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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA RELATÓRIO ECONÓMICO ANUAL 2007 JUNHO 2008

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICAUNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

RELATÓRIO ECONÓMICO ANUAL 2007

JUNHO 2008

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

Patrono – D. Damião FranklinDirector – Salim ValimamadeDirector Académico – Alves da Rocha

Relatório Económico de Angola 2007

Coordenador – Alves da Rocha Regina Santos Marília Poças Fernando Pacheco Armando Manuel Ramos da Cruz Investigadores do CEIC

Alves da Rocha Arlindo Barbeitos Cláudio Tomás Emílio Londa Miguel Manuel Milton Reis Nelson Pestana Pedro Vaz Pinto Regina Santos Salim Valimamade

Administrativos

Margarida Teixeira

Paginação – Offset, Lda.

Capa – Offset, Lda.

Edição – Universidade Católica de Angola Rua N. S. Da Muxima 29, C.P. 2064 Luanda Telef + 244 222 331 973/ 398 765 Fax + 244 222 398 759 Web site www.ucan.edu

Impressão – Offset, Lda. Rua N’gola Kiluanji, 178 Luanda Tel. 222 380 252 / 598 Fax 222 380 825

Tiragem – 1000 exemplares

Este Relatório teve o alto patrocínio da Embaixada da Noruega, da USAID, WORLD LEARNING da Funda-ção Friedrich Ebert e da Cooperação Portuguesa

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

ÍNDICE

PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

1. INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71.1 – A ESTABILIZAÇÃO MACROECONÓMICA. . . . . . . . . . . . . . . . . 141.2 – O SECTOR REAL DA ECONOMIA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171.3 – O MAPA DO PETRÓLEO DA ÁFRICA SUBSARIANA. . . . . . . . . . . . . 201.4 – A POBREZA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2. OS CONTEXTOS ENVOLVENTES DA ECONOMIA NACIONAL. . . . . . . . 27 2.1 – O CONTEXTO INTERNACIONAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.1.1 – ECONOMIA MUNDIAL DESENVOLVIDA. . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.1.2 – ECONOMIA AFRICANA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 2.1.3 – AS ECONOMIAS EMERGENTES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

2.2 – OS FACTORES CONJUNTURAIS E ESTRUTURAIS INTERNOS. . . . . . . . . 37

3. SECTOR MONETÁRIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 383.1– INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 383.2 – POLITICA MONETÁRIA E CAMBIAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 393.3 –MERCADO CAMBIAL E TAXA DE CÂMBIO. . . . . . . . . . . . . . . . . 403.4– MERCADO MONETÁRIO E TAXA DE JURO. . . . . . . . . . . . . . . . . 423.5 –TAXA DE JURO DO SISTEMA BANCÁRIO. . . . . . . . . . . . . . . . . . 453.6– AGREGADOS MONETÁRIOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 463.7 –O SISTEMA FINACEIRO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

4. POLITICA FISCAL E ORÇAMENTAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 504.1– INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 504.2 – METAS E EVOLUÇÃO RECENTE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 514.3 – A EXECUÇÃO ORÇAMENTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

4.3.1 – A RECEITA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.3.2 – A DESPESA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.3.2.1 – A DESPESA POR FUNÇÕES E PROGRAMAS. . . . . . . . . . . . . . . 54 4.3.2.2 – A DESPESA CORRENTE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 4.3.2.3 – A DESPESA DE CAPITAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

4.4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5. NÍVEL GERAL DE ACTIVIDADE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 575.1.- AGRICULTURA E DESENVOLVIMENTO RURAL . . . . . . . . . . . . . . 63 5.1.1- INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 5.1.2 –EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA DE PRODUÇÃO AGRÁRIA E DAS INSTITUIÇÕES DE APOIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 5.1.3 – A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E FLORESTAL . . . . . . . . . . . . . . 65 5.1.4 – ALGUNS DOS PRINCIPAIS PROGRAMAS EM CURSO . . . . . . . . . . . . 68 5.1.5 – INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 5.1.6 – O FINANCIAMENTO DO SECTOR AGRÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . 70 5.1.7 – O AGRONEGÓCIO E OS BIOCOMBUSTIVEIS . . . . . . . . . . . . . . . 71

6. COMPONENTES DA DESPESA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

7. BALANÇA DE PAGAMENTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 777.1 – INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 777.2 – CONTA CORRENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

7.2.1 – CONTA DE BENS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

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7.2.1.1 – EXPORTAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 7.2.1.2 – IMPORTAÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

7.2.2 – BALANÇA DE SERVIÇOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 7.2.3 – RENDIMENTOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 7.2.4 – TRANSFERÊNCIAS CORRENTES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

7.3 – BALANÇA DE CAPITAL E FINANCEIRA. . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 7.3.1 – EMPRÉSTIMOS DE MÉDIO E LONGO PRAZO E OUTROS CAPITAIS . . . . . . 80

7.4 – BALANÇA GLOBAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 807.5 – STOCK DE DÍVIDA EXTERNA DE MÉDIO E LONGO PRAZO . . . . . . . . . 80

8. EMPREGO E PRODUTIVIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 818.1 – INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 818.2 – APROXIMAÇÃO AO DESEMPREGO E À PRODUTIVIDADE. . . . . . . . . . 828.3 – POLITICAS PÚBLICAS DO EMPREGO E DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL. . . . 848.4 – MERCADO DO EMPREGO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

8.4.1 – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 868.4.2 – ADMINISTRAÇÃO DO TRABALHO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90

9. INFLAÇÃO, CONDIÇÕES DE VIDA E PODER DE COMPRA . . . . . . . . . 989.1 – NOTA PRÉVIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 989.2 – O COMPORTAMENTO DA INFLAÇÃO EM 2006. . . . . . . . . . . . . . . 999.3 – CONDIÇÕES DE VIDA E PODER DE COMPRA . . . . . . . . . . . . . . . 102

10. PERSPECTIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10410.1 – ECONOMIA MUNDIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

10.1.1 – AS GRANDES ECONOMIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 10.1.2 – AS ECONOMIAS EMERGENTES . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

10.2 - A ECONOMIA AFRICANA AO SUL DO SARA . . . . . . . . . . . . . . . 10810.3 – A ECONOMIA ANGOLANA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

10.3.1 – PROJECÇÕES DO PIB. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 10.3.2 – PROJECÇÕES DA TAXA DE INFLAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . 112

11. RECAPITULAÇÃO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS ECONÓMICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

PREFÁCIO

O Relatório Económico Anual, publicado pelo Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade

Católica de Luanda, já se tornou uma peça indispensável e altamente aguardada nos círculos políticos, académicos e empresariais de Angola. Foi, portanto, com imensa honra e satisfação que aceitei o convite para escrever este Prefácio para apresentar o Relatório Anual de �007.

Este relatório é muito mais do que um documento em que dados estatísticos são compilados e apresentados de forma sistemática, tarefa que em si mesma já mereceria aplausos, dada a relativa escassez de exposições abrangentes sobre a economia angolana. O relatório oferece também uma visão analítica sobre a economia angolana, permitindo uma compreensão para além dos números. Permite uma visão sobre as opções de política e, portanto, adquire particular relevância no actual momento histórico do país. Demonstra maturidade e sofisticação de toda a sociedade angolana e não apenas do governo, algo importante para gerar um debate de qualidade que permita ao país pensar suas próprias soluções para os problemas que o afligem.

Angola vive um momento histórico de grande importância na sua caminhada em direcção ao desenvolvimento económico e social. Conquistas no domínio económico, especialmente com respeito à estabilidade macro-económica, juntamente com o amadurecimento político e seus reflexos sobre o longo processo de democratização do país, oferecem uma perspectiva de melhora permanente na condição de vida do povo angolano. O país está a se preparar para dar um grande passo no caminho do aprofundamento dos processos democráticos com a realização de eleições em Setembro, após um longo período, o que permitirá o fortalecimento do diálogo entre todos os sectores socio-economicos do País.

Desde o fim da guerra civil, Angola foi capaz de superar incríveis obstáculos para chegar ao ponto em que hoje se encontra. Não temeu difíceis decisões políticas e soube conviver com os benefícios e as consequências não antecipadas das mesmas, adaptando-as quando necessário. Angola tomou as rédeas de seu desenvolvimento e os resultados têm sido positivos.

No domínio económico, como bem chamou atenção o meu colega, o Dr. Francisco Carneiro, autor principal do Memorando Económico para o País, publicado pelo Banco Mundial em �006, enquanto a maioria dos outros países está a passar por dificuldades com o recente aumento dos preços internacionais do petróleo Angola está a beneficiar de um período prospero gerado pela crescente produção de petróleo indexada aos preços elevadíssimos, bem como aos aumentos na produção de diamantes. E como não poderia deixar de ser, como a maré alta tende a elevar todos os barcos, a economia não mineral tem se expandido a olhos vistos também.

No entanto, o Relatório Económico Anual de 2007, tem a lucidez de chamar atenção para os desafios associados com o processo da acumulação de gigantescas receitas petrolíferas e no que, em termos económicos, denomina-se como o “ Paradoxo da Afluência”. Com efeito, talvez o maior desafio que o País enfrenta hoje seja assegurar que os benefícios da riqueza petrolífera e diamantífera sejam partilhados largamente e que a pobreza e as desigualdades sejam reduzidas significativamente. Os fazedores de políticas precisam encontrar respostas rápidas e apropriadas para evitar que, tal como acontece em outros países, o florescimento dos recursos agrave ainda mais as debilidade de governação, ao invés de acabar com elas.

Uma destas respostas é o papel que a sociedade civil deve desempenhar. Este Relatório da Universidade Católica

aponta nessa direcção, pelo que merece um grande aplauso. Através de uma séria investigação independente, a Universidade contribui para o fortalecimento da capacidade do povo Angolano de analisar e avaliar as actividades governamentais assim como e de igual modo, contribuir para o fortalecimento da capacidade das instituições públicas no país, de forma a promover uma gestão pública mais eficaz, transparente e responsável.

Ao mesmo tempo e neste contexto, vários são os requerimentos para que a caminhada em direcção ao desenvolvimento seja bem-sucedida. O presente Relatório Económico �007 demonstra que uma conditio sine qua non é a análise crítica das opções de políticas público/privadas a partir de condicionantes históricos do país e de uma visão prospectiva sobre os rumos da economia global e nacional.

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A análise chama atenção para a necessidade de se fortalecer os mecanismos de mercado que favorecem a diversificação da economia bem como a necessidade de se reconstruir as infraestruturas destruídas durante a Guerra. Com o fortalecimento das instituições, a boa gestão macroeconómica, o controlo da corrupção, e a reconstrução das infraestruturas, abre-se o caminho para a diversificação da economia e a criação de empregos para aqueles que ainda não se encontram integrados na economia nacional.

Com um clima de negócios mais moderno e saudável, Angola será capaz de atrair o investimento privado, além dos sectores mineiros, para a indústria, agricultura e áreas de serviços da economia que foram alvo de pouco investimento desde a independência e que são motores de geração maçiça de emprego. Melhorar o clima de negócios exige, além de mais acesso a créditos, um marco jurídico mais eficiente, rápido e previsível.

Por sublinhar com diligente certeza todos estos assuntos, o Relatório Económico Anual de �007, torna-se uma leitura essencial para aqueles interessados em aprofundar o entendimento das oportunidades que se apresentam aos angolanos neste momento histórico de seu processo de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, o Relatório apresenta uma oportunidade para que os leitores se interessem e pensem a respeito dos desafios e caminhos alternativos para resolver muitos dos problemas que ainda permanecem por resolver. O texto é rico em rigor académico e analítico, e criativo ao desenvolver diagnósticos e prognósticos. Com certeza, políticos e académicos, empresários e fazedores de políticas, assim como estudiosos e curiosos sobre os rumos da economia angolana encontrarão neste relatório muitas respostas para um grande número de perguntas.

O Banco Mundial felicita-se em assistir aos progressos do povo angolano e se coloca a seu lado para enfrentar os obstáculos que estão pela frente. Desta forma, gostaria de parabenizar o CEIC/UCAN pela elaboração deste documento. É um relatório de angolanos para angolanos e demonstra que esta nação tem um brilhante futuro a viver.

Luanda, �� de Junho de �008

Alberto ChuecaRepresentante Residente em Angola do Banco Mundial

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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1. - INTRODUÇÃO

O ano de 2007 em Angola marcará o fim dum regime democrático de um único pleito eleitoral realizado em �6 anos de sistema parlamentar livre e aberto. Foram �6 anos de aprofundamento democrático e de alguns debates interessantes sobre questões importantes, como o Orçamento Geral do Estado e os Programas Económicos do Governo. No entanto, algo se perdeu pelo facto de terem sido praticamente sempre os mesmos deputados, com abordagens repetitivas sobre os problemas nacionais e, por vezes, sem ideias novas e inovadoras. Não tivessem sido o abanão do crescimento económico e as novas políticas económicas, fechar-se-ia este ciclo parlamentar com pouco vigor e reduzido alvoroço político.

A economia angolana continuou, durante �007, influenciada por um clima de generalizada euforia, ainda que tenham prevalecido situações que o podem prejudicar e relacionadas com a nossa capacidade institucional – pública e privada – de lidar com ritmos de crescimento tão elevados. Evidentemente que não se pode parar para se constituir a capacidade necessária para se lidar com mudanças tão radicais e acontecendo no dia-a-dia. Esta capacidade institucional vai, afinal, acabar por ser o resultado cruzado da aprendizagem prática, da melhoria do conhecimento teórico sobre os fenómenos sociais e da crescente abertura da economia.

As principais conclusões dos Barómetros de Conjunturas dos três primeiros trimestres de �007 – ainda que válidas apenas para a província de Luanda� – comprovam algumas das preocupações que o Centro de Estudos e Investigação Científica tem divulgado sobre os limites dum crescimento económico excessivo e em condições precárias de capacidade de liderança das instituições públicas e privadas. Um dos factos que pode explicar a degradação acentuada do indicador sintético da situação económica para os nove primeiros meses do ano transacto é o caos da cidade de Luanda em diferentes domínios. Não se tem conseguido mitigar a dramaticidade do caótico trânsito diário na capital e, obviamente, as consequências sobre a produtividade são muitas e negativas. Como a iniciativa privada mobiliza-se em redor de indicadores de ganhos e de lucros, sempre que as suas bases se alteram negativamente, � No entanto, não se deve esquecer que Luanda concentra mais de 70% de toda a actividade económica do país, sendo o centro político e adminis-trativo por excelência e o local onde as decisões de investimento são to-madas. O que se passar na capital tem, portanto, efeitos indeléveis sobre o comportamento económico dos agentes privados. Em circunstâncias nor-mais de descentralização administrativa e institucional, o peso de Luanda poderia ser mitigado e as expectativas de investimento menos afectadas pelas graves deficiências de gestão urbana da cidade.

os empresários repercutem esses prejuízos sobre as suas expectativas. Quer tenham sido as chuvas que se abatem regularmente sobre Luanda, quer sejam os problemas diários de tráfego, as conclusões do Barómetro de Conjuntura CEIC/UCAN comprovam que os factores extra-económicos pesam bastante sobre o clima de negócios e de investimento.

Para se ter uma ideia da velocidade das transformações económicas é suficiente referir que, só nos primeiros sete meses de �007, a taxa de crescimento acumulada do PIB foi de cerca de ��%, de acordo com o Boletim de Conjuntura do Ministério do Planeamento. As actividades terciárias foram as de maior dinamismo, suplantando todos os restantes sectores. A economia não petrolífera pode ter crescido, no período em referência, qualquer coisa como ��%.

Porém, os indicadores sociais não melhoraram na mesma proporção dos indicadores económicos. Por exemplo, do ponto de vista da opinião do painel de empresários do Barómetro de Conjuntura do CEIC/UCAN, a situação social manteve-se um factor de influência negativa para o clima de negócios. É consabido que a melhoria das condições de vida da população potencia as situações de crescimento económico sustentável, evitando-se posições de tensão social prejudiciais aos equilíbrios básicos da sociedade. O valor do IDH divulgado pelo Programa das Nações Unidas no seu Relatório sobre o Desenvolvimento Humano �007/�008 continua sendo dos mais baixos do mundo e ainda que o respectivo valor absoluto tenha melhorado ligeiramente, o posicionamento relativo do nosso país não se alterou. Continuamos, nesse âmbito, no ranking dos �0 piores países do mundo.

São os aspectos sociais que o Governo tem de tratar duma forma mais profunda, sob pena de as dinâmicas de crescimento económico se atenuarem significativamente no futuro, sem que a população tenha tido os correspondentes benefícios, sobretudo depois dos sacrifícios inerentes a mais de �7 anos de guerra civil. A questão da distribuição do rendimento é, provavelmente, a mais importante para a redução da pobreza. Claramente que o crescimento económico – não é possível mantê-lo a taxas médias anuais de �0% durante um largo período de tempo – é insuficiente para reduzir significativamente a pobreza pelos mecanismos de mercado. Os investimentos tendem a ser cada vez mais capital/tecnologia intensivos e cada vez menos geradores de emprego. Portanto, os mecanismos de repartição ex-post do rendimento nacional encontram-se, à partida, inquinados pela natureza do investimento, e, se não forem alterados

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pela política social, a melhoria das condições de vida da maioria da população não se verificará. Trata-se de, por esta via, se transformar, em certa medida, a natureza capital intensiva dos investimentos. Outra forma de o Governo melhorar os mecanismos de repartição do rendimento é por intermédio duma intervenção ex-ante, modificando os activos na posse da população pobre (educação, formação profissional, saúde, microcrédito, etc.).

Angola manteve-se fiel às expectativas duma economia em franco processo de crescimento económico que já datam de há três anos a esta parte. O crescimento económico manteve-se em dois dígitos e a estabilização macroeconómica continuou a estabelecer-se em padrões exigidos pelas agências internacionais de financiamento e pelos índices de classificação (rating)�, ainda que alguns dos indicadores que a caracterizam não tenham sido controlados da maneira mais efectiva, por pressão dum crescimento talvez demasiadamente intenso e rápido para as nossas capacidades de gestão e endogenização. Apesar disso, o investimento estrangeiro continuou à procura das oportunidades que o nosso país tem proporcionado, como que a comprovar os resultados de algumas abordagens sobre os factores de atracção dos capitais externos.

Com efeito, vários estudos do Banco Mundial e o Relatório sobre a Competitividade Mundial do Fórum Económico Mundial de �00� são claros ao identificarem o crescimento económico como um dos principais factores de atractividade do capital estrangeiro, em muitos casos exercendo uma influência maior do que, por exemplo, o controlo do défice fiscal e da taxa de inflação.

Os níveis gerais de governação mantiveram-se estáveis em �007, parecendo ter-se entrado em velocidade de cruzeiro quanto à gestão dos agregados macroeconómicos�. No entanto, nada está definitivamente consolidado, permanecendo vários desafios estratégicos.

Governar é considerar opções e realizar escolhas. Politicamente, as decisões reflectem conceitos e ideologias

�Ainda não foi em �007 que o país teve direito ao seu rating internacio-nal, apesar de alguns pronunciamentos de membros do Governo nesse sentido. Parece que a arrumação das contas com o Clube de Paris deram a Angola o adicional de argumentos de que necessitava para negociar, duma forma mais livre e menos condicionada, alguns dos financiamentos de que necessita para aguentar o esforço de crescimento económico actual e futuro. No entanto, o índice risco-país é um critério financeiro indispen-sável para uma economia que se pretende moderna e cada vez mais aberta e participativa da globalização.�Deseja-se que o aproximar das eleições legislativas não faça relaxar o rigor colocado na gestão de áreas estratégicas da estabilidade e do cres-cimento.

sobre o papel e a presença do Estado na sociedade. Deste ponto de vista, existem decisões que contentam mais determinados sectores da sociedade do que outros. Por isso, é que as grandes decisões governamentais no domínio, por exemplo, das obras de infraestruturas, das privatizações e de outras áreas de relevância para a economia, devem ser tomadas sob neutralidade política, isto é, valorizando-se a perspectiva económica da eficiência na utilização dos recursos escassos da economia. A sua escassez impõe que, na decisão, se escolha a melhor das utilizações alternativas.

Na tradição da economia política, a análise da eficiência económica antecede a escolha política. Nos Estados Unidos e no Reino Unido as escolhas governamentais são sujeitas a um escrutínio económico e, por esta via, são relevados os custos para a sociedade – ou para certos grupos sociais, numa lógica redistributiva – que determinadas opções políticas acarretam.

A análise económica requer que se isolem, devidamente, o valor de uso alternativo dos recursos financeiros que se pretendem dedicar à construção de infraestruturas ou à realização de determinadas reformas (por exemplo, as privatizações).

A accountability (a responsabilidade em actos de incidência pública), é um conceito intimamente ligado à transparência e à obrigação de se prestarem contas pelo uso de recursos financeiros. Significa que quem desempenha funções de relevância na sociedade está obrigado à prestação regular de explicações sobre o que se faz, como se faz, porque se faz, o quanto se gasta e o que se vai fazer a seguir. Portanto, para além de se apresentarem contas em termos quantitativos, a accountability exige avaliação da obra feita, dando-se a conhecer o conseguido e justificando-se o não-conseguido. A obrigação de prestação de contas é tanto maior, quanto a função é pública, isto é, quando se trata do desempenho de cargos públicos pagos com o dinheiro dos contribuintes. Apesar do prémio de melhor Ministro africano das Finanças, no domínio da transparência e regularização das Contas Públicas, ao Dr. José Pedro de Morais Júnior – que encheu de orgulho os angolanos e muito especialmente os economistas� –, Angola ainda integra o Índex da falta de accountability. Os titulares do poder governamental ou parlamentar, os responsáveis da Administração Pública e os gestores das empresas públicas têm sido avarentos na apresentação pública, ordenada e clara, do que cumprem e não cumprem.

� E, ainda mais particularmente, o coordenador da equipa do CEIC que elabora este Relatório, por ter sido seu professor nos idos anos 70 do século passado.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

Pretende-se para Angola uma social-democracia, ou seja, uma democracia que sendo-a no plano político vá além disso, projectando-se no domínio das relações no trabalho, da repartição dos rendimentos e da segurança social.

Demasiada frustração na esfera económica desacredita a democracia, tal como a ditadura – um angolano nascido nos anos �0 do século passado sabe-o bem. Dir-se-ia que ambos os regimes políticos podem albergar ou gerar um mercado distraído dos grandes objectivos de desenvolvimento sustentado, do crescimento económico e da coesão social. E é particularmente grave quando a frustração da grande maioria é acompanhada de maior desigualdade na repartição do rendimento e da riqueza�.

Mais de �� anos volvidos sobre a histórica declaração da independência nacional, a celebração da data quase que tem perdido sentido para os mais velhos que acreditaram num futuro que seguiu outro caminho, e corre-se o risco de não ter sentido para os mais novos que não sabem de onde vêm, nem para onde vão.

É preciso, assim, demonstrar, na prática, que a economia de mercado, também, pode ser, em Angola, um roteiro de desenvolvimento humano e de liberdade cultural.

Não obstante a grande euforia à volta dos sucessos económicos recentes, persistem desafios importantes, tendencialmente agravados pelas actuais insuficiências institucionais e limitada cultura de desenvolvimento da sociedade. A gestão do sobreaquecimento da economia é um tópico muito sério.

A Administração Pública, responsável pela condução dos destinos da sociedade e pelo fornecimento de bens e serviços públicos de qualidade à população, é fraca, permeável e com um défice elevado de diálogo com a sociedade civil. Um Estado fraco – de autoridade e competência – deficiente na garantia de prestação de serviços é um dos limites à manutenção, gerenciamento e sustentabilidade de elevadas taxas de crescimento económico no futuro. A China tem conseguido os desempenhos que se conhecem – há mais de �� anos que a sua economia cresce a uma cadência anual em redor dos �0%, equivalente a um factor multiplicativo de �0,8 – graças a um regime político autoritário e prepotente6 (onde a corrupção é � Mário Murteira, Economia Global e Gestão, Abril de �007.6 Um sistema político autoritário pode acelerar o crescimento económico e mobilizar grandes recursos? As opiniões divergem. Se a governação da sociedade e da economia for boa e transparente, podem aparecer resulta-dos positivos. Caso contrário, pode ser a catástrofe.

combatida com a pena de morte), ao envolvimento de muita mão-de-obra no processo de produção, ao não cumprimento das regras básicas do livre comércio internacional, à não consideração de princípios trabalhistas elementares e à prática de certas formas de dumping social( a colocação no mercado de bens a preços inferiores aos praticados normalmente). Em Angola, as reformas administrativas não têm produzido os resultados esperados – e reclamados por uma economia que cresce a dois dígitos – em matéria de aumento significativo de competência, capacidade e eficiência. Talvez um choque mais radical seja necessário na orgânica e funcionamento da máquina administrativa do Estado – com despedimento da componente corrupta, incompetente e improdutiva do funcionalismo público – se se quiser acrescer a capacidade de controlo e gerência do crescimento económico7. Esta capacidade de controlo é indispensável para que uma boa parte do crescimento económico se possa transformar em desenvolvimento humano – no fundo, a endogenização do crescimento do valor agregado nacional –, melhoria das condições de vida da população e aumento da competitividade estrutural da economia. Para que se consiga dirigir o crescimento económico intenso que se espera, é indispensável que a capacidade técnica, a organização institucional e a competência administrativa e política (numa palavra, a produtividade) da Administração Pública cresça acima do ritmo anual de crescimento da economia8. Não sendo assim, seremos esmagados pelo crescimento e pelo que tem de pior: descriminação, desemprego, desigualdade, empobrecimento, assimetrias regionais e exclusão social.

7O recurso sistemático à assistência técnica estrangeira, concentrada em um ou dois países, tem de ter um enquadramento estratégico e ser progra-mada em alinhamento com a necessidade da sua redução significativa, de modo a criar-se um espaço de afirmação, trabalho, reflexão e intervenção das capacidades técnicas angolanas, como economistas, sociólogos, en-genheiros, tecnólogos, biólogos, arquitectos, juristas, médicos, gestores, historiadores, antropólogos, etc. Senão o que fazer dos licenciados que as (felizmente) muitas Universidades angolanas estão a formar? A assistên-cia técnica estrangeira está a constituir-se num obstáculo sério à partici-pação dos intelectuais angolanos na discussão do destino da sociedade e na reflexão sobre os modelos de desenvolvimento mais apropriados. Os chamados peritos estrangeiros, contratados pelo Governo a preços ele-vadíssimos, estão espalhados por muitos Ministérios e órgãos adjacentes e têm-se constituído numa espécie de Comités de Certificação Técnico-Científica para todos os trabalhos que aí são elaborados. Ou seja, sem a sua chancela técnica, as propostas dos angolanos não são aceites pelas direcções institucionais. 8Para se ter uma ideia aproximada do significado da restrição Administra-ção Pública sobre a capacidade de controlo e gestão do crescimento eco-nómico, são bastantes as cifras seguintes, relativas ao período �00�/�007: o PIB aumentou ���,�% em termos acumulados; o número de funcioná-rios públicos foi acrescido de �7,�%; o quantitativo de técnicos superiores variou �8,�%; o número de licenciados acresceu-se em �0%; a produtivi-dade administrativa não deve ter melhorado a um ritmo médio anual su-perior a 1%, pois não é suficiente informatizar-se a Administração Pública sendo, sim, indispensável organização, disciplina, brio profissional e ca-pacidade de liderança dos chefes; a armadura científica da Administração do Estado é, praticamente, inexistente.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

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O crescimento económico muito desigual entre as zonas rurais (agricultura, especialmente) e as urbanas e entre Luanda (mais Cabinda, Huíla e Benguela) e o interior é outro enorme desafio. Um estudo realizado pelo Núcleo de Macroeconomia do CEIC sobre a repartição regional da actividade económica em Angola revela que Luanda concentrava em �00� mais de 70% do rendimento nacional e que em �00� este índice se agravou para 78%. Admitindo-se que Luanda concentra cerca de �0% da população total, a forte assimetria espacial na distribuição do rendimento nacional fica evidente. Esta desigualdade na localização territorial do crescimento económico acaba por engendrar a desigualdade pessoal na distribuição do rendimento, potenciada pelas elevadas taxas de pobreza e de desemprego.

Um outro aspecto, neste contexto da desigualdade pessoal na distribuição do rendimento, relaciona-se com a criação de dois mundos completamente diferentes em Angola. Um é o mundo da alta finança, do imobiliário de luxo e especulativo e dos shopings� (centros comerciais), de elevado rendimento e de grandes perspectivas futuras, mas acessível apenas aos angolanos próximos da elite económica e política�0. O outro é o mundo da pobreza, onde quase 70% da população sobrevive com muitas dificuldades.

Numa perspectiva de fortalecimento do tecido empresarial nacional, a reforma das empresas estatais posiciona-se, também, como um importante desafio. Não apenas do lado das finanças do Estado – redução dos subsídios às empresas públicas, em nome duma melhor afectação dos recursos financeiros do Governo e da sustentabilidade orçamental – mas, igualmente, do ponto de vista da melhoria da produtividade da economia nacional. Seguramente que muitas empresas estatais deverão, no fim do processo de reforma, continuar a pertencer ao Estado – confirmada, se for o caso nessa altura, a sua vocação de interesse público, estratégico ou não – mas, espera-se que a maior parte do universo do sector público empresarial seja � O imobiliário de luxo e os shopings são realidades trazidas pelos inves-timentos brasileiros – importação de padrões habitacionais e de hábitos de consumo estranhos –, deslocadas dos arquétipos culturais médios da maioria da população e inacessíveis ao poder de compra duma população fundamentalmente pobre. Este tipo de opções pode engendrar um extre-mar de posições entre as classes pobre e média baixa, dum lado, e a classe rica da sociedade, do outro. Ainda que as políticas públicas contidas no Programa Geral do Governo �007-�008 direccionem algumas medidas e investimentos públicos para a mitigação de algumas situações de graves carências sociais, ficará sempre a sensação da existência de dois pesos e duas medidas, porquanto o seu alcance será sempre limitado, reproduzin-do-se, em ciclos sucessivos, o binómio alto luxo – pobreza. Ou seja, tem de haver maior coragem política para se criar uma sociedade mais equi-tativa e justa, onde as fortunas dos ricos não sejam tão agressivamente grandes e a miséria dos pobres tão dramaticamente insuportável. �0 Para já tem sido por aqui que a internacionalização da economia na-cional se tem feito, muito pouco para as reconhecidas potencialidades económicas do país.

privatizada. Aguarda-se que a privatização respeite regras de transparência, capacidade e competência e não se limite a facilitar a passagem da propriedade das empresas públicas para privados com boas ligações políticas ou pessoais com o regime político.

A modernização e o desenvolvimento do sistema financeiro são outro tópico desafiante. Este sector de actividade é um dos que mais cresce no país e dos que mais investimento estrangeiro atrai.

Outro limite ao intenso crescimento económico projectado pelo Governo pode ser o do desenvolvimento da agricultura, que é condicionado – e vai sê-lo ainda mais no futuro – pela exploração de recursos minerais de alto valor de exportação, como o petróleo (confirmando-se as novas potencialidades onshore), os diamantes, o ferro, o cobre, etc., que têm uma relação contraditória com a exploração da terra e que são favorecidos pela lei. Os agricultores, em Angola, são negligenciados, não havendo protecção dos seus rendimentos – por exemplo, através de compras prioritárias e a preços compensadores pelo Estado – nem da produção, pela via dos subsídios, tal como acontece na Europa, nos Estados Unidos, no Japão, na China e na América Latina��. Por outro lado, parece que a terra tem pouco valor, uma vez que o preço dos produtos agrícolas é muito baixo, o que gera a desertificação rural e a urbanização galopante.

A excessiva dependência do país do crescimento das exportações do petróleo (em menor escala da de diamantes) e do investimento directo estrangeiro é outra das grandes disfuncionalidades da economia nacional a ultrapassar. É altura do crescimento passar a ter, também, como variáveis instrumentais o consumo e o investimento domésticos. O consumo interno pode ser altamente estimulado pelo incremento do emprego e melhorias salariais indexadas à qualidade do trabalho (produtividade), pelo desenvolvimento do sistema de segurança social e pelos subsídios à produção agrícola e aos camponeses.

No domínio das infraestruturas – cuja reabilitação física prossegue, com atrasos significativos em alguns casos (a recuperação dum troço da estrada Luanda-Dundo, situado na Lunda Sul, de cerca de 200 quilómetros, está parada por dificuldades várias da empresa chinesa responsável pela obra, conforme noticiou o oficial Jornal de Angola) e subsistem dúvidas �� Os �,� mil milhões de dólares que o Governo consagra anualmente, em média, para os subsídios aos preços dos combustíveis deveriam ser apli-cados na agricultura camponesa, para as infraestruturas físicas e humanas e a melhoria das condições básicas de vida dos agricultores. Excelente forma de combater a pobreza e a fome.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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sobre a sua qualidade e capacidade de manutenção�� – a ausência duma visão estratégica no seu planeamento pode comprometer o crescimento económico futuro. Reabilitar as que foram destruídas durante o conflito militar é uma correcta opção de curto/médio prazo, mas estrategicamente deve começar-se a projectar auto-estradas e linhas de caminhos-de-ferro com bitola internacional, de duas vias e electrificadas. A energia da barragem de Capanda é mais do que suficiente para um programa ambicioso de electrificação rural – de consequências importantes sobre o crescimento da agricultura, a melhoria das condições de vida das populações do campo e a reversão do êxodo rural – e de electrificação das linhas de caminhos-de-ferro.

A integração económica regional é uma outra matéria de incidência estratégica na sustentabilidade da capacidade de crescimento do país. Angola declinou a sua participação imediata na criação da Zona de Livre Comércio da SADC, argumentando com o facto de ser um país pós-conflito armado e obtendo uma derrogação de �� anos. A lógica desta solução assenta no programa alargado e extensivo de reabilitação/reposição/construção de infraestruturas físicas para a sustentação do crescimento económico, acreditando-se ser uma das peças indispensáveis para a estruturação da competitividade nacional. Ainda que assim seja, existe sempre o risco de relaxamento com tão alargado período, de resto, muito próprio dos angolanos, para quem o tempo não tem, ainda, o mesmo valor económico que nos países mais desenvolvidos e nas economias emergentes da actualidade. Mesmo admitindo-se uma atitude geral (do Estado e dos agentes económicos) mais pró-activa e consciente, dentro de �� anos a SADC já terá ultrapassado a fase de Zona de Comércio Livre, encontrando-se, nessa altura, a sair do Mercado Comum para entrar na União Monetária, fases do processo de integração mais rigorosas – e com outras exigências – do que a primeira. Ou seja, se os �� anos de derrogação forem dedicados à criação das condições para integrarmos uma zona de liberdade de comércio, no fim desse período estaremos, de novo, a solicitar um adiamento por não estarmos preparados para o Mercado Comum ou a União Monetária. A não viciação deste raciocínio passa por se garantir que os �� anos serão dedicados a preparar a economia nacional para a última fase do processo de integração regional. Nesta circunstância,

�� A qualidade da reabilitação e a capacidade de a manter são outros nós-górdios da gestão das infraestruturas. Alguns troços da estrada Luanda-Waco Kungo, cujo asfalto levantou, pavilhões reconstruídos que metem água na primeira ocasião e outros incidentes, mais ou menos conhecidos, não se podem repetir, pois está a ser investido muito dinheiro.

onde está a respectiva estratégia?��

É por isso que se coloca a preocupação: como melhor enquadrar Angola na SADC e nos espaços regionais em geral? Abrir a economia – no caso da África Austral significaria aderir à Zona de Livre Comércio – e respondendo aos desafios da concorrência nesse exacto momento, reestruturando o que houver para reestruturar, incentivando o que merecer sê-lo, ou fechá-la (isolando-se o país aos benefícios da concorrência regional) esperando-se que se reestruture e fortaleça? A segunda posição – maioritariamente defendida por agentes do Governo e da economia privada e justificada pela ausência de fundos estruturais de coesão e de convergência real das economias semelhantes aos da União Europeia�� – corresponde a uma atitude de maior passividade, desvalorizando-se um factor importante da competitividade que é a concorrência internacional. Não se pode ser competitivo sem competir, como é difícil sê-lo dentro das estritas fronteiras económicas nacionais. A concorrência interna praticamente não existe, não podendo, por consequência, ser um dos factores de construção da competitividade estrutural – por isso se saúdam as iniciativas legislativas do Governo com a Lei da Concorrência, a Lei das Aquisições Públicas e a Lei do Conflito de Interesses – encontrando-se, ainda por cima, inquinada pela corrupção, burocracia em excesso, não democratização das oportunidades de negócio, concentração de rendimentos e situações de quase-monopólio. O país tem de ser mais agressivo e fazer o que o poeta escreveu: “Vem vamos embora, Que o esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, Não espera acontecer”.

Por último, mas seguramente um dos mais factores importantes, tem-se, como limite à aptidão de gerenciamento dum crescimento económico explosivo, a qualificação dos recursos humanos. Trata-se do campo mais importante, em termos �� A recente revisão da pauta aduaneira nacional, com a redução de algu-mas das alíquotas alfandegárias impendendo sobre a importação de maté-rias-primas, produtos intermédios e equipamentos industriais e agrícolas, pode ser apreciada num quadro estratégico de preparação, a médio prazo, para a integração regional, embora a finalidade imediata seja a de incen-tivar a produção interna e de aumentar e modernizar o stock nacional de capital fixo.��Tendo sido e continuando a ser uma ferramenta fundamental para ajudar cada uma das economias desse bloco económico a desfrutar de condições básicas de crescimento económico comparáveis entre si, relativizando-se, já, as diferenças entre estádios de desenvolvimento e as estruturas pro-dutivas nacionais, os processos de integração regional não têm de ser todos iguais. Para além disso, Angola é, provavelmente, o país que menos se pode queixar da inexistência desse tipo de fundos, haja em vista os excepcionais ganhos conseguidos com o ajustamento macroeconómico e as receitas do petróleo. O nosso principal problema é o da falta de capa-cidade de fazer em � anos o que deveria ser feito em �0 anos – divisa do Presidente Juscelino Kubitchek de Oliveira para mobilizar os seus com-patriotas para a industrialização do Brasil e a construção de Brasília.

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estruturais, para o desenvolvimento dum país��. Não há qualquer possibilidade de as economias registarem uma evolução económica forte e sustentável sem a existência duma força de trabalho qualificada. Infelizmente, Angola apresenta um colossal défice nesta matéria. A quantidade de recursos humanos qualificados é pífia, a sua qualidade um desastre, não sendo, portanto, estranho que o país apareça, sistematicamente, nos últimos lugares das estatísticas internacionais. A taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior – o indicador sintético das Nações Unidas que mede a qualificação geral média dos recursos humanos nacionais – era de apenas �6% em Angola em �00�, contra 6�% dos países em desenvolvimento, ��% dos países menos desenvolvidos, �0% da África subsariana, 70% da China, 77% da África do Sul e ��% dos países desenvolvidos da OCDE. O nosso vizinho mais próximo da SADC – a Namíbia – apresentava, para aquele mesmo ano, uma taxa combinada de 67%. O domínio da valorização dos recursos humanos angolanos não tem a desculpa do longo conflito militar – Israel, desde a sua fundação em ���6, tem estado em guerra permanente com os seus vizinhos e os seus recursos humanos são dos mais qualificados internacionalmente – e tem de ser feito muito mais do que o que se tem levado a efeito no âmbito dos Programas Gerais do Governo. Para além das medidas em curso, como estender o ensino a todo o país, é fundamental uma maior exigência e rigor a alunos e professores – através da realização de provas de avaliação sérias e periódicas a uns e outros – o reforço da autoridade dos docentes (sem disciplina nada se consegue na vida), a monitorização contínua dos resultados obtidos nas várias escolas, uma maior emancipação e profissionalização da gestão dos estabelecimentos de ensino e uma maior aposta no ensino técnico.

Conforme se assinalou, o crescimento económico de Angola continuou a registar taxas de � dígitos em praticamente todos os sectores de actividade. Durante �007 e ainda segundo estimativas preliminares do Ministério do Planeamento, o PIB cresceu, em termos reais, �0,86%, a que terá correspondido um valor de ����� milhões de dólares correntes ao custo dos factores. Este valor equivale a um rendimento médio por habitante de cerca de ����,� dólares, um incremento de ��,�% relativamente a �006 (ao custo de factores).

��A qualificação dos recursos humanos interage com a produtividade-competitividade das economias e com os processos de redistribuição do rendimento nacional, particularmente pela valorização dos rendimentos do trabalho.

O importante a realçar, em termos resumidos, é que o crescimento económico do país começa a separar-se do comportamento da actividade petrolífera ou mesmo mineral e a deslocar-se para os restantes sectores de actividade, mais estruturantes em termos de valor agregado doméstico e de criação de emprego. Estes aspectos serão, com alguma minúcia, mostrados no capítulo V, ao analisar-se o nível geral da actividade económica desde �00�.

COMPORTAMENTO DA ECONOMIA EM 2007

Parece, portanto, que estão a ocorrer alterações estruturais muito interessantes, particularmente a partir de finais de 2004, como resultado directo da reabilitação das infraestruturas, da maior circulação de mercadorias e pessoas, da atracção de investimento privado e do desenvolvimento do sector dos serviços, com destaque para os de natureza financeira.

Não obstante, não se devem descurar os altos custos económicos deste intenso crescimento, explicados pelos seguintes factores:

• Défice de recursos humanos qualificados e especializados em todos os domínios da actividade económica, implicando a importação de assistência técnica e de mão-de-obra menos qualificada, com custos remuneratórios elevados e um peso assinalável no saldo devedor da Conta de Rendimentos da Balança de Pagamentos;

• Moeda nacional forte, desincentivando o investimento privado estrangeiro e a diversificação das exportações nacionais*; de acordo com a execução orçamental de 2007, as receitas fiscais petrolíferas, em kwanzas correntes, aumentaram �7,�%, relativamente a �006; se a moeda nacional tivesse mantido, em �007, a cotação cambial face ao dólar, aquela taxa teria tido o valor de ��,�%, donde se concluir que a política cambial diminuiu a capacidade financeira do Estado no ano passado; o balanço custo-benefício final depende do montante de despesas públicas que o Governo teve de fazer em dólares.

*Os empresários nacionais podem estar a perder uma boa oportunidade de modernizar os processos tecnológicos de produção a custo mais baixo, importando maquinaria e outros acessórios dos países do espaço mon-etário do dólar.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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• Debilidade das redes de produção e distribuição de electricidade e água, incorrendo as empresas em custos adicionais de laboração, não compensáveis por falta de escala da respectiva produção;

• Insuficiência e flacidez das redes de transportes urbanos e inter-urbanos, com prejuízo sobre a produtividade económica;

• Excessiva burocracia;• Baixa produtividade do trabalho, donde

a necessidade dum maior volume de investimento;

• Excessiva concentração da actividade económica, financeira e administrativa em Luanda;

• Os significativos congestionamentos nos portos de Luanda e do Lobito e os consequentes aumentos no tempo de trânsito das mercadorias;

• Corrupção, mais acentuada devido à abundância relativa de recursos financeiros, à falta de organização, planeamento e programação na sua utilização racional e à carência generalizada de fiscalização.

DINÂMICAS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO(taxas reais de crescimento)

PIB PIB petrolífero

PIB não petrolífero

PIB não mineral

Primeiro trimestre �,0� �,� 7,�� 8,0�Segundo trimestre �,�7 6,0 -�,8� -�,0�Terceiro trimestre �,�� �,� �,� �,��Quarto trimestre �,�7 6,7 ��,6� ��,��

Total �0,86 �0,� ��,�� ��,��

FONTE: Ministério do Planeamento, Dados sobre a Conjuntura Económica de Angola.

O domínio da re-infraestruturação do país tem sido o de maior visibilidade da actividade económica do Estado, tendo sido investidos, em �007, cerca de 7,� mil milhões de dólares correntes na recuperação/construção das mais variadas infraestruturas, de incidência económica e social. No entanto, a taxa real de execução dos investimentos públicos continuou a revelar as tradicionais dificuldades na capacidade de implementação, tendo a respectiva taxa de cumprimento representado cerca de 70% do programado no Programa de Investimentos Públicos.

No domínio dos equilíbrios macroeconómicos fundamentais, a política governamental conseguiu resultados ainda melhores do que em �006, graças, por um lado, ao excelente comportamento do preço e da procura do petróleo no mercado internacional – o que provocou um significativo incremento da produção petrolífera interna – e, por outro, à estratégia de esterilização ex-ante do excesso de liquidez da

economia pela via da venda das cambiais auferidas a título de impostos petrolíferos e diamantíferos. A execução orçamental provisória dá conta dum excedente fiscal em 2007, estimado em 11,3% do PIB, o que em termos absolutos equivale a uma poupança do Estado de cerca de 68��,� milhões de dólares. As principais razões deste superávite são a taxa de execução dos investimentos públicos (�0% abaixo do previsto no OGE de �007), a melhor gestão corrente das despesas de funcionamento da Administração Pública e o diferencial do preço do petróleo (entre o previsto e o efectivo a diferença foi de cerca de �0 dólares o barril).

A inflação é dos agregados monetários onde o sucesso da política de estabilização macroeconómica mais se fez sentir. O facto de não se ter conseguido baixar a taxa de inflação anual acumulada para um dígito também se deve ao intenso aumento do PIB – que tem gerado uma certa pressão da procura privada (consumo e investimento) sobre uma oferta ainda rígida na sua reacção aos estímulos do crescimento – e à prevalência de algumas expectativas de subida dos preços que os agentes económicos ainda não conseguiram acomodar e absorver, por inteiro, nas suas estratégias microeconómicas de expansão da produção. Acresce a crise alimentar internacional que imprimiu um crescimento, depois de �00�, de 8�% no preço médio dos alimentos. Arroz, açúcar, farinha de trigo, farinha de milho e óleo de soja têm vindo a registar aumentos significativos nos respectivos preços, como resultado, por uma lado, do incremento no agronegócio dos biocombustíveis, por outro, da intensa demanda colocada pelo crescimento da procura na China e na Índia e, ainda, da diminuição dos volumes exportados de algumas daquelas commodities (mercadorias em estado bruto).�6

Apesar de razões de peso, não deixa, contudo, de ser preocupante a permanência da taxa de inflação nos dois dígitos (��,�% em �006 e ��,7�% em �007), apesar da apreciação do valor cambial do kwanza face ao dólar, que deveria tornar as importações de bens de consumo transaccionáveis mais baratas.

As notáveis taxas de crescimento registadas nos últimos anos contribuíram para elevar a taxa tendencial de crescimento da economia nacional, conforme se pode apreciar pelo gráfico seguinte.�6 A capacidade de controlo da inflação em 2008 – cuja meta se mantém nos �0% - vai depender do comportamento internacional do preço destas matérias-primas agrícolas, variável fora do alcance da manobra da políti-ca económica nacional. Como a não degradação do poder de compra dos rendimentos da população pobre passa, também, por manter os preços baixos e controlados, pode vir a ser aconselhável equacionar a hipótese de subsidiar os preços destes produtos – importantes na dieta alimentar dos cidadãos – na sua maior parte importados.

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Duas notas a salientar do gráfico:

- A crítica situação do Zimbabwe, que, desde ����, vem averbando taxas sistematicamente negativas de crescimento económico, agravadas com taxas de inflação anual em redor dos 100 mil por cento;

- Até �00�, a economia da Guiné-Equatorial foi a que mais cresceu em África, tendo a partir daí cedido o seu lugar a Angola.

A tabela seguinte mostra, de modo mais detalhado, o crescimento tendencial de algumas economias africanas mais directamente relacionadas com

Angola.PAÍSES 1989-98 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Tx.tem.Angola 0,3 3,2 3,0 3,1 14,5 3,3 11,2 20,6 18,6 20,9 9,60

Botswana 6,5 7,2 8,3 4,9 5,7 6,2 6,3 3,8 2,6 5,0 5,64Maurícias 5,9 4,6 7,2 4,2 1,5 3,8 4,7 3,1 3,5 4,7 4,31A. do Sul 1,4 2,4 4,2 2,7 3,7 2,1 4,8 5,1 5,0 4,7 3,60Nigéria 3,4 1,5 5,4 3,1 1,5 10,7 6,0 7,2 5,6 4,3 4,84

Guin-Equat 26,9 24,1 13,5 61,9 18,8 11,6 31,7 6,7 -5,2 10,1 18,86Gabão 4,8 -8,9 -1,9 2,1 -0,3 2,4 1,1 3,0 1,2 4,8 0,76Congo 3,0 -2,6 7,6 3,8 4,6 0,8 3,5 7,8 6,1 3,7 3,79

Camarões -0,3 4,4 4,2 4,5 4,0 4,0 3,7 2,0 3,8 3,8 3,40Chade 3,5 -0,7 -0,9 11,7 8,5 14,7 33,6 7,9 0,5 1,5 7,61

S.Tomé Prin 1,3 2,5 0,4 3,1 11,6 6,8 4,8 5,4 7,0 6,0 4,84Zimbabué 2,9 -3,6 -7,3 -2,7 -4,4 -10,4 -3,8 -5,3 -4,8 -6,2 -4,61

Com excepção da Guiné-Equatorial, os restantes países produtores de petróleo do Golfo da Guiné apresentaram fracos resultados económicos, destacando-se o Gabão e os Camarões, nossos concorrentes na Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) e a Nigéria, sendo as respectivas tendências de crescimento a longo prazo muito baixas. Nigéria, Guiné-Equatorial e Chade continuaram a ocupar, em �007, os últimos lugares do ranking do Índice de Percepção da Corrupção. Em matéria do “Mo Ibrahim Governance Index” os últimos lugares, em 2007, ficaram reservados a Angola, ao Sudão, ao Chade e à RDC.

Quanto à taxa tendencial de crescimento económico – média geométrica das taxas reais de crescimento do PIB registadas entre ��8� e �007 – Angola aparece como a segunda melhor do grupo dos países anteriormente seleccionados, e mesmo em todo o continente africano têm sido o nosso país e a Guiné-Equatorial a rubricarem a melhor sequência de variação real da economia.

TAXAS REAIS ANUAIS E TENDENCIAIS DE CRESCIMENTO DO PIB (%)

FONTE: World Economic Outlook, October �007, International Monetary Fund.

1.1.- A Estabilização macroeconómica

Os macroeconomic fundamentals (os princípios macroeconómicos fundamentais) da economia nacional continuaram a apresentar, durante �007, um desempenho bastante favorável, podendo-se atribuir-lhes uma parte do sucesso do crescimento económico registado nesse período.

Apesar disso, os equilíbrios macroeconómicos não são estáticos e sofrem, no decurso do ciclo económico, influências dos ambientes internos e externos, de onde podem resultar efeitos perversos, mesmo quando parece que o controlo sobre o seu comportamento está assegurado�7. �7 O facto de desde 2004, ser a política fiscal que tem suportado a política monetária – lembra-se que até �000 foi, exactamente, o contrário – não é garantia bastante para se concluir por uma consolidação orçamental, haja em vista a extraordinária dependência das receitas tributárias dos impostos do petróleo, as necessidades de re-infraestruturação do país e a baixa produtividade da Administração Pública. Os sucessivos superávites orçamentais desde �00� são produto conjugado dos diferenciais do preço do petróleo (entre o preço fiscal do Orçamento e o preço final da Execu-ção Orçamental) e do subcumprimento na execução dos investimentos públicos, embora o controlo das despesas públicas correntes – em vista da redução dos desperdícios, da eficiência e da eficácia – tenha experimen-tado melhorias expressivas, contribuindo, igualmente, para os excedentes fiscais do Governo.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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Quando a inflação anual acumulada é de 12% e a taxa de desemprego muito elevada, as bases da estabilidade económica – enquanto bem público que o Estado deve caucionar – não estão garantidas.

Os preços do petróleo continuaram a ser uma peça essencial da estratégia de estabilização económica do Governo. O valor médio em �007 foi de 7�,� dólares por barril, cerca de ��,6% acima do de �006.

Duma forma geral – chama-se a atenção para os capítulos onde a política orçamental e a política monetária são analisadas com minúcia – verificou-se, em �007, um reforço no controlo dos agregados orçamentais e monetários.

As despesas públicas totais têm vindo a diminuir a sua participação relativa no Produto Interno Bruto, abrindo espaço às componentes macroeconómicas privadas, como o consumo das famílias e o investimento empresarial (interno e externo). É um sinal claro do reforço dos fundamentos da economia de mercado e um desafio à iniciativa privada.

No entanto, tendências decrescentes semelhantes não se registaram do lado das receitas públicas, embora estas absorvam, com facilidade, as volatilidades do mercado internacional do petróleo crude (em rama). O peso dos impostos no nível geral de actividade tem vindo a aumentar, tendo os impostos não petrolíferos (directos e indirectos) representado, em �007, cerca de 8,6% do PIB. Apesar de ser uma taxa de fiscalidade baixa, a capacidade nacional de a absorver – em termos de rendimento disponível das famílias e de lucros empresariais – pode não ser, por enquanto, a mais adequada. Por isso, se deposita bastante expectativa na reforma fiscal em estudo pelo Governo e que apresentou já um primeiro sinal com o reajustamento das alíquotas aduaneiras impendentes sobre matérias-primas, produtos intermédios e bens de equipamento para o funcionamento da estrutura produtiva nacional�8.�8Os empresários privados devem agora dar provas de empreendedorismo e iniciativa, lançando empreendimentos tecnologicamente modernos, ca-pazes de contribuírem para a competitividade estrutural da nossa econo-mia. Duas janelas foram abertas pelo Governo: o kwanza forte – facilitan-do a importação de bens de equipamento da zona dólar – e o abaixamento das tarifas aduaneiras. A reforma fiscal vai ser a terceira fase.

O comportamento contractivo dos agregados monetários e a diminuição dos preços das importações de bens de consumo provenientes da zona do dólar foram decisivos para ater a inflação nos limites dos 12%. Reduções mais significativas na taxa de inflação foram, no entanto, prejudicadas pelo comportamento expansionista dos investimentos públicos em �007.

COMPORTAMENTO DOS AGREGADOS MONETÁRIOS E ORÇAMENTAIS

AGREGADOS 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Receitas fiscais petrolíferas/PIB(%) 31,0 28,2 28,3 32,3 33,8 37,1Receitas totais/PIB(%) 40,4 37,5 36,8 40,7 42,2 45,7

Despesas Públicas/PIB(%) 47,9 44,7 35,7 32,2 32,3 34,4

Taxa de variação de M1(%) 130,5 82,9 51,9 62,6 51,2 48,8

Taxa de variação de M2(%) 159,1 66,3 41,5 55,5 57,3 37,2Taxa de câmbio de referência(usd/kz) 41,70 79,08 83,44 80,78 80,26 76,48

FONTES: Ministério das Finanças e Banco Nacional de Angola.

Os apontamentos gerais e as tendências comportamentais são animadoras, o que não significa dar lugar a atitudes de relaxe e laxismo na condução das políticas públicas nacionais.

Os conhecidos macroeconomic fundamentals – abaixamento das taxas de juro, moeda forte, queda do desemprego, saldos sucessivamente positivos da Balança de Pagamentos, aumento das reservas internacionais líquidas, redução da inflação e saldos orçamentais positivos – vêm mostrando valores bastante consistentes e sólidos.

A quantidade de crédito do sistema bancário à economia aumentou 87,�% durante �007 – o incremento do crédito ao sector privado foi de 8�% -, devido à redução das taxas de juro (em moeda externa e moeda nacional), que, entretanto, se tornaram taxas reais negativas devido à resistência da inflação. Admitindo-se que os agentes económicos começam a aprender a lidar com as expectativas e com a ilusão monetária – traduzida pelos valores nominais dos agregados monetários – então este aumento significativo do crédito à economia é perfeitamente natural e normal, nas condições actuais de confiança na economia nacional. Deve acrescentar-se que, aparentemente, o sector privado tem lido correctamente o actual momento de euforia económica, descobrindo, criando, forçando as oportunidades de negócio e de investimento.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

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MACROECONOMIC FUNDAMENTALSAGREGADOS 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Taxa de inflação anual (%) 105,59 75,56 31,03 18,53 12,21 11,78

Défice/PIB (%) -7,5 -7,2 1,1 8,5 9,9 11,3

Spread cambial (%) 16,7 15,8 7,0 1,8 1,9 1,6

Taxa de crédito à economia(%) 1,0 1,8 2,0 2,6 4,2 11,2

Taxa de desemprego (%) 39,8 37,7 35,5 29,5 27,4 25,5

Saldo corrente/PIB (%) 11,1 5,2 18,2 27,3 15,6 10,7

Meses importações FOB 1,1 1,4 2,8 4,1 9,6 11,6

Taxa crescimento das RIL (%) 11,58 44,12 117,94 134,79 169,25 31,86

Desvalorização real (%) -3,82 3,10 -19,47 -18,32 -11,46 -14,75

Dívida Pública Externa/PIB(%) 68,7 61,2 48,6 33,8 36,1 32,8

FONTES: Ministério das Finanças e Banco Nacional de Angola.

No entanto, o mercado de crédito ainda é muito distorcido, dirigindo, a maior parte dos bancos, o crédito a clientes seleccionados de maior capacidade financeira e bem relacionados com o poder político, enquanto que a grande maioria das pequenas e médias empresas tem permanecido ao lado deste processo de bancarização da economia. Para que se democratize mais o acesso ao crédito bancário, é necessário que se incrementem as fontes de poupança a longo prazo (fundos de pensões, por exemplo), melhore o clima de investimento e negócio e se reforce a capacidade empresarial de apresentação de projectos de investimentos bancarizáveis.

A apreciação nominal do kwanza face ao dólar – que continua a ser a nossa moeda de referência externa – foi de �,7�%, devido à indexação do preço do petróleo à moeda norte americana. Convertendo em kwanzas a Balança de Pagamentos angolana, talvez os excedentes registados em dólares se não afigurem tão expressivos. As exportações em kwanzas são de menor valor devido à apreciação da moeda face ao dólar e as importações mais caras pela depreciação face ao euro, zona de onde provêem mais de 60% de todas as importações do país.

A desdolarização da economia foi evidente no decurso de �007, fundamentalmente devido a:

• apreciação nominal e real do kwanza face à moeda norte americana, facilitada pelas elevadas receitas de exportação de petróleo e diamantes denominadas em dólares, passando, agora, a nossa moeda a ser a moeda de refúgio;

• taxas de juro passivas mais elevadas em kwanzas do que em dólares ou euros, ainda que, umas e outras, tenham apresentado um valor real negativo;

• a percentagem de variação dos depósitos a prazo em moeda nacional foi de ���,�% e em moeda externa de –�,�%.

Focalizando a atenção na combinação entre alguns dos agregados dos economic fundamentals fica-se com uma visão mais precisa dos ganhos conseguidos depois de �00�.

Os valores da maior parte dos indicadores relacionados com a estabilização macroeconómica confirmam, no geral, o sentido positivo da recuperação dos equilíbrios económicos fundamentais, no entanto, ainda a merecerem toda a atenção possível dos decisores públicos. A etapa seguinte é a de fazer corresponder estes indicadores à base social do país, muito fraca, por enquanto, e sofrendo de inquinações profundas na distribuição do rendimento e da riqueza. Não pode haver crescimento económico sustentado sem base social equilibrada.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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OUTROS INDICADORES MACROECONÓMICOSAGREGADOS 2002 2003 2004 2005 2006 2007Dívida Pública Externa (Musd) 7695,4 8270,1 9000,2 10222,4 7497,2 9806,2

Reservas Internacionais

Líquidas (Musd)432,5 623,3 1358,4 3189,4 8587,5 11323,9

Desvalorização nominal (%) 97,7 81,0 5,5 -3,2 -0,6 -4,7

Taxa de câmbio média (usd/kz) 41,7 79,1 83,4 80,8 80,3 76,5

Vendas líquidas de divisas (Musd) n.d 2053,4 2472,2 3481,9 5509,5 6645,6

Média mensal divisas vendidas

(Musd)n.d 171,1 206,0 290,2 459,1 553,8

FONTES: Ministério das Finanças e Banco Nacional de Angola.

1.2.- O sector real da economia

É provável que até sensivelmente �0�� a economia angolana continue a crescer na faixa dos dois dígitos – embora de menor expressão do que a que tem sido registada nos últimos anos – uma vez que se está a desencadear um processo de reconstrução forte baseado nos investimentos públicos e privados, na reabilitação das infraestruturas de circulação, na estruturação e modernização do sistema financeiro e no comportamento extremamente favorável do mercado petrolífero internacional.

