Morey, 2007:241)

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CONCEITOS DE REFERÊNCIA

Trata-se de um conceito que ultrapassa a abordagem centrada nas necessidades, para se focar nos direitos dos seniores em todos os domínios.

Neste sentido, abrange, de igual modo, o conceito de educação permanente, também designado por educação ao longo da vida: enquanto oportunidade que garante aos indivíduos um conjunto de meios que lhes permite alcançar o equilíbrio entre trabalho, aprendizagem e vida ativa (Vallespir e Morey, 2007:245).

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CONCEITOS DE REFERÊNCIA

Inclusão tecnológica - implica apreender o discurso da tecnologia, não apenas na óptica de execução e de qualificação, mas também na perspectiva dos sujeitos serem capazes de influírem sobre a importância e finalidades da própria tecnologia digital.

Literacia digital - enquanto processo de assimilação de conhecimentos estruturados com determinada finalidade, mas também como possibilidade de construção de cidadania (Lima, Nogueira e Burgos, 2008).

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CONCEITOS DE REFERÊNCIA

• Género: Entendido como a elaboração cultural do sexo. Refere-se aos comportamentos e expectativas socialmente aprendidos a propósito de ambos os sexos.

• Refere-se aos processos sociais que levam à interiorização por homens e mulheres dos efeitos das atribuições sociais aos comportamentos que se esperam e exprimem em todos os domínios da vida social (Guionnet e Neveu, 2005: 5).

• Proporciona-nos uma lente de leitura importante para a compreensão dos diferentes processos de interação dos homens e mulheres mais velhos com as TIC.

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ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

O estudo articula uma análise qualitativa e extensiva.

Abordagem qualitativa: foram analisadas 30 entrevistas semi-estruturadas das 130

realizadas a famílias residentes em Portugal entre os meses de Novembro e

Dezembro de 2009 (Projecto Inclusão e Participação Digital - 2009-2011).

O ponto de vista subjetivo dos seniores é apresentado sob a forma de transcrições

dos seus discursos.

Amostra: Foram selecionadas as entrevistas realizadas aos indivíduos com idades

compreendidas entre os 55 e os 90 anos. Os seniores foram subdivididos entre os

mais jovens (55-65 anos) e os mais velhos (66 ou mais anos).

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ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

Abordagem quantitativa: foi administrado um inquérito por questionário a uma amostra composta por 792 utilizadores de espaços de internet e frequentadores de centros de emprego das cidades de Lisboa, Porto e Coimbra.

Amostra: a nossa análise incidiu nos indivíduos com idades compreendidas entre os 55-65 anos e com 66 ou mais anos.

54 indivíduos com idades entre os 55-65 anos;

37 com 66 ou mais anos.

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CARACTERISTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS

Quadro 1. Género e idade dos inquiridos

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Género

Idade

Total 55-65 anos 66 ou mais

anos

N % N % N %

Masculino 32 56,1 17 50,0 49 53,8

Feminino 25 43,9 17 50,0 42 46,2

Total 57 100,0 34 100,0 91 100,0

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CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS

Quadro 2. Educação dos inquiridos, idade e género

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Escalão etário Educação dos inquiridos

Género Total

Masculino Feminino

N % N % N %

55-65 anos

1º ciclo 4 12,5 6 24,0 10 17,5

2º ciclo 5 15,6 0 0,0 5 8,8

3º ciclo 3 9,4 5 20,0 8 14,0

Ensino secundário incompleto 2 6,3 3 12,0 5 8,8

Ensino secundário completo 8 25,0 6 24,0 14 24,6

Frequência ensino superior 3 9,4 0 0,0 3 5,3

Ensino superior completo 7 21,9 5 20,0 12 21,1

Total 32 100,0 25 100,0 57 100,0

66 ou mais anos

1º ciclo 3 17,6 6 35,3 9 26,5

2º ciclo 0 0,0 1 5,9 1 2,9

3º ciclo 4 23,5 4 23,5 8 23,5

Ensino secundário incompleto 3 17,6 3 17,6 6 17,6

Ensino secundário completo 1 5,9 1 5,9 2 5,9

Frequência ensino superior 1 5,9 0 0,0 1 2,9

Ensino superior completo 5 29,4 2 11,8 7 20,6

Total 17 100,0 17 100,0 34 100,0

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CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS

Quadro 3. Condição laboral dos inquiridos, idade e Género

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Escalão etário Condição laboral dos inquiridos

Género Total Masculino Feminino

N % N % N %

55-65 anos

Exerce uma profissão a tempo inteiro 7 21,9 6 24,0 13 22,8

Exerce uma profissão a tempo parcial 1 3,1 1 4,0 2 3,5

Desempregado(a) 7 21,9 12 48,0 19 33,3

Estudante-trabalhador 1 3,1 0 0,0 1 1,8

Formando 1 3,1 0 0,0 1 1,8

Ocupa-se exclusivamente das tarefas do

lar 0 0,0 1 4,0 1 1,8

Reformado(a) 13 40,6 5 20,0 18 31,6

Incapacitado(a) para o trabalho 1 3,1 0 0,0 1 1,8

Outra situação 1 3,1 0 0,0 1 1,8

Total 32 100,0 25 100,0 57 100,0

66 ou mais anos

Exerce uma profissão a tempo inteiro 1 5,9 0 0,0 1 2,9

Exerce uma profissão a tempo parcial 1 5,9 0 0,0 1 2,9

Desempregado(a) 1 5,9 0 0,0 1 2,9

Reformado(a) 14 82,4 17 100,0 31 91,2

Total 17 100,0 17 100,0 34 100,0

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CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS

Género e idade: existe na nossa amostra (n=91) um número aproximado de homens e mulheres, com um ligeiro predomínio dos seniores mais jovens.

Predominam baixos níveis de escolaridade, sobretudo nos seniroes mais velhos. Contudo, 20,9% dos seniores têm o ensino superior, com um ligeiro predomínio dos homens (13,2% para 7,7% das mulheres).

Condição laboral actual: a maioria encontra-se reformado (53,8%).

Na condição de reformados encontram-se 91,2% dos seniores mais velhos para 31,6% dos mais novos.

Porém, 33,3% dos que têm entre 55-65 anos estão desempregados, com destaque para as mulheres (48% para 21,9% dos homens).

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E

MOTIVAÇÕES

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA

COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Televisão: 100% dos seniores de ambos os escalões etários têm este equipamento.

Neste caso, não há diferenças significativas de género ou idade.

• Telemóvel: 100% das seniores jovens e mais velhas possuem este equipamento.

• Este equipamento também se encontra fortemente presente nos seniores de ambos escalões do sexo masculino.

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Telefone fixo: está presente nos agregados domésticos dos seniores, principalmente das mulheres (jovens e mais velhas).

• O computador portátil e de secretária está mais presente nos agregados domésticos dos seniores mais jovens, de ambos os sexos.

• Esta tendência encontra-se igualmente presente no caso da televisão por cabo ou satélite (62,5% de homens entre os 55-65 anos, para 80,0% de mulheres do mesmo escalão).

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• De uma forma geral, os seniores têm alguma familiaridade com os media, sejam os mais jovens (55-65 anos), sejam os mais velhos (66 anos e mais).

• Subjacente à aquisição das tecnologias da informação e da comunicação por parte dos seniores, encontram-se motivações ligadas a necessidades de lazer, entretenimento e informação.

• O interesse por programas noticiosos é comum a todos, homens e mulheres.

• Porém, para as mulheres idosas, as telenovelas encontram-se entre os seus programas preferidos.

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• “Entretenho-me muito com as telenovelas”.

(Celeste, 67 anos, doméstica)

• “Gosto de ouvir as notícias… tanto faz na televisão, como na Rádio Renascença. Gosto de ouvir as notícias, isso gosto”.

(Dália, 78 anos, reformada)

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Independentemente da idade dos seniores, observa-se uma adesão positiva ao telemóvel. Porém, os mais jovens adquirem telemóveis tecnologicamente mais equipados e usam-nos com fins mais específicos.

