requerimento interdição parcial complexo penitenciário - 29.04.08

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  • 8/14/2019 Requerimento Interdio Parcial Complexo Penitencirio - 29.04.08

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    MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE GOIS

    25 PROMOTORIA DEJUSTIA DE GOINIA

    1

    EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 4 VARA

    CRIMINAL DE GOINIA VARA DA EXECUO PENAL.

    "Ningum conhece verdadeiramente uma nao at que tenha estado dentro de suas

    prises. Uma nao no deve ser julgada pelo modo como trata seus cidados mais

    elevados, mas, sim, pelo modo como trata seus cidados mais baixos".

    NELSON MANDELA

    O MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE GOIS, por seu 25

    Promotor de Justia da Comarca de Goinia, vem presena de Vossa

    Excelncia, com fundamento no art. 66, VIII, da Lei de Execuo Penal,

    requerer a INTERDIO PARCIAL dos estabelecimentos penais que

    compem o COMPLEXO PENITENCIRIO DE APARECIDA DE

    GOINIA e da CASA DO ALBERGADO MINISTRO GUIMARES

    NATAL, nos termos seguintes:

    I OCUPAO/SUPERLOTAO DAS UNIDADES

    O complexo penitencirio de Aparecida de Goinia integrado pela

    Penitenciria Odenir Guimares (POG), Casa de Priso Provisria (CPP), Penitenciriade Mulheres, Ncleo de Custdia e pela Colnia Agroindustrial do regime semi-aberto.

    A Casa do Albergado Ministro Guimares Natal, destinada ao regime aberto, situa-se no

    Jardim Europa, nesta Capital.

    A superlotao dos estabelecimentos penais no novidade, sendo uma

    situao que remonta h dcadas, marcadas pela falta de polticas pblicas voltadas para

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    o setor penitencirio, notadamente pelo desinteresse na construo de novas unidades. O

    resultado que se tem uma ocupao desmedida das prises, diante da tolerncia que

    existe ao amontoamento de homens e mulheres em ambientes que somente contribuem

    para a degradao humana. Mesmo conscientes dos reflexos nefastos do

    encarceramento de pessoas em prises superlotadas (comprovadamente um dos

    principais fatores crimingenos na atualidade), os agentes do Estado insistem em

    ignorar essa realidade, limitando-se a repetir os erros do passado, fazendo das prises

    simples depsitos de pessoas, sem qualquer respeito aos limites fsicos de ocupao.

    No caso dos estabelecimentos jurisdicionados por essa Vara de Execuo

    Penal, segundo o mais recente relatrio da Secretaria de Estado da Justia repassado a

    esta Promotoria de Justia (docs. 1-8), as unidades esto assim ocupadas:

    Estabelecimento Penal Capacidade Ocupao atual Dficit

    PENITENCIRIA ODENIR

    GUIMARES

    730 1406 676

    CASA DE PRISO PROVISRIA 680 1208 528

    NCLEO DE CUSTDIA 30 59 29

    PENITENCIRIA DE MULHERES 24 49 25

    COLNIA AGROINDUSTRIAL (NOVO

    SEMI-ABERTO)

    230 394 164

    COLNIA AGROINDUSTRIAL

    (ANTIGO SEMI-ABERTO)

    109 186 77

    CASA DO ALBERGADO 120 237 117

    TOTALGERAL 1923 3539 1616

    Chega a ser assustador, mesmo para quem h tanto tempo milita na

    execuo penal, o panorama desolador e degradante desses estabelecimentos penais

    superlotados. Seja na cadeia pblica ou na penitenciria; nas unidades de homens ou de

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    mulheres; nas unidades do regime fechado ou semi-aberto; ou at no albergue, o que se

    v misria, abandono e indignidade. Resultado no apenas da superlotao carcerria,

    mas que se potencializa pelas previsveis conseqncias advindas dessa cultura que tem

    a priso como mero depsito de pessoas, amontoadas de qualquer maneira, mesmo que

    no haja espaos sequer para o repouso noturno.

    Particularmente no que tange Casa de Priso Provisria, cuja ocupao

    fora discutida em incidente especfico perante essa VEP no final do ano de 2003, numa

    iniciativa que j demonstrava a preocupao dos rgos da execuo penal,

    particularmente do Ministrio Pblico e da prpria VEP, para com a ocupao ilimitada

    dos espaos carcerrios, h uma fixao judicial do limite de superlotao daquela

    unidade. Na ocasio fixou-se em 1.250 presos o limite de ocupao da CPP. Mesmo

    tendo sido tal providncia determinada em procedimento instaurado por este rgo,

    hoje percebe-se o equvoco da medida que, no obstante algum pequeno efeito positivo,

    acabou na prtica por legitimar o abuso e a ilegalidade da superlotao. Talvez tenha se

    servido aquela providncia como uma espcie de pausa para a reflexo, at que viesse

    uma medida duradoura, como a que ora se apresenta.

