relatório simpósio
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No dia 11 de maio de 2011 ocorreu o IV Simpósio de Fisioterapia em
Pneumologia no auditório da Faculdade Social. A programação constou de duas
mesas redondas e seis conferências. Uma das conferências teve como tema
atividade física em UTI e foi ministrada pelo fisioterapeuta Marcelo Espinheira, tendo
seu início às 10:30.
Atualmente, observam-se fortes evidências apoiando a prática de mobilização
do paciente no ambiente de terapia intensiva. O início dessa prática se deu na
década de 40 devido ao advento da Segunda Guerra Mundial, pois observou-se que
os pacientes que ficaram com sequelas no pós-guerra apresentavam maiores
complicações pela imobilidade, além disso, notou-se problemas articulares nos
astronautas. A partir dessas observações, começaram a surgir estudos a respeito
dos impactos acarretados pela imobilidade, onde foi demonstrado que a restrição ao
leito reflete nos diversos sistemas, principalmente no sistema músculoesquelético,
cardiovascular e pulmonar, levando a um declínio da funcionalidade, e influenciando
diretamente a prática de atividades de vida diária (AVDs) do indivíduo.
O descondicionamento decorrente da imobilidade faz com que o indivíduo
apresente resistência a saída do leito, e quanto maior o tempo de restrição ao leito e
falta de estímulo à mobilidade, maior essa resistência se torna, gerando um ciclo
vicioso que culmina com a perda da capacidade funcional. Em 1972, os profissionais
de saúde começaram a pensar em retirar pacientes graves do leito, o que comprova,
que apesar de ser considerada como recente, existem dados mais antigos da prática
de retirada do paciente do leito. Um estudo publicado em 2011, mostrou que mesmo
após cinco anos de alta hospitalar, pacientes com SARA não foram capazes de
recuperar totalmente sua funcionalidade, portanto, eles continuaram com déficits
funcionais e na qualidade de vida, além de apresentarem uma mortalidade crescente
após a alta.
A atividade física no ambiente de terapia intensiva, portanto, é de extrema
importância, pois ele traz benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais (retorno do
indivíduo a seu meio social), culminando com melhor qualidade de vida pós alta. A
atividade física é qualquer atividade corporal produzida pelo músculos esqueléticos
que resulta em gasto energético, enquanto que o exercício, é a atividade física
coordenada e planejada visando a aptidão física. As atividade podem ser aeróbias
ou anaeróbias, no entanto, elas não existem de forma isolada em uma atividade, o
que acontece é o predomínio de uma sobre a outra. O que diferencia um tipo de
exercício do outro é a repetição e a duração, mas ambos trazem repercussões
positivas, tanto a nível de composição mineral óssea, como perda de tecido adiposo,
força, metabolismo de glicose, lipídeos séricos, frequência cardíaca basal e VO2
max. A prescrição do tipo de exercício depende do objetivo, do que se quer ganhar
com aquele indivíduo, por exemplo, para ganho de força a carga deve ser maior e
para ganho de resistência deve-se realizar um maior número de repetições.
A atividade física funciona como um remédio, trazendo benefícios para o
indivíduo e quando aplicada no momento adequado, ocorre incremento dos ganhos
do paciente, respeitando o tempo de recuperação de todos os sistemas. O teste de
1RM é utilizado para titular o quanto de carga vai ser imposta para aquele paciente
de acordo com o objetivo proposto, quando se opta pela realização dos exercícios
resistidos. O conhecimento de como fazer o teste de 1RM é importante para que ele
possa ser aplicado de maneira adequada, sem permitir que o indivíduo realize
compensações. A literatura preconiza, para treinos resistidos, a realização de três
séries com 8 a 12 repetições, com um intervalo de dois a três minutos entre cada
série, com uma frequência de duas a três vezes por semana, para pessoas
destreinadas. A síntese protêica perdura por 48h após o dia da realização do treino.
Uma tensão de 20% da máxima daquele músculo já é suficiente para manutenção
da força.
Um estudo a respeito do treinamento resistido na unidade de terapia intensiva
(UTI), avaliou pacientes submetidos a ventilação mecânica prolongada com o
objetivo de avaliar os benefícios do exercício resistido no sistema respiratório e
muscoloesquelético através da MIF e índice de Barthel. Houve um ganho
significativo de força e da função dos paciente que realizaram o protocolo de
exercícios em comparação com o grupo controle. A MIF e o índice de Barthel
também atestaram ganho significativo de capacidade funcional. Foram realizados
nesse estudo não apenas trabalho de ganho de força de musculatura respiratória,
mas também de propriocepção diafragmática.
Outro estudo, focou na deambulação, colocando os pacientes para andarem
por 20 minutos a partir de 24 horas da admissão. Os participantes foram divididos
em grupo controle e grupo intervenção. O tempo hospitalar foi menor no grupo
intervenção. Os pesquisadores atribuem a diminuição do tempo de internação a
melhora da chegada do antibiótico na região desejada e da capacidade pulmonar
devido a deambulação.
