repositório institucional - universidade federal de uberlândia ...ii figura 32: microscopia...
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Dedico este trabalho, com muito carinho,
aos meus pais Antonia e Eduardo, também
ao meu irmão Carlos. Em especial à minha
mãe, pelo incentivo e paciência durante
todos estes anos.
Ao meu companheiro de sempre, Daniel, por
toda dedicação e principalmente paciência
nos momentos mais difíceis. Também a toda
sua família.
Agradecimentos
Ao meu orientador Guimes, pela amizade, confiança e pelas oportunidades proporcionadas ao longo de muitos anos de trabalho em conjunto. À Rosana pela amizade, trabalhos realizados e pelo apoio nas discussões. Ao meu amigo Daniel “Cabeça”, pela amizade, paciência e por todo apoio sempre. À Prof.ª Mara Zeni da Universidade de Caxias do Sul, por toda atenção e carinho durante estágio. Aos professores Capanelli e Bottino da Universidade de Genova-Itália pela atenção durante estágio. À Simone, Dinorah (in memorian) e Saulo que se tornaram minha segunda família. Aos amigos Juliana, Sabrina, Elaine, Leandra, Leandro, Moacir, Fabiana, Alisson, Rodrigo, Lucas, Adriano pela amizade e todos os bons momentos. A todos os amigos do Grupo de Reciclagem de Polímeros, e demais laboratórios, pelo carinho e momentos de descontração. Aos novos amigos de Caxias do Sul, por toda atenção e carinho durante meu estágio; Patricia, Tiago, Monica, Jalma, Marcos, Joce, Sonia, Roberta. Aos amigos de Genova-Italia que me proporcionaram bons momentos: Danila, Gabriela, Flávia, Caroline, Andrea, Fiorenza, Ana, Moreno, Antonio, Silvia, Valeria, Enrico, Laura Malika, Erika. A todos amigos que de alguma maneira contribuíram para a realização deste trabalho. À CAPES pela bolsa , pela verba PROAP , disponibilização do Portal Periódicos e pela bolsa de Doutorado Sanduíche CAPES BEX 5190-09-6.
1
Índice
Índice de Figuras ............................................................................................................................ i
Lista de símbolos e abreviaturas ................................................................................................ iv
Publicações oriundas deste trabalho .......................................................................................... vi
Resumo ......................................................................................................................................... vii
Abstract ....................................................................................................................................... viii
Capítulo I. Introdução ...................................................................................................................1
I.1-Caroço de manga ......................................................................................................................... 2
I.2-Jornal ........................................................................................................................................... 4
I.3-Fibras lignocelulósicas e seus componentes ................................................................................. 5 I.3.1–Celulose ....................................................................................................................................................... 7 I.3.2-Hemicelulose ............................................................................................................................................. 11 I.3.3–Lignina ...................................................................................................................................................... 13
I.4-Acetato de celulose ..................................................................................................................... 15
I.5-Processos de separação por membranas ................................................................................... 18 I.5.1-Classificação das membranas..................................................................................................................... 20
1.5.2-Preparo de membranas .............................................................................................................................. 22
Capítulo II. Procedimento Experimental ..................................................................................26
II.1- Obtenção e caracterização da matéria-prima ......................................................................... 27 II.1.1-Lignina Klason ......................................................................................................................................... 27 II.1.2-Obtenção da holocelulose ......................................................................................................................... 27
II.1.3-Obtenção da celulose ................................................................................................................................ 28
II.2-Mercerização e deslignificação da matéria-prima ................................................................... 28 II.2.1-Mercerização das fibras do caroço de manga ........................................................................................... 28
II.2.2-Deslignificação das margens do jornal ..................................................................................................... 29
II.2.3-Estudo dos parâmetros das etapas de deslignificação ............................................................................... 29
II.3-Produção do acetato de celulose ............................................................................................... 30
II.3.1-Acetilação homogênea .............................................................................................................................. 30
II.3.2-Estudo dos parâmetros da reação de acetilação ........................................................................................ 30
II.4-Caracterização da matéria-prima deslignificada e do acetato de celulose .............................. 30 II.4.1-Espectroscopia no Infravermelho ............................................................................................................. 30
II.4.2-Determinação do grau de substituição ...................................................................................................... 30
II.4.3-Determinação da massa molecular média viscosimétrica. ........................................................................ 31
II.4.4–Calorimetria Exploratória Diferencial...................................................................................................... 33
II.4.5–Análise Termogravimétrica...................................................................................................................... 33
II.4.6–Difração de Raio-X .................................................................................................................................. 33
II.5-Produção e caracterização das membranas ............................................................................. 34 II.5.1-Produção das membranas ......................................................................................................................... 34
II.5.2-Microscopia Eletrônica de Varredura ....................................................................................................... 35
II.5.3-Medidas de fluxo de vapor de água .......................................................................................................... 35
2
II.5.4- Difusão de íons através das membranas .................................................................................................. 36
II.5.5- Medidas de resistência a pressão ............................................................................................................. 37
II.5.6-Permeabilidade de água e rejeição a sal .................................................................................................... 37
Capítulo III. Resultados e discussão...........................................................................................38
III.1- Caracterização dos materiais : caroço de manga e jornal .................................................... 39
III.2- Produção e caracterização do acetato de celulose ................................................................. 43 III.2.1- Reação de acetilação e caracterização por infravermelho ...................................................................... 43
III.2.2- Determinação do grau de substituição e massa molecular viscosimétrica do acetato de celulose.......... 46 III.2.3- Análises térmicas.................................................................................................................................... 48 III.2.4- Difração de Raios –X ............................................................................................................................. 50
III.3- Caracterização das membranas produzidas ......................................................................... 52 III.3.1- Microscopia Eletrônica de Varredura ..................................................................................................... 52
III.3.2- Medidas de resistência a pressão, fluxo de vapor de água e difusão de íons através das membranas .... 57
III.4- Estudo dos parâmetros de deslignificação ............................................................................. 58
III.5- Estudo da acetilação ............................................................................................................... 61
III.6- Caracterização das novas membranas .................................................................................. 66
Capítulo IV. Conclusão ...............................................................................................................78
Capítulo V. Sugestão para trabalhos futuros ............................................................................81
Capítulo VI. Referências bibliográficas .....................................................................................84
Anexos...........................................................................................................................................94
i
Índice de Figuras
Figura 1: Manga Tommy Atkins ...................................................................................................... 3
Figura 2: Componentes do caroço de manga ................................................................................... 3 Figura 3: Jornal pós uso ................................................................................................................... 4
Figura 4: Estrutura parcial da celulose com representação da unidade repetitiva, celobiose ......... 8
Figura 5: Estrutura de uma fibra vegetal. A imagem de MEV se refere à fibra de Eucalipto ......... 9
Figura 6: Representação esquemática da estrutura da celulose I (nativa) e celulose II (mercerizada). ................................................................................................................ 11
Figura 7: Açúcares que compõem as unidades de hemiceluloses .................................................. 12 Figura 8: Estrutura parcial da galactoglucomanana ....................................................................... 12 Figura 9: Unidades estruturais precursoras da lignina: álcool coniferílico, sinapílico e ρ-
cumarílico ...................................................................................................................... 13
Figura 10: Modelo proposto para estrutura da lignina de uma madeira dura (folhosa) ................. 14
Figura 11: Modelo proposto para estrutura da lignina de uma madeira mole (conífera) ............... 15
Figura 12: Estrutura do triacetato de celulose ................................................................................ 16 Figura 13: Esquema da reação de produção do triacetato de celulose ........................................... 17 Figura 14: Representação esquemática do processo de separação por membranas ....................... 18
Figura 15: Esquema de operação na filtração frontal (a) e tangencial (b) ..................................... 20 Figura 16: Representação esquemática da secção transversal dos diferentes tipos de morfologia
de membranas ................................................................................................................ 21 Figura 17: Mecanismo de permeação a) membranas porosas b) membranas densas .................... 22 Figura 18: Esquema do viscosímetro de Ostwald..........................................................................32 Figura 19: Copo de Payne .............................................................................................................. 35
Figura 20: Sistema utilizado para medidas de difusão de íon ........................................................ 36 Figura 21: Infravermelho para jornal bruto (JB) e deslignificado (JD).........................................39 Figura 22- Infravermelho para caroço de manga bruto (CB) e tratado(CT) .................................. 40
Figura 23: Mecanismo proposto para a reação de acetilação da celulose ..................................... 43 Figura 24: Espectro de infravermelho para o AC-CT na forma de pó .......................................... 44 Figura 25: Espectro de infravermelho para o AC-JD na forma de pó ........................................... 45 Figura 26: Representação do mecanismo de saponificação do acetato de celulose ...................... 46
Figura 27: Termogramas de DSC e curvas de perda de massa para os materiais na forma de pó, TAC-JD e TAC- CT ................................................................................................... 48
Figura 28: Difratograma de Raios-X para JB, JD e TAC-JD ......................................................... 50 Figura 29: Padrão de difração TAC I e TAC II .............................................................................. 51 Figura 30: Difratograma de Raios-X para CB, CT e TAC-CT ...................................................... 51 Figura 31: Microscopia eletrônica de varredura das superfícies em contato com o ar e superfícies
em contato com o substrato das membranas TAC-CT (A: perclorato de magnésio/água e B: água).1000x ................................................................................ 53
ii
Figura 32: Microscopia eletrônica de varredura das superfícies em contato com o ar e superfícies em contato com o substrato das membranas TAC-JD (A: perclorato de magnésio/água e B: água).1000x...........................................................................................................54
Figura 33: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal das membranas de TAC-CT e TAC-JD (A: perclorato de magnésio/água e B: água).1000x .................................... 56
Figura 34: Espectro de infravermelho para JDM e CDM. ............................................................. 59 Figura 35: Fotografia do caroço de manga deslignificado colocado em solução alcalina (A) e
caroço de manga deslignificado colocado novamente em solução alcalina (B) ............ 60
Figura 36:Espectro típico do acetato de celulose produzido a partir do TAC-JDM e TAC-CDM 62
Figura 37: Difratogramas de raios-x para JDM e TAC-JDM ........................................................ 63 Figura 38: Difratogramas de Raios-X para CDM e TAC-CDM .................................................... 64 Figura 39: Termograma de DSC e curva de perda de massa para TAC-JDM ............................... 65
Figura 40: Termograma de DSC e curva de perda de massa para TAC-CDM .............................. 65
Figura 41: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal e superfície das membranas produzidas a partir do JDM (A: perclorato de magnésio/água e B: água) 1000x. ........ 67
Figura 42: Fluxo de água através das membranas MA-JDM e MB-JDM ..................................... 68
Figura 43: Fluxo de solução salina (NaCl 1000 ppm) através das membranas produzidas em diferentes temperaturas de banho de coagulação M1-CDM (24 ºC) e M2-CDM(4 ºC) 69
Figura 44: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal (a) e superfície (b) das membranas M1-CDM(24 ºC), M2-CDM(4 ºC). 5000x ................................................. 70
Figura 45: Fluxo de solução salina (NaCl 1000 ppm) para as membranas M2-CDM(30s), M3-CDM(90s) e M4-CDM(120s) ........................................................................................ 71
Figura 46: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal e superfície das membranas produzidas M2- CDM (30s), M3- CMP(90s) e M4- CDM(120s) ............................... 72
Figura 47: Fluxo de solução salina (NaCl 1000ppm) das membranas produzidas com uso de ácido acético como aditivo ............................................................................................ 73
Figura 48: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal e superfície das membranas M3-CDM e M4-CDM produzidas com uso de aditivo ácido acético ............................ 74
Figura 49: Fluxo de solução salina através das membranas M2-JDM e M4-JDM ....................... 75
Figura 50: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal e superfície das membranas M2-JDM e M4-JDM. 5000x .......................................................................................... 76
iii
Índice de Tabelas
Tabela 1: Características dos Processos de Separação com Membranas ...................................... 19
Tabela 2: Formulações utilizadas no preparo das membranas ....................................................... 34
Tabela 3: Atribuições das bandas dos espectros de infravermelho para JB e JD......................... 41
Tabela 4: Atribuições das bandas dos espectros de infravermelho para CB e CT ....................... 41
Tabela 5: Atribuições das principais bandas no infravermelho do acetato de celulose ................. 46
Tabela 6: Fluxo de vapor de água através das membranas, normalizados pela espessura. (A:
perclorato de magnésio/água e B: água) ....................................................................... 57
Tabela 7: % Lignina Klason determinada em cada etapa de deslignificação do caroço e Jornal .. 58
iv
Lista de símbolos e abreviaturas
- AC - Acetato de Celulose
- TAC - Triacetato de celulose
- CT - Caroço tratado
- JD - Jornal deslignificado
- CDM- Caroço deslignificado modificado
- JDM- Jornal deslignificado modificado
- DSC- Calorimetria Exploratória Diferencial
- TGA- Análise Termogravimétrica
- PSM- Processos de separação por membranas
- OI- Osmose inversa
- vM - Massa Molecular Média Viscosimétrica
- a - parâmetro do solvente utilizado em viscosimetria
- K - parâmetro do solvente utilizado em viscosimetria
- tsç- tempo de escoamento da solução
- t0- tempo de escoamento do solvente
- [η] - viscosidade intrínseca
- ηr - viscosidade relativa
- ηsp - viscosidade específica
- C- Concentração
- GS - Grau de Substituição
- %GA - porcentagem de grupos acetila
- l - espessura da membrana
- Jv - fluxo de vapor de água
- ∆m- Variação de massa
- ∆t- Variação de tempo
- A - área da membrana
- P- permeabilidade
- Ji - Fluxo de íons
v
- D- Coeficiente de difusão
- Js - Fluxo solução salina
- Q- quantidade de permeado
- TAC-JD- Triacetato de celulose do jornal purificado
- TAC-CT- Triacetato de celulose do caroço de manga tratado
- TAC-JDM- Triacetato de celulose do jornal purificado modificado
- TAC-CTM- Triacetato de celulose do caroço de manga purificado
- MA- membrana com sal perclorato de magnésio
- MB- membrana sem sal perclorato de magnésio
- M1- membrana 24 ºC, 30 seg. de evaporação
- M2- membrana 4 ºC, 30 seg. de evaporação
- M3- membrana 4 ºC, 60 seg. de evaporação
- M4- membrana 4 ºC, 120 seg. de evaporação
vi
Publicações oriundas deste trabalho
1- Synthesis, morphologic analysis and water vapour flux through the cellulose triacetate
asymmetric membranes from waste materials: newspaper and mango seed. Trabalho
apresentado na forma de pôster no Euromembrane 2009 Conference, 6-10 de Outubro –
Montplier-França.
2- Characterization of cellulose acetate asymmetric membranes from waste biomass:
newspaper and mango seed. Carbohydrate Polymers 80 (2010) 954–961.
