repercussões da disfunção vestibular no convívio familiar ... porcel... · o desenvolvimento de...

80
PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC – SP Renata Porcel de Oliveira Repercussões da disfunção vestibular no convívio familiar e social de idosos MESTRADO EM GERONTOLOGIA São Paulo 2008

Upload: hoangque

Post on 23-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Renata Porcel de Oliveira

Repercussões da disfunção vestibular no convívio familiar e social de idosos

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

São Paulo

2008

PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Renata Porcel de Oliveira

Repercussões da disfunção vestibular no convívio familiar e social de idosos

Dissertação apresentada à Banca examinadora

como exigência parcial para obtenção do título de

Mestre em Gerontologia na Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, sob

orientação da Professora Doutora Nadia Dumara

Ruiz Silveira.

São Paulo

2008

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

DEDICATÓRIA

Aos amores da minha vida, Irineu e Neusa, meus pais, e Roberta minha irmã, pelo

apoio irrestrito em todos os momentos da minha vida.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por tudo.

Aos idosos e seus respectivos familiares que participaram deste estudo.

À Professora Nadia Dumara Ruiz Silveira, pela dedicação com que me orientou

durante este estudo.

A todos os professores do Mestrado em Gerontologia da PUC-SP.

A todos que contribuíram para a realização deste trabalho.

RESUMO

A pesquisa "Repercussões da disfunção vestibular no convívio familiar e social de

idosos" amplia conhecimentos pertinentes às interfaces entre as áreas da Gerontologia Social

e da Saúde. O objetivo central deste estudo é analisar as influências do acometimento da

disfunção vestibular por pessoas idosas, no seu convívio familiar e relacionamento social,

visando contribuir para que esse segmento possa viver plenamente a fase da velhice e dispor

de um tratamento com qualidade. O desenvolvimento de conceitos referentes à anatomia e

fisiologia do sistema vestibular, assim como a compreensão das possíveis disfunções

causadoras dessas patologias, em especial constatadas no processo de envelhecimento, são

abordados considerando-se uma concepção ampla de saúde. A pesquisa de campo foi

realizada através da aplicação de entrevistas envolvendo nove idosos, com idade acima de 65

anos, que possuem a disfunção vestibular, recebem atendimento médico de urgência e

realizam a fisioterapia domiciliar com profissionais da MEDMAR/FAMILY Atendimento de

Urgência Médica, localizada na Cidade de Santos, no Estado de São Paulo. Estes idosos

vivem com suas famílias, as quais também foram entrevistadas. Adotando-se procedimentos

metodológicos próprios da pesquisa qualitativa foi feita, inicialmente, a caracterização do

estágio da disfunção vestibular dos sujeitos, com base em diagnósticos médicos existentes.

Através de roteiro semi-estruturado, procedeu-se à identificação da condição de vida pessoal e

de convivência familiar e social, antes e depois do surgimento da doença. A análise dos dados

revela que a disfunção vestibular deve ser concebida como um dos elementos constitutivos do

processo de envelhecimento e que os sintomas de manifestação deste acometimento devem

ser devidamente compreendidos e cuidados pelo próprio pelo idoso e por seus familiares,

considerando-se as repercussões reconhecidas nos depoimentos, tanto no convívio familiar

como social.

PALAVRAS CHAVE: Envelhecimento, Velhice, e Disfunção Vestibular.

ABSTRACT

The research "Implications of vestibular dysfunction in the family and social

coexistence of elderly" wide knowledge relevant to the interfaces between the areas of Social

Gerontology and Health The central objective of this study is to examine the influences of the

involvement of vestibular dysfunction by elderly people in their conviviality family and social

relationships, seeking help in this segment can live fully the stage of old age and have a

treatment with quality. The development of concepts concerning the anatomy and physiology

of the vestibular system, as well as the understanding of possible malfunctions causing these

diseases, particularly noted in the ageing process, are addressed recital is a broad concept of

health. The search was conducted of field through the application of interviews involving nine

elderly people aged over 65 years, which have the vestibular dysfunction, receive emergency

medical care and carry out physiotherapy home with professionals in MEDMAR / FAMILY

The Emergency Medical Service, located in the city of Santos, in the State of Sao Paulo.

These elderly live with their families, which were also interviewed. Bringing up procedures

methodological own qualitative research was done, initially, the characterization of the stage

of vestibular dysfunction of the subject, based on existing medical diagnoses. Through semi-

structured guide, proceeded to the identification of the condition of personal life and family

and social coexistence, before and after the onset of the disease. Data analysis shows that the

vestibular dysfunction should be conceived as one of the constituent elements of the ageing

process and that the symptoms of manifestation of this involvement must be properly

understood and cares for the elderly by it and by their relatives, considering the impact

recognized in depositions, both in family and social coexistence.

KEYWORDS: Aging, old age, and Vestibular dysfunction.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 09

CAPÍTULO I – ENVELHECIMENTO E DISFUNÇÃO VESTIBULAR......................... 3

1.1 - Sistema Vestibular ........................................................................................................... 17

1.1.1 – Anatomia ........................................................................................................ 17

1.1.2 – Fisiologia ........................................................................................................ 19

1.2 - Disfunção Vestibular..........................................................................................................22

1.2.1 - Sistema Vestibular e Envelhecimento ............................................................. 23

1.2.2 - Formas de Tratamento .....................................................................................28

CAPÍTULO II – VELHICE, SAÚDE E CONVIVÊNCIA DE

IDOSOS......................................................................................................................................32

2.1 – Envelhecimento e a Relação Normal/ Patológico ...........................................................36

2.2 – Disfunção Vestibular e o Convívio de Idosos....................................................................40

CAPÍTULO III – PESQUISA DE CAMPO...........................................................................48

3.1 – Metodologia da Pesquisa .................................................................................................. 48

3.2 – Resultados da Análise dos Dados ......................................................................................51

CONSUDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 66

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 71

ANEXOS ................................................................................................................................ 76

9

INTRODUÇÃO

A conquista da longevidade já é realidade presente em todo o contexto mundial e

as necessidades desse novo segmento se tornaram um desafio para todas as áreas

profissionais. Por isso, pesquisas e estudos sobre essa temática vêm assumindo posição

de destaque em todos os centros acadêmicos geradores de novos conhecimentos

científicos.

A Gerontologia surge como uma área de conhecimento interdisciplinar que tem

como objeto de estudo o envelhecimento, a velhice e os idosos, considerando

determinantes genéticos, biológicos, psicológicos e sócio-culturais. A diversificação de

temas decorre das várias facetas que caracterizam a realidade atual, dentre elas o

aumento da população idosa e o alcance da longevidade com boa condição de saúde.

O campo de pesquisa da Gerontologia Social inclui dentre seus temas questões

relacionadas à saúde, envolvendo análises sobre o processo de envelhecimento e as

articulações entre normal e patológico, próprias dos diferentes contextos sócio-histórico

e cultural, tornando-se um desafio para os profissionais de todas as áreas que atuam

neste segmento.

Na interface entre a Gerontologia e as Ciências da Saúde, em particular com a

Geriatria, a disfunção vestibular que acometem os idosos constitui-se num dos objetos

de estudo reconhecidos pela sua importância. A Gerontologia Social possibilita a

ampliação da abordagem sobre a questão das disfunções ao se embasar nos fundamentos

teóricos disponíveis pelas ciências humanas e sociais, otimizando o conhecimento da

população idosa em sua totalidade.

10

A compreensão do envelhecimento como um processo de desenvolvimento é

fundamental para conhecermos os idosos em todos os seus aspectos, como enfatiza a

concepção ampla e interdisciplinar de saúde, com as contribuições das bases teóricas da

Gerontologia Social no entendimento de questões relativas à condição de vida do idoso

com disfunções, dentre elas à disfunção vestibular.

Esta pesquisa tem por objetivo analisar as repercussões da disfunção vestibular

no contexto familiar e social de idosos, desenvolvendo reflexões, de modo a

compreender mais amplamente as influências desse acometimento, não reduzindo essas

repercussões a alterações funcionais.

O estudo da disfunção vestibular é de extrema importância, diante da realidade

atual do envelhecimento populacional e do aumento da expectativa de vida, em virtude

dos avanços na área da saúde, diminuição das taxas de natalidade e de mortalidade,

melhoras nas condições de saneamento básico, enfim, o surgimento de novas condições

de vida que devem justificar a conquista da longevidade em sua plenitude.

Contrapondo a visão negativa do envelhecimento que condena os idosos à

condição de exclusão social e inatividade dentro de seu ambiente familiar, delineia-se a

concepção de um novo perfil que mostra a possibilidade real de realização de atividades

com independência e a autonomia, além da condição de desenvolvimento de novos

projetos de vida, mesmo sendo portadores da disfunção vestibular.

No envelhecimento a disfunção vestibular surge pelo próprio processo de

degeneração natural dos sistemas fisiológicos, diminuindo a eficácia no processamento

de informações e na elaboração de respostas reflexas indispensáveis para o controle

postural, o que pode originar, quando não tratada adequadamente, sintomas

característicos como vertigem, náuseas, zumbidos e desequilíbrio, levando o idoso à

11

perda da confiança motora e comprometimento da sua autonomia, gerando a

dependência.

A disfunção vestibular, se não tratada, pode gerar incapacidades parciais, com

sérias repercussões para o idoso alterando sua condição de vida, e em particular seu

convívio familiar e social. O desconhecimento do assunto e a falta de tratamento

adequado podem levar o idoso a perder sua qualidade de vida e incapacitá-lo de realizar

suas atividades de vida diárias.

Esta pesquisa ao estudar a disfunção vestibular e as suas repercussões no

convívio familiar e social de idosos busca o entendimento dessa patologia considerando

as bases teóricas da Gerontologia para melhor compreender as necessidades não só do

idoso acometido por tal disfunção, como também de seus familiares.

A realização de estudos sobre essa realidade exige uma compreensão do idoso

em sua totalidade, concebendo-o como um ser bio-psico-social, no sentido de garantir

sua integridade e individualidade, visando contribuir para que esse segmento possa

viver plenamente a fase da velhice.

A priorização deste enfoque de análise e a forma de organização deste trabalho

se pautaram no interesse em propiciar subsídios para que as formas de tratamento

existentes nos casos de disfunção vestibular de idosos sejam repensadas, tendo em vista

condições de vida pessoal e social com maior qualidade e dignidade.

Abordaremos inicialmente, no capítulo I, as principais teorias relativas ao

sistema vestibular como a anatomia e fisiologia, fundamentais para a compreensão de

todo seu funcionamento. Será explicitada, também, a disfunção vestibular propriamente

dita e sua caracterização dentro das alterações provenientes do processo do

12

envelhecimento, ressaltando as formas de tratamento para os idosos acometidos desta

disfunção e as possibilidades de uma vida normal através da reabilitação vestibular

realizada pela fisioterapia.

Temas como envelhecimento e a relação entre o normal e o patológico serão

discutidos no capítulo II para que as idéias conflitantes entre o que é normal e o que é

patológico dentro do processo do envelhecimento sejam esclarecidas. Questões

relacionadas à saúde, o que é ser saudável e a influência da disfunção vestibular no

convívio dos idosos também serão discutidos.

A pesquisa de campo será relatada no capitulo III, detalhando-se, inicialmente, a

metodologia e posteriormente os resultados das análises qualitativas incluindo-se

depoimentos dos sujeitos participantes desta pesquisa em consonância com o objetivo

central proposto para este trabalho.

A partir das idéias discutidas nos capítulos, finalizamos a dissertação

apresentando considerações finais, o que permitirá sistematizar as principais reflexões

de ordem teórica e empírica, de modo a enfatizar os resultados considerados mais

relevantes.

13

CAPÍTULO I: ENVELHECIMENTO E DISFUNÇÃO VESTIBULAR

O aumento da expectativa de vida é uma realidade presente em toda a

humanidade, resultante da queda da natalidade e da mortalidade. Os avanços não só da

medicina como de todas as outras áreas contribuem para a melhora da qualidade de vida

dos indivíduos, como observa Medeiros (2004 p.186) ao afirmar que a longevidade é

uma conquista real:

(...) muito se investiu: pesquisas na área da saúde, o avanço da genética, a luta por políticas públicas, a preocupação com o desenvolvimento da infra-estrutura sanitária. Finalmente, no século XXI, a longevidade foi atingida. Viver até 100 anos ou mais é uma possibilidade concreta a ser alcançada. O interressante, porém, foi que ao mesmo tempo em que a longevidade se tornou real, os velhos começaram a perder espaço na família e na sociedade.

O importante é que a longevidade seja acompanhada da condição de boa saúde.

Isto é possível porque a doença não é mais uma conseqüência inevitável da velhice, mas

sim, o resultado de vários fatores, dentre eles, a escolha de estilos de vida. Podemos

perceber que a maneira de viver e enfrentar o passar dos anos está se modificando. A

população idosa está crescendo rapidamente e a visão sobre o envelhecimento tem se

modificado com a construção de novos conhecimentos científicos, como demonstra

Terra (2001 p.194) ao abordar sobre novos conceitos resultantes das pesquisas na área

da gerontologia social:

(...) tendência de sair do modelo de déficit do envelhecimento para o modelo de competência e dos potenciais novos das pessoas idosas, enfocando componentes objetivos e subjetivos da competência e entendendo o envelhecimento como um processo dinâmico, que não significa perdas e danos, mas pode significar desenvolvimento de novos potenciais.

