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Especializada em cultura, focada na cobertura e relação da notícia com o Polo Cultural de Paulínia.

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Page 1: Revista Cartaz
Page 2: Revista Cartaz
Page 3: Revista Cartaz
Page 4: Revista Cartaz

PERFIL08 Ísis Valverde09 Fabrício Boliveira13 Simone Iliescu19 Fábio Porchat28 Bruno Gouveia48 Carlinhos de Jesus

Cômico, Fábio Porchat chega ao cinema com o filme Vai que dá certo,mas, nem ele sabe o que pode ou não dar certo. Confira!

Biquini Cavadão: os senhores do progresso falam de rock ‘n’ rolle de como os grandes festivais servem de referência ao público

TRILHA26 Rock nu32 SWU: tamanho é documento42 Sopro de novos ares54 Ao som da viola

COXIA58 Corcunda da inclusão

A roupagem da inclusão toma conta da montageminovadora e emocionante de O Corcunda de Notre Dame

“Dançar é pagar micoe não tem coisa melhor.”Fly, coreógrafo da Globo

‘Dois Coelhos’ estreiaem fevereiro como o filmede mais efeitos especiais

já produzidos no Brasil

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Page 5: Revista Cartaz

O talento de Christiane Matallo no Tap Dance e no saxofonerendeu à ela o título de Carmen Miranda do sapateado

TABLADO44 A dança dos anônimos50 Sapateando

no país do samba

COLUNAS06 Espontânea

14 Cinema

29 Música

30 Vips

38 Rack

49 Dança

62 Roteiro

PAPO CARTAZ25 Cultura Digital

40 Outro Tempo

53 Oca

57 Estilo

61 Vitrine

A cantora italiana Laura Pausini volta ao Brasil em janeiro paratrês noites de shows e divulgação de seu novo trabalho, Benvenuto

Cores: A vida de três jovens sem perspectiva, retratada em pretoe branco, busca o público alternativo dos festivais cult mundo à fora

TELA10 Tripé cinza16 Vai que dá certo20 Efeitos especiais

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Page 6: Revista Cartaz

"O lançamento de uma revista de cultura é importante

como informação para as pessoas se atualizarem.É um meio de as pessoas terem acesso aos eventos

e espetáculos." Simone Gutierrez é atriz e cantora.

"Criar um veículo focado em cultura é uma forma

de democratizar a informação do fazer cultura,

algo tão inerente ao ser humano. Ao popularizar,a revista acaba por mostrar que a cultura é possível

e não privilégio de alguns." Bene Silva é diretor

do Departamento de Teatro de Paulínia.

"Um meio como Cartaz é essencial para as pessoas

terem acesso à informação. Paulínia tem enorme

vocação, não apenas no setor de petróleo, como era

conhecida, mas na música, no cinema, no teatro, na

dança e está na hora de ter um veículo focado na altacultura que produz. Esta revista vai auxiliar a população

da cidade, das cidades da região e até exportar

conteúdo, pois Paulínia aglutina cultura e está presente

em todos os níveis dela." Roberto Ring é violoncelista

residente do Theatro Municipal de Paulínia.

"Acho maravilhoso todo meio decomunicação que visa divulgar cultura.

Um país precisa de cultura, por que

sem ela, a gente vai ficando burro,

medíocre e sendo tomado por culturasduvidosas. O que vocês estão fazendo

com essa revista é de grande

importância para a música, para o

teatro, para todo mundo que dedica a

vida e acredita na cultura. Vocês estãono caminho certo." Rodrigão (Digão)

é vocalista da banda Raimundos.

"Falar de cultura é abordartribos; é a quebra de tabus

e preconceitos." Jônatas

Silva é estudante."Qualquer incentivo à

cultura é bem vindo.Quanto mais, melhor."

Gil Duarte é músico.

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Page 7: Revista Cartaz

"Em nossos dias, as grandes cidades

têm pouco espaço para flores.

Aplaudo a proposta da revista Cartaz,

que procura ver por trás dos fatose acontecimentos culturais, o sentido

e a história geradora da arte. Cartaz

nos ajudará a enxergar melhor o

mundo da arte, a transver as coisas."

Estevo Pinto é filósofo, teólogo e

eterno aprendiz.

"O lançamento de uma revista como a

Cartaz é super importante. As pessoas

têm acesso na internet, tem acesso na

televisão, mas é muito legal ter um

impresso que vai ficar para sempre eque você pode guardar e colecionar."

Marquinhos é guitarrista

da banda Raimundos.

"Folhear uma revista que traz arte,

cultura, é uma terapia para alma."

Lourdes Rosseto é artista plástica.

Marco zero. É de onde partimos para dar voz própria à movi-mentação cultural mais pujante da nossa região para o Brasil. Asexperiências de quatro anos na faculdade de Jornalismo nos guia-ram à criação de Cartaz, uma revista com o propósito de servir àdifusão do Polo Cultural de Paulínia e em suprir a demanda porinformação dos adeptos de cultura.

A empreitada é ousada: Cartaz pretende atrair seu leitor de ondeele estiver, afinal, as atividades locais nos garantem a possibilidadede alcançar todo o país com as notícias de cinema, dança, teatro emúsica, já fomentadas em cenário nacional, mas nunca exploradaspor uma publicação especificamente voltada para sua cobertura.

A prova de que ser tão abrangente é possível está nas 64 pági-nas deste exemplar de número zero. 'A poderosa Ísis' da capa, porexemplo, surgiu das entrevistas com Ísis Valverde e Fabrício Boliveiraem Paulínia, enquanto o filme Faroeste Caboclo era produzido nacidade, e agora, retratam a lendária história de Maria Lúcia e Joãodo Santo Cristo prestes a chegar aos cinemas, ecoando o sucessoda banda Legião Urbana que marcou época no Brasil no final dadécada de 80.

O cinema, âncora das atividades culturais em Paulínia, conquis-tou espaço nesta edição também com a produção cult e indepen-dente de Cores, do novato diretor Chico Garcia, e ainda, com asproduções de efeitos especiais que abrem caminho para a renova-ção de roteiros nacionais, como a nova geração de humor, forma-da no stand-up comedy e agora alçando voo para a grande tela.

Falando em voo, Cartaz traz uma visão panorâmica sobre a pri-meira edição do festival de música SWU realizado em Paulínia e aparceria entre o poder público local e o Instituto Joinville para criaruma nova capital da dança no país. Carlinhos de Jesus e o coreó-grafo Fly falam exclusivamente com a nossa redação sobre o pra-zer de incentivar anônimos a dançar.

E ainda tem muito mais música, cinema, dança e teatro, alémdas colunas descontraídas da nossa redação e as especializadas,assinadas por profissionais renomados em cultura, que aceitaramcolaborar com a iniciativa e incentivar essa jornada, que, para nós,começa agora. Boa leitura. A cultura está em Cartaz!

EDITORESGidel Bizerra da Silva

Jefferson Souza da Silva

Michele Roberta Carneiro

Tamiris Fernanda Cella

Valéria Teresinha de Oliveira

PROJETO GRÁFICOMichele Roberta Carneiro

ORIENTAÇÃORoberto Cardinalli

MTB: 24762-SP

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICACibele Buoro

Revista do Polo Cultural de PaulíniaProjeto experimental do Curso de Jornalismo

das Faculdades Uniesp Campus Hortolândia

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Page 8: Revista Cartaz

Ísis Valverde encara suapersonagem mais intensa

Maria Lúciaera uma menina linda...

Ísis Valverde estreia no cinema no começo de 2012 naadaptação de Faroeste Caboclo, produção que passoupelo Polo Cinematográfico de Paulínia no segundo semes-tre de 2011. Ísis viverá a personagem Maria Lúcia, pivô do

triângulo amoroso que marcou a carreira da banda Legião Ur-bana e de sua legião de fãs.

"Interpretar Maria Lúcia é intenso; é conhecer os medos que agente tem e ela não", confessa a mineira de 24 anos, nascidaem 1987, mesmo ano em que a canção de nove minutos e trêssegundos, com 168 versos, foi lançada e alcançou sucesso abso-luto entre os jovens da época.

Nascida na pequena Aiuruoca, cidade de 6.173 habitantesao sul de Minas Gerais, Ísis Nable Valverde é solteira, mas na-mora Tom Rezende, ex-produtor do programa Pânico na TV.Começou a vida de atriz aos 18 anos, estudando teatro apósuma passagem de dois anos pela carreira de modelo, iniciadaem Belo Horizonte enquanto passeava num shopping center efisgou o olhar de um agente. A filha única de pai bioquímico emãe advogada havia saído de casa pela primeira vez aos 15anos para estudar na capital.

Após interpretar Ana do véu em Sinhá Moça, a global nãoparou mais. Surpreendeu com a prostituta Telma, de ParaísoTropical, e chegou ao ápice da carreira na TV com a engraça-da e inocente Rakelli da novela Beleza Pura em 2008. Nos anosseguintes, participou de Caminho das Índias como Camila,uma jovem carioca que se rende à religião e às tradições indi-anas por amor; interpretou a protagonista Marcela em TiTiTi ejá está se preparando para voltar ao horário nobre com Aveni-da Brasil, novela de João Emanuel Carneiro, que deve substi-tuir Fina Estampa.

Cartaz. O que Maria Lúcia representa para você?Ísis Valverde. A força para enfrentar a morte. Embora todo mundoconheça o desfecho da música e espera ver isso no filme, apotência da Maria Lúcia sobre uma situação que assusta todomundo é algo impressionante. Por isso, tem cenas do filme emque o olhar e o silêncio dizem muito, são cenas verdadeiramen-te intensas e emocionantes, tanto para os atores quanto paraquem está assistindo. Estou orgulhosa de chegar ao cinemacom uma personagem tão forte.

Cartaz. Como é compor a força de Maria Lúcia?Ísis Valverde. Estou sempre atenta ao ponto que meu corporepresenta melhor a emoção. Uso isso tanto na TV quanto ago-ra, nessa primeira experiência com os sets de cinema. Paramim, aquela ardência no corpo, provocada pelo sol, é a essên-cia da Maria Lúcia. Sinto ela inteira em mim, dos pés ao fio decabelo. É como se ela existisse mesmo dentro de mim. Sintomeu corpo, meu rosto, meu olhar se transfigurar para me trans-formarem nela. É uma sensação super incrível.

Cartaz. É fã de Legião?Ísis Valverde. Com certeza. Ouço desde criança. Minha mãe(Rosalba Nable) é fã de Legião Urbana e de rock anos 80. Aprendia letra de Faroeste Caboclo aos 13 anos. A gente tropeça nosversos, mas não dá para esquecer.

PERFIL

Gidel Silva

Com a mesma idadedo lançamento da músicaFaroeste Caboclo, 24 anos,a estreia de Ísis Valverdeno cinema está previstapara o dia de seuaniversário, 17 de fevereiro

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Casal

Caboclo

Page 9: Revista Cartaz

Assim como João de Santo Cristo, Fabrício Boliveira ébaiano. Nascido em Salvador, ele tem 29 anos.Quando esteve em Paulínia para filmar Faroeste Ca- boclo disse que se sente escolhido pelas tramas.

"Você escolhe a personagem, mas ela também escolhe você.Sempre temos um ponto que nos identifica, mas prefiro nãodizer o que fez com que eu me identificasse com o João; émuito particular".

Ainda assim, quando comenta sobre sua composição parainterpretar o protagonista da saga criada por Renato Russo eagora dirigida por René Sampaio, o ator formado na Universi-dade Federal da Bahia diz que a música trata "da intolerânciaao diferente, ao candango pobre e marginalizado na cidade-ilha da fantasia". Ele, que em função da carreira, mora no Rio deJaneiro, conta que um de seus medos é não ser feliz nas esco-lhas da vida. "Mas, amo o que faço".

Motivo para comemorar, Fabrício Boliveira parece ter de so-bra. O negro-gato está em seu quarto trabalho para o cinema.Participou do longa A Máquina, de Tropa de Elite 2 e 400 contra 1.Na Bahia, incentivado pela mãe, fez teatro desde 2004. Chegou àTV em 2006, interpretando o escravo Bastião de Sinhá Moça, mi-grou para o Saci do Sítio do Pica Pau Amarelo e na sequência fezDiduzinho da novela A Favorita. Em 2010, participou de Malhaçãoe de Tempos Modernos, todas da Rede Globo.

Sem adiantar detalhes, Boliveira ensaia um novo filme, pre-para a montagem de uma peça e amadurece o projeto de es-trear na direção cinematográfica. À imprensa, Fabrício fala dacomposição de sua mais nova e importante personagem, o talJoão de Santo Cristo.

Cartaz. Quem é João de Santo Cristo para você?Fabrício Boliveira. João é um desses nordestinos que foi cons-truir Brasília, que teve de se adaptar à uma outra vida, a umoutro clima, à uma outra geografia e se deixou influenciar. Mas,João não esquece sua história, não a apaga para o futuro. Nacanção, esse senhor de alta classe com dinheiro na mão, queum dia bate à porta com uma proposta indecorosa, ele diz:“Você perdeu sua vida meu irmão”… Para mim, esse senhor éo oráculo, e João, que não consegue tirar essas palavras docoração, luta para fugir do próprio destino. Então, que perso-nagem é essa que já tem a vida escrita e ainda assim tentaescrever a sua história?

Cartaz. Foi fácil encontrar-se na personagem?Fabrício Boliveira. Transitei na feira dos nordestinos para en-contrar uma familiaridade nos objetos. Dialoguei muito com odiretor de arte, Tiago Marques Teixeira, a respeito do que Joãotraria consigo em sua bolsa. Então, escolhemos a bolsa juntos.Eu pedi um canivete, um fumo de rolo, uma palhinha, umsantinho. Essa troca com a equipe, ver o que o outro pensoupara sua personagem é fascinante, enriquece muito o trabalho.

Cartaz. Em que momento sentiu-se João de Santo Cristo?Fabrício Boliveira. Quando vesti o figurino pela primeira vez foicomo se caísse uma ficha, “Ah! É isso que faltava. É por estecaminho que eu vou”.

Fabrício Boliveira é otal João de Santo Cristo

e o coração dele pra ela,

o Santo Cristo prometeu

Das passagens recentesem Tropa de Elite 2 e 400 contra 1,Fabrício Boliveira apresentaa personagem de seu quartotrabalho no cinema

Reportagem

Michele Carneiro

Mário Miranda/Agência Foto

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Page 10: Revista Cartaz

CCores é o primeiro filme do diretorFrancisco Garcia. E, Chico, comoé chamado o tempo todo nosbastidores da produção, chega

ao cinema até o fim de 2012, mas sua pri-meira fita, fica pronta no primeiro semes-tre, com a pretensão de disputar os princi-pais prêmios do circuito cult da área, inclu-sive os internacionais. Para isso, o diretorinveste na ousadia de criar com ironia.

Embora o título seja Cores e o roteiroretrate a vida de três jovens amigos recém-chegados à casa dos 30 anos, a obra étoda produzida em tons de cinza, contras-tando drasticamente o preto no branco dequem passou os vinte e poucos anos so-nhando e se depara com o outro lado daponte ainda sem novidades.

A trama está centralizada em Luara(Simone Iliescu), Luiz (Acauã Sol) e Luca(Pedro di Pietro), artistas pouco conheci-dos do público, outra estratégia do diretorpara garantir um elenco de frente semmarcação para a plateia. Luara e Luiz sãonamorados e ambos são amigos de Luca,um designer da grande São Paulo queempresta nuances de sua história real aotatuador da ficção. "A cidade vai se de-senvolvendo, as pessoas crescendo, osprédios em construção, e eles não conse-guem sair do lugar, vão meio que nadan-do contra a maré, os três", revela a atriz. As três personagens vivem numa gran-

TELA

Alternativo, filmeCores trabalha a vidae a juventude de três

amigos em planopreto e brancoTripé

cinza

Por estrear no cinema, o diretorChico Garcia, explica que sente maiorliberdade de ousar: “Claro que euquero que tenha público, mas nãosinto a pressão do mercado”

Gidel Silva

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Reportagem

Michele Carneiro

Page 11: Revista Cartaz

de metrópole e sofrem com a falta deperspectiva individual e coletiva num mo-mento histórico brasileiro de ascensãoeconômica.

O diretor diz se basear no cenárioatual do país. Luca ainda mora com suaavó; Luiz é um eterno desempregado quevive de bicos, atualmente atende numafarmácia e está sempre interessado nasideias modernas que ouve das pessoasdo Centro e Luara é a garota que deposi-ta todo seu tempo no trabalho em umaloja de peixes ornamentais para espan-tar a solidão.

Para Chico Garcia, a falta de perspec-tiva desse tripé de amigos é um sintomaatual que combina com sua escolha pelapaleta em tons de cinza. "O espectadorvai reconhecer ambientes extremamen-te coloridos, como supermercados, lojade aquários, mas não verá as cores, por-que as personagens estão imersas nes-te mundo colorido e de consumo, só que

Acauã Sol e SimoneIliescu gravamas cenas do casalde namorados Luiz eLuara, o desempregoe a sonhadora

Divulgação

a gente revela isso sem cor, porque esteé o momento vivido pelos três", explica oestreante diretor .

Sobre a pretensão de fugir dos pa-drões para alcançar um público seleto,Chico diz não sentir a pressão do públi-co, da crítica e do círculo comercial. "Podeaté ser um pouco arriscado, mas por sero meu primeiro, tenho uma liberdademaior de experimentar, uma ingenuida-de e uma falta de domínio do código queacaba facilitando na criação de um fil-me autoral, independente, de arte", diz.

Sobre a pressão comercial, define:"Todo cinema é comercial, mas algunssão mais e outros querem estabelecerum diálogo com o espectador. Acho quevamos conquistar o nosso público.Logicamente, vamos numa linha de dis-putar os grandes festivais para ala-vancar a comercialização desse filmeposteriormente. Não é nem uma ques-tão de estratégia, de segredo, mas uma

repercussão que a gente espera que dêcerto", justifica.

A novidade foi bem recebida peloelenco. "É legal o cuidado e o trabalha-do detalhado por ser um filme autoral ecom opções estéticas", comenta o atorAcauã Sol. "No preto e branco a densi-dade dramática às vezes fica mais leve.Isso também é legal, tanto quanto par-ticipar de um projeto autoral", completaSimone Iliescu.

