relatos de vida: o que dizem as mulheres pobres …

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Trabalho de Conclusão de Curso RELATOS DE VIDA: O QUE DIZEM AS MULHERES POBRES ATENDIDAS POR UM CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SOBRE A EDUCAÇÃO DE SUA PROLE Raildo da Silva Gomes Samanta Felisberto Teixeira RESUMO: Esta pesquisa pretendeu fazer um breve resgate da caminhada dos estudos sobre a mulher como responsável pelo sustento e aprendizagem dos filhos e das filhas, propondo uma reflexão sobre a relação e o controvertido debate ao redor da responsabilidade da mulher relativamente à educação de sua prole. Relatos feitos pelas mulheres atendidas no acompanhamento do serviço de Proteção e Atendimento Integrados às Famílias (PAIF) ocasionaram inquietações e questionamentos sobre essa responsabilização e atenção à vida dessas mães. Foram convidadas 80 mulheres, comparecendo 15 mulheres usuárias dos serviços sociais do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e cadastradas no PAIF. Utilizamos a técnica de pesquisa com a aplicação de um grupo focal, por meio entrevista semiestruturada como fonte primária para obtenção dos relatos dessas mulheres. O objetivo principal da pesquisa foi o de compreender a relação dessas mulheres com a (des) educação escolar de seus filhos e de suas filhas. Dentre os múltiplos aspectos que podemos destacar, a pesquisa constatou que essas mulheres são chefes de família e têm orgulho dessa condição de gênero e muitas delas desejam voltar a estudar para sentirem-se bem com elas mesmas e para melhorar sua condição de vida, como também contribuir com a educação escolar de sua prole. Palavras-chave: Mulheres, Contexto Social, Gênero, Educação e Pobreza. 1 INTRODUÇÃO A escola ocupa hoje na sociedade brasileira um espaço relevante na vida e na formação das pessoas que dela fazem parte, mesmo que por um período, no decorrer de uma vida inteira. Algumas vezes a escola cumpre com uma formação cidadã e em outras vezes não provoca diferença na vida daquelas pessoas que vivem à margem de uma sociedade demasiadamente díspar. De acordo com Saviani (1980, p. 51) o papel das instituições educacionais seria o de “ordenar e sistematizar as relações homem-meio para criar as condições ótimas de

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Trabalho de Conclusão de Curso

RELATOS DE VIDA: O QUE DIZEM AS MULHERES POBRES ATENDIDAS POR

UM CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SOBRE A

EDUCAÇÃO DE SUA PROLE

Raildo da Silva Gomes

Samanta Felisberto Teixeira

RESUMO:

Esta pesquisa pretendeu fazer um breve resgate da caminhada dos estudos sobre a mulher

como responsável pelo sustento e aprendizagem dos filhos e das filhas, propondo uma

reflexão sobre a relação e o controvertido debate ao redor da responsabilidade da mulher

relativamente à educação de sua prole. Relatos feitos pelas mulheres atendidas no

acompanhamento do serviço de Proteção e Atendimento Integrados às Famílias (PAIF)

ocasionaram inquietações e questionamentos sobre essa responsabilização e atenção à vida

dessas mães. Foram convidadas 80 mulheres, comparecendo 15 mulheres usuárias dos

serviços sociais do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e cadastradas no

PAIF. Utilizamos a técnica de pesquisa com a aplicação de um grupo focal, por meio

entrevista semiestruturada como fonte primária para obtenção dos relatos dessas mulheres. O

objetivo principal da pesquisa foi o de compreender a relação dessas mulheres com a (des)

educação escolar de seus filhos e de suas filhas. Dentre os múltiplos aspectos que podemos

destacar, a pesquisa constatou que essas mulheres são chefes de família e têm orgulho dessa

condição de gênero e muitas delas desejam voltar a estudar para sentirem-se bem com elas

mesmas e para melhorar sua condição de vida, como também contribuir com a educação

escolar de sua prole.

Palavras-chave: Mulheres, Contexto Social, Gênero, Educação e Pobreza.

1 INTRODUÇÃO

A escola ocupa hoje na sociedade brasileira um espaço relevante na vida e na

formação das pessoas que dela fazem parte, mesmo que por um período, no decorrer de uma

vida inteira. Algumas vezes a escola cumpre com uma formação cidadã e em outras vezes

não provoca diferença na vida daquelas pessoas que vivem à margem de uma sociedade

demasiadamente díspar.

De acordo com Saviani (1980, p. 51) o papel das instituições educacionais seria o

de “ordenar e sistematizar as relações homem-meio para criar as condições ótimas de

Trabalho de Conclusão de Curso

desenvolvimento das novas gerações. Deste modo, o significado da educação, a sua

finalidade, é o próprio homem, quer dizer, a sua promoção”. Entretanto Saviani (1980, p. 52)

constitui o homem como “torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua

situação a fim de poder intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade,

comunicação e colaboração entre os homens”. Expressando assim, a afirmação do autor, de

definir para a educação sistematizada objetivos claros e precisos, quais sejam: educar para a

sobrevivência, para a liberdade, para a comunicação e para a transformação.

Dessa forma, Saviani (1980, p. 172) direciona a luta pela difusão de

oportunidades e pela expansão da escolaridade do ponto de vista qualitativo. Gerando assim,

um papel importante para as escolas, de assumir a função que lhes cabe de investir na

população os instrumentos básicos de participação na sociedade, proporcionando seres

humanos protagonizando sua própria história.

Como o próprio nome alude, escola é um local de seres humanos que desejam

por um mesmo objetivo, o de aprenderem, socializarem e criarem relações, e incide também

em um ambiente em que a principal finalidade é o conhecimento. Todavia, hoje, as

competências básicas que são socializadas, já não são satisfatórias, pois faz-se mais

necessários que ensine, nas escolas, as competências para sobreviver, boa comunicação oral e

escrita, pensamento crítico, curiosidade e colaboração.

Nesta perspectiva é preciso que haja, então, um empenho para que a escola

trabalhe bem, para que tenha métodos de ensino eficazes. Entretanto neste sentido, Saviani

(1983) elabora o Método da Prática Social que estimulará:

[...] a atividade e a iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do

professor; favorecerá o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem

deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levará em

conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento

psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos,

sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos

conteúdos cognitivos (SAVIANI, 1983, P. 72-73).

É nesse sentido que a escola torna-se um espaço privilegiado para que exista um

desenvolvimento de conhecimento crítico servindo de base para a construção e entendimento

da realidade, proporcionando questionar a realidade vivenciada e procurar respostas para as

lacunas existentes no cenário vivenciado por esses usuários que frequentam diariamente a

instituição escolar.

Trabalho de Conclusão de Curso

De acordo com Frigotto (1999), a escola é uma instituição social que, mediante

sua prática no campo do conhecimento, dos valores, atitudes e, mesmo por sua

desqualificação, articulam determinados interesses e desarticula outros.

A escola em seu interior possui muitas contradições, que tem possibilidade de

mudança, haja vista as lutas que são travadas diariamente. Em seu cenário a educação por si

só não traz as soluções de todos os problemas, mais contribui na compreensão dos mesmos.

Podemos unir o conhecimento à ação diária, proporcionando modificações neste cenário,

entretanto é preciso envolver os atores sociais e suas contradições em um projeto que envolva

a todas as pessoas.

