relatorio plano piloto

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DEPARTAMENTO DE PROJETO, EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: MÉTODOS E TÉCNICAS DA PROJETAÇÃO ARQUITETÔNICA, 2004 / 1 Professor: Frederico Flósculo Pinheiro Barreto 1 Relatório do Plano-Piloto de Brasília "... José Bonifácio, em 1823, propõe a transferência da Capital para Goiás e sugere o nome de BRASÍLIA." Desejo inicialmente desculpar-me perante a direção da Companhia Urbanizadora e a Comissão Julgadora do Concurso pela apresentação sumária do partido aqui sugerido para a nova Capital, e também justificar-me. Não pretendia competir e, na verdade, não concorro — apenas me desvencilho de uma solução possível, que não foi procurada mas surgiu, por assim dizer, já pronta. Compareço, não como técnico devidamente aparelhado, pois nem sequer disponho de escritório, mas como simples maquisard do urbanismo, que não pretende prosseguir no desenvolvimento da idéia apresentada senão eventualmente, na qualidade de mero consultor. E se procedo assim candidamente é porque me amparo num raciocínio igualmente simplório: se a sugestão é válida, estes dados, conquanto sumários na sua aparência, já serão suficientes, pois revelarão que, apesar da espontaneidade original, ela foi, depois, intensamente pensada e resolvida; se o não é, a exclusão se fará mais facilmente e não terei perdido o meu tempo nem tomado o tempo de ninguém. A liberação do acesso ao concurso reduziu de certo modo a consulta àquilo que de fato importa, ou seja, à concepção urbanística da cidade propriamente dita, porque esta não será, no caso, uma decorrência do planejamento regional, mas a causa dele: a sua fundação é que dará ensejo ao ulterior desenvolvimento planejado da região. Trata-se de um ato deliberado de posse, de um gesto de sentido ainda desbravador, nos moldes da tradição colonial. E o que se indaga é como no entender de cada concorrente uma tal cidade deve ser concebida. Ela deve ser

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    Relatrio do Plano-Piloto de

    Braslia "... Jos Bonifcio, em 1823, prope a transferncia da Capital para Gois e sugere o nome de BRASLIA." Desejo inicialmente desculpar-me perante a direo da Companhia Urbanizadora e a Comisso Julgadora do Concurso pela apresentao sumria do partido aqui sugerido para a nova Capital, e tambm justificar-me. No pretendia competir e, na verdade, no concorro apenas me desvencilho de uma soluo possvel, que no foi procurada mas surgiu, por assim dizer, j pronta. Compareo, no como tcnico devidamente aparelhado, pois nem sequer disponho de escritrio, mas como simples maquisard do urbanismo, que no pretende prosseguir no desenvolvimento da idia apresentada seno eventualmente, na qualidade de mero consultor. E se procedo assim candidamente porque me amparo num raciocnio igualmente simplrio: se a sugesto vlida, estes dados, conquanto sumrios na sua aparncia, j sero suficientes, pois revelaro que, apesar da espontaneidade original, ela foi, depois, intensamente pensada e resolvida; se o no , a excluso se far mais facilmente e no terei perdido o meu tempo nem tomado o tempo de ningum. A liberao do acesso ao concurso reduziu de certo modo a consulta quilo que de fato importa, ou seja, concepo urbanstica da cidade propriamente dita, porque esta no ser, no caso, uma decorrncia do planejamento regional, mas a causa dele: a sua fundao que dar ensejo ao ulterior desenvolvimento planejado da regio. Trata-se de um ato deliberado de posse, de um gesto de sentido ainda desbravador, nos moldes da tradio colonial. E o que se indaga como no entender de cada concorrente uma tal cidade deve ser concebida. Ela deve ser

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    concebida no como simples organismo capaz de preencher satisfatoriamente e sem esforo as funes vitais prprias de uma cidade moderna qualquer, no apenas como urbs, mas como civitas, possuidora dos atributos inerentes a uma capital. E, para tanto, a condio primeira achar-se o urbanista imbudo de uma certa dignidade e nobreza de inteno, porquanto dessa atitude fundamental decorrem a ordenao e o senso de convenincia e medida capazes de conferir ao conjunto projetado o desejvel carter monumental. Monumental no no sentido de ostentao, mas no sentido da expresso palpvel, por assim dizer, consciente, daquilo que vale e significa. Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazvel, prpria ao devaneio e especulao intelectual, capaz de tornar-se, com o tempo, alm de centro de governo e administrao, num foco de cultura dos mais lcidos e sensveis do pas. Dito isto, vejamos como nasceu, se definiu e resolveu a presente soluo:

    1 - Nasceu do gesto primrio de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ngulo reto, ou seja, o prprio sinal-da-cruz. 2 - Procurou-se depois a adaptao topografia local, ao escoamento natural das guas, melhor orientao, arqueando-se um dos eixos a fim de cont-lo no tringulo equiltero que define a rea urbanizada. 3 - E houve o propsito de aplicar os princpios francos da tcnica rodoviria inclusive a eliminao dos cruzamentos tcnica urbanstica, conferindo-se ao eixo arqueado, correspondente s vias naturais de acesso, a funo circulatria tronco, com pistas centrais de velocidade e pistas laterais para o trfego local, e dispondo-se ao longo desse eixo o grosso dos setores residenciais.

