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RELATO DA APLICAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE AVANÇOS TECNOLÓGICOS E INCLUSÃO DIGITAL PARA ALUNOS DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Sandra Aparecida de Oliveira e Souza1 Iara Terra de Oliveira2, Jerusha Mattos Câmara2 1- Escola Estadual Professor Caetano Miele 2- REDEFOR- Rede São Paulo de Formação Docente- Ensino de Ciências- Faculdade de Educação- Universidade de São Paulo-SP Este trabalho relata os resultados obtidos na aplicação de uma sequência didática sobre avanços tecnológicos e inclusão digital para quatro turmas de alunos do nono ano do ensino fundamental, nas aulas de Ciências, nos meses de agosto a outubro de 2011, na Escola Estadual Professor Caetano Miele, localizada na cidade de São Paulo, SP. A experiência didática surgiu da constatação que as tecnologias contemporâneas podem ser referência para a formação básica dos estudantes, permitindo a construção de leituras inovadoras do mundo e ampliando as possibilidades da construção e circulação de informação. A avaliação da sequência didática foi feita pela análise da participação dos alunos no que se refere ao entendimento sobre os avanços da comunicação ao longo dos tempos, a compreensão da importância da informática para a sociedade atual, a necessidade de se ter uma postura correta ao trabalhar com computador e a relevância da inclusão digital. Para a produção de dados foram utilizados questionário inicial de levantamento dos conceitos prévios dos alunos, observação das aulas, exposição de cartazes, produção de vídeos e folders. Ao final da aplicação da sequência didática foi realizada uma avaliação oral para detectar a aprendizagem dos conceitos abordados durante o trabalho. Os dados revelaram como, tendência geral, que os alunos avançaram na apropriação de conceitos básicos sobre informática, internet e cuidados com a postura no uso do computador, apontando para a criação de mais oportunidades nas aulas de Ciências que permitam a alfabetização digital e o entendimento sobre os malefícios para a saúde causados pela falta de cuidados com a postura corporal frente ao computador. Palavras-chave: sequência didática, avanços tecnológicos, ensino fundamental II. XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003023

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RELATO DA APLICAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA SOBRE

AVANÇOS TECNOLÓGICOS E INCLUSÃO DIGITAL PARA ALUNOS DO 9º

ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Sandra Aparecida de Oliveira e Souza1

Iara Terra de Oliveira2,

Jerusha Mattos Câmara2

1- Escola Estadual Professor Caetano Miele

2- REDEFOR- Rede São Paulo de Formação Docente- Ensino de Ciências- Faculdade de

Educação- Universidade de São Paulo-SP

Este trabalho relata os resultados obtidos na aplicação de uma sequência didática sobre

avanços tecnológicos e inclusão digital para quatro turmas de alunos do nono ano do

ensino fundamental, nas aulas de Ciências, nos meses de agosto a outubro de 2011, na

Escola Estadual Professor Caetano Miele, localizada na cidade de São Paulo, SP. A

experiência didática surgiu da constatação que as tecnologias contemporâneas podem

ser referência para a formação básica dos estudantes, permitindo a construção de

leituras inovadoras do mundo e ampliando as possibilidades da construção e circulação

de informação. A avaliação da sequência didática foi feita pela análise da participação

dos alunos no que se refere ao entendimento sobre os avanços da comunicação ao longo

dos tempos, a compreensão da importância da informática para a sociedade atual, a

necessidade de se ter uma postura correta ao trabalhar com computador e a relevância

da inclusão digital. Para a produção de dados foram utilizados questionário inicial de

levantamento dos conceitos prévios dos alunos, observação das aulas, exposição de

cartazes, produção de vídeos e folders. Ao final da aplicação da sequência didática foi

realizada uma avaliação oral para detectar a aprendizagem dos conceitos abordados

durante o trabalho. Os dados revelaram como, tendência geral, que os alunos avançaram

na apropriação de conceitos básicos sobre informática, internet e cuidados com a

postura no uso do computador, apontando para a criação de mais oportunidades nas

aulas de Ciências que permitam a alfabetização digital e o entendimento sobre os

malefícios para a saúde causados pela falta de cuidados com a postura corporal frente ao

computador.

