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REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA (FLE) PELA PERSPECTIVA ACIONAL Raquel Moraes Ferreira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos Língua Francesa). Orientador: Prof. Doutor Luiz Carlos Balga Rodrigues RIO DE JANEIRO Agosto de 2018

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REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE

FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA (FLE) PELA PERSPECTIVA

ACIONAL

Raquel Moraes Ferreira

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras

Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos – Língua

Francesa).

Orientador: Prof. Doutor Luiz Carlos Balga Rodrigues

RIO DE JANEIRO

Agosto de 2018

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FOLHA DE APROVAÇÃO

REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE

FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA (FLE) PELA PERSPECTIVA

ACIONAL

Raquel Moraes Ferreira

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários

à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos –

Língua Francesa).

Examinada por:

__________________________________________________

Prof. Doutor Luiz Carlos Balga Rodrigues – UFRJ (Orientador)

__________________________________________________

Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa – UFRJ

__________________________________________________

Prof. Doutor Pedro Armando de Almeida Magalhães – UERJ

__________________________________________________

Profa. Doutora Laura Barbosa Campos – UERJ (Suplente)

__________________________________________________

Profa. Doutora Márcia Atálla Pietroluongo – UFRJ (Suplente)

RIO DE JANEIRO

Agosto de 2018

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AGRADECIMENTOS

Ao apresentar este trabalho, desejo expressar meus sinceros agradecimentos a todas as

pessoas e instituições, que de alguma forma, contribuíram para a execução e a conclusão desta

dissertação. Em especial, manifesto meu mais profundo agradecimento:

Ao meu orientador, Professor Dr. Luiz Carlos Balga Rodrigues, por ter aceitado

percorrer este caminho comigo. Obrigada pela disponibilidade, pela dedicação, pelos seus

ensinamentos, sem os quais este trabalho não teria sido possível e, principalmente, pela

serenidade e compreensão.

Aos professores, que ao longo desses dois anos, auxiliaram na minha formação,

permanecendo em mim um pouco de seus conhecimentos transmitidos.

À Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pela oportunidade de realização

deste mestrado.

À Coordenação do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Letras da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela confiança em minha capacitação.

À Professora Dra. Annita Gullo, pelo incentivo e dedicação.

À Professora Dra. Sônia Cristina Reis, pelas sugestões e valiosas críticas na disciplina

que mudou o rumo deste trabalho, fazendo-o avançar.

Aos colegas da Pós-Graduação, pelo acolhimento e troca, em especial à Larissa

Arruda.

À instituição de ensino que permitiu que a coleta de dados fosse feita com seus

professores.

A todos os professores que disponibilizaram alguns minutos do seu tempo para

responder ao questionário.

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À minha amiga Fabiana Marinho, que mesmo distante, contribuiu muito para esta

pesquisa ao fornecer os materiais dos quais precisava.

Aos meus amigos, pelo companheirismo e pelas palavras de conforto, especialmente à

Carolina Magalhães que, em nossas longas conversas, me deu força para atingir meu ideal.

Além do suporte e da inspiração, sou feliz e muito grata por termos passado juntas por essa

fase de construção e crescimento.

Ao meu irmão, pelas discussões filosóficas e questionamentos acadêmicos.

Meus sinceros agradecimentos aos meus pais: Adilson e Marilene, que sempre

valorizaram e incentivaram o saber e a educação. Eles que são exemplos e referência de

dignidade e honestidade. Agradeço em especial, à minha mãe que ao segurar a minha mão no

momento em que estive doente, não permitiu que eu desistisse.

Enfim, a todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para a realização e o

desenvolvimento desta pesquisa e que, por acaso, eu tenha omitido.

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FERREIRA, Raquel Moraes. Reflexões sobre o papel da gramática no ensino de francês

língua estrangeira (FLE) pela perspectiva acional. Orientador: Luiz Carlos Balga

Rodrigues. Rio de Janeiro: UFRJ, 2018. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos

Neolatinos – Língua Francesa).

RESUMO

Esta dissertação versa sobre o papel da gramática normativa no ensino de francês língua

estrangeira (FLE) pela perspectiva acional. O objetivo principal desta pesquisa é saber quais

as dificuldades que o professor de FLE enfrenta no momento em que ensina as regras

gramaticais pela perspectiva acional e quais são os meios que utiliza para resolvê-las. Visa-se

igualmente analisar a importância da gramática na construção de sentido na perspectiva

acional e compreender de que forma essa gramática é trabalhada em sala de aula. Por fim,

pretende-se oferecer algum tipo de contribuição para os estudos de didática de línguas

estrangeiras ao proporcionar uma reflexão sobre a forma como a perspectiva acional vem

sendo posta em prática. A hipótese que norteou essa pesquisa, a princípio, foi a de que o

professor de FLE recorria à abordagem indutiva no momento de ensinar as regras gramaticas,

embora essa abordagem parecesse não contribuir para a aquisição da competência

comunicativa. Ao final do estudo, concluiu-se que o objetivo do professor ao escolher a

abordagem gramatical não está centrado na comunicação, uma vez que as abordagens

gramaticais não interferem na aquisição da competência comunicativa.

Palavras-chave: ensino, gramática, francês língua estrangeira, perspectiva acional.

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FERREIRA, Raquel Moraes. Reflexões sobre o papel da gramática no ensino de francês

língua estrangeira (FLE) pela perspectiva acional. Orientador: Luiz Carlos Balga

Rodrigues. Rio de Janeiro: UFRJ, 2018. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos

Neolatinos – Língua Francesa).

RÉSUMÉ

Ce travail vise à comprendre le rôle de la grammaire normative dans l'enseignement de

français langue étrangère (FLE) selon la perspective actionnelle. Le but principal de cette

recherche est celui de connaître quelles sont les difficultés que l'enseignant de FLE affronte

lors de l'enseignement des règles de grammaire selon la perspective actionnelle et quels sont

les moyens dont il se sert pour les franchir. On vise aussi à analyser l'importance de la

grammaire pour la construction de la signification à partir de la perspective actionnelle et à

comprendre comment cette grammaire est travaillée par les professeurs de FLE. Nous avons

l'intention de contribuer à l'étude de la didactique des langues étrangères, proposant une

réflexion sur la manière comment la perspective actionnelle est adoptée en salle de classe.

Notre hypothèse de départ était que l'enseignant de FLE se sert de l'approche inductive pour

enseigner les règles grammaticales, bien que cette approche ne semble pas contribuer à

l'acquisition de la compétence communicative. À la fin de l'étude, on conclut que le but de

l'enseignant au moment de choisir l'approche grammaticale n'est pas centré sur la

communication, puisque les approches grammaticales n’affectent pas l'acquisition de la

compétence communicative.

Mots-clés: enseignement, grammaire, français langue étrangère, perspective actionnelle

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FERREIRA, Raquel Moraes. Reflexões sobre o papel da gramática no ensino de francês

língua estrangeira (FLE) pela perspectiva acional. Orientador: Luiz Carlos Balga

Rodrigues. Rio de Janeiro: UFRJ, 2018. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos

Neolatinos – Língua Francesa).

ABSTRACT

This dissertation focuses on the role of the normative Grammar in the teaching of French as a

foreign language through an action perspective. The main objective of this research is to know

which problems a teacher of French as a foreign language faces in the moment he teaches the

grammar rules through an action perspective and what ways he utilizes to solve them. It is

intended to analyse the importance of grammar in the action perspective sense construction as

well as to understand how that grammar is explored in classroom. Lastly, it is intended to

offer some kind of contribution to the study of French as a Foreign Language didactics by

providing a reflection on the ways the action perspective is being adopted in the classroom.

The hypotheses which guided this research, at first, was that a French foreign language

teacher is used to using the inductive approach in the moment he teaches the grammar rules,

even though this approach didn’t seem to contribute to the acquisition of communicative

competence. At the end of the research, it is concluded that the teacher’s objective in choosing

the grammar approach is not centered in the communication, since the grammar approaches

do not interfere in the communicative competence acquisition.

Keywords: teaching, grammar, French as a foreign language, action perspective

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 1 - Características subjacentes ao agir na perspectiva acional ...................................... 54

Figura 2 - Níveis comuns de referência para o ensino e a aprendizagem de línguas ............... 55

Figura 3 - Negação pela abordagem dedutiva .......................................................................... 71

Figura 4 - Negação pela abordagem indutiva ........................................................................... 72

Figura 5 - Estudo comparativo das abordagens indutivas ........................................................ 73

Figura 6 - Modelo de organização de um exercício de FLE .................................................... 76

Figura 7 - Questionário de resposta aberta ............................................................................... 77

Figura 8 - Exercício de lacuna .................................................................................................. 78

Figura 9 - Exercício de quebra-cabeça ..................................................................................... 80

Figura 10 - Exercício de correspondência ................................................................................ 80

Figura 11 - Jeux de rôle ............................................................................................................ 82

Figura 12 - Exercício de repetição ............................................................................................ 85

Figura 13 - Exercício de substituição ....................................................................................... 85

Figura 14 - Exercício de combinação ....................................................................................... 86

Figura 15 - Exercício de transformação ................................................................................... 86

Figura 16 - Exercício de reemprego ......................................................................................... 86

Figura 17 - Situação de reemprego ........................................................................................... 88

Figura 18 - Exercício de conceituação da regra gramatical...................................................... 89

Figura 19 - Gramática explícita ................................................................................................ 90

QUADROS

Quadro 1 - Níveis Comuns de Referência: escala global ......................................................... 55

Quadro 2 - Sumário de mudanças............................................................................................. 57

Quadro 3 - Precisão Gramatical................................................................................................ 59

Quadro 4 - Exemplo entre o exercício e problema ................................................................... 76

Quadro 5 - Tipos de exercícios segundo alguns autores .......................................................... 91

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GRÁFICOS

Gráfico 1 - A centralização no ensino de professores ............................................................ 103

Gráfico 2 - Considerado o mais importante para os professores atualmente ......................... 104

Gráfico 3 - Ensino de gramática ............................................................................................. 105

Gráfico 4 - Utilização do material suplementar...................................................................... 106

Gráfico 5 - Uso da gramática dedutiva ................................................................................... 112

Gráfico 6 - Emploi du temps ................................................................................................... 114

Gráfico 7 - Os aprendizes e as abordagens gramaticais ......................................................... 115

Gráfico 8 - Relação das atividades à percepção do aprendiz, segundo o professor ............... 116

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LISTA DE ABREVIATURAS

AC: Abordagem Comunicativa

FLE: Francês Língua Estrangeira

FLM: Francês Língua Materna

GU: Gramática Universal

LE: Língua Estrangeira

LM: Língua Materna

MT: Metodologia Tradicional

MD: Metodologia Direta

MAO: Metodologia Áudio-oral

PA: Perspectiva Acional

QECR: Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas

S.G.A.V.: Structuro-globale audio visuelle

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 14

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................................. 19

1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ............................................................................. 19

1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA .................................................................................. 22

1.3 FRANCÊS LÍNGUA MATERNA .............................................................................................. 32

1.4 FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA ...................................................................................... 33

2 AS METODOLOGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE FLE E O ASPECTO

GRAMATICAL ................................................................................................................................... 36

2.1 METODOLOGIA TRADICIONAL ........................................................................................... 37

2.2 METODOLOGIA DIRETA ........................................................................................................ 39

2.3 METODOLOGIA ÁUDIO-ORAL ............................................................................................. 41

2.4 METODOLOGIA AUDIOVISUAL ........................................................................................... 43

2.5 ABORDAGEM COMUNICATIVA ........................................................................................... 46

2.6 PERSPECTIVA ACIONAL E O QUADRO EUROPEU COMUM DE REFERÊNCIA .......... 50

2.7 ECLETISMO METODOLÓGICO ............................................................................................. 59

3 A IMPORTÂNCIA DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE FLE ................................................... 65

3.1 METALINGUAGEM GRAMATICAL ...................................................................................... 65

3.2 ABORDAGENS DEDUTIVA E INDUTIVA ............................................................................ 71

3.3 EXERCÍCIOS GRAMATICAIS ................................................................................................. 75

3.4 GRAMÁTICA NO ENSINO DE FLE ........................................................................................ 92

3.4.1 Compreensão Oral e Escrita ............................................................................................. 94

3.4.2 Expressão Oral e Escrita ................................................................................................... 96

3.4.3 Norma .................................................................................................................................. 97

3.4.4 Erro x Falha ........................................................................................................................ 98

4 ANÁLISE DE DADOS................................................................................................................... 101

4.1 PERFIL DOS INFORMANTES ............................................................................................... 102

4.2 O PAPEL DA GRAMÁTICA ................................................................................................... 103

4.3 MATERIAL SUPLEMENTAR ................................................................................................ 105

4.4 GRAMÁTICA DEDUTIVA ..................................................................................................... 111

4.5 EXERCÍCIO GRAMATICAL .................................................................................................. 115

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 119

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 123

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APÊNDICES ...................................................................................................................................... 128

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ............................................................................................... 128

APÊNDICE B – RESPOSTAS DO PROFESSOR 1 ...................................................................... 132

APÊNDICE C – RESPOSTAS DO PROFESSOR 2 ...................................................................... 134

APÊNDICE D – RESPOSTAS DO PROFESSOR 3 ...................................................................... 136

APÊNDICE E – RESPOSTAS DO PROFESSOR 4 ...................................................................... 138

APÊNDICE F – RESPOSTAS DO PROFESSOR 5....................................................................... 140

APÊNDICE G – RESPOSTAS DO PROFESSOR 6 ...................................................................... 142

APÊNDICE H – RESPOSTAS DO PROFESSOR 7 ...................................................................... 144

APÊNDICE I – RESPOSTAS DO PROFESSOR 8 ....................................................................... 146

APÊNDICE J – RESPOSTAS DO PROFESSOR 9 ....................................................................... 148

APÊNDICE K – RESPOSTAS DO PROFESSOR 10 .................................................................... 150

APÊNDICE L – RESPOSTAS DO PROFESSOR 11 .................................................................... 152

APÊNDICE M – RESPOSTAS DO PROFESSOR 12 ................................................................... 154

APÊNDICE N – RESPOSTAS DO PROFESSOR 13 .................................................................... 156

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14

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa provém de um questionamento antigo. Durante a graduação em Letras:

Português/Francês, estudávamos gramática de maneira exaustiva, especialmente no que se

referia às aulas de francês. Além disso, os materiais trabalhados pelos professores, nos

primeiros anos de graduação, eram livros didáticos utilizados frequentemente em cursos de

idiomas onde o público alvo – cujos objetivos são diferentes – encontra-se em menor

quantidade comparado aos alunos da graduação. Assim como eu, a maioria dos aprendizes de

francês parecia ingressar na universidade sem dominar ou até mesmo conhecer a língua

estrangeira (LE) que iria estudar, visto que, para se inscrever no curso de Letras

Português/Francês, não precisava realizar a prova de língua francesa: podia-se optar pela

prova de inglês ou de espanhol. Desse modo, a aprendizagem do francês como língua

estrangeira demandava maior dedicação dos aprendizes que nunca tiveram contato com o

idioma, recorrendo cada vez mais às gramáticas.

Apesar de quatro anos de bacharelado e mais um ano de licenciatura, o francês como

objeto de ensino raramente era abordado entre as diversas disciplinas fornecidas pela

Faculdade de Letras e pela de Educação. Em outras palavras, grande parte das disciplinas de

licenciatura focava no segmento teórico do ensino, como é o caso da disciplina “Fundamentos

Sociológicos da Educação”. A consequência dessa ausência foi percebida mais claramente

alguns anos depois, durante meu primeiro cargo como professora de francês língua estrangeira

(FLE). Embora tivesse aprendido a me expressar e a compreender a língua francesa, a

dificuldade em lecionar os pontos gramaticais era constante. A universidade e o curso de

idioma haviam me ensinado a língua francesa em que a gramática era explicada de forma

dedutiva; ao contrário dos lugares onde trabalhei, que demandavam um ensino de gramática

contextualizada e indutiva: característica da perspectiva acional apresentado no Quadro

Europeu Comum de Referência para as Línguas1 (QECR).

Há seis anos, utilizo a perspectiva acional nas aulas de francês língua estrangeira em

cursos distintos na cidade do Rio de Janeiro. A maioria dos cursos de idiomas parece priorizar

a rapidez do ensino e os locais onde lecionei/leciono não seriam diferentes. A imagem do

aprendizado como algo rápido e que não requer grande esforço tem como consequência a

desvalorização do ensino da gramática, já que esta é vista por muitos professores e por cursos

de idiomas como um recurso ultrapassado e enfadonho. Por conseguinte, o descontentamento

1 Cadre Européen Commun de Références pour les Langues

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15

dos aprendizes em relação ao ensino de gramática em sala de aula se torna cada vez mais

recorrente. Esta pesquisa surge e se fundamenta a partir de um conjunto de pressupostos,

concebidos pelas inquietações do francês língua estrangeira no que se refere ao ensino de

gramática na perspectiva acional. Opto por esta abordagem, e acredito que as ideias discutidas

na pesquisa poderão ser úteis também na abordagem comunicativa, visto que a perspectiva

acional parece ser uma evolução desta abordagem, que traz a tarefa para o centro do processo

de aquisição de LE e que organiza o conteúdo pautado pelas novas tecnologias de informação

e comunicação onde o professor pode acrescentar material suplementar. Além disso, observo

que a perspectiva acional se encontra presente na prática pedagógica dos professores, porém

não completamente. Alguns professores, que atuam em cursos de idiomas, confessam adotar

opções diferentes para cada situação e justificam o uso de outros métodos. Outros se

incomodam em assumir que ensinam a gramática através de exercícios estruturais e de

fixação, pois temem ser considerados ultrapassados.

Segundo Marie-Christine Fougerouse, em um artigo publicado em 2001 na revista Ela.

Études de linguistique appliquée intitulado L’enseignement de la grammaire en classe de

français langue étrangère, no qual se baseia esta pesquisa, os professores acreditam que a

gramática é o elemento linguístico mais importante em sala de aula, superior a outras

competências. Este resultado foi oriundo de uma pesquisa – questionário – realizada na

França com trinta professores de francês língua estrangeira em escolas de línguas. Apesar do

papel da gramática ser importante, não elimina a relevância de outras competências. Em

outras palavras, a gramática não é a única fonte de ensino, visto que a compreensão e a

expressão tanto oral quanto escrita também são importantes. Cuq e Gruca (2005, p.383)

definem a gramática como um trabalho sobre a forma, salientando que para que o ensino seja

adquirido pelos aprendizes é preciso um equilíbrio entre as atividades sobre a forma e as

atividades comunicativas.

Em 2001, o Quadro Europeu Comum de Referência apresenta uma nova abordagem

intitulada perspectiva acional. Esta abordagem prioriza a interação em que o aprendiz é um

ator social que exerce tarefas tanto referentes à língua quanto ao ambiente e à circunstância

determinados. Os atores sociais, ao aprender uma língua estrangeira, desenvolvem um

conjunto de competências, isto é, conjunto de conhecimentos, características e capacidades

que permitem a realização de tarefas em diferentes condições, a fim de desempenharem

atividades linguísticas. A competência comunicativa em língua depende de diversas

atividades linguísticas como: produção e recepção (escrita e/ou oral); interação e mediação

(no caso da interpretação ou tradução).

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16

Apesar de focar na natureza do uso da língua e do seu aprendiz, nas implicações para

o ensino e aprendizagem e na avaliação da proficiência em língua, o QECR não especifica as

relações gramaticais. A competência gramatical é brevemente denominada como a capacidade

para compreender e expressar significado, através da produção e do reconhecimento de frases

e expressões. Contudo, o Quadro Europeu Comum de Referência não explicita as inúmeras

teorias gramaticais, embora liste maneiras de desenvolver a competência gramatical. Segundo

Béacco (2010, p.19), os problemas da seleção das formas a serem ensinadas são provenientes

da não-especificação dos critérios de seleção e de distribuição no ensino. Deste modo,

questiono o motivo pelo qual os professores, que adotam conscientemente a perspectiva

acional como opção metodológica – em que um dos fundamentos é o não privilégio da

gramática – preferem adotar uma postura muitas vezes clássica e dedutivista ao ensinar as

regras gramaticais.

Visto que o foco desta pesquisa é o papel da gramática no ensino de francês língua

estrangeira pela perspectiva acional, selecionamos os sujeitos da pesquisa em um curso de

idiomas na cidade do Rio de Janeiro que utiliza esta abordagem acional em suas aulas. A

pesquisa é qualitativa e ocorre por meio da aplicação de um questionário semiestruturado com

professores de francês língua estrangeira desta instituição. De forma geral, investigamos: se a

formação em francês desse professor influencia a visão que ele possui sobre a gramática; se

essa mesma formação interfere na maneira como a gramática é trabalhada em sala de aula; se

o professor aplica a gramática dedutiva ou indutiva. Neste sentido, visamos saber quais as

dificuldades que o professor de francês língua estrangeira enfrenta no momento em que ensina

regras gramaticais a partir da perspectiva acional e quais são os meios de que lança mão para

resolvê-las. Objetivamos analisar a importância da gramática na formação de sentido na

perspectiva acional e de que forma essa gramática é trabalhada por professores de FLE. Por

fim, pretendemos trazer alguma contribuição para os estudos de didática de línguas

estrangeiras, promovendo uma reflexão sobre a forma como a perspectiva acional vem sendo

adotada em sala de aula.

Uma das hipóteses que orientou esta pesquisa se baseia na pouca contribuição que a

abordagem indutiva parece conceder à aquisição da competência comunicativa, embora o

professor de francês língua estrangeira acredite no auxílio da indução gramatical para a

reflexão do aprendiz e para uma melhor participação no processo de aprendizagem. Na

prática, verifica-se que tanto a abordagem indutiva quanto a dedutiva são utilizadas para a

construção da competência gramatical, sem que haja interferência na competência

comunicativa. Não é a forma como o aprendiz constrói a gramática, mas sim o seu papel e a

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17

maneira como ela é tratada que influenciam a competência comunicativa. A seleção da

perspectiva acional pela gramática indutiva está relacionada à importância do indivíduo no

processo de aprendizagem, não na estruturação da comunicação.

Esta dissertação se divide em quatro grandes partes. No capítulo 1, dedicado à

Fundamentação Teórica, encontram-se os conceitos e as funções mais relevantes que

auxiliam na construção deste trabalho. As acepções da palavra gramática, por exemplo, são

inúmeras; no entanto, o objetivo desta pesquisa não é descrever detalhadamente todos elas,

mas sim identificar aquelas que atuam no ensino de língua. Apresentamos as concepções

relacionadas ao ensino/aprendizagem de língua como: a gramática normativa, a gramática

descritiva e a gramática internalizada. Para este fim, recorremos a Possenti (1996), Câmara

Junior (1984), Antunes (2007) e Perini (2000). Com o intuito de analisar os diferentes

conceitos gramaticais, mesmo que superficialmente, é necessário que haja uma perspectiva

histórica. A origem da gramática no mundo ocidental, as primeiras reflexões dos latinos e

gregos; assim como as primeiras gramáticas que surgiram e foram modificadas pela inovação

da imprensa, estão explicitadas aqui. Para que a gramática tenha fundamentação, além do

percurso histórico, as concepções de linguagem e suas aplicações na prática pedagógica do

ensino de língua são destacadas com base em Travaglia (2000) e Geraldi (1984).

Substanciamos também o conceito de língua com as ideias de Saussure (2006) e de Bakhtin

(1981); da mesma forma que se encontram as acepções de francês língua materna (FLM) e de

francês língua estrangeira (CUQ; GRUCA, 2005).

Além do conceito de gramática, é imprescindível nesta pesquisa tratar do papel da

gramática em diferentes metodologias no ensino de LE. No capítulo 2, As Metodologias de

ensino e aprendizagem de FLE e o aspecto gramatical, descrevemos o contexto histórico das

metodologias com relação ao uso de gramática. Baseamo-nos no linguista francês Puren

(1988) cuja obra Histoire des méthodologies de l’enseignement des langues explica,

contextualiza e descreve as metodologias de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras.

Empregamos igualmente os autores Cuq e Gruca (2005), Germain e Séguin (1998) e o

Conselho da Europa (2001, 2017). Este último é responsável pelo QECR, guia usado para

definir os níveis de competência e medir o progresso do aprendiz de LE a cada etapa de

aprendizagem. Evidenciamos as metodologias mais empregadas, sendo elas, a metodologia:

tradicional, direta, áudio-oral, structuro-globale audiovisual, abordagem comunicativa e

perspectiva acional. Para concluir a segunda parte da dissertação, explicitamos o conceito de

ecletismo metodológico (VILAÇA, 2008; SALINS, 1996; DEBYSER, 1975) e os recursos

utilizados pelos professores para a prática do ecletismo (PICCARDO; YAÏCHE, 2005).

Page 18: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

18

No capítulo 3, A importância da gramática no ensino de FLE, focalizamos na

aquisição da gramática no ensino/aprendizagem de língua estrangeira e nos principais

elementos que a integram. Inicialmente, trazemos a discussão teórica sobre a metalinguagem

gramatical de acordo com Cicurel (1985), além de elucidar as abordagens explícita e

implícita. Posteriormente, evidenciamos a diferença entre a gramática dedutiva e indutiva,

com destaque para os tipos de abordagem gramatical indutiva (CHARTRAND, 2009;

VINCENT et al., 2013), visto que esta abordagem é defendida e recomendada para o ensino

gramatical de LE pelo Quadro Europeu Comum de Referência. Em seguida, abordamos a

importância e os tipos de exercícios gramaticais (VIGNER, 1984, 2016; DELATTRE, 1971)

exemplificados por diferentes livros didáticos. Por último, outras questões são levantadas

como: compreensão oral e escrita, expressão oral e escrita, norma, erro e falha.

No capítulo 4, Análise de dados, realizamos a análise dos resultados ao apresentar um

levantamento crítico. Primeiramente, analisamos as informações relacionadas ao papel da

gramática no ensino de francês língua estrangeira. Traçamos um paralelo do papel da

gramática nas aulas dos professores de FLE com o de sua formação inicial. Posteriormente,

tratamos da opinião desses professores sobre o segmento dedicado à gramática no livro

didático adotado pela instituição e se esses professores recorrem ao uso de materiais

suplementares para ensiná-la. Consequentemente, pesquisamos quais são os materiais

utilizados para complementar o ensino de gramática, o motivo de seu emprego e se recorrem a

mesma abordagem gramatical do material adotado pela instituição. Por fim, observamos, de

acordo com os informantes, a relação dos aprendizes com as atividades de reemprego e de

produção propostas pelos professores, a fim de compreender se esta ligação interfere na

escolha dos materiais suplementares e, por sua vez, na seleção pela abordagem dedutiva.

Page 19: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

19

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM

Antes de tratar das diferentes concepções e tipos de gramática, é preciso estabelecer os

conceitos de linguagem que fundamentaram e/ou fundamentam o ensino de língua; isso

porque, a maneira como o professor de língua concebe a linguagem determina a forma como

será abordada a língua em termos de ensino. Entre os autores que tratam das definições de

linguagem e de suas aplicações na prática pedagógica do ensino de língua, serão destacadas as

concepções de Travaglia (2000) e Geraldi (1984). Ambos apresentam três noções de

linguagem: pensamento, comunicação e interação social. Além da sustentação teórica desses

dois autores, substancio o conceito de língua com as ideias de Saussure (2006) e de Bakhtin

(1981).