3- Morphologic characteristics and transport properties of the cellulose acetate membranes
obtained from waste newspaper and mango seed. Artigo a ser submetido.
vii
Resumo
Esta tese apresenta um estudo da utilização de fontes alternativas de celulose, caroço de manga e
jornal (partes sem tinta), para a produção de acetato de celulose (AC) e investigação das
características morfológicas e propriedades de transporte de membranas obtidas a partir destes
materiais. As margens do jornal foram deslignificadas e o caroço de manga tratado em solução
NaOH 1 mol L-1 para produção dos acetatos de celulose que foram caracterizados. Os materiais
apresentaram valores distintos de massa molecular viscosimétrica e teor de lignina, que tem
influencia nas características dos materiais produzidos. As formulações utilizadas, Triacetato de
celulose(TAC)/diclorometano/água e TAC/diclorometano/água/perclorato de magnésio levaram à
produção de membranas assimétricas que foram caracterizadas quanto a suas propriedades de
transporte e morfologia. Os resultados mostraram que o teor de lignina remanescente no acetato
após acetilação influencia nas características de suas membranas. O perclorato de magnésio
utilizado na formulação tem papel importante na estabilidade da solução da membrana. A
membrana produzida a partir do jornal apresentou um valor de coeficiente de difusão de íons de
8.47 x 10-8 cm2 s-1, próximo do valor reportado na literatura para um triacetato de celulose
comercial. Na tentativa de melhorar as características finais das membranas iniciou-se um estudo
dos parâmetros de produção do acetato de celulose, deslignificação e acetilação. Este estudo
levou à produção de novos materiais com quantidade reduzida de lignina e acetatos produzidos
com tempo menor de reação (2 horas para o jornal e 14 horas para o caroço de manga). A partir
destes novos acetatos foi possível produzir membranas muito mais resistentes e que alcançaram
35 bar de pressão em operação no sistema de separação. Para alcançar seletividade em
experimentos de rejeição a sal, foram utilizadas novas condições de preparo destas membranas
como a troca de solvente para o sistema dioxano/acetona, aumento do tempo de evaporação e uso
de um aditivo (ácido acético). Nestas condições foi possível obter seletividade e aumentar a
rejeição a sal da membrana obtida do AC- caroço de manga de 77,8% para 91,3% (melhor
resultado) com o uso do aditivo ácido acético e aumento no tempo de evaporação de 30 para 90
segundos. A maior rejeição a sal obtida para a membrana obtida do AC-jornal foi de 69,4%
utilizando tempo de evaporação de 120 segundos e sem uso de aditivo.
PALAVRAS-CHAVE : Caroço de manga, jornal, acetato de celulose, membranas, processos de
separação.
viii
Abstract
This thesis presents the study of the utilization of alternative sources of cellulose, mango seed
and newspaper (parts without ink), to produce cellulose acetate (CA) and investigation of the
morphological characteristics and transport properties of membranes produced of these materials.
The margins of the newspaper was delignified and mango seed was treated in NaOH 1 mol L-1 to
produce of the cellulose acetates that were characterized. The materials showed distinct values of
the viscosity average molecular weight and lignin content that has influence on the characteristics
of the materials produced. The formulations of the membranes cellulose triacetate
(CTA)/dichloromethane/water and CTA/dichloromethane/water/magnesium perchlorate lead to
asymmetric membranes that were characterized by transport properties and morphology. The
results showed that the remaining lignin content in cellulose acetate after the acetylation
procedure has influence on the characteristics of their membranes. Magnesium perchlorate used
on the formulation has an important role on the stability of the membrane solution. The
membrane produced from newspaper has presented an ion diffusion coefficient of 8.47 x 10-8 cm2
s-1, which is similar to the value presented in the literature for a commercial cellulose acetate. In
an attempt to improve final characteristics of the membranes, it was carried out a study of the
production parameters of cellulose acetate production, delignification process and acetylation.
This study lead to the production of new materials with lower lignin content and reduced reaction
time (2 h for newspaper and 14 h for mango seed). Using these new cellulose acetate samples it
was possible to produce much more resistant membranes, which reached 35 bar in operation at a
separation system. In order to reach selectivity in a salt rejection experiments, was used new
conditions of membrane preparation, such as changing the solvent to the system dioxane/acetone,
increasing evaporation time and using acetic acid as admixture. With these new conditions it was
possible to obtain selectivity and increase the salt rejection of the membrane produced from CA-
mango seed from 77,8% to 91,3% (best result) with the use of acetic acid as admixture and
increase in evaporation time from 30 to 90 seconds. The highest salt rejection value obtained for
a membrane produced from CA-newspaper was 69.4% using evaporation time of 120 seconds
and without using an admixture.
Keywords: Mango seed, newspaper, cellulose acetate, membranes, separation processes.
1
Capítulo I. Introdução
Capítulo I–Introdução
2
I.1-Caroço de manga
O Brasil é hoje o terceiro maior produtor mundial de frutas com uma área cultivada de
cerca de 2,8 milhões de hectares e uma produção acima de 43 milhões de toneladas anuais em
que a produção de manga chega a cerca de 1,3 milhões de toneladas1.
A manga é fruto da mangueira que se desenvolve em condições de clima subtropical.
Planta originária do Sul da Ásia, atualmente é cultivada em praticamente todos os países de clima
tropical e subtropical. A mangueira pode atingir entre 35 e 40 metros de altura. A fruta tem
tamanho e formato variado, sua coloração pode variar em amarelo, laranja e vermelho. É uma das
frutas mais consumidas em todo o mundo. É contabilizado hoje um número entre 500 e 1000
variedades existentes. Atualmente as variedades mais cultivadas no Brasil são:
• Alphonso •Keitt
• Bourbon • Kent
• Carlota • Rosa
• Coração de Boi • Rubi
• Espada • Sebsation
• Golden Nuggets • Tommy Atkins
• Haden
Os estados de São Paulo e Minas Gerais são os maiores produtores de manga do país,
juntos alcançam cerca de 50% da área plantada e 25% do total da produção, logo em seguida vêm
o estado da Bahia, Pernambuco, Piauí e Ceará. A fruta é comercializada tanto no território
nacional como também em outros países2.
O mercado da manga no Brasil, em especial o externo, é dominado pela Tommy Atkins,
Figura 1. No submédio São Francisco, onde são colhidos mais de 90% desta fruta exportada pelo
Brasil, a variedade ocupa 95% dos 40 mil cultivados. Esta ampla preferência está fundamentada
em boas razões produtivas e comerciais: resistência à doenças como antracnose, a coloração dos
frutos e a tolerância tanto ao transporte quanto à deterioração3.
Capítulo I–Introdução
3
Figura 1: Manga Tommy Atkins
A manga utilizada no mercado de frutas processadas, como na indústria de sucos, produz
um resíduo, até então de pouco interesse, que tem sido descartado ou queimado, o caroço da
manga. Somente na região do Triângulo Mineiro em uma empresa do setor de fruticultura em
Araguari são descartados 1.300 ton /ano deste caroço de manga. A maior parte dos trabalhos
relacionados à manga é sobre a qualidade e trata-se da caracterização das polpas4, aproveitamento
dos resíduos produzidos pela indústria como, por exemplo, subprodutos da extração do suco,
semente e casca, visando a extração de compostos bioativos (enzimas, compostos fenólicos,
carotenóides, vitaminas, pectina)5 e emprego do amido presente na semente da manga para a
produção de glicose6. O caroço é constituído de uma camada mais dura chamada de tegumento,
parte externa, e uma amêndoa, parte interna7, Figura 2. O tegumento é constituído de
componentes como celulose , lignina e hemiceluloses, o que leva ao interesse neste material
como uma fonte alternativa destes materiais.
Figura 2: Componentes do caroço de manga
Capítulo I–Introdução
4
I.2-Jornal
A produção de papel no Brasil em 2010 chegou a 9,8milhões de toneladas sendo que 124
mil toneladas correspondem à produção de papel de imprensa, que é utilizado para impressão do
jornal, Figura 3, além de cerca de 400 mil toneladas que são importadas8.
Figura 3: Jornal pós uso
O papel de imprensa (Newsprint) é o papel não-revestido, com gramatura entre 40 g/m2 e
57 g/m2( peso em gramas medido por metro quadrado de uma folha de papel), usado para a
impressão de jornais e fabricado com dois tipos de matéria-prima:
• Polpa mecânica ou polpa termomecânica, de madeira de fibra longa. As fibras longas, vão
de 2 a 5 mm enquanto as curtas, tem comprimentos de 0,5 a 2 mm .
Na produção da polpa mecânica a madeira é destroçada, as cascas são trituradas e as
fibras reduzidas à uma polpa fibrosa. Neste processo não ocorre uma separação completa
das fibras dos demais constituintes, obtendo-se então uma polpa de baixa qualidade.
No processo termomecânico a madeira, sob forma de aparas, sofre um aquecimento com
vapor (em torno de 140° C), seguindo para o processo de desfibramento em refinador a
disco. A polpa obtida desta forma resulta em celulose para a produção de papéis de
melhor qualidade, pois proporciona maior resistência mecânica9.
• Aparas de papel, principalmente de jornais e revistas usados, podendo ainda ter a adição
de fibras celulósicas virgens que servem como reforço para o papel a ser reciclado, tendo
em vista que durante o processo de reuso de papéis velhos, as fibras sofrem desgastes e a
reposição dessas fibras se faz necessária.
Capítulo I–Introdução
5
No Brasil, as fibras longas utilizadas pela indústria são originárias de florestas plantadas
do gênero Pinus. Estas fibras conferem maior resistência mecânica aos papéis, daí sua utilização,
em geral, para a fabricação de papéis de embalagem e de imprensa.
O papel representa hoje cerca de 40% do lixo urbano e dentre estes, o jornal, que muitas
vezes é utilizado como embalagens em feiras e também como matéria-prima artesanal para
produção de artefatos como bolsas e enfeites. A reciclagem do papel, dentro da industria química,
é um procedimento que permite recuperar as fibras celulósicas do papel velho e incorporá-las na
fabricação de novo papel. É importante realçar que os papéis não podem ser reciclados
indefinidamente sem que haja perda de qualidade.
A composição química da pasta obtida para produção do papel imprensa, seja pelo
processo mecânico ou termomecânico, não é alterada durante os processos de polpação10, e ao
final, além da celulose, possui alto teor de lignina além de hemiceluloses.
I.3-Fibras lignocelulósicas e seus componentes
As fibras lignocelulósicas podem ser consideradas como compósitos de fibrilas de
celulose mantidas coesas por uma matriz constituída de ligninas e hemiceluloses, sendo estes os
principais constituintes das fibras. A grande disponibilidade de fibras lignocelulósicas
juntamente com a necessidade de uma fonte renovável para a produção de polímeros amplia
muito o campo de emprego das fibras naturais11. Na área de compósitos, a tecnologia do uso de
madeira e plásticos sintéticos é bem conhecida. Junior et al.12 avaliou a viabilidade da obtenção
de compósitos lignocelulósicos de PVC, utilizando resíduo de Pinus ellioti e Pinus taeda como
carga de reforço e reportou que o desenvolvimento deste tipo de material compósito é uma
alternativa viável para a substituição da madeira convencional em diversas aplicações.
Polímeros reforçados com fibras de sisal, juta, coco e bagaço de cana-de-açúcar também
tem sido muito estudados. Trindade et al.13 estudaram o uso de fibras de bagaço de cana e
curaua, modificadas e não-modificadas, como reforço de compósitos a base de matrizes fenólicas.
Estes autores realizaram a oxidação das fibras, principalmente unidades guaiacila e siringila da
lignina, com dióxido de cloro, seguida por modificação química por grafitização com álcool
furfurílico. Eles relataram que estas modificações favoreceram a interação fibra/matriz quando se
utiliza o bagaço de cana. No entanto, quando se trata das fibras de curaua, com menor conteúdo
de lignina, a modificação é menos efetiva.
Capítulo I–Introdução
6
Paiva et al.14 sintetizaram compósitos fenólicos (resóis) e lignina-fenol reforçados com
fibras vegetais de sisal, curaua e bagaço de cana-de açúcar e reportaram que os compósitos
reforçados com sisal apresentaram um aumento significativo na resistência ao impacto, as fibras
de curaua foram submetidas a um tratamento adicional com NaOH 10%, e os respectivos
compósitos apresentaram também resistência ao impacto superior ao da matriz fenólica não
reforçada., enquanto que os compósitos reforçados com bagaço de cana de açúcar apresentaram
pequena alteração nesta propriedade.
Razera et al.15 sintetizaram compósitos a base de matrizes fenólicas com reforço de fibras
de juta tratadas e não-tratadas com solução alcalina e ar ionizado. Estes autores reportaram que as
fibras tratadas com NaOH 5% e os compósitos reforçados com estas fibras apresentaram
melhores resultados. Geethamma et al.16 estudaram o comportamento dinâmico mecânico de
compósitos a base de borracha natural reforçados com fibras de coco. Eles reportaram ainda o
efeito de diferentes tratamentos nas fibras antes da formação dos compósitos e observaram que os
tratamentos realizados modificaram as fibras e melhoraram a interação na interface matriz-fibra
melhorando as propriedades mecânicas dos compósitos. O uso destas fibras, por exemplo, na
indústria automotiva possibilita a fabricação de peças mais leves e com excelentes propriedades
físico-mecânicas. A indústria automobilística brasileira se destaca na produção de peças com
fibras vegetais obtidas do coco verde, tecnologia desenvolvida por pesquisadores da
EMBRAPA11.
Além do uso das fibras lignocelulósicas, o uso dos seus constituintes isolados tem sido
alvo de intenso estudo e podem ser encontrados nas mais variadas aplicações. Silva et al.11
apresentaram uma série de estudos sobre as principais aplicações destes materiais, dentre elas a
utilização de hemiceluloses na produção de um derivado benzilado para produção de filmes com
capacidade de reter oxigênio. As hemiceluloses são também encontradas atuando como
plastificante em filmes de acetato de celulose, melhorando propriedades mecânicas17. Mussato et
al.18 reportaram o uso das hemiceluloses extraídas da palha de arroz para a produção do xilitol
com características relevantes que permitem seu uso na manufatura de alimentos, produtos
farmacêuticos e cosméticos, além de ser considerado ainda como um adoçante perfeitamente
capaz de substituir com vantagens a sacarose.
A lignina tem sido reportada como estabilizante para plásticos e borrachas atuando como
plastificante em filmes de acetato de celulose, melhorando propriedades mecânicas e agindo
Capítulo I–Introdução
7
como antioxidante (retardando a foto-oxidação do material quando exposto a radiação
ultravioleta). È utilizada também na síntese de resinas fenólicas para fabricação de colas de
madeira na confecção das placas de compensados e aglomerados e em algumas formulações de
compósitos, tornando o polímeros mais biodegradável11. Dentre outras aplicações pode ser
utilizada como precursora de produtos químicos: solventes e combustíveis líquidos (benzeno,
tolueno e xilenos); copolímeros com alta resistência mecânica e ao aquecimento, para produção
de poliésteres; cargas orgânicas de baixo custo; quininas; mistura de aldeídos benzílicos; mistura
de fenóis e mistura de ácidos aromáticos e alifáticos19.