A sustentabilidade deste processo dependerá, para além de outros ingredientes, da estruturação da economia não mineral em aspectos como a sua capacidade intrínseca de assumir uma maior preponderância no tecido económico nacional, a sua competitividade externa – matéria importante face à necessária, ainda que mal adiada, (do ponto de vista do CEIC) integração na Zona de Livre Comércio da SADC – e do papel do Estado na gestão do crescimento económico. Portanto, do estrito ponto de vista do crescimento pelo crescimento, as tendências têm sido óptimas e as perspectivas mostram-se favoráveis. A não ser que algumas das incertezas, riscos e ameaças que, via de regra, influenciam todos os processos de crescimento económico no mundo, se transformem em realidades, como é o caso da crise do subprime (crédito hipotecário de alto risco) nos Estados Unidos, neste momento já a afectar a Europa, e das suas implicações sobre o crescimento económico mundial.

A economia angolana é periférica – com tudo o que de frágil a posição de periferia encerra – não dispondo de capacidade de influência sobre um processo que George Soros já veio alertar poder transformar-se numa crise económica mundial semelhante à de ����-�� do século XX. O kwanza forte tem sido um factor limitante do início de um processo profundo de diversificação da estrutura produtiva interna, não apenas do lado das exportações

– embora simplisticamente se diga que não havendo nada para exportar, excepto petróleo e diamantes, se não prejudica nada – como, na perspectiva da substituição das importações.

Para a população, o problema está em saber quanto desse crescimento se converteu ou converterá em melhoria das condições de vida e em oportunidades de aumentar os rendimentos pessoais. Não basta, para que nos sintamos bem com a nossa consciência, que o país ganhe prémios internacionais – o modelo económico de África é o mais recente e sobre o qual alguma apreciação crítica se poderia fazer – porquanto o mais importante é, de facto, resolver os problemas duma população sacrificada de 27 anos de conflito militar interno, sem ainda ter sentido o gosto efectivo da independência e o desfrute por completo das riquezas do seu país. Quando se viaja pelo território nacional percebe-se que a pobreza continua expressiva, nas zonas rurais e nas periferias urbanas. As carências sociais são arrepiantes e as oportunidades não estão democratizadas.

A chamada de atenção essencial que se deixa sobre as desigualdades na distribuição do rendimento é a de que não é, apenas, do ponto de vista ético, moral e mesmo de legitimidade que o fosso entre ricos e pobres deve ser analisado. Mesmo dum ponto de vista económico, a sustentabilidade do crescimento pode ser seriamente danificada, se o modelo de acumulação não for mais inclusivo e extensivo possível.

O sistema produtivo angolano continua a enfermar de muitas lacunas. Algumas actividades têm respondido, duma forma bastante aceitável, aos desafios que o crescimento económico tem colocado aos diferentes agentes. Mas prevalecem vários escolhos, tais como as deficientes infraestruturas de transportes e de produção e distribuição de electricidade e água, a desqualificada mão-de-obra, os entraves burocráticos, a corrupção, as dificuldades de acesso ao crédito – embora, conforme se mostrou anteriormente, a taxa de crédito à economia tenha passado de �% em �00�, para ��% do PIB em �007 – o défice de espírito empreendedor, etc. Não de deve perder de vista que mesmo a substituição de importações tem de ter uma norma de referência em termos de competitividade. Não se deve substituir por substituir. A criação de empregos e o incremento das receitas alfandegárias – se a via for a do armamento pautal – são aspectos muito discutíveis num contexto de eficiência económica, o mesmo é dizer, de alocação racional dos escassos factores de produção.

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Deve, porém, reconhecer-se que algumas condições para uma substituição vantajosa – que respeite os custos comparativos da nossa economia – estão a ser criadas, não apenas pela via dos macroeconomic fundamentals, mas, igualmente, pelo viés das infraestruturas físicas. Porém, em algum momento do processo de crescimento económico, vão-nos faltar aspectos essenciais para o incremento da produtividade – a base da eficiência e da competitividade e a única fonte não inflacionista de financiamento da melhoria das remunerações do trabalho – tais como, a armadura científica e tecnológica, as novas tecnologias da informação e comunicação, os recursos humanos altamente qualificados, etc.

O empresariado nacional há muito que reclama por concessões aduaneiras na importação de matérias-primas, produtos intermédios e bens de capital. Os recentes reajustamentos na pauta aduaneira nacional vão tornar relativamente mais baratas as importações daqueles bens. Pode até pensar-se que estes acomodamentos fiscais pretendem, de certa forma, sinalizar os grandes reajustes por força da adesão à Zona de Livre Comércio da SADC, à qual o país não aderiu. Os arranjos pautais alfandegários parecem confirmar que o embaratecimento das importações pela via da apreciação cambial não terá produzido os resultados esperados, havendo, portanto, que potenciá-los com as alterações das alíquotas aduaneiras.

Um outro aspecto correlacionado é o de como as empresas irão gerir estes ganhos fiscais. A intenção do Governo, ao abdicar das receitas fiscais aduaneiras, é a de fomentar a produção interna, reduzir os custos financeiros da actividade empresarial e ajudar a ajustar os salários privados. Sabe-se, no entanto, que a fraca visão estratégica dos nossos empresários os pode levar a repercutir essas poupanças fiscais integralmente nos lucros das suas empresas e nos seus rendimentos pessoais. Para além de egoísmo e individualismo, é, também, falta de visão futura.

Durante �007, o crescimento do PIB ainda esteve fortemente indexado à subida do preço e da produção de petróleo. No entanto, descortinam-se alterações estruturais muito interessantes e que se podem traduzir no conhecido spillover effect (efeito de extravasação) sobre o resto da economia. Na verdade, confirma-se o incremento proporcionalmente mais acentuado do PIB não mineral, do que o PIB global e o PIB petrolífero. O dinamismo do sector petrolífero atraiu bastante investimento privado gerador de crescimento na construção, sector financeiro e na manufactura. Devido à melhoria geral da segurança em todo o território nacional e das condições básicas para o

crescimento, as actividades primárias – agricultura, pecuária, florestas e pescas – igualmente patentearam taxas de variação muito aceitáveis.

O gráfico anterior – contendo as taxas mensais de crescimento dos agregados económicos aí expressos – permite avançar algumas conclusões:

• o comportamento do PIB petrolífero tem sido bastante estável ao longo do período �00�-�007, porquanto depende das variações da procura mundial de óleo e da resposta da produção nacional para a satisfazer;

• o comportamento do PIB global parece depender mais do PIB não petrolífero do que do petrolífero, contrariando, um pouco, a ideia feita do contrário;

• a partir de Setembro de �006 torna-se visível o spillover effect do crescimento do PIB petrolífero sobre o não petrolífero;

• assim sendo, parece lícito deduzir-se pela ocorrência de alterações económicas estruturais, mais evidentes depois de Janeiro de �00�, como resultado da reabilitação das infraestruturas, da maior circulação de pessoas e mercadorias dentro do território nacional, da atracção de investimento privado e do desenvolvimento do sector dos serviços.

Até �00�, o crescimento do sector não-petrolífero deveu-se, principalmente, ao investimento público. Mais recentemente tem-se caracterizado por uma participação importante do investimento privado no imobiliário de luxo, habitacional e de escritório.

Tem-se, justamente, constatado uma crescente participação da manufactura, dos serviços mercantis e da construção na repartição percentual do PIB, para além, facto, do mesmo modo relevante, duma forte dinâmica de crescimento desde meados de �00�, consequência, como se disse, duma maior atractividade sobre o investimento privado proporcionada pela evolução do sector petrolífero e por uma maior difusão dos seus efeitos.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

Os resultados positivos no domínio produtivo tiveram consequências sobre as componentes da Balança de Pagamentos do país.

Do lado das exportações, as vendas de petróleo ao exterior continuaram dominantes, tendo representado ��,�% do valor total em �007, tendo os restantes �,�% sido preenchidos pelos refinados do óleo (1,4%), diamantes (�,6%) e por uma gama diversa de outros produtos, igualmente de reduzido valor acrescentado interno, que totalizou pouco mais de ���,� milhões de dólares. Verifica-se, portanto, que a quase totalidade da produção nacional não mineral se destinou a satisfazer uma demanda interna – final e intermédia – cada vez mais expressiva.

Relativamente às importações de mercadorias, o grau de diversificação é muito superior ao das exportações, sendo os bens de consumo final (duradouro e não duradouro) a rubrica mais relevante da sua estrutura, com cerca de 60%, valor que expressa bem as oportunidades de substituição das importações em áreas de fácil desenvolvimento da produção doméstica. Ir-se-á verificar, no capítulo �, quando se analisar a manufactura nacional,

que a estrutura produtiva industrial se apresenta muito concentrada, representando a produção/engarrafamento de bebidas ��,�% do total (um agravamento de � pontos percentuais com relação a �006) e as indústrias alimentares (elas próprias, igualmente, muito concentradas) ��,�% (redução do respectivo peso relativo em �� pontos percentuais de �006 para �007).

As importações de mercadorias aumentaram 8,6% de �006 para �007 e entre �00� e �007, a taxa média anual de variação foi de ��,�%. Esta cifra, extremamente elevada, é justificada pelos factos seguintes:

• apesar da evolução positiva da actividade agrícola, pecuária, piscatória e manufactureira, a estrutura produtiva interna ainda é muito frágil, não conseguindo cobrir senão uma pequena parte da demanda interna de bens de consumo, intermédios e de capital;

• as importações de mercadorias para o sector petrolífero – que, em média, representam ��,�% do total fob – também têm crescido duma forma muito intensa nos últimos anos, para atender às necessidades da produção;

• as necessidades do crescimento económico, em geral e em particular dos sectores da economia não mineral, têm induzido o recurso, em grande escala, às importações de mercadorias, as quais, de resto, devem continuar a aumentar significativamente durante mais 5 ou 6 anos (as importações fob apresentam, para uma série estatística de �� anos, incluindo �007, uma elasticidade-rendimento de 0,8�).

FONTES: Ministérios do Planeamento e dos Petróleos e Banco Nacional de Angola.

AGREGADOS DA ECONOMIA REAL

AGREGADOS 2002 2003 2004 2005 2006 2007Exportações totais (milhões usd) 8328,3 9508,1 13475,2 24108,8 31817,7 39608,8Taxa crescimento exportações(%) 27,5 14,2 41,7 78,9 32,0 24,5

Importações totais (milhões usd) -7082,1 -8801,3 -10634,8 -15855,3 -20274,2 -24514,4

Taxa crescimento importações (%) 5,8 24,3 20,8 49,1 27,9 20,9

Saldo corrente/PIB (%) 11,1 5,2 15,3 27,3 27,6 24,9Taxa de crescimento dos diamantes -2,2 20,1 1,4 15,3 30,9 5,1

Taxa de crescimento da construção n.d n.d 14,0 16,9 30,0 37,1

Investimento público (Musd) 274,1 281,3 868,4 1531,4 5403,0 7146,1Investimento privado (Musd) 3077,6 4996,7 6045,0 8029,4 11385,5 11647,0

Preço do petróleo (usd/barril) 24,20 28,83 38,27 50,62 61,37 70,04

Preço internacional petróleo (usd/barril) 25,02 39,90 45,00 53,40 65,14 77,54

Produção de petróleo(mil barris) 326277,0 319248,0 360932,0 454891,5 514628,6 619525,1

Produção diária de petróleo(mil barris) 893,9 874,7 988,9 1246,3 1409,9 1697,3

Produção diamantes (mil quilates) 5159,0 5047,0 6063,0 5552,7 7084,3 9269,9Preço quilate (usd) 127,7 130,0 118,2 154,2 126,6 133,7

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

�0

As dinâmicas de crescimento desde �00� têm sido muito positivas, conforme assinalado já em diferentes contextos deste Relatório Económico e o peso do PIB petrolífero no conjunto da actividade produtiva interna regrediu quase �,� pontos percentuais de �006 para �007 (��,7% contra �7,�%, respectivamente), justificado pelo maior crescimento de sectores como a construção, a manufactura e os serviços mercantis.

1.3.- O mapa do petróleo da África Subsariana

Em �008, a produção mundial de petróleo poderá ser reforçada num quantitativo entre � e � milhões de barris por dia, como resultado da entrada em funcionamento de novos campos petrolíferos para compensar o declínio de outros, esgotadas as suas reservas. Este incremento poderá ajudar, assim se espera, a moderar a subida dos preços internacionais, ainda que não se resolva, a curto prazo, o subsistente (persistente, duradouro) défice entre uma procura sempre crescente e uma oferta quase estagnada. O défice global petrolífero continuará a ser estrutural, devido à taxa média de declínio esperada nas principais regiões petrolíferas do mundo de cerca de �,�% ao ano. Neste cenário serão necessários adicionais diários de quase � milhões de barris para se manter a produção mundial ao nível de �007. Duvida-se que a OPEP tenha capacidade – e vontade política, num ambiente de crescente desconfiança para com as nações árabes ou islâmicas e às suas verdadeiras intenções de combater o terrorismo internacional, reforçado pelas atitudes esquerdistas infantis de Hugo Chaves – de o garantir: para �008 é provável que, com excepção da Arábia Saudita��, os restantes países integrantes do cartel do petróleo estarão a produzir na vizinhança do máximo possível.

Pode suceder que esta falta de margem de manobra retire à OPEP qualquer capacidade útil de acção política. Mesmo com a adesão de Angola em �007 e possivelmente do Brasil a curto prazo�0, a dificuldade em aumentar a oferta não mudará substancialmente.�� Mesmo em relação ao maior produtor da OPEP, duvida-se que a Arábia Saudita tenha capacidade de produção extra para poder saltar dos actuais 8,�� milhões de barris por dia, para ��,� milhões dentro de dois a três anos.�0 A petrolífera Petrobras, pelo quarto mês consecutivo no final de 2007, tem vindo a diminuir a sua produção. Em Outubro de �007, o seu nível de produção estabeleceu-se nos �,7� milhões de barris/dia. Enquanto se puder utilizar o petróleo angolano, em troca de linhas de crédito na sua maior parte utilizadas para dinamizar as exportações brasileiras de bens de consumo para o nosso país, a petrolífera brasileira pode programar, com maior critério, a gestão das reservas brasileiras.

A taxa de declínio será ainda maior no Mar do Norte e no Golfo do México (abrangendo Estados Unidos e México), o que reforça as expectativas pessimistas para o futuro. Mesmo os projectos de extracção de petróleo não convencional, principalmente no Canadá, poderão dar alguma contribuição positiva a prazo, no entanto muito limitada.

Dos �� países produtores de petróleo – pequena, média e grande dimensão conhecidos – apenas 8 ainda não atingiram o máximo da sua produção, o que deve, no entanto, ocorrer a curto prazo, como são os casos de Angola, China, Brasil�� e Guiné-Equatorial.

Segundo determinados estudos – não completamente subscritos pela Agência Internacional de Energia e pelo conteúdo da sua publicação de referência Energy World Outlook – o pico das descobertas petrolíferas ocorreu durante os anos 60 do século passado, cujas consequências aparecem, agora, com o mais que provável pico na produção. De acordo com o Energy Watch Group��, o pico das descobertas nos dois maiores campos do mundo – Arábia Saudita e Kuwait – ocorreram, respectivamente, nas décadas de �0 e 60 do século XX. Durante o período ��60-��70, a dimensão média das descobertas de petróleo foi de ��7 milhões de barris por cada campo. Este valor declinou para �0 milhões de barris durante o quinquénio �000-�00�. Segundo as indústrias petrolíferas, as reservas remanescentes podem atingir a cifra de ���� mil milhões de barris. Porém, outras estimativas são bem mais pessimistas, colocando o nível das reservas de óleo em tão-somente 8�� mil milhões de barris.

Parece que o problema da crise do petróleo reside na tendência de esgotamento rápido dos grandes campos petrolíferos, cujo pico de produção deve ter ocorrido em �006. O que se segue é a exploração dos campos mais pequenos – de menor capacidade de produção e de maior rapidez de esgotamento face aos actuais níveis de demanda internacional – e do óleo de grande profundidade. A consequência, em qualquer um dos casos, é o acréscimo dos custos de extracção, com diminuição da produção, até ao ponto em que as companhias petrolíferas não forem mais capazes de aumentar a oferta. Aí a produção mundial vai estagnar e entrar em declínio acentuado, determinando a utilização de fontes alternativas de energia, como a nuclear, a hidroeléctrica e outras renováveis.

�� As recentes descobertas neste país adiarão por mais �0 anos o seu peak oil (pico na extracção do petróleo).�� www.energywatchgroup.org

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

Alguns países e regiões poderão, até �0�0, expandir a respectiva produção, como Angola, Brasil e Golfo do México, prevendo-se que, depois daquele ano, decline a uma cadência de �% ao ano.

As projecções para o oferta global de petróleo são, em milhões de barris por dia:

PROJECÇÕES MUNDIAS DE PRODUÇÃODE PETRÓLEO

FONTES 2006 2020 2030ENERGY WATCH GROUP 8� �8 ��

INTERNATIONAL ENERGY AGENCY 8� �0� ��6

DIFERENÇAS 0 -�7 -77

Por grandes regiões produtoras, o panorama é, ainda, em milhões de barris por dia.

PROJECÇÕES DE PRODUÇÃO DE PETRÓLEO EM ALGUMAS REGIÕES

FONTESOCDE EUROPA OCDE AMÉRICA ORIENTE MÉDIO

2006 2020 2030 2006 2020 2030 2006 2020 2030

Energy Watch Group �,� �,0 �,0 ��,� �,� 8,� ��,� ��,0 ��,8

International Energy Agency �,� �,� �,6 ��,� ��,� ��,� ��,� ��,� ��,6

Segundo as estimativas da Energy Watch Group em �0�0 e muito mais em �0�0, a oferta global de óleo será substancialmente menor em relação a �006. O mundo está, assim, perante um desafio de mudança estrutural no seu sistema económico e nos padrões de vida quotidiano da população. As mudanças climáticas forçarão a Humanidade a alterar os seus padrões de consumo energético, passando outras fontes a ocupar o lugar do petróleo, o que vai acarretar reformas radicais nos sistemas de produção e nos modos de vida. No entanto, a Agência Internacional de Energia não subscreve, inteiramente, este cenário mais ou menos catastrófico – o que é comprovado pelas suas projecções – colocando para muito mais tarde o cenário de redução drástica da produção de óleo, o que pode dar sinais falsos às companhias, aos políticos e aos fazedores de opinião.

Redução da produção e aumento dos custos de extracção de petróleo ajudam, também, a compreender a actual tendência para a subida do seu preço externo, em contexto mundial de recessão/estagnação nas economias desenvolvidas.

O aumento da inflação mundial acarretado pela alta do preço do petróleo pode vir a provocar um efeito de boomerang (retroactivo) sobre os países produtores de petróleo crude (em rama) e mesmo sobre os mais importantes emergentes. A inflação retrairá acentuadamente a procura mundial e, pelo efeito dos mecanismos de mercado, os próprios preços desta

matéria-prima energética.��

Enquanto nada de realmente significativo aconteceu, em �007, sobre o papel que se esperava do Golfo da Guiné como fonte importante e alternativa de incremento da oferta do óleo ao nível mundial para os próximos anos, os dois países mais importantes desta rota petrolífera africana subsariana viram as respectivas posições relativas alterarem-se bastante.

Angola tem aumentado, paulatinamente, a sua produção de petróleo crude, com um máximo em �007 de cerca de �,7 milhões de barris diários, dentro da quota estabelecida pela OPEP��. Esta cifra representou um crescimento de 8�,�% com relação a �00�. Este aumento sistemático deveu-se à paz e à estabilidade política e só não terá tido uma expressão maior devido aos atrasos na entrega de equipamentos essenciais para a exploração em águas profundas.

Pelo contrário, a Nigéria não conseguiu ultrapassar a meta dos �,6 milhões de barris por dia estabelecida no seu Orçamento de Estado para �007. A principal razão está na forte instabilidade política no delta do Níger, que tem provocado uma perda diária de cerca de �00 mil barris de petróleo. A consequência deste crise política com afectações económicas revelou-se no Orçamento de Estado para �008, com uma diminuição das receitas fiscais petrolíferas, determinada pela redução da previsão da quantidade de barris de petróleo a serem extraídos no corrente ano (�,� milhões, para uma previsão inicial de �,6 milhões de barris/dia). Só a Shell Development Company of Nigeria – a maior produtora deste país – contabilizou �00 mil barris a menos para �008, dada a enorme insegurança na região do delta do Níger. Em Fevereiro do corrente ano, as autoridades nigerianas anunciaram uma sub-produção esperada de cerca de 600 mil barris de petróleo diários.

�� No entanto, parece que esta teoria do equilíbrio não funciona no cru-de. Julgam muitos que, neste mercado especial, as coisas estão um pou-co de pernas para o ar. De facto, as evidências empíricas mostram duas aspectos: uma diminuição da oferta provoca, de imediato, uma alta do preço, não sendo verdadeiro o contrário. Ou seja, um aumento do preço do petróleo não induz, nem de imediato, nem na mesma proporção, uma retracção da procura. Os especialistas em economia do petróleo chamam a esta elasticidade de elasticidade matreira, devida a uma forte rigidez da procura (não existem fontes energéticas alternativas suficientes). A razão desta rigidez deve-se ao disparo da procura dos países emergentes. Os cálculos destes especialistas apontam para �% de redução na oferta poder requerer ��% a �0% de aumento do preço para equilibrar o mercado. �� Face às potencialidades do país, ainda que permaneçam dúvidas ou con-fidencialidades quanto à verdadeira dimensão das reservas de petróleo, parece que a quota de �,� milhões de barris por dia não terá sido bem negociada (se este for, realmente, o valor negociado com o cartel do óleo). Talvez uma cifra em redor dos 2,5 milhões de barris por dia correspon-desse melhor às potencialidades de Angola e servisse mais os interesses do nosso país, permitindo maximizar as receitas de exportação, enquanto a euforia do preço internacional do petróleo durasse.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

��

Adivinha-se, nos próximos anos, uma concorrência entre Angola e a Nigéria para a liderança petrolífera na parte subsariana do continente. Igualmente é de esperar uma acirrada disputa entre os países importadores do petróleo do Golfo da Guiné, procurando, por intermédio dos empréstimos concessionais a longo prazo, obter os fornecimentos de petróleo crude de que as suas economias necessitam para manter a locomotiva do crescimento em pleno funcionamento.

A questão das reservas provadas de petróleo manteve-se polémica no decurso de �007, parecendo que, na verdade, ou não se conhece, com rigor, o volume disponível de reservas que cada país dispõe, ou, então, o seu quantitativo é secreto, no mínimo, reservado.

Para a Nigéria, o antigo Ministro da Energia, Edmund Daukoru, garantiu, meses depois de ter deixado o cargo em �006, que as reservas de petróleo comprovadas ascendiam a �� mil milhões de barris e acrescentou que em �0�0, de acordo com as pesquisas em curso, se poderia chegar aos �0 mil milhões de barris. Porém, devido às dificuldades tecnológicas actuais de prospecção em águas ultra profundas, as reservas poderiam ficar em apenas 33 mil milhões de barris de petróleo. Para se confirmarem os 40 mil milhões de reservas é necessário pesquisar-se a �,� quilómetros de profundidade, enquanto para o nível de �� mil milhões é suficiente chegar aos 2,3 quilómetros.

Relativamente a Angola, as diferenças são, do mesmo modo, enormes entre as diferentes estimativas sobre as nossas reservas comprovadas de petróleo. As informações oficiais situam-nas nos 13,5 mil milhões de barris, mas outras fontes arriscam-se a computá-las entre �0 e ��,8 mil milhões de barris (African Economic Outlook, �008, OCDE), ou a serem mais pessimistas, reduzindo-as para os � mil milhões de barris (BP Statistical Review of World Energy, June �007).

Independentemente destas discussões em redor das reservas comprovadas de cada país, o certo é que, prevalecendo a crise política e económica no delta do Níger, a Nigéria dificilmente ultrapassará a meta dos �,� milhões de barris/dia. Poderia ser a grande oportunidade de Angola se tornar no primeiro produtor africano ao Sul do Sara, se o limite acordado como membro da OPEP o permitisse.

Na África subsariana existem �� países produtores e exportadores de petróleo crude, mas, na realidade, apenas Angola e a Nigéria contam.

RESERVAS DE PETRÓLEO SEGUNDO DIFERENTES FONTES

(mil milhões de barris)

PAÍSESREMAINING RESERVES

EWG HIS IEA BP

ANGOLA 19,0 14,5 13,5 9,0

NIGÉRIA 42,0 36,0 36,2 36,2

NOTAS: EWG – Energy World Group; IHS – Industries Data Base; IEA – International Energy Agency; BP – British Petroleum.

TEMPO DE VIDA ÚTIL DAS RESERVAS

PAÍSES

NÚMERO DE ANOS

EWG HIS IEA BP

ANGOLA 41,3 31,5 29,3 19,6

NIGÉRIA 46,2 39,6 39,8 39,8

De acordo com as diferentes estimativas, as reserves provadas de petróleo angolano chegarão para uma geração, ou, no máximo, para duas gerações.

Em termos do continente africano – Golfo da Guiné e região do Magreb – a geografia do petróleo aponta para uma concentração de reservas conhecidas na Líbia e na Nigéria. Angola é o terceiro país.

MAPA DO PETRÓLEO EM ÁFRICA

PAÍSESReservas compro-vadas (MM barris)

PESOS RELATIVOS (%)

ÁFRICA ASS MUNDO

Argélia 12,3 10,4 0,0 1,0

Angola 9,0 7,6 15,0 0,7

Chade 0,9 0,8 1,5 0,1

Congo 1,9 1,6 3,2 0,2

Egipto 3,7 3,1 0,0 0,3

Guiné-Equatorial 1,8 1,5 3,0 0,1

Gabão 2,1 1,8 3,5 0,2

Líbia 41,5 35,1 0,0 3,4

Nigéria 36,2 30,7 60,5 3,0

Sudão 6,4 5,4 10,7 0,5

Tunísia 0,7 0,6 0,0 0,1

Camarões 0,4 0,3 0,7 0,0

Costa Marfim 0,45 0,4 0,8 0,0

RDC 0,3 0,3 0,5 0,0

S.Tomé e Príncipe 0,425 0,4 0,7 0,0

ÁFRICA 118,1 100,0 9,8

África Subsariana 59,9 100,0 5,0

MUNDO 1208,2

FONTE: BP Statistical Review of World Energy, June �007.

A duração destas reservas petrolíferas africanas depende, obviamente, da intensidade de exploração de cada país, sendo neste contexto que a questão do custo de oportunidade para as economias nacionais se coloca. Os sistemas económico e o de lazer mundiais continuarão a funcionar sobretudo na base do petróleo – fábricas, transportes aéreos, terrestres e marítimos (consomem cerca de 60% de energia petrolífera), aquecimento/refrigeração das habitações, etc. – ou as alternativas energéticas em curso de experimentação conseguirão, na realidade,

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

reduzir significativamente o consumo do petróleo crude? Das soluções a esta problemática dependerá o comportamento esperado do preço internacional do petróleo, uma componente essencial da análise sobre o custo de oportunidade de se continuar a explorar, em escala elevada, o petróleo existente.

1.4.- A Pobreza

As Nações Unidas divulgaram no final de Novembro, o seu já tradicional e muito esperado Relatório sobre o Desenvolvimento Humano no Mundo, no qual, de forma muito profunda, se apresentam informações sobre as condições de vida da população de todo o mundo. Angola continua a fazer parte dos últimos lugares do “ranking”(hierarquia classificativa) mundial do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apesar das espectaculares taxas de crescimento económico registadas desde �00�. O nosso país continua a ser um dos mais pobres do mundo.

A pobreza é uma situação/problema de natureza multidimensional que se projecta para além da economia, incluindo, entre outros, aspectos sociais, políticos e culturais. Significa dizer que a redução da pobreza não se pode basear exclusivamente nas políticas económicas, requerendo uma matriz consistente e convergente de medidas e políticas de diferente natureza.

No entanto, as abordagens teóricas e as evidências empíricas convergem no reconhecimento de que o crescimento económico é a fonte primária da redução da pobreza, particularmente pela criação de emprego e pelo aumento de oportunidades de realizar negócios e multiplicar rendimentos. Por isso, é que a estabilização macroeconómica é essencial para se garantirem níveis elevados e sustentáveis de crescimento económico. Mas não só.

São conhecidos estudos, baseados em análises temporais ou cross-section, (transversais) que crescentemente reconhecem que a qualidade do crescimento económico conta muito para a redução das situações de pobreza. Com efeito, a igualdade

de oportunidades e a melhoria na distribuição do rendimento são factores essenciais para o sucesso das estratégias de redução da pobreza. Assim, a estabilização macroeconómica deve ter como focos o crescimento económico sustentável – para o que determinadas reformas económicas e institucionais são indispensáveis – a melhoria da distribuição de rendimentos e a promoção da igualdade de oportunidades.

A melhoria da distribuição dos rendimentos pode ser promovida pela via fiscal – sendo para esse efeito necessário que a gestão orçamental se reja por critérios de equidade, eficiência e neutralidade – ou pelo aumento da disponibilidade de activos da população mais frágil, por intermédio da alfabetização, da formação profissional, da educação, da distribuição da terra e da dotação de capital (microcrédito).

A qualidade do crescimento económico, para que valorize a redução da pobreza (para além da distribuição do rendimento��), tem de apresentar uma determinada estrutura sectorial e regional da economia. A este propósito, a estrutura económica sectorial de Angola prejudica as estratégias e políticas de redução da pobreza, porquanto cerca de 60% do PIB tem origem na economia mineral, altamente intensiva em capital/tecnologia e regendo-se por factores e parâmetros dos mercados internacionais.

Por outro lado, a actividade económica do país está excessivamente concentrada em Luanda (7�% da actividade industrial, 6�% da actividade comercial e 90% da actividade financeira e bancária), estando as províncias do interior longe de tudo e ausentes dos processos de tomada de decisão.

Portanto, a estabilização macroeconómica e o crescimento

económico têm de valorizar a igualdade de oportunidades, a descentralização administrativa e empresarial, a distribuição de rendimentos e a criação de empregos.

A estabilização macroeconómica terá valor social quando patrocinar a transformação do crescimento económico em redução da pobreza. �� O PIB por habitante (em dólares correntes) em Angola tem vindo a aumentar bastante desde �00� (em �00� foi de �0�8 dólares, em �006 de ��6�,6 dólares (um incremento relativo de ��,7%) e em �007 de ����,� dólares (uma variação de ��,�%). Não se pode inferir, de imediato, que esta variação tenha tido impacto sobre a redução da pobreza. Na verdade, para um dado aumento no rendimento por habitante, o impacto sobre a pobreza depende da forma como esse incremento for distribuído entre a população. Por outras palavras, depende da elasticidade rendimento-pobreza, por sua vez relacionada com o Índice de Gini. Do montante de ����,� dólares quanto foi distribuído pela população a título de rendi-mentos do trabalho? Cálculos simples conduzem a um valor de ��8,� dólares, ou seja, �7,�% do PIB por habitante, que correspondem a cerca de �,� dólares diários. Para o cálculo da cifra anterior foram descontados os impostos cobrados pelo Estado, os rendimentos factoriais transferidos para o exterior e os lucros, juros e dividendos nacionais.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

��

A taxa de pobreza em Angola – aquela que se encontra estatisticamente validada pelo inquérito às receitas e às despesas familiares de �00� – é de 68,�%, com os seguintes aspectos parcelares (valores referidos a �00� e retirados do Relatório sobre o Desenvolvimento Humano 2007/2008 do PNUD): IDH de 0,��6 (�6�ª posição entre �77 países, contra 0,��� em �00�, correspondendo à �6�ª posição igualmente entre 177 países, o que significa que se em termos absolutos houve uma melhoria, em termos relativos registou-se uma degradação), uma deterioração média anual na taxa de crescimento do PIB por habitante de -0,6% entre ��7� e �00�, um valor de -�� na diferença entre as posições do IDH e do PIB por habitante (em paridade do poder de compra) – as diferenças negativas significam que o crescimento económico não se transformou em desenvolvimento e que a desigualdade na repartição do rendimento se agravou – contra -�� em �00�, taxa de mortalidade infantil de ��� (valor que se mantém desde �00�), taxa de mortalidade infanto-juvenil (menos de � anos de idade) de �60 (igualmente desde �00�), ��,7 anos de esperança média de vida à nascença (�0,7 anos em �00�), taxa de escolarização bruta combinada de ��,6% (�6% em �00�), despesas públicas com a educação de �,6% (�,�% em �00�) e com a saúde de �,�% do PIB (�,�% em �00�), etc. Assim, são contraditórias as consequências que o crescimento económico – em termos acumulados entre �000 e �006 as taxas foram de, respectivamente para o PIB global, o PIB petrolífero e o PIB não petrolífero, �06,8%, 8�% e ���,�% – desencadeou sobre as condições gerais de vida da população, sendo prova disso a manutenção do valor do índice de pobreza (�0,�% em �00� e �0,�% em �00�).

Em conclusão, o nosso país tem perdido a oportunidade de aproveitar o crescimento económico para melhorar as condições de vida da população, aumentar os serviços de educação e saúde gratuitos, organizar o sistema nacional de previdência e segurança social e desinquinar os mecanismos e processos para uma mais equilibrada, justa e racional distribuição do rendimento�6.

Estes resultados contraditórios podem ser explicados pela não focalização da política económica sobre a redução da pobreza – o combate à pobreza passou a fazer parte do Programa Geral do Governo, �6 Estudos do Banco Mundial sobre a prevenção de conflitos, nomeada-mente em África, sugerem que em condições de profunda desigualdade social o risco de se voltar à guerra é elevado. A aposta do Governo quanto ao forte investimento em infraestruturas económicas e sociais pode vir a reforçar a reconciliação nacional (livre circulação de pessoas e sensação de pertença ao mesmo país) e a contribuir para o aumento das trocas in-ternas (relações campo-cidade) e do emprego. Consequentemente, pode diminuir-se o risco de conflito.

sendo, assim, o efeito derivado de outras acções e medidas de recuperação da economia – e pelo provável aumento da concentração do rendimento nacional (o aumento real do PIB por habitante beneficiou, sobretudo, as classes sociais mais abastadas). As estimativas do PNUD sobre o Índice de Gini confirmam uma degradação na distribuição do rendimento nacional angolano (0,�� em ����, 0,6� em �000 e 0,6� em �00��7).

Em quase todas as economias emergentes, as transformações que têm ocorrido vão muito para além de uma simples mudança do eixo geoestratégico mundial e traduzem-se por benefícios directos às populações, De facto, no Brasil, na Rússia, na Índia e na China – para citar, apenas, os mais importantes daquele conjunto de países – a pobreza é encarada como um desafio específico dos governos e da sociedade, havendo programas especiais para a combater. É deste modo que o número de pobres tem diminuído bastante. Tem sido assim que o crescimento económico se vem transformando em desenvolvimento humano.

Outro aspecto que pode ajudar a compreender as contradições entre crescimento económico e melhoria das condições de vida e dos rendimentos da população relaciona-se com a distribuição da terra e a consequente utilização agro-pecuária da mesma, com reflexos no valor acrescentado desta actividade económica. É legítimo pensar-se que, com o regresso total da população deslocada declarado pelo Governo, a produção agrícola tenha, pelo viés do factor de produção trabalho, condições para um aumento sistemático, garantidos os fornecimentos dos insumos normais. No entanto, são muitas as dúvidas e preocupações sobre a magna questão da terra em Angola.

Vale a pena cotejar as informações sobre os indicadores sociais do nosso país apresentados no Relatório sobre o Desenvolvimento Humano do PNUD para os anos entre 2002 e 2005.

�7 Ver “Carta Pastoral dos Bispos de Angola”, in LUCERE, Revista Aca-démica da Universidade Católica de Angola, número 4, Dezembro de �006.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

INDICADORES 2002 2003 2004 2005

PIB por habitante (dólares americanos) 7��,8 87�,� ����,� �8��,6

Taxa de crescimento do PIB por habitante (%) (1990-ano considerado) -�,� 0,� -�,� �,�

Taxa de crescimento do PIB por habitante (%) (1975-ano considerado) -0,� -�,� -0,7 -0,6

IDH 0,�8� 0,��� 0,��� 0,��6

Lugar no IDH (entre �77 países) �66 �60 �6� �6�

Diferença entre as posições IDH e PIBpc(ppc) -�� -�� -�� -��

Esperança de vida à nascença (anos) �0,� �0,8 �0,7 ��,7

Taxa de mortalidade infantil (p/mil) ��� ��� ��� ���

Taxa de mortalidade infanto-juvenil < 5anos (p/mil) �60 �60 �60 �60

Taxa de alfabetização dos adultos (%) ��,0 66,8 67,� 67,�

Taxa de literacia dos jovens (%) - 7�,� 7�,� 7�,�

Taxa de escolarização primária líquida (%) �0,0 6�,0 6�,� n.d

Taxa escolarização bruta combinada (%) �0,0 �0,0 �6,0 ��,6

População c/ acesso sustentável fonte de água melhorada (%) �0,0 ��,0 ��,0 n.d

População c/ acesso sustentável a saneamento melhorado (%) �0,0 ��,0 ��,0 n.d

Crianças c/ baixo peso para a idade (menores de � anos) (%) ��,0 ��,0 ��,0 ��,0

Crianças com pouca altura para a idade (%) ��,0 ��,0 ��,0 ��,0

Pessoas subnutridas (%) �0,0 �8,0 �7,� n.d

Índice de pobreza humana (%) - ��,� �0,� �0,�

População com menos de � dólar por dia (%) �7,0 - - -

População com menos de � dólares por dia (%) 68,� - - -

População total (milhões) ��,� ��,0 ��,� �6,�

Taxa de crescimento demográfico (%) �,8 �,8 �,8 �,�

Taxa de fertilidade total (nascimentos/mulher) 7,� 6,8 6,8 6,6

Despesas públicas com a saúde (% do PIB) �,0 �,� �,� �,�

Despesas privadas com a saúde (% do PIB) �,� 0,� 0,7 0,7

Prevalência do HIV-SIDA ��-�� anos (%) �,� �,� �,7 �,7

Despesas públicas com educação (% do PIB) �,0 �,0 �,� �,6

Linhas telefónicas principais (/ mil pessoas) 6 7 6 6

Assinantes de telemóveis (/mil pessoas) � .. �8 6�

Utilizadores de Internet (/mil pessoas) �,� .. �� ��

Os governantes angolanos estão conscientes do problema da pobreza no país, pelas incidências políticas e sociais derivadas – a imagem internacional do país não se beneficia se a pobreza continuar a ser como ainda é – mas, igualmente, pelas consequências económicas associadas. A pobreza não é um factor de desenvolvimento económico, actuando, pelo contrário, como um entrave ao crescimento.

Por outro lado, a consolidação da paz e da reconciliação nacional passa, obrigatoriamente, pela redução significativa da fome, da miséria e das

INDICADORES DIFERENCIADOS DE NÍVEL DE VIDA EM ANGOLA EM 2002, 2003, 2004 E 2005

FONTES: Relatórios de Desenvolvimento Humano 2004, 2005, 2006 e 2007/2008, UNDP; Angola – Selected Issues and Statistical Appendix, IMF, August, 7, �007.

desigualdades de oportunidades, aspectos relevados no quadro dos objectivos específicos do Programa Geral do Governo �007/�008.

Para os países com recursos financeiros importantes, provenientes da exploração de recursos naturais não renováveis, talvez existam alternativas facilitadoras duma mais extensa distribuição do rendimento nacional. Mas que não abdicam de práticas contabilísticas sérias, transparentes e exigentes.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

�6

A primeira alternativa relaciona-se com o crescimento, mais acelerado do que o do PIB, das despesas com a educação e a saúde. As primeiras ajudam a melhorar a repartição ex-ante dos activos que contribuem para melhor se resistir às falhas de mercado na afectação dos factores e na repartição dos rendimentos factoriais, a longo prazo. Trabalho mais qualificado é, sempre, trabalho melhor remunerado. As despesas com a saúde têm um impacto imediato na mitigação de certas dificuldades nas condições quotidianas de vida da população, ajudando-a, deste modo, a melhorar a produtividade e, consequentemente, o valor dos salários.

Segundo o Relatório da Execução Orçamental de �007, as despesas orçamentais dirigidas aos sectores sociais tem evoluído do modo seguinte, em relação ao total das despesas públicas: �00� – �7,�%, �00� – �8,8%, �006 – �8,�% e �007 – �0,6%. Convertendo estes valores em percentagens do PIB tem-se 6,�%, �,�%, �,�% e �0,�%, respectivamente para os mesmos anos anteriormente indicados. Trata-se duma boa sequência de gastos, ficando, no entanto, por se conhecer os resultados concretos sobre a melhoria das condições de vida da população pobre.

ANOSEDUCAÇÃO SAÚDE SEGURA. SOCIAL HABITA.COMUIDA TOTAL

%PIB % total %PIB % total %PIB % total %PIB % total %PIB % total2004 �,8 7,� �,8 �,8 �,0 �,7 0,� �,� 6,� �7,�2005 �,� 6,� �,� �,� �,� ��,8 �,0 �,� �,� �8,�2006 �,� 6,0 �,0 �,� �,0 ��,� �,� �,� ��,6 �8,�2007 �,� 6,� �,8 �,� �,� ��,� �,0 �,7 �0,� �0,6

As acções de impacto mais imediato sobre o alívio de determinadas condições difíceis da população pobre estão relacionadas com a saúde e a segurança social, para onde o Governo afectou, em �007, 6,�% do PIB (contra 7% em �006), correspondentes, respectivamente, a �8,�% e �7,�% do total das despesas públicas.

As acções de efeitos mais dilatados no tempo – educação, habitação e serviços comunitários – mereceram apenas �% do PIB (�,6% em �006), em termos de alocação de verbas orçamentais.

Não obstante todas as movimentações registadas, uma solução mais duradoura só pode ser dada pela aliança entre crescimento económico e boas políticas de distribuição do rendimento, para lá das clássicas, a montante ou a jusante.

Por isso mesmo é que a Universidade Católica tem insistido na necessidade de políticas mais inclusivas e de maior envolvimento e responsabilização social para a mitigação das situações de injustiça.

O Relatório Económico volta a sugerir um conjunto de acções de inclusão social que o Governo poderia pôr em prática:

• atribuição generalizada de bolsas de estudo aos estudantes do ensino primário, para que o quantitativo de crianças fora do sistema escolar continue a diminuir e se consiga, no futuro, gerações de força de trabalho competentes�8;

�8Esta medida costuma ser designada de bolsa-família.

AFECTAÇÃO ORÇAMENTAL AOS SECTORES SOCIAIS

FONTES: OGE e Relatórios da Execução Orçamental para os mesmos anos. Ajustamentos e estimativas do CEIC.

• generalização da merenda escolar, melhorando, qualitativamente, o seu conteúdo proteico e energético; esta é uma forma indirecta de aumentar o rendimento disponível das famílias mais pobres;

• aumento do valor unitário das reformas e das pensões;

• distribuição duma cesta básica de alimentos às famílias mais pobres, o que aumentará o seu rendimento disponível para aplicá-lo noutras áreas valorizadoras do seu trabalho na sociedade;

• levar a efeito um programa extenso de construção de habitação social condigna e ajustada aos padrões culturais médios da população;

• promoção dum programa de construção habitacional de custo mais democrático para defesa da classe média, em riscos de pauperização;

• aprofundamento, intensificação e generalização dos programas de formação e reciclagem profissional;

• criação dum Observatório sobre a Pobreza em Angola, através do qual se possa monitorar o comportamento do fenómeno e actuar em conformidade.

Uma aproximação apenas pela via do crescimento económico – a qual, conforme sublinhado anteriormente, é uma das possíveis para a redução da pobreza, mas seguramente não a mais importante, também pelas razões aí anotadas – fornece os resultados seguintes sobre o seu possível comportamento desde �00�.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

�7

APROXIMAÇÃO AO COMPORTAMENTO DA POBREZA EM ANGOLA NOS ÚLTIMOS ANOS

ANOS Taxa de pobreza (%)

População pobre População Taxa real crescimento

PIB por habitante (%)

2003 68,1 10560,3 15507,1 0,3

2004 66,5 10611,3 15956,8 8,0

2005 63,1 10360,8 16419,6 17,0

2006 60,3 10188,1 16895,7 15,0

2007 54,2 9419,5 17385,7 17,4

NOTA: Os dados da população estão estimados de acordo com os resultados do recenseamento eleitoral de �007. Os cálculos basearam-se numa elasticidade rendimento/pobreza de –0,7. Se houvessem informações sobre a distribuição do rendimento, através, por exemplo, do índice de Gini, esta elasticidade poderia ser maior ou menor.

Ainda que os resultados anteriores sejam discutíveis, os mesmos denunciam, no entanto, uma alteração quantitativa da condição de pobreza em Angola, com destaque para �007. A análise qualitativa

da alteração da condição de pobreza no nosso país – donde sobrelevam aspectos como a distribuição de rendimentos, a igualdade de oportunidades, o acesso à informação, o custo de oportunidade das despesas sociais do Governo, etc. – é a mais importante para a confirmação dos dados anteriores, mas que não pode ser feita por ausência de informação relevante.

Os cenários conhecidos de redução da pobreza no mundo apresentam resultados muito assimétricos entre as várias regiões do globo. Para umas, a redução da pobreza será uma realidade concreta a longo prazo (até �0��), ainda que com dinâmicas de reversão diferentes. Para outras, o fenómeno da pobreza perdurará a longo prazo. São estas informações que se encontram no quadro seguinte.

ESPAÇOSGEOGRÁFICOS

Pessoas com menos de $1 por dia Pessoas com menos de $2 por dia

2003 2004 2015 2003 2004 2015

Leste asiático e Pacífico 213 169 40 745 684 296

República Popular China 179 128 29 531 452 186

Europa e Ásia Central 9 4 2 71 46 16

América Latina e Caraíbas 49 47 34 134 121 102

Oriente Médio e Norte de África 5 4 2 62 59 38

Ásia do Sul 472 371 217 1131 1116 997

África sub-sariana 320 298 290 530 522 567

MUNDO 1065 970 624 2673 2548 2017

FONTE: Global Economic Prospects, The World Bank, 2007 e 2008

O facto de a África subsariana não conseguir diminuir a sua pobreza – é a única região do globo cujo quantitativo de população pobre aumentará até �0�� em termos de população vivendo abaixo de dois dólares por dia – deve ser tomado como um aviso e um alerta ao Governo angolano e a toda a sociedade, uma vez que o domínio deste flagelo social e económico é uma responsabilidade e uma obrigação de todos os cidadãos.

2.- OS CONTEXTOS ENVOLVENTES DA ECONOMIA NACIONAL

As economias concretas existem e funcionam em determinados contextos que influenciam as políticas macroeconómicas e as decisões microeconómicas.

A globalização económica tem sido o facto mais relevante para a inserção económica no mercado mundial a partir dos anos 80 do século passado.

CENÁRIOS DE REDUÇÃO DA POBREZA NO MUNDO(milhões de pessoas)

Associa-se a paz mundial aos benefícios – económicos e sociais – que a globalização pode arrastar, partindo-se do pressuposto de que a abertura e a liberalização dos mercados é o elemento fundamental para isso.

As estatísticas mundiais de �00� – ainda não estão disponíveis, duma forma sistematizada, as de �006 – dão conta de que 6�% do Rendimento mundial (�����,� mil milhões de dólares) se concentra em apenas seis países (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália), com uma população de 683 milhões de pessoas, qualquer coisa como �0,7% da população do planeta. Uma cifra média de 40970 dólares por habitante, em contraposição a �000 dólares por habitante para o resto do mundo. Ou seja, uma repartição muito desigual da riqueza que anualmente a economia mundial consegue criar.

Por regiões, a desigualdade é ainda maior, tendo cabido ao continente africano não mais do que �,�%

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do Gross National Income (Renda Nacional Global) mundial, para uma população representando ��,�% do total do planeta. A África subsariana recebe �,�% do PIB mundial para o repartir por uma população de ��,7% do total mundial.

Numa aproximação global, a desproporção é muito mais chocante, já que 60% das pessoas dispõem apenas de 6% do rendimento mundial, incluindo-se os cerca de mil milhões de pessoas com menos de um dólar por dia. Vive-se, portanto, num mundo em que a maioria é pobre ou muito pobre, retrato que se projecta em muitos países, como Angola.

A globalização, afinal, não tem proporcionado igualdade de oportunidades e melhor distribuição do rendimento. Igualmente, ao radicalizar a distribuição do rendimento entre muito pobres e muito ricos, a globalização não tem favorecido o desenvolvimento e aumento das classes médias, tão fundamentais para o equilíbrio dos tecidos sociais e para o surgimento de empreendedores.

O comportamento da economia global, na sua componente mais representativa, está expresso no gráfico seguinte.

2.1.- O Contexto internacional

Engloba-se nesta designação, as principais economias do mundo desenvolvido, algumas das economias mais salientes da África subsariana e certas economias emergentes, como as pertencentes ao BRIC.

2.1.1.- Economia mundial desenvolvida

A despeito do comportamento do preço do petróleo durante �007 – tendo atingido um pico de �� dólares por barril em Dezembro e um preço médio de 77,6 dólares segundo os cálculos do Fundo Monetário Internacional�� – a economia mundial cresceu cerca de �,�%, fortemente puxada pelas economias chinesa

��International Monetary Fund - Regional Economic Outlook, Sub-Saha-ran Africa, September �007.

(��,�%), indiana (8,�%) e russa (7%)�0. As economias mais desenvolvidas do mundo tiveram desempenhos um pouco comprometedores das suas aspirações a manterem-se como o centro económico do mundo e os comandantes da globalização e do livre comércio. As informações mais significativas encontram-se na tabela seguinte.

AS ECONOMIAS DESENVOLVIDAS EM REVISTA(taxas anuais de crescimento do PIB em %)

PAÍSES 2003 2004 2005 2006 2007Economia mundial �,� �,� �,8 �,� �,�

EUA �,� �,� �,� �,� �,�Japão �,8 �,� �,� �,� �,0

Zona Euro 0,8 �,� �,� �,8 �,�

União Europeia �,� �,� �,8 �,8 �,7

FONTES: Universidade Católica de Angola – Relatório Económico 2004 e �00�; IMF – World Economic Outlook, September �006 e �007; World Bank – Global Economic Prospects, �006, �007 e �008.

Atendendo à estrutura do PIB mundial – na qual os Estados Unidos participam com 30,2%, o Japão com 11,8% e a União Europeia com cerca de 25% - conclui-se que a contribuição das economias desenvolvidas para o crescimento de �,�% foi de �,� ponto percentual (inferior ao �,7 ponto percentual registado em �006), tendo as economias emergentes, particularmente, China, Índia, Brasil e Rússia, respondido por �,6 ponto percentual.

O fortíssimo crescimento da China (cerca de ��,�% em �007 e �0,�% em �006) desempenhou um papel determinante no comportamento favorável da economia mundial (a sua contribuição foi 0,�7� ponto percentual em �007, contra de 0,� ponto percentual em �006), tendo sido a campeã das economias em desenvolvimento.

O peso do poder dos Estados Unidos no sistema mundial tem vindo a declinar, ainda que suavemente, desde há várias décadas. O pico histórico do seu poder geopolítico correspondeu ao final da segunda guerra mundial. De par com a degradação do domínio económico e militar (hard power), o enfraquecimento da legitimidade da sua intervenção por esse mundo afora durante o último decénio tem sido o elemento mais importante para a gradual, mas sustentada, perda da influência americana. Os principais responsáveis por este unilateralismo e, obviamente, pela menor credibilidade que os americanos vão merecendo, são a política económica e a intervenção militar externa das duas Administrações Bush. Os americanos têm sido incapazes de compreender as grandes alterações estratégicas do mundo, entendendo que a economia e o poder militar tudo resolvem e determinam. Distantes �0Existem divergências acentuadas entre as estimativas/projecções do Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Como exemplo, esta última instituição apresenta um valor para a taxa de crescimento mundial de �,6% para �007. As diferenças entre países são, também, notórias.

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vão os tempos do american way of life (modo de vida americano) que todos os povos queriam copiar, nem que para isso fosse necessário emigrar para os Estados Unidos. Apesar do PIB americano, medido em paridade do poder de compra, estar próximo do da União Europeia, composta por 27 países, ser o dobro do da China e mais do triplo do da Índia�� e do poder militar dos Estados Unidos ser único à escala planetária, a prática do chamado soft power (poder persuasivo ou suave) não se encaixa na sua visão estratégica de relacionamento bilateral.

Os Estados Unidos enfrentarão, em 2008, a possibilidade de a sua economia entrar em recessão, muito embora os especialistas prevejam que o pior poderá ser a estagnação económica, admitindo mesmo a hipótese dum ligeiro crescimento do PIB, ainda que pífio (medíocre)��. Alan Greenspan, antigo presidente da Reserva Federal, alinha as suas posições por estes últimos estudiosos, ainda que inicialmente o antigo presidente da Reserva Federal tenha admitido, claramente, uma situação de recessão económica, atendendo ao comportamento esperado do preço do petróleo (que em Janeiro do corrente ano ultrapassou a barreira dos �00 dólares por barril) e de outras commodities33 e à crise do “subprime” de alto risco, que tem vindo a afectar, negativamente, o crédito imobiliário e o comportamento da ainda maior economia mundial��. Nos primeiros meses de �008, o abrandamento dos EUA era visível e a dúvida está em saber-se quando a economia se estabilizar.

Com a América embrulhada numa crise financeira sem fim esperado para 2008 (iniciou-se em Agosto de �007), com uma moeda em queda livre desde �00��� e

��No entanto, a sua dependência da liquidez internacional, nomeadamente dos chineses, acaba por fragilizar, bastante, esta supremacia económica e ser, afinal, um dos seus grandes calcanhares de Aquiles.��O cenário de regresso à estagflação, característico dos finais dos anos 70 do século XXI, é provável nos Estados Unidos. Trata-se da possibilidade de novamente se conviver, em simultâneo, com a estagnação do PIB e a infla-ção dos preços, fundamentalmente devido a problemas do lado da oferta.��Tais como o algodão, o cobre, o ferro, o café, o alumínio, o açúcar, o ca-cau, o níquel, a prata, etc., cujos preços, igualmente, puxados pela procura da China, Índia e por outros países asiáticos, têm contribuído para a melho-ria das exportações e dos termos de troca de muitas economias africanas. ��A actualização da curva de probabilidade de recessão no final de Novem-bro de 2007, nos Estados Unidos, baixou para 7,4%, segundo o modelo em tempo real elaborado pela economista Marcelle Chauvet (brasileira), da Universidade da Califórnia, em Riverside. Em finais de Outubro, era de �6%, muito longe dos �0% admitidos por Alan Greenspan.��A desvalorização do dólar em relação a um cabaz de divisas que integra o euro poderá parar em �008. É a previsão da Goldmoney.com. O euro poderá, então, iniciar um processo de desvalorização e de ajustamento ao seu real valor internacional. Este facto poderá constituir uma oportuni-dade para que determinados países europeus, como Portugal, possam di-versificar as suas exportações e conquistar outros/novos mercados. Lem-bre-se que Portugal e outras economias europeias de pequena dimensão e periféricas exportam, sobretudo (60% do total), para as grandes locomo-tivas económicas deste espaço (Alemanha, Reino Unido, França e Itália), mas com um euro cada vez mais forte defrontarão, nestes mercados, a concorrência dos emergentes, com preços imbatíveis.

um crescimento claramente inferior ao europeu desde �006, a economia mundial deverá abrandar em �008. Mas apenas ligeiramente em cerca de menos 0,� pontos percentuais, porque as designadas economias emergentes – com destaque para a China, Índia e Rússia – deverão manter os espectaculares ritmos de crescimento ocorridos no passado recente.

Conjugam-se influências negativas para 2008, representadas pelo preço do petróleo – que poderá, perigosamente, aproximar-se dos ��0 dólares por barril – pelos preços das demais commodities e pelas ondas de choque da crise do crédito hipotecário de alto risco�6. Larry Summers, antigo Secretário do Tesouro de Bill Clinton, chegou a propor um choque fiscal de até 75 biliões de dólares para estímulos fiscais. Na base, a possibilidade de a crise do sub-prime poder gerar a perda de �000 dólares por ano no rendimento de cada família americana.

A crise financeira americana – que se poderá espalhar pelas principais economias no decurso de �008 – não foi revertida pelas intervenções concertadas dos Bancos Centrais da União Europeia, dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Suíça e do Canadá, com as poderosas injecções de liquidez durante o mês de Novembro de �007�7. Apesar disso, o crédito continuou a apresentar um comportamento em baixa e de grande incerteza e as taxas de juro voltaram a dar sinal de alerta.

O pior desta crise do subprime americano poderá, no entanto, acontecer em �008, com a extensão das falhas de pagamentos ao crédito imobiliário comercial e automóvel, assim como aos derivados que poderão envolver o valor astronómico de 600 mil milhões de dólares. O resultado poderá ser uma correcção em baixa de cerca de �8% nas bolsas americanas.

Assim, o comportamento do consumo privado poderá ser a única esperança para se evitar a recessão económica americana, já que representa 7�% do PIB dos Estados Unidos. A dúvida estará em se saber como o consumo privado irá reagir ao aperto do crédito, que, �6Pode concluir-se que o crescimento económico dos Estados Unidos e das demais economias desenvolvidas exige que os preços mundiais das matérias-primas industriais baixem significativamente, com consequên-cias negativas sobre a variação positiva do PIB das economias emergentes e das economias em desenvolvimento, particularmente as africanas, que têm beneficiado da pressão sobre os preços exercida pela procura chine-sa, indiana e dos países desenvolvidos. Parece assim que o crescimento económico das economias desenvolvidas se fez, sempre, à custa do das economias menos desenvolvidas, sendo, por isto, que a entrada da China na cena internacional tem sido saudada pelos países africanos.�7Os especialistas argumentam, no entanto, que se trata de operações de emergência incapazes de resolver o problema de fundo que é a falta de confiança. Os bancos não emprestaram dinheiro nas quantidades anterio-res e necessárias para a retoma económica por falta de confiança e as taxas de juro subiram.

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tudo indica, prevalecerá durante o corrente ano e às pressões inflacionistas derivadas da alta do preço dos combustíveis e das commodities de origem agrícola (trigo (+��0%), centeio (+6�%), cevada (+70%), milho (+�0%), café (+�0%), cacau (+�0%)). De resto, a persistência do preço do petróleo acima dos �00 dólares por barril poderá gerar um efeito inflacionista em todo o mundo, incluindo nos países emergentes, do que poderá resultar um efeito recessivo geral sobre a economia mundial.

No Japão, após um período de letargia, a recuperação parece ter-se consolidado, depois de ter passado duma taxa de �,8% em �00� para �,�% em 2007. Uma ligeira quebra nas exportações no segundo trimestre do ano, entretanto compensada por um incremento nas despesas de investimento no terceiro trimestre, não foi suficiente para penalizar o crescimento económico anual, igualmente ajudado pela China para onde o Japão exportou uma quantidade assinalável de mercadorias e serviços que, em conjunto, registaram um crescimento de ��% (��,6% em �006).

A Zona Euro, não tem conseguido ultrapassar os anos de crescimento de baixa intensidade, apesar de em �006 ter registado uma variação de �,8%. As estimativas do FMI para �007 apontam para uma taxa de crescimento real de �,�%, mas as estimativas finais do Eurostat não contabilizaram mais do que 1,9%. São, afinal, os reflexos perversos dum euro sobreavaliado e em alta permanente, justificado pela necessidade absoluta de colocar o controlo da inflação acima do crescimento económico.

Um dos factos de alguma relevância em 2008 relaciona-se com o alargamento da chamada Eurolândia, com a entrada, em � de Janeiro, de Chipre e Malta, alargando-se a Zona Euro para �� países (aos �� aderentes logo em ����, já se tinham juntado a Grécia em �000 e a Eslovénia em �007). Dos �� Estados-Membros da União Europeia ficam de fora da Zona Euro oito, entre os quais o Reino Unido e a Suécia que optaram por manter a sua independência monetária.

O crescimento da economia comunitária europeia vai estar fortemente dependente do petróleo e do seu preço internacional. Apesar das determinações comunitárias quanto ao desenvolvimento acelerado das energias alternativas – a meta estabelece que em �0�0 a média europeia de utilização de energias renováveis seja de 60% – a dependência da importação de petróleo aumentará na Europa, pelo menos até 2020. Nesta data, o défice entre produção (Reino

Unido e Noruega) e consumo rondará os 14,7 milhões de barris por dia, um agravamento de �7% em relação a �007 e de 80% se �000 (peak oil europeu) for a base de comparação.

A era de ouro dos fornecimentos do Mar do Norte já faz parte da História, podendo, em consequência, a dependência europeia de petróleo situar-se acima dos 70%.

