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Secretaria Federal de Controle Interno Unidade Examinada: PREFEITURA MUNICIPAL DE SEBASTIAO BARROS Introdução 1. Introdução Este Relatório trata do resultado de ação de controle desenvolvida em função de situações presumidamente irregulares, ocorridas em PREFEITURA MUNICIPAL DE SEBASTIAO BARROS, apontadas ao Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União - CGU, que deram origem ao Processo nº 00216.100159/2016-73. A fiscalização abrangeu a aplicação de recursos federais do Programa 2030 - Educação Básica / 12KU - Implantação de Escolas para Educação Infantil e teve como objetivo analisar a execução do Termo de Compromisso PAR nº 22634 (ID SIMEC 1010728), firmado entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE e o Município de Sebastião Barros/PI, no valor de R$ 1.021.956,00. Os trabalhos de campo foram realizados no período de 17/10/2016 a 21/10/2016. Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e registros fotográficos, análise documental, realização de entrevistas e aplicação de questionários. Os executores dos recursos federais foram previamente informados sobre os fatos relatados, não havendo manifestação até a data de conclusão deste relatório, cabendo ao Ministério supervisor, nos casos pertinentes, adotar as providências corretivas visando à consecução das políticas públicas, bem como à apuração das responsabilidades. Relatório de Demandas Externas Número do relatório: 201603402

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Page 1: Relatório de Demandas Externas - Relatórios de Auditoria ... · Durante a inspeção física , realizada pela CGU/PI em 19 de outubro de 2016, constatou- se que ... de pintura,

Secretaria Federal de Controle Interno

Unidade Examinada: PREFEITURA MUNICIPAL DE SEBASTIAO BARROS

Introdução 1. Introdução Este Relatório trata do resultado de ação de controle desenvolvida em função de situações presumidamente irregulares, ocorridas em PREFEITURA MUNICIPAL DE SEBASTIAO BARROS, apontadas ao Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União - CGU, que deram origem ao Processo nº 00216.100159/2016-73. A fiscalização abrangeu a aplicação de recursos federais do Programa 2030 - Educação Básica / 12KU - Implantação de Escolas para Educação Infantil e teve como objetivo analisar a execução do Termo de Compromisso PAR nº 22634 (ID SIMEC 1010728), firmado entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE e o Município de Sebastião Barros/PI, no valor de R$ 1.021.956,00. Os trabalhos de campo foram realizados no período de 17/10/2016 a 21/10/2016. Os exames foram realizados em estrita observância às normas de fiscalização aplicáveis ao Serviço Público Federal, tendo sido utilizadas, dentre outras, técnicas de inspeção física e registros fotográficos, análise documental, realização de entrevistas e aplicação de questionários. Os executores dos recursos federais foram previamente informados sobre os fatos relatados, não havendo manifestação até a data de conclusão deste relatório, cabendo ao Ministério supervisor, nos casos pertinentes, adotar as providências corretivas visando à consecução das políticas públicas, bem como à apuração das responsabilidades.

Relatório de Demandas Externas Número do relatório: 201603402

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1.1. Informações sobre a Ação de Controle

Ordem de Serviço: 201603402 Número do Processo: 00216.100159/2016-73 Município/UF: Sebastião Barros/PI Órgão: MINISTERIO DA EDUCACAO Instrumento de Transferência: Não se Aplica Unidade Examinada: PREFEITURA MUNICIPAL DE SEBASTIAO BARROS Montante de Recursos Financeiros: R$ 1.021.956,00

2. Resultados dos Exames Os resultados da fiscalização serão apresentados de acordo com o âmbito responsável pela tomada de providências para saneamento das situações encontradas, bem como pela existência de monitoramento a ser realizada por esta Controladoria. 2.1 Parte 1 Os fatos apresentados a seguir destinam-se aos órgãos e entidades da Administração Pública Federal - gestores federais dos programas de execução descentralizada. A princípio, tais fatos demandarão a adoção de medidas preventivas e corretivas por parte desses gestores, visando à melhoria da execução dos Programas de Governo ou à instauração da competente Tomada de Contas Especial, as quais serão monitoradas pela Controladoria-Geral da União.

