repórteres sem fronteiras denunciam concentração da mídia no brasil - o pais dos 30 berlusconis

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  • 8/13/2019 Reprteres Sem Fronteiras denunciam concentrao da mdia no Brasil - O Pais dos 30 Berlusconis

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    Nenhum pas havia conseguido anteriormente conquistar a organizao,uma a seguir outra, dos dois mais importantes acontecimentos esportivosdo planeta. A obteno, com dois anos de intervalo, da prxima Copa do Mundode futebol e dos 31 Jogos Olmpicos de vero c onfirmou a consagrao do Brasilcomo nova potncia, tendncia iniciada durante os dois m andatos de Incio Lulada Silva ( 2003-2011 ). Seus indicadores favorveis - apesar de um menorcrescimento previsto para 2013 - destoam num mundo em crise. Em dez anos,o impvido colosso descrito pelo hino nacional reduziu suas elevadas disparidades

    sociais, adquiriu uma influncia diplomtica incontestvel no c ontinente - e maisalm - e atrai atualmente tanto os investidores como novas vagas migratrias,em parte provenientes de uma Europa em recesso.

    Tal no significa, porm, que o Brasil tenha posto um termo insegurana, corrupo e s desigualdades. Alm disso, em 2012 atingiu um amargo recordede jornalistas mortos: um total de onze, dos quais cinco por razes diretamenterelacionadas com sua profisso. Esse nmero coloca o pas entre as cinco naesmais mortferas para o jornalismo. Mas os assassinatos no so os nicos ataques liberdade de informao. O Brasil apresenta um nvel de concentrao meditica quecontrasta fortemente com o potencial de seu territrio e a extrema diversidade de suasociedade civil. O colosso parece ter permanecido demasiado impvido no que tocaao pluralismo, um quarto de sculo depois do regresso da democracia. Embora contecom uma das mais numerosas comunidades de internautas do mundo e at comum Facebook nacional ( Orkut ), ainda est longe de oferecer a todos seus cidadosum igual acesso aos novos s uportes da informao, apesar de seu aparente nvel dedesenvolvimento. A internet sofre censuras e bloqueios com maior frequncia que nospases vizinhos. Este panorama contrasta com a imagem que o Brasil tenta promoverde si mesmo nos anos que antecedem a Copa do Mundo e os Jogos Olmpicos.

    INVESTIGAO POR BENOT HERVIEU

    INTRODUOI

    Uma mulher com abandeira brasileira

    pintada em suacara, durante uma

    manifestao no 52aniversrio da cidade

    de Braslia.21 de abril de 2012.

    Com a colaborao de LuizGustavo Pacete e Pmela Pinto,

    correspondentes de RSF no Brasil

    cover : AFP Photo / Pedro Ladeira

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    As caractersticas do mecanismo geral de funcionamento da mdia estorvama livre circulao da informao e impedem o pluralismo. Dez grandes gruposeconmicos, correspondentes a outras tantas famlias, dividem entre si o mercado dacomunicao de massas. O espectro audiovisual claramente dominado pelo grupoGlobo, sediado no Rio e propriedade da famlia Marinho. Seguem-se SBT ( SistemaBrasileiro de Televiso, grupo Slvio Santos ), a Rede Bandeirantes ( grupo Saad )e Record ( detido pelo bispo protestante evanglico Edir Macedo, ver apartado ).Na imprensa escrita, o grupo Globo tambm ocupa um lugar privilegiado, graasao dirio do mesmo nome. Seus principais concorrentes nacionais so os gruposFolha de So Paulo ( famlia Frias Filho ), O Estado de So Paulo ( famlia Mesquita )e ainda, no segmento das revistas, a Editora Abril e seu semanrio Veja. Embora apolarizao da imprensa brasileira seja menor que em seus vizinhos sul-americanos,nos quais os setores privado e pblico se enfrentam num contexto de guerrameditica , isso se deve em parte s relaes quase incestuosas entre os poderespoltico, econmico e meditico. A concentrao e, no mbito local, as presses e

    a censura constituem os alicerces de um sistema que ainda no foi remodeladodesde o final da ditadura militar ( 1964-1985 ) e do qual a mdia comunitria habitualmente a primeira vtima ( ver apartado ). Os generais desapareceram, mas oscoronis permanecem.

    Alm de ser uma das patentes do exrcito, o coronel brasileiro se refere antes demais ao prottipo do grande proprietrio, muito presente nos estados do Nordeste, eque goza de uma influncia direta sobre a autoridade poltica, sendo que s vezes oprprio a exerc-la em pessoa. Rei no seu estado, o coronel quase sempre patrode imprensa, assim como congressista ( local ou federal ) e poderoso industrial. Temos dezenas, mais de trinta Berlusconis , exclama Eugnio Bucci. Professor daUniversidade de So Paulo, esse colunista regular de O Estado de So Pauloe darevista pocaconhece especialmente bem os segredos de uma imprensa em queh muitos anos trabalha e ocupa cargos de direo. Antigo presidente da difusorapblica Radiobrs,ele no hesita em lanar farpas contra o coronelismo e suaherana. O Ministro federal da Comunicao, Paulo Bernardo, disse recentemente

    que no Brasil mais fcil destituir o chefe de Estadodo que revogar a concesso da frequncia de qualquerpoltico. E tem razo , prossegue Eugnio Bucci, evocandoo impeachment, em 1992, do jovem presidente FernandoCollor de Melo, na sequncia de um am plo escndalo decorrupo. Temos um nmero exagerado de congressistas,senadores, deputados, governadores ou ministros com poderdireto sobre a vida dos meios de comunicao, j para nofalar dos casos em que s o donos desses mesmos meios.

    Smbolo do regresso da democracia, a Constituio federalde 1988 impede, teoricamente, a posse de dezenas derdios, canais de televiso e jornais locais pelo detentorde um mandato eleitoral. Voc conhece muitos pasesdemocrticos em que os polticos possuam tantosmeios de comunicao e ao mesmo tempo distribuam

    frequncias, em nome do Estado, das quais eles so os principais beneficirios ? Alei fundamental probe expressamente esse conflito de interesses. Como tam bmprobe os monoplios e os oligoplios. Mas no existe uma lei que defina o que um monoplio ou um oligoplio, e se for preciso o poltico dono dos meios utiliza umtesta-de-ferro, na pessoa de um irmo, um primo ou um tio , protesta Eugnio Bucci.

    O sistema meditico brasileiro, para alm de bloqueado pela concentrao dasfrequncias, tambm desvirtuado pela distribuio dos anncios e do colossalman da publicidade oficial. Todos os governos, desde o final da ditadura em 1985,foram aumentando a quantidade de anncios, agravando a subordinao financeiraque nos impede de falar de imprensa livre e plural , estima Eugnio Bucci. Comefeito, governos, ministrios e organismos e empresas pblicas - entre as quaisa companhia petrolfera nacional Petrobras e o Banco do Brasil - desembolsamenormes quantias para sua prpria promoo na mdia. Em 2009, s o governofederal gastou mais de um bilho e meio de reais ( mais de 600 milhes de euros )em despesas publicitrias na mdia privada. No ano seguinte, a prefeitura de SoPaulo gastou cerca de 110 milhes de reais ( 40 milhes de euros ) e o governo doestado paulista cerca de 266 milhes de reais ( 97 milhes de euros ) em faturas damesma natureza. Os principais grupos de imprensa como Folha, Estado ouGlobono precisam dessas receitas, que no entanto garantem a sobrevivncia da mdia dedimenso mdia. Mais do que uma presso, se trata de uma autntica tutela , deplorao analista.