Apesar dos preços médios de referência do Brent (certo tipo de petróleo) serem, via de regra, inferiores aos da praça americana, a gestão da sua volatilidade, incerteza e expectativas vai ser uma das questões cruciais da política económica europeia em �008, mesmo que a desvalorização do euro face ao dólar não ocorra no decurso do presente ano. Como se sabe, os preços do petróleo em euros têm beneficiado da almofada da desvalorização do dólar face à moeda única europeia desde �00�.

Quanto às previsões do comportamento do preço do petróleo em �008, as opiniões dividem-se. Dum lado, os especialistas que alinham pelos ��� dólares, dando-lhe razão os valores na vizinhança dos ��� dólares atingidos em Abril. Do outro, estão as antevisões duma estabilidade em torno dos �00 dólares por barril.

A dependência europeia do petróleo até �0�0 pode ser apreciada pelos gráficos seguintes (Expresso Economia de �� de Dezembro de �007).

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DÉFICE EUROPEU DE PETRÓLEO(milhões de barris/dia)

Para além do petróleo, o Banco Central Europeu – entidade que tem a incumbência de manter a estabilidade dos preços e de gerir a política monetária do maior espaço económico da actualidade – não terá uma tarefa fácil no decurso de �008. Os efeitos da subprime sentem-se cada vez mais no Velho Continente, sendo, consequentemente, o grande desafio evitar-se uma travagem no crescimento económico, sem se comprometer o combate à inflação. É provável que durante o primeiro semestre de �008 a taxa directora do Banco Central Europeu se mantenha entre �% e �%.

O ranking mundial das economias mais desenvolvidas estava estabelecido do modo seguinte:

RANKING MUNDIAL DAS ECONOMIAS DESENVOLVIDAS

PAÍSES 1980 2004 2005 2006EUA � � � �Japão � � � �

Alemanha � � � �

Reino Unido � � � �França � 6 � �

Itália 6 7 7 6

FONTES: Banco Mundial – Global Economic Prospects, �007 e �008 e World Development Indicators, �006, �007 e �008.

2.1.2.- Economia africana

Permanece vivo o debate sobre o envolvimento da China em África. Nunca como agora as potências ocidentais – donas do crescimento económico e das modalidades de cooperação económica e institucional com África durante muitos anos – estiveram tão preocupadas com os fluxos financeiros chineses para diferentes países africanos.

Será que, de facto, se pode estar perante uma nova geografia da cooperação económica internacional? Só estudos mais aprofundados e sistemáticos poderiam ajudar a determinar se de uma deslocalização se trata.

Com efeito, o montante de fluxos financeiros que a China canaliza para África, apesar de muito expressivos, não está fora do alcance das economias desenvolvidas da Europa e da América do Norte. No entanto, a República Popular da China foi o primeiro país a disponibilizar a Angola um montante de mais de � mil milhões de dólares para investimentos na reabilitação das infraestruturas. Nenhum país desenvolvido, europeu ou americano, aceitou participar na organização duma Conferência Internacional de Doadores para a mobilização de financiamentos para a reconstrução económica sugerida pelo Governo angolano, imediatamente após a assinatura do Protocolo de Lusaka. Porquê que não o fizeram? As suas necessidades em produtos de base, em especial o óleo, são semelhantes às da China, ainda que relativizadas pelas diferenças nas taxas médias anuais de crescimento do Produto Interno Bruto. Mas, ainda assim e em termos absolutos, as necessidades em produtos de base acabam por se equivaler.

Parece que a confiança que a China deposita em África é maior da que os países ocidentais capitalistas dispensam. As exageradas condicionalidades exigidas para a outorga de financiamentos são um sintoma dessa falta de confiança ocidental em África, que nem mais de �00 anos de contactos e trabalho em comum conseguiram mitigar.

Muitos analistas do relacionamento China-África consideram que a perspectiva de cooperação afro-chinesa é muito mais estratégica do que a veiculada pelo ocidente capitalista, dando como exemplo os investimentos nas infraestruturas, domínio que, como é sabido, há muito que foi desvalorizado nos pacotes financeiros da União Europeia.

Incidentes de percurso, como o da crise do subprime nos Estados Unidos – que por enquanto ainda não fez notar as suas consequências perversas sobre as economias subsarianas, uma vez que não há notícias de perdas significativas em algum fundo de investimento africano, como recentemente ocorreu com o Fundo Norueguês Inter-Geracional, com prejuízos na ordem dos �0 mil milhões de dólares – não abalarão os engajamentos da China em África e o seu interesse pelo mercado sub-continental, como se pode depreender das declarações de altos dirigentes chineses sobre a intenção do seu país exportar, até �0�0, mais de �00 mil milhões de dólares para a África subsariana.

Tal como muitos autores têm enfatizado, a eventualidade da desocidentalização do

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crescimento económico�8 parece tornar-se uma evidência e seguramente que a China inaugurou a desocidentalização da ajuda financeira à África.

De acordo com os relatórios das mais prestigiadas instituições económicas e financeiras mundiais – Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Comissão Económica para a África das Nações Unidas, CNUCED, Banco Africano de Desenvolvimento – a África subsariana tem registado progressos notáveis nos últimos seis anos (�00�-�007). Mesmo em contexto adverso da alta dos preços de petróleo, a economia sub-continental tem apresentado registos interessantes, devidos, muito em particular, à emergência de novos factores de crescimento, que substituíram as tradicionais exportações de matérias-primas e de produtos de base.

Começam a ser recorrentes as menções sobre uma melhoria da governação em muitos países subsarianos de África, os resultados positivos da estabilização macroeconómica, a maior abertura das economias e um acrescento de transparência, conjugadas com as variáveis macroeconómicas internas, como o consumo e o investimento privado, sobretudo o inter-africano. São os chamados novos drivers (propulsores) do crescimento económico subsariano. Anote-se que a toda-poderosa Nigéria do petróleo tem introduzido alterações económicas estruturais profundas, cujo resultado mais significativo, em 2007, foi o da redução do peso da economia petrolífera no PIB para cerca de �0% (em Angola e para o mesmo ano, aquela percentagem foi de ��%).

O crescimento económico na África subsariana tem sido robusto desde �00�, com uma taxa média anual de �,�%, tendo acelerado de �,7% em �00� para 6,�% em �007. O PIB por habitante registou, igualmente, um desempenho interessante, com uma variação média anual de �,6%. Os registos estatísticos confirmam a emergência de outros factores de crescimento económico. Com efeito, o consumo privado tem crescido a um ritmo muito próximo do PIB e os investimentos em activos fixos apresentaram alterações médias anuais próximas dos ��,�%.

Não obstante os resultados positivos e animadores, a economia africana subsariana continuou a apresentar bastantes contrastes entre ao países, reflectidos numa África a duas velocidades, protagonizadas pelos países produtores de petróleo e pelos exportadores de

�8 MURTEIRA, Mário – (O que é) A Globalização, Editorial Quimera, �00�, páginas ��� e ��6.

matérias-primas e importadores de petróleo��.

Em �007, as economias petrolíferas do sub-continente evoluíram 8,�% em relação ao ano anterior, enquanto as economias não-petrolíferas incrementaram o respectivo nível de actividade económica em �,�%. Os elevados preços do petróleo e a abertura de novos campos de produção em Angola e no Sudão, ajudaram na obtenção da mais elevada taxa de crescimento do PIB nos países exportadores de óleo de que há registo há �� anos.

Ao mesmo tempo, o incremento nos preços das commodities não-petrolíferas foi crucial para o maior crescimento, de há dez anos a esta parte, das economias subsarianas importadoras de petróleo.

As anotações anteriores, ilustrativas duma maior sustentabilidade do crescimento na África subsariana – revelada, entre outros indicadores, por uma taxa de crescimento entre �00� e �007 (o pior da subida intempestiva do preço do crude no mercado internacional) mais alta do que a mundial e a dos países do Oriente Próximo –, não podem ser tomadas com exagerado optimismo, porquanto continuam pendentes défices relevantes em matérias fundamentais que podem comprometer o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio nas metas estabelecidas para 2015. Infraestruturas mais modernas, qualificação dos recursos humanos, acervos científicos e tecnológicos, novas tecnologias da informação e comunicação, mais densidade nas relações comerciais inter-africanas, acompanhadas de maiores investimentos – actualmente apenas a África do Sul rubrica investimentos avultados em Angola e na Nigéria, sendo, portanto, fundamental que outros países o façam também – e que haja maior circulação de pessoas entre esses Estados. Nesta vertente, os desafios da integração económica africana são de enorme amplitude e rodeados de bastantes riscos, só minimizáveis com mais alterações estruturais e aprofundamento da economia de mercado.

Vale, entretanto, a pena sublinhar que o generalizado crescimento económico africano não tem correspondido a um desenvolvimento durável. Os produtos petrolíferos e minerais, que alavancam o crescimento, são, igualmente, factores de corrupção, desigualdades e, por vezes, de conflitos. �� Com a emergência da crise alimentar mundial, caracterizada por uma subida anormal, desde �00�, dos preços dos produtos agrícolas alimen-tares – trigo, centeio, cevada, milho, arroz, açúcar, café, soja, girassol, etc. – estes países africanos podem ver melhoradas, num futuro imedia-to, as respectivas relações de troca internacionais. Chama-se a atenção para o facto de já no Relatório Económico de �006 se ter feito referência à melhoria das relações de troca africanas por influência duma procura mundial de matérias-primas industriais em ascensão e, fundamentalmen-te, puxada pelas necessidades industriais e de crescimento demográfico da China e da Índia (páginas ��,�� e ��).

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A dívida externa é outra das áreas-risco do crescimento sustentável da África subsariana, particularmente para os países importadores do óleo. Os riscos de perda de velocidade no crescimento do PIB, devido à incontinência na subida do preço do crude, podem não ser compensados pelas iniciativas de alívio da dívida externa, nem pelos incrementos nos preços das outras commodities. O Banco Africano de Desenvolvimento estima uma perda de cerca de ��% no crescimento cumulativo do PIB dos últimos quatro anos devido à subida do preço do petróleo, com incidência especial sobre a respectiva capacidade de endividamento externo.

O problema do HIV-SIDA é dos mais dramáticos de África, com custos económicos e sociais elevadíssimos e comprometedores da sustentabilidade do crescimento e duma maior integração no mundo global. A crescente incidência desta pandemia impõe consequências dramáticas sobre a redução da esperança de vida média da população africana e o incremento do número de crianças órfãs.

A linha estratégica do desenvolvimento durável da África subsariana tem de envolver a passagem duma economia de renda para uma economia de acumulação endógena e de incremento da produtividade, alicerçada em mecanismos gestionários transparentes.

O que pode a China fazer, no contexto do seu relacionamento estratégico com a África subsariana?

A resposta à questão anterior é difícil, devido à falta de informação concreta quanto aos interesses estratégicos da China e dos países africanos. Acresce que alguns países africanos, que auferem financiamentos e investimentos chineses, vivem crises políticas graves que poderão ter como resultado uma alteração na estratégia de relacionamento a longo prazo com a China.

Mas existem outras indeterminações, nomeadamente: • O crescimento económico da China, com

a intensidade que se conhece, durará mais quantos anos? Sublinhe-se que tem sido graças a esse impressionante crescimento que o país tem conseguido acumular reservas em meios de pagamento sobre o exterior e, consequentemente, tornar-se o maior credor dos Estados Unidos da América – ainda a maior economia do mundo – e canalizar os conhecidos montantes de dinheiro para a África subsariana. Quais têm sido as verdadeiras fontes do crescimento económico chinês e que tipo de fraquezas podem emergir, a qualquer momento a ponto de fazerem perigar os compromissos

estratégicos com o desenvolvimento de África?

• Do ponto de vista político, as preocupações colocam-se no processo de democratização do maior país do mundo em termos populacionais. Sabe-se que até ao momento tem sido possível conciliar capitalismo e modernização económica com um sistema político fechado e de fraca representatividade democrática. Mesmo sob uma perspectiva chinesa, há-de chegar o momento em que os limites da consistência entre a política e a economia sejam ultrapassados e que o crescimento económico seja comprometido. Como quer que seja, são problemas internos da China e o que importa relevar, do ponto de vista dos africanos, é em que medida o seu modelo político pode interferir com os processos democráticos em fase acelerada de construção em África, mesmo sofrendo recuos pontuais.

• O terceiro aspecto relaciona-se com o que a China representa ou possa vir a representar para África: uma oportunidade ou uma ameaça? A curto prazo, este país asiático tem apoiado o crescimento económico africano, por diversas formas: linhas de crédito, investimentos directos, parcerias comerciais e financeiras, etc. As capacidade competitivas da China são conhecidas internacionalmente, conseguindo desbaratar sectores tradicionais de actividade na Europa, como os têxteis, as confecções, etc., o mesmo podendo acontecer com as fracas estruturas empresariais africanas. Deste ponto de vista, duma concorrência, de certo modo, desleal, a China é uma ameaça para o desenvolvimento económico africano. Porém, é fundamental que os africanos tenham destas matérias da competitividade uma visão estratégica e estrutural, alicerçada nas vantagens comparativas do continente e numa maior qualificação do factor humano.

• Finalmente, a China é um parceiro seguro para os africanos ou, pelo contrário, um rival, não só na cena comercial internacional, como mesmo dentro da própria África? Esta é uma matéria de fundo, na medida em que para um segmento importante da classe política africana a China deve ser considerada como um parceiro desinteressado, não impondo condicionalidades aos empréstimos outorgados e ajudando as pretensões políticas africanas na cena internacional. As justificações deste desinteresse chinês passam pelas condições excelentes oferecidas pelas linhas de crédito chinesas e pelo seu envolvimento nos grandes

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e médios projectos de reabilitação/construção de infraestruturas – um dos grandes défices africanos – os quais irão beneficiar as companhias privadas africanas�0. Europeus e americanos não estão convencidos do envolvimento desinteressado da China em África. Os empresários africanos também não estão totalmente convencidos da ingenuidade comercial e económica dos chineses, porquanto em muitas áreas as firmas chinesas têm tido uma postura fortemente competitiva, relegando para plano secundário contratos ou compromissos firmados em consonância com uma atitude mais cooperante e de parceria.

Fica, assim, demonstrado que o relacionamento China-África é complexo, necessitando de maior acompanhamento e reflexão, para que os africanos não sejam demasiado ingénuos e embarquem, sem limites e precauções, numa aventura comprometedora do seu futuro.

A África do Sul tem sido o único país a disputar o mercado africano aos chineses, investindo fortemente em diversos países, entre os quais a Nigéria e Angola, onde, de resto, os chineses também estão em força (7 mil milhões de dólares é a última promessa financeira da China para com a Nigéria, para investimentos noutras áreas, como a agricultura, as telecomunicações, manufactura e actividade bancária).

Mesmo na África do Sul, os interesses chineses alargam-se e diversificam-se, como o comprova a recente aquisição por �,6 mil milhões de dólares de �0% do Standard Bank pelo Industrial and Commercial Bank de Pequim, passando, por esta via, a participar em todas as operações que o banco sul africano tem um pouco por todo o continente. Uma das desvantagens das firmas sul africanas está no cumprimento dos princípios da corporate governance (governação corporativa) exigidos pelo acervo jurídico-legal do país, enquanto os chineses fazem disso tábua rasa.

O comércio de produtos não minerais entre a África e a China é amplamente favorável a este país. Em �007, as exportações chinesas para o continente africano totalizaram �� mil milhões de dólares, com uma percentagem importante de bens manufacturados. Espera-se que em �008, o volume de exportações suba para 60 mil milhões de dólares, para se colocar em �0�0 nos �00 mil milhões de dólares.

�0O negócio das infraestruturas – se é disso que realmente se trata – não vai durar sempre, nem com a mesma intensidade. Então, os chineses terão de invadir outras áreas comerciais e de negócios, onde são mais agressi-vos e competitivos.

Em contrapartida, a África não tem produtos não minerais para exportar para a China. Em �006, as importações chinesas foram de apenas ��0 milhões de dólares.

No domínio da força de trabalho, a importação de trabalhadores chineses para trabalharem em África tem suscitado reacções sindicais violentas em alguns países, pelo facto de os seus baixos salários impedirem a obtenção de ganhos de rendimento dos trabalhadores africanos e contribuírem para as elevadas taxas de desemprego africano. A África ofereceu, recentemente, mais uma oportunidade à China no domínio da agricultura, para onde os chineses transferiram, directamente da província de Hebei, 7000 agricultores que se espalharam por �8 países africanos.

Uma chamada de atenção deve ser reservada aos efeitos negativos derivados do intenso crescimento económico da China, na base da fonte energética por excelência que é o petróleo, bastante do qual fornecido pela África. A China é, actualmente, o maior poluidor do planeta, tendo superado os Estados Unidos, até aqui o maior emissor de gases causadores do efeito de estufa. As conclusões são de um estudo desenvolvido pela Universidade da Califórnia na base da colecta de informação em três dezenas de postos de monitorização ambiental, que contrariam as informações oficiais das autoridades chinesas, com valores de poluição subavaliados. Se a China não mudar de política energética, a poluição causada será várias vezes maior do que a soma dos cortes de emissões feitos pelas nações mais desenvolvidas.

AS GRANDES ECONOMIAS AFRICANAS SUBSARIANAS(taxas de crescimento em percentagem)

PAÍSES 2003 2004 2005 2006 2007Economia mundial �,� �,� �,8 �,� �,�

África do Sul �,0 �,� �,� �,0 �,7Nigéria �0,7 6,� 7,� �,6 �,�Quénia �,0 �,� �,8 6,� 6,�Angola �,� ��,� �0,6 �8,6 �0,�SADC �,� �,8 6,� 7,� �,�

África Subsariana �,0 �,7 6,0 �,7 6,�

FONTES: Universidade Católica de Angola – Relatório Económico �00�, �00� e �006; IMF – World Economic Outlook, September �006 e �007; World Bank – Global Economic Prospects, �006,�007 e �008. MINPLAN – Relatórios de Execução do Balanço do Programa do Governo, �00� e �006.

Angola é o país que apresenta a melhor sequência de crescimento económico entre �00� e �007, superando a África do Sul e a Nigéria, seus directos competidores pela hegemonia económica da África subsariana.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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Uma chamada de atenção para o comportamento da economia Equato-Guineense (que não está representada nem na tabela, nem no gráfico anteriores): depois de crescimentos espectaculares no passado (��,�% ao ano entre ���7 e �00�), ��,�% em �00�, ��,�% em �00�, ��,�% em �00� e 6% em �00�, o País aparece, agora, mais calmo à medida que o seu “peak oil” se aproxima. Com efeito, o FMI calcula um crescimento negativo para �006 de cerca de –�% e o Banco Mundial augura uma taxa de cerca de 8% para �007. Esta nota é, também, um aviso aos excessivos optimismos angolanos sobre a capacidade da economia crescer indefinidamente a taxas de dois dígitos.

RANKING MUNDIAL DAS ECONOMIAS AFRICANASPAÍSES 1980 2004 2005 2006

África do Sul �� �0 �8Nigéria �� �� ��Quénia 78 8� 7�Angola 8� 8� 76

FONTES: Banco Mundial – Global Economic Prospects, �007 e World Development Indicators, �007 e �008.

2.1.3.- As economias emergentes

Do conjunto destas economias, a que mais destaque assume é a da República Popular da China, devido às elevadas taxas de crescimento económico registadas nos últimos �� anos. Entre ��80 e �00�, a economia chinesa cresceu a uma taxa média anual de �0,�%, o que a manter-se poderá levar a China, dentro de 7 anos (�0��), a duplicar o valor do seu Produto Interno Bruto; isto é, chegar a �0�� com �876 mil milhões de dólares, tornando-se muito provavelmente a terceira economia do mundo. Esta dinâmica faz recear que a sua crescente influência mundial possa ter consequências nefastas sobre as outras economias.

O conceito de soft power foi criado por Joseph Nye, professor de Harvard, para incluir a capacidade de influência duma grande potência mundial. Este poder de influência é baseado na cultura, nos ideais e nas normas e na marca-país, tendo-o apelidado de hegemonia de veludo. Este conceito é desenvolvido no seu livro Soft Power: The Means to Sucess in World Politics de �00� e que acabou por ser uma das grandes referências em matéria de relações internacionais. É

à China e à sua recente política de afirmação mundial que este conceito de soft power melhor se adequa.

Só que a realidade ultrapassou a teoria. Na verdade, a China acabou por ampliar o conceito incluindo, na realidade das relações com outros países, o comércio internacional, a ajuda financeira, o investimento directo, a posição em organismos multilaterais, etc. Ou seja, ultrapassou o velho conceito de hard power, onde a diplomacia clássica de gabinete, o marketing internacional e as ferramentas militares e de segurança preponderam. A China, juntamente com o Japão, é um dos países que revela uma tendência de poder ascendente desde ���0, de tal modo que se estima que em �0�� a China será o poder predominante no sistema mundial e que o Japão ganhará paridade com os Estados Unidos em 2030.

Em ��78, a China era um país arruinado pelos sonhos e pelas práticas totalitárias de Mao Tsé-tung, colocando-se à margem das principais economias da época. Hoje, este país está cada vez mais integrado na ordem política e económica construída por Franklin Roosevelt e Winston Churchill entre ���� e ����. Esta integração mundial explica, em grande parte, a explosão económica da China depois de ��80. No entanto, a enorme importância da produção chinesa de aço, alumínio, cimento, produtos químicos, pasta de papel e derivados, tem consequências desastrosas em termos de poluição.

A China continuará imparável até, pelo menos, �0��, com taxas médias anuais de crescimento a rondar os �,�%. Em paridade do poder de compra�� – ou seja, tendo por referência o índice de preços dos Estados Unidos da América – a República Popular da China irá ocupar a terceira posição mundial, depois da União Europeia e dos Estados Unidos, de acordo com as últimas estimativas do Banco Mundial para ��Existem economistas e investigadores que preferem estabelecer as com-parações internacionais somente em termos de taxas de câmbio, uma vez que a paridade do poder de compra conseguir alterar a sua dimensão e o seu significado. A paridade do poder de compra significa o poder de compra duma qualquer moeda, quando comparado com os preços dum determinado cabaz de produtos dos Estados Unidos. Assim, um dólar dum país de inflação alta tem um poder de compra elevado se fosse gasto nos Estados Unidos. Ou seja, este dólar tem um poder de compra maior nos Estados Unidos do que no país de origem, dando acesso a um maior cabaz de produtos de consumo. Por exemplo, para Angola, em que a taxa de in-flação de 2007 foi de 11,78% um dólar angolano teve um poder de compra equivalente a 1,09588 (=1,1178/1,02) se fosse gasto nos Estados Unidos, onde a taxa de inflação foi de 2%. Ao converter-se o PIB ou o PIB por ha-bitante em paridade do poder de compra, os valores de Angola teriam de ser multiplicados pelo factor �,0��88, o que pode conduzir a conclusões erradas. Na verdade, as despesas de consumo são feitas em Angola e não nos Estados Unidos e o facto de o PIB por habitante angolano valer mais 9,6%, em paridade do poder de compra, não significa que os angolanos vivam em melhores condições do que os americanos.

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�007��. Não fora a correcção de �0% para menos que os serviços de estatística daquela prestigiada instituição financeira internacional entenderam introduzir nas primeiras estimativas do PIB chinês (em PPP) e este país asiático seria a segunda potência económica mundial.

As primeiras estimativas do PIB chinês em PPP foram de �0,�� triliões de dólares para �007 (com Hong-Kong e Macau), o Banco Mundial corrigiu-as em 40%, valendo, afinal 6,3 triliões de dólares. Mesmo assim, a China aparece em �007 como a terceira maior economia mundial, depois da União Europeia (��,8 triliões de dólares) e dos Estados Unidos (10,05 triliões de dólares��).

Em moeda corrente, o PIB da China em �007 foi de �,7 triliões de dólares, uma relação de � para quase �, quando comparado com a mesma grandeza dos Estados Unidos, mesmo assim, um score (resultado/marca) equivalente ao quinto lugar, depois da União Europeia, Japão e Alemanha.

A extraordinária dinâmica chinesa pode ser medida em número de anos necessários para se tornar a primeira economia mundial, admitindo que o crescimento do PIB chinês será de �% ao ano:

• em paridade do poder de compra, a China necessita de 7 anos para ultrapassar os Estados Unidos (taxa média anual de crescimento de �%) e de �� anos para se colocar à frente da União Europeia a 27 (taxa média anual de crescimento, também, de �%);

• em moeda corrente e para os mesmos valores das taxas médias anuais de crescimento económico, os desafios são muito maiores: 20 anos para ombrear com os Estados Unidos e 25 anos para se comparar à União Europeia.

Independentemente destas contas, a economia chinesa tem crescido a taxas fabulosas, nos últimos �� anos, de �0-��% ao ano, o que equivale a duplicar o PIB em pouco mais de 6,6 anos e o rendimento médio por habitante em 7,� anos. Ou seja, desde ��8�, o PIB da China já foi multiplicado por ��,6 vezes. O quadro seguinte fornece informações interessantes sobre a dinâmica chinesa.

��A China, já em 2006, ultrapassou os Estados Unidos da América na pro-dução industrial, tornando-se, neste momento, o líder mundial, de acordo com um estudo da The Heritage Foundation. O cálculo baseou-se no novo factor de conversão de paridade do poder de compra do Banco Mundial desde Dezembro, quando reviu em baixa o PIB da China.�� O valor do PIB americano não precisa de ser corrigido em paridade do poder de compra, pois é a grandeza de referência mundial.

RITMOS DE CRESCIMENTO DA ECONOMIA CHINESA(valores em percentagem)

INDICADORES Estrutura2006

Real2006

Estimativa2007

Previsões

2008 2009

Produto Interno Bruto 100,0 11,1 11,5 10,3 9,9

Consumo Privado 38,0

Consumo Público 14,4

Formação Bruta de Capital Fixo 40,8

Exportações 36,8 47,8 21,0 15,0 12,9

Importações -30,0 32,1 17,3 16,8 17,8

Emprego - 0,8 1,0 0,8 0,8

Desemprego (% população activa) - 4,1 4,0 3,9 3,9

Inflação - 1,5 4,5 3,0 2,8

Balança Comercial (% do PIB) - 8,2 9,5 8,3 7,7

Balança Corrente (% do PIB) - 9,3 10,4 9,4 8,0

Saldo Orçamental (% do PIB) - -0,7 0,0 0,5 1,0

FONTE: Comissão Europeia, citada em Daniel Amaral, Expresso – Economia, de �� de Dezembro de �007.

O essencial a reter do quadro é:• a taxa média de crescimento ronda os �0-��%

por ano;• �0% da produção é anualmente reinvestida;• não há défices orçamentais, nem dívida

pública;• a balança corrente tem acumulado excedentes

que transformados em reservas internacionais vão já em �,� triliões de dólares;

• a taxa de desemprego é reduzida e mais baixa do que a de muitos países desenvolvidos e organizados;

• o controlo dos preços tem sido a situação mais normal.

A economia chinesa é uma economia explosiva de consequências inimagináveis. Para se conseguir a taxa de �0,�% em �008, a China vai importar petróleo correspondente a �7% do total das suas importações.

AS ECONOMIAS EMERGENTESPAÍSES 2003 2004 2005 2006 2007

China �0,0 �0,� �0,� �0,� ��,�Índia 8,6 8,� 8,� 8,7 8,�Brasil 0,� �,� �,� �,� �,�

Rússia 7,� 7,� 6,� 6,8 8,�

África do Sul �,0 �,� �,� �,0 �,7Economia mundial �,� �,� �,8 �,� �,�

FONTES: Universidade Católica de Angola – Relatório Económico 2004, �00� e �006; IMF – World Economic Outlook, September �006 e October �007; World Bank – Global Economic Prospects, �006, �007 e �008.

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O destaque para as economias emergentes – que não estão todas consideradas no quadro, pelo menos na definição do Banco Mundial, a qual alberga mais países como o México, a Argentina, a Coreia do Sul, o Egipto e Israel – vai para o conjunto de países denominados BRIC que se espera venha a ser o futuro pólo de concentração do PIB e do comércio mundiais dentro de �� anos. O peso económico deste agrupamento de países no PIB mundial passou de �,�% em �00� para quase ��% em �007.

2.2.- Os Factores conjunturais e estruturais Internos

O intenso crescimento económico que o país vem experimentando desde �00� – com incidência para os três últimos anos – tem despoletado novos estrangulamentos à sua auto-sustentação a termo.

Dentre estas novas resistências ressaltam duas:• Os bloqueamentos de tráfego, mais insuportáveis

em Luanda, mas com uma expressão, do mesmo modo, preocupante, noutras capitais de província, como, por exemplo, Benguela. Não é viável instalar e pretender desenvolver um pólo industrial em Viana (�� km de Luanda), quando para lá se chegar demora-se, nos melhores dias, cerca de � horas.

• O permanente défice no fornecimento de electricidade e água a Luanda e a outras cidades potencialmente apetrechadas para se tornarem em pólos agregadores de iniciativas económicas privadas.

Estes obstáculos interferem com a criação dum clima geral de negócios apetecível e de confiança, uma vez que não é unicamente da burocracia excessiva que os potenciais investidores se queixam.

Não obstante as reformas que o Governo tem vindo a fazer no domínio da facilitação do registo de novas actividades económicas, parece continuarem vivos e actuantes bloqueios importantes à iniciativa privada. Provavelmente, só a circunstância de o país estar a crescer aos ritmos conhecidos é que contribui, decisivamente, para não haver retraimento no investimento privado, particularmente estrangeiro��. Este investimento tem crescido, apesar de subsistirem entraves administrativos fortes à liberdade para fazer negócio.

O Banco Mundial, na sua publicação anual Doing Business �007, coloca Angola como o ��6º pior para se fazer negócios, num ranking de �7� países. A nossa posição até piorou de �006 para �007, tendo ��Uma leitura mais ousada desta situação pode levar à conclusão de que uma boa parte do investimento estrangeiro é de mera oportunidade – fazer dinheiro rápido e procurar outras paragens – e não portador de futuro e de contributos para a reestruturação e modernização da economia angolana.

descido um lugar. Outros indicadores avaliados por esta publicação dão conta das seguintes posições para Angola: �70ª na abertura de empresas, ��6º na obtenção de alvarás, �67º na liberdade de contratação laboral, �6�º no registo de propriedade, 8�º na obtenção de crédito, �6º na protecção do investimento privado, ���º no pagamento de impostos, ���º no cumprimento de contratos e ���º no fechamento de empresas.

A pobreza e a desigual repartição do rendimento são duas das maiores resistência ao desenvolvimento económico sustentável e socialmente mais inclusivo e justo. Eventualmente, mais do que a corrupção – mormente a que serve de complementaridade salarial – os níveis actuais de pobreza e de exclusão social são barreiras ao progresso e ao desenvolvimento humano e à obtenção dos objectivos do milénio. O valor de 0,6� do Índice de Gini, em �00�, sinaliza uma enorme disparidade na distribuição dos rendimentos. Entre os mais importantes países produtores de petróleo, Angola é o que apresenta a pior repartição do rendimento nacional��.

A desigualdade de oportunidades joga, também, no sentido de obstruir um desenvolvimento mais humano e menos ostracista. A desigualdade de oportunidades é visível em dois aspectos�6:

- na detenção de activos (habitação, meios circulantes, bens duradouros, etc.), em que o quintil dos mais ricos é o maior detentor deste tipo de bens. Estas diferenças são mais dramáticas na população rural, onde ��% está no quintil mais baixo e só �% no quintil mais alto;

- a capacidade de acesso aos serviços sociais básicos é directamente influenciado pelo nível de rendimentos familiares; por exemplo, o acesso ao ensino primário é de apenas ��% para o quintil mais baixo de rendimentos da população, enquanto para o quinto mais rico essa proporção chega ao 77% (mais do dobro).

A prestação de serviços públicos – determinante para a melhoria da produtividade económica – também se encontra distorcida, não apenas em termos de favorecimento dos rendimentos mais elevados da população, como, igualmente, em matéria da sua qualidade. Esta distorção acontece na educação e na saúde, em que são as áreas urbanas e os rendimentos mais altos os que mais se beneficiam destes serviços públicos.

��Banco Mundial: Angola – Memorando Económico do País, Outubro de �006, página 8. A Nigéria (0,��), os Camarões (0,��), a Argélia (0,��) e o Egipto (0,��) conseguem ser mais equitativos na repartição dos frutos do crescimento económico do que Angola.�6 Informações recolhidas nos dois MICS realizados pelo INE em parce-ria com o UNICEF.

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Vale a pena considerar, também, como uma condicionante estrutural interna a baixa taxa de escolaridade bruta combinada, pelas incidências desestruturantes sobre a criação duma capacidade técnica e científica e sobre a produtividade.

Em termos empresariais, as questões mais candentes são:

• Reconhecidas limitações de iniciativa empreendedora, de capacidade técnica e de gestão, acompanhada de insuficiente oferta de mão-de-obra especializada, qualitativa e quantitativa;

• Infraestruturas degradadas, com particular destaque para as estradas secundárias e terciárias, redes de caminhos-de-ferro deficientes ou inoperantes, portos, aeroportos mal apetrechados e demorados, deficiente abastecimento de electricidade e água, etc.;

• Degradação das estruturas produtivas das empresas e ausência ou enorme deficiência da indústria transformadora;

• Inadequado fornecimento de matérias-primas, por ineficiência dos fornecedores e dos serviços alfandegários;

• Fraca disponibilidade de insumos agrícolas, como fertilizantes e pesticidas, que chegam aos camponeses a preços muito altos;

• Deficiente rede de comercialização, influenciada negativamente pelo difícil acesso às vias rodoviárias;

• Infraestruturas de armazenamento e conservação dos produtos aquém das necessidades;

• Serviços financeiros e bancários insatisfatórios, em particular nas zonas rurais.

3.- SECTOR MONETÁRIO

3.1.- Introdução

O abrandamento da inflação em 2007, confirmou o sucesso da política monetária conduzida pelo Banco Nacional de Angola, baseada no controlo dos agregados nominais, fundamentalmente da base monetária como variável operacional, por meio de mecanismos de esterilização ex-ante e do controlo da taxa de câmbio como âncora do crescimento sustentável.

A inflação anual manteve a tendência de queda verificada nos últimos anos, fixando-se em Dezembro de �007 em ��,78%, o que representa um abrandamento de 0,�� pontos percentuais relativamente ao ano de �006 (��,�%). Não obstante um hiato de �,78 pontos percentuais relativamente a meta oficial do Governo

de 10%, o controlo da inflação foi satisfatório, confirmado a tendência de abrandamento contínuo. Com taxas anuais médias de crescimento acima dos 20%, taxas de inflação na vizinhança dos 10% são consideradas pelos especialistas como aceitáveis�7.

São responsáveis pelo desvio à meta de inflação, para além de alguma expansão monetária provocada pela aceleração do crédito e da base monetária, o aumento das reservas internacionais, os constrangimentos da oferta de bens e serviços, o forte congestionamento portuário e as intensas chuvas que se abateram sobre o país no I trimestre de �007. Os impactos negativos foram observáveis nas classes que mais penalizaram a inflação, como a “alimentação e bebidas não alcoólicas”, o “vestuário e calçado” e os “transportes”.

O controlo dos agregados monetários continuou a ser feito por meio da esterilização ex-ante das receitas fiscais petrolíferas destinadas à execução das despesas fiscais correntes em moeda nacional. A utilização judiciosa e equilibrada deste mecanismo teve como contrapartida efeitos moderados e controlados sobre a taxa de câmbio e a taxa de juro.

A rigidez da inflação observada no início do ano preocupou a autoridade monetária, levando-a a aplicar, a partir de Abril, uma política monetária muito mais restritiva. Assim, optou-se por incrementar as vendas de títulos e elevar as respectivas taxas de juro, para os tornar mais atractivos, aumentar as taxas de redesconto e agravar os níveis das reservas obrigatórias. Não obstante se ter mantido o coeficiente das reservas obrigatórias em ��% sobre a totalidade dos depósitos em moeda nacional e estrangeira, foi inicialmente reduzida de 7,�% para �% a possibilidade do seu cumprimento ser constituído por TBC, e posteriormente em Agosto, retida totalmente esta possibilidade, passando as reservas obrigatórias a serem constituídas integralmente por depósitos dos bancos no BNA em moeda nacional.

Com essa medida foi reduzida a posição excedentária tradicional de liquidez do mercado monetário, trazendo um desafio adicional à rentabilidade do sistema financeiro, na medida em que �/� das reservas obrigatórias deixou de ser remunerada.

A política cambial manteve-se como uma das principais âncoras do controlo da inflação. A apreciação nominal de 6,��% em �007 seguramente que se reflectiu positivamente sobre o índice de

�7 Ver Michael Bruno, estudo já citado mais atrás.

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inflação, ao tornar as importações provenientes da zona dólar mais baratas. O comportamento da taxa de câmbio foi pressionado pelo elevado montante das reservas internacionais e o saldo positivo da balança comercial. A avalanche de entrada de recursos externos permitiu ao Banco Central não apenas intervir activamente no mercado cambial, um dos pilares da esterilização ex-ante, com a venda de USD 6718,63 milhões, como, também, aumentar substancialmente o stock das reservas internacionais. As reservas internacionais continuaram a registar crescimentos sustentáveis, cerca de �0�� milhões de dólares, elevando o seu montante para ����� milhões de dólares em Dezembro de �007.

As operações do mercado monetário, outro pilar da esterilização dos excedentes de liquidez, pela emissão de Títulos do Banco Central (TBC), contribuíram para a estabilidade monetária e a redução das pressões inflacionistas na economia, suavizando a apetência ao consumo. A intensificação da oferta de títulos a partir do I trimestre teve como consequência o aumento das suas taxas de remuneração, tornando-as positivas, em termos reais, e competitivas relativamente às demais aplicações propiciadas pelo sistema financeiro nacional.

Apesar do forte controlo sobre os agregados nominais, a base monetária – que se manteve em �007 como a meta operacional da política monetária – expandiu-se 60,�% em termos nominais e ��,6% em termos reais, como consequência do forte aumento dos depósitos do bancos no BNA, que se elevaram ���%, devido, em parte, à alteração da forma de recolhimento das reservas obrigatórias acima referida.

O crescimento dos meios de pagamento M� em ��,�% em termos nominais representou um efeito menor da base monetária, o que denota a redução do multiplicador monetário sobre os meios de pagamento. Dos seus componentes, o agregado M� expandiu-se em ��,�% em termos nominais, enquanto que a quase-moeda manteve-se constante, com uma variação de apenas �,8%. Devido à sua forte expansão o rácio M�/PIB estabeleceu-se em ��,�%, enquanto que a proporção M�/PIB se estabeleceu em ��,�%, �,6 pontos percentuais a mais que em �006.

A expansão dos meios de pagamento totais (M�) ocorreu fundamentalmente na componente em moeda nacional, tendo pela primeira vez o seu saldo ultrapassado o stock em moeda estrangeira, numa proporção de ��% contra ��%. A preponderância dos activos em kwanzas é consequência da sua apreciação face ao dólar e do aumento da remuneração das

aplicações em moeda nacional, indiciando o início de um processo de desdolarização dos activos e passivos (depósitos) no sistema bancário.

O crédito do sistema bancário à economia expandiu-se mais rapidamente que os depósitos totais – 7�,�% contra �0,6% - revelando-se um dos impulsionadores, ainda que, por enquanto, tímido, do crescimento da economia nacional. O incremento do crédito ao sector privado foi de 76,�% e do crédito em moeda estrangeira de 8�%. Esta situação levou ao aumento da taxa de transformação do crédito em depósitos de ��% em �006 para 66% em �007.

A expansão do crédito está, concerteza, ligado ao actual momento de euforia económica que o país vive, com o aumento das oportunidades de investimento, o maior acesso à intermediação financeira, com abertura de novas instituições e expansão da rede bancária, a domiciliação de salários, o aumento da oferta imobiliária, a redução do efeito de crowding out, devido à regularização das dívidas pelo Estado, e o maior acesso às fontes de financiamento externas. A redução geral das taxas de juro – ainda que as relativas à moeda externa se tenham muito ligeiramente valorizado – não teve o mesmo impacto sobre a expansão do crédito interno.

Para além do sector privado, o Estado beneficiou, igualmente, do crédito bancário em �007, através de operações de sindicância financeira. Os bancos tomaram firmes financiamentos ao Estado, através da emissão de obrigações do Tesouro, maioritariamente em moeda externa, destinados aos programas de investimento público e de reconstrução, com prazos dilatados e taxas médias de remuneração ao nível do mercado internacional, num nítido sinal de solidez e de confiança do sistema financeiro na estabilidade macroeconómica.

Em síntese, a manutenção da concertação na execução das políticas monetária e fiscal, contribuiu para a consistência e solidez dos bons resultados alcançados ao nível da política monetária, nomeadamente o contínuo abrandamento e controlo da inflação, o aumento das reservas externas, a valorização da moeda nacional e o aumento da poupança em moeda nacional.

3.2.- Política monetária e cambial

O controlo e abrandamento da inflação manteve-se como prioridade das políticas monetária e cambial conduzidas pelo Banco Central, em estreita concertação semanal com a execução fiscal, com

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vista a assegurar o cumprimento do mecanismo da esterilização ex-ante dos fluxos cambiais das receitas fiscais petrolíferas destinadas à execução fiscal em moeda nacional.

Para o controlo dos agregados monetários, o Banco Central valeu-se de um mix de instrumentos, combinando instrumentos modernos de mercado, como a intensificação das operações de mercado monetário e cambial, com instrumentos discricionários e extemporâneos, como as reservas obrigatórias e a taxa de redesconto.

Perante indícios de resistência no controlo da inflação no decurso dos primeiros meses de 2007, a autoridade monetária tornou a política monetária mais restritiva, com vista a secar os excedentes de liquidez tipicamente revelados pelo sistema bancário angolano. Inicialmente reduziu e posteriormente retirou os TBC da modalidade de cumprimento das reservas obrigatórias, passando esta a constituir-se na totalidade por depósitos em moeda nacional, mantendo a base de incidência de ��% sobre os depósitos em moeda nacional e estrangeira, acabando com a remuneração total das reservas obrigatórias e tornando mais apertada a rentabilidade dos bancos.

Na vertente de mercado, foi aumentada a oferta de títulos nos leilões semanais de venda pública aos bancos, deixando a taxa flutuar para patamares positivos em termos reais e elevada a taxa de redesconto, de ��% em Dezembro de �006, para �8% em Junho e ��,�% em Dezembro de �007.

No mercado cambial foram, igualmente, intensificadas as operações de venda de cambiais, favorecida pelo aumento da disponibilidade de cambiais, face ao aumento do da produção e preço do petróleo bruto no mercado internacional.

Os esforços das autoridades no controlo da inflação revelaram-se consistentes, apresentando-se estável, embora acima dos níveis desejados. Observou-se uma desaceleração da inflação homóloga a partir de Agosto, invertendo a tendência de aceleração manifestada nos primeiros meses do ano.

O comportamento mensal da inflação revelou variações sazonais, tendo, a exemplo do ano anterior, os meses de Julho, Novembro e Dezembro sido os mais críticos. As pressões inflacionistas no final do ano estão ligadas ao aumento da procura em função do aumento do rendimento das famílias com o pagamento do ��º mês de salários.

A política cambial, levada a cabo pelo Banco

Central, teve por objectivo servir de âncora à estabilidade de preços. O quadro de referência da política cambial caracterizou-se pela posição de maior provedor de cambiais à economia desempenhado pelo Banco Central e pela estratégia de esterilização ex-ante dos impostos fiscais petrolíferos destinados a cobrir as despesas públicas em moeda nacional.

Estes dois factores levaram a que o Banco Central interviesse intensamente no mercado cambial, através de leilões realizados diariamente, tornando a venda de divisas um objectivo fundamentalmente de política monetária, tentando, contudo, não provocar excessivas variações na taxa de câmbio, com efeitos nefastos no balanço do Banco Central e nas receitas pelo Tesouro Nacional. Para garanti-lo, o Banco Central realizou diariamente múltiplos leilões de divisas ao estilo holandês, com reduzida oferta, garantindo maior estabilidade da taxa de câmbio. Esta política apresentou-se sustentável num momento em que a economia é agraciada com a abundância de recursos externos. Com esta política é, igualmente, assegurada uma acumulação consistente das reservas internacionais.

Em resumo, o Banco Central conduziu, em �007, uma política monetária e cambial com vista a limitar a expansão dos agregados monetários, fundamentalmente da base monetária, para garantir a desaceleração da inflação, em conformidade com a meta governamental. Os resultados apareceram ao nível do controlo da inflação, da redução das taxas de juro (créditos em moeda nacional), da credibilidade da moeda nacional, da expansão do crédito ao sector privado, da desdolarização dos depósitos, da credibilidade da autoridade monetária e da organização dum sistema financeiro moderno, mais direccionado a intermediação financeira.

3.3.- Mercado cambial e taxa de câmbio

O mercado cambial angolano, como já referido, manteve-se profundamente influenciado pela actuação do Banco Central. A gestão discricionária das sessões de vendas de cambiais induziu a uma flutuação suja da taxa de câmbio, visando objectivos de política monetária, como reflectido no gráfico que se segue.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

Como resultado desta gestão cambial, a taxa de câmbio apreciou-se em termos nominais de 6,�% em �007 no mercado formal, contrariamente à estabilidade registada no ano de �006. Em termos reais, ocorreu um aprofundamento da apreciação cambial de �,8% em �006 para ��,�% em �007.

A apreciação da taxa de câmbio ocorreu, fundamentalmente, nos primeiros cinco meses do ano, com maior incidência no mês de Maio, quando os indícios de aceleração da inflação eram fortes. Esta circunstância aconselhou o Banco Central a intensificar a venda de cambiais, para além de outras medidas, já referidas. A maior disponibilidade da

oferta de cambiais nos leilões e a menor liquidez dos bancos, levaram à apreciação da taxa de câmbio. Nos meses subsequentes, a taxa de câmbio nominal de referência manteve-se estável, devido ao maior equilíbrio na utilização dos instrumentos de política monetária pelo Banco Central.

Devido à estabilidade da oferta e à facilidade de compra de moeda estrangeira nos bancos, o mercado de câmbios paralelo/informal perdeu a sua expressão, limitando-se a pequenas operações de retalho, explorando a oportunidade e a escassez de casas de câmbio. Neste segmento de mercado, a taxa de câmbio USD/Kz apreciou-se mais acentuadamente que no mercado formal, cerca de 6,8�% em termos nominais e ��,76% em termos reais.

Em �007, o Banco Central vendeu ao mercado cambial interbancário um total de 67�8,6� milhões de dólares, assinalando um aumento de ��86,�� milhões comparativamente a �006. A maior procura por cambiais na economia reflecte igualmente o actual momento de euforia económica.

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��

A análise da relação entre o volume de venda de cambais pelo BNA, no mercado interbancário, e a taxa de câmbio de referência revela uma relação positiva em �007. Esta relação havia desacelerado em �006.

A análise mensal das transacções de cambiais no mercado interbancário revela que nos meses de Outubro (77�,� milhões de dólares) e Novembro (��6,� milhões) de �007 foram estabelecidos novos recordes de venda de divisas neste segmento de mercado (os montantes mais elevados até então foram os de Dezembro de �00�, com 6�6,6 milhões de dólares e Abril de �006, com ���,� milhões de dólares. Essa situação é, em parte, explicada pelo financiamento em moeda estrangeira concedido ao Tesouro Nacional pelo Sistema Financeiro angolano, através da sindicância financeira de bancos nacionais, sob a forma de Obrigações do Tesouro denominadas em moeda estrangeira, destinado ao programa de reconstrução nacional, que ocorreu em Novembro de �007. Algumas instituições dirigiram-se ao Banco Central para adquirir os cambiais para subscrever o financiamento, pressionando a procura de divisas e reduzindo o volume de reservas internacionais.

A compra de cambiais do Banco Central aos bancos no mercado interbancário foi, como habitualmente, marginal, num total de 7� milhões de dólares, tendo esta venda decorrido da necessidade de liquidez

em kwanzas por parte de algumas instituições, para cumprimento das reservas obrigatórias em função da alteração do seu regime.

A entrada de receitas cambiais adicionais, devida à explosão do preço de petróleo no mercado internacional, facilitou a actuação do Banco Central e a acumulação de reservas internacionais, que aumentaram cerca de �7% em �007.

3.4. Mercado monetário e taxas de juro

As transacções no mercado monetário ganharam maior dinamismo, por uma série de razões: aumento do volume de transacções, diversidade de títulos emitidos e alteração dos mecanismos de realização dos leilões – assumindo o papel de importante instrumento de política monetária no controlo da liquidez – e financiamento do crescimento económico.

Como já referido, em Abril, devido à ameaça de aceleração da inflação, foram introduzidas alterações no funcionamento dos leilões. O Banco Central passou a anunciar, não apenas o volume total de títulos e as maturidades disponíveis no leilão, mas, também, as taxas de referência máximas, positivas em termos reais, criando uma curva de taxa de juro decrescente a médio e longo prazo, em conformidade com as expectativas de desaceleração da inflação. Desse modo, a taxa de juro dos títulos de �� dias passou a ser a mais elevada e de referência no mercado. Igualmente, o Banco Central voltou a emitir títulos de �� dias de maturidade, para efectuar um fine tunning sobre a liquidez de curto prazo, e aumentou o volume de oferta de títulos em leilão.

Os TBC foram os únicos títulos de curto prazo emitidos em leilão em 2007. O Tesouro Nacional não emitiu Bilhetes do Tesouro por não possuir dificuldades de tesouraria, concentrando a actuação no mercado e na emissão de Obrigações do Tesouro em moeda nacional (OT-MN) e estrangeira (OT-ME) de longas maturidades, quer para regularizar atrasados com fornecedores, como para financiar projectos de investimento público e a reconstrução nacional.

A procura por TBC elevou-se em função da subida da sua taxa de remuneração e da apreciação da taxa de câmbio. Foram emitidos, em �007, um total de �8�887 mil de unidades, com o valor nominal de �8�,8 mil milhões de kwanzas, representando um aumento de �0�,7%, comparativamente às ����8� mil unidades emitidas em �006.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

Os TBC de 91 dias foram os mais procurados, representando ��% do total das emissões, pelo facto de apresentarem a maior taxa de remuneração, seguido dos títulos de �8� e �6� dias, com ��% e ��% respectivamente, considerando as suas taxas de remuneração, superiores às demais maturidades.

Com as referidas emissões de títulos, o stock de TBC em mercado elevou-se para 212 mil milhões, contra ��� mil milhões de kwanzas em �006, representando um aumento de 8�,7%. Do referido stock, 48% constituem TBC de 364 dias, 24% de 91 dias e ��% de �8� dias. Os restantes 6% repartem-se entre as maturidades de 6�, �8 e �� dias.

A alteração das regras dos leilões de títulos permitiu a elevação das taxas de juros nominais, que cresceram significativamente no II trimestre, mantendo-se estável no segundo semestre de �007.

As taxas de juro dos TBC de 91 dias elevaram-se em 8,7 pontos percentuais, ao passarem de 6,��% a.a. em Dezembro de �006, para ��,��% a.a. em Dezembro de �007. A elevação das taxas de �8� dias e �6� dias no mesmo período foi de 7,6� e �,�� pontos percentuais respectivamente, atingindo a

taxa, em Dezembro de �007, ��,��% a.a. e ��% a.a., respectivamente. Em Dezembro de 2007, os TBC de �� dias eram remunerados à taxa de ��,��% a.a., os de �8 dias a ��,8�% a.a., e os de 6� dias à taxa de ��,6�% a.a.

Com a elevação das taxas de juro dos títulos, voltou a ocorrer o distanciamento dos bancos da posição de indiferença entre a constituição de reservas excedentárias e a concessão de crédito, afastando-se do risco da armadilha de liquidez, reduzindo o montante excedentário das reservas voluntárias. Este movimento de correcção das taxas de juro deveu-se, principalmente, à expansão da oferta de títulos em mercado, à normalização da liquidez e ao aumento do prémio de emissão.

Com a elevação das taxas de juro o seu valor, em termos reais, passou a ser positivo, entre Abril e Novembro,�8 tornando as aplicações em títulos as mais vantajosas em mercado para os activos em moeda nacional e estrangeira, explicando em parte, a forte expansão dos depósitos em moeda nacional (8�,�%) e a conversão de grande parte da poupança em moeda nacional, iniciando-se o processo de desdolarização dos depósitos no sistema bancário.

O Tesouro Nacional continuou, em 2007, a proceder à emissão directa, junto dos credores do Estado, de Obrigações do Tesouro em moeda nacional (OT-MN) indexadas à variação cambial, de entre 1 a 7 anos de maturidade, com vista à regularização de dívidas mantidas com fornecedores, remuneradas à taxa fixa de 4% a.a.. Em 2007, foram emitidas OT-MN com este propósito equivalente a cerca de ��7 milhões de dólares, representando um aumento de �0%, comparativamente ao ano anterior, em que foram emitidas OT-MN com o valor equivalente a �7� milhões de dólares.

Com vista a capitalização do BDA o Tesouro Nacional emitiu cerca de 40 milhões de dólares em OT-MN indexadas à variação cambial, com maturidades de 2 a 7 anos e remuneração fixa de 6% a.a.�8 À excepção das taxas de juro dos títulos de �� dias.

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��

A exemplo do ocorrido em �00� e �006, no exercício de 2007 o Tesouro Nacional deu continuidade ao programa de financiamento bancário doméstico de investimentos públicos, liderado por sindicatos de bancos nacionais, com o compromisso da tomada firma da quase totalidade das necessidades dos projectos, através da emissão directa de Obrigações do Tesouro, na sua maioria em moeda estrangeira, ou em moeda nacional indexadas à variação cambial, com remuneração semestralmente à taxa anual variável. Contudo, em �007, foi alargada a magnitude destes financiamentos e conseguidas condições mais favoráveis de crédito com prazos dilatados de 8 a �� anos, quando a experiência anterior era de � a 7 anos, e spreads inferiores aos anteriores, situando-se nos patamares dos créditos bancários externos. Como líderes das sindicâncias financeiras destacam-se o BAI, o BESA, o BFE e o BPC e de entre os projectos financiados, os seguintes:

- Financiamento das infraestruturas do Projecto habitacional “Nova Vida Fase II” que teve início em Dezembro de �006, tendo sido, emitidas em 2007 OT-MN no montante equivalente a cerca de �0� milhões de dólares, elevando o seu stock para ��� milhões de dólares, do montante total previsto de ��7 milhões de dólares a ser emitido até 2008. As referidas OT-MN são indexadas à variação cambial, com maturidade de � a 7 anos e remuneradas semestralmente à taxa variável (libor + � bp);

- Programa de Investimentos Públicos de Cabinda (PIP Cabinda), em que foram emitidas em �007 OT-ME, no montante de cerca de 125 milhões de dólares, do montante total de ��0 milhões de dólares, cujo término está previsto para Abril de 2008. As OT-ME foram emitidas a com maturidade de 8 a �� anos, e remuneradas semestralmente à taxa variável (libor + �,7� bp);

- Programa de Financiamento de Investimentos Públicos de Infraestruturas rodoviárias e energia eléctrica (PIP), em que foram emitidas em 2007, OT-ME no montante de 400 milhões de dólares, com maturidade de 8 a �� anos e remuneradas semestralmente à taxa variável (libor + �,� bp);

- Programa de Reconstrução Nacional, cujo montante total previsto até �0�0 é de �,� mil milhões de dólares, de maturidade de � a �0 anos, havendo já o compromisso de tomada firme de 85% do financiamento pelos bancos nacionais, foram emitidas em Novembro de �007, o montante de mil milhões de dólares em OT-ME com maturidade de 5 anos e remuneradas semestralmente à taxa variável (libor + �,�� bp);

Estas emissões vieram juntar-se às emissões de Obrigações do Tesouro realizadas nos anos anteriores, destinadas ao financiamento da nova frota da TAAG, de �00 milhões de dólares realizada em �00�.

O stock total de Obrigações do Tesouro em MN e ME, a �� de Dezembro de �007 atingiu o montante histórico de � mil milhões de dólares, dos quais, �7% de emissão directa aos credores do Estado, ��% do Programa de Reconstrução Nacional, ��% do Programa de Investimento Público, �% da renovação da frota da TAAG, 4% do PIP Cabinda, e do Projecto Nova Vida fase II, �% de emissão directa ao BNA para financiamento de défices operacionais, e 1% de emissão directa para a capitalização do BDA.

Este programa de financiamento bancário ao

Estado, através da emissão de Obrigações do Tesouro, tem servido de estímulo ao desenvolvimento do mercado monetário e à captação da poupança nacional e estrangeira, através das transacções dos referidos activos no mercado secundário e a investidores nacionais e não residentes cambiais, embora num volume ainda reduzido, pois que os bancos na sua maioria preferem ficar com o rendimento integral dos activos, não promovendo o desenvolvimento do mercado secundário, que se encontra ainda incipiente. Por outro lado, o desenvolvimento do mercado passa pela criação de instituições financeiras como distribuidoras e correctores, figuras ainda inexistentes em Angola.

O facto das obrigações emitidas serem, na sua maioria, em moeda estrangeira, e mesmo quando não o são, serem indexadas à variação cambial, tem pressionado a procura de divisas no mercado de câmbios, facto actualmente sustentável devido à conjuntura internacional favorável, mas que contraria os esforços da autoridade monetária em

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��

valorizar a moeda nacional e a desdolarização da economia. Neste particular, as políticas monetária e fiscal andam de costas viradas, porquanto do lado fiscal imperam questões de racionalidade micro-económica, a minimização de custos, considerando que o mercado exigiria uma remuneração mais elevada em moeda nacional, possivelmente indexada à inflação e de menor maturidade, do que exige em moeda estrangeira. Contudo, uma concertação das duas políticas neste particular poderia lucrar ganhos monetários mais significativos dos que os conseguidos, embora pudessem implicar maiores custos orçamentais presentemente, com tendência a reduzirem-se no futuro.

O mercado monetário interbancário deu sinais de vitalidade em �007, registando um aumento da tomada de fundos entre as instituições de crédito sem garantia de títulos, tendo sido realizadas ��7� transacções, no montante total de ���� milhões de kwanzas, assinalando um aumento de �,6% relativamente ao ano anterior cujo volume de transacções foi de �6� mil milhões de kwanzas. As transacções de liquidez, neste segmento de mercado, foram maioritariamente de muito curto prazo, entre � a 7 dias, e destinaram-se, fundamentalmente, a cobrir necessidades tesouraria, para cumprimento das reservas obrigatórias. As taxas de decência de fundos entre as instituições conheceram o mesmo comportamento dos títulos do Banco Central, tendo-se elevado de �,6�% a.a. em Janeiro de �007, para 8,�� a.a. em Junho e ��,��% a.a. em Dezembro.

As operações de redesconto constituem um dos instrumentos de política monetária, levado a cabo pelo Banco Nacional de Angola como credor de última instância. A taxa overnight de decência de fundos pelo Banco Central manteve-se indexada à taxa mais elevada dos TBC, publicadas semanalmente, reflectindo uma postura restritiva por parte da política monetária numa situação de excesso de liquidez, típico do sistema financeiro angolano. A taxa de redesconto passou de ��% em Dezembro de �006, para �8,�% em Junho e ��,�7% em Dezembro de �007. O número de operações de redesconto em �007, foi de cerca de 7�8 transacções num montante total de 7�� mil milhões de kwanzas.

3.5.- Taxas de juros do sistema bancário

O sistema de recolha e compilação de taxas de juro, com o apuramento com base na média ponderada, tem-se revelado frágil, não reflectindo, por vezes, com verdade a tendência comportamental das mesmas. Contudo, por falta de outra informação, a nossa análise

baseou-se na única informação compilada disponível, na qual se pode observar o comportamento das taxas de juro dos créditos e depósitos em moeda nacional e estrangeira.

As taxas de juro nominais em moeda nacional decresceram, confirmando a tendência de maior estabilidade da moeda nacional e da desaceleração da inflação.

A taxa de juro nominal dos créditos até �80 dias reduziu-se em 0,6� pontos percentuais, ao passar de ��,8�% a.a. em Dezembro de �006 para ��,�0% a.a. em Dezembro de �007. Para os créditos de mais � ano, o decréscimo foi mais acentuado, de �,�� pontos percentuais, ao passar de ��,�8% a.a. para 8,77% a.a.. Nos créditos de �8� dias a � ano ocorreu um aumento de �,0� pontos percentuais, passando de 8,��% para 12,44%, contudo aqui vale a ressalva da influência do cálculo das taxas médias ponderadas.

As taxas de juro dos créditos em moeda estrangeira reflectiram uma trajectória diferente dos créditos em moeda nacional e da tendência internacional, tendo aumentado devido ao incremento da procura. Estes aumentos foram de 0,�� pontos percentuais para a maturidade até �80 dias, �,�� pontos percentuais para a maturidade de �8� dias a � ano e �,8� pontos percentuais para a maturidade de mais de � ano.

