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ESTADO DE PERNAMBUCO MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017 RELATÓRIO ANUAL DAS ATIVIDADES DO MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA NO ANO DE 2017 Autoria: Eduardo Menezes, Maria Lygia Koike, Mariana Santa Cruz, Percio Negromonte, Phillipe Gomes e Simone de Figueiredo. Diagramação: Maria Lygia Koike & correção dos autores. Recife 2018

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ESTADO DE PERNAMBUCO

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

RELATÓRIO ANUAL DAS ATIVIDADES DO

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E

COMBATE À TORTURA NO ANO DE 2017

Autoria:

Eduardo Menezes, Maria

Lygia Koike, Mariana Santa

Cruz, Percio Negromonte,

Phillipe Gomes e Simone de

Figueiredo.

Diagramação: Maria

Lygia Koike & correção

dos autores.

Recife

2018

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Tabelas de Siglas e Abreviaturas

ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária APEVISA – Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária CAI- Centro Assistencial do Idoso CASE- Centro de Atendimento Socioeducativo CEASA- Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco CECPT/PE – Comitê Estadual de Combate e Prevenção à Tortura de Pernambuco CEDCA - Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente CAPS - Centros de Atenção Psicossocial CENIP – Centro de Internação Provisória CEPI - Conselho Estadual da Pessoa Idosa CF/88 – Constituição Federal de 1988 CIAPPI - Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa CID – Código Internacional de Doenças CNJ - Conselho Nacional de Justiça CRN/6º Região- Conselho Regional de Nutrição da 6ª Região COMPESA- Companhia Pernambucana de Saneamento CONAD - Conselho Nacional de Política Sobre Drogas COTEL – Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna CPFAL – Colônia Penal Feminina de Abreu e Lima CPFB – Colônia Penal Feminina de Buíque CPFR – Colônia Penal Feminina do Recife CPP – Código de Processo Penal CRAS – Conselho Regional de Assistência Social CRESS – Conselho Regional de Serviço Social CREMEPE - Conselho Regional de Medicina de Pernambuco CRN - Conselho Regional de Nutrição CFP – Conselho Federal de Psicologia CRP- Conselho Regional de Psicologia COREN – Conselho Regional de Enfermagem CT – Comunidade terapêutica DIAG- Diretoria da Administração Geral da Polícia Civil ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente EPPE- Escola Penitenciaria de Pernambuco

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FASUP – Faculdade de Saúde de Paulista FEBRACT – Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas FUNASE - Fundação de Atendimento Socioeducativo GAJOP – Gabinete de Assessoria Jurídica das Organizações Populares GATI- Grupo de Ações Tática do Interior GOD - Grupo Operacional de Drogadição HCTP – Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico IASC – Instituto de Assistência Social e Cidadania ILPIs - Instituições de Longa Permanência para Idosos IML- Instituto de Medicina Legal INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e tecnologia LEP - Lei de Execução Penal LGBTT- Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais MEPCT/PE – Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate de Pernambuco MNPCT - Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura MPPE - Ministério Público de Pernambuco PABA - Presídio Advogado Brito Alves PAMFA - Presídio Asp. Marcelo Francisco de Araújo PAS- Plano de Atenção à Saúde PDAD- Presídio Desembargador Augusto Duque PDEPG- Penitenciária Desembargador Enio Pessoa Guerra PFDB- Presídio Frei Damião de Bozzano PIA - Plano Individual de Atendimento PIG - Presídio de Igarassu PJALLB- Presídio Juiz Antônio Luiz Lins Barros PJPS- Penitenciária Juiz Plácido de Souza PROCON – Programa de Proteção e Defesa do Consumidor PPL – Pessoa Privada de Liberdade RDC – Resolução da Diretoria Colegiada SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SERES - Secretaria Executiva de Ressocialização SJDH/PE - Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas SPT – Subcomitê de Prevenção à Tortura das Nações Unidas SUS – Sistema Único de Saúde STF – Supremo Tribunal Federal TCLE – Termo de consentimento livre e esclarecido TJPE – Tribunal de Justiça de Pernambuco UDC – Unidade de Desintoxicação e Crise UPA - Unidade de Pronto Atendimento

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Dedicatória

À Marielle Franco,

Mulher, nascida e criada na Favela da Maré, militante de Direitos Humanos, foi executada a tiros junto com Anderson Gomes, no centro do Rio de Janeiro, no dia 14 de março de 2018.

Há fortes indícios de que a vereadora foi executada em razão das suas atividades como militante de Direitos Humanos. Nos seus últimos dias de vida, a vereadora fez denúncias contra ações violentas da Polícia Militar em operações na Favela do Acari, no norte fluminense.

Este crime é uma ofensa aos valores do Estado Democrático de Direito, e mostra como a luta pelos Direitos Humanos no Brasil ainda é frágil.

Equipe do MEPCT/PE

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MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

Índice

CAPÍTULO 1. Das visitas às Instituições de Longa Permanência para Idosos

1. Da definição de ILPIs e da metodologia das visitas.........................05

2. Das ILPIs visitadas..............................................................................06 3. Breves relatos:

3.1. Da estrutura e da acessibilidade..............................................07 3.1.1. Estrutura e suporte material............................................07

3.1.2. Acessibilidade..................................................................10 3.1.3. Quartos..............................................................................11 3.1.4. Banheiros..........................................................................12 3.1.5. Profissionais contratados...............................................13 3.1.6. Idosos................................................................................16 3.1.6 Documentos.......................................................................17

Anexos I......................................................................................................22

CAPÍTULO 2. Comunidade Terapêutica

2.1. Breves Considerações.......................................................22 2.2. Um conciso histórico da Comunidade Terapêutica........23 2.3. A normatização nacional e a RDC 01/2015.......................24 2.4. A luta antimanicomial.........................................................27 2.5. A competência do MEPCT/PE............................................28 2.6. Metodologia e instrumental utilizados para as visitas.....28 2.7. Das visitas às comunidades terapêuticas.........................29 2.8. Das recomendações às comunidades terapêuticas........34 Considerações finais .................................................................39

CAPÍTULO 3. Das visitas às Unidades da FUNASE

1.1. Visita ad hoc pós-rebelião CASE Vitória de Santo Antão/PACAS ...........................................................................41 1.2. Visita regular ao CASE/CENIP em Arcoverde.............43 1.3. Caso ad hoc CASE Abreu e Lima.................................48

CAPÍTULO 4. Das visitas realizadas pelo MEPCT/PE ao sistema prisional

Breves Considerações

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1. Das visitas regulares do MEPCT/PE as unidades prisionais a) Presídio Rorenildo da Rocha Leão................................50 b) Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico – HCTP

.........................................................................................51 c) Presídio Desembargador Augusto Duque...................53 d) Penitenciária Juiz Plácido de Souza............................55 e) Centro de Observação Criminológica e Triagem

Professor Everardo Luna – COTEL...............................60

2. Das visitas de seguimento nas Unidades Prisionais

a) Presídio Advogado Brito Alves – PABA........................61 b) Colônia Penal Feminina do Recife – CPFR....................63 c) Presídio de Igarassu – PIG..............................................64

3. Das cadeias públicas visitas pelo MEPCT/PE

a) Cadeia Pública do Município de Bezerros.................65 b) Cadeia Pública do Município de Gravatá..................66 c) Cadeia Pública do Município de Timbaúba...............68 d) Cadeia Pública do Município de Aliança...................69 e) Cadeia Pública do Município de Goiana....................69

CAPÍTULO 5. Os Casos ad hoc monitorados pelo MEPCT/PE

a) Caso Edson Ramos do Nascimento..........................72 b) Caso Kleber Klayne Alves da Silva............................73 c) Caso Edvaldo da Silva Alves.......................................74 d) Caso Thuane Ramone Gomes da Paixão...................74

CAPÌTULO 6. O MEPCT/PE no acompanhamento das audiências de

custódia

1. Notas introdutórias..............................................................................77

2. Comarca da Capital – Recife...............................................................78

Polo 1. Jaboatão dos Guararapes...................................79 Polo 2. Olinda....................................................................80 Polo 3. Nazaré da Mata.....................................................81 Polo 4. Vitoria de Santo Antão.........................................82 Polo 5. Palmares...............................................................85

Polo 6. Caruaru..................................................................86

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Polo 7. Limoeiro.................................................................87

CAPÍTULO 7. Participações do MEPCT/PE em eventos

1.1 Capacitação sobre o Protocolo de Istambul – Brasília 28 a 30 Junho de

2017.............................................................................................................88

1.2 Encontro do Ministério Público e os movimentos sociais....................88

1.3 II Encontro Nacional pelo Desencarceramento......................................89

1.4 Reuniões do Comitê do Sistema Prisional..............................................90

1.5 Audiências no Ministério Público de Pernambuco................................90

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MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

Introdução

O presente relatório anual aborda as atividades realizadas durante o ano

de 2017 pelo Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura-

MEPCT/PE de maneira sistematizada e circunstanciada, dentro das suas

competências instituídas pelo inciso V do artigo 7º, da Lei 14.863 de

07.12.2012, apresentando uma análise de cada espaço de privação e de

restrição de liberdade monitorados por este órgão.

Este documento traz em seu bojo os monitoramentos feitos nos

seguintes espaços: Instituição de Longa Permanência para Idosos - ILPI,

Comunidades Terapêuticas - CT, Sistema Socioeducativo, Sistema

Penitenciário, bem como os casos de suspeita ou indícios de tortura

monitorados pelo MEPCT/PE, denominados casos ad hoc1.

Outra inovação apresentada no presente trabalho foi a presença do

MEPCT/PE nas audiências de custódia em várias comarcas do estado, em

função de ser este o mote para o relatório temático. Nesta oportunidade, foi

possível conversar com as pessoas autuadas, conhecer a situação de privação

de liberdade a que estas se encontravam e conversar com os atores públicos

envolvidos.

No capítulo inaugural foi tratada a temática das ILPIs. Neste intento,

buscou-se relatar as violações identificadas nas visitas, com supedâneo na

legislação vigente, em destaque o Estatuto do Idoso e a RDC 283/2005 que

regulamentam a matéria. Este capítulo traz uma peculiaridade, haja vista que

nestes espaços de restrição de liberdade, os idosos, em sua maioria, são

abandonados pelas famílias e totalmente vulneráveis a quaisquer práticas de

tortura ou tratamentos desumanos e degradantes, situações atreladas à

incapacidade de protestar contra as arbitrariedades às quais são submetidos.

1 Entende-se por casos ad hoc, aqueles destinados a apurar denúncia ou assunto específico no

espaço de privação de liberdade.

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No capítulo II, foi feita uma abordagem sobre as comunidades

terapêuticas; o conceito, o surgimento destas, a normatização nacional que fala

sobre o uso das drogas, a RDC 01/2015 que regulamenta as entidades que

realizam o acolhimento de pessoas em caráter voluntário, o movimento

antimanicomial, a competência do MEPCT/PE para visitar e fazer

recomendações e por fim o trabalho de visitas realizado pelo MEPCT/PE

nestas instituições.

Mais uma vez o sistema o sistema socioeducativo é alvo das visitas do

MEPCT/PE, seja porque a lei garante o acesso deste órgão às unidades da

Funase, seja porque ainda são constantes os casos de rebelião, morte e

violações de Direitos Humanos estes espaços. No ano de 2017, pela primeira

vez o MEPCT/PE fez visita ao CASE/CENIP de Arcoverde, Sertão

pernambucano e constatou-se um espaço totalmente inadequado ao processo

de reintegração social dos adolescentes, como preceitua o art. 94 do Estatuto

da Criança e do Adolescente. Além desta visita, o MEPCT/PE realizou visitas

ad hoc em duas outras unidades em função de rebeliões que resultaram no

assassinato de cinco rapazes de modo cruel e bárbaro. Tais fatos serão melhor

apresentados no capítulo III deste relatório.

No capítulo IV, o relatório traz uma análise das visitas realizadas ao

Sistema Penitenciário subdividindo as visitas em regulares, que são aquelas

realizadas nos espaços de privação de liberdade nunca visitados antes pelo

MEPCT/PE, com o objetivo de verificar a situação de fato e de direito a que as

pessoas privadas de liberdade estão submetidas, e as visitas de seguimento,

que são aquelas monitoradas nos espaços anteriormente visitados a fim de

inspecionar a implantação das recomendações emitidas nos relatórios de

visitas. O presente capítulo ainda trata das cadeias públicas, espaços de

privação de liberdade não contemplados anteriormente em visitas realizadas

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por este órgão, fruto da expansão regional do monitoramento deste órgão no

âmbito do Sistema Penitenciário.

O capítulo subsequente traz uma análise dos casos ad hoc, abordando a

intervenção do MEPCT/PE em casos específicos que envolvem indícios de

práticas de tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou

degradantes. Em cada caso foi elaborado relatório com suas respectivas

recomendações destinadas às autoridades competentes com a finalidade de se

inibir tais práticas nestes espaços de privação de liberdade e abertura de

inquérito policial haja vista o crime de tortura está no rol dos crimes de lesa

humanidade.

No estudo das audiências de custódia, busca-se notabilizar a prática do

instituto na comarca da capital e nos principais polos de custódia, traçando as

iniciais dificuldades enfrentadas pelos atores, sofridas pelos autuados. Este

panorama será abordado no capítulo VI do presente trabalho a partir das

impressões deste órgão racionalizadas com os depoimentos de autoridades e

autuados submetidos a esta garantia. Objetiva-se com isso traçar soluções

para que a democratização da audiência de custódia obedeça à sua finalidade

inicial quanto à valorização da dignidade da pessoa humana.

O capítulo VII trouxe as participações do MEPCT/PE em seminários,

encontros, capacitações, fortalecendo a articulação entre este órgão e as

entidades de Direitos Humanos e outros órgãos públicos que trabalham com a

temática da prevenção e combate à tortura bem como audiências públicas e

inquéritos civis instaurados pelo Ministério Público de Pernambuco, em sua

maioria, fruto dos relatórios de visita produzidos por MEPCT/PE.

O presente relatório, além da função de publicizar de forma sistemática

as atividades do MEPCT/PE, objetiva, a partir das visitas realizadas durante o

ano de 2017, com base nas recomendações emitidas, a difusão de boas

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práticas a serem adotadas a fim de assegurar a proteção das pessoas privadas

de liberdade; tais práticas devem ser identificadas no interior dos espaços de

privação de liberdade visitados.

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CAPÍTULO 1 - DAS VISITAS AS INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA

PARA IDOSOS

Por Eduardo Menezes

1. Da definição de ILPI e da metodologia das visitas

As Instituições de Longa Permanência para Idosos – ILPI têm sua

definição concebida na RDC/ANVISA nº 283/2005, como sendo:

Instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinadas à domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania

2.

O MEPCT/PE, instituído de suas prerrogativas legais3 efetivou diversas

visitas, tanto temáticas quanto de seguimento, às ILPI, no ano de 2017, com a

finalidade de acompanhar e fiscalizar como essas entidades se comportam em

relação aos cuidados com a pessoa idosa sob sua responsabilidade.

Em determinados momentos deste breve relato, serão mencionados

problemas comuns a todas as instituições visitadas. Porém, haverá

irregularidades as quais se referirão a uma determinada ILPI, quando se tratar

de um problema específico.

A sistemática utilizada para a composição dos órgãos integrantes das

visitas tem formatação híbrida, pois a maioria das inspeções realizadas teve a

ação conjunta do MEPCT/PE com outros órgãos de fiscalização, discriminados

em linhas que se seguem, restando que em apenas uma das ações esteve

presente somente o MEPCT/PE, haja vista que o procedimento de atuação

2RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE

2005.3. DEFINIÇÕES. 3.6 – Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) – instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania. 3Lei n°14.863/12 Art.6°, IV: “o livre acesso a todos os lugares de privação de liberdade e a

todas as instalações e equipamentos do local, independentemente de aviso prévio”.

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singular e independente4 faz parte de uma das prerrogativas deste órgão, nos

termos do versado em seu instrumento normativo de regência, qual seja a Lei

Nº. 14.863/2012, a qual disciplina suas atribuições.

2. DAS ILPIs VISITADAS

As ILPIs visitadas pelo MEPCT/PE durante o exercício de 2017 foram as

seguintes:

1. ILPI IEDA LUCENA: Visita realizada em data de 10.02.2017,

juntamente com a 30ª Promotoria de Justiça de Defesa da

Cidadania da Capital com atuação na Promoção e Defesa dos

Direitos Humanos da Pessoa Idosa, o Conselho Regional de

Nutricionista da 6ª Região – CRN/6ª e o Conselho Regional de

Medicina – CREMEPE.

2. ILPI Centro Assistencial do Idoso – CAI: Visita efetuada em data

de 15.03.2017, numa ação conjunta com o Programa de Proteção

e Defesa do Consumidor – PROCON, Centro Integrado de

Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa - CIAPPI,

Conselho Regional de Assistência Social no município de

Itapissuma, Ouvidoria de Direitos Humanos, Delegacia do Idoso,

Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária - APEVISA e

Vigilância Sanitária do município de Itapissuma.

3. ILPI ABRIGO SÃO JOSÉ: Visita efetuada em data de 30.08.2017.

4. ILPI MELHOR IDADE: Visita realizada em 03.10.2017, numa ação

integrada entre a 30ª Promotoria de Justiça de Defesa da

Cidadania da Capital com atuação na Promoção e Defesa dos

Direitos Humanos da Pessoa Idosa, CIAPPI, PROCON, Distrito

4Lei n°14.863/12 Art.6°, § 3° Deve ser assegurada a independência de atuação dos

membros do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura e do Comitê Estadual de Combate e Prevenção à Tortura (grifos nossos).

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Sanitário IV da Prefeitura da Cidade do Recife, Delegacia do

Idoso, APEVISA e o Secretário Executivo de Direitos Humanos,

Dr. Eduardo Figueirêdo.

5. ILPI CASA DE REPOUSO GERIÁTRICO SÃO FRANCISCO.

Visita realizada em 24.10.2017, conjuntamente com a 30ª

Promotoria de Justiça de Cidadania da Capital com atuação na

Defesa dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa; o CIAPPI; o IMIP;

o Vereador Fred Ferreira, da Câmara Municipal do Recife; a

Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco –

SJDH/PE; a APEVISA e o PROCON.

3. BREVES RELATOS

A partir das visitas realizadas, pode-se constatar que existem muitas

irregularidades que são comuns às ILPIs quanto à falta de cuidado com os

idosos e que, mesmo sendo aquelas constatadas e feitas as devidas

advertências, os gestores das instituições continuam a negligenciar na

correção de tais problemas, como se verá nas linhas que se seguem.

3.1. DA ESTRUTURA E DA ACESSIBILIDADE

3.1.1. Estrutura e suporte material

Inicialmente, a partir das impressões constatadas nas diversas

inspeções, foi possível verificar que as casas são antigas e que suas estruturas

apresentam sinais visíveis de precariedade e má conservação. Os corredores

das instituições supramencionadas normalmente são estreitos, o que dificulta o

trânsito de residentes cadeirantes. Além do mais, existem muitos degraus nas

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dependências das casas (MELHOR IDADE e SÃO FRANCISCO), situação que

torna mais árdua a circulação dos idosos no interior das instituições. Alguns

degraus, inclusive, são de estatura desproporcional à mobilidade da pessoa

idosa, fazendo com que a mesma efetue um esforço grande e desnecessário

para poder superar tais obstáculos (MELHOR IDADE). Igualmente, ficaram

bastante evidentes as avarias nos telhados das residências, nos quais pode ser

verificado o acúmulo de sujeira (SÃO FRANCISCO). A gravidade na parte

estrutural se torna tão grave e notória que ao final da visita em uma das

instituições (SÃO FRANCISCO), começou a chover e ficou evidente a presença

de infiltração no telhado, visto que se iniciou um gotejamento em um local de

convivência comum dos idosos, bem acima de uma poltrona (foto 01 em

anexo), causando acúmulo de água e um grande risco de acidente no

ambiente. Ainda na questão da parte estrutural, o MEPCT/PE constatou que

havia situações que tornam vulnerável a vida dos idosos, a exemplo de

ambiente com muita fiação exposta (MELHOR IDADE) (foto 02 em anexo)

causando possível risco de acidentes diversos, tais como choques, quedas e

incêndio, bem como a irregularidade em parte do piso no qual circulam os

residentes (foto 03 em anexo) (MELHOR IDADE).

Na área externa de uma das instituições visitadas (CAI), havia uma

fossa a céu aberto (foto 04 em anexo), situação totalmente lamentável e que

dispensa comentários sobre a falta de zelo referente aos cuidados com a

pessoa idosa, de saúde mais frágil e vulnerável, aliado ao degradante estágio

do saneamento básico, em total desarmonia no tocante as condições dignas de

existência. Finalizando, constatou-se que nas dependências da instituição

permanece muita sujeira, do mesmo modo que em visita anterior (15 de junho

de 2016), na qual se presenciou situação semelhante além de ambientes com

aparência desagradável e decadente (CAI).

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O MEPCT/PE inspecionou também as despensas das residências e

encontrou irregularidades, pois em algumas era visível a insuficiência de

alimentos, continham alguns gêneros alimentícios com prazo de validade

vencido, além de haver produtos com embalagens violadas (MELHOR IDADE).

Já em outra ILPI havia uma lata de leite em pó que estava aberta há mais de

trinta dias e, seguindo a orientação da vigilância sanitária estadual, o produto

foi descartado em razão de ser inapropriado ao consumo humano (SÃO

FRANCISCO).

Seguindo, a respeito da alimentação dos idosos, uma das ILPIs visitadas

(MELHOR IDADE) serve apenas três refeições diárias5, o que não está de

acordo com o cardápio preparado pela nutricionista da instituição, tanto no que

se refere à quantidade de refeições, quanto ao alimento servido no dia da

visita, havendo contradições entre as informações escritas e a realidade

prática.

Já quanto ao suporte material, de um modo geral verificou-se nas

instituições a hipossuficiência e/ou ausência de alguns objetos que servem de

suporte, tais como macas, cadeiras de rodas novas, lava-pés e balão de

oxigênio. Em algumas das ILPIs havia diversos colchões espalhados num dos

cômodos da casa, em situação considerável de desgaste (MELHOR IDADE); já

em outra, os colchões estão velhos, praticamente inutilizáveis (CAI). Também

não havia em nenhuma delas ambulância ou carro próprio para auxiliar num

eventual socorro aos residentes. Em uma das instituições que há enfermaria

(IEDA LUCENA), esta é defasada de alguns itens, a exemplo do aparelho

nebulizador.

