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International Congress of Critical Applied Linguistics Brasília, Brasil 19-21 Outubro 2015 287 RELAÇÕES ENTRE FAZERES E SABERES: GÊNEROS MIDIÁTICOS PRESENTES NA INTERNET E CONTEXTO ESCOLAR Francisco Carlos NOGUEIRA [email protected] Rede Estadual de Mato Grosso na Educação Básica Orientadora: Profa. Dra. Kátia Morosov Alonso Coorientador: Prof. Dr. Cristiano Maciel RESUMO Este trabalho é o resultado de uma pesquisa de Mestrado em Educação da UFMT Cuiabá, do grupo de pesquisa (LêTece): Laboratório de estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação. O trabalho teve como tema as relações que os jovens do Ensino Médio das escolas públicas de Barra do Garças - MT estabelecem com os gêneros midiáticos presentes na internet. Gêneros textuais ampliaram-se no contexto digital. As tecnologias informação e da comunicação (TIC) ganharam a velocidade do toque na tela nos ambientes digitais. No contexto atual das tecnologias digitais, a internet está cada dia mais se tornando um meio de comunicação que permite a interação dos sujeitos na práxis educativa em escala global. Nesse sentido, os gêneros midiáticos ganharam os espaços não lineares e céleres da internet. A internet se configura como um espaço imbricado de sons, imagens, movimentos, luzes, mapas etc. Gêneros midiáticos, como por exemplo: o e-mail, o blog, o chat estão inseridos na internet. Há um entendimento que esses jovens nasceram no mundo digital, mas será que esses alunos da escola pública estão de fato imersos nesse mundo digital? Como esses alunos e os professores deles estão lidando com os gêneros postos na internet? O objetivo desta pesquisa foi identificar quais gêneros midiáticos esses jovens do Ensino Médio utilizam com mais frequência e como isto se relaciona com os conteúdos escolares. Esta pesquisa configurou-se e ancorou numa abordagem qualitativa e tomou o caminho de investigação exploratório-descritiva de identificação desses gêneros presentes na Internet e como os professores de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira desses alunos lidam com os conteúdos trazidos para a sala de aula. Esta pesquisa foi fundamentada em Marcuschi, Bakhtin, Lévy, Santaella, Chartier, Kenski, Toschi, Paulo Freire, Denzin, Minayo, dentre outros. Os resultados encontrados demonstraram que esses alunos de fato estão imersos no ciberespaço, mas se constatou que eles precisam da ajuda do professor a fim de mediar esse processo de interação nos ambientes digitais on-line. Palavras-Chave: TIC; Internet; Gêneros Midiáticos. 1. PARA INÍCIO DO DISCURSO A comunicação ocorre por meio da escolha de um determinado gênero do discurso. Essa escolha é um querer-dizer do locutor. Os gêneros do discurso ajudam a organização da comunicação entre os locutores. Quanto mais gêneros os interlocutores

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International Congress of Critical Applied Linguistics

Brasília, Brasil – 19-21 Outubro 2015

287

RELAÇÕES ENTRE FAZERES E SABERES: GÊNEROS MIDIÁTICOS

PRESENTES NA INTERNET E CONTEXTO ESCOLAR

Francisco Carlos NOGUEIRA

[email protected]

Rede Estadual de Mato Grosso na Educação Básica

Orientadora: Profa. Dra. Kátia Morosov Alonso

Coorientador: Prof. Dr. Cristiano Maciel

RESUMO

Este trabalho é o resultado de uma pesquisa de Mestrado em Educação da UFMT – Cuiabá, do

grupo de pesquisa (LêTece): Laboratório de estudos sobre Tecnologias da Informação e

Comunicação na Educação. O trabalho teve como tema as relações que os jovens do Ensino

Médio das escolas públicas de Barra do Garças - MT estabelecem com os gêneros midiáticos

presentes na internet. Gêneros textuais ampliaram-se no contexto digital. As tecnologias

informação e da comunicação (TIC) ganharam a velocidade do toque na tela nos ambientes

digitais. No contexto atual das tecnologias digitais, a internet está cada dia mais se tornando um

meio de comunicação que permite a interação dos sujeitos na práxis educativa em escala global.

Nesse sentido, os gêneros midiáticos ganharam os espaços não lineares e céleres da internet. A

internet se configura como um espaço imbricado de sons, imagens, movimentos, luzes, mapas

etc. Gêneros midiáticos, como por exemplo: o e-mail, o blog, o chat estão inseridos na internet.

Há um entendimento que esses jovens nasceram no mundo digital, mas será que esses alunos da

escola pública estão de fato imersos nesse mundo digital? Como esses alunos e os professores

deles estão lidando com os gêneros postos na internet? O objetivo desta pesquisa foi identificar

quais gêneros midiáticos esses jovens do Ensino Médio utilizam com mais frequência e como

isto se relaciona com os conteúdos escolares. Esta pesquisa configurou-se e ancorou numa

abordagem qualitativa e tomou o caminho de investigação exploratório-descritiva de

identificação desses gêneros presentes na Internet e como os professores de Língua Portuguesa e

Língua Estrangeira desses alunos lidam com os conteúdos trazidos para a sala de aula. Esta

pesquisa foi fundamentada em Marcuschi, Bakhtin, Lévy, Santaella, Chartier, Kenski, Toschi,

Paulo Freire, Denzin, Minayo, dentre outros. Os resultados encontrados demonstraram que esses

alunos de fato estão imersos no ciberespaço, mas se constatou que eles precisam da ajuda do

professor a fim de mediar esse processo de interação nos ambientes digitais on-line.

