regina celia de oliveira -...

57
REGINA CELIA DE OLIVEIRA A PRIV AQAO DA LIBERDADE, SUAS CONSEQOtNCIAS E o PROCESSO DE RESSOCIALIZAQAO Monografia apresentada para obten9iio do Titulo de Especialista em Psicopedagogia pela Universidade "Tuiuti do Parana", sob orienta~i!o da Prof" Tatiana Izabele J. de Sa Riechi (CRP - 08/0418) CURITIBA 2001

Upload: duongtuyen

Post on 09-Nov-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

REGINA CELIA DE OLIVEIRA

A PRIV AQAO DA LIBERDADE, SUAS CONSEQOtNCIAS Eo PROCESSO DE RESSOCIALIZAQAO

Monografia apresentada para obten9iio doTitulo de Especialista em Psicopedagogiapela Universidade "Tuiuti do Parana", soborienta~i!o da Prof" Tatiana Izabele J. deSa Riechi (CRP - 08/0418)

CURITIBA2001

"0 acesso ao saber, que e oportlmidadepara 0 crescimento do ser humano quefala, pensa, constr6i e e construido pelalinguagem e cultura, e urn direito negado apopula(fao carceniria. Mesmo por obriga-(fao social e moral, temos de garantir essedireito." (FOUCAULT, 2000, p. 07)

RESUMO

o presente estudo tern por objetivo, mostrar que quando 0 individuo, apas cometer

uma infra98.0 a lei, a qual e considerada como urn ata anti-social, 0 mesma fieara

privado de sua liberdade, longe de seu convivio familiar e do seu roeio ambiente, da

sua liberdade, por urn determinado perfodo, 0 que acarretara altera96es em suas

habilidades cognitivas e intelectuais. Neste sentido, a psicopedagogia atuara como

suporte no res gate destas habilidades, bern como na ressocializa~ao e reintegra98.0 do

detento it sociedade.

sUMAruo

RESUMO .INTRODU<;:AO.... .. .1 REFER:I':NCIA HIST6RICA DAS PRISOES .1.1 OS SISTEMAS PREVIDENCIARIOS ....1.1.1 Sistema Pensilvanico ou de Filadelfia.1.1.2 Sistema Auburniano ..1.1.3 Sistema Espanhol de Montesinos............ .. .1.1.4 Sistema Progressivo Ingles .1.1.5 Sistema Progressivo Irlandes.................. .. .1.1.6 Prisao Semi-;\berta .1.1.7 Prisao Aber'ta ou Comunitaria " .1.1.80 Sistema de Penas Alternativas .1.2 A EXPERI:I':NCIA BRASILEIRA DAS PRISOES.

~:!=~~ci:l~~~s'ii~~=NCiiRi'OBRASiLEiRO··· ..·20 MUNDO DA PRISAO .3 A PRIVA<;:AO DA LIBERDADE E SUAS CONSEQUENCIAS .3.1 PRIVA<;:AO DE BENS .3.2 PRIV A<;:AODE AUTONOMIA .3.3 PRIV A<;:AODE SEGURAN<;:A .3.4 PRIV A<;:Ao DAS RELA<;:OES HETEROSSEXUAIS .3.5 PRIVA<;:AO CULTURAL E CQGNITIVA .3.6 0 RESULTADO DA PRIV A<;:AODA LIBERDADE .4 A RESSOCIALlZA<;:AO DO DETENTO - .4.10 QUE SIGNIFICA RESSOCIALIZAR? .4.20 PROCESSO COGNITIVO DE EDUCABILIDADE .4.3 UMA PROPOSTA AUXILIAR DE RESSOCIALIZA<;:AO .4.40 TRABALHO DO PSICOPEDAGOGO: A AVALIA<;:Ao DO

PROCESSO .CONCLUSAO... .. .REFER:I':NCIAS BmLIOGRAFICAS .

89910101112131518212528283032333536364144

475052

INTRODUQAO

o sacrificio da liberdade tern sida 0 exclusivo e deficiente meiD de co-

munica~ao proposto para urn diaJogo entre 0 Estado e 0 condenado, dado que

os outros meios nao aparecem aos olhos e a sensibilidade de todos como pro-

videncias capazes de retribuir a culpa ou reparar as danos.

Esta priva~ao da liberdade, e no fundo, urn remedio que a civiliza~ao

humana encontrou para atender ao grito desesperado ou a revolta publica

das viti mas.

Ate 0 seculo XIX foram utilizados crudelissimos, imaginosos e sofisti-

cados tipos de puni~ao que castigavam 0 corpo de modo direto e exasperante,

antes de suprimir-lhe a vida.

Com 0 termino da pena de morte, surgiu urn novo tipo de pena: a pri-

va~ao da liberdade, vigente ate os dias atuais. Utiliza-se somente da prisao

como mecanisme definitivo de apenar, cnde 0 corpo deixou de ser instrumen-

to direto de puni~ao, pois os efeitos do encarceramento atingem mais inti-

mamente a vontade, 0 intelecto e as emo~5es. (OLIVEIRA, 1984, p. 63).

A priva~ao da liberdade a que urn individuo e submetido, tendo em

vista algurn delito cometido, que pode ter ocorrido por circunstiincias do meio,

tais como: desestrutura(:ao e carEmcia familiar, baixo myel esco]ar, desigual-

clades sociais, bern como, de familias oriundas do meio rural, iludidos pela

perspectiva de conseguir melhores condi~5es de progresso nas cidades gran-

des, faz com que ele encontre-se frente a uma realidade completamente des-

conhecida e pode-se dizer terrificante, que e 0 ambiente prisional.

2

Esta monografia tern como objetivo mostrar a priva~ao da liberdade e

suas consequencias cognitivas no individua, assim como refletir os efeitos so-

bre uma proposta de ressocializa~ao do mesmo, tomando como base a recog-

ni~ao. Se por um lade este trabalho mostra a face negativa das prisGes, por

Dutro, procura proporcionar condic;oes para a modificabilidade do individuo

para se adaptar a sociedade.

Discorre-se tambem sobre 0 longo processo do desenvolvimento cogni-

tivQ humane e posteriormente 0 retrocesso do mesma durante 0 perfodo pri-

sional do apenado e 0 seu conseqiiente reaprendizado, devido a influencia da-

nasa oferecida no sistema penitenciario. "A cognic;ao e a faculdade em adqui-

rir conhecimento, que se verifica pela capacidade mental em desenvolver 0

fatar de raciocfnio, pensamento e aprendizagem, que 5e usa para 0 desempe-

nho constante das potencialidades de todo ser humano, adaptando-se as con-

di~6es reais em que se vive". (FONSECA, 1998, p. 7).

o desenvolvimento da cogni'tao processa-se no homem desde a mais

tenra idade, quando aprende a falar, escrever e pensar sucessivamente e einfluenciado pelo meio em que vive oesta fase de desenvolvimento, seja ele

familiar, social e economico.

Esta cogni~ao desperta a aten~ao de inllineros estudiosos deste assun-

to, os quais sao mencionados neste trabalho. TamMm 0 tema a respeito dos

sistemas penitenciarios e abordado, apresentando as considera~oes de varios

cientistas e pensadores que permitem conhecer metodos empregados para a

solu~ao destas quest6es, contribuindo cada qual com uma ideia elementar

para 0 assunto em epigrafe.

3

1 REFERENCIA HISTORICA DAS PRISOES

Segundo CALON (1945, p. 300), 0 aparecimento da prisiio ocorreu

atraves do edito de Luitprando, Rei dos Longobardos (712-744), e dispunha

que cad a juiz tivesse urn careere para prender as ladroes pelo tempo de urn

Oll dais anes. Carlos Magno em 813, ordenou as pessoas que tivessem delin-

quido poderiam ser recolhidas a prisiio para que se corrigissem.

o careere, como instrumento espiritual do castigo, foi introduzido pelo

Direito Canonico, posta que, pelo sofrimento e na solidao, "a alma do homem

se depura e purga 0 pecado". (FUNES, 1999, p. 63).

A Igreja via no delito a expressiio do pecado e para redimir a culpa 0

infrator deveria sujeitar-se it penirencia que poderia aproxima-lo de Deus.

Na inquisi9iio de Toulouse (1246-1248), aplicaram-se 192 senten9as

condenat6rias, das quais 149 foram de reclusiio e das 636 decis6es proferidas

por Bernardo Gui (1308-1322), foram impostas 300 pris6es. (FUNES, 1999, p.

151).

Nesta epoca, a prisao era constituida como urn meio de conservar eri-

minos os e delinqi.ientes, jogados em cavemas, minas e masmorras, que erarn

locais sombrios, luguhres, sem iluminar;ao e insalubres, cnde se amontoavam,

desesperados, alimentados com 0 minima suf'iciente para nao morrerem,

permanecendo ali ate 0 momento do suplicio final. "0 suplicio, mesmo se tern

como fun~ao"purgar" 0 crime, nao reconcilia: tra~a em torno, ou melhor, so-

4

bre 0 pr6prio corpo do condenado sinais que nao devem se apagar; a memoria

dos homens, em todo caso, guardara a lembran,a da exposi,ao, da roda, da tor-

tura ou do sofrimento devidamente constatados". (FOUCAULT, 2000, p. 31).

No secula XVI a prisao tinha urn carater eminentemente vantajoso

para os proprietarios de navios (galeras) mercantes, bern como para 0 Estado,

pais este assim podia prover sua armada com remadores gratuitos, senda que

mesmo por pequenos delitos, as n~us erarn condenados as galeras a fim de ser

mantido urn deterrninado contingente de for,ados. 0 grande progresso por

for~a dos descobrimentos maritimos e a expansao colonial das pote!llcias eu-

ropeias fez com que a explora~ao do brac;o presidiario, a imposic;ao de traba-

Iho nas galeras fosse uma pena substitutiva a pena de morte. Este costume

de impor trabalhos for,ados ja se manifestava na Antiguidade Rornana,

quando, ao tempo da Republica, permitiu-se a reversao da pen a dos condena-

dos a morte de homens livres e a pena de trabalhos em abras publicas e nas

minas. Assim, 0 condenado passava a ser propriedade do Estado.

A ideia de priva,iio da liberdade surgiu surgiu no seculo XVI quando a

doutrina da Igreja estabeleceu a prisao como penitE3ncia, originando dai as

bases da ciencia penitenciaria. Contudo, 0 monge beneditino Mabilhon, atra-

yeS da Reflexions sur les prisons des orderes religieux, reagiu contra 0 isola-

mento absoluto, propondo reformas quanto ao trabalho, a higiene e a regula-

menta~ao de visitas. Este "abrandamento" das condi~5es dos presos fez com

5

que a Papa Clemente XI fundasse em 1703 em Saint Michel uma casa de cor-

rer;ao destin ada aos jovens.