A celulose vem sendo utilizada para a produção de nanocompósitos pela incorporação de
nanopartículas de celulose em matrizes poliméricas e também na síntese da celulose
microcristalina utilizada nas indústrias farmacêutica e alimentícia11. Anglès et al. 20 produziram
nanocompósitos de amido plastificado com glicerol reforçado com uma suspensão de whiskers de
celulose produzida a partir de tunicina para avaliação do comportamento mecânico destes
compósitos
Noishiki et al. 21 sintetizaram e utilizaram celulose microcristalina como reforço na
produção de compósitos a base de fibroína de seda (uma proteína presente nos fios da seda).A
celulose microcristalina foi produzida a partir de tunicatos e a adição de 20-30 % deste material
aos compósitos melhorou suas propriedades mecânicas. Podemos ainda destacar a produção de
derivados celulósicos de grande importância industrial como nitrato de celulose, primeiro
material termoplástico desenvolvido para aplicações em substituição a diferentes matérias-primas
como a madeira, metais e marfim, e também a produção do acetato de celulose, conhecida desde
o século XIX11 e que será objeto de estudo neste trabalho.
A celulose e a hemicelulose, uma vez hidrolisadas, decompõem em hexoses e pentoses.
Tanto os derivados da lignina, quanto os derivados dos açúcares estão sendo desenvolvidos para
serem utilizados como precursores de uma grande variedade de outros compostos de variadas
aplicações industriais.
I.3.1–Celulose
A celulose é o principal componente da parede celular e um dos mais importantes
polímeros naturais existentes. É um polímero linear constituído de unidades de glicose ligadas
por ligações éter do tipo β(1-4). As ligações glicosídicas são do tipo 1,4 pois estes são os únicos
Capítulo I–Introdução
8
carbonos não ligados a grupos hidroxilo e por isso disponíveis para a formação de pontes entre as
unidades glicosídicas22. A unidade repetitiva celulose consiste de duas unidades de anidroglicose,
chamada de celobiose, Figura 4.
Figura 4: Estrutura parcial da celulose com representação da unidade repetitiva, celobiose
Cada unidade de anidroglicose contém três grupos hidroxilas livres, ligados aos carbonos
2, 3 e 6, respectivamente. Devido à disponibilidade destes grupos hidroxilas, as macromoléculas
de celulose tendem a formar ligações de hidrogênio intermoleculares (entre unidades de glicoses
de moléculas adjacentes) e intramoleculares (entre unidades de glicose da mesma molécula), as
quais são extremamente importantes para suas características químicas e físicas.
As ligações intramoleculares conferem à celulose uma significativa rigidez, enquanto as
intermoleculares são responsáveis pela formação da fibra vegetal, ou seja, as moléculas de
celulose se alinham, formando as microfibrilas, as quais formam as fibrilas que, por sua vez, se
ordenam para formar as sucessivas paredes celulares da fibra23. A Figura 5 mostra a organização
da fibra vegetal11.
Capítulo I–Introdução
9
Figura 5: Estrutura de uma fibra vegetal. A imagem de MEV se refere à fibra de Eucalipto
As primeiras camadas de microfibrilas a se formarem, constituem a parede primária em
que as fibrilas de celulose são arranjadas em delgadas camadas que se cruzam formando um
aspecto de redes. A quantidade de celulose na parede primária é muito limitada, contém também
polioses (hemiceluloses), pectina e proteínas imersas numa matriz de lignina.
Em muitas células, camadas adicionais são depositadas internamente à parede primária,
formando a parede secundária; essas camadas são denominadas S1, S2 e S3, respectivamente,
Capítulo I–Introdução
10
sendo que a última pode estar ausente. A porcentagem de celulose pode chegar a 90% ou mais,
resultando num arranjo denso e paralelo dependendo das fibrilas. Na parede secundária, o arranjo
das microfibrilas se dá de diversas maneiras diferentes24.
Na celulose existem duas fases distintas dentro das microfibrilas: uma fase com grande
ordenamento das moléculas denominada fase cristalina e outra, com baixo ordenamento,
denominada porção amorfa. Na região cristalina, a fibra tem maior resistência à tração, ao
elongamento e à solvatação (absorção de solvente).
As estruturas cristalinas são formadas por uma série de células unitárias que dispõem-se
no espaço formando um retículo tridimensional em que todas as células unitárias têm a mesma
vizinhança. Dentre as estruturas cristalinas da celulose, a celulose nativa é encontrada em duas
formas, Celulose I e Celulose II. A celulose nativa cristalina (celulose I) é ainda dividida em
diferentes sub-alomorfos, a celulose 1α, produzida por algas e bactérias, como a Acetobacter, e a
celulose 1β, produzida por plantas como o algodão25,26.
A celulose II , se forma por alterações da celulose I por duas formas: a) regeneração, que
consiste na solubilização da celulose I em um solvente adequado seguido da precipitação por
diluição em água da celulose II, ou b) mercerização, por tratamento com soluções alcalinas27.
Durante a mercerização ocorre uma desorganização da estrutura cristalina da celulose o que
permite a formação da celulose II. A celulose II possui cela unitária de dimensões diferentes da
celulose I devido à redução e alteração do empacotamento molecular e a distribuição das ligações
de hidrogênio23.
A Figura 6 mostra uma representação esquemática da estrutura da celulose I e II27.
Capítulo I–Introdução
11
Figura 6: Representação esquemática da estrutura da celulose I (nativa) e celulose II (mercerizada).
I.3.2-Hemicelulose
As hemiceluloses são uma mistura de polissacarídeos de baixa massa molecular, os quais
estão associados intimamente à celulose nos tecidos das plantas. São compostas por vários
monossacarídeos polimerizados, incluindo carboidratos que possuem cinco átomos de carbono,
chamadas pentoses (xilose e arabnose), seis átomos de carbono, chamadas hexoses (galactose,
glucose e manose), ácido 4-O-metil-glucurônico e resíduos de ácido galactorônico. A massa
molecular das hemiceluloses é cerca de 10 a 100 vezes menor do que a da celulose e apresenta
ramificação em sua estrutura. As hemiceluloses são diferenciadas da celulose pela facilidade de
hidrólise por ácidos diluídos e solubilidade em soluções alcalinas. A Figura 7 mostra as unidades
de açúcares mais comuns que constituem as hemiceluloses28.
Capítulo I–Introdução
12
Figura 7: Açúcares que compõem as unidades de hemiceluloses
A cadeia principal de uma poliose pode consistir de uma só unidade (homopolímero),
como a xilana, ou de duas ou mais unidades (heteropolímero), como a glucomanana. Algumas
destas unidades podem ser ramificações da cadeia principal. A Figura 8 mostra a estrutura
representativa de uma hemicelulose denominada galactoglucomanana28.
Figura 8: Estrutura parcial da galactoglucomanana
Capítulo I–Introdução
13
I.3.3–Lignina
As ligninas são macromoléculas complexas, formadas por grupos alifáticos e aromáticos.
É um material hidrofóbico, altamente ramificado e pode ser classificado como um polifenol, o
qual é constituído por um arranjo irregular de várias unidades de fenil propano, que pode conter
grupos hidroxila, éter e metoxila como substituintes no grupo fenil. Sua estrutura provém da
polimerização de precursores como álcool coniferílico, sinapílico e ρ-cumarílico, representados
na Figura 9 29. Esses álcoois possuem diferenças nos grupos substituintes do anel aromático e são
os respectivos precursores primários das unidades conhecidas como, guaiacila (G), siringila (S) e
ρ-hidróxi fenila (H).
Figura 9: Unidades estruturais precursoras da lignina: álcool coniferílico, sinapílico e ρ-cumarílico
A biossíntese da lignina inicia-se com a formação de um radical fenoxi devido à ação
enzimática, seguida da formação de dímeros que reagem formando moléculas com três, quatro,
cinco ou mais unidades de fenil-propano. A lignina confere rigidez à parede celular e age como
um agente permanente de ligação entre as células, gerando uma estrutura resistente ao impacto,
compressão e dobra. É encontrada em muitas plantas, porém sua constituição não é a mesma em
todas elas e assim, geralmente, pode ser classificada segundo a abundância dos seus precursores:
ligninas de madeiras duras (angiospermas ou folhosas e dicotiledôneas), são formadas
principalmente de unidades G e S; ligninas de madeiras moles (gimnospermas ou coníferas), são
Capítulo I–Introdução
14
formadas fundamentalmente de unidades G; enquanto ligninas de gramíneas (monocotiledôneas e
angiospermas) são formadas de unidades G-S-H 12-14.
A estrutura química da lignina é bastante complexa e ainda não conhecida
completamente. As Figuras 10 e 11 mostram propostas para a estrutura de ligninas de folhosas e
coníferas30, respectivamente.
Figura 10: Modelo proposto para estrutura da lignina de uma madeira dura (folhosa)
Capítulo I–Introdução
15
Figura 11: Modelo proposto para estrutura da lignina de uma madeira mole (conífera)
I.4-Acetato de celulose
O acetato de celulose, Figura 12, é um dos derivados da celulose de grande importância
comercial, devido a sua larga aplicação em fibras, plásticos, revestimentos resistentes a solventes,
dentre outros como produção de membranas para processos de separação31-33.
Capítulo I–Introdução
16
.
O
HOR
HH
H
H
OORO
OR
O
HOR
HH
H
H
ROO
OR
123
4 5
6
123
4 56
C
O
CH3
R =
Figura 12: Estrutura do triacetato de celulose
O acetato é produzido pela esterificação dos grupos hidroxila das unidades de
anidroglucose com grupos acetila. Uma vez que cada unidade de anidroglucose contém três
grupos hidroxilas livres, ligados aos carbonos 2, 3 e 6, pode se obter materiais com diferentes
graus de substituição, GS (número médio de grupos hidroxila esterificados com grupos acetila
por unidade de anidro glucose da celulose). O GS pode variar de zero, para a celulose, até três
para um triacetato34.
O acetato de celulose pode ser obtido a partir de uma reação de acetilação da celulose pelo
método homogêneo ou heterogêneo. Ambos os métodos se constituem na reação da celulose com
uma mistura de ácido acético e anidrido acético, na presença de ácido sulfúrico ou perclórico
como catalisador. A principal diferença entre os dois métodos é que na acetilação heterogênea
utiliza-se um agente não inchante, como o tolueno, que mantém a estrutura fibrosa da celulose.
Na acetilação homogênea não se utiliza o tolueno e o acetato formado é solubilizado no
meio reacional, o que causa mudanças na morfologia das fibras35. A Figura 13 mostra o esquema
da reação de acetilação da celulose.
Capítulo I–Introdução
17
O
HOH
HH
H
H
OOHO
OH
O
HOH
HH
H
H
OHO
OH
123
4 5
6
123
4 56
C
O
CH3
R =
+ H3CCOOH + (H3CCO)2O
H2SO4
O
HOR
HH
H
H
OORO
OR
O
HOR
HH
H
H
ORO
OR
123
4 5
6
123
4 56
(Triacetato de celulose)
(Celulose)
onde
Figura 13: Esquema da reação de produção do triacetato de celulose
Sassi e Shanzy35 propuseram que quando as cadeias de celulose tornam-se
suficientemente acetiladas, desprendem-se do cristal tornando-se solúveis no meio reacional. Em
conseqüência o cristal torna-se quebradiço e isso pode ser identificado por uma série de entalhes
de onde foram retiradas as cadeias acetiladas. No caso da reação heterogênea, o agente não-
inchante evitaria que as cadeias se desprendessem dos microcristais, mesmo depois de acetiladas,
ou seja, a acetilação ocorre apenas nas cadeias localizadas na superfície das fibras de celulose.
Na literatura encontram-se diferentes metodologias para a obtenção do acetato de celulose
a partir da celulose de madeira e de resíduos agroindustriais17,36-37. O Grupo de Reciclagem de
Polímeros da Universidade Federal de Uberlândia vem demonstrando a viabilidade de produzir
acetato de celulose a partir do bagaço de cana-de-açúcar pelas metodologias heterogênea38 e
homogênea39-46, e a partir do jornal pós-uso47. Estes materiais, com diferentes graus de
substituição (diacetato e triacetato), tem sido avaliados pelo grupo em combinações com
poliestireno de copos plásticos descartados, Pani e PEG para estudo em aplicações como
produção de membranas para processos de separação ou produção de sistemas para liberação
controlada de fármacos.
Vários pesquisadores tem investigado a produção e utilização do triacetato de celulose
(TAC) de diversas fontes para distintas aplicações. Fan et al.48 produziram TAC a partir de fibras
de Rami avaliaram a propriedades óticas do filme formado que apresentou alta transparência
(89%) e excelentes propriedades mecânicas.
Capítulo I–Introdução
18
Noorjahan49 prepararam triacetato a partir da bananeira e produziram blendas deste
material com PVC para melhorar propriedades mecâncias dos filmes de TAC. As blendas
produzidas foram compatíveis e porosas, podendo ser utilizadas em experimentos de
ultrafiltração ou diálise.
Recentemente, temos investigado o uso do caroço de manga para produção do acetato de
celulose e neste trabalho foi avaliado juntamente com o jornal pós-uso para a produção de
membranas que podem ser utilizadas em processos de separação50.
I.5-Processos de separação por membranas
Os processos de separação com membranas vem sendo utilizados nos mais diversos
setores da indústria química, na área médica, biotecnologia, alimentícia, farmacêutica e
tratamento de água.
Nestes processos, em geral a corrente de alimentação é fracionada em duas correntes, uma
de concentrado ou retido, formada pelos componentes maiores do que os poros mínimos da
membrana e outra de permeado, constituída pelos componentes menores, que atravessam a
membrana51, Figura 14.
Figura 14: Representação esquemática do processo de separação por membranas
Capítulo I–Introdução
19
A tecnologia de membranas tem se destacado quando comparados aos processos de
separação convencionais, como destilação e evaporação, devido à simplicidade de operação,
pelo uso de módulos compactos e baixa energia utilizada.
Os processos de separação por membranas são caracterizados pela força motriz da
separação e pela natureza do material retido e permeado51-52. As forças motrizes podem ser
separadas em dois grupos: diferença de potencial químico que compreende a diferença de
pressão, concentração e/ou temperatura; e diferença de potencial elétrico. A Tabela 1
apresenta as faixas de atuação dos PSM e alguns processos clássicos de separação 52.
Tabela 1: Características dos Processos de Separação com Membranas
Processo Força motriz Material retido Material permeado
Osmose inversa Diferença de pressão
(10-80 atm)
Solutos de baixa massa
molecular (íons) Água
Nanofiltração Diferença de pressão
(10-25 atm)
Solutos de baixa massa
molecular (íons divalentes
e microsolutos)
Água e sais
monovalentes (Na+, K+,
Cl-, NO3-)
Ultrafiltração Diferença de pressão
(1-10 atm)
Macromoléculas (proteínas
de PM 5-500 kDa) Água e sais
Microfiltração Diferença de pressão
(até 2 atm)
Partículas com PM >500
kDa
Água e sólidos
dissolvidos
Diálise Diferença de concentração Moléculas em suspensão
(PM > 1 kDa)
íons e orgânicos de
baixo PM
Eletrodiálise Diferença de potencial
elétrico
Não iônicos e
macromoléculas Íons
Permeação de
gases
Diferença de pressão
Diferença de concentração Gás menos permeável Gás mais permeável
Pervaporação Diferença de concentração Líquido menos permeável Líquido mais
permeável
Os PSM podem ser operados em operação com filtração frontal, em que a alimentação é
forçada perpendicularmente à superfície da membrana (“dead end filtration”) e a operação com
filtração tangencial, em que a alimentação escoa paralelamente à superfície da membrana (“cross
Capítulo I–Introdução
20
flow filtration”). Em ambas as operações o fluxo permeado é perpendicular à superfície da
membrana. A Figura 15 mostra um esquema de operação na filtração frontal e tangencial52.