    DESTERRO JUDICIALA tutela financeira e poltica no , infelizmente, o nico elemento que pe em causauma informao livre e plural. Outro obstculo de no menor importncia reside nopoder judicial, que se verga com facilidade aos interesses do poder local. Tambmnesse aspeto a herana do coronelismo tarda em desaparecer. O estado ondenasci, o Maranho, se encontra completamente dominado pela famlia de JosSarney [antigo presidente do Brasil de 1985 a 1990, atual presidente do Senadofederal, ndr]. bvio que um humorista ou um artista, sem falar de um jornalistaou um blogueiro, que critique o patriarca se torna persona non grataem solomaranhense , lamenta uma universitria e militante da liberdade de expresso.

    Jornalista e blogueiro no Par, Lcio Flvio Pinto acumula contra s i mais de trintaaes, devido a seus artigos denunciando a desflorestao e o trfico de madeirapreciosa que assola esse estado. O poder judicial pode inclusivamente se antecipars intenes de um coronel. No Sergipe, Jos Cristian Ges atualmente visado

    O JORNALISMO NAS MOSDOS CORONIS

    Grande terratenente ou industrial e ao mesmo tempo governador

    ou congressista, o coronel em sua acepo brasileira tambm

    proprietrio de vrios meios de comunicao, dono e senhor dossuportes de opinio em seu territrio. A cultura do coronelismo

    se encontra na base da fortssima dependncia da mdia com

    respeito aos centros de poder.

    Dez grandesgruposeconmicosdividem entresi o mercado

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    por um duplo processo, civil e penal, por causa de uma crnica em tom literriopublicada em seu blogue em maio de 20 12, zombando do nepotismo e da corrupo.Esse texto de fico, que no menciona nem nomes nem datas, no provocou amais mnima queixa do governador do estado, Marcelo Ded. Foi seu cunhado, odesembargador Edson Ulisses de Melo, por ele nomeado, que levou o caso antea justia. Jos Cristian Ges pode ser condenado a uma elevada indenizao pordanos morais e 25 000 reais ( cerca de 9 000 euros ) de despesas judiciais, paraalm de incorrer numa pena de quatro anos de priso correspondentes vertentepenal do processo. Um cmulo, ainda para mais tendo em conta que a sensatarevogao, em 2009, da lei de imprensa de 9 de fevereiro de 1967, herdada daditadura militar, suprimiu qualquer possibilidade de penas de priso para os delitos de difamao , calnia e injria .

    O caso Ges - um entre tantos outros - ilustra a exploso processual que afecta hojeem dia o mundo da informao no Brasil e que veio na esteira da anulao da lei de1967. Embora a perspetiva de encarceramento por um artigo no seja agora mais

    do que uma ameaa sem consequncias, os pedidos de indenizaes por danosmorais, muitas vezes exorbitantes, se multiplicaram. Ainda mais grave, costumamser acompanhados por uma absurda forma de desterro judicial, que consiste emuma censura preventiva ( parcial, para ser mais exato ), a qual castiga um s meiopor uma informao disponvel em muitos outros lugares. O caso mais badaladoenvolve um meio de projeo nacional e demonstra, uma vez mais, que a influnciada famlia Sarney vai alm das fronteiras do Maranho. Desde o dia 31 de julho de2009, o dirio O Estado de So Paulo e seu site Estado - e apenas e s esses doismeios - se encontram proibidos pela justia de publicar toda e qualquer refernciaaos casos embaraosos envolvendo o empresrio Fernando Sarney, filho de Jos.Esse caso de censura preventiva continua aguardando uma resoluo, j que ogrupo Estado recusou a proposta do interessado, que pretendia retirar as aes emtroca de uma censura consentida .

    Cada incumprimento dessa ordem judicial nos custaria 150 000 reais [55 000euros - ndr] por dia , precisa Ricardo Gandour, diretor do grupo Es tado. Para ele,a mordaa judicial que ameaa a informao se deve aos vestgios da histrianacional que ainda perduram. Antes de existir uma sociedade brasileira autnomae independente, dotada de sua prpria imprensa, o Brasil viveu com uma corte realque impunha seu controle. H algo de essa cultura que ainda subsiste e que explicaque o valor absoluto da liberdade de expresso ainda no tenha sido garantido. Hmuitos juzes brasileiros que no entendem as implicaes da liberdade de expressoe de circulao da informao. Criado a 13 de novembro de 2012 por iniciativa doex-presidente do Supremo Tribunal Federal ( STF ) e inspirador da revogao da leide 1967, Carlos Ayres Britto, o novo Frum Nacional do Poder Judicirio e Liberdade

    de Imprensa poder melhorar o enquadramento das aes judiciais relativas liberdade de informao. Essa iniciativa tambm se aplicar internet ?

    Uma mulher

    lendo um jornal nocentro de Salvador.

    7 de fevereiro de 2012. A

    FPPHOTO/ChristopheSimon

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    estabelece a possibilidade de censura preventiva, bastante varivel de estado paraestado , explica Marcel Leonardi, de Google Brasil. O gigante de internet olha compreocupao para a batalha legislativa na qual se decide o futuro da regulao daWeb brasileira. O debate nacional adquire uma dimenso mundial, como relembrao Relator Especial para a Liberdade de Expresso e Opinio das Naes Unidas,Frank Larue, ao advertir acerca dos efeitos perversos da responsabilidade dosintermedirios tcnicos privados no controle dos contedos online.

    RESPOSTAS LEGISLATIVAS A ameaa que paira atualmente sobre a Web brasileira no s afeta a liberdade deexpresso como tambm a criao tecnolgica , estima o socilogo e universitrioSrgio Amadeu, conselheiro do Comit Gestor da internet no Brasil. A reclamaode direitos de propriedade intelectual outro dos pilares da censura, junto com

    delitos clssicos como a difamao ou a injria, como demonstra a ao interpostapelo dirio Folhacontra o blogue satrico Falha de So Paulo por uso indevido demarca. A questo dos direitos de autor, assim como a neutralidade da Web e aproteo dos dados privados, se encontra no centro do muito aguardado projeto delei conhecido como Marco Civil , o qual poder se transformar num modelo paraoutros pases se conseguir ser aprovado na Cmara dos Deputados, aps cincoadiamentos de seu voto ( ver apartado ). Apresentado pelo deputado do Partido dosTrabalhadores ( PT ) Alessandro Molon, o projeto, inspirado nas recomendaesdo Comit Gestor, foi concebido como uma resposta a duas novas leis contra acibercriminalidade, j aprovadas e promulgadas no passado ms de dezembro.Uma delas, a lei 12735 do senador do Partido da Social Democracia Brasileira( PSDB ) Eduardo Azeredo, aprovada com muitas emendas, por pouco no provocouum terramoto na blogosfera devido a uma disposio - anulada posteriormente peloveto presidencial - que consistia em confiar ao exrcito uma parte do controle dainternet, no intuito de evitar um hipottico WikiLeaks brasileiro.