A linguagem como expressão do pensamento. Travaglia (2000, p.21) declara que

“as leis da criação linguística são sobretudo as leis da psicologia individual, e da capacidade

de o homem organizar de forma lógica seu pensamento dependerá a exteriorização desse

pensamento por meio de uma linguagem articulada e organizada.” Não há o reconhecimento

do outro. Durante a elaboração do texto, por exemplo, mesmo em uma determinada situação

de interação comunicativa, o conceito de linguagem não atenta ao interlocutor, à situação nem

ao momento histórico. Baseado na lógica clássica grega, a concepção tradicional não possui

visão científica, isto é, propõe apenas a formulação de regras a fim de distinguir as formas

corretas e incorretas. Em outras palavras, para que ocorra a organização do pensamento e, por

consequência, da linguagem, é necessário que haja regras. De acordo com Geraldi (1984,

p.41), “esta concepção ilumina, basicamente, os estudos tradicionais. Se concebemos a

linguagem como tal, somos levados a afirmações – correntes – de que as pessoas que não

conseguem se expressar não pensam”. No que concerne à língua, sua designação pode ser

encontrada nas quatro proposições abaixo:

1. A língua é uma atividade, um processo criativo ininterrupto de construção

(“energia”), que se materializa sob a forma de atos individuais de fala.

2. As leis da criação linguística são essencialmente as leis da psicologia individual.

3. A criação linguística é uma criação significativa, análoga à criação artística.

4. A língua, enquanto produto acabado (“ergon”), enquanto sistema estável (léxico,

gramática, fonética), apresenta-se como um depósito inerte, tal como a lava fria da

criação linguística, abstratamente construída pelos linguistas com vistas à sua

aquisição prática como instrumento pronto para ser usado. (BAKHTIN, 1981, p.51)

Page 20: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

20

Essa concepção clássica de linguagem tem como abordagem os estudos linguísticos

tradicionais que são baseados na disciplina normativa. Ao privilegiar a norma padrão, esse

conceito tende a desconsiderar as variações e a evidenciar apenas a língua escrita; como

consequência, gera-se um preconceito linguístico ao estigmatizar a língua daqueles que são

mais desfavorecidos tanto linguística quanto economicamente. O ensino de língua é

confundido com o ensino de gramática. O aprendiz tem como função memorizar estruturas

prontas e reproduzi-las, pois é por meio do armazenamento de estruturas linguísticas que ele

se expressa. O aprendiz é um ser passivo, enquanto o professor detém todo conhecimento.

A linguagem como instrumento de comunicação. Neste caso, a língua é um ato

social que envolve pelo menos duas pessoas: emissor e receptor. O emissor transmite uma

mensagem ao receptor através da língua, ou seja, a língua é concebida como um código. Em

termos gerais, o falante tem em sua mente uma mensagem ou informação inserida em um

código (codificação), que por meio de um canal (ondas sonoras ou luminosas), envia ao

ouvinte. Em outros termos, trata-se de um conjunto de signos que se combinam conforme as

regras. No século XX, o linguista suíço Ferdinand de Saussure (1857 - 1913), com sua obra

póstuma intitulada Cours de Linguistique Générale (1916), torna-se o responsável pela

reestruturação da Linguística. Seus conceitos serviram de base para o Estruturalismo. A

linguística passa a ser tratada como ciência, focando no estudo da linguagem e da língua.

Saussure (2006, p.17) distingue esses dois conceitos, da seguinte forma:

Para nós, ela [a língua] não se confunde com a linguagem; é somente uma parte

determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto

social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias,

adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos.

Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; o cavaleiro de

diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence

além disso ao domínio individual e ao domínio social; não se deixa classificar em

nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como interferir sua unidade.

A língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação. Desde que

lhe demos o primeiro lugar entre os fatos da linguagem, introduzirmos uma ordem

natural num conjunto que não se presta a nenhuma outra classificação.

Saussure (2006) afirma que o estudo da linguagem se divide em duas partes: língua

(langue) e fala (parole). A primeira é considerada um sistema de signos linguísticos, ou seja, a

união do conceito e da imagem acústica. O conceito (significado) é compreendido como ideia,

sentido; enquanto a imagem acústica (significante) refere-se à impressão psíquica do som e

não à sua materialização. “Esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o

outro” (SAUSSURE, 2006, p.80). O significado e o significante são componentes

interdependentes, porém a ligação entre esses dois elementos é arbitrária. Em outras palavras,

Page 21: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

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o linguista suíço afirma que um mesmo significado pode ser representado por diferentes

significantes.

Bakhtin (1981, p.59) sintetiza a definição de língua, nas seguintes proposições:

1. A língua é um sistema estável, imutável, de formas linguísticas submetidas a uma

norma fornecida tal qual à consciência individual e peremptória para esta.

2. As leis da língua são essencialmente leis linguísticas específicas, que estabelecem

ligações entre os signos linguísticos no interior de um sistema fechado. Estas leis são

objetivas relativamente a toda consciência subjetiva.

3. As ligações linguísticas específicas nada têm a ver com valores ideológicos

(artísticos, cognitivos ou outros). Não se encontra, na base dos fatos linguísticos,

nenhum motor ideológico. Entre a palavra e seu sentido não existe vínculo natural e

compreensível para a consciência, nem vínculo artístico.

4. Os atos individuais de fala constituem, do ponto de vista da língua; simples

refrações ou variações fortuitas ou mesmo deformações das formas normativas. Mas

são justamente estes atos individuais de fala que explicam a mudança histórica das

formas da língua; enquanto tal, a mudança é, do ponto de vista do sistema, irracional

e mesmo desprovida de sentido. Entre o sistema da língua e sua história não existe

nem vínculo nem afinidade de motivos. Eles são estranhos entre si.

A linguagem como forma ou processo de interação social. Além de exteriorizar o

pensamento ou transmitir informação a outra pessoa, o indivíduo realiza ações, ou seja, age e

atua sobre o interlocutor. Esta concepção “situa a linguagem como o lugar de constituição de

relações sociais, onde os falantes se tornam sujeitos” (GERALDI, 1984, p.41). Em outras

palavras, o indivíduo não repassa somente uma informação, mas atua sobre o interlocutor.

“Os usuários da língua ou interlocutores interagem enquanto sujeitos que ocupam lugares

sociais e ‘falam’ e ‘ouvem’ desses lugares de acordo com formações imaginárias (imagens)

que a sociedade estabeleceu para tais lugares sociais” (TRAVAGLIA, 2000, p.23). O

pensador russo Mikhail Bakhtin (1895 - 1975) em Marxismo e Filosofia da Linguagem2

declara que:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de

formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato

psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal,

realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui

assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 1981, p.92)

A ideia bakhtiniana privilegia a enunciação e a interação verbal. O autor critica a

definição de linguagem das duas orientações expressas anteriormente: a tradicional que

compreende a linguagem como pensamento, e a estrutural que concebe a linguagem como

comunicação. A primeira orientação, denominada por Bakhtin (1981) de “subjetivismo

2 À princípio, esta obra foi publicada com a assinatura de Valentin Volochinov, discípulo de Bakhtin.

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individualista”, afirma que a língua é vista como um sistema estável, uma atividade mental e

individual. Para o pensador russo, essa concepção reduz os conteúdos ideológicos em

psiquismo individual. A segunda orientação, chamada de “objetivismo abstrato”, define a

língua como código. Apesar de concordar com Saussure, que a língua é um ato social,

Bakhtin critica sua concepção enquanto sistema de regras, por tratar-se de um caráter formal,

ou seja, por não colocar a língua no fluxo de interação verbal. “A língua vive e evolui

historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato das

formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes.” (BAKHTIN, 1981, p.92)

A concepção de língua e linguagem intervém sobre a prática pedagógica. Atualmente,

assim como a linguagem, o ensino de língua estrangeira também está relacionado à interação

social. O aluno não aprende a metalinguagem a fim de comunicar-se, isto é, não há enfoque

no ensino explícito; mas sim, há a comunicação e, consequentemente, o desenvolvimento do

conhecimento e a preparação linguística. O professor, por sua vez, é um mediador que corrige

o erro apenas quando este interfere na comunicação, quando impossibilita a interação entre os

aprendizes ou entre o aprendiz-professor.

Basicamente, havia duas concepções de língua no século XX: uma do ponto de vista

abstrato e sistemático, e outra do social. O primeiro prisma afirma que a língua é estabelecida

como um sistema abstrato de signos que podem ser estudados separadamente ou de forma

concomitante seguindo a evolução, as teorias, a morfologia, a sintaxe, a semântica, o léxico e

os aspectos fonéticos e fonológicos. Esse conceito justifica as investigações da linguística

geral e da gramática. A segunda concepção de língua está direcionada à sociolinguística, ou

seja, parte da linguística que trata da relação entre as línguas e os locutores. Por muito tempo,

essa concepção foi considerada insignificante. A parte da linguística dedicada à fala na

distinção saussuriana entre língua e fala ocupa, nos dias de hoje, seu espaço nas ciências da

linguagem: psicolinguística, aquisição, pragmática, linguística conversacional, análise do

discurso (CUQ; GRUCA, 2005, p.79).

1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

O primeiro uso da palavra gramática no mundo ocidental – grammatikè technè – foi

feito pelos gregos, mais especificamente por Platão (428 - 348 a.C.), que considerava a

gramática como a filosofia da linguagem, isto é, a reflexão sobre a escrita. O termo grego

gramma, que significa “letra”, corrobora a ideia de que a parte escrita da linguagem se

sobrepunha à fala. Na obra platônica, intitulada Sofista, estabelece-se a distinção entre onoma

e rhéma, o que atualmente equivale, respectivamente, ao “sujeito” e ao “predicado”. Ao

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contrário de Platão, Aristóteles (384 - 382 a.C.), seu discípulo, via a gramática não apenas

como um saber, mas também como uma ciência. O filósofo grego Aristóteles, em 335, fundou

em Atenas uma escola intitulada Liceu, onde se estudava, além da gramática, anatomia,

fisiologia, zoologia, geografia, geologia, astronomia, entre outras ciências. Em sua obra A

Poética, encontra-se a primeira definição semântica e formal de partes do discurso: o

substantivo se distingue do verbo porque ele sofre uma flexão casual enquanto o verbo se

diferencia em razão da flexão temporal. Além da diferenciação entre substantivo e verbo,

existe a distinção, embora não muito clara, da conjunção. No capítulo XX desta obra,

Aristóteles distingue unidades fonéticas elementares não significantes asèmoï e unidades mais

complexas e significantes sèmantikoï atribuindo, deste modo, o que viria a ser chamado

atualmente como “fonema” e “morfema”. Outro filósofo grego, que teve papel importante na

construção gramatical, foi Aristarco (310 - 230 a.C.), responsável pelo nome e ordem

canônica das categorias: substantivo, verbo, particípio, artigo, pronome, preposição, advérbio

e conjunção.

Todo esse conhecimento difundido pelos gregos foi aplicado nos séculos posteriores e

empregado nos dias de hoje, especialmente no que diz respeito às categorias de Aristóteles e

Aristarco. Embora os gregos tenham acumulado fundamentos, o ensino da própria língua não

era transmitido para outros povos, uma vez que os gregos consideravam bárbaros todos

aqueles que não falavam sua língua. Segundo Jean-Pierre Cuq (1996, p.9), o ensino de língua

estrangeira só estará presente entre os gregos após a conquista romana, quando o interesse em

aprender latim para conhecer o direito e para a conquista do progresso social se manifesta.

Os romanos, assim como os gregos, se interessavam pelo estudo gramatical, embora

não tenham realizado um grande progresso nesse conhecimento. Dois autores romanos

possuem obras que servem de base para reflexões posteriores até a época clássica: o filósofo

Cícero (106 - 43 a.C.) e o professor de retórica Quintiliano (35 - 96 d.C.). Apesar de não

serem considerados gramáticos, ambos foram os precursores da gramática através de seus

cursos de oratória. Três outros autores, no entanto, merecem a denominação de gramáticos.

São eles: Varão (116 - 27 a.C.) com a obra De Língua Latina; São Jerônimo (347 - 420) e

Prisciano (fim do século V – início do século VI) que produziu a obra Instituições

Gramaticais, na qual estabeleceu a primeira divisão entre fonética, morfologia e sintaxe

(CUQ, 1996, p.10). Por volta do século X, Prisciano era um dos mais utilizados no ensino de

latim escrito. A distância entre latim vulgar – latim falado – e latim escrito crescia cada vez

mais. Portanto, o ensino da língua escrita e da língua falada era diferenciado. Em outras

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palavras, a variedade alta do latim escrito e a variedade baixa do latim vulgar fazia com que o

ensino do latim escrito fosse tratado como língua estrangeira.

Tanto na Antiguidade quanto na Idade Média, a discussão gramatical era considerada

formadora e educadora, permitindo a reflexão sobre o próprio homem, a linguagem articulada

(CUQ; GRUCA, 2005, p.388). No fim da Idade Média e início do Renascimento, os estudos

latinos, gregos, árabes e hebraicos se desenvolvem em uma perspectiva descritiva e

comparatista. Durante o Renascimento, surge na Europa uma enorme quantidade de

gramáticas das línguas vernáculas. Segundo Cuq (2005, p.11) há na Itália Regole della lingua

fiorentina (1450), de Alberti; na Espanha Grammatica de la lengua castellana (1492), de

Nebrija; na Alemanha a primeira gramática do alemão (1573), de Ölinger; na Grã-Bretanha, a

primeira gramática do inglês (1586), de Bullokar e em 1587 há na França a primeira

gramática do basco. Na Ásia, Varo (1703) et Prémare (1727) fornecem as primeiras

gramáticas do chinês. Na América Latina, diversas gramáticas se estabeleceram como: o

nahuatl (1547), o quéchua (1560) e o guarani (1656). De acordo com Câmara Junior (2001,

p.11), “em português, desde Fernão de Oliveira e João de Barros no século XVI, vêm se

multiplicando as gramáticas, pautadas pelo modelo greco-latino, intituladas quer descritivas,

quer expositivas.”

Com a invenção da imprensa, as gramáticas passam por uma grande modificação. Elas

deixam de ser gramáticas simples de uso, características da Idade Média, e tornam-se,

segundo Puren (1988, p.19), “pesados tratados teóricos cuja aprendizagem a priori tomará

cada vez mais o lugar na estratégia de ensino”. No século XVII, o francês – assim como

outras línguas nacionais – substitui o latim como língua de comunicação. Consequentemente,

o latim transforma-se em língua erudita, sendo utilizado apenas, no que diz respeito ao ensino,

como disciplina escolar. Os gramáticos de Port-Royal, neste mesmo século, unem a fala ao

pensamento. Os linguistas franceses Arnauld e Lancelot escreveram em 1660 a Grammaire

Générale et Raisonnée que serviu de base por dois séculos à formação gramatical.

No século XVI, o pensador francês Michel Montaigne (1533 - 1592) revela uma

preferência por uma aprendizagem “natural” das línguas. O educador tcheco Comenius (1592

- 1670), em suas obras La porte ouverte sur les langues (1631), Orbis pictus (1651) e La

grande didactique (1657), discorda da exclusão da gramática no ensino, mas declara que as

regras servem apenas para confirmar o uso. O pensador inglês John Locke (1632 - 1704) em

sua obra Quelques pensées sur l’éducation (1693) demonstra ser contra o estudo da gramática

em línguas vivas. Segundo Locke (1693, p.163), é preciso saber para quem ensinar gramática.

São eles:

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Homens que estudam línguas para o comércio comum da sociedade. Para aqueles

que não empregam a língua desta forma, a gramática não é necessária. Em outros

termos, é possível compreender o que é dito sem que jamais tenha sido aprendido

gramática.

Pessoas cujo principal negócio é servir o seu idioma. Para isso, é necessário que

saibam falar de forma pura e correta para que possam introduzir facilmente seus

pensamentos nas mentes de outros homens. Portanto, deve se estudar a gramática

do seu próprio idioma, entre outras coisas, para aprender a falar bem; para que ele

possa entender exatamente os discursos de seus compatriotas.

A terceira categoria refere-se às pessoas que se candidatam a aprender duas ou três

línguas estrangeiras, mortas e sábias. No entanto, todo o conhecimento que um

cavalheiro deve coletar para ler escritores gregos e latinos, é possível obtê-lo sem

estudar as gramáticas dessas línguas, isto é, através da leitura, o cavalheiro

entenderá esses autores. Caso tenha que estudar um problema que requer mais

conhecimento, ele pode aprofundar a gramática.

De acordo com Locke (1693, p.164), era para estudar sua própria língua e não as

línguas estrangeiras que fizeram da gramática uma parte da educação. Em outros termos, a

aquisição de línguas estrangeiras ocorreria por meio do uso, não de regras (CUQ, 1996, p.12).

No entanto, no final do século XVIII e XIX, a gramática passa a ter outro papel, visto que o

âmbito escolar adota a gramática, especialmente a ortografia. Portanto, a introdução da

gramática escolar faz com que os gramáticos se tornem os legisladores das línguas. Entre

estes gramáticos estão: Charles-François Lhomond (1727 - 1794), autor da edição Éléments

de la grammaire française (1780), que separou pela primeira vez o substantivo do adjetivo,

definiu o particípio e estabeleceu a lista de categorias gramaticadas estudadas atualmente;

François Urbain Domergue (1745 - 1810) que escreveu a obra Grammaire française

simplifiée (1778); Noël e Chapsal que sob uma perspectiva ortográfica propõem exercícios e

regras precisas para a concordância do sujeito e do verbo, do sujeito e do atributo, do

particípio e do complemento do objeto direto em La nouvelle grammaire française. Do final

do século XVIII até o início do século XX, foi um período em que novas gramáticas francesas

surgiram. No entanto, atualmente, a aquisição ortográfica da língua materna tornou-se o

objetivo principal na aprendizagem gramatical.

Normalmente, quando o assunto é gramática, muitos desconhecem as diferentes

acepções que esse termo detém. A gramática possui muitos significados que variam de acordo

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com o seu aspecto teórico. Apesar destes conceitos coexistirem entre si, é necessário

estabelecer suas funções e particularidades. De acordo com Vigner (2004, p.12), as

gramáticas são descrições elaboradas em um contexto determinado e resultam de um ponto de

vista sobre a língua. Os pontos de vista podem ser de natureza:

teórica: a gramática se inscreve em um campo teórico na forma de aproximar a

língua. As orientações teóricas dependem da escolha de exercícios, a natureza da

metalinguagem utilizada. Com a palavra gramática estão frequentemente

associados qualificadores que especificam sua natureza: estrutural, distribucional,

gerativista, transformacional, semântica, entre outros.

cultural: depende da língua e da cultura de origem do aprendiz. As categorias

gramaticais utilizadas para compor uma língua e seu funcionamento não são

universais. Em outras palavras, a gramática é uma construção intercultural e

cultural; portanto, sujeita à diversas variações. Há, por exemplo, línguas com dois

gêneros, com três gêneros e até mesmo sem gênero.

Além destas concepções, há outros sentidos para a expressão “gramática”. Possenti

(1996, p.61-62), por exemplo, resume a noção de gramática como o “conjunto de regras”.

Ademais, o autor apresenta três tipos principais de gramática: normativa, descritiva e

internalizada. Segundo o linguista, a gramática normativa é definida como o conjunto de

regras que devem ser seguidas; a gramática descritiva, por sua vez, estabelecida como o

conjunto de regras que são seguidas, enquanto a gramatica internalizada determina o conjunto

de regras que o falante da língua domina.

Um dos tipos de gramática estudado, especialmente em instituições de ensino,

concerne à gramatica normativa. Câmara Junior define a gramática normativa, em sua obra

Dicionário de linguística e gramática (1984, p.130), como “apresentação do que estabelece

numa língua dada a sua disciplina gramatical (v.)”. A normatividade, segundo Antunes (2007,

p.86), caracteriza-se como “prescrição, isto é, do uso como deve ser, segundo um parâmetro

legitimado”. Esta gramática é compreendida como o conjunto de normas que regulam o uso

da norma culta, ao definir o “certo” e, por oposição, indicar o “errado”. Desse modo, as regras

apresentadas devem ser seguidas de forma explícita e coerente.

Tais definições provêm de razões históricas e de convenções sociais que determinam o

uso mais aceitável. A gramática normativa tende a ignorar as características próprias da língua

oral, além de rejeitar outras variedades com base em fatores não estritamente linguísticos, ao

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fundamentar-se em parâmetros, muitas vezes equivocados como: classe social, autoridade,

lógica e história; gerando assim preconceitos, como declara Travaglia (2000, p.25). Em outros

termos, a noção do que é linguisticamente correto não é feita por razões relacionadas à língua

propriamente dita. Antunes (2007, p.30) afirma que:

[...] não existem usos linguisticamente melhores ou mais certos que outros; existem

usos que ganharam mais aceitação, mais prestígio que outros, por razões puramente

sociais, advindas, inclusive, do poder econômico e político da comunidade que adota

esses usos. Dessa forma, não é por acaso que a fala errada seja exatamente a fala da

classe social que não tem prestígio nem poder político e econômico.

No âmbito escolar, esse conjunto de regras cujo domínio pode produzir o emprego da

variedade padrão da língua escrita e/ou oral é adotado geralmente nos materiais didáticos a

fim que os leitores aprendam a falar e a escrever “corretamente”. Normalmente, quando os

professores se referem ao ensino de gramática, estão falando apenas na gramática normativa,

seja por desconhecimento da existência de outras gramáticas seja pela influência da tradição

gramatical. Travaglia (2000, p.27) exemplifica algumas frases, que apesar de serem

produzidas por falantes da língua portuguesa, são consideradas incorretas segundo a

gramática normativa:

Para essa concepção a gramática seria vista como algo definitivo e absoluto e para

ela seriam agramaticais frases como as de (2), perfeitamente permitidas pela

gramática de variedades não cultas da línguas.

(2)

a) Eu vi ele ontem.

b) Os menino saiu correndo.

c) Me empresta seu livro.

d) Vende-se frangos.

e) O homem que eu saí com ele.

f) Nóis trabaia pros homi.

g) O chefe pediu para mim dizer a vocês que está tudo bem.

O conceito de gramática pode, também, ser entendido como um compêndio que

descreve o funcionamento das línguas, isto é, descrições da morfossintaxe da língua como:

Nouvelle Grammaire du Français. Na França, a gramática como material de consulta, que

pode – deliberadamente ou não – divulgar normas sociais sob forma de “bom” ou “mau”

emprego da língua, detém uma parcela da produção editorial, em razão da sua tradição

cultural. No Brasil, os livros gramaticais do português, em sua maioria, enfatizam a

modalidade escrita da língua, especialmente da escrita literária e, ultimamente, da escrita

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utilizada na imprensa. Este tipo de material tem função utilitária, sendo capaz de adotar um

caráter mais descritivo ou prescritivo.

No primeiro caso, temos uma gramática que focaliza elementos da estrutura da

língua, descrevendo-os apenas ou apresentando-os em suas especificidades. No

segundo caso, temos uma gramática que focaliza as hipóteses do uso considerado

padrão, fixando-se, assim, no conjunto de regras que marcam o que se considera

como uso correto da língua. (ANTUNES, 2007, p.33)

A gramática descritiva, por sua vez, pode ser considerada um estudo científico,

constituído, diversas vezes, na universidade a fim de apresentar princípios e descrições do

funcionamento da linguagem e das línguas. Este tipo de gramática serve de base para os

estudos linguísticos. Muitos pesquisadores, por exemplo, passam meses em uma aldeia

descrevendo uma língua indígena. De acordo com Béacco (2010, p.15), “são construções

teóricas, que não se limitam a registrar a ‘realidade’ linguística, mas que propõem uma

representação epistemologicamente controlada.” Perini (2000, p.78) afirma que há uma

grande quantidade de pesquisas nessa área, descobrindo novos fatos e construindo novas

teorias, visto que há muita coisa desconhecida em gramática. O objetivo desta gramática é

identificar e descrever a variedade da língua exatamente como é produzida, isto é, não há na

gramática descritiva a análise do “erro” como ocorre na gramática normativa. Portanto, as

frases de Travaglia acima (2) são consideradas, pela gramática descritiva, como sendo

gramaticais, visto que atendem às regras de funcionamento da língua em uma de suas

variedades. Possenti (2007, p.73) compara os dois tipos de gramática:

As regras de uma gramática normativa se assemelham às regras de etiqueta,

expressando uma obrigação e uma avaliação do certo e do errado. Seguindo-as, os

falantes são avaliados positivamente (na vida social e na escola). Violando-as, os

falantes tornam-se objeto de reprovação (são considerados ignorantes e não dignos

de passar à série seguinte na escola, por exemplo). As regras de uma gramática

descritiva se assemelham às íeis da natureza, na medida em que organizam

observações sobre fatos, sem qualquer conotação valorativa.

Os linguistas descritivos são capazes de produzir gramáticas de todas as variedades da

língua ao propor, segundo um modelo teórico específico, quais as unidades e as categorias da

língua, assim como as relações que podem ser estabelecidas entre elas e as suas funções. Estes

pesquisadores tendem a criticar a prescrição da gramática normativa, já que a imposição de

regras na língua dificulta a pesquisa em gramática; como é possível verificar na declaração de

Perini (2000, p.77):

Page 29: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

29

A gramática, segundo o que nos ensinaram na escola, é composta de duas seções,

cada qual mais repelente: na primeira seção aprendemos (ou, mais precisamente, não

aprendemos) uma nomenclatura complicada e confusa, uma selva de sujeitos,

adjuntos, advérbios, orações subordinadas reduzidas ou não, coordenações

sindéticas e assindéticas, enfim, um palavrório que parece inventado de propósito

para esconder a falta de conteúdo da disciplina; e na segunda seção somos

submetidos a uma série de ordens e recomendações do tipo “nunca diga nem escreva

isto, porque o certo é aquilo”. E por cima, de tudo, paira a ideia geral de que a

gramática já está pronta: obra de cérebros há muito extintos, não muda, nem pode

mudar. Como falar em “pesquisa” nessa área?

A gramática internalizada, por sua vez, é o conhecimento intuitivo ou inconsciente

necessário para se falar efetivamente uma língua. Possenti (1996, p.26) declara que saber uma

gramática, não significa necessariamente saber regras ou saber construir análises morfológicas

e sintáticas. Há duas hipóteses para a aquisição dessa gramática: a repetição e a herança

genética. O exemplo mais comum que reforça a ideia de que a criança repete aquilo que

escuta é a conjugação por associação de “eu fazi”. Antunes (2007, p.29) alega que a gramática

internalizada “vai sendo incorporada ao conhecimento intuitivo, pelo simples fato de a pessoa

estar exposta a convivência com os outros, a atividades sociais de uso da língua, das

conversas familiares às atuações mais tensas e formais.” Perini (2000, p.13) desvela a

gramática internalizada da seguinte maneira:

Vou mostrar que qualquer falante [...] possui um conhecimento implícito altamente

elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar esse conhecimento.

[...] esse conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola, mas foi adquirido

de maneira tão natural e espontânea quanto a nossa habilidade de andar. Mesmo

pessoas que nunca estudaram gramática chegam a um conhecimento implícito

perfeitamente adequado da língua.

Quando uma criança de três anos de idade diz: “minhas amigas bonitas”; ela expressa

o domínio das regras morfossintáticas da indicação do feminino, assim como as regras de

indicação do plural em português. Esta gramática é adquirida naturalmente, isto é, sem que

haja alguém, um local ou um momento específico destinados ao ensino da gramática

internalizada. A ordem que as palavras ocupam na frase, por exemplo, é adquirida através da

experiência e do contato no meio em que pessoas constroem essa mesma ordem, isto é, este

conhecimento não provem das aulas de gramática na escola. Além disso, o “erro”

característico da gramática normativa, não pertence à gramática internalizada, mas sim a

inadequação da variedade linguística. Em outros termos, trata-se da incoerência na utilização

de uma determinada intenção comunicativa que seria melhor alcançada com outros recursos

ou o não atendimento das normas sociais do uso da língua.

Page 30: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

30

A língua é considerada, por esta gramática, como um conjunto de variedades utilizadas

por uma sociedade conforme exigido pela situação de interação comunicativa onde o falante

da língua está comprometido. Toda língua, seja ela qual for, possui uma gramática

internalizada. “Qualquer pessoa que fala uma língua fala essa língua porque sabe a sua

gramática, mesmo que não tenha consciência disso” (ANTUNES, 2007, p.26). Portanto, a

gramática internalizada corrobora com a ideia de que não existe língua sem gramática.