Figura 15: Esquema de operação na filtração frontal (a) e tangencial (b)
I.5.1-Classificação das membranas
As membranas utilizadas nos processos de separação podem ser definidas como barreiras
semipermeáveis, cuja seletividade à passagem do soluto está relacionada com o tamanho da
molécula, a ser retida, e tamanho dos poros da membrana. Podem ser classificadas de acordo com
a sua natureza; natural ou sintética. As membranas sintéticas comerciais são produzidas a partir
de materiais orgânicos, em sua grande maioria polímeros como polisulfona, poliamida,
policarbonato, poliacrilonitrila, acetato de celulose, e materiais inorgânicos como metais e
cerâmicas, carbono e óxidos metálicos52. Processos de separação como osmose inversa,
nanofiltração e a hemodiálise fazem uso de membranas que podem ser produzidas a partir do
acetato de celulose53-56.
De acordo com suas aplicações as membranas apresentam diferentes morfologias e se
classificam em densas e porosas. Ambas podem ser simétricas (isotrópicas) ou assimétricas
(anisotrópicas), ou seja, podem ou não apresentar as mesmas características morfológicas ao
longo de sua espessura.
As membranas simétricas podem ser totalmente densas, possuir poros de tamanho
uniforme ao longo da seção transversal ou poros cilíndricos que atravessam toda a espessura da
membrana.
As membranas assimétricas podem ter um gradiente de porosidade ao longo da estrutura
ou ainda possuir uma camada superior fina (denominada “pele”), densa ou com poros muito
Capítulo I–Introdução
21
pequenos, responsável pela seletividade, suportada sobre uma subestrutura porosa, que na
maioria dos casos proporciona resistência mecânica a “pele” e oferece pouca resistência ao
transporte. Se ambas as camadas são do mesmo material, a membrana é dita assimétrica integral,
caso contrário, se diferentes materiais são empregados no preparo das camadas da membrana , ela
é chamada assimétrica composta. Uma representação esquemática dos diferentes tipos de
morfologia das membranas52 é apresentada na Figura 16.
Figura 16: Representação esquemática da secção transversal dos diferentes tipos de morfologia de membranas
Nas membranas densas o fluxo permeado ocorre por difusão onde as espécies a serem
separadas se dissolvem no material da membrana e se difundem para a região de menor
concentração. Neste caso, o material da membrana e suas interações com as espécies a serem
separadas são fatores determinantes para a eficiência do processo de separação.
Nas membranas porosas, se a força motriz da separação é o gradiente de pressão, o fluxo
permeado é fundamentalmente convectivo. Essa situação é similar ao escoamento em capilares e
meios porosos e a separação ocorre mediante a exclusão por tamanho dos componentes presentes
na alimentação. Caso a força motriz seja o gradiente de concentração o fluxo será de natureza
difusiva. A Figura 17 mostra o mecanismo de permeação em membranas densas e porosas57.
Capítulo I–Introdução
22
Figura 17: Mecanismo de permeação a) membranas porosas b) membranas densas
1.5.2-Preparo de membranas
Na década de 50, o interesse pelo processo de dessalinização de águas levou a descobertas
como a de Reid e Breton (1953) que relataram o fato de que membranas densas de acetato de
celulose, quando utilizadas para osmose inversa, podiam apresentar alta retenção salina. Mais
tarde Loeb e Sourirajan (1960-1962) aperfeiçoaram a técnica de preparo destas membranas, pela
então chamada técnica de inversão de fases por imersão-precipitação o que deu origem as
membranas assimétricas, com uma camada superior fina suportada por uma estrutura porosa52. O
desenvolvimento do estudo destes pesquisadores teve um grande impacto no crescimento da
ciência e tecnologia de membranas, sendo considerado o marco principal da elevação dos
processos de separação por membranas (PSM) a escala industrial.
Na inversão de fases um polímero é dissolvido em um solvente adequado e a solução é
espalhada formando um filme de espessura uniforme. A inversão se inicia pela desestabilização
da solução por indução de supersaturação tornando-se termodinamicamente instável dando
origem a duas fases líquidas, uma rica e uma pobre em polímero. Na formação da membrana , a
fase rica em polímero dá origem à estrutura da membrana enquanto a fase pobre dá dá origem
aos poros. A desestabilização pode ocorrer de distintas formas, dentre elas52:
� Evaporação do solvente (dry): a solução polimérica possui um não-solvente e à medida
que o solvente evapora a concentração do polímero aumenta ocasionando a precipitação
do polímero.
Capítulo I–Introdução
23
� Imersão em banho de coagulação (wet): a solução polimérica é espalhada e imersa em um
banho de não solvente que se difunde pela solução enquanto o solvente se difunde para o
banho, ocasionando a preciptação.
� Evaporação-imersão (dry-wet): solução polimérica é espalhada, o solvente deixado
evaporar por algum tempo e em seguida a solução é imersa em banho de não solvente
onde ocorre precipitação.
� precipitação térmica: solução é preparada em alta temperatura e então resfriada,
desestabilização é causada pela mudança de temperatura.
� precipitação induzida por vapor de não solvente: filme da solução polimérica é exposto a
vapores de não solvente que se difunde na solução até que ocorra a precipitação
Independente da técnica utilizada para produção de membranas, pequenas variações na
síntese podem acarretar diferenças significativas na morfologia da estrutura formada. Khulbe et
al.58 relataram alguns parâmetros importantes na formação da estrutura da membrana, como
temperatura do banho de coagulação e mudança na composição da solução polimérica. Agentes
inchantes, como água e um sal, podem ser adicionados na solução polimérica e atuar como
formadores de poros58. Características intrínsecas do polímero como, por exemplo, massa
molecular e constituição, também influenciam na morfologia, bem como nas propriedades de
transporte da membrana formada. Joshi et al.59 estudaram a composição da solução para
preparação de membranas de triacetato de celulose com variação da concentração do polímero e
adição de diferentes aditivos, dentre eles: anidrido maleico, ácido maleico, ácido acético e
metanol. Kastelan-kunst et al.60 estudaram parâmetros como a razão do sistema solvente
utilizado, dioxano/acetona, e a quantidade de aditivo ácido maleico na produção de membranas
assimétricas.
Avanços na tecnologia de membranas podem ser obtidos por um melhor entendimento
dos parâmetros que regem a formação da morfologia das membranas bem como do fenômeno de
inversão de fases.
Independente do tipo de membrana, propriedades de transporte e capacidade seletiva são
utilizados como parâmetros característicos dos processos. Membranas com melhor desempenho
são aquelas que combinam um alto fluxo e alta seletividade. A permeabilidade está relacionada
com o fluxo que atravessa a membrana enquanto a seletividade é a habilidade da membrana em
Capítulo I–Introdução
24
separar componentes de uma mistura. Tais propriedades são influenciadas pelo tipo de material e
espessura da membrana e assim, a permeabilidade e a seletividade são as duas formas básicas e
mais importantes para a caracterização das membranas em processos de separação.
Capítulo I–Introdução
25
Objetivos
O objetivo geral desta tese é a preparação de membranas de acetato de celulose produzido
a partir de resíduos agroindustriais. Os objetivos se subdividem em:
i) Caracterização dos resíduos utilizados como matéria-prima, com relação à sua
composição por determinação dos teores de lignina, celulose e hemiceluloses. Avaliação da
melhor condição de deslignificação para produção do derivado celulósico.
ii) Produção e caracterização do acetato de celulose produzido por uma reação de acetilação
homogênea, e avaliação das melhores condições de acetilação. O acetato de celulose será
caracterizado por determinação do grau de substituição, espectroscopia de infravermelho e
difração de Raios-X, além de análises térmicas por TGA e DSC.
iii) Produção, caracterização e adequação das membranas de acetato de celulose frente a
sistemas de separação. As membranas serão caracterizadas morfologicamente por MEV e quanto
as suas propriedades de transporte por fluxo de vapor de água, difusão de íons, permeabilidade e
seletividade (retenção a sal).
26
Capítulo II. Procedimento Experimental
Capítulo II–Procedimento Experimental
27
II.1- Obtenção e caracterização da matéria-prima
As matérias–primas utilizadas foram:
• Caroço de manga da qualidade Tommy Atkins proveniente da empresa Viveiros Flora
Brasil- Araguari/MG. O caroço de manga foi lavado com água, triturado em um
liquidificador industrial e seco em estufa a 105 ºC.
• Jornal Folha de São Paulo. As margens do jornal (partes sem tinta) foram trituradas em
liquidificador com água e secas em estufa a 105 ºC.
II.1.1-Lignina Klason
Para determinação foi seguido o procedimento padrão TAPPI 222 om-98. A metodologia
é descrita a seguir61: 1,00 g da amostra, foram transferidos para um balão onde foram
adicionados 15,0 mL de ácido sulfúrico (72%), lentamente e sob agitação. A amostra foi então
mantida durante 2 horas em um banho à temperatura ambiente (25 ºC) sob agitação. Ao conteúdo
do balão foram então adicionados 560,0 mL de água destilada. O sistema foi colocado sob
refluxo a uma temperatura de 100 ºC, para que não ocorresse perda de água por evaporação, e
consequentemente, alteração na concentração da solução de ácido. Após 4 horas, o sistema foi
deixado em repouso para a sedimentação do material insolúvel. Este material foi filtrado em funil
de placa porosa, previamente tarado, e lavado com 500,0 mL de água destilada quente. Em
seguida, foi seco em estufa a 105 ºC, por 12 horas, e pesado para quantificação do resíduo
insolúvel (lignina Klason). Para determinação da lignina do caroço bruto foi feito primeiramente
o teor de extrativos utilizando um soxlet com sistema solvente ciclohexano/etanol.
II.1.2-Obtenção da holocelulose
Para determinação foi seguido o procedimento padrão TAPPI 235 cm-00. O procedimento
para obtenção da holocelulose é descrito a seguir61: 5,00 g da amostra, foram colocados em um
balão e adicionou-se 100,0 mL de água destilada. O balão foi colocado em banho-maria, a 75 ºC
e adicionou–se 2,0 mL de ácido acético e 3,00 g de clorito de sódio, nesta ordem, tampando o
balão para não ocorrer a perda do gás produzido na reação. Após 1 hora, adicionou-se novamente
2,0 mL de ácido acético e 3,00 g de clorito de sódio. Esse processo foi repetido por mais duas
vezes. A mistura foi então resfriada a 10 ºC, filtrada em funil de placa porosa, previamente
tarado, e lavada com água destilada a 5 ºC até que o resíduo fibroso apresentasse coloração
Capítulo II–Procedimento Experimental
28
esbranquiçada. O funil com o resíduo fibroso foi então seco em estufa a 105 ºC por 6 horas,
resfriado em dessecador e pesado para se quantificar o rendimento da holocelulose.
II.1.3-Obtenção da celulose
O procedimento para obtenção da quantidade de celulose nos materiais é descrito a
seguir61: transferiu-se 3,00 g de holocelulose para um erlenmeyer de 250,0 mL, adicionou-se
100,0 mL de solução de KOH (5%) e fez-se uma atmosfera inerte pela passagem de gás
nitrogênio, durante os cinco minutos iniciais da extração para evitar a oxidação da celulose. O
erlenmeyer foi vedado, e mantido em agitação constante por 2 horas. A mistura foi então filtrada
em funil de placa porosa, lavada com 50,0 mL de solução de KOH (5%) e em seguida com 100,0
mL de água destilada. O filtrado foi então recolhido em um erlenmeyer de 1,0 L e precipitado
com uma solução de partes iguais de ácido acético e etanol (completando-se o volume do
erlenmeyer), obtendo-se assim a hemicelulose A.
Para a obtenção da hemicelulose B, o resíduo fibroso retido no funil foi transferido
novamente para o Erlenmeyer de 250,0 mL. O mesmo procedimento para a obtenção da
hemicelulose A foi repetido utilizando solução de KOH (24 %). Para lavagem do resíduo fibroso
retido no funil, utilizou-se 25,0 mL de solução de KOH (24%), 50 mL de água destilada, 25,0 mL
de ácido acético (10%) e 100,0 mL de água destilada, respectivamente. O filtrado recolhido em
erlenmeyer de 1,0L foi precipitado com uma solução de partes iguais de ácido acético e etanol
(completando-se o volume do erlenmeyer), obtendo-se assim a hemicelulose B.
Após a extração dos componentes solúveis em soluções aquosas de hidróxido de potássio,
o resíduo fibroso foi lavado com água destilada até que o filtrado apresentasse pH neutro. O
resíduo foi então lavado com 50,0 mL de acetona, seco a 105 ºC, e pesado. Esse resíduo é
denominado celulose.
II.2-Mercerização e deslignificação da matéria-prima
II.2.1-Mercerização das fibras do caroço de manga
O caroço de manga, previamente lavado, triturado e seco foi imerso em uma solução de
NaOH 1,0 mol L-1 por 24 horas. Após este período a mistura foi filtrada, lavada com água
destilada e neutralizada com uma solução de ácido acético 10%. O material foi novamente
lavado com água destilada e seco em estufa a 105 ºC por 3 horas .
Capítulo II–Procedimento Experimental
29
II.2.2-Deslignificação das margens do jornal
A metodologia utilizada para deslignificação do jornal é o método etanol/ácido nítrico
descrito por Rodrigues Filho et al.38 e se baseia na oxidação da lignina pelo ácido nítrico. O
procedimento é descrito a seguir: adicionou-se 76,0 mL de água destilada a 4,00 g das margens
do jornal. Após 24 horas o jornal foi filtrado e adicionou-se 76,0 mL de hidróxido de sódio 0,25
mol L-1, e após 18 horas a mistura reacional foi filtrada. O material foi colocado em refluxo com
3 porções sucessivas de uma mistura 20% v/v de ácido nítrico e etanol. A cada uma hora a
mistura reacional foi trocada. Após o refluxo a mistura foi filtrada e lavada com água destilada
até que a solução da lavagem estivesse incolor. O material foi colocado para secar em estufa a
105° C durante 3 horas. Depois de seco, foi triturado em um liquidificador.
II.2.3-Estudo dos parâmetros das etapas de deslignificação
Os procedimentos descritos abaixo foram realizados para ambos materiais Procedimento 1(P1): O material bruto foi imerso em NaOH 1,0 mol L-1 por 24 horas (20,0 mL
para cada grama de material seco). Após este período o material foi lavado com água e seco a
105º C por 3 horas
Procedimento 2(P2): O material bruto foi colocado em refluxo numa mistura etanol/ácido
nítrico (80/20 v/v) a qual era trocada a cada hora por um período de 3 horas e após período o
material foi lavado com água para retirada do excesso de ácido.
