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Uma aproximação afetiva entre o Design da Mágica e a Mágica no Design

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Este é o relatório do meu Trabalho de Conclusão de Curso de Design na UNESP-Bauru, ano 2011 Aluno: Miller Chamorro Orientador: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi

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Uma aproximação afetiva entre o Design da Mágica e a Mágica no Design

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Universidade Estadual Paulista“Júlio de Mesquita Filho”

Câmpus de BauruFAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação

Núcleo de Pesquisa PIPOLProjetos Integrados de Pesquisa Online

MirromUma aproximação afetiva entre o Design da Mágica

e a Mágica no Design

2011

Aluno: Miller Antonio Ramos Chamorro

Orientador: Prof. Dr. Dorival Campos Rossi

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Agradecimentos Este trabalho não é um esforço solo. Foi construído por uma multipli-cidade de idéias, esforços, carinhos, desejos, pessoas. Agradeço a todos meus amigos e amigas de classe, que nestes primeiros 4 anos e meio contribuíram enormemente em minha vida. Obrigado à Kátia, Patrícia, Diego e Gabriela, pela imensa amizade, pelas longas conversas, e contribuições específicas para este Projeto. Agradeço a todos que de alguma forma me fizeram ser quem sou, como sou. Meus novos e antigos amigos(as), meus familiares, pessoas que nem sei o nome, mas que contribuíram de alguma forma para este trabalho, e para esta vida.

Meus agradecimentos eternos: Aos meus mestres na Mágica, Átila e Rosi, por me ensinarem absolu-tamente tudo que precisei e preciso, e por abrirem sua casa e suas vidas a um humilde aprendiz. E ao meu orientador (de curso), Dorival Campos Rossi, por definitiva-mente ter me feito encontrar tudo que procurava, por ter dado respostas... Aos três, obrigado por terem mudado definitivamente minha vida... para melhor.

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Índice

Introdução 9 Resumo 13 Breve história destas duas áreas em minha vida 17 Algumas Definições e um pouco de foco 21

Mágica-Design-Mágica 29 Encasulado: movimentos parado, o vazio e os E´s 33 Mágica - Manipulação (de mentes) e a Interação/Colaboração Mágico-Público 39 O Produto/Atualização do Desejo 47 A Grande sacada/O pulo do gato/ A grande descoberta 55

Bibliografia 59

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Introdução

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Vivemos um momento único na história. Milhões de coisas acon-tecem, a uma velocidade cada vez maior... todas juntas. Conexões

impensadas tornaram-se cotidianas, e o que era apenas virtual vem se tor-nando realidade. Nesta agitação, nada fica estático por muito tempo... pare-cemos estar num período de transição entre a tempestade e a calmaria. Mas este mesmo mundo que nos salta aos olhos, que permite um sem número de possibilidades, tem nos tirado algo importante. Tem nos tornado passivos em relação à nossa própria vida. Todo este aparato tecnológico é maravilho-so, mas pode anestesiar. Com toda a parafernalha ficamos um pouco cegos, surdos, sem tato... nossos sentidos e sentimentos começam a atrofiar por desuso. Temos esquecido de assistir ao sol nascer... sentir a temperatura mu-dar em questão de minutos... de sentir o cheiro da terra úmida... não para-mos para ver, nesta época de outono (quando este trabalho é escrito), a folha se desprender da árvore, fazer rodopios pairando no ar e tocar levemente o chão... ouvir o cracshcricsh ao pisarmos propositadamente nela. Uma atividade considerada recente (pelo menos em seu nome), tam-bém considerada a grande profissão, talvez não “do” futuro, mas “para” o futuro, tem se preocupado em discutir estas questões e transformar o “como” viver. É o Design! O que há de realmente grandioso no Design é este desejo/poder de transformar, de mudar para melhor. De apontar para os pequenos/importantes/simples/singelos detalhes, de enfocá-los, resgatá-los, pinçá-los e extraí-los e introduzi-los em tudo o que há. Há um tempo ouvi uma frase (que não sei o autor): “rir é tão impor-tante quanto comer”. Extendo um pouco mais: “rir, sorrir e se encantar, são tão importantes quanto comer”. Neste trabalho, tento de forma humilde e singela proporcionar momentos de sorriso, riso e encantamento. Para isto, utilizo uma Arte que por si só tem potencial de realizar isto: a Mágica! Por meio dela é possível navegar por outro mundo, de fantasias, de encanta-mento. É possível se aproximar das pequenas coisas... das melhores coisas.

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Resumo

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O presente trabalho tenta resgatar e apontar para as pequenas e simples coisas, utilizando a Mágica. Tem o desejo de causar sen-

sações e transformar truques de mágica em algo realmente emocionante e marcante para o público. Para isto, utilizo-me de objetos comuns aos mági-cos, como cartas, bolinhas, lenços, etc., mas com um outro olhar! Um olhar mais emotivo, afetivo, onde os objetos não são apenas objetos (primeiridade e segundidade), mas signos (terceiridade). Objetos estes que todos nós uti-lizávamos como brinquedo quando crianças, mas que geralmente tem este significado negligenciado pelos mágicos em geral, e pelas próprias pessoas depois da infância. Utilizando ferramentas do Design, como plásticidade, emoção, processos, coisas de dentro da outra, e outros, e também empre-gando-o como a ligação, o entre, aproximando áreas como a Literatura, Fi-losofia, Mágica, etc., este Projeto (de vida) se atualiza neste momento como uma apresentação de mágica, ao vivo, onde é possível assistir à pequenos sonhos e idéias infantis se tornando realidade, de forma sensível e surpre-endente. Neste Trabalho, o foco é aumentar a “Magia” da Mágica. Ir mais a fun-do no que a Mágica pode causar, em quanto e como a Mágica pode Afetar. Afetar mais profundamente a parte intelectual, psicológica e emocional dos espectadores.

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- Pois bem! Mágica e Design! - Espera aí! Mágica e Design?! - Mágica e Design! - Mágica?!...e... Design?! - Sim, Mágica e Design! - Calma!... Mas como assim?! O que tem uma coisa com outra?!