"Existe público para todo tipo de fil-me. A gente vê casos que chegam a di-versos lugares e são vendidos até forado Brasil. A gente vai além de arte empreto e branco, vai contra a corrente docinema comercial, mas, esse pode ser onosso maior trunfo na hora de apresen-tar um filme de verdade, que tem vida,que pulsa e vai conquistar seu públicona sala de cinema", arremata o diretor,inspirado por obras como Estranhos noParaíso (1984), de Jim Jarmusch.

11 >>

Page 12: Revista Cartaz

No caminhode 'Trabalhar Cansa'

Além de Acauã Sol, Pedro di Pietro eSimone Iliescu, Cores traz no elenco Gui-lherme Leme como Roger, GraçaAndrade como dona Lena, Maria CéliaCamargo como dona Marlene e TonicoPereira como Nicolau. Isso mesmo, oscoadjuvantes são mais populares que oelenco principal e trazem experiência àtrama, apesar das participações da pro-tagonista em Bruna Surfistinha e outrasquatro no cinema, três em mini-séries,incluindo Maysa, e três em grandes pe-ças, como A Pedra do Reino. Tonico é doelenco fixo de A Grande Família, MariaCélia emendou a novela Tititi e Guilher-me Leme, o eterno Gerald de Vamp,reestreia no Brasil.

Por outro lado, a inexperiência do pri-meiro elenco foi trabalhada para garan-

tir a química necessária de uma grandeamizade. Começando pelos nomes. Ostrês começam com Lu: Luiz, Luara e Luca.Não é coincidência. Chico Garcia queriaassim. "É algo que os une já na origem,que os aproximava antes de se conhe-cerem", explica. E, apesar de jovens embusca do algo mais, a trama se restrin-ge à amizade. "É um casal de namora-dos e um amigo do casal. Não há umtriângulo amoroso. É uma relação decumplicidade estabelecida", afirma.

Para garantir tamanha afinidade, otrio e até o diretor fizeram preparação deelenco diária por três semanas e labo-ratório. "Foi essencial. A gente sabe comquem chega no set para filmar", garantea atriz. "E eu, como centralizador, nãoconsegui ficar longe", completa o diretor.

Ao conseguir o incentivo do Polo Cine-matográfico de Paulínia, o diretor ChicoGarcia diz que precisou adaptar todo seuprojeto para trabalhar no município deaproximadamente 85 mil habitantes, jáque 70% das filmagens da grande me-trópole da trama foram feitas na cidade."A gente fez, praticamente, todas as ce-nas internas em Paulínia e finalizamoscom algumas externas em Campinas.Apenas as gerais foram feitas em SãoPaulo. A história se passa numa grandemetrópole, mas em momento algum há

Paulínia: a grande metrópole

Segundo elenco de primeira

Cores tem duas produtoras, aKinoosfera Filmes e a Dezenove Som eImagem. A primeira tem relação de socie-dade com o diretor e a segunda é a mes-ma que levou o Brasil a Cannes este anocom 'Trabalhar Cansa', de Juliana Rojase Marco Dutra. O filme foi ovacionadopelos franceses e já arrebatou três prêmi-os: os festivais de Paulínia, de Brasília ede Lima, no Peru. "A Dezenove é um sím-bolo que vem fazendo filmes mais inde-pendentes e que talvez não tenham umretorno de bilheteria muito grande, massão bem aceitos em festivais internacio-nais. Meu filme é para este núcleo, de ci-nema de arte", reforça Chico.

Apesar de independente, o orçamen-to de R$ 800 mil de Cores é consideradoalto para o cinema alternativo brasileiro,normalmente inferior a R$ 100 mil. O re-curso foi viabilizado por meio de leis deincentivos federais e do Polo Cinemato-gráfico de Paulínia. "É cada vez mais difí-cil fazer um filme autoral. É um privilégiofazer esse filme e uma maravilha por par-te de Paulínia, que apoia desde Tropa deElite até o autoral independente. É difícilfazer os filmes que não são comerciais.Eu até penso nisso, quero que seja distri-buído e chegue às salas de cinema, masnão tenho ideia de quantidade de salaou de espectador", completa o diretor.

uma identidade de cidade. Ainda assim,tivemos de repensar o filme a partir domomento que veio para cá. Mas, garan-timos sua identidade: o filme trabalhamuito com câmera fixa, com uma estéti-ca de posição de quadro, não é de movi-mento. É um filme de ator, o filme aconte-ce diante da câmera", adianta o diretor epõe seu ponto final na conversa.

O filme é controverso em todos os sen-tidos: apesar de chamar Cores e ser empreto e branco, é uma história que pulsa,mesmo falando de monotonia.

Em Paulínia, Pedro di Pietro vive o tatuador Luca, um jovem que ainda mora na casada avó, dona Marlene (Maria Célia), e por isso a acompanha nas tarefas domésticas

Gidel Silva

Divulgação

Guilherme Leme, que voltou ao Brasilpara encenar a peça O Estrangeiro,também faz parte da trama

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Page 13: Revista Cartaz

PERFIL

A aquarela dois tons

de Simone Iliescu

Simone Iliescu Donegá tem 31anos, é pisciana de 16 de março e nasceu em Atibaia.Vive em São Paulo desde os

12 anos e lá concluiu a formação artísti-ca no Centro de Pesquisa Teatral e noTeatro Escola Célia Helena. Nos palcos,fez parte do elenco de Pret'a'Porter 9, APedra do Reino, Medeia e Quem comequem. No cinema fez participações emBruna Surfistinha, O Homem Mal Dor-me Bem, Homens com cheiro de flor,Chuva e 1,99. Na televisão, atuou nasmini-séries Mad Maria, O Profeta eMaysa. Agora, protagonista de Cores,a atriz revela o que seria uma aquarelaperfeita de Luara e Simone Iliescu.

Entre a atrize a personagem

Divulgação

Cartaz. Que cor tem a vida para você?Simone. Alguns dias cinza, outros claros,brilhantes, cores... Em resumo, multicores.Luara. Em geral, cinza, preto, branco,com lampejos apenas de algumas co-res.

Cartaz. Quando a vida perde a cor?Simone. Quando me afasto de mim mes-ma, quando penso mais do que sinto,quando vivo mais no passado e no futuroque no presente.Luara. Quase sempre. Mais fácil seriaresponder quando a vida ganha cor...

Cartaz. Um arco-íris é sinônimo de?Simone. Amor.Luara. Esperança. No fim do túnel, há luz.

Cartaz. O que faz para dar outrotom a um dia cinza?Simone. Telefonar para um grande ami-go, ver um filme, ouvir música, tomar sol,andar, ver árvores, brincar com meu gato.Luara. Sair com meus amigos, ouvirDjavan, ir ao cinema, tomar uma cervejana esquina mais próxima.

13 ||

Page 14: Revista Cartaz

1214

O cinema brasileiro sofre, como quasetudo no Brasil, do chamado complexo

de vira-lata, expressão cunhada por NelsonRodrigues. Tudo o que vem de fora é melhor,tudo o que é brasileiro padece da síndromeda inferioridade. E se muito desse complexotem melhorado nas últimas, pelo menos,duas décadas ainda sofremos resquícios dele.Às vezes retomamos nosso papel no terceiromundo, noutras nos sentimos potência domilênio.

Se ficarmos atentos, vamos perceber que,em relação ao cinema nacional, ninguém maisreclama por não ouvir o que os atores falam,pois o som é perfeito. E são de ótima qualidadea fotografia e a direção de arte. A trilha sonora,o roteiro, o cuidado com ambientação, adireção e o trabalho dos atores tambémevoluíram. Uma das marcas do cinemabrasileiro nestes anos 2000 é que o tosco,associado a ele no passado, acabou. Podemosaté adiantar outra questão e questionarmosse a evolução técnica melhorou o conteúdodo cinema nacional.

No entanto, por mais que tenhamosevoluído (conteúdo, técnica, auto-estima etc)o cinema nacional ainda continuará por muitotempo restrito ao seu lugar numa locadora -essa instituição que aos poucos vai seextinguindo. Mas a ideia do cinema brasileirocomo gênero deve perdurar por muito tempo.

Um dos motivos é a comparação quefazemos com o cinema hegemônico dosEstados Unidos. Não há como comparar etodas as vezes que o fizermos vamos perder.Invertendo o papel, é como se os Estados

Cinema brasileiro, o gênero

João Nunes é crítico de cinema do jornal Correio Popular.

Unidos quisessem se parecer com o futebolbrasileiro. Eles terão de jogar ainda 100 anospara conseguir se aproximar.

O mesmo nós poderíamos dizer do cinemabrasileiro em relação ao norte-americano?Talvez não porque futebol é habilidade e cinematambém requer habilidade, mas associada àcriatividade e técnica. No entanto, o fato é quenunca faremos igual. E não devemos pensar emfazê-lo, mas sim buscar identidade própria.

Como ocorreu com a TV. A televisão brasileirapode ser boa ou ruim, mas tem um produto(a novela) genuinamente brasileiro e que ostelespectadores adoram. Na hora de escolherum canal, os brasileiros não pensam nasdezenas de canais a cabo, mas na TV Globo.

Talvez um dia consigamos estabelecertamanha relação com o cinema nacionalque esqueçamos que um dia nossos filmesestavam num canto da locadora selecionadocom o estranho nome de "cinema brasileiro".Mas, para isso, ele deverá evoluir para algopróprio, com cara e identidade que o associemcom algo com o qual nos identificamos.

Por que, afinal, a novela está tão presentedramaturgicamente na vida dos brasileiros?Por que estes se sentem identificados com ela -para o bem ou para o mal. Efeito que o cinemafeito no país ainda não conseguiu. Seperguntarmos se os espectadores se vêem nastelas do cinema, muito provavelmente eles dirãoque não. Mas os americanos se vêem. E os queassistem TV no Brasil também. A distância entreo público e o cinema do Brasil não se dará pormudança física - mudar o lugar das fitas nalocadora - mas pela forma de fazer cinema.

Page 15: Revista Cartaz

1315

Page 16: Revista Cartaz

OO cinema nacional está em as- censão e o humor brasileiro

acompanha o ritmo a passoslargos. É um talento natural.

Uma tendência sem caminho de volta.Uma receita deliciosa reencontrada nofundo das gavetas em meio às transfor-mações pelas quais passaram o jeito dever e fazer cinema no Brasil.

Do auge das chanchadas musicais epoliciais misturadas com ficção científi-ca nas décadas de 30 e 50 à nova gera-ção impulsionada pelo recém-embar-cado no Brasil humor em pé, o públicodiverte-se com o talento inquestionávelda nova geração.

Enquanto Oscarito, Grande Otelo, oJeca Mazzaroppi e o Pacífico RonaldGolias são referências das produções dopassado, estão em franco movimento ato-res como Lúcio Mauro Filho, Fábio Porchat,Bruno Mazzeo e Danton Mello com a pro-dução do longa que estreia em 2012, Vaique dá Certo. E não é que a nova geraçãodá certo mesmo?!

Assim como Renato Aragão, o eternoDidi, apostou nas trapalhadas de sua tur-ma a partir da década de 70 para o pú-blico infantil, o novo elenco inspirou-seno passado e retomou o espaço do hu-mor, não exclusivo, mas claramentefocado nos adultos e na vida do brasilei-ro. "Voltou-se a olhar para comédia comum valor de mais valia. O cinema brasi-leiro está deixando de ser um termo pe-jorativo e os maiores públicos são decomédias relacionadas à vida cotidianados brasileiros. É a transição entre o hu-mor das antigas e o humor atual", avaliaLúcio Mauro Filho.

Filho de Lúcio Mauro, um contempo-râneo de Grande Otelo, Oscarito eMazzaropi, o Tuco da Grande Famíliabebeu de fonte privilegiada para desen-volver suas personagens de sucesso ga-rantido. "E eu bebi de duas fontes, poiscontracenei com Grande Otelo em 1981,no programa 'Balança, mas não Cai', e,

mais uma vez tenho a oportunidade decontracenar com papai [em Vai que dáCerto]. É muito bom ver o velho gravando. Édemais. Eu posso ver outro lado dele, o ladoprofissional, o entusiasmo, a felicidade".Dar certo está no sangue? pergunta Car-taz e ele responde aos risos: "É, acho queherdei um pouco disso".

Como Lúcio Mauro Filho, o ator BrunoMazzeo, filho do humorista Chico Anysio,também passou pela experiência deconviver com artistas renomados do pas-sado e hoje tem a oportunidade de in-centivar e fazer parte da nova geração,que além de atuar, embrenha-se naaventura dos roteiros. É o caso de seucompanheiro de cena, Fábio Porchat, deapenas 28 anos. "A tendência é se des-tacarem cada vez mais os atoresroteiristas, que escrevem para si, mastambém para outros programas humo-rísticos, como faz o Marcius Melhem eLeandro Hassum, por exemplo".

Bruno Mazzeo, Lúcio Mauro Filho, Danton Melloe Fábio Porchat: a nova geração em Vai que dá certo

Rirsempre dá certo

16

Reportagem

Gidel Silva

e Valéria Oliveira

TELA

Page 17: Revista Cartaz

Após filmarem em Paulínia, Natália Lage, Lúcio Mauro Filho,Fábio Porchat e Danton Mello escracham Vai que dá certo,o longa que chega aos cinemas em 2012

Michele Carneiro

17 >>

Page 18: Revista Cartaz

Apesar de a migração do teatro paraas telonas ocorrer desde os tempos dachanchada, o humor atual do cinema bra-sileiro muda no sentido de não se pren-der à uma personagem ou da centraliza-ção de um núcleo. A mistura das situa-ções e até a liberdade da crítica sócio-cultural por meio do humor dão o tom aonovo formato da comédia nacional parao cinema.

"O principal do filme é o corpo do elen-co. O trabalho em conjunto modifica, alémde qualificar o trabalho de cada integran-te", avalia Maurício Farias, diretor globalcom 11 anos de experiência no comandode A Grande Família, do sucesso O Coro-nel e o Lobisomem no cinema e que atu-almente está à frente de Tapas e Beijos,também da Globo e de Vai que dá Certo,filme que traz a estreia de Danton Melloservindo-se do gênero. "Já fiz muitas co-médias no teatro, mas nunca no cinema.Estou muito feliz em poder me arriscar etestar algumas coisas ao lado de gran-des comediantes como Lúcio Mauro Fi-lho, Gregório Duvivier e o Mazzeo", diz.

Para Farias, a comédia evoluiu muitocom a nova geração de comediantes,mas nunca foi fácil produzi-la. "É o gêneromais popular no cinema hoje, mas aindaé mais fácil fazer chorar do que fazer rir,porém, o elenco amadurecido, apesar da

pouca idade de alguns, facilita o traba-lho. Outra vantagem do humor brasileiroé a identificação com o público, ou seja, éo interesse comum que vai para as telas.E é isso que faz a comédia ser o gêneromais assistido atualmente", considera.

Ao comparar o cinema brasileiro com onorte-americano, o maior produtor de co-médias no mundo, Farias nivela as produ-ções. "É de grande valia nos comparar àsproduções de Hollywood. Atualmente, nósproduzimos cerca de 80 filmes de todos osgêneros por ano, enquanto no exterior sãoproduzidos cerca de dois mil no mesmoperíodo e cerca de 80 fazem sucesso real-mente. Existe, claro, um consumo de bilhe-teria diferente, mas proporcionalmente, aprodução do Brasil não é muito diferente dasamericanas", dispara.

Aliás, a única diferença discrepanteque o diretor fez questão de ressaltar en-tre as produções norte-americanas e asbrasileiras é o orçamento. "Os custos mu-dam muito, porém, hoje, temos maior fa-cilidade devido ao grande investimentodas produtoras e das cidades que incen-tivam a cultura. Um claro e bom exem-plo são as produções realizadas emPaulínia. Estamos adorando isso tudo,essa valorização do nosso trabalho e avisão estratégica em prol do cinema na-cional", reforça Farias.

O novo formato da comédia brasileira

PitacoEnquanto falava de custos de pro-

dução, o diretor Maurício Farias confir-mou que Vai que dá Certo tem orça-mento estimado de R$ 1,8 milhão, masque, claro, continua na captação, atéem função do lançamento em 2012."Tudo isso, fora o meu cachê!", gritouFábio Porchat, fazendo elenco, impren-sa e a produção toda cair na garga-lhada. Prova de que aqui se faz commenos, mas tão bom e divertido quan-to em qualquer outro lugar no mundo.

Valéria Oliveira

Fábio Porchat, Lúcio Mauro Filho,Danton Mello e Gregório Duviviergravando em Paulíniasob a direção de Maurício Farias

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Page 19: Revista Cartaz

Porchat: o retratoda nova geração

Redator de programas humorísticos da Rede Globo e formado em 2005 pela CAL (Casa de Arte das Laran-jeiras), do Rio de Janeiro, Porchat iniciou a carreira em

2006 com o stand-up comedy no teatro, o humor em pé.Piadas bem sacadas e plateias lotadas o levaram à TV

para roteirizar programas globais como Esquenta, ZorraTotal, Os Caras de Pau, e entre os mais recentes, a tempo-rada do Casseta e Planeta Urgente que estreia em 2012.Para ele, fazer comédia é diversão. "Eu não trabalho, eume divirto e quando escrevo, já imagino as cenas, os ato-res e seus trejeitos", diz.

No longa Vai que dá certo, Porchat, além de roteiristaencara seu segundo papel no cinema, um jovem quecomanda quatro amigos a um furado assalto de car-ro-forte. "A comédia está na mídia de um modo geral.

Todos os veículos apresentam a comédia e se fizer riré uma torta na cara, porque não escrever? Eu me

divirto escrevendo, atuando e me realizo assistin-do minhas produções", confessa.

Enquanto faz Casseta, Porchat tem outro pro-jeto em andamento: um documentário no qualseu objetivo é descobrir qual é graça de fazerhumor. O material será composto por entre-vistas com 100 humoristas brasileiros.

Trocadilhos à parte para rire refletir com Fábio Por-chá!

Cartaz. Chá ou Café?Porchat. Coca-Zero.

Cartaz. Mas, chá na xícara ou no bule?Porchat. No bule, com certeza. Eu gosto de tudo

grande, tudo muito, sou muito ansioso.

Cartaz. Quem pode por chá em você?Porchat. Claro que é minha mulher, ela põeo que quiser em mim.

