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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE REGISTRO SANITÁRIO DE MEDICAMENTOS NOVOS AS NORMAS LEGAIS E UMA ANÁLISE DO MERCADO BRASILEIRO CÍNTIA MARIA GAVA ORIENTADORES: JORGE ANTONIO ZEPEDA BERMUDEZ VERA LUCIA EDAIS PEPE RIO DE JANEIRO, 2005

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SÉRGIO AROUCA

MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA POLÍTICAS PÚBLICAS E SAÚDE

REGISTRO SANITÁRIO DE MEDICAMENTOS NOVOS AS NORMAS LEGAIS E UMA ANÁLISE DO MERCADO

BRASILEIRO

CÍNTIA MARIA GAVA

ORIENTADORES: JORGE ANTONIO ZEPEDA BERMUDEZ VERA LUCIA EDAIS PEPE

RIO DE JANEIRO, 2005

ii

CÍNTIA MARIA GAVA

REGISTRO SANITÁRIO DE MEDICAMENTOS NOVOS: AS NORMAS LEGAIS E UMA ANÁLISE DO MERCADO BRASILEIRO

Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Saúde Pública.

ORIENTADORES: JORGE ANTONIO ZEPEDA BERMUDEZ

VERA LÚCIA EDAIS PEPE

BANCA EXAMINADORA: SUELY ROZENFELD

GERALDO LUCCHESE

Rio de Janeiro, 2005

iii

G279r Gava, Cíntia Maria

Registro sanitário de medicamentos novos: as normas legais e uma análise do mercado brasileiro. / Cíntia Maria Gava. Rio de Janeiro : s.n., 2005.

113 p., tab., graf.

Orientador: Zepeda Bermudez, Jorge Antonio Pepe, Vera Lúcia Edais

Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca.

1.Uso de medicamentos. 2.Registros. 3.Indústria

farmacêutica. 3.Vigilância sanitária. 4.Inovação

organizacional. I.Título.

iv

“A saúde pública não é o objetivo da Indústria Farmacêutica que tende a

comporta-se como qualquer outro tipo de ramo industrial. Esta situação só pode

ser solucionada se o funcionamento e o papel da Indústria Farmacêutica forem

enquadrados em uma política farmacêutica definida pelos Estados como parte

fundamental da política sanitária dos países”.

OPAS/OMS, 1992. Documento de la Reunion de Expertos de la Subregion Andina.

v

A Antonio Gava, meu Pai

À Maria José Volpato, minha Mãe

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter guiado meus passos para atuar como profissional de saúde pública.

Aos meus pais, pela vida e exemplo.

Aos professores que foram estímulo à minha caminhada.

Aos amigos que souberam ouvir e compartilhar.

Ao meu orientador, Jorge Antonio Zepeda Bermudez, pelo apoio, incentivo e exemplo como

profissional de saúde pública.

À minha orientadora, Vera Lúcia Edais Pepe, pelo incentivo, amizade e carinho dedicados.

A Sérgio de Andrade Nishioka, pela entrevista concedida.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca,

pelo apoio financeiro concedido para elaboração desta pesquisa por meio do convênio

ENSP/ANVISA – Pesquisa e Desenvolvimento Institucional em vigilância sanitária.

vii

RESUMO A entrada crescente de novos medicamentos nos mercados, acompanhada de intenso

investimento em propaganda e marketing destes produtos, realizado pelas empresas

farmacêuticas, é uma realidade em vários países do mundo na atualidade.

O controle sobre a qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos cresceu nas últimas

décadas, impulsionado por trágicos episódios ocorridos no último século decorrentes dos efeitos

adversos atribuídos ao uso dos medicamentos.

Como os medicamentos apresentam riscos à saúde é necessária sua contínua regulação,

buscando-se a atualização dos meios usados para o controle da produção, comercialização e uso.

As autoridades regulatórias dos países controlam os medicamentos de diferentes formas e a

exigência do registro sanitário prévio à comercialização é uma das medidas fundamentais para a

proteção da saúde da população.

Considerando a importância do lançamento de novos medicamentos no mercado e do

registro sanitário, o presente trabalho apresenta inicialmente uma breve discussão sobre a

inovação no setor farmacêutico e em seguida descreve o processo de registro de medicamentos

novos em quatro autoridades sanitárias: FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA. É feita uma

descrição sucinta sobre a evolução da regulação sanitária de medicamentos nos Estados Unidos e

no Brasil, são apresentadas algumas características estruturais importantes das autoridades

sanitárias selecionadas, as exigências legais para o registro de medicamentos novos e as

definições de medicamentos novos adotadas.

Por último, os quarenta e nove medicamentos novos registrados na ANVISA, nos anos de

2000, 2001 e 2002, são analisados quanto ao registro nas demais agências regulatórias, quanto à

classificação na FDA e ao tempo decorrido entre a solicitação e a concessão dos registros na

ANVISA e na FDA.

Foram encontradas diferenças na quantidade e qualidade nas informações oficiais

disponíveis, bem como em relação ao que é considerado novo medicamento pelas quatro

autoridades sanitárias estudadas. As exigências quanto ao tipo e volume de informações que

devem ser fornecidas pelos solicitantes de registro às autoridades sanitárias e os prazos legais

para análise da solicitação de registro também são distintas.

viii

A análise da relação de medicamentos novos registrados na ANVISA revelou que 75,5%

dos mesmos estão registrados na FDA, 73,5% na ANMAT e 55,1% na EMEA. No que se refere à

classificação da ANVISA para os medicamentos novos, o estudo apresentado por Reis (2004)

revelou que trinta e um medicamentos são compostos por novas entidades moleculares, mas

quando analisados quanto ao potencial terapêutico, apenas treze medicamentos foram

classificados como aplicações prioritárias pela FDA. Quanto aos prazos necessários para

concessão dos registros, houve diferenças relevantes, considerando os valores medianos, entre a

ANVISA e a FDA.

Palavras-chave: registro de medicamentos; vigilância sanitária; medicamentos novos;

autoridades sanitárias; inovação; Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Agência Européia de

Medicamentos; Administração de Alimentos e Medicamentos; Administração Nacional de

Medicamentos, Alimentos e Tecnologias Médicas.

ix

ABSTRACT

There is a growing offer of new drugs in the market of many countries, by pharmaceutical

companies, accompanied of intense investment in propaganda and marketing of these products.

In the last century, the control of efficacy, safety and quality, have been stimulated by the tragic

episodes of adverse drug reactions attributed to the use of medicines.

Continuous drug regulation, from the production to commercialization and use as well as

searching for continuous update in regulatory actions are necessary since these drugs present

health risks. The regulatory authorities of the countries controls the life cycle of drugs in different

ways. The demand of previous drug registration to the commercialization constitutes one of these

regulatory measures, fundamental to the public health.

Considering the importance of the introduction of new drugs in the market and of the

sanitary register, this research presents initially a brief discussion about innovation in the

pharmaceutical sector. It also describes the process of new drug register in four sanitary

authorities: FDA, EMEA, ANMAT and ANVISA. A summary description of the evolution of

sanitary drug regulation in the United States and Brazil as well as some important structural

characteristics of the selected sanitary authorities, the legal requirements for the new drug register

and the adopted definitions of new drug by each one are presented.

Finally, the forty nine new drugs registered in ANVISA, during the years of 2000, 2001

and 2002, are analyzed regarding their registration in FDA, EMEA and ANMAT, their

classification in the FDA and the time elapsed between the submission and the approval by

ANVISA and FDA.

Differences were found in the amount and quality of available official information, as

well as in relation to the definition of new medicine, for all studied sanitary authorities.

Requirements about the type and volume of information that should be supplied by the applicant

pharmaceutical company to the sanitary authorities, as well as the legal periods of time spent for

registration analysis, legally specified, are also distinct.

The analysis of the new drug registered in ANVISA revealed that 75.5% of them are

registered in the FDA, 73,5% in ANMAT and 55,1% in EMEA. In relation to ANVISA’s

classification of these new drugs, the study presented by Reis (2004) revealed that thirty one are

new molecular entities. However, when analyzed for their therapeutic potential, only thirteen

x

drugs were classified as a priority application by FDA. Considering the median time between the

submission and the approval of the register, there were relevant differences between ANVISA

and FDA.

Key-words: drug registration; sanitary surveillance; new drug; sanitary authorities; innovation;

National Health Surveillance Agency (ANVISA); European Medicines Agency (EMEA); Food

and Drug Administration (FDA); National Administration of Medicine, Food and Medical

Technologies (ANMAT).

xi

SUMÁRIO

1. Introdução ...............................................................................................................................1

2. Inovação no setor farmacêutico e o desenvolvimento de medicamentos ...............................5

3. Regulação Sanitária de Medicamentos ..................................................................................14

4. Justificativas ...........................................................................................................................23

5. Objetivos ................................................................................................................................25

6. Metodologia ...........................................................................................................................26

7. Resultados e Discussões ........................................................................................................29

7.1 FDA ....................................................................................................................................29

7.2 EMEA ................................................................................................................................40

7.3 ANMAT .............................................................................................................................49

7.4 ANVISA ............................................................................................................................54

8. Registro de medicamentos novos nas quatro agências: algumas considerações ...................67

9. Medicamentos novos registrados na ANVISA 2000-2002 ...................................................78

10. Conclusões ...........................................................................................................................89

Referências Bibliográficas .........................................................................................................92

Anexo 1. Entrevista ...................................................................................................................97

Anexo 2. Quadro 8 - Relação de Medicamentos Novos Registrados na ANVISA nos anos de 2000, 2001 e 2002 ...................................................................................................................100 Anexo 3. Quadro 9 - Medicamentos novos registrados na ANVISA e na EMEA, FDA e ANMAT ..................................................................................................................................108 Anexo 4. Quadro 10 - Prazo em dias para o registro dos medicamentos na ANVISA e na FDA .................................................................................................................................................110

xii

LISTA DE SIGLAS

ANDA – ABBREVIATED NEW DRUG APPLICATION

ANMAT - ADMINISTRACIÓN NACIONAL DE MEDICAMENTOS, ALIMENTOS Y

TECNOLOGIA MEDICA.

ANVISA – AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

CATEME – CÂMARA TÉCNICA DE MEDICAMENTOS

CBER – CENTER FOR BIOLOGICS EVALUATION AND RESEARCH

CDER – CENTER FOR DRUG EVALUATION AND RESEARCH

CEE – COMUNIDADE ECONÔMICA EUROPÉIA

CEME – CENTRAL DE MEDICAMENTOS

CPMP - COMMITTEE FOR MEDICINAL PRODUCTS FOR HUMAN USE

CTD – COMMON TECHNICAL DOCUMENT

CVMP - COMMITTEE FOR MEDICINAL PRODUCTS FOR VETERINARY USE

DGSP – DIRETORIA GERAL DE SAÚDE PÚBLICA

DIMED – DIVISÃO DE MEDICAMENTOS

DNSP – DEPARTAMENTO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA

EMEA – EUROPEAN MEDICINES AGENCY d

EPAR – RELATÓRIO EUROPEU DE AVALIAÇÃO PÚBLICO

EU – EUROPEAN UNION

FDA - FOOD AND DRUG ADMINISTRATION

FIFARMA - FEDERAÇÃO LATINO-AMERICANA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

GATB - ALIANÇA GLOBAL PARA DESENVOLVIMENTO DE DROGAS PARA

A TUBERCULOSE

GEPEC – GERÊNCIA DE MEDICAMENTOS NOVOS, PESQUISA E ENSAIOS CLÍNICOS

GGMED – GERÊNCIA GERAL DE MEDICAMENTOS

ICDRA - INTERNATIONAL CONFERENCE OF DRUG REGULATORY

AUTHORITIES

ICH – INTERNATIONAL CONFERENCE ON HARMONIZATION

IND – INVESTIGATIONAL NEW DRUG

ISDB – INTERNATIONAL SOCIETY OF DRUG BULLETINS

xiii

MERCOSUL – MERCADO COMUM DO SUL

MSF – MÉDICOS SEM FRONTEIRAS

MSH – MANEGEMENT SCIENCIES FOR HEALTH

NDA – NEW DRUG APPLICATION

NME – NEW MOLECULAR ENTITY

OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

OPAS – ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE

OTC – OVER - THE - COUNTER

PNM – POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS

RDC – RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA

SNFM – SERVIÇO NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO DA MEDICINA

SNFMF - SERVIÇO NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO DA MEDICINA E FARMÁCIA

SNVS – SECRETARIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

SPC – SUMMARY OF PRODUCT CHARACTERISTICS

VISA – VIGILÂNCIA SANITÁRIA

WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION

xiv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Diferenças entre o ensaio clínico controlado na Fase III e o uso de um fármaco na prática

clínica habitual ...................................................................................................................................9

Tabela 2 – Número de medicamentos registrados e classificados por potencial terapêutico segundo

país sede da empresa fabricante........................................................................................................81

xv

LISTA DE QUADROS

Quando 1 - Ranking das Aplicações de Novos Medicamentos (NDA) segundo critérios de classificação da FDA .......................................................................................................................................................37 Quadro 2 - Documento Técnico Geral (CTD) para Registro de Medicamentos na EMEA ......................44 Quadro 3 - Relatório Técnico para Registro de Medicamento Novo segundo RDC 136 de 23/05/2003...61 Quadro 4 - Exigências da RDC 136 segundo características dos Medicamentos Novos ..........................62 Quadro 5 - Estrutura e funções das autoridades sanitárias: FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA .............68 Quadro 6 - Definições para medicamento novo adotadas pela FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA .......72 Quadro 7 - Algumas características do processo de registro de medicamentos novos na FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA .................................................................................................................................75

1

1. INTRODUÇÃO

No século XIX os terapeutas adeptos da medicina “ortodoxa”1 tentavam usar as novas

ciências biológicas ou médicas segundo princípios hipocráticos reconstruídos no Iluminismo e

disputavam espaço com outras doutrinas médicas como a homeopatia. No Brasil, na França e nos

Estados Unidos a homeopatia ameaçava a anátomo-clínica como uma concorrente de peso.

Mas a criação de técnicas de prevenção e tratamento etiológico, destacando-se as

contribuições de Pasteur com bases científicas nítidas, foi realmente impressionante para a

sociedade do século XIX e contribuíram decisivamente para a mudança do paradigma de controle

de doenças: a ciência médica assumiu a hegemonia na virada do século XIX. Segundo Sayd

(1998:133):

“(...).este prestígio significou a hegemonia do médico ortodoxo sobre os

demais, adeptos de outros sistemas terapêuticos como a homeopatia. A

linha entre o charlatanismo e uma medicina oficial se tornou nítida e

modificou inteiramente a situação de competição anterior entre os

terapeutas (...)”

O final do século XIX foi marcado pelo crescimento dos centros urbanos e pelo processo

de industrialização em várias partes do mundo. Somam-se a estas mudanças a proliferação de

doenças contagiosas e a necessidade de que a classe trabalhadora fosse mantida saudável, já que

dela dependia o sistema de produção (Costa, 2004).

No Brasil, a industrialização e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia tiveram papel

decisivo no processo de produção de normas sanitárias pelo Estado neste período. Havia uma

pressão para que as atividades comerciais fossem padronizadas e que os produtos obedecessem

algumas normas de qualidade. A sociedade, preocupada com as denúncias freqüentes de

adulteração de alimentos e medicamentos, pressionava os órgãos públicos para que tomassem

medidas de controle sanitário (Costa & Rozenfeld, 2000).

1 Coulter (1973, apud Sayd,1998) chama a medicina anátomo-clínica de ortodoxa ao narrar a disputa entre

a American Medical Association e a homeopatia norte-americana.

2

A influência do setor industrial neste processo de regulamentação pode ser explicada pelo

interesse em expandir o mercado para seus produtos já que grande parte do comércio era

dominada pela produção artesanal, como no caso das preparações farmacêuticas de origem

vegetal. Nas décadas de 30 e 40 os medicamentos industrializados2 representavam menos de 25%

dos produtos vendidos nas farmácias (Laporte et al, 1993).

A importância assumida pela medicina científica e o crescimento da produção industrial

de medicamentos são fatores que se somam, no inicio do século XX, contribuindo um para a

legitimação e valorização do outro: os medicamentos eram fabricados segundo os princípios da

racionalidade científica e somente os terapeutas adeptos deste modelo teriam capacidade de

prescrevê-los (Sayd, 1998).

O desenvolvimento da química, da fisiologia e da farmacologia básica, durante a segunda

metade do século XX, associado ao aumento da demanda por serviços de saúde, garantiram a

introdução de vários produtos farmacêuticos no mercado. O aumento da utilização de fármacos

acentuou-se após a Segunda Guerra Mundial e o período entre as décadas de 1940 e 1960 ficou

conhecido como Idade de Ouro da Indústria Farmacêutica (Barros, 1995). Os efeitos benéficos

dos medicamentos foram profundamente percebidos neste período pela introdução de antibióticos

como penicilina e estreptomicina que permitiram salvar muitas vidas em condições anteriormente

impossíveis (Laporte et al, 1993).

O consumo cada vez maior de medicamentos, induzido maciçamente por meio de

propagandas e marketing dos produtos, teve como impacto cultural a substituição de formas

tradicionais de cuidado da saúde, gerando a dependência da população pela alopatia, e

conseqüentemente, pela classe médica e farmacêutica (Sayd, 1998). Para os dois principais

agentes envolvidos na cadeia terapêutica – o médico e o paciente – o medicamento passou a ter

uma função simbólica: para o médico, um medicamento adequadamente prescrito lhe outorgava

prestígio e reforçava seu poder sobre o paciente, e para o paciente, o sinal de uma boa consulta

médica tende a ser uma prescrição.

Os avanços tecnológicos permitiram a fabricação de uma variedade de medicamentos que

hoje estão presentes no mercado - obtidos de fontes naturais, sintetizados nos laboratórios e

2 Entende-se por medicamento o produto farmacêutico tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico (Brasil, 1976).

3

obtidos por processos de biotecnologia - comercializados em diferentes formas farmacêuticas

como comprimidos, cápsulas, xaropes, injetáveis, sprays, adesivos transdérmicos e cremes. A

grande variedade de apresentações comerciais dos medicamentos permite que o paciente tenha à

sua disposição formas farmacêuticas de uso mais conveniente ao tratamento, contribuindo para

adesão ao mesmo.

Entretanto, passados os anos de euforia da Idade de Ouro, houve um grande período de

letargia no que se refere à descoberta de fármacos que representassem avanços terapêuticos

efetivos e um incremento de “novidades” que não passavam de uma nova roupagem dada a

produtos já existentes no mercado (Barros, 1995). Esta situação apresenta-se como um problema

para os sistemas de saúde, pois estes medicamentos, registrados pelas autoridades sanitárias são

anunciados por seus fabricantes como medicamentos novos e acabam “conquistando” muitos

profissionais de saúde. Neste sentido, Dupuy & Karsenty (apud Barros, 1995:29) afirmam que:

“(...) prescrever a última novidade lançada no mercado significa

“competência”, o que favorece a boa imagem do médico pois assim

ele estará buscando uma eficácia maior para o tratamento; e mesmo a

indicação de produtos mais antigos pode provocar no paciente a idéia

de que seu caso não está merecendo o interesse que esperava.”

Mas uma questão importante não pode ser desconsiderada: os medicamentos também

podem representar riscos à saúde, causar sérios danos ao organismo dos indivíduos e, em casos

extremos, até a morte. A vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo é reforçada

pelo que se define como assimetria de informação (Piovesan, 2002: 60):

“(...) impossibilidade das pessoas disporem de todas as informações

necessárias para orientar suas escolhas de consumo, os produtores e

prestadores dispõem de informações sobre produtos e serviços que a

população não possui.”

Neste cenário, o registro sanitário de medicamentos torna-se um importante instrumento

de regulação sanitária por meio do qual o Estado deve atuar como mediador entre os interesses

4

das empresas produtoras de medicamentos, que desejam registrar seus produtos, e os interesses

da saúde pública, zelando por sua defesa e proteção. A regulação exercida pelo Estado é definida

por Camargo (apud Piveosan,2002:56) como:

“Uma função típica da materialização de políticas públicas, pois por

meio delas procura-se estabelecer uma ponderação de interesses

aparentemente conflitantes em situações que comprometem o

equilíbrio das relações entre agentes econômicos e usuários ou

consumidores.”

Uma das principais ações de proteção à saúde dos futuros consumidores é, portanto, a

avaliação da solicitação de registro de medicamentos, devendo esta ser conduzida com a

responsabilidade e o rigor necessários, uma vez que alguns dos efeitos dos medicamentos

somente serão identificados após o uso prolongado e por um número significativo de pessoas,

cada qual com sua singularidade.

Tendo em vista a importância da entrada de novos medicamentos nos mercados

considerou-se oportuno fazer inicialmente uma breve abordagem sobre a inovação no setor

farmacêutico, para em seguida analisar, o processo de registro de medicamentos novos nos

Estados Unidos, na Comunidade Européia, na Argentina e no Brasil, assim como os registros de

medicamentos novos, concedidos no Brasil, entre os anos de 2000 e 2002.

5

2. INOVAÇÃO NO SETOR FARMACÊUTICO E O DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS

A inovação tecnológica é um componente fundamental para as empresas que desejam

competir no mercado atual e é obtida por meio de investimentos em atividades de pesquisa e

desenvolvimento.

Existem dois tipos de inovação: inovação não-linear e inovação linear (Schmid, 2002).

Um exemplo perfeito de inovação não-linear foi a descoberta da penicilina. Em 1928,

trabalhando com o vírus Influenza o pesquisador Alexander Fleming observou que não havia

crescimento da cultura de Staphilococcus aureus ao redor de certas regiões da placa de cultura

contaminadas por fungo. Fleming não pretendia descobrir um agente bactericida, mas por suas

observações e deduções acabou descobrindo a penicilina e abrindo caminho para o tratamento de

uma série de infecções.

A inovação linear ou lógica, por sua vez, é aquela inovação baseada em um conhecimento

prévio, a partir do qual se somam avanços incrementais. Segundo Schmid, a inovação linear é

uma forma de inovação orientada, com objetivos bem definidos. Um exemplo deste tipo de

inovação na Indústria Farmacêutica é o avanço em terapias existentes pela descoberta de

medicamentos mais seguros e eficazes a partir de uma mesma classe terapêutica.

No setor farmacêutico a inovação é um processo bastante variado e contínuo, podendo

ocorrer de duas formas: produção de medicamentos cujos fármacos são novas entidades

moleculares ainda não comercializadas e o desenvolvimento de medicamentos que já estão no

mercado por meio de pequenas alterações nos mesmos (NIHCM Foundation, 2002). Estas

alterações podem melhorar o perfil farmacocinético do medicamento, aumentando sua absorção,

diminuindo o número de doses diárias do medicamento, dentre outros benefícios. Em alguns

casos, as pesquisas com medicamentos reconhecidamente eficazes levam à descoberta de uma

nova indicação terapêutica para o mesmo, alterando-se apenas a concentração do fármaco no

medicamento. A aspirina (ácido acetilsalicílico) é um exemplo de medicamento antigo, usado

inicialmente como analgésico, antitérmico e antiinflamatório, que teve seu uso expandido para a

prevenção de doenças cardiovasculares, como angina pectoris, trombose venosa e episódio

isquêmico transitório devido a sua capacidade de inibição da atividade plaquetária (NAF/ENSP,

2002).

6

Segundo Schmid (2002) dificilmente o primeiro medicamento para o tratamento de uma

nova doença apresentará todas as propriedades que o tornem bem aceito pelos médicos e

pacientes e, até atingir o status ideal, são necessários de 10 à 15 anos de comercialização. Ainda

segundo o autor esta “otimização” é realizada pela Indústria Farmacêutica por meio de inovações

incrementais nos medicamentos já comercializados.

Esta discussão pode ser importante quando se percebe o uso constante da palavra

inovação por todos os tipos de empresas na publicidade de seus produtos. O termo é usado para o

lançamento de produtos genuinamente novos e para produtos originados de alterações em

produtos já comercializados.

A Sociedade Internacional de Boletins sobre Medicamentos (ISDB), em sua Declaração

sobre o Avanço Terapêutico no Uso de Medicamentos (ISDB, 2001,) definiu a inovação de

medicamentos por meio de três conceitos:

a) Conceito comercial: qualquer produto "me-too"3 recém-comercializado, novas

substâncias, novas indicações, novas formulações, e novos métodos de tratamento.

b) Conceito tecnológico: qualquer inovação industrial, uso de biotecnologia, introdução de

um novo sistema de liberação da substância (adesivo, aerossol, etc) ou a seleção de um

isômero ou um metabólito.

c) Conceito de avanço terapêutico: um novo tratamento que beneficia o paciente quando

comparado a opções previamente existentes.

Arnau & Laporte (1989) apresentam uma classificação qualitativa dos medicamentos

segundo seu valor terapêutico potencial: valor “elevado”, valor “relativo”, valor “duvidoso/nulo”

e valor “inaceitável”. Medicamentos de valor elevado são definidos pelos autores como aqueles

cuja eficácia foi demonstrada em ensaios clínicos controlados e também por aqueles que não

foram avaliados em ensaios clínicos controlados, mas cujo uso está justificado por apresentarem

efeitos imediatos e óbvios. Medicamentos de valor relativo são aqueles que, apesar de possuírem

um princípio ativo de valor potencial elevado, possuem também uma ou mais entidades químicas

com eficácia terapêutica duvidosa; os medicamentos de valor relativo são aqueles cuja eficácia

3 Me-too drug (medicamento similar; "eu também"): medicamento cuja estrutura química é similar ao medicamento de referência e cujo perfil farmacológico e terapêutico não difere significativamente deste. (ISDB,2001)

7

ainda não foi demonstrada de maneira convincente em ensaios clínicos controlados, para os quais

não foram associados efeitos indesejáveis graves ou freqüentes e os medicamentos classificados

como de valor inaceitável são aqueles que, devido sua composição, apresentam uma relação

risco/benefício claramente desfavorável em todas as circunstâncias.