Além dos três tipos de gramáticas explicitados por Possenti (1996), é possível

encontrar outras definições como a gramática implícita e explícita, em autores tais como

Travaglia (2000), Besse e Porquier (2004), assim como Cuq e Gruca (2005). A gramática

implícita refere-se à competência linguística internalizada do falante; isso inclui, os níveis

morfológico, fonológico, semântico, sintático, pragmático e textual-discursivo. Essa

denominação provém do fato de falantes da língua não terem consciência da gramática, ou

seja, o usuário utiliza a língua automaticamente em situações de interação comunicativa.

Enquanto a gramática explícita argumenta um ensino por meio de uma atividade

metalinguística, isto é, a explicação de regras em sala de aula. Cuq e Gruca (2005) acreditam

e defendem o ensino de língua através da gramática explicita por diversas razões que serão

abordadas em outro momento desta pesquisa.

Gérard Vigner (2004, p.15) declara que os domínios gramaticais abrangem,

geralmente, a sintaxe e a morfologia, isto é, tradicionalmente, não englobam a fonética, a

lexicologia, nem a estilística3. Todavia, são inúmeros os manuais que acrescentam outros

aspectos, além da sintaxe e da morfologia. O linguista brasileiro, Câmara Junior (1984,

p.130), por exemplo, inclui a fonologia ao elucidar o conceito gramatical.

[...] o estudo dos morfemas, ou morfologia e dos processos de estruturação do

sintagma. Pode-se acrescentar o estudo dos traços fônicos, e da grafia

correspondente, que permitem a apreensão linguística pela distinção acústica dos

elementos enunciados, na língua oral, e, na língua escrita, a leitura do texto. Trata,

portanto, a gramática: a) dos fonemas e sua combinação; b) dos morfemas e sua

estruturação no vocábulo (sintagma lexical); c) dos sintagmas de vocábulos. Daí as

suas três partes gerais, respectivamente: a) Fonologia; b) Morfologia; c) Sintaxe.

Esta noção gramatical segue os conceitos de uma perspectiva científica específica: a

gramática estruturalista. Segundo Antunes (2007, p.31) “[cada perspectiva] apresenta um

corpo de teorias, que justificam um tipo de apreensão, observação e análise do fenômeno

linguístico.” Mattoso Câmara Junior (1904 - 1970) absorveu a concepção de estrutura

3 Ramo da linguística que estuda as variações da língua e sua utilização, assim como o uso estético da linguagem

e as suas diferentes aplicações dependendo do contexto.

Page 31: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

31

linguística do pensador russo Roman Jakobson (1896 - 1982) ao participar do Círculo

Linguístico de Nova York, aderindo, deste modo, à análise sincrônica.

Outra perspectiva de estudo que está associada a uma corrente de pensamento e que

traduz a visão de mundo de um determinado momento é a gramática gerativa. O linguista e

cientista cognitivo norte-americano Noam Chomsky é responsável pela criação desta nova

teoria linguística que defende a aquisição da linguagem através do inatismo. A proposta

inatista pressupõe um domínio específico particular da linguagem intitulado Faculdade da

Linguagem. Chomsky (2008, p.68) destaca que:

Dizer que “a linguagem é inata” é expressar a crença de que alguma natureza interna

crucial e pertinente diferencia a minha neta das pedras, abelhas, gatos e chimpanzés.

Queremos descobrir o que é essa natureza interna. Na compreensão atual, ela é uma

expressão dos genes que de alguma forma propicia uma faculdade de linguagem

bem como, por exemplo, um osso do ouvido interno bem posicionado - nesse caso,

para os camundongos igualmente.

De acordo com Chomsky, todo ser humano nasce com uma gramática inata

denominada Gramática Universal (GU), isto é, o estado inicial da Faculdade da Linguagem. A

GU é composta por princípios que regem todas as línguas naturais e, por parâmetros, que

precisam ser definidos através do input, encarregados da variação interlinguística concebidos

com valores presente [+] ou ausente [-]. Alguns parâmetros remetem a características como a

ordem básica dos constituintes assumidos pela língua (SVO ou SOV), tipo de reflexão

nominal ou verbal adotada, a possibilidade do sujeito nulo ou a necessidade de sujeito

preenchido, de objeto nulo ou preenchido, etc. Em outras palavras, toda criança acionaria um

mecanismo cerebral para adquirir uma linguagem; além disso, o desenvolvimento de sua fala

seria determinado não apenas por estímulos do meio, mas por genes da espécie humana; isso

explicaria o fato das crianças conseguirem atingir a competência linguística complexa dos

adultos.

Por fim, conclui-se que as diversas acepções do termo gramática podem ter relação

direta com diferentes campos teóricos: estruturalismo, gerativismo, funcionalismo, entre

outras, visto que cada estudo apresenta a gramática de uma maneira. Do mesmo modo que as

perspectivas têm função relevante na conceituação da gramática, o aspecto de aquisição

consegue ter valor significativo para a sua concepção. Entre outras palavras, as gramáticas:

normativa, descritiva, internalizada, explícita e implícita são constituídas a partir da aquisição

de língua; bem como a abordagem da gramática dedutiva e indutiva.

Page 32: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

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A comparação do francês língua materna com francês língua estrangeira auxiliam

nesta pesquisa. A acepção do FLM encontra-se nesta seção devido a sua tradição gramatical

no que concerne o ensino/aprendizagem de uma língua, enquanto o FLE é a base deste

trabalho, uma vez que analisamos de que forma a gramática normativa da língua francesa

tende a ser ensinada pela perspectiva acional aos aprendizes estrangeiros. Outros conceitos

relacionados à língua francesa, embora não sejam tratados nesta pesquisa, são empregados na

prática pedagógica, são eles: francês língua segunda, francês com objetivos específicos e

francês língua adicional. A seguir, encontram-se as definições de francês língua materna e

francês língua estrangeira.

1.3 FRANCÊS LÍNGUA MATERNA

A língua materna é a primeira língua de um indivíduo, ou seja, a primeira língua de

socialização de uma criança, embora haja sociedades em que a língua da mãe biológica não

seja a primeira a ser transmitida ao bebê. O indivíduo adquire a língua e desenvolve suas

capacidades linguísticas através do contato e da interação com os membros do seu grupo

social, sem precisar refletir sobre a língua. Os psicólogos e linguistas afirmam que as crianças

nascem com uma predestinação inata para a aquisição de linguagem. Para que esse processo

seja estimulado, é necessário expor o indivíduo a essa linguagem. A criança tem um

mecanismo interno que permite construir a gramática de uma língua de forma natural. Neste

caso, a apropriação, além de natural, é inconsciente, implícita e implica um enfoque no

sentido. Contudo, isso não significa que a língua não possa ser adquirida através de

definições, repetições e correções. Adquirida na primeira socialização, a língua materna passa

a ser reforçada na aprendizagem escolar.

Para evitar uma conotação cultural, intitula-se a língua materna como: língua primeira

(L1), por ser a primeira língua que nos é apresentada desde o momento do nosso nascimento.

No entanto, assim como a denominação “língua materna” sofre críticas, a expressão “língua

primeira” também passa por alguns questionamentos, devido a existência de sociedades onde

a criança tem contato simultâneo com diversas línguas. Em um espaço diglóssico, como o

Haiti, por exemplo, a utilização de duas línguas faz com que a definição de língua primeira

fique prejudicada em algumas camadas da população. Neste país, o crioulo é a língua falada

pela quase totalidade dos habitantes, mas reconhecida como língua oficial apenas em 1987;

enquanto o francês é considerado língua oficial e idioma literário desde a independência do

Haiti em 1804. O crioulo tardou a ser reconhecido como língua oficial junto ao francês, logo

não há tantas obras literárias e registros escritos. O número de haitianos que falam crioulo e

Page 33: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

33

que são alfabetizados em francês é extenso. É possível encontrarmos haitianos que se

comunicam em crioulo, mas que escrevem apenas em francês.

Alguns linguistas preferem a definição “língua fonte” a “língua materna”, pois refere-

se ao sistema idiomático inicial do indivíduo; enquanto os estudiosos em didática das línguas,

utilizam o termo “língua de partida” ou “língua de referência”. Outro conceito para a língua

materna é a língua de pertença, que diferentemente das outras definições, tem uma função

mais simbólica do que comunicativa da língua. “A língua é um elemento importante de

definição de etnias, até mesmo, nacionalidades” (CUQ; GRUCA, 2005, p.91).

“O francês é uma língua materna para todos os franceses, nascidos na França de pais

franceses ou estrangeiros, mas também para todos aqueles que nasceram nos países onde o

francês é a língua primeira, língua na qual aprende-se a falar e geralmente na qual se é

escolarizado” (TAGLIANTE, 2006, p.14). O francês língua materna está presente em

diferentes nacionalidades como: na maioria dos franceses, dos belgas de Valônia, dos suíços

francófonos, dos canadenses que habitam em Quebec e em pequena quantidade nos povos de

alguns países africanos. Denominam-se “países francófonos”, os trinta e um países cuja língua

oficial é o francês.

O ensino de gramática na língua materna, segundo Courtillon (1985, p.33), seria

direcionado, de certa forma, a uma meta-aprendizagem da língua em que os conceitos de

descrição devem constituir um meio de observação, de organização e de categorização. A

escola é responsável por conceder aos aprendizes o controle da variedade dominante da língua

materna. De acordo com Cuq (1996, p.64), o papel do professor de francês língua materna

tem duas diretrizes:

a) fazer com que os aprendizes depreendam aos poucos os elementos comuns a todas

as variações observáveis, entre seus saberes iniciais e os saberes que a escola lhes

fornece. Trata-se da construção de uma gramática fundamental do francês.

b) fazer com que os aprendizes tenham consciência dos diversos valores

comunicativos e sociais ligados às variações. Refere-se da criação de uma

verdadeira consciência comunicativa.

1.4 FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA

O conceito de língua estrangeira, língua dois (L2) ou língua-alvo se opõe ao conceito

de língua materna. Uma língua só se torna estrangeira quando um indivíduo a contrapõe à sua

língua materna. Em outras palavras, a língua estrangeira tem um caráter de estranheza em

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relação à língua materna. Na Antiguidade, os gregos consideravam estrangeiro – bárbaro –

tudo aquilo que não partilhava do seu idioma. Para Louise Dabène (1994, p.35-36), há pelo

menos três graus de estranheza: a distância material referente à geografia, causando

consequências pedagógicas; a distância cultual que define a utilização adequada dos

conhecimentos idiomáticos e a distância linguística que se baseia nas famílias de língua.

Ao contrário da língua materna, a língua estrangeira não é a primeira língua de

socialização, nem a primeira língua na ordem de apropriação linguística. Os estudiosos em

didática das línguas acreditam que a língua se torna estrangeira quando constituída como um

objeto linguístico de ensino e de aprendizagem. Portanto, o responsável por transmitir o

francês como língua estrangeira é o professor. De acordo com Cuq e Gruca (2005, p.94), o

francês se torna língua estrangeira a todos aqueles que, não a reconhecendo como língua

materna, se encontram em um processo voluntário de apropriação e a todos aqueles que o

fazem objeto de ensino a falantes não-nativos. Consequentemente, o francês é língua

estrangeira para a população brasileira que tem como língua materna o português, assim como

para os povos indígenas que habitam no Brasil.

Em francês língua estrangeira, admite-se, geralmente, que as situações de sala de

aula estão mais voltadas para o ensino/aprendizagem do que para a aquisição (CUQ, 1996,

p.65). A dicotomia entre aquisição e aprendizagem é estabelecida por Stephen D. Krashen em

sua obra intitulada Second Language Acquisition and Second Language Learning. Krashen

(1981) acredita que esses dois processos, distintos e em partes exclusivos entre si, são

responsáveis pela apropriação de línguas em crianças e adultos. De acordo com Besse e

Porquier (1991, p.75), a aquisição é um processo subconsciente e implícito que se guia mais

na significação do que nas formas que a veicula. A aquisição pode ser desenvolvida tanto no

âmbito natural quanto institucional por meio de múltiplas interações verbais, além de

proporcionar ao aprendiz a sensação daquilo que é gramaticalmente aceitável. A

aprendizagem, por sua vez, é um processo consciente e explícito mais orientado nas formas

do que nas significações que elas veiculam.

L’apprentissage développe une capacité de jugement grammatical par référence à

des règles enseignées par les professeurs ou élaborées par l’apprenant lui-même. Ce

qui lui permet, dans certaines conditions de temps (qu’il ait le temps de le faire),

d’attention (qu’il s’attache plus aux formes qu’aux significations), et de savoir (qu’il

possède des règles relatives au problème posé), d’exercer un contrôle plus ou moins

normatif sur ses productions verbales et sur celles de ses partenaires.4 (BESSE;

PORQUIER, 1991, p.75)

4 A aprendizagem desenvolve uma capacidade de julgamento gramatical por referência a regras ensinadas pelos

professores ou elaboradas pelo próprio aprendiz. O que permite, em certas condições de tempo (que ele tenha o

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No que concerne à apropriação de língua estrangeira, a diferença entre aquisição e

aprendizagem está mais relacionada ao âmbito psicológico e psicolinguístico do que ao

domínio didático. No entanto, as pesquisas sobre a apropriação das línguas conseguem

correlacionar a didática de língua estrangeira à psicologia e à linguística. A psicologia

cognitiva afirma que o aprendiz – ser ativo – de língua estrangeira utiliza estratégias de

aprendizagem cuja noção está ligada ao processo de funcionamento mental. Entre essas

estratégias estão: a memorização, a dedução, a indução, a repetição mental, a inferência, a

associação, a analogia, a generalização, a simplificação, entre outras. Alguns estudiosos em

didática das línguas, porém, não acreditam na existência das estratégias de aprendizagem, por

acreditar se tratar de estratégias de aquisição. Há ainda aqueles que afirmam que a aquisição

da língua materna se encontra no processo global de amadurecimento da criança, enquanto a

aprendizagem da língua estrangeira normalmente só começa quando acaba o processo

anterior. Segundo Corder (1980, p.11), a motivação é o principal ponto que diferencia a

aquisição da aprendizagem. “Se a aquisição da primeira língua é apenas outra realização de

uma predisposição para desenvolver um comportamento da linguagem, a aprendizagem de

uma segunda língua implica quando alguma outra motivação substitui a predisposição

existente na criança”.

A difusão de uma língua estrangeira pode estar associada à ordem política ou à

cultural. Para o francês língua estrangeira, ambos os modos de difusão tiveram seu lugar. Cuq

e Gruca (2005, p.17) exemplificam algumas das difusões do francês como: cultural na época

do Iluminismo; político nos territórios ultramarinos5; político na Grã-Bretanha desde o século

X; político no período colonial; político nas regiões em que o francês é língua segunda, isto é,

língua de origem estrangeira em que a aquisição se dá pela necessidade de comunicação no

processo de socialização. No Brasil, país onde o francês é língua estrangeira, a difusão ocorre

de forma cultural.

Os conceitos e o modo como a língua, a linguagem e a gramática são concebidas no

âmbito de ensino de aprendizagem variam de acordo com o objetivo e com a época em que

são trabalhadas. Cada metodologia de ensino/aprendizagem de LE trata a gramática de modo

distinto. Algumas metodologias e a forma como são desenvolvidas serão expostas a seguir.

tempo de o fazer), de atenção (que ele se prenda mais às formas do que às significações), e do saber (que ele

possua regras relativas ao problema colocado), de exercer um controle mais ou menos normativo sobre suas

produções verbais e sobre as de seus parceiros. 5 Divisão administrativa da França

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36

2 AS METODOLOGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE FLE E O

ASPECTO GRAMATICAL

De acordo com a metodologia do ensino de língua empregada em sala de aula, a

gramática e a forma como ela é tratada variam com o passar do tempo, visto que o ensino da

gramática é um dos elementos constitutivos da evolução metodológica da didática das línguas.

O método de ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira pode ser influenciado por

diferentes domínios como: linguístico, psicolinguístico, sociolinguístico, entre outros. A

metodologia é tema de diversos trabalhos acadêmicos, estudos e pesquisas na área da

educação. Nesta seção, a história das metodologias do ensino/aprendizagem das línguas

estrangeiras será descrita com enfoque na gramática a fim de analisar a importância da

gramática normativa no processo de ensino em diversas concepções.

Assim como muitos autores esclarecem os termos empregados antes de percorrer o

desenvolvimento das metodologias; Puren (1988), na Introdução Geral de sua obra, também

define e difere algumas terminologias utilizadas no contexto de didática de línguas modernas

estrangeiras. É preciso estabelecer tais definições que estruturaram as metodologias

empregadas na França ou que, no mínimo, serviram como influência a algumas abordagens

francesas para a melhor compreensão das principais linhas metodológicas que serão tratadas

nesta seção. São elas:

metodologia: conjunto de elementos e de técnicas suscetíveis às variações

históricas tais como: “objetivos gerais da aprendizagem de uma língua estrangeira,

teorias de referência que estão associadas aos conteúdos culturais e linguísticos e

situações de ensino que variam de uma época a outra” (CUQ; GRUCA, 2005,

p.254). As diferentes metodologias advêm da ruptura com a metodologia anterior

ou da adaptação às novas necessidades da sociedade;

abordagem: pressupostos teóricos do professor sobre a língua e a aprendizagem.

Segundo Vilaça (2008, p.78), ela é influenciada por teorias advindas da linguística

e da psicologia. O professor pode adotar, por exemplo, a posição behaviorista para

o ensino/aprendizagem de língua estrangeira, isto é, ensinar uma língua por meio

de um processo mecânico;

método: material didático (livro do aprendiz e do professor, caderno de atividades,

CDs de áudio e vídeos, manual de ensino). Puren (1988, p.11) exemplifica tal

termo com o livro didático francês Voix et Images de France cuja metodologia é a

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37

audiovisual. Outra concepção para o termo “método” é o conjunto de

procedimentos e de técnicas de classe a fim de causar no aprendiz um

comportamento ou atividade determinados. Cuq e Gruca (2005, p.253) elucidam

com o método direto que tem como objetivo o ensino da língua sem recorrer ao

uso da língua materna ou a tradução;

técnica: recursos e estratégias empregados pelo professor, assim como atividades

trabalhadas em sala de aula. Formas locais e isoladas da gestão do ensino

(BEACCO, 2007, p.19). Para ensinar o gênero textual cartão postal, é possível

aplicar técnicas como: a apresentação do documento; em seguida, a exposição das

características desse gênero e por fim, propor a elaboração de um cartão postal

como forma de produção escrita.

2.1 METODOLOGIA TRADICIONAL

No século XIX, a Metodologia Tradicional (MT) se manifesta no ensino de línguas

clássicas – latim e grego – e posteriormente, no ensino de línguas modernas. Apesar de a

metodologia tradicional atuar no ensino de línguas modernas devido à demanda do progresso

industrial e comercial, essas línguas não eram ensinadas como línguas vivas, mas sim como as

línguas consideradas mortas. Em outras palavras, o objetivo principal do ensino de língua

estrangeira era adquirir conhecimentos gramaticais da língua. Não havia preocupação em se

comunicar na língua-alvo. A aplicação desta nova metodologia ocorre no ensino secundário

francês na segunda metade do século XIX. Puren (1988, p.18) afirma que a metodologia

tradicional foi baseada na metodologia da gramática-tradução que surgiu no século XVIII

para o ensino escolar de latim, feita em particular pelas gramáticas. Em 1891, Bréal (apud

PUREN 1988, p. 19) definiu a gramática-tradução da seguinte forma:

À cette époque, on apprenait le latin comme nous apprenons actuellement l’anglais ou

l’allemand: on se servait à cet effet de listes de mots qui étaient destinés à être sus par

cœur. [...] On apprenait par cœur des dialogues correspondants aux différentes

situations de la vie [...]6

Segundo Germain e Séguin (1998, p.16), “é a gramática que constitui o centro de

gravidade da metodologia gramática-tradução, a tradução sendo apenas uma forma de

exercício ou de prática”. Através das listas de vocabulário, de expressões e de provérbios, era

6 Nesta época, aprendia-se o latim como aprendemos atualmente o inglês e o alemão: nós nos servíamos de listas

de palavras que eram destinadas a serem decoradas. [...] Decoravam-se diálogos correspondentes às diferentes

situações da vida [...] (tradução nossa)

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38

possível aprender os gêneros: masculino, feminino e neutro; assim como a conjugação de

verbos e a declinação das palavras. Nesta metodologia, eram utilizados como base os

gramáticos: Donat (século IV) e Prisciano (século V). O ensino gramatical do latim passa por

uma transformação quando a formação intelectual substitui o objetivo prático do ensino de

latim nas escolas. Em outros termos, a gramática do latim tem função formadora, auxiliando

na construção moral do indivíduo. No final do século XVII, as gramáticas tornam-se bilíngues

(francês-latim). Consequentemente, o latim, que já havia deixado de ser língua estrangeira e

se tornado língua morta, é ensinado a partir do francês.

O ensino/aprendizagem pela metodologia tradicional no que se refere ao papel da

gramática recorre ao ensino de forma explícita e privilegiada, ou seja, adota a metalinguagem

gramatical. Segundo Cuq e Gruca (2005, p.255), a progressão gramatical é arbitrária ao

apoiar-se em partes do discurso: artigo, substantivo, verbo, adjetivo, advérbios, entre outros.

Os pontos gramaticais são abordados na ordem de aparição dos textos-base. Cada lição

organiza-se acerca de um ponto gramatical. O aprendiz memoriza regras e exemplos expostos

na lição para aplicar em exercícios, sob a forma de frases, que privilegiam os exercícios de

versão. O texto é divido em partes e a tradução das palavras torna-se o ponto de partida para o

estudo teórico da gramática. A instrução da Educação Nacional de 18 de setembro 1840

descreve a metodologia tradicional escolar e sua aplicação na aula de língua estrangeira:

La première année [...] sera consacrée tout entière à la grammaire et à la

prononciation. Pour la grammaire, les élèves apprendront par cœur pour chaque jour

de classe la leçon qui aura été développée par le professeur dans la classe

précédente. Les exercices consisteront en versions et en thèmes, où sera ménagée

l’application des dernières leçons. [...] Pour la prononciation, après en avoir exposé

les règles, on y accoutumera l’oreille par des dictées fréquentes, et on fera apprendre

par cœur et réciter convenablement les morceaux dictés. [...]. Dans la seconde année,

on continuera l’étude de la grammaire; on s’attachera à résoudre les difficultés, à

expliquer les idiotismes, à pénétrer dans le génie de la langue. On fera connaître

aussi le mécanisme de la versification. Les versions et les thèmes consisteront

surtout en morceaux grecs et latins qu’on fera traduire en anglais et en allemand, et

réciproquement. Dans la troisième année, l’enseignement aura plus particulièrement

un caractère littéraire. Le professeur pourra présenter une sorte de tableau de la

littérature anglaise ou allemande, en faisant expliquer un ou deux morceaux de

chaque auteur célèbre. [...] Les versions seront remplacées par des traductions orales

des passages difficiles, et les thèmes par des lettres ou des narrations composées par

les élèves.7 (PUREN, 1988, p. 35)

7 O primeiro ano [...] será consagrado inteiramente à gramática e à pronúncia. Para a gramática, os alunos

decorarão a cada dia de aula a lição que terá sido elaborada pelo professor na aula antecedente. Os exercícios

consistirão em versões e em temas, em que será respeitada a aplicação das últimas lições. [...] Para a pronúncia,

depois de serem expostas as regras, acostumarão o ouvido por ditados frequentes, e fará decorar e recitar

convenientemente as partes ditadas. [...] No segundo ano, as versões e os temas consistirão principalmente em

partes gregas e latinas que serão traduzidas em inglês e alemão, e reciprocamente. [...] No terceiro ano, o ensino

terá mais particularmente um caráter literário. O professor poderá apresentar uma espécie de quadro da literatura

inglesa ou alemã, explicando um ou dois pedaços de cada autor célebre. [...] As versões serão substituídas por

Page 39: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

39

O domínio das regras morfossintáticas e lexicais corresponde ao conhecimento da

língua-alvo, embora a língua utilizada em sala de aula seja a língua materna. A oralidade da

língua estrangeira se encontra em segundo plano, uma vez que a pronunciação é feita por

meio da “oralização” da escrita como a recitação de textos escritos.

Nesta metodologia, priorizam-se a expressão escrita, a compreensão e o conhecimento

explícito de regras de língua estrangeira através de textos literários. De acordo com Cuq e

Gruca (2005, p.256), o texto literário torna-se, posteriormente, a base privilegiada da tradução

oral e sua explicação se estabelece na aquisição de uma história literária e de uma

aprendizagem da sociedade. O objetivo cultural é prioridade. O professor desta metodologia

não precisa do manual didático, visto que os textos são escolhidos por seu valor literário sem

considerar o vocabulário e a gramática; consequentemente as atividades se sobrepõem. Na

MT, o professor – detentor do conhecimento – tem papel mais destacado que o próprio

aprendiz ao selecionar os textos literários, preparar os exercícios, elaborar perguntas e corrigir

sistematicamente as respostas, já que o erro não é permitido. A metodologia tradicional

contribuiu para o desenvolvimento do raciocínio metodológico e para a chegada da

metodologia direta.

2.2 METODOLOGIA DIRETA

A Revolução Industrial e o seu novo cenário econômico provocaram o surgimento de

uma nova metodologia: a Direta (MD), que se contrapõe à metodologia tradicional. Essa

expressão surge pela primeira vez na França, na Circular de 15 de novembro de 1901, que

obrigava oficialmente pela primeira vez todos os professores de língua estrangeira a

utilizarem uma metodologia única no ensino secundário francês. No entanto, essa imposição

faz com que outras metodologias mistas ou ecléticas apareçam e atuem até a Primeira Guerra

Mundial como a semidireta e a semitradicional.

De acordo com Puren (1988), a MT se estabelece num objetivo cultural e formativo,

na gramática dedutiva, na passividade do aprendiz, nos textos literários e frases isoladas;

enquanto a MD se fundamenta num objetivo prático, na gramática indutiva e implícita, em

evocar a intuição do aprendiz e em trabalhar com textos não literários. O conhecimento

prático se sobrepõe à aquisição da cultura literária. Em outros termos, a sociedade necessita

de um instrumento de comunicação que favoreça o desenvolvimento econômico, cultural,

político e turístico face à expansão comercial e industrial da época.

traduções orais de passagens difíceis e os temas, por cartas ou narrações compostas pelos alunos. (tradução

nossa)

Page 40: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

40

O ensino na metodologia direta consiste em aprender a falar e a escrever uma língua

estrangeira. Consequentemente, a língua materna não é empregada. O objetivo é fazer com

que o aprendiz pense em língua estrangeira o quanto antes, sem comparar com a língua

materna. Para que não haja a aplicação da LM, a metodologia direta recorre ao uso de

elementos não verbais da comunicação como: gestos, mímicas, desenhos e imagens. No

ambiente de sala de aula, o aprendiz identifica oralmente os nomes concretos dos objetos e as

ações à sua volta. Além deste recurso para a não utilização da língua materna em sala de aula,

o professor de língua estrangeira não precisava saber a LM do aprendiz, ou seja, o professor

era nativo ou fluente na língua-alvo.

A influência do método natural da aprendizagem de uma língua estrangeira é

comparada à aquisição da língua materna pela criança, isto é, vocabulário adquirido com

ajuda de objetos e imagens, pronúncia sem o intermédio da forma escrita e gramática

adquirida de forma indutiva. A explicação do vocabulário ocorre por meio do método

intuitivo em que o aprendiz adivinha a partir de imagens e de objetos. Inicialmente, o

vocabulário concreto é introduzido para designar realidades tangíveis; em seguida,

gradativamente, as palavras mais abstratas são explicadas a partir do vocabulário já

conhecido. Os aprendizes utilizam manuais compostos por uma grande quantidade de

palavras, a fim de que o dicionário não seja utilizado.