Cartaz. Você fala por MSN ou por chat?Porchat. Eu prefiro quando perguntamse sou Fábio 'pochete', de gordura mesmo.

Cartaz. A vida deu certo pra você?Porchat. Está dando. Acho que nunca podemosfalar que já deu certo mesmo.

Cartaz. Mas, já deu no cinema e no teatro?Porchat. No teatro sim, mas no cinema estou há poucotempo e estou com novos projetos. Ah, acho que estácaminhando para dar certo sim. Estou aqui para isso!

PERFIL

Michele Carneiro

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Page 20: Revista Cartaz

AAcriatividade é uma caracte-rística brasileira. Uma ferra-menta nas mãos, e as possi-bilidades de criação se multi-

plicam. É o famoso jeitinho brasileiro justi-ficando o significado mais nobre do jar-gão. Nobreza que acompanha a trajetó-ria do cinema nacional e, em dias deconstantes evoluções tecnológicas, fazprojetar obras cada vez mais impactantesna grande tela. Definitivamente, os efeitosespeciais desembarcaram no Brasil e vi-eram para ficar e turbinar as produçõesbrasileiras.

O diretor Claudio Torres é um exemploe entusiasta da nova realidade. Seu su-cesso de 2011, O Homem do Futuro, mes-mo não abusando dos recursos visuaispara criar as idas e vindas no tempo dofísico Zero, personagem de WagnerMoura, é uma dose bem medida que elepretende ministrar também em seu pró-ximo longa-metragem, As Bruxas. Da fic-ção científica à magia, o diretor tambémde Redentor (2004) e Mulher Invisível (2009),agradece à tecnologia.

"Até há pouco tempo, produzir os efei-tos era muito caro e extrapolava demaisos orçamentos, mas a tecnologia estámais barata e acessível. De uns dez anospara cá, foi ficando mais fácil adaptarpara o cinema as técnicas que a gente jáusava nos comerciais de televisão. Hoje,nossas ferramentas são exatamente asmesmas do cinema norte-americano".

Efeitos especiais turbinam o cinemabrasileiro e abrem caminho para mais gêneros

Gidel Silva

“Se tem público? Não sei. Só seique não é feito”, observa odiretor Claudio Torres sobrea produção de filmes comnovas temáticas no Brasil

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TELA

Reportagem

Michele Carneiro

Page 21: Revista Cartaz

Lucas Rolim

Ficção científica talvezseja um dos gêneros

mais difíceis de se traba-lhar, pois é comum direto-res, roteiristas e designersde produção facilmente seperderem na verossimi-lhança e realizarem pro-duções exacerbadas deefeitos especiais, maquia-gem e diálogos estranhos,que é o caso, tanto da ver-são antiga, quanto a mais recente de Tron.

Poucos são os profissionais que nesses casos se pre-ocupam em contar uma história que por mais que sepasse num mundo diferente do nosso - ou no mínimo,numa situação bastante distinta - possa ter seus valorestraduzidos para a nossa realidade e acredito que esseseja a diferença crucial do gênero. Basta ver quão pou-cos são os títulos que se destacam, mas como esse des-taque é intenso: Matrix, De Volta Para o Futuro e o maiordeles, Star Wars.

Infelizmente, ficção científica, na maior parte dos ca-sos, virou um exercício de vaidade e mau gosto de seusprofissionais, o que compromete e muito uma maior po-pularidade do gênero com o público.

No Brasil, o desafio dos baixos orçamentos e a carên-cia de profissionais em solo brasileiro - pois, o país pro-duz, sim, muita mão-de-obra de ponta (como CarlosSaldanha em a Era do Gelo), mas não consegue segurá-los aqui - tornam ainda mais difícil lidar com o gênero.Para somar às dificuldades, desde o estouro de Cidadede Deus em 2002, o cinema nacional se viciou em roteiroscompletamente voltados para a violência urbana e pou-co ousava em outros tipos de narrativa. De uns três anospara cá, esse cenário vem mudando e ainda devagar,estamos diversificando. Em 2010, por exemplo, o dramaadolescente As Melhores Coisas do Mundo se mostrouum dos melhores filmes do ano.

Em ficção científica, vivenciamos recentemente uma ex-celente produção, que é O Homem do Futuro, um filme queusa o argumento das viagens no tempo para debater odestino. O melhor da produção é ver que o diretor nãoseguiu pelo lugar-comum do exagero em efeitos especiaise a inverossimilhança, trabalhando com um roteiro perfei-tamente coeso (embora com um desfecho confuso) e que éfacilmente transportado para nossa realidade, além dedosar perfeitamente os efeitos especiais para que estesnão se destaquem mais que o restante do filme.

Lucas Rolim é morador de Paulínia,

formado em Linguagem e Crítica Cinematográficae estudante de Propaganda e Marketing

A máquina do tempo de Zero, personagem de WagnerMoura, nada mais é que uma banheira de hidromassagem euma cauda de avião encontrada num ferro-velho da região deCampinas. E, por mais improvável que pareça, o acelerador departículas era real. A produção fez locação no Laboratório Naci-onal que fica em Barão Geraldo, o único da América Latina comFonte de Luz Síncrotron.

Mas, claro, o acelerador passou todo o tempo desligado;na verdade, estava em manutenção e a corrente de luz é sóefeito. "Foi incrível a gente ter encontrado um acelerador departículas à meia hora de Paulínia. Foi algo com que não con-távamos quando viemos filmar aqui. Mas, já aviso à classecientífica: a gente tomou algumas liberdades, não me ape-drejem", brinca o diretor Claudio Torres.

Ainda assim, levantar o orçamento não é fácil e o jeitinhobrasileiro é que acaba dando conta do serviço. "O Homem doFuturo custou R$ 8 milhões, o que é caro para a indústria cine-matográfica brasileira, enquanto nos Estados Unidos, um filmede efeito, se for barato, custa uns R$ 80 milhões. Se for médio,sobe para R$ 150 milhões. É que aqui a gente conta um poucocom o jeito e o talento brasileiro", afirma o diretor.

Mesmo não sendo barato, o filho de Fernanda Montenegroprefere levar aos cinemas as histórias que gosta de ver, como asmisturas de comédia romântica, aventura e ficção científica queproduz. "Meu primeiro filme, Redentor, tinha levitação. A MulherInvisível é mais para o fantástico; é um truque mais fácil de fazer.Mas, estou tentando o caminho de fazer comédias românticascom tempero de alguns desses gêneros. São filmes que gostode assistir. No próximo, usarei terror. Se tem público? Não sei. Oque sei é que não é feito", diz.

Mesmo contando com a tecnologia e a inovação constantedos equipamentos, Claudio Torres afirma: o melhor efeito espe-cial de um filme é o elenco. "Os efeitos, às vezes, são simples defazer. O Wagner Moura se materializando no passado, por exem-plo, tudo o que ele teve de fazer foi manter a pose e a expressãode dor. Depois a gente constrói o efeito e parece que ele estásendo atingindo por um raio. Por mais que tenhamos efeitosincríveis, o efeito especial mais incrível do filme O Homem doFuturo se chama Wagner Moura", completa.

Pequenos grandes detalhes

Máquina do tempoé uma banheira de

hidromassageme uma cauda

velha de avião

Divulgação

CRÍTICA

A dificuldade da ficção científica

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Page 22: Revista Cartaz

Dois Coelhos,a cajadada de janeiro

Farjalla e Poyartlançam a maiorprodução brasileiracom efeitos especiais

Sérgio Farjalla Junior tem 39 anos, mastrabalha com efeitos especiais há 25. Des-de garoto, gosta de produzir explosões,cenas de dublagens e outros truques quefazem realidade e ficção virarem umapeça só. Hoje, o menino carioca é um dosprofissionais mais requisitados na área deprodução de efeitos mecânicos no Brasil.Ele, ao lado de Afonso Poyart, produziu olonga-metragem Dois Coelhos, filme quea partir de janeiro promete ser referênciasobre o uso de efeitos especiais no cinemabrasileiro.

Segundo Farjalla, que entre 150 traba-lhos para a televisão e o cinema, dirigiu osefeitos que fez nevar no Rio de Janeiro parao filme Olga (2004) e a recente campanhaque faz o Corcovado levantar-se na formade um gigante, Dois Coelhos tem "almade filme gringo". "A gente bate e explodecarros de verdade, temos mais de dois miltiros de festim e muita ação. Tropa de Elite,que nós também fizemos, não tem meta-de dos efeitos", adianta.

Para produzir tanta ação, Farjalla ex-plica que a profissão é regulamentadapelo Exército Brasileiro. "Eles são nossossuperiores. Tudo o que fazemos tem de serliberado e acompanhado pelo Exército",diz. Não é para menos, em seus traba-lhos, a equipe lida com gasolina, gásmetano e indiciadores de fósforo, que alémde atingirem carros, construções, tambémsão aplicados em cenas com atores edublês. "A segurança é essencial e todo omaterial usado é licenciado exclusivamen-te para aquela prática", reforça.

Diferente de Farjalla, Afonso Poyart tra-balha com a pós-produção dos filmes, ouseja, os efeitos digitais. É ele quem aplicaos efeitos mecânicos às cenas. A compo-sição é feita digitalmente em programasespecíficos de computação gráfica, algojá acessível, mas pouco usado. "No Brasil,essa indústria ainda está se montando,mas, hoje, a gente tem oportunidade de

Atear fogo, provocarexplosões, troca de tiros,enfim, toda e qualqueratividade com fogodepende de autorizaçãoe acompanhamento doExército; o elenco tem omínimo de contato coma gravação, comomostram estassequencias

Fotos: Divulgação

EFEITOS MECÂNICOS

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A prática na animação para publicidade fez Afonso Poyartapostar na produção de efeitos especiais para o cinema

Page 23: Revista Cartaz

usar equipamentos de ponta e os recursosajudam muito no realismo da cena. O im-portante é o trabalho ser bem executado",aponta Afonso Poyart.

Persistente na profissão, o designertrabalha há dez anos com animação, atéentão, focada em publicidade, experiên-cia que o levou ao cinema. Em Dois Coe-lhos, além de dirigir os efeitos digitais,ele é o diretor geral e o roteirista. "Fiqueicorajoso com a animação e queria quemeu primeiro filme fosse um projeto au-toral e para que pudesse realizar, até ti-rei dinheiro do bolso. Juntei os caras daminha produtora (Black Maria) e falei:vamos fazer na raça", confessa.

Com data prevista para chegar aoscinemas em 20 de janeiro pela ImagemFilmes, Dois Coelhos foi um dos projetoscontemplados pelo edital de incentivo dePaulínia. "Já temos mais incentivo e mão-de-obra; isso ajuda, porque o Brasil temaudiência para o gênero, mas, até hoje,nunca se produziu um filme com umaaplicação de efeitos em escala tão in-tensa", observa. O elenco de Dois Coe-lhos conta com Alessandra Negrini, CacoCiocler, Thaíde, entre outros renomados.

O salto do acabamento digital de Poyart para o cinema, bem como a convoca-ção de Farjalla para os principais trabalhos de TV e filmes internacionais que re-centemente estiveram no Brasil, como Velozes e Furiosos, Os Mercenários e Ama-nhecer da Saga Crepúsculo, são indicadores de que o país está propenso a cha-mar e dar mais atenção às produções de efeitos especiais.

"Depois da vinda do Silvester Stallone em 2009 (Os Mercenários), a constânciamelhorou bastante. Não só os profissionais melhoraram sua qualidade com as ex-periências de sets, como o Brasil tem sido mais procurado como locação. O mercadovem confiando mais na gente", diz Farjalla, embora não saiba dizer se a movimen-tação é suficiente para incentivar o surgimento de novos roteiros nacionais.

"A gente fez um trabalho incrível no filme Nosso Lar, com ambientes de umbral,fumaça e vento colorido, mas é imprevisível dizer se isso ajudará no surgimento demais roteiros nacionais do gênero. O brasileiro não investe porque tem medo derepetir história. A gente precisa urgente mudar o pensamento sobre isso. Os Esta-dos Unidos, por exemplo, produzem centenas de filmes de ação, comédia, suspense,todo ano. Não é porque fizemos Tropa de Elite que vamos deixar de produzir outrosfilmes de ação. A tendência é melhorar, mas é preciso parar de comparar", aposta.

Segundo Farjalla, efeitos especiais custam, em média, um terço do orçamentode um filme. Se a qualidade for muito alta, chega a 50%. "Mas, os efeitos sempreficam por último, quando o orçamento já está detonado. Por isso, o que a gente fazé ralar para conseguir o melhor trabalho possível com o que tem". Opinião que opróprio diretor Claudio Torres compartilha. "Apesar de sermos um país com apeloforte para essas histórias, a gente não explora", diz.

Uma nova demanda

O diretor Sérgio Farjalla preparando o incêndio de Corações Sujos

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SEQUÊNCIA

Na vila de 50 casas construídas, o incêndioe a água da chuva, ambos controlados

Fim de cena: os bombeiros do Aeroportode Viracopos começam a atuar

Após as preparações para garantiro fogo, os atores ensaiam a cena

A gravação da cena durou o tempode o fogo consumir toda a casa

Fotos: Paulo Massoi

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Page 24: Revista Cartaz

Alfredo Suppia

Agente tem tido um investi-mento em infra-estruturaque melhorou muito a pro- dução nacional com efeitos

especiais e mais voltada para o grandepúblico. O fato de ter um Polo de Cinemaem Paulínia ajuda muito, porque temcentralizado uma série de competênci-as necessárias para produzir esse tipode filme, que antigamente, não tinha asinstalações adequadas.

Mas, o que são efeitos especiais? Efei-tos especiais são, na verdade, muitas coi-sas. Muitos recursos de linguagem cine-matográfica de décadas atrás, por exem-plo, eram vistos como efeitos especiais ehoje passam por algo corriqueiro. Especi-ficamente, o que a gente chama de efeitoespecial é a Geração de Imagens Digi-tais, que entre os anos 70 e 80, eram cha-mados de In-Camera Effects, quando tudoera feito de maneira ótica, com truquesdentro da própria câmera.

Só com o advento da informática é quea gente começa a ter os efeitos digitais,que é uma modalidade de efeitos espe-ciais dentro de uma série de outros. Parao grande público, isso é apresentadocomo aquela onda gigante invadindo acidade ou os carros explodindo, o aviãose chocando com o prédio, dinossauros,

maquiagens. Tudo isso é o tipo de efeitoespecial que se tornou atração e é usadoem muitos filmes comerciais de sucesso.

No Brasil, esses efeitos estão começan-do à aparecer um pouco mais frequente-mente, mas ainda sofremos um déficit emtermos de cinema industrial, porque nãotemos empresas que produzem em sé-rie, para uma grande quantidade de fil-mes. Até porque, os efeitos especiais nun-ca foram muito celebrados pela crítica ouacademia brasileira.

E, embora eu não seja nenhum entu-siasta, é necessário ter capacidade deproduzir filmes com efeitos especiais,mesmo nos referindo aos seus termosmais populares, porque um filme deépoca, de história ou de ação, pode termuito mais demanda de recurso visualdo que um filme de colisão de meteoro,por exemplo.

A situação está mudando, mas o défi-cit da indústria nacional vem a reboquede um déficit mais amplo de profissio-nais para o cinema como um todo, o queé natural considerando nosso contexto his-tórico. Mas, graças a esse investimentoem infra-estrutura, à uma maior competi-tividade e acessibilidade no mercado,estudantes e diretores independentes têmarriscado mais em filmes de efeitos es-peciais. Isso tudo favorece para que agente não os encare como um bicho de

sete cabeças ou irrelevantes. Se há um projeto brasileiro bom, quedemande efeitos especiais, a gente temde estar apto para fazê-lo. Até porque,hoje, é possível fazer efeitos interessan-tes e atraentes com um custo muito bai-xo, num pequeno birô com alguns bonscomputadores, como é o caso do curtauruguaio Ataque de Pânico, de FedeAlvarez, produzido em 2009 sobre a in-vasão de robôs gigantes em Montevidéu.(O curta custou US$ 500).

No Brasil, a gente teve alguns filmesdesse gênero, como Catarse, feito por umaturma de jovens usando computadorescomuns e programas como o After Effects,disponível ao grande público. Com isso,produzir um sabre de luz, como o de StarWars, não é mais novidade, nem técnicarestrita dos grandes estúdios de cinema,embora eles dominem o estado de artedos efeitos.

O sucesso de bilheteria é o que incen-tiva os diretores independentes a seguirestes estilos, como Fede Alvarez, que fezAtaque de Pânico com cara de Holly-wood, usando uma câmera DSLR. Antes,uma câmera, um look de cinema, era algodistante e muito caro. O diretor passavatudo no Super 8, depois para o vídeo eeventualmente chegava nos 16mm, quejá é algo bem interessante. Mas, hoje, coma invasão dessas câmeras DSLR, é possí-

Ataquede PânicoinvadeMontevidéucom robôsgigantes

CONCEITO

Efeitos especiais em voga no Brasil

Fotos: Divulgação

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Page 25: Revista Cartaz

vel com uma 5D e um frame de 35mmdar uma aparência de que foi rodado comuma câmera de cinema.

Um exemplo é Estéreo Ensaios - Cincoou seis ensaios estereoscópicos à procurade uma narrativa, que produzi em parceriacom alguns pesquisadores do eixo Rio-SãoPaulo pela Rede Nacional de Ensino e Pes-quisa. Com um baixo orçamento, nós pro-duzimos um filme de quase 15 minutos em5k3D. O que isso significa? Até bem poucotempo, o padrão de resolução digital erade 2k, que é algo um pouco superior ao FullHD. Hoje, está chegando ao 4k. A ideia daindústria cinematográfica é chegar ao 8k, e

nós, produzimos um curta nacional em 5k eem 3D. Tudo isso é possível porque câmerascomo a Red One e a Red Epic, como a queusamos, são equipamentos acessíveis a fa-culdades ou emissoras e estúdios nacionais.

Esse projeto, por exemplo, abrangeainda a distribuição do filme por fibra óti-ca, ou seja, testa a transmissão em tem-po real, em streaming, como se fosse oYouTube, só que direto para o cinema. Eunão tenho os valores exatos, mas o custodesse filme foi ridículo comparado aospadrões de mercado. Tudo isso para esti-mular o know hall e a tecnologia para ci-nema de alta qualidade em 3D no país.

