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  • REJEIO E BAIXA AUTO-ESTIMA: AGRAVANTES DOS CONFLITOS GERACIONAIS NA MODALIDADE EJA

    Mgia Pessoa de Andrade Marinho Maria Aparecida de Carvalho

    Maria Jos Lopes da Silva Gileno Nunes Campos

    RESUMO

    A Educao de Jovens e Adultos (EJA) est no palco das polticas pblicas atuais. Sua peculiaridade passa pela diversidade dos seus sujeitos alunos, necessidade de construo de mais conhecimentos e de formao profissional para atuar nesta modalidade de ensino. Este artigo tem por objetivo refletir sobre como gerenciar os conflitos geracionais sem que estes acarretem prejuzos ao processo ensino-aprendizagem dos educandos. Iniciamos por contextualizar o adolescente, o jovem-adulto e o adulto-idoso, na sociedade atual, seus desafios e necessidades em tempos de globalizao. Por meio do dilogo com docentes e discentes do CMES Francisco de Melo Jaborandi, escola da rede municipal, situada na periferia de Fortaleza, diagnosticamos a rejeio e a baixa auto-estima como principais causas dos atritos. A partir da, decidimos escrever um artigo de relato de experincia, atravs da aplicao de atividades, observaes e discusses com seus pares, realizadas ao longo dos ltimos anos. A compreenso de que impossvel passar pela vida sem ser rejeitado e saber lidar com a rejeio, aprendizagem fundamental para o equilbrio do ser humano, abre a nossa discusso. A reflexo sobre o valor pessoal, postura altrusta, que valoriza o coletivo em detrimento do individualismo, e a percepo de que o respeito ao limite colocado pelo outro na relao uma atitude primordial para evitar rejeio enriquecem a discusso acerca dessa questo. O entendimento do trip da auto-estima (auto-respeito, autovalorizao e autoconfiana), de posturas positivas dos educadores e educandos na construo do saber conviver, e o desenvolvimento do autoconhecimento do mais consistncia a este trabalho, que traz, ainda, uma proposta de formao tica e cidad no formato de um projeto de trabalho, pautado na vivncia de valores humanos na educao, especialmente na modalidade EJA. O que colocamos a possibilidade de um fazer pedaggico consciente e comprometido com a formao do homem integral, to mencionado na atualidade e fundamental no sucesso das relaes pessoais. Para tanto, utilizamos um referencial terico que serve de base para as discusses referentes s causas da rejeio e como lidar com ela, bem como o resgate da auto-estima e tudo mais que ela acarreta, pertinentes prxis voltada para o desenvolvimento humano. Contudo, almejamos inserir elementos para o debate dos grandes desafios postos nos dias atuais aos sujeitos da EJA, mais especificamente, no que concerne aos conflitos geracionais.

    PALAVRAS-CHAVE: EJA, Conflitos, Rejeio, Auto-estima, tica.

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    INTRODUO:

    As atuais polticas pblicas da educao nacional esto favorecendo pesquisas no mbito da modalidade de Educao de Jovens e Adultos (EJA). O momento oportuno para construir conhecimentos nesta rea e uma via legal configura-

    se nesta especializao em Educao Profissional Tcnica de Nvel Mdio Integrada ao Ensino Mdio na Modalidade de EJA, atravs do PROEJA.

    Vivemos hoje numa sociedade consolidada em muitas frentes: valorizao dos contrastes; grande efervescncia de informaes; novas tecnologias; pluralidade

    cultural, tnica, econmica e poltica, dentre outras. E nesse contexto, a EJA uma modalidade de ensino que envolve uma diversidade de sujeitos alunos.

    Em funo das especificidades desses sujeitos que so: jovens (adolescentes), jovem-adultos, terceira idade, trabalhadores, mulheres, negros, portadores de necessidades especiais, dentre outros, a compreenso de que possuem idias prprias, expectativas e necessidades peculiares fundamental. Eles tm uma

    histria de vida, participam de grupos e lutas sociais, com gneros, perspectivas e geraes diferenciadas, o que significa que a possibilidade de conflitos torna-se inevitvel.

    No universo do CMES Francisco de Melo Jaborandi, nosso campo de

    pesquisa e no qual, por dois anos, duas de ns exerceu a funo de professora da referida modalidade de ensino, o quadro no diferente. Situado no Jangurussu, bairro

    da periferia de Fortaleza, professores e alunos da EJA atestam a presena de conflitos geracionais em suas salas de aula. Estes interferem diretamente nos relacionamentos e, conseqentemente, trazem prejuzos ao processo ensino-aprendizagem. Diante do exposto: como administr-los sem acarretar tais prejuzos?

    Alguns questionamentos surgem na tentativa de compreenso das causas destes: O que ser adolescente, o que ser jovem-adulto e o que ser adulto-idoso nos dias de hoje? O que tem gerado os principais conflitos geracionais na atualidade? E a pergunta fundamental que norteia nosso trabalho: como reverter tais conflitos?

    O foco da nossa pesquisa a compreenso de dois pontos crticos nas

    relaes interpessoais destes sujeitos de diferentes geraes: a rejeio e a baixa auto-estima. As discusses revelam suas principais causas e de que forma encar-las,

    buscando o equilbrio do ser humano e uma relao melhor consigo e com o outro.

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    No que concerne rejeio, a discusso ocorre em torno de como lidar com ela, a partir da compreenso do valor pessoal, onde o coletivo prevalece sobre o individualismo, da necessidade de estarmos atentos forma como internalizamos as referncias recebidas do meio, que interferem nas relaes que estabelecemos, do respeito ao limite colocado pelo outro na relao e a conscincia de que o rejeitado no vtima e sim algum que alimentou expectativas em relao ao outro.

    No tocante auto-estima, a reflexo d-se a partir do entendimento do seu

    trip (auto-respeito, autovalorizao e autoconfiana), da busca do autoconhecimento e das causas e prejuzos da desestima de si e o que esta pode acarretar ao desenvolvimento humano e, conseqentemente, ao processo ensino-aprendizagem. Fazemos um alerta acerca das atitudes que podem minimizar ou agravar os efeitos da auto-imagem negativa dos educandos.