Palavras-Chave: TIC; Internet; Gêneros Midiáticos.

1. PARA INÍCIO DO DISCURSO

A comunicação ocorre por meio da escolha de um determinado gênero do

discurso. Essa escolha é um querer-dizer do locutor. Os gêneros do discurso ajudam a

organização da comunicação entre os locutores. Quanto mais gêneros os interlocutores

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dominarem, quanto mais gêneros forem usados com desembaraço, aumenta a chance da

efetivação do processo de comunicação.

É de acordo com nosso domínio dos gêneros que usamos com

desembaraço, que descobrimos mais depressa e melhor nossa

individualidade neles (quando isso nos é possível e útil), que

refletimos, com maior agilidade, a situação irreproduzível da

comunicação verbal, que realizamos, com o máximo de perfeição, o

intuito discursivo que livremente concebemos. (BAKHTIN:1997, p.

304)

A sociedade do século XXI é ditada pelo acender e o apagar das luzes, pelo

virtual representado nas telas dos computadores, de conexões hipertextuais, pelas

características da sociedade tecidas nos ambientes digitais on-line; trata-se de uma

sociedade assinalada por transformações intensas num novo contexto em que os gêneros

do discurso assumem a configuração dos gêneros midiáticos. Esses gêneros ganharam

os espaços não lineares e céleres da internet.

Os gêneros midiáticos são elementos constituintes do universo informático e

informacional nos dias atuais. Trata-se de um fenômeno sociocultural presente na

internet. Esses gêneros contribuem para organizar e de certo modo estabilizar as

situações comunicativas no dia-a-dia. Embora, a característica de permanência em

muitos elementos, esses gêneros são dinâmicos e surgem em função das necessidades e

atividades postas no contexto cibernético, no cenário das revoluções tecnológicas. A

linguagem característica, agora, é a linguagem hipertextual. A interação social está na

amplitude das redes de conhecimento, das redes digitais. A leitura nesse momento é

imersiva.

Tudo indica que se deve buscar e entender a respeito dessa dinâmica de

mobilização e expansão; é necessário ampliar as possibilidades de emprego de gêneros

midiáticos emergentes postos no ciberespaço. Vale ressaltar que a apropriação e a

utilização das tecnologias atuais e dos seus recursos são significativas na medida em

que estejam a serviço do processo pedagógico. Dessa forma, conseguir-se-ão resultados

mais promissores nos espaços da sala de aula.

Portanto, nesta sociedade em constantes, intensas e aceleradas transformações

‘obriga’ os profissionais ligados a educação a reaprender a ensinar, o que os forçam

necessariamente aprender a aprender, em muitas vezes a ‘desaprender’ para aprender de

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outro jeito, de outra forma, aprender a estar no mundo virtual. Implica em aperfeiçoar o

que se faz no ambiente da sala de aula, em aprender em ambientes virtuais, acessar

páginas na internet e inteirar-se a respeito dessa dinâmica peculiar da internet. Enfim,

não há dúvidas de que seja preciso ampliar as possibilidades de acesso e emprego dos

gêneros midiáticos inerentes a esse novo contexto comunicacional das redes de

conhecimentos.

1.1 GÊNEROS MIDIÁTICOS: ESCRITA E INTERATIVIDADE NO CIBERESPAÇO

O ciberespaço pode ser chamado de internet, “rede” etc. O ciberespaço é o

ambiente virtual, é o meio de comunicação de interconexões entre computadores. Além

de toda infraestrutura materializada na comunicação digital, o ciberespaço é um

contexto comunicativo, informático, colaborativo e interativo entre usuários numa vasta

rede de informações. O ciberespaço é o espaço virtualizado e atualizado da cibercultura.

A cibercultura caracteriza-se pelo conjunto de tecnologias, de práticas, de costumes, de

maneiras de expressar o pensamento, de opinar, de expressar sentimentos, de manipular

informações, de se relacionar, de divulgar o pensamento científico etc.

Nesse sentido, o ciberespaço caracteriza-se como um espaço-discursivo, e

nesse espaço se ampliam as possibilidades de interação e incita o aparecimento de

vários gêneros discursivos experimentados coletivamente. Para Lévy (1999, p. 9) “o

crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos

para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as

mídias clássicas nos propõem”. Com o advento da tecnologia, novas formas de

interação têm sido usadas pelo homem e, assim, estamos rodeados de gêneros digitais,

como chat, e-mail, blog, fórum, lista de discussão e outros.

Aprendemos com Bakhtin (1997, p. 304) que é preciso dominar bem os

gêneros. Isso significa que seja preciso conhecer e familiarizar-se com os diversos

gêneros textuais que circulam em nossa sociedade. Precisa-se saber produzir vários

gêneros textuais, é necessário ampliar o entendimento e uso dos gêneros textuais.

