remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

45
Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a cidade Isabel Cristina da Costa Cardoso FSS/UERJ SEMINÁRIO INTERNACIONAL TRABALHO SOCIAL EM HABITAÇÃO: DESAFIOS DO DIREITO A CIDADE 15 a 17 de Março de 2016

Upload: truongtruc

Post on 07-Jan-2017

221 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Remoções, segregação e violência

urbana: interdição do direito a

cidade

Isabel Cristina da Costa Cardoso

FSS/UERJ

SEMINÁRIO INTERNACIONAL

TRABALHO SOCIAL EM HABITAÇÃO: DESAFIOS DO DIREITO A CIDADE

15 a 17 de Março de 2016

Page 2: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

PROCESSO DE REMOÇÃO DE MORADORES DA VILA AUTÓDROMO

PELO PODER PUBLICO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO, NO

CONTEXTO DE IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE

DESENVOLVIMENTO URBANO E DE EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS

ARTICULADOS ÀS OLIMPÍADAS DE 2016;

PROCESSO DE REMOÇÃO DE MORADORES DA FAVELA DO MORRO

DA PROVIDÊNCIA PELO PODER PÚBLICO MUNICIPAL DO RIO DE

JANEIRO , NO CONTEXTO DE CRIAÇÃO DA OPERAÇÃO URBANA

CONSORCIADA DA REGIÃO DO PORTO DO RIO (PORTO

MARAVILHA) E DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA MUNICIPAL

DE URBANIZAÇÃO DA FAVELA DA PROVIDÊNCIA (PROGRAMA

MORAR CARIOCAR);

QUAIS SÃO AS EXPERIÊNCIAS E SITUAÇÕES URBANAS

DE INTERDIÇÃO DO DIREITO À CIDADE QUE

REFLETIREMOS?

Page 3: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

PROCESSO DE EXPROPRIAÇÃO DA TERRA URBANA PÚBLICA EXISTENTE

NA REGIÃO PORTUÁRIA DO RIO, ENQUANTO BEM COMUM, PASSÍVEL DE

EXERCER UMA FUNÇÃO SOCIAL, COMO A GARANTIA DO DIREITO À

MORADIA E/OU DE PRODUÇÃO DE INFRAESTRUTURA URBANA E SOCIAL,

ATRAVÉS DA PRIVATIZAÇÃO DOS TERRENOS PÚBLICOS EXISTENTES NO

TERRITÓRIO DA OUC DO PORTO.

DE QUAL LUGAR INSTITUCIONAL PARTIMOS PARA

REFLETIR SOBRE ESSES PROCESSOS DE VIOLAÇÃO E

INTERDIÇÃO DO DIREITO À CIDADE?

PARTICIPAÇÃO NO GRUPO DE TRABALHO ACADÊMICO PROFISSIONAL

MULTIDISCIPLINAR, REPRESENTANDO O CONSELHO REGIONAL DE

SERVIÇO SOCIAL – 7ª REGIÃO, NO ANO DE 2013, PARA ELABORAÇÃO DE

PARECER ACERCA DAS DUAS PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO URBANA

PARA A VILA AUTÓDROMO: A PROPOSTA DO PLANO POPULAR DA

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES, PESCADORES E AMIGOS DA VILA

AUTÓDROMO (AMPAVA); E O PLANO DA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO

DE JANEIRO;

Page 4: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

PARTICIPAÇÃO NA ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DA COMISSÃO DE

DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA DA ASSEMBLEIA

LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (ALERJ), DO ANO DE 2014,

NO SEGMENTO SOBRE “LUTA PELO DIREITO À MORADIA”, A PARTIR DA

REDAÇÃO DO CAPÍTULO “OS IMPACTOS SOCIAIS DAS TRANSFORMAÇÕES

URBANAS NA ÁREA PORTUÁRIA EM FUNÇÃO DO PROJETO PORTO

MARAVILHA.