Ferreira (2005, p. 72) argumenta que “o desenvolvimento de qualquer sujeito está

articulado com sua constituição orgânica mais é fundado, constituído na vida coletiva”. É,

pois, na coletividade, nas relações sociais que se concretiza a aprendizagem. Dessa forma a

escola pode ser concebida “como um espaço privilegiado de vivência compartilhada de

atividades humanas” (FERREIRA, 2005, p. 73). Assim, justificando a inclusão para o pleno

desenvolvimento do sujeito.

Constantemente nos questionamos a respeito da educação e sua função na

transformação social e de como fazer uma educação transformadora inserida em um contexto

no qual grande parte das forças do sistema educacional insiste em se manter e resiste à

mudança do modelo engessado, sem fazer uma leitura da realidade vivenciada pelos usuários

em um cenário com múltiplas diversidades.

O intuito de analisar fatores relevantes sobre mulheres/mães na educação de sua

prole decorrem do trabalho direto com a Política Nacional de Assistência Social, com

famílias no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV) e desses sujeitos

marginalizados de todo o processo de conquistas sociais e pobres.

As dificuldades apresentadas por uma parcela das crianças e adolescentes nos

hábitos diários no ambiente escolar e contestar uma realidade oposta ao androcentrismo,

propondo um cenário igualitário, compartilhamento das responsabilidade masculina e

feminina com seus filhos e filhas e que para ser entendido na escola deva ser iniciado em

casa, dessa forma o estudo teve como proposta: buscar uma reflexão sobre o entorno dessas

mulheres, ou seja, o que é evidenciado no cenário escolar por meio das práticas educacionais,

linguagens e silêncios relativamente à relação filho-filha/escola/mãe-pai.

Trabalho de Conclusão de Curso

Esta pesquisa pretendeu observar a partir da perspectiva de mulheres pobres que

são acompanhadas pelo Sistema Único de Assistência Social – SUAS e beneficiárias do

Programa Bolsa Família quais são as dificuldades de ajudar sua prole no ambiente escolar.

Assim, o objetivo do trabalho foi compreender a relação das mulheres e o grupo

familiar, propondo uma reflexão ao redor da culpabilização da mulher com a (des) educação

escolar de sua prole.

Mais que isso, a discussão aqui proposta esboçou alguns conceitos acerca das

condições do acompanhamento escolar, por meio do acolhimento e escuta qualificada dessas

usuárias.

O caminho percorrido foi conhecer e dar visibilidade ao cotidiano das mulheres

pobres, identificando suas estratégias de sobrevivência para o sustento da família, buscando

identificar o posicionamento dessas mães em relação à escola e a aprendizagem dos seus

filhos e suas filhas e para finalizar caracterizamos como se constitui a família no ambiente

escolar.

Para essa pesquisa foram selecionadas mulheres, usuárias de um CRAS, de forma

intencional e por meio de convite às mães, conforme as especificidades do estudo.

Participaram deste estudo mulheres pobres que são acompanhadas pelo Sistema Único de

Assistência Social – SUAS e beneficiárias do Programa Bolsa Família e que apresentam

dificuldades no processo de escolarização dos seus filhos.

Como um equipamento social de proteção social básica, aos CRAS compete:

Prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e

aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à

população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza,

privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre

outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento

social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras)

(BRASIL, NOB, 2004, p. 33).

O CRAS se constitui como um local público de atendimento às famílias

referenciadas conforme a abrangência territorial e tem o “objetivo de fortalecer a convivência

com a família e com a comunidade, possibilita o acesso da população aos serviços, benefícios

e projetos de assistência social” (BRASIL, 2016).

Nesse espaço que se concretiza a ação técnica com as famílias que participam do

PAIF, cujo principal objetivo é “apoiar as famílias, prevenindo a ruptura dos laços,

Trabalho de Conclusão de Curso

promovendo o acesso a direitos e contribuindo para melhoria de qualidade de vida”

(BRASIL, 2016).

Desse modo, para analisar os aspectos da responsabilidade das mulheres/mães

neste contexto foi realizado um grupo focal com mulheres acompanhadas pelo PAIF do

CRAS na região Prosa do município de Campo Grande – MS.

A realização de um grupo focal (GF) se apoiou em hipóteses relacionadas ao

tema proposto e favorecerem a compreensão e a explicação dos acontecimentos sociais, bem

como por nos permitir mais liberdade na coleta de informações (MANZINI, 2003), além de

pontuar questões relativas à responsabilização e culpabilização das mulheres, usuárias do

serviço.

Quanto a análise dos dados e o desenvolvimento do estudo se deram mediante

pesquisa bibliográfica por primar recolher informações e conhecimentos prévios ao que se

propõe, no caso das mulheres/mães e com responsabilidade na educação da sua prole no

processo escolar.

Neste trabalho, destacamos a compreensão das atuais ações voltadas para a

valorização das relações entre família e escola, destacando quais os avanços em relação ao

benefício do PBF e a continuidade dos filhos na escola e através desses relatos de vida dessas

mulheres/mães com a (des) educação escolar de seus filhos e de suas filhas. Assim, buscando

o simples acesso a informações e orientações que interfere diretamente na qualidade de

convivência das mulheres com seus filhos.

2. OS RELATOS SOBRE A POBREZA E OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA

De acordo com a Constituição Federal – CF de 1988, Art. 5º:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se

aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL, 2012, p.8).

Foi um marco a Constituição de 1988, uma vez que introduziu a Assistência

Social no campo da Seguridade Social, enquanto política que compõe o sistema de proteção

social no Brasil, em conjunto com a previdência social e a saúde. Entretanto, a assistência

social passou a ser reconhecida enquanto política pública de caráter não contributivo, como

dever do Estado, direcionada a quem dela necessitar.

Trabalho de Conclusão de Curso

E foi na década de 1990, no Brasil, foram introduzidas perspectivas neoliberais

por organismos internacionais e multilaterais (Banco Mundial e Fundo Monetário

Internacional – FMI), gerando significativas transformações no contexto nacional e, por

conseguinte, no Serviço Social brasileiro. Em meio às expressões e cenários das questões

sociais no mundo contemporâneo, pôde-se verificar um aumento expressivo da desigualdade,

cujos efeitos na vida da população atendida pelo Serviço Social são extremamente

significativos.

Quando reconhecemos que o pobre existe, que os pobres chegam às salas de aula,

entre ele, estão 17 milhões de crianças e adolescentes participantes do Programa Bolsa

Família, os quais frequentam cotidianamente a escola (CENSO ESCOLAR, 2013 apud

ARROYO, 2015).

Ver a pobreza como carência é uma postura comum, por conseguinte, os pobres

como carentes. Entretanto, de que forma esse desprovimento é, muitas vezes, entendido?

Percebemos que, na pedagogia, frequentemente ele tem sido compreendido como escassez de

espírito, de valores e, inclusive, incapacidade para o estudo e a aprendizagem (ARROYO,

2015).

A pobreza no Brasil é, portanto, a desigualdade social, histórica,

multidimensional e estrutural. Assim sendo, a evidência na história da pobreza, é também,

fruto de um processo de colonização que aconteceu nessa mesma terra com objetivo

exclusivo de exploração das riquezas minerais e vegetais do país que estava submetido ao

capital externo, o que gerou o enriquecimento dos que estavam hierarquicamente no poder.

Quando desafios para uma política bastante nova a da Assistência Social que tem uma

herança de pobreza e a desigualdade social que carregam dimensões culturais, sociais,

econômicas e históricas.