• “O meu telemóvel tem câmara fotográfica, tem MP3 e tem jogos. Para além das chamadas e das mensagens que são as funções básicas de um telemóvel, utilizo com bastante frequência o MP3”.

(José, 58 anos, comerciante)

• “O meu telemóvel é Nokia. Tem uma máquina fotográfica, 3.2 mega. Já é velhinho e vai ser trocado por outro melhor. (…) No meu telemóvel tenho lá 1400 músicas”.

(Diva, 56 anos, empregada de limpeza)

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Os mais velhos optam por telemóveis tecnologicamente menos evoluídos e usam-nos para comunicar com a família e amigos, mas também para resolverem situações-problemas.

• “Não saio sem telemóvel. É o mais simples possível. Gosto de receber chamadas e telefonar. Não muito complicado, nada mais”.

(Celeste, 67 anos, doméstica)

• “Eu uso mais para falar com as minhas filhas… é só para falar com a família e os amigos”.

(Lurdes, 59 anos, reformada)

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• A idade, mais do que o género, explica uma certa apetência por equipamentos como o computador, consola e consola ligada à internet, presentes sobretudo nos seniores mais jovens de ambos os sexos.

• São os seniores mais velhos que mais referem não ter computador de secretária (64,7% dos homens para 52,9% das mulheres) ou portátil (47,1% e 64,7% respectivamente).

• Esta situação é corroborada por alguns dos testemunhos dos nossos entrevistados:

• “Não, um computador? Eu não sei, alguma vez sei mexer nisso? Eu nem sei ver o que é um computador”.

(Dália, 78 anos, reformada

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• À ausência de necessidade pessoal e social de computador, junta-se uma certa iliteracia no que diz respeito ao seu uso. Esta situação é tanto mais acentuada, quanto os seniores avançam na idade.

• Porém, também existem situações em que apesar de haver um computador no lar, o sénior não o utiliza, por razões idênticas às supramencionadas.

• É o caso de Manuel, de 63 anos, em que o computador foi adquirido para os “filhos”, mas “nunca usa”, embora seja empresário.

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Todavia, outros seniores usam o computador com vários fins. É o caso de Diva e de Henriqueta:

• “Eu uso desde 1998. (…) Eu ouço música, eu vejo filme, eu me informo de tudo o que há no mundo, pesquiso. Dá para fazer trabalho, dependendo do que você quer. Você tem acesso a todos os programas”.

(Diva,56 anos, empregada de limpeza)

• “Eu comecei a mexer no computador como instrumento de trabalho. Portanto, há uns 15, 20 anos. (…) Portanto, eu aprendi a mexer, a utilizar o computador na aula como instrumento de trabalho. A partir daí nunca mais parei”

(Henriqueta, 58 anos, professora

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• A baixa predisposição para o uso de computador está, de certa forma, relacionada com um fraco acesso à internet e seu uso, não obstante os entrevistados terem conhecimento dos locais onde este serviço poderá estar acessível (e.g., bibliotecas públicas).

• Relativamente ao uso da internet constatam-se não só diferenças de idade, como de género:

• São os homens e as mulheres mais jovens (55-65 anos) que usam:

• frequentemente ou pouco a internet (61,3% e 32%, respectivamente);

• ou usam muito frequentemente (32,2 % dos homens para 28,0% das mulheres).

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Nos seniores mais velhos – homens e mulheres estes valores são estatisticamente pouco expressivos.

• Ainda assim, as mulheres de ambos os escalões etários apresentam uma menor predisposição para o uso da internet.

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

Fig. 1. Frase que melhor descreve o uso da internet por idade e género

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• O acesso à internet também varia em função da idade e do género:

• Seniores mais jovens do sexo masculino: o acesso faz-se primeiro em casa (39,9%) e na biblioteca (39,0%) e de seguida no trabalho(26,8%).

• A primeira situação observa-se, de igual modo, para os seniores mais velhos: acesso na biblioteca (52,9%) e em casa (47,1%). O acesso no trabalho não se faz devido à sua condição maioritária de reformados.