PROJETOS DE PESQUISA E DE EXTENSÃO, NA REGIÃO PORTUÁRIA DO RIO

DE JANEIRO, DESENVOLVIDOS COMO DOCENTE DA FACULDADE DE

SERVIÇO SOCIAL DA UERJ

Page 5: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E POLÍTICOS PARA O

DEBATE

• O espaço é uma das dimensões estruturadoras da vida social e condição para a

produção e reprodução capitalista, logo expressa a dinâmica dialética das contradições

das relações sociais. É na esfera da vida cotidiana que o território se produz, adquire

sentido e dimensão prática e sensível (material e simbolicamente). Portanto, o espaço

urbano é fruto de homens e mulheres concretos, em situações historicamente concretas

e que depende da ação e da mobilização das classes sociais e do Estado;

• O atual momento histórico de desenvolvimento das relações capitalistas pode ser

compreendido a partir do que David Harvey conceitua como acumulação por

espoliação, com forte vetor de violência e intensificação da luta de classes, mediante a

expropriação de direitos ou do que se conseguiu construir como experiência histórica

de bem comum. A democracia aparece como um “excesso” da ordem burguesa;

• O processo de urbanização ocupa historicamente papel de destaque na dinâmica de

acumulação e reprodução do capital, através da subordinação da terra à extração de

renda fundiária e mediante a criação do que Raquel Rolnik chama de complexo

financeiro-imobiliário. O Estado desempenha papel fundante nesse processo, em

Page 6: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

• especial no financiamento público ao chamado coplexo imobiliário-financeiro,como

também nas formas de regulação publica sobre o uso e a ocupação da terra. Contudo, a

urbanizaçao também é fruto da dinâmica da vida cotidiana da classe trabalhadora, das

suas formas de reprodução, dos seus desejos, representações sobre a cidade e as formas

práticas do habitar. Logo a cidade concentra as contradições características dos

processos de disputa pelo sentido, a forma e o conteúdo das práticas de uso e ocupação

do solo urbano;

• A humanização da cidade pressupõe pensar a prioridade do uso sobre o valor de troca, o

lugar da fruição, do encontro, de novas centralidades, do direito à diversidade do ser

social, do direito à memória das nossas práticas sociais e que se expressa, por exemplo,

na nossa experiência de ambiente construído, de tempo, de desenvolvimento.

• O que será apresentado a partir das situações da Vila Autódromo e da Região Portuária

do Rio está diretamente articulado à retomada da participação do Trabalho Social, em

especial do Serviço Social, em processos de remoção e erradicação de favelas e à

participação orgânica do Estado e do PMCMV nesse processo de expropriação da terra

urbana e dos direitos sociais e urbanos.

Page 7: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

VILA AUTÓDROMO

De acordo com o PARECER do Grupo de Trabalho

Acadêmico Profissional Multidisciplinar:

“No dia 02 de março de 2013, a Associação de Moradores,

Pescadores e Amigos da Vila Autódromo (AMPAVA)

encaminhou às entidades que subscrevem este documento,

carta em que informou o que segue:

Page 8: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

No dia 16 de agosto [de 2012], em audiência com o Prefeito do Rio de Janeiro, Ilmo. Sr.

Eduardo Paes, a AMPAVA apresentou-lhe o Plano Popular da Vila Autódromo e solicitou

que este fosse implementado, em lugar da remoção forçada. Na ocasião, foi proposta ao

Prefeito a constituição de um Grupo de Trabalho Técnico-Profissional, com representantes

de entidades idôneas comprometidas com questões relativas ao desenvolvimento urbano,

desenvolvimento social e à moradia, para que elaborasse laudo técnico avaliando os planos

da municipalidade e da AMPAVA. Este Grupo de Trabalho Técnico-Profissional, além de

emitir parecer acerca de qual o projeto mais indicado (o da Prefeitura ou o da AMPAVA),

poderá igualmente recomendar a adoção das medidas que julgar pertinentes para que se

compatibilizem a realização dos Jogos Olímpicos e o respeito ao direito constitucional à

moradia adequada, assim como a função social da propriedade e da cidade.

Em seguida, e tendo em vista que a Prefeitura não havia tomado qualquer iniciativa, a

AMPAVA convidou nossas entidades a indicarem “um representante para integrar o Grupo

Profissional para examinar e avaliar os dois planos propostos para a Vila Autódromo – o da

Prefeitura, que prevê a remoção, o da AMPAVA, que propõe a permanência da

comunidade.”

Page 9: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

• 1970 – Inicio da ocupação das terras, concomitante ao aterro de parte das lagoas e brejos

da região para a construção do Autódromo de Jacarepaguá e do Riocentro, em 1977.