Procedimento 3(P3): Mesma metodologia do procedimento 2, porém a cada troca da mistura de
reagentes etanol/ácido nítrico o material foi lavado com água até que o filtrado ficasse com uma
coloração bem clara e ao final de 3 horas foi lavado com água até a retirada do excesso de ácido.
Procedimento 4(P4): Mesma metodologia do procedimento 3, com a diferença que em seguida,
o material ainda úmido foi colocado novamente em uma solução de NaOH 1,0 mol L-1 por 24
horas e novamente lavado com água para retirada do excesso de hidróxido de sódio e
neutralizado com uma solução 10% de ácido acético.
Após a síntese dos materiais purificados estes foram caracterizados com relação ao teor de
lignina, celulose e hemiceluloses como descrito anteriormente (II.1.1, II.1.2 e II.1.3).
Capítulo II–Procedimento Experimental
30
II.3-Produção do acetato de celulose
II.3.1-Acetilação homogênea
Adicionou-se 50,0 mL de ácido acético glacial a 2,00 g do material (caroço tratado ou
jornal purificado). Agitou-se por 30 min em temperatura ambiente. Em seguida adicionou-se uma
solução contendo 0,16 mL de H2SO4 concentrado em 18,0 mL de ácido acético glacial e agitou-
se por 25 min. em temperatura ambiente. Filtrou-se a mistura . Ao filtrado adicionou-se 64,0 mL
de anidrido acético, agitou-se e retornou-se o filtrado ao frasco inicial com o material. A solução
foi agitada por mais 30 min. e deixada em repouso. Após 24 horas adicionou-se água destilada ao
meio reacional até que não houvesse mais a formação de precipitado. Filtrou-se a mistura a vácuo
lavando com água destilada e o material foi neutralizado com uma solução 10% de carbonato de
sódio. O material foi seco em estufa por 90 min. a 105° C.
II.3.2-Estudo dos parâmetros da reação de acetilação
Inicialmente a mudança realizada no procedimento de acetilação baseou-se no trabalho de
Cerqueira et al.39-43, modificando o tempo de reação de 24 para 14 horas. O material acetilado em
ambos os casos foi proveniente do procedimento P4 que foi chamado de deslignificação
modificada (DM). Para o jornal foram ainda necessárias novas modificações e utilizou-se então
os tempos de 2 e 8 horas de reação.
II.4-Caracterização da matéria-prima deslignificada e do acetato de celulose
II.4.1-Espectroscopia no Infravermelho
Foram feitas pastilhas da matéria-prima, materiais deslignificados e acetato de celulose
com KBr na proporção de 1/100 m/m. Os experimentos foram realizados em um aparelho de
Infravermelho com Transformada de Fourrier Shimadzu IRPrestige-21. Foram feitas 32
varreduras na resolução de 4,0 cm-1na faixa de 400 a 4000 cm-1.
II.4.2-Determinação do grau de substituição
Adicionou-se 5,0 mL de hidróxido de sódio 0,25 mol.L-1 e 5,0 mL de etanol a 0,10 g de
acetato e deixou-se a mistura em repouso. Após 24 horas adicionou-se 10,0 mL de ácido
clorídrico 0,25 mol.L-1 e deixou-se em repouso por mais 30 minutos, em seguida a solução foi
titulada com hidróxido de sódio, utilizando-se o indicador fenolftaleína. A determinação do grau
Capítulo II–Procedimento Experimental
31
de substituição (GS) por via química baseia-se na determinação da porcentagem (% m/m) de
grupos acetila (GA) que foram substituídos na cadeia celulósica. O GA é calculado a partir da
equação 1:
( ) ( )[ ]ac
abti
m
MVaVbVbGA
100%
⋅⋅−+= µµ
Eq.1
Em que: %GA = porcentagem de grupos acetila
Vbi = volume de hidróxido de sódio adicionado
Vbt = Volume de hidróxido de sódio obtido na titulação
µb = molaridade do hidróxido de sódio
Va = volume de ácido clorídrico adicionado
µa = molaridade do ácido clorídrico
M = massa molar dos grupos acetila
mac = massa de acetato utilizada
II.4.3-Determinação da massa molecular média viscosimétrica.
Para determinação da massa molecular viscosimétrica da celulose seguiu-se o
procedimento descrito na norma ABNT NBR 7730.
Pesou-se 0,25 g do caroço de manga purificado triturado e seco em estufa em temperatura
aproximada de 105oC.Transferiu-se para um erlenmeyer e adicionou-se 25 mL de água destilada,
agitou-se continuamente até que a pasta estivesse completamente dispersa. Transferiu-se 25mL
da solução de cuproetilenodiamina e purgou-se com N2 por 1 minuto. O frasco foi vedado e
colocado em agitação até a dissolução do material, aproximadamente 1 hora.
Para as medidas de viscosidade usou-se um viscosímetro capilar de Ostwald, Figura 18,
imerso em um banho termostatizado de aproximadamente 25oC.
O viscosímetro foi preenchido, 8 mL, com o solvente, solução usada para dissolver a
celulose. Esperou-se 5 minutos para que a temperatura do solvente entrasse em equilíbrio térmico
com o banho. Com o auxilio de um pipetador de borracha elevou-se o nível do sistema solvente
até a marca superior do capilar e marcou-se o tempo de escoamento até a segunda marca. Foram
Capítulo II–Procedimento Experimental
32
feitas 5 medidas e em seguida repetiu-se o mesmo procedimento para as soluções do caroço de
manga e jornal purificados.
Figura 18:Esquema do viscosímetro de Ostwald
A partir dos tempos de escoamento do solvente e da solução pode-se calcular a
viscosidade relativa da solução, pela equação 2, que é a viscosidade em relação ao solvente puro.
0r t
t=η Eq.2
Em que: t é tempo de escoamento da solução e t0 é o tempo de escoamento do solvente
Utilizando os valores de ηr e a equação 3, calcula-se então a viscosidade específica
1−= rsp ηη Eq.3
A viscosidade intrínseca foi determinada pelo método do ponto único 62 pela equação 4:
C
relsp ))ln((2][
ηηη
−=
Eq. 4
A massa molecular da celulose é obtida pela equação 5 abaixo:
xGPM v 162= Eq. 5
Capítulo II–Procedimento Experimental
33
Em que: 162 é a massa de uma unidade glicosídica e GP é o grau de polimerização calculado por
][75,0905,0 ηxGP =
Para o calculo da massa molecular viscosimétrica dos acetatos foi utilizado o sistema
solvente diclorometano/etanol (8/2 v/v)63 na concentração de 2,0 g/L.
A viscosidade intrínseca, calculada pela equação 4, está diretamente relacionada com a
massa molecular de modo que quanto maior a viscosidade maior será a massa molecular. A
relação é dada pela equação 6:
[ ] ( )avMK=η Eq.6
Em que : [η] é a viscosidade intrínseca; Mv é a massa molecular; K e a são constantes
para um par polímero-solvente em particular a uma dada temperatura64. As constantes do sistema
solvente utilizado são K=13,9 x 10-3 mL.g-1 e a=0,83464.
II.4.4–Calorimetria Exploratória Diferencial
Os experimentos foram realizados em um equipamento modelo Q-20, TA Instruments.
Cerca de 10 mg da amostra foi aquecida em cadinhos de alumínio, da temperatura de 25 ºC a 350
ºC. A velocidade de aquecimento utilizada foi de 10 °C.min-1 em atmosfera de nitrogênio a 50
cm3.min-1.
II.4.5–Análise Termogravimétrica
As análises foram feitas em um equipamento modelo TGA-50 da Shimadzu. Cerca de 10
mg da amostra foi aquecida, em cadinhos de alumínio, até 600°C na velocidade de aquecimento
de 10°C.min-1, sob atmosfera de nitrogênio a 50 cm3.min-1. Esta análise foi realizada no
Laboratório de Caracterização de Polímeros da Universidade de Caxias do Sul e na Universidade
Federal de Uberlândia.
II.4.6–Difração de Raio-X
As análises foram feitas em um difratômetro XRD-6000 Shimadzu com radiação Cu Kα,
de 5º a 40º, passo de 0,02º, tempo de leitura de 0,3 s por passo, e velocidade de varredura de
4º/min. Esta análise foi realizada no Laboratório de Caracterização de Polímeros da Universidade
de Caxias do Sul e na Universidade Federal de Uberlândia.
Capítulo II–Procedimento Experimental
34
II.5-Produção e caracterização das membranas
II.5.1-Produção das membranas
As membranas(M) foram produzidas através de uma modificação da metodologia descrita
por Khulbe et al.58da seguinte forma: soluções contendo triacetato de celulose(TAC),
diclorometano e água com (A) e sem (B) adição do sal perclorato de magnésio, foram preparadas
nas proporções (m/m) mostradas na Tabela 2 onde JD é o material produzido a partir do jornal
deslignificado e CT o material produzido a partir do caroço de manga tratado.
Tabela 2: Formulações utilizadas no preparo das membranas
Material TAC CH2Cl2 Água Mg(ClO4)2 MA-JD 9,28 83,48 6,49 0,74 MB-JD 9,28 84,22 6,49 - MA-CT 7,5 86,59 5,29 0,60 MB-CT 7,5 86,59 5,29 -
As soluções foram mantidas sob agitação por 24 horas. Em seguida as soluções, as quais
foram mantidas a uma temperatura de 4 ºC por 10 min. em geladeira, foram posteriormente
espalhadas sobre uma placa de vidro utilizando-se um espalhador fixo a uma espessura úmida de
350 µm. O solvente foi evaporado a temperatura ambiente (27 ºC) por 2,5 min. e a placa , com a
membrana, foi imersa em um banho de água e gelo a uma temperatura de 4 ºC. O conjunto foi
mantido no banho por 2 horas. Após esse período a membrana, já destacada foi mergulhada em
um banho de água a uma temperatura de 85 ºC e mantida por 10 min.
Após mudança no procedimento de deslignificação e tempo de reação de acetilação
produziu-se membranas nas mesmas proporções mostradas na Tabela 2. O tempo de evaporação
do solvente foi mudado para 5 minutos.
Membranas com este novo material também foram preparadas com o sistema solvente
dioxano/acetona59-60 (D/A= 2,5) na concetração de polímero de 8% m/m. A solução foi mantida
sob agitação por 48 horas e depois espalhada em uma placa de vidro. Depois do tempo de
evaporação, que variou de 30, 90 e 120 segundos a placa foi imersa em um banho de água a 4 ºC.
O ácido acético foi ainda utilizado como aditivo60 a 3% m/m.
Capítulo II–Procedimento Experimental
35
II.5.2-Microscopia Eletrônica de Varredura
Foram feitas analises das superficies e fraturas das membranas. A fratura foi feita por
quebra em nitrogenio liquido. As amostras foram metalizadas com uma fina camada de ouro e a
morfologia da superfície e secção transversal das membranas foram avaliadas em um
Microscópio Eletrônico de Varredura modelo Shimadzu SSX-550 (Caxias do Sul-RS) e
Stereoscan 440 (Genova-Itália) operando a 10 kV.
II.5.3-Medidas de fluxo de vapor de água
O copo de Payne foi preenchido com água até aproximadamente a metade da sua
capacidade e fechado como mostra o esquema da Figura 19. A membrana foi colocada no suporte
e em seguida o sistema foi pesado e colocado em um dessecador, onde permaneceu por 9 horas,
sendo pesado em intervalos de uma hora38.
Figura 19: Copo de Payne
Para calculo do fluxo obteve-se um gráfico de ∆m x ∆t e o fluxo de vapor de água foi
calculado utilizando a equação 7:
At
mJv ∆
∆= Eq. 7
Em que : Jv= Fluxo de vapor de água
∆m = variação de massa (g)
∆t = variação do tempo (seg.)
A= área permeante da membrana (cm2)
Capítulo II–Procedimento Experimental
36
II.5.4- Difusão de íons através das membranas
A Figura 20 mostra o sistema utilizado para o experimento. Em um dos lados do sistema
foi adicionada uma solução de KCl na concentração de 10-3 mol L-1, e do outro lado água
deionizada. A membrana é acoplada entre os dois compartimentos. A passagem de íons através
da membrana foi medida por condutividade65. A área da membrana foi de 7,07 cm2 e o volume
dos compartimentos 100 cm3. Este experimento foi realizado no laboratório de membranas da
Universidade de Caxias do Sul com as membranas MA-JD e MA-CT.
Figura 20: Sistema utilizado para medidas de difusão de íon
O fluxo de íons foi calculado a partir da inclinação de uma curva concentração versus
tempo , equação 8:
At
CJ i ∆
∆= Eq. 8
Em que : Ji= Fluxo de íons
∆C = variação da concentração (mol L-1)
∆ t = variação do tempo (seg.)
A= área permeante da membrana (cm2)
A partir do fluxo pode-se calcular o coeficiente de permeabilidade (P) pela equação 9.
c
JP i
∆= Eq. 9
Em que: ∆c = diferença de concentração entre os dois compartimentos (mol L-1).
O coeficiente de difusão do eletrólito (D) é então determinado pela equação 10:
lPD ×= Eq.10
Em que: l é a espessura da membrana (cm)
Capítulo II–Procedimento Experimental
37
II.5.5- Medidas de resistência a pressão
Os ensaios foram realizados em uma cela de aço inox de fluxo frontal com área disponível
para permeação de 12,5 cm2. A resistência das membranas testadas foi feita de forma que a
pressão foi aumentada, e mantida por 15 min. em cada pressão, até atingir a pressão de
rompimento da membrana. Este experimento foi realizado no laboratório de membranas da
Universidade de Caxias do Sul com as membranas MA-JD e MA-CT.
II.5.6-Permeabilidade de água e rejeição a sal
A permeabilidade a água e solução salina (NaCl 1000 ppm) foi medida para cada
membrana. Os experimentos foram conduzidos a 25 ºC, em um modulo membrana com fluxo
tangencial, área efetiva de 66 cm2 e pressão transmembrana de 5 a 30 bar. Este experimento foi
realizado no laboratório de membranas e processos com membranas da Universidade de Genova-
Itália, com todas as membranas provenientes do processo de deslignificação modificada (JDM e
CDM). O fluxo de água e solução salina (Js) foi medido e calculado a partir da equação 10,
At
QJ s =
Eq.10
Em que: Q = quantidade de permeado (L)
A= área efetiva da membrana (m2)
t= é o tempo de fluxo (h).
A rejeição salina foi calculada por diferença de condutividade entre alimentação e
permeado.
38
Capítulo III. Resultados e discussão
Capítulo III–Resultados e Discussão
39
III.1- Caracterização dos materiais : caroço de manga e jornal
A Figura 21 mostra os espectros de infravermelho para o jornal bruto (JB) e jornal
deslignificado (JD) e a Figura 22 para o caroço de manga bruto (CB) e caroço de manga tratado
(CT).
