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Relatório de Estabilidade Financeira Volume 17 ǀ Número 1 ǀ Abril 2018 ISSN 2176-8102

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Relatório de Estabilidade FinanceiraVolume 17 ǀ Número 1 ǀ Abril 2018

ISSN 2176-8102

Relatório de Estabilidade FinanceiraVolume 17 ǀ Número 1 ǀ Abril 2018

ISSN 2176-8102CNPJ 00.038.166/0001-05

Relatório de Estabilidade Financeira

Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BC)

É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 17, nº 1.

Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos.

Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.

Atendimento ao Cidadão

Banco Central do BrasilSBS – Quadra 3 – Bloco B – Edifício-Sede – 2º subsolo70074-900 Brasília – DFTelefone: 145 (custo de ligação local)Internet: <http://www.bcb.gov.br/?ATENDIMENTO>

Republicação

Em 11/5/2018:

1. “Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCPBrasil) foi corrigido para “Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil)”.

2. Seção 1.2, subtítulo “Crédito amplo e sua tendência de longo prazo”:

a. “O BCBS e a literatura internacional consideram o monitoramento da medida do hiato de crédito...” foi alterado para “O BCBS e a literatura internacional consideram o hiato de crédito...”;

b. “Não obstante, no contexto atual, o crescimento do crédito amploestá abaixo...” foi alterado para “Não obstante, no contexto atual,o crédito amplo relativizado pelo PIB está abaixo...”;

3. Gráfico 1.2.14 – Crescimento anual da carteira – Por porte de empresa: foram corrigidos os valores da série “PME – Crédito direcionado” de julho a dezembro/2017;

4. Tabela 1.5.1.1 – Cenários de estresse macroeconômico (junho de 2019): foi corrigido o valor da variável Desemprego (PNAD-C IBGE) no CenárioBase, de 12,0 para 11,8%;

5. Subseção 1.5.2 – Análise de sensibilidade (risco de crédito): aperfeiçoou-se a metodologia, implicando:

a. Gráfico 1.5.2.1 – Análise de sensibilidade – Risco de crédito: alterações nos valores de todas as séries;

b. Conceitos e metodologias: “Em incrementos percentuais, ativosproblemáticos são elevados em até 200% do seu valor original” foialterado para “Em incrementos percentuais, ativos problemáticossão elevados em até 150% do seu valor original”.

Sumário

Prefácio 6

Sumário executivo ampliado 7

1 Panorama do sistema financeiro 12

1.1 Liquidez _____________________________________________________________________ 121.2 Crédito__________ _____________________________________________________________161.3 Rentabilidade__________________________________________________________________241.4 Solvência______________________________________________________________________261.5 Testes de estresse de capital ______________________________________________________28 1.5.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas ______________29 1.5.2 Análise de sensibilidade ____________________________________________________30 1.5.3Simulaçãodecontágiodiretointerfinanceiro ____________________________________321.6 Pesquisa de Estabilidade Financeira ________________________________________________331.7Infraestruturasdomercadofinanceirosistemicamenteimportantes ________________________39

2 Temas selecionados 42

2.1Interconexõesentreosagentesdosistemafinanceirobrasileiro __________________________422.2 Ativação do buffer de capital contracíclico nas principais economias ______________________492.3 Avaliação dos efeitos das novas regras para o cartão de crédito rotativo ____________________542.4 Compensação e liquidação centralizada de cartões ____________________________________582.5 Processo de Regulatory Consistency Assessment Programme do Liquidity Coverage Ratio _____602.6 Regulamentação do Net Stable Funding Ratio no Brasil ________________________________622.7 Requerimento mínimo da razão de alavancagem ______________________________________632.8Requerimentodecapitalparaexposiçõesacontrapartescentraisqualificadaseatítulosde securitização _________________________________________________________________642.9 Lei do Processo Administrativo Sancionador do Banco Central – Lei nº 13.506, de 2017 ______66

Apêndice 69

Anexo 74

Conceitos e metodologias ___________________________________________________________74Conceitos e metodologias – Estresse de capital __________________________________________76TrabalhosparaDiscussãosobreestabilidadefinanceira ____________________________________80

Anexo estatístico

Indicadores de Solidez Financeira (FSIs) – Comparativo internacional (G20, Mercosul e Chile)Matrizdemigraçãodeclassificaçãodecrédito–SFNEvoluçãodosníveisdeconcentração–Segmentobancário–ÍndicedeHerfindahl-Hirschman(IHH)Evolução dos níveis de concentração – Segmento bancário – Razão de concentração dos quatro maiores participantes (RC4)Gráficosetabelasdocorpodorelatório

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 6

O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BC) que apresenta a evolução recente e as perspectivas da estabilidade financeira no Brasil, com foco nos principais riscos, nas medidas que estão sendo adotadas para mitigá-los e na avaliação da resiliência do sistema financeiro brasileiro. A presente edição concentra-se no segundo semestre de 2017, destacando eventos mais recentes, quando pertinente.

O BC define estabilidade financeira como a manutenção, ao longo do tempo e em qualquer cenário econômico, do regular funcionamento do sistema de intermediação financeira entre famílias, empresas e governo.

O relatório é constituído por dois capítulos. O Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro – apresenta uma análise dos riscos relacionados a liquidez, crédito, rentabilidade e solvência, dos testes de estresse de capital e seus reflexos sobre a situação de solvência das instituições, da Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF) e do funcionamento das infraestruturas do mercado financeiro sistemicamente importantes. O Capítulo 2 – Temas selecionados – versa sobre assuntos relevantes, e não necessariamente recorrentes, que podem ter reflexos sobre a estabilidade financeira no Brasil.

No Anexo estatístico, são relacionados os dados dos gráficos e das tabelas do relatório, dentre outros úteis para análises de estabilidade financeira. O Anexo estatístico encontra-se no mesmo endereço eletrônico em que está disponível o REF, <www.bcb.gov.br/?relestab>.

Adicionalmente, algumas séries temporais importantes para o acompanhamento da estabilidade financeira (Índice de Basileia – IB, ativos líquidos sobre passivos de curto prazo, índice de inadimplência e retorno sobre patrimônio líquido, por exemplo) estão disponíveis no Sistema Gerenciador de Séries Temporais (SGS), em <https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries>.

Prefácio

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 7

Sumário executivo ampliado

O ano de 2017 marca a retomada do crescimento da economia brasileira, queda da inflação, redução da taxa básica de juros e melhora no nível de emprego. Esses fatores colaboraram, por um lado, para melhora dos indicadores de crédito e aumento da rentabilidade, e, por outro, para maior apetite ao risco por parte das instituições financeiras. Para 2018, o mercado mantém a confiança na capacidade de o sistema financeiro absorver choques, mesmo diante das incertezas no cenário político, na agenda de reformas fiscais e no cenário internacional. O volume de ativos problemáticos das corporações não financeiras continuará demandando atenção.

Especificamente no que tange ao crédito bancário, a carteira total recuou 0,5% em 2017, com efeitos distintos no crédito às famílias e às empresas: aumento de 5,7% nos primeiros e recuo de 6,7% nos segundos. A taxa média de juros das novas concessões, por sua vez, caiu de 32,2% para 25,6% a.a. A queda foi mais expressiva no crédito a pessoas físicas, de 42,0% a.a. em dezembro de 2016 para 31,9% a.a. em dezembro de 2017.

O ambiente econômico em 2017 propiciou avanço no crédito bancário às famílias, tanto em termos de redução do risco quanto em recuperação nas concessões de crédito novo,...

• Motivo de atenção nos últimos três semestres, o volume de reestruturações do crédito imobiliário recuou devido, principalmente, aos efeitos da política de concessão mais conservadora adotada a partir de 2015, quando os bancos passaram a praticar loan-to-value (LTVs) significativamente abaixo do limite máximo permitido pela regulação. Como o prazo médio da carteira de crédito imobiliário é longo, o efeito dessa medida passou a ser percebido no total da carteira no segundo semestre de 2017.

• Desde 2014, contudo, verifica-se aumento do fluxo de retomada de imóveis de devedores inadimplentes. As instituições têm enfrentado dificuldades para vender os imóveis retomados, cenário que não deve se alterar de forma significativa em 2018. No entanto, o montante em imóveis retomados é pequeno e não representa riscos para as instituições ou para a estabilidade financeira.

• A taxa média de juros cobrada nas operações de crédito a pessoas físicas declinou 10,1 p.p. em 2017, o que favoreceu o aumento na carteira de crédito às famílias. O financiamento de veículos voltou a crescer após quatro anos em declínio. O refinanciamento de carteiras favoreceu o aumento do empréstimo consignado, e a retomada do consumo deu impulso às vendas no cartão de crédito na modalidade compras à vista.

• Ao menos no curto prazo, o aumento das concessões de crédito a pessoas físicas deve se manter concentrado principalmente nos bancos privados

... e às pequenas e médias empresas (PMEs).

• O crédito bancário às PMEs apresenta sinais de melhora. Tanto a inadimplência quanto a participação relativa dos ativos problemáticos no total da carteira de crédito dessas empresas recuaram significativamente no semestre, embora ainda estejam em patamar historicamente elevado.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 8

Apesar de o crédito bancário ter recuado entre as grandes corporações não financeiras, as empresas de capital aberto apresentaram melhora nos seus indicadores econômico-financeiros e avanço no financiamento via mercado de capitais e mercado externo.

• Comparado ao ano anterior, houve queda nos requerimentos de recuperação judicial das empresas em geral e leve aumento na geração operacional de caixa e na rentabilidade das empresas de capital aberto.

• Os ativos problemáticos das grandes corporações persistem em elevação e demandam maior atenção. A pré-inadimplência elevada e o significativo estoque de operações das empresas em dificuldade financeira sugerem que a materialização de risco deve continuar alta em 2018. A maior deterioração do crédito nos últimos seis meses ocorreu nos setores de “Construção, Madeira e Móveis” e “Transportes”.

• A concessão de crédito bancário a grandes corporações permanece em queda. Em contrapartida, o mercado de capitais cresceu 17,6% a.a. e, juntamente com o mercado externo, ganhou importância relativa como fonte de financiamento principalmente para os setores “Petroquímico”, “Energia” e “Automotivo”. A tendência é de manutenção do crescimento dos mercados de capital e externo como fontes importantes de financiamento.

A rentabilidade dos bancos foi fortemente beneficiada pela queda das despesas de provisão. O nível de provisionamento da carteira de crédito permanece adequado ao seu perfil de risco.

• O nível geral de provisões (famílias e empresas) comparado à carteira de ativos problemáticos manteve-se confortável durante todo o ano de 2017, em linha com o perfil de risco da carteira de crédito, e sem riscos para a estabilidade financeira.

• A redução do risco de crédito às famílias e às PMEs propiciou queda das despesas de provisão, influenciando de forma relevante o aumento da rentabilidade dos bancos. Para 2018, a expectativa é de arrefecimento do movimento de recuperação da rentabilidade. Por um lado, despesas de provisão em contração menor e potencial redução das margens de juros pressionam a rentabilidade para baixo. Por outro, a materialização dos ganhos de eficiência, a busca por fontes alternativas de receitas e a retomada do crescimento de crédito trazem perspectiva positiva.

O sistema bancário dispõe de capital robusto, em nível e qualidade, para suportar os riscos assumidos e a retomada da concessão de crédito.

• Os bancos melhoraram seus índices de capitalização, mantendo-os bastante superiores aos requerimentos regulatórios. A capitalização e a alavancagem apresentam-se robustas para a plena implementação do arcabouço de Basileia III. Entidades responsáveis por mais de 99% dos ativos do sistema bancário possuem índice de capital principal projetado acima do requerimento mínimo de 7%, a vigorar a partir de 2019.

• O lucro foi o principal vetor de aumento dos níveis de capital, especialmente do capital principal. Houve expressiva redução da necessidade projetada de capital, considerando a plena implementação de Basileia III em 2019, de R$10 bilhões em junho para R$1 bilhão em dezembro de 2017, equivalente a apenas 0,2% do Patrimônio de Referência (PR) do sistema.

O risco de liquidez continua a apresentar pouca preocupação para o sistema bancário, e a perspectiva é de manutenção do baixo risco para o primeiro semestre de 2018.

• Os ativos líquidos permanecem adequados para honrar saídas abruptas de recursos em cenários de estresse no curto prazo. O Índice de Liquidez (IL) aumentou, e houve leve melhora na composição do funding. Todos os conglomerados bancários sujeitos ao cumprimento do indicador de Liquidez de Curto Prazo (Liquidity Coverage Ratio – LCR) mínimo de 80% em 2017 apresentam índices superiores a 100%, nível que passará a ser exigido somente a partir de janeiro de 2019. Além de serem suficientes para suportar eventos de estresse, os colchões de liquidez atuais permitem o direcionamento de recursos para ativos de menor liquidez, podendo dar suporte à retomada das concessões de crédito.

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• A estrutura de liquidez em um horizonte de longo prazo manteve-se estável. O aumento dos recursos estáveis compensou o alongamento do prazo residual dos estoques de crédito. Bancos que representam 94% dos ativos do sistema mantinham, em dezembro de 2017, estruturas de balanço capazes de fazer frente ao risco de liquidez no longo prazo.

Os resultados dos testes de estresse de capital atestam aumento da resiliência do sistema bancário, que se mostra capaz de absorver as perdas estimadas em todos os cenários simulados. A redução do risco de crédito, a melhora da rentabilidade e dos níveis de capitalização foram importantes para esse avanço.

• Testes em cenários estressados para as variáveis desemprego, juros, câmbio, inflação e atividade econômica indicam que a carteira de ativos problemáticos seria inferior a 10% e que a necessidade de capital seria de apenas 0,9% do PR. Instituições que representam 98% dos ativos do sistema permaneceriam com índices de capitalização acima do mínimo regulamentar.

• Os resultados dos testes de sensibilidade de câmbio e juros indicam impactos irrelevantes no capital, refletindo a baixa exposição líquida aos fatores de risco e o uso de instrumentos de hedge. A sensibilidade a choques no risco de crédito indica que mesmo na situação mais extrema analisada, com 20% de ativos problemáticos, bem acima dos 8,1% em dezembro de 2017, haveria necessidade de capital equivalente a 4,8% do PR do sistema.

• Simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis residenciais demonstra que não haveria desenquadramentos e/ou restrição à distribuição de lucros para quedas nominais de preço de até 30%. Somente uma queda maior ou igual a 50% provocaria situação de insolvência, caracterizada por capital principal negativo.

• A melhora do ambiente econômico, com redução das taxas de juros, baixa inflação e recuperação da atividade econômica, deve contribuir para manutenção de níveis adequados de capital pelas instituições financeiras.

• Adicionalmente aos testes de estresse, simulação de contágio direto interfinanceiro sugere baixa necessidade de recursos para recapitalizar o sistema em caso de ocorrência de contágio de cada uma das IFs individualmente. No pior caso, a necessidade de capital ficaria abaixo de 1% do PR do sistema.

As infraestruturas do mercado financeiro sistemicamente importantes funcionaram de forma eficiente ao longo do segundo semestre de 2017.

• As análises de backtesting para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central, apresentaram resultados satisfatórios.

O risco decorrente das interconectividades dentro do sistema financeiro brasileiro é baixo, a despeito da aparente densa rede de conexões diretas entre o sistema bancário e os fundos de investimento (FIs), e entre estes e as seguradoras e os fundos de pensão.

• A interconexão dos bancos com os FIs do ponto de vista dos ativos é pouco relevante. As conexões passivas dos bancos com os FIs têm origem principalmente em operações compromissadas lastreadas em TPF e, em menor grau, em instrumentos de longo prazo, o que mitiga o risco de funding para os bancos.

• Os fundos de pensão e as seguradoras aplicam parcelas significativas de seus ativos financeiros em FIs, mas têm papel bastante reduzido no financiamento da atividade bancária.

• A elevada interconexão passiva dos FIs com seguradoras e fundos de pensão é fortemente influenciada pela regulação. Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC) e seguradoras são obrigadas a aplicar uma parte relevante de seus recursos em fundos de investimentos especialmente constituídos (FIE), cujo público-alvo está restrito, direta ou indiretamente, aos participantes do mercado sob supervisão da Susep.

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O BC e o Conselho Monetário Nacional (CMN) seguem promovendo a resiliência do SFN, tanto no sentido de aumentar eficiência e segurança quanto para maior conformidade a padrões regulatórios internacionais. Nesse sentido, destacam-se as seguintes medidas:

• Implementação de um sistema centralizado para efetuar a compensação e a liquidação das transações de pagamento dos principais arranjos de pagamento baseados em cartão de crédito e de débito. A liquidação centralizada em ente neutro, sujeito à vigilância do BC, contribui para um sistema de pagamentos de varejo mais competitivo, seguro e eficiente.

• Definição do limite mínimo e das condições para cumprimento do indicador Liquidez de Longo Prazo (Net Stable Funding Ratio – NSFR) que serão aplicáveis às instituições financeiras integrantes do Segmento 1 (S1), a partir de 1º de outubro de 2018. O NSFR objetiva incentivar as instituições a financiarem suas exposições com fontes estáveis de captação, visando a mitigar o risco de liquidez de longo prazo.

• Definição do requerimento mínimo da Razão de Alavancagem (RA) aplicável às instituições financeiras de maior porte e complexidade, enquadradas nos Segmentos S1 e S2. O objetivo da RA é restringir o acúmulo de alavancagem no sistema financeiro, complementando-o com um anteparo que limita o potencial de danos oriundos de erros de mensuração de risco.

• Aperfeiçoamento do cálculo do requerimento de capital no que se refere ao tratamento das operações a serem liquidadas no âmbito de contrapartes centrais qualificadas (QCCP) e das operações com títulos de securitização. Sobre as primeiras, o novo arcabouço incorpora uma avaliação mais exata da entidade a que a instituição financeira está exposta, de forma que os riscos assumidos ficam melhor refletidos no requerimento de capital regulatório. Sobre as segundas, a nova regulação determina que o cálculo do FPR aplicável a esses títulos passa a ser vinculado ao grau de subordinação, ao risco dos ativos subjacentes e ao percentual de ativos subjacentes em atraso. Ambas foram promovidas seguindo os padrões do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (Basel Committee on Banking Supervision – BCBS).

Além das ações do BC e do CMN, a Lei nº 13.506, de 13 de novembro de 2017, aumentou significativamente o poder do BC para dissuadir e coibir condutas irregulares no âmbito do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Essa lei revisa o marco legal disciplinar do SFN e amplia os instrumentos utilizados pelo BC para atuar contra instituições financeiras que cometam irregularidades. As condutas passíveis de punição, expressamente previstas no texto da lei com clareza e precisão, propiciam maior segurança jurídica para o supervisionado e para o BC.

O BCBS, no âmbito do Regulatory Consistency Assessment Programme (RCAP), avaliou como Compliant (“compatível”, “aderente”, em inglês) a implementação do LCR no Brasil. Essa nota é o nível mais alto da escala de avaliação e reflete o compromisso do BC em adotar as melhores práticas de regulação prudencial para assegurar a estabilidade financeira no Brasil.

No âmbito da Agenda BC+, pilar “Crédito mais barato”, as regras para as operações do cartão de crédito rotativo adotadas pelo BC no início de 2017 tiveram efeitos positivos para os clientes e para os indicadores de risco de crédito.

• As regras implicaram em impossibilidade de refinanciar o saldo devedor na fatura do cartão de crédito indefinidamente, na modalidade crédito rotativo. Linhas de crédito para pagamento parcelado, em condições mais vantajosas para o cliente em relação àquelas praticadas na modalidade de crédito rotativo, passaram a ser ofertadas.

• Houve migração de crédito rotativo para crédito parcelado, com recuo expressivo da taxa média de juros do cartão de crédito e alongamento dos prazos das operações de parcelamento do saldo devedor, propiciando às famílias melhor planejamento financeiro e menor comprometimento da renda.

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• As regras contribuíram, também, para reduzir a taxa de inadimplência do cartão de crédito – o que beneficiou potenciais clientes que entrariam em atraso caso não tivessem a opção de parcelar o saldo devedor do rotativo – e para reduzir o risco da carteira, promovendo mais estabilidade ao sistema financeiro.

Desdobramentos de temas (riscos) analisados em Relatórios de Estabilidade Financeira anteriores

Exposição do Sistema Financeiro Nacional a entes subnacionais e potenciais impactos para a estabilidade financeira

Diversos estados e municípios brasileiros continuam enfrentando desafios financeiros provocados por fraca arrecadação e orçamentos comprometidos com despesas de pessoal e serviços de dívida. Esse cenário é semelhante ao de doze meses anteriores, ocasião em que o BC publicou, no REF de abril e no de outubro de 2017, estudos que simularam o potencial contágio para o SFN de eventuais problemas com a solvência de entes subnacionais. A simulação foi realizada utilizando metodologia análoga à descrita no REF de outubro de 2015 para estimar possíveis efeitos de default de empresas envolvidas na Operação Lava Jato.

A simulação atual dos impactos teve por base as exposições do SFN e a posição de capital das IFs em dezembro de 2017, assim como a nova metodologia de avaliação da capacidade de pagamento de estados e municípios (CAPAG1) elaborada pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

Os resultados mostram uma redução do risco em relação ao REF anterior, e, portanto, seguem sugerindo baixo impacto para a estabilidade financeira. O sistema está adequadamente preparado para suportar eventual default de estados e municípios classificados como C ou D pela STN, que são os entes não elegíveis a garantias pela União, assim como de seus respectivos servidores, fornecedores e empregados dos fornecedores.

Decisões do Comitê de Estabilidade Financeira sobre o Adicional Contracíclico de Capital Principal

O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) decidiu, nas reuniões trimestrais de 14 de dezembro de 2017 e de 8 de março de 2018, manter o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em 0% (zero por cento).2 Essas decisões foram tomadas pelo Comef no exercício de suas atribuições previstas na Circular nº 3.827, de 30 de janeiro de 2017. Elas seguiram ainda os objetivos e procedimentos descritos no Comunicado nº 30.371, da mesma data. As decisões obtiveram consenso dos membros do Comef em ambas as ocasiões.

1/ Disponível em <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/-/ministerio-da-fazenda-publica-portaria-com-a-nova-metodologia-da-capag>.2/ Comunicados nº 31.478, de 14 de dezembro de 2017, e nº 31.752, de 8 de março de 2018.

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1Capítulo 1 – Panorama do sistema financeiro3

1.1 Liquidez 3

O risco de liquidez do sistema bancário permanece em níveis baixos, cenário que tende a perdurar no 1º semestre de 2018. Mesmo com a retomada das concessões de crédito na segunda metade de 2017, houve melhora no nível de ativos líquidos e na disponibilidade de captações estáveis para financiar a ampliação das carteiras de crédito. Os estoques de ativos líquidos são suficientes para honrar saídas abruptas de recursos em eventuais cenários de estresse no curto prazo. O risco de liquidez no longo prazo manteve-se estável e em nível adequado, com discreta elevação do estoque de recursos estáveis disponíveis. Assim, a atual estrutura de captação e aplicação nos balanços minimiza a suscetibilidade dos bancos a futuros problemas de liquidez, e, portanto, sob diversas perspectivas, o risco de liquidez do sistema permanece não representando preocupação relevante.

O estoque de funding apresentou estabilidade no segundo semestre de 2017, destacando-se o incremento do estoque dos depósitos a prazo em compensação à parte da redução do estoque de operações compromissadas com lastro em títulos ou aceite de instituições ligadas ao conglomerado prudencial (decorrente da edição da Resolução nº 4.527, de 29 de setembro de 2016). Os declínios das carteiras de letras de crédito de agronegócio (LCA) e letras de crédito imobiliário (LCI) estão relacionados à dinâmica das operações de crédito geradoras de lastros para as letras, bem como à disponibilidade alternativa de funding

3/ Destaque-se que, para efeito das seções 1.3 Rentabilidade, 1.4 Solvência e 1.5 Testes de estresse de capital, o escopo das análises é o conglomerado prudencial definido na Resolução nº 4.280, de 31 de outubro de 2013, ao qual são aplicados, desde 1º de janeiro de 2015, os requerimentos mínimos de capital, conforme a Resolução n° 4.193, de 1º de março de 2013. Na seção 1.1 Liquidez, o escopo das análises é o sistema bancário, aqui constituído pelas instituições Banco Comercial, Banco Múltiplo (BM), Caixa Econômica, Banco de Câmbio e Banco de Investimento (BI) e pelos conglomerados financeiros compostos por ao menos uma dessas modalidades de instituições. Em 1.2 Crédito, o escopo das análises é o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

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mais barato para as principais instituições emissoras. As cadernetas de poupança voltaram a apresentar captação líquida positiva no segundo semestre e em todo o ano de 2017, após captações líquidas negativas em 2015 e 2016 (Gráfico 1.1.1). 4

As pessoas físicas e jurídicas não classificáveis em categorias específicas de investidores mantêm-se como principal fonte de funding para o sistema bancário, com participação de 63% no estoque total em dezembro de 2017. Uma das fontes de funding que mais tem crescido, a carteira intermediada de pessoas físicas e jurídicas incrementou 11% no segundo semestre de 2017. As captações intermediadas têm propiciado às instituições de menor porte acesso a uma base maior de clientes, prazos de captação mais longos e menor dependência de recursos sob gestão profissional; por outro lado, têm gerado maior dependência de instituições financeiras intermediárias para as captações. Ainda em relação às fontes de funding, a parcela atribuída ao setor público corresponde, na sua grande maioria, à intermediação de financiamentos oriundos de programas ou linhas de crédito governamentais. A carteira de fundos e investidores institucionais, que representa 10% dos recursos captados pelo sistema bancário em dezembro de 2017, retraiu-se 6% no segundo semestre por conta da redução pelos bancos da oferta de instrumentos a taxas suficientemente atrativas para esses investidores (Gráfico 1.1.2).

