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 Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente: Educação Ambiental Educação em Ciências Educação em Espaços não-escolares Educação Matemática  Ângela Dalben Júlio Diniz Leiva Leal Lucíola Santos (Org. da coleção) Coleção Didática e Prática de Ensino

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e Prtica de Ensinongela Dalben Jlio Diniz Leiva Leal Lucola Santos (Org. da coleo)

Coleo Didtica

Convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente:Educao Ambiental Educao em Cincias Educao em Espaos no-escolares Educao Matemtica

COLEO DIDTICA E PRTICA DE ENSINO

CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE: Educao Ambiental Educao em Cincias Educao em Espaos no-escolares Educao Matemtica

XV ENDIPE ENCONTRO NACIONAL DE DIDTICA E PRTICA DE ENSINO CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE: POLTICAS E PRTICAS EDUCACIONAIS

REALIZAO Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais (CEFET-MG) Faculdades Pitgoras Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Universidade Federal de So Joo Del Rei (UFSJ) Universidade Federal de Viosa (UFV) Universidade Federal de Uberlndia (UFU) Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR)

Apoio Centro Universitrio de Belo Horizonte (UNI-BH) Centro Universitrio (UNA) Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Parceria Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP)

COLEO DIDTICA E PRTICA DE ENSINO

CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE: Educao Ambiental Educao em Cincias Educao em Espaos no-escolares Educao Matemtica

Copyright 2010 Os autores e organizadores Este livro ou parte dele no pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizao escrita do editor. Organizao da coleo ngela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben Jlio Emlio Diniz Pereira Leiva de Figueiredo Viana Leal Lucola Licnio de Castro Paixo Santos Organizao da Parte I do livro - Educao Ambiental: convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente Ana Maria de Oliveira Cunha Organizao da Parte II do livro - Educao em Cincias: convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente Eduardo Fleury Mortimer, Orlando Gomes de Aguiar Junior Organizao da Parte III do livro - Educao em Espaos no-escolares: convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente Silvania Sousa do Nascimento Organizao da Parte IV do livro - Educao Matemtica: convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente Maria da Conceio Ferreira Fonseca Conselho Editorial Ada Maria Monteiro Silva Ilma Passos Alencastro Veiga Jos Carlos Libneo Llian Anna Wachowicz Maria de Lourdes Rocha de Lima Maria Isabel da Cunha Vera Maria Ferro Candau Preparao de originais Marcos Evangelista Alves Capa Cedecom/UFMG - Painel: Yara Tupinamb Editorao eletrnica Looris Comunicao | www.looris.com.br Reviso A reviso ortogrfica e gramatical de responsabilidade de cada autor.

FICHA CATALOGRFICAC766 Convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente / organizao de Ana Maria de Oliveira Cunha ... [et al.]. Belo Horizonte : Autntica, 2010. 693p. (Didtica e prtica de ensino) Textos selecionados do XV ENDIPE Encontro Nacional de Didtica e Prtica de Ensino realizado na UFMG, no perodo de 20 a 23 de abril de 2010. Inclui bibliografia. Contedo: Educao ambiental Educao em cincias Educao em espaos no-escolares Educao matemtica. ISBN: 978-85-7526-464-5 1. Didtica. 2. Prtica de ensino. I. Cunha, Ana Maria de Oliveira. II. Srie. CDD: 371.3 CDU: 37.02 Elaborada pela DITTI Setor de Tratamento da Informao Biblioteca Universitria da UFMG

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APRESENTAO DA COLEO Apresentamos a Coleo Didtica e Prtica de Ensino, constituda de 6 volumes, que expressa a produo de renomados educadores, em diferentes campos temticos, convidados para o debate das Convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente: polticas e prticas educacionais, que aconteceu no XV ENDIPE. O Encontro Nacional de Didtica e Prtica de Ensino (ENDIPE) um evento cientfico, no campo educacional, que congrega profissionais que trabalham com questes relacionadas aos processos de ensino e aprendizagem. Esses profissionais so, em sua maioria, docentes e discentes que atuam nos programas de Ps-Graduao em Educao, nas Faculdades de Educao e nos sistemas de ensino das redes pblicas do pas. O ENDIPE nasceu de um pequeno seminrio, realizado na PUC/RJ, em 1982 e 1983, denominado A didtica em questo que objetivou problematizar e discutir a Didtica, sua orientao epistemolgica e poltica bem como a natureza de suas propostas para o campo do ensino. Esses seminrios contaram, na poca, apenas com a participao de cerca de 60 pessoas e deram origem aos atuais Encontros Nacionais de Didtica e Prtica de Ensino. Ocorre, a partir de ento, de dois em dois anos, em diferentes estados e so organizados por instituies de ensino superior que, na assemblia final de cada encontro, se apresentam como proponentes para sediar o prximo evento. Hoje, pode-se dizer que o ENDIPE o maior evento acadmico na rea da Educao, que pode contar uma histria de trinta anos de percurso ininterruptos, delineado em seus ltimos encontros como um evento de grande porte, com a participao de mais de quatro mil pesquisadores da rea. A finalidade dos ENDIPEs socializar os resultados de estudos e pesquisas relacionadas ao ensinar e ao aprender, o que envolve, mais especificamente, a temtica da formao docente, do ensino

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das diferentes disciplinas e do currculo. Constitui-se, portanto, em um espao privilegiado de trocas de experincias, de articulao de grupos, de questionamentos, de novas idias e de novas reflexes. O tema central Convergncias e tenses no campo da formao e do trabalho docente: polticas e prticas educacionais foi escolhido em razo do importante momento poltico vivido pela educao brasileira. O contexto atual se revela promissor em possibilidades de realizao prtica de sonhos antigos. Se nesse momento presencia-se um conjunto de crticas severas ao desempenho da educao bsica no pas, ao mesmo tempo, concretizam-se respostas importantes do governo federal com a implantao do Programa REUNI, programa de expanso das universidades pblicas brasileiras, com uma amplitude e extenso jamais vistas pela histria desse pas. Associado a ele, vem sendo criadas polticas de incentivo oferta de cursos de formao de professores tanto em nvel de graduao quanto no mbito da formao continuada e integrada a essas polticas, presenciamos, ainda, a dinmica de organizao nos diferentes Estados da federao dos FORPROFs Fruns de Formao de Professores, articuladores dessas ofertas, com a participao dos gestores das diversas universidades pblicas e dos secretrios municipais e estaduais de Educao. Vivemos, assim, um movimento profcuo participao da academia na estruturao de polticas educacionais, porque chamadas a integrar espaos e participar com a sua produo. E nesse contexto, a resposta dada por esta coleo que integra a reflexo organizada de pesquisas e prticas, extremamente oportuna para a construo dessas polticas. A coordenao geral do evento tomou a deciso de subdividir o tema central em campos bem definidos para permitir a anlise das tendncias atuais em cada campo, favorecendo a socializao dos resultados dos estudos e o dilogo com as diferentes reas. Os subtemas, em conexo com a temtica geral do Encontro, debatidos nos 90 simpsios realizados pelos pesquisadores convidados constituem a base dos 6 volumes dessa coleo, organizados a partir da confluncia

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ou similaridade dos temas ou mesmo das necessidades tcnicas de diagramao dos volumes. So eles: Alfabetizao e Letramento; Arte-Educao; Avaliao Educacional; Currculo; Didtica; Educao a Distncia e Tecnologias da Informao e Comunicao; Educao Ambiental; Educao de Jovens e Adultos; Educao de Pessoas com Deficincia, Altas Habilidades e Condutas Tpicas; Educao do Campo; Educao em Cincias; Educao em Espaos No-escolares; Educao, Gnero e Sexualidade; Educao Indgena; Educao Infantil; Educao Matemtica; Educao Profissional e Tecnolgica; Ensino da Lngua Portuguesa; Ensino de Educao Fsica; Ensino de Geografia; Ensino de Histria; Ensino de Lnguas Estrangeiras; Ensino Superior; Escola, Famlia e Comunidade; Formao Docente; Polticas Educacionais; Relaes Raciais e Educao; Trabalho Docente. Como organizadores, desejamos que esta coleo se torne um incentivo para o debate sobre as tenses presentes na Educao hoje e que esse debate encontre convergncias capazes de construir propostas vivas e criativas para o enfrentamento da luta por uma educao de qualidade para todos. Desejamos, tambm, que a alegria vivida por ns no percurso de produo deste material esteja presente nas entrelinhas desses textos, de modo a tecer, solidariamente, uma enorme rede de compromissos com a educabilidade em nosso planeta. Belo Horizonte, abril de 2010.

ngela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben Julio Emilio Diniz Pereira Leiva de Figueiredo Viana Leal Lucola Licnio de Castro Paixo Santos Organizadores da coleo

SUMRIOPARTE I EDUCAO AMBIENTAL: CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE APRESENTAO Ana Maria de Oliveira Cunha EDUCAO AMBIENTAL: DESAFIOS FORMAO/ TRABALHO DOCENTE Victor de Arajo Novicki A EDUCAO AMBIENTAL NA FORMAO INICIAL Ana Maria de Oliveira Cunha Melchior Jos Tavares Jnior A PESQUISA NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE RELACIONADO COM A TEMTICA AMBIENTAL Luiz Marcelo de Carvalho NATUREZA, TECNOCINCIAS E EDUCAO AMBIENTAL Marcos Antnio dos Santos Reigota A RELAO TEORIA-PRTICA NA FORMAO DE PROFESSORES EM EDUCAO AMBIENTAL Carlos Frederico Bernardo Loureiro LEITURAS AMBIENTAIS, UM EXERCCIO E APRENDIZADO COTIDIANO Mnica ngela de Azevedo Meyer PARTE II EDUCAO EM CINCIAS: CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE APRESENTAO Eduardo Fleury Mortimer Orlando Aguiar Jr 15