As taxas de juro nominais dos depósitos em moeda nacional conheceram uma evolução em linha com a variação da remuneração das taxas de juro dos TBC, isto é, elevaram-se, em �007, 0,�0 pontos percentuais para os depósitos a prazo, �,�� pontos percentuais para as aplicações até �0 dias e �,�8 pontos percentuais para as aplicações de �� a �80 dias.

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�6

As taxas de juro dos depósitos em moeda estrangeira (dólares americanos) manifestaram um movimento idêntico ao da remuneração da poupança em moeda nacional, elevando-se, embora de forma mais tímida, à excepção dos depósitos à ordem.

O aumento mais acentuado verificou-se nos depósitos de mais curto prazo até �0 dias, em que o aumento foi de �,0� pontos percentuais.

3.6.- Agregados monetários

As contas agregadas do sistema financeiro angolano assinalaram um forte crescimento em �007. Os activos externos líquidos do sistema financeiro apresentaram uma variação nominal de ��,�8%, ao elevarem-se para �0�� mil milhões de kwanzas, equivalentes a ��,6 mil milhões de dólares (�� mil milhões de dólares em �006).

A sua expansão é explicada pelo forte aumento das reservas internacionais líquidas do Banco Central (�8%), correspondente a um stock, em �� de Dezembro de �007, de ��,� mil milhões de dólares (um incremento de � mil milhões de dólares). Comparativamente a �006, a taxa de crescimento das reservas internacionais foi menor, uma vez que o seu incremento foi de �,� mil milhões de dólares, não obstante o aumento dos preços médios de exportação de petróleo de 6�,0� dólares em �006 para 70,� dólares em �007, e da produção petrolífera em �0,�% em �007.

Os activos externos líquidos dos bancos decresceram, pela primeira vez, em ��,��%, ao passarem de ��� mil milhões de kwanzas em �006, para �8�,� mil milhões de kwanzas em �007. A redução dos activos externos deveu-se ao financiamento pelos bancos dos programas de investimentos públicos do Governo, através da subscrição das OT-ME acima referidas, desmobilização de reservas para cumprimento da exigibilidade em moeda nacional e aplicações em activos em moeda nacional devido à apreciação da taxa de câmbio e ao aumento da rentabilidade dos activos.

A partir de �00� é possível observar uma aceleração do crescimento e acumulação das reservas internacionais pelo Banco Central, comparativamente aos activos externos do sistema bancário, reflectindo a melhoria das contas externas do país pelas razões já apontadas, e uma desmobilização dos activos em moeda estrangeira pelos bancos devido à apreciação cambial.

O crédito interno líquido conheceu, em �007, uma forte expansão, de cerca de ���,7% em termos nominais, representando um aumento de ��6 mil milhões de kwanzas em termos absolutos. Este crescimento foi induzido pela expansão do crédito à economia em 7�,�8%, enquanto que o crédito líquido ao Estado se contraiu em �,0�%, por força da expansão dos depósitos do Governo em �7,7 mil milhões de kwanzas, evidenciando a maior arrecadação de receitas, devido ao crescimento económico.

A expansão do crédito à economia em ��� mil milhões de kwanzas, equivalente a ���8 milhões de dólares, reflecte o actual momento de crescimento, sendo este responsável pelo aumento do investimento privado. A expansão do crédito ao sector privado foi de 76,��% e às empresas públicas de ��,��%. A expansão do crédito foi mais acelerada em moeda estrangeira, em 7�,��% do que em moeda nacional, 71,63%, reflectindo a preferência dos devedores, explicada pela apreciação da moeda nacional e as taxas mais baixas dos créditos denominados em moeda estrangeira.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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A expansão do crédito levou ao aumento da taxa de transformação do crédito em depósitos de ��% em �006 para 66% em �007 e constituiu um elemento determinante para a expansão dos meios de pagamento, via multiplicador monetário, exercendo pressão sobre a inflação.

O M� registou um crescimento nominal de ��,�% em termos nominais, e ��,�% em termos reais, enquanto que o crescimento do M� foi ligeiramente mais acentuado, de �8,�% em termos nominais e ��,7% em termos reais, evidenciando uma variação pouco expressiva da quase-moeda de �,8%, em termos nominais. Comparativamente a 2006, verificou-se uma desaceleração do crescimento destes agregados (o M� cresceu �7% em �006), evidenciando a efectividade do aperto na política monetária realizada pelo Banco Central a partir do II trimestre de �007.

A expansão do M� foi induzida pela forte expansão dos depósitos em moeda nacional, que cresceram, à ordem, em termos nominais 80% e a prazo em ��8,�%. Este crescimento dos depósitos é consequência da forte expansão da economia e reflecte a valorização da moeda nacional face ao dólar, levando os agentes económicos a preterirem poupanças em moeda estrangeira, acumulando-as em moeda nacional.

Contudo, como reflexo do passado de instabilidade da moeda nacional, a actual estrutura dos depósitos é ainda constituída, maioritariamente, por depósitos em moeda estrangeira, cerca de 6�% do total, observando-se, contudo, a sua redução, relativamente a �006 (7�%).

O M�, sob efeito da expansão da subscrição de activos (títulos) pelo público de ��0,�% em termos nominais, registou um crescimento mais acentuado do que o M�, de ��,�%, em termos nominais e ��,�% em termos reais. Comparativamente ao ano anterior, observamos, igualmente, uma desaceleração, pois que este indicador havia-se expandido cerca de 60%.

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Como reflectido nos gráficos, a expansão dos meios de pagamento ocorreu, fundamentalmente, na componente em moeda nacional, tendo o seu stock, no total dos meios de pagamento (M�), ultrapassado a componente em meda estrangeira, numa proporção de ��% contra ��%. A preponderância dos activos totais em kwanzas no sistema financeiro deve-se à apreciação do kwanza face ao dólar e ao aumento da remuneração das aplicações em moeda nacional, com destaque para as aplicações em títulos, indiciando o início do processo de desdolarização.

A expansão da base monetária em 60,�% em termos nominais em �007, esteve em linha com a expansão do M� e ocorreu na sua componente de depósitos dos bancos, que aumentaram 121%, reflectindo as alterações introduzidas ao nível do cumprimento das reservas obrigatórias e a forte expansão das reservas internacionais líquidas. A reserva monetária conheceu um crescimento mais acentuado, de 7�,�% devido ao aumento das emissões de TBC pelo BNA.

3.7.- O Sistema financeiro

A expectativas mantidas sobre o sector financeiro angolano foram confirmadas, constituindo uma das actividades que mais cresceu em �007.

Vários indicadores confirmam a expansão do sector, nomeadamente o aumento da concorrência, com a entrada em actividade de dois novos bancos, o VTB-Àfrica e o BANC-Banco Angolano de Negócios e Comércio, S.A, elevando o número de bancos em actividade para �7, dos �� bancos já autorizados e � à aguardar por autorização. A expansão fez-se sentir igualmente no aumento do número de agências e balcões dos bancos em ��0 em �007, elevando o seu número para �0� em Dezembro de �007. A relação M�/PIB não obstante se ter elevado em �,6 pontos percentuais, manteve-se ainda insatisfatória em ��%, relativamente à média da Africa subsariana, à volta de ��%, e dos países desenvolvidos, em torno de 80%.

Contudo, no comércio manual de câmbios a situação deteriorou-se, tendo ocorrido encerramento de algumas casas de câmbio, encontrando-se a funcionar apenas �� das �� existentes no ano passado. A maioria das casas de câmbio em funcionamento encontram-se em Luanda (8) e as restantes situam-se no Lubango (�) e no Sumbe –Kuanza-Sul (�).

O crescimento e a estabilidade macroeconómica contribuíram para a expansão e bom desempenho da actividade bancária. Os activos totais do sistema bancário expandiram-se ����,6 mil milhões de

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

kwanzas, assinalando um crescimento nominal de 6�%, contra �6% no ano anterior. Descontado o efeito inflacionista o crescimento real dos activos totais foi de ��%, mais robusto do que em �006, de ��%.

O crédito de clientes manteve-se em �007 como o activo de maior peso dos investimentos do sistema bancário, com ��% do total, contra ��,�% no período homólogo, acentuando a tendência dos últimos anos de uma maior concentração da actividade bancária no core business, a intermediação financeira. Ainda ao nível dos investimentos, assinalou-se uma maior incidência no mercado de títulos, que subiu �,� pontos percentuais, quando havia reduzido � pontos percentuais em �006. Esta subida deveu-se ao aumento da oferta e das taxas de remuneração dos títulos em �007.

As Disponibilidades registaram uma contracção de �,�� pontos percentuais, à excepção das disponibilidades no Banco Nacional de Angola que se elevaram �,0�% comparativamente à �006, devido à alteração do regime de cumprimento das reservas obrigatórias.

A intermediação financeira pura, traduzida na taxa de transformação dos depósitos em crédito, registou um aumento, em termos nominais, de �� pontos percentuais em �007, representando cerca de 66% dos depósitos, contra ��% em �006. Este aumento está associado a uma maior orientação da actividade dos bancos para a intermediação financeira, face à estabilidade da moeda nacional e a redução da rentabilidade dos títulos. Este indicador é tanto melhor considerando a taxa de reservas obrigatórias de ��% e a obrigatoriedade de manter �0% dos depósitos em moeda estrangeira no exterior.

Os indicadores de crédito são animadores e indicam que as instituições financeiras têm cada vez desempenhado o papel de dinamizadores da actividade empresarial, contribuindo para o processo de estabilização e crescimento sustentável, que é favorecido pelo aumento das oportunidades de investimento e estabilidade. Os indicadores de crédito à economia, já acima referidos, são prova disso. Para além dos factores ligados à maior estabilidade e crescimento, a expansão do crédito ao sector privado é, também, o reflexo da redução do crowding out do crédito ao Estado sobre o crédito à economia.

Ao nível da estrutura dos passivos, os depósitos assumem a fonte tradicional de financiamento da actividade bancária com 77% do total do Passivo, registando um decréscimo de � pontos percentuais

relativamente ao seu peso em �006, de 80%. Os depósitos do sector privado mantiveram-se como a rubrica de maior expressão, representando 6�% dos recursos captados pelos bancos, registando um aumento de �0% em relação a �006, enquanto que os depósitos do sector público administrativo representaram ��% do total dos recursos, contra ��% em �006, apresentando uma expansão de cerca de �%.

Em termos de rentabilidade, o aumento da intermediação, a estabilidade macroeconómica e o crescimento económico, contribuíram para a expansão do produto bancário para 88,6 mil milhões de kwanzas, representando um aumento de ��,6 mil milhões de kwanzas relativamente ao ano transacto. A rentabilidade foi suportada por uma margem financeira de cerca de 52 mil milhões de kwanzas, representando cerca de �8% do produto bancário, contra ��% em �006. Não obstante o aumento das taxas de juro dos títulos em �007, o rendimento dos títulos sobre o produto bancário manteve-se abaixo das comissões que totalizaram �8% dos resultados dos bancos.

Em consequência do aumento acentuado dos investimentos dos bancos, que elevou o seu património em cerca de ��%, espelhado na expansão dos seus balcões e agências, a remuneração líquida dos activos (ROA) caiu para �,6% em �007, comparativamente a �,7 em �006.

O retorno dos capitais próprios investidos (ROE) foi de ��,�%, contra �8,7% em �006, representando uma redução deste indicador em cerca de �,� pontos percentuais, como consequência do aumento da concorrência, embora ainda pouco expressiva no sector bancário. Contudo, o nível do ROE é ainda elevado, e revela a alta rendibilidade do negócio bancário em Angola.

O cumprimento das normas prudenciais foi assegurado em �007, quer ao nível da adequação do capital, face ao risco dos activos, quer em termos de requisito de investimento. O capital mínimo dos bancos situou-se, em média, acima do mínimo regulamentar de � milhões de dólares e o rácio de solvabilidade foi de cerca de ��,8% em �007, contra �8,�% em �006, mantendo-se acima do padrão mínimo de regulamentar de �0%, em contrapartida, o endividamento total do sistema representou em média apenas 7,� vezes os fundos próprios, contra �,�� vezes em �006, situando-se muito abaixo das �� vezes, como limite regulamentado.

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O índice de imobilização do sistema, medido pelo rácio do activo imobilizado ao capital próprio dos bancos, situou-se ��,8%, reduzindo comparativamente aos �0,�% em �006, mantendo-se muito abaixo do valor recomendável que deveria ser de �0%. O crédito total do sistema no final de 2007 foi 3 vezes o valor dos fundos próprios, mantendo-se um indicador ainda conservador.

No que refere aos três principais riscos, nomeadamente o risco de crédito, o risco de variação cambial e o risco de liquidez, afiguram-se pouco preocupantes tendo reduzido em �007, sem contudo, a autoridade de supervisão bancária, ter descurado o necessário controlo sobre os mesmos.

Existe algum risco de crédito no sistema bancário angolano, que deriva de factores tais como, taxa de inflação acima dos dois dígitos, nível das taxas de juros que tende a elevar-se com o aumento da procura para os créditos em moeda estrangeira, fragilidade das garantias e do sistema judicial e os deficientes métodos de avaliação do perfil do mutuário por parte dos bancos, agravado pela ausência de uma central de riscos eficaz. Entretanto, no final de 2007 o risco de crédito reduziu-se, a qualidade dos activos situou-se em níveis aceitáveis, representando o crédito vencido, ou seja activos em risco de perda no total da carteira de crédito consolidada de �,�%, cerca de �,8 pontos percentuais a menos do que em �006, enquanto que o risco de erosão dos fundos próprios investido pelo conjunto das instituições bancárias situou-se em ��% contra �% em �006.

O risco cambial, que decorre do impacto da variação das taxas de câmbio sobre os posição activa e passiva dos bancos, reduziu-se em �007, devido a redução da posição longa dos bancos, de ��,8 mil milhões de kwanzas em �006 para �,� mil milhões de kwanzas em �007, tendo os bancos se precavido da apreciação cambial, aumentado o volume de operações financeiras bancárias em moeda nacional, em detrimento das aplicações no exterior, que se reduziram para ��� mil milhões de kwanzas em �007, comparativamente a �6� mil milhões em �006. Contudo, o facto da maior parte dos investimentos dos bancos ser ainda na moeda americana pode traduzir-se em perdas significativas ao sistema, caso ocorra uma apreciação brusca da moeda nacional em relação ao dólar americano.

O risco de liquidez, que decorre da incapacidade dos bancos em fazer face às suas responsabilidades à medida que se vão vencendo, situa-se a um nível relativamente preocupante. Os activos líquidos,

excluídos os títulos, representam cerca de ��,�% contra �6,�%, em �006, dos passivos a curto prazo do sistema, cujo desequilíbrio evidencia, a existência de algumas situações de aperto para alguns bancos, principalmente no cumprimento da reserva obrigatória, determinada pelo Banco Central. Outro factor de risco a considerar no sistema tem a ver com a ainda grande preferência pela liquidez por parte dos agentes económicos (depósitos a ordem versus depósitos a prazo pouco atractivos), explicada pela inflação e pelo ainda alto grau de dolarização da economia.

O risco operacional, não tem merecido a atenção devida da autoridade supervisora, por falta de instrumentos para a sua mensuração, levando-a a ser menos exigente, sem os princípios decorrentes das deficiências de controlo interno, de fraudes, de falhas de sistemas e outros factores externos, seja elevado no sistema. O risco de reputação decorrente da falta de confiança e segurança num banco ou no sistema, em razão de incumprimentos regulamentares, más práticas bancárias, erros de gestão, etc., é outro dos riscos que paulatinamente diminuiu no sistema bancário nacional em �007, face os grandes avanços registados nos dois últimos anos, nomeadamente à desaceleração da inflação e à valorização da moeda nacional.

4.- POLITICA FISCAL E ORÇAMENTAL

4.1.- Introdução

No quadro do processo de consolidação da estabilização macroeconomica e na perspectiva do alcance de níveis de crescimento sustentados, o Governo manteve como pilares para a política Fiscal e Orçamental para 2007 aqueles definidos nos anos de �00� e �006, a saber: (i) a consolidação da paz e da reconciliação nacional, (ii) a edificação das bases para a construção de uma economia auto-sustentada; (iii) o restabelecimento da administração do Estado em todo o país; (iv) o desenvolvimento dos recursos humanos; (v) o desenvolvimento harmonioso do território e (vii) a consolidação do processo democrático.

No tocante às acções especificas perspectivadas, traduzidas pela matriz de programas e actividades inscritas no OGE, destaca-se: (i) o melhoramento da prestação dos serviços sociais básicos e a promoção da harmonia social, tendo resultado num incremento percentual da função social de �8.8�% em �006 para �6% do OGE de �007. (ii) a consolidação do processo de estabilização macroeconômica garantindo a manutenção do crescimento moderado do nível geral

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de preços, o monitoramento da política monetária e cambial permitindo aferir de forma sistemática e controlada os factores de afectação da variação da base monetária tendo em presença as necessidades do gasto público. (iii) assistência total no domínio da criação de condições para a realização do pleito eleitoral, (iv) o apoio ao desenvolvimento privado por intermédio dos órgãos da administração indirecta do Estado (Fundos e Serviços Autônomos) e finalmente, dentre outros objectivos, o estimulo ao aumento do emprego e ao continuo ajustamento do poder de compra dos trabalhadores, dentre outros objetivos específicos.

Quadro Macroeconómico do Orçamento Geral do Estado para �007 Fonte: Ministério das Finanças Gabinete de Estudos Econômicos

Do ponto de vista macroeconómico, independentemente da continuada tendência crescente da produção e dos preços do petróleo, depreende-se um contínuo crescimento do sector não petrolífero acima das proporções dignas de reconhecimento. O Produto Interno registou um crescimento de três pontos percentuais e meio acima dos tectos inicialmente projectados, tendo sido possível registar uma taxa de crescimento estimada na ordem dos ��%. No domínio do monitoramento dos preços, a inflação manteve-se abaixo da meta em meio ponto percentual, fundamentalmente devido a factores estruturais de rigidez do lado da oferta, onde se destaca a alta incidência nos preços dos alimentos e do taxi colectivo.

4.2.- Metas e evolução recente

No domínio da Gestão orçamental, os desenvolvimentos de realce voltaram-se para a normatização do processo de descentralização municipal, tendo sido definidas as balizas para o preparo do Programa de Melhoria Municipal. A título experimental, �� Administrações Municipais foram transformadas em Unidades Orçamentadas ganhando competência para executar autonomamente a despesa pública sem dependência directa do Governo da Província, para cada um dos casos��.

��Foram atribuídos cerca de 23,1 milhões para cada Unidade Orçamental poder aplicar em áreas específicas de sua gestão.

No domínio da utilização da plataforma informática do SIGFE, iniciou-se também o processo de descentralização de funções até então executadas pela estrutura central, nomeadamente a autorização de créditos orçamentais por contrapartida interna em despesas do Pessoal, assim como a disponibilização de quotas financeiras por parte das Delegações Provinciais de Finanças de algumas províncias. Foram ainda feitos desenvolvimentos significativos no website do Ministério das Finanças, permitindo elevar os níveis de divulgação do Orçamento Geral do Estado e dos aspectos relacionados com a execução da política financeira do Estado. Hoje, o website do Ministério das Finanças constitui uma fonte dominante de estatísticas fiscais por parte das principais agências especializadas das Nações Unidas e das Organizações Internacionais especializadas. Presentemente, os grandes motores de pesquisa, possuem indexações do website do Ministério das Finanças, para obtenção de informações no domínio das Finanças Públicas.

No domínio aduaneiro e tributário, foram aprovadas um conjunto de normas ao nível do Comitê da Reforma Fiscal, visando definir os princípios e orientações para as linhas gerais da reforma do sistema fiscal, assim como apresentar as fundamentações e as variadas opções da reforma, permitindo identificar os escopos de actuação da reforma na componente administrativa, legislativa e da justiça tributária.

Ao nível dos incentivos fiscais e aduaneiros dirigidos para o Investimento Privado, foram aprovados inúmeros projectos, na sua maioria localizados no litoral, avaliados em ���,� milhões de dólares. Consequentemente, estes projectos beneficiam hoje de isenções fiscais relativas ao Imposto Industrial e à aplicação de Capitais

Ainda neste domínio, salienta-se o exercício do Ministério das Finanças no fortalecimento da capacidade de acompanhamento do desempenho do sector petrolífero, por parte da Direcção Nacional dos Impostos (Departamento de Regimes Especiais de Tributação), o que se tem mostrado bastante frutífero, garantindo a arrecadação das receitas do Estado devidas pelas companhias petrolíferas, despertando-as relativamente à obrigação de prover ao Ministério das Finanças fluxos de informação transparentes e fáceis de determinar os rendimentos fiscais do petróleo.

Com vista a elevar o desempenho da administração fiscal, foram reabilitadas algumas repartições fiscais no interior do país, com destaque para a Huila, o Bengo, oNamibe e Benguela. Igualmente foi expandido o Sistema de Gestão Tributária (SGT) e

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o Sistema de Gestão do Cadastro Tributário, nas mesmas localidades.

No domínio tecnológico, a Direcção Nacional das Alfândegas (DNA) procedeu à aquisição de equipamentos de scanning de alta capacidade, o que permitirá o alcance de níveis de produtividade consideráveis e à obtenção de resultados num ambiente de crescente eficiência. Na região norte, a DNA implementou o Sistema de Gestão de Informação Comercial (TIMS) e o Sistema de Gestão Tributária das Alfândegas (SGTA), nas bases aduaneiras do Kwanda e do Soyo.

No domínio da Gestão do Patrimônio não Financeiro, iniciaram-se as acções tendentes à implementação do Programa Nacional de Compras Públicas Eletrônicas (PNCPE), tendo como variados objetivos, entre outros (i) aumentar a qualidade dos bens e dos serviços adquiridos, (ii) aumentar a transparência do aprovisionamento público, (iii) promover a economia e o empreendedorismo nacional, (iv) contribuir para modernizar a administração pública nacional, (v) gerar ganhos significativos em termos de poupança e eficiência nas aquisições públicas; (vi) promover o comércio electrônico, a competitividade e a produtividade da economia nacional, assim como promover a imagem de Angola a nível internacional.

Com vista a salvaguardar um conjunto de princípios que enquadrem a generalização das compras públicas electrónicas, iniciou-se o processo de adequação da legislação, com vista a considerar aspectos tais como a publicitação dos concursos, o acesso aos concursos, os procedimentos aquisitivos electrónicos, os documentos electrónicos, a prova temporal, a assinatura electrónica, a factura electrónica, a confidencialidade parcial do conteúdo das propostas, a não discriminação da internet e a lista nacional de fornecedores. Igualmente, foram desencadeadas outras acções descritas abaixo.

• Preparo do Plano Geral de Harmonização das Contas (PCE, CE-Receitas e Despesas), face ao Classificador Geral (CG) do Cadastro e Inventário dos Bens do Estado (CIBE);

• Preparo do anteprojectos de legislação sobre gestão do patrimônio do Estado;

• Preparo de classificadores de bens patrimoniais;

• Levantamento da situação relativamente à inscrição na matriz predial e registo predial dos imóveis pertencentes ao Estado, para efeitos de elaboração do correspondente desenho do SIGPE e do inventário dos bens imóveis do Estado, do anteprojecto de diploma

sobre regularização matricial e registral e da regularização do registo e da inscrição matricial.

• Desenvolvimento de algumas funcionalidades do Sistema Integrado de Gestão Patrimonial do Estado (SIGPE) e

• Preparo da versão preliminar do Manual de Instruções de Inventariação dos Bens do Estado.

Quanto ao tesouro, as atenções garantiram a execução fluida da despesa pública provendo maior celeridade ao processo de pagamento dos salários dos servidores públicos, cujo universo é estimado em cerca de ���.��� funcionários e destes, apenas ��% estão bancarizados, não tendo sido possível alargar este número, devido à metodologia de trabalho que envolve esforços manuais significativos. Assim, com o objectivo de tornar mais célere o processo, o Banco Nacional de Angola e o Ministério das Finanças prepararam uma norma que visa, fundamentalmente, alargar a todos os bancos interessados a abertura de contas para funcionários públicos, ao invés de apenas o BPC, único operador actual. Esta iniciativa permitirá eliminar a dupla digitação das contas bancárias no sistema bancário por intermédio da concepção de uma interface entre o Sistema Integrado de Gestão Financeira do Estado (SIGFE) e o Sistema de Pagamento em Tempo Real (SPTR), para crédito imediato dos salários na conta de cada funcionário.

No domínio da Contabilidade PúbliCa, com vista a garantir a adaptação do Tribunal de Contas ao actual quadro de gestão das finanças públicas, foi criada uma comissão de trabalho conjunta que está a executar o Projecto de Implementação do Novo Modelo Operativo e Funcional do SIGFE , designado por Sistema Integrado de Gestão do Tribunal de Contas (SIGTC).

No ambito da implementação do sistema inteGrado de Gestão FinanCeira do estado,(SIGFE), deu-se continuidade ao desenvolvimentos dos módulos periféricos a saber: Integração do sistema de processamento de folha de vencimentos com o Sistema de Gestão de Recursos Humanos do Ministério da Administração Pública Emprego e Segurança Social (MAPESS), criação das Unidades Financeiras no âmbito da descentralização Financeira do Estado; Créditos Orçamentais Suplementar por categoria de despesa (Investimento, Dívida, Salário, Transferência e Bens de Serviço); desenvolvimento do Sistema de Gestão Financeira; desenvolvimento do Sistema de Gestão Patrimonial; desenvolvimento do Sistema de Gestão da Divida; desagregação de

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Bens Patrimoniais a partir da Liquidação de Despesa; utilização experimental com pagamento efectivo com as Unidades Orçamentais MINFIN e MAPES e sensibilização as Unidades Orçamentas sedeadas em Luanda.

No domínio da PolítiCa de rendimentos e Preços, considerando a evolução comportamental da taxa de inflação, procederam-se aos ajustamentos dos salários dos servidores públicos assim como as transferências relativas a pensão de reforma. No domínio da política de subsídios, não foram produzidas alterações.

No âmbito dos Decretos Executivo Conjunto n.º ��/�6, de � de Julho e Decreto n.º �0/�0, de �8 de Setembro, n.º ��/�6, de � de Julho, n.º 7�/�7, de �� de Julho, que regulam os regimes de preços fixados e de preços livres, tem se constactado, que estes têm-se mostrado insuficientes para assegurar a eficiência na produção e distribuição de bens e serviços com elevada qualidade e preços adequados. Assim, com vista eliminar aquela falha do mecanismo de preços, preparou-se o Projectos de Decreto sobre as Bases Gerais para a Organização do Sistema Nacional de Preços, acrescendo aos regimes de preços existentes um novo: o regime de preços vigiados. Devendo ser publicados os de preços de referência com vista facilitar a autoridade de preços e os órgãos de tutela sectorial proceder o acompanhamento e, na eventualidade de se constatarem desvios, remover distorções do mercado.

Quanto ao merCado de CaPitais, foram emitidas obrigações de caixa feitas pelo BAI a CMC o que constituiu uma experiência principiante de interesse fiscal no âmbito do advento do mercado de capitais e da bolsa de valores. No demais, foram preparados um conjunto de diplomas�0 com vista a dar aporte ao funcionamento das novas instituições financeiras.

No domínio dos seGuros e Fundos de Pensões, as estatísticas indicam a ocorrência de pagamentos de prêmios de seguro na ordem de Kz �6.8�7,6 milhões, correspondendo a 0,��% do Produto Interno Bruto (PIB) projectado, tendo a capitalização dos Fundos de Pensões atingido, em �007, ��.�7�,0 milhões de kwanzas equivalente a 0,6�% do PIB.�0�.Projecto de decreto sobre os Fundos de Investimento Imobiliário;�.Projecto de decreto sobre os Fundos de Investimento Mobiliário;�.Regulamentos de Sociedades Abertas, de Sociedades de Gestão e In-vestimento Imobiliário, de Gestão de Participações Sociais, de Gestão de Fundos de Investimento, de Gestão de Fundos de Titularização, Distribui-doras, Correctoras e de Capital de Risco;4.Regulamento do Plano de contas das instituições financeiras não ban-cárias;5.Regulamentos de Certificação, das Ofertas Públicas e de Negociação;

Ainda no decorrer de �007 foi concluído o preparo do projecto de Lei do Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil Automóvel, assim como o projecto de Lei do Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil de Aviação, Transportes Aéreos, Infra-estruturas Aeronáuticas e Serviços Auxiliares.

4.3.-a Execução orçamental

4.3.1.-A receita

A Receita total realizada no exercício de �007 cifrou-se em �.���.�7� milhões de kwanzas representando uma variação na ordem de ��% acima da estimativa inicial para o ano. Porém quando comprada com os níveis de realização do exercício anterior, conheceu um crescimento na ordem de ��%. A Receita Corrente registou um ascenção na ordem de �8% quando comparada com a previsão inicial, enquanto que a Despesa de Capital registou um desempenho baixo em relação a previsão inicial, tendo sido realizada em apenas ��%. Considerando que a receita de Capital é constituída por influxos de ordem não pecuniários, mas registos de ordem patrimonial consubstanciados nos desembolsos de projectos específicos financiados por linhas de crédito, mais uma vez o baixo nível de execução sugere existirem algumas inércias associadas à sincronização entre as metas estabelecidas, os níveis de execução e as condições para a execução dos projectos associados.

Demonstrativo da Receita RealizadaFonte Ministério das Finanças

No domínio da classificação económica da Receita, o imposto de rendimento representou 70% da Receita Tributária, na qual o imposto sobre o rendimento das indústrias petrolíferas cifrou-se em 7�% equivalente a 6��.�8� milhões de kwanzas e o imposto sobre as transações petrolíferas ��%, equivalente a ���6�� milhões de Kwanzas.

O imposto sobre a produção da indústria petrolífera cifrou-se em �6% do total de Impostos sobre a produção. Estes por sua vez, cifraram-se em 8% da Receita Tributária, enquanto que o Imposto sobre o Comércio Externo, fundamentalmente concentrado em importações gerou fundos na ordem de ��.�0� milhões de kwanzas (7�0 milhões de dolares), representando 4% da Receita Tributaria.

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Estrutura da Receita Total Fonte DNI, Ministério das Finanças

As estatísticas preliminares da execução da receita pouco indicam alterações substanciais na estrutura da receita segundo a sua natureza, os números do gráfico acima indicam uma manutenção da trajectória comportamental das grandes linhas agregadoras da receita.

4.3.2.-A Despesa pública

A Despesa pública total relativa ao ano de �007 projectada em �.��8.�6� milhões de kwanzas, conheceu uma execução na ordem de 78% porém considerando que metodologicamente o superavit é tomado como componente da despesa para igualar as fluxos entrados, esta se eleva em 13% comparativamente os níveis inicialmente projectados, representando assim uma ascensão de ��% face aos números registados no exercício fiscal de 2006. Excluindo o superavit, do quadro analítico de fluxos, a ilustração abaixo, apresenta a estrutura da despesa.

Composição da Despesa Efectiva Realizada Fonte: Ministério das Finanças

No que tange as categorias mais expressivas da despesa, os mais altos níveis de execução foram observados nos Subsidios e na despesa do Pessoal, entretanto em termos de peso no gasto efectivo, as despesas de Capital Não Financeiro, registaram um peso de ��% da execução efectiva, seguindo-se lhe a despesa do Pessoal e de Bens e Serviços no mesmo patamar. Na tabela demonstrativa da Receita, identificamos a realização da despesa de

Capital em apenas ��% da previsão, estando o seu valor absoluto cifrado em �8�.�6� milhões de kwanzas. No pressuposto de que esta receita destina-se fundamentalmente para financiar a despesa investimentos, então o valor executado da despesa de Capital não financeiro na ordem de 545.924 milhões de kwanzas sugere estar-se a fazer um esforço significativo e digno de reconhecimento em gastos que se traduzem em benéficios para as gerações futuras.

Quadro Demonstrativo da Despesa em milhões de Kwanzas Fonte: Ministério das Finanças

4.3.2.1.-Despesa por função e programas

O programa do Governo para o período, prespectivou no âmbito das suas acções, uma maior atenção para as questões de ordem social, destacando a continuação da reintegração social e produtiva dos desmobilizados e das pessoas deslocadas durante a guerra, o Melhoramento da prestação dos serviços sociais básicos e promoção da harmonia social, dentre outras acções de ordem social. Estas medias reflectem-se em mudanças significativas no aumento do peso da função social e da função económica, tendo reduzido a Defesa, Serviços Públicos e os Encargos Centrais.

Comparativo da Despesa Realizada por Função, Fonte: Ministério das Finanças

4.3.2.2.-A Despesa corrente

A Despesa coRRente, projectada em �.���.���,�� milhões de kwanzas conheceu uma execução estimada de 8�% comparativamente aos tectos inicialmente projectados, todavia, ultrapassou os níveis de execução de �006 em ��%. Considerando que do ponto de vista da Tesouraria, a execução fiscal não tem conhecido frequentes restrições no tocantes as disponibilidades de caixa, e considerando os contínuos progressos da plataforma informática de execução fiscal da despesa, a execução da despesa

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corrente em ��% abaixo dos níveis esperados, sugere de um lado que as estimativas da despesa tenham sido feitas em níveis bastante optimistas, enquanto do outro lado, levantam-se as questões relacionadas com a capacidade de execução efectiva despesa em face a factores endógenos ou exógenos ao ambiente de execução.

A desPesa do Pessoal registou um nível de execução na ordem de �0% avaliada em ���.���,07 milhões de kwanzas. Algo que �0% da despesa efectiva e ��% da despesa corrente. Notas explicativas da Direcção Nacional do Tesouro dão conta que o nível esperado da presente categoria para ano deveria posicionar-se acima do limite observado no pressuposto de que os benefícios salariais decorrentes do ajustamento dos servidores públicos ocorrido em Outubro último apenas foram executados no primeiro trimestre de �008 em obediência ao prazo de publicação do referido ajuste e a adequação dos parâmetros da programação financeira. Ora, as contribuições do empregador, por se tratar de uma componente associada à despesa do pessoal, incorporam igualmente o efeito de defasagem resultante do não pagamento dos ajustes acima referidos.

A despesa de bens e seRviços é tradicionalmente a mais propensa para altos níveis de gasto. Não obstante esta tivesse registado uma ascensão de ��% comparativamente ao exercício anterior, quando comparados os níveis de execução aos tectos inicialmente previstos, o exercício de �007 regista uma desaceleração na execução na ordem de �%.

Composição da Despesa de Bens e Serviços por Natureza Económica, Fonte: Ministério das Finanças

Na perspectiva da transparência e das boas práticas da governação, as questões aliadas a qualidade da

despesa tem vindo a debruçar-se fortemente na estrutura e ou composição da categoria de Bens e Serviços. Os dados estatísticos da execução fiscal têm demonstrado melhorias significantes em termos de composição do gasto comparativamente a anos passados. Todavia, persistem ainda aspectos para os quais faz-se necessário catapultar melhoramentos, especificamente no que diz respeito ao alto peso da natureza de outros serviços, quando comparada com as demais, conforme se pode visualizar no gráfico acima uma elevação de aproximadamante �6% contra ��% do ano anterior. Aos outros serviços, seguem-se os combustíveis e lubrificantes e os direitos aduaneiros, ambos estreitamente ligados a factores estruturais próprios da economia angolana.

As transFerênCias de subsídios registaram um nível de execução na ordem de ��%, equivalente a ���.867,8� milhões de kwanzas dos quais 86% foram encargos relativos a subvenção ao preço do combustível, seguindo dos subsídios à energia e água com peso de �0%. O alto peso dos subsídios ao combustível com um crescimento de �6% comparativamente aos números observados em �006 reflecte em certa parte a forte correlação entre os preços do petróleo, o seu custo e consequentemente a carga de subsídios a ser suportada pelo Estado com o propósito de garantir as variações equivalentes do rendimento e ou compensatórias em relação a determinadas opções de consumo.Os encargos com juros cifraram-se em Kz ��.���,7� representando 7�% dos níveis orçamentalmente projectados, porém quando comprados ao ano de �006, registaram uma ascensão de 120%. Esta ascensão reflecte a maturação de alguns acordos de divida externa, dando lugar ao vencimento de juros resultantes da ocorrência de desembolsos e do vencimento dos prazos de carência.

4.3.2.3.-A Despesa de capital

A desPesa de CaPital, estimada em �.07�.���,�6 milhões de kwanzas, correspondendo a �8% do OGE, registou um nível de execução de apenas 67% todavia ��% acima dos níveis observados em �006. No tocante a anatomia da despesa de capital depreende-se uma substancial desaceleração da despesa de capital financeiro comparativamente aos anos anteriores n ordem de ��%. Os Investimentos observaram uma execução de apenas 6�%, no qual a despesa financiada com recursos ordinários do tesouro ocupou um peso dominante comparativamente a componente financiada com recursos externos e recursos do financiamento interno.

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As TransFerênCias de CaPital estimadas em �% das despesas de Capital, equivalente em Kz ��.���,�� Mio (IRO ��0 milhões) foi a natureza da despesa de capital com maior desempenho, estando nela registado o esforço do Estado em potenciar um conjunto de empresas de entre as quais a transportadora nacional TAAG (IRO 60 milhões) o BCI (IRO 27 milhões) a SOPIR (IRO �7 milhões) dentre outras.

A tabela abaixo ilustra a distribuição da despesa de Capital em termos de programas, estando nela contidos �� programas com peso de �6% no cômputo da despesa de investimentos distribuída para �� programas diversos��.

Peso dos programas mais expressivos na despesa de Investimentos Fonte Ministério das Finanças

Da tabela acima destaca-se o programa de Reabilitação e constRução Da ReDe FunDamental De estRaDas e pontes, como veiculo primário de estimulo do relançamento das demais actividades econômicas, facilitando a mobilidade de pessoas, produtos e matéria primas de e para o interior do país. Segue-se o programa de melhoRamento Da oFeRta De bens e seRviços básicos as populações (PMOBSBP) caracterizado como um dos principais programas cuja natureza e mecânica de execução tem permitido as autoridades locais exercer uma intervenção directa em áreas de destaque na melhoria do padrão de vida daquelas localidades.

A ilustração abaixo demonstra a composição do PMOBSBP, realçando as províncias de Luanda, Cabinda��, Huambo e Uíge no âmbito do Gabinete Técnico de Gestão dos Projectos de Investimentos da província do Uíge

��Os demais programas não constante ocupam cada um deles um peso abaixo de �% no cômputo da despesa total de investimentos.�� A província de Cabinda, com um plafon de aproximadamente US$ 200 milhões, sua execução tem efeito desfazado reflectindo-se fortemente nos primórdios de �008 em consequência do peso de acções relacionadas a importações por intermédio de CDI.

Demonstrativo do Programa de Melhoramento da Oferta de Bens e Serviços Básicos as Populações por Províncias.

Com excepção das províncias de Luanda, Uíge(GTG-PIP) e Cabinda cujos orçamentos afiguram-se acima da média das demais províncias��, na generalidade os indicadores de desempenho de algumas províncias mostraram-se um pouco abaixo da média mesmo tendo beneficiado da disponibilização de fundos por parte das autoridades centrais. Admite-se que factores endógenos ligados à mecânica preparatória da execução dos projectos constituem as principais razões explicativas para a baixa de desempenho. Porém, no ponto de vista da responsabilização fiscal, pressupõe-se estar perante um melhoramento no sentido de resposanbilidade na utilização dos fundos públicos, pois mesmo estando estes disponíveis uma vez não observados os requisitos primários para execução do gasto, eles não foram consumidos.��

Comparativo da Execução do Programa de Melhoramento da Oferta de Bens e Serviços Fonte: Ministério das Finanças

Certamente os dados apresentados são preliminares, porém o gráfico acima apresenta baixos desempenhos comparativamente ao ano de �006 nas províncias de Benguela, Huila, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Kuando Kubango e Zaire.

��Importa realçar, que as demais províncias para além dos projectos do âmbito local, na perspectiva global, beneficiam de inúmeros projectos lo-calizados em seu território porém, estes projectos possuem administração de responsabilidade central��Observância de Concursos Públicos, Obtenção de Visto do Tribunal de Contas, Importação de Materiais ou ainda obtenção de Vistos para a mão de obra expatriada.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

�7

No domínio das desPesas de CaPital FinanCeiro, destaca-se o facto da estratégia de endividamento terem dado espaço a relativa substituição do mercado externos pelo mercado interno, no pressuposto de que havendo suficiente liquidez no mercado interno, para níveis de remunerações moderados, o endividamento internos permite de um lado assessorar os interesses de gestão da política monetária em termos de circulação da moeda, assim como deixa o país menos vulnerável a choques externos derivados na alteração de expectativas e ou flutuação de preços. Assim estimam-se que para o exercício de �007, as operações de crédito relativas aos passivos internos mobiliários somaram �0.��7 milhões de kwanzas para o curto prazo e Kz 84.312 milhões no longo prazo, ficando as operações externas concentradas o longo prazo com Kz ���.��� milhões contra �07,� milhões de kwanzas do curto prazo.

4.4.- Considerações finais

A geração contínua de superavits fiscais, articulada ao interesse e mestria de adequação das opções de investimento, demonstra que as autoridades tem podido conduzir a política fiscal para patamares prósperos no domínio do processo de manutenção do processo de estabilização e do alcance do desenvolvimento sustentado. Porém considerando os desajustes estruturais da economia, a eficácia da política fiscal vai deixando de ser função estrita das autoridades do Ministério das Finanças, para estender-se deforma mais amplexa aos sectores de especialidade, cujos programas cobertos pela política orçamental devem traduzir-se em ganhos efectivos. Neste domínio, os esforços crescentes das autoridades em elevar os níveis da despesa de capital (físico) comparativamente a despesa corrente, devem de forma bastante clara evidenciar resultados no investimento e estimulo do capital humano, considerando o seu papel preponderante na conservação do capital físico e no seu aproveitamento com vista gerar valor acrescido passível de mobilizar novas sinergias para a trajetória do desenvolvimento.

Considerando os benefícios da crescente diversificação do produto interno e a alta de preços do principal produto de exportação, e considerada a fase primária de restauração das principais infra-estruturas, (redes de transportação electrica e hídrica, estradas, escolas e hospitais...) o exercício da política fiscal e orçamental no fundeamento da despesa de capital, deverá o mais rápido possível assentar-se na concepção de uma estratégia de desenvolvimento nacional capaz de produzir uma matriz articulada dos sectores traduzida numa carteira de investimentos com

parametrização clara dos investimentos esperados. Deste modo, facilmente se consegue contornar o risco de investir em activos com baixo retorno ou utilidade social e econômica futura comparativamente aos benefícios de oportunidade dos momentos áureos da receita fiscal e abertura junto das praças financeiras internas e externas.

5.- NÍVEL GERAL DA ACTIVIDADE ECONÓMICA

Angola virou moda nos últimos tempos. Pelos maus motivos, relacionados com as sempre actuais questões da transparência e corrupção, mas – e ainda bem – igualmente por bons motivos, dados pelo crescimento económico e pela multiplicação das oportunidades de realização de bons negócios para os respectivos promotores.

Talvez o nosso país seja, dentre os africanos, o mais falado nas economias desenvolvidas, nas instituições internacionais e nos organismos ligados ao sistema das Nações Unidas.

Angola é vista de fora como a actual grande oportunidade para investir e ganhar dinheiro, dando espaço ao surgimento dos mais variados actores, desde os que encaram o business (negócio) com racionalidade económica e responsabilidade social, aos oportunistas, para quem tudo vale, desde que rapidamente se ganhe muito dinheiro.

Angola tem servido de case study ( estudos de caso) para teses de mestrado, doutoramento e pós-doutoramento, cujas conclusões nunca são localmente apresentadas, mas cujos promotores e defensores incomodaram muitos angolanos com reuniões, pedidos de informação, contraposição de opiniões, etc.

Não deixa de ser reconfortante para nós este (súbito?) interesse pelo nosso país, ainda que estejamos conscientes de que os estrangeiros e a sua forma de olhar para Angola estão cheios de mal-entendidos, falsas ideias claras, verdades que se pretendem absolutas, preconceitos, pretensiosismos, etc.

Para onde, de facto, vai a economia angolana? É suficiente olhar as espectaculares taxas de crescimento do PIB para se concluir que tudo vai bem? Como é que a maioria dos angolanos vê o estado actual da sua economia?

Crescer é preciso, seguramente. Sem crescimento não há o que distribuir. Alguém sabiamente dizia que o capitalismo é o modelo óptimo para se produzir, mas o menos eficiente para se distribuir.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

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O capitalismo oportunista e selvagem agrava as desigualdades de oportunidades e de distribuição do rendimento, concentra a riqueza e, em muitos casos, concede a primazia aos menos aptos. Basta a estes estarem próximos do poder político para terem direito a sentarem-se à mesa e beneficiarem da partilha do bolo.

O que é que tem feito Angola crescer tanto em tão pouco tempo?

A paz? Claro que ambientes instáveis, incertos e irregulares aumentam o risco do investimento e agravam a incerteza dos negócios. Portanto, a paz é necessária. Mas a paz e a subjacente estabilidade política são pressupostos e não factores de crescimento económico.

A recuperação dos equilíbrios macroeconómicos fundamentais (os conhecidos macroeconomic fundamentals) é, igualmente, uma condição básica, mas não, propriamente, um factor de crescimento. Acresce que é discutível que esses equilíbrios tenham sido atingidos, de acordo com o que a Ciência Económica considera como estabilidade dos preços e estabilidade económica. É certo que os equilíbrios não são estáticos, valendo, então, por dizer que se está num processo de estabilização macroeconómica, bastante complexo de gerir, porque muito sensível e atreito às vicissitudes da economia global.

Com certeza que o investimento, público e privado, tem sido um importante factor de crescimento económico.

Mas a questão fundamental que o Relatório Económico deixa à reflexão é se os angolanos têm sido parte desse processo de crescimento, enquanto seu sujeito e seu objecto. A questão é a de se saber se a Nação – que somos todos nós, sem diferença de classes sociais – está, de facto, mais rica.

As linhas tendências do crescimento económico mantêm-se firmes, saindo reforçadas com a taxa de variação do PIB registada em �007 (cerca de �0,�% ao custo de factores).

Com efeito e de acordo com as informações relativas aos últimos anos – depois de �00� – a taxa tendencial de crescimento tem vindo a aumentar, colocando-se no período �00�-�007 em �8%, a mais elevada da região subsariana do continente africano e uma das mais elevadas do mundo (para o período considerado).

LINHAS TENDENCIAIS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO ANGOLANO

1980-2002

1980-2004

1980-2005

1980-2006

1980-2007

2002-2006

2002-2007

�,� �,6 �,� �,0 �,� ��,8 �8,0

FONTES: Relatórios de Balanço de Execução do PGG de �00�, �006 e �007. African Development Indicators, World Bank, �00�. WorldAfrican Development Indicators, World Bank, �00�. World

Economic Prospects �008, World Bank.

No entanto, a grande linha tendencial ��80-�007 (�7 anos) permanece baixa (�,�%) não permitindo, senão, um ganho líquido de �,6% nas condições de vida da população.

Os anos de �00�, �006 e �007 são, até o momento, os melhores depois da independência, sendo os responsáveis pela alteração significativa do declive da recta de tendência a �7 anos (de longo prazo). Confirma-se o significado e a importância económica da paz: a tendência de crescimento de médio prazo �00�-�007 é a de maior representatividade do grande ciclo económico depois de ��80.

Com relação ao comportamento anual do crescimento do PIB petrolífero, não petrolífero e não mineral, o gráfico seguinte as ilustra.

Verifica-se que o PIB não petrolífero apresenta um comportamento muito mais estável do que o das restantes actividades económicas. Esta verificação corresponde, afinal, aos resultados económicos dos investimentos públicos e privados em infraestruturas e em outras actividades, para além das de natureza mineral. Destaca, também, o resguardo actual das actividades não mineiras dos efeitos da crise financeira internacional e da crise alimentar mundial.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

O panorama geral temporal (���7/�007) da economia nacional é apresentado na tabela seguinte.

SECTORES Média97/00 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Agricultura e pescas 601,3 726,8 913,7 1136,5 1838,4 2602,7 3207,0 4765,7

Petróleo e refinados 3756,9 4562,4 6151,1 6673,4 9855,6 17038,9 23382,7 33173,3

Diamantes e outros 438,9 548,8 539,6 627,8 583,7 884,7 979,7 1055,3

Manufactura 297,7 345,1 422,1 526,1 909,7 1240,8 2029,8 3155,2

Energia e água 3,3 3,6 4,8 5,4 37,9 30,3 38,5 49,3

Obras e construção 283,7 322,1 392,7 492,6 890,8 1240,8 1823,6 2931,5

Serviços 1162,7 1376,3 1609,0 1965,2 2615,5 4509,4 7040,1 10054,4

Outros 613,1 831,2 1207,0 2086,1 2274,4 2723,8 3479,5 4263,5

PIB 7157,5 8716,4 11239,8 13513,2 19006,1 30271,5 40938,4 59448,2

PIB não mineral 2961,7 3605,1 4549,2 6211,9 8566,8 12347,9 17618,5 25219,6

PIB não patrolífero 3400,6 4154,0 5088,8 6839,8 9150,5 13232,6 18598,2 26274,9PIB/hab.(usd) 502,9 595,2 745,8 871,4 1191,1 1843,6 2484,7 3419,4

A taxa de crescimento do Valor Acrescentado Bruto do sector petrolífero em �007, cerca de ��,�%, a preços correntes, foi o resultado conjugado duma variação de �0,�% na produção, de �7,�% no preço do crude e de �,6% de efeito conjugado (em �006 os mesmos efeitos foram de ��,�% para a produção, ��,�% para o preço e �,6% para o efeito cruzado).

Com relação ao Valor Acrescentado Bruto da actividade de extracção de diamantes, o efeito-produção foi de �,�%, o efeito-preço de �,6% e o efeito-cruzado de 0,��% (em �006 e pela mesma ordem, os valores foram de �0,�% e de -�7,�%).

No que concerne às mudanças estruturais, a situação permanece inalterada do ponto de vista das profundas assimetrias sectoriais.

SECTORES Média97/00 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Agricultura e pescas 8,4 8,3 8,1 8,4 9,7 8,6 7,6 8,0

Petróleo e refinados 52,5 52,3 54,7 49,4 51,9 56,3 55,7 55,8

Diamantes e outros 6,1 6,3 4,8 4,6 3,1 2,9 2,3 1,8

Manufactura 4,2 4,0 3,8 3,9 4,8 4,1 4,8 5,3

Energia e água 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 0,1 0,1 0,1

Obras e construção 4,0 3,7 3,5 3,6 4,7 4,1 4,3 4,9

Serviços 16,2 15,8 14,3 14,5 13,8 14,9 16,8 16,9

Outros 8,6 9,5 10,7 15,4 12,0 9,0 8,3 7,2

PIB 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

PIB não mineral 41,4 41,4 40,5 46,0 45,1 40,8 42,0 42,4

PIB não patrolífero 47,5 47,7 45,3 50,6 48,1 43,7 44,3 44,2

PRODUTO INTERNO BRUTO(milhões dólares correntes)

FONTES: Ministério do Planeamento – Comportamento da Economia em �00�, Abril de �00�. Governo de Angola – Balanço do Programa do Governo de �00�, �006 e �007. Estimativas do CEIC.

ESTRUTURA DA ECONOMIA ANGOLANA(valores percentuais)

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Os valores anteriores confirmam que há mais de �0 anos a estrutura da economia nacional mantém-se desequilibrada – o peso médio dos sectores minerais entre ���7 e �007 é de cerca de 6�,�% - e desarticulada, porquanto não há relacionamento económico entre petróleo e diamantes e o resto da economia. O caso mais dramático de perda de importância económica relativa é o do sector primário da economia (agricultura, pecuária, florestas e pescas) com uma representatividade média entre ���7 e �007 de cerca de �,�%.

O valor de 6�,�% é bastante preocupante, tornando a economia angolana uma economia mineral, a despeito das elevadas taxas de crescimento dos restantes sectores de actividade e dos sinais de spillover effect relatados mais atrás. As políticas de incentivo à diversificação da estrutura económica interna devem ser mais agressivas e incentivadoras, para se aproveitar, da melhor maneira, o excelente clima de confiança e credibilidade que a economia nacional vive actualmente.

A estrutura da economia nacional está sinteticamente representada no gráfico seguinte.

No parágrafo seguinte, é tratada a problemática da agricultura e desenvolvimento rural no nosso país, chamando-se a atenção para a insuficiência de condições institucionais e de enquadramento para o desenvolvimento da agricultura e para a irracionalidade de alguns dos investimentos públicos. Isto apesar duma elevadíssima taxa de crescimento do sector averbada em �007, conforme mais adiante se verá.

Não se deve perder de vista que o sector primário é o que pode ajudar, mais rápida e sustentadamente, a reduzir a pobreza (ver Relatório Económico �00�, no capítulo da pobreza, página �7, algumas das relações entre desenvolvimento agrário e redução da pobreza).

A indústria transformadora, ainda que em �006 e �007 tenha visto aumentar a sua representatividade económica na geração do PIB, permanece um sector débil e internamente muito desequilibrado, onde as indústrias alimentares e de bebidas responderam por mais de 8�,6% do valor agregado em �006 e 77,�% em �007.

O gráfico seguinte mostra que, em 2007, se registaram algumas transformações estruturais interessantes, com o ressurgimento de sectores-chave para o aumento do valor agregado interno e a diversificação das exportações. Estão nesta situação as indústrias químicas ligeiras e, em muito menor escala, da indústria dos plásticos.

As dinâmicas parcelares de crescimento da produção industrial em �007, comprovam serem as actividades menos estruturantes e de natureza ligeira, embora importantes do ponto de vista da geração de emprego e rendimento, as mais importantes na actual fase de regeneração do sector manufactureiro nacional.

Esperam-se mais investimentos públicos que ajudem a estruturar um sector que já foi líder do crescimento económico e resultados significativos dos pólos de desenvolvimento industrial de Fútila, Viana, Catumbela, Caála e Matala. Para isso, torna-se determinante que as infraestruturas de transportes e de produção e de distribuição de energia e água sejam reabilitadas duma forma muito mais lesta e que garantam um funcionamento mais eficiente e lucrativo das fábricas e das unidades fabris.

Um cálculo linear e simples, mas preocupante: a taxa média anual de crescimento da indústria transformadora até �0�� necessária para que nesse

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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ano represente �/� da participação actual do sector petrolífero (��,8%), admitindo que a economia nacional cresça anualmente �0%, é de ��,�%. Ou seja, até �0�� o VAB industrial teria de ser multiplicado por �07 vezes! São estes exercícios que ajudam, por vezes, a ter-se uma ideia da verdadeira dimensão dos problemas nacionais.

Aguarda-se que o programa de investimentos públicos e a dinâmica privada na construção civil

possam, em 2008, alterar, duma forma significativa, a posição relativa dos sectores da energia, água e construção.

O sector terciário manteve, praticamente inalterada, a sua posição relativa no sistema económico nacional, com um ganho de � pontos percentuais relativamente a �00�, apesar da intensa taxa de crescimento económico verificada.

SECTORES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007Agricultura e pescas 9,3 18,0 13,4 11,7 14,1 17,0 9,8 27,4

Petróleo e refinados 0,4 -1,0 20,6 -2,2 13,1 26,0 13,1 20,4

Diamantes e outros 12,8 19,5 -2,1 19,8 0,8 16,2 30,9 5,1

Manufactura 8,9 9,8 10,3 11,9 13,5 24,9 44,7 32,6

Energia e água 0,8 10,0 21,3 0,2 11,5 17,4 13,2 8,6

Obras e construção 7,5 8,5 10,0 12,6 14 16,9 30,0 37,1

Serviços 3,4 6,0 11,6 9,9 10,4 8,5 38,1 21,8

Outros 1,5 1,0 2,5 1,9 2,5 2,6 8,2 4,6

PIB 3,7 5,2 13,2 5,2 11,3 20,6 18,6 20,9

PIB não mineral 5,4 8,7 10,1 9,5 4,4 14,9 25,4 22,4

PIB não patrolífero 6,2 10,0 8,5 10,7 9,1 14,7 25,7 21,5

FONTE: Ministério do Planeamento

A tabela seguinte explica as contribuições parcelares para as taxas de crescimento do PIB no período �000/�007��.

SECTORES 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Agricultura e pescas 1,21 1,50 1,09 0,98 1,36 1,46 0,75 2,20

Petróleo e refinados 0,16 -0,55 11,27 -1,08 6,79 14,63 7,30 11,36

Diamantes e outros 0,87 1,23 -0,10 0,92 0,02 0,47 0,72 0,09

Manufactura 0,39 0,39 0,39 0,46 0,65 1,02 2,16 1,73

Energia e água 0,00 0,00 0,01 0,00 0,02 0,02 0,01 0,01

Obras e construção 0,39 0,31 0,35 0,46 0,66 0,69 1,30 1,83

Serviços 0,57 0,95 1,66 1,43 1,43 1,27 6,39 3,69

Outros 0,15 0,10 0,27 0,30 0,30 0,23 0,68 0,33

PIB 3,74 3,93 14,94 3,48 11,24 19,80 19,31 21,23

PIB não mineral 2,71 3,25 3,77 3,64 4,42 4,69 11,29 9,77

PIB não patrolífero 3,58 4,48 3,67 4,56 4,44 5,17 12,02 9,86

�� As taxas de crescimento obtidas pela soma das parcelas não coincidem com as do quadro anterior devido a uma diferença nos deflatores.

TAXAS REAIS ANUAIS MÉDIAS DE CRESCIMENTO (%)

CONTRIBUIÇÕES PARA O CRESCIMENTO ECONÓMICO (%)

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Como notas salientes são de referir:• a elevada correlação entre o crescimento

económico global e o dos sectores de extracção mineral, com consequências sobre o funcionamento da restante economia, em termos de dependência do exterior;

• o elevado valor da contribuição da extracção de petróleo em �00� e �007 (justamente neste ano que se esperava ser o primeiro do processo de ruptura com o excessivo peso do sector mineral-petrolífero), de resto, as maiores de sempre para o crescimento económico do país;

• o excelente desempenho do sector não petrolífero em �006 e �007 na sua contribuição para o crescimento económico geral;

• as modestíssimas contribuições dos restantes sectores para a dinâmica de crescimento económico do país, embora seja digna de nota o comportamento da indústria transformadora que, devido às taxas de crescimento registadas entre �00� e �007, aumentou a sua contribuição para o crescimento económico nacional.

As contribuições para o crescimento económico geral estão graficamente representadas a seguir.

Portanto, o modelo de crescimento de Angola continua a ser externo-dependente, com um dos maiores graus de abertura do mundo (um rácio médio entre �00� e �007 de ��7,�% para o somatório das exportações e importações no PIB�6), um peso determinante dos investimentos e financiamentos externos e uma dependência das importações em todas as gamas de bens, desde os de consumo duradouro e não duradouro, até aos bens de capital. O exemplo dos empréstimos chineses continua a ser um mau paradigma para os financiamentos externos e as linhas de crédito em particular, na medida em que a maior parte dos materiais necessários têm proveniência externa.

O peso das exportações dos dois sectores de enclave está plasmado no quadro seguinte.

�6Como quer que seja, uma melhoria – embora ainda não um sinal claro de diversificação – em relação ao rácio médio entre 2000 e 2006, estimado em ���,�%.

RUBRICAS 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Produção petróleo(mil barris) 326277 319248 360992 454892 514629 619525

Exportação petróleo(mil barri 315872 307965 342003 446304 487959 547909

Exportação/produção(%) 96,8 96,5 94,7 98,1 94,8 88,4

Preço barril petróleo (usd) 24,2 28,8 38,3 50,6 61,4 70,0

Exportações petróleo e refina. 7644102,4 8684613,0 13098714,9 22582982,4 29960682,6 38353630,0

Produção diamantes(1000 quil 5047,0 6063,0 5552,7 7084,3 9269,9 9744,4

Exportação diamantes(1000q) 4998,9 4946,1 6716,3 7085,9 9010,2 7815,5

Preço quilate (usd) 127,71 129,98 118,22 154,17 126,61 133,73

Exportações diamantes 638409,5 642894,1 790427,8 1092432,4 1140784,1 1045160,2

Outras exportações 45300,0 35400,0 244000,0 434200,0 715200,0 233900,4

Exportações totais mercado. 8327811,9 9362907,1 13476838,5 24109614,8 31816666,7 39608721,0

As exportações de diamantes e petróleo representaram, em �007, ��,�% do total de mercadorias remetidas ao exterior, um claro agravamento face a �006, em que o somatórios dos dois produtos foi de �7,8% (em �00� tinha sido de �8,7%), o que dá bem a expressão da dependência da nossa economia da balança mineral do país. E, ainda por cima, nas outras

EXPORTAÇÕES DOS SECTORES DE ENCLAVE(os valores de exportação e importação estão em mil dólares)

FONTES: Fundo Monetário Internacional – Aide-Mémoires de Abril de �00�, Março de �006 e Agosto de �007. Ministério do Planeamento – Comportamento da Economia em �004. Governo de Angola – Balanço do Programa do Governo de �005, �006 e �007. Banco Nacional de Angola – Direcção de Estudos e Estatística.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

6�

exportações, o peso dos produtos refinados derivados do petróleo é de ��,�%.