Sob o ponto de vista da saúde pública, definir a inovação de um medicamento a partir do

conceito de avanço terapêutico é, sem dúvida, a melhor forma para se avaliar um novo

medicamento. A “novidade” usada pelos fabricantes na propaganda de seus medicamentos exerce

forte influência sobre os profissionais de saúde e sobre os pacientes que, na maioria das vezes,

passam a indicá-los e/ou utilizá-los sem ter acesso às informações sobre as verdadeiras vantagens

(ou desvantagens) terapêuticas trazidas pelos novos medicamentos.

Mas para que um novo medicamento esteja disponível no mercado atualmente são

necessárias várias etapas que incluem a pesquisa básica, os ensaios pré-clínicos (em culturas de

células e com animais), os ensaios clínicos em seres humanos e a aprovação para

comercialização.

Os Ensaios Clínicos Controlados

A Lei de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos dos Estados Unidos, aprovada em 1938,

norteia as atividades de regulação da FDA (FDA, 1938), tendo sido aprovadas algumas emendas

importantes a esta lei como a Emenda Kafauver-Harris, em 1962. Dentre as exigências

estabelecidas pela referida Lei está a garantia de segurança dos medicamentos antes da

comercialização. A Lei conferiu maiores poderes e responsabilidades a FDA e definiu que não

mais o governo e sim os fabricantes dos medicamentos deveriam comprovar a segurança dos

mesmos antes da comercialização naquele país.

Mas para que a agência americana pudesse proceder à avaliação clínica da segurança dos

novos medicamentos foi necessário um grande esforço inicial, pois não havia naquele período

parâmetros pré-estabelecidos para o tipo de pesquisa que se pretendia e eram marcantes a

relatividade e a ambigüidade incorporadas à definição de segurança dos medicamentos naquele

período. A segurança era um atributo relativo, sua avaliação realizada por meio de julgamento

valorativo – incorporando subjetividade – e não apenas por medidas objetivas contidas nos

padrões de toxicidade vigentes. Neste cenário de “incertezas metodológicas” os ensaios clínicos

8

foram definidos pelos técnicos da FDA como a única forma para determinar a segurança dos

novos medicamentos (Oliveira, 2001).

Os padrões de referência para a realização de ensaios clínicos controlados foram

estabelecidos pela FDA em 1970, sendo definidas exigências metodológicas como (Marks, 1997

apud Oliveira, 2001): alocação aleatória (randomização) dos indivíduos nos grupos do estudo;

necessidade de grupo controle e elaboração do protocolo de pesquisa permitindo proceder à

análise quantitativa usando métodos estatísticos adequados. Os ensaios clínicos controlados são

definidos como estudos experimentais analíticos que partem da causa (exposição ao

medicamento) para o efeito por meio da observação e acompanhamento dos grupos experimental

e controle. A intervenção que se deseja avaliar é realizada em apenas um dos grupos

(experimental) – o outro grupo (controle) é usado como padrão para a comparação dos resultados

(Oliveira, 2001).

Ainda que a realização dos ensaios clínicos tenha sido um passo importante no processo

de regulação farmacêutica é importante salientar que os mesmos são realizados com uma amostra

da população, com características biológicas e história clínica particulares. Logo, os achados

clínicos correspondem à realidade da amostra escolhida e não à totalidade de indivíduos que

estarão expostos ao medicamento. Crianças, idosos, pacientes apresentando determinadas

patologias e gestantes são excluídos dos ensaios clínicos, mas também poderão utilizar o

medicamento quando o mesmo for liberado para comercialização. Desta forma, pode-se afirmar

que os ensaios clínicos possuem capacidade limitada na medida em que são incapazes de

determinar todas as possíveis reações adversas causadas por um medicamento e porque algumas

reações só aparecem com o uso prolongado.

Tognoni & Laporte (1989) destacam algumas diferenças entre o ensaio clínico controlado

e o uso de fármacos na prática clínica habitual, apresentadas na Tabela 1. Segundo os autores,

“(...) os ensaios clínicos prévios a comercialização (...) são só uma primeira impressão parcial

dos seus efeitos potenciais.”

Os ensaios clínicos controlados com medicamentos são geralmente realizados para a

verificação da eficácia e segurança dos mesmos. Segundo o Drug Review Glossary, disponível na

página eletrônica da FDA (FDA, 2005d), nenhum medicamento é completamente seguro ou

incapaz de provocar efeitos adversos e os testes realizados com o medicamento antes de sua

comercialização devem demonstrar que o mesmo é seguro para a indicação clínica pretendida e,

9

desta forma, “a segurança é determinada caso a caso e estabelece a relação risco/benefício do

medicamento”. A OMS (Organização Mundial da Saúde) apresenta a seguinte definição para a

relação risco/benefício de um medicamento:

“ (...) é um meio para expressar um julgamento referente ao

papel de um fármaco na prática médica, baseado em dados sobre

eficácia e segurança, junto a considerações da doença na qual

ele é empregado. Este conceito pode ser aplicado a um só

fármaco ou na comparação entre dois ou mais fármacos

utilizados para a mesma indicação” (Tognoni & Laporte,

1989:49).

Tabela 1. Diferenças entre o ensaio clínico controlado na Fase III e o uso de um fármaco na

prática clínica habitual.

Características Ensaio clínico controlado Prática clínica habitual

Número de pacientes Centenas, raramente alguns

milhares.

Dezenas de milhares a

dezenas de milhões

Duração Dias, semanas Dias a anos

População Excluem-se os pacientes com

contra-indicações potenciais,

gestantes, crianças, idosos,

etc.

Toda a população

Outros Tratamentos Evitam-se freqüentemente É provável que se use mais

de um fármaco

simultaneamente

Dose Geralmente fixa Geralmente variável

Condições Seguimento rigoroso, maior

informação.

Seguimento menos rigoroso,

paciente geralmente menos

informado.

Fonte: Tognoni & Laporte (1989).

10

A eficácia de um tratamento (pelo uso de um medicamento) é a evidência de que ele

realmente funciona em pacientes com uma determinada doença e é avaliada sob condições

experimentais rigorosas, em geral, um ensaio clínico randomizado. A avaliação da eficácia de um

medicamento pode exigir uma metodologia tão rigorosa que o contexto da pesquisa torna-se

muito diferente do que é encontrado na prática. Por estes motivos as evidências sobre a

efetividade do medicamento, que informam se a intervenção funcionou quando realizada em

condições usuais da prática clínica, também devem ser consideradas (Duncan & Schmidt, 1996).

Neste sentido é importante que se reconheça o papel limitado dos ensaios clínicos

realizados com os medicamentos antes de sua comercialização e que os mesmos não conseguirão

abrangir todos os seus potenciais efeitos. A Farmacovigilância surge desta forma como um

valioso instrumento para proteção da saúde, sendo definida por Tognoni & Laporte (1989:49)

como “a identificação e a avaliação dos efeitos do uso, agudo e crônico, dos tratamentos

farmacológicos no conjunto da população ou em subgrupos de paciente expostos a tratamentos

específicos”. Originalmente a Farmacovigilância é voltada para o estudo dos efeitos desejáveis e

indesejáveis do medicamento, mas seus objetivos principais são identificar os efeitos indesejáveis

não descritos previamente, quantificar esses efeitos associados ao uso de determinados fármacos,

informar aos profissionais e tomar eventuais medidas administrativas (Carné & Laporte, 1989).

Queda na produção de novos medicamentos

Em um documento denominado Inovação ou Estagnação? Desafio e Oportunidade na

Etapa Crítica para Novas Tecnologias Médicas a FDA (2004a) declara que, apesar dos avanços

no campo da pesquisa básica, a produção de inovações significativas na área de saúde, incluindo

os medicamentos, tem deixado a desejar e aponta o ano de 2000 como o início da redução do

número de pedidos para registro de medicamentos contendo novas entidades moleculares em

agências de todo o mundo. A Indústria Farmacêutica tem se dedicado principalmente a encontrar

novas aplicações para medicamentos já comercializados e, no ano de 2000, somente 27% dos 98

medicamentos aprovados nos EUA eram novas entidades moleculares (Schmid & Smith, 2004).

É importante considerar ainda que o fato destes medicamentos possuírem novas entidades

moleculares não significa que representem avanços terapêuticos, conforme as definições

apresentadas anteriormente.

11

Segundo a FDA os equipamentos e técnicas de análise não passaram pelo processo de

inovação necessário para avaliar os novos produtos e os profissionais que trabalham com

pesquisa e desenvolvimento precisam usar ferramentas do século passado para avaliar os avanços

obtidos no presente século. O processo atual de descoberta de medicamentos baseado em técnicas

in vitro e em modelos animais é muitas vezes insuficiente para a compreensão da relevância

clínica do produto. A FDA destaca ainda que um medicamento que iniciava os ensaios clínicos

de Fase I, em 2000, não tinha maiores condições de chegar ao mercado que um medicamento que

tivesse iniciado a mesma fase em 1985, afirmando que esta “deficiência” em analisar novas

tecnologias pode ser uma das explicações na redução do lançamento de produtos com inovações

significativas no mercado.

Segundo os dados do Tufs Center for the Study of Drugs Development, baseados em

medicamentos aprovados nos Estados Unidos entre 1994 e 1998, são necessários, em média, 10 à

15 anos para um medicamento sair de um laboratório de pesquisa e estar disponível para um

paciente americano. Apenas 5 em 5000 compostos que entram em testes pré-clínicos (estudos em

laboratório e em animais) são liberados para testes clínicos (em seres humanos) e somente 1

destes 5 compostos é aprovado para comercialização (PhRMA, 2003).

Buscando reduzir esta deficiência tecnológica e as diferenças entre os resultados das

pesquisas básicas e a geração de novos produtos para a saúde, a agência americana declarou a

importância do desenvolvimento de novas ferramentas técnicas e científicas incluindo ensaios,

padrões, técnicas de modelagem computacional e biomarcadores que possam tornar o processo de

desenvolvimento de medicamentos mais eficiente e efetivo, resultando em produtos mais seguros

para os pacientes (FDAa, 2004).

Mas a explicação da redução da entrada de medicamentos que representam avanços

terapêuticos significativos no mercado, baseada apenas nas dificuldades técnicas e metodológicas

encontradas pela Indústria Farmacêutica, é limitada. Os interesses comerciais que norteiam os

investimentos em novos produtos ou na otimização de produtos já comercializados também

devem ser levados em conta. Um importante aspecto relacionado à inovação do mercado

farmacêutico é que ela ocorre preferencialmente envolvendo medicamentos que possuem um

mercado consumidor garantido para o tratamento de doenças crônicas ou oriundas do estilo de

vida. Segundo Trouiller (apud MSF, 2001) uma análise do desenvolvimento de medicamentos ao

longo das últimas duas décadas do século XX revelou que apenas 15 novos medicamentos foram

12

introduzidos no mercado para o tratamento das doenças tropicais, que afetam primordialmente as

populações dos países pobres e em desenvolvimento, enquanto no mesmo período foram

lançados 179 medicamentos para doenças cardiovasculares.

Uma doença mortal ou muito grave pode ser considerada negligenciada quando as opções

de tratamento são inadequadas ou não existem; quando seu mercado potencial de medicamentos é

insuficiente para provocar uma pronta resposta do setor privado em produzir tais medicamentos e

quando o interesse do governo em combater este tipo de doença é insuficiente. Malária,

tuberculose, doença de Chagas e tripanossomíase humana africana (doença do sono) são

exemplos de doenças negligenciadas.

Uma explicação muitas vezes apontada pela Indústria Farmacêutica para a queda do

número de novas entidades moleculares que estão entrando no mercado atualmente está ligada à

questão dos custos para desenvolvimento destes produtos. Entretanto, existe uma polêmica entre

aos custos divulgados pela Indústria Farmacêutica e aqueles divulgados por algumas pesquisas

que apresentam valores inferiores aos da Indústria. Em um trabalho publicado por J.A. DiMasi

et.al (1991), os autores declararam que o custo para desenvolvimento e lançamento de um novo

medicamento no mercado era de aproximadamente US$ 231 milhões. Este número foi usado em

trabalhos subseqüentes que alteraram alguns parâmetros usados pelo grupo de DiMasi, chegando

a valores como US$ 359 milhões, valor que ajustado para o dólar de 2000, correspondia a US$

473 milhões (MSF, 2001). Algumas estimativas recentes sobre os custos de desenvolvimento de

medicamentos revelaram resultados diferentes dos citados acima: utilizando o estudo original de

DiMasi, o grupo Public Citizen, uma organização sem fins lucrativos destinada à defesa dos

consumidores nos Estados Unidos, calculou o gasto com novos medicamentos em US$110

milhões, sem contar o custo de oportunidade (da receita potencial caso o capital fosse investido

em outra atividade) e a Aliança Global para Desenvolvimento de Drogas para a Tuberculose

(GATB) estimou o custo de um novo medicamento para a tuberculose em cerca de US$40

milhões, utilizando uma entidade química já identificada (MSF, 2001).

Verifica-se assim que o processo de inovação no setor farmacêutico apresenta aspectos

bastante polêmicos, como a definição do que é verdadeiramente uma inovação, os custos reais

associados ao processo de desenvolvimento de novos medicamentos e os interesses comerciais

das empresas farmacêuticas. Mas dentre as questões levantadas neste capítulo, uma pode ser

apontada como essencial sob o ponto de vista sanitário: a definição da inovação dos

13

medicamentos segundo o avanço terapêutico. Um medicamento só poderá ser considerado uma

verdadeira inovação, do ponto de vista terapêutico, se apresentar vantagens clínicas sobre os

medicamentos já comercializados, caso contrário, somente os fabricantes, e não os consumidores,

estarão sendo beneficiados com o lançamento de novos produtos no mercado.

14

3. REGULAÇÃO SANITÁRIA DE MEDICAMENTOS

O uso de preparações com propriedades curativas remonta ao início da história da

Humanidade. Achados arqueológicos demonstraram que a habilidade para elaborar um

medicamento já existia 16 séculos antes de Cristo (Costa & Rozenfeld, 2000). A civilização

grega utilizava o termo phármakon destacando que o medicamento possui ao mesmo tempo a

natureza de remédio (cura) e de veneno (dano à saúde) (Costa, 1999) e Galeno (131-210) já

chamava atenção de que potenciais efeitos venenosos existem em qualquer medicamento.

Entretanto, somente no final do século XVIII as preocupações de Galeno começaram a ser

efetivamente confirmadas e Withering, médico e botânico inglês, fez a descrição da intoxicação

por um fármaco – a intoxicação digitálica (Barros, 1982 apud Costa, 1999). No final do século

XIX surgiram os primeiros inquéritos formais quanto à segurança dos medicamentos como

resposta às reações adversas observadas em pacientes (Capellà et al.,1989 apud Costa, 1999).

Nas primeiras décadas do século XX os países mais desenvolvidos, preocupados com a

questão da incorporação descontrolada de novas tecnologias, começaram a estabelecer leis e criar

órgãos responsáveis para implementação destas leis, com o intuito de controlar a produção e a

comercialização de bens e serviços com potenciais riscos à saúde pública (Abraham,1995).

Segundo Tenner (1997 apud Lucchese, 2001), o progresso tecnológico impõe uma vigilância

cada vez maior, pois, geralmente, o uso de tecnologias mais avançadas pode produzir resultados

melhores (mais potentes), mas exige que sejam obtidos por meio de estreitos controles e critérios.

Neste cenário, os profissionais de saúde devem ser qualificados adequadamente para avaliar tais

tecnologias.

O Estado surge neste contexto como responsável pela proteção da saúde dos

consumidores, cabendo-lhe zelar pelos interesses coletivos, intervindo nas atividades de produção

e comercialização dos produtos e prestação de serviços. O poder de restringir direitos individuais

em favor dos direitos coletivos é inerente ao Poder Público, que intervém por meio de órgãos da

administração pública com poder de regulamentação e de polícia. Segundo Costa & Rozenfeld

(2000:16): “As ações de vigilância sanitária estão inseridas no âmbito das relações de produção

e consumo, onde se origina a maior parte dos problemas de saúde e sobre os quais é preciso

intervir”.

15

As atividades de regulação sanitária no Brasil foram influenciadas ao longo dos tempos

pelas mudanças no contexto político e econômico mundial. Do controle dos portos, dos

alimentos, do exercício profissional dos médicos e boticários e dos manufaturados importados a

atenção é dirigida para a produção interna do país, para as indústrias e produtos que podem

provocar riscos à saúde. No contexto atual, com a abertura econômica dos mercados em vários

países, a preocupação dos órgãos de vigilância sanitária está direcionada também à produção

externa e aos processos internacionais de regulamentação sanitária (Lucchese, 2001).

Na área dos produtos para saúde os medicamentos merecem atenção especial quando o

assunto é a avaliação do risco. Episódios como o de 1937, que levou à morte dezenas de pessoas

que utilizaram o Elixir de Sulfanilamida nos EUA, e o nascimento de crianças com focomelia no

final da década de 50, pelo uso da Talidomida durante a gravidez, chamaram a atenção das

autoridades regulatórias para a necessidade de se avaliar a segurança e a eficácia dos

medicamentos liberados para o consumo humano.

O número de produtos para a saúde que entram atualmente nos mercados é crescente e os

medicamentos acompanham esta tendência. Como conseqüência, a incorporação de

medicamentos recém lançados no mercado nas práticas de saúde é contínua, sendo facilitada pela

velocidade com que as informações chegam até os profissionais de saúde e consumidores.

Soares (1997, apud Costa, 1999:381) levanta uma questão importante sobre este fato ao

declarar que:

“(...) quanto maior a oferta de produtos farmacêuticos, mais difícil é

seu controle e uso correto: grande número de produtos registrados

piora a cadeia terapêutica e o nível sanitário de um país, pois no

mínimo aumenta a confusão no registro, dificulta o controle da

fabricação, distribuição, prescrição, dispensação e uso, torna

irrealizável o conhecimento sobre os produtos e dificulta o

estabelecimento de prioridades de trabalho”.

O Registro Sanitário de Medicamentos

O Processo de registro de medicamentos é uma das ações de vigilância sanitária cuja

responsabilidade compete aos órgãos de Estado e, atualmente, no Brasil, esta atividade compete à

16

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (Brasil, 1999). A Política Nacional de

Medicamentos (PNM), aprovada pela Portaria 3.916 de 30/10/1998, definiu o registro de

medicamentos como ato privativo do órgão competente do Ministério da Saúde, destinado a

conceder o direito de fabricação do produto no país (MS, 2001). A PNM tem como uma de suas

diretrizes a regulamentação sanitária de medicamentos e, neste aspecto, enfatiza o papel do gestor

federal no que se refere às questões como registro de medicamentos, autorização para

funcionamento de empresas e restrições e eliminações de produtos inadequados ao uso.

Seguindo o modelo de descentralização das ações de saúde, definido pelo Sistema Único

de Saúde, a PNM enfatiza a descentralização gradual das ações de vigilância sanitária do nível

federal para estados e municípios. Entretanto, atividades como registro de medicamentos e a

autorização para funcionamento de empresas são definidos como “papéis indelegáveis do gestor

federal” (MS, 2001).

Quando os atributos relacionados à qualidade, segurança e eficácia são considerados na

avaliação para concessão registro de medicamentos esta etapa pode se tornar decisiva para que

produtos de qualidade sejam liberados para o mercado. A avaliação destes critérios é feita por

meio da análise dos resultados dos testes conduzidos com o medicamento – controle de qualidade

química e microbiológica, ensaios toxicológicos e clínicos e dados sobre o processo de produção

do medicamento. A transparência e a confiabilidade no processo de registro de medicamentos são

fundamentais e esta atividade deve ser executada por profissionais capacitados que possam dispor

de condições adequadas de trabalho para avaliar criteriosamente a nova tecnologia e os impactos

de sua utilização na saúde pública.

O processo de registro de medicamentos e as exigências necessárias para a aprovação dos

mesmos têm sido considerados barreiras para a comercialização num mercado global em

crescimento. Aqueles que defendem a desregulação nesta área sugerem medidas como o registro

automático de medicamentos, o registro provisório e o limite de tempo para os processos de

avaliação dos dossiês para registro. As autoridades regulatórias têm sido pressionadas para que

revisem, simplifiquem e harmonizem métodos, técnicas e procedimentos administrativos

envolvidos no processo de registro (MSH,1997).

Em um documento elaborado em 1992 os especialistas da Subregião Andina ligados ao

Programa de Medicamentos Essenciais e Vacinas da OMS/OPAS apontaram justificativas

históricas para a existência do registro sanitário de medicamentos (OPAS/ OMS, 1992). A partir

17

da década de 50 a Indústria Farmacêutica teve um grande crescimento e as experiências com os

primeiros antibióticos foram muito bem sucedidas. Os medicamentos foram vistos pela sociedade

como um caminho promissor por meio do qual a ciência realizaria a cura para todo e qualquer

mal. Entretanto, no início da década de 60, a talidomida demonstrou que este caminho não estava

isento de riscos e sucessivamente outros medicamentos revelaram graves efeitos secundários.

Tornou-se necessário estabelecer normas mais complexas, sofisticadas, custosas e de larga

duração para a avaliação dos medicamentos antes da liberação dos mesmos para o mercado. No

referido documento os especialistas declararam que alguns fabricantes de medicamentos, com o

intuito de recuperar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e maximizar seus lucros,

lançaram medicamentos de eficácia questionável no mercado, omitiram efeitos adversos graves e

venderam medicamentos para os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos que não

estavam autorizados à venda em países desenvolvidos.

Também são apontadas justificativas para a realização do registro sanitário de

medicamentos relacionadas às peculiaridades do mercado farmacêutico:

a) O paciente (consumidor) não é capaz de fazer o diagnóstico de seu estado de saúde e

definir o produto adequado para o seu tratamento; não é capaz de avaliar a utilidade e

eficácia do medicamento e o preço que será pago pelo mesmo;

b) O médico que prescreve o medicamento não é quem paga por ele e nem sempre está

capacitado suficientemente para avaliar a eficácia e segurança dos medicamentos;

c) As estratégias de promoção de venda dos medicamentos são destinadas

fundamentalmente aos prescritores e a transparência no mercado farmacêutico é objeto de

constante debate.

Verifica-se assim uma tensão neste campo entre os que defendem a importância do

registro sanitário de medicamentos para a proteção da saúde pública e aqueles que o consideram

mais uma barreira ao livre comércio. Os critérios para registro de medicamentos são apontados

pelos fabricantes como potenciais barreiras não alfandegárias ao comércio entre diferentes países,

já que as exigências sanitárias podem variar de um país para outro e, desta forma, impedir que um

medicamento registrado em determinado país seja registrado em outro. Neste sentido, dentre

outros objetivos, visando diminuir estas diferenças sanitárias legais e facilitar as trocas

18

comerciais entre os países foi iniciado um processo internacional denominado Harmonização dos

Regulamentos Técnicos Sanitários.

Harmonização dos Regulamentos Técnicos Sanitários

Conferência Internacional sobre a Harmonização(ICH)

Desde o final da década de 80, as maiores empresas farmacêuticas dos EUA, Europa e

Japão já pressionavam as autoridades regulatórias sanitárias daqueles países para que

padronizassem as exigências presentes em seus regulamentos sanitários. A principal justificativa

usada pelo setor farmacêutico era diminuir os gastos com o desenvolvimento de novos

medicamentos, principalmente com os ensaios clínicos e o tempo para liberação dos novos

produtos para o mercado (WHO, 2002a)

A Conferência Internacional sobre Harmonização (ICH) foi iniciada em abril de 1991,

formada por um Comitê Diretivo composto por seis representantes oficiais – dois da Comissão

Européia, dois da FDA e dois do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem Estar do Japão.

Participam também do Comitê Diretivo seis representantes das respectivas federações da

Indústria Farmacêutica e autoridades do Canadá, Suíça e da OMS participam como observadores.

O objetivo principal da Conferência refere-se às exigências das autoridades regulatórias

relacionadas aos novos fármacos que, em sua maioria, são desenvolvidos na Europa Ocidental,

Estados Unidos ou Japão – estas três regiões contribuem com mais de 90% dos novos

medicamentos desenvolvidos no mundo (WHO, 2002a). A harmonização vale apenas para o

registro de medicamentos nestas três regiões, mas o objetivo é que no futuro a adoção dos

critérios harmonizados seja expandida para outros países, desenvolvidos ou em desenvolvimento.

A OMS tem estimulado a disseminação das diretrizes harmonizadas para os países que

não participam da Conferência por meio do desenvolvimento de normas e padrões de qualidade

internacionalmente reconhecidos. Os países, por sua vez, podem utilizar estes padrões

internacionais para elaboração de suas próprias normas, adaptando-os às suas realidades. A OMS

tem buscado cooperar na promoção da difusão de informações entre as autoridades regulatórias

de diversos países e um exemplo disto é a realização da Conferência Internacional das

Autoridades Regulatórias de Medicamentos (ICDRA), único fórum mundial onde os

19

representantes das entidades regulatórias regionais ou nacionais podem trocar informações e

debater sobre a questão da regulação de medicamentos. A Conferência é realizada a cada dois

anos desde 1980 e o encontro mais recente foi em Madri, na Espanha, em fevereiro de 2004. As

questões levantadas na Conferência influenciam a elaboração das resoluções da OMS que são

definidas na Assembléia Mundial de Saúde (WHO, 2002a).

O processo de harmonização dos regulamentos sanitários apresenta algumas questões que

precisam ser discutidas, tendo em vista as suas implicações para os países subdesenvolvidos e em

desenvolvimento. Ainda que a elevada qualidade científica dos manuais elaborados pela ICH

seja largamente reconhecida, o processo de discussão envolvendo 17 países industrializados

geralmente não leva em consideração as opiniões e necessidades dos demais países membros da

OMS, como os países em desenvolvimento. O objetivo de ter a OMS como instituição

observadora nos trabalhos da ICH é garantir que os interesses internacionais para proteção da

saúde pública sejam considerados. Porém, argumenta-se que ainda não foi criado nenhum

mecanismo operacional que garanta a participação adequada das autoridades regulatórias dos

países não membros da ICH nos processos de elaboração dos documentos técnicos, como dos

manuais (WHO, 2002b). A adoção de critérios de elevada complexidade técnica, estabelecidos

na ICH como padrão global, pode ter implicações sérias para a saúde pública dos países em

desenvolvimento. Empresas nacionais produtoras de medicamentos essenciais e genéricos,

necessários para a prevenção e tratamento de condições endêmicas locais e que não são

produzidos pelas empresas farmacêuticas multinacionais, podem ser afetadas (WHO, 2002b).