    O que almejamos colaborar com os debates sobre a questo posta e mostrar um caminho aos que se propuserem a realizar um fazer pedaggico consciente e comprometido com o desenvolvimento humano. Sabemos que so escassas, no campo

    da EJA, bibliografias que nos dem subsdios para podermos contornar nossas dificuldades pedaggicas, que muitas vezes passam por estes conflitos. Por esta razo, decidimos inserir nesse estudo, o projeto de trabalho anual existente na escola, que tem sua culminncia na Semana Scio-Cultural e que a cada ano procura contemplar e

    diversificar o leque de valores que julgamos ser necessrio explorar e discutir em todas as modalidades de ensino.

    O conhecimento construdo por meio desta pesquisa representa nossa contribuio para um trabalho com melhores resultados no processo ensino-aprendizagem, pautado na formao tica de educadores e educandos da EJA da referida escola, assim como de outros que se identificarem com o enfoque em questo.

    1.0 - O ADOLESCENTE, O JOVEM-ADULTO E O ADULTO-IDOSO NA ATUALIDADE

    Compreender a complexidade ontolgica dos diferentes papis dos sujeitos da EJA nos dias atuais passa inevitavelmente pela percepo das suas relaes na construo do entendimento da sociedade em questo. Nesse abrangente contexto, a

    EJA torna-se um lugar especial para o encontro de jovens (adolescentes), jovem-adultos, terceira idade, com suas especificidades e necessidades peculiares, portanto, a

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    compreenso da diversidade de pessoas, com suas vicissitudes humanas, no espao

    restrito que a sala de aula, indica grandes possibilidades de conflitos. Assim, tendo em mente estes muitos atores no palco da EJA, numa

    sociedade da contradio, cada etapa da vida humana se reveste de uma profunda significao. Para delimitar o foco de nosso estudo, fizemos uma escolha: encontrar um fio condutor que perpassasse por todos os envolvidos nessa interao cotidiana, ou seja, as suas relaes interpessoais.

    A fim de compreender tais relaes, primeiramente precisamos entender que hoje, com a complexidade do neoliberalismo, h uma nova organizao nas relaes, inclusive no que tange ao trabalho, cujo perfil do trabalhador caracteriza-se pela polivalncia, na juno do saber com o saber fazer. Desse modo, as exigncias do mercado de trabalho, o alto ndice de desemprego, o crescente desnvel econmico, que acentua ainda mais as desigualdades sociais, tm afetado todos.

    Mais especificamente, os adolescentes que vivem na periferia quase sempre se vem impotentes diante de tantos desafios. Eles, que deveriam se dedicar ao processo

    de escolarizao e de profissionalizao, expectativas prprias da juventude na contemporaneidade, ainda contam com o agravante da discriminao que sofrem pela sociedade, sendo taxados muitas vezes de inconseqentes, rebeldes, violentos e sem futuro, como se esse tipo de comportamento fosse regra geral. Na verdade, a maioria

    deles est encarando os desafios que se colocam: desestrutura familiar, mortalidade juvenil, degradao do convvio social, bombardeio consumista da mdia e imagem destrutiva, que divulgada sobre os jovens, o acesso s drogas, dificuldade de ingresso na escola, que, quando h, quase sempre de qualidade duvidosa.

    A juventude tem feito isso, canalizando toda sua vivacidade, fortaleza e potencial criativo, prprios de sua idade e, em contrapartida, ainda conta com o turbilho emocional da adolescncia, etapa que se alonga cada vez mais, dada sua complexidade. Estudos mais recentes consideram a adolescncia at a idade dos 28

    anos. No que concerne aos adolescentes da EJA, alm do que foi colocado, ainda sofrem com a discriminao por estarem fora de faixa e com defasagem de aprendizagem.

    Aos adultos da EJA, os desafios no so menores. Estes se vem com a responsabilidade de manuteno de suas famlias, educao dos filhos e sob a presso

    social de mostrar estabilidade financeira e segurana. Como responder a todas estas expectativas, na atual conjuntura social, poltica e econmica que nos posta? E se

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    tratando de adultos margem do processo de escolarizao? Os idosos, ento, que alm

    destas ainda carregam a carga do preconceito, numa sociedade em que a velhice vista como doena, a situao bem pior.

    Estes so os atores da EJA, com suas expectativas e peculiaridades, com um objetivo comum de formao escolar e contam, ainda, com um grande desafio neste processo: aprender a conviver no s entre seus pares, como tambm na relao diria com os outros segmentos da comunidade escolar, ou seja, professores, funcionrios, especialistas (supervisor e orientador educacional), direo, entre outros.

    Saber conviver um dos quatro pilares da educao, defendido por Jacques

    Delors, expresso no documento denominado Relatrio Jacques Delors RDJ resultado de trabalhos desenvolvidos de 1993 a 1996, pela Comisso Internacional sobre a Educao para o Sculo XXI, da Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura (UNESCO).

    A Quinta Conferncia Internacional sobre Educao de Jovens e Adultos (CONFINTEA), promovida pela UNESCO, realizada em Hamburgo, em 1997, um marco de referncia das polticas pblicas nesta modalidade de ensino em diversos pases do mundo e que apresentou esta proposta de redimensionamento do fazer pedaggico dos educadores a partir da formao do homem integral. Saber conviver, enquanto pilar para uma existncia equilibrada, torna-se um imperativo para o

    aprendizado de uma vida, um grande desafio proposto, especialmente queles que atuam na EJA. Mas como construir este aprendizado num contexto de tantas

    diversidades? Diante do exposto, podemos relacionar duas grandes dificuldades de ordem

    das relaes interpessoais nas salas de EJA: a rejeio e a baixa auto-estima. Estas foram diagnosticadas como sendo as principais causas dos conflitos geracionais na referida escola, ao longo dos ltimos anos, mediante atividades desenvolvidas em sala, observaes e discusses.