    Muitas pessoas chamaram essa lei de AI5 digital1, opina Srgio Amadeu. Mas hoje em dia o verdadeiro assalto contra a Web provm dos operadores detelecomunicaes, que pretendem assegurar seu domnio sobre os fluxos decontedos em detrimento da neutralidade da internet e utilizar como melhor lhesaprouver os dados dos internautas. So eles os inimigos da liberdade de informare o principal obstculo aprovao do Marco C ivil. Uma anlise partilhada porArthur William, coordenador nacional da Associao Mundial de Rdios Comunitrias( AMARC Brasil ), que estabelece um paralelo entre a influncia negativa dosoperadores online sobre as rdios digitais e a forma como o arsenal legislativo atual

    em matria de telecomunicaes ( ver apartado ) prejudica as rdios comunitrias. Num espectro de frequncias muito desigual, em que o espao rareia para o s etorcomunitrio, muitas pequenas rdios se vm obrigadas a passar pela internet. Masessas rdios digitais pagam custos de difuso ainda mais elevados do que as rdiosanalgicas. A responsabilidade dessa situao dos operadores, que cobram tarifasdesreguladas. Entretanto, a atribuio das frequncias efetuada a conta-gotas esem critrios fiveis.

    A democratizao da informao tem que avanar em simultneo nas ondashertzianas e na Web. So muitos os jornalistas, sindicatos, organizaes cidads ecomunitrias e atores da internet que reclamam uma regulao de conjunto que duma resposta a essa exigncia. Mas todos esto conscientes de que esse propsitose enfrentar a uma conjuno de interesses polticos e econmicos que colocam oBrasil longe dos nveis de pluralismo desejados. O grau de insegurana atingido em2012 no seio da imprensa contribuiu para agravar ess e panorama.

    Galardoado com o Prmio Esso do jornalismo televisivo em 2012, Fbio Pannunziotrabalha como reprter e apresentador do canal nacional TV Bandeirantes( ou TVBand) e, at recentemente, como blogueiro. O jornalista se viu obrigado a encerrarseu Blog do Pannunzio a 26 de setembro passado, devido a quatro aes, civis epenais, interpostas contra si nos estados de So Paulo e do Paran. Me exigem doismilhes de reais - um milho de dlares - caso volte a abordar os temas pelos quaissou atacado. At agora j gastei 53 000 reais [20 000 euros - ndr] em honorriosde oito advogados , relata o jornalista. Dois dos processos foram abertos pelodeputado do estado do Mato Grosso Jos Geraldo Riva - cujo nome aparece em 142investigaes , acusado pelo jornalista de atos de gesto duvidosa e de conivnciassuspeitas, ignorados pela imprensa local. As outras duas aes foram interpostaspelo secretrio de Segurana Pblica do estado de So Paulo, Antnio FerreiraPinto, acusado num post do passado dia 17 de junho de ter abafado graves abusosde direitos humanos cometidos durante atividades de pacificao. Falei dessescasos na TV Bandeirantese no meu blogue. Curiosamente, as queixas foram sempredirigidas contra mim pessoalmente e nunca contra o canal , precisa Fbio Pannunzio.

    Os censores preferem atacar o flanco mais vulnervel.

    A campanha das eleies municipais de 2012 despoletou uma autntica caa aosblogues insolentes, alguns dos quais foram encerrados a pedido de candidatosapenas por terem publicado sondagens desfavorveis. Os pesos-pesados da Webtambm no escapam s sanes. Assim, Google Brasil teve de retirar ou modificarcerca de 300 contedos relacionados com as eleies, e recebeu mais de 2300pedidos de remoo de elementos entre janeiro e junho de 2 012. O TransparencyReport dessa grande empresa da internet coloca o B rasil no terceiro lugar - s atrsdos Estados Unidos e da ndia e frente da Frana - no que respeita aos pedidos deinformao do governo sobre os utilizadores. O presidente da filial brasileira, FbioCoelho, foi inclusive detido pela polcia, a 26 de setembro de 2012, por no terremovido a tempo um vdeo considerado injurioso contra um candidato e publicadopor um simples eleitor. A apreciao dos juzes locais que continua imperandose apoia em duas normas obsoletas: um cdigo eleitoral de 1965, redigido peladitadura militar e que ainda no sofreu alteraes, e uma lei eleitoral estranhamenteatualizada em 2009, que coloca todos os meios de comunicao no mesmo saco e

    CENSURASNA WEB

    A censura preventiva no parece capaz de conter o fluxo de

    informaes que transita pela internet. Porm, precisamente a

    informao online a principal visada pelas acometidas judiciais.O debate sobre a regulao de internet se transformou em uma

    batalha legislativa, na qual as iniciativas parlamentares competem

    entre si.

    1.Referncia ao Ato

    Institucional NmeroCinco ( AI5 ) de 13

    de dezembro de1968, segundoo qual o regimemilitar da poca

    podia suspender a

    qualquer momentoas instituies

    regulares eas liberdadesfundamentaisem nome da

    segurana doEstado .

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    UM PROJETO DE LEIPROMETEDORATRIBULADO

    Elaborado pelo deputadofederal Alessandro Molon eapoiado pelo ex-presidenteLula no momento de suaapresentao, o projeto delei conhecido como MarcoCivil se destina a definir osdireitos e deveres do Estado,dos usurios mas tambmdos intermedirios tcnicosno que toca utilizaoda internet. Aprovado peloplenrio do Senado em2011, a votao do texto naCmara dos Deputados doCongresso Nacional j foiadiada cinco vezes. Por umasimples razo: a oposio aalgumas de suas disposiesfundamentais por parte deempresas e operadoresde telecomunicaes quecontam no s com slidascumplicidades polticasmas tambm, de acordocom vrios dos nossosinterlocutores, com oouvido atento do Ministrodas Comunicaes, PauloBernardo.

    MARCO CIVILI poder ser removido sem decisojudicial! Absurdo e perigoso!

    Medida central do projeto de lei,a proteo dos dados individuaisdos usurios no , infelizmente,consensual. Tambm aqui himportantes interesses em jogo.Atualmente, as plataformas decontedos tm acesso duranteum ano a esses dados, que osoperadores de telecomunicaestambm pretendem gravar econservar. Um pedido rejeitadopelo relator Alessandro Molon e osinspiradores do projeto de lei, osquais lembram que as plataformass pode aceder a dados inseridosem suas prprias pginas,enquanto que os provedores deservio so capazes de guardaros dados e os contedos detodos os sites consultados por uminternauta.

    Uma ltima controvrsia dizrespeito ao papel da Agncia

    Nacional de Telecomunicaes( Anatel ), que as empresase operadores pretendem vertransformada em entidadereguladora da Web. O aparenteapoio do ministro Paulo Bernardoa essa opo suscita um vivoagastamento em Alessandro Molon,para quem esse papel compete aopoder executivo, sob determinadascondies bem definidas. Asempresas de telecomunicaes

    O Marco Civil reafirma o princpiocrucial da neutralidade da Web, ouseja, a igualdade de tratamento detodos os dados que transitam narede, sem nenhuma discriminaode contedos, proveninciaou destinatrio. Esse preceito,evidentemente, no satisfaz osinteresses das empresas detelecomunicaes, que sabem oque tm a perder.