A representatividade do funding externo em relação às captações totais manteve-se baixa e estável. Do funding externo, R$388 bilhões são captações externas internalizadas no mercado doméstico, divididas em R$284 bilhões de livre destinação e R$104 bilhões vinculadas a operações de exportação, importação ou repasses. O volume dessas captações apresentou leve crescimento ao longo de 2017, revertendo a tendência de queda observada nos semestres anteriores (Gráficos 1.1.3 e 1.1.4). Tal evolução deve se repetir no próximo semestre se mantida a expectativa de melhora nos demais indicadores econômicos, resultando em maior demanda interna por recursos. As instituições financeiras tiveram

4/ Depósitos a prazo: certificados de depósito bancário, recibos de depósitos bancários, depósitos a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Dívida subordinada: certificados de depósito bancário com cláusula de subordinação, letras financeiras com cláusula de subordinação e instrumentos elegíveis à composição de capital. Outros instrumentos: COE, letras de câmbio, letras financeiras, letras hipotecárias, operações de box. Compromissadas: referem-se tão somente às operações compromissadas com títulos privados. Por se tratarem de operações por meio das quais se permutam ativos de alta liquidez, as operações compromissadas com títulos públicos federais não estão sendo consideradas no conceito de captação no presente relatório.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

5

10

15

20

25

Dez2010

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

%

Captações externas mantidas no exteriorCaptações externas que ingressam (vinculadas)Captações externas que ingressam (livres)

Gráfico 1.1.3 – Perfil das captações externasComo percentual das captações totais

594 623 658 642 652 634 661 671 720

576 565 534 504 535 568 603 710 717320 326 370 358 397 376 356 248 215411 435 450 456 467 466 475 476 488264 278 358 403

494 402 393 385 388215 252277 302

335 343 330 310 304151 161

174 180181 189 202 220 202

95123

159 192203 206 201 198 183

149152

164 165

179 180 174 173 167

109133

147 178

186 187 180 153 144

180157

172 146

148 135 155 138 160

0

800

1.600

2.400

3.200

4.000

Dez2013

Jun2014

Dez2014

Jun2015

Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Dez2017

R$ biGráfico 1.1.1 – Perfil de captaçãoSistema bancário

Poupança Depósitos a prazoCompromissadas com títulos privados Empréstimos e repassesCaptações externas Outros instrumentosDepósitos judiciais LCIDívida subordinada LCADepósitos à vista DI

1.940 2.005 2.142 2.137 2.264 2.260 2.329 2.321 2.330

11 1620 24

28 30 36 41 48377 413

420 435457 455 430 399 375445

470494 500

511 509 520 521 533264278

359 403494 402 393 385 389

8690

91 8989 87 84 84 88

0

800

1.600

2.400

3.200

4.000

Dez2013

Jun2014

Dez2014

Jun2015

Dez2015

Jun2016

Dez2016

Jun2017

Dez2017

R$ bi

PF/PJ PF/PJ – Intermediadas InstitucionaisSetor público Não residentes IFs

Gráfico 1.1.2 – Perfil de captação por tipo de investidorSistema bancário

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 14

acesso ao crédito externo em volume suficiente para atender as necessidades domésticas, tanto em linhas vinculadas como de livre destinação.

Em relação à exigibilidade dos passivos, os movimentos verificados contribuem para uma perspectiva de maior estabilidade do funding. A participação dos instrumentos com liquidez imediata e depósitos à vista (Gráfico 1.1.5), mais sujeitos a corrida bancária em momentos de crise, manteve tendência de queda no período. A poupança confirmou a tendência de recuperação iniciada no 1º semestre de 2017, indicando melhora na disponibilidade de recursos de varejo, que costumam ter relacionamentos mais estáveis com os bancos e são menos sujeitos a grandes movimentos de resgates em situações de crise.

As instituições bancárias vêm mantendo colchões de liquidez suficientes para suportar cenários de estresse. No segundo semestre de 2017, houve aumento real dos ativos líquidos, beneficiado pela valorização do valor de mercado dos títulos, dado o cenário de queda nas taxas de juros futuras no período, e ainda pela liberação de ativos que estavam bloqueados como garantias5. Além disso, a leve melhora na composição do funding e a estabilidade nas exposições a risco de mercado fizeram com que os desembolsos projetados de caixa em um cenário de estresse ficassem nominalmente estáveis no período. Dessa forma, o Índice de Liquidez (IL)6 agregado dos bancos encerrou o segundo semestre de 2017 em 2,38, com variação positiva de 0,19 ponto em relação ao semestre anterior (Gráfico 1.1.6).

Individualmente, as instituições mantiveram sua liquidez de curto prazo em patamar confortável (Gráfico 1.1.7), com destaque para as de grande porte. Em dezembro de 2017, 97,9% dos ativos do sistema bancário estavam em balanços de bancos com suficiência de ativos líquidos necessários para suportar uma crise de liquidez (IL ≥ 1). Na comparação com o semestre anterior, o número de instituições com IL menor do que 1 aumentou de 18 para 22, com baixa representatividade em termos de ativos totais.

5/ Em virtude da conclusão da unificação das câmaras de ações e derivativos da B3 S/A em agosto, que unificou os requerimentos de colaterais que eram exigidos separadamente para cada câmara, houve redução das margens totais requeridas para operações na B3 S/A, liberando esses ativos às instituições financeiras.

6/ O IL mensura se os bancos possuem ativos líquidos suficientes para cobrir suas necessidades de caixa de curto prazo (trinta dias subsequentes) em cenário de estresse hipotético, definido e calibrado pelo BC. Essas saídas de recursos advêm da possibilidade de resgates de captações vincendas ou com liquidez imediata, exposições a risco de mercado, como chamadas de margens e pagamentos de ajustes de derivativos e, ainda, outros fluxos contratuais programados. Instituições com IL superior a 1 possuem ativos líquidos suficientes para esse cenário. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item a.

0

50

100

150

200

250

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

US$ bilhões

Captações externas mantidas no exterior

Captações externas que ingressam (vinculadas)

Captações externas que ingressam (livres)

Gráfico 1.1.4 – Perfil das captações externasValores absolutos em dólares

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez0%

20%

40%

60%

80%

100%Gráfico 1.1.5 – Perfil das captações internas

Depósitos judiciaisCaptações internas com vencimento superior a 1 anoCaptações internas com vencimento de 30 dias a 1 anoCaptações internas com vencimento de 1 a 30 diasDepósitos poupançaDepósitos à vista + outras captações com liquidez imediata

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

200

400

600

800

1.000

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

Jan2012

Jul Jan2013

Jul Jan2014

Jul Jan2015

Jul Jan2016

Jul Jan2017

Jul Dez

R$ bi

Gráfico 1.1.6 – Índice de Liquidez

Ativos líquidosFluxo de caixa estressadoÍndice de Liquidez

un.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 15

O indicador regulamentar de Liquidez de Curto Prazo (Liquidity Coverage Ratio – LCR)7 corrobora o baixo risco de liquidez de curto prazo já refletido no IL. Todos os conglomerados bancários sujeitos ao cumprimento desse indicador mantiveram o LCR acima do mínimo regulamentar (80%) e em patamares bastante superiores a 100%, nível a ser exigido a partir de 2019. O LCR agregado dos bancos sujeitos ao seu cumprimento manteve-se estável no encerramento de 2017, mesmo com os aprimoramentos normativos introduzidos em julho de 20178 (Gráfico 1.1.8).

Assim, tanto o IL médio do sistema bancário quanto o LCR médio das maiores instituições indicam um nível de risco de liquidez de curto prazo confortável.

A estrutura de liquidez em um horizonte de longo prazo manteve-se estável no segundo semestre de 2017. Do lado dos passivos, a recuperação da poupança e o aumento da capitalização do sistema reforçam as captações consideradas estáveis e indicam uma tendência de melhoria no nível do risco de liquidez também para um horizonte acima de trinta dias. O efeito do aumento dos recursos estáveis compensou o alongamento do prazo residual dos estoques de crédito no segundo semestre de 2017, em linha com o ritmo de retomada do crédito no período. Tal movimento resultou no Índice de Liquidez Estrutural (ILE)9 em 1,12 em dezembro de 2017 (Gráfico 1.1.9), mesmo patamar do semestre anterior. O ILE é a principal métrica de avaliação do risco de liquidez de longo prazo e baseia-se na metodologia do indicador Liquidez de Longo Prazo (Net Stable Funding Ratio – NSFR).

Os bancos mais representativos em termos de ativos (94,4% dos ativos totais do sistema em dezembro de 2017) mantinham estruturas de balanço capazes de fazer frente ao risco de liquidez no longo prazo (ILE > 1,00). Grande parte das instituições de maior porte elevaram seus indicadores, enquanto as demais apresentaram

7/ O LCR é um índice cujo cumprimento é obrigatório para todos os bancos com ativos totais acima de R$100 bilhões. Requer que as instituições financeiras mantenham ativos de alta liquidez para suportar saídas de caixa nos próximos trinta dias, em um cenário de estresse definido pelo documento do BCBS (www.bis.org/publ/bcbs238.htm). Em 2017, o requerimento mínimo foi de 80%, sendo 90% para 2018 e 100% a partir de janeiro de 2019. Regulamentação doméstica pela Resolução CMN nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e pela Circular BC n° 3.749, de 5 de março de 2015.

8/ Ver seção 1.1 do REF de outubro de 2017.9/ O ILE tem como objetivo mensurar se os bancos possuem fontes

suficientemente estáveis de recursos (numerador) para financiar suas atividades de longo prazo (denominador). Assim, instituições com ILE igual ou superior a 1 são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. Para detalhes da definição da métrica, ver anexo Conceitos e metodologias, item b.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0%

120%

240%

360%

480%

600%

Out2015

Dez Mar2016

Jun Set Dez Mar2017

Jun Set Dez

LCR agregado (8 IFs) IL LCR máximoLCR mínimo

Gráfico 1.1.8 – Dispersão da Liquidez de Curto Prazo (LCR) Máximo, mínimo e agregado

Limite regulamentar

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

0,40

0,56

0,72

0,88

1,04

1,20

Dez2011

Jun Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

R$ bi

Gráfico 1.1.9 – Índice de Liquidez Estrutural

Recursos estáveis disponíveisRecursos estáveis necessáriosÍndice de Liquidez Estrutural

un.

15 3

1013

17

73

15 7 6

10

18

75

0

18

36

54

72

90

<0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,6 1,6-2,0 ≥2,0

Gráfico 1.1.7 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez1/

Junho 2017 Dezembro 2017

Índice de Liquidez

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 16

índices mais dispersos. Em comparação com o semestre anterior, o número de bancos com ILE menor que 1 diminuiu de 27 para 25. Desses 25, apenas 15 também apresentavam insuficiências no curto prazo em eventual cenário de estresse (IL < 1), representando 1,68% dos ativos totais do sistema (Gráfico 1.1.10).

Em suma, o risco de liquidez continua a apresentar pouca preocupação para o sistema bancário. Além da estrutura atual de funding das instituições financeiras, que contribui para minimizar cenários que possam afetar a estabilidade financeira, os colchões de liquidez atuais constituem uma confortável fonte de proteção contra diferentes eventos de estresse, além de permitir o direcionamento de recursos para ativos de menor liquidez, dando suporte à retomada das concessões de crédito. Ademais, os requerimentos prudenciais de liquidez criados após a crise financeira internacional, LCR e NSFR10, serão fatores limitantes para a tomada excessiva de risco de liquidez.

1.2 Crédito

O ano de 2017 se configurou pela retomada da economia brasileira: o produto interno bruto (PIB) do país voltou a crescer; os índices de confiança – tanto de consumo quanto de serviços – continuaram trajetória de melhora, e a curva de juros doméstica apresentou queda significativa.11 Nesse sentido, nota-se um avanço nos indicadores referentes ao crédito, tanto pela queda do risco do portfólio como por um maior apetite das instituições financeiras em suas concessões. Tal movimento é mais destacado no crédito às pessoas físicas e nos bancos privados. Nas pessoas jurídicas, ainda que se possa vislumbrar alguma melhora na carteira de crédito, são necessárias duas condições para que o setor retome o ritmo vigente antes da crise: melhora mais prolongada na atividade econômica e melhor geração de caixa pelas firmas.

10/ O NSFR, introduzido pela Resolução CMN nº 4.616, de 30 de novembro de 2017, e com metodologia dada pela Circular nº 3.869, de 19 de dezembro de 2017, terá efeitos a partir de outubro de 2018.

11/ As expectativas melhoraram no segundo semestre de 2017, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) acabou o ano com variação positiva de 13,6 p.p., com aumentos de 8,5 p.p. da parcela relativa à situação atual e de 16,5 p.p. em relação às expectativas. O Índice de Confiança de Serviços (ICS) apresenta trajetória ascendente desde meados de 2017, fechando o ano com variação positiva de 13,2 p.p. No caso do ICS, a parcela que mais puxou o índice para cima foi aquela relativa às expectativas, com 16,5 p.p. de variação no ano, enquanto a situação atual melhorou 8,5 p.p.

9 4

14

20 14

763

10 4 11

18

15

964

0

14

28

42

56

70

< 0,8 0,8-0,9 0,9-1,0 1,0-1,1 1,1-1,2 1,2-1,3 ≥ 1,3

Gráfico 1.1.10 – Distribuição de frequência para o Índice de Liquidez Estrutural1/

Junho 2017 Dezembro 2017

Índice de Liquidez Estrutural

1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras com Índice de Liquidez Estrutural pertencente ao intervalo correspondente.

% dos ativos do sistema

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 17

Crédito amplo e sua tendência de longo prazo

O BCBS e a literatura internacional12 consideram o hiato de crédito como proporção do PIB uma boa métrica para avaliar se o crescimento da carteira de crédito em um país é considerado saudável, ou se está acima de sua tendência de longo prazo. Este hiato poderia sinalizar um aumento excessivo em novos empréstimos por famílias e empresas, o que resultaria em correções abruptas, agravadas pela desalavancagem repentina de agentes econômicos. De fato, o BCBS sugere que países com o referido hiato acima de 2,0 p.p. deveriam acionar o colchão adicional de capital contracíclico.

Conforme explicado no Boxe relativo ao Adicional Contracíclico de Capital Principal do Relatório de Estabilidade Financeira de abril de 2016, o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) não é definido com base em único indicador ou mesmo em um conjunto de indicadores pré-estabelecidos. Não obstante, no contexto atual, o crédito amplo13 relativizado pelo PIB está abaixo da tendência de longo prazo (Gráfico 1.2.1)14, bem como a dinâmica de diversos outros indicadores também não sugerem a necessidade de acionamento do ACCPBrasil.

Crédito bancário doméstico

Em 2017, especialmente no segundo semestre do ano, a reversão da tendência de queda do estoque de crédito se concentrou nos bancos privados (Gráfico 1.2.2). Consonante com o divulgado no REF de abril de 2017, os dados de concessão de crédito (Gráfico 1.2.3) corroboram a ideia de que os bancos privados estão liderando a retomada desse mercado, movimento que deve se manter inalterado no curto prazo.

Acompanhando o movimento de retomada no volume de concessões, observou-se, ao longo de 2017, queda na

12/ Drehmann, M., Borio, C., and K. Tsatsaronis (2011): “Anchoring countercyclical capital buffers: the role of credit aggregates”, BIS Working Papers, no 355. Drehmann, M., and Juselius, M. (2011): “Evaluating early warning indicators of banking crises: Satisfying policy requirements”, BIS Working Papers, no 421.

13/ O crédito amplo engloba, além do crédito do setor bancário, o crédito tomado por famílias e empresas não financeiras no exterior, cujos recursos tenham ingressado no Brasil, e o financiamento das empresas via mercado de capitais.

14/ O Banco Central monitora, dentre outras medidas, os hiatos de crédito/PIB com e sem variação cambial. Em países com importante parcela do crédito amplo referenciados em moeda estrangeira, o aumento inercial dos estoques das dívidas pode advir apenas da desvalorização cambial, e não de excessiva tomada de novos empréstimos pelas empresas e famílias naquele período.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

-8

-4

0

4

8

12

16

Dez1996

Dez1999

Dez2002

Dez2005

Dez2008

Dez2011

Dez2014

Dez2017

Sem variação cambial Com variação cambial

Gráfico 1.2.1 – Hiato crédito/Produto interno bruto (PIB)

p.p.

-18

-9

0

9

18

27

36

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Gráfico 1.2.2 – Crescimento anual do crédito Por controle

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

0

36

72

108

144

180

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Gráfico 1.2.3 – Evolução – Concessões de crédito Deflacionada e dessazonalizada

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimento

R$ bi

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 18

taxa média de juros das operações de crédito do sistema financeiro (Gráfico 1.2.4). Ou seja, os dados mais recentes sugerem que não somente o quantum (concessões) como também o preço do crédito (taxas de juros) sinalizam para um incremento na oferta de crédito por parte das instituições financeiras: todavia, isso ocorre de forma mais destacada nas operações com melhores garantias, bem como sob critérios mais conservadores na avaliação dos tomadores de crédito.

Riscos e mitigadores

No segundo semestre de 2017, houve melhora nos indicadores de risco de crédito, tanto em índices tradicionais de atraso (inadimplência e pré-inadimplência) quanto em métricas mais amplas que sinalizam a qualidade do portfólio (reestruturações e carteira de ativos problemáticos).15

A inadimplência do setor bancário (Gráfico 1.2.5) caiu significativamente (0,46 p.p.) no último ano, retornando ao patamar vigente em dezembro de 2015. Tal queda ocorreu tanto nos bancos privados quanto nos bancos públicos comerciais, sendo os bancos públicos de desenvolvimento a exceção a este movimento. Caso a retomada da economia continue sua trajetória recente, espera-se alguma queda adicional nesse indicador, fato que também é reforçado por uma menor entrada de operações no portfólio inadimplido, bem como uma manutenção do ritmo das baixas para prejuízo (Gráfico 1.2.6).

O estoque de operações com atrasos entre 15 e 90 dias (Gráfico 1.2.7), indicador antecedente da inadimplência, ainda se encontra em patamar superior àquele verificado antes da crise (2014, por exemplo). A pré-inadimplência dos bancos públicos comerciais merece um ponto de atenção, visto que ainda não apresentou sinais claros de estabilidade ou inflexão.

15/ Renegociações, em sentido amplo, ocorrem tanto seguindo parâmetros normais de mercado quanto seguindo parâmetros que as instituições financeiras não admitiriam usualmente, mas os aceitam para solucionar eventual redução na capacidade de pagamento do tomador. Considera-se reestruturação qualquer renegociação que implique a concessão de vantagens à contraparte em decorrência da deterioração da sua qualidade creditícia ou da qualidade creditícia do interveniente ou do instrumento mitigador. Renegociações são informadas pelas instituições financeiras no Sistema de Informações de Crédito (SCR); reestruturações são estimadas por meio de algoritmo interno do BC que identifica as operações vencidas e convertidas em operações a vencer, sem pagamento integral dos valores em atraso (capitalização dos saldos em atraso). Esta edição do REF passa a utilizar versão revista da métrica de reestruturação, ajustada para reconhecer situações adicionais em que ocorrem reestruturações, bem como para aumentar o poder de identificação de operações de maior risco.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

6

14

23

31

40

48

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

% a.a.

Gráfico 1.2.4 – Taxa média de juros

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimento

3,6 3,6

2,8 2,8 3,5 3,8

0

24

48

72

96

120

0,0

1,2

2,4

3,6

4,8

6,0

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Gráfico 1.2.6 – Baixas a prejuízo

Baixas a prejuízo (eixo da esquerda)% das operações de crédito (eixo da direita)

R$ bi %

0,0

1,2

2,4

3,6

4,8

6,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

%

Gráfico 1.2.5 – Inadimplência por controle

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 19

Por sua vez, a carteira de ativos problemáticos16 (Gráfico 1.2.8) do sistema apresentou sinais importantes de melhora no segundo semestre de 2017, sendo a única exceção os bancos públicos de desenvolvimento. Nos bancos privados, tal movimento foi uniforme ao longo do semestre e é continuação de um processo de melhora da carteira iniciado em 2016.

Na análise por componentes da carteira de ativos problemáticos, nota-se que as operações classificadas entre E e H mantiveram seu ritmo de crescimento (Gráfico 1.2.9), enquanto a parcela referente às reestruturações apontou um arrefecimento no semestre (Gráfico 1.2.10)17. Ou seja, com o provável fim da recessão pela qual o país recentemente passou, diminuiu-se o movimento de reestruturações, mas ainda deve ser mantida uma participação importante no portfólio das operações cujo tomador – ainda que não inadimplente – tenha apresentado piora na qualidade creditícia (carteira entre E e H), até que mostre sinais de melhoras efetivas.

O nível de provisões, quando comparado com a carteira de ativos problemáticos, conservou-se acima de 80% durante todo o ano de 2017, indicando que o sistema financeiro vem mantendo provisionamento em linha com o perfil de risco da carteira de crédito (Gráfico 1.2.11). O nível de provisões inferior ao valor total da carteira de ativos problemáticos é esperado, pois nem todas as operações assim classificadas serão baixadas para prejuízo. De fato, parte dos ativos problemáticos serão renegociados, voltarão à normalidade, possuem garantias ou ainda algum nível de recuperação. Nesse mesmo sentido, verifica-se que o nível das baixas para prejuízo18 continua a se manter alinhado com o indicador de inadimplência, e ambos se encontram significativamente abaixo do volume de provisões (Gráfico 1.2.12).

Pessoa jurídica

A melhora nas condições macroeconômicas em 2017 impactou positivamente a situação econômico-financeira

16/ No Brasil, a definição de ativo problemático foi incorporada à estrutura regulatória por meio da Resolução nº 4.557, de 23 de fevereiro de 2017, que dispõe sobre a estrutura de gerenciamento de riscos e a estrutura de gerenciamento de capital. Para fins de monitoramento da estabilidade financeira, serão aqui consideradas como ativos problemáticos as operações de crédito em atraso há mais de noventa dias e as operações nas quais existem indícios de que respectiva obrigação não será integralmente honrada.

17/ A queda no semestre foi influenciada pelos bancos privados, que passou a registrar níveis comparáveis àqueles vigentes antes da crise. Bancos públicos ainda demonstram grande intensidade no uso dessa prática, principalmente em créditos imobiliários voltados às pessoas físicas.

18/ Operações de crédito baixadas nos últimos doze meses.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

2,1

4,2

6,3

8,4

10,5

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

%

Gráfico 1.2.8 – Carteira de ativos problemáticosPor controle

0,0

1,8

3,6

5,4

7,2

9,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%Gráfico 1.2.9 – Carteira de ativos problemáticos

Operações inadimplentesOperações inadimplentes ou reestruturadasOperações inadimplentes ou reestruturadas ou classificadas entre E e H

0,0

1,4

2,8

4,2

5,6

7,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimentoTotal

Gráfico 1.2.7 – Operações com atraso entre 15 e 90 dias

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 20

das empresas. Por um lado, o volume de requerimentos de recuperação judicial ficou abaixo do observado no ano anterior19; por outro, a geração operacional de caixa (earnings before interest, taxes, depreciation, and amortization – EBITDA20, Gráfico 1.2.13) e a rentabilidade das empresas de capital aberto registraram leve aumento no segundo semestre de 2017.

O cenário operacional mais positivo para as empresas em 2017, no entanto, não se manifestou em retomada do crédito bancário, devido ao movimento de desalavancagem das empresas e à existência de relevante capacidade ociosa na indústria21. Nesse sentido, o estoque do crédito doméstico às pessoas jurídicas encerrou dezembro de 2017 com redução de 6,7% em comparação com o ano anterior, influenciado principalmente pela queda no crédito direcionado. Apesar de também haver retração na comparação interanual do crédito livre, observa-se uma retomada consistente dessa fonte de financiamento no segundo semestre de 2017, sobretudo pelas empresas de pequeno e médio porte (Gráfico 1.2.14).

Não obstante à queda do crédito bancário doméstico, o mercado de capitais registrou aumento significativo em 2017, tendo crescido R$46,4 bilhões, ou 17,6% na comparação interanual (Gráfico 1.2.15)22. Tal mudança na estrutura de financiamento não tem sido uniforme, sendo mais concentrada em poucas empresas – o que é esperado, visto que o mercado de capitais é pouco difundido – e, em setores específicos, como “Petroquímico”, “Energia” e “Automotivo” (Gráfico 1.2.16). 23

As empresas que acessaram o mercado de capitais em 2017 (R$81,7 bilhões) diminuíram seus passivos em crédito livre (R$12,5 bilhões), em crédito direcionado (R$17,8 bilhões) e em crédito externo (R$6,2 bilhões), ou seja, ainda que se possa falar em alguma migração das demais fontes de financiamento (R$36,5 bilhões), a maior parte do incremento em mercado de capitais dessas empresas é referente a novos financiamentos.

19/ Ver Anexo 1.2.1, que mostra o volume de requerimentos de recuperações judiciais registrado pela Serasa Experian.