    4 - Como decorrncia dessa concentrao residencial, os centros cvico e administrativo, o setor cultural, o centro de diverses, o centro esportivo, o setor administrativo municipal, os quartis, as zonas destinadas armazenagem, ao abastecimento e s pequenas indstrias locais e, por fim, a estao ferroviria foram-se naturalmente ordenando e dispondo ao longo do eixo transversal que passou assim a ser eixo monumental do sistema. Lateralmente interseco dos eixos, mas participando funcionalmente e em termos de composio urbanstica do eixo monumental, localizaram-se o setor bancrio e comercial, o setor dos escritrios de empresas e profisses liberais e ainda os amplos setores do varejo comercial.

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    5 - O cruzamento desse eixo monumental, de cota inferior, com o eixo rodovirio-residencial imps a criao de uma grande plataforma liberta do trfego que no se destine ao estacionamento ali, remanso onde se concentrou logicamente o centro de diverses da cidade, com os cinemas, os teatros, os restaurantes etc. 6 - O trfego destinado aos demais setores prossegue, ordenado em mo nica, na rea trrea inferior coberta pela plataforma e entalada nos dois topos mas aberta nas faces maiores, rea utilizada em grande parte para o estacionamento de veculos e onde se localizou a estao rodoviria interurbana, acessvel aos passageiros pelo nvel superior da plataforma. Apenas as pistas de velocidade mergulham, j ento subterrneas, na parte central desse piso inferior que se espraia em declive at nivelar-se com a esplanada do setor dos ministrios.

    7 - Desse modo e com a introduo de trs trevos completos em cada ramo do eixo rodovirio e outras tantas passagens de nvel inferior, o trfego de automveis e nibus se processa tanto na parte central quanto nos setores residenciais sem qualquer cruzamento. Para o trfego de caminhes estabeleceu-se um sistema secundrio autnomo com cruzamentos sinalizados mas sem cruzamento ou interferncia alguma com o sistema anterior, salvo acima do setor esportivo, e que acede aos edifcios do setor comercial ao nvel do subsolo , contornando o centro cvico em cota inferior, com galerias de acesso previstas no terrapleno. 8 - Fixada assim a rede geral do trfego automvel, estabeleceram-se, tanto nos setores centrais como nos residenciais, tramas autnomas para o trnsito local dos pedestres a fim de garantir-lhes o uso livre do cho, sem contudo levar tal

    separao a extremos sistemticos e antinaturais, pois no se deve esquecer que o automvel, hoje em dia, deixou de ser o inimigo inconcilivel do homem, domesticou-se, j faz, por assim dizer, parte da famlia. Ele s se desumaniza, readquirindo vis--vis do pedestre feio ameaadora e hostil, quando incorporado massa annima do trfego. H ento que separ-los, mas sem perder de vista que, em determinadas condies e para comodidade recproca, a coexistncia se impe.

    9 - Veja-se agora como nesse arcabouo de circulao ordenada se integram e articulam os vrios setores.

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    Destacam-se no conjunto os edifcios destinados aos poderes fundamentais que, sendo em nmero de trs e autnomos, encontraram no tringulo eqiltero, vinculado arquitetura da mais remota antiguidade, a forma elementar apropriada para cont-los. Criou-se ento um terrapleno triangular, com arrimo de pedra vista, sobrelevado na campina circunvizinha a que se tem acesso pela prpria rampa da auto-estrada que conduz residncia e ao aeroporto. Em cada ngulo dessa praa Praa dos Trs Poderes, poderia chamar-se localizou-se uma das casas,

    ficando as do Governo e do Supremo Tribunal na base e a do Congresso no vrtice, com frente igualmente para uma ampla esplanada disposta num segundo terrapleno, de forma retangular e nvel mais alto, de acordo com a topografia local, igualmente arrimado de pedras em todo o seu permetro. A aplicao em termos atuais, dessa tcnica oriental milenar dos terraplenos, garante a coeso do conjunto e lhe confere uma nfase monumental imprevista. Ao longo dessa esplanada o Mall, dos ingleses extenso gramado destinado a pedestres, a paradas e a desfiles, foram dispostos os ministrios e autarquias. Os das Relaes Exteriores e Justia ocupando os cantos inferiores, contguos ao edifcio do Congresso e com enquadramento condigno, os ministrios militares constituindo uma praa autnoma, e os demais ordenados em seqncia todos com rea privativa de estacionamento

    sendo o ltimo o da Educao, a fim de ficar vizinho do setor cultural, tratado maneira de parque para melhor ambientao dos museus, da biblioteca, do planetrio, das academias, dos institutos etc., setor este tambm contguo ampla rea destinada Cidade Universitria com o respectivo Hospital de Clnicas, e onde tambm se prev a instalao do Observatrio. A Catedral ficou igualmente localizada nessa esplanada, mas numa praa autnoma disposta lateralmente, no s por questo de protocolo, uma vez que a Igreja separada do Estado, como por uma questo de escala, tendo-se em vista valorizar o monumento, e ainda, principalmente, por outra razo de ordem arquitetnica: a perspectiva de conjunto da esplanada deve prosseguir desimpedida at alm da plataforma onde os dois eixos urbansticos se cruzam. 10 - Nesta plataforma onde, como se viu anteriormente, o trfego apenas local, situou-se ento o centro de diverses da cidade (mistura em termos adequados de Piccadilly Circus, Times Square