    Outro tema polmico diz respeito remoo de contedos e suaaplicao s exigncias dosdireitos de autor. O artigo 15do Marco Civil estabelecia, emsua formulao inicial, que umcontedo s poderia ser removidoda Web se uma ordem judicial nofosse respeitada pelo site ou pelaplataforma internet em questo. Essa disposio assustou osinimigos do projeto de lei, quedefendem os direitos de autor demaneira intransigente , explica

    Srgio Amadeu, do ComitGestor da internet no Brasil ( verrelatrio ). Conseguiram assimque se acrescentasse ao artigo15 uma alnea segundo a qual aremoo de um contedo apsincumprimento de uma ordemjudicial no se aplicar em casosde suposta infrao dos direitosde autor. Assim, tal como est,um contedo considerado comoviolador dos direitos de autor

    13

    A

    FPPHOTO/YasuyoshiChiba

    Um mosaico de

    bandeiras brasileiras

    decora uma estaodo telefrico doComplexo de Alemo,

    um conjunto de favelasdo Rio de Janeiro.

    10 de outubro de 2011.

    exigem, na prtica, umaregulao da Anatel que sirvaseus prprios interesses,enquanto continuam cobrandoas tarifas que bem entendem.No Brasil, quando pagamos100% do preo de uma bandalarga, na verdade s recebemos20% do servio , lamenta SrgioAmadeu.

    Cara e imperfeitamentedesenvolvida, a internetbrasileira ainda no mereceu,nem mesmo no plano tcnicoou prtico, seus galardesdemocrticos. Segundo o

    jornalista e blogueiro FbioPannunzio, corroboradopor diversas fontes, numapopulao total de 200 milhesde habitantes, 70 milhes deindivduos tem acesso regular rede mas apenas 20 milhes autilizam habitualmente .

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    Esse mesmo vnculo tnue entre a mdia e as autoridades polticas locais pareceestar por trs da ntida recrudescncia dos casos de agresses, de ataques contraredaes e de censura registrados nos ltimos anos, com um auge preocupantedurante a campanha das eleies municipais de 7 e 29 de outubro de 2012.Jos Augusto Guto Camargo, presidente do sindicato de jornalistas de SoPaulo - que conta com 5 000 membros - e secretrio-geral da Federao Nacionaldos Jornalistas ( FENAJ ), assevera que as autoridades locais constituem a maiorfonte de hostilidade contra os jornalistas . Os 60 casos de violncia que o sindicalistaconstatou em 2011, de carter diverso mas todos eles relacionados diretamentecom a atividade profissional, atiraram o Brasil para os nveis de 2005 e 2006, apsum decrscimo mdio de vinte casos at 2010. Mais de metade sucederam nasregies Norte e Nordeste, seguidas do Sudeste [que inclui Rio e So Paulo - ndr]e do Centro-Oeste. S os trs estados da regio Sul foram poupados, e h jsete anos que nenhum jornalista assass inado nessa regio. Essa configuraogeogrfica tem evoludo pouco. Por outro lado, as motivaes polticas das agressescontinuam sendo as mais frequentes, frente das represlias pela cobertura de

    crimes e de casos envolvendo abusos policiais. O problema que essa violnciade origem poltica, muitas vezes acompanhada pela censura, ao mesmo tempoa mais comum e a menos visvel. O ano de 2012 tambm ficou marcado por doisexlios forados para fora do pas: o de Andr Caramante, reprter da Folha de SoPaulo,e de Mauri Knig, da Gazeta do Povode Curitiba, ambos por ameaas deprocedncia policial.

    A HIPTESE DE FEDERALIZAO DOS CRIMESCONTRA A LIBERDADE DE INFORMARDe acordo com as organizaes e os sindicatos, as autoridades, incluindo as federais,demoraram muito tempo at se aperceberem da amplitude do problema. No passadodia 24 de outubro, a Secretaria de Direitos Humanos ( SDH ) da Presidncia daRepblica criou um Grupo de Trabalho sobre Direitos Humanos dos profissionais dejornalismo no Brasil. Embora bem-vinda, a iniciativa deixa em aberto a questo deseus meios e resultados, assim como o possvel debate que dever lanar sobre afederalizao dos crimes e violaes cometidas contra a liberdade de informar. Umafederalizao seguindo o modelo mexicano ? O privilgio no seria facilmente aceite,num pas em que a criminalidade geral continua s endo elevada , estima a Abraji,que dentro em breve enviar suas propostas ao Grupo de Trabalho. O mecanismode federalizao de certa forma j existe, devido falta de independncia e decompetncia das jurisdies locais , explica Marcelo Salles, da SDH. Mas hoje emdia pressupe que, em caso de ataques graves aos direitos humanos, o Ministrio

    Pblico leve o caso ao Supremo Tribunal Federal e que este aceite se pronunciar.

    Na FENAJ, Guto Camargo lembra que um projeto de lei de federalizao dos crimescontra a profisso deu entrada no Congresso, em junho de 2012. Nele constaa possibilidade da abertura automtica de uma investigao federal se nenhumprocesso for aberto pela justia local num perodo de trinta dias, renovvel duasvezes. Um privilgio ? No, pois o projeto d um lapso de tempo significativo para aabertura de um investigao local. Conseguir esse projeto conquistar a adeso dasautoridades locais, elas que contam com uma slida rede de contatos no complexogovernamental desenhado por scar Niemeyer ? Por enquanto, a ministra de tutelada SDH, Maria do Rosrio, anunciou a 20 de dezembro de 2012 a possvel extensoaos jornalistas e aos blogueiros de um programa especial de proteo j disponvelpara as testemunhas de crimes, defensores de direitos humanos e adolescentesem perigo. Embora seja certamente necessrio melhorar a proteo dos jornalistas,a experincia demonstra que, em uma perspectiva mais geral, nem sempre osimperativos de segurana favorecem a misso de informar.

    Seus nomes eram Mrio Rodolfo Marques Lopes, Dcio S, Valrio Luiz de Oliveira,Paulo Rocaro e Eduardo Carvalho. Jornalistas ou blogueiros, acumulando por vezesambas as atividades, todos foram mortos no decorrer de 2012 por razes vinculadascom sua profisso. Seus diferentes casos mostram tambm as diferentes causasda violncia que ameaa o jornalismo no Brasil. Paulo Rocaro e Eduardo Carvalho,respetivamente editor-chefe do dirio Jornal da Praae editor do site ltima HoraNews no estado do Mato Grosso do Sul - na fronteira com o Paraguai e plataformagiratria do trfico de droga - pagaram com suas vidas uma srie de investigaessobre a presena de cartis e sua infiltrao nas administraes locais. Quanto aValrio Luiz de Oliveira, comentarista esportivo da estao privada regional RdioJornal 820 AMno estado do Gois, os motivos so mais incertos. Porm, o jornalistaera conhecido por suas tomadas de posio, por vezes corrosivas, contra dirigentesde clubes intimamente ligados esfera poltica. As denncias de atos de gestoduvidosos, ou mesmo de casos de corrupo, eram habituais no blogues de MrioRandolfo Marques Lopes, executado em fevereiro de 2012 no estado do Rio, ede Dcio S, abatido a tiro em abril no Maranho, denominados respetivamenteVassouras na Net e Blog do Dcio.