14

Os idosos estão vivendo com melhor condição de boa saúde, diminuição de suas

incapacidades e com maior qualidade de vida. Muitos ainda exercem as mesmas

atividades assumidas ao longo de suas vidas ou experimentam novas experiências em

diferentes espaços sociais, o que se contrapões à concepção preconceituosa que

relaciona velhice à dependência.

Novas pesquisas mostram o que já foi enfatizado por Saad (1990) apud Alonso

(2005, p. 41) no que diz respeito à importância e necessidade da autonomia do idoso,

que pode ser independente, mesmo com o aumento da idade:

Com freqüência, a pessoa é considerada idosa perante a sociedade a partir do momento em que encerra as suas atividades econômicas. Em outras ocasiões, é a saúde física e mental o fator de peso, sendo fundamental a questão da autonomia: o individuo passa a ser visto como o idoso quando começa a depender de terceiros para o cumprimento de suas necessidades básicas ou tarefas rotineiras.

Atualmente, os pesquisadores que estudam o envelhecimento estão mais

preocupados com a qualidade de vida do idoso, seus hábitos como alimentação,

desempenho nas atividades de vida diárias, prática de atividades físicas,

desenvolvimento cognitivo e estado psicológico, base para mudanças no estilo de vida.

Destacam-se, nesta abordagem, as medidas preventivas e não só curativas para um

envelhecimento bem sucedido de acordo com as necessidades de cada pessoa.

O termo qualidade de vida, segundo Terra (2001, p.30), é de difícil conceituação,

pois não é possível mensura-lá. Podemos somente relacioná-la com a sensação de bem

estar, autonomia, independência e satisfação pessoal. O autor ainda complementa

destacando que “essas questões são individuais, pois o comportamento e hábitos de vida

variam de um idoso para o outro (...)”.

15

A Organização Mundial da Saúde adotou o termo envelhecimento ativo para

expressar o processo de conquista de uma vida mais longa acompanhada de

oportunidades contínuas de melhoria na saúde, maior participação e segurança dentro da

família e sociedade, cujo objetivo é melhorar a qualidade de vida dos idosos.

A noção de envelhecimento ativo abrange, portanto, situações vividas

individualmente e coletivamente; deve ser uma preocupação presente nos ambientes

sociais, incluindo a convivência dentro da família, onde os idosos precisam ter seu

potencial reconhecido visando à garantia do seu bem-estar físico, social e mental ao

longo de toda a vida.

Em todos os ambientes os idosos devem ser estimulados a participar, tendo suas

necessidades, desejos e capacidades atendidas; ao mesmo tempo, cabe à sociedade

propiciar a esse segmento proteção e cuidados adequados às suas necessidades.

A fisioterapia vem de encontro a esse conceito por ter como objetivo principal a

independência do idoso para as suas tarefas básicas de vida diária visando amenizar e

evitar as conseqüências das alterações fisiológicas e patológicas do envelhecimento.

A autora Silva destaca o papel da fisioterapia para o atendimento de idosos,

enfatizando a importância da atenção específica e a compreensão ampla das

necessidades desse segmento, como atribuições do profissional da área.

Estas características representam um desafio para os fisioterapeutas, pois faz parte de sua atuação prevenir e retardar as incapacidades possíveis com o avançar da idade e assim prolongar as funções ideais para as atividades diárias funcionais (...) (SILVA, 2005, p.19).

16

A garantia da mobilidade é uma das funções que contribui para uma qualidade

de vida satisfatória. Em relação a este aspecto a conduta fisioterapêutica deve ter como

preocupação as relações entre a funcionalidade e grau de independência do idoso, o que

lhe permitirá reavaliar o significado da presença de limitações específicas como às

encontradas na disfunção vestibular.

A integridade do movimento humano é mantida através da utilização de recursos

específicos da área da fisioterapia, visando à minimização e, em alguns casos, a

eliminação dos sintomas gerados pela disfunção vestibular. O atendimento

fisioterapêutico possibilita aos idosos portadores da disfunção continuar realizando suas

atividades de modo a não terem seu convívio familiar e social afetados.

A compreensão dessa realidade nos remete à necessidade de sistematizarmos

conceitos específicos da fundamentação anatômica e fisiológica sobre o sistema

vestibular, como embasamento para análise da disfunção vestibular e suas

características especifícas no processo de envelhecimento, como apresentadas a seguir.

17

1.1 – SISTEMA VESTIBULAR

1.1.1 - ANATOMIA

Para manter o equilíbrio o ser humano necessita do sistema vestibular, sistema

ocular e do sistema proprioceptivo. O sistema vestibular é responsável pela percepção

da posição e dos movimentos da cabeça, o sistema ocular informa sobre o

posicionamento dos objetos em relação ao corpo, e o sistema proprioceptivo controla a

postura e movimentação corporal.

Estes sistemas funcionam sempre em conjunto para o indivíduo se manter em

equilíbrio, caso contrário o desequilíbrio será manifestado de diversas formas, de acordo

com o órgão afetado. São inúmeras as conexões, bastante complexas que garantem a

eficiência dessa função.

A compreensão desse sistema exige o reconhecimento dos elementos

constitutivos da sua anatomia, dentre eles a orelha que se destaca por suas funções

garantidas por vários componentes.

Cabe destacar, com relação a esses componentes, que na orelha interna se

encontra o labirinto, principal elemento se tratando da disfunção vestibular. O labirinto

é dividido em uma parte membranosa e outra parte óssea, está localizado na orelha

interna e na parte interior do rochedo temporal.

Anatomicamente, a orelha é dividida em um componente externo, um médio e outro interno, sendo constituída pelo pavilhão auricular, conduto auditivo externo e membrana timpânica. (...) Sua porção externa é formada pelo esqueleto ósseo ebúrneo denominado labirinto ósseo, o qual contém no

18

seu anterior o labirinto membranoso (BRASILEIRO, 2002, p. 1018).

Na parte membranosa do labirinto está presente a endolinfa, líquido que

acompanha a movimentação da cabeça, se tornando indispensável para as informações

de manutenção do equilíbrio. As formações do labirinto membranoso se comunicam

entre si formando o sistema endolinfático. Qualquer movimentação da cabeça gera

consequentemente, a movimentação da endolinfa, o que resulta na condição de

equilíbrio.

O labirinto ósseo é subdividido em dois segmentos, o anterior e posterior. A

porção anterior contém a cóclea com função auditiva. E a porção posterior é formada

pelo aparelho vestibular, constituído pelos canais semicirculares e o vestíbulo,

responsáveis pelo equilíbrio corporal.

O vestíbulo possui vesículas membranosas, designadas utrículo e sáculo, cuja

composição lhe garante a capacidade de responder a estímulos sensoriais. Brasileiro

(2002, p. 1019) descreve sobre estas especificidades: “O utrículo e o sáculo apresentam

otólitos (formações de carbonato de cálcio), nas suas áreas sensoriais, sendo, portanto

capazes de detectar acelerações lineares, como a gravidade”.

A caracterização da estrutura anatômica do sistema vestibular é imprescindível

para o estudo do objeto desta pesquisa. Sua estrutura compõe-se do sistema vestibular

periférico e sistema vestibular central. O sistema vestibular periférico é constituído

pelos canais semicirculares, o sáculo, o utrículo e os nervos vestibulares superiores e

inferiores. Já o sistema vestibular central tem origem a partir dos núcleos vestibulares

que estabelecem sinapses, ou seja, ligações, com as fibras dos nervos vestibulares.

19

Segundo Machado (2001), os canais semicirculares são fundamentais porque

atua em sintonia com todos os planos do nosso corpo, horizontal, vertical e antero-

posterior. Por isso é que, conforme dito anteriormente, a mudança de posição da cabeça

gera a movimentação da endolinfa presente no interior desses canais, o que provoca o

deslocamento dos cílios das células sensoriais existente na crista ampular situada na

extremidade do utrículo.

1.1.2 – FISIOLOGIA

O sistema vestibular responde constantemente a estímulos, em condições

normais, com o corpo parado ou em movimento. E tem por função proporcionar a

manutenção do equilíbrio constante.

Equilíbrio é a capacidade de manutenção da postura mesmo quando os

movimentos realizados pelo nosso corpo são adversos. A maior parte das funções do

equilíbrio é de natureza reflexa, sendo consciente apenas as nossas correções posturais.

O conjunto de mecanismos que processa essa condição de equilíbrio é praticamente

inconsciente, se dando de forma automática.

Autores como Freitas (2002) conceituam o equilíbrio como o controle postural

realizado pelo sistema nervoso central, garantindo a movimentação muscular necessária

para coordenar a relação entre o centro de massa corporal (CdM) e a base de suporte do

nosso corpo (BdS).

De acordo com o autor citado anteriormente, o CdM está localizado

anteriormente à segunda vértebra sacral, sobre a BdS ou seu limite de estabilidade, que

20

representa a área contida entre os pés na posição ereta.O controle postural é um

processo complexo que envolve os esforços conjugados dos sistemas sensoriais.

A manutenção do equilíbrio feita pelo sistema vestibular transforma as forças

provocadas pela movimentação da cabeça em relação à gravidade no sinal biológico que

informa os centros nervosos sobre esta movimentação e posição no espaço, iniciando os

reflexos necessários para a estabilização do olho, da cabeça e do corpo.

É valido ressaltar que o sistema ocular, o sistema osteomuscular incluindo a pele

com seus receptores possuem importante influência na manutenção do equilíbrio,

atuando em sintonia e ajudando o sistema vestibular na realização desta função.

O movimento da cabeça altera o repouso dos labirintos: quando um é excitado o

outro é inibido. Essa informação levada aos músculos do sistema ocular a produzirem o

movimento compensatório e linear de cabeça; na seqüência, as células motoras da

medula espinhal reajustam o tônus dos músculos do corpo todo para a nova posição,

garantindo o equilíbrio.

Portanto, o sistema vestibular é nosso centro de controle indispensável para a

manutenção do controle postural, exercendo a difícil função de processar as

informações sensoriais a partir da movimentação da cabeça e dos movimentos posturais

bruscos.

Assim, a estimulação excessiva ou o mau funcionamento desse sistema é

denominado disfunção vestibular a qual que gera sintomas típicos como a vertigem, a

movimentação errada dos olhos, náuseas, vômitos, sudorese e outras sensações que

causam desconforto às pessoas acometidas por esta disfunção.

21

1.2 – DISFUNÇÃO VESTIBULAR

É extremamente necessária uma avaliação completa para identificar a origem e

as causas específicas que provocam a disfunção vestibular e resultam em queixas do

paciente envolvendo sintomas como vertigem, náuseas, zumbidos e desequilíbrio.

O histórico do paciente apresentando esta sintomatologia específica, juntamente

com uma avaliação otoneurológica detalhada é de suma importância para o diagnóstico

da disfunção vestibular. A definição do tratamento medicamentoso e clínico apropriado

para intervenção dependerá deste diagnóstico, que se constitui na principal referência de

todos os processos médicos e de outros procedimentos pertinentes.

A vertigem de um modo geral pode também acompanhar outras síndromes além

da disfunção vestibular e pode surgir em qualquer fase da vida. É conceituada como a

sensação errada de movimento, e pode ser de origem central ou periférica, possuindo

sintomas bastante similares entre si.

Nas síndromes de origem central especificamente são observados sinais

neurológicos como ausência de coordenação nos movimentos musculares voluntários

(ataxia), percepção de duas imagens a partir de um único objeto (diplopia), alterações da

articulação da fala (disartria), distúrbios de deglutição (disfagia) e fraqueza para a

realização dos movimentos corporais.

Já nas síndromes periféricas podem estar presentes sintomas como a perda da

audição, zumbidos no ouvido, pressão ou desconforto auditivo e alterações

neurovegetativas como náuseas e vômitos.

22

Portanto, os distúrbios vestibulares podem ser de origem central ou de origem

periférica, os quais incluem especificações próprias quanto às manifestações de seus

sintomas, explicitadas detalhadamente no estudo feito por Delisa et al (2002), no qual se

baseia a especificação sintetizada a seguir.

No que se refere aos distúrbios de origem central encontramos as seguintes

patologias: isquemia vértebro-básilar e enxaqueca, ataques isquêmicos transitórios do

território vértebro-básilar e vertigens fisiológicas.

É valido destacar de acordo com Delisa et al (2002) a isquemia vértebro-básilar,

causada por uma compressão da artéria vertebral, já os ataques isquêmicos transitório

são os denominados AVC (acidente vascular cerebral) e o mais comum deles é a

vertigem fisiológica gerada por uma movimentação não familiar ao corpo como, por

exemplo, a experimentada em transportes como carro, navio e avião.

Aos distúrbios vestibulares periféricos correspondem sintomas como a vertigem

postural paroxística benigna (VPPB), falência vestibular súbita, doença de Ménoère,

fistula perilinfática, vertigem postural incapacitante, disfunções vestibulares bilaterais,

labirintite bacteriana, neurioma do acústico e tumor de angulo pontocerebelar e

vertigens por drogas.

Dentre todas essas patologias é importante ressaltar a vertigem postural

paroxística benigna (VPPB) tipo mais comum, de acordo com Delisa et al (2002) este

distúrbio pode ser gerado por um trauma, infecções virais, alterações isquêmicas ou

degenerativas. Os acometidos se queixam de vertigens quando realizam movimentos

rápidos com a cabeça, geralmente ao virar na cama, deitar, levantar e nas mudanças de

olhares.