Breve história destas duas áreas em minha vida:

"Vontade! - assim se chama o libertador e o mensageiro da alegria..." (NIET-ZSCHE, 1999, pág. 126)

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Sempre gostei de mágica, era fascinado por mágica! Não pensa-va ainda em ser profissional, mas sempre quis aprender a fazer

mágica! Até que em 2001 tive a oportunidade de fazer um curso de mágica para iniciantes com a dupla Átila e Rosi. Desde então me dedico a esta arte. Estou até hoje com eles , meus grandes mestres. Isto sem dúvida mudou completamente minha vida! Me encantei rapidamente, e logo percebi que era aquilo que queria fazer na minha vida, pessoal e profissional. Quando eu estava no Ensino Médio (2001 a 2003) eu já fazia Mági-ca, e já sabia que queria continuar fazendo. Sairia do Ensino Médio um tanto pressionado a escolher um curso superior. Com isso resolvi procurar algum curso da faculdade que tivesse mais a ver com Mágica. Não teria possibilidades de me mudar de Piratininga, onde moro, e nem pagar uma particular, portanto, o curso tinha que ser em Bauru (cidade mais próxima com universidade) e em alguma pública (USP ou UNESP). Na USP-Bauru existem apenas cursos ligados à saúde, o que não é minha área para seguir carreira. Vamos à UNESP! Consultei o Guia do Estudante, li sobre todos os cursos de Bauru e sempre pensando em um que tivesse o máximo de liga-ção com a Mágica. Eis que vejo: “Desenho Industrial - Programação Visual (criação de logomarcas, páginas de internet... imagens 2D) / Projeto de Pro-duto (objetos 3D)”. Lendo sobre o Projeto de Produto achei que era o que melhor se encai-xava no que eu queria. Pensei: “opa! Vou poder aprender a fazer equipamen-tos de mágica! Tudo a ver! É este!”. Então optaria pelo de Produto. Porém!, o curso de Projeto de Produto é noturno (o de Programação Visual tem duas turmas, uma noturna e uma diurna), e não haveria ônibus para voltar para Piratininga depois da aula (além de eu preferir estudar de manhã, apesar do sono terrível). Como os 2 primeiros anos eram iguais e depois você pode-ria mudar caso quisesse, optei pelo Gráfico diurno, e caso quisesse, depois de 2 anos iria para o Design de Produto. Não passei direto do Ensino Médio para a faculdade. Fui entrar só 3

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anos depois. E que sorte! Cai numa turma maravilhosa (não que as outras não fossem), com o currículo do curso reformulado (agora se chamando Design) e sendo aluno do diurno, tive aula com o professor que iria mudar a minha vida novamente (uma “dobra” na mudança causada por Átila e Rosi e a Mágica). Entrei na faculdade imaginando Desenho Industrial (ou Design) como o explicado no Guia da UNESP. No fim, entro num curso que não tem praticamente nada a ver com o que era descrito no Guia – não me ensina-ram a fazer Logotipo e página de internet até hoje (como se fosse possível). E que grande (e lindo!) engano. Para minha sorte e felicidade, acertei em cheio ao escolher este curso, mesmo sem querer! Logo na primeira aula de Plástica do ano com o Dorival, ele já começava a colocar a baixo tudo o que eu (e todos os colegas) imaginávamos ser Design. E continuou assim até o fim do ano. Aliás, relação engraçada esta com o Dorival. Até o começo do segundo semestre, eu não gostava dele! Quem ele pensava que era?, falando que “isso NÃO É DE-SIGN!”. Mas ao mesmo tempo, sabia que tinha algo de verdade, que algo estava realmente errado nesta descrição do Guia, nesta forma de fazer e pensar Design, mas não gostava talvez por não saber onde e o que estava errado. Além disso, percebia que algo novo se mostrava, algo que tinha muito mais a ver com Mágica do que simplesmente fazer equi-pamentos de Mágica. Só passei a entender (eu acho), um tempo depois, no segundo semestre. Hoje entendo o Design de uma forma MUITO mais ampla do que o descrito no Guia, e muito maior e profundo do que a forma abordada no curso de uma forma geral. Ainda bem! Do contrário, estaria perdido, arre-pendido e sem saber o que fazer.

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Algumas Definições e um pouco de foco

"(...) isso é o que se conhece como pesquisa: descobrir o design divino por trás dos fenômenos." (FLUSSER, 2007, p. 58)

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Podemos ir agora para a já clássica, famosa (e cruel) pergunta: O que é Design?

O filósofo de Design, Vilém Flusser nos dá alguns caminhos a seguir:

Em inglês, a palavra design funciona como substantivo e tam-bém como verbo (...). Como substantivo significa, entre outras coisas, “propósito”, “plano”, “intenção”, “meta”, “esquema ma-lígno”, “conspiração”, “forma”, “estrutura básica”, e todos esses e outros significados estão relacionados a “astúcia” e a “fraude”. Na situação de verbo - to design - significa, entre outras coisas, “tramar algo”, “simular”, “projetar”, “esquematizar”, “configu-rar”, “proceder de modo estratégico. (FLUSSER, 2007, p. 181)

Dentre várias traduções e definições, a que mais me agrada é Projeto. A tradução não especifica o tipo de projeto... portanto: todo tipo de Projeto! Mas não um projeto qualquer... Em suas aulas, Dorival faz maravilhosas explanações sobre este Pro-jeto, sobre o “como fazer” este Design, sua relação com o Desejo, com os Afetos, com as emoções. Numa das várias conversas com meus amigos de classe da faculdade sobre o que é Design, e especificamente, para que serve o Design, vários deram suas opiniões, até que meu amigo Vinícius disse: “Para mim, Design serve para fazer as pessoas felizes”. BINGO! Foi a que realmente concordei. Apesar de eu achar (e muitos autores também dizerem) que a felicidade é algo que surge de dentro para fora, este pode receber incentivos externos. Ou ainda, se preferir, podemos dizer que Design “serve” para afetar* posi-tivamente as pessoas, deixar as pessoas alegres, e assim ajudá-las a serem felizes ou mais felizes. Portanto temos uma definição de Design (existem muitas!), mas esta é a que entendo ser a mais adequada, a que mais me agrada, e é a que quero seguir:

*Sempre que falarmos aqui de Afetar ou de Afeto estaremos falando dos Afetos de Alegria de Espinoza. Para ele, um Afeto decompõe com um corpo (tristeza) ou compõe com um corpo (alegria). Um Afeto de alegria aumentaria nossa potência de existir. “Quando encontramos

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“Design é Projeto, de qualquer natureza (o que será feito). E um bom Design é o que afete as pessoas, as deixe alegres, e as faça felizes (o como ele é feito).” Claro que esta é uma definição em três linhas. Mas esta única frase carrega muitas outras coisas a serem incluídas em um Projeto.