Ou seja, fazer um filme nestas condi-ções é possível, mas a falta de know hallé o que dificulta uma aceleração mais rá-pida para a nossa indústria, pois, ter aces-so aos equipamentos e softwares, nãosignifica que o público vai para o cinemaver algo como o sabre de luz do Star Wars,significa que ele vai para procurar algomuito mais espetacular.

Alfredo Suppia é morador de Sumaré,professor do Instituto de Artes e Designe da Pós-Graduação em Comunicaçãoda Universidade Federal de Juiz de Fora

Michele Carneiro

Curta-metragem uruguaio de 2009,com produção e acabamento digital dos efeitosespeciais para tornar realidade a invasão de robôsgigantes, custou US$ 500 ao diretor Fede Alvarez

EFEITOS DIGITAIS

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Page 26: Revista Cartaz

EEu não sou ministro, eu não soumagnata. Eu sou do povo, eu souum Zé Ninguém. Aqui embaixo as leis são diferentes". Quando Zé

Ninguém virou tema das manifestaçõespró impeachment do presidente FernandoCollor, em 1992, a banda Biquini Cavadãocompletava sete anos. Já tinha conquista-do prêmios de revelação em 1985 com suaprimeira música, Tédio, e cravado o nomena lista das melhores bandas de rock doano seguinte e dos futuros.

Desde então, estar presente na trilhasonora das reivindicações sociais viroutendência e transformou o vocalista Bru-no Gouveia, o tecladista Miguel Flores, obaixista Sheik e o baterista Álvaro Biritaem senhores do progresso. "Sinto falta

TRILHA

Fora de megafestivais como SWU e Rock in Rio,a banda Biquini Cavadão rasga a alma da música

desse tipo de manifestação, diante detanta gente roubando, e, na nossa cara,mas ficamos orgulhosos de nossa músi-ca servir de trilha contra as injustiças",confessa Bruno.

O mesmo discurso crítico do cotidia-no, o vocalista mantém para o mundoda música, não deixando passar embranco a tendência da realização degrandes festivais no Brasil. "Eventos quepossibilitem a visibilidade de bandascom propostas novas, antigas e clássi-cas são sempre bem vindos. Servempara revelar artistas que eram conheci-dos de nome, mas nunca tinham ouvidofalar no show. Servem para derrubar amáscara de outros que todos gostavam,mas acabam se decepcionando com a

apresentação. Servem para você passara amar aquela banda que você nuncaimaginou gostar ou sequer conhecia atéaquele momento", diz.

O fato de estar fora dos últimos doisgrandes eventos musicais de 2011, Rockin Rio e SWU, talvez tenha servido de le-nha para queimar o conceito crítico dovocalista, mas representa bem a identi-dade do grupo. "Quando a ficha cai dian-te de milhares de pessoas, isso ajuda ouprejudica muito o artista, mas quem estána chuva…", e faz questão de finalizarseu pensamento com a piscada de umolho só, ;-), como quem diz: nós estamosprontos para nos molhar, o que traduzi-do em composição vai bem como "ventoventania, me leve sem destino".

RockNu

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Reportagem

Tamiris Cella

Page 27: Revista Cartaz

Os senhores doprogresso têm orgulho

de estar nas trilhasdas reivindicaçõessociais brasileiras

Sempre atualE viver sem destino, representando o

povo brasileiro há 25 anos, dá o norte e aidentidade da banda. "Janaina acordatodo dia às quatro e meia”, por exemplo,retrata mais do que nunca a vida real con-temporânea, da mulher em busca de seuespaço ao sol, e foi inspirada numa con-versa que Bruno teve com Gessy dos San-tos Bispo, que há 20 anos trabalha parasua família. "Eu escrevi a letra sobre umamulher que batalha e não abdica de seussonhos. Escolhi o nome por ser bonito ebrasileiríssimo. Janaína é nossa busca derepresentar o ideal e a garra das mulhe-res do Brasil", salienta o vocalista.

Influenciada até no nome por HebertViana, vocalista do Paralamas do Suces-so, outra banda em busca do retrato realde Brasil, Biquini Cavadão está presentemesmo quando passa anos sem gravar.Múmias é uma das letras que serviu eserve até hoje de reflexão. Sucesso na vozde Renato Russo, falecido em 1996, seusversos "esperamos pela vida, vivendo sóguerra" viraram hino na época dos ata-ques de 11 de setembro, em 2001. "Ela jáestava tocando quando houve o ataque.Já era bem tocada e natural que o temade sua letra servisse para refletir o queestava acontecendo no mundo", observaBruno Gouveia.

Divulgação

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Prazer:

o remédio do tédioNo fim das contas, os senhores do pro-

gresso têm remédio próprio para se livra-rem do tédio: fazer música por prazer. Éassim que os integrantes da bandaBiquini Cavadão mantêm seu rock vivo econquistam cada nova geração. O desti-no já estava traçado, mas não imagina-vam sua repercussão social quandoHerbert Viana deu carona aos garotos nasaída do colégio. Na época, o vocalistaperguntou se tinham gostado do nome Hi-popótamos de Kart. Eles não curtiram.Então, Hebert sentenciou: "bota BiquiniCavadão e encerra o assunto". E o nome ehistória estão aí, testemunhas do rock na-cional ácido na medida certa.

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Page 28: Revista Cartaz

Cartaz. Dinheiro traz felicidade?Bruno. Muitas vezes traz, mas nunca compra felicidade.

Cartaz. A vida começa aos quarenta?Bruno. E às vezes acaba e depois recomeça...

Cartaz. Em que situação desejaram que ventoventania os levasse sem destino?Bruno. Sempre

Cartaz. Quais são os dias em que horas dizem nada?Bruno. O dia 17 (data em que a ex-mulhere o filho faleceram, este ano, em setembro)

Cartaz. Quando este mundo é um grande choque?Bruno. Quando vemos que muitos vivemsem energia elétrica, saúde e condições básicas ainda.

Cartaz. Quando errar não é humano?Bruno. Quando depende de quem erra...

Cartaz. O que tem em algum lugar no tempo pra você?Bruno. Outra dimensão

Cartaz. Em quais situações vocêsjá se camuflaram e disfarçaram?Bruno. Muitas, difícil responder.

Cartaz. O que os fãs podem esperarpara projetos futuros da banda?Bruno. Vamos continuar compondo, gravandoe fazendo shows.

Bruno Gouveia:

Senhor do progresso

Frasesincertas...

Divulgação

PERFIL

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Page 29: Revista Cartaz

Pensando na complexidade do serhumano, é impossível não falarmos

em uma educação escolar global que envolvacorpo e sentimento. Cada vez mais o discursoeducacional tem sido constante, quanto ànecessidade de se formar indivíduosequilibrados, mas, na maioria das vezes,os currículos escolares dão pouca importânciaàs emoções, esquecendo-se que a formaçãointelectual não pode estar desvinculadaaos sentimentos.

O professor não aprende no cursode pedagogia, mas descobre na práticado cotidiano, em sala de aula, que os alunosprecisam de estímulo, de incentivo para umaaprendizagem sadia e apropriada às suasnecessidades. Portanto, nada melhor do quefalar na inserção da música na práticapedagógica em sala de aula, sabendoque as atividades musicais sempre vêmacompanhadas com a satisfação e o prazer.

É uma combinação perfeita para desenvolveras mais variadas habilidades essenciais àaprendizagem da criança, permitindo que saiadas aulas "tradicionais", passando a ser umsujeito ativo em aulas diferentes e significativas.

Pesquisas comprovam que a músicaestimula os circuitos cerebrais, aprimorandoo raciocínio lógico matemático, desenvolvendoa leitura e a interpretação. Também favorece asrelações afetivas, possibilitando o fortalecimentoda auto-estima, atingindo positivamenteo universo da aprendizagem. Para a autorado livro "Estudos de Psicopedagogia Musical",escrito por Hemsy, Violeta Gainza, a músicaé um elemento de fundamental importância,pois movimenta, mobiliza e por isso contribuipara a transformação e o desenvolvimento.

Música e educação no compasso da aprendizagem

* Selma Epifania da Silva Santos é musicista, formada pela Unicamp.

Considerando a música como uma linguagemreveladora de experiências históricas, o professorcomo sujeito mediador do processo educativo,poderá adquirir contribuições riquíssimas,explorando, conhecendo e valorizando tambémas etnias existentes dentro da escola, partindodo que os alunos já conhecem, pois sãoagentes produtores e reprodutores de umacultura diversa.

Agora com a lei nº 11.769/2008, que incluiuna Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoBrasileira, a obrigatoriedade do ensino demúsica nas escolas só veio reafirmar suaimportância como mais uma ferramentapedagógica de alfabetização e socialização.

Necessariamente, música não tem que seruma disciplina e seu uso em sala de aula deveser motivado a partir da construção do ProjetoPolítico Pedagógico que contribuirá para ummelhor planejamento de ações que envolvamgestores, professores e demais profissionais.

Para tanto, é necessário que na sala de aula,a música deixe de ser uma atividade mecânicade mera reprodução de cantos e jogos. Eladeverá trazer uma perspectiva bem mais amplade construção de conhecimentos, através deum ensino interdisciplinar e transversal, em queo professor poderá utilizar-se de cantigas deroda, brinquedos cantados, parlendas, trava-línguas, e tantos outros textos que abordemconteúdos das diversas áreas.

Agindo assim, diferenças e dificuldadesserão respeitadas, assegurando igualdadeno acesso à linguagem musical, oportunizandouma educação comprometida com a formaçãointegral, permitindo que os alunos vivenciemuma experiência única, de construçãosignificativa do conhecimento.

29

Page 30: Revista Cartaz

30

Show da viradaDaniel estará no show da virada em São Vicente, litoral sul

de São Paulo, apresentando as músicas de seu novo álbum,

Pra ser Feliz. O cantor não esconde a expectativa da comemo-

ração e a chegada de 2012, ano em que completará 30 anos

de carreira.

InternacionalPete Doherty, ex-integrante

das bandas Libertines e Baby-

shambles, vai se apresentar em

São Paulo em 16 de dezembro.

O show, que acontece no Cine

Jóia, deve contar com canções

das antigas bandas de Doherty

e de sua carreira solo. Ele cos-

tuma fazer ainda homenagens

à cantora Amy Winehouse.

EletrônicaO DJ David Guetta estará

turnê pelo Brasil entre dezem-

bro e janeiro de 2012. Guetta

começará com um show no

Guarujá, litoral de São Paulo,

no dia 29 de dezembro. No dia

30, ele se apresenta no Rio de

Janeiro; 7 de janeiro, na capital

paulista e 12 de janeiro em Re-

cife, Pernambuco. Fim do U2Bono Vox, líder do U2, fez

uma insinuação de que a ban-

da, uma das mais populares do

mundo, pode encerrar sua car-

reira no ano que vem. A bomba

para os fãs do grupo irlandês

veio durante uma entrevista do

cantor à revista Rolling Stone.

“Não tenho muita certeza se a

banda continuará no futuro”,

afirmou o astro do rock.

Turnê mundialBruce Springsteen fará em

2012 uma turnê mundial de lan-

çamento de seu próximo álbum,

ainda sem título. A turnê deverá

iniciar na Europa em meados de

maio e vai até final de julho,

quando o cantor deverá seguir

para o resto do mundo.

NovidadeAmy Winehouse terá seu terceiro CD, o primeiro póstumo,

lançado em dezembro pela Universal Music. Lioness: Hidden

Treasures. O trabalho traz 12 faixas, incluindo Body & Soul, gra-

vada em março deste ano em dueto com Tony Bennett. O re-

pertório mistura releituras de hits alheios, composições inédi-

tas e versões alternativas de canções lançadas em seus traba-

lhos anteriores.

Page 31: Revista Cartaz

31

EstreiaDepois de encarar a organização do

Grand Prix Brasil de Dança em Paulínia,

a bailarina e coreógrafa Fernanda

Chamma, também jurada do quadro A

Dança dos Famosos do Faustão, vai es-

trear em novela. Ela é convidada de

Miguel Falabella para criar desfiles,

shows e fazer trabalho de corpo com al-

guns atores de Aquele Beijo.

ReveillonRita Lee está duplamente

feliz. A cantora vai comemorar

seu aniversário de 64 anos su-

bindo ao palco para o show do

Reveillon na capital paraibana

de João Pessoa, dia 31 de de-

zembro. A programação tam-

bém inclui o violinista recifense

Antônio Nóbrega.

CD soloO vocalista da banda Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, pre-

tende lançar até março de 2012, um CD solo, todo em inglês. O

cantor mostrará seu lado intérprete apenas com versões de

músicas já consagradas. Mas, a banda continua prioridade de

sua carreira e também vem com trabalho novo no ano que

vem. “Vou ter que revezar os shows solo e com a banda”, disse.

SubstituiçãoCom previsão de voltar à

grade da Rede Globo em 2012,

o programa Casseta & Planeta

não terá mais a presença da

atriz Maria Paula. Como substi-

tuta à vaga, Miá Mello, a Tiná

do Legendários (Record), terá a

missão de receber os galantei-

os dos humoristas e dos fãs dos

cassetas.

GabrielaJuliana Paes ficou emocio-

nada ao ser convidada para

protagonizar a macrossérie

Gabriela. O remake será escri-

to por Walcyr Carrasco e deve

estrear em abril, repetindo o

horário de O Astro.

Na TVQue Paula Fernandes é

umas das maiores cantoras de

sucesso da atualidade, isso é

fato, mas, e como intérprete de

novela? A cantora foi convida-

da para atuar em Marias do Lar

(Globo) e se sair-se bem nos

testes, dará vida a uma vilã na

novela das sete que é escrita

por Izabel de Oliveira e Filipe

Miguez. O resultado do desem-

penho ainda não foi divulgado.

Bem GilGilberto Gil anda feliz da vida.

Recentemente, foi convidado

para cantar junto com a banda

Tono, no Rio de Janeiro. O orgu-

lho do cantor é maior ao obser-

var Bem, seu filho que por vários

anos o acompanhou mundo à

fora e que há três anos se uniu

com três amigos para formar um

grupo. O garoto teve como pro-

fessor o próprio pai, que o ensi-

nou a tocar violão ainda criança.

Page 32: Revista Cartaz

OO Brasil está imerso na onda dos grandes festivais de música do mundo. Rock in Rio e SWU fixaram-se na agenda nacional e

garantem vida longa aos palcos temá-ticos, que promovem finais de semanasininterruptos de sonzeira nacional e inter-nacional, do pop ao mais visceral heavymetal. O gigantismo, da agenda à estru-tura, é um amplificador para quase 800mil espectadores, que este ano acompa-nharam seus ídolos e mantêm ativa a re-verberação desses espetáculos até assuas próximas edições.

Com 26 anos e dez megafestivais, oRock in Rio já rodou por Lisboa e Madri evoltou ao Rio de Janeiro em 2011, com maiscinco festivais já programados entre astrês cidades até 2015. O SWU ainda estáem sua segunda edição, mas prometepelo menos outras quatro consecutivas. Daestreia em Itu no ano passado, o festivalacompanhado de discussões ambientais,chegou a Paulínia em novembro com con-trato até 2015 e para conquistar seu espa-ço entre os maiores do mundo e disputarde igual com o outro gigante nacional, in-veste em ser tão grande quanto.

A princípio, o SWU ainda está longede somar os 600 mil espectadores quepassaram pelo Rock in Rio durante doisfinais de semana em setembro. Mas, emapenas três dias, garantiu um terço des-sa plateia, sem o apelo de estar sediadonuma cidade litorânea e de roteiro mun-dial. O segredo para ser tão atraente,mesmo tendo sido realizado há menosde dois meses de seu precursor, é a varie-dade. Ao menos é o que garante seu di-retor artístico, Theo Van der Loo.

Quando comparou a programação de2010 com a deste ano, Van der Loo admitiucruzar os dedos para a receita dar certo.Juntar o pop do The Black Eyed Peas aorap de Marcelo D2, Emicida e Snoop Dogg,o heavy metal de Myavi ao rock rutural doDown aos clássicos de Peter Gabriel e ain-da os pesos diferentes do rock de Raimun-dos, Zé Ramalho, Faith no More, Megadethe Alice in Chains, além dos espaços debandas alternativas e tendas eletrônicas,parece mesmo loucura. “Mas, a caracte-rística da humanidade é a diversidade, a

TRILHA

diferença de gosto, de preferências. Noano passado, trazer o Rage Against theMachine foi incrível. Mas, em termos dequalidade, mantivemos a mesma ca-racterística. O fato é que criar uma agen-da como esta é um desafio, um que-bra-cabeças como aqueles de 1500peças. Você olha para a caixa e pensa:não vai dar”, diz.

E, para encaixar as peças de um gran-de festival, paciência é a palavra de or-dem. Em 2011, foram necessários dezmeses para finalizar a agenda do SWU.“A gente vai construindo passo a passo.Procuramos muitos artistas, mas não éuma tarefa tão simples. É preciso conci-liar uma série de fatores, como disponibi-lidade do artista. Ás vezes o cara não temagenda por causa de show ou por que éaniversário do primo, casamento da irmã,além da equação que não é baixa. Al-guns artistas exigem ficar em São Paulo,enquanto outros não se importaram deficar em Campinas, porque até preferemchegar mais cedo”, revela.

Mesmo não citando valores, nemquais artistas ou bandas ficaram em cadacidade e as que deixaram de estar noSWU este ano, Van der Loo comentou quealguém muito requisitado no mundo mu-sical deixou de vir a Paulínia porque tinhaum casamento de parente entre os diasdo show. “Tentamos deixar pré-agendadopara o ano que vem. Só não dá para citarnomes porque de repente o artista ficasabendo e pode se chatear”, explica.

Para o diretor artístico, roqueiro incon-testável, o melhor do SWU 2011 foi à últi-ma trinca do festival, Megadeth, Faith NoMore e Alice in Chains, mas não despre-za super-produções como a do The BlackEyed Peas, mais pelo conceito do quepela música. “Da última vez que eles vie-ram para o Brasil, souberam do festivale comentaram com gente que conhece-mos em comum que tinham gostado doconceito. O Will-i-am é um cara que ves-te a camisa da sustentabilidade 100% eisso tem um valor muito grande para agente”, define.