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    e Champs Elyses). A face da plataforma debruada sobre o setor cultural e a esplanada dos ministrios no foi edificada com exceo de uma eventual casa de ch e da pera, cujo acesso tanto se faz pelo prprio setor de diverses como pelo setor cultural contguo, em plano inferior. Na face fronteira foram concentrados os cinemas e teatros, cujo gabarito se fez baixo e uniforme, constituindo assim o conjunto deles um corpo arquitetnico contnuo, com galeria, amplas caladas, terraos e cafs, servindo as respectivas fachadas em toda a altura de campo livre para a

    instalao de painis luminosos de reclame. As vrias casas de espetculo estaro ligadas entre si por travessas no gnero tradicional da Rua do Ouvidor, das ruelas venezianas ou das galerias cobertas (arcadas) e articuladas a pequenos ptios com bares e cafs, e loggias na parte dos fundos com vista para o parque, tudo no propsito de propiciar ambiente adequado ao convvio e expanso. O pavimento trreo do setor central desse conjunto de teatro e cinemas manteve-se vazado em toda a sua extenso, salvo os ncleos de acesso aos pavimentos superiores, a fim de garantir continuidade perspectiva, e os andares se previram envidraados nas duas faces para que os restaurantes, clubes, casas de ch etc. tenham vista, de um lado para a esplanada inferior, e do outro para o aclive do parque no prolongamento do

    eixo monumental e onde ficaram localizados os hotis comerciais e de turismo e, mais acima, para a torre monumental das estaes radioemissoras e de televiso, tratada como elemento plstico integrado na composio geral. Na parte central da plataforma, porm disposto lateralmente, acha-se o saguo da estao rodoviria com bilheteria, bares, restaurantes etc., construo baixa, ligada por escadas rolantes ao hall inferior de embarque separado por envidraamento do cais propriamente dito. O sistema de mo nica obriga os nibus na sada a uma volta, num ou noutro sentido, fora da rea coberta pela plataforma, o que permite ao viajante uma ltima vista do eixo monumental da cidade antes de entrar no eixo rodovirio-residencial - despedida psicologicamente desejvel. Previram-se igualmente nessa extensa plataforma destinada principalmente, tal como no piso trreo, ao estacionamento de automveis, duas amplas praas privativas dos pedestres, uma fronteira ao teatro da pera e outra, simetricamente disposta, em frente a um pavilho de pouca altura debruado sobre os jardins do setor cultural

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    e destinado a restaurante, bar e casa de ch. Nestas praas, o piso das pistas de rolamento, sempre de sentido nico, foi ligeiramente sobrelevado em larga extenso, para o livre cruzamento dos pedestres num e noutro sentido, o que permitir acesso franco e direito tanto aos setores de varejo comercial quanto ao setor dos bancos e escritrios.

    11 - Lateralmente a esse setor central de diverses, e articulados a ele, encontram-se dois grandes ncleos destinados exclusivamente ao comrcio lojas e magasins, e dois setores distintos, o bancrio comercial, e o dos escritrios para profisses liberais, representaes e empresas,

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    onde foram localizados, respectivamente, o Banco do Brasil e a sede dos Correios e Telgrafos. Estes ncleos e setores so acessveis aos automveis diretamente das respectivas pistas, e aos pedestres por caladas sem cruzamento, e dispe de autoportos para estacionamento em dois

    nveis e de acesso de servio pelo subsolo correspondente ao piso inferior da plataforma central. No setor dos bancos, tal como no dos escritrios, previram-se trs blocos altos e quatro de menor altura, ligados entre si por extensa ala trrea com sobreloja de modo a permitir intercomunicao coberta e amplo espao para instalao de agncias bancrias, agncias de empresas, cafs, restaurantes, etc. Em cada ncleo comercial prope-se uma seqncia ordenada de blocos baixos e alongados e um maior, de igual altura dos anteriores, todos interligados por um amplo corpo trreo de lojas, sobrelojas e galerias. Dois braos elevados da pista de contorno permitem, tambm aqui, acesso franco aos pedestres.

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    12 - O setor esportivo, com extensssima rea destinada exclusivamente ao estacionamento de automveis, instalou-se entre a Praa da Municipalidade e a torre radioemissora, que se prev de planta triangular com embasamento monumental de concreto aparente at o piso dos studios e mais instalaes, e superestrutura metlica com mirante localizado a meia altura. De um lado o estdio e mais dependncias, tendo aos fundos o Jardim Botnico; do outro o hipdromo com as

    respectivas tribunas e vila hpica e, contguo, o Jardim Zoolgico, constituindo estas duas imensas reas verdes, simetricamente dispostas em relao ao eixo monumental, como que os pulmes da nova cidade.

    13 - Na Praa Municipal, instalaram-se a Prefeitura, a Polcia Central, o Corpo de Bombeiros e a Assistncia Pblica. A penitenciria e o hospcio, conquanto afastados do centro urbanizado, fazem igualmente parte deste setor.