Entendemos então o Design como algo realmente grande, muito mais complexo e completo. Design no sentido de Projeto. Projetar como uma for-ma mais profunda, muito maior que um “projeto 2D ou 3D”. Projetar no sentido de “se lançar ao futuro”. Um Design que não foca só o extremo final, o resultado (de forma superficial), mas todo o processo, e este alterar o re-sultado. Descobrir ou desenvolver novos caminhos, mudá-los. Este jeito de pensar veio de encontro com algumas coisas que eu já pensava sobre Mágica. Eu já procurava um pensamento como este, novos caminhos, novos resultados, coisas mais profundas do que simplesmente a técnica de um truque. Devo isto principalmente ao prof. Dorival, que fala muito disso, e utiliza teorias que embasam e ajudam a pensar desta forma, a entender um trabalho de forma mais completa. Que trabalha com alguns elementos que eu já pensava sobre Mágica: conhecimento panorâmico (ou repertório), vários projetos no mesmo projeto, processos antes dos resulta-dos, etc. E outros que não conhecia, e que vem me ajudando muito: Lingua-gens Híbridas (misturas de linguagens que trabalham juntas para se fazer um produto), sensações, emoções, etc. Penso no Designer não como (ou não só como) um executor de um trabalho, mas principalmente como o idealizador do Projeto, o Projetista, o verdadeiro Designer do Design. Não como alguém que resolve problemas, ou dá a resposta, mas o que identifica os (reais) “problemas”, o que propõe questionamentos. Função parecida com a de um filósofo (para não dizer um corpo que compõe à nossa natureza e cuja relação se compõe com a nossa, diríamos que sua potência se adiciona à nossa: as paixões que nos afetam é de alegria, nossa potência de agir é ampliada ou favorecida.” (DELEUZE, 2002, p. 33, 34)

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igual). Penso isto na Mágica também – não aprender algo e fazer, mas ten-tar pensá-la desde o começo. Entendo que uma das partes do trabalho do Designer não é achar uma resposta de uma pergunta feita por alguém que muitas vezes não tem esses compromissos, de Afeto, Alegria e Felicidade. Uma das partes do nos-so trabalho é exatamente analisar o mundo, e aí sim, NÓS formularmos as perguntas, NÓS dirigirmos o foco, o importante foco, o rumo que as coisas devem tomar. Claro que tudo isto é MUITO difícil e complexo. Não posso dizer que já consigo fazer isto. Estou tentando, estou a caminho. Mas acho que estas questões devem ser pensadas. Agora sim, entramos na questão!: PENSA-DAS!

Neste caso, o autor do briefing é o próprio Designer! É ele quem de-cide o que será feito, e principalmente como será feito (com seus sonhos, desejos, história, afetos). Passar a ser cliente de si mesmo, sem deixar de ter os outros como clientes. Pensando desta forma, e transportando isto para a mágica, a técnica (ou seja a execução, a parte quase final da Mágica) passa a ser um tanto menos importante para dar lugar a outros elementos a serem trabalhados, como construção, efeitos na mente das pessoas, sensações e emoções, etc.

Penso que uma das grandes dificuldades do Designer (especialmente o formando ou o recém-formado) é perceber que aparentemente (aparen-temente!) não se aprendeu nada no curso. É diferente de um formado em Medicina, por exemplo, que sai da faculdade tendo aprendido a diagnosti-car, fazer cirurgias, medicar, clinicar, etc., ou um Advogado, que aprendeu sobre as leis, a defender e acusar, etc. Se perguntar a um Designer o que se aprendeu, pode ser que demore

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um pouco para responder (ou talvez não o consiga). É como se ser Designer fosse um “não-ser”... mas um “não-ser povoado”, quase um “ser ou não ser”, “sei ou não sei”, “sei E não sei”. Ser Designer, para mim, é de fato não ser algo... ser Designer implica sempre! em “E”, ou em um “/” (barra). Designer e(/) ilustrador, Designer e(/) músico, Designer e(/) Mágico. Isso porque não somos a profissão, a coisa. Seríamos a não-coisa ou o entre coisas, o entre as profissões/ciências.

E entre as coisas não designa uma correlação localizável que vai de uma para outra e reciprocamente, mas uma direção perpen-dicular, um movimento transversal que as carrega uma e outra, riacho sem início nem fim, que rói suas duas margens e adqui-re velocidade no meio. (DELEUZE e GUATTARI, 2000, 36)

A cultura moderna, burguesa, fez uma separação brusca entre o mundo das artes e o mundo da técnica e das máquinas (...). A palavra design entrou nessa brecha como uma espécie de ponto entre esses dois mundos. (...) E por isso design significa aproximadamente aquele lugar em que arte e técnica (e, conse-qüentemente, pensamentos, valorativo e científico) caminham juntas, com pesos equivalentes, tornando possível uma nova forma de cultura. (FLUSSER, 2007, p. 183, 184)

Designer é não saber... não sabemos do futuro... mas podemos inven-tá-lo! Penso que é disso que se trata.

Se Design é Projeto de qualquer natureza, desde que alegre as pesso-as, uma das áreas mais propícias a fazer isto é a área das Artes. Tá bom... o que é Arte? Segundo o site “História da Arte”, é “Criação humana de valores esté-

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ticos (beleza, equilíbrio, harmonia, revolta) que sintetizam as suas emoções, história, seus sentimentos e sua cultura”. O dicionário Aulet digital diz: “Atividade criadora do espírito humano, sem objetivo prático, que busca representar as experiências coletivas ou individuais através de uma impres-são estética, sensorial, emocional, como tal apreendida por seu apreciador”. Por fim, o Houaiss traz: “Arte é a produção consciente de obras, formas ou objetos voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para a expressão da subjetividade humana”. Existem muitas outras definições e significados, mas para mim, e de forma bem simples, é a união de 3 coisas: Técnica, Inovação, Emoção! (simples assim!... ...mas nem tanto!) Pensando assim... Mágica! * A Mágica por si só é provavelmente uma das Artes com maior poten-cial de afetar as pessoas. Daí um dos grandes motivos de utilizar Mágica neste TCC.

*(Existem muitos mágicos que não se encaixam nesta minha definição de arte, já que muitos não tem boa técnica, ou não criam, ou não emocionam. Não que este seja um sinal de que este seja melhor ou pior mágico. Mas eu tento entender o Mágico como um profissional mais com-pleto. Ou seja, sempre que eu disser a palavra “Mágico” aqui, entendam como alguém que cria seus efeitos, tem uma boa técnica, e consegue passar emoções através das mágicas. )

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Mágica-Design-Mágica

"... é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançarina." (NIETZSCHE, 1999, pág. 29)

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Desde o início, o Dorival dizia: “Miller! Você tem que colocar De-sign na sua mágica!”; ou então: “Miller! Cadê a Mágica no De-

sign?”. Pensava: “mas como vou saber?!” . Isto martelava minha cabeça... sabia que tinha que unir as duas coisas (entrei no curso pra isso, mesmo que agora meu olhar em relação ao Design fosse totalmente outro), sabia que no fim, o TCC seria com mágica, mas não sabia como! Como fazer da Mágica um Projeto de Design, que afete profundamente as pessoas, as alegre?! E como colocar Mágica num projeto de Design?! Pois bem, está aí o desafio. Está aí a idéia inicial para meu TCC. Bem, agora outra pergunta, não tão feita comumente, mas também cruel: O que é Mágica? Mágica é a Arte de criar ilusões do impossível, para espantar, impres-sionar e/ou encantar as pessoas. A Mágica é sempre formada por uma união de elementos, que andam praticamente juntos, sendo difícil separá-los. Os que considero principais e essenciais, e específicos da mágica, presentes em todos os números são: • Segredo: um tanto óbvio dizer que o segredo é a parte da Mágica que o público não sabe, mas que faz a mágica funcionar e parecer impossí-vel. • Surpresa: característica importante da mágica, já que o fato do pú-blico não saber o que vai acontecer aumenta a emoção do efeito, além de ajudar a encobrir o segredo. • Misdirection: esta parte é bem complexa! Uma das traduções é “sem direção”. Os Mágicos usam como “desvio de atenção”. É uma parte impor-tante da Mágica, onde o Mágico desvia a atenção do público para outro ponto para poder encobrir o segredo da mágica. Parece simples, mas eu considero uma das partes mais difíceis e complexas da Mágica. Este desvio

