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Relatório de Pesquisa Ictiofauna Pesca Artesanal Projeto Casa da Virada Mata Amazônica Atlântica Belém setembro de 2013 Desenvolvimento Local e Áreas Protegidas Rua Ó de Almeida, 1083 | CEP: 66053-190 | Belém, Pará, Brasil F +55 91 3222 6000 | [email protected] | www.peabiru.org.br

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Relatório de Pesquisa Ictiofauna – Pesca Artesanal

Projeto Casa da Virada Mata Amazônica Atlântica

Belém – setembro de 2013

Desenvolvimento Local e Áreas Protegidas

Rua Ó de Almeida, 1083 | CEP: 66053-190 | Belém, Pará, Brasil F +55 91 3222 6000 | [email protected] | www.peabiru.org.br

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Relatório Final de Pesquisa

Indicadores de Produtividade Pesqueira através da Pesca Artesanal no Estuário do Rio Curuçá – Fase II (2012-2013)

Belém-PA

Abril-2013

Rua Ó de Almeida, 1083 66053-190 Belém PA T (91) 3226000 www.peabiru.org.br

Diretor Geral:

João Meirelles Filho – [email protected]

Coordenador Geral:

Richardson Ferreira Frazão – [email protected]

Coordenador e Responsável pela pesquisa:

Breno Barros - [email protected]

Período da pesquisa:

Outubro 2012 – Março 2013

Área de abrangência:

Município de Curuçá-PA

Palavras chaves:

Produção pesqueira – Pesca artesanal – Ictiofauna – Mudanças Sazonais.

Equipe de Campo:

Breno Barros; Laís Araújo; Renan Reis; Charles Mendes Cardoso

Fotografias:

Breno Barros

*O conteúdo deste relatório é de responsabilidade de seus autores

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Indicadores de Produtividade Pesqueira através da Pesca Artesanal no Estuário do Rio Curuçá

– Fase II (2012-2013)

Breno Barros

Universidade Federal do Pará – Campus de Bragança

Instituto de Estudos Costeiros (IECOS)

Introdução

A microrregião ou zona do salgado, localizada no NE do Estado do Pará, entre a Costa

Atlântica e a região Bragantina, está ocupada desde os primórdios da colonização Amazônica, e

constituem as regiões com maior densidade demográfica de toda a Amazônia. Indicadores de impactos

demonstram que a costa e, em particular, alguns ambientes mais sensíveis como os manguezais e as

restingas podem estar passando por profundas e indesejáveis modificações devido a agressões

ambientais e usos inadequados de seus recursos naturais ambientais (Almeida 1996, Barletta et al.

2010). Medidas de correção e vigilância ambiental devem ser tomadas sob pena da degradação

ambiental e da escassez de recursos naturais inviabilizarem a sustentabilidade dos povos da costa

atlântica paraense (Barros et al. 2011).

A conquista de novos mercados para os recursos pesqueiros tem produzido forte pressão sobre

os estoques de peixes e crustáceos, reduzindo a níveis críticos, embora algumas medidas como o

estabelecimento de reservas extrativistas marinhas, o macrozoneamento do Estado do Pará e a adoção

de medidas de defeso das espécies nas épocas de reprodução, possam de alguma forma auxiliar

eficazmente na proteção desses recursos (Furtado, 1987).

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Comunidades biológicas refletem as condições e integridade dos corpo d’água, uma vez

que elas são sensíveis a diversos fatores ambientais (Karr, 1981). Neste contexto, os peixes constituem

uma importante ferramenta enquanto indicadores biológicos em programas de monitoramento, devido:

1) à história natural de boa parte dos grupos recentes ser razoavelmente conhecida; 2) dependendo da

espécie, ocupam diversos níveis tróficos, desde herbívoros e onívoros a carnívoros especialistas em

determinados tipos de presa; 3) à relativa facilidade em identificar os diversos grupos; 4) a relativa

facilidade de o público geral assimilar possíveis resultados de pesquisas de monitoramento, uma vez

que os estoques possuem grande importância enquanto fonte protéica para as diversas comunidades

humanas dependentes destes estoques (Karr, 1981; Nelson, 2006). Apesar da importância do tema ser

considerada esporadicamente na literatura há no mínimo 30 anos, a disponibilidade de trabalhos ainda

segue bastante escassa (Marques et al. 2012). Nos últimos anos, diversos autores abordaram novas

metodologias para monitoramento e assessoria de índices bióticos e ecológicos em áreas de estuário,

desde a utilização de peixes juvenis até parasitas de peixes estuarinos (Barros et al. 2011, Costa et al.