Palavras-chave: sequência didática, avanços tecnológicos, ensino fundamental II.

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INTRODUÇÃO

Diferentes tecnologias foram incorporadas ao ensino através dos anos, primeiro

o livro, depois o rádio e a televisão, multimídia, transmissões por satélite. Hoje, a

tecnologia da informação representada pela internet, cuja presença no Brasil teve início

em 1987, oferece recursos para uma aprendizagem rica, possibilitando ao educando a

construção do conhecimento de forma colaborativa e integrada,

Documentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Fundamental e Médio - PCNEM (BRASIL, 1999) assim como as diretrizes curriculares

do Estado de São Paulo indicam como objetivos do Ensino Fundamental que os alunos

sejam capazes de saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos

para adquirir e construir conhecimentos. Na mesma linha de raciocínio, Perrenoud

(2000), afirma que a escola não pode ignorar as novas tecnologias de informação e da

comunicação (TIC), que transformam espetacularmente as nossas maneiras de

comunicar, de trabalhar, de decidir e de pensar.

Nesse contexto, aplicou-se uma sequência didática com o objetivo de avaliar o

engajamento dos alunos na abordagem sobre avanços tecnológicos e inclusão digital.

Pedro Demo (2008, on line) coloca que:

“Talvez o argumento mais pertinente no sentido de melhor combinar

tecnologias de informação e de comunicação (TIC) seja o da inclusão digital.

Muitas vezes entendemos por inclusão digital programas que apenas

apresentam as TICs à população, em geral através de cursos mínimos, sem

condições de garantir aprendizagem adequada. A inclusão digital mais

promissora é aquela feita em ambientes educacionais corretos, como poderia

ser a escola, em especial a alfabetização no sentido pleno do termo. As TICs

não apenas facilitam acessos e interatividades. Elas são expressões próprias

dessas habilidades. Daí a importância extrema de envolver as TICs em

ambientes educacionais, não apenas para que estes se tornem

tecnologicamente corretos, mas também para que as plataformas tecnológicas

signifiquem novas oportunidades de aprender e formar-se. TICs são hoje

parte do direito de aprender bem e permanentemente.”

No espaço escolar e também nas residências, o uso do computador levanta

questões sobre ergonomia, compreendida aqui como “o conjunto de conhecimentos

científicos relativos ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e

dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto e eficácia”

(WISNER, 1972)

Tendo em foco a importância da inclusão digital para a educação no Brasil,

foram propostas atividades de pesquisa em que houvesse a oportunidade de conhecer e

compreender programas que criam condições à expansão do uso do computador e da

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internet, visando ampliar a percepção dos alunos com relação à sua inserção no mundo

virtual, levando-os a novos significados para as informações trazidas e facilitando a

apropriação do conhecimento.

METODOLOGIA

O presente trabalho é resultado da investigação da aplicação de uma sequência

didática sobre avanços tecnológicos e inclusão digital, produzida durante o Curso de

Especialização no Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo, Rede de Formação

Docente (REDEFOR) no ano letivo de 2011. A pesquisa teve como objetivo articular a

teoria desenvolvida durante o curso e a atividade prática em sala de aula, através da

análise da organização do ensino, da aprendizagem dos estudantes e do engajamento

disciplinar. Participaram da aplicação, simultaneamente, cento e vinte e cinco alunos

distribuídos em quatro turmas de nono ano do ensino fundamental, na faixa etária de

quatorze a quinze anos, da Escola Estadual Professor Caetano Miele, localizada na

cidade de São Paulo, SP. O trabalho foi desenvolvido em oito horas-aula, no período de

agosto a outubro de 2011, nas aulas de Ciências.

Aliado ao estudo do sistema nervoso humano, a professora de Ciências

apresentou aos alunos uma proposta de trabalho sobre avanços tecnológicos e inclusão

digital.

Com o intuito de verificar as concepções prévias dos alunos sobre os meios de

comunicação ao longo do tempo e a importância social da internet, foi aplicado um

questionário inicial e, a seguir, foram elaborados cartazes a partir da interpretação de

textos sobre a história da carta, do telégrafo, do telefone e da internet.