Nesta metodologia, a aquisição da competência oral é um dos principais objetivos no

ensino de língua estrangeira. O aprendiz repete várias vezes de forma mecânica e intensa para

assimilar aos poucos os elementos linguísticos. De acordo com Cuq e Gruca (2005, p.257), a

ginástica dos órgãos vocais e a medida analítica, que começa pelo fonema, em seguida pela

sílaba, pela palavra, pelo grupo de palavras, entre outros, para chegar à entonação e ao ritmo

são importantes para o início da aprendizagem. A atividade corporal durante a dramatização

de sketch e da leitura expressiva também contribuem para a aprendizagem, característica

marcante do método ativo. No entanto, a predominância oral acompanhada de movimentos

corporais, deixa o ensino da escrita em segundo plano.

O método intuitivo também está presente na compreensão das regras gramaticais.

Após a observação dos exemplos, o aprendiz é capaz de tirar suas próprias conclusões e

descobrir as estruturas e as regras a partir de sua intuição e de sua gramática internalizada,

sem a intervenção da língua materna. A capacidade e a motivação do aprendiz são levadas em

consideração. Em outras palavras, a progressão do simples ao complexo e do conhecido em

direção ao desconhecido é empregada em relação às necessidades do aprendiz de língua

Page 41: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

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estrangeira. Os exercícios dirigidos, característica do método interrogativo, fazem com que

haja interação entre o professor e o aprendiz, quando este responde às perguntas daquele.

O uso de uma gramática indutiva e implícita impede o ensino explícito das regras

gramaticais pelo professor. Na metodologia direta, a assimilação das regras é feita por meio

de exercícios de reflexão gramatical propostos após a observação e a intensa repetição das

formas gramaticais. As Instructions Officielles de 1908 fazem relação entre a gramática

indutiva, o uso da intuição, e o que hoje conhecemos como a pedagogia da descoberta.

Germain e Séguin (1998, p.19) afirmam que o recurso gramatical não foi eliminado da nova

metodologia, mas houve uma mudança neste processo, isto é, a introdução das regras

gramaticais foi precedida pela prática oral. No entanto, a progressão gramatical e as variações

não se encontram nos manuais, ou seja, neste aspecto, ainda seguem o modelo da metodologia

tradicional.

A imposição de uma metodologia que exigia do professor uma formação específica na

área do ensino de língua que não era fornecida, e um alto domínio da língua oral promoveu a

evasão para o ecletismo. Muitos professores recorriam à metodologia tradicional,

reconhecendo a falta de identificação com a nova metodologia. A rigidez na utilização da

língua materna em sala de aula também contribuiu para o fim da MD e para a busca por uma

nova metodologia no ensino de língua estrangeira.

2.3 METODOLOGIA ÁUDIO-ORAL

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos necessitaram da rápida

formação de soldados e de especialistas com competência linguística em língua estrangeira.

Inspirada em uma experiência didática intitulada Army Specialized Training Program

(ASTP), criada pelo linguista L. Bloomfield e usada no exército americano para que os

militares se comunicassem em outras línguas nos campos de batalha, surge a Metodologia

Áudio-Oral (MAO). Tanto a nova metodologia quanto The Army Method não se concentram

no ensino da gramática. De acordo com Cuq e Gruca (2005, p.258), antes de fazer com que os

aprendizes compreendessem o funcionamento gramatical das frases, “o método do exército”

adotava a memorização de diálogos.

A metodologia áudio-oral consiste em dois domínios que se misturam: o

estruturalismo linguístico e a psicologia behaviorista. A aquisição das estruturas baseia-se

nos trabalhos de análise de Bloomfield, que considera a língua em seus dois suportes:

paradigmática como a pronominalização; e sintagmática, exemplificado na inserção de

elementos no local correto da frase. Os exercícios estruturais – pattern drills – realizam a

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42

substituição de pequenas unidades nas frases ou permitem a transformação de uma estrutura

pela outra. Em outras palavras, os aprendizes criam novas frases auxiliadas pela

automatização da estrutura de base que as compõem. Os exercícios de intensa repetição e de

imitação são frequentes, alterando deste modo o ensino da gramática. De acordo com Cuq e

Gruca (2005, p.259) três operações que utilizam os elementos da frase são possíveis na

metodologia áudio-oral: os exercícios de substituição, os exercícios de adição e os de

transformação. Segundo a psicologia behaviorista criada por J. B. Waston e desenvolvida por

B. F. Skinner, a linguagem se fundamenta no comportamento humano e no seu reflexo:

estímulo-resposta-reforço; enquanto a língua é considerada um conjunto de hábitos cujas

respostas são associadas automaticamente ao estímulo.

As quatro competências linguísticas: compreensão oral, compreensão escrita,

expressão oral e expressão escrita são decisivas para a comunicação quotidiana. Entretanto, a

metodologia áudio-oral prioriza apenas a expressão oral. Assim como na metodologia direta,

não há intervenção da língua materna na nova metodologia. A utilização da língua-alvo em

sala de aula é fundamental para a sua aquisição. Os diversos exercícios de repetição reforçam

a expressão oral em língua estrangeira. A pronúncia é auxiliada pela gravação de diversas

vozes nativas. As lições da metodologia áudio-oral são centradas em diálogos da língua

quotidiana registrados em gravadores que permitem que o aprendiz construa outras frases

através de exercícios de substituição e de transformação. O gravador e o laboratório de

línguas são novas técnicas que mudam o cenário do ensino de língua estrangeira ao privilegiar

a compreensão e a expressão oral. O laboratório é composto por cabines individuais onde os

aprendizes podem ouvir as fitas inúmeras vezes. Esses recursos auxiliam a repetição e

reforçam o conceito de memorização.

A correção linguística tem grande importância na MAO. O aprendiz precisa

pronunciar corretamente os fonemas da língua-alvo e as respostas corretas são estimuladas

pela pontuação e pelos elogios feitos pelo professor. Quando o aprendiz comete algum erro

por meio da formação de falsas analogias, afirma-se que houve a interferência de sua língua

materna. O erro poderia suscitar uma estrutura imperfeita, logo sua prática é rejeitada. O

ensino de língua estrangeira, no que se refere à gramática, é centrado principalmente na

sintaxe da frase, não na morfologia ou no léxico, ou seja, o domínio morfológico deve ser

adquirido sem que o professor explique ou solicite a análise reflexiva dos aprendizes. A

aquisição da gramática é indutiva e implícita, isto é, ocorre por meio da memorização e da

imitação. Embora a gramática não seja o aspecto principal, a progressão dos materiais apoia-

se nos itens gramaticais. O nível de complexidade gramatical é gradativo. Quanto ao

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vocabulário, este é restrito ao contexto. Sempre em segundo plano em relação às estruturas

sintáticas, o sentido é sobposto à forma.

Apesar de esta metodologia ter um papel essencial ao implementar recursos

audiovisuais para o ensino e aprendizagem de língua estrangeira utilizados nos dias atuais,

seus métodos sofreram diversas críticas. Em relação à linguística, o estruturalismo de

Bloomfield foi criticado pela gramática gerativa-transformacional de Chomsky. Os

gerativistas eram contrários aos exercícios estruturais alegando que o condicionamento

humano não era suficiente para a aprendizagem de língua estrangeira. Em outras palavras, a

memorização e a repetição das estruturas limitavam a aquisição da língua-alvo a um nível

básico. Deste método surge no âmbito de ensino e aprendizagem de língua estrangeira, outra

metodologia: a audiovisual.

2.4 METODOLOGIA AUDIOVISUAL

Em um contexto de pós-guerra, o ensino de francês língua estrangeira precisou ser

intensificado nas colônias, visto que a língua inglesa dominava as comunicações

internacionais. Desse modo, o governo francês, mais especificamente o Ministério de

Educação Nacional francês, decide criar sob a direção do linguista G. Gougenheim, uma

equipe que conduza um estudo de estatística lexical e gramatical a partir de uma análise da

língua falada, denominada francês elementar e, mais tarde, renomeada de francês

fundamental, cujo objetivo é facilitar a aprendizagem e a divulgação do francês. Em 1954,

duas listas são publicadas com o resultado do estudo: francês fundamental primeiro grau de

1475 palavras e francês fundamental segundo grau com 1609 palavras.

Os novos materiais de ensino da recente metodologia francesa e as pesquisas em

didática são favorecidas pela criação do Centre de recherche et d’étude pour la diffusion du

français (Crédif)8, que publica em 1962 o primeiro método Voix et Images de France, e pelo

Bureau d’étude et de liaison pour l’enseignement du français dans le monde (BEL)9. Em

seguida, surgem outros materiais didáticos elaborados a partir do resultado da pesquisa como:

De vive voix e Dialogue Canada. Durante os anos 50, Peter Guberina do Instituto de fonética

da universidade de Zagreb na Croácia juntamente com o pedagogo Paul Rivene da escola

normal de Saint-Cloud e com Raymond Renard da universidade de Mons na Bélgica

8 Organização pública francesa de pesquisa científica criada em 1959 e extinta em 1996. 9 Atualmente intitulado Bureau pour l’enseignement de la langue et de la civilisation française à l’étranger

(BELC).

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desenvolvem as primeiras formulações teóricas da metodologia Structuro-globale audio

visuelle (S.G.A.V).

A metodologia audiovisual se realiza por meio de aspectos não verbais como: gesto,

ritmo, entonação, contexto social e psicológico, entre outros; e é especialmente construída

acerca da utilização do conjunto do som e da imagem. O suporte sonoro é composto por

gravações; enquanto o suporte visual, por filmes fixos cujas sequências de imagens podem ser

dividas em: imagem situacional que privilegia a situação da enunciação e os componentes não

linguísticos como os gestos, as atitudes e as emoções ou imagem de transcodificação que

traduz o enunciado, deixando visível o conteúdo semântico das mensagens. O livro do

aprendiz é composto apenas por imagens, sem a transcrição dos diálogos. Segundo Cuq e

Gruca (2005, p.261), as lições dessa metodologia consistem num diálogo que veicula a língua

de todos os dias e que se desenvolve na situação de comunicação da vida quotidiana

objetivada em imagens que expõem sua realidade. A importância da sincronização na

manipulação do gravador no registro de diálogos e da sequência das imagens situacionais faz

com que o aprendiz se encontre em uma situação de comunicação global pela via audiovisual.

A lição desta metodologia baseia-se em diferentes fases sucessivas denominadas momentos

da classe em que cada uma explicita um objetivo:

fase da apresentação do diálogo gravado acompanhado de imagens, cujo objetivo é

a compreensão global da situação;

fase da explicação que consiste em retomar sequência por sequência ou imagem

por imagem a fim de explicar os novos elementos;

fase da repetição, que se concentra na correção fonética e na memorização das

estruturas e do diálogo;

fase de exploração ou de reemprego dos elementos, que difere da maneira como

foi apresentado, desta vez por memorização;

fase de transposição, que leva à reutilização de forma mais espontânea dos

elementos aprendidos como em atividades de dramatização.

Os elementos das estruturas gramaticais, apresentados nos diálogos, são retirados da

pesquisa de acordo com a frequência de vocabulário e de alguns pontos gramaticais.

Gougenheim et coll. (1964, p.215 apud GERMAIN; SÉGUIN, 1998, p.22) explicitam que os

adjetivos bel e vieil são ensinados em expressões como: un bel enfant e un vieil homme. No

entanto, por se tratar de um adjetivo de pouca frequência, a forma nouvel é ensinada

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unicamente na expressão nouvel an; enquanto fol e mol não são ensinados. Outra

característica da SGAV diz respeito às estruturas afetivas. Ao contrário do ensino tradicional

da gramática, as estruturas que expressam afetividade são ensinadas na primeira lição e

tendem, de certa forma, a substituir o uso de conjunções; logo a conexão entre as frases é

marcada por meio da entonação e da pausa.

O conceito e aprendizagem da língua pela metodologia audiovisual obedece à teoria

psicológica da Gestalt, que preconiza a percepção global da forma ou da estrutura e a

integração pelo cérebro. A aprendizagem passa pela audição e pela visão. Em outras palavras,

a língua é considerada como um conjunto acústico/visual, gramatical e situacional e o

contexto linguístico tem como objetivo facilitar a integração cerebral dos estímulos exteriores.

Nesta metodologia, o mais importante é uso da língua-alvo centrada na linguagem

familiar. A oralidade se sobrepõe à escrita, ou seja, a percepção global do sentido é essencial

na aprendizagem. Os sons, os ritmos e a entonação da língua são apreendidos de maneira

global. A intensidade da pausa faz com que a palavra que a segue tenha maior importância.

Desse modo, a gramática é um componente essencial no percurso da aprendizagem global. No

entanto, o ensino de língua estrangeira não deve ser centrado na gramática, como afirma

Guberina (1965, p.52 apud GERMAIN; SÉGUIN, 1998, p.24):

La grammaire est enseignée dans les structures parce que c’est de cette manière

qu’on l’assimile spontanément et qu’on peut la généraliser le plus facilement. Si

l’élève doit toujours analyser ce qui est dit dans une langue étrangère, il ne peut pas

suivre la conversation. Il est impossible de parler une langue étrangère si l’on doit

penser tout le temps à la construction et aux règles.10

Uma das funções do professor da metodologia audiovisual é destacar a pronúncia

focando no ritmo e na entonação, interferir quando houver erro gramatical por parte do

aprendiz, além de ensinar o sentido da frase ao criar diferentes situações com o auxílio do

vocabulário e da gramática. Esta, por sua vez, é transmitida de forma indutiva em situação

dialogada favorecendo a reflexão implícita, inspirada no estruturalismo europeu. Os

exercícios estruturais permitem o reemprego e a fixação das estruturas do diálogo em diversas

situações.

Apesar das inúmeras inovações apresentadas por esta metodologia, uma nova corrente,

que prioriza a comunicação, surge no ensino de língua estrangeira fazendo com que a

10 A gramática é ensinada nas estruturas porque é dessa maneira que se assimila espontaneamente e que se pode

generalizar mais facilmente. Se o aluno deve sempre analisar o que é dito em uma língua estrangeira, ele não

consegue seguir com a conversa. É impossível falar uma língua estrangeira se devemos pensar todo o tempo na

construção e nas regras. (tradução nossa)

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metodologia audiovisual deixe, aos poucos, de ser utilizada pelos professores e pelas

instituições de ensino.

2.5 ABORDAGEM COMUNICATIVA

L’emploi du terme approche n’est pas dû au hasard. On ne parle plus de ‘méthode’

parce qu’il n’existe plus un modèle rigide de référence, mais une série de matériaux

et d’instruments que l’on emploi en fonction du contexte d’enseignement /

apprentissage.11 (BERTOCCHINI; COSTANZO, 2008, p.78).

Nos anos 70, a formação progressiva da União Europeia e o seu desenvolvimento

econômico tiveram como consequência a necessidade de criar um ensino de língua estrangeira

que atingisse um público heterogêneo. Este novo ensino desenvolvido na França denomina-se

Abordagem Comunicativa (AC), cujo objetivo principal é a comunicação do aprendiz na

língua-alvo por meio de interações que simulam situações reais. O Método Cognitivo –

utilizado nos Estados Unidos – e o Método Nocional-funcional se reagrupam sob a intitulação

de abordagem comunicativa, que melhor define a diferença da competência linguística e a

competência de comunicação. Diferentemente da relação entre a metodologia tradicional e a

metodologia direta, que rompem com os objetivos entre os métodos funcionais e estruturais, a

abordagem comunicativa difere no nível de competência. Para os estruturalistas, o importante

é a competência linguística, enquanto que para os funcionalistas é preciso privilegiar a

competência comunicativa, isto é, a língua é empregada como instrumento de comunicação

ou de interação social. No que se refere a esta abordagem, Cuq e Gruca (2005, p.265)

distinguem a competência comunicativa em quatro componentes:

componente linguístico, que consiste no conhecimento de regras e de estruturas

gramaticais, textuais, vocabular e fonética;

componente sociolinguístico, que reconduz ao conhecimento das regras

socioculturais da aplicação da língua e que força a compreensão do emprego das

formas linguísticas apropriadas em função da situação e da intenção de

comunicação;

componente discursivo, que permite a coesão e a coerência dos diversos tipos de

discurso devido aos parâmetros da situação de comunicação na qual estão

inseridos;

11 O emprego do termo abordagem não é dado ao acaso. Não se usa mais a palavra ‘método’ porque não há mais

um modelo rígido de referência, mas uma série de materiais e de instrumentos que é empregada em função do

contexto do ensino / aprendizagem. (tradução nossa)

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componente estratégico constituído pela capacidade da utilização de estratégias

verbais e não verbais, a fim de compensar as falhas de comunicação. Esses

fenômenos de compensação também podem se exercer no componente linguístico

ou no sociolinguístico.

Ces quatres composantes [...] vont constituer le noyau dur de toutes les unités

didactiques du matériel pédagogique: que ce soit pour l’oral ou pour l’écrit, on

apprend à communiquer en apprenant à savoir adapter les énoncés linguistiques en

fonction de la situation de communication (status social des interlocuteurs, rang,

âge, lieu de l’échange, canal, etc.) et en fonction de l’intention de communication

(demander une information, donner un ordre, convaincre, etc.) [...] Dans tous les cas,

savoir communiquer ne se réduit en aucun cas à la simple connaissance de la langue,

mais implique d’une manière ou d’une autre la connaissance des règles d’emploi de

cette langue mises en valeur par les quatre composantes qui forment la compétence

de communication.12 (CUQ; GRUCA, 2005, p.266)

Em 1972, o Conselho da Europa reúne um grupo de especialistas a fim de promover a

integração europeia na aprendizagem de línguas entre os adultos, com base em aspectos

sociais e profissionais, especialmente entre os imigrantes. As necessidades de um novo

público faz com que o ensino de língua estrangeira no ambiente escolar mude o modelo

educativo de referência. Na França, a lei criada para o direito da formação continuada

permitiu a arrecadação financeira para a elaboração de duas obras comandadas pelos órgãos

públicos: Niveau-seuil pelo Conselho da Europa e, Analyse de besoins langagiers d’adultes

en milieu professionel pela Secretaria do Estado nas universidades.

O Niveau-seuil possui uma parte central dedicada aos atos de fala seguida de uma

gramática que não revela suas regras. A gramática se empenha, na perspectiva nocional, em

descrever as redes semânticas subjacentes às necessidades da expressão no domínio

gramatical. Puren (2014, p.4) define os atos de fala associados à gramática:

[...] la situation sociale de référence de cette approche [...] a été le voyage

touristique; et son agir de référence [...] était l’interaction langagière (qui est un

parler avec l’autre), interaction décrite linguistiquement par une ‘grammaire

notionnelle-fonctionnelle’, c’est-à-dire en termes de notions en rapport avec la vie

quotidienne et d’actes de parole (qui sont un agir sur l’autre).13

12 Estes quatro componentes [...] vão constituir o difícil núcleo de todas as unidades didáticas do material

pedagógico: que seja para o oral ou para a escrita, aprende-se a comunicar aprendendo a saber adaptar os

enunciados linguísticos em função da situação de comunicação (status social dos interlocutores, classe, idade,

lugar de troca, canal, etc.) e em função da intenção da comunicação (pedir uma informação, dar uma ordem,

convencer, etc.) [...] Em todo caso, saber comunicar-se não se reduz de modo algum ao simples conhecimento da

língua, mas implica de uma maneira ou de outra o conhecimento das regras de emprego dessa língua ressaltada

pelos quatro componentes que formam a competência de comunicação. (tradução nossa) 13 [...] a situação social de referência dessa abordagem [...] foi a viagem turística; e seu agir de referência [...] era

a interação da linguagem (que é um falar com ou o outro), interação descrita linguisticamente por uma

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A equipe do Niveau-seuil ressalta um ponto importante em relação à noção das

necessidades. Por muitos anos, as necessidades linguísticas no ensino escolar eram

desconhecidas. No entanto, o número de fatores de diversificação das necessidades dos

aprendizes era enorme, podendo estar vinculado ao país onde habitam, a relação entre o país

onde vivem e o país onde se fala a língua estrangeira, entre outros. Os métodos de ensino do

tipo generalista evidenciam as necessidades linguísticas mais objetivas e mais gerais,

enquanto o material complementar fica responsável pelas necessidades mais especializadas ou

pela escolha de uma das quatro habilidades que condicionam a aprendizagem de língua

estrangeira. O conteúdo do material pedagógico não está mais voltado para a progressão do

tipo gramatical, mas sim às necessidades linguísticas que modulam a progressão gramatical e

lexical. Segundo Cuq e Gruca (2005, p.200), “o maior interesse da gramática nocional

encontra-se provavelmente na subordinação da forma ao conteúdo a comunicar”. A

flexibilidade do material pedagógico está diretamente relacionada à análise das necessidades,

favorecendo o desenvolvimento de um material didático destinado a um público específico e a

produção de materiais complementares que podem combinar com outro método de base.

Consequentemente, a abordagem comunicativa tende a priorizar a utilização de documentos

autênticos, sejam eles orais ou escritos. Estes documentos são produzidos em outros contextos

diferentes dos de sala de aula. Não são elaborados para a aula de língua estrangeira

exclusivamente.

A abordagem comunicativa prioriza a reflexão, a produção e a elaboração de hipóteses

onde o aprendiz deve observar por si só as regras de funcionamento da língua estrangeira. As

atividades de descoberta do funcionamento da língua, a formulação de regras e a assimilação

das realizações linguísticas em função das práticas socioculturais desempenham um papel

muito importante nesta nova abordagem. Como afirmam Cuq e Gruca (2005, p.267):

Les théories de la communication vont orienter l’apprentissage de la grammaire dès

les débuts de l’acquisition et les formes vont être généralement abordées dans une

perspective notionnelle. Une large place est faite à la grammaire explicite et à la

conceptualisation; les activités de découverte du fonctionnement de la langue jouent

souvent un rôle non négligeable à côté des activités d’assimilation des réalisations

linguistiques en fonction des usages socioculturels.14

‘gramática nocional-funcional’, isto é, em termos de noções em relação com a vida cotidiana e atos de fala (que

são um agir sobre o outro). (tradução nossa) 14 As teorias da comunicação vão orientar a aprendizagem da gramática desde inícios da aquisição e as formas

vão ser abordadas geralmente na perspectiva nocional. Um enorme espaço é dado para a gramática explícita e

para a conceituação; as atividades de descoberta do funcionamento da língua desempenham frequentemente um

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O uso da gramática é trabalhado a partir de pontos gramaticais, seguidos da

formulação do seu funcionamento pelo aprendiz. A competência gramatical faz parte do

componente linguístico, ou seja, o conhecimento de regras constitui apenas um dos

componentes da competência comunicativa. O conhecimento das regras gramaticais não é

suficiente para comunicação em língua estrangeira. É preciso conhecer o emprego dessas

regras. Cuq e Gruca (2005, p.200) afirmam que “o método Archipel15 introduz a gramática

segundo uma ótica pragmática e semântica ou nocional sem excluir a orientação

morfossintática”. Richterich e Suter em Cartes sur table16, distanciam a gramática em uma

parte no fim do volume com reproduções nas diferentes lições, enquanto a maioria dos livros

didáticos apresentavam a gramática no interior das unidades (CAPRÉ, 2002, p.6).

Concernente às atividades gramaticais adotadas pela AC, os exercícios propostos aos

aprendizes possuem diferentes tipos, mas estão sempre a serviço da comunicação. Os

exercícios estruturais que permitem o automatismo e a sistematização do funcionamento

morfossintático da língua estrangeira são criticados por psicólogos cognitivistas que

acreditam que a aprendizagem é um processo mais criativo, no entanto “todos os outros

métodos [com exceção do Archipel] manterão a abordagem clássica [...] e favorecerão os

exercícios de tipos sintáticos e morfossintáticos” (CUQ; CRUCA, 2005, p.200).

O papel do aprendiz, comparado às metodologias anteriores, sofre uma grande

mudança. Seu pensamento permite a descoberta das regras da língua estrangeira, enquanto sua

memória integra as novas informações ao seu conhecimento de mundo. O ensino deixa de ser

voltado para o processo repetitivo e passa a concentrar-se no processo ativo e criador, cujo

ritmo depende do aprendiz. Em outras palavras, o aprendiz é parte fundamental no processo

de aprendizagem onde o behaviorismo, que consiste em certo número de hábitos de reflexos,

é substituído pela psicologia cognitivista. “A aprendizagem das línguas não significa mais

acumular conhecimentos. [...] A transição da ‘memorização’ para a ‘cognição’ não impede

que o processo de aprendizagem permaneça um fenômeno endógeno que faça da

aprendizagem um fim em si mesmo.” (BOURGUIGNON, 2006, p.60)

papel significativo ao lado das atividades de assimilação das realizações linguísticas em função dos usos

socioculturais. (tradução nossa) 15 O método Archipel (Courtillon J. e Raillard S. Didier-Hatier International, 1982) permite que as unidades

possam ser seguidas de maneira não linear a fim de traçar uma progressão mais adequada às diversas demandas e

aos objetivos múltiplos da aprendizagem do francês. 16 O método Cartes sur table (Richterich R. e Suter B. Hachette, 1981) possui: um livro, duas fitas cassetes para

sala de aula, uma fita cassete para os exercícios pessoais e um guia de utilização.

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50

A abordagem comunicativa foca no sentido, no significado e na interação entre os

aprendizes, a partir de atividades de simulação colaborativas em grupo e jeux de rôle. Este

tipo de produção oral promove uma variedade de realizações linguísticas e,

consequentemente, integra a aquisição das competências sociocultural e estratégica. Além

disso, a apropriação dos atos de fala é acompanhada pela aquisição da gramática centrada na

comunicação e na construção do sentido. Não se ensina, por exemplo, Imperativo, mas se

pede a alguém para fazer alguma coisa. O professor evita corrigir os erros gramaticais do

aprendiz em um primeiro momento, corrigindo apenas a pronúncia, o ritmo e a entonação. Em

outras palavras, o erro é considerado inevitável. A língua-alvo é bastante utilizada em sala de

aula, porém é possível adotar a língua materna e a tradução em alguns momentos. Em relação

à escrita, embora a criatividade do aprendiz seja estimulada, os exercícios de produção escrita

continuam clássicos.

2.6 PERSPECTIVA ACIONAL E O QUADRO EUROPEU COMUM DE REFERÊNCIA

[...] pour fournir aux enseignants des moyens supplémentaires d’élaboration de

dispositifs didactiques plus variés, de manière à accroître leurs capacités

d’adaptation à la diversité des publics, objectifs et environnements d’enseignement-

apprentissage (en application du paradigme opposé d’ ‘adéquation-addition’): la PA

doit d’autant plus venir s’ajouter à l’AC, et non la remplacer, que la (bonne)

communication entre acteurs est indispensable à une action commune efficace.17

(PUREN, 2014, p.4)

No final dos anos 90, surge uma nova abordagem denominada Perspectiva Acional

(PA). Publicada em 2001, no Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, essa

abordagem “considera antes de tudo o utilizador e o aprendente de uma língua como actores

sociais, que têm que cumprir tarefas (que não estão apenas relacionadas com a língua) em

circunstâncias e ambientes determinados, num domínio de actuação específico” (CONSELHO

DA EUROPA, 2001, p.29). Define-se por tarefa, qualquer prática em que o aprendiz tem

como objetivo cumprir um determinado resultado no âmbito de solucionar um problema,

como: comprar pão, escrever um e-mail para um amigo, ir a uma entrevista de emprego,

arrumar a casa e pedir alguém em casamento. Para que as tarefas sejam alcançadas, é

necessário que as competências específicas sejam utilizadas de forma estratégica por um ou

mais indivíduos. Esse indivíduo, como ator social, estabelece relações com um amplo

17 [...] para fornecer aos professores meios suplementares de elaboração de dispositivos didáticos mais variados

de maneira a aumentar suas capacidades de adaptação à diversidade dos públicos, objetivos e meio de

ensino/aprendizagem (na aplicação do paradigma oposta da ‘adequação-adição’): a PA deve muito mais vir se

unir na AC e não a substituir, uma vez que a (boa) comunicação entre atores é indispensável a uma ação comum

eficaz. (tradução nossa)

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conjunto de grupos sociais que se sobrepõem e que unidos definem sua identidade. A

diferença na língua e na cultura tem como consequência o desenvolvimento da personalidade

do aprendiz; assim como seu sentido de identidade, característico da abordagem intercultural.