Fundou-se em 1757 e 1759 em Turim e em MiHio pris5es celulares

com sec~5es adequadas para mulheres e jovens. Nos Paises Baixos a Magis-

trado Vilain XIV erigiu a celebre presidio de Gand destinado a oferlar traba-

Iho durante 0 dia e manter 0 isolamento a noite.

Na segunda metade do seculo XVlII, a aumento da criminalidade e

das tensoes exigiam novas farmas de rea~ao para proporcionar seguran~a as

classes dominantes. Come~ou a aparecer uma delinqiH~ncia perigosa e que se

expandia com grande rapidez, e "a pena privativa de liberdade foi 0 novo e

grande invento social, intimidando sempre, corrigindo freqiientemente e que

deveria imprimir urn retrocesso ao crime e, se naD pudesse derrota-lo, pelo

menos deveria manter 0 fenomeno encerrado entre murDs". A pena de morte,

agonizava como institui~ii.o de grande prestigio.

Em 1755 apareceu John Howard, urn dos names de destaque na hist6-

ria dos sistemas penitenciarios e nomeado Sheriff do Condado de Belfast, em

1772. Em razao do seu afieia visitou diversas prisoes existentes na Inglaterra

e ficou horrorizade com 0 que the foi dado a conhecer. Em 1776, escreveu 0

famoso livro "The State of Prison in England and Wales", com a inten~ii.o de

provocar a rnelhoria das prisoes. Ate sua morte, fei urn ferrenho defensor das

ideias relacionadas com a humanizar;ao da prisao. Suas criticas deram origem

6

aos chamados "Howard's Acts", beneficiando as presos, e lhe atribuindo tam-

bern a elabora~ao do projeto das "Penitenciary Houses".

Ja em 1764, Beccaria publicava sua tambem famosa obra "Dos Delitos

e das Penas", que provocou no continente europeu 0 mesmo impacto que cau-

sou 0 Iivro de John Howard na Inglaterra. Uma nova filasofia penal ocorreu

destas abras, que influenciaram uma reviravolta no tratamento penal, ainda

caIToborado pelo Livro de Bentham "Teoria das Penas e das Recompensas"

publicada em 1818. Beccaria citada pOl' FOUCALT (2000, p. 13): "0 assassina-

to que nos e apresentado como urn crime horrivel, vemo-Io cometido friamen-

te, sem remorsos." E atraves de Beccaria que 5e suspeitou que a puni~ao e

tuda que pudesse irnplicar de espetacula desta, tinha urn cunha negativa, au

seja, mantinha com 0 crime afinidades espurias: igualando-o, ou mesmo, ul-

trapassando-o em selvageria, acostumando os espectadores a uma ferocidade

de que todos queriam estar afastados, fazendo 0 carrasco 5e pareeer com 0

criminoso, as juizes aos assassinos, fazendo do supliciado urn objeto de pieda~

de e de admira~ao. Conc1uindo~se:a execu~ao publica e vista entao como uma

fomalha em que se acende a violencia.

A partir de 1780, hauve uma verdadeira mudan~a, canfarme destaca

FOUCAULT (2000, p. 18), "...naa e rnais 0 corpo, e a alma. A expia~ao que

tripudia sobre 0 corpo deve suceder urn castiga que atue, prafundarnente, sa-

bre 0 cora~ao, 0 intelecto, a vontade, as disposi~6es"... Neste enfoque, entra

em cena urn novo personagem, mascarado, cercado de sombrias silhuetas, vo~

~. c;~

.:::,BIBllOTECA :j~•.~,,~,•••·~,••l...ml'·~"'" 7

zes sem rosto, entidades impalpaveis. Assim, 0 aparato da justi~a tern que

ater-se a uma nova realidade: a realidade incorp6rea.

Em 1819, Luiz XVIII criou 0 Conselho Superior das Prisoes, onde mui-

tos inqueritos foram instaurados para averiguar as miserias dos carceres e

outros estabelecimentos destinados a recolher reus acusados ou condenados.

Em 1828 surgiu a obra de Charles Lucas (La reforme penintentiaire en Fran-

ce) que tanto contribuiu para a revisao e a estrutura dos estabelecimentos

penais. Embora sejam obras que trouxeram bons pressagios aos presos, pode-

se afirmar que nao somente os poderes publicos, mas tambem a pr6pria co-

munidade voltam suas costas a partir do momento em que as portas dos car-

ceres se fecham para manter 0 delinqi.iente ali encerrado.

DOSTOIEWSKI (1999, p. 13), assim escreve: "Para la do portao ficava

o mundo luminoso da liberdade, que do lado de ca se imaginava como uma

fantasmagoria, uma miragem. Para n6s, 0 nosso mundo nao tinha nenhuma

analogi a com aquele; compunha-se de leis, de usos, de habitos especiais, de

uma casa morta-viva, de uma vida a parte e de homens a parte".

Consoante observa FRAGOSO (1999, p. 5): "Nossas ordena~oes do rei-

no, que estavam em vigor ate 1830, nao previam a pena de prisao. Isso nao

signiflca que 0 direito antigo desconhecesse 0 encarceramento, que se faziam

em masmorras, em castelos e mosteiros, como fruto do arbitrio dos principes

e preliminar da morte." (REVISTA DE DIREITO PENAL N" 29, 1995, p. 5).

8

1.1 OS SISTEMAS PENITENCIARIOS

1.1.1 Sistema Pensilvanico ou de Filadelfia

Surgiu na Filadelfia nos Estados Unidos, em 1790. Tinha como prin-

cipais caracteristicas: isolamento constante, sem trabalhos ou visitas, como

estfmulo aD arrependimento ohrigava a leitura da Biblia. Era urn sistema

IDuito severo e impedia a readapta~ao social do condenado. Recebeu criticas

no Congresso Penal e Penitenciario de Praga em 1830 aMm de Ferri, Concep-

ci6n Arena] e Roeder que pregavam sistemas mais humanos e adequados aos

limites e aos fins da pena.

1.1.2 Sistema Auburniano

Come~ou a funcionar na cidade de Auburn em 1818, no Estado de

Nova Iorque. Seu dire tor Elam Lynds era energico e ate brutal, considerava

seus presos "selvagens, covardes e incorrigiveis". Tinha como principais ca-

racteristicas: incomunicabilidade, abolia 0 isolamento celular, instituia 0 tra-

balho obrigat6rio durante 0 dia, sob absoluto silencio, nao admitia visitas,

ahalia 0 lazer e os exercicios ffsicos, naD estimulava tambem a instrur;ao e 0

aprendizado ministrado aos presos.

9

1.1.3 Sistema Espanhol de Montesinos

Estabelecido em 1834 pelo coronel Manuel Montesinos y Molina,

grande percursor, na Espanha, do tratamento penal humanitario. Tinha

como principais aspectos: 0 sentido reeducativo e ressocializador da pena,

bern como, criou urn sistema de trabalho no qual 0 presQ era remunerado e

nao explorado, acabou com as castigos corporais e estabeleceu regras que po-

deriam seT consideradas precursoras dos C6digos de execu~5es penais atuais.

1.1.4 Sistema Progressivo Ingles

Surgiu na Inglaterra, no seculo XIX, e sua origem deve-se a Alexander

Maconochie, capitiio da Marinha Real Inglesa. Esse sistema previa que a du-

rar;ao da pena naD era determinada exclusivamente pela sentenr;a condenat6-

ria, mas dependia do aproveitamento do preso, demonstrado no trabalho e

pela boa conduta. Aproveitava os aspectos do sistema pensilvanico, como 0

isolamento celular; a Tegra auburniana do rigoroso silencio e mantido 0 iso-

lamento noturno; e fornecia 0 beneficio da liberdade condicional.

10

1.1.5 Sistema Progressivo Irlandes

Foi adotado por Walter Crofton, diretor das prisoes da Irlanda, e for-

necia a alguns condenados, antes do livramento condicional, quatro etapas: 0

penal, na cela; 0 da reforma, pelo isolamento noturno; 0 intermediario, com

trabalho em comum; 0 da liberdade provis6ria que se tomava definitiva pelo

born comportamento. 0 aces so a cada uma dessas etapas era feito atraves de

merecimento.

Este sistema e praticado mundialmente, inclusive no Brasil, senda

que em 1984, com a Reforma Penal aboliu-se 0 isolamento celular absoluto,

que ja era facultativo a partir de 1977 (Lei n. 6.416, de 24105177). "0 afrou-

xamento da severidade penal no decoITer dos liltimos seculos e urn fenomeno

bern conhecido dos historiadores do direito. Entretanto, foi visto durante mui-

to tempo, de forma geral, como se fasse fenomeno quantitativa: menos 80fri-

mento, mais suavidade, mais respeito e "humanidade". (FOUCAULT, 2000,

p.18).

1.1.6 Prisao Semi-aberta

Esta ideia surgiu na Sui~a, na famosa prisiio de Witzwill e funciona

assim: 0 Estado constr6i estabelecimentos na zona rural e ali abriga as sen-

tenciados que vao trabalhar como colonos em uma fazenda, com vigilancia

11

reduzida, confiando-se no homem, que deve assumir a responsabilidade de

naD abandonar 0 local. Assim, 0 preso, ao executar 0 trabalho ao aT livre, re-

toma 0 gosto pela vida e cultiva as beneficios da convivencia social.

Este sistema apresenta alguns inconvenientes: estes estabelecimentos

s6 podem receber presos originados da zona rural, pois os que sempre vive-

ram na cidade grande nao se acostumam a esse tipo de vida; 0 preso pode

abandonar 0 local com relativa freqiiencia, ista e, nos primeiros quinze dias

da sua chega ao estabelecimento semi-aberto. Este abandono pode acontecer

tamhem se 0 preSQ se comover com queixas e problemas trazidos pelos seus

familiares quando de suas visitas ao detento.

1.1.7 Prisao Aberta ou Comunitaria

A prisao aberta apresenta varios resultados animadores, principal-

mente quanta aos indices de ressocializac;ao dos detentos. Este sistema econstituido por uma residencia: a Casa do Albergado, onde 0 penitente se re-

colhe para dormir, depois de trabalhar fora durante todo 0 dia. No Brasil ela

foi formalizada pela Lei 6.416, de 24 de maio de 1977.

A grande vantagem da pris;;o aberta e permitir que 0 reeducando fa~auma experiemcia de liberdade concreta e naG apenas suposta, poisainda durante 0 cumprimento da pena tern oportunidade de viver e detrabalhar como se fosse urn homem livre. Se a personalidade do cri-minoso e uma estrutura complexa de fatores, que agiram negativa-mente sabre ele, essa experiencia real de liberdade, sob a motiva~;;o

12

de readquirir a liberdade plena, permite que essa fatora,ao seja postaem cheque, reavaliada e substitufda por comportamento diverso, 0

que jamais seria passivel no ambiente de uma prisao fechada, ....(REV. DE DIREITO PENAL, n° 27, p. 110).