Segundo Lucchese (2001), para participar do processo de regulamentação sanitária

internacional e aproveitar os resultados de suas decisões para proteger sua população, os países

em desenvolvimento devem contar com uma estrutura que no presente não têm: de informação,

de documentação, de pessoal qualificado, de suporte científico-tecnológico e de uma estrutura

administrativa bem consolidada. Ainda segundo o autor, a agilização do processo de registro de

medicamentos exige um sistema de farmacovigilância ampliado e mais ágil, capaz de detectar

possíveis efeitos adversos e retirar do mercado os produtos inseguros. A harmonização dos

regulamentos técnicos cria a necessidade de que as agências tenham um alto grau de confiança

em suas decisões no menor tempo e com a menor exigência possível.

20

Conferência Pan-americana de Harmonização da Regulamentação Farmacêutica

Seguindo a tendência internacional para harmonização da regulamentação farmacêutica,

iniciada pelos países desenvolvidos no início da década de 90, a Organização Pan-americana da

Saúde (OPAS) iniciou os trabalhos de harmonização nas Américas, em 1997, com a realização da

I Conferência Pan-americana de Harmonização da Regulamentação Farmacêutica, em

Washington (EUA) (Lucchese, 2001).

A Conferência conta com a participação de representantes das autoridades regulatórias de

diferentes países e entidades representantes da Indústria Farmacêutica – A Federação Latino-

americana da Indústria Farmacêutica (FIFARMA), que representa majoritariamente as

multinacionais, e a Associação Latino-americana das Indústrias Farmacêuticas (ALIFAR), que

representa as indústrias de capital nacional da região. A segunda Conferência ocorreu em

novembro de 1999 e a terceira e última em abril de 2002, também em Washington (EUA). Dentre

as recomendações apresentadas na I Conferência podem ser destacadas (Lucchese, 2001):

• Adoção das boas práticas de fabricação de produtos farmacêuticos;

• Exigências de testes de bioequivalência e biodisponibilidade;

• Mudanças nas condições de venda dos produtos;

• Adoção das boas práticas clínicas;

• Fortalecimento das agências regulatórias;

• Processo de harmonização por blocos econômicos;

• Aproximação com a Conferência Internacional de Harmonização (ICH).

Na II Conferência foram discutidos alguns temas já abordados na I Conferência e temas

adicionais, como a falsificação de medicamentos e a classificação de medicamentos (com e sem

prescrição). Também foi validado o conceito de país de referência e os países latino-americanos

foram convocados a harmonizar a lista de países segundo critérios definidos.

21

Harmonização da Regulamentação Sanitária no Mercosul

A década de 1990 foi marcada por Reformas no aparelho de alguns Estados latino-

americanos, impulsionadas pelo baixo crescimento econômico, altas taxas de inflação,

desequilíbrio fiscal e dívida externa dos países. As reformas conduziram à abertura econômica

dos países ao comércio internacional por meio da redução das barreiras tarifárias e gerou um

ambiente favorável para a implementação de acordos bi ou multilaterais entre os países latino-

americanos (Lucchese, 2001).

Neste contexto, em 1991, quatro países da América do Sul – Brasil, Argentina, Paraguai e

Uruguai - formaram um bloco de integração econômica denominado Mercado Comum do Sul

(MERCOSUL), celebrado por meio do Tratado de Assunção. Dentre os pontos de negociação

previstos no Tratado está o compromisso de harmonização da legislação destes quatro países em

diversas áreas. O Tratado define a redução progressiva de barreiras tarifárias e a eliminação de

restrições não tarifárias (a regulamentação sanitária é um dos tipos mais importantes de barreira

não tarifária) (Senado Federal, 1996 apud Lucchese, 2001).

A harmonização dos regulamentos técnicos sobre alimentos, medicamentos, artigos de

higiene pessoal, cosméticos e perfumes, saneantes domiciliares e produtos de uso médico,

hospitalar, laboratorial e odontológico é realizada pelas comissões temáticas que formam cada

Subgrupo de Trabalho (SGT) do Mercosul, o órgão executivo mais importante.

Lucchese (2001) aponta alguns avanços no campo farmacêutico obtidos nas negociações

do Mercosul:

• O roteiro para inspeções: contêm todos os passos que um inspetor deve seguir para fazer

uma boa inspeção sanitária. É considerado o principal regulamento harmonizado do

Mercosul na área farmacêutica e farmoquímica e adotado como modelo em outros países

latino-americanos e como referência pela própria Indústria Farmacêutica;

• O Mercosul harmonizou um regime de inspeções conjuntas que permite que a autoridade

sanitária de um Estado Parte receptor do novo medicamento faça uma inspeção na

empresa do Estado Parte do produtor do medicamento de forma conjunta com a

autoridade sanitária do país sede da empresa produtora.

22

Considerando as questões abordadas neste capítulo, verifica-se que, embora o uso de

medicamentos pela humanidade remonte a muitos séculos atrás, a exigência de dados

relacionados à segurança e eficácia dos mesmos só foi estabelecida no século XX, principalmente

por meio da realização dos ensaios clínicos controlados. Efeitos adversos severos e mortes

marcaram algumas tragédias envolvendo o uso de medicamentos e chamaram a atenção das

autoridades sanitárias em vários países do mundo ao longo do século XX, reforçando a

importância do papel do Estado na regulação das relações de produção e consumo destes

produtos. O registro sanitário de medicamentos apresenta-se como um importante instrumento de

regulação, pois é por meio dele que o fabricante recebe autorização para comercializar seu

produto. Ainda que existam críticas à necessidade do registro sanitário de medicamentos, buscou-

se destacar neste capítulo a importância desta atividade para proteção da saúde coletiva.

23

4. JUSTIFICATIVAS

As discussões feitas até aqui sobre a inovação no setor farmacêutico, vigilância sanitária

de medicamentos, registro de medicamentos e harmonização de regulamentos técnicos sanitários

revelam que o medicamento adquiriu grande destaque no cenário social, econômico e político dos

países ao longo do século XX.

O registro sanitário de medicamentos, como descrito anteriormente, pode funcionar como

etapa importante para que a autoridade sanitária controle e avalie a qualidade, segurança e

eficácia dos produtos que estarão disponíveis no mercado. A presença de medicamentos seguros

e eficazes no mercado contribui para o uso racional dos mesmos, processo que vai desde a

prescrição até o consumo pelos pacientes. Barros (1995: 56) reforça este argumento ao afirmar

que:

“(...) é indubitável que a falta de medidas regulamentadoras estritas

facilita em grande medida a presença de uma oferta de qualidade

inferior (com sua conseqüente influência na forma como serão

prescritos e utilizados os medicamentos). No que se refere ao impacto

sobre a prescrição, são óbvias as dificuldades resultantes de uma

oferta de baixa qualidade (...)”.

Tratando-se de um medicamento novo, além dos aspectos de qualidade, segurança e

eficácia, considera-se importante também a avaliação de um outro aspecto: a inovação

terapêutica. Tendo em vista os impactos que a divulgação do lançamento de um novo

medicamento exerce sobre os consumidores, prescritores, profissionais de saúde em geral e

também sobre os setores dos governos responsáveis pelo controle e aquisição dos mesmos, o

tema traz para discussão algumas questões importantes: a inovação tem sido considerada um

atributo para a concessão do registro sanitário de medicamentos novos? Existem diferenças entre

o processo de registro de medicamentos novos no Brasil e em outros países? No que se refere à

inovação, como se apresentam os medicamentos registrados no Brasil?

Neste sentido, dada a importância das questões levantadas para o campo da saúde,

considerou-se oportuno a realização de um estudo do processo de registro de medicamentos

24

novos na ANVISA, na FDA, na EMEA e na ANMAT, bem como a análise de um conjunto de

medicamentos novos registrados na ANVISA nos anos de 2000, 2001 e 2002.

25

5. OBJETIVOS

5.1. OBJETIVOS GERAIS

Tendo em vista o cenário apresentado e as questões levantadas anteriormente, os objetivos

do presente trabalho são descritos a seguir:

1. Descrever o processo de registro de medicamentos novos em quatro autoridades sanitárias:

FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA.

2. Analisar, de forma comparativa com as demais autoridades sanitárias, a relação de

medicamentos novos registrados no Brasil, no período de 2000 a 2002.

5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Comparar as principais características estruturais e funcionais das autoridades sanitárias

selecionadas;

2. Descrever as principais exigências presentes nas normas atuais sobre o registro de

medicamentos novos das autoridades sanitárias selecionadas;

3. Descrever as definições adotadas para medicamentos novos;

4. Descrever as etapas do processo de registro de medicamentos novos nas autoridades

sanitárias selecionadas;

5. Analisar um conjunto de medicamentos novos registrados no Brasil, no período de 2000 a

2002, no que se refere ao registro destes medicamentos nas demais autoridades sanitárias

consideradas, à definição do país de origem do fabricante, à classificação dos medicamentos

segundo definições da RDC da ANVISA nº 136 de 29/05/03 para medicamentos novos e à

classificação dos medicamentos segundo potencial terapêutico definido pela FDA

6. Determinar os prazos para a concessão de registro dos medicamentos novos na ANVISA e na

FDA.

26

6. METODOLOGIA

O presente trabalho é um estudo descritivo do processo de registro de medicamentos

novos realizado por autoridades sanitárias de diferentes países. As autoridades sanitárias

selecionadas para o estudo foram: Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos

Estados Unidos da América, Agência Européia de Medicamentos (EMEA), Administração

Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (ANMAT), da Argentina e Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), do Brasil.

A escolha destas instituições pode ser justificada por alguns motivos. A agência

americana é, em muitas situações, tomada como modelo de órgão regulador, foi criada no início

do século XX e já acumula uma experiência importante no campo regulatório. Desta forma,

decidiu-se que seria importante estudar este órgão considerado “modelo”. A EMEA, por sua vez,

apesar de representar interesses sanitários de países europeus que possuem órgãos sanitários mais

antigos, é uma agência nova, criada no início da década de 90 para representar diversos países

europeus que possuem papel de destaque no mercado farmacêutico mundial. Por meio da escolha

destes dois órgãos regulatórios buscou-se incluir no estudo países que têm grande importância no

contexto que foi abordado.

A inclusão da ANVISA no estudo teve como razão principal o interesse pelo estudo do

processo de registro de medicamentos novos no Brasil. A escolha da ANMAT pode ser explicada

pelo interesse em pesquisar este processo em outro país latino-americano e em desenvolvimento,

como a Argentina.

O estudo teve como instrumentos para sua realização as seguintes fontes de dados:

pesquisa documental e entrevista aberta. Foram realizadas consultas às páginas eletrônicas das

autoridades regulatórias: http://www.fda.gov/cder/index.html (FDA), http://www.emea.eu.int/

(EMEA), http://www.anmat.gov.ar/principal.htm (ANMAT) e http://www.anvisa.gov.br

(ANVISA) visando à obtenção de informações oficiais das agências referentes ao processo de

registro de medicamentos novos. A pesquisa foi feita em livros, relatórios, revistas especializadas

e em outros tipos de publicação que continham informações relevantes para a discussão do tema.

A entrevista com o gerente da unidade da ANVISA responsável pelo registro de

medicamentos novos foi realizada após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética

em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (CEP/ENSP), estando a

27

presente pesquisa registrada no Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Foi obtida

autorização do profissional responsável pela Gerência Geral de Medicamentos (GGMED) da

ANVISA para que o entrevistado pudesse conceder a entrevista e este último assinou Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. A entrevista foi aberta e gravada e as perguntas feitas ao

entrevistado estão apresentadas no Anexo 1. O texto correspondente às respostas fornecidas pelo

entrevistado foi submetido à análise e aprovação do mesmo que também autorizou a divulgação

de seu nome no trabalho.

A relação de medicamentos novos registrados na ANVISA nos anos de 2000, 2001 e

2002, analisada no presente trabalho (Quadro 8, Anexo 2), foi extraída do estudo apresentado por

Reis (2004). A referida relação é composta pelos medicamentos novos registrados e que estavam

sendo comercializados no primeiro semestre de 2003. Desta forma, convém destacar que o

número total de medicamentos novos registrados na ANVISA, no período de 2000 a 2002, é

maior que o número de medicamentos analisados no estudo.

As datas de entrada do pedido de registro e de concessão dos mesmos pela FDA e pela

ANVISA foram obtidas nas páginas eletrônicas das referidas agências. Na página eletrônica da

FDA, digitando-se o nome do medicamento em campo específico, obtém-se o número da NDA

(New Drug Apllication) referente ao medicamento e o histórico de análise e aprovação do

mesmo, que por sua vez fornece a carta de aprovação da NDA enviada pelo Center for Drug

Evaluation and Research (CDER) ao solicitante de registro. Nesta carta consta a data de entrada

do pedido de registro ou de “aplicação” de um novo medicamento na FDA. Vale ressaltar que

houve dificuldade em definir qual a data seria considerada como a data de início da avaliação do

pedido de registro pelos técnicos da FDA, pois a referida carta de aprovação relaciona uma séria

de datas nas quais houve recebimento de documentos enviados pelo solicitante ao CDER,

compondo um histórico do contato oficial entre a agência e o solicitante. Como na maior parte

das cartas de aprovação (28) não havia detalhamento dos documentos entregues pelo solicitante

foi considerada como data de início da análise do dossiê a primeira data apresentada na carta de

aprovação, a data de protocolo dos dossiês no CDER.

Para a coleta das datas referentes ao início e fim da análise do processo de registro de

medicamentos novos na ANVISA foi acessado o banco de dados de medicamentos registrados na

ANVISA4. Na página que fornece os dados sobre o registro do produto, incluindo a data de

4 http://www7.anvisa.gov.br/datavisa/Consulta_Produto/consulta_medicamento.asp

28

aprovação de registro, está disponível também o número do “processo” aberto na agência para o

referido produto. Este número foi inserido em outro campo da página eletrônica5 onde foi

possível verificar o trâmite de documentos na agência, como a data de entrada do pedido de

registro do medicamento. Assim como ocorreu com a maioria dos medicamentos registrados na

FDA, na página eletrônica da ANVISA não há informação sobre a data de início da análise do

pedido de registro, apenas as datas referentes à tramitação dos documentos. Foi considerada

como data de início do processo de análise a data de protocolo do pedido de registro.

A preocupação com a definição destas datas está em não obter prazos diferentes daqueles

que foram necessários aos técnicos das duas agências para avaliar os medicamentos e decidir

sobre a concessão do registro. Porém, como descrito acima, estas datas não estavam claramente

definidas nas páginas eletrônicas da ANVISA e da FDA e, desta forma, é importante destacar que

no presente estudo os prazos obtidos para autorização dos registros de medicamentos foram

considerados como o tempo (dias) decorrido entre as datas de protocolo dos pedidos de registro

nas referidas agências e as datas de deferimento (aprovação) dos mesmos. Não foram

descontados os períodos nos quais a análise técnica do registro pode ter sido suspensa, como por

exemplo, para cumprimento de exigência feita pela autoridade sanitária ao solicitante do registro.

5 http://www7.anvisa.gov.br/datavisa/Consulta_Processos/Consulta_Processo.asp

29

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES

7.1 ADMINISTRAÇÃO DE ALIMENTOS E MEDICAMENTOS (FDA)

A origem da FDA remonta ao século XIX, à criação da Divisão de Química que era ligada

ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em 1862. Em 1901 esta Divisão foi

transformada em Departamento de Química e com a publicação da Lei de Alimentos e

Medicamentos, em 1906, foi iniciada a era moderna da agência. O nome atual – Administração

de Alimentos e Medicamentos - foi adotado em julho de 1930.

A FDA está situada atualmente dentro do Departamento de Saúde e Serviços Humanos

(HHS), principal instituição do governo americano voltada para a proteção da saúde da população

e que é responsável pela execução de mais de trezentos programas voltados para as mais diversas

atividades no campo da saúde (FDA, 2005b).

A FDA é formada por oito Centros: Centro de Avaliação e Pesquisa de Produtos

Biológicos (CBER), Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos (CDER), Centro de

Equipamentos e Produtos Radiológicos para a Saúde (CDRH), Centro de Segurança Alimentar e

Nutrição (CFSAN), Centro de Medicamentos Veterinários (CVM), Centro Nacional de Pesquisa

Toxicológica (NCTR), Departamento do Diretor (OC) e Departamento de Assuntos Regulatórios

(ORA) (FDA, 2005c). A FDA conta atualmente com um corpo de 10.446 funcionários

compreendendo químicos, farmacologistas, médicos, microbiologistas, veterinários,

farmacêuticos, advogados, dentre outros profissionais (FDA, 2005b).

Regulação Sanitária de Medicamentos nos Estados Unidos

No início do Século XX existiam muitos medicamentos adulterados, falsificados,

denominados medicamentos de patente no mercado americano. Mas apesar desta denominação

estes medicamentos não eram patenteados, seus fabricantes usavam fórmulas secretas para

garantir seus mercados. Os medicamentos produzidos pelas empresas farmacêuticas disputavam o

mercado com estes medicamentos de patente e eram vendidos principalmente para os médicos.

Eram chamados de medicamentos éticos – pois eram produtos de “elevada qualidade, produzidos

30

a partir de preparações padronizadas, ao contrário dos medicamentos de patente” (Abraham,

1995).

O controle estatal americano sobre os medicamentos adulterados foi iniciado em 1906

quando a Lei dos Alimentos e Medicamentos Puros, a primeira lei para o controle da adulteração

de medicamentos nos Estados Unidos, foi aprovada. As atividades de regulação do setor

farmacêutico também eram desenvolvidas na Europa e neste período foi aprovada uma lei muito

similar à americana na Inglaterra. As leis protegiam os consumidores dos falsos anúncios sobre

os benefícios dos medicamentos, mas permitia que os fabricantes dos medicamentos de patente

mantivessem as fórmulas dos mesmos sob segredo. Mas apesar desta proteção o volume de

vendas dos medicamentos industrializados aumentou significativamente nas primeiras décadas do

século XX e pouca importância era dada à possibilidade de ocorrência de efeitos adversos

severos e à necessidade de garantia de segurança e eficácia dos medicamentos (Abraham, 1995).

Entretanto, em 1938, um episódio foi capaz de chamar a atenção das autoridades

americanas: a morte de mais de 100 pessoas (maioria crianças) que utilizaram um xarope de

Sulfanilamida. Este fármaco era largamente utilizado naquele período e nenhum problema quanto

à sua segurança havia ocorrido até então. Em outubro de 1937, uma empresa obteve autorização

para comercializar a substância sob a forma líquida, usando, porém uma substância tóxica como

solvente, o dietilenoglicol. Os testes de toxicidade (em animais) com os compostos resultantes do

dietilenoglicol foram negligenciados e o nome do solvente tóxico não estava presente no rótulo

do produto (Abraham, 1995). Como conseqüência da tragédia, o governo americano aprovou, em

junho de 1938, a Lei de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos. Por meio desta nova lei as

empresas farmacêuticas ficaram obrigadas a realizar estudos de segurança com os medicamentos

e passou a ser exigido também o registro dos medicamentos na FDA para a comercialização. Até

então as empresas farmacêuticas não eram obrigadas a solicitar autorização governamental para

comercializar seus medicamentos nos Estados Unidos e a FDA apenas tinha poderes para retirar

do mercado aqueles medicamentos que apresentassem riscos à saúde pública (Abraham, 1995).

O desenvolvimento da química, da fisiologia e da farmacologia básica durante a segunda

metade do século XX, associado ao aumento na demanda por serviços de saúde, garantiram a

introdução de vários produtos farmacêuticos no mercado. O aumento da utilização de

medicamentos acentuou-se após a Segunda Guerra Mundial e os efeitos benéficos dos mesmos

foram profundamente percebidos durante as décadas de 40 e 50 pela introdução de antibióticos

31

como penicilina e estreptomicina que permitiram salvar muitas vidas em condições até então

improváveis (Laporte et al., 1993).

O consumo cada vez maior de medicamentos, promovido maciçamente pelos laboratórios

fabricantes por meio de propagandas e marketing dos produtos, teve, segundo Sterky (1985 apud

Laporte et al.,1993), um impacto cultural óbvio: aumento da dependência da alopatia (e

consequentemente da classe médica e farmacêutica) pela população e a substituição de formas

tradicionais de cuidado da saúde. O controle das autoridades sanitárias sobre o uso indevido dos

medicamentos, sobre a propaganda dos medicamentos que em sua maioria só destacavam os

efeitos benéficos (quase milagrosos) dos mesmos e sobre a eficácia destes produtos era ainda

muito incipiente. Neste cenário surge então um novo medicamento: a Talidomida.

Lançada no mercado alemão, em outubro de 1957, pelo laboratório Chemie Grunenthal, a

Talidomida foi indicada inicialmente como sedativo e o fabricante anunciava que o produto não

apresentava toxicidade. O pesado investimento em marketing fez do produto um dos líderes de

venda na Alemanha naquele período. O uso da Talidomida não ficou restrito à Alemanha e no

início da década de 60 vinte países tinham licença para produzí-la e /ou distribuí-la. (Oliveira et

al, 1999). O crescimento das vendas do produto foi acompanhado dos primeiros relatos médicos

sobre reações adversas, como constipação intestinal, tonteiras, perda de memória e polineurites.

O fabricante, por sua vez, buscava minimizar estes relatos atribuindo-os ao uso de altas doses do

medicamento e por tempo prolongado (Mokhiber,1995 apud Oliveira et al.,1999).

Os relatos médicos sobre o nascimento de crianças com má-formação congênita,

caracterizada pelo desenvolvimento defeituoso dos ossos longos dos braços e das pernas e mãos e

pés variando entre aspecto normal e o rudimentar (síndrome denominada focomelia pela

semelhança dos recém - nascidos com a forma externa das focas), começaram a surgir na

Alemanha a partir de 1959. Em 1961, durante o North Rhein-Westphalia Pediatric Meeting,

realizado em Dusseldorf, na Alemanha, Lenz apresentou os resultados de uma pesquisa onde

foram analisados 34 casos de recém–nascidos com graves deformidades nas extremidades. O

pediatra levantou publicamente a possibilidade das anomalias congênitas terem sido provocadas

pelo consumo da Talidomida durante a gestação (Mellin & Katzenstein,1962 apud Oliveira et al.,

1999).

A FDA não havia autorizado o registro da Talidomida nos Estados Unidos, pois segundo

a agencia americana, o fabricante não apresentou resultados satisfatórios sobre a segurança do

32

medicamento (Abraham, 1995). No contexto da tragédia a FDA saiu fortalecida por ter impedido

um desastre maior com a população americana e, estimulado pela repercussão dos fatos, em

outubro de 1962, o Congresso Americano aprovou a Emenda Kefauver-Harris. Esta emenda

fortaleceu o controle da FDA sobre os medicamentos e os fabricantes foram obrigados a fornecer

não somente provas de segurança, mas também de eficácia de seus produtos (FDA, 2004b). Foi

estabelecida a exigência das solicitações de Investigação de Novo Medicamento (IND) e

Aplicação de Novo Medicamento (NDA) que deveriam ser feitas pelo solicitante de registro do

medicamento a FDA (Abraham, 1995).

Outras normas importantes sobre os medicamentos foram aprovadas nos EUA nos anos

seguintes, dentre as quais podem ser destacadas (FDA, 2004b):

1- Ato de Competição de Preço de Medicamentos e Prazo de Restauração de Patente

(1984): esta Lei aumentou o número de medicamentos que poderiam ser submetidos a uma NDA

abreviada (ANDA). Este processo de avaliação para registro tem como objetivo a redução de

custos e de tempo para registro de medicamentos genéricos. O Prazo de Restauração de Patente

referia-se aos 17 anos de proteção legal que era concedida para a patente de um medicamento.

2- Ato das taxas sobre medicamentos de prescrição (1992): por meio desta lei os

fabricantes de medicamentos vendidos sob prescrição médica passaram a pagar taxas para a

aplicação dos novos medicamentos e suplementos – uma taxa anual por fabricante e uma taxa

anual por produto. Estes recursos foram utilizados pela FDA na contratação de mais de 700

profissionais no final do ano de 1997 com o objetivo de acelerar o processo de revisão das NDA.

3- Lei de Modernização da FDA (1997): esta lei causou uma das mais amplas mudanças

na lei de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos em 35 anos (depois da Emenda Kefauver-

Harris, em 1962) e teve impacto importante no registro de medicamentos, pois foram

estabelecidas normas para o processo acelerado de registro e orientações para os revisores das

NDA. Por meio deste processo é dada autorização para a comercialização de novos

medicamentos sem que se tenha obtido resultados clínicos conclusivos (requeridos no processo

de registro normal) sobre a eficácia dos mesmos. A FDA argumenta que a aprovação de registro

acelerada é concedida para alguns medicamentos novos indicados para patologias graves e que

carecem de tratamento satisfatório.

Nesta modalidade de registro, medidas menos tradicionais, denominadas desfechos

substitutos (surrogate endpoints) são usadas para avaliar a eficácia dos medicamentos. Os

33

desfechos substitutos são resultados laboratoriais que não permitem uma “medida” direta de

como o paciente se sente, como seu organismo funciona ou sobrevive, mas que permitem

“prever” o benefício. Um exemplo de desfecho substituto pode ser a diminuição da carga viral

por curtos períodos de tempo em um paciente que esteja usando um antiretroviral. Muitos

medicamentos antiretrovirais estão sendo aprovados para comercialização nos EUA desta forma

(FDA, 2004c). O medicamento Mesilato de Imatinib (Glivec), indicado para tratamento oral de

pacientes com Leucemia Mielóide Crônica, foi submetido ao registro acelerado baseado em

resultados de três estudos de Fase II que revelaram redução substancial dos níveis de células

cancerígenas na medula óssea e no sangue. O fabricante do medicamento (Novartis

Pharmaceuticals) recebeu autorização para Investigação de Novo Medicamento (IND) em abril

de 1998 e a FDA recebeu a solicitação para Aplicação de Novo Medicamento (NDA) em

fevereiro de 2001. O medicamento foi aprovado dois meses e meio depois, em maio de 2001

(Meadows, 2002).