    2.0 - A INEVITVEL REJEIO

    Um ponto relevante nesta reflexo a rejeio entre jovens e adultos, jovens e idosos e vice-versa. impossvel passar pela vida sem ser rejeitado e saber lidar com a rejeio uma aprendizagem fundamental para o equilbrio do ser humano (MIRANDA, 2005, p. 10). O que faz a diferena a postura de estarmos abertos s

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    possibilidades de aprendizado, s inovaes, para que aconteam as tomadas de

    conscincia, que so a chave que nos liberta da priso, do isolamento. Entendemos que educadores e educandos, enquanto pesquisadores do processo ensino-aprendizagem, precisam estar atentos formao tica de todos envolvidos no processo de construo de conhecimentos, pois a discriminao e o preconceito de toda sorte so freqentes em nossa sociedade. Para lidar com a rejeio preciso muita percepo e discernimento... A rejeio pode ser individual, tnica, religiosa e/ou poltica (MIRANDA, 2005, p.35).

    Recebemos referncias externas do meio, que interferem diretamente nas

    relaes que estabelecemos com as pessoas e o que vai determinar o sucesso destas relaes o modo como s internalizamos. Jog-las para dentro, de forma positiva, possibilitando a expanso e a incluso no grupo a grande questo. E isso nem sempre escolha, principalmente quando este grupo formado por pessoas bem distintas, de

    diferentes geraes. Estar bem com o grupo, estando bem consigo mesmo, requer muita reflexo, conhecimento de si mesmo e vivncia de valores humanos nas relaes

    sociais. A escola o local adequado para esta vivncia, que pode ocorrer por meio da realizao de projetos que partam desta temtica. Assumir esta postura numa sociedade de contradies algo que requer superao, pois vivemos numa sociedade que, historicamente, refora o contra-valor e a desumanizao do homem. Assim, afirma o

    tempo todo, ideologicamente, atravs dos meios de comunicao, uma relao destrutiva consigo, com o outro e com a natureza. Por conta disso, h uma tendncia

    generalizada, e no por acaso, em recebermos as referncias do meio de modo a nos excluirmos, criando um mal-estar no grupo e, conseqentemente, rejeio, causando prejuzos ao processo ensino-aprendizagem. Apesar das dificuldades, possvel realizar um trabalho pedaggico humanizador, desde que haja comprometimento no exerccio da funo social da escola, muita dedicao e esforo conjunto. Segundo o Dr. Mrcio Lcio de Miranda:

    O rejeitado no vtima... sempre algum que alimentou expectativas de ser amado, aceito e considerado. Durante sua vida, desenvolveu importncia pessoal ao invs de valor pessoal. Define-se valor pessoal como sendo o valor que a sociedade, o grupo social, profissional ou familiar atribuem a uma pessoa pelos seus atos, comportamentos e realizaes em benefcio da comunidade... Na vida o que conta o valor pessoal. A importncia pessoal um ato de inverso do globo ocular e geralmente leva a sofrimentos (MIRANDA, 2005, p. 37).

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    necessrio trazer esta reflexo para a sala de aula. A inverso do globo ocular inverte a viso, focalizando a importncia pessoal, reforando o egosmo, a desestima, a postura de autodefesa e de coitadinho, gerando excluso e isolamento. Em contrapartida, o valor pessoal remete ao compromisso com o coletivo, abandona o individualismo e estabelece o pensamento de grupo. Nessa perspectiva, os sujeitos da EJA tm a possibilidade de refletir sobre o papel de cada um no convvio com o todo da sala de aula, as contribuies que trazem e o compromisso com o sucesso da turma. Este

    o princpio da co-responsabilidade. Dessa forma, a construo do conhecimento passa pela compreenso de si, do outro e do mundo. Assim, pode-se vislumbrar uma cultura

    altrusta, a partir da conscincia da existncia do outro e o respeito s diferenas. Exerccios como o de saber ouvir, estar atento s necessidades do outro, atendendo-o tambm fisicamente no contato direto. Um abrao afetuoso, um sorriso acolhedor ou um olhar desarmado fortalecem os laos afetivos, que precisam estar contemplados no

    processo ensino-aprendizagem, que passa tambm pela empatia estabelecida entre todos os envolvidos. No entanto, necessrio estar atento e evitar exageros. Ainda segundo o

    mesmo autor.

    de vital importncia saber determinar o tamanho do espao corporal de cada pessoa no momento em que nos relacionamos com ela. A invaso ao territrio do outro uma das causas da rejeio. S rejeitado quem ultrapassa os limites colocados pelo outro. Portanto no estabelecer limites no dar oportunidade ao outro de se orientar em relao a ns, deix-lo perdido, sem rumo (MIRANDA, 2005, p. 41).

    Imagine quarenta pessoas num espao restrito, que a sala de aula, onde diariamente, num certo perodo de tempo, relacionam-se com diversas subjetividades, como estabelecer este limite? um aspecto que no considerado, que passa despercebido. Inevitavelmente, problemas com relacionamentos surgiro, o que vai exigir um olhar atento possibilidade de utilizao de outros espaos, dentro e fora da

    escola, que levam vivncia de bens culturais produzidos historicamente disponveis em museus, teatros, bibliotecas, cinemas e exposies de arte. Alm de oxigenar as relaes interpessoais, promove a dinamizao na metodologia do educador na

    construo do saber. Evitar a rejeio um comportamento de amor a si prprio e de preservao

    da auto-estima. Assim sendo, estar atento para no ocuparmos um espao excessivamente pequeno, para no nos sentirmos acuados e ameaados, uma postura

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    cotidiana, para evitarmos nos tornar agressivos, assim como no evitar ir alm dos

    limites colocados pelo outro. no convvio social que vamos construindo o valor pessoal, buscando a distncia certa entre ns e o outro. O relacionamento humano efetivo depende de comportamentos muito simples, to simples que so esquecidos e no praticados no dia-a-dia.