23

Estudos feitos por Freitas (2002) sobre a fisiopatologia do sistema vestibular

destacam que as alterações anatômicas e fisiológicas típicas do envelhecimento

contribuem para o surgimento da disfunção vestibular, pois com o aumento da idade

ocorre à degeneração deste sistema, gerando lentidão nas respostas reflexas que

promove o equilíbrio, assunto que será abordado no decorrer deste estudo.

1.2.1 – SISTEMA VESTIBULAR E ENVELHECIMENTO

A disfunção vestibular em idosos e sua repercussão no contexto familiar e social,

objeto de estudo desta pesquisa constituem temas de interesse que se localizam na

interface da Geriatria e Gerontologia por sua estreita relação com o processo de

envelhecimento e as influências que exercem na condição de vida desse segmento.

O envelhecimento populacional mundial, de um modo geral, está ocorrendo

aceleradamente, em conjunto como aumento significativo de doenças crônico-

degenerativas, que hoje através dos avanços da área da saúde, já são bastante

controladas.

A expectativa de maior qualidade de vida e maior participação da população

idosa, no ambiente social e familiar, é uma realidade incontestável. O novo perfil das

famílias revela também uma nova forma de integração e participação do idoso nesse

contexto.

A família mudou e os velhos também. Novos arranjos estão surgindo. (...) Existem as chefiadas por idosos, mas todas buscam reproduzir muitas vezes aquele modelo idealizado de um lugar sem conflitos (MEDEIROS, 2004, p 192).

24

Frente à resistência às mudanças, temos que começar dentro do ambiente

familiar a nos preparar para a velhice, já que desde a nossa concepção estamos

envelhecendo, em um processo que se desencadeia até o final da vida, gerando

alterações estruturais e fisiológicas nos indivíduos.

Autores como Papaleo (1996) descrevem o envelhecimento como o processo

dinâmico e progressivo onde há modificações tanto morfológicas como funcionais

bioquímicas e psicológicas que determinam progressivas mudanças na capacidade de

adaptação do indivíduo ao meio ambiente. Ocorre, também, uma maior vulnerabilidade

e aumento da incidência de processos patológicos.

Ainda com base no referido autor, alterações na forma do corpo começam a

aparecer, dentre elas a perda da estatura, o aumento das curvaturas da coluna e o

aumento do diâmetro da caixa torácica. Ocorre também, a diminuição do teor de água

do corpo pela perda intracelular desse componente e perda de massa muscular que se

torna cada vez mais evidente.

As alterações funcionais e estruturais variam de um indivíduo a outro, e são

visivelmente observadas nos idosos nos estágios mais avançados do seu processo de

envelhecimento. A força muscular também se enfraquece, a marcha fica mais lenta com

a diminuição dos movimentos associados, os reflexos ficam prejudicados e podem ser

notadas falhas na memória.

Complementando as descrições sobre os sinais do envelhecimento feitas ainda

por Papaleo (1996) outras características também se evidenciam na velhice. Alterações

no sistema hormonal podem gerar a diminuição de células ciliares do aparelho

vestibular, um dos fatores responsáveis pela disfunção vestibular.

25

A disfunção vestibular assume particular importância no processo de

envelhecimento, pois o aumento da idade é proporcional ao aparecimento de múltiplos

sintomas otoneurológicos. A vertigem, a perda auditiva, o zumbido, as alterações do

equilíbrio corporal, os distúrbios da marcha e as quedas ocasionais, sintomas que

caracterizam o quadro clínico da disfunção vestibular, afetam sensivelmente a condição

de vida das pessoas idosas.

A vertigem e o desequilíbrio são considerados parte importante das síndromes

geriátricas. Suas origens são multifatoriais e ocorrem do efeito acumulativo dos déficits

nos múltiplos sistemas, acometendo idosos por tornarem-se mais vulneráveis a

episódios de vertigens e desequilíbrio devido todas as alterações provenientes do

envelhecimento como observado anteriormente.

O controle do equilíbrio corporal depende da integração dos vários sistemas

corporais sob o comando central. O desempenho desses sistemas reflete diretamente nas

habilidades do indivíduo em sua capacidade funcional para realizar tarefas cotidianas.

Dentre as modificações no sistema vestibular, provenientes do processo de

envelhecimento, destacam-se a perda da qualidade e da funcionalidade das células

ciliadas, a redução na formação dos cristais de carbonato de cálcio presentes no utrículo

e no sáculo e dos neurônios dos núcleos vestibulares, alterações em neurotransmissores,

diminuição da eficácia de excitação do sistema vestibular periférico e central, além da

perda da eficiência dos reflexos vestíbulo-ocular e vestibuloespinhal.

Assim, com o envelhecimento ocorre um desgaste natural das estruturas

presentes no sistema vestibular e, como conseqüência, pode surgir às vertigens e o

26

desequilíbrio. Além disso, o idoso pode ser acometido de outras doenças que podem

comprometer o funcionamento do sistema de equilíbrio corporal, como aquelas ligadas

ao sistema osteomuscular, o que agrava as tonturas e sua predisposição às quedas.

O conhecimento da funcionalidade do equilíbrio em idosos com disfunção

vestibular crônica e a identificação de sintomas associados à perda do equilíbrio nestes

indivíduos permitem o desenvolvimento de programas específicos de prevenção,

tratamento e reabilitação, visando à manutenção da autonomia e a preservação da

independência do idoso, por maior tempo possível ou por toda a sua vida.

As alterações geradas pelo envelhecimento abordadas anteriormente, devem ser

consideradas na diversidade da sua forma de manifestação na velhice, pois as mesmas

são geradoras de disfunções que não devem ser generalizadas, pois podem, inclusive,

não acontecer com todas as pessoas que envelhecem.

Mesmo sendo portador de doenças, devemos dar condições para que o idoso não

perca sua capacidade de participação nas atividades que realizava durante a sua vida

como também pode desenvolver outras potencialidades engajando-se em novos

projetos. A população idosa não deve ser isolada de seu ambiente familiar e social, mas

devem-se buscar novas formas de adaptação às mudanças que podem ocorrer com sua

saúde.

As expectativas decorrentes da condição de vida na velhice exigem novas

formas de pensar o cotidiano dos idosos, considerando que os mesmos podem e devem

reagir, mesmo quando acometidos de doenças como as decorrentes da disfunção

vestibular. Seu potencial deve ser reconhecido e estimulado. Beauvoir (1970) destaca

essa concepção:

27

É o homem inteiro que é preciso refazer, são todas as relações entre os homens que é preciso recriar, se quisermos que a condição do velho seja aceitável. Um homem não deveria chegar ao fim da vida com as mãos vazias, e solitárias. Se a cultura não fosse um saber inerte, adquirido de uma vez por todas e depois esquecido; se fosse prática e viva; se através dela, o individuo tivesse sobre o seu meio um poder que se realizasse e se renovasse ao longo dos anos, em todas as idades ele seria um cidadão ativo, útil (...) (BEAUVOIR, 1970, p. 664-665).

Admitir a idéia do ser idoso como alguém em constante mudança é reconhecer

que o entendimento do processo de envelhecimento e da pessoa que envelhece deve ser

multidimensional, visando uma concepção de totalidade dessa população.

Todas as alterações geradas com o envelhecimento, em particular aquelas

resultantes da disfunção vestibular, não devem assustar, mais sim, estimular um

entendimento da necessidade de adaptação, prevenção e da busca constante para a

melhor compreensão do funcionamento do nosso corpo, das alterações que surgem

constantemente, o que permite delinear com objetividade progressiva as possibilidades

de maior qualidade de vida, entendida em seu sentido amplo como aponta Ramos

(2005):

Embora a grande maioria dos idosos seja portadora de pelo menos uma doença crônica, nem todos ficam limitados por esse motivo, e muitos levam vida perfeitamente normal, com as suas enfermidades controladas e expressa satisfação. Um idoso com uma ou mais doenças crônicas pode ser considerado saudável, se comparando com um idoso com as mesmas doenças, porém sem controle das mesmas, com seqüelas decorrentes e incapacidades associadas. (RAMOS, 2005, p.2).

Os paradigmas norteadores da vida saudável devem ser revistos para que se

possa evitar o isolamento dos idosos, tanto nos ambientes sociais quanto no familiar,

agravando ainda mais as alterações fisiológicas trazidas com o envelhecimento e

28

colocando em risco sua autonomia, requisito essencial para enfrentar desafios colocados

pelas novas situações e condições de vida.

Na verdade, o que está em jogo na velhice é a autonomia, ou seja, a capacidade de determinar e executar seus próprios designos. Qualquer pessoa que chegue aos 80 anos capaz de gerir sua própria vida e determinar quando, onde e como se darão suas atividades (...), certamente será considerado saudável. (RAMOS, 2005, p. 2).

O conhecimento multidimensional do envelhecimento em conjunto com recursos

avançados existentes atualmente na área da saúde, como as formas de tratamento,

colabora para que as alterações provenientes do envelhecimento deixem de ser um

desconforto e passem a ser um incentivo para a superação e constante busca do

desenvolvimento e da vida plena.

1.2.2 - FORMAS DE TRATAMENTO

A alteração do equilíbrio corporal é uma das principais causas de consulta

médica geriátrica, assim como das quedas em idosos e, frequentemente, o maior motivo

de inatividade desse segmento seja no espaço social ou familiar. De um modo geral

tratamentos de diferentes tipos se fazem necessários e devem ser projetados

considerando as singularidades de cada caso.

O tratamento dos diversos distúrbios vestibulares deve ser direcionado

considerando-se a origem do problema, para ser solucionado com maior eficácia,

possibilitando a diminuição e, se possível, a extinção dos sintomas decorrentes da

disfunção, que prejudicam o desempenho nas atividades de vida diária e alteraram a

qualidade de vida do idoso.

29

Existem três formas de tratamento para as disfunções labirínticas: a

medicamentosa, a cirúrgica e a reabilitação vestibular. Mudanças de hábitos e vícios

como (tabagismo, alcoolismo, má alimentação) e acompanhamento psicológico, devem

ser consideradas, dependendo das necessidades apontadas no diagnóstico.

Inicialmente deve-se diagnosticar e eliminar as causas da vertigem, através do

uso de medicamentos antivertiginosos, que têm função depressora do sistema

labiríntico. A escolha do medicamento deve ser feita de acordo com o diagnóstico e das

reações do organismo de cada indivíduo.

Os hábitos alimentares do paciente também devem receber atenção durante o

período de tratamento clínico, pois o consumo de alguns alimentos pode agravar a

vertigem e os sintomas associados. Como exemplo pode-se citar o café, álcool, açucares

de rápida absorção e o uso do fumo.

A reabilitação vestibular reputada como melhor tratamento terapêutico, é

realizada com ou sem auxílio de medicamentos; esse procedimento é imprescindível,

para a maioria dos fisioterapeutas e outros profissionais da saúde.

Na fisioterapia, a reabilitação vestibular é extremamente importante uma vez que

esses distúrbios afetam o individuo causando um déficit de equilíbrio acentuado. As

metas da reabilitação são: resolver déficits agudos ou reversíveis, compensar déficits

irreversíveis, minimizar a carga de déficit crônico e diminuir o perigo de quedas para

restaurar a mobilidade segura e ereta, promovendo a independência.

A reabilitação como um recurso terapêutico da Fisioterapia, deve ser aplicada

como tratamento de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal, sendo a proposta

30

de atuação baseada nos mecanismos relacionados à plasticidade neuronal do sistema

nervoso central promovendo a estabilização visual e melhorando a interação vestíbulo-

visual durante a movimentação da cabeça, ampliando a estabilidade postural estática e

dinâmica nas condições que produzem informações sensoriais conflitantes.

A compensação vestibular é definida como o mecanismo de recuperação

funcional do equilíbrio corporal e consiste numa série de eventos que regularizam a

harmonia das respostas vestibulares.

A melhora do paciente é obtida em função das adaptações neurais multifatoriais,

substituições sensoriais, recuperação funcional dos reflexos vestíbulo-ocular e

vestíbulo-espinal, pelo condicionamento global, alteração do estilo de vida e efeito

psicológico positivo com a recuperação da segurança física e psíquica.

Quando aplicada por equipes multidisciplinares, incluindo além de

fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos e psicólogos, a reabilitação vestibular obtém

melhores resultados. Essa equipe deverá ter como principal objetivo a melhora do

equilíbrio global, da qualidade de vida e a restauração da orientação postural por meio

de exercícios que estimulam a adaptação.

Portadores da disfunção vestibular que realizam a reabilitação vestibular de

forma supervisionada e são medicados com drogas antivertiginosas como complemento

terapêutico, acabam eliminando as vertigens de forma rápida e completa.

É necessário destacar que o sucesso do tratamento necessita da cooperação e da

participação ativa do paciente, para se alcançar resultados mais satisfatórios. A

31

abordagem cirúrgica para tratamento da vertigem é usada somente em casos de tumores

e fracassos do tratamento clínico em patologias específicas.

Podemos então observar, que estas alterações do sistema vestibular que

aparecem com o envelhecimento, são de fácil abordagem e tratamento. Como parte da

uma ação multidisciplinar, esses procedimentos e cuidados deverão proporcionar

melhora na expectativa de vida das pessoas envolvidas, que passarão a viver com maior

qualidade desempenhando ativamente seu papel dentro da sociedade em todos os

ambientes de convivência, inclusive o grupo familiar.