S6 no Estado de Sao Paulo, foram construidos 80 albergues desse tipo,

gra~as aD entusiasmo de grupos comunitarios compostos de pessoas investi-

das ou nao em fun~6es publicas, que formaram as Conselhos Carcenirios 10-

eais e criaram condic;6es para que tais Casas se instalassem. Esse sistema,

contudo, sofre variaC;6es cielicas, nao se mantendo com regularidade. Outros-

sim, 0 Estado nao tern favorecido 0 setor com a construc;ao de novas residen-

cias e provoca com isso, uma grande depreciac;ao.

1.1.80 Sistema de Penas Alternativas

Esse sistema s6 pode ser aplicado a reus que nao ofere, am periculosi-

dade e que possam permanecer em liberdade. Desta forma, pouco contribuem

para aEviar as populac;6es carcerarias, uma vez que devido aD grande nUmero

de internos nos presidios, encontram-se condenados ao cumprimento de ele-

vadas penas e por serem de acentuada periculosidade.

13

1.2 A EXPERIENCIA BRASILElRA DAS PRISOES

No Brasil colonial aplicavaMse inicialmente as "Ordenac;5es Afonsinas"

promulgadas em Portugal no ano de 1446, contendo alguns textos do Direito

Romano, do Direito Canonico e do Direito Costumeiro. Estas influencias ser-

viram apenas para orienta,ao da elabora,ao das Manoelinas (1521) que re-

almente constituiram a legisla,ao do periodo pre-colonial.

Na verrlarle as Ordena~5es Manoelinas nao estavam vigorando como

fonte do direito aplicavel no Brasil, ao tempo das capitanias hereditarias, vis-

ta que, na pratica era 0 arbitrio dos donatarios que impunha as regras juridi-

cas. Ao capitao era concedida a faculdade de nomear urn ouvidor, 0 qual deci-

dia as apela~oes e agravos clveis de toda capitania. Enquanto nas quest6es

criminais a competencia era do capitao e do ouvidor, os quais tinham 0 poder

de absolver ou candenar a qualquer pena, inclusive a de morte, e ainda con-

ceder distin,ao para "pessoa qualificada", a qual nao podia passar de dez

anos de degredo e multa.

A priva,ao da liberdade para os infratores era tambem ap\icada para

reter 0 dito ou 0 inimigo ap6s a captura ou durante 0 tempo que antecedia a

puni,ao. (STADEN, 1999, p. 138).

No ano de 1603 as Ordena,Des Filipinas acrescentaram novas infra-

,Des e pena\idades ao tratado anterior. Penas extremamente graves eram di-

tadas aos respons3.veis por afensas consideradas como crime de heresia, como

14

seja, alem das penas corporais eram confiscados todos os bens do elemento

faltoso.

Este longo e tormentoso periodo de vigencia daqueles conjuntos de

normas permaneceram ate 0 advento da Independencia em 1822.

A Constitui,ao de 25 de mar,o de 1824 estabeleceu urn c6digo civil e

criminal, estruturado nas s6lidas bases de justi~a e equidade, como consta no

artigo 179 § 18 e 19; declarando a aboli,ao de a,oites e da tortura, da marca

de ferro quente e de todas as demais penas crueis.

A prisao em sua nova concepc;ao institucional passaria a ser naD s6

uma protec;ao de classes, de castigo e expiac;ao, mas tambem passaria a ser

vista como "fonte de emenda e reforma moral para 0 condenado". A preocupa-

'tao em taroo do regime penitenciario era tambem em encontrar novos Tumos

neste campo.(CASTRO, 1913, p. 14).

Atualmente se preserva a classifica,ao dos estabelecimentos penais

em tipos: industrial, agricola e misto. As penas privati vas de liberdade seri-

am executadas em estabelecimentos fechados, de seguranc;a maxima ou em

estabelecimentos abertos. Para as primeiros iriam os condenados por tempo

igual ou superior a seis anos de reclusao ou oito de deten,ilo. Os segundos

portadores de alta periculosidade e aos ultimos iriam os sentenciados a reclu-

sao inferior a seis anas e inferior a aito anos, por serem considerados de es-

cassa ou pouca periculosidade (art. 38 § 1°, 2°, 3°). Ao iniciar 0 cumprimento

da pena em regime fechado, 0 condenado podera progredir (em acordo com

15

seu comportamento), para atingir os regimes semi-aberto e aberta, bern como,

obter 0 livramento condicional ate a liberdade definitiva, dependendo de uma

recuperac;ao moral e social.

Em caso de crime hediondo (arts. 213, 12 e 157 B, Paragrafo III), a

pena privativa da liberdade deve ser cumprida totalmente em regime fechado

(art. 2, § 1", da Lei 8.072/90). Neste caso 0 condenado ficara isolado do meio

social, privado de sua liberdade de locomoc;ao devendo ser internado em pre-

sidios de seguran~a maxima (art. 33, § 1", letra A e art. 87 da LEP).

o regime semi-aberto permite ao condenado cumprir a pena em esta-

belecimento que nao tenha sistema ostensivo de seguranC;a contra fugas. Ge-

ralmente a pena sera cumprida em Col6nia Penal Agricola (art. 33, § 1, letra

B), e ali permanece enquanto demonstrar ser merecedor dessa oportunidade.

1.30 SISTEMA PRISIONAL DO PARANA

Cabe aqui destacar tambem alguns fatos sobre 0 funcionamento do

sistema prisional do estado do Parana como segue.

o Parana possui os seguintes estabelecimentos penais:

- Os de regime fechado de seguran~a maxima sao: Prisao Provis6ria

de Curitiba (PPC), Penitenciaria Central do Estado (PCE), Comple-

xo Medico Penal do Parana (CMP), Penitenciaria Feminina do Pa-

rana (PFP), Penitenciaria Estadual de Londrina (PEL), Penitencia-

16

ria Estadual de Maringa (PEM), Penitenciaria Industrial de Gua-

rapuava (PIG), Centro de Observa~ao Criminol6gica e Triagem

(COT).

- Regime Semi-Aberto: Col6nia Penal Agricola (CPA); Penitenciaria

Feminina do Regime Semi Aberto do Parana (PFA);

- Os de regime aberto como 0 Patronato Penitenciario do Parana

(PATR) que serve como assistencia aos "apenados e egressos". E 0

preso libertado em definitivo, pelo prazo de urn ano a contar da

data de saida do estabelecimento penal, ou 0 liberado condicional,

durante 0 periodo de prova. (SILVA, 1999, p. 296). Foi criado pelo

Governo Estadual, 0 supra mencionado PATR, cujo trabalho sera

direcionado as unidades de regime fechado de seguran~a maxima,

com vistas a estes presos, a fim de assisti-los e mini mizar 0 proble-

ma da super lota~ao.

Vale citar FOUCAULT, (2000, p. 221): "As prisGes nao diminuem a

taxa de criminalidade: pode-se aurnenta-las, multiplica-Ias ou transforma-Ias,

a quantidade de crime e de criminosos permanece estavel, OU, ainda pior.

aumenta."

Atualmente 0 sistema penitenciario do Parana abriga uma popula~ao

total de aproximadamente 4.474 presos, composto de 4.285 homens e 189

mulheres, em regime fechado e semi-aberto, sendo que 2.279 estao internados

nas tres unidades de seguran~a maxima (COT, PPC e PCE), onde encontram-

17

se misturados em suas celas: individuos primarios, reincidentes, provis6rios

e de medida de seguranc;a, que praticaram crimes como: trafico e uso de en-

torpecentes, homicfdios, latrocinios, les6es corporais, extorsao mediante se-

qiiestro e carcere privado, estupro e crime contra a liberdade sexual entre

outros.

A popula~ao carceraria e composta par individuos numa faixa etaria

entre 18 e 45 anos de idade, sendo a grande maioria com baixo grau de esco-

laridade, analfabetos, semi-alfabetizados, com 1° e 2° graus completos e in-

completos, procedentes de escolas da periferia, Regiao Metropolitana de Curi-

tiba e cidades do interior.

Todos estes estabelecimentos penais do Estado do Parana, mantem

uma equipe tecnica multidisciplinar composta par psic610gos, assistentes so-

ciais, pedagogas, medicos, odont6logos, psiquiatras, advogados e labortera-

peutas, cujo objetivo e entrevistar, analisar, visando as condic;5es de cad a

preso, a fim de proporcionar-lhes um tratamento individualizado e prepara-

los para sua reintegra~ao social.

Com rela~ao as rebeJi6es ocorridas nas duas grandes unidades penais

de seguranc;a maxima, nas quais os presos reivindicaram a falta de instal a-

~6es fisicas adequadas e a falta de tratamento humane e transferencias para

as estados de origem, encontram-se em estado precario, insalubres, com mau

cheiro, espac;os insuficientes, comportando milhares de pessoas em condi<;6es

18

sub-humanas, as quais ficam ociosas, dando oportunidade para elas se espe-

cializarem na universidade do crime.

t de se destacar 0 interesse do Governo do Parana em procurar mini-

mizar a situa~ao carceniria do Estado, com a finalidade de que no futuro se-

jam evitadas novas rebelioes ou outros fates nefastos. Neste sentido 0 Gover-

no do Estado esta construindo novas unidades prisionais em Cascavel, Pira-

quara e outras.

1.4 UMA CRITICA AO SISTEMA PENITENCrARIO BRASILEIRO

E oportuno dizer que, 0 sistema penitenciario brasileiro, na atuaIida-

de, deixa muito a desejar e esta inteiramente despreparado para 0 atendi-

mento de suas finalidades de reeduca~ao e reinserr;ao do detento na comuni-

dade.

Faltam sistemas penitenciarios adequados para abrigar esta enorme

massa de presos existentes em todo pais. Penitenciarias com capacidade para

abrigar quinhentos au mil detentos, passaro a abrigar urn numero duas, tres

Oll quatro vezes maior. SUbsequentemente este fator e 0 maior contribuinte

para as imlmeras e cad a vez mais frequentes rebelioes noticiadas quase se-

manalmente. Isto contraria ao estabelecido pela Lei n° 11.404 (MG) de 25 de

janeiro de 1994, que em seu Capitulo III, assim estabelece:

19

Art. 85 - 0 sentenciado sera alojado em quarto individual, provido decam a, lavat6rio, chuveiro e aparelbo sanitaria.Art. 86 - Sao requisitos basicos da unidade celular:I - salubridade do ambiente pela concorrencia dos fatores de aera<;ao,

insola~ao e condicionamento termico adequados a existencia hu-mana.

n - area minima de 6m' (seis metros quadradosJ.Somadc a issa, desconhecem-se as penas alternativas que poderiam

amenizar estes problemas, como tambem as dificuldades impostas pela buro-

cracia dos tribunais, fazem com que as presos que ja alcanc;aram estagios

permissivDS do afrouxamento do sistema permanec;am no interior das prisoes.