Registro de medicamentos novos na FDA

O processo de registro de medicamentos na FDA é regulamentado pela Lei dos

Alimentos, Medicamentos e Cosméticos de 1938, citada anteriormente, e tem sido baseado na

Aplicação de Novo Medicamento (NDA) desde 1962, quando foi aprovada a Emenda Kefauver-

Harris (emenda à Lei de 1938).

Empresas, instituições de pesquisa e outras instituições que desejam testar seus

medicamentos em seres humanos nos Estado Unidos devem inicialmente solicitar uma

autorização para Investigação de Novo Medicamento (IND) a FDA. Este documento deve

conter informações como a fórmula estrutural do princípio ativo, os resultados dos ensaios pré-

clínicos (em culturas de células e animais) realizados em laboratório com a substância,

informações sobre o processo de produção do medicamento e o planejamento que será adotado

para os testes em seres humanos. Os ensaios com o medicamento em seres humanos,

denominados ensaios clínicos, só podem ser realizados após revisão dos dados da IND pela

FDA e por um grupo formado por cientistas e outros profissionais que supervisionarão a

pesquisa clínica. Estes supervisores são responsáveis pela aprovação dos protocolos clínicos

onde estão definidos os indivíduos que participarão dos ensaios clínicos, a relação de testes e

34

procedimentos que serão realizados, o medicamento e as doses que serão estudadas, a duração

dos testes e os objetivos dos estudos. É necessário também que o grupo de supervisores se

certifique que os indivíduos selecionados para o estudo estejam informados sobre os riscos dos

testes para sua saúde e que tenham dado consentimento expresso sobre sua participação na

pesquisa clínica. Observadas as exigências éticas e legais para realização da pesquisa

envolvendo seres humanos, os ensaios clínicos são realizados em quatro fases consecutivas

(Meadows, 2002):

Fase I: os testes são normalmente conduzidos com voluntários sadios e os objetivos são

determinar os efeitos adversos mais freqüentes do medicamento e como o mesmo é

metabolizado e eliminado do organismo humano. Visam avaliar principalmente a segurança

do medicamento. O número de indivíduos envolvidos nesta fase pode variar de 20 a 80.

Fase II: se os estudos da Fase I não demonstrarem níveis de toxicidade inaceitáveis do

medicamento, os estudos da Fase II poderão ser iniciados. Nesta etapa busca-se avaliar

principalmente a eficácia do medicamento em pacientes doentes, mas também são avaliados

os aspectos relacionados à segurança. O número de indivíduos envolvidos nesta fase pode

variar de 100 a 300.

Fase III: se os ensaios realizados na Fase II revelarem que o medicamento apresenta eficácia

clínica para a indicação proposta, os ensaios da Fase III poderão ser iniciados. Estes ensaios

têm por objetivo dar continuidade à avaliação de segurança e eficácia do medicamento. O

número de indivíduos envolvidos nesta fase pode variar de algumas centenas a 3000.

Fase IV: é realizada quando o medicamento já se encontra no mercado, podendo ser usado por

um grande número de indivíduos. Nesta fase são avaliados os novos usos do medicamento,

novas populações de pacientes e podem ser monitorados os efeitos adversos que surgem com o

uso prolongado.

O contato entre os profissionais da FDA com os solicitantes de registro pode variar

conforme a necessidade de informações para subsidiar o processo de desenvolvimento e

avaliação do produto. Ao término dos ensaios clínicos de Fase II, normalmente acontece uma

reunião onde os profissionais da FDA e o fabricante discutem sobre como os ensaios clínicos

da Fase III deverão ser conduzidos.

35

Aplicação de Novo Medicamento (NDA)

As etapas descritas acima devem ser observadas pelos fabricantes que pesquisam e

desenvolvem seus medicamentos nos Estados Unidos. Estas empresas e aquelas que

desenvolveram seus produtos fora dos EUA e que desejam registrar e comercializar seus

medicamentos nos EUA devem solicitar a FDA a autorização para Aplicação de Novo

Medicamento (NDA). Esta solicitação deve ser feita ao Centro de Avaliação e Pesquisa de

Medicamentos (CDER) da FDA, que será responsável pela avaliação da NDA. Tratando-se de

medicamentos biológicos esta solicitação deverá ser feita ao CBER.

O volume de informação que deve estar presente na NDA pode variar de um produto

para o outro, dependendo da natureza deste, mas de forma geral, uma NDA deve ser composta

de seções relacionadas aos seguintes tópicos (FDA, 2005d):

1- Estrutura química do medicamento, processos de produção e controle;

2- Dados sobre amostra, métodos de validação da embalagem e rotulagem;

3- Dados farmacológicos e toxicológicos dos ensaios pré-clínicos;

4- Dados clínicos (farmacocinética e biodisponibilidade);

5- Relatório atualizado sobre dados de segurança do medicamento (geralmente 120

dias após a entrada do pedido de NDA);

6- Informações sobre a patente do produto.

Para o início do processo de revisão, o CDER utiliza um sistema de classificação das

NDA que permite diferenciar os níveis de inovação dos medicamentos. Esta classificação é

feita a partir da caracterização do tipo químico e do potencial terapêutico dos medicamentos

(NIHCM, 2002):

Tipo químico do medicamento: classificação referente ao fármaco do medicamento. Este

fármaco pode ser novo, pode estar contido em um medicamento já aprovado ou ser derivado de

um fármaco presente em um medicamento já aprovado.

Potencial terapêutico do medicamento: referente à eficácia clínica do medicamento quando

comparada à eficácia de medicamentos já disponíveis no mercado, destinados ao diagnóstico,

36

tratamento ou prevenção da mesma patologia, tendo por base as evidências disponíveis no

período da revisão para aprovação.

A partir da análise do tipo químico, o CDER classifica os medicamentos que são

apresentados para o registro da seguinte forma (FDA, 2005d):

1. Novas Entidades Moleculares (NME): medicamentos contendo fármacos ainda não

aprovados para o mercado americano;

2. Novo sal de um medicamento já aprovado;

3. Nova formulação de medicamento já aprovado;

4. Nova associação de dois ou mais medicamentos;

5. Medicamentos já comercializados (novo fabricante);

6. Nova indicação para medicamento já comercializado.

Os medicamentos que se enquadram nos itens 2, 3 e 4 são denominados pelo CDER como

IMD (Incrementally Modified Drugs).A FDA permite que um novo fabricante produza um

medicamento que já está sendo produzido e comercializado por outro fabricante em duas

situações diferentes: permite que um novo fabricante produza um medicamento que já está sendo

produzido por outra empresa e permite o registro de medicamentos que estavam no mercado

antes da promulgação da Emenda Kefauver-Harris, em 1962. Como visto anteriormente, esta

Emenda estabeleceu os requerimentos de eficácia para o registro de novos medicamentos e foi

aplicada de forma retroativa para os medicamentos aprovados após a Lei dos Alimentos,

Medicamentos e Cosméticos de 1938 que, por sua vez, exigia a apresentação de dados de

segurança. Os medicamentos que entraram no mercado antes desta data (1938) são assumidos

como seguros e eficazes pela FDA, a menos que surjam evidências contrárias (NIHCM, 2002).

A partir da análise do potencial terapêutico, a revisão da NDA pode ser classificada

como padrão ou prioritária. Se o medicamento não apresentar nenhuma vantagem clínica sobre

os medicamentos já comercializados, o CDER denomina a revisão desta NDA como padrão. Para

atingir o status prioritário, o novo medicamento deve demonstrar avanço terapêutico de uma das

quatro formas (NIHCM, 2002):

1. Evidências de aumento da eficácia no tratamento, diagnóstico ou prevenção de uma doença;

2. Eliminação ou substancial redução de reações adversas que limitam o tratamento;

37

3. Aumento da adesão do paciente ao tratamento;

4. Evidências de segurança e eficácia para uma nova sub-população de pacientes.

Segundo as características químicas do medicamento e do seu perfil terapêutico, as NDA

podem ser organizadas segundo o “grau de inovação” apresentado pelo produto (NICHM, 2002):

Quadro 1- Ranking das Aplicações de Novos Medicamentos

(NDA) segundo critérios de classificação da FDA

Tipo de NDA Nível de inovação

NME prioritário Maior inovação

NME padrão

IMD prioritário

IMD padrão

Outros medicamentos Menor inovação

A definição de prioridade para a revisão da NDA foi estabelecida pela FDA em 1976 e até

1992 a agência usava três categorias para classificar as NDA segundo o avanço terapêutico: A, B

e C. Os medicamentos da classe A apresentavam ganho terapêutico significativo sobre os

medicamentos comercializados, os medicamentos da classe B apresentavam ganho terapêutico

moderado e os medicamentos da classe C apresentavam uma pequena vantagem ou nenhuma

vantagem sobre os medicamentos presentes no mercado. Este sistema foi aplicado de forma

retroativa para os medicamentos registrados a partir de 1962. Em 1992 a agência converteu este

sistema em duas categorias a partir das quais os medicamentos anteriormente classificados como

“A” ou “B” passaram a ter sua NDA classificada como “prioritária” e os medicamentos

classificados como “C” passaram a ter sua NDA classificada como “padrão” (DiMasi, 2000).

DiMasi (2000) destaca que, embora a significância clínica definitiva dos medicamentos

seja desconhecida durante o processo de revisão da NDA, já que outros possíveis usos e efeitos

do medicamento são desconhecidos até que sejam usados na prática clínica diária, há uma forte

correlação positiva entre a classificação da FDA e a significância clínica dos medicamentos.

A partir da solicitação de revisão da NDA a FDA possui um prazo de sessenta dias para

decidir se o dossiê apresentado pelo fabricante contém as informações necessárias para sua

38

revisão, podendo ser enviado para avaliação técnica (FDA, 2005d). O CDER faz a revisão das

NDAs classificadas como “padrão” em, no mínimo, dez meses ou aproximadamente 300 dias, já

para os medicamentos considerados “prioritários”, o processo de avaliação leva em média seis

meses (Meadows, 2002).

A equipe de revisores do CDER que faz a revisão da NDA varia conforme o tipo de

medicamento apresentado para registro, se for um medicamento indicado para tratamento de

câncer, a equipe responsável pertence à Divisão de Oncologia, a NDA de um medicamento

contraceptivo será encaminhada para revisão na Divisão de Medicamentos do Sistema

Reprodutor e Urológico, e assim por diante. A revisão da NDA é feita inicialmente por revisores

primários e em seguida por um grupo de supervisores. Os Diretores dos Departamentos

geralmente é que tomam a decisão final quando o medicamento que está sendo avaliado é uma

Nova Entidade Molecular e decidem também sobre a mudança de status de um medicamento de

venda sob prescrição médica para medicamento de venda livre (OTC). As outras situações são

decididas ao nível das Divisões do próprio CDER.

Para se certificar que o processo de revisão e aprovação da NDA será baseado em dados

atualizados sobre a segurança do medicamento, o CDER exige que o solicitante do registro

forneça dados sobre os estudos de segurança do produto em períodos determinados: quatro meses

após a entrada do pedido de revisão da NDA na FDA, após o envio da carta de aprovação da

NDA ao solicitante e em outros períodos, se necessário. O relatório enviado pelo solicitante deve

informar a ocorrência de novas reações adversas e alterações importantes na freqüência e na

gravidade de efeitos adversos já conhecidos.

Quanto às inspeções nos locais de fabricação do medicamento, quando uma NDA é

submetida para revisão no CDER, a mesma é cadastrada em um banco de dados que é

monitorado pela Divisão de Investigações Científicas da FDA que designa revisores de campo

para realização de inspeções e verificação da validade dos dados citados na NDA (FDA, 2004c).

39

Processo de Revisão da NDA

Aplicante da NDA (solicitante do registro)

NDA

NDA completa?

Enviada para solicitante

Revisão pelo CDER (Divisões)

Médica

Farmacologia

Química

Biofarmacêutica

Estatística

Microbiologia

Reuniões com Comitê Consultivo Reuniões com Aplicante

Revisão completa e aceitável?

Informações adicionais

Revisão pelo solicitante

Revisão da bula adequada?

Inspeção local adequada?

Aguardando resultado

satisfatório

NDA Action

Não

Não

Não Não

Sim

Sim Sim

Sim

Fonte: http://www.fda.gov/cder/handbook/irb.htm

40

7.2 AGÊNCIA EUROPÉIA DE MEDICAMENTOS (EMEA)

A Agência Européia de Medicamentos (EMEA) foi criada pelo Regulamento nº 2309/93

da Comunidade Econômica Européia (CEE), mas suas atividades só foram iniciadas em fevereiro

de 1995. A sede da agência está localizada em Londres, na Inglaterra.

A EMEA é uma das dezesseis agências especializadas (agências comunitárias) existentes

atualmente no âmbito da Comunidade Européia, organismos públicos criados por meio da

legislação européia que possuem personalidade jurídica própria e têm por objetivo a realização de

tarefas de natureza técnica, científica ou gerencial (Garattini & Bertelle, 2004):

O "triângulo institucional" formado pelo Conselho da União Européia, Parlamento

Europeu e Comissão Européia é responsável pela elaboração da legislação (diretivas,

regulamentos e decisões) que se aplica em toda a União Européia e, de forma geral, a Comissão

Européia propõe a legislação que é então adotada pelo Conselho e pelo Parlamento. No âmbito da

União Européia, a EMEA está subordinada à Diretoria Geral de Empresas da Comissão Européia

e não à Diretoria de Saúde Pública e as suas atividades são regulamentadas pela legislação

européia (Garattini & Bertelle, 2004).

A EMEA é composta por um conselho de administração e por um grupo técnico. O

conselho de administração é formado por dois representantes de cada Estado-Membro, dois

representantes da Comissão Européia e dois representantes indicados pelo Parlamento Europeu.

O grupo técnico é composto por dois comitês científicos, responsáveis pela elaboração dos

pareceres sobre questões relacionadas à avaliação dos produtos farmacêuticos para uso humano, o

Committee for Proprietary Medicinal Products (CPMP), e para uso veterinário, o Committee for

Veterinary Medicinal Products (CVMP) (Garattini & Bertelle, 2004).

O CPMP é formado por dois representantes de cada país que compõe a União Européia

(EU), indicados por seus governantes. A União Européia é atualmente formada por vinte e cinco

países: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Dinamarca, Irlanda,

Reino Unido, Grécia, Espanha, Portugal, Áustria, Finlândia, Suécia, Chipre, República Tcheca,

Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Eslováquia e Eslovênia (Europa, 2005)

Dentre as principais funções do CPMP estão a avaliação dos pedidos de registro de

medicamentos feitos pela Indústria Farmacêutica e a emissão do parecer, favorável ou não ao

registro do medicamento para a Diretoria Geral de Empresas da Comissão Européia. O CPMP

41

pode solicitar o apoio de consultores externos para a resolução de questões mais complexas

relativas aos medicamentos.

Registro de medicamentos na União Européia

Os procedimentos para registro de medicamentos na União Européia são denominados

procedimento centralizado e procedimento descentralizado. Por meio destes mecanismos os

fabricantes de medicamentos obtêm autorização para que seus produtos sejam comercializados

em mais de um país na União Européia. Quando o fabricante deseja comercializar seu produto

em apenas um país da União Européia, o procedimento escolhido será a solicitação de registro

nacional (European Commission, 2002).

O procedimento descentralizado é usado para a solicitação de registro da maior parte dos

medicamentos. Por meio deste procedimento uma empresa farmacêutica solicita a autorização

para registro de seu medicamento à autoridade sanitária oficial de determinado país da União

Européia e, obtendo o registro, a empresa pode solicitar a aprovação para a comercialização do

medicamento em outros países da Comunidade, baseando-se no princípio do reconhecimento

mútuo entre os países que compõe a União Européia. Quando um Estado-Membro não reconhece

o registro para comercialização de um medicamento registrado em outro país da Comunidade, a

EMEA assume o papel na arbitragem deste processo, cabendo à Comissão Européia tomar a

decisão final a partir do parecer emitido pela EMEA (European Commission, 2002).

O Procedimento Centralizado é realizado quando o fabricante solicita o registro do

produto diretamente à EMEA. Um registro aprovado por meio do procedimento centralizado

garante que o medicamento poderá ser comercializado em todos os países da União Européia.

Existe um grupo de medicamentos que só pode ser comercializado na União Européia se

registrado por meio do procedimento centralizado (Parlamento Europeu, 2004).

1. Medicamentos para uso humano que contenham uma substância ativa nova ainda não

autorizada na Comunidade Européia, e cuja indicação terapêutica seja o tratamento de uma das

seguintes patologias:

— síndrome de imunodeficiência adquirida,

42

— neoplasias,

— doenças neurodegenerativas,

— diabetes

2. Medicamentos desenvolvidos por meio de um dos seguintes processos biotecnológicos:

— tecnologia do DNA recombinante;

— expressão controlada da codificação de genes para proteínas biologicamente ativas em

procariontes e eucariontes, incluindo células mamíferas transformadas;

— métodos de hibridoma e de anticorpos monoclonais.

3. Medicamentos designados como medicamentos órfãos, conforme o Regulamento (CE) n.o

141/2000

4. Medicamentos veterinários destinados como potenciadores de rendimento a fim de promover o

crescimento dos animais tratados ou aumentar a sua produtividade.

Os medicamentos que não se enquadram nas categorias listadas acima podem obter

autorização de introdução no mercado concedida pela EMEA se o solicitante do registro

demonstrar que o medicamento constitui uma inovação significativa no plano terapêutico,

científico ou técnico, capaz de justificar uma concessão de registro comunitário (Parlamento

Europeu, 2004)

Quando o medicamento representa um grande interesse do ponto de vista da saúde

pública, principalmente quando se refere a uma inovação terapêutica, o requerente pode solicitar

um procedimento de avaliação acelerado para o seu produto, devendo o pedido ser devidamente

fundamentado. Se o CPMP aceitar o pedido, o prazo para emissão do parecer para a Comissão

Européia é reduzido de 210 dias para 150 dias (Parlamento Europeu, 2004).

43

Os fabricantes de medicamentos que desejam solicitar o registro de seus produtos na

EMEA devem entregar o dossiê do produto contendo informações referentes à qualidade,

segurança e eficácia do medicamento e estas informações devem estar organizadas em módulos

(referentes à qualidade, segurança e eficácia) que compõem o Documento Técnico Geral (CTD)

(Quadro 2) para o Registro de Medicamentos de Uso Humano (Comissão Européia, 2002).

44

Quadro 2-Documento Técnico Geral (CTD) para Registro de Medicamentos na EMEA

Qualidade Segurança Eficácia

1-Princípio Ativo: Informações sobre o fabricante, processo de obtenção da substância, critérios de aceitação de resultados, descrição do processo de validação; Caracterização da substância ativa: estrutura e isomerismo; Controle de qualidade: processos analíticos e estudos de estabilidade. 2- Dados sobre o Medicamento: Descrição e composição Desenvolvimento Farmacêutico: composição das formulações usadas nos ensaios clínicos e descrição dos perfis de dissolução destas formulações; Processo de produção: controle em processo, processo de validação, controle de qualidade dos excipientes e estudos de estabilidade do medicamento.

1-Sumário Não-Clínico: deve fornecer um resumo compreensivo dos resultados dos testes não-clínicos com os seguintes tópicos: Farmacologia: resultados farmacodinâmicos primários e secundários, segurança farmacológica, interações farmacodinâmicas do medicamento; Farmacocinética: métodos analíticos e dados sobre absorção, distribuição, metabolismo, excreção e interações farmacocinéticas do medicamento; Toxicologia: estudo de toxicidade de dose única, toxicidade de dose múltipla, carcinogenicidade, toxicidade reprodutiva e tolerância local. 2-Panorama dos Estudos Não-Clínicos Deve apresentar uma avaliação integrada e crítica dos dados farmacológicos, farmacocinéticos e toxicológicos obtidos a partir dos ensaios não-clínicos com o medicamento. Interpretação dos dados, relevância clínica dos resultados, relação entre os dados obtidos nos ensaios de segurança e os aspectos de qualidade do medicamento e implicações dos resultados não-clínicos para o uso seguro do medicamento em seres humanos.

1-Sumário Clínico: resumo detalhado da informação clínica obtida dos estudos clínicos: resultados dos estudos individuais, comparação dos resultados entre os estudos e persistência de eficácia e/ou efeitos de tolerância ao medicamento; 2-Panorama Clínico: documento que fornece as análises críticas, as conclusões e implicações dos dados apresentados no Sumário Clínico, as limitações e sucessos do processo de desenvolvimento do medicamento e os resultados dos estudos clínicos. Breve sumário do conhecimento científico existente que dá suporte à investigação do uso do medicamento para a indicação clínica proposta; metodologia adotada para o ensaio clínico; declaração de conformidade com as Boas Práticas Clínicas; Avaliação dos benefícios e riscos a partir dos estudos clínicos, informando como os dados de segurança e eficácia subsidiam a definição da dose e indicação terapêutica proposta; questões não resolvidas durante o processo de desenvolvimento do medicamento; fundamentos das informações contidas na bula;

45

O solicitante de registro de medicamento na EMEA é obrigado a fornecer também os

dados sobre a comercialização do medicamento em outros países, qualquer resultado novo ou

diferente sobre a segurança do medicamento e sobre as ações regulatórias relacionadas à

segurança do mesmo. Além destas informações, o solicitante deverá também apresentar no CTD

as conclusões sobre os riscos e benefícios do medicamento, quando o mesmo é comparado com

alternativas farmacológicas disponíveis para tratamento da doença ou com nenhum tratamento

farmacológico, quando esta for uma opção clinicamente aceitável.

No caso de medicamentos que contenham substâncias ativas presentes na composição de

medicamentos já comercializados, mas que ainda não tenham sido associadas para fins

terapêuticos, devem ser fornecidos os resultados dos novos ensaios pré-clínicos ou clínicos

relativos à associação (Parlamento Europeu, 2004).

As autoridades sanitárias responsáveis pela fiscalização das empresas produtoras dos

medicamentos registrados na EMEA são as autoridades dos Estados-Membro que concederam a

autorização de fabricação do medicamento. A inspeção nestas empresas pode ser realizada

durante o processo de avaliação do pedido de registro do medicamento.

Os critérios adotados pela agência européia para desenvolvimento e registro de

medicamentos na União Européia são influenciados atualmente pelo processo de harmonização

dos regulamentos técnicos sanitários, descrito anteriormente. Desta forma, os manuais elaborados

pela EMEA para orientação das empresas farmacêuticas contêm regras para a fabricação e

registro de medicamentos que já foram harmonizadas com outros países.

Etapas do processo de registro de medicamentos na EMEA:

O procedimento para registro de medicamentos na EMEA pode ser resumido nas

seguintes etapas (Garattini & Bertelle, 2004):

1- Etapa de Validação: até o 15º dia após o recebimento do pedido de registro o

secretariado da EMEA verifica se o dossiê apresentado pelo solicitante contém todas as

informações necessárias à avaliação técnica.

2- Avaliação do CPMP: dois membros do CPMP são selecionados como relatores

(indicados geralmente pelo fabricante e pelo próprio CPMP). Estes relatores são

46

responsáveis pela coordenação das atividades de avaliação do dossiê, pelo contato com

o fabricante, pela solicitação de informações necessárias durante o processo de

avaliação e pela apresentação do relatório de avaliação à equipe do CPMP. O CPMP

emite o parecer para a Comissão Européia geralmente 7 meses após a entrada do pedido

de registro na EMEA.

3- Decisão da Comissão Européia: a Comissão Européia tem três meses após o

recebimento do parecer do CPMP para decidir se concorda ou não com o Comitê. A

decisão é obtida por consenso entre os integrantes ou pelo voto da maioria

(aproximadamente 300 dias após a entrada do pedido de registro na EMEA).

4- Nos casos em que o pedido de registro é negado, a empresa pode entrar com recurso que

será avaliado pelo CPMP depois de terem sido indicados dois relatores, reiniciando o

processo.

47

Etapas do processo de avaliação para registro de medicamentos na EMEA

Após a autorização para registro, os resultados da avaliação do dossiê são resumidos em

um documento denominado Sumário de Características do Produto (SPC). Também é elaborado

um Relatório Europeu de Avaliação Pública (EPAR) para o medicamento registrado que fica

disponível na página eletrônica da EMEA.

Quando o fabricante é incapaz de fornecer dados suficientes sobre o medicamento que

pretende registrar (indicação clínica do novo medicamento é pouco conhecida e rara, os

conhecimentos científicos sobre a doença e o medicamento são insuficientes, etc) a EMEA pode

Validação de Dossiê Secretariado da EMEA

Dossiê incompleto devolvido

para solicitante

Dossiê completo encaminhado para

2 relatores

Apresentação do Relatório de

Avaliação para CPMP

Emissão do Parecer para Comissão Européia

Decisão da Comissão Européia

3 meses

10 m

eses

48

conceder uma aprovação temporária. Neste caso o fabricante assume o compromisso de fornecer,

durante o período de comercialização do produto, dados suficientes para a obtenção do registro

definitivo (Parlamento Europeu, 2004).

O registro sanitário de medicamentos na União Européia deve ser renovado cinco anos

após a concessão do registro e, a partir de então, possui validade ilimitada. Além disso, qualquer

autorização não utilizada durante três anos consecutivos, isto é, que não tenha dado origem à

introdução de um medicamento no mercado dos Estados-Membros durante este período, é

considerada caducada (Parlamento Europeu, 2004).