Através do Quadro Europeu Comum de Referência, o Conselho da Europa define

objetivos da política linguística entre os membros da comunidade europeia como a maior

facilidade na comunicação e na interação entre os europeus por meio do conhecimento das

línguas estrangeiras, a fim de promover a mobilidade e eliminar a discriminação, isto é,

proporcionar a tolerância e o respeito pela identidade e a diversidade cultural. O Conselho da

Europa, composto por 47 países, não deve ser confundido com a União Europeia, embora

todos os integrantes façam parte do Conselho. O QECR oferece na Europa uma base comum

para a elaboração de programas de línguas, avaliações, manuais pedagógicos, linhas de

orientações curriculares e níveis de proficiência, além de descrever o contexto cultural do

idioma estudado, os conhecimentos e as capacidades que os aprendizes necessitam

desenvolver a fim de se comunicarem.

O objetivo desta abordagem acional descrita no QECR consiste no alcance das

competências pluricultural, plurilíngue e comunicativa. Segundo Bertocchini e Costanzo

(2008, p.85), a perspectiva acional baseia-se na linguística interacional, no cognitivismo

sócio-construtivista, na neurociência e na teoria das inteligências múltiplas de Gardner. Vale

definir o conceito de plurilinguismo, segundo o Conselho da Europa (2001, p.23):

[...] à medida que a experiência cultural de um indivíduo no seu contexto cultural se

expande, da língua falada em casa para a da sociedade em geral e, depois, para as

línguas de outros povos (aprendidas na escola, na universidade ou por experiência

directa), essas línguas e culturas não ficam armazenadas em compartimentos mentais

rigorosamente separados; pelo contrário, constrói-se uma competência

comunicativa, para a qual contribuem todo o conhecimento e toda a experiência das

línguas e na qual as línguas se inter-relacionam e interagem.

O plurilinguismo se realiza de diversas formas na educação em línguas. Quando há um

limite de tempo para a aprendizagem de uma terceira ou mais línguas e se quer conseguir

maiores resultados, por exemplo, usam-se mais as capacidades de reconhecimento do que as

capacidades de memória. “O reconhecimento formal de tais capacidades ajudará a promover o

plurilinguismo através da aprendizagem de uma maior variedade de línguas europeias.”

(CONSELHO DA EUROPA, 2001, p.20). É possível se comunicar passando de uma língua

para outra ao acionar todos os instrumentos linguísticos, explorando a habilidade de se

expressar, mesmo que se faça uso de gestos e mímicas. O desenvolvimento do plurilinguismo

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e do pluriculturalismo gera uma mudança no ensino de línguas, alcançando métodos e

distintos sistemas educativos.

O QECR, atualmente disponível em 40 línguas, não possui caráter dogmático nem

prescritivo, mas sim uma posição descritiva. Segundo Vilaça (2006, p.3), “não há nenhuma

intenção de prescrever métodos de ensino específicos a serem empregados. As palavras

necessidade e contextos [...] reflete o interesse na adaptação e na adequação do Quadro aos

mais diversos contextos e sistemas educacionais.” O segundo capítulo do QECR apresenta

uma nova abordagem em que diferentes dimensões estão inter-relacionadas em todas as

formas de aprendizagem e de uso da língua. As dimensões como: competências gerais

individuais, competência comunicativa em língua, atividades e processos linguísticos,

domínios, tarefas, textos e estratégias podem ser encontradas em qualquer ato de

ensino/aprendizagem de língua estrangeira. A concepção da aprendizagem ou dos empregos

de uma língua, desenvolvida no Quadro Europeu Comum de Referência se situa em uma

perspectiva acional, como declaram Cuq e Gruca (2005, p.206).

As competências gerais dos aprendizes de língua estrangeira englobam o

conhecimento declarativo (conhecimento de mundo mais conhecimento acadêmico), essencial

para a comunicação intercultural como o conhecimento de crenças religiosas; a competência

de realização que envolve as capacidades do aprendiz (saber-fazer), utilizada em aspectos

gramaticais; a competência existencial (saber ser e saber estar), que une as características

individuais como traços de personalidade, atitudes e temperamentos importantes na relação

intercultural; a competência de aprendizagem (saber-aprender) que implica vários graus e

combinações dos aspectos das outras competências e conhecimento.

A competência comunicativa em língua compreende os componentes: linguístico,

sociolinguístico e pragmático. A competência linguística diz respeito aos conhecimentos e às

capacidades lexicais, fonológicas e sintáticas. De acordo com o Conselho da Europa (2001,

p.34) “do ponto de vista de uma dada competência comunicativa em língua de um indivíduo,

relaciona-se não apenas com a extensão e a qualidade dos conhecimentos [...], mas também

com a organização cognitiva e o modo como este conhecimento é armazenado”. As

competências sociolinguísticas referem-se às condições socioculturais do uso da língua, por

exemplo as normas que regem as relações entre classes. Por fim, as competências pragmáticas

concernem ao uso funcional dos recursos linguísticos como atos de fala, assim como ao

domínio do discurso, da coesão e da coerência, aos tipos de textos, à ironia e à paródia.

Portanto, a perspectiva acional concentra-se na competência, isto é, passa do paradigma do

conhecimento e da simplificação para o da competência e o da complexidade com a intenção

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de conciliar objeto e sujeito, reflexão e ação, aprendiz e usuário (BOURGUIGNON, 2006,

p.63).

Cuq e Gruca (2005, p.270) afirmam que “a perspectiva acional não é uma ruptura

metodológica com a corrente comunicativa, mas aparece como seu prolongamento mais

atual”. Na nova perspectiva, essa competência comunicativa é estimulada na ação de várias

atividades linguísticas tanto na oralidade quanto na escrita. São elas: recepção, produção,

interação – papel central na comunicação – e mediação. Estas atividades estão presentes nos

domínios de ação: público, privado, educativo e profissional. Embora a perspectiva acional

pareça ser uma extensão da abordagem comunicativa, ambas possuem suas especificidades.

Segundo Bourguignon (2006, p.62), “[...] a abordagem comunicativa fazia a sociedade entrar

na sala de aula (lembrando que se tratava de aprender a comunicar comunicando), a

perspectiva acional abre a sala de aula para a sociedade”.

As tarefas realizadas pelos aprendizes durante a comunicação e a aprendizagem de

língua estrangeira não são automáticas nem rotineiras, ou seja, o aprendiz faz uso de

diferentes estratégias para executar suas tarefas. A relação entre tarefa, estratégia e texto está

diretamente ligada à natureza da tarefa. Em outras palavras, é possível realizar tarefas sem o

recurso de atividades linguísticas. O ato de dirigir um carro, por exemplo, tem relação com

outras atividades que não linguísticas, ao contrário de dar aula, cuja tarefa exige estratégias

que incluem diferentes atividades linguísticas e textos. Há também tarefas que pedem apenas

parte de algumas atividades linguísticas, visto que as estratégias se relacionam com outras

atividades, exemplificado no ato de cozinhar seguindo uma receita. As tarefas de

comunicação e de aprendizagem não passam de tarefas entre outras tarefas, assim como as

estratégias comunicativas e de aprendizagem estão inseridas em outras estratégias. O mesmo

vale para os textos autênticos – característicos da perspectiva acional – e os textos produzidos

para fins pedagógicos, que não são mais do que textos.

O desenvolvimento da autonomia é um aspecto relevante na aprendizagem de língua

estrangeira. O incentivo e o preparo de uma aprendizagem autônoma realizam-se através de

professores e programas de ensino que instrumentalizam os aprendizes a utilizarem diferentes

estratégias, conforme afirma Vilaça (2006, p.9). A aprendizagem de língua estrangeira dá-se

por meio da conceituação. Em outras palavras, os aprendizes formalizam as regras de maneira

autônoma através da produção de atividades; estas por sua vez desenvolvem-se acerca de

tarefas. A articulação das atividades de produção e de compreensão varia, visto que não há

uma ordem específica dessas tarefas. No entanto, há uma progressão, do simples ao

complexo, estabelecida pela ideia de módulo organizado em tarefas e composto por unidades,

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dossiês ou lições. O papel do professor no ensino/aprendizagem também sofre alterações

nessa nova abordagem. O professor torna-se o facilitador da aprendizagem e o coordenador

das atividades, abandonando o papel de detentor do conhecimento. Por meio de um esquema,

Puren (2013, p.21) expressa e estrutura as características subjacentes ao agir na perspectiva

acional, como podemos conferir na Figura 1:

Figura 1 - Características subjacentes ao agir na perspectiva acional

Na perspectiva acional também surgem os Níveis Comuns de Referência e o Esquema

Descritivo a fim de facilitar a definição dos níveis de proficiência exigidos pelas normas

existentes e pelas avaliações, de modo a contribuir com a comparação entre diferentes

sistemas de certificação. O Quadro Europeu Comum de Referência organiza o espaço da

aprendizagem em seis níveis: iniciação, elementar, limiar, superioridade, autonomia e

maestria. Apresentam-se, a seguir, de forma esquematizada (Figura 2), os níveis comuns de

referência para o ensino e aprendizagem de línguas.

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Figura 2 - Níveis comuns de referência para o ensino e a aprendizagem de línguas

Além do esquema acima, os seis níveis apresentam suas principais categorias de uso

da língua em forma de grade (Quadro 1). Os descritores escalados de modo global são

propostos em função de aspectos relacionados com as competências linguística, pragmática e

sociolinguística. As formas gramaticais, por exemplo, não estão expostas na grade, visto que a

escala descrita é global; mas sim, apresentadas nas especificações linguísticas para cada uma

das línguas.

Quadro 1 - Níveis Comuns de Referência: escala global

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Segundo Béacco (2010, p.11), o QECR contribuiu para reabertura do dossiê

gramatical, visto que os certificadores se baseiam nos níveis de referência cuja primeira

função é caracterizar os pontos de designação compartilhados, assim como a realização dos

descritores de níveis de referência do QECR colabora para outras discussões gramaticais. De

acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência, a gramática de uma língua é o

conjunto de princípios que regem as combinações de elementos em sequências significativas

marcadas e definidas (as frases) (CONSELHO DA EUROPA, 2001, p.161). “Os conteúdos

gramaticais devem ser selecionados pelos professores, de forma a possibilitar gradualmente a

aquisição da competência comunicativa.” (VILAÇA, 2006, p.9). A competência gramatical,

um dos componentes da competência linguística, é definida como a capacidade para

compreender e expressar significado, por meio da produção e do reconhecimento de frases e

expressões bem construídas, diferentemente da memorização e da reprodução. Segundo o

Conselho da Europa (2001, p.212), o aprendiz de língua estrangeira pode desenvolver a

competência gramatical:

a) de modo indutivo, através da exposição de novas questões gramaticais, tal como

surge nos documentos autênticos;

b) de modo indutivo, através da incorporação de novos elementos gramaticais,

categorias, classes, estruturas, regras, etc., nos textos produzidos especialmente

para demonstrar a sua forma, a sua função e o seu significado;

c) como b), mas com recurso posterior a explicações e exercícios formais;

d) pela apresentação de paradigmas formais, quadros estruturais, etc., seguidos de

explicações metalinguísticas em L2 ou L1 e de exercícios formais;

e) pelo esclarecimento e, quando necessário, pela reformulação das hipóteses dos

aprendizes, etc.

Em setembro de 2017, o Conselho da Europa divulgou no site www.coe.int a versão

provisória de um volume complementar do Quadro Europeu de Referência para Línguas:

Aprendizagem, Ensino, Avaliação a fim de complementá-lo com novos descritores. Esta obra

é resultado de um projeto do Programa de Política de Língua do Conselho da Europa. Um

seminário via web sobre The CEFR Companion Volume and Practical Considerations for

Implementation18, que aconteceu em janeiro de 2018, marcou a apresentação oficial, sendo a

18 O volume complementar do QECR e as considerações práticas para a implementação

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primeira de uma série de atividades durante o ano que promoverão a educação plurilíngue e

pluricultural.

A versão atualizada desenvolveu descritores para mediar conceitos, textos,

comunicação, assim como as competências plurilíngue/pluricultural. Além dos descritores

ilustrativos estendidos, o volume que complementa o quadro europeu contém um introdução

dos objetivos e princípios fundamentais como: (a) fornecer uma metalinguagem para discutir

a complexidade da proficiência linguística e para refletir e comunicar decisões sobre objetivos

de aprendizagem e resultados coerentes e transparentes, e (b) fornecer inspiração para o

desenvolvimento curricular e a formação de professores. Para ajudar nestas funções, cada

escala de descritor é agora apresentada com um raciocínio (COUNCIL OF EUROUPE, 2017,

p.22). Também estão disponibilizadas neste volume, as escalas ilustrativas para linguagens de

sinais e para o aprendizado de jovens. E para facilitar a compreensão das modificações e dos

acréscimos que ocorreram no quadro europeu, o Conselho da Europa (2017, p.50-52)

apresenta um sumário com tais mudanças (Quadro 2):

Quadro 2 - Sumário de mudanças

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De acordo com o novo volume (COUNCIL OF EUROUPE, 2017, p.130) os

descritores estão disponíveis para o alcance (subdividido em: alcance morfossintático, mais

tarde renomeado como alcance linguístico geral; alcance do vocabulário), para o controle

(subdividido em: precisão gramatical e controle do vocabulário), controle fonológico e

ortográfico. A precisão gramatical está relacionada à capacidade do usuário/aprendiz de

lembrar corretamente expressões "pré-fabricadas" e a capacidade de se concentrar em formas

gramaticais enquanto articula o pensamento. No entanto, ao dedicar grande parte da sua

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capacidade na realização de tarefas mais exigentes, o aprendiz pode achar difícil o alcance

desta precisão. Em outras palavras, a precisão tende a ser menor durante tarefas complexas.

Pesquisas em francês, inglês e alemão sugerem que a imprecisão gramatical aumenta em

torno de B1, visto que o aprendiz está começando a usar o idioma de forma mais

independente e criativa. É possível verificar nos descritores (Quadro 3) que a precisão

gramatical não aumenta de forma linear. Os conceitos principais operacionalizados na escala

abrangem:

controle de um repertório específico (A1 a B1);

proeminência de erros (B1 a B2);

grau de controle (B2 a C2).

Quadro 3 - Precisão Gramatical

2.7 ECLETISMO METODOLÓGICO

A metodologia do francês língua estrangeira está diretamente relacionada aos

conceitos de manual/método no ensino e aprendizagem. Ao elaborar o método é preciso

conciliar as três ciências auxiliares da metodologia. São elas: a linguística, a psicologia da

aprendizagem e a antropologia cultural. De acordo com Salins (1996, p.39-40) a linguística

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intervém na escolha dos conteúdos escritos e orais propostos para a aprendizagem e, depende

da evolução das ciências da linguagem. A psicologia da aprendizagem diz respeito às relações

entre professor e aprendiz, bem como os saberes na aquisição de linguagem através da

exposição, da percepção, da interiorização, do tratamento neurológico das “entradas”, da

adaptação, da acomodação, da apropriação, das aptidões gerais, da motivação e da

afetividade. A antropologia cultural refere-se às questões sociais que, por muito tempo, não

foram respeitadas na didática do FLE. Em outras palavras, o modo de agir, de ser e de pensar

dos atos sociais contribuem para a língua e cultura.

Ao estudar as diversas metodologias de ensino de francês língua estrangeira, percebe-

se a busca constante por uma metodologia perfeita. Acreditava-se na possibilidade do

desenvolvimento de uma metodologia que atingisse as necessidades de todos os aprendizes.

Dessa forma, vários métodos foram desenvolvidos ou aperfeiçoados. Alguns revelam traços

da educação dita humanista, enquanto outros se baseiam na corrente psicológica. É possível

citar: o Método Comunicativo, o Método pelo Silêncio, o Método pelo Movimento, a

Sugestopédia e a Abordagem Natural (CUQ; GRUCA, 2005, p.271). No entanto, essas novas

abordagens e métodos propostos não solucionam as dificuldades no ensino/aprendizagem de

língua estrangeira.

Não há uma metodologia única e universal com que todos estejam de acordo. Alguns

pesquisadores, autores e professores passam a renunciar ao caráter prescritivo das

metodologias de ensino, em razão da impossibilidade de realizarem uma prática autônoma.

Alguns professores criticam o fato de reproduzirem as técnicas elaboradas por outras pessoas

e, portanto, deixam de adotar os livros didáticos, os adaptam ou os contrariam. Na França,

essa subversão teve origem após a tomada da Bastilha quando os professores passaram a

questionar o produto proveniente de uma ideologia e de um mercado; da mesma forma que

suspeitaram do controle da liberdade dos professores e da criatividade da classe (PICCARDO;

YAÏCHE, 2005, p.446). Outra crítica recorrente às metodologias de ensino/aprendizagem de

língua estrangeira é a sua não contextualização. Em outras palavras, os manuais parecem

desconhecer as necessidades e a diversidade dos aprendizes, considerando que a turma é

homogênea. Consequentemente, o professor tende a recorrer ao ecletismo metodológico

“respondendo de maneira apropriada e adequada às exigências dos estilos de aprendizagem de

cada um dos seus alunos” (SALINS, 1996, p.42).

Tradicionalmente, o manual é a ferramenta mais utilizada no ensino de línguas. Sua

função principal é facilitar a tarefa do professor, fornecendo um material de trabalho sob a

forma de textos ou exercícios, e aproximar a língua dos aprendizes (DEBYSER, 1973, p.9). A

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partir do século XVIII, o ambiente escolar passa a ser estruturado pelo domínio escrito/oral e

pela criação de disciplinas cujo manual servia de base para este projeto. Não apenas o manual,

mas todo livro era considerado um objeto respeitável devido à raridade e ao preço. Seu

conteúdo era incontestável. Contudo, essa relação hierárquica entre livro e leitor diminui com

o desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação que geram um enorme

mercado editorial. O livro torna-se um objeto descartável após o seu uso.

É possível, atualmente, encontrar no ensino de LE a diversificação de materiais e de

abordagens propostas ou até mesmo a utilização diametralmente oposta ao que é prescrito no

manual, já que o professor se recusa a aplicar o método do jeito que o autor o produziu. “A

busca pelo ‘método perfeito’ se transformou na busca de um ‘método mais adequado’.”

(DUQUE, 2004 apud. VILAÇA, 2008, p.82). O interesse pelo ecletismo metodológico surge

como uma flexibilidade de métodos que estabelece um rompimento com a rigidez imposta.

Segundo os autores Piccardo e Yaïche (2005, p.450), há dois conceitos para a

dinâmica do ecletismo: a adaptação e o surgimento. No primeiro caso, denominado top down,

considera-se a existência de algo já completo que será modificado em razão do ambiente e do

público; enquanto no segundo bottom up, o professor produz um material em função dos

recursos dos quais dispõe. Historicamente, as metodologias tinham reinvindicação

universalista através dos livros didáticos. Portanto, o conceito de adaptação sempre teve um

caráter negativo que estava relacionado à ideia de incapacidade em ultrapassar a própria

cultura para entrar em contato com a cultura da LE. A distinção entre adaptação e surgimento,

ou seja, entre o manual adaptado e o manual criado pelo professor se confundem, visto que

para modificar um material existente, em função do meio e do público, é necessário que o

professor elabore ou escolha materiais de acordo com os recursos disponíveis, seu objetivo e

objetivos dos aprendizes.

Le point de rencontre possible entre les deux concepts dʼadaptation et dʼémergence

est représenté par celui de « ressources », qui implique une démarche dynamique de

sélection, de modification, de construction, bref dʼappropriation mais aussi, en

même temps, une ouverture sur lʼindéterminé. Lʼenseignant peut considérer un

manuel comme une ressource en lʼadaptant, mais il peut aussi construire ou faire

construire des parcours à lʼaide de ressources quʼil met à la disposition des

apprenants.19 (PICCARDO; YAÏCHE, 2005, p.455)

19 O possível ponto de encontro entre os dois conceitos de adaptação e de surgimento é representado por

“recursos”, o que implica uma abordagem dinâmica de seleção, de modificação, de construção, enfim de

apropriação, mas também, ao mesmo tempo, uma abertura para o indeterminado. O professor pode considerar

um manual como um recurso ao adaptá-lo, mas ele também pode construir ou adquirir percursos já preparados

com ajuda de recursos disponibilizados aos aprendizes. (tradução nossa)

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62

O pedagogo francês Francis Debyser, em La mort du manuel ou le déclin de l’illusion

méthodologique, questiona a utilização do livro didático. Embora sua obra tenha quarenta

anos e a metodologia da época fosse a audiovisual, a discussão continua bastante presente

entre professores e pesquisadores. Debyser (1975) define três formas de intervenção em

situação de ensino: a conservadora, a evolutiva e a inovadora. A intervenção conservadora

procura “manter”, “restaurar” ou “restabelecer” uma situação que acredita estar se

deteriorando, impedindo, desta forma, a mudança de certos parâmetros e preservando a

posição do francês em relação às outras línguas. A intervenção evolutiva valoriza a adaptação

à fenômenos tais como o aumento das necessidades de comunicação, da diversificação

sociológica no ambiente escolar e do surgimento de novos meios tecnológicos; fazendo com

que as reações conservadoras considerem a adaptação uma forma de subversão. A intervenção

inovadora, por sua vez, preza pela mudança, visando o planejamento e gerenciamento em

relação aos objetivos precisos, assim como pode apenas induzir a mudança, ou seja, se limitar

a uma dinâmica provocadora, levando em conta os professores, os aprendizes, a instituição e a

sociedade.

A escolha dos temas, a procura por documentos autênticos, a apresentação repleta de

ilustrações atrativas, a forma de abordar as quatro competências, a concepção do aparelho

pedagógico linguístico e funcional que acompanha a aprendizagem, as atividades

sociolinguísticas e culturais fornecidas são características internas de um manual de língua

estrangeira. “Normalmente, a organização interna do manual (e de cada unidade ou dossiê do

manual) deve ser representativa dos pré-requisitos científicos que guiam a cada instante o

idealizador” (SALINS, 1996, p.40). Em outros termos, o manual procura se adaptar às novas

situações e necessidades, porém não tenta se renovar.

A revolução digital contribui para a análise e para inserção de novos suportes no

ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, da mesma forma que influencia na relação

professor/aprendiz. É possível ensinar uma língua estrangeira com qualquer tipo de suporte

como: música, texto literário, documentário, texto jornalístico, filme, fotografia, pintura, etc.

Em outras palavras, a noção de material didático torna-se mais ampla. Entre os materiais

didáticos, Piccardo e Yaïche (2005, p.448) classificam os recursos que os professores utilizam

para sua prática em:

manual e suportes relacionados aos manuais (papéis, iconográficos, áudio/vídeo,

tecnologias mais ou menos novas);

Page 63: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

63

os diferentes documentos de apoio não relacionados aos manuais (papel ou

digitais);

os diferentes tipos de recursos ou ainda o recurso humano, isto é, o professor

(com sua cultura de ensino e seu patrimônio de conhecimento/ saber ser e saber-

fazer didático), bem como o aprendiz (com sua cultura de aprendizagem e seu

patrimônio de conhecimento/saber ser e saber-aprender).

Atualmente, diferentes modelos de relação com o manual coexistem: 1) O modelo de

conformidade com a prescrição metodológica; 2) O modelo de recusa do objeto e/ou da

abordagem proposta. Neste segundo modelo, são possíveis duas atitudes: a) Considerar que

não há modelo e que cada momento é uma nova maneira de criar. b) Negar o objeto, denegri-

lo, ou mesmo destruí-lo; 3) O modelo de apropriação livre e criativo do manual, resultando

em uma "co-construção" do objeto a partir de uma análise de valor e de limite do que é

proposto.

Em termos gerais, o ecletismo metodológico trata da flexibilidade e não da ausência de

metodologia. A escolha eclética no ensino/aprendizagem de língua estrangeira corresponde a

uma seleção de técnicas de ensino que difere do conjunto desordenado de práticas docentes.

Essas escolhas precisam atender às necessidades do seu contexto pedagógico. Em outros

termos, as atividades docentes precisam ser coerentes com os princípios de

ensino/aprendizagem. Os professores de língua estrangeira, com o auxílio de copiadoras e de

impressoras, elaboram seu próprio material, recorrendo a elementos de diferentes métodos já

existentes, isto é, o professor deixa de ser o reprodutor de um método e passa a desenvolver

materiais, o que exige uma formação mais crítica e abrangente. O docente passa a tomar

decisões; selecionar, organizar e elaborar materiais; além de avaliar o processo de

ensino/aprendizagem.

Dans l’éclectisme [...], on peut cependant relever un certain nombre de points

communs qui semblent peut-être autant de corrections ou de modulations apportées

aux applications faites dans les manuels en fonction de nouvelles descriptions

théoriques ou de réajustements méthodologiques. Tout se passe comme si une

‘méthodologie-compromis’ s’était installée sur les lignes de force du courant

communicatif, avec notamment un retour à un enseignement plus systématique de la

grammaire, du lexique et de la correction phonétique.20 (CUQ; GRUCA, 2005,

p.269)

20 No ecletismo [...], pode-se, no entanto, provocar um certo número de pontos comuns que parecem talvez tantas

correções ou modulações trazidas às aplicações feitas nos manuais em funções das novas descrições teóricas ou

reajustes metodológicos. Tudo se passa como se uma ‘metodologia-comprometida’ estivesse instalada sobre as

linhas da força da corrente comunicativa, especialmente com um retorno a um ensino mais sistemático da

gramática, do léxico e da correção fonética. (tradução nossa)

Page 64: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

64

Observa-se nos dias atuais, em alguns livros didáticos de FLE, a apresentação de

conteúdos gramaticais de forma descontextualizada em quadros que misturam a abordagem

indutiva e dedutiva. Além do pouco uso da metalinguagem gramatical, os pontos gramaticais

são apresentados parcialmente. Courtillon acredita que o francês, por se tratar de uma língua

cuja morfologia é pesada, deve ter suas regras ensinadas de maneira parcial, a fim de reduzir

as dificuldades de ordem morfológica e gerar uma aquisição “com doçura”, como a autora

mesmo exemplifica:

Il suffit de connaître les formes verbales qui sont utilisées avec le ‘je’, le ‘tu’ et le

‘vous’ de politesse. Les autres personnes seront enseignées plus tard, quand seront

abordés la description de personnes ou d’objets et le récit qui nécessitent, eux,

l’emploi de la troisième personne. [...] Si on oblige les étudiants à mémoriser trop

tôt, à force d’exercices, trop de formes différentes, on sucharge leur mémoire et on

les démotive.21 (COURTILLON, 2003, p.38)

No entanto, os professores de FLE, que não concordam com essa proposta gramatical,

parecem recorrer ao ecletismo metodológico com o objetivo de ensinar uma gramática mais

completa. O ecletismo também é muitas vezes solicitado pelo aprendiz, que ansiosamente,

tende a comparar a aquisição gramatical de sua língua materna com a língua estrangeira,

suspeitando da gramática parcial defendida por Courtillon. O mesmo ocorre em relação à

metalinguagem. Alguns professores acreditam que a metalinguagem gramatical contribui para

a aprendizagem, desde que seja tratada de forma clara e acessível. Em outras palavras, ao

evocar o ecletismo metodológico a fim de tratar a metalinguagem gramatical, o professor de

FLE não se atenta em explicar novas teorias linguísticas, pois poderia dificultar a aquisição da

língua estrangeira.