“Quando as primeiras famílias se estabeleceram na localidade, ainda nos anos 1970,

porém, a região do chamado "Sertão Carioca" era considerada rural e sem infraestrutura

urbana, sendo a população predominantemente composta por pequenos agricultores,

sitiantes, pescadores artesanais e extrativistas”

• 1993 – Primeira ameaça de remoção, através de Ação Cívil Pública, movida pelo então

subprefeito de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca, Eduardo Paes, atual Prefeito da

cidade do RJ, baseado no argumento de que a Vila Autódromo causava “dano urbano,

estético e ambiental. Contudo, os moradores conseguiram resistir e permanecer no

local.

• 1994 – Governo do estado do RJ outorgou, através da Secretaria da Habitação e

Assuntos Fundiários do Rio de Janeiro, 85 Termos de Concessão de Uso do terreno de

sua propriedade pelo prazo de 30 anos, e em 1998, o governo do estado renovou as

concessões de uso, ampliou o prazo para 90 anos e outorgou mais 162 Termos de

Concessão de Uso, totalizando 247 famílias.

HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DO CONFLITO

Page 10: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

• 1996 – Subprefeito Eduardo Paes novamente ameaça de remoção os moradores sob a

alegação de “área de risco”.

• 2007 – Novas ameaças de remoção, agora vinculadas à organização dos Jogos Pan-

Americanos, no Rio de Janeiro, atingem a Vila Autódromo e outras localidades da Zona

Oeste, como Arroio Pavuna, Canal do Cortado, Canal do Anil.

• 2005 – A área titulada da Vila Autódromo é decretada como AEIS e inicia-se processo

de negociação junto ao ITERJ, a SERLA, ao MPE e a Defensoria Pública para a

regularização das moradias antigas localizadas na faixa marginal da lagoa.

• 2009 – A partir do anúncio oficial da realização dos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade

do RJ, e da consequente elaboração do Plano de Legado Urbano e Ambiental Rio

2016, a Barra da Tijuca passa a ser o principal território de destino das instalações

olímpicas e dos projetos de infraestrutura urbana, notadamente de mobilidade urbana.

Assim, intensifica-se o processo de ameaça de remoção integral dos moradores da

Vila Autódromo, para a ampliação das Avenidas Abelardo Bueno e Salvador Allende.

• 2010 – Realização de concurso internacional para definição do Plano Urbanístico do

Parque Olímpico, uma das principais instalações Olímpicas, situada ao lado da Vila

Page 11: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Autódromo, que passaria a ocupar as antigas instalações do Autódromo de Jacarepaguá. O

projeto vencedor, contudo, defende a permanência da Vila Autódromo e enfatiza a

importância da convivência entre cidade e favela.

• 2010 – Nova mudança dos argumentos do poder público para a remoção da Vila

Autódromo. Agora a justificativa para a remoção apresentada pelo prefeito aos

representantes da AMPAVA visava atender exigências do Comitê Olímpico Internacional

(COI), em que as condições de segurança deveriam ser garantidas pela criação de uma

área livre junto ao perímetro do Autódromo e a faixa marginal de proteção da Lagoa

de Jacarepaguá.

• 2011 – “o juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital julgou procedente a

Ação Civil Pública movida pela Prefeitura, exigindo a demolição das construções

existentes e delimitadas na faixa marginal de proteção existente no perímetro de 25

metros da lagoa, e condenando os réus ao pagamento das despesas referentes à demolição

(Anexo 5). Em julho desse mesmo ano, o prefeito encaminhou ofício ao governador

consultando sobre a possibilidade de revogação dos Termos de Concessão de Uso

cedidos pela antiga Secretaria de Estado Assuntos Fundiários (SEAF), o que não é

institucionalmente atendido. Três meses depois, o então secretário municipal de habitação,

Jorge Bittar, realizou uma reunião na Vila Autódromo a fim de apresentar a proposta de

realocação dos moradores em um conjunto habitacional a ser construído na região.”

Page 12: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

• 2012 – Elaboração do Plano Popular da Vila Autódromo e apresentação ao Prefeito

Eduardo Paes que se comprometeu a submeter o Plano a uma avaliação técnica da sua

equipe, no prazo de 45 dias, o que nunca foi cumprido.

• 2012 (dezembro) – Início do contrato do Projeto Habitacional Parque Carioca,

através do PMCMV (faixa 1), com previsão de 900 u/h e custo do contrato no valor de

R$ 72.500.000,00. O terreno para edificação do conjunto habitacional foi fruto de

desapropriação pelo poder municipal, com pagamento de indenização ao proprietário na

ordem de 180% acima do valor estimado inicialmente pelo município

(R$19.9000.000,00). O referido terreno está mapeado pelo município do RJ como área

de média e alto risco ambiental, de acordo com o Mapa de Suscetibilidade ao

Escorregamento da Geo-Rio, além de ter abrigado atividade mineradora (extração de

saibro e areia) e demandar ação de descomissionamento, como condição para o

parcelamento e edificação ou mudança de uso do solo.