Por outro lade a Policia Militar Brasileira e repressiva, buscando pela

violencia conter a violencia que 5e expande pel a periferia das grandes cidades

e ja atinge os seus centros.

o Estado, por sua vez, est •.ausente da periferia das grandes cidades,

porque atua nos centr~s das cidades e age pela violencia policial.

o Governo Federal promete constantemente novos pIanos e financia-

mentas para melhorar 0 sistema, mas e 6bvio que na realidade nada e feito

para que isso realmente 5e efetue. Basta ler ever os noticiarios para observar

que a mesma situa93.0 perdura e ate e passive1 esperar que ela se torne incon-

troIave1. Esta crftica e re]evante, levando-se em considera~ao tratar-se de urn

grave problema social, em que a interven~ao do Governo Federal e necessaria

e premente.

A fim de que a questao penitenciaria se reso]va de maneira pacifica e

humana, deve-se reeducar e profissionalizar esta massa de detentos para a

reintegra~iio Ii. saciedade. A inser~iia de novas cursos profissionalizantes

20

acrescentados aos ja existentes, atraves de contratoB com 6rgaos competen-

tes, poderia promover muitos presos e seria certamente urna garantia a rnais.

Reabilitar-se profissionalmente num pais em que a crise do desem-

prego atinge milh6es, e qua5e impratic8.vel. Por esta e outras razoes, a neces-

sidade de reformas torna-se urgente, pois a continuidade deste modelo inefi-

ciente, incapaz de cumprir seus reais prop6sitos, apenas s6 contribui para 0

aumento da criminalidade. Destaca-se 0 fator da constante rotatividade nos

quadras direcionais das penitenciarias, por razoes evidentemente politicas,

que causa a interrup~;;o do trabalho em desenvolvimento. Em vista dessa si-

tuac;ao, as detentores de cargos direcionais naa conseguem executar urn pIa-

nejamenta.

Ainda ha a considerar que as qualifica~6es desses detentores nao es-

tao a altura que estes cargos exigem, pois geralmente sao nomeados por inte-

resses politicos e flaG por conhecimentos especificos nessa area. Outro fator

que inibe 0 detente e a remm;ao do seu ambiente habitual, geralmente interi-

orano, para os grandes centros urbanos. Sao pessoas simples e de pouca ins-

tru~ao, que, com a convivencia com criminosos, acabam se desestruturando

completamente, deformando seu carater, influenciado pela subcultura crimi-

nal com ° habito da ociosidade e a aliena~ao mental, que sao conseqiiencias

desse tipo de confinamento promiscuo. Efetivamente resta apenas criticar

que, as transi~oes de Govemo, tanto no ambito Federal, como no Estadual,

sabe-se da existencia da formula~ao de pIanos, novas diretrizes e demais in-

vestimentos para 0 sistema penitenciario nacionaI, embora esta realidade

seja somente de boas inten~oes, nada mais.

2. 0 MUNDO DA PRISAO

21

o que e a prisao? "A prisao signjfica urn mundo totalitario, no qual 0

preso deve obedecer cegamente aos administradores. Esta sociedade prisional

propicia urn ambiente fechado muito particular, com regime especifico, resul-

tante da imposi~ao decretada pela ordem judicial, onde certos individuos, de

repente e de forma coercitiva, se vern envolvidos". (GOFFMANN, 1999, p. 170).

o mundo da prisao e antes de mais nada, urn mundo complexo. Nao

ha objetivos comuns definidos, exceto 0 imediatismo de isolar 0 individuo da

sociedade. 0 conflito do preso com os funcionarios da prisao e com os demais

presos e uma constante. A vida social numa prisao e sobremaneira dificil e

quase impossivel devido a urn ambiente de desconfian~a total, esperteza e de-

sonestidade 18. reinantes. E urn mundo do "eu", "mim" e "meu" antes do

"n0880". "deles" e " dele".

Segundo GOFFMANN (1999, p. 172), as prisoes sao consideradas

como "institui<;5es totais". Sen fechamento au seu carater total e simbolizado

pel a barreira it rela~ao social com 0 mundo externo e por proibi~ao it saida

que muitas vezes estao incluidas no esquema fisico. Por exemplo: portas fe-

chadas, paredes altas, arames farpados, po~os, faBsas, aguas, florestas au

pantanos. Completando 0 assunto GOFFMANN eselarece que "urna institui-

~ao total pode ser definida como urn local de residencia e trabalho onde urn

grande mimero de individuos com situa~ao semelhante, separados da socie-

22

dade mais ampla, por consideravel periodo de tempo levam urna vida fechada

e formalmente administrada".

Antigamente a prisao era considerada como a forma mais civilizada

de todas as penas, porque era encarregada de urn suplemeno corretivo, que

permitia uma modifica~ao comportamental dos individuos.

Esta instituiQ8.o tern como objetivo principal 0 custodiamento dos in-

fratores e a manutenQ8.o da sociedade, a qual concentra urn poder repressivD

em maDS de pOlleos. Assim, abre-se urn abismo entre as mandantes e as man-

dados, urn verdadeiro regime totalitario no qual os presos sao submetidos a

urn controle extrema, regulamento exigente e estrutura severa e limitada.

o mundo da prisao tern urn objetivo fundamental: segregar 0 indivi-

duo da sociedade. Neste sentido FOUCAULT (2000, p. 195-196) afirma:

... A forma-prisao preexiste a sua utilizaQ80 sistematica nas leis pe-nais. Ela se constituiu fora do aparelho judiciario, quando se elabora-ram por todo 0 corpo social, os processos para repartir os individuos,fixa-los espacialmente, c\assifica-los, tirar deles 0 maximo de tempo, eo maximo de forc;as, treinar seus corpos, codificar seu comportamentocontinuo, mante-Ios numa visibilidade sem lacuna, formar em tomodeles urn aparelho completo de observac;ao, registro e notac;5es, consti-tuir sobre eles urn saber que se acumula e se centraliza.

Assim, a prisao deve tamar a seu cargo todos os aspectos da individua,

abrangendo seu treinamento fisico, sua aptidao para 0 trabalho, seu compor-

tamento catidiano, sua atitude moral.

23

Ha que se destacar aqui, que na prisao 0 governo pode dispor de todo

tempo do detento, da sucessao dos dias, da atividade, do repouso, numero de

dura~iio de refei~6es, qualidade e ra~ao dos alimentos, tempo da ora~ao, uso

da palavra e toda a rotina de sua vida enquanto preso.

A prisao e farmada por hom ens convivendo durante anos como mem-

bros de uma mesma familia, distanciado de tudo e de todos, formando uma

sociedade com objetivos pr6prios e valores diferenciados aos da sociedade

convencional.

Por suas caracteristicas especificas, a prisao acaba senda comandada

peles pr6prios presos, ou seja, como e urn regime totalitario com obediencia

cega, os terapeutas, diretores e funcionarios acabam fazendo tudo para que os

presos DaD se tornem indisciplinados au arredios e desta forma, a tranquili-

dade das prisoes DaD esta nas maos fortes da administra~ao, mas nas maDS

dos presos que a qualquer momento podem fazer retalia~6es se algo nao lhes

agradar.

A finalidade da prisao segundo OLIVEIRA (1984, p. 60), seria: "a de

ser urn lugar destinado a execu~ao de peoas privativas de liberdade, com ri-

gor penitenciario e que pudesse alcan~ar 0 duplo lim que the e atribufdo: pu-

nir e educar para a liberdade". Outrossim, observa-se que essa finalidade

acabou.

Desta forma, pode-se analisar a prisao como uma entidade que vai

mais prejudicar 0 detento do que facilitar 0 seu reingresso na sociedade, pois

24

ao se propor treinar um homem para viver em liberdade, estando ele subme-

tido a urn confinamento, acaba sendo fadado ao insucesso. Neste enfoque.

FRANK citado por FRAGOSO (1985, p. 15), assim se expressa acerca das pri-

soes: "0 problema da prisao e a pr6pria prisiio".

Como bem coloca THOMPSON (1976, p. 38): "Para punir urn homem,

retribuitivamente, e preciso injuria-Io. Para reforma-Io, e preciso melhora-Io.

E as homens nao sao melhoraveis atraves de injurias, como acontece nas pri-

soes",

Neste quadro ca6tico em que se situam as pris5es, canclui-se: 0 mundo

da prisao, ao inves de oferecer uma chance para 0 individuo melhorar seu

comportamento, acaba oferecendo varias chances para piara-Ia. Assim, se 0

ambiente-prisional prejudica 0 individuo, 0 regime de Prisiio-Albergue, que

consiste no presidio durante a noite, e se trabalhe diariamente, sem escolta

ou vigilancia, como empregado ou por conta pr6pria, tern muito mais chances

de melhorar 0 individuo.

25

3 A PRIVA«;;AO DA LIBERDADE E SUAS CONSEQUENCIAS

Quando 0 detento entra numa prisao, torna-se uma figura anonima,

uniformizada, numerada, despojada de seus bens, afastada de sua familia. AD

aderir ao seu novo "lar", passa a atender por apelidos, seu nome nada mais

signifiea. "'Apena privativa da liberdade, e 0 passaporte para a inseguranc;a e

o abandono, de extensao e conseqUencias desastrosas". (OLIVEIRA, 1984, p. 67).

A priva~iio da Iiberdade discutida por CLEMMER citado par

EVANGELISTA (1983, p. 30), tem que:

" .... 0 prisioneiro interioriza em maior Oll menor escala, a subculturada prisao - seus valores, padr6es de comportamento, fazendo com quesua reinserc;ao na sociedade - torne-5e mais dificil, uma vez que, naprisao, ele e educado para ser urn born interno ou urn criminoso. Se foreducado, maiores as privih~gios garantidos aos internos, e como infra-tor de maior periculosidade e bastante respeitado pela comunidade dedetentos, tornando-se modele para as demais".

o individuo, quando obrigado a deixar a vida livre e adentar na pri-

sao, submete-se a urn processo de adapta~ao em que acaba aderindo em mai-

or au menor grau do modo de pensar, dos costumes, dos habitos e da cultura

geral da penitenciaria.

Como ocorre essa "nova" coloniza~iio? Segundo CLEMMER in

OLIVEIRA (1984, p. 64): "Toda pessoa, quando submetida it prisao, de certa

forma e com certa extensao se prisioniza, ate inconscientemente, vai assimi-

lando a modo de viver, as Mbitos, os costumes e as imposi90es carcen\rias."