• No caso das mulheres, as mais jovens têm primeiramente acesso em casa (31,7%) e na biblioteca (14,6%), enquanto para as seniores mais velhas estes dois espaços aparecem em igualdade de circunstâncias (11,8% para o acesso em casa e na biblioteca).

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Fig. 2. Locais de acesso à internet por idade e género

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Em suma, observa-se, na nossa amostra, uma fraca predisposição para o uso das tecnologias da informação e da comunicação (TIC), principalmente entre as mulheres.

• Porém, os seniores que usam a internet fazem-no com motivações e interesses distintos.

• É o caso das seniores mais jovens que usam internet para vários fins, destacando-se aqui aquelas que têm o ensino superior.

• Esta é a situação de Silvia Elisa, por exemplo, que usa a internet com finalidades distintas e sobretudo no local de trabalho: “(…) Pelo menos uma vez por dia, para ver o meu e-mail, para procurar alguma informação…”

(63 anos, professora

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Analisamos, de igual modo, a relação entre o uso da internet e o incremento ou não dos contactos com familiares ou outras pessoas.

• Observa-se que entre os seniores mais jovens, homens e mulheres, há uma tendência para a manutenção dos mesmos.

• Contudo, no caso dos seniores mais velhos do sexo masculino há uma tendência para o aumento desses mesmos contactos quer com familiares (que vivem próximo ou longe), quer com pessoas com quem partilham interesses comuns.

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

Fig. 3. Desde que começou a usar a internet aumentou, manteve ou diminuiu os seus contactos com as seguintes pessoas

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Diva, por exemplo, não abdica da utilização diária da internet para fins de

comunicação e de entretenimento: “Eu uso para falar com meus amigos no

mundo todo. Falo com meus familiares. Me comunico por e-mail, oiço música, vejo

filme, tanta coisa!”

(56 anos, empregada de limpeza)

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

• Quando inquiridos sobre se seria muito difícil deixar de possuir algumas Tecnologias de Informação e da Comunicação (TIC), deixar de ter televisão e telemóvel são das tecnologias mais apontadas tanto pelos seniores jovens como pelos mais velhos, com destaque para as mulheres de ambos os escalões etários.

• Tal reforça a adesão massiva dos seniores a estas tecnologias.

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USO(S) DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO:INTERESSES E MOTIVAÇÕES

Fig. 4. Até que ponto seria difícil deixar de ter as seguintes TIC

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CONCLUSÕES

• Os dados apresentados evidenciam, de alguma forma, uma relação entre a idade, o género dos entrevistados e algumas tecnologias de informação e da comunicação, em particular o telemóvel, o computador e a internet.

• São, com efeito, os homens seniores (inclusive os mais velhos) que revelam um uso mais frequente desta última tecnologia.

• No caso das mulheres, são as idosas mais jovens que o fazem, embora por razões distintas.

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CONCLUSÕES

• Apesar de alguns seniores mais jovens usarem a internet por razões profissionais, os mais velhos fazem-no por necessidades de pesquisa, obtenção de informação, comunicação, entretenimento, lazer e interação com as gerações mais novas (filhos e netos).

• Nas mulheres idosas mais jovens destaca-se o uso com fins de comunicação e interação com familiares e amigos. Estas razões são comuns ao uso do computador.

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CONCLUSÕES

• São mais as mulheres que usam pouco o computador e a internet, principalmente as mais velhas.

• Algumas, devido ao estado avançado da idade, recusam o próprio “conceito” de computador, outras admitem que teriam dificuldades no seu uso, porém referem que quando têm necessidade de alguma informação solicitam a colaboração de familiares.

• Podemos, afirmar que no caso das mulheres idosas-jovens existe uma relação positiva entre nível de escolaridade superior e uso de tecnologias digitais.

• Por seu turno, nas idosas mais velhas observa-se uma relação negativa entre baixos níveis de escolaridade e nenhum uso do computador e da internet.

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CONCLUSÕES

• Tal não sucede entre os seniores do sexo masculino, quer entre os mais jovens, quer entre os mais velhos.