    Os espaos carcerrios h muito esto superlotados, fato que, a despeitodas extremamente danosas consequncias derivadas do amontoamento de pessoas nas

    prises, por muitos visto como normal. Regras estabelecidas em diversos estatutos,

    desde a Declarao Universal dos Direitos do Homem, passando pelo Pacto de San Jos

    da Costa Rica, pela Constituio brasileira, chegando s expressas disposies da Lei de

    Execuo Penal, so simplesmente ignoradas.

    A tragdia humanitria que se percebe no interior das prises deixa

    patente que no sem razo que o Brasil vem sendo reiteradamente denunciado pelos

    rgos internacionais de defesa de direitos humanos.

    II DEFICINCIA NA ASSISTNCIA SADE DOS PRESOS

    Sobre a assistncia ao preso, dispe a Lei de Execuo Penal:

    Art. 10. A assistncia ao preso e ao internado dever do Estado, objetivando prevenir o

    crime e orientar o retorno convivncia em sociedade.

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    Pargrafo nico. A assistncia estende-se ao egresso.

    Art. 11. A assistncia ser:

    I - material;

    II - sade;

    III - jurdica;

    IV - educacional;

    V - social;

    VI - religiosa.

    No complexo penitencirio de Aparecida de Goinia tm sido rotineiras

    reclamaes trazidas ao Ministrio Pblico em razo da deficincia no atendimento

    sade da populao carcerria, situao decorrente, dentre outros fatores, tambm da

    superlotao. As unidades prisionais no esto aparelhadas para uma demanda que vai

    muito alm de sua capacidade e de suas condies estruturais.

    No obstante a formalizao de recomendaes deste rgo diretamente

    aos diretores das unidades1 ou mesmo s instncias superiores da Secretaria de Estado

    da Justia, as deficincias persistem e continuam a resultar em violaes a esse direito

    bsico do preso. Sobre a assistncia sade, dispe a LEP:

    Art. 14. A assistncia sade do preso e do internado de carter preventivo e curativo,

    compreender atendimento mdico, farmacutico e odontolgico.

    1 (Vetado).

    1 A partir de reclamaes de presos e familiares de presos, bem como da Pastoral Carcerria, somente no

    ano de 2007 e neste incio de 2008, foram encaminhadas 39 (trinta e nove) recomendaes formais do

    Ministrio Pblico s diversas instncias da administrao penitenciria, objetivando a garantia de

    atendimento sade da populao carcerria nos casos mais graves.

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    2 Quando o estabelecimento penal no estiver aparelhado para prover a assistncia

    mdica necessria, esta ser prestada em outro local, mediante autorizao da direo do

    estabelecimento.

    Pessoas com doenas graves ou infecto-contagiosas alojadas em

    ambientes superlotados e insalubres, em contato direto com outros presos; homens que

    carecem de intervenes cirrgicas ou acompanhamento ps-operatrio, outros de

    atendimento odontolgico de urgncia; portadores de distrbios psiquitricos sem

    acesso medicao de controle. Essa a realidade dos estabelecimentos penais do

    complexo de Aparecida de Goinia, perceptvel em visita a qualquer de suas unidades.

    O crnico problema da falta de gua potvel para consumo dos presos,

    embora objeto de procedimento no mbito do Ministrio Pblico com perspectiva de

    soluo em termo de ajustamento de conduta, persiste h tempos e expe mais ainda a

    sade da populao carcerria. A propsito do assunto, em relatrio aps inspeo

    realizada por aquele rgo na Penitenciria Odenir Guimares (doc. 9), o Conselho

    Penitencirio do Estado de Gois atestou:

    Situao precria. A gua do presdio fornecida pelo DAIAG Distrito Agroindustrial

    de Aparecida de Goinia. A interrupo no fornecimento de gua em um domingo anteriora essa inspeo (dia de visita) provocou um incio de revolta pelos presos, cujo movimento

    foi contido com tomada de providncia rpida. Na ocasio, foi feito o abastecimento pela

    Saneago e Corpo de Bombeiros.

    Convm tambm registrar que em recente visita Penitenciria Odenir

    Guimares (realizada em fevereiro ltimo), esta Promotoria de Justia foi comunicada

    pela direo que no havia sequer aspirinas na farmcia daquela unidade e que os

    medicamentos somente ficam disponveis quando se consegue alguma doao. Na

    ocasio, no havia previso sobre futuro provimento de medicamentos para oatendimento bsico da populao carcerria. Sobre a questo, o relatrio do Conselho

    Penitencirio, acima referido, tambm informa:

    Geralmente so recebidas doaes de medicamentos feitas por laboratrios, os quais, no

    entanto, no so utilizados em razo de que no existe o profissional para fazer a

    prescrio.