    Outro ponto importante no convvio social no esperarmos que o outro aja de acordo com nossa vontade. Cada pessoa um ser peculiar, o que precisa ser

    respeitado. A expectativa o mal nosso de cada dia... o atestado de bito do nosso bem-estar, do nosso bom humor e do nosso equilbrio emocional (MIRANDA, 2005, p. 98). Ela nos provoca sentimentos destrutivos. No entanto, a tomada de conscincia liberta nos e desata os ns. Para se estabelecer amizade, primeiramente preciso ter inteno, pois a vontade o motor que move as aes humanas. No gerar expectativa, remove o peso das relaes e nos d leveza, at para atendermos fisicamente melhor ao

    outro. Voltamos aqui questo da construo do valor pessoal, que abrange outros valores como: paz, amor, amizade, respeito, tolerncia, cooperao, responsabilidade,

    solidariedade, entre outros, que podem ser abordados na escola em diferentes contextos, de forma inter, trans e multidisciplinar. A sala de aula um espao diferenciado de resgate de uma dvida social, no caso da modalidade EJA, que necessita ser um ambiente aberto e acolhedor, estimulador e inclusivo. Vivenciar valores humanos na

    escola vai depender da disposio do grupo, a partir da conscincia de sua importncia no contexto atual. Mas necessrio que o educador abra o leque das possibilidades e

    acredite nos resultados positivos, dadas experincias j vivenciadas em outras instituies sociais, governamentais ou no. O Programa Vivenciando Valores na Educao (VIVE), aplicado em mais de oitenta pases pela Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIP), promovido pela Organizao Internacional Brahma kumaris, entre outras, tem dado suporte terico e prtico na formao de educadores e das comunidades e atestam esta realidade.

    preciso estar atento s situaes de conflito de modo a redimension-las, transformando-as em possibilidades de aprender. Partindo desse pressuposto, como construir um fazer pedaggico a partir dessa premissa? Como desenvolver o

    autoconhecimento e a elevao da auto-estima dos sujeitos da EJA? Alm do que foi discutido at aqui importante compreender o que auto-

    estima e o que sua ausncia pode acarretar para o indivduo e, conseqentemente, para o grupo. Buscamos uma fundamentao terica mediante estudos realizados em

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    Psicologia Aplicada, pela Dra. Maria Cristina Strocchi, texto traduzido por Francisco

    Mors.

    3.0 - ESTA NOSSA (DES) CONHECIDA AUTO-ESTIMA:

    A atitude de amar a si prprio, mesmo reconhecendo que temos limitaes e qualidades negativas e positivas, porm dando maior nfase a estas ltimas, o que

    chamamos de auto-estima. Temos que nos amar como somos, pois nenhum indivduo desprovido de boas qualidades e, portanto, a necessidade de conhecer-se, na busca da

    construo de uma auto-imagem positiva, fundamental, partindo do princpio que ningum ir valorizar uma pessoa que no tem apreo por si mesma. No que concerne

    aos sujeitos alunos da EJA, torna-se imperativo diante das especificidades citadas anteriormente, na introduo.

    3.1 A conquista da auto-estima nas salas de EJA

    Para que se tenha xito ao trabalhar com estudantes, particularmente nas salas de EJA, faz-se necessrio conhecer alguns preceitos que so determinantes para se

    ter uma auto-estima equilibrada. o que se denomina trip da auto-estima, formado pelo auto-respeito, a autovalorizao e a autoconfiana. Sem esta harmoniosa cumplicidade a boa auto-estima tende a se desequilibrar, trazendo transtornos para todos.

    O auto-respeito permite ao indivduo perceber-se como : um ser em construo com qualidades e defeitos, com perspectiva de crescimento pessoal e social,

    o que se alcana a partir do autoconhecimento. A autovalorizao propicia o reconhecimento de seus valores e a expresso de vontades, pensamentos e convices, mantendo o bem-estar por sentir-se parte integrante do mundo. Por ltimo, a autoconfiana sinaliza a troca de experincias no sentido de proporcionar mais

    segurana e confiana no que se acredita e postula como positivo, confiar em seu potencial, acreditar que capaz.

    Educadores tm o desafio de fazer com que os educandos percebam que estar com auto-estima elevada, alm de ter boa sade fsica e mental (essencial no processo ensino-aprendizagem), representa tornar-se um indivduo mais seguro e bem resolvido, no se abatendo facilmente diante das intempries da vida, erguendo a cabea

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    aps o insucesso da repetncia escolar e encarando-a com naturalidade e como

    oportunidade de aprendizagem e amadurecimento. Dessa forma, no se torna vulnervel ao julgamento de terceiros, no se importando se criticado por estar fora de faixa e no saber ler e escrever, portanto, respeitado e se sente potencialmente estimulado.

    Mais uma caracterstica da auto-estima equilibrada a capacidade de maleabilidade diante de certas convices que, em determinada situao, podem cair por terra com possibilidade de serem revistas e, conseqentemente, reconstrudas sem

    maiores danos, partindo do princpio de que estamos em constante construo. Este equilbrio a busca diria. Ningum est pronto e acabado. As experincias ao longo da

    existncia vo se somando e desenhando o ser, cujo processo de lapidao vai depender da disposio de cada um em faz-lo. Ao participar de atividades grupais, dentro ou fora do mbito escolar, os educandos precisam sentir-se como membro integrante, com voz e vez de participao, e caso entre em alguma situao embaraosa ou conflituosa, buscar

    se reestruturar emocionalmente.

    3.2 A vivncia da desestima nas salas de EJA

    Como j mencionamos, um dos problemas de auto-estima dos estudantes da EJA o fato de se sentirem culpados por no ter estudado em tempo hbil. Essa cultura, tambm, incutida pela mdia. Retornamos aqui questo do poder que esta tem, enquanto veculo de manipulao e massa de manobra da fatia dominante da sociedade, que projeta esta imagem negativa. O mais preocupante que parte dos educadores tambm acredita nesta realidade imposta, com isso no se preocupa em contornar ou mudar a situao. O restante, que consciente, nem sempre toma uma

    atitude coerente e comprometida com uma prxis pautada no desenvolvimento humano ou ento trabalha de forma isolada, o que no tem muita abrangncia e chance de efetiva transformao pessoal, social e cultural.

    Volta e meia pergunta-se o porqu de algumas pessoas apresentarem baixa

    auto-estima. Esta tendncia do comportamento tem sua marca registrada na nossa realidade de escola pblica e tende a se agravar, por razes j mencionadas, nas salas de educao de jovens e adultos.

