dossie1 oque eles dizem

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O que eles diz e anticomunis Resumo: A ditadura civil-militar bra a todos aqueles que se colo envolvimento com doutrina Entende-se neste estudo, qu medo em relação a esse ini de todas as características n outro deveria ser eliminado como a democracia e a liv sentimentos de medo e par das publicações do Serviç Internacional. Palavras-chave: Anticomun What they say, what anticommunism in the Br Abstract: The Brazilian military d persecution of all those w suspected of involvement socialism. It is understood i paranoia and fear regarding of all the negative character other should be eliminated values such as democracy a feelings of fear and paran publications of the Na Internacional. Keywords: Anticommunism 1 Doutorando em História pela Aperfeiçoamento de Pessoal de N zem, o que eles fazem: a construção do ini smo na ditadura civil-militar brasileira Daniel Tre asileira (1964-1985) foi marcada pela violênc ocaram contra o governo e seus atos, bem com as tidas como perigosas, como o comunismo ue o período foi marcado por certo sentimen imigo dos valores ocidentais, visto como o “o negativas. Em uma oposição “nós” e “eles” “b o da cena política para a manutenção da ord vre iniciativa. Este estudo busca inicialment ranoia dentro da sociedade brasileira e a seg ço Nacional de Informações (SNI), chama nismo, ditadura, repressão, violência. they do: the construction of the re razilian military dictatorship. dictatorship (1964-1985) was marked by who stood against the government and its with doctrines regarded as dangerous as c in this study that the period was marked by a g this enemy of Western values, seen as the "o ristics. In an opposition "us" and "them," "go d from the political scene for the maintenan and free enterprise. This study aims to initial noia within Brazilian society and then exam ational Information Service (SNI), calle m, dictatorship, repression, violence. Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista d Nível Superior (CAPES) 1 imigo vermelho evisan Samways 1 cia e perseguição mo a suspeitos de o e o socialismo. nto de paranoia e outro” e portador bem e mal”, este dem e de valores te analisar esses guir analisar uma ada Comunismo ed enemy and y violence and acts, as well as communism and a certain sense of other" and bearer ood and evil", the nce of order and lly analyze these mine one of the ed Comunismo da Coordenação de

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Page 1: Dossie1 oque eles dizem

O que eles dizem, o que eles fazem: a construção do inimigo vermelho e anticomunismo na ditadura civil

Resumo: A ditadura civil-militar brasileira (1964a todos aqueles que se colocaram contra o governo e seus atos, bem como a suspeitos de envolvimento com doutrinas tidas como perigosas, como o comunismo e o socialismoEntende-se neste estudo, que o período foi marcado por certo sentimento de paranoia e medo em relação a esse inimigo dos valores ocidentais, visto como o “outro” e portador de todas as características negativas. Em uma oposição “nós” e “eles” “bem e mal”outro deveria ser eliminado da cena política para a manutenção da ordem e de valores como a democracia e a livre iniciativa. Este estudo busca inicialmente analisar esses sentimentos de medo e paranoia dentro da sociedade brasileira e a seguir analidas publicações do Serviço Nacional de Informações (SNI), chamada Internacional. Palavras-chave: Anticomunismo, ditadura, repressão, violência. What they say, what they do: the construction of the red enemy and anticommunism in the Brazilian military dictatorship. Abstract: The Brazilian military dictatorship (1964persecution of all those who stood against the government and its acts, as well as suspected of involvement with doctrines regarded as dangerous as communism and socialism. It is understood in this study that the period was marked by a certain sense of paranoia and fear regarding this enemy of Western valuesof all the negative characteristics. In an opposition "us" and "them," "good and evil", the other should be eliminated from the political scene for the maintenance of order and values such as democracy and free enterprise. This study aims to initially analyze these feelings of fear and paranoia within Brazilian society and then examine one of thpublications of the National Information Service (SNI), called Internacional. Keywords: Anticommunism,

1 Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

O que eles dizem, o que eles fazem: a construção do inimigo vermelho e anticomunismo na ditadura civil-militar brasileira

Daniel Trevisan Samways

militar brasileira (1964-1985) foi marcada pela violência e perseguição a todos aqueles que se colocaram contra o governo e seus atos, bem como a suspeitos de envolvimento com doutrinas tidas como perigosas, como o comunismo e o socialismo

se neste estudo, que o período foi marcado por certo sentimento de paranoia e medo em relação a esse inimigo dos valores ocidentais, visto como o “outro” e portador de todas as características negativas. Em uma oposição “nós” e “eles” “bem e mal”outro deveria ser eliminado da cena política para a manutenção da ordem e de valores como a democracia e a livre iniciativa. Este estudo busca inicialmente analisar esses sentimentos de medo e paranoia dentro da sociedade brasileira e a seguir analidas publicações do Serviço Nacional de Informações (SNI), chamada

chave: Anticomunismo, ditadura, repressão, violência.

What they say, what they do: the construction of the red enemy and razilian military dictatorship.

The Brazilian military dictatorship (1964-1985) was marked by violence and persecution of all those who stood against the government and its acts, as well as suspected of involvement with doctrines regarded as dangerous as communism and

derstood in this study that the period was marked by a certain sense of paranoia and fear regarding this enemy of Western values, seen as the "other" and bearer of all the negative characteristics. In an opposition "us" and "them," "good and evil", the ther should be eliminated from the political scene for the maintenance of order and

such as democracy and free enterprise. This study aims to initially analyze these feelings of fear and paranoia within Brazilian society and then examine one of thpublications of the National Information Service (SNI), called

Keywords: Anticommunism, dictatorship, repression, violence.

Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

1

O que eles dizem, o que eles fazem: a construção do inimigo vermelho

Daniel Trevisan Samways1

1985) foi marcada pela violência e perseguição a todos aqueles que se colocaram contra o governo e seus atos, bem como a suspeitos de envolvimento com doutrinas tidas como perigosas, como o comunismo e o socialismo.

se neste estudo, que o período foi marcado por certo sentimento de paranoia e medo em relação a esse inimigo dos valores ocidentais, visto como o “outro” e portador de todas as características negativas. Em uma oposição “nós” e “eles” “bem e mal”, este outro deveria ser eliminado da cena política para a manutenção da ordem e de valores como a democracia e a livre iniciativa. Este estudo busca inicialmente analisar esses sentimentos de medo e paranoia dentro da sociedade brasileira e a seguir analisar uma das publicações do Serviço Nacional de Informações (SNI), chamada Comunismo

What they say, what they do: the construction of the red enemy and

1985) was marked by violence and persecution of all those who stood against the government and its acts, as well as suspected of involvement with doctrines regarded as dangerous as communism and

derstood in this study that the period was marked by a certain sense of , seen as the "other" and bearer

of all the negative characteristics. In an opposition "us" and "them," "good and evil", the ther should be eliminated from the political scene for the maintenance of order and

such as democracy and free enterprise. This study aims to initially analyze these feelings of fear and paranoia within Brazilian society and then examine one of the publications of the National Information Service (SNI), called Comunismo

Doutorando em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista da Coordenação de

Page 2: Dossie1 oque eles dizem

1. Introdução

O Brasil vivenciou entre os anos de 1964 e 1985 uma ditadura civil

qual a liberdade e os direitos individuais foram duramente reprimidos em prol da defesa

da nação e do combate à subversão. O estudo deste período, marcado pela violência e

pelo arbítrio, causa ainda certo mal estar em nossa sociedade, que busc

dos crimes cometidos outrora. Na tentativa de criar uma sociedade harmoniosa,

documentos permanecem em caráter de sigilo e implantou

e irrestrita”, impedindo assim, que torturadores sejam punidos pelos excessos

no passado.

A ditadura civil-militar brasileira é, atualmente, objeto de inúmeras pesquisas,

além de ser analisada de diferentes formas e acompanhando também as mudanças

dentro do campo historiográfico e das ciências sociais.

este período pode nos mostrar, esse artigo busca compreender o discurso produzido pelo

Serviço Nacional de Informações (SNI), permeado pela paranoia e pelo medo, sobre os

2 Papa Pio XI. Encíclica Divini Redemptoris, 3 Comunismo Internacional. Nº 06, junho de 1970. Pasta nº 305. Topografia 33. Arquivo Público do Paraná. 4 Para um melhor esclarecimento sobre as diferentes análises do regime militar, ver DELGADO, Lucide Almeida Neves. 1964: Temporalidade e interpretações. MOTA, Rodrigo Patto Sá. (Orgs). SP: Edusc, 2004. pp. 15-28.

O comunismo é intrinsecamente mau, e não se pode admitir, em campo algum, a colaboração recíproca, por parte de quem quer que pretenda salvar a Civilização Cristã.2 Jornais e revistas que deveriam se opor a toda campanha desenvolvida pelos comunistas, diretamente, ou através de suas ‘FRENTES’, como inocentes úteis ‘infiltrados’ ou mesmo atraídos pelo dinheiro que lhes é oferecido, atuam eficientemente (para os comunistas) na Campanha Anti-Guerra, nova denominação da surrada ‘Campanha pró Paz’, desencadeada pela URSS, logo após a 2º Grande Guerra. (...) Não dizem e repetem o que, desde há muito é sabido, que os comunistas com suas Campanhas pró Paz e Campanha Antidesejam desarmar material e espiritualmente o Mundo Ocidental para facilmente dominá

O Brasil vivenciou entre os anos de 1964 e 1985 uma ditadura civil

qual a liberdade e os direitos individuais foram duramente reprimidos em prol da defesa

da nação e do combate à subversão. O estudo deste período, marcado pela violência e

pelo arbítrio, causa ainda certo mal estar em nossa sociedade, que busca o esquecimento

dos crimes cometidos outrora. Na tentativa de criar uma sociedade harmoniosa,

documentos permanecem em caráter de sigilo e implantou-se uma anistia “ampla, geral

e irrestrita”, impedindo assim, que torturadores sejam punidos pelos excessos

militar brasileira é, atualmente, objeto de inúmeras pesquisas,

além de ser analisada de diferentes formas e acompanhando também as mudanças

dentro do campo historiográfico e das ciências sociais.4 Dentre as inúmer

este período pode nos mostrar, esse artigo busca compreender o discurso produzido pelo

Serviço Nacional de Informações (SNI), permeado pela paranoia e pelo medo, sobre os

Encíclica Divini Redemptoris, de 19 de março de 1937.

Nº 06, junho de 1970. Pasta nº 305. Topografia 33. Arquivo Público do

Para um melhor esclarecimento sobre as diferentes análises do regime militar, ver DELGADO, Luci1964: Temporalidade e interpretações. In: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo e

MOTA, Rodrigo Patto Sá. (Orgs). O golpe e a ditadura militar: quarenta anos depois (1964

2

O comunismo é intrinsecamente mau, e não se pode admitir, em campo algum, a colaboração recíproca, por parte de quem quer que pretenda

Jornais e revistas que deveriam se opor a toda campanha desenvolvida pelos comunistas, diretamente, ou através de suas ‘FRENTES’, como inocentes úteis ‘infiltrados’ ou mesmo

aídos pelo dinheiro que lhes é oferecido, atuam eficientemente (para os comunistas) na

Guerra, nova

denominação da surrada ‘Campanha pró Paz’, desencadeada pela URSS, logo após a 2º Grande Guerra. (...) Não dizem e repetem o que, desde há

uito é sabido, que os comunistas com suas Campanhas pró Paz e Campanha Anti-Guerra, desejam desarmar material e espiritualmente o Mundo Ocidental para facilmente dominá-lo.3

O Brasil vivenciou entre os anos de 1964 e 1985 uma ditadura civil-militar, na

qual a liberdade e os direitos individuais foram duramente reprimidos em prol da defesa

da nação e do combate à subversão. O estudo deste período, marcado pela violência e

a o esquecimento

dos crimes cometidos outrora. Na tentativa de criar uma sociedade harmoniosa,

se uma anistia “ampla, geral

e irrestrita”, impedindo assim, que torturadores sejam punidos pelos excessos cometidos

militar brasileira é, atualmente, objeto de inúmeras pesquisas,

além de ser analisada de diferentes formas e acompanhando também as mudanças

Dentre as inúmeras facetas que

este período pode nos mostrar, esse artigo busca compreender o discurso produzido pelo

Serviço Nacional de Informações (SNI), permeado pela paranoia e pelo medo, sobre os

Nº 06, junho de 1970. Pasta nº 305. Topografia 33. Arquivo Público do

Para um melhor esclarecimento sobre as diferentes análises do regime militar, ver DELGADO, Lucilia In: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo e

quarenta anos depois (1964-2004). Bauru,

Page 3: Dossie1 oque eles dizem

comunistas e sobre sua doutrina, o comunismo, através de uma publicaçã

interna, chamada Comunismo

informava seus leitores sobre o perigo do comunismo e suas ações em escala mundial

Busca-se entender a forma como o comunismo e os comunistas eram analisados por

esse serviço de inteligência e as representações feitas sobre este “outro”, visto como

inimigo da nação e, em que medida, as informações produzidas sobre o comunismo

contribuíam para o funcionamento da repressão.

visto como uma tentativa por parte do SNI em informar vários órgãos do governo, bem

como parcelas da sociedade civil, com dados a respeito do comunismo, almejando que

estes realmente acreditassem neste perigo. Por certo, esta produção também está

inserida em um contexto mais amplo de embates no campo político e ideológico.

Uma das questões levantadas pelos defensores dos direitos humanos,

pesquisadores e por aqueles que sofreram diretamente a violência durante a ditadura

civil-militar, é a motivação de tamanha brutal

que medida, torturadores e todo o aparato repressivo acreditavam que realmente

estavam salvando a nação e combatendo um poderoso inimigo, pintado com todas as

características negativas e perigosas? Ou por outro lad

ordens de seus superiores e já não acreditavam na força e no aspecto maléfico dos

comunistas? Torna-se difícil mapear a existência de uma suposta apatia desses

“operários da violência”5 no exercício da repressão e que cometiam

almejando melhorias e benefícios na carreira ou mesmo por um prazer sádico pelo

sofrimento alheio. Porém, não se pode afirmar que todos os militares acreditavam que

esse “outro”, entendido aqui como o subversivo, era realmente a representa

Por outro lado, entende-se que a preocupação dos órgãos de informação, ao produzir um

material de cunho anticomunista, era fazer crer que o perigo vermelho ganhava cada vez

mais força.

5 O termo “operários da violência” foi utilizado por HUGGINS, Martha K.; HARITOSZIMBARDO, Philip G. Operários da violência: atrocidades brasileiras. Brasília: Editora da Universidade Brasília, 2006.

comunistas e sobre sua doutrina, o comunismo, através de uma publicaçã

Comunismo Internacional, produzida a partir de 1970, a qual

informava seus leitores sobre o perigo do comunismo e suas ações em escala mundial

se entender a forma como o comunismo e os comunistas eram analisados por

esse serviço de inteligência e as representações feitas sobre este “outro”, visto como

inimigo da nação e, em que medida, as informações produzidas sobre o comunismo

contribuíam para o funcionamento da repressão. Comunismo Internacional

uma tentativa por parte do SNI em informar vários órgãos do governo, bem

como parcelas da sociedade civil, com dados a respeito do comunismo, almejando que

estes realmente acreditassem neste perigo. Por certo, esta produção também está

exto mais amplo de embates no campo político e ideológico.