Na primeira aula foi entregue um questionário visando um diagnóstico sobre o

uso do computador, a fim de adequar conteúdos com maior eficiência às aulas

posteriores. A atividade foi desenvolvida individualmente e consistiu nas respostas no

caderno, às seguintes questões:

1. Você utiliza computador? Em quais situações?

2. Cite os benefícios que o uso do computador proporciona na realização de

muitas de nossas tarefas diárias.

3. Você utiliza a internet? Em quais situações?

4. Quais tarefas você pode realizar no seu computador se ele não tiver acesso a

internet?

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Após a discussão das respostas, foi feito o estudo de um texto, através de leitura

compartilhada e debate, que descreve os avanços dos meios de comunicação ao longo

do tempo. Como tarefa para casa, a professora solicitou que os alunos produzissem um

cartaz em cartolina branca, em grupo com cinco alunos cada, sobre o tema sorteado que

poderia ser: carta, telégrafo, telefone, internet ou telefone celular.

A figura a seguir representa o modelo de cartaz exigido para a produção do

trabalho, onde o título deveria conter o tema sorteado, abaixo dele desenhos

representativos seriam colados ou desenhados, logo abaixo e de forma concisa deveria

ser escrito manualmente ou digitado a história e a utilidade dos equipamentos e,

colocado no canto inferior direito, a identificação dos alunos.

Figura 1- Esquema para o modelo de cartaz produzido pelos grupos

Na segunda aula, os grupos se apresentaram, utilizando-se de no máximo cinco

minutos, explicando para os colegas o seu tema e mostrando o cartaz produzido. Ao

final, os cartazes foram fixados no mural da sala.

Na terceira aula, foi apresentada a seguinte notícia aos alunos com o seguinte

título “Brasil: Pane no Serpro provoca filas no Detran e Receita Federal” que estava

disponível na internet. Após a leitura da notícia, a professora pediu para que os alunos

respondessem, de forma escrita numa folha de sulfite, à seguinte questão: Quais

vantagens a utilização da Internet proporciona à realização dos serviços citados na

reportagem e quais os prejuízos quando estes serviços param de funcionar?

Na quarta aula, foram descritas, através de um texto extraído de um livro

didático de ciências de 9º ano, a definição do termo informática e os grandes marcos no

desenvolvimento desta área, contemplando os estudos do matemático inglês Charles

Babbage (1791-1871) que projetou uma máquina que realizava alguns cálculos mais

complexos do que as quatro operações básicas e do engenheiro norte-americano

Herman Hollerith (1860-1929), que trabalhava no Censo americano e desenvolveu uma

máquina para auxiliar na contagem e separação dos dados coletados. Essa máquina foi

considerada o primeiro processador de dados. Foi explicado que somente em 1941 foi

desenvolvida a primeira calculadora que utilizava eletricidade para automatizar os

cálculos – a Mark I – dando início ao desenvolvimento de equipamentos que

TÍTULO

FIGURA (desenhada ou colada)

INFORMAÇÕES CONCISAS –

história, utilidade

Nome dos alunos, nº e turma

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trabalhavam na automatização de tratamento de dados por meio de eletricidade e,

consequentemente, ao desenvolvimento da informática. Por último, a professora

descreveu oralmente a importância da microeletrônica, com o desenvolvimento dos

transistores e dos circuitos integrados (chips), bem como a necessidade do Brasil

participar efetivamente da área produtiva e de mercado nesta área.

Para enriquecer a atividade, a docente solicitou que os alunos realizassem em

casa uma pesquisa sobre o que são transistores, chips e computadores. Alguns cuidados

foram exigidos para esta tarefa, pois há um grande número de informações disponíveis

na internet e que nem sempre são confiáveis ou relevantes. Desta forma, a professora

disponibilizou algumas fontes seguras para facilitar o acesso às informações.

A quinta aula foi iniciada com a leitura das pesquisas pedidas na aula anterior.