SWU e Rock in Rio,juntos, alcançaramcerca de 800 milespectadores em 2011

Caroline Bittencourt

32

Reportagem

Michele Carneiro

TRILHA

Page 33: Revista Cartaz

SWU acredita na diversidade deshows para estar entre os maioresfestivais de música do mundo

Bate-estacagarantido

Instalado numa área de um milhão esetecentos mil metros quadrados do Par-que Brasil 500 em Paulínia, o SWU contoucom uma tenda específica de música ele-trônica três vezes maior que a montada em2010, abrindo uma pista para dez mil pes-soas. “O cenário eletrônico tem grande pre-ferência do público, por isso está presenteno festival inteiro. Nossa seleção leva emconsideração os nomes mais requisitadosdo momento, por isso estamos na lista domelhor line up do mundo deste ano”, orgu-lha-se o diretor artístico.

O espíritode cada festival

Enquanto o cenário eletrônico se garan-te, a agenda de shows do SWU sofre durascríticas, principalmente na comparaçãocom a programação do Rock in Rio, quecontou com Evanescence, System of Down,Coldplay, Mana, Maroon 5, Lenny Kravitz,Joss Stone, Metallica, Slipknot, Motörhead,Red Hot Chili Peppers, Elton John, SteveWonder, Shakira, Guns N’ Roses, entre ou-tros renomados nacionais e internacionais.Ainda assim, o diretor artístico do festivalda sustentabilidade não admite influênciasobre sua agenda e evita comparações.

“É impossível agradar todos os gostos.Assim como alguém diz que o line up éfraco, tem muita gente falando que é me-lhor. O segredo é nunca focar em segmen-to populacional ou de estilo ou de gosto, osegredo é buscar artista de qualidade. Sevocê tem o artista de qualidade, tem pes-soas que admiram aquele trabalho. Umdiz que preferiu 2010, outro 2011 e outro seráem 2012, depois o mesmo de 2010 estaráno de 2013. É natural e subjetivo”, conclui.

Construir uma identidade própria, se-gundo Van der Loo, é o caminho. “O segre-do do festival é você ter o espírito dele. Oque a gente faz é buscar a construção doespírito do nosso festival. A experiência doSWU é diferente da de qualquer outro. Agente foca muito em fazer o nosso e não secomparar. Nossa equipe viaja o mundointeiro, não vê só o daqui. A nossa área decamping, por exemplo, dá de dez a zerona de festivais que acontecem há mais de20 anos na Europa”, aponta e aí sim, con-traditoriamente, faz questão de comparar.

Theo Van der Loo,diretor artístico do SWU,

diz que montar umaagenda como a do

festival é como olharpara uma caixa de

quebra-cabeça com1500 peças

Tamanhoé documento

Gidel Silva

>>33 >>

Page 34: Revista Cartaz

VV ocê sabia que simples atitudes

como economizar água, separaro lixo ou apagar a luz, nos dão opoder de melhorar o planeta?

Não? Pois é, com base nestas ideias sim-ples, que a maioria de nós não pratica, opublicitário e presidente do Grupo Totalcom,Eduardo Fischer, idealizou o movimentoSWU, do inglês Starts With You - ComeçaCom Você, com o objetivo de propagarideias de sustentabilidade, tendo comoalvo principal o jovem.

Segundo Eduardo Fisher, pequenasatitudes mudam o universo. "A gente quermudar você; a sua consciência. A partirdaí é que se torna possível mudar o todo",diz. "Essa é uma plataforma de comuni-cação que visa gerar consciência sobresustentabilidade. Está sendo construídanão por mim, mas por grandes nomesque trouxemos aqui. São pessoas que to-maram decisões importantes em prol deum mundo melhor", completa.

A segunda edição do SWU ocorreu nosdias 12, 13 e 14 de novembro, no ParqueBrasil 500, em Paulínia, com um públicode cerca de 200 mil pessoas. Ao que tudoindica, o lugar está garantido por mais

quatro anos. No Fórum Global deSustentabilidade participaram grandesnomes da música, escolhidos por suasações voltadas à sustentabilidade, comoos músicos Neil Young, Bob Geldof e a atrizDaryl Hannah, do filme Kill Bill. "Fiqueimuito contente em voltar ao Brasil, e serconvidado para falar de sustentabilidadeem um evento tão importante", comentouBob Geldof, idealizador dos concertos hu-manitários Live Aid e Live 8, que luta hámais de 30 anos pela construção de ummundo melhor.

"Quando tinha a idade de vocês, nãotinha consciência sobre o que estavaacontecendo no mundo. Nós e o SWUestamos aqui justamente para despertá-los sobre a importância dessas questões",afirmou Neil Young. Ele explicou aindaque, ao viajar pelas estradas do Brasil,avistou apenas cinco pássaros e isso fezcom que ele pensasse sobre onde elesestavam e qual a razão de terem desa-parecido. Para Neil Young, é importantese questionar e pensar na sustenta-bilidade, para que haja uma mudançade comportamento, principalmente entreos jovens.

34

Reportagem

Gidel Silva e Tamiris Cella

Page 35: Revista Cartaz

Gidel Silva

35

Neil Young: canadensefoi presença marcante nasdiscussões ambientais do SWU

>>

Discursos nacionais em pautaPalestraram também brasileiros importantes quando o assunto é preservação do meio

ambiente, como a ex-ministra Marina Silva e o ambientalista e diretor de mobilização daFundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani. Ele ressaltou os objetivos de promover a

conservação da diversidade biológica e cultural da Mata Atlântica, estimulando ações para odesenvolvimento sustentável, educação e cidadania socioambiental.

Já a ex-ministra Marina Silva enfatizou que a crise ambiental é grave. "Na crise econômica,o dinheiro para salvar o sistema financeiro aparece rapidamente e na crise ambiental, as

pessoas andam a passos de tartaruga. É preciso cuidar das duas crises juntas", afirmou. "Acapacidade de biodiversidade do planeta está 30% comprometida, segundo estudos científi-

cos. Por outro lado, quem destruiria 50% de seu PIB?", questionou Marina.

Reflexo sem medidaA primeira edição do evento ocorreu em 2010, na fazendo Maeda, em Itu, trazendo bandas

como Kings of Leon, Linkin Park e Rage Against the Machine. Os três dias de shows naquelaoportunidade contaram com um público em torno de 165 mil pessoas. Entretanto, mais do que

envolver a música, o foco principal desde o inicio é justamente o de conscientizar os jovens sobreessas preocupações com a sustentabilidade.

Apesar do discurso sustentável, Fischer diz que não há como mensurar se a mensagemdifundida realmente alcança seu objetivo, pois é a mudança de consciência de cada um que

importa, e não há como policiar a consciência das pessoas.A verdade é que enquanto milhares de pessoas acompanhavam os grandes shows

das bandas internacionais, durante as palestras muitas cadeiras permaneciam vazi-as na realização do Fórum Global de Sustentabilidade, o que demonstra que a ideia

de unir a música com sustentabilidade, por enquanto, serve apenas para que osfãs tenham a oportunidade de ver seus ídolos mais de perto.

Page 36: Revista Cartaz

36

EU FUI!

Adriane Gomes Tognolo

22 anos, Hortolândia

A experiência valeu e mui-

to. A energia é maravilhosa eo melhor show que assisti foi

o do Slipknot. Eles arrasaram

e agitaram todo mundo. Vol-

tei com gosto de quero mais.Quero muito estar lá em 2013,

mas, para ir em mais dias,

quero prestigiar artistas pop.

George Port

40 anos, Campinas

Os nossos movimentos

ali se tornaram autômato: ouvocê pulava ou você pulava,

não tinha jeito. Showzaço!

Coeso e potente, deixando

todos em estado de graça

pela mistura de velhos hitscom os sucessos radiofô-

nicos. Muito bom mesmo.

Bruno da Silva Brunelli

23 anos, Hortolândia

Foi a oportunidade de ver

as bandas que eu curto. Iria do

mesmo jeito, de busão, por-que a organização foi ótima,

sem briga, banheiros por todo

lado, lanchonete, caixa eletrô-

nico, posto médico. A Cidadedo Rock tem estrutura de cida-

de mesmo, impressionante.

Renato Batista de Paula,

22 anos, Campinas

"Realizei dois sonhos: as-

sistir o Metallica ao vivo e cur-

tir o Rock in Rio. Foi o melhorespetáculo que já vi. Boa es-

trutura, organização e as pes-

soas com um único objetivo:

curtir algumas horas do me-

lhor rock atual. Inesquecível,inexplicável e incomparável!"

Gisele Cardoso

36 anos, Cosmópolis

Ir ao SWU foi uma das me-

lhores sensações da minhavida, todo o sofrimento de fi-

car em pé por 14 horas foi

simplesmente banido da mi-

nha memória. A estrutura es-tava fantástica e o espaço no

geral foi perfeito para um

evento dessa dimensão.

Carlos Eduardo Souza

28 anos, Campinas

Achei incrível, maravilho-

so. Apesar da chuva, gosteimais do dia 14. No geral, es-

tava bem tranquilo, inclusive

o banheiro. De negativo, ochei

o preço meio alto e bem anti-

ecológico colocarem as bebi-das em copo plástico. Havia

poucos lixos.

Gustavo Marques

29 anos, Paulínia

Foi o melhor evento do

mundo, estrutura fantástica

não é à toa que os próximosquatro anos serão em Pau-

línia. Todos os shows foram

ótimos, mas, nada melhor do

que Black Eyed Peas para fi-nalizar a noite de sábado,

muito bom.

Natalia e Edson Aguena

27 anos, Cosmópolis

O SWU, como festival, foi

excelente. O espaço era

amplo e a distribuição dospalcos e bares foi ótimo. Po-

rém, a bandeira da susten-

tabilidade não esteve na

festa. Pouco se via do assun-

to e na região quase nada sesoube antes ou depois.

||

Page 37: Revista Cartaz

Nintendo lança

serviço Hulu Plus para

impulsionar Wii e 3DS,

com dispositivo de

jogos, filmes e séries

com serviço online na

qual se pode ter acesso

a partir do final de ano.

Vale lembrar que já

está disponível, desde

novembro, a atualiza-

ção do software que

permite que o usuário

grave vídeos em 3D.

Feliz 4DA novidade agora é que o 3D está ficando

para trás. O ano de 2012 começa com a nova era

4D. É o que garante a empresa mexicana

Cinépolis. Para quem acha que tem a ver comolhos, se enganam. A quarta dimensão inclui

estímulos físicos, olfativos e climáticos.

Todo vaporXperia play é o primeiro

celular que a Sony Ericson

lança com o selo

PlayStation do mundo.É um smartphone completo

com tela de 4 polegadas,

versão 2.3, sistema

operacional Android e,

claro, comandos para osjogos. Vamos aguardar o

valor desse brinquedinho.

Bem vindo ao BrasilLançamento aguardado do novo

sistema operacional, conhecido como

Ice Cream Sandwich, chega ao Brasil.

O dispositivo poderá ser executadopor meio do Samsung Nexus Prime,

que permanece como centro de

especulações, após críticas do

sistema Android do Google.

Presente certoCom festas de fim de ano, recebemos

amigos, parentes e presentes. A dica

é o novo smartphone que a Xperia

apresenta, titulado como Xperia Neo.Vem com tecnologia que sincroniza fotos,

música, agenda do facebook, tela 3,7 e

8.1 megapixels com flash Led.

A evolução chegou.

37

Page 38: Revista Cartaz

LIVRO CD

PELO SABOR DOGESTO EM CENAAO VIVO - DIGIPACKArtista: Zelia Duncan

Gravadora: Biscoito Fino MPB / Cantores e (As)

Gravado ao vivo no Teatro

Municipal de Niterói, em

parceria com o Canal Brasil,

o CD Pelo sabor do gesto em

cena, contém 13 faixas, sendoalgumas inéditas, mais

releituras de Roberto Carlos,

além de participações de

Fernanda Takai, John Ulhoa,Marcelo Jeneci, Christian

Oyens e Paulinho Moska.

MYLO XYLOTOArtista: Coldplay

Gravadora: Emi Music

Pop / Rock Int. / Pop / Rock

Mylo Xyloto é o quinto

álbum de estúdio da bandainglesa de rock alternativo,

Coldplay. O álbum foi lançado

em 19 de outubro pela EMI.

Ele foi precedido pelo single

Every Teardrop Is a Waterfallem 3 de junho de 2011. Após

seu lançamento, Mylo Xyloto

recebeu opiniões favoráveis

dos críticos contemporâneos.O álbum traz a partipação de

Rihana.

AS AVENTURAS DE SHERLOCK HOLMESAutor: Arthur Conan Doyle

Editora: Zahar | Assunto: Ficção Policial

Sir Arthur Conan Doyle virou uma página na história da

literatura policial ao criar Sherlock Holmes, sua maiorpersonagem. Detetive mais amado de todos os tempos, ícone

da virada do século XIX para o século XX e símbolo de uma

Inglaterra cavalheiresca e genial, mas também problemática

e ambígua, Holmes tem agora suas aventuras reunidas

numa edição comentada e ilustrada.

AS ESGANADASAutor: Jô Soares

Editora: Companhia das Letras | Assunto: Policial

O autor nos dá um retrato saboroso do Rio de Janeirono fim dos anos 1930 e começo do Estado Novo - o Rio

das vedetes que davam e dos políticos que tomavam,

das estrelas do rádio e das corridas de baratinhas. E nesse

mundo em ebulição chega uma figura portuguesa,saída de um poema do Fernando Pessoa, para elucidar

o estranho e terrível caso das gordas desaparecidas que…

A TORMENTA DE ESPADAS -AS CRÔNICAS DE GELO E FOGO - VOL. 3Autor: George R. R. Martin

Editora: Leva Brasil | Assunto: Literatura Estrangeira/Romance

A tormenta de espadas, o terceiro livro da série

de George R. R. Martin, onde os Sete Reinos já sentem o rigoroso

inverno que chega, mas as batalhas parecem estar mais crueise impiedosas. Enquanto os Sete Reinos estremecem com a

chegada dos temíveis selvagens pela Muralha, numa maré

interminável de homens, gigantes e terríveis bestas...

A HISTÓRIA SECRETA DE PARISAutor: Andrew Hussey

Editora: Amarilys | Assunto: História Geral

Paris é a cidade das luzes e da escuridão, que atrai para

suas ruas vibrantes, desde sempre, tanto os mais elevadoscomo os mais baixos ideais. O jornalista Andrew Hussey

apresenta personagens cujas histórias deram forma aquilo

que vem à mente quando se fala de cidade: as tribos politeístas

no caminho do império romano, os flaneurs do século XIX,

vagando sem motivo pelas ruas; os sobreviventes e as vítimas...

38

Page 39: Revista Cartaz

DVD

BATMAN - ANO UM(Batman - Year One)

EUA - 2011 | Gênero: Animação infantil

Batman tem como identidade secreta seu alter ego, Bruce

Wayne, empresário e playboy. Depois de ter testemunhado oassassinato dos pais quando criança, ele viaja pelo mundo para

treinar artes marciais e técnicas de combate buscando perfeição

física e intelectual. Ao voltar, é outra pessoa, cria um uniforme

baseado em um animal que o amedrontava quando criança:

Morcegos... e assim, passa a lutar contra o crime.

ASSALTO AO BANCO CENTRAL(Assalto ao Banco Central)

Brasil - 2011 | Gênero: Ação

Barão (Milhem Cortaz) é um cara da classe média que teve

a grande ideia de ganhar muito dinheiro em pouco tempo,cometendo o crime perfeito. Após três meses de operação

e milhares de reais gastos no plano, em agosto de 2005 ele

rouba R$ 164.7 milhões do Banco Central, em Fortaleza, no

Ceará. Foi o segundo maior assalto a banco do mundo. Quem

eram essas pessoas e o que aconteceu? Inspirado em fatos reais.

ANTI-HERÓIS(The Son of No One)

EUA - 2011 | Gênero: Suspense

Jonathan White (Channing Tatum) é um jovem policialdesignado a proteger o bairro onde foi criado. Ele trabalha

duro para se manter na linha e dar um futuro decente para sua

mulher e filha. Mas, um segredo do passado está prestes

a ser revelado e desencadeará uma séria de eventos que trans-formarão a vida dele. Uma história impactante com Al Pacino,

Ray Liotta, Tracy Morgan, Katie Holmes e Juliette Binoche.

CILADA.COM(Cilada.com)Brasil - 2011 | Gênero: Comédia

Bruno (Bruno Mazzeo) é protagonista de um vídeo que vira

hit na internet - a transa com sua namorada (Fernanda Paes

Leme). Tudo isso é resultado de uma vingança, já que ele a traiu.

A superexposição é apenas a primeira das grandes ciladas nasquais ele se envolve. As imagens viram um sucesso e Bruno

uma celebridade, só que da pior forma possível. Agora, sua

única saída é tentar provar ao mundo que é bom de cama.

O QUE VOCÊQUER SABERDE VERDADEArtista: Marisa Monte

Gravadora: Emi MusicMPB / Cantores e (As)

Após cinco anos sem

gravar, Marisa Monte apre-

senta O Que Você Quer Saber

de Verdade, o oitavo álbum de

sua carreira. O novo disco é demúsicas inéditas e segundo a

própria cantora, foi formatado

sobre a impossibilidade do

amor. A faixa título do trabalhoestá disponível para download

gratuito em seu site oficial.

I'M WITH YOUArtista: Red Hot Chili Peppers

Gravadora: Warner Music

Pop / Rock Int. / Pop / Rock

A banda multi-platina e

uma das mais bem sucedidasda história do rock, é uma das

indicados na categoria Melhor

Álbum de Rock, com I’m With

You, na 54ª edição do

Grammy Awards, uma daspremiações mais tradicionais

do mundo da música. O

evento premiará os melhores

de 2011 no dia 12 de fevereirode 2012. Vale a torcida!

39

Page 40: Revista Cartaz

40

Dentes x PescoçosNosferatu é a essência dos filmes

de vampiros. Dentes afiados, palidez,

unhas e orelhas enormes são as

características de Conde Orlock,

em 1922, que encadeia verdadeiromedo nas pessoas, pois, além de

tudo, o interesse dele é único:

sangue e mais sangue.

O Garoto e o VagabundoEm 1921, Charles Chaplin cativa

com O Garoto. O filme conta a história

de um bebê abandonado pela mãe.