32

CAPÍTULO II: VELHICE, SAÚDE E CONVIVÊNCIA DE IDOSOS

Estamos vivendo um processo evolutivo caracterizado por uma progressiva

queda da mortalidade em todas as faixas etárias, e conseqüente aumento da expectativa

de vida da população, conforme apontado anteriormente.

O investimento na promoção da saúde em geral, para prevenir a morte prematura

e aumentar a expectativa de vida da população, igualando nossos patamares aos dos

países desenvolvidos, mostram a queda progressiva da mortalidade, contribuindo para

essa realidade.

Há um enorme desafio neste início de século em relação ao aumento da

população idosa, o que demanda novas formas de convivência e atuação profissional em

todas as áreas, e em especial na saúde.

Diante desse cenário torna-se também necessário investir em novas políticas

públicas que proporcionam melhores condições e qualidade de vida saudável para a

população idosa que cresce progressivamente e vem assumindo novos papéis dentro da

sociedade contemporânea.

À medida que os indivíduos envelhecem participando ativamente em diferentes

ambientes como: familiar, social, cultural e político da sociedade, tendo ocupações

remuneradas ou não, há uma grande possibilidade de diminuição dos gastos com

tratamentos médicos e serviços de assistência.

33

Programas e políticas de envelhecimento ativo reconhecem a importância do

desenvolvimento da responsabilidade pessoal, do cuidado consigo mesmo e da criação

de ambientes adequados às necessidades e interesses individuais e propiciadores à

interação entre gerações, incentivando o respeito e a ajuda mútua entre as pessoas.

Os indivíduos e as famílias precisam planejar e se preparar para a velhice.

Precisam também se esforçar para que seja adotada uma postura de práticas saudáveis

em todas as fases da vida, possibilitadora de um desenvolvimento pessoal integral. Ao

mesmo tempo, é necessário que os ambientes de apoio sejam cada vez mais facilitadores

da vida saudável e que sejam acessíveis a todos.

Há múltiplas razões para a criação de programas e políticas que promovam o

envelhecimento ativo, enfatizando a participação dos idosos na sociedade e em seu

ambiente familiar. Podemos observar que as pessoas que se mantêm saudáveis, ativas e

participativas no decorrer do seu processo de envelhecimento enfrentam menos

problemas para continuar a trabalhar e exercer suas atividades de vida.

O envelhecimento da população demanda a necessidade de políticas públicas

próprias para os indivíduos que atingem a velhice com boa saúde e aptos para o

trabalho. O que compensaria os custos com pensões e aposentadorias, proveniente do

incentivo à aposentadoria precoce dos países industrializados, além de minimizar os

gastos com medicamentos.

Para que os idosos busquem seus direitos, nessa realidade e assumam seus

deveres junto à sociedade e no seu meio familiar, é indispensável o autoconhecimento

inclusive das alterações fisiológicas trazidas com o envelhecimento. A necessidade de

adaptação frente a essas mudanças deve ser reconhecida de forma positiva, como parte

das atividades do seu cotidiano e de seus projetos.

34

Os sintomas gerados pela disfunção vestibular, já tratado no capitulo anterior,

podem provocar ou intensificar esse processo de esvaziamento de papéis e impedir a

participação ativa desses idosos nos ambientes em que estejam inseridos.

Por falta de estrutura ou até mesmo de conhecimento do problema, os

familiares, podem não ter condições de acolher seus idosos, que passam a ser vistos

como um peso. Essas atitudes são reforçadas por valores predominantes na sociedade

atual que tem a juventude como objeto de desejo da maioria das pessoas e como

segmento visado nos investimentos dos programas de políticas públicas.

Assim, Beauvoir apud Medeiros (2004 p. 188), enfatiza a forma equivocada que

a sociedade vê seus idosos, visão ainda persistente, apesar das mudanças de concepções

e práticas voltadas para a população idosa.

Os homens eludem os aspectos de sua natureza que lhes desagradam. E, estranhamente, a velhice. (...) Há apenas pessoas menos jovens do que as outras, e nada mais. Para a sociedade, a velhice aparece como uma espécie de segredo vergonhoso, do qual é indecente falar. (...) Com relação às pessoas idosas, essa sociedade não é apenas culpada, mas criminosa. Abrigada por trás dos mitos da expansão e da abundância, trata os velhos como párias.

Tanto a família como o próprio individuo que envelhece deve rever

constantemente seu entendimento sobre os valores da velhice, portando-se de maneira

positiva frente a essa fase de vida, priorizando seu potencial de desenvolvimento e sua

capacidade de vivenciar novos projetos. Esses aspectos são mais bem compreendidos

com base nos conhecimentos gerontológicos que propiciam uma visão critica sobre o

envelhecimento, a velhice e a vida pessoal e social do idoso.

35

As pesquisas realizadas na área da gerontologia têm examinado as alterações que

vem ocorrendo nas configurações familiares e o aumento da variação dos arranjos de

papéis familiares, que tem tido influência na condição de vida do idoso na sociedade

atual.

É fato que o envelhecimento, por se tornar uma realidade de vida cotidiana e um

tema acadêmico, permite comprovações sobre o aumento do número de idosos, e a

divulgação de estudos sobre a sua participação na vida social, o que tem aberto

caminhos para um melhor entendimento da situação da velhice na realidade brasileira.

A pesquisa realizada pelo IBGE, em 2000, traça o perfil dos idosos no Brasil

apontando dados interessantes como o fato de que os idosos contribuem para o aumento

da renda familiar, assumem a responsabilidade por domicílios e contribuem no processo

de crescimento econômico e desenvolvimento social do país.

Esses dados mostram a mudança da realidade na identificação do segmento

idoso na sociedade, enfatizando com isso, a importância de não priorizarmos somente

os aspectos negativos do envelhecimento, mas a necessidade de reafirmação da idéia de

que com conhecimento e assistência adequada todos os idosos podem e devem

continuar participando e realizando novos projetos na velhice.

36

2.1 – ENVELHECIMENTO E A RELAÇÃO NORMAL / PATOLÓGICO

O processo de envelhecimento, conforme explicitado anteriormente, vem

acompanhado de várias alterações fisiológicas, psicológicas e anatômicas que conferem

aos idosos características específicas tanto na dimensão pessoal, individual como

coletiva.

O conflito entre normal e patológico está constantemente presente no processo

de envelhecer, o que resulta na necessidade de conhecer os diferentes tipos de mudança

presentes na vida dos envelhecentes para melhor compreensão da fase velhice.

Outro aspecto que merece relevância é que as mudanças que ocorrem no

processo de envelhecimento são continuas, alterando várias funções do corpo, como

destacado por Spence (1991). A singularidade é um atributo deste processo, de extrema

importância, pois cada idoso possui a “sua” velhice, conceito fundamental para a

caracterização da condição de vida desses indivíduos, de modo geral, inclusive quanto à

sua saúde.

A concepção da existência das diversas formas de velhice foi analisada pela

gerontologia e tem, ajudado significativamente os profissionais da área da saúde para

compreender seus pacientes de maneira mais individualizada, evitando as

generalizações que impõem visões distorcidas sobre os idosos e a velhice. Terra (2001,

p. 194) destaca neste sentido:

Tendências de passar de “normas de envelhecimento” para “formas de envelhecimento” (surgimento da gerontologia diferencial), enfocando as diferenças individuais, mostrando que as diferenças entre os indivíduos aumentam com o processo de envelhecimento (...).

37

Para os profissionais da saúde que atendem pacientes idosos, é muito importante

o conhecimento das alterações fisiológicas do envelhecimento, denominadas

senescência, para que sejam diferenciadas do envelhecimento patológico ou senilidade.

Conhecer o considerado normal e o considerado patológico e fazer a distinção

entre eles podem ser difícil, pois muitas vezes esses conceitos se confundem e, portanto,

não se deve, generalizar a velhice como a fase de doenças, pois, muitas vezes, estas são

passíveis de tratamento e cura.

O envelhecimento é um processo natural da vida e, para entendê-lo devidamente,

devemos avaliar como os fatos que o caracteriza surgem e se desenvolvem. A má

compreensão desses acontecimentos leva estudiosos, profissionais e os próprios idosos a

associarem a fase da velhice somente a doenças, subestimando ou aniquilando os

potenciais existentes que podem e devem ser estimulados ao longo de toda a vida.

As variações que ocorrem no processo de envelhecimento dependem de fatores

genéticos, psicológicos e os relativos às condições culturais e de estilos de vida das

pessoas. Este processo que deve ser analisado do ponto de vista cronológico, biológico,

funcional, psíquico e social, contemplando as especificidades diferenciadoras das suas

formas de manifestação.

Ao nascer, biologicamente o envelhecimento se inicia. Funcionalmente, o

indivíduo fica velho quando perde a sua independência precisando de ajuda para

desempenhar suas necessidades básicas. Psiquicamente o individuo fica velho quando

suas faculdades cognitivas começam a falhar, apresentando problemas de memória,

atenção, orientação e concentração. Socialmente a velhice vai variar de acordo com o

momento histórico e cultural.

38

A abordagem do envelhecimento a partir de diferentes pontos de vista é

desenvolvida por autores como Carvalho Filho (1996), quando ressalta que o

envelhecimento ocorre de formas variadas, independentemente da idade da pessoa.

Existem indivíduos que, aos 80 anos, estão em plena atividade, apesar de todas as

vicissitudes impostas pela idade, ao passo que pessoas que ainda não chegaram aos 60

anos encontram-se em estado de total desanimo.

Algumas idéias contribuem para a concretização negativa da velhice quando

conceitua o envelhecimento somente como um processo dinâmico e progressivo com

alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, que mudam progressivamente o

organismo dando susceptibilidade às agressões intrínsecas e extrínsecas que terminam

por levá-lo à morte.

O processo de envelhecimento, marcado por declínios funcionais, geralmente

torna-se mais perceptível para os idosos, que frequentemente, reagem a esta situação,

associando o envelhecer à doença. A realidade sócio-cultural vivida pelos idosos impõe

valores que sustentam seus padrões de exclusão responsáveis por essa visão, dando

ênfase à relação envelhecimento e doença.

A capacidade de adaptação às novas condições de vida, com o surgimento ou

não de doenças, é de fundamental importância e faz com que o envelhecimento não seja

vivido como processo indesejável. A educação ao longo da vida torna-se relevante para

o desenvolvimento de uma vida saudável e digna, fazendo com que o indivíduo seja

capaz de aprender a conviver com situações diversas.

Devemos reconhecer como um grande desafio o número de pessoas idosas

incapacitadas que por conta de seus déficits, se isolam e comprometem sua capacidade

de participação e reação frente aos problemas diários. Pessoas que, diante de suas

39

limitações, se tornam dependentes dos cuidados de outras pessoas que nem sempre

estão preparadas para incentivar o exercício de autonomia do idoso.

O fenômeno do aumento da população envelhecida presente nas sociedades

atuais, revela-se profundamente desafiante para os cidadãos idosos e não idosos frente

às novas expectativas, comportamento e valores, determinando a necessidade de novas

formas de relacionamento entre a sociedade e sujeito.

Essas reflexões sobre o envelhecimento expressam as idéias conflitantes

existentes e a polêmica sobre o entendimento da relação normal e patológico,

considerando que precisamos continuamente elucidar a distinção entre saúde e doença

nesse processo de envelhecer que é histórico e se relaciona à realidade da longevidade.

Mesmo tendo como foco central deste estudo a doença, não partilhamos da idéia

de reduzir o sentido da velhice a essa dimensão. Reconhecemos a necessidade de um

contínuo exercício de reflexão para construir a idéia de velhices, considerando a

contextualização dessa fase da vida numa abordagem que articula as dimensões

biológicas às sócio-culturais.

Porém, não podemos deixar de abordar uma das funções do nosso corpo mais

comprometidas com o envelhecimento, e a mais importante para esta pesquisa, que é a

diminuição da capacidade do individuo manter-se em equilíbrio na posição ortostática.

Alteração justificada pelo fato de que a posição ortostática é um evento dinâmico, o

corpo obrigatoriamente tem que realizar movimentos involuntários constantes, mesmo

quando parado.

40

Para a preservação do equilíbrio nessa posição ortostática, os mecanismos

neuromusculares corretivos devem estar íntegros para que as respostas estáticas e

dinâmicas desses movimentos involuntários sejam eficientes.

Com o envelhecimento é normal que esses mecanismos neuromusculares se

apresentem com certa lentidão, provocando um notável desequilíbrio quando o idoso

está em pé, em movimento ou parado, tornando esta a principal queixa desse segmento.

Essa condição é limitante para a motivação e tomada de decisões das pessoas

acometidas quanto as suas opções por uma vida participativa e com convivência social.

2.2 – DISFUNÇÃO VESTIBULAR E O CONVÍVIO DE IDOSOS

Pessoas que apresentam disfunção vestibular, seja ela causada por processo

patológico ou como decorrência do envelhecimento normal do organismo, se queixam

de dificuldades na marcha e no equilíbrio, e freqüentemente relatam episódios de

vertigem. Todos esses fatores imputam ao indivíduo um aumento significativo do risco

de quedas, o que para o idoso, em particular, representa alterações no seu contexto

familiar e social.