20/ EBITDA: lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização. 21/ Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador de

utilização da capacidade instalada permaneceu abaixo de 80% em 2017.22/ Para dados do estoque de crédito amplo por fonte de financiamento, ver

Anexo estatístico, Gráfico 1.2.15.23/ Para a agregação setorial, os códigos da Classificação Nacional de

Atividades Econômicas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) das empresas foram agrupados em 25 setores econômicos, considerando o conceito de cadeia produtiva. No Anexo Estatístico deste REF, apresentamos os dados de variação interanual nos componentes de crédito bancário, mercado de capitais e mercado externo, abertos setorialmente.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

4

8

12

16

20

1º Sem2014

2º Sem2014

1º Sem2015

2º Sem2015

1º Sem2016

2º Sem2016

1º Sem2017

2º Sem2017

Bancos privadosBancos públicos comerciaisBancos públicos de desenvolvimento

R$ bi

Gráfico 1.2.10 – Fluxo de reestruturação acumulada no semestre

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

Gráfico 1.2.11 – Índice de cobertura (IC)

IC da carteira de ativos problemáticos

2,0

3,5

5,0

6,5

8,0

9,5

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Carteira de ativos problemáticosOperações classificadas entre E e H ou inadimplentesProvisõesOperações inadimplentesBaixa para prejuízo dos doze meses seguintes

Gráfico 1.2.12 – Inadimplência, provisões, baixas para prejuízo e carteira de ativos problemáticos

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 21

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

A tendência para os próximos meses é de manutenção deste mesmo cenário: retomada do crédito livre conforme a recuperação dos indicadores macroeconômicos for se consolidando e de busca por fontes alternativas de financiamento entre as empresas com acesso ao mercado de capitais e externo.

Com relação à inadimplência, no segundo semestre de 2017 o indicador inverteu a trajetória de alta observada nos primeiros seis meses do ano e registrou queda, encerrando dezembro de 2017 em 2,92% (Gráfico 1.2.17).

Nas pequenas e médias empresas (PMEs), há fortes indícios de que o ciclo de materialização de riscos chegou ao fim. Nesse segmento, a entrada de créditos inadimplentes caiu ao longo do semestre de forma a compensar a redução no estoque de crédito, consolidando a percepção de melhora nesse segmento de crédito PJ. O estoque de ativos problemáticos das PMEs (Gráfico 1.2.18) também sugere um cenário de recuperação, haja vista as sucessivas quedas registradas desde maio de 2017 (Gráfico 1.2.19).

Nas grandes empresas, por outro lado, a melhora no risco ainda não é observada. O volume de créditos vencidos caiu no semestre, porém a queda foi devida à baixa para prejuízo de operações de empresas em recuperação judicial do setor de “Telecomunicações”.

A carteira de ativos problemáticos das grandes firmas subiu de 4,9% (dezembro de 2016) para 7,2% (dezembro de 2017, Gráfico 1.2.18). Nos últimos seis meses, essa deterioração ocorreu principalmente em função do crescimento da carteira classificada entre E e H adimplente24, sendo os setores de “Construção, Madeira e Móveis” e “Transportes” os que registraram maior aumento (Tabela 1.2.1).

Em resumo, o reflexo do cenário mais positivo na economia real é mais evidente para as empresas de pequeno e médio porte. Por outro lado, o ciclo de materialização de riscos ainda deve perdurar entre as empresas de grande porte, visto que i) o estoque de operações de empresas em dificuldade financeira é significativo; ii) a geração operacional de caixa dá sinais de melhora, mas ainda em níveis baixos; iii) a pré-inadimplência se mantém em patamar elevado; e iv) não se visualiza uma estabilização no estoque de ativos problemáticos.

24/ Ver Anexo 1.2.3 para o valor do estoque de carteira, com abertura setorial.

0,0

1,6

3,2

4,8

6,4

8,0

0,0

0,6

1,2

1,8

2,4

3,0

Dez2010

Dez2011

Dez2012

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Set2017

EBITDA Despesa financeira líquida ICJ (eixo à direita)

Gráfico 1.2.13 – Índice de cobertura de juros (medianas)Denominador e numerador (deflacionados): dez/2010 = 1

90

114

138

162

186

210

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Crédito livre Crédito direcionadoMercado de capitais Mercado externoMercado externo - em US$

Gráfico 1.2.15 – Crédito amplo – Pessoa jurídicaBase dez/2013 = 100

-20

-10

0

10

20

30

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

%

Gráfico 1.2.14 – Crescimento anual da carteiraPor porte de empresa

PME – Total PME – Crédito livrePME – Crédito direcionado Grande – TotalGrande – Crédito livre Grande – Crédito direcionado

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 22

Pessoa física

Diferentemente do exposto para as pessoas jurídicas, o crédito bancário voltado às pessoas físicas consolida em 2017 sua tendência de recuperação, tanto na melhora da qualidade do portfólio quanto na retomada das concessões. O destaque foi a carteira de financiamento de veículos, a qual volta a crescer depois de vários anos de retração (Gráfico 1.2.20).

As liberações de novos empréstimos apresentaram crescimento nas principais modalidades de crédito, com destaque para consignado (influenciado pelo refinanciamento de carteiras), veículos (incremento de vendas) e cartão de crédito (retomada no consumo). A carteira de financiamento habitacional – cujas concessões mantiveram-se desaquecidas em 2017 – reflete uma política mais restritiva adotada por algumas instituições financeiras, principalmente com respeito ao limite máximo da relação entre o valor financiado e a avaliação do imóvel (Gráfico 1.2.21).

A recuperação do crédito a pessoas físicas foi motivada pelo ambiente econômico mais favorável, especialmente com a inflação e as taxas de juros em queda, pela melhora no mercado de trabalho, pela redução do desemprego25 e pelo aumento da renda das famílias26. Essas condições, aliadas ao alongamento dos prazos das dívidas proporcionado pela maior participação do crédito imobiliário e do consignado nos últimos anos, contribuíram para a queda no comprometimento de renda27 e no endividamento das famílias28, permitiram a retomada no consumo e a volta da disposição para tomar crédito. Esses movimentos possibilitaram também redução no risco da carteira voltada às pessoas físicas, com queda na inadimplência e nos ativos problemáticos. Tal movimento ocorreu nas principais modalidades, com destaque para as linhas mais voltadas ao consumo, justamente as mais sensíveis às condições econômicas (Gráfico 1.2.20).

Após vários semestres de deterioração, a carteira de crédito imobiliário mostrou uma redução de risco no segundo semestre de 2017, evidenciada pela queda dos ativos problemáticos e do fluxo de reestruturação (Gráfico 1.2.22 e 1.2.23, respectivamente). A redução do volume

25/ Série temporal nº 24.380 – População desocupada – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC).

26/ Série temporal nº 24.382 – Rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas – PNADC.

27/ Série temporal nº 19.881 – Comprometimento de renda das famílias – serviço da dívida – com ajuste sazonal.

28/ Série temporal nº 19.882 – Endividamento das famílias.Anexo estatístico

Tabela 1.2.1 – Ativos problemáticos por setor econômico

% da carteira ativadez/16 jun/17 dez/17

Administração Pública e ONGs 1,30 1,81 2,26

Agricultura 5,93 4,99 5,11

Alimentos 7,72 8,73 8,11

Atividades Financeiras 1,07 1,18 2,12

Automotivo 7,66 6,68 5,99

Bebidas e Fumo 7,02 7,73 6,35

Construção, Madeira e Móveis 16,79 18,30 22,32

Criação de Animais 5,21 5,01 4,91

Eletroeletrônico 11,86 12,42 9,33

Energia 2,65 3,11 3,21

Máquinas e Equipamentos 14,67 15,69 14,56

Mídia e Lazer 16,71 16,23 15,22

Outros 17,72 15,31 14,06

Papel e Celulose 1,82 2,05 2,23

Petroquímico 3,30 4,62 4,64

Químico, Farmacêutico e Higiene 8,77 8,27 7,40

Saúde, Saneamento e Educação 6,31 6,77 5,99

Serviços 11,81 12,04 11,58

Siderurgia e Metalurgia 6,37 7,16 6,18

Sucroalcooleiro 16,69 17,49 16,62

Telecomunicações 34,96 35,31 22,38

Têxtil e Couros 15,99 14,93 13,17

Transportes 11,23 12,14 15,25

Varejo 8,80 10,28 8,27

-30

-20

-10

0

10

20

30

Crédito bancário Mercado de capitais Mercado externo Total

Gráfico 1.2.16 – Variação no crédito amplo entre 2017 e 2016Setores econômicos com maior variação absoluta

Energia

Petroquímico

Automotivo

Transportes

Siderurgia e Metalurgia

Construção,Madeira e

Móveis

R$ bi

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 23

Anexo estatístico Anexo estatístico

Anexo estatístico Anexo estatístico

Anexo estatístico Anexo estatístico

0

2

3

5

6

8

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Gráfico 1.2.17 – InadimplênciaPessoa jurídica

Empresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porteTotal

%

0

3

6

9

12

15

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Empresas de pequeno e médio porteEmpresas de grande porteTotal

Gráfico 1.2.18 – Carteira de ativos problemáticosPessoa jurídica

% da carteira ativa

70

88

106

124

142

160

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Carteira de ativos problemáticos Carteira total

Gráfico 1.2.19 – Carteira de ativos problemáticosPequenas e médias empresas (dez/2014 = 100)

0

40

80

120

160

200

0

5

10

15

20

25

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

R$ bi

Imobiliário ConsignadoVeículos Não consignadoCartão de crédito (esq.) Total (esq.)

Gráfico 1.2.21 – Carteira de crédito a pessoas físicasConcessões deflacionadas e dessazonalizadas

0,0

3,6

7,2

10,8

14,4

18,0

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Gráfico 1.2.22 – Ativos problemáticos Principais modalidades de pessoas físicas

Imobiliário Consignado Cartão de créditoNão consignado Veículos Total

%

-20

-10

0

10

20

30

40

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

Imobiliário Consignado Cartão de créditoNão consignado Veículos Total

%

Gráfico 1.2.20 – Carteira de crédito a pessoas físicas Crescimento anual

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 24

de concessões a partir de 2015 e a adoção de políticas mais conservadoras pelas instituições financeiras, principalmente devido ao limite máximo da relação entre o valor financiado e a avaliação do imóvel, contribuíram para essa melhora da qualidade da carteira imobiliária.

O fluxo ainda elevado de retomada de imóveis em garantia dos tomadores inadimplentes também contribuiu para a redução dos ativos problemáticos na carteira de crédito imobiliário. Entretanto, com as dificuldades enfrentadas pelas instituições financeiras na venda dos imóveis retomados, o saldo de bens não de uso (BNDU) nos ativos das instituições financeiras continua em trajetória de forte crescimento, embora ainda represente 1,2% da carteira ativa (Gráfico 1.2.24).

Em meio à recuperação incipiente da economia e dos indicadores de confiança, a carteira de crédito voltada às pessoas físicas demonstrou, no último semestre, melhora tanto em termos dos riscos incorridos quanto em alguma recuperação nas concessões de crédito novo. Essa recuperação se materializou – e assim deve continuar – especialmente nas modalidades de crédito mais voltadas ao consumo das famílias.

Em resumo, consonante com o divulgado no REF de outubro de 2017, a retomada nas concessões de crédito se concentrou nas pessoas físicas e nos bancos privados. Ao menos no curto prazo, tal equilíbrio não deve se alterar, com os empréstimos do setor bancário voltados às empresas passando por um período de baixo crescimento.

1.3 Rentabilidade

O sistema bancário manteve o movimento de recuperação da rentabilidade no segundo semestre de 2017, com o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) 29 alcançando 13,8% em dezembro, aumento de 1,3 p.p. em relação a junho de 2017 (Gráfico 1.3.1). Quando comparada à proxy para taxa livre de risco30, observa-se maior recuperação, devido ao movimento de redução da Selic. A melhora do

29/ São realizados ajustes com o objetivo de desconsiderar resultados não recorrentes relevantes na avaliação do lucro no período analisado. Destaca-se, entre os ajustes realizados, a neutralização do efeito de reversão de provisão passiva em virtude de recálculo de passivo atuarial com Plano de Saúde (alteração de limitação estatutária) em uma instituição de grande porte (efeito aproximado de R$4 bilhões sobre o lucro líquido de 2017).

30/ Para efeito de comparação com o ROE, utilizou-se como proxy para taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 para descontar efeitos tributários. O prazo de 36 meses foi definido com base no prazo médio da carteira de crédito, principal fonte de receita do sistema bancário.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

4,2 5,4 4,46,7

9,7 10,5 9,3 7,7

6,86,6

6,9

8,9

9,710,2

10,4

9,5

0

5

10

15

20

25

1º Sem2014

2º Sem2014

1º Sem2015

2º Sem2015

1º Sem2016

2º Sem2016

1º Sem2017

2º Sem2017

Gráfico 1.2.23 – Fluxo de reestruturaçãoPessoas físicas

Imobiliário Demais modalidades

R$ bi

0,0%

0,3%

0,6%

0,9%

1,2%

1,5%

Dez2012

Jun Dez2013

Jun Dez2014

Jun Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

% da carteira ativa

Gráfico 1.2.24 – Bens não de uso próprioImóveis habitacionais

Anexo estatístico

0

20

40

60

80

100

Dez2011

Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez0

4

8

12

16

20

Lucro Líquido (eixo da esquerda) 1/ROE do SB 1/Prêmio do ROE do SB sobre a taxa livre de risco

1/ Desconsidera resultados não recorrentes.

R$ bi %

Gráfico 1.3.1 – Retorno sobre o patrimônio líquido (ROE)1/

Acumulado nos últimos doze meses

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 25

ambiente econômico após o período de recessão permitiu a redução das despesas de provisões para crédito de difícil liquidação (PCLD), com efeitos positivos para margem de juros líquida. Não obstante, a conjunção dos efeitos de provável desaceleração do ciclo de redução da PCLD e de aumento gradual de pressão sobre as margens de juros, compensados por potencial redução das despesas administrativas e retomada gradual do crescimento de crédito, traz perspectiva de arrefecimento do movimento de recuperação da rentabilidade em 2018.

A margem bruta de juros31 manteve-se praticamente estável ao longo do 2º semestre do ano. Apesar da redução da rentabilidade das operações de crédito, decorrente de menores taxas cobradas nas novas operações em consonância com a redução da taxa Selic, esse efeito é mais do que compensado pela redução dos custos de captação, resultando algum ganho na margem bruta de crédito. Entretanto, ao considerar a margem bruta de juros mais abrangente (crédito mais títulos) (Gráfico 1.3.2), a queda do spread na intermediação de Títulos e Valores Mobiliários (TVM) praticamente anula esse ganho, estabilizando a margem bruta de juros no período.

A menor necessidade de PCLD, no entanto, manteve a margem líquida de juros em movimento ascendente ao longo de todo o ano de 2017, com efeito positivo sobre o lucro líquido. Não obstante, verifica-se um ritmo de desaceleração da redução de PCLD no segundo semestre (Gráfico 1.3.3). Prospectivamente, a pressão sobre as margens de crédito de novas concessões e sobre a carteira de títulos reforça a relevância da necessidade da retomada do crescimento do crédito e da contínua busca por outras fontes de receitas para a sustentação dos resultados dos bancos.

As receitas com serviços mantiveram crescimento, com o gradual aumento das rendas de tarifas bancárias e das rendas de administração de fundos32. No último trimestre de 2017, a métrica de eficiência operacional começou a refletir os efeitos positivos nos bancos que realizaram redução no quadro de pessoal33 e do fechamento das agências (Gráfico 1.3.4). No sistema, entretanto, as despesas do 2º semestre ainda superaram as do primeiro período, decorrente dos gastos extraordinários relacionados aos próprios programas de reestruturação

31/ Representa a diferença entre o retorno da carteira de crédito e títulos e o custo de captação.

32/ O aumento nas rendas de administração de fundos decorre principalmente do aumento do volume de recursos administrados.

33/ Planos de Demissão Voluntária – PDV.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

%

Margem bruta (crédito + títulos)Margem líquida (crédito + títulos)Custo de captação

Gráfico 1.3.2 – Margem de jurosAcumulado nos últimos doze meses

0

28

56

84

112

140

Jun2011

Dez Jun2012

Dez Jun2013

Dez Jun2014

Dez Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

R$ bi

Despesas de provisão líquidas (acumulado doze meses)Despesas de provisão líquidas (acumulado três meses)

Gráfico 1.3.3 – Despesas de provisão

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 26

e também ao aumento sazonal de final de ano. Dessa forma, reforça-se a perspectiva de ganho gradual e crescente de eficiência operacional ao longo de 2018, com reflexos positivos para o índice de cobertura de despesas administrativas por receitas de serviços, decorrente, ainda, das reestruturações e de ganhos de sinergia de processos de aquisições (Gráfico 1.3.5).

A quantidade e a representatividade de bancos com rentabilidade acima da proxy para taxa livre de risco mantiveram movimento ascendente, demonstrando que a recuperação da rentabilidade está disseminada pelo sistema bancário. Da mesma forma, houve redução do número de instituições com ROE abaixo de zero no sistema bancário (Gráfico 1.3.6). A recuperação dos bancos de menor porte, os mais afetados pelo período de ambiente econômico instável, reforça a resiliência e a estabilidade do sistema bancário. Além disso, destaca-se que todos os bancos sistemicamente importantes encerraram o período com retornos sobre o patrimônio líquido acima da proxy para taxa livre de risco.

A recuperação da rentabilidade do sistema bancário foi sustentada, de forma relevante, pela redução das despesas de PCLD, consequência da melhora do ambiente econômico e da recuperação da qualidade dos ativos. No próximo semestre, a desaceleração da contração das despesas com provisões, acompanhada pela potencial redução dos spreads, deve exercer pressão sobre os retornos. Contudo, a materialização dos ganhos de eficiência associada com a busca por fontes alternativas de receitas e a retomada do crescimento de crédito trazem perspectiva positiva. Ao fim, a expectativa é de desaceleração da trajetória de recuperação da rentabilidade do sistema.

1.4 Solvência

A solvência do sistema bancário apresentou evolução positiva no semestre, reforçando a solidez e não configurando risco para a estabilidade financeira. As métricas de capitalização e alavancagem encontram-se em patamares robustos, mesmo considerando a plena implementação do arcabouço de Basileia III.

A melhora dos índices de capitalização está presente em todas as métricas (Gráfico 1.4.1), mantendo-se em níveis bastante superiores aos requerimentos regulatórios. Destaque para o maior crescimento relativo dos bancos públicos, que, apesar disso, ainda mantêm menor folga de capital que os privados. A Razão de Alavancagem

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

50

54

58

62

66

70

Jun2015

Dez Jun2016

Dez Jun2017

Dez

%

Sistema BancárioBancos com reestruturações administrativas anunciadas (PDV e/ou fechamento de agências)Bancos sem reestruturações administrativas anunciadas (PDV e/ou fechamento de agências)

Gráfico 1.3.4 – Índice de cobertura de despesas administrativas por receitas de serviçosAcumulado nos últimos doze meses

30

5150

2642

63

0

20

40

60

80

100

ROE < 0 0 < ROE < 0,85 * Selic ROE > 0,85 * Selic

Junho 2017 Dezembro 2017

1/ Os valores acima das barras referem-se ao número de IFs com RSPL anual pertencente ao intervalo correspondente. Utilizou-se como proxy para taxa livre de risco a média anual da Selic acumulada nos últimos 36 meses, multiplicada por 0,85 para descontar efeitos tributários.

% dos ativos do sistema

Gráfico 1.3.6 – Distribuição de frequência do retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) anual1/

36,2

111,9

38,5

115,6

40,4

119,4

42,1

120,9

42,9

122,0

44,2

121,262,5

97,1

64,2

100,5

65,4

100,8

62,7

99,0

61,6

101,0

60,1

101,8

23,1 24,7 24,9 25,9 26,6 27,611,9 12,6 13,3 13,7 13,8 13,8

0

50

100

150

200

250

Dez2015

Jun2016

Dez Jun2017

Set Dez

R$ bi

Receitas: tarifas bancárias Receitas: cartões e outrosReceitas: adm. fundos e merc. capitais Receitas: serv. cobrança e garantiasDespesas com pessoal Demais despesas administrativas

Gráfico 1.3.5 – Principais componentes das despesas administrativas e receita de serviçosAcumulado nos últimos doze meses

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 27

(RA) apresentou o mesmo comportamento, situando-se em patamar bastante superior ao requerimento mínimo que entrou em vigor a partir de 201834.

A elevação dos lucros, oriundos principalmente da redução das provisões para perdas de créditos, constituiu o principal vetor para a elevação dos níveis de capital, especialmente o Capital Principal, de melhor qualidade. Os ativos ponderados pelo risco (RWA), por sua vez, reportaram leve queda (-0,5%), com movimentos diferentes dos bancos públicos (-5,5%) e privados (+2,4%). A redução do RWA dos bancos públicos decorre da queda no volume de crédito, enquanto o aumento verificado no RWA dos privados está em linha com a tendência de retomada da concessão de crédito liderada por essas instituições.

Refletindo a trajetória positiva da solvência do sistema, a simulação da plena implementação de Basileia III (Gráfico 1.4.2) resulta em crescimento em todos os índices de capitalização e na RA. A distribuição de frequência para a projeção do Índice de Capital Principal (ICP) (Gráfico 1.4.3) evidencia crescimento na faixa mais elevada em decorrência da movimentação ascendente de uma instituição de grande porte. Entidades responsáveis por 99,9% dos ativos do sistema possuem ICP projetado acima do requerimento mínimo de 7,0%, a vigorar a partir de 2019.

Considerando a plena implementação de Basileia III em 2019, verifica-se expressiva redução da necessidade projetada de capital, de R$10,1 para R$1,1 bilhão no semestre (Gráfico 1.4.4), o equivalente a 0,2% do patrimônio de referência (PR) do sistema. Destaque para a eliminação da necessidade de capital projetada dos bancos públicos, em linha com a maior retenção de lucros e redução da exposição.

34/ A Resolução nº 4.615, de 30 de novembro de 2017, estabeleceu o requerimento mínimo para a RA de 3,0% a partir de 2018, a ser aplicado às instituições autorizadas pelo BC enquadradas nos Segmentos 1 (S1) ou 2 (S2).Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

10,8 11,7 12,4

11,812,6

13,414,215,5

16,2

6,7 7,1 7,5

0,0

3,5

7,0

10,5

14,0

17,5

dez/16 jun/17 dez/17 dez/16 jun/17 dez/17

Índices de Capitalização Razão de Alavancagem

(%)

Gráfico 1.4.2 – Índices de Capitalização e alavancagem Basileia IIIProjeção 2019

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível IÍndice de Basileia Razão de Alavancagem

3 0 0

16

112

3 0 0

13

115

0

12

24

36

48

60

0 - 4.5 4.5 - 5.125 5.125 - 7 7 - 10.5 >10.5

Simul. em Junho 2017 Simul. em Dezembro 2017

%

Gráfico 1.4.3 – Índice de Capital Principal Basileia IIIProjeção 2019Distribuição de frequência ponderada por ativos1/

1/ Os valores dentro das barras referem-se ao número de IFs com ICP projetado pertencente àquele intervalo.

12,713,5

13,7 14,5

17,3 18,1

0

4

8

12

16

20

Dez2015

Jun Dez2016

Jun Dez2017

%

Índice de Capital Principal Índice de PR Nível I Índice de Basileia

Gráfico 1.4.1 – Índices de capitalização eexigência regulatória1/

• 1/ As setas representam os requerimentos regulatórios para os diferentes níveis de capital,incluindo o ACPConserv ação ( 5,75% de capital principal, 7,25% de capital nível I e 10,5% de capital total).

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 28

A distribuição de dividendos evidencia movimentos de otimização da estrutura de capital (Gráfico 1.4.535). Enquanto os bancos públicos aumentaram a retenção de resultados, fortalecendo, assim, sua estrutura de capital, os bancos privados apresentaram comportamento diverso, com maior distribuição, mas sem comprometimento dos níveis de capitalização. Nesse sentido, os níveis e a qualidade do capital detido para suportar os riscos assumidos pelas instituições financeiras mostram-se robustos, mesmo com a proximidade da conclusão do cronograma de ajustes prudenciais em 2018.

Em perspectiva, a solvência não constitui risco para a estabilidade financeira. O sistema deve se manter adequadamente capitalizado nos próximos períodos, mesmo diante dos efeitos advindos da plena implementação de Basileia III e da materialização de cenários caracterizados pela retomada de concessão de crédito e estabilização dos níveis de rentabilidade.

1.5 Testes de estresse de capital

Os testes de estresse de capital são ferramentas de avaliação da resiliência do sistema bancário quanto a sua capacidade de absorção de perdas em cenários macroeconômicos adversos. Os testes simulam os impactos nos índices de capital, provenientes de choques extremos nas principais variáveis econômico-financeiras. Complementam essa simulação análises de sensibilidade aos principais fatores de risco, tomados individualmente, e avaliação do contágio entre as instituições financeiras36.