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    Outro agravante em matria de assistncia ao preso o deficiente servio

    de transporte e escolta. Mesmo aqueles presos que conseguem a marcao de consultas

    ou de exames laboratoriais no tm garantido o atendimento, pois nem sempre haver

    transporte disponvel ou, eventualmente, escolta para o servio. Inclusive procedimentos

    cirrgicos j se frustraram pela deficincia no transporte. Como se v dos documentos

    provenientes da Secretaria de Estado da Justia, somente no ano de 2007 cerca de 100

    (cem) procedimentos agendados deixaram de se realizar por deficincia no servio de

    transporte e de escolta (docs. 10-11), ao passo que somente nos quatro primeiros meses

    deste ano de 2008 outros 65 (sessenta e cinco) procedimentos se frustraram pelos

    mesmos motivos (doc. 12).

    Embora seja desnecessrio argumentar acerca do prejuzo humano

    decorrente da no realizao de procedimentos dessa natureza, nunca demais lembrar

    que previsvel o agravamento do quadro clnico do doente, que, alm de levar ao

    aumento do sofrimento e da dor, pode resultar em mutilaes, atrofias irrecuperveis,

    debilidades permanentes, morte.2

    No h, bom que se diga, uma rebelio em andamento ou qualquer

    outra espcie de insubordinao ou alterao da ordem interna dos estabelecimentos3

    .Ocorre, sim, uma tragdia silenciosa. Colapso talvez seja palavra que defina o que

    2 Em visita realizada na Casa de Priso Provisria no dia 17 de abril/2008, constatei pessoalmente a

    situao crtica em que se encontra a assistncia sade da populao carcerria. Na ocasio, visitei o

    posto de sade da CPP, onde conversei com diversos presos doentes, dois dos quais (Marcos Correia

    Braga e Valtemir Ribeiro da Costa) correm o risco de terem braos amputados por no conseguirem

    atendimento adequado. Tudo isto diante de uma nica tcnica em enfermagem, impotente diante dasituao, talvez to desamparada nas suas condies de trabalho quanto os presos na assistncia sade.

    3 fato, todavia, que no final de 2007 houve uma rebelio no interior da Penitenciria Odenir Guimares,

    que resultou inclusive na morte de um preso, evento ocorrido logo aps a veiculao na imprensa

    goianiense de imagens produzidas em vdeo pela ASPEGO (Associao dos Servidores do Sistema

    Prisional do Estado de Gois), documento que mostra com muito realismo a precariedade das instalaes

    e o quadro de superlotao daquela unidade prisional (doc. 13).

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    acontece no interior das unidades prisionais. Homens e mulheres encarcerados sob

    condies de indignidade em ambientes insalubres e que no comportam tantas pessoas,

    sem um mnimo atendimento sade.

    Situao que afronta o princpio da dignidade da pessoa humana, pilar da

    Repblica Federativa do Brasil enquanto Estado Democrtico de Direito (art. 1, III, da

    CF), expondo seres humanos a um desnecessrio sofrimento extra no cumprimento da

    pena, em coliso direta com os direitos do preso expressamente previstos na

    Constituio e na Lei de Execuo Penal.

    Afinal, a Constituio veda penas cruis (art. 5, XLIII) e assegura aospresos o respeito sua integridade fsica e moral (art. 5, XLIX), ao passo que o art. 3

    da LEP prev textualmente que ao condenado e ao internado sero assegurados todos

    os direitos no atingidos pela sentena ou pela lei.

    III CONFIGURAO DE TORTURA

    O que ocorre no complexo penitencirio de Aparecida de Goinia quanto

    superlotao e s deficincias no atendimento sade da populao carcerria de tal

    gravidade a ponto de configurarcrime de tortura, tipificado pela Lei n 9.455/97, queassim dispe:

    Art. 1 Constitui crime de tortura:

    I - constranger algum com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe

    sofrimento fsico ou mental:

    (...)

    Pena - recluso, de dois a oito anos.

    1 Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de

    segurana a sofrimento fsico ou mental, por intermdio da prtica de ato no previsto

    em lei ou no resultante de medida legal.

    2 Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evit-las ou

    apur-las, incorre na pena de deteno de um a quatro anos.

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    E a Lei n 9.455/97, acima citada, exige a atuao daqueles que tm o

    dever legal de apurar ou evitar a tortura, sob pena de incorrer nas sanes previstas em

    seu art. 1, 2, no se podendo afastar dessa responsabilidade, cabe aqui salientar, os

    agentes administrativos da execuo e tambm aqueles a quem compete a fiscalizao

    dos estabelecimentos penais, com destaque para o Ministrio Pblico e o Juzo da

    Execuo Penal.

    de se rechaar, de maneira plena, a ilegalidade derivada dessa prtica,

    competindo essa relevante misso a Vossa Excelncia, por fora do disposto no art. 66,

    VIII, da LEP. No se pode compactuar com a tortura praticada no interior das prises,

    especialmente quando caracterizada pelo amontoamento ilimitado de seres humanos e

    pela omisso em se atender aquela pessoa que padece de uma enfermidade e que,

    portanto, carece de assistncia sade.