Como acometimento que afeta a população idosa como decorrência das

alterações provenientes do processo de envelhecimento, a disfunção vestibular é

caracterizada por Delisa et al (2002 p. 1851), que destaca as seguintes repercussões:

“Tontura, vertigem e problemas de falta de equilíbrio, têm um impacto negativo na habilidade do idoso para executar rotinas cotidianas e viver independentemente. Em geral, a manutenção do equilíbrio e da postura ereta não requer esforço consciente. Os sistemas visual, vestibular e sensoriomotor têm importante papel de fornecer informações precisas e muito rápidas que são integradas ao cérebro, que precisa ignorar as

41

informações errôneas e selecionar informações confiáveis ao executar a atividade motora coordenada para o controle postural”.

Cabe aos membros da família e à sociedade entender o idoso em seu processo de

vida, conhecer suas fragilidades e limitações, assim como suas potencialidades,

modificando sua visão e atitude sobre o envelhecimento e a velhice. Devem-se garantir

as condições necessárias para que ele possa interagir em relação de igualdade junto ao

grupo familiar e em outros ambientes sociais.

Historicamente, podemos observar que na antiguidade, os idosos tinham papel

principal na estrutura familiar e nas sociedades patriarcais que cresciam ao redor da

experiência dos mais velhos. Hoje o núcleo familiar está mais voltado para o casal e

seus filhos, com redução do espaço destinado aos idosos, característica apontada por

Medeiros (2004, p. 188) quando aborda a mudanças dessa estrutura:

Os netos “sabem” mais que os avos. Nas famílias, o lugar dos mais velhos, que sabiam mais “das coisas da vida”, foi sendo ocupado pelos mais jovens, que dominavam o manejo de aparelhos e computadores com extrema destreza.

Embora alguns idosos, incomodados com esta nova condição, tentem a viver

sozinhos, quando acometidos por doenças, que em alguns casos chegam com o

envelhecimento, como a disfunção vestibular, tornam-se dependentes necessitando de

cuidados específicos.

Recentemente, vivemos em um período importante de transição, mudanças, e

complexidade cujo cenário exige a compreensão das transformações sociais e culturais

que vêm se desenvolvendo nos últimos anos. No entanto, qualquer que seja a estrutura

42

de organização da família do futuro, há a necessidade de se manterem os vínculos

afetivos entre seus membros e o idoso.

Vivendo por mais tempo, o idoso tem a necessidade de sentir-se valorizado, ter

sua dignidade respeitada, receber atenção e carinho de seus familiares. A família só tem

a ganhar quando pode cuidar de seus idosos, que não só contribuíram para a

estruturação familiar, como também podem servir de referência de valores, ajudando

com isso o fortalecimento de novas gerações.

É fundamental que o idoso aprenda a lidar com as transformações do seu corpo

na velhice, mantenha sua autonomia mesmo com patologias como a disfunção

vestibular. Hábitos de vida como a prática de exercícios físicos, boa alimentação,

extinção de fumo e bebidas alcoólicas, podem colaborar para que essa autonomia seja

preservada mesmo com a longevidade.

Profissionais da área da saúde, de modo geral, defendem que exercícios

adequados e regulares ajudam a manter o peso ideal, regulam as funções

cardiorespiratórias, fortalecem a musculatura e dão mais equilíbrio ao corpo,

proporcionando aos idosos melhor qualidade de vida e adaptação as alterações

provenientes do envelhecimento, principalmente para aqueles acometidos com a

disfunção vestibular, que se queixam principalmente de perda do equilíbrio e medo de

queda.

Além disso, os exercícios físicos fazem com que o sangue circule melhor e

levando mais oxigênio para todas as partes do corpo, reduzindo o colesterol ruim, que

obstrui artérias, elevando o nível de colesterol bom, importante no combate das doenças

cardíacas e favorecendo, assim, o estado de saúde dos praticantes de modo geral,

inclusive os idosos.

43

Em conjunto com os exercícios físicos regulares e o tratamento medicamentoso,

a atividade realizada pela fisioterapia na reabilitação vestibular, pode estimular os

idosos a se tornarem cada vez mais ativos, controlando o desequilíbrio, as vertigens, o

medo de queda, enfim, toda a sintomatologia da disfunção que gera perda de autonomia

desse segmento, diminuindo com isso sua qualidade de vida.

A tendência das pessoas idosas é reduzir em suas atividades sociais, restrita em

visitar amigos doentes, ir à igreja, visitar netos e filhos. A família também contribui

para essa situação, pois isolam o idoso devido suas limitações físicas, fato enfatizado

por Medeiros (2004, p. 186) quando destaca: “O interessante, porém, foi que, ao mesmo

tempo em que a longevidade se tornou real, os velhos começaram a perder espaço na família e

na sociedade”.

O aumento da dependência do idoso em relação aos seus familiares devido à

fragilidade física que às vezes se faz presente, contribui para a concretização da idéia

descrita por Saad apud Alonso (2005, p. 41):

(...) Em outras ocasiões, é a saúde física e mental o fator de peso, sendo fundamental a questão da autonomia: o indivíduo passa a ser visto como idoso quando começa a depender de terceiros para o cumprimento de suas necessidades básicas ou tarefas rotineiras.

A fisioterapia e o trabalho de reabilitação vestibular têm avançado em relação à

concepção de doença enfocando essa disfunção de modo a oferecer aos idosos a

possibilidade de uma vida social ativa e de boa qualidade, garantindo uma maior

participação do idoso na sociedade e na família, em especial.

44

A família do idoso constitui-se num importante elemento do diagnóstico da

disfunção vestibular, visto que os maiores problemas geriátricos exigem o

conhecimento das condições de vida, do ambiente familiar, físico e psíquico e de

moradia do idoso, elementos indispensáveis para uma avaliação correta da sua condição

de saúde.

A família também pode agir como agente terapêutico na reabilitação vestibular,

à medida que a capacidade de adaptação do idoso diminui e sua dependência no

ambiente familiar aumenta por este ser o espaço caracterizado pelo próprio idoso como

o local de estabilidade e proteção. Papaleo (1996, p.94) reforça a percepção dessa

realidade:

“A esta diminuição da capacidade adaptativa do idoso às variações sociais observa-se, paralelamente, um aumento de sua dependência do ambiente familiar, caracterizando pelo próprio paciente como um local de estabilidade e de proteção (...)”.

Diagnosticada a disfunção vestibular, é indispensável que familiares saibam tudo

que se passa, principalmente quando o idoso acometido já apresenta outras doenças

secundárias, fazendo uso de muitas medicações e apresenta evidente lentidão e

dificuldade em realizar suas atividades de vida diária. É necessário que a família esteja

preparada e saiba como tratá-los, ajudando a evitar o seu isolamento devido à

sintomatologia da disfunção.

A solução para amenizar os sintomas da disfunção vestibular está também no

bom suporte social com assistência adequada à saúde além da estrutura familiar

adaptada às transformações da vida moderna, para manter o idoso na comunidade de

forma participativa, evitando a institucionalização, o que na maioria das vezes só agrava

os sintomas como zumbidos, vertigens e desequilíbrio.

45

A Geriatria tem sua contribuição a partir do diagnóstico médico, baseando-se na

história clínica, no exame físico e em recursos especializados. A história clínica inclui

informações detalhadas do idoso sobre seus sintomas, antecedentes pessoais e

familiares, conhecimento de hábitos de vida, medicações e preferências alimentares. O

exame físico, através de testes de audição e testes vestibulares adequados para cada

paciente, caracteriza o grau da disfunção. Os recursos como à tomografia

computadorizada e a ressonância magnética auxiliam em um diagnóstico mais preciso.

Dando seqüência a fase diagnóstica ocorre à intervenção dos outros

profissionais da saúde, como fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas, que em

conjunto com o médico compõe uma equipe multidisciplinar que irá proporcionar ao

idoso um tratamento eficaz na perspectiva de manter a sua autonomia.

Porém, todos esses profissionais envolvidos, obrigatoriamente, não poderão

possuir apenas uma visão clínica e biológica desse idoso, mas sim, uma visão que

envolva todo um contexto familiar e social, para melhor atender as dificuldades

encontradas por esse idoso com disfunção vestibular e de seus familiares, que convivem

diariamente com esta realidade.

Além do conhecimento técnico específico da disfunção vestibular, os

profissionais que atendem esse segmento devem possuir uma visão positiva em relação

à velhice, como enfatiza Alonso (2005, p. 45), numa perspectiva gerontológica:

“Não devemos assim renegar ou rejeitar a velhice, mas tentar enxergá - la e vivê - la sob uma nova ótica. (...) Mas podemos transformar o quadro do envelhecimento se conseguirmos modificar a visão que o restante da sociedade possui desse segmento (...).”

46

Os conhecimentos gerontólógicos enriquecem a interpretação dessa realidade

através de uma abordagem multidisciplinar do envelhecimento e da pessoa envelhecida,

enfocando aspectos psicológicos e sociais, tão indispensáveis na concepção da

disfunção vestibular e que na maioria das vezes é reduzida pelos profissionais da área da

saúde somente ao seu aspecto biológico e fisiológico.

Ao estudar o envelhecimento, a velhice e os idosos, as pesquisas realizadas na

área da gerontologia abrangem também os determinantes genéticos, biológicos,

psicológicos e sócio-culturais do processo de envelhecer, aspectos estes que

complementam a compreensão das repercussões que a disfunção vestibular pode gerar

nos indivíduos acometidos por essa patologia.

Isto justifica os resultados do estudo realizado por Simoceli et al (2003)

chamando a atenção dos profissionais que atendem pessoas com alterações de

equilíbrio. Esses profissionais devem ter em mente não a busca de um diagnóstico

específico, mais sim todas as possíveis variáveis clínicas que podem estar alteradas.

É indispensável avaliar nesses pacientes, suas doenças de base, problemas

cardiovasculares, metabólicos, hormonais, sintomas de depressão e ansiedade, sinais

sensoriais e alterações de postura, bem como as medicações utilizadas e hábitos de vida,

para que a origem do desequilíbrio seja diagnosticada com eficácia e tratada com

sucesso.

A associação das alterações em múltiplos órgãos e sistemas é a principal causa

do surgimento da vertigem e desequilíbrio no idoso. A multidisciplinariedade é

imprescindível para obter-se a completa reabilitação do equilíbrio nesses pacientes

minimizando, assim, os riscos e morbidades associadas à disfunção vestibular e seus

47

sintomas que podem levar o idoso à inatividade dentro do seu ambiente familiar e

social.

Portanto, conceitos da Gerontologia associados à Fisioterapia, se complementam

na abordagem do idoso com disfunção vestibular, tendo como principal objetivo a

reabilitação a preservação da autonomia e qualidade de vida, e mostram conforme

enfatizado por Terra (2001) que envelhecer de modo satisfatório depende do equilíbrio

entre as limitações e potencialidades, o que irá permitir adaptação frente às mudanças

decorrentes do envelhecimento.

A oportunidade de assumir decisões próprias, preservar a independência e

capacidades de viver em comunidade, evitar o isolamento no ambiente familiar e social,

pelo desconforto trazido pelos sintomas da disfunção vestibular, são objetivos que

devem ser almejados não só pelos acometidos com a disfunção vestibular, como

também pelos familiares envolvidos neste contexto.

48

CAPÍTULO III: PESQUISA DE CAMPO

Esta pesquisa teve como principal objetivo analisar os efeitos da disfunção

vestibular do idoso no contexto familiar e social, visando melhorar as formas de

diagnóstico e tratamento da sua saúde, além de contribuir para que esse segmento possa

viver plenamente essa etapa da vida.

3.1 – METODOLOGIA DA PESQUISA

O perfil de cada um dos idosos foi traçado para possibilitar uma melhor

compreensão desses indivíduos, através de uma entrevista semi estruturada, com uso de

um roteiro (anexo I), contendo perguntas abertas, o que, de acordo com May (2004),

permite gerar e manter conversações mais livres com as pessoas sobre tópicos

específicos de interesse para a pesquisa.

O roteiro contém itens relativos à identificação pessoal e outros que abordam

aspectos relativos ao contexto familiar e social dos sujeitos investigados. A realização

da pesquisa se deu, mediante a assinatura de um termo de consentimento pelos idosos

(anexo II).

Também foram realizadas, entrevistas com um dos familiares de cada idoso,

incluído como sujeito da pesquisa, após assinatura do termo de consentimento (anexo

II). Esse procedimento possibilitou ampliar a compreensão da vida cotidiana do idoso

tanto no âmbito individual quanto no contexto familiar e social.

49

A pesquisa foi realizada tendo como base os fundamentos teóricos, sobre

disfunção vestibular e envelhecimento, utilizando conceitos da Geriatria, da Fisioterapia

e da Gerontologia, como referências para realização da pesquisa de campo com

utilização de métodos e técnicas qualitativas, no caso da entrevista, para a coleta de

dados e posterior análise.

Bases teóricas desenvolvidas por Haguette (2000 p. 55-56) contribuíram para a

compreensão e escolha da metodologia qualitativa para esta pesquisa, que atende aos

requisitos dessa abordagem:

Identificam-se três situações onde se presta atenção particular a indicadores qualitativos: a) situações nas quais a evidência qualitativa substitui a simples informação estatística relacionada a épocas passadas; b) situações nas quais a evidência qualitativa é usada para captar dados psicológicos que são reprimidos ou não facilmente articulados como atitudes, motivos, pressupostos, quadros de referência etc.; c) situações nas quais simples observações qualitativas são usadas como indicadores do funcionamento complexo de estruturas e organizações complexas que são difíceis de submeter à observação direta.