Fica justificada a urgência duma reflexão profunda sobre um modelo de crescimento baseado numa diversificação de exportações de elevado valor adicionado interno, o que melhor se ajustaria à substituição de certas importações, nomeadamente as de origem agrícola e alimentar.

5.1.- Agricultura e desenvolvimento rural

5.1.1.- Introdução

O programa geral do Governo para �007/�008 estabeleceu como medidas de política agrícola essenciais no quadro do fomento da produção interna as seguintes:

• Criar as condições para uma intensificação do processo de implementação do programa de desenvolvimento e extensão rural, visando a melhoria das condições de produção camponesa e do comércio rural e, consequentemente, aumentando a produção de bens alimentares essenciais;

• Definir as condições de apoio à emergência e desenvolvimento de um sector empresarial agrícola;

• Intensificar a implementação das fileiras produtivas do agregado alimentar (“cluster” alimentação), quer ao nível das sementes e da produção, quer das agro-industriais, melhorando as condições de segurança alimentar do País e intensificando, nomeadamente, a produção de cereais, leguminosas, carne, leite e ovos;

• Reforçar o programa de reabilitação dos perímetros irrigados;

• Implementar, no âmbito do projecto de gestão de terras aráveis que constituem uma reserva estratégica do Estado, projectos de grande escala nos domínios agro-pecuário e agro-industrial, em parceria com agentes económicos de reconhecida capacidade e idoneidade técnico-científica;

• Elaborar a política de desenvolvimento florestal, visando a criação das condições necessárias ao desenvolvimento de uma fileira produtiva florestal.

Por sua vez, o programa elaborado pelo sector para 2007 acrescentava alguns detalhes e clarificações que alargavam os objectivos específicos para aspectos como a construção de capacidades a nível das famílias camponesas, e davam ênfase ao comércio (formal e informal) de produtos alimentares, à reactivação do sistema de investigação agrária, ao relançamento da produção de café e à garantia de gestão sustentável

dos recursos naturais. Realmente, o programa do sector tornava mais explícita a atenção às famílias camponesas, porque no Programa do Governo elas estavam como que “esquecidas” ou “escondidas”, e trazia para o centro das preocupações duas questões fundamentais, nomeadamente, a investigação e a gestão sustentável dos recursos.

Tal como aconteceu no Relatório Económico de �006, a análise do desempenho do sector é prejudicada pela ausência ou insuficiência de elementos estatísticos credíveis. Como foi então referido no citado relatório, três razões estão na base da deficiente credibilidade da informação: (i) a falta de uma estrutura de recolha sistemática de informação agrícola e seu tratamento; (ii) a definição de um número de famílias camponesas – as maiores responsáveis pela área cultivada e pela produção agrícola que actualmente é canalizada para o mercado – que, a julgar pelos dados do registo eleitoral está sobrevalorizado; e (iii) porque não é conhecida a metodologia de recolha de informação a partir de tais famílias produtoras. Esta persistente anomalia justificaria que o MINADER estabelecesse a organização de um sistema de recolha de informação e um banco de dados que pudesse colmatá-la.

5.1.2.- Evolução da estrutura de produção agrária e das instituições de apoio

No essencial, mantêm-se as considerações feitas no Relatório Económico de �006 sobre a estrutura da produção agrária e sobre as instituições de apoio a essa produção. Em �006, segundo o MINADER, havia �,� milhões de famílias camponesas. Considerando que tem sido utilizada como estimativa para a população actual do País a cifra de �7 milhões de habitantes – número que o registo eleitoral de certo modo confirma –, é razoável admitir-se que a população rural actual está em equilíbrio com a população urbana, ou poderá mesmo ser já inferior. Para além disso, o tamanho das famílias nas áreas rurais, tendo em conta o número de órfãos, deve ter subido, pelo menos, de cinco para seis de acordo com os cálculos mais moderados. Por seu lado, o CEIC estima que o número de famílias camponesas será no máximo de �,� milhões�7. Apesar disso, neste relatório será respeitado o número utilizado pelo MINADER para a análise, salvo quando houver uma referência expressa em sentido contrário.

A falta de dados estatísticos não permite obter uma ideia sobre o número de novos empresários e explorações de diferentes dimensões, nem a sua �7A conclusão idêntica chegaram outros investigadores independentes contactados pelo CEIC que habitualmente fazem trabalhos de consultoria em áreas rurais de Angola.

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distribuição geográfica e volume de investimentos. Em �00�, o MINADER considerava a existência de �000, número que parece muito exagerado, dos quais a maioria era constituída por pequenos empresários inseridos na realidade sociológica rural local, contrariamente aos avaliados como médios e grandes, que não se diferenciam muito das famílias camponesas mais dinâmicas e cujas áreas médias de cultivo devem andar à volta dos cinco hectares. Uma estimativa, forçosamente bastante discutível leva a admitir que o actual número será de aproximadamente �000. Preocupado com esta questão, o CEIC pretende debater com as entidades competentes a necessidade de se lançar um inquérito às explorações agrícolas tornando como ponto de partida o seu recenseamento e realizar durante o ano de �008 uma pesquisa que permita uma determinação do PIB assente em base mais segura.

Durante o ano de �007, foi notório o aumento de explorações agropecuárias de carácter empresarial de dimensão média e grande (o que é forçosamente relativo) em quase todas as províncias do País, sem que isso se tivesse traduzido na criação de empresas formais devidamente registadas. Trata-se, na maior parte dos casos, de pequenos produtores residentes nas sedes dos municípios e das províncias, dos quais os mais destacados em recursos fundiários, técnicos e financeiros são funcionários públicos, e de agricultores de maior dimensão que vivem maioritariamente em Luanda. Uns e outros ocupados a tempo parcial e gerindo os seus empreendimentos através da contratação de pessoas com maior ou menor qualificação, incluindo estrangeiros, segundo as capacidades financeiras ou a possibilidade de acesso a recursos disponíveis. Algumas empresas diamantíferas também começam a dedicar-se à actividade agropecuária com o intuito de diminuírem as importações de bens para os seus trabalhadores.

A animação por parte de empresários interessados na actividade agropecuária foi traduzida na canalização de prioridades principalmente para a criação de gado bovino, para a produção de cereais e para a exploração de fruteiras. As poucas informações disponíveis apontam para uma maior concentração de empreendimentos nas províncias do Kwanza Norte – onde a reactivação da actividade pecuária no Planalto de Camabatela tem atraído muitos interessados –, Kwanza Sul – com predominância para os municípios da Cela e do Libolo –, Benguela e Huíla. Se exceptuarmos a opção pelos cereais, cujos resultados não parecem estar a ser lisonjeiros, o que talvez se explique pela política de crédito do Governo, as restantes escolhas por parte dos empresários afiguram-

se correctas, pois estão mais de acordo com a vocação do sector, como o Relatório Económico defendeu em �006. Com efeito, apesar de alguns erros que estão a ser cometidos e que serão tratados mais adiante, os projectos em curso evidenciam que a opção por cereais e outros grãos, ou de um modo geral por culturas anuais, tem-se revelado ineficaz e ineficiente para o que se poderia classificar como o embrião de um agronegócio rentável. Aspecto esse que vem confirmar uma tendência do tempo dos portugueses que, tal como outros estrangeiros, raramente se dedicavam a essas culturas. Pelo contrário, a criação de bovinos de corte através de pastagem directa revela um potencial elevado que pode vir a representar uma possível diversificação das exportações do País, desde que se adoptem as estratégias adequadas ao sector e de apoio à produção, com prioridade para a problemática da sanidade animal, como se verá também noutra secção deste capítulo.

A criação da Fazenda Pungo Andongo e o Pólo Agro Industrial de Kapanda, para os quais o OGE para �007 previu �7 e �,6 milhões de dólares, respectivamente, representa uma opção de política agrícola polémica. Na realidade, a criação de fazendas estatais e de parcerias público-privadas poderiam fazer sentido na perspectiva de se ensaiarem técnicas e tecnologias de vanguarda para a modernização da agricultura e do aumento da competitividade. Não parece ser esse o caso, pois subsistem dúvidas quanto a aspectos como, por exemplo, os níveis de produção alcançados e a forma como está a ser feita a desmatação sem os necessários cuidados de preservação ambiental (principalmente quanto ao solo e à floresta), o que contraria um dos objectivos traçados pelo sector, que tem a ver com a gestão sustentável dos recursos naturais.

O número de provedores de serviços privados tem vindo a aumentar ainda que de maneira lenta e eles continuam concentrados predominantemente junto aos portos e nas capitais de província, o que não facilita o acesso dos produtores aos serviços por eles prestados. Contudo, alguns desses provedores têm estabelecido parcerias com comerciantes localizados em províncias produtivas para fornecimento de insumos (inputs) a crédito ou a consignação, o que parece ser uma boa estratégia. A constituição ou a consolidação de algumas cooperativas com certa envergadura técnica e financeira que se podem vir a afirmar no campo empresarial traduzem igualmente uma evolução positiva. Dada a grande fragilidade do sector de aprovisionamento de serviços de apoio à produção agropecuária no País, quer no domínio público, quer no privado, a constituição de algumas

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cooperativas de serviços, como já está acontecer em algumas províncias (não confundir com o processo que está a ser levado a cabo pela UNACA, que se apresenta pouco consistente), afigura-se uma aposta apropriada às realidades do mundo rural angolano actual. E isso, na medida em que seria possível associar pequenos, médios e grandes produtores em parcerias em que a capacidade financeira e de influência de alguns poderia ser complementada pela acção no terreno de demais parceiros que, de outro modo, teriam muitas dificuldades no acesso a serviços – incluindo financeiros – para suporte à sua actividade produtiva. Dentre as várias iniciativas em curso, algumas ainda dando os primeiros passos, distinguem-se as cooperativas que conseguiram já obter financiamentos de bancos comerciais e do Banco de Desenvolvimento Angolano (BDA) ou que estão em vias de o obterem. A falta de conhecimento sobre o seu papel como provedoras de serviços, dado que “cooperativa” continua erradamente conotada com “produção colectiva”, e a demora na aprovação de legislação actualizada sobre cooperativismo podem tolher as iniciativas existentes, pelo que se impõe uma intervenção por parte do MINADER.

Em �007, foram nomeados dois novos Vice Ministros para o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, estando um a atender especificamente o desenvolvimento rural e o outro os recursos florestais. A estas mudanças junta-se a indicação de um terceiro vice-ministro que se dedicaria exclusivamente à investigação e à formação de recursos humanos. Ainda é relativamente cedo para se avaliarem os efeitos destas mudanças funcionais, mas elas só produzirão resultados se forem acompanhadas de outras medidas que possam melhorar as capacidades de concepção e gestão de projectos e programas nos respectivos domínios.

A aprovação do Decreto �/07 sobre a Administração Local do Estado suscitou alguma expectativa relativamente ao papel que as Estações de Desenvolvimento Agrário (EDAs) deverão desempenhar no domínio da governação local. Com efeito, a composição das Administrações Municipais mostra que o responsável pelo pelouro da Agricultura se confronta com um dilema: ou é o director da EDA por acumulação, o que o obriga a depender verticalmente do IDA a nível provincial e nacional, o que condiciona a articulação intersectorial; ou é um outro elemento, que dificilmente terá autoridade sobre o director da EDA, por limitações de capacidades e de recursos. Isto faz com que o processo de desenvolvimento agrário, rural e comunitário só possa estar sob controlo das Administrações Municipais se

houver uma elevada capacidade de coordenação e de planeamento, a fim de se conciliarem os vários interesses e poderes envolvidos.

5.1.3.- A produção agropecuária e florestal

De acordo com o MINADER, em �006 Angola tinha �.��7.�88 hectares cultivados pelas �,� milhões de famílias camponesas, o que perfazia uma média de �,� hectares por família. Esta média parece razoável e poderá, inclusivamente, ter conhecido um ligeiro incremento em �007, tendo em conta a melhoria do acesso a insumos (inputs) e o aumento das expectativas, principalmente as geradas pelos progressos na circulação de pessoas e mercadorias. O que é questionável, uma vez mais, é o número de famílias existentes, o que leva a estimar, tendo em conta o que se referiu na secção anterior, que a área cultivada em �006/�007 mais realista situar-se-ia entre � e �,� milhões de hectares, já incluindo as empresas de maior dimensão, que na melhor das hipóteses teriam cultivado entre �0 e �0 mil hectares. O relatório da campanha agrícola �00�/�006 referia que o milho e a mandioca representavam �0% da área cultivada, o que dá uma ideia de importância destas culturas�8.

As condições climáticas sob as quais decorreu a campanha agrícola �006/�007, segundo o MINADER, foram favoráveis em todo o País, tendo as chuvas caído no momento oportuno e com boa distribuição espacial��. Isto justifica – apesar de haver outras razões como o esforço na distribuição de factores de produção – os aumentos relativos das produções em relação à campanha anterior que, recorde-se, foi prejudicada por uma severa estiagem nas províncias do centro e do sul. Porém, se a comparação for feita com a campanha �00�/�00� constatam-se reduções nas culturas de milho (�6%) e arroz (�6%), o que pode ser um indicador de uma maior atenção na recolha e tratamento da informação, justificando-se as reservas que o CEIC, através do seu Relatório Económico, tem levantado à informação prestada pelo sector60.

�8 Como as diversas fontes afectas ao MINADER consultadas não fazem referência às áreas cultivadas em 2006/2007 por cultura, a análise fica prejudicada, reportando-se aos dados de �006 sempre que for necessário.��Informações recolhidas em Malanje referem que pelo menos nesta pro-víncia as chuvas foram irregulares e afectaram a produção de algumas culturas.60Já no Relatório de �006, se chamava a atenção para o facto da produção de arroz atribuída à província do Moxico (�700 toneladas) não corres-ponder às evidências e que nesse ano haviam sido consideradas nulas as produções da Lunda Norte e da Lunda Sul, ao contrário do revelado em �00�. O nosso Relatório adiantava ainda que era bem possível que a cifra do Moxico viesse a ser revista. Por influência do CEIC ou não, é de todo necessário saudar as correcções que o MINADER tem vindo a introduzir, embora ainda se creia pouco realista a produção de arroz pelo facto de não haver evidências significativas dessa actividade nas quatro províncias produtoras (Moxico, Lunda Sul, Lunda Norte e Malanje).

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EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO ALIMENTAR (1000 ton)Ano Agrícola/

Produtos 2004/2005 2005/2006 % 2006/2007 %

Milho 734,372 526,084 28,3 615,894 17

Massango/Massambala 137,907 144,39 4,7 156,434 8

Arroz 8,65 3,831 55,7 4,635 21

Feijão 109,284 85,1 22,2 103,721 22

Amendoim 66,003 64,34 2,5 66,66 4

Soja - - - 7,064 -

Mandioca 8.586,87 9.037,02 5,2 9.730,26 8

Batata 308,876 350,814 13,5 491,216 40

Batata Doce 663,787 684,756 3,2 949,104 39

FONTE: MINADER – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas durante o Ano de �007

A falta de informação não permite analisar a evolução da produtividade das culturas nos três últimos anos. Porém, se se analisar o caso da mandioca, é de acreditar que se mantém o valor indicado pelo MINADER no seu relatório de �006, ou seja, �� toneladas por hectare como média nacional. Como aconteceu no relatório de �006, este número tem de ser questionado, pois não faz sentido pensar que a produtividade tenha crescido quase três vezes em relação à que se conseguia no início da década 70 sem que haja uma explicação plausível. Além disso, questiona-se o facto de não haver conhecimento sobre o destino da produção.6�

A cultura de feijão no Bié representa um caso curioso. Uma variedade designada por “manteiga” é de tal modo apreciada que o seu preço atinge valores à volta de ��0 kwanzas por quilo no período de alta (Dezembro), bastante superior ao de outras variedades, fazendo com que o feijão se torne uma cultura comercial de elevada importância. Comerciantes ambulantes do norte do País fazem a compra de feijão no Bié e transportam-no em estradas difíceis para o Uíje, Zaire e até para a República Democrática do Congo. Não se conhece nenhum programa oficial por parte do MINADER ou do Ministério do Comércio de apoio, estímulo e aproveitamento destas iniciativas, excepto a criação de uma cooperativa de produtores em Katabola.6�A mandioca daria um interessante estudo de caso. A partir dos dados de �006 atribuídos a Malanje, um pequeno exercício mostra o pouco realis-mo das cifras consideradas pelo MINADER. Pressupondo-se que existi-riam �00 mil famílias produtoras de mandioca (número já considerado muito elevado como se tem vindo a dizer) e que cada uma delas consu-miria diariamente �0 kgs de mandioca fresca ou o correspondente a seca (bombó/crueira) – número também excessivo – teríamos um auto-consu-mo diário de quatro mil toneladas em toda a província, correspondente a �.�6� mil toneladas por ano. Sendo a produção manifestada de �.�7� mil toneladas de mandioca fresca, isso significaria que aproximadamente ��0 mil toneladas de mandioca seca entrariam anualmente no mercado, o que equivaleria a cerca de ��0 toneladas diárias em circulação média. Hipoteticamente isto representaria ��0 viaturas com uma carga média de cinco toneladas, movimentando-se em direcção à cidade de Malanje ou a partir dessa cidade para Luanda. Pessoas contactadas em Malanje acham esse número absurdo, pois nem sequer admitem a circulação diária de ��0 viaturas, muito menos com cinco toneladas de carga.

A melhoria das colheitas em �007 permitiu uma maior disponibilidade de alimentos em algumas regiões do País, como, por exemplo, Cabinda, que se reputa já como auto suficiente nos dois produtos alimentares básicos da sua população (mandioca e banana), embora saia para a República do Congo, mesmo que informalmente, muita banana. Para a melhoria generalizada da disponibilidade de alimentos nas áreas rurais tem contribuído o recurso à cultura da mandioca, mais adaptada e resistente às irregularidades climáticas, em áreas não tradicionais (como o Huambo), uma iniciativa dos agricultores que passa ao lado das instituições. Porém, as reservas alimentares das famílias estão muito longe de satisfazer globalmente as suas necessidades, estando ainda bem presente o espectro de insegurança alimentar. A título ilustrativo, no Bailundo, província do Huambo, de acordo com os resultados de um inquérito realizado a 80 famílias por uma ONG que intervém no referido município, apenas ��,7�% declararam ter obtido colheitas que cobrem as suas necessidades alimentares apenas por um período inferior a seis meses. As famílias cuja produção agro-alimentar não suporta as suas demandas alimentares encontram nas pequenas actividades comerciais, na venda de pequenos animais, no fabrico de carvão e na prestação de serviços (fundamentalmente ligados ao trabalho agrícola), as principais fontes de obtenção de rendimentos para a compra de alimentos. Estamos muito longe, tudo o indica, da auto-suficiência em cereais como um ministro vaticinou há alguns anos para �007.

O Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural não contabiliza na sua informação estatística a produção de fruta, o que merece alguma reflexão. A fruticultura é uma das actividades agrícolas que melhor desempenho tem tido na pós-independência, particularmente nos últimos anos, superando em vários indicadores o que se passava antes de ��7� com algumas espécies. O abacate tem hoje uma importância significativa na dieta alimentar e também nos rendimentos de muitos camponeses e pequenos agricultores dos planaltos angolanos, assim como o ananás, que se expandiu a partir das áreas tradicionais da Kibala e Bocoio e hoje é uma cultura que está largamente difundida, principalmente nas áreas subplanálticas graças ao mercado que se animou com a reabilitação das estradas principais. A manga e os citrinos também estão a merecer mais atenção com resultados evidentes na produção que aparece no mercado nas províncias tradicionalmente produtoras. Este é um dos casos que justificaria uma parceria público-privada-familiar, não somente na comercialização, na conservação e na transformação,

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mas também no campo da assistência técnica, a fim de se aumentar as produções e produtividades. O sector empresarial não está indiferente a esta nova realidade e são já de significado os projectos que começam a despontar, sendo particularmente relevante o ligado à Caixa Social das Forças Armadas na Humpata, que convém acompanhar.

A produção de café (quadro seguinte) atingiu �76� toneladas, o que representa um aumento de ��0% em relação ao ano anterior. Apesar do próprio MINADER questionar esta cifra, pelo facto de ela não se traduzir em exportação, nem em transformação, o aumento pode ser explicado pela subida do preço no mercado que poderá motivar os produtores.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DE CAFÉAno/Produto 2004/2005 2005/2006 % 2007/2008 %

Café(ton) 3.000 2.500 17,0 5.762 130,0

FONTE: MINADER

A reconstituição dos rebanhos de gado bovino e caprino iniciada em anos anteriores é uma realidade com impacto significativo. Para isso, tem contribuído a iniciativa de pequenos, médios e grandes produtores, assim como alguns programas implementados pelo Governo e por ONGs, como o Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural (PEDR) e o Programa Geral de Desmobilização e Reintegração de ex-Militares. Grupos de comerciantes, maioritariamente jovens, adquirem garrotes para reprodução e tracção animal na Huíla para venda nas províncias do Huambo, Bié, Malanje e outras, numa complexa cadeia que envolve vários intermediários e serviços de transporte dos animais até ao destino, realizado normalmente a pé. As ��0 juntas de bois introduzidas no município do Bailundo entre �00� e �007 no âmbito do PGDR constituem uma capacidade de preparação de terras de cerca de �00 hectares por dia durante o período de Setembro a Fevereiro, números sobre os quais vale a pena reflectir como base para uma verdadeira política de fomento da produção e de combate à pobreza.

Alguns dos novos criadores têm seguido a tradição de aquisição de nemas, tipo “sanga”, nas províncias do sul para serem melhoradas com touros de raças mais produtivas, enquanto outros têm estado a importar gado “nelore” a partir do Brasil. Estas acções, importantes do ponto de vista do empreendedorismo, são salutares, mas encerram riscos que importa ter em conta. A maior parte destas iniciativas é realizada à margem do serviço de apoio veterinário ou impondo a tal serviço a aceitação de regras que violam elementares normas de carácter técnico por pressão de empresários com poder

político. O transporte de gado do sul para o Planalto de Camabatela tem de ser feito depois de vacinado e com as necessárias quarentenas (por exemplo no município de Cambambe), a fim de se preservar uma área considerada limpa do ponto de vista sanitário. Mais grave, porém, é a estratégia de importação de gado de raça, principalmente “nelore” do Brasil, medida que pode deitar por terra a possibilidade de Angola – que não tem nenhum caso de febre aftosa desde ��7� – poder vir a ganhar o estatuto de “País livre de febre aftosa sem vacinação”, o que seria uma notável mais valia para se tornar um exportador de gado, até por se tratar de gado “orgânico”, isto é, que se alimenta exclusivamente de pastos naturais. Acontece que, porém, parte dos estados brasileiros de onde é originário o gado importado teve febre aftosa em �007. O gado “nelore” é de boa qualidade, sem dúvida, dá corpulência e está bem adaptado às regiões tropicais, mas é de difícil maneio, está habituado a ser conduzido por peões a cavalo – e não por pastores a pé como está a suceder – e terá tendência a fugir das fazendas, onde, na maioria dos casos, não há parques, nem assistência veterinária adequada, nem outras condições requeridas. É como “fazer circular uma viatura de marca Mercedes numa picada”, no dizer de um experimentado veterinário angolano.

TOTAL DE EFECTIVOS PECUÁRIOS POR ESPÉCIE – 2006

Espécie Efectivos (milhares)

Bovinos 4.500,0Equinos 16,9Asininos 9,0Caprinos 4.777,9Ovinos 1.222,2Suínos 2.000,0Aves 17.041,9

FONTE: Instituto de Serviços de Veterinária (ISV)

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO NACIONAL DE CARNEOVOS E LEITE

Tipo de Carne 2005 2006 2007* %

Bovina(ton) 8.730 12.204 13.420 10

Suína(ton) 13.600 22.882 24.026 5

Caprina e ovina(ton) 5.427 9.153 9.794 7

Frango(ton) 630 1.058 1.164 10

Ovos (milhões un) 3.620 6.102 6.712 10

Leite (mil litros) 804 1.356 1.424 5

FONTE: Instituto de Serviços de Veterinária (ISV)

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* Os dados de �007 são estimativas baseadas nos resultados do �º semestre

Tal como para a produção agrícola, os indicadores de produção e de efectivos são muito discutíveis. O efectivo de bovinos, por exemplo, de acordo com várias opiniões, não deve ultrapassar os quatro milhões. Independentemente da veracidade dos números, o facto de apenas terem sido vacinadas �,� milhões de cabeças em �007 mostra a debilidade do Instituto de Serviços de Veterinária, que tem um quadro de pessoal técnico muito reduzido e dispõe de muitos poucos recursos (nas províncias da Huíla e Kunene o Instituto só tem seis veterinários). Este é um indicador do deficiente direccionamento dos investimentos no sector, dada a importância que a criação de bovinos está a ganhar, e representa um alerta para a inconsistência da estratégia que se está a seguir.

A produção de madeira em �007 conheceu uma redução em relação ao ano anterior e apresenta-se pouco superior à de �00�. Não há dados sobre o repovoamento florestal em 2007, mas a menos que tenha havido uma revolução, a área plantada deve continuar muito pouco significativa, a ter em conta as plantadas em �006 (6�0 hectares) e em �007 (7�� hectares). Estimativas muito por alto indicam que durante estes três últimos anos deverão ter sido desmatados (atendo-se apenas àquelas áreas que o foram com meios mecânicos) para a instalação de novas culturas mais de cinco mil hectares. Se tivermos em conta o caso de Cabinda, de acordo com informação recolhida no terreno, entram em cultivo anualmente pelo menos �0 mil novos hectares para o cultivo da mandioca e da banana resultantes de desmatação. Estas cifras, às quais deveriam ser acrescidos as resultantes de exploração de lenha e carvão, dão uma ideia do balanço anual negativo da biomassa em Angola.

EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO FLORESTALProdutos/Ano Agrícola 2004/2005 2005/2006 2006/2007

Madeira em toro m3 45.000 59.872 46.470

Carvão vegetal (ton) 50.000 17.630

Lenha (esteres) 2.500 5.000

Mel (ton) 3,5 18,9

FONTE: MINADER – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas durante o Ano de �007

5.1.4- Alguns dos principais programas em curso

Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural (PEDR).

Tal como no seu primeiro ano de existência, este programa continuou voltado para o fornecimento de insumos (inputs) agrícolas, tendo beneficiado perto de 800 mil famílias em �0� municípios com sementes e instrumentos de trabalho e parte delas com fertilizantes e algum equipamento de tecnologia intermédia. Esta estratégia de fornecimento de factores de produção, ao contrário do previsões anteriores, não foi ainda revista, sendo assim, o funcionamento do mercado continua prejudicado e as EDAs desviam-se do seu objecto principal, que é o de prestar assistência técnica aos camponeses. Contudo, a falta de motivação por parte de comerciantes para este tipo de actividade obriga à manutenção desta prática.

O Governo deu continuidade à execução de programas de apoio à agricultura familiar, salientando-se o Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural (PEDR) e o Programa Geral de Desmobilização e Reintegração de ex-Militares (PGDR). Com o primeiro, a principal preocupação continuou a ser o acesso das famílias aos insumos (inputs) agrícolas. Prevalecem, no entanto, as limitações do PEDR, dadas as insuficiências em recursos humanos, financeiros e materiais que as Estações de Desenvolvimento Agrário (EDAs) ainda enfrentam, inviabilizando uma actividade mais incisiva no domínio da assistência técnica e do apoio organizativo às comunidades rurais. Teve início nas províncias do Bié e do Huambo, uma experiência de extensão rural com base na abordagem das Escolas no Campo dos Agricultores (ECAs), que pode trazer melhorias no desempenho das EDAs.

A despeito das melhorias registadas, continua débil a articulação e a coordenação entre o PEDR e outros programas promovidos pelo IDA, que é financiado por agências multilaterais como a União Europeia, o Banco Mundial, a FIDA e a FAO, mas igualmente com as ONGs.

Programa de Desenvolvimento Rural

Paralelamente à execução do PEDR, o Governo lançou um Programa de Desenvolvimento Rural de carácter multisectorial coordenado pelo MINADER com o objectivo de melhorar as condições de vida das famílias camponesas, procurando harmonizar e integrar o desenvolvimento das comunidades rurais nos programas provinciais e nacionais de desenvolvimento económico social. O Programa não teve ainda acções de relevo a nível da implementação

Aldeia Nova

Como se referiu no relatório de �006, um dos objectivos do Projecto Aldeia Nova era o ensaio de

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um caminho para a modernização da agricultura angolana. Para isso, foi contratada assistência técnica israelita e definiu-se uma metodologia de formação dos agricultores. Alguns anos decorridos, os resultados técnicos alcançados não correspondem às expectativas nem aos gastos, principalmente se tivermos em conta que o número de beneficiários é de apenas 600 pequenos agricultores. A produção de ovos é a actividade que se apresenta com melhores resultados, enquanto a de leite, com uma média de seis litros por dia e por vaca, se revela muito modesta para o investimento efectuado. A produção de milho tem de ser apreciada como um fracasso, se se tiverem em linha de conta os factores utilizados. A qualidade das infraestruturas reabilitadas ou construídas, outro objectivo do projecto, também não correspondeu à expectativa, sendo a fábrica de lacticínios uma evidência disso. Os aspectos positivos, para além da produção de ovos, dizem respeito fundamentalmente à formação, sendo, no entanto, necessário analisar se tais resultados não poderiam ter sido alcançados com muito menos custos. Para além dos mais de 100 milhões de dólares investidos até ao fim de �007, foram inscritos no OGE de �008 mais cerca de 41 milhões para formação, fiscalização e serviços (desalfandegamento, transportes) e taxas, sem contar com a construção de �00 residências. Em contrapartida, a Bacia Leiteira da Cela, cuja área de intervenção se estende aos municípios de Kassongue e Kibala e a muitos milhares de criadores de gado, foi contemplada em �007 com unicamente �,8 milhões de dólares.

Apesar destes resultados pouco animadores, o Governo decidiu expandir o projecto para mais oito províncias, sem que tivesse sido feita uma avaliação prévia e introduzidas mudanças necessárias.

Perímetros irrigados

No programa do Governo para �007 e �008, está prevista a instalação e/ou conclusão de vários projectos de regadio no valor de mais de �7 milhões de dólares: Caxito, Ganjelas, Missombo (Kuando Kubango), Quiminha, Calueque (Cunene), Caála/Bom Jesus, entre outros.

O Governo de Angola tem investido bastante nos últimos anos em infraestruturas deste tipo. Porém, os resultados alcançados ainda não correspondem aos objectivos preconizados. As produtividades, insiste-se, não se diferenciam muito das áreas de sequeiro. Para além das debilidades de gestão e da falta de disciplina que um perímetro regado exige, outros factores como a fertilidade dos solos e o conhecimento

técnico para a sua melhoria; a assistência técnica, particularmente para a protecção das plantas contra pragas e doenças; a gestão, utilização, conservação e reparação de máquinas agrícolas e outros equipamentos; e sobretudo, a capacidade técnica e de gestão dos agricultores, limitam a exploração eficaz dos perímetros. Tais situações são generalizadas por todo o País, mas um exemplo concreto é o que se passa na Matala (Huíla), onde já se investiram cerca de 26 milhões de dólares e se verificam situações anómalas como falta de estudos prévios de viabilidade técnica e económica; assistência técnica deficiente em quantidade e qualidade; falta de qualidade e de oportunidade temporal dos insumos (inputs) agrícolas; insuficiência de máquinas agrícolas e má qualidade das lavouras e gradagens; deficiente esquema de fertilizações; deficiente sistema de identificação de pragas e doenças e do serviço de protecção de plantas; fraca capacidade técnica e de gestão das parcelas trabalhadas; elevado número de parcelas (a maior parte sem aproveitamento por ausência dos seus utentes.

Esta é uma situação que exige reflexão, pois os custos são demasiado elevados. Contudo, o OGE de �008 prevê mais verbas superiores a �� milhões de dólares para perímetros irrigados sem que se vislumbrem medidas para correcção das deficiências identificadas.

Pólo agro-industrial de Kapanda e Fazenda Pungo Andongo

A preocupação do Governo em concentrar investimentos na área de Kapanda é compreensível para que se possa tirar proveito da energia abundante e barata. Por outro lado, a existência da albufeira da barragem faz supor que haverá água para regar milhares de hectares e isso será condição suficiente para se passar à acção. Acontece que em agricultura é necessário ter em conta outros factores. Um deles é o solo. A região é caracterizada por ter solos arenosos, que não favorecem a eficácia e a eficiência do regadio. Os exemplos de Luanda são muito evidentes. Estudos realizados desde há muito pelo conceituado agrónomo (pedólogo) português A. Castanheira Diniz indicam que os efeitos da barragem de Kapanda na agricultura devem ser encontrados a jusante, mais concretamente nas zonas ribeirinhas entre Dondo e Luanda para aproveitamento dos aluviões a partir do momento em que o Kwanza e seus afluentes, nomeadamente o Mucozo, tenham os seus cursos regularizados.

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Produção de algodão no Kwanza Sul

O Governo aprovou a implementação de um projecto de relançamento da cultura de algodão no litoral do Kwanza Sul que, tal como a Pólo Agro-industrial de Kapanda – Malanje, pretende ser uma parceria público-privada, sendo o investimento privado da responsabilidade de uma empresa sul coreana. No OGE de �007 foi inscrita a verba de�6,8 milhões de dólares para esse efeito. Esta decisão do Governo vai ao encontro de uma outra que inclui o algodão como uma das três fileiras priorizadas, a par do milho e do feijão, para financiamento no domínio agrícola.

O facto de o algodão estar em crise no mercado internacional, com alguns países africanos (como o Mali, Burkina Fasso e Moçambique) a sofrerem pelas dificuldades de exportarem o produto devido às restrições da União Europeia e pela concorrência provocada pelos imbatíveis preços praticados pelos chineses, esta decisão é difícil de entender, pois o investimento público na agricultura deveria, em primeiro lugar, priorizar a produção de alimentos.

5.1.5.- Investigação e formação

A estratégia que o Governo está a seguir para estimular o chamado agronegócio e a modernização da agricultura familiar exigem uma aposta séria na investigação, sem a qual Angola perderá a luta pela competitividade. Apesar das melhorias, recentes, com a atribuição de um pouco mais de recursos humanos e financeiros – entre as quais a responsabilização directa de um vice-ministro pela investigação – ainda muito se encontra por fazer.

Actualmente o Instituto de Investigação Agronómica (IIA) conta com �0 doutorados (PhD), �7 mestres e �� licenciados, um conjunto que parece ser bem superior ao do tempo anterior à independência. O Instituto de Investigação Veterinária (IIV) está a um nível mais modesto, contando com dois doutorados, �0 mestres e �8 licenciados. Contudo, o que acontece é que o quadro de pessoal graduado é inadequado para fazer face aos desafios de uma investigação moderna e os níveis salariais e as condições de trabalho não são suficientemente atractivos para manter e melhorar esse quadro. Os recursos para a reabilitação das infraestruturas e a aquisição de equipamentos são manifestamente insuficientes para a execução de trabalhos de investigação. Os institutos de investigação são autónomos uns dos outros e não existem mecanismos de coordenação – do tipo conselho coordenador do sistema Nacional de Investigação Agrária – que incluem o sector privado e

outras organizações que actuam em I&D e inovação e integração. Todos estes aspectos foram identificados ou confirmados pelos responsáveis de um estudo conduzido pelo próprio sector durante o ano de �007, estando em discussão o modelo a seguir, feito com base no exemplo da EMBRAPA do Brasil. Não oferece dúvidas que se trata de uma boa referência, mas o que preocupa é que as decisões deste tipo não podem ser tomadas por imperativos políticos, antes de analisadas as possibilidades de adequação à realidade e de adaptação e de adopção pelos angolanos.

A formação de quadros para o sector agrário não tem merecido a necessária prioridade no País. A Faculdade de Ciências Agrárias – a única do País – esteve paralisada durante cerca de dez anos e isso teve consequências nefastas no modo como hoje se abordam os problemas agrários nacionais, pois a cadeia de transmissão de conhecimentos foi afectada pelo facto da esmagadora maioria dos professores ter abandonado o ensino ou mesmo Angola. As medidas tomadas para a reanimação da faculdade têm sido demasiado tímidas relativamente à dimensão dos desafios que o sector tem de enfrentar. Em 2007, foi inaugurado o Instituto Médio Agrário de Malanje e em �008 entrarão em funcionamento mais três localizados em áreas rurais (Andulo, Wako Kungo e arredores de Ndalatando), o que é salutar para uma maior ligação de jovens à actividade agrícola. No entanto, é importante questionar se os currículos dos cursos da faculdade e dos institutos estarão adaptados aos novos desafios. Na verdade, para além de técnicos agrícolas, de pecuária e de hidráulica, o sector necessita de gestores de empresas agropecuárias, de fazendas e de parques de máquinas, mas também de operários especializados como mecânicos, operadores de máquinas, serralheiros, torneiros e outros que estejam capazes de fazer face aos desafios de uma agricultura moderna.

5.1.6.- O financiamento do sector agrário

Dada a inexistência de informação sobre a execução do PIP, a análise recairá somente na sua orçamentação, o que autoriza algumas conclusões que importa referir.

Em primeiro lugar, a análise do OGE não permite identificar de forma clara os projectos do sector previstos e sua agregação de acordo com os diferentes executores. O facto de apenas dois institutos ou similares terem estatuto legal aprovado faz com que os seus projectos sejam incluídos num todo, o que dificulta a transparência na gestão e prestação de contas. Não é possível, por exemplo, identificar

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as verbas disponibilizadas para o PEDR, o mais importante para a assistência directa aos camponeses. Esta prática antiga, contudo, está a ser alterada pela (nova) direcção do MINADER com afectação, já com o OGE em execução, de verbas pelos diferentes organismos e programas.

Em segundo lugar, os projectos de cada província não são, regra geral, articulados de modo a constituírem programas que respondam aos objectivos de política traçados para o biénio. Por exemplo, só nas províncias do Bié, Cabinda, Huambo, Huíla, Kunene, Kwanza Norte, Lunda Norte, Malanje, Moxico e Namibe aparecem de forma explícita acções de fomento da actividade agropecuária. No Uíje, há apenas referência à assistência à produção de café e nada acerca da produção de alimentos. Dir-se-á que as acções não explicitadas fazem parte de um pacote geral, mas, a ser verdade, isso não favorece uma estratégia de implementação e muito menos a monitoria e a avaliação de projectos e acções.

São quatro as fontes de financiamento do sector agrário:

(i) O Orçamento Geral do Estado, incluindo o Programa de Investimentos Públicos com recurso a fundos do Tesouro, à linha de crédito bilateral de carácter comercial proveniente da República Popular da China, e a empréstimos de instituições como o Banco Mundial e o FIDA e de um grupo empresarial israelita;

(ii)Os financiamentos a fundo perdido, prove-nientes de grandes doadores como a Comissão Europeia e o Japão, entre outros;

(iii) Crédito bancário;(iv) Microcrédito para pequenas acções levado a

cabo por bancos comerciais, por ONGs e por fundos geridos por organizações comunitárias;

(v) Investimento privado.

A concessão de créditos por parte de bancos comerciais que até final de 2007 havia atingido valores pouco significativos, principalmente quando comparados com outros sectores. Além disso, as taxas de juro são altíssimas e muito superiores às máximas indicadas para a agricultura e a pecuária. O acesso ao crédito é ainda dificultado pela fraca densidade da rede de agências rurais e pelo baixo nível de preparação e de visão dos empresários O BDA definiu como prioritárias as cadeias produtivas de milho, feijão e algodão e essa medida, que se revela muito pouco adequada à realidade agropecuária do País, associada à falta de capacidade dos empresários para apresentarem propostas de projectos adequadas, está a limitar também o acesso ao crédito desse banco.

Unicamente no final de 2007, o BDA começou a apoiar projectos voltados para a produção agrária que, por esse facto, só terão reflexos na actividade e na produção de �008, incluindo três cooperativas. Através do microcrédito, pequenas cooperativas, associações e grupos comunitários têm recebido algum apoio. Em Benguela e no Huambo, por exemplo, um projecto de microcrédito, apoiado por uma empresa petrolífera e implementado por uma ONG angolana concedeu, em média, �00 dólares por família camponesa, o que, sendo pouco, tem um impacto importante na satisfação de necessidades dos pobres rurais, sendo a taxa de reembolso da ordem dos ��%.

Esta realidade exige que o Governo encontre outras soluções, criativas e inovadoras, mais práticas e acessíveis aos agricultores angolanos, que contemplem a questão das garantias, sem o que dificilmente se poderá pensar na possibilidade de melhorar a actual situação. Um caminho poderia ser a criação de caixas de crédito mútuo que teriam a vantagem de ser mais flexíveis que os bancos comerciais e mais próximas dos agricultores.

5.1.7.- O agronegócio e os biocombustíveis

O debate sobre o dualismo na agricultura dos países africanos no pós-independência mostra que já não há mais dúvidas de que a sua existência evidencia uma situação aberrante e que apenas o caminho a seguir para se pôr ponto final a tal situação divide estudiosos, investigadores e académicos. Em Angola, este debate tem sido sempre limitado a um pequeno grupo de técnicos agrários ligados directamente ao sector, sem envolvimento de economistas, sociólogos ou politólogos, e nem sequer de políticos. O nosso País mantém-se claramente à margem do conhecimento e do debate sobre esta matéria, e nem sequer se deu conta de que no final do século XX começou a verificar-se uma ruptura epistemológica no domínio da produção teórica sobre o desenvolvimento. Os velhos paradigmas (modernização, pobreza, dependência, mercado), a que corresponderam diferentes modelos (dualismo, produtivismo, proteccionismo, neoliberalismo) deixaram desde há muito de dar resposta aos problemas que vão ocorrendo e a aplicação sucessiva dos modelos que a nós, africanos, vão sendo impostos tem consequências que tornam o desenvolvimento cada vez mais dependente de factores externos e com menos probabilidades de se tornar duradouro como seria desejável.6� Essa ruptura criou um vazio teórico 6� Toda a análise desta secção é inspirada e segue de perto a Toda a análise desta secção é inspirada e segue de perto a magistral Oração de Sapiência proferida pelo prematuramente desapa-recido Professor moçambicano José Negrão na abertura do ano lectivo �00�-�00� nas Faculdades de Letras e de Agronomia e Engenharia Flo-restal da Universidade Eduardo Mondlane com o título O impacto sócio económico das cheias.

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que conduziu as agências internacionais, os doadores e os governos a um empirismo exacerbado nas suas actuações. O nosso mundo académico não está capaz de contrariar tal corrente, nem de fundamentar alternativas a esse empirismo que se manifesta pelo facto de: (i) os custos do dinheiro serem sistematicamente ignorados uma vez que o acesso a divisas está presentemente bastante facilitado; (ii) os poucos e mal elaborados diagnósticos primarem pelo positivismo e pela dedução e pelo desprezo do papel da indução e da teoria; (iii) insistir-se na ideia de que será o aumento da oferta por parte das empresas agropecuárias que reduzirá a pobreza e no aperfeiçoamento da elasticidade da procura; (iv) as instituições serem refractárias à mudança e actuarem quase sempre segundo uma abordagem sectorial em que os projectos raramente se integram em programas e esquecendo-se o planeamento territorial; e, finalmente (v) o modelo de democracia representativa ser encarado como um dogma e não se terem em conta as práticas endógenas de democracia participativa não formal que já existiam em instituições “tradicionais” ou que vão surgindo com a contribuição da sociedade civil em variadíssimas regiões.

Quando a produção teórica é inexistente ou entra em ruptura, o caminho mais indicado poderá ser o retorno à evidência empírica, tanto para o enriquecimento de pressupostos, como para a constituição de um novo quadro teórico. Isto não tem acontecido em Angola pela debilidade do seu mundo académico e de investigação. Não obstante essas carências, algumas iniciativas individuais ou de grupo têm tentado encontrar alternativas viáveis e duráveis que favoreçam um desenvolvimento sustentável. Um exemplo tem sido a tentativa de contrariar o conceito de economia de subsistência e, em seu lugar, propor o de economia familiar. Com efeito, não só não é verdade que os camponeses angolanos pratiquem uma economia de subsistência, visto que a maioria, ou pelo menos uma parte muito significativa, das famílias rurais se encontrar integrada no mercado, como este próprio conceito não é operacional por dar demasiado ênfase à função produção em detrimento das funções de consumo e de distribuição. Assim sendo, na economia familiar a imputação dos factores de produção tem por objectivos a maximização da segurança e o reforço das redes sociais que minimizam os riscos e, também, a multiplicação da produtividade marginal de cada factor. Por outro lado, a evidência empírica trouxe dois acrescentos ao pressuposto de que a noção de camponês está ligada à terra e ao mercado: (i) a agricultura é uma importante mas não exclusiva fonte de rendimentos e (ii) a especificidade do comportamento de cada unidade singular é parte

de um todo onde reside a garantia de segurança e de reprodução social. Foi então adoptado o conceito de família rural camponesa, como sendo a mais pequena unidade de produção, consumo e distribuição das sociedades rurais africanas.

Simon Kuzents, no seu estudo sobre história do desenvolvimento económico moderno, concluiu que o processo de desenvolvimento tem como uma das suas principais características uma elevada taxa de transformação estrutural e sectorial da economia, o que conduz à ideia de que o desenvolvimento assentaria na acelerada reorientação da economia desde a agricultura (vista como sector primário) para a indústria (sector secundário) e para os serviços (sector terciário). Hollis Chemery argumentou que este padrão de desenvolvimento dos países ocidentais não teria que ser inevitável, como não era inevitável o desenvolvimento fora do sector agrícola. Outras escolas que foram mais tarde esmagadas pelas correntes neoliberais, com destaque para a liderada pelo brasileiro Celso Furtado, defenderam que a agricultura e, consequentemente, o campesinato, têm um papel cada vez mais relevante no desempenho económico de países subdesenvolvidos (Negrão, �00�). O chamado milagre económico brasileiro assentou num modelo que ignorou estas formulações e se o Brasil é hoje uma das economias florescentes a nível mundial, tal modelo produziu, como nenhum outro, essa crua realidade social que são os “sem terra”, milhões de famintos e uma das mais altas taxas de criminalidade do mundo. Não deve ser por acaso que o modelo tem sido questionado por académicos das mais conceituadas universidades brasileiras, que sustentam que um outro Brasil, mais solidário e com uma perspectiva de desenvolvimento mais justo e sustentável é possível.

É neste quadro, que deve ser analisada a actual posição do Governo angolano sobre o agronegócio e os biocombustíveis.

A inevitável extinção do campesinato através de uma modernização agrícola que implique a sua transformação em trabalhador rural é ilusória, pois a taxa de crescimento demográfico tende a manter-se elevada sem que a oferta de emprego nos sectores da indústria e dos serviços e mesmo das empresas agrícolas aumente em correspondência. Na verdade, os camponeses não são ignorantes, como o demonstram vários exemplos em que os saberes locais permitem rendimentos tão ou mais elevados de que as empresas e conseguem mitigar a insegurança e os riscos, depois, as formas de organização tradicional são mais duradouras e a fonte de

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informação sobre o mercado está a ser vencida graças ao telemóvel. Por outro lado, os custos em recursos humanos, financeiros, energéticos e fundiários e as consequências sociais e ambientais que uma opção pela acelerada modernização da agricultura exige e provoca são incomportáveis para o País. O importante é analisar as razões que dificultam o progresso da agricultura no seu conjunto, ter em conta a estrutura agrária realmente existente, apostar na capacitação dos recursos humanos e das instituições de suporte à produção (incluindo a investigação, a assistência técnica e, no topo das prioridades, o crédito e a rede de comercialização e de transportes).

O Governo angolano decidiu em �007 apostar na produção de biocombustíveis com o argumento de contribuir para a produção de energias renováveis e “limpas”. Para isso, concorreram a influência do Presidente Lula da Silva e as ofertas de investimentos e créditos brasileiros, o que vai ao encontro, também, da aposta no agronegócio. Algumas acções estão já em curso com a experimentação de variedades de cana de açúcar na Cela (empreendimento privado) e com o arranque do Pólo Agro-industrial de Kapanda (parceria público-privada). A opção pela cana de açúcar como material biológico oferece a vantagem de, aparentemente, afastar o perigo da concorrência com cereais e outros bens alimentares, forte argumento defendido pelo lóbi brasileiro que pretende expandir o uso de biocombustíveis em África. Contudo, esta decisão deve ser encarada com algumas reservas. Os defensores desta opção argumentam que Angola tem muita terra – e por isso não haverá perigo de concorrência com a produção de alimentos – e que ela contribuirá para a criação de empregos. É verdade que Angola tem muita terra, mas também é verdade que tem pouca terra de boa qualidade – e a cana sacarina exige terras de boa qualidade, o que acabará por provocar a concorrência. Além disso, a concorrência não pode ser analisada somente na perspectiva da terra, pois num país em que os recursos humanos, institucionais e financeiros não abundam é óbvio que a produção de combustíveis prejudicará a produção alimentar. Finalmente, o facto de Angola ter ainda um défice de cereais que ronda os �0% faz pensar que a prioridade de política não deve ser outra senão a de produção de alimentos. Este é um assunto que deve merecer mais estudo e debate em Angola antes da tomada de decisões que se podem revelar irreversíveis.

Enfim, algumas reflexões finais. O Programa do Governo para o biénio �007-�008 introduz medidas de política que marcam um virar de página na história da agricultura angolana recente. Como se sabe, o dualismo entre sector empresarial e sector camponês

marcou de forma negativa a evolução da agricultura angolana nos “anos de ouro” da década de 60, não só pelo facto do governo português ter tomado medidas que não favoreciam a modernização de um sector que se revelava cada vez mais dinâmico e era responsável pela maior parte da produção de alimentos, como acabava por asfixiá-lo pela política fundiária e sobretudo pelas práticas que tornavam a política ainda mais hostil. Entre os anos 60 e o início dos anos 70, segundo estudos da extinta Missão de Inquéritos Agrícolas de Angola, a área média das terras dos agricultores em algumas das principais províncias agrícolas (Huambo, Benguela e Malanje) foi drasticamente reduzida para metade ou mais de metade devido às demarcações de que beneficiavam os agricultores estrangeiros. Não deve constituir novidade o facto de a exploração de terras ter desempenhado um papel fundamental na revolta dos camponeses em ��6� e na sua adesão à luta pela independência.

A actual legislação de terras protege os direitos dos camponeses, mas tal como nos últimos anos do período colonial, ela é ultrapassada na prática com a justificação de que há muita terra, que os camponeses não a utilizam na totalidade e que, quando a utilizam, não tiram dela o proveito devido. Estes eram também os argumentos antigos – e os resultados mostram que os portugueses não conseguiam tirar muito melhores resultados com bastantes mais recursos. O passado exige que o Governo resolva a contento o grave problema da delimitação das terras comunitárias e outorgue os respectivos títulos de uso e aproveitamento às comunidades utentes.

O dualismo é um modelo ultrapassado e não pode, pois, ser visto em termos de exclusão mútua entre um sector e outro. Há domínios onde o agronegócio (seu novo nome por influência brasileira) pode ser, já ou a curto prazo, mais eficaz e eficiente, como a produção de bovinos de corte e de leite, a fruticultura, a produção de ovos em larga escala, entre outros. O que é necessário é, antes de tudo, estudar, investigar e dialogar mais, com um verdadeiro envolvimento dos agricultores. Criar primeiro condições para que os empreendimentos se tornem rentáveis: formar agrónomos, veterinários e zootécnicos; gestores de empresas agrícolas e de fazendas; gestores de parques de máquinas e operários especializados em mecânica, serralharia e operação de máquinas. De igual modo, investir na pesquisa e criar infraestruturas de serviços funcionais de apoio à produção a montante e a jusante, incluindo a comercialização. Finalmente, estimular a organização de incubadoras de empresas, incluindo aquelas hoje consideradas familiares de modo a que

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todas se possam dedicar ao negócio da agricultura, pecuária e florestas. Desse modo, acabar-se-á com o dualismo e todos, grandes, pequenos e médios terão possibilidades de se tornarem verdadeiros empresários de sucesso.

A atribuição de recursos aos programas de apoio à agricultura familiar é claramente desproporcionada em relação aos que são canalizados para empreendimentos de grande vulto, como os perímetros de irrigação, a Aldeia Nova e outros, sem que estes estejam ancorados em estudos de viabilidade. Gastar avultadas somas nesses projectos com o argumento da modernização, e não resolver problemas simples como a melhoria de qualidade de sementes dos camponeses, a organização do serviço de assistência veterinária ou a estruturação de sistemas de comercialização da produção a partir das iniciativas existentes do sector informal, que não são estudadas ou tidas em conta, não parece ser uma boa estratégia. Como não o é fazer investimentos elevados em projectos como o PRESILD e a rede NOSSO SUPER cujo impacto na vida das populações, e particularmente na produção agrícola, é muito pouco significativo. A comparação do investimento de mais de �00 milhões de dólares no Projecto Aldeia Nova (onde o impacto é reduzido)

em três ou quatro anos com os pouco mais de cinco milhões em toda a agricultura de Cabinda (que se tornou quase autosuficiente em alimentos básicos) no mesmo período, com base quase exclusivamente na produção familiar, obriga a que os órgãos de planeamento e finanças dediquem mais atenção à definição adequada de prioridades.

6. COMPONENTES DA DESPESA

A análise da economia angolana pela óptica da despesa final em bens e serviços confirma algumas das transformações anotadas em capítulos anteriores, mormente nos relacionados com o nível geral de actividade e do comportamento do sector real da economia6�.

Com efeito – mesmo numa situação de debilidade da base estatística nacional e de uma falta de fiabilidade das estatísticas conhecidas – reconhecem-se sinais aparentemente evidentes de alterações quanto à influência dos diferentes factores de crescimento, dentro do triângulo consumo privado-investimento-exportações.

Os valores representativos dos agregados da despesa nacional encontram-se no quadro seguinte.

6�Uma boa abordagem da despesa nacional é tributária, no entanto, da existência dum forte sistema de contabilidade nacional, ainda em fase de criação em Angola. Por isso, as considerações a seguir incorporadas ba-seiam-se em estimativas – algumas grosseiras – discutíveis em si mesmo e nos pressupostos admitidos para os cálculos. Inclusivamente, os valores relativos à grandeza macroeconómica básica – o Produto Interno Bruto – não oferecem confiança, mesmo quando caldeadas pelas aproximações feitas pelo “staff” do Fundo Monetário Internacional.

COMPONENTES DA DESPESA NACIONAL(valores em milhões de dólares correntes)

FONTES: Contas Nacionais, MINPLAN; Estatísticas da Balança de Pagamentos, BNA. Execução Orçamental, MINFIN. Balanços do Programa Geral do Governo, �00�, �006 e �007. Estimativas do CEIC

VARIÁVEIS 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Produto Interno Bruto 11239844,1 13513151,3 19006075,0 30271482,6 41980835,7 60638234,4

Exportações bens e serviços 8328300,0 9508100,0 13475700,0 24108800,0 31817700,0 39608800,0

Importações bens e serviços 7082100,0 8801300,0 10634800,0 15855300,0 20274200,0 24514400,0

Investimento público 274040,6 281262,9 868420,4 1531446,8 5403010,4 7146106,2

Investimento total 3351624,3 5277960,0 6913434,5 8029401,9 11305045,1 18793096,6

Consumo público 3697317,2 3900546,6 3888140,5 5635680,7 7683190,6 8962910,8

Consumo privado 2944702,6 3627844,7 5363600,0 8352900,0 11449100,0 17787827,0

Um dos factos a relevar das informações anteriores prende-se com a melhoria do consumo privado por habitante, sobretudo a partir de �00�. Entre este ano e �007, a taxa média anual de variação foi de, aproximadamente, ��,�% ao ano. O crescimento das importações de bens de consumo final no mesmo período – na vizinhança de �8% em média anual entre �00� e �0076� – ajuda a compreender a razão duma tal dinâmica. Este assinalável progresso torna mais verosímeis as estimativas do CEIC quanto à redução da taxa de pobreza em �007, embora a indeterminação sobre o grau de concentração da riqueza e do 6� As importações de bens de consumo final ascenderam a 7021,2 mil mi-lhões de dólares em �007 e a ��0� mil milhões de dólares em �00�.

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rendimento continuem a justificar um olhar reservado sobre a evolução do consumo privado por habitante, tal como já tinha sido manifestado no parágrafo em que este fenómeno social tinha sido abordado.

As exportações e as importações são duas das variáveis mais regulares do panorama económico nacional. As primeiras respondem às solicitações da procura internacional de petróleo e diamantes, enquanto as importações são uma das componentes fundamentais da oferta interna de bens e serviços.

As exportações de bens e serviços apresentaram, entre �00� e �007, uma cadência de variação média anual de 36,7%, influenciada pelos incrementos na produção de petróleo e nos preços internacionais. A primeira década do século XXI tem sido pródiga em ganhos extraordinários nas facturas petrolíferas dos países produtores, o que tem dado origem a efeitos perversos sobre outras componentes importantes do seu crescimento económico e da recuperação de equilíbrios sociais mínimos, mormente nas situações de pós-conflito, em que o panorama é de grande exclusão e marginalização de amplas camadas populacionais.

As importações acabaram por ter sido puxadas pelas exportações (aumento da capacidade de importar, ampliada pela apreciação do kwanza) e pelo crescimento económico global6�. A respectiva cadência de variação média anual foi de �8,�%, mesmo assim, ainda abaixo das exportações. Quando se encurta o período de análise para 2004/2007 (incidência da paz), verifica-se que as dinâmicas importadoras se alteram, passando, agora, para uma taxa média anual de mais de ��,8%. A apreciação do kwanza, ao tornar as importações provenientes da zona de influência do dólar mais baratas, impulsionou-as, aumentando a concorrência interna face a uma produção nacional ainda incapaz de responder ao desafio de substituir as de consumo corrente e mais ou menos duradouro. A este acentuado crescimento não deve ter sido alheio a revisão da Pauta Aduaneira em �00� e os ajustamentos subsequentes, que liberaram determinadas posições pautais, com a finalidade de reduzir a evasão fiscal e controlar melhor os preços dos bens finais de consumo.

O investimento público, graças aos 7,� mil milhões de dólares aplicados em �007 (de acordo com o Relatório de Balanço do Programa Geral do Governo de �007 e da Execução Orçamental para o mesmo ano), começa a desempenhar um papel de estímulo ao crescimento económico do país, condizente com as suas necessidades de infraestruturação e de combate 6� As importações fob feitas directamente pelo sector petrolífero repre-sentaram, em média, �0,�% das importações totais fob no período �000-�007.

contra a pobreza. Entre �00� e �007, as despesas de investimento do Estado cresceram a uma taxa média anual de praticamente 88%, superior, quer à do consumo privado (��,7%), quer à do consumo público (��,�%).

Mas mais importante que o aumento sistemático do investimento público, é a qualidade das obras que o Estado põe à disposição da economia. A melhoria na produtividade económica geral passa pela efectivação de infraestruturas físicas, humanas e ambientais com eficácia de resultados, o que, obviamente, tem a ver com a qualidade do investimento público. A gestão dos investimentos do Estado é outra área de enorme impacto sobre a economia, em dois aspectos precisos: na sua programação, procurando-se a maior ligação ao sector privado e às componentes sociais da economia e na sua execução, garantindo-se transparência na afectação dos dinheiros públicos e rigidez no cumprimento das especificações dos cadernos de encargo66.

O investimento privado petrolífero continuou em alta, sendo o grande dinamizador da economia nacional. Em média no período �00�-�007, as companhias petrolíferas multinacionais responderam por 87,�% do investimento total em Angola (em conjunto com as exportações minerais, tem sido o factor, por excelência, de crescimento da economia angolana). É mais um indício sinalizador da grande dependência dos sectores de enclave, do que resulta um elevado grau de abertura sem consequências estruturais sobre o crescimento dos outros sectores da economia nacional. A indisponibilidade destas multinacionais em drenar os recursos em divisas, obtidos com a exportação do petróleo, para o sistema financeiro nacional, assinala bem o seu desinteresse em ajudar a reestruturação da economia angolana67.

