representação mpc - dmae

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MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Home page: http://portal.mpc.rs.gov.br/ e-mail: [email protected] REPRESENTAÇÃO MPC Nº 00017/2017 Origem: MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS Destinatário: TRIBUNAL DE CONTAS Órgão: DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTOS DE PORTO ALEGRE DMAE Assunto: AQUISIÇÃO DE INSUMOS E EQUIPAMENTOS. INVESTIMENTOS DA AUTARQUIA. POTENCIAL RISCO DE DESABASTECIMENTO DE ÁGUA. Excelentíssimo Senhor Conselheiro-Presidente do Tribunal de Contas Período: exercício de 2017 O Ministério Público de Contas, por seu Agente firmatário, nos termos do disposto no artigo 37 do Regimento Interno, respeitosamente se dirige a essa Douta Presidência para dizer e propor o que segue. I Este Parquet examinou e encaminha, em anexo, documentação colacionada, em expediente próprio, a partir de encaminhamento feito pela Vereadora Sofia Cavedon, versando sobre possíveis irregularidades em relação ao atraso na aquisição de insumos e equipamentos pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos DMAE, assim como quanto aos cogitados riscos de desabastecimento de água no Município de Porto Alegre. As supostas irregularidades estariam relacionadas à possível falta de autonomia de gestão no DMAE, situação que poderia estar comprometendo à agilidade na aquisição de insumos e equipamentos destinados a obras e serviços nos sistemas de abastecimento de água, em

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Page 1: Representação MPC - DMAE

MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Home page: http://portal.mpc.rs.gov.br/ e-mail: [email protected]

REPRESENTAÇÃO MPC Nº 00017/2017

Origem: MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

Destinatário: TRIBUNAL DE CONTAS

Órgão: DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTOS DE PORTO ALEGRE – DMAE

Assunto: AQUISIÇÃO DE INSUMOS E EQUIPAMENTOS. INVESTIMENTOS DA AUTARQUIA. POTENCIAL RISCO DE DESABASTECIMENTO DE ÁGUA.

Excelentíssimo Senhor Conselheiro-Presidente do Tribunal de Contas

Período: exercício de 2017

O Ministério Público de Contas, por seu Agente firmatário, nos

termos do disposto no artigo 37 do Regimento Interno, respeitosamente se

dirige a essa Douta Presidência para dizer e propor o que segue.

I – Este Parquet examinou e encaminha, em anexo,

documentação colacionada, em expediente próprio, a partir de

encaminhamento feito pela Vereadora Sofia Cavedon, versando sobre

possíveis irregularidades em relação ao atraso na aquisição de insumos e

equipamentos pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos – DMAE,

assim como quanto aos cogitados riscos de desabastecimento de água no

Município de Porto Alegre.

As supostas irregularidades estariam relacionadas à possível falta

de autonomia de gestão no DMAE, situação que poderia estar

comprometendo à agilidade na aquisição de insumos e equipamentos

destinados a obras e serviços nos sistemas de abastecimento de água, em

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prejuízo ao regular cronograma dos trabalhos da Autarquia, tendo como

consequência o desabastecimento de água em alguns bairros do Município.

Integra o Expediente autuado neste Ministério Público de Contas,

artigo1 publicado no Jornal do Comércio2, em 21/08/2017, com o seguinte

título: “Vai faltar água no verão em Porto Alegre”.

Em janeiro de cada ano, as equipes de técnicos da área operacional e de planejamento do DMAE avaliam o comportamento do sistema de abastecimento da cidade, nos últimos 12 meses. Dados como produção de água, número de horas de funcionamento das bombas, níveis de reservatórios são confrontados com o Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) de Porto Alegre, um planejamento para os próximos 20 anos.

Ações operacionais são desencadeadas para viabilizar o abastecimento até o próximo verão e dar fôlego ao gestor para traçar um plano de investimento a médio e longo prazo. Essa avaliação é importante porque existem áreas na periferia que crescem desordenadamente e passam a demandar mais água, exigindo calibragem contínua dos dados. Contudo, com as mudanças empreendidas pela nova administração na estrutura da prefeitura municipal, o DMAE perdeu totalmente a autonomia para gerir seus investimentos. Contratos em andamento, e novos processos licitatórios ficaram submetidos a um comitê financeiro central.

Compras de materiais como insumos para tratamento de água ficaram sem contrato. Após seis meses, o governo municipal devolveu 80 processos que estavam no comitê financeiro, para serem licitados na Celic/Dmae. Com isso, os materiais e equipamentos para o Programa Verão 2017/2018 não chegarão a tempo para serem instalados e testados. Apesar do alerta dos técnicos do Departamento para os riscos advindos da sua decisão, o governo resolveu ignorar o aviso e, em decorrência disso, haverá falta d'água na cidade no próximo verão, especialmente em localidades da periferia. (Grifou-se).

