Cumprir BissauRelatório do IICTsobre ODM/CPLP

Jorge Braga de Macedo (coordenador), Luís Brites Pereira, João Tovar Jalles, Joaquim Pina

5 de Junho, 2008 – Centro de Congressos de Lisboa:“Dias do Desenvolvimento”

Nota PréviaEstá a ser avaliada pelas capitais a versão de Cumprir Bissau entregue à CPLP em Agosto de 2007 para corresponder à iniciativa da presidência guineense. O primeiro estudo comparativo do cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio na CPLP procura aumentar o conhecimento mútuo dos países membros no que se refere ao passado, presente e futuro nacionais.Mais conhecimento mútuo, estatístico e não só, apura o debate de estratégias para o desenvolvimento humano.

EnquadramentoÀ taxa de progresso registada desde 1990, a proporção da população mundial que vive com menos de um dólar por dia terádiminuído para metade em 2015, cumprindo o primeiro indicador do primeiro ODM.

O dinamismo da China e Índia, com peso elevado na população mundial, é suficiente para compensar o de outras economias com baixo produto per capita e fraca governação – onde é necessária uma mudança profunda ao nível de investimentos locais, regionais e nacionais.

O estudo revela que os países da CPLP continuam a apresentar falhas no cumprimento de algumas metas: mortalidade infantil, prevalência de HIV, acesso a água e saneamento básico, entre outras.

A métrica a usar para Portugal, como membro da EU e Comité de Apoio ao Desenvolvimento, não é os ODM mas isso não impede situações de pobreza relativa.

Fichas por país mostram diversidadePara além da especificidade portuguesa, o estudo procura avaliar o progresso dos ODM:

sugerindo ainda os obstáculos de governação ao seu cumprimento;confirmando a pobreza como problemática transversal e multidimensional a todos os ODM, interligando-se com a exclusão e direitos sociais.

O facto marcante no combate à pobreza na CPLP é a diversidade das situações:

Brasil com potencial económico incomparavelmente elevado no conjunto;Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe com situações muito diversas entre si, todas porém de difícil resolução; Timor-Leste apresenta particularidades relacionadas com a estabilidade social e económica e consolidação da integração regional.

Declaração de Bissau sobre ODMEsta diversidade essencial torna mais difícil que os oito cheguem a posições comuns sobre a agenda global do desenvolvimento. Tal é o objectivo, a que se pode chamar “lusofonia global” à falta de melhor expressão, da declaração de Bissau sobre os ODM, aprovada na Cimeira do 10º aniversário.O receio de que a dimensão económica arrastasse expectativas de ajuda pública ao desenvolvimento por parte dos dois países mais avançados levou a que cooperação empresarial só se concretizasse em 2003, datando do ano seguinte a escritura constitutiva do Conselho Empresarial.

Declaração de Bissau sobre ODMA declaração de Bissau visa um acompanhamento do progresso no que toca aos ODM, nomeadamente os 6 primeiros, considerados como concretizando o desenvolvimento sustentável enunciado no 7º. Do texto da declaração ressalta ainda a filosofia subjacente a uma ”genuína parceria para o desenvolvimento, em que doadores e receptores actuem sob o compromisso de atingir de facto as metas estabelecidas pela Declaração do Milénio”. Trata-se do 8º ODM que visa criar uma parceria global para o desenvolvimento de forma a poder erradicar a pobreza através da prossecução de políticas apropriadas a nível nacional e internacional. Para enquadrar o estudo de metas dos ODM 1 e 7, convém recordar a interacção entre globalização e governação (detalhe no anexo 2).

Globalização e Governação (G&G)A facilidade da comunicação entre pessoas e empresas a nível global ilustra a aceleração da interdependência, ou sensibilidade, das economias nacionais entre si (Cooper 1964). Há globalização “a menos” e não “a mais” (Cohen 2004)Desde o verão aumentou - e muito - a incerteza acerca da resiliência da economia mundial. O próprio papel da OCDE frente aos BRIC se tornou controverso, tal como a tensão que a anunciada recessão americana provoca na Europa e no Japão. Parece que a insegurança económica e financeira se jájuntou à divergência política. A perspectiva da interacção entre G&G, já promovida em OCDE (2003), foi explorada pela FEUNL através de um centro de estudos interdisciplinares (CG&G) que colabora com o IICT.