3.1.2. Acessibilidade

5 RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005

5 – Processos Operacionais 5.3 – Alimentação 5.3.1 A Instituição deve garantir aos idosos a alimentação, respeitando os aspectos culturais locais, oferecendo, no mínimo, seis refeições diárias.

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Como dito em linhas anteriores, as construções são antigas. Em

decorrência desta situação, as casas não são adaptadas para algo novo em

nossa sociedade, qual seja a questão da acessibilidade. Existem de modo

bastante evidente problemas graves com relação à mobilidade e acesso dos

idosos, podendo se destacar a escassez de rampas (ABRIGO SÃO JOSÉ),

rampas sem revestimento antiderrapante e piso irregular em diversas partes da

residência, onde tais ocorrências trazem um considerável grau de dificuldade

na locomoção dos residentes (SÃO FRANCISCO), barras de seguranças

enferrujadas, carência de pisos antiderrapantes nas dependências das

instituições e tetos com problemas de vazamento e em péssimo estado de

conservação6, situações praticamente comuns a todas as instituições visitadas

pelo MEPCT/PE.

Além do mais, as condições inadequadas das instituições dificultam e

muitas vezes impossibilitam a locomoção dos idosos. Seguindo, de um modo

geral nas residências é insuficiente a quantidade de corrimões, não

abrangendo toda área do imóvel na qual exista, com algum potencial, a

circulação de residentes. Outra situação que causou perplexidade nas visitas

foi o caso de em uma das ILPIs visitadas (MELHOR IDADE) existirem idosos

isolados num compartimento superior da casa, passando até oito dias nesse

primeiro andar. Em tal ambiente, que possui corredores muito estreitos e que

dificultam o deslocamento de cadeirantes, permanecem idosos com sérios

problemas de saúde e com grau de dependência II7 e III8, e que devido ao

6 RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005

4. CONDIÇÕES GERAIS 4.7 – Infra-Estrutura Física 4.7.3 – A Instituição de Longa Permanência para Idosos deve oferecer instalações físicas em condições de habitabilidade, higiene, salubridade, segurança e garantir a acessibilidade a todas as pessoas com dificuldade de locomoção segundo o estabelecido na Lei Federal 10.098/00. 7 RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE

20053. DEFINIÇÕES. (3.4 – Grau de Dependência do Idoso) Grau de Dependência II – idosos com dependência em até três atividades de autocuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade, higiene; sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada.

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11

tempo que são obrigados a permanecer retidos neste local, têm cerceadas

suas liberdades de locomoção, cuja situação equipara-se ao cárcere privado.

3.1.3. Quartos

Nos muitos quartos visitados nas ILPIs supramencionadas, a exemplo

do anteriormente narrado, foram encontradas diversas irregularidades comuns.

Existem dormitórios cujas portas são bastante estreitas9 (foto 05 em anexo),

tornando difícil o trânsito da pessoa idosa, seja cadeirante ou obesa, bem como

eventual socorro/remoção através de macas (SÃO FRANCISCO). A dificuldade

no deslocamento de idosos para hospitais é latente, visto que a retirada de um

residente acomodado em cama hospitalar, como nos quartos 34 a 36, se torna

difícil, pois a cama não passa pela porta do referido cômodo; se for preciso o

uso de maca para remoção ou de cadeiras de rodas, estas também não

transpõem a porta (SÃO FRANCISCO). Ademais, as camas das instituições,

em sua imensa maioria, são inapropriadas para os idosos, posto que

desprovidas de barras de proteção lateral (MELHOR IDADE) (Foto 06 em

anexo), as quais quando instaladas previnem e evitam possíveis quedas dos

mesmos. Em algumas camas havia tábuas de madeira encostadas nas

mesmas, de modo meramente improvisado, maquiando falsamente uma

proteção (SÃO FRANCISCO, situação essa que perdura desde a última visita,

em 09.03.2016). Em outro dormitório visitado, de forma a endossar o descaso

com a pessoa idosa, se constatou que o ventilador estava cheio de poeira e

com casas de maribondo (CAI), ocorrência essa que expõe a saúde da pessoa

idosa e a coloca em iminente situação de risco.

8 RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005

3. DEFINIÇÕES. 3.4 – Grau de Dependência do Idoso: c) Grau de Dependência III – idosos com dependência que requeiram assistência em todas as atividades de autocuidado para a vida diária e ou com comprometimento cognitivo. 9 RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005

4. CONDIÇÕES GERAIS 4.7 – Infra-Estrutura Física 4.7.6 – A instituição deve atender às seguintes exigências específicas: 4.7.6.4 – Circulações internas – as circulações principais devem ter largura mínima de 1,00m e as secundárias podem ter largura mínima de 0,80 m; contando com luz de vigília permanente.

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12

Por fim, referente ao número de leitos, a norma da Anvisa diz que deve

haver no máximo quatro por dormitório10, e que nem sempre tal comando

normativo é seguido e respeitado pelas instituições.

3.1.4. Banheiros

No que se refere aos banheiros, poucos foram os que apresentaram

uma estrutura apropriada à condição da pessoa idosa. Algumas das

irregularidades descritas abaixo foram encontradas neste cômodo em pelo

menos uma das instituições: ausência de pisos antiderrapantes (MELHOR

IDADE); as barras de segurança que auxiliam no acesso ao banheiro feminino

estavam soltas, potencializando a ocorrência de quedas e acidentes (IEDA

LUCENA); ausência de chuveiros elétricos e reclamações dos idosos que

tomam banho frio (CAI); inexistência de piso antiderrapante nos banheiros

(ABRIGO SÃO JOSÉ). Alguns dos banheiros estavam bastante limpos e neste

compartimento é boa a questão da acessibilidade, especificamente onde

tomam banhos (SÃO FRANCISCO). Porém, outros apresentavam uma

aparência degradante e um enorme mau cheiro (CAI). Falta acessibilidade na

maioria dos banheiros das instituições. Encontramos um dos banheiros sendo

reformado, todavia, o gerente administrativo nos informou que seria para

colocação de rampas com o intuito de promover e melhorar as condições dos

idosos no que se refere à acessibilidade (CAI).

Desta forma, diante da inércia latente dos responsáveis pelas

instituições foi possível constatar que as ILPIs vistoriadas corroboram notável

desprezo ao não observam os preceitos legais referentes às condições de

acessibilidade e dignidade da pessoa humana no que diz respeito aos idosos.

Assim, questões envolvendo segurança, ambientes acessíveis e salubres

10

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 4. CONDIÇÕES GERAIS 4.7 – Infra-Estrutura Física 4.7.7 – A Instituição deve possuir os seguintes ambientes: 4.7.7.1 – Dormitórios separados por sexos, para no máximo 4 pessoas, dotados de banheiro.

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13

voltados aos residentes são problemas muito em evidência e pela

passividade/indiferença demonstradas pelos gestores, estão longe de terem

uma atenção na resolução destas irregularidades apontadas.

3.1.5. Profissionais Contratados

Nas ILPIs visitadas pelo MEPCT/PE no ano de 2017 foi possível

observar que a carência de profissionais de diversas áreas de atuação é mais

uma das deficiências comuns às instituições. Para citar alguns exemplos, numa

das residências visitadas (IEDA LUCENA) não há enfermeiros para administrar

e supervisionar a gestão dos medicamentos, e que inclusive alguns

cuidadores11 precisam ministrar os medicamentos aos idosos, pois há plantões

com total ausência dos profissionais de enfermagem. Na supramencionada

ILPI há somente um médico que faz parte do quadro de empregados, o qual só

comparece uma vez na semana. Já em outra instituição (CAI) não existe no

quadro de contratados profissionais de terapia ocupacional, o que reflete a

desatenção deliberada na mantença de quadro profissional mínimo para

atender as necessidades dos idosos ali residentes.

Tal realidade de hipossuficiência de funcionários se repete em outras

instituições, as quais também são carentes na quantidade de cuidadores, na

inexistência de médico (MELHOR IDADE), enfermeiro, terapeuta ocupacional,

nutricionista (CAI), advogado, assistente social (ABRIGO SÃO JOSÉ), bem

como no baixo número dos profissionais técnicos de enfermagem. Ponto

curioso constatado foi à existência de um auxiliar de serviços gerais de origem

estrangeira (nacionalidade cubana), fato este que dificulta a comunicação com

os residentes e demais funcionários.

11

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 3. DEFINIÇÕES. 3.1 – Cuidador de Idosos – pessoa capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para realizar atividades da vida diária.

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14

Inclusive, situação gerada pela deficiência de profissionais foi o fato de

que havia locais de convivência em comum com mais de 15 idosos, os quais

estavam sem a presença de cuidadores para auxiliá-los, sendo tal ausência

circunstância que potencializa eventual ocorrência de acidentes com os idosos

(SÃO FRANCISCO). Vale registrar que em certo momento no decorrer de uma

das visitas foi presenciada a cena de uma idosa auxiliando outra a se levantar

da cadeira, sendo a intervenção realizada por cuidadora em razão de esta

profissional ter sido avisada pelo MEPCT/PE, haja vista que neste momento

estavam cerca de nove idosos sem a presença de cuidador no local (SÃO

FRANCISCO).

Quanto ao acompanhamento especializado por parte de psicólogos e

assistentes sociais, tal procedimento é praticamente inexistente em algumas

instituições (ABRIGO SÃO JOSÉ E SÃO FRANCISCO). Inclusive, a cuidadora

de uma das instituições respondeu que na ILPI não constava em seus quadros

psicólogos e assistentes sociais, sob a alegação de “não haver necessidade de

tais profissionais” (sic.) (SÃO FRANCISCO).

Seguindo, para se ter uma dimensão da situação catastrófica que pode

ser ocasionada em detrimento da ausência de tais profissionais se observa em

relação à inexistência de nutricionista, pois cabe a este a confecção de

alimentações mais balanceadas as quais atendam à necessidade específica de

cada pessoa. A carência deste especialista no universo da ILPIs é deveras

potencializada, haja vista que lá existem pessoas com idade avançada e que

podem ter seu quadro de saúde agravado caso não observada à correta

preparação dos alimentos. Assim, seja por doença ou rejeição do organismo, a

situação de pessoas diabéticas, hipertensas e intolerantes à lactose e/ou glúten

clama a presença imprescindível do nutricionista, que planejará a confecção de

cardápio singular prevenindo a piora na saúde do idoso.

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15

A consequência irresponsável gerada pela ausência de profissionais da

área de saúde, que são de vital importância aos cuidados das pessoas idosas,

foi percebida pelo MEPCT/PE em uma visita na qual se verificou a existência

de idosos com problemas circulatórios e sem o devido tratamento médico, com

edemas aparentes nos membros inferiores, que demonstram situação de

negligência e abandono com os residentes, bem como a situação de outra

idosa recém-operada na cabeça, a qual apresentava sangramento na região

cirurgiada e que necessitava, no mínimo, de efetuar a troca dos curativos ou

qualquer outro meio eficaz de estancar o fluxo de sangue. Restaram assim,

deveras evidente no momento da visita que tais ocorrências de pronto-

atendimento médico ocorreram em virtude de os idosos estarem sem qualquer

profissional de saúde acompanhando-os, largados à própria sorte, posto que a

gestora da instituição não fez qualquer menção à solucionar este e os demais

problemas existentes, e sim em dirigir-se aos órgãos de fiscalização em tom

agressivo (MELHOR IDADE).

Um dos poucos pontos bons colhidos pelo MEPCT/PE nas suas diversas

visitas é que em algumas das instituições (IEDA LUCENA E SÃO

FRANCISCO) são feitos cursos de capacitação dirigidos a alguns profissionais

em suas respectivas áreas (cuidadores). Todavia, em nenhuma das ILPIs nada

se comentou sobre o conhecimento por parte dos gestores e funcionários a

respeito sobre a noção de técnicas de como agir em casos de incêndios, haja

vista que tais informações irão agregar na qualificação dos corpos funcionais

das instituições bem como ser bastante útil numa eventual situação de risco a

qual os residentes possam estar envolvidos.

Por fim, dentre tantas situações chocantes a respeito da quantidade de

empregados nas ILPIs, duas delas despertaram a atenção desse órgão: a

primeira foi a informação prestada de que a proporção do quantitativo de

cuidadores em relação ao número de idosos é bastante defasada. Inclusive,

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16

numa das instituições, no turno da noite, os idosos ficam sob a

responsabilidade de um só cuidador (ABRIGO SÃO JOSÉ), sendo também tal

problemática a realidade noutra ILPI (MELHOR IDADE), a qual o número é de

seis cuidadores para vinte e um idosos gera sobrecarga para esses

profissionais e risco de acidentes no local, havendo uma total

desproporcionalidade do número destes profissionais com relação aos

residentes; a segunda situação, diz respeito ao ajustamento do número de

cuidadores de acordo com os residentes com grau de dependência (SÃO

FRANCISCO), a qual se mostra em quantitativo insatisfatório e não

proporcional à demanda de serviço.

3.1.6. Idosos

Antes de partir-se para os relatos dos idosos residentes bem como a

percepção deste órgão fiscalizatório, deve ser feito registro de que numa das

instituições visitadas, no terraço da parte frontal da residência foi observado

que havia 06 (seis) idosas que estavam sentadas e amarradas em suas

cadeiras de rodas, com braços e antebraços imobilizados, tolhendo-as nos

movimentos, quando o menos invasivo seria a colocação de faixas com enlace

peitoral, deixando os braços livres e o idoso com maior autonomia.

Nas ILPIs visitadas, o MEPCT/PE colheu dos idosos relatos os quais

corrobora a ocorrência mencionada em linhas anteriores, qual seja, de que as

residências têm estruturas físicas bem ruins quanto à acessibilidade. Somando-

se a isto, outros pontos de reclamação advindos dos residentes se referem à:

carência de remédios; que as gestões das instituições recebem os proventos

dos idosos em seu lugar e não fazem o repasse do valor, não sabendo os

residentes o quanto percebem a título de benefícios previdenciários (ABRIGO

SÃO JOSÉ); a má qualidade da alimentação, só para citar alguns exemplos.

Além do mais, em quase todas as instituições é comum a reclamação referente

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à ausência/defasagem de muitos profissionais, tais como os da área de saúde

e também de cuidadores.

Outro ponto mencionado é o fato de praticamente não haver atividades

de lazer aos idosos 12 (CAI e ABRIGO SÃO JOSÉ), contexto este em

contradição com as disposições normativas acerca da matéria e que induz as

pessoas idosas à uma exagerada ociosidade.

De um modo geral, não se percebeu uma boa organização com relação

às vestes pessoais dos residentes13 , pois segundo relato dos mesmos as

roupas não são organizadas de forma adequada (CAI).

Concluindo, em conversa com o MEPCT/PE atinente à visita, alguns dos

idosos residentes numa das ILPIs (SÃO FRANCISCO) inspecionadas relataram

que permanecem na instituição durante a semana e nos finais de semana vão

para casa dos filhos; entretanto, outros – principalmente as mulheres – não

recebem visitas de familiares e as que recebem não são com regularidade.

Diante disso, a condição de abandono familiar contribui para a situação de

maus-tratos da pessoa idosa nas ILPIs, e endossando tal fato houve a menção

de alguns residentes relatando que nem sempre são tratados com o devido

respeito14 e que, não raras vezes, são submetidos a situações de maus-tratos e

12

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 4. CONDIÇÕES GERAIS 4.3 – A instituição deve atender, dentre outras, às seguintes premissas: 4.3.9 – Promover condições de lazer para os idosos tais como: atividades físicas, recreativas e culturais. 13

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 5 – Processos Operacionais 5.4 – Lavagem, processamento e guarda de roupa 5.4.3 – As roupas de uso pessoal devem ser identificadas, visando à manutenção da individualidade e humanização. 14

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 4. CONDIÇÕES GERAIS 4.3 – A instituição deve atender, dentre outras, às seguintes premissas: 4.3.2 – Preservar a identidade e a privacidade do idoso, assegurando um ambiente de respeito e dignidade.

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18

tratamento mais enérgico, física e verbalmente 15 , por parte de alguns

cuidadores.

3.1.7. Documentos

Na abordagem acerca da parte documental, também foram percebidas

por este órgão diversas irregularidades, que dentre elas estão pontos

importantes como: a dificuldade no acesso aos documentos básicos de

constituição das instituições, tais como Estatuto Social e se o mesmo é

registrado no órgão competente; a inexistência de Regimento Interno 16

(ABRIGOSÃO JOSÉ). Tal fato gera, no mínimo, a incerteza sobre a existência

legal da entidade, além de não ser possível proceder a qualquer forma de

fiscalização e controle quanto à legalidade nas referidas instituições.

Outro ponto que causou espanto ao MEPCT/PE foi o fato de em uma

das instituições (CAI) o responsável pela ILPI não ter do proprietário do imóvel

documento idôneo certificando de que a água fornecida aos residentes é

apropriada para o consumo humano, e que tal desídia do gestor ocasiona a

pouca preocupação com a saúde do público o qual se torna responsável.

Ademais, no que se refere aos contratos firmados com os idosos,

quando estes ajustes existem, restou também evidenciado muitos pontos

lacunosos e que eram comuns a praticamente todas as ILPIs visitadas. Quando

escrito o instrumento contratual não havia discriminado, por exemplo, o valor

das mensalidades que eram cobradas pela prestação dos serviços, de modo

que não seja possível ao idoso ter ciência do quanto o mesmo esteja pagando

15

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 4. CONDIÇÕES GERAIS 4.3 – A instituição deve atender, dentre outras, às seguintes premissas: 4.3.10 – Desenvolver atividades e rotinas para prevenir e coibir qualquer tipo de violência e discriminação contra pessoas nela residentes. 16

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 4. CONDIÇÕES GERAIS 4.5. Organização 4.5.5 – A Instituição de Longa Permanência para Idosos deve organizar e manter atualizados e com fácil acesso, os documentos necessários à fiscalização, avaliação e controle social.

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19

pelo serviço contratado, bem como a efetivação de mecanismo de controle

mais acentuado acerca da receita da ILPI. Em uma instituição inspecionada

(CAI) foi verificada a má organização da documentação de cada idoso, de

forma individualizada, situação que dificulta e muito a análise dos contratos de

convivência de forma pormenorizada. Há instituição em que inexiste o contrato

individual de cada idoso, sendo assim contratos meramente verbais, não

havendo controle na quantidade de idosos residentes e não residentes (SÃO

FRANCISCO). Na administração de outra ILPI o MEPCT/PE verificou que os

documentos referentes aos contratos de prestação de serviços não

discriminam os valores cobrados pela permanência do idoso, quer seja

mensalista quer seja diarista (MELHOR IDADE).

Além do mais, muitas das ILPIs visitadas fazem a prática do “day use”,

serviço no qual o idoso passa o dia na instituição, sendo retirado desta ao final

da tarde pelos familiares ou pessoa responsável, onde tais ajustes também são

de modo verbal. Ou seja, tanto os contratos dos residentes quanto o dos

usuários “day use” não são documentados, de forma a não haver controle na

quantidade de idosos que estão na instituição – tanto na condição de residente

quanto na de diarista – fazendo com que surja a superlotação, sem suporte

material e de recursos humanos para atender com efetividade e humanização a

uma quantidade exagerada de idosos. Prova do alegado é que numa dada

ILPI, a gestora afirmou residirem no local setenta idosos, quando na verdade

foram contabilizados pelo MEPCT/PE noventa e seis residentes na instituição.

Tal conduta premeditada e com informações controversas só denota a ideia de

auferir o máximo de lucro com menor gasto possível, sem ter o devido e

necessário cuidado para com a pessoa idosa (SÃO FRANCISCO).

Seguindo na temática dos contratos, muitas das ILPIs inspecionadas

não os formalizam, de modo que a falta de documentos dificulta a

comprovação mais transparente da receita e despesa da instituição, incluindo

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contratos dos residentes com os respectivos valores bem como dos contratos

dos empregados17, impossibilitando de se ter uma ciência de quanto cada ILPI

arrecada bem como de quanto cada instituição despende de seus recursos

para a mantença de suas atividades. Neste segmento, a falta dos contratos

escritos resta tão notória que uma das instituições visitadas tinha como

residentes ao menos duas pessoas com idade inferior aos sessenta anos, fato

este que infringe o sistema legal a respeito da matéria18.

Resta ainda, sem qualquer espécie de controle, o quantitativo de idosos

de acordo com o grau de dependência (SÃO FRANCISCO), visto que não

existe documentação que discrimine o número de idosos nessa situação.

Ainda na temática de hipossuficiência documental, os comprovantes de

vacinação obrigatória dos residentes não estavam de fácil acesso para uma

eventual fiscalização19 (ABRIGO SÃO JOSÉ), fato este que impede o exercício

de controle mais rigoroso e eficaz na questão da saúde dos residentes.

Assim, em virtude de existir toda essa confusão documental e a

ausência de regulamentos nas entidades é que restam lacunosos vários pontos

no que se referem aos termos contratuais dos idosos, tais como: seus direitos e

deveres; quais os serviços estão abarcados pelo contrato; designação precisa

quanto aos dias e horários das visitas – se são em dias livres ou em dias

específicos – (ABRIGO SÃO JOSÉ); valor da mensalidade pelos serviços

17

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 4. CONDIÇÕES GERAIS 4.6 – Recursos Humanos 4.6.1 – A Instituição de Longa Permanência para Idosos deve apresentar recursos humanos, com vínculo formal de trabalho, que garantam a realização das seguintes atividades (grifos nossos). 18

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 3. DEFINIÇÕES. 3.6 – Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) – instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania. 19

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 5 – Processos Operacionais 5.2 – Saúde 5.2.4 – A Instituição deve comprovar, quando solicitada, a vacinação obrigatória dos residentes conforme estipulado pelo Plano Nacional de Imunização de Ministério da Saúde.