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de atenção não é apenas visual, mas em grande parte das vezes é intelectual e psicológico. Poderiamos chamar o Misdirection como o “Design do invisí-vel”. Todos estes elementos são utilizados para formar uma Ilusão. (além dos elementos Técnica, Inovação e Emoção, que compõem o que considero Arte).

Designer e Mágico precisam ter o domínio de tudo. O Mágico precisa ter um controle de todo o corpo, e não só das mãos (até porque em mui-tos números nem se usa as mãos). Ele precisa controlar e sincronizar tudo. Controlar e sincronizar não só ele, mas a música e luzes (quando utiliza), equipamentos, animais (quando utiliza), equipe, e o público! O que o Má-gico fala, expressa, gesticula, pra onde ele olha, os movimentos das pernas e pés, braços, tronco, cabeça, o que ele faz, as luzes, o som, cenário, tudo con-trolado por ele, de uma só vez. Muitas vezes, enquanto o mágico fala, está fazendo uma coisa com a mão esquerda, outra bem diferente com a direita (sem olhar para nenhuma das duas), olha para o público, faz uma piada, se movimenta no palco, se sincroniza com a música, pensa no que vem de-pois, e tem que fazer tudo isto sem parecer que está fazendo NADA disto. Tem que parecer normal, natural. Todas essas coisas funcionam juntas, em sincronia e harmonia. A coisa tem que fluir, parecer mágica. Isto requer não só uma ótima execução, mas antes de tudo, um planejamento, um projeto, um Design!

Por exemplo, numa Mágica bem simples: se eu começar pensando no efeito que quero fazer – fazer uma moeda desaparecer daqui e aparecer do outro lado da sala! Ok! Como fazer isto? Vai ser de uma forma engraçada? Espantosa? Bizarra? Romântica? Etc... Que técnica se encaixa melhor para fazer isso? Ou: existe uma técnica para isso ou preciso desenvolvê-la? Qual o misdirection ideal? O público participa (fisicamente) ou não? O que o

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público pode sentir quando a Mágica acontecer? Como conduzir o público enquanto o efeito em si não acontece para que haja uma maior emoção e impacto na hora que esta moeda desaparecer e reapare-cer em outro local? Qual o tempo disso? A moeda desaparece e reaparece em seguida ou desa-parece e se dá um tempo entre este e o efeito de reaparição? Vai ter música, luz? Enfim! MUUUUUITA coisa para se pensar em um simples número. Muita coisa para planejar, projetar, desenhar.

Uma coisa legal, e bem difícil na Mágica: pegar uma coisa, objeto ou um truque SIMPLES, e transformá-lo num grande número de Mágica (não em tamanho, mas em intensidade). O maior exemplo disso para mim é o famoso David Copperfield. Considero ele é o Mágico mais completo, o que consegue reunir todas as características que eu citei. Já o vi fazendo nú-meros que muitos outros mágicos fazem; mas ele fazendo é maravilhoso. Consegue realmente fazer um mega show com um simples truque. Está aí um grande desafio para os Designers: Conseguir reunir coisas simples, comuns, e fazer um grande e complexo trabalho de Design.

Se pensarmos assim, que todo bom trabalho precisa de planejamento, de um projeto, de Design, então penso que TUDO pode ser ou ter Design. E se pensarmos que a Mágica é um grande projeto, e que tem muitos con-ceitos em comum com o Design, Mágica é um grande exemplo de Design, e Design é uma grande Mágica. Talvez não com o sentido de ilusões, mas com um sentido de transformações.

Na grande maioria das vezes, a diferença entre uma não-Mágica e uma Mágica é o enfoque! Só isto. Algo que você faz é ou não é Mágica de-pendendo do enfoque que você dá. Ou seja: Muita coisa pode ser Mágica. Depende de você saber como fazer. E acredito que o Design é bem parecido: Mudemos o enfoque e algo simples pode passar a ter ou ser um grande trabalho de Design.

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Encasulado: movimentos parado, o vazio e os E´s

Uma vez mais acredita-se que alguma coisa foi criada, pois o mistério e o maravilhoso são tão adorados quanto os bastidores são ignorados; trata-se a lógica como milagre, mas o inspira-do estava pronto há um ano. Estava maduro. Tinha pensado sempre nisso, talvez sem suspeitar, e, onde os outros ainda não estavam vendo, ele tinha olhado, combinado, e não fazia mais que ler em seu espírito. (VALÉRY, 1998, p. 135)

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No ano de 2006, participei do Congresso Brasileiro de Mágicos. Neste Congresso tivemos shows, palestras e competições de má-

gica. Participei da competição na categoria Manipulação, e tive a felicidade de ganhar o 1º lugar. No mesmo ano passei (enfim) no vestibular, e no ano seguinte ingresso na faculdade; e a partir daí, pouco mexi neste número com o qual ganhei a competição. Continuei fazendo e estudando mágica, me apresentando, mas não mexi especificamente com este número. Porém, não parei de pensar nele. Continuava vendo, lendo e analisando coisas, fazendo meus próprios estudos e observações sobre a mágica em geral, e pensando em quando eu fosse voltar a trabalhar nele (neste TCC). Neste período, como disse, tive contato com diferentes pessoas, idéias, disciplinas, experiências, não só relacionadas à mágica. Sinto este período de pouco mais de 4 anos como um estado latente, ou melhor, um período de casulo, onde aparen-temente não me mexi, nada fiz, mas agora, rasgado o invólucro, um novo número surge, novas idéias, novas misturas, novos agenciamentos, Mágica e Design e mim e filosofia e psicologia e literatura e-tc. O Átila sempre diz “o Mágico enxerga as coisas de uma forma dife-rente, além do que os olhos podem ver”. E isso acontece de várias formas. Mas basicamente o mágico está sempre ligado (à espreita), tentando adicio-nar coisas às suas mágicas e às suas apresentações. Ele tenta ver as coisas não simplesmente da forma como todos vêem. Por exemplo, tenta não ver um objeto apenas com a utilidade usada pela maioria, mas tenta dar outros significados a ele (um dos atributos da Semiótica). Uma coisa importante para o mágico é ter, como diz o Átila, um bom “Conhecimento Panorâmico”. Outros dizem conhecimentos gerais, ou re-pertório. Enfim! Quanto mais conhecimento você tem (inclusive, e até espe-cialmente, em outras áreas, que aparentemente não têm nada a ver com a sua), mais sua capacidade de associações aumentam, conseqüentemente sua facilidade de criação aumentará, e melhor Mágico (ou Designer) você será.