    Skinner (apud Strocchi, 2003), por meio de seus estudos e observaes, tenta explicar essa tendncia de comportamento mediante o condicionamento operante,

    que consiste inicialmente na anlise de uma situao que gera um determinado

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    comportamento, e conseqentemente uma reao ou efeito que pode ser negativo ou

    positivo, por parte da outra pessoa que interage e do contexto. Em virtude desse efeito ou reao, h a possibilidade do comportamento tomar um aspecto mais definitivo e marcante na personalidade de uma pessoa, especificamente de um educando, perante as mesmas situaes. Portanto, necessrio ter cuidado com as palavras, atitudes e gestos dirigidos aos educandos, pois podem marcar a vida destas pessoas negativamente, destruindo sua auto-estima. Ficar atento e agir de forma adequada e sensata diante das

    situaes primordial ao profissional que trabalha com pessoas. Referindo-se aos educadores, ento, a responsabilidade ainda maior, por estar envolvido com a

    formao do cidado. Vamos comentar alguns desses efeitos como: ateno ou elogio, alvio da aflio, punio e indiferena.

    O primeiro deles a ateno ou elogio, considerados como uma das maiores necessidades do ser humano, sua ausncia na sala de aula pode trazer muitos bloqueios,

    independente da idade do indivduo. Para as educadoras Pilar Colomina e Diane Tillman (2005, pp. 103-108),

    alguns pontos so imprescindveis no sentido do elogio ser visto como positivo, caso contrrio, pode acontecer o oposto, como veremos logo a seguir:

    Fazer elogios diretos e especficos muito importante, porque nem todos os educandos esto acostumados a ouvi-los e precisam sentir que so verdadeiros. Assim,

    do uma boa resposta motivacional e educacional. Tais elogios ajudam a resgatar a auto-imagem positiva dos educandos, fazendo-os perceber suas boas qualidades e que

    estas so reconhecidas pelo professor, o que muito importante. A falta de sinceridade na sala de aula pode desestimular o educando, seja da idade que for. No entanto, emitidos com veracidade, geram sentimentos positivos a quem ouve. Elogios precisam ser feitos logo ao surgir um comportamento positivo como forma de desenvolver a autoconfiana dos educandos. Portanto um pequeno gesto faz diferena e vale mais que muitas palavras.

    Outro efeito o alvio da aflio, que se constitui na tentativa de mascarar o problema, evitando encar-lo de frente. No primeiro momento, pensamos no haver grandes impactos, j que foram rapidamente resolvidos, para em seguida estourar com outras conseqncias, s vezes mais danosas. Um exemplo tpico o do educador que tem problemas disciplinares em sua sala, contudo no toma nenhuma medida positiva

    para minorar ou resolver este impasse. Ou, ainda pior, d graas quando consegue se livrar da turma, para em seguida ter os mesmos problemas em outras salas. Este

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    profissional, alm de no conseguir ter xito no que faz, no aproveita a oportunidade

    de crescer e superar suas limitaes, causando prejuzos a ele e seus educandos. A terceira reao ao nosso comportamento se apresenta como sendo a

    punio, que ao contrrio do que muitos pensam, no surte o efeito esperado como resoluo de problema, uma vez que quem fica em evidncia no , muitas vezes, o punido, mas, sobretudo, o punidor. Retomamos aqui ao princpio de que o ser humano precisa de ateno para sobreviver e, nessa situao, o tiro sai pela culatra e o

    comportamento tido como errado torna-se cristalizado, isto , sem possibilidades de mudana. Vale ressaltar ser necessrio ter cuidado ao chamarmos a ateno de um

    educando para no constrang-lo diante dos colegas. Antes de qualquer coisa uma atitude tica. Alguns professores chegam a ameaar os indisciplinados com notas baixas na avaliao e por vezes essa ameaa se estende a reprovao.

    Por fim, a indiferena, que se apresenta como uma reao capaz de suprimir

    uma atitude incorreta. Observa-se que por vezes uma ao correta pode ser banalizada por ser considerada uma obrigao por parte de quem a pratica, a partir da, a

    indiferena estende-se a todos que esto envolvidos na situao. Logo, desperdiada uma tima oportunidade de estimular com palavras e gestos, um bom caminho para um trabalho positivo, como mencionamos anteriormente. Reforar os pontos negativos dos alunos acarreta entrave no processo de aprender. Pode-se ilustrar esta afirmao, quando

    alguns educadores rotulam seus educandos, ou mesmo a sala inteira, de indisciplinados ou de ter um ritmo de aprendizagem insatisfatria, enfatizando esses pontos em

    detrimento do reconhecimento do que conseguem fazer, mesmo com dificuldades, pondo em risco a auto-estima deles e seu relacionamento mtuo.

    Um ponto relevante nesta discusso que a religio e as tradies culturais tambm tm sua parcela de contribuio na diminuio do amor prprio e, conseqentemente, na auto-estima, fazendo com que haja sentimento de culpa por se adquirir bens ou por no aceitar a subservincia. Este tipo de formao preconiza o

    reconhecimento dos erros como prova de fraqueza de personalidade e no enquanto tentativa de acerto, possibilidade de aprendizado. Esta realidade est muito presente nesse pblico-alvo, at por serem pessoas cuja auto-estima bombardeada de todas as formas numa sociedade excludente.

    Pode-se confundir auto-estima com sentimento de superioridade. A primeira

    permite que as boas e ms qualidades sejam percebidas e, diante disso, possa haver uma

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    reflexo e uma possvel mudana de postura. A segunda trata de um comportamento

    arrogante, portanto, negativo e reflexo da baixa auto-estima de si. Nesse quadro, observam-se duas variantes que se caracterizam como

    disfuncionalidade da auto-estima. Numa delas somente os defeitos so levados em conta por parte do indivduo, j na outra ponta h uma supervalorizao de si prprio. Os dois modelos constituem-se desequilbrio emocional.

    Alguns educandos acreditam ser incapazes de mudar o seu comportamento,

    em virtude de terem nascido assim ou por terem algum na famlia com atitude semelhante, tambm observamos outros convictos de que podem mudar sua conduta da

    noite para o dia, de forma definitiva. As duas afirmaes so um tanto quanto extremas. Segundo pesquisas realizadas pelo psicoterapeuta Kagan (apud Strocchi, 2003) da Universidade de Harvard, a respeito da primeira situao observada, atitudes herdadas no mbito familiar s podem sofrer modificaes mediante aprendizagens graduais,

    desmistificando a mxima de pau que nasce torto morre torto, essas alegativas so desculpas de quem no quer mudar e se perceber. No segundo caso, sabe-se que difcil

    uma mudana drstica, em pouco tempo, no modo de ser de algum. Por se tratar de um comportamento que se instalou j h algum tempo, trs aspectos devem ser considerados: reconhecimento da necessidade de mudana, transcorrer certo perodo para que esse novo ser ressurja, mediante suas aprendizagens e reflexes e, principalmente, fora de vontade.

