relatório de deficiência visual

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Guilhermina Puga Deficiência Visual Sugestão de Trabalho em Contexto de Jardim-de-infância

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Page 1: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Guilhermina Puga

Deficiência Visual

Sugestão de Trabalho em Contexto de Jardim-de-infância

Universidade Portucalense

Porto 2007

Page 2: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Guilhermina Puga

Deficiência Visual

Sugestão de Trabalho em Contexto de Jardim-de-infância

Trabalho realizado para o módulo de Deficiência Visual do curso de

Especialização/Pós-Graduação em Educação Especial.

Professor(a): Mestre Fernanda Xavier

Universidade Portucalense

Porto 2007

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Page 3: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Sumário

Introdução ……………………………………………………………………………...4

1. Deficiência Visual e suas Implicações no Desenvolvimento da Criança

1.1. Definição de Deficiência Visual ……………………...…………. ……...5

1.2. Áreas Básicas do Desenvolvimento Infantil ………………………. …. 8

1.3. Características da Criança com Deficiência Visual ……………...…. 10

2. O Jardim-de-Infância como Espaço Inclusivo. ………………………………. 12

3. Estratégias de Trabalho

3.1. Orientações Escolares e Familiares……………………………………16

3.2. Intervenção ……………………………….………………………………18

4. Conclusão.......................................................................................………. 24

5. Bibliografia...............................................................................……………. 25

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Page 4: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Resumo: Todas as crianças necessitam de uma edução que tenha em conta todos os

aspectos do seu desenvolvimento. Quando existe perda ou decréscimo de alguma das suas

capacidades são necessárias abordagens compensatórias do problema.

A Deficiência Visual (DV) diz respeito à maior ou menor dificuldade na percepção dos

objectos que nos rodeiam e terá que ser alvo de uma intervenção cuidada.

O Jardim-de-Infância, sendo um espaço de múltiplos saberes e proporcionando uma

grande variedade de actividades e contextos, é único na sua função inclusiva.

As actividades disponibilizadas por pais e educadores, na sua vertente funcional, e de

aumento de autonomia são fundamentais para a elaboração e realização do projecto da vida da

criança com DV.

Palavras-Chave: Deficiência Visual, Desenvolvimento Infantil, Jardim-de-Infância, Intervenção

Educativa.

Introdução: É objectivo principal deste relatório fazer uma análise das

implicações da Deficiência Visual (DV) no desenvolvimento da criança assim

como traçar algumas estratégias para o seu acompanhamento e para

intervenção educativa em contexto de Jardim-de-infância.

O desenvolvimento da criança, sendo um processo global, permite-lhe

recorrer a uma série de competências que a acompanham desde o

nascimento. A criança com DV estando limitada numa das suas capacidades

terá que fazer um esforço acrescido no contacto com o meio e pais,

professores/educadores terão também um papel acrescido na sua educação.

O desenvolvimento infantil não é estanque e, se algumas estruturas da

criança não funcionam devidamente, terá que ser feito um esforço no sentido

de outras das suas competências compensarem essa dificuldade.

O Jardim-de-Infância como primeira etapa da Educação Básica tem um

papel fundamental na primeira fase do desenvolvimento infantil. Por um lado, o

JI valoriza exactamente a aquisição de competências sensoriais estimulando-

as naturalmente com uma série de experiências e materiais, por outro lado a

criança com DV vai necessitar exactamente dessa estimulação para, de certa

forma, compensar o seu handicap visual.

Pais e educadores são chamados a trabalhar com a criança DV tendo em

conta as suas especificidades. A criança com estas características precisa que

as experiências lhes sejam proporcionadas de forma efectiva e fisicamente

próximas. Os pais, tendo um papel preponderante na educação dos seus filhos,

devem ser chamados a participar e a tomar decisões relativas ao seu futuro e

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Page 5: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

devem também ter espaços para partilharem os seus medos e angústias.

Ultrapassar os primeiros meses de vida da criança de forma positiva trará

ganhos para o desenvolvimento da criança que mais tarde dificilmente poderão

ser recuperados.

A utilização de materiais adaptados, mais ou menos específicos, no

trabalho com crianças com DV é uma mais valia para o seu desenvolvimento

sensorial, cognitivo, motor, psicológico e social. Só atendendo a todos estes

aspectos poderemos falar em verdadeira inclusão.

1. Deficiência Visual e suas Implicações no Desenvolvimento da Criança

1.1. Áreas Básicas do Desenvolvimento Infantil

Desenvolvimento da Percepção Visual

Todas as crianças necessitam de uma edução que tenha em conta todos os

aspectos do seu desenvolvimento. As funções sensório-motoras, a linguagem,

a percepção auditiva, visual e táctilo-quinestésica associadas ao pensamento,

à aprendizagem, memória, adaptação social e desenvolvimento emocional são

as armas mais poderosas para o crescimento criança.