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O Mágico acaba sendo “obrigado” a entender um pouco de outras artes e funções. Ele acaba sendo um pouco apresentador , ator , dançarino, comediante, além de quaisquer outras artes e atividades que você queira incorporar.

É engraçado ver também a quantidade de coisas que se aprende por se aprender Mágica. Posso dizer que aprendi muito mais em 5 anos de Má-gica do que em 14 anos dentro da escola. Tudo bem, não dá para mensurar isto... mas pelo menos pela Mágica aprendi coisas diversas e que vou usar pela vida toda, independente de continuar fazendo Mágica ou não. Apren-di um pouco sobre física, química, marcenaria, costura, história, geografia, Línguas, TV, psicologia, filosofia...Hoje consigo falar tranquilamente em pú-blico (algo inimaginável há 10 anos atrás), enfim. Meu repertório Mágico aumentou, mas meu repertório geral aumentou muito em função da Mági-ca.

Mesmo depois desses 4 anos de faculdade, e de ter me envolvido com as mais variadas disciplinas e idéias, meu maior foco ainda é a Mágica. Mas agora a misturo com outras coisas (e não-coisas). Porém, é uma mistura especial, precisa. E misturar tudo que aprendi sem perder de vista minha missão de Mágico, sem perder este foco. Do contrário, penso que não faria sentido: aprender algo diferente, e sem que isto seja um estudo mais apro-fundado, este se tornar o foco, deixando a Mágica em 2º plano. Novo apren-dizado, e a Mágica para 3º lugar. Se digo que sou Mágico, e considero esta minha grande missão, para mim, a Mágica tem que ser a prioridade. Imagino como uma pilha de tijolos: a Mágica sendo um bloco. Ao adicionar literatura, por exemplo, este outro bloco é colocado embaixo do meu bloco-Mágica. Observe: eu aumentei a pilha Mágica, porém a Mágica ainda está no topo. Adiciono psicologia embaixo da literatura. A pilha cres-ce novamente, e a Mágica ainda no topo. E assim com todos os blocos adi-

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cionados. Não é uma questão de submeter outras disciplinas à Mágica, ou achá-la superior. De forma alguma! O que acontece aqui, é que o que mais gosto é Mágica! E é o que eu mais estudo, mais estou envolvido e imerso. E é um mágico que está fazendo esta tarefa de empilhar. Não sou escritor, humorista, psicólogo ou filósofo, apesar de adorar todas estas áreas (estes fariam estas relações a seus modos). Considero a Mágica a minha missão. É nela que vou ficar. É ela meu território, e a ela retornarei depois das várias desterritorializações. Seria um olhar de um Mágico sobre as coisas. Entendo que este é um dos meus papeis como mágico: Aprender TUDO que eu pu-der, misturar essas coisas, e transformá-las em Mágica. Misturar as coisas a ponto de não sabermos onde começa nem onde termina, isto é importante, mas para mim, mais importante ainda, é que o público, mesmo depois de toda esta mistura, de toda a rede sem começo nem fim, tenha a sensação de Mágica.

O que me preocupo aqui é adicionar várias idéias, disciplinas, coisas, não-coisas, sob um olhar Mágico. “Como um Mágico pensa e faz psicolo-gia?”; “Como um Mágico pensa e faz filosofia?”; “Como um Mágico pensa e faz DESIGN?” E se quiser: “Como um Designer pensa e faz Mági-ca?”

Depois de um bom tempo pensando neste como fazer, em como mis-turar Mágica e Design, chegava a hora de começar a pensar de fato no TCC. Pelo que me lembro, no segundo semestre do 3º ano do curso (2009) eu es-tava preocupado com o que fazer no TCC. Já tinha algumas direções: Queria que fosse um número de mágica onde o foco fosse a emoção e o encanta-mento. O público teria que se espantar e se emocionar mais do que normal-mente acontece com os números de mágica normalmente. Ainda não sabia como. (É bastante importante salientar que seria possível desenvolver um

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Projeto com Mágica, mas onde não fossem utilizados nenhum número de mágica propriamente. Um projeto com apenas alguns elementos e quali-dades da Mágica. Um Projeto não necessariamente de Mágica, mas com Mágica. Porém, por uma questão de gosto pessoal, e até por uma questão de honra!, optei por um Projeto com e de Mágica)

Seguindo esta direção, passei a pensar na figura do mágico, de como ele normalmente é visto pelo público. Depois de pensar um pouco (e per-guntar para algumas pessoas), cheguei à conclusão que o mágico normal-mente é visto como alguém com cartola e varinha (preta de pontas brancas) e com “mãos rápidas”. Algo um tanto técnico e frio para o que eu queria.

Tinha algo para começar a reverter e mudar para o foco pretendido. E cheguei à questão: “O que poderia ser mais próximo de um mágico, mas que ao mesmo tempo fosse mais ligado à emoção e à fantasia?” Cheguei aos meus “colegas” de magia: Mago, Bruxo , e Feiticeiro. Estas 3 linhagens são amplamente trabalhadas e desenvolvidas em literatura, cinema e outras artes, fazendo muito sucesso e causando grande fantasia e encantamento. Estes tipos me trariam elementos para que eu pudesse aumentar a “magia” da minha mágica.

Comecei a pensar no que aprendi naqueles 3 anos, como reunir, orga-nizar e conectar todas as informações e experiências. Fiz uma retrospectiva mental desde o primeiro ano. Na hora me lembrei de um texto chamado “O Brinquedo”, de Emanuel Pimenta, passado pelo Dorival. Nele o autor abor-da o fato de, para uma criança, qualquer objeto passar a ser um brinquedo. Não importando sua forma, cor material, mas o que ele pode significar.

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Mágica - Manipulação (de mentes)

e a Interação/Colaboração Mágico-

Público

"A arte mágica é no mínimo 95 por cento psicologia." (NELMS, 2000, pág. 2, tradução livre)

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A grande maioria das pessoas acreditam que os mágicos são pro-fissionais com mãos muito habilidosas... e estão certos! Mas nem

sempre! Nem todas os ramos da Mágica necessitam de habilidade manual. Muitos nem sequer utilizam objetos, como no Mentalismo (ramo da Mágica dedicado à simulação de efeitos paranormais, como entortamento de me-tais, previsões, adivinhações, etc.).