Bakhtin diz que quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os

empregamos. Ele defende que a diversidade dos gêneros do discurso é muito grande. A

diversidade desses gêneros explica-se pelo fato de que eles são diferentes em função da

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situação, da posição social e das relações pessoais de reciprocidade entre os

participantes da comunicação. E, comunicar-se nos dias atuais supõe conectar-se com os

ambientes digitais e on-line.

O sucesso da internet e dos gêneros midiáticos, ou, hipertextuais, ou, digitais,

ou, eletrônicos, ou, virtuais deve-se ao fato de reunir num só meio várias formas de

expressão, tais como, texto, som, imagem, movimento. Os gêneros emergentes na

perspectiva estudada nesta pesquisa não é necessariamente o inédito, no sentido de ser a

primeira locução.

O próprio locutor como tal é, em certo grau, um respondente, pois não

é o primeiro locutor, que rompe pela primeira vez o eterno silêncio de

um mundo mudo, e pressupõe não só a existência do sistema da língua

que utiliza, mas também a existência dos enunciados anteriores —

emanantes dele mesmo ou do outro — aos quais seu próprio

enunciado está vinculado por algum tipo de relação (fundamenta-se

neles, polemiza com eles), pura e simplesmente ele já os supõe

conhecidos do ouvinte. Cada enunciado é um elo da cadeia muito

complexa de outros enunciados. (BAKHTIN, 1997, p. 291)

Os gêneros midiáticos configuram-se por ocasião desse momento sócio-

histórico-cultural. Esses gêneros são mediados pelas aceleradas tecnologias que

avançam numa velocidade que antes só poderia ser previsto por meio de filmes de

ficção científica.

O que se pode destacar é que os textos midiáticos, enquanto gêneros,

são formas de representar práticas socioculturais dentro de outras

práticas socioculturais institucionalizadas que envolvem participantes

(produtores e receptores), mediados pelo texto, a partir de contratos

tácitos que vinculam as duas pontas do processo de comunicação

(produtores e receptores), numa incessante tarefa de produção de

sentido a partir do querer dizer do produtor e do que é interpretado

pelo receptor. (PINHEIRO, 2002, p. 287)

Dessa forma, resultam novas exigências, novas formas de relacionamento. Os

gêneros refletem estruturas de autoridades e relações de poder, além de serem formas

sociais de organizações e expressões típicas da vida cultural. Embora, haja uma

integração de imagens, som, movimento; todos os gêneros presentes na internet são

eventos textuais fundamentalmente baseados na escrita.

Só que nesse espaço a escrita tem outra configuração:

O fluxo sequencial do texto na tela, a continuidade que lhe é dada, o

fato de que suas fronteiras não são mais tão radicalmente visíveis,

como no livro que encerra, no interior de sua encadernação ou de sua

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capa, o texto que ele carrega, a possibilidade para o leitor de

embaralhar, de entrecruzar, de reunir textos que são inscritos na

mesma memória eletrônica: todos esses traços indicam que a

revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do

suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler.

(CHARTIER, 1999, p. 12)

Marcuschi (2010, p. 33) estabelece alguns parâmetros para enquadrar os

gêneros: número de interlocutores; tempo de espera e de envio de mensagens ou sinais;

quantidade de texto permitido; limites impostos à revisão; grau de automatização das

operações; método de armazenamento, mecanismo de busca, gerenciamento dos textos;

riqueza e variedade dos sinais (texto, som, imagem).

Os gêneros em ambientes virtuais estão em processo constante de interação,

estabelecendo um caráter inovador no contexto das relações entre fala e escrita; com

possibilidade de inserção de imagens, fotos, músicas, vozes, movimentos. É possível

inserir ícones indicadores de emoções com marcas de polidez ou indicação de posturas,

além da rapidez da interação num ambiente cheio de descontração e informalidade.

Os gêneros no ambiente virtual identificam-se pela sua relação temporal

síncrona ou assíncrona; de duração indefinida, rápida ou limitada; pela extensão do

texto, longa ou curta; pelo formato textual com turnos encadeados, texto corrido,

sequências soltas, estrutura fixa; em relação ao número de participantes: dois, múltiplos

ou grupo fechado; quanto a relação dos participantes: conhecidos, anônimos ou

hierarquizados; em relação a trocas de falantes pode ser alternada ou inexistente; quanto

a função pode ser interpessoal, lúdica, institucional, educacional; quanto ao tema pode

ser livre, combinado ou inexistente; quanto ao estilo pode ser monitorado, informal ou

fragmentário; em relação ao canal pode ocorrer somente com texto escrito ou, com oral

e escrito, ou, com texto e imagem ou, ainda, por paralinguagem; quanto a recuperação

de mensagem pode ocorrer por gravação ou serem voláteis.

No ciberespaço imagem, palavra, movimento mantêm uma relação cada vez

mais próxima, cada vez mais integrada. As tecnologias atuais facilitam a criação de

novas imagens, novos layouts, assim como sem dificuldades divulgam essas criações

numa audiência cada vez mais ampla. Uma simbiose de gêneros circula nessa grande

rede.

Identificam-se, nos ambientes em rede, gêneros diversos que podem ser

classificados em burocráticos: formulários, perfil, cadastro; ou relacionados ao

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cotidiano como o chat, o fórum, o blog; aqueles considerados escolares de divulgação

científica tais como, verbetes, relatórios, instrução, apresentação, relato histórico,

artigos científicos, dissertação de mestrado, tese de doutorado; ainda, encontram-se

gêneros jornalísticos: notícia, reportagem, artigo de opinião; Artístico-literários:

poemas, letra de canção, paródia; plásticas e gráficas: pintura, artes digitais; outras

linguagens: música.