    III DA ATUAO ADMINISTRATIVA DO JUZO DA EXECUO PENAL

    Na execuo penal, a par de suas competncias classificadas como de

    natureza estritamente jurisdicional, o juiz tem tambm atribuies de natureza

    administrativa. Acerca do tema, a lio do saudoso MIRABETE:

    Alm da competncia jurisdicional estrita, o juiz tambm tem atribuies de carter

    administrativo quando tem por objetivo normalizar a execuo penal, que est sujeita a

    normas legais e a prescries regulamentares. Nessa atividade, o juiz, agora como rgo de

    administrao, atua para tornar efetivo o interesse do Estado, decidindo, como titular de um

    interesse particular, defender e preservar e tendo como limite apenas a lei. Exerce assim

    funes administrativas, muitas vezes denominadasfunes judicirias em sentido estrito e

    no funo jurisdicional. Da determinar a lei que compete ao juiz zelar pelo correto

    da escravido, ou seja, o nico direito proteo absoluta o direito ao respeito da dignidade, no sentido

    mais forte do termo: a dignidade da famlia humana. Pode-se matar em caso de guerra, mas no se pode

    utilizar a tortura. A razo disso talvez seja o fato de que a morte atinge apenas o indivduo e seus

    prximos, claro, enquanto que a tortura atinge, alm das pessoas diretamente implicadas, a humanidade

    inteira (MIREILLE DELMAS-MARTY. Acesso humanidade em termos jurdicos. In: A religao dos

    saberes o desafio do sculo XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 257-266).

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    cumprimento da pena e da medida de segurana, inspecionar estabelecimentos penais,

    interdita-los, compor e instalar o Conselho da Comunidade etc. (art. 66, incs. VI a IX).5

    Elencando atribuies decorrentes da atuao administrativa do juzo da

    execuo penal, dispe a LEP em seu art. 66, incisos VI a VIII:

    Art. 66. Compete ao juiz da execuo:

    ...

    VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurana;

    VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando providncias para o

    adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a apurao de

    responsabilidade;

    VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver funcionando em

    condies inadequadas ou com infringncia aos dispositivos desta Lei.

    Especificamente sobre a possibilidade de interdio total ou parcial de

    estabelecimento penal como decorrncia da atuao administrativa do juzo da

    execuo, tambm ensina MIRABETE:

    O art. 66 da Lei de Execuo Penal prev tambm as hipteses de competncia do juiz da

    execuo para as atividades administrativas da execuo penal. (...) Pode o juiz tambm

    interditar, no todo ou em parte, o estabelecimento penal que estiver funcionando em

    condies inadequadas ou com infringncia aos dispositivos da lei (art. 66, VIII). Se, por

    deficincias materiais, falta de segurana, inexistncia de condies de salubridade etc.,

    verificar o juiz a impossibilidade de se atender aos requisitos mnimos previstos para a

    execuo penal, deve interditar o estabelecimento total ou parcialmente. Evidentemente, tal

    determinao somente se justifica na hiptese de graves irregularidades ou deficincias, que

    no possam ser sanadas por outros meios menos drsticos, j que a interdio,

    principalmente nos estabelecimentos penais de grande porte, provoca srios problemas de

    acomodao da populao carcerria.6

    5 JULIO FABBRINI MIRABETE.Execuo Penal, 11. ed. So Paulo: Atlas, 2004, p. 177-1778.

    6 Idem, p. 225.

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    No caso dos estabelecimentos penais em comento, h dois motivos

    principais que tornam imprescindvel a atuao de Vossa Excelncia para a

    regularizao do funcionamento daquelas unidades: a superlotao carcerria e a

    extrema deficincia na assistncia sade dos presos.

    A superlotao problema histrico, para o qual no h perspectivas de

    soluo, tanto pelo desinteresse de grande parte da sociedade quanto, particularmente,

    pela pouca disposio poltica da Unio e do Estado de Gois em enfrentar a questo.

    Quanto s deficincias na assistncia sade da populao carcerria,

    correspondem tambm a um problema crnico, antigo, e mesmo havendo iniciativasesparsas para o melhor encaminhamento do tema, a questo no obtm uma definio

    clara de como deve ser a rotina de atendimento ou, o que tem sido muito comum, no

    objeto da devida ateno pela administrao penitenciria, que sofre tambm pelas

    extremas carncias de equipamentos e de pessoal, o que leva precariedade do

    atendimento e, muitas vezes, no realizao desse atendimento. fato tambm que a

    priorizao absoluta das rotinas de segurana (fenmeno comum no sistema

    penitencirio) faz com que o atendimento sade fique sempre para um segundo plano.