Os resultados dos testes de estresse indicam que o sistema bancário possui adequada capacidade de absorção de perdas em todos os cenários simulados, sem ocorrência de desenquadramentos em montante relevante. Os resultados são consequência do confortável nível de capitalização,

35/ O lucro líquido contábil e a distribuição de resultados de cada exercício foram apurados utilizando informações do conglomerado financeiro (2011 a 2014) e do conglomerado prudencial (2015 a 2017). A distribuição de resultados compreende os juros sobre o capital próprio (JCP) e a complementação sob a forma de dividendos. São considerados como dividendos os resultados do período não incorporados nas reservas de lucros (incluindo lucros/prejuízos acumulados) e a redução de reservas não destinadas ao aumento do capital social. Cabe ressaltar que os dividendos são apurados em termos líquidos em uma data-base (mês). Assim, eventos de distribuição de dividendos combinados com aumento de capital, mesmo que mediante a transferência de outros ativos por parte do controlador, são tratados pelos seus efeitos líquidos, o que se julga mais relevante para avaliação do comportamento do capital.

36/ O escopo no exercício do contágio alcança todas as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Já o teste de estresse abrange apenas o sistema bancário.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,8 0,52,0 0,3

5,8

0,7

0,40

2

4

6

8

10

Simul. em jun/17 Simul. em dez/17 Simul. em jun/17 Simul. em dez/17

Bancos públicos comerciais Bancos privados

R$ bi

CP CC N2

Gráfico 1.4.4 – Simulação da necessidade de capital 2019

ACPConservação ACPSistêmico

7,8

1,1

2,2

67,6% 67,0%

32,2%

28,0%

59,9%54,8%

0

20

40

60

80

100

0

20

40

60

80

100

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

R$ bi

Lucro líquido contábilDistribuição de resultados (dividendos + JCP)% distribuição de resultados – bancos privados (eixo esquerdo)% distribuição de resultados – bancos públicos (eixo esquerdo)% distribuição de resultados – total (eixo esquerdo)

%

Gráfico 1.4.5 – Distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP)

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 29

da resiliência da rentabilidade das instituições, mesmo em cenários extremos, e do uso disseminado de instrumentos de hedge, que limitam o impacto provocado pelas exposições aos principais fatores de risco.

A análise de sensibilidade, por sua vez, aponta para efeitos pouco relevantes no capital das instituições, provenientes de choques abruptos nas taxas de juros e câmbio. Quanto ao risco de crédito, verifica-se a redução da necessidade de capital em comparação a junho de 2017, decorrência da melhora na qualidade da carteira. A sensibilidade à variação de preços de imóveis residenciais também apresentou redução da necessidade de capital, e segue refletindo a saudável exposição do sistema bancário ao mercado imobiliário.

1.5.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas

A Tabela 1.5.1.1 apresenta as variáveis que compõem os cenários analisados: Cenário Base, Vetor Autorregressivo (VAR) estressado, Quebra estrutural e Pior histórico. Os cenários apresentam diferentes valores estressados em cada um dos seis trimestres que compõem o horizonte do teste, sendo que a Tabela 1.5.1.1 apresenta apenas os valores para o último trimestre.

Tabela 1.5.1.1 – Cenários de estresse macroeconômico (junho de 2019) CenáriosVariáveis Dez 2017 Cenário base1/ Cenários adversos3/

VAR estressado (α = 5%) Quebra estrutural Pior histórico

Atividade econômica (IBC-Br)

1,3% 3,0% 2,5% 0,5% 2,8%

Juros(Selic)

7,5% 8,0% 4,9% 4,9% 5,0%

Câmbio(R$/US$)

3,25 3,38 3,19 3,45 3,73

Inflação(IPCA)

2,9% 4,2% 2,9% 13,7% 5,1%

Desemprego(PNAD-C IBGE)

11,8% 11,8% 21,6% 21,6% 13,4%

Prêmio de risco(EMBI+ Br)2/

241 241 475 475 235

Juros americanos(Treasury 10 anos)4/

2,4% 1,2% 3,1% 3,1% 2,3%

1/ As variáveis obtidas da pesquisa Focus, coletadas em 30 de dezembro de 2017, são a previsão para o PIB, a Selic, o câmbio e a inflação para junho de 2019. O desemprego e o prêmio de risco permanecem constantes.

2/ Na tabela constam os valores máximos atingidos pelo prêmio de risco Brasil (EMBI+Br) em cada cenário. Para os cenários VAR estressado e quebra estrutural, o valor máximo, igual a 475, é atingido em março de 2018, retornando gradativamente ao valor inicial em junho de 2019. No cenário de pior histórico, o máximo é atingido em junho de 2018.

3/ Os critérios de construção de cada cenário são descritos no anexo Conceitos e metodologias – Estresse de capital.

4/ Os juros americanos seguem trajetória utilizada pelo Federal Reserve no Dodd-Frank Act Stress Testing (DFAST) 2018 (https://www.federalreserve.gov/newsevents/pressreleases/files/bcreg20180201a1.pdf). Para o cenário base, é utilizada a projeção do cenário Adverse do DFAST, enquanto que para os cenários VAR estressado e quebra estrutural são utilizadas as projeções do cenário Baseline.

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 30

O cenário VAR Estressado assume o pior lucro antes de imposto de renda para o sistema financeiro, obtido com base em quatro projeções feitas por meio do modelo VAR. O cenário Quebra Estrutural é estimado pelas trajetórias de cada variável endógena ao nível de significância de 5,0% (unicaudal na direção mais adversa), sendo que o intervalo de projeção de cada variável depende apenas da variância de sua projeção e desconsidera as relações de dependências entre as variáveis e a plausibilidade do cenário. Para o cenário Pior Histórico, são simuladas repetições do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de seis trimestres desde julho de 2003, escolhendo-se aquele que resultaria no mais baixo lucro antes do imposto de renda.

No Gráfico 1.5.1.1, é apresentada a proporção da carteira de ativos problemáticos em relação ao total da carteira para todos os cenários. No cenário de VAR estressado, a inadimplência acrescida das reestruturações projetadas atingiria o máximo de 9,3% em junho de 2019, superando as provisões existentes em dezembro de 2017 em 3,1 p.p.

A necessidade37 estimada de capitalização do sistema, para evitar tanto desenquadramentos38 quanto limitações à distribuição de lucros, seria em torno de 0,9% do PR atual do sistema, conforme mostra o Gráfico 1.5.1.2.

Em comparação aos resultados dos três semestres anteriores (Gráfico 1.5.1.3), observa-se redução da necessidade de capital do SFN, alcançando nível próximo ao de junho de 2016 no último trimestre de projeção.

A análise da dispersão dos IBs evidencia que a maioria das instituições continuaria apresentando índices de capitalização acima do mínimo regulamentar (10,5%). Esse grupo representa cerca de 98% do ativo total do sistema (Gráfico 1.5.1.4).

1.5.2 Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade avalia o impacto sobre o capital do sistema bancário, de variações nas taxas de juros e câmbio, na qualidade do crédito medida pelo nível de ativos problemáticos e no preço de imóveis residenciais,

37/ O conceito de necessidade de capital engloba valores para evitar tanto desenquadramentos quanto limitações de distribuição de lucros impostas pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, na qual instituições financeiras consideradas sistemicamente importantes estão sujeitas ao Adicional de Capital Principal Sistêmico – ACPSistêmico.

38/ Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a, pelo menos, um dos três índices de exigência de capital: Índice de Basileia (IB), Índice de Capital de nível I (IPR1) e Índice de Capital Principal (ICP).

0,0

2,4

4,8

7,2

9,6

12,0

Dez 2017 Mar Jun Set 2018 Dez Mar Jun 2019

Cenário Base VAR estressado (α = 5%)VAR com quebra estrutural (α = 5%) Pior HistóricoProvisão (Dez 2017)

Gráfico 1.5.1.1 – Estresse macroeconômico Carteira de ativos problemáticos projetada (% da carteira total)

%

15

16

17

18

19

20

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Dez 2017 Mar Jun Set 2018 Dez Mar Jun 2019

Capital Principal (dir.) Complementar (dir.)Nível 2 (dir.) Índice de Basileia

Gráfico 1.5.1.2 – Necessidades de capital VAR estressado

% do PRÍndice de Basileia (%)

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0,0

0,6

1,2

1,8

2,4

3,0

0 1 2 3 4 5 6Trimestres

Data-base de jun 2016 Data-base de dez 2016Data-base de jun 2017 Data-base de dez 2017

% do PR

Gráfico 1.5.1.3 – Necessidades de capitalVAR estressado – Evolução

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 31

todos de forma individual. Para os ativos problemáticos, são analisadas apenas variações incrementais, e, para o preço de imóveis residenciais, apenas as variações negativas. No caso do risco cambial e de taxa de juros, são consideradas variações tanto positivas quanto negativas.

Os testes de sensibilidade de câmbio e juros revelam que os impactos seriam irrelevantes, refletindo a baixa exposição líquida aos fatores de risco e o uso disseminado de instrumentos de hedge. Os choques alteram as taxas de juros e de câmbio, individualmente e em parcelas de 10%, ao longo de uma faixa de valores cujos limites inferior e superior correspondem respectivamente a 10% e a 200% das taxas originais. Dentro desse intervalo, não são observados desenquadramentos para o estresse de câmbio. Com relação aos juros, somente se as taxas atingissem 10% dos valores atuais, a necessidade identificada de capital para evitar desenquadramentos seria de 1,3% do atual PR do sistema. Com as taxas a 200%, não seriam observados desenquadramentos.

Os resultados dos testes de sensibilidade a choques incrementais do risco de crédito (Gráfico 1.5.2.1) indicam que, caso o percentual de ativos problemáticos atinja 8,2%, próximo do maior nível já observado no sistema bancário brasileiro desde dezembro de 200039, a necessidade de capital seria de 0,1% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte de capital representariam 0,4% do total de ativos do sistema bancário. Em situação extrema, caso a proporção de ativos problemáticos atingisse 19,8% da carteira de crédito, haveria necessidade de capital equivalente a 6,9% do PR do sistema, e as instituições com necessidade de aporte representariam 60,2% dos ativos do sistema.

A simulação de reduções sequenciais nos preços de imóveis residenciais demonstra que não há desenquadramentos e/ou restrição à distribuição de lucros para quedas nominais de até 30%. Somente uma queda de 50% ou mais nos preços provocaria situação de insolvência, caracterizada por capital principal negativo (Gráfico 1.5.2.2).

Em dezembro de 2017, o estoque da carteira de crédito imobiliário residencial apresentou loan-to-value (LTV) médio de 62,2%, considerando tanto a atualização do valor das garantias pelo Índice de Valores de Garantias de Imóveis Residenciais (IVG-R)40 e do saldo devedor

39/ Anteriormente a janeiro de 2012, considera-se para efeito comparativo a proporção da carteira E-H em relação ao total da carteira de crédito.

40/ O IVG-R é calculado e divulgado pelo BC tendo por base os valores de garantias de imóveis em financiamentos habitacionais. Para mais detalhes, ver item 2.6.

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

3 0 4 13

23

91

20 9 3

21

11

70

0

20

40

60

80

100

<= 8.5 8.5 - 10.5 10.5 - 12.5 12.5 - 14.5 14.5 - 16.5 >= 16.5

Dezembro 2017 (dados observados) Junho 2019 (cenário de estresse)

Gráfico 1.5.1.4 – Estresse macroeconômico Distribuição de frequência dos ativos por faixa de Índices de Basileia (IBs)Vetor Autorregressivo (VAR) estressado1/

% do ativo total

1/ Os valores acima das barras referem-se ao número de IFs em cada intervalo.

20,90,91,0

0,0

18,0

17,1 7,8

0,018,0 18,1

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90Queda no preço dos imóveis (%)

Queda (%) acumulada do S&P Case-Shiller 10 (EUA) durante a crise do subprime

(abr/2006 a mai/2009)

Gráfico 1.5.2.2 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito imobiliário residencial

Necessidade de capital (% do capital total):

Principal

Complementar

Nível II

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

2,9

2,5

1,5

0,00,8

17,5 12,5

0,418,9

36,8

60,2

-

2 .0

4 .0

6 .0

8 .0

1 0 .0

1 2 .0

1 4 .0

1 6 .0

1 8 .0

2 0 .0

0

4

8

1 2

1 6

2 0

2 4

2 8

3 2

3 6

4 0

4 4

4 8

5 2

5 6

6 0

6 4

6 8

7 2

7 6

8 0

8 4

8 8

9 2

9 6

1 00

1 04

1 08

1 12

1 16

1 20

1 24

1 28

1 32

1 36

1 40

1 44

1 48

1 52

1 56

1 60

1 64

1 68

1 72

1 76

1 80

1 84

1 88

8 9 10 11 13 14 15 16 17 19 20

Gráfico 1.5.2.1 – Análise de sensibilidadeRisco de crédito

Ativos problemáticos (%)

Bancos em insolvência (% do ativo total)

Bancos desenquadrados (% do ativo total)

IB estressado (%)

Necessidade de capital (% do capital total):

PrincipalComplementarNível II

Maior proporção observada de ativos

problemáticos (desde Dez/2000)

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 32

por juros e amortizações. Critérios de concessão com baixos LTVs e a utilização do Sistema de Amortização Constante (SAC), que reduz o LTV ao longo do prazo de financiamento, são características saudáveis para o crédito imobiliário e contribuem para a capacidade do sistema de absorver choques de preços em cenários extremos.

Ante o exposto, as análises de sensibilidade confirmam que o sistema bancário brasileiro apresenta elevada capacidade de absorção de perdas, uma vez que necessidades relevantes de capital somente ocorreriam em situações extremamente adversas.

Os resultados dos testes de estresse realizados sugerem que o colchão de capital do sistema financeiro é suficiente para assimilar choques bastante severos, resultantes da piora hipotética dos indicadores econômicos. Além disso, a melhora do ambiente econômico, com redução das taxas de juros, baixa inflação e recuperação da atividade econômica, deve contribuir para manutenção de níveis adequados de capital pelas instituições financeiras.

1.5.3 Simulação de contágio direto interfinanceiro

Em adição aos testes de estresse macroeconômico e de sensibilidade, foram conduzidas simulações de contágio direto interfinanceiro, compreendendo todas as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto consórcios e cooperativas. Nesse exercício, são consideradas todas as exposições interfinanceiras no país, mas não são incluídos efeitos de segunda ordem como venda de ativos ou liquidez.

Na avaliação do contágio direto interfinanceiro, simula-se a quebra individual das instituições financeiras, uma por vez, e o impacto que cada uma promove nas demais. Caso a quebra simulada de uma instituição provoque a quebra de outra instituição, realizam-se novas rodadas até que o sistema entre em equilíbrio (efeito dominó). O impacto decorre de exposições por diferentes instrumentos, tais como Depósitos Interfinanceiros (DI), garantias prestadas, operações com derivativos negociados em balcão ou quaisquer outras que tragam risco de crédito, cujas únicas garantias sejam da contraparte – e não de terceiros. Com a simulação de quebra, as exposições identificadas provocam perdas aos credores, e o efeito é avaliado sob a perspectiva da necessidade de capital para que o sistema evite a propagação do contágio.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 33

Nesses exercícios, os resultados apontam para baixa necessidade de recursos para recapitalização do sistema em decorrência de eventual contágio de cada uma das Instituições Financeiras (IFs) individualmente. No pior caso, a necessidade de capital decorrente do contágio ficaria abaixo de 1% do PR do Sistema. Esse baixo impacto é explicado pelo bom nível de capitalização do sistema, além do limite de exposição por cliente de 25% do PR (Resolução BC nº 2.844, de 29 de junho de 2001). Ademais, a maioria das transações interfinanceiras é cursada por meio de operações compromissadas lastreadas em títulos públicos federais (TPFs) não sujeitas ao contágio. O restante das operações tem baixo volume no agregado do sistema financeiro, mas relevante em alguns casos particulares, o que explica a necessidade de capital identificada.

1.6 Pesquisa de Estabilidade Financeira

Introdução

Esta seção apresenta resultados recentes da Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF). A PEF é realizada trimestralmente com instituições financeiras selecionadas, com o objetivo de identificar e acompanhar riscos à estabilidade financeira, de acordo com a percepção das entidades reguladas.

A amostra da PEF é formada por 55 instituições financeiras, que representam 92% do sistema financeiro em termos de ativos, envolvendo bancos públicos, bancos de desenvolvimento, bancos privados nacionais, bancos estrangeiros e bancos privados nacionais com participação estrangeira.

Desde a última edição do REF, foram realizadas duas coletas de informação da PEF, nos períodos de 17 a 27 de novembro de 2017 e de 5 a 19 de fevereiro de 2018, com taxas de resposta de 98% e 100%, respectivamente.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 34

Riscos à estabilidade financeira

Os respondentes indicaram a sua percepção sobre os principais riscos41 à estabilidade financeira nos próximos três anos, considerando probabilidade e impacto no SFN. Essas instituições também avaliaram os prováveis canais de transmissão.

Esta seção compara as pesquisas de agosto de 2017 a fevereiro de 2018, apresentando a frequência de citação das principais fontes de risco à estabilidade financeira, espontaneamente relatadas pelas instituições financeiras (Tabela 1.6.1). As respostas são classificadas em diferentes grupos, sendo que cada instituição pode elencar até três riscos.

A frequência de citação de fatores relacionados com “Inadimplência e Recessão” continuou apresentando forte redução. Depois de ter caído de 90% em maio de 2017 para 72% em agosto de 2017 (REF de outubro de 2017), a frequência de citação desse risco atingiu 56% em fevereiro de 2018. Essa melhora na percepção é consistente com o processo de recuperação econômica iniciado em 2017, refletido no crescimento do PIB nesse ano, após dois anos de recessão.

Em contraste, a preocupação com riscos políticos continuou sua trajetória ascendente, passando a constituir-se no risco mais citado pelas instituições financeiras. Enquanto esse risco era citado por 44% das instituições em maio de 2017 (REF de outubro de 2017), na última pesquisa foi citado por 64% das instituições, motivado pelas incertezas associadas ao processo eleitoral de 2018. Por sua vez, os riscos fiscais continuam

41/ Pergunta: “Nos próximos três anos, quais riscos à estabilidade financeira sua instituição considera mais relevantes, considerando probabilidade e impacto no SFN? Descreva os três riscos em ordem de importância (o mais importante primeiro, considerando a combinação de probabilidade de ocorrência do evento e magnitude do impacto em termos de perdas relativamente ao volume de ativos do SFN)”.

Tabela 1.6.1 – Frequência de riscos mais citados

Risco Frequência Probabilidade ImpactoAgo 2017 Nov 2017 Fev 2018 Fev 2018

Riscos políticos 51 54 64 Médio-alta AltoInadimplência e recessão 72 67 56 Médio-baixa MédioRiscos fiscais 60 59 56 Médio-alta AltoCenário internacional 28 46 51 Médio-baixa MédioRisco de liquidez 23 22 16 Médio-alta MédioRisco de mercado 21 15 15 Médio-baixa MédioMudanças regulatórias 9 7 9 Médio-alta Médio

Fonte: BCAnexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 35

a ser objeto de preocupação das instituições, sendo citado por 56% dos bancos pesquisados, tendo em vista os desafios ainda existentes nessa área. As instituições financeiras mantiveram os riscos políticos e fiscais como os mais prováveis42 e com maior impacto no sistema financeiro (Gráfico 1.6.1).

Nos últimos seis meses, houve deterioração na percepção de fatores de risco advindos do cenário internacional (citados por 51% dos respondentes em fevereiro de 2018, ante 28% em agosto de 2017) e aumento da sua probabilidade de materialização. Nesse grupo, a principal preocupação se refere ao processo de retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos e em outras economias avançadas e suas repercussões no sobrefluxo de capitais e no custo de captação de países emergentes.

Os canais de transmissão43 de eventos mais relevantes apontados pelos respondentes foram aumento da aversão ao risco e de incerteza, fuga de capitais, depreciação cambial e downgrade de crédito (Tabela 1.6.2).

Ciclos econômico e financeiro

A percepção de melhora da atividade econômica mantém-se em alta. Em fevereiro de 2018, 93% dos respondentes acreditavam que a economia se encontrava em fase de recuperação, ante 89% em agosto de 2017. Destaque-se que, para 6% dos respondentes, a economia tende a iniciar a fase de expansão. Esse resultado está consistente com a queda na percepção sobre o risco relacionado à recessão e inadimplência, bem como com a recuperação do mercado de crédito bancário (Gráficos 1.6.2 e 1.6.3).

Acompanhando a percepção mais forte de recuperação econômica, a disposição das instituições financeiras para tomar risco inverte para tendência de alta. Em fevereiro de 2018, embora a maioria dos respondentes considere que a disposição ainda esteja baixa, há uma tendência de alta para a tomada de risco (60% das respostas, ante 52% em novembro de 2017 e 0% em agosto de 2017). Movimento semelhante é observado na percepção das

42/ Pergunta: “Para cada um dos três riscos apontados, indique a probabilidade e o impacto, considerando as seguintes classes: i) probabilidade: baixa (<1%); médio-baixa (1%-10%); médio-alta (10%-30%); alta (>30%); ii) impacto (volume de ativos do SFN): muito baixo (<0,1%); baixo (0,1%-1%); médio (1%-5%); alto (5%-10%); muito alto (>10%)”.

43/ Pergunta: “No caso de ocorrência do evento de alto impacto mais relevante, qual a probabilidade do referido choque ser transmitido pelos seguintes canais”. Os números apresentados representam a mediana das respostas. A última coluna mostra a distribuição das respostas do último levantamento da pesquisa.

Riscos políticos

Inadimplência e recessão

Riscos fiscais

Cenário internacional

Risco de liquidezRisco de mercadoMudanças regulatórias

0

2

4

6

8

10

0 4 8 12 16 20

Probabilidade

Gráfico 1.6.1 – Riscos elencados na Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF) (fev/2018): probabilidade, impacto e frequência

Nota: o tamanho do círculo representa a frequência do risco. As coordenadas representam o ponto médio das classes de probabilidade e impacto.

Impacto (perda/ativo SFN)

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Tabela 1.6.2 – Canais de transmissão de choque no Sistema Financeiro Nacional (SFN)

Canal de Transmissão Ago 2017 (mediana)

Nov 2017 (mediana)

Fev 2018 (mediana)

Distribuição (última posição)

Contágio entre mercados e instituições domésticas 3 4 3

Congelamento de liquidez, incluindo mercado interbancário e linhas de crédito do exterior

2 3 3

Queda expressiva de preços de ativos financeiros domésticos, inclusive garantias

3 3 3

Aumento da aversão ao risco e de incerteza, afetando decisões correntes de consumo e investimento

4 4 4

Queda de confiança dos depositantes, incluindo movimentos caracterizados com flight-to-safety

3 3 3

Fuga de capitais e/ou depreciação cambial relevante

4 4 4

Downgrade de rating de crédito, incluindo rating soberano, de forma ampla e disseminada

4 4 4

ProbabilidadeMuito baixa 1 2 3 4 5 6 Muito altaFonte: BC

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 36

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

20

40

60

80

100

Expansão Boom(pico)

Contração Recessão Depressão(vale)

Recuperação

%Ciclo econômico

Fev 2018 Ago 2017

Gráfico 1.6.2 – Ciclos econômico e financeiro

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Hiato crédito/Produto interno bruto (PIB)

Fev 2018 Ago 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%

Disposição das instituições financeiraspara tomar riscos

Fev 2018 Ago 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Grau de alavancagem de famílias

Fev 2018

Gráfico 1.6.3 – Ciclo financeiro

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Grau de alavancagem de empresas

Fev 2018

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Preço de ativos em relação aos

fundamentos da economia

Fev 2018 Ago 2017

0

20

40

60

80

100

Elevado comtendência de

alta

Elevado eestável

Elevado comtendência de

queda

Baixo comtendência de

queda

Baixo eestável

Baixo comtendência de

alta

%Acesso a funding e meios de liquidez

Fev 2018 Ago 2017

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 37

instituições sobre o hiato do crédito em relação ao PIB, com quase metade das respostas considerando que o hiato é baixo com tendência de alta.

O grau de concordância sobre o ciclo do acesso a funding e meios de liquidez aumentou, com 60% das respostas concentradas na classe “elevado e estável” (ante 51% no levantamento de agosto de 2017). Em contraste, a dispersão nas respostas ainda não permite identificar fase dominante no ciclo financeiro de preço de ativos em relação aos fundamentos da economia, embora a classificação mais frequente é de que os preços estejam baixos, mas com tendência de alta.

Em relação à última edição da pesquisa, a pergunta sobre grau de alavancagem de empresas e famílias foi desmembrada em “grau de alavancagem de empresas” e “grau de alavancagem de famílias”. Percebe-se uma diferença de percepção em relação à alavancagem desses dois grupos. No caso das famílias, a maioria considera que o grau de alavancagem é baixo (70% dos respondentes), sendo que 52% das respostas consideram o grau baixo com tendência de queda. Em contraste, no caso das firmas, a maioria dos respondentes considera que o grau é elevado (78% dos respondentes), embora a maioria considere que esteja em queda (56% responderam “elevado com tendência de queda”).

Expectativas para o Adicional Contracíclico de Capital Principal

Em linha com a implementação das recomendações do Comitê de Basileia para Supervisão Bancária conhecidas por Basileia III, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) é o órgão responsável pela definição e comunicação do valor do adicional contracíclico relativo ao Brasil. Os resultados mostram que 96% e 94% das instituições financeiras esperavam e recomendavam, respectivamente, que houvesse manutenção do valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em 0% (Gráfico 1.6.4). A decisão da reunião do Comef de 8 de março foi de manutenção do valor.

Resiliência e confiança na estabilidade do sistema financeiro

A percepção sobre as condições de resiliência do SFN não se alterou nos últimos levantamentos da pesquisa (Tabela 1.6.3). Os resultados mostram elevado grau de

94%

4% 2%

Sugestão para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 1 p.p.