• 2013 – Constituição do Grupo de Trabalho Acadêmico Profissional Multidisciplinar,

a partir de solicitação da AMPAVA, para avaliação das duas propostas existentes para a

Vila Autódromo (remoção e urbanização) e emissão de parecer. Apresentação dos

resultados do Grupo de Trabalho e entrega do Parecer à AM, em evento no Instituto de

Arquitetos do Brasil (agosto de 2013).

Page 13: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 14: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 15: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

CONCLUSÕES DO PARECER DO GRUPO DE TRABALHO

Critério fundamental para a análise das propostas: a urbanização e a

segurança da posse devem prevalecer como políticas de reconhecimento

do direito à moradia e da função social da cidade e da propriedade, sobre

medidas de remoção.

3.2. Recomendações:

3.2.1. Que as soluções adotadas para a moradia considerem não só o aspecto

físico da habitação, mas o direito à cidade e às práticas culturais, o que não está

sendo atendido no projeto do Parque Carioca.

3.2.2. Que em relação aos moradores que ocupam a Faixa Marginal da Lagoa de

Jacarepaguá, que a Prefeitura apresente um laudo técnico que comprove a

alegação de risco socioambiental, tendo em vista que não encontramos nenhum

indício, em visitas à localidade e em pesquisas documentais, da existência de

inundações ou deslizamentos expressivos na área. Havendo razões técnicas

devidamente fundamentadas por especialistas para justificar a remoção de

Page 16: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

residências em situação de risco, recomendamos que se considere apenas os casos

daquelas que estejam dentro da delimitação legal da faixa marginal de 15 metros,

tendo em vista a anterioridade da instalação de muitas destas famílias no local em

relação à legislação mais recente sobre o assunto.

3.2.3. Que caso o laudo técnico ateste o risco à vida destes moradores, o

reassentamento seja feito na própria localidade e de forma transparente e com

expresso respeito às orientações da legislação específica, apresentada nesse parecer,

não efetuando qualquer desapropriação ou demolição na localidade antes que as

famílias estejam devidamente reassentadas em uma nova moradia, oferecendo-lhes

todo o amparo jurídico e social necessário, assim como lhes dando a mínima

possibilidade de optar entre uma indenização, cujo valor de avaliação do imóvel esteja

de acordo com o valor atual do metro quadrado no mercado imobiliário da região, e o

recebimento de uma nova residência que atenda às necessidades de cada grupo

familiar.

3.2.4. Que as alternativas de reassentamento na própria localidade devem ser

priorizadas, respeitando as relações socioculturais existentes entre as famílias e com o

Page 17: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

meio urbano e ambiental em que estão inseridos. Sendo assim, recomendamos que as

alternativas habitacionais sejam apresentadas às famílias visando eliminar situações

de risco, precariedade e insalubridade, oferecendo soluções de permanência na

localidade,a opção de um apartamento no conjunto residencial Parque Carioca ou a

compra assistida de outra residência na região que reconheça a posse e não apenas as

benfeitorias.

3.2.5. Em relação aos donos de estabelecimentos comerciais na área atingida, que

sejam seguidas as mesmas orientações, cabendo ao poder público, caso não haja

opção de reassentamento mantendo o estabelecimento, oferecer-lhes todas as

garantias de serem ressarcidos financeiramente de maneira justa pela perda do

negócio na localidade. Para que a remoção destas famílias em área de risco

socioambiental não seja em vão, expressando uma grave contradição do poder

público, recomendamos que as condições do terreno adquirido para a construção do

empreendimento do Parque Carioca também seja alvo de uma rigorosa avaliação

técnica, tendo em vista a classificação da área de “alto e médio risco”, pela GeoRio.

Nesse quesito, cabe ressaltar que a área prevista para a construção do Parque Carioca

deverá estar condicionada ao cumprimento do procedimento de descomissionamento

Page 18: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

contido na Lei Municipal Complementar n. 90 de 20 de maio de 2008. Identificados

os riscos, espera-se que os mesmos sejam comunicados oficialmente aos

financiadores e executores da obra para que ela não se realize até que as condições

de segurança no local sejam estabelecidas.

