repertório nº 1

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D ileto consócio discente, o qual está manuseando este descerimonioso opúsculo; é um incomensurável pri- vilégio tê-lo conosco, a decifrar nossas elocuções acerca da inculta e bela última flor do Lácio.” Entendeu? Não? Relaxe. Isso foi só uma brincadeira. A RePertório está chegando para trazer mais compreensão sobre os usos da nossa querida Língua Portugue- sa, mas, para isso, nem de longe preci- samos usar uma linguagem tão formal e com um vocabulário tão rebuscado. Isso porque nossa língua pode ser vista como um gigantesco guarda-roupa, repleto de pos- sibilidades de usos e acessó- rios, prontos para serem es- colhidos e usa- dos de acordo com cada ocasião. E, assim como uma mulher não precisa usar todas suas joias ao mesmo tempo para ir a uma festa, não é preciso escolher tantos recursos (como na frase lá de cima) para falar ou escrever bem. O mais importante é saber o propósito da festa, ou, no caso da língua, da produção do texto. Essa metáfora de que a língua é um guar- da roupas é do professor e apresentador Pasquale Cipro Neto, que costuma dizer que “não se deve usar terno na praia e nem sunga no tribunal”. O que o professor Pas- quale quer dizer é que devemos adequar a língua às diferentes situações em que queremos ou precisamos nos comunicar. E, se situações não faltam, possibilidades para o uso da língua também não. Hoje em dia, discute-se muito sobre a lin- guagem usada nas mídias sociais, com to- das aquelas abreviações e sinais gráficos para substituir palavras. Os mais tradicio- nais dizem que esse uso da língua está er- rado. Mas, vamos pensar um pouco? Profissionais de Relações Públicas costu- mam interagir bastante com seus públicos por meio dessas mídias sociais. O que acontece- ria se a lingua- gem usada nes- ses meios fosse sempre baseada no uso mais for- mal do Portu- guês? Os perfis e as páginas de organizações mais amados abominam a linguagem de internet ou mergulham de cabeça nela para conseguir atrair seus públicos? Facebook, Twitter e Instagram são lo- cais de socialização descontraídos, onde pessoas se reúnem virtualmente para trocar fotos, curtidas e comentários rápi- dos. Ninguém quer ouvir um discurso de político quando está interagindo nesses ambientes, assim como ninguém vai à praia usando terno. A situação pede uma linguagem mais leve, simplificada e mo- derna, que pode, sim, incluir abreviações sem ponto, trocas de letras para encurtar Desvendando o grande guarda-roupa chamado Língua Portuguesa Desvendando o gran- de guarda-roupa chamado Língua Portuguesa - Aban- done conceitos an- gos sobre “certo e errado” e entenda o que é adequado ou não na linguagem em Comunicação “Língua não é gramáca anga” - A consultora linguísca Vera de Paz Almeida fala sobre linguagem e Jornalismo “De encontro” ou “ao encontro”? - Solucio- namos uma das pegadi- nhas mais traiçoeiras Certo ou Errado? - O autor paulistano Walcyr Carrasco nos diverte com sua crônica sobre as evoluções da língua Edição 1 / Ano 1 - nº 1 / 17 de junho de 2015

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Nesta Edição: Desvendando o grande guarda-roupa chamado Língua Portuguesa - Abandone conceitos antigos sobre “certo e errado” e entenda o que é adequado ou não na linguagem em Comunicação “Língua não é só gramática antiga” - A consultora linguística Vera de Paz Almeida fala sobre linguagem e Jornalismo “De encontro” ou “ao encontro”? - Solucionamos uma das pegadinhas mais traiçoeiras Certo ou Errado? - O autor paulistano Walcyr Carrasco nos diverte com sua crônica sobre as evoluções da língua

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Page 1: RePertório nº 1

Dileto consócio discente, o qual está manuseando este descerimonioso opúsculo; é um incomensurável pri-

vilégio tê-lo conosco, a decifrar nossas elocuções acerca da inculta e bela última flor do Lácio.” Entendeu? Não? Relaxe. Isso foi só uma brincadeira. A RePertório está chegando para trazer mais compreensão sobre os usos da nossa querida Língua Portugue-sa, mas, para isso, nem de longe preci-samos usar uma linguagem tão formal e com um vocabulário tão rebuscado. Isso porque nossa língua pode ser vista como um gigantesco guarda-roupa, repleto de pos-sibilidades de usos e acessó-rios, prontos para serem es-colhidos e usa-dos de acordo com cada ocasião. E, assim como uma mulher não precisa usar todas suas joias ao mesmo tempo para ir a uma festa, não é preciso escolher tantos recursos (como na frase lá de cima) para falar ou escrever bem. O mais importante é saber o propósito da festa, ou, no caso da língua, da produção do texto.