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    14 - Acima do setor municipal foram dispostas as garagens da viao urbana, em seguida, de uma banda e de outra, os quartis e, numa larga faixa transversal, o setor destinado ao armazenamento e instalao das pequenas indstrias de interesse local, com setor residencial autnomo, zona esta rematada pela estao ferroviria e articulada igualmente a um dos ramos da rodovia destinada aos caminhes. 15 - Percorrido assim de ponta a ponta este eixo dito monumental, v-se que a fluncia e unidade do traado, desde a praa do Governo at Praa Municipal, no exclui a variedade, e cada setor, por assim dizer, vale por si como organismo plasticamente autnomo na composio do conjunto. Essa autonomia cria espaos adequados escala do homem e permite o dilogo monumental, localizado sem prejuzo do desempenho arquitetnico de cada setor na harmoniosa integrao urbanstica do todo. 16 - Quanto ao problema residencial, ocorreu a soluo de criar-se uma seqncia contnua de grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de ambos os lados da faixa rodoviria, e emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada, rvores de porte, prevalecendo em cada quadra determinada espcie vegetal, com cho gramado e uma cortina suplementar intermitente de arbustos e folhagens, a fim de resguardar melhor, qualquer que seja a posio do observador, o contedo das quadras, visto sempre num segundo plano e como que amortecido na paisagem. Disposio que apresenta a dupla vantagem de garantir a ordenao urbanstica mesmo quando varie a densidade, categoria, padro ou qualidade arquitetnica dos edifcios, e de oferecer aos moradores extensas faixas sombreadas para passeio e lazer, independentemente das reas livres previstas no interior das prprias quadras. Dentro destas superquadrasos blocos residenciais podem dispor-se da maneira mais variada, obedecendo porm a dois princpios gerais: gabarito mximo uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e separao do trfego de veculos do trnsito de pedestres, mormente o acesso escola primria e s comodidades existentes no interior de cada quadra. Ao fundo das quadras estende-se a via de servio para o trfego de caminhes, destinando-se ao longo dela a frente oposta s quadras instalao de garagens, oficinas, depsitos do comrcio em grosso etc., e reservando-se uma faixa do terreno equivalente a uma terceira ordem de quadras, para floricultura, horta e pomar. Entaladas entre essa via de servio e as vias do eixo rodovirio, intercalaram-se ento largas e extensas faixas com acesso alternado, ora por uma, ora por outra, e onde se localizaram a igreja, as escolas secundrias, o cinema e o varejo do bairro, disposto conforme a sua classe ou natureza. O mercadinho, os aougues, as vendas, quitandas, casas de ferragens etc., na primeira metade da faixa correspondente ao acesso de servio; as barbearias, cabeleireiros, modistas, confeitarias etc., na primeira seo da faixa de acesso privativo dos automveis e nibus, onde se encontram igualmente os postos de servio para venda de gasolina. As lojas dispem-se em renque com vitrinas e passeio coberto na face fronteira s cintas arborizadas de enquadramento dos quarteires e privativas dos pedestres, e o estacionamento na face oposta, contgua s vias de acesso motorizado, prevendo-se travessas para ligao de uma parte a outra, ficando assim as lojas geminadas duas a duas, embora o seu conjunto constitua um corpo s. Na confluncia das quatro quadras localizou-se a igreja do bairro, e aos fundos dela as escolas secundrias, ao passo que na parte da faixa de servio fronteira rodovia se previu o cinema, a fim de torn-lo acessvel a quem proceda de outros bairros, ficando a extensa rea livre intermediria destinada ao clube da juventude, com campo de jogos e recreio.

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    17 - A gradao social poder ser dosada facilmente, atribuindo-se maior valor a determinadas

    quadras como, por exemplo, s quadras singelas contguas ao setor das embaixadas, setor que se estende de ambos os lados do eixo principal paralelamente ao eixo rodovirio, com alamdas de acesso autnomo e via de servios para o trfego de caminhes comum s quadras residenciais. Essa alameda, por assim dizer, privativa do bairro das embaixadas e legaes, se prev edificada apenas num dos lados, deixando-se o outro com a vista desimpedida sobre a paisagem,