O facto de um destes aspectos não se manifestar em todo o seu potencial

não invalida o desenvolvimento da criança, antes pelo contrário, obriga a um

repensar das estratégias a ter com a criança para que outros aspectos do seu

desenvolvimento possam satisfatoriamente proporcionar-lhe dignidade e

qualidade de vida.

O recém-nascido possui amplas possibilidades a todos os níveis, no

entanto, vamos iniciar esta análise pelo processamento da informação visual.

A forma como os bebés percepcionam os objectos muda com uma rapidez

espantosa nas primeiras semanas de vida. Parecem ser particularmente

atraídos pelos ângulos, pelas fronteiras dos objectos e as zonas de contraste.

A descoberta que a criança faz por esta altura das suas mãos é apenas

comparada a Cristóvão Colombo quando chega à América! Encontra-as por

acaso e a partir daí uma nova série de explorações faz com que se iniciem os

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Page 6: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

processos de coordenação óculo-manual percursores de todo o

desenvolvimento motor (Rodriguéz e Pérez, 2000).

Desde muito cedo as crianças mostram interesse por um sem número de

estímulos que as rodeiam. Visualmente existe uma série de passos

padronizados que são referidos por alguns autores:

Al primero mes el niño muestra interés por el rostro humano. Al segundo

mes controlo el estrabismo funcional. Al tercer mes siente atracción visual

por sus manos. Al tercer o cuarto mes se produce la acomodación del

cristalino. Realiza seguimiento visual: inicialmente horizontal y después,

vertical. Al sexto mes tiene la misma agudeza visual que el adulto. Le

llaman la atención más las formas simples que las complexas. Al sexto

mes percibe la profundidad y evita el abismo o diferencia de altura. Imita

acciones de los demás (Rodríguez e Pérez, 2000, p.151).

A acuidade visual ou definição com que a criança vê determinadas figuras e

objectos, assim como a discriminação dos elementos que o formam alcança o

nível de maturação completo entre os 6 e os 12 meses. A capacidade do

recém-nascido para a visão central e periférica melhora qualitativamente nos

primeiros meses de vida (Idem).

Como já foi referido a criança desenvolve em simultâneo uma série de

capacidades. Desta forma, far-se-á uma referência à aquisição e

desenvolvimento da Linguagem visto este ser um meio fundamental de acesso

à informação que a criança cega vai explorar.

Desenvolvimento da Linguagem

Segundo Ortega (1998), nos primeiros 12 meses de vida surgem no bebé

sons guturais, murmúrios, lalações e as primeiras palavras com duas sílabas.

Entre os 12 e os 18 meses surgem as holofrases e o vocabulário é ainda

muito limitado.

A partir dos 2 anos dá-se a combinação de duas ou três palavras e assiste-

se a um rápido aumento do número de palavras conhecidas pela criança.

Aos três anos a linguagem da criança torna-se reconhecível para estranhos

e cada vez mais precisa. É a idade dos porquês.

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Page 7: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Quando a criança atinge os 4 anos utiliza todas as suas potencialidades

linguísticas tanto individualmente como em grupo e nota-se uma grande

melhoria na articulação das palavras.

Com 5 anos estão praticamente adquiridas todas as competências

linguísticas que a crianças continuará a usar pela vida adulta. Usa socialmente

a linguagem (Paiva, 2006).

Tendo em conta uma visão holística do desenvolvimento infantil far-se-á

uma referência a algumas teorias do desenvolvimento psicossocial.

Desenvolvimento Emocional e Social

A forma de lidarmos com o mundo, a forma como convivemos com outras

pessoas e os nossos sentimentos constituem aquilo que designamos como

desenvolvimento social e da personalidade. As mudanças nesse âmbito

afectam-nos fisicamente e cognitivamente, superando muitas vezes a

satisfação de necessidades básicas (Papalia, 2001).

Crianças com uma vinculação saudável revelam melhores níveis de auto-

estima e resiliência. Em relação ao primeiro conceito podemos considerar que

crianças que são tratadas de forma calorosa e respeitadora se transformam em

adultos capazes de procurar novas aprendizagens e explorar novas aventuras.

Crianças com um background de experiências positivas tem maior

probabilidade de se verem a si próprias e aos outros como merecedoras de

afecto e amizade. Através desta atitude aumentam o seu número de amigos

participando em experiências sociais positivas (Post, 2003).

O termo resiliência diz-nos que crianças confiantes têm uma maior

capacidade para se regenerarem emocionalmente em situações adversas.

Essa capacidade de auto-regulação é fundamental para o nosso equilíbrio

social e emocional, ensina-nos a não desistir. Vários autores estudaram a

importância destes conceitos na formação da personalidade e como isso

influencia a nossa atitude perante as nossas oportunidades de vida.