    Outras conseqncias que a diminuta auto-estima ocasiona so os medos e

    fobias, dificuldades de relacionamento, aflio e insegurana, necessidade do aval do outro, depresso e atrofia das reais potencialidades, apontados como nossos maiores problemas no convvio escolar.

    3.3 A expresso da desestima de si gerando estresse:

    3.3.1 Algumas percepes

    A fim de relacionar-se bem com os outros, que esto a todo o momento ao

    seu redor, imprescindvel que se entenda harmonicamente com seu eu. Existem muitas coisas importantes a conhecer sobre si, mas que, por uma

    poro de motivos, o indivduo no se apodera e deixa para trs timas oportunidades de crescimento pessoal. Neste contexto, eis aqui sete percepes ou vises, consideradas bsicas, para o escritor ingls Mike George (2005, pp. 43-50). So elas: identidade,

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    natureza, responsabilidade, crenas, autocontrole, paradoxos da vida e relacionamentos,

    contudo vamos nos deter nas duas primeiras, evitando repeties em relao ao que foi dito anteriormente.

    Identidade:

    A busca incessante de conhecimento da real identidade do indivduo, muitas vezes, envereda por caminhos confusos e equivocados. Ao se deparar com sua imagem

    no espelho, oportunizado apenas vislumbrar o invlucro do que de fato . A essncia do ser, na verdade, a alma, o esprito, portanto, cada um muito mais do que um

    limitado corpo, que nasce, cresce, envelhece e morre. Segundo Mike George (2005, pp. 46-47), a alma imortal e no pode ser to vulnervel quanto o corpo, ao menos que se permita que isso acontea. H uma linha de pensamento que acredita que a alma trava uma verdadeira batalha com o corpo que a aprisiona, em busca de sua liberdade. Portanto vale retomar aqui o trip da auto-estima: o auto-respeito, a autovalorizao e a autoconfiana, que passam, necessariamente, pelo autoconhecimento.

    Ao se apontar o corpo (que apenas a casa da alma) como sendo nossa verdadeira identidade, certamente ter de se conviver com o medo do envelhecimento,

    com a tristeza de no ter mais uma aparncia bonita e jovem e muitas outras neuras. Portanto, estar sempre refm do estresse, a doena dos tempos modernos, principalmente na terceira idade.

    Natureza:

    A verdadeira beleza no visvel aos olhos, ela se encontra no interior da

    pessoa e pode ser sentida quando se est bem consigo mesmo, porm, desde criana, aprende-se o contrrio.

    O mesmo acontece em relao natureza humana, que no de ter medo, insegurana, tristeza, raiva e outros sentimentos negativos. Todos esses sentimentos so aprendidos durante a caminhada de cada um, que chega a consider-los normais, como parte integrante da vida. A desconstruo dessa viso difcil, contudo, necessria. O

    verdadeiro eu e a verdadeira beleza encontram-se camuflados e esquecidos em nome da vaidade, quando se diz que algum bonito fisicamente.

    H uma inverso em torno do que realmente importante, os comentrios sobre o comportamento e a personalidade passam a contar mais do que o verdadeiro eu,

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    verdade construda culturalmente, portanto, produto do homem que pensou este

    modelo de sociedade, que vem se perpetuando ao longo do tempo. A relao de poder, de domnio sobre o outro, encobre com seu vu os sentimentos mais puros, que vm do mago do ser, impedindo-os de aflorar.

    A partir do momento que a mais profunda natureza vier tona, a tendncia de que as pessoas tambm possam expor seus sentimentos numa maravilhosa simbiose em que todos sairo ganhando.

    4.0 EXPERINCIA DE ROMPIMENTO COM A BAIXA ESTIMA, STRESS E REJEIO: PROJETO DE TRABALHO E DINMICAS.

    Projeto de trabalho: Vivenciando Valores Humanos na Comunidade Escolar CMES FRANCISCO DE MELO JABORANDI PMF SER VI

    1 Apresentao

    O projeto da escola depende, sobretudo, da ousadia dos seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-se como tal, partindo da cara que tem, com o seu

    cotidiano e o seu tempo-espao, isto , o contexto histrico em que ela se insere. Projetar significa lanar-se para frente, antever um futuro diferente do presente. Projeto pressupe uma ao intencionada com um sentido definido, explcito, sobre o que se quer inovar. (Moacir Gadotti)

    Um clamor por valores est ecoando na atualidade. A dvida social dos nossos governantes, acumulada ao longo dos anos, tem engessado problemas, que geram desconforto a todos. Em nossa comunidade escolar, percebemos esta realidade.

    Direo, especialistas, funcionrios, pais, alunos e educadores esto cada vez mais preocupados e afetados pela violncia. Nesse contexto, as relaes pessoais esto afetadas e, no universo da escola, espao de construo destas relaes, por excelncia,

    h agravantes. Percebemos falta de respeito mtuo e solidariedade com o prximo. H um consenso de que o ensino deve formar para o exerccio da cidadania. Nesse sentido,

    a vivncia de valores humanos na escola primordial a fim de buscar alternativas que possam amenizar essas dificuldades. O CMES Francisco de Melo Jaborandi, escola que

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    funciona em trs turnos, atendendo a uma demanda de quase 1.700 alunos, da educao

    infantil ao ensino fundamental, inclusive a modalidade de Educao de Jovens e Adultos EJA, por meio deste projeto com esta temtica, tem oportunidade de reverter o quadro da violncia na escola e na comunidade local, contando com a participao de todos. Assim, nossa principal misso tornar a educao democrtica e de qualidade, comprometida com o individual e o social, tornando possvel o respeito s diferenas e ao mesmo tempo instigando a participao ativa do aluno, tornando-o crtico e criativo,

    para a melhoria das relaes interpessoais e, conseqentemente da aprendizagem.