96%

2% 2%

Expectativa para valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Manter Elevar 0,05 p.p. Elevar 0,25 p.p.

Gráfico 1.6.4 – Expectativas para o valor do Adicional Contracíclico de Capital Principal

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 38

concordância entre as instituições sobre a adequação e suficiência dos instrumentos disponíveis para enfrentar cenário de grave crise financeira, em caso de materialização.

O índice agregado de confiança44 na estabilidade financeira tem se mantido elevado e estável, não havendo registro de nenhuma avaliação negativa (classes: “sem confiança” e “pouca confiança”) nos últimos sete trimestres (Gráfico 1.6.5).

Portanto, mesmo diante de incertezas no cenário político, na agenda de reformas fiscais e no cenário internacional, as instituições financeiras acreditam que o sistema financeiro teria satisfatória capacidade para absorver choques.

Considerações finais

Na percepção das instituições financeiras, os riscos relacionados à inadimplência e à recessão têm perdido força, associados à recuperação econômica, ao mesmo tempo em que os riscos políticos têm ganhado mais força, associados principalmente às próximas eleições. Ainda, os riscos fiscais mantiveram-se elevados, reforçados pela suspensão da reforma da Previdência. Por sua vez, o cenário externo assumiu maior preocupação para as instituições, refletindo principalmente as incertezas associadas aos processos de normalização da política monetária dos países avançados.

Acompanhando a recuperação econômica, a percepção das instituições sobre o crédito também tem melhorado, com aumento da disposição para tomada de riscos e percepção de evolução mais positiva do crédito.

Os resultados da pesquisa indicam ainda que, na visão das instituições financeiras, as firmas têm um grau de alavancagem superior ao das famílias e que o processo de desavalancagem ainda está em curso.

A maioria expressiva esperou e recomendou que o valor do ACCPBrasil não fosse alterado, o que efetivamente se verificou, sugerindo alinhamento das expectativas relativamente ao buffer de capital necessário para assegurar a estabilidade do sistema financeiro.

44/ O índice de confiança é calculado ponderando as respostas de acordo com os seguintes pesos (multiplicados por 100): confiança completa (1); muita confiança (0,75); razoável confiança (0,5); pouca confiança (0,25); e sem confiança (0).

Tabela 1.6.3 – Capacidade de reação do sistema financeiro a eventos de alto impacto

Aspectos para lidar com crise financeira

Ago 2017 (mediana)

Nov 2017 (mediana)

Fev 2018 (mediana)

Distribuição (última posição)

Adequação de capital do sistema financeiro 2 2 2

Adequação de liquidez do sistema financeiro 2 2 2

Grau de atenção e monitoramento das instituições financeiras

2 2 2

Grau de atenção e monitoramento do governo e reguladores

2 2 2

Disponibilidade de instrumentos para prevenção e mitigação de risco pelo Banco Central

2 2 2

Aspectos para lidar com crise financeiraSatisfatório 1 2 3 4 5 6 Insatisfatório

Anexo estatístico

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

1 2 3 4 5 6

40

48

56

64

72

80

Mar2012

Mar2013

Mar2014

Mar2015

Mar2016

Mar2017

Fev2018

%

Gráfico 1.6.5 – Confiança no sistema financeiro

0

20

40

60

80

100

Sem confiança Poucaconfiança

Razoávelconfiança

Muita confiança Completaconfiança

%

Fev 2018 Ago 2017

Distribuição relativa das percepções de confiança

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 39

A confiança na estabilidade financeira manteve-se elevada, e a capacidade de resposta do sistema financeiro a eventos relevantes é considerada satisfatória.

1.7 Infraestruturas do mercado financeiro sistemicamente importantes

No segundo semestre de 2017, observou-se o funcionamento eficiente e seguro das infraestruturas do mercado financeiro (IMFs) sistemicamente importantes. No Sistema de Transferência de Reservas (STR), único sistema de transferência de fundos sistemicamente importante, o saldo agregado dos recursos disponíveis para pagamentos e transferências interbancárias – denominado liquidez intradia – permaneceu acima das necessidades das instituições financeiras participantes, garantindo que as liquidações ocorressem com tranquilidade. Ao longo do semestre, em média, a necessidade de recursos para pagamento – denominada Necessidade Efetiva de Liquidez (NEL) – do sistema foi 1,4% da liquidez disponível, sendo 6,3% o percentual máximo observado no período.

Os TPFs disponíveis às IFs e os recolhimentos compulsórios mantidos no BC contribuem para um ambiente de elevada liquidez no sistema (Gráfico 1.7.1). Os saldos nos recolhimentos compulsórios podem ser transferidos para contas Reservas Bancárias, e os TPFs podem ser convertidos em moeda de banco central por meio do Redesconto Intradia, ambos sem custo financeiro à IF. Um saldo elevado e estável da liquidez intradia possibilita a fluidez dos pagamentos, removendo incentivos para retenção de liquidez e o risco de insuficiência de recursos para a liquidação de obrigações ao longo do dia.

O BC realiza, mensalmente, análises de backtesting para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira, nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC). O propósito dessas análises é avaliar: i) a suficiência do montante de garantias e salvaguardas adicionais45 constituídas para cobertura dos dois participantes com maior exposição financeira (risco de crédito); e ii) a existência de recursos líquidos em montante suficiente para garantia de liquidação tempestiva das obrigações assumidas pelos dois

45/ Cada sistema dispõe de recursos pré-constituídos e disponíveis à contraparte central para lidar com o risco de crédito que exceda o valor das garantias dos investidores.

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

R$ bilhões

Títulos livres CompulsóriosReservas início de dia Necessidade efetiva de liquidez

Gráfico 1.7.1 – Necessidade de liquidez intradia

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 40

participantes com as maiores obrigações financeiras (risco de liquidez) em cada dia do período avaliado.

O risco financeiro líquido (RFL) de um participante é uma métrica utilizada para avaliar seu risco de crédito. Consiste na comparação entre o resultado financeiro decorrente da simulação do encerramento46 das posições e as garantias de um participante. Nesse sentido, ambos os sistemas avaliados – Câmara de Câmbio e Câmara BM&FBovespa, operados pela B3 S.A. – apresentaram resultados satisfatórios ao longo do segundo semestre de 2017. Em cada sistema, a soma do RFL dos seus dois participantes com maiores exposições financeiras não superou o valor dos ativos que compõem as salvaguardas adicionais daquele sistema.

Para a Câmara BM&FBovespa, o RFL, considerando os dois participantes com maiores exposições, correspondeu a 18,21% das salvaguardas adicionais disponíveis no dia em que atingiu seu valor máximo (Gráfico 1.7.2)47. Já para a Câmara de Câmbio, o RFL foi nulo em todos os dias do período.

Também em relação à Câmara BM&FBovespa, no segundo semestre de 2017, as variações acumuladas de dois dias no valor dos principais Fatores Primitivos de Risco48 (FPR) mantiveram-se dentro dos limites estabelecidos em seus cenários de estresse (Tabela 1.7.1). A tabela apresenta o maior percentual observado no período para a razão entre o retorno acumulado de dois dias e o respectivo cenário de alta ou baixa.

A estimativa da acurácia49 do modelo de risco utilizado pela Câmara BM&FBovespa permaneceu acima de 99%, considerado valor de referência50 para contrapartes centrais (Gráfico 1.7.3).

46/ Calculado pela contraparte central com base na estratégia de encerramento e nas variações reais dos preços dos ativos, apuradas nos dias subsequentes.

47/ Em 28 de agosto de 2017, entrou em funcionamento a segunda fase do projeto de Integração da Pós-Negociação (IPN) da B3, com a incorporação, pela Câmara BM&FBovespa, das atividades de compensação, liquidação e gerenciamento de risco da Câmara de Ações. Com isso, a Câmara de Ações passou a exercer apenas a função de depositário central de ativos e seu nome foi alterado para Central Depositária da BM&FBovespa. Com isso, foram iniciadas novas séries para os Gráficos 1.7.2 e 1.7.3.

48/ O FPR associado a um contrato derivativo é a denominação dada às variáveis financeiras que são relevantes à formação do preço do contrato.

49/ O nível de acurácia é definido como a frequência de acertos de um modelo de gerenciamento de riscos em um determinado período de tempo.

50/ De acordo com o Principles for Financial Market Infrastructures (PFMI – CPSS/IOSCO 2012), uma contraparte central deve utilizar um nível de confiança de 99% da distribuição estimada para a exposição futura ao calcular a exigência de garantias de cada participante ou portfólio. A estimativa de acurácia representada no Gráfico 1.7.3 é calculada de forma agregada para todos os portfólios individuais, guardando uma relação indireta com essa recomendação.

Tabela 1.7.1 – Câmara BM&FBovespa

Fatores Primitivos de Risco (FPR)

Discriminação Baixa1/ Alta1/

Ibovespa à vista 20% 25%Dólar à vista 11% 15%Pré 42 18% 0%Pré 126 18% 2%Pré 252 13% 4%Pré 756 12% 11%DDI2/ 180 12% 5%DDI 360 7% 4%DDI 1080 9% 5%

Fontes: BM&FBovespa e BC

1/ Percentual de variação acumulada em 2 dias em relação aos cenários de baixa e alta no 2º semestre de 2017.

2/ Cupom cambial.

0

50

100

150

200

250

Jul2017

Ago Set Out Nov Dez

Gráfico 1.7.2 – Câmara BM&FBovespaRisco financeiro líquido

R$ milhões

Fontes: BM&FBovespa e BC

Início da 2ª fase do projeto de IPN da B3

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Anexo estatístico

99,0

99,2

99,4

99,6

99,8

100,0

Jul2017

Ago Set Out Nov Dez

%

Gráfico 1.7.3 – Câmara BM&FBovespaRisco de crédito1/

1/ Estimativas de acurácia do modelo de cálculo de garantias individuais, realizadas com janela móvel dos últimos três meses (63 dias).

Início da 2ª fase do projeto de IPN da B3

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 41

A Resolução n° 2.882, de 30 de agosto de 2001, determina que as câmaras de compensação e liquidação devem manter recursos líquidos para garantir, no mínimo, a liquidação tempestiva de obrigações do participante com a maior posição devedora apurada. No mesmo sentido, os princípios internacionais adotados pelo BC – Principles for Financial Market Infrastructures (PFMI)51 – recomendam que uma CPC, como a Câmara de Câmbio, mantenha recursos líquidos para garantir a liquidação da maior posição devedora52.

Nesse aspecto, tanto a Câmara de Câmbio quanto a Câmara BM&FBovespa estiveram em conformidade com a norma e em atendimento às recomendações internacionais. Além disso, a Câmara de Câmbio manteve, com exceção de sete dias, recursos líquidos em montante suficiente para garantir a liquidação tempestiva, em reais, das duas maiores posições devedoras (Gráfico 1.7.4).

51/ Publicados em abril de 2012 pelo Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações Internacionais (CPSS/BIS) e pelo Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de Valores (TC/IOSCO).

52/ Por sua vez, CPCs que sejam consideradas sistemicamente importante em mais de uma jurisdição, ou que tenham um perfil de risco complexo, devem manter recursos líquidos em montante suficiente para garantir a liquidação das duas maiores posições devedoras.

0

120

240

360

480

600

Jul2017

Ago Set Out Nov Dez

Falha de um membro da câmara Falha de dois membros da câmara

Gráfico 1.7.4 – BM&FBovespa – CâmbioDeficit de liquidez

R$ milhões

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 42

2Temas selecionados

2.1 Interconexões entre os agentes do sistema financeiro brasileiro

Compreender os potenciais riscos resultantes das ligações diretas e indiretas entre os agentes do sistema financeiro é crucial para uma percepção abrangente acerca da estabilidade financeira. Nesse sentido, o Financial Stability Board (FSB) incentiva os países participantes do seu exercício global anual do Shadow Banking53 a desenvolver um mapa de interconexões que identifique os canais de contágio direto entre os principais agentes de seus sistemas financeiros.

O FSB publica anualmente o Global Shadow Banking Monitoring Report (GSBMR), no qual o Brasil é reiteradamente apresentado com a maior interconectividade do mundo no que tange a bancos captando recursos de fundos de investimento (FIs). O Brasil é destacado, também, como o país no qual fundos de pensão e seguradoras mais aplicam recursos em FIs.

Nesse sentido, o relatório publicado em março de 201854 apresenta um boxe sobre o caso brasileiro demostrando que, apesar de as interconectividades serem elevadas, os riscos para a estabilidade financeira delas decorrentes são limitados. As autoridades reguladoras55 do Brasil dispõem de amplas bases de dados que permitem mapear essas

53/ No REF publicado em março de 2015, disponível em <http://www.bcb.gov.br/?relestab201503>, há um boxe com as primeiras discussões sobre conceito e estimativas do Shadow Banking no Brasil. Desde então, o FSB tem aprofundado o debate sobre esse tema, o que influi diretamente na mensuração do Shadow Banking.

54/ Disponível em <http://www.fsb.org/2018/03/global-shadow-banking-monitoring-report-2017/>.

55/ Banco Central do Brasil (BC), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Subsecretaria dos Regimes Próprios de Previdência Social (SRPPS). Embora o BC disponha de base de dados para o mercado de derivativos, este trabalho ainda não contempla essa atividade financeira.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 43

interconexões, identificar as aplicações dos recursos de cada agente e analisar os riscos envolvidos56.

Nesta seção, o risco de contágio é analisado com o foco nas interconexões do principal grupo de agentes, as instituições captadoras de depósitos57, com os fundos de investimento, os fundos de pensão e as companhias de seguro. Adicionalmente às análises do boxe, esta seção inclui as principais aplicações dos agentes e suas conexões com o exterior (resto do mundo) (Gráfico 2.1.1)58.

56/ Além de interconexões, as informações granulares sobre instrumentos, prazos e contrapartes facilitam o monitoramento de outros riscos, tais como step-in-risk, alavancagem, crédito, concentração e liquidez. O REF publicado em outubro de 2017 contém uma seção que aborda step-in-risk no Brasil.

57/ Inclui o sistema bancário, inclusive bancos de desenvolvimento, cooperativas de crédito, associações de poupança e empréstimo, companhias hipotecárias e sociedades de crédito, financiamento e investimento.

58/ O mapa de interconexões é um processo de trabalho contínuo do BC, com a colaboração das demais autoridades reguladoras do SFN. As aplicações dos FI, fundos de pensão e companhias de seguro em ações de bancos foram classificadas nas interconexões com bancos. As demais aplicações em capital dos agentes ainda não foram contempladas neste trabalho.

Gráfico 2.1.1 – Interconexões e aplicações do sistema financeiro – Dezembro 2017Valores em R$ bilhões

Os valores dentro dos círculos laranja informam o total de ativos financeiros (AF). Os círculos vermelhos informam o tipo de instrumento no qual os ativos financeiros estão aplicados na data de referência. Os valores ao lado das setas são os valores aplicados.* Sistema bancário, inclusive bancos de desenvolvimento e cooperativas de crédito.** Entidades Fechadas de Previdência Complentar (EFPC), Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC) e Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS).Fonte: BC, CVM, PREVIC, SUSEP e SRPPS.

Crédito no

País

Ações

Títulos públicos federais

Títulos privados,

exceto ações

Outros ativos

financeiros

195

Seguradoras

7.233Captadores de

depósito*

3.176Banco Central

do Brasil

4.258Fundos de

investimento

Resto do

mundo

1.757Fundos de pensão**

2

2

3571

814

3.205

41

872176

1.040

2063

152

155

24

1.343

699

1.768176

191

146 1.337

388

213 1.33762

39

1.771

28

1.540

88

166

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 44

Riscos para as instituições captadoras de depósito decorrentes de interconexões com fundos de investimento

A interconectividade direta59 dos captadores de depósito com os FIs pode ocorrer tanto do lado do passivo (captadores de depósito captando de FIs) quanto do lado do ativo (captadores de depósito aplicando em FIs). A métrica60 de interconexão é importante para identificar a extensão do desafio enfrentado caso haja redução na fonte de funding ou o quanto uma deterioração nos FIs poderia reduzir a solidez do sistema bancário.

Por um lado, o risco de crédito para os captadores de depósito decorrente de aplicações em FIs é reduzido, uma vez que eles aplicam apenas 2,0% de seus ativos financeiros em FIs. Por outro, aproximadamente 18% dos ativos financeiros dos captadores de depósito, ou R$1,3 trilhão, estariam sendo financiados por captações perante os FIs em dezembro de 201761 (Gráfico 2.1.1).

Contudo, elevada interconectividade não necessariamente significa risco elevado. O próprio FSB62 sugere que a extensão da vulnerabilidade seja analisada a partir da compreensão da maturidade e da natureza do funding e de eventual concentração de funding de curto prazo para alguma instituição específica.

Nesse sentido, a análise granular dos dados brasileiros indica baixo risco de perda de funding para os captadores de depósito, uma vez que 71% dos seus passivos com FIs decorrem de operações compromissadas lastreadas em TPFs (Tabela 2.1.1). Ademais, embora haja bancos com relativa concentração de captações no mercado de FI, essas instituições ou são de pequeno porte ou não apresentam risco de liquidez nem de step-in, portanto não representam riscos para a estabilidade financeira.

59/ A interconectividade direta abordada nesta seção não objetiva simular contágio direto interfinanceiro (efeito dominó) da forma realizada para as instituições autorizadas a funcionar pelo BC, no item 1.5.3 deste REF. A mensuração da interconexão indireta, que ocorre via mercado, é complexa e não é escopo desta análise.

60/ A métrica é calculada dividindo-se o valor da interconexão ativa ou passiva pelo valor dos ativos financeiros do agente analisado. Os ativos financeiros compreendem todos os créditos financeiros, as ações ou outros valores mobiliários. Ativo imobilizado e crédito tributário não foram considerados ativos financeiros.

61/ Nesta seção, o risco de funding é estimado comparando a fonte de funding com o total de ativos financeiros, e não com as captações totais, como é feito para o risco de liquidez apresentado no Capítulo 1 deste REF.

62/ <http://www.fsb.org/wp-content/uploads/global-shadow-banking-monitoring-report-2016.pdf>, seção 3.2.2.

Tabela 2.1.1 – Operações compromissadas e títulos emitidos pelos tomadores de depósitos no ativo dos fundos de investimento – Dezembro de 2017

Valor em R$ bilhões %

% dos ativos financeiros

dos tom. Dep.Operações compromissadas 949 71% 13,1%

Títulos emitidos por bancos 388 29% 5,4%

Total 1.337 100% 18,5%

Fonte: BC

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 45

O risco de funding dos bancos proveniente das conexões com FIs é baixo quando analisado sob a perspectiva do risco de liquidez de Basileia III – liquidez de curto prazo (IL) e liquidez estrutural (ILE). Essa percepção vem do fato de as operações compromissadas representarem mera troca de dois ativos altamente líquidos (recursos em espécie e TPF), portanto a maioria delas é excluída do cálculo do IL e do ILE. Dessa forma, o residual de operações compromissadas somado aos títulos emitidos por bancos são pouco representativos para o risco de liquidez agregado dos bancos, tanto de curto quanto de longo prazo.

Com base no exposto, pode-se afirmar que a interconexão passiva entre os captadores de depósito e os FIs é elevada, mas não representa risco de funding para os bancos. Os resultados das análises sob as perspectivas de funding, crédito e liquidez sugerem não haver riscos para a estabilidade financeira.

Riscos para o sistema bancário decorrentes de interconexões com fundos de pensão e companhias de seguro

O encadeamento de algumas conexões relevantes (Gráfico 2.1.1, setas verdes) poderia sugerir que os fundos de pensão seriam importantes provedores indiretos de funding para os bancos, utilizando os FIs como intermediários, uma vez que os FIs têm recebido mais de 70% dos ativos financeiros dos fundos de pensão (Gráfico 2.1.2)63, e, conforme explicado no item anterior, os FIs possuem elevado volume de ativos com bancos (Gráfico 2.1.3, esquerdo).

A elevada interconexão passiva dos FIs com os fundos de pensão e seguradoras é fortemente influenciada pela regulação. Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC) e Companhias Seguradoras são obrigadas a aplicar uma parte relevante de seus recursos em fundos de investimentos especialmente constituídos (FIE)64, cujo público-alvo está restrito, direta ou indiretamente, aos participantes do mercado sob supervisão da Susep.

63/ Neste trabalho, as EAPC foram classificadas como fundos de pensão. Assim, embora as seguradoras apliquem mais de 40% de seus ativos financeiros em FI, esse valor é pouco relevante em relação aos ativos financeiros dos captadores de depósito.

64/ Resolução CMN nº 4.444, de 13 de novembro de 2015, e Circular Susep nº 563, de 24 de janeiro de 2017. Os FIE são FIs especialmente constituídos, destinados exclusivamente aos participantes do mercado supervisionado pela Susep, com predeterminação para alocação dos investimentos.

Gráfico 2.1.3 – Interconectividade dos fundos de investimento como percentual de seus ativos financeiros

0

10

20

30

40

50

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Compromissadas no ativo dos FIscom bancos

Títulos no ativo dos FIs combancos

Interconectividade ativa

Fonte: BC e CVM

% dos ativos financeiros dos FIs

0

10

20

30

40

50

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Passivo dos FIs com fundos de pensão

Passivo dos FIs com seguradoras

Passivo dos FIs com bancos

% dos ativos financeiros dos FIs

Interconectividade passiva

Fonte: Anbima, BC e CVM

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

20

40

60

80

100

Dez2013

Dez2014

Dez2015

Dez2016

Dez2017

Aplicações de seguradoras em FI Aplicações de fundos de pensão em FI

Gráfico 2.1.2 – Aplicações de seguradoras e fundos de pensãoem fundos de investimento

% dos respectivos ativos financeiros

Fonte: Anbima, Previc e Susep

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 46

A maior parte dos recursos dos FIE está aplicada em TPF de longo prazo de forma que, ao final, somente 5,3% dos ativos financeiros dos fundos de pensão são aplicados, direta ou indiretamente, em Letras Financeiras (LF), Certificados de Depósito Bancário (CDB), ações ou outros títulos de bancos (Tabela 2.1.2). Dessa forma, os fundos de pensão financiam apenas 1,3% dos ativos financeiros dos bancos. Em síntese, fundos de pensão têm papel bastante reduzido no financiamento dos bancos, principal agente captador de depósito e, portanto, baixo risco de funding para a estabilidade do sistema bancário.

Interconexões dos agentes do sistema financeiro com o “resto do mundo” (exterior)

Os agentes do sistema financeiro brasileiro não possuem conexões diretas relevantes com o exterior, tanto na parte ativa quanto na passiva. No que tange aos captadores de depósito, essa percepção está coerente com reiteradas divulgações em REF sobre a baixa exposição dos bancos brasileiros ao risco de funding do exterior (Gráfico 1.1.1). A exposição dos FIs é ainda menor que a dos bancos, menos de 5% de operações ativas e passivas com exterior (Gráfico 2.1.4).

A reduzida atuação de FIs, fundos de pensão e seguradoras no mercado externo, mais uma vez, está relacionada a restrições regulamentares. No Brasil, seguradoras, resseguradoras e fundos de pensão do tipo EAPC podem aplicar, no máximo, entre 2,5% e 10% de seus recursos em operações sujeitas à exposição à variação na taxa de câmbio. A única exceção são as aplicações de sociedades seguradoras e resseguradoras vinculadas às operações em moeda estrangeira e de seguros de crédito à exportação, que podem atingir até 100% na modalidade

Tabela 2.1.2 – Aplicações de seguradoras e fundos de pensão em títulos de bancos – R$biDezembro de 2017

Canal da aplicação Seguradoras Fundos de pensão Total

Aplicação direta – Títulos 4 23 27

Aplicação direta – Operação compromissada 0 1 1

Aplicação via fundo de investimento – Títulos 0 71 71

Aplicação via fundo de investimento – operação compromissada 0 111 111

Total 4 206 210

Interconexão de seguradoras e FP com bancos (sem comprom.) 1,9% 5,3% 5,0%

Interc. de bancos com Seguradoras e FP (sem compromissadas) 0,1% 1,3% 1,3%

Fonte: BC

Anexo estatístico

Anexo estatístico

0

10

20

30

40

50

Tomadores dedepósito

Fundos deinvestimento

Fundos depensão

Seguradoras Banco Central

Ativo no exterior Passivos no exterior

Gráfico 2.1.4 – Interconexões com o mundo(dez/2017)

% dos ativos financeiros

Fonte: BC

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 47

“investimentos sujeitos à variação cambial”.65 As EFPC66 também devem respeitar um limite máximo de 10%, por plano, para aplicações no exterior. Em geral, essas aplicações ocorrem via FIs.67

O único agente do sistema financeiro brasileiro com exposição importante ao “resto do mundo” é o próprio BC, que aplica mais de 40% de seus ativos financeiros em títulos de países estrangeiros, principalmente títulos do tesouro dos EUA.

Aplicações dos agentes do sistema financeiro

Os riscos das principais aplicações dos agentes do sistema financeiro concentram-se basicamente nos clientes tomadores de crédito e no Tesouro Nacional. O mercado acionário e os “Títulos privados, exceto ações”, como debêntures, têm sido opções secundárias (Gráfico 2.1.1).

Os captadores de depósitos são os grandes intermediadores de crédito no Brasil. Os riscos inerentes a essa atividade estão amplamente analisados no Capítulo 1 deste Relatório. Os fundos de pensão (EFPC), por sua vez, aplicam pequena parcela de seus recursos em empréstimos e financiamentos imobiliários, operações restritas aos participantes e assistidos de cada plano.