Nota de destaque deve merecer o comportamento do Consumo Público, uma macro variável essencial da manobra de reequlibragem macroeconómica do Governo. Entre �00� e �007, os gastos governamentais em pessoal e funcionamento cresceram a uma taxa média anual de ��,�% a preços correntes, a mais baixa 66Outra questão de grande relevância em matéria de investimentos pú-blicos – e já retida nos Relatórios anteriores – liga-se aos critérios de selecção dos projectos. Para que se reduza a área de influência política e partidária, é imprescindível que se proceda a uma avaliação rigorosa das propostas sectoriais e provinciais e se calculem as taxas de retorno dos projectos de investimento público, escolhendo-se os de mais elevada probabilidade de rendibilidade. Seguramente que os problemas de fiscali-zação das obras é, igualmente, outro aspecto de grande preocupação, para que a esperança matemática de vida média das infraestruturas respeite os parâmetros internacionalmente estabelecidos. 67De acordo com recentes informações, este dossier voltou à mesa das negociações, num momento em que, por força do alargamento e moderni-zação do sistema financeiro nacional, começam a deixar de existir razões justificáveis para não canalizar as receitas de exportação dos recursos mi-nerais para a rede bancária angolana.

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de entre as componentes da despesa nacional. Ainda assim, não deixa de ser elevada, encontrando-se três justificações para o efeito: em primeiro lugar, o aumento do número de servidores civis para melhor atender às necessidades de extensão da Administração do Estado e ao aumento dos serviços sociais e económicos prestados à população (nomeadamente, o aumento da taxa de escolarização no ensino primário – com a redução significativa do número de crianças fora do sistema de ensino –, e a melhoria dos cuidados primários de saúde); depois, os aumentos salariais dos funcionários do Estado (militares, para-militares e civis) e, finalmente, o incremento dos gastos de funcionamento inerente à primeira das duas situações anteriores.

INDICADORES DA DESPESA NACIONAL(valores em %)

O rácio que mede o peso do sector público administrativo na economia patenteia uma clara tendência de decrescimento, muito embora uma afirmação mais concludente tivesse de admitir a inexistência de despesas extra-orçamentais, o que não se está completamente em condições de o assegurar. O valor do rácio em �007 – ��,8%, –, representa um decréscimo �,� pontos percentuais relativamente a �006, o que seria significativo se se pudesse concluir por uma evidente melhoria na produtividade administrativa.

Mas a relação entre a actividade do Estado e a economia pode, também, ser avaliada pelo rácio gastos públicos totais (com investimentos e juros da dívida pública interna e externa)/PIB. Deste ponto de vista, os valores foram de ��,7% em �00�, ��,�% em �00�, ��,�% em �006 e ��,�% em �007, equivalente a um desincremento total (�00�/�007) de �,� ponto percentual. São rácios ainda altos, não só “de per se”, como quando comparados com os das outras economias, mormente dos nossos vizinhos da SADC. Como quer que seja, deve-se registar que o Governo tem estado engajado em melhorar o desempenho das contas públicas e tornar os seus resultados mais transparentes. Este reconhecimento tem, também, constado dos relatórios de instituições internacionais, tais como o FMI, o Banco Mundial e a OCDE.

Os indicadores que têm as variáveis do comércio externo como numerador confirmam que a economia angolana é das mais abertas do mundo, valendo as relações económicas com o exterior um valor médio, no hexénio �00�-�007, de ��7,�% do PIB. Nada de surpreendente, dado o domínio do petróleo e dos diamantes na estrutura económica do país (produção e exportação). O excesso de representatividade das exportações tem dois gumes: se a procura e os preços internacionais se apresentarem ascendentes, os reflexos internos serão positivos; caso contrário, instala-se a crise. Trata-se, portanto, duma situação indesejável, em que os centros de decisão se encontram no exterior, fora do controlo da política económica nacional. Indesejável, sobretudo, porque as exportações se concentram (�7,8%) em apenas dois produtos, estando, assim, este padrão de comércio externo mais sujeito às incertezas e riscos do mercado mundial.

Deve, do mesmo modo, pôr-se em destaque a elevada dependência das importações – em média, cerca de ��,�% no hexénio – como consequência das políticas macroeconómicas que, através dum kwanza forte, estimulam a substituição da produção interna pelas importações.

Uma nota final sobre o rácio do consumo privado. A tendência de aumento da sua participação no PIB fica a dever-se à sua maior intensidade de crescimento no período considerado.

Em resumo:• o processo de estabilização económica e de

consolidação orçamental está bem documentado pelos valores dos respectivos rácios;

• desde �00� que a economia angolana tem sido uma economia de investimento, embora as exportações não tenham perdido, significativamente, o seu peso no PIB; o rácio conjunto exportações líquidas+investimento total/PIB foi, em �007, de ��,�%

• entre �00� e �007 os reais factores do crescimento económico foram o investimento e as exportações de petróleo;

• o consumo privado começa a emergir também como um forte candidato a factor importante na contabilidade do crescimento económico, em particular nos anos vindouros;

• as importações de bens e serviços têm diminuído a sua representatividade no cômputo do PIB.

Em termos de contribuições para o crescimento económico, entre �00� e �007, a tabela seguinte contém as informações mais relevantes.

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CONTRIBUIÇÕES PARA O CRESCIMENTO(valores em percentagens)

VARIÁVEIS 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Consumo Privado 5,3 6,2 13,5 15,4 10,1 16,7

Consumo Público 8,7 1,6 -0,1 8,4 6,6 2,5

Exportações totais 17,5 10,0 29,6 62,8 24,2 16,0

Investimento total 0,4 22,4 11,3 4,3 11,0 20,5

Importações totais -3,6 -15,8 -11,7 -25,7 -13,5 -8,5

Produto Interno Bruto 28,3 24,4 42,6 65,2 38,5 47,3

7.- BALANÇA DE PAGAMENTOS

7.1.- Introdução

A análise sobre os agregados da Balança de Pagamentos vai ser feita com recurso a estimativas referentes a �007, devido à circunstância de, à data de elaboração deste capítulo, não se encontrarem disponíveis as informações definitivas.

Os dados a serem analisados reflectem o conjunto de transacções realizadas por Angola com o resto do mundo durante �007.

A subida do preço do petróleo bruto no mercado internacional continuou a reflectir-se positivamente na Balança de Pagamentos de Angola, sobre o aumento das reservas internacionais liquidas e na redução significativa dos atrasados da dívida externa.

Estima-se, tal como no ano transacto, que as relações com o exterior tenham produzido um significativo superávite no saldo global da balança de pagamentos.

7.2.- Conta corrente

Estima-se que a Conta Corrente encerre o exercício económico do ano passado com um excedente positivo de 6��0,� milhões de dólares, apesar de tudo, um decréscimo de ��,0 % comparativamente ao ano anterior, em que o superávite foi de �068�,8 milhões de dólares. Este superávite representa cerca de �0,7% do Produto Interno Bruto, contra �6,�% do ano anterior, derivado mais do forte crescimento desta última variável macroeconómica, do que ao um forte decréscimo do saldo desta conta.

O gráfico acima mostra-nos o comportamento positivo da Conta Corrente da Balança de Pagamentos desde �00�, onde se destacam os superávites de �00�, 2006 e 2007, influenciados, quer pelo boom do preço do petróleo no mercado internacional nos últimos anos, quer pela estabilidade cambial que se observa no país.

Para a melhoria da Conta Corrente da Balança de Pagamentos em �007, terão contribuído, significativamente, o excedente da Conta de Bens (Ex-Balança Comercial), apesar do agravamento das Contas de Serviços, Rendimentos e de Transferências, causado pelo aumento do investimento público, pelo crescimento dos lucros e dividendos transferidos, pelo aumento das remessas dos trabalhadores, particularmente do sector petrolífero e pelo reembolso dos atrasados da dívida com os países membros do Clube de Paris.

Estima-se um défice da Conta de Transferências Correntes devido a uma forte diminuição da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD), o que demonstra, uma vez mais, que Angola esta a assumir a tarefa de reconstrução nacional com recursos próprios e quase sem ajuda da comunidade internacional.

7.2.1.- Conta de bens

As estimativas desta Conta apontam para um excedente de �7�06,� milhões de dólares, em �007, contra ��08�,6 milhões de dólares em �006, representando, assim, um crescimento relativo de �0,8%. Para este resultado terá contribuído o crescimento de ��,�% das receitas de exportação, apesar do forte crescimento das importações de bens em ��,�%.

O crescimento das exportações é explicado pelo aumento dos preços dos principais produtos de exportação de Angola no mercado internacional, o aumento da produção de petróleo e diamantes e a diversificação das outras exportações designadamente, os derivados do petróleo, o café, o ferro, os derivados de madeira e o pescado.

A produção e os preços do petróleo bruto e dos diamantes têm verdadeiramente um efeito considerável no volume de receitas e, consequentemente, nos principais indicadores de equilíbrio externo da economia angolana, dada a sua forte dependência das receitas provenientes destes dois principais produtos de exportação.

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Como pode ver-se no gráfico anterior, desde 2005 que o efeito preço foi o factor determinante para o crescimento das receitas de exportações, apesar de se ter verificado em 2007, também, um crescimento no volume de petróleo bruto exportado, o que determinará por esta via o aumento das receitas de exportação. A produção de petróleo passou de ��0�,� mil barris de petróleo dia em �006, para �6�7,� mil barris dia em �007, ou seja, um crescimento de �0,�%, enquanto que o preço registou uma variação de ��,�%.

O excedente da Balança Comercial representou, em �007, cerca de �6% do Produto Interno Bruto, contra �0% observado no ano anterior. Esta melhoria do excedente da Balança Comercial em relação ao PIB, pode ser atribuída aos factores acima referenciados, nomeadamente, ao aumento dos preços e das quantidades de minerais exportados e ainda a uma substancial melhoria verificada no crescimento e na diversificação da produção agrícola interna, que influenciou o crescimento moderado da importação de bens de consumo.

7.2.1.1.-Exportações

À semelhança do que ocorreu em anos anteriores, as exportações de Angola mantiveram no período em análise um comportamento crescente, continuando a destacar-se o petróleo bruto e os diamantes como nos indica o quadro a seguir:

EXPORTAÇÕES(milhões de dólares)

Rubrica 2005 2006 2007Exportações totais 24.109 31.862 39.608

Das quais Petróleo Bruto 22.583 29.928 37.767

Diamantes 1.092 1.154 1.045

Outros 1 434 778 797

FONTE: BNA/DEE/BPNotas: (1) Inclui: Refinados, Gás, Café, Madeira, Pescado, Laminados

Como se pode verificar no gráfico abaixo, e no cômputo geral das exportações, o petróleo bruto continua a manter o primeiro lugar, participando com

uma média percentual de cerca de ��%, seguindo-se os diamantes, com uma média de �,6% e os outros produtos com uma média de �%, concluindo-se que a economia angolana continua ainda muito dependente dos seus dois principais produtos de exportação. Assim sendo, uma alteração nos preços desses produtos terá inevitavelmente um impacto na Conta Corrente e no saldo global da Balança de Pagamentos.

Esta situação mostra o persistente desenvolvimento assimétrico do sector produtivo de Angola, fortemente bi-mineral e mono produtivo. Nesta conformidade e à semelhança do recomendando em anos anteriores, medidas de natureza estrutural deveriam ser acauteladas com vista a um melhor aproveitamento da sinergia do petróleo com outros sectores da economia angolana. Destaca-se no ano de �007, o crescimento das exportações de outros produtos, que apesar de representarem apenas �% no total das exportações, demonstram, entretanto, alguns sinais positivos de revitalização.

7.2.1.2.- Importações

Estima-se um crescimento das importações de ��,�% relativamente ao ano de �006, prevendo – se que passem de 8777,6 mil milhões em �006, para ��70�,� mil milhões de dólares em �007. O quadro que se segue permite-nos constatar uma ligeira redução nas importações de bens de consumo, alterando a tendência histórica que se observava desde a independência. Verifica-se, também, o significativo o aumento das rubricas de bens de capital e de consumo intermédio, explicado, particularmente, pelo aumento do investimento público e privado decorrente do processo de reconstrução de infraestruturas e de insumos para os sectores de agricultura e industria transformadora.

CLASSIFICAÇÃO ECONÓMICA DAS IMPORTAÇÕES (milhões de dólares)

Anos 2006 2007 Δ% Peso

Importações Totais 8.777,6 11.702,5 33,3

Bens de Consumo Corrente 6.496,9 3.499,0 29,9 30,1

Bens de Consumo Intermédio 1.180,2 3.943,7 33,7 33,6

Bens de Capital 3.098,6 4.259,7 36,4 36,3

FONTE: BNA/DEE/RBP

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Apesar dos constrangimentos de natureza estrutural, as medidas de natureza macroeconómica empreendidas pelo Governo e a consolidação do processo de paz, têm permitido o ressurgimento da produção agrícola, que permitirá, no curto prazo, a substituição das importações de bens de consumo corrente.

7.2.1.- Balança de Serviços

À semelhança de anos anteriores, a conta de serviços, apresentará um défice de 12562,8 milhões de dólares em �007, ou seja um crescimento de �08% se comparado a �006, que foi de 60�6,� milhões de dólares.

Este agravamento deveu-se ao aumento dos gastos com transportes e viagens causado pelo significativo nível de importações de bens e serviços, pela contratação de serviços de assistência técnica especializada para o sector petrolífero e outros sectores institucionais da Administração Pública, pelo aumento dos serviços de construção civil e pelo aumento das despesas públicas com a manutenção de representações diplomáticas no exterior do país.

O crédito de serviços, de ��� milhões de dólares, reflecte uma melhoria na recolha de informação estatística, particularmente no sector de turismo, transporte aéreo e seguros. De referir, no entanto, que Angola continuará ainda por muito tempo sendo um importador liquido de serviços do exterior, dada a sua condição de país em vias de desenvolvimento e com uma força de trabalho ainda muito pouco qualificada.

CONTA DE SERVIÇOS (milhões de dólares)Rubrica 2005 2006 2007

Saldo da Balança de Serviços -4.480 -6.026 -12.562

Crédito de Serviços 330 1.484 249

Débito de Serviços -6.628 -7511 -12.811

FONTE: BNA/DEE/RBP

Sugere-se assim, um melhor aproveitamento do potencial existente noutras áreas de serviços como turismo, no seguro e resseguro, nas comissões e royalties para o incremento das receitas, que possam contribuir para o melhoramento do saldo deste conta.

7.2.2.-Rendimentos

A conta de rendimentos apresentou um saldo negativo de 8�88,� milhões de dólares em �007, contra os 6�77,7 milhões de dólares em �006, um agravamento de ��%. Este agravamento deveu-se:

• Ao crescimento dos lucros e dividendos do sector petrolífero, comparativamente ao ano transacto, com uma variação de �8,�%, passando de ��77,0 milhões de dólares, para 78��,� milhões de dólares em �007, causado, principalmente, por uma recuperação mais acentuada do investimento directo estrangeiro no sector petrolífero.

• Ao crescimento dos rendimentos de trabalho.

CONTA DE RENDIMENTOS (milhões de dólares)Rubrica 2005 2006 2007

Saldo da Balança de Rendimentos: -3.689 -6.178 -8.588

Crédito de Rendimentos 41 145 68

Débito de Rendimentos Juros:

Incluindo Juros de Mora Lucros e Dividendos

Rendimentos de Trabalho

-3731

-431-174

-3075-225

-6323

-805-185

-5277-241

-8656

-569

-7841-245

FONTE: BNA/DEE/RBP

7.2.3.-Transferências Correntes

O comportamento desta Conta reflecte, em certa medida, a apatia da comunidade internacional perante a ajuda pública ao desenvolvimento de Angola. Como já referido anteriormente, Angola recebe muito pouca doação por parte da comunidade internacional, se comparado, por exemplo, com a República de Moçambique. Em 2007 registou-se défice liquido de ���,67 milhões de dólares, enquanto que Moçambique espera receber cerca de 776,� milhões de dólares.

Por outro lado, as exportações de recursos correntes espelham, também, a forte participação de mão-de-obra estrangeira na economia angolana, principalmente no sector petrolífero.

O saldo da Balança de Pagamentos continuou fortemente dependente da política fiscal, monetária e cambial do Governo e de factores exógenos, nomeadamente os preços das commodities no mercado internacional.

Para minimizar o impacto de factores exógenos sobre o equilíbrio das contas externas, determinadas medidas de natureza estrutural e cambial devem ser acauteladas, nomeadamente uma maior flexibilidade (depreciação) da moeda nacional, com vista ao relançamento da produção interna e ao aumento da competitividade da exportações não tradicionais.

7.3.- Balança de capital e financeira

Estima-se um forte crescimento da Conta de Capital em 2007, reflexo do perdão da dívida futura ocorrida

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neste período, particularmente com os credores do Clube de Paris. O saldo deste conta passou de �,� milhões de dólares em �006, para 7�,� milhões de dólares em �007, com um crescimento absoluto de 7� milhões de dólares.

Ao contrário da Conta de Capital, a Conta Financeira teve um comportamento bastante regular, apesar de em 2007 ter-se verificado uma forte recuperação do investimento directo estrangeiro, sendo o saldo liquido desta Conta de �8�0,� milhões de dólares, contra apenas ��8,� milhões de dólares em �006, equivalente a um aumento de 70�,7%. Este forte crescimento da recuperação do investimento directo estrangeiro, particularmente no sector petrolífero, está associado ao crescimento do preço do barril de petróleo no mercado internacional, que permite que o investimento seja mais rapidamente recuperado, já que os contratos são fundamentalmente de partilha de produção.

Por outro lado, verificou-se uma redução do investimento nos blocos que se encontravam em fase de pesquisa e prospecção, pois dado os cronogramas dos projectos estes blocos terão já provavelmente entrado para a fase de produção.

7.3.1.-Empréstimos de médio e de longo prazo e outros capitais

Em �007, os empréstimos de médio e longo prazo apresentaram um saldo positivo de ��0�,� milhões de dólares, contra um saldo negativo de ���0,8 milhões de dólares em �006, um aumento de �0�,7%. Este saldo resultou de uma maior entrada de novos desembolsos de médio e longo prazo no montante de �8��,7 milhões de dólares e de uma saída de ����,� milhões de dólares.

Ao contrário de �006, em �007, aumentou significativamente a contratação de novos empréstimos, em melhores condições comerciais e junto de vários credores internacionais, já sem o petróleo bruto como garantia real, como acontecia num passado recente. Este facto demonstra a confiança que a comunidade internacional tem em relação ao país.

Os outros capitais reflectem maioritariamente os depósitos e investimento de particulares no exterior, tendo passado de um défice de 2637,1 milhões de dólares em �006, para outro de �8�6,�� milhões de dólares em �007, ou seja, um decréscimo de �7,7%, o que reflecte uma menor transferência de poupança de particulares ou de empresas para o exterior, devido às alternativas domésticas oferecidas pelo sector financeiro e o imobiliário.

Por não estarem ainda completamente disponíveis as informações definitivas sobre a Balança de Pagamentos, como referido em cima, os erros e omissões estão também incluídos nesta rubrica. Os erros e omissões reflectem maioritariamente dificuldades resultantes de deficiências na cobertura da informação estatística bem como discrepância das diversas fontes de informação.

7.4.-balança global

Estima-se neste período um excedente da balança global no valor de ���8,� milhões de dólares, contra de ��0�,7� milhões de dólares do ano anterior, representando cerca de �,�% do PIB.

Como se observa no gráfico acima, o saldo da balança global teve durante os últimos três anos altos superavites, particularmente em 2006, reflexo do bom desempenho observado na conta corrente, influenciada pelos altos níveis de produção e de preços dos principais produtos de exportação.

O comportamento da balança global de �007, continuará a reflectir globalmente a melhoria das políticas económicas e da estabilidade macroeconómica que se observa em Angola, e que ocorre num contexto internacional positivo, induzido pela consolidação da paz e da democracia e também pelo influxo de recursos extraordinários proveniente dos altos preços do petróleo bruto e do diamante no mercado internacional.

Por outro lado, o comportamento da balança de pagamentos de 2007, reflectirá ainda a fraca poupança pública e privada interna e ao fraco investimento domestico noutros sectores da economia, que possam influir mas rapidamente na redução da pobreza que se observa no país.

7.5.- Stock de dívida externa de médio e de longo prazo

Para análise da dívida externa, foi usada a fonte de informação da Base de Dados DMFAS do Banco Nacional de Angola, que reflecte, efectivamente, os

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desembolsos já ocorridos e deste modo haver uma forte discrepância com a informação do Ministério das Finanças, constante no OGE de 2007 e que reflecte compromissos assumidos e que provavelmente não ocorreram durante o ano passado.

A �� de Dezembro de �007, o stock da dívida externa de médio e longo prazo, incluindo atrasados, era de �806,� milhões de dólares, ou seja, ��0� milhões de dólares superior à posição do ano anterior. Este agravamento deveu-se ao aumento da dívida vincenda do período (exclui atrasados), que passou de 6688,� milhões de dólares em �006 para ��0�,8 milhões de dólares no ano corrente, representando assim um aumento de �0,� %.

Este comportamento pode ser melhor aferido observando-se o gráfico que a seguir se apresenta:

No período em referência, o capital e os juros em mora, sofreram uma significativa redução, fruto dos recursos extraordinários disponíveis e que permitem ao país honrar os seus compromissos e estabelecer por esta via a sua credibilidade perante os credores internacionais. Assim os atrasados de capital e juros passaram de 808,� milhões de dólares em �006, para �0�,� milhões de dólares em �007, representando uma redução de ��,�% do total de atrasados Esta redução foi alcançada fruto das diversas negociações bilaterais realizadas entre o Governo de Angola e alguns países, em particular os do Clube de Paris.

Em 2007, verificou-se um ligeiro agravamento do rácio do stock da dívida de médio e longo prazo em percentagem das exportações de bens e serviços não factoriais, que se situou em ��%, contra ��% do ano anterior, explicada pela conjugação dos factores crescimento do stock da divida e da exportação.

STOCK DA DIVIDA EXTERNA a 31.12.07 (milhões de dólares)

Categoria de dívida

Saldo excluindo

moras

Capital em mora

Juros de mora

Stock no final do período

Comercial 5.307 227 70 5.604- Bancos 4.916 14 4 4.934

- Empresas 391 213 66 670Bilateral 3.702 1,3 17 3.720

Multilateral 393 88 0,3 481Total 9.402 316 87 9805

Como se pode verificar no quadro acima, apesar do crescimento da dívida, o stock actual da divida é perfeitamente sustentável no médio e longo prazo, face ao nível de exportações e ao PIB de �007. Entretanto, continua sendo válida, e necessária, a implementação de uma estratégia de endividamento externo de médio e longo prazo, coerente com o nível de crescimento do PIB e das exportações, principalmente as não petrolíferas.

O Governo deve privilegiar o endividamento interno, através da emissão de títulos de divida pública, em detrimento do endividamento externo.

Por outro lado, seria bastante útil para o país a obtenção de um rating, o que lhe permitiria a obtenção de uma classificação de risco de crédito, o que iria ajudar a diversificar o fluxo de capitais externos e a obtenção de créditos em termos mais concessionais.

8.- EMPREGO E PRODUTIVIDADE

8.1.- Introdução

Porque razão os economistas insistem na produtividade económica como um dos elementos mais dinâmicos das economias? Em todo o lado, a análise do comportamento das economias parte da consideração da evolução da produtividade, o componente qualitativo essencial do crescimento económico, sem o qual não há progresso e à revelia do qual se não pode melhorar as condições de vida da força de trabalho.

A produtividade é o instrumento central dum polígono octogonal que atende à necessária integração das diferentes perspectivas do funcionamento da economia. Na verdade, a produtividade interage com a competitividade – a pressão actual da globalização e da conquista de quotas do mercado internacional – o emprego, o salário (estas duas macro-variáveis desempenham um papel nuclear na repartição funcional do rendimento nacional – e por

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isso são determinantes para a redução da pobreza – e na composição e evolução do consumo privado), a tecnologia (entendida na vertente das transformações tecnológicas indutoras de melhorias na organização do trabalho, nos processos de produção e na introdução de novos produtos consentâneos com as dinâmicas da procura final e intermédia), a rendibilidade empresarial (fundamental nas economias capitalistas e necessária para o desenvolvimento das empresas), o valor acrescentado micro e macroeconómico (quanto mais elevada for a produtividade, mais intenso se tornará o valor agregado pelas empresas, actividades económicas e economia em geral), as pessoas (a produtividade influencia a vida das pessoas e os respectivos relacionamentos) e os stakeholders, ou seja, todos os que são afectados directamente pela actividade das empresas, tais como os consumidores, os accionistas e os trabalhadores.

Produtividade e emprego podem ter uma relação antinómica, na medida em que a produtividade é obtida a partir do volume de emprego.

Entre a produtividade e o salário também se estabelece uma relação matemática e económica, mas de sentido positivo e auto-reforçador.

Verifica-se, em conformidade com o anteriormente explanado, que a produtividade é, na verdade, um elemento determinante do comportamento das economias, valendo, portanto, a pena o Estado, os empresários e os trabalhadores conceder-lhe o máximo de atenção, em nome do crescimento económico e da melhoria do bem-estar nacional68.

8.2.- Aproximação ao desemprego e à produtividade

A taxa de desemprego em Angola deve continuar bastante alta. De acordo com o inquérito rápido às condições de vida da população do INE realizado em �006 por amostragem, a taxa geral de desemprego encontrada foi de ��%, com um pico em Luanda de ��%. Os resultados apresentam algumas contradições, como por exemplo, as províncias do interior do país – definitivamente as mais atrasadas e pobres do xadrez nacional – patentearem uma taxa de desemprego de 7% a 8% da população economicamente activa.

Os cálculos que o CEIC apresentou no Relatório Económico de �006 apontavam para um intervalo entre �7,�% e ��,�% para a taxa de desemprego nacional. Para �007, anotam-se reduções sensíveis 68Para os interessados, o Relatório Económico de �006, nas páginas �� a �6, apresenta uma série de considerações sobre a produtividade, emprego e salários.

neste importante indicador social e económico, situando-se o respectivo intervalo entre ��,�% e �8,7%. Os pressupostos tomados foram: crescimento da produtividade económica entre ��% e �0%6�, taxa geral de actividade (população economicamente activa) entre ��,�% e ��% da população total, PIB por habitante de cerca de ���0 dólares e uma população total em torno dos �7�00 mil habitantes.

Apesar dum movimento descendente, a taxa de desemprego continua muito alta, significando a perda de oportunidades de se melhorar a repartição funcional do rendimento nacional e a permanência dum hiato do produto significativamente positivo (diferença entre o PIB potencial e o PIB real).

A taxa de desemprego chegou aos �0% no pior da crise económica mundial de ����-�� nos Estados Unidos e na Europa. Foi o descalabro económico e social, com falências sucessivas de empresas e bancos e suicídios em massa. Uma autêntica convulsão social. Em Angola, apesar de elevada a taxa de desemprego, e sem sistemas de segurança e previdência social estruturados e organizados, o descalabro social não aconteceu, pelo menos por enquanto. Porquê? Evidentemente que os dias de hoje são muito diferentes dos idos da década de �0 do século passado, mesmo num país subdesenvolvido como Angola. Não obstante, podem ser três as razões para a relativa tranquilidade social que se vive:

• a lembrança da instabilidade e da insegurança generalizadas da guerra ainda está muito presente no consciente colectivo da sociedade. Aceita-se o desemprego como um mal menor do que profundas convulsões sociais e lança-se mão da marginalidade para descompensar as pressões colocadas por níveis de vida muito baixos;

• a corrupção, no Estado e nas empresas, em especial a de baixa intensidade, permite aliviar a escassez e a insuficiência de rendimentos duma parte da população desempregada; assim sendo, os poderes instituídos – normalmente temerosos de convulsões sociais – fazem vista grossa à corrupção, compreendendo-se, portanto, a timidez no seu combate e erradicação (o que é feiro da Alta Autoridade contra a Corrupção? Que casos de corrupção foram julgados?). Como as políticas públicas de criação de emprego não têm, para já, provocado o incremento de emprego líquido desejado, a

6� A produtividade do trabalho deve ter crescido muito em �007 devido a : investimentos maciços nas actividades petrolíferas e diamantíferas inten-sos em capital e tecnologia, importação de trabalhadores estrangeiros para as mais diversas utilizações (incluindo assistência técnica a praticamente todos os organismos do Estado), melhor organização e gestão empresa-rial, elevados investimentos públicos nas infraestruturas, etc.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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corrupção acaba por ser tolerada; o crescimento económico do país não tem gerado a criação líquida de emprego na proporção desejada e fundamental para a redução significativa e sustentada do desemprego;

• a economia informal tem sido o respaldo do elevado desemprego em Angola – em números absolutos podiam ter estado desempregados em �007 mais de �,� milhões de cidadãos – funcionando como um sub-sistema alternativo à economia formal, ainda essencialmente desestruturada na sua componente não petrolífera e com contradições fundamentais entre a economia dos diamantes e a agricultura, o maior empregador actual da economia; reprimir

a economia informal poderá ser um suicídio social, procurar atrai-lo, paulatinamente, para a formalidade (microcrédito, facilitação da legalização jurídica) é a via mais inteligente.

Como evoluíram o desemprego e a produtividade no nosso País entre �000 e �007? Ninguém sabe, porque não existem estatísticas sobre o emprego, o Valor Agregado da economia, a contabilidade empresarial, a população economicamente activa e outras variáveis correlacionadas com a produtividade. Não obstante as incertezas, estão disponíveis ferramentas e acervos instrumentais e metodológicos que consentem aproximações aceitáveis.

FONTES: Ministério do Planeamento (Relatório sobre Comportamento da Economia em �004 e �005, Relatórios sobre o Balanço da Execução do Programa Geral do Governo �004, �005, �006 e �007); Programa Geral do Governo �005-�006 e �007-�008; Estimativas e cálculos do Centro de Estudos e Investigação Científica da UCAN.

ANOS PIB mil USA População PIB per capita(dólares) População activa Taxa de

desemprego (%)Produtividade

(USD/trabalhador)

2000 9045369,4 13134000 688,7 6344000 40,9 2283,5

2001 8716373,1 13553934 643,1 6477117 39,2 2214,5

2002 11239844,1 13947000 805,9 6861924 39,8 2656,4

2003 13513151,3 14351463 941,6 7060920 37,7 2970,8

2004 18515017,5 14767655 1253,8 7265686 35,5 3786,5

2005 30271482,6 15252000 1984,8 7503984 29,5 5722,9

2006 40938381,9 15694300 2608,5 7721596 27,4 7302,7

2007 59449250,1 17385700 3419,4 8553764 25,5 9221,5

A despeito duma evolução francamente favorável desde �000, com particular destaque para �00�, �006 e �007, a produtividade permanece em limites muito baixos, particularmente quando inseridos em contextos internacionais. A produtividade média bruta aparente na África do Sul ronda os �0000 dólares por trabalhador empregado e na União Europeia situa-se em mais de ��0000 dólares. Para além disso, as diferenças sectoriais são abissais, confirmando-se, também por este viés, os desequilíbrios estruturais da nossa economia. Para �007, a produtividade bruta agrícola média aparente, muito provavelmente, não foi além dos 600 dólares por trabalhador70, enquanto nos diamantes pode ter sido de quase �6000 dólares por posto de trabalho e na extracção de petróleo seguramente que ultrapassou os ��0000 dólares, dada a elevadíssima intensidade capital-tecnologia destas actividades.

A melhoria da produtividade do sector primário (agricultura, pecuária, florestas e pescas) – para além, 70O Banco Mundial – World Development Report �008: Agriculture for Development – indica os valores médios seguintes (em dólares constantes de �000) para a produtividade bruta média aparente da agricultura ango-lana: �8� entre ���0/�� e �60 para o período �00�/�00� (página ��0). No entanto, muitas dúvidas se colocam aos valores que esta instituição apre-senta, uma das quais relacionada com o volume de mão-de-obra agrícola efectivamente empregada.

ESTTIMATIVA DA TAXA DE DESEMPREGO E DA PRODUTIVIDADE BRUTA APARENTE

evidentemente, de políticas adrede desenhadas para o efeito – depende do próprio processo de crescimento económico e da transferência de parte da sua força de trabalho para os sectores secundário e terciário da economia.

A taxa de desemprego tem vindo a diminuir desde �00�, como resultado conjugado de diferentes factores, dos quais se realçam o reassentamento definitivo das populações que se encontravam deslocadas nas cidades do litoral, o comportamento positivo do investimento privado – ainda que muito concentrado em sectores de tecnologia de ponta e intensivos em capital – as políticas de emprego aplicadas pelo Governo através do MAPESS e, em �00�, �006 e �007, os fortíssimos investimentos públicos na reconstrução, reabilitação e modernização das infraestruturas físicas do país (o Estado aplicou nestas áreas 8�0 milhões de dólares em �00�, �,� mil milhões em �006 e 7,� mil milhões em �007, conforme consta do Relatório de Execução do Programa Geral do Governo de �007).

Não deve, no entanto, ser descartada a diminuição do salário real médio na economia como outra das causas do aumento do emprego. Conforme se constatará no parágrafo �.�. sobre as condições de

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vida e poder de compra do salário médio na Função Pública, o poder de compra médio nacional tem diminuído desde �00�, o que pode ser um bom motivo para os empresários contratarem mais trabalhadores.

Comparando a produtividade média bruta aparente com o salário médio anual da Função Pública e com o salário mínimo nacional, os resultados são os que a seguir se anotam.

ANOS PIB per capita (dólares) Taxa de desemprego (%) Produtividade(USD/trabalhad)

Salário mínimonacional (usd)

Salário médionacional(usd)

2000 688,7 40,9 2283,5 480,0 364,1

2001 643,1 39,2 2214,5 480,0 1199,2

2002 805,9 39,8 2656,4 480,0 1749,5

2003 941,6 37,7 2970,8 536,1 2125,4

2004 1253,8 35,5 3786,5 632,9 2676,1

2005 1984,8 29,5 5722,9 800,2 3430,6

2006 2608,5 27,4 7302,7 898,3 3851,1

2007 3419,4 25,5 9221,5 1350,8 4586,5

O salário médio da função pública representou, em �007, mais ��,�% que o PIB por habitante e mais �,� vezes o salário mínimo nacional. Duma forma geral, no entanto, os respectivos valores absolutos são baixos: o salário mínimo nacional correspondeu, em �007, a uma capacidade de gasto diário de �,7 dólares, acima do limiar considerado de pobreza relativa, mas insuficiente para incentivar a produtividade do trabalho, cobrir a cesta básica, dignificar o trabalho e valorizar as condições de vida das famílias.

Sob o ponto de vista gráfico verifica-se que entre a produtividade e o salário médio nacional – assumindo-se que o salário médio da Administração Pública é o de referência geral para a economia – o respectivo desvio médio se tem acentuando, com particular incidência a partir de �00�. Esta circunstância pode ter algumas leituras controversas.

• Em primeiro lugar, pode propiciar uma valorização salarial média da economia, em particular nos sectores onde o valor da produtividade é francamente superior à média nacional, como nos petróleos, diamantes, serviços mercantis e alguns ramos da indústria transformadora.

• Em segundo lugar e feita a devida ponderação com os diferentes sectores de actividade económica, as condições de remuneração dos investimentos privados têm melhorado substancialmente, residindo, também, aqui uma das condições de atractividade sobre os investimentos privados estrangeiros.

• Em terceiro lugar, os ganhos de produtividade têm sido conseguidos sobretudo à custa de

COMPONENTES DA CONDIÇÃO DE VIDA DOS CIDADÃOS

FONTE: As informações relativas aos salários foram retiradas da documentação distribuída por ocasião da palestra realizada pelo MAPESS em �0 de Abril de �007 sobre a Evolução do Sistema Remuneratório, Política de Rendimentos e Preços e Produtividade �00�/�006. A conversão para dólares e o cálculo dos pontos centrais dos salários são de responsabilidade do CEIC. Os valores dos salários são anuais.

introdução de capital e de tecnologia.• Finalmente, a desigualdade na distribuição do

rendimento nacional tem-se vindo a agravar, uma vez que a acentuação do desvio médio entre produtividade e salários sintomatiza uma diminuição do peso relativo da componente remuneratória da força de trabalho no rendimento nacional.

8.3.- Políticas públicas do emprego e da formação profissional

Sem dúvida que o crescimento é uma condição necessária para a criação de oportunidades de trabalho digno, no entanto, não é possível prescindir de políticas públicas para aumentar a densidade de empregos na trajectória do crescimento económico, sob pena de cairmos na cilada do «crescimento sem emprego» ou mesmo do «crescimento com perda de emprego».

Qualquer que seja a taxa de crescimento do PIB, este não trará no seu bojo um desenvolvimento legítimo enquanto permitir deteriorações de um dos três indicadores, do emprego, da pobreza e da desigualdade.

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Para conferir o direito ao emprego, o Ministério Da Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS), como organismo responsável do Governo pela concepção, regulação e execução das Políticas Públicas do Emprego, da Formação e da Reabilitação Profissional, vem trabalhando em medidas legislativas, programas e projectos, conducentes à igualdade de oportunidades de capacitação e de competências dos activos empregados e desempregados, por forma a permitir-lhes a livre escolha de uma profissão ou de um posto de trabalho e o direito à cidadania.

Esta actuação o MAPESS desenvolve com órgãos de auscultação, concertação social e de diálogo, dos quais fazem parte os parceiros sociais, designadamente o Conselho Nacional de Concertação Social, a Comissão Consultiva do Emprego, a Comissão Nacional da Formação Profissional e a Comissão Nacional da Segurança Social.

As políticas activas de emprego estão consubstanciadas num plano nacional de formação profissional e de emprego que visa melhorar quantitativa e qualitativamente a formação inicial e continua e que promova o desenvolvimento dos recursos humanos para o reforço da empregabilidade.

As políticas públicas, no plano da formação profissional, propendem a aumentar os níveis de competências e de habilidades dos activos desempregados, assim como dos grupos populacionais mais vulneráveis, através de projectos e acções virados para a qualificação e capacitação da força de trabalho, permitindo, deste modo, emprego e oportunidades de trabalho.

Todo este esforço de formação deve estar conjugado, de forma a aumentar as sinergias entre as instituições do Estado e os diferentes actores que interactuam neste âmbito, passando este desiderato, fundamentalmente, pela reforma do subsistema de ensino técnico-profissional e o da formação profissional, conjugando esforços paulatinos que permitam a progressão escolar dos beneficiários de acções de formação e a especialização dos mesmos.

O subsistema do ensino técnico profissional, nas componentes da formação básica, consente formar técnicos com a sétima, oitava e nona classes do �º ciclo secundário, e a formação média técnica, no qual o aluno deve estar pronto para se inserir no mercado de trabalho e mesmo criar as suas oportunidades de emprego.

Neste momento, mais de �0.000 alunos frequentam as escolas de formação profissional básica e de formação média técnica.

Aquele subsistema pode alimentar, complementarmente, a necessidade de técnicos intermédios e de especialistas, necessários ao desenvolvimento do País a nível dos sectores estruturantes da economia, o que passa pela qualidade do ensino e pelas reformas e reestruturações que as politicas de educação puderem aplicar e pela inserção no sistema de formação técnico profissional de cursos com currículos adequados e perfis ajustados às necessidades do mercado.

Para este desiderato, é necessário a mobilização de recursos financeiros, materiais e humanos e um quadro legislativo/normativo que dê corpo e resposta às necessidades do mercado de emprego.

A modernização dos serviços, dos meios de informação, a manutenção e incremento das infraestruturas com equipamentos modernos e ajustados a uma oferta de formação qualificante e profissionalmente estruturante, mais consentânea com o mercado de emprego, constituem sem sombra de dúvida os factores indispensáveis ao crescimento e desenvolvimento do País.

Como elemento agregador também é importante considerar a participação impulsionadora dos vários sectores económicos e dos parceiros sociais, o incremento do espírito empreendedor, empresarial e inovador e o aproveitamento cada vez maior das capacidades e competências dos cidadãos, rumo ao progresso e à justiça social.

Em �007, como Políticas Públicas de Emprego continuou-se a dar prioridade aos projectos de inserção e de integração de jovens na vida activa, com dinamização de acções tendentes à sua inclusão no mercado do trabalho.

Estas politicas estão sobretudo consubstanciadas no Programa de Integração de Jovens na Vida Activa, dirigido em particular aos candidatos ao primeiro emprego, que inclui vários projectos capazes de dar resposta às necessidades do mercado e dos utentes do sistema e no Programa de Geração de Emprego e Renda, com projectos de apoio ao emprego e a iniciativas locais de criação de postos de trabalho e o Programa de Incentivos ao Empreendedorismo, com o projecto de criação de incubadoras de empresas e outros modelos mistos

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8.4-mercado do emprego

8.4.1.- Administração Pública

A Administração Pública continua a ser um dos grandes empregadores da economia nacional tendo, no final de 2007, apresentado um registo de 291.997 funcionários empregados, em regime geral e sob contrato, contra �6�.��� em �006, ��6. 6�� em �00�, ���.0�� em �00� e ��8.7�7 trabalhadores em �00�, o que equivale a taxas anuais de aumento de �,�% em

�00�, �0,�% em �00� e �,�% em �006 (muito baixa, atendendo às crescentes necessidades de recursos humanos qualificados na orgânica do Estado). Em �007, o crescimento em relação a �006 foi de ��,6 %.

Em �006, as remunerações dos servidores civis, militares e paramilitares do Estado consumiram 8,7% do PIB (7,�% em �00�) e aumentaram, em termos nominais, ��,8% (�6,�% em �00�). Em �007 corresponderam a �% do PIB.

Províncias2006 2007 Variação

2006/2007Homens Mulheres Total % Homens Mulheres Total %Cabinda �.7�� �.�0� �.0�6 3,5 6.��� �.�8� �.800 3,4 8,5

Zaire 4.204 942 5.146 2,0 4.360 1.029 5.389 1,8 4,7Uíge 11.635 2.086 13.721 5,2 13.817 2.089 15.906 5,4 15,9

Luanda* 43.845 27.279 71.124 27,2 46.334 27.574 73.908 25,3 3,9Kuanza Norte 4.740 1.454 6.194 2,4 5.154 1.659 6.813 2,3 10,0

Kuanza Sul 9.448 4.801 14.249 5,4 10.448 5.373 15.821 5,4 11,0Malange 6.296 2.959 9.255 3,5 7.135 3.472 10.607 3,6 14,6

Lunda Norte 4.964 435 5.399 2,1 5.737 443 6.180 2,1 14,5Lunda Sul 3.281 759 4.040 1,5 3.744 772 4.516 1,5 11,8Benguela 16.845 12.874 29.719 11,4 19.048 14.926 33.974 11,6 14,3Huambo 12.693 7.745 20.438 7,8 14.331 9.811 24.142 8,3 18,1

Bié 12.570 4.606 17.176 6,6 15.207 4.608 19.815 6,8 15,4Moxico 5.805 2.596 8.401 3,2 6.488 2.866 9.354 3,2 11,3

Kuando Kubango 3.650 1.637 5.287 2,0 4.217 1.858 6.075 2,1 14,9Namibe 4.155 2.400 6.555 2,5 5.949 2.474 8.423 2,9 28,5Huíla 14.969 9.620 24.589 9,4 17.177 10.435 27.612 9,5 12,3

Cunene 3.225 3.027 6.252 2,4 4.218 3.900 8.118 2,8 29,8Bengo 4.019 944 4.963 1,9 4.403 1.141 5.544 1,9 11,7

TOTAL 172.075 89.469 261.544 100,0 194.182 97.815 291.997 100,0 11,6

As províncias que beneficiaram de maiores taxas de crescimento foram o Cunene, o Namibe e o Uíge, mas de um modo geral todas sofreram aumentos entre um máximo de ��% e um mínimo de � % em relação ao ano anterior.

Luanda central teve uma taxa de crescimento de 6,�% enquanto Luanda provincial apenas �, �%, ainda que o volume de funcionários seja superior, de ��.��8 e ��.�80, respectivamente.

CARACTERIZAÇÃO DOS ACTIVOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

FONTES: Relatório sectorial de balanço Programa Geral do Governo �007-�008

As tabelas abaixo apresentam-nos o panorama da estrutura dos funcionários públicos a nível de todas as províncias do País.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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Províncias 2006 2007Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total

Cabinda 3,3 3,7 3,5 3,3 3,5 3,4Zaire 2,4 1,1 2,0 2,2 1,1 1,8Uíge 6,8 2,3 5,2 7,1 2,1 5,4Luanda 25,5 30,5 27,2 23,9 28,2 25,3Kuanza Norte 2,8 1,6 2,4 2,7 1,7 2,3Kuanza Sul 5,5 5,4 5,4 5,4 5,5 5,4Malange 3,7 3,3 3,5 3,7 3,5 3,6Lunda Norte 2,9 0,5 2,1 3,0 0,5 2,1Lunda Sul 1,9 0,8 1,5 1,9 0,8 1,5Benguela 9,8 14,4 11,4 9,8 15,3 11,6Huambo 7,4 8,7 7,8 7,4 10,0 8,3Bié 7,3 5,1 6,6 7,8 4,7 6,8Moxico 3,4 2,9 3,2 3,3 2,9 3,2KuandoKubango 2,1 1,8 2,0 2,2 1,9 2,1Namibe 2,4 2,7 2,5 3,1 2,5 2,9Huíla 8,7 10,8 9,4 8,8 10,7 9,5Cunene 1,9 3,4 2,4 2,2 4,0 2,8Bengo 2,3 1,1 1,9 2,3 1,2 1,9TOTAL 100,0 100,0 100 100,0 100,0 100,0

Províncias 2006 2007Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total

Cabinda 63,4 36,6 100,0 65,5 34,5 100,0Zaire 81,7 18,3 100,0 80,9 19,1 100,0Uíge 84,8 15,2 100,0 86,9 13,1 100,0Luanda 61,6 38,4 100,0 62,7 37,3 100,0Kuanza Norte 76,5 23,5 100,0 75,6 24,4 100,0Kuanza Sul 66,3 33,7 100,0 66,0 34,0 100,0Malange 68,0 32,0 100,0 67,3 32,7 100,0Lunda Norte 91,9 8,1 100,0 92,8 7,2 100,0Lunda Sul 81,2 18,8 100,0 82,9 17,1 100,0Benguela 56,7 43,3 100,0 56,1 43,9 100,0Huambo 62,1 37,9 100,0 59,4 40,6 100,0Bié 73,2 26,8 100,0 76,7 23,3 100,0Moxico 69,1 30,9 100,0 69,4 30,6 100,0KuandoKubango 69,0 31,0 100,0 69,4 30,6 100,0Namibe 63,4 36,6 100,0 70,6 29,4 100,0Huíla 60,9 39,1 100,0 62,2 37,8 100,0Cunene 51,6 48,4 100,0 52,0 48,0 100,0Bengo 81,0 19,0 100,0 79,4 20,6 100,0TOTAL 65,8 34,2 100,0 66,5 33,5 100,0

A distribuição por género alude a um crescimento de �,� % para as mulheres e de ��,8% para os homens. Do total de funcionários, 66,� % são homens e ��, � % são mulheres.

DISTRIBUIÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS POR GÉNERO

Género 2006 % 2007 % Variação 2006/7

Homens 172.075 65,8 194.182 66,5 12,8Mulheres 89.469 34,2 97.815 33,5 9,3

Total 261.544 100,0 291.997 100,00 11,6

FONTE: MAPESS- Relatório sectorial de balanço Programa Geral do Governo �007-�008

DISTRIBUIÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS -ESTRUTURA VERTICAL

DISTRIBUIÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS-ESTRUTURA HORIZONTAL

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

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A Administração central tem ��.��8 funcionários, ��,� % do total e acolheu um incremento na ordem dos 6,�%, enquanto a Administração local tem ���.�6� servidores públicos, 88,�% do total e a ela correspondeu um crescimento de ��,�% relativamente a �006.

DISTRIBUIÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS POR ÂMBITO

Âmbito 2006 % 2007 % Variação 2006/7

A d m i n i s t r a ç ã o central 30.662 11,7 32.528 11,1 6,1

A d m i n i s t r a ç ã o local 230.882 88,3 259.469 88,9 12,4

Total 261.544 100,0 291.997 100,0 11,6

FONTE:MAPESS- Relatório sectorial de balanço Programa Geral do Governo �007-�008

DISTRIBUIÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS POR SECTORES

O sector da Educação é o maior empregador da Administração Civil do Estado – com ��,�%, em �00�, ��,�% em �006 e �6,�7% em �007 – seguido pelo da Saúde (��,6% em �00�, �0,�% em �006 e ��,8 % em �007 e o da Justiça (�,�% em �00�, �,�% em �006 e �,�% em �007). As restantes áreas de intervenção do Estado na economia representam, em conjunto, ��,8%. No seu total, a Educação e a Saúde empregam 76% dos funcionários públicos e o seu crescimento de �006 para �007 foi de ��,� % e de �,6% respectivamente.

A tabela abaixo refere-se à composição do pessoal em técnico e não técnico dos fundamentais sectores empregadores da função pública.

Sector

2006 2007

Pessoal Técnico

Pessoal não Técnico Total

Pessoal Técnico no

total

Pessoal Técnico

Pessoal não Técnico Total

Pessoal Técnico no total

Educação 121.615 23.269 144.884 83,94 140.978 23.030 164.008 85,96

Base e Médio 120.077 22.359 142.436 84,30 139.031 22.095 161.126 86,29

Superior 1.538 910 2.448 62,83 1.947 935 2.882 67,56

Saúde 35.307 17.445 52.752 66,93 39.558 18.267 57.825 68,41

Justiça 2.291 851 3.142 72,92 2.603 953 3.556 73,20

Outros 18.440 42.326 60.766 30,35 20.314 46.294 66.608 30,50

TOTAL 177.653 83.891 261.544 67,92 203.453 88.544 291.997 69,68

FONTE: MAPESS -Relatório Sectorial de Balanço Programa Geral do Governo �007-�008

As províncias de Luanda, Huambo, Benguela e Huíla foram responsáveis pela absorção de �� % do total de funcionários. O quadro seguinte faz a síntese dos principais indicadores da Administração Pública.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

8�

SÍNTESE DOS PRINCIPAIS INDICADORES

Indicadores 2006 % 2007 % Variação 2006/2007

Género 100,0 100,0

Homens 172.075 65,8 194.182 66,5 12,8

Mulheres 89.469 34,2 97.815 33,5 9,3

Âmbito 100,0 100,0

Central 30.662 11,7 32.528 11,1 6,1

Local 230.882 88,3 259.469 88,9 12,4

Sector 100,0 100,0

Educação 144.884 55,4 164.008 56,2 13,2

Saúde 52.752 20,2 57.825 19,8 9,6

Justiça 3.142 1,2 3.556 1,2 13,2

Outros 60.766 23,2 66.608 22,8 9,6

Província 100,0 100,0

Huambo 20.438 7,8 24.142 8,3 18,1

Huíla 24.589 9,4 27.612 9,5 12,3

Luanda 40.462 15,5 73.908 25,3 82,7

Benguela 29.719 11,4 33.974 11,6 14,3

Outras 146.336 56,0 132.361 45,3 -9,5

Emprego na Administração

Pública261.544 100,0 291.997 100,0 11,6

FONTE: MAPESS -Relatório Sectorial de Balanço Programa Geral do Governo �007-�008

Qualificação e Capacitação dos funcionários públicos

O Estado tem vindo a aperfeiçoar os mecanismos de gestão dos recursos humanos, no planeamento, recrutamento e admissão de pessoal cada vez mais qualificado, na avaliação do seu desempenho, nas medidas relativas à informação e à gestão estatística dos mesmos, com uma maior transparência nos concursos públicos e numa maior mobilidade geográfica.

Para além dessa componente de renovação, começa a existir uma maior sensibilidade dos poderes públicos, quer centrais, quer locais, para a necessidade de melhoria da prestação de serviços públicos. No entanto, o exercício ainda apresenta debilidades, que são cerceadas por dificuldades inerentes à escassez de quadros qualificados e especializados a nível das administrações centrais e locais, a eficácia e a produtividade dos seus funcionários e agentes administrativos. Assim, impõe-se o reforço das capacidades e das competências que representem também actos de fiscalidade mais transparentes e eficazes, tal como processos e procedimentos administrativos fluentes e renovadores.

Os deficientes desempenho e prestação de serviços podem criar um dos maiores limites ao crescimento económico futuro, constituindo a qualificação dos recursos humanos da administração pública o motor fundamental para garantir a produtividade, a modernidade e a eficiência das instituições públicas que propiciem uma visão projectiva na condução das politicas e no empenho dos quadros no cumprimento das grandes linhas de desenvolvimento.

Com o objectivo de reforçar essa capacidade institucional, em �007, tiveram lugar ��� acções formativas registadas, mais ��,� % do que em �006, e que envolveram ��67 funcionários públicos.

PARTICIPANTES EM ACÇÕES DE FORMAÇÃO – 2006/2007

Designação 2006 2007 Var.2006/07

Acções de formação realizadas 84 134 59,5

Participantes em Acções de Formação 1.716 3.467 102,0

FONTE: MAPESS- Relatório sectorial de balanço Programa Geral do Governo �007-�008

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

�0

O quadro abaixo retrata as categorias, funções e habilitações académicas dos participantes nos cursos desenvolvidos.

Categorias % Funções % Habilitações Académicas %

Técnico Superior 9 Directores 12,0 Mestrado 1,0

Técnico Médio 32 Chefe de Departamento 13,0 Ensino Superior 11,0

Administrativo 30 Chefe de Secção 51,0 Frequência do Superior 10,0

Outras 29 Outras 24,0 Ensino Médio 45,0

Frequência do Médio 19,0

Ensino de Base 14,0

FONTE: MAPESS- Relatório Sectorial de Balanço Programa Geral do Governo �007-�008

8.4.2.-Administração do Trabalho

Na Administração do Trabalho enquadram-se as categorias do emprego e da formação profissional, entre outras. O emprego e a formação profissional são duas variáveis estratégicas dos processos de crescimento e de desenvolvimento. Com efeito, a OIT enfatiza a necessidade de serem formuladas políticas para estimular a criação de mais e melhores empregos, reduzir a informalidade, promover o emprego juvenil, ampliar e melhorar a cobertura da protecção social, impulsionar a educação e a capacitação para o trabalho e reforçar a produtividade e a competitividade das empresas.

Neste domínio, o Governo tem concentrado os seus esforços no aumento qualitativo da oferta formativa nacional, no aperfeiçoamento e actualização dos seus activos, particularmente dos formadores, na modernização dos Centros de Formação Profissional e dos Centros de Emprego, fortalecendo as capacidades e competências institucionais dos Sistemas de Emprego e de Formação Profissional.

O Serviço Nacional do Emprego e da Formação Profissional (SNEFP) tem como entidade tutelada e executora o Instituto Nacional do Emprego e da Formação Profissional (INEFOP), que tem vindo a dinamizar acções de formação, de qualificação de formadores, a aplicar subsídios de aprendizagem e de estágio profissional e a certificar agentes para o aumento da qualificação da mão – de – obra nacional.

O INEFOP dispõe de estruturas descentralizadas em todas as Províncias do Pais e de estruturas de formação fixas e móveis (unidades itinerantes), que podem ser de âmbito nacional ou local. Destas

estruturas fazem parte os Serviços Provinciais, os Centros de Emprego, os Centros de Formação, os Centros de Reabilitação Profissional, os Pavilhões de Formação em Artes e Ofícios, a Formação Itinerante com Oficinas Móveis e o Centro Nacional de Formação de Formadores (CENFFOR), que é a entidade responsável pela formação inicial e o aperfeiçoamento dos formadores.

As estruturas fixas, em termos de capacidade, classificam-se em:

�. Centros de Formação de Âmbito Nacional a) Centros Integrados de Formação Tecnológica

(CINFOTEC) 2. Centros de Formação Profissional de Âmbito

Provincial a) Centros de Formação Profissional b) Centros Integrados de Emprego e de

Formação Profissionalc) Escolas Rurais de Artes e Ofícios

3. Centros de Formação Profissional de Âmbito Municipala) Centros Integrados de Emprego e de

Formação Profissionalb) Pavilhões de Formação de Artes e Ofícios

4. Centros para Atendimento Especifico a) Centros de Reabilitação Profissional

Os Centros Móveis para Formação Itinerante são constituídos por Oficinas Móveis de Formação, que representam unidades básicas para formação em contexto real de trabalho, de localidades ou zonas que não dispõem de oferta formativa em sala, multiplicando as oportunidades de formação e de emprego e constituindo uma nova modalidade do sistema de formação profissional.

DISTRIBUIÇÃO DOS PARTICIPANTES POR NÍVEL DE HABILITAÇÕES, CATEGORIA E FUNÇÕES

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS CENTROS DE EMPREGO E DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL TUTELADOS PELO

INEFOP

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5

Centros de Âmbito Nacional

Centros de Âmbito Provincial Centros de Âmbito Municipal

Centros Atendimento

Específico

Centros Móveis

CINFOTEC CFP CIEFP ESCORP’S CIEFP PAOF’S CRP CMF

CINFOTEC – Centros Integrados de Formação Tecnológica CFP – Centros de Formação Profissional CIEFP – Centros Integrados de Emprego e Formação Profissional Pavilhões de Formação de Artes e Ofícios CRP – Centros de Reabilitação Profissional CMF – Centros Móveis para Formação Itinerante

Centros de Formação Profissional e Acções de Formação

CAPACIDADE FORMATIVA NACIONAL 2007

ProvínciaCapacidade Formativa

Nacional 2007Instalada Utilizada

Luanda 15.786 12.450Bié 267 207Bengo 564 554Benguela 2.591 2.185Cabinda 619 597Cunene 284 323Huambo 1.058 968Huila 501 326Lunda Sul 176 146Lunda Norte 184 184Malange 362 202Moxico 650 640Namibe 899 656Kuanza Norte 1.325 1.003Kuanza Sul 329 314Kuando Kubango 229 94Uíge 1.570 1.364Zaire 415 415TOTAL 27.809 22.628

FONTE: INEFOP- Relatório de Balanço das Actividades Desenvolvidas em �007

CAPACIDADE FORMATIVA 2006/2007

Anos Capacidade FormativaInstalada 2007/2006(%)

2006 24.56413,2

2007 27.809

Como demonstram as tabelas anteriores, houve um aumento da capacidade formativa nacional em �007, com uma taxa de crescimento de ��,�%, o que pode garantir maiores possibilidades de formação e diminuir, consequentemente, a pressão da procura nos centros de formação. Há, no entanto, uma capacidade formativa utilizada de 8�% da instalada daí resultando uma capacidade ociosa de ��%.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

��

PúblicosPrivados

INEFOP Outros

Instalada Utilizada Capacidade ociosa (%) Instalada Utilizada Capacidade

ociosa (%) Instalada Utilizada Capacidade ociosa (%)

7.948 6.869 14 2.902 2.277 22 16.959 13.482 21

FONTE: INEFOP- Relatório de Balanço das Actividades Desenvolvidas

em �007

Província

Centros Públicos

Centros Privados TotalINEFOP

Outros OrganismosC.F.P Centros Móveis Pavilhões

Luanda 10 1 7 12 139 169

Bié 1 1 0 0 2 4

Bengo 1 1 1 0 2 5

Benguela 2 1 2 4 34 43

Cabinda 2 0 0 0 5 7

Cunene 1 0 0 0 5 6

Huambo 0 0 0 2 14 16

Huila 2 0 0 1 7 10

Lunda Sul 1 0 0 1 2 4

Lunda Norte 0 2 0 0 2

Malange 1 1 0 0 5 7

Moxico 1 1 0 1 5 8

Namibe 2 0 0 2 7 11

Kuanza Norte 4 0 2 0 3 9

Kuanza Sul 1 0 1 0 2 4

Kuando Kubango 1 0 0 0 2 3

Uíge 2 1 3 0 5 11

Zaire 1 0 0 6 7

TOTAL 32 10 16 23 245 326

FONTE: INEFOP- Relatório de Balanço das Actividades Desenvolvidas em �007

As acções formativas protagonizadas pelos centros de formação públicos e privados tiveram em �007 um total de �0.8�� inscritos, dos quais ��.078 alunos ficaram aptos, 673 não aptos, 1930 desistiram e 4.163 alunos estão ainda em formação.