21 É suficiente conhecer as formas verbais que são utilizadas com o ‘eu’, o ‘tu’ e o ‘vós’ da gentileza. As outras

pessoas serão ensinadas mais tarde, quando forem abordadas a descrição de pessoas ou de objetos e a narração

que necessita o emprego da terceira pessoa. [...] Se obrigamos os estudantes a memorizar muito cedo, a força de

exercícios, muitas formas diferentes, sobrecarregamos a memória deles e os desmotivamos. (tradução nossa)

Page 65: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

65

3 A IMPORTÂNCIA DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE FLE

3.1 METALINGUAGEM GRAMATICAL

Il faut bien que notre attention soit orientée vers le code plus que vers la

communication qu'on ait les moyens lexicaux et grammaticaux pour le faire

explicitement, et qu'on en ait donc une certaine conscience. (BESSE; PORQUIER,

1991, p.77)22

A metalinguagem, por muito tempo, teve um caráter negativo entre diferentes

metodologias de ensino de língua estrangeira. Algumas metodologias acreditavam que a

metalinguagem dificultaria a atividade comunicativa. A metodologia direta, por exemplo,

tinha como objetivo banir a metalinguagem da sala de aula, visto que a aprendizagem de

língua estrangeira era associada à aquisição da língua materna, isto é, apoiava-se no conceito

de método natural. Uma metalinguagem remete a uma ótica sobre a língua, a qual varia

segundo as épocas, as culturas e as teorias de referência (VIGNER, 2004, p.14). Atualmente,

a metalinguagem pode ser entendida como uma das características da comunicação em aula

de língua. Obae (2007, p.3) reforça esta ideia ao afirmar que “como a linguagem, a

metalinguagem é o uso coletivo dos sinais do sistema em vista da comunicação.” Além disso,

“sua aparição no discurso do aprendiz é muito importante porque ela manifesta um começo de

tomada de consciência do funcionamento da língua, um tipo de controle” (CUQ; GRUCA,

2005, p.135).

Diversos elementos são responsáveis por constituírem a comunicação didática. Entre

eles estão: a sala de aula, cuja ausência conduz à falta de referência a este local de trocas

verbais, embora haja metodologias que preconizem a introdução de um universo exterior por

intermédio de manuais, pela reprodução de documentos escritos ou orais, pela utilização de

imagens e por conversas cujo assunto não pode ser o cenário da sala de aula; o professor, que

possui a função de informar, animar e avaliar; o aprendiz, que tem um papel ativo na

comunicação; e a situação em sala de aula, em que professor e aprendiz se comunicam a fim

de ensinar/aprender uma língua ao criarem papéis ficcionais onde cada um possui duas

representações, uma na enunciação real e outra na enunciação simulada.

A dimensão metalinguística encontra-se presente nesse contexto de comunicação

didática, em razão da metalinguagem ser uma linguagem que é por si só objeto de estudo. “O

objeto a aprender é a língua e o meio para alcança-lo é igualmente a língua” (CICUREL,

22 É necessário que nossa atenção seja direcionada para o código mais do que para a comunicação, que tenhamos

os meios lexicais e gramaticais para fazê-lo explicitamente, e que, portanto, tenhamos alguma consciência.

(tradução nossa)

Page 66: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

66

1985, p.9). De acordo com Vigner (2004, p.107) “Toda comunicação que se realiza [em uma

aula de língua] é também e antes de tudo uma comunicação metalinguística, já que os alunos

que se submetem [a uma aula de língua] o fazem para adquirir o uso desta língua.” Além da

comunicação, todo objeto exterior introduzido na aula está sujeito a se transformar em objeto

metalinguístico, como, por exemplo, um documento autêntico que utilizado para o

ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira perde sua função primária e passa a ter como

objetivo principal o ensino de LE, tornando-se um documento pedagógico.

Francine Cicurel (1985, p.15) define a atividade metalinguística, em relação à didática,

como a orientação da aula sobre a língua que constitui a especificidade, uma vez que a aula de

língua transforma os objetos de mundo, concretos ou linguísticos, em objetos

metalinguísticos. A atividade metalinguística permite que se avalie, a qualquer momento, o

efeito das produções, mesmo que normalmente não haja consciência permanente das formas

utilizadas na comunicação. Conforme Besse e Porquier (1991, p.77), “esta atividade

metalinguística [...] nos permite retomar, modalizar, reformular, enfim ‘negociar’ o que nós

dizemos em função das ‘perdas’ previsíveis ou constantes da comunicação.”

Para os linguistas o termo metalinguístico deriva-se do termo metalinguagem;

enquanto que para os psicolinguistas cognitivos, as atividades metalinguísticas constituem um

subdomínio da metacognição que diz respeito à linguagem e a sua utilização. Em outras

palavras, a psicolinguística concentra-se nas especificidades da metalinguagem no

metacognitivo e a linguística se interessa na metalinguagem na linguagem. Besse (1980,

p.116-119) opta por três linguistas que definiram o conceito de metalinguagem de acordo com

a linguagem. São eles: Jakobson (1963) que acredita na função metalinguística como uma das

seis funções de base da comunicação verbal e, na metalinguagem, não apenas como um

instrumento de investigação científica, mas como um papel importante e constantemente

presente na linguagem; Harris (1971) que deduz que todas as línguas contêm sua própria

metalinguagem; e Hjelmslev (1968) que define a metalinguagem como uma linguagem cujo

conteúdo é a própria linguagem.

No tocante ao ensino e aprendizagem de língua, há duas formas de conhecimento que

podem ser adotadas pelo professor: o conhecimento explícito e o conhecimento implícito;

como explicita Cicurel (1985, p.14):

L’apprentissage d’une langue peut se faire par la connaissace explicite de son

fonctionnement (l’enseignant donne des règles, décrit, explique, corrige) ou par une

Page 67: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

67

connaissance implicite (l’enseignant parlant la langue ou la faisant parler à ses

élèves la leur fait connaître)23

O discurso gramatical é tratado como um discurso metalinguístico devido à sua função

de descrever a língua. Contudo, essa finalidade pode ser modificada pelo professor que adapta

os modelos gramaticais de acordo com a situação em sala de aula. O ensino/aprendizagem de

língua pode optar por duas abordagens gramaticais diferentes: a explícita e a implícita. A aula

de língua baseada na metalinguagem gramatical visa a explicitar o funcionamento da língua.

A metalinguagem faz uso da descrição gramatical ao recorrer à terminologia, seja sob forma

simplificada, seja original. Em outros termos, a gramática explícita adota a metalinguagem

gramatical. No entanto,

Expliciter une règle, entreprendre la description des formes d’une langue, c’est-à-

dire passer ici d’un savoir procédural (je sais faire) à un savoir déclaratif (je sais dire

ce que je sais ou ce que je sais faire), pour utiliser la distinction faite par les

pédagogiques, ne présente d’intérêt que pour un apprenant qui dispose déjà d’une

certaine pratique de la langue. [...] sans la maîtrise d’une grammaire intériorisée,

sans la capacité de l’apprenanat à automatiser l’usage de certaines formes, le recours

à un enseignement explicite de la grammaire ne présente qu’un intérêt limite.24

Ao contrário da gramática explícita, a gramática implícita faz com que o aprendiz

domine o funcionamento da gramática sem o uso da metalinguagem gramatical e sem

explicitar as regras gramaticais. Vale ressaltar que o discurso gramatical difere de acordo com

aqueles que o utilizam. O discurso gramatical de um linguista, por exemplo, tende a ter uma

descrição mais exaustiva do que o discurso gramatical de um professor. Em outras palavras, o

discurso gramatical do professor tem como objetivo o ensino da língua, não a sua descrição.

Bertocchini e Costanzo (2008, p.184-185) apresentam trechos de alguns métodos para

que o leitor identifique o tipo de gramática adotado: implícito ou explícito. Abaixo seguem

dois exemplos desses trechos:

1. « Une autre conception révolutionnaire qui caractérise aujourd’hui la didactique des

langues est celle qui caractérise la grammaire. [...] Aujourd’hui on s’intéresse aux

structures de la langue (syntaxiques, morphologiques, phonématiques...) et aux

23 A aprendizagem de uma língua pode ser feita pelo conhecimento explícito de seu funcionamento (o professor

dá regras, descreve, explica, corrige) ou por um conhecimento implícito (o professor, falando a língua ou

fazendo com que seus alunos falem, lhes permite conhecê-la) (tradução nossa) 24 Explicitar uma regra, realizar a descrição das formas de uma língua, isto é, passar de um conhecimento

processual (eu sei fazer) para um conhecimento declarativo (eu sei dizer o que sei ou o que sei fazer), para

utilizar a distinção feita pelos pedagogos, só interessa a um aprendiz que já dispõe de alguma prática da língua.

[...] sem o domínio de uma gramática internalizada, sem a capacidade do aprendiz de automatizar o uso de certas

formas, o recurso a um ensino explícito de gramática é apenas de interesse limitado. (tradução nossa)

Page 68: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

68

fonctions que les différents éléments ont dans une structure. Les élèves apprennent

d’abord par imitation, ensuite par analogie: on ne fait pas de théorie pour ne pas

interrompre le processus naturel d’apprentissage. [...] Les dialogues de présentation de

la leçon servent à présenter les structures que les élèves doivent apprendre. Le choix

de ces structures est déterminé par des critères de fréquence et de fonctionnalité... »25

Structures, livre du professeur - Petrini - pp.2-3

A apresentação do método exposto no ponto 1 nos leva a crer que o livro do professor

intitulado Structures adota a gramática implícita. Esta conclusão é possível, em razão do

professor não recorrer à metalinguagem para o ensino de gramática. O método afirma que a

teoria, isto é, a metalinguagem gramatical, prejudica de certa forma a aprendizagem natural. A

falta desta metalinguagem no ensino/aprendizagem de língua, no entanto, não exclui o ensino

de gramática, uma vez que o manual Structures revela um interesse pelas estruturas da língua

como, por exemplo, a sintaxe. Contudo, o recurso empregado pelo professor transpassa pela

imitação e pela analogia. Em outras palavras, o professor deve evitar a utilização da

metalinguagem gramatical no ensino de língua e aplicar outros mecanismos.

2. « L’objectif n’est pas d’apprendre une grammaire (c’est-à-dire d’apprendre à nommer

les composantes de la description d’une langue), mais plutôt de comprendre un

fonctionnement, d’avoir la possibilité de faire des comparaisons avec sa langue

maternelle, de s’approprier progressivement quelques mécanismes et règles simples. Il

reste que ces quelques termes du vocabulaire grammatical devront être expliqués ou

tout simplement traduits. [...]

Rubrique grammaticales :

Observation des énoncés grammaticalement intéressants dans les dialogues et

les documents.

Réflexion collective sur ces énoncés. Formulation d’hypothèses sur les règles

de fonctionnement.

Observation des tableaux de grammaire. Vérification des hypothèses et

afinement des règles.

25 1. "Outro conceito revolucionário que hoje caracteriza a didática das línguas é o que caracteriza a gramática.

[...] Hoje estamos interessados nas estruturas da língua (sintáticas, morfológicas, fonêmicas ...) e nas funções que

os diferentes elementos possuem em uma estrutura. Os alunos aprendem primeiramente por imitação, em

seguida por analogia: não fazemos nenhuma teoria para não interromper o processo natural de aprendizagem.

[...] Os diálogos de apresentação da lição servem para apresentar as estruturas que os alunos devem aprender. A

escolha dessas estruturas é determinada por critérios de frequência e funcionalidade ... " (tradução nossa)

Page 69: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

69

Renvoi à des points de grammaire étudiés antérieurement qui permettront une

compréhension plus large du système.

Renvoi à index grammatical en fin d’ouvrage.

Production d’exemples. »26

Le Nouveau Sans Frontières 1, livre du professeur - CLE International - p.6

O trecho do guia dedicado ao professor Le Nouveau Sans Frontières 1, apresentado no

ponto 2, indica uma predileção pela gramática explícita. Embora o objetivo deste método não

seja a terminologia, Le Nouveau Sans Frontières 1 se preocupa com o funcionamento

gramatical. Ao contrário do que defende a gramática implícita, a aquisição da gramática pela

abordagem explícita não ocorre de forma natural. O aprendiz, na gramática implícita, por

meio da observação e da reflexão, formula hipóteses sobre o funcionamento das regras

gramaticais, sem evocar os nomes dos componentes. A gramática explícita não significa

necessariamente que o ensino/aprendizagem de língua preconizará a utilização das

terminologias gramaticais, mas pode dar importância ao funcionamento gramatical, mesmo

que a gramática não seja o enfoque deste método.

A aprendizagem por meio da metalinguagem encontra-se presente no FLM e no FLE,

embora tenha funções diferentes. O estudo de francês língua materna na escola está centrado

no estudo gramatical, mais especificamente na gramática explícita. “Esta aprendizagem lhe

permitirá consolidar seus conhecimentos e aplicar as regras que aprenderam toda vez que o

saber intuitivo da língua se revela inadequado.” (COURTILLON, 2003, p.116). As crianças

adquirem o francês a partir da fala, da escrita e da leitura, mas é preciso compreender o

funcionamento da língua. Vigner (2004, p.115) revela que a gramática explícita no francês

língua materna visa duas grandes famílias de objetivos:

26 “O objetivo não é aprender uma gramática (isto é, aprender a nomear os componentes da descrição de uma

língua), porém muito mais entender um funcionamento, ter a possibilidade de fazer as comparações com sua

língua materna, adquirir progressivamente alguns mecanismos e regras simples. Resta que esses poucos termos

do vocabulário gramatical terão que ser explicados ou simplesmente traduzidos. [...]

Seções gramaticais:

• Observação das afirmações gramaticalmente interessantes nos diálogos e documentos.

• Reflexão coletiva sobre essas declarações. Formulação de hipóteses sobre as regras de funcionamento.

• Observação das tabelas gramaticais. Verificação das afirmações e aperfeiçoamento das regras.

• Reenvio aos pontos de gramática estudados anteriormente que permitirão uma compreensão mais ampla do

sistema.

• Reenvio ao índice gramatical no final da obra.

• Produção de exemplos.” (tradução nossa)

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70

facilitar o acesso à língua escrita pela apresentação ou a lembrança de um certo

número de suas propriedades – que não podem ser induzidas apenas pelo uso

oral adquirido em meio natural;

prescrever um certo número de usos considerados legítimos, além da variedade

de usos vernaculares do francês oral, no âmbito de uma abordagem

normalizada e estandardizada de uma língua nacional.

Em relação à aprendizagem de francês língua estrangeira, a metalinguagem segue

algumas considerações. A utilização da metalinguagem gramatical na aprendizagem de LE é

feita quando se pressupõe que o aprendiz já tenha adquirido essa gramática em sua LM, no

entanto os conceitos gramaticais propostos podem ser diferentes de acordo com a língua

materna do aprendiz.

Les méthodes modernes d’enseignement du français aux étrangers sont très

gourmandes en métalangage grammatical puisqu’elles utilisent en moyenne sur les

deux premiers niveaux environ 200 termes ou lexies et 350 sur l’ensemble des trois

niveaux qui sont généralement proposés au public.27 (CUQ; GRUCA, 2005, p.395)

Cuq e Gruca (2005, p.387-388) exprimem algumas razões pelas quais preferem as

atividades gramaticais explícitas nas aulas de língua de francês língua estrangeira. Entre elas

encontram-se: otimizar a utilização do tempo, uma vez que as atividades serão claramente

identificadas pelo aprendiz e bem estruturadas pelo professor, de maneira que estejam

contextualizadas e submetidas aos objetivos funcionais; contribuir para correção e para não

fossilização dos erros; desenvolver as capacidades argumentativas; proporcionar ao aprendiz

uma capacidade de equilibrar os saberes construídos e socialmente marcados pela tradição, ou

seja, a discussão gramatical com seu caráter formador e educador possibilita a liberdade do

pensamento; focalizar a atenção do aprendiz sobre um ou outro ponto da língua com base no

impacto adquirido da conceituação.

De acordo com Cicurel (1985, p.37), o professor precisa levar em conta o conjunto de

conhecimentos metalinguísticos do aprendiz, denominado patrimônio metalinguístico. Para

explicar um fato sintático, por exemplo, é preciso utilizar categorias metalinguísticas

conhecidas dos aprendizes. Essa linguagem gramatical pode ser adaptada de forma

simplificada pelo professor, a fim de que ela possa ser compreendida pelos aprendizes por

meio de recursos como: gestos e palavras-chave. “Nas aulas de língua, constata-se igualmente

27 Os métodos modernos de ensino do francês aos estrangeiros são muito ávidos em metalinguagem gramatical,

já que eles usam em média nos dois primeiros níveis aproximadamente 200 termos ou lexies e 350 em todos os

três níveis que são geralmente propostos ao público. (tradução nossa)

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a falta de uma metalinguagem gramatical; as regras são substituídas por convenções, por

palavras-chave que os simboliza” (BESSE, 1977, p.7).

3.2 ABORDAGENS DEDUTIVA E INDUTIVA

Além da gramática explícita e implícita, há também as abordagens dedutiva e indutiva.

O termo dedutivo refere-se a uma ideia que parte do geral para o particular, como podemos

verificar na afirmação geral: “Todos os alunos de francês foram aprovados”; logo, deduz-se

que “João foi aprovado”. O termo indutivo, por sua vez, concerne às ideias que partem do

particular para o geral como, por exemplo, nas frases particulares: “João foi aprovado”,

“Antônio foi aprovado”, “Pedro foi aprovado”, “José foi aprovado” e os outros alunos de

francês também foram aprovados; deduz-se, desse modo, que “Todos os alunos de francês

foram aprovados”. No âmbito do ensino e aprendizagem de línguas, a abordagem dedutiva

parte das regras em direção aos exemplos que a ilustram, enquanto a abordagem indutiva

parte dos exemplos para a regra que levaram à sua seleção (BESSE; PORQUIER, 1991, p.80).

A primeira está centrada em uma abordagem tradicional em que após aprender a regra

gramatical transmitida pelo professor, o aprendiz realiza os exercícios de aplicação, sejam

escritos, sejam orais. Já a segunda exige que o aprendiz observe e reflita para que em seguida

confirme suas hipóteses.

O ensino da negação na língua francesa, por exemplo, pode ser explicada pela

abordagem dedutiva ou pela abordagem indutiva. O método Tout Va Bien 1 (AUGÉ et al.,

2005, p.31) (Figura 3), ao ensinar a negação para os aprendizes de FLE, opta pela abordagem

dedutiva em que o próprio manual explica as regras de utilização da negação. Em seguida, a

regra é reforçada pela exposição de exemplos que demonstram: a posição dos elementos ne e

pas; a utilização da negação com os artigos indefinidos; a resposta afirmativa para perguntas

negativas e o uso da negação oralmente.

Figura 3 - Negação pela abordagem dedutiva

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O método Alter Ego Plus 1 (HUGOT et al., 2015, p.29), por sua vez, prioriza a

abordagem indutiva para o ensino da negação. O aprendiz de FLE, ao observar os exemplos

expostos no manual didático, poderá criar hipóteses de como se constrói a regra da negação

na língua francesa (Figura 4). A partir dos exemplos ilustrados no método, é possível indicar a

posição dos elementos ne e pas que compõem a negação em francês. Apesar de adotarem

abordagens diferentes, ambos os métodos, após o ensino das regras, propõem que os

aprendizes de francês língua estrangeira pratiquem o que foi assimilado nos exercícios

estruturais.

Figura 4 - Negação pela abordagem indutiva

Ao contrário da dedução, as abordagens indutivas possuem diversas formas, como

afirma Vincent et al. (2013). Algumas abordagens indutivas apresentadas no ensino de língua

estrangeira não são muito utilizadas na língua materna, principalmente aquelas baseadas no

princípio de que os conteúdos gramaticais são aprendidos intuitivamente. Outras têm uma

papel mais ativo do aprendiz, como é caso da abordagem indutiva de descoberta

(CHARTRAND, 2009, p.14). Essa abordagem tem como objetivo a construção da gramática

pelo aprendiz através de etapas. A abordagem indutiva por revelação também visa à

construção dos saberes pelos aprendizes. Nela, o professor guia os aprendizes através de

questionamentos que orientam a reflexão e limitam sua fase de investigação.

Entre as etapas da abordagem indutiva de descoberta estão: a observação, a

manipulação, a formulação de hipóteses, a sua verificação, os exercícios e o reemprego. A

observação e a manipulação do corpus são as primeiras etapas. O corpus pode ser constituído

por frases, pequenos textos de alunos ou trechos de textos literários ou cotidianos. Os

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73

aprendizes começam pela observação do fenômeno problemático, ou seja, pela consciência de

uma dificuldade; enquanto as manipulações – classificação, comparação, modificação dos

enunciados, entre outros – permitem destacar alguns aspectos do funcionamento do fenômeno

em estudo. Em seguida, a partir dos resultados obtidos das manipulações, há a formulação de

uma ou mais hipóteses explicativas que serão verificadas através de outro corpus. Caso seja

confirmada, a hipótese se transformará em regra, cuja aplicação faz com que os aprendizes

adquiram conhecimentos condicionais. Após a etapa dos exercícios, o aprendiz – com o

auxílio do professor – por fim, reemprega esse novo conhecimento em atividades de

compreensão e produção. Essa etapa final denomina-se fase de transferência consciente do

conhecimento.

Segundo um estudo comparativo28 apresentado por Vincent et al. (2013) as conclusões

variam de acordo com o tipo de abordagem indutiva, como é possível verificar na Figura 5.

Figura 5 - Estudo comparativo das abordagens indutivas

28 11 estudos, publicados entre 1985 e 2012, provêm de uma recessão de escritos oriundos dos motores de busca

Academic search complete, DAF, ERIC, FRANCIS, Education research complete, ERUDIT, Proquest,

PsycINFO e Repère.

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74

Apenas cinco dos doze estudos estão relacionados à aprendizagem do francês,

enquanto os outros referem-se ao ensino de inglês e de espanhol. Vale a pena ressaltar que os

estudos analisados utilizam um método quantitativo para o qual a variável dependente é o

domínio de uma noção gramatical precisa, geralmente sintática, aprendida para facilitar a

expressão oral ou escrita. No entanto, não houve a verificação do domínio do conhecimento

gramatical por um reemprego desses conhecimentos em um contexto escrito, mas sim por

questionários sinalados ou pela produção de frases curtas descontextualizadas.

Embora seja indica pelo Quadro Europeu Comum de Referência para desenvolver a

competência gramatical do aprendiz de língua estrangeira, a abordagem indutiva também tem

suas limitações. Segundo Chartrand (2009, p.15), a principal crítica dos professores de francês

em relação à abordagem indutiva refere-se ao tempo gasto. É preciso, no entanto, que o

professor avalie se a escolha por essa abordagem permite o controle dos mecanismos

gramaticais. Em outros termos, mesmo que o aprendiz leve mais tempo para aprender uma

regra gramatical na abordagem indutiva, é possível que o professor economize tempo, já que

ele evita a repetição dos conteúdos gramaticais ensinados, se estes são construídos pelos

próprios aprendizes. Além disso, a abordagem indutiva possui outros elementos que

contribuiriam para o ensino da gramática. De acordo com Brown (2001, p.365) a abordagem

indutiva, na maioria dos contextos, é mais apropriada porque:

a. it is more in keeping with natural language acquisition (where rules are absorbed

subconsciously with little or no conscious focus).

b. it conforms more easily to the concept of interlanguage development in which

learners progress, on variable timetables, through stages of rule acquisition.

c. it allows students to get a communicative "feel" for some aspect of language

before possibly being overwhelmed by grammatical explanations.

d. it builds more intrinsic motivation by allowing students to discovered rules rather

then being told them.29

29 a. ela está mais para manter a aquisição natural da linguagem (onde as regras são absorvidas

subconscientemente com pouco ou nenhum foco consciente).

b. ela conforma-se mais facilmente ao conceito de desenvolvimento de interlíngua no qual os aprendizes

progridem, em horários variáveis, através de estágios de aquisição de regras.

c. ela permite que os alunos obtenham uma "sensação" comunicativa para algum aspecto da linguagem antes de

serem sobrecarregados por explicações gramaticais.

d. ela constrói mais motivação intrínseca, permitindo que os alunos descubram regras, em vez de serem ditas a

eles.

Page 75: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

75

3.3 EXERCÍCIOS GRAMATICAIS

A gramática, parece muitas vezes ser confundida somente com a aquisição de regras

gramaticais, sendo reduzida aos tipos de abordagem e à metalinguagem gramatical. No

entanto, para que a aquisição dos pontos gramaticais ocorra, é necessário que haja a aplicação

e prática dessas regras, por meio dos exercícios gramaticais. Com a função de acompanhar,

sistematizar e estabilizar a língua, o exercício é um instrumento presente no ensino e

aprendizagem de língua estrangeira. Robert Bouchard (apud CUQ; GRUCA, 2005, p.444)

divide e distingue em três categorias as práticas no ensino/aprendizagem de línguas. São elas:

a atividade, definida como trabalho sobre a aplicabilidade comunicativa simulada; a tarefa,

compreendida como trabalho sobre a aplicabilidade de documentos autênticos; e o exercício,

um trabalho sobre a correção linguística. Vigner (1984, p.14) reitera as definições de

exercício e atividade ao afirmar que “o exercício [...] implica a existência de um objetivo

pedagógico preciso. A atividade é intencionalmente finalizada e delimitada em seu

propósito.” Em outras palavras, a atividade não está diretamente associada a um objetivo

determinado de aprendizagem, podendo se organizar de forma aleatória. Ao contrário da

atividade, o autor declara que a noção de exercício está relacionada à concepção de

aprendizagem formal que se opõe às situações de aquisição em um ambiente natural. A tarefa,

por sua vez, “consiste, em princípio, em uma atividade de linguagem guiada por um

enunciado, a partir de um auxílio, nas condições específicas para o procedimento” (VIGNER,

1984, p.14). Os exercícios, portanto, passam a ser considerados como um tipo da tarefa. Uma

tarefa pode ser caracterizada por diversos componentes:

• aquilo que faz o sujeito: a atividade que lhe é pedida;

• em quais condições: o procedimento adotado;

• aquilo que lhe é fornecido: um (dos) apoio(s), um (dos) enunciado(s).

Além do exercício, Vigner (1984, 2016) propõe que a resolução do problema faça

parte de outra categoria de tarefa fornecida ao aprendiz. Em outros termos, tanto o exercício

quanto o problema são tipos de tarefas presentes na aprendizagem de língua estrangeira.

Enquanto o exercício é caracterizado por sua repetição e pela avaliação através do

direcionamento simples de respostas limitadas; o problema trata de uma situação complexa

em que o aprendiz recorre, ocasionalmente, às competências e aos recursos disponíveis como

documentos, trabalhos; além de ter maior liberdade para resolver tal problema. “O exercício

distingue-se de fato da atividade de resolução de problema pela preocupação de fazer o aluno

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trabalhar na aquisição de uma competência restrita resultante da propriedade particular da

língua.” (VIGNER, 2016, p.3). O Quadro 4, a seguir, proposto por Vigner (2016) exemplifica

a diferença entre exercício e problema.