No ano de 2003, foi criado, pelo governo Lula, o Bolsa Família, a partir da

unificação de programas remanescentes como: Cartão Alimentação, Vale Gás e Bolsa Escola,

que foram configurados em um único benefício social de transferência de renda. Vale

considerar o número significativo de famílias, hoje, beneficiárias do programa e, desse modo,

usuárias da política de assistência social, por meio do CRAS, enquanto público prioritário de

intervenção, conforme orientação dada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS).

Trabalho de Conclusão de Curso

O PAIF compõe um dos serviços de proteção social básicos ofertados pelos

CRAS, cujo objetivo é fortalecer a função protetiva das famílias, visando a: prevenção de

ruptura de vínculos; promoção do acesso e usufruto de direitos; e o desenvolvimento de

trabalho social com famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF). Esse trabalho é

fundamental na medida em que se considera a proteção social para além da transferência de

renda. Parte-se, assim, da compreensão de que o trabalho social pode viabilizar ações do

poder público dirigido às famílias beneficiárias do programa em questão, com a finalidade de

disseminar informações, de modo a promover a garantia do acesso aos direitos,

proporcionando, desse modo, a superação das vulnerabilidades sociais para além da renda.

Em um cenário em que o Estado adota perspectivas neoliberais que priorizam o

mercado e o capital em detrimento do social, há que se considerar que se instaurou, no Brasil,

um processo de exclusão social, desse modo, é necessário desenvolver um olhar cauteloso

para a realidade circundante e, ao mesmo tempo, ser realista e propositivo na elaboração de

políticas e programas sociais, considerando a necessidade efetiva das famílias que são a

demanda do cotidiano de trabalho no CRAS.

2.1 O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E SUA IMPORTANTE CONTRIBUIÇÃO

PARA UMA VIDA DIGNA

O Programa Bolsa Família, criado pela medida provisória no 132, de 20 de Outubro

de 2003, transformada na Lei no 10.836, de 09 de janeiro de 2004, e regulamentado

pelo Decreto no 5.209, de 17 de setembro de 2004, é o principal programa de

transferência de renda do governo federal. Constitui-se num programa estratégico

no âmbito do Fome Zero – uma proposta de política de segurança alimentar,

orientando-se pelos seguintes objetivos: combater a fome, a pobreza e as

desigualdades por meio da transferência de um benefício financeiro associado à

garantia do acesso aos direitos sociais básicos – saúde, educação, 6 assistência

social e segurança alimentar; promover a inclusão social, contribuindo para a

emancipação das famílias beneficiárias, construindo meios e condições para que

elas possam sair da situação de vulnerabilidade em que se encontram (BRASIL.

MDS, 2006).

O Programa Bolsa Família decorreu da precisão de unificação dos programas de

transferência de renda no Brasil, conforme diagnóstico sobre os programas sociais em

desenvolvimento, elaborado durante a transição do governo Fernando Henrique Cardoso para

o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi elaborado visando minimizar: 1) a ocorrência de

sobreposições de programas, definindo objetivos e público alvo; 2) desperdício de recursos

Trabalho de Conclusão de Curso

por falta de uma coordenação geral e dispersão dos programas em diversos ministérios; 3)

falta de planejamento e mobilidade do pessoal executor, 4) alocações orçamentárias

insuficientes, com o não atendimento do público alvo conforme os sete critérios de

elegibilidade determinados (BRASIL, 2002).

Primeiramente, a unificação proposta ficou restrita a quatro programas federais:

Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Vale Gás e Cartão Alimentação, e em 2005, a incorporação

do PETI e do Agente Jovem. O governo federal criou o programa Bolsa Família, em 2003,

para apoiar as famílias mais pobres e garantir o direito à alimentação.

Entretanto, há a transferência de uma renda mensal diretamente para as famílias e

as mesmas fazem o resgate deste valor através de saque com cartão magnético distribuído

pela Caixa Econômica Federal.

O SUAS tem buscado efetivar em todos os municípios brasileiros a implantação

de no mínimo um CRAS que venha a atender os serviços de proteção social básica, os quais

são executados de forma direta à população. Os Centros de Referência de Assistência Social

– CRAS, também chamados de Casa das Famílias, têm como objetivo ser a referência local

de assistência social, ser tão conhecido quanto uma escola, ou um posto de saúde e

concretizar os direitos socioassistenciais, ofertando e coordenando em rede, visando à

interligação dos serviços, benefícios, programas e projetos da proteção social básica às

demais políticas públicas locais, desenvolvendo ações que previnam situações de risco social,

por meio do desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento dos vínculos familiares

e comunitários (SIMÕES, 2007). Famílias essas atendidas através de uma ampla rede de

serviços, benefícios, programas e projetos, desenvolvidos no território de abrangência:

O trabalho com as famílias, referenciadas no território de abrangência do CRAS,

privilegia a dimensão socioeducativa da política de Assistência Social na efetivação

dos direitos relativos às seguranças sociais afiançadas. Assim, as ações profissionais

relacionadas aos serviços prestados no CRAS devem provocar impactos na

dimensão da subjetividade política dos usuários, tendo como diretriz central a

construção do protagonismo e da autonomia na garantia dos direitos com superação

das condições de vulnerabilidade social e potencialidades de riscos (MINISTÉRIO

DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2006, P. 13).

O número de famílias referenciadas a um CRAS é definido de acordo com o porte e a

taxa de vulnerabilidade do município. Sendo assim, o município de Campo Grande possui

Trabalho de Conclusão de Curso

dezenove CRAS em toda sua extensão territorial e configura-se entre os municípios de

grande porte III.

2.2 CAMINHOS DA PESQUISA

O presente trabalho se constituiu em uma pesquisa de campo e se configura em

um estudo de caso e pesquisa bibliográfica. Para tanto foi realizado um levantamento dos

pressupostos teóricos referente à temática e um grupo focal com as mulheres selecionadas

para a pesquisa e a análise dos dados obtidos.

O método é um conjunto de vias, utilizado num determinado contexto para

obtenção de dados e informações que colaboraram nas explicações ou compreensões do

problema. Optamos pelo método qualitativo enfatizando que desse modo pudéssemos estudar

o problema de pesquisa de forma direta, tentado buscar sentido ou interpretar os

acontecimentos a partir das significações atribuídas por aquelas pessoas que vivenciam a

problemática (DENZIN E LINCOLN, 1994 APUD TURATO, 2005).

O grupo para a pesquisa deste estudo foi selecionado de forma intencional e por

conveniência de acordo com as especificidades do estudo. Participaram deste estudo

mulheres/mães pobres que são acompanhadas pelo SUAS, beneficiárias do Programa Bolsa

Família e que apresentavam dificuldades no processo de escolarização de sua prole.

Especificamente foi utilizada a técnica de Grupo Focal (GF), com a utilização de

questões semiestruturadas como fontes primárias para obtenção dos principais dados da

pesquisa.

O grupo focal pode ser definido como uma forma de entrevista grupal, baseada na

comunicação e na interação entre as pessoas do grupo. Desta forma, o grupo focal pode ser

caracterizado como sendo uma técnica de pesquisa qualitativa, de modo que, seu principal

objetivo é a obtenção de dados sobre um tema especifico proposta em um grupo específico

(MORGAN, 1997; KITZINGER, 2000 APUD TRAD, 2009).