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Abs
orbâ
ncia
(u.
a.)
número de onda (cm-1)
JB
JD
3412
2894
1734
1649
1513
1436 13
6812
66
1044
815
Figura 21: Infravermelho para jornal bruto (JB) e deslignificado (JD)
Capítulo III–Resultados e Discussão
40
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Abs
orbâ
ncia
(u.
a.)
número de onda(cm-1)
CB
CT
3447
2917
1745 16
61
1510 14
3913
7112
72
1045
814
Figura 22- Infravermelho para caroço de manga bruto (CB) e tratado(CT)
Os espectros de infravermelho das Figuras 21e 22 apresentam o perfil típico observado
em materiais lignocelulósicos. O JD e CT, quando comparados aos materiais brutos ainda
apresentam bandas em regiões que podem ser atribuídas a grupos funcionais presentes em
fragmentos de lignina e hemiceluloses, como as bandas em 1725 cm-1 atribuída ao estiramento
C=O não conjugado ao anel aromático de hemiceluloses, 1515 cm-1(JB) e 1507 cm-1(CT),
atribuídas ao estiramento C-C de anéis aromáticos na lignina, 1278 cm-1 (JB), 1272 cm-1(CT),
810 cm-1(JB) 815 cm-1(CT) atribuídas a estiramento C-O de anéis guaiacílicos,66-67. Algumas
destas bandas aparecem com sua intensidade reduzida, mostrando a diminuição destes
constituintes. As Tabelas 3 e 4 mostram as demais outras atribuições dos espectros.
Capítulo III–Resultados e Discussão
41
Tabela 3: Atribuições das bandas dos espectros de infravermelho para JB e JD
Banda
(cm-1)
Banda
(cm-1)
Atribuições
JB JD
3412 3396 Estiramento O-H
2894 2905 Estiramento (C-H) de grupos CH2 e CH3
1734 1725 Estiramento C=O de hemiceluloses
1649 1655 Deformação angular da água
1513 1515 Estiramento C-C anéis aromáticos
1436 1435 Deformação CH2
1368 1378 Deformação CH3
1266 1278 Estiramento C-O anéis guaiacílicos
1044 1057 Estiramento C-O
815 810 Estiramento C-H anéis aromáticos
Tabela 4: Atribuições das bandas dos espectros de infravermelho para CB e CT
Banda
(cm-1)
Banda
(cm-1)
Atribuições
CB CT
3447 3445 Estiramento O-H
2917 2930 Estiramento (C-H) de grupos CH2 e CH3
1745 1725 Estiramento C=Ode hemiceluloses
1661 1656 Deformação angular da água
1510 1507 Estiramento C-C anéis aromáticos
1439 1429 Deformação CH2
1371 1374 Deformação CH3
1272 1272 Estiramento C-O anéis guaiacílicos
1045 1051 Estiramento C-O
814 815 Estiramento C-H anéis aromáticos
Os teores de lignina dos materiais brutos, caroço de manga tratado (CT) e jornal
deslignificado (JD), foram quantificados através da determinação da porcentagem de Lignina
Klason. Nesta metodologia os polissacarídeos são removidos por hidrólise com ácido sulfúrico
72% deixando como resíduo a lignina. No caso do caroço de manga bruto foi determinado
primeiramente o teor de extrativos, cerca de 1,9 %. Os teores de lignina calculados para o caroço
de manga foram 26,6 ± 1,0 para CB e 24,5 ± 2,0 para CT. O tratamento do caroço de manga
bruto com uma solução aquosa de hidróxido de sódio 1,0 mol L-1 embora não leve a uma
Capítulo III–Resultados e Discussão
42
redução significativa no teor de lignina, promove um início de mercerização, que melhora a
acessibilidade da celulose e favorece a modificação química posterior, para a produção do acetato
de celulose.
Para o jornal bruto o teor de lignina foi determinada em cerca de 24,0 ± 0,8% e após o
mesmo tratamento com solução de NaOH 1,0 mol L-1, utilizado para o caroço de manga, o teor
de lignina foi de 24,3 ± 1,0 . Embora tenha passado pelo mesmo tratamento e possua
praticamente o mesmo teor de lignina que o caroço de manga, neste caso não foi possível
produzir o derivado acetilado. Foi então necessária uma etapa de deslignificação que levou a um
teor de lignina de 15,6 ± 2,0% e a partir deste material foi possível produzir o derivado acetilado.
O teor de lignina residual (15,6 ± 2,0%), após um procedimento de deslignificação que em outros
materiais leva a um conteúdo menor de lignina, como é o caso apresentado por Vieira et al.61 com
um bagaço de cana-de-açúcar com 3,87% de lignina, pode ser atribuído ao fato de que o papel de
imprensa, utilizado para a impressão do jornal, é produzido a partir da madeira de pinus que tem
como lignina predominante a do tipo guaiacila que é mais fortemente ligada as fibras de celulose.
Este tipo de lignina é mais difícil de ser retirada na etapa de deslignificação por ser menos
reativa, e assim dificulta reação de derivatização pois restringe o inchamento das fibras68. Neste
sentido, uma vez que obtivemos materiais ainda com alto teor de lignina, foi feita a determinação
do conteúdo de celulose para uso destes materiais.
A determinação da celulose foi realizada utilizando o método clorito ácido. Neste
procedimento determina-se primeiramente a holocelulose, produto resultante da extração da
lignina, que é constituída por celulose e hemiceluloses. Este processo de deslignificação utiliza o
clorito de sódio e está baseado na reação entre lignina e ClO2, ClO-, produtos estes formados em
reações redox de ClO2- em meio ácido segundo a equação:
8 ClO2(aq)- + 6 H+(aq)
6 ClO2(aq) + ClO-(aq) + Cl
-(aq) + 3 H2O
A celulose distingue-se analiticamente das hemiceluloses pela sua insolubilidade em
soluções alcalinas aquosas. A extração sucessiva da holocelulose (preparada pelo método do
clorito acido) com hidróxido de potássio 5 e 24 % resulta em valores que, somados, representam
a fração de hemiceluloses28. Assim, a fração de hemiceluloses solubilizada pelo hidróxido de
Capítulo III–Resultados e Discussão
43
potássio 5 % e designada hemicelulose A, a fração solubilizada pelo hidróxido de potássio 24 %
e designada hemicelulose B e o resíduo fibroso após as duas extrações é designado celulose28.
O teor de celulose e hemiceluloses (A e B) nos materiais utilizados foi de 52,5 % e 23,3%
para o caroço tratado e 67,4% e 15,5% para o jornal purificado.
Embora os materiais de partida possuam ainda alto teor de lignina e hemiceluloses, foi
possível a produção do derivado, acetato de celulose, de ambas as fontes como demonstrado nas
sessões a seguir.
III.2- Produção e caracterização do acetato de celulose
III.2.1- Reação de acetilação e caracterização por infravermelho
A Figura 23 apresenta o mecanismo proposto para a reação de acetilação da celulose
A cetato de ce lu lose
C C H3
O
O
C- H C
OH 3C
O H
H
- H C O
C H3O
C
H
OC
O
C H3
HC O
C H3O
C
H
OC
O
C H3
H
CH 3CO
O
CH 3CO
HC elu loseCH 3C
O
O
CH 3CO H
C
O H
Figura 23: Mecanismo proposto para a reação de acetilação da celulose
As ligações de hidrogênio inter e intramoleculares da celulose são as responsáveis pela
pouca acessibilidade de reagentes e solventes às hidroxilas da celulose. Deste modo se faz
necessário a ativação da celulose com adição de ácido acético e catalisador, no início da reação
para que promovam um inchamento das fibras.
Durante a adição do anidrido acético, após a ativação das fibras, o reagente vai sendo
consumido e desintegrando as fibras no meio reacional, ocorrendo assim a reação de acetilação.
Capítulo III–Resultados e Discussão
44
O acetato de celulose produzido fica solubilizado no meio (reação homogênea) vindo a ser
precipitado com água ao final da reação.
A reação ocorre com excesso de anidrido e sem a presença de água para que não ocorra
reação inversa de hidrólise do acetato produzido, uma vez que a esterificação está em equilíbrio
com a reação inversa de hidrólise69. O rendimento da reação é cerca de 87%.
As Figuras 24 e 25 mostram um espectro típico de infravermelho do acetato de celulose
(AC) produzido a partir do CT e JD, respectivamente.
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
1169
1125
Ab
sorb
ânci
a (u
.a.)
número de onda (cm-1)
3500
2947
1755
1646
1455
1387
1240
1039
883
Figura 24: Espectro de infravermelho para o AC-CT na forma de pó
Capítulo III–Resultados e Discussão
45
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Ab
sorb
ânci
a (u
.a.)
número de onda (cm-1)
3550
2967
1747
1643
1467
1388
1232
1170
1053
833
1125
AC-JD
Figura 25: Espectro de infravermelho para o AC-JD na forma de pó
As principais mudanças que caracterizam os materiais como acetilados são aumentos na
intensidade das bandas em 1755 cm-1(AC-CT) e 1747 cm-1(AC-JD) atribuídas ao estiramento da
carbonila de esteres , 1240 cm-1 (AC-CT) 1232 cm-1(AC-JD) atribuídas ao estiramento da
ligação C–C–O de acetatos, 1039 cm-1(AC-CT) e 1753 cm-1(AC-JD) atribuídas ao estiramento
C–O. Além disso, observa-se a diminuição da intensidade das bandas em 3500 cm-1 (AC-CT) e
3550 cm-1(AC-JD) atribuídas ao estiramento O-H celulósico70-71. A Tabela 5 mostra outras
atribuições dos espectros dos acetatos produzidos70.
Capítulo III–Resultados e Discussão
46
Tabela 5: Atribuições das principais bandas no infravermelho do acetato de celulose
AC-CT AC-JD
Bandas
(cm-1)
Atribuições Bandas
(cm-1)
Atribuições
3500 Estiramento O-H celulósico 3550 Estiramento O-H celulósico
2947 Estiramento CH3 2967 Estiramento CH3
1755 Estiramento de carbonila de éster 1747 Estiramento de carbonila de éster
1646 Deformação da água 1643 Deformação da água
1455 Deformação assimétrica CH2 1467 Deformação assimétrica CH2
1387 Deformação angular CH3 1388 Deformação angular CH3
1240 Estiramento C-O de acetato 1232 Estiramento C-O de acetato
1169 Estiramento C-O 1170 Estiramento C-O
1125 Esqueleto aromático, estiramento C-O 1125 Esqueleto aromático, estiramento C-O
1039 Estiramento C-O 1053 Estiramento C-O
III.2.2- Determinação do grau de substituição e massa molecular viscosimétrica do acetato
de celulose
A representação do mecanismo da reação de saponificação para o acetato de celulose é
descrita na Figura 26:
O
CH3C
O
OH
C
C
OH3C C
O
O HH3C C
O
O
Acetato de celulose
C CH3
O
O
C OH
celulose
C
OH
Figura 26: Representação do mecanismo de saponificação do acetato de celulose
Capítulo III–Resultados e Discussão
47
A reação de saponificação, éster com base forte, é uma substituição nucleofílica
caracterizada por duas etapas: na etapa 1 o nucleófilo adiciona-se à carbonila formando um
intermediário tetraédrico; na etapa 2 ocorre a transformação do intermediário pela eliminação do
grupo de saída72.
A determinação do grau de substituição (GS) por via química baseia-se na determinação
da porcentagem (% m/m) de grupos acetila (GA) que foram substituídos na cadeia celulósica. O
valor médio calculado para % GA, pela equação 5, do acetato de celulose produzido a partir do
caroço de manga foi 40, 03 ± 0,89 % e para o material produzido a partir do jornal foi de 39,82 ±
1,26. A partir da %GA chegou-se aos valores de GS em cerca de 2,65 ± 0,06 para o acetato de
celulose produzido a partir do caroço de manga e 2,64 ± 0,07 para o acetato de celulose a partir
do jornal. Estes valores foram calculados a partir da relação de Puleo et al.34, onde um material
triacetilado teria %GA de 43,5 e um GS de 2,88 e por uma regra de três simples chegou-se aos
valores dos materiais acetilados.
Com relação a determinação da massa molecular média viscosimétrica, o valor calculado
para o acetato de celulose produzido a partir do jornal foi de 21500 g mol-1 e 49000 g mol-1 para
o material produzido a partir do caroço de manga. Esta diferença deve-se as diferentes fontes e
tipos de tratamento aplicados aos dois materiais em que o material produzido a partir do jornal
passou por uma etapa de deslignificação mais drástica que o tratamento com solução alcalina
aplicado ao caroço de manga. Outro fator importante e determinante na massa molecular é a
reação de acetilação que acontece em equilíbrio com a reação inversa de hidrólise69. Assim, a
medida que o material vai sendo acetilado, ocorre também hidrólise das cadeias que neste caso
acontece em maior extensão para o material proveniente do jornal.
Capítulo III–Resultados e Discussão
48
III.2.3- Análises térmicas
A Figura 27 mostra os termogramas de DSC e curvas de perda de massa para os acetatos
de celulose produzidos, na forma de pó, TAC-JD e TAC-CT.
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
-4
-3
-2
0
20
40
60
80
100
Flu
xo d
e ca
lor
(W/g
)
Temperatura(ºC)%
per
da d
e m
assa
endo
TAC-JD
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
-4
-3
-2
0
20
40
60
80
100
Flu
xo d
e ca
lor
(W/g
)
Temperatura(ºC)
% p
erda
de
mas
sa
TAC-CT
endo
Figura 27: Termogramas de DSC e curvas de perda de massa para os materiais na forma de pó, TAC-JD e TAC- CT
Capítulo III–Resultados e Discussão
49
O termograma de DSC do TAC-JD mostra uma endoterma por volta de 100 ºC que é
atribuída a saída de água, uma exoterma por volta de 199 ºC atribuída a cristalização do
material71 e uma segunda endoterma em 298 ºC que deve ser atribuída a um fenômeno de
degradação uma vez que a analise de TGA apresenta perda de massa nesta mesma posição.
No caso do TAC-CT o termograma apresenta uma endoterma por volta de 100 ºC que é
atribuída a saída de água e duas outras, sendo uma em 250 ºC e outra em 308 ºC. A endoterma a
250 ºC, neste caso, pode ser atribuída a degradação de hemiceluloses acetiladas73 e lignina. Uma
vez que o TAC-CT não passou por um processo de deslignificação constituintes como
hemiceluloses são acetilados e segundo Ren et al.73, a temperatura de degradação para a
hemicelulose acetilada é 230 ºC, e ainda a lignina tem uma faixa de degradação extensa entre
200 e 600 ºC, devido a complexidade de sua extrutura74 e também pode estar contribuindo para a
endoterma apresentada neste material. Shaikh et al.17 em seus estudos também mostraram que
hemiceluloses acetiladas , como acetato de xilana, apresentaram endotermas a 215 ºC e perda de
massa, em aproximadamente, 220 ºC. A endoterma em 308 ºC, com início em 290 ºC, seria
normalmente atribuída a fusão do triacetato de celulose, porém essa endoterma é acompanhada
de perda de massa, como observado na curva de TGA e portanto trata-se da degradação das
cadeias de acetato de celulose.