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prestados (todas as ILPIs visitadas); dieta individualizada; entre outras

questões que se mostraram muito divergentes do que foi explicado pelos

gestores de cada ILPI visitada.

Finalizando, quanto à parte documental, foi constatado pelo MEPCT/PE

que as ILPIs visitadas não possuem pronto e nem em fase de elaboração o

Plano de Atenção à Saúde – PAS20 (MELHOR IDADE), situação semelhante e,

do mesmo modo, constatada noutra instituição desde a última visita realizada

por este órgão fiscalizador, datada de 09.02.2016 e cuja ausência ainda pode

ser observada na inspeção efetuada em 24.10.2017 (SÃO FRANCISCO). Tal

documento deve ser elaborado de modo individualizado para cada residente,

constituindo verdadeiro “dossiê” quanto a todos os aspectos atinentes à saúde

do idoso. Quando muito, nas pastas de alguns idosos havia somente o

acompanhamento da saúde dos mesmos com atestados e prescrições

médicas, além de algumas informações em questionários e poucos escritos

referentes à evolução da enfermagem.

20

RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 283, DE 26 DE SETEMBRO DE 2005 5 – Processos Operacionais 5.2 – Saúde 5.2.1 – A instituição deve elaborar, a cada dois anos, um Plano de Atenção Integral à Saúde dos residentes, em articulação com o gestor local de saúde.

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22

ANEXO I – FOTOS

Foto 01– Poltrona molhada pelo Foto 02 – Fiação exposta gotejamento.

Foto 03 – Piso irregular Foto 04 – Fossa a céu aberto

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Foto 05 – Porta estreita no quarto Foto 06 – Camas sem barras

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24

CAPÍTULO 2 - COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

Por Simone de Figueiredo

2.1. Breves Considerações

Desde a Antiguidade e em diversas civilizações, as drogas estiveram

presentes na vida do ser humano; cada povo e cada cultura possuem suas

peculiaridades no uso e no cultivo das substâncias que são utilizadas como

medicamento para cura de enfermidades, ou na busca de relaxamento ou

excitação e, não raras vezes, sem ter consciência dos efeitos e consequências

nocivas ao organismo.

No Brasil, a primeira aparição estava associada aos índios que,

conforme relatos e estudos históricos descobriram nas plantas substâncias

tóxicas que eram usadas de acordo com sua cultura em diversos rituais, porém

a primeira droga, a Cannabis Sativa (nome científico da maconha) foi trazida

pelos escravos angolanos que vinham nas caravanas portuguesas que

colonizaram o Brasil, perdurando a propagação desta erva daninha até os dias

atuais21.

Este capítulo é dedicado ao estudo das comunidades terapêuticas

regulamentadas pelo Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas -

SISNAD e definidas na página eletrônica do Observatório Crack é possível

vencer como instituições privadas sem fins lucrativos e financiadas, em parte,

pelo poder público e oferecem gratuitamente acolhimento para pessoas com

transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de drogas. São

instituições abertas, de adesão exclusivamente voluntária, voltadas a pessoas

21

https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/a-origem-das-drogas-na-/60298 acessado em 05 de janeiro de 2018.

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25

que desejam e necessitam de um espaço protegido, em ambiente residencial,

para auxiliar na recuperação da dependência à droga e o tempo de

acolhimento pode durar até doze meses que, durante esse período, devem

manter seu tratamento na rede de atenção psicossocial e nos demais serviços

de saúde que se façam necessários22.

De acordo com a normatização nacional, as comunidades terapêuticas

devem manter em sua vanguarda um responsável técnico de nível superior

legalmente habilitado, bem como um substituto com a mesma qualificação23.

Serão tratados no presente capítulo, os seguintes temas: um breve

histórico das comunidades terapêuticas; a normatização nacional que fala

sobre o uso das drogas e a RDC 01/2015 que regulamenta as entidades que

realizam o acolhimento de pessoas em caráter voluntário, no âmbito do

SISNAD; o movimento antimanicomial; a competência do MEPCT/PE para

visitar e fazer recomendações às comunidades terapêuticas; a metodologia e o

instrumental utilizado nas visitas às comunidades terapêuticas; as

recomendações emitidas por este órgão e o que já foi cumprido, bem como as

comunidades terapêuticas visitadas pelo MEPCT/PE.

2.2. UM CONCISO HISTÓRICO DAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

As comunidades terapêuticas começaram a ser instituídas no século XX,

e o primeiro modelo foi desenvolvido na Inglaterra, na década de 40, por

Maxwell Jones, um psiquiatra sul africano radicado no Reino Unido que foi

considerado o criador do conceito de comunidade terapêutica; o referido

22

http://www.brasil.gov.br/observatoriocrack/cuidado/comunidades-terapeuticas.html acessado em 05 de janeiro de 2018. 23

RESOLUÇÃO-RDC/ANVISA Nº 101, DE 30 DE MAIO DE 2001. 2. 2.2 A responsabilidade técnica pelo serviço junto ao órgão de Vigilância Sanitária dos Estados, Municípios e do Distrito Federal deve ser de técnico com formação superior na área da saúde e serviço social.

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modelo baseava-se na “aprendizagem social”. Este modelo se provou eficaz no

tratamento e recuperação da dependência química, alcoolismo e drogas24.

No Brasil as primeiras comunidades terapêuticas surgiram na década de

60, conforme gráfico a seguir:

O número das comunidades terapêuticas difundiu-se rapidamente e o

fato mais preocupante é que esse crescimento se deu sem o devido

conhecimento e treinamento necessários para o regular funcionamento das

mesmas, ocasionando um sério problema enfrentado pelo Estado. Fazia-se

necessária a regulamentação dessas instituições que existiam na realidade

apenas como espaços de moradia de pessoas com problemas com uso de

álcool e drogas.

24

https://pt.wikipedia.org/wiki/MaxwellJones acessado em 05.01.2018.

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27

2.3. A NORMATIZAÇÃO NACIONAL e a RDC 01/2015

O primeiro passo dado em relação à regulamentação foi a fundação da

Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas – FEBRACT em 16 de

outubro de 1990, pelo Padre católico Haroldo Rahm, nascido no Estado norte

americano do Texas e naturalizado brasileiro. A FEBRACT ministra cursos

voltados à questão das comunidades terapêuticas destinados aos

representantes de instituições diversas que se preocupam com o problema da

dependência química e a todos que trabalhavam com programas de prevenção

ao uso de drogas. Além dos cursos que ministra, a instituição orienta as

comunidades terapêuticas, desde a elaboração de seus estatutos até a

organização interna e o relacionamento com as autoridades e com a

comunidade na qual está inserida25.

Mesmo com o surgimento da FEBRACT as comunidades terapêuticas

continuavam funcionando de modo precário e sem fiscalização. Em 2001, a

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), considerando a necessidade

de normatização do funcionamento de serviços públicos e privados de atenção

às pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias

psicoativas, adotou a RDC 101/2001, que estabeleceu regulamentação técnica

através do documento: "Exigências mínimas para o funcionamento de serviços

de atenção a pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de

substâncias psicoativas"26, conforme o modelo psicossocial.

No ano de 2006, foi sancionado o Decreto nº 5.912 de 27 de setembro, que

instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD com

a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades

relacionadas com a prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de

25

.www.febract.org.br (http://www.febract.org.br/) acessado em 05.01.2018. 26 .http://www.ee.usp.br/departamento/nucleo/CComs/doc/exigencias_minimas_para_funcionamento

servicos_de_atenc.pdfacessado em 05.01.2018.

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28

usuários e dependentes de drogas e a repressão da produção não autorizada e

do tráfico ilícito de drogas.

Para regulamentar os aspectos sanitários das comunidades terapêuticas,

em 29 de junho de 2011 foi publicada a RDC Nº 29 da Anvisa27com o objetivo

de aprovar os requisitos de segurança sanitária para o funcionamento de

instituições que prestem serviços de atenção a pessoas com transtornos

decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas, em

regime de residência.

Apenas no ano de 2015 surgiu o marco regulatório das comunidades

terapêuticas, a RDC 01 de 19 de agosto de 201528 que veio regulamentar, no

âmbito do SISNAD, as entidades que realizam o acolhimento de pessoas em

caráter voluntário, com problemas associados ao uso do álcool nocivo ou

dependência de substância psicoativa, caracterizadas como comunidades

terapêuticas. A referida RDC teve ampla participação das entidades das

comunidades terapêuticas, do Governo Federal, dos Conselhos Profissionais,

movimentos da sociedade civil e trouxe novos termos como, por exemplo,

acolhimento ao invés de internação, saída ao invés de alta, Plano de

Atendimento Singular – PAS ao invés de ficha individual (RDC-029), dentre

outros. Outra característica importante é que a RDC 01/2015 aplica-se apenas

a entidades sem fins lucrativos29.

Embora o conveniamento das comunidades terapêuticas com o Sistema

Único de Saúde – SUS como serviço de atenção da rede pública tenha

acontecido a partir de 2011, a maioria das instituições são privadas e, muitas

27

.http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2011/res0029_30_06_2011.html.acessado em 15.01.2018. 28

.http://www.lex.com.br/legis_27017500_RESOLUCAO_N_1_DE_19_DE_AGOSTO_DE_2015.aspx acessado em 05.01.2018. 29

Art. 2º As entidades que realizam o acolhimento de pessoas com problemas associados ao uso nocivo ou dependência de substância psicoativa, caracterizadas como comunidades terapêuticas, são pessoas jurídicas, sem fins lucrativos (...) grifo nosso.

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vezes, de caráter confessional, em que a religião é imposta como a principal

estratégia de tratamento, independentemente das convicções religiosas do

indivíduo antes do ingresso nela. Elas possuem um programa específico de

tratamento, que dura de seis a doze meses, conforme a instituição, regras

rígidas e atividades obrigatórias, que devem ser seguidas por todos que

ingressam na instituição. As visitas dos familiares são parcas e restritas e o

contato com o mundo externo é inexistente, inclusive, no que diz respeito às

atividades escolares e profissionais, uma realidade que preocupa o

MEPCT/PE, pois uma grande parte das comunidades terapêuticas não está

adequada à normatização nacional, o que compromete os resultados

esperados no tratamento dos residentes.

2.4. A LUTA ANTIMANICOMIAL

O movimento de combate antimanicomial caracteriza-se por exigir os

direitos das pessoas em sofrimento mental e está ligado à Reforma Sanitária

Brasileira da qual resultou, dentre outras coisas, a criação do SUS.

No passado, a saúde mental era uma questão privada, onde as famílias

eram responsáveis por seus parentes com transtorno mental; ao longo dos

tempos começou uma discussão e luta pela implantação de serviços de saúde

mental no Brasil e somente no final do século XX a militância conseguiu a

implantação dos Centros de Atenção Psicossocial – CAPS fundamentais para o

tratamento psiquiátrico e a reinserção social dos pacientes, tornando possível a

diminuição gradativa dos casos de internação.

Em 2001 foi sancionada a Lei nº 10.216/2001, conhecida como a Lei

Paulo Delgado ou Reforma Psiquiátrica, que direciona a assistência em saúde

mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base

comunitária e dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com

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transtornos mentais. A referida lei preconizava o fechamento dos hospitais

psiquiátricos de forma gradativa e a substituição destes hospitais por um

serviço de atenção à saúde mental dentro de uma rede de atenção

psicossocial.

A Rede de Atenção Psicossocial - RAPS estabelece os pontos de

atenção para o atendimento de pessoas com problemas mentais, incluindo os

efeitos nocivos do uso de crack, álcool e outras drogas e integra o SUS. Neste

universo estão contempladas as comunidades terapêuticas.

As condições da saúde mental no Brasil evoluíram, porém a luta

antimanicomial continua e o dia 18 de maio foi escolhido para representar este

combate, onde são feitas manifestações no sentido de se manter o cuidado

com os pacientes com sofrimento mental, e para que os mesmos não sejam

excluídos da sociedade e maltratados como eram no passado, mas sim

orientados e acompanhados para que possam ter sua dignidade humana

resguardada.

2.5. A COMPETÊNCIA DO MEPCT/PE

De acordo com artigo 7º, I da lei 14.863/2012, compete ao MEPCT/PE

planejar, realizar e conduzir visitas periódicas e regulares a pessoas privadas

de liberdade, qualquer que seja a forma ou fundamento de detenção,

aprisionamento, contenção ou colocação em estabelecimento público ou

privado de controle, vigilância, internação, abrigo ou tratamento, para verificar

as condições de fato e de direito a que se encontram submetidas. Neste

sentido, o MEPCT/PE desde sua implementação no ano de 2015, vem

exercendo seu múnus de visitar os referidos estabelecimentos, onde as

comunidades terapêuticas estão inseridas, por se tratar de pessoas que estão

restritas de liberdade para receberem tratamento clínico e muitas vezes tal

terapia se concretiza em agressões, maus tratos e violência contra os

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31

residentes. Ao final das visitas são elaborados relatórios contendo

recomendações dirigidas às autoridades competentes e órgão de fiscalização e

controle que devem ser cumpridas no prazo estabelecido pelo MEPCT/PE.

Para que estivesse apto a realizar um trabalho preciso, o MEPCT/PE

recebeu duas capacitações da Associação para a Prevenção da Tortura – APT

e participou de dois seminários internacionais no Panamá referente ao tema

em comento, bem como compareceu a palestras com autoridades que são

referência na política das drogas.

2.6. METODOLOGIA E INSTRUMENTAL UTILIZADO PARA AS VISITAS

Para fazer as visitas o MEPCT/PE fundamenta suas ações no Guia

prático de monitoramento de locais de detenção30 que é o instrumento utilizado

pela APT que promoveu as duas capacitações para este órgão. De acordo com

o referido Guia, as visitas têm a função preventiva que exerce um

monitoramento externo, a proteção direta de modo a identificar de forma

imediata os problemas que afetam as pessoas detidas, a possibilidade de

analisar a documentação dos detidos para examinar os diferentes aspectos

das condições da detenção e possibilita e que não estão sendo atendidas pelas

pessoas responsáveis pelo local da detenção e a estabelecer um diálogo direto

com as autoridades e funcionários encarregados das instalações da

detenção31.

Para que a visita ocorra dentro das melhores condições possíveis, ela

deve ser preparada com antecedência e, a partir do estudo do local a ser

30

APT- Associação para a Prevenção da Tortura, edição atualizada e revisada, 2014. 31

Guia prático de monitoramento de locais de detenção. APT- Associação para a Prevenção da Tortura, edição atualizada e revisada, pp.22-23, 2014.

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32

visitado, serão definidos os objetivos da visita e organizado o trabalho da

equipe que irá realizar esta tarefa32.

O MEPCT/PE teve o cuidado de preparar um instrumental para ser

preenchido nas visitas realizadas às comunidades terapêuticas, todo baseado

na RDC 01/2015 após leitura e estudo aprofundado da referida Resolução. O

instrumental tem sido de grande utilidade nas visitas realizadas e dá subsídios

para um relatório mais robusto.

2.7. DAS VISITAS ÀS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

O MEPCT/PE no ano de 2017 fez visitas regulares às comunidades

terapêuticas: “Grupo Recanto” e “Comunidade Terapêutica Novo Tempo” e

também realizou visita temática a “Comunidade Terapêutica Reviver” a convite

da Procuradoria Regional do Ministério Público Federal dos Direitos do

Cidadão articulado com autarquias profissionais do segmento de saúde:

Conselho Federal de Psicologia – CFP, Conselho Regional de Psicologia –

CRP, Conselho Regional de Serviço Social de Recife – CRESS, Gerência de

Atendimento em Saúde Mental – GASAM da Secretaria de Saúde do Estado de

Pernambuco, Gabinete de Assessoria Jurídica das Organizações Populares –

GAJOP, Conselho Regional de Enfermagem – COREN e o Mecanismo

Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT.

A visita temática à Comunidade Terapêutica Reviver, realizada em

conjunto com os órgãos referidos anteriormente, teve o escopo de vistoriar a

instituição em comento a fim de traçar um panorama das condições

vivenciadas pelas residentes naquele local. Há de se ressaltar que o

MEPCT/PE realizou anteriormente uma inspeção no espaço em referência, no

32

Guia prático de monitoramento de locais de detenção. APT- Associação para a Prevenção da

Tortura, edição atualizada e revisada, pp.54-55, 2014.

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33

dia 10 de maio do ano de 2016, que serviu de parâmetro para a última

inspeção, o que robusteceu as impressões exaradas no relatório da visita.

Chamou atenção deste órgão a localização da Comunidade

Terapêutica Reviver que é situada em local de baixa mobilidade urbana; não

há qualquer placa ou indicativo de que ali existe uma comunidade terapêutica.

Denotando-se, desta forma, ser apenas um imóvel com função residencial. A

instituição é responsável pelo tratamento de dezesseis mulheres e fornece os

serviços de clínica médica, psiquiatria, assistência social, biomedicina e

educação física. No dia da visita estava sem psiquiatra, mas estava para ser

contratado novo médico.

Apurou-se, segundo informações, que a instituição possui três

monitores e nessa equipe sempre haverá um homem, que é responsável,

dentre outras atribuições, por apaziguar conflitos. Embora o apoio masculino

possua responsabilidade específica, ponto convergente entre o relatório de

2016 e as atuais impressões são os relatos de abusos sexuais provocados

por esses profissionais do sexo masculino.

Assim como em outras comunidades terapêuticas é aplicada na

Reviver, a metodologia dos doze passos e a “sonoterapia” após o almoço, que

é uma atividade obrigatória onde todas as residentes devem se recolher aos

seus dormitórios. Foi esclarecido que o período de internamento é de seis

meses e que a grande maioria das residentes não retornam à instituição após

esse tratamento. Excepcionalmente, algumas perduram por oito meses, mas

nenhum caso abrange o período de um ano.

O MEPCT/PE entrevistou algumas residentes os quais informaram que

ocorrem penalidades nos casos de descumprimentos de qualquer imposição,

sendo a política da comunidade regida à chantagem e coação, havendo

emprego de força física, notadamente na hipótese de não ingestão das

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medicações. Outro ponto de protesto é o desgosto pela laborterapia, que

resulta nos afazeres domésticos, posto que acreditam que estas obrigações

são despidas de caráter terapêutico. Por outro lado, em que se pese ter sido

uma das recomendações do relatório no ano antecedente à contratação de

um profissional de nutrição, as refeições são de poucas variedades,

predominando o alimento cuscuz.

Outra Comunidade Terapêutica visitada foi o Grupo Recanto e sobre

esta instituição algumas considerações serão pontuadas.

O MEPCT/PE, na ocasião da visita ao Grupo Recanto, constatou que

não havia nenhum responsável na instituição, restando prejudicado quaisquer

possíveis casos de emergências. Após o questionamento deste órgão algum

tempo depois chegou o médico responsável técnico perante o Conselho

Regional de Medicina de Pernambuco – CREMEPE da instituição e os sócios

proprietários. Em entrevista com o médico, este informou que os residentes

são contidos por um grupo de apoio composto por cinco monitores (ex-

residentes) que os contêm fisicamente (segurando nos braços e

eventualmente as pernas) na tentativa de acalmar a pessoa e posteriormente,

o indivíduo em crise é encaminhado para um espaço chamado Unidade de

Desintoxicação e Crise – UDC que basicamente é uma enfermaria onde o

residente permanece até se acalmar. Quando questionado sobre

intercorrências mais graves que necessite de um pronto atendimento clínico, o

médico afirmou que há à disposição dos residentes um veículo e que, se for

necessário, o residente será levado a um hospital de emergência do seu plano

de saúde ou a uma unidade de pronto atendimento pública. Afirmou ainda que

são promovidas frequentemente ações de prevenção e combate ao uso de

drogas e álcool junto aos familiares dos residentes, através de palestras e

reuniões periódicas para explicar aos familiares a evolução do paciente que

seja seu parente.

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35

A equipe técnica da instituição é composta por três médicos

psiquiatras, quatro enfermeiros, quatro psicólogos, três auxiliares de

enfermagem e um educador físico. O tratamento é baseado no “Programa de

doze passos”; a proposta terapêutica é de inicialmente seis meses, podendo

ser prolongada por mais tempo, a depender das necessidades de cada

residente. Dentre as irregularidades constatadas, havia a ausência da

Resolução do CONAD n.º 01/2015 afixada na entidade em local visível,

conforme determina o artigo 23 da referida Resolução e, ainda, a invalidade

do atestado de regularidade emitido pelo Corpo de Bombeiros Militar de

Pernambuco, uma vez que estava vencida.

O MEPCT/PE entrevistou os residentes que relataram algumas

irregularidades como, por exemplo, a UDC. Os acolhidos disseram que o

tratamento para contenção é a “garapa33” e que ficam “fora do ar”, vagando

pelo pátio em estado lastimável. Tal procedimento é proibido pela Resolução

do CONAD n.º 01/2015 no artigo 6º, XII, que veda ações de contenção física

ou medicamentosa. Seguiram afirmando que todos os acolhidos, de início,

são dirigidos a essa unidade, sendo submetidos a medicamentos dopantes.

Posteriormente, são encaminhados para rotina da instituição. Narraram

também, que a UDC é utilizada como meio sancionatório. Contudo, alguns

dos acolhidos solicitam serem encaminhados para essa unidade com o

propósito exclusivo de isolamento. Relataram ainda outras irregularidades

descritas no relatório da visita do MEPCT/PE àquela instituição.

O MEPCT/PE visitou também a “Comunidade Terapêutica Novo Tempo”

a convite da Procuradoria Regional do Ministério Público Federal dos Direitos

do Cidadão articulado com autarquias profissionais do segmento de saúde:

Conselho Federal de Psicologia – CFP, Conselho Regional de Psicologia –

CRP, Conselho Regional de Serviço Social de Recife – CRESS, Gerencia de

33 Garapa é termo comumente usado pelos acolhidos para denominarem a mistura dos medicamentos que são ministrados para contê-los quimicamente.

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36

Atendimento em Saúde Mental – GASAM da Secretaria de Saúde do Estado,

Gabinete de Assessoria Jurídica das Organizações Populares – GAJOP,

Conselho Regional de Enfermagem – COREN e o Mecanismo Nacional de

Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT.