De fato, o ramo da mágica que mais gosto é o qual chamamos de "Ma-nipulação": uma apresentação feita no palco, musical, e onde a habilidade manual é o fator principal na criação da ilusão. Apesar disso, a principal habilidade que o Mágico deve ter, é a habilidade de manipular a mente dos espectadores! Uma coisa muito importante, mas que muitos poucos Mágicos sabem ou percebem, é que o Mágico, antes de lidar com cartas, moedas, pombos... lida com pessoas! Mais precisamente com a mente das pessoas (e suas in-formações, psique e emoções). Aliás, quase 100% das profissões (para não dizer 100%) lida com pessoas, direta ou indiretamente. Mesmo que em de-terminada profissão, o profissional não tenha contato nenhum com pessoas, seu trabalho terá (mais cedo ou mais tarde, mais próximo ou mais distante) conseqüência sobre pessoas. Mas no caso, o Mágico lida diretamente com pessoas e suas mentes.

Há um erro muito grande cometido por alguns mágicos: o de enten-der o público como seu inimigo, e querer enganá-lo ou desafiá-lo. Isto tem uma conseqüência: o público se sente desafiado, e passa a enxergar o má-gico como um inimigo também, alguém que quer enganá-lo. Deixa de ser uma fonte de encantamento para ser uma pequena guerra.

Uma coisa interessantíssima da Mágica é que ela não é palpável (em

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outras palavras, é uma “não-coisa”). Portanto, não é o tipo de coisa que você faz, coloca numa caixinha, e leva para outro lugar. Ela começa e termina no local (apesar de suas conseqüências poderem ser eternas). Praticamente uma TAZ (Zona Autônoma Temporária) ou uma Linha de Fuga. Uma coisa importantíssima!: não dá pra se fazer Mágica sozinho. A Mágica não existe quando o Mágico a executa. Mas sim quando o especta-dor a assiste, a sente e a interpreta. Lembre-se dos 3 componentes da Má-gica. Se um Mágico está sozinho, não haverá segredo (já que ele o conhece); também não haverá surpresa (ele já sabe o que vai acontecer), e muito me-nos Misdirection (não conseguirá desviar a própria atenção. Portanto, NÃO existe Mágica sem espectador! O que menos importa é o que o Mágico faz. O que realmente importa é o que o espectador vê (e não vê) e mais do que isso: como ele sente e enten-de aquilo que viu ou não viu!

"O que ocorre no palco não tem conseqüência, exceto quando isto afe-ta a mente dos espectadores." (NELMS, 2000, pág. 4, tradução livre)

O que acredito é que o Mágico apenas lança estímulos. Estimula o pú-blico de alguma forma, o público recebe e processa esses estímulos, e assim se cria a Ilusão Mágica. Pensando assim, entendo que por si só a Mágica é interativa (mas isto não é desculpa para não tentar torná-la mais interativa). É uma via de mão dupla: o espectador depende de o Mágico fazer determinadas coisas para que a ilusão aconteça, e o Mágico depende da mente dos espectadores para completar o que ele começou. Uma frase que ilustra bem esta idéia, e atribuída a um grande mágico chamado Jeff McBride... o espectador chega e diz: “Você é Mágico!” - e ele diz - “Você também”. O espectador é aliado do Mágico, e o Mágico do espectador. E ela é

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experimental, no sentido de que as pessoas participam. Pensando nesta interação/relação Mágico-Público, acabei desenvol-vendo uma outra explicação para isto. Mais fantasiosa, mas mais bonitinha. Imaginemos a Mágica como algo. Como uma outra dimensão, outro platô, ou qualquer outra definição parecida. A Mágica é uma outra dimensão. O trabalho do Mágico é conhecer esta outra dimensão, descobrir vários cami-nhos dentro dela, para poder se locomover. Conhecer os atalhos, passagens secretas, linhas de fuga, etc. Tendo estudado este novo “local”, quando ele vai fazer uma mágica, é como se pegasse nas mãos dos seus espectadores e dissesse: “Olha que lugar legal que eu descobri! Vamos dar uma volta?” E leva estas pessoas para conhecerem este novo lugar, estes caminhos, que são bem diferentes dos locais que elas estão acostumadas a ver, com o qual as pessoas ficam maravilhadas. A cada rua que entram, a cada beco, a cada coi-sa nova que veem, ficam espantadas. O grande impacto talvez seja quando elas saem desta outra dimensão e voltam a que estavam. Se desterritoriali-zam em direção à Mágica (e a si mesmas) - já é o primeiro maravilhamento. Se reterritorializam, saindo da Mágica e voltando ao mundo-realidade (se dá o encanto). De repente percebem que estavam em outro lugar realmente, diferente do comum – MÁGICA! O detalhe mais legal é que esta outra dimensão existe dentro das nos-sas cabeças. Está aí! O principal material de trabalho do Mágico não são as cartas, moedas, bolinhas, caixas... O Mágico estuda a mente das pessoas e faz você viajar pela sua própria mente. O mágico, antes de lidar com ma-teriais, lida com pessoas! Com as mentes das pessoas! Em outras palavras, para o Mágico, a Mágica é, antes de ser um exercício técnico, um exercício mental, intelectual.

O Mágico trabalha com certas “brechas” da nossa cultura, do nosso conhecimento, das nossas mentes. O Mágico usa coisas gerais, obviedades,

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para criar efeitos Mágicos. Por exemplo: Se eu mostro uma caixinha de baralho, o que é isto? Uma caixinha de baralho! Certo? E o que tem dentro dela? Um baralho! Ok! Mas porque? E se eu não quiser? E se eu quiser que tenha moedas? Este é um pequeno e simples exemplo de como nossas mentes pen-sam de forma parecida e o Mágico pode brincar com isso. Isto é Semiótico: Signos. Você vê este objeto, feito com este material e neste formato e alguns desenhos nele (Primeiridade); você reconhece esta forma e desenho e algo se passa, você sente algo em relação ao objeto (Segundidade); e relaciona o for-mato, tamanho e desenhos com uma outra coisa que você conhece – Caixi-nha de Baralho (Terceiridade). Isto te leva para outro símbolo: Caixinha de baralho, só pode ter... Baralho! Óbvio... (para quem conhece baralho. Se você tentar fazer isto com um nativo indígena, provavelmente ele não conhecerá um baralho, portanto este exemplo não serve. ) Isto também deixa claro que as pessoas mais inteligentes/informadas são as mais fáceis de serem iludidas! (ao contrário do que muitas pessoas pensam). Exatamente porque possuem um repertório maior, e conseqüen-temente, "mais brechas e pontas soltas " a serem exploradas pelo Mágico. Ele trabalha com isto o tempo todo: utiliza o que é óbvio para as pessoas (de um determinado grupo), e as distorce, ou trabalha em um nível ou camada abaixo desta obviedade...é invisível... utiliza esta obviedade para mascarar, encobrir seu trabalho, seu segredo, fazer a surpresa, criando a Mágica.