2012, Ellis et al. 2012, Ramos et al. 2012).

O presente estudo propõe a continuidade do monitoramento iniciado quando da primeira

fase do projeto, em 2008, para que se possa acompanhar em tempo real as possíveis mudanças na

ictiofauna, e consequentemente na produção pesqueira artesanal, através de comparações in loco

estabelecidas através de índices ecológicos aplicáveis à ictiofauna explotada nas atividades de pesca

artesanal no estuário do Rio Curuçá.

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Material e Métodos

Sete campanhas de amostragens diárias foram realizadas até o presente momento, todas

durante o período seco, entre Outubro/2012 e Março/2013. Compreendendo 09 trechos amostrais cada,

respectivamente: Pacamum-Iteua (S 00o 39.004' W 47o 51.788'), Barreira (S 00o 32.263’ W 047o

50.773’), Ilhinha (S 00o 37,893' H 047o 50.874'), furo do Ipomonga (S 00o 08.905' W 047o 51.249'),

Enseada (S 00o 38.997’ W 047o 53.358’), Iriteua (S 00 o 38.777' W 047o 53.920'), Furo da Ostra (S

00º38'59.5", W 047º53'22.9") e furo do cachimbão (S 00º36'00.0", W 047º54'16.9") (Fig. 01),

obedecendo um gradiente latitudinal entre os trechos mais à jusante e mais à vasante do estuário. Cada

sessão amostral durou o tempo de um ciclo de maré, iniciando-se na preamar, até a próxima preamar,

doze horas depois. Cada esforço de coleta se deu em uma maré determinada: preamar, vazante,

baixamar e enchente, para cada trecho respectivo, em cada sessão de amostragem.

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Fig. 01 - Mapa do Estuário do Rio Curuçá mostrando os pontos amostrados durante as

atividades de coleta durante a época seca (Set-Dez 2012).

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Para captura das amostras, utilizou-se de uma embarcação de práticas, movida a remo,

empregada como embarcação redeira durante as manobras de coleta; e outra embarcação piloto,

movida a motor de rabeta de 8Hp, rebocando a primeira até os pontos de coleta referidos acima. Para

coleta das amostras, utilizou-se rede de captura com malha de 35mm, medindo 400x2m, uma tarrafa

grande com malha de 25mm, e outra tarrafa média com malha de 20mm.

Em cada esforço de coleta, foram empregadas quatro técnicas de captura, detalhadas a

seguir (Fig. 02):

1 – Bubuia – Consiste em pesca superficial, tendo como alvo as espécies que habitam próximo à

superfície da água, como tainhas (Mugil curema) e pratiqueiras (Mugil incilis). Arma-se a rede no

meio do canal, principalmente durante as marés vazante e enchente, quando os cardumes adentram o

estuário;

2 – Camboua – Técnica de pesca empregada junto à margem, em que a rede é armada próxima a

mangues ou rochas, cercando o mesmo, em forma de círculo. Para atrair os pescados, bate-se na

superfície da água levemente com uma vara, o “boto”. Pescados como diversas espécies de robalo

branco (Centropomus sp) e pacamuns (Batrachoides surinamensis) são comumente capturados

com esta técnica;

3 – Preamar – Empregada durante a maré alta, antes da virada para a maré vazante, arma-se a rede

próxima ou dentro do mangue, onde os peixes são capturados na virada da maré;

4 – Tarrafa – De acordo com a movimentação dos cardumes, joga-se a tarrafa em diversos pontos, em

águas pouco profundas, principalmente quando da maré baixa, ou da formação

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A identificação das amostras foi realizada em campo, baseada em Menezes & Figueiredo