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    excetuando-se o hotel principal localizado nesse setor e prximo do centro da cidade. No outro lado do eixo rodovirio-residencial, as quadras contguas rodovia sero naturalmente mais valorizadas que as quadras internas, o que permitir as gradaes prprias do regime vigente; contudo, o agrupamento delas, de quatro em quatro, propicia num certo grau a coexistncia social, evitando-se assim uma indevida e indesejvel estratificao. E seja como for, as diferenas de padro de uma quadra a outra sero neutralizadas pelo prprio agenciamento urbanstico proposto, e no sero de natureza a afetar o conforto social a que todos tm direito. Elas decorrero apenas de uma maior ou menor densidade, do maior ou menor espao atribudo a cada indivduo e a cada famlia, da escolha dos materiais e do grau e requinte do acabamento. Neste sentido deve-se impedir a enquistao de favelas tanto na periferia urbana quanto na rural. Cabe Companhia Urbanizadora prover dentro do esquema proposto acomodaes decentes e econmicas para a totalidade da populao. 18 - Previram-se igualmente setores ilhados, cercados de arvoredos e campo, destinados a loteamento para casas individuais, sugerindo-se uma disposio dentada em cremalheira, para que as casas construdas nos lotes de topo se destaquem na paisagem, afastadas umas das outras, disposio que ainda permite acesso autnomo de servio para todos os lotes. E admitiu-se igualmente a construo eventual de casas avulsas isoladas de alto padro arquitetnico o que no implica tamanho estabelecendo-se porm como regra, nestes casos, o afastamento mnimo de um quilmetro de casa a casa, o que acentuar o carter excepcional de tais concesses. 19 - Os cemitrios localizados nos extremos do eixo rodovirio-residencial evitam aos cortejos a travessia do centro urbano. Tero cho de grama e sero convenientemente arborizados, com sepulturas rasas e lpides singelas, maneira inglesa, tudo desprovido de qualquer ostentao. 20 - Evitou-se a localizao dos bairros residenciais na orla da lagoa, a fim de preserv-la intata, tratada com bosques e campos de feio naturalista e rstica para os passeios e amenidades buclicas de toda a populao urbana. Apenas os clubes esportivos, os restaurantes, os lugares de recreio, os balnerios, os ncleos de pesca podero chegar beira dgua. O Clube de Golf situou-se na extremidade leste, contguo Residncia e ao hotel, ambos em construo, e ao Yacht Club na enseada vizinha, entremeados por denso bosque que se estende at a margem da represa, bordejada nesse trecho pela alameda de contorno que intermitentemente se desprende de sua orla para embrenhar-se pelo campo, que se pretende eventualmente florido e manchado de arvoredo. Essa estrada se articula ao eixo rodovirio e tambm pista autnoma de acesso direto do aeroporto ao centro cvico, por onde entraro na cidade os visitantes ilustres, podendo a respectiva sada processar-se, com vantagem, pelo prprio eixo rodovirio-residencial. Prope-se, ainda, a localizao do aeroporto definitivo na rea interna da represa, a fim de evitar-lhe a travessia ou o contorno. 21 - Quanto numerao urbana, a referncia deve ser o eixo monumental, distribuindo-se a cidade em metades Norte e Sul; as quadras seriam assinaladas por nmeros, os blocos residenciais por letras, e finalmente o nmero do apartamento na forma usual, assim, por exemplo, N-Q3-L ap. 201. A designao dos blocos com relao entrada da quadra deve seguir da esquerda para a direita, de acordo com a norma.

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    22 - Resta o problema de como dispor o terreno e torn-lo acessvel ao capital particular. Entendo que as quadras no devem ser loteadas, sugerindo, em vez da venda de lotes, a venda de quotas de terreno, cujo valor depender do setor em causa e do gabarito, a fim de no entravar o planejamento atual e possveis remodelaes futuras no delineamento interno das quadras. Entendo tambm que esse planejamento deveria de preferncia anteceder a venda das quotas, mas nada impede que os compradores de um nmero substancial de quotas submetam aprovao da Companhia projeto prprio de urbanizao de uma determinada quadra, e que, alm de facilitar aos incorporadores a aquisio de quotas, a prpria Companhia funcione, em grande parte, como incorporadora. E entendo igualmente que o preo das quotas, oscilvel conforme a procura, deveria incluir uma parcela com taxa fixa, destinada a cobrir despesas do projeto, no intuito de facilitar tanto o convite a determinados arquitetos como a abertura de concursos para a urbanizao e edificao das quadras que no fossem projetadas pela Diviso de Arquitetura da prpria Companhia. E sugiro ainda que a aprovao dos projetos se processe em duas etapas anteprojeto e projeto definitivo, no intuito de permitir seleo prvia e melhor controle da qualidade das construes. Da mesma forma quanto ao setor do varejo comercial e aos setores bancrio e dos escritrios das empresas e profisses liberais, que deveriam ser projetados previamente de modo a se poderem fracionar em subsetores e unidades autnomas, sem prejuzo da integridade arquitetnica, e assim se submeterem parceladamente venda no mercado imobilirio, podendo a construo propriamente dita, ou parte dela, correr por conta dos interessados ou da Companhia, ou ainda, conjuntamente. 23 - Resumindo, a soluo apresentada de fcil apreenso, pois se caracteriza pela simplicidade e clareza do risco original, o que no exclui, conforme se viu, a variedade no tratamento das partes, cada qual concebida segundo a natureza peculiar da respectiva funo, resultando da a harmonia de exigncias de aparncia contraditria. assim que, sendo monumental, tambm cmoda, eficiente, acolhedora e ntima. ao mesmo tempo derramada e concisa, buclica e urbana, lrica e funcional. O trfego de automveis se processa sem cruzamentos, e se restitui o cho, na justa medida, ao pedestre. E por ter o arcabouo to claramente definido, de fcil execuo: dois eixos, dois terraplenos, uma plataforma, duas pistas largas num sentido, uma rodovia no outro, rodovia que poder ser construda por partes primeiro as faixas centrais com um trevo de cada lado, depois as pistas laterais, que avanariam com o desenvolvimento normal da cidade. As instalaes teriam sempre campo livre nas faixas verdes contguas s pistas de rolamento. As quadras seriam apenas niveladas e paisagisticamente definidas, com as respectivas cintas plantadas de grama e desde logo arborizadas, mas sem calamento de qualquer espcie, nem meios-fios. De uma parte, tcnica rodoviria; de outra, tcnica paisagstica de parques e jardins. Braslia, capital area e rodoviria; cidade-parque. Sonho arquisecular do Patriarca. Lcio Costa 10 de maro de 1957