    Tanto a recente gravidade dessas tragdias como as possveis respostas esto emdiscusso. Alguns analistas recusam traar um diagnstico demasiado categrico,como o presidente da Associao Brasileira de Jornalismo Investigativo ( Abraji ),Marcelo Moreira, editor-chefe na TV Globo. A Abraji no tem uma opinio definitiva.Os assassinatos no podem ser atribudos a uma atmosfera geral idntica queexiste no Mxico ou na Colmbia. Mas verdade que a impunidade continua sendoelevada e que preciso a presso da profisso e da sociedade civil para obterresultados. Infelizmente, uma boa parte dos casos ignorada ou pouco mediatizada. Outro jornalista vai mais longe. A profisso e a opinio internacional no reagem damesma forma que em outros pases no que toca a casos de assassinato. Muitas dasvezes, se sabe publicamente, embora no s e diga, que os jornalistas tinham outrasatividades, poltica ou militante, que poderiam provocar represlias.

    15

    Em 2012, cinco jornalistas, de um total de onze, foram

    assassinados por motivos relacionados com sua profisso.

    Essa situao se relaciona em grande parte com a exposiodos jornalistas e da mdia aos conflitos polticos locais, s vezes

    violentos. A questo da federalizao dos crimes e das violaes

    contra a liberdade de informar deve ser debatida.

    UM ANO COMCHEIRO A PLVORAPARA A IMPRENSAI

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    R

    SF

    pessoas . Essas pessoas maisno eram que polticos vidos deconservar sua influncia sobre amdia.

    Foi preciso esperar at 2007,trinta anos depois da entrada emvigor da lei, para que o deputadofederal Miro Teixeira solicitasseao Supremo Tribunal Federal( STF ) que se pronunciassesobre sua inconstitucionalidade.A mais importante jurisdio dopas atuou uma primeira vez em2008, eliminando provisoriamentecerca de vinte dos artigos maisrepressivos do texto, antes de orevogar integralmente, a 30 de abrilde 2009, por sete votos contraquatro.

    Desde 2009, o debate sobrea pertinncia de uma lei sobrea mdia recorrente. Como bvio, aplaudimos a revogao

    da lei de 19 67, contrria aosvalores democrticos , recordao sindicalista Guto Camargo,secretrio-geral da FederaoNacional dos Jornalistas ( FENAJ ). Mas, ao mesmo tempo, essarevogao criou um vazio jurdicono que toca s bases legaisque regem o funcionamento damdia, o estatuto dos jornalistase suas relaes com a sociedade

    PARA QU ?

    O caminho at revogao dalei de imprensa de 9 de fevereirode 1967, aprovada nos primeirosanos da ditadura militar, foi longo.A legislao era tristementeconhecida pelas penas de prisoefetiva, por vezes extensas, queestipulava em casos de publicaoou difuso de informaesconsideradas subversivas. Opas se encontrava nessa alturasubmetido a um estrito controlepor parte do regime militar, queculminou com a promulgao,a 13 de dezembro de 1968, doAto Institucional Nmero 5 ( AI5 ),que autorizava a suspenso dasliberdades pblicas a qualquermomento.

    Curiosamente, a lei sobreviveutanto restaurao da democracia,em 1985, como adoo daConstituio democrtica de 1988,que tornou obsoletos a maioria deseus artigos. Contudo, a legislaoherdada da ditadura continuouservindo como meio de pressocontra jornalistas, sobretudo locais,considerados pouco dceis, emnome da proteo da honra, davida privada e da imagem das

    Parede de entrada doObservatrio de Favelas( Complexo da Mar,

    zona norte )

    e suas instituies. poresse motivo que defendemosuma nova lei de regulao. A FENAJ assumiu uma partedessa reivindicao atravsde seu longo esforo a favorda formao profissional dosjornalista, concretizado numdiploma obrigatrio. Masenfrenta o parecer negativodas entidades patronais, j quea Associao Nacional dosJornais ( ANJ ) recusa o princpiode uma nova lei.

    Alguns dirigentes polticos oucongressistas desejam umanova regulao por motivos bemmenos legtimos. Lamentamque a revogao da lei de 1967tenha suprimido as disposiesrelativas proteo da honra ,as mais severas do antigo texto.

    Entre o milhar de ante-projetos

    de lei de regulao da mdiaentregues no CongressoNacional, o que se encontramais avanado o do senadorRoberto Requio, que aborda aquesto do direito de resposta.A proposta de Requio pretendegarantir um direito de retificaorpida a qualquer pessoa que sesinta ofendida ou difamada pelaimprensa.

    UMA LEI DE IMPRENSA

    Recentemente aprovada pelaComisso de Constituioe Justia da Cmara Alta,a iniciativa tambm elacontestada. Nela se estipulaque se possa averiguar afonte da informao doartigo em causa e obter suaretificao num prazo dedois meses. Se o meio decomunicao no der respostaem uma semana, o queixosointerpor queixa nos tribunais.Mas o processo s daria aomeio ou ao jornalista trs diaspara se defenderem, a partirda notificao da queixa. Um

    prazo muito curto e, segundoos detratores do texto,uma nova fonte de conflitoprocessual, um campo em queo Brasil est infelizmente bemdotado.

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    depois dos Jogos Olmpicos. Se trata de um conflitode imagem, que se quer resolver urgentemente dandoresposta a anos de segregao social e geogrfica. Aps2016, ou as favelas se transformam ou o processo depacificao acaba pura e simplesmente e vai ser aindapior , estima Clber Arajo, contemplando as barracas dosmorros, sobrevoadas desde 2011 pelas reluzentes cabinesde um telefrico de marca francesa, que no destoaria emuma estao de esportes de inverno.

    PATERNALISMO DO AVESSO

    Um conflito de imagem. A problemtica assim concebida resume dois aspectoschave da informao: a cobertura meditica sobre as favelas, mas tambm apossibilidade dos moradores dos bairros - ou comunidades - abordarem sua prpriaatualidade. Correspondente local da revista mensal Caros Amigos,de So Paulo, eda revista Fazendo Media,Eduardo S expressa uma opinio sem complacnciasacerca do tratamento dado pelos grandes meios realidade das favelas, qual eleprprio j dedicou, como jornalista independente, uma quinzena de reportagens. Acobertura corresponde lgica imposta pela pacificao, que privilegia as favelasmais prximas dos locais onde s e realizaro as grandes competies esportivas. Aprioridade dada ao sensacionalismo e ao curto prazo. Os habitantes das favelasno aceitam bem uma presena meditica que consideram parcial e muitas vezeslimitada apenas a operaes policiais importantes.