Essa metáfora de que a língua é um guar-da roupas é do professor e apresentador Pasquale Cipro Neto, que costuma dizer que “não se deve usar terno na praia e nem sunga no tribunal”. O que o professor Pas-quale quer dizer é que devemos adequar

a língua às diferentes situações em que queremos ou precisamos nos comunicar. E, se situações não faltam, possibilidades para o uso da língua também não.

Hoje em dia, discute-se muito sobre a lin-guagem usada nas mídias sociais, com to-das aquelas abreviações e sinais gráficos para substituir palavras. Os mais tradicio-nais dizem que esse uso da língua está er-rado. Mas, vamos pensar um pouco?

Profissionais de Relações Públicas costu-mam interagir bastante com seus públicos

por meio dessas mídias sociais. O que acontece-ria se a lingua-gem usada nes-ses meios fosse sempre baseada no uso mais for-mal do Portu-guês? Os perfis e as páginas de organ izações

mais amados abominam a linguagem de internet ou mergulham de cabeça nela para conseguir atrair seus públicos?

Facebook, Twitter e Instagram são lo-cais de socialização descontraídos, onde pessoas se reúnem virtualmente para trocar fotos, curtidas e comentários rápi-dos. Ninguém quer ouvir um discurso de político quando está interagindo nesses ambientes, assim como ninguém vai à praia usando terno. A situação pede uma linguagem mais leve, simplificada e mo-derna, que pode, sim, incluir abreviações sem ponto, trocas de letras para encurtar

Desvendando o grande guarda-roupa chamado Língua PortuguesaDesvendando o gran-

de guarda-roupa chamado Língua Portuguesa - Aban-done conceitos an-tigos sobre “certo e errado” e entenda o que é adequado ou não na linguagem em Comunicação

“Língua não é só gramática antiga” - A consultora linguística Vera de Paz Almeida fala sobre linguagem e Jornalismo

“De encontro” ou “ao encontro”? - Solucio-namos uma das pegadi-nhas mais traiçoeiras

Certo ou Errado? - O autor paulistano Walcyr Carrasco nos diverte com sua crônica sobre as evoluções da língua

Edição 1 / Ano 1 - nº 1 / 17 de junho de 2015

Page 2: RePertório nº 1

as frases e até um coraçãozinho no lugar do ponto final. Só não é legal querer carregar esse jei-to de falar e escrever para qual-quer meio que utilizarmos. Já imaginou soltar “uma ideia mega top” durante uma conferên-cia com a alta diretoria?

Cabe a nós, Relações Públicas, não só decidir os canais para a comunicação de uma organiza-ção, mas também saber como es-ses canais serão usados. É preciso estudar muito, tanto a linguagem mais culta e formal quanto a co-loquial e informal, para poder-mos usá-las de forma estratégi-ca. Porque, mesmo na internet, só sair escrevendo de qualquer jeito pode ser um tiro no pé.

Claro que precisamos rever o conceito de certo e errado nas diferentes situações, mas sem deixar de lembrar que erros de ortografia (letras trocadas ou esquecidas, acentuação incor-reta, sinais gráficos ignorados), com exceção daqueles come-tidos propositalmente e com consciência, podem pegar mui-

to mal, e acabar com a reputa-ção de quem os comete.

Nossa língua é o código que nos une, e, quanto mais por den-tro dela você estiver, com mais pessoas será possível se comu-nicar. Cometer um erro despro-positado pode excluir, de cara, o contato com algum público que te interessa. Não confun-da: ser informal não significa falar ou escrever errado.

Na próxima página, você pode conferir uma entrevista feita com uma consultora linguísti-ca que destaca: “Existem mais semelhanças do que diferenças en-tre a norma culta e a norma po-pular”. É possível escrever um Português perfeitinho sem pa-recer chato ou arrogante.