A visita à comunidade terapêutica foi de fato muito preocupante para o

MEPCT/PE devido à quantidade de irregularidades encontradas naquele

espaço. A instituição funciona no local há aproximadamente dois anos, com

capacidade para acolher cerca de quarenta pessoas e no dia da visita do

MEPCT/PE havia cerca de trinta e nove residentes e, dentre esses, pessoas de

diferentes estados da federação.

A proposta terapêutica aplicada aos residentes é baseada no “Programa

doze passos34” e o prazo para o tratamento é de inicialmente seis meses,

podendo ser prolongado por mais tempo a depender das necessidades de

cada residente. Quanto à forma de contenção, foi informado que é feita a

contenção física pelos monitores (ex-residentes), na qual a pessoa é segurada

nos braços e eventualmente nas pernas, quando necessário, na tentativa de

acalmá-la. Quando da necessidade de um pronto atendimento clínico, há à

disposição dos residentes dois veículos e que, se for necessário, o interno será

levado a um hospital ou a uma Unidade de Pronto Atendimento – UPA.

A rotina dos residentes é determinada pela direção da instituição e se

resume a atividades de conservação e limpeza do local e que estas tarefas são

obrigatórias. A equipe técnica é bastante resumida, havendo uma psicóloga e

um educador físico, destacando que a maioria dos funcionários que compõe a

equipe de referência é composta por ex-residentes. No sítio da internet que faz

a propaganda da comunidade terapêutica Novo Tempo algumas informações

não condizem com a realidade encontrada no dia da visita do MEPCT/PE as

34

http://www.gruponovotempoct.com.br/um-novo-tempo#metodologia. Acessado em 20/10/2017.

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37

quais discriminam a presença dos seguintes profissionais: técnica de

enfermagem, cozinheira, nutricionista; embora tenha na propaganda psiquiatra,

clínico geral e terapeuta ocupacional, não foram encontrados registros dos

profissionais contratados no quadro funcional da instituição. Ainda em total

desacordo com a realidade diz no sítio da internet que a instituição possui

ambulância vinte e quatro horas. Uma irregularidade constatada que chamou a

atenção do MEPCT/PE foi a presença de grades nas portas dos quartos e

demais cômodos da instituição restando configurada situação de cárcere.

Dentre as irregularidades verificadas havia a ausência da Resolução do

CONAD n.º 01/2015 afixada na entidade em local visível, conforme determina o

artigo 23 da referida Resolução; a invalidade da licença sanitária uma vez que

não estava mais vigendo, bem como não havia um programa de acolhimento

determinado pela Resolução do CONAD n.º 01/2015, artigo 6º, III; na sala da

direção estava afixo no quadro um regulamento interno, porém não havia

regimento interno afixado.

O MEPCT/PE entrevistou os acolhidos que relataram várias

irregularidades como, por exemplo, a falta de profissionais e o tratamento

desumano aplicado aos residentes, contrariando o artigo 8º, II da Resolução

do CONAD n.º 01/2015, que determina um tratamento respeitoso ao acolhido,

bem como a proibição de punições aplicadas aos que não quiserem obedecer

às regras determinadas, sendo vedados castigos físicos, psicológicos ou

morais pela Resolução do CONAD n.º 01/2015, no artigo 6º, XIV. Relataram

ainda outras irregularidades descritas no relatório da visita do MEPCT/PE

àquela instituição.

2.8. DAS RECOMENDAÇÕES ÀS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

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38

Conforme dito no ponto 2.5, o MEPCT/PE ao final das visitas elabora

relatórios contendo recomendações dirigidas às autoridades competentes e

órgãos de fiscalização e controle.

Comunidade terapêutica Reviver:

À ADMINISTRAÇÃO DA COMUNIDADE TERAPÊUTICA REVIVER:

1. Fixar, com visibilidade bastante e em local de principal acesso ao interior

da casa, a Resolução do CONAD n.º 01/2015, por ser esta medida, uma

posição prevista no artigo 23 da referida Resolução. Prazo: imediato;

2. Promover um programa de acolhimento determinado pelo artigo 6º, I, da

Resolução do CONAD n.º 01/2015. Prazo imediato;

3. Eliminar imediatamente qualquer prática de contenção medicamentosa

(“garapa”), conforme o artigo 6º, XII da Resolução do CONAD n.º

01/2015. Prazo: imediato;

4. Realizar um acompanhamento técnico através da construção de um

Plano de Atendimento Singular, com cada um dos acolhidos, conforme o

artigo 11 da Resolução do CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

5. Garantir no quadro funcional da instituição os profissionais: médico

psiquiatra, médico clínico-geral, nutricionista e cozinheiro, conforme

determinação da Resolução do CONAD n.º 01/2015 em seu art. 6º,

XXIV. Prazo: imediato;

6. Abolir a tranca nos dormitórios, de acordo com art. 6º, XIII, o qual diz

que os ambientes devem ser livres de grades. Prazo: imediato;

7. Assegurar a privacidade dos usuários quando das suas ligações

telefônicas e durante as visitas, conforme o artigo 8º, III da Resolução do

CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

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8. Assegurar tratamento respeitoso, conforme o artigo 8º, II da Resolução

do CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

9. Recontratar profissionais de clínica médica, psiquiatria, assistência

social, biomedicina e educação física. Prazo: imediato;

10. Contratar profissional de nutrição e a consequente adoção de refeições

balanceadas. Prazo: imediato;

11. Abolir qualquer espécie de trabalho ou atividade que não seja

voluntária, conforme o artigo 6º, XV da Resolução do CONAD n.º

01/2015. Prazo: imediato;

Obs.: Ressaltamos que o não atendimento às imposições

supramencionadas acarretará em procedimento que poderá ter como

consequência o fechamento da entidade.

AO CONSELHO DE PSICOLOGIA DA 2ª REGIÃO:

Acompanhar implementação da recomendação referente à elaboração

da construção de um Plano de Atendimento Singular – PAS para cada um dos

acolhidos. Prazo: 04 (quatro) meses.

AO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE PERNAMBUCO –

CREMEPE:

Fiscalizar o procedimento da contenção medicamentosa mencionada,

tendo em vista que tal procedimento é vedado pela Resolução do CONAD n.º

01/2015 no artigo 6º, XII. Prazo: imediato.

À ADMINISTRAÇÃO DA COMUNIDADE TERAPÊUTICA GRUPO RECANTO:

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ESTADO DE PERNAMBUCO

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

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12. Afixar na comunidade terapêutica, em local visível ao público, a

Resolução do CONAD n.º 01/2015 conforme determina o artigo 23 da

referida Resolução. Prazo: imediato;

13. Eliminar imediatamente qualquer prática de contenção medicamentosa,

conforme o artigo 6º, XII da Resolução do CONAD n.º 01/2015. Prazo:

imediato;

14. Realizar um acompanhamento técnico através da construção de um

Plano Terapêutico Singular - PTS com cada um dos acolhidos. Prazo: de

03 (três) meses;

15. Promover de forma permanente cursos de capacitação aos membros da

equipe técnica que atuam na entidade, no prazo de 06 (seis) meses

conforme o artigo 6º, XXV da Resolução do CONAD n.º 01/2015. Prazo:

01 (um) mês;

16. Assegurar a privacidade dos usuários quando das suas ligações

telefônicas e durante as visitas conforme o artigo 8º, III da Resolução do

CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

17. Assegurar tratamento respeitoso, conforme o artigo 8º, II da Resolução

do CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

18. Regularizar o atestado de regularidade perante o Corpo de Bombeiros

Militar de Pernambuco. Prazo: 02 (dois) meses.

AO CONSELHO DE PSICOLOGIA DA 2ª REGIÃO:

Acompanhar a implementação da recomendação referente à elaboração

da construção de um Plano Terapêutico Singular - PTS para cada um dos

acolhidos. Prazo: 04 (quatro) meses.

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ESTADO DE PERNAMBUCO

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

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AO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE PERNAMBUCO –

CREMEPE:

1. Fiscalizar o espaço denominado de Unidade de Desintoxicação e Crise –

UDC, localizado nas dependências da comunidade terapêutica grupo recanto e

o procedimento da contenção medicamentosa mencionada na página 07 do

presente relatório tendo em vista que tal procedimento é vedado pela

Resolução do CONAD n.º 01/2015 no artigo 6º, XII. Prazo: imediato;

2. Fiscalizar de forma regular o exercício dos médicos e suas condições de

trabalho na referida comunidade terapêutica, como reza o art. 3º RESOLUÇÃO

CFM nº 2.056/2013. Prazo: imediato.

Comunidade terapêutica Grupo Novo Tempo:

À ADMINISTRAÇÃO DA COMUNIDADE TERAPÊUTICA GRUPO NOVO

TEMPO:

1. Afixar na comunidade terapêutica, em local visível ao público, a

Resolução do CONAD n.º 01/2015 conforme determina o artigo 23 da referida

Resolução. Prazo: imediato;

2. Providenciar a revalidação da licença sanitária que está vencida junto à

Vigilância Sanitária. Prazo: imediato;

3. Promover um programa de acolhimento determinado pelo artigo 6º, I, da

Resolução do CONAD n.º01/2015. Prazo imediato;

4. Eliminar imediatamente qualquer prática de contenção medicamentosa,

conforme o artigo 6º, XII da Resolução do CONAD n.º 01/2015. Prazo:

imediato;

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ESTADO DE PERNAMBUCO

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

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5. Realizar um acompanhamento técnico através da construção de um

Plano de Atendimento Singular, com cada um dos acolhidos, conforme o artigo

11 da Resolução do CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

6. Garantir no quadro funcional da instituição os profissionais que estão

indicados no sítio da comunidade terapêutica Novo Tempo, quais sejam:

médico psiquiatra e clínico geral, nutricionista, cozinheira(o), conforme

determinação da Resolução do CONAD n.º 01/2015 em seu art. 6º, XXIV.

Prazo: imediato;

7. Abolir as grades que cercam alguns espaços da instituição que torna o

ambiente semelhante ao sistema de cárcere, de acordo com art. 6º, XIII, o qual

diz que os ambientes devem ser livres de grades. Prazo: 02 (dois) meses;

8. Assegurar a privacidade dos usuários quando das suas ligações

telefônicas e durante as visitas, conforme o artigo 8º, III da Resolução do

CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

9. Assegurar tratamento respeitoso, conforme o artigo 8º, II da Resolução

do CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

10. Abolir qualquer espécie de trabalho/atividade forçada, conforme o artigo

6º, XV da Resolução do CONAD n.º 01/2015. Prazo: imediato;

11. Reformular o sítio da internet o qual traz a propaganda da comunidade

terapêutica Novo Tempo alterando as informações que estão em desacordo

com a realidade, apontadas no presente relatório referente ao corpo técnico e

ambulância disponível vinte e quatro horas. Prazo: imediato;

12. Abolir os tratamentos denominados pela gestão como “equoterapia” e

sonoterapia, pois tais procedimentos adotados que se referem a cuidar dos

cavalos e dormir, respectivamente, não são os condizentes com os citados

tratamentos que são aplicados aos acolhidos. Prazo imediato.

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AO CONSELHO DE PSICOLOGIA DA 2ª REGIÃO:

Acompanhar a implementação da recomendação referente a elaboração

da construção de um Plano de Atendimento Singular – PAS para cada um dos

acolhidos. Prazo: 04 (quatro) meses.

AO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE PERNAMBUCO –

CREMEPE:

Fiscalizar o espaço denominado pelos acolhidos como “OBS –

Observação”, localizado nas dependências da comunidade terapêutica Novo

Tempo e o procedimento da contenção medicamentosa mencionada na página

07 do presente relatório, tendo em vista que tal procedimento é vedado pela

Resolução do CONAD n.º 01/2015 no artigo 6º, XII. Prazo: imediato.

Considerações Finais

O presente capítulo tratou sobre as comunidades terapêuticas, desde

sua conceituação, um breve histórico do surgimento em âmbito mundial até a

normatização que rege o tema, bem como o trabalho de visitas realizado pelo

MEPCT/PE nestas instituições com o foco na prevenção e combate à tortura e

outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas e degradantes.

As pessoas restritas ou privadas de liberdade estão vulneráveis e

correm o risco de serem maltratadas ou torturadas e é por esta razão que

necessitam de maior proteção, sendo este o objetivo do MEPCT/PE nestes

espaços.

O monitoramento externo tem se mostrado como uma das melhores

garantias contra a tortura e maus tratos, uma vez que o acesso regular, de

maneira consistente de órgãos e atores externos, através de visitas regulares e

não anunciadas faz com que os locais de privação e restrição de liberdade,

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estejam cada vez mais se adequando à normatização nacional e internacional

nas quais está fundamentado o trabalho do MEPCT/PE.

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CAPÍTULO 3 - SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

Por Maria Lygia Koike

1. Das visitas as Unidades da FUNASE

1.1. Visita ad hoc pós-rebelião CASE Vitória de Santo Antão –

PACAS

Na manhã do dia três de abril de 2017, o MEPCT/PE realizou, sem aviso

prévio, uma visita ao Centro de Atendimento Socioeducativo- CASE de Vitória

de Santo Antão - PE, em função da rebelião e do assassinato cruel de quatro

rapazes nas dependências da mencionada Unidade da Funase, na tarde do dia

dois de abril de 2017.

Todavia, para melhor compreender os fatídicos eventos é necessário

recapitular alguns acontecimentos. No dia vinte de março de 2017 houve um

tumulto provocado por adolescentes do bloco “A” e que resultou em

depredações físicas à Unidade, com destruição absoluta da sala de vídeo-

monitoramento, e o espancamento de um adolescente com o uso de um

extintor de incêndio. Os adolescentes responsáveis por tais atos foram

identificados e encaminhados à delegacia para prestarem esclarecimentos. Já

o adolescente agredido foi imediatamente encaminhado ao hospital.

Os adolescentes identificados como agressores retornaram à Unidade,

voltaram ao convívio com os demais internos e concomitantemente, houve uma

revista nas dependências dos blocos e quartos dos adolescentes, gerando

entre eles um aumento significativo do clima de tensão.

Nos dias seguintes aos citados fatos, pela manhã, um adolescente pediu

ajuda à equipe técnica, pois estava temendo por sua própria integridade física

em função das ameaças que vinha recebendo por parte dos demais internos,

pelo motivo de ter presenciado a agressão do início da semana a outro jovem.

Os técnicos imediatamente atenderam ao pleito do adolescente e ele foi

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separado dos demais internos. No meio da tarde iniciou-se um novo tumulto,

que culminou na fuga de trinta e um internos e no assassinato, por

apedrejamento, de um adolescente de quinze anos.

Segundo relatos dos adolescentes feitos ao corpo técnico da Unidade,

todos internos que estavam presentes no momento do martírio da vítima

tiveram que participar da ação, pois em situação de motim é dada uma ordem

por parte dos internos que são reconhecidos como “lideranças” para que todos

participem e em caso de negativa eles deverão ser mortos.

Os dias seguintes aos fatos se deram com a saída do responsável pela

Unidade e com a divulgação dos nomes dos jovens aos técnicos e aos seus

familiares. O clima de tensão dentro da Unidade ainda persistia; dentre os

motivos do temor estavam às possíveis represálias das lideranças pelo fato de

alguns internos não terem participado ativamente dos crimes que ocorreram no

dia vinte e quatro de março de 2017.

A tensão permaneceu até à tarde do dia dois de abril de 2017, quando

um grupo de adolescentes do bloco B quebrou os cadeados dos seus quartos,

e em seguida dirigiu-se aos quartos das casas do bloco A, invadindo o local,

liberando todos os adolescentes e acuando, em um dos dormitórios, três

internos que foram assassinados com requintes de crueldades e sem qualquer

tipo de possibilidade de defesa.

Imediatamente depois da rebelião e dos assassinatos de mais esses três

adolescentes, a Polícia Militar procedeu a uma grande revista nos quartos e

nos demais blocos, e segundo informações dos funcionários, foram

encontradas várias armas artesanais produzidas pelos adolescentes. Além da

revista, os adolescentes foram agredidos e espancados pelos policiais; o

MEPCT/PE registrou as escoriações nos corpos de alguns deles.

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O que chamou bastante atenção do MEPCT/PE sobre esse CASE é a

dificuldade de acesso à Unidade; a falta de sinal de telefonia coloca tanto os

internos quanto os funcionários, em risco iminente em caso de rebelião ou de

atendimento médico de urgência. Tal fato foi bem evidenciado durante os três

últimos motins, quando a direção da Unidade solicitou a presença da Polícia

Militar ao meio dia, mas essa só chegou ao local às 16h, tendo já ocorrido o

apedrejamento do adolescente e a fuga de trinta e um internos.

Outro ponto que necessita de atenção refere-se ao quantitativo de

agentes socioeducativo na Unidade, que já foi fruto de recomendação do

MEPCT/PE. No dia dois de abril de 2017, na escala de plantão só existiam dez

agentes socioeducativo lotados, entretanto somente oito agentes foram

trabalhar naquele dia.

1.2. Visita regular ao CASE/CENIP em Arcoverde

O MEPCT/PE foi recebido pela gestora, que relatou que nos últimos seis

meses houve a fuga de sete adolescentes que não haviam sido reaprendidos

até aquele momento, que na sua gestão não houve rebeliões, nem mortes

naturais ou provocadas e declarou desconhecer qualquer sindicância aberta

para apurar indícios de práticas de torturas ou maus tratos naquela Unidade.

Afirmou ainda que é padrão que os adolescentes recebessem colchões

e kits de higiene cedidos pela Funase na ocasião de seu ingresso na Unidade;

que em todos os quartos da Unidade havia banheiro, que os internos tinham

livre acesso à água e que a Unidade contava com três cisternas para atender

as necessidades gerais da casa.

Informou também que sete adolescentes fazem cursos de música,

informática e de solda, em parceria com entidades, como a Fundação Terra,

por exemplo.

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O MEPCT/PE verificou que o atual prédio do CENIP/CASE de Arcoverde

já funcionou como cadeia pública da cidade e que pelo menos há trinta anos

aquele espaço acolhia adolescentes em conflito com a lei, e nunca havia

passado por grandes reformas. A transformação de cadeia pública em Unidade

da Funase não implicou nem mudanças estruturais significativas no prédio, de

modo que viesse a atender os adolescentes satisfatoriamente, nem houve rigor

em adequar-se às determinações prescritas pelo Sistema Nacional de

Atendimento Socioeducativo – SINASE, no sentido de assegurar os requisitos

mínimos de dignidade aos adolescentes internos.

As inadequações na referida Unidade vão do acolhimento dos internos

nas antigas celas, que são escuras, abafadas e com pouca ventilação, até a

inexistência de locais adequados para receber seus familiares ou a assistência

religiosa; o refeitório não conta com cadeiras e ao que parece é um local

ocioso, sendo por vezes usado como sala de aula; a estrutura elétrica é

precária e inadequada, pois foram verificadas várias gambiarras e a iluminação

das lâmpadas não atende de modo confortável as necessidades dos internos.

Também, verificou-se que o único local destinado para atividades de lazer e

exercícios é a quadra poliesportiva, por sua vez, é pouco utilizada, dado que os

adolescentes só têm dez minutos ao ar livre diariamente. O único meio de

entretenimento que há para os internos são as televisões e os aparelhos de

DVD que são levados pelos familiares.

No dia da visita do MEPCT/PE, os dozes extintores de incêndio

encontravam-se vazios e recolhidos em um depósito. Assim como não havia

extintores de incêndio disponíveis, a Unidade também não conta com gerador,

mesmo sendo precária a iluminação à noite. Segundo relatou a gestora, a

Unidade não tem à disposição dos visitantes qualquer tipo de aparelhos como

Scanneres Corporais ou de Raios-X para averiguar a entrada de objetos

proibidos dentro da Unidade.

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Assim como em outras Unidades da Funase, em Arcoverde é realizada a

prática da revista vexatória nos visitantes, que ocorre mediante o

desnudamento das visitas no banheiro, perante um agente público. O

MEPCT/PE reitera que tal prática configura um ato de flagrante violação aos

Direitos Fundamentais e aos Direitos Humanos, pois tanto a Constituição

Federal de 1988 garante a preservação da dignidade da pessoa humana (art.

1º, III, CF), elemento este estruturante do Estado Democrático de Direito, o

direito à intimidade (art. 5º, X, CF), à pessoalidade na aplicação da pena (art.

5º, XLV, CF), o direito à convivência familiar (art. 227, CF e art. 4º, Estatuto da

Criança e do Adolescente), conforme as normais de Direitos Humanos35 quem

garantem o direito de todas as pessoas não serem submetidas a um

tratamento degradante e desumano.

A Unidade é composta, além da área administrativa, por uma quadra

poliesportiva, por oito quartos destinados aos adolescentes, todos com

banheiro,sendo um deles exclusivo para os adolescentes do CENIP; cinco

quartos coletivos e dois que são destinados para aqueles que não têm

convívio.

Analisando o mapa jurídico do mês de abril de 2017, referente à situação

jurídica de sessenta e três internos, o MEPCT/PE constatou que mais de

setenta por cento dos internos advêm de famílias que possuem renda familiar

de menos de um salário mínimo; grande parte era residente em municípios

circunvizinhos, mas havia também adolescentes transferidos de outras cidades;

os atos infracionais mais frequentes foram furtos, roubos qualificados,

homicídio qualificado, lesões corporais, ameaça, latrocínio, tráfico e estupro; o

35

No âmbito internacional, diversos órgãos firmaram posição proibindo essa prática, seja na Organização dos Estados Americanos - OEA por meio da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Princípios e Boas Práticas para a Proteção das Pessoas Privadas de Liberdade nas Américas; Relatório Anual 38/96 referente à Argentina) e da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Caso Penal Miguel Castro Castro vs. Perú), seja na ONU (Regras de Bangkok) e na Corte Europeia de Direitos Humanos (Caso Lorsé e outros vs. Holanda).

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interno mais novo tinha quatorze anos, e o mais velho, vinte. Todos os internos

tinham documentos de identificação civil.

Durante a visita, o MEPCT/PE percebeu que não eram respeitados os

critérios da separação por idade ou compleição física. As únicas separações

verificadas eram as dos adolescentes do CENIP, que ficavam recolhidos,

exclusivamente, no último quarto. O MEPCT/PE foi a todos os quartos para

conversar com os internos. A maior reclamação foi em relação à alimentação,

sendo informado que a comida nem sempre era bem temperada36.