NEPAD & APRMA Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD), depois articulada com a União Africana, criou em Maio de 2003 um mecanismo de avaliação pelos pares (APRM), inspirado nos da OCDE e da União Europeia.APRM avalia os aspectos de governação políticos, económicos e institucionais através de 93 indicadores nas 4 sub-áreas da governação, incluindo:

Direitos políticos e eficácia institucional (o funcionamento dos poderes legislativo, judicial e executivo, bem como o sector não-governamental);Gestão económica (gestão macroeconómica, gestão financeira pública e transparência e responsabilidade financeira e monetária, sistemas de contabilidade e de auditoria e revisão regulamentar; e Governação das empresas.

1-33Fórum da CPLP

5 de Junho 2008

Luís Brites Pereira e João Tovar Jalles

NEPAD & APRMAPRM é visto como “um sistema de auto-avaliação voluntário e diálogo construtivo e pressão dos pares”; tem como objectivo a garantia de cumprimento de valores, códigos e padrões acordados sobre a governação política e económica. 27 PAÍSES Assinaram o Memorando de Entendimento (MOU): África do Sul, Argélia, Angola, Benin, BurkinaFaso, Camarões, Congo-B, Djibuti, Egipto, Etiópia, Gana, Gabão, Lesoto, Malawi, Mali, Maurícias, Moçambique, Nigéria, Quénia, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Sudão, Tanzânia, Uganda, Zâmbia.A apreciação de Gana, Ruanda, África do Sul e Argélia foram sucessivamente publicadas entre Junho de 2005 e Julho de 2007.

1-33Fórum da CPLP

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NEPAD & APRMEste fórum que fala com uma voz africana às nações africanas mas deve satisfazer os três critérios de competência, independência and concorrência (RaviKanbur, 2004). O sucesso do APRM depende das sementes da avaliação de um país caírem no solo fértil do diálogo levado a cabo pela sociedade civil vibrante desse país. APRM tem sido lento e pesado demais. Com o envolvimento da Comissão Económica das Nações Unidas para África, espera-se que o ritmo acelere. Melhores ligações com outros procedimentos de vigilância multilateral (IMF, OECD and EU) também poderiam ajudar.O Africa Partnership Forum, lançado em Paris em 2003 e apoiado na OCDE e no NEPAD, teve presidência conjunta da Rússia e Nigéria em 2006, da Alemanha e Argélia em 2007. A sua 10ª reunião foi no Japão, antes da Cimeira do G8 e da TICAD IV (Maio de 2008). 1-33

Fórum da CPLP

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Indicadores de Boa GovernaçãoApesar das suas deficiências, indicadores de boa governação como os do Instituto do Banco Mundial tornaram-se usuais na afectação da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD).

O estudo regista valores centrados em zero estimados de acordo com uma curva normal (muito poucos terão um valor absoluto superior a 2,5), nomeadamente:

Liberdade e Responsabilidade (L R)Estabilidade e Ausência de Violência (E AV)Eficácia Governamental (G)Qualidade da Regulamentação (R)Qualidade do Funcionamento da Justiça (J)Controle da Corrupção (C)

Uso dos indicadoresAlém da APD, os indicadores de governação foram usados para avaliar “Estados frágeis” num relatório ao Congresso americano preparado pelo Center for Global Development, (um think-tank de Washington) numa perspectiva próxima da do Millennium ChallengeAccount .

Os 6 países lusófonos classificados como frágeis são menos seguros e capazes do que a média, mas mais legítimos, o que reforça o papel da CPLP.

Mesmo que a maior legitimidade se não possa necessariamente atribuir à concertação político-diplomática que a CPLP levou a cabo nalguns desses países, o resultado reforça a organização como forma de aumentar o conhecimento mútuo dos seus membros, como desejado na Declaração de Bissau.