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ALTERNATIVAS DIDTICAS PARA A FORMAO DOCENTE EM QUMICA Roseli Schnetzler UMA FORMAO EM CINCIAS PARA EDUCADORES DO CAMPO E PARA O CAMPO NUMA PERSPECTIVA DIALGICA Maria Emlia Caixeta de Castro Lima A FORMAO DE PROFESSORES DE CINCIAS DA NATUREZA NA TENSO COM AS CINCIAS DE REFERNCIA: ENTRE AS COMPLEXIDADES E PRECARIEDADES DA CIDADE E DAS ESCOLAS E A BATUTA ELEGANTE, FRIA E FIRME DA CINCIA Murilo Cruz Leal RECEITA DE BOM PROFESSOR: TODO MUNDO TEM A SUA, EU TAMBM TENHO A MINHA! Slvia Nogueira Chaves A PS-GRADUAO EM EDUCAO, O ENSINO DE CINCIAS E AS LICENCIATURAS NA REA: ENCONTROS E DESENCONTROS Roberto Nardi A AO DO PROFESSOR EM SALA DE AULA: IDENTIFICANDO DESAFIOS CONTEMPORNEOS PRTICA DOCENTE Orlando Aguiar Jr. A PS-GRADUAO EM EDUCAO, O ENSINO DE CINCIAS E AS LICENCIATURAS NA REA: ENCONTROS E DESENCONTROS Rejane Maria Ghisolfi da Silva AS CONDIES DE DILOGO ENTRE PROFESSOR E FORMADOR PARA UM ENSINO QUE PROMOVA A ENCULTURAO CIENTFICA DOS ALUNOS Anna Maria Pessoa de Carvalho

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LETRAMENTO CIENTFICO EM AULAS DE QUMICA PARA O ENSINO MDIO: DILOGO ENTRE LINGUAGEM CIENTFICA E LINGUAGEM COTIDIANA Eduardo Fleury Mortimer Ana Clara Viera O VALOR PRAGMTICO DA LINGUAGEM COTIDIANA Charbel Nio El-Hani Eduardo Fleury Mortimer PARTE III EDUCAO EM ESPAOS NO-ESCOLARES: CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE APRESENTAO Silvania Sousa do Nascimento EDUCAO EM MUSEUS, CULTURA E COMUNICAO Marlia Xavier Cury A RELAO MUSEU E ESCOLA NA PRTICA DOCENTE: TENSES DE UMA ATIVIDADE EDUCATIVA Silvania Sousa do Nascimento MUSEUS E EDUCAO: DISCUTINDO ASPECTOS QUE CONFIGURAM A DIDATICA MUSEAL Martha Marandino JOVENS NOS MUSEUS: QUEM SO, AONDE VO E COM QUEM VISITAM? Sibele Cazelli PROFESSORES EM ESPAOS NO-FORMAIS DE EDUCAO: ACESSO AO CONHECIMENTO CIENTFICO E FORMAO CONTINUADA Daniela Franco Carvalho Jacobucci ACESSO AO CONHECIMENTO CIENTFICO PELA MDIA E AMBIENTES NO ESCOLARES EM UMA NOVA SITUAO EDUCACIONAL Glria Regina Pessa Campello Queiroz

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VISITAS A MUSEUS E O ENSINO DE HISTRIA Antonia Terra de Calazans Fernandes AS SEDUES DA MEMRIA NO ENSINO DE HISTRIA Francisco Rgis Lopes Ramos ARBTRIO E SENSIBILIDADE NA APRENDIZAGEM HISTRICA ATRAVESSADA PELOS MUSEUS Jnia Sales Pereira PARTE IV EDUCAO MATEMTICA: CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTE APRESENTAO Maria da Conceio Ferreira Reis Fonseca DIMENSES HISTRICAS NA FORMAO DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMTICA Maria Laura Magalhes Gomes PRESENTIFICANDO AUSNCIAS: A FORMAO E A ATUAO DOS PROFESSORES DE MATEMTICA Antonio Vicente Marafioti Garnica DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E COMUNIDADES INVESTIGATIVAS Dario Fiorentini A PARCERIA ESCOLA X UNIVERSIDADE NA INSERO DA TECNOLOGIA NAS AULAS DE MATEMTICA: UM PROJETO DE PESQUISA-AO Marilena Bittar EDUCAO MATEMTICA E AS POLTICAS DE AVALIAO EDUCACIONAL: H SINALIZADORES PARA O ENSINO DE MATEMTICA NAS ESCOLAS OU NCORAS A SEREM LEVANTADAS? Maria Tereza Carneiro Soares

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O ENSINO DE MATEMTICA E AS AVALIAES SISTMICAS: O DESAFIO DE APRESENTAR OS RESULTADOS A PROFESSORES Maria Isabel Ramalho Ortigo AVALIAO SISTMICA EM MATEMTICA: ALTERANDO FOCOS, CONCEPES E INTENES PARA SE DIMENSIONAR TENSES Antonio Miguel Anna Regina Lanner de Moura FORMAO MATEMTICA DO PROFESSOR DA ESCOLA BSICA: QUAL MATEMTICA? Plnio Cavalcanti Moreira

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PARTE I EDUCAO AMBIENTAL: CONVERGNCIAS E TENSES NO CAMPO DA FORMAO E DO TRABALHO DOCENTEAna Maria de Oliveira Cunha Organizadora

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APRESENTAO A coletnea referente Educao Ambiental apresenta 06 textos, cujos autores integraram os simposistas deste sub-tema, no XV ENDIPE - Encontro Nacional de Didtica e Prtica de Ensino, realizado entre 20 e 23 de abril de 2010, na Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, com a temtica geral: Convergncias e Tenses no Campo da Formao e do Trabalho Docente: Polticas e Prticas Educacionais. Os textos representam as reflexes dos autores, pautada em suas experincias, pesquisas, e perspectivas tericas, oferecendo ao leitor material sobre a formao e trabalho docentes na temtica ambiental. Este sub-tema apresentou 2 simpsios: Simpsio 1: Educao Ambiental na formao de professores e Simpsio 2: Cotidiano escolar, prticas pedaggicas e meio ambiente. De maneira geral, os artigos discutiram novos caminhos, para a formao de educadores ambientais, abordando os principais desafios relacionados ao trabalho docente: interdisciplinaridade, transversalidade, conscincia ambiental, participao social, falso dilema teoria e prtica, finalidades e propostas para a EA, concepo de natureza, concepo de ambiente, a disciplinaridade para a EA nos cursos de formao de professores, o exerccio do olhar sobre o cotidiano. Abrindo a coletnea, o primeiro texto do Simpsio 1 - Educao Ambiental: desafios formao/trabalho docente, objetiva contribuir para as reflexes em torno da formao e trabalho docentes na temtica ambiental, considerando que os processos educacionais e os processos sociais mais abrangentes esto intimamente relacionados, sendo inconcebvel, portanto, uma reformulao significativa da educao sem a transformao da sociedade. Inicialmente, enfatiza a legislao e as polticas educacionais que tratam da formao de professores visando a abordagem da temtica ambiental. Num segundo momento, a partir das recomendaes da Conferncia de Tbilisi, do Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e

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Responsabilidade Global e das polticas educacionais, discute o que considera ser os principais desafios colocados formao/trabalho docente. Em seguida, prope a realizao de diagnstico social, cultural e ambiental da escola e de seu entorno, entendida como uma estratgia para a formao e trabalho docentes na temtica ambiental, e, para finalizar apresenta algumas consideraes ttulo de concluso. O segundo texto - A Educao Ambiental na formao inicial, busca refletir sobre os limites e as possibilidades da disciplina Educao Ambiental na formao inicial. Com base em suas experincias, os autores argumentam sobre pontos positivos desta possibilidade. Exemplificamatividadesprticas,vivenciadasnadisciplinadeEducao Ambiental, instituda como obrigatria, em um curso de graduao em Biologia, como o mapeamento ambiental, que podem transcender o reducionismo clssico das disciplinas acadmicas, integrando outros conhecimentos, valores e atitudes advindos do contato com os saberes populares. Apontam alguns desafios da disciplina, tais como: necessidade de um tempo maior para sua abordagem; engajamento pessoal do docente responsvel; ganhos da presena de mais de um professor na disciplina; resistncia dos alunos para se envolverem nesta rea de pesquisa; Os autores concluem que a insero de uma disciplina de EA na formao inicial dos professores garante a abordagem da temtica, mas sua legitimidade e sua influncia nos cursos de graduao dependero de uma conjuntura de fatores, a serem analisados caso a caso. Fechando o simpsio 1, temos o texto - Pesquisas relacionadas com a formao de professores, onde o autor faz vrios questionamentos, a saber: As questes que tm sido apontadas como as mais significativas pelas pesquisas relacionadas com a formao de professores tm sido consideradas nas pesquisas sobre processos de formao dos educadores ambientais? As questes de investigao propostas pelas pesquisas sobre formao de educadores ambientais esto em sintonia com as questes levantadas pelos pesquisadores que tm focado suas investigaes na formao de professores?

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Os referenciais tericos que tm orientado as discusses sobre formao de professores tm sido considerados pelos educadores ambientais em suas pesquisas sobre tais processos formativos? Os caminhos apontados pelos pesquisadores interessados em processos de formao do educador ambiental esto em sintonia tericometodolgica com as propostas consideradas inovadoras pelos educadores? O autor busca estas respostas nos textos veiculados pelo GT Formao de Professores da ANPED (Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao) e a partir da seleo de um conjunto de textos sobre processos de formao de educadores ambientais, publicados nos Anais do EPEA (Encontros de Pesquisa em Educao Ambiental). O autor procura analisar aproximaes e distanciamentos entre esses campos, procurando identificar ncleos de sentidos nesses textos que apontem para dilogos possveis e desejveis. Iniciando o bloco referente ao simpsio 2, temos o texto Natureza, tecnocincias e Educao Ambiental, no qual o autor faz uma discusso cuidadosa partindo do pressuposto de que estudos antropolgicos e ecolgicos tm mostrado que diferentes noes de natureza esto relacionadas com grupos culturais e sociais diferenciados. Com os movimentos ecologistas e a sua vertente pedaggica, a Educao Ambiental, noes diferenciadas de natureza ganharam intensidade nos espaos pblicos e cientficos. Fundamentado pelos estudos e ensaios disponveis at o momento, analisa que as relaes entre natureza e cultura e as aparentes dicotomias entre elas nos mostram que estamos diante de noes polissmicas que influenciam as prticas sociais e pedaggicas cotidianas. Fundamentado nos estudos sobre as implicaes polticas, sociais, ecolgicas, culturais e educacionais das tecnocincias, que mostram que o problema ecolgico que provocam, no foram superados, o autor procura responder sobre o papel da educao, frente aos discursos contemporneos sobre a natureza, e se as prticas pedaggicas pautadas nestes discursos esto (re) definindo currculos em diferentes universidades, pelo mundo?