Outro fato importante que auxilia na interpretação dos termogramas é que no caso do
TAC-JD, apesar deste material também apresentar constituintes como lignina e hemiceluloses no
material de partida, estes não apresentam nenhuma endoterma de degradação como no TAC-CT.
Isto pode ser atribuído ao fato de que estes constituintes podem ter sido mais facilmente
eliminados por hidrólise e dissolução no meio reacional durante o processo de acetilação17. Neste
sentido os acetatos produzidos também passaram pelo procedimento de determinação de lignina
Klason para avaliação da perda de constituintes como a lignina no procedimento de acetilação. O
teor de lignina encontrado para o TAC-JD foi 4,0 ± 1,5% enquanto o TAC-CT foi de 13,0% ±
1,1 confirmando assim a maior solubilização de lignina no meio reacional de acetilação na
produção do TAC-JD o que justifica a ausência da endoterma de degradação no DSC deste
material.
Capítulo III–Resultados e Discussão
50
III.2.4- Difração de Raios –X
A Figura 28 mostra os difratogramas de Raios-X do TAC-JD produzido, comparado com
seu respectivo material de partida JD.
5 10 15 20 25 30 35 40
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ
JD
TAC-JD
Figura 28: Difratograma de Raios-X para JB, JD e TAC-JD
A Figura 28 mostra que o TAC-JD possui máximos localizados em aproximadamente
2θ= 8,0º, 17,5º, 22,0º. Quando se compara o padrão de difração do acetato com seu material de
partida tem-se o máximo em 2θ= 8,0º que não está presente no material não acetilado e que é
devido à modificações na estrutura pela inserção de um grupo volumoso (acetila).Comparando o
padrão de difração TAC-JD com acetatos obtidos por Kono et al.75, Figura 29, observa-se que o
TAC-JD apresenta um padrão de difração semelhante ao obtido para o TAC I.
Capítulo III–Resultados e Discussão
51
Figura 29: Padrão de difração TAC I e TAC II
A Figura 30 mostra os difratogramas de Raios-X do TAC-CT comparado com seu
respectivo material de partida.
5 10 15 20 25 30 35 40
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ
TAC-CT
CT
Figura 30: Difratograma de Raios-X para CB, CT e TAC-CT
No padrão de difração TAC-CT os máximos são localizados em aproximadamente 2θ=
8,0º, 10,0º, 13,0º, 17,0, 22,0 e comparado àqueles de Kono75, é semelhante ao TAC II. O padrão
Capítulo III–Resultados e Discussão
52
de difração para ambos os materiais (TAC-JD e TAC-CT) corresponde a estrutura de um material
acetilado17,75.
Entre os difratogramas dos materiais semicristalinos TAC-JD e TAC-CT o perfil
apresentado para o TAC-JD é mais cristalino em relação ao material TAC-CT. Estas diferenças
estão de acordo com a constituição dos materiais onde no caso do jornal, o tipo de lignina
predominante mesmo depois da deslignificação, lignina guaiacila, é menos reativa e dificulta o
inchamento das fibras68 tornando o material menos acessível à reação de acetilação. Para o
caroço de manga, um processo de mercerização com NaOH 1 mol L-1 teria sido suficiente para
promover um inchamento das fibras facilitando a inserção dos grupos acetila entre as fibras. O
padrão de difração corrobora também os dados de massa molecular viscosimétrica em que o
TAC-JD apresenta menor massa devido à uma maior hidrólise das cadeias durante a reação de
acetilação produzindo fragmentos menores e de mais fácil cristalização.
.
III.3- Caracterização das membranas produzidas
III.3.1- Microscopia Eletrônica de Varredura
A formação das membranas assimétricas pelo processo de inversão de fases, quando se
tem a presença de um solvente volátil, ocorre pela evaporação deste solvente no período de
evaporação antes da imersão em banho de coagulação, que leva ao aumento da fase rica em
polímero na superfície da membrana. A camada porosa é formada no banho de coagulação onde
ocorre a troca entre solvente e não solvente.
As Figuras 31 e 32 mostram as micrografias eletrônicas das duas superfícies das
membranas, interface com ar e interface com o substrato (placa de vidro).
Capítulo III–Resultados e Discussão
53
Figura 31: Microscopia eletrônica de varredura das superfícies em contato com o ar e superfícies em contato com o substrato das membranas TAC-CT (A: perclorato de magnésio/água e B:
água).1000x
Superfícies em contato com o ar Superfícies em contato com o substrato
MA-CT
MA-CT
MB-CT
MB-CT
Capítulo III–Resultados e Discussão
54
Superfícies em contato com o ar Superfícies em contato com o substrato
MA-JD
MA-JD
MB-JD
MB-JD
Figura 32: Microscopia eletrônica de varredura das superfícies em contato com o ar e superfícies em contato com o substrato das membranas TAC-JD (A: perclorato de magnésio/água e B: água).1000x
Observa-se que as membranas produzidas de ambos os materiais, sem adição de sal na
formulação apresentam menor porosidade na interface em contato com o ar e com o substrato
(vidro) do que aquelas produzidas com adição de sal. Na formação da estrutura da membrana, sal
e água atuam como aditivos formadores de poros que saem da membrana no banho de coagulação
facilitando a formação da porosidade mesmo na camada superficial que é aquela que começa a
se formar na etapa de evaporação do solvente. Esta morfologia está de acordo com a encontrada
Capítulo III–Resultados e Discussão
55
por Khulbe et al. 58, onde segundo tais autores, o sal perclorato de magnésio e a água, agem como
agentes inchantes na formação da membrana e dão origem aos poros.
As membranas sem o sal como aditivo conseguem formar melhor uma estrutura densa na
superfície, mesmo utilizando a água na formulação. Um fator importante na produção destas
membranas foi que nas formulações testadas, TAC/Diclorometano/água e
TAC/Diclorometano/água/sal, observou-se que a adição de sal melhorou a estabilidade da
solução, TAC/Diclorometano, quando se utiliza a água como não solvente, evitando uma
separação de fases. Esta estabilização ocorre devido ao fato de que a saída do sal no banho de
coagulação promove uma inversão de fases gradual sem que aja uma precipitação heterogênea.
No caso das formulações sem sal, ocorre uma rápida separação de fases do sistema, o que neste
caso, resulta em membranas mais frágeis. Assim, a adição de sal tem um papel importante na
estabilidade da solução TAC/diclorometano/água e é determinante nas características finais das
membranas produzidas.
No entanto, outros fatores importantes, além da presença de aditivos, devem ser
considerados na formação da estrutura das membranas, como por exemplo a massa molecular
dos polímeros e o teor de lignina presente nos acetatos. Para discutir a influência da lignina
tomamos como exemplo as membranas MB-CT e MB-JD. Na membrana MB-CT observamos a
formação de alguns poros superficiais mesmo sem adição de sal na formulação, isto acontece
devido ao fato de que na presença de fragmentos de lignina, caso da membrana MB-CT , as
interações entre as cadeias do polímero são afetadas, o que resulta na formação de regiões de
baixa densidade de polímero. Assim a formação de alguns poros seria favorecida na membrana
TAC-CT mesmo sem adição de sal, quando comparadas as membranas produzidas a partir do
TAC-JD, devido ao seu maior conteúdo de lignina (como discutido anteriormente e apontado
pela determinação de lignina Klason nos Acetatos).
A Figura 33 mostra as microscopias do corte transversal das membranas TAC-CT e TAC-
JD com e sem perclorato de magnésio.
Capítulo III–Resultados e Discussão
56
MA-CT
MB-CT
MA-JD
MB-JD
Figura 32: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal das membranas de TAC-CT e TAC-JD (A: perclorato de magnésio/água e B: água).1000x
Primeiramente, uma estrutura assimétrica é observada em todas as membranas, onde as
membranas do jornal e MA-CT exibem uma camada superficial, suportada por uma subestrutura
porosa e a MB-CT exibe uma estrutura com um gradiente de porosidade onde ocorre uma
heterogeneidade na formação dos poros e uma maior formação de regiões mais densas. Nas
membranas produzidas a partir do TAC-CT a morfologia do corte transversal apresenta mais
regiões com alta densidade de polímero (fase rica em polímero), ao contrário do observado para
as membranas produzidas a partir do TAC-JD que exibem mais regiões de porosidade. As regiões
de maior densidade de polímero são produzidas pela influência da maior massa molecular, onde a
presença de maiores cadeias poliméricas, aumentam as interações entre cadeias proporcionando a
formação dessas regiões. A formação da morfologia da superfície e subestrutura da membrana
Capítulo III–Resultados e Discussão
57
seria então uma competição entre a influência do teor de lignina presente e a massa molecular do
polímero.
III.3.2- Medidas de resistência a pressão, fluxo de vapor de água e difusão de íons através
das membranas
Os valores calculados para o fluxo de vapor de água através das membranas produzidas
são mostrados na Tabela 6.
Tabela 6: Fluxo de vapor de água através das membranas, normalizados pela espessura. (A: perclorato de magnésio/água e B: água)
Membrana Fluxo Normalizado J L(g s-1 cm-2µm) MA-CT 0,85 x 10-4 MA-JD 1,02 x 10-4 MB-CT 0,31 x 10-4
MB-JD 0,73 x 10-4
As membranas produzidas com adição de perclorato de magnésio na formulação
apresentam valores de fluxo de vapor de água maiores que as membranas produzidas sem este
aditivo. Este fato está relacionado à formação de maior porosidade na estrutura da camada
superficial das membranas, observada nas microscopias apresentadas nas Figuras 29 e 30 (MA-
CT e MA-JD). No fluxo de vapor de água através das membranas a camada superficial formada
pela adição de perclorato de magnésio parece ser determinante no transporte. Este experimento
nos dá uma ideia do caminho percorrido pelo vapor permeante através da estrutura das
membranas.
Com relação à resistência a pressão a membrana MA-JD, apresentou fluxo de água
mesmo antes de se iniciar o experimento e se rompeu em seguida, mostrando-se uma membrana
muito frágil para experimentos que envolvam diferença de pressão. Por outro lado, a membrana
MA-CT resistiu até 1,5 atm de pressão. As membranas MB-JD e MB-CT romperam ao fechar o
sistema de permeação. Assim, para avaliar a performance destas membranas em outros tipos de
transporte, foram realizados experimentos de difusão de íons por diálise. As membranas
avaliadas foram aquelas obtidas com adição de perclorato de magnésio na formulação, pois estas
membranas eram mais resistentes e de fácil manuseio durante realização do experimento.
O valor calculado para o coeficiente de difusão de íons através das membranas foi de
1,82x10-8 cm2 s-1 para a membrana MA-CT e 7,43x10-8 cm2 s-1 para a membrana MA-JD , ou
seja, o coeficiente de difusão de íons na membrana de TAC-CT é cerca de 4 vezes menor . Esta
Capítulo III–Resultados e Discussão
58
diferença pode ser explicada pelo fato de que neste caso a morfologia da subestrutura é
determinante no transporte de íons através destas membranas. Deste modo, as regiões de alta
densidade de polímero observadas para a membrana TAC-CT dificultam a difusão através destas
membranas, ao contrário da membrana TAC-JD que possui uma morfologia mais porosa por
onde o fluxo é facilitado. Os valores encontrados para ambas as membranas é próximo do valor
reportado na literatura para um triacetato de celulose comercial65 que é de 8,47 x 10-8 cm2 s-1. A
membrana TAC-JD (7,43x10-8 cm2 s-1) se aproxima mais deste valor, mostrando assim o
potencial deste material, produzido a partir do Jornal, para ser utilizado em estudos com esta
finalidade.
III.4- Estudo dos parâmetros de deslignificação
A partir do conhecimento sobre a influência de constituintes como lignina na estrutura das
membranas formadas, iniciou-se um estudo no processo de deslignificação dos materiais
utilizados com intuito de reduzir a lignina e verificar as mudanças nas estruturas da morfologia
formada. A Tabela 7 mostra o teor de lignina determinado para o caroço da manga e jornal nos
distintos procedimentos de deslignificação.
Tabela 7: % Lignina Klason determinada em cada etapa de deslignificação do caroço e Jornal
Procedimento % Lignina Klason Caroço Jornal Bruto 26,6 ± 1,0 24,0 ± 0,8 P1 24,3 ± 2,0 24,3 ± 1,0 P2 4,5 ± 0,8 15,5 ± 2,0 P3 1,3 ± 0,2 10,7 ± 0,4 P4 0,2 ± 0,03 3,6 ± 0,6
Os resultados mostraram que houve uma diminuição significativa do conteúdo de lignina
Klason nos procedimentos 2, 3 e 4 de deslignificação sendo que o procedimento 4, o qual é
finalizado com o tratamento em NaOH 1 mol L-1, fornece a melhor condição para
deslignificação do caroço de manga e uso posterior na produção de derivados uma vez que ao
final desta etapa o teor de lignina é cerca de 0,2%. No caso do jornal também ocorreu diminuição
no teor de lignina, Tabela 7, no entanto utilizando o mesmo procedimento foi possível chegar a
um teor de 3,6%, ou seja , estes dados corroboram os resultados encontrados anteriormente com
relação ao tipo de lignina predominante neste material e mostra ainda que será necessária uma
nova modificação neste procedimento para que se chegue ao mesmo conteúdo de lignina residual
Capítulo III–Resultados e Discussão
59
do caroço. A Figura 34 mostra os espectros de infravermelho dos materiais após deslignificação
(P4), caroço deslignificado modificado (CDM) e jornal deslignificado modificado (JDM).
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Abs
orbâ
ncia
(u.
a.)
número de onda (cm-1)
CDM
JDM
1738 15
15
1280
808
Figura 33: Espectro de infravermelho para JDM e CDM.
Os espectros mostram redução na intensidade ou desaparecimento das principais bandas
atribuídas à lignina e hemiceluloses. A banda em 1738 cm-1 atribuída ao estiramento C=O de
hemiceluloses praticamente não aparece em ambos os casos, assim como a banda em 1515 cm-1
atribuída ao estiramento C-C de anéis aromáticos. A banda em 1280 cm-1, estiramento C-O de
anéis guaiacílicos, tem sua intensidade drasticamente reduzida, assim como a banda em 808 cm-1
também atribuída a estiramento C-O de anéis aromáticos e que nem aparece no caso do material
CDM.
A modificação na metodologia, onde é feita uma lavagem do material entre os refluxos e
posteriormente o tratamento com hidróxido de sódio, é determinante na retirada de constituintes
como a lignina, devido ao fato de que as lavagens do material levam a retirada de material
solubilizado no meio e que ficaria impregnado nas fibras dificultando a nitração dos fragmentos
restantes de lignina. A lignina nitrada é então facilmente solubilizada no pós-tratamento com
hidróxido de sódio76. A solubilização de lignina também é observada pela coloração escura da
Capítulo III–Resultados e Discussão
60
solução de hidróxido de sódio quando colocada em contato com o material após refluxos, Figura
35 A. Após etapa com hidróxido de sódio, o material novamente em contato com o a solução
apresenta coloração mais clara, Figura 35 B.