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Limitações dos IndicadoresDifícil interpretar mudanças nos indicadores e atribuir resultados a políticas concretas;

Boa governação reflecte não só as várias instituições mas também as envolventes nacional, regional e internacional;

os 6 indicadores são medidas agregadas; em alguns casos pode ser mais útil examinar dados desagregados/muito específicos;escassez de informação no domínio temporalestimativas pontuais, ignoram os respectivos desvios-padrão

Análise por país e indicador face à região de referência em 2006Grupos de referência:Brasil - BRIC; PALOP- África SubSahariana; Timor Leste - Ásia e Pacífico;Portugal – Europa

Abaixo

Acima

Positivo

LR

EAV

G R J

Portugal

C

Brasil

Angola

Cabo Verde

Guiné-Bissau

Moçambique

S. Tomé e Príncipe

Timor-Leste

Evolução por país e indicador desde 2000

ΔP<0&> ΔR

ΔP>0&> ΔR

ΔP>0&< ΔR

ΔP<0&< ΔR

LR

EAV

G R J

Timor-Leste

C

Brasil

Angola

Cabo Verde

Guiné-Bissau

Moçambique

S. Tomé e Príncipe

Portugal

Agrupando e comparando indicadores de Governação

Banco MundialEstabilidade política, ou ausência de violência e responsabilização dos governantes, denotando a forma como os governos são seleccionados e substituídos, incluindo a independência dos meios de comunicação (E AV). Capacidade do governo e dos serviços públicos, ou qualidade da regulação, como demonstração da capacidade de prover às necessidades básicas (muitas vezes é capturado pela percentagem de vacinados contra a rubéola, MCV- G, R) Legitimidade, estado de direito, liberdade de imprensa (L R, J e C).

Indicadores de liberdade e qualidade económica (Heritage Foundation e Wall Street Journal)

Negócio (N)Investimento (I)Financiamento (F)Política fiscal (T)Despesa pública (D)Política monetária e preços (M P)

Evolução por país e indicador 2000/06

N I F T D

Moçambique

MP

Brasil

Angola

Cabo Verde

Guiné-Bissau

Portugal

Abaixo

Acima

< 50

Governação e ODMsLR, EAV, J e C são base para todos os ODMs(na verdade como qualquer indicador de governação)ODM1 e ODM7 LR, G e RODM2 e 4 a 6 G e RODM3 LREm suma:

Os indicadores “Eficácia Governamental (G) e Qualidade da Regulamentação (R)” podem ser relevantes na consecução dos ODMs, em particular os ODM4, ODM5 e ODM6, além do ODM2

Medologia para medir progresso nos ODM 1-7 e Indicadores de Governação

ODMsA análise efectuada é baseada na base de dados dos indicadores dos ODM mantida pelas Nações Unidas, mais especificamente pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais (DESA). Os resultados obtidos devem ser interpretados com considerável circunspecção. As definições de dados e métodos de recolha dos mesmos podem diferir entre países. Procedimentos de estimação:

Indicadores sobre pobreza, taxas de inscrição, igualdade de géneros, taxas de mortalidade e acesso a água e saneamento que são expressos através de metas quantitativas;Para os restantes indicadores, não existe uma meta quantitativa definida, logo não se pode calcular uma taxa requerida de variação.

GOVERNAÇÃOForam utilizadas as estimativas pontuais para cada indicador do BancoMundial e comparadas directamente, sem teste estatísco (por ausência de dados suficientes); as estimativas pontuais são centradas em zero e obtidas de acordo com uma curva normal (raramente se observam valores além de |2.5|).Os indicadores de liberdade económica da Heritage Foundation e do Wall Street Journal foram tomados no seu valor pontual e comparados semteste estatístico (por ausência de dados suficientes); os valores pontuaissituam-se entre 0 e 100.

Críticas e uma nova iniciativaO Center for Global Development critica os ODM, argumentando que os países pobres não precisam da parte dos ricos de anúncios espectaculares, emocionais, moralísticos e centralizados, tipo big bang mas de um compromisso amplo, sustentado e moderado. A ajuda para ser efectiva deve ser dramaticamente melhorada: mau grado inovações como Global HealthFund ou Millennium Challenge Account, precisamos de muito mais experimentação e avaliação antes de aumentar a respectiva escala (scaling up). Deve ir-se para além da ajuda,

investindo em tecnologias chave como as vacinas, abrindo os nossos mercados, encontrando arranjos criativos para a mobilidade do trabalho (win-win) e outras avenidas para apoiar os esforços em curso nos próprios países pobres.

O Prof Contzen falará agora sobre uma nova iniciativa.

Anexo 1: Medologia para medirprogresso nos ODM 1-7 (cont.)

A taxa de variação histórica é estimada através de uma regressão de mínimos quadrados da forma:

onde X é o valor do indicador, t é o tempo e a e b os parâmetros a estimar. A taxa de variação estimada r éobtida como:

onde é a estimativa de b.