2.1.1. Informações gerais sobre a construção da unidade escolar de seis salas de aula, padrão Fnde, na localidade Pitombas, Município de Sebastião Barros/PI, objeto do Termo de Compromisso PAR nº 22634. Fato Trata-se da construção da escola de seis salas na localidade Pitombas, de Coordenadas Geográficas S 10º 47’ 57,2 e WO 44º 54’ 06,4”, objeto do Termo de Compromisso PAR nº 22634 (ID SIMEC 1010728) firmado entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE e o município de Sebastião Barros/PI, no valor de R$ 1.021.956,00. A disponibilização dos recursos para atender ao objeto do Termo de Compromisso foi realizada por meio dos seguintes repasses, depositados no Banco do Brasil, agência nº 0609-2, conta corrente nº 22.753-6: Tabela: Ordens Bancárias realizados pelo FNDE

Documento Data Valor (R$) 00000001058899000000 13/03/2014 51.097,80

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00000004617439000000 01/09/2014 459.880,20 00000003112918000000 08/07/2015 102.195,60 00000000101243000000 13/01/2016 153.293,40 00000002159444000000 12/05/2016 71.536,92

Total (R$) 838.003,92 Fonte: Sistema Integrado de Gestão Financeira – SIGEF/FNDE A Prefeitura Municipal de Sebastião Barros/PI disponibilizou, em atenção à Solicitação de Fiscalização Prévia, de 10 de outubro de 2016, dois processos licitatórios com o mesmo objeto, o Pregão Presencial nº 16/2014 e a Tomada de Preços nº 003/2014. No primeiro, sem que tivesse sido iniciada a execução da obra e realizado qualquer pagamento, houve a rescisão do Contrato nº 16/2014, de 21 de fevereiro de 2014, firmado com a empresa Pedro Guida Neto - ME, CNPJ nº 16.582.784/0001-43, por meio do Termo de Rescisão Contratual, de 15 de maio de 2014, com fundamento em sua Cláusula Oitava e art. 79, inc. II, da Lei nº 8.666/93 (amigável, por acordo entre as partes, reduzida a termo no processo da licitação, desde que haja conveniência para a Administração). Quanto ao processo licitatório Tomada de Preços nº 03/2014, este foi iniciado com a Solicitação de Serviços nº 03/2014, de 15 de maio de 2014, e concluído com a formalização do Contrato e Ordem de Serviços, ambos de 17 de junho de 2014, com a empresa Wilson Rodrigues da Silva - ME, CNPJ nº 11.733.930/0001-70, que é a responsável pela execução da escola de 06 salas na localidade Pitombas, município de Sebastião Barros/PI. Desse último certame licitatório, participou com a entrega da documentação de habilitação e proposta à comissão permanente de licitação somente a empresa Wilson Rodrigues da Silva - ME. O referido certame licitatório foi adjudicado à empresa e homologado pela autoridade competente em 16 de junho de 2014, com a proposta no valor de R$ 1.021.956,00. A vigência do contrato, com a empresa Wilson Rodrigues da Silva – ME, encontra-se prorrogada por meio do 4º Termo Aditivo até 06 de dezembro de 2016. Em ambos os processos foram identificadas irregularidades e situações que evidenciam a montagem do processo, sem que tenha havido concorrência de fato pelo objeto da licitação, conforme será detalhado em ponto específico do Relatório. Na realização das despesas, foram efetuados os seguintes pagamentos por parte da Prefeitura Municipal à empresa W. R. Silva: Tabela: Pagamentos realizados

Nota Fiscal Data Valor (R$) 236 08/07/2014 52.000,00 261 12/09/2014 259.880,20 302 19/01/2015 205.000,00 346 29/07/2015 102.000,00 394 14/01/2016 153.067,62 431 19/05/2016 71.536,00

Total (R$) 843.483,82 Fonte: Notas Fiscais emitidas O FNDE já repassou à Prefeitura Municipal o valor de R$ 838.003,92, que corresponde ao percentual de 82% dos recursos destinados à execução do objeto. Em consulta aos extratos