    Mas chegada a hora alis j bem tarde de se atuar com

    determinao e flego redobrado para a busca de caminhos que possam auxiliar na

    construo de um sistema penitencirio que contemple o encarceramento de pessoas

    com respeito dignidade humana. a dignidade do indivduo, como primeiro limite

    material a ser respeitado por um Estado democrtico, que fixa limites mximos rigidez

    das penas e agua a sensibilidade de todos com relao aos danos por elas causados7. E

    essa dignidade, leciona ADAUTO SUANNES, diz com a necessidade de serem

    observados por todos os membros da sociedade e, por motivos bastante bvios,

    7 Cf. SANTIAGO MIRPUIG,Direito Penal fundamentos e teoria do delito, p. 99.

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    ou implcita, d-se positividade constitucional aos direitos fundamentais da pessoa

    humana, estabelece-se, ao mesmo tempo, um sistema de garantias com o objetivo de

    preserv-los. O juiz passa a ser o garantidor desse sistema.11

    IV DAS PROVIDNCIAS A CARGO DO JUZO DA EXECUO PENAL

    Aos rgos fiscalizadores da execuo penal compete atuar no sentido de

    garantir a legalidade do funcionamento do sistema penitencirio, sob pena de incorrer o

    agente omisso em crime previsto pela Lei de Tortura, conforme visto em linhas

    pretritas. Seja administrador de priso, promotor de justia, agente penitencirio ou

    juiz de direito, o dever legal de agir se impe.

    E sobre esses agentes entre os quais inclui-se obviamente o rgo do

    Ministrio Pblico que subscreve esta petio pesa responsabilidade maior, qual seja,

    a de garantir uma execuo penal isenta de desvios ou de excessos; uma execuo penal

    que contribua para a segurana da sociedade, mas que, ao mesmo tempo, seja

    respeitadora da dignidade daqueles seres humanos levados ao crcere.

    Ser, pois, da atuao corajosa dos rgos da execuo, particularmente

    do Juzo da Execuo Penal, que se implementar esse modelo j previsto naConstituio e nas leis. Esse modelo que faz do sistema penitencirio um espao de

    castigo limitado pela dignidade da pessoa humana, princpio que, como se disse,

    compe a estrutura fundamental do Brasil enquanto Estado Democrtico de Direito.

    So providncias duras e corajosas que o Ministrio Pblico vem propor

    a Vossa Excelncia, mas tambm imprescindveis para a regularizao do

    funcionamento das unidades prisionais que integram o complexo penitencirio de

    Aparecida de Goinia. fato que no h soluo mgica ou imediata, mas tambmverdade que a soluo s vir, mesmo que a mdio ou a longo prazos, a partir do

    primeiro passo.

    11 ALBERTO SILVA FRANCO, Crimes hediondos, p. 70.

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    A providncia inicial passa necessariamente pelo respeito da

    administrao penitenciria aos limites dos espaos fsicos de cada estabelecimento

    penal, de sorte que cada unidade seja ocupada, no mximo, pelo nmero de vagas

    existentes.

    Dessa primeira medida resultar naturalmente um panorama novo, em

    que os espaos sero ocupados de maneira a respeitar a condio humana dos presos e,

    da, ter-se- um ambiente adequado para a garantia dos direitos no atingidos pela

    sentena ou pela lei. E a administrao penitenciria, em melhores condies para

    administrar o sistema, poder fazer funcionar servios voltados assistncia sade do

    preso, objeto especfico da segunda medida a seguir proposta.

    A segunda providncia, que visa garantir o atendimento sade da

    populao carcerria, depende naturalmente da primeira providncia acima referida,

    uma vez que o estabelecimento penal ocupado dentro dos seus limites arquitetnicos,

    observado rigorosamente o nmero de vagas, ter melhores condies para a triagem

    dos casos mais urgentes, dentro de uma ao preventiva por parte dos profissionais da

    sade, bem como poder definir rotinas de atendimento dentro de sua capacidade e dos

    recursos humanos e materiais disponveis. Mas a regularizao dos servios deassistncia sade demanda ainda outras providncias, como a imediata verificao de

    todos os procedimentos frustrados no passado recente, bem como com a definio de

    protocolos de ao, de maneira sistemtica, para o encaminhamento de todas as

    demandas por atendimento mdico, farmacutico e odontolgico.

    Impe-se tambm o provimento de uma farmcia que atenda s

    necessidades bsicas por medicamentos da populao carcerria de todos os

    estabelecimentos penais do complexo prisional.

    Faz-se necessrio o funcionamento de servio de Enfermagem em tempo

    integral. Hoje as unidades no dispem de servio de Enfermagem no perodo noturno.

    Durante o dia, carecem de profissionais em nmero suficiente.