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O texto seguinte deste bloco - A relao teoria-prtica na formao de professores em Educao Ambiental, aborda esta questo relevante, que historicamente acompanha os debates da Educao Ambiental, considerando como contexto o espao da formao de professores, enquanto uma das principais demandas de educadores e educadoras ambientais em todo o pas. Para tanto, a partir da perspectiva crtica da Educao Ambiental, inicia com a exposio de algumas situaes tpicas e recorrentes, problematizando-as, para em seguida se afirmar a pertinncia e atualidade do conceito de prxis. Por fim, so apresentadas duas posies concretas que podem contribuir para o enfrentamento dos desafios encontrados no campo. O artigo pretende problematizar os rumos da discusso sobre teoria e prtica, a partir de situaes concretas observadas, afirmando a validade do conceito de prxis para o repensar dos caminhos tomados, e indicando dois aspectos ao final como encaminhamento concreto. O texto que finaliza esta coletnea - Leituras ambientais, um exerccio e aprendizado cotidiano, nos brinda com uma leitura bastante agradvel. A autora, a partir textos literrios procura abrir e alargar horizontes para que se possa conhecer o lugar onde se vive e ao mesmo tempo repensar o contedo escolar, a prtica pedaggica e a formao acadmica. Com muita propriedade, relata a transformao por que passou a cidade de Belo Horizonte, com a justificativa do progresso. Dados estatsticos assustadores da realidade desta capital e tambm da brasileira so descritos ilustrando a supremacia do paradigma da lucratividade sobre o da sustentabilidade. Partindo do pressuposto que sociedade, cultura e natureza no se separam, discorre sobre o mapeamento ambiental, uma estratgia de ensino, que possibilita ultrapassar os muros da escola e ajuda a identificar e analisar as relaes sociais e culturais tecidas no ambiente da casa, do trabalho, da escola, do lazer, dos cultos religiosos. Neste traado de redes, os contedos programticos emergem contextualizados e do sentido o aprender.

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Com esta coletnea, esperamos contribuir com todos aqueles que buscam a construo de uma nova Educao Ambiental, para a consolidao de uma sociedade sustentvel. Ana Maria de Oliveira Presidente da Comisso Cientfica do Subtema Educao Ambiental

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EDUCAO AMBIENTAL: DESAFIOS FORMAO/TRABALHO DOCENTEVictor Novick (PPGE/UNESA) INTRODUO Considerando que a questo socioambiental causada pelo nosso modo de produzir e consumir, e que esta sociedade que formula as polticas educacionais, cabe indagar: formar professores para qual sociedade? Entendemos, conforme Mszros (2005), que os processos educacionais e os processos sociais mais abrangentes esto intimamente relacionados, sendo inconcebvel, portanto, uma reformulao significativa da educao sem a transformao da sociedade. A formao inicial e continuada de professores fundamental para que a temtica ambiental seja abordada em todos os nveis e modalidades de ensino. Entretanto, frente ao desafio colocado pela questo socioambiental, o professor fragmentado em sua prxis (reflexo-ao), pois no participa no processo de formulao das polticas educacionais, cabendo-lhe a execuo do que foi decidido. Dentre outras, destacamos as crticas formuladas por Moreira (1999) que denuncia a falta de participao social na elaborao dos Parmetros Curriculares Nacionais, pois desconsiderou-se a experincia de estudiosos do campo e a contribuio dos professores. Isto tem dificultado a implementao da Poltica Nacional de Educao Ambiental e, particularmente, dos Parmetros Curriculares Nacionais/ Tema Transversal: Meio Ambiente, pois os professores o desconhecem ou no sabem como abord-lo transversalmente nas diferentes disciplinas. Neste sentido, este trabalho objetiva contribuir para as reflexes em torno da formao e trabalho docentes na temtica ambiental. Inicialmente, coerente ao foco proposto pelo tema geral

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de nosso Evento: Convergncias e Tenses no Campo da Formao e do Trabalho Docente: Polticas e Prticas Educacionais, vamos enfatizar a legislao e as polticas educacionais que tratam da Educao Ambiental e, particularmente, da formao de professores visando a abordagem da temtica ambiental. Num segundo momento, a partir das recomendaes da Conferncia de Tbilisi, do Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global e das polticas educacionais, discutiremos o que consideramos ser os principais desafios colocados formao/ trabalho docente: interdisciplinaridade, transversalidade, conscincia ambiental, participao social. Em seguida, propomos a realizao de diagnstico social, cultural e ambiental como uma estratgia para a formao e trabalho docentes com vistas superao dos desafios anteriormente discutidos, e, finalmente, apresentamos algumas consideraes finais. EDUCAO AMBIENTAL E FORMAO DE PROFESSORES: LEGISLAO E POLTICA EDUCACIONAL A demanda por formao de professores em Educao Ambiental (EA) no recente e tem como marco a Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA), de 1981, que determina a EA em todos os nveis de ensino e, ainda, em termos da conscientizao pblica, ou seja, sob perspectiva formal e no-formal. A EA proposta neste documento legal estava focada na capacitao da sociedade civil, de modo a contribuir para a participao ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981), abordagem que, sob uma primeira leitura, se aproximaria da perspectiva crtica de EA (GUIMARES, 2004). Assim, pode-se depreender que o cumprimento desta lei exigia a formao de professores visando uma educao para a democracia (BENEVIDES, 1996), ou seja, no basta ter conscincia ambiental, fundamental a participao nos processos decisrios de formulao e implementao de polticas pblicas. Surpreende o fato desta concepo de EA ser formulada pelo

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regime militar, mesmo que em um contexto denominado de abertura poltica (1979-1982), pois esta finalidade da EA foi defendida na Conferncia de Tbilisi (UNESCO, 1997), ocorrida em 1977 e, posteriormente, pelo Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global (TEASS, 1992), consideradas as principais referncias da EA crtica. Entretanto, apesar de propor a participao sociopoltica, a PNMA entende meio ambiente como o conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (BRASIL, 1981), vertente aqui tomada por reducionista, pois no menciona suas dimenses social, poltica, cultural e econmica. Assim, prope-se uma EA para a participao social em um meio ambiente sem gente, sem relaes sociais! Se por um lado, a Constituio Federal de 1988 avana sobre a PNMA em termos do envolvimento da sociedade civil como um dos protagonistas da defesa do meio ambiente, curiosamente expe certo retrocesso em relao Lei no 6.938, por restringir a implementao da EA ao poder pblico (QUINTAS, 2004), sem meno coletividade, e por considerar como objetivo da EA a preservao do meio ambiente (BRASIL, 1988), ou seja, por sinalizar uma concepo de educao conservacionista (LAYRARGUES, 2000), em contraposio a uma proposta de EA focada na capacitao da sociedade civil. Cabe destacar que nesta legislao o meio ambiente considerado patrimnio pblico (BRASIL, 1981) ou bem de uso comum do povo (BRASIL, 1988), o que significa reconhecer a existncia de interesses conflitantes (pblico e privados) na sociedade, em torno da questo ambiental, que se materializam em problemas/ conflitos ambientais. Desde 1981, portanto, demanda-se a formao de professores visando o desenvolvimento de uma educao para a gesto ambiental pblica, para a participao social na esfera pblica.11 A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (BRASIL, 1996) compreende que a formao bsica do cidado se dar tambm mediante a compreenso do ambiente natural e social, do sistema poltico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade. Em relao formao de professores (Dos Profissionais da Educao) no feita meno especfica temtica ambiental, mas determina-se, de modo geral, que a formao dos profissionais da educao se d de modo a atender aos objetivos dos diferentes nveis e modalidades

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Em larga medida, ser na Poltica Nacional de Educao Ambiental - PNEA (BRASIL, 1999) que se manifestaro abordagens que iro sugerir certa proximidade em relao s vertentes crticas tanto sobre o meio ambiente (VELASCO, 2002), quanto propriamente a respeito da EA. No primeiro caso, por considerar existir uma relao de interdependncia entre os seres humanos e a natureza/ meio ambiente, enquanto que em termos da EA por defender a participao social, individual e coletiva para os debates em torno da questo ambiental e a formulao e execuo de polticas pblicas e prticas sociais. Entretanto, a concepo de EA est voltada para a conservao do meio ambiente2, caracterizando uma perspectiva naturalista de EA (LAYRARGUES, 2002), mais focada na natureza do que na sociedade, ou seja, privilegiando as solues tcnicas para os problemas ambientais, em detrimento da crtica sociedade que produz a degradao ambiental e a desigualdade social. Aproximadamente duas dcadas aps a PNMA (BRASIL, 1981) ou da criao de demanda por formao de docentes para a EA, a PNEA (BRASIL, 1999) contempla a formao inicial e continuada de professores, coerente sua proposta de que a EA deveria ser desenvolvida em todos os nveis e modalidades do ensino (formal e no-formal). Apesar de representar um avano aps cinco sculos de latifndio e de degradao socioambiental o processo de aprovao da PNEA implicou veto ao Artigo 18, que garantiria recursos para a sua implementao: Devem ser destinados a aes em educao ambiental pelo menos vinte por cento dos recursos arrecadados em funo da aplicao de multas decorrentes do descumprimento da legislao ambiental (SOTERO, 2008, p. 149-150). Esta legislao (BRASIL, 1981, 1988, 1996, 1999), marcada por contradies, influenciar a formulao de polticas educacionais voltadas para a insero da temtica ambiental nos diferentes nveis e modalidades de ensino, o que lana desafios formao e trabalhode ensino (grifos nossos). 2 Em seu Artigo 1, a PNEA (BRASIL, 1999) entende por EA os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (grifos nossos).