Porém, às vezes, é realmente delicado saber qual o limite en-tre o adequado e o errado ou o correto e o pedante. Na dúvida, opte pelo pretinho básico. Se você não se sente confortável em “brincar” com o Português ainda, seja simples. Pense sem-pre naqueles que vão ouvir o que você tem a dizer, ou ler o que você escrever. Entendimen-to é o objetivo, não importa qual recurso você use. É preferível não recorrer a nada e ser com-preendido do que querer florear demais e acabar com uma frase parecida com a que abriu esta matéria. Ninguém merece.

“O mais importante é saber o propósito da ‘festa’ ou, no caso da língua, da produção do texto.”

Bem vindo! Estamos muito felizes de compartilhar nossa nova realização que é a RePertório. Sabemos que, às vezes, quando o assunto é Língua Portuguesa, pode pintar um estresse. E é justamente para desmistificar a ideia de que entender o Português é difícil (e chato) que esta publicação existe. Aqui você vai encontrar textos simples e agradáveis que relacionam os conceitos e recursos da nossa língua com as áreas de Relações Públicas e Comunicação.Você vai perceber de cara como cada editoria tem o seu papel para fazer o pessoal da área de RP entender a importância de saber usar a língua a seu favor, além de descontrair um pouco também (por que não?). Esperamos que a publicação cumpra sua missão, e que você, que está lendo nossa edição de lançamento, sinta vontade de ler as próximas edições da RePertório. Vamos trabalhar bastante para isso!

• Praia não é lugar de usar terno e tribunal não é lugar de usar sunga. Pense nisso para lem-brar o que é mais adequado para cada situação na hora de falar e escrever

• Certo e errado podem ser conceitos relativos quando fala-mos de adequação de linguagem. Mas, atenção: erros ortográficos sem propósito planejado devem ser abolidos

• Ao produzir um texto, pense sempre nas pessoas que vão lê-lo ou ouvi-lo: se elas serão capazes de entender, não apenas seu sentido, mas também sua in-tenção

Page 3: RePertório nº 1

“Língua é mais do que gramática

antiga”

O que aprendeu sobre o gênero TV que não sabia antes de traba-lhar na TV?Os linguistas classificam o gênero do jornalismo na TV como híbri-do, pois ele contém elementos da escrita e da fala. Descobri que ele não é híbrido, pois a fala era só o canal pelo qual davam informa-ções. Não havia uma realização falada, propriamente. Era uma produção da escrita, a diferença é que era lida. Percebi que a orienta-ção que os jornalistas de TV mais precisam é a de como adotar uma fala mais coloquial.

O telejornalismo não usa um português coloquial?O pessoal da TV acha que ser colo-quial é falar para a classe C enten-der. Eu vivo repetindo que é para

falar como a maioria das pessoas fala. Existem mais semelhanças do que diferenças entre a norma culta e a norma popular. Além disso, uma estrutura mais simples facilita a compreensão para todo mundo.

Como você orienta os jornalis-tas, então?Busco mostrar o quanto a fala me-diada pelo veículo eletrônico ou virtual é diferente da fala espontâ-nea, da rua. Repare que o telejor-nalismo costuma seguir algumas lógicas da escrita para enunciar suas notícias: usa o tempo sem-pre no presente, frases sem artigo. Mas ninguém chega em casa e diz: “Carro bate na esquina de casa”. Isso não é natural a ninguém que conte uma história, pois se costu-ma dizer: “Um carro bateu ali na

esquina”. Ninguém fala “Polícia persegue quadrilha”, mas “A polí-cia está perseguindo uma quadri-lha”.

Mas não existe o risco de se fugir de um padrão do veículo?A preocupação em aprimorar o pa-drão do noticiário na TV precisa passar mais pela naturalidade da fala coloquial. Apesar de estar cada vez mais em desuso o tal do “cerca de”, os telejornais sempre o usam e só agora parecem ter percebido a utilidade de equivalentes como “mais ou menos” e “uns”, que são oferecidos pela língua para os mes-mos fins. Uma coisa legal do meu trabalho foi que as pessoas começa-ram a ter menos tensão ao escrever. Alguns me dizem que estão mais soltos, mais livres.

Quais as resistências que encon-trou?Nenhuma institucional. Só aquelas que a escola incutiu nas pessoas. Um apego individual à gramática do século XIX. Admite-se que tudo evolui, menos a língua, o que não é real nem fácil de seguir. Mas aos poucos as pessoas vão descobrindo que a língua é mais do que gramá-tica antiga.

*Entrevista extraída da revista Língua Portuguesa, ed. Mai/2015

Qual a forma correta de falar: “O projeto foi de encontro aos ou ao encontro dos interesses dos públicos”?

