rei rinda

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“Rei Rinda” Edição538 - Publicadoem21/Junho/2013- Página32 (Com base na explanação do presidente Ikeda: TC, ed. 533, jan. 2013.) DAIMOKU. Fé convicta e continuidade da prática são fundamentais Resumo e Cenário Histórico Acredita-se que esta carta, datada de agosto de 1279, tenha sido endereçada a Soya Doso, que, junto com seu pai, Soya Kyoshin, foi um dedicado discípulo de Nitiren Daishonin [na província de Shimosa (parte da atual província de Tiba)]. Nela, Daishonin enfatiza a enorme missão e honra que ele e seus discípulos têm em recitar e propagar o Nam-myoho-rengue-kyo, a fonte da força essencial da vida — num momento em que o país vivia em meio a uma grande ansiedade e agitação com a possibilidade da segunda invasão mongol. Quando escreveu esta carta, Daishonin estava com 58 anos, vivendo no longínquo Monte Minobu. No início desta carta, Daishonin se refere a dois pacotes de arroz tostado — método comumente utilizado na época de Kamakura para conservar o arroz — que havia recebido de Soya Doso. Observando que o arroz era fundamental para o sustento da vida, Daishonin louva a grandiosidade de um seguidor leigo que oferece alimento para suportar a vida do devoto do Sutra de Lótus. Ele cita, então, a metáfora dos cinco sabores usada pelo Grande Mestre Tient’ai da China para classificar os ensinamentos do Buda em termos de mérito relativo. Afirma que se os diversos sutras são comparáveis aos cinco sabores, o Sutra de Lótus representa “o

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“Rei Rinda”

Edição 538 - Publicado em 21/Junho/2013 - Página 32(Com base na explanação do presidente Ikeda: TC, ed. 533, jan. 2013.)

DAIMOKU. Fé convicta e continuidade da prática são fundamentais

Resumo e Cenário Histórico

Acredita-se que esta carta, datada de agosto de 1279, tenha sido endereçada a SoyaDoso, que, junto com seu pai, Soya Kyoshin, foi um dedicado discípulo de Nitiren Daishonin [na província de Shimosa (parte da atual província de Tiba)]. Nela, Daishonin enfatiza a enorme missão e honra que ele e seus discípulos têm em recitare propagar o Nam-myoho-rengue-kyo, a fonte da força essencial da vida — num momento em que o país vivia em meio a uma grande ansiedade e agitação com a possibilidade da segunda invasão mongol. Quando escreveu esta carta, Daishonin estava com 58 anos, vivendo no longínquo Monte Minobu. No início desta carta, Daishonin se refere a dois pacotes de arroz tostado — método comumente utilizado na época de Kamakura para conservar o arroz — que havia recebido de Soya Doso. Observando que o arroz era fundamental para o sustento da vida, Daishonin louva a grandiosidade de um seguidor leigo que oferece alimento para suportar a vida do devoto do Sutra de Lótus. Ele cita, então, a metáfora dos cinco sabores usada pelo Grande Mestre Tient’ai da China para classificar os ensinamentos do Buda em termos de mérito relativo. Afirma que se os diversos sutras são comparáveis aos cinco sabores, o Sutra de Lótus representa “o

senhor dos cinco sabores”. Enquanto os cinco sabores simbolizam os nutrientes da vida, Daishonin explica que o Sutra de Lótus representa a vida em si. Além disso, revela que o Daimoku do Sutra de Lótus representa o espírito e o olho de todos os sutras.Em seguida, por meio da parábola budista do Rei Rinda e os cavalos brancos, ele esclarece que as divindades benevolentes utilizam o som do Daimoku recitado pelas pessoas como nutrientes para aumentar a sua força e a energia.

Frase 1

O Bodhisattva Ashvaghosha1 dirigia suas orações para os budas das três existências e das dez direções, e imediatamente surgiu um cisne branco. Quando cavalos brancos avistaram o cisne branco, relincharam todos. Mal [o Rei Rinda] ouviu o relinchar uníssono dos cavalos, ele abriu os olhos. E assim que dois cisnes brancos e depois centenas e milhares deles apareceram, centenas e milhares de cavalos brancos imediatamente se encheram de alegria ecomeçaram a relinchar. E o aspecto do rei melhorou, voltando ao seu estado normal, como o Sol que emerge de um eclipse, e as forças de seu corpo e a percepção de sua mente tornaram-se centenas e milhares de vezes maiores que antes. A consorte estava radiante, os grandes ministros e os altos funcionários encheram-se de coragem, as pessoas comuns uniram as mãos em sinal de reverência, e os povos de outros países se curvaram (WND, v. 1, p. 986).