A teoria psicossocial de Erikson (1976, cit. por Monteiro, 1998) baseia-se

fundamentalmente no conceito de identidade e na importância das experiências

na construção da nossa individualidade. O desenvolvimento dá-se entre aquilo

que somos e as circunstâncias do nosso espaço de acção. Na infância são de

referir a idade do ganho de confiança, autonomia e iniciativa ou desconfiança

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Page 8: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

vergonha e culpa. Esta ambivalência sugere também a evolução psicossexual

largamente trabalhada por Freud (1951, cit. por Monteiro, 1998, p.172): “a

sexualidade está integrada no nosso desenvolvimento desde o nascimento e é

fundamental na elaboração de reguladores emocionais e sociais”.

Para terminar este ponto faremos uma referência à importância das

emoções e respectivo controlo para um desenvolvimento saudável da criança.

Por mais que queiramos dissecar o conceito chegaremos sempre à mesma

conclusão, a saúde emocional advém do amor que, neste caso, a criança

recebe:

Children need from the parents sensitivity, responsiveness, and

contingency. They need attachment precursors. They need language

acquisition. They need self-esteem. They need personal validation and

sense of worth and intimacy (…) All of these are direct expressions of what

you naturally do when you fall in love. And in this sense falling is love is an

organizer. And it is part of the repertoire of states of organization that all of

us human beings have at our disposal” (Stern, 2005, p.526).

Podemos concluir que pais conscientes e estimuladores têm mais

probabilidade de criar para os seus filhos ambientes ricos em interacção e

amor. Mesmo com pontos de partida aparentemente comprometedores

poderão fazer um bom trabalho.

1.2. Definição de Deficiencia Visual

A DV diz respeito à maior ou menor dificuldade na percepção dos objectos

que nos rodeiam: “diz respeito à diminuição da capacidade de cisão. Os termos

visão parcial, cegueira legal, fraca visão e cegueira total são comummente

usados para descrever deficiências visuais” (Nielson, 1999, p.52).

Algumas das anomalias mais frequentes são a cegueira caracterizada pela

falta de visão total ou parcial. Um tipo de cegueira é a ambliopia (incapacidade

ou dificuldade para distinguir detalhes e formas). As causas podem ser

diversas como lesões no cérebro ou no nervo óptico, infecções bacterianas no

recém-nascido e outras. O Daltonismo caracteriza-se pela incapacidade de

distinguir o vermelho e o verde. A miopia (dificuldade em ver ao longe devido à

forma alargada do globo ocular), hipermetropia (afastamento dos objectos para

os percepcionar com mais nitidez), estrabismo (falta de coordenação muscular)

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Page 9: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

e astigmatismo (alteração devido a um defeito na curvatura da córnea) são

outras disfunções visuais que podem manifestar-se muito levemente (uso de

óculos graduados), ou obrigar a uma série de adaptações materiais (lupas,

computadores específicos, materiais com relevos, etc.) (Rodriguéz e Pérez,

2000).

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde,

(CIF, 2003, p.53) inclui na sua definição de DV: “funções da acuidade visual, do

campo visual, da percepção da luz e cor, da qualidade da visão, da acuidade

visual, visão monocular e binocular, qualidade da imagem visual, escotoma,

cegueira (…)”.

Ao contrário do que se possa pensar a cegueira não equivale a escuridão

total. Existem muitos graus de cegueira e mesmo os mais graves podem

permitir ainda alguma visão:

Um indivíduo que apresente visão parcial perdeu grande parte da sua

capacidade visual. Por isso terá só a percepção de luminosidade ou de

grandes formas. A sua acuidade visual central varia entre 20/70 e 20/2000

no olho que se encontra em melhores condições, se sujeito a correcção

(…) Um indivíduo que seja legalmente cego tem uma acuidade visual

central de 20/200 ou menor, com correcção no olho em melhores

condições, sendo o campo de visão nunca superior a 20 graus.

O termo visão fraca designa normalmente uma deficiência visual severa,

não estando esta, porém, circunscrita à capacidade de ver à distância.

Este termo aplica-se também a todos aqueles que tem dificuldade em ler

jornais ou qualquer outro material escrito, mesmo com correcção (Nielson,

1999, p. 52).

Como podemos inferir, existem vários aspectos que interferem na visão, isto

é na forma como percepcionamos os objectos. Segundo a DGEB (1975)

podemos distinguir alguns factores, nomeadamente, factores físicos como a luz

e os estímulos visuais, factores fisiológicos como o corpo humano e o globo

ocular, factores bio-químicos que estão relacionados com a transformação do

estímulo visual em percepção visual e, finalmente factores psicológicos

particularmente importantes no âmbito deste relatório:

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Page 10: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Na capacidade visual de uma criança interferem largamente o seu

interesse em ver, o seu treino de visão, a técnica que utiliza para ver e a

sua capacidade de interpretar aquilo que vê. A importância deste factor

explica que duas crianças com o mesmo diagnóstico oftalmológico e o

mesmo grau de visão, tenham de facto capacidades visuais muito

deferentes (DGEB, 1975, p. 2).