CAPACIDADE FORMATIVA DOS CENTROS PÚBLICOS E PRIVADOS 2007

REDE DE CENTROS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

ProvínciaInscritos Aptos Não Aptos Desistentes Em Formação

M F T M F T M F T M F T M F T

Luanda 3684 1600 5284 2392 931 3323 73 58 131 528 228 756 703 371 1074

Bié 410 72 482 371 62 433 0 40 9 49 0

Bengo 622 55 677 483 39 522 38 6 44 48 4 52 50 9 59

Benguela 2950 1513 4463 2656 1399 4055 146 72 218 108 82 190 0

Cabinda 545 545 287 287 6 6 33 33 219 219

Cunene 124 124 0 0 0 124 124

Huambo 1212 943 2155 1023 396 1419 69 38 107 111 79 190 389 50 439

Huila 590 49 639 0 0 0 590 49 639

Lunda Sul 681 167 848 352 84 436 5 1 6 120 8 128 201 77 278

Lunda Norte 406 36 442 38 20 58 0 0 368 16 384

Malange 204 56 260 175 48 223 17 17 29 8 37 0

Moxico 411 520 931 292 475 767 18 18 85 44 129 189 189

Namibe 553 196 749 281 194 475 16 9 25 56 2 58 192 11 203

Kuanza Norte 802 302 1104 461 188 649 39 1 40 110 27 137 232 78 310

Kuanza Sul 554 36 590 266 19 285 25 25 23 1 24 185 23 208

Kuando Kubango 789 143 932 569 93 662 5 5 35 13 48 37 37

Uíge 330 89 419 259 72 331 19 19 52 12 64 0

Zaire 200 200 153 153 12 12 35 35 0

Total 15067 5777 20844 10058 4020 14078 466 207 673 1413 517 1930 3442 721 4163

Conforme denota o gráfico seguinte, houve um abrandamento de �006 para �007, do número de inscritos e de aptos nas acções de formação realizadas nos centros públicos e privados.

Em �007 foram realizadas ��� acções de formação, distribuídas por Centros de Formação, Pavilhões de Artes e Ofícios e Projectos, como evidenciado na tabela seguinte.

ACÇÕES DE FORMAÇÃO DOS CENTROS TUTELADOS PELO INEFOP 2007

ProvínciaCentros de Formação

Profissional

Projecto Esta é a tua Vez

Pavilhões Artes e Ofícios

Projecto Estamos Contigo

Total

Luanda 40 4 14 58

Bié 4 4 4 12

Bengo 4 4 2 10

Benguela 8 4 4 2 18

Cabinda 8 8

Cunene 4 4

Huambo 2 2

Huila 8 4 12

Lunda Sul 4 4 8

Lunda Norte 0

Malange 4 4 2 10

Moxico 4 4 4 12

Namibe 8 8

Kuanza Norte 16 4 20

Kuanza Sul 4 1 4 9

Kuando Kubango 4 4 8

Uíge 8 4 6 2 20

Zaire 4 4

TOTAL 128 32 31 32 223

FONTE: INEFOP- Relatório de Balanço das Actividades Desenvolvidas em �007

Em �007, foram contabilizados ��8 formadores dos centros tutelados pelo INEFOP. Não existem normativas para a carreira específica de formador e os mesmos ainda carecem de qualificação e de competências para essa carreira específica. Os formadores dos centros públicos e privados eram em número de 7�7 em �006, não dispondo nós de informação actualizada para �007.

ACÇÕES DE FORMAÇÃO REALIZADAS NOS CENTROS PÚBLICOS E PRIVADOS 2007

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

��

FORMADORES DOS CENTROS TUTELADOS PELO INEFOP

Província FormadoresMasculino Feminino Total

Luanda 170 170Bié 21 1 22

Bengo 25 25Benguela 14 1 15Cabinda 17 17Cunene 6 6Huambo 28 28

Huila 29 1 30Lunda Sul 32 32

Lunda Norte 38 38Malange 14 14Moxico 12 12Namibe 5 1 6

Kuanza Norte 18 3 21Kuanza Sul 23 1 24

Kuando Kubango 14 14Uíge 38 38Zaire 16 16Total 520 8 528

Há um maior envolvimento do Governo na formação e o MAPESS tem em execução ambiciosos programas, quer de formação, quer de reciclagem e de aperfeiçoamento profissional, cujas consequências, em termos de emprego, só a mais largo prazo se farão sentir e desde que os conteúdos das acções se adeqúem às reais necessidades da economia em mão-de-obra.

Outro efeito esperado, igualmente a longo trecho, é o da melhoria do salário médio nacional, mais indexado à qualificação e à produtividade do trabalho, com consequências positivas sobre a repartição funcional do rendimento. Existe um comprometimento na concepção de um sistema de formação profissional mais especializado que possa dar resposta às necessidades do mercado de trabalho estruturado, muito embora os perfis de entrada dos candidatos e a informação dos serviços ao cidadão sejam ainda deficientes.

É de realçar, no entanto, o empenho que tem sido crescente no campo da formação profissional, com saídas para o auto – emprego e o trabalho assalariado, possibilitando o desenvolvimento de actividades geradoras de rendimento para os beneficiários mais carenciados, pertencentes aos grupos vulneráveis.

Mercado de emprego nos anos 2000-2007

A estrutura demográfica angolana é constituída por uma população bastante jovem na qual �0% da sua totalidade tem menos de �� anos e �0% menos de �0.

Esta composição determina uma influência na oferta de mão de obra “ociosa”, uma forte interferência sobre os sistemas de saúde e de educação e uma pressão futura no mercado de trabalho e a longo prazo uma crescente dependência da população activa.

O rápido crescimento da população urbana deveu-se a um processo intenso de migração, passando rapidamente as cidades, principalmente aquelas situadas no litoral, a albergar a imensa maioria dos habitantes.

O aumento da população urbana e a sua expansão estão dados também pelo funcionamento do mercado de trabalho nas zonas urbanas e a crescente marginalização desta gente denota que a economia urbana não conseguiu criar postos de trabalho produtivos que possam satisfazer a contínua procura de emprego. Esta conclusão é tirada da suposição de uma certa perfeição do mercado laboral urbano, com características de homogeneidade e de racionalidade.

O emprego é uma variável central do crescimento económico – é a melhor forma de se aproveitarem os numerosos recursos humanos existentes e que poderão aumentar no futuro, se a taxa de crescimento demográfico se mantiver na sua média histórica – e nuclear para a redução da pobreza.

Devido à dinâmica económica geral, o emprego tem vindo a crescer depois de �00�.No entanto, tal como já referido, a própria natureza dos investimentos não proporciona a criação de mais empregos, pois os mesmos respondem a um modelo de desenvolvimento do tipo capital/tecnologia intensiva. Sectores como a agricultura, a construção civil e as obras públicas podem registar crescimentos significativos, chegando a ser os futuros grandes catalizadores de emprego.

Em Angola, o crescimento económico não significa proporcionalidade na redução da pobreza e/ou na geração de emprego e os salários não são suficientes para satisfazer as necessidades. Isto exige que as políticas públicas actuem no sentido de que a população tenha acesso a factores que possam melhorar/modificar o seu rendimento, actuando, sobretudo, no aumento da educação e da formação técnico-profissional da população, com resultados na melhoria da competitividade estrutural da economia.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

SectoresAnos Taxas de crescimento

2005 2006 2007 2005/2006(%) 2006/2007(%)

Agricultura, Silvicultura, Pescas 4.740.650 4.827.796 5.445.137 1,8 13

Petróleo e Refinados 12.310 13.689 14.410 11,2 5

Diamantes e Outros 39.799 41.789 42.572 5,0 2

Industria Transformadora 32.533 37.261 40.056 14,5 8

Obras Públicas e Construção 54.810 206.521 213.960 276,8 4

Comércio, Bancos, Seguros, Serv.Merc. 152.852 217.346 230.528 42,2 6

Outros 256.613 261.544 291.997 1,9 12

Total 5.289.567 5.605.946 6.278.660 6,0 12

FONTE: Ministério do Planeamento - Relatório de Balanço do Programa Geral do Governo

A variável emprego desempenha, também, papel preponderante na reconciliação pós-conflito e é determinante nos processos de inclusão social pois permite uma alteração na distribuição funcional do rendimento nacional e é uma das vias de transferência de receita para o factor trabalho. As estatísticas confirmam que o desemprego tem aumentado na África subsariana e alguns países apresentam cifras preocupantes.

Angola não está fora destes registos negativos, e ainda que a taxa de desemprego venha diminuindo desde �00�, como resultado conjugado de diferentes factores, entre eles as políticas de emprego aplicadas pelo Governo através do MAPESS em �00�, �006 e �007, os dados disponíveis apontam para uma taxa de desemprego, em �007, da ordem dos ��,� % (uma recuperação de � pontos percentuais face ao valor estimado para �006 que tinha sido de ��,� %), devido às dinâmicas de crescimento e de criação de emprego protagonizadas pelos sectores da construção, das pescas, da agricultura e dos serviços não mercantis. As taxas de crescimento de emprego dos sectores estão espelhadas no quadro anterior.

Centros de Emprego

Os Centros de emprego são estruturas de divulgação das oportunidades de trabalho junto dos dois lados do mercado laboral. A seguir se apresenta uma amostra das tendências do mercado do emprego em �007 que nos fornece indicações relevantes, comparando estas variáveis, sobre a movimentação dos indicadores da procura e da oferta de emprego e das colocações, com a ressalva de que os mesmos não abrangem a totalidade do mercado nacional do emprego.

Em �007, foram registados ��.�7� pedidos de emprego, (��.��� homens e 6.�08 mulheres) �0.06�

ofertas de emprego e efectuadas 7.��� colocações (6.78� homens e �.��� mulheres)

A taxa de variação ocorrida em �007 revela-nos que ainda que a procura de emprego tenha diminuído, a oferta aumentou e as colocações também cresceram relativamente ao ano de �006. As taxas de variação da oferta de emprego foi de ��,� % em �007 (-8,� % em �006), - correspondente a uma maior criação de postos de trabalho – e de ��,6 % das colocações, (-�7,� % em �006), o que revela uma forte correlação entre aquelas duas variáveis do mercado de emprego.

O rácio colocações/oferta indica que fica sempre um diferencial de oferta não preenchido pelas colocações, representado por dificuldades de vária ordem, tais como assimetrias de informação, demoras dos ofertantes em preencher os lugares disponíveis, etc.

O rácio colocações/procura indica que ��,� % da procura registada nos Centros de Emprego foi satisfeita.

A variação entre a procura de emprego (�6% em 2006 e -7,5 % em 2007) patenteia um défice na satisfação da procura no mercado de trabalho e ainda uma certa debilidade de informação dos serviços de emprego ao cidadão, uma falta de cultura dos cidadãos e dos empregadores em utilizar os serviços disponíveis de ocupação laboral, uma imperfeita comunicação entre os centros de emprego, os centros de formação profissional e as empresas e uma reduzida cobertura geográfica dos centros de emprego.

Deve existir um conjunto de informações sobre as profissões e às oportunidades de inserção no mercado, com referências de empresas e contactos estabelecidos. As competências básicas fornecidas, embora com a componente prática, podem ser ampliadas pela experiência profissional em ambiente

EMPREGO NA ECONOMIA 2005, 2006 E 2007

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

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real de trabalho, refrescamentos, reciclagens e outras acções de formação.

A fluidez da troca de informação entre os empregadores, os centros de emprego e os cidadãos, respeitante às actividades desenvolvidas pelos centros de emprego e pelos centros de formação profissional, pode melhorar significativamente a relação e a qualidade dos serviços prestados, a qualidade do

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO PODER DE COMPRA DOS SALÁRIOS DA FUNÇÃO PÚBLICA EM 2007

FONTES: INE – Índice de Preços no Consumidor; MAPESS – Informações sobre os salários nominais médios mensais. Cálculos do CEIC.

diagnóstico e a monitoria dos resultados da formação profissional, para um superior acompanhamento e a operacionalidade do sistema.

Analisando a série estatística temporal sobre aquelas variáveis, chega-se a algumas conclusões sobre a trajectória do mercado do emprego, úteis para relacioná-lo com o contexto global da política económica.

Indicadores 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007Procura de emprego (pedidos) 17989 21796 25602 23930 28832 29325 34025 31472Oferta de Emprego 4661 6205 7748 8606 9122 9018 8288 10064Colocações 4464 5221 5978 8118 8150 8089 6642 7941RÁCIOS 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007Procura/oferta 285,9 251,3 230,4 178,1 216,1 225,2 310,5 212,7Colocações/oferta 95,8 84,1 77,2 94,3 89,3 89,7 80,1 78,9Colocações/procura 24,8 24,0 23,3 33,9 28,3 27,6 19,5 25,2TAXAS DE VARIAÇÃO 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007Procura 21,2 17,5 -6,5 20,5 1,7 16,0 -7,5Oferta de emprego 33,1 24,9 11,1 6,0 -1,1 -8,1 21,4Colocações 17,0 14,5 35,8 0,4 -0,7 -17,9 19,6

MERCADO DE EMPREGO 2000-2007

Os rácios que se estabeleceram naquele período

de análise, entre a procura e a oferta, as colocações e a oferta e finalmente entre as colocações e a procura estão demonstrados no gráfico a seguir.

RÁCIOS 2000-2007

CARACTERISTICAS GERAIS DO MERCADO DO EMPREGO

TAXAS DE CRESCIMENTO 2000-2007

De acordo com o que nos é dado ver, através da série estatística, dos rácios e das taxas de crescimento do mercado de emprego e do PIB, pode afirmar-se que os Centros de Emprego dão-nos informações não estabilizadas, isto é, permitem-nos fazer aproximações mas não posicionamentos sobre as características do mercado do emprego e a sua relação com o crescimento económico.

A debilidade das informações sobre o emprego recolhidas através dos Centros de Emprego é confirmada pela correlação com as taxas reais de crescimento do PIB apresentadas no gráfico anterior. Com efeito, as oscilações patenteadas pelas três variáveis de emprego contrastam com o comportamento do PIB, muito mais estável ao longo do período considerado.

Isto faz-nos pensar que os Centros de Emprego são utilizados de forma marginal e periférica, de ambas as partes do mercado de emprego – de quem

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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busca emprego e de quem o oferece – e que os dados estatísticos que apresentam não abarcam a totalidade do mercado, mas apenas as intenções dos ofertantes e dos demandantes de postos de trabalho que se apresentam nesses locais.

Registo Nominal de Trabalhadores (Rent)

O registo nominal de trabalhadores é um instrumento administrativo que pretende recolher e tratar informações sobre a estrutura da população empregada no sector empresarial, público, privado, misto e cooperativo, bem como nas instituições sociais, religiosas e organizações não governamentais. Este registo pode propiciar informações importantes sobre a estrutura das empresas, do emprego, do número de trabalhadores permitindo um controle sobre a evolução da força de trabalho ocupada no sector empresarial, suas competências, salários e a estrutura dos seus rendimentos.

Do registo nominal de trabalhadores recolhido em �� das �8 províncias, das quais Benguela, Huila, Huambo, Bié, Cunene, Zaire, Uíge, Kuanza Norte, Kuanza Sul, Namibe, Kuando Kubango e Luanda, foram apurados �6.��� trabalhadores empregados em �.��8 empresas.

Destas empresas, por actividade económica, é o comércio que detém o maior número de empregados, com �0 %, a seguir vem a indústria com �6,�%, a construção com ��,� %, actividades de prestação de serviços às empresas ��,�%, os transportes 8 %, a agricultura 7,7 % e as outras actividades ��,� %.

Quanto às qualificações, segundo o mesmo registo, cerca de �,� % dos empregados não sabem ler nem escrever, �0,8% sabem ler e escrever mas não concluíram a �ª classe, �7,� % tem a �ª classe ou um conhecimento equiparado, ��,�% o II Nível, ��, 7% o ensino de base do III Nível, �7% o ensino médio e pré-universitário, �,�% possuem a licenciatura e �% é constituído por bacharéis.

Por profissão, 37,7% são portadores de profissões ligadas às indústrias extractivas e transformadoras, ��,� % ligados aos serviços pessoais e domésticos, �8,6 % ao pessoal administrativo e similares, 8,� % tem profissões científicas e técnicas, 6,1% são agricultores e criadores de gado, �% trabalham no comércio ou são vendedores, �,� % com cargos de direcção

Por classes etárias, 78,8 % tem idade entre os �8 e os �� anos, �0,� % tem mais de �� anos e � % tem menos de �8 anos.

Um dado importante é o relativo à distribuição das empresas por sector de actividade, pontificando o comércio com 66,6 %, a indústria com �,� %, a agricultura e pescas com 6,� % a construção com �,� %, os transportes com �%, a electricidade e águas com 0,�% e outros com ��,� %.

Incubadora de Empresas

Incubadoras são ambientes propícios para o desenvolvimento do espírito empreendedor, da criação e do crescimento de novas empresas e da identificação de novas oportunidades de negócio.

O projecto “incubadora de empresas de Luanda” consubstancia-se no apoio à criação, à consolidação e ao crescimento de empresas com maiores probabilidades de sucesso, através da promoção de um conjunto de serviços e informações no sentido de ir ao encontro das iniciativas empreendedoras dos cidadãos.

Estão actualmente na incubadora de empresas de Luanda (IEL) �7 empresas, das quais � em regime de incubação e �� em regime de pré-incubação tendo sido proporcionada capacitação empresarial a �0� utentes dos serviços.

O estabelecimento de incubadoras de empresas nas províncias de Benguela e da Huíla, além de Luanda, tem como objectivo desenvolver o empreendedorismo em outras localidades, e o aperfeiçoamento de capacidades impulsionadoras que possam originar a criação empresas e de postos de trabalho novos. A incubadora tem também como objectivo dar formação a activos qualificados, recém diplomados dos ensinos médio e superior.

Mercado Informal

A transformação gradual das ocupações precárias em oportunidades de trabalho digno e as saídas da informalidade são tão importantes quanto a criação de empregos novos, isto é, a transmutação em trabalho digno das ocupações precárias e das actividades informais.

Quando o emprego formal é baixo, o informal tem que ser alto, pois não é escolha possível ficar indefinidamente desempregado. Desta forma, podemos dizer que o emprego informal é guiado pela oferta, ou seja, pelo número de pessoas que não conseguiram trabalho nas actividades formais.

As actividades económicas que conformam o sector formal do mercado de trabalho, apesar das altas

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taxas de crescimento que registam, não conseguem gerar novas oportunidades de emprego, tal como o requerido pelo ritmo de crescimento da força de trabalho. A alternativa é a criação do sector informal urbano, diferente quer em termos de produtividade, quer em termos de rendimento, sendo os baixos níveis e a instabilidade dos rendimentos a sinopse dos problemas ocupacionais das pessoas que trabalham nas actividades do sector informal. A importância da economia informal tem vindo a acentuar-se, não apenas como espaço de reprodução económica, mas igualmente como um substituto da economia formal.

Auto – emprego e alguns dados sobre o programa de fomento do auto – emprego

Os objectivos gerais do Programa de Fomento do Auto – Emprego são a promoção de um conjunto de serviços e de saberes capazes de desenvolver a cultura do empreendedorismo, a criação de novos postos de trabalho, a diminuição do desemprego, a redução da pobreza e da exclusão social, na tentativa de captar aquela franja da população que se dedica ao trabalho informal ou que está desempregada. O acesso ao crédito amplo e barato, do qual o micro- crédito é apenas uma modalidade, - podendo os bancos públicos ter um papel significativo - pode desempenhar o encargo de suporte e de apoio a todas as formas de empreendedorismo dos micro e dos pequenos produtores e os progressos alcançados determinarão as saídas da informalidade.

O MAPESS tem vindo a desenvolver iniciativas relacionadas com a formação para o auto-emprego, através da incubadora de empresas, pelo desenvolvimento da cultura do empreendedorismo, de acções de formação que promovam o espírito criativo e as capacidades para a geração do próprio negócio, pela formação profissional, pela distribuição de kits de ferramentas e através de projectos de inserção social, tais como o projecto “Estamos contigo” e o Projecto “Esta é a tua Vez”.

ESTA É A TUA VEZ Província Município Inscritos Desistentes Aptos Empregados

Bengo Ambriz 339 48 461 461

BiéCunje 120 120 120

Camacupa 85 85 85

Malanje Calandula 45 8 37 37

Moxico Kamanongue 100 49 51 51

Luanda Viana Km �0 199 20 179 179

Uíge Negage 25 2 23 23

ZaireM’Banza

Congo 160

Soyo 160 7 153 153

Total 1.233 134 1.109 1.109

ESTAMOS CONTIGOProvíncia Município Inscritos Desistentes Aptos Empregados

BiéCatabola

286 20 266 48Chinguar

Benguela Lobito 268 8 260 260

Huambo Alto-Hama 184 9 175 175

HuílaChicomba

1.021 12 1.009 242Gambos

Kuanza SulKassongue

486 48 438 51Cela

KuandoKubangoCuchi

681 33 648 151Calai

Malange Calandula 193 43 150 37

MoxicoLuau

381 381 116Léua

Lunda SulSaurimo

388 6 382 100Cacolo

Uíge Songo 30 5 25 25

Total 3.918 184 3.734 1.205

9.- INFLAÇÃO, CONDIÇÕES DE VIDA E PODER DE COMPRA

9.1.- Nota Prévia

Em termos mundiais, o descontrolo dos preços em 2007 ficou a dever-se à sistemática queda do valor internacional do dólar e ao subsequente ajustamento nos preços do petróleo, haja em vista que os países produtores de petróleo têm as suas moedas ligadas à moeda americana e não terem querido pagar a factura do desvario da ainda maior economia do planeta.

Internamente, a redução da inflação defrontou-se, mais uma vez, com algumas barreiras relacionadas com as elevadas taxas de crescimento do PIB. Como se sabe, o descontrolo dos preços ocorre em períodos de sobreaquecimento económico e baixo desemprego. A dinâmica de crescimento económico desde �00� tem sido muito intensa, ultrapassando os efeitos positivos derivados da natureza restritiva das políticas monetária e orçamental. A elevada taxa de desemprego – induzindo menor capacidade de ajustamento das taxas salariais – não tem sido bastante para contrariar a pressão sobre os preços decorrente do crescimento económico. As taxas de juro – o instrumento, por excelência, para manter a inflação dentro dos limites desejados – têm sido pressionadas para baixo, devido aos elevados montantes de poupança existente nos bancos (foi anunciada uma disponibilidade para crédito de aproximadamente mil milhões de dólares), pelos financiamentos externos e pelas necessidades de crescimento da economia nacional. Dir-se-á que do confronto entre crescimento e inflação, o primeiro tem merecido maior atenção e preferência dos decisores públicos.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

��

Vale a pena lembrar as conclusões dum estudo do Banco Mundial realizado em ���� e conduzido por Michael Bruno, nessa altura economista chefe dessa instituição7�. O cerne deste trabalho foi a relação entre crescimento económico e inflação, tendo-se analisado uma amostra de ��7 países entre ��60 e ��6�. Constatou-se que para a generalidade dos países estudados:

• as taxas médias de crescimento declinavam ligeiramente à medida que as taxas anuais de inflação se situavam entre 20% e 25%;

• as taxas médias de crescimento declinavam abruptamente à medida que as taxas de inflação se afastavam dos ��%, sendo os �0% o limite máximo para a inflação galopante e crescimento nulo ou negativo;

• para taxas de variação geral dos preços abaixo dos 20% ao ano, inflação e crescimento apresentavam uma correlação circular, ou seja, mais crescimento – em condições de ceteris paribus – podia sobreaquecer a economia, sendo, portanto, fundamental controlar os restantes factores indutores da inflação, como os de cariz monetário, os estrangulamentos ao investimento e as desarticulações sectoriais.

A política cambial continuou a privilegiar a estabilidade do kwanza face ao dólar – tornando as importações pagas nesta moeda relativamente mais baratas – mas tem acompanhado a valorização do euro, não se favorecendo, deste modo, as compras provenientes do espaço europeu, tradicionalmente o maior fornecedor de bens e serviços ao nosso país7�.

A estabilidade das economias é medida pelo intervalo de variação dos preços, sendo a norma convencionalmente aceite a do intervalo �,�%-�,�%. Ou seja, uma economia onde a taxa de inflação anual se situe no intervalo anterior é uma economia estável, do que se esperam resultados concretos em termos de crescimento económico, aumento do emprego e melhoria das condições de bem-estar da população.

No entanto, o limite de �,�% para a variação máxima anual do índice geral de preços tem de levar em linha de conta as condições concretas de cada país. Em países onde as estruturas económicas e sociais se encontrem em reajustamento – na sequência de situações de conflitos armados, por exemplo – e que se defrontem com processos de reformas institucionais de mercado profundas, as adaptações

7�Bruno, Michael – A Inflação Trava Realmente o Crescimento Económi-co? Finanças e Desenvolvimento, Fundo Monetário Internacional/Banco Mundial, Setembro de ����.7�Este peso ainda não foi contrabalançado por outros países da zona dólar, como a China, o Brasil e a África do Sul.

nos preços terão de ser mais demoradas no tempo e, provavelmente, enquadrarem-se em limites não tão estreitos. Independentemente destas considerações, taxas de inflação de 12% ao ano desenquadram-se duma situação de estabilidade dos preços.

Angola tem apresentado taxas de crescimento económico bastante elevadas, particularmente a partir de Abril de �00�, data histórica em que a paz se instalou, depois de 27 anos de conflito militar interno. Do lado da economia não petrolífera, as causas para o registo de taxas, em média anual, superiores a ��% em �00�, �00� e �006 devem ser encontradas nos baixos valores de partida – que se registaram depois da independência e devido a desencontros e anomalias do calendário ideológico e doutrinário adoptado – e nos elevados índices de ociosidade produtiva de sectores como a agricultura, a indústria transformadora, a energia e a construção. Uma vez ocupados e esgotados os espaços existentes, é provável que ocorra uma pressão da procura sobre a oferta que se repercutirá nos preços, mesmo que a gestão das políticas monetária e fiscal se atenha em limites aceitáveis e se baseie em normas válidas.

O índice de preços no consumidor começa a ser um instrumento de análise insuficiente para se poder atacar, duma forma consolidada, a inflação em Angola, a partir de agora mais difícil de baixar. Começam a ser indispensáveis o índice de produção industrial, o índice de produção agrícola e o índice de preços no produtor. O conhecimento das estruturas de mercado é, também, indispensável, de modo a serem detectáveis situações de concorrência imperfeita, penalizadoras do comportamento dos preços e indicadoras de comportamentos de oligopólio que puxam os preços para cima.

9.2.- O comportamento da inflação em 2007

À semelhança de �006, em �007 e eventualmente com uma maior intensidade, mantiveram-se em níveis elevados duas das componentes da procura final interna, o investimento público e o investimento privado. Presume-se que, como resultado do pequeno incremento na criação líquida de postos de trabalho e da melhoria moderada dos salários, o consumo privado tenha experimentado, igualmente, um crescimento razoável.

O acréscimo dos custos de transporte na cidade de Luanda, em consequência da desregulação do tráfego provocada pelas intensas chuvas que na parte final de cada ano se abatem sobre uma cidade em processo (lento) de adaptação das respectivas estruturas e

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sistemas de circulação das pessoas, foi um factor que acabou por pressionar o IPC da cidade-capital para cima, em Novembro e Dezembro.

A ainda demorada resposta da oferta doméstica às necessidades de crescimento e à demanda das famílias só não pressionou mais os preços porque as importações com origem na zona dólar – mais baratas desde há dois anos pela constante valorização do kwanza perante um dólar em queda livre nos mercados cambiais internacionais – completaram a oferta total no diferencial não preenchido pela produção interna7�.

Conforme se referiu mais atrás – na parte introdutória deste Relatório Económico – a crise alimentar internacional é um factor a ter em atenção, depois de 2005, nas políticas de controlo da inflação, em todos os países. Para além da explicação trazida pela variação positiva na procura mundial das commodities de natureza agrícola, – comandada por alguns dos países emergentes, como a China, a Índia e alguns outros do sudeste asiático e pela produção dos bio-combustíveis – e pelo decréscimo nas exportações da Tailândia, Vietname e Paquistão, tem de se considerar, como outra razão, o sucessivo aumento do preço de petróleo, desde �00�. Os países produtores de petróleo e dependentes, em grande escala, da importação de bens manufacturados – em especial dos de elevado valor energético no seu processo de fabrico – devem fazer muito bem as contas sobre os ganhos líquidos consequencializados pelo aumento do preço do óleo.

A especulação no mercado dos fundos de matérias-primas é um dos elementos que pode prejudicar as metas de controlo da inflação em 2008, a nível mundial. A crescente procura de trigo, milho, soja e açúcar, em particular os três últimos bens, para a produção de bio-combustíveis, a fim de se reduzir a dependência dum petróleo cada vez mais caro – os especialistas do crude afirmam ter-se entrado numa era de petróleo caro – vai contribuir para a escalada dos preços. Na verdade, os fundos de matérias-primas – que têm apresentado uma elevada rentabilidade – comportam-se na base dum elemento real (que é a procura actual pelo produto) e duma componente financeiro-especulativa, dada pela expectativas do comportamento futuro da procura. Assim sendo, os consumidores dos derivados daquelas matérias-primas agrícolas vão pagá-las mais caros, não só devido ao 7�As importações de mercadorias aumentaram 8,6% em �007, enquanto em �006 esse incremento tinha sido muito maior, da ordem dos �6,7%. Este decréscimo pode ter sido o resultado da desvalorização do kwanza face ao euro, a qual, provavelmente, exerceu um efeito negativo sobre um maior controlo da inflação, em condições de não substituição das impor-tações pela produção nacional.

défice presente oferta/procura, mas, também, pelo que se pensa possa ser a dimensão futura deste mesmo défice7�.

Apesar desses constrangimentos, conseguiu-se manter a tendência declinante no Índice de Preços no Consumidor. Porquê?

(a) a taxa de desemprego é, ainda, bastante elevada, tendo permitido – a despeito de alguma pressão sobre a procura de mão-de-obra por parte das empresas – manter em níveis não inflacionários os salários nos diferentes mercados de trabalho;

(b) o controlo monetário continuou a ser relativamente forte (o acréscimo percentual registado no agregado M� foi de �7,�%, inferior em �0 pontos percentuais ao de �006, cujo valor foi de �7,�%)7�;

(c) o nível de rendimento médio da população continuou baixo – ainda que o PIB por habitante tenha aumentado, a maioria da população permaneceu pobre e muito pobre e a desigualdade na repartição do rendimento agravou-se (o incremento do PIB por habitante ocorreu com menores actualizações nas despesas públicas na saúde, educação e transferências a título de pensões, reformas e abonos de família76);

(d) o efeito-chinês sobre a economia nacional sentiu-se pela atenuação da pressão sobre a procura agregada: 70% dos materiais, equipamentos, serviços e mão-de-obra são oriundos da República Popular da China; seguramente que uma boa parte do incremento de 8,6% na importação de mercadorias ter-se-á ficado a dever às exportações chinesas de bens de consumo, intermédios e de capital para as obras de reabilitação de infraestruturas que as empresas chinesas levam a efeito no nosso país;

(e) o efeito-petróleo sobre o PIB por habitante: se este incremento (��,�% de �006 para �007, ao custo de factores e em dólares correntes) tivesse sido originado, sobretudo, pelo aumento

7� O Banco Mundial preveniu que, apesar de em �008 poder registar-se uma ligeira quebra no ritmo de aumento dos preços destas commodities – devido a melhores condições climáticas – o seu nível médio, porém, vai manter-se acima do de �00�, pelo menos até �0��.7�Pode estar aqui uma das razões de não se ter conseguido atingir a meta dos 10% estabelecida pelo Governo para a inflação. Se o controlo mone-tário se tivesse mantido em níveis ainda mais restritivos, provavelmente a taxa de inflação teria sido inferior a 11,79%. Porém, a expansão da produ-ção poder-se-ia ter ressentido duma maior contracção monetária.76Os valores percentuais (PIB como referência) foram para a educação de �,�%, �%, �%, �,8%, �,�%, �,�% e �,�%, respectivamente para �00�, �00�, �00�, �00�, �00�, �006 e �007. Para a saúde o comportamento, para os mesmos anos foi de �,8%, �%, �,�%, �,8%, �,�%, �% e �,8%. Estas cifras constam do documento do FMI intitulado “Angola – Selected Issues and Statistical Appendix”, July 2006, para os anos de 2001 a 2003, sendo que para os restantes se basearam em cálculos do CEIC tomando como referência a execução financeira do Estado.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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do peso relativo da economia não petrolífera, a pressão sobre a procura agregada teria sido maior;

(f) o aumento da oferta interna de bens e serviços, graças ao crescimento da agricultura, indústria transformadora e das importações (tornadas mais baratas pela apreciação cambial do kwanza);

(g) a curva da oferta agregada interna continua a apresentar, por enquanto, uma elasticidade rendimento-preço inferior à unidade.

O grau de inclinação da curva de desinflação tem vindo a diminuir desde �00� – conforme os dados da tabela seguinte – comprovando a influência dos factores desestruturantes da economia nacional, tais como a falta de infraestruturas, as desarticulações sectoriais, excesso de burocracia, etc. Por isso, a meta dos �0% foi excedida em �,8 ponto percentual.

TAXAS MENSAIS DE INFLAÇÃO (%)MESES 2003 2004 2005 2006 2007Janeiro 6,�8 �,07 �,�� 0,8� 0,8�

Fevereiro 7,68 �,�� �,0� 0,7� 0,86Março �,6� �,�6 �,�6 0,7� 0,8Abril 7,�� �,�8 �,�� 0,8� 0,78Maio �,�� �,�� �,�� 0,8� 0,88Junho �,�7 �,�6 �,0� 0,77 0,7�Julho �,�7 �,�� �,�� 0,�� 0,��

Agosto �,0� �,60 �,�� 0,80 0,78Setembro �,7� �,�� �,0� 0,8� 0,7�Outubro �,�0 �,�6 0,�7 0,87 0,8�

Novembro �,�� �,8� �,�� �,�� �,06Dezembro �,60 �,�� �,�� �,�7 �,��

Taxa inflação anual 76,56 31,01 18,53 12,21 11,79Taxa média mensal 4,85 2,28 1,71 1,16 0,93

FONTE: INE – Índices Mensais de Inflação.

Os ritmos de desinflação da economia vão-se reduzindo à medida que a taxa geral de inflação se acomoda em valores cada vez mais baixos. Com efeito, os valores correspondentes ao ritmo de desinflação para os anos indicados na tabela anterior foram, respectivamente, de �8,�%, ��,�%, �0,�%, ��,�% e �,�%.

Foi a partir de �00� que se entrou num processo sustentável de desinflação da economia: duma taxa de inflação anual acumulada de 268,35% em 2000, passou-se para valores sucessivamente menores, ��6,07% no ano seguinte, �0�,�� em �00�, 76,�6% em �00�, ��,0�% em �00�, �8,��% em �00�, ��,��% em �006 e ��,7�% no ano passado.

COMPORTAMENTO DA INFLAÇÃO EM ANGOLA

ANOSTaxa de inflação

média mensalInflação média

anualInflação

HomólogaDesvioPadrão

2002 6,20 109,32 105,59 1,462003 4,85 100,19 76,56 1,962004 2,28 45,31 31,01 1,34

2005 1,43 23,24 18,53 0,80

2006 0,97 13,37 12,21 0,65

2007 0,93 12,34 11,79 0,53

Graficamente percebe-se melhor a intensidade da diminuição da variação dos preços em Angola, medida pelo Índice de Preços no Consumidor na cidade de Luanda.

Comparando-se a inflação com o comportamento de algumas variáveis económicas correlacionadas, verifica-se que os agregados monetários e cambiais deixaram de exercer a influência registada num passado ainda recente, comprovada por diferentes estudos elaborados por instituições nacionais e estrangeiras. Parece que depois de se ter implementado o modelo de desinflação centrado na esterilização ex-ante das receitas fiscais petrolíferas, a variação geral dos preços passou a depender mais das variáveis reais do sistema económico.

Com efeito, em 2007 parece que a inflação deixou de ter a ver directamente com a emissão de moeda, tal como se pode visualizar pelo gráfico seguinte.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

�0�

Ainda que em níveis mensais um pouco elevados, a inflação manteve-se praticamente estável durante �007. A redução dos seus níveis mensais para valores abaixo de 0,�% - compatíveis com taxas anuais de inflação em redor dos 6% - depende do crescimento e diversificação da manufactura e da agricultura, das reformas liberalizantes de todos os mercados, da melhoria da circulação das mercadorias e, evidentemente, da manutenção em alerta das variações dos agregados monetários e da consolidação da gestão orçamental.

No entanto, o crescimento intenso do PIB dos últimos anos pode apresentar-se como um factor determinante do sobreaquecimento económico, devido ao incremento nos consumos intermédios e nos salários77 e às desarticulações sectoriais – ainda remanescentes e consequência do excessivo peso do petróleo e diamantes e do atrofiamento, trazido do passado, da agricultura, dos sistemas de transportes, da energia e da manufactura – aumentadas pela natureza das sub-economias em presença.

O comportamento tendencial do PIB e a sua correlação com o aumento da oferta interna mostram que as actividades não petrolíferas podem ter um papel importante na atenuação de eventuais situações futuras de sobreaquecimento económico. Com efeito, é forte a afinidade entre o abaixamento da inflação e o crescimento sistemático da produção não petrolífera desde �00�.

A sustentabilidade deste processo de controlo da variação dos preços terá de necessariamente passar:

• por uma maior convergência entre a política orçamental e a política monetária, aprofundando-se e aperfeiçoando-se os processos em curso;

• pelo aumento da oferta global de bens e serviços, em especial de origem interna, com a efectiva recuperação da agricultura e da indústria transformadora;

77 Embora a elevada taxa de desemprego indique ser ainda possível criar uma maior quantidade de emprego líquido que o crescimento económico exige, sem se exercer pressões significativas sobre o salário de equilíbrio no mercado de trabalho.

• pelo aumento da produtividade geral da economia;

• pelo incremento da concorrência, quer publicando a lei da concorrência, quer acelerando-se a privatização do património empresarial do Estado78, quer, ainda, pela eliminação das situações de oligopólio existentes.

Outra abordagem obrigatória da inflação leva

a seccioná-la em bens transaccionáveis e bens não transaccionáveis. Esta abordagem não foi realizada neste Relatório – ao contrário dos anos anteriores – devido ao não fornecimento pelo INE da informação relevante.

9.3.- Condições de vida e poder de compra

Como se sabe, não são realizados inquéritos sistemáticos às condições de vida da população. Desde ��7� até hoje, conhecem-se, tão-somente, dois inquéritos, um datado de ���� e outro de �00�, tendo sido na base deste último que se pôde conhecer a taxa de pobreza de Angola.

Alguns indicadores muito genéricos apontam para uma ligeira melhoria do bem-estar geral da população, tais como, a redução da taxa de inflação, a estabilização do kwanza face ao dólar, o sucesso do sistema do microcrédito, o aumento da produção agrícola dos produtos de consumo mais tradicional, o ténue aumento do emprego nos sectores que melhor remuneram a força de trabalho e o incremento do PIB por habitante7�. No entanto, não são medidas exactas da melhoria das condições de vida, porque nenhuma delas informa sobre a distribuição do rendimento nacional (o índice de Gini em �00� registou o valor de 0,6�, a comprovar a muito desigual repartição do rendimento).

Resta, portanto, verificar como se comportou o poder de compra dos salários da Função Pública – tomando-os, como se frisou já, como referencial dos salários médios da economia –, os quais, entre �00� e �006, haviam registado uma perda acumulada de �0,86%, conforme consta do Relatório Económico Anual de �006, com os parciais de ��,�% em �00�, 7,8�% em �00�, 0,67% em �00� e 0,�8% em �006.

78 Nomeadamente nas actividades exercidas através de monopólios, como o caso dos transportes aéreos internacionais, em que a TAAG pratica pre-ços elevados e não presta um bom serviço.7�O PIB per capita, a preços de �00�, foi de �0�7,6 dólares em �00�, ��7�,� dólares em �006 e ����,0 dólares em �007, uma variação de ��,8% em termos reais para este último ano. A diferença para os �7,�% considerada no parágrafo �.� para a estimativa do efeito PIB sobre a re-dução da pobreza deve-se à diferença das taxas de câmbio para os anos em referência.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

�0�

Esta sequência de registos de uma perda acumulada no poder de compra do salário médio da Função Pública confirma que a estratégia de ajustamentos salariais – baseada na inflação esperada, sistematicamente inferior à registada no final de cada ano – não tem sido adequada à recuperação do poder de compra perdido em anos anteriores. Acresce que, ainda que

os ajustamentos cobrissem a taxa de inflação em Dezembro de cada ano, a taxa média anual de inflação (que é a que conta) tem sido superior à taxa de inflação homóloga, donde se conclui que a perda do poder de compra dos salários tem sido maior.

As informações relevantes estão no quadro seguinte.

MESESTaxa mensalDe inflação

Índice preços acumulado

Salário nominalmédio mensal

Salário realmédio mensal

Variação do salário real(%)

Perda acumulada poder compra

Janeiro 0,8� �,�0 �767�,7 8���,6 0,�7� -�0,8�Fevereiro 0,86 �,�� �7���,� 8���,0 0,��� -�0,7�

Março 0,80 �,�� �8��0,� 8���,7 0,��8 -�0,�8Abril 0,78 �,�8 �8���,� 8�7�,� 0,��8 -�0,��Maio 0,88 �,�� �87�8,� 8�8�,� 0,��� -�0,��Junho 0,7� �,�� ��086,� �00�,7 0,�08 -�0,�0Julho 0,�� �,�6 ���77,� �006,� 0,0�0 -�0,�6

Agosto 0,78 �,�� ��67�,0 �0��,8 0,��8 -�0,0�Setembro 0,7� �,�� ���67,7 �0�8,� 0,��8 -��,8�

Outubro 0,8� �,�� �0�67,� �06�,� 0,�88 -��,70

Novembro �,06 �,�7 �0�70,� �0��,8 -0,0�� -��,7�

Dezembro �,�� �,�� �087�,8 8�78,� -0,�0� -30,38

Acumulado ��,7� ��,7� 0,801

Média 0,�� �,�� ����8,7 8���,�

Desde �00�, que não tinha ocorrido um ganho real no poder de compra dos salários da Função Pública, embora os termos acumulados apontem para uma perda de �0,�8%, desde �00� ( perda acumulada de �0,8�% entre �00� e �006)80.

Ou seja, a velocidade de perda do poder de compra dos salários dos funcionários públicos tem diminuído desde 2003, reflexo da quebra acentuada do ritmo de crescimento dos preços.

Verifica-se ainda que:• o salário real médio mensal de �007

correspondeu a ���,� dólares (contra ��0,8 dólares em �006 e ���,� em �00�), o que equivale a uma perda do poder de compra do dólar como consequência directa da apreciação ocorrida no kwanza;8�;

• a sequência de ganhos mensais do poder de compra do salário médio da Função Pública manteve-se até Outubro, para depois em

80 Uma das razões desta perda do poder de compra dos salários da Fun-ção Pública consiste no modo de ajustamento escolhido, que em vez de ser correspondente à inflação verificada é realizado a partir da inflação prevista, que em nenhum dos anos considerados se situou nas metas esta-belecidas pelo Governo.8�Em �007, a moeda americana perdeu ��,8% do seu valor real. Em �006, a moeda americana já tinha perdido, igualmente em termos reais, ��,�% do seu poder de compra (em �00� a perda tinha sido de ��,�%, �7,�% em �00� e ��,�% em �00�). Ou seja, uma perda acumulada de �0�,0%.

ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO PODER DE COMPRA DOS SALÁRIOS DA FUNÇÃO PÚBLICA EM 2007

FONTES: INE – Índice de Preços no Consumidor; MAPESS – Informações sobre os salários nominais médios mensais. Cálculos do CEIC.

Novembro e Dezembro registar duas perdas consecutivas;

• o aumento acumulado dos salários nominais na Função Pública foi de ��,7% (contra ��,6% em 2006 e17,7% em 2005), suficiente para cobrir a variação anual acumulada dos preços, que foi de ��,78%; a estratégia de ajustamento salarial produziu um ganho de 0,8%, mas precisa de ser muito mais pró-activa, o que passa por ganhos mais substantivos na produtividade administrativa;

• os aumentos nominais foram executados em duas etapas, como, de resto, aconselha a prudência e a experiência do passado.

Como conclusão genérica, assinala-se que deve

ter permanecido em valores baixos a produtividade administrativa dos serviços da Administração do Estado.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

�0�

ANOS Salário real médiomensal em Kz

Perda anual do poder compra(%)

Perda acumulada poder compra (%)

Salário real mensal em dólares

Taxa média de câmbio referência

2003 9759,50 -24,15 -24,15 123,41 79,08

2004 9060,52 -7,83 -30,09 107,30 83,44

2005 9032,27 -0,67 -30,56 111,81 80,78

2006 8900,91 -0,54 -30,85 110,78 80,26

2007 8995,9 0,801 -30,38 119,91 76,48

Em termos gráficos, visualiza-se, duma forma mais clara, a tendência de comportamento do salário real médio da Função Pública.

10.- PERSPECTIVAS

10.1- ECONOMIA MUNDIAL

Várias ameaças dominam e continuarão a dominar as perspectivas de crescimento da economia mundial em �008 e �00�, as quais, no entender de muitos especialistas e dezenas de instituições internacionais, não são famosas, podendo a desaceleração do seu ritmo de crescimento afectar as economias emergentes e os países produtores de petróleo, em particular os africanos. Ainda que o Fundo Monetário Internacional avalie em apenas ��% a probabilidade de ocorrer uma crise económica em �008, os analistas mais conceituados não a descartam8�. Tudo, afinal, vai depender da capacidade de as economias emergentes manterem o alto astral de que têm beneficiado e resistirem aos efeitos da crise do crédito hipotecário.

O euro está no seu nível mais elevado de sempre – podendo atingir em �008 o valor de �,7 contra a moeda americana – e seguramente vai travar as exportações europeias, um dos motores do seu crescimento económico. A não ser que se descubram ganhos de competitividade escondidos na consolidação orçamental e no desenvolvimento tecnológico e científico. A despeito da previsão da Goldmoney (ver parágrafo �.�.�) que aponta para o início da desvalorização do euro face a um 8�International Monetary Fund - World Economic Outlook, April, �008.

cabaz de moedas internacionais, as indicações dos primeiros meses de �008 não vão nesse sentido. De resto, o Banco Central Europeu continua firmemente convencido que o mais importante é combater a inflação – 3,6% no final de Março para o espaço euro – para o que o processo mais indicado continuar a ser a elevação das taxas de juro da moeda única europeia. O Fundo Monetário Internacional já se manifestou desagradado com a utilização sistemática das taxas de juro, tendo recomendado que, face a um mais do que provável cenário de estagnação ou de crescimento de baixa intensidade das economias mais desenvolvidas do planeta, os instrumentos orçamentais deveriam substituir os de natureza monetária.

O dólar, em contrapartida, apresenta-se no seu nível mais baixo desde há muitas décadas, sendo, de resto, este comportamento recessivo e uma das causas desta evolução está no aumento do preço do petróleo. A ainda maior economia do mundo atravessa uma crise económica séria, cujos sintomas são antigos e remontam às excepcionais despesas militares, provocadas pelas invasões do Afeganistão e do Iraque e por uma derrocada nos excedentes fiscais legados pela Administração Clinton8�. Enquanto prevalecerem a crise do crédito hipotecário de alto risco, as ameaças de estagnação – senão mesmo de recessão – da economia americana e a subida do preço das commodities (que já empurraram a inflação homóloga na Zona Euro para os 3,5% em Março de 2008), dificilmente se poderá antever uma alteração substancial do comportamento internacional da moeda americana. A persistência duma taxa de inflação em redor do valor anterior vai desencadear uma resposta do Banco Central Europeu através do aumento das taxas de juro directoras, o que tornará, ainda mais, apetecível o euro, reforçando a sua valorização face ao dólar.

A crise do crédito hipotecário de alto risco, conhecida como subprime, está longe de chegar ao fim e vai continuar a afectar os mercados financeiros internacionais, embora os países emergentes se apresentem mais blindados contra os seus efeitos 8�A persistência dum dólar fraco irá erodir o valor cambial das exportações angolanas e tornar mais caras as importações, 6�% das quais tituladas em euros. Do mesmo modo, o valor em euros ou em ouro das nossas reservas externas vai continuar a deteriorar-se como resultado do enfraquecimento sistemático da moeda americana.

QUADRO RESUMO DO COMPORTAMENTO DO PODER DE COMPRA DOS SALÁRIOS DA FUNÇÃO PÚBLICA

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

�0�

mais devastadores. Esta blindagem é dada pelas altas taxas de crescimento e pelos sucessivamente elevados excedentes da Conta Corrente Externa, à custa da qual se têm acumulado importantes reservas de meios de pagamento sobre o exterior. Não se conhece, por enquanto, a dimensão dos estragos desta crise financeira. O Fundo Monetário Internacional aponta para um valor próximo dos mil milhões de dólares, havendo, no entanto, outras estimativas que colocam os custos em �000 milhões de dólares, cerca de �0 vezes o PIB angolano de 2007. A crise financeira do crédito hipotecário de alto risco tem contribuído para arrasar, ainda mais, o poder de compra internacional do dólar, estando aqui uma das maiores ameaças à globalização da crise económica.

Os preços das mercadorias – commodities – e do petróleo não vão parar de subir em �008 e �00�, ainda que duma forma menos intensa. De qualquer modo, a era dos alimentos e do petróleo baratos parece que terminou e em relação às commodities ,os seus preços não voltarão aos níveis de �00� e de anos anteriores (entre �00� e �007 para cá, os produtos alimentaram aumentaram 8�% em todo o mundo. A responsabilidade da crise alimentar mundial é repartida por vários agentes.

Desde logo, o elevado crescimento económico da China e da Índia, os mais populosos países do mundo. Mais crescimento e mais população implicam níveis mais elevados de consumo, logo incremento da procura de alimentos, como o milho, o trigo, o arroz e as oleaginosas.

Depois, as variações climáticas inesperadas e intempestivas, com significativas consequências negativas sobre a produção mundial de cereais. A Austrália, o segundo maior produtor mundial de trigo, depois dos Estados Unidos, está em situação de seca calamitosa desde há dois anos. Nos Estados Unidos, a produção de cereais está a ser desviada para outros fins industriais, restringindo-se a oferta disponível para alimentação.

Depois, ainda, a recente descoberta dos biocombustíveis como fonte energética alternativa ao petróleo e mais amiga do ambiente. O mestre Paul Samuelson, nas suas célebres lições de macroeconomia, exemplificava com os canhões e a manteiga para explicar que os recursos económicos são escassos e têm um custo de oportunidade. Ao desviarem-se recursos – terra, capital e mão-de-obra – para os biocombustíveis, faltarão quantidades dos mesmos factores de produção para produzir bens alimentares. A subida dos preços é, portanto, inevitável. Os limites

do factor terra não são aceites por todos, aparecendo o Brasil a contestar que não é verdade que mais terra para os biocombustíveis signifique menos quantidade para os bens alimentares. São questões em aberto e que, naturalmente, dependem da dimensão territorial de cada país e das opções de política económica. Quanto à poupança de energia e à limitação do aquecimento global, Paul Krugman contesta veemente que os biocombustíveis não degradem o ambiente, porquanto a produção de um litro de etanol de milho utiliza mais energia do que aquela que esse mesmo litro contém. Acresce que mesmo as boas políticas de biocombustível, baseadas na soja, no girassol, no óleo de palma e na cana-do-açúcar – como acontece no Brasil – aceleram o passo das mudanças climáticas pela desflorestação que provocam8�.

Finalmente, o próprio aumento do preço do petróleo consequencializa uma elevação no preço dos restantes bens, na ocorrência os bens alimentares. A mecanização da agricultura – graças à qual se incrementou a produtividade, libertou força de trabalho para a indústria e poupou terra – é toda dependente do uso de petróleo como fonte de energia. Os países produtores de petróleo devem fazer bem as contas dos ganhos líquidos da subida do preço do crude.

Verifica-se, portanto, que o quadro de referência da economia mundial para os próximos dois ou três anos é muito problemático, dependendo o seu crescimento de boas políticas e de atitudes mais pró-activas em relação ao desenvolvimento humano. Se a economia americana entrar em depressão, não serão, apenas, as economias mais desenvolvidas do mundo a senti-lo, mas, igualmente, muitas das mais dinâmicas economias emergentes, como a Índia e a China, que têm nos Estados Unidos um importante parceiro comercial. Angola poderá, do mesmo modo, sofrer algumas consequências, pois os americanos continuam a ser o segundo maior consumidor do nosso petróleo e uma recessão económica abrandará a sua procura pelo crude angolano, que poderá não ser totalmente compensada pela demanda da China.

Para �008 projecta-se um crescimento do PIB

mundial de �,�%, inferior em 0,� ponto percentual relativamente a �007. Este valor pode vir a ser revisto em baixa, caso os riscos e ameaças sobre a economia mundial se concretizem no decurso do corrente ano.8� O Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas lançaram um fortíssimo apelo aos governos dos países de-senvolvidos para porem um ponto final nesta opção energética. Lembra-se que a União Europeia tem uma directiva comunitária sobre a necessidade de até �0�0, �0% na energia produzida deve ser biocombustível. A hi-droelectricidade é a melhor forma de energia à disposição da humanidade. Para além de barata e amiga do ambiente, trabalha com uma matéria-prima que não se transforma. A água – a fonte da hidroelectricidade – limita-se a passar pelas turbinas, regressando, com entrou, aos rios.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

�06

Em relação a �00� e na pressuposição duma ligeira retoma da economia americana (0,6%), as instituições internacionais projectam um crescimento do output mundial para �,6% (igual a �007), particularmente alavancado pelas economias emergentes mais agressivas, como a China e a Índia. No entanto, pode, também, ocorrer uma revisão em baixa deste valor, porquanto o mesmo se baseava num crescimento esperado de �,�% da economia americana, o que seguramente não irá ocorrer.

10.1.1.- AS GRANDES ECONOMIAS

Nas economias desenvolvidas os anos de �008 e �00� serão difíceis, atendendo a que a crise da economia americana é cada vez mais profunda. Uma convergência anormal de factos pode ocorrer em prejuízo do crescimento económico americano e europeu. O alastramento das consequências do subprime americano, a elevação do preço do petróleo e a crise alimentar mundial. Daí que o Fundo Monetário Internacional tenha baixado, consideravelmente, a fasquia do crescimento do PIB, para 0,�% em �008 e 0,6% em �00�, para a economia estado-unidense e �,�% e �,�%, respectivamente, para �008 e �00�, para a Zona Euro. Estas diferenças favoráveis à economia europeia da moeda única são, no essencial, explicadas pela esperada queda do dólar americano e, consequentemente, uma suavização do comportamento altista do preço do petróleo para a moeda única.

Os pontos de vista do Banco Mundial quanto ao crescimento económico das maiores economias do mundo são:

PERSPECTIVAS DE CRESCIMENTOEUA Euro Área JAPÃO

2008 2009 2008 2009 2008 2009

Taxa de crescimento do PIB �,� �,� �,� �,� �,8 �,�

FONTE: Global Economic Prospects, World Bank, �008.

Relativamente a outros agregados macroeco-nómicos, o Fundo Monetário Internacional apresentou os resultados esperados seguintes.

PREVISÕES ECONÓMICAS PARA AS GRANDES ECONOMIAS

(valores em %)

VARIÁVEIS

2007 2008

EUA Euro-área Japão EUA Euro-

área Japão

Índice de preços no consumidor �,7 �,0 - �,� �,0 0,�

Taxa de desemprego �,7 6,� �,0 �,7 6,8 �,0

FONTE: World Economic Outlook, IMF, October, �007.

10.1.2.- AS ECONOMIAS EMERGENTES

As economias emergentes têm vindo a ganhar um protagonismo crescente na economia mundial. O conceito de economias emergentes é relativamente recente e foi proposto para se substituir o ancilosado Terceiro Mundo, de autoria de Alfred Sauvy nos idos anos da década de ���0 (mais precisamente em ���� através dum artigo publicado na revista L’Observateur). O conceito de economias emergentes – sugerido e, pelos vistos, aceite, por Antoine W. van Agtmael do Banco Mundial em ��8� – corresponde, muito melhor, às realidades actuais desse longínquo Terceiro Mundo dos anos 50 e 60 do século passado – a época da Conferência dos Não-Alinhados de Bandung em ����, das noções de a Nova Ordem Económica Internacional e de a Desconexão Económica de Samir Amim – traduzidas por taxas elevadas de crescimento económico e uma maior participação no comércio internacional.

Do contexto económico, geograficamente muito descontínuo, das economias emergentes sobressaem a China, a Índia, a Rússia e o Brasil, os quais, em �0��-�0�0, ultrapassarão o peso do grémio actual dos G-7 (França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá) e a China será a principal potência económica mundial8�. Os sinais desta futura alteração do xadrez da economia mundial são já visíveis em dois aspectos da actualidade: a China é já a terceira economia mundial em termos de valor absoluto do Produto Interno Bruto (a seguir aos Estados Unidos e à União Europeia) e no seu conjunto a Ásia Meridional e Oriental, juntamente como a Oceânia, representam �/� da economia mundial. Esta deslocalização do centro nevrálgico da economia mundial poderá ter consequências interessantes sobre a imunização do crescimento económico mundial às crises financeiras dos países ricos (como a actual crise do subprime), embora o tornem mais sensível a algumas das doenças específicas do ex-Terceiro Mundo, como as crises alimentares86.

Mas, também, no domínio financeiro, a geografia mundial se altera, com o surgimento de uma nova classe de empresas multinacionais – ou transnacionais como preferem outros economistas – a impor-se em diversos domínios. Deste novo grupo de empresas de dimensão internacional sobressaem as oriundas da Índia, do México e da China. Igualmente no campo dos fluxos internacionais de capitais, as economias emergentes ocupam um espaço que se alargará no 8�Goldman Sachs – “BRICS (Brasil, Russia, China and India)”, inBrasil, Russia, China and India)”, in, Russia, China and India)”, in The New Economic Reality, �000.86Daí, como referido mais atrás, o FMI considerar baixa (��%) a probabi-lidade de ocorrer uma crise na economia mundial.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

�07

futuro, como resultado dos excedentes das respectivas Contas Correntes Externas. Os fundos soberanos dos países exportadores de petróleo, da China e da Rússia, somados aos activos dos bancos centrais asiáticos, somam �,� biliões de dólares (��00 mil milhões de dólares), ou sejam, ��% do total dos activos estrangeiros em dólares no mundo. Esta excelente situação financeira permitiu, por exemplo, que 39% dos fluxos financeiros internacionais que alimentam os mercados das economias desenvolvidas tenham tido como proveniência as economias emergentes87.

Outra informação relevante é a do investimento directo das economias emergentes no estrangeiro, que passou de �% do seu PIB em ���0, para �0% em �00�, de acordo com o FMI, citado por Jorge Nascimento Rodrigues.

Outro aspecto significativo do crescimento económico dos países emergentes é o da sua utilização em prol da resolução dinâmica de alguns dos seus problemas económico-sociais mais graves, como a pobreza. São conhecidos os sucessos da China (�00 milhões de pessoas arrancadas das malhas da miséria), da Índia, do Bangladesh (Grameen Bank e o microcrédito), do Brasil (programa Fome-Zero desde �00�), da Rússia, etc.

O Brasil vai tornar-se numa potência económica antes mesmo de meados do presente século. Auto-suficiente em energia desde os finais de 2006 – reforçada com as recentes descobertas de petróleo na Bacia de Santos, que dão conta de reservas estimadas em cerca de �� mil milhões de barris88 –, o quinto maior país do mundo em extensão geográfica e já a oitava maior economia do planeta, o maior país da América do Sul apresenta perspectivas excelentes para o futuro, mesmo que prevaleçam situações e problemas internos que poderão diminuir muitos dos impactos positivos esperados. Ressaltam as enormes desigualdades sociais, a corrupção – espalhada por tudo quanto é Administração Pública e órgãos políticos do Estado – o excessivo peso dos impostos (uma carga fiscal de cerca de 45% do PIB) e as altas taxas de juro. Com um crescimento de �,�% do seu PIB em �007, espera-se um ligeiro abrandamento em �008 (�%), apesar do aumento na procura mundial de minérios e de outras commodities comandado pelos chineses.

A Rússia é outro dos gigantes do conjunto das economias emergentes e um país com reconhecida 87Jorge Nascimento Rodrigues – “A Vingança do Terceiro Mundo”, sec-ção Economia, Expresso, �� de Abril de �008.88 Que podem colocar o país no oitavo lugar entre os grandes produtores mundiais.

influência internacional, com a sua participação no G-7 + um. O clima de confiança tem-se reforçado com a estabilidade política – a despeito do ainda não solucionado conflito da Tchetchénia –, o crescimento económico, com uma taxa de variação em �007 de 8,�% e uma taxa de desemprego de 7% e o saneamento das finanças públicas. O poder de compra das famílias tem-se reforçado e os elevados preços dos combustíveis tem desempenhado um papel importante em toda a manobra da estabilização e do crescimento. Porém, teme-se um exacerbamento do efeito denominado doença holandesa, na medida em que o sector petrolífero tem exercido uma inusitada atracção dos investimentos, em detrimento de outras áreas, eventualmente mais estruturantes.