    O transporte para atendimento sade, acompanhado do necessrio

    servio de escolta, deve ter prioridade em relao a qualquer outro atendimento ou,

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    preferencialmente, que sejam definidas equipes exclusivamente voltadas para esse

    trabalho (transporte e escolta), de forma a evitar a frustrao de consultas e outros

    procedimentos.

    imperioso que o complexo penitencirio disponha de atendimento

    odontolgico, com a contratao de profissionais para atender de maneira contnua e

    no somente em ritmo de raros mutires demanda por esse servio especializado.

    V DA INTERDIO PARCIAL PLANEJADA

    Uma deciso judicial que apenas decrete a interdio das unidades do

    complexo penitencirio de Aparecida de Goinia proibindo a entrada de novos presos e

    a retirada do excedente de lotao poderia ter algum efeito impactante momentneo,

    mas no atenderia a contento, todavia, ao objetivo almejado, qual seja, a regularizao

    da execuo penal dentro de patamares aceitveis em face da estrutura penitenciria

    disponvel. Alm do mais, a simples proibio de ingresso de novos presidirios

    engessaria o sistema por inteiro, sem espao para a movimentao exigida no sistema

    progressivo (progresses e regresses do regime prisional), assim como impediria a

    priso provisria nos casos de novos crimes, especialmente os mais graves.

    Nesse sentido, o Ministrio Pblico prope que haja uma

    INTERDIO PARCIAL PLANEJADA, com metas a serem alcanadas no curto e

    mdio prazos, refletindo-se de maneira indireta tambm em providncias a serem

    tomadas no longo prazo.

    A interdio parcial planejada medida interessante tambm para que a

    administrao penitenciria possa providenciar as necessrias correes, inclusive

    abertura de novas vagas em prazo razovel, sem a presso de uma medida puramenteproibitiva.

    Nesse nterim, abre-se espao tambm para que se estabelea um debate

    pblico sobre as prioridades que devem orientar a ocupao das prises, para o que ser

    fundamental a participao dos rgos ligados ao sistema penitencirio e segurana

    pblica, Poder Judicirio, Ministrio Pblico, Ordem dos Advogados do Brasil,

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    Departamento Penitencirio Nacional e, dentre outros, de representantes da

    comunidade. Afinal, no h soluo mgica e tampouco uma deciso judicial neste

    incidente conseguir resolver os graves problemas do sistema penitencirio.

    Essa interdio parcial planejada h de ser implantada no de uma nica

    vez ou mediante ato judicial isolado. A execuo penal um processo dinmico e que

    tem uma antiga histria de descaso e abandono, problema para o qual no se deve

    buscar uma soluo simplista mesmo que justificvel de fechar as portas de entrada

    e retirar de maneira abrupta a populao carcerria excedente. Alis, medidas radicais a

    esse ponto no so bem absorvidas e acabam no se sustentando em outras instncias do

    prprio Poder Judicirio.

    A idia ento conduzir a ocupao carcerria gradativamente at o

    limite de cada estabelecimento prisional, para o que o Ministrio Pblico vislumbra o

    prazo de dois anos como um limite razovel, desde que haja rigoroso monitoramento

    das medidas a serem adotadas.

    O que no se pode mais admitir a ocupao desordenada e ilimitada dos

    espaos carcerrios, desconsiderando a condio humana do preso. Tal situao expe a

    segurana interna dos presdios, mas tambm a segurana pblica, favorecendo, dentre

    tantas conseqncias nefastas, construo de uma criminalidade cada vez mais

    perversa e violenta. E a desateno aos limites legais estabelecidos para a ao punitiva

    do Estado, inclusive os limites decorrentes do espao fsico das prises, leva

    responsabilizao no apenas dos agentes da administrao penitenciria, mas tambm,

    como j se disse, dos rgos fiscalizadores da execuo penal.

    De tal sorte, o pedido que se formular apresenta uma equao

    matemtica a ser observada pela administrao de cada uma das unidades: A CADA TRS

    PESSOAS QUE SAREM DO ESTABELECIMENTO PENAL ABRE-SE A POSSIBILIDADE DE

    INGRESSO DE UM NOVO PRESO. A medida, a ser verificada e conferida ao final de cada

    ms, levar a uma gradual reduo da ocupao carcerria at que se alcance o limite

    mximo de cada estabelecimento prisional.

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    VI DA PARTICULAR SITUAO DA COLNIA AGROINDUSTRIAL

    (DESTINADA AO REGIME SEMI-ABERTO)

    No caso da Colnia Agroindustrial, a interdio parcial planejada no

    ser capaz de atender urgncia das medidas que se fazem necessrias naquela unidade

    prisional.