II – Em 09/09/2017, por intermédio do Of. MPC/TCE n.º 159/2017,

este Ministério Público de Contas solicitou informações à Diretora-Geral do

Departamento Municipal de Água e Esgotos – DMAE, nos seguintes termos:

Saudando Vossa Senhoria, a fim de instruir expediente em curso neste Parquet, solicitamos sua especial atenção em determinar as providências pertinentes, no sentido de encaminhar, no prazo de 5 (cinco) dias, esclarecimentos sobre o possível atraso na aquisição de insumos e equipamentos (conforme notícia anexa, acerca da devolução de 80 processos que estariam no comitê financeiro para serem licitados), bem como quanto aos

1 De autoria de Adinaldo de Fraga, engenheiro aposentado do DMAE.

2 http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/08/opiniao/580520-vai-faltar-agua-no-verao-em-porto-

alegre.html.

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cogitados riscos de desabastecimento de água, e eventuais providências adotadas para evitá-los.

Por intermédio do Ofício DG n.º 161/2017, exarado em

11/09/2017, a Diretora-Geral do DMAE mencionou que ao assumir a

Autarquia já vigorava o Decreto n.º 19.645, de 04 de janeiro de 2017, que

dispõe sobre a reavaliação dos contratos em vigor e das licitações em curso,

no âmbito dos órgãos e entidades da Administração Pública Municipal.

Informou que o referido decreto criou uma Comissão para este

fim, sendo que o Decreto n.º 19.650, exarado na mesma data, constituiu o

Comitê de Gestão Orçamentária e Financeira (CGOF), vinculado ao

Gabinete do Prefeito – CGOF, que tem por objeto estabelecer diretrizes e

acompanhamento da despesa pública, voltada para adoção de medidas

necessárias à racionalização e otimização dos gastos dos órgãos e das

entidades da Administração Pública Municipal, Direta Indireta.

Por oportuno, destacam-se os seguintes excertos da

manifestação da Diretora Geral do DMAE:

(...)

Todos estes regulamentos vieram a intervir de forma direta nas aquisições de bens e serviços realizados por esta autarquia, o que ocasionou a necessidade de traçar novas rotinas, gerando um grande descompasso entre os prazos de aquisição até então existentes e vigorantes e os prazos necessários para atender as novas normativas.

Esta direção gestionou por diversas vezes junto aos órgãos competentes do Executivo no sentido de demonstrar a impossibilidade de manter as aquisições de bens e serviços da autarquia submissos a tais regramentos, quer pela relevância da agilidade nas aquisições, quer pela autonomia financeira e administrativa da autarquia. Assim, tal situação foi devidamente equacionada com a edição da Instrução Normativa nº 04/2017, datada de 17 de julho de 2017, que através de seu art. 1º, inc. V, dispensou o DMAE de encaminhar à Comissão Especial de Reavaliação de Licitações e Contratos suas licitações e Contratos para aquisição de bens e serviços.

Neste contexto, é possível afirmar que a partir da edição da Instrução Normativa nº 04/2017 todos os processos de aquisição de bens e serviços neste Departamento retomaram seu curso normal, não existindo, em nenhum momento, “riscos” de desabastecimento de água vinculados a tal situação. (Grifos originais).

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III – Com efeito, embora a Direção Geral da Autarquia tenha

informado que eventuais atrasos e descompassos na aquisição de insumos

e equipamentos foram regularizados, afirmando que não há riscos de

desabastecimento de água, as situações devem ser examinadas por meio

de procedimento de fiscalização no âmbito do Departamento Municipal de

Água e Esgotos – DMAE.

Destaca-se que em consultas aos Sistemas Corporativos deste

Tribunal de Contas foi identificado procedimento de fiscalização no âmbito

do DMAE (Processo n.º 1131-0200/14-3 – Inspeção Especial, relativo ao

exercício de 2014), tendo por origem demanda em relação a ocorrências

verificadas no desabastecimento de água em bairros da cidade de Porto

Alegre, notadamente entre os últimos dias de 2013 e início de 2014.

Portanto, o escopo daquela inspeção especial foi o exame da

situação de desabastecimento de água ocorrido em alguns bairros da cidade

em pleno período de verão, sendo abordados aspectos relacionados à

análise macroestrutural dos investimentos realizados pelo DMAE em obras

de abastecimento de água e de esgotamento sanitário.