    Nlson Moreira, do dirio O Diae diretor do sindicato de jornalistas do Rio deJaneiro, desmente que seu jornal tenha dado uma ateno excessiva a operaesde pacificao ou remoes, posto que uma parte das favelas j se encontra sobcontrole . O mesmo sublinha, no entanto, que as favelas pacificadas so uma minoriae no incluem a zona oeste da cidade, onde a prevalncia das quadrilhas - gruposcriminais compostos por militares ou policiais reformados ou no ativo - impedequalquer presena meditica. Nlson Moreira ainda guarda na memria o trauma dosequestro e das torturas infligidas em 200 8 por uma quadrilha a trs empregadosde O Diana favela do Batan, longe das futuras zonas olmpicas. Por outro lado, eno que toca s zonas pacificadas , o jornalista vislumbra mudanas de percepo,ressaltando o interesse turstico que as favelas agora despertam na mdia,

    sobretudo na imprensa escrita .Co-fundador da Abraji e editor da sucursal carioca do dirio O Estado de So Paulo, no qual exerce como ombudsman, Marcelo Beraba tambm no evita um exame deconscincia sobre a questo das favelas. Exame difcil, tendo em conta a naturezaextremamente sensvel de um tema em que es t em jogo o olhar de um pas sobresi mesmo. verdade, a grande mdia contribuiu a propagar durante muito tempo otemor de que o Rio se tornaria uma favela gigante. E muitas vezes desprezando os20% da populao que vive nas comunidades, mais de um milho de cariocas em umtotal de seis milhes. necessrio falar sobre emprego e habitao, e no s sobre apacificao. Contudo, os holofotes que acompanham os acontecimentos esportivostambm acarretam efeitos perniciosos. Cuidado com nossos prprios excessos ,avisa um lcido Marcelo Beraba. Os grandes meios evoluram de tal forma queacabaram cedendo a uma espcie de paternalismo virado do avesso. Subitamente,com a ajuda da atrao turstica, tudo se tornou idlico nas favelas. Durante quantotempo ? Co-editora do boletim internet Mdia e Favela do Observatrio de Favelas

    Obrigado FIFA! , reza um mural irnico da favela Metro-Mangueira, s ituada nazona norte do Rio de Janeiro, a pouca distncia do mtico Estdio do Maracan.O desenho da parede representa um menino com a clebre camisa amarela daSeleo, a pentacampe mundial que todo o pas espera ver ganhar na Copa de2014. Obrigado FIFA! , dizem as lgrimas do pequeno carioca, obrigado peloreverso da medalha da causa futebolstica e olmpica: um pequeno bairro esvaziado,em apenas dois anos, de cerca de metade de seus seiscentos habitantes.

    Desde 2008, a prioridade a pacificao das favelas do Rio. O processo comeoucom o envio do exrcito e das tropas de elite da polcia local para expulsar ostraficantes de droga que at ento impunham sua lei. As trocas de tiros fizeramrecentemente um morto nas fileiras da imprensa, na pessoa do cinegrafista de TVBandeirantesGelson Domingos da Silva, atingido mortalmente a 6 de novembrode 2011 na favela de Antares, a oeste da cidade. Aps as grandes manobrasde limpeza , a etapa de pacificao propriamente dita comeou com o envio

    de Unidades de Polcia Pacificadora ( UPP ), num total de 7 000 agentes, paraassegurar uma vigilncia permanente nos lugares previamente ocupados pelasorganizaes criminais. Co-diretor da Agncia de Notcias das Favelas ( ANF ),que agrupa 140 colaboradores, gere um site e publica A Voz da Favela,um jornalmensal de oito pginas, Andr Fernandes prefere falar de ocupao mais do quepacificao.

    A pacificao significa talvez uma diminuio da criminalidade em certos lugarese o acesso s favelas para pessoas exteriores que nunca teriam podido l entrar.Mas, para os moradores, tambm s ignifica medo dos mtodos violentos da polcia,pequenas lojas desmanteladas apressadamente, o aluguel das casas em certoscasos multiplicado por trs e acima de tudo a ausncia de projetos sanitrios eeducativos a longo prazo. O que vai s uceder depois de 2016 ? Presidente deuma associao de pequenos empresrios do Complexo do Alemo, um conjuntoj pacificado de treze favelas e 100 000 habitantes na zona norte da cidade,Clber Arajo no esconde seu ceticismo. Por enquanto, o bem-estar das favelascorresponde a um interesse poltico, econmico e meditico que no ser o mesmo

    INFORMAO A VELOCIDADEVARIVEL NUM CONTEXTODE PACIFICAOI

    Cidade-vitrine do Brasil, o Rio de Janeiro est remodelando suas

    feies tendo em vista a Copa do Mundo e os Jogos Olmpicos.

    As favelas mais visveis no escapam a esse tratamento geral,atravs de uma pacificao contestada. A imagem da cidade

    reveladora do profundo abismo existente entre os atores da

    informao no Brasil.

    Leia mais na pgina 22

    A prioridade a pacificaodas favelasdo Rio

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    A REPRESSO DO SETORCOMUNITRIO CONTINUA

    uma tarefa bicuda calcularcom preciso o nmero total derdios e televises comunitrias

    transmitindo no imenso territriobrasileiro. Alguns sites deinformao vinculados com essesmeios - derivados dos movimentossociais, de estrutura associativa,com vocao educativa e semfins lucrativos - estimam em 4600 os media desse tipo quedispem de uma frequncialegal. Mas quantos so os queaparecem e desaparecem,clandestinamente, sempoderem obter uma concessoque lhes permita emitir ? Desensibilidade progressista, asredes da radiodifuso comunitriabrasileira olham com algumainveja os novos enquadramentoslegais em vigor nos pasesvizinhos - nomeadamente naArgentina e no Uruguai - eestranham a ausncia de evoluonesse campo desde o incio dapresidncia Lula.

    Os governos Lula e Dilma foramos primeiros a reconhecer o papelsocial das comunidades. Mas emnenhum momento se atreveram atocar num quadro regulador quesalvaguarda os interesses da mdiadominante e das empresas detelecomunicaes , lamenta ArthurWilliam, coordenador da AMARCBrasil.

    RADIODIFUSOI

    padecem da ausncia de umestatuto claramente definido.So muitos os meios dedicadosao proselitismo religioso quese proclamam comunitrios ,embora estejam longe do formatoinformativo e educativo assumidopela autntica mdia comunitria.O mesmo problema existe emoutros pases da regio masatinge, no Brasil, o nvel de umaverdadeira intruso da religio nardio e teledifuso. Alis, o espaocomunitrio no o nico mbitoafetado: TV Record, o segundocanal de audincia nacional ( atrsde TV Globo), pertence a EdirMacedo, bispo da poderosa IgrejaUniversal do Reino de Deus. Paraalm de contradizer o princpiosegundo o qual nenhum serviopblico ou provedor desse serviopode estar ao servio de umsistema de crenas, essa situaotambm viola o carter laico do

    Estado , estima o analista EugnioBucci, mencionando igualmente ocanal - pblico - do estado de SoPaulo, TV Cultura. Nas emissesdeste canal s est representado oculto catlico.