Portanto, esta pesquisa foi desenvolvida com a abordagem qualitativa,

empregando-se a concepção trazida das ciências humanas, para o desenvolvimento de

estudos que permitam ampliar o significado da saúde para a vida das pessoas.

Contribuição já reconhecida por Turato (2003) que explicitou a importância dessa

metodologia para a compreensão dos aspectos biopsicossociais da vida dos pacientes.

Inicialmente, foi realizada a triagem de pacientes com disfunção vestibular

associada ao envelhecimento, já com o diagnóstico médico constatado, no cadastro dos

arquivos da empresa de home care na qual trabalho, a MedMar/Family Atendimento

Médico de Emergências, situada na cidade de Santos, Estado de São Paulo. Vale

ressaltar que nenhum desses sujeitos são meus pacientes na fisioterapia.

50

Para atendimento dos requisitos colocados para esta pesquisa de que os pacientes

tivessem idade superior a 65 anos, apresentassem a sintomatologia da disfunção

vestibular pura, e morassem com algum familiar, este processo foi demorado, já que a

maioria dos idosos apresentava outra doença secundária além da disfunção vestibular o

que poderiam alterar os resultados da análise.

Foram selecionados quatorze pacientes, dos quais quatro se dispuseram à

aplicação piloto do instrumental de coleta e dez participaram da realização da pesquisa

de campo, sendo entrevistados individualmente.

A aplicação do questionário como instrumental na fase da pesquisa piloto foi

feita na casa dos idosos, em um clima de muita expectativa e receptividade. Todas as

perguntas foram respondidas sem intercorrências o que permitiu o aprimoramento do

instrumento para a fase de coleta de dados.

Utilizando o mesmo processo para agendamento, realizei as entrevistas com os

dez sujeitos restantes. Minha decepção foi grande quando cheguei à residência de um

dos sujeitos com 79 anos, e constatei que seria difícil a compreensão das perguntas

que lhe seriam feitas, pois seu estado de confusão mental era severo. Infelizmente

este senhor, foi então, eliminado como sujeito, restando apenas nove idosos.

Fui recebida com a mesma atenção nas residências dos idosos incluídos como

sujeitos da pesquisa. O ambiente de algumas casas era alegre e iluminado, o que não

se repetia em outras, onde havia escuridão e tristeza. No decorrer das entrevistas

ficava claro que esses ambientes refletiam a expectativa e qualidade de vida desses

idosos e de seus familiares.

51

Em média cada entrevista durou cerca de trinta minutos. Todos eles ao contarem

suas experiências com os sintomas da disfunção vestibular pareciam bem à vontade,

pois já estavam cientes das condições explicitado no termo de conscentimento livre e

esclarecido (anexo II). Os familiares, ao relatar a realidade vivida, pareciam

interessados em conhecer mais sobre o tema.

Para dar anonimato aos sujeitos idosos participantes, todos foram denominados

com a letra S e um número para diferenciá-los na apresentação dos resultados da

análise de dados. O mesmo foi feito com os familiares entrevistados, que foram

denominados pela letra F, também seguido do numeral.

3.2 – RESULTADOS DA ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados coletados nas entrevistas levou em consideração os

depoimentos subjetivos e a narrativa de histórias pessoais, o que expressa a interação do

pessoal com o social, além da importância do ambiente familiar e sua adaptação às

novas condições provenientes do envelhecimento.

Obedecendo às normas do trabalho científico e aos aspectos éticos da realização

desta pesquisa, as entrevistas foram realizadas de acordo com fundamentos teórico-

metodológicos expostos por Portelli (1997, p.2) quando descreve sobre seu significado:

“(...) quando fazemos uma entrevista, invadimos a privacidade de outra pessoa e tomamos seu tempo. (...) Também neste caso, a abordagem ética ou cortês é cientificamente compensadora: boas maneiras e respeito pessoal constituem um bom protocolo para trabalho de campo (...)”.

52

O grupo compõe-se de cinco mulheres e quatro homens. As idades dos idosos,

sujeitos da pesquisa, variam de 69 a 90 anos. Até a data da realização das entrevistas,

cinco moravam com seus cônjuges e quatro eram viúvos (as), residindo com seus

respectivos filhos e netos.

Quanto à escolaridade a maioria possui apenas ensino fundamental, todas as

mulheres são donas de casa, exceto uma que é professora aposentada. Os homens são

todos aposentados das seguintes profissões: engenheiro civil, mecânico, professor e

comerciante.

Cinco dos noves entrevistados possuem características de vida bastante

semelhantes; realizam varias atividades e permanecem fazendo exercícios da conduta de

reabilitação vestibular.

A maioria das mulheres ainda cuida da casa; as que já possuem netos participam

diretamente dos cuidados diários, colaborando para garantir sua alimentação, higiene e

o cumprimento dos horários escolares. Na rotina desses idosos inclui-se caminhada e

exercícios na praia, participação em encontros da terceira idade e na vida comunitária.

Portanto, os sintomas da disfunção vestibular, controlados com o auxilio de

medicamento, não interfere em suas atividades de vida diária como se verifica nos

depoimentos:

“Se um dia eu faltar na casa, minha filha e meus netos não

vivem...”. (S1)

53

“Depois de aposentado, curto mais a vida com minha esposa,

controlo minha labirintite com remédios e vivo uma vida

normal...”. (S3)

Quatro dos sujeitos, já demonstram um quadro de tristeza e desânimo. Ficam a

maior parte do tempo em casa e só saem quando acompanhados de algum familiar;

passam o dia todo deitados ou sentados vendo programas de televisão. Seus relatos

indicam que são muito dependentes. Não gostam e não saem na rua por medo de queda.

Dois viúvos apresentam ainda uma tristeza maior pela falta de seus cônjuges, o que

revela a influência dessa situação no modo como avaliam sua condição pessoal,

inclusive de saúde:

“Depois que meu marido morreu, me sinto muito só. Tenho

medo de sair na rua, dar tontura e cair...”. (S6)

“Não tenho mais animo, estou velho, não sirvo para nada, já

estou fazendo hora extra...”. (S9)

Nos relatos, o aparecimento dos primeiros sintomas da disfunção vestibular

oscila em um período de 2 a 25 anos, proporcionalmente à idade, ou seja, para o sujeito

de 69 anos os primeiros sintomas apareceram há 2 anos atrás e consequentemente para o

sujeito de 90 anos a sintomatologia da disfunção vestibular foi percebida há 25 anos.

Fica evidente que na maioria dos casos os primeiros sintomas como vertigens,

tonturas, zumbido no ouvido, vontade vomitar, desequilíbrio e medo de queda

apareceram após os 65, o que é característico da disfunção vestibular proveniente do

envelhecimento.

54

A maioria dos entrevistados relatou que sentir vertigens, desequilíbrio, medo de

queda, não são problemas desconhecidos, pois pelo menos o pai ou a mãe apresentavam

as mesmas queixas, e quando os pais não relatavam esses sintomas, alguém da família

sempre dizia ter tido episódios de vertigens, desequilíbrio e conseqüente queda.

“Meu pai reclamava muito de tonturas e falava que tinha

as pernas bambas...” (S3).

“Mamãe sempre dizia estar com barulho nos ouvidos...”

(S5).

Quatro sujeitos relatam que as suas atividades mudaram. Antes, tomavam conta

da casa, dos familiares; no caso das mulheres faziam todas as atividades domésticas e

serviam os filhos e maridos. Os homens saiam para clubes e preservavam o encontro

com amigos.

A mudança nos hábitos de vida está relacionada com o desconhecimento da

sintomatologia da disfunção vestibular e com a falta da capacidade de adaptação frente

às alterações geradas pelo envelhecimento. Assim, se torna comum para os idosos não

conscientes dessa realidade se caracterizar como anormal, como fica explicito no relato

abaixo:

“Antes eu era uma pessoa normal, agora tenho muito medo de

cair...”. (S6)

Já os outros cinco sujeitos, relataram que fazem tudo como antes, apenas um

pouco mais devagar e com cautela, detalhe que não os incomoda e fato que indica a

55

aceitação das alterações provenientes do envelhecimento e a visão positiva da

necessidade de adaptação frente esta nova realidade.

“Hoje, como tomo conta dos meus netos para a minha filha,

parece que até tenho mais trabalho, não tenho a mesma rapidez

de antes, mais dou conta de todas as minhas tarefas...” (S1).

A maioria desses cinco idosos relata que depois de aposentados (as) passam a se

dedicar mais a família, à vida social e que os sintomas da disfunção não os atrapalham.

Este fato se relaciona à visão ampla de saúde que enfoca que a presença de alguma

patologia não precisa levar necessariamente o idoso à dependência e à perda da

autonomia. Os relatos das mulheres sintetizam essa idéia quando expõem que não

fazem os serviços domésticos porque possuem ajudantes e não porque não são capazes

de realizar estes serviços.

“Hoje tenho uma ajudante, não porque não dou conta da casa,

mas sim para ter mais tempo para mim...”. (S7)

“Depois que aposentei, me dedico mais ao filho adotivo com

necessidades especiais e a trabalhos voluntários. Quando tenho

crises de labirintite tomo medicamento, repouso e depois de

algumas horas às atividades volta ao normal...”. (S4)

Esses relatos contrapõem a visão de saúde caracterizada somente como o estado

de ausência da doença, e estão dentro do conceito trazido por Papaleo (1996 p. 313)

quando aborda o significado de saúde:

56

“Saúde, portanto, é a capacidade de um indivíduo ou de um grupo de continuar exercendo funções em seu meio físico e social, contribuindo para a sociedade e interagindo com ela.”

Quando abordados sobre como está a vida depois do surgimento dos sintomas da

disfunção vestibular, a maioria relatou que juntamente com estes sintomas veio a

aposentadoria, e que essa mudança de estilo de vida só facilitou para que os

desconfortos causados pela doença fossem mais bem tratados e controlados.

No convívio familiar dos cinco idosos, os que moram com netos relatam que as

responsabilidades aumentaram, pois participam ativamente dos cuidados e educação

deles. Fica evidente o quão importante é essa interação entre gerações, possibilitando

que os idosos se sintam ativos e reconhecidos dentro do contexto familiar.

“Hoje sou a única que fica em casa, minhas tarefas aumentaram,

sou a responsável por meus netos enquanto minha filha fica

fora...”. (S1)

Os que moram apenas com os cônjuges, dizem que agora aproveitam mais a

vida, só aconselham os filhos quando precisa e possuem mais tempo para cuidar de si

mesmo, sentem-se mais dispostos, como mostra o relato de uma idosa:

“Depois de aposentada tenho mais tempo para a família...”.

(S4)

Outros quatro sujeitos dizem que após o aparecimento dos sintomas da

disfunção vestibular, tudo mudou para pior. Não participam mais de reuniões de família,

57

não querem mais tomar decisões sobre problemas e questões familiares. Enfim, acham

que dentro da família, depois que envelheceram, eles não têm mais função.

Esses idosos relataram que ficam em casa sozinhos, pois os filhos trabalham.

Reclamam que muitas vezes esses filhos quando chegam em casa nem conversam,

piorando ainda mais o sentimento de solidão e a acomodação desses idosos frente à

condição de exclusão e a perda do papel dentro da família, como relatado abaixo:

“Não participo e não tenho mais cabeça para nada...”. (S2)

“Não sirvo para nada, já fiz minha parte nesta vida...”. (S6)

No convívio social o quadro não é diferente, os cinco idosos que participam

ativamente das atividades familiares, também possuem uma vida ativa na sociedade,

com momentos de lazer e descontração, participando inclusive de trabalhos voluntários.

Dizem que com os sintomas da disfunção vestibular, quando controlados, levam

uma vida perfeitamente ativa com possibilidades concretizáveis de terem ocupações que

correspondem às suas expectativas e necessidades.

Os relatos abaixo indicam a possibilidade de recuperação desses idosos que a

partir do momento que conhecem o que é, quais são os sintomas e o tratamento da

disfunção vestibular, vivem uma vida ativa, aproveitando o envelhecimento para novos

projetos e mais desenvolvimento pessoal e social.

58

“No começo das vertigens achei que estava grávida (risos),

depois que fiquei sabendo que era labirintite faço o tratamento

certo e não tenho mais nada, levo uma vida tranqüila...”. (S4)

“Minhas vertigens são controladas, minha vida social é muito

boa, tenho vários amigos e programas para fazer...”. (S7)

A vida social dos quatro sujeitos que acreditam não terem mais função dentro da

família, também é expressivo, correspondendo aos idosos que, antes de tornarem-se

portadores da disfunção vestibular, mantinham relações sociais, participavam de

programas com casais de amigos, de locais que ofereciam atividades para pessoas de

terceira idade e em atividades nas igrejas.

Atualmente não saem mais de casa, não convivem com amigos, não gostam de

conversar e nem de receber visitas em casa. O medo de cair, faz com que eles, muitas

vezes se isolem em casa, atitude que só enfatiza os problemas gerados pela disfunção

vestibular mal compreendida por eles.

“Ando na praia só um pouco, pois tenho medo de cair...”. (S8)

“Não converso mais com ninguém, não saio mais, não recebo

mais visitas, só assisto televisão...”. (S9)

O desconhecimento da disfunção vestibular e a falta de tratamento adequado

fazem com que seus sintomas se agravem, afetando ainda mais o contexto familiar e

social dos idosos por ela acometidos. Muitos dizem não conhecer, por exemplo, a

influência do fumo e da bebida no agravamento das vertigens, zumbidos e náuseas.