Foram chamados alguns alunos, sorteados pelo número da chamada, para fazerem as

considerações sobre o objeto de seu estudo. A seguir, oralmente, foram sanadas pela

professora algumas dúvidas sobre alguns termos técnicos, por exemplo, materiais

semicondutores, resistores, capacitores. Em seguida, foi discutida oralmente a origem da

internet, conjunto de redes interconectadas no mundo todo, que permite aos usuários

acessar e disponibilizar informações de maneira tanto pública quanto privada e utilizar

os mais diversos serviços nela disponíveis. Finalmente, foram discutidos alguns dados

que revelam que a internet é importante na sociedade atual.

Na sexta aula, procurou-se aliar os conteúdos propostos no caderno do aluno

(Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) sobre patologias do sistema muscular

e esquelético a má postura frente ao computador. Foi disponibilizado para cada aluno

um texto com ilustrações sobre ergonomia ao usar o computador, onde são dadas

orientações importantes que auxiliam na diminuição dos problemas corporais causados

com a utilização prolongada do computador, como ajustes na iluminação do monitor;

utilização de cadeiras adequadas; necessidade de pausa para descanso; posicionamento

de braços e pernas.

Houve discussão sobre medidas preventivas correlacionadas à saúde das pessoas

que utilizam o computador por várias horas ao dia, posicionando-se de maneira

inadequada. Devido a este fato, podem adquirir problemas de saúde relacionados à

visão, às articulações, aos músculos e à coluna. A seguir, a turma assistiu a um vídeo

disponível na internet que ilustra o conteúdo abordado.

Levando-se em conta que a preocupação com a postura correta frente ao

computador é um fator determinante na prevenção de problemas de coluna, cansaço

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ocular entre outros, foi proposto pela professora que os alunos, divididos em vinte e

cinco grupos de cinco alunos cada, produzissem em seu lar um vídeo utilizando os

recursos de um telefone celular, com duração de no máximo três minutos, contemplando

as orientações trabalhadas em sala de aula.

Após o envio destes vídeos para um blog montado pela professora ou gravados

em pendrive, esses foram analisados e os mais adequados segundo os objetivos

propostos, tempo máximo de gravação, participação de pelo menos um dos

componentes como “ator” e no mínimo três orientações para diminuir os problemas

posturais frente ao computador, foram disponibilizados para todos os alunos

participantes do trabalho.

Na sétima e oitava aulas, os alunos foram agrupados em trios e encaminhados

para a sala de informática da escola, onde teriam que necessariamente, pesquisar na

internet apenas um dos programas de inclusão digital listados a seguir: 1) O Programa

Nacional de Informática na Educação (PROINFO); Programa Nacional de Apoio à

Inclusão Digital nas Comunidades – Telecentro.BR; Acessa São Paulo, programa de

inclusão do Governo do Estado de São Paulo.

Realizada a pesquisa e, seguindo um roteiro fornecido pela professora, os trios

deveriam produzir um folder com caráter de propaganda do programa de inclusão

pesquisado, em folha de sulfite, dobrado duas vezes no sentido horizontal e com figuras

para chamar a atenção dos leitores. No roteiro, foram pedidos o nome e os objetivos do

programa; o público ao qual se destina; os endereços para atendimento e os serviços

oferecidos.

Após a análise de cada folder produzido, ocorreu uma exposição no mural da

sala de informática, para que todos os usuários da mesma conhecessem alguns

programas que criam condições à expansão do uso do computador no Brasil.

Visando uma avaliação dos conhecimentos adquiridos, no encerramento da

sequência didática foi feita uma discussão oral, envolvendo professora e alunos,

resgatando os tópicos estudados.

Serão apresentados a seguir os resultados obtidos durante a aplicação da

sequência didática, verificando a compreensão dos alunos com relação aos avanços

tecnológicos e o uso da internet, as maneiras pelas quais evitam problemas de saúde ao

utilizar o computador e a clareza com que entendem os benefícios da inclusão digital.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O questionário inicial foi o primeiro momento para tomar contato com os alunos

sobre o tema. Ao questionar, foram levantados os primeiros elementos que permitiram

estabelecer a familiaridade com o uso do computador, conforme a figura gráfica 2.