26

Assim, 0 detento passa a trajar as mesmas roupas, a usar 0 seu linguajar, ad·

quire novos habitos de comer, dormir, vestir, trabalhar, de obediencia per-

manente, aprende a julgar, ou nova maneira de faze-lo, desconfia de todos,

adquire comportamento sexual anormal, sente rancor de tudo e de todos. En-

tretanto, existem defini~6es DaD previstas suscetiveis de acontecerem, como a

que discrimina-se a seguir:

Quando urn preSQ comum e encerrado em sua eela, pode safreT a pri-vagao prevista pela administragao; no entanto, para urn ingles declasse media superior, langado entre os piores elementos da sociedadebritanica, 0 confinamento solitario pode ter urn sentido nao previsto:!'Durante as cinco primeiras semanas de minha prisao, com a excegaode duas horas de trabalho pela manha e it tarde, e dos exercfcios, fica-va trancado em minha cela, feliz mente sozinho. Quase todos temiamas longas horas em que ficavam trancados. Mas, depois de certo tem-po, passei a esperar 0 periodo de isolamento como uma benc;ao, umalivio diante dos gritos dos funcionario ou da necessidade de ouvir alinguagem interminavelmente obscena da maioria dos presos. A maiorparte dessas horas de solidao eu passava em leitura. (GOFFMANN,1999, p. 156).

A prisioniza,ao atinge nao s6 0 pre so, mas tambem todo 0 corpo da

administrac;ao, os carcereiros, guardas, psiquiatras, psic610gos e diretores do

estabelecimento.

o pre so, logo aprende a mistificar, acata tudo que for transmitido pela

administra~ao. Comec;a a viver outra vida, assimilando, aprendendo e respei-

tando tudo que the e passado pelos companheiros de prisao. Todas as regras

assimiladas no mWldo livre, dos terapeutas, religiosos, dos mestres, dos fun-

cionarios sao deixadas de lado.

27

~...~\,'::J)

lmento, ele ja possui uma concep-

,ao de si mesmo fundamentada no seu mundo domestico. Ao entrar, e despido

de toda essa concep~ao e cornelia urna serle de rebaixarnentos, degradar;oes,

humilhar;oes e profana~6es do seu eu.

Mas 0 que traz essa priva,ao da liberdade? Segundo LEAL (1995, p.

52):

.. impoem siH3ncio ao Unico animal que fala e pensa, ohrigam a re-gras que eliminam qualquer esfoTl;o de reconstruc;ao moral para a vidalivre de amanha, induzem a urn passivismo hip6crita pelo medo docastigo disciplinar, ao inves de remodelar caracteres ao influxo de no-bres e elevados motivos; aviltam e desfibram, ao inves de incutirem 0

espirito de hombridade, 0 sentido de arnor pr6prio; ..."

E nesta fase que 0 detento se convence de que a priva,ao da liberdade

e a piOT dos sofrimentos que 5e pade impor ao ser humano. 0 rompimento

com a familia, com 0 recinto e a privacidade do lar, via de regra, e 0 mais diff-

cil de suportar. A barreira que as prisoes colocam entre 0 internado e 0 mun-

do externo assinala a primeira mutila~ao do eu.

No dizer de GOFFMANN (1961, p. 16): "estar preso implica numa

morte civill, perdendo 0 detento uma serie de direitos que Ihes sao garantidos

peJas leis do pais e ainda significa que perdeu 0 direito de ser considerado

urn membro confiavel da sociedade - ao cometer urn crime foi rejeitado peJa

sociedade".

1 Morte civil: perda temporaria dos direitos de dispor do dinheiro a assinar cheques, opor-se a processos de div6rcio ou ad~aoavotar.

28

3.1 PRIVAQAO DE BENS

o detento recebe 0 estritamente necessaria para sua subsistEmcia: uni·

forme, sapatos e roup as de cama, todos iguais, impessoais e de qualidade or-

dinaria e, as vezes, repass ados de outros presas.

o contisco de bens de propriedade individual do preso marcam 0 infcio

de sua perda de identidade, porque as pessoas atribuem grandes sentimentos

aos objetos que possuem. GOFFMANN (1999, p. 15), ressalta que "...um con-

junto de bens individuais tern uma rela~ao muito grande com 0 eu. A pessoa

geralmente espera ter certo controle da maneira de apresentar-se diante dos

outros." Assim, eia precisa de roupas, cosmeticos, instrumentos para usa-los

ou conserta-los. Resumindo: 0 individuo precis a de "urn estojo de identidade"

para contrale de sua aparencia pessoal, bern como do barbeiro e costureiro.

Quando 0 indivfduo perde a posse dos bens de sua propriedade, perde

tambem sua aparencia individual causando urn grande impacto a sua identi-

dade.

3.2 PRIVAQAo DE AUTONOMIA

Devido ao automatismo coercitivQ a que sao submetidos todos as pre-

sos ao serem tolhidos de todo e qualquer poder de decisao, 0 estado de subor-

dina~ao a direc;ao do estabelecimento, aos guard as, aos regulamentos, as re-

29

gras, aos horarios as ordens e contra ordens, conferes e revistas, eles acabam

perdendo toda a iniciativa e ate os desejos mais reservados.

Com isso, eles: enfraquecem a persona!idade; perdem 0 direito de in-

timidade; estao sujeitos sempre as revistas do cubiculo.

Acerca disso THOMPSON in OLIVEIRA (1984, p. 69), esclarece:

Se caminha no patio, da faxina para 0 sanitario, pode ter as passos in-terrompidos por uma vaz seea: "voc~ ai, espere!" Urn vigilante resal-veu submete-Io a uma revista extra; levanta os brac;os, abre as pernas,deixa-se apalpar, maos estranhas invadem-lhe as bolsos, dali retiran-do papeis, ma~o de cigarro, f6sforos, cedulas de dinheiro e 0 que rnaishOllver; as vezes 0 malta e rasgado por inteiro, urn cigarro e desman-chado, bilhetes Oll cartas, easo haja, sao lidos cuidadosamente. Minu-tos depois, vindo do sanitario para 0 refeit6rio pode ser novamente es-colhido, por Dutro guarda, para Dutra revista e a opera~ao se repete,de forma identiea. Poueo importa nao registre sua hist6ria prisionaluma uniea infrac;ao: a vistoria sera feita com a mesma suspicacia, poissua condi~ao de preso gera fortes razoes para ser julgado urn indivi-duo absolutamente carecedor de confian~a. "Preso e preso"- dito cor-rente entre os funcionarios - iguala a todos os internos como objetosdepravados e perigosos".

Qualquer que seja a forma ou a fonte dessas diferentes indignidades, 0

individuo precisa participar destas atividades, cujas conseqtiencias sao, mui-

tas vezes, incompativeis com sua concepc;aa do eu. Outrossim, como a prisao

!ida com muitos aspectos da vida dos internados e com a consequente padro-

niza~iio cornplexa da entidade, e necessario que 0 individuo realmente colabo-

re e aceite essas imposi~6es. Urn born exemplo disso e dado por Brendan

Behan, ao recordar sua disputa com dais guardas no momento em que foi

admitido na prisao de Walton (GOFFMAN, 1999, p. 26):

30

"E lev ante a cabe~a quando falo com voce."Levante a cabe~a quando 0 Sr. Whitbread falar com voce", disse 0 Sr.Holmes.Olhei para Charlie. Seus olhos encontraram os meus e rapidamente osbaixou para 0 chao."0 que e que voce esta procurando, Behan? Olhe para mim."

Assim, estes testes servem para urn desafio de quebra de vontade. De

urn lado, 0 preso e obrigado a ser estruturado de tal forma, que se obedecer,

demonstra que aceita 0 papel de internado rotineiramente; e se desobedecer

recebe castigo imediato e visivel, podendo aumentar ate que explicitamente

pe~a perdao ou se humilhe.

3.3 PRIVAQAO DE SEGURANQA

A priva~ao de seguran~a ocorre com grande intensidade no dia-a-dia

do prisioneiro. As rebeli6es, motins, fugas e mortes que acontecem nas pri-

soes sao uma constante. 0 Ultimo fato aconteceu na Casa de Deten~ao do Ca-

randini em Sao Paulo, mostrado pela TV brasileira. Este fato comprova a

crueldade do mundo prisional e suas liga~oes com 0 mundo do crime extra-

mura.

Os detentos nao possuem meios de defesa frente aos ataques, sofrendo

ameal,;as de toda ordem, agressoes fisicas au morais, deboches, abusos e aten-

tados. A esse respeito, OLIVEIRA (1984, p. 71), assim se expressa:

31

Na deten,ao nao existe xadrez sem urn !ider reconhecido por todos. Eo "xerife", au "Juiz" do xadrez, cuja autoridade se baseia no constran-gimento fisico dos outros presos, ou numa folha corrida tao horripilan-te que se imp6e de per s1. Os "xerifes" exigem a vassalagem dos de-mais com expedientes que parecem urn tanto ex6tico, mas que na pri-sao sao aceitos com naturalidade. No pavilhao nove da Casa de Deten-,ao de Sao Paulo, por exemplo, qualquer recem chegado - no 9 saosempre presos primarios - e obrigado a transportar nas costas, duran-te alguns dias, 0 lider da cela all seus protegidos, no relaxante mo-menta em que as presos tom am sol no patio. Se 0 lider quiser ir de umponto a Dutro, estala os dedos na dire~ao de um novato e diz: "taxi",Os taxis do pavilh1io 9 nao costumam recusar passageiros.

A explora,ao dos detentos tem varias maneiras: 0 dominador explora

o dominado: quer transforma-lo em sua mulher, tomam-Ihes os bens, sao

obrigados a fazer a distribui,ao da mercadoria proibida - cacha,a, maconha e

outras drogas.

A falta de seguran,a e total: nos motins sempre ha mortos e feridos.

Mauro Guerra, urn grande bandido de 1953, acurnulou passagens por diferen-

tes tipos de contravenc;ao, de assalto a mao armada, de trafego de enterpe-

centes, passando por latrocinios. Condenado a 18 anos de prisao, freqiientou

virtual mente todas as cadeias do Rio. Diz taxativamente: "numa cela, voce

tern duas opc;6es, ou mata ou morre, ou e homem ou nao e. Sou urn dos tres ou

quatro que se recuperaram em cada mil, porque tive sorte."(OLIVElRA, 1984,

p.75).

32

3.4 PRIVA<;Ao DAS RELA<;OES HETEROSSEXUAIS

"Quando 0 detento e impedido de realizar suas func;6es sexuais nor-

mais, 0 mesma sente-se ferido em sua masculinidade, sendo acometido de urn

verdadeiro sentimento de castrac;ao simb6lica." (OLIVEIRA, 1984, p. 79).