Uma das questões levantadas pelos defensores dos direitos humanos,

pesquisadores e por aqueles que sofreram diretamente a violência durante a ditadura

militar, é a motivação de tamanha brutalidade contra os opositores do governo. Em

que medida, torturadores e todo o aparato repressivo acreditavam que realmente

estavam salvando a nação e combatendo um poderoso inimigo, pintado com todas as

características negativas e perigosas? Ou por outro lado, apenas estariam cumprindo

ordens de seus superiores e já não acreditavam na força e no aspecto maléfico dos

se difícil mapear a existência de uma suposta apatia desses

no exercício da repressão e que cometiam

almejando melhorias e benefícios na carreira ou mesmo por um prazer sádico pelo

sofrimento alheio. Porém, não se pode afirmar que todos os militares acreditavam que

esse “outro”, entendido aqui como o subversivo, era realmente a representa

se que a preocupação dos órgãos de informação, ao produzir um

material de cunho anticomunista, era fazer crer que o perigo vermelho ganhava cada vez

a violência” foi utilizado por HUGGINS, Martha K.; HARITOS

Operários da violência: Policiais torturadores e assassinos reconstroem as atrocidades brasileiras. Brasília: Editora da Universidade Brasília, 2006.

3

comunistas e sobre sua doutrina, o comunismo, através de uma publicação de circulação

, produzida a partir de 1970, a qual

informava seus leitores sobre o perigo do comunismo e suas ações em escala mundial.

se entender a forma como o comunismo e os comunistas eram analisados por

esse serviço de inteligência e as representações feitas sobre este “outro”, visto como

inimigo da nação e, em que medida, as informações produzidas sobre o comunismo

Comunismo Internacional pode ser

uma tentativa por parte do SNI em informar vários órgãos do governo, bem

como parcelas da sociedade civil, com dados a respeito do comunismo, almejando que

estes realmente acreditassem neste perigo. Por certo, esta produção também está

exto mais amplo de embates no campo político e ideológico.

Uma das questões levantadas pelos defensores dos direitos humanos,

pesquisadores e por aqueles que sofreram diretamente a violência durante a ditadura

idade contra os opositores do governo. Em

que medida, torturadores e todo o aparato repressivo acreditavam que realmente

estavam salvando a nação e combatendo um poderoso inimigo, pintado com todas as

o, apenas estariam cumprindo

ordens de seus superiores e já não acreditavam na força e no aspecto maléfico dos

se difícil mapear a existência de uma suposta apatia desses

no exercício da repressão e que cometiam tais atos apenas

almejando melhorias e benefícios na carreira ou mesmo por um prazer sádico pelo

sofrimento alheio. Porém, não se pode afirmar que todos os militares acreditavam que

esse “outro”, entendido aqui como o subversivo, era realmente a representação do mal.

se que a preocupação dos órgãos de informação, ao produzir um

material de cunho anticomunista, era fazer crer que o perigo vermelho ganhava cada vez

a violência” foi utilizado por HUGGINS, Martha K.; HARITOS-FATOUROS; Policiais torturadores e assassinos reconstroem as

Page 4: Dossie1 oque eles dizem

1. Perigo do comunismo para a América

produzida pelo Catechetical Guild Education Society

O anticomunismo não surgiu, por certo, durante a ditadura civil

remontando a períodos anteriores, especialmente às décadas de trinta e quarenta, quando

os comunistas passaram a se articular de forma mais intensa, causando temor não

apenas no governo, mas também no meio religioso, na classe empresarial e no meio

militar. Um exemplo disso pode ser visto na publicação de 1947

América sob o comunismo

grupo religioso do Minnesota, E

a história em quadrinhos mostra o grande perigo de uma infiltração dos comunistas na

América. Na capa, percebe-

mulheres e o caos que estavam tra

figuras violentas, aparecem também seres sombrios, cobertos por mantos que remetem a

um caráter maléfico dessas criaturas. Entre as décadas de trinta e sessenta, foi muito

recorrente a associação entre comunism

demoníacas. (MOTTA, 2002 e RODEGHERO, 2003).

poder em 1964, com a participação de setores da sociedade civil, representou um

fortalecimento do anticomunismo e um aumento do poder rep

podendo ser também compreendido como um

Na tentativa de proteger a nação do perigo da subversão, de defender a ordem, a moral e

Perigo do comunismo para a América. “É isso amanhã. América sob o comunismo.” Publicação

Catechetical Guild Education Society em 1947.

O anticomunismo não surgiu, por certo, durante a ditadura civil

remontando a períodos anteriores, especialmente às décadas de trinta e quarenta, quando

os comunistas passaram a se articular de forma mais intensa, causando temor não

no, mas também no meio religioso, na classe empresarial e no meio

militar. Um exemplo disso pode ser visto na publicação de 1947

América sob o comunismo, produzida pela Catechetical Guild Education Society

grupo religioso do Minnesota, Estados Unidos. Com mais de quatro milhões de cópias,

a história em quadrinhos mostra o grande perigo de uma infiltração dos comunistas na

-se a violência empreendia pelos comunistas contra homens e

mulheres e o caos que estavam trazendo para a sociedade americana. Além dessas

figuras violentas, aparecem também seres sombrios, cobertos por mantos que remetem a

um caráter maléfico dessas criaturas. Entre as décadas de trinta e sessenta, foi muito

recorrente a associação entre comunismo e forças nefastas e, em casos mais extremos,

demoníacas. (MOTTA, 2002 e RODEGHERO, 2003). A chegada dos militares ao

poder em 1964, com a participação de setores da sociedade civil, representou um

fortalecimento do anticomunismo e um aumento do poder repressivo do Estado,

podendo ser também compreendido como um terrorismo de Estado. (PADRÓS, 2008).

Na tentativa de proteger a nação do perigo da subversão, de defender a ordem, a moral e

4

ica sob o comunismo.” Publicação

O anticomunismo não surgiu, por certo, durante a ditadura civil-militar,

remontando a períodos anteriores, especialmente às décadas de trinta e quarenta, quando

os comunistas passaram a se articular de forma mais intensa, causando temor não

no, mas também no meio religioso, na classe empresarial e no meio

militar. Um exemplo disso pode ser visto na publicação de 1947 É isto amanhã:

Catechetical Guild Education Society, um

stados Unidos. Com mais de quatro milhões de cópias,

a história em quadrinhos mostra o grande perigo de uma infiltração dos comunistas na

se a violência empreendia pelos comunistas contra homens e

zendo para a sociedade americana. Além dessas

figuras violentas, aparecem também seres sombrios, cobertos por mantos que remetem a

um caráter maléfico dessas criaturas. Entre as décadas de trinta e sessenta, foi muito

o e forças nefastas e, em casos mais extremos,

A chegada dos militares ao

poder em 1964, com a participação de setores da sociedade civil, representou um

ressivo do Estado,

. (PADRÓS, 2008).

Na tentativa de proteger a nação do perigo da subversão, de defender a ordem, a moral e

Page 5: Dossie1 oque eles dizem

os bons costumes, os militares colocaram o país em uma guerra psicológica,

fortalecendo sentimentos como a paranoia e o medo, buscando inculcar nas mentes a

noção de que o país estava em eminente risco e perigo, no qual conceitos como

mal foram fortemente trabalhados.

Se de um lado o governo buscava informar a população sobre os riscos do

comunismo, como, por exemplo, no

terroristas jogam com o medo e o pânico. Somente um povo prevenido e valente pode

combatê-los” (MAGALHÃES, 1997), de outro, buscava informar também seus próprios

agentes e colaboradores de como agiam os subversivos. Se o medo e a paranoia eram

fortalecidos na população, essa atitude também se fez presente no próprio meio militar.

Tornava-se fundamental para o bom funcionamento do aparelho repressivo não apenas

informar a população, fazendo com que a mesma agisse em favor do governo, mas

também mostrar para os próprios executores das ações repressivas, o aspecto perigoso

do comunismo. Sem esse aparato, que nos remete ao campo dos imaginários políticos,

conseguiriam os chefes da nação e os altos comandos militares, uma obediência quase

cega de seus subordinados no que concerne à execução da violência? Torturariam e

assassinariam supostos subversi

estavam combatendo e eliminando aqueles que realmente deveriam morrer? Segundo o

cientista político Juan Linz,

(...) fácil. Por quê?possível criar o maquinário para implementáde impedir?

Torna-se importante neste estudo, esclarecer alguns conceitos, como

paranoia, apatia e terrorismo

ditadura civil-militar brasileira, impregnada pelo ódio e pela violência. Cabe ressaltar

que a ditadura civil-militar não foi um bloco monolítico, em um coro em uníssono

contra o comunismo, tampouco caracterizou

(MARTINS FILHO, 1995 e CHIRIO, 2012). Entendemos que

Internacional não foi a única produção com caráter anticomunista, tampouco uma

produção isolada no que tange a criar um

repressivo. Produções com esse conteúdo no período de ditadura civil

relativamente amplas, com livros editados pela Biblioteca do Exército, sejam eles

produzidos aqui ou no exterior, como

os bons costumes, os militares colocaram o país em uma guerra psicológica,

fortalecendo sentimentos como a paranoia e o medo, buscando inculcar nas mentes a

noção de que o país estava em eminente risco e perigo, no qual conceitos como

mente trabalhados.

Se de um lado o governo buscava informar a população sobre os riscos do

comunismo, como, por exemplo, no Decálogo da Segurança, onde se lia que “os

terroristas jogam com o medo e o pânico. Somente um povo prevenido e valente pode

los” (MAGALHÃES, 1997), de outro, buscava informar também seus próprios

agentes e colaboradores de como agiam os subversivos. Se o medo e a paranoia eram

fortalecidos na população, essa atitude também se fez presente no próprio meio militar.

undamental para o bom funcionamento do aparelho repressivo não apenas

informar a população, fazendo com que a mesma agisse em favor do governo, mas

também mostrar para os próprios executores das ações repressivas, o aspecto perigoso

aparato, que nos remete ao campo dos imaginários políticos,

conseguiriam os chefes da nação e os altos comandos militares, uma obediência quase

cega de seus subordinados no que concerne à execução da violência? Torturariam e

assassinariam supostos subversivos com tanta violência, se não acreditassem que

estavam combatendo e eliminando aqueles que realmente deveriam morrer? Segundo o

cientista político Juan Linz,

(...) a grande pergunta escrita nos muros das prisões, e que não tem resposta fácil. Por quê? Por que o terror tomou as formas que tomou, e como foi possível criar o maquinário para implementá-lo, e por que ninguém foi capaz de impedir? (LINZ Apud PEREIRA, 2010, p. 51).

se importante neste estudo, esclarecer alguns conceitos, como

apatia e terrorismo, tentando assim, relacioná-los com os vinte e um anos da

militar brasileira, impregnada pelo ódio e pela violência. Cabe ressaltar

militar não foi um bloco monolítico, em um coro em uníssono

ntra o comunismo, tampouco caracterizou-se por uma unidade de pensamento.

(MARTINS FILHO, 1995 e CHIRIO, 2012). Entendemos que

não foi a única produção com caráter anticomunista, tampouco uma

produção isolada no que tange a criar uma espécie de paranoia dentro do sistema

repressivo. Produções com esse conteúdo no período de ditadura civil

relativamente amplas, com livros editados pela Biblioteca do Exército, sejam eles

produzidos aqui ou no exterior, como O jovem e a subversão, A Nação que salvou a si

5

os bons costumes, os militares colocaram o país em uma guerra psicológica,

fortalecendo sentimentos como a paranoia e o medo, buscando inculcar nas mentes a

noção de que o país estava em eminente risco e perigo, no qual conceitos como bem e

Se de um lado o governo buscava informar a população sobre os riscos do

, onde se lia que “os

terroristas jogam com o medo e o pânico. Somente um povo prevenido e valente pode

los” (MAGALHÃES, 1997), de outro, buscava informar também seus próprios

agentes e colaboradores de como agiam os subversivos. Se o medo e a paranoia eram

fortalecidos na população, essa atitude também se fez presente no próprio meio militar.

undamental para o bom funcionamento do aparelho repressivo não apenas

informar a população, fazendo com que a mesma agisse em favor do governo, mas

também mostrar para os próprios executores das ações repressivas, o aspecto perigoso

aparato, que nos remete ao campo dos imaginários políticos,

conseguiriam os chefes da nação e os altos comandos militares, uma obediência quase

cega de seus subordinados no que concerne à execução da violência? Torturariam e

vos com tanta violência, se não acreditassem que

estavam combatendo e eliminando aqueles que realmente deveriam morrer? Segundo o

a grande pergunta escrita nos muros das prisões, e que não tem resposta Por que o terror tomou as formas que tomou, e como foi

e ninguém foi capaz

se importante neste estudo, esclarecer alguns conceitos, como medo,

los com os vinte e um anos da

militar brasileira, impregnada pelo ódio e pela violência. Cabe ressaltar

militar não foi um bloco monolítico, em um coro em uníssono

se por uma unidade de pensamento.

(MARTINS FILHO, 1995 e CHIRIO, 2012). Entendemos que Comunismo

não foi a única produção com caráter anticomunista, tampouco uma

a espécie de paranoia dentro do sistema

repressivo. Produções com esse conteúdo no período de ditadura civil-militar foram

relativamente amplas, com livros editados pela Biblioteca do Exército, sejam eles

A Nação que salvou a si

Page 6: Dossie1 oque eles dizem

mesma, A tomada do poder

comunicados, enviados para todo o país, que demonstravam o perigo comunista. Por

certo, para melhor compreender as representações feitas a respeito

Comunismo Internacional torna

2. A construção do medo

A chegada dos militares ao poder em 1964 marcou o início de uma ditadura, a

qual perdurou por longos vinte e um anos. Baseados em um ideal de defesa da nação

em uma Doutrina de Segurança Nacional (DSN), os militares, com o apoio de setores da

sociedade civil, implantaram um regime de violência e autoritarismo, com a justificativa

de que subversivos e aliados do comunismo internacional colocavam em risco a

segurança nacional e os valores democráticos. Para Juan Linz os governantes e agentes

repressores deste período não estariam imbuídos de uma ideologia, mas antes de uma

mentalidade autoritária. Linz define o caso brasileiro como “autoritário burocrático

militar” afirmando que este caracteriza

(...) uma coalização, na qual oficiais das Forças Armadas e burocratas ocupam uma posição predominante, mas não detém poder exclusivo, estabelece o controle do governo excluindo ou incluindo outros grupos sem se cdentro dos limites de sua mentalidade burocrática e sem criar ou permitir que um único partido de massa desempenhasse um papel dominante, são o mais frequente subtipo. (LINZ, 1980, p. 149).

A análise de Linz deve ser analisada com cautela ao afirmar que os militares e os

civis não estariam comprometidos com uma ideologia específica. Mesmo os militares

não moldando as consciências e impondo uma forma de pensamento a toda população,

muito característico dos regimes totalitários, os golpistas e posteriormente aqueles que

assumiram o governo, foram motivados pelo anticomunismo e pela ideologia de

combate a tudo que se associasse a subversão e ao comunismo.

No contexto da Guerra Fria e para os set

valores democráticos, cristãos e morais estava diretamente ligada ao combate às teorias

comunistas e ao legado marxista, que pregava uma melhor distribuição das riquezas e o

fim das classes sociais. Estas teorias causa

6 Segundo Lucas Figueiredo, a editora do exército (BIBLIEX) publicou várias obras de cunho anticomunista, as quais denunciavam, por exemplo, técnicas comunistas de politização e aliciamento de jovens. FIGUEIREDO, Lucas. Olho por olho:2009. p. 77.

A tomada do poder6, além de uma infinidade de informes, relatórios e

comunicados, enviados para todo o país, que demonstravam o perigo comunista. Por

certo, para melhor compreender as representações feitas a respeito

torna-se um valioso exemplo.