No fundo da Unidade, ao lado da quadra, ficam dois quartos destinados

aos adolescentes que não tem convívio. O MEPCT/PE entrou em um dos

quartos e foi possível constatar que o espaço mais lembra um isolamento, pois

é um ambiente pequeno, abafado e sem iluminação natural, apenas com uma

lâmpada, cama e banheiro.

A regra 44 das Regras de Mandela (Mandela’s Rules) conceitua como

isolamento solitário o confinamento de uma pessoa por mais de 22 horas do

seu dia, sem contato humano significativo. Além dessa definição, estas

mesmas regras dispõem que o isolamento solitário por período igual ou

superior a quinze dias seguidos é considerado um tratamento cruel.

Pelo sistema global de proteção de Direitos Humanos, o Subcomitê de

Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penais Cruéis – SPT, já se

manifestou no sentido de que o isolamento prolongado pode ser equivalente a

um ato de tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou

degradantes.

O MEPCT/PE encontrou vários adolescentes com escabiose (sarna),

outro apresentando quadro de ansiedade, e o caso mais grave percebido por

36

O MEPCT/PE durante a visita regular foi à cozinha e verificou que todas as quatro refeições são produzidas na própria Unidade. Na cozinha havia dois fogões industriais, quatro frízeres e uma geladeira, todos funcionando em perfeito estado, mas sem exaustores. Os alimentos perecíveis como frutas, verduras e carnes são entregues semanalmente e os não perecíveis quinzenalmente.

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esse órgão foi o de um interno com visível deficiência intelectual, que ingressou

na Unidade sem qualquer tipo de referência à sua condição mental.

Durante o atendimento com a equipe técnica da Unidade, suspeitou-se

da sua condição de pessoa com deficiência intelectual, sendo decidido pelo

seu encaminhamento para o atendimento com um médico psiquiatra, que

constatou que o interno é portador de retardo mental moderado, com CID 10 –

F.72.1 (retardo mental grave – comprometimento significativo, requerendo

vigilância ou tratamento). Dias depois, declarou-se, em resposta ao processo,

que o interno é pessoa com retardo mental moderado a grave com CID

10.F.72.0 (retardo mental grave – menção de ausência ou de

comprometimento mínimo de comportamento) e conclui-se afirmando que o

adolescente é incapaz de compreender a função pedagógica da sua medida e

que a sua permanência no ambiente da Unidade o coloca em situação de

vulnerabilidade em razão da sua condição.

O MEPCT/PE solicitou informações sobre o referido interno junto à

gestora e ao advogado da Unidade, que apresentou um pedido de extinção de

medida socioeducativa ao Juiz responsável pela vara regional da infância e

juventude de Arcoverde, no sentido de extinguir a medida de internação e que

fosse encaminhado um ofício ao CASE/Arcoverde para que o rapaz pudesse

ser entregue aos seus responsáveis.

Ainda segundo informações prestadas pelo advogado da Unidade, o Juiz

solicitou ao médico psiquiatra que indicasse um tratamento para o interno e

que depois disso iria conceder a liberdade ao adolescente e até a data da visita

do MEPCT/PE o adolescente continuava convivendo com os demais internos

da Unidade.

O advogado da Unidade narrou com indignação aos peritos que no dia

anterior à visita, realizou uma audiência no município que fica a duas horas de

carro de Arcoverde e que o adolescente que foi com ele permanecera

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algemado, com as mãos para trás, durante todo o trajeto. Chegando na

carceragem do Fórum, o adolescente permaneceu algemado, inclusive

almoçou sentado no chão com um dos braços algemados ao banco. A gestora

da Unidade ouviu e confirmou ao MEPCT/PE que os internos fazem as viagens

de carro algemados com as mãos para trás, porque no passado, um

adolescente que precisou viajar golpeou violentamente um dos agentes

socioeducativos. Então, a partir desse fato, todas as vezes que é preciso fazer

um trajeto longo com os adolescentes o procedimento padrão é esse.

O MEPCT/PE lembra que o Código de Processo Penal preconiza que o

uso de algemas é somente em casos excepcionais, e não pode ter como

justificativa o vexame da pessoa privada de liberdade e, para que o agente

público não incorra no crime de abuso de autoridade37, é imprescindível que

exista o risco de fuga ou de resistência sendo necessário nestes casos

observar o princípio da proporcionalidade.

1.3. Caso ad hoc no sistema socioeducativo Case Abreu e Lima

O MEPCT/PE realizou visita temática ao CASE de Abreu e Lima, sem

aviso prévio, em decorrência de tumulto que resultou na depredação de parte

da Unidade do sistema socioeducativo e na morte de um de adolescente de

dezessete anos de idade.

37A Lei nº 4.898 de 09 de dezembro de 1965 disciplina o crime de abuso de autoridade. Para esta lei

considera-se autoridade “quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração”. Não importa se o agente público é estatutário, celetista ou militar, qualquer um deles responderá nos termos desta lei. É de se expor a parte final que diz que é considerada autoridade a pessoa que exerce função ou cargo na Administração mesmo que sem remuneração; com isso podem responder por crime de abuso de autoridade membros do tribunal do júri e mesários, por exemplo. Também os agentes socioeducativos são considerados autoridades quando no exercício de suas funções, pouco importando para a lei penal se eles são concursados, comissionados ou terceirizados.

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MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

53

Inicialmente o MEPCT/PE foi recebido pela gestora da casa, que

mostrou à equipe a situação em que se encontrava a unidade após o tumulto.

O espaço onde funciona a administração da unidade foi tomada pela fuligem

advinda da fumaça provocada pela queima de colchões.

Os adolescentes da ala dez arrombaram os cadeados e se dirigiram a

um setor que abriga internos que não têm convívio. Posteriormente dirigiram-se

para a sala da administração e atearam fogo em objetos e documentos da

unidade. O prédio onde funciona a administração do CASE ficou destruído. Os

adolescentes tiveram acesso a remédios psicotrópicos que, ao final, foram

recolhidos após uma revista ao prédio.

O fato mais violento resultou na execução de um adolescente, que teve

partes do seu corpo dilacerado.

Através das câmeras de vídeo-monitoramento, foi possível reconhecer

os dez internos envolvidos, sendo dois deles maiores de dezoito anos e que já

haviam sido transferidos para o COTEL.

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CAPÍTULO 4 – DAS VISITAS REALIZADAS PELO MEPCT/PE AO SISTEMA

PRISIONAL

Por Mariana Santa Cruz e

Percio Negromonte

Breves Considerações

Durante o ano de 2017, o MEPCT/PE realizou visitas as Unidades

Prisionais e as Cadeias Públicas monitorando in loco as condições carcerárias

a que estão submetidas às pessoas privadas de liberdade, bem como em

unidades prisionais visitadas anteriormente pelo MEPCT/PE realizou visitas

com o objetivo de monitorar as recomendações emitidas em relatórios de

visitas anteriores, determinadas como visitas de seguimento.

Foram realizadas visitas regulares, que são aquelas destinadas a

analisar o espaço de privação de liberdade nunca visitado pelo MEPCT/PE e

assim foram realizadas visitas aos seguintes locais: Presídio de Palmares;

COTEL; Presídio Rorenildo da Rocha Leão; Hospital de Custódia e Tratamento

Psiquiátrico; Presídio Desembargador Augusto Duque; Penitenciária Juiz

Plácido de Souza.

O MEPCT/PE trabalhou as Cadeias Públicas realizando visitas

regulares nas seguintes comarcas: Bezerros, Gravatá, Goiana, Timbaúba e

Aliança.

Nas Cadeias vistoriadas pelo MEPCT/PE foram realizadas visitas

regulares, haja vista que este órgão estava pela primeira vez realizando o

monitoramento sobre as condições de fato e de direito que as pessoas ali

privadas de liberdade estavam submetidas.

Todas as visitas as Cadeias Públicas persistiram em conhecer as

instalações das cadeias públicas e na realização de ouvidas com o gestor e os

presos. Foi constatada durante as referidas visitas a ausência de alguns

responsáveis por estes estabelecimentos.

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Os maiores problemas identificados referem-se à ausência de

pagamento do auxílio destinado ao custeio da alimentação dos presos, as

estruturas das cadeias públicas são precárias, as escolas que funcionam no

interior delas são improvisadas, não há profissionais de saúde rotineiramente, a

segurança no estabelecimento é realizada pela Polícia Militar, apenas o gestor

da Cadeia Pública é um agente de segurança penitenciária. Foi narrado pelos

presos ao MEPCT/PE relatos de tortura.

Passamos a abordar de maneira sistemática as visitas realizadas

nesses espaços de privação de liberdade pelo MEPCT/PE:

1. Das visitas regulares do MEPCT/PE as Unidades Prisionais:

a) Presídio Rorenildo da Rocha Leão Endereço: Rodovia PE – 096, Km 01, s/n, Bairro Centro Palmares/PE Data da Visita: 03 de maio de 2017. Capacidade de lotação: 74 pessoas População carcerária à época da visita: 736 presos

No dia da visita ao presídio em epígrafe, o MEPCT/PE constatou 736

(setecentos e trinta e seis) presos, numa unidade prisional com capacidade

para 74 (setenta e quatro) albergados, sendo, desta feita, a unidade prisional

mais superpopulacionada do Estado, separados em três pavilhões, um deles

contempla doze celas, sendo dez celas coletivas e duas individuais, outro com

cinco celas individuais e uma coletiva e outro com seis celas individuais e uma

coletiva.

A unidade prisional possui quatro agentes de segurança penitenciária

por plantão; a equipe técnica é composta por dois médicos, duas enfermeiras,

duas técnicas de enfermagem, dois advogados, quatro assistentes sociais e

quatro psicólogos. Possui três guaritas de segurança que funcionam, porém a

Unidade não possui sistema de videomonitoramento.

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Nos pavilhões se pôde perceber a situação de precariedade que as

pessoas presas estão submetidas. O local é quente e bastante abafado. São

insuficientes os números de banheiros, para um elevado número de presos. As

atividades ao ar livre acontecem através de rodízio, em dias alternados, nas

segundas, quartas e sextas-feiras.

O acesso à água também é restrito, ocorre durante três vezes ao dia

por dez minutos.

A unidade prisional tem uma escola estadual, a Padre André Coopman,

com cadeiras novas e ar-condicionado. A biblioteca conta com livros novos e

bem conservados. Em conversa com a diretora adjunta, ela confirmou a

informação de que há um elevado número de alunos matriculados e que a

escola é uma alternativa dentro da Unidade para os reeducandos.

A cozinha do presídio conta com dois fogões industrializados, com

panelas em bom estado de conservação. Constatou-se, também, uma padaria,

local onde trabalha quatro presos que produz diariamente uma média de mil e

seiscentos pães. Os alimentos perecíveis são recebidos semanalmente e os

não perecíveis quinzenalmente. As refeições são preparadas na própria

unidade, que são distribuídas três refeições por dia e que há alimentação

diferenciada para pessoas que tenham problema de hipertensão, diabetes e

tuberculose.

b) Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico - HCTP Endereço: Engenho São João, s/n, Itamaracá/PE Data da Visita: 21 de junho de 2017 Número de internos à época da visita: 445

O HCTP à época da visita possuía 445 internos, onde 85% (oitenta e

cinco por cento) deste contingente cumpre medida preventiva. A gestora

ressaltou que esse percentual é o maior problema da instituição, pois a maioria

não e de inimputáveis, desvirtuando a finalidade do hospital que é ligada à

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custódia de pessoas sem imputabilidade penal. Asseverou também, que

corrigir esse problema é a principal busca da gestão.

Ante a realidade supramencionada, a gestora prima por separar os

custodiados inimputáveis, reservando o pavilhão denominado São Francisco

para os internos de medida cautelar.

Quanto à administração da segurança a gestora informou que a

unidade conta com 8 (oito) representantes de pavilhão e 28 (vinte e oito)

agentes de segurança penitenciária. Ademais, a unidade conta com a presença

de 4 (quatro) concessionados da Penitenciária Agrícola Industrial São João –

PAISJ destinados aos serviços de cozinha e levantou a necessidade de

imediata contratação de cozinheiros e médicos.

Igualmente, a gestora revelou outro sério problema enfrentado pela

gestão, pertinente aos cartões de benefício dos internos, que lhes dão acesso

à pensão, aposentadoria etc. Neste sentido, informou que está em andamento

a elaboração de um inventário desses cartões magnéticos e sobre quem os

administra, uma vez que é de seu conhecimento que servidores públicos

gerenciam os valores extraídos com desvio de finalidade e muitas vezes com

abuso de poder no instante em que muitos não tem competência para esse

mister.

Nos pavilhões foram observados problemas graves na estrutura,

relativos, por exemplo, a infiltrações que formavam poças d’água no chão,

chegando a alagar corredores nos pavilhões, obrigando às pessoas a caminhar

sobre a água. Insta ressaltar, que a precariedade observada na infiltração

compromete a segurança das instalações elétricas e deixa manchas de fungo

nas paredes, tornando o ambiente insalubre, desta forma, sujeito a proliferação

de doenças respiratórias. Acrescente-se o perigo constante de choque elétrico

e de acidentes ocasionados por aquaplanagem.

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(Problemas estruturais dos pavilhões)

Não obstante, outro fato deixou a equipe do MEPCT/PE estarrecida.

De fato, existem pavilhões com ausência absoluta de iluminação, embora

estivesse com lâmpadas. Neste prisma, os pacientes sobrevivem à míngua de

condições humanas básicas, pois permanecem em completa escuridão.

No pavilhão Santa Bárbara, destinado às internas, a equipe percebeu a

infestação de “gatos” e, que estes animais, têm acesso ao alimento das

custodiadas que não possui discernimento e não encontram qualquer forma de

se livrar desse problema, sendo, em verdade, pacientes psiquiátricas em

situação de extrema vulnerabilidade.

A unidade hospitalar psiquiátrica possui um pavilhão denominado

“Pavilhão da Recuperação”, onde as situações estruturais são ainda mais

críticas. A equipe do MEPCT/PE se deparou com pacientes nus, defecando e

urinando no próprio local onde vivem, sem a mínima assistência quanto a

higiene e asseio pessoal. Dentre os pacientes, foram encontrados alguns que

vivem imóveis, deitados em colchões no chão, em estado deplorável.

Ademais, os pacientes não têm acesso a tratamento odontológico, pela

falta de autoclave. Na cozinha, são observadas as mesmas condições

precárias estruturais encontradas nos pavilhões, como infiltrações e mofo nas

paredes. A mesma condição de precariedade estrutural é observada na própria

farmácia, cujas paredes são infestadas de fungos e um mau cheiro

insuportável.

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No setor jurídico não há sequer mesa, cadeira, computador, nem muito

menos impressora, de modo que esses equipamentos precisam ser tomados

emprestados de outros setores. Todavia, quando ocupados, suspendem o

trabalho realizado no setor jurídico.

De outra banda, em visita ao setor de fisioterapia, a equipe do

MEPCT/PE se deparou com uma sala bastante organizada e adequadamente

equipada. Todavia, os problemas de infiltração persistem. Os pacientes são

atendidos todos os meses.

c) Presídio Desembargador Augusto Duque - PDAD

Endereço: Estrada de Sanharó, 18-156, Pesqueira

Data da Visita: 05 de julho de 2017

Capacidade de lotação: 144 pessoas

População Carcerária à época da visita: 1.002 presos

A unidade prisional do município de Pesqueira possui a segunda maior

população carcerária no que tange a superpopulação. A unidade possui três

pavilhões, além de um pavilhão improvisado utilizado para o setor de disciplina,

triagem e para alocar presos com nível superior. No PDAD não há critério de

alocação entre os presos provisórios e apenados. Na data da visita a unidade

prisional estava com 62 (sessenta e dois) presos cumprindo pena.

A unidade prisional possui um sistema de vídeomonitoramento com 32

câmaras, fato este considerado bastante positivo pelo MEPCT/PE.

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(Sistema de vídeo monitoramento Presos denunciando as más condições carcerárias)

Na data da visita, foi informado ao MEPCT/PE que a unidade prisional

tem o fornecimento de água através de caminhões pipas, o que gera uma série

de problemas de salubridade.

Durante a visita aos pavilhões foi observado o armazenamento de água

improvisado em baldes e garrafas pet pelos presos. Cada preso custeia seu

próprio colchão e material de higiene.

Durante a ouvida dos presos nos pavilhões a maior reclamação foi em

relação ao acesso ao jurídico e ao atendimento odontológico. Registra-se que

apesar da unidade possui consultório odontológico estava sem odontólogo

contratado.

Na visita ao setor de disciplina os presos que ali estavam declararam

que seu isolamento foi determinação do “chaveiro” e ainda informaram que é o

mesmo é quem decide quem entra e sai da disciplina.

O MEPCT/PE também conversou com a assistente social da unidade

que declarou o déficit estrutural e a necessidade da contratação de médico e

psicólogo.

Outro problema estrutural da unidade é a necessidade de uma reforma

sanitária para promover o adequado escoamento dos resíduos.

d) Penitenciária Juiz Plácido de Souza - PJPS

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Endereço: Avenida Espírito Santo, 36, Vassoural, Caruaru/PE Data da Visita: 09 de agosto de 2017 Capacidade de lotação: 435 pessoas População carcerária à época da visita: 1.393 presos

Na data da visita, a população carcerária do PJPS era de 1.393 (mil

trezentos e noventa e três) presos, em contraste com sua capacidade de

albergar 435 (quatrocentos e trinta e cinco) detentos, encontrando-se, os

presos, alojados em 12 (doze) pavilhões que contemplam em média 80

(oitenta) celas. Ou seja, 18 (dezoito) presos por cela em média, o que exorbita

gritantemente do limite imposto pela Lei de Execução Penal, conforme se pode

depreender do artigo 88. A unidade prisional possui pavilhões destinados a

idosos (pavilhão F2), evangélicos (pavilhão F1) e população GBTT. O pavilhão

A1, por seu turno, destina-se aos presos portadores de diploma de nível

superior e aos concessionados da unidade.

O banho de sol acontece diariamente entre os primeiros horários da

manhã, até a hora do almoço e é dividido por pavilhões entre as segundas-

feiras (pavilhão A2), terças-feiras (triagem), quartas-feiras (pavilhões B1 e B2)

e quintas-feiras (pavilhões C1, C2 e C3), para que se tenha um maior controle

quanto à ordem e a disciplina da unidade.

As visitas de familiares ocorrem nos dias de sábado e domingo, nos

pavilhões e pátio, concomitantemente com as visitas íntimas, com a diferença

que esta última ocorre em locais mais privativos adaptados para tal fim pelos

próprios presos.

Destaque-se que em cada pavilhão é instalado um banheiro de uso

coletivo e há celas que possuem seu próprio banheiro. O fornecimento de água

é feito durante todo o dia sem restrição de uso ou racionamento. Destarte, a

unidade é equipada com 02 (duas) cisternas e 02 (duas) caixas d’água de

5.000 L, estas últimas instaladas pela própria COMPESA.

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Impende ressaltar que a estrutura física da Unidade, à época da visita,

passava por uma grande reforma em razão do estado de depredação que ficou

o Presídio, depois da rebelião havida em julho de 2016.

Dando continuidade à inspeção, o MEPCT/PE se dirigiu à disciplina e

observou que existem presos que dormem no chão sem sequer um lençol, não

obstante, os colchões serem doados pela Associação Caruaruense de Ensino

Superior e Técnico - ASCER, em complemento aos que são disponibilizados

pelo Estado. Foram encontrados, também, presos com sinais de violência física

e quando perguntados, revelaram que os castigos físicos são uma prática

recorrente na unidade e que são perpetrados por orientação dos chaveiros38.

As vítimas de tortura relataram que existe um grupo de presos que são

delegados a manter a ordem e, para isso, utiliza-se de violências e castigos

físicos. Esses grupos de presos são denominados “gatos” ou “vaqueiros39”.

38

Nas Regras Mínimas Para o Tratamento dos Reclusos, no ponto 31. Os castigos corporais, as sanções que impliquem a colocação em quarto escuro e todas as penas cruéis, desumanas ou degradantes serão completamente proibidos como sanções disciplinares e no 32. (1) As penas de isolamento ou de redução de alimentação não deverão jamais ser aplicadas, a menos que o médico tenha examinado o recluso e certificado por escrito que o mesmo está apto a suportá-las. (2) O mesmo se aplicará a qualquer outra sanção que possa ser prejudicial à saúde física ou mental de um recluso. Em caso algum pode tal sanção contrariar ou divergir do princípio estabelecido na regra 31. (3) O médico deverá visitar diariamente os reclusos submetidos a tais sanções e deverá aconselhar o diretor caso considere necessário pôr fim ou modificar a sanção por razões de saúde física ou mental. Material disponível em http://direitoshumanos.gddc.pt/3_6/IIIPAG3_6_12.htm, acesso em 21.08.17. 39

Por exemplo: Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984: Para fins desta Convenção, o termo “tortura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido,ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência.Princípios Básicos Relativos ao Tratamento de Reclusos, de 1990: Trata-se de Resolução da Assembleia Geral da ONU n. 45/111, de 14 de Dezembro de 1990. Versa sobre a humanização da justiça penal e a proteção dos direitos do homem, nesse sentido, o Estado deve se esforçar para abolir ou restringir o regime de isolamento, como medida disciplinar ou de castigo. Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, de 1977 - Quanto à disciplina e sanções, tem-se que

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Relatam ainda que, entre outros diversos motivos para perpetração da

violência, alguns deles se dão por cobrança do comércio de drogas e do

fornecimento de alimentos e água que são vendidos a preços exorbitantes

através de cantina administrada por presos. Exemplo: 1L de água por R$ 4,00;

Coca-Cola de 2L. – R$ 15,00.

Além da calamidade supramencionada, muitos presos foram vistos

recolhidos na disciplina sem a devida instauração de procedimento disciplinar,

sem colchão, dormindo no chão40, enviados para o isolamento, não pela mão

do Estado, mas submetidos à ordem de outros presos, sob violência e castigos

físicos41.