Cerca de R$4,9 trilhões, equivalentes a 36% do risco da carteira dos agentes do sistema financeiro, excluindo o BC, guardam relação direta ou indireta com o Tesouro Nacional. São R$2,9 trilhões aplicados em TPF e R$2 trilhões em operações compromissadas lastreadas em TPF. Os títulos do governo federal são notadamente relevantes na composição da carteira dos FIs, cerca de R$1,8 trilhão (Gráfico 2.1.1). Nesse caso, há um misto de opção, em razão da rentabilidade atrativa com baixo risco, e de influência da regulação. Em geral, os fundos de renda fixa, que representam mais da metade dos FIs, devem aplicar, no mínimo, 80% de sua carteira em títulos da

65/ Resolução nº 4.444, de 13 de novembro de 2015, artigo 13, III – d, combinado com o artigo 11, I. Ver item 14 da “Cartilha de investimentos”, com orientações da Susep ao mercado, disponível em <http://susep.gov.br/setores-susep/cgsoa/comat/Cartilha%20de%20Investimentos_v_Agosto-17.pdf>.

66/ Para riscos específicos relacionados a EFPC, ver Relatório de Estabilidade da Previdência Complementar disponível em <http://www.previc.gov.br/central-de-conteudos/publicacoes/relatorio-de-estabilidade-da-previdencia-complementar-rep>.

67/ A Resolução nº 3.792, de 24 de setembro de 2009, artigo 21, IV e V, permite que as EFPC façam apenas dois tipos de aplicações diretas no exterior: i) em certificados de depósito de valores mobiliários – Brazilian Depositary Receipts (BDR); e ii) em ações de emissão de companhias estrangeiras sediadas no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

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dívida pública federal ou em outros títulos de baixo risco. As operações compromissadas lastreadas em TPF, por sua vez, somam R$0,95 trilhão na carteira dos FIs (Tabela 2.1.1) e R$1,05 trilhão na carteira dos bancos. Estes agentes fazem as operações compromissadas com aqueles e as repassam ao BC.

Entretanto, ao menos no que tange aos fundos de pensão, essa participação pode diminuir. Em seu relatório de estabilidade,68 a Previc destaca que, caso a redução na taxa de juros não seja acompanhada pela redução na meta atuarial na mesma velocidade, a perspectiva é de aumento dos ativos de maior risco na carteira das EFPC, para a obtenção de rentabilidade superior àquela ofertada aos TPFs.

Os FIs formam também, entre os agentes do sistema financeiro, o principal conjunto de aplicadores em ações. Nesse caso, grande parte são aplicações em ações que compõem o índice Ibovespa, que, em tese, apresentam menor risco de liquidez. Ressalta-se que as aplicações dos agentes em ações de bancos foram classificadas nas interconexões com bancos, portanto, excluídas das aplicações em ações.

Por sua vez, as aplicações em “outros títulos privados, exceto ações” são compostas basicamente por debêntures e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), no caso dos bancos; e por debêntures, no caso dos FIs.

Por fim, o item “Outros ativos financeiros” engloba os ativos não classificados nos itens anteriores. No caso dos captadores de depósito, uma parcela desses ativos refere-se a interconectividades entre os próprios bancos (operações compromissadas, depósitos interfinanceiros etc.) ou entre as cooperativas de crédito (depósitos de cooperativas filiadas em cooperativas centrais), que, por questões metodológicas, não foram eliminadas nas consolidações setoriais. O restante é composto basicamente por derivativos, participações em coligadas e controladas, e valores a receber dos usuários finais relativos a transações de pagamento.

De forma semelhante, uma parte dos “Outros ativos financeiros” dos FIs refere-se a interconectividades dentro do sistema de fundos, ou seja, fundos aplicando em outros fundos. Já os “Outros ativos financeiros” dos fundos de pensão têm como principais componentes

68/ Disponível em: <http://www.previc.gov.br/central-de-conteudos/publicacoes/relatorio-de-estabilidade-da-previdencia-complementar-rep>.

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ativos relacionados a direitos de recebimentos de royalties (fundos RPPS) e, em menor grau, a imóveis.

Em suma, o risco decorrente das interconectividades dentro do sistema financeiro brasileiro é baixo, a despeito da densa rede de conexões diretas entre o sistema bancário e os fundos de investimento, e entre estes com as seguradoras e os fundos de pensão. As conexões que envolvem os captadores de depósito não apresentam risco significativo, pois têm origem principal em operações compromissadas lastreadas em TPF e em instrumentos de longo prazo. Por fim, os captadores de depósito são pouco dependentes dos demais agentes como fonte de funding.

Considerando que a dinâmica do sistema financeiro brasileiro pode se alterar, o BC continuará a aperfeiçoar suas ferramentas de monitoramento visando identificar e mitigar eventuais riscos que as interconectividades possam trazer à estabilidade financeira.

2.2 Ativação do buffer de capital contracíclico nas principais economias

Nesta seção, apresentamos a recente experiência internacional na ativação do buffer contracíclico de capital implementado pelo Acordo de Basileia III. Em especial, avaliamos quais variáveis têm sido consideradas importantes no processo de decisão de ativação. A exposição a seguir é exploratória e não implica em julgamento técnico sobre as decisões dos países, tampouco sobre as variáveis de análise do BC.

Em dezembro de 2010, o Comitê de Basileia publicou69 os padrões regulatórios globais para adequação de capital e liquidez dos bancos no âmbito das novas regras de Basileia III. No documento técnico suplementar Guidance for national authorities operating the countercyclical capital buffer, o Comitê esclarece que o objetivo principal do buffer de capital contracíclico (CCyB) é atuar como medida macroprudencial de amplo alcance, a fim de proteger o setor bancário em períodos de excesso de crescimento do crédito agregado que estejam associados com o aumento do risco sistêmico.

Durante a fase de expansão do ciclo de crédito, o buffer de capital contracíclico pode ser ativado. Nesse

69/ Basel Committee on Banking Supervision, 2010. Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems, disponível em <https://www.bis.org/publ/bcbs189_dec2010.htm>.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 50

caso, as instituições financeiras devem constituir uma reserva adicional de capital principal com finalidade precaucionária, que pode ser utilizada na fase de contração do ciclo. A liberação do capital adicional durante a fase de contração busca mitigar os efeitos de correções abruptas de preços sobre o setor bancário. Dessa forma, pretende-se garantir maior resiliência do setor bancário ao longo de todo o ciclo financeiro, com a preservação dos canais bancários de transmissão.

Cada Autoridade Nacional tem autonomia para decidir sobre a ativação do buffer contracíclico, que, de acordo com as recomendações de Basileia III, deve se situar entre 0% e 2,5% do total de ativos ponderados pelo risco de cada banco70. No caso brasileiro, a Circular nº 3.769, de 29 de outubro de 2015, fixou em 0% o valor do adicional contracíclico de capital sobre riscos de crédito ao setor privado não bancário assumidos pelas instituições financeiras no Brasil.

Alguns países anunciaram a ativação do CCyB ao longo dos últimos anos. Eslováquia, Hong Kong, Islândia, Noruega, República Tcheca e Suécia já estão com o requerimento de capital adicional em vigência. Dinamarca, Lituânia e Reino Unido anunciaram em 2017 a ativação do CCyB, mas o início da exigibilidade se dará em datas futuras (Tabela 2.2.1).

O Bank for International Settlements (BIS) recomenda71, como uma referência para orientar a ativação do CCyB, a análise do hiato de crédito/PIB (“hiato do crédito”), definido como a diferença entre a razão do crédito sobre o PIB e sua tendência de longo prazo. Como regra geral de operação do buffer, o BIS sugere que o CCyB seja de 0% sempre que o valor do hiato ficar abaixo de 2,0% e seja de 2,5% quando o hiato superar 10%.

Estimativas de hiato de crédito para os diversos países72 são publicadas trimestralmente pelo BIS (Gráfico 2.2.1). Os países que ativaram o CCyB estão destacados em vermelho, e os valores se referem ao trimestre em que

70/ As autoridades nacionais podem implementar um buffer de mais de 2,5% se isso for considerado apropriado em seu contexto nacional. Às demais autoridades, faculta-se limitar em 2,5% o eventual buffer estrangeiro superior a 2,5%.

71/ A recomendação do BIS encontra suporte em evidências empíricas sobre a relação entre hiato de crédito e crises financeiras. Ver Schularick e Taylor (2012), “Credit Booms Gone Bust: Monetary Policy, Leverage Cycles, and Financial Crises, 1870-2008”. American Economic Review, 102(2): 1029-61. Ver também em Gourinchas e Obstfeld (2012), “Stories of the Twentieth Century for the Twenty-First”, American Economic Journal: Macroeconomics, American Economic Association, vol. 4(1), 226-265.

72/ Dados para Lituânia, Islândia e Eslováquia não estão disponíveis.

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Gráfico 2.2.1 – Hiato de crédito/Produto interno bruto (PIB)* (em p.p.)

* Em vermelho, países que ativaram o CCyB. Valores correntes na data do anúncio de ativação.

Fonte: BIS

Anexo estatístico

Anexo estatístico

Tabela 2.2.1 – Países que ativaram o buffer de capital contracíclico (CCyB)*

País CCyBatual (%) Data de anúncio Vigente desde

República Checa 0,500 Dezembro 2015 Janeiro 2017

1,000 Junho 2017 Julho 2018

1,250 Dezembro 2017 Janeiro 2019

Hong Kong 1,250 Janeiro 2016 Janeiro 2017

1,875 Janeiro 2017 Janeiro 2018

2,500 Janeiro 2018 Janeiro 2019

Suécia 1,000 Setembro 2014 Setembro 2015

1,500 Junho 2015 Junho 2016

2,000 Março 2016 Março 2017

Eslováquia 0,500 Julho 2016 Agosto 2017

1,250 Junho 2017 Agosto 2018

Islândia 1,000 Março 2016 Março 2017

1,250 Novembro 2016 Novembro 2017

Noruega 1,000 Dezembro 2013 Junho 2015

1,500 Setembro 2015 Maio 2016

2,000 Dezembro 2016 Dezembro 2017

País CCyB futuro (%) Data de anúncio Vigente a partir de

Reino Unido 0,5 Junho 2017 Junho 2018

1,0 Novembro 2017 Novembro 2018

Lituânia 0,5 Dezembro 2017 Dezembro 2018

Dinamarca 0,5 Dezembro 2017 Março 2019

Fonte: BIS, Autoridades Nacionais

* Atualizado em 9 de fevereiro de 2018.

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a ativação foi anunciada. Para os demais países, o hiato do crédito é o último disponível. Considerando apenas o indicador de referência proposto pelo BIS, Suécia, Noruega, Reino Unido e Dinamarca não apresentavam hiato de crédito acima de 2% quando ativaram o buffer. Ainda de acordo com esse indicador, a China poderia ter ativado o CCyB. Apesar da ativação chinesa não ter ocorrido, as agências reguladoras do país têm adotado, desde 2016, medidas macroprudenciais destinadas a garantir a estabilidade do sistema financeiro, conforme destacado pelo FMI73.

Analisamos a variação74 da relação crédito/PIB observada na data de anúncio da ativação daqueles países75 que ativaram o CCyB, com relação à variação média do país (eixo vertical) e com relação à média mundial (eixo horizontal), nos últimos cinco anos (Gráfico 2.2.2). Países situados no quadrante superior direito são aqueles que observaram aumento da relação crédito/PIB nos doze meses anteriores à decisão de ativação em percentuais superiores às médias nacional e mundial recentes. Em outras palavras, esses países apresentaram expansão do crédito a taxas crescentes e potencialmente já iniciaram a fase expansionista do ciclo de crédito. Com relação aos países que ativaram o CCyB, apenas Reino Unido e Suécia apresentam tais variações positivas.

Dinamarca, República Checa, Hong Kong e Noruega ativaram o CCyB, mas, no momento da decisão de ativação, a variação na relação crédito/PIB em doze meses se mostrava abaixo da média nacional dos últimos cinco anos. Em outras palavras, esses países não apresentavam a aceleração da taxa de crescimento do crédito agregado que caracteriza a fase de expansão do ciclo de crédito. As figuras anteriores sugerem que as decisões de ativação do CCyB na recente experiência internacional podem ter levado em conta outros determinantes relevantes, além da análise do hiato de crédito ou da observação de taxas crescentes na relação crédito/PIB.

Cada Autoridade Nacional comunicou oficialmente as justificativas para a decisão de ativação do CCyB (Tabela 2.2.2). Alguns comunicados coincidem no fato

73/ Os relatórios do Financial Sector Assessment Program (FSAP) divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2017 explicam as medidas macroprudenciais adotadas na China.

74/ Para esse exercício, foi utilizada a variação da relação crédito/PIB observada no momento do anúncio da ativação. Considerando que essa medida não tem informações disponíveis em tempo real, assumiu-se a variação observada com dois trimestres de defasagem.

75/ Informações para Lituânia, Islândia e Eslováquia não estão disponíveis.

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-20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20

Gráfico 2.2.2 – Variação da razão crédito/Produto interno bruto (PIB) no momento da ativação do buffer de capital contracíclico (CCyB)

Economias avançadas

EmergentesHong Kong

República Checa

Fonte: BIS

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Reino Unido

Suécia

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Todos os países

Dinamarca

Variação com relação à média mundial nos últimos cinco anos(em pontos percentuais do PIB)

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 52

de ressaltarem o rápido crescimento de preços de imóveis como fator relevante para análise e decisão de ativação.

Com as exceções de Noruega e Dinamarca, o hiato de crédito é citado de forma explícita, como referência técnica, nos comunicados dos países que ativaram o CCyB. Entretanto, alguns dos países que ativaram e não possuem hiato de crédito positivo fazem referência a outras variáveis como determinantes centrais da decisão.

Os comunicados que anunciaram a ativação do buffer na Lituânia, na Islândia, em Hong Kong e na República Tcheca ressaltam as pressões de preços do mercado imobiliário. Em seu comunicado de 10 de janeiro de 2018, a Autoridade Monetária de Hong-Kong justifica que “indicadores-chave, como o hiato de crédito/PIB e a relação entre preço de imóveis e aluguéis, permanecem em patamares elevados”. Já o Banco Nacional Tcheco afirmou que “[...] fatores contribuem para o aumento do requerimento [de capital], como o rápido crescimento dos empréstimos, especialmente empréstimos às famílias para compra de imóveis”. Os comunicados oficiais do Banco Central da Islândia e do Banco da Lituânia apresentaram estudos relacionados sobre o crescimento recente de preços de imóveis, destacando os riscos associados para o sistema financeiro nacional. Na Eslováquia, entretanto, a decisão de ativar o buffer contracíclico foi justificada pela escalada recente dos riscos decorrentes da deterioração da qualidade do crédito, notadamente observada com o aumento da inadimplência.

A experiência de Hong Kong cita ainda o serviço da dívida como elemento importante para a tomada de decisão de ativação do buffer contracíclico. Mesmo com a desaceleração recente do crédito agregado, a parcela de juros na dívida bancária tem apresentado crescimento

Tabela 2.2.2 – Resumo da justificativa dos países que ativaram o buffer de capital contracíclico (CCyB)

País Justificativa

República Checa Crescimento recente do crédito corporativo e imobiliário.

Islândia Crescimento do crédito total e imobiliário, com menção explícita aos elevados preços dos imóveis.

Noruega Crescimento do crédito total e imobiliário, mencionando explicitamente que preços dos imóveis estão mais benignos (deflação em 2017).

Eslováquia Deterioração na qualidade do crédito e expectativa de maior inadimplência no setor bancário.

Hong Kong Crescimento do crédito total e imobiliário, com menção explícita aos preços elevados dos imóveis.

Suécia Crescimento do crédito total e imobiliário, com menção explícita aos elevados preços dos imóveis.

Reino Unido Preocupação com os possíveis desdobramentos do Brexit para o setor bancário.

Dinamarca Ativação é medida cautelar para possível deterioração futura dos riscos. Potencial crescimento no preço de imóveis.

Lituânia Crescimento do crédito total e imobiliário, com menção explícita aos preços dos imóveis.

Fonte: Autoridades Nacionais

Anexo estatístico

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 53

recente destacado em relação às variações históricas (Gráfico 2.2.3), o que pode representar alavancagem excessiva e aumento relevante de riscos para o sistema financeiro local.

Os comunicados da decisão de nove países que ativaram o CCyB apresentaram destaque para a variável preços dos imóveis. O crescimento de preços de imóveis é um fenômeno76 associado à fase de expansão do ciclo de crédito, e sua intensidade e aceleração podem sugerir aumento dos riscos no setor bancário e no sistema financeiro. A dinâmica de crescimento de preços de imóveis dos países pode ser avaliada em uma perspectiva recente (Gráfico 2.2.4). A variação real de preços de imóveis em 2017 é analisada em relação às médias de crescimento no país e na amostra total de países, considerando os últimos cinco anos. Os países localizados no quadrante superior direito apresentam dinâmica recente acima das médias históricas local e internacional. Nesse quadrante, estão posicionados Lituânia, Islândia, Hong Kong e República Checa, o que ilustra que a dinâmica de preços de imóveis, ressaltada nos comunicados daquelas Autoridades Nacionais na data da ativação do CCyB, apresentou crescimento sobrelevado em 2017 em ambas as direções.

Países como Reino Unido, Suécia e Noruega, entretanto, não apresentaram aceleração de preços de imóveis na comparação com a média local dos últimos cinco anos, embora tenham ressaltado a variável na decisão de ativação. Em tempo, a desaceleração dos preços de imóveis britânicos está correlacionada com as incertezas do processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Nesse sentido, o Banco da Inglaterra propôs no cenário77 anual de estresse de 2017 a avaliação das vulnerabilidades e consequências para a estabilidade financeira, além das consequências macroeconômicas associadas ao processo do Brexit. Nesse cenário de estresse, os efeitos de potenciais correções abruptas de preços de imóveis são diretamente analisados. De acordo com o Banco da Inglaterra, o Comitê de Políticas Financeiras deve reavaliar a adequação do CCyB no primeiro semestre de 2018.

A experiência internacional na ativação do CCyB é recente. A avaliação técnica sobre os riscos domésticos

76/ Bernanke, Gertler e Gilchrist, 1999. "The financial accelerator in a quantitative business cycle framework," in: John B. Taylor e Michael Woodford (ed.), Handbook of Macroeconomics, ed. 1, v.1, chapter 21, p. 1341-1393.

77/ Bank of England Financial Stability Report, Issue No. 42, Novembro de 2017.

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Gráfico 2.2.3 – Serviço da dívida de países que ativaram o buffer de capital contracíclico (CCyB)

República Checa

Fonte: BIS

Hong Kong

Noruega

Dinamarca

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Variação do serviço da dívida em 2017 em comparação à média da amostra de países (últimos cinco anos)

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Anexo estatístico

Anexo estatístico

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Crescimento real no preço de imóveis em 2017 em relação à média mundial (últimos cinco anos)

Gráfico 2.2.4 – Crescimento dos preços dos imóveis dos países que ativaram o buffer de capital contracílico (CCyB)1

Hong Kong

RepúblicaCheca Islândia

Lituânia

Brasil

1/ Em vermelho, países que ativaram o CCyB.Fonte: BIS

NoruegaDinamarca

Reino UnidoSuécia

Eslováquia

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 54

e internacionais para o sistema financeiro direciona o processo de decisão, portanto cada Autoridade Nacional pode identificar riscos e vulnerabilidades que são condicionais ao momento do ciclo e à capacidade de adequação do sistema. A recomendação geral de uso do hiato de crédito agregado como variável de referência para interpretar o início da fase de expansão financeira tem sido relativizada nas decisões recentes. Por outro lado, a comunicação oficial das decisões tem destacado variáveis de observação direta, como preços de imóveis e inadimplência, como fatores relevantes para a decisão de ativação.

2.3 Avaliação dos efeitos das novas regras para o cartão de crédito rotativo

No âmbito da Agenda BC+, pilar “Crédito mais barato”, o BC adotou, no início de 2017, novas regras para as operações do cartão de crédito rotativo. As medidas tiveram como objetivo tornar o uso do cartão de crédito mais eficiente e mais barato, tendo em vista, principalmente, a contínua rolagem observada nos pagamentos de faturas, sem horizonte determinado para término dos empréstimos; a elevação dos custos das operações; e o elevado nível de inadimplência associado à modalidade.

A Resolução do Conselho Monetário Nacional nº 4.549, de 26 de janeiro de 2017,78 implicou, objetivamente, impossibilidade de refinanciar o saldo devedor na fatura do cartão de crédito indefinidamente, incentivando o cliente a liquidar ou a parcelar a obrigação, ou mesmo a buscar modalidades mais baratas para o financiamento do saldo do cartão de crédito rotativo, caso não tenha condições de liquidá-lo na fatura subsequente. Em complemento, a Carta Circular BC nº 3.816, de 20 abril

78/ A Resolução n° 4.549, de 2017, estabelece que o saldo devedor da fatura de cartão de crédito, quando não liquidado integralmente no vencimento, somente pode ser objeto de financiamento na modalidade de crédito rotativo até o vencimento da fatura subsequente. Após esse prazo, o cliente deve pagar o saldo remanescente do crédito rotativo, ou a instituição financeira pode financiar esse valor mediante linha de crédito para pagamento parcelado em condições mais vantajosas para o cliente. A Resolução n° 4.549 encontra-se disponível no sítio do BC, no endereço: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/50330/Res_4549_v1_O.pdf>.

Abril 2018 | Relatório de Estabilidade Financeira | 55

de 2017, regulamentou o montante a ser pago a cada vencimento da fatura pelo cliente79.

Esta seção avalia o impacto dessas medidas nas taxas de juros, nos saldos, nos prazos e na taxa de inadimplência das operações de cartão de crédito. O foco da análise é o segmento de pessoas físicas, tendo em vista a maior relevância dos empréstimos no cartão de crédito para esses clientes, embora seja possível identificar efeitos semelhantes no segmento de pessoas jurídicas80.

O impacto mais visível das medidas pode ser verificado sobre o custo de financiamento das operações no cartão de crédito. Entre março e dezembro de 2017, a taxa média de juros na modalidade de cartão de crédito rotativo regular81 recuou de 14,9% a.m. para 10,6% a.m. (Gráfico 2.3.1). Note-se que a redução nos juros também ocorreu nas operações enquadradas como rotativo não regular82, que possuem risco mais elevado. As taxas nesse segmento passaram de 16,6% a.m. para 14,4% a.m. no mesmo período, movimento que também foi favorecido pelas medidas que disciplinaram os encargos por atraso no pagamento das faturas83. No cômputo total, a taxa média de juros do cartão de crédito rotativo recuou de 15,9% a.m. para 13,0% a.m., enquanto a taxa média de juros do cartão de crédito, que inclui as taxas relativas a crédito parcelado e cartão à vista, reduziu-se 2,2 p.p., para 4,6% a.m.

79/ De acordo com a Carta Circular nº 3.816, de 2017, o montante a ser pago pelo consumidor deve ser composto pelo somatório de: i) saldo do crédito rotativo acrescido dos respectivos juros incidentes no período; ii) prestações referentes a parcelamentos do saldo devedor de períodos anteriores; iii) e de, no mínimo, 15% das compras e dos demais lançamentos realizados no período. Nesse sentido, as instituições credoras passaram a incluir nas faturas, além do valor total da fatura (A) e do valor do pagamento mínimo para quem quiser financiar o restante via rotativo (B), o valor do pagamento mínimo para parcelamento dos clientes que financiaram a fatura anterior no crédito rotativo (C). A Carta Circular está disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/50364/C_Circ_3816_v1_O.pdf>.

80/ Em dezembro de 2017, o saldo das operações de cartão de crédito atingiu R$201,1 bilhões para as pessoas físicas, enquanto, para as pessoas jurídicas, essas operações totalizaram R$8,9 bilhões.

81/ A modalidade de cartão de crédito rotativo regular compreende o saldo devedor das faturas de cartão de crédito em que o cliente efetuou pelo menos o pagamento mínimo da fatura, sem aderir ao parcelamento da dívida.

82/ A modalidade cartão de crédito rotativo não regular compreende o saldo devedor das faturas de cartão de crédito em que o cliente não realizou o pagamento ou efetuou pagamento inferior ao valor mínimo da fatura, sem aderir ao parcelamento da dívida.

83/ A Resolução n° 4.558, de 23 de fevereiro de 2017, disciplinou a cobrança de encargos por parte das instituições financeiras e das sociedades de arrendamento mercantil nas situações de atraso de pagamento de obrigações por cliente, vedando que a taxa de juros remuneratórios, por dia de atraso, sobre a parcela vencida, seja diferente da taxa pactuada no contrato para o período de adimplência da operação.

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Jun Set Dez Mar2017

Jun Set Dez

% a.m.

Regular Não regular Total

Gráfico 2.3.1 – Taxa média de juros do cartão de crédito rotativo – Pessoa física

Anexo estatístico

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Cabe ressalvar que a expressiva retração das taxas de juros do cartão de crédito rotativo se verificou em contexto de flexibilização da política monetária que, em parte, também contribuiu para o recuo. Contudo, a magnitude da redução da taxa média de juros relativa ao total das operações com recursos livres para pessoas físicas – de 4,7% a.m. para 3,7% a.m. – é indicativa de que essa contribuição não foi preponderante.