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bancários da conta específica, em 24 de outubro de 2016, há um saldo credor (Fundo de Investimento S Público Supremo) no valor de R$ 1.898,46. Durante a inspeção física, realizada pela CGU/PI em 19 de outubro de 2016, constatou-se que os serviços de construção da escola de seis salas encontram-se paralisados, no entanto, estão em fase de acabamento. Segundo informações do Secretário de Obras do Município, os serviços de construção da escola foram paralisados desde setembro por conta da eleição municipal de 2016. A estrutura física está praticamente concluída (vide fotos abaixo), restando a execução, entre outros, de serviços de construção de muro ao redor da escola, de pintura, de piso, bem como serviços de instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias, telefônicas e sistema de proteção contra descargas atmosféricas. Do montante dos recursos previstos para a construção da escola (R$ 1.021,956,00), já foi pago à construtora o montante de R$ 843.483,82, restando um saldo de R$ 178.472,18. Conforme inspeção física realizada pela CGU/PI, estima-se que, da planilha orçamentária proposta, resta a execução de serviços da ordem de R$ 117.936,10. Relatório fotográfico:

Foto 1 – Vista geral da escola, com a placa da obra – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 2 – Vista frontal da escola – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 3 – Vista frontal por outro ângulo – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 4 – Vista do pátio central – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

##/Fato##

2.2 Parte 2

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Nesta parte, a competência primária para adoção de medidas corretivas dos fatos apresentados a seguir pertence ao executor do recurso federal descentralizado. Esclarece-se que as situações relatadas são decorrentes de levantamentos necessários à adequada contextualização das constatações relatadas na primeira parte.

Dessa forma, compõem o relatório para conhecimento dos Ministérios repassadores de recursos federais, embora não exijam providências corretivas isoladas por parte das pastas ministeriais. Destinam-se, ainda, para ciência dos Órgãos de Defesa do Estado com vistas à tomada de providências no âmbito das respectivas competências. Esta Controladoria não realizará o monitoramento isolado das providências saneadoras relacionadas a estas constatações.

2.2.1. Irregularidades nos processos licitatórios realizados para contratação da empresa responsável pela obra da unidade escolar com seis salas de aula, com situações que indicam não ter havido concorrência de fato pelo objeto licitado. Fato A Prefeitura de Sebastião Barros realizou dois processos licitatórios no ano de 2014 para a contratação de empresa responsável pela construção da unidade escolar com seis salas de aula na localidade Pitombas, Pregão Presencial nº 16/2014 e Tomada de Preços nº 003/2014. A necessidade de realizar dois processos licitatórios se deu pelo fato de o primeiro contrato assinado, em decorrência do Pregão, ter sido rescindido. Apesar disso, os dois processos foram analisados, tendo sido identificadas, em ambos, irregularidades semelhantes, inclusive com situações que indicam não ter havido concorrência de fato pelo objeto. Em relação ao Pregão Presencial nº 16/2014, com data de abertura prevista para 19 de fevereiro de 2014 e contrato assinado e rescindido com a empresa vencedora do certame respectivamente em 21 de fevereiro de 2014 e 15 de maio de 2014, cuja empresa vencedora e única participante do certame foi a Pedro Guida Neto – ME, CNPJ 16.582.784/0001-43, foram identificadas as seguintes situações: • Não há comprovação de publicação da licitação no DOU e em jornal de grande circulação

local, conforme exigido pelo art. 21 da Lei nº 8.666/1993, o que restringe a publicidade do certame. A restrição à publicidade foi corroborada pelo fato de que apenas uma empresa participou da licitação;

• Vários documentos no processo não estão assinados pelos responsáveis: Parecer jurídico (Págs. 44 e 121), Edital (pág. 57), Aviso de Licitação (pág. 63) e Certidão de Publicação (pág. 64). Além de não terem validade formal, a situação demonstra que os documentos eram impressos e incluídos no processo para somente depois serem coletadas as assinaturas dos responsáveis, evidenciando que os responsáveis envolvidos não atuaram no processo nos momentos que os documentos fazem supor;