A Índia tem apresentado uma economia florescente, a crescer, em média, 9% ao ano, nos últimos três anos. É uma das economias – de par com a chinesa – que mais tem contribuído para a sustentabilidade do crescimento económico mundial. A taxa de crescimento do PIB registada em �007 foi de 8,�%, tendo-se, no entanto, a sensação de que este país poderia crescer ainda muito mais, não fossem determinadas situações de bloqueio como o arcaísmo do funcionalismo público, o excesso de burocracia, a insuficiência quantitativa e qualitativa da rede de infraestruturas, a corrupção e o sistema de castas (oficialmente abolido, mas teimosamente persistente no relacionamento quotidiano).

A China tem apresentado o mais surpreendente crescimento económico de que há memória8�. Tem sido esta dinâmica a principal causa do aumento sistemático dos preços do petróleo e dos cereais, graças ao qual os termos de troca de muitas economias africanas se tornaram positivos nos últimos anos. A China é o principal consumidor mundial dos seguintes produtos: -�0% do cimento, �/� do aço e mais de ¼ do alumínio. De acordo com as projecções da Agência Internacional de Energia, a China triplicará as suas importações de petróleo até �0�0�0. O crescimento da indústria tem desalojado a agricultura, através da ocupação de cada vez mais área com aptidão agrícola. As consequências têm-se sentido do lado da diminuição da produção interna de cereais, do incremento das importações e, consequentemente, da tendência altista dos preços internacionais. O consumo crescente de cereais é, também, explicado pelo aumento da população, mesmo nas condições altamente restritivas da demografia chinesa.

8�Segundo os registos da História Económica, os Estados Unidos poderão ter apresentado desempenhos semelhantes, ou mesmo superiores, para certos pesquisadores, entre o final do século XIX e o começo do século XX.�0World Energy Outlook �007, International Energy Agency, �008.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

�08

As perspectivas de evolução das economias emergentes, segundo as previsões do Banco Mundial, são excelentes para os próximos dois anos.

CRESCIMENTO ECONÓMICO DE ALGUMAS ECONOMIAS EMERGENTES (%)

PAÍSES 2007 2008 2009CHINA ��,� �0,� �,�ÍNDIA 8,� 8,� 8,�

BRASIL �,� �,0 �,�

RÚSSIA 8,� 6,� 6,0

ARGENTINA 7,8 �,7 �,7

PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 7,� 7,� 7,0

FONTE: Global Economic Prospects �008, World Bank.

10.2.- A ECONOMIA AFRICANA AO SUL DO SARA

A despeito da crescente procura chinesa de recursos naturais que a África ainda detém em quantidades apreciáveis, as exportações do sub-continente continuam vulneráveis e dependentes da cotação das principais commodities. O investimento estrangeiro continua particularmente interessado nos sectores primários da economia, como o extractivo e, em especial, o petrolífero. O seu crescimento económico foi de 6,�% em �007, mas as instituições internacionais prevêem um ligeiro recuo em �008, para 6%. Este crescimento continuará a ser liderado pelas economias petrolíferas da África subsariana. Se o pior da crise do crédito imobiliário de alto risco se concretizar em �008, as economias africanas poderão ver reduzidos os fluxos de capitais. No mesmo sentido, se pode perfilar a ajuda alimentar que os países desenvolvidos encaminham para os países subsarianos, atendendo à dimensão que a crise alimentar pode atingir durante �008.

Para a África subsariana, projectam-se taxas de crescimento económico para �008 e �00� de, respectivamente, 6,�% e �,8% na óptica do Banco Mundial. Para esta instituição internacional, a taxa média de crescimento desta sub-região entre �008 e �0�0 não será superior a �,�%.

O Fundo Monetário Internacional prevê para �008 uma taxa de crescimento de 6,8%, de acordo com o World Economic Outlook de Outubro de �007.

PREVISÕES PARA AS PRINCIPAIS ECONOMIAS AFRICANAS SUBSARIANAS

ANOS ANGOLA A. do SUL NIGÉRIA QUÉNIA ASS

2007 ��,� �,0 �,� 6,� 6,�

2008 ��,7 �,� 7,� �,� 6,�

2009 ��,� �,� 6,� �,� �,8

FONTE: Global Economic Prospects, �008, World Bank.

10.3.- A ECONOMIA ANGOLANA

Os factos internos mais salientes para o médio prazo relacionam-se com a capacidade de a economia nacional transferir para a economia não mineral os aspectos mais estruturantes do crescimento económico e do Estado continuar a criar condições que melhorem a produtividade geral da economia.

Não se pode, no entanto, deixar de se ponderar determinados factos externos – como a crise imobiliária americana, a eventual estagnação económica dos Estados Unidos, a diminuição do ritmo de crescimento da União Europeia – potencialmente atenuadores dos ritmos de crescimento do PIB angolano esperados, na sequência duma boa série de aumentos significativos do nível geral da actividade económica doméstica.

A ter-se, do mesmo modo, em consideração as recentes descobertas de petróleo no Brasil, cuja exploração e exportação poderão ser uma alternativa à demanda americana e chinesa, se não pela melhor qualidade do óleo brasileiro, seguramente por uma diminuição dos custos de transporte. Ainda que assim não seja, seguramente que, pelo menos, a procura brasileira pelo crude angolano diminuirá.

Outro aspecto relaciona-se com a possibilidade de internacionalização da economia nacional, iniciada pela Sonangol com o ataque ao mercado financeiro português. A internacionalização da Sonangol tem, de momento, dois eixos fundamentais: Angola e Brasil. Através duma parceria com o Banco Espírito Santo (BES), a petrolífera angolana pretende participar em grandes investimentos para a exploração de petróleo no Brasil. Altera-se, deste modo, a posição inicial de adquirir parte do capital do BESA (Banco Espírito Santo Angola), detido em 80% pelo BES e �0% pela GENI.

A estratégia governamental de transferir de Lisboa para Luanda os centros de decisão das instituições financeiras portuguesas com actividade em Angola tem tido como agente principal a Sonangol, um dos principais accionistas angolanos dos bancos portugueses (directamente ou por via cruzada). O Banco de Fomento Angola, detido em �00% pelo BPI, acabou por ceder e abrir ��% do seu capital social para a petrolífera angolana.

Também a petrolífera angolana, em associação com o Banco Privado Atlântico, adquiriu ��,�% do Banco Millenium BCP Angola e vai participar com 25% no Banco Totta-Angola (onde 24% estão com outros médios e pequenos accionistas.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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No entanto, o mais importante, por enquanto, é o investimento dentro do país. Apesar da taxa de investimento estar a aumentar (cerca de ��% em �007), Angola ainda precisará de muito investimento durante pelo menos uma década. Evidentemente, que numa economia de mercado, aberta e de livre iniciativa, os agentes económicos investem onde entenderem que as oportunidades de negócio e de lucro são mais atractivas. Compreende-se que a nossa economia ainda não ofereça um leque suficientemente diversificado e atraente de ocasiões válidas para as aplicações de capital, temendo-se que a extraordinária concentração da actividade económica em Luanda venha a prejudicar, ainda mais, o desenvolvimento do interior e se converta, como é dos livros, numa importante externalidade negativa, aumentando os custos económicos do crescimento.

As empresas públicas, como a Sonangol – que, graças ao bom momento do mercado internacional de petróleo, conseguiu acumular significativos excedentes de recursos financeiros –, são um instrumento da política económica e social do Governo e, neste contexto, podem ser utilizadas para a obtenção de determinados objectivos, entre os quais o da internacionalização da economia angolana. Haverá, no entanto, que verificar se os investimentos realizados pelas empresas públicas fora do país não carecem de autorização do Parlamento.

A crise alimentar mundial – referida como uma das ameaças para o crescimento económico dos países e o combate à fome e pobreza – tem um lado positivo que Angola pode aproveitar. Se o preço dos cereais continuar a aumentar, é bem possível que os investimentos na sua produção aumentem consideravelmente, resultando em melhoria das remunerações e condições de vida dos agricultores e dos camponeses. Se assim for, poder-se-á, dentro de poucos anos, ver uma quantidade maior de terra trabalhada, arranjada e cultivada, de acordo com as potencialidades efectivas do país. Nesta altura, também, comer-se-á integralmente made in (produzido em ) Angola, o pão (de trigo e de milho). Aliás, esta possibilidade é tomada como uma das hipóteses de crescimento no cenário alto, mais adiante apresentado.

Porém, alguns riscos se colocam para o crescimento futuro. Em primeiro lugar, a incerteza dos resultados das eleições de Setembro. Com mais ou menos contestação política, o Governo e o partido que o apoia levaram a cabo um conjunto de reformas económicas, institucionais e mesmo sociais – embora de menor expressão quando comparadas com as

de índole económica – que melhoraram a imagem interna e externa do país, aumentaram os índices de confiança internacional e tornaram Angola num almost case-study (quase estudo de caso) ao nível africano. Os resultados têm sido um aumento substancial do investimento directo estrangeiro, uma tendência, embora ténue, para a diversificação da estrutura económica e um incremento do valor adicionado interno. Receia-se que, se a representação política na Assembleia Nacional se alterar substancialmente, os índices de confiança baixem, os investimentos não afluam, o processo (difícil) de estabilização macroeconómica descarrile e o crescimento económico se atenue. Este risco está directamente associado à fraqueza das oposições e ao défice de capacidade técnica e experiência governativa para assegurar uma governação eficiente e racional.

Em segundo lugar, o receio de que a pressa em construir tudo ao mesmo tempo se reflicta, duma forma intensa e duradoura, na baixa qualidade das infraestruturas, na capacidade de manutenção, conservação e funcionamento eficientes e na produtividade global da economia. Os importantes investimentos que o Estado tem estado a realizar com o dinheiro dos contribuintes têm de ter o maior retorno económico e a mais elevada rendibilidade social possíveis.

Em terceiro lugar, sobressaem a baixa qualificação dos recursos humanos e a inexistência de acervos científicos e tecnológicos. A maior parte destes instrumentos são importados e a assistência técnica externa é de substituição, roubando espaço à afirmação dos angolanos, nos mais diferentes domínios económicos e sociais.

Em quarto lugar, a elevada inflação, que num contexto de estabilidade económica não poderá continuar nos dois dígitos. Numa fase mais adiantada e calma do processo de crescimento, a dinâmica da economia vai ser mais apelativa quanto a taxas de inflação forem baixas e controladas.

Em quinto lugar, a crescente intervenção governamental em domínios económicos de pertença do sector privado, podendo conduzir a um desincentivo da iniciativa privada, mesmo num contexto em que as oportunidades de negócio são inúmeras e diversificadas.

Em sexto lugar, está o tremendo défice no fornecimento de electricidade e água, para a população e as actividades económicas. Aumentar a competitividade da economia requer um abaixamento

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

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nos custos empresariais estruturais e melhorar as condições básicas de vida depende do acesso social à electricidade e à água,

Finalmente, o aumento da corrupção. Em situações de menor capacidade de organização e controlo do crescimento económico, os oportunistas multiplicam-se, os ganhos fáceis abundam e a corrupção torna-se num meio de vida.

A não eliminação dos riscos anteriores comprometerá o aproveitamento, mais integral e socialmente mais inclusivo, das potencialidades minerais, agrícolas e industriais de Angola, sobre as quais o país terá de estabelecer os novos fundamentos do seu crescimento económico, sustentável e competitivo.

10.3.1.- Projecções do PIB

As projecções do PIB basearam-se nalguns pressupostos – expostos a seguir – e na consideração

de dois cenários de crescimento, cenário alto e cenário baixo.

PROJECÇÕES DO PREÇO DO PETRÓLEO ANGOLANO(dólares/barril)

ENTIDADES 2008 2009 2010 2011 2012

Governo 82,5 81,5 80,5 79,4 77,5

FMI 64,8 64,5 63,0 62,2 61,7

CEIC cenário alto 90 90 89 86 86CEIC cenário baixo 82,5 81,5 80,5 79,4 77,5

Uma das assunções fundamentais das projecções é a de que o modelo de crescimento económico tem de se desviar da economia petrolífera e dar mais espaço aos sectores estruturantes duma nova ordem económica interna e os mais vocacionados para ajudar a reduzir a pobreza. No cenário alto, corresponde, no fundo, à admissão de que o spillover effect se aprofunde, no futuro. No cenário baixo admite-se uma atenuação do efeito de contaminação do crescimento do sector petrolífero.

VARIÁVEISCENÁRIO BAIXO CENÁRIO ALTO

2009 2010 2011 2012 2009 2010 2011 2012Produção petróleo (milhões de barris) 728,4 756,1 722,8 703,4 728,4 756,1 722,8 703,4

Preço do barril de petróleo (usd) 81,5 80,5 79,4 77,5 90 89 86 86Taxa real crescimento PIB petrolífero �,� �,8 -�,� -�,7 �,� �,8 -�,� -�,7

PIB petróleo/PIB (%) �8,� ��,� ��,� ��,� 46,9 42,5 35,5 29,5Produto Interno Brut (mil milhões usd) 100,0 111,9 116,5 126,1 103,4 117,2 129,6 151,7

PIB FMI (mil milhões de usd) 90,9 101,4 103,6 108,9 - - - -

PIB per capita (usd) 5432,2 5907,3 5976,8 6287,0 5618,6 6185,6 6647,7 7565,7

No cenário alto, Angola pode vir a alcançar um PIB por habitante da ordem dos 7600 dólares em �0��. Espera-se que os indicadores sociais possam estar, igualmente, em níveis elevados.

Em termos de taxas reais de crescimento, a preços constantes de �00�, os dois cenários conduzem às diferenças seguintes.

HIPÓTESES DOS CENÁRIOS

NOTA: Os valores relativos ao Fundo Monetário Internacional foram compilados de Angola – Staff Report for the 2007 Article IV Consultation, August 6, �007.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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TAXAS REAIS DE CRESCIMENTO NOS DOIS CENÁRIOSSECTORES DE ACTIVIDADE 2008 2009 2010 2011 2012

CENÁRIO ALTOPetróleo 15,4 1,9 3,8 -4,4 -2,7

Diamantes 2,0 1,9 17,0 0,2 0,4Agricultura e pescas 28,3 17,4 12,0 14,3 22,9

Manufactura 23,5 32,0 31,9 35,0 36,9Energia e água 264,1 117,0 29,5 31,7 41,3

Construção 34,7 44,0 28,6 19,9 20,6Serviços 12,8 15,4 12,4 11,4 14,0Outros 5,9 8,5 11,9 7,8 9,0

PIB 16,2 10,5 11,3 7,1 11,0PIB não petrolífero 16,8 22,6 16,9 18,2 21,9

CENÁRIO BAIXOPetróleo 15,4 1,9 3,8 -4,4 -2,7

Diamantes 2,0 1,9 17,0 0,2 0,4Agricultura e pescas 10,0 8,3 10,6 11,6 10,4

Manufactura 10,1 19,8 28,0 28,5 13,1Energia e água 167,0 79,7 21,7 29,8 21,2

Construção 19,0 18,2 27,4 16,6 7,1Serviços 7,4 7,7 12,0 10,1 6,2Outros 1,8 1,5 10,2 7,4 1,0

PIB 12,0 5,4 9,8 4,6 2,8PIB não petrolífero 8,2 9,6 16,4 13,3 7,3Cenário do Fundo

Monetário Internacional 16,0 13,2 11,7 1,6 4,3

NOTA: Os valores relativos ao Fundo Monetário Internacional foram compilados de Angola – Staff Report for the �007 Article IV Consultation, August 6, �007.

Graficamente, as tendências são mais visíveis.

TENDÊNCIAS DE CRESCIMENTO NO CENÁRIO ALTO

TENDÊNCIAS DE CRESCIMENTO NO CENÁRIO BAIXO

Algumas considerações aos resultados dos cenários anteriores:

• o decréscimo na taxa de variação da actividade do Estado no cenário baixo relaciona-se, em

�0�� e �0��, com a baixa do preços do petróleo e da produção petrolífera, ao ter-se admitido a constância da dependências das receitas fiscais desta actividade; além disso, considerou-se os efeitos duma reforma fiscal competitiva que leve ao abaixamento da actividade do Estado na economia, à redução do número de funcionários e ao aumento da produtividade;

• até �00�, o PIB da construção cresce mais rapidamente do que o da manufactura, porque o primeiro sector é infraestrutural, dele dependendo a evolução do segundo; o mesmo se passa com o sector da energia e água, cujas taxas muito elevadas de variação em �008 e �00� correspondem à necessidade de dotar rapidamente o país desta infraestrutura básica e essencial��;

• considerou-se que a partir de �0�� a construção cresça a um ritmo mais baixo, devido ao final do intenso ciclo do betão; o investimento em obras públicas realizado entre �00� e �0�� corresponde às necessidades elementares dum país que tinha de reabilitar as escolas, os hospitais, vias de comunicação, energia, habitação e saneamento; foi um impulso essencial ao desenvolvimento; depois deste período, a atenção deve ser dirigida à manutenção e conservação das obras, ao seu eficiente funcionamento e ao incremento na prestação de serviços de qualidade à população; fomentar a construção de obras faraónicas, de todo o tipo, é uma visão arriscada do ponto de vista económico e perigosa, politicamente falando; o modelo keynesiano – fazer despesa pública para que o PIB cresça de acordo com promessas eleitorais – também tem os seus limites; depois de �0��, o Estado tem é de melhorar as condições para que sejam outros agentes a provocar o crescimento do PIB;

• o crescimento económico não poderá continuar a ser tão intenso, porque:- Angola não tem a dimensão económica e

populacional propícia à construção dum significativo mercado interno (tipo Índia e China);

- o país não vai aproveitar as oportunidades do livre mercado da SADC, a não ser que possa para aí exportar livremente e opor barreiras à importação, o que não deixaria de ser uma insólita situação, do ponto de vista económico;

- não tem competitividade suficiente;- elevada concentração do rendimento e da

riqueza.

��Também se fica a dever aos baixíssimos valores de partida.

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CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

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• pode acontecer que a partir de �0�� as taxas voltem a níveis próximos dos ��-��% ao ano, dependendo, no entanto, de vários factores, internos e externos.

10.3.2.- Projecções da taxa de inflação

A metodologia utilizada para as projecções da inflação – uma das mais importantes variáveis da estabilização macroeconómica –, baseou-se na equação de Fisher, associada a um modelo econométrico que correlaciona a variação dos preços com as taxas de câmbio de referência e do paralelo, a alteração do agregado monetário M� e as taxas reais de crescimento do PIB.

Recorde-se que, no Relatório Económico de �006, se afirmava que a obtenção da meta dos 10% para a taxa de inflação em 2007 implicaria que:

• ocorresse uma apreciação do kwanza de cerca de 6,7%; na realidade a valorização nominal foi de apenas �,7%;

• a política monetária fosse mais restritiva, com o agregado monetário M� a crescer apenas �0%; na verdade, este agregado monetário apenas aumentou �7,�%, o que deve ter contribuído para que a inflação anual não suplantasse os ��%;

• que a taxa de crescimento do PIB estivesse na vizinhança de ��,�%; a taxa de crescimento económico em �007 foi de �0,86%, portanto, �0 pontos percentuais abaixo da necessária para garantir um valor de 10% para a inflação anual.

De acordo com os dois cenários construídos e atendendo aos resultados obtidos pela política de estabilização, é possível que a taxa de inflação no final de 2008 possa situar-se entre 10,2% e 9,6%, o que se encaixa na meta do Governo.

Num segundo cenário, é possível que a taxa de inflação se situe em torno de 8,7% a partir de �0�0, sendo, no entanto, necessário que o rigor e a independência da política monetária continuem e que a apreciação nominal da moeda se faça, mas em valores pequenos.

As hipóteses de trabalho estão plasmadas na tabela seguinte��.

��A crise alimentar mundial pode comprometer não só a meta dos �0% do Governo – a não ser que a sugestão deixada mais atrás da utilização dos subsídios para atenuar, junto dos consumidores e das famílias pobres, os impactos da subida dos preços dos cereais seja respeitada pelo Governo – como as nossas próprias previsões.

CENÁRIOS DE COMPORTAMENTO DA TAXA DE INFLAÇÃO

(valores em %)

VARIÁVEISCENÁRIO 1 CENÁRIO 2

2008 2009 2010 2008 2009 2010Taxa deinflação 10,2 11,5 10,7 9,6 9,4 8,7

Taxa câmbio de referência 76,48 76,48 76,48 75 73 71

Agregadomonetário M2 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0

Taxa cresci. real PIB 15,2 10,5 11,3 15,2 15,2 15,2

11.-RECAPITULAÇÃO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS ECONÓMICOS EM 2007

Janeiro

• De acordo com Joaquim David, Ministro da Industria, o ramo das pequenas e médias industrias no país alcançou um crescimento global, no terceiro trimestre de �007, na ordem dos ��%. Esta cifra satisfaz o pelouro do Ministério, tendo em conta o crescimento esperado que era de ��%. Para manter o ritmo de crescimento, segundo ele, é necessário apostar na formação e capacitação dos técnicos do sector através do intercâmbio permanente com várias organizações, destacando a SADC e a OMC.

• O Conselho Nacional de Carregadores (CNC) vai estabelecer um protocolo de cooperação com os exportadores dos países relativamente aos quais Angola tem maior fluxo de operações comerciais, com vista a motivá-los a aderir ao sistema de negociação oferecido pela Bolsa Nacional de Frete Marítimo (BNF). Para efeitos de promoção da BNF no exterior, o CNC, segundo o seu coordenador, Mário Silva, vai realizar acções do tipo road show nos principais mercados que exportam para Angola, nomeadamente Portugal, Brasil, França, Espanha, EUA e Africa do Sul.

• O código aduaneiro de Angola, publicado no Diário da República, de � de Outubro de �006, entrou em vigor quarta-feira, � de Janeiro de �007, visando reger o sistema alfandegário nacional. As profundas modificações que o país sofreu e a adesão à Organização Mundial das Alfandegas (OMA) e à Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) determinaram a necessidade de se proceder a uma completa revisão dos preceitos que, até agora, têm regido a actividade aduaneira em Angola.

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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• A Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) e a Total E&P Angola, filial a 100% da Total, anunciaram uma nova descoberta de petróleo a partir do sexto poço de pesquisa denominado Salsa-�, no bloco ��, em águas profundas no offshore angolano.

• Angola é o primeiro país membro da Organização Marítima da Africa do Oeste e do Centro (OMAOC) a desenvolver o projecto de criação de uma Bolsa de Frete Marítimo.

• 780 litros de leite são produzidos diariamente no projecto Aldeia Nova, no município da Cela, província do Kwanza Sul. De acordo com o administrador municipal, Isaías Bumba Luciano, nesta primeira fase de produção de leite estão a ser utilizados 80 cabeças de gado leiteiro.

Fevereiro

• O projecto agro-pecuário “ Aldeia Nova” vai expandir-se por todas as províncias do país, na sequência de estudos que estão a ser realizados por uma comissão técnica criada pelo Governo, com apoio de Israel. O projecto visa a modernização da agricultura, a aceleração do processamento industrial e a produção de insumos, de acordo com o director do projecto, o economista José Cerqueira.

• O concurso internacional para a concessão de novos blocos de petróleo em Angola vai continuar por longos anos, segundo o Ministro dos Petróleos Desidério Costa, quando recebia uma delegação da Noruega.

• O Programa de Reestruturação do Sistema de Logística e Distribuição de produtos essenciais à população (Presild) vai investir, em infraestruturas comerciais até �0��, mais de 8� mil milhões de Kwanzas (equivalente a �,7 mil milhões de dólares), num investimento a ser realizado pelo Governo.

• Segundo a directora da Direcção Nacional de Protecção e Preservação dos Recursos Pesqueiros, Dolores Rosário, prevê-se atingir cerca de �6� mil e ��� toneladas de pescado no final de 2007. Desta quantidade, 108 mil e ��� são espécies demersais, ��7 mil e 86� pelágicas e �6�� crustáceos e moluscos.

• A Direcção Regional Sul das Alfandegas, com sede na província do Namibe, arrecadou durante o ano de �006, � biliões �8� milhões 8�8 mil e ��6 Kwanzas, segundo o director, Osvaldo Michinge.

• A excessiva burocracia, resumida na forte tributação e na dificuldade de obtenção de

titularidade da propriedade, constitui um dos principais entraves à constituição de empresas em Angola. A constatação foi feita pela coordenadora nacional do Programa Empresarial Angolano (PEA), Constância Silva, que apelou para o surgimento de mais instituições afins, com vista a ajudarem as pessoas que pretendem criar empresas, tanto em nome individual como em nome colectivo. Angola tem o processo de constituição de empresas mais longo e mais caro, comparado a outros países da África Austral, onde a constituição de empresas não ultrapassa os 6� dias. No nosso país, o processo pode levar 6 meses.

• Cerca de ��0 milhões de dólares foram empregues nos últimos dois anos, na província da Huíla, na implantação de várias unidades produtoras, nomeadamente alimentícias, refrigerantes e bebidas alcoólicas, materiais de construção civil e outros.

• Angola vai produzir mais �� mil e �00 barris de petróleo por dia, devido à descoberta de dois novos poços no bloco ��, em aguas ultra profundas, pelas operadoras Sonangol e Total Angola.

Março• Angola cancelou todas as negociações com o

Fundo Monetário Internacional (FMI), depois que o país executou auspiciosamente um programa concebido e implementado com recursos exclusivamente seus, em quatro anos. A decisão foi comunicada oficialmente a 13 de Fevereiro, ao então chefe da missão para Angola, Sangeev Gupta. Numa carta, o Ministro da Finanças de Angola, Pedro de Morais, diz que o Governo concluiu o programa com o FMI, pois não ajudará Angola a preservar a estabilidade económica e social alcançada até aqui.

• Mais de 80 milhões de dólares serão investidos no país pela República do Gana, no âmbito de um programa de cooperação inserido em �� potenciais áreas. A cooperação entre os dois países prevê a construção de um condomínio de duas mil casas, na província do Bengo. A informação foi dada pelo Embaixador de Angola no Ghana, José Primo, que considerou o facto de um verdadeiro exemplo na cooperação Sul-Sul. As áreas de urbanismo e ambiente, agricultura, recuperação do projecto de irrigação no Bom Jesus, na Província do Bengo, são apontados como prioridades.

• A Assembleia Nacional aprova a lei das

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actividades comerciais que regula o regime dos estabelecimentos, horário de funcionamento e outros procedimentos; aprova ainda a adesão de Angola ao protocolo de Kyoto, com vista à inserção do país na protecção do sistema climático.

• O Conselho de Ministros aprova a criação do Serviço Integrado de Atendimento ao Cidadão (SIAC) que visa concentrar num só espaço físico a prestação, de forma simplificada, de vários serviços do sector administrativo, empresarial público e privado.

• O Instituto de Desenvolvimento Agrário celebra em Benguela um acordo com a Chevron e a USAID, no qual estas se comprometem a contribuir com �,� milhões de dólares na implementação do Programa de Desenvolvimento Agrícola e Financeiro em Angola, nos próximos cinco anos.

• Segundo Miguel Pereira, do Instituto de Desenvolvimento Agrário, a sua instituição assistiu com fertilizantes, sementes e equipamentos agrícolas, mais de �,� milhões de famílias camponesas de todo país através do Programa de Extensão e Desenvolvimento Rural, durante o ano de �006.

• De acordo com Amélia Kazalma, Directora Nacional de Formação do Ministério de Hotelaria e Turismo, está prevista a construção de �� hotéis ainda este ano em todo país, com categorias entre as � e as � estrelas. Os mesmos estão avaliados em �7� milhões, �8� mil e ��0 dólares e gerarão mais de mil postos de trabalho.

• O Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Manuel Vicente, comunicou que a abertura do empresariado nacional ao negócio do petróleo, até então confinado à sua empresa e aos parceiros internacionais, significa, para a instituição que dirige, uma arrecadação de receitas anuais avaliadas em �00 milhões de dólares.

Abril• Vinte e uma empresas angolanas integradas no

Projecto de Desenvolvimento de Participação Nacional (PDPN) da Sonangol arrecadaram, nos últimos dois anos, � milhões e �00 mil dólares, em contratos de prestação de serviço firmados com companhias petrolíferas que operam no país. O facto foi revelado no Soyo, província do Zaire, pelo economista do PDPN.

• O Comité Nacional para o Código Alimentar Angola (Codex Angola) decidiu criar um corpo de inspectores, com formação adequada na área alimentar, para inspeccionar e fiscalizar

o sector. O projecto será implementado com a criação de uma rede de laboratórios devidamente acreditados, com métodos e técnicas de referência, que possam controlar os laboratórios privados que apoiam operadores económicos. A decisão surge da necessidade crescente de prevenção de doenças transmitidas por alimentos, segundo o comunicado saído das terceiras jornadas técnico-científicas daquele órgão, realizadas em Luanda.

• As autoridades angolanas estão prestes a autorizar a entrada da Caixa Geral de Depósitos (CGD) no capital do Banco Totta de Angola, controlado pelos espanhóis do Santander. Visto que a Caixa é um banco estrangeiro e, sobretudo estatal, esta operação suscitou alguns problemas junto do Banco Nacional de Angola, tendo provocado uma enorme demora na validação do dossier.

• O comércio entre a República Popular da China e os países de língua oficial portuguesa, excepto Portugal, atingiu, no ano passado, os �� mil milhões de dólares, dos quais ��,�% representam o valor das trocas comerciais com Angola, o que equivale a quase ¼ de toda a riqueza produzida no país o ano passado. Só de Janeiro a Outubro de �007 os negócios entre Angola e a China já registravam �,� mil milhões de dólares, o que torna Angola no primeiro parceiro económico da China em África, superando o gigante África do Sul, que possui uma economia quase cinco vezes maior que a angolana.

• O relatório elaborado pela Comissão da Nações Unidas para África sobre a evolução da economia africana no ano �006, coloca Angola em �º lugar, depois da Mauritânia, em termos de crescimento económico, com um aumento do Produto Interno Bruto na ordem dos �7,6%.

• O Instituto Nacional de Estradas de Angola rubrica acordos com empresas encarregadas de construir e reabilitar estradas em Luanda, nos próximos �� meses. No acto, responsáveis das quatro empresas contratadas garantem que ��% dos postos de trabalho directo serão ocupados por jovens nacionais.

• O Governador da Província da Lunda Norte, Gomes Maiato, informou que será construída naquela província, a médio prazo, uma fábrica de lavagem de diamantes, numa iniciativa da Endiama.

• O Conselho de Ministros aprovou um aumento de cerca de ��% do salário mínimo nacional, em

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RELATÓRIO ECONOMICO DE ANGOLA 2007

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função da inflação prevista para o ano. Foram aprovados igualmente os subsídios de pensão atribuídos aos antigos combatentes, deficientes de guerra, familiares de soldados desaparecidos e mortos e das autoridades tradicionais.

• O país exportou para a Itália 7� milhões de euros em mercadorias, especialmente petróleo e diamantes, em �006, o que representa um aumento de ��% em relação a �00�.

Maio• O índice de produtividade industrial em Angola

passou de �00, em ��8�, para �6 em ����, altura em que o gráfico começou a tomar um rumo ascendente, atingindo �� em �00�. Os baixos índices de produtividade da economia angolana são justificados pelas actuais características de economia dual e rendeira, centrada nas importações e na experiência de um processo de substituição da produção nacional pela de origem externa. A par disso, o índice de industrialização passou de ��,6%, em ��7�, para �,�% em �000 e �,�% em �00�. Ou seja, a capacidade de transformação do país é quase nove vezes inferior à existente antes da independência. A informação foi apresentada pelo economista Alves da Rocha.

• Segundo o caderno de Economia e Finanças do Jornal de Angola, a média do rendimento por habitante registou uma redução anual de 0,�%, em Angola, até �00�. Dito de outra forma, a média do rendimento médio a preços constantes de �000 passou de 86� dólares, em ��80, para 80� em ���0 e 7�� dólares em �00�. A taxa de crescimento médio anual da produtividade geral da economia, medida pela capitação do PIB, foi de �,�% entre �000 e �00�.

• Angola poderá iniciar a exportar para EUA produtos agrícolas e piscícolas, no âmbito das facilidades do AGOA. Admitida em �00�, Angola não tem aproveitado esta facilidade oferecida pelas autoridades norte-americanas, que permite aos países menos desenvolvidos, principalmente os africanos, a exportar mais de 6 mil e 600 diferentes produtos para o mercado norte-americano, livre de taxas e de outros encargos. Países como o Ghana e o Quénia são os que mais têm aproveitado esta facilidade. Produtos como a fuba de bombó e cacau, provenientes destes países, são vendidos nos EUA, aumentando assim o rendimento dos países, principal objectivo da estratégia.

• A Sonangol e a BP Exploration Limited anunciaram a descoberta petrolífera Cordélia-�, no Bloco ��, em águas ultra profundas do off

shore angolano, de acordo com o comunicado da concessionária nacional. Trata-se da 14ª descoberta que a BP efectuou no Bloco ��, localizado a aproximadamente �,� Km da descoberta Miranda.

• A nota de �00 dólares registou uma depreciação nos últimos oito dias, de �00 Kwanzas, nas suas operações, permitindo assim a valorização cada vez maior da moeda nacional. Essa depreciação registou-se em alguns bancos comerciais e no mercado informal.

• O congestionamento no Porto de Luanda provoca rotura de stocks em armazéns, devido ao excessivo tráfego de navios que se regista no mesmo. Isto tem dificultado que os importadores dos produtos alimentares básicos procedam atempadamente à reposição dos stocks. Este facto tem contribuído para a escassez de farinha de milho, arroz, farinha de trigo, açúcar, óleo vegetal, entre outros. Isso ocorre pela circunstância de o Porto de Luanda definir prioridades sobre os navios a atracar, como é o caso dos que transportam materiais de construção para o processo de Reconstrução Nacional, os petroleiros e os navios Roró que transportam viaturas, deixando para último plano os navios que transportam os alimentos.

• O preço do saco de cimento subiu 66,6%, ultrapassando os �000 Kwanzas no mercado informal. Na fábrica, um saco de 50 kg Tunga I está ser comercializado a ��0 Kwanzas, contra os 539 anteriores. O Tunga II que custava 539, está a ser comercializado a �00 Kwanzas. O país tem um défice de 75% de produção de cimento, numa altura em que o país produz � milhões e �00 mil toneladas.

• Segundo o governador do BNA, Amadeu Maurício, o país dispõe de maior receita, em virtude do aumento do preço do petróleo, e usa essa receita em gastos de investimento. Logo, oferece à economia maior quantidade de cambiais, por ser um mecanismo de despesa do tesouro e porque é necessário manter o equilíbrio e as proporções na economia. Com isso, o BNA põe à disposição enorme quantidade de dólares, que por sua vez os bancos comerciais não conseguem absorver. Nos últimos meses a oferta de dólares tem superado a procura, no mercado interno.

Junho• Angola ocupa um terço ( 87 mil km�) do projecto

eco-turístico Okavango-Zambeze (Kaza), um espaço de turismo de carácter regional, na sequência da assinatura do Memorando de

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Entendimento ocorrida em Luanda. Kaza é um projecto de conservação transfronteiriça que entra na fase crucial de implementação, onde Angola se junta à Namíbia, Zâmbia, Botswana e Zimbabué. Por Angola assinou o Ministro Jonatão Chingunji.

• Numa altura em que o país se prepara para grandes eventos desportivos, como o Afro-basquete e o Campeonato Africano das Nações em futebol (CAN/�0�0), os investidores nacionais estão a aplicar 76 milhões de dólares na reconstrução de quartos de hotéis, em Luanda, para suprir um défice de cerca de 5 mil quartos.

• Segundo a responsável pela área de atendimento e directora geral do Guiché Único, Ofélia Neto, já é possível no país constituir uma empresa em tempo recorde de �� horas, desde que os solicitadores se façam acompanhar dos documentos necessários e dos valores correspondentes para o pagamento dos respectivos emolumentos.

• O Estado português está a estudar a sua saída do negócio de exploração de diamantes em Angola, onde participa através da Sociedade Portuguesa de Empreendimentos (SPE), accionista da Sociedade Mineira do Lucapa. As orientações à SPE para �007-�00�, recentemente publicadas pela Direcção Geral do Tesouro e Finanças, estabelecem a alienação da participação do Estado na empresa pública ou a das participações detidas por esta, seguida da sua extinção, como cenários alternativos de fundo para a estratégia do conselho de administração da empresa pública.

• A farinha de trigo tem escasseado no mercado, nos últimos meses, o que se reflecte negativamente sobre a oferta do pão, que não só viu o seu tamanho a reduzir, como também o preço a subir, de �� para �0 Kwanzas a unidade. O consumo da farinha aumentou �0% no mercado, numa altura em que os navios permanecem semanas na Baía de Luanda devido ao congestionamento do Porto de Luanda. Além disso, alguns importadores atribuem o facto a vários factores, como o aumento do preço do petróleo que leva os países não produtores a aumentarem os preços dos produtos de exportação e à depreciação constante do dólar face ao euro, por outro.

• O sector petrolífero vai receber investimentos na ordem dos �0 biliões de dólares, entre �008 e �0��, numa altura em que o número de empresas nacionais aumenta na industria extractiva. Das ��0 empresas angolanas registadas pelo

Centro de Apoio Empresarial (CAE), desde Setembro de �00� até Maio de �006, �� foram contratadas pelas companhias petrolíferas no país. Em função de novos contratos previstos, o CAE prevê estabelecer, até finais deste ano, um volume de negócios de cerca de �0 milhões de dólares.

• O mercado angolano passa a dispor de mais uma fábrica de tijolos que vai produzir �6 mil tijolos diários. A unidade conta com duas linhas de produção automáticas, com capacidade para o fabrico de blocos de cimento de �0,��,�� e �0 centímetros, bem como abobadilhas de cimento. Os produtos passarão a ter certificação do Laboratório de Engenharia de Angola. Situada no bairro Kikolo, Luanda, a fabrica pertence ao grupo Imbondex Construções e foi um investimento de cerca de �,� milhões de dólares, financiado pelo Banco BIC.

• O Porto de Luanda arrecadou, em �006 �0� milhões de dólares, tendo os custos e as despesas atingido os 78 milhões de dólares. Para este ano a previsão é atingir os ��� milhões de dólares. As despesas para �007 estão estimadas em 7� milhões de dólares.

• O Turismo em Angola empregou, em 2005 e �006, 67 mil e ��� empregados dos quais ��% são homens. O sector privado foi o que mais pessoal admitiu com 67 mil e �� trabalhadores com um valor avaliado em � biliões, �76 milhões, 80� mil e �6� Kwanzas, enquanto o sector público empregou apenas �80.

• O Banco Nacional de Angola defende a criação de uma legislação sobre micro-finanças, com vista a definir as políticas de actuação. Com este instrumento, de acordo com o vice-governador do BNA, haverá condições seguras para a expansão do microcrédito nas áreas mais recônditas do país.

• Quatro mil, trezentos e setenta e oito cidadãos, a nível de onze províncias, beneficiaram de microcrédito do Banco de Poupança e Crédito, num valor estimado em �7�0 milhões de dólares, no âmbito do programa de Crédito ao Consumo lançado em �00�.O Banco Sol disponibilizou, no primeiro trimestre deste ano, � milhões de dólares em microcrédito para um universo de ��8� cidadãos, a nível de nove províncias.

Julho• Os abrandamentos do preço do petróleo no

mercado internacional baixaram as expectativas no crescimento da economia nacional, para uma previsão de ��,8%, uma queda de ��,�

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%, dos ��,�% inicialmente previstos. As previsões do sector petrolífero caíram �0% (��,6% ao invés de ��,6%). Com efeito, o Governo aprovou a proposta de Lei de Revisão do OGE, avaliado em cerca de �,� triliões de Kwanzas, abaixo do inicial, que compreendia mais de �,� triliões de Kwanzas. Entretanto, o crescimento do sector não petrolífero mantém-se ao nível previsto de �7,�%, enquanto que as receitas fiscais ascendem a 1595,2 biliões de Kwanzas, correspondendo a uma redução de �% relativamente ao Orçamento Geral do Estado inicial, por força da redução dos impostos petrolíferos.

• A Directora do Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística do Ministério da Hotelaria e Turismo, Rosa António Gomes da Cruz, informou que dentro de dois anos e meio serão construídos em Angola �� unidades hoteleiras das mais diversas categorias, num investimento estimado em �00 milhões de dólares. No total, serão �.0�� quartos que vão proporcionar a abertura de �.�7� postos de trabalho directos e indirectos.

• O sector industrial vai proporcionar ��6 mil empregos nos próximos anos. A informação foi avançada pelo Director do Instituto de Desenvolvimento Industrial, Kiala Gabriel. No primeiro trimestre de �007 registraram-se �� declarações de investimento, avaliadas em �0� milhões de dólares. Dos �� projectos que passaram pelo Instituto, 7�% destinavam-se a Luanda devido à situação favorável que a cidade capital apresenta em relação às outras províncias.

• Segundo o Director Nacional do Comércio, Gomes Cardoso, vários laboratórios de teste de qualidade de alimentos serão instalados brevemente em Luanda pelo Ministério do Comércio com o propósito de evitar a introdução no mercado de alimentos de qualidade duvidosa.

Agosto• Segundo o Director de Planeamento e

Investimento da Endiama, Alberto Fançony, o subsector dos diamantes vai contribuir com ��0 milhões de dólares para o OGE e as receitas diamantíferas poderão gerar � bilião e �00 milhões de dólares, no decurso de �007, na produção de � milhões e ��0 quilates, o que corresponde a uma redução de �7 mil quilates em relação ao ano passado. O sector industrial vai contribuir com 70% das receitas e o restante vem do sector artesanal.

• As exportações de petróleo em Angola atingiram os ����8,6 mil milhões de dólares durante o ano passado, um aumento de ��,�%em relação a �00�.O valor resulta duma remessa de �87,8 milhões de barris. Segundo uma fonte do Banco Central, nos últimos quatro anos (�00� a �006) as exportações de petróleo aumentaram quatro vezes. O país que mais compra petróleo a Angola é os Estados Unidos e a seguir vem a China.

• O Banco Central vendeu, no seu último leilão do mês de Agosto, realizado numa quinta-feira, títulos no montante de �0���,6 mil milhões deKwanzas, mais do que o dobro arrecadado na semana anterior. No total, foram emitidos 11085,8 mil Títulos do Banco Central (TBC). O valor arrecadado ultrapassa as expectativas da instituição, uma vez que estavam disponíveis TBC no valor de 10 mil milhões de Kwanzas nas maturidades de ��, �8, 6�,��,�8� e �6� dias. As taxas médias de remuneração (ao ano) situaram-se entre os ��,0�%, para os títulos de �� dias, e ��,��% para os títulos de �6� dias.

• A província de Luanda registou uma diminuição de pescado na ordem das �0�� toneladas durante o primeiro trimestre deste ano, representando uma queda de 6�%, já que as previsões iniciais apontavam para mais de � mil toneladas. Segundo o director provincial das pescas, Júlio Sebastião Carvalho, os custos dos combustíveis, aliados à suspensão de algumas áreas para a reprodução das espécies, está na base da baixa de produção.

• A Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) elogiou Angola pelo crescimento alcançado no sector petrolífero, influenciando o prelo de Cabaz de Referencia do cartel. A quota de produção de Angola poderá ter como indicador o trabalho do campo Girassol no Bloco �7, cuja produção é estimada em ��0 mil barris por dia.

• O caminho-de-ferro de Moçâmedes (CFM) beneficiou de um investimento de 40 milhões de dólares, proporcionando condições condignas e melhor segurança na viagem entre Lubango e Namibe. O empreendimento recebeu novas locomotivas e carruagens. As carruagens estão capacitadas para transportar mais de 700 pessoas e �00 toneladas de mercadorias diversas.

• Uma fábrica de lapidação de diamantes poderá ser erguida no próximo ano, na província da Lunda Sul, com o objectivo de reduzir cada vez mais a exportação de diamantes brutos.

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A primeira, localizada em Luanda – Angola Polishing Diamond S.A –, tem capacidade de produzir diamantes lapidados avaliados em �0 milhões de dólares por mês e foi inaugurada em �00�, num investimento avaliado em �0 milhões de dólares. O director de planeamento e investimentos da Endiama, que anunciou o facto, disse que o surgimento da nova unidade reside no aumento do volume de diamantes produzidos actualmente no país, bem como o facto de se pretender, em �008, abrir uma indústria de joalharia.

Setembro• Segundo o Ministro das Finanças, José Pedro

de Morais, o Governo reduziu em �0 pontos percentuais a sua dívida externa com vários credores, incluindo os membros do Clube de Paris, entre �00� e �006. Em �00� a dívida representava quase a metade de toda a riqueza produzida no país (�0% do PIB). Já em �006 este encargo caiu para menos de �0%.

• O economista Manuel Alves da Rocha sublinhou, aquando da sua intervenção na abertura do “ I Seminário da Implantação do Processo de Reforma do Sector Eléctrico de Angola”, que Angola será a segunda economia da África subsariana, atrás da África do Sul, em �0�0. Durante a sua dissertação, Alves da Rocha referiu que a energia constitui um sector fundamental, porquanto, a estabilidade e o desenvolvimento económico do país passam a ser feitos sem sobressalto e de forma sustentável.

• O Banco Nacional de Angola arrecadou, no seu último leilão de venda de títulos, mil e seiscentos e dezasseis milhões de Kwanzas. As vendas desta sessão ficaram muito abaixo das registradas no leilão do dia �� de Agosto, quando arrecadou 7 biliões, �86 milhões, ��7 mil e 8�8 Kwanzas. As vendas foram realizadas no mercado primário ( para bancos comerciais) e as taxas médias de remuneração, ao ano, situaram-se entre ��,7% para os títulos de �� dias e ��,�% para os de ��dias.

• Segundo o presidente da Comissão Organizadora da Semana do Brasil, o empresário Raimundo Lima, Angola é o país que recebe maior volume de financiamento do Brasil às suas exportações, em todo o mundo. Somente através do Proex, Programa de Financiamento às Exportações, gerido pelo Banco do Brasil, mais de �80 milhões de dólares serão destinados a Angola este ano.

• De acordo com Paulo França, ex-consultor

do BNA, o governo angolano é pró-activo, por destinar os recursos públicos à Educação, Saúde, Segurança, Energia, Saneamento, e que por isso o PIB de Angola tem a maior taxa de crescimento do mundo, acima da China. Para que o sector privado faça o mesmo, é preciso uma legislação mais ágil e simples, uma política cambial sem riscos e que, em paralelo, o governo se empenhe no programa de desenvolvimento integrado, evitando sobreposição de esforços e vários ministérios a fazer trabalhos semelhantes sem uma integração.

• O preço de cimento aumentou em ��%, subindo, em menos de uma semana, o saco de cimento de 8�0 para ��00 Kwanzas. Neste momento, não há cimento em algumas áreas de Luanda. O défice do produto no mercado obrigou à alteração do preço de venda pelos agentes credenciados, passando o cliente a pagar mais ��0 Kwanzas por cada saco comprado. Dados oficiais indicam que a Nova Cimangola vende oficialmente o saco de 50 kg a 525 Kwanzas (7,24 dólares), enquanto o de 50 kg de Tunga II custa 600 Kwanzas (8 dólares).

• O licenciamento de empresas abrandou em 0,8�%, no período de um ano, passando de ��6 para ��� processos. Dos ��� processos de licenciamento comerciais mercantis, que deram entrada na Direcção Nacional do Comércio Interno durante o primeiro semestre do ano, �08 são de grandes superfícies comerciais (�0,��%), 86 de pequenas e médias empresas (��,�6%) e ��8 da rede precária (�6,�6%). Em função deste licenciamento, o país dispõe de um acumulado de �8 mil e ��� estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços mercantis devidamente licenciados.

• A taxa de câmbio do Banco Nacional de Angola não registou grandes alterações durante o mês de Agosto e a segunda metade do mês de Setembro, conservando a estabilidade de há quase dois meses. Uma nota de 100 dólares americanos no mês de Agosto estava cotada no BNA a 7mil, �00 Kwanzas e �86 cêntimos, a compra, e 7mil e �00 Kwanzas, a venda. Na segunda metade do mês de Setembro, uma nota com o mesmo valor facial estava a ser cambiada no BNA a 7 mil e �00 Kwanzas e 7�8 cêntimos, a compra, e 7 mil, �00 Kwanzas e �7� cêntimos, a venda.

• A redução substancial das taxas de juros dos títulos da dívida pública e o aumento do stock do papel moeda constituem os principais factores que impulsionaram o crescimento em �6% (mais de �,7 biliões de dólares) da

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carteira de crédito da banca durante o ano passado. Os Bancos comerciais que apostaram preferencialmente no crédito atingiram uma maior rentabilidade; ainda assim, a redução substancial verificada nas taxas de juros ao longo do ano teve um impacto negativo sobre as taxas de rentabilidade dos bancos, que desceram em relação ao ano anterior, continuando, ainda assim, atractivas quando comparadas com economias desenvolvidas. Os dados constam no estudo intitulado “Banca em Análise-Angola 2007” feito pela Associação Angolana de Bancos (ABANC) em parceria com a Deloitte.

• Os activos da banca comercial registraram um crescimento de ��%, o que representa um montante de 7�0 biliões de Kwanzas, de acordo com um estudo da KPMG, que revela dados sobre a evolução do mercado bancário, em �006. O Banco Africano de Investimentos e o Banco de Fomento Angola, com um total de �8� biliões de Kwanzas, lideram a performance, seguidos pelo Banco de Poupança e Crédito, com ��� biliões de Kwanzas.

• O Banco BIC concedeu �� milhões de dólares em empréstimos para o sector agro-pecuário. Os montantes deverão aumentar, tendo em conta a grande procura do empresariado do sector, adiantou o PCA do BIC, Fernando Teles. O banco criou um gabinete especializado para avaliar projectos relacionados com a agricultura e pecuária. Uma das dificuldades encontradas para a expansão do crédito pessoal à agricultura, era a falta de especialistas para acompanhar e avaliar os projectos. Os projectos com valores até �00 mil dólares não precisarão de aval da equipa técnica.

Outubro• O presidente do Conselho de Administração

da Sonangol, Manuel Vicente, estima que até �0�� serão perfurados mais �00 poços de petróleo. Neste momento já foram perfurados ��� poços de exploração e avaliação, com uma taxa de sucesso de mais de 80%. As reservas actuais do gás associado estão estimadas em �� triliões de pés cúbicos, viabilizando a produção do projecto Angola LNG, que prevê produzir � milhões de toneladas anuais a partir de �0��.

• O Banco Nacional de Angola, na qualidade de órgão regulador e supervisor do sistema financeiro angolano, exarou um novo pacote de normas prudenciais que resultam da necessidade de aproximar o mercado bancário angolano das exigências internacionais, tendo como

referência os �� princípios da “Brasileira” para uma supervisão eficaz. De acordo com o novo conjunto de normas, os candidatos a uma autorização para a abertura de um Banco em Angola terão que subscrever, como valor mínimo do capital social e dos fundos próprios, 600 milhões de Kwanzas (cerca de 8 milhões de dólares americanos).

• A Sonangol Integrated Logistic Services (Sonils) investiu ��� milhões de dólares americanos na construção de uma ponte-cais com 7�0 metros quadrados e �� de profundidade para atracagem de navios afectos às actividades petrolíferas. O administrador da Agência Nacional de Investimento Privado (ANIP), Ari de Carvalho, referiu que a implementação do projecto vai proporcionar à economia nacional um Valor Acrescentado Bruto (VAB) médio anual na ordem dos 8� milhões de dólares e a criação de �0 postos de trabalhos directos.

• Dados fornecidos pelo conselheiro económico da Embaixada da Espanha em Angola, Mariano Muela, documentam que as empresas espanholas pretendem investir no país nos sectores das pescas, da construção de estradas, das telecomunicações e da electricidade. Essas empresas vão actuar através das missões económicas daquele país, por intermédio da Câmara de Comércio de Espanha.

• O Banco Africano de Investimentos (BAI) vai financiar projectos ligados aos sectores da agricultura e da construção civil em Angola, na sequência da assinatura de um acordo de cooperação entre esta instituição e o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA). Numa primeira fase, o financiamento será disponibilizado às empresas e produtores nacionais de milho e feijão, algodão e materiais de construção.

• Segundo o Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro, Aguinaldo Jaime, o Governo vai implementar um conjunto de políticas para a revitalização e modernização do ramo agro-pecuário, com o objectivo de minimizar a fome e a pobreza no país. A informação foi adiantada durante o encerramento do I Simpósio sobre a Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP. Disse, ainda, que a finalidade de todas as políticas traçadas pelo Executivo é de promover o desenvolvimento e o incentivo de tecnologias nos processos de produção, stockagem, comercialização e transformação industrial dos produtos agrícolas.

• O principal mercado da venda de kimberlito angolano é liderado pelo Dubai que detém ��%, seguido da Antuérpia, �8%, Hong-Kong, ��%,

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Genebra, 10% e Telavive 7%, dos diamantes angolanos. Durante o ano de �006 o país obteve lucros na ordem de � bilião e �0� milhões de dólares resultantes da venda de � milhões e ��7 mil quilates de kimberlitos. Destes, 8 milhões, �67 mil e ���,�� quilates correspondem à produção industrial e � milhão, �80 mil e �6,�� quilates à produção artesanal. A informação foi adiantada pelo director de comercialização da Sodiam, Hélder Milagre.

• O presidente do Conselho de Administração do Banco BIC, Fernando Teles, informou que o Banco que dirige vai financiar projectos avaliados em � bilião e �00 milhões de dólares, cujo crédito já foi aprovado, aguardando a sua autorização. Neste momento a instituição concedeu empréstimos no valor de � milhão e ��� mil dólares em créditos, com maior incidência para o pacote de particulares que representa 65% do valor financiado. A informação foi prestada aquando da inauguração da 78ª dependência no Soyo, província do Zaire.

• O Governo dos EUA, através da sua agência para o Desenvolvimento Internacional (USAID), possui uma carteira de crédito disponível no valor de �� milhões de dólares para apoiar projectos agrícolas em Angola. Numa primeira fase, a USAID disponibilizará ��% do valor global, o equivalente a � milhões e 7�0 mil dólares. Para o efeito, a USAID e o Banco de Fomento Angola (BFA) rubricaram um protocolo de garantia financeira para beneficiar os agricultores angolanos. O objectivo da assinatura do acordo entre estas duas instituições é a cobertura parcial dos riscos assumidos pelo BFA na concessão de créditos ao sector agrícola, reduzindo assim um dos principais obstáculos ao financiamento do sector.

• O presidente da Associação de Hotéis, Restaurantes, Similares e Catering de Angola (AHORESIA), João Gonçalves, explicou que o Banco Mundial disponibilizou este ano �00 mil dólares para a formação de quadros e agentes hoteleiros angolanos. A acção formativa vai permitir a capacitação de mais de �00 pessoas ligadas ao ramo em todo o país.

Novembro• O campo Rosa, desenvolvido pela companhia

Total E&P Angola e seus parceiros, no bloco 17, em águas profundas, arrancou oficialmente com uma produção diária de �0 mil barris. Espera-se em breve um aumento da sua capacidade de

produção para ��� mil barris dia. O referido campo foi inaugurado pelo vice-ministro dos petróleos, José Gualter Inocêncio.

• Segundo o presidente da Câmara de Comércio e Industria de Portugal-Angola, Carlos Ferreira, nos últimos três anos os investimentos directos portugueses e as exportações lusas aumentaram. Portugal, actualmente, é o país com mais projectos aprovados em Angola. Apesar disso, a instituição que preside quer triplicar os investimentos portugueses no país, com vista a contribuir para o processo de reconstrução nacional.

• O Banco Africano de Investimentos (BAI) e o Banco Espírito Santo Angola (BESA) vão assegurar 80% da operação de financiamento dos �,� biliões de dólares norte-americanos para o programa de reconstrução nacional, enquanto líderes do sindicato de bancos, sendo que os 20% restantes ficarão sob a responsabilidade de outras instituições financeiras. A informação foi prestada pelo presidente da comissão executiva do BESA, Álvaro Sobrinho, que falava por ocasião da assinatura do acordo de financiamento entre o Ministério das Finanças e os bancos comerciais angolanos.

• O Governo do Japão iniciou o estudo para o primeiro crédito bonificado, a longo prazo, em ienes, para Angola, revelou o jornal japonês “Sankei”. Com o aumento da produção do petróleo Angola tem crescido muito, está a organizar a economia e recupera a capacidade de reembolso, factores que pesaram para o Governo japonês considerar a concessão do crédito bonificado, adiantou o referido jornal.

• O projecto mineiro Camuanzanza, da subsidiária ENDIAMA prospecção & produção, produzirá anualmente �80 mil quilates. A informação foi prestada aquando da apresentação, no auditório da Endiama, do lote de diamantes de produção aluvionar que serão comercializados pela Sodiam.

• O Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Pedro Canga, inaugurou uma moageira com capacidade de produzir �� mil toneladas de fuba de milho no Município de Cacuso, província de Malanje. O empreendimento custou ao Governo local �0 milhões de dólares americanos, no âmbito de uma linha de crédito do Banco do Brasil.

• O Director do Gabinete de Segurança Alimentar do Ministério da Agricultura, David Tunga, apelou para que os empresários do ramo agro-pecuário sejam apoiados financeiramente para contribuírem no aumento da produção de

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alimentos e garantirem a segurança alimentar em Angola, pois isso irá permitir a entrada de mais investidores no ramo, reduzindo assim o volume de importações de alimentos que podem ser produzidos no país.

• A Directora do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP), Francisca Delgado, informou que nos últimos dois anos se verifica um aumento da bio massa e, por conseguinte, algumas espécies marinhas têm -se reproduzido cada vez mais. Adiantou ainda, que o problema do desaparecimento das espécies não acontece apenas em Angola, também no resto do mundo e anunciou a implementação de algumas medidas em termos de gestão, com vista a proteger a fauna marinha e permitir uma paulatina recuperação dos recursos marinhos.

• Um hotel de cinco estrelas com 300 quartos e 70 suites está a ser construído desde Maio deste ano por um consórcio empresarial luso-angolano na capital do país. O consócio investiu �70 milhões de dólares americanos e propõe-se criar cerca de 6 mil e �00 postos de trabalho a partir de �00�.

Dezembro• O Administrador da Agência Nacional para o

Investimento Privado (ANIP), Ari de Carvalho, anunciou que foram recebidas ��� propostas de investimento tendo resultado em apenas �,7% das marcas nacionais.

• Segundo Gabriel Hikimote, Director Provincial da Industria, do Comercio, do Turismo e da Hotelaria do Cunene, a Província vai contar com um hotel de cinco estrelas. O empreendimento será construído, no quadro do Programa de Desenvolvimento do Sector Hoteleiro e de Fomento do Turismo previsto para os próximos cinco anos (�00�/�0��). As obras estão orçadas em � bilião e �00 milhões de Kwanzas.

• A Direcção Nacional das Alfandegas (DNA) vai arrecadar até ao final do ano de 2007 cerca de � mil milhões de dólares, o dobro atingido em �006, altura em que as receitas atingiram mil milhões de dólares. O crescimento resulta do programa de modernização dos serviços alfandegários gizado desde �00�.

• O Banco Internacional de Crédito (BIC) e o Banco de Fomento Angola (BFA) vão passar a transaccionar os produtos do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), com vista a tornar mais fácil a obtenção de empréstimos e potenciar os empresários nacionais virados fundamentalmente para o domínio da

agricultura e pecuária.• As receitas fiscais do sector petrolífero, em 2008,

vão atingir � trilião e �60 biliões de Kwanzas, o que corresponde a ��,�% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto as receitas do sector não petrolífero estão estimadas em �7� biliões de Kwanzas, �,�% do PIB. Os dados constam do Orçamento Geral do Estado (OGE) para �008 aprovado recentemente pela Assembleia Nacional.

• Empresários da província do Cunene pretendem investir na construção de uma fábrica de sabão nos próximos tempos. Os valores para a implementação do empreendimento não foram revelados por se encontrar ainda em fase de estudo. O director provincial da Câmara de Comercio e Industria, Buleth Salu garantiu ter já havido contactos entre os investidores e as autoridades locais para a materialização do projecto.

• Angola vai engajar-se na definição de politicas que visam o melhoramento do comércio marítimo através do estreitamento da ligação com os organismos regionais e internacionais. A garantia é do coordenador da Comissão de Reestruturação do Conselho Nacional de Carregadores de Angola, Mário Silva. Segundo ele, a problemática do frete das mercadorias importadas é discutida, quer a nível nacional, quer das instituições internacionais. Considerou, ainda, que os fretes estabelecidos para o nosso país e alguns de África são agravados com as chamadas taxas de congestionamento portuário.Logo, a tarifa para os produtos aportados em Angola é superior à dos portos da África do Sul.