    2 Introduo

    Na elaborao deste projeto, contamos com a colaborao dos educadores, que durante a semana pedaggica, no incio deste ano letivo, apontaram e analisaram os

    avanos e as dificuldades enfrentadas pela escola no ano anterior. Foram traadas aes no intuito de alcanarmos nossos objetivos, um trabalho com melhores resultados e participao de todos na vivncia da gesto democrtica no mbito escolar. Por meio de discusso coletiva, foram traadas metas e aes, que atingissem os objetivos propostos, como tambm espao entre os encontros pedaggicos, nos quais acontecero planejamentos, reflexes, estudos, sugestes, vivncia e troca de experincias sobre cada valor trabalhado.

    O projeto flexvel, podendo ocorrer alteraes no decorrer de seu desenvolvimento, sempre buscando melhorar a qualidade de ensino, onde os alunos so conduzidos a refletir, imaginar, dialogar, comunicar, cantar, criar, escrever, expressar artisticamente e brincar com os valores humanos propostos.

    O propsito do projeto oferecer uma variedade de atividades que propiciem aos alunos vivenciar experincias com valores e metodologias prticas, onde os educadores capacitam o educando, explorando e desenvolvendo os doze valores-

    chave universais: cooperao, liberdade, felicidade, honestidade, humildade, amor, paz, respeito, responsabilidade, simplicidade, tolerncia e unio, levando-os a pensar sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre os valores de maneira relevante. So motivados a

    provocar a experincia dos valores internamente.

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    3 Pblico-alvo

    O pblico-alvo so os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco de Melo Jaborandi, assim como toda a comunidade que cerca a escola, pois entendemos que ela faz parte do pblico que pretendemos atingir, para que nossos alunos realmente possam vivenciar a prtica desses valores no seu dia-a-dia, adaptando as atividades a cada faixa etria, inclusive modalidade EJA.

    4 Objetivo Geral

    Favorecer os estudantes a valorizar, em situaes diversas, o EU como ser nico, capaz de conviver e aceitar o outro com suas diferenas e individualidades, reconhecendo que ningum igual a ningum, mas que todos so importantes e tm

    seus valores, tornando sua sala de aula e o mundo um lugar melhor para se viver.

    5 Objetivos Especficos

    Levar os alunos, professores e comunidade a refletir e praticar sobre diferentes valores pessoais, sociais, e espirituais.

    Construir conceitos para que o aluno aprenda a viver em sociedade, abrangendo aspectos comportamentais.

    Reconhecer os valores em si prprio, nos outros, na comunidade e no mundo. Fazer uso da imaginao criadora. Incentivar a criatividade por meio de pardias, danas, dramatizaes, poesias e danas. Discutir assuntos relevantes por meio de dinmicas. Proporcionar momentos de relaxamento e reflexo na busca do autoconhecimento. Promover debates e pesquisas.

    Criar murais. Confeccionar dobraduras. Expressar artisticamente os valores trabalhados por meio de desenhos.

    Utilizar msicas e textos sobre os valores. Interdisciplinarizar com outros contedos e reas do conhecimento.

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    6 Recursos Pedaggicos

    Cartazes; murais; revistas; msicas; filmes; jornais; internet; livros; dobraduras; desenhos, entre outros.

    7 Recursos Humanos

    Professores; especialistas (orientadora educacional e supervisora); direo; funcionrios; alunos; pais e comunidade local.

    8 Recursos Tecnolgicos

    Televiso; som; DVDs; CDs; computador; copiadora

    9 Desenvolvimento

    O projeto ser desenvolvido neste ano letivo, no qual a cada bimestre sero trabalhados trs valores, podendo sofrer alteraes medida que surgirem situaes que possam implicar mudanas. Para a culminncia do projeto, sero apresentados aos pais e comunidade cordis produzidos pelos alunos, exposio de trabalhos e apresentaes artsticas, que sero explorados dentro e fora da sala de aula.

    10 Avaliao

    Na perspectiva de uma forma diferente e comprometida com a transformao social, a avaliao ultrapassa o carter classificatrio que leva a excluir,

    aprovar ou reprovar. Ela ser de forma processual e contnua, valorizando o progresso

    do aluno pela construo de seus conhecimentos, observando a participao, o desenvolvimento e o interesse dos deles. Outro recurso que ser utilizado a auto-avaliao, pois levar o aluno reflexo sobre o prprio processo de aprendizagem e ao

    entendimento de compromisso com seu progresso e suas dificuldades, favorecendo assim o desenvolvimento da auto-estima. Os alunos sero envolvidos constantemente

    em trabalhos de pesquisas, produes e interpretaes de textos, leitura, desenhos,

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    pinturas e momentos de relaxamento. Discutiremos dificuldades e ajustes, no decorrer do processo, em encontros especficos com esta finalidade.

    Dinmicas:

    Exerccio 1 Teste da auto-estima:

    Primeiramente, preciso sondar o nvel de auto-estima dos educandos, fazendo o seguinte exerccio:

    Pea-os para fazer um desenho de si mesmo. Pea que eles se descrevam com dez adjetivos, fazendo um crculo vermelho

    ao redor dos adjetivos negativos e um crculo verde ao redor dos positivos. Sou ......................................................................................................................

    Sou ....................................................................................................................... Sou .......................................................................................................................

    Sou ....................................................................................................................... Sou ....................................................................................................................... Sou ....................................................................................................................... Sou .......................................................................................................................

    Sou ....................................................................................................................... Sou .......................................................................................................................

    Sou ....................................................................................................................... De acordo com o nmero de adjetivos positivos e negativos, pode-se fazer

    uma idia de como os educandos vem a si mesmos. Todos tm auto-apreo e defeitos. Nesse momento, deve-se explicar aos educandos que todas as pessoas

    apresentam aspectos positivos e negativos em suas personalidades, mas que tambm

    possvel eliminar os defeitos. De que forma? Eliminando um defeito de cada vez, comeando pelo mais fcil.

    Exerccio 2 Auto-apreo:

    Pea aos educandos que escolham trs colegas e escrevam trs qualidades

    positivas de cada um. Pergunte quem quer iniciar falando o nome do primeiro e sua qualidade e medida que todos vo falando se voltar para quem j se pronunciou, este

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    escolher o segundo colega da sua lista e dir seu nome e qualidade e assim

    sucessivamente at que todos se apresentem.