(1980), Araújo et al (2004) e Cervigón et al (1993), procurando-se identificar cada amostra ao menor

táxon possível. Após identificação e registro de cada espécie ainda em campo, foram medidos e

registrados peso total e comprimento padrão de todos os espécimes coletados, a fim de calcular o fator

de condição de Fulton (K), a fim de se verificar o grau de integridade relativa dos pescados coletados,

conforme descrito na equação matemática abaixo:

K = Wt/(SLt)3 * 100

Onde (K) é o fator de condição de Fulton, (Wt) é o peso total e (SLt) o comprimento padrão do

indivíduo, e (100) é constante aritmética (Arias et al 2007).

Um cenário das condições de referencia dos ambientes amostrado foi estabelecido (Tabela

01), cujos dados foram utilizados para estabelecer os critérios em classes de integridade biótica para as

respectivas áreas de coleta, adaptando-os de Karr (1981), Araújo (1998) e Arias et al. (2007), e

posteriormente a padronização destas classes para toda a região de Curuçá.

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Tabela 01 – Condições de referencia utilizadas na análise dos indicadores bióticos

Classe Características

Excelente Semelhante à melhor situação natural possível, sem nenhuma influência antropogênica.

Proporções equilibradas entre os diversos grupos tróficos; presença de elasmobrânquios de

todas as classes de tamanho; proporções entre espécies residentes ou exclusivas de ambientes

estuarinos e espécies visitantes ou dependentes de ambientes estuarinos bem equilibradas;

relação recrutas X adultos das espécies exclusivas de ambientes estuarinos constante ao longo

das estações; constatação da presença de todas as espécies prováveis para a região, incluindo

as formas mais intolerantes a condições adversas.

Bom Índices de diversidade pouco abaixo do esperado; proporções entre os grupos ligeiramente

desbalanceadas; espécies de elasmobrânquios pouco frequentes; herbívoro-planctívoro

especialistas pouco freqüentes.

Regular Poucas espécies intolerantes; estrutura trófica visivelmente desbalanceada (por exemplo,

tendência no aumento de espécies onívoras em relação às demais); carnívoros de topo de

grande porte pouco freqüentes ou raros; ausência de elasmobrânquios.

Pobre Espécies onívoras dominantes em relação às demais; poucos carnívoros de topo; curvas de

crescimento e fator de condição visivelmente alteradas; maior freqüência de formas

apresentando anomalias e doenças.

Muito pobre Poucas espécies de peixes, entre as quais espécies exóticas constituem a maioria; maior

frequência de indivíduos apresentando anomalias e doenças.

Sem peixes Sem registros de ocorrência de qualquer espécie íctica mesmo após repetidas tentativas de

amostragens.

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Resultados

- Estação Seca (Set. - Nov./2012)

Um total de 20 espécies pertencentes a 13 famílias (n = 380) foram amostradas para o

período chuvoso, para todos os trechos amostrados, sendo 15 carnívoras, 3 onívoras e 2

herbívoras/planctívoras (Tabela 2). Observou-se os maiores valores de fator de condição na espécie

onívora Chaetodipterus faber (K = 9,17; n = 25), seguido pela espécie carnívora Lobotes

surinamensis (K = 4,45; n = 1).

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Tabela 02. Lista de espécies coletadas durante o período seco (Setembro-Dezembro 2012) no estuário

do Rio Curuçá, onde são apresentados os valores médios do o tamanho padrão (SL), peso em g (W), o

fator de condição (K), o número de indivíduos (N) e os hábitos tróficos de cada espécie.