Na demanda ora proposta estão sendo perquiridos aspectos

relacionados ao possível atraso na aquisição de insumos e equipamentos

destinados às atividades operacionais do DMAE, que, se confirmados,

poderão ocasionar descompasso na execução de obras e serviços, situação

que, em tese, poderá desencadear o desabastecimento de água já ocorrido

em exercícios anteriores.

Considerando que eventuais atos administrativos do Poder

Executivo podem ter comprometido a autonomia de gestão do DMAE, tendo

por consequência, em tese, o atraso nos investimentos da Autarquia, este

Parquet entende necessário que as possíveis irregularidades verificadas

tenham repercussão nas Contas de Gestão do Executivo Municipal de

Porto Alegre (Processo n.º 4608-0200/17-4).

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IV – Nesta senda, cumpre assinalar que em matéria veiculada em

24/10/2017, intitulada “Prefeitura de Porto Alegre decide antecipar R$ 35

milhões em receitas do DMAE”3, há notícias de que “Mesmo alegando que

o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) não tem dinheiro

suficiente para investimentos, a Prefeitura de Porto Alegre decidiu antecipar

receitas de 2018 do órgão”. Tal solicitação teria sido feita ao Conselho

Deliberativo do DMAE, no valor de R$ 55 milhões, sendo autorizado o valor

de R$ 35 milhões.

Assim, considerando que o Departamento, em razão das

limitações financeiras, estaria com dificuldades para atender

adequadamente suas demandas, entende-se pertinente a averiguação das

circunstâncias e fundamentos para antecipação de receitas noticiada.

Por derradeiro, cabe referir notícias veiculadas pela imprensa4,

segundo as quais o Prefeito Municipal teria cogitado de parcerias público-

privadas, dentre outros instrumentos, para a realização de investimentos nos

serviços de água e esgoto da cidade, ante a suposta “falta de capacidade de

investimento para conseguir universalizar os serviços de tratamento e

distribuição de água, bem como coleta e tratamento de esgoto”.

Nesse sentido, o Executivo Municipal de Porto Alegre, em 28 de

julho de 2017, enviou ao Poder Legislativo Municipal o Projeto de Emenda à

Lei Orgânica n.º 10/20175, tendo por escopo a alteração do disposto no § 2º

do artigo 225 da Lei Orgânica do Município de Porto Alegre, nos termos

seguintes:

3 Matéria veiculada no portal GaúchaZH em 24/10/2017. https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-

alegre/noticia/2017/10/prefeitura-de-porto-alegre-decide-antecipar-r-35-milhoes-em-receitas-do-

dmae-cj95vrnxt0a0d01mqppavwkr7.html. 4 Matéria veiculada no portal GaúchaZH em 31/07/2017. https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-

alegre/noticia/2017/07/marchezan-quer-privatizar-servicos-de-agua-e-esgoto-em-porto-alegre-

9857416.html. 5 Conforme consulta realizada em 24/10/2017 no portal da Câmara Municipal de Porto Alegre, o

projeto tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), tendo recebido parecer favorável em

16/10/2017.

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Art. 1º Fica alterado o § 2º do art. 225 da Lei Orgânica do Município de Porto Alegre, conforme segue:

“Art. 225. O serviço público de água e esgoto é atribuição precípua do Município, que deverá estendê-lo progressivamente a toda a população.

(...)

§ 2º O serviço público de que trata o caput deste artigo será organizado, prestado e explorado, pela Administração Pública, podendo ser outorgado à entidade da Administração Pública Indireta, dotada de autonomia para o exercício de sua administração e gestão de seus negócios, bem como ser delegado ou contratualizado, nos termos da Constituição Federal.” (NR)

6. (Grifou-se)

Art. 2º Esta Emenda à Lei Orgânica entra em vigor na data de sua publicação.

V – Destarte, considerando a relevância da matéria, vinculada ao

abastecimento de água e saúde pública e relacionada à possível falta de

investimentos pela Administração Municipal no Setor, verifica-se a

imprescindibilidade de instauração de procedimento de fiscalização no

Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre – DMAE,

com o objetivo de examinar as questões trazidas nesta Representação.

Assim, requer-se o recebimento e processamento da presente,

propugnando por seu acolhimento, bem como seja dada ciência ao Parquet

das providências implementadas pela Casa em relação à matéria.

À sua elevada consideração.

MPC, em 26 de outubro de 2017.

GERALDO COSTA DA CAMINO,

Procurador-Geral.

E2167-126/16

6 Redação original: § 2° O serviço público de que trata o caput deste artigo será organizado, prestado,

explorado e fiscalizado diretamente pelo Município, vedada a outorga mediante concessão, permissão

ou autorização, exceto à entidade pública municipal existente ou que venha a ser criada para tal fim.