A DV associa muitas vezes dificuldades de mobilidade e de aprendizagem,

no entanto, esses problemas podem ser quase totalmente ultrapassados com

recurso a adaptações pedagógicas (Braille, materiais com relevo, etc.) e a

bengalas ou cães-guia que muito facilitam a vida das pessoas com baixas de

visão graves.

1.3. Características da Criança com Deficiência Visual

Como já foi referido, o desenvolvimento humano processa-se como um

todo, ou seja, não se podem dissociar áreas de desenvolvimento já que, por

exemplo, a linguagem se desenvolve a par da exploração social e a

experimentação manual está intimamente ligada ao desenvolvimento das

estruturas psíquicas.

Desta forma, os efeitos que a DV tem num indivíduo estão relacionadas

com a severidade, o tipo de perda, a idade da criança quando a condição se

instala e do nível geral de funcionamento desta (Nielson, 1999).

Crianças que perdem a visão antes dos 5 ou 7 anos de vida não tem

imagens visuais úteis, nem mesmo da cor. Uma perda de visão repentina pode

ter efeitos psicológicos devastadores. Quando gradual pode ser assustadora

para a criança e gerar medo, ansiedade e retraimento. Quando ocorre em

idade escolar obriga a que se repensem as medidas educativas aproveitando o

trabalho desenvolvido até então (Xavier, 2007).

Os trabalhos de Investigação de Fraiberg, Smith e Adelson (1965) são

pioneiros nesta área e referem muito claramente o desenvolvimento de

crianças pequenas com cegueira congénita. Estes investigadores referem que

se o bebé for devidamente abraçado e acarinhado pelas suas principais figuras

cuidadoras dentro de alguns dias passará a reconhecê-las entre outros colos.

Um bebé cego com quem se fala muito e forma expressiva começa a sorrir

sensivelmente na mesma altura que os restantes bebés. A experiência táctil e

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Page 11: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

auditiva permite que o bebé reconheça as rotinas diárias e tenha os seus

primeiros momentos sociais. Quando se estabelece comunicação com o bebé

ele vai responder. Este feedback positivo vai fazer com que os pais fiquem

deslumbrados e voltem a responder ao bebé. Cria-se assim um ciclo positivo

de estímulo-resposta que muito justamente poderá acabar por libertar os pais

de sentimentos de frustração, incapacidade e auto-culpabilização em que

muitas vezes se encontram.

Em casos familiares mais complicados a falta de comunicação poderá ser

mais grave:

Se acontecer o mesmo a uma criança cega, [pais que não falam com os

seus filhos] esta fica privada da sua fonte primária de conhecimento e

existe o perigo de que deste empobrecimento do seu mundo resulte um

atraso grave em todas as áreas de desenvolvimento (Fraiberg, Smith e

Adelson, 1965, p.7).

Outra característica da criança cega está relacionada com a exploração do

meio ambiente, na medida em que esta exploração é feita de encontro mais ou

menos doloroso em relação aos objectos. Se por um lado é fundamental para a

criança a exploração táctil é também importante que esta não se torne fonte de

ansiedade e medos (Idem).

Na criança cega a ausência precoce de estímulos visuais anula ou reduz a

sua necessidade de movimentos organizados. Isto não significa que essas

mesmas experiências passem para segundo plano. A informação chega até há

criança através da audição e do olfacto e, num ambiente seguro a criança deve

ser convidada a explorar o espaço.

Convém também referir que a criança cega também tem o direito de cair, de

esfolar um joelho ou fazer um galo na cabeça, salvaguardando-se obviamente

situações de acidentes graves. As nossas melhores tardes de brincadeira na

infância terminavam quase sempre com um cotovelo ou joelho em mau estado

mas o mais interessante era que na hora, raramente nos apercebíamos do

facto, e o que aprendíamos...

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Page 12: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

2. O Jardim-de-Infância como Espaço Inclusivo

Neste ponto do trabalho pretendemos reunir um conjunto de elementos

sobre a evolução da Educação Pré-Escolar em Portugal tendo em vista realçar

o Jardim-de-Infância (JI) como local privilegiado de encontro e inclusão.

Ao longo de vários séculos a educação das crianças era tradicionalmente

assegurada pela família, concretamente pela mãe, normalmente inserida na

família alargada. Na segunda metade do século VIII, e sobretudo no século

XIX, foram criadas as primeiras instituições para a educação das crianças em

idade pré-escolar.