Outra inspeção realizada foi condizente à alimentação dos presos. As

refeições são preparadas na própria unidade e servidas próximas ao “rancho”

um recluso só pode ser punido de acordo com as disposições legais ou regulamentares (princípio da legalidade) e nunca duas vezes pela mesma infração (princípio do “ne bis in idem”); e nenhum recluso pode ser punido sem ter sido informado da infração de que é acusado e sem que lhe seja dada uma oportunidade adequada para apresentar a sua defesa (princípio do contraditório e da ampla defesa).Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, que entrou em vigor internacional em 28 de fevereiro de 1987 e foi ratificada pelo Brasil em 09 de junho de 1989. Ninguém deve ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; os Estados-membros da OEA propuseram que todo ato de tortura seja compreendido como uma ofensa à dignidade humana e uma negação dos princípios consagrados tanto na Carta da OEA e na Carta da ONU e, portanto, uma violação dos direitos humanos estabelecidos na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, bem como na Declaração Universal dos Direitos do Homem, ambas de 1948. Esta Convenção também se propõe a trabalhar com o tema da RESPONSABILIZAÇÃO, definindo como os responsáveis pelo delito de tortura dentre outros: (a) os agentes públicos que ordenem, instiguem ou induzam à execução da tortura, cometendo-a diretamente ou, podendo impedi-la, não o façam. Importa mencionar também que o fato de alguém ter agido por ordens superiores, isto não o eximirá da responsabilidade penal correspondente. 40

COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. OEA/Ser. L/V/II.131, 2008. Princípios e boas práticas para a proteção das pessoas privadas de liberdade nas Américas, p. 35. Princípio XXII - Regime disciplinar - 1. Sanções disciplinares: As sanções disciplinares adotadas nos locais de privação de liberdade, bem como os procedimentos

disciplinares, deverão sujeitar‐se ao controle judicial e ser previamente estabelecidas em lei e

não poderão infringir as normas do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Material disponível em: http://cidh.oas.org/pdf%20files/PRINCIPIOS%20PORT.pdf, acesso 21.08.17. 41

Ver Boletim Interno Especial n.06-12, publicado em 10 de Maio de 2012, que regulamenta o Conselho Disciplinar nas unidades prisionais e o Conselho Disciplinar Permanente, no âmbito da Secretaria Executiva de Ressocialização do Estado de Pernambuco – SERES. Material disponível em: http://www.seres.pe.gov.br/bi/2012/bi_06_2012_especial.pdf, acesso em 21.08.17.

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(cozinha/refeitório). As condições da cozinha são aparentemente boas. A

unidade conta com duas panelas de pressão industriais e o cardápio segue à

orientação da nutricionista da SERES. São servidas diariamente três refeições.

O único problema apresentado pelos presos responsáveis pelo rancho foi em

relação ao estado de conservação das panelas que é notoriamente péssimo,

com destaque para as 03 cuscuzeiras da unidade que são praticamente

inutilizáveis e, mesmo assim, precisam atender uma demanda de 100 (cem)

quilos de cuscuz por dia.

Ponto favorável é a existência de um compartimento específico para o

congelamento e corte de carnes.

A iluminação da cozinha, todavia, é precária e os presos que trabalham

neste ambiente não usam qualquer tipo de Equipamento de Proteção Individual

- EPI, nem itens de higiene como sapatos, toucas e uniformes. Ressalte-se

que, parte do alimento produzido na cozinha do PJPS, abastece o Presídio de

Tacaimbó/PE.

Outro ponto observado na unidade prisional condiz à situação do

preso, onde, em conversa com os mesmos, depreendeu-se que os usuários

deste sistema prisional enfrentam graves dificuldades em ter acesso ao setor

jurídico. Ressalte-se que a unidade conta com apenas duas advogadas. A

propósito, a Defensoria Pública também auxilia neste desafio, comparecendo

regularmente à unidade.

A segurança da penitenciária possui apenas uma câmera de

monitoramento instalada no portão lateral de acesso à carceragem. A

segurança interna da unidade é realizada por sessenta e cinto agentes. Os

agentes trabalham em uma escala de 24h por 72h. A unidade conta ainda com

seis rádios de comunicação. O setor de segurança possui ainda livro de

registro de uso de munição letal e menos letal. A segurança externa é feita pela

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Polícia Militar. Quanto ao processo de ressocialização, 120 (cento e vinte)

presos trabalham exercendo atividade remunerada na unidade e utilizando os

dias trabalhados como forma de remição, além de adquirir prática em uma

atividade profissional. A gestão desenvolve ainda um projeto denominado

“Pernambuco no Batente”, que consiste, entre outras coisas, na fabricação de

vassouras através da utilização de garrafas “pet” como matéria prima. A

penitenciária possui a Escola Estadual Gregório Bezerra, onde se encontram

duzentos e vinte alunos matriculados.

Na PJPS há em funcionamento a Rádio Fênix, que é operada pelos

presos e que presta um serviço de informação e atendimento aos usuários do

sistema carcerário: é através dessa rádio que os presos, por exemplo, são

chamados para os atendimentos nos consultórios médicos e odontológico e

para os atendimentos jurídicos.

A unidade prisional possui uma clínica odontológica de eficiência plena.

Constituída por 05 (cinco) cadeiras odontológicas e todos os demais materiais

para o exercício da medicina dentária, como máquina de Raios-x, teste de

diabetes, autoclave, material esterilizante etc. Em outro segmento da saúde, a

psicóloga, explicou que no momento do ingresso do preso dentro da unidade é

realizado um cadastro no sistema “e-SUS42” que é um sistema de cadastro de

saúde informatizado que a coleta dados e cria um prontuário eletrônico que,

por sua vez, servirá de base para o atendimento na área da saúde; além deste

cadastro o preso assina um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –

TCLE para ter ciência de que irá passar por um exame clínico onde serão

realizados os testes rápidos a fim de identificar doenças pré-existentes,

notadamente, HIV, Sífilis e Hepatite e que se for necessário o reeducando irá

ser submetido a um protocolo médico de tratamento clínico.

42

Para maiores explicações vê: http://dab.saude.gov.br/portaldab/esus.php?conteudo=o_sistema, acesso em 14.08.2017.

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e) Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna-COTEL Endereço: Avenida Rinaldo Pinho Alves, n.751, Abreu e Lima, Pernambuco. Data da Visita: 20 de setembro de 2017 Capacidade de lotação: 940 pessoas População Carcerária à época da visita: 3.050 presos

O COTEL é a porta de entrada do sistema penitenciário de

Pernambuco, sendo uma unidade prisional bastante complexa e grande. O

MEPCT/PE realizou visita aos três pavilhões, ao setor de disciplina, ao setor

de espera, ao setor de enfermaria, ao setor de farmácia, ao laboratório e ao

setor psicossocial.

Nos pavilhões foi observado a administração por um grupo de presos,

que controlam os horários de abertura e fechamento das celas, a distribuição

da alimentação, a limpeza dos pavilhões e a alocação de pessoas nas celas.

Os pavilhões estavam limpos e não se localizam próximos a administração da

unidade, o que dificulta o controle do poder público.

No setor de espera encontravam-se em uma cela os presos que

haviam a pouco tempo chegado na unidade e em outra cela os presos que

cometeram ou são acusados de cometer alguma falta grave.

A disciplina da unidade estava sendo utilizada como pavilhão destinado

a presos com um grau elevado de periculosidade, estes permanecem em um

similar ao Regime Disciplinar Diferenciado, onde passam todo o dia trancados

nas celas, no local onde estão existem câmeras de segurança. Foi relatado

ao MEPCT/PE que durante os dias de visitas os familiares permanecem com

eles trancados nas celas. Fato este considerado bastante grave pelo

MEPCT/PE.

O setor de saúde do COTEL conta com quatro médicos, sendo dois

clínicos, um ortopedista e um psiquiatra. A maior dificuldade é a escassez de

medicamentos para escabiose e o atendimento dos presos nos Hospitais

especializados. A enfermaria possui quatro enfermeiros e dois auxiliares. A

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unidade possui ambulância própria. Existe um laboratório em funcionamento

que se destina a diagnosticar casos de tuberculose. O consultório

odontológico funciona de segunda a sexta das 8h às 16h.

Em conversa com os agentes de segurança penitenciária informou ao

MEPCT/PE que vem enfrentando dificuldades em razão do pouco efetivo em

relação à superpopulação carcerária somatizado ao fato de terem que ir

buscar os presos que não foram liberados da audiência de custódia nas

comarcas de Olinda, Recife e Jaboatão.

2. Das visitas de seguimento nas Unidades Prisionais

a) Presídio Advogado Brito Alves – PABA Endereço: Rua Nova Projetada, s/n - São Cristóvão, Arcoverde –

PE.

Data da visita regular: 24 de julho de 2015

Data da Visita de seguimento: 08 de fevereiro de 2017

À época da visita do MEPCT/PE a população carcerária da unidade

prisional em referência era de 914 (novecentos e quatorze) homens,

sobrevivendo em um espaço adaptado para 427 (quatrocentos e vinte e sete)

presos. Ressalte-se que em anterior visitação, mais precisamente realizada em

24 de julho do ano de 2015 a unidade prisional estava com um contingente

populacional de detentos de 1.027(um mil e vinte e sete) presos, para o mesmo

o mesmo espaço supramencionado.

Não obstante, outra malograda característica vislumbrada foi em

relação às celas, vez que eram pequenas, sem condições de albergar

dignamente sequer cinco detentos, todavia, eram ocupadas por um número de

detentos bem maior que este, num flagrante desrespeito às condições

mínimas estabelecidas tanto na Lei de Execução Penal brasileira, quanto em

institutos internacionais relativos à matéria.

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Ainda se ventilando a condição estrutural da unidade prisional, o

MEPCT/PE avaliou a situação dos equipamentos de segurança, como detector

de metal e Raios-X, além dos rádios de comunicação e constatou avarias nos

equipamentos, que os tornam inúteis.

Impende ressaltar que está deficiência malfere a segurança dos que

convivem no âmbito da unidade prisional em epígrafe, ou seja, afeta a

segurança de presos além da segurança dos próprios agentes públicos que

trabalham na unidade. Ressalte-se que, devido às condições de segurança do

estabelecimento prisional, houve 04 (quatro) fugas nas datas de dezembro de

2015 e janeiro de 2016, ademais, a unidade possui, 6 (seis) guaritas, onde

apenas 02 duas estavam em funcionamento na data da inspeção.

Outro ponto de destaque é a falta de equipamento para revista, que

uma vez perpetrada de forma inadequada, sujeita os familiares ou visitantes

dos presos a sujeições vexatórias de revistas que consistem em despir a

pessoa revistada, em situação de constrangimento gritante.

Pari passu, o MEPCT/PE dirigiu-se ao setor de disciplina e, tendo como

referência a primeira recomendação apontada na visita regular que orientou a

imediata extinção do poder disciplinar conferido aos “chaveiros” da Unidade,

constatou que os presos ainda são constrangidos a obedecerem a ordens

emanadas de outros presos tidos como “chaveiros”.

Inspecionando outros âmbitos do espaço prisional o MEPCT/PE

contatou que, quanto à vida religiosa dos presos, a Pastoral Carcerária, através

da pessoa do Padre Adeilton, realiza missas nas sextas-feiras em espaço

religioso acessível a todos os aprisionados.

Outro aspecto observado quanto à estrutura, no tocante a salubridade,

consiste na forma em que o lixo produzido é descartado do espaço de

convivência e tendo periciado a situação da coleta de resíduos, o MEPCT/PE

constatou que o recolhimento é realizado diariamente, retirando-se o lixo para o

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pátio externo para que o caminhão de coleta recolha. Outrossim, nos pavilhões,

observamos estarem limpos e organizados. As celas visitadas estavam limpas.

Quanto ao fornecimento de água, ainda continua sendo muito

racionada. Todavia, a deficiência no abastecimento se dá em razão de o

município passar até 30 (trinta) dias sem fornecimento de água encanada,

motivo pelo qual a unidade limita o consumo de água à apenas duas vezes ao

dia por 30 minutos, durante o período da manhã e noite.

Outro problema que é bastante recorrente nas unidades prisionais é a

existência de cantina, sobretudo quando este comércio é administrado pelos

próprios presos e não pelo Estado. No dia da visita, observou-se que existem

três, sendo uma por cada pavilhão.

Acerca da população carcerária, um determinado segmento é

composto pelas mulheres trans. Em contato com esta população carcerária

específica, constatou-se a livre expressão na forma de se vestir como mulher

trans sem serem agredidas por comportamentos discriminatórios. Ademais,

as mulheres trans continua a fazer o teste de HIV/Aids quando ingressam na

unidade, mas apontam para um outro problema de saúde, em razão de terem

parado o tratamento hormonal depois de presas e, deste modo, sofrem com os

efeitos colaterais (náuseas, desmaios, mudança de humor, queda de cabelo e

o Estado não assegura o tratamento hormonal).

Ressalte-se que, quanto aos presos soropositivos, estes também são

medicados e acompanhados de forma a manter sempre estável sua carga viral.

Na enfermaria existem dois médicos e dois dentistas, sendo o setor

equipado com consultório odontológico e quartos adequados para manter

pacientes sob a supervisão de profissionais de saúde. A unidade mantém

ainda, parceria com o laboratório “Lacen” para onde são encaminhados tecidos

humanos para análise laboratorial.

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Quanto à situação jurídica dos presos, unidade possui dois advogados

que começaram a trabalhar na unidade desde janeiro de 2017.

b) Colônia Penal Feminina do Recife - CPFR Data da visita regular: 07/03/16 Data da visita de seguimento: 16 de Março de 2017

O MEPCT/PE esteve anteriormente na CPFR em razão a um princípio

de motim ocorrido no ano de 2016, onde colheu diversos relatos de mulheres

vítimas de violência e da ação truculenta de policiais militares e agentes de

segurança penitenciária.

Dentre os agentes de segurança penitenciária denunciados pelas

mulheres encarceradas, foram elaboradas recomendações para abertura de

sindicância a fim de apurar a conduta desses servidores públicos. Foi

informado ao MEPCT/PE que apenas um agente de segurança penitenciaria

dos cinco nomes constantes no relatório de visita ainda trabalhava na CPFR,

os demais foram transferidos para outras unidades.

Duas das presas em que o MEPCT/PE recomendou a transferência

para outras unidades prisionais, em razão de risco iminente de vida haviam

sido transferidas.

Outra recomendação foi acerca da retirada de uma das câmaras

voltadas para o banheiro no interior do setor de disciplina. Na data da visita de

seguimento do MEPCT/PE a referida câmara havia sido retirada. Entretanto, a

Recomendação para reforma da disciplina com a implantação de “cobolgós”

para melhorar a ventilação e iluminação não foi realizada.

Durante a visita também foram colhidos relatos das mulheres com

relação à demora na vacinação de seus bebês que estavam no berçário, além

do ar condicionado do berçário estava quebrado. Continua ruim e inadequada

alimentação destinada às mulheres que estão amamentando.

c) Presídio de Igarassu - PIG Data da visita regular: 23 de agosto de 2016

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Data da Visita de seguimento: 31 de março de 2017 O monitoramento realizado no PIG observou que as recomendações

não foram cumpridas no que tange: a aquisição de ambulância para a unidade

em razão do quantitativo de presos, que na data da visita estava com uma

população carcerária de 3.300 (três mil de trazendo presos), sendo construído

para contemplar uma população carcerária de 426 (quatrocentos e vinte e seis)

pessoas; a distribuição de água através de carros pipas, devido à dificuldade

estrutural da unidade prisional; o aumento do número de concessões também

continua a deficiência, passando os presos a permanecerem em sua maioria

ociosos; permanece a figura do “chaveiro”, porém com a nomenclatura de

“representante de pavilhão”; o fornecimento de colchões regularmente pela

SERES.

No tocante as recomendações emitidas pelo MEPCT/PE foram

cumpridas: a assistência médica ao preso entrevistado pelo MEPCT/PE com

suspeita de hanseníase e câncer de pele; o aumento do número de agentes de

segurança penitenciária por plantão; os coletes à prova de bala que estavam

vencidos foram substituídos; a população idosa foi separada para um espaço

adequado as suas necessidades.

Durante a visita o MEPCT/PE conheceu a horta da unidade prisional e

conversou com alguns presos que narram que o problema do fornecimento de

água foi sanado desde a instalação de caixas d’água.

3. Das cadeias públicas visitadas pelo MEPCT/PE

a) Cadeia Pública do município de Bezerros Data da visita: 04.10.2017 População carcerária à época da visita: 53 presos

A cadeia pública de Bezerros possui dificuldade de acesso e não há

placas indicando seu local e o próprio muro não está identificando que ali

funciona uma cadeia pública. Na data da visita quem realizava a segurança da

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unidade eram 03 policiais militares para um quantitativo de 53 presos divididos

em 06 celas. No pátio da unidade funcionava uma escola improvisada durante

o horário de 9h às 11h, durante a semana.

Na ouvida realizada com as pessoas privadas de liberdade foram

dados relatos acerca das revistas truculentas realizadas por policiais militares

nas celas, onde são quebrados os pertences dos presos e estragado os

alimentos trazidos pelos familiares. O tratamento dado aos presos durante as

revistas é adotado o seguinte procedimento: os presos saem das celas

despidos e são obrigados sentar no chão do pátio.

Foi relatado ao MEPCT/PE denúncias de espancamento por parte de

Policiais Militares contra presos que pediram para serem levados ao Hospital, e

que isso era algo corriqueiro no interior da cadeia pública. Outro relato colhido

foi a respeito de um médico que atende no Hospital da cidade, onde o preso

teve seu dedo torcido pelo médico durante o atendimento. Registra-se que o

MEPCT/PE encaminhou o relatório de visita ao CREMEPE, a Corregedoria da

Secretaria de Defesa Social e a Chefia da Policia Civil recomendando a

abertura de inquérito policial e apuração administrativa das denúncias trazidas

pelas pessoas privadas de liberdade.

(Lesão na mão do presoEscola improvisada no pátio interno)

Durante as visitas de parentes os presos não saem das celas, eles

conversam com seus familiares pela porta das celas e em sistemas de rodízio

por familiar de preso. Um dos presos narrou que para abraçar seu filho teve

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que passar a criança por um buraco que existia na parede entre o pátio e sua

cela.

A alimentação nas cadeias públicas é realizada através de um

pagamento no valor aproximado de R$185,00 (cento e oitenta e cinco reais)

dado ao preso, onde sucessivamente, este repassa para seu familiar ou

alguém próximo para comprar seus alimentos. Nas celas existe um fogão

improvisado na eletricidade, onde os presos fazem sua comida. Ocorre que na

cadeia pública de Bezerros o referido auxílio estava atrasado seu pagamento

pela Secretaria Executiva de Ressocialização há dois meses. Muitos familiares

estavam assegurando a alimentação não só de seu parente preso, mais dos

colegas de cela dele também, em razão de não terem família na região ou sua

família não ter condições financeiras de custear.

b)Cadeia Pública do Município de Gravatá Data da visita: 04/10/17 População carcerária à época da visita: 60 presos

A cadeia pública de Gravatá é construída em um terreno bastante

amplo, possui boas condições de acesso, há guaritas de segurança sobre o

muro, porém estavam desativadas. A segurança é realizada pela Polícia

Militar. Na área destinada à administração do local existe uma sala com

medicamentos (analgésicos, antibióticos), e neste mesmo local é realizada a

revista de visitantes nos dias de visitas.

Ao lado da cadeia pública funciona uma fábrica de produção de

esquadrias, onde trabalham 16 presos. Não há escola em funcionamento e

nem atividades esportivas.

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Pátio externo da Cadeia Pública Fábrica que funciona no interior da Cadeia Pública

A maior reclamação dos presos foi o atraso no pagamento do auxílio

alimentação e que nos dias de visitas os presos permanecem trancados no

interior das celas, ficando impossibilitados de realizarem gestos simples como

abraçar seus familiares.

A ausência de atividades ocupacionais é predominante, apenas existe

o trabalho na fábrica e só contempla 16 presos.

Foram colhidos relatos de truculência durante as revistas de Policiais

Militares, que os mesmos quebram os objetos trazidos pelas famílias

(ventiladores, televisores). Que já houve casos de serem obrigados a colocar

as mãos nos vasos sanitários e ralos para verificarem a existência de drogas

e outros objetos ilícitos. Que jogam água nos colchões dos presos como

forma de punição. Registra-se que o MEPCT/PE enviou o seu relatório de

visita a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social do Estado de

Pernambuco e a chefia da Policia Civil de Pernambuco recomendando que

sejam tomadas às providencias cabíveis para apuração das denúncias.

O auxílio alimentação destinado a compra de alimentos para os presos

estava em atraso seu pagamento há dois meses. Devido ao atraso os

familiares estavam fornecendo a alimentação. Na data da visita do MEPCT/PE

estavam na frente da cadeia pública parentes de presos levando as refeições.

c) Cadeia Pública do Município de Timbaúba/PE Endereço: Rua Almirante Barbosa, s/n

Data da Visita: 11 de outubro de 2018 Capacidade de lotação: 25 pessoas

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População carcerária à época da visita: 14 presos

A cadeia pública, à primeira impressão, revelou ao MEPCT/PE um

aspecto de deteriorações em sua estrutura com grandes fissuras nas paredes,

pintura em péssimo estado, como se trata de um prédio abandonado, uma

instituição desativada.

No momento da visita, a cadeia pública albergava 14 (quatorze)

homens, distribuídos em 5 (cinco) celas, sem aparência de superlotação vez

que, segundo o gestor, a unidade tem capacidade para 25 (vinte e cinco)

presos.

A segurança funciona em regime de plantão e é realizada por 2 (dois)

policiais militares. Há inspeções diárias nas celas onde raramente são

encontrados objetos para fins delituosos, todavia, fortuitamente, já foram

encontrados aparelho de telefone celular. Ressalte-se que não há registro de

agressões entre os presos.

Outrossim, os custodiados gozam de banho de sol nas segundas,

terças e quartas-feiras. Acrescente-se que os encontros conjugais são

realizados nas terças-feiras no turno da manhã, ao passo que à tarde os

aprisionados têm acesso à visitação familiar. Impende ressaltar, no entanto,

que durante o interstício da visita familiar, os segregados permanecem dentro

das celas sem qualquer contato com seus entes queridos, não obstante, sem

contato com seus próprios filhos. Consoante a gestão da unidade, a ordem de

não permitir o contato dos presos com os familiares advém do Ministério

Público da comarca.