2. A construção do medo

A chegada dos militares ao poder em 1964 marcou o início de uma ditadura, a

qual perdurou por longos vinte e um anos. Baseados em um ideal de defesa da nação

em uma Doutrina de Segurança Nacional (DSN), os militares, com o apoio de setores da

sociedade civil, implantaram um regime de violência e autoritarismo, com a justificativa

de que subversivos e aliados do comunismo internacional colocavam em risco a

urança nacional e os valores democráticos. Para Juan Linz os governantes e agentes

repressores deste período não estariam imbuídos de uma ideologia, mas antes de uma

mentalidade autoritária. Linz define o caso brasileiro como “autoritário burocrático

ar” afirmando que este caracteriza-se por:

(...) uma coalização, na qual oficiais das Forças Armadas e burocratas ocupam uma posição predominante, mas não detém poder exclusivo, estabelece o controle do governo excluindo ou incluindo outros grupos sem se comprometer com uma ideologia específica, agindo pragmaticamente dentro dos limites de sua mentalidade burocrática e sem criar ou permitir que um único partido de massa desempenhasse um papel dominante, são o mais frequente subtipo. (LINZ, 1980, p. 149).

A análise de Linz deve ser analisada com cautela ao afirmar que os militares e os

civis não estariam comprometidos com uma ideologia específica. Mesmo os militares

não moldando as consciências e impondo uma forma de pensamento a toda população,

terístico dos regimes totalitários, os golpistas e posteriormente aqueles que

assumiram o governo, foram motivados pelo anticomunismo e pela ideologia de

combate a tudo que se associasse a subversão e ao comunismo.

No contexto da Guerra Fria e para os setores mais conservadores, a defesa dos

valores democráticos, cristãos e morais estava diretamente ligada ao combate às teorias

comunistas e ao legado marxista, que pregava uma melhor distribuição das riquezas e o

fim das classes sociais. Estas teorias causavam medo no mundo ocidental, que

igueiredo, a editora do exército (BIBLIEX) publicou várias obras de cunho

anticomunista, as quais denunciavam, por exemplo, técnicas comunistas de politização e aliciamento de Olho por olho: os livros secretos da ditadura. Rio de

6

, além de uma infinidade de informes, relatórios e

comunicados, enviados para todo o país, que demonstravam o perigo comunista. Por

dos comunistas,

A chegada dos militares ao poder em 1964 marcou o início de uma ditadura, a

qual perdurou por longos vinte e um anos. Baseados em um ideal de defesa da nação e

em uma Doutrina de Segurança Nacional (DSN), os militares, com o apoio de setores da

sociedade civil, implantaram um regime de violência e autoritarismo, com a justificativa

de que subversivos e aliados do comunismo internacional colocavam em risco a

urança nacional e os valores democráticos. Para Juan Linz os governantes e agentes

repressores deste período não estariam imbuídos de uma ideologia, mas antes de uma

mentalidade autoritária. Linz define o caso brasileiro como “autoritário burocrático-

(...) uma coalização, na qual oficiais das Forças Armadas e burocratas ocupam uma posição predominante, mas não detém poder exclusivo, estabelece o controle do governo excluindo ou incluindo outros grupos sem

omprometer com uma ideologia específica, agindo pragmaticamente dentro dos limites de sua mentalidade burocrática e sem criar ou permitir que um único partido de massa desempenhasse um papel dominante, são o mais

A análise de Linz deve ser analisada com cautela ao afirmar que os militares e os

civis não estariam comprometidos com uma ideologia específica. Mesmo os militares

não moldando as consciências e impondo uma forma de pensamento a toda população,

terístico dos regimes totalitários, os golpistas e posteriormente aqueles que

assumiram o governo, foram motivados pelo anticomunismo e pela ideologia de

ores mais conservadores, a defesa dos

valores democráticos, cristãos e morais estava diretamente ligada ao combate às teorias

comunistas e ao legado marxista, que pregava uma melhor distribuição das riquezas e o

vam medo no mundo ocidental, que

igueiredo, a editora do exército (BIBLIEX) publicou várias obras de cunho anticomunista, as quais denunciavam, por exemplo, técnicas comunistas de politização e aliciamento de

os livros secretos da ditadura. Rio de Janeiro: Record,

Page 7: Dossie1 oque eles dizem

acreditava no aumento cada vez maior deste “perigo vermelho”. Dessa forma, é

fundamental pensar no golpe civil

amplo, no qual os Estados Unidos, em crescente tensão com o bloco

contribuíram para disseminar o medo, além, é claro, de dar apoio técnico e teórico para

exércitos de países latino americanos. (HUGGINS, 1998). Com a ideia de que o

continente poderia ser tomado pelos comunistas, os Estados Unidos buscaram for

o exército e a polícia desses países, além de apoiar e ajudar na implantação de ditaduras

em boa parte da América Latina, como Brasil, Equador, Argentina, Peru, Chile, aliando

se a facções políticas “mais dóceis aos seus interesses econômicos e pol

(BANDEIRA, 1997, p. 84).

Se por um lado a intervenção militar no Brasil e na América Latina deve ser

pensada dentro deste contexto maior, e diretamente ligado à política de Guerra Fria, na

qual as lembranças da Revolução Cubana faziam

de lado as especificidades nacionais e a realidade brasileira no período, bem como o

papel desempenhado pela Igreja Católica. O anticomunismo brasileiro foi também

analisado pelo próprio governo estadunidense, sendo muitas vezes

suposta tolerância dos brasileiros, aliados a uma falta de sistematicidade do combate ao

comunismo no Brasil. (RODEGHERO, 2007, p. 99).

Entende-se que o anticomunismo e a visão negativa que se fazia do

comunismo, uniu diferentes setores d

proteger a nação, e pode ser compreendido como um fator importante em momentos de

ruptura na sociedade brasileira. Para Rodrigo Patto Sá Motta,

(...) as atividades anticomunistas foram intensificadas, sendo qu1964 a 'ameaça comunista' foi argumento político decisivo para justificar os respectivos golpes políticos, bem como para convencer a sociedade (ao menos parte dela) da necessidade de medidas repressivas contra a esquerda. (MOTTA, 2002, p. XXIII

Não se restringindo a essas conjunturas específicas, acredita

anticomunismo foi também fundamental durante o período mais repressivo da ditadura,

principalmente entre os anos de 1968 a 1975 e que, baseado nele, os militares

conseguiram angariar apoio de parte da sociedade civil.

7 É importante ressaltar que regimes autoritários contaram com apoio de diversos setores da sociedade ao longo do século XX e que, após o retorno à democracia, foi se construindo uma memória que buscava isentar a sociedade civil. ROLLEMBERG, Denise e QUADRAT, Samantha Viz (orgs.). social dos regimes autoritários: Brasil e América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

acreditava no aumento cada vez maior deste “perigo vermelho”. Dessa forma, é

fundamental pensar no golpe civil-militar em 1964 como parte de um contexto mais

amplo, no qual os Estados Unidos, em crescente tensão com o bloco

contribuíram para disseminar o medo, além, é claro, de dar apoio técnico e teórico para

exércitos de países latino americanos. (HUGGINS, 1998). Com a ideia de que o

continente poderia ser tomado pelos comunistas, os Estados Unidos buscaram for

o exército e a polícia desses países, além de apoiar e ajudar na implantação de ditaduras

em boa parte da América Latina, como Brasil, Equador, Argentina, Peru, Chile, aliando

se a facções políticas “mais dóceis aos seus interesses econômicos e pol

(BANDEIRA, 1997, p. 84).

Se por um lado a intervenção militar no Brasil e na América Latina deve ser

pensada dentro deste contexto maior, e diretamente ligado à política de Guerra Fria, na

qual as lembranças da Revolução Cubana faziam-se muito presentes, não se pode deixar

de lado as especificidades nacionais e a realidade brasileira no período, bem como o

papel desempenhado pela Igreja Católica. O anticomunismo brasileiro foi também

analisado pelo próprio governo estadunidense, sendo muitas vezes criticado por uma

suposta tolerância dos brasileiros, aliados a uma falta de sistematicidade do combate ao

comunismo no Brasil. (RODEGHERO, 2007, p. 99).

se que o anticomunismo e a visão negativa que se fazia do

comunismo, uniu diferentes setores da sociedade em torno de um mesmo ideal, o de

proteger a nação, e pode ser compreendido como um fator importante em momentos de

ruptura na sociedade brasileira. Para Rodrigo Patto Sá Motta,

(...) as atividades anticomunistas foram intensificadas, sendo qu1964 a 'ameaça comunista' foi argumento político decisivo para justificar os respectivos golpes políticos, bem como para convencer a sociedade (ao menos parte dela) da necessidade de medidas repressivas contra a esquerda. (MOTTA, 2002, p. XXIII).

Não se restringindo a essas conjunturas específicas, acredita

anticomunismo foi também fundamental durante o período mais repressivo da ditadura,

principalmente entre os anos de 1968 a 1975 e que, baseado nele, os militares

angariar apoio de parte da sociedade civil.7 Baseados neste

É importante ressaltar que regimes autoritários contaram com apoio de diversos setores da sociedade ao

longo do século XX e que, após o retorno à democracia, foi se construindo uma memória que buscava vil. ROLLEMBERG, Denise e QUADRAT, Samantha Viz (orgs.).

: Brasil e América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

7

acreditava no aumento cada vez maior deste “perigo vermelho”. Dessa forma, é

militar em 1964 como parte de um contexto mais

amplo, no qual os Estados Unidos, em crescente tensão com o bloco socialista,

contribuíram para disseminar o medo, além, é claro, de dar apoio técnico e teórico para

exércitos de países latino americanos. (HUGGINS, 1998). Com a ideia de que o

continente poderia ser tomado pelos comunistas, os Estados Unidos buscaram fortalecer

o exército e a polícia desses países, além de apoiar e ajudar na implantação de ditaduras

em boa parte da América Latina, como Brasil, Equador, Argentina, Peru, Chile, aliando-

se a facções políticas “mais dóceis aos seus interesses econômicos e políticos.”

Se por um lado a intervenção militar no Brasil e na América Latina deve ser

pensada dentro deste contexto maior, e diretamente ligado à política de Guerra Fria, na

sentes, não se pode deixar

de lado as especificidades nacionais e a realidade brasileira no período, bem como o

papel desempenhado pela Igreja Católica. O anticomunismo brasileiro foi também

criticado por uma

suposta tolerância dos brasileiros, aliados a uma falta de sistematicidade do combate ao

se que o anticomunismo e a visão negativa que se fazia do

a sociedade em torno de um mesmo ideal, o de

proteger a nação, e pode ser compreendido como um fator importante em momentos de

(...) as atividades anticomunistas foram intensificadas, sendo que em 1937 e 1964 a 'ameaça comunista' foi argumento político decisivo para justificar os respectivos golpes políticos, bem como para convencer a sociedade (ao menos parte dela) da necessidade de medidas repressivas contra a esquerda.

Não se restringindo a essas conjunturas específicas, acredita-se aqui, que o

anticomunismo foi também fundamental durante o período mais repressivo da ditadura,

principalmente entre os anos de 1968 a 1975 e que, baseado nele, os militares

Baseados neste

É importante ressaltar que regimes autoritários contaram com apoio de diversos setores da sociedade ao longo do século XX e que, após o retorno à democracia, foi se construindo uma memória que buscava

vil. ROLLEMBERG, Denise e QUADRAT, Samantha Viz (orgs.). A construção : Brasil e América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

Page 8: Dossie1 oque eles dizem

anticomunismo, o governo decidia quem deveria ser excluído da cena política para o

bem da nação. Esta vontade soberana de decidir quem deveria ser extirpado para o bem

de todos e realizada em nome

Os militares apresentaram

demonstrando dentro do campo político o caráter perigoso do inimigo. O campo político

é marcado por uma disputa constante

influenciados por valores ideológicos e por aquilo que podemos denominar de paixões

políticas. Esses valores estão intimamente ligados aos conflitos sociais, tornando

pertinente

(...) analisar de que social e contribuir para a sua conformação, de que modo pode mobilizar as energias e participar diretamente no desenvolvimento dos confrontos, de que modo intervém para interiorizar o conflito através dosociais. (ANSART, 1978, p. 10).

As ideologias teriam o papel de legitimar determinadas atitudes de quem

detém o poder e também o de mostrar as razões dessa autoridade. Em contrapartida, se

produz um discurso que torna o inimigo ilegí

dessa ideologia, que seria ineficaz sem uma publicidade inteligível, onde os significados

não são apresentados somente sobre as formas de discurso ou de forma escrita, mas

também através de imagens, cartazes, caricatu

diminui outra.

A ideologia política acaba por designar o sentido dos atos coletivos, o

verdadeiro sentido, apontando para um modelo de sociedade legítima e indicando

aqueles que seriam os verdadeiros detentores da autorid

respeitar. Essa autoridade traçaria os rumos para essa sociedade, em um fim ideal e os

meios para alcançá-lo. (ANSART, 1978, p. 36). As ideologias afirmam a necessidade de

uma adesão sincera e não uma simples obediência, sendo a

confiança, admiração e identificação, em oposição à invalidação, que seria o desprezo, o

ódio e a raiva. Dessa forma, ao se aderir a uma ideologia, não se deve apenas obedecer

aos líderes, mas admirá-los, respeitá

futuro melhor, sendo os legítimos detentores da autoridade, além de exercer uma defesa

da própria ideologia, combatendo formas contrárias de pensamento, invalidando outras

possibilidades, sentindo ódio e desprezo por aquele

campo político ditatorial demonstra bem esses embates apaixonados, onde o inimigo

anticomunismo, o governo decidia quem deveria ser excluído da cena política para o

bem da nação. Esta vontade soberana de decidir quem deveria ser extirpado para o bem

de todos e realizada em nome de todos, foi a marca da ditadura civil-militar brasileira.

Os militares apresentaram-se como os legítimos detentores da autoridade,

demonstrando dentro do campo político o caráter perigoso do inimigo. O campo político

é marcado por uma disputa constante entre os detentores da verdade, os quais estão

influenciados por valores ideológicos e por aquilo que podemos denominar de paixões

políticas. Esses valores estão intimamente ligados aos conflitos sociais, tornando

(...) analisar de que modo a violência simbólica pode transpor um conflito social e contribuir para a sua conformação, de que modo pode mobilizar as energias e participar diretamente no desenvolvimento dos confrontos, de que modo intervém para interiorizar o conflito através dos diferentes agentes sociais. (ANSART, 1978, p. 10).