Para países não classificados como “cumpridores precoces” a taxa de variação/alteração necessária r* écalculada como

onde é o valor da meta e T o ano da última observação. Para “cumpridores precoces” r* é zero.

Anexo 1: Medologia para medirprogresso nos ODM 1-7 (cont.)

Para cada ODM no qual a meta definida é quantitativa o relatório apresenta um par de gráficos.

O gráfico da esquerda mostra no eixo vertical a posição actual de cada país para esse indicador e no eixo horizontal a distância para o seu valor alvo. O valor no eixo horizontal é assim o valor actual (baseado na informação mais recente disponível) menos o valor alvo, expresso em pontos percentuais ou na medida apropriada. Se este número é positivo o país ultrapassou a meta e éum “cumpridor precoce”.

O gráfico direito oferece mais informação nos países não considerados “cumpridores precoces”, logo neste caso analisa-se quão rápido cada situação particular está a mudar. O eixo vertical diz respeito à taxa actual de alteração anual de cada país. O eixo horizontal indica como a taxa de alteração anual se compara com a taxa necessária para atingir a meta em 2015. O termo “índice de progresso” é simplesmente a taxa actual dividida pela taxa desejada.

Com esta base, para cada indicador, os países são classificados nas seguintes categorias:

1. o índice de progresso é maior que 1 – “bem encaminhados”;2. o índice de progresso é positivo mas menor que 1 - ”satisfatórios”;3. o índice de progresso é negativo ou zero - “não satisfatórios”.

Anexo 2: Dados preliminares sobreODM 1-7

ODM 1: Erradicar a pobrezaextrema e fome

Assegurar que todos têm recursos básicos quenecessitam, com rendimento suficiente para uma vidaprodutiva, saudável e bem-estar torna os países maiscapazes de atingir os restantes ODM.

ODM 2: Atingir Educação PrimáriaUniversal

Existem três indicadores: o rácio de inscrição líquido, a proporção de crianças que começa um ano e chega ao quinto ano de escolaridade, e a proporção de crianças que completa um ciclo de educação primária.Mas porque têm alguns países melhor prestação que outros no que toca àeducação?

Maior rendimento per capitaMaior despesa do governo em educaçãoMaior taxa de literacia de mulheres adultasMenor proporção da população ruralMaior proporção de mulheres em empregos assalariados

.

ODM 3: Promover a Igualdade de Géneros e dar poder à Mulher

A Cimeira do Milénio procurou não só assegurar a paridade no acesso a profissõescomo também aumentar o seu poder nas famílias e suas comunidades. As metaspara este objectivo, no entanto, restritas à inscrição educacional.

Esta é uma das áreas mais bem sucedidas para o conjunto dos países da CPLP. Os principais desafios neste campo são reduzir a desigualdade de género de carizgeográfico, eliminar as desigualdades de género no ensino primário e secundário e alcançar até 2015 a igualdade entre sexos na educação.

ODM 4: Reduzir a mortalidadeinfantil

A taxa de sobrevivência das crianças com menos de um ano depende do reforço do sistema de imunizaçãogeral e do controlo mais apertado das doenças.

ODM 5: Melhorar a Saúde MaternaUm claro sinal de discriminação contra as mulheres é a baixa prioridade em muitos países para garantir a saúde materna. Uma das dificuldades em analisar esteindicador diz respeito à falta de estatísticas fiáveis.

ODM 6: Combater o HIV/SIDA, malária e outras doenças

Não existem metas numéricas mas alguns países definiram um número alvo a atingir em 2015.

A malária continua um grave problema, com um ressurgimento emalguns países já que os mosquitos desenvolveram uma resistênciasuperior ao DDT e outros insecticidas.A tuberculose continua uma preocupação, mas a ausência de dados impossibilita análise de tendências futuras.

ODM 7: Promover o desenvolvimento Sustentável

Este objectivo reflecte a relação crítica entre as pessoas e o seu ambiente. A primeira meta diz respeito à conservação e desenvolvimento ambiental, assim comoa preservação dos recursos e manutenção da biodiversidade. As outras metasreferem-se ao fornecimento adequado de água potável e saneamento.

O conjunto dos sete países da CPLP está bem dotado de recursos de água, no entanto, milhares de pessoas não têm acesso a fontes de água limpa e segura. Estas pressões irão aumentar com a expansão da população e aumento da procurapela indústria e agricultura