A “Escola Infantil” ou JI nasceu com a revolução industrial em consequência

das grandes transformações operadas na sociedade de então.

O desenvolvimento da Educação Pré-Escolar deve-se sobretudo a factores

de ordem social, associados ao facto de muitas mulheres começarem a

trabalhar fora de casa, dando origem a grandes alterações na estrutura e no

funcionamento da família.

Surgem então em Portugal as primeiras “Casas de Asilo” que mais tarde se

chamariam JI, contudo o primeiro assim designado é inaugurado em 1882.

Durante as décadas de 60 e 70 a Educação Pré-Escolar sofre uma

evolução significativa, é notória uma acentuada valorização de tudo o que se

refere à criança, ao mesmo tempo que assumem particular importância os

domínios da pedagogia e da psicologia do desenvolvimento infantil.

A expansão da Educação Pré-Escolar vem sendo o reflexo das

transformações sócio–culturais operadas na sociedade portuguesa, dando

origem a uma progressiva consciencialização da realidade e ao

reconhecimento da necessidade de desenvolver programas de apoio e de

assistência à criança e às famílias, o que veio a verificar-se com maior

incidência em zonas económica e socialmente mais carenciadas.

Numa primeira fase, a Educação Pré-Escolar assumiu claramente uma

função compensatória, pretendendo atenuar os efeitos de ambientes

educativos menos favorecidos e ao mesmo tempo, procurando responder a

problemas decorrentes de mudanças verificadas na vida das famílias, como o

aumento drástico de mulheres empregadas, o número elevado de famílias

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Page 13: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

monoparentais, as alterações à estrutura e ao funcionamento de família e a

redução dos cuidados dispersados em casa devido a uma generalizada

diminuição de disponibilidade de familiares, vizinhos ou amigos (Ferreira,

2002).

Relativamente aos objectivos gerais na Lei-Quadro da Educação Pré-

Escolar publicada em 1996, para além de definir a Educação Pré-Escolar como

a primeira etapa da Educação Básica, complementar da acção educativa da

família, propõe no Art. 10º do Capítulo IV os seguintes objectivos:

1. Estimular o desenvolvimento psicomotor, intelectual, social e

afectivo da criança, favorecendo a formação harmoniosa da sua

personalidade e a sua separação para posteriores aprendizagens bem

sucedidas, quer a nível da escola quer da vida.

São objectivos específicos da Educação Pré-Escolar:

a) Criar na criança o sentimento de que a escola é um local de

múltiplas aprendizagens;

b) Socializar, ensinando a estabelecer relações com os outros

através do desenvolvimento linguístico e do respeito pela pluralidade das

culturas, do sentido da liberdade e da responsabilidade na perspectiva de

uma Educação para a cidadania;

c) Promover o desenvolvimento das capacidades intelectuais

da criança, incutindo hábitos e atitudes que favoreçam uma aprendizagem

activa;

d) Desenvolver na criança as capacidades de sentir, agir,

reflectir e imaginar;

e) Contribuir para estabilidade e segurança afectivas da

criança;

f) Incutir hábitos de higiene e de defesa da saúde pessoal e

colectiva;

g) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências e

precocidades, promovendo a melhor orientação e encaminhamento da

criança;

h) Assegurar a participação permanente das famílias no

processo educativo.

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Page 14: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Estas características, pela sua vertente exploratória e sensorial, são uma

vantagem para a integração da criança com deficiência. O JI sendo um espaço

de múltiplos saberes e proporcionando uma grande variedade de actividades e

contextos é único na sua função.

Para lá dos materiais e dos conhecimentos adquiridos tendo em vista a

escolarização existe uma função mais importante comportada pelo JI,

nomeadamente, a aprendizagem que as crianças fazem na relação diária umas

com as outras. Aparentemente simples, este exercício de cidadania e de

despertar são fundamentais para o crescimento e idade adulta de cada

indivíduo.

A Inclusão de criança com deficiência, neste caso DV, em instituições de

ensino regular verifica-se muito positiva, na medida em que todos os ambientes

menos restritivos são, em comparação com ambientes mais fechados, mais

capazes de observar a criança de forma holística não se fixando nas suas

dificuldades mas tentando que a sua reabilitação e desenvolvimento seja feito o

mais naturalmente possível, junto dos seus pares.