De acordo com Manzini (2004), a entrevista semiestruturada está focalizada em

um assunto sobre o qual produzimos um roteiro com perguntas principais, complementadas

por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Entretanto para o

autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as

respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas.

Trabalho de Conclusão de Curso

O grupo focal para a coleta dos relatos das mulheres aproxima-se mais de um

diálogo, com assuntos focados, do que numa entrevista formal, baseando-se numa entrevista

adaptável e não rígida. A vantagem desta técnica é a sua possibilidade e flexibilidade rápida

de adaptação.

A pesquisa foi realizada em um local privativo dentro de um CRAS, no qual

estavam presentes o pesquisador e as participantes do grupo, em um ambiente adequado à

pesquisa. O número de mulheres participantes no grupo focal (GP) realizados foi de 15

mulheres beneficiárias, o local escolhido para a realização da atividade contribuiu muito para

a participação delas, facilitando o deslocamento dessas mulheres/mães.

Foram realizadas explicações sobre a abordagem e convite para participação na

pesquisa, sigilo, objetivos, devolutiva da pesquisa e desistência, o esclarecimento de

eventuais dúvidas foi oferecido às participantes. Também foram dadas explicações sobre os

meios de divulgação dos resultados da pesquisa. Após o aceite das participantes em responder

a entrevista, foram solicitada a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.

Após a coleta dos dados foi feita uma leitura criteriosa do conteúdo das narrativas

para identificar os aspectos psicossociais nos discursos das participantes. Com embasamento

em todas as narrativas decorrentes e com apoio dos pressupostos teórico-metodológicos

escolhidos foi possível proceder à descrição e análise do das informações coletadas.

3. MANEJO E ANÁLISE DE DADOS

Essa etapa da pesquisa se ocupou de conhecer as mulheres/mães beneficiadas do

PBF, sobretudo o que relatavam a respeito do desempenho escolar dos seus filhos e suas

filhas, além de indicar suas dificuldades em ajudar sua prole no ambiente escolar. Conforme

descrição feita na introdução da presente pesquisa, foram convidadas 80 mulheres/mães

comparecendo 15 beneficiarias, resultando em 20% das convidadas (com crianças na escola).

Optar pela realização da pesquisa em grupo focal, foi acreditar que esta técnica

aprofunda a interação das participantes, a ideia por detrás do método do grupo focal é que as

etapas grupais auxiliam as pessoas a explorar e problematizar em conjunto os

questionamentos feitos pelo pesquisador, de tal modo que seriam menos facilmente acessíveis

em uma entrevista frente a frente, feita individualmente. As reflexões em grupo são

particularmente adequadas quando o pesquisador deseja estimular as pessoas da pesquisa a

Trabalho de Conclusão de Curso

explorar os aspectos importantes para eles e para elas, com sua própria linguagem, ensejando

suas próprias perguntas e estabelecendo suas prioridades (POPE; MAYS, 2009).

No mesmo raciocínio de Minayo (2008) os grupos focais são utilizados para: (a)

focalizar a pesquisa e formular questões mais precisas, ou seja, ir do geral para o particular;

(b) complementar informações sobre conhecimentos peculiares a um grupo em relação a

crenças, atitudes e percepções; (c) desenvolver hipóteses para estudos complementares. Além

disso, a autora conclui que essa técnica é utilizada cada vez mais na atualidade.

Desse modo, o objetivo da escolha dessa técnica é identificar percepções,

sentimentos, atitudes e ideias das usuárias a respeito de um determinado assunto, produto ou

atividade. Assim, o grupo focal consiste exatamente na interação das participantes com o

pesquisador, que durante a condução do grupo atua como mediador. Objetiva colher dados

com base na discussão focada em tópicos específicos e diretivos (IERVOLINO, PELICIONI,

2001).

O grupo focal foi gravado e posteriormente transcrito para permitir uma análise

mais detida ao objetivo da pesquisa. A partir das escutas sucessivas realizamos a

sistematização dos seus conteúdos, a categorização e a análises mais refinada do material

obtido (MINAYO, 1992).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi dividida em quatro momentos distintos, o primeiro momento

(perguntas 1 e 2) como é a rotina de cada mãe e a organização da dinâmica família antes de

receberem o benefício do Bolsa Família. Na segunda parte (perguntas 3, 4 e 5), procuramos

entender a relação da escola, mãe, incentivo dos pais e mães dessas mães e diferença do

tempo que estudou para os dias de hoje, que seus filhos estudam. Na terceira parte (perguntas

6, 7 e 8) a correlação do PBF, melhoria de bem-estar no desempenho escolar e a frequência

na escola. E na quarta parte (perguntas 9, 10 e 11) qual a contribuição dessa mãe nos afazeres

escolares, a sua relação com a escola e a sua ida por alguma intercorrência do seu filho e se

tem alguma razão sua ida à escola.

O local escolhido para realizar o grupo focal, contribuiu muito para deixar as 15

mães a vontade para expressar suas respostas, sem constrangimento. Pois, no local onde

realizamos o grupo focal é o ambiente que seus filhos e suas filhas frequentam todos os dias.

Trabalho de Conclusão de Curso

Contribuindo para que essas mães se sentissem acolhidas e pudessem interagir sem ressalvas,

considerando, inclusive, que estavam em um ambiente de formação para a cidadania de sua

prole.

No Quadro 1 – Características das mães participantes do grupo focal apresentam

informações relativas à caracterização das mulheres/mães participantes da pesquisa:

Quadro 1 – Características das mães participantes do grupo focal

Mães do

grupo focal Idade Escolaridade

Estado

Civil

Renda

Familiar Religião

Nº de

pessoas

que

moram na

casa

Nº de Crianças

e Adolescentes

que estudam e

recebem o

Bolsa Família

MGF 01 53 a Alfabetizada Separada 434,00 Evangélica 12 04

MGF 02 38 a EFI União

Estável 880,00 Católica 05 03

MGF 03 48 a Alfabetizada Casada 880,00 Não

Respondeu 07 05

MGF 04 29 a EFC Solteira 300,00 Não tem 06 04

MGF 05 31 a EFI União

Estável 766,00 Não tem 04 02

MGF 06 39 a EMI Solteira 102,00 Evangélica 10 07

MGF 07 33 a EFI Solteira 350,00 Não tem 09 03

MGF 08 34 a EFI Solteira 200,00 Não tem 10 06

MGF 09 20 a EMC Solteira 100,00 Não tem 03 01

MGF 10 24 a EFI Solteira 200,00 Católica 05 03

MGF 11 23 a EFI Solteira 234,00 Católica 07 04

MGF 12 20 a EFC Solteira 167,00 Não tem 08 05

MGF 13 19 a EMI Solteira 456,00 Não tem 04 02

MGF 14 27 a EFC Solteira 150,00 Não tem 06 03

MGF 15 36 a EFC Solteira 500,00 Católica 08 05

Legenda: MGF – Mães do Grupo Focal EFI – Ensino Fundamental Incompleto

EFC – Ensino Fundamental Completo EMC – Ensino Médio Completo

EMI – Ensino Médio Incompleto a – Anos

As mães participantes desta pesquisa apresentaram idade mínima de 19 anos e

máxima de 53 anos. Quando analisamos o indicador de escolaridade dessas mães,

Trabalho de Conclusão de Curso

identificamos o fato de que apenas uma delas detinha Ensino Médio completo e quatro

detinham Ensino Fundamental Completo, seis Fundamental Incompleto, duas com Ensino

Médio Incompleto e duas Alfabetizadas.