Há momentos, entretanto, em que esse estado duplo de uma mesma consciência torna-se dominante e proeminente. Então, a descrição de seus caracteres aparece-nos de modo mais preci-so. São os estados de choque, surpresa, luta e conflito profundo que acompanham todas as percepções inesperadas. Esperávamos uma coisa ou passivamente a tomávamos como garantida, tínhamos a imagem dela em nossas mentes, mas a

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experiência, intrusa e forasteira, brutalmente empurra aquela idéia para o fundo e nos impele a pensar de modo diferente. (SANTAELLA, 1983, pág. 49)

Transportando isto para o Design: nós tentamos mudar o significado e a relação das coisas; trabalhamos com coisas óbvias e as modificamos. Mas para fazer isto, acho que o interessante é tentar detectar o que é óbvio, para possamos trabalhar nele, modificá-lo, trabalhar na “brecha”, no entre das coisas e da mente das pessoas.

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O Produto/Atualização do Desejo

"...creio que para saber de felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe os homens." (NIETZSCHE, 1999, pág. 49)

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Todos estes pensamentos, inquietações e desejos se atualizam neste momento em forma de uma apresentação de mágica ao vivo.

Poderia ter escolhido exibí-la em vídeo, porém é importante para este Projeto que fosse desta forma, por ser mais emocionante (para quem apresenta e para quem assiste), pelas imensas possibilidades "outras", pela interação já comentada anteriormente, e principalmente por uma simples apresentação ao vivo ter e fazer relações ainda maiores que eu pretendia alcançar entre o Design e a Mágica. Desta forma, acontece uma TAZ (Zôna Autônoma Temporária), que toca no ponto importante da vivência/experimentação, já comentado anteriormente.

A TAZ é 'utópica' no sentido que imagina uma intensificação da vida cotidiana ou, como diriam os surrealistas, a penetração do Maravilhoso na vida. Mas não pode ser utópica no sentido literal do termo, sem local, ou 'lugar do lugar nenhum'. A TAZ existe em algum lugar. (BEY, 2001, p. 35)

Pessoas se reunirão para assistir a um evento (apresentação de TCCs, neste caso). Haverão muitos e diversificados encontros. Também é possível observar uma harmonia entre Mágico-público e público-público. O que o Mágico faz afetará diretamente o público de forma intensa, com os efeitos acontecendo "na cara" do espectador e as reações do público afetaram o Mágico... e também o próprio público... a puxada de aplauso, o riso, o es-panto... todos no local (por mais que cada um sinta e interprete cada efeito ao seu modo) estarão em harmonia por causa de um pequeno evento.

Para desenvolver/produzir este objeto, comecei com os questionamen-tos relatados anteriormente: como fazer da Mágica um Projeto de Design, que afete profundamente as pessoas, as alegre?! E como colocar Mágica

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num projeto de Design?! Já tinha o "como" fazer. E à procura do "o que" fazer, me lembrei (como também relatado) do texto O Brinquedo. Unindo estas idéias com as per-cepções minhas e de algumas pessoas sobre o Mágico, o Feiticeiro, o Bruxo e o Mago, começava a traçar o número. Iniciei o roteiro da apresentação. Sem dúvida uma das partes mais difíceis e demoradas do meu trabalho. Exatamente a parte da criação. A conexão entre todas as idéias e elementos, as decisões de quais elementos e brinquedos usar. Apesar de querer fazer um trabalho que contivesse todos meus senti-mentos, conhecimentos, desejos, etc, Deleuze diz que não se deve fazer um trabalho que fale do seu particular, ou seja, eu não poderia falar da "minha" infância, ou dos "meus" sonhos, mas de infância, de sonhos, de desejos. Idéias gerais, desejos de todos. Do que um Mágico (se este fosse de verdade) poderia fazer em relação à eles.

O Corpo sem Órgãos é bloco de infância, devir, o contrário da recordação de infância. Ele não é criança "antes" do adulto, nem "mãe" "antes" da criança: ele é a estrita contemporanei-dade do adulto, da criança e do adulto, seu mapa de densida-des e intensidades comparadas, e todas as variações sobre este mapa. O CsO é precisamente este germe intenso onde não há e não pode existir nem pais nem filhos (representação orgânica). (DELEUZE e GUATTARI, 2000, V. 3, p. 26)

"(...) devir não é imitar algo ou alguém, identificar-se com ele. Tampouco é proporcionar relações formais. Nenhuma dessas duas figuras de analogia convém ao devir, nem a imitação de um sujeito, nem a proporcionalidade de uma forma. Devir é, a partir das formas que se tem, do sujeito que se é, dos órgãos que

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se possui ou das funções que se preenche, extrair partículas, en-tre as quais instauramos relações de movimento e repouso, de velocidade e lentidão, as mais próximas daquilo que estamos em vias de nos tornarmos, e através das quais nos tornamos. É nesse sentido que o devir é o processo do desejo. Esse princípio de proximidade ou de aproximação é inteiramente particular, e não reintroduz analogia alguma. Ele indica o mais rigorosa-mente possível uma zona de vizinhança ou de co-presença de uma partícula, o movimento que toma toda partícula quando entra nessa zona. (DELEUZE e GUATTARI, 2000, V. 4, p. 55)

E se pensarmos semióticamente, o que para mim seria objeto de en-canto, poderia não significar nada para o público (o que esbarraria em um dos pontos importantes do projeto). Com a mágica, pretendo atingir a to-dos, cada qual do seu jeito, dentro da sua idade/cognição, repertório, mo-mento, etc. Como estes elementos gerais, elegi objetos que todos nós brincamos alguma vez na vida e que os mágicos em geral estão acostumados a lidar: cartas de baralho/castelo de cartas, bolhas de sabão/bolinhas; tecidos/ba-lão; pedaços de madeira e papel, etc. Todos temos uma relação afetiva bem próxima com todos estes elementos e nesta atualização do Projeto tento mostrar um pouco de realizações de sonhos e desejos que tínhamos/temos através da Mágica. Neste momento consegui pensar em praticamente todos os efeitos que eu iria realizar (o que o público vê), e também as técnicas para torná-los possíveis (o que o público não vê). Depois disso, precisava definir o que seria "a cena", como fazer para dar sentido à todos os elementos/efeitos. Tendo reunidos elementos e sonhos de infância, cheguei a conclusão que teria que ser o local onde a maioria das pessoas passam boa parte da infância (pra não dizer de toda a vida): o pró-