Explanação

Recitar Daimoku é uma declaração de que a ilimitada alegria do estado de Buda está inerente em nossa vida. É também um chamado para despertar as outras pessoas para essa verdade.Quando se forma o turbilhão do Daimoku da Lei Mística, envolvendo a tudo, então todos os seres vivos nos Dez Mundos serão revigorados e a sociedade se tornará pacífica e segura. Para ilustrar esse fato, Daishonin relata a parábola budista do Rei Rinda e os cavalos brancos (WND, v. 1, p. 985-986),2 que eu gostaria de resumir aqui.Era uma vez um sábio e digno governante chamado Rei Rinda. Quando ele ouvia cavalos brancos relincharem, sua energia vital era revigorada, e foi assim que ele cresceu e prosperou. Como resultado, o mesmo aconteceu com seu reino. As pessoas eram felizes e viviam seguras, o clima era ameno e com as estações do ano bem-definidas, e o reino vivia em paz com os povos vizinhos. Esses cavalos brancos,no entanto, só relinchavam quando viam cisnes brancos. Então, certo dia, quando todos os cisnes brancos desapareceram do reino, os cavalos brancos deixaram de relinchar. Como consequência, o rei e seu povo enfraqueceram e ficaram apáticos. Um clima imprevisível se abateu sobre o reino, ocorreram epidemias e a fome se espalhou, e os países vizinhos começaram a atacar o reino.Primeiro, o rei ordenou que mestres não budistas oferecessem orações, mas os

cisnes brancos não retornaram. Então, o Bodhisattva Ashvaghosha orou para os budas das três existências e das dez direções, e os cisnes brancos imediatamente reapareceram, e assim os cavalos brancos começaram a relinchar de alegria. O Rei Rinda, recuperado de seu estado de incapacidade absoluta, ganhou força física e acuidade mental inúmeras vezes maiores que as que ele tinha antes. As pessoas também foram reavivadas, e a paz e a prosperidade foram restauradas no reino.Daishonin emprega essa famosa parábola para ilustrar em termos facilmente compreensíveis o poder do Daimoku.Mais à frente, nesse mesmo escrito, ele declara: “Os cavalos brancos são Nitiren e os cisnes brancos, meus discípulos. O relinchar dos cavalos brancos é o som de nossa voz recitando Nam-myoho-rengue-kyo” (WND, v. 1, p. 989). E em outro escrito no qual ele se refere à história do Rei Rinda, “Cavalos Brancos e Cisnes Brancos”, ele diz: “Os cisnes brancos são o Sutra de Lótus; os cavalos brancos, Nitiren; e o relinchar dos cavalos brancos é o som do Nam-myoho-rengue-kyo” (WND, v. 1, p. 1066). Embora essas duas passagens se diferenciem na interpretação dos cisnes brancos, que são a causa do relinchar dos cavalos, ambas expressam claramente o princípio de que as vozes dos praticantes do Sutra de Lótus recitando Nam-myoho-rengue-kyo têm o poder inato de despertar a energia vital fundamental de todos os seres vivos — isto é, a sua própria natureza de Buda, a extraordinária condição de vida do Buda.Na carta “Cavalos Brancos e Cisnes Brancos”, Daishonin também escreve que, quando o Rei Rinda ouvia os cavalos brancos relincharem: “Sua pele se tornava tão brilhante quanto o Sol, tão revigorada quanto a Lua, sua força tão poderosa como a da divindade Narayana,3 e seus planos para o governo tão sagazes como os do rei Brahma” (WND, v. 1, p. 1065). E, neste escrito, “Rei Rinda”, Daishonin afirma: “as forças do [corpo do Rei] e acuidade mental tornaram-se centenas e milhares de vezes maiores que antes” (WND, v. 1, p. 986).Nossas vibrantes vozes recitando Daimoku dão poder e força não só para os principais deuses tutelares do Budismo, Brahma e Shakra, mas a todas divindades celestiais — as forças benevolentes do universo — ativando e fortalecendo suas funções protetoras. Nossa oração também move todos os budas e bodhisattvas das três existências e das dez direções, e as funções criadoras de harmonia e valor florescerão em nossas comunidades e em todo o país.Devemos lembrar as palavras: “A voz executa o trabalho do Buda” (cf. OTT, p. 4). Se o relinchar dos cavalos brancos tivesse sido fraco e hesitante, o Rei Rinda provavelmente não recuperaria seus poderes na mesma proporção que conseguiu. Da mesma forma, quando se trata da recitação do Daimoku, é importante lutarmos constantemente para fortalecer nossa fé e aprofundar nossa prática. Uma oração embasada na fé convicta e na continuidade da prática é fundamental na recitação do Daimoku.A parábola do Rei Rinda e os cavalos brancos nos ensina o poder de recitar Daimokupara abrir a energia vital interna e transmitir vigor e dinamismo para a sociedade. Essa última função está relacionada com o princípio do “Estabelecimento do Ensino correto para a Paz da Nação”.