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dos professores. Em 2001, somente trs anos aps a poltica educacional determinar a insero da temtica ambiental de modo transversal e interdisciplinar em todas as disciplinas do Ensino Fundamental (BRASIL. MEC.SEF, 1997, 1998a), o MEC publica o Programa Parmetros em Ao (BRASIL.MEC.SEF, 2001) que prope-se a contribuir para a formao continuada de professores do Ensino Fundamental, de modo a que o docente promova a abordagem da temtica ambiental no conjunto das disciplinas deste nvel de ensino3. Em 2004, seis anos aps o lanamento dos PCN/Tema Transversal: Meio Ambiente, estudo elaborado pelo MEC/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP) (VEIGA; AMORIM; BLANCO, 2005) procurou traar um diagnstico da EA no Ensino Fundamental brasileiro, a partir de dados levantados pelo Censo Escolar. Ao considerar o perodo entre 2001 e 2004, o documento sinaliza um crescimento acelerado e abrangente da EA formal: enquanto em 2001, o nmero de escolas que informaram desenvolver algum tipo de EA estava em torno de 115 mil (71,7% das escolas do pas), em 2004, esse nmero passou para 152 mil (94,9%), apontando um crescimento de 32%, caracterizado, especialmente, pela insero da temtica ambiental nas vrias disciplinas (61,2%), conforme preconizado por aqueles parmetros, e, em menor escala, pela promoo de projetos (35,7%) e disciplinas especiais (3,1%). Esta pesquisa veio mais tarde motivar a realizao de uma outra investigao que, por intermdio de abordagem, agora, qualitativa, visou aprofundar o conhecimento sobre as prticas de EA levadas a efeito por escolas pblicas e privadas de Ensino Fundamental (BRASIL.MEC.SECAD, 2006). As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em Pedagogia (BRASIL.MEC.CNE, 2006), no que se refere temtica ambiental, entendem que cabe ao Curso de Pedagogia propiciar, por meio de estudos terico-prticos, investigao e reflexo crtica, (...) a3 O Programa Parmetros em Ao adota como principal recurso pedaggico a distribuio de materiais em dois kits: um para o coordenador (subsdios para os coordenadores de grupo), outro para o professor, incluindo textos, programas de vdeo, CDs de msica, CD-ROM com informaes da legislao ambiental, cartaz com mapa das ecorregies do Brasil e compilao de diversas informaes ambientais de utilidade para o professor (BRASIL.MEC.SEF, 2001).

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aplicao ao campo da educao, de contribuies, entre outras, de conhecimentos como ... o ambiental-ecolgico, pois consideram que o egresso deste Curso dever estar apto a demonstrar conscincia da diversidade, respeitando as diferenas de natureza ambientalecolgica..., bem como realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros: sobre alunos e alunas e a realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas experincias noescolares; sobre processos de ensinar e aprender, em diferentes meios ambiental-ecolgico.... Entretanto, no fica claro neste documento o que vem a ser ambiental-ecolgico. Ainda em termos das aes especficas do MEC na implementao da PNEA, com nfase na formao de professores, cumpre apontar, finalmente, a Proposta de Diretrizes Curriculares para a Educao Ambiental (BRASIL.MEC.SECAD, 2007) encaminhada ao Conselho Nacional de Educao. rigor, trata-se de mais uma iniciativa visando solucionar a demanda por formao de professores criada com a PNMA (BRASIL, 1981), vinte e seis anos antes, bem como a implementao da poltica educacional proposta uma dcada atrs (BRASIL.MEC.SEF, 1997, 1998a), agora com foco na formao inicial de professores (curso de Pedagogia e licenciaturas), atravs da incluso obrigatria de atividade curricular/disciplina ou projetos interdisciplinares obrigatrios (BRASIL.MEC.SECAD, 2007, p. 1). Cabe ainda destacar que esta Proposta muito se aproxima do cenrio revelado na pesquisa desenvolvida pelo INEP (VEIGA; AMORIM; BLANCO, 2005), anteriormente mencionada, em que foi constatada a insero da temtica ambiental no Ensino Fundamental atravs de trs modalidades: transversal s disciplinas, projetos e disciplinas especiais.

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DESAFIOS FORMAO/TRABALHO DOCENTE: INTERDISCIPLINARIDADE, TRANSVERSALIDADE, CONSCINCIA AMBIENTAL, PARTICIPAO SOCIAL As recomendaes de conferncias internacionais de EA e as orientaes da poltica educacional permitir-nos- destacar o que consideramos como os principais desafios na formao/trabalho docente. Dentre os eventos internacionais sobre Educao Ambiental, exploraremos as recomendaes da Conferncia de Tbilisi e do Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global pois, diferente da lgica do mercado defendida pelo desenvolvimento sustentvel, fornecem subsdios para a construo de sociedades sustentveis. Na Conferncia de Tbilisi (UNESCO, 1997) foram definidos os objetivos, funes, estratgias, caractersticas, princpios e recomendaes para a EA. A alnea c pertencente Recomendao n 1, ajuda-nos a entender o porqu deste evento ser considerado um marco conceitual da EA crtica: um objetivo fundamental da educao ambiental lograr que os indivduos e a coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente natural e do meio ambiente criado pelo homem, resultante da integrao de seus aspectos biolgicos, fsicos, sociais, econmicos e culturais, e adquiram os conhecimentos, os valores, os comportamentos e as habilidades prticas para participar responsvel e eficazmente da preveno e soluo dos problemas ambientais, e da gesto da questo da qualidade do meio ambiente (UNESCO, 1997, p. 98). Esse objetivo corretamente predicado por fundamental, pois foca os alicerces de uma proposta de EA crtica, podendo ser decomposto em trs partes que se articulam para a superao

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da educao conservacionista, defendida pelos enfoques do desenvolvimento sustentvel. Primeiramente, ao fazer meno aos indivduos e coletividade, a EA proposta na Conferncia de Tbilisi descarta a abordagem reducionista da relao indivduo-sociedade, pautada no dualismo cartesiano que tende a desarticular o indivduo da sociedade, ou seja, a parte do seu todo. Este artifcio, de carter alienante, por um lado, culpabiliza de maneira geral todos os seres humanos pelos impactos ambientais, sem atribuir pesos especficos aos diferentes atores sociais Estado, mercado, sociedade, indivduo , e, por outro lado, revela o objetivo da educao conservacionista: entendendo o problema ambiental como fruto de um desconhecimento dos princpios ecolgicos [falta de informao] que gera maus comportamentos nos indivduos (LAYRARGUES, 2000, p. 89), cabe a esta concepo de educao criar bons comportamentos (id. ibid.). Este enfoque comportamentalista-individualista leva seus adeptos a associarem a degradao ambiental ao crescimento populacional do planeta um limite externo sustentabilidade (FOLADORI, 2001) , pois se a questo ambiental est relacionada ao comportamento dos indivduos, quanto maior o seu nmero, maiores sero os problemas: A educao comportamentalista centra seu esforo educativo na crena de que a transmisso de informaes provoquemudanasdeatitudes,semconsiderarainfluncia do hbito nas atitudes individuais e, por conseguinte, a influncia dos valores socialmente construdos sobre os hbitos de cada um. No considerando essas relaes, a educao comportamentalista descontextualiza [aliena] os indivduos como seres sociais que so, retirando toda a influncia que a sociedade tem sobre sua relativa autonomia (GUIMARES, 2004, p. 139-140). Em segundo lugar, a Conferncia de Tbilisi (UNESCO, 1997, p. 98) define como objetivo da EA lograr que os indivduos e a

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coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente natural e do meio ambiente criado pelo homem, resultante da integrao de seus aspectos biolgicos, fsicos, sociais, econmicos e culturais. Diferente da educao conservacionista que, atravs de outro reducionismo, privilegia os aspectos biolgicos do meio ambiente/natureza, foco das solues tcnicas, a concepo de meio ambiente proposta por Tbilisi (UNESCO, 1997) abrange os recursos naturais do planeta, as instituies e valores criados historicamente pela ao social do homem e, principalmente, a tenso existente entre ambos (esgotamento e poluio dos recursos naturais/meio ambiente). Esta concepo dialtica da relao Homem-meio ambiente explicita claramente a necessidade de se incorporar as diferentes dimenses da questo ambiental de modo interdisciplinar (cincias naturais e humanas), tanto na resoluo dos problemas ambientais, quanto nas atividades de pesquisa e ensino sobre questes situadas na interface das temticas educacional e ambiental, como a EA. Permite ainda colocar em xeque a sociedade que causa e lucra com a misria humana e com o esgotamento/poluio do meio ambiente/natureza, pois dialeticamente desloca do indivduo para a sociedade (da parte para o todo) as origens da degradao ambiental e da desigualdade social, que exigem, alm de solues tcnicas e econmicas, o questionamento das relaes sociais de produo vigentes, visando a construo de sociedades sustentveis e no de um pretenso desenvolvimento sustentvel. Tbilisi (UNESCO, 1997), em terceiro lugar, recomenda que os contedos conceituais, procedimentais e atitudinais envolvidos na concepo de EA em questo devam ter como finalidade a resoluo de problemas ambientais locais: adquiram os conhecimentos, os valores, os comportamentos e as habilidades prticas para participar responsvel e eficazmente da preveno e soluo dos problemas ambientais, apontando para a importncia da relao teoria-prtica ou reflexo-ao nesse processo, de modo a contribuir para a participao social na esfera pblica.

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Na I Jornada Internacional de Educao Ambiental, que culminou no Frum das Organizaes No-Governamentais e Movimentos Sociais, evento paralelo ECO-92, foi produzido o Teass, anteriormente mencionado. Na Introduo desse documento (TEASS, 1992, p. 1) destacada a importncia da EA, entendida como processo educativo transformador e permanente na formao de valores e na ao social para a criao de sociedades sustentveis e equitativas (id.), baseadas no respeito a todas as formas de vida (id.). O TEASS gera um ponto de inflexo no debate sobre a sustentabilidade, pois promove o deslocamento do desenvolvimento sustentvel para as sociedades sustentveis, o que fica mais claro quando o documento relaciona ao modo de produo capitalista as causas, simultaneamente, da degradao ambiental e da desigualdade social, identificando, ainda, a alienao e a falta de participao como desafios da EA: As causas primrias de problemas como o aumento da pobreza, da degradao humana e ambiental e da violncia podem ser identificadas no modelo de civilizao dominante, que se baseia em superproduo e superconsumo para uns e em subconsumo e falta de condies para produzir por parte da grande maioria [...]. Consideramos que so inerentes crise a eroso dos valores bsicos e a alienao e a no-participao da quase totalidade dos indivduos na construo de seu futuro. fundamental que as comunidades planejem e implementem sua prprias alternativas s polticas vigentes. Dentre essas alternativas est a necessidade de abolio dos programas de desenvolvimento, ajustes e reformas econmicas que mantm o atual modelo de crescimento, com seus terrveis efeitos sobre o ambiente e a diversidade de espcies, incluindo a humana (TEASS, 1992, p.1).