49

7.3 ADMINISTRAÇÃO NACIONAL DE MEDICAMENTOS, ALIMENTOS E

TECNOLOGIA MÉDICA (ANMAT)

A Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (ANMAT)

foi criada na Argentina por meio do Decreto Presidencial nº 1490, de 20/08/1992. Naquele

período foi realizada na Argentina uma série de atividades com vistas à revisão e adequação das

funções básicas do Estado e a criação da agência ocorreu em observância ao Decreto Presidencial

nº 1269/92, que estabeleceu as Políticas de Saúde na Argentina, denominadas Políticas

Substantivas (Argentina, 1992a). A quarta e última Política Substantiva do referido Decreto tem

como um dos seus objetivos:

“(...) adecuar la estructura de la SECRETARIA DE SALUD a fin de

posibilitar a dicho organismo el desarrollo de las líneas estratégicas

de transformación propuestas, favoreciéndose así la conformación de

un ente técnico con capacidad para liderar la salud en el desarrollo

con equidad, implementar la planificación estratégica en

normatización, en fiscalización y conducción superior, y garantizar

una efectiva acción sanitaria en todo el ámbito nacional, poniéndose

énfasis en el desarrollo de las acciones de promoción y protección

(ítem 4.1.1.)”.

A ANMAT é um órgão descentralizado, uma autarquia com autonomia financeira e suas

atividades possuem abrangência nacional. Está ligada administrativamente à Secretaria de

Políticas de Saúde e Fiscalização Sanitária do Ministério da Saúde e Ação Social da Argentina,

responsável pela elaboração das normas técnicas e científicas que norteiam as atividades da

agência.

50

ANMAT na hierarquia do Estado Argentino (ANMAT, 2005a)

As ações de controle e fiscalização da ANMAT são executadas por diferentes unidades e

compreendem drogas, produtos químicos, medicamentos, materiais para diagnóstico e

tecnologias médicas, alimentos industrializados e aditivos de alimentos, produtos de higiene e

cosméticos (Organograma 1) (ANMAT, 2005b)

O Instituto Nacional de Medicamentos é responsável pelo registro e controle de drogas,

medicamentos, reativos e elementos de diagnóstico, cosméticos e outros produtos usados em

medicina humana. Este controle é realizado por meio de estudos farmacotécnicos, biológicos,

farmacológicos e toxicológicos e compreendem as etapas de fabricação, fracionamento,

importação ou exportação, depósito e comercialização dos produtos. A Direção de Avaliação de

Medicamentos é responsável pela avaliação clínica dos medicamentos que se encontram em fase

de registro e daqueles que já estão sendo comercializados (Argentina, 2003).

ANMAT

Instituto Nacional de Medicamentos

Instituto Nacional de Alimentos

Direção de Avaliação de Medicamentos

Direção de Tecnologia Médica

Direção de Planificação e Relações Institucionais

Direção de Coordenação e Administração

Direção de Assuntos Jurídicos

Nação Argentina

� Poder Executivo

� Ministério da Saúde e Ação Social

� Secretaria de Políticas de Saúde e Fiscalização Sanitária

� ANMAT

Organograma 1- Estrutura da ANMAT

51

Registro de Medicamentos

O registro de medicamentos na Argentina é regulamentado atualmente pelo Decreto

150/92, que segue as definições estabelecidas na Lei 16.463, de 1964, conhecida como Lei dos

Medicamentos (Argentina, 1992b). A ANMAT adota duas listas de países de referência a partir

das quais são definidos os critérios para o processo de registro de medicamentos. As listas são

compostas pelos seguintes países:

Lista 1

Estados Unidos, Suíça, Japão, Suécia, Israel, Canadá,

Áustria, Alemanha, França, Reino Unido, Países Baixos,

Bélgica, Dinamarca, Espanha e Itália.

A empresa que deseja registrar um medicamento na ANMAT deverá entregar a

solicitação de registro de medicamento incluindo as seguintes informações (Argentina, 1992b):

a- Sobre o produto: nome proposto, fórmula do produto, forma farmacêutica, classificação

farmacológica (classificação internacional de medicamentos da OMS) e condições de

dispensação;

b- Informação técnica: método de controle, validade, método de produção (em conformidade

com as Boas Práticas de Fabricação vigentes) e dados sobre a biodisponibilidade do produto;

c- Informações que deverão estar contidas na embalagem.

d- Projetos de bulas: ações farmacológicas e terapêuticas atribuídas ao produto com indicações

clínicas precisas, advertências e precauções, interações medicamentosas e efeitos adversos,

posologia, doses máximas e mínimas, forma de administração e apresentações;

Lista 2

Austrália, México, Brasil, Cuba, Chile, Finlândia, Hungria,

Irlanda, China, Luxemburgo, Noruega e Nova Zelândia.

52

Os medicamentos registrados em pelo menos um dos países que compõem a Lista 1

poderão ser importados e registrados na Argentina e este registro será automático. O solicitante

do registro deve fornecer apenas os seguintes dados:

1- Autorização de registro em pelo menos um país da Lista 1;

2- Projetos de rótulos e etiquetas do produto;

3- Projetos de bula;

4- Dados de biodisponibilidade do produto.

Para as três situações descritas a seguir, o pedido de registro na ANMAT deverá observar

as exigências dos tópicos a, b, c e d, descritos anteriormente, e fornecer também a documentação

que comprove a eficácia e segurança do medicamento para o uso proposto:

1- Medicamentos a serem produzidos na Argentina e que são novidade no país;

2- Medicamentos importados de algum país da Lista 2, autorizado e comercializado no país

de origem e sem similares registrados na Argentina;

3- Medicamentos fabricados em países não incluídos na Lista 1 e 2 e não autorizados para

comercialização em nenhum país da Lista 1.

Os medicamentos importados a serem registrados na Argentina devem ser registrados e

comercializados nos países de origem. Quanto ao prazo para decisão sobre autorização de

registro, a partir da entrega de solicitação de registro do medicamento, o Ministério da Saúde e

Ação Social possui 120 dias para decidir sobre o pedido de registro. Sendo necessária a

verificação da planta onde o medicamento é produzido o prazo para avaliação do produto será

considerado a partir desta verificação. A renovação do registro de medicamento deve ser feita a

cada cinco anos (Argentina, 1992b). É considerado medicamento novo na ANMAT o

medicamento que satisfaz uma das condições apresentadas abaixo:

1- Para o qual não exista medicamento similar registrado e comercializado na Argentina;

2- Para o qual não exista similar registrado no mercado de pelo menos um dos países que

compõe a Lista 1 dos países de referência.

53

Desta forma, conforme estabelecido pelo Decreto 150/92, verifica-se que na Argentina

um medicamento é registrado como medicamento novo se não tiver sido registrado em nenhum

país que compõem a Lista 1. Se o medicamento já estiver registrado e for importado de um dos

países que compõem a Lista 1 será registrado na Argentina como medicamento similar.

Segundo Lucchese (2001) esta legislação foi conquistada pelas empresas nacionais, visto

que o país não reconhecia patentes na área farmacêutica até 1997. A legislação permitia agilidade

e competitividade às empresas domésticas, que podiam copiar rapidamente as inovações lançadas

em qualquer dos países mais desenvolvidos e colocá-las no mercado argentino. Atualmente a

Argentina reconhece patentes de medicamentos e os medicamentos registrados como similares na

ANMAT e que estão sob proteção patentária não podem ser fabricados por outras empresas até

que o prazo da patente seja expirado (Argentina, 1996).

54

7.4 AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA)

Regulação sanitária de medicamentos no Brasil - antecedentes

As primeiras regulamentações na área de medicamentos surgiram no Brasil no início do

século XX, período em que se faziam muitas denúncias sobre a qualidade dos medicamentos e

dos alimentos presentes no mercado nacional, como descrito por Monteiro Lobato em 1918:

“Em matéria de drogas nem é bom falar. Iodofórmio adulterado com

enxofre. Emetina fabricada com sais de quina. Quinino e aspirina

feitos com lactose. Óleos minerais e medicinais clarificados com ácido

sulfúrico impuríssimo, contendo arsênico. E, cúmulo, 914 em ampolas

que não passa de finíssimo fubá de milho amarelo. São Paulo virou o

paraíso da fraude bromatológica. Indefesa como está a cidade,

confiada a uns fiscais que fiscalizam para si, os desalmados

envenenam-se por todas as vias e amontoam fortunas colossais à custa

da saúde alheia. São duas coisas que, arre! Valem a pena: falsificar e

fiscalizar” (Lobato, 1964 apud Rozenfeld, 1998).

Este período é caracterizado pelo crescimento econômico do país, impulsionado pela

produção de café e o aquecimento do comércio internacional. As cidades portuárias receberam

atenção especial: era necessário que suas estruturas sanitárias estivessem em condições

adequadas, pois eram rotas de exportação de produtos para várias partes do mundo e porque

assim favoreciam a vinda de imigrantes para o aumento da força de trabalho. Mas os problemas

sanitários não foram resolvidos de imediato e epidemias, como a febre amarela, tornaram-se

sérias ameaças à população e à economia do país (Costa, 2004).

Oswaldo Cruz assume o comando da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) e em 1904

é aprovado o Decreto nº 5.156 que estabelecia o novo Regulamento dos Serviços Sanitários da

União, contendo normas para o controle sanitário no país. Na área de medicamentos foi

elaborada, em 1918, uma política de medicamentos oficinais e no Instituto Oswaldo Cruz

passaram a ser produzidos medicamentos para o controle de doenças endêmicas e epidêmicas,

como a quinina para o tratamento da malária (Costa, 2004). Em 1920 é criado o Departamento

55

Nacional de Saúde Pública (DNSP) e em 1923 foi editado um importante documento sanitário no

país, o Decreto nº 16.300, que permaneceu por muitos anos como o Regulamento Sanitário

Federal. Em relação ao controle sanitário sobre os medicamentos, o DNSP, por meio do referido

Decreto, tinha como competência (Costa, 2004:126).

“(...) a fiscalização de produtos farmacêuticos (...) expostos à venda e

são estabelecidas multas e penas de prisão inafiançáveis para os

falsificadores de alimentos e outros produtos sob o controle do DNSP,

como medicamentos e produtos biológicos.”

Ainda segundo a autora, a venda de preparados farmacêuticos, anti-sépticos e

desinfetantes, nacionais ou importados, só poderia ocorrer a partir da licença concedida pelo

DNSP. O Decreto não continha exigências sobre a eficácia e segurança dos produtos – o

fabricante detinha a credibilidade sobre estes atributos.

No que se refere ao controle da produção de medicamentos, o Decreto Federal nº

19.606/1931 estabeleceu as normas para o controle sanitário e para a atuação da Indústria

Farmacêutica no Brasil (Zubioli, 1992 apud Rozenfeld, 1998). Neste Decreto reafirma-se a

necessidade de licenciamento prévio à produção e comercialização de produtos farmacêuticos e

outros produtos de interesse da saúde quando fabricados por particulares (Costa, 2004). Em 1941

foi criado o Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina (SNFM) por meio do Decreto 3.171 e

em 1942 são criadas as Comissões de Biofarmácia e a Comissão de Revisão da Farmacopéia.

Segundo Costa & Rozenfeld (2000) a Comissão de Biofarmácia foi responsável pela elaboração

de várias normas que restringiram a produção e a comercialização de produtos neste período.

Nas décadas de 30 e 40 houve um expressivo desenvolvimento do ramo químico-

farmacêutico no Brasil, que foi acompanhado da criação de um importante regulamento para a

Indústria Farmacêutica – o Decreto nº 20.397/46. Este Decreto apresentava normas para as

especialidades farmacêuticas, produtos oficinais e biológicos, produtos psicotrópicos e

entorpecentes, produtos químico-farmacêuticos, anti-sépticos e desinfetantes e normas para o

funcionamento dos estabelecimentos fabricantes destes produtos. Segundo Costa (2004), o

referido Decreto não apresentava exigências que dificultassem o licenciamento das

especialidades farmacêuticas, este era concedido desde que houvesse a legalização do

56

estabelecimento produtor e do responsável técnico. A licença para o medicamento tinha validade

de dez anos, fim dos quais deveria ser renovada. O processo de licenciamento era baseado no

Relatório Técnico do medicamento e não eram exigidas informações referentes às contra-

indicações, eficácia e segurança do produto.

Nas décadas de 60 e 70 o Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia

(antigo SNFM) e a Comissão de Biofarmácia do Ministério da Saúde proscreveram ou

restringiram vários produtos presentes no mercado brasileiro.

Em 1971 foi criada a Central de Medicamentos (CEME) que tinha como funções a

regulação da produção e da distribuição de medicamentos em todo o país. A década de 70 foi

muito importante historicamente para ao campo da vigilância sanitária brasileira, pois neste

período foram criadas importantes normas, como as Leis 5.991/73 e 6.360/76. A Lei 5.991/73

(Brasil, 1973) revogou o Decreto Federal nº 19.606, de 1931, e estabeleceu o controle sanitário

do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos. Esta Lei incorporou o

termo medicamento no lugar de especialidade farmacêutica (Costa, 2004).

Na reforma administrativa promovida pelo governo do presidente Ernesto Geisel, em

1976, o controle de produtos foi agregado ao controle dos portos, aeroportos e fronteiras e estas

atividades foram identificadas como pertencentes à área de vigilância sanitária. Neste período a

fiscalização do exercício profissional, um dos primeiros objetos de regulamentação e controle

sanitário estatal, passou a ser realizada pelos conselhos das respectivas profissões e um grande

número de estabelecimentos de prestação de serviços era objeto de vigilância sanitária estadual e

municipal (Lucchese, 2001).

A Lei 6.360, de 1976, estabeleceu normas sanitárias para medicamentos, drogas, insumos

farmacêuticos, cosméticos, produtos de higiene e perfumes, saneantes domissanitários e seus

elementos (embalagens e rotulagem), estabelecimentos produtores, meios de transporte e

propaganda. Introduziu também o termo vigilância sanitária em seu sentido amplo, não restrito

ao conceito de fiscalização, incluiu o elemento qualidade como componente da vigilância

sanitária de produtos e os fabricantes de medicamentos ficaram obrigados a informar à autoridade

sanitária as reações nocivas provocadas pelo uso de seus produtos (Brasil, 1976).

Os primeiros anos da década de 80 foram marcados pelo Movimento Sanitário que

apresentava propostas reformistas para o setor saúde no Brasil. Neste período, alguns

profissionais envolvidos no referido “Movimento” foram convocados para atuar em importantes

57

setores ligados à saúde e houve também uma aproximação entre os profissionais de vigilância

sanitária, os demais profissionais da saúde e as organizações de consumidores. No ano de 1986

ocorreram dois importantes eventos: a 8ª Conferência Nacional de Saúde e a Conferência

Nacional de Saúde do Consumidor, esta última tendo sido definida por Costa (2004) como o

“mais significativo e amplo debate sobres as questões do campo sanitário”. Na área dos

medicamentos foram publicadas duas importantes normas direcionadas para as substâncias e

produtos cujo uso deveria ser controlado: as Portarias DIMED nº 27 e nº 28, de 1986, que

estiveram em vigência até final década de 90.

No início da década de 90 o Governo do presidente Fernando Collor de Melo promoveu a

primeira etapa da Reforma do Estado brasileiro, caracterizada, dentre outros fatores, pela redução

do tamanho do Estado, desmonte das instituições de protecionismo e estatismo, liberalização do

comércio internacional e do investimento estrangeiro, desregulamentação do setor privado e

privatizações de várias empresas estatais. A Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS),

então vigente, foi também atingida pela onda de reformas – a prioridade era a agilidade

administrativa e o atendimento dos pedidos das empresas. O número de funcionários da SNVS

foi reduzido, ainda que insuficiente para o atendimento da demanda existente (Lucchese, 2001).

Em agosto de 1990 o Governo Federal lançou o Projeto Inovar e, segundo Costa & Rozenfeld

(2000) “(...) neste período foram liberados irregularmente registros para uma grande quantidade

de produtos, principalmente medicamentos, desconsiderando-se a importância das análises

técnico-científicas.”

Os primeiros anos da década de 90 foram bastante conturbados para SNVS. A mudança

freqüente dos Secretários não permitia a continuidade das ações que se pretendiam implementar

na área, denúncias de corrupção e o desgaste dos profissionais que trabalhavam na SNVS

revelavam a necessidade de uma discussão mais séria sobre quais seriam os rumos da vigilância

sanitária no Brasil. Em meio ao estado de crise, em setembro de 1990 foi publicada a Lei 8.080 –

Lei Orgânica da Saúde – que definiu a Vigilância Sanitária como:

“(...) um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir

riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do

meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de

serviços de interesse da saúde.”

58

Publicada em 26 de agosto de 1994, a Portaria GM nº 1.565 estabeleceu o Sistema

Nacional de Vigilância Sanitária, definindo a abrangência do sistema, a distribuição das

competências entre a União, estados e municípios, os procedimentos para a articulação política e

administrativa destas três esferas de governo no Sistema Único de Saúde e as bases para a

descentralização das ações de vigilância sanitária.

Em janeiro de 1995, no início do primeiro Governo Fernando Henrique Cardoso, a nova

direção da SNVS tinha como objetivo dar continuidade ao projeto de reestruturação completa da

vigilância sanitária federal e transformar a SNVS em uma autarquia de caráter especial. Diante

das pressões do seguimento produtivo e enfrentando sérios problemas, como a falsificação de

medicamentos, o projeto de criação de uma agência regulatória forte ganhou destaque naquele

período.

O processo de reformulação da SNVS foi concluído em janeiro de 1999 quando então foi

aprovada no Congresso Nacional a Medida Provisória nº 1.791 que resultou na Lei nº 9.782, de

26/01/1999. Esta Lei definiu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e criou a Agência

Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. A partir deste fato o Sistema Nacional de Vigilância

Sanitária ficou formado pelos seguintes órgãos: ANVISA, Conselho Nacional de Secretários

Estaduais de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

(CONASEMS), Centros de Vigilância Sanitária Estaduais, do Distrito Federal e Municipais

(VISAS), Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENS), Instituto Nacional de Controle de

Qualidade em Saúde (INCQS), Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e Conselhos Estaduais,

Distrital e Municipais de Saúde.

Momento atual - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

A ANVISA, definida pela Lei 9.782 como uma agência regulatória – uma autarquia sob

regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde e caracterizada pela independência

administrativa, estabilidade de seus dirigentes e autonomia financeira, é responsável pela

coordenação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Os órgãos de vigilância sanitária

estaduais ligados às secretarias estaduais de saúde são responsáveis pela coordenação das ações

de vigilância sanitária no âmbito estadual e executam as principais ações de fiscalização do

sistema nacional.Os órgãos de vigilância sanitária municipais são responsáveis pela execução das

59

ações sanitárias locais, como o licenciamento e o monitoramento de estabelecimentos comerciais,

de criadouros de animais em áreas urbanas e de prestadores de serviços de interesse da saúde.

No que se refere às competências da ANVISA, além da coordenação do Sistema, a Lei nº

9.782 (Brasil, 1999), em seu Artigo 7º, definiu uma série de outras atividades: estabelecer

normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as diretrizes e as ações de vigilância

sanitária; autorizar o funcionamento de empresas de fabricação, distribuição, importação e

comercialização dos produtos relacionados na referida lei; conceder registros de produtos;

coordenar as ações de vigilância sanitária realizadas por todos os laboratórios que compõem a

rede oficial de laboratórios de controle de qualidade em saúde e fomentar o desenvolvimento de

recursos humanos para o sistema e a cooperação técnico-científica nacional e internacional.

O registro de medicamentos como atividade competente ao órgão federal de vigilância

sanitária já havia sido enfatizada pela Política Nacional de Medicamentos (PNM), aprovada pela

Portaria 3.916, de 30/10/1998, alguns meses antes da aprovação da Lei nº 9782. A PNM definiu o

registro de medicamentos como “ato privativo do órgão competente do Ministério da Saúde

destinado a conceder o direito de fabricação do produto no país” (MS, 2001).

Estrutura da ANVISA

A ANVISA é formada por uma Diretoria Colegiada, responsável por sua direção, uma

Procuradoria, uma Corregedoria, uma Ouvidoria, um Conselho Consultivo e unidades

especializadas responsáveis por diferentes atividades.

A unidade da ANVISA atualmente responsável pelo processo de avaliação dos pedidos de

registro de medicamentos novos é a Gerência de Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios

Clínicos (GEPEC), ligada à Gerência Geral de Medicamentos (GGMED) que por sua vez está

subordinada à Direção da agência. A GGMED é composta ainda pela Gerência de Medicamentos

Genéricos, Gerência de Isentos, Fitoterápicos e Homeopáticos, Gerência de Medicamentos

Similares, Unidade de Produtos Biológicos e Hemoterápicos, Unidade de Farmacovigilância e

Unidade de Produtos Controlados.

A GEPEC possui uma série de competências dentro da agência (ANVISA, 2000):

planejar, coordenar, orientar e fomentar as atividades técnicas e operacionais relativas a produtos

60

sujeitos a vigilância sanitária em pesquisas envolvendo seres humanos; planejar, coordenar e

orientar as atividades técnicas e normativas relativas ao registro de medicamentos novos e

analisar e emitir parecer circunstanciado e conclusivo nos processos referentes a registro de

medicamentos novos, tendo em vista a identidade, qualidade, finalidade, atividade, eficácia,

segurança, risco, preservação e estabilidade dos produtos sob o regime de vigilância.

Registro de medicamentos novos na Anvisa

O registro de medicamentos novos na ANVISA é atualmente regulamentado pela

Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) da ANVISA nº 136, de 29 de maio de 2003. O

Regulamento Técnico estabelecido por meio desta RDC, definido como “Regulamento Técnico

para Medicamentos Novos ou Inovadores com Princípios Ativos Sintéticos ou Semi-Sintéticos”,

deve ser aplicado para (ANVISA, 2003a):

1. Registro de medicamentos novos com princípios ativos sintéticos ou semi-sintéticos

associados ou não;

2. Registro de novas formas farmacêuticas, novas concentrações, nova via de administração

e indicações no País com princípios ativos sintéticos ou semi-sintéticos por parte de

empresas não detentoras de registro inicial daquele(s) principio(s) ativo(s);

3. Registro de produto resultante de:

3.1. Alteração de propriedades farmacocinéticas;

3.2. Retirada de componente ativo de produto já registrado;

3.3.Sais novos, isômeros, embora a entidade molecular correspondente já tenha sido

autorizada.

Na primeira parte do Regulamento são apresentadas as exigências anteriores à etapa de

registro, referentes à procedência do medicamento e aos ensaios clínicos com o mesmo. Se o

produto novo a ser registrado for de origem nacional o fabricante deve apresentar os protocolos

de pesquisa clínica e os resultados do andamento destas pesquisas. Para os medicamentos novos

fabricados fora do país (importados), cujos fabricantes desejam fazer os estudos clínicos de Fase

III no Brasil, é necessário a apresentação do protocolo de pesquisa e os resultados de seu

andamento. A terceira situação refere-se à realização de estudos de Fase III com medicamento de

61

origem estrangeira que terminará de ser fabricado no Brasil, neste caso o fabricante deverá

notificar a agência para a produção de lotes piloto.

No ato do protocolo de pedido de registro a empresa deverá apresentar, dentre outros

documentos, a cópia do protocolo da notificação da produção de lotes-piloto e o Certificado de

Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFC) emitidos pela ANVISA para a linha de produção

na qual o produto classificado como medicamento novo será fabricado, ou ainda, cópia do

protocolo de solicitação de inspeção para fins de emissão do referido certificado.

O Quadro 3, apresentado a seguir, contem um resumo das informações técnicas que

devem estar presentes no Relatório Técnico que o fabricante precisa fornecer para protocolar o

pedido de registro de medicamento novo junto à ANVISA.

Quadro 3 - Relatório Técnico para Registro de Medicamento Novo segundo RDC 136 de 23/05/2003

Informações técnicas do(s) princípio(s) ativo(s): fórmula estrutural; fórmula molecular; peso

molecular; sinonímia e referência completa; forma física do sal; ponto de fusão; solubilidade; rotação óptica

específica; propriedades organolépticas; possíveis isômeros; polimorfismo (descriminando as características do

polimorfo utilizado e de outros relacionados ao princípio ativo); relação sal/base e os excessos utilizados; espectro de

infravermelho da molécula; outras análises necessárias à correta identificação e quantificação da(s) molécula(s); rota e

descrição da síntese do fármaco (listar solventes utilizados, solventes residuais e respectiva concentração); estudos de

estabilidade do fármaco; farmacodinâmica (mecanismo de ação(s), posologia); dados de farmacocinética de cada

princípio ativo na formulação; relatório de produção; controle de qualidade de todas as matérias-primas utilizadas e do

produto acabado; material de embalagem primária.

Relatório de ensaios pré-clínicos: toxicidade aguda, sub-aguda e crônica, toxicidade reprodutiva, atividade

mutagênica, potencial oncogênico.

Relatório de ensaios clínicos (comprovação da eficácia terapêutica) acompanhado de referências bibliográficas

quando disponíveis. A apresentação destas informações deve seguir a ordem: estudos clínicos fase I, II, III. A Anvisa

poderá rever os dados dos estudos clínicos de Fase III para averiguar se as amostras e as diferenças de resultados entre

os grupos que receberam diferentes intervenções foram suficientes para a obtenção de significância estatística e

clínico-epidemiológica.

Prazo de validade: resultados do estudo de estabilidade acelerada de três lotes piloto utilizados nos testes e estudos

de estabilidade de longa duração em andamento;

Dados gerais: texto de bula e esboço de "layout" de rótulo e embalagem;

Relatório contendo o preço atualizado no varejo do medicamento em países onde ele já esteja sendo comercializado.

Se o produto novo ainda não for comercializado em outro país, encaminhar proposta de preço do produto no varejo (a

falta deste documento não impede a submissão, mas impede a aprovação final do produto).

62

Para os medicamentos que se enquadram em alguma das características apontadas no

Quadro 4, apresentado a seguir, o Regulamento estabelece outras exigências que deverão ser

observadas pelo solicitante de registro.