Portanto, no ambiente virtual há inovações tecnológicas e novas formas de

integração com os textos; gêneros midiáticos fazem parte dessa enorme cadeia

labiríntica, caótica, complexa de conexões que se perdem e encontram em ramificações

medidas numa nova tecnologia de computação na nuvem. Caminha-se, então, para essa

tecnologia que está sendo pensada para o processo de automação das informações, de

integração de nuvens de provedores, além disso, essas nuvens têm que ser tecnicamente

seguras, abertas e eficientes. Assim, o pensamento flui na velocidade do pensamento

tecido no processo de colaboração na grande rede. A linguagem das mídias, em

específico a linguagem dos ambientes digitais, repleta de imagens, movimentos e sons,

atraem todas as gerações, principalmente as mais jovens. Nesse contexto, surgem novos

modos de comunicar-se socialmente, novas linguagens, novas interfaces, gêneros

midiáticos se convergem nas conexões híbridas, hipertextuais e não lineares das

infovias da informação e da comunicação. Assim, selecionamos alguns gêneros

midiáticos como incidências na virtualização do ciberespaço para algumas

considerações.

1.1.1. O E-MAIL COMO UM GÊNERO DISCURSIVO: VANTAGENS E

DESVANTAGENS

O e-mail é um gênero emergente que transmutou da carta pessoal, do bilhete,

do correio. Segundo Marcuschi (2010, p. 50), “Os e-mails efetivamente estão

constituindo um novo gênero tendo em vista suas peculiaridades formais e discursivas”.

Mas, falta ainda um aproveitamento no espaço escolar de modo efetivo tanto por parte

dos professores quando dos alunos.

A utilização do correio eletrônico tornou-se um costume e uma necessidade

também nos ambientes escolares. Em outras instituições sociais essa prática é algo

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rotineiro. Para Pescador (2009, p. 2), o emprego do e-mail faz parte do dia a dia das

pessoas de um modo geral.

O hábito de ler e enviar mensagens de e-mail foi incorporado à rotina

de muitas pessoas pelo mundo afora nos últimos anos. Isso só foi

possível graças à expansão do acesso à internet e à grande rede

mundial de computadores (WWW ou Web) e às inúmeras ferramentas

de comunicação síncronas e assíncronas que esse meio oferece.

O e-mail é uma ferramenta que possibilita enviar e receber mensagens, textos,

figuras e outros arquivos através da internet. É um modo assíncrono de comunicação, ou

seja, independe da presença simultânea do remetente e do destinatário da mensagem. O

e-mail tem como característica essencial o envio e o recebimento de mensagens curtas e

objetivas

O e-mail é uma ferramenta para alguns pesquisadores e para outros é

considerado um gênero que facilita a colaboração, discussão de tópicos de trabalho e

aprendizagem em grupos grandes, viabilizando a criação de comunidades discursivas,

superando limitações de tempo e de espaço. Nesse sentido o e-mail pode ser um

instrumento viabilizado para o processo de ensino e aprendizagem.

Para Castells (2003, p. 99), “O e-mail representa mais de 85% do uso da

internet, e a maior parte desse volume relaciona-se a objetivos de trabalho, a tarefas

específicas e a manutenção de contato com a família e os amigos em tempo real”.

O emprego do e-mail vem, segundo Franco (1996, p. 48), “provocando um

verdadeiro renascimento do hábito de escrever cartas e exercitar a escrita. Isso joga por

terra a falsa ideia que há alguma contradição entre escrita e informática”. De acordo

com esse autor a informática é uma tecnologia da inteligência complementar à escrita,

não a substitui. O domínio dos mecanismos de leitura e escrita compreensivas é uma

condição indispensável do ciberespaço.

Ressaltam-se algumas vantagens do e-mail sobre outros meios de interação

humana. O e-mail é assíncrono. Quando se comunica por e-mail não se necessita marcar

com antecedência para que a pessoa esteja no lugar de recepção. O tempo transcorrido

entre a emissão e a recepção da mensagem é praticamente instantâneo. O e-mail não

requer um espaço e tempo concreto para realizar a comunicação, o que acontece em

outras atividades comunicativas frequentemente. A comunicação pode ser entre

indivíduos ou entre grupos.

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Segundo Paiva (2010, p. 87), as vantagens estão relacionadas à velocidade na

transmissão; ao baixo custo; uma mesma mensagem pode ser enviada para milhares de

pessoas no mundo inteiro; a mensagem pode ser arquivada, impressa, copiada; pode

circular livremente; pode ser lida na Web, ou baixadas através de um software; arquivos

em formatos diversos podem ser anexados, tais como, texto, apresentação de slides,

tabelas, gráficos; ainda, imagens de desenhos e fotos, além de poder ser anexados som e

vídeos; facilita a colaboração, discussão e a criação de comunidades discursivas; o

usuário é facilmente contatado. Dentre as desvantagens destacam-se o caráter de

dependência dos provedores de acesso; expectativa de feedback imediato; o e-mail pode

ir em endereço errado, pode ser copiada, alterada; há excesso de mensagens

irrelevantes; arquivos anexados podem bloquear a transmissão de outras mensagens ou,

ainda, conter vírus; há uma certa invasão de privacidade.