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Consolidando argumentos, entendemos que as Recomendaes de Tbilisi e do TEASS contrapem-se lgica do mercado, ou seja, subsuno do trabalho e da natureza ao processo de acumulao capitalista, conforme preconizam as grandes conferncias internacionais (Estocolmo, Rio-92, Johannesburgo) que discutiram o binmio desenvolvimento econmico-meio ambiente (NOVICKI, 2009). Isto significa que Tbilisi e o TEASS entendem que as propostas de sustentabilidade devem se subordinar lgica social, ao processo democrtico, e no somente aos interesses da classe social hegemnica (capitalistas). Sob essas perspectivas, a educao para sociedades sustentveis (EA crtica), no que se refere formao de professores, assumiria dois grandes desafios: i) a construo de uma conscincia ambiental, entendida como compreenso de que somos naturalmente humanos e humanamente naturais (dupla determinao natural e social) e, ainda, ii) a organizao e mobilizao com vistas participao social nos processos decisrios de formulao e implementao de polticas pblicas (NOVICKI, 2007a, 2007b; LOUREIRO, 2007; LOUREIRO et al., 2009). Do ponto de vista das aes especficas do MEC, os Parmetros Curriculares Nacionais fornecem orientaes voltadas insero da temtica ambiental na Educao Infantil (BRASIL.MEC.SEF, 1998b) e no Ensino Fundamental (BRASIL.MEC.SEF, 1997, 1998a), por intermdio de trs Blocos de Contedos que visam, respectivamente, levar o aluno a: i) conhecer os principais conceitos da temtica ambiental referidos aos aspectos biolgicos do meio ambiente; ii) entender a relao que o Homem e a sociedade estabelecem com a natureza/meio ambiente; e, ainda, iii) refletir sobre a possibilidade de desenvolvimento de aes que visem, em carter preventivo ou corretivo, a resoluo (tcnica, econmica, legal, entre outras) dos problemas ambientais4. Em sntese, objetiva-se a construo de4 Sobre os problemas relacionados formulao dos PCN em geral, veja-se, por exemplo, Moreira (1999) e FE.UFRGS (1999). J em relao questo da transversalidade, veja-se Macedo (1999) que, alm de problematizar a idia de currculo disciplinar nos termos de sua suposta incapacidade de dar conta da realidade pluridimensional, coloca em questo, de um lado, a necessidade de criao de mecanismos integradores das diferentes disciplinas e, de outro, a prpria

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conhecimentos sobre o funcionamento da natureza, da sociedade, e suas articulaes. J em termos do Ensino Mdio Profissional (rea de Meio Ambiente), os trs Blocos de Contedos destinados insero transversal curricular da EA, acima mencionados, so agora considerados funes ou competncias a serem desenvolvidas na formao do Tcnico em Meio Ambiente (BRASIL.MEC.SEMTEC, 2000), objetivando: i) identificar e caracterizar os processos de conservao e de degradao natural; ii) avaliar os diferentes impactos ambientais decorrentes da explorao dos recursos naturais e das atividades produtivas em geral, na perspectiva do desenvolvimento sustentvel, e, por ltimo, iii) aplicar os princpios de preveno e correo dos impactos ambientais (legislao, gesto ambiental, educao ambiental e uso de tecnologias). DIAGNSTICO SOCIAL, CULTURAL, AMBIENTAL: SITUAO DE APRENDIZAGEM INTERDISCIPLINAR SIGNIFICANTE A educao, em uma pedagogia emancipadora, busca contribuir para a compreenso da realidade e para a transformao, simultaneamente, da sociedade e da educao (MSZROS, 2005). A abordagem dos contedos programticos ou dos conhecimentos a serem construdos, nesta concepo de educao, considera, como importante recurso pedaggico, a realidade vivenciada pelos alunos em seus locais de estudo, moradia e trabalho, destacando-se a diversidade cultural e a desigualdade/excluso social que caracterizam a nossa sociedade. Esta pedagogia fundamenta-se no entendimento de que as relaes sociais de dominao e de explorao capitalista so internalizadas, como ideologia dominante que informa a leitura do cotidiano, e materializam-se nos problemas sociais e ambientais da rua, bairro, cidade, pas... Cabe educao explicitar a articulaosuperao deste tipo de estruturao curricular. Cabe ainda destacar Alvarez et al. (2002) que, embora no trate da realidade brasileira em particular, rene reflexes tericas e experincias sobre o conceito e a potencialidade educativa dos temas transversais nas instituies educacionais espanholas, em diferentes nveis e modalidades de ensino.

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entre a produo da vida real (essncia) e a vida comum (aparncia) (MARX; ENGELS, 1987). O estabelecimento desta vinculao sociedade-educao cria condies para o exerccio da cidadania e superao da alienao, que perpetua a degradao socioambiental causada pelo nosso modo de produzir e consumir coisas e pessoas (modo de produo capitalista). Educao Ambiental cabe, por um lado, re-inserir o Homem no meio ambiente, de forma a perceber-se como humanamente natural ou naturalmente humano (MARX, 2004) que, atravs do trabalho, transforma a natureza/a si prprio em uma relao dialtica (DELUIZ; NOVICKI, 2004) e, por outro, superar nossa cultura poltica autoritria (NOVICKI, 1998) e seus reflexos na relao Estado-Sociedade, tendo como perspectiva reordenar as relaes entre o pblico e o privado, no sentido de estimular a politizao dos indivduos (participao) ou a construo de uma identidade coletiva (interesses pblicos, inclusive os relacionados temtica socioambiental), em oposio tendncia de priorizar seus interesses individuais e imediatos (privatizao dos interesses). Como vimos, a Conferncia de Tbilisi (UNESCO, 1997) considera como mtodo de formao eficaz na Educao Ambiental a adoo de estratgias de aprendizagem que privilegiem a soluo de problemas que, segundo Layrargues (1999), pode envolver duas abordagens terico-metodolgicas: a resoluo de problemas ambientais como uma atividade-fim, priorizada ecoempresrios socioambientalmente responsveis (ALMEIDA, 2002; HAWKEN; LOVINS; LOVINS, 1999), ou na perspectiva de constituir-se em recurso pedaggico (tema gerador) para discutir a sociedade. Podemos exemplificar estas distintas formas de aproximao da realidade atravs de uma ressignificao da conhecida metfora do efeito domin: enquanto a resoluo de problemas ambientais como atividade-fim concentra-se, atravs unicamente de solues tcnicas (FOLADORI, 2001), no ltimo domin cado - o fenmeno ou o problema ambiental (esgotamento e poluio da natureza/ meio ambiente), a perspectiva que o encara como meio para discutir

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a sociedade ou como sntese local das relaes de dominao e explorao capitalistas mundializadas, focaliza, alm do problema ambiental, todo o processo social que o gerou - a essncia, o conflito entre bem privado e interesse pblico, ou seja, as peas do domin que caram antes da ltima. Nesta viso de mundo, a realizao de uma caracterizao social, econmica, cultural e ambiental da escola e seu entorno, permite resgatar a trajetria dos problemas socioambientais locais e a identificao de temas geradores, uma estratgia do mtodo de alfabetizao de pessoas jovens e adultas criado por Paulo Freire (1984), adotada como metodologia de interveno crticotransformadora na realidade. Temas geradores, segundo Brando (1985, p. 37/8), so temas concretos da vida que espontaneamente aparecem quando se fala sobre ela, sobre seus caminhos, remetem a questes que sempre so as das relaes do homem: com o seu meio ambiente, a natureza, atravs do trabalho; com a ordem social da produo de bens sobre a natureza; com as pessoas e grupos de pessoas dentro e fora dos limites das comunidades, da vizinhana, do municpio, da regio; com os valores, smbolos, idias. Este diagnstico5, produto da parceria entre professores, alunos, funcionrios e moradores, e a busca de soluo para os problemas socioambientais locais, constitui-se em uma situao de aprendizagem interdisciplinar significante (PERRENOUD, 2000), pois (a) viabilizaria adotar uma concepo pedaggica que articula pesquisa, ensino, prxis (MACCARIELLO; NOVICKI; CASTRO, 2002), (b) consideraria a realidade como uma unidade multifacetada, que exige a contribuio de diferentes reas do conhecimento (interdisciplinaridade) para sua compreenso (reflexo) e transformao (ao), e, principalmente,5 Este tipo de levantamento recomendado pelo Programa Parmetros em Ao, com a seguinte denominao: Diagnstico e Avaliao: um ponto de partida para a construo de Projetos de Trabalho em Educao Ambiental, e considerado como etapa fundamental para montagem e desenvolvimento de atividades de educao ambiental (BRASIL.MEC.SEF, 2001).

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(c) permitiria o tratamento de contedos programticos das diferentes disciplinas de maneira articulada ao cotidiano de professores, alunos, funcionrios, comunidade. A metodologia da resoluo de problemas ambientais locais, como uma situao de aprendizagem, est relacionada a outra competncia para ensinar proposta por Perrenoud (2000): Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento, que contribuam para desconstruo e superao do senso comum sobre o pesquisador6, a atividade de pesquisa e a realidade social, cultural e ambiental (e sua transformao), resgatando o conhecimento terico acumulado e criando condies para a gerao de novos conhecimentos. As atividades desenvolvidas para a elaborao deste diagnstico contemplam (a) o levantamento de dados/informaes em rgos pblicos e privados, instituies de pesquisa, organizaes no-governamentais, internet etc. (anlise de documentos), (b) elaborao e aplicao de questionrios e realizao de entrevistas junto comunidade do entorno, professores, funcionrios e alunos, (c) levantamento com antigos moradores (histria de vida), visando entender como era e como est hoje o local e identificar lideranas comunitrias e, desta forma, tambm valorizar o conhecimento popular, (d) observao atenta da realidade. Em sntese, esta estratgia de aprendizagem permite articular resoluo de problema, tomada de conscincia e produo de conhecimentos, uma abordagem tericometodolgica indicada para o desenvolvimento de atividades de EA, visando interveno e transformao da realidade socioambiental (LAYRARGUES, 1999). Os objetivos de aprendizagem consistiriam em (a) entender a complexidade do meio ambiente, ou seja, superar leitura reducionista do meio ambiente, que enfatiza seus aspectos biolgicos (natureza) e desconsidera suas dimenses social, econmica, poltica e cultural (interdisciplinaridade), permitindo transcender a alienao (Homem6 Neves; Leite (2002, p. 164) formulam a seguinte questo: Tornar-se cientista uma questo de vocao natural de indivduos geniais ou um fato cultural, supondo, necessariamente, todo um processo de aprendizagem e de formao de hbitos e de mentalidade sobre o ser cientista e o fazer cincia?