3.2.6. Que o estudo do “impacto urbano do empreendimento” Parque Carioca e o

planejamento das ações e políticas públicas necessárias (matriz de

responsabilidade), no território, sejam refeitos com base na caracterização e

dimensionamento aprofundados da demanda já existente e a ser gerada como

impacto sobre o sistema de saúde, o sistema de transporte, a rede sócio assistencial,

o sistema de educação, o sistema de infraestrutura urbana de saneamento e o

mercado de trabalho. Para tanto, deve ser levado em consideração o conjunto das

redes públicas existentes em seus diferentes níveis de responsabilidade federativa.

3.2.7. Que diante da fragilidade dos argumentos utilizados pela Prefeitura e dos

impactos sociais negativos que seriam provocados pela remoção da Vila

Autódromo, a urbanização dessa localidade, ocorra inspirada no Plano Popular de

Desenvolvimento Urbano, Econômico, Social e Cultural, desenvolvido pela

AMPAVA em parceria com o ETTERN/IPPUR/UFRJ e o NEPUH/EAU/UFF

Page 19: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

O GRUPO DE TRABALHO ACADÊMICO PROFISSIONAL

MULTIDISCIPLINAR, DESTA FORMA, RECONHECE E

VALIDA O PLANO POPULAR DA VILA AUTÓDROMO

COMO ALTERNATIVA CIDADÃ, NO QUE SE REFERE

AOS ASPECTOS FUNDIÁRIO, SÓCIO URBANÍSTICO,

EDILÍCIO E AMBIENTAL PARA A ÁREA HOJE

OCUPADA PELA VILA AUTÓDROMO.

(PARECER do Grupo de Trabalho Acadêmico Profissional

Multidisciplinar)

Page 20: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

SITUAÇÃO ATUAL DA VILA AUTÓDROMO

• 2013 a 2016 - Boa parte das moradias, na faixa marginal de proteção da Lagoa de

Jacarepaguá, que se situam em área de construção de via de acesso ao Parque

Olímpico, já foi removida, levando à redução drástica das famílias de moradores

ainda existentes na localidade. Estima-se em 50 o número de famílias ainda

existente.

• Estratégia de intensificação do processo de remoção e de violação do direito à moradia

através da degradação social , urbana e ambiental do território, notadamente

através da destruição de casas e estabelecimentos comerciais, religiosos, etc, com a

manutenção dos escombros no local, tornando o território uma espécie de “campo

de destruição”, que mina as solidariedades, as capacidades de resistência, as

condições de saúde e segurança das famílias, tornado a vida cotidiana insustentável.

Page 21: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Vila Autódromo antes das remoçõesVila Autódromo durante as obras iniciais de construção do

Parque Olímpico

Panorama recente (final de 2015), após intenso processo de remoção

Page 22: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Formas de Violação do direito à moradia, durante o processo de remoção, através da produção de um

ambiente de destruição, risco socioambiental para os moradores que resistem e “fragilização” das

resistências

Page 23: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

2016 (Fevereiro) – Reatualização do Plano Popular da Vila Autódromo, agora

contemplando 50 famílias

Page 24: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Projeto da Prefeitura para a Vila Autódromo prevê 25 famílias, escolas

municipais (prédios maiores, nas pontas) e quadra esportiva.

2016 (março) – Prefeitura apresenta Proposta de Urbanização de Vila Autódromo,

com previsão de atendimento de 25 famílias, após ação intensiva, sistemática e

violenta de remoção de moradores. Tal proposta não possui qualquer diálogo com o

Plano popular da Vila Autódromo

Page 25: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Projeto Porto Maravilha e Consórcio Porto Novo

• Criação da OUC do Porto do Rio a partir da mudança do Plano Diretor do

município do Rio, em final de 2009, e do instrumento da Parceria Público

Privada;

• O edital de licitação para a contratação da PPP, na modalidade de concessão

administrativa, foi publicado em novembro de 2010 e a concorrência foi

vencida pelo consórcio Porto Novo composto pelas empresas Noberto

Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia;

• A criação da PPP do Porto Maravilha - materializada através do consórcio

“Porto Novo”- dependeu, ao mesmo tempo, da decisão inédita do conselho

gestor do FGTS autorizando a aplicação dos recursos do fundo em uma

operação urbana consorciada, no caso a do Porto Maravilha, e a

transferência de quase 8 bilhões de reais do FGTS para pagamento dos

custos desta mesma OUC, leia-se custos com a PPP.