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prio quarto! É ali que brincamos, imaginamos, sonhamos. É nosso espaço da casa, talvez o mais íntimo e pessoal de todos. Mas este não seria um quarto comum, ou "o meu" quarto... mas o quarto de um mágico/bruxo. Portanto, a cena seria um mágico entrando no próprio quarto, manipulando seus objetos e transformando pequenas imaginações em Mágica. Agora eu precisava de 2 elementos: um aparador para guardar e re-tirar os objetos, e um aparador para os pombos. O que pensei que seria mais próximo e que poderia causar mais aproximação com o público era um baú antigo (como um baú que passa de geração em geração de mági-cos) e uma árvore sem folhas, no meio do quarto (confesso que fui bastante influenciado pelo programa Castelo Ra-tim-bum, TV Cultura, 1994). Com estes elementos, já tinha conexões importantes entre objetos-mágico-mago-público. (Não descreverei o roteiro aqui para não estragar a "surpresa" tão im-portante na mágica) Desenvolvido o roteiro (que por vezes foi alterado para melhor, o que não acontece comumente), tinha que produzir os materiais. Infelizmente não se acham baús do tamanho que eu precisava, e nem com o visual que eu queria (muito menos árvores secas). Mandar fabricá-los seria difícil, já que seria impossível explicar exatamente como eu queria e o profissional conse-guir fazer, além de não querer ter que depender de alguém. Resolvi fazer eu mesmo. E como o que queria fazer não existia, foi criado ou desenvolvido, além do baú e pedestal para os pombos, produzi a maioria dos materiais/objetos utilizados no número: máscaras, copo para bolhas de sabão, vari-nha mágica (esta com aspecto de bruxo), além de outros elementos secretos e invisíveis ao público. Esta fase, apesar de demorada (e dolorida) foi muito divertida e se encaixa na idéia do conhecimento panorâmico e que o Desig-ner tem que ter o domínio de tudo.

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A próxima fase são os testes e treinamentos! Organizar, sincronizar, adicionar elementos de interpretação, etc, etc. Feito isso, e ainda não totalmente treinado, adicionar música. Com ela sincronizada, partimos para o treinamento propriamente dito. E depois de muito treinar, a apresentação. Uma das coisas mais fascinantes neste projeto, é que esta fase (esta atualização... porque depois este número vai evoluir), não termina agora que escrevo este texto, ou quando estiver bem treinado, mas se "fecha" o ciclo na apresentação. Só com a apresentação e com o público será possível concluir esta fase. O público será o último "elemento mágico" nesta poção, neste encantamento... o elemento chave.

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A Grande sacada/O pulo do gato/ A grande

descoberta

"... deveis ser para mim criadores e educadores - semeadores do futuro..." (NIETZSCHE, 1999, pág. 175)

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Já faço Mágica há 10 anos. Mas ainda não me sinto um grande Má-gico. Acho que estou no caminho... chegando perto, mas ainda não.

E acho que estou perto não porque sei tais truques, ou faço tais coisas. Acho que estou perto porque SINTO isto. Com isso eu concluo que nada vai fazer você ser um mágico (ou Designer). Os livros, eventos, aulas, etc... vão te aju-dar, claro! Mas isto não fará de você Mágico, nem Designer. Você só vai se tornar um de verdade “sozinho”. Digo entre aspas porque não é realmente sozinho, claro. Todas as informações e experiências te ajudarão (vide minha experiência com Átila, Rosi e Dorival). Mas você só vai ser um mesmo quan-do algo surgir dentro de você. Quando você REALMENTE SENTIR. “De re-pente” você sente que é um Mágico ou Designer de verdade. “De repente” também entre aspas porque este é um processo bastante longo, mas cujo resultado, o sentimento, PARECE chegar da noite para o dia. Você descobre a “sua pegada”, o seu “pulo do gato”, o Mágico ou o Designer , ou, qual seu jeito de fazer... quem é você na Mágica ou no Design.

Pensando desta forma, isto me leva a pensar outra coisa importan-te. Se eu perguntar a você, por exemplo, quem é seu(a) melhor amigo(a)? E como ele(a) é? Você certamente fará uma lista de suas características, um relato de sua vida, etc. Agora, se eu perguntar “quem é VOCÊ?” Muito provavelmente você terá grandes dificuldades de responder. Olha que coisa absurda: nós sabemos quem são os outros (ou pelo menos supostamente sabemos), mas não sabemos direito quem somos nós mesmos! Uma boa e grande questão para se pensar. Talvez a grande dificuldade (ou pelo menos uma das maiores) para se encontrar o pulo do gato ou a sua Mágica ou seu Design esteja aí: saber quem é você. Digo isto também porque, como falei, acho (ACHO!) que estou quase sendo um Mágico... e coincidência ou não, estou descobrindo “quem sou eu”, ou seja, a forma que mais gosto de tra-balhar, o que quero fazer, a forma mais legal de fazer para mim... Não que devamos definir: sou assim e pronto! (de forma fechada). Mas acho impor-

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tante sabermos nos situar no mundo, nos entender mesmo. Pensem em quem você é. Talvez te traga boas respostas...

Fico triste por saber que muito em breve, muito do que escrevi aqui estará defasado... já terei mudado bastante de idéia sobre muitas dessas coisas. Mas ficarei imensamente feliz, por saber que terei evoluído.

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Bibliografia

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TAMARIZ, Juan. Los Cinco Puntos Mágicos.

TOLKIEN, J. R. R.. Senhor dos Anéis, vol. 1 a 3. São Paulo: Martins Fontes, 2000 a 2002

VALÉRY, Paul. Introdução ao Método de Leonardo da Vinci. São Pau-lo: Editora 34, 1998.

Filmes:

A viagem de Chihiro. Direção: Hayao Miyazaki. Studio Ghibli. Japão: 2001.

L’abécedaire de Gilles Deleuze Avec Claire Parnet. Direção: Pierre-An-

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dré. Boutang, Paris: Video Editions Montparnasse, 1996. L'illusionniste. Direção: Sylvain Chomet. PlayArte. Reino Unido/Fran-ça: 2010 MirrorMask. Direção: Dave McKean. Roteiro: Neil Gaiman e Dave McKean. Sony Pictures. Inglaterra: 2005

O Castelo Animado. Direção: Hayao Miyazaki. Studio Ghibli. Japão: 2004

DVDs

Behind The Seams. Tony Clark. Butterfly Blizzard. Jeff McBride

Complete Course in Dove Magic. Greg Frewin.

Manipulação com Pombos . Ângelo Mágico Technical Dove Tosses. Dan Sperry

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Internet:

Dicionário Aulete digital. Disponível em < http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital>

Dicionário Houaiss digital. Disponível em < http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=arte&x=0&y=0&stype=k> Acesso em 23/03/2001 História da Arte. Disponível em <http://www.historiadaarte.com.br/introducao.htm>. Acesso em: 23/03/2001

Lance Burton. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=cAWhxXBZ2bw> Data de aces-so: 03/06/2011

Tommy Wonder. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=HFqLvPaQOsQ&playnext=1&list=PL629C95D1185713BC> < http://www.youtube.com/watch?v=MJ6qT8JvaMY> < http://www.youtube.com/watch?v=IHcJ4XseX0c> Data de acesso: 03/06/2011

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