(Elzie Barbosa - aluna do curso de Relações Públicas)

Isso vai depender do sentido que você quer dar à frase. Se o projeto foi muito bom e atendeu realmente às expectativas dos públicos, então o correto é dizer que ele “foi ao encontro dos”. Mas, se na verdade, o projeto foi mal elaborado e não agradou muito, então você pode dizer que ele “foi de encontro aos”. Lembre-se: “ir ao encontro de” passa a ideia de aproximação, como ir a um encontro romântico ou com amigos. No exemplo do projeto, há acordo entre duas partes. Já “ir de encontro a” transmite um conceito de colisão, de choque, como dois veículos batendo de frente. Para o caso do projeto, então, uma discor-dância entre expectativas.

Envie a sua dúvida para gente. O e-mail é [email protected]. Não esqueça de colocar seu nome e profissão/curso

A linguista Valéria Paz de Almeida trabalha como consultora linguísti-ca de jornais da TV. Sua convivên-cia com comunicadores lhe mos-trou o que é mais adequado no uso da língua em veículos de comuni-cação eletrônicos*

Page 4: RePertório nº 1

Certo ou errado?de Walcyr Carrasco

A língua portuguesa está mudando. Se é um pro-cesso bom ou ruim, te-

nho minhas dúvidas. Mas é fato. Ao longo dos séculos, o portu-guês passou por inúmeras modi-ficações. (...) Ultimamente, tudo parece mais rápido. Palavras que ontem não existiam estão incor-poradas ao vocabulário. (...)

Quem costuma entrar na internet está familiarizado com as incontá-veis abreviações. (...) “kd vc” quer dizer “cadê você?” ou, mais gene-ricamente, “por que você sumiu?”. “Blz” é “beleza”, uma gíria para expressar concordância. “Rs”, “risos”. “Aki” é o popular “aqui”. (...) Muitas vezes me sinto um mastodonte atolado enquanto o mundo caminha velozmente. (...)

Ainda usamos expressões sur-gidas em outras épocas, quan-do a vida era diferente. Ou-tro dia um amigo fofocou:

- Ela deu com os burros n’água !

Embora nas cidades grandes ninguém mais ande de carro-ça nem corra o risco de atolar com os quadrúpedes. (...)

Formas de falar logo ficarão obso-letas. Um ex com dor de cotove-lo ainda pode reclamar:

- Ih! Ela queimou meu filme!

As máquinas fotográficas ain-da têm filmes. Do jeito que as coisas vão, em breve todas se-rão digitais. Surgirá outro jeito de dizer a mesma coisa.

Aprender a usar a gramática, tem-pos verbais e a grafia correta é uma maneira de treinar o raciocínio. Quem não sabe falar ou escrever provavelmente não articula bem os pensamentos. Tenho medo de que certas mudanças sejam fruto de escolas péssimas, deficiên-cias de aprendizado ou, simples-mente, preguiça. Mas também é preciso aceitar a evolução!

Portanto, nem tanto ao mar nem tanto à terra! Ei... Acho que essa expressão vem dos tempos em que marinheiros ainda saíam em bus-ca de novos mundos! Na época, era moderníssima! Mais um moti-vo para apreciar nossas moderni-dades! Cada época se espelha em um modo de falar. (...) Fascinante é saber que a língua, enfim, é viva!

A RePertório é uma realização da agência experimental Inova, cria-da em 2013 por alunas da Faculdade Cásper Líbero. A intenção da nossa publicação é oferecer conteúdo interessante sobre a relação entre a Língua Portuguesa e a área de Comunicação.Quer fazer elogios, críticas, mandar dúvidas ou sugestões? Nosso e-mail é [email protected]. Curta também nossa página no Facebook: fb.com/agenciainova1

RePertório ed. 1 junho de 2015 Tiragem: 650 exemplaresDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

GE - Estágio em SustentabilidadeRequisitos: Aluno de 2º e 3º anos de RP, inglês avançado e bons conhecimentos em Excel.Oferece: Bolsa auxílio compatí-vel com o mercado e benefícios extrasOnde: São Paulo - SPInfo: goo.gl/cL3kEL

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Trampos.co - Estágio em Relacionamento e ConteúdoRequisitos: Aluno de Com. So-cial, familiaridade com mídias sociais e residente em São Paulo.Oferece: Salário de até R$ 1000Onde: V. Buarque -São Paulo -SPInfo: goo.gl/nF0AOa