Transcrevemos um artigo de Oliver (1995), que nos parece fundamental,

relativo ao insucesso das instituições para crianças com deficiências:

Na maior parte dos países, durante praticamente todo o século XX, a

educação de crianças com deficiências foi organizada em estruturas

separadas, segregadas e especiais. A história deste modelo corresponde

à história do mais abjecto insucesso que se possa imaginar, quaisquer que

sejam os critérios a partir dos quais a julguemos. Se dissermos que o

propósito deste modelo foi o de assegurar uma educação equivalente à

das pessoas sem deficiência, falhou. Se dissermos que o seu propósito

era o de garantir uma base para a integração e a participação na

sociedade das crianças deficientes na idade adulta, falhou. Se dissermos

que o seu propósito era o de providenciar uma modalidade especial de

educação que respondesse às necessidades especiais das crianças com

deficiência, falhou mais uma vez (Oliver, 1995, p.2).

Esta perspectiva assistencial já está bastante ultrapassada, sem prejuízo de

algumas instituições que continuam a apoiar pessoas com deficiência mas em

moldes diferentes que os anteriormente referidos. Maioritariamente as crianças

com deficiência são acompanhadas educativa e socialmente no jardim-de-

14

Page 15: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

infância, como já foi referido, o que obriga a uma reestruturação destes

serviços:

A reconstrução da escola implica alterações fundamentais que vão para

além das mudanças organizacionais e profissionais. A reconstrução na

base do direito à inclusão exige que se proceda a mudanças no ethos da

escola, que a devem conduzir a transformar-se num ambiente realmente

acolhedor para todas as crianças. Exige igualmente que não se

questionem os direitos de quem quer que seja e que as mudanças

organizacionais façam parte da aceitação e compreensão do facto de que

o propósito das escolas é educar todas as crianças, e não só aquelas que

se encaixam em critérios selectivos impostos pelos governos, pelos

grupos profissionais ou pelas próprias escolas (Oliver, 1995, p.3).

Desta forma a todas as crianças devem ser acolhidas no espaço da escola

e isto traz vantagens não só para as crianças que efectivamente possuem

deficiências mas também para as restantes:

A diversidade encarada e inserida no PE da escola pode proporcionar um

considerável enriquecimento de que todos beneficiem. O enquadramento

adequado dos alunos com deficiência intelectual acentuada pode contribuir

para que essa mesma adequação se concretize em relação às

necessidades individuais de cada aluno, nomeadamente às dificuldades de

aprendizagem ou problemas ligeiros de comportamento que são comuns a

grande percentagem da população escolar. Uma escola inclusiva pode ser,

de facto, uma escola melhor para todos (Costa et al., 1998, p.53).

Concluindo, todas as crianças devem ter o seu espaço na escola e

consequentemente na sociedade. O JI, como espaço de exploração sensorial e

de aprendizagem básica de vida em comunidade por excelência, reúne

condições privilegiadas para acolher crianças com dificuldades e/ou

deficiências.

De seguida apresentar-se-ão algumas sugestões de trabalho para crianças

com DV, em contexto de JI, assim como abordagens de acção positivas com

os respectivos familiares.

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Page 16: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

3. Estratégias de Trabalho

3.1. Orientações Escolares e Familiares

A inclusão bem sucedida de crianças/alunos com DV numa sala de trabalho

pode ser fonte de grande satisfação para alunos e professores/educadores

(Nielson, 1999).

O educador de infância deve agir como profissional que é. É fundamental

que se mostre interessado no problema e que efectivamente pesquise a sua

forma de intervenção. Deve apoiar os pais nos tratamentos e assegurar que a

criança os cumpra quando se encontra na escola. Deve apoiá-la

psicologicamente sempre que isso se verificar necessário e permitir aos pais

horas semanais para que estes partilhem as suas dúvidas e sugestões em

relação à educação que preferem para os seus filhos (Xavier, 2007).

Deve também possuir informação escrita do problema da criança e zelar

pelo bom estado dos materiais compensatórios da criança, na medida em que

sem eles, todo o processo educativo fica severamente comprometido (Idem).

É necessário que as restantes crianças tenham consciências das

dificuldades inerentes às deficiências visuais: “podem ser realizadas

simulações que permitem às crianças sentir essas dificuldades. Os alunos

podem, por exemplo, colocar vendas de diferentes materiais. Os materiais mais

opacos poderão simular diferentes níveis de percepção visual” (Nielson, 1999,

p.56).

No seguimento deste exercício, as crianças podem ser convidadas a tentar

mover-se de um local para outro de forma a terem também consciência das

dificuldades de mobilidade de colegas com DV:

Dado que a orientação constitui uma grande preocupação, o aluno com

DV deve ser encorajado a familiarizar-se com a disposição da sala. Depois

de tal acontecer, não devem ter lugar quaisquer tipos de alterações, sem

que o aluno as reconheça fisicamente. O professor pode seleccionar um

aluno que funcionará como companheiro mais próximo do aluno com DV e

que o irá guiar e apoiar. Este procedimento irá ao mesmo tempo promover

a aceitação do aluno deficiente e aumentar a sua autoconfiança (Idem,

p.57).