Ademais, outra dificuldade levantada pelos custodiados diz respeito ao

atraso de benefício pecuniário voltado à alimentação. Ressalte-se que, além da

alimentação, os presos não têm acesso ao fornecimento de colchões e kits de

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higiene, sendo esses itens, fornecidos pela própria família dos presos. Quanto

à assistência à saúde, em caso de necessidade, os custodiados são atendidos

em Unidade de Pronto Atendimento – UPA.

d) Cadeia Pública do município de Aliança/PE Endereço: Rua Cel. Luís Inácio, s/n, Aliança/PE Data da Visita: 11 de outubro de 2018 Capacidade de lotação: 16 pessoas População carcerária à época da visita: 14 presos

Uma peculiaridade encontrada na cadeia pública da cidade de Aliança,

pelo MEPCT/PE na ocasião da visita, é que a guarnição da Polícia Militar é

alojada no mesmo prédio em que é instalada a cadeia.

A cadeia pública em comento, na data da inspeção, possuía de 4

(quatro) celas e 14 (quatorze) presos albergados. Estes gozam de banho de sol

diário e visitação familiar às quartas-feiras durante o turno da tarde, antecedida

de visita íntima no turno da manhã.

Os segregados sofrem com a escassez do fornecimento de água.

Ademais, não tem acesso a kits de higiene e padecem com a falta do

fornecimento de benefício que auxilia na alimentação, desta forma, ficando a

míngua da assistência familiar e em caso de necessidade de socorro médico,

são encaminhados ao hospital do município em viatura policial.

A segurança da cadeia em referência é realizada por dois policiais

militares e é realizada vistoria nas celas diariamente, não havendo registro de

apreensão de objetos para fins ilícitos.

e) Cadeia Pública do Município de Goiana Data da visita: 09/11/17 Capacidade de Lotação: 78 pessoas População carcerária à época da visita: 87 presos

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A cadeia pública do município de Goiana passou por uma reforma no

ano de 2012. Um dos maiores problemas estruturais é o fornecimento regular

de água. Dentre as 13 celas que acomodam em média 06 pessoas, uma delas

é exclusiva para o responsável do pavilhão e seu auxiliar. Nesta cela nota-se

acomodamento peculiar, seja pela pequena quantidade de aprisionados como

também por sua estrutura arranjada, que conta com 02 televisores.

A alimentação é realizada pelo recebimento do auxílio alimentação de

R$ 185,00 (cento e oitenta e cinco reais), e que segundo o gestor da cadeia

pública os presos gerenciam este recurso da maneira que lhes convém. Nesse

particular, ressaltou ser o maior ponto de protesto da população carcerária o

atraso dessa verba. Porquanto todos os suprimentos necessários para

acomodação nas celas, como colchões, kits de higiene e alimentação provêm

do custodiado e de sua família.

Relatou o gestor da cadeia pública ao MEPCT/PE que não recebe

apoio médico, nesse sentido, não há qualquer acompanhamento do quadro

clínico dos custodiados. Ressaltou, no entanto, que a prefeitura de Goiana já

realizou vacinação na população carcerária. Ademais, mencionou que as

medicações daqueles que necessitam são fornecidas pela própria família.

Em diálogo com as pessoas privadas de liberdade, a maior reclamação

foi o atraso de 02 meses no pagamento do auxílio alimentação, popularmente

chamado pelos presos de “mensalão”. Em razão do atraso do auxílio alguns

presos estavam dividindo as refeições a fim de evitar a restrição alimentar de

outros colegas de cela.

Uma queixa da maioria dos presos foi à quantidade de regalias

concedidas a um determinado preso que não fica recluso na cela, recebe

visitas a qualquer hora e tem outros benefícios concedidos. Todos foram

unânimes em afirmar que não há brigas e nem rixas entre eles e que os

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mesmos se ajudam muito e que se brigarem são ameaçados por parte da

administração a serem transferidos para locais distantes de suas famílias.

Outro ponto, relatado pelos presos foi à morosidade dos julgamentos

de seus processos, além da falta de atendimento pela Defensoria Pública. Pois,

a maioria não possui advogado particular. Consequência disso, dúvidas

processuais eram recorrentes. Protestaram também a ausência de

acompanhamento médico.

O período destinado ao banho de sol é muito pouco, posto que ocorre

apenas nas segundas e sextas – feiras e por poucas horas. Com isso, o

período de trancafiamento é extensivo, causando ansiedade e demais mazelas

oriundas da privação de liberdade.

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CAPÍTULO 5. OS CASOS AD HOC MONITORADOS PELO MEPCT/PE

Por Mariana Santa Cruz

a) Caso: Edson Ramos do Nascimento Local: Penitenciária Agro Industrial São João - PASJ Data da visita: 26 de janeiro de 2017

O MEPCT/PE esteve na PASJ em razão do óbito do detento Edson

Ramos do Nascimento e do princípio de motim ocorrido na unidade no dia 25

de janeiro de 2017. Foi narrado ao MEPCT/PE que o preso veio a óbito em

razão do uso excessivo de drogas, que os presos ficaram revoltados com o

óbito no interior do pavilhão e aproveitaram para protestar as péssimas

condições carcerárias da unidade prisional. Foram expostos faixas, cartazes e

os presos subiram com o corpo do referido detento para o telhado do pavilhão

com o intuito dos meios de comunicação realizasse as filmagens. Em seguida

permitiram que o gestor da unidade, juntamente com o instituto de Medicina

Legal - IML retirassem o corpo do detento.

A administração da unidade prisional é que estava providenciando a

liberação e sepultamento do preso Edson Ramos do Nascimento porque não

constava registro de familiares em sua pasta no setor do psicossocial, os

presos também informaram que os mesmos não recebiam visitas. No setor de

saúde da unidade prisional não constava pasta em seu nome.

O MEPCT/PE acessou a pasta do setor da penal do referido detento e

constatou que este havia ingressado no sistema prisional em 08.02.2013 pela

prática da conduta delituosa prevista no art.157, §2º, do código de penal. Foi

observado que segundo despacho judicial do Magistrado responsável pelo

processo na execução penal o preso teria o direito de progredir para o regime

aberto em 07.02.14 e para auferir o benefício da liberdade condicional em

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07.02.15. Ocorre que a sentença condenatória apenas foi prolatada em

10.08.2016. Ressalta que o preso Edson Ramos do Nascimento veio a óbito no

interior de uma unidade prisional, a qual não deveria nem estar. O caso in loco

é um reflexo da morosidade do andamento dos processos judiciais e da

enorme quantidade de prisões preventivas arbitrarias que vem provocando o

encarceramento em massa, submetido pessoas a um tratamento cruel,

desumano e degradante. O preso Edson Ramos do Nascimento segundo

relatos dos detentos vivia dormindo pelos corredores dos pavilhões, porque

nem cela tinha para ficar. Desde seu ingresso no sistema prisional apenas foi

ouvido em juízo em 15.04.2015, dois anos depois da data de sua prisão.

Registra-se que o presente relatório foi encaminhado para o Conselho

Nacional de justiça, para o Tribunal de Justiça de Pernambuco, para o

Ministério Público de Pernambuco, Secretaria de Justiça e Direitos Humanos e

Secretaria de Defesa Social.

b) Caso: Kleber Klayne Alves da Silva Local: Presídio Asp. Marcelo Francisco de Araújo - PAMFA Data da visita: 14 de março de 2017 O MEPCT-PE procedeu a uma ouvida do reeducando Kleber Klayne

Alves da Silva prontuário de número 2046-457, no dia 14.03.17, em razão

deste ter sido vítima de um disparo de armamento não letal na data de

26.02.17, nas dependências da unidade prisional Presídio Asp. Marcelo

Francisco de Araújo – PAMFA, que resultou em uma lesão permanente na sua

visão.

Durante a ouvida do reeducando Kleber Klaine Alves da Silva foi-nos

narrado: “que no dia (26.02.2017) estava se encaminhando para seu pavilhão

quando escutou uma batida no murro que liga o PAMFA ao PJALLB, que em

uma das brechas que existe no murro, encostou o rosto para olhar o que era,

foi quando viu um ponto escuro e recebeu um tiro. Ainda narra que saiu

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atordoado e pensava que tinha levado uma pancada na cabeça, foi quando

notou que a lesão era no seu olho. Afirmou que foi atendido na enfermaria da

unidade e levado para um hospital. Que na data da visita (do MEPCT/PE) já

estava em sua cela” (sic).

O MEPCT/PE também acessou a pasta de saúde do detento e nela

constavam vários encaminhamentos para o Hospital em razão da lesão.

Também foi informado a este órgão que a administração da unidade havia

encaminhado o detento para registro de Boletim de Ocorrência junto a Polícia

Civil.

Registra-se que o MEPCT/PE encaminhou o presente relatório à

Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, à Secretaria de Defesa Social, ao

Ministério Público de Pernambuco, à Defensoria Pública de Pernambuco.

c) Caso: Edvaldo da Silva Alves Local: município de Itambé Data da visita: 18 e 20 de março de 2017

No dia 17 de março de 2017, durante protesto de moradores contra a

violência e assaltos ocorridos na região da Mata Norte de Pernambuco,

policiais militares a fim de liberar a rodovia onde estava havendo a

manifestação, em contrapartida os moradores pediram que os policiais militares

esperassem os meios de comunicação presentes no ato realizassem as

filmagens. Os Policiais Militares atiraram com bala de elastômero contra a

perna do jovem de 19 anos Edvaldo da Silva atingindo a veia femoral. Tais

fatos foram filmados pelos meios de comunicação presente e moradores.

O MEPCT/PE acompanhou o presente caso realizando diligencias na

Delegacia de Polícia Civil da cidade de Itambé e no Hospital Miguel Arraes de

Alencar, onde Edvaldo da Silva ficou internado durante dias até ir a óbito. No

hospital Miguel Arraes de Alencar, na UTI foram realizadas fotografias do

paciente e veiculadas nas redes sociais.

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Registra-se que o presente relatório do MEPCT/PE foi encaminhado à

Secretaria de Defesa Social, ao Ministério Público de Pernambuco, à

Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, e dentre as

recomendações emitidas está à apuração da pratica de tortura por parte dos

Policiais Militares envolvidos.

d) Caso: Thuane Ramone Gomes da Paixão

Local: Penitenciaria Feminina de Abreu e Lima - PFAL Data da visita: 06 de junho de 2017 Thuane Ramone Gomes da Paixão era monitorada por este órgão desde

abril de 2016, por apresentar um quadro crônico de asma, tuberculose e

indícios de transtorno mental, fato que demandou uso de medicação

psiquiátrica e que a reeducanda se recusava a tomar, segundo relatos.

Em abril de 2016 o MEPCT/PE ao avaliar a situação processual da

apenada constatou que a mesma tinha tempo para auferir o direito ao benefício

da progressão de regime fechado para o regime semiaberto. Diante de tal fato,

o MEPCT/PE recomendou ao juízo processante a elaboração da carta de guia

provisória para cumprimento da pena e o seu encaminhamento a Vara de

Execuções Penais em caráter de urgência para que fosse realizada sua

progressão de regime.

Ao ter conhecimento do óbito da apenada Thuane Ramone Gomes da

Paixão o MEPCT/PE foi a PFAL. Foi informado a esse órgão que durante a

noite do referido óbito, houve três quedas de energia na Unidade e o gerador

não atendeu a demanda. A orientação dada pela direção da Unidade é que

quando falta energia é para que as celas sejam abertas, para que as detentas

possam circular e encontrar um local mais fresco para se acomodar.

Durante esse primeiro momento, no início da madrugada, Thuane

Ramone Gomes da Paixão saiu da cela com um rádio e chamou outra

apenada, para dançar, até esse momento ela não se queixava de qualquer

incomodo e não demonstrava qualquer limitação de ordem física ou metal.

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Depois de algum tempo ao regressar a sua cela, começou a tossir e foi à

cela da sua companheira reclamar que estava com dificuldades para respirar. A

companheira de Thuane Ramone Gomes da Paixão e as demais colegas

retiraram-na da cela, a puseram no corredor, ligaram o nebulizador com a

medicação prescrita (Berotec e Aeroli) e começaram a pedir socorro, haja vista

que o nebulizador não estava funcionando direito em razão da queda de

energia e que Thuane Ramone Gomes da Paixão estava muito pálida.

Os funcionários da referida unidade vieram após vinte e cinco minutos,

abrir o pavilhão, segundo relataram as presas. A presa que trabalha no setor

da saúde, narra que verificou que Thuane Ramone Gomes da Paixão, estava

com os lábios brancos, com baixo batimento cardíaco, com os olhos virados e

quase sem respirar, passando a ser levada à enfermaria, para aferir a pressão

e os batimentos cardíacos, lá foi constado que ela estava quase sem sinais

vitais e que era imprescindível um atendimento de emergência, pois não havia

naquele momento profissional habilitado para prestar a assistência médica

necessária.

Assim foi feito, encaminharam Thuane Ramone Gomes da Paixão para a

Unidade de Pronto Atendimento – UPA de Jardim Paulista e segundo a

documentação assinada pela médica da UPA à reeducada já entrou no local

desfalecida e o orbito foi externo. Porém, ressaltamos que no atestado de óbito

de Thuane Ramone Gomes da Paixão, consta que o local de falecimento foi a

UPA de Paulista.

O fato que chamou atenção desse órgão foram os relatos das

reeducandas que a falta de energia é constante naquela unidade prisional e

que nem sempre a energia é restabelecida rapidamente e que isso significa

muitas vezes mais um desconforto, dentre tantos que são vivenciados por elas,

pois se não bastasse à superlotação, o ambiente insalubre, a falta constante e

muitas vezes prolongada de energia elétrica, gera um desconforto maior as

detentas. O pavilhão e as celas visitadas pelo MEPCT/PE estavam muito

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quentes e não possui ventilação natural adequada para o quantitativo de

pessoas que estão ali.

Registra-se ainda que acessando a pasta da detenta no setor da penal

foi constatado que Thuane Ramone Gomes da Paixão encontrava-se no

regime semiaberto desde 04.11.16, sua carta guia chegou à unidade em

30.08.16, fruto de uma das recomendações emitidas em relatório anterior de

monitoramento sobre a condição carcerária de Thuane Ramone Gomes da

Paixão.

O presente relatório de visita do MEPCT/PE foi encaminhado ao

Ministério Público de Pernambuco, a Defensoria Pública de Pernambuco e a

Secretaria de Justiça e Direitos Humanos.

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CAPÍTULO 6 - O MEPCT/PE NO ACOMPANHAMENTO DAS AUDIÊNCIAS

DE CUSTÓDIA

Por Phillipe Gomes

Notas Introdutórias

No decorrer do ano de 2017, o MEPCT/PE se prontificou em

acompanhar as audiências de custódia no território pernambucano a fim de

traçar um panorama pormenorizado desta atual garantia jurídica. Para isso,

fez-se um estudo prévio dos enfoques que seriam abordados, no intuito de

permitir uma comparação desta realidade vivenciada na comarca sede da

capital: Recife, instituída pela Resolução do Tribunal de Justiça de Pernambuco

- TJPE nº 380 e em 07 Polos de Audiência de Custódia, de acordo com a

divisão disposta no Provimento 03/2016 – Conselho da Magistratura do TJPE:

Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Nazaré da Mata, Vitória de Santo Antão,

Palmares, Caruaru e Limoeiro

Esse trabalho possibilita ao leitor conhecer as peculiaridades práticas do

instituto, inclusive circunstâncias isoladas que envolvem no tratamento do

autuado em flagrante. Ademais, busca-se, também, atrelar as dificuldades

enfrentadas pelas instituições/órgãos responsáveis pela implementação da

audiência de custódia, a partir de relatos das suas autoridades, bem como sob

a ótica deste órgão. Sem olvidar o tratamento da prisão preventiva e da

liberdade provisória agregada às medidas cautelares diversas da prisão,

trazendo as fundamentações diferenciadas, extraídas nas análises dos termos

de audiência de custódia.

Pelo que se empenha, relata-se os primeiros passos de um instituto

jurídico garantista, que focaliza, em linhas gerais, na inibição do acometimento

de tortura e maus-tratos e na análise de manter o cárcere. Com isso, uma

abordagem ampliativa é essencial para notabilizar o alcance desses objetivos,

a importância que é dada a eles e a forma que busca alcançá-los. Assim,

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elabora-se um texto híbrido com traços expositivos, dialogais e discursivos,

para que as impressões aqui exaradas permitam ao leitor uma compreensão

dinâmica sobre as audiências de custódia.

Comarca da Capital - Recife

No acompanhamento das audiências de custódias realizadas na

comarca da capital, presenciou-se tratamento diferenciado e inédito em favor

de uma custodiada, por ser integrante da Polícia Militar pernambucana. A

circunstância foi de tamanha anomalia que não era possível perquirir ser esta

uma autuada em situação de custódia estatal, antes da sua ouvida pelo juízo.

Porquanto não estava segregada na carceragem com as demais e não

suportava algemas nos pulsos. Permaneceu à espera de sua audiência nas

dependências da secretaria judicial, sentada, em conversação com os demais

militares que oficiavam naquela seção do fórum. Ademais, usufruiu o privilégio

de prontamente ser ouvida, por razões que não foram expostas. A magistrada

que presidiu o feito notou o tratamento atípico quando constatou a ausência de

algemas, a partir de então recriminou a conduta, ressaltou que não tolera esse

tipo de procedimento desigualitário e que fato seria notificado ao superior da

Polícia Militar. Outra circunstância, também isolada, foi à repreensão de uma

magistrada na ouvida de uma autuada. Na oportunidade, interpelou a juíza no

intuito de obstaculizar o depoimento da investigada, quando esta mencionou

que teria algo a mais a depor. Embora pudesse ser a alegação apenas peleja

pela liberdade provisória, é prudente esse cerceamento no decorrer da ouvida,

na apreciação do teor, pois é certo que a situação de vulnerabilidade intimida a

autuada, que muitas vezes olvida circunstâncias sobre o ato constritivo.

Em diálogo com os juízes que presidiam a audiência de custódia,

salientaram a falta de alimentação dos autuados. Nesse sentido alegaram que

muitos são alimentados apenas com pão e café, sendo recorrente a menção de

insaciedade. Acrescentaram a necessidade de impedir a disponibilização de

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alimentos pelos familiares, posto que possibilitaria o fornecimento de refeições

contaminadas ou envenenadas. Ressaltaram, por fim, serem ínfimas as

alegações de maus-tratos ou tortura por parte dos investigados, contudo

sempre indagam nesse sentido e, nos casos afirmativos, oficiam-se as

instituições repressoras de âmbito administrativo e criminal.

Em análise às decisões proferidas nesta comarca, observou-se a

priorização na obtenção de informações acerca de maus-tratos ou tortura por

parte dos autuados, de modo ser essa alegação averbada inicialmente e em

destaque no termo de audiência de custódia. Na hipótese de narrativa de

maus-tratos, expedem o termo para o Ministério Público e a Corregedoria da

Secretaria de Defesa Social. No trato da conversão da prisão em flagrante em

preventiva prepondera o fundamento da garantia de ordem pública, sob a ótica

da priorização do interesse social em confronto com os direitos individuais dos

autuados. Há também discurso que afirma ser objeto da ordem pública não

apenas evitar a reprodução de fatos criminosos, mas acautelar o meio social e

a própria credibilidade da justiça. Já nas hipóteses de decretação da liberdade

provisória, é usual a reunião de outras medidas cautelares diversas da prisão,

prevalecendo: “o comparecimento a todos os atos do processo; não se

ausentar da comarca, nem tampouco mudar de residência, sem autorização

judicial e iniciar ocupação lícita para o trabalho”.

Quanto à carceragem, nota-se divisão de compartimentos não

presenciada nos demais tribunais do território pernambucano, alojando de um

lado os policias responsáveis pela vigília, em local com deficitária ventilação,

do outro, as pessoas aprisionadas, em ambiente sem arejamento e asfixiante.

Polo 1 - Jaboatão dos Guararapes

Em análise à regulamentação das audiências de custódias no Polo

Jaboatão dos Guararapes, apurou-se a atuação interrupta da Defensoria

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Pública, de modo que os autuados ficam à mercê de advogados dativos nas

segundas-feiras. Naquela oportunidade, o MEPCT/PE presenciou a atuação da

Defensoria em todas as audiências que não foram representadas por

advogados particulares. Em diálogo com a defensora pública que oficiava

naquele dia, esta mencionou que obedecia a uma escala de trabalho, de forma

que não conhecia as razões que acarretam a ausência de defensores públicos

nas segundas-feiras. Fato destacável concerne à possibilidade concedida pela

defensora no acompanhamento deste órgão nas suas entrevistas com os

autuados, posto que tal oportunidade não é cedida por todos os defensores

públicos.

Em apreciação às decisões emanadas por este juízo, constatou-se a

adaptação de medidas cautelares para que o autuado evite meio nocivo. A

devida flexibilização é de prudência louvável, vez que em tempos remotos,

quando não havia o incentivo às medidas cautelares diversas da prisão –

período antecessor à edição da Lei 12.403/11 – favorecer-se-ia a medida mais

constritiva: prisão preventiva. A propósito, vejamos as restrições:

a) Comparecimento mensal em juízo para informar e justificar suas atividades; b) Não mudar de residência, ou ausentar-se da comarca em que reside por mais de 08 (oito) dias sem prévia comunicação à autoridade processante (art.319, IV, CPP) c) Recolhimento domiciliar a partir das 22h00 às 05h00, bem assim nos dias de folga, para evitar risco de novas infrações; d) Manter ocupação e trabalhos lícitos, além de estudo formal, procurando auxílio e acompanhamento para evitar o vício; e) Não frequentar locais de consumo de bebida alcoólica ou entorpecentes, para evitar riscos de novas infrações.

Indesmentível que a falta de alimentação dos autuados é queixa quase

unânime nos juízos que realizam audiência de custódia. No entanto, fato de

maior gravidade foi constatado neste polo, posto que um custodiado, portador

de diabetes desmaiou em razão do dejejum, sendo socorrido pelo Serviço de

Atendimento Móvel de Urgência - SAMU. Ademais, presenciou-se a cotização

dos policiais responsáveis pela vigília a fim de adquirir alimentos aos

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investigados, vez que não é autorizado o fornecimento de refeições pelos

familiares, exceto aquelas adquiridas e entregues pela cantina do fórum.