• Em ambos os casos constata-se um uso considerável de ambas as tecnologias ora por razões profissionais, ora por necessidades e interesses associados à pesquisa, consulta, informação, cultura, lazer, entretenimento e comunicação.

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CONCLUSÕES

• A relação dos seniores com alguns media é distinta da descrita relativamente ao uso do computador e da internet.

• Vimos que a televisão e o telemóvel surgem como os meios de comunicação mais frequentes quer para entretenimento e lazer, quer com o fim de comunicação.

• O telemóvel é representado como um meio essencial de comunicação com a família e os amigos, desempenhando, de certa forma, uma função de incremento das sociabilidades amicais e intergeracionais

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CONCLUSÕES

• Para os idosos mais velhos, sobretudo as mulheres, os telemóveis devem ser tecnologicamente simples.

• Ao contrário dos seniores mais jovens, que para além de adquirem telemóveis de gerações tecnologicamente mais avançadas, usam-nos com vários fins (e.g., comunicação, entretenimento, lazer, navegar na internet, etc.).

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CONCLUSÕES

• O interesse pelas tecnologias digitais e o seu uso com finalidades distintas é revelador de um comportamento, por parte de alguns seniores, que se inscreve, como vimos, na noção de formação ao longo da vida, contribuindo assim para a sua inclusão nas sociedades tecnológicas atuais e para o fomento das relações e solidariedades intergeracionais e amicais.

• Inscreve-se, de igual modo, no conceito de envelhecimento produtivo, na medida em que tais práticas permitem o envolvimento dos seniores em actividades de realização significativas, pessoalmente satisfatórias e com um impacto positivo nas suas vidas e nas dos outros (Kaye, Butter e Webster, 2003).

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CONCLUSÕES

• Em síntese, subjacente ao uso das tecnologias digitais por parte dos seniores da nossa amostra encontram-se funções de actualização pessoal e profissional, de comunicação, informação e conhecimento, de pesquisa de serviços, lazer, entretenimento e de convívio com familiares e amigos.

• São, portanto, um meio de inclusão sociodigital.

• As mulheres mais velhas(66 e mais anos) são, como vimos, as que manifestam níveis mais baixos de interesse pelas tecnologias de informação e da comunicação.

• Importa estar, de igual modo, atento ao género da(ex)inclusão digital nesta fase do ciclo de vida humana.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• CASTELLS, M. (2007), La Sociedad Red, Vol. I, Madrid, Alianza Editorial.

• GUIONNET, Christine; NEVEU, Erik (2005), Féminins/Masculins. Sociologie du Genre, Paris, Armand Colin.

• KAYE, L. W.; BUTTER, S. S.; WEBSTER, N. M. (2003), “Toward a productive ageing paradigm for geriatric practice, in Ageing International, 28 (2), pp. 200-213.

• LIMA, I. ; NOGUEIRA, S. ; BURGOS, T. (2008), “Inclusão do idoso no mundo digital: Realidade Mossoroense e cenário brasileiro”, XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Natal, 2 a 6 de Setembro.

• MARSHALL, Victor W., “The state of theory aging and the social sciences”, in Robert H. Binstock & Linda K. George (eds.), Handbook of Aging and the Social Sciences, California, Academic Press, 1995, pp. 12-30.

• TAMER, Norma Liliana; PETRIZ, Graciela (2007), “A qualidade de vida dos idosos”, Agustín Requejo Osório; Fernando Cabral Pinto (coord.), As Pessoas Idosas. Contexto Social e Intervenção Educativa, Lisboa, Instituto Piaget, Cap. VI, pp. 181-223.

• VALLESPIR, Jordi; MOREY, Mercè (2007), “A participação dos idosos na sociedade: Integração Vs. Segregação”, Agustín Requejo Osório; Fernando Cabral Pinto (coord.), As Pessoas Idosas. Contexto Social e Intervenção Educativa, Lisboa, Instituto Piaget, Cap. VIII, pp. 225-251.

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Agradeço a atenção.

PowerPoint disponível no site do

Projecto Inclusão e Participação Digital

http://digital_inclusion.up.pt

Isabel Dias, [email protected]