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    APRECIACO DO JRI O jri do concurso foi composto por: 1) ISRAEL PINHEIRO DA SILVA (Companhia Urbanizadora da Nova Capital, sem direito a voto); 2) OSCAR NIEMEYER (diretor da NOVACAP); 3) STAMO PAPADAKI (norte-americano, consultor da NOVACAP); 4) PAULO ANTUNES RIBEIRO (representante do Instituto de Arquitetos do Brasil); 5) HORTA BARBOSA (Clube de Engenharia); 6) ANDR SIVE (urbanista francs, convidado); 7) WILLIAM HOLFORD (urbanista ingls, convidado). Texto do prof. resp. pela disciplina. Apreciao do Jri Suposio: uma "civitas", no uma "urbs". Crticas. 1. Demasiada quantidade indiscriminada de terra entre o centro governamental e o lago. 2. O aeroporto talvez tenha de ser mais afastado. 3. A parte mais longnqua do lago e as pennsulas no so utilizadas para habitaes (V. n.o 2). 4. No especificao do tipo de estradas regionais, especialmente com relao a possveis cidades satlites. Vantagens. 1. O nico plano para uma capital administrativa do Brasil. 2. Seus elementos podem ser prontamente apreendidos: o plano claro, direto e fundamentalmente simples - como, por exemplo, o de Pompia, o de Nancy, o de Londres feito por Wren e o de Paris de Louis XV. 3. O plano estar concludo em dez anos, embora a cidade continue a crescer. 4. O tamanho da cidade limitado: seu crescimento aps 20 anos se far (a) pelas pennsulas e (b) por cidades satlites. 5. Um centro conduz a outro, de modo que o plano pode ser facilmente compreendido. 6. Tem o esprito do sculo XX: novo; livre e aberto; disciplinado sem ser rgido. 7. O mtodo de crescimento - por arborizao, alguns caminhos e a artria principal - o mais prtico de todos. 8. As embaixadas esto bem situadas, dentro de um cenrio varivel. A praa dos Trs Poderes d para a cidade, de um lado, e para o parque, do outro. Devemos partir do geral para o particular - e no de modo contrrio. O que geral pode ser expresso de maneira simples e breve; mas mais fcil escrever uma carta longa do que uma curta. Inmeros projetos apresentados poderiam ser descritos como demasiadamente. desenvolvidos; o de n~ 22, ao contrrio, parece sumrio. Na realidade, porm, explica tudo o que preciso saber nesta fase; e omite tudo que sem propsito.

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    EDITAL O Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil foi divulgado oficialmente atravs do Edital publicado no Dirio Oficial da Unio no dia 30 de setembro de 1956. Entretanto, surgiram, da parte dos inscritos, vrias dvidas, inclusive quanto ao item 15,. do referido documento e, no sentido de dirimi-Ias, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil - NOVACAP valeu-se de duas correspondncias, tambm reunidas nesta unidade: uma enderecada ao Presidente da Comisso de Planejamento da Construo e Mudana da Capital Federal e outra encaminhada ao Instituto dos Arquitetos do Brasil. (Texto elaborado pelo Arquivo Pblico do Distrito Federal / Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central / Departamento do Patrimnio Histrico e Artstico, do Governo do Distrito Federal, 1991). Edital para o Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil A Comisso de Planejamento da Construo e da Mudana da Capital Federal, com sede na Avenida Presidente Wilson, 210, salas 306 e 307, nesta Capital, torna pblica a abertura do concurso nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, sob as normas e condies estabelecidas no presente Edita!. I - Inscrio 1. Podero participar do concurso as pessoas fsicas ou jurdicas domiciliadas no pas, regularmente habilitadas para o exerccio da engenharia, da arquitetura e do urbanismo. 2. As inscries dos concorrentes estaro abertas dentro de 10 (dez) dias a partir da data da publicao do presente Edital no Dirio Oficial da Unio e sero feitas mediante requerimento dirigido ao Presidente da Comisso, pelo prazo de 15 dias, contado da abertura das inscries. 3. O Plano Piloto dever abranger: a) traado bsico da cidade, indicando a disposio dos principais elementos da estrutura urbana, a localizao e interligao dos diversos setores, centros, instalaes e servios, distribuio dos espaos livres e vias de comunicao (escala 1:25.000); b) relatrio justificativo. 4. Os concorrentes podero apresentar, dentro de suas possibilidades, os elementos que serviram de base ou que comprovem as razes fundamentais de seus planos, como sejam: a) esquema cartogrfico da utilizao prevista para a rea do Distrito Federal, com a localizao aproximada das zonas de produo agrcola, urbana, industrial, de preservao dos recursos naturais - inclusive florestas, caa e pesca, controle de eroso e proteo de mananciais - e das redes de comunicao (escala 1:50.000); b) clculo do abastecimento de energia eltrica, de gua e de transporte, necessrios vida da populao urbana;