Espécie Família SL(cm) W(g) K N Hábitos Tróficos

Sciades herzbergii Ariidae 24,06 251,15 2,08 26 Carnívoro

Batrachoides

surinamensis

Batrachoididae 29,55 710,05 2,02 4 Carnívoro

Centropomus

undecimalis

Centropomidae 28,77 371,75 1,06 8 Carnívoro

Seleme vomer Carangidae 12 55 3,12 2 Carnívoro

Oligoplites saurus Carangidae 23,15 18,05 2,00 6 Carnívoro

Lutjanus analis Lutjanidae 17,61 206,66 3,04 6 Carnívoro

Lobotes surinamensis Lobotidae 18,2 235 4,45 1 Carnívoro

Genyatremus luteus Haemulidae 15,17 141,96 4,01 204 Carnívoro

Macrodon ancylodon Scianidae 24,9 260 1,26 2 Carnívoro

Cynoscion acoupa Scianidae 23,75 205,01 1,01 4 Carnívoro

Cynoscion leiarchus Scianidae 25,02 263,35 2,14 12 Carnívoro

Cynoscion sp Scianidae 25,47 292,50 1,03 4 Carnívoro

Menticirrhus litorallis Scianidae 15,87 120 3,44 4 Carnívoro

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Espécie Família SL(cm) W(g) K N Hábitos Tróficos

Stellifer naso Scianidae 22,50 240 2,18 1 Carnívoro

Larimus breviceps Scianidae 13,14 64 2,04 5 Carnívoro

Mugil sp Mugilidae 22,37 232,41 2,00 29 Herbívoro

Centregraulis

brasiliensis

Engraulidae 11,84 50 3,03 11 Herbívoro

Diapterus auratus Gerreidae 13,23 82,88 3,48 25 Onívoro

Chaetodipterus faber Ephippidae 9,57 76,40 9,17 25 Onívoro

Paralichthys brasiliensis Paralichthydae 15 140 4,01 1 Onívoro

TOTAL - - - - 380

Tabela 02. Continuação

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- Estação chuvosa (Fev. - Mar./2013)

Um total de 13 espécies pertencentes a 10 famílias (n = 378) foram amostradas para o

período chuvoso, para todos os trechos amostrados, sendo 15 carnívoras, 2 onívoras e 3

herbívoras/planctívoras (Tabela 3). Observou-se os maiores valores de fator de condição na espécie

onívora Chaetodipterus faber (K = 6,57; n = 36), seguido pela espécie carnívora Macrodon

ancylodon (K = 5,82; n = 2).

Fig. 02. Atividades de pescaria artesanal realizadas em Curuçá, PA, empregando artes de pesca distintas como

tarrafa e rede de emalhar.

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- Comparações entre as estações

Ao longo de ambas as estações seca e cheia, todas as espécies amostradas/observadas são

comuns a ambientes estuarinos ou marinhos, algumas com relativa tolerância a ambientes dulcícolas

(Ex.: Centropomus undecimalis), porém nenhuma espécie de água doce foi observada, mesmo durante

os meses correspondentes à estação chuvosa.

Espécies de alto valor econômico para a região foram amostradas como pescada amarela

Cynoscion acoupa, o camurim Centropomus undecimalis e a cioba Lutjanus analis, todos carnívoros;

além de tainhas do gênero Mugil, sendo todos estes grupos altamente explorados em toda a costa

brasileira.

Nota-se aparente diferença nos valores de SL, WT e consequentemente K entre as duas

estações estudadas, e foram verificadas diferenças estatísticas entre as mesmas, levando em conta os

parâmetros estudados (Student’s t-test, t = 2,46, df = 31, P < 0,05; valores estatísticos para as

diferenças entre os valores de K para cada estação), embora alguns grupos analisados isoladamente

não mostrem quaisquer diferença entre estes parâmetros. Para alguns grupos, diferenças entre as

estações podem ser devidas às fases de desenvolvimento dos mesmos dentro do estuário, a exemplo de

Mugil sp., cuja fase reprodutiva se dá, em geral, ao final da estação chuvosa.

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Tabela 03. Lista de espécies coletadas durante o período chuvoso (Fevereiro-Março 2013)

no estuário do Rio Curuçá, onde são apresentados os valores médios do o tamanho padrão (SL), peso

em g (W), o fator de condição (K), o número de indivíduos (N) e os hábitos tróficos de cada espécie.