Quadro 4 – Exigências da RDC 136 segundo características dos Medicamentos Novos

Características dos medicamentos Exigências

Associações medicamentosas ou duas ou mais

apresentações em uma mesma embalagem para uso

concomitante ou seqüencial

Estudos de biodisponibilidade relativa dos princípios

ativos associados e cada princípio ativo isolado;

Ensaios clínicos controlados para cada indicação

terapêutica, provando que associações com as

mesmas doses tenham um efeito aditivo ou sinérgico

sem aumento dos riscos quando comparados com

cada princípio ativo isoladamente, ou que a

associação com dose menor de pelo menos um dos

princípios ativos obtenha o mesmo benefício com

riscos iguais ou menores quando comparados com

uma associação com doses conhecidas.

Estudos que demonstrem que a associação previne o

advento de resistência microbiana quando se tratar de

antibióticos. São aceitas até no máximo 3 princípios

ativos na mesma formulação por apresentação oral ou

injetável.

Novas formas farmacêuticas, concentrações, nova via de administração e indicações no país

com princípios ativos sintéticos ou semi-sintéticos por parte de empresas não detentoras

de registro inicial daquele(s) principio(s) ativo(s).

Resultados dos estudos de Fase III - empresas que

descobrirem uma nova indicação terapêutica no país

para um fármaco registrado por uma outra empresa,

na mesma concentração e mesma forma

farmacêutica;

Resultados dos estudos de Fase II e III - empresas que

descobrirem uma nova concentração, e/ou forma

farmacêutica, e/ou via de administração no País para a

mesma indicação terapêutica para um fármaco

registrado por uma outra empresa (estes estudos estão

dispensados, sendo substituídos pela prova de

biodisponibilidade relativa quando estiverem dentro

da faixa terapêutica já aprovada);

63

Os fabricantes ou seus representantes que pretendem importar medicamentos novos, além

dos dispositivos anteriores, terão que apresentar outros documentos e informações dentre os quais

podem ser destacados:

a) Especificar a fase em que o medicamento será importado: produto terminado, produto a granel

ou na embalagem primária;

b) Apresentar autorização da empresa fabricante do medicamento para o registro, representação

comercial e uso da marca no Brasil, quando cabível;

c) Cópia do Certificado de Boas Práticas de Fabricação e Consumo (BPFC), emitido pela

ANVISA para a empresa fabricante e atualizado por linha de produção. No caso da ANVISA

ainda não ter realizado inspeção na empresa fabricante é aceito o comprovante do pedido de

inspeção sanitária, acompanhado do certificado de boas práticas de fabricação de produtos

farmacêuticos por linha de produção, emitido pelo órgão responsável pela Vigilância Sanitária do

país fabricante. A ANVISA pode efetuar a inspeção da empresa fabricante no país ou bloco de

origem, conforme legislação específica;

d) Comprovante de registro emitido pela autoridade sanitária de um país onde esteja localizada a

empresa e o respectivo texto de bula;

e) Metodologia de controle de qualidade físico-química, química, microbiológica e biológica a

ser realizado pelo importador, de acordo com a forma farmacêutica, do produto terminado, granel

ou na embalagem primária.

No que se refere ao item “d”, citado acima, convém destacar que a Lei 6360, de 1976, em

seu Artigo 18, estabelece que o registro de medicamentos e insumos farmacêuticos de

procedência estrangeira depende também da comprovação de registro no país de origem, onde foi

fabricado o medicamento. Na impossibilidade do cumprimento da referida exigência, deve ser

apresentada comprovação de registro em vigor, emitida pela autoridade sanitária do país onde é

comercializado o medicamento ou autoridade sanitária internacional, e aprovado em ato próprio

da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde.

64

Etapas para o Registro de Medicamentos Novos

Convém destacar que a relação de medicamentos novos analisada a seguir foi registrada

entre os anos de 2000 e 2002 quando ainda estava em vigência a Instrução Normativa nº 01 da

SNVS, de 30/09/1994. Entretanto, o processo de registro de medicamentos novos na ANVISA,

descrito neste trabalho, teve como base a norma atual, a RDC nº 136 da ANVISA, de 29/05/2003,

O processo para registro de medicamento novo na ANVISA inicia-se quando o solicitante

protocola o pedido de registro na ANVISA. O § 3º do Artigo 12, da Lei 6.360, de 23 de setembro

de 1976, estabelece que o registro será concedido no prazo máximo de 90 (noventa) dias, a contar

da data de entrega do requerimento, salvo nos casos de inobservância da referida Lei ou de seus

regulamentos.

As etapas referentes a este processo não estavam disponíveis na página eletrônica da

agência no período em que a pesquisa foi realizada e, desta forma, para melhor compreensão e

descrição do modelo de registro de medicamentos novos adotado atualmente no Brasil foi

realizada uma entrevista com um importante ator neste processo – o atual Gerente da unidade da

ANVISA responsável pelo registro de medicamentos novos, a Gerência de Medicamentos Novos,

Pesquisa e Ensaios Clínicos (GEPEC), Sérgio de Andrade Nishioka. As perguntas feitas ao

entrevistado e as informações fornecidas pelo mesmo estão apresentadas no Anexo 1.

A partir das informações obtidas na entrevista foi elaborada uma representação

esquemática do processo de registro de medicamentos novos na ANVISA, apresentada a seguir:

65

Entrada do pedido de registro

(Protocolo da ANVISA)

GEPEC

O registro de medicamentos tem validade de cinco anos no Brasil. A renovação do

registro deve ser requerida no primeiro semestre do último ano do qüinqüênio de validade,

considerando-se automaticamente revalidado, independentemente de decisão, se esta não tiver

sido proferida até a data do término da validade do registro (Brasil,1976). O §8º do Artigo 12, da

Análise Farmacotécnica

Realizada por Técnicos da própria

GEPEC

Análise de Segurança e Eficácia

Realizada por Consultores externos

Pareceres avaliados pela

GEPEC

Parecer da GEPEC

GGMED e Diretoria da Agência Decisão sobre o registro do

medicamento

66

Lei 6360, de 1976, estabelece que o registro do produto que não for industrializado no primeiro

período de validade (5 anos) não será revalidado.

A RDC 136, de 2003, estabelece ainda que para a renovação do registro todas as

empresas deverão apresentar documento comprobatório de venda do produto no período de

vigência do registro, os números das notas fiscais e a relação de estabelecimentos compradores

em um máximo de 3 (três) notas por forma farmacêutica.

67

8. REGISTRO DE MEDICAMENTOS NOVOS NAS QUATRO AGÊNCIAS:

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

A descrição dos processos para registro de medicamentos novos nas quatro autoridades

sanitárias, apresentada até aqui, permite que sejam feitas algumas comparações relacionadas à

organização estrutural das autoridades, à definição de medicamento novo adotada e ao processo

de registro. Os dados obtidos estão apresentadas nos Quadros 5, 6 e 7 a seguir.

68

Quadro 5- Estrutura e funções das autoridades sanitárias: FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA

Características FDA EMEA ANMAT ANVISA

Órgão Estatal de Subordinação Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS)

Diretoria Geral de Empresas da Comissão Européia

Secretaria de Políticas de Saúde e Fiscalização Sanitária

Ministério da Saúde

Ano de criação 1930 1995 1992 1999

Nº de funcionários 10.4466

2507 - 26698

Produtos sob controle

Produtos biológicos, cosméticos, medicamentos para uso humano, equipamentos e produtos radiológicos usados em saúde, alimentos, medicamentos e alimentos veterinários (FDA, 2005e).

Medicamento para uso humano e veterinário.

Produtos químicos, medicamentos, materiais para diagnóstico e tecnologias médicas,alimentos industrializados e aditivos de alimentos, produtos de higiene e cosméticos.

Bens e produtos: medicamentos de uso humano, alimentos, bebidas, aditivos alimentares, cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes, saneantes, reagentes e insumos destinados a diagnóstico, equipamentos e materiais médico-hospitalares, odontológicos, hemoterápicos e de diagnóstico laboratorial e por imagem, imunobiológicos, sangue e hemoderivados; órgãos, tecidos humanos e veterinários; radioisótopos e radiofármacos, produto fumígero, derivado ou não do tabaco; Serviços: atenção ambulatorial, apoio diagnóstico e terapêutico. Ambientes: instalações físicas, equipamentos, tecnologias, ambientes e procedimentos envolvidos em todas as fases dos processos de produção dos bens e produtos, incluindo a destinação dos respectivos resíduos, controle de portos, aeroportos e fronteiras.

6 HHS (United States Department of Human and Health Services), 2005. http://www.hhs.gov/about/whatwedo.html 7 Garatinni & Bertelle, 2004. 8Dados não publicados

69

Unidade responsável pela avaliação do dossiê para registro de medicamento novo

Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos (CDER)

Centro de Avaliação e Pesquisa de Produtos Biológicos (CBER)

Comitê de Produtos Farmacêuticos (CPMP)

Instituto Nacional de Medicamentos e

Direção de Avaliação de Medicamentos

Gerência de Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios Clínicos (GEPEC)

Profissionais responsáveis pela avaliação do dossiê

Avaliadores do CDER Consultores externos

Técnicos dos Comitês Consultores Externos

_ Profissionais da GEPEC Consultores externos

70

Em relação às características dos órgãos sanitários apresentadas no Quadro 5 algumas

considerações importantes podem ser feitas. As atividades da EMEA são reguladas pelo órgão

responsável pela direção das empresas no âmbito da União Européia, a Diretoria Geral de

Empresas, e não pelo órgão responsável pela área de saúde, a Diretoria Geral de Saúde e Proteção

do Consumidor. Como a agência européia tem por função o controle sanitário dos medicamentos

que entram na Comunidade Européia seria mais apropriado, do ponto de vista da saúde pública,

que a EMEA estivesse subordinada aos interesses da Diretoria Geral de Saúde e Proteção do

Consumidor ao invés de estar ligada à Diretoria Geral de Empresas. Garattini (2005) refere-se a

este fato como uma anomalia que levanta a suspeita de que os produtos farmacêuticos têm maior

importância para o mercado do que para a saúde de quem os consome. Este autor refere-se ainda

ao fato da menor transparência desta agência em relação à FDA no que diz respeito à

disponibilização das informações sobre o pedido e análise dos registros. Outra crítica é quanto à

não exigência de estudos comparativos para a determinação do lugar que o medicamento ocupa

no arsenal terapêutico.

A FDA é o órgão sanitário mais antigo dentre os que foram analisados, tendo sido criada

em 1930, enquanto os demais foram criados na década de 90. Os países da Comunidade Européia

contam com órgãos sanitários nacionais mais antigos, e no Brasil, apesar de ter existido órgãos

responsáveis pelo controle sanitário anteriores à ANVISA, como a Secretaria Nacional de

Vigilância Sanitária (SNVS), a agência atual foi criada há menos de uma década.

No que se refere ao campo de atuação dos órgãos, a ANVISA apresenta maior número de

atividades sob sua responsabilidade, regulando produtos e bens, serviços e ambientes

relacionados à saúde. Entretanto vale salientar que a ANVISA, na área de medicamentos, é

responsável pela regulação das atividades relacionadas ao ciclo dos medicamentos (desde a

pesquisa até a comercialização), incluindo a concessão de registro, a autorização de

funcionamento das empresas e o seguimento pós-comercialização. Mas, com exceção da inspeção

internacional das empresas produtoras de medicamentos que é de responsabilidade da ANVISA,

as atividades de inspeção de ambientes e fiscalização sanitária das empresas situadas no Brasil

estão sob a responsabilidade dos órgãos estaduais e municipais de vigilância sanitária (Brasil,

1999).

As atividades de inspeção sanitária são realizadas no âmbito da Comunidade Européia

pelas autoridades sanitárias dos países que fornecem as informações necessárias ao

71

desenvolvimento das atividades na EMEA. A FDA é responsável pela inspeção dos

estabelecimentos envolvidos nas etapas de pesquisa, desenvolvimento e produção de

medicamentos, contando ela própria com profissionais específicos para o exercício destas

atividades. O Instituto Nacional de Medicamentos da ANMAT é o órgão responsável pela

fiscalização da produção, distribuição e venda dos medicamentos na Argentina.

72

Quadro 6- Definições para medicamento novo adotadas pela FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA.

FDA EMEA ANMAT ANVISA

NDA para medicamentos como:

Novas Entidades Moleculares (NMEs): Novo sal de um medicamento já aprovado Nova formulação de medicamento já aprovado Nova associação de dois ou mais medicamentos; Medicamentos já comercializados (novo fabricante) Nova indicação para medicamento já comercializado;

Substância química, biológica ou radiofarmacêutica ainda não autorizada como um produto medicinal na União Européia; Isômero, mistura de isômeros, um complexo, um derivado ou um sal de uma substância já autorizada como um produto medicinal na União Européia, mas que apresente diferenças relacionadas à segurança e eficácia. Substância biológica previamente autorizada como um produto medicinal na União Européia, mas que apresente diferença na estrutura molecular, na matéria prima ou no processo de fabricação; Substância radiofarmacêutica (radionucleotídeo ou ligante) ainda não autorizada como um produto medicinal na União Européia (European Commission Enterprise Directorate-General, 2004).

Medicamento não registrado em nenhum país que compõem a Lista 1 dos países de referência adotada pela ANMAT.

Medicamentos com novo princípio ativo sintético ou semi-sintético associado ou não; Novas formas farmacêuticas, concentrações, via de administração e indicações no país com princípios ativos sintéticos ou semi-sintéticos por parte de empresas não detentoras de registro inicial daquele(s) principio(s) ativo(s).

Produto resultante de alteração de propriedade farmacocinética, retirada de componente ativo de produto já registrado, sais novos, isômeros, embora a entidade molecular correspondente já tenha sido autorizada.

As informações apresentadas no Quadro 6 revelam que as definições para medicamentos

novos adotadas pelas agências sanitárias são abrangentes, incluindo desde medicamentos com

novas entidades moleculares até medicamentos com fármacos já comercializados.

A definição adotada pela FDA merece alguns comentários: para serem registrados na

FDA os medicamentos precisam ter suas NDAs submetidas para a avaliação pelo CDER e,

conforme descrito anteriormente, estas NDAs são classificadas segundo o tipo químico e o

potencial terapêutico dos medicamentos, ou seja, os medicamentos são classificados segundo a

inovação que apresentam. A informação sobre esta classificação é fornecida pela FDA em sua

página eletrônica, juntamente com as informações sobre o registro.

A classificação de medicamento novo adotada pela EMEA e pela ANVISA é também

abrangente, incluindo os medicamentos denominados me too, versões modificadas de produtos já

73

comercializados. Entretanto, diferentemente da FDA, estas agências não fornecem informações

em suas páginas eletrônicas sobre a classificação dos medicamentos novos registrados.

A ANMAT, por sua vez, não possui uma classificação em termos químicos para os

medicamentos novos. O conceito de medicamento novo adotado não é justificável em termos

sanitários, pois o fato do medicamento estar registrado em um país considerado “rigoroso” pela

ANMAT não representa nenhuma garantia de que o medicamento é seguro e eficaz e mais, que

deva realmente ser registrado e consumido pela população argentina.

No que se refere à ANVISA, o registro de medicamento me too como medicamento novo

tem gerado alguns questionamentos e, neste sentido, a ANVISA disponibilizou em sua página

eletrônica, em junho de 2004, seu posicionamento quanto ao registro de medicamentos novos

considerados me too (ANVISA, 2004). Neste documento é declarada a dificuldade e mesmo a

impossibilidade, em certas situações, de se classificar um medicamento como me too no

momento de seu registro:

“(...) alguns atributos que permitiriam que se fizesse essa qualificação

só podem ser verificados depois da comercialização e utilização em

grande escala do produto. Entre esses atributos podem ser citadas a

ocorrência ou não de eventos adversos raros, a identificação de

subgrupos de indivíduos que potencialmente se beneficiariam do novo

medicamento de forma diferenciada e a descoberta de novas

indicações terapêuticas para esse medicamento em particular (...) a

dificuldade de se classificar um produto como me too no momento de

seu registro impossibilita o estabelecimento de regras que regulem o

registro de medicamentos sob tal ótica.”

Por meio do referido documento a agência enfatiza ainda que a legislação brasileira

vigente não subsidia o indeferimento de pedido de registro de medicamentos novos pela

possibilidade de serem classificados como me too.

É importante considerar os argumentos apontados pela agência no sentido de que alguns

efeitos dos medicamentos apenas serão percebidos com o uso prolongado e por um grande

74

número de indivíduos. Entretanto, quando se considera o número de medicamentos e

apresentações presentes no mercado brasileiro e se verifica que a oferta é bastante significativa, a

restrição do registro de medicamentos me too deveria ser considerada ou minimamente estes

produtos deveriam ser classificados como tais durante o registro. Garattini (2005) considera

importante que os critérios de aprovação do registro de medicamentos levem em consideração

não apenas a qualidade, a segurança e a eficácia dos medicamentos, mas também que apresentem

maior vantagem terapêutica, seja em termos de maior atividade, menor toxicidade, possibilidade

de maior adesão ou menor preço.

75

Quadro 7 – Algumas características do processo de registro de medicamentos novos na FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA

Características FDA EMEA ANMAT ANVISA

Normas Legais vigentes atualmente

Lei Federal de Alimentos, Medicamentos e Cosméticos (1938)

Emenda Kefauver-Harris(1962)

Regulação do Conselho Europeu nº 2309/936, Diretiva 93/41/EEC e normas complementares

Lei 16.463 Decreto 150 de 1992

Lei 6.360 de 23/09/1976 RDC da ANVISA nº 136 29/05/03

Verificação do dossiê antes da avaliação técnica

60 dias para verificar se o dossiê está completo

Etapa de validação do dossiê

Não consta informação Não ocorre

Inspeção nos locais de fabricação durante a avaliação do pedido de registro

Divisão de Investigações Científicas (revisores de campo) – validade dos dados contidos na NDA

Inspetores das autoridades sanitárias dos Estados-Membro

Quando necessário ocorre a verificação da planta onde o medicamento é produzido

Não consta informação nas fontes pesquisadas

Prazo legal para decisão sobre o registro

6 meses -NDA Prioritária

10 meses – NDA Padrão

210 dias para emissão do parecer para a Comissão

300 dias para decisão da Comissão

120 dias 90 dias

Registro acelerado de medicamentos

Aprovação de NDA sem resultados clínicos conclusivos (estudos em fase clínica II)

Medicamentos novos para patologias graves

Inovações terapêuticas -revisão do dossiê em 150 dias

Registro automático para medicamentos registrados em pelo menos 1 país da Lista 1 dos países de referência.

Não é previsto

76

Renovação do registro de medicamento novo

O registro não precisa ser renovado.

Cinco anos após o registro. A partir de então tem validade ilimitada.

A cada 5 anos A cada 5 anos

Exigências de dados de segurança do produto no período pós- registro

Dados atualizados sobre segurança: 120 dias após submissão da NDA, após envio da carta de aprovação e em outros períodos.

Dados sobre comercialização em outros países e ações regulatórias sobre a segurança do produto

Riscos e benefícios comparados a outros medicamentos ou a nenhum tratamento farmacológico

Não constam nas fontes pesquisadas

Na renovação do registro a empresa deve apresentar os estudos de Fase IV (se houver) e também os dados de farmacovigilância. Estes últimos podem ser requisitados pela ANVISA antes do prazo para renovação.

77

As informações apresentadas no Quadro 7 revelam algumas diferenças importantes no

processo de registro de medicamentos novos nas quatro agências estudadas. Quanto à inspeção

dos locais de produção dos medicamentos, durante o período de avaliação do dossiê para registro,

verificou-se que esta etapa não consta nas normas brasileiras analisadas. Conforme visto

anteriormente, ao protocolar o pedido de registro de medicamento novo, a empresa deve

apresentar o Certificado de Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFC), emitido pela

ANVISA, para a linha de produção na qual o produto será fabricado ou a cópia do protocolo de

solicitação de inspeção para emissão do Certificado. Mas não está prevista, como nas normas da

FDA e da EMEA, a realização de inspeção durante a análise do dossiê.

O prazo legal para concessão do registro também merece destaque. Dentre as quatro

agências a ANVISA possui legalmente o menor prazo para decidir sobre a aprovação ou não do

registro, 90 dias, seguida da ANMAT com 120 dias.

O processo acelerado de registro de medicamentos não é previsto legalmente no Brasil.

Em fevereiro de 2004 a GEPEC disponibilizou na página eletrônica da ANVISA seu

posicionamento quanto ao tema. Segundo a GEPEC, tal mecanismo de aprovação exige

acompanhamento rigoroso, uma vez que é condicionado à apresentação de evidências adicionais

de eficácia e segurança e, atualmente, a ANVISA não está estruturada e organizada para realizar

este tipo de monitoramento. Considerando os aspectos relacionados à segurança dos

medicamentos e os argumentos apresentados pela GEPEC, é realmente mais adequado à

realidade brasileira que este tipo de procedimento não esteja sendo realizado na ANVISA.

78

9. MEDICAMENTOS NOVOS REGISTRADOS NA ANVISA 2000-2002

Os dados apresentados no Quadro 8 (Anexo 2) referentes aos 49 medicamentos, marcas,

ano de registro na ANVISA, ano de comercialização no Brasil, fabricante, classificação de

medicamento novo segundo ANVISA e potencial terapêutico segundo FDA foram obtidos do

estudo realizado por Reis (2004). As indicações terapêuticas aprovadas para comercialização

foram obtidas nas bulas dos medicamentos por meio de consulta às páginas eletrônicas das

empresas fabricantes, onde também foram obtidos os nomes dos países sede destas empresas.

Todos os medicamentos foram comercializados até o segundo ano após o registro. Os gráficos

apresentados a seguir foram construídos com base nos dados contidos no Quadro 8.

O Gráfico 1 revela que do total de 49 medicamentos novos registrados na ANVISA a

maior parte (21) foi produzida por empresas farmacêuticas com sede nos Estados Unidos. O

número de empresas com sede no Brasil (8) se iguala ao número de empresas com sede na Suíça

e o restante dos medicamentos (12) é fabricado por empresas com sede em outros países

europeus. Estes números confirmam o destaque americano e europeu no setor farmacêutico e a

importância que estas empresas multinacionais possuem no mercado farmacêutico brasileiro.

Gráfico 1 - Distribuição de medicamentos segundo país sede

do fabricante

0

5

10

15

20

25

Dinam

arca

Holan

da

Franç

a

Suécia

Alem

anha

Suíça

Brasil

EUA

Países sede do fabricante

Núm

ero

de m

edic

am

ento

s

79

Gráfico 2 - Distribuição de medicamentos segundo classificação de

medicamento novo

0

5

10

15

20

25

30

35

Classificação de medicamento novo

mero

de

med

icam

en

tos

Alteração na Concentração de substância ativa ou de propriedades farmacocinéticas

Sal novo, embora a entidade molecular correspondente já tenha sido autorizada

Duas ou mais substâncias ativas registradas, juntas em um mesmo produto

Nova Associação

Entidade Molecular Nova

O Gráfico 2 apresenta a classificação dos medicamentos novos registrados na ANVISA

segundo as definições de medicamento novo presentes na Instrução Normativa nº 01 da SNVS,

de 30/09/1994, e revela que o maior número dos medicamentos (31) é classificado como

entidade molecular nova, seguido das novas associações, com 14 medicamentos. Porém, quando

estes medicamentos são agrupados segundo o potencial terapêutico definido pela FDA, o

resultado apresentado no Gráfico 3 demonstra que 18 dos medicamentos novos tiveram a revisão

de sua NDA classificada como padrão (S) e 13 tiveram suas NDAs classificadas como revisão

prioritária (P). Onze medicamentos não foram classificados segundo o potencial terapêutico, pois

não constava registro dos mesmos na FDA. Dois medicamentos tiveram suas NDAs classificadas

como prioritárias para medicamento órfão (PV) e 1 NDA foi classificada como padrão para

medicamento órfão. Dois medicamentos registrados na ANVISA foram classificados como

suplemento nutricional pela FDA e 2 medicamentos, por serem produtos de origem biológica,

têm seu processo de registro controlado pelo CBER e, desta forma, não foi obtida a classificação

de potencial terapêutico para estes produtos.

80

Gráfico 3 - Distribuição dos medicamentos segundo

classificação da NDA pelo potencial terapêutico na FDA

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

PadrãoÓrfão

PrioritárioÓrfão

Prioritário Padrão CBER SuplementoNutricional

Classificação da NDA

Núm

ero

de m

edic

am

ento

s

A comparação dos gráficos 2 e 3 permite alguns comentários: apesar do maior número

dos medicamentos novos serem classificados como novas entidades moleculares (NME), ou seja,

como novas substâncias químicas, o maior número dos medicamentos (18) teve a revisão de sua

NDA classificada como padrão pela FDA. Mesmo quando se considera apenas os medicamentos

que contêm novas entidades moleculares (24), 13 são classificadas com NDA padrão (S) e 11 são

classificados com NDA prioritário (P). Desta forma, apesar da maioria dos medicamentos serem

compostos por novas moléculas, o avanço terapêutico da maior parte destes medicamentos não é

significativo se comparado ao potencial terapêutico dos medicamentos já comercializados.

Relacionando os dados referentes à sede das empresas fabricantes dos medicamentos com

o potencial terapêutico dos mesmos, definido pela FDA, os resultados obtidos são os que se

apresentam na Tabela 2:

81

Tabela 2 – Número de medicamentos registrados e classificados por potencial terapêutico

segundo país sede da empresa fabricante:

S:

standart (padrão); P: priority (prioritário); NC: não consta registro na FDA; CBER: Center for Biologics Evaluation and Research.