• Identificou-se a ocorrência de partes de mais de um documento impresso na mesma folha (Aviso de licitação, Certidão de Publicação e Planilha de Lances Verbais – páginas 62 a 65). Isso demonstra que eles já estavam previamente elaborados e, no momento da impressão, houve falha na configuração da página e parte dos documentos foram impressos na mesma folha. A situação é bastante caracterizada pelo fato de constarem na mesma folha parte de documentos das fases interna e externa da licitação, caso da Certidão de Publicação e Planilha de Lances Verbais, o que não ocorreria num processo

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com trâmite devido, onde outras etapas ocorreriam entre essas duas. A Planilha de Lances Verbais, etapa ocorrida após a abertura das propostas, consta, inclusive e injustificadamente, antes dos extratos de publicação do aviso da licitação no Diário dos Municípios e no TCE/PI:

Certidão de Publicação do Aviso da Licitação no Quadro de Avisos do Mural da Prefeitura, datado de 05/02/2014, onde o campo da assinatura do Presidente da CPL consta página seguinte.

Planilha de Lances verbais datada de 19/02/2014 impressa na mesma folha onde consta o campo da assinatura do Presidente do CPL referente à Certidão de Publicação.

• Alguns documentos emitidos pela empresa e pela CPL têm como data de referência 19

de fevereiro de 2013, quando a licitação tinha data marcada para ser realizada em 19 de fevereiro de 2014, são eles: declarações emitidas pela empresa Pedro Guida Neto – ME constante às páginas 74 e 96 e a “Data da Sessão” disposta na Planilha de Lances Verbais elaborada pela CPL, página 64. Essa falha, além de demonstrar descuido na elaboração dos documentos, indica vinculação entre a CPL e a empresa quando da elaboração dos documentos, já que ocorreu da mesma forma para ambos;

• A comprovação de publicação da licitação no TCE/PI, constante à página 67 do processo, foi impressa em 28/02/2014. Essa data, entretanto, é posterior à data de recebimento das propostas, 19/02/2014. Em um processo cuja formalização e numeração de páginas se desse à medida que as etapas iam ocorrendo, tão situação não ocorreria;

• A proposta de preços da empresa Pedro Guida Neto – ME (pág. 97 a 103) é idêntica, inclusive nos valores unitários e totais de todos os itens da proposta, ao orçamento padrão do FNDE (pág. 4 a 10), além de terem a mesma fonte e a mesma disposição. Isso demonstra que a empresa simplesmente alterou o cabeçalho no documento do FNDE e utilizou esse documento como sua proposta de preços, o que indica que a empresa tinha certeza de que não haveria concorrência pelo objeto, já que qualquer proposta com desconto de outro licitante resultaria na perda do objeto licitado:

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Planilha com orçamento padrão do Fnde.

Proposta da empresa Pedro Guida Neto – ME. • Verificou-se que todos os documentos da fase externa da licitação têm a mesma data, 19

de fevereiro 2014, que corresponde à mesma data do recebimento das propostas, são eles: Ata de Realização do Pregão Presencial nº 16/2014, Termo de Julgamento do Pregão Presencial nº 16/2014, Termo de Adjudicação, Despacho do Controlador do Município, Termo de Homologação, Despacho para a Assessoria Jurídica, Despacho para a

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Controladoria Municipal e Parecer Jurídico (sem assinatura). Tratam-se de documentos que demandam tempo de análise e elaboração, sendo improvável supor que todas essas etapas tivessem condições de ocorrer num mesmo dia, o que indica que esses documentos foram previamente elaborados para só depois serem coletadas as assinaturas.