As ideologias teriam o papel de legitimar determinadas atitudes de quem

detém o poder e também o de mostrar as razões dessa autoridade. Em contrapartida, se

produz um discurso que torna o inimigo ilegítimo. Torna-se necessária a divulgação

dessa ideologia, que seria ineficaz sem uma publicidade inteligível, onde os significados

não são apresentados somente sobre as formas de discurso ou de forma escrita, mas

também através de imagens, cartazes, caricaturas, onde se eleva uma ideologia e

A ideologia política acaba por designar o sentido dos atos coletivos, o

verdadeiro sentido, apontando para um modelo de sociedade legítima e indicando

aqueles que seriam os verdadeiros detentores da autoridade, a quem todos deveriam

respeitar. Essa autoridade traçaria os rumos para essa sociedade, em um fim ideal e os

lo. (ANSART, 1978, p. 36). As ideologias afirmam a necessidade de

uma adesão sincera e não uma simples obediência, sendo a legitimação sinônimo de

confiança, admiração e identificação, em oposição à invalidação, que seria o desprezo, o

ódio e a raiva. Dessa forma, ao se aderir a uma ideologia, não se deve apenas obedecer

los, respeitá-los, entender que eles serão os condutores para um

futuro melhor, sendo os legítimos detentores da autoridade, além de exercer uma defesa

da própria ideologia, combatendo formas contrárias de pensamento, invalidando outras

possibilidades, sentindo ódio e desprezo por aqueles que estão no campo oposto. O

campo político ditatorial demonstra bem esses embates apaixonados, onde o inimigo

8

anticomunismo, o governo decidia quem deveria ser excluído da cena política para o

bem da nação. Esta vontade soberana de decidir quem deveria ser extirpado para o bem

militar brasileira.

se como os legítimos detentores da autoridade,

demonstrando dentro do campo político o caráter perigoso do inimigo. O campo político

entre os detentores da verdade, os quais estão

influenciados por valores ideológicos e por aquilo que podemos denominar de paixões

políticas. Esses valores estão intimamente ligados aos conflitos sociais, tornando-se

modo a violência simbólica pode transpor um conflito social e contribuir para a sua conformação, de que modo pode mobilizar as energias e participar diretamente no desenvolvimento dos confrontos, de que

s diferentes agentes

As ideologias teriam o papel de legitimar determinadas atitudes de quem

detém o poder e também o de mostrar as razões dessa autoridade. Em contrapartida, se

se necessária a divulgação

dessa ideologia, que seria ineficaz sem uma publicidade inteligível, onde os significados

não são apresentados somente sobre as formas de discurso ou de forma escrita, mas

ras, onde se eleva uma ideologia e

A ideologia política acaba por designar o sentido dos atos coletivos, o

verdadeiro sentido, apontando para um modelo de sociedade legítima e indicando

ade, a quem todos deveriam

respeitar. Essa autoridade traçaria os rumos para essa sociedade, em um fim ideal e os

lo. (ANSART, 1978, p. 36). As ideologias afirmam a necessidade de

legitimação sinônimo de

confiança, admiração e identificação, em oposição à invalidação, que seria o desprezo, o

ódio e a raiva. Dessa forma, ao se aderir a uma ideologia, não se deve apenas obedecer

eles serão os condutores para um

futuro melhor, sendo os legítimos detentores da autoridade, além de exercer uma defesa

da própria ideologia, combatendo formas contrárias de pensamento, invalidando outras

s que estão no campo oposto. O

campo político ditatorial demonstra bem esses embates apaixonados, onde o inimigo

Page 9: Dossie1 oque eles dizem

político é sempre visto de forma negativa, sendo necessária sua invalidação e

deslegitimação. Todavia, esse campo político e ideológico é marca

em se estabelecer a verdade e onde os atores políticos criam discursos para recordar a

ilegitimidade do inimigo simbólico, além de colocarem

muito maior, fazendo entender que suas intervenções são apenas meios a

instauração de um poder conforme os verdadeiros valores. Colocam

representantes de uma vontade nacional, como os únicos legítimos para deter a

autoridade.

Dentro desse campo, no qual existe a identificação com seus pares e a repuls

ao seu inimigo, mas também existem as reconciliações, reaproximações, é importante

entender que as identidades, individuais ou coletivas, acabam sendo influenciadas e

ganhando sentido através do componente afetivo, onde “as identificações e as

identidades fazem parte das ações políticas e ajustam

afirmação identitária pode tanto favorecer a confiança em si como a agressividade em

relação ao outro.” (ANSART e BRESCIANI, 2002. p. 9).

Entendendo a produção de um discurso no m

entre setores antagônicos, podemos afirmar que essa disputa ideológica está inserida em

um campo que seria o ponto de convergência entre esses agentes rivais, pois:

A produção dos bens simbólicos visa, em primeiro lugar, a escuta; tratapontual, confirmando ou ampliando uma comunicação anterior. Ao mesmo tempo, e sem que tais finalidades sejam decomponíveis, tratalocutor, de confirmar sua exirival uma imagem negativa, de conquistar apoio. (ANSART, 1978. p. 80)

Nesse campo político e ideológico, os militares apresentaram

detentores de uma verdade e de valores positivos, os quais esta

do país, bem como da proteção dos valores justos e morais. Do lado oposto, segundo

esses militares, encontravam

todas as características negativas. Nesse período, pode

inversão desta visão, pois os comunistas também entendiam

verdade e dos valores justos para a sociedade, buscando acabar com as desigualdades

sociais e viam seus opositores como os únicos portadores do ma

causadores dos grandes problemas da nação.

político é sempre visto de forma negativa, sendo necessária sua invalidação e

deslegitimação. Todavia, esse campo político e ideológico é marcado por uma disputa

em se estabelecer a verdade e onde os atores políticos criam discursos para recordar a

ilegitimidade do inimigo simbólico, além de colocarem-se como ecos de uma causa

muito maior, fazendo entender que suas intervenções são apenas meios a

instauração de um poder conforme os verdadeiros valores. Colocam

representantes de uma vontade nacional, como os únicos legítimos para deter a

Dentro desse campo, no qual existe a identificação com seus pares e a repuls

ao seu inimigo, mas também existem as reconciliações, reaproximações, é importante

ntender que as identidades, individuais ou coletivas, acabam sendo influenciadas e

ganhando sentido através do componente afetivo, onde “as identificações e as

s fazem parte das ações políticas e ajustam-se às situações específicas. Uma

afirmação identitária pode tanto favorecer a confiança em si como a agressividade em

relação ao outro.” (ANSART e BRESCIANI, 2002. p. 9).

Entendendo a produção de um discurso no meio social, marcada pelo embate

entre setores antagônicos, podemos afirmar que essa disputa ideológica está inserida em

um campo que seria o ponto de convergência entre esses agentes rivais, pois:

A produção dos bens simbólicos visa, em primeiro lugar, a escuta; trata-se de ser ouvido, de estabelecer com o público uma relação pontual, confirmando ou ampliando uma comunicação anterior. Ao mesmo tempo, e sem que tais finalidades sejam decomponíveis, tratalocutor, de confirmar sua existência, de dar de si uma imagem favorável e do rival uma imagem negativa, de conquistar apoio. (ANSART, 1978. p. 80)

Nesse campo político e ideológico, os militares apresentaram

detentores de uma verdade e de valores positivos, os quais estariam baseados na defesa

do país, bem como da proteção dos valores justos e morais. Do lado oposto, segundo

esses militares, encontravam-se os comunistas e os subversivos, portadores do mal e de

todas as características negativas. Nesse período, pode-se afirmar que existiu também a

inversão desta visão, pois os comunistas também entendiam-se como detentores de uma

verdade e dos valores justos para a sociedade, buscando acabar com as desigualdades

sociais e viam seus opositores como os únicos portadores do mal, além de serem os

causadores dos grandes problemas da nação.

9

político é sempre visto de forma negativa, sendo necessária sua invalidação e

do por uma disputa

em se estabelecer a verdade e onde os atores políticos criam discursos para recordar a

se como ecos de uma causa

muito maior, fazendo entender que suas intervenções são apenas meios acessórios para a

instauração de um poder conforme os verdadeiros valores. Colocam-se como

representantes de uma vontade nacional, como os únicos legítimos para deter a

Dentro desse campo, no qual existe a identificação com seus pares e a repulsa

ao seu inimigo, mas também existem as reconciliações, reaproximações, é importante

ntender que as identidades, individuais ou coletivas, acabam sendo influenciadas e

ganhando sentido através do componente afetivo, onde “as identificações e as

se às situações específicas. Uma

afirmação identitária pode tanto favorecer a confiança em si como a agressividade em

eio social, marcada pelo embate

entre setores antagônicos, podemos afirmar que essa disputa ideológica está inserida em

um campo que seria o ponto de convergência entre esses agentes rivais, pois:

A produção dos bens simbólicos visa, em primeiro lugar, a audiência, a se de ser ouvido, de estabelecer com o público uma relação

pontual, confirmando ou ampliando uma comunicação anterior. Ao mesmo tempo, e sem que tais finalidades sejam decomponíveis, trata-se, para o

stência, de dar de si uma imagem favorável e do rival uma imagem negativa, de conquistar apoio. (ANSART, 1978. p. 80)

Nesse campo político e ideológico, os militares apresentaram-se como os

riam baseados na defesa

do país, bem como da proteção dos valores justos e morais. Do lado oposto, segundo

se os comunistas e os subversivos, portadores do mal e de

rmar que existiu também a

se como detentores de uma

verdade e dos valores justos para a sociedade, buscando acabar com as desigualdades

l, além de serem os

Page 10: Dossie1 oque eles dizem

3. A produção da informação

Se os militares se colocaram como os representantes e defensores de uma causa

maior, também contribuíram para disseminar a noção de um perigo eminente, de uma

guerra psicológica, de um complô internacional que visava derrubar as estruturas do

mundo ocidental. Permeados por um sentimento de paranoia, o qual acabou também se

disseminando por toda a sociedade, os militares enxergavam o perigo comunista em

praticamente tudo. Logo após o golpe, em 13 de junho de 1964, foi criado o Serviço

Nacional de Informações (SNI) através da lei 4.341/64, que buscava levantar e produzir

informações que serviam de base para o aparelho repressivo, e segundo esta

comunidade de informações:

(...) os jornais, as emissoras de TV, o cinema e o teatro estariam dominados por comunistas, subversivos e licenciosos: os jornalistas eram acusados de obedecerem às diretrizes do 'movimento comunista internacional'; os escritores, diretores e atores comunidade, tentavam doutrinar o povo com 'ideologias alienígenas' ou corrompiamcomunidade de informações sobre atividades dos meios de comunicação, não tanto pelo que de grotesco há, mas pelo caráter representativo de suas avaliações, que expressam, em bruto, os preconceitos mais recônditos de alguns setores da sociedade brasileira. (FICO, 2001, p.166).

O comunismo estaria disseminado por toda a sociedade, t

qualquer medida de combate. Todos poderiam tornar

de determinados comportamentos ou atitudes, bem como do olhar preconceituoso e

temeroso dos setores mais conservadores. Na imagem 2, observamos um carta

apresenta supostos terroristas e o risco que representavam para a sociedade e para as

famílias. Era necessário o combate a esse inimigo, o qual poderia usar vários disfarces

e, por isso mesmo, estar infiltrado em lugares comuns, planejando insurreiçõ

governo, além de ser um risco para a população. O combate ao comunismo também

caracterizou-se pelo apelo a mensagens relacionadas à defesa da família e da moral.

3. A produção da informação

Se os militares se colocaram como os representantes e defensores de uma causa

maior, também contribuíram para disseminar a noção de um perigo eminente, de uma

rra psicológica, de um complô internacional que visava derrubar as estruturas do

mundo ocidental. Permeados por um sentimento de paranoia, o qual acabou também se

disseminando por toda a sociedade, os militares enxergavam o perigo comunista em

tudo. Logo após o golpe, em 13 de junho de 1964, foi criado o Serviço

Nacional de Informações (SNI) através da lei 4.341/64, que buscava levantar e produzir

informações que serviam de base para o aparelho repressivo, e segundo esta

es:

(...) os jornais, as emissoras de TV, o cinema e o teatro estariam dominados por comunistas, subversivos e licenciosos: os jornalistas eram acusados de obedecerem às diretrizes do 'movimento comunista internacional'; os escritores, diretores e atores de TV e teatro, segundo os papéis da comunidade, tentavam doutrinar o povo com 'ideologias alienígenas' ou corrompiam-se com pornografias. Vale a pena discernir o entendimento da comunidade de informações sobre atividades dos meios de comunicação, não

o pelo que de grotesco há, mas pelo caráter representativo de suas avaliações, que expressam, em bruto, os preconceitos mais recônditos de alguns setores da sociedade brasileira. (FICO, 2001, p.166).

O comunismo estaria disseminado por toda a sociedade, tornando imperiosa

qualquer medida de combate. Todos poderiam tornar-se suspeitos em potencial, a partir

de determinados comportamentos ou atitudes, bem como do olhar preconceituoso e

temeroso dos setores mais conservadores. Na imagem 2, observamos um carta

apresenta supostos terroristas e o risco que representavam para a sociedade e para as

famílias. Era necessário o combate a esse inimigo, o qual poderia usar vários disfarces

e, por isso mesmo, estar infiltrado em lugares comuns, planejando insurreiçõ

governo, além de ser um risco para a população. O combate ao comunismo também

se pelo apelo a mensagens relacionadas à defesa da família e da moral.

10

Se os militares se colocaram como os representantes e defensores de uma causa

maior, também contribuíram para disseminar a noção de um perigo eminente, de uma

rra psicológica, de um complô internacional que visava derrubar as estruturas do

mundo ocidental. Permeados por um sentimento de paranoia, o qual acabou também se

disseminando por toda a sociedade, os militares enxergavam o perigo comunista em

tudo. Logo após o golpe, em 13 de junho de 1964, foi criado o Serviço

Nacional de Informações (SNI) através da lei 4.341/64, que buscava levantar e produzir

informações que serviam de base para o aparelho repressivo, e segundo esta

(...) os jornais, as emissoras de TV, o cinema e o teatro estariam dominados por comunistas, subversivos e licenciosos: os jornalistas eram acusados de obedecerem às diretrizes do 'movimento comunista internacional'; os

de TV e teatro, segundo os papéis da comunidade, tentavam doutrinar o povo com 'ideologias alienígenas' ou

se com pornografias. Vale a pena discernir o entendimento da comunidade de informações sobre atividades dos meios de comunicação, não

o pelo que de grotesco há, mas pelo caráter representativo de suas avaliações, que expressam, em bruto, os preconceitos mais recônditos de alguns setores da sociedade brasileira. (FICO, 2001, p.166).

ornando imperiosa

se suspeitos em potencial, a partir

de determinados comportamentos ou atitudes, bem como do olhar preconceituoso e

temeroso dos setores mais conservadores. Na imagem 2, observamos um cartaz que

apresenta supostos terroristas e o risco que representavam para a sociedade e para as

famílias. Era necessário o combate a esse inimigo, o qual poderia usar vários disfarces

e, por isso mesmo, estar infiltrado em lugares comuns, planejando insurreições contra o

governo, além de ser um risco para a população. O combate ao comunismo também

se pelo apelo a mensagens relacionadas à defesa da família e da moral.

Page 11: Dossie1 oque eles dizem

2. Acusados de terrorismo pela ditadura

Mesmo sendo um órgão de informação, alguns

envolvendo em atividades de busca e prisão, fazendo também parte do aparelho

repressivo. Entre suas ações,

(...) o SNI interceptava correspondências, roubava documentos, fazia escutas telefônicas e acompanhava a vida das psuspeitos de subversão, fossem integrantes da equipe governamental. Infiltrava pessoas tanto nas organizações clandestinas quanto nos organismos legalizados de oposição ao regime, como era o caso do MDB. (ANTUNES, 2008, p. 221).

Dentre as informações produzidas, destaca

circulação interna, chamada

Agência Central do SNI. Esta publicação, com aproximadamente 180 exemplares, era

distribuída para a Presidência da República, Escola Superior de Guerra (ESG),

Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), Divisões de Seg

Informações (DSI) de ministérios civis, Ministério da Aeronáutica, Exército e Marinha,

ao Superior Tribunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal Militar (STM), autoridades

Acusados de terrorismo pela ditadura

Mesmo sendo um órgão de informação, alguns dos agentes do SNI acabaram se

envolvendo em atividades de busca e prisão, fazendo também parte do aparelho

repressivo. Entre suas ações,

(...) o SNI interceptava correspondências, roubava documentos, fazia escutas telefônicas e acompanhava a vida das pessoas, fossem adversários políticos e suspeitos de subversão, fossem integrantes da equipe governamental. Infiltrava pessoas tanto nas organizações clandestinas quanto nos organismos legalizados de oposição ao regime, como era o caso do MDB. (ANTUNES,

8, p. 221).

