repositório institucional da universidade de brasília...

4
A licença está disponível em: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ Repositório Institucional da Universidade de Brasília repositorio.unb.br Este artigo está licenciado sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. Você tem direito de: Compartilhar copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato. Adaptar remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial. De acordo com os termos seguintes: Atribuição Você deve dar o crédito apropriado , prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas . Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de maneira alguma que sugira ao licenciante a apoiar você ou o seu uso. Sem restrições adicionais Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita. This article is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International. You are free to: Share copy and redistribute the material in any medium or format. Adapt remix, transform, and build upon the material for any purpose, even commercially. Under the following terms: Attribution You must give appropriate credit , provide a link to the license, and indicate if changes were made . You may do so in any reasonable manner, but not in any way that suggests the licensor endorses you or your use. No additional restrictions You may not apply legal terms or technological measures that legally restrict others from doing anything the license permits.

Upload: hoangduong

Post on 08-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Repositório Institucional da Universidade de Brasília ...repositorio.unb.br/bitstream/.../5/ARTIGO_RetornoEquilibrioTerror.pdf · 12 O retorno ao equilíbrio do terror atômico

A licença está disponível em: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Repositório Institucional da Universidade de Brasília repositorio.unb.br

Este artigo está licenciado sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

Você tem direito de:

Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato.

Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial.

De acordo com os termos seguintes:

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de maneira alguma que sugira ao licenciante a apoiar você ou o seu uso.

Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.

This article is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International.

You are free to:

Share — copy and redistribute the material in any medium or format.

Adapt — remix, transform, and build upon the material for any purpose, even commercially.

Under the following terms:

Attribution — You must give appropriate credit, provide a link to the license, and indicate if changes were made. You may do so in any reasonable manner, but not in any way that suggests the licensor endorses you or your use.

No additional restrictions — You may not apply legal terms or technological measures that legally restrict others from doing anything the license permits.

Page 2: Repositório Institucional da Universidade de Brasília ...repositorio.unb.br/bitstream/.../5/ARTIGO_RetornoEquilibrioTerror.pdf · 12 O retorno ao equilíbrio do terror atômico

ISSN 1518-1219

Boletim de Análise de Conjuntura em Relações Internacionais

Nº 68Março – 2006

S U M Á R I OS U M Á R I OS U M Á R I OS U M Á R I OS U M Á R I O

2 O relacionamento bilateral entre o Brasil e a África do Sul nocontexto do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul

4 Problemas conjunturais e estruturais da integração naAmérica do Sul: a trajetória do Mercosul desde suas origensaté 2006

10 Implicações da militância islâmica iraniana para o MundoÁrabe

12 O retorno ao equilíbrio do terror atômico

14 A evolução recente dos estudos e dos programas de pós-graduação em Relações Internacionais no Brasil

Carlos Ribeiro Santana

Paulo Roberto de Almeida

Sivia Ferabolli

Virgílio Arraes

Antônio Carlos Lessa

Thiago Gehre Galvão

RESENHA

17 Idéias de Europa: que fronteiras?

Page 3: Repositório Institucional da Universidade de Brasília ...repositorio.unb.br/bitstream/.../5/ARTIGO_RetornoEquilibrioTerror.pdf · 12 O retorno ao equilíbrio do terror atômico

12 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O retorno ao equilíbrio do terror atômico

Virgílio Arraes*

Durante a Guerra Fria, boa parte do comedimentoamero-soviético deveu-se à existência compartimen-tada entre ambos, de milhares de ogivas nucleares,alcunhando-se a convivência no período de equilíbriode mútuo terror. Com a súbita capitulação da UniãoSoviética, desembocada em extinção com significativaperda territorial, analistas puseram-se a coligir osmotivos do repentino processo. Um deles apontavapara a incapacidade do regime comunista de sustentarelevados gastos militares por longa extensão detempo. Estima-se entre 10 a 20% do produto internodo país por ano.

Além do mais, havia uma guerra em curso, a doAfeganistão, por meio da qual, a par da manutençãode um Estado comunista, logo aliado, opunham-seos russos à emergência do fundamentalismo islâmico,arrimado, com entusiasmo, pelos Estados Unidos, porvislumbrar a seus opositores fadiga similar a suamalograda investida vietnamita na década anterior.Diferentemente do modelo norte-americano, ossoviéticos não conseguiram converter tecnologiamilitar para uso civil, de forma que espraiasse osbenefícios materiais advindos dos ganhos científicospara toda a sociedade.

Deste modo, a derrocada político-econômica napassagem dos anos 80 para os 90 adveio também dainsuficiência de a União Soviética prover em termosde consumo os seus cidadãos em patamares próximosdos da Europa Ocidental, mesmo se comparados aosmembros mais modestos como Portugal ou Grécia,por exemplo. A retórica da expansão do bem-estarvinculava-se, por conseguinte, à afirmação dademocracia; ao lado dela, o auxílio do neoliberalismopor dispor, em tese, de mais eficiência, o que permitiriaampliar a circulação de recursos e, por extensão, atrairinvestimentos externos complementares. A crença em

uma interdependência capitalista, de cunho pacíficoe próspero, seria propagada diuturnamente.