A família beneficiada pelo PBF, na pessoa da mulher/mãe, assume o

compromisso de investir na educação, saúde, alimentação de suas crianças e adolescentes.

Após a leitura exaustiva das falas das mães entrevistadas, pudemos apreender, na perspectiva

da escuta qualificada, compreender a relação das mulheres/mães e o grupo familiar, propondo

uma reflexão sobre a culpabilização da mulher com relação a (des)educação escolar,

conforme as perguntas que permearam toda a nossa pesquisa.

4.1 MULHERES POBRES E A EDUCAÇÃO DE SUA PROLE

A maioria das mulheres que contribuíram na construção dessa pesquisa fazem

parte do território do CRAS e em boa parte das discussões no grupo permeio a importância

que tem o benefício do PBF, como também o CRAS na vida dessas mulheres.

No entendimento da potência e da capabilidades de superação das adversidades

da vida cotidiana, a escolaridade e a educação na concepção de mundo das mulheres ainda é

significativo para dar um sentido a sua vida e a vida de seus filhos. A pesquisa sinalizou que

a grande maioria não deu prosseguimento a sua escolarização, o que nas falas fica evidente,

quando o sentimento é qualidade de vida para si mesma e para com seus filhos. “Eu só penso

em trabalhar, as vezes esqueço que tenho filhos, e me sinto culpada por não poder ajudar

nos afazeres escolares, tenho pouco estudo. Mais é assim mesmo né?... meu sonho é voltar a

estudar novamente” (MGF 09)

As perguntas que nortearam a pesquisa, proporcionou criar momentos de refletir a

rotina e organização de mulher em sua rotina diária, constando que a esse dia a dia é corrido,

cansativo chegando a exaustão e com pouco tempo de contato com seu filho.

Proporcionou assim constatar que a escolarização é bem defasada, por diversos

motivos, e essa baixa escolaridade no caso dela foi transmitida de pai para filho,

configurando assim um ciclo de geração que foi reproduzido por elas.

Em relação ao desempenho escolar, as mulheres/mães reconhecem que o PBF

incide de forma muito positiva. Alguns fatores, conforme seus relatos contribuem para

melhorias em suas condições de vida: o medo de perder o benefício como um dos fatores que

Trabalho de Conclusão de Curso

auxiliam as crianças e adolescentes a permanecer na instituição escolar, maior motivação por

parte dos filhos em estudar e outro ponto muito importante e terem mais condições

financeiras de comprar materiais escolares, roupas e calçados.

Chama a atenção a quantidade de mulheres responsáveis pelas famílias que se

declaram solteiras e divorciadas, significando assim que uma parte significativa das famílias

convive com processos de famílias monoparentais. Essas mulheres são responsáveis diretas

pela criação dos filhos. São elas, em última instância, as provedoras imediatas.

Nessa relação de escolarização, escola e mães é muito claro nas falas das

entrevistadas que tem desejo de retornar a estudar, para ter um melhor futuro para ela mesmas

e para os filhos, como também contribuir nos afazeres de seus filhos.

4.2 COMO É A ROTINA DE VOCÊS: O QUE FAZEM DIARIAMENTE?

“ Meu dia a dia é trabalhar e trabalhar, chego em casa muito cansada e o meu desejo

é somente descansar, só que preciso ainda fazer janta para os meninos” (MGF 03)

“Acordo cedo, arrumo as crianças, mando ir para a escola e vou trabalhar... eu

trabalho três vezes na semana como faxineira, trabalho exausto, mais preciso

sustentar minha família, sou sozinha e penso em voltar a estudar” (MGF 15)

“É uma correria, tenho que arrumar as crianças, deixar na escola, e durante o dia

elas se organizam e as vezes ligo para elas, quando sobra um tempo e quando chego

tenho que trabalhar mais em casa, uma vida cansativa demais” (MGF 01)

“Eu só penso em trabalhar, as vezes esqueço que tenho filhos, e me sinto culpada

por não poder ajudar nos afazeres escolares, tenho pouco estudo. Mais é assim

mesmo né?... meu sonho é voltar a estudar novamente” (MGF 09)

Segundo SAFFIOTI (1976), nas sociedades pré-capitalistas as mulheres das

camadas baixas da sociedade sempre estiveram ativas na produção, contribuindo para o

sistema econômico e para subsistência da família, a instituição família existiu como uma

unidade de produção, as mulheres e as crianças desempenharam um papel econômico

fundamental.

Contrapondo a autora acima citada, fica evidente que nesta primeira questão

observamos que a maioria das mães trabalham muito, algumas chegam à exaustão, e que

Trabalho de Conclusão de Curso

além de organizar suas crianças para estarem no horário certo na escola, deixando na porta da

escola, e uma diz que durante o dia entra em contato através do celular. Percebe que deixar na

porta da escola demonstra o cuidado para que seus filhos estejam no horário certo e que não

desviem a rota.

Outra questão levantada é quando no final da tarde a chegada em casa: depois de

um dia exaustivo de trabalho, precisam organizar a janta para alimentar a família. A correria

parece que é um obstáculo como também a culpa por não priorizar um tempo de aconchego,

encontro entre mãe e filho e o desejo de retorno aos estudos para proporcionar um futuro

melhor, como também contribuir nos estudos de sua prole.

4.3 COMO VOCÊ ORGANIZAVA SUA VIDA E DE SUA FAMÍLIA ANTES DO PBF?

“Ai, ai, ai ... (risos) não era nada organizado, sempre faltava algo e ainda falta, mais

com menos frequência, agradeço muito ter o CRAS para organizar ainda mais

minha vida e a dos meus filhos, e o PBF é uma benção em minha vida, pois através

desse benefício consigo comprar mais comida, mistura principalmente e roupas para

meus filhos... me ajuda muito” (MGF 03)

“Será que era organizada? Não me lembro. O valor que recebo é pouco, mais

sinceramente me ajuda muito, na alimentação e para comprar coisas de material

para a escola” (MGF 04)

“Me organizava da forma que dava para comprar um pouco de cada coisa de comer,

as vezes faltava porque o dinheiro não dava mesmo ... outra hora tínhamos que

escolher o que era importante para comprar, mais estamos aqui. Já passamos muita

dificuldade, hoje menos, mais como sou diarista, tenho me esforçado para que não

falte nada ... mas ultimamente está difícil encontrar diária, ainda temos um pouco de

dificuldade, mais esse dinheirinho do Bolsa Família nos ajuda muito” (MGF 03)

“ Antes era tão difícil uma organização sem dinheiro, mais também hoje está tão

difícil, pois é muita coisa que tem que fazer para receber o benefício, o filho não

pode faltar na escola, é preciso vacinar e hoje o serviço público está ruim, escola

que não dá ouvidos a gente, a saúde que nunca tem médico, as vezes dá um

desespero... as vezes penso em voltar a estudar para concluir meus estudos e

conseguir um trabalho melhor” (MGF 08)

Trabalho de Conclusão de Curso

Na busca de suprir suas necessidades, o que se compreende é que os pobres

sacrificam uma necessidade para atender outras, por isso, a necessidade acaba por impedir a

liberdade. As obrigações podem se constituir em fatores: materiais, como alimentação, saúde,

educação, transporte, vestuário etc.; ou imateriais, como autoestima, afeto, participação,

criatividade, identidade, liberdade, etc (SANTOS, 2002).