O conjunto de situações identificadas no Pregão Presencial nº 16/2014 indicam que não houve concorrência de fato e que o processo foi formalizado apenas para dar ares de regularidade à contratação da empresa Pedro Guida Neto – ME, que acabou por rescindir, sem qualquer motivação, o contrato firmado com o Município de Sebastião Barros. Após a rescisão com a empresa Pedro Guida Neto – ME, o Município iniciou nova licitação para contratação de empresa responsável pela obra da unidade escolar com seis salas de aula. Trata-se da Tomada de Preços nº 003/2014, cuja empresa vencedora e única participante do certame foi a Wilson Rodrigues da Silva – ME, CNPJ 11.733.930/0001-70, que foi a responsável pela execução da obra. Da mesma forma do Pregão, foram identificadas diversas situações irregulares, conforme listado a seguir: • Não há comprovação de publicação da licitação no DOU e em jornal de grande circulação

local, conforme exigido pelo art. 21 da Lei nº 8.666/1993, o que restringe a publicidade do certame. A restrição à publicidade foi corroborada pelo fato de que apenas uma empresa participou da licitação;

• Verificou-se que o Atestado de Visita ao Local da Obra, assinado pelo Secretário de Obras e Infraestrutura, não se refere à obra que estava sendo licitada, unidade escolar com seis salas de aulas, mas sim à perfuração e instalação de poços tubulares, o que demonstra que não houve, por parte da empresa, tratamento adequado na preparação dos documentos de habilitação da licitação que estaria participando;

• As folhas do processo estão carimbadas, mas só estão numeradas e rubricadas até a página 50. Num processo em que as etapas de formalização são adequadamente seguidas, tal situação não ocorreria, já que as peças seriam carimbadas, assinadas e numeradas assim que produzidas e/ou incluídas no processo pela CPL;

• A licitação tinha como data prevista para recebimento e abertura das propostas o dia 13 de junho de 2014, porém, os documentos emitidos pela empresa Wilson Rodrigues da Silva - ME (páginas 69, 86, 89, 90, 91, 92 e 101 do arquivo digitalizado), inclusive sua proposta de preços, são datados de 09 de junho de 2014. Essa situação indica que a empresa disponibilizou a sua documentação de habilitação e proposta de preços à Prefeitura previamente à data estabelecida, o que, agregado ao fato de a empresa ter sido a única participante do certame, aponta que não teria sido oportunizada a possibilidade de uma disputa de fato pelo objeto da licitação;

• A proposta de preços da empresa está idêntica em todos os itens ao orçamento padrão do FNDE. Isso demonstra que a empresa simplesmente alterou o cabeçalho constante no documento do FNDE e o utilizou como sua proposta de preços. Tal situação indica que a empresa tinha certeza de que não haveria concorrência pelo objeto, já que qualquer desconto mínimo por parte de outra licitante resultaria na perda do objeto licitado:

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Planilha com orçamento padrão do Fnde.

Planilha com a proposta da empresa Wilson Rodrigues da Silva - ME.

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O conjunto de situações identificadas na Tomada de Preços nº 003/2014, analisadas em conjunto, indicam que não houve concorrência de fato pelo objeto e que o processo foi formalizado apenas para dar ares de regularidade à contratação da empresa Wilson Rodrigues da Silva – ME. Cabe destacar que o empresário individual responsável pela empresa Wilson Rodrigues da Silva – ME, W. R. da S., CPF ***.433.718-**, consta da base de dados do TSE como tendo feito doação na campanha de 2012 ao candidato eleito ao cargo de Prefeito de Sebastião Barros, o que evidencia o relacionamento pessoal entre o empresário e o Prefeito. Atuou como Presidente da Comissão Permanente de Licitação – CPL nos dois processos licitatórios, L. de A. Dias, CPF ***.084.533-**. Era o contador das empresas nos dois processos licitatórios, M. R. M., CPF ***.637.463-**. Homologou as duas licitações o Prefeito Municipal, CPF ***.940.003-**. ##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada Por meio do Ofício nº 34, de 02 de dezembro de 2016, a Prefeitura Municipal de Sebastião Barros apresentou a seguinte manifestação, editada apenas quanto ao nome de pessoas citadas, a fim de preservá-las: “Em relação ao Processo referente ao Pregão Presencial nº 16/2014, como já informado anteriormente, este foi cancelado e rescindido o Contrato oriundo do mesmo, tendo em vista, que se encontrava eivado de vícios, sobretudo, quanto à escolha da modalidade licitatória. Outrossim, não há mais o que se falar sobre as pendências relativas ao Processo supramencionado, uma vez que, até o contrato foi rescindido amigavelmente. Cumpre salientar, que o mesmo nem informado foi no sistema do FNDE/SIMEC. Posteriormente, foi realizada nova licitação na modalidade Tomada Preço sob o nº 03/2014, cuja qual é a licitação vigente para o objeto ensejado. Quanto ao Atestado de Vistoria do Local da Obra, no qual configura no objeto ‘Perfuração de Poços Artesianos’, insta salientar, que se trata de mero erro formal, tendo em vista arquivos já existentes junto a Secretaria de Obras, e que apenas se faz as adequações, fato esse que passou despercebido pelas partes envolvidas. Entretanto, esse fato não compromete o certame, nem muito menos a execução do Contrato. Em relação à falta de carimbo e numeração de páginas referente ao Processo TP 03/2014, por se configurar uma mera falha de expediente, está sanável informamos que a mesma já foi corrigida, conforme cópia do referido processo em anexo. Ao contrário da afirmação desta respeitosa Controladoria, quando diz categoricamente ‘sem indício algum’, que a Comissão de Licitação da prefeitura teve posse à documentação e proposta da empresa previamente a data de abertura do certame, cumpre informar que a realmente a CPL, teve acesso preliminarmente aos documentos da empresa apenas para emissão de Certificado de Registro Cadastral – CRC neste município no dia 09/06/2014, conforme CRC anexo aos autos às fls. 71, cumprindo assim, a determinação da Lei nº 8.666/93, no art. 22, § 2º e do Edital da TP 03/2014, no item 3.1 a) e b). Porém, o acesso a