Desta forma, castrado de suas funt;oes sexuais, ele apela para 0 ho-

mossexualismo, ou onanismo e outras degradac;oes sexuais. 0 mesma

OLIVEIRA (1984, p. 79), assim admite:

Na prisao a ociosidade, promiscuidade, 0 baixo nivel moral da maio-ria, 0 grande numero dos que ja ingressam homossexuais passivDs eativDs, carregados de toda sarte de perversao e vieios, a existencia delideres Oll dominadores, de urn lado, e dominados de GutTas, a com pas-sivilidade dos guardas em rela<;li.oa outros tornam 0 ambiente propi-cia a todas as baixezas e a todas as perversoes sexuais imaginaveis einimaginaveis.

Vale destacar que 0 problema sexual, atualmente, e urn dos mais se-

rios e graves hoje enfrentados no meio prisional e atinge nao s6 as prisaes

masculinas, como as femininas. Esta OPC;3.0 de relacionamento sexual atipico

e devido as dificuldades de op<;li.ode re\ac;6es heterossexuais ou ate pe\a coer-

~aofisica, pela violencia e pela agressao. 0 homossexualismo, tanto 0 mas-

culino como 0 feminino, e uma das conseqiiencias da vida prisional, e pode

servir de desafogo de tensaes e frustra<;aes decorrentes da falta de relac;aes

sexuais normais.

33

3.5 PRIVAQAo CULTURAL E COGNITIVA

Ao se abordar a rela~ao do homem com a reaJidade, GRAMSCI (1983,

p. 87), enfoca isto de modo dinamico: "0 homem s6 poder ser concebido como

homem historicamente determinado, isto e, que se desenvolveu e vive em de-

terminadas condi~5es num determinado complexo cultural ou conjunto de

rela~5es sociais". Ora, 0 homem aD perder sua liberdade e em relat;ao com

outros presos, transforma 0 ambiente e transforma a sl pr6prio atraves des-

tas rela\=oes. Assim, 0 homem nao e urn ser limitado, mas urn processo de vir

a ser, transformando-se continuamente com as transforma~6es das rela~6es

sociais. No caso especifico da cultura ou cogni~ao, 0 individuo quando entra

na prisao adota 0 modo de pensar, os costumes, os hiibitos da cultura geral da

penitenciaria. Assim, "0 ambiente no qual 0 individuo este encaixado e 0

maior responsavel pela organizac;ao, ou desorganizac;ao, a manutenc;ao Oll

modifica\=8.o, 0 aparecimento ou desaparecimento de qualquer comportamen-

to". (WEISSENBERG, 1984, p. 358).

Nestas condic;6es, 0 ambiente prisional e poueo propieio ao progresso e

a adaptar;ao it uma soeiedade caraeterizada por avanr;os teenol6gieos e de mu-

ta~5es, que se atravessa atualmente.

Em termos sociais e psieol6gieos, a privar;:ao cognitiva nas pris6es de-

corre da falta ou car~ncia de aprendizagem do passado cultural do individuo.

Neste sentido, no dizer de FONSECA (1998, p. 247), "A priva~ao cognitiva

34

naG se refere a cultura do grupo ao qual 08 individuos pertencem, pais nao e a

cultura que e privada, mas sim, 0 fata de 0 individuo all seu grupo serem pri-

vados dela e que constitui 0 fator vulneravel e perturbador".

Sob 0 aspecto cognitiv~ 0 individuo perde as habilidades motoras e

psico-motoras, como: as corporais sinestesicas que podem seT 0 controle do

corpo e habilidade no manejo de objetos. Perde as habilidades sens6rio-

perceptivas, como: no~5es tateis, temporais, visuais e viso-espaciais.

Na area cognitiva propriamente dita, 0 detento perde 0 raciocinio l6gi-

co que promove as habilidades em distinguir, ordenar, organizar, categorizar

e classificar dados sabre objetos e fatos, tamar decisoes, dar explica~oes e agir

criativamente.

Resumindo: se 0 comportamento do individuo pode ser modificado

atraves do cantata com 0 ambiente em que vive, como e 0 caso dos detentos, e

sinal positivo de que a aprendizagem de novos conceitos tambem modificar 0

individuo. Contudo, estes conceitos precisam ser estimulados atraves da mo-

tiva~ao. Assim, se uma pessoa nao tiver comida, por exemplo, torna-se famin-

ta, se ficar privado do contato com outras pessoas, certamente ansiara pel a

visao de urn rosto familiar; se ela estiver propensa a se superar, motiva-se

para que isto aconte~a.

35

3.60 RESULTADO DA PRIVAQAo DA LIBERDADE

Logicamente quanta mais tempo 0 detento permanecer na prisao, seu

aprendizado anterior a reclusao tende a se tomar obsoleto e a sua cogni~ao

passa a absorver a sua colocac;ao neste novo meio. Senda 0 recluse por via de

regra, de maioridade, portanto, js. adquiriu cogni~ao durante a passagem dos

anos, ele encontra uma certa facilidade em sua atual situac;ao para urn novo

aprendizarlo, mudando totalmente sua visao anterior.

Diante da privac;ao da liberdade e de suas variaveis, 0 preSQ ve como

t1nica defesa de enfrentar 0 sistema, a aceitac;ao dos nOVDS dogmas da comu-

nidade. Em consequencia deste inusitado modo que the e imposto, peculiar e

coercitivo, sua personalidade se desorganiza. As sequelas sao tao profundas

que podem the impedir de adaptar-se a sociedade que, preconceituosamente,

discriminat6ria, dificulta-lhes os meios de sobreviver social, moral e finance i-

ramente, tornando-o urn homem marcado.

Canclui-se entao, que as presos sofrem uma transformac;ao para pior,

diante do clima negativ~, anti-natural, COITUptoe desumano que predomina

nas pris6es, sob agressiva e assustadoras formas.

36

4. A RESSOCIALlZAc;AO DO DETENTO

4.1 0 QUE SIGNIFICA RESSOCIALIZAR?

Ressocializar signifiea "tornar social, reintegra~ao ao social. It 0 pro~

cesso de integra~ao rnais intensa dos individuos no grupo". (FERREIRA,

1995, p. 567).

A ressocializa~ao pressupoe, como condit;ao necessaria, a recuperar;ao

e promor;ao social do interno.

Esta recupera~ao contudo, esbarra em dois grandes problemas: a

mentalidade vigente na maioria dos servidores Penitenciarios e a ausencia de

estrutura e equipamento adequado nos Estabelecimentos Penais. Reeducar

significa, antes de mais nada, preparar 0 apenado, habilitando-o a reintegrar-

se no convivio social. A reeducar;ao exige necessariamente, alem do direito

destinado a execw;ao da pena, uma serie de medidas assistenciais: material,

de saude, juridica, social, religiosa, sustentadas por uma politica eficaz e vi-

gorosa de educa~ao, que pressup5e instala~5es adequadas e pessoal suficien-

ternente qualificado.

No Brasil, 0 que se observa atualmente e que 0 desejado sentido res-

socializador da pena, Da verdade, configura apenas urn fantastico discurso re-

t6rico para manter 0 sistema, 0 que, na realidade, traduz urn evidente malo-

gro, um desperdicio de tempo para 0 preso e um gasto inutil para 0 Estado,

37

que retira da sociedade urn individuo por apresentar comportamento des-

viante e 0 transforma num irrecuperavel. A prova mais cabal disso tuda, e 0

estado degradante em que vivem os presos, principalmente no Carandiru em

Sao Paulo, cnde sempre ocorrem varias revoltas com serias conseqiiencias.

Assim, 0 decantado processo de recupera~ao resulta apenas na absur-

da teorizac;ao discursiva do sistema, pais, na pnitica, nada alcan~a alem da

formac;ao de estere6tipos e do fomenta da reincidencia de forma profissional e

aperfei~oada, devido aD clima negativ~, anti-natural, corrupto e desumano

que predomina nas prisoes, sob agressiva e assustadoras farmas que desper-

sonaliza os presos, gera uma criminalidade violentamente assustadora, que

desaponta, vulnera e enfrenta com sucesso qualquer aparelho policial e judi-

cial.

Com todos estes fatores negativos e preocupantes, questiona-se: como

ressocializar urn preso diante de tal cenario? E viavel a recuperac;ao, ou seria

mais uma perda de tempo inutil? Como observar 0 prisioneiro segregado em

sua cela e ponderar sua aptidao e potencialidade para 0 convivio social har-

monico?

o trabalho do psicopedagogo aqui, to de fundamental importancia,

porque 0 mesmo encontra-se capacitado na identifica~ao e resolu~ao dos pro-

blemas do processo de aprender. ".. 0 foco da Psicopedagogia to a integra~ao de

alguns aspectos das varias areas de conhecimento: a pedagogia, a psicologia,

a fonoaudiologia, a neurologia, a psicomotricidade, objetivando atender 0

38

educando como sujeito, autor de sua aprendizagem e construtor de sua traje-

t6ria". (PAROLIN, 1998, p. 15).

Neste caso, como 0 detento esta em busea de sua ressocializa-;ao, 0

trabalho do psicopedagogo fica mais faci!, porque tern condi~oes de construir

conhecimento com 0 educando, tendo em vista que 0 mesma esta motivado

para isto. Estabelecida a confian~a entre 0 detento e 0 psicopedagogo, 0 pro-

cesso de ressocializa~ao dara resultados satisfat6rios, porque 0 detento passa

a visualizar a readaptar;ao social atraves da reeduca<;ao formal, social e

aprendizagem profissional.

o trabalho do psicopedagogo podera ter conota~ao rnais terapeutica se

as questoes de aprendizagem estiverem aliadas principal mente a dinamica

das atividades culturais, recreativas e esportivas, religHia, e esporadicamente

em contacto com 0 mundo exterior e a familia.

o detento aprende e desenvolve satisfatoriamente quando esta inter-

aginclo com 0 processo, por Dutro lado, quando existirem disturbios familiares

(abandono da familia, separa~ao da esposa, filhos) ou processuais/jurfdicos

(nao-progressao de regime, nova pena, conselho disciplinar), ele regride em

seu aprendizado e safre urn rebaixamento, como a baixa~estima, perda de

confian~a e outros. Neste caso, 0 psicopedagogo interfere junto com a equipe

multidisciplinar para resgatar 0 individuo ao seu objetivo, que e a ressociali-

za~ao e reintegra~ao it sociedade.