    Em inspeo noturna realizada no dia 22 de abril/2008, esta Promotoria

    de Justia pode verificar in loco a extrema precariedade do funcionamento daquele

    estabelecimento penal destinado a quem cumpre pena no regime semi-aberto. Conforme

    Vossa Excelncia poder observar por ocasio da inspeo judicial abaixo requerida, asituao em que os cerca de 400 (quatrocentos) condenados do novo semi-aberto e dos

    quase 200 (duzentos) do antigo semi-aberto se encontram de absoluta indignidade.

    Vale lembrar que aqueles homens, na sua maioria, esto autorizados ao trabalho

    externo, devendo retornar diariamente para o pernoite na Colnia.

    As condies de alojamento da unidade fazem do pernoite dos presos

    algo como uma sujeio voluntria tortura. Aps um dia de trabalho no caso

    daqueles que efetivamente desempenham alguma ocupao lcita o condenado

    simplesmente retorna para passar a noite na Colnia, pois sono e repouso so

    absolutamente incompatveis com a estrutura atual daquele estabelecimento penal, como

    Vossa Excelncia poder perceber por ocasio da inspeo judicial.

    Como exigir desses seres humanos a abnegao diria da prpria

    dignidade e do direito a um mnimo de repouso aps a jornada de trabalho!?

    A Lei de Execuo Penal fala em integrao social(art. 1) e respeito aos

    direitos no atingidos pela sentena ou pela lei (art. 3). Todavia, o que se tem nasunidades do semi-aberto (embora no com exclusividade, pois as demais unidades

    tambm apresentam falhas graves no seu funcionamento) a negao plena da condio

    humana daqueles que ali cumprem pena.

    As fugas, constantes e reiteradas, so perfeitamente naturais nesse

    ambiente de horror e medo. Alis, plenamente justificadas pela simples verificao dos

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    espaos onde pessoas so recolhidas naquelas unidades. Algumas pocilgas so espaos

    mais dignos do que os alojamentos das unidades do regime semi-aberto12.

    Em relao a essas unidades, a proposta ministerial ser mais abrangente,

    para que se garanta desde j alguma condio de sobrevivncia dos condenados nos

    alojamentos da Colnia. Para tanto, como se ver, o Ministrio Pblico apresentar

    requerimento para que se restabelea antigo instituto outrora utilizado por essa VEP: a

    apresentao semanal. De tal sorte, a populao carcerria excedente ao nmero de

    vagas poder ser autorizada a permanecer em priso domiciliar, sob monitoramento de

    agentes da Secretaria de Estado da Justia e com a obrigao de obter ocupao lcita,

    bem como comparecer semanalmente em local a ser designado por Vossa Excelncia,

    onde o condenado ir justificar suas atividades, dentre outras condies a serem fixadas.

    VII DA INSPEO JUDICIAL

    Caso Vossa Excelncia entenda necessrio, requer inicialmente o

    Ministrio Pblico, como complementao prova documental que instrui esta petio,

    a realizao de INSPEO JUDICIAL s dependncias dos estabelecimentos

    prisionais objetos do pedido, inclusive no perodo noturno no caso dos alojamentos

    destinados aos regimes semi-aberto e aberto.

    VIII DOS PEDIDOS

    12 No dia 22 de abril/2008, realizei inspeo noturna nas dependncias da colnia do regime semi-aberto.

    No obstante os muitos anos atuando na execuo penal, fiquei estarrecido com a precariedade dos

    alojamentos e a condio inominvel em que esto recolhidos os condenados daquela unidade prisional.

    Presos deitados no cho das celas e at no boi (banheiro), lixo por toda parte, agentes penitencirios em

    nmero insuficiente, esgoto a cu aberto no ptio levando o odor ftido para o interior dos alojamentos,

    guaritas desguarnecidas de policiais, homens clamando por atendimento mdico e jurdico. O que era

    ruim ficou pior e pode se deteriorar ainda mais.

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    Diante do que se exps, requer o Ministrio Pblico:

    1. INTERDIO PARCIAL da Casa de Priso Provisria, Penitenciria OdenirGuimares, Penitenciria Feminina, Ncleo de Custdia e da Casa do Albergado

    Ministro Guimares Natal, a ser implementada nos seguintes termos:

    1.a) REDUOGRADATIVA da ocupao dos espaos carcerrios, a ser obtida

    mediante a seguinte frmula: A CADA TRS PESSOAS QUE SAREM DO

    ESTABELECIMENTO PENAL ABRE-SE A POSSIBILIDADE DE

    INGRESSO DE UM NOVO PRESO, at que seja alcanado o limite mximo

    previsto para a ocupao de cada um dos estabelecimentos prisionais;

    1.b) MONITORAMENTO MENSAL do movimento de entrada e sada de presos

    de cada uma das unidades, mediante relatrio a ser encaminhado pelos respectivos

    diretores a essa VEP, com a indicao, dentre outras informaes relevantes, do

    nome de cada um dos presos que saram e dos que ingressaram no estabelecimento;