Dentre as informações produzidas, destaca-se uma produção mensal de

circulação interna, chamada Comunismo Internacional produzida a partir de 1970 pela

Agência Central do SNI. Esta publicação, com aproximadamente 180 exemplares, era

distribuída para a Presidência da República, Escola Superior de Guerra (ESG),

Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), Divisões de Seg

Informações (DSI) de ministérios civis, Ministério da Aeronáutica, Exército e Marinha,

ao Superior Tribunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal Militar (STM), autoridades

11

dos agentes do SNI acabaram se

envolvendo em atividades de busca e prisão, fazendo também parte do aparelho

(...) o SNI interceptava correspondências, roubava documentos, fazia escutas essoas, fossem adversários políticos e

suspeitos de subversão, fossem integrantes da equipe governamental. Infiltrava pessoas tanto nas organizações clandestinas quanto nos organismos legalizados de oposição ao regime, como era o caso do MDB. (ANTUNES,

se uma produção mensal de

produzida a partir de 1970 pela

Agência Central do SNI. Esta publicação, com aproximadamente 180 exemplares, era

distribuída para a Presidência da República, Escola Superior de Guerra (ESG),

Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), Divisões de Segurança e

Informações (DSI) de ministérios civis, Ministério da Aeronáutica, Exército e Marinha,

ao Superior Tribunal Federal (STF) e ao Superior Tribunal Militar (STM), autoridades

Page 12: Dossie1 oque eles dizem

eclesiásticas, como o arcebispo de São Paulo, à Câmara dos Deputados e ao S

Federal, às Secretarias de Segurança Pública e Polícia Militar de vários estados e aos

Departamentos de Ordem e Política e Social (DOPS) dos estados. A elaboração de tal

material, além de informar, fazia crer que este inimigo tinha realmente um grand

e que o mesmo deveria ser conhecido e vigiado constantemente, tornando

conhecer o modo como agiam, seus hábitos e suas características. Além dessa produção

sobre o modo de ser do comunista, era importante, na ótica do governo, conhece

o movimento comunista se encontrava em outros países.

Estas publicações se iniciavam com frases de comunistas conhecidos, como

Fidel Castro, Che Guevara, entre outros, tendo como título “Conheça o inimigo: o que

ele faz e o que ele diz”. No entende

sedutor, porém perigoso. A seguir, um calendário com datas importantes naquele mês

informava as datas em que deveria ser tomada uma atenção maior, podendo ocorrer

atividades destes comunistas em protesto

Independência do Brasil, Abolição dos Escravos. Seguiam

sobre o comunismo e suas características, para depois uma análise de sua atuação em

diversos países, divididos por continente.

O medo e a paranoia dotavam este inimigo de um poder muito maior, com um

alcance mundial, estando em todas as partes. Estes comunistas estariam subvertendo a

ordem, sem que a sociedade percebesse. Para esta comunidade de informações,

(...) Jornais e revistasdesenvolvida pelos comunistas, diretamente ou através de suas 'frentes', como inocentes úteis, 'infiltrados' ou mesmo atraídos pelo dinheiro que lhes é oferecido, atuam eficientemente (para os comunistas) na CamGuerra, nova denominação da surrada “Campanha pró Paz” desencadeada pela URSS, logo após a 2ª Grande Guerra.(...) A imprensa publica artigos dessa espécie e se omite completamente de dizer que é imperioso para o Mundo Ocidental que seja executadesenvolvida a política de contenção 'do monstro comunista, impedindo sua escalada'.Não dizem e repetem o que, desde há muito tempo é sabido, que os comunistas com suas 'Campanhas pró Paz' e 'Campanha Antidesejam desarmar material e espiritfacilmente dominá

Em momentos de crise ou mesmo de incertezas, mitos políticos, como o

comunismo e seu complô mundial, são reforçados, ganhando adesão no corpo social e

8Comunismo Internacional. Nº 06, junho de 1970. p. 1.2. Pasta nº 305. Topografia Paraná.

eclesiásticas, como o arcebispo de São Paulo, à Câmara dos Deputados e ao S

Federal, às Secretarias de Segurança Pública e Polícia Militar de vários estados e aos

Departamentos de Ordem e Política e Social (DOPS) dos estados. A elaboração de tal

material, além de informar, fazia crer que este inimigo tinha realmente um grand

e que o mesmo deveria ser conhecido e vigiado constantemente, tornando

conhecer o modo como agiam, seus hábitos e suas características. Além dessa produção

sobre o modo de ser do comunista, era importante, na ótica do governo, conhece

o movimento comunista se encontrava em outros países.

Estas publicações se iniciavam com frases de comunistas conhecidos, como

Fidel Castro, Che Guevara, entre outros, tendo como título “Conheça o inimigo: o que

ele faz e o que ele diz”. No entender dos militares, os comunistas possuíam um discurso

sedutor, porém perigoso. A seguir, um calendário com datas importantes naquele mês

informava as datas em que deveria ser tomada uma atenção maior, podendo ocorrer

atividades destes comunistas em protesto à ditadura, como no Dia do Trabalho,

Independência do Brasil, Abolição dos Escravos. Seguiam-se então, alguns textos gerais

sobre o comunismo e suas características, para depois uma análise de sua atuação em

diversos países, divididos por continente.

do e a paranoia dotavam este inimigo de um poder muito maior, com um

alcance mundial, estando em todas as partes. Estes comunistas estariam subvertendo a

ordem, sem que a sociedade percebesse. Para esta comunidade de informações,

(...) Jornais e revistas deveriam se opor a toda e qualquer campanha desenvolvida pelos comunistas, diretamente ou através de suas 'frentes', como inocentes úteis, 'infiltrados' ou mesmo atraídos pelo dinheiro que lhes é oferecido, atuam eficientemente (para os comunistas) na CamGuerra, nova denominação da surrada “Campanha pró Paz” desencadeada pela URSS, logo após a 2ª Grande Guerra. (...) A imprensa publica artigos dessa espécie e se omite completamente de dizer que é imperioso para o Mundo Ocidental que seja executadesenvolvida a política de contenção 'do monstro comunista, impedindo sua escalada'. Não dizem e repetem o que, desde há muito tempo é sabido, que os comunistas com suas 'Campanhas pró Paz' e 'Campanha Antidesejam desarmar material e espiritualmente o Mundo Ocidental para facilmente dominá-lo.8

Em momentos de crise ou mesmo de incertezas, mitos políticos, como o

comunismo e seu complô mundial, são reforçados, ganhando adesão no corpo social e

Nº 06, junho de 1970. p. 1.2. Pasta nº 305. Topografia 33. Arquivo Público do

12

eclesiásticas, como o arcebispo de São Paulo, à Câmara dos Deputados e ao Senado

Federal, às Secretarias de Segurança Pública e Polícia Militar de vários estados e aos

Departamentos de Ordem e Política e Social (DOPS) dos estados. A elaboração de tal

material, além de informar, fazia crer que este inimigo tinha realmente um grande poder

e que o mesmo deveria ser conhecido e vigiado constantemente, tornando-se necessário

conhecer o modo como agiam, seus hábitos e suas características. Além dessa produção

sobre o modo de ser do comunista, era importante, na ótica do governo, conhecer como

Estas publicações se iniciavam com frases de comunistas conhecidos, como

Fidel Castro, Che Guevara, entre outros, tendo como título “Conheça o inimigo: o que

r dos militares, os comunistas possuíam um discurso

sedutor, porém perigoso. A seguir, um calendário com datas importantes naquele mês

informava as datas em que deveria ser tomada uma atenção maior, podendo ocorrer

à ditadura, como no Dia do Trabalho,

se então, alguns textos gerais

sobre o comunismo e suas características, para depois uma análise de sua atuação em

do e a paranoia dotavam este inimigo de um poder muito maior, com um

alcance mundial, estando em todas as partes. Estes comunistas estariam subvertendo a

ordem, sem que a sociedade percebesse. Para esta comunidade de informações,

deveriam se opor a toda e qualquer campanha desenvolvida pelos comunistas, diretamente ou através de suas 'frentes', como inocentes úteis, 'infiltrados' ou mesmo atraídos pelo dinheiro que lhes é oferecido, atuam eficientemente (para os comunistas) na Campanha Anti-Guerra, nova denominação da surrada “Campanha pró Paz” desencadeada

(...) A imprensa publica artigos dessa espécie e se omite completamente de dizer que é imperioso para o Mundo Ocidental que seja executada e desenvolvida a política de contenção 'do monstro comunista, impedindo sua

Não dizem e repetem o que, desde há muito tempo é sabido, que os comunistas com suas 'Campanhas pró Paz' e 'Campanha Anti-Guerra',

ualmente o Mundo Ocidental para

Em momentos de crise ou mesmo de incertezas, mitos políticos, como o

comunismo e seu complô mundial, são reforçados, ganhando adesão no corpo social e

33. Arquivo Público do

Page 13: Dossie1 oque eles dizem

sendo também insuflados por aqueles que colocam

salvadores. E de que forma esses mitos são trazidos à tona e trabalhados? A quem ou a

que fazem referência para ganhar maior respeitabilidade ou mesmo ressonância? Não

basta apenas criar ou elaborar a ideia de um complô, mas també

negativos e obscuros, sendo evocados através de pesadelos, como o:

(...) medo dos porões tenebrosos, das paredes sem saída que se fecham, das fossas escuras de onde não se sobe de novo; medo de ser entregue a mãos desconhecidas, ogro, dos dentes, dos dentes carniceiros dos animais de presa, de tudo que tritura, despedaça e devora. (GIRARDET, 1987, p. 57).

Ao buscar compreender de que forma os mitos ganham associação com o rea

e passam a ser dotados de grande força no meio social, Girardet entende que eles

também podem conduzir ao delírio e a paranoia. Como uma força que estaria presente

em toda a sociedade, que com seus mil olhares clandestinos e com uma mão invisível

conduziria para a desgraça, o mito político coloca o indivíduo em uma temível rede de

malevolência, da qual praticamente não encontra saída.

Durante a Guerra Fria, os militares viam na URSS e na China os maiores

perigos, pois os mesmos teriam planos de conquista

comunismo por todo o planeta. Em todas as edições de

duas “potências comunistas”, como eram chamadas, tinham um capítulo específico. Por

outro lado, em meio ao crescimento de movimentos de contra

consumo de drogas, os militares atribuíam a culpa ao comunismo, que tinha como plano

entregar a juventude às drogas.

Uma das armas mais sutis e sinistras do comunismo consiste em sua persistente atividade de codemocrático. A maior parte da produção de ópio e seus derivados é originária da China, e através de inúmeros canais clandestinos esparramaproduzindo lucros fabulosos e causando a desagregação das comunistas. Um mundo dissoluto, entregue a drogas estupefacientes e alucinantes, não possui energia e integridade moral, indispensáveis para enfrentar a ameaça comunista.

O texto fazia referência às resoluções secretas da 1ª Conferência

realizada em Havana, em 1966, e uma delas afirmava que era necessário: 9 Comunismo Internacional. Nº 09 Setembro de 1970. p. 1.4. Pasta 306. Topografia 33. Arquivo Público do Paraná.

sendo também insuflados por aqueles que colocam-se no campo oposto como os

salvadores. E de que forma esses mitos são trazidos à tona e trabalhados? A quem ou a

que fazem referência para ganhar maior respeitabilidade ou mesmo ressonância? Não

basta apenas criar ou elaborar a ideia de um complô, mas também conectá

negativos e obscuros, sendo evocados através de pesadelos, como o:

(...) medo dos porões tenebrosos, das paredes sem saída que se fecham, das fossas escuras de onde não se sobe de novo; medo de ser entregue a mãos desconhecidas, de ser roubado, vendido ou abandonado; medo enfim, do ogro, dos dentes, dos dentes carniceiros dos animais de presa, de tudo que tritura, despedaça e devora. (GIRARDET, 1987, p. 57).

Ao buscar compreender de que forma os mitos ganham associação com o rea

e passam a ser dotados de grande força no meio social, Girardet entende que eles

também podem conduzir ao delírio e a paranoia. Como uma força que estaria presente

em toda a sociedade, que com seus mil olhares clandestinos e com uma mão invisível

iria para a desgraça, o mito político coloca o indivíduo em uma temível rede de

malevolência, da qual praticamente não encontra saída.

Durante a Guerra Fria, os militares viam na URSS e na China os maiores

perigos, pois os mesmos teriam planos de conquista mundial, almejando expandir o

comunismo por todo o planeta. Em todas as edições de Comunismo Internacional

duas “potências comunistas”, como eram chamadas, tinham um capítulo específico. Por

outro lado, em meio ao crescimento de movimentos de contra-cultura e do aumento no

consumo de drogas, os militares atribuíam a culpa ao comunismo, que tinha como plano

entregar a juventude às drogas. Segundo sua visão:

Uma das armas mais sutis e sinistras do comunismo consiste em sua persistente atividade de corromper os costumes para debilitar o mundo democrático. A maior parte da produção de ópio e seus derivados é originária da China, e através de inúmeros canais clandestinos esparramaproduzindo lucros fabulosos e causando a desagregação das comunistas. Um mundo dissoluto, entregue a drogas estupefacientes e alucinantes, não possui energia e integridade moral, indispensáveis para enfrentar a ameaça comunista.9

O texto fazia referência às resoluções secretas da 1ª Conferência

realizada em Havana, em 1966, e uma delas afirmava que era necessário: Nº 09 Setembro de 1970. p. 1.4. Pasta 306. Topografia 33. Arquivo Público

13

e no campo oposto como os

salvadores. E de que forma esses mitos são trazidos à tona e trabalhados? A quem ou a

que fazem referência para ganhar maior respeitabilidade ou mesmo ressonância? Não

m conectá-los a valores

(...) medo dos porões tenebrosos, das paredes sem saída que se fecham, das fossas escuras de onde não se sobe de novo; medo de ser entregue a mãos

de ser roubado, vendido ou abandonado; medo enfim, do ogro, dos dentes, dos dentes carniceiros dos animais de presa, de tudo que

Ao buscar compreender de que forma os mitos ganham associação com o real,

e passam a ser dotados de grande força no meio social, Girardet entende que eles

também podem conduzir ao delírio e a paranoia. Como uma força que estaria presente

em toda a sociedade, que com seus mil olhares clandestinos e com uma mão invisível

iria para a desgraça, o mito político coloca o indivíduo em uma temível rede de

Durante a Guerra Fria, os militares viam na URSS e na China os maiores

mundial, almejando expandir o

Comunismo Internacional estas

duas “potências comunistas”, como eram chamadas, tinham um capítulo específico. Por

cultura e do aumento no

consumo de drogas, os militares atribuíam a culpa ao comunismo, que tinha como plano

Uma das armas mais sutis e sinistras do comunismo consiste em sua rromper os costumes para debilitar o mundo

A maior parte da produção de ópio e seus derivados é originária da China, e através de inúmeros canais clandestinos esparrama-se pelo mundo, produzindo lucros fabulosos e causando a desagregação das sociedades não

Um mundo dissoluto, entregue a drogas estupefacientes e alucinantes, não possui energia e integridade moral, indispensáveis para enfrentar a ameaça

O texto fazia referência às resoluções secretas da 1ª Conferência Tricontinental,

realizada em Havana, em 1966, e uma delas afirmava que era necessário:

Nº 09 Setembro de 1970. p. 1.4. Pasta 306. Topografia 33. Arquivo Público

Page 14: Dossie1 oque eles dizem

Apoiar resolutamente a campanha a favor das drogas, baseandoprincípio do respeito aos direitos individuais.Manter completamente separados os quadros do partido de narcóticos, de maneira que essa fonte de receita não possa ser vinculada a ação revolucionária; entretanto, devemos combinar a insuflação do medo à guerra atômica, com o pacifismo e com a desmoralização da juventude através do estí

Tendo como base um jornal estrangeiro, que publicara tal resolução secreta

desta Conferência, mas que de alguma forma tornou

confirmavam os planos comunistas para destruir a juventude ocidental. Uti

uma fonte jornalística para corroborar as teorias de um complô subversivo que buscava

causar a degradação dos valores morais.