Quadro 4 - Exemplo entre o exercício e problema

A mecânica dos exercícios pode ser comum em diferentes métodos, isto é, alguns

manuais apresentam exercícios compostos pelos mesmos elementos como: enunciado conciso

e sem ambiguidade, itens e exemplo. No entanto, a língua, a cultura e os exercícios da língua

materna, que servem de referência para a aprendizagem, podem interferir na estruturação de

outros modelos. A seguir, encontra-se, na Figura 6, o modelo de organização (VIGNER,

2016, p.4) de um exercício retirado do livro Alter Ego Plus 1 (HUGOT et al., 2015, p.94):

Figura 6 - Modelo de organização de um exercício de FLE

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Autores como Pierre Lamailloux, Robert Jeannard, Marie-Hélène Arnaud, Jean-Pierre

Cuq e Isabelle Gruca propõem, nas aulas de francês, uma tipologia geral dos exercícios. Em

outras palavras, estas atividades não se concentram em exercícios gramaticais, mas, ao

contrário, os engloba. Os exercícios são distribuídos em duas categorias: compreensão e

expressão. Os exercícios de compreensão têm como objetivo verificar, desenvolver, auxiliar e

ajustar a compreensão, podendo esta ser caracterizada como global, detalhada, aprofundada,

analítica ou seletiva, dependendo do suporte escrito ou oral. Essa categoria se subdivide em:

questionários, textos com lacunas, quebra-cabeças, ligações, entre outros. Os exercícios de

compreensão presentes em um manual, por exemplo, seguem um percurso expositivo em que

a primeira fase consiste na exposição dos conhecimentos e a segunda trata da aplicação ao

propor exercícios que permitam o controle do grau de assimilação dos aprendizes. Os

exercícios de expressão, por sua vez, podem ser classificados em duas inclinações: os que

proporcionam a produção de um texto e os que geram a reescrita. Os exercícios de reparação e

de matrizes textuais são atividades de produção, enquanto as modificações por contração ou

expansão, pertencem as atividades de reescrita.

Os questionários podem ser classificados em: resposta aberta, múltipla escolha,

questão fechada e questão guiada. O questionário de resposta aberta requer que o aprendiz

tenha a liberdade de se expressar, podendo responder oralmente ou através da escrita. O

exemplo (Figura 7) retirado do manual Forum 1 (BAYLON et al., 2000, p.98) expõe dois

exercícios. O primeiro apresenta as perguntas que o aprendiz deve ler; enquanto o segundo

exercício tem como instrução a compreensão oral de um diálogo, para que em seguida o

aprendiz possa responder às questões lidas anteriormente.

Figura 7 - Questionário de resposta aberta

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Além de utilizar seu próprio vocabulário, o aprendiz é capaz de responder a esse

questionário através de um discurso formulado pelos seus conhecimentos linguísticos. As

respostas variam de acordo com o nível do aprendiz, ou seja, é possível exigir respostas

concisas ou elaboradas. O questionário de múltipla escolha é composto, geralmente, pela

questão seguida de uma série de opções de respostas (palavra, oração ou mini textos). A

resposta correta, presente entre três ou quatro opções, pode ser selecionada de diversas

formas, dependendo do enunciado: sublinhar, circular ou marcar um “x”. A elaboração desse

tipo de exercício, muito utilizado na abordagem comunicativa, exige do professor muita

atenção e tempo, visto que as alternativas precisam ser semelhantes, mas sem ambiguidade.

As questões fechadas facilitam a compreensão de textos longos por se tratar de um

questionário do tipo binário, isto é, as respostas apresentam duas alternativas (sim/não ou

verdadeiro/falso). As questões guiadas ou orientadas referem-se aos exercícios de

elucidação ou justificação. O aprendiz revela o fundamento de uma ou várias informações,

normalmente guiado pelo enunciado “Mostre que...”.

Os exercícios de correção de texto são divididos em: textos de lacunas e teste de

encerramento. Os textos de lacunas podem ser desenvolvidos a partir de frases isoladas ou de

textos que precisam ser preenchidos. Neste último caso é necessário que a resposta do

aprendiz dependa do contexto. Em geral, esse tipo de exercício demanda ou a categoria

lexical ou a gramatical, como é o caso dos exercícios em que o aprendiz precisa completar as

lacunas com os artigos definidos e indefinidos. O livro didático Alter Ego Plus 1 (HUGOT et

al., 2015, p.112), por exemplo, adota o exercício de lacuna (Figura 8) no final de cada dossiê,

alternando entre a categoria lexical e a gramatical:

Figura 8 - Exercício de lacuna

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O enunciado da Figura 8 requer, especificamente, que o aprendiz complete as lacunas

com a conjugação dos verbos indicados, ou seja, trata-se da categoria gramatical. Contudo,

isso não significa que não há lacunas, no ensino de línguas, que requerem o preenchimento de

pontuação, de acento, de letras ou até mesmo de frases completas como, por exemplo, a

réplica dos diálogos de um personagem. Uma variação do exercício de lacuna denominada

“erro de impressão” também pode ser encontrada nas aulas de língua. Nela, o aprendiz corrige

os “erros” cometidos pelo professor, quando este omite ou inclui, propositalmente, uma

palavra. O teste de encerramento, por sua vez, consiste na substituição de algumas palavras

– uma em cada cinco – por espaços vazios. O objetivo do aprendiz é a restituição, com o

auxílio de uma lista onde se encontram, fora de ordem, as palavras retiradas do texto autêntico

ou provenientes do dicionário. Esse exercício exige um conhecimento diversificado como

vocabulário, compreensão e gramática, visto que as palavras eliminadas não precisam

pertencer à mesma categoria.

Em relação aos exercícios de reconstituição do texto, o quebra-cabeça permite a

restauração lógica e cronológica do texto. Em outras palavras, para que o texto seja restituído,

o aprendiz deve ordenar os elementos da frase ou do parágrafo. Para a criação do quebra-

cabeça, é preciso que o professor recorte o texto em diversos fragmentos, sem que haja

ambiguidade. A reconstituição do texto se deve ao respeito de uma série de elementos como a

pontuação, os articuladores lógicos, as maiúsculas, entre outros. O exercício de quebra-cabeça

adequa-se principalmente aos textos narrativos ou àqueles cuja cronologia é bem assinalada,

aos textos argumentativos com seus conectores lógicos e aos diálogos. Para todas essas

circunstâncias, é necessário que se mantenham o começo e o fim do texto, com o intuito de

facilitar a organização dos elementos. Além dos textos, o quebra-cabeça pode ser utilizado na

palavra – letras em tulha – ou na frase. Nesse caso, o enfoque é a ortografia ou a sintaxe.

Abaixo encontra-se um exemplo de exercício de quebra-cabeça (Figura 9) (HUGOT et al.,

2015, p.88) em que o aprendiz deve restituir a ordem cronológica e os diálogos de uma

história em quadrinhos.

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Figura 9 - Exercício de quebra-cabeça

O exercício de ligação ou teste de correspondência é composto por uma série de

elementos que, divididos em colunas e apresentados em forma de listas, podem ser conectados

por meio de flechas, letras ou números. A associação de um texto a imagens ou a esquemas,

por exemplo, é uma das formas de exercício de ligação referente à compreensão textual. É

possível encontrar esse exercício em atividades de compreensão textual, de gramática e de

vocabulário (Figura 10).

Figura 10 - Exercício de correspondência

A correspondência do vocabulário pode ser feita entre a coluna de palavras e a coluna

de definições; enriquecendo, desse modo, o léxico dos aprendizes. Este é o caso do exercício

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acima exibido no manual Tout va bien 1 (AUGÉ et al., 2005, p.60), em que o vocabulário de

festa (coluna da esquerda) apresentado na forma de número, deve ser associado à definição

correspondente, indicada por letras de A à E (coluna da direita). A correspondência gramatical

também pode ser trabalhada de diversas maneiras, como a verificação do uso do artigo

partitivo (uma coluna com perguntas onde há a utilização dos artigos partitivos e a outra

coluna com respostas cujos elementos são substituídos pelo pronome en).

Embora seja dissociada das atividades de compreensão e expressão, a atividade

lúdica também pertence ao ensino de língua estrangeira. Nos anos 70, com o ensino voltando-

se para a comunicação, surgem nas aulas de FLE as primeiras tentativas de incorporar

completamente o jogo como ferramenta pedagógica. No entanto, foi nos anos 80 e 90 que os

jogos de letras, de palavras, de sociedade e as atividades de dramatização e improvisação

tiveram seu lugar nas salas de aula. Atualmente, os termos “jogo” e “lúdico” estão presentes

vigorosamente nos contextos didáticos e pedagógicos. Tanto os livros didáticos oferecem

conteúdos relacionados aos jogos quanto os sites propõem diversas atividades lúdicas para o

ensino de língua. Contudo, o Conselho da Europa não privilegia o jogo no ensino de língua

estrangeira visto que o QECR (CONSELHO DA EUROPA, 2001, p.88) apenas descreve em

algumas linhas a utilização lúdica da língua, sem que haja a prescrição dos jogos.

O uso da língua como jogo desempenha frequentemente um papel importante na

aprendizagem e no desenvolvimento da língua, mas não está apenas confinado ao

domínio educativo. Podemos dar os seguintes exemplos de actividades lúdicas:

Jogos sociais de linguagem:

• orais (histórias erradas ou “encontrar o erro”; como, quando, onde, etc.);

• escritos (verdade e consequência, a forca, etc.);

• audiovisuais (loto de imagens, etc.);

• de cartas e de tabuleiro (canasta, monopólio, xadrez, damas, etc.);

• charadas, mímica, etc.

Actividades individuais:

• adivinhas e enigmas (palavras cruzadas, anagramas, charadas, etc.);

• jogos mediáticos (TV e rádio: “Quebra-cabeças”, “Palavra Puxa Palavra”);

Trocadilhos, jogos de palavras, por exemplo:

• na publicidade, p. ex.: da protecção ambiental: “um cigarro mal apagado pode

apagar a floresta”;

• nos títulos de jornais, p. ex.: a propósito do lançamento de um CD dos Beatles

perto do Natal, “Noite consolada”;

• nos graffiti, p. ex.: “Quem não tem nada não tem nada a perder”.

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Além de grande parte das atividades lúdicas não necessitar de material, elas se

adaptam aos objetivos e aos níveis de sala de aula. “[...] seus atores estão lutando com a

língua e com a comunicação e tudo ou quase tudo pode servir de suporte: textos escritos,

imagens, documentos áudio e vídeo, cartas, objetos quotidianos, objetos insólitos, corpos,

sons, palavras, conceitos...” (SILVA, 2008, p.15). De acordo com Cuq e Gruca (2005, p.457)

“o jogo pode [...] modificar a visão da matéria ensinada, às vezes apercebida como árdua,

instaurar as relações mais autênticas nas interações, dinamizar as trocas verbais entre os

participantes, depolarizar as relações mestre-alunos, etc.” Haydée Silva (2008, p.26) afirma

ainda que:

[Les activités ludiques] peuvent faciliter le travail d’une classe hétérogène ; obliger

enseignant et apprenants à reconsidérer leur rapport au corps, à la langue et à la

sociéte ; contribuer à développer des aptitudes utiles au travail en équipe; aider à

décloisonner des disciplines habituellement isolées ; développer l’intelligence,

l’observation, la motivation, l’esprit critique, ainsi que les facultés d’analyse et de

synthèse.30

Os jogos se distinguem em quatro categorias: cultural, teatral, criativa e linguística. Os

jogos culturais concernam aos conhecimentos e à cultura do aprendiz de LE. O jogo do

baccalauréat, que propõe assuntos convencionais como: pintura, música, país, cidade, entre

outros e, que deve ser respondido através do preenchimento das casas do formulário, é um

exemplo de jogo cultural. Os jogos teatrais podem estar presentes na simulação, na

dramatização, na improvisação, na direção/liderança do professor ou no jeux de rôle cujo

exemplo (Figura 11), apresentado abaixo, pertence ao livro Écho A2 (GIRARDET;

PÉCHEUR, 2010, p.103). Neste caso, o aprendiz precisa interpretar o papel de uma pessoa

que viajará e terá que decidir se vai emprestar o apartamento ao primo de uma amiga (outro

aprendiz).

Figura 11 - Jeux de rôle

30 [As atividades lúdicas] podem facilitar o trabalho de uma classe heterogênea; obrigar professores e aprendizes

a reconsiderar sua relação com o corpo, a linguagem e a sociedade; contribuir para o desenvolvimento de

habilidades úteis para o trabalho em equipe; auxiliar a descompartimentar disciplinas geralmente isoladas;

desenvolver a inteligência, a observação, a motivação, o pensamento crítico, bem como a capacidade de análise e

síntese. (tradução nossa)

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Os jogos de criatividade, como as charadas, o anagrama e as adivinhações, exigem

que o aprendiz estimule sua imaginação e criatividade, seja na escrita seja na oralidade. Os

jogos linguísticos são os mais formais dentre aqueles citados acima ao reagrupar os jogos

lexicais, fonéticos, ortográficos, morfológicos, sintáticos e gramaticais. O jogo linguístico

pode relacionar-se com a criatividade, como exemplificam Cuq e Gruca (2005, p.458):

[...] le jeu plus célèbre est certainement “le cadavre exquis”, qui repose au départ sur

une structure syntaxique [...] et qui consiste à faire circuler une feuille de papier

entre les participants : le premier, en se cachant des autres, écrit un substantif, puis il

replie la feuille et la passe à son voisin qui complète ce début par un qualifiant

(adjectif, complément de nom, etc.), le troisième met un verbe, le quatrième un

conplément d’objet direct, etc. ; le dernier joueur déplie la feuille, fait les accords

grammaticaux si cela est nécessaire et lit le resultat obtenu. Le professeur est bien

évidemment libre de choisir n’importe quelle autre structure syntaxique et de la

codifier en fonction des objectifs assignés à l’activité et à son déroulement.31

Em geral o jogo está presente em três tipos de vantagens: motora, afetiva e cognitiva.

No que concerne à motricidade, os jogos contribuem para a melhor compreensão das

capacidades do participante, para aperfeiçoar sua habilidade e exercitar a motricidade fina e

global. Além disso, segundo a autora Haydée Silva (2008, p.25), “na aula de língua, o jogo

favorece um comportamento comunicativo global, solicitando o corpo, a sensibilidade e o

intelecto.” Do ponto de vista afetivo, o jogo torna-se um instrumento de socialização ao

auxiliar na multiplicação dos contatos e no trabalho em comum, isto é, o participante

transpassa o egocentrismo. No domínio cognitivo, o jogo “reforça o trabalho de classificação,

de ordenação e de pesquisa de relações” (SILVA, 2008, p.25).

Embora haja diferentes tipos de atividades, os exercícios gramaticais têm um papel

importante nas aulas de língua, tanto na materna quanto na estrangeira. No entanto, a função

desses exercícios varia de acordo com a língua ensinada. Nas aulas de FLE, por exemplo, os

exercícios gramaticais dependem da maneira como a metodologia aborda a gramática, do

lugar de aprendizagem do francês língua estrangeira e da cultura gramatical. Em outros

termos, a metodologia determina, nas aulas de FLE, se o ensino/aprendizagem de francês será

centrado ou não na abordagem gramatical e em seus exercícios; ao contrário das aulas de

FLM em que o exercício gramatical se encontra especificamente presente. Na França, a

31 [...] o jogo mais famoso é certamente "o cadáver esquisito", que se baseia inicialmente em uma estrutura

sintática [...] e que consiste em circular uma folha de papel entre os participantes: o primeiro, escondendo dos

outros, escreve um substantivo, em seguida ele dobra a folha e passa para o seu vizinho, que completa este

começo com um qualificante (adjetivo, complemento nominal, etc.), o terceiro coloca um verbo, o quarto um

complemento de objeto direto, etc.; o último jogador abre a folha, faz as concordâncias gramaticais, se

necessário, e lê o resultado obtido. O professor é, evidentemente, livre para escolher qualquer outra estrutura

sintática e codificá-la em função dos objetivos atribuídos à atividade e ao seu desenvolvimento. (tradução nossa)

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aprendizagem do latim e do grego influenciaram a aprendizagem das línguas modernas, em

razão das Instructions Officielles de 1908. Desse modo, a descrição da língua se sobrepunha à

prática. Em outros termos, a aquisição era mais voltada aos conhecimentos metalinguísticos

do que aos conhecimentos linguísticos propriamente ditos. No início do século XIX, surgem

os exercícios de gramática de francês língua materna. O gramático francês Charles-Pierre

Chapsal (1787 - 1858), em colaboração com François Noël (1756 - 1841), escreve a obra

Nouvelle Grammaire Française avec Exercices, utilizada para a aprendizagem da gramática e

da ortografia.

De acordo com Vigner (2016, p.9), a relação da gramática na realização dos exercícios

pode ser determinada de duas formas distintas: pela inscrição do exercício em uma tradição

gramatical diferente do francês e pela referência a uma teoria gramatical particular. Em outras

palavras, a maneira como a gramática é desempenhada varia de acordo com o princípio dos

exercícios na língua materna do aprendiz, como é o caso da abordagem dos tempos verbais

nas línguas eslavas que difere do francês; do mesmo modo que é possível encontrar distintas

descrições gramaticais como as variadas abordagens da voz passiva. Em todo caso, alguns

exercícios são recorrentes no ensino de francês língua estrangeira, como: o exercício

estrutural, o exercício de reemprego e o exercício de conceituação.

O exercício estrutural provém da psicologia behaviorista, que acredita na repetição

como forma de constituição do hábito e do automatismo; e da linguística estrutural. Pierre

Delattre (1971, p.13) adota esse conceito ao afirmar que “realmente saber uma regra de

gramática, não é poder formulá-la, mas ser capaz de aplicá-la com um alto grau de

automatismo.” Embora este seja o exercício gramatical mais difundido entre docentes e

aprendizes, está cada vez menos presente nos manuais de língua estrangeira. Alguns

professores recorrem ao exercício estrutural para tratar de regras gramaticais específicas,

como o pronome relativo. Este tipo de exercício é concebido para que haja apenas uma

resposta possível, ou seja, a probabilidade de uma resposta incorreta deve ser reduzida ao

máximo. Seu objetivo é sensibilizar os aprendizes nas aulas de gramática através do

automatismo, podendo ser utilizado em diferentes níveis linguísticos como: fonológico,

prosódico, morfológico e sintático. “A estrutura que mais favorece a aprendizagem de uma

língua é aquela que melhor se presta à manipulação” (DELATTRE, 1971, p.8). O exercício

estrutural é adaptado para que o aprendiz possa aplicar e verificar o que foi estudado na lição.

Os exercícios estruturais são classificados em: exercício de repetição (Figura 12), de

substituição (Figura 13) e de combinação (Figura 14) cujos exemplos foram retirados da

Grammaire Progressive du Français avec 400 exercices (MAÏA; MERLO, 2004) e, exercício

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de transformação (Figura 15), exemplo extraído do livro didático Tout Va Bien 1 (AUGÉ et

al., 2005).

O exercício de repetição da Figura 12 demanda que o aprendiz copie a expressão Est-

ce que vous êtes sem que, ao menos, haja uma reflexão para esse processo. Trata-se de um

exercício mecânico que não exige o conhecimento gramatical. Em outras palavras, basta

repetir a estrutura seguindo o modelo indicado. Neste caso, a noção estrutural se baseia no

fenômeno linguístico de similaridade. Apesar dos exercícios de substituição, de combinação e

de transformação exigirem a reflexão por parte do aprendiz, eles não recorrem à

metalinguagem gramatical. O exercício de substituição, embora também seja automático, faz

com que o aprendiz pondere suas respostas. O exercício da Figura 13, por exemplo, requer

que o aprendiz troque os substantivos pelos pronomes le, la e les. Para isso, é preciso refletir e

analisar quais palavras serão substituídas, o gênero e o número de tais substantivos; assim

como a posição do pronome escolhido. Em outros termos, o aprendiz precisa atentar-se para

uma série de fatores ao realizar esse tipo de exercício.

Figura 12 - Exercício de repetição

Figura 13 - Exercício de substituição

Assim como o exercício de substituição, a Figura 14 revela que o exercício de

combinação precisa do conhecimento linguístico dos aprendizes. O exercício de combinação

fornece duas frases simples e independentes que serão reunidas em uma estrutura mais

complexa articulada por um elemento específico, como os pronomes relativos. Outro

exercício que recorre ao conhecimento linguístico é a transformação. A estrutura das frases do

exercício de transformação podem ou não variar. O fenômeno linguístico desse exercício

baseia-se na oposição. O enunciado do exercício de transformação da Figura 15, em

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específico, informa que o aprendiz deve transformar as frases utilizando as expressões être

sur le point de ou être en train de. Para esse fim, o aprendiz observa se os itens propostos

possuem uma ideia de instantaneidade ou de continuidade.

Figura 14 - Exercício de combinação

Figura 15 - Exercício de transformação

O exercício de reemprego, proveniente dos anos 60, está relacionado às orientações

adotadas pela metodologia audiovisual. Trata-se de uma mesma construção que poderá ser

reaplicada em diferentes contextos de fala. Esse tipo de exercício, desenvolvido para a língua

francesa, surgiu no livro Voix et images de France 1er Degré. Em seguida, o Crédif passou a

elaborar métodos que adotavam o exercício de reemprego, como é o caso do manual De vive

voix, assim como o manual Voix et image de France 2eme Degré (BOUDOT, 1970, p.43)

(Figura 16).

Figura 16 - Exercício de reemprego

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Devido à sua repetição, o exercício de reemprego se assemelha ao exercício estrutural.

No entanto, os elementos podem variar de acordo com a categoria estrutural ou lexical se

assemelhando, mais especificamente, ao exercício de substituição. Segundo Gérard Vigner

(1984, p.83):

[...] l'élève répond/réagit à un stimulus, il s'agit ici d'analyser une situation

d'énoncitation proposée verbalement par le professeur et trouver la réponse

apropriée, non pas conformément à un modèle présente initialement, mais de

manière à correspondre à ce que peut être le comportament verbal d'un locuteur

véritable dans une situation analogue.32

Para que ocorra a evocação verbal de uma situação de enunciação, é necessário que

haja um suporte. Além do suporte linguístico, característico do exercício estrutural, e do

metalinguístico, típico do exercício tradicional; a evocação verbal pode ser auxiliada através

do desenho. A precisão verbal, que indica o locutor e o conteúdo, está junto à imagem,

destinada a apresentar os interlocutores e o contexto situacional. A simulação apresenta uma

troca entre os locutores da língua estrangeira, desta forma “o aprendiz poderá de certa forma

se identificar com personagens representados”33. Esse tipo de exercício pode ser inserido em

papéis diferentes. Associado ao diálogo, o exercício de reemprego pode ser tratado como

exercício de aquisição, mas incorporado à fase de exploração, ele é abordado como exercício

de treinamento. Abaixo encontra-se um exercício de reemprego proposto no livro

L’Exercisier (DESCORTES-GENON et al., 1999, p.206):

32 [...] o aluno responde/reage a um estímulo, trata-se aqui de analisar uma situação de enunciação proposta

verbalmente pelo professor e achar a resposta apropriada, não segundo um modelo presente inicialmente, mas de

maneira a corresponder ao que pode ser o comportamento verbal de um locutor verdadeiro em uma situação

análoga. (tradução nossa) 33 Ibid., p.86

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88

Figura 17 - Situação de reemprego

O exercício de reemprego sugere a automatização das estruturas lexicais e/ou

gramaticais, bem como sua utilização em uma situação de comunicação, apesar desta situação

ser limitada. Na Figura 17, o aprendiz precisa automatizar, através de um convite para sair, o

uso do Condicional. Os verbos conjugados no Condicional apresentados acima servem como

suporte para situação de enunciação. Neste caso, trata-se de um suporte linguístico. Em outras

palavras, o exercício não recorre ao uso da metalinguagem, assim como não faz uso de

imagens; mas sim dos verbos conjugados aimeriez-vous, voudriez-vous, désireriez-vous,

diriez-vous, penseriez-vous, ça vous plairait, préféreriez-vous e on pourrait. Sem a menção

do sistema de regras, o aprendiz se apropriará implicitamente da fórmula dos verbos no

Condicional por meio dos itens expostos. Em seguida, o aprendiz será capaz de convidar em

diversas situações de comunicação distintas – fornecidas pelo próprio exercício – utilizando

os verbos no Condicional.

Tanto o exercício estrutural quanto o exercício de reemprego evitam propor, na

elaboração da tarefa, uma dimensão metalinguística. Com base nesses exercícios, surge a

hipótese pedagógica de que o aprendiz pode, de forma implícita e progressiva, se apropriar

das regras gramaticais. Além do papel de refletir sobre o funcionamento da língua, o exercício

pode ser utilizado como forma de conceituação das regras gramaticais. Em outros termos, o

aprendiz adquire, implicitamente, através dos exercícios, as normas gramaticais da língua

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estrangeira. Como afirma Gérard Vigner (2004, p.109): “o exercício, pelo menos

aparentemente, não faz nenhuma referência a uma metalinguagem particular, pode-se

considerar que seu objetivo é instalar, implicitamente, a gramática da língua por um trabalho

sistemático sobre algumas de suas propriedades.” Concebido através de hipóteses e

confrontado em um modelo linguístico e comunicativo, o exercício de conceituação é

difundido pela teoria construtivista. A intuição do aprendiz é construída a partir de fases

anteriores de aprendizagem. Ao contrário dos exercícios gramaticais explicitados

anteriormente, esse tipo de exercício tem o objetivo de guiar o aprendiz a uma construção

simplificada das regras gramaticais, visto que a variedade das respostas é limitada.

De acordo com Henri Besse (1977), em um dado momento da aprendizagem, o aluno

tem a liberdade de expressar a maneira como entende o funcionamento da LE que adquire.

Outra característica do exercício, que serve de conceituação gramatical, é a repetição. Esta se

divide em dois objetivos: o pedagógico, no qual o aprendiz entra em contato

progressivamente com a tarefa; e o linguístico, que permite a criação de hábitos respectivos às

regras da língua estudada. Nos últimos 30 anos, diversos métodos de FLE passaram a adotar

os princípios de conceituação gramatical, principalmente nos níveis iniciantes, como:

Mosaïque 1 (1994), Le Nouvel Espaces 1 (1995), Libre Échange (1996), Forum 1 (2000) e

Alter Ego Plus 1 (2015). Expõe-se a seguir, um exemplo (Figura 18) extraído do livro Alter

Ego Plus 1 (HUGOT et al., 2015, p.20):

Figura 18 - Exercício de conceituação da regra gramatical

Por meio da hipótese e da análise de outros exercícios, que antecedem o Point

Langue34 e que servem de base para a conceituação, o aprendiz é capaz de completar com os

artigos definidos le, la, l’ e les os espaços vazios que se associam aos países no masculino e

feminino singular e no plural. Deste modo, o aprendiz apropria-se do sistema de regras

34 Espaço de conceituação, presente no método Alter Ego Plus, que guia o aprendiz na observação das estruturas

linguísticas e verificação de suas hipóteses.

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gramaticais. Ao contrário da Figura 18, o conhecimento da regra do artigo definido também

pode ser adquirido explicitamente, deixando, por exemplo, o exercício estrutural em uma

posição significativa.

A seguir, um exemplo da apresentação explicita do artigo definido (Figura 19) retirada

do livro Totem 1 (Lopes; Le Bougnec, 2014, p.17):

Figura 19 - Gramática explícita

Apesar de ter tratado de diversos exercícios, o objetivo deste trabalho não é descrever

todos os exercícios utilizados no ensino de francês língua estrangeira, mas salientar a

importância dos exercícios na aquisição da gramática. Gérard Vigner (2004, p.111), por

exemplo, por meio de uma tabela, reúne algumas tipologias de exercícios defendias por

alguns autores como: Henri Besse (1984), Pierre Lamailloux et al. (1993), Jean-Paul Cuq e

Isabelle Gruca (2003) e por ele próprio, em sua obra L’exercice dans la classe de français

(1984), como podemos conferir no Quadro 5:

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Quadro 5 - Tipos de exercícios segundo alguns autores

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92

3.4 GRAMÁTICA NO ENSINO DE FLE

[...] parmi les langues étrangères comme l’anglais, l’allemand, l’arabe, le russe,

l’enseignement/apprentissage du français et surtout celui de sa grammaire est l’un

des sujets les plus problématiques. [...] l’abondance des règles et des exceptions

grammaticales, les irrégularités de conjugaisons, la notion du genre qui n’existe ni

en anglais ni en turc, sont quelques-uns des sujets difficiles à comprendre et à

apprendre.35 (ÖZÇELİK, 2012, p.175)

Não se pode desconsiderar o peso morfológico da língua francesa e de sua cultura

gramatical ao ensinar FLE. A França e, atualmente, os países francófonos parecem possuir

uma forte relação com sua língua. No que diz respeito à França, esse vínculo com a língua é

histórico. Durante muito tempo, acreditava-se na hipótese de que o dialeto “franciano” da

região Ilha de França teria passado da condição de fala popular regional ao de língua nacional,

através do poder do rei. No entanto, a hipótese mais recente afirma que o francês língua

escrita era elaborado em diferentes escritórios da administração do rei, era redigida em vários

documentos públicos, tornando-se língua jurídica, do mesmo modo que era usado entre os

letrados que apreciavam os romances em francês. Tanto oralmente quanto na escrita, o francês

era composto por uma série de signos de distinção que o diferenciava da língua picarda e da

champanhesa.