39

A experiencia vivenciada como Pedagoga no DEPEN (Departamento

Penitenciario de Curitiba), permite estabelecer algumas respostas:

a) Todo preso passa as 24 horas do dia pensando ou sonhando como

sair da prisilo. 0 anseio continuo e ardente de libertar-se do presi-

dio consiste no seu tinieo projeto de vida.

b) 0 contelido, a metodologia, os objetivos e a pratica pedag6gica que

sao aplicados no presidio estarao destinadas ao fracasso, se naD fo-

rem construidos a partir das caracteristicas essenciais do interno e

de seu projeto de vida. Nilo basta pUllir ou ensinar 0 preso a ler e

escrever corretamente, e preciso informa-lo e abrir-lhe 0 horizonte

para a autentica liberdade.

o metodo aplicado e do ensino supletivo, abrangendo desde a alfa-

betiza,ilo ate 0 segundo grau ou ensino mMio. 0 trabalho do peda-

gogo e fazer a triagem inicial, acompanhamento pedag6gico, desen-

volvimento escolar e orientac;ao aos professores em suas atividades

curriculares. Quanto ao aluno, 0 acompanhamento do Pedagogo e

feito no sentido de orientar e prevenir as dificuldades de aprendiza-

gem que Qcorrerem durante 0 processo.

c) A educac;ao, nesse sentido, 5e destaca como elemento estrategico da

mais alta importancia na concep,ao do trabalho penitenciario, por-

que visa superar urna subcultura delinqiiente instalada nos estrei-

tOB limites das instituic;6es penais, em relac;ao direta com a super-

40

popula~ao carceraria, mantida sem criterio de classifica~ao ou pIa-

nos de a~ao. A educa~ao no caso do detento deve ser entendida como

urn processo de forma~ao atraves de rela~5es interpessoais como:

cantato com as pessoas, entrosamento, faci1idade de comunicac;ao,

auto-descobrimento, auto-conhecimento, auto-identificac;ao.

d) 0 preso deve adquirir atraves da educa~ao, aquelas aptidoes que

impedem uma reincidencia e facilitem a sua integrac;ao na socieda-

de, bern como capacitA-lo a assumir urn papel ativD e respons8.vel,

com objetivos e meios coerentes para atender as suas necessidades

dentro da comunidade, bern como resgatar suas habilidades cogni-

tivas adquiridas ao longo de suas vidas ate 0 momento de sua pri-

sao. Isto ocorre quanto existe a integra~ao entre a educa9ao formal

e informal, 0 qual preparara 0 individuo para retornar a sociedade.

"A fome da instru~ao nao e menos deprimente que a forne de ali-

mentos; um analfabeto e urn espirito subalimentado. Saber ler e es-

crever e adquirir uma forma~ao profissional, e voltar a ter confian~a

em si mesmo, e descobrir que se pade progredir ao lado de outros".

(ALBERGARIA, 1999, p. 231).

e) Enquanto 0 detento nao interiorizar novos val ores despertados pelo

processo de reeducac;ao que 0 conduzam a mudan~as comportamen-

tais, a ponto que possa superar a anticultura vigente no convfvio

penitenciario que 0 induz sempre para 0 aperfei~oamento na pratica

41

do crime, a intensao de reintegrat;8.o no convivio social nao conse-

guini exito. Assim, deve-se incuIcar no detento, a pratica da etica,

cidadania, disciplina, solidariedade, bons habitos, saude, higiene e

outros. Necessaria 5e faz estimular 0 detento para leva-Io a aceita-

~ao deste processo a lim de que passe a encara-lo como primeiro

passo em sua futura vida como individuo livre.

£) Portanto, se 0 presQ nao for promovido durante 0 cumprimento da

pena, existe 0 risco quase certo de seu retOlno a prisao. Na sua

promo~ao humana destaca-se sobretudo a importancia da educabi-

lidade cognitiva como alternativa de mudan~a, que pode ser atingi-

da mesma quando as expectativas sao passivas ou negativas ou

mesma quando se tende a colaear obstaculos ou juizos precipitados

sobre 0 potencial da aprendizagem do individuo.

4.2 0 PROCESSO COGNITIVO DE EDUCABILIDADE

Entende-se por processo cognitivo de educabilidade uma alternativa

educativa baseada na mudan~a de comportamento provocada pela experien-

cia de outro ser humane e mio s6 pela pr6pria experiencia do individuo ou

pela pratica automatica de estimulos e respostas. (FONSECA, 1998, p. 67).

Ao se procurar executar 0 processo cognitivo, preliminarmente torna·

se necessario de que 0 orientador fa~a uma analise e conhe~a a fundo seus

42

orientados. "Saber suscitar processos evolutivos no tempo e no espa~o, e uma

das caracteristicas essenciais da aprendizagem humana, processos esses, po-

Tem que s6 sao ativos e conseqtientes nas situa90es e relac;ao e interac;8.o en-

tre as pessoas, ... pais 86 dentro da dinamica interativa emergem as func;6es

psiquicas superiores". (FONSECA, 1998, p. 69). Desta forma, 0 processo de

interac;ao e tao necessaria, que 8em eIe, seria inviavel toda a aprendizagem.

Para A. ROSS (1995, p. 129) "aprendizagem e uma abstra~ao, urn con-

ceito, sintese mental. Nao pade seT observada enquanto se processa, mas so-

mente depois que se realiza; naD e urn comportamento, mas uma alterac;ao de

comportamento" .

FONSECA (1995, p. 130), "em sua defini~iio diz que a aprendizagem e

efetivamente 0 comportamento mais importante dOB animais superiores; em

si, compreende a mudan~a de comportamento resultante da experiencia. A

aprendizagem, a grosse modo, constitui uma resposta modificaveI, estaveI,

dunivel, interiorizada e consolidada no cerebro do individuo".

Ainda segundo este autor, "a aprendizagem poe em jogo, portanto,

uma relac;ao integrada entre 0 individuo e ° seu meio, isto 13, coloca wna rela-

C;aointeligivel entre condic;oes externas e condic;oes internas, ou melhor, de-

sencadeia um processo sens6rio-neuropsicoI6gico entre a situac;ao externa e a

a~ao interna." (FONSECA, 1995, p. 40).

A teoria cognitiva da aprendizagem atribui uma grande importancia

ao pensamento no controle da conduta, 0 que faz com que aumente-se a capa-

43

cidade para entender 0 mundo e representa-lo, gra~as a representa~ao e a

manipula~iio simb6lica dos acontecimentos. Tudo isso facilita a adapta~iio em

contextos relevantes e significativDs, pessoais e sociais.

Considerando que 0 individuo pode ser modificado, e seu potencial

naD e imutavel e inflexivel, a cognic;ao educativa pode seT uma alternativa

viavel, porque: desenvolve a inteligencia, ensina a pensar au provocar a mo-

dificabilidade. Outrossim, para 0 "exito do tratamento, assenta-se na aceita-

9ao e na participar;8.o do condenado no plano de sua ressocializac;B.o"

(ALBERGARIA, 1999, p. 225).

A importancia do metoda cognitiv~ vern ao encontro da sociedade mo-

dema, que exige eada vez mais conhecimentos, criatividade e inovac;6es, nao

se limitando a uma exposic;ao direta a objetos, acontecimentos, atitudes all

situac;6es.

Ja FONSECA (1998, p. 9), admite: "Qualquer ser humano, indepen-

dentemente da sua experiencia ou idade, da etiologia do funcionamento do

seu potencial e do seu contexto cultural, esta aberto il.modificabilidade cogni-

tiva, e capaz de se adaptar, independentemente do seu percurso educacional

ou social desfavorecido".

Contudo, e necessaria a ar;ao do mediatizador, que e 0 elemento habi-

litado a gerir 0 processo de modificabilidde. Este processo tern como base a

modifica~iio estrutural do individuo, produzindo-se nele uma mudan~a no

44

desenvolvimento qualitativa e substancialmente diferente da prevista pelos

tradicionais contextos geneticos, neurofisio16gicos ou educacionais.

4.3 UMA PROPOSTA AUXILIAR DE RESSOCIALIZAQAo

Observe-se que essa proposta nao prev€; uma completa modifica,ao no

detento, mas permite dota-Io de condi,oes de melhoria da sua aprendizagem

e de seu comportamento, como tambem aumentar sua autoconfian~a. 0 termo

"Auxiliar" reflete 0 respeito a outras tecnicas de ressocializa~ao, como as te-

rapias, as religioes, a psicologia e outras.

o metoda consiste no seguinte: em guiar 0 detento para urna nova e

s6lida conduta no tocante ao tratamento de si proprio e seu relacionamento

com a sociedade.

o trabalho precisa ser realizado por uma equipe multidisciplinar em

que participarao: psic61ogos, assistentes sociais, pedagogos, medicos, psiquia-

tras, advogados e terapeutas ocupacionais, a urn conjunto de no maximo trin-

ta detentos, que estejam interessados em ressocia1izar-se. Optou-se pele tra-

balho em grupo, dada a inviabilidade de se efetuar 0 processo individual men-

te, devido ao numero bastante grande de detentos e a falta de espa,o e custo

alto.

45

A escolha do trahalho em equipe e viiivel porque, uma equipe e muito

mais produtiva no trabalho. "Esse valor e justificado porque as pessoas que

trabalham em equipe, tornam-se mais produtivas, aMm de complementar

seus conhecimentos, habilidades e experiencias". (MAGNIN, 1996, p. 15).

As principais fases do trabalho sao:

1°) Preparacao: para esta fase e preciso que haja urn ato intencional e

volitivo entre 0 orientador e as orientados, ou seja, a vontade de

aprender versus a vontade de ensinar. 0 orientador procurar criar

condi~6es adequadas para 0 ensino das tarefas, tonando-se ativo e

incentivador e despertando interesse para a realizac;ao das mes-

mas. Podem surgir duvidas neste primeiro cantato e 0 orientador

precisa estar atento e responde-las convenientemente. Nao pode se

furtar as tarefas de expor, exibir e valorizar os trabalhados do ori-

entado. 0 ambiente que se cria aqui, cleve ser de harmonia entre

as partes.

2°) Ampliadio do horizonte das tarefas: se por exemplo, surgir uma

tarefa em que 0 orientado tenha que enfrentar uma situac;ao nova,

precisa perceber 0 "porque", "como", "quem" ou "que" desta situa-

c;ao. Estas interrogac;oes permitem explicar as raz6es de suas ac;6es

e decisoes, bern como promover operac;oes cognitivas superiores,

fornecer "pontes" entre as varias areas correlacionadas.

46

3') Compreensao das tarefas: e preciso compreender 0 significado das

mesmas. S6 proporcionar as tarefas DaD chega para produzir modi-

fica~6es cognitivas estruturais, porem, ha necessidade de manter

os niveis motivacionais elevados. Nesta fase, 0 orientador modifica

seu comportamento, pode fornecer fedbacks positivDs, negativDS ou

neutros.

4°) Desenvolvendo a autoconfianca: 0 sentimento de competemcia deve

ser real~ado na consecuc;ao de tarefas, pois e urn dos aspectos fun-

damentais. Engrandecer as tarefas realizadas pelo orientado e ba-sieD, porque permite que as niveis motivacionais se encontrem re-

for~ados e aumentados.

5°) Direcionar 0 comportamento e sua regu}arizacao: e necessario ini-

bir a impulsividade sintentizando 0 tempo ao responder as tarefas.