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    c) esquema do programa de desenvolvimento da cidade, indicando a progresso por etapas e a durao provvel de cada uma; d) elementos tcnicos para serem utilizados na elaborao de uma lei reguladora da utilizao da terra e dos recursos naturais da regio; e) previso do abastecimento de energia eltrica, de gua, de transporte e dos demais elementos essenciais vida da populao urbana; f) equilbrio e estabilidade econmica da regio, sendo previstas oportunidades de trabalho para toda a populao e remunerao para os investimentos planejados; g) previso de um desenvolvimento progressivo equilibrado, assegurando a aplicao dos investimentos no mais breve espao de tempo e a existncia dos abastecimentos e servios necessrios populao em cada etapa do programa; h) distribuio conveniente da populao nas aglomeraes urbanas e nas zonas de produo agrcola, de modo a criar condies adequadas de convivncia social. 5. S podero participar deste concurso equipes dirigidas por arquitetos, engenheiros ou urbanistas, domiciliados no pas e devidamente registrados no Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura. 6. O Plano Piloto dever ser executado a tinta, cpia heliogrfica ou fotosttica, sobre fundo branco e trazer a assinatura dos seus autores, sendo vedada a apresentao de variantes, podendo, entretanto, o candidato apresentar mais de um projeto. 7. Os relatrios devem ser apresentados em sete vias. 8. O Jri, presidido pelo Presidente da Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, compor-se- de: dois representantes da Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, um do Instituto de Arquitetura do Brasil, um do Clube de Engenharia e dois urbanistas estrangeiros. 9. Os trabalhos devero ser entregues dentro de 120 dias, a partir da data da abertura das inscries. 10. O Jri iniciar seu trabalho dentro de cinco dias a contar da data do encerramento do concurso e o resultado ser publicado logo aps a concluso do julgamento. 11. Os concorrentes, quando convocados, faro defesa oral de seus respectivos projetos perante o Jri. 12. A deciso do Jri ser fundamentada, no cabendo dela qualquer recurso. 13. Aps a publicao do resultado do julgamento, a Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil poder expor os trabalhos em lugar acessvel ao pblico.

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    14. Os autores do Plano Piloto, classificados em primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto lugares, recebero os prmios de Cr$ 1000.000,00 (um milho de cruzeiros), Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros). Cr$ 400.000,00 (quatrocentos mil cruzeiros), Cr$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros) e Cr$ 200.000,00 (duzentos mil cruzeiros), respectivamente. 15. Desde que haja perfeito acordo entre os autores classificados em primeiro lugar e a Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, tero aqueles a preferncia para o desenvolvimento do projeto. 16. O Jri no ser obrigado a classificar os cinco melhores trabalhos e conseqentemente a designar concorrentes que devam ser premiados, se, a seu juzo, no houver trabalhos merecedores de todos ou de alguns dos prmios estipulados. 17. Todo trabalho premiado passar a ser propriedade da Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, aps o pagamento do prmio estipulado, podendo dele fazer o uso que achar conveniente. 18. A Comisso de Planejamento da Construo e da Mudana da Capital Federal coloca disposio dos concorrentes, para consulta, os seguintes elementos: a) mosaico aerofotogrfico, na escala de 1:50.000, com curvas de forma de 20 em 20 metros (apoiados em pontos de altura determinados no terreno por altmetro de preciso Wallace & Tiernan) de todo o Distrito Federal; b) mapas de drenagem de todo o Distrito Federal; c) mapas de Geologia de todo o Distrito Federal; d) mapas de solos para obras de engenharia de todo o Distrito Federal; e) mapas de solos para agricultura de todo o Distrito Federal; f) mapas de utilizao atual da terra de todo o Distrito Federal; g) mapa de conjunto, indicando locais para perfurao de poos, explorao de pedreiras, instalaes de usinas hidreltricas, reas para cultura, reas para criao de gado, reas para recreao, locais para aeroportos, etc., etc.; h) mapa topogrfico regular, na escala de 1:25.000, com curvas de nvel de 5 em 5 metros, executado por aerofotogrametria, cobrindo todo o stio da Capital (cerca de 1000 km2) e mais uma rea de 1000 km2 a leste do stio da Capital, abrangendo a cidade de Planaltina e grande parte do vale do Rio So Bartolomeu; i) ampliao fotogrfica dos mapas do stio da Capital (200 km2) para a escala de 1:5.000, com curvas de nvel de 5 em 5 metros; j) mapas detalhados de drenagem, geologia, solos para engenharia, solos para agricultura e utilizao da terra, do stio da cidade (1000 km2) e mais 1000 km2 a leste desse stio;

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    k) mapas topogrficos regulares, na escala de 1:2.000, com curvas de nvel de metro em metro e de dois em dois metros, da rea de 150 km2, indicada como ideal para a localizao da zona urbana da Capital Federal; l) relatrio minucioso relativo aos estudos do solo e do subsolo, do macro clima e do micro clima, das guas superficiais e subterrneas, das possibilidades agrcolas e pecurias, etc., etc. 19. Caber aos concorrentes providenciar as cpias heliogrficas, fotogrficas, etc., que julgarem indispensveis elaborao dos projetos, sendo que, para esse fim, sero fornecidos os seguintes elementos: a) mapas topogrficos regulares em 1:25.000, com curvas de 5 em 5 metros, do stio da Capital; b) mapas ampliados para a escala de 1:5.000, de 200 km2 do stio da Capital; c) mapas topogrficos regulares, na escala de 1:2.000, com curvas de nvel de metro em metro e de dois em dois metros, da rea de 150 km2, indicada como ideal para a localizao da zona urbana da Capital Federal. 20. A Comisso de Planejamento da Construo e da Mudana da Capital Federal facilitar aos concorrentes visita ao local da futura Capital, para melhor conhecimento da regio. 21. Qualquer consulta ou pedido de esclarecimento sobre o presente concurso dever ser feito por escrito, sendo que as respostas respectivas sero remetidas a todos os demais concorrentes. 22. As publicaes relativas ao concurso sero insertas no Dirio Oficial da Unio e em outros jornais de grande circulao no Distrito Federal e nas principais Capitais Estaduais. 23. A Comisso de Planejamento da Construo e da Mudana da Capital Federal, considerando que o planejamento de edifcios escapa ao mbito deste concurso, decidiu que os projetos dos futuros edifcios pblicos sero objeto de deliberaes posteriores, a critrio desta Comisso. 24. A participao neste concurso importa, da parte dos concorrentes, em integral concordncia com os termos deste Edital. Rio de Janeiro, 19 de setembro de 1956. Ernesto Silva, Presidente Informaes Complementares Carta remetida pelo Presidente da NOVACAP ao Presidente da Comisso de Planejamento e Mudana da Capital Federal, informando sobre a nova redao do item 15 do Edital do Concurso do Plano Piloto. (Texto elaborado pelo Arquivo Pblico do Distrito Federal / Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central / Departamento do Patrimnio Histrico e Artstico, do Governo do Distrito Federal, 1991).