Page 26: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Modelagem Jurídica e Urbanística

Criação da AEIU do Porto Maravilha: território delimitado pela

totalidade dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo e parte dos

bairros do Centro, São Cristóvão e Cidade Nova.

Criação da CDURP: A Companhia de Desenvolvimento Urbano da

Região do Porto do Rio (CDURP), criada pela Lei Complementar

nº102/2009, tem a responsabilidade de promover todo o desenvolvimento

urbano da AEIU do Porto do Rio; coordenar, viabilizar ou executar ações

de concessão e parcerias; gerir ativos patrimoniais, dentre outras funções.

Page 27: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Modelagem Jurídica-Urbanística-Financeira

• Emissão de Certificados de Potencial Adicional de Construção,pelo município do Rio de Janeiro, na quantidade de até 6.436.722(seis milhões quatrocentos e trinta e seis mil setecentos e vinte e dois)certificados, correspondentes a 4.089.502 m² (quatro milhões,oitentae nove mil quinhentos e dois metros quadrados)adicionais deconstrução.

• Criação do Programa de Parceria Público Privada.

• Criação de Leis de incentivos fiscais e tributários para incentivo aconstrução na região.

• Lei Complementar nº 5.780 de julho de 2014, que incentiva aprodução habitacional no Porto Maravilha, através, de diferentesmodalidades de renúncia fiscal do município, e a Lei complementarnº143 de agosto de 2014, que flexibiliza os padrões construtivos paraincentivo da produção habitacional nas áreas de consumo de CEPACe na Área de Preservação do Ambiente Cultural (Apac) SAGAS.

• Flexibilização dos parâmetros edilícios e urbanísticos na região

Page 28: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 29: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 30: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 31: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 32: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Empreendimentos urbanos previstos e/ou já realizados

Page 33: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 34: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 35: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 36: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a
Page 37: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Programa de Atendimento Econômico e Social da

População Afetada da OUC do Porto

• O Estatuto da Cidade define que qualquer plano de operação urbana

consorciada no país deve prever tal programa de atendimento econômico e

social;

• Dentre os princípios que fundamentam a lei nº 101/2009, de criação do

Projeto Porto Maravilha, é importante destacar o atendimento econômico

e social da população diretamente afetada; a promoção do adequado

aproveitamento dos vazios urbanos ou terrenos subutilizados ou ociosos; e

o apoiamento da regularização fundiária urbana nos imóveis de interesse

social.

Page 38: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Programa de Atendimento Econômico e Social da População

Afetada da OUC do Porto

Segundo definição da Lei nº101/2009 o Programa de AtendimentoEconômico e Social da População Afetada da OUC do Portodestina-se a população de baixa renda e prevê:

• 1) a produção de habitação de interesse social em qualquer setorda OUC, inclusive os mais valorizados pelo consumo deCEPACS, desde que previsto o uso residencial;

• 2) ações de reassentamento para população removida pelasintervenções da própria operação urbana ;

• 3) alocação de recursos da OUC e outras formas definanciamento de recursos – é bom lembrar que as transaçõesfinanceiras através da venda e/ou permuta dos Certificados dePotencial Adicional de Construção (CEPACS), representam aprincipal fonte de recursos da OUC do Porto o que significa dizerque essa é também a fonte que deve custear o referido programa ;e 4) a previsão de participação social da população na definição deplanos de desenvolvimento sustentáveis locais.

Page 39: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Produção de Habitação de Interesse Social na região

• O Programa de Atendimento Econômico Social do Porto Maravilha apenas

define um conjunto de intervenções físicas de obras e projetos viários e de

infraestrutura urbana sem qualquer previsão de componente ou programa

claramente definido e orientado para a produção de habitação de interesse

social, através do aproveitamento dos vazios urbanos existentes na área de

intervenção, notadamente dos imóveis e terrenos públicos.