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Page 17: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

A organização do espaço reveste-se de particular importância na educação

de crianças com DV. A aquisição das noções espaciais não está vedada à

criança cega: “A sua construção do espaço far-se-á, tal como nas outras

crianças, num plano sensório-motor ou de percepção, embora no plano

representativo ela resulta muito reduzida” (DGEB, s.d., p.2).

A audição e o olfacto transmitem-lhes informações que para outras pessoas

são imperceptíveis e este facto colmata em muitas situações o défice de

informação visual.

O professor/educador de infância deve ainda ter em atenção a integração

social da criança:

Acima de tudo, o professor deve proporcionar ao aluno com DV um

ambiente confortável e seguro e deve promover um relacionamento

positivo entre este e os companheiros. É importante perceber que o aluno

em questão tem dificuldade em se aperceber das expressões faciais e, por

essa razão, pode ter uma maior dificuldade em desenvolver competências

sociais (Nielson, 1999, p.57).

Para além do Educador também os familiares da criança são muitas vezes

apanhados de surpresa em relação ao desenvolvimento da criança com DV.

Todos os pais projectam ansiosamente a chegada de um filho. Quando por

variadíssimas razões esse filho não corresponde às expectativas os pais

sentem-se completamente frustrados, deprimidos e muitas vezes negativistas

isolando a criança. Estes comportamentos, legítimos mas prejudiciais, devem

ser alvo de uma abordagem delicada e progressiva por parte de equipas

técnicas altamente profissionais. A intervenção não pode ser nunca imposta

mas sim partilhada.

Se num momento os pais não reconhecem a criança como filho/a mais

tarde, com as suas primeiras aquisições, estabelecem-se relações de afecto

que vão transformar toda a desconfiança inicial. Se assim não for e os pais não

conseguirem dar este passo o desenvolvimento do seu filho/a ficará

serialmente comprometido assim como o projecto de vida e felicidade dos

próprios pais.

A criança com DV para além da DV precisa de cuidados como qualquer

outra criança. Precisa de saber que é amada, ter orgulho nas suas conquistas

17

Page 18: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

e pertencer a uma família que a acarinhe e apoie incondicionalmente. Para

além disto deve ser acompanhada pelo pediatra e pelo oftalmologista e outros

técnicos quando isso se verificar necessário: “A saúde mental e emocional

andam de mãos dadas com a saúde física e são igualmente importantes para o

desenvolvimento de uma criança feliz” (DGEB, s.d., p.3).

A criança cega precisa de mais tempo para aprender, utiliza todos os

sentidos e deve-lhe ser permitido tocar, sentir, cheirar e ouvir o máximo de

objectos e situações, ou seja, as equivalentes, sempre que possível, às que as

outras crianças simplesmente vêem. A vida em casa é uma oportunidade para

a criança explorar em ambiente familiar uma série de objectos. As pessoas, em

geral, sabem muito pouco sobre a cegueira. Isso não deve impedir que a

criança saia à rua, faça amigos e se junte a grupos de amigos adultos e de

crianças (Idem).

Intelectualmente a criança cega é igual a qualquer outra e se nalgumas

fases do seu desenvolvimento demonstra avanços e retrocessos isso passa-se

igualmente com todas as outras crianças.

Depois destas considerações passaremos ao ponto relacionado com

estratégias práticas de acção.

3.2. Intervenção

Para que a integração da criança se processe com sucesso é necessário

atender a alguns aspectos práticos de acção. Enquanto que algumas crianças

precisam apenas de trabalhar com material adaptado, outros poderão precisar

de dispositivos especiais (Nielson, 1999).

Para além do aspecto prático das adaptações é também necessário atender

aos aspectos psicológicos da criança cega. O ensino deve ser particularmente

individualizado, concreto, global e que estimule a mobilidade. A criança pode

ser levada até às experiências, como passeios e visitas de estudo, ou estas

podem ser trazidas até às crianças, como manipulação de material, programas

de rádio, empréstimos de museus. É muito importante que em todas estas

actividades a criança possa treinar a sua independência e auto-confiança,

como por exemplo através do jogo simbólico e pequenas dramatizações

fundamental no período pré-escolar (Xavier, 2007).

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Page 19: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

A criança deve ter acesso a objectos reais e a sua manipulação deve ser

incentivada. Objectos do dia-a-dia como alimentos, objectos de higiene, de

cozinha, de lazer, com várias formas e texturas devem ser levados ao

conhecimento da criança e nomeados.

Figura 1: Utensílios de cozinha.

Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

A criança cega vê literalmente com as mãos, aliás, entre os zero e os

dois/três anos, período sensório-motor por excelência, todas as crianças

experimentam através do tacto uma série materiais, mais ou menos adequados

para esse efeito…

Figura 2: Jogo de descoberta táctil.

Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

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Page 20: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

Sendo a estimulação sensorial um dos objectivos do pré-escolar esta vai

também ser uma modalidade fundamental no desenvolvimento da criança

cega.

A estimulação táctil pode ser feita através de um sem número de materiais

de fácil recolha e com características e efeitos muito agradáveis aquando do

seu manuseamento.

Figura 3: Jogos tácteis.

Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

Tecidos, peluches, plasticinas, animais fofos, líquidos quentinhos e

viscosos, bolinhas de esferovite, piscinas de bolas e até massas de bolos e

biscoitos constituem fontes de prazer indescritíveis para estas crianças.

Figura 4: Piscina de Bolas

Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

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Page 21: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

A estimulação auditiva proporciona também um sem número de momentos

agradáveis.

Figura 5: Rádio, Leitor de CD’s e phones.

Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

Para além do som propriamente dito pode trabalhar-se também a

intensidade e origem desse som para que a criança se oriente no espaço

através de pistas sonoras. Este é também um jogo muito popular para as

restantes criança. Uma venda será o suficiente para lançar o desafio. Os sons

seleccionados poderão servir para a criança fazer a respectiva identificação e

apreciar diferentes instrumentos, vozes e ruídos da natureza1.

Figura 6: Campainhas.

Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

A estimulação gustativa e olfactiva proporciona grande prazer a todas as

crianças, mas reveste-se de maior importância junto das crianças cegas.

Figura 7: Alimentos para brincar e manipular.

1 Beijo, Cão, Cavalo, Pássaro, Telefone, Vento, Guitarra,

Ambulância (para accionar o som clicar duas vezes sobre o ícone). Fonte: Arquivo pessoal.

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Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

Estas podem ser convidadas a provar um sem número de alimentos e a

prevenir-se através do olfacto em relação a produtos não comestíveis, assim

como aprender a reconhecer frascos e símbolos em relevo que muitas

embalagens com produtos tóxicos já trazem. Esta aprendizagem vai de

encontro à necessidade de independência que a criança vai manifestando.

Figura 8: O melhor da gastronomia Portuguesa

Fonte: Arquivo pessoal.

As experiências multisensoriais podem ser desenvolvidas através de um

sem número de jogos que podem envolver, sacos de água a diferentes

temperaturas, instrumentos musicais variados, etc.

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Figura 9: Estante de instrumentos musicais

Fonte: Material Didáctico Areal, 2005.

Outra experiência relevante relacionada com a aprendizagem do Braille, é a

discriminação táctil que pode ser desenvolvida com botões dispostos de várias

formas e com caixas de ovos que irão funcionar como células Braille.

Estas são apenas algumas sugestões de materiais a utilizar. Fica ao critério

da imaginação de cada profissional trazer mais contributos para a educação de

crianças com DV.

4. Conclusão

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Page 24: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

À medida que a realização deste relatório se aproximava do fim

apercebemo-nos que muitas estratégias ficaram por sugerir e também que

muitas características das crianças com DV ficaram por referir.

Por um lado isso reflecte a grande plasticidade da infância e a dificuldade

de se padronizar algo tão mutável como o desenvolvimento humano, por outro

lado demonstra que as estratégias a utilizar em Jardim-de-infância, na

educação de crianças com este tipo de problema, multiplicam-se de acordo

com a imaginação e vontade dos profissionais que aí desenvolvem a sua

actividade.

Sendo a estimulação sensorial um dos objectivos do pré-escolar esta vai

também ser uma modalidade fundamental no desenvolvimento da criança

cega. Para além de pais e educadores também as restantes criança são

convidadas a participar no processo educativo da criança com DV.

Podemos concluir que para que a integração da criança se processe com

sucesso é necessário atender a alguns aspectos práticos de acção. Enquanto

que algumas crianças precisam apenas de trabalhar com material adaptado,

outros poderão precisar de dispositivos especiais (Nielson, 1999).

Para além do aspecto prático das adaptações é também necessário atender

aos aspectos psicológicos da criança cega. O ensino deve ser particularmente

individualizado, concreto, global e que estimule a mobilidade (Xavier, 2007).

As actividades disponibilizadas por pais e educadores, na sua vertente

funcional, e de aumento de autonomia são fundamentais para a elaboração e

realização do projecto da vida da criança com DV (Idem).

Foi particularmente gratificante a elaboração deste relatório, na medida em

que nos foi possível a organização de alguns conceitos e o aprofundar de

conhecimentos práticos acerca das crianças com DV.

Por estas razões sentimo-nos mais confiantes para atender e acompanhar

situações de DV que surjam no decurso da nossa profissão, sem nunca

esquecer a especificidade de cada criança, com ou sem deficiência.

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Page 25: RelatóRio De DeficiêNcia Visual

5. Bibliografia

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