Costuma-se acreditar que o serviço de repressão e informação era exercido por

pessoas de uma limitada intelectualidade,

alienados e ignorantes. Por certo, muitos atos militares, seja no campo da repressão,

informação e censura, foram motivados por uma grande falta de conhecimento da

realidade ou mesmo por uma suspeita demasiada de que

setores da sociedade. Mas por outro, muitos militares eram também intelectuais a favor

do regime, não se envolvendo nas atividades repressivas e violentas. Esses militares

anticomunistas além de citarem conhecidos filósofos,

informações e textos jornalísticos produzidos em todo o mundo, os quais eram

utilizados para depreciar o comunismo. Ao afirmar que esses comunistas se utilizavam

de um nacionalismo anti-ianque em seu benefício, mostravam que:

Fenômenos econômicos são transformados em questões emocionais. A miséria não é uma consequência do atraso técnico, situação de tipo précapitalista, mas resultado da maldade dos ricos. Há miséria porque há ricos, porque há injustiça, porque a Igreja CatólArmadas defendem os interesses das classes dominantes. Colocam assim, sob forte ataque, as bases principais de nossas instituições. Sobre esse fundo emotivo, os comunistas atuam visando a criar aversão ao capitalismo, ao se acusa de promotor e causador da injustiça social. Procuramantinomias Povolado dessa corrosão econômica e política, o comunismo apela, em sua ação de amaciamento, para a debilitação eTodas as formas do materialismo mais grosseiro são vestidas com roupagens científicas. Milhares de jovens são conquistados para o comunismo graças aos mais variados métodos de corrupção, viagens ao estrangeiro, subvapelo a candidatos estudantis, etc...A par de tudo isto, um impiedoso ataque a quantos resista à infiltração. Parte

10Comunismo Internacional. Nº 09 Setembro de 1970. p. 1.4. Pasta 306. Topografia 33. Arquivo Público do Paraná.

Apoiar resolutamente a campanha a favor das drogas, baseandoprincípio do respeito aos direitos individuais. Manter completamente separados os quadros do partido dos canais de tráfico de narcóticos, de maneira que essa fonte de receita não possa ser vinculada a ação revolucionária; entretanto, devemos combinar a insuflação do medo à guerra atômica, com o pacifismo e com a desmoralização da juventude através do estímulo ao uso dos alucinógenos.10

Tendo como base um jornal estrangeiro, que publicara tal resolução secreta

desta Conferência, mas que de alguma forma tornou-se pública, os militares

confirmavam os planos comunistas para destruir a juventude ocidental. Uti

uma fonte jornalística para corroborar as teorias de um complô subversivo que buscava

causar a degradação dos valores morais.

se acreditar que o serviço de repressão e informação era exercido por

pessoas de uma limitada intelectualidade, constituindo-se em órgãos formados por

alienados e ignorantes. Por certo, muitos atos militares, seja no campo da repressão,

informação e censura, foram motivados por uma grande falta de conhecimento da

realidade ou mesmo por uma suspeita demasiada de que o comunismo estaria em vários

setores da sociedade. Mas por outro, muitos militares eram também intelectuais a favor

do regime, não se envolvendo nas atividades repressivas e violentas. Esses militares

anticomunistas além de citarem conhecidos filósofos, também estavam em contato com

informações e textos jornalísticos produzidos em todo o mundo, os quais eram

utilizados para depreciar o comunismo. Ao afirmar que esses comunistas se utilizavam

ianque em seu benefício, mostravam que:

Fenômenos econômicos são transformados em questões emocionais. A miséria não é uma consequência do atraso técnico, situação de tipo précapitalista, mas resultado da maldade dos ricos. Há miséria porque há ricos, porque há injustiça, porque a Igreja Católica é inoperante, porque as Forças Armadas defendem os interesses das classes dominantes. Colocam assim, sob forte ataque, as bases principais de nossas instituições. Sobre esse fundo emotivo, os comunistas atuam visando a criar aversão ao capitalismo, ao se acusa de promotor e causador da injustiça social. Procuramantinomias Povo-Classes dominantes, Nação-Imperialismo Estrangeiro. Ao lado dessa corrosão econômica e política, o comunismo apela, em sua ação de amaciamento, para a debilitação e quebra dos valores morais da sociedade. Todas as formas do materialismo mais grosseiro são vestidas com roupagens científicas. Milhares de jovens são conquistados para o comunismo graças aos mais variados métodos de corrupção, viagens ao estrangeiro, subvapelo a candidatos estudantis, etc... A par de tudo isto, um impiedoso ataque a quantos resista à infiltração. Parte

Nº 09 Setembro de 1970. p. 1.4. Pasta 306. Topografia 33. Arquivo Público

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Apoiar resolutamente a campanha a favor das drogas, baseando-a no

dos canais de tráfico de narcóticos, de maneira que essa fonte de receita não possa ser vinculada a ação revolucionária; entretanto, devemos combinar a insuflação do medo à guerra atômica, com o pacifismo e com a desmoralização da juventude

Tendo como base um jornal estrangeiro, que publicara tal resolução secreta

se pública, os militares

confirmavam os planos comunistas para destruir a juventude ocidental. Utilizava-se

uma fonte jornalística para corroborar as teorias de um complô subversivo que buscava

se acreditar que o serviço de repressão e informação era exercido por

se em órgãos formados por

alienados e ignorantes. Por certo, muitos atos militares, seja no campo da repressão,

informação e censura, foram motivados por uma grande falta de conhecimento da

o comunismo estaria em vários

setores da sociedade. Mas por outro, muitos militares eram também intelectuais a favor

do regime, não se envolvendo nas atividades repressivas e violentas. Esses militares

também estavam em contato com

informações e textos jornalísticos produzidos em todo o mundo, os quais eram

utilizados para depreciar o comunismo. Ao afirmar que esses comunistas se utilizavam

Fenômenos econômicos são transformados em questões emocionais. A miséria não é uma consequência do atraso técnico, situação de tipo pré-capitalista, mas resultado da maldade dos ricos. Há miséria porque há ricos,

ica é inoperante, porque as Forças Armadas defendem os interesses das classes dominantes. Colocam assim, sob forte ataque, as bases principais de nossas instituições. Sobre esse fundo emotivo, os comunistas atuam visando a criar aversão ao capitalismo, ao qual se acusa de promotor e causador da injustiça social. Procuram-se criar

Imperialismo Estrangeiro. Ao lado dessa corrosão econômica e política, o comunismo apela, em sua ação

quebra dos valores morais da sociedade. Todas as formas do materialismo mais grosseiro são vestidas com roupagens científicas. Milhares de jovens são conquistados para o comunismo graças aos mais variados métodos de corrupção, viagens ao estrangeiro, subvenções,

A par de tudo isto, um impiedoso ataque a quantos resista à infiltração. Parte

Nº 09 Setembro de 1970. p. 1.4. Pasta 306. Topografia 33. Arquivo Público

Page 15: Dossie1 oque eles dizem

essencial da tática comunista, nesta etapa, será a difusão do critério do Determinismo Econômico, segundo o qual os fenômenos sociajurídicos, filosóficos e artísticos constituem apenas a superestrutura da sociedade que não é senão o reflexo do processo econômico infragrandes mananciaisproduto das ideias, do pensamento, da tensa elaboração intelectual dos homens. Impõebasear a luta num terreno eminentemente espiritual. (...) É defesa da filosofia cristã e o estabelecimento das nossas próprias 'forças fundamentais', como a Propriedade Privada, a Igreja Católica, as Forças Armadas e outra de grande importância: a teoria e prática do Interamericanismo.

Se esses militares demonstravam conhecer as supostas táticas de subversão,

sejam elas de caráter pacifistas ou de incentivo ao consumo de drogas, conheciam

também a linguagem marxista. Esses produtores da informação e de conhecimento

dentro dos órgãos de inteligência, distanciados muitas vezes das atividades de repressão,

acabavam por elaborar um material que indicava a leitura de várias obras e também

publicações estrangeiras. Se esses militares não giravam o dínamo que produzia

descargas elétricas nos tor

medida, para que ele fosse acionado.

Ao longo de toda a publicação, podem ser percebidos dois ideais distintos, mas

que se complementam. Primeiro, demonstrar a força deste inimigo e como ele se

espalhava por todo o mundo de uma forma silenciosa, como em artigos intitulados “A

aproximação da 'Al Fatah' à China Comunista”, “A subversão e o terrorismo:

Desmoralização da Polícia e do cidadão”, “O interesse da URSS pela América Latina”.

Segundo, mesmo dotando este inimigo de força, os militares o associavam a práticas

imorais, como a pornografia, a produção e o incentivo ao consumo de drogas, o apoio

ao sexo e ao amor livre. Para os militares, estas táticas visavam destruir as estruturas do

mundo ocidental, facilitando a sua conquista pelos comunistas.

Os textos presentes em

pensamento da época em relação ao perigo comunista. Os agentes dos serviços de

informações realizavam cursos no Brasil e no exterior, com conteúdos que tratavam,

além de operações técnicas de escutas telefônicas e grampos, do caráter sub

perigoso do comunismo. O treinamento do agente secreto visava prepará

combate à subversão (QUADRAT, 2012), mas também para que pudesse propagar

11 Comunismo Internacional. Nº 01 janeiro de 1971. p. 1.8. Pasta 307. Topografia 33. Arquivo Público do Paraná.

essencial da tática comunista, nesta etapa, será a difusão do critério do Determinismo Econômico, segundo o qual os fenômenos sociajurídicos, filosóficos e artísticos constituem apenas a superestrutura da sociedade que não é senão o reflexo do processo econômico infra-estrutura, este. O mundo ocidental buscou nos valores espirituais e nos grandes mananciais do espírito todo seu poderio. O progresso econômico foi produto das ideias, do pensamento, da tensa elaboração intelectual dos homens. Impõe-se rechaçar o determinismo econômico dos comunistas e basear a luta num terreno eminentemente espiritual. (...) É defesa da filosofia cristã e o estabelecimento das nossas próprias 'forças fundamentais', como a Propriedade Privada, a Igreja Católica, as Forças Armadas e outra de grande importância: a teoria e prática do Interamericanismo.11

Se esses militares demonstravam conhecer as supostas táticas de subversão,

sejam elas de caráter pacifistas ou de incentivo ao consumo de drogas, conheciam

também a linguagem marxista. Esses produtores da informação e de conhecimento

nteligência, distanciados muitas vezes das atividades de repressão,

acabavam por elaborar um material que indicava a leitura de várias obras e também

publicações estrangeiras. Se esses militares não giravam o dínamo que produzia

descargas elétricas nos torturados, acabavam indiretamente contribuindo, em certa

medida, para que ele fosse acionado.

Ao longo de toda a publicação, podem ser percebidos dois ideais distintos, mas

que se complementam. Primeiro, demonstrar a força deste inimigo e como ele se

ava por todo o mundo de uma forma silenciosa, como em artigos intitulados “A

aproximação da 'Al Fatah' à China Comunista”, “A subversão e o terrorismo:

Desmoralização da Polícia e do cidadão”, “O interesse da URSS pela América Latina”.

do este inimigo de força, os militares o associavam a práticas

imorais, como a pornografia, a produção e o incentivo ao consumo de drogas, o apoio

ao sexo e ao amor livre. Para os militares, estas táticas visavam destruir as estruturas do

facilitando a sua conquista pelos comunistas.

Os textos presentes em Comunismo Internacional são um reflexo do

pensamento da época em relação ao perigo comunista. Os agentes dos serviços de

informações realizavam cursos no Brasil e no exterior, com conteúdos que tratavam,

além de operações técnicas de escutas telefônicas e grampos, do caráter sub

perigoso do comunismo. O treinamento do agente secreto visava prepará

combate à subversão (QUADRAT, 2012), mas também para que pudesse propagar

Nº 01 janeiro de 1971. p. 1.8. Pasta 307. Topografia 33. Arquivo Público do

15

essencial da tática comunista, nesta etapa, será a difusão do critério do Determinismo Econômico, segundo o qual os fenômenos sociais, políticos, jurídicos, filosóficos e artísticos constituem apenas a superestrutura da sociedade que não é senão o reflexo do processo econômico – verdadeira

estrutura, este. O mundo ocidental buscou nos valores espirituais e nos do espírito todo seu poderio. O progresso econômico foi

produto das ideias, do pensamento, da tensa elaboração intelectual dos se rechaçar o determinismo econômico dos comunistas e

basear a luta num terreno eminentemente espiritual. (...) É fundamental a defesa da filosofia cristã e o estabelecimento das nossas próprias 'forças fundamentais', como a Propriedade Privada, a Igreja Católica, as Forças Armadas e outra de grande importância: a teoria e prática do

Se esses militares demonstravam conhecer as supostas táticas de subversão,

sejam elas de caráter pacifistas ou de incentivo ao consumo de drogas, conheciam

também a linguagem marxista. Esses produtores da informação e de conhecimento

nteligência, distanciados muitas vezes das atividades de repressão,

acabavam por elaborar um material que indicava a leitura de várias obras e também

publicações estrangeiras. Se esses militares não giravam o dínamo que produzia

turados, acabavam indiretamente contribuindo, em certa

Ao longo de toda a publicação, podem ser percebidos dois ideais distintos, mas

que se complementam. Primeiro, demonstrar a força deste inimigo e como ele se

ava por todo o mundo de uma forma silenciosa, como em artigos intitulados “A

aproximação da 'Al Fatah' à China Comunista”, “A subversão e o terrorismo:

Desmoralização da Polícia e do cidadão”, “O interesse da URSS pela América Latina”.

do este inimigo de força, os militares o associavam a práticas

imorais, como a pornografia, a produção e o incentivo ao consumo de drogas, o apoio

ao sexo e ao amor livre. Para os militares, estas táticas visavam destruir as estruturas do

são um reflexo do

pensamento da época em relação ao perigo comunista. Os agentes dos serviços de

informações realizavam cursos no Brasil e no exterior, com conteúdos que tratavam,

além de operações técnicas de escutas telefônicas e grampos, do caráter subversivo e

perigoso do comunismo. O treinamento do agente secreto visava prepará-lo para o

combate à subversão (QUADRAT, 2012), mas também para que pudesse propagar

Nº 01 janeiro de 1971. p. 1.8. Pasta 307. Topografia 33. Arquivo Público do

Page 16: Dossie1 oque eles dizem

mensagens de mobilização da opinião pública, criando falsos boatos.

na Escola Superior de Guerra (ESG) e depois na Escola Nacional de Informações

(EsNI), criada em 1971, ou ainda na Escola das Américas, no Panamá, buscava reforçar

no agente o sentimento anticomunista e também que ele conseguisse reproduzir esse

discurso. A publicação do SNI é um dos exemplos da reprodução desse anticomunismo,

o qual pode também ser entendido como um dos fundamentos da violência durante a

ditadura civil-militar. A perseguição ao subversivo tornava

aparelho repressivo.