Pesquisas já perceberam características de informalidade, de inobservância de

algumas regras ortográficas, de objetividade. O e-mail pode ser visto como um gênero

eletrônico com características típicas do memorando, bilhete, carta. Assim, o e-mail

tornou-se um meio de comunicação cada vez mais poderoso com o potencial de tornar-

se o principal meio de comunicação para a maioria das pessoas.

O correio eletrônico pode ser um excelente gênero para o emprego nas aulas de

um modo geral, mas, principalmente nas aulas de língua portuguesa e língua

estrangeira. O e-mail pode ser utilizado para a construção de textos com

acompanhamento dos professores e dos alunos; pode tornar-se um canal de

comunicação entre alunos e professores, de forma individualizada ou em grupo; pode

ser utilizado para marcar reuniões, esclarecer dúvidas, trocar mensagens. E, também, os

textos podem ser impressos ou arquivados, constituindo-se num portfólio dos alunos.

Esse ambiente pode ser usado ainda para criar um grupo de discussão.

Ainda, pelo correio eletrônico circulam vários gêneros como ofício,

memorando, receitas culinárias, propaganda, abaixo-assinado, carta-corrente (informes

sobre vírus, amor e amizade, piadas, correntes-teste, corrente anticorrente, trotes,

crianças doentes) etc.

As cartas-correntes, por exemplo, estruturam-se em relação a um problema

apresentado, ou seja, a uma situação que tem que ser resolvida, gira em torno de um

tema (criança morrendo de câncer, vírus que está sendo espalhado pela rede), o

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problema tem que ser proposto por alguém que tenha autoridade, mas na maioria das

vezes apresenta-se anônimo, um poder quase místico, mostrando-se confiável. As frases

são apresentadas no imperativo, instigando o leitor a executar a ação. Há sempre um

incentivo proposto pela corrente a fim de que o leitor faça a ação esperada. Embora,

exista uma infinidade de gêneros que circulam pelo e-mail, mas ele é sem dúvidas um

gênero textual digital do ciberespaço.

1.1.2. O CHAT: PRODUÇÃO DE MODO ‘SÍNCRONO’

O chat é um tipo de comunicação interpessoal cuja principal característica é a

“produção de modo síncrono”, conforme Marcuschi (2010, p. 55), isto é, os

participantes da comunicação conectam-se em um mesmo momento para participar

ativamente do discurso. O chat exige a presença ativa dos usuários. Por outro lado, não

é sempre que ocorre a sincronia, pois não é sempre que o usuário dá as resposta de

modo imediato; muitas vezes o interlocutor vai dar a resposta muito mais tarde.

Todos os chats podem ser operados com recursos hipertextuais de escrita, som,

imagem. Os gêneros hipertextuais instauram-se como uma possibilidade

comunicacional plural, dinâmica e muito mais envolvente.

O chat possibilita a interação em tempo real, até mesmo como ponto de

encontro entre os usuários. A utilização do chat oferece mais uma possibilidade

interativa entre professor e alunos nos ambientes virtuais de ensino e aprendizagem.

Esses estudantes interagem numa simbiose dentre o texto escrito, som, imagem,

movimento.

Para Araújo (2010, p. 134):

O chat é um gênero de natureza híbrida, pois funde oralidade e escrita

em um mesmo suporte, a tela do computador, e em um mesmo evento

sociointeracional. (...) O chat absorve outras formas semióticas como

som e imagem, trazendo uma nova formatação ao texto escrito, que

por sua vez, é permeado de oralidade.

O modelo de comunicação próprio do chat é um sistema híbrido da

comunicação oral, escrita, auditiva e visual. Dessa forma, o chat participa de

características da linguagem oral e da linguagem escrita, gerando, assim, um tipo de

comunicação com uma série de códigos próprios. Os chats são, portanto, na sua maioria

produções escritas no formato de diálogo; além de serem produções curtas, as

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contribuições são expressas em poucas linhas, ou mesmo em poucas palavras e muitas

vezes são produções abreviadas.

A característica do chat, segundo Franco (2010, p. 55), “vem da sua utilização

para a comunicação em grupo onde várias pessoas se encontram virtualmente para

conversar. O diálogo pode tomar qualquer direção, dependendo do grupo, mas a maior

parte das vezes as pessoas conversam amenidades”. Por isso o chat associa-se na

maioria das vezes ao lúdico e ao lazer. O chat possui características de alta

interatividade, pois o usuário pode comunicar-se empregando recursos textuais como a

palavra, a imagem, a voz, o movimento etc.

O chat, por exemplo, é uma situação comunicativa complexa que dá

origem a muitos gêneros de bate-papo virtual. Tais gêneros são

sustentáculos verbais de práticas de linguagem cotidianas (chat aberto,

reservado), como também podem estar a serviço de interesses

pedagógicos (chat educacional) e jornalísticos (chat com convidado).