As novas regras também reforçaram para o cliente a opção de parcelar o saldo devedor do rotativo, permitindo a migração de modalidade (rotativo para parcelado). Com efeito, a partir de abril de 2017, observaram-se modificações na composição das submodalidades das operações de cartão de crédito, com o aumento do saldo do cartão de crédito parcelado (que inclui compras parceladas com juros e parcelamento de faturas) e a correspondente retração do saldo do cartão de crédito rotativo (Gráfico 2.3.2). Esse movimento foi mais característico entre abril de 2017 e agosto de 2017 (Gráfico 2.3.3), evidenciando período mais intenso de ajustes nos arranjos financeiros dos usuários diante das medidas adotadas. Tendo em vista que o cartão de crédito parcelado possui taxas de juros mais baixas, esse movimento contribuiu, adicionalmente, para a redução do custo de financiamento das operações de crédito como um todo.

A migração de saldos do rotativo para o parcelado permitiu, ainda, o alongamento dos prazos das operações de parcelamento do saldo devedor da fatura, propiciando melhor planejamento financeiro e menor comprometimento da renda. Para o cliente com empréstimo no rotativo, alternativamente à obrigação de liquidar o saldo devedor total até o vencimento da fatura subsequente, consolidou-se a possibilidade de diferimento do pagamento. Nesse contexto, observa-se que o prazo médio da concessão no cartão de crédito parcelado superou nove meses em dezembro de 2017, ante cerca de oito meses no início do mesmo ano.

Em relação à inadimplência, a possibilidade de parcelar o saldo devedor do rotativo em prazo mais longo (e definido) e com menor custo também impactou positivamente os indicadores. Com o intuito de identificar aspectos distintos que afetaram a inadimplência dessas operações no período considerado (março a dezembro), buscou-se segregar o impacto teórico de três fatores: i) efeito base,

Anexo estatístico

Anexo estatístico

5

8

11

14

17

20

30

33

36

39

42

45

Dez2016

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

R$ biR$ bi

Rotativo Parcelado (eixo dir.)

Gráfico 2.3.2 – Saldo de cartão de crédito – Pessoa física

-3

-2

-1

0

1

2

3

Dez2016

Jan2017

Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

R$ bi

Cartão rotativo Cartão parcelado

Gráfico 2.3.3 – Variação de saldo – Pessoa física

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causado pelo crescimento da carteira total84; ii) variação das taxas de inadimplência das submodalidades rotativo e parcelado no período; e iii) efeito composição de carteira ocasionado pela migração de saldos entre o rotativo e o parcelado, influenciada pelas novas regras (Resolução nº 4.549, de 2017).

A inadimplência do cartão de crédito diminuiu 1,25 p.p. no período em análise, atingindo 6,25% ao final de dezembro de 2017. A Tabela 2.3.1 mostra o resultado da decomposição hipotética dessa redução, considerando os três fatores mencionados. O crescimento da carteira, isoladamente, contribuiu com -0,79 p.p. do movimento. Caso se considere apenas a evolução das taxas de inadimplência das submodalidades rotativo e parcelado entre março e dezembro, mantendo fixos os saldos dessas submodalidades85, a inadimplência do cartão de crédito teria aumentado 0,59 p.p.86 Desse modo, a migração de rotativo para parcelado em decorrência do novo arcabouço regulamentar teria contribuído com redução de 1,04 p.p.87 na taxa de inadimplência do cartão de crédito88.

Em suma, as regras adotadas para os empréstimos rotativos no cartão de crédito, ao estabelecerem horizonte definido para refinanciamentos de saldos remanescentes, propiciaram maior previsibilidade para as operações e conferiram menor risco a elas, implicando distintos efeitos positivos. O impacto mais significativo se verificou sobre o custo de financiamento das operações, com recuo expressivo da taxa média de juros do cartão de crédito. Observou-se também importante mudança na composição dos saldos das submodalidades, com a migração de saldo do crédito rotativo para o parcelado, propiciando alongamento dos prazos das operações e oferta de condições mais vantajosas para o cliente. Adicionalmente, as medidas contribuíram para reduzir a taxa de inadimplência do cartão de crédito, na medida em que a migração beneficiou clientes que, potencialmente,

84/ Considerando a inadimplência como uma razão entre saldo em atraso e saldo total da carteira, o crescimento do denominador, per se, reduziria a taxa de inadimplência. Notadamente, houve elevação do saldo do cartão de crédito à vista, em R$22 bilhões, no período.

85/ Pelos saldos médios de cada submodalidade, considerando os valores de março e dezembro de 2017.

86/ As taxas de inadimplência do rotativo e do parcelado subiram de 34,5% e 1,2%, respectivamente, para 37,6% e 1,7%, na mesma ordem, no período.

87/ Mantendo fixas as taxas de inadimplência pelos valores médios de março e dezembro de 2017.

88/ Note-se que, ao fixar a base de inadimplência neste exercício, adotou-se como hipótese que a migração rotativo-parcelado é representada por grupo com características, em termos de inadimplência, equivalentes ao da submodalidade rotativo, que passou a assumir as características de inadimplência do parcelado.

Tabela 2.3.1 – Cartão de crédito pessoa física – Saldos em atraso e fatores condicionantes

Saldo em atraso R$ mi Taxa de inadimplência

Março/2017 13.484 7,50%

Dezembro/2017 12.562 6,25%

Variação -921 -1,25 p.p.

Fatores condicionantes -921 -1,25 p.p.

Inadimplência1/ 1.180 0,59 p.p.

Migração saldos parcelado-rotativo2/ -2.101 -1,04 p.p.

Efeito crescimento da carteira3/ -0,79 p.p.

Saldo total da carteira Março/2017 179.851

Dezembro/2017 201.148

1/ Mantendo fixos os saldos das submodalidades parcelado e rotavivo pelos saldos médios das posições de março e dezembro.

2/ Mantendo fixas as taxas de inadimplência das submodalidades parcelado e rotativo pelas taxas médias das posições de março e dezembro.

3/ Efeito = taxa de inadimplência t/ (saldo da carteira t+1/saldo da carteira t) - taxa de inadimplência t).

Anexo estatístico

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entrariam em atraso caso não tivessem a opção de parcelar o saldo devedor do rotativo.

2.4 Compensação e liquidação centralizada de cartões

A partir da publicação da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013, o BC recebeu a competência de disciplinar os arranjos de pagamento e de adotar medidas para promover a competição e a inclusão financeira na prestação de serviços de pagamento, assim como de assegurar a solidez, a eficiência e o regular funcionamento dos arranjos de pagamento e das instituições de pagamento.

Com essa Lei, arranjos que possam oferecer risco ao normal funcionamento das transações de pagamentos de varejo passaram a integrar o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), cujo funcionamento adequado é essencial para a estabilidade financeira e para o bom funcionamento da economia.

Para promover mais eficiência e segurança no SPB, a Circular nº 3.765, de 25 de setembro de 2015, determinou a implantação de um sistema neutro em relação aos seus participantes para efetuar de forma centralizada a compensação e a liquidação das transações de pagamento dos principais arranjos de pagamento baseados em cartão de crédito e de débito.

A maior eficiência é alcançada pela racionalização do processo de liquidação de transações de pagamento e pela geração de condições mais equilibradas para a concorrência entre os atores desse mercado. Além disso, a liquidação centralizada tem o potencial de reduzir o volume de recursos financeiros a serem transferidos entre os diversos participantes do sistema e, consequentemente, a necessidade de liquidez do sistema de pagamentos.

Em relação à segurança para o SPB, a obrigação de compensação e liquidação centralizada das obrigações em ente neutro, autorizado a funcionar pelo BC e sujeito à sua vigilância, com regras e procedimentos uniformes, proporciona aos participantes do SPB maior confiabilidade em relação à conclusão dos ciclos de liquidação e à efetivação dos créditos aos usuários finais.

A Figura 2.4.1 mostra como era realizada a liquidação das operações e como ficou o processo de liquidação de

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Figura 2.4.1 – Redução dos fluxos financeiros dos arranjos de cartão

REDUÇÃO DOS FLUXOS FINANCEIROS DOSARRANJOS DE CARTÃO

Como era

Emissores

PSCL 1 PSCL 2 PSCL 3

Credenciadores

Instituições de domicílio

Como ficou

PSCL Neutro

Emissores e credenciadores

Instituições de domicílio

EmissoresEmpresas que emitem cartões de crédito. Podem ser bancos ou instituições não financeiras. É com o emissor que o portador mantém o relacionamento para qualquer questão decorrente de posse e uso de seus cartões.

PSCL

Prestador de Serviço de Compensação e Liquidação é uma infraestrutura do mercado financeiro que faz a liquidação de um arranjo entre os entes financeiros.

Credenciadores

São empresas que habilitam estabelecimentos fornecedores de bens e/ou prestadores de serviços para aceitarem cartões.

Instituições de domicílio

É onde o estabelecimento comercial tem conta para receber os pagamentos feitos com cartão; normalmente são bancos.

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forma centralizada. Anteriormente, alguns arranjos de pagamento utilizavam mais de um prestador de serviço de compensação e de liquidação (PSCL). Com a liquidação centralizada, esse serviço é prestado apenas por um ente neutro, simplificando o fluxo financeiro e reduzindo as ineficiências e redundâncias operacionais decorrentes da existência de múltiplos PSCLs para um mesmo arranjo de pagamento.

A liquidação das operações de cartão de forma centralizada passou a ser realizada pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP) por meio do Serviço de Liquidação de Cartões (SLC) do Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito (Siloc), a partir de 13 de novembro de 2017. Em 2017, desde sua entrada em operação, foram processados 211,45 milhões de registros referentes a cartões de crédito, cartões de débito e antecipações, totalizando R$186,48 bilhões (Tabela 2.4.1).

Em conclusão, a liquidação centralizada contribui para um sistema de pagamentos de varejo mais competitivo, seguro e eficiente.

2.5 Processo de Regulatory Consistency Assessment Programme do Liquidity Coverage Ratio

O BC é membro do BCBS desde 2009, como resultado da ampliação deste Comitê após a crise financeira internacional de 2007-2008. Os países membros do BCBS assumem o compromisso de seguir os padrões internacionais, de cuja elaboração participam.

Reconhecendo a importância de implementação integral, tempestiva e consistente dos padrões internacionais para a estabilidade financeira, o BCBS criou o Regulatory Consistency Assessment Programme (RCAP), programa

Tabela 2.4.1 – Processamento do Serviço de Liquidação de Cartões (SLC)

Crédito Débito AntecipaçõesRegistros (milhões)

Valor (R$ mi)

Registros (milhões)

Valor (R$ mi)

Registros (milhões)

Valor (R$ mi)

nov/17 29,13 29.313,36 48,43 27.947,49 3,41 8.152,50

dez/17 47,97 52.401,49 77,29 53.611,04 5,22 15.054,24

Total 77,10 81.714,85 125,72 81.558,53 8,63 23.206,74

Fonte: CIP

Anexo estatístico

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que avalia o grau de aderência da regulação prudencial de seus membros aos padrões mínimos acordados no âmbito do referido Comitê. O RCAP inclui um processo de autoavaliação e a visita de equipe de especialistas selecionados pelo BCBS para criteriosa avaliação.

Em 2017, a implementação do indicador Liquidez de Curto Prazo (LCR)89 no Brasil foi avaliada no âmbito do RCAP. O LCR tem como objetivo assegurar que os bancos mantenham um estoque adequado de ativos líquidos que possam ser prontamente utilizados em situações de estresse. Este padrão prudencial faz parte do conjunto de reformas pós-crise denominados Basileia III. O LCR contribui para fortalecer a capacidade de o sistema financeiro absorver choques decorrentes de situações de estresse de liquidez, seja qual for a origem, reduzindo, assim, o risco de contágio do sistema financeiro à economia real.

A nota final atribuída ao Brasil no RCAP foi Compliant (“compatível”, “aderente”, em inglês), o nível mais alto da escala de avaliação. Ou seja, a regulação local do LCR possui plena conformidade com o padrão global. O resultado da avaliação da implementação do LCR no país foi publicado pelo BCBS em outubro de 201790.

O resultado deste RCAP certifica que a regulação brasileira relativa ao LCR é plenamente adequada aos padrões internacionais definidos no âmbito do BCBS. A nota máxima na avaliação do RCAP reflete o compromisso do BC de adotar as melhores práticas de regulação prudencial no Brasil, que tem como finalidade assegurar a estabilidade financeira no país. Ao final de 2013, o Brasil teve seu arcabouço prudencial regulatório relativo a requerimentos mínimos de capital ponderados por risco também avaliado como Compliant pelo BCBS91.

Não obstante os requerimentos mínimos do LCR, exigidos dos bancos de maior relevância sistêmica do Brasil desde outubro de 201592, o BC monitora o risco de liquidez de curto prazo de todos os bancos brasileiros diariamente, desde 2002. Esse monitoramento é feito por meio de um indicador conceitualmente similar ao LCR, o Índice de

89/ O arcabouço regulamentar do LCR foi implementado no Brasil por meio da Resolução nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e da Circular nº 3.749, de 5 de março de 2015.

90/ Disponível em: <https://www.bis.org/bcbs/publ/d420.pdf>.91/ Disponível em: <https://www.bis.org/bcbs/implementation/l2_br.pdf>.92/ A partir de 1º de outubro de 2018, o LCR passará a ser exigido apenas

das instituições enquadradas no Segmento 1 (S1), conforme disposto na Resolução nº 4.616, de 30 de novembro de 2017.

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Liquidez (IL)93. Para mensurar o risco de liquidez de curto prazo dos bancos brasileiros, o IL utiliza informações obtidas diretamente de câmeras de compensação e de liquidação de ativos, além de informações obtidas com as próprias instituições bancárias. O acompanhamento do risco de liquidez do sistema bancário realizado pelo BC é apresentado de forma mais detalhada no Capítulo 1, seção 1.1 Liquidez, deste relatório.

2.6 Regulamentação do Net Stable Funding Ratio no Brasil

O indicador Liquidez de Longo Prazo (NSFR) objetiva incentivar as instituições a financiarem as suas exposições com fontes estáveis de captação. Uma estrutura de captação mais estável visa mitigar o risco de liquidez de longo prazo da instituição, reduzindo a probabilidade de que interrupções no acesso a fontes regulares de captação de recursos da instituição possam comprometer sua liquidez. Adicionalmente, o NSFR cria incentivos para limitar a dependência excessiva da instituição por captações de atacado e de curto prazo, para uma melhor avaliação do risco de liquidez de longo prazo e para promover maior estabilidade à estrutura de captação da instituição.

Em novembro de 2017, o CMN definiu o limite mínimo do NSFR e as condições para seu cumprimento94. Adicionalmente, o BC editou normativo95 que dispõe sobre a metodologia de apuração do NSFR e sobre a divulgação de informações relativas ao indicador. O NSFR é complementar ao indicador Liquidez de Curto Prazo (LCR), em vigor desde 201596.

O NSFR correspondente à razão entre o montante de Recursos Estáveis Disponíveis (ASF) e o montante de Recursos Estáveis Requeridos (RSF). Esses montantes são calculados com base nos saldos dos elementos registrados no passivo e no patrimônio líquido, e das exposições da instituição, respectivamente. A lógica do indicador é garantir que os bancos possuam quantidade de captações estáveis (ASF) suficiente para financiar suas atividades (RSF). O padrão internacional do NSFR foi elaborado pelo Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (BCBS, na sigla em inglês) e faz parte do conjunto de reformas pós-crise de Basileia III.

93/ Para mais informações sobre o LCR e o IL, ver REF de outubro de 2017, seção 1.1 Liquidez, notas de rodapé 5 e 6.

94/ Resolução nº 4.616, de 30 de novembro de 2017.95/ Circular nº 3.869, de 19 de dezembro de 201796/ Resolução nº 4.401, de 27 de fevereiro de 2015, e Circular nº 3.749, de

5 de março de 2015.

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Esse requerimento será aplicável às instituições financeiras integrantes do Segmento 1 (S1) a partir de 1º de outubro de 2018, quando as instituições deverão manter permanentemente o montante ASF superior ao montante RSF. As instituições enquadradas no S1 são aquelas de maior porte ou com atividade internacional relevante, e, por isso, estão sujeitas ao cumprimento integral dos padrões desenvolvidos internacionalmente pelo BCBS, do qual o BC é membro.

O estabelecimento desse limite é mais uma medida aprovada para reduzir a probabilidade de futuras crises bancárias bem como potenciais efeitos negativos sobre a estabilidade financeira. A adoção do NSFR, de forma complementar aos limites de capital e de alavancagem, contribuirá para mitigar excessos no processo de transformação de maturidade realizado pelas instituições, contribuindo para a solidez do sistema financeiro.

Cabe destacar que, além do requerimento mínimo do NSFR, que será exigido dos bancos de maior relevância sistêmica do Brasil, o BC monitora desde 2015 o risco de liquidez de longo prazo de todos os bancos por meio de um indicador conceitualmente similar ao NSFR, o ILE. O acompanhamento desse índice é apresentado de forma mais detalhada no Capítulo 1, seção 1.1 Liquidez, deste relatório.

2.7 Requerimento mínimo da razão de alavancagem

Por meio da Resolução no 4.615, de 2017, o CMN definiu o requerimento mínimo da Razão de Alavancagem (RA), aplicável às instituições financeiras de maior porte e complexidade, enquadradas no Segmento 1 (S1) e no Segmento 2 (S2).

A RA faz parte das recomendações internacionais estabelecidas em Basileia III e é calculada como a proporção entre o capital regulamentar de Nível I e o montante total de exposições. A metodologia de cálculo das exposições da RA não se restringe aos ativos contabilmente registrados e possui metodologias próprias para derivativos e para operações compromissadas e de empréstimos de títulos e valores mobiliários.

No caso de derivativos, além do valor de reposição do instrumento, a metodologia incorpora o seu ganho potencial futuro, refletindo conservadoramente suas variações no curto prazo. Quanto às operações compromissadas e de

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empréstimos de títulos e valores mobiliários, a metodologia da RA considera o risco de crédito de contraparte. Desse modo, a RA, apesar de simplificada quando comparada ao resto do arcabouço prudencial baseado em risco, não é apenas um índice contábil.

Seu objetivo maior é restringir o acúmulo de alavancagem no sistema financeiro, bem como reforçar o arcabouço prudencial, complementando-o com um anteparo que limita o dano potencial de erros de mensuração de risco. Ela foi concebida, no contexto de monitoramento da evolução da alavancagem no sistema financeiro, como medida mais simples e mais transparente que os índices de capital tradicionais, porém com menor sensibilidade ao risco.

A metodologia de cálculo da RA e a necessidade de remessa de suas informações ao BC foram regulamentadas em 2015, mas, a partir de 1º de janeiro de 2018, passou a ser exigida a observância de um requerimento mínimo de RA de 3%, consoante a recomendação internacional. As instituições nacionais estão preparadas para cumprir o novo requisito, uma vez que a RA média do sistema em 31 de dezembro de 2017 é 7,5% e não há instituição sujeita ao requerimento cuja RA seja inferior a 3%.

2.8 Requerimento de capital para exposições a contrapartes centrais qualificadas e a títulos de securitização

O BC aperfeiçoou o tratamento prudencial dispensado às operações a serem liquidadas no âmbito de contrapartes centrais qualificadas (QCCP) e às operações com títulos de securitização. A introdução dessas novas regras visa aumentar a sensibilidade ao risco da apuração do requerimento mínimo de capital das instituições financeiras. Com isso, os incentivos são direcionados para os ativos de maior qualidade, e os riscos assumidos ficam melhor refletidos no requerimento de capital regulatório, o que reforça a manutenção da estabilidade financeira.

Contrapartes centrais qualificadas

As mudanças97 promovidas nas operações liquidadas em QCCP seguem os padrões do Comitê de Basileia para

97/ Conforme alterações na Circular nº 3.644, de 4 de março de 2013, introduzidas pela Circular nº 3.849, de 18 de setembro de 2017.

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Supervisão Bancária98 e versam, principalmente, sobre três pontos: i) o método de cálculo dos ativos ponderados pelo risco (RWA) com respeito à participação em fundos de garantia mutualizados (default funds) de QCCP99; ii) a ponderação pelo risco nas operações a serem liquidadas em QCCP; e iii) a forma de utilização de garantias.

No que tange à participação de instituições financeiras em default funds de QCCP, o Fator de Ponderação pelo Risco (FPR) aplicável a essa exposição passou a ser calculado por meio de uma fórmula que considera a participação da instituição no default fund em relação a seu valor total e o nível de capital hipotético da QCCP100. Dependendo desses parâmetros, o FPR pode chegar a 2%. Anteriormente, aplicava-se à mesma exposição um FPR único de 1.250%101, sem sensibilidade a risco.

A respeito das operações a serem liquidadas em QCCP, o novo arcabouço incorpora, na definição do FPR a ser utilizado, uma avaliação mais exata da entidade a que a instituição financeira está exposta. Por exemplo, o FPR varia caso a exposição da instituição financeira seja com a própria QCCP, outra instituição financeira como membro de compensação, ou clientes finais da transação.

Em relação às garantias depositadas em favor de QCCPs, a instituição financeira depositante deve considerar, na apuração do risco de crédito de contraparte, se a garantia está apartada do patrimônio da entidade depositária ou apenas identificada no nome do titular da operação. Desse modo, o FPR pode variar do nível mínimo de 2% até o FPR aplicável à própria entidade depositária, a depender dos riscos incorridos.

Securitização

Ainda com relação aos aprimoramentos do regramento prudencial para risco de crédito, a nova regulação para as operações com títulos de securitização102 reformulou a metodologia do requerimento de capital mediante

98/ “Capital requirements for bank exposures to central counterparties”, publicado em 2014.

99/ Os default funds são recursos segregados em uma contraparte central, constituídos por contribuições de várias partes (por exemplo, a própria contraparte central e seus membros de compensação), e utilizados para resguardar as operações contra o calote.

100/ O capital hipotético é calculado de acordo com o estabelecido no documento internacional e considera a exposição da QCCP aos seus membros de compensação e as respectivas garantias apresentadas.

101/ Na aplicação do FPR de 1.250%, há um ajuste conforme o fator F, definido no art. 4º da Resolução no 4.193, de 2013. Em 31 de dezembro de 2017, tal ajuste resultaria em um FPR de 1.081%.

102/ Circular nº 3.848, de 18 de setembro de 2017.

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abordagem padronizada. O cálculo do FPR aplicável a estes títulos passa a ser vinculado ao seu grau de subordinação, ao risco dos seus ativos subjacentes e ao percentual de ativos subjacentes em atraso. A alteração normativa alinha o requerimento ao padrão determinado pelo Comitê de Basileia103.

Antes da edição da referida Circular, o tratamento dado a títulos de securitização distinguia apenas aqueles de classe sênior, que recebiam o tratamento aplicável aos seus ativos subjacentes, e os demais, que recebiam o FPR de 1.250% independentemente do seu grau de subordinação relativa ou dos seus ativos subjacentes. Pela nova metodologia, o risco dos ativos subjacentes passa a ser levado em consideração na apuração do FPR em todos os casos, e a subordinação é incorporada na metodologia de forma mais precisa, e não apenas por duas alternativas (sênior e outros).

2.9 Lei do Processo Administrativo Sancionador do Banco Central – Lei nº 13.506, de 2017

Os instrumentos utilizados pelo BC para atuar contra instituições financeiras que cometam irregularidades foram ampliados e atualizados com a edição da Lei nº 13.506, de 13 de novembro de 2017, que revisa o marco legal disciplinar do Sistema Financeiro Nacional (SFN), aumentando a eficiência e a eficácia das suas ações de supervisão.

O valor máximo da multa a que estão sujeitas as instituições supervisionadas passou de R$250 mil para R$2 bilhões, aumentando significativamente o poder do BC para dissuadir e coibir condutas irregulares no âmbito do SFN, contribuindo para a sua disciplina e estabilidade.

As condutas passíveis de punição, expressamente previstas no texto da lei com clareza e precisão, propiciam maior segurança jurídica para o supervisionado e para o BC.

A aplicação das penalidades foi aperfeiçoada com o fim do efeito suspensivo, como regra, nas inabilitações impostas pelo BC e com a introdução de novas penalidades aplicáveis: admoestação pública e proibição de atividades ou operações, conferindo maior efetividade à ação punitiva do BC.

103/ “Revisions to the securitisation framework”, publicado em 2016.

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A nova lei também ampliou o leque de instrumentos de supervisão disponíveis ao BC: termo de compromisso, medidas acautelatórias, multa cominatória e acordo administrativo em processo de supervisão, proporcionando mais agilidade e efetividade no saneamento e na dissuasão de práticas irregulares que demandem a sua pronta ação corretiva.

O termo de compromisso é uma solução alternativa e consensual ao processo sancionador, de natureza litigiosa, nos mesmos moldes adotados por outras autoridades de supervisão do setor financeiro do país e do exterior. A instituição que está sendo investigada se compromete a cessar e corrigir as irregularidades apontadas e cumprir todas as obrigações compromissadas, sob pena de retomada imediata do processo administrativo e de incidência de multa cominatória, caso o acordo não seja cumprido. A proposta de termo de compromisso é de iniciativa do infrator, cabendo ao BC aceitar ou não a proposta. Todos os termos de compromisso firmados com o BC têm caráter público e são publicados na página da instituição na internet.