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documento de habilitação e proposta de preço da empresa somente foi conhecida no dia e horário marcado para abertura do certame (13/06/2014). Desta forma, nem a Lei 8.666/93, nem o Edital que vincula as partes, veda a participação de empresas pelo simples fato de Declarações constarem data anterior à realização da Sessão Pública de Licitação, caso este que não gera inabilitação da empresa e muito menos a desclassificação da sua proposta. Considerando ainda, a boa fé dos servidores envolvidos no processo de licitação, sendo inclusive deselegante e crime fazer tal julgamento. Como é sabido, todo e qualquer procedimento licitatório, deve ser dado publicidade dos seus atos, sobretudo no que diz respeito ao Aviso. Verificando os autos, constatou-se que o mesmo foi publicado em Diários Oficiais, informado no Mural da Prefeitura e no Sistema de Licitações Web do Tribunal de Contas do Estado do Piauí. Portanto, qualquer empresa interessada, teve acesso ao Aviso, ao Edital e seus anexos (Planilha Orçamentária, Declarações e Minuta do Contrato). Por se tratar de recursos federais, à época, as Planilhas Orçamentárias no formato ‘XIS’ ficavam disponíveis ao público no Sistema PASSIMEC do FNDE, bem como disponível junto a Comissão Permanente de Licitação. Tanto que o Edital, Planilhas Orçamentárias e Projetos foram fornecidos pela CPL por meio de mídia (CD, pen-drive, HI), DVD) aos interessados. Continuando, o relatório de fiscalização menciona, ‘que a proposta da empresa está idêntica ao orçamento padrão do FNDE... o que indica que a empresa já estava de posse do orçamento previamente à data marcada para o recebimento das propostas.’ Tal afirmação demonstra total falta de conhecimento em licitações do responsável por esta fiscalização, uma vez que, para a elaboração de suas propostas comerciais, é necessário que as empresas interessadas tenham acesso ao Edital completo, às planilhas orçamentárias e projetos básicos, conforme dispõe a Lei n 8.666/93, de tal maneira, que seria impossível uma empresa participante apresentar sua proposta de preço. Portanto, cabe apenas a Comissão verificar se as documentações e propostas estão de acordo com o Edital e anexo, inclusive quanto aos preços pratica dos, e não com a forma de apresentação da fonte da proposta. Além do mais, é uma obra padrão do Ministério da Educação — MEC para todos os municípios brasileiros. Ademais, não existem nesse processo licitatório, ‘montagem de processo apenas para dar ares de regularidade’, como mencionado nesse relatório preliminar e sim, falhas formais sanáveis de cunho meramente administrativo e de expediente, que não causam prejuízo algum ao erário público, tampouco na execução da obra, uma vez que a mesma já se encontra em fase de conclusão com insignificantes vícios apontados por esta fiscalização in loco. Além do mais, os apontamentos apresentados neste relatório, são em sua grande maioria descabidos. Quanto à doação de campanha em 2012, ao candidato eleito ao cargo de Prefeito de Sebastião Barros — PI, Sr. N. R. N. R., realizada pelo empresário W. R. da S., mencionado neste relatório, questionamos qual fundamentação de tal afirmação? Pois, conforme Declaração anexa do Sr. W., o mesmo declara que: ‘não fui doador da campanha do Sr. N. R. R., atual gestor de Sebastião Barros - PI, como também asseguro, até a presente data, não haver feito doação de campanha a candidato ou partido algum’. Igualmente, não consta no site do TRE, o nome senhor W. R. da S., como doador de campanha do candidato acima mencionado. Portanto, não há que se falar em relacionamento pessoal entre o empresário Sr. W. e o Prefeito eleito Sr. N. R., pois ambos não se conheciam.