    Meio sculo aps sua entrada emvigor, a lei de telecomunicaesde 1962 ainda no sofreunenhuma remodelao relevantee continua regulando o espectrodas frequncias. Outra lei,promulgada em 1998 pelo ento

    presidente Fernando HenriqueCardoso ( 1995-2003 ), eradirigida especialmente s rdiose televises comunitrias e depouco alcance. Em aquela pocaainda se criminalizava fortementeos movimentos sociais. Essa leitambm ainda no foi atualizada ,lembra Arthur William.

    Duramente criticada pelos afetados,a lei de 1998 autoriza umapotncia mxima de uns irrisrios25 watts mdia comunitria, quehavia solicitado 50 watts paraas rdios e 100 watts para astelevises. Um presente para osmeios comerciais, desejosos deconservar sua posio no mercadodas frequncias. Em dezembrode 2012, uma esperana nasceuno Congresso, onde deu entradauma emenda que despenalizavaa emisso de rdios e televisescomunitrias que no excedessem

    o limite de 100 watts. Aprovadana Cmara de Deputados, o textofoi imediatamente rejeitado peloSenado.

    Para alm do reduzido nmero defrequncias disponveis e de umalegislao que, como uma contnuaespada de Dmocles, paralisa seudesenvolvimento, as estaes oupequenos canais comunitrios

    Um homem levaseu filho nos

    ombros cruzandouma rua da

    favela do Groto.

    A

    FPPHOTO/AntonioScorza

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    a conscincia de uma populao j marginalizada e ques ouve dizer que a pacificao a mudana, como seas favelas estivessem em guerra , constata, amargo. Eaproveita para denunciar a extino da cultura funklocal e da atmosfera festiva das favelas depois dapacificao . No Complexo do Alemo, Clber Arajocontabiliza quatro rdios comunitrias. So mais rdiosde rua , nota. Nenhuma delas tem uma frequncialegal. Por isso tm que improvisar. Sem acesso sondas hertzianas, A Gruta, Nova Brasliaou Moradatransmitem atravs dos alto-falantes espalhados pelospostes eltricos das principais artrias da favela, jsaturados por incontveis ligaes.

    Para uns, frequncias precrias. Para outros, umestatuto jurdico oficial mas que no lhes permite

    emitir. Assim sobrevive TV Tagarela, na Rocinha, a vasta favela da zona s ul juntodas luxuosas e protegidas manses do bairro Leblond. Aps ter sido suspensatemporariamente no incio da pacificao mas reconhecida como pessoa moraldesde 2008, este canal sem tela s cobre uma parte dessa cidade dentro da cidadena qual est instalada. Porm, graas ao engenho de seus produtores - um total dedoze pessoas, com apenas trs deles remunerados desde h uns meses , o canalgranjeou o apoio dos moradores e se prepara para festejar seu 15 aniversrio, a 1de maio de 201 3. Como no podemos emitir, praticamos o direto gravado , explicamAugusto Pereira e Arley Macedo. Organizamos debates pblicos com muita genteassistindo, gravamos tudo em banda magntica, fazemos cpias e vendemos. assim que nos financiamos. Com a produo de vdeos exteriores, arrecadamos cercade 2 000 reais [cerca de 700 euros - ndr] por ano. Uma vez mais, sade e educaoconstituem os temas prioritrios dessa televiso c omunitria original, que evita falarde droga devido constante ameaa dos traficantes armados, apesar da pacificao.E esse perigo no o nico.

    O nosso objetivo no a informao imediata, mas o dilogo e o debate.Gostaramos de ampliar nossas atividades, mas todos aqui trabalham em outro lado es conseguimos fazer 10% de tudo aquilo que queramos , sublinha Augusto Pereira.s dificuldades tcnicas, o produtor acrescenta a tenso nas relaes com as U PP,que s vezes no hesitam em censurar um acontecimento, j que as comunidadesno esto habituadas a ter de pedir a autorizao da polcia para organizar reuniesou manifestaes culturais . Mas a principal preocupao de Augusto Pereira serelaciona com aquilo a que chama represso dissimulada , bem conhecida da mdiacomunitria e alternativa. Estamos sempre cercados de polticos que pretendem nos

    subjugar a seus interesses. Disso ainda mais complicado escapar.

    de Mar - favela da zona norte ainda no pacificada , Raika Moiss parece maisotimista. certo que a nossa proposta editorial aborda assuntos que os principaismeios de comunicao quase no cobrem, mas pouco a pouco os grupos deimprensa comeam a subsidiar e patrocinar projetos. Um sinal de que nossosesforos para passar uma outra imagem dos bairros est dando frutos.

    ALTO-FALANTES EM VEZ DE ONDASMas deve o conflito de imagem depender s das orientaes de uma imprensadominante que peca frequentemente por inconstante ? Como bvio, os jornalistasoriginrios das favelas no se conformam com essa situao. Para eles, o dficit depluralismo mais do que um simples desafio. Se trata de um autntico combate,tendo em conta os meios limitados de que dispem para se fazerem ouvir. RumbaGabriel, lder comunitrio e arauto da conscincia negra celebrada todos osanos a 20 de novembro, ostenta uma bandeira sul-africana como smbolo de suacausa. Mas Rumba sabe que, para mobilizar a comunidade, o estandarte precisado auxlio de uma frequncia sem fios. H quatro meses, Rdio Liberdade, que elecoordenava com outras seis pessoas no Jacarezinho, parou de emitir. Problemasde interferncias ou roubo de eletricidade foram apenas pretextos para nos calar. Omesmo sucede com muitas outras pequenas rdios. difcil, seno impossvel, formar

    23

    A falta depluralismoconstituiobviamente umdesafio paraeles

    Muralde protestoda favelaMetr-Mangueira,zona norte doRio de Janeiro

    R

    SF

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    da Verdade, cujo princpio foiproposto em 2010 pelo ex-ministro de direitos humanosde Lula, Paulo Vannuchi. E asComisses nasceram, apesarda oposio da direita durae das tentativas da esquerdaradical de transformarem essasnovas instncias em tribunais outribunas pblicas.

    RSFUma lei de 2010 obriga

    os servios e os organismos

    pblicos a entregar

    informaes de interesse

    geral. O exrcito respeita

    essa obrigao ?

    Ivan Seixas Infelizmente, no.A instituio militar continuamarcada pela ideologia daGuerra Fria. Ainda muitofechada a qualquer aberturaou dilogo. Essa a nossaprincipal dificuldade. O exrcitoquer passar a ideia de que osarquivos sobre essa pocadesapareceram ou foramqueimados. Mas a famlia deum antigo comandante falecidoem 2011 aceitou entregardocumentos desse tipo Comisso Nacional. a provaque esses documentos existem.

    Por fim, seria necessrio abriros arquivos imprensa. Temosque exigir o fim da impunidadeem nome das vtimas e desuas famlias. O caso maisconhecido entre os jornalistas o de Vladimir Herzog,3masno o nico. Precisamos demais apoio para pedir verdade ejustia. No s pelo que ocorreuontem, mas tambm por hoje.Quem se lembra que a polcia

    DESAFIO DEINFORMAOE DE MEMRIA

    Jornalista independente, IvanSeixas foi prisioneiro polticoentre 1971 e 1976, durantea ditadura militar (1964-1985). Atualmente coordena

    a Comisso da Verdade doestado de So Paulo, criadaem maio de 2012, ao mesmotempo que a ComissoNacional. Embora o acesso informao pblica tenhamelhorado desde a presidnciaLula, o acesso aos arquivos e verdade sobre os anos dechumbo brasileiros permanececomplicada.