Espécie Família SL(cm) W(g) K N Hábitos Tróficos

Sciades herzbergii Ariidae 22,06 165,80 1,54 12 Carnívoro

Batrachoides

surinamensis

Batrachoididae 36,00 915,10 1,96 1 Carnívoro

Centropomus

undecimalis

Centropomidae 18,46 215,13 3,41 18 Carnívoro

Oligoplites saurus Carangidae 11,09 50,15 3,67 7 Carnívoro

Lutjanus analis Lutjanidae 10,09 180,44 3,02 6 Carnívoro

Genyatremus luteus Haemulidae 14,36 143,89 4,85 172 Carnívoro

Macrodon ancylodon Scianidae 15,16 203,07 5,82 2 Carnívoro

Cynoscion acoupa Scianidae 18,32 188,44 3,06 5 Carnívoro

Cynoscion leiarchus Scianidae 19,04 190,16 2,75 16 Carnívoro

Menticirrhus litorallis Scianidae 9,44 98,59 3,28 13 Carnívoro

Mugil sp Mugilidae 18,99 244,75 3,86 68 Herbívoro

Diapterus auratus Gerreidae 11,47 88,51 2,88 22 Onívoro

Chaetodipterus faber Ephippidae 10,62 78,77 6,57 36 Onívoro

TOTAL - - - - 378

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- Comparações entre I e II fase, e follow-up

Ambas as fases do Projeto Casa da Virada apresentaram diferenças na produtividade

pesqueira entre as estações seca e chuvosa. Embora o número efetivo do pescado amostrado e

analisado tenha sido semelhante em ambas as fases do Projeto, o número de espécies diminuiu

consideravelmente entre as estações, apontando maior produção em diversidade registrada para o

período seco.

Não foi possível amostrar espécies dulcícolas (tais como grandes bagres balizadores, a

saber: dourada Brachyplatistoma flavicans, a piramutaba Brachyplatistoma vaillantii e o filhote

Brachyplatistoma filamentosum), em nenhuma das fases do Projeto, durante as duas estações chuvosas

cobertas (2008 e 2013), embora as mesmas sejam registradas para a região de Curuçá, assim como boa

parte da região litorânea paraense conhecida por “região do salgado”. Estas espécies são conhecidas

pelo alto valor comercial, e são de extrema importância econômica para as populações tradicionais de

pescadores nas regiões onde ocorrem.

Tampouco foram coletados elasmobrânquios, entre arraias e cações (apenas um exemplar

de Dasyatis guttata na primeira fase do Projeto), cujas populações estão altamente ameaçadas ao

longo de toda a costa brasileira.

O presente estudo comparativo, com base em dois períodos sub-amostrados (apenas alguns

meses referentes a cada estação -- seca e chuvosa), não traça um panorama completo do pescado da

região, tampouco da pesca artesanal, porém busca identificar indicadores de produção pesqueira para a

situação atual daquele ecossistema estuarino através de um snapshot baseado nos dados do pescado

amostrado em cada estação, para cada fase do Projeto. Assim, os resultados aqui apresentados não são

de forma alguma completos, e necessitam estudos mais amplos, tanto em escala temporal como

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geográfica, ao longo de 12 meses consecutivos por um mínimo de anos, a fim de que se possa

compreender melhor o cenário da pesca artesanal na região de Curuçá. Embora tenhamos em mãos os

dados de entrevistas (vide relatório Fase I) relatando as prováveis mudanças na ictiofauna do estuário

do Rio Curuçá nos últimos 20 anos, no qual os pescadores queixam-se muitas vezes do

desaparecimento de espécies que, antes, eram abundantes na região, não se pode afirmar quais e

quantos fatores estariam afetando diretamente a produção pesqueira daquela cidade sem um

acompanhamento contínuo e mais detalhado.

Por fim, recomenda-se a extensão dos estudos referentes à produção pesqueira em Curuçá,

por um período amostral maior e mais complexo, no que se refere aos limites do estuário, em

acompanhamentos mensais, ao longo de um período de cinco anos consecutivos.

O relatório necessita de uma discussão mais profunda sobre os resultados encontrados,

principalmente a luz de questões ecológicas e de biodiversidade o que possibilitará abordagem mais

adequada para a discussão sobre a evolução da produtividade pesqueira da região.

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