ISBa impliea em avaHar 0 comportamento e direcionar a atenc;ao

seletiva e da sua compreensao da tarefa, bern como evitar respos-

tas sem nexo e sem planifica\!ao.

6°) Participar comportamentos: estabelecer dialogo e interar;ao entre

os orientados, compartilhar emor;oes e comportamentos afetivos

positiv~s e sociais que sao condi~oes essenciais para 0 sucesso da

aprendizagem.

7°) Respeito a individuacao e diferenciacao psicol6gica: 0 orientado

nao e urn receptor passivo. Assim, e preciso respeitar suas peculia-

ridades cognitivas e a sua diferencia~ao psicol6gica. Cabe ao orien-

47

tador encorajar a auto-suficiencia, proporcionar e provocar ativi-

dades de op~:l.o; estimular os aspectos positiv~s das trocas cultu-

Tais, refoT<;ar a diversibilidade, respeitar 0 direito a privacidade,

praticar a tolerancia face as opini6es alheias.

8°) Planeiamento de obietivos: e preciso coleear objetivos elaros para

cada sessao e para a aprendizagem em geral, e refor<;ar as objeti-

vas trac;ados, encorajar a perseveran<;a, paci€mcia e dilig€mcia na

procura e na satisfa<;ao de objetivos.

gO) Procura de novidades: 0 orientador procura a maxirnizac;ao do po-

tencial cognitivo dOB detentos, para que se possa expandir 0 seu

campo mental. 0 orientador naG pade seT urn obstaculo a este ob-

jetivD.

4.4 0 TRABALHO DO PSICOPEDAGOGO: A AVALIAQAo DO PROCESSO

"A Psicopedagogia e a area do conhecimento e de atua~:l.o que tem

como objeto de estudo e de trabalho 0 processo de ensino e aprendizagem e os

transtornos que podem ocorrer neste processo". (BARBOSA, REV.

PSICOPEDAGOGIA, 1999, p. 10).

Fica diftcil estabelecer urn diagn6stico sobre 0 processo, tendo em vis-

ta a diversidade de opini5es dos profissionais envolvidos e a variabilidade dos

casos apresentados.

48

Como 0 trabalho do psicopedagogo e interdisciplinar, ou seja, esta re-

lacionada it condi~iio em que foi exposto, para a elabora~iio do diagn6stico e

preciso levar em conta este fato. Pode ser feito urn relat6rio de trabalho em

que consista a opiniao final de todos os membros.

o processo e dinii.mico, porque envolve toda urna equipe de trabalho

que precisa estar bern entrosada e possa oferecer as mais variadas soluvoes,

sempre tendo em mente a metodologia ja explicitada no trabalho. A perfeita

colabora~iio entre todos pode alcan~ar bons resultados para ambas as partes.

Ao se trabalhar com 0 individuo fragmentado, deve-se procurar complemen-

tar as areas no sentido de formar urn todD, ou seja, a unlao entre os aspectos

bio-psico-sociais, tais como: desenvolver 0 senso de humanidade, fraternida-

de, arnor ao proximo, sensa de justi~a, convivio da comunidade, responsabili-

dade e dignidade. A mudan~a de comportamento ou modifica~iio da perso-

nalidade criminal, deve ser defendida como urn prop6sito a alcan~ar em que a

coopera~ao e a colaborac;ao devem ser constantes, devendo predominar

o carater reeducativo e humanitario, como instrumento de auto-realizavao e

aperfei~oamento do condenado.

Neste sentido, e muito boa a cita~iio de BANDURA (1979, p. 385) que

elaborou uma excelente relac;ao de principios relevantes para a aquisi<;ao de

outros comportamentos:

1. As condic;oes que mantem 0 comportamento indesejavel devem sercuidadosamente analisadas;

2. Os agentes de modifica~iio devem aprender quais as modifica~6esnecessarias para que urn born resultado produza uma altera~iio decomportamento;

3. Comportamentos alternativos desejaveis devem ser demonstradospor intermedio de model os;

4. Os treinadores devem entao supervisionar a pnitica orientada doscomportamentos alternativos;

49

5. A faixa de habilidades relevantes aos comportamentos alternativosdeve ser ampliada;

6. Os resultados positivos dos comportamentos alternativos devem serdeliberadamente organizados;

7.0 individuo em questao recebe constante feedback do seu desem-penho (planejado para ser bern sucedido - ver 0 item 6) por diversosmeios, inclusive videotape.

8. Os comportamentos alternativos devem ser dispostos e apresenta-dos em ordem crescente de dificuldade, aumentando a probabilida-de da ocorrencia de bons resultados;

9. Os comportamentos alternativos recem-treinados devem ser siste-maticamente evocados e positivamente refor~ados nos contextosmais diversos possiveis, de modo a facilitar a sua generalizac;ao nassituac;oes e no tempo.

50

CONCLUSAO

Pelo que se observou no decorrer do trabalho, todo ser humano tern

condi,oes de modificabilidade cognitiva, jii que sua inteligencia nao e limita-

da apenas aquilo que os testes podem medir.

Nestas condic;5es, e passivel que 0 individuo possa ser transformado

por interac;ao propositada, vista que seu potencial intelectual esta 8ujeito a

mudanc;as e e flexivel para aceitar novas acepc;6es.

Todos os processos de informac;ao, tecnologias, religi5es, terapias po-

dem ser utilizados mas nao sao suficientes para a recogni<;iio do detento, vista

que podem ser ultrapassados em pOlleD tempo. Assim, 0 que se propos no pre-

sente trabalho pade ser peneitamente viavel, porque e urn processo que pade

ser modificado diante de novas situa<;5es. 0 importante e preparar 0 indivi-

duo para 0 futuro, em conformidade da sua modificabilidade cognitiva, bern

como, 0 desenvolvimento do seu intelecto para a finalidade da educa,ao e

respectiva reabilita~ao.

Nao se pode esqueeer que, agora, mais do que em qualquer outra epo-

ea da hist6ria da humanidade, muitas abordagens, antigas e novas, voltam-se

para a melhoria do potencial humano e para 0 aumento de possibilidades.

Saliente-se tambem que os resultados conseguidos atraves do metodo propos-

to neste trabalho, pode auxiliar nao s6 os detentos em sua ansia de ressociali-

za~ao,mas servir como experi€mcia inovadora e dinamiea para a equipe en-

51

volvida. E neste contexto que os membros da equipe VaGperceber que podem

melhorar drasticamente suas pr6prias habilidades profissionais.

Embora a principio, a ideia de ressocializa~ao abordada neste traba-

Iho, pare~a ser limitada, pode ser ampliada, dependendo exclusivamente da

boa vontade de cada envolvido em sugerir alternativas. Neste enfoque, nada

que pare~a impossivel e diffcil de se conseguir.

Ja numa abordagem dinamica da integra~ao do detento, a postura do

profissional vai visar " .. 0 enfrentamento do individuo com sua realidade"

que "implica numa apropriac;ao" do contexto, numa inserc;ao nele, num ja nao

tiear "aderido" a ele, num ja naD estar quase sob 0 tempo", mas nele.

(FREIRE, 1999, p. 40). Nessa linha, 0 profissional vai desvelar a realidade,

trabalhar com 0 individuo considerado sujeito e nao objeto, e acreditando que

ele faz 0 seu destino e e responsavel por suas a~oes, despertando-Ihes a auto-

confian~a e 0 sentido dos valores humanos.

o profissional que se propoe transformar as lembran~as negativas do

detento, em positivas, orientando-o para a sua pr6pria excelencia atraves da

criac;ao de novas expectivas de vida, e antes de mais nada urn nobre de pen-

samentos e virludes e que encontra num Barrisa sincero ou num atc de bon-

dade, como num agradecimento, 0 resultado de seu trabalho.

52

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALBERGARIA, Jason. No\,oes de Criminologia. Bela Horizonte: Manda-mentos Livraria, 1999.

COLL, Cesar R. et al. Desenvolvimento Psicol6gico e Educa\,iio. PortoAlegre: Artes Medicas, 1995.

DOCKRELL, Julie. Crian\,as com Dificuldades de Aprendizagem: Umaabordagem cognitiva. Porto Alegre: Artes Medicas, 2000.

DROUET, Ruth Caribe da Rocha. Disttirbios da Aprendizagem. Sao Pau-lo: Atica, 2000.

EVANGELISTA, Maria Dora Ruy. Prisiio aberta: a volta a sociedade. SaoPaulo: Cortex, 1983.

FONSECA, Vitor da. Aprender a Aprender: educabilidade cognitiva.Porto Alegre: Artmed, 1998.

FREIRE, Paulo. Etica, Utopia e Educa\,iio. Petr6polis, RJ: Edit. Vozes,1999.

_______ . Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1987.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petr6polis: Vozes, 1987.

GOFFMANN, Erving. Manicomios, Prisoes e Conventos. Sao Paulo:Perspectiva, 1999.

GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a politica e 0 Estado Moderno. SaoPaulo: Cortez, 1983.

HAYDT, Regina Cazaux. Avalia\,iio do Processo Ensino-Aprendizagem.Sao Paulo: Atica, 1997.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educa\,iio. Sao Paulo: Cortez,1994.

MAGNIN, Michael. Eficiencia no Trabalho. Sao Paulo: Nobel, 1996.

53

McCONNEL. James V. Psicologia. Sao Paulo: Interamericana, 1991.

OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisao: Um paradoxo social. Florian6polis -SC: Editora da UFSC, 1984.

PAIxAo, Ant6nio Luiz. Recuperar ou Punir? Sao Paulo: Cortez: AuditoresAssociados, 1991.

PALMA, Arnalda de Castro et al. A Questao Penitenciliria e a Letra Mor-ta da Lei. Curitiba: JM, 1997.

PAROLIN, Isabel Cristina Hierro. A Psicopedagogia e a Psicomotricida-de - Urn Encontro. I Encontro Paranaense: Psicomotricidade enquanto Ci-encia e suas rela,oes, em 19-20 de junbo de 1998.

REVISTA DE DIREITO PENAL, n° 29, 1995, p. 5.

___________ , n° 27, 1995, p. 110.

REVISTA PSIPEDAGOGIA. Volume 18, n° 50, 1999.

SANVITO, W.L. 0 Cerebro e Suas Vertentes. Sao Paulo: Roca, 1991.

THOMPSON, Augusto. A questao penitenciaria. Petr6polis - RJ: Ed. Vo-zes, 1976.

VARELLA, Drauzio. Esta",ao Carandiru. Sao Paulo: Companbia das Letras,1999.

VIGOSTKY, L.S. et al. A Hist6ria do Comportamento. Porto Alegre: Ar-tes Medicas, 1995.

WEISSEMBERG, Aurea. Comportamento Criminoso. Rio de Janeiro:Zahar, 1977.