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Ante o exposto, solicitamos compreensão desta Controladoria, tendo em vista que as falhas apontadas foram todas sanadas e justificadas, conforme documentação anexa.” ##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno Em relação às situações identificadas no âmbito da Tomada de Preço nº 003/2014, o gestor concordou com as falhas apontadas relativas ao Atestado de Vistoria ao Local da Obra e à falta de carimbo e numeração das páginas e as tratou como erros meramente formais. Concordando com sua manifestação, é evidente que se tratam de falhas de formalização do processo e assim foram tratadas. A questão, entretanto, é o conjunto de falhas identificadas, que demonstra que não foram seguidas as regras de formalização que são utilizadas justamente para dificultar a ocorrência de irregularidades intencionais no âmbito dos processos licitatórios. O fato de constar um Atestado de Vistoria do local de uma obra que não é a que está sendo licitada demonstra que o empresário não teve cuidados básicos na elaboração dos documentos de habilitação. Já a ausência de assinatura e numeração nas páginas carimbadas possibilita que qualquer página possa ser incluída ou excluída a qualquer momento no processo, situação que não é sanada pelo fato de o processo ter sido rubricado e numerado após a fiscalização da CGU. No que se refere à justificativa de que a comissão teve acesso no dia 09/06/2014 somente aos documentos necessários à emissão do Certificado de Registro Cadastral – CRC da empresa e que, aos documentos de habilitação e propostas, somente no dia 13/06/2014, é preciso destacar que não há, no processo, qualquer identificação se se tratam de documentos destinados à emissão do certificado cadastral ou de documentos de habilitação. Cabe ainda destacar que os documentos necessários à emissão do CRC não mantêm relação com os documentos necessários à habilitação no processo licitatório e, inclusive, não devem constar dos processos licitatórios. Caso fosse considerado que se tratam dos documentos relativos à emissão do CRC, chegar-se-ia à conclusão de que a empresa não apresentou, na data prevista no edital, os documentos necessários à sua habilitação e, dessa forma, não poderia ter sido considerada habilitada. Nesse sentido, o entendimento relativo ao indicativo de que a Prefeitura teve acesso prévio aos documentos de habilitação e proposta de preços permanece inalterado. Em relação à situação apontada relativa ao acesso preliminar ao orçamento detalhado da obra, cabe destacar que as empresas devem ter acesso prévio aos documentos necessários para elaboração de sua proposta, o que não inclui o orçamento detalhado da obra, que é documento que deve constar do processo, não sendo acessível ao público externo. Mesmo considerando que a empresa tenha obtido o orçamento padrão da obra junto ao FNDE, o fato de não ter realizado qualquer alteração mínima no orçamento da obra demonstra que a empresa não tinha qualquer receio de haver concorrência no certame, já que qualquer desconto mínimo por parte de outra empresa resultaria na não seleção da empresa que se sagrou vencedora. No que se refere à declaração do empresário W. R. da S. de não ter feito doação de campanha a candidato ou partido algum, destaca-se que consta da base do TSE disponibilizada à CGU o registo de doação de serviços “cessão ou locação de veículos” ao candidato eleito ao cargo de Prefeito em Sebastião Barros nas eleições de 2012, cujo valor foi estimado em R$ 2.000,00.