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natureza) e re-inserir o ser humano em seu tempo e espao (ser histrico naturalmente humano ou humanamente natural), (b) entender que no existem problemas ambientais estrito senso, pois todo problema ambiental afeta os seres humanos constituindose, assim, em problemas socioambientais, (c) identificar a relao entre desigualdade/excluso social e degradao ambiental, que tm como causa comum o modo de produo capitalista, (d) entender que existem diferentes fatores/atores que se articulam na conformao do quadro de degradao socioambiental, (e) entender a importncia de participar efetivamente na formulao e implementao de polticas pblicas e prticas sociais e, desta forma, superar as limitaes impostas por uma persistente cultura poltica autoritria (NOVICKI, 1998), que pode ser percebida ao se tentar organizar/mobilizar a populao em torno de seus interesses e estimular a participao, (f) perceber, no balco dos rgos pblicos - ao solicitar informaes, denunciar responsveis por problemas socioambientais - o tratamento diferenciado dado classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2001), (g) entender que sua realidade tratada de forma fragmentada pelo governo atravs de diferentes rgos, o que contribui para o esvaziamento do poder de presso da sociedade (necessidade de reivindicar em diferentes rgos e esferas governamentais), o que agravado pela desarticulao das polticas setoriais (saneamento, sade, educao, habitao, transporte), tambm resultado das alianas polticas construdas no processo eleitoral (NOVICKI, 2007b). CONSIDERAES FINAIS Como vimos, a legislao e poltica educacionais so marcadas por contradies, particularmente entre as concepes de meio ambiente e as finalidades propostas para a EA, o que, em nosso entender, decorrem do fato da correlao de foras presente na sociedade, em torno dos interesses ligados questo ambiental, ser internalizada pelo Estado, materializando-se em tenses presentes nestes documentos. Assim, por um lado, criam-se inovaes legais,

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administrativas e polticas que atendem s demandas locais e da comunidade internacional e, por outro, negam-se os recursos previstos para a implementao da Poltica Nacional de Educao Ambiental. Da mesma forma, os professores so cobrados a abordarem transversal e interdisciplinarmente a temtica ambiental, sem que tenham participado dessas discusses ou recebido formao inicial ou continuada. Este quadro nos remete questo inicialmente formulada: qual sociedade formar professores para a abordagem da temtica ambiental, visando a compreenso e transformao da realidade socioambiental? REFERNCIAS ALMEIDA, Fernando. O bom negcio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. LVAREZ, Mara Nieves et al. Valores e temas transversais no currculo. Porto Alegre: Artmed, 2002 (Coleo Inovao Pedaggica, 5). ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmao e a negao do trabalho. 5.ed.. So Paulo : Boitempo, 2001. BENEVIDES, Maria Vitria de Mesquita. Educao para a Democracia. In: Lua Nova, So Paulo: CEDEC, n 38, p. 223-237, 1996. BRANDO, C. R. O que mtodo Paulo Freire. So Paulo : Brasiliense, 1985. p. 37-38. BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil. Braslia, 5 out. 1988. BRASIL. Lei no 6.938, de 31 de outubro de 1981. Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de

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A EDUCAO AMBIENTAL NA FORMAO INICIALAna Maria de Oliveira Cunha PPGED e PPGECRN (UFU) Melchior Jos Tavares Jnior Universidade Federal de Uberlndia INTRODUO Desde a constituio de 1988, quando a preservao do meio ambiente passou a ser oficialmente um dever do Estado, a Educao Ambiental (EA) comeou a ocupar um espao cada vez maior na poltica educacional brasileira, sendo formalizada como tema transversal nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) em 1997. Dois anos mais tarde, a Poltica Nacional de EducaoAmbiental (PNEA) foi instalada na forma de lei (BRASIL, 1999) definindo a temtica e dispondo sobre sua obrigatoriedade no processo educativo formal. Com base na lei que instituiu a PNEA, no plano Nacional de Educao (Lei n 10.172/01) e no decreto 4.281/02, que regulamenta a PNEA, o jurista Horcio Wanderlei Rodrigues (2002) afirma que obrigatria a ocorrncia transversal da temtica em todo sistema de ensino formal, por expressa previso legal, independente de diretrizes curriculares. Nessa mesma direo, o ministro do Supremo Tribunal Federal Herman Beijamin (2009), em recente seminrio comemorativo dos 10 anos da PNEA, chamou a ateno para o fato de que, no Brasil, a EA tem o privilgio de estar deitada em bero esplndido, ou seja, amparada no texto constitucional e por isso mesmo passvel de ao pblica que garanta sua ocorrncia. Em relao forma de ocorrncia da EA no sistema de ensino formal, a transversalidade est posta, superando a abordagem interdisciplinar recomendada desde Tbilisi (1977). Entretanto, o texto da lei que instituiu a PNEA deixa uma brecha para a criao de uma

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disciplina de Educao Ambiental nos cursos de ps-graduao, extenso e nas reas voltadas ao aspecto metodolgico (BRASIL, 1999), resultando muito mais numa falta de clareza sobre como a temtica deve ocorrer no ensino superior (SORRENTINO, 2009). Apesar do pas possuir uma legislao sobre a EA no Ensino Superior, a ocorrncia da temtica s pode ser entendida se atravessarmos os conjuntos normativos da lei em direo ao universo acadmico, sua constituio, seu modo de ver e representar o mundo. Se por um lado, a legislao importante, por outro preciso reconhecer sua fragilidade diante das condies gerais para sua ocorrncia no ambiente acadmico estranhamento em relao ao conceito; apropriao indbita dos conceitos ambiente e educao; departamentalizao; especializao; cultura disciplinar; rupturas paradigmticas (FERRARO JR., 2004). Para o enfrentamento desse panorama, a busca por um suporte terico parece encontrar um horizonte formado por imagens difusas que mudam de lugar ou que se sobrepe, dificultando sua identificao, bem como nossa filiao a eles. Esse desamparo, que no parece ser somente nosso, fica explcito tanto nos eventos cientficos sobre EA, por meio das palestras e dos resultados das pesquisas, bem como pela dificuldade de encaminhamento oferecido pela literatura de referncia. Mais recentemente, a palavra de ordem tem sido a volta aos clssicos, visto que, nem mesmo se conseguiu atingir uma definio para a temtica enquanto campo de conhecimento ou no. Assim, a universidade permanece como um lugar acima de qualquer suspeita, tendo o monoplio de fazer e responder suas prprias perguntas, quando e se assim o desejar. No que se refere EA, esta parece mesmo aguardar sua oportunidade de emergir como resultado de um saber ambiental (LEFF, 2001), que se apresenta muito mais como um contraponto cincia normal, conforme postulava Thomas Kuhn (1989), do que propriamente uma realidade imediata e palpvel. Na perspectiva Khuniana, compreendemos que o saber ambiental , em si mesmo, cincia revolucionria, na medida em que emerge do espao de excluso gerado no desenvolvimento

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das cincias, estendendo-se para o terreno da tica, da prtica e da cultura, visando outra racionalidade, a racionalidade ambiental (LEFF, 2001). Diante desse quadro, faz-se necessria uma compreenso o mais profunda possvel das condies a partir das quais a EA se originou, de modo a jogar luz sobre seus desdobramentos na formao inicial dos professores, com nfase na incluso da disciplina EA nos cursos de graduao. Com esse objetivo, busca-se refletir na primeira parte do texto sobre a passagem do perodo medieval para a modernidade, perodo nevrlgico da relao homem e natureza, visto a revoluo provocada pela experincia do homem em descobrir a si mesmo. Para tanto, o conceito de esclarecimento, discutido pelos alemes Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1885-1973), nos parece uma contribuio fundamental, visto tratar-se de dois modernos que criticam profundamente a racionalidade instrumental, embora recebam crticas por no apontarem caminhos concretos para sua superao, ou mesmo pela publicao fragmentada de suas idias, dificultando sua compreenso. Juntamente com Herbert Marcuse, Walter Benjamim e Jrgen Habermas, os autores foram os principais responsveis pelo desenvolvimento da Teoria Crtica no incio do sculo XX, no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, Alemanha. Na segunda parte do texto, pretende-se recuperar as poucas pesquisas sobre a trajetria da EA na formao inicial, tendo como ponto de partida a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente no Rio de Janeiro, a Eco-92. Longe de discutir a incluso da disciplina de Educao Ambiental como evidncia da vitalidade da razo instrumental moderna, nosso objetivo ponderar sobre as possibilidades deste fenmeno que um fato que se situa no espao entre o ideal e o real da universidade brasileira nos dias atuais. Alm do retorno a Ren Descartes, outros pensadores tambm fazem parte dessa reflexo com destaque para Pedro Goergen, Fritjof Capra e Edgar Carvalho, Marta Tristo, Mauro Grn e Maurcio Compiani.