O BC pode, ainda, celebrar acordo administrativo em processo de supervisão com pessoas físicas ou jurídicas que se comprometam a colaborar efetivamente para a apuração de infrações. Os suspeitos que contribuírem para avanços nos processos investigatórios poderão ter suas penas na esfera administrativa reduzidas ou até mesmo extintas, mas, para isso, devem identificar os demais envolvidos nas irregularidades e repassar informações e documentos que comprovem a ocorrência da infração que está sendo apurada e que sejam inéditos ao conhecimento do BC. Em caso de descumprimento do acordo, os trâmites para a instauração de processo administrativo serão retomados, e o beneficiário ficará impedido de celebrar novo acordo administrativo pelo prazo de três anos.

Caso identifique atos que coloquem em risco o funcionamento regular do SFN ou do SPB, o BC poderá adotar medidas coercitivas e acautelatórias. Tratam-se de atos de prevenção que podem ser aplicados imediatamente pelo supervisor, quando presente grave risco de lesão à instituição, e que não necessitam aguardar a conclusão do processo administrativo sancionador, cuja demora na decisão pode agravar os problemas apontados e causar prejuízos às partes interessadas. A Lei nº 13.506, de 2017, prevê, entre outras, a convocação de pessoas para a prestação de esclarecimentos, o afastamento dos supostos envolvidos em irregularidades, a imposição de

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restrições à realização de atividades ou operações e a substituição da entidade de auditoria contratada. O não atendimento às determinações do BC poderá resultar em multa de até R$100 mil por dia de descumprimento.

No tocante à tramitação do processo sancionador do BC, os seus atos processuais passam a ser formalizados e comunicados por meio eletrônico, inclusive mediante disponibilização da informação no sítio do BC na internet. O trâmite eletrônico proporciona maior celeridade na conclusão do processo e agilidade na execução das penalidades aplicadas.

Por fim, cabe ressaltar que as regras processuais constantes da lei, como, por exemplo, os procedimentos para citação e intimação, entraram em vigor imediatamente; as novas penalidades, no entanto, apenas no que forem mais benéficas para o apenado. Caso contrário, continua valendo a norma em vigor à época em que a irregularidade ocorreu. Os termos de compromisso, por sua vez, podem ser propostos também para processos em curso no BC que ainda não foram objeto de decisão de primeira instância.

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Apêndice

Administração do Banco Central do Brasil

Siglas

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Administração do Banco Central do Brasil

Diretoria Colegiada

Ilan Goldfajn Presidente

Carlos Viana de CarvalhoDiretor

Isaac Sidney Menezes FerreiraDiretor

Maurício Costa de MouraDiretor

Otávio Ribeiro DamasoDiretor

Paulo Sérgio Neves de SouzaDiretor

Reinaldo Le GrazieDiretor

Sidnei Corrêa MarquesDiretor

Tiago Couto BerrielDiretor

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Siglas

ACCPBrasil Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao BrasilACPConservação Adicional de Conservação de Capital Principal ACPContracíclico Adicional Contracíclico de Capital PrincipalACPSistêmico Adicional de Importância Sistêmica de Capital PrincipalASF Recursos Estáveis DisponíveisATA Ativo total ajustadoBC Banco Central do Brasil BCBS Comitê de Basileia para Supervisão Bancária (Basel Committee on Banking Supervision) BDR Brazilian Depositary ReceiptsBI Banco de Investimento BIS Bank for International SettlementsBM Banco Múltiplo BM&Fbovespa Bolsa de Valores, Mercadorias e FuturosBNDU Bens não de uso Câmara BM&FBovespa Câmara de Derivativos da BM&FBovespaCAPAG Análise da capacidade de pagamentoCCyB Buffer de capital contracíclico CDB Certificados de Depósito Bancário CIP Câmara Interbancária de Pagamentos CMN Conselho Monetário Nacional CNI Confederação Nacional da IndústriaComef Comitê de Estabilidade Financeira Copom Comitê de Política Monetária CPC Contraparte centralCPSS/BIS Comitê de Sistemas de Liquidação e Pagamentos do Banco de Compensações

InternacionaisCRI Certificados de Recebíveis ImobiliáriosCVM Comissão de Valores MobiliáriosDI Depósitos InterfinanceirosEAPC Entidades Abertas de Previdência ComplementarEBITDA Earnings before interest, taxes, depreciation, and amortization (lucros antes de

juros, impostos, depreciação e amortização) EFPC Fundos de pensãoFGC Fundo Garantidor de Créditos FGV Fundação Getúlio Vargas FI Fundo de investimentoFIE Fundos de investimentos especialmente constituídosFMI Fundo Monetário Internacional

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FPR Fatores Primitivos de RiscoFSAP Financial Sector Assessment Program FSB Financial Stability Board FSIs Indicadores de Solidez Financeira GSBMR Global Shadow Banking Monitoring Report IB Índice de BasileiaIBC-Br Índice de Atividade Econômica do Banco CentralICC Índice de Confiança do Consumidor ICP Índice de Capital Principal ICS Índice de Confiança de Serviços IFs Instituições FinanceirasIHH Índice de Herfindahl-Hirschman IL Índice de Liquidez ILE Índice de Liquidez Estrutural IMF Infraestruturas do mercado financeiro IPN Integração da Pós-Negociação IPR1 Índice de Capital de nível IIVG-R Índice de Valores de Garantias de Imóveis ResidenciaisJCP Juros sobre o capital próprioLCA Letras de crédito de agronegócioLCI Letras de crédito imobiliárioLCR Liquidity Coverage Ratio (Indicador de Liquidez de Curto Prazo) LF Letra Financeira LTVs Loan-to-valueMercosul Mercado Comum do Sul NEL Necessidade Efetiva de Liquidez NSFR Net Stable Funding Ratio (Indicador Liquidez de Longo Prazo) PCLD Provisões para crédito de difícil liquidação PDV Planos de Demissão Voluntária PEF Pesquisa de Estabilidade FinanceiraPFMI Principles for Financial Market Infrastructures (Princípios para Infraestruturas do

Mercado Financeiro) PIB Produto Interno BrutoPMEs Pequenas e médias empresas PNADC Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ContínuaPR Patrimônio de ReferênciaPrevic Superintendência Nacional de Previdência Complementar PSCL Prestador de serviço de compensação e de liquidaçãoQCCP Contrapartes centrais qualificadas RA Razão de Alavancagem RC4 Razão de concentração dos quatro maiores participantes RCAP Regulatory Consistency Assessment ProgrammeRDB Recibo de Depósito BancárioREF Relatório de Estabilidade FinanceiraRFL Risco Financeiro LíquidoROE Retorno sobre o Patrimônio Líquido ajustado RSF Recursos Estáveis Requeridos RWA Ativos ponderados pelo risco SAC Sistema de Amortização Constante SCR Sistema de Informações de Crédito

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SFN Sistema Financeiro Nacional SGS Sistema Gerenciador de Séries Temporais Siloc Sistema de Liquidação Diferida das Transferências Interbancárias de Ordens de CréditoSLC Serviço de Liquidação de Cartões SPB Sistema de Pagamentos Brasileiro SRPPS Subsecretaria dos Regimes Próprios de Previdência SocialSTN Secretaria do Tesouro NacionalSTR Sistema de Transferência de ReservasSusep Superintendência de Seguros PrivadosTC/IOSCO Comitê Técnico da Organização Internacional de Comissões de ValoresTPF Título Público FederalTVM Títulos e Valores Mobiliários VAR Vetor Autorregressivo

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Anexo

Conceitos e metodologias

a) Índice de Liquidez – De conceito similar ao indicador regulamentar Liquidity Coverage Ratio (LCR), Indicador de Liquidez de Curto Prazo, o cálculo relaciona o volume de ativos líquidos detidos pela instituição com o fluxo de caixa estressado (estimativa de desembolsos nos 21 dias úteis subsequentes em cenário de estresse). Instituições com IL superior a um (100%) possuem ativos líquidos suficientes para suportar uma crise de liquidez para o período estimado.

i. Ativos líquidos – Recursos líquidos disponíveis para cada conglomerado/instituição honrar seu fluxo de caixa estressado dos próximos trinta dias. Os ativos líquidos são o somatório dos ativos de alta liquidez, liberação de compulsório e recursos suplementares.

a. Ativos de alta liquidez – Abrangem: i) Títulos Públicos Federais (TPF) em poder da instituição nas posições livre ou recebido como lastro de operações compromissadas (posição doadora/bancada); ii) ações Ibovespa; iii) cotas de fundos de investimento líquidas; iv) folga de caixa; e v) reservas livres.

b. Compulsório liberado – Montante de depósitos compulsórios que será retornado à instituição em decorrência da saída de depósitos estimada no fluxo de caixa estressado.

c. Recursos suplementares – Outras opções para realização de caixa no horizonte do cenário: Certificado de Depósito Bancário (CDB), Recibo de Depósito Bancário (RDB), Depósito Interfinanceiro (DI), posições ativas em estratégias de box, posições doadoras em operações compromissadas lastreadas em títulos privados e cotas seniores de fundos menos líquidas.

ii. Fluxo de caixa estressado – Estimativa do montante de recursos de que as instituições necessitariam dispor no horizonte de trinta dias, sob o cenário de estresse. As análises consideram o perfil dos depósitos (fuga de depósitos de varejo), as perspectivas de resgate antecipado (fuga de depósitos de atacado), a análise do estresse de mercado e o fluxo contratado.

a. Perfil dos depósitos (fuga de depósitos de varejo) – Estima o valor necessário para cobrir a possibilidade de saque de clientes em depósitos, poupança, operações de box, títulos de emissão própria e operações compromissadas com títulos privados.

b. Resgate antecipado (fuga de depósitos de atacado) – Estimativa do valor necessário para cobrir a possibilidade de solicitação de resgate antecipado das posições passivas efetuadas com as três maiores contrapartes de mercado.

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c. Estresse de mercado – Estima o valor necessário para cobrir perdas decorrentes do impacto de oscilações de mercado nas posições de ativos líquidos ou naquelas que podem gerar saída de recursos da instituição em cenário de crise. As perdas compreendem: i) chamadas adicionais de margem de garantias; ii) pagamentos de ajustes ou liquidação de contratos vincendos no cenário de estresse; iii) perda de valor de ativos líquidos.

d. Fluxo contratado – Vencimentos e ajustes de posições em derivativos e posições ativas e passivas com agentes de mercado, com vencimento dentro do horizonte do cenário.

b) Índice de Liquidez Estrutural (ILE) – O cálculo é uma razão entre recursos estáveis disponíveis – parcela do capital e dos passivos com a qual a instituição pode contar no horizonte de um ano – e recursos estáveis necessários – parte dos ativos, incluindo-se ativos fora de balanço, que devem ser financiados por recursos estáveis por possuírem prazos longos e/ou baixa liquidez. Instituições com ILE igual ou superior a um (100%) são menos suscetíveis a futuros problemas de liquidez. A metodologia de cálculo baseia-se nas regras do Net Stable Funding Ratio (NSFR), que será exigido como cumprimento mínimo obrigatório a partir de 2018.

i. Recursos estáveis disponíveis – Recursos que permanecerão na instituição pelo prazo mínimo de um ano. As principais fontes de recursos estáveis dos bancos são o capital; os passivos com prazo residual acima de um ano sem possibilidade de resgate antecipado, independentemente da contraparte; e as captações sem vencimento ou com vencimento inferior a um ano, oriundas de clientes de varejo.

ii. Recursos estáveis requeridos – Montante necessário de recursos estáveis para financiar as atividades de longo prazo das instituições financeiras, estimado, portanto, em função das características de liquidez e do prazo dos ativos. Os principais ativos de longo prazo são a carteira de crédito com vencimento acima de um ano, os ativos em default, os títulos e valores mobiliários de baixa liquidez ou depositados em garantia em câmaras, o ativo permanente e os itens deduzidos do capital regulatório.

c) Índice de Basileia – Conceito internacional definido pelo Comitê de Basileia que consiste na divisão do PR pelo RWA. No Brasil, até setembro de 2013, a relação mínima exigida era dada pelo fator “F”, de acordo com a Resolução CMN nº 3.490, de 29 de agosto de 2007, e com a Circular BC nº 3.360, de 12 de setembro de 2007. Devia-se observar o valor de 11% para instituições financeiras e para as demais instituições autorizadas a funcionar pelo BC, exceto para as cooperativas de crédito singulares não filiadas a cooperativas centrais de crédito. A partir de outubro de 2013, a relação mínima exigida passou a ser dada pela Resolução CMN nº 4.193, de 1º de março de 2013, que define um calendário de convergência, o qual especifica a exigência de 11% do RWA de outubro de 2013 a dezembro de 2015; 9,875% em 2016; 9,25% em 2017; 8,625% em 2018; e 8% a partir de 2019. A esse requerimento, soma-se o ACP, conforme mencionado no Índice de Capital Principal (ICP).

d) Índice de Capital de nível I (IPR1) – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, foi formulado um requerimento mínimo para o capital nível I a partir de outubro de 2013, correspondente a 5,5% do RWA, de outubro de 2013 a dezembro de 2014, e a 6% a partir de janeiro de 2015. A esse requerimento, soma-se o ACP, conforme mencionado no ICP.

e) Índice de Capital Principal (ICP) – Em linha com o estabelecido pela Resolução CMN nº 4.193, de 2013, foi elaborado um requerimento mínimo para o capital principal a partir de outubro de 2013, correspondente a 4,5% do RWA. Além desse requerimento, foi instituído, pela referida Resolução, o ACP, que corresponde à soma das seguintes parcelas: ACPConservação, ACPContracíclico e ACPSistêmico. O valor da parcela ACPConservação resulta da aplicação dos seguintes percentuais ao montante RWA: zero, até 31 de dezembro de 2015; 0,625%, de janeiro a dezembro de 2016; 1,25%, de janeiro a dezembro de 2017; 1,875%, de janeiro a dezembro de 2018;

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e 2,5%, a partir de janeiro de 2019. O valor da parcela ACPContracíclico fica limitado aos seguintes percentuais máximos em relação ao montante RWA: zero, até 31 de dezembro de 2015; 0,625%, de janeiro a dezembro de 2016; 1,25%, de janeiro a dezembro de 2017; 1,875%, de janeiro a dezembro de 2018; e 2,5%, a partir de janeiro de 2019. O valor da parcela ACPSistêmico fica limitado aos seguintes percentuais máximos em relação ao montante RWA: zero, até 31 de dezembro de 2016; 0,5%, de janeiro a dezembro de 2017; 1,0%, de janeiro a dezembro de 2018; e 2,0%, a partir de janeiro de 2019.

f) Razão de Alavancagem (RA) – Conceito internacional definido pelo Comitê da Basileia que consiste na divisão do Capital Nível I pela Exposição Total. No Brasil, a Circular BC nº 3.748, de 27 de fevereiro de 2015, estabeleceu a metodologia de apuração da RA. O indicador busca complementar o conjunto de requisitos prudenciais atualmente existentes por meio de uma medida simples, transparente e não sensível a risco. Até o presente momento, não há requerimento regulatório definido para a RA. A expectativa é que seja estabelecido um requerimento mínimo em 2018, após a análise dos dados informados pelas instituições financeiras e a realização de estudos sobre o tema.

Conceitos e metodologias – Estresse de capital

1. Testes de estresse – Introdução

Os testes de estresse são simulações utilizadas para estimar as perdas resultantes da materialização de eventos extremos, porém plausíveis, e avaliar a resiliência de uma instituição ou do sistema financeiro. Dessa forma, é possível determinar o impacto sobre o capital das instituições tendo em vista situações de perdas não esperadas e, portanto, não aprovisionadas, causadas por grandes oscilações em variáveis macroeconômicas.

Para cada cenário de estresse, são calculados os novos índices de exigência de capital: IB, IPR1 e ICP. Uma instituição é considerada desenquadrada se não atender a qualquer um dos três índices de exigência de capital, e considerada insolvente no caso de perda total do capital principal. É avaliada a relevância das instituições que ficariam desenquadradas e/ou tecnicamente insolventes, e o capital adicional necessário para que nenhum banco viesse a desenquadrar-se é calculado. A relevância é apurada com base na representatividade do ativo total ajustado (ATA) da instituição em relação ao universo analisado.

Além disso, os efeitos positivos dos possíveis acionamentos dos gatilhos de nível II e de capital complementar, em que os valores são convertidos em capital principal, são considerados como receita. No cálculo da necessidade de capital, foi considerada a exigência do ACP, segundo os limites estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) na Resolução nº 4.193, com redação dada pela Resolução nº 4.443, de 29 de outubro de 2015. Finalmente, são consideradas as potenciais alterações de constituição e de uso de crédito tributário e suas implicações na apuração do PR, de acordo com a Resolução CMN nº 4.192, de 1º de março de 2013, e alterações posteriores.

1.1 Construção de cenários

São projetados quatro cenários macroeconômicos para os seis trimestres seguintes à data de referência, com base em informações do mercado, por meio de um modelo de Vetor Autorregressivo (VAR) ou na repetição de variações históricas. As variáveis endógenas do VAR são a atividade econômica (média trimestral do Índice de

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Atividade Econômica do Banco Central – IBC-Br), a taxa de câmbio do dólar americano (média trimestral da paridade real vs. dólar), a taxa de juros (média trimestral da Selic) e a inflação (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA acumulado em doze meses). São variáveis exógenas o prêmio de risco Brasil (média trimestral do spread EMBI+Br calculado pelo J.P. Morgan Chase) e os juros americanos de dez anos (média trimestral do yield das Treasuries, com vencimento para dez anos). O desemprego é tratado como uma variável externa ao modelo VAR (média trimestral).

O cenário base é construído com as medianas das expectativas do mercado (Focus) para as seguintes variáveis componentes do VAR: atividade econômica, juros, taxa de câmbio e inflação. A correlação entre o Produto Interno Bruto (PIB) – expectativa Focus – e o IBC-Br (VAR) é considerada igual a 1. O prêmio de risco Brasil é considerado constante durante os seis trimestres de projeção. Já os juros americanos de dez anos assumem trajetórias de acordo com o cenário adverse desenhado pelo Board of Governors of the Federal Reserve System em seu relatório “2018 Supervisory Scenarios for Annual Stress Tests Required under the Dodd-Frank Act Stress Testing Rules and the Capital Plan Rule”.

O cenário VAR Estressado assume o pior lucro antes de imposto de renda para o sistema financeiro, obtido com base em quatro projeções feitas por meio do modelo VAR. Em cada uma dessas projeções, considera-se individualmente a trajetória da projeção de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) a um nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa: atividade econômica e juros mais baixos, e câmbio e inflação mais altos). As demais variáveis são estimadas pela resposta a impulso, que contém as relações de dependência entre elas, com o objetivo de manter a consistência de cada projeção.

O cenário de quebra estrutural é estimado pelas trajetórias de cada variável endógena (atividade econômica, câmbio, juros e inflação) ao nível de significância de 5% (unicaudal na direção mais adversa, de maneira análoga à apresentada acima). O intervalo de projeção de cada variável depende apenas da variância de sua projeção e desconsidera as relações de dependências entre as variáveis e a plausibilidade do cenário.

Na escolha do cenário histórico, são simuladas repetições do comportamento das variáveis macroeconômicas em janelas de seis trimestres desde julho de 2003. Cada uma dessas janelas é inserida nos painéis dinâmicos, e o cenário histórico escolhido é aquele que resultaria no mais baixo lucro antes do imposto de renda.

Os cenários VAR Estressado e Quebra Estrutural assumem trajetórias para a yield das Treasuries de dez anos de acordo com os cenários base e adverso desenhados pelo Board of Governors of the Federal Reserve System. As trajetórias do EMBI+Br e do desemprego são projetadas simulando a repetição da maior variação histórica ocorrida para cada série.

1.2 Simulação de estresse

A simulação de estresse é realizada por meio da projeção de seis linhas de resultado, que buscam representar o desempenho operacional, apresentado na demonstração de resultados do exercício (o resultado não operacional foi considerado nulo no teste):

1) Resultados de Juros: receitas de crédito e de Títulos e Valores Mobiliários (TVM) e despesas de provisão e captação;

2) Resultados de não Juros: efeitos de marcação a mercado, hedges e variação cambial;

3) Receitas de Serviços;

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4) Resultados de Participações Societárias;

5) Despesas Administrativas; e

6) Despesas de Provisão.

No grupo “Resultado de Juros”, as receitas de crédito e de TVM e as despesas de captação foram modeladas com base no comportamento da Selic. O volume de captações é ajustado em função do volume observado na carteira de crédito, variando na proporção 1:1. Despesas de provisão são estimadas com base na evolução dos ativos problemáticos, resultante da aplicação de cenários.

O grupo “Não Juros” é modelado sob a forma de um choque de risco de mercado, aplicado sobre as posições observadas na data-base de início do teste. Do cenário de estresse são obtidos os fatores de risco estressados, e as posições são então recalculadas. O resultado é a diferença entre a marcação baseada no cenário de estresse e a posição inicial observada. Esse resultado é então aplicado no primeiro trimestre de projeção e incorporado no resultado final.

As linhas “Receitas de Serviços”, “Resultados de Participações Societárias” e “Despesas Administrativas” são modeladas por meio de painéis obtidos com base nas mesmas varáveis macroeconômicas utilizadas na elaboração de cenários.

2. Análises de sensibilidade – Introdução

Análises de sensibilidade complementam os testes de estresse, pois têm por objetivo avaliar o efeito individual de fatores de risco, de natureza creditícia ou de mercado, que possam afetar o PR das instituições provocando eventual necessidade de capital. Análises desse tipo são conduzidas por meio de variações incrementais em fatores de risco individuais, mantendo-se os demais inalterados.

2.1 Análise de sensibilidade – Variação nos fatores de risco de mercado

As exposições sujeitas à variação de taxas de juros (taxas de juros prefixadas e taxas dos cupons de moedas estrangeiras, índices de preços e taxa de juros) classificadas na carteira de negociação são estressadas. As posições por vértices (de 21 dias úteis a 2.520 dias úteis) são recalculadas após a aplicação de choques, e o impacto financeiro sobre o PR é avaliado. Além disso, essas posições estressadas originam novas parcelas de requerimento de capital para risco de taxas de juros (RWAJUR1, RWAJUR2, RWAJUR3, RWAJUR4). No caso das taxas prefixadas (RWAJUR1), a cada curva de juros gerada por meio de um choque, novos parâmetros regulamentares de exigência de capital são calculados.

As exposições em ouro, em moeda estrangeira e em ativos e passivos sujeitos à variação cambial são também estressadas. Em seguida, o impacto sobre o PR e o requerimento de capital (RWACAM), provocados pelas oscilações das taxas de câmbio, são recalculados. Assume-se que todas as exposições sujeitas à variação cambial seguem as oscilações percentuais ocorridas para o cenário de estresse do dólar americano.

Os choques alteram, individualmente, as taxas de juros e de câmbio em parcelas de 10%, variando-as para baixo até 10% e para cima até 200% da taxa original. Após os impactos, são calculados novos índices de capital e avaliada a situação de desenquadramento e de solvência das instituições.

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2.2 Análise de sensibilidade – Aumentos em ativos problemáticos

Essa análise busca medir o efeito do aumento em ativos problemáticos sobre o PR das instituições. Em incrementos percentuais, ativos problemáticos são elevados em até 150% do seu valor original. Em cada incremento, a despesa de provisão é estimada, e PR e RWACPAD sofrerão impactos decorrentes do aumento da provisão. Após esses impactos, são calculados os novos índices de capital e é avaliada a situação de desenquadramento e solvência das instituições.

2.3 Análise de sensibilidade – Redução de preços de imóveis residenciais

O objetivo dessa análise é estimar os impactos de quedas nos preços de imóveis residenciais sobre o PR das instituições financeiras que possuem carteiras de financiamento habitacional às pessoas físicas. Para isso, considera-se que os preços dos imóveis são atualizados, antes das simulações, pelo Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R), incorporando as variações medidas pelo índice desde a data de contratação do financiamento até a data da simulação.

Aplicam-se choques adversos nos preços, simulando uma sequência de quedas em degraus de 5 p.p. Para cada queda, consideram-se como inadimplentes os financiamentos em que o valor do imóvel dado em garantia seja inferior a 90% do saldo devedor.

Estima-se que a perda em cada financiamento inadimplente é igual à diferença entre o saldo devedor e o valor presente do montante recuperado com a venda do imóvel em leilão. Para se apurar o montante recuperado, tomam-se os preços dos imóveis residenciais após a aplicação dos choques, descontando-se os impostos, as despesas de manutenção e as relacionadas ao leilão. Adicionalmente, considera-se que a venda em leilão somente ocorrerá mediante aplicação de deságio proporcional à queda de preço provocada pelo choque aplicado. O valor presente desse montante é obtido descontando-o pela taxa de juro futuro de um ano negociada na BM&FBovespa. Os novos índices de capital regulatório de cada instituição são calculados considerando as perdas estimadas associadas a cada degrau de queda de preços dos imóveis.

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465. Dynamic Bank Runs: an agent-based approach Toni Ricardo Eugenio dos Santos e Marcio Issao NakaneOutubro/2017 Resumo Texto completo

461. Systemic Risk in Financial Systems: a feedback approach Thiago Christiano Silva, Michel Alexandre da Silva e Benjamin Miranda TabakAgosto/2017 Resumo Texto completo

468. Do Central Bank Actions Reduce Interest Rate Volatility? Jaqueline Terra Moura Marins e José Valentim Machado VicenteNovembro/2017 Resumo Texto completo

Trabalhos para Discussão sobre estabilidade financeira