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Tratam-se de dados oficiais do TSE que evidenciam que houve a doação. A afirmativa apresentada pelo empresário indica duas situações possíveis: que ele não está falando a verdade ou que seu nome foi utilizado sem o seu conhecimento nas prestações de contas do candidato. Por fim, mesmo que mais graves que as apontadas na Tomada de Preços nº 03/2014, o gestor não fez qualquer menção em relação às situações identificadas no Pregão Presencial nº 16/2014. Cabe destacar que o termo de rescisão contratual constante do processo não apresenta qualquer motivação formal, o que vai de encontro ao disposto no art. 78, § único, da Lei nº 8.666/93. ##/AnaliseControleInterno##

2.2.2. Serviços executados com qualidade inadequada e/ou com vícios construtivos evidentes. Fato Na visita às obras de construção da escola de seis salas, padrão FNDE, foram observadas falhas construtivas, aplicação de materiais ou execução de serviços com qualidade insatisfatória, que comprometem a funcionalidade e a durabilidade da obra, consoante detalhamento a seguir: a) Falha na concretagem de alguns pilares dos passeios, representando riscos quanto à sua estabilidade e durabilidade (Fotos 1, 3 e 4); b) Apoio inadequado para o madeiramento na ponta dos pilares dos passeios, estando em desconformidade com o projeto de cobertura (Fotos 1, 2, 3 e 4); c) Madeiramento dos passeios com qualidade duvidosa, apresentando várias imperfeições como empenamento, rachaduras e buracos (Fotos 5, 6, 7 e 8). Relatório Fotográfico:

Foto 1 – Rachadura na ponta do pilar e apoio inadequado do madeiramento – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 2 – Apoio do madeiramento em desconformidade com o projeto – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

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Foto 3 – Pilares com falhas de concretagem – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 4 – Pilares com falhas de concretagem – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 5 – Madeiramento com rachaduras e empenos – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 6 – Madeiramento com várias imperfeições (linha) – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 7 – Linha de madeira com buracos e rachaduras – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

Foto 8 – Linha de madeira com defeito – Sebastião Barros/PI, 19 de outubro de 2016.

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##/Fato##

Manifestação da Unidade Examinada A Prefeitura Municipal de Sebastião Barros/PI, por meio do Ofício nº 34/2016, de 02 de dezembro de 2016, apresentou as seguintes justificativas: “A empresa Construtora foi oficiada pela atual administração, e se prontificou a refazer, repor, reparar os serviços apontados neste relatório como de qualidade inadequada ao padrão FNDE, sem custos adicionais à administração.” ##/ManifestacaoUnidadeExaminada##

Análise do Controle Interno A Prefeitura tomou as providências cabíveis, em face dos problemas construtivos detectados. Entretanto, não comprovou por meio de ofício(s) encaminhado(s) à empresa executora dos serviços, bem como seu comprometimento, no sentido de sanar as falhas apontadas. ##/AnaliseControleInterno##

3. Consolidação de Resultados Considerando que não houve uma situação específica a ser analisada na demanda do Ministério Público Estadual, a análise abrangeu todas as etapas da execução do Termo de Compromisso PAR nº 22634 a cargo do Município de Sebastião Barros.

Com base nos exames realizados, conclui-se que a aplicação dos recursos federais pelo Município não foi adequada e exige providências de regularização por parte dos gestores federais. Não foram identificados prejuízos decorrentes de superfaturamento, por sobrepreço ou inexecução, entretanto, identificou-se a ocorrência de serviços e materiais com qualidade inadequada e vícios construtivos (item 2.2.3 do Relatório), que demandariam uma perícia para a devida aferição do prejuízo. Além disso, em ambos os processos licitatórios realizados para contratação da empresa responsável pela obra, foram identificadas irregularidades e situações que evidenciam a montagem dos processos, sem que tenha havido concorrência de fato pelo objeto licitado (item 2.2.1 do Relatório).