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O CONTEXTO DE ORIGEM E OS LIMITES DA EDUCAO AMBIENTAL Para Adorno e Horkheimer (1985, p. 19) o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posio de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. Essa calamidade fica explcita nas palavras de Goergen (2001, p. 20): A tentativa de desencantar o mundo, de dissolver os mitos e substituir a imaginao pela razo transformouse, aos poucos, num poder que j no conhece barreiras nem limites, que no se detm nem ante a destruio da natureza, da escravizao da criatura, ou da manipulao do prprio ser humano. Esse desencantamento do mundo e a dissoluo dos mitos so fundamentais no pensamento de Adorno e Horkheimer, uma vez que, para garantir a felicidade do homem, o conhecimento deveria ser objetivo e til (1985, p. 20). O prprio mito, por ter como elemento bsico o antropomorfismo, por ser uma forma de projeo do subjetivo na natureza e tambm por ritualizar-se, acabou sendo compreendido como resultado do prprio esclarecimento (p. 22-23). A diferena essa e que ainda permanece: enquanto o mito perseguido pela aproximao em relao ao objeto, a cincia se constituiu pelo distanciamento progressivo em relao ao objeto (p. 25). Segundo Adorno e Horkheimer (1985, p. 21), no trajeto para a cincia moderna, os homens renunciaram ao sentido e substituram o conceito pela frmula, a causa pela regra e pela probabilidade. Nesse sentido, Goergen (2001, p. 20) afirma: A forma de racionalidade que passa a ser considerada cientfica, certa e segura, separa-se e distancia-se daquela outra vigente nas decises prticas (morais) e estticas que requerem a explicao e a consistncia

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interior dos sistemas de valor para a derivao de atos de deciso. O esclarecimento, portanto, pode ser definido: uma nica distino, a distino entre a prpria existncia e a realidade, engolfa todas as outras distines. Destrudas as distines, o mundo submetido ao domnio dos homens (ADORNO E HORKHEIMER, 1985, p. 23). Esse panorama de calamidade apresentado por Adorno e Horkheimer comea a se constituir a partir de pensadores como Kepler (1571-1630), Galileu (1564-1642), Bacon (1561-1626), Descartes (1596-1650) e Newton (1642-1727), os quais ofereceram um arcabouo conceitual e metodolgico capaz de orientar e sustentar a cincia nascente. Segundo o fsico austraco Fritjof Capra (1982, p.49), o que aconteceu foi que a perspectiva medieval mudou radicalmente nos sculos XVI e XVII. A noo de um universo orgnico, vivo e espiritual foi substituda pela noo do mundo como se ele fosse uma mquina e a mquina do mundo converteu-se na metfora dominante da era moderna. Conforme Grn (1996, p. 33), foi nessa etapa da histria que o homem se fez o centro e a medida e o fim de todas as coisas! Conforme o autor, este Homem moderno e universal que est surgindo orgulhoso de si e procura reordenar as lacunas deixadas pela teologia medieval por intermdio de si mesmo. Entretanto, Grn considera que ser somente com Descartes que esse homem assumir a unidade at ento representada por Deus. Para o autor, Descartes acreditava que a razo poderia ser o centro de referncia para a unidade perdida: Para conferir a to pretendida unidade razo, Descartes vai precisar de algo em relao ao qual essa razo possa se impor, tornando-se, assim autnoma. Ele precisa preencher o vcuo deixado pela teologia medieval. O problema metodolgico enfrentado por Descartes era o seguinte: se existe uma unidade da

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razo, deve haver algo que necessariamente no seja uno e, portanto, divisvel. Este algo o mundo, a natureza, tornada objeto da razo (GRN, 1996, p. 3435). Essa produo na passagem do clssico para o moderno s foi possvel porque o homem transita de uma postura passiva para uma postura ativa diante do prprio conhecimento. At ento, este trnsito era impossvel porque lhe faltava a conscincia de sua capacidade para faz-lo, ou seja, sua subjetividade. A est a grande influncia cartesiana, conforme nos mostra a declarao do autor nas Meditaes sobre a filosofia primeira, 1641. Mas o que sou ento? Uma coisa pensante. O que quer isto dizer? Quer dizer: uma coisa que duvida, que compreende, que afirma, que nega, que quer, que no quer, que tambm imagina e que sente (DESCARTES, 1988, p. 124). No cartesianismo, o homem far uso exclusivo de sua razo a fim de compreender concretamente a natureza, no tendo mais que calar-se numa atitude relacional como preconizava Tomz de Aquino. O conhecimento, que era teologicamente e aristotelicamente prproduzido para o indivduo, passa a ser racionalmente produzido pelo indivduo. No sculo XVIII, o criticismo de kant e o iluminismo vo acentuar a razo e o antropocentrismo como referncia nica para o pensamento. Segundo Aranha e Martins (1992), o iluminismo buscava atender as necessidades humanas, combater os mitos e dogmas religiosos, transformar o servo em um cidado detentor de direitos civis. Para Goergen (2001, p. 12), Immanuel Kant (1724-1804), com sua obra Crtica da razo pura, transformou o conceito de metafsica, entendida como a cincia do absoluto, no estudo dos limites da razo humana. Para Ribeiro (2007, p. 13):

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O iluminismo principalmente atravs de Augusto Conte vai expurgar os resqucios religiosos medievais e autenticar a viso antropocntrica e pragmtica no imaginrio cultural e no universo ideolgico, a partir do momento em que h uma transposio s regras lgicoformais da perspectiva mecanicista das cincias naturais para as cincias humanas. Embora Adorno e Horkheimer sejam defensores do ideal da razo, os mesmos afirmam por mais de uma vez que o esclarecimento totalitrio (1985, p. 22; 37). Essa totalidade assim definida pelos autores: O preo da dominao no meramente a alienao dos homens com relao aos objetos dominados; com a coisificao do esprito, as prprias relaes dos homens foram enfeitiadas, inclusive as relaes de cada indivduo consigo mesmo. Ele se reduz a um ponto nodal das reaes e funes convencionais que se esperam dele como algo objetivo (p.40). Para esses pensadores, o pensamento torna-se ilusrio sempre que tenta renegar sua funo separadora, de distanciamento e objetivao. (1985, p. 50). De resto, outra coisa no possvel seno a insegurana e o medo (ADORNO E HORKHEIMER, 1985, p. 35), uma raiz do que atualmente vem sendo chamado de medo ecolgico ou medo planetrio (ALPHANDERY, et al. 1992). Na tentativa de sintetizar as idias at agora colocadas recorremos ao pensamento do filsofo Edgar de Assis Carvalho. Para ele, a ciso entre a cultura cientfica e a das humanidades permanece intocada. Produto da viso cartesiana e newtoniana, paradigma do mundo ocidental, essas duas culturas no se intercomunicam, cada uma vivendo s custas dos escombros da outra. Malgrado

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os esforos de mltiplas reas do conhecimento em religar saberes, essas iniciativas constituem dissipaes, brechas que no conseguem abalar o slido edifcio das dualidades instaladas no universo da poltica, da economia e da cultura. No ensaio As duas culturas, de 1959, Charles Snow ponderou que enquanto esses dois sentidos do mundo estiverem separados, nenhuma sociedade ser capaz de se pensar com sabedoria (CARVALHO, 2003, p. 29). a partir do sentido dessa sntese que se compreende a disposio de Mauro Grn (1996, p. 59) em falar sobre uma impossibilidade para a EA a partir dos moldes do pensamento atual, dentro do qual grande a dificuldade para se escapar do aprisionamento da linguagem da mecnica clssica em direo a uma compreenso perspectiva complexa e multifacetada da crise ecolgica. Para o autor, o que ocorreu durante os sculos passados foi uma educao noambiental na formao das pessoas. Ainda segundo o autor, tratase de uma abordagem no permitida no mbito da modernidade cartesiana; so as reas de silncio nos currculos modernos. Atualmente, a EA emerge dessas reas de silncio como zonas de indeterminao (COMPIANI, 2001, p. 46), causando, evidentemente, os mais diversos estranhamentos, especialmente no ensino superior, instncia responsvel pela formao de professores para a Educao Bsica. A EDUCAO AMBIENTAL NA FORMAO INICIAL Apesar da Conferncia das Naes Unidas em 1992 ter sido um marco na EA brasileira, a universidade desde ento parece assumir com cautela essa discusso, o que se reflete na formao inicial dos professores. Conforme Reigota (2007), o muro da indiferena foi rompido em muitas universidades, com o acolhimento da temtica por muitos professores de diversos departamentos, assumindo, como uma

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minoria ativa, a singularidade de colocar em evidncia a perspectiva ecolgica. Por sua vez, coerentemente s condies acadmicas apresentadas anteriormente (FERRARO JR., 2004), a insero de uma disciplina para abordar a temtica parece ser um dos principais instrumentos adotados at ento. Conforme Silva (2001), em 1998, 19 licenciaturas em Cincias Biolgicas no estado de So Paulo j haviam inserido a disciplina EA em suas grades curriculares. Em 2005, a Rede Universitria de Programas de Educao Ambiental (RUPEA) apresentou um relatrio no qual as 38 disciplinas aparecem como uma das formas de insero da EA em diversas graduaes, sendo 23 obrigatrias, 12 optativas e 03 eletivas. O levantamento tambm permitiu observar uma possvel relao entre disciplinas e projetos, embora no tenha sido seu objeto estabelecer as caractersticas da mesma. Em recente pesquisa com educadores ambientais, professores de Instituies de Ensino Superior (IES) e pesquisadores daAssociao Nacional de Ps-Graduao em Educao (ANPED) sobre a incluso de disciplinas especficas de EA nos currculos do ensino superior, Andrade (2008) afirma que as opinies so divergentes: (...) h os que reconhecem na disciplina uma alternativa para superar a incapacidade do sistema atual de ensino em incorporar a transversalidade desta temtica, e os que entendem que a incluso de disciplina especfica significa fragmentar ainda mais o currculo de ensino. Portanto, no h um consenso sobre a pertinncia da incluso de disciplina especfica no currculo, mesmo entre os que oferecem esta disciplina. Apesar da divergncia entre os participantes, a pesquisa de Andrade d um passo adiante na investigao da referida temtica, iniciada na dcada de 1990 e que teve como marco histrico a tese de doutorado de Marcos Sorrentino, em 1995:

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(...) identificou-se que disciplinas de EA so oferecidas em diferentes modalidades (eletiva, obrigatria, optativa) e licenciaturas (Cincias Biolgicas, Educao Fsica, Enfermagem, Fsica, Matemtica, Msica, Pedagogia e Qumica), com periodicidade varivel. As ementas so atualizadas a cada dois anos em mdia e os autores constantes na bibliografia variam segundo os cursos e objetivos, sendo que alguns autores so recorrentes. H grande variedade de recursos pedaggicos utilizados, mas prevalecem a exposio oral e a apresentao de vdeos. Os problemas ambientais locais so abordados nas disciplinas e h envolvimento dos docentes em atividades extra-curriculares (movimento ambientalista) (ANDRADE, 2008). Se por um lado, Sorrentino (1995) chama a ateno para a discusso sobre a insero da EA no Ensino Superior na forma disciplinar como uma alternativa para aglutinar foras no fragmentado contexto acadmico, mais adiante, Tavares Jr. (2005) no apenas corroborava o pensamento do autor, mas tambm recomendava que a disciplina de EA deveria ser ministrada por professores de diferentes reas do conhecimento. Recentemente, Ovigli (2010), numa pesquisa sobre a insero da disciplina EA na formao inicial dos pedagogos afirma que a mesma no pode restringir-se aos aspectos sobre o como ensinar e sim precisa ser acompanhada de uma reflexo sobre os problemas ambientais mais amplos, bem como de um dilogo com outras disciplinas como a antropologia, a sociologia e a histria. Apesar da pesquisa de Andrade (2008) ampliar a compreenso da temtica no ensino superior, novas incurses se fazem necessrias para uma compreenso mais abrangente da disciplina. Nesse sentido, a experincia da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar) nos parece pertinente. Oliveira (2000) afirma que o dilogo com outras reas do conhecimento foi um dos principais aspectos contemplados pela