Frase 2

Num país onde os Três Venenos [da avareza, da ira e da estupidez]4 prevalecem a tal ponto, como podem existir paz e tranquilidade?No kalpa do declínio,5 ocorrerão as Três Grandes Calamidades, ou seja, as calamidades do fogo, da água e do vento. E, no kalpa da diminuição,6 ocorrerão as Três Calamidades Menores, isto é, a fome, a peste e a guerra. A fome ocorre como resultado da avareza; a peste, como resultado da estupidez; e a guerra, como resultado da ira.No presente momento, o povo do Japão soma 4.994.828 homens e mulheres, todos diferentes entre si, mas igualmente dominados pelos Três Venenos. E esses Três Venenos surgem por causa da relação dessas pessoas com o Nam-myoho-rengue-kyo. Então, todas, no mesmo momento, se levantam para amaldiçoar, atacar, banir e aniquilar Sakyamuni, Muitos Tesouros e os budas das dez direções. E é isso que leva ao aparecimento das Três Calamidades Menores (WND, v. 1, p. 989).

Explanação

Nesse trecho, Nitiren Daishonin nos explica que, no kalpa da diminuição, quando enfraquece a energia vital das pessoas, ocorrem as Três Calamidades — fome, pestee guerra. Ele elucida que há uma estreita ligação entre tais calamidades e os Três Venenos — avareza, ira e estupidez —, que contaminam a vida das pessoas. É por isso que ele escreve: “A fome ocorre como resultado da avareza; a peste, como resultado da estupidez; e a guerra, como resultado da ira” (WND, v. 1, p. 989).O Grande Mestre Tient’ai atesta o mesmo resultado em sua obra Palavras e Frases do Sutra de Lótus: “Pelo fato de aumentar a intensidade da ira, conflitos armados [guerras] ocorrem. Pelo fato de a avareza se intensificar, a fome surge. Pelo fato de aumentar a estupidez, a peste irrompe” (OTT, p. 33). Ele também se refere à forma como as Três Calamidades surgem devido à prevalência dos Três Venenos e como essas calamidades, posteriormente, intensificam os Três Venenos na vida das pessoas, criando assim um ciclo vicioso sem fim que leva a uma época contaminada e degenerada. Isso, diz ele, descreve a “impureza do kalpa ou da época” [uma das cinco impurezas].7No Sutra da Grande Coleção, a calamidade da fome é expressa como “a calamidade dos preços elevados dos grãos” (cf. WND, v. 1, p. 10). Essa calamidade é causada particularmente pela crescente ganância no coração das pessoas, que eventualmentepassam a dominar a sociedade. Esse é apenas um exemplo citado no Sutra em que poderosos agricultores, proprietários de grandes terras, se aproveitam de épocas com clima instável e agem pensando somente em seus próprios lucros. Motivados pela ganância, monopolizam recursos, como a água, prejudicam a colheita da maioriados pequenos agricultores, elevando assim os preços dos grãos e de outros produtos.Em seguida, diz que a epidemia é causada pelo veneno da estupidez. É certo que ainda hoje, apesar dos notáveis avanços científicos, há doenças que se alastram por não se conhecer as causas. Outras se espalham porque, embora suas causas sejam