Figura 2 - Gráfico sobre uso do computador

No entanto, ao serem questionados sobre quais tarefas executam quando

acessam a internet, citam apenas redes sociais, mensagens de texto e jogos. Esta

situação está apresentada na figura 3:

92%

7%

1,%

Em quais situações você utiliza a internet?

Jogar/acessar redes sociais/enviar mensagens

Pesquisar

Ler notícias

Figura 3 - Gráfico referente as principais atividades realizadas pelos alunos usando a internet

Estes dados refletem o que já foi relatado em recente pesquisa feita pela

comScore (2010), onde constatou-se que a população entre seis e quatorze anos que

corresponde a 12% do total da população online do Brasil, passa a maior parte de seu

tempo em sites de entretenimento, instant messengers e redes sociais, indicando que

atividades de diversão e lazer são influenciadores predominantes do comportamento de

usuários mais jovens.

Na segunda parte da aula, ao se interpretar um texto sobre o avanço de alguns

meios de comunicação ao longo do tempo, os alunos se mostraram participativos,

inclusive complementando as informações fornecidas com explanações sobre outras

tecnologias que permitiram o desenvolvimento da sociedade moderna.

Uma exposição de cartazes foi montada e foram discutidos de forma crítica os

aspectos positivos e negativos das inovações tecnológicas na comunicação, desde a

carta até a internet. Ressaltou-se, dentre as explanações, um dos grupos que discorreu

sobre a importância da carta e a relação dela com os e-mails de hoje e, em outro grupo

onde a preocupação foi a utilização do telégrafo que era conhecido pelos alunos através

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dos filmes americanos que retratam guerras, e que com a pesquisa realizada mostrou

outras importantes funções.

Devido ao desconhecimento dos alunos sobre serviços via internet

disponibilizados por órgãos públicos, a docente achou conveniente apresentar uma

reportagem que informava sobre pane nestes locais. Após a leitura, os alunos

escreveram quais vantagens a utilização da Internet proporciona à realização dos

serviços citados na reportagem dada e quais os prejuízos quando estes serviços param

de funcionar. Constataram-se respostas como acesso mais rápido aos dados de um

veículo e suas multas e a agilidade na aquisição da carteira nacional de habilitação, no

caso do Detran. Com relação à Receita Federal, as respostas foram pouco precisas, pois

os alunos em sua grande maioria não sabiam para que servia o órgão e, mesmo após as

explicações dadas pelo professor, continuaram com dúvidas, sendo que o serviço mais

lembrado e que poderia ser prejudicado na sua execução foi o imposto de renda.

Os computadores tornaram-se uma importante ferramenta de trabalho,

contribuindo para o aumento da produtividade, melhoria na qualidade de produtos

industrializados e na redução de custos. Todavia, os alunos tiveram dificuldades em

separar a utilização do computador do uso da internet. Quando questionados oralmente

se ao utilizar um computador e não tivessem acesso à internet, quais tarefas poderiam

realizar, apresentaram respostas confusas, inclusive alguns alunos escreveram que

nenhuma atividade poderia ser realizada. A figura 4 mostra os resultados:

Figura 4 - Gráfico mostrando o número de vezes que determinada tarefa realizada no computador aparece

na resposta dos alunos

Percebe-se que apesar das respostas confusas, a tarefa com maior número de

citações e portanto a mais realizada, é relacionada aos jogos.

Com o desenvolvimento da informática, o computador passou a ser uma

ferramenta presente em muitas residências e em muitos locais de trabalho. Com isso, as

pessoas passam horas utilizando esses equipamentos e uma postura adequada é

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essencial para evitar problemas de saúde. Nesse contexto, foram feitas algumas

perguntas para detectar possíveis procedimentos equivocados e, a seguir, foi analisada

uma imagem que refletia a ergonomia ao usar o computador. A tabela 1 mostra as

respostas dos alunos que possuem computadores em sua residência.

Tabela 1 – Questões e respostas dos alunos sobre ergonomia no uso do computador

QUESTÃO SIM NÃO ÀS VEZES NÃO SEI

1. Ao digitar você

conserva as mãos

retas?