De acordo com as entrevistadas não tinha organização financeira, o que tinha era

uma preocupação em conseguir sustentar seus filhos, mais com muita dificuldade. Depois de

constar na lista de beneficiaria muitas conseguem se organizar financeiramente, mais que

ainda está difícil, mais com menos dificuldade como antes.

Uma das mães sente dificuldades por conta dos critérios para receber o benefício,

indicando uma possível dificuldade de que ela tenha em lidar com normas e critérios.

4.4 - ATÉ QUE SÉRIE ESCOLAR VOCÊ ESTUDOU? E COMO ERA NO TEMPO DE

ESCOLA?

“ Muito pouco, sei escrever meu nome somente, mais tenho vontade de voltar a

estudar, mais acho que já estou velha ... (risos) passei do tempo” (MGF 03)

“ Foi devido a gravidez do meu primeiro filho que deixei a escola, tenho vontade de

estudar, quem sabe eu volto a estudar, tenho a quarta série ... minha mãe jogo direto

na minha cara, que preciso voltar a estudar ... mas está tão difícil devido meu filho

pequeno” (MGF 07)

“ Terminei a oitava série naquela época. hoje nem sei mais como é, mais tenho

vontade de voltar, saber mais, não ser tão “burra” ... ser mãe solteira e sozinha é

muito difícil... estamos sempre na luta diária para sustentar nossos filhos” (MGF

08)

“...Nunca estudei, tenho vontade de estudar, o que sei mesmo é escrever meu nome,

as vezes tenho vergonha e é por isso que quero que meus filhos estudem, faça uma

faculdade ou sei lá” (MGF 01)

“ Meu grande sonho e que meus filhos estudem, pois eu fui mãe muito cedo e tive

que sair, não por falta de incentivo, mais ser mãe não é fácil e ter que trabalhar,

cuidar dos filhos e da casa ... é muita coisa” (MGF 15)

Trabalho de Conclusão de Curso

A pergunta foi pertinente para que as mães se situassem com relação à realidade

de sua prole na escola, pois segundo os relatos delas, sabem que estudaram muito pouco. E

entendem que isso não seria um futuro desejável para as crianças, assim configurado pelo

incentivo do filho e da filha permanecer na escola. Das mães, uma nunca estudou e outra sabe

escrever o nome, mais que o grande desejo é voltar a estudar, por mais que se ache velha, isso

demonstra que a escola é vista como uma ferramenta importante na mudança de vida e

situação social em que se encontram, contribuindo no incentivo do filho e da filha na

continuidade dos estudos.

4.4 SEUS PAIS INCENTIVAVAM VOCÊ NO ESTUDO? SE SIM, COMO ERA ESSA

AJUDA?

“ Olha ... não me lembro, mais eu tinha o que comer, acredito que foi mais

desânimo e também a vontade de ter alguma coisa melhor, que me fez ir trabalhar

depois ter filhos, e hoje estou aqui, sem estudo e com filhos para sustentar” (MGF

15)

“ Meus pais sempre dizia para eu ir estudar para ser alguém no futuro, meus pais me

ajudava como podia, nunca sentou comigo para me ajudar, pois eles não tinham

estudo suficiente ... (choro)” (MGF 13)

“ Fui criada somente com meu pai, minha mãe morreu cedo, e meu pai vivia

trabalhando e eu iniciei minha vida sexual muito cedo e com isso logo veio meus

filhos e estou aqui com pouco estudo e com filhos para criar, mais incentivo os

meus (filhos), vamos ver o que dá”. (MGF 09)

“ Não ... eles não sabiam nem pra eles, mais não faltava comida em casa, era tudo

simples, mais tinha e eu que não quis estudar mesmo, hoje quero muito que meus

filhos estudem”. (MGF 03)

De acordo com as entrevistadas, a relação dos pais com a escola é uma

reprodução, pois os pais não estudaram, resultando assim que as filhas abandonassem a

escola, por incentivo, por não se interessar ou até mesmo gravidez precoce.

Trabalho de Conclusão de Curso

O desejo de uma das entrevistadas era que estudasse para ser alguém na vida, por

mais que não tivesse estudo, configurando assim a importância do ensino para seus filhos,

para ter condições melhores na vida.

4.5 PARA VOCÊ TEM ALGUMA DIFERENÇA ENTRE O PERÍODO QUE VOCÊ

ESTUDOU, PARA OS DIAS DE HOJE QUE SEUS/AS FILHOS/AS ESTUDAM?

“ Pra mim, não tem nada de novo, o que tem de diferente são as violências diárias,

com nossos filhos no final da aula e outras violências são os professores que falam

alto, as vezes até xingam... muito triste” (MGF 12)

“Deixa eu pensar ... para mim que estudei a muito tempo atrás tem sim. Percebo que

tem muito projeto hoje, que antes não tinha, mais coisas diferentes, como festas,

gincana, projeto ao sábado e também contra turno ... mais que muitas vezes não

agrada os nosso filhos, mais eu gostaria muito que tivesse em meu tempo, meus

filhos ficam na escola pela manhã e à tarde estão no CRAS que sinceramente me

deixa mais tranquila para trabalhar” (MGF 06)

“Olha estou pensando aqui, se tivesse tantas coisas na escola (projetos, esportes) no

meu tempo, acho que não sairia da escola para ter filhos, mais precisa ter mais

professores que gostam do que faz, porque as vezes quando vou buscar meus filhos

na escola, fico olhando alguns professores muito estressado” (MGF 05)

Hoje conforme os depoimentos das mesmas, a escola é diferente em sua

metodologia, sua dinâmica, mas que mesmo assim os filhos nem sempre estão na mesma

sintonia que a escola. Uma das mães fica tranquila, no dia a dia, visto que trabalha o dia todo,

que além da escola o CRAS acolhe os filhos deixando-a mais segura.

Um recorte que uma das mães fala é sobre a violência diária na escola, sinal que a

mesma vai buscar seu filho todo dia. Percebe pelas falas que a violência também parte dos

educadores que além de exaltar a voz, usam de palavrões com seus filhos.

Trabalho de Conclusão de Curso

4.6 VOCÊ ACHA QUE O PBF TROUXE ALGUM BENEFÍCIO/MELHORIA PARA A

SUA FAMÍLIA QUE RECEBEM O BENEFÍCIO? EM QUE MELHOROU?

“ Olha gente ... vou dizer por mim e minha família ajudou, tem ajudado muito e

tenho medo de não ter mais ele para contribuir com a renda em casa, somos de uma

família grande ... tem nos ajudado em comprar alimentos, principalmente a mistura

e materiais escolares .... para mim melhorou em tudo” (risos) (MGF 08)

“ Trouxe muitos benefícios, desde não precisar que meu filho trabalhe, participar

das reuniões do Bolsa Família e me ajudar no entendimento das coisas e também a

contribuição de todo trabalho de vocês (CRAS) em minha vida e na vida de minhas

criança ... melhorou meu auto estima, e de meus filhos dá pra comprar roupas e

materiais escolares” (MGF 03)

“O meu benefício é pouco, mais melhorou na compra de mistura em casa” (MGF

13)

“ Sou imensamente agradecida pelo governo de Lula, por ter me ajudado a criar

meus filhos com esse dinheiro, melhorou muito minha vida e dos meus filhos, tenho

receio de que acabe, mais se acabar precisamos ver outros meios, hoje agradeço

pois além do benefício eu também trabalho” (MGF 07)

“ Ajudou um pouco, não muito, mais poderia ser maior o benefício, assim não

precisava trabalhar” (MGF04)

Em suma, podemos afirmar que a renda está sendo bem alocada, servindo para aliviar a

situação de pobreza e de miséria. Mas, apesar dessa constatação, muitos críticos, inclusive

muitos beneficiários, chamam a atenção para o baixo valor dos benefícios do Bolsa Familia,

segundo os quais, não seriam suficientes para retirar alguém da pobreza (SILVA,2006)

4.7 VOCÊ ACHA QUE HOUVE ALGUMA ALTERAÇÃO NO DESEMPENHO

ESCOLAR DE SEUS FILHOS, APÓS O RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO? QUAIS?