3. Violência durante a

4. Conclusões

O sentimento de paranoia existente em muitos governos totalitários ou

autoritários acaba também por causar a violência. Se existe o inimigo, torna

fundamental para aqueles que se enco

valores pertinentes a ela ameaçados, a justificativa de defendê

ações de violência e terror. Nestes períodos, toda a sociedade é passível de sofrer com

atos de terrorismo, aqui enten

de estarem contra a ordem estabelecida, e por isso mesmo, a espionagem contra todos

torna-se fundamental. Em regimes de caráter totalizante ou mesmo autoritário, o

inimigo, no entender do governo, pode

12 Ação educativa contra a Guerra Revolucionária. propaganda e boato. Brasil. Arquivo Nacional, Ri

mensagens de mobilização da opinião pública, criando falsos boatos.12 Esse treinamento

ola Superior de Guerra (ESG) e depois na Escola Nacional de Informações

(EsNI), criada em 1971, ou ainda na Escola das Américas, no Panamá, buscava reforçar

no agente o sentimento anticomunista e também que ele conseguisse reproduzir esse

cação do SNI é um dos exemplos da reprodução desse anticomunismo,

o qual pode também ser entendido como um dos fundamentos da violência durante a

militar. A perseguição ao subversivo tornava-se justa no entender do

olência durante a ditadura civil-militar brasileira.

O sentimento de paranoia existente em muitos governos totalitários ou

autoritários acaba também por causar a violência. Se existe o inimigo, torna

fundamental para aqueles que se encontram no poder eliminá-lo. Com a sociedade ou os

valores pertinentes a ela ameaçados, a justificativa de defendê-los conduz, por certo, a

ações de violência e terror. Nestes períodos, toda a sociedade é passível de sofrer com

atos de terrorismo, aqui entendido como um terrorismo de Estado. Todos são passíveis

de estarem contra a ordem estabelecida, e por isso mesmo, a espionagem contra todos

se fundamental. Em regimes de caráter totalizante ou mesmo autoritário, o

inimigo, no entender do governo, pode esconder-se sob suas próprias barras. Por outro

Ação educativa contra a Guerra Revolucionária. Unidade II – mobilização da opinião pública

propaganda e boato. Brasil. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro. X9.0.TAI.1/19. p. 25.

16

Esse treinamento

ola Superior de Guerra (ESG) e depois na Escola Nacional de Informações

(EsNI), criada em 1971, ou ainda na Escola das Américas, no Panamá, buscava reforçar

no agente o sentimento anticomunista e também que ele conseguisse reproduzir esse

cação do SNI é um dos exemplos da reprodução desse anticomunismo,

o qual pode também ser entendido como um dos fundamentos da violência durante a

se justa no entender do

O sentimento de paranoia existente em muitos governos totalitários ou

autoritários acaba também por causar a violência. Se existe o inimigo, torna-se

lo. Com a sociedade ou os

los conduz, por certo, a

ações de violência e terror. Nestes períodos, toda a sociedade é passível de sofrer com

dido como um terrorismo de Estado. Todos são passíveis

de estarem contra a ordem estabelecida, e por isso mesmo, a espionagem contra todos

se fundamental. Em regimes de caráter totalizante ou mesmo autoritário, o

se sob suas próprias barras. Por outro

mobilização da opinião pública -

Page 17: Dossie1 oque eles dizem

lado, entende-se que a violência não se restringe apenas ao físico, mas também pode ser

entendida como uma violência relacionada ao psicológico, no qual entram as ameaças,

suspensões dos direitos e também o

conhecimento do próprio governo, ou também sendo usada por este para obter

informações.13 A vida privada deve, nestes regimes autoritários, ser investigada para

atestar a idoneidade dos cidadãos e demonstrar

corpo social. Desta forma, o terrorismo acaba por fazer parte destas sociedades com a

justificativa última de defendê

Diferentemente do extermínio em massa, a dit

optou por uma forma de terrorismo, buscando silenciar uma parte específica da

sociedade, aquela mesma identificada como subversiva. Assim,

(...) é sua eno espaço, visando um objeto cuidadosamente selecionado, ainda que este seja uma

Ao buscar compreender a lógica do terrorismo, pode

atravessado por uma violência dupla. A primeira voltada para o interior do próprio

grupo terrorista. Seria uma violência densa e fusional, que encontra sua razão de ser no

clarão do próprio ato. A segunda, ao se espalhar pela sociedade

mais nebulosa, mais cega e difusa. O ato terrorista ou violento, dessa forma, atende a

dois objetivos: eliminar o seu alvo ou fazê

(MAGALHÃES, 2001, p. 70).

Ao se apresentar como o motivo ú

justo, o ato terrorista encontra coro na organização social, na qual a violência recolhe a

esperança. Desta forma, para Roger Dadoun, a violência é formada por um triângulo

terrorista, no qual podem ser percebido

(...) o Grupo, o Sistema, a Massa. Entre eles realizamproblemáticos cruzamentos que poderíamos esclarecer com a ajuda de uma analogia com a estrutura do psiquismo. Centrado, concentrado sobre si mesmo, egocêntrico, narciscorresponderia convenientemente ao Eu, instância da consciência, da iniciativa, do domínio, do discurso; valor dinâmico, coerente e da posteridade. O Grupo se dirige contra o Sistema, que poderia representar o

13 Entende-se que a obtenção de informações de caráter privado, como hábitos sexuais, foram também usadas para conseguir informações em interrogatórios como forma de intimidar ou mesmo desestruturar o interrogado.

se que a violência não se restringe apenas ao físico, mas também pode ser

entendida como uma violência relacionada ao psicológico, no qual entram as ameaças,

suspensões dos direitos e também o esquadrinhamento da vida privada, devendo ser de

conhecimento do próprio governo, ou também sendo usada por este para obter

A vida privada deve, nestes regimes autoritários, ser investigada para

atestar a idoneidade dos cidadãos e demonstrar que estes são dignos de fazerem parte do

corpo social. Desta forma, o terrorismo acaba por fazer parte destas sociedades com a

justificativa última de defendê-las, de proteger os seus próprios cidadãos do mal.

Diferentemente do extermínio em massa, a ditadura civil-militar brasileira

optou por uma forma de terrorismo, buscando silenciar uma parte específica da

sociedade, aquela mesma identificada como subversiva. Assim,

o terrorismo surge de modo mais exato: o atentado, ato de violência que é sua expressão característica, concentra-se num ponto limitado no tempo e no espaço, visando um objeto cuidadosamente selecionado, ainda que este seja uma multidão anônima e transeunte. (DADOUN, 1998, p. 35).

Ao buscar compreender a lógica do terrorismo, pode-se afirmar que ele é

atravessado por uma violência dupla. A primeira voltada para o interior do próprio

grupo terrorista. Seria uma violência densa e fusional, que encontra sua razão de ser no

clarão do próprio ato. A segunda, ao se espalhar pela sociedade, seria uma violência

mais nebulosa, mais cega e difusa. O ato terrorista ou violento, dessa forma, atende a

dois objetivos: eliminar o seu alvo ou fazê-lo falar e ainda fazer silenciar o inimigo.

(MAGALHÃES, 2001, p. 70).

Ao se apresentar como o motivo último de um projeto revolucionário, além de

justo, o ato terrorista encontra coro na organização social, na qual a violência recolhe a

esperança. Desta forma, para Roger Dadoun, a violência é formada por um triângulo

terrorista, no qual podem ser percebidos três elementos:

(...) o Grupo, o Sistema, a Massa. Entre eles realizamproblemáticos cruzamentos que poderíamos esclarecer com a ajuda de uma analogia com a estrutura do psiquismo. Centrado, concentrado sobre si mesmo, egocêntrico, narcisista, pretendo autonomia e identidade, o Grupo corresponderia convenientemente ao Eu, instância da consciência, da iniciativa, do domínio, do discurso; valor dinâmico, coerente e da posteridade. O Grupo se dirige contra o Sistema, que poderia representar o

se que a obtenção de informações de caráter privado, como hábitos sexuais, foram também

usadas para conseguir informações em interrogatórios como forma de intimidar ou mesmo desestruturar o

17

se que a violência não se restringe apenas ao físico, mas também pode ser

entendida como uma violência relacionada ao psicológico, no qual entram as ameaças,

esquadrinhamento da vida privada, devendo ser de

conhecimento do próprio governo, ou também sendo usada por este para obter

A vida privada deve, nestes regimes autoritários, ser investigada para

que estes são dignos de fazerem parte do

corpo social. Desta forma, o terrorismo acaba por fazer parte destas sociedades com a

las, de proteger os seus próprios cidadãos do mal.

militar brasileira

optou por uma forma de terrorismo, buscando silenciar uma parte específica da

, ato de violência que se num ponto limitado no tempo e

no espaço, visando um objeto cuidadosamente selecionado, ainda que este (DADOUN, 1998, p. 35).

se afirmar que ele é

atravessado por uma violência dupla. A primeira voltada para o interior do próprio

grupo terrorista. Seria uma violência densa e fusional, que encontra sua razão de ser no

, seria uma violência

mais nebulosa, mais cega e difusa. O ato terrorista ou violento, dessa forma, atende a

lo falar e ainda fazer silenciar o inimigo.

ltimo de um projeto revolucionário, além de

justo, o ato terrorista encontra coro na organização social, na qual a violência recolhe a

esperança. Desta forma, para Roger Dadoun, a violência é formada por um triângulo

(...) o Grupo, o Sistema, a Massa. Entre eles realizam-se estranhos e problemáticos cruzamentos que poderíamos esclarecer com a ajuda de uma analogia com a estrutura do psiquismo. Centrado, concentrado sobre si

ista, pretendo autonomia e identidade, o Grupo corresponderia convenientemente ao Eu, instância da consciência, da iniciativa, do domínio, do discurso; valor dinâmico, coerente e da posteridade. O Grupo se dirige contra o Sistema, que poderia representar o

se que a obtenção de informações de caráter privado, como hábitos sexuais, foram também usadas para conseguir informações em interrogatórios como forma de intimidar ou mesmo desestruturar o

Page 18: Dossie1 oque eles dizem

Superego, pois ele profere proibições, dita a lei e a norma, detém a autoridade e impõe a repressão. O Grupo e o Sistema, dualidade belicosa e armada, visam juntos um terceiro termo, que é a Massa 'nação', 'comunidade', etc. que compararíamos validamente ao Isso. O Grupo afirma trabalhar é Eu, consciência, vontade, Cabeça massa e inconsciência... (DADOUN, 1998, p. 38).

Ao fazer analogia do sistema exposto acima com a ditadura civil

brasileira, Marion B. Magalhães, entende o

conceito tanto a elite responsável pelo sistema repressivo como o próprio torturador, que

representaria ou se imaginaria representante do próprio governo; o

subversivos, ao qual são atribuídos pelo si

muito maior do que a do próprio governo; e o

a população, mas sim a ordem. Para a autora, havia tanto a identificação do subversivo

como terrorista, além de uma obsessão d

p. 70)

Por certo, a ditadura civil

como forma de violência, tanto para a obtenção de informações, ao torturar física e

psicologicamente seus acusados, como para

prejudiciais à ordem. Este terrorismo de Estado está ligado diretamente à ideia e aos

preceitos da Doutrina de Segurança Nacional, para a qual, o cidadão não deve se

realizar enquanto pertencente a uma classe social, ou

como pertencente a uma comunidade nacional coesa, a qual o potencializa e viabiliza a

satisfação de suas demandas. Desta forma tudo aquilo que apontar em contrário desta

coesão nacional, e mostre antagonismos sociais, é visto

indivíduos identificados a estas ideologias, vistas como estranhas e também diferente

das locais, foram tratados como inimigos perigosos da unidade nacional, pois não

compartilhavam das mesmas aspirações e ideais desta elite local.

144). Neste sentido, a Doutrina de Segurança Nacional associou “diretamente o

'subversivo', portador de tensões e 'contaminado' por ideais e influências estranhas

(externas), ao comunismo, sendo este tratado de forma tão vulgar e impreci

abrangeu toda e qualquer forma de manifestação de descontentamento com a ordem

vigente.” (PADRÓS, 2008, p. 152). Todavia, não se pode afirmar que existia uma

coesão ideológica dentro do governo militar e que essa Doutrina de Segurança Nacional

era percebida por todos os executores da repressão da mesma forma. Por outro lado,

Superego, pois ele profere proibições, dita a lei e a norma, detém a autoridade e impõe a repressão. O Grupo e o Sistema, dualidade belicosa e armada, visam juntos um terceiro termo, que é a Massa – ou 'povo', 'proletariado', 'nação', 'comunidade', etc. - força bruta, inconsciente, reservatório de energia, que compararíamos validamente ao Isso. O Grupo afirma trabalhar é Eu, consciência, vontade, Cabeça – pela totalidade do Corpo social, que é massa e inconsciência... (DADOUN, 1998, p. 38).

Ao fazer analogia do sistema exposto acima com a ditadura civil

brasileira, Marion B. Magalhães, entende o Eu como governo, sendo enquadrados neste

conceito tanto a elite responsável pelo sistema repressivo como o próprio torturador, que

representaria ou se imaginaria representante do próprio governo; o Superego

subversivos, ao qual são atribuídos pelo sistema de informações e repressão uma força

muito maior do que a do próprio governo; e o Isso, o qual não representaria a massa ou

a população, mas sim a ordem. Para a autora, havia tanto a identificação do subversivo

como terrorista, além de uma obsessão do governo pela ordem. (MAGALHÃES, 2001,

Por certo, a ditadura civil-militar brasileira valeu-se deste terrorismo de Estado

como forma de violência, tanto para a obtenção de informações, ao torturar física e

psicologicamente seus acusados, como para eliminar seus inimigos, vistos como

prejudiciais à ordem. Este terrorismo de Estado está ligado diretamente à ideia e aos

preceitos da Doutrina de Segurança Nacional, para a qual, o cidadão não deve se

realizar enquanto pertencente a uma classe social, ou mesmo como indivíduo, mas sim

como pertencente a uma comunidade nacional coesa, a qual o potencializa e viabiliza a

satisfação de suas demandas. Desta forma tudo aquilo que apontar em contrário desta

coesão nacional, e mostre antagonismos sociais, é visto como nocivo à nação. Os

indivíduos identificados a estas ideologias, vistas como estranhas e também diferente

das locais, foram tratados como inimigos perigosos da unidade nacional, pois não

compartilhavam das mesmas aspirações e ideais desta elite local. (PADRÓS, 2008, p.

144). Neste sentido, a Doutrina de Segurança Nacional associou “diretamente o

'subversivo', portador de tensões e 'contaminado' por ideais e influências estranhas

(externas), ao comunismo, sendo este tratado de forma tão vulgar e impreci

abrangeu toda e qualquer forma de manifestação de descontentamento com a ordem

vigente.” (PADRÓS, 2008, p. 152). Todavia, não se pode afirmar que existia uma

coesão ideológica dentro do governo militar e que essa Doutrina de Segurança Nacional

ercebida por todos os executores da repressão da mesma forma. Por outro lado,

18

Superego, pois ele profere proibições, dita a lei e a norma, detém a autoridade e impõe a repressão. O Grupo e o Sistema, dualidade belicosa e armada,

ou 'povo', 'proletariado', força bruta, inconsciente, reservatório de energia,

que compararíamos validamente ao Isso. O Grupo afirma trabalhar – ele que pela totalidade do Corpo social, que é

Ao fazer analogia do sistema exposto acima com a ditadura civil-militar

como governo, sendo enquadrados neste

conceito tanto a elite responsável pelo sistema repressivo como o próprio torturador, que

Superego como os

stema de informações e repressão uma força

o qual não representaria a massa ou

a população, mas sim a ordem. Para a autora, havia tanto a identificação do subversivo

o governo pela ordem. (MAGALHÃES, 2001,

se deste terrorismo de Estado

como forma de violência, tanto para a obtenção de informações, ao torturar física e

eliminar seus inimigos, vistos como

prejudiciais à ordem. Este terrorismo de Estado está ligado diretamente à ideia e aos

preceitos da Doutrina de Segurança Nacional, para a qual, o cidadão não deve se

mesmo como indivíduo, mas sim

como pertencente a uma comunidade nacional coesa, a qual o potencializa e viabiliza a

satisfação de suas demandas. Desta forma tudo aquilo que apontar em contrário desta

como nocivo à nação. Os

indivíduos identificados a estas ideologias, vistas como estranhas e também diferente

das locais, foram tratados como inimigos perigosos da unidade nacional, pois não

(PADRÓS, 2008, p.