Um vagabundo, personagem deChaplin, entra em cena, acolhendo

o recém-nascido, com o qual,

apesar das dificuldades, cria um laço

de amor, amizade e carinho.

Bang BangO Grande Roubo do Trem. Em apenas doze

minutos de duração, o diretor Edwin Porter,

em 1903, reuniu ação, adrenalina e aventura

no enredo composto por tiros, cavalariase policiais. Tudo isso porque uma trupe

de bandidos assalta um vagão e seus passageiros.

Bomba na oposiçãoAbraham Lincoln, político

dos Estados Unidos, assassinado

em 1865, ganha vida no drama

O Nascimento de uma Nação,em que durante a Guerra Civil

Americana, a família dos nortistas

é oposição à família dos sulistas,

e basta isso para alavancar

conflitos sangrentos.

Legendas davam

lugar às falas. Mímicas

explicavam as cenas.

Preto e branco

predominavam.

As trilhas sonoras

embalavam o ritmo

e a sintonia

da história. Era dessa

forma a composição

dos filmes em meados

do século 19, quando

os irmãos Lumière

alavancaram a indústria

cinematográfica, a qual

de fato elevou a cultura

e o entretenimento

do mundo.

Page 41: Revista Cartaz

41

Page 42: Revista Cartaz

E

TRILHA

Sopro de novos aresElieser Ribeiro: mais um tupiniquimna Orquestra Filarmônica de Israel

Toda uma vida ligada à músicaElieser Ribeiro ganhou seu primeiro instrumento musical aos nove anos de idade. Era o ano de 1989 e seu pai,

Esrom Ribeiro, também trompetista, percebeu cedo o talento do filho. Começou com aulas de teoria em casa e foiaprimorando com as instruções da escola de música vinculada à Banda Sinfônica Municipal de Sumaré. Adolescentee formado em música, Elieser fez cursos no colégio Carlos Gomes, em Campinas, pelo qual participou de festivais eworkshops.

A experiência com os clássicos veio a partir de sua participação em diversas orquestras do interior paulista, dentreelas as sinfônicas de Americana, Limeira, Rio Claro, Ribeirão Preto e Campinas, além da Filarmônica de Rio Claro, daBanda Municipal de Hortolândia, Nova Odessa e Sumaré, do Grupo Trompetando e muitos outros pelos quais passou.Em Piracicaba, conquistou o primeiro lugar no concurso Jovem Solistas, da escola de música Ernest Mahle.

Ele só passará a viver em Tel-aviv,capital de Israel, no segundo se-mestre de 2012. No entanto, o pas-saporte para circular o mundo

com a Orquestra Filarmônica de Israeljá está mais que garantido. Aos 31 anos,Elieser Fernandes Ribeiro é o primeirotrompetista brasileiro a conquistar umavaga no elenco de 96 músicos regidospelo indiano Zubin Mehta, o maestromais aclamado da atualidade.

Trompetista por formação, o sonhodesse jovem nascido e criado emSumaré, tornou-se realidade em julhodeste ano, após alguns cliques em umsite de anúncio de empregos para músi-cos. A resposta rápida ao currículo en-viado encontrou um trompetista tu-piniquim ainda incrédulo, quase reticen-te, ao ver seu nome entre os 17 candida-

Casa novaA Orquestra Filarmônica de Israel foi fundada em 1936 e é

regida pelo maestro Zubin Metha desde 1968. Sediada no FredricR. Mann Auditorium, na cidade de Tel-Aviv, realiza concertos emtodo o mundo, inclusive, já esteve três vezes no Polo Cultural dePaulínia, cidade vizinha à casa de Eliser Ribeiro. "Posso imagi-nar quando eu estiver me apresentado junto à Filarmônica aqui,ao lado da minha cidade natal. É incrível este sentimento delutar e saber que fui reconhecido", comemora Elieser.

Instrumento de trabalhoO trompete ou trombeta é um instrumento de sopro fabricado

geralmente em metal. A distância percorrida pelo ar dentro doinstrumento é controlada com o uso de pistos ou chaves. Além dospistos, as notas são controladas pela pressão dos lábios dotrompetista e pela velocidade com que o ar é soprado no instru-mento. O trompete é utilizado em diversos gêneros musicais, sen-do muito comum na música clássica, no jazz e em estilos maisacelerados, como o frevo, o ska e latinos como o mambo e a salsa.

tos europeus e israelenses escolhidospara a única vaga disponível.

Tensão e expectativa marcaram a tra-jetória até os primeiros testes em Tel-aviv,começando pelo prazo perdido por ElieserRibeiro para confirmar sua presença emIsrael. "Tive pouco tempo para organizara viagem. Havia gastos necessários, po-rém, sem nenhuma certeza de retorno",disse. Ainda assim, ele resolveu apostartodas as suas fichas e embarcou dez diasantes dos primeiros testes para conhecero ambiente e fazer ensaios no local tãodistante e fora de sua realidade, mas res-ponsável por mudar toda sua vida.

Na capital israelense, o trompetistaElieser encontrou-se com um amigo bra-sileiro, também músico, para garantir aju-da com o idioma, até hoje limitado. En-frentou o primeiro dia de prova, prática e

de repertório amplo, incluindo clássicosde Beethoven, Mahler, Brahms. Passou. Eno dia seguinte, mesmo com o processomais complicado e acirrado, conquistoua vaga e pessoalmente, recebeu os pa-rabéns de Zubin Mehta. "A emoção eratanta que eu mal conseguia falar. Naque-le momento, meus sonhos se tornaram re-alidade", ainda comemora.

Sua admiração pela Orquestra Filar-mônica de Israel surgiu quando ouviuum de seus trompetistas fazendo umasequencia de solo. "Sempre ouvia músi-cas tocadas por eles, não com tanta in-tensidade como hoje, mas desde crian-ça pensava em conhecer Israel, devidominha formação religiosa (Igreja Evan-gélica Assembleia de Deus), mas nãohouve facilidade para eu conquistar estavaga", comenta.

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Page 43: Revista Cartaz

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Elieser Ribeiro é primeiro trompetista brasileiroa tocar na orquestra mais cobiçada do mundo

Até lá...Até soprar novos ares em Tel-aviv ao

lado da esposa e das duas filhas, ElieserRibeiro, o primeiro trompetista brasileirona Orquestra Filarmônica de Israel, man-tém os pulmões concentrados na Or-questra Sinfônica de Porto Alegre. Quan-do estiver oficialmente sob a batuta deZubin Mehta, Elieser passa a ser funcio-nário do governo israelense, inicialmen-te, por cinco anos.

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Reportagem Valéria Oliveira

Ilustração Fábio J.Santos

Page 44: Revista Cartaz

SPaulínia: a nova capital da dançaabre espaço para desconhecidosextravasarem ao lado de famosos

TABLADO

Luciana Lima virou a 'rainha do funk' ao lado de Fly:"Oportunidade como essas tem de ser para todos"

Subir ao palco e encarar uma co-reografia de funk pode até ser si- nônimo de passar vergonha, mas,o termo pagar mico deixou de ser

pejorativo para virar causa nobre quandoFly, o coreógrafo de personalidades glo-bais, e o dançarino Carlinhos de Jesus, fi-zeram o público, literalmente, balançar oesqueleto, na primeira edição do GrandPrix Brasil de Dança, que com a parceria eassinatura do Festival de Dança de Joinville,a partir deste ano, faz de Paulínia a maisnova capital da dança no país.

Apesar do objetivo de servir como se-letiva e profissionalização à nata brasilei-ra de bailarinos, o evento tem espaço ga-rantido para anônimos se empolgarem efazerem parte do show. A dona de casa emãe de filha bailarina, Luciana Machadode Campos Lima, que o diga. Aos 45 anose apesar da experiência de apenas diri-gir para levar e trazer a filha aos ensaiose apresentações, ela encarou o desafiosem titubear.

Quando Fly apontou para a mãecampineira na plateia e a convidou parasubir no palco da Feira da Sapatilha, emmenos de dois minutos ela estava ence-nando 'poderosa, rainha do funk' ao seulado. O público os acompanhava atento,repetindo cada detalhe. "Nunca, de jeitonenhum, nem em sonho, cheguei a pen-sar que um dia dançaria funk. Achei omaior mico, mas ao mesmo tempo, meacho o máximo por ter feito. Gosto de dan-çar ritmos mais lentos acompanhada do

A dançados anônimos

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Gidel Silva

Reportagem

Michele Carneiro

Page 45: Revista Cartaz

Francisco Araújo, um pouco à frente e descoordenado, encarando a coreografia do funk'um morto muito louco': "Quem nunca fez, faça, porque é muito bom para a cabeça e o corpo"

marido, claro, mas me diverti e isso vale à pena", aponta.A sensação de diversão foi o que também motivou Francisco

da Chagas Silva Araújo, de 55 anos. Ele faz dança de salão coma esposa há cinco anos em Campinas, e, ao lado do coreógrafode Xuxa e do programa de Luciano Huck, acompanhou compouca desenvoltura, mas, com a maior animação, os embalos'de um morto muito louco'. "É a primeira vez que encaro o funk.Danço samba de gafieira e forró. Atualmente, gosto de bolerotambém, mas achei interessante. Para mim, todo tipo de dançaé bom", define.

Assim como Luciana e Francisco, outras dezenas de anôni-mos encararam o palco, criando o que Carlinhos de Jesus fezquestão de chamar de o primeiro corpo de dançarinos do GrandPrix Brasil. "Fazer as pessoas dançarem é uma realização.Mostramos às pessoas que elas são capazes, que existe pos-sibilidade. É uma alegria ensinar quem é descrente; quemnão sabe. Elas não têm noção do que é ver a sua capacidadede fazer, de se superar, é o ápice", comenta.

No caso de Fly, a vida realmente alcançou o ápice depoisda dança. Aos 40 anos, o menino que chegou ao programa

Michele Carneiro

Gidel Silva

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No palco, Carlinhos de Jesus criou o que ele chamou de primeiro corpo de dança do Grand Pix Brasil: só de anônimos

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Page 46: Revista Cartaz

da Xuxa com o grupo You Can Dance,revela: era um verdadeiro presepeiro, umfalso dançarino para impressionar ga-rotas mais velhas. "Dançava para beijarna boca. Insisti tanto que aprendi e adança mudou a minha vida. Tudo o quetenho veio da dança, por isso, acreditoque ela pode mudar a vida das pessoastambém. Comigo, todo mundo dança.Tem medo de pagar mico? Então, vai pa-gar mico", brinca.

Embora os funks cariocas e coreogra-fias populares como Macarena tenhamsido temas das aulas do palco aberto daFeira da Sapatilha com os famosos, asapresentações de samba de gafieira,bolero e valsa comoveram também osmais jovens. "É muito lindo o jeito que eleleva e faz ela dançar", comentou a estu-dante Bia Aoki, de Paulínia, referindo-sea Carlinhos de Jesus e sua parceira deapresentação, Vanessa Nascimento.

E, claro, assim que o dançarino convi-dou o público para estar ao seu lado nopalco, lá estava Bia acompanhada deuma amiga em meio a uma pequenamultidão de desconhecidos. "A arte é veí-culo de mudança, de integração social.As pessoas ascendem através dela, doesporte. Há muitos anos, fui dançar emManaus, num palco praticamente nomeio da floresta. Anos depois, encontreium menino no Rio de Janeiro que haviaassistido ao espetáculo e conseguiu con-vencer a família de vir morar no Rio deJaneiro para fazer balé. A cultura tem re-sultados assim. Pinçados aqui e ali, massempre muito bons", avalia Cesar Lima,diretor artístico do Teatro Bolshoi no Bra-sil, em Joinville, a única unidade fora daRússia no mundo.

De acordo com a curadora artística doFestival de Dança de Joinville e coorde-nadora artística do Grand Prix Brasil,Fernanda Chamma, abrir espaço para osanônimos é tão importante quando ga-rantir a profissionalização dos já pratican-tes da dança. "Nós tivemos um pensa-mento de integrar. Ao mesmo tempo quequeremos nossos bailarinos com oportu-nidade de se tornarem profissionais, por-que nós temos talento para isso, precisa-mos de um público que aprecie dança.Esse intercâmbio é a peça chave para ter-mos não só um espectador, mas um par-ticipante também", explica.

Novas coreografias não são só para amadores; mesmo as academiasque participam das mostras competitivas, aproveitam a oportunidade

Osr renomados da organização: Victor Aronis e Ely Diniz do Instituto Joinville,Fernanda Chamma, diretora em Paulínia e César Lima, do Teatro Bolshoi no Brasil

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Palco aberto por toda a cidadePara garantir a integração do públi-

co, uma das atividades do Grand Prix élevar palcos abertos aos bairros dePaulínia durante o festival e expandir em2012 o projeto Paulínia Ao Vivo, de 800para mil aprendizes de dança. Nestaprimeira edição, a chuva atrapalhou asatividades dos palcos abertos com apre-sentações de balé, jazz e hip hop, porisso, todas as atividades foram concen-tradas na Feira da Sapatilha, dentro doPavilhão de Eventos do Parque Brasil

Gidel Silva

Michele Carneiro

500, principal palco do Polo Cultural dePaulínia. "A ideia é espalhar o festivalpela cidade para que a população en-contre a dança sendo praticada nos es-paços públicos, incentivando a participa-ção. Por isso, organizamos oficinas eapresentações das coreografias compe-titivas. Vamos mostrar a dança para fa-zer o público dançar, assim como acon-tece em Joinville já há 30 anos", comentao coordenador geral do Instituto Joinville,Victor Aronis.

Page 47: Revista Cartaz

O brasileiro é um

povo que dançaO Grand Prix Brasil de Dança é uma extensão

do maior festival de dança do mundo, o de Joinville.Em Paulínia, o evento reúne os três melhores colo-cados de cada categoria do festival catarinense,competindo não apenas pelo título, mas pela bus-ca de reconhecimento. As seletivas oferecem bol-sas para compor o elenco do festival em 2012 efazer estágios em academias de São Paulo e tam-bém Alemanha e Estados Unidos.

"Nós não viríamos para Paulínia se não fosseuma proposta diferenciada. Esses bailarinossaem daqui com a oportunidade de representaro nosso país. E o brasileiro é um povo que dança.Se a gente trouxer o critério e a disciplina, comessa malemolência e facilidade, teremos exce-lentes bailarinos. Tanto, que hoje, os que se for-mam, não ficam por aqui. E, quanto mais o povodançar e conhecer a dança, menor é o preconcei-to, principalmente para os meninos, afinal, se elesnão aprenderem, quem dança com a bailarina?Abrir espaço para o dançarino anônimo é possi-bilitar o desenvolvimento e o reconhecimento dodançarino famoso", conclui Ely Diniz.

Anônimas investindo

em profissionaisUm grupo de amigas de Hortolândia apro-

veitou a oportunidade para também compor acena no Grand Prix Brasil em Paulínia. Apaixona-das por dança e participantes de um grupo evan-gélico de sua cidade, praticam jazz, balé e dan-ça de rua. Juntas, elas têm 30 alunas entre sete e12 anos, mas não são profissionais.

Na verdade, a líder de 24 anos, Carolina deMoraes Pessoa, vai semanalmente a uma aca-demia de Campinas praticar balé e repassa oconhecimento à Gabriela de Souza Gonçalves,Vanessa de Jesus Reis, Michele Iense RodriguesBoaventura e ao amigo Everton Machado, quedepois, levam as coreografias às igrejas. "Nóstemos intenção de profissionalizar, mas, por en-quanto, é só um projeto para todo mundo dan-çar", explica Carolina.

E no palco da dança, a oportunidade de acom-panhar os ídolos não se pode desperdiçar. "Agente veio aprender, mas também para se diver-tir. A 'pagação' de mico que o Fly fala faz a gentesair de uma aula de dança com a alma lavada,não dá para ficar parado", diz Gabriela.

47

No grupo de Hortolândia, a líder Carolina faz academia e repassa para as amigasMichele, Gabriela e Vanessa: assim, elas já têm 30 alunas de balé, jazz e dança de rua Gidel Silva

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Page 48: Revista Cartaz

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Referência da dança de salão no Brasil sem nunca terentrado num curso de formação, o dançarino, ator ediretor de uma casa que leva seu nome no Rio de Janeiro, Carlinhos de Jesus, exporta o talento do Bra-

sil há cerca de 30 anos, quando desistiu da faculdade de Direito,formou-se em Pedagogia e acabou, literalmente, dançando.

Quando jovem, saía escondido de casa para frequentar agafieira do bairro. A mãe o incentivava, o pai não gostava dotalento, mas se contentava com a fama de namorador do ra-paz. Carioca, casado, com 58 anos de idade e pai de dois filhos(o mais velho, Dudu, de 32 anos, foi assassinado no dia 19 denovembro, quando saía de um bar), Carlos Augusto da SilvaCaetano de Jesus é apaixonado pelo samba, mas, entre os títu-los que coleciona, está o de embaixador da salsa no Brasil.

Cartaz. Anônimo ou famoso, há quanto tempo você dança?Carlinhos de Jesus. 54 anos. Minha mãe faz as contas de quan-do eu tinha quatro anos, mas, eu me lembro de dançar com oito.Profissionalmente, são 30 anos. Mas, eu não tinha a pretensão,não cresci querendo ser dançarino. Cresci querendo ser médico,fiz vestibular para Direito, me formei em Pedagogia e acabeidançando. Minha trajetória foi essa. A fama veio gradativamente,a notoriedade veio quando diversifiquei minha dança.

Cartaz. O que é a dança para o Carlinhos de Jesus?Carlinhos de Jesus. É um veículo, a forma que você tem deexpressar diversos sentimentos, alegria, tristeza, perda, paixão,é uma forma de se comunicar. A dança foi o meu grande eixo navida, meu foco central, minha respiração, pulsação, minha ra-zão. Minha vida é o samba. É o que eu danço mais e melhor.

Cartaz. E quem é o Carlinhos de Jesus para a dança?Carlinhos de Jesus. Difícil dizer. Sou um brasileiro que acredi-tou e desafiou todas as leis, todas as normalidades e conceitosda sociedade sobre o que é ser um cidadão, trabalhar, estudar.Quebrei um pouco isso quando escolhi a dança. Sou mais um.Só que tive coragem e quem me ajudasse. Acreditei umpouquinho mais do que outros e fui à luta, acreditando que adança seria uma forma de eu sobreviver dignamente. Depois vique podia representar, mostrar o meu país e trazer algumaspessoas para esse universo.