“Todos, porque na minha época precisei trabalhar, isso de alguma forma me

prejudicou e com esse benefício meus filhos não precisa trabalhar, e o desempenho

é muito bom, mais é preciso melhorar, tenho cobrado quando lembro (risos) ... as

notas são boas. Preciso dizer que podemos comprar roupas, sapatos e materiais

escolares” (MGF 01)

Trabalho de Conclusão de Curso

“Com toda certeza, há uma cobrança comigo que acabo também cobrando meus

filhos, para que as notas e também o desempenho seja muito bom, tenho medo de

perder o benefício. Tenho filhos maravilhosos, que me respeita e que tenho muito

orgulho deles” (MGF 13)

“Não sei, nunca tinha pensado, mais acredito que sim, mais vou pensar sobre, mais

o que percebo é que com o benefício, eles (filhos) gostam muito de ir na escola”

(MGF 08)

“Sim teve, mais preciso ir constantemente na escola não pela notas, mais pelo

comportamento, eles realmente são muito bagunceiros e isso tem me deixado

desesperada, pois eu preciso trabalhar e tenho pouco tempo em ficar com eles ...

mais meus filhos melhorou muito na escola com o recebimento do benefício” (MGF

09)

Uma boa parte das mães tem clareza do compromisso de receber o benefício, que

conforme o BRASIL/MDS, 2010, para receberem o benefício mensal, as famílias devem

atender a todas as condicionalidades, garantindo assim escola para crianças e jovens e saúde

para todos os membros da família. Dessa forma ela reafirma o objetivo do programa, que é a

garantia de seus filhos na escola, todos os dias, sem falta. Um ponto importante e reconhecer

que os filhos são desobedientes e mesmo assim comparece na escola para conversar com as

professoras e direção para melhorar a indisciplina, contribuindo assim para a relação entre a

mãe e a instituição.

Em relação ao desempenho escolar, as famílias entrevistadas reconhecem que o

PBF incide de forma positiva. Alguns fatores, segunda elas, contribuem de forma direta: o

medo de perder o benefício como um dos fatores que auxiliam os alunos a permanecer na

escola, maior motivação por parte dos alunos em estudar (incentivo do PBF) e terem mais

condições financeiras de comprar materiais escolares, roupas e calçados.

Trabalho de Conclusão de Curso

4.8 COM RELAÇÃO À FREQUÊNCIA ESCOLAR, HOUVE ALGUMA ALTERAÇÃO

APÓS O RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO?

“Sim tem, hoje só falta se for preciso. Pois se meus filhos faltarem, pode bloquear

meu benefício, preciso ir ao CRAS para ver o que faço ... mais penso que é preciso,

pois se não as coisas ficam muito solta ... muito bagunçado” (MGF 06)

“Antes minha crianças faltavam muito, uma parte dessas faltas era minha, pois

qualquer coisa eu pedia para eles não ir, pois as vezes não tínhamos o que comer e

também eu não tinha trabalhado, então faltava ... (choro). Hoje é diferente pois eles

não faltam, estão com a vacina em dia e eu participo das reuniões do Bolsa Família,

tudo para que não seja bloqueado nosso recurso. É tudo conversado com eles, a

importância do benefício” (MGF 15)

“De forma alguma não falta, só se estiver doente, mais com atestado, sempre foi

assim antes ou depois do benefício, como não estudei muito eu quero que eles

(filhos) estudem e seja alguém na vida, diferente de mim” (MGF 01)

De acordo com as mães, a falta somente existe se for preciso, uma consciência de que a falta

resulta em condicionalidade, e que o benefício pode ser bloqueado ou suspenso. A

consciência dela permeia a reuniões que acontecem todo mês no CRAS de referência, que

ajudam as mesmas a entender esse processo de garantir seus filhos todos os dias na escola.

Percebe que é uma amarração entre o que recebem e a continuidade dos filhos na instituição

escolar. Assim, o benefício além de garantir uma alimentação, ou não ter escassez de

alimentos, o mesmo reforça a garantia das crianças e adolescentes na escola.

4.9 QUAL A SUA CONTRIBUIÇÃO COM OS AFAZERES ESCOLARES DOS SEUS

FILHOS?

“Nenhum, eu não sei nem ler e nem escrever, só sei fazer o meu nome” (MGF 01)

“Eu tento, mais as vezes é tão difícil, pois não entendo o que estão pedindo, me

sinto uma “burra”, mais quero voltar a estudar” (MGF 08)

Trabalho de Conclusão de Curso

“Queria muito ajudar, eu tento, mais sinceramente é muito difícil, tem coisa que não

sei mesmo, eu sou nova e com pouco estudo, fiquei gravida com 13 anos e vou ser

sincera eu preciso voltar a estudar para ajudar meu filho” (MGF 13)

“Sou uma mulher guerreira que cuido sozinha dos meus filhos, só tenho muita

dificuldade de ajudar, pois não sei nem para mim, mais dou meus pulos, chamo

algum amigo ou amiga para ajudar eles, pois quero muito que eles saiam dessa vida

miserável que vivemos ... é muito triste, ter vontade e não puder ajudar” (MGF 03)

“Ajudo sempre, às vezes não sei, corro atrás dos vizinhos amigos sei lá... e que não

trabalho então eu tenho tempo e assim tento ajudar da melhor forma possível”

(MGF 14)

Nesta questão, que tem muito a ver com o objetivo da pesquisa em questão, as

mães entram no conflito de contribuição na hora do estudo, mais em contraponto muitas não

sabem, o que leva a se sentir despreparada e desamparada, pois são provedoras do sustento,

além de terem a obrigação da educação.

Para outras mães, tentam de alguma forma ajudar, mais com muita dificuldade,

retratando assim, seu histórico escolar e também sua defasagem no período que estudou,

muitas vezes foi mãe cedo, resultando a interrupção dos estudos.

Para outras mães, a educação tem um significado muito importante, levando-as a

procurarem ajuda com amigos próximos, pois como não trabalham pode contribuir com mais

alternativas.

4.10 COMO É SUA RELAÇÃO COM A ESCOLA DE SEUS FILHOS?

“Uma relação boa, mais vou pouco na escola, só quando tem reunião” (MGF 04)

“Sabe que é muito boa, sempre falo com a professora, com a diretora... eu preciso

participar mais... porque tenho tempo... mais tenho preguiça” (MGF 14)

“Já foi piores a minha relação com a escola, hoje é mais tranquila, mais teve uma

vez que eles queriam tirar meu filho da escola “expulsar”, só que o CRAS me

orientou e eu fui atrás dos direitos do meu filho, pois queriam tirar ele por que ele é

Trabalho de Conclusão de Curso

muito “bocudo”... meu filho é muito crítico, qualquer coisa ele reclama e as vezes

ele fala alto e foi por isso que queriam tirar ele (MGF 06)

“É boa, sempre que chama estou lá, mais fora isso não vou, aliás não nem quem é o

diretor novo que está lá agora, trocaram muito de diretor na escola, isso é muito

ruim” (MGF 07)

Segundo ARROYO (2000), os aprendizes se ajudam uns aos outros a aprender,

trocando saberes, vivencias, significados, culturas. Trocando questionamentos seus, de seu

tempo cultural, trocando incertezas, perguntas, mais do que respostas, talvez, trocando.