33,6% 60% 4,8% 1,6%

2. Você utiliza os

ajustes na tela do

computador para

diminuir o brilho?

12% 79% 9% -

3. O monitor que

você utiliza está a

uma distância

aproximada de 70

cm da sua face ao

nível dos olhos?

51% 38,6% - 10,4

4. Ao sentar-se para

utilizar o

computador, você

se preocupa em

deixar sua coluna

ereta, mantendo a

sua curvatura

natural em formato

de S?

37% 55% 7,2% 0,8%

5. Você se

preocupa com o

tipo de cadeira que

vai utilizar?

25,2% 74,8% - -

6. Você já percebeu

se seu braço, ao

digitar, forma um

ângulo de 900 com

o teclado?

12%

78,4% - 9,6%

7. Seus pés ficam

totalmente

apoiados no chão

quando utiliza o

computador?

51,2%

42,4% 6,4% -

8. Você faz um

intervalo a cada

duas horas que

utiliza o

computador,

aproximadamente?

28% 37,2% 34,8% -

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Baseado na tabela acima , a professora pediu que os estudantes produzissem

vídeos no celular alertando sobre a ergonomia no uso do computador. Todos os vídeos

foram produzidos pelos alunos, na maioria dos casos, um integrante gravava e outros

dois participavam da cena. Foram priorizadas a utilização de uma cadeira correta, a

distância da tela do monitor aos olhos e a posição de pernas e braços. Em um dos

vídeos, um estudante simula uma sessão de alongamento e em outro, há uma

comparação entre posturas corretas e incorretas frente ao computador. Mas, o que ficou

evidente em todos os casos, foi a criatividade e o bom humor.

Nas duas últimas aulas da sequência didática, foram elencadas, através de

discussão entre a professora e os alunos, alguns recursos importantes no uso da internet

pela população, por exemplo, a possibilidade de acesso às notícias de toda parte do

mundo em tempo real; a troca de idéias com pessoas de outras culturas; auxilio nas

pesquisas escolares; acesso a serviços de banco e mercado financeiro; compras online.

A análise da discussão acerca dos diversos recursos da internet identificou que

os alunos reconhecem sua importância, principalmente no que tange a aumentar o

círculo de amizades e atividades de lazer. Porém, não associam o seu uso com a

promoção de melhores empregos e consequente aumento da renda da população. Em

nenhum momento da fala deles, notou-se preocupação com as consequências da

exclusão digital.

Após a identificação desta percepção, foi proposta uma atividade em que trios de

alunos procederam à pesquisa na sala de informática sobre três programas de inclusão

digital. O Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO); o Programa

Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas Comunidades – Telecentro.BR e o programa

Acessa São Paulo.

Ao analisar os programas de inclusão digital, os alunos seguiram um roteiro

onde a primeira questão era saber qual a definição que eles tinham deste assunto. A

tabela 2 abaixo mostra os resultados.

Tabela 2 – Respostas dos alunos com relação a definição do que é inclusão digital.

Você sabe o que é inclusão digital?

Explique.

Algumas respostas dadas

Sim (7%) “Acesso a tudo que se refere a digital para

todos”; “acesso a internet a pessoas que

não tem condição; “é fazer todas as

pessoas serem inclusas nessa nova fase

tecnológica, fazendo com que elas tenham

direito à internet”;“é liberar internet para

todos”; “ gente de classe baixa possuir um

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computador ou equipamentos de

tecnologia avançada”.

Não (93%) “Não”; “não sei”; “não me

lembro”;”não sei explicar”.

A segunda questão, perguntou onde o aluno costuma acessar a internet. Foi

detectado de acordo com a figura 7, que a maioria acessa em sua residência, os outros

alunos procuram casas de parentes, colegas, lan house e pouquíssimos utilizam a escola

para este fim.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

residência casa de amigos casa de parentes lan house escola

Onde você costuma acessar a internet?