59

A maioria dos idosos entrevistados já fumou ou experimentou cigarro, sendo

que um sujeito com mais queixas dos sintomas da disfunção vestibular, ainda fuma de

vez em quando. Bebida não faz parte do cotidiano dos entrevistados, apenas um vinho

para os que participam de programa à noite para conversar, jantar ou dançar.

O envelhecimento após o surgimento da disfunção vestibular, para alguns

sujeitos que não conhecem o assunto, está relacionado ao constante medo de queda, o

que os leva a não saírem na rua e se sentirem presos em casa por esse medo.

Esse fato se liga diretamente à perda de função dentro da família, gerando com

isso um sentimento de tristeza, impotência e solidão, do qual decorre a inatividade e a

dependência conforme abordado anteriormente.

“Estou velha e ninguém me dá atenção, tenho medo de andar

sozinha, pois não tenho equilíbrio...”. (S6)

“Sou sozinho, muito triste e muito fraco, minha cabeça quando eu

levanto fica tonta...”. (S9)

Cinqüenta por cento dos sujeitos relatam não ter mudado em nada a vida após os

primeiros sintomas da disfunção. Todos dizem que, inicialmente acharam que nunca

mais poderiam sair da cama e que iam ter que andar sempre apoiando em algo para não

cair e se machucar.

Ao receberem os tratamentos da disfunção vestibular, perceberam que o

envelhecimento a partir do surgimento desse quadro, vem acompanhado de situações

60

novas e alguns sintomas nunca notados antes, que quando controlados não interferem

em nada nas atividades do cotidiano.

Reconhecem a disfunção vestibular como estimulo para a superação e aceitação

do aumento da idade, os relatos descritos a seguir demonstram a visão positiva do

envelhecimento, mesmo depois do surgimento de patologias:

“Fiquei muito assustada, achei que iria morrer, depois, com os

remédios sou uma idosa normal...” (S1).

“As tonturas são controladas, não me atrapalham em nada...”.

(S5)

As entrevistas com os familiares dos idosos, sujeitos desta pesquisa nos permitiu

delinear a identificação desse grupo: cinco familiares são cônjuges e quatro são filhos

e/ou filhas dos idosos entrevistados.

As idades dos cônjuges variam de 70 anos a 84 anos, proporcional à idade de

seus respectivos familiares. Todos são aposentados (as) e ficam em casa.

Já as idades dos filhos variam de 40 a 60 anos, sendo dois solteiros (as) e dois

casados (as), o que confirma dados relatados anteriormente pelos idosos. Todos os

familiares trabalham o dia inteiro.

Quando indagados sobre o comportamento do idoso antes da disfunção

vestibular, os familiares de quatro sujeitos, afirmam que antes os idosos eram bem

61

humorados, alegres, com vontade de viver e pareciam estar satisfeitos com a vida que

estavam levando.

“Antes minha mulher tomava conta da casa, das roupas e

comida. Era alegre e tinha vontade de fazer tudo...”. (F2)

“Antes, papai era alegre, vivia de bem com a vida, ativo,

conversava muito e era muito adorável...”. (F9)

Já outros cinco familiares relataram não terem notado alteração negativa no

comportamento, afirmando que os idosos continuam sorridentes, bem dispostos e

contentes com a vida.

Alguns familiares observaram diminuição das reações de irritação e cansaço,

fato este que pode estar correlacionado com a chegada da aposentadoria com uma vida

menos regrada, o que, os possibilita viver de maneira mais prazerosa. Isto se confirma

nos seguintes relatos:

“A mamãe sempre me ajudou e me ajuda muito, toma conta da

casa toda, dos meus filhos e sempre está com vontade de viver e

bem humorada...”. (F1)

“Antes ele trabalhava muito, não tinha tempo e vivia

estressado...” (F3).

62

No que diz respeito ao desempenho do idoso nas atividades de vida diária antes

do aparecimento dos sintomas da disfunção vestibular, todos sem exceção, relataram

que seus familiares eram mais ágeis e mais eficientes.

“Apesar de ela me ajudar muito, antes ela era mais independente

para tomar as decisões e iniciativas domésticas...”. (F1)

O idoso quando perde sua autonomia, automaticamente fica dependente. Essa

perda como descreve Papaleo (1996), aumenta com o avançar da idade. Porém, se os

idosos mantiverem-se autônomos e independentes, as dificuldades tornam-se mais

amenas para serem enfrentadas.

Quatro familiares relatam ainda que, o idoso era mais participativo, e que

assumia todas as responsabilidades domésticas como cuidar da organização e da parte

financeira da casa com bastante eficácia, e tinham, mesmo dentro de casa, momentos de

descontração e lazer como ouvir músicas. O depoimento de um idoso mostra a

mudança:

“Atualmente até as músicas que ele gostava de ouvir antes, ele

fala que aumenta o barulho da cabeça...” (F9).

Os familiares que disseram não terem notado alteração no comportamento dos

idosos portadores da disfunção vestibular, enfatizam que, mesmo com notável lentidão

característica da velhice e que se reflete na realização das atividades de vida diária, eles

levam uma vida muito ativa e saudável e a maioria tem mais tempo para dedicar a casa

e a si mesmo.

63

“As crises aparecem quando ela abusa de doces e dorme mal.

Quando ela sente tontura, toma remédio, faz repouso e logo fica

melhor, com toda a disposição de antes...” (F1)

“Depois da primeira crise de labirintite, meu marido percebeu

que a saúde não é brincadeira, passou a cuidar mais de mim e de

si mesmo...”. (F3)

Depois do surgimento da disfunção vestibular, cinco dos familiares dizem que

os idosos mudaram para melhor, juntamente com a aposentadoria, veio mais tempo para

o lazer e prática de atividades físicas. Os sintomas da disfunção são controlados com

remédios e, em três casos com a reabilitação vestibular, não interferindo em seu

convívio familiar e social.

“Com a ajuda dos medicamentos e dos exercícios eu e meu

marido damos até nossas rodopiadas nas aulas de bolero...”. (S3)

“Ela percebeu que ficar parada era pior. Começou a se

movimentar e melhorou, faz tempo que minha esposa não se

queixa mais...”. (S7)

No caso dos familiares dos sujeitos que notaram alteração no contexto familiar e

social dos idosos, quatro descrevem situações de tristeza, isolamento, falta de vontade e

medo de sair de casa e uma dependência grande para a realização das atividades.

“Quando eu falo que vamos receber visitas ela fica brava, só

que ficar sozinha e em frente à televisão...”. (F6)

64

“Toda vez que ele levanta reclama de tontura e diz que vai

cair...”. (F9)

Ter que ficar em casa, ser cobrado a dar mais atenção, ouvir sempre reclamações

de solidão, e a necessidade da dependência são as questões mais faladas quando os

familiares dos sujeitos que sofrem com os sintomas da disfunção vestibular são

indagados sobre a função de cuidar do idoso acometido com tal problema.

“Também passei a ficar só dentro de casa...”. (F2)

“Redobramos a atenção, às vezes quando saímos com ele, ele

se desequilibra...”. (F5)

Independência e auxilio do próprio idoso nas atividades da casa, são as palavras

mais enfatizadas para os familiares que descrevem a função de cuidar do idoso com

disfunção vestibular, já que esses idosos como já colocado anteriormente, possuem seu

sintomas controlados, levam uma vida saudável e ativa dentro da família e dos

ambientes sociais que participam como é descrito nos seguintes relatos;

“Ela não precisa de cuidados especiais, ela que cuida dos

meus filhos (risos)...”. (F1)

“Ele se cuida sozinho, é muito independente...”. (F3)

Finalizamos a análise dos dados coletados nesta pesquisa sobre as repercussões

da disfunção vestibular no convívio familiar e social de idosos, com a idéia exposta por

65

Terra (2001, p.32) quando enfoca a reabilitação do idoso como elemento principal para

a manutenção de sua autonomia discutida ao longo deste trabalho:

A reabilitação é, assim, de fundamental importância para restabelecer e adquirir o máximo da autonomia e independência, melhorar as relações interpessoais desses pacientes, trabalhar a parte das deficiências funcionais aumentando a auto-estima.

Portanto, os avanços nos tratamentos e técnicas específicas para a abordagem da

disfunção vestibular em idosos e a visão positiva do envelhecimento como sendo um

processo que todos percorremos, desde o nascimento, proporcionam aos idosos de hoje

a garantia de uma vida saudável, ativa e participativa em seu contexto familiar e social.

66

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados coletados e as interpretações resultantes das análises nos permitem

expor algumas considerações gerais sobre a realidade da disfunção vestibular.

Acometendo um número equivalente entre homens e mulheres, a disfunção vestibular se

mostra presente na maioria dos idosos, que também relatam lembrar de antecedentes

familiares ou amigos com queixas particulares da disfunção vestibular.

Fica evidente que o surgimento dos sintomas da disfunção vestibular, na maioria

dos casos, aparece mais severamente após os 65 anos de idade, caracterizado por

vertigens, tonturas, náuseas, zumbido no ouvido, desequilíbrio e medo de queda.

Os sintomas da disfunção vestibular podem afetar atividades de vida diária,

principalmente, quando desconhecidos e, dessa forma, mal entendidos, podem gerar

repercussões relevantes no convívio familiar e social dos idosos, como já apontado

anteriormente.

Após análise das nove entrevistas realizadas com os idosos e seus respectivos

familiares, podemos constatar que quatro dos sujeitos que sofrem com os sintomas da

disfunção vestibular, não conhecem a fundo a patologia, acham que é condição normal

do envelhecimento.

A falta de acompanhamento médico e a perda da eficácia dos medicamentos por

uso incorreto, provocam uma exacerbação na sintomatologia da disfunção vestibular,

que, conseqüentemente, afeta ainda mais o convívio familiar e social, gerando maior

dependência e falta de autonomia do idoso para a realização de suas atividades de vida

diária.

67

O desconhecimento da reabilitação vestibular realizada por profissionais da área

da saúde com diferentes formações, porém com um mesmo objetivo, colabora ainda

mais para a condição de doente desses idosos acometidos por não acreditarem que os

sintomas podem ser controlados com uma abordagem multidisciplinar adequada.

Essa limitação é mais evidente quando os idosos sujeitos dessa pesquisa relatam

seu cotidiano antes dos sintomas aparecerem, quando eram ativos, tomavam conta das

atividades da casa, saiam, gostavam de se relacionar com amigos, fazer compras,

caminhar na praia, dentre outros, que agora deixaram de fazer.

No contexto familiar, se isolam, não gostam mais de participar de reuniões

familiares, almoços e também são apáticos nas decisões domésticas. Descrevem não ter

mais função dentro da família, se sentem inúteis, e por isso passam a maior parte do dia

em frente à televisão, tentando esquecer os problemas.

No contexto social, os relatos afirmam que antes possuíam amigos, participavam

de programas para a terceira idade, iam a igrejas e hoje não saem mais de casa, por

medo de cair preferem ficar a maioria do tempo sentados e deitados, gerando ainda mais

desequilíbrio e insegurança na hora de caminhar e de sair na rua.

O envelhecimento para os idosos que sofrem com os sintomas da disfunção

vestibular revela uma situação que deteriora a visão sobre a fase da velhice. Passam a

acreditar que por estarem velhos não possuem mais função, não podem vislumbrar

novos projetos, não tem expectativa de vida, esperam o tempo passar e à hora da morte

chegar.

68

Os familiares dos idosos que sofrem com os sintomas da disfunção vestibular,

além de não conhecerem formas de tratamento como a reabilitação vestibular, também

apresentam a visão negativa do envelhecimento e descrença de uma vida absolutamente

normal mesmo sendo portador desta disfunção.

As queixas dos familiares foram às mesmas enfatizadas por seus idosos. Todos

afirmam que bom humor, alegria de viver e satisfação estavam presentes antes das

vertigens e o desequilíbrio aparecerem. A falta de tratamento adequado, muda essa

realidade, dando espaço para a insegurança, o medo, a dependência e a cobrança de

atenção devido a situação que se encontram.

A falta de atividade e a não realização das tarefas do lar, levaram esses

indivíduos a aumentarem o sentimento de inutilidade. Uma vez isolados e inativos só

fazem agravar a manutenção dos sintomas da disfunção vestibular, que se exacerbam

com a falta da movimentação e com falta de estimulação do sistema vestibular para

manutenção do equilíbrio do corpo.

Quanto menos o sistema vestibular é utilizado mais ele vai se degenerando.

Portanto, a movimentação, a reabilitação vestibular e bom hábitos de vida, fazem com

que o sistema vestibular se adapte a nova condição e consiga se adequar dentro dessa

realidade, fazendo a manutenção do equilíbrio de maneira eficaz, como descrito por

idosos que relataram experiências diferentes dos demais que se acomodaram com os

sintomas da disfunção vestibular.

Encontramos nos relatos da maioria dos idosos entrevistados que após o

surgimento dos sintomas não mudaram em nada suas atividades; admitem que no

primeiro instante ficaram assustados e apreensivos, mas depois com orientações e

conhecimento do assunto passaram a levar uma vida normal, sem intercorrências.