Analisando os medicamentos fabricados por empresas brasileiras (8), para 4 destes

medicamentos não constam registro na FDA, 2 medicamentos foram classificados com NDA

padrão e 2 como suplementos nutricionais. Este resultado pode estar reforçando o fato de que as

empresas farmacêuticas nacionais, por pouco investirem em pesquisa e desenvolvimento, não

inovam, não estão produzindo medicamentos que apresentam ganhos terapêuticos significativos

quando comparados a medicamentos que já estão disponíveis no mercado. Os dados referentes às

empresas americanas revelam que, dos vinte medicamentos produzidos pelas mesmas, menos da

metade (oito medicamentos) apresentam NDA prioritária.

O Quadro 9 (Anexo 3) apresenta o ano em que alguns dos medicamentos registrados na

ANVISA foram registrados na EMEA, FDA e ANMAT. Estes dados foram usados para

elaboração do Gráfico 4 onde se verifica que dos 49 medicamentos registrados na ANVISA e

considerados no presente estudo, 55,1% (27) estão registrados na EMEA, 75,5% (37) estão

registrados na FDA e 73,5% (36) têm registro na ANMAT. Estes resultados demonstram maior

similaridade entre os registros da FDA e ANMAT com a ANVISA do que entre a EMEA e a

País sede do fabricante Número de

medicamentos

registrados

Número de medicamentos por

potencial terapêutico

Alemanha 4 2S / 2 NC

Suécia 3 2S / 1 NC

EUA 20 8P / 7S / 2 CBER / 3NC

Suíça 8 4P / 4S

Brasil 8 2S / 2 Suplementos / 4 NC

Holanda 2 1P / 1NC

França 2 1P / 1S

Dinamarca 1 1S

82

ANVISA, pois somente pouco mais da metade dos medicamentos registrados na ANVISA estão

também registrados na EMEA. Uma possível explicação para esta diferença pode estar no fato

destes medicamentos não terem sido submetidos ao registro centralizado, solicitado pelo

fabricante para que o medicamento seja registrado na EMEA e possa ser comercializado em

todos os países que compõem a União Européia. Existe a possibilidade destes medicamentos

estarem registrados em órgãos sanitários de alguns países europeus onde podem ser

comercializados, mas esta verificação não foi objeto do presente trabalho.

Gráfico 4 - % de medicamentos novos registrados na

ANVISA e registrados na EMEA, ANMAT e FDA.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

EMEA ANMAT FDA

% d

e m

ed

icam

en

tos

Vinte e dois medicamentos registrados na ANVISA estão registrados na EMEA, na FDA

e também na ANMAT. A página eletrônica da ANMAT não forneceu a data nem o ano do

registro dos medicamentos, sendo apenas possível verificar se os medicamentos estão registrados

ou não na agência argentina.

Dezesseis dos 49 medicamentos registrados na ANVISA (33%) são associações de duas

ou mais substâncias. O medicamento Isotrexol®, formado por quatro substâncias químicas, é

produzido por uma empresa americana, contudo, não foi constatado registro deste produto na

FDA. Da mesma forma não consta registro na página eletrônica da FDA dos medicamentos

Arcoxia® (Etoricoxibe) e Dexamitrex Ophtiole gotas® (Sulfato de Gentamicina + Dexametasona),

também produzidos por empresas americanas. Mas quanto a estes dados destaca-se que a Lei

6.360, de 1976, exige que para ser registrado no Brasil o medicamento deve estar registrado no

83

país de origem, sendo esta origem definida como o local de produção do medicamento

(ANVISA, 2003b). Logo, mesmo sendo produzido por uma empresa americana, se o

medicamento estiver registrado no país onde foi fabricado, poderá ser registrado no Brasil.

Um outro dado merece destaque: para 8 medicamentos registrados na ANVISA não foi

encontrado registro na FDA, EMEA e ANMAT . Destes, 7 são associações de fármacos e 4

foram fabricados por empresas com sede no Brasil.Tratando-se de associações de fármacos,

medicamentos cuja eficácia e segurança são bastante questionáveis, o resultado obtido pode ser

considerado, do ponto de vista sanitário, desfavorável para o Brasil.

O Quadro 10 (Anexo 4 ) apresenta as datas de registro dos medicamentos na ANVISA e

na FDA, assim como os prazos (em dias) entre as datas de entrada dos pedidos de registro nas

referidas agências e as datas de aprovação dos mesmos. Os dados contidos no Quadro 10 foram

usados para construção dos gráficos 5, 6, 7, 8, 9 e 10, apresentados a seguir.

Gráfico 5 - Prazos para autorização de registro dos

medicamentos novos registrados na Anvisa

0100200300400500600700800

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39

Medicamentos

Dia

s

Média: 257,67

Desvio-padrão: 165,65

Mediana: 205

84

Gráfico 6 - Prazos para autorização de registro dos

medicamentos novos na Anvisa que foram classificados

com NDA padrão pela FDA

0

100

200

300

400

500

600

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Medicamentos

Dia

s

Gráfico 7- Prazos para autorização de registro de

medicamentos novos na ANVISA que foram classificados

com NDA prioritária pela FDA

0

200

400

600

800

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Medicamentos

Dia

s

Média: 257,06

Desvio-padrão: 128,62

Mediana: 204,5

Média: 231,15

Desvio-padrão: 175,57

Mediana: 186

85

O Gráfico 5 foi obtido a partir dos prazos para registro de 39 medicamentos na ANVISA.

Para sete medicamentos não constavam dados para o cálculo do prazo de registro e para outros

três medicamentos a página eletrônica da ANVISA, referente ao produto, não estava disponível

no momento da pesquisa. Considerando que a série de dados (prazos em dias) apresenta uma

distribuição assimétrica em todos os gráficos obtidos, a medida estatística que foi utilizada na

análise dos resultados apresentados a seguir foi a mediana, tendo em vista que esta medida de

tendência central sofre menos influência de valores extremos. Os valores encontrados para média

e desvio-padrão estão também apresentados.

A mediana obtida para os prazos em dias necessários para a aprovação de registro dos

medicamentos novos na ANVISA, apresentados no Gráfico 5, foi de 205 dias. Este dado revela

que os prazos para registro de 50% dos medicamentos apresentados foram superiores a 205 dias e

que 50% dos prazos foram inferiores a 205 dias. Considerando que o prazo limite para decisão

sobre de registro de medicamentos na ANVISA é de 90 dias (Brasil, 1976), o valor encontrado

para a mediana ultrapassa em 115 dias o prazo máximo (90 dias) estabelecido na Lei. A mediana

dos prazos para registro dos medicamentos novos com NDA classificada como padrão pela FDA

(16), na Anvisa, foi de 204,5 dias (Gráfico 6) e para o registro dos medicamentos novos

classificados com NDA prioritária foi de 186 dias, conforme dados do Gráfico 7.

Esta mesma análise foi feita com os medicamentos novos registrados na ANVISA e que

também estão registrados na FDA, verificando-se o prazo para aprovação das NDA na FDA. O

Gráfico 8 foi elaborado a partir dos prazos para aprovação das NDAs de 32 medicamentos

registrados na FDA e a mediana obtida foi de 314,5 dias. Para cinco medicamentos registrados na

FDA não foi possível obter os prazos para análise e aprovação das NDAs. Dois medicamentos

foram registrados pelo CBER, dois foram registrados como suplemento alimentar e para um

medicamento a carta de aprovação da NDA não estava disponível na página eletrônica da FDA

no momento da consulta. O Gráfico 9 apresenta os prazos para aprovação das NDA classificadas

como padrão na FDA e a mediana encontrada foi de 350 dias. O Gráfico 10, elaborado a partir

dos prazos para aprovação das NDAs classificadas como prioritária, apresenta mediana de 231

dias. Verifica-se, desta forma, que as medianas encontradas para os dados dos Gráficos 9 e 10

ultrapassam os prazos definidos pela FDA para aprovação das NDAs padrão e prioritária, 300 e

180 dias, respectivamente.

Comparando os resultados obtidos para o registro dos 39 medicamentos novos na

ANVISA com os resultados obtidos para a aprovação das NDAs de 32 destes medicamentos na

86

FDA, algumas considerações podem ser feitas. Os valores encontrados para as medianas diferem

significativamente entre as duas agências, a FDA apresenta valores medianos maiores que a

ANVISA. A mediana do Gráfico 5 (205 dias) para os 39 medicamentos registrados na ANVISA é

menor que a mediana do Gráfico 8 (314,5 dias) para os 32 medicamentos registrados na FDA. A

maior diferença foi encontrada entre as medianas referentes aos prazos para registro de

medicamentos com NDA padrão, 204,5 dias para a ANVISA e 350 dias para a FDA (Gráficos 6 e

9).Vale destacar novamente que estes prazos foram obtidos entre as datas de protocolo dos

pedidos de registro de medicamentos e as datas de aprovação dos mesmos, nas duas agências, ou

seja, não foram excluídos os períodos nos quais, possivelmente, por motivos diversos, a análise

do pleito tenha sido suspensa. Entretanto, ainda que razões desconhecidas para o presente

trabalho possam ter influenciado no tempo para aprovação dos registros, os resultados obtidos

indicam que, de forma geral, o processo de análise e aprovação das solicitações de registro dos

medicamentos foi mais demorada na FDA do que na ANVISA.

Este resultado chama a atenção, pois comparada a FDA, a ANVISA possui um número

menor de técnicos e também menos experiência acumulada para análise dos aspectos

relacionados à qualidade, segurança e eficácia dos novos medicamentos. No entanto, o processo

de revisão dos dossiês foi mais rápido na ANVISA. Uma das possíveis explicações para este fato

pode estar na data de aprovação dos registros na ANVISA e na FDA, apresentadas no Quadro 10

(Anexo 4). Para 18 dos 49 medicamentos não foi possível obter a data de aprovação do registro

em pelo menos uma das duas agências. Considerando os 31 registros restantes, 24 foram

aprovados primeiro na FDA e, posteriormente, na ANVISA. Sete medicamentos foram

registrados primeiro na ANVISA. A existência de registro do medicamento na FDA pode ter

influenciado a tomada de decisões na ANVISA e, de alguma forma, acelerado o processo de

aprovação do registro na agência brasileira.

87

Gráfico 8 - Prazo para aprovação das NDAs na FDA

referentes aos medicamentos novos registrados na

ANVISA

0200400600800

1000120014001600

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31

Medicamentos

Dia

s

Gráfico 9 - Prazo para aprovação das NDAs classificadas como

padrão pela FDA e referentes aos medicamentos novos

registrados na ANVISA

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Medicamentos

Dia

s

Média: 404,84

Desvio-padrão: 306,98

Mediana: 314,5

Média: 416,67

Desvio-padrão: 306,12

Mediana: 350

88

Gráfico 10- Prazo para autorização das NDAs classificdas

como prioritárias na FDA e referentes aos medicamentos

novos registrados na ANVISA

0

200

400

600

800

1000

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Medicamentos

Dia

s

Média: 309,57

Desvio-padrão: 228,22

Mediana: 231

89

10. CONCLUSÕES

Os resultados e considerações apresentadas nos capítulos anteriores permitem que sejam

feitas algumas conclusões sobre o processo de registro de medicamentos novos nas quatro

autoridades sanitárias selecionadas: FDA, EMEA, ANMAT e ANVISA. Quanto à ANVISA

também são apresentadas algumas recomendações referentes aos pontos abordados. Dentre os

resultados obtidos no presente estudo alguns foram destacados e estão comentados nos parágrafos

seguintes.

A pesquisa de informações oficiais nas páginas eletrônicas das autoridades sanitárias

selecionadas permitiu a obtenção de dados importantes, mas a qualidade e a quantidade de

informações fornecidas variaram significativamente entre as fontes acessadas. A página

eletrônica da FDA apresentou um número maior de informações, maior facilidade de acesso aos

dados e estes estavam apresentados de forma mais organizada. A página eletrônica da EMEA

apresentou um volume muito grande de informações, mas estas não estavam organizadas de

forma a facilitar a compreensão dos dados e a coleta das informações necessárias. A página

eletrônica da ANMAT apresentou um volume muito reduzido de informações e, quando

disponíveis, estavam incompletas (como visto, não foi possível a obtenção do ano de registro dos

medicamentos na ANMAT). A página eletrônica da ANVISA forneceu um volume insuficiente

de informações, estando ausentes alguns dados importantes como as etapas para o registro dos

medicamentos novos, a classificação dos medicamentos segundo as definições da RDC 136, de

2003, e as datas do período de avaliação das solicitações de registro não estavam disponíveis de

forma clara.

Considerando que a ANVISA possui uma página eletrônica e que alguns dados estão

disponíveis para consulta do público em geral, é fundamental que esta informação seja de boa

qualidade. Dada a importância do registro sanitário de medicamentos e a necessidade de

transparência neste processo, tanto para os profissionais de saúde e consumidores quanto para o

setor regulado, a ANVISA deveria dar um pouco mais de atenção a estes aspectos,

disponibilizando um número maior de informações e melhorando a qualidade do que já está

disponível em sua página eletrônica.

As normas legais que orientam o processo de registro de medicamentos novos

estabelecem que os atributos como qualidade, segurança e eficácia são fundamentais para que um

medicamento seja registrado nas quatro autoridades sanitárias. Porém, nenhuma das normas

90

analisadas apresentou exigências quanto à inovação, ao avanço terapêutico para que o

medicamento seja registrado como medicamento novo. A classificação segundo potencial

terapêutico utilizada pela FDA determina o prazo no qual a NDA será avaliada, mas não restringe

o registro quando o medicamento não apresenta inovação terapêutica. Somado a este dado, as

definições para medicamentos novos são abrangentes em todas as quatro autoridades estudadas e

também não são uniformes. A definição de medicamento novo adotada pela ANMAT é a que

mais se diferencia, uma vez que a definição da “novidade” é feita a partir da existência do

registro em outros países selecionados e não baseada em critérios de inovação do produto.

Ao contrário da FDA, as normas da EMEA e da ANVISA não classificam os

medicamentos registrados e não estabelecem prioridade para a análise da solicitação de registro.

A ANMAT, por sua vez, tem seu processo de registro baseado em listas de países de referência.

A priorização adotada pela FDA pode servir como modelo para as agências regulatórias de outros

países. Estabelecer prazos distintos para a análise dos pedidos de registro é adequado, pois os

medicamentos diferem no nível de inovação e essencialidade sanitária. Desta forma, seria

adequado que as demais agências, ao definirem os critérios de priorização nas análises dos

dossiês, considerassem as inovações terapêuticas trazidas pelos produtos e as necessidades de

saúde das populações.

As autoridades sanitárias dos países onde as atividades de pesquisa e desenvolvimento são

escassas, como do Brasil e da Argentina, adotam prazos legais menores para avaliação e

concessão de registro que países como EUA e países europeus, onde se realiza pesquisa e

desenvolvimento e os avaliadores detêm mais informações sobre os produtos que vão analisar. O

prazo para concessão do registro sanitário de medicamentos no Brasil é ainda norteado por uma

Lei de 1976 que estabeleceu um prazo de 90 dias. O desenvolvimento científico-tecnológico

ocorrido nas últimas décadas trouxe também a necessidade introduzir uma série de exigências

para a comprovação da qualidade, segurança e eficácia dos novos medicamentos, tornando mais

lento o processo de concessão de registro sanitário. Considerando estes aspectos, há necessidade

de se atualizar a legislação brasileira em vigor, estabelecendo, inclusive, critérios de priorização

nas análises dos pleitos e de revisão e cancelamento de registros de medicamentos.

Com relação ao conjunto de medicamentos novos registrados na ANVISA, nos anos de

2000, 2001 e 2002, a maior parte destes medicamentos (31) são quimicamente novos. Contudo,

verificou-se que quando os medicamentos foram classificados segundo o potencial terapêutico

91

definido pela FDA, o maior número, 18 medicamentos, não apresentaram avanço terapêutico

sobre medicamentos já comercializados que justificasse prioridade na revisão de suas NDAs.

Os resultados dos prazos em dias para registro dos 49 medicamentos novos na ANVISA

entre os anos de 2000 e 2002 e dos prazos para o registro de 32 destes medicamentos na FDA

revelaram que a ANVISA concedeu o registro para os medicamentos em prazos menores que a

FDA. Ainda que este resultado seja baseado em valores medianos e considerando os aspectos

apresentados no capítulo anterior, o dado obtido contraria de certa forma, uma tendência geral em

afirmar que agência brasileira é morosa em suas atividades, principalmente no que se refere à

concessão de registro sanitário.

A verificação do registro dos 49 medicamentos novos registrados na ANVISA na FDA,

EMEA e ANMAT revelou que uma quantidade significativa destes medicamentos está registrada

na FDA e na ANMAT, 37 medicamentos e 36 medicamentos, respectivamente. Já o número de

medicamentos registrados na EMEA foi menor, 27 medicamentos. Logo, ainda que os dados

relacionados ao processo de registro de medicamentos novos, como as exigências legais, as

definições de medicamento novo e os prazos para análise dos dossiês tenham apresentado

diferenças entre as autoridades regulatórias estudadas, a constatação de um número elevado de

registro dos medicamentos na FDA e na ANMAT pode representar que aquelas diferenças não

foram suficientes para produzir um quadro distinto na oferta destes medicamentos em países

como os EUA, Argentina e Brasil. A situação da EMEA é particular, pois, como visto

anteriormente, para ser registrado na EMEA o medicamento deve pertencer a um dos grupos

apresentados anteriormente ou o solicitante do registro deve demonstrar que o medicamento

constitui uma inovação significativa, capaz de justificar uma concessão de registro comunitário.

Este fato, porém, não descarta a possibilidade de que alguns destes medicamentos estejam

registrados em alguns países da União Européia.

92

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ROZENFELD,S.,1998. Farmacovigilância: elementos para discussão e perspectivas.Cadernos de Saúde Pública, 14 (2):237-250.

SAYD, J.D.,1998. Higiene, o Desperdício de Panacéia. In: Mediar, Medicar, Remediar: aspectos da terapêutica na medicina ocidental, pp.127-155, Rio de Janeiro: EdUERJ(Saúde & Sociedade).

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97

ANEXO 1

Entrevista

Entrevista realizada em 07/11/2004

Entrevistado: Sérgio de Andrade Nishioka – Gerente GEPEC/GGMED/ANVISA

Questão 1- Quais as etapas necessárias para o registro de medicamentos novos na ANVISA?

Nishioka destacou que a análise segue as exigências da RDC atual, a RDC 136, cujos pontos

mais importantes foram relacionados no Quadro 3. A análise do dossiê para registro entregue pelo

solicitante do registro é realizada em duas etapas: análise farmacotécnica e análise de segurança e

eficácia. Na análise farmacotécnica são avaliados os dados referentes à qualidade do produto (onde é

produzido, como é produzido, testes de estabilidade, área de produção,etc.). Esta etapa é realizada por

farmacêuticos da GEPEC e, segundo Nishioka, raramente é solicitado um consultor ad hoc.Na análise

de segurança e eficácia são avaliados os resultados dos ensaios pré-clínicos e clínicos com o produto.

Esta análise não é realizada por profissionais da ANVISA e sim por consultores externos. Nishioka

destacou que a utilização de consultores externos nesta etapa ocorre pela dificuldade em recrutar

pessoal qualificado para realizar este tipo de atividade na agência

Questão 2- Como são escolhidos os consultores para avaliação de segurança e eficácia?

Sobre a escolha dos consultores externos, o entrevistado informou que esta escolha é feita a

partir de um banco de consultores composto por professores universitários ou médicos conceituados

nas suas especialidades (que já participaram deste processo na agência) ou por meio de consulta às

Sociedades Médicas que indicam, dentre seus associados, aquele mais capacitado para avaliar a

segurança e a eficácia do medicamento em questão. Informou também que a agência verifica

inicialmente se os consultores escolhidos para participar do processo de análise possuem algum

conflito de interesse potencial, como a participação na investigação clínica do produto no país e se o

mesmo é acionista de alguma empresa farmacêutica.

O número de consultores convidados para análise de segurança e eficácia varia conforme o tipo

de medicamento novo: quando se trata de medicamento genuinamente novo no país os dados são

98

enviados para dois consultores externos, quando o medicamento é uma nova indicação terapêutica ou

nova forma farmacêutica, por exemplo, os dados são enviados para um consultor apenas.

Questão 3- Quais os profissionais responsáveis pela decisão sobre o registro do medicamento?

Após a análise dos dados de segurança e eficácia os consultores emitem seus pareceres para a

GEPEC (solicita-se aos consultores que os pareceres sejam enviados após trinta dias de análise).

Nishioka enfatizou que a GEPEC possui autonomia para concordar ou não com o parecer emitido,

podendo autorizar ou não o registro do medicamento novo. Enfatizou, porém, que para a maioria dos

medicamentos há concordância entre o parecer dos consultores e a avaliação da GEPEC, mas já houve

casos de discordância.

Questão 4- Como você avalia o processo de registro de medicamentos novos atualmente na

ANVISA?

Nishioka destacou que houve uma evolução no processo de avaliação da segurança e eficácia

dos medicamentos novos submetidos ao registro ao longo do tempo. A criação das Câmaras Técnicas e,

mais recentemente, da CATEME, representaram um avanço, mas segundo o entrevistado, durante a

vigência da CATEME também existiram problemas relacionados à eficiência e transparência no

processo de registro. Informou que em média eram analisados em cada reunião da CATEME dez

dossiês e, como conseqüência disto, o processo de registro era muito mal documentado e não

apresentava clareza no que se referia à tomada de decisão, favorável ou não ao registro. Acrescentou

que esta situação ocasionava muitos problemas com os solicitantes de registro quando a decisão da

CATEME era de não autorizar o registro do medicamento, pois as decisões não havia sido

documentadas de forma correta e a agência não tinha subsídios técnicos para argumentar e defender

suas decisões.

Sobre o momento atual, com a GEPEC, Nishioka julgou que a análise do processo de registro

está muito boa no que se refere à transparência das decisões, mas em relação à qualidade da avaliação

dos medicamentos a serem registrados, afirmou não dispor de instrumentos para medir o nível desta

qualidade.

99

Questão 5 – Qual a definição de medicamento novo adotada pela ANVISA para o registro?

Sobre o conceito de medicamento novo adotado pela agência, o entrevistado chamou atenção

para a RDC 136 que considera o medicamento novo no país e que esta definição permite considerar um

medicamento já registrado e usado em outro país há anos como uma inovação no Brasil. Para Nishioka

o conceito adotado atualmente é muito mais amplo do que se deseja – destacando o fato da legislação

brasileira permitir o registro de pró-fármacos como medicamentos novos.

A empresa que deseja registrar um medicamento entra com pedido de registro de medicamento

novo na agência. Se o medicamento não corresponder a nenhuma das definições para medicamento

novo estabelecidas pela RDC nº 136 a GEPEC indefere o registro de medicamento novo, orientando a

empresa a entrar com pedido de registro apropriado.

Segundo Nishioka, o registro de medicamento denominado me too como medicamento novo

contribui para a regulação do mercado, tornando-o mais competitivo. A outra vantagem apontada pelo

entrevistado é que alguns grupos populacionais podem adaptar-se melhor a um medicamento me too de

uma determinada empresa do que ao primeiro medicamento inovador do qual o me too difere em

alguma característica. A definição de me too é mais fácil de ser dada quando o medicamento já está no

mercado, sendo usado por um número grande de indivíduos, só assim podem ser comparados os

produtos quanto ao efeito que produzem. No momento do registro é impossível fazer este tipo de

avaliação.

Acrescentou também que se o fabricante de um medicamento similar faz um estudo clínico para

uma nova indicação (para qual o produto de referência ainda não foi testado), o fabricante do similar

pode pedir registro da nova indicação terapêutica no país, passar a ser o medicamento de referência

para aquela indicação, pode receber um novo nome fantasia e necessariamente recebe um novo

registro. Isto também acontece para uma nova concentração de princípio ativo.

Nihioka enfatizou também que durante o processo de avaliação para registro os profissionais da

GEPEC procuram ter muita atenção no que se refere a indicação terapêutica para qual o medicamento

foi testado, pois esta indicação é que será aprovada. Finaliza afirmando que o “médico até pode indicar

o medicamento novo para outras patologias, mas a indicação oficial é aquela que foi aprovada pela

agência”.