Cartaz. A dança muda o homem?Carlinhos de Jesus. Em tudo, da postura física a social. Particu-larmente, a dança me rendeu três casamentos, dois filhos ma-ravilhosos e uma vida digna. Mas, só eu sei a luta que foi. Aindahoje tem gente que pensa que dançar não é para homem. Ape-sar de ter minimizado, os garotos vivem o que vivi há 30 anos:dizer ao pai que você quer ser dançarino está fora da realidade.E no meu caso, mesmo quando sobressai profissionalmente,uns dizia que era malandro, outros diziam que eu era viado,drogado, nunca encaravam como profissão.

Cartaz. Como o homem muda a dança?Carlinhos de Jesus. Comigo, as coisas mudaram quando dis-se não e mostrei que a dança é profissão e merece respeito.Acho que consegui servir de exemplo para muitos que queremdançar e muitos realmente vieram praticar dança depois disso.Não querendo ser pretensioso, mas é uma realidade, sei quenão é uma luta só, não fui sozinho, mas tive coragem e motiveimuitos outros.

Carlinhos de Jesus,anônimo predestinado

Michele Carneiro

PERFIL

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Page 49: Revista Cartaz

Acredito que quase todos nós, praticantes

de dança de salão, se não a totalidade,

em algum momento de nossas trajetórias pelos

caminhos do aprendizado, pensamos assim:

Nossa, como estou dançando mal, acho que

não sirvo pra isso! Comumente, recebo pedidos

de alunos para falar comigo no final das aulas,

e o que os mesmos querem saber é se o seu

desempenho pessoal está de acordo com

o esperado, perguntam se não estão

atrapalhando a turma ou coisas do gênero.

Vou relatar algo pessoal, que era uma

estratégia que eu utilizava para dar uma

melhorada no meu ego, na época em que

eu tinha poucos meses frequentando as aulas

de dança de salão, na Academia Marques Dale,

em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Quando me

sentia com desempenho ruim na dança, pedia

para meu professor na época, o Zezinho, para

ajudá-lo em outra turma que não era a minha,

visto que naquela escola era comum ter mais

damas do que cavalheiros nas classes.

Porém, esta turma tinha que ser mais

iniciante que meu nível, caso contrário

minha estratégia não funcionava.

A trama consistia em dançar com uma dama

que estivesse com um pouco de dificuldade,

e minha missão era fazer com que ela tivesse

uma aula boa e proveitosa. Para isso, bastava

ser cordial, um pouco paciente e usar da minha

maior experiência em dançar a dois. Ao final

da aula era só esperar e ouvir: "Nossa, como

você dança bem!", "Você virá mais vezes nesta

turma!", "Ah! Adorei fazer aula com você, hoje

dancei bem". Digo a vocês que era infalível,

minha auto-estima agradecia o estímulo e

Será que eu consigo aprender a dançar?

Cristovão Christianis é coreógrafo, professor de dança de salão, blogueiro e colunista da revista eletrônica Dança em Pauta.

estava renovado. Isso se repetiu tantas vezes

que acabei virando bolsista da escola e, hoje,

estou eu aqui, profissional desta área.

Esta sensação não escolhe níveis ou tempo

de prática da atividade. Digo por mim e por outros

profissionais que relatam a mesma coisa, até nós

nos sentimos com dificuldades em determinada

época. A diferença é que para o profissional é

difícil parar de dançar, então ele procura cursos

e daqui um pouco a confiança e satisfação com

a performance se restabelecem. Já alguns alunos

acabam desistindo na primeira dificuldade.

Digo que é papel do professor tirar seus

alunos da "zona de conforto", pois somente desta

forma o mesmo vai se desenvolver. Então, numa

aula boa, sempre nos sentiremos desafiados.

Use isso a seu favor e vença as dificuldades,

quando o desânimo aparecer, persevere. Quando

o incômodo estiver grande, fale com seu

professor, ele adorará te escutar e com

certeza fará de tudo para te atender.

Dicas

- Faça aulas numa turma regular e seja

paciente: devagar se vai ao longe;

- Drible a canseira. A endorfina que você

produzirá te fará um bem danado;

- Faça aulas mais que uma vez na semana: a

periodicidade quando se trata de aprendizado e

desenvolvimento, muitas vezes, é bem melhor

do que a quantidade;

- Dance com diversos pares: a diversidade é

o segredo do sucesso;

- Vá aos bailes. Jogo é jogo e treino é treino.

Então, te econtro pelos bailes!

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Page 50: Revista Cartaz

OO ritmo não é muito conhecido e o nome bem menos ainda. Dificilmente alguém seria ca-paz de descrever ou sequer

reconhecer o Tap Dance. Mas, se o cha-mássemos de sapateado, é bem pro-vável encontrar quem arrisque algunspassos. A diferença entre os estilos é su-ave, e, suavidade, é a palavra ideal paradefinir o Tap Dance, o sapateado norte-americano.

Originário dos Estados Unidos no sé-culo 19, o estilo deriva do sapateado ir-landês, uma dança folclórica do século V.Os passos tornaram-se mais soltos comas influências dos colonizadores inglesese dos negros norte-americanos. Com eles,o corpo todo entrou na dança e os movi-mentos perderam as barreiras.

No Brasil, desembarcou na década de90 por dançarinos autodidatas como Tâ-nia Nardini, Amália Machado, Gualter Sil-va, Flávio Salles, entre outros entusiastasque não deixaram os obstáculos da dis-tância e da falta de popularidade e fo-ram aos berços norte-americano e euro-peu para aperfeiçoar sua ginga. Ginga,sim, pois a atual pivô do Tap Dance noBrasil é a coreógrafa e a musicista Chris-tiane Matallo, considerada a CarmenMiranda do sapateado.

A comparação com Carmen Miranda,a cantora e dançarina considerada luso-brasileira que fez sucesso na Broadwaynos anos 40 e 50, foi um elogio do TheNew York Times, um dos jornais mais

Fotos Divulgação

TABLADO

Sapateandono país do samba

Sapate no país

Reportagem

Gidel Silva

O talento de ser a únicabailarina no mundo asapatear e tocar saxofoneao mesmo tempo, faz deChristiane Matallo umadas referências do TapDance no mundo

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Page 51: Revista Cartaz

A paixão corre nas veiasNão é por acaso que Christiane

Matallo preteriu a cultura do sambapopular brasileiro e caiu nas graçasda música clássica. Aos dois anos emeio já estava inserida ao contextoerudito por influência dos pais, masprincipalmente do avô Chico Matallo,também sapateador e responsávelpor seu contato oficial com o estilo aosseis anos de idade.

Ainda jovem, Christiane formou-seem dança pela Unicamp em 1993 eseguiu para os Estados Unidos, ondelevou para o palco os conhecimentosque fizeram dela a única mulher a

sapatear e tocar saxofone ao mesmotempo no mundo.

A notoriedade conquistada no ex-terior faz da bailarina e musicista umaentusiasta para a difusão do Tap Dan-ce no Brasil. Ao lado de outros gran-des nomes nacionais do sapateado,Christiane trabalha para ver o ritmocrescer e conquistar cada vez maisadeptos. Para tanto, está sempre en-volvida na organização de festivais eworkshops, onde pessoas que se inte-ressam pelo estilo, podem trocar ex-periências com grandes nomes naci-onais e internacionais do estilo.

Carmem Miranda éinspiração para adançarina e saxofonistaChristiane Matallo, queanualmente promove ofestival de Tap Dance noTheatro de Paulínia

lidos do mundo. Christiane atribui o títuloà sua ousadia de pisar nos palcos ameri-canos recém-formada em dança pelaUnicamp e se auto-representar, apenascom o compromisso de demonstrar suaarte. "Fiquei chocada quando soube, masao mesmo tempo, muito feliz", conta.

Organizadora do 12º Festival Interna-cional de Sapateado, as duas últimasedições realizadas em Paulínia, Chris-tiane considera-se apenas uma amanteda arte. Para ela, sapatear, cantar, inter-pretar, tocar instrumentos faz parte damesma arte e envolve o indivíduo comoum todo.

Provas desse todo, envolvido simulta-neamente no universo da arte definidopela coreógrafa e musicista, são as pro-duções de cinema dos anos 30, 40 e 50,pelos quais o Tap Dance ganhou notorie-dade a partir das performances de astroscomo Fred Astaire, Gene Kelly, ShirleyTemple entre outros.

Alguns títulos famosos que levaramo sapateado para as telonas sãoBrigadoon, Um Americano em Paris,Tudo o que é Jazz, The Band Wagon, Tos-tões do Céu, The Little Colonel, Swing Timee Viva por amor. E a partir deles, a mistu-ra de jazz com o sapateado tornou-seuma nova forma artística, a forma eleitapor Christiane Matallo, a artista que dan-ça e toca sax tenor num mesmo espetá-culo, além de dedilhar com maestria opiano erudito. Ela, literalmente, sapateiano país do samba.

Christiane Matallo:a Carmen Mirandado sapateado reiventao Tap Dance, o ritmoleve dos americanos

>>51

Page 52: Revista Cartaz

Um dos principais eventos de divulgação do Tap Danceno Brasil aconteceu em outubro na cidade de Paulínia, or-ganizado por Christiane Matallo. O 12º Festival Internacio-nal de Sapateado teve a presença de nomes como JasonSamuels Smith, o melhor sapateador da atualidade e atra-ção de Hollywood, além do canadense Everett Smith e anorte-americana Michele Dorrance, outros tops mundiaisque dançaram ao lado de brasileiros como a própriaChristiane, além de Fernanda Bevilaqua, Simone Gutierreze Eduardo Breton.

A programação e atrações, bem como boa parte do in-vestimento é da própria artista, que recebe apoio apenas daCompanhia Só Dança, empresa sul-americana de produtospara dança com sede em Campinas. "É um esforço à parte,na tentativa de ver a arte ganhar mais espaço. Não é fácil,por não ser um estilo conhecido, mas enxergar a arte comoum todo, realmente uma coisa só, é minha motivação. E osapateado permite essa junção de culturas, do Tap Danceao samba. Cada pessoa pode adaptá-lo ao seu estilo", diz.

Festival Internacional,um esforço à parte

O sambateadoFestival Internacionalde Tap Dance em Paulínia reúneos maiores nomes nacionaise internacionais do Sapateado;Este ano, Michele Dorrance (USA)e Everett Smith (CAN) tambémparticiparam

Entre as formas de divulgar e desta-car a dança são as inovações criadas

por seus praticantes. Em 2007,Christiane Matallo juntou o

samba com o sapateadoe lançou o sambateadono carnaval de São Pau-

lo. O estilo pegou e atual-mente é copiado também por

agremiações do Rio de Janeiro.O estilo fascina a bailarina e coreógra-

fa norte-americana Michele Dorrance, que in-clusive se diz inspirada por Christiane. "É incrívelo que ela produz no palco. Cheguei a ter aulas debaixo, mas é realmente muito difícil dançar e tocar uminstrumento ao mesmo tempo, por isso minha admira-

ção e respeito pelo trabalho dela", disse à Cartaz em suapassagem por Paulínia.

Para a norte-americana, o Brasil deve investir nacontratação de grandes espetáculos de sapateado,

como New York, New York, de José Possi Neto, noqual a atual Christiane-Carmen Miranda-Matallo

atuou cantando, tocando e sapateando aolado de grandes nomes nacionais da

dança.É difícil saber se trazer gran-

des espetáculos será suficientepara fazer páreo às danças típi-cas brasileiras, mas a certeza éde que muitos novos caminhos enomes podem surgir para o TapDance no Brasil.

52 ||

Page 53: Revista Cartaz

Motociclistas não

são motoqueiros. Aliás,

pinta rejeição quando

são chamados como tal.

A diferença está no

comportamento, diz

Cuité, presidente do

motogrupo Estradeiros

Solidários de Paulínia.

Enquanto o termo

motoqueiro serve para

imprudentes e

exibicionistas,

motociclistas são os que

encaram qualquer trajeto

com responsabilidade e

senso de aventura, além,

é claro, do estilo, das

roupas, dos costumes

e os acessórios que

os fazem ser

reconhecidos de longe.

Tribo

Motociclistas não sabem estar só. Por isso, meia

dúzia é o suficiente para formar um motoclube ou

motogrupo. O clube é menos restritivo, enquanto o

grupo tem sua base formada essencialmente por

amigos. Mas, em ambos os casos, para fazer parte

da tribo, o pretendente passa por um período de

experiência, observação e compatibilidade de ideais.

Batizado

Só depois da aprovação de todos, em assembleia, acreditem,

é que um pretendente é batizado e recebe em seu colete

o distintivo, a chamada bolacha, com a identificação de seu bando.

Aliás, o colete, assim como o capacete e a moto, é item essencial

do motociclista. Entrar num evento, bar ou encontro de tribos

sem o colete, é desonrar seu grupo e ofender o anfitrião.

Comboio

Na estrada, motociclistas

guiam na formação passos na

areia, intercalados na lateral e atrás

um do outro. O presidente é o

capitão e vai à frente seguido das

motos mais fracas. No final, está o

ferrolho, eleito para observar o

grupo. Em ultrapassagens, o

capitão dá a seta e do último até

ele são os que seguem primeiro

adiante.A velocidade é limitada a

10 Km/h abaixo da sinalização.

Identidade

Jeans, couro, botas, coletes

com muitas bolachas e acessórios.

Bandanas, rock, tatuagens, motos

e triciclos envenenados. Apesar

de o cenário radical, motociclistas

são profissionais do dia-a-dia

organizados para formar uma

grande família, aliás, com regras

e responsabilidades que aceleram

na contramão da ideia de

desordem que por tanto tempo

os perseguiu.

53

Page 54: Revista Cartaz

Do ritmo raiz ao universitário,a evolução da música quenunca deixou de ser sertaneja

TRILHA

Tinoco (ao centro e abaixo), no começo da carreira com seu parceiro Tonico:hoje, para ele, substituir o nome da música é só uma jogada do mercado

54

AAmúsica sertaneja faz parte da identidade cultural do povo brasileiro. Apesar disso, sentir-se representado por ela não é necessariamente uma unanimidade. Historicamente, o ritmo está ligado ao caipira, à vida

no sertão, à saudade da terra, da família, da amada. Senti-mentos pouco nutridos nas capitais que comandam o cenáriocultural brasileiro. Mas, assim como os homens de raízes fo-ram parar na cidade, a viola tem estado cada vez mais pre-sente e de um jeito novo, começa a mesclar seu tom às ten-dências urbanas.

Do som de raiz à moda recente, chamada de sertanejo ro-mântico ou universitário, o som da viola tem uma história de

pelo menos cem anos no Brasil. E, para chegar aos mi-lhões de discos vendidos, aos milhares de cantores, du-

plas e às dezenas de fenômenos que surgem a cadaano, a música passou por várias fases e vem passan-

do por transformações constantes para arrebatar cadavez mais fãs.

A cronologia dessa saga começa em 1910 comnomes como Mariano e Caçula, Zico Dias e Ferrinho,Mandi e Sorocabinha. Outra dupla de renome des-ses primórdios é Tonico e Tinoco, referência até hojeno meio musical. Representantes do interior de SãoPaulo, a trajetória já chega aos 76 anos e mesmocom a morte de Tonico, Tinoco, em plenos 91 anos,continua rodando o Brasil com shows que faz ques-tão de ressaltar: são de sertanejo raiz.

Para Tinoco, mudar o nome do sertanejo é ape-nas invenção das gravadoras para lançar novos ta-

Reportagem

Valéria Oliveira

Ao som

da viola

Fotos Divulgação

Page 55: Revista Cartaz

A vida moderna do sertanejo surge por volta de 1980,quando as inovações tecnológicas e o advento de novos ins-trumentos permitiram à música raiz ir além do som da viola.Mais uma vez, os irmãos Lima, Chitãozinho e Xororó, enca-beçaram as mudanças, incluindo guitarras, teclados e bate-ria às gravações. Daí em diante, até moda de corte de cabe-lo e vestimentas, eles preconizaram. E esta foi a marca regis-trada da música sertaneja dos anos 90,quando explodiramos sucessos de Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo eLuciano, Gian e Giovane e João Paulo e Daniel.

Com 40 anos de estrada completos este ano, os irmãosLima são recordistas na adequação da música sertaneja àstendências dos grandes centros urbanos. É deles também ainiciativa de gravar sucessos internacionais mesclando ver-sões em português. E, apesar da grande movimentação damúsica, o veterano Tinoco prefere ser fiel ao seu único estilo."As letras de agora falam da realidade de hoje. Acompa-nhei a evolução dos LPs 78 ao DVD, mas ainda existem letrasraiz atuais, Moreninha Linda, por exemplo, tem 50 anos econtinua linda", ressalta.

Os anos 80, o ritmo da vida moderna

Responsáveis pelas primeiras mudanças do sertanejo de raiz e por lançar moda desde os anos 80,os irmãos Lima, Chitãozinho e Xororó, comemoram 40 anos de carreira este ano com lançamento de DVD

lentos e atender a demanda de renovação exigida pelo merca-do. "A música é minha vida. Trabalho toda semana levandoalegria a milhares de fãs pelo Brasil inteiro. Mas, a música raizé uma só, as gravadoras é que inventam nomes diferentes, lan-çando jovens talentos. São movimentos, que cada vez mais, en-grossam os fãs da música raiz, do sertanejo", diz o artista de220 LPs lançados na carreira.

Tinoco faz parte da geração de Teddy Vieira, o compositorbrasileiro falecido em 1964, mas que até hoje é recordista demúsicas transformadas em clássicos na história do sertanejo.Entre suas letras, estão O Reio do Gado e Couro de Boi, sucessos

que fez Tião Carreiro e Pardinho estourarem nas rádios na déca-da de 70, além de O Menino da Porteira, música responsávelpelo nome fixo de Sérgio Reis no cenário artístico brasileiro.