(ARAÚJO, 2010, p. 118)

Embora, muitos estudantes passem horas seguidas em conversas casuais e

fragmentadas. Para Araújo (2010, p. 118), “O chat pode ser empregado para interesses

pedagógicos”. Para Moran (1997, p.10), “O chat tem um grande potencial democrático,

por ser aberto, multidimensional. Nessas trocas, realizam-se encontros virtuais, criam-se

amizades, relacionamentos inesperados que começam virtualmente e muitas vezes

levam a contatos presenciais”. Assim como o chat, o blog, também, pode ser

aproveitado pedagogicamente no espaço da sala de aula de modo interativo.

1.1.3. O BLOG: ESPAÇO INTERATIVO

O blog possui características determinantes de um gênero textual. Ele surgiu a

partir de duas palavras Web (rede de computadores) e log (uma espécie de diário de

bordo dos navegadores), daí surgiu a expressão Weblog e, depois, abreviou-se para

blog. A facilidade de utilização dos blogs deve-se ao fato de não ser necessário domínio

de linguagem de computador. Ele pode ser atualizado, frequentemente, na forma de um

diário; há espaço para comentários dos visitantes; ajuda a desenvolver a capacidade

criadora ou de autoria; comportam fotos, imagens, músicas, vídeos. Além de serem

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redigidos para que os conteúdos, informações, fotos, vídeos, gifs animadas sejam

compartilhadas abertamente.

O blog é um ambiente para compartilhar informações que o usuário considera

interessantes, postar comentários sobre assuntos específicos e diversos, ou criar links

para sites da internet que se considere importante para ampliar as informações colocadas

no blog. “O blog é um diário pessoal. Uma tribuna diária. Um espaço interativo. Um

local para discussões políticas. Um canal com as últimas notícias. Um conjunto de links,

ideias, mensagens disponibilizadas para o mundo”.

Ele pode ser usado para organizar e divulgar ideias ou usar esse espaço para

controlar discussões. Com esse gênero existe a possibilidade de estabelecer conexão

com pessoas que leem o seu blog e ouvir as opiniões delas.

O blog, que seria, segundo Marcuschi (2005, p. 31), um gênero emergente,

preexistente dos diários pessoais, abriga tanto escritas sobre si, ou seja, declarações de

cunho pessoal, que formariam o gênero “diário pessoal”, quanto piadas, músicas e

outros gêneros que demonstram o gosto pessoal do “dono” do blog.

Esse gênero emergente é um espaço em que palavras, imagens, indicação de

links organiza-se num grande suporte de linguagem para existir e, consequentemente,

neste contexto, a linguagem passa a exercer papel fundamental, pois ela será o meio em

que os visitantes serão conquistados, podendo vir, a partir da relação que construírem, a

formar redes sociais.

Trata-se de um espaço de comunicação que tem uma estrutura determinada,

rígida, que o transformaria em mais um gênero do discurso digital. Espaço para

expressar ideias variadas, ou seja, é possível encontrar diferentes gêneros nos Blogs,

porque o usuário pode publicar e dar ênfase em determinados gêneros conforme a sua

preferência e o seu querer-dizer.

Entende-se que os Blogs são potencialidades de mecanismo de informação e

comunicação; carregam características claras de rede social, como a solidariedade, a

participação, a intenção de pertencer a um grupo e até mesmo a incluir outras pessoas

nas comunidades já existentes.

A discussão acerca da estrutura linguística do Blog encontra-se acirrada.

Marcuschi (2010, p. 71), por exemplo, caracteriza o Blog como gênero digital. O blog

destaca-se como um dos gêneros do discurso digital. Ele possui contextos e aplicações

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diversos; e abrange diversas áreas da educação, do jornalismo, da psicologia, da

informática, da pedagogia etc.”; de outro lado, a quem não o considere um gênero

específico, mas, sim, um espaço de comunicação no qual, num plano mais pragmático,

funcionaria como um sistema menos complexo e mais rápido para que publicações

sejam disponibilizadas na rede mundial de computadores, facilitando, assim, a produção

de páginas por pessoas sem muito conhecimento técnico sobre o funcionamento desta

mídia.

O Blog, para a maioria dos pesquisadores, é considerado um gênero; mas

existem pessoas que discordam, por exemplo, para Pereira (2007, p. 522), “O blog não

pode ser considerado um gênero virtual emergente, pois ele comunica as ideias de seus

autores para públicos diversos, de modos diversos, utilizando-se de diversos gêneros”.

Disso tudo, pode-se afirmar que o Blog pode e deve ser utilizado como um

espaço virtual de ensino e aprendizagem. Nesse espaço coletivo, o conhecimento ocorre

no processo de conectividade, de visibilidade, de interatividade, e, também, na

construção colaborativa entre os atores da práxis pedagógica, transformando as Redes

de Conhecimentos em Redes de Aprendizagem.

1.1.4. WIKI: ESCRITA COLETIVA NO CIBERESPAÇO

A participação de comunidades de escrita coletiva, o leitor torna-se também

sujeito daquilo que lê, na medida em que lhe é permitido participar do processo de

criação do grupo. Ao ler, torna-se crítico e expõe sua reflexão em sua própria escrita

que ganha outros leitores. Assim, essa participação colaborativa nos ambientes on-line

pode ocorrer pelo Wiki.