100

ANEXO 2

Quadro 8 - Relação de Medicamentos Novos Registrados na ANVISA nos anos de 2000, 2001 e 2002

Medicamento Marca Indicação Terapêutica

Ano registro

Ano Comercialização

Fabricante Sede Fabricante

Classificação Medicamento Novo Anvisa

Potencial Terapêutico

FDA

AMOXICILINA + SULBACTAM 1000 mg + 500 mg Pó Injetável TRIFAMOX

IBL BD

Processos infecciosos causados por germes sensíveis à amoxicilina e ao sulbactam. 2000 2001

MercK S.A Indústrias Químicas Alemanha

Nova Associação Não Consta

ESOMEPRAZOL MAGNÉSIO TRIIDRATADO 20mg - comp NEXIUM

Doenças ácido pépticas e alívio dos sintomas de azia, regurgitação ácida e dor epigástrica,também é efetivo para a erradicação de Helicobacter pylori quando associado com os antibióticos corretos. 2000 2001

Astrazeneca do Brasil ltda. Suécia

Entidade Molecular Nova S

CLORIDRATO DE PIOGLITAZONA 15mg - comp ACTOS Diabetes mellitus tipo 2 2000 2000

Abbott Laboratórios do

Brasil Ltda. EUA Entidade

Molecular Nova P

NATEGLINIDA 60mg - comp STARLIX

Diabetes tipo 2 (diabetes mellitus não-insulinodependente, DMNID) nos quais a hiperglicemia não pode ser controlada por dieta e exercício físico. 2000 2000

Novartis Biociência S.A. Suíça

Entidade Molecular Nova S

INSULINA ASPART 100UI/ml - 10ml NOVORAPID Diabetes 2000 2002 Novo Nordisk Ftca.

do Brasli Ltda. Dinamarca

Alteração na concentração de substância ativa

ou de propriedades

farmacocinéticas S

101

MONONITRATO DE ISOSSORBIDA + ACIDO ACETILSALICILICO 60mg + 75mg - cap gel VASCLIN

Profilaxia e tratamento da angina do peito e da isquemia miocárdica com ação antiagregante plaquetária. 2000 2001

Libbs farmacêutica Ltda Brasil

Nova Associação Não consta

CILOSTAZOL 50mg- comp CEBRALAT

Doença vascular periférica, para redução do sintoma da claudicação intermitente e na prevenção da recorrência de acidente vascular cerebral. 2002 2002

LDZ Comércio, Importação e

Exportação Ltda (Libbs) Brasil

Entidade Molecular Nova S

FLUTRIMAZOL 0,01g/ml solução tópica spray MICETAL

Tratamento tópico de micoses cutâneas superficiais, produzidas por fungos sensíveis : candidíase cutânea; pitiríase versicolor 2000 2002

Laboratórios Biossintética Ltda Brasil

Entidade Molecular Nova Não consta

PIMECROLIMUS 10mg/g creme - 15g ELIDEL

Tratamento em curto prazo (agudo) e em longo prazo dos sinais e sintomas da dermatite atópica (eczema) . 2002 2002

Novartis Biociência S.A. Suíça

Entidade Molecular Nova S

BUTIRATO DE HIDROCORTISONA 1mg/g creme - 15 g LOCOID Dermatites 2000 2000 Eurofarma

Laboratórios Ltda. Brasil

Sal novo, embora a entidade

molecular corespondente já

tenha sido autorizada S

ETONOGESTREL 68mg solução dermatológica - implante IMPLANON Contracepção 2000 2001

Organon do Brasil Indústria e

Comércio Ltda. Holanda Entidade

Molecular Nova Não consta

LUTROPINA ALFA (R-LH) 75UI pó liófilo inj LUVERIS

Em mulheres com insuficiência de LH e FSH, em associação com o FSH. 2001 2002

Serono Produtos Farmacêuticos

Ltda. Suíça Entidade

Molecular Nova S

102

CLORIDRATO DE APOMORFINA 2mg comp sub-lingual UPRIMA Disfunção Erétil 2001 2001

Abbott Laboratórios do

Brasil Ltda. EUA Entidade

Molecular Nova Não Consta

ACETATO DE CETRORELIX 0,25mg po liof inj CETROTIDE

Prevenção da ovulação prematura em pacientes submetidas à estimulação ovariana controlada. 2000 2001

Asta Médica Ltda. (Serono) Suíça

Entidade Molecular Nova S

ACETATO DE GANIRELIX 0,5mg/ml sol inj ORGALUTRAN

Prevenção do pico prematuro de LH em mulheres submetidas a hiperestimulação ovariana em técnicas de reprodução assistida. 2001 2002

Organon do Brasil Indústria e

Comércio Ltda. Holanda Entidade

Molecular Nova P

TELITROMICINA 400mg - comp KETEK

Infecções causadas por cepas suscetíveis, incluindo as cepas resistentes de S. pneumoniae e patógenos atípicos. 2001 2002

Aventis Pharma Ltda EUA

Entidade Molecular Nova S

QUINUPRISTINA + DALFOPRISTINA 150mg + 350mg po liof inj SYNERCID

Infecções causadas por microorganismos Gram + sensíveis quando a terapia intravenosa é apropriada - infecções cutâneas e de anexos e pneumonia nosocomial complicadas. 2000 2000 Rhodia Farma Ltda França

Duas ou mais substâncias

ativas registradas,

juntas em um mesmo produto P

ACETATO DE CASPOFUNGINA 50mg po liof inj CANCIDAS

Tratamento de segunda linha da Aspergilose invasiva 2001 2001

MercK Sharp & Dohme

Farmacêutica Ltda EUA Entidade

Molecular Nova P

ZANAMIVIR 5mg cap inalação RELENZA

Medicamento contra vírus Influenza 2000 2000

Glaxo Wellcome S.A. EUA

Entidade Molecular Nova P

103

OSELTAMIVIR 75mg - cap gel dura TAMIFLU

Tratamento da gripe e profilaxia da gripe em adultos e adolescentes com mais de 13 anos. 2000 2000

Produtos Roche Químicos e

Farmacêuticos S.A. Suíça Entidade

Molecular Nova P

LOPINAVIR + RITONAVIR 133,3mg + 33,3mg cap gel mole KALETRA AIDS 2000 2001

Abbott Laboratórios do

Brasil Ltda. EUA

Duas ou mais substâncias

ativas registradas,

juntas em um mesmo produto P

TEMOZOLOMIDA 5mg cap gel dura TEMODAL Antineoplásico 2000 2001

Indústria Química e Farmacêutica

Schering Plough S.A. EUA

Entidade Molecular Nova PV

MESILATO DE IMATINIB 50mg - cap gel dura GLIVEC

Leucemia mielóide crônica (LMC) em crise blástica, fase acelerada ou em fase crônica, em caso de falta de controle hematológico aos 3 meses ou falta de resposta citogenética. 2001 2001

Novartis Biociência S.A. Suíça

Entidade Molecular Nova PV

EXEMESTANO 25mg drágeas AROMASIN Antineoplásico 2000 2000 Pharmacia Brasil

Ltda. Suécia Entidade

Molecular Nova SV

PEGINTERFERON ALFA 2 B 50mcg/0,5ml - po liof inj PEGINTRON Agentes Imunoestimulantes 2001 2001

Indústria Química e Farmacêutica

Schering Plough S.A. EUA

Entidade Molecular Nova CBER

SIROLIMUS 1mg/ml solução oral RAPAMUNE

Profilaxia da rejeição de órgãos em pacientes transplantados renais. 2000 2001

Laboratórios Wyeth-Whitehall

Ltda. EUA Entidade

Molecular Nova S

INFLIXIMAB 10mg/ml po liof REMICADE

Artrite reumatóide, espondilite anquilosante e doença de Crohn: 2000 2001

Indústria Química e Farmacêutica

Schering Plough S.A. EUA

Entidade Molecular Nova CBER

104

SULFATO DE GLICOSAMINA 250mg - cap gel dura DINAFLEX

Artrose primária e secundária, osteocondrose, espondilose, condromalacia patelar e periartrite escapuloumeral. 2000 2001

Zodiac produtos Farmacêuticos

Ltda. Brasil Entidade

Molecular Nova Suplemento Nutricional

ETORICOXIB 60mg - comp ARCOXIA

Osteoartrite e artrite reumatóide; tratamento agudo da gota; alívio da dor aguda e crônica; tratamento da dismenorréia primária. 2002 2002

MercK Sharp & Dohme

Farmacêutica Ltda EUA Entidade

Molecular Nova Não consta

RISEDRONATO SODICO 5mg - comp ACTONEL

Tratamento e prevenção da osteoporose em mulheres no período pós-menopausa; 2000 2000

Aventis Pharma Ltda. EUA

Entidade Molecular Nova S

ZALEPLOM MICRONIZADO 5mg cap gel dura SONATA Tratamento da insônia 2000 2000

Laboratórios Wyeth-Whitehall

Ltda. EUA Entidade

Molecular Nova S

DESLORATADINA 5mg comp DESALEX

Rinite alérgica, alívio dos sintomas associados à urticária idiopática crônica, como prurido, e redução do tamanho e número de erupções cutâneas. 2001 2002

Indústria Química e Farmacêutica

Schering Plough S.A. EUA

Entidade Molecular Nova S

ETABONATO DE LOTEPREDNOL 5mg/ml sus oft -5ml LOTEPROL Antiinflamatório oftálmico 2000 2002

Bausch Lomb Indústria òtica

Ltda. EUA Entidade

Molecular Nova S

BIMATOPROST 0,3mg/ml sol oft LUMIGAN

Medicamentos Mióticos e antiglaucomatosos 2001 2001

Allergan Produtos FarmacêuticosLtda. EUA

Entidade Molecular Nova P

TRAVOPOST 0,004% sol oftálmica TRAVATAN

Medicamentos Mióticos e antiglaucomatosos 2001 2001

Alcon Laboratórios do Brasil Ltda EUA

Entidade Molecular Nova P

105

VERTEPORFIRINA 15mg po liof - 826mg VISUDYNE

Tratamento da degeneração macular relacionada à idade ou à miopia patológica 2000 2000 Ciba Vision Ltda. Suíça

Entidade Molecular Nova P

SULFATO DE ABACAVIR + LAMIVUDINA + ZIDOVUDINA 300 mg+ 150 mg + 300 mg comp TRIOVIR

Inibidores da Transcriptase Reversa Nucleosídeos 2001 2002

Glaxo Wellcome S.A. EUA

Nova Associação P

IRBESARTANA + HIDROCLOROTIAZIDA 150mg + 300mg comp APROZIDE Tratamento da hipertensão arterial. 2000 2000

Sanofi Synthelabo Ltda. França

Nova Associação S

TELMISARTAN + HIDROCLOROTIAZIDA 40mg + 12,5mg comp MICARDIS

HCT Tratamento da hipertensão arterial. 2001 2002

Boehringer Ingelheim do

Brasil Química e Farmacêutica Ltda. Alemanha

Nova Associação S

MALEATO DE ENALAPRIL + BESILATO DE ANLODIPINO SINERGEN tratamento da hipertensão arterial. 2000 2000

Laboratórios Biossintética Ltda Brasil

Nova Associação Não consta

ISOTRETINOINA+ ÁCIDO SULFÔNICOFENILBENZIMIDAZÓLICO+ BUTILMETOXIDIBENZOILMETANO+OCTILMETOXICINAMATO Bisnaga 30g – creme ISOTREXOL

Agentes Ceratolíticos e Ceratoplásticos 2000 2001

Laboratórios Stiefel Ltda EUA

Nova Associação Não consta

MALEATO DE METFORMINA + GLIBENCLMIDA 250mg/1,25mg comp GLUCOVANCE

Controle glicêmico em pacientes portadores de diabetes do tipo 2, cuja hiperglicemia não é satisfatoriamente controlada somente com dieta e exercícios. 2001 2002

MercK S.A Indústrias Químicas Alemanha

Nova Associação S

ESTRADIOL + NORGESTIMATO PREFEST

Reposição Hormonal no climatério feminino 2000 2000

Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda. EUA

Nova Associação S

106

POLIVITAMINAS (Vitaminas B12/B6/B1) + DICLOFENACO SÓDICO 0,25mg + 50mg + 50mg+ 50mg comp ALGINAC

Lombalgias, cervicalgias, braquialgias, radiculite, neuropatias periféricas de etiopatogenia diversa, neuralgias faciais, neuralgia do trigêmeo, neuralgia intercostal, neuralgia herpética, neuropatia alcoólica, neuropatia diabética, síndrome do conduto do carpo, fibromialgia, espondilite. 2001 2002

MercK S.A Indústrias Químicas Alemanha

Nova Associação Não consta

SULFATO DE GLICOSAMINA + CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA 200mg/ml + 5mg/ml sol inj INJEFLEX

Tratamento de artroses primária e secundária, osteocondrose, espondilose, condromalacia patelar e periartrite escapuloumeral. 2002 2002

Zodiac produtos Farmacêuticos

Ltda. Brasil Nova

Associação Suplemento Nutricional

SULFATO DE GENTAMICINA + DEXAMETASONA gotas 5ml

DEXAMITREX OPHTIOLE

Associações de Antiinflamatórios e Antiinfecciosos 2000 2000

Bausch Lomb Indústria Ótica

Ltda. EUA Nova

Associação Não consta

FUMARATO DE FORMOTEROL + BUDESONIDA 6/100mcg dose SYMBICORT

TURBUHALER

Tratamento regular da asma nos casos em que o uso de uma associação (corticosteróide inalatório com um agonista beta de ação prolongada) é apropriado 2001 2001

Astrazeneca do Brasil ltda. Suécia

Nova Associação Não consta

OMEPRAZOL+AZITROMICINA+AMOXICILINA ERRADIC Erradicação do H. pylori 2000 2001

Libbs farmacêutica Ltda Brasil

Nova Associação Não consta

107

TEGASERODE 2mg -comp ZELMAC

Tratamento da dor, do desconforto e da distensão abdominais e da alteração do funcionamento intestinal em pacientes com a síndrome do cólon irritável (SCI). 2002 2002

Novartis Biociência S.A. Suíça

Entidade Molecular Nova P

Fonte: Reis, 2004 (modificado) S = standart (padrão) P = priority (prioritário) V= medicamento órfão CBER = Center for Biologic Evaluation and Research CDER = Center for Drug Evaluation and Research

108

ANEXO 3

Quadro 9 - Medicamentos novos registrados na ANVISA e na EMEA, FDA e ANMAT

Medicamento Sede Fabricante

Registro ANVISA

Registro EMEA

Registro FDA

Registro ANMAT

AMOXICILINA + SULBACTAM 1000 mg + 500 mg Pó Injetável Alemanha 2000 Não Consta Não Consta Não Consta

ESOMEPRAZOL MAGNÉSIO TRIIDRATADO 20mg - comp Suécia 2000 Não Consta 2001 Sim

CLORIDRATO DE PIOGLITAZONA 15mg - comp EUA 2000 2000 1999 Sim

NATEGLINIDA 60mg - comp Suíça 2000 2001 2000 Sim

INSULINA ASPART 100UI/ml - 10ml Dinamarca 2000 1999 2000 Sim

MONONITRATO DE ISOSSORBIDA + ACIDO ACETILSALICILICO 60mg + 75mg - cap gel Brasil 2002 Não Consta Não Consta Não Consta

CILOSTAZOL 50mg- comp Brasil 2002 Não Consta 2004 Sim

FLUTRIMAZOL 0,01g/ml solução tópica spray Brasil 2000 Não Consta Não Consta Não Consta

PIMECROLIMUS 10mg/g creme - 15g Suíça 2002 Não Consta 2001 Sim

BUTIRATO DE HIDROCORTISONA 1mg/g creme - 15 g Brasil 2000 Não Consta 2002 Sim

ETONOGESTREL 68mg solução dermatológica - implante Holanda 2000 Não Consta Não Consta Sim

LUTROPINA ALFA (R-LH) 75UI pó liófilo inj Suíça 2001 2000 2004 Sim

CLORIDRATO DE APOMORFINA 2mg comp sub-lingual EUA 2001 2001 Não Consta Sim

ACETATO DE CETRORELIX 0,25mg po liof inj Suíça 2000 1999 2000 Sim

ACETATO DE GANIRELIX 0,5mg/ml sol inj Holanda 2001 2000 1999 Sim

TELITROMICINA 400mg - comp EUA 2001 2001 2004 Sim

QUINUPRISTINA + DALFOPRISTINA 150mg + 350mg po liof inj França 2000 Não Consta 1999 Sim

ACETATO DE CASPOFUNGINA 50mg po liof inj EUA 2001 2001 2001 Sim

ZANAMIVIR 5mg cap inalação EUA 2000 Não Consta 1999 Sim

OSELTAMIVIR 75mg - cap gel dura Suíça 2000 2002 1999 Não Consta

LOPINAVIR + RITONAVIR 133,3mg + 33,3mg cap gel mole EUA 2000 2001 2000 Sim

TEMOZOLOMIDA 5mg cap gel dura EUA 2000 1999 1999 Sim

MESILATO DE IMATINIB 50mg - cap gel dura Suíça 2001 2001 2003 Sim

EXEMESTANO 25mg drágeas Suécia 2000 2000 1999 Sim

PEGINTERFERON ALFA 2 B 50mcg/0,5ml - po liof inj EUA 2001 2000 2001 Sim

SIROLIMUS 1mg/ml solução oral EUA 2000 2001 1999 Sim

INFLIXIMAB 10mg/ml po liof EUA 2000 1999 1998 Sim

SULFATO DE GLICOSAMINA 250mg - cap gel dura Brasil 2000 Não Consta Suplemento Não Consta

ETORICOXIB 60mg - comp EUA 2002 2004 Não Consta Sim

RISEDRONATO SODICO 5mg - comp EUA 2000 Não Consta 1998 Sim

109

ZALEPLOM MICRONIZADO 5mg cap gel dura EUA 2000 1999 1999 Sim

DESLORATADINA 5mg comp EUA 2001 2001 2002 Sim

ETABONATO DE LOTEPREDNOL 5mg/ml sus oft -5ml EUA 2000 Não Consta 1998 Sim

BIMATOPROST 0,3mg/ml sol oft EUA 2001 2002 2001 Sim

TRAVOPOST 0,004% sol oftálmica EUA 2001 2001 2001 Sim

VERTEPORFIRINA 15mg po liof - 826mg Suíça 2000 2000 2000 Sim

SULFATO DE ABACAVIR + LAMIVUDINA + ZIDOVUDINA 300 mg+ 150 mg + 300 mg comp EUA 2001 2000 2000 Não Consta

IRBESARTANA + HIDROCLOROTIAZIDA 150mg + 300mg comp França 2000 1998 1997 Não Consta

TELMISARTAN + HIDROCLOROTIAZIDA 40mg + 12,5mg comp Alemanha 2001 2002 2000 Sim

MALEATO DE ENALAPRIL + BESILATO DE ANLODIPINO Brasil 2000 Não Consta Não Consta Não Consta

ISOTRETINOINA+ ÁCIDO SULFÔNICOFENILBENZIMIDAZÓLICO+ BUTILMETOXIDIBENZOILMETANO+OCTILMETOXICINAMATO EUA 2000 Não Consta Não Consta Não Consta

MALEATO DE METFORMINA + GLIBENCLMIDA 250mg/1,25mg comp Alemanha 2001 Não Consta 2000 Sim

ESTRADIOL + NORGESTIMATO EUA 2000 2002 1999 Sim

POLIVITAMINAS (Vitaminas B12/B6/B1) + DICLOFENACO SÓDICO 0,25mg + 50mg + 50mg+ 50mg comp Alemanha 2001 Não Consta Não Consta Não Consta

SULFATO DE GLICOSAMINA + CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA 200mg/ml + 5mg/ml sol inj Brasil 2002 Não Consta Suplemento Não Consta

SULFATO DE GENTAMICINA + DEXAMETASONA gotas 5ml EUA 2000 Não Consta Não Consta Não Consta

FUMARATO DE FORMOTEROL + BUDESONIDA 6/100mcg dose Suécia 2001 Não Consta Não Consta Sim

OMEPRAZOL+AZITROMICINA+AMOXICILINA Brasil 2000 Não Consta Não Consta Não Consta

TEGASERODE 2mg -comp Suíça 2002 Não Consta 2002 Sim

110

ANEXO 4

Quadro 10 - Prazo em dias para o registro dos medicamentos na ANVISA e na FDA

Medicamento Data Registro Anvisa

Prazo Registro Anvisa (dias)

Data Registro FDA

Prazo Registro FDA (dias)

Classificação Medicamento Novo Anvisa

Potencial Terapêutico

FDA

AMOXICILINA + SULBACTAM 1000 mg + 500 mg Pó Injetável 24/5/2000 6 Não consta Não Nova Associação Não Consta

ESOMEPRAZOL MAGNÉSIO TRIIDRATADO 20mg - comp 29/12/2000 198 02/20/2001 445 Entidade Molecular Nova S

CLORIDRATO DE PIOGLITAZONA 15mg - comp 2/5/2000 186 07/15/1999 181 Entidade Molecular Nova P

NATEGLINIDA 60mg - comp 6/6/2000 117 22/12/2000 371 Entidade Molecular Nova S

INSULINA ASPART 100UI/ml - 10ml 28/12/2000 206 6/7/2000 213

Alteração na concentração de substância ativa ou de propriedades farmacocinéticas S

MONONITRATO DE ISOSSORBIDA + ACIDO ACETILSALICILICO 60mg + 75mg - cap gel Não Consta Não Consta Não Consta Não Consta Nova Associação Não consta

CILOSTAZOL 50mg- comp 5/6/2002 177 01/15/1999 340 Entidade Molecular Nova S

FLUTRIMAZOL 0,01mg/ml 6/4/2000 162 Não Consta Não Consta Entidade Molecular Nova Não consta

PIMECROLIMUS 10mg/g creme - 15g Não Consta Não Consta 12/13/2001 363 Entidade Molecular Nova S

BUTIRATO DE HIDROCORTISONA 1mg/g creme - 15 g 28/1/2000 261 22/5/2002 76

Sal novo, embora a entidade molecular corespondente já tenha sido autorizada S

ETONOGESTREL 68mg sol dermatológica implante 20/4/2000 343 Não Consta Não Consta Entidade Molecular Nova Não consta

111

LUTROPINA ALFA (R-LH) 75UI inj 8/10/2004 148 10/8/2004 77 Entidade Molecular Nova S

CLORIDRATO DE APOMORFINA 2mg - comp sub-lingual 31/8/2001 560 Não Consta Não Consta Entidade Molecular Nova Não Consta

ACETATO DE CETRORELIX 0,25mg po liof inj 30/4/2001 528 11/8/2000 287 Entidade Molecular Nova S

ACETATO DE GANIRELIX 0,5mg/ml sol inj 7/5/2001 250 29/7/1999 181 Entidade Molecular Nova P

TELITROMICINA 400mg - comp 3/10/2001 369 1/4/2004 167 Entidade Molecular Nova S

QUINUPRISTINA + DALFOPRISTINA 150mg + 350mg po liof inj 25/4/2001 719 21/9/1999 746

Duas ou mais substâncias ativas registradas, juntas em um mesmo produto P

ACETATO DE CASPOFUNGINA 50mg po liof inj 7/5/2001 194 26/1/2001 182 Entidade Molecular Nova P

ZANAMIVIR 5mg cap inalação Não Consta Não Consta 26/7/1999 272 Entidade Molecular Nova P

OSELTAMIVIR 75mg - cap gel dura 21/1/2000 183 27/10/1999 181 Entidade Molecular Nova P

LOPINAVIR + RITONAVIR 133,3mg + 33,3mg cap gel mole 9/10/2000 80 15/9/2000 106

Duas ou mais substâncias ativas registradas, juntas em um mesmo produto P

TEMOZOLAMIDA 5mg cap gel dura 1/2/2000 266 11/8/1999 47 Entidade Molecular Nova PV

MESILATO DE IMATINIB 50mg - cap gel dura 1/10/2001 175 5/10/2001 220 Entidade Molecular Nova PV

EXEMESTANO 25mg drg 6/4/2000 399 21/10/1999 304 Entidade Molecular Nova SV

PEGINTERFERON ALFA 2 B 50mcg/0,5ml - po liof inj 8/3/2001 211 19/1/2001 Não Consta Entidade Molecular Nova CBER

SIROLIMUS 1mg/ml -seringa 20/4/2000 175 15/9/1999 274 Entidade Molecular Nova S

INFLIXIMAB 10mg/ml po liof -10ml 28/12/2000 205 24/8/1998 Não Consta Entidade Molecular Nova CBER

112

SULFATO DE GLICOSAMINA 250mg - cap gel dura 4/9/2000 739 Não consta Não Consta Entidade Molecular Nova

Suplemento Nutricional

ETORICOXIB 60mg - comp 6/3/2002 174 Não consta Não Consta Entidade Molecular Nova Não consta

RISEDRONATO SODICO 5mg - comp 28/1/2000 330 27/3/1998 360 Entidade Molecular Nova S

ZALEPLOM MICRONIZADO 5mg cap gel dura 20/4/2000 203 13/8/1999 168 Entidade Molecular Nova S

DESLORATADINA 5mg comp 19/11/2001 348 8/2/2002 154 Entidade Molecular Nova S

ETABONATO DE LOTEPREDNOL 5mg/ml sus oft -5ml 12/7/2000 429 9/3/1998 400 Entidade Molecular Nova S

BIMATOPROST 0,3mg/ml sol oft 30/4/2001 48 16/3/2001 179 Entidade Molecular Nova P

TRAVOPOST 0,004 pcc sol oft 7/5/2001 215 16/3/2001 80 Entidade Molecular Nova P

VERTEPORFIRINA 15mg po liof - 826mg 6/6/2000 181 12/4/2000 54 Entidade Molecular Nova P

SULFATO DE ABACAVIR + LAMIVUDINA + ZIDOVUDINA 300 mg+ 150 mg + 300 mg comp 29/6/2001 429 14/11/2000 333 Nova Associação P

IRBESARTANA + HIDROCLOROTIAZIDA 12,5mg/150mg comp Não Consta Não Consta 30/9/1997 Não consta carta

de aprovação Nova Associação S

TELMISARTAN + HIDROCLOROTIAZIDA 40mg + 12,5mg comp 27/12/2001 154 17/11/2000 324 Nova Associação S

MALEATO DE ENALAPRIL + BESILATO DE ANLODIPINO Página não disponível

Página não disponível Não Consta Não Consta Nova Associação Não consta

ISOTRETINOINA+ ÁCIDO SULFÔNICOFENILBENZIMIDAZÓLICO+ BUTILMETOXIDIBENZOILMETANO+OCTILMETOXICINAMATO

Página não disponível

Página não disponível Não Consta Não Consta Nova Associação Não consta

MALEATO DE METFORMINA + GLIBENCLMIDA 250mg/1,25mg comp 2/4/2001 71 31/7/2000 305 Nova Associação S

ESTRADIOL + NORGESTIMATO Não Consta Não Consta 22/10/1999 302 Nova Associação S

113

POLIVITAMINAS (Vitaminas B12/B6/B1) + DICLOFENACO SÓDICO 0,25mg + 50mg + 50mg+ 50mg comp 13/7/2001 248 Não consta Não Consta Nova Associação Não consta

SULFATO DE GLICOSAMINA + CLORIDRATO DE LIDOCAÍNA 200mg/ml + 5mg/ml sol inj 22/3/2002 283 Não consta Não Consta Nova Associação

Suplemento Nutricional

SULFATO DE GENTAMICINA + DEXAMETASONA gotas 5ml Não Consta Não Consta Não consta Não Consta Nova Associação Não consta

FUMARATO DE FORMOTEROL + BUDESONIDA 6/100mcg dose Página não disponível

Página não disponível Não consta Não Consta Nova Associação Não consta

OMEPRAZOL+AZITROMICINA+AMOXICILINA Não Consta Não Consta Não consta Não Consta Nova Associação Não consta

TEGASERODE 2mg -comp 5/6/2002 79 24/7/2002 146 Entidade Molecular Nova P