Nessa época, a música sertaneja cresceu com a formaçãode duplas como Milionário e José Rico, João Mineiro e Marcianoe um pouco mais adiante, ressurgiu com Chitãozinho e Xororó,Roberta Miranda, Christian e Ralphe. Desde então, a tendênciade falar da terra foi se apagando. A onda era investir nas histó-rias de amor. Fio de Cabelo e Falando às Paredes de Chitão eXororó, até hoje um dos maiores fenômenos musicais brasilei-ros, deixam claro o que viria a ser o hit dos anos 80 e 90.

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Page 56: Revista Cartaz

Pluralidade motiva novos talentosHá quem classifique a música cai-

pira e a música sertaneja como doisgêneros totalmente independentes,sendo a caipira genuinamente feitapara o contexto do homem rural e amúsica sertaneja, ou sertanejo român-tico, como um produto de consumo,feito por pessoas não caipiras, pró-pria para as pessoas da cidade. Oexemplo mais atual é o chamado ser-tanejo universitário.

Para outros, os dois formatos sãosinônimos, apenas subdivididos en-tre caipira, sertanejo e universitário,porém, todas pertencendo ao mes-mo gênero musical. A dupla ChicoAmado e Xodó, há 15 anos na estra-da, acha muito importante essa reno-vação na música popular sertaneja."O Brasil está repleto de talentos pron-

Da geração de Tinoco ao fenômeno maisatual do sertanejo, Luan Santana, não apenasa motivação da música mudou, como tambéma estrutura que a cerca. A exemplo de Tonico eTinoco que se apresentavam em circos nos fi-nais de semana, o jovem mato-grossense de20 anos tem dois anos de carreira e vem numritmo de 25 shows ao mês, o que o fez movi-mentar mais de R$ 70 milhões em 2010 e deveajudá-lo a ultrapassar os R$ 90 milhões em 2011.

Neste curto período de carreira, o cantor tor-nou-se uma das celebridades mais popularesda internet e na rede social da Billboard está àfrente de renomados internacionais, como 50Cent, Coldplay, Britney Spears e Kesha. Não é àtoa que seu cachê chega a R$ 300 mil por showe que o álbum ao vivo de 2010 continua sendoum dos mais vendidos no Brasil, superando as400 mil cópias.

E, a exemplo de Chitãozinho e Xororó na dé-cada de 80, Luan Santana vem dando ritmo aonovo formato de música sertaneja, agora volta-da para o jovem da balada, como bem faz Jor-ge e Matheus, Gusttavo Lima, Michel Teló,Fernando e Sorocaba, nomes presentes no ro-deio considerado como o mais tecnológico doBrasil, o Paulínia Arena Music, o primeiro cempor cento coberto do país.

Atração no evento, a dupla Humberto eRonaldo se anima com a nova realidade. "Atu-almente, qualquer dia é dia de show. Areceptividade da música, além dos númerosde vendas, tanto de ingressos, quanto de CDs,DVDs e acessórios que trazem o nome do ser-tanejo, contemplam ainda mais os já existen-tes no mercado e incentivam os novos talen-tos", confessam.

Do circo aos

megashows

Luan Santana ‘voando’ sobre o público do Paulínia ArenaMusic este ano; fenômeno da música sertaneja atual, ojovem movimenta cerca de R$ 100 milhões ao ano e é provada evolução do ritmo para conquistar o grande público

Humberto e Ronaldo, apadrinhados pela duplaJorge e Matheus, são os novos talentos de Goiânia

tos para o mercado da música. Esse éum risco que corremos ao tentar viverda música, mas fazemos o que gos-tamos, cantando e compondo", afirmaChico Amado.

De acordo com Chico Amado,compor música sertaneja, indepen-dente da classificação romântica, uni-versitário ou de raiz, tem mercado ga-rantido. "A gente não compõe para umtipo de sertanejo, a inspiração é igual.Às vezes a melodia vem antes da le-tra e às vezes surge a música pronta",diz ele, autor de pelo menos 700 mú-sicas, entre elas, sucessos de Daniel,Zezé di Camargo e Luciano, César ePaulinho, Rio Negro e Solimões, Edsone Hudson, Eduardo Costa e até dosforrós diferenciados das bandas FalaMansa e Calypso.

Valéria Oliveira

Éder Nascimento

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Page 57: Revista Cartaz

As diversas opções

de estilos acompanham

ritmos em eventos

clássicos e festivais

musicais. O mix da

diversidade faz com que

as pessoas usem do seu

estilo para compor o

look visual, sempre

acompanhados por

diversas tonalidades de

roupas, batons, cabelos

e esmaltes. As mulheres

buscam novas

tendências para

embelezar as silhuetas.

Combinam acessórios

com cada detalhe do

visual. Já os homens

utilizam mais cores

neutras para um estilo

despojado.

EcléticaPara curtir um festival de rock, o branco

representa a pureza e a fragilidade.

Acessórios dourados deixaram o look

moderno e despojado. As botas cano longo

em couro marrom acentuam e alongam a

silhueta. Suaves transparências e volumes

estrategicamente localizados atualizam

o modelo sofisticado. O branco, com

ou sem brilho, pode ser utilizado nas

quatro estações do ano.

IndependenteUm festival de cinema é um marco

em qualquer lugar. Exige exuberância

fina em suas apresentações. O modelo

escolhido deve complementar

o espetáculo. Rendas com qualquer cor

combinam. Porém, o preto se destaca

pela sutileza de acompanhar um bom

corte. A escolha leva em consideração

o clima com temperaturas amenas.

ClássicoVestidos casuais são

elegantes e explanam

formosura. Ideal para uma

peça teatral. A cor escura

combina com as noites que

exigem discrição e são bem

vistas em mulheres elegantes.

Os modelitos vão do clássico

ao romântico, passando por

tonalidades que integram

mosaicos com estampas

de listras. O preto básico

combina com os acessórios.

Cores em altaNum espetáculo de dança,

as cores diversificam o estilo e

demonstram personalidade de

quem admira os modelos usados

em diferentes peças no tablado.

A estampa combina o vermelho,

o preto e o branco. O parceiro é

fundamental. Por isso, o par deve

estar sempre elegante. Vestidos

clássicos para qualquer local. O

colar ressalta o detalhe vermelho.

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Page 58: Revista Cartaz

Corcunda adaptado

COXIA

Fotos Gidel Silva

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Em cena, as crianças, jovense adultos do Instituto Ser

Elenco profissionale artistas portadoresde deficiências renovamo clássico de Victor Hugo:O Corcunda de Notre Dame

Reportagem

Jefferson Silva

Page 59: Revista Cartaz

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OO Quasímodo, escrito por Victor Hugo em 1831, é um dos clássicos ovacionados da literatura. A figura do Corcunda de NotreDame é sempre tocante, faz refletir e des-

perta compaixão de quem reconhece sua história deabandono, alienação e ainda assim, de bondade.Não é à toa que sua deformidade torna-se mero de-talhe e faz do espectador seu aliado, seu parceiro nasaventuras de liberdade e de amar. Uma lição queserve para a vida.

Todo esse contexto fez nascer à adaptação doInstituto Ser de Campinas para o teatro cuja peçachave do espetáculo é exatamente a construção decenas, incluindo pessoas com deficiências que vãodo físico a transtornos globais. E cada ato passívelde discriminação, justamente como acontece na fic-ção, salta para a vida real como um simples deta-lhe da liga entre o ator e o espectador. No palco, emmeio aos 150 atores, as síndromes de metade doelenco desaparecem e o talento e a grandiosidadedo espetáculo como um todo prevalece.

Foi o que o público de Paulínia conferiu na pri-meira e única noite de apresentação da peça noTheatro Municipal Paulo Gracindo. Mas, o sucessovem desde 2008, quando o espetáculo estreou no IFestival Anual de Dança de Campinas, realizado noCentro de Convivência. Depois, passou diversas ve-zes pelo Teatro Castro Mendes e por Vinhedo. "A bemda verdade, as pessoas chegam ao teatro com cer-ta carga de preconceito. Mas quando saem, muitostêm sinais de lágrimas no rosto", diz Cláudia DubardFróes Lima, a protagonista Esmeralda, cigana no es-petáculo e terapeuta no Instituto Ser.

Também responsável pelo trabalho de dar novosignificado ao espetáculo, o ator Alexandre Castelli, oCorcunda, desmistifica o preconceito. "Você assiste a20 minutos de peça. Após esse tempo, não consegueidentificar mais quem tem deficiência e quem não tem,devido ao desempenho dos alunos durante a apre-sentação", confessa o também diretor da montagem.

E fazer da deficiência algo imperceptível é umamissão já com seis anos de estrada dentro da clíni-ca-escola. Neste período, espetáculos como Love,Love, Love de Shakespeare, A História da Humani-dade, Godspell, Saltimbancos, O Mambembe e ANova Onda do Imperador são trabalhos não ape-nas inclusivos, mas de crença nessas crianças, jo-vens e adultos cuja capacidade surpreende e se ali-nha muito bem à arte de encenar.

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O Corcunda, AlexandreCastelli: “Você fica 20minutos e não sabemais quem é ator equem é aluno”

Page 60: Revista Cartaz

A exemplo do forte grito uníssono atrás das cortinas no desejoque tudo ocorra bem com o espetáculo, o diretor de O Quasímodo,Alexandre Castelli, explica o uso da expressão tão comum entreos atores. "O termo 'merda' para trazer sorte ao elenco surgiu naFrança. A sociedade frequentava o teatro com carruagens, masnão havia estábulos. Então, os cavalos faziam suas necessida-des por toda a parte. Seus donos e até os atores acabavam pi-sando sobre elas. Para os atores, passou a ser um termômetro:quanto mais merda, mais gente na plateia. Outra versão diz ain-da que um ator estava apresentando uma peça e tudo ia erradoaté ele pisar e gritar Merda! A plateia não perdoou e atirou toma-tes, pois não estava acostumada com tal linguajar, era umaindelicadeza tamanha, porém, no final, o espetáculo foi tão boni-to que aquela merda virou sinônimo de sorte".

A história de Quasímodo transcorre em 1492, um ano cujasociedade está em fase de mudanças políticas, geográficas,religiosas, de conhecimentos científicos e o acesso à informa-ção é disponível apenas a quem tem poder. E, apesar dasatuais condições de acesso ao conhecimento, o contexto dapeça revela que tanto no palco, quanto na vida real, indepen-dente dos tempos, a deficiência incita e deve superar rejeição,super proteção e a exclusão da sociedade.

E é exatamente a sensação de superação, da plateia, doator e da própria história que torna o espetáculo uma lição devida. Como deve ser, na hora de entrar em cena, todos sabemexatamente o que fazer, onde se posicionar e como corrigirseus erros. "Você vem assistir um espetáculo, não uma sim-ples peça", adianta Castelli, que divide o palco com a ciganaque sofre com seu povo pela origem, pela exclusão da socie-dade e se vê diante de obstáculos, sacrifícios e de persegui-

O Corcunda em nossa vida

ção, o que faz o misto de ficção e realidade vir à tona todomomento.

A semelhança com a vida real segue com as lições do lidarcom a morte, com a saudade, com a dor da perda e até doenvolvimento dos alunos que se identificam com a deficiênciado Quasímodo e os faz entender o contexto em que a históriase passa e ao mesmo tempo faz com que a plateia compre-enda a dura realidade atual de exclusão social.

Para servir de exemplo, em todo trabalho de palco, o Insti-tuto Ser envolve quem é professor, diretor, terapeuta, voluntário,dançarina, mãe, pai, irmão, enfim, todo mundo vira ator ouatriz, figurante de cenas ou técnicos de efeitos especiais, dire-ção, enfim. "Somente a banda é contratada para o som aovivo, mas o elenco todo, profissional ou não, trabalha de igualpara igual, sob a proposta de saber lidar com as diferenças",explica a atriz-terapeuta, Cláudia Dubard.

A apresentação em Paulínia, segundo Castelli, é um marcona história de apresentações do elenco de O Quasímodo. Ocu-par os 12 mil metros quadrados de área e contar com a disposi-ção de equipamentos de última geração para garantir a acús-tica, o som e a iluminação, além das 1280 cadeiras, os fez sentirgrandes, como é o Theatro Municipal de Paulínia, sede dosmaiores eventos culturais da cidade, como o Festival de Cinemae de Dança.

"Não importa o palco em que será apresentado, o melhordeve ser feito. Mas, estar em Paulínia facilitou, porque temos mui-tos efeitos especiais, criamos gárgulas gigantes, usamos rapel eum material produzido no próprio instituto pelos alunos. A estrutu-ra nos possibilitou trazer essa série de atividades que faz com osalunos se sintam capazes, estimulados", diz o diretor.

Um grande teatro Merd*! Merd*! Merd*!

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Com passagens sobre amor, política, religião, vaidade,roteiro adaptado traz as semelhanças com os tempos atuais

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Page 61: Revista Cartaz

A segurança durante

a realização do Festival

SWU foi um dos itens

que receberam atenção

especial. Cerca de mil

seguranças por dia

foram utilizados durante

os três dias, além das

forças policiais do

estado e município.

O chefe da segurança

era nada mais nada

menos que o chefe de

segurança da banda

Rolling Stones, Bob

Wein.

TransformaçãoA transformação do ator

Alexandre Castelli no Corcunda

Quasimodo demora cerca de

duas horas. O trabalho meticuloso

de Jésus Sêda desconstrói o ator

e constrói a personagem. Uma

prótese de látex é fixada sobre

a face do ator e fios de cabelo

postiço são colados aleatoriamente

dando-lhe a aparência bizarra

apresentada no palco.

Medo do fogoEm uma de suas apresentações em Paulínia, o

cantor MC Leozinho não deixou que acendessem o

rechaud para aquecer o buffet servido no camarim.

O motivo era o revestimento das paredes todo em

tecido. "Não acende isso ou vai queimar tudo aqui",

alertou o cantor ao assistente de camarim.

Mega estruturaChamou atenção a preparação

da estrutura para receber o festival

SWU (Start With You). Os palcos

principais eram gigantescos,

denominados Consciência e Energia,

e impressionaram pelo tamanho:

22 metros de altura, 45 metros de

largura e 24 metros de boca de cena.

Além disso, possuíam um túnel

de acesso para as surpresas

preparadas pelas bandas.

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Atrás das câmerasAs cenas do filme Cores, gravadas

em um supermercado de Paulínia, onde

o ator Pedro e a atriz veterana Maria Célia

fazem compras, não teriam um bom

resultado não fosse o trabalho

da produção. Amontoados em um

dos corredores do supermercado,

a galera dos bastidores acompanha pelo

monitor o que rola no corredor ao lado.

Page 62: Revista Cartaz

Circuito Paulínia de Dança 2011EnroladosStudio de Dança Angela Dantas

Data: 14 de dezembro

Local: Theatro Municipal de Paulínia

Horário: 20h

Endereço: Av. José Lozano Araujo, 1551 - Pq. Brasil 500

Ingresso: de R$ 10 a R$ 30

Telefone: (19) 3933-2140

Show sertanejoVictor & LeoData: 15, 16, 17 e 18 de dezembro

Local: Credicard Hall - São Paulo

Horário: 21h30, 22h, 00h e 20h

Endereço: Av. das Nações Unidas, 17955

Ingressos: de R$ 60 a R$ 250

Telefone: (11) 6846-6000

A peça é comédiaTeatro adultoData: 16 de dezembro

Local: Teatro Augusta

Endereço: Rua Augusta, 943 - São Paulo

Horário: 21h30

Ingressos: R$ 30

Telefone: (11) 3151-4141

Balé da Cidade de São PauloTrês apresentaçõesData: 16, 17 e 18 de dezembro

Local: Theatro Municipal de São Paulo

Endereço: Praça Ramos de Azevedo, s/nº - São Paulo

Horário: 17h, 20h e 21h

Ingressos: de R$ 10 a R$ 40

Telefone: (11) 3397-0327

Uma Jornada de PerdãoFilme sobre história verídica de três cristãs da IndonésiaData: 17 de dezembro

Local: Museu da Imagem e do Som de Campinas

Horário: 16h

Endereço: Rua Regente Feijó, 859 - Campinas

Ingressos: Entrada gratuita

Telefone: (19) 3733-8800

Circuito Paulínia de Dança 2011A Bela e a FeraEspaço de Dança Eliane Benatti

Data: 18 de dezembro

Local: Theatro Municipal de Paulínia

Horário: 20h

Endereço: Av. José Lozano Araujo, 1551 - Pq. Brasil 500

Ingressos: de R$ 10 a R$ 30

Telefone: 19 3933-2140

Zeca BaleiroBaile do BaleiroData: 18 dezembro

Local: Carioca Club

Endereço: Rua Cardeal Arcoverde, 2899 - São Paulo

Horário: 19h

Ingressos: R$ 30 (primeiro lote)

Telefone: (11) 3813-8598

De dentro e de foraArte urbana contemporânea InternacionalData: até 23 de dezembro

Local: Galeria Clemente de Faria

Horário: de ter. a dom. e fer, das 11h às 18h. Quin, das 11h às 20h

Endereço: Av. Paulista, 1578 - São Paulo

Ingressos: de R$ 7 a R$ 15 (terça, entrada gratuita)

Telefone: (11) 3251-5644

Oswald de Andradeo culpado de tudoData: até 30 de janeiro

Local: Museu da Língua Portuguesa

Horário: De ter. a dom. e fer, das 10h às 18h. Sáb, livre

Endereço: Praça da Luz, s/nº - São Paulo

Ingressos: R$ 6

Telefone: (11) 3251-5644

Natal das LuzesPaulínia 2011Data: até 8 de janeiro

Local: Parque Zeca Malavazzi

Horário: Diariamente, das 10h às 23h

Endereço: Centro - Paulínia

Ingressos: Entrada gratuita

Telefone: (19) 3874-56

Laura PausiniBenvenutoData: 21, 22 e 23 da janeiro

Local: Credicard Hall - São Paulo

Horário: 23h

Endereço: Av. das Nações Unidas, 17955

Ingressos: de R$ 60 a R$ 500

Telefone: (11) 6846-6000

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Page 63: Revista Cartaz

Missão

Ser o retrato refinado do movimento de cultura sintonizada

ao ritmo do Polo Cultural de Paulínia, servindo de entremeio para

sua difusão em cenário nacional e aproximação com o público.

Objetivo

Ser um canal de divulgação de entretenimento e informação

sobre as mais variadas formas de expressão artística

promovidas pelo Polo Cultural de Paulínia.

O Brasil está em Paulínia.

Paulínia está em Cartaz.

[email protected]

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