Fora do Brasil existem UTI’s especializadas em cuidados respiratórios. Um
estudo de 2006 chama atenção para o fato de que pacientes internados nessas
unidades são mais mobilizados do que aqueles que se encontram na UTI
convencional. Outro estudo atenta para a importância do time de mobilidade
existente nesse tipo de UTI, que é especialista na mobilização precoce de pacientes
com problemas respiratórios, inclusive daqueles submetidos à ventilação mecânica.
Nesse mesmo estudo foram selecionados pacientes com insuficiência respiratória
para fazer o trabalho com esse time de mobilidade composto de técnicos de
enfermagem, enfermeiros, médicos e fisioterapeutas. A atividade era iniciada a partir
de 48 horas de ventilação mecânica. O protocolo consistiu em colocar pacientes que
tinham grau 3 de força ou mais em sedestração, ortostase e para deambular. Os
indivíduos submetidos ao protocolo demoraram menos tempo para sair do leito, da
UTI e do hospital. Os pesquisadores alegam que a presença do time de mobilidade
traz repercussões positivas, diminui o tempo de terapia intensiva e não aumenta
custos.
Outra trabalho sobre mobilização precoce na UTI queria avaliar os ganhos
funcionais do indivíduo em ventilação mecânica obtidos com essa prática.
Atualmente percebe-se a importância de mobilizar o paciente o mais precocemente
possível, pois isso vai repercutir não apenas na diminuição do tempo de
permanência, mais como também em uma menor perda funcional, levando a melhor
qualidade de vida pós-alta. Foram inclusos no estudo 144 pacientes com média de
ventilação maior do que 72 horas. O protocolo constou de exercícios ativo-assistidos
e ativos, mobilidade na cama, atividade de equilíbrio em sedestração associada a
treino de AVDs, transferências e treino de marcha. Foi avaliada a capacidade
funcional através da MIF, o delirium (alteração súbita do nível de consciência), que
mostrou-se menor nos pacientes que realizaram o protocolo de atividade física, e
eles também tiveram maior facilidade para recuperar sua independência funcional
pós-alta. O tempo de UTI foi menor, no entanto, não houve diferença significativa no
tempo de permanência hospitalar total. A mortalidade foi menor entre os que
participaram do protocolo de exercícios.
No exercício aeróbico, a intensidade deve ser relacionada com a estabilidade
do indivíduo durante a realização do exercício, ou seja, deve ser graduada de
acordo com o momento no qual ele atinge o estado estável. O VO2 max deve ser
considerado e a literatura preconiza que o exercício aeróbico deve ter duração
mínima de 15 minutos. As variáveis de prescrição são VO2 max, limiar de lactato,
limiar ventilatório, compensações respiratórias, porcentagem da frequência cardíaca
máxima (FC max) e de reserva. Algumas dessa variáveis são difíceis de se obter na
UTI, por exemplo, a FC cardíaca máxima através da fórmula de carvoney. A
frequência cardíaca de reserva tem relação com a FC max e a FC mínima (FC max-
FC min).
Um trabalho com cicloergômetro iniciado de forma passiva e evoluindo para a
ativa, com duração em torno de vinte minutos obteve benefícios importantes a nível
de teste de caminhada de seis minutos e qualidade de vida.
A percepção de esforço está relacionada com mecanismos periféricos,
centrais e psicológicos, envolvendo resposta ventilatória, metabólica e a motivação
do paciente para fazer a atividade. A literatura recomenda que se trabalhe com 50 a
60% do VO2 max. A escala de Borg é uma forma de avaliar o esforço durante o
exercício, tendo relação com a frequência cardíaca, seu uso é indicado em
pacientes com DPOC, pois sua capacidade pulmonar é um fator mais limitante do
que a frequência cardíaca, devido a hipersolicitação da musculatura respiratória
causada pela hiperinsuflação dinâmica decorrente do esforço, com diminuição da
perfusão muscular periférica, o que leva a intolerância precoce ao exercício.
O indivíduo cardiopata tem redução do volume sistólico, da perfusão
periférica, frequência cardíaca de reserva, levando-o a intolerância precoce ao
exercício, com pequena variação do volume sistólico durante o exercício, pois
apresenta função ventricular deteriorada e o remodelamento de fibra muscular
periférica leva à redução da extração de oxigênio, com maior produção de lactato. O
uso de beta-bloqueador também influencia na tolerância do indivíduo ao exercício.
A mobilização precoce requer estabilidade cardiovascular e pulmonar, bom
estado neurológico, controle do uso de vasodilatadores e drogas vaso-ativas, anti-
arritimicos, ausência de hipoxemia, taquipnéia e acidose.
A reabilitação começa com movimentos passivos para manutenção de
flexibilidade, prevenção de contraturas. Em seguida, são emplementados os
exercícios ativos, progredindo para os resistidos, transferências, exercícios de
equilíbrio, marcha estacionária, deambulação e treino de AVDs. Os objetivos
principais são recuperar função, aumento da capacidade cardiorrespiratória. É
importante não esquecer de observar diariamente a condição clínica desse
indivíduo, pois o paciente de terapia intensiva geralmente não apresenta evolução
linear.
A conferência foi finalizada às 11:00 horas.