Figura 5 - Gráfico mostrando os locais onde o aluno acessa a internet

A figura 5 demonstra que os alunos privilegiam utilizar a internet em sua

residência, o que pode ser explicado pela atual disponibilidade de uma internet de

melhor qualidade e, também, pela possibilidade de acessá-la livremente, por tempo

indeterminado.

Com relação aos locais próximos as suas casas com computadores para acesso

gratuito e livre a internet, sem ser a escola, os resultados são demonstrados nas figuras 6

e 7.

72%

28%

Você conhece locais próximos a sua casa que disponibilizem acesso gratuito à internet?

sim

não

Figura 6 - Gráfico sobre o conhecimento de locais próximos à residência dos alunos que possibilitem

acesso gratuito a internet

93%

3% 4%

Cite estes locais.

Telecentros

CEU

Igrejas

Figura 7 – Gráfico mostrando a citação feita pelos alunos dos locais de acesso gratuito a internet

próximos a suas residências

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Com a análise das respostas contidas nas figuras 6 e 7, percebe-se que mais de

setenta por cento dos alunos dizem conhecer locais de acesso livre a internet, mas

quando é pedido que citem estes locais, a maioria se restringe aos Telecentros.

Partindo das discussões referentes aos resultados obtidos após as questões

propostas, foram realizadas as pesquisas sobre os programas de inclusão digital, ora na

escola, ora no lar, pois vários foram os percalços para acessar a internet de modo

satisfatório nos equipamentos presentes no espaço escolar. Visando divulgar as

informações coletadas, os alunos produziram, em suas casas, folders, que foram

expostos no mural da sala de informática.

CONCLUSÕES

O foco deste trabalho foi analisar os resultados obtidos durante a aplicação de

uma sequência didática, em que foram trabalhados assuntos relacionados aos avanços

tecnológicos, à ergonomia frente ao computador e à inclusão digital.

Os resultados da investigação acerca do envolvimento dos alunos na abordagem

sobre avanços tecnológicos demonstraram que o aluno de hoje apresenta vantagens com

relação ao aluno de uma década atrás, porque traz para a escola maior conhecimento

tecnológico e demonstra expectativas diferenciadas quanto a sua formação. Mas, apesar

desta vasta informação virtual, detectou-se durante as aulas que vários alunos

desconheciam ou tinham dificuldades em utilizar programas básicos do computador.

Desse modo, o professor de Ciências tem a possibilidade de trabalhar estes recursos,

ampliando o número de metodologias utilizadas em sala de aula, assumindo uma

postura mediadora. Sobre isso, José Manuel Moran (2000) coloca que hoje o ato de

ensinar e aprender exige muito mais flexibilidade espaço temporal, pessoal e de grupo

para processos mais abertos de pesquisa e de comunicação, sendo que uma das

dificuldades atuais é conciliar a extensão da informação com o aprofundamento da sua

compreensão.

Outro fator analisado neste trabalho foi a ergonomia no uso do computador, em

que ficou evidente, através dos dados coletados, que os alunos desconhecem algumas

medidas de prevenção de vícios posturais. A produção de vídeos sobre este tema alertou

principalmente os alunos envolvidos, que medidas simples incorporadas ao cotidiano

colaboram para a manutenção da saúde. Cabe aqui ressaltar que são raras as campanhas

educativas, tanto na escola como na mídia, com o intuito de prevenir patologias

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associadas à má postura. E não há mobiliário dentro da maioria das escolas com

adequação ergonômica suficiente para ser utilizada por adolescentes.

No que se refere aos dados encontrados sobre espaços utilizados para acesso à

internet, notou-se que a escola foi citada por uma ínfima parcela dos alunos, motivo

pelo qual deve ser ampliada a oferta de estratégias que possibilitem a inserção da

tecnologia nas aulas, como referência para a formação básica dos alunos.

A abordagem deste tema através de uma sequência didática contribuiu para

melhor organização das aulas e também foi verificada de forma mais clara a

aprendizagem dos alunos. Com isso, o uso da sequência didática pode contribuir para

aperfeiçoamento da formação docente, proporcionando um melhor aproveitamento dos

alunos com relação ao processo ensino-aprendizagem.

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XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012

Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.003035