Polo 2 - Olinda

No acompanhamento das audiências de custódia, presenciou-se o relato

de usuária de crack, que se prostituía e comercializava entorpecentes ilícitos

para manter o seu vício. Esta narrativa trouxe uma realidade do submundo

criminoso que insere as mulheres viciadas. Antes de seu pronunciamento, era

perceptível o seu vício, corpo magro que aparentava desnutrição. Ao final do

relato, choro descontínuo jamais visto em outra audiência. Na ponderação

dessa prisão em flagrante, considerou a juíza a circunstância de a investigada

ser mãe de filho que necessita de seus cuidados, e por isso, aplicou prisão

domiciliar, contraindo o pleito do Ministério Público que se pronunciou pela

prisão preventiva. Mais uma vez, notou-se a importância da Lei nº 12.403/11,

que alterou o art. 318, V, do Código de Processo Penal disciplinando hipóteses

que permitem substituir a prisão preventiva em domiciliar. Desta forma,

incentiva-se aos magistrados a não se aterem a antiga dicotomia extremista:

liberdade provisória x prisão preventiva.

Na carceragem, sente-se um odor marcante, mais característico que as

demais. Há ventilação por ar-condicionado, o que ameniza o calor, contudo

intensifica a circulação do mau cheiro. O ambiente possui apenas 02 celas, que

são priorizadas para os homens que serão submetidos à audiência de custódia

e àqueles que participarão da audiência de instrução e julgamento. Desta

forma, as mulheres são alojadas foras das celas quando estas estiverem

ocupadas pelos homens. Pontos de protesto dos reclusos eram: a falta de

alimentos e a necessidade de se banharem.

Em diálogo com o sargento da Polícia Militar, responsável pela

carceragem, este relatou situação análoga presenciada no polo Jaboatão dos

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Guararapes, vez que um custodiado se sentiu mal, não em razão por falta de

alimento – como ocorrido em Jaboatão dos Guararapes – mas sim, por ingerir

alimentos que lhe foram fornecidos. Nessa circunstância, diferente daquela,

não houve o atendimento do SAMU, embora tenha sido acionado.

Polo 3 - Nazaré da mata

O polo de audiência de custódia do município de Nazaré da Mata

apresenta circunstância reprovável não presenciada nos demais polos:

ausência de carceragem. De modo que os investigados são alocados nos

assentos do fórum, algemados uns aos outros. Presenciou-se o contato dos

familiares com os autuados, sem qualquer objeção dos policiais civis

responsáveis pela vigília. Outro fato constatado, porém, sem caráter inédito,

refere-se à ausência da Defensoria Pública, desta forma, advogados dativos

foram nomeados para o pronunciamento da defesa técnica. As audiências são

realizadas no início do turno da tarde, 13h.

Em análise às decisões de liberdade provisória, notou-se a praxe de

atribuir 06 medidas cautelares alternativas à prisão, são estas:

Comparecimento perante o juízo competente, mensalmente, para informar e justificar suas atividades; não se ausentar desta comarca sem prévia comunicação e autorização do juízo competente; recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga; não mudar de endereço sem prévia comunicação ao juízo para o qual foi distribuído o processo; não praticar outra infração penal dolosa; comparecer, nos próximos cinco dias à Secretaria da Vara competente para assinar termo de compromisso, colocando os custodiados em liberdade, salvo se por outro motivo devam permanecer presos.

Já no julgado que converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva,

fundamentou sua decisão na garantia de ordem pública, de forma que

considerou o interesse coletivo à frente da liberdade do autuado.

Polo 4 - Vitória de Santo Antão

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No polo de audiência de custódia do município de Vitória de Santo Antão

o juiz coordenador não estava presente, o que repercutiu em atraso das

audiências de custódia, que ocorreram por volta das 14h. Em razão dessa

ausência, o magistrado da comarca de Gravatá presidiu as audiências daquele

dia.

O MEPCT/PE presenciou a chegada dos autuados no fórum e o seu

deslocamento para carceragem; posteriormente, iniciou-se entrevistas com

polícias civis responsáveis pela vigília e com os próprios autuados. Em diálogo

particular com estes últimos, relataram não terem sofrido maus-tratos,

recebendo tratamento pacífico na perícia médica. Mencionaram que recebeu

alimentos na delegacia fornecidos pelos familiares. Ademais, demonstraram

temor na hipótese de prisão preventiva, indagando sobre o que seria a

audiência de custódia. Já no diálogo com os policias civis, estes protestaram a

falta de efetivo, tanto da Polícia Militar quanto da Polícia Civil, explicaram que

estavam de vigília da carceragem, pois aguardavam o deslocamento de algum

efetivo da Polícia Militar para assumir a guarda. Enquanto isso, a delegacia

local permanecia inativada por falta de efetivo.

Na audiência, o juiz converteu os dois flagrantes - do único fato delituoso

em coautoria - em prisão preventiva, fundamentando sua decisão na

necessidade da manutenção da ordem pública, conceituando-a: em expressão

de tranquilidade e paz no meio social. Ademais, atrelou a jurisprudência do

STF (2ª Turma – RHC 65.043 – rel. Min. Carlos Madeira in RTJ 124/1033), a

qual define que:

No conceito de ordem pública, não se visa apenas prevenir a reprodução de fatos criminosos, mas acautelar o meio social e a própria credibilidade da justiça, em face da gravidade do crime e da sua repercussão. A conveniência da medida deve ser revelada pela sensibilidade do juiz à reação do meio ambiente à ação criminosa.

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Outro fundamento explanado concerne à garantia de aplicação da lei

penal. Nesse aspecto, abordou o receio de fugas, sem determinar dados

concretos. Fato louvável refere-se à defesa pronunciada pela Defensoria

Pública, que tratou pormenorizadamente a ausência de fundamentos, no trato

da periculum libertatis, que justificassem a segregação do autuado. Pleiteou

ainda, a prisão domiciliar em razão de o investigado ser pai de filhos com

menos de seis anos, que necessitam de maior assistência. Em que pese o

esforço, a privação em cárcere preventivamente foi aplicada.

Em diálogo com o juiz, este mencionou a precariedade da estrutura do

fórum Severino Joaquim Krause, além da falta de segurança para os

magistrados. Exemplificou sua alegação com os autuados que passaram ao

seu lado logo após decidir desfavoravelmente sobre sua liberdade. E que essa

mesma circunstância ocorre com investigados de potencial delitivo elevado,

como os assaltantes de caixas eletrônicos bancários. Concluiu que essa

insegurança desmerece o trabalho empenhado pelo magistrado, que inclusive

não mais oficia em Varas Criminais e em audiências de custódia eque a sua

atuação naquele dia foi episódica, motivada pela impossibilidade da presença

do juiz coordenador do Polo de Vitória de Santo Antão.

Polo 5 - Palmares

Em diálogo com o juiz que presidiu a audiência de custódia,

coordenador, à época, do fórum da comarca de Palmares - Professor Aníbal

Bruno - apurou-se em seu relato imprecisões quanto à regulação das

audiências de custódias. Explanou o magistrado a inexistência de

normatização que determine o horário – o início e término - a serem realizadas

as audiências. Com isso, fica a critério de cada comarca o momento da ouvida

do investigado, sem que haja uma padronização do instituto. A propósito, o

polo de Palmares elegeu o turno da manhã, abrangendo o período, por volta

das 09h às 11:30h. Mencionou, também, a falta de estrutura para aplicabilidade

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das audiências. Exemplificou a falta de médicos para realização da perícia, vez

que o suspeito é encaminhado ao hospital local que já possui grande demanda

de atendimentos, o que fragiliza a qualidade da perícia. Outro ponto deficitário

concerne ao encaminhamento do suspeito ao presídio antes da audiência,

porquanto a delegacia da região, local de aprisionamento após a prisão em

flagrante, não fornece refeições, assim, a fim de dirimir essa necessidade

alimentar, o presídio local incumbe tal atribuição nos casos em que audiência

de custódia será realizada no dia seguinte à prisão em flagrante. Dessa forma,

sanou-se a problemática da ausência alimentar, que se é queixa unânime nos

polos de audiência de custódia. Embora se reconheça a funcionalidade dessa

atuação, não é de se aprovar o recolhimento de qualquer pessoa, na fase

investigativa, sem determinação judicial, em unidade prisional. É certo que a

busca pela divisão dos presos provisórios e condenados é falida, com isso, a

mesma dificuldade pode ser denotada com os suspeitos que são

encaminhados ao presídio de Palmares. Ainda esclareceu que o quantitativo de

audiências é baixo, em média 02 e episodicamente, nenhuma. No que se

refere à possibilidade de visitação dos parentes aos investigados que

permanecem na carceragem do fórum, esclareceu o magistrado tal

impraticabilidade, justificando o fato em razão da edição de uma norma

administrativa que impede, inclusive, o trânsito de familiares nas dependências

daquele prédio público. Diante do dado insólito, o MEPCT/PE solicitou maiores

esclarecimentos, explicou o juiz que tal norma não é resultado das suas

atribuições, pois é uma medida adotada por outro magistrado. Quanto à

inibição da prática de maus-tratos, relatou, após indagações, que sempre

pergunta ao investigado se sofreu qualquer tipo de agressão.

Na oportunidade em que se realizou a entrevista, o MEPCT/PE

acompanhou a única audiência ocorrida naquele dia. Pode-se constatar que o

magistrado aborda os questionamentos da Resolução Nº 213 do CNJ e do

provimento Nº 003/2016 – CM do TJPE. Na audiência assistida, o investigado

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permaneceu algemado, contudo não olvidou o magistrado em justificar o

excesso, consignando as razões em seu veredicto. Após a audiência, explicou

o juiz sua preocupação em fundamentar sua decisão, com isso, no tratamento

da garantia da ordem pública, apropria-se do conceito de Guilherme Nucci por

ser robusto e exigente, pois justifica tal requisito com o trinômio: “gravidade da

infração + repercussão social + periculosidade do agente.” Encerrado o

diálogo, o MEPCT/PE se prontificou em entrevistar o Policial Civil responsável

por conduzir o indiciado à audiência de custódia. A propósito, queixou-se a falta

de efetivo, uma vez que estava sozinho no plantão, e que habitualmente

apenas um policial é responsável por esse encargo de grande risco. Em sua

justificativa, explicou que o suspeito conduzido, naquela oportunidade, é de

periculosidade acentuada, conhecido pelas redondezas por seu perfil

criminoso, acusado por diversos delitos. Relatou ainda, em teor idêntico ao do

magistrado, a falta de profissionais médicos e a demora para realização da

perícia. Ato contínuo, o MEPCT/PE dirigiu-se para inspecionar a carceragem

do fórum. Constatou-se a melhor estrutura, local com ventilação e iluminação;

sistema de monitoramento por videocâmara; celas destinadas para cada

situação processual; guarnição policial presente no mesmo compartimento dos

recolhidos, não existindo o isolamento que é presente no fórum da comarca da

capital.

Polo 6 - Caruaru

Em uma primeira oportunidade, o MEPCT/PE não acompanhou

nenhuma audiência de custódia, por não ter ocorrido prisões em flagrantes no

dia antecedente. Restou apurado que este fato é episódico, pois habitualmente

realizam-se audiências. Constatou-se também, a partir dos relatos dos policiais

responsáveis pela vigília do fórum, que é comum a apreensões em flagrantes

de supostas práticas de crimes de violência doméstica e crimes contra a

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dignidade sexual. Neste mesmo ensejo, realizou-se diálogo com o juiz

coordenador, quem mostrou total interesse pelo trabalho do órgão e

entusiasmo pela nova função de âmbito criminal que estava exercendo. A

propósito, indagou acerca do funcionamento do instituto na comarca da capital,

especificamente sobre a segurança dos juízes, localização da carceragem, a

alimentação dos apreendidos e o horário das audiências de custódia, uma vez

que está em planejamento a sua realização no turno da tarde. Outra dificuldade

enfrentada, igualmente encontrada no polo Palmares, é o recolhimento do

autuado em Unidade Prisional (Presídio Juiz Plácido de Souza), sem anuência

judicial, quando a audiência de custódia será realizada no dia seguinte à prisão

em flagrante, porquanto as delegacias locais dos municípios que integram o

Polo Caruaru não possuem aparato para guarnecer os autuados.

No acompanhamento das audiências, notabilizou-se, no pronunciamento

da decisão, a necessidade de justificar a não aplicação das medidas cautelares

diversas da prisão, restando, portanto, a medida mais severa, o aprisionamento

preventivamente. Essa importância decorrer de dever legal (art. 282, §4º e §6º,

do Código de Processo Penal) e deve-se basear em dados concretos,

evitando-se a fundamentação nas características abstratas do delito. Na

audiência presenciada, ponderou o juiz no descumprimento das medidas

cautelares diversas da prisão anteriormente impostas, não remanescendo, ao

seu entender, alternativa, exceto prisão preventiva. Outra circunstância

observada concerne ao extrapolamento da matéria tratada na audiência de

custódia. Porquanto, testemunhou-se formulação de perguntas referente ao

mérito (art. 8º, VIII, da Resolução nº 213 do CNJ), indo além das circunstâncias

atinentes à prisão.

Polo 8 - Limoeiro

No polo de audiência de custódia da comarca de Limoeiro, o MEPCT/PE

teve a oportunidade de dialogar com o diretor do Fórum Des. João Batista

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Guerra Barreto e com o coordenador das audiências de custódia. Na

conversação, exaltaram os magistrados, em tom de protesto, o descaso que é

dado ao indivíduo que lhe é concedida a liberdade provisória, uma vez que

Estado não fornece recursos para subsidiar o retorno deste a sua moradia.

Exemplificaram afirmando que alguns autuados residem em municípios

distantes, como Surubim – 46 km do polo Limoeiro, necessitando, mendigar

nas dependências do Fórum para auferir o valor de um bilhete de transporte

público. Concluíram, nesse aspecto, que a liberdade provisória é revestida de

caráter punitivo. Mencionaram, também, a indisponibilidade de equipamento

para aplicação do monitoramento eletrônico como medida diversa da prisão.

Ressaltaram que qualquer hospital da região realiza a perícia médica que

antecede a audiência. No que se refere à defesa técnica do autuado, noticiou a

ausência episódica da defensoria pública, e por isso, atuam advogados dativos.

No que tange ao horário das audiências de custódia, esclareceram que

normalmente ocorrem no início da tarde, 13h, porém, não é raro a realização

no turno manhã. Foi dito ainda que administram bem as audiências de

custódia, pois há uma escala de sete juízes, em sistema rodízio, disponíveis

para presidi-las.

A carceragem apresenta estrutura adaptada, 02 celas minúsculas

vigiadas por um policial militar. Este último alegou que permite o contato dos

familiares, inclusive para o fornecimento de alimentos. Nos casos em que não

há apoio familiar, o próprio militar e os magistrados auxiliam na alimentação.

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CAPÍTULO 7 - PARTICIPAÇÕES DO MEPCT/PE EM EVENTOS

Por Maria Lygia Koike

1.1. Capacitação sobre o Protocolo de Istambul – Brasília de 28 a 30 de

junho de 2017

O Instituto de Direitos Humanos da International Bar Association – IBAHRI,

a Iniciativa Antitortura do American University Washington College of Law –

ATI/WCL e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura –

MNPCT promoveram a capacitação para os peritos dos mecanismos do Brasil

sobre o Protocolo de Istambul e que teve como facilitadores o médico

psiquiatra Dr. Pau Pérez, com doutorado em psiquiatria pela Universidade de

Madri e perito ad hoc em vários tribunais internacionais em contentas de

vítimas de torturas e desde 2004 capacita pessoas e entidades de classe sobre

o referido Protocolo.

A capacitação contou ainda, com a colaboração da advogada Dra. Sara

López Martin, doutora pela Universidade Autónoma de Madri e que apresentou

ao grupo várias sentenças proferidas pelo Tribunal Europeu dos Direitos

Humanos e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a temática

da tortura.

O Protocolo de Istambul é um importante instrumento das Nações Unidas

para investigação e documentação eficaz para apurar crimes de tortura e

penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes aplicáveis aos

profissionais da área de saúde, notadamente, médicos, enfermeiros e

psicólogos; o Protocolo apresenta normas internacionais aplicáveis ao tema,

códigos de éticas, informações para subsidiar inquéritos legais sobre a prática

da tortura.

A capacitação sobre o Protocolo de Istambul para os profissionais que

trabalham com pessoas privadas de liberdade é de suma importância, primeiro

porque quando bem aplicado, comprova a prática de tortura e posteriormente

pode robustecer ações judiciais que versam sobre a tortura, como também é

importante porque em alguns países que ratificaram este documento, o

Protocolo está sendo mal aplicado pelas autoridades como forma de burlar a

realidade carcerária e afirmar que não há tortura naquele País.

1.2. Encontro Ministério Público e Movimentos Sociais:

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ESTADO DE PERNAMBUCO

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

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No dia 18 de Agosto de 2017, o MEPCT/PE participou do Encontro

Ministério Público e Movimentos Sociais atendendo a recomendação do

Conselho Nacional do Ministério Público de Pernambuco – MPPE, que ocorreu

no auditório do Centro de Formação dos Servidores do Estado de Pernambuco

– CEFOSPE no Recife, com a finalidade de aprimorar a atuação do MPPE e

propor novas formas de atuação em favor da sociedade, orientados pelos

princípios de Direitos Humanos, tudo contribuindo para elaboração de

programas, projetos e ações em seu planejamento estratégico valorizando as

demandas sociais.

Participaram do Encontro, além do MEPCT/PE, diversos movimentos

sociais, membros do MPPE, convidados e autoridades locais.

Durante a manhã houve uma palestra sobre a importância do planejamento

estratégico para a construção dos direitos sociais ministrada por um dos

Promotores de Justiça do MPPE e outra palestra sobre a integração entre o

Ministério Público e os Movimentos Sociais por uma representante da

sociedade civil. À tarde os participantes se dividiram em grupos e se dirigiram

às salas para debater os temas propostos e produzir os relatórios com

propostas e diretrizes para aprovação em plenária para votação.

O MEPCT/PE ficou na sala de trabalho para tratar os seguintes eixos:

Segurança Pública, Patrimônio Público e Sistema Prisional.

1.3. II Encontro Nacional pelo Desencarceramento – Agenda

Nacional pelo Desencarceramento 2016/2017

Nos dias 28 e 29 de outubro de 2017, o MEPCT-PE participou do II

Encontro Nacional pelo desencarceramento que ocorreu no auditório da

Faculdade FOCCA na cidade de Olinda, cuja temática foi o debate sobre

questões e propostas referentes ao desencarceramento. Dentre os

participantes havia diversos movimentos sociais, organizações de Direitos

Humanos, pessoas egressas do sistema prisional e familiares de pessoas

privadas de liberdade de todo o país; muitas destas pessoas trabalham nesta

temática, nos espaços de privação de liberdade e estavam presentes com a

finalidade de discutir uma ideia específica e as nuances do assunto.

O Encontro foi organizado pela Pastoral Carcerária, Instituto de Defensores

de Direitos Humanos – IDDH, GAJOP e Justiça Global com o objetivo de

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ESTADO DE PERNAMBUCO

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

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promover a articulação de ações de enfrentamento ao encarceramento em

massa e às violações de direitos humanos nos sistemas: prisional e

socioeducativo brasileiros. Pois o sistema carcerário reinventa, aperfeiçoa e

multiplica os instrumentos e as práticas de tortura. Tal cenário de violação é

conhecido e reconhecido por vários órgãos nacionais e internacionais que

monitoram os espaços de privação e restrição de liberdade.

A pauta central do Encontro foi a Agenda Nacional pelo Desencarceramento

que contém uma série de propostas amplamente discutidas e elaboradas por

movimentos sociais e organizações da sociedade civil. Apresentada pela

primeira vez em novembro de 2013 e atualizada em 2016, a mesma conquistou

o apoio de coletivos, organizações, movimentos e pastorais sociais.

1.4. Reuniões do Comitê do Sistema Prisional de Pernambuco:

No ano de 2017, através da Portaria da SJDH n.89, de 16.11.2017 o

MEPCT/PE foi incluído na composição do Comitê do Sistema Prisional e

passou a acompanhar as reuniões mensais do Comitê, juntamente, com os

demais representantes de órgãos estatais e governamentais que trabalham

com à segurança pública, (polícias civil e militar, agentes penitenciários, poder

judiciário) e da sociedade civil se reúnem para discutir assuntos específicos do

sistema prisional. As reuniões acontecem, no auditório da Secretaria de Justiça

e Direitos Humanos e buscam encontrar soluções para problemas como a

superlotação, a falta de segurança nos ambientes prisionais e eventuais

práticas ilegais.

1.5. Audiências no Ministério Público de Pernambuco:

O MEPCT/PE faz parte dos seguintes inquéritos civis no Ministério

Público de Pernambuco. Alguns dos inquéritos civis foram instalados em

função das recomendações elaboradas pelo MEPCT/PE quando da produção

dos seus relatórios de visitas:

a) Inquérito Civil n. 17.005.1/8 Estrutura física da Central de Flagrantes da

Capital,

b) Inquérito Civil n. 079/2017, sobre a presença dos chaveiros nas

Unidades Prisionais

c) Inquérito Civil n. 001/08-2015 Sanitários das reeducandas idosas da

Penitenciária Feminina de Abreu e Lima,

d) Inquérito Civil n. 005/08-2015, Limpeza da Caixa D’Água da PFAL,

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MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA RELATÓRIO ANUAL 2017

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e) Inquérito Civil n. 16003-0/8, Direito da população lésbicas, mulheres

bissexuais e homens trans em cárcere na Colônia Penal Feminina do Recife,

f) Inquérito Civil n. 16004.0/8, sobre a garantia de direitos da população

LGBT em cárcere no Complexo Penitenciário do Curado,

g) Inquérito Civil n. 17003-0/8, sobre qualidade de alimentos fornecidos para as reeducandas da Colônia Penal Feminina do Recife.