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    Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1956. Sr. Presidente: Em complemento exposio que tive oportunidade de fazer aos Diretores e Representantes do Instituto de Arquitetos do Brasil, esclareo, pelo presente, alguns pontos do Edital do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, os quais suscitaram dvidas na sua interpretao. Assim, o artigo 15 dever ser assim entendido: "Os autores classificados em primeiro lugar ficaro encarregados do desenvolvimento do projeto, desde que haja perfeito acordo com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil sobre as condies para a execuo desse trabalho: Comunico-lhe, ainda, que determinei seja o prazo de 120 dias para a entrega do Plano Piloto, contado a partir da data do encerramento das inscries e que sejam fornecidas aos concorrentes, cpias do relatrio Belcher, nas partes que lhes possam interessar. Reitero os meus protestos de elevado apreo. Israel Pinheiro, Presidente Correspondncia enviada pelo Diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura da NOVACAP ao Instituto dos Arquitetos do Brasil, fornecendo mais informaes para o Concurso do Plano Piloto. (Texto elaborado pelo Arquivo Pblico do Distrito Federal / Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central / Departamento do Patrimnio Histrico e Artstico, do Governo do Distrito Federal, 1991). Ao Sr. Dr. Ary Garcia Roza, DD. Presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil: O Departamento de Arquitetura e . Urbanismo da Companhia Urbanizadora responde s consultas formuladas, at esta data, pelos concorrentes ao Plano Piloto da Nova Capital: 1 - Ventos dominantes: Predominam os ventos leste. 2 - Estrada de ferro: Uma estrada de ferro dever ligar Anpolis ou Vianpolis Nova Capital. 3 - Estrada de rodagem: Dever ser projetada de Anpolis a Braslia. 4 - Represa, Hotel, Palcio Residencial e Aeroporto: A represa (cujo nvel corresponder cota 997), o hotel e o palcio residencial ficaro situados de acordo com a planta j fixada e disposio dos concorrentes. O palcio do Governo projetado aguardar fixao do Plano Piloto. Nessa planta se acha tambm localizado o aeroporto definitivo, j em construo. 5 Ministrios: Para os estudos do Plano Piloto permanece a atual organizao ministerial, acrescida de trs ministrios. Somente cerca de 30% dos funcionrios sero transferidos.

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    6 - Indstria e agricultura: Dever prever-se um desenvolvimento limitado, em vista do carter poltico-administrativo da Nova Capital. 7 - Loteamento e tipo de propriedade: O assunto aguardar sugestes do Plano Piloto. 8 Densidade: Proviso para 500.000 habitantes, no mximo. 9 - Construes em andamento: Esto sendo iniciadas as obras de um hotel e de um palcio residencial para o Presidente da Repblica. Alm dessas obras, esto em construo, em carter provisrio, as instalaes necessrias ao funcionamento da Companhia Urbanizadora e dos servios que ali se iniciam. 10 Relatrio: Foi enviada cpia do relatrio ao Instituto de Arquitetos do Brasil e Faculdade de Arquitetura de So Paulo. 11 - Apresentao dos trabalhos: Os concorrentes tero plena liberdade na apresentao de seus projetos, inclusive no uso de cores, etc. 12 Escala: A escala para o Plano Piloto permanecer de... 1:25.000, entretanto ser permitido aos concorrentes apresentar detalhes do referido plano na escala que desejarem. 13 Colaboradores: O arquiteto inscrito no concurso para o Plano Piloto de Braslia ter plena liberdade na escolha de seus colaboradores, que podero assinar as plantas apresentadas. 14 - Defesa oral: Na defesa oral, os arquitetos podero ter a assistncia de seus colaboradores. Oscar Niemeyer, Diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura. A entrega dos trabalhos se deu no dia 11 de maro de 1957. No subseqente dia 16 de maro o resultado foi proclamado: Primeiro lugar: Lcio Costa; Segundo lugar: Ney Fontes Gonalves, Baruch Milman e Joo Henrique Rocha; Terceiro lugar: dividido por 2 equipes: a de Rino Levi, e a dos irmos Roberto; Quinto lugar: Henrique Ephin Mindlin e Giancalo Palanti; Carlos Cascaldi, Vilanova Artigas, Mrio Wagner Vieira da Cunha, e Paulo de Camargo e Almeida; Milton Ghiraldini. No houve defesa oral de nenhum dos projetos. A preparao do gigantesco canteiro de obras j havia sido iniciado em outubro de 1956, de onde se aguardava o resultado do concurso. A cidade foi inaugurada pelo presidente Juscelino Kubitschek em 21 de abril de 1960. (Nota do prof. resp. pela disciplina).

    Relatrio do Plano-Piloto de Braslia