69

Todos eles participam e desempenham ativamente seu papel dentro da família,

sendo que alguns ainda aumentaram a responsabilidade por terem que cuidar dos netos.

No caso das mulheres, não realizam mais as atividades domésticas, porque destinam

querem tempo para se divertir. O mesmo acontece com os homens que já são

aposentados e não querem trabalhar mais.

Momentos de lazer, jantares, danças, trabalhos voluntários está presente na vida

desses idosos, que não param em casa. Dizem que quando algum sintoma como

vertigem ou náusea aparecem é só tomar a medicação que logo passa. Exercícios de

cabeça, olhos e pescoço usados na reabilitação vestibular é uma atividade diariamente

presente na rotina desses indivíduos.

Para viver com qualidade, se adaptaram á disfunção vestibular, tomam

medicamento corretamente, praticam atividades físicas e realizam ou já realizaram

exercícios de reabilitação vestibular. Esses idosos, não deixam se abater com a

disfunção vestibular e levam uma vida normal e realizam suas atividades com

independência e eficácia.

Os familiares que mostram satisfação em terem seus idosos felizes com a vida

que levam, enfatizam que disposição, alegria, e vontade de viver são as palavras

apropriadas para descrever esses idosos. E que, certa lentidão na hora da realização das

atividades diárias pode ser notada, mais que isso não interfere em nada e nem é

problema para esses sujeitos.

Contrapondo essa realidade, podemos constatar que os sintomas da disfunção

vestibular originadas pelas alterações no processo de envelhecimento, quando não

tratados e controlados, podem gerar uma série de desconfortos aos indivíduos. Essa

condição de vida acentua ainda mais o sentimento de inutilidade e vazio desses idosos

70

que com a velhice, associam a falta de função dentro do contexto familiar e social que

se encontram.

Porém, o conhecimento da disfunção vestibular, a orientação médica e a prática

da reabilitação são indispensáveis para que os acometidos por tal patologia levem uma

vida sem privações e com qualidade de acordo com as necessidades e disposição de

cada um.

Os idosos que aceitam bem o avanço da idade, não deixam de realizar suas

atividades por estarem mais velhos, mas se mostram participativos na família e gostam

do convívio social. Essa situação indica que a disfunção vestibular associada ao

envelhecimento, quando tratada não priva os idosos de uma vida normal e muito

agradável.

71

BIBLIOGRAFIA

ALONSO, F.R.B. O idoso ontem, hoje e amanhã: o direito como alternativa para a

consolidação de uma sociedade para todas as idades. Revista Kairós. São Paulo, n.8(2),

EDUC, dez.2005.

BACELAR, R. O lugar da avó. Recife: Fundação Antonio dos Santos Abranches –

FASA, 2002.

BEAUVOIR, Simone. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1970.

BOTTÓS, M. R. M. O envelhecer na visão de idosos com seqüelas do Acidente

vascular Encefálico. Dissertação de Mestrado em Gerontologia pela PUC-SP, 2007.

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo Patologia. 6ª Ed. Guanabara Koogan. Rio de

Janeiro, 2002.

BROWN, K.E., WHITNEY, S.L., MARCHETTI, G.F., WRISLEY, D.M., Furman JM.

Physical therapy for central vestibular dysfunction. Arch Phys Med Rehabil. Janeiro,

2006.

CAETANO, MARIA ALICE. A construção do envelhecimento ativo: Estudo de um

grupo de idosos da cidade de Bauru. Dissertação de mestrado em Gerontologia pela

PUC-SP, 2004.

CAMARANO, A.A. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição

demográfica. IPEA, Rio de Janeiro, 2002.

CARVALHO FILHO, E. T. e PAPALEO NETO, M. Geriatria: Fundamentos, clínica e

terapêutica. 2ª Ed. Atheneu, São Paulo. 1996.

72

COSTA, G. A. Tríplice Visão do Envelhecimento: Longevidade, Qualidade de Vida,

Atividade Física e Aspectos Biopsicossociais. Revista da Sobama, Dez., 2003.

DELISA, JOEL A. Et al, Tratado de Medicina de Reabilitação Princípios e Prática. 3ª

ED.V. 2. Manole, Barueri - São Paulo, 2002.

FERRIGNO, J.C. A co-educação entre as gerações: um desafio da longevidade. Revista

O mundo da saúde. Ano 29 v.29 São Paulo, out./dez., 2005.

FREITAS, E.V.F. et al, Tratado de Geriatria e Gerontologia. Ed. Guanabara Koogan.

Rio de Janeiro, 2002.

HAGGUETTE, T.M.F. Metodologia Qualitativa na Sociologia. Ed.Vozes, Petrópolis,

2000.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível

em: www.ibge.gov.br. Acesso em 20 set., 2006.

LUNA, V.S.; Planejamento de Pesquisa: Uma introdução. Ed. PUCSP São Paulo, 2006.

MACEDO. R. S. A ENTREVISTA. Buscando o significado social pela narrativa. In: A

etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciências humanas e na educação. Edufba.

Salvador, 2000.

MACEDO, R. S. História oral. Vozes que documentam. In A etnopesquisa crítica e

multirreferencial nas ciências humanas e na educação. Edufba. Salvador, 2000.

MACHADO, A. B, M. Neuroanatomia Funcional. 2ª Ed. Atheneu. São Paulo, 2001.

73

MACIAS, J.D; MASSINGALE, S.; GERKIN, R.D. Efficacy of Vestibular

Rehabilitation Therapy in Reducing Falls. Otolaryngology–Head and Neck Surgery,

Setembro, 2005.

MARTINS, JOEL. Não somos kronos somos kairos. Revista Kairós-Gerontologia. Ano

n. 1 EDUC – São Paulo, 1998.

MAY, Tim. Pesquisa Social: Questões, metódos e processos. Artmed. Porto Alegre,

2004.

MEDEIROS, Suzana. O lugar do velho no contexto familiar. In PY, Ligia, et al. Tempo

de envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. Ed. Nau. Rio de Janeiro, 2004.

MINAYO, M. C. S. A entrevista. In: O desafio do conhecimento – pesquisa qualitativa

em saúde. Hucitec/Abrasco. São Paulo, 2000.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa social, Teoria, método e criatividade. Ed. Vozes; 24ª

edição: São Paulo, 1994.

MIRANDA, D.S. O encontro de gerações no Sesc São Paulo: A história de um

processo de inclusão social. Congresso Internacional Co-Educação de Gerações.

SESC. São Paulo, out. 2003.

NETO, E. et al, Aspectos biológicos e geriátricos do envelhecimento II. Ed.

EDIPUCRS. Porto Alegre, 2000.

OLIVEIRA, A.P. Avós que cuidam dos netos por morte da mãe soro positiva.

Dissertação (Mestrado em Gerontologia). PUC-SP. São Paulo, 2003.

OLIVEIRA, R.P. e BRILHANTE, V. M. VASCONCELOS, L. A. P. Reabilitação

Vestibular no Idoso. Monografia apresentada para o curso de graduação em Fisioterapia

pela PUC – MG campus Poços de Caldas. 2006.

74

PAPALEO, N.M., Gerontologia: A velhice e o envelhecimento em visão globalizada.

Ed. Atheneu. São Paulo, 1996.

PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho: Algumas reflexões sobre a

ética na História oral. In: Projeto História, 15. Revista do Programa de estudos de pós-

graduados em história e do departamento de História, EDUC PUC-SP. São Paulo, 1997.

PY, L. et al. Tempo de envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. Ed. Nau. Rio

de janeiro, 2004.

RAMOS, L. R. (coord.). Guia de Geriatria e gerontologia. Ed. Manole. Barueri, São

Paulo, 2005.

RESENDE, C. R. ET AL. Reabilitação Vestibular em pacientes idoso portadores de

vertigem posicional paroxística benigna. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. V.

61, n. 4. São Paulo, jul./ag. 2003.

SANTOS, C. L.N. Guimarães 2002 dos desafios da longevidade: Agonia ou Êxtase?

Revista Kairós – Gerontologia v.5 n. 01. EDUC. São Paulo, 2002.

SANTOS, M.F. A participação social do idoso no Município de São José dos Campos:

O grupo de convivência Nova Era. Dissertação (Mestrado em Gerontologia) - PUC-SP.

São Paulo, 2004.

SANTOS, W. T., O olhar do idoso sobre sua própria saúde. Tese (Doutorado

Departamento de prática de saúde pública) – Universidade de São Paulo (USP – SP).

São Paulo, 2001.

SILVA, J.R., O significado do curso de Gerontologia na formação de estudantes de

fisioterapia da Unioeste. Dissertação (Mestrado em Gerontologia). PUC-SP, 2005

75

SIMOCELI, L. et al. Perfil diagnóstico do idoso portador de desequilíbrio corporal:

Resultados preliminares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. São Paulo, v. 69, n.

06; novembro/dezembro 2003. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_artex&pid=s0034-

72992003000600008&lng=pt&nrm+isso > Acesso 18 dez. 2006.

SPENCE, Alexander P. Anatomia Humana Básica. 2ª Ed.ed. Manole LTDA. São Paulo,

1991.

TERRA, N.L. Envelhecendo com qualidade de vida. EDIPUCRS. Programa Geron da

PUC - RS. Porto Alegre, 2001.

TURATO, E.R. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa – construção

teórico-epstemologica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas.

Vozes. Petrópolis, 2003.

ZUCCO, F. Proposta de Tratamento das desordens vestibulares através do uso da bola

Suíça: Fundamentos e perspectivas. São Paulo - SP; Dissertação sobre reabilitação

vestibular. Disponível em < http://www.wgate.com.br/fisioweb> Acesso 16 dez. 2006.

76

ANEXO I

IDENTIFICAÇÃO

Nome:

______________________________________________________________________

Idade: _____________ Sexo: _____________ Estado civil: ______________________

Escolaridade:

______________________________________________________________________

Profissão:

______________________________________________________________________

Atividades de rotina diária:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

A - DIAGNÓSTICO

1. Estado clínico atual de acordo com o diagnóstico médico:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

2. Medicamentos em uso: tipo (s) e forma de administração (?):

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

B - QUESTÕES APLICADAS AOS IDOSOS COM DISFUNÇÃO VESTIBULAR

1. Quando (mês e ano) apareceram os primeiros sintomas da disfunção vestibular*?

Quais foram os sintomas?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Antecedentes Familiares quanto à doença: ( ) sim __________________________

( ) não

3. Quais eram as suas atividades antes dos sintomas da disfunção vestibular *?

77

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Atualmente como está sua vida depois do surgimento dos sintomas da disfunção

vestibular *?

4.1 No convívio familiar:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4.2 Nos ambientes sociais:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

5. Nas suas AVD’s está incluído:

Fumo ( ) sim ___________________________________________________________

( ) não

Bebida ( ) sim __________________________________________________________

( ) não

6. Como foi envelhecer para você após o aparecimento da disfunção vestibular*?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

C - QUESTÔES APLICADAS AO FAMILIAR DO IDOSO COM DISFUNÇÃO

VESTIBULAR

IDENTIFICAÇÃO

Nome:

______________________________________________________________________

Idade: __________________ Sexo: _____________ Estado civil: ________________

Escolaridade:

______________________________________________________________________

78

Profissão:

______________________________________________________________________

Atividades de rotina diária:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

1. Descreva o comportamento do idoso e como era o seu jeito de ser (humor,

expectativa de vida) antes do surgimento da disfunção vestibular.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Como era o desempenho do idoso nas atividades de vida diária antes do

aparecimento dos sintomas da DV?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3. O que mudou em seu familiar no comportamento e no jeito de ser e como tem sido o

convívio familiar e social depois da disfunção vestibular?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4. Comente sobre a função de cuidar de um idoso com DV.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

* Sintomas da Disfunção Vestibular: Perda do equilíbrio, medo de queda, lentidão na

marcha, diminuição da largura dos passos, vertigens, zumbidos e náuseas.

79

ANEXO II

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pesquisa: REPERCUSSÕES DA DISFUNÇÃO VESTIBULAR NO CONVÍVIO

FAMILIAR E SOCIAL DE IDOSOS.

Pesquisadora: Renata Porcel de Oliveira

O objetivo desta pesquisa é analisar as repercussões da disfunção vestibular em idosos,

no seu convívio familiar e social, visando melhorar as formas de diagnóstico e

tratamento, possibilitando uma vida plena e feliz.

A pesquisa será realizada através de entrevistas no domicílio de cada participante pela

pesquisadora responsável. Será mantido o anonimato dos entrevistados na divulgação

dos resultados deste trabalho.

Ao concordar em participar desta pesquisa estou ciente de que:

• Sou livre para participar ou não das entrevistas e se aceitar posso desistir a qualquer

momento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma;

• Não serei submetido a nenhum risco ou desconforto perante a pesquisadora;

• Durante a entrevista, terei liberdade para interromper a qualquer momento para

pedir esclarecimentos sobre as questões propostas;

• Não serei ressarcido de nenhuma despesa, pois não terei nenhum custo ao participar

desta pesquisa;

• Concordo que os resultados obtidos estão sujeitos a apresentação em eventos

acadêmicos, revistas ou outros meios de divulgação de estudos desta natureza.

Uma cópia deste Termo de Consentimento ficará sob minha guarda e a segunda via será

entregue aos entrevistados.

Santos, _______________________________ de 2008.

__________________________ ____________________________

Nome e assinatura do idoso participante Nome e assinatura do familiar