    Exerccio 3 Auto-aceitao:

    Fale aos educandos que ao sentir uma emoo negativa, pare por um instante e reflita:

    Que emoo estou sentindo? Qual a razo de estar provando esta emoo?

    Em seguida, pea-os para repetir: Exatamente por ser humano que sinto

    esta emoo, a aceito e me amo assim mesmo.

    Se as circunstncias forem favorveis, estimule-os a manifestar esta emoo dizendo, por exemplo: Neste momento estou sentindo muita raiva porque.... J que a emoo da raiva provocada pela emoo da dor, como alternativa voc poderia

    dizer: Neste momento estou sentindo muita tristeza porque...

    Exerccio 4 Ateno s prprias necessidades:

    Escolha uma msica agradvel, que ajude a relaxar, pea aos educandos que se acomodem confortavelmente na cadeira e fechem os olhos.

    Pergunte:

    Quais so as pessoas cuja presena e companhia me trazem paz e serenidade? Quais so os lugares nos quais consigo recuperar a tranqilidade? Quais so as atividades que me reabastecem e me fornecem energia para

    enfrentar o estresse cotidiano? Escreva no seu caderno:

    Pessoas que me enriquecem;

    Lugares que me nutrem;

    Atividades que me alimentam.

    Continue perguntando aos educandos: Quantas vezes eles usaram estes recursos nos ltimos tempos? Como vo se organizar melhor de agora em diante?

    Exerccio 5 Como exprimir os elogios:

    Fale aos educandos o seguinte: Pense e escreva a forma como voc recebe os elogios:

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    Descreva dois episdios em que, ao ser elogiado, sentiu-se embaraado:

    Exerccio 6 Pense em alguns colegas para os quais voc gostaria de fazer algum elogio e

    tente formul-los de modo assertivo (dizendo de forma clara o que voc pensa, sem ser agressivo). Exerccio 7 Como se livrar da raiva:

    Pergunte aos educandos: Como voc se comporta quando algum se irrita com voc?

    Fecha-se em si mesmo?

    Chora?

    Reage agressivamente?

    De que forma?

    Como voc se comporta quando est com raiva?

    Levanta a voz?

    Joga objetos? Ofende?

    Bate?

    Chora?

    Fecha a cara?

    Descreva algum episdio significativo:

    Para ser assertivo, como voc deveria se comportar naquela situao?

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    CONSIDERAES FINAIS

    Entendemos que os educadores precisam estar atentos aos desafios da educao na atualidade. Saber lidar com a rejeio e a baixa auto-estima uma aprendizagem construda ao longo da vida e que precisa ser exercitada no cotidiano escolar, principalmente nas salas da EJA. Os conflitos geracionais esto postos e precisam ser redimensionados em favor do aprender a conviver, saber priorizado nos

    dias atuais, pois est colocado como um dos pilares da educao para o sculo XXI. Trazer tona estas reflexes, certamente, serve de alerta para que os educadores desta

    modalidade atendam s necessidades de seus alunos, tendo em vista uma prxis consciente, comprometida com o desenvolvimento humano. Estas reflexes representam mais um instrumento a favor do sucesso do processo ensino-aprendizagem desses sujeitos.

    Esperamos que esta leitura tenha proporcionado um novo olhar sobre o valor pessoal, que precisa ser construdo no convvio social, em todas as instncias

    sociais, em especial, nas salas de aula. No caso especfico desta modalidade de ensino, trabalhar com o trip da auto-estima fundamental: o auto-respeito, a autovalorizao e a autoconfiana so imprescindveis na formao que se prope ser tica e cidad, num contexto de diversidade de atores. A ateno que cordialmente concedemos ao outro

    um gesto simples e que, no entanto, tem valor imensurvel, determinante no sucesso das relaes humanas. Todo ser humano precisa de ateno e no h aprendizagem

    significativa sem que esta atenda s expectativas e necessidades do educando. Estabelecer empatia o primeiro passo para se conseguir realizar um trabalho obtendo resultados satisfatrios para docentes e discentes.

    Portanto imperativo desenvolver mecanismos que possibilitem aprendizagens que tenham sentido em suas vidas, que passam necessariamente pela postura tica dos sujeitos envolvidos neste processo. Vivenciar valores humanos nas escolas fundamental ao convvio social e, por pensar desse modo, sugerimos a construo coletiva de projetos com esta temtica e aplicao de dinmicas como uma das muitas ferramentas utilizadas, no sentido de buscar conhecer a histria dos

    educandos e seu jeito de encarar a vida e ao mesmo tempo procurar socializ-los e sensibiliz-los a descoberta de si e ver no outro um ser humano complexo que, muitas

    vezes, necessita de compreenso e amizade, o que no significa valorizar este contedo em detrimento dos outros, mas integr-los de forma inter, trans e/ou multidisciplinar.

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    No novo paradigma educacional, tambm chamado paradigma emergente,

    no processo educativo, a viso do homem em sua totalidade deve ser considerada. Desse modo, a formao integral do educando, abordando as dimenses intelectual, emocional e tudo mais que se integra vida humana, um desafio que est posto. Nesse contexto, professor e aluno assumem uma postura de pesquisadores na construo do conhecimento. No d para ficar indiferente a esta realidade. Na viso holstica do homem em sua totalidade se desenha o saber conviver.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    GEORGE, Mike. Viva melhor: os sete clicks! Essenciais para uma vida sem estresse. So Paulo: Publifolha, 2005.

    MIRANDA, Mrcio Lcio de. Quem tem medo de ser rejeitado?: guia de sobrevivncia rejeio.3. ed. Belo Horizonte: Ceap, 2005.

    STROCCHI, Maria Cristina. Trad. Francisco Mors. Auto-estima: se no amas a ti mesmo, quem te amar?. 2. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2004.

    TILLMAN, Diane;COLOMINA, Pilar Quera. Guia de capacitao do educador. Programa vivendo valores na educao.2. ed. So Paulo: Confluncia, 2005.

    TILLMAN, Diane;COLOMINA, Pilar Quera. Manual de atividades de valores para estudantes. Programa vivendo valores na educao.2. ed. So Paulo: Abril, 2001.