A
B
Figura 34: Fotografia do caroço de manga deslignificado colocado em solução alcalina (A) e caroço de manga deslignificado colocado novamente em solução alcalina (B)
O teor de celulose e hemicelulose para o material deslignificado do caroço de manga
(CDM) foi determinado em cerca de 94,31% e 7,32% , respectivamente e cerca de 90,41% e
8,83%, para o material deslignificado do jornal (JDM). Esta quantidade de hemiceluloses
restante não foi suficiente para dificultar a posterior derivatização e produção de membranas.
Uma vez retirada a maior parte de lignina e hemiceluloses determinou-se a massa molecular
viscosimétrica dos materiais deslignificados. Os valores calculados para as massas
viscosimétricas foram de 27600 g mol-1 para a celulose do jornal e 108900 g mol-1 para a celulose
do caroço de manga. Estas diferenças podem ser atribuídas às diferentes fontes de celulose onde
as fibras do jornal já passaram por um processo de polpação (mecânica ou termomecânica) para
Capítulo III–Resultados e Discussão
61
produção do papel de jornal e posteriormente pelo processo de deslignificação, enquanto as fibras
do caroço de manga passaram apenas pelo processo de deslignificação, mantendo melhor a
estrutura e tamanho da fibra.
III.5- Estudo da acetilação
Após modificação na deslignificação, alterações nos tempos de reação levaram a dados
importantes de melhora nas características do acetato sintetizado para posterior produção das
membranas. A mudança realizada no procedimento de acetilação baseou-se no trabalho de
Cerqueira et al. 39,43, modificando o tempo de reação de 24 para 14 horas. O material acetilado em
ambos os casos foi proveniente do procedimento que levou ao menor teor de lignina (P4). O
parâmetro utilizado para avaliar os materiais foi a produção de membranas para avaliação de sua
resistência. Para o acetato do caroço de manga deslignificado (TAC-CDM) o tempo de 14 horas
foi suficiente para produzir uma membrana resistente enquanto o jornal deslignificado
modificado (TAC-JDM), ainda produzia membranas muito frágeis. Isto pode ser atribuído ao
fato de que as cadeias de acetato de celulose formadas são mais facilmente degradadas no meio
reacional de acetilação, em um período maior de reação. Neste sentido, para o jornal foi ainda
necessária uma nova modificação com tempo de 2 e 8 horas de reação. O tempo de 2 horas foi o
escolhido para utilização na síntese do acetato do jornal pois produziu uma membrana com boas
características de resistência. O tempo de 2 horas foi também testado para o material do caroço de
manga, porém produziu um material gelatinoso de difícil lavagem e sem solubilidade nos
solventes utilizados. Assim, para o caroço de manga que tem uma celulose com maior massa
molecular o tempo de 2 horas não foi suficiente para produção do acetato de celulose. Os
materiais produzidos TAC-CDM 14 horas de reação e TAC-JDM 2 horas de reação, foram
caracterizados e a Figura 36 apresenta os espectros de infravermelho para os materiais de ambas
as fontes.
Capítulo III–Resultados e Discussão
62
4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500
Abs
orbâ
ncia
(u.
a.)
número de onda (cm-1)
a)
b)
3473
1755
1236
1044
Figura 35:Espectro típico do acetato de celulose produzido a partir do TAC-JDM e TAC-CDM
As bandas em 1756 cm-1 atribuídas aos grupos carbonila de ésteres, 1236 cm-1 e 1044cm-
1 atribuídas ao estiramento C–O, caracterizam os materiais como acetilados 70,71. O grau de
substituição calculado para os materiais foi de 2,72 ± 0,03 para o acetato de celulose do jornal e
2,70 ± 0,05 para o acetato de celulose do caroço de manga. Estes dados mostram que houve uma
acetilação mais efetiva das fibras após modificação do procedimento de deslignificação para
posterior acetilação. A massa molecular viscosimétrica para estes materiais foi de 20800 g mol-1
para o TAC-JDM e 73000 g mol-1 para o TAC-CDM. A massa do TAC-JDM praticamente não se
altera quando comparada ao do material TAC-JD (21500 g mol-1), possivelmente devido a uma
limitação da própria matéria-prima que já possui uma massa de celulose mais baixa (cerca de
27600 g mol-1) em relação ao material do caroço. Neste caso o tempo de acetilação de 2 horas
favorece a redução da hidrólise das cadeias mantendo a massa molecular, em valor próximo ao
material produzido anteriormente porém com uma melhora na qualidade do material pela
retirada mais efetiva dos outros constituintes, lignina e hemiceluloses, alcançada pela mudança
no procedimento de deslignificação melhorando a acessibilidade das fibras de celulose.
Capítulo III–Resultados e Discussão
63
Foram feitas ainda caracterizações térmicas e por Raios-X dos materiais acetilados. As
Figuras 37 e 38 mostram os difratogramas de Raios-X para ambos os materiais TAC-JDM e
TAC-CDM comparados aos respectivos materiais não acetilados.
5 10 15 20 25 30 35 40
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2θ
TAC-JDM
JDM
Figura 36: Difratogramas de raios-x para JDM e TAC-JDM
Capítulo III–Resultados e Discussão
64
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Inte
nsid
ade(
u.a.
)
2θ
TAC-CDM
CDM
Figura 37: Difratogramas de Raios-X para CDM e TAC-CDM
Observa-se que ambos materiais apresentam um padrão de difração semelhante ao obtido
por Kono75 para o TAC II, Figura 29 . Tal fato não acontecia anteriormente para o jornal devido
ao teor e tipo de lignina, menos reativa e mais fortemente ligada as fibras de celulose68. O padrão
de difração de ambos materiais apresentam os principais máximos em aproximadamente 2θ= 8º,
10º e 13º, ausentes no material não-acetilado e que caracterizam a modificação química por
acetilação dos materiais. O perfil para o TAC-JDM se apresenta menos cristalino quando
comparado ao material JD, Figura 28, o que está de acordo com a melhora na acessibilidade das
fibras de celulose na reação de acetilação.
Outro resultado que corrobora a diminuição dos constituintes lignina e hemiceluloses dos
materiais são os perfis dos termogramas de DSC e curvas de perda de massa, Figura 39 e 40.
Capítulo III–Resultados e Discussão
65
100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
80
100
% p
erda
de
mas
sa
Temperatura (ºC)
Flu
xo d
e ca
lor
(W/g
)
endo-4
-2
0
Figura 38: Termograma de DSC e curva de perda de massa para TAC-JDM
100 200 300 400 500 600
0
20
40
60
80
100
% p
erda
de
mas
sa
Temperatura(ºC)
Flu
xo d
e ca
lor
(W/g
)
endo
-4
-2
0
2
Figura 39: Termograma de DSC e curva de perda de massa para TAC-CDM
Capítulo III–Resultados e Discussão
66
Nos termogramas de ambos materiais, observa-se uma endoterma por volta de 74 ºC que
é atribuída a saída de água. O termograma do TAC-CDM apresenta uma exoterma em cerca de
192 ºC atribuída a cristalização do material e ambos apresentam uma segunda endoterma em 310
ºC que deve ser atribuída a fusão dos materiais71 uma vez que a curva de TGA não apresenta
perda de massa nesta mesma posição. Estes resultados confirmam assim a mudança na
constituição do material de partida e posteriormente a melhora na acetilação dos materiais,
produzindo acetatos com melhores caracterisiticas.
A determinação de lignina Klason para os acetatos foi de 3,57 % ± 0,5 para o TAC JDM e
de 0,05± 0,06% para o TAC-CDM. Estes resultados mostram que não houve redução
significativa, no teor de lignina, (por solubilização), após a acetilação como ocorria nos
procedimentos anteriores, mostrando assim que os novos procedimentos levam a mínimos teores
de lignina que permanecem nos acetatos.
III.6- Caracterização das novas membranas
Para avaliar a diferença nas propriedades de transporte e resistência das membranas, após
as modificações nos parâmetros de produção do acetato de celulose, produziu-se novas
membranas a partir do material deslignificado pelo procedimento P4 (DM) e acetilado com
tempo de reação de 2 horas utilizando formulação de membrana: TAC/Diclorometano/água com
e sem uso do sal perclorato de magnésio como aditivo. Uma vez que as membranas do jornal
eram as mais frágeis, este material foi escolhido para fazer os primeiros testes de produção e
ensaio das mesmas. A Figura 41 mostra as microscopias das fraturas e superfícies das membranas
produzidas.
Capítulo III–Resultados e Discussão
67
Corte transversal Superfície em contato com ar
MA-JDM
MA-JDM
MB-JDM
MB-JDM
Figura 40: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal e superfície das membranas produzidas a partir do JDM (A: perclorato de magnésio/água e B: água) 1000x.
Comparando a microscopia das fraturas MA-JDM e MB-JDM, a membrana MB-JDM
apresenta-se mais heterogênea em relação à formação e formato de poros, fato este devido à
instabilidade causada pelo não solvente, água, utilizado na formulação, quando este não vem
acompanhado do sal perclorato de magnésio50. Nas superfícies nota-se também o efeito da
presença do perclorato de magnésio na formação da porosidade onde a superfície em contato com
ar (MA-JDM) é mais porosa que aquela apresentada em MB-JDM.
A Figura 42 mostra a performance de fluxo a água através das membranas produzidas.
Primeiramente, o resultado mais significativo deste experimento foi o valor da pressão de
Capítulo III–Resultados e Discussão
68
operação alcançado pelas membranas, até 30 bar. Estas membranas antes não podiam ser
testadas em experimentos deste tipo, pela sua baixa resistência, inclusive a membrana MB-JDM
com a qual não foi possível nem mesmo a realização de experimentos de difusão de íons por
diálise por serem extremamente quebradiças.
0 10 20 30 400
50
100
150
MA-JDM
J (L
.h-1.m
2 )
P (bar)
MB-JDM
Figura 41: Fluxo de água através das membranas MA-JDM e MB-JDM
Em relação aos valores de fluxo, a membrana MB-JDM, mesmo com menor porosidade
superficial, como visto nas microscopias, apresenta um maior valor de fluxo que pode ser devido
à irregularidade dos poros formados.
Com base nos resultados, principalmente no valor de pressão alcançado, podemos dizer
que todas as modificações realizadas foram fundamentais para a produção de um material mais
adequado a formação de uma membrana mais resistente, a partir do jornal, que pudesse ser
caracterizada em experimentos sob pressão até 30 bar.
Por outro lado, estas membranas apesar de resistentes, não apresentam ainda
características de seletividade, como rejeição a sal. Novas condições de preparo como
temperatura dos banhos de coagualação, quantidade de aditivos (sal e água) e tempos de
Capítulo III–Resultados e Discussão
69
evaporação foram modificadas. No entanto, nenhuma das condições utilizadas levaram a
alteração na propriedade de retenção das membranas. Com o caroço de manga também foram
testados alguns dos parametros utilizados para o jornal. A resistência das membranas também
chega aos 30 bar de pressão, mas também não obteve-se resultados de rejeição a sal.
Neste sentido, novas tentativas foram feitas para se alcançar alguma seletividade através
das membranas. Trabalhando inicialmente com o acetato de celulose do caroço de manga optou-
se por mudar o sistema solvente para produção das membranas. O sistema solvente utilizado foi
dioxano/acetona (D/A=2,5) que segundo Joshi et al.59 e Kastellan-Kunst 60 apresentou bons
resultados com membranas feitas de triacetato de celulose. Com esta solução o primeiro
parâmetro avaliado na produção das membranas foi a temperatura do banho de coagulação. O
gráfico de fluxo, da solução salina, através das membranas produzidas em banho de coagulação
a 24 ºC (M1-CDM) e 4 ºC (M2-CDM) é apresentado na Figura 43.
0 10 20 30 400
8
16
24 M1-CDM (24 ºC) M2-CDM (4 ºC)
J (L
.h-1.m
2 )
P(bar)
Figura 42: Fluxo de solução salina (NaCl 1000 ppm) através das membranas produzidas em diferentes temperaturas de banho de coagulação M1-CDM (24 ºC) e M2-CDM(4 ºC)
Capítulo III–Resultados e Discussão
70
Observa-se que os fluxos solução salina são menores para as membranas produzidas no
banho de coagulação a 4 ºC o que indica uma estrutura mais densa. Estes dados são compatíveis
aos estudos de Mohammadi et al.77, que produziram membranas em banho de coagulação a baixa
temperatura e estas se apresentaram mais densas e com maior retenção. O banho a temperatura
mais baixa reduz a difusividade entre solvente e não solvente tornando assim a membrana menos
porosa e mais seletiva. Na Figura 44 é mostrada a morfologia do corte transversal e superfície em
contato com ar destas membranas.
Corte transversal Superfície em contato com ar
M1-CDM
M1-CDM
M2-CDM
M2-CDM
Figura 43: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal (a) e superfície (b) das membranas M1-CDM(24 ºC), M2-CDM(4 ºC). 5000x
As microscopias da Figura 44 corroboram os dados de fluxo onde observa-se uma
estrutura mais densa para aquela produzida no banho de coagulação a 4 ºC M2-CDM. Nestas
condições, as membranas além de apresentarem resistência à pressão mostraram também
Capítulo III–Resultados e Discussão
71
características de seletividade. Operando até 35 bar de pressão apresentaram rejeição de 70,0%
para M1-CDM e 77,9% M2-CDM, nesta pressão, mostrando assim que o banho de 4 ºC favorece
também uma melhor seletividade da membrana.
A partir destes resultados outra condição avaliada com intuito de aumentar a rejeição foi o
tempo de evaporação do solvente. A Figura 45 apresenta o gráfico de fluxo de solução salina
através das membranas produzidas em diferentes tempos de evaporação do solvente e utilizando a
temperatura de 4 ºC no banho de coagulação.
5 10 15 20 25 30 35 400
2
4
6
8
10
12
14 M2-CDM M3-CDM M4-CDM
J(L.
h-1.m
-2)
P(bar)
Figura 44: Fluxo de solução salina (NaCl 1000 ppm) para as membranas M2-CDM(30s), M3-CDM(90s) e M4-CDM(120s)
As membranas M3-CDM e M4-CDM apresentaram menor fluxo de solução salina quando
comparadas com a membrana M2-CDM. Esta última teve o fluxo iniciado a 5 bar de pressão
enquanto M3-CDM e M4-CD a 20 e 25 bar, respectivamente, indicando uma estrutura mais
fechada quando se utiliza tempos de evaporação maiores. A rejeição a sal apresentada por estas
membranas, na pressão de 35 bar, foi de 77,8%, 81,9% e 84,3% para M2-CDM(30s), M3-
CDM(90s) e M4-CDM(120s), respectivamente, mostrando assim que aquela com maior tempo de
evaporação (M4-CDM) apresenta maior rejeição. A morfologia das membranas (M2-CDM, M3-
CDM e M4-CDM) são mostradas nas microscopias apresentadas na Figura 46.
Capítulo III–Resultados e Discussão
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Corte transversal Superfície em contato com ar
M2-CDM
M2-CDM
M3-CDM
M2- CDM
M4- CDM
M4- CDM
Figura 45: Microscopia eletrônica de varredura do corte transversal e superfície das membranas produzidas M2- CDM (30s), M3- CMP(90s) e M4- CDM(120s)