    RSFQual o objetivo

    dessas Comisses da

    Verdade ? Podem substituir

    os tribunais ?

    Ivan Seixas No. As Comissesda Verdade no tm o poder deuma instituio judicial. Mas, aocontrrio dos antigos pases doPlano Condor,1o Brasil demoroumuito tempo at comeara julgar antigos militaresresponsveis de violaes dedireitos humanos durante aditadura. As resistncias aindaso muitas. Nos ltimos anosdo regime militar, os dirigenteshaviam acautelado sua sadaaprovando uma lei de anistiafeita sua medida, em 1979.Essa uma das razes de serdas Comisses da Verdade,institudas por uma lei federale nas quais participam vrios

    AS COMISSES DA VERDADE

    1. Aliana repressiva concludanos anos 70 entre seis ditadurasmilitares sul-americanas - Argentina,Bolvia, Brasil, Chile, Paraguai eUruguai - como o apoio dos EstadosUnidos.

    2. A atual Presidente DilmaRousseff foi presa e torturadadurante o regime militar devido sua participao na guerrilha. Seuantecessor, Lula, tambm foi presocomo dirigente sindical da oposio.

    3. Antigo diretor de TV Culturaem So Paulo, o jornalista Vladimir Vlado Herzog foi sequestradoe torturado at morte a 25 deoutubro de 1975, com 38 anos. Ospoliciais militares que o mataramtentaram disfarar sua morte comoum suicdio por enforcamento. Umprmio e um instituto, inauguradoem 2009, tm seu nome.

    A

    FPPHOTO/AntonioScorza

    militar foi criada pela ditaduracomo auxiliar do exrcito ? Osseus mtodos no evoluram.O seu modo operatrio muito parecido com o doperodo da represso militar,com demasiados supostos falecimentos a caminho do

    hospital no elucidados apsuma operao de pacificao.

    jornalistas. A Comisso deSo Paulo conta com cincodeputados e seis assessores.Levamos a cabo um trabalhode investigao em arquivos,de recolha de testemunhos,mas tambm de audincias.Podemos convocar antigostorturadores para ouvir seusdepoimentos, no mbito

    de um debate pblicodocumentado.

    RSFO Brasil recorda

    esse perodo ?

    Ivan Seixas Para mim, queestive preso dos 16 aos 22anos, assim como para todosaqueles que sofreram aqueleperodo na prpria pele, amemria continua viva. Mas,no geral, o pas vai atrasado.A conscincia de quevivamos numa ditadura schegou realmente dez anosdepois do golpe de Estadode 31 de maro de 1964.Por seu lado, o processo dememria s se iniciou naspresidncias Lula e Dilma.2Um importante passo foidado em maio de 2009 peloprojeto Memrias Reveladas,

    uma iniciativa federal que

    permitiu ao pblico contribuircom documentos ou arquivossobre esse momentohistrico, atravs de umabase de dados consultvelonline. Um pouco antes, em2008, o Ministrio Pblico deSo Paulo j se pronunciaraabertamente a favor decastigar antigos torturadores.Estes elementos favorecerama criao das Comisses

    Um vendedor deamendoim l um jornal

    no Rio de Janeiro.

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    Considerando o diagnstico exposto nesse relatrio e em nome de um equilbriopluralista no campo da informao, reclamada tanto pela profisso como pelasociedade brasileira, Reprteres sem Fronteiras recomenda as seguintes medidas:

    Uma reviso profunda do atual corpus legislativo de regulao da mdia, desfasadoda realidade contempornea. A nova legislao a debater deveria nomeadamenteincluir clusulas estritas relativas propriedade dos meios de comunicao e aseu financiamento pela publicidade oficial. Uma lei em discuss o no estado doRio Grande do Sul pretende reservar pelo menos 10% dos fundos da publicidadepblica para os meios comunitrios ou de alcance reduzido. Esta via deve serexplorada ao pormenor.

    A incluso nessa futura legislao de disposies relativas atribuio de

    concesses de frequncias audiovisuais e ao espao a reservar para o setorcomunitrio, sub-representado no atual espectro audiovisual legal. Os exemplosdas novas leis adotadas na Argentina e no Uruguai poderiam fornecer critriospara a definio desse tipo de meios, a fim de evitar a concorrncia de mdiadedicada ao proselitismo religioso.

    Um regime de sanes que exclua qualquer penalizao efetiva de um jornalistaou encerramento fsico de um meio, de um site de informao ou de um blogue( exceto em casos extremos de incitao ao dio, discriminao ou ao delito ),e que imponha limites mximos ao montante das indenizaes financeirasestabelecidas por deciso de justia.

    A adoo, sem mais demoras, do Marco Civil, garantindo a neutralidade dainternet e a proteo dos dados individuais dos internautas, assim como alimitao drstica da censura sobre a Web, impedindo que os requerimentos dasautoridades se sobreponham ao interesse pblico de uma notcia difundida emsuporte fsico ou electrnico.

    Uma competncia jurdica alargada para o novo Frum Nacional do PoderJudicirio e Liberdade de Imprensa, que lhe permita levar a cabo umacompanhamento dos processos judiciais relativos liberdade de informar e queabra a possibilidade de recurso rpido aos jornalistas ameaados de censura.

    A proibio, pelo poder legislativo federal, de qualquer tipo de censura contrrias disposies da Constituio de 1988, acompanhado da impossibilidade deaplicao da censura dita preventiva, na realidade discriminatria.

    A apreciao detalhada dos pareceres formulados pelos jornalistas, sindicatos eorganizaes de defesa da liberdade de informao aquando da elaborao doprotocolo de segurana apresentado pela Secretaria de Direitos Humanos daPresidncia.

    Em concertao com as instncias internacionais da Copa do Mundo de 2014e dos Jogos Olmpicos de 2016 ( FIFA, Comit Olmpico Internacional ), umsistema de credenciamento equitativo, oferecendo mdia e sites alternativose comunitrios regionais a possibilidade de uma ampla cobertura dos eventosesportivos e dos acontecimentos paralelos.

    RECOMENDAESI

    AFP PHOTO / Christophe Simon

    Um menino mostrauma medalha com a

    inscrio Desafio daPaz , no Complexo do

    Alemo, por ocasiodo 2 aniversrio de

    sua pacificao pelapolcia. Rio de Janeiro,27 de maio de 2012.

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    REPRTERES SEM FRONTEIRAS uma organizao internacional de defesada liberdade de imprensa. Ela monotoriza e denuncia violaes da liberdade de imprensaem todo o mundo. Reprteres sem Fronteiras analisa a informao que obtm e utiliza

    comunicados de imprensa, cartas, relatrios investigativos e recomendaes para alertara opinio pblica sobre abusos contra jornalistas e violaes da liberdade de expresso

    e para pressionar polticos e funcionrios governamentais.

    Diretor-geral :CHRISTOPHE DELOIREResponsvel do Departamento Amricas :BENOT HERVIEU

    [email protected]