    2. Como conseqncia da interdio parcial e visando a abertura de vagas para o regime

    semi-aberto, que seja deferida, com fundamento no art. 1, inciso III, da Constituio

    Federal, c/c. artigos 3 e 116 da LEP, a incluso dos condenados do REGIMEABERTO EMPRISO DOMICILIAR, sob a condio de comparecimento mensal e

    obrigatrio ao Setor Interdisciplinar Penal dessa VEP e prestao de servios

    comunidade, alm de monitoramento por equipes prprias da administrao

    penitenciria;

    3. INTERDIO PARCIAL da Colnia Agroindustrial do Regime Semi-aberto, a ser

    implementada nos seguintes termos:

    3.a) TRIAGEM dos condenados dos alojamentos (antigos e novos) do regime

    semi-aberto, para liberao da populao carcerria excedente efetiva capacidade

    das unidades, a partir de critrios a serem definidos por Vossa Excelncia;

    3.b) Como CRITRIOS que podem ser aproveitados na triagem dos presos, sugere

    o Ministrio Pblico os seguintes: tempo efetivo de cumprimento de pena,

    desempenho de trabalho externo, comportamento carcerrio;

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    3.c) APRESENTAO SEMANAL: a partir da triagem acima referida, os presos

    liberados do comparecimento unidade prisional devero comparecer

    semanalmente em local a ser designado por Vossa Excelncia, preferencialmente

    aos sbados ou domingos e na prpria Secretaria de Estado da Justia (situada no

    prdio do IPASGO, no Setor Pedro Ludovico, nesta Capital), rgo que dever

    designar equipe de servidores para tal tarefa;

    3.d) Dentre outras CONDIES, que sejam fixadas, para os presos autorizados

    apresentao semanal, as seguintes obrigaes: exerccio de ocupao lcita;

    proibio de que se ausentem da regio metropolitana de Goinia sem expressa

    autorizao judicial; recolhimento prpria residncia at s 21 horas nos dias

    teis; permanncia no local de residncia durante todo o perodo nos dias de

    domingo e feriados; tudo mediante aceitao formal em audincia solene perante

    essa VEP;

    3.e) MONITORAMENTO contnuo de todos os condenados beneficiados com a

    apresentao semanal, a ser realizado pela Secretaria de Estado da Justia, com a

    elaborao de relatrio mensal a ser encaminhado a essa VEP;

    4. COMUNICAO da INTERDIO PARCIAL Secretaria de Estado da Justia

    (cujas atribuies so atualmente exercidas pela Secretaria de Segurana Pblica 13),

    prpria Secretaria de Segurana Pblica, ao Tribunal de Justia do Estado de Gois,

    Corregedoria Geral da Justia, Procuradoria Geral de Justia, Corregedoria Geral do

    Ministrio Pblico, Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Gois, ao Conselho

    Penitencirio de Gois, ao Conselho da Comunidade de Goinia, ao Conselho Nacional

    de Poltica Criminal e Penitenciria (CNPCP), ao Departamento Penitencirio Nacional

    (DEPEN);

    5. DETERMINAO ao rgo gestor do sistema penitencirio de Gois da adoo

    das seguintes providncias:

    13 Conforme Decreto n 6.728, de 14 de maro de 2008 (doc. 15).

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    5.a) Verificao, no prazo mximo de quinze dias, de todos os procedimentos

    voltados ao ATENDIMENTO SADE que tenham sido frustrados nos ltimos

    doze meses, bem como a definio de protocolos de ao de maneira sistemtica,

    para o encaminhamento das demandas por atendimento mdico e odontolgico da

    populao carcerria do complexo penitencirio de Aparecida de Goinia;

    5.b) Definio de equipes responsveis exclusivamente (ou prioritariamente) pelo

    TRANSPORTE E ESCOLTA DE PRESOS para o atendimento sade, de

    forma a evitar a frustrao de consultas e outros procedimentos, como exames

    laboratoriais e cirurgias;

    5.c) Programao da AQUISIO PERIDICA DOS MEDICAMENTOS

    destinados ao atendimento bsico da populao carcerria e que devem constar das

    farmcias que atendem o complexo penitencirio de Aparecida de Goinia;

    5.d) Designao de profissionais e tcnicos em ENFERMAGEM para atendimento

    em tempo integral da populao carcerria de todas as unidades do complexo

    penitencirio de Aparecida de Goinia.

    6. REUNIO MENSAL de avaliao e monitoramento da implementao das providncias determinadas, com a participao da autoridade gestora do sistema

    penitencirio, dos diretores dos estabelecimentos penais, de representantes da Secretaria

    de Segurana Pblica, do Conselho Penitencirio, do Conselho da Comunidade de

    Goinia, alm do Ministrio Pblico e dessa VEP.

    Goinia, 29 de abril de 2008.

    HAROLDO CAETANO DA SILVA

    PROMOTOR DE JUSTIA

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