conhecidas, não foi encontrado nenhum tratamento eficaz. Em outros casos, apesar de se conhecer a causa e as formas de prevenção e de tratamento, razões econômicas e culturais acabam dificultando as ações para impedir que a doença se alastre. E, em alguns casos, as consequências de uma epidemia se agravam devido à insensatez das pessoas preocupadas somente com o lucro imediato e não no trabalho conjunto para a solução do problema.Por último, a guerra é atribuída ao veneno da ira. A ira, nesse caso, refere-se ao profundo e intenso sentimento de raiva e ardente ressentimento que podem surgir de desejos frustrados. Há uma terrível força destrutiva no magma ardente da raiva que brota de uma frustração, discriminação, traição, insulto ou exploração pelos outros. Quando essa energia negativa se acumula e explode, pode se manifestar como violência ou agressão e até mesmo se transformar em guerra. Essas erupções de ódio e malícia na forma de conflitos econômicos, ideológicos ou religiosos, ou nacionalistas, são muitas vezes a causa das guerras e conflitos armados em nossa época atual.Nitiren Daishonin afirma que toda a população do Japão de seu tempo foi “contaminada pelos Três Venenos” decorrentes de sua hostilidade em relação ao ensinamento do Nam-myoho-rengue-kyo, e esta é a causa das Três Calamidades (cf. WND, v. 1, p. 989).Em outras palavras, as pessoas da época de Daishonin sofriam de “ignorância religiosa” (estupidez), porque elas não conseguiam perceber que, por meio da práticade ensinamentos budistas errôneos, caluniavam o Sutra de Lótus, o ensinamento querevela a verdadeira intenção do Buda. E mesmo quando Daishonin apontou essa calúnia, propagando o ensinamento correto, eles demonstraram uma espécie de “ganância religiosa”, apegando-se ainda mais persistentemente aos ensinamentos errôneos nos quais depositavam sua fé. Além disso, eles foram tomados pela “ira religiosa”, e passaram a odiar e desprezar Daishonin como um inimigo, embora ele fosse de fato o devoto do Sutra de Lótus propagando o Nam-myoho-rengue-kyo para a felicidade de todas as pessoas.A época em que Nitiren Daishonin viveu era um período no qual as Três Calamidadesocorriam constantemente e de diversas formas. O Nam-myoho-rengue-kyo é a fonte da energia vital do universo e a semente para alcançar o estado de Buda. Daishonin declara que as Três Calamidades surgem porque a vida das pessoas do Japão tinha sido contaminada pelos Três Venenos — avareza, ira e estupidez —, que foram fomentados pela calúnia à Lei Mística.1. Bodhisattva Ashvaghosha (em japonês, Memyo): Estudioso do Budismo Mahayana e poeta do século 2, que viveu em Shravasti, na Índia. É considerado o décimo segundo dos vinte e quatro sucessores de Sakyamuni. 2. Relatado em Comentário sobre o Tratado Mahayana de Nagarjuna. A história é supostamente ocorrida em umavida anterior de Ashvaghosha. 3. Narayana: Originalmente, o deus Vishnu da mitologia hindu. Ele foi incorporado ao Budismo como uma divindade protetora que dizem possuir grande força física e, assim, aparece como um símbolo de força nas escrituras budistas. 4. Três Venenos da avareza, ira e estupidez: São os males fundamentais inerentes à vida que dão origem ao sofrimento humano. No Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria do renomado estudioso Mahayana Nagarjuna, os Três Venenos são considerados a fonte de todas as ilusões e todos os

desejos mundanos. São assim chamados porque contaminam a vida das pessoas e trabalham para impedir que seu coração e sua mente se voltem para a bondade. 5. Kalpa do declínio: Período durante o qual um mundo se deteriora; uma das quatro fases do ciclo de formação, continuidade, declínio e desintegração. Um kalpa é um período imensuravelmente longo. 6. Kalpa da diminuição: Período em que a vida humana é reduzida. No kalpa da continuidade, diz-se que o tempo de vida dos seres humanos é repetidamente submetido a um padrão de redução e aumento. Qualquer período de redução é chamado kalpa da diminuição. 7. Cinco impurezas: Conhecidas também como cinco contaminações. As impurezas da época, do desejo, dos seres vivos, da visão (ou do pensamento) e da própria vida. São mencionadas no segundo capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”. (1) A impureza da época compreende as constantes rupturas da ordem social ou do equilíbrio ambiental. (2) A impureza do desejo é a tendência a ser governado pelos impulsos ilusórios: avareza, ira, estupidez, arrogância e dúvida. (3) A impureza dos seres vivos é a decadência física e espiritual do ser humano. (4) A impureza do pensamento ou das ideias é a preponderância de ideias errôneas, como as cinco ideias falsas. (5) A impureza da vida é a brevidade da duração da existência dos seres humanos.