Um Wiki é um aplicativo que fica hospedado em um servidor web, e

que pode ser acessado com qualquer navegador, diferenciando-se de

outros aplicativos Web porque permite que os usuários leiam,

incluam e editem conteúdos sem a necessidade de se fazer uma

revisão antes de publicá-los. (MACIEL, 2009, p. 76)

Os diálogos on-line, em tempo real ou não; a possibilidade de participar de

espaços virtuais, em diferentes contextos; vem estabelecendo novos modos de ver o

mundo: um mundo hipertextual, um mundo não linear, um mundo numa imensa rede.

Aos poucos, começamos a compreender também que a internet favorece a socialização,

a troca e o trabalho conjunto, em redes colaborativas como é, por exemplo, a Wikipédia.

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A Wikipédia é uma enciclopédia mundial em que qualquer pessoa pode não só

ler seu conteúdo como alterá-lo, alterando, adicionando outros documentos, ajustando e

corrigindo seus verbetes. A fiscalização dos conteúdos realiza-se pelos próprios

usuários, que podem atualizá-la com as últimas informações ou deletar informações

equivocadas ou mentirosas que tenham sido incluídas por desinformados ou por alguma

pessoa má intencionada.

Para Bohadana (2007, p. 11), “Nas wikis a regra geral é não existir controle

central, pois se espera que as sucessivas contribuições dos internautas sobre o texto

constituam com o tempo um consenso, um texto profundo e refinado a respeito do tema

proposto”. O wiki é um modelo de organização e gestão colaborativa de documentos.

Esse modelo organiza e mantem a qualidade do conteúdo porque são produzidos por

pessoas com interesses comuns. O Wiki permite que os documentos, sejam editados

coletivamente através da utilização de um navegador web e oferecem possibilidades

educativas no espaço da sala de aula.

Segundo Bohn (2009, p. 183), “Wikis oferecem um ambiente colaborativo onde

os professores devem aproveitar especialmente no ensino da escrita”. Nesse sentido, os

Wikis podem ser aproveitados por professores e alunos para o processo de criação de

textos nos ambientes on-line.

O fato é que, hoje, os alunos estão mais sintonizados com as tecnologias

digitais, todavia, eles carecem de ajuda no processo de interação, quanto no processo de

seleção da informação relevante. Eles precisam além da mediação do próprio código,

mas também da mediação do professor quanto ao uso das tecnologias atuais, quanto ao

acesso à internet, quanto ao identificação e ao emprego dos gêneros midiáticos digitais

dispostos na internet etc.

2. FAZERES E SABERES NA PRÁXIS PEDAGÓGICA: GÊNEROS

MIDIÁTICOS

Os sujeitos da práxis pedagógica estão no ritmo das conexões não lineares do

ciberespaço. Os jovens nasceram nesse contexto informático. Eles certamente têm

menos dificuldades do que seus professores. Talvez, falte para nós profissionais da

educação, aproveitar o potencial de interesses desses jovens e instigá-los à pesquisa,

estimulá-los na busca constante de conhecimentos que possam ajudá-los a resolver os

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seus problemas, a ajudá-los a buscar um conhecimento sistematizado, organizado, e

fazer, dessa forma, uma ponte o saber cotidiano desses jovens e aproximá-los de um

conhecimento científico.

De fato, são os adolescentes que estão no processo de descobrir sua

identidade, de fazer experiências com ela, de descobrir quem

realmente são ou gostariam de ser, oferecendo assim um fascinante

campo de pesquisa para a compreensão da construção e da

experimentação da identidade. (CASTELLS, 2003, p. 99)

No contexto das redes de conhecimento, pode-se aprender de várias maneiras,

em diferentes espaços. No ciberespaço há um ‘oceano’ de informações, múltiplas

fontes, visões diferentes de mundo, culturas variadas; há inovações tecnológicas e novas

formas de integração com os textos, gêneros midiáticos fazem parte desse novo

contexto. Esses gêneros digitais disponibilizados na internet permitem uma maior

integração entre os vários signos verbais, sons, imagens e formas em movimento numa

dinâmica lúdica.

No ciberespaço a construção do conhecimento ocorre de modo hipertextual,

por simulação. De acordo com Lévy (1996, p. 121), “O conhecimento por simulação é

sem dúvida um dos novos gêneros de saber que a ecologia cognitiva informatizada

transporta”. Esses jovens estão imersos no ciberespaço, construindo sua identidade,

experimentando novas formas de conhecer e se relacionar nesse emaranhado de

informações. Nessas infovias é possível observar um novo leitor: um leitor imersivo.

Para Santaella (2007, p. 37), “O leitor imersivo é aquele que começa e emergir nos

novos espaços incorpóreos da virtualidade. (...) O leitor imersivo navega no ciberespaço

entre nós e nexos construindo roteiros não lineares, não sequenciais”.