144). Neste sentido, a Doutrina de Segurança Nacional associou “diretamente o

'subversivo', portador de tensões e 'contaminado' por ideais e influências estranhas

(externas), ao comunismo, sendo este tratado de forma tão vulgar e imprecisa que

abrangeu toda e qualquer forma de manifestação de descontentamento com a ordem

vigente.” (PADRÓS, 2008, p. 152). Todavia, não se pode afirmar que existia uma

coesão ideológica dentro do governo militar e que essa Doutrina de Segurança Nacional

ercebida por todos os executores da repressão da mesma forma. Por outro lado,

Page 19: Dossie1 oque eles dizem

pode-se afirmar que existia nesse período uma mentalidade autoritária em determinados

setores das Forças Armadas, os quais ocupavam postos de alto comando. A ausência de

uma coesão ideológica não impediu, por certo, que medidas autoritárias fossem

empregadas contra milhares de cidadãos. Segundo relatório produzido no projeto

Brasil: Nunca mais, entre os anos de 1964 e 1979 mais de 17 mil pessoas passaram

pelos bancos da justiça militar; 7.367 foram formalmente acusadas; 3.613 pessoas foram

presas; 1.843 declararam terem sido torturadas na prisão e cerca de 400 pessoas foram

mortas ou desapareceram. (FIGUEIREDO, 2009, p. 43).

O terror de Estado, baseado nestas ideias de unidade naci

pregava a Doutrina de Segurança Nacional, atuou na América Latina durante as décadas

de 1960 e 1980, como uma guerra contra

terrorismo de grande escala, a partir do centro do poder estatal. Este m

estatal, muitas vezes é obrigado a transpor os marcos ideológicos e políticos da

repressão legal, recorrendo muitas vezes a métodos não convencionais e

desproporcionais de violência, para conter oposições, sejam elas armadas ou

desarmadas. O alcance destes atos abrangeu toda a sociedade, pois nenhum setor dela

permaneceu imune ou não se sentiu ameaçada por esta forma de violência. (PADRÓS,

2008, p. 153).

Porém, onde se buscaria informações para a execução destas medidas

repressivas ou mesmo para melhor identificar o inimigo? Quais as representações feitas

deste “outro”, visto como inimigo da nação e perigoso para a manutenção da ordem?

Em que medidas tais informações sobre o “outro” contribuíam para o funcionamento

dos aparelhos repressivos,

próprio governo?

Se a ditadura civil

defesa da propriedade e da livre inciativa, além de defender o desenvolvimento

tecnológico, ela também valeu

como dos seus próprios subordinados. Talvez sem esse trabalho de manipulação, os

militares não encontrariam sustentação para permanecerem vinte e um anos no poder,

nem tampouco elaborariam e executariam

Em certa medida, pode

racionalidade, aqui entendida como racionalidade instrumental, a qual busca um

controle sobre a natureza e sobre os homens, mas permite também

massa, bem como a eliminação daqueles que supostamente atrapalhariam o bom

se afirmar que existia nesse período uma mentalidade autoritária em determinados

setores das Forças Armadas, os quais ocupavam postos de alto comando. A ausência de

ão ideológica não impediu, por certo, que medidas autoritárias fossem

empregadas contra milhares de cidadãos. Segundo relatório produzido no projeto

, entre os anos de 1964 e 1979 mais de 17 mil pessoas passaram

litar; 7.367 foram formalmente acusadas; 3.613 pessoas foram

presas; 1.843 declararam terem sido torturadas na prisão e cerca de 400 pessoas foram

mortas ou desapareceram. (FIGUEIREDO, 2009, p. 43).

O terror de Estado, baseado nestas ideias de unidade nacional e também no que

pregava a Doutrina de Segurança Nacional, atuou na América Latina durante as décadas

de 1960 e 1980, como uma guerra contra-insurgente, sendo classificado como um

terrorismo de grande escala, a partir do centro do poder estatal. Este m

estatal, muitas vezes é obrigado a transpor os marcos ideológicos e políticos da

repressão legal, recorrendo muitas vezes a métodos não convencionais e

desproporcionais de violência, para conter oposições, sejam elas armadas ou

O alcance destes atos abrangeu toda a sociedade, pois nenhum setor dela

permaneceu imune ou não se sentiu ameaçada por esta forma de violência. (PADRÓS,

Porém, onde se buscaria informações para a execução destas medidas

para melhor identificar o inimigo? Quais as representações feitas

deste “outro”, visto como inimigo da nação e perigoso para a manutenção da ordem?

Em que medidas tais informações sobre o “outro” contribuíam para o funcionamento

dos aparelhos repressivos, mas também para insuflar o medo e a paranoia dentro do

Se a ditadura civil-militar buscava seu apoio na esfera do econômico, com a

defesa da propriedade e da livre inciativa, além de defender o desenvolvimento

tecnológico, ela também valeu-se dos temores e anseios de toda uma sociedade, bem

como dos seus próprios subordinados. Talvez sem esse trabalho de manipulação, os

militares não encontrariam sustentação para permanecerem vinte e um anos no poder,

nem tampouco elaborariam e executariam práticas tão assustadoras de violência.

Em certa medida, pode-se afirmar que o século XX trouxe um novo tipo de

racionalidade, aqui entendida como racionalidade instrumental, a qual busca um

controle sobre a natureza e sobre os homens, mas permite também

massa, bem como a eliminação daqueles que supostamente atrapalhariam o bom

19

se afirmar que existia nesse período uma mentalidade autoritária em determinados

setores das Forças Armadas, os quais ocupavam postos de alto comando. A ausência de

ão ideológica não impediu, por certo, que medidas autoritárias fossem

empregadas contra milhares de cidadãos. Segundo relatório produzido no projeto

, entre os anos de 1964 e 1979 mais de 17 mil pessoas passaram

litar; 7.367 foram formalmente acusadas; 3.613 pessoas foram

presas; 1.843 declararam terem sido torturadas na prisão e cerca de 400 pessoas foram

onal e também no que

pregava a Doutrina de Segurança Nacional, atuou na América Latina durante as décadas

insurgente, sendo classificado como um

terrorismo de grande escala, a partir do centro do poder estatal. Este modelo de terror

estatal, muitas vezes é obrigado a transpor os marcos ideológicos e políticos da

repressão legal, recorrendo muitas vezes a métodos não convencionais e

desproporcionais de violência, para conter oposições, sejam elas armadas ou

O alcance destes atos abrangeu toda a sociedade, pois nenhum setor dela

permaneceu imune ou não se sentiu ameaçada por esta forma de violência. (PADRÓS,

Porém, onde se buscaria informações para a execução destas medidas

para melhor identificar o inimigo? Quais as representações feitas

deste “outro”, visto como inimigo da nação e perigoso para a manutenção da ordem?

Em que medidas tais informações sobre o “outro” contribuíam para o funcionamento

mas também para insuflar o medo e a paranoia dentro do

militar buscava seu apoio na esfera do econômico, com a

defesa da propriedade e da livre inciativa, além de defender o desenvolvimento

se dos temores e anseios de toda uma sociedade, bem

como dos seus próprios subordinados. Talvez sem esse trabalho de manipulação, os

militares não encontrariam sustentação para permanecerem vinte e um anos no poder,

práticas tão assustadoras de violência.

se afirmar que o século XX trouxe um novo tipo de

racionalidade, aqui entendida como racionalidade instrumental, a qual busca um

controle sobre a natureza e sobre os homens, mas permite também extermínios em

massa, bem como a eliminação daqueles que supostamente atrapalhariam o bom

Page 20: Dossie1 oque eles dizem

desenvolvimento da sociedade. Eugène Enriquez, afirma que o século XX optou por

uma racionalidade instrumental levada ao extremo, resultando em um mundo onde só

tem o direito de viver aquele que se adequar a categorias como o fiel, o apropriado, o

integrado e que encontra seu lugar neste universo funcionalizado. Este mesmo século

fez surgir também um novo tipo de homem, um tipo de homem diferente do sonhado

pelo Iluminismo e pelo século XIX. Nasce assim, um homem paranoico ou apático,

muitas vezes oscilando entre os dois, os quais são assassinos em potencial, além de

representarem as duas faces do ódio. (ENRIQUEZ, 2001, p. 21

Este novo homem paranoico está inserido

pura e repulsa tudo aquilo que possa contaminá

Vendo no estrangeiro, no estranho, no exótico, não integrado, não adequado, aqueles

que elaborariam os mais perniciosos complôs contra a soci

risco de ser invadida, de ter seus mais preciosos valores destruídos por aqueles que vêm

de fora ou brotam de dentro desta mesma sociedade, não se adequando a ela. Para se

defender, “o que há de melhor do que o ataque e o exte

destruir a 'felicidade estabelecida'?” (ENRIQUEZ, 2001, p. 23). Entende

forma, que os militares, baseados em fundo de representações presente na sociedade

brasileira, buscaram reforçar a imagem do comunismo como algo prej

sociedade. Este feito não foi atingido por uma única publicação, como

Internacional. Os militares produziram uma infinidade de documentos, relatórios e

livros que se destinavam a esse fim, ou seja, inculcar nas mentes de agentes da

repressão e de informação, bem como de toda a sociedade civil, que os comunistas

estariam prestes a ocupar o país, subvertendo a ordem e comunizando o Brasil. Toda

essa produção de caráter anticomunista, permeada por um sentimento de paranoia, a

qual atribuía uma força enorme ao inimigo político, legitimava atos de violência. Não se

afirma que todos os executores da violência agiam motivados pela leitura destas

informações, mas antes, que estas podem ser um indício do pensamento autoritário,

violento e paranoico que tomou conta de uma parcela do governo militar, envolvida em

crimes de tortura e assassinatos.

O conhecimento desse passado torna

mesmo que muitos desses militares tentem esconder seus atos e apagar seus vestígios.

Porém, muitos desses registros continuam a existir. Devemos, assim como Pandora,

insistir em manter aberta a caixa que outros querem fechar. Segundo Beatriz Sarlo,

desenvolvimento da sociedade. Eugène Enriquez, afirma que o século XX optou por

uma racionalidade instrumental levada ao extremo, resultando em um mundo onde só

direito de viver aquele que se adequar a categorias como o fiel, o apropriado, o

integrado e que encontra seu lugar neste universo funcionalizado. Este mesmo século

fez surgir também um novo tipo de homem, um tipo de homem diferente do sonhado

ismo e pelo século XIX. Nasce assim, um homem paranoico ou apático,

muitas vezes oscilando entre os dois, os quais são assassinos em potencial, além de

representarem as duas faces do ódio. (ENRIQUEZ, 2001, p. 21-23).

Este novo homem paranoico está inserido em uma sociedade que se pretende

pura e repulsa tudo aquilo que possa contaminá-la, minando assim a ordem social.

Vendo no estrangeiro, no estranho, no exótico, não integrado, não adequado, aqueles

que elaborariam os mais perniciosos complôs contra a sociedade. A nação corre assim, o

risco de ser invadida, de ter seus mais preciosos valores destruídos por aqueles que vêm

de fora ou brotam de dentro desta mesma sociedade, não se adequando a ela. Para se

defender, “o que há de melhor do que o ataque e o extermínio àqueles que querem

destruir a 'felicidade estabelecida'?” (ENRIQUEZ, 2001, p. 23). Entende

forma, que os militares, baseados em fundo de representações presente na sociedade

brasileira, buscaram reforçar a imagem do comunismo como algo prej

sociedade. Este feito não foi atingido por uma única publicação, como

Os militares produziram uma infinidade de documentos, relatórios e

livros que se destinavam a esse fim, ou seja, inculcar nas mentes de agentes da

essão e de informação, bem como de toda a sociedade civil, que os comunistas

estariam prestes a ocupar o país, subvertendo a ordem e comunizando o Brasil. Toda

essa produção de caráter anticomunista, permeada por um sentimento de paranoia, a

uma força enorme ao inimigo político, legitimava atos de violência. Não se

afirma que todos os executores da violência agiam motivados pela leitura destas

informações, mas antes, que estas podem ser um indício do pensamento autoritário,

o que tomou conta de uma parcela do governo militar, envolvida em

crimes de tortura e assassinatos.

O conhecimento desse passado torna-se importante para nossa sociedade,

mesmo que muitos desses militares tentem esconder seus atos e apagar seus vestígios.

Porém, muitos desses registros continuam a existir. Devemos, assim como Pandora,

insistir em manter aberta a caixa que outros querem fechar. Segundo Beatriz Sarlo,

20

desenvolvimento da sociedade. Eugène Enriquez, afirma que o século XX optou por

uma racionalidade instrumental levada ao extremo, resultando em um mundo onde só

direito de viver aquele que se adequar a categorias como o fiel, o apropriado, o

integrado e que encontra seu lugar neste universo funcionalizado. Este mesmo século

fez surgir também um novo tipo de homem, um tipo de homem diferente do sonhado

ismo e pelo século XIX. Nasce assim, um homem paranoico ou apático,

muitas vezes oscilando entre os dois, os quais são assassinos em potencial, além de

em uma sociedade que se pretende

la, minando assim a ordem social.

Vendo no estrangeiro, no estranho, no exótico, não integrado, não adequado, aqueles

edade. A nação corre assim, o

risco de ser invadida, de ter seus mais preciosos valores destruídos por aqueles que vêm

de fora ou brotam de dentro desta mesma sociedade, não se adequando a ela. Para se

rmínio àqueles que querem

destruir a 'felicidade estabelecida'?” (ENRIQUEZ, 2001, p. 23). Entende-se dessa

forma, que os militares, baseados em fundo de representações presente na sociedade

brasileira, buscaram reforçar a imagem do comunismo como algo prejudicial à

sociedade. Este feito não foi atingido por uma única publicação, como Comunismo

Os militares produziram uma infinidade de documentos, relatórios e

livros que se destinavam a esse fim, ou seja, inculcar nas mentes de agentes da

essão e de informação, bem como de toda a sociedade civil, que os comunistas

estariam prestes a ocupar o país, subvertendo a ordem e comunizando o Brasil. Toda

essa produção de caráter anticomunista, permeada por um sentimento de paranoia, a

uma força enorme ao inimigo político, legitimava atos de violência. Não se

afirma que todos os executores da violência agiam motivados pela leitura destas

informações, mas antes, que estas podem ser um indício do pensamento autoritário,

o que tomou conta de uma parcela do governo militar, envolvida em

se importante para nossa sociedade,

mesmo que muitos desses militares tentem esconder seus atos e apagar seus vestígios.

Porém, muitos desses registros continuam a existir. Devemos, assim como Pandora,

insistir em manter aberta a caixa que outros querem fechar. Segundo Beatriz Sarlo,

Page 21: Dossie1 oque eles dizem

(...) acatadtestemunhas informantes. Fedem mas não apodrecem, não se desintegram. (SARLO, 2005, p. 33).

Mesmo que as sociedades não possam viver em uma lembrança nítida e

perfeita desse passado, nã

esquecer por completo. Ante os cães do esquecimento, "estão as certezas e as dúvidas

daquilo que já se escreveu." (SARLO, 2005, p. 34)

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Mesmo que as sociedades não possam viver em uma lembrança nítida e

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