4.11 VOCÊ É CHAMADA PARA IR À ESCOLA, POR ALGUMA INTERCORRÊNCIA

COM SEUS FILHOS? SE SIM, POR QUAIS RAZÕES?

“Vou sempre na escola, pois meus filhos sempre estão na supervisão ou na sala da

direção, elas me ligam e vou ver... é sempre a mesma coisa indisciplina... ai

pergunto para meus filhos eles falam que as professoras gritam com eles ... e fica

dessa forma vou compareço ouço converso com eles, mais me relata outra coisa...

não sei o faço” (MGF 10)

“Conturbada, pois já briguei com as professoras, com a diretora, por causa do meu

filho, parece que somente ele é indisciplinado naquela escola, mais a professoras

são muito dura com todos os alunos, até parece que não tem coração... sei que as

crianças e adolescentes são bagunceiros, mais olha é preciso também saber resolver

os problemas de outras formas, não só através de xingamento ou gritaria” (MGF 15)

“Olha é bastante difícil, pois confesso que já tentaram tirar meu filho de lá, por

baderna que ele (filho) jura não ter feito, mais que a professora insiste em dizer que

foi ele... meu filho diz que estava junto ao grupo que fez arte, mais que não fez nada

... e eu acredito em meu filho... porque se eu não acreditar quem vai acreditar... ele

me ajuda tanto... pois tenho um filho menor que eles vão juntos e voltam juntos,

pois eu trabalho o dia todo” (MGF 02)

“Normal, quando chama vou lá, vejo o que está acontecendo, converso com meus

filhos ... as vezes até bato neles pela vergonha que tem me passado, mais depois me

arrependo... estou cansada de ir direto na escola” (MGF 11)

Trabalho de Conclusão de Curso

De acordo com MARCHESI (2004), a educação não é uma tarefa que a escola

possa realizar sozinha sem a colaboração de outras instituições e, a nosso ver, a família é a

instituição que mais perto está da escola. Entretanto se levarmos em consideração que

Família e Escola procuram atingir as mesmas finalidades, devem elas comungar os mesmos

ideais para que possam vir a superar dificuldades e conflitos que diariamente afligem os

profissionais da instituição e também os próprios estudantes e suas famílias. Assim, “A

escola nunca educará sozinha, de modo que a responsabilidade educacional da família jamais

cessará. Uma vez escolhida a escola, a relação com ela apenas começa. É preciso o diálogo

entre escola, pais e filhos (REIS, 2007, p. 6).”

Deste modo, a relação entre a família e a instituição escola tem que ser boa,

pautando o trabalho educativo e que tenha como principal alvo, o aluno/filho. A escola deve

também exercer sua papel educativo junto aos pais, dialogando, informando, orientando sobre

os mais diversos assuntos, para que em reciprocidade, escola e família possam proporcionar

um bom desempenho escolar e social às crianças e adolescentes.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Passaram-se treze anos da implantação do Programa Bolsa Família, e ainda

persistem muitas inquietações no âmbito principalmente sob enfoque dos direitos sociais.

Admitiu após a realização de toda revisão bibliográfica aqui citada e a

implementação da pesquisa, o quanto é importante e benéfica à relação Família/Escola no

processo educativo da criança e do adolescente. De tal maneira que a família quanto a escola

são referenciais que contribuem no bom desempenho escolar, portanto, quanto melhor for o

diálogo e sintonia entre estas duas instituições mais positivo será esse desempenho.

Ficou bem evidente que a baixa escolaridade é o principal empecilho para que

ocorra menor disparidade entre mulher/mãe/filhos/escola, e o que chama a atenção é que esta

pobreza é transmitida de pai para filho, incidindo um ciclo de geração em geração. Isso quer

dizer que os filhos de pais pobres têm mais chances de serem pobres, e quando crescerem e

tiverem seus filhos, eles terão grandes chances de serem pobres também.

Deve ocorrer um rompimento neste ciclo, por isso a Educação, vêm como

condicionalidade na constituição do Programa Bolsa Família, partindo do princípio de que

quem tem mais anos de estudos ganham as melhores rendas e tem acesso a melhor educação.

Trabalho de Conclusão de Curso

Ao se focar para as dinâmicas e os processos internos às famílias no intuito de

melhor compreender seus modos de relação com a educação escolar, as pesquisas atuais

evidenciam que a importância da família para a escolaridade dos filhos vai além de um mero

reflexo da classe social (Nogueira, 1998).

Todavia, a participação da família na instituição escolar dos filhos precisa ser

constante e consciente, pois vida familiar e vida escolar se completam. Com base nos

depoimentos de mães acreditamos que o desempenho escolar das crianças melhorará a partir

do bom relacionamento entre família e escola.

O material empírico desta pesquisa nos permitiu investigar a inclusão das mães

no Programa Bolsa Família e, desde então, entender os limites e as probabilidades de como as

mães utilizam o recurso recebido. Ao nos aproximar, neste estudo, da subjetividade das

usuárias, constatamos a percepção do auxílio recebido, constituindo uma diminuição de seu

sofrimento, o alivio da fome dos seus filhos e filhas, como também uma melhor educação, e

saúde, possibilitando uma forma mais próxima a necessidade dessa família, garantir a compra

de roupas, remédios e materiais escolares. As mulheres, ao saberem que foram contempladas,

ficam felizes pela segurança de uma renda fixa e a possibilidade de adquirir bens para a

família além da alimentação.

Escutar essas mulheres/mães, em seus relatos reforça a consonância com as

instituições famílias e escola, são peças fundamentais para o pleno desenvolvimento da

criança e do adolescente e consequentemente são pilares imprescindíveis no desempenho

escolar. Entretanto, para conhecer a família é necessário que a escola reconheçam que a

instituição família teve mudança, é construída pela mãe, que além de promover o sustento,

garantir a educação é preciso ser protagonista dessa história.

Dessa forma geral, as mulheres/mães sinalizam como um aspecto negativo do

PBF, o valor recebido, que para algumas é pouco, sugerindo aumento do recurso. Indicam

também a necessidade de maior fiscalização na inserção de famílias elegíveis e

desenvolvimento de programas de geração de emprego e renda.

Ainda que a relação das famílias com as escolas tenha se originado em uma época

de mudanças no contexto social e educativo, não se pode negar a atuação desses intelectuais

no sentido de não conceber a escola como instituição fechada e detentora dos conhecimentos

necessários para a educação dos alunos.

Trabalho de Conclusão de Curso

Entender esse processo é de suma importância para entender as atuais ações

direcionadas para essa vertente, pois, como aponta Silva (2003), a relação escola-família é

uma relação complexa, uma vez que ela pode ser vista sob duas vertentes, ou seja, aquela que

trata somente das interações entre pais e filhos em relação ao envolvimento destes com a

escola e aquela que trata do contato dos pais com a escola e professores.

6. REFERÊNCIAS

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