Esse espaço virtual de ambientes constituídos de gêneros midiáticos on-line é

segundo a estudiosa que segue um lugar possível de aprendizagens, um espaço de

pesquisas dentre outras finalidades. Trata-se de:

Uma imensa e complexa rede de meios de comunicação, instalada em

quase todos os países do mundo, interliga pessoas e organizações

permanentemente. Um único e principal fenômeno tecnológico, a

internet, possibilita a comunicação entre pessoas para os mais

diferenciados fins: fazer negócios, trocar informações e experiências,

aprender juntas, desenvolver pesquisas e projetos, namorar, jogar,

conversar, enfim, viver novas vidas, que podem ser partilhadas em

pequenos grupos ou comunidades, virtuais. (KENSKI, 2007, p. 33)

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Nossos alunos, sem dúvidas, passam grande parte do tempo deles navegando

na internet e precisam da ajuda dos seus professores a fim de auxiliá-los a administrar

melhor o tempo deles com atividades orientadas; é preciso ajudar esses alunos a refletir

a respeito desse novo contexto de informações e produtos muitas vezes prontos para

serem consumidos, nesse espaço em que as pessoas podem manifestar o que pensam, o

que sentem. Enfim, novos horizontes podem abrir-se nesse contexto atual.

Quanto mais informação estiver disponível e mais os indivíduos

puderem considerar os argumentos e as reivindicações dos outros,

tanto mais poderão gradualmente modificar seus pontos de vista

originais. Os horizontes de compreensão podem se alargar neste

esforço comum para que todos tenham oportunidade de se manifestar.

(THOMPSON, 2008, p. 221)

O ciberespaço permite o acesso a uma infinidade de informações. E, quanto

mais informações os alunos tiverem acesso amplia as possibilidades para encontrar

solução para os seus problemas e angústias.

A internet não somente uma tecnologia. Trata-se de um meio de comunicação,

estruturado numa grande rede. A internet é para esses jovens um elemento

imprescindível que vem alterando dia a dia a vida deles. A internet é um potencial

importante para esses jovens se comunicarem seus valores, expressarem suas angústias,

divulgarem suas descobertas, e partilharem suas esperanças.

A internet é mais que um mero instrumento útil a ser usado porque

está lá. Ela ajusta às características básicas do tipo de movimento

social que está surgindo na Era da informação. E como encontraram

nela seu meio apropriado de organização, esses movimentos abriram e

desenvolveram novas avenidas de troca social, que, por sua vez,

aumentaram o papel da internet como uma mídia privilegiada.

(CASTELLS, 2003, p. 115)

Embora, para esses sujeitos em específico o e-mail está sendo utilizado, mas

esse uso não é constante. Os e-mails são criados por esses estudantes, porque em

muitos casos há uma exigência própria do ciberespaço para ter acesso aos sites de

relacionamento, entretenimento, jogos etc. Esses jovens sem dúvidas estão sintonizados

com as possibilidades de comunicação instantânea, de forma síncrona e assíncrona em

ambientes virtuais.

A leitura que se faz até o momento é que a internet é para esses jovens um

espaço de entretenimento, de relacionamento, de fuga, de consumo em potencial de

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produtos e ideias, de busca de algo para dar resposta às atividades propostas em sala de

aula.

3. PARA NÃO FINALIZAR O DISCURSO

O espaço da sala de aula na medida em que se abrir para o envolvimento com

as linguagens digitais, com os gêneros emergentes da internet e com os seus códigos

ventilará possibilidades diferentes de expressão. Terá a possibilidade de transformar as

Redes de conhecimentos em Redes de Aprendizagem no contexto escolar.

Os gêneros midiáticos surgem, assim, em função da expansão tecnológica que

avança de um modo acelerado nestes últimos anos, alterando os hábitos de nossa

sociedade. Percebe-se um rápido desenvolvimento da informática. Se o profissional da

educação pretende promover uma adaptação da escola ao mundo tecnológico digital,

são necessárias atualizações constantes dos conhecimentos. Nesse sentido, precisa-se

refletir e teorizar sobre a prática, torná-la significativa.

A existência dos diversos gêneros implica numa tomada de posição por

educadores preocupados em compreender a realidade; uma postura no sentido de

estabelecer uma leitura com um posicionamento crítico frente a essa nova configuração

social. Textos diversos circulam nas mídias e estão carregados de ideologias que são

capazes de moldar o comportamento das pessoas.

O potencial dos gêneros midiáticos é incontestável. O emprego dos gêneros de

um modo geral e principalmente os digitais amplia o campo de comunicação e interação

entre as pessoas, abrem-se novos horizontes.

O trabalho com gêneros midiáticos digitais pode ser um fator de sensibilização

e motivação na melhoria do aprendizado. A utilização de gêneros midiáticos faz com

que os alunos sintam-se motivados a produzir seus próprios materiais didáticos.

A ampliação dos gêneros midiáticos, na mesma proporção, alarga a capacidade

de compreender, empreender e transformar, tanto no plano individual, como também no

plano do coletivo.

Os alunos buscam na internet respostas para as suas atividades escolares, para

as suas angústias pessoais; também buscam entretenimento, relacionamento,

visibilidade, atualização das informações, satisfação pessoal. Professores, sem dúvidas,

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são importantes a fim de ajudar esses alunos a encontrar as respostas para os anseios

deles, mediando saberes construídos na experiência para a construção de conhecimentos

científicos tecidos nas redes de conhecimento.

Nesse sentido, o uso de diferentes gêneros textuais em sala de aula pode

contribuir para uma prática pedagógica capaz de preparar leitores conscientes da

realidade. Nesse patamar de considerações, tudo indica que cabe à escola e no caso em

específico professores da área de linguagens a tarefa de auxiliar essas pessoas a

selecionar e interpretar as informações disponibilizadas no universo dos gêneros

midiáticos.

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