Quase duas décadas depois, o quadrocontemporâneo difere bastante do otimismoalardeado, em face da desigualdade da distribuiçãoda riqueza e da degradação ecológica. Asdemocracias postas em substituição ao socialismo realnão providenciam a equiparação do consumo emrelação ao eixo norte-atlântico, conforme outrorainsinuado na fase de transição do fim da bipolaridade.O antigo 3º Mundo torna-se fator de desestabilização,ao ser posto em segundo plano na incorporação dasbenesses capitalistas. Diante do desinteressediplomático das principais potências, irresolutas nacoordenação de alternativas executadas através deorganismos internacionais, como o Banco Mundial,ou mesmo de projetos bilaterais, viabiliza-se a opçãoda manutenção sistêmica por meio da força.

Diante de tal cenário, o país vitorioso de trêsconflitos mundiais no século passado não teria, emum primeiro exame, dificuldade para aplacar aintemperança de Estados desajustados perante a novaordem mundial. Contudo, a realidade mostrou-se, demodo surpreendente, adversa à maior potência global.Em quase cinco anos, duas guerras em andamentocontra países periféricos, sem vislumbrar-se umprognóstico definitivo positivo no curto prazo. Aindaassim, aponta-se mais um como alvo possível doânimo bélico estadunidense: o Irã.

Ao longo da década de 90, o projetoneoconservador reconhecia na superioridade militarnorte-americana uma das principais razões para avitória na Guerra Fria. Afinal, de acordo com ChalmersJohnson, são mais de 700 bases em 138 países –apenas a Coréia de Sul hospeda uma centena delas;deste modo, se o país almejasse manter-se à testa da

* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília – iREL-UnB ([email protected]).

Page 4: Repositório Institucional da Universidade de Brasília ...repositorio.unb.br/bitstream/.../5/ARTIGO_RetornoEquilibrioTerror.pdf · 12 O retorno ao equilíbrio do terror atômico

13○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

supremacia mundial, deveria, portanto, manter amesma política. Por extensão, tecnologiasconvencionais de destruição deveriam ser priorizadas,notadamente as relativas ao setor aeronáutico.

Destarte, as investidas contra terceiros seriamligeiras, com poucas baixas nas tropas, e voltadas paraalvos estratégicos. Isto seria executado com êxito naIugoslávia, por exemplo, para forçar a rendição dogoverno. Ao Afeganistão e Iraque seriam endereçadosexpedientes similares. Entretanto, se houve a repetiçãodo mesmo sucesso inicial, ou seja, a deposição dosgovernantes, a segunda fase, na qual se encaixariamno poder políticos formalmente apegados àdemocracia, mostra-se extremamente difícil, com osefetivos já desgastados perante escaramuçasconstantes de baixa intensidade.

Mutatis mutandis, a tecnologia, por si só, comojá antevisto durante a Guerra do Vietnã, nos anos1970, é incapaz de assegurar a vitória ou, ao menos,a ocupação. Mesmo assim, o governo norte-americano analisa a opção de valer-se de armasatômicas de menor poder destrutivo (mini-bombasequivalente a 1/3 do poder destrutivo da de Hiroxima),ainda que, à primeira vista, afirme que elas seriamtão-somente instrumentos de dissuasão. Em tese,poderiam ser empregadas para eliminar estoques dearmas de destruição em massa ou usinas nuclearesinstaladas no subsolo, apesar do risco inerente deprovocar nuvens radioativas.

Apesar de desrespeitar o teor do Tratado de NãoProliferação Nuclear (1970), a hipótese já é seriamenteconsiderada dentro de diferentes setores do governosob a justificativa de aperfeiçoar a eficiência das

medidas escolhidas contra regimes tirânicos,aspirantes pretensamente naturais à posse de armasquímicas ou biológicas. Não se pode esquecer de queo Partido Republicano, por inspiração neoconservadora,enfatiza gastos bélicos como o fiador inquestionáveldo status de potência.

Deste modo, desde 1999, há uma série demedidas contraposta à limitação de artefatos nucleares– uma delas havia sido a denúncia em junho de 2002do Tratado de Mísseis Anti-Balísticos, anunciada seismeses antes como reflexo da insegurança internaprovocada pelo atentado terrorista de setembro de2001. Sem a vigência do acordo, os Estados Unidospuderam retomar a pesquisa sobre a formação de umescudo antimíssil, com o conseqüente rebate, aomenos retórico, da Rússia, ao reiterar a excelência desuas armas de longo alcance, capazes de atravessartodo tipo de sistema defensivo. De toda forma, não hátecnologia disponível para destruir centenas de mísseislançados simultaneamente.

No entanto, a afirmação de uma políticaarmamentista, com tendência de nuclearizar a simesma mais e mais traz como contrapartida aressuscitação de aspirações também da Rússia, jádesiludida com os resultados de uma democracia emestilo ocidental e apreensiva quanto ao crescimentoeconômico da China. Outrossim, a alternativa de curtoprazo para a manutenção da influência da Rússia emáreas por ela consideradas como de sua influência podeser o restauro de nova corrida armamentista.Contudo, a corrida poderá ser tripla, caso a Chinasustente por longo tempo o ritmo de seudesenvolvimento.

��