• Final de 2013: Prefeitura anuncia a produção de 2.200 unidades

habitacionais na Região Portuária através do Programa Minha Casa

Minha Vida (PMCMV), a partir da desapropriação “de imóveis em situação

fundiária irregular, degradadas ou abandonados ou, ainda, imóveis públicos

da União, do Estado ou do Município” (disponível em:

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/09/prefeitura-do-rio-

anuncia-incentivos-para-habitacao-na-zona-portuaria.html)

Page 40: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

• Em 2015, a partir da Instrução Normativa MC idades Nº 33, de 17/12/2014,

que regulamenta a aplicação de recursos do FGTS em Operações Urbanas

Consorciadas, a OUC do Porto foi obrigada a elaborar, de forma participativa,

um PLHIS do Porto, sob pena de não repasse dos recursos do fundo. O

processo participativo se reduziu a cinco audiências e uma Conferência

Municipal para a apreciação e discussão do PHIS Porto, antes da aprovação

pelo Conselho Gestor do Fundo Municipal de HIS.

• O PLHIS prevê: produzir 5.000 unidades de habitação de interesse social

(HIS); 1.000 unidades residenciais e 250 espaços comerciais através do

Programa de Locação Social; atendimento de 2.500 imóveis de proprietários

de baixa renda pelo Programa de Melhorias Habitacionais; elaboração e

implementação dos programas de urbanização para as duas áreas de especial

interesse social (AEIS) existentes, do Morro da Providência e da Pedra Lisa.

Page 41: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Produção de Habitação de Interesse Social na região

Quando se analisam os dados produzidos pela Secretaria Municipal de

Urbanismo sobre as unidades habitacionais do MCMV licenciadas na

cidade, até o ano de 2013, verifica-se o total de 73.321 u/h.

Ao se desagregar a produção imobiliária do PMCMV na Região

Administrativa da Zona Portuária, constata-se o licenciamento de apenas

600u/h que representa menos de 1% da produção total do MCMV na

cidade. Tal valor torna-se ainda mais insignificante quando veirifca-se

que, desse universo, apenas 182u/h, ou seja, menos de 0.3% do total

das u/h do PMCMV licenciadas na cidade, enquadram-se na faixa de

rendimento de 0 a 3 salários.

Page 42: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Alto custos do financiamento e da manutenção dos antigos casarios da

área do SAGAS (tanto sob o ponto de vista da manutenção física, quanto dos

encargos financeiros que incidirão sobre os imóveis) que serão reformados e

transformados em empreendimentos do antigo programa municipal “Novas

Alternativas” ou do PMCMV. Tais custos afastam os segmentos de mais baixa

renda desse perfil de habitação.

Fragmentação do licenciamento na Zona Portuária em diversos endereços,

com reduzido nº de unidades habitacionais por empreendimento licenciado. Tal

perfil está diretamente associado às características dos imóveis antigos

existentes nos bairros da APAC-SAGAS e a limitada capaciadde de produção

habitacional dos mesmos em termos de área edificável.

Page 43: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

Ações de remoção de moradias/moradores da Região Portuária,

notadamente no Morro da Providência, através do Programa de

Urbanização de favelas da Prefeitura do Rio de Janeiro, denominado

Morar Carioca, com previsão de remoção de mais de 800 moradias.

Ações de desapropriação e/ou remoção de moradores da áreas de

cortiço da região;

Page 44: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

CONCLUSÕES E SÍNTESE DOS RESULTADOS

• A defesa e garantia da moradia digna na região portuária depende:

1) da demarcação legal da terra e dos imóveis existentes na

região, enquanto área de especial interesse social (AEIS) para fins

de produção de moradia social;

2) da destinação de recurso da OUC da Região do Porto do Rio

para a produção de habitação de interesse social;

3) da elaboração e cumprimento do correspondente plano de

urbanização para cada AEIS ;

4) da real implementação do recente PLHIS do Porto aprovado

em 2015, de sua articulação ao PLHIS da Cidade do RJ e do

controle social de sua implementação.

Page 45: Remoções, segregação e violência urbana: interdição do direito a

CONCLUSÕES E SÍNTESE DOS RESULTADOS

Da elaboração e cumprimento do correspondente plano de

urbanização das AEIS localizadas na área de abrangência do Projeto

Porto Maravilha (tanto as futuras áreas, quanto as existentes, como a

AEIS do Morro da Providência e a AEIS da Pedra Lisa), que garanta

o direito à moradia com urbanidade e proteja os moradores das

práticas de remoção, gentrificação e/ou especulação imobiliária

decorrentes das transformações das formas de uso e ocupação da

terra, a partir da OUC;

4) do rompimento com as práticas de invisibilização e banimento

social e urbano do bairro do Caju frente à dinâmica de

desenvolvimento da cidade e, em especial, da OUC do Porto.