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disciplina Ensino e Pesquisa em EA, oferecida aos oito cursos de licenciatura da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar). Segundo a autora, uma deciso acertada e fundamental, mas no sem dificuldades, foi a de reunir alunos e professores de diferentes reas de conhecimento, para enfrentar um dos grandes desafios da EA, que a constituio de uma equipe de trabalho interdisciplinar. Ainda segundo a autora: Apesar dos erros e acertos a vivncia do processo permitiu a todos uma reflexo e reviso de suas atitudes enquanto educadores e aprendizes. Reconhecendo, ainda, que todo trabalho em EA requer mudanas de conceitos, concepes, valores e atitudes, e que o educador precisa ter competncias e habilidades especficas para conduzir esse processo, durante a disciplina pudemos - alunos e professores enfatizar a importncia de trabalhar nossas limitaes, uma vez que o processo comea por ns educadores. Outro aspecto a ser considerado a necessidade de promover situaes de ensino que provoquem nos alunos, de maneira mais radical, uma reviso tanto cognitiva como afetiva dos seus paradigmas epistemolgicos, de seus valores culturais, e da sua maneira de ser e estar no mundo fsico e social. Em relao criao da disciplina, a autora conclui: Frente atual conjuntura educacional sustentamos a posio de que h especificidades no ensinar a aprender sobre a temtica ambiental que requerem, ainda que transitoriamente, um espao curricular especfico, porm, inserido em vrios momentos da formao, uma vez que, para estimular as mudanas apontadas consideramos necessria ampliar as oportunidades de experincias nesta direo.

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A experincia relatada por Oliveira (2000) nos leva a considerar que a insero de uma disciplina especfica, oferecida s diversas reas do conhecimento parece surtir mais efeito do que a insero da disciplina dentro de um curso, somente para alunos daquele curso. Essa experincia, sobretudo, nos leva a compreender que a referida disciplina no ensino superior pode significar muito mais um processo de ajustamento entre o ideal e o real que visa uma mudana de valores e atitudes do que uma simples acomodao da questo, permitida pela brecha da lei 97975/99. Embora defenda a transdisciplinaridade, a autora afirma que os professores vem a disciplina como um espao para tratar da questo e no no sentido convencional de engessamento dos contedos (OLIVEIRA, 2009). Apesar de Rachel Trajber (2009) afirmar que devemos ser mais criativos do que simplesmente implantar uma disciplina, os participantes da pesquisa de Andrade (2008) afirmaram ser favorveis ao encaminhamento de uma proposta do rgo Gestor da Poltica Nacional de Educao Ambiental ao Conselho Nacional de Educao (CNE), sugerindo a incluso obrigatria de atividade curricular, disciplina ou projetos interdisciplinares na Pedagogia e em outras licenciaturas. Por fim ou por comeo, o que se apresenta diante dos pesquisadores da EA efetivao da disciplina na formao inicial e, de agora em diante, h que se lidar com essa realidade, seus limites e possibilidades, para alm da impossibilidade apregoada por Grn (1996). Em 2005, por ocasio de seu novo projeto pedaggico, o curso de Licenciatura em Cincias Biolgicas da Universidade Federal de Uberlndia incluiu, no stimo perodo, a disciplina Educao Ambiental. De carter obrigatrio, a disciplina passou a ser oferecida a partir do primeiro semestre de 2009, possuindo uma carga horria de 60 horas. Conforme Tavares Jr. (2005) havia percebido em seu estudo de mestrado, a temtica j era presente no curso, sendo contemplada pelos professores da rea de Prtica de Ensino e pela iniciativa de alguns professores de disciplinas como Ecologia, Introduo Biologia, etc... Entretanto, aquele estudo tambm revelou que nas

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demais disciplinas do curso, cujo foco a pesquisa, o assunto no era mencionado em sala de aula. Diante dessa oferta inicial da disciplina, decidiu-se por uma investigao situada durante os dois semestres de 2009, assumindo tanto a participao quanto a escuta sensvel (TRISTO, 2004), o que foi possvel pelo acolhimento da docente responsvel. Alm da participao do pesquisador, a tcnica de laboratrio do Instituto de Biologia tambm esteve presente, sendo, portanto trs professores. A disciplina se desenvolveu da teoria para a prtica, um planejamento compartilhado com a turma. Embora tenham sido utilizadas tcnicas diferentes nos dois semestres acompanhados, as primeiras aulas buscaram concepes sobre EA, a partir das categorias Tradicional, Resoluo de problemas, Integradora e Crtica (FERNANDES, 2002). Dessa atividade resultam os seguintes apontamentos: (1) Aproximadamente um tero da turma parece se identificar com a concepo Integradora, uma viso mais sistmica da relao homem e natureza, embora, para alguns, esta concepo possa estar em movimento, recebendo a influncia de outras menos abrangentes como a Resoluo de problemas e a Tradicional. (2) O outro tero da turma sinalizou pela concepo Resoluo de problemas. Os alunos que optaram por uma segunda opo, o fizeram pela concepo Integradora, sinalizando tambm um possvel movimento de sua concepo. (3) O ltimo tero da turma se identificou com a concepo Tradicional, uma concepo mais conservadora de EA, reforando o vis naturalista-biolgico dessa concepo. Para esses alunos, o objetivo da EA a preservao ambiental. O fato de um significativo grupo de alunos se identificar com a concepo Tradicional no foi necessariamente uma surpresa, visto a tradio naturalista presente nos cursos de Biologia. (4) A concepo de uma EA crtica no aparece como elemento significativo para os alunos. Esse panorama se revelaria mais tarde na apresentao que grupos de alunos fizeram sobre temas polmicos em EA, com destaque para a temtica EA e agroecologia, que causou muita polmica e dificuldade de dilogo, devido ao seu teor mais crtico. O resultado dessas

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apresentaes levou a uma reflexo entre os professores participantes sobre encaminhamentos presentes e futuros da disciplina, visto que, naquele momento, j se passara metade da disciplina. O primeiro apontamento chama a ateno para a presena da concepo Integradora entre os graduandos. Conforme depoimento de vrios outros alunos, a escolha dessa concepo mais abrangente no foi influenciada pelas disciplinas cursadas at ento e sim pelas experincias cotidianas, a influncia da mdia, a viso de mundo de cada um, etc... Olinski (2006), em seu estudo de mestrado que investigou uma disciplina de EA na Universidade Federal do Rio de Janeiro, tambm percebeu essa influncia das experincias anteriores na concepo dos alunos. Por outro lado, os apontamentos 2, 3 e 4 chamam nossa ateno para a presena de uma concepo mais limitada de EA, aspecto superado desde o Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global (LOUREIRO, 2008). Sobre essa limitao, o autor afirma: No nova a crtica s aes descontextualizadas que querem promover a proteo da natureza e uma tica ecolgica sem considerar a concretude da realidade em que se est imerso (...). Prtica que acarreta desde problemas de inadequao pedaggica at o tratamento de contedos que pouco se relacionam com a dinmica social em que se estabelece a discusso ambiental, inviabilizando a necessria autonomia dos sujeitos na construo de padres societrios sustentveis. Os textos adotados na disciplina se revelaram leituras muito densas, dificultando um pouco o desenvolvimento da mesma, especialmente por causa do olhar crtico dos autores adotados. Um dos textos, intitulado Da pessoa ao planeta, o segundo captulo do livro O equvoco ecolgico, de Pierre Alphandery, traduzido do francs. O outro, intitulado Deconstruyendo la histria de la educacin ambiental, o primeiro captulo do livro Educacin ambiental:

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trayectorias, rasgos y escenarios, de Gonzlez Gaudiano. Alm de Desenvolvimento e meio ambiente, contido no livro Cortina de fumaa, de Felipe Pomier Layrargues, foi utilizado tambm um texto sobre pesquisa-ao de Marlia Tozoni-Reis. Dessa forma, alguns conceitos bsicos acabaram por serem trabalhados de forma pontuada no primeiro semestre de 2009, aspecto ajustadopelodocenteresponsvelnosemestreseguinte.Seporumlado, Grn (1996) argumenta sobre a importncia de um aprofundamento nos aspectos tericos da temtica ambiental, por outro tambm considera que grande a dificuldade para se escapar do aprisionamento da linguagem da mecnica clssica em direo a uma compreenso perspectiva complexa e multifacetada da crise ecolgica (GRN, 1996). No primeiro semestre, devido a um impedimento para certa data, o pesquisador foi convidado pela docente responsvel para ministrar uma aula sobre a pesquisa em EA. Entretanto, como se tratava do stimo perodo, a maior parte da turma j estava muito comprometida com iniciao cientfica, estgios e outras formas de envolvimento com a pesquisa especfica em Gentica, Ecologia, Microbiologia, etc..., o que reduziu a aula a um carter informativo. Ainda assim, foi possvel situar os alunos para a ocorrncia da EA na prpria Universidade Federal de Uberlndia, enquanto opo para a continuidade de estudos. No segundo semestre, esse momento no ocorreu, mas quando perguntados sobre seu envolvimento com a pesquisa e/ou a docncia na educao bsica, os alunos ficaram surpresos e curiosos sobre a razo de nossa pergunta. Mesmo inseguros, foram se apresentando e, novamente, a maior parte j se encontrava envolvida nos diversos campos de pesquisa. Dentre 30 alunos da turma do segundo semestre, apenas um ou dois manifestaram envolvimento com a docncia na educao bsica. Na parte prtica, as atividades de campo dos dois semestres acompanhados foram muito enriquecedoras e tambm muito valorizadas pelos alunos, visto estarem se tornando escassas at nas