No século XVI, a relevância do francês – língua do rei enriquecida pela língua popular

dos campos e das Províncias – foi decorrência de sua expansão em outros territórios. Além da

expansão territorial, é possível encontrar neste período uma reflexão e uma tentativa de

consolidação da língua francesa. Em 1549, a obra Défense et illustration de la langue

française, um debate mais amplo da arte poética, do poeta Joachim du Bellay (1522 - 1560)

tornou-se um manifesto da nova escola literária. Du Bellay defendeu a necessidade de renovar

a língua e a sintaxe francesa, além da criação de novos gêneros literários. Juntos, Du Bellay,

Pierre de Ronsard (1524 - 1585), Jean-Antoine de Baïf (1532 - 1589), Étienne Jodelle (1532 -

1573) e outros adotaram esta nova abordagem na poesia.

A língua francesa transformou-se em um ideal nacional durante o século XVII. O

francês clássico expresso por autores como: Molière (1622 - 1673), Racine (1639 - 1699),

Madame de La Fayette (1634 -1693) e Boileau (1636 - 1711) e de atos políticos como a

criação da Académie Française em 1635 foram essenciais para que a língua atingisse a

35 [...] entre línguas estrangeiras como o inglês, o alemão, o árabe, o russo, o ensino/aprendizagem do francês e,

principalmente, o de sua gramática é um dos temas mais problemáticos. [...] a abundância das regras e das

exceções gramaticais, as irregularidades de conjugações, a noção do gênero que não existe nem em inglês nem

em turco, são alguns dos assuntos difíceis de entender e aprender. (tradução nossa)

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Europa. No entanto, é no século XVIII que o francês língua literária tornou-se prestigiado

entre escritores e filósofos que estavam relativamente conscientes da Revolução de 1789.

A escola pública, quase um século mais tarde, através da gramática codificada e da

ortografia, contribui para a idealização de um sentimento nacional e para a desconstrução da

elite republicana. “É compreensível [...] que uma nação historicamente unida em torno de uma

língua comum lhe tenha inconscientemente transmitido essa exigência de centralização que há

muito acreditou ser necessário se impor também em sua expressão política.” (CUQ, 1996,

p.60). A reforma ortográfica de 1990, por exemplo, que teve sua origem em um relatório do

Conseil Supérieur de la Langue Française36 aprovado pela Académie Française, gerou uma

discussão entre tradicionalistas da Direita, que não queriam a reforma, e políticos da Esquerda

(ARRIVÉ, 1994). Em 2016, essa reforma ortográfica voltou a ser discutida, quando uma

circular do Ministério da Educação pediu às editoras que os manuais escolares incluíssem a

nova regra aprovada em 1990, mas que ainda não havia sido adotada.

Apesar das diversas tentativas de renovação metodológica no ensino de francês, a

gramática continua tendo um papel importante nas aulas de francês língua materna. No

francês língua estrangeira

[...] notre conception de l'enseignement guidé en classe de langue nous fait de

longue date plaider non pas pour un enseignement de la grammaire mais pour un

enseignement grammaticalisé du FLE, où l'activité grammaticale joue un rôle

important dans la procédure de compression: il s'agit de faire entrer dans un espace

limité (la classe), dans un temps limité (le cursus, le cours), la langue, qui est, elle,

par nature illimitée.37 (CUQ; GRUCA, 2005, p.385)

A seguir, encontram-se algumas funções gramaticais no ensino de francês língua

estrangeira centrado diretamente na competência comunicativa. Esta, aliás, composta por

outras quatro competências: compreensão oral, compreensão escrita, expressão oral e

expressão escrita.

36 Presidido pelo Primeiro Ministro Michel Rocard do Partido Socialista, além de reunir linguistas, escritores,

jornalistas e outras pessoas interessadas em diversas questões da língua francesa, como estrangeiros francófonos,

os Ministros da Educação Nacional e da Francofonia e os secretários vitalícios da Academia Francesa e da

Academia de Ciências. 37 [...] nossa concepção de ensino guiado nas aulas de idioma nos faz há muito defender não um ensino da

gramática, mas um ensino gramaticalizado do FLE, onde a atividade gramatical desempenha um papel

importante no processo de compressão: trata-se de trazer em um espaço limitado (a sala de aula), em um tempo

limitado (o currículo, a aula), a língua, que é, por natureza, ilimitada. (tradução nossa)

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3.4.1 Compreensão Oral e Escrita

A compreensão prevê o conhecimento das regras socioculturais, incluindo os fatores

extralinguísticos que intervêm na linguagem oral como: o gesto, a mímica e outros traços

utilizados inconscientemente; assim como o conhecimento fonológico e textual, o valor

funcional e semântico das estruturas linguísticas veiculadas. Há diversas formas de tratar a

questão da compreensão. As pesquisas realizadas em psicolinguística, por exemplo,

descrevem o processo de compreensão a partir de dois modelos distintos:

o modelo semasiológico (base-sommet) prioriza a percepção das formas da

mensagem. O processo de compreensão implica quatro grandes operações que se

desenvolvem em quatro tempos: fase de discriminação, fase de segmentação, fase

de interpretação e fase de síntese. Esse tipo de modelo apresenta uma concepção

linear da compreensão;

o modelo onomasiológico (sommet-base) resulta de uma série de operações de pré-

construção da significação pelo receptor, que estabelece um certo número de

hipóteses. As primeiras são de ordem semântica, em seguida o receptor verifica

essas hipóteses e a última fase diz respeito ao resultado da verificação.

A fase de discriminação, pertencente ao modelo semasiológico, refere-se à

identificação dos sons ou reconhecimento dos sinais gráficos. A fase de segmentação delimita

as palavras, os grupos de palavras ou as frases. Em seguida, a fase de interpretação dá sentido

às palavras delimitadas na fase anterior. Por fim, a fase de síntese constrói o sentido global da

mensagem junto aos sentidos das palavras, de seus grupos e das frases. Essa linearidade na

compreensão permite que o receptor pouco experiente, por exemplo, possa compreender um

documento. Diferentemente do modelo semasiológico, o modelo onomasiológico parece ser

mais completo e produtivo. As primeiras hipóteses são baseadas no conteúdo da mensagem

como situação de comunicação e informações, ou seja, a partir dos conhecimentos dos quais o

receptor dispõe. A verificação ocorre com base nos indícios que confirmam ou rejeitam as

hipóteses iniciais. A última etapa pode ser composta por três situações diferentes: hipóteses

atestadas e a pré-construção do sentido inserida no processo global de significação; hipóteses

desmentidas, deste modo o receptor pode recorrer à novas hipóteses ou optar pelo modelo

semasiológico; ou o receptor pode abondar a construção do sentido, uma vez que as hipóteses

não são nem confirmadas nem desmentidas.

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No ensino de LE, a compreensão pode ser encontrada na categoria oral e escrita. A

competência de compreensão oral não se limita mais às atividades de distinção auditiva. A

percepção auditiva é fundamental no acesso da significação, isto é, o domínio do sistema

fonológico, o reconhecimento da voz, o número de falantes, a definição das pausas, entre

outros fatores auxiliam no sentido. A situação de comunicação, a percepção das variações de

entonação, os diferentes tipos de discursos presentes em programas de rádio e televisão, assim

como os discursos feitos para serem proferidos e os para serem lidos também contribuem para

a construção da compreensão. Lhote (1995, 69-72) acredita ser relevante em uma situação de

aprendizagem: escutar para ouvir, para detectar, para selecionar, para identificar, para

reconhecer, para levar a ambiguidade, para reformular, para sintetizar, para fazer, para julgar.

A aquisição da competência de compreensão escrita na língua estrangeira resulta do

desenvolvimento das competências sintáticas, lexicais e textuais e; às vezes, da transferência

dos conhecimentos em LM. Apenas o conhecimento das significações linguísticas não é

suficiente para a compreensão escrita; é necessário, junto a essas competências linguísticas, os

conhecimentos prévios do leitor, seu conhecimento de mundo e sua bagagem sociocultural.

Em outros termos, o ato de leitura é uma interação entre o texto e o leitor. Desse modo, o

professor tem como objetivo incentivar o aprendiz a respeitar um projeto de leitura para

atingir a compreensão da mensagem escrita. Entre as etapas desse projeto, estão: a pré-leitura,

a observação, a leitura silenciosa e a pós-leitura. Além das etapas, é possível propor

estratégias que favoreçam a descoberta da mensagem a partir de uma construção global do

sentido, sem que haja uma leitura palavra por palavra. Moirand (apud CUQ; GRUCA, 2005,

p. 168) as divide em duas fases:

a percepção que permite a familiarização do leitor com o texto e o recebimento de

informações que proporcionam o reconhecimento do gênero textual;

a leitura orientada para alguns elementos textuais que iniciam a compreensão

como: enunciados precisos, retóricas, elementos anafóricos, articuladores lógicos,

elementos eventuais de ordem enunciativa e preocupação com o início e fim de

parágrafos.

A gramática tem sua importância na compreensão escrita, visto que a sintaxe e a

morfologia constituem uma ferramenta que permite ao leitor relacionar as palavras do texto de

acordo com uma lógica própria da língua estrangeira. “É preciso considerar a sintaxe como

uma ferramenta de tratamento da informação e a morfologia como um indicador que

estabelece entre as palavras os laços funcionais que as unem” (VIGNER, 2004, p.132). Em

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francês, a ordem das palavras define em grande parte sua função, as expansões do grupo

nominal são indicadas por algumas classes de palavras introdutoras, por um uso particular da

pontuação, para que o leitor não coloque no mesmo grau de importância as palavras que

fazem parte da estrutura de base da frase e das que fazem parte dos elementos subordinados.

3.4.2 Expressão Oral e Escrita

A competência da compreensão difere da expressão, embora se correlacionem entre si.

Segundo Cuq e Gruca (2005, p.178), “a aprendizagem de uma serve para o desenvolvimento

de outra: melhor ler é melhor escrever e melhor ouvir é melhor falar.” Além disso, a

competência de expressão também é dividida em oral e escrita. A oralidade é nitidamente

expressa no material didático. Em outras palavras, os métodos procuram apresentar diferentes

tipos de situações de comunicação e quando não conseguem atingir essa grande diversidade

oral, tentam desenvolver os comportamentos que constituem a competência comunicativa e

favorecer as trocas mais autênticas. O domínio da língua oral é estabelecido pela fluidez, ou

seja, pela habilidade de falar de forma contínua, sem interromper as palavras.

A fonética, apesar de ser considerada enfadonha pelos aprendizes e uma ciência

desestimulante pelos professores, é a base da aquisição de uma competência de comunicação

e condiciona, em primeiro lugar, a compreensão e a expressão oral. A comunicação também é

constituída por elementos difíceis de serem adquiridos como: o encadeamento silábico, a

produção de uma sequência de sons que faça sentido e que corresponde a uma ideia, a

reprodução da organização rítmica, a restituição do modelo intuitivo correspondente, a

segmentação do discurso em grupos de sentido, a reprodução dos fonemas, principalmente no

caso do francês. Diversas técnicas, entre elas o jeux de rôle e a simulação global, utilizam a

oralidade dedicando-se ao uso da voz, ao ritmo, à entonação, ao acento, aos sons distintivos

da língua, entre outros. O desenvolvimento da expressão oral tem como objetivo fazer com

que os aprendizes comuniquem de forma mais natural e autêntica possível.

A expressão escrita, ao contrário da expressão oral e das competências de

compreensão, não foi beneficiada pelas pesquisas no âmbito da didática de francês língua

estrangeira. Os métodos de FLE raramente fazem com que o aprendiz desenvolva uma

verdadeira competência textual. A didática da expressão escrita se constitui a partir de alguns

constantes da língua materna, assim como do repertório discursivo e textual e das variações

que dependem principalmente do nível linguístico em língua estrangeira. A expressão escrita

não consiste apenas na produção de uma série de estruturas linguísticas, nem na sequência de

frases bem construídas, mas na realização de uma sucessão de procedimentos, de resolução de

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problemas, às vezes difíceis de serem distinguidos e estruturados. Algumas pesquisas

baseadas na psicologia cognitiva propõem um quadro que coloca em perspectiva os processos

fundamentais da expressão escrita. Neste caso, distinguem-se três componentes: o meio da

tarefa ou o contexto de produção, a memória a longo prazo do escritor e o processo de

produção. Este último composto: pela planificação, pela textualização e pela revisão ou

edição. Além de redigir textos para realizar um ato de linguagem do quotidiano como dar

conselhos, o aprendiz, através de enunciados mais complexos e de outras atividades

introduzidas progressivamente, é capaz de produzir diferentes textos em função de objetivos

definidos, encontrando-se em uma situação de produção autêntica. Vale ressaltar que o termo

autêntico pode ser discutido, já que sua finalidade é pedagógica.

Por muito tempo, o ensino da expressão oral limitou-se à gramática da frase simples

ou complexa. Mesmo que ainda haja alguns traços dessa tradição pedagógica, principalmente

nos métodos destinados aos níveis iniciantes e intermediários, os exercícios de comunicação

propostos não explicitam as regras ou comentários sobre a estruturação sintática dos

esquemas textuais ou sobre os fenômenos de coesão e coerência textuais. As atividades de

escrita de FLE, relacionadas a um projeto de comunicação, consistem na elaboração de um

texto contínuo, coerente e organizado por frases que seguem as normas da sintaxe dessa

língua, uma vez que o respeito pela sintaxe e morfologia é a condição para que tenha uma boa

recepção do texto pelo leitor. De acordo com Vigner (2004, p.139), somente a sintaxe

permitirá indicar ao leitor as relações de sentido que unem as palavras e por essas relações

reconstituir o acontecimento, o projeto, o raciocínio, a explicação que quer transmitir o

escritor.” Contudo, Cuq e Gruca (2005, p.186) afirmam que não há mais uma gramática que

explicite todos os níveis do processo textual ou uma teoria que proponha a apropriação de um

código textual e dos mecanismos da produção do texto. Antunes (2014, p.39) declara que:

A gramática, enquanto elemento constitutivo das línguas, é sempre contextualizada,

uma vez que nada do que dizemos - oralmente ou por escrito - acontece em abstrato,

fora de uma situação concreta de interação. Existe sempre um contexto, uma

situação social qualquer, onde o que dizemos pode assumir um determinado sentido

e cumprir uma determinada função comunicativa.

3.4.3 Norma

A corrente comunicativa é bem menos resistente à gramática do que certas

metodologias anteriores, mesmo que não se baseie preferencialmente no trabalho

metalinguístico (CUQ; GRUCA, 2005, p.384). O alcance da competência comunicativa em

francês, para alguns, significa a inutilidade do ensino gramatical por meio de atividades que

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descrevem o funcionamento da língua através de regras e uso da metalinguagem. No entanto,

segundo Vigner (2004, p.8):

[...] le français est une langue dotée d’un appareil morphologique assez lourd,

s’organise selon une syntaxe où l’organisation des groupes obéit à des règles

complexes, où la traduction orthographique de certains choix grammaticaux occupe

une place importante. Le français est aussi une langue où le respect de la norme

(norme dont il faudra préciser la nature et l’origine) importe peut-être plus que dans

d’autres langues, norme dont le respect trouve son expression dans l’usage de

certains arrangements syntaxiques.38

Ao contrário da sociolinguística – que considera a norma como um grupo de sistemas

mentalmente referenciados e hierarquizados – na gramática, a norma não é uma noção, mas

sim uma abstração, um conceito desenvolvido a partir de um sistema de representações

sociais. Em outros termos, os grupos dominantes tendem a construir os usos linguísticos.

Pedagogicamente, enquanto a norma é valorizada, as variações são tratadas como erros. Deste

modo, a gramática tem a função de indicar o certo e errado a ser ensinado. Em relação à

comunicação, há duas possibilidades para a norma: ou o falante, embora tenha que conhecê-

la, recusa segui-la; ou o falante utiliza apenas a norma que conhece e, consequentemente, seu

discurso é compreendido como deficitário. No tocante à variação linguística nas metodologias

que prezam a comunicação no ensino de FLE, encontra-se um modo de gestão anormalista, ou

seja, um modo fundado na renúncia das normas objetivas cuja finalidade é favorecer a

expressão livre do aprendiz (CUQ, 1996, p.65).

3.4.4 Erro x Falha

Com a centralização da comunicação no ensino de francês língua estrangeira, diversas

reflexões sobre o tratamento da gramática surgiram. Entre elas estão: a sistematização dos

pontos gramaticais descobertos na conceituação; a fixação desses pontos e sua apropriação; o

reemprego em uma situação contextualizada para que haja a aquisição de uma competência

comunicativa real e o tratamento/utilização dos erros. Durante muito tempo, os termos erro e

falha foram considerados sinônimos. Os estudiosos em didática das línguas utilizaram

pejorativamente a noção de falha com uma conotação religiosa, enquanto a palavra erro teve

o emprego considerado mais neutro. No entanto, o termo falha perde sua conotação moral na

38 [...] o francês é uma língua dotada de um aparelho morfológico bastante pesado, se organiza segundo uma

sintaxe onde a organização dos grupos obedece a regras complexas, onde a tradução ortográfica de certas

escolhas gramaticais ocupa um lugar importante. O francês também é uma língua onde o respeito da norma

(norma da qual será necessário precisar a natureza e a origem) importa talvez mais do que em outras línguas,

norma cujo respeito encontra sua expressão no uso de certos arranjos sintáticos. (tradução nossa)

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teoria Chomskiana como afirma Corder (1980). Em didática de línguas estrangeiras, os erros,

que provêm do verbo em latim errare, segundo Marquilló Larruy (2003, p.120) “marcam um

desconhecimento da regra de funcionamento”. Marquilló Larruy (2003, p.120) também define

o termo falha como: “erros de tipo (lapsos) falta de atenção/cansaço que o aprendiz pode

corrigir”. Em outras palavras, o erro cujo caráter é sistemático faz parte do processo de

aprendizagem da língua estrangeira, já a falha – não-sistemático – está associada a condições

fisiológicas e psicológicas, respectivamente como o cansaço e a tristeza.

As teorias linguísticas e psicolinguísticas forneceram uma nova dimensão ao debate

sobre o erro na aprendizagem de línguas. Começaram a pesquisar os diferentes tipos de erro, o

porquê de certos erros, os critérios de avaliação que se devem adotar e se a língua materna

interfere na aprendizagem de uma língua-alvo. No ensino e aprendizagem de línguas

estrangeiras, o erro possui diferentes significações e funções para cada esfera. Para os

pesquisadores, revela a maneira como a língua está sendo adquirida, logo sua pesquisa

contribui para a elaboração de material, assim como para a avaliação do ensino e

aprendizagem. Para os professores, a análise dos erros permite verificar a aquisição do

aprendiz, conhecer as estruturas que causam maiores dificuldades e o que falta a ser ensinado,

fazendo com que o professor adapte seu programa de ensino. Para o aprendiz, é uma forma de

confirmar ou não suas hipóteses sobre o funcionamento da língua-alvo, e de acompanhar o

progresso de suas competências.

O erro é parte integrante da aprendizagem. No que concerne à aprendizagem de língua

estrangeira, há dois tipos de erros: erro de desenvolvimento e erro de interferência. O erro

derivado da própria língua-alvo, isto é, que não tem relação com a língua materna, denomina-

se erro de desenvolvimento; enquanto o erro de interferência é aquele cujos elementos da

língua materna influenciam não apenas as novas regras, mas a maneira de se comunicar na

língua estrangeira. Os erros de interferência variam de acordo com a aproximação entre a

língua materna e a língua estrangeira. “O erro reflete uma competência linguística transitória,

ele corresponde a uma tentativa de comunicação” (TAGLIANTE, 2006, p.156). Essa língua

transitória em que o aprendiz de LE se comunica é denominada interlíngua. Este termo teve

grande repercussão no início da década de 80. Atualmente, o conceito de interlíngua é

frequentemente rejeitado por psicolinguistas, embora tenha contribuído para o

desenvolvimento da aquisição de línguas, da interação na aula e da análise conversacional.

Selinker (1972) define a interlíngua como a variedade de língua de um bilíngue que ainda não

atingiu seu equilíbrio, além de ser uma estrutura comparável ao que os gerativistas presumem

para a aquisição da língua materna.

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Segundo a pesquisa feita por Amara (2001), o erro de interferência mais cometido

entre os alunos argelinos do ensino médio que aprendem francês língua estrangeira é o

emprego do tempo verbal. A distância linguística faz com que os aprendizes argelinos, por

exemplo, influenciados pela língua materna, confundam o presente com o passado. Apesar do

português não se distanciar tanto linguisticamente do francês como o ocorre no árabe, visto

que ambas são línguas românicas, o erro de interferência também pode ser cometido entre os

aprendizes brasileiros na aprendizagem de FLE. Geralmente, o imperfeito do subjuntivo

existente na língua portuguesa tende a causar um certo desconforto nos aprendizes brasileiros

de francês língua estrangeira ao não conseguirem relacionar este tempo verbal à língua-alvo

estudada. Como esse tempo verbal, embora existente em francês, praticamente não é mais

usado, sobretudo na língua falada, construções do tipo: “Se eu pudesse faria isso”, não são

ditas em francês da forma que corresponde exatamente ao português: “Si je pusse, je ferais

cela”, mas sim “Si je pouvais [imperfeito do indicativo] je ferais cela”. Tal construção causa

muita estranheza ao estudante brasileiro, que sente uma certa dificuldade em aplicá-la. Esse

tipo de erro, ou melhor, a recorrência de um erro, é facilmente distinguida; e a análise

contrastiva pode contribuir para a sua correção.

A maneira como abordar o erro e a falha no ensino de línguas varia bastante entre os

pesquisadores. Vigner (2004, p.10), por exemplo, acredita que “corrigir as formulações dos

alunos, quando elas estão falhadas, é talvez uma primeira maneira de aproximar a gramática

de uma língua.” Birks (2001, p.230), a partir de sua experiência, indica que a aprendizagem

apenas com base na repetição de declarações ou nas fórmulas correspondentes a uma

determinada situação de comunicação, faz com que a interlíngua do aprendiz fossilize

rapidamente, quando ela não se deteriora com as falhas de memória. Segundo o autor, a

gramática seria provavelmente a única maneira de evitar a fossilização. Mesmo que a reflexão

metalinguística não favoreça de alguma forma a expressão oral, ela proporciona uma melhor

apropriação da língua estrangeira, isso no contexto de aprendizagem guiada em um meio

institucional. Contudo, Janine Courtillon (2003, p.66) afirma que “deve-se tentar não ser

obcecado pela gramática, ou seja, pela falha”. De acordo com Courtillon, o aprendiz pode se

sentir desmotivado em falar, ao perceber que o professor cuja formação foi constituída por

anos de vigilância gramatical está concentrado nas falhas e não no que está sendo dito.

Page 101: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

101

4 ANÁLISE DE DADOS

Esta pesquisa foi inspirada em um artigo intitulado L’enseignement de la grammaire

en classe de français langue étrangère, publicado em 2001 na revista Ela. Études de

linguistique appliquée. A autora, Marie-Christine Fougerouse, por meio de um questionário

destinado aos professores, visa descobrir na França a maneira como a gramática é ensinada

nas aulas de francês língua estrangeira. Sua pesquisa qualitativa baseia-se em três polos: o

lugar da gramática entre outros componentes linguísticos, sua apresentação e o material

didático utilizado. Seu questionário foi respondido por trinta professores de escolas de línguas

na província francesa e em Paris. Em seu trabalho, a autora revela que os professores

questionados acreditam que a gramática é o elemento linguístico mais importante em sala de

aula de FLE, superior ao léxico, à fonética e à civilização. Segundo Vigner (2004, p.26), “a

passagem pela gramática é percebida como um elemento de estabilidade nos ensinos que

fazem intervir muitas formas acerca de um ato de linguagem central.”

Em 2001, mesmo ano do artigo de Marie-Christine Fougerouse, o Quadro Europeu

Comum de Referência – embora não tenha inovado em relação à gramática, como afirma

Béacco (2010, p.19) ao caracterizar a gramática como morfologia e sintaxe da frase, isto é,

frases bem formadas conectadas e contextualizadas – criou uma nova abordagem conhecida

como perspectiva acional. Ao contrário do artigo de Fougerouse (2001), nossa pesquisa está

centrada em uma metodologia específica. Em outros termos, nosso estudo tem como objetivo

analisar, especificamente na perspectiva acional, a importância da gramática na formação de

sentido e de que forma essa gramática é trabalhada pelos professores de francês língua

estrangeira, embora a investigação e a análise dos dados possam contribuir para a reflexão do

ensino de gramática em diferentes línguas estrangeiras independentemente da metodologia

adotada.

Inicialmente, são apresentados, neste capítulo, os dados sociolinguísticos concernentes

aos informantes que contribuíram e integraram este trabalho. Em seguida, analisam-se as

informações relacionadas ao papel da gramática no ensino de FLE em comparação com outros

componentes linguísticos, como: a civilização, a conversação, o léxico, a produção oral e a

união desses elementos. Faz-se um paralelo do papel da gramática nas aulas dos informantes

com a de sua formação inicial. Outro ponto deste capítulo trata da opinião dos professores em

relação à parte dedicada à gramática no manual adotado pela instituição e se esses professores

recorrem a outros materiais para ensiná-la. Consequentemente, pesquisam-se os materiais

utilizados para complementar o ensino de gramática, o motivo de sua aplicação e se adotam a

Page 102: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

102

mesma abordagem gramatical do material principal, isto é, o manual. Posteriormente, discute-

se o motivo pelo qual alguns professores adotam a abordagem gramatical dedutiva e de que

maneira o fazem. Por fim, há a exposição, segundo os informantes, da relação dos aprendizes

com os exercícios propostos pelos professores após o ensino dos pontos gramaticais; a fim de

compreender se esta ligação interfere na escolha dos materiais suplementares e, por sua vez,

na seleção pela abordagem dedutiva.

4.1 PERFIL DOS INFORMANTES

Visando conhecer a formação dos treze informantes, os quais representam, de forma

generalizada, os professores de um curso privado de idiomas do Rio de Janeiro, encontram-se

aqui algumas informações que compõem o perfil geral desses professores cujas respostas

serão analisadas mais adiante:

idade;

formação inicial;

material utilizado para a aprendizagem de FLE.

Vale ressaltar que este corpus foi recolhido no final de 2013, período em que

trabalhava como monitora no Cursos de Línguas Abertos à Comunidade (CLAC-UFRJ), visto

que o método utilizado neste curso era o mesmo trabalhado pela instituição citada nesta

pesquisa. A idade dos professores que preencheram o questionário on line varia entre 25 e 45

anos, contudo esta distinção parece não interferir nas respostas dadas. Em outras palavras, o

uso do material suplementar, a escolha pela gramática dedutiva, as atividades selecionadas e o

que acreditam ser importante em sala de aula independem da idade. Os professores mais

novos, ou seja, com idade próxima dos 25 anos, que responderam ao questionário, não

parecem ter tido a mesma formação metodológica dos professores 20 anos mais velhos. A

variedade na forma como a gramática foi ensinada, assim como o enfoque dado pelo professor

na formação inicial de cada informante, reforçam esta ideia.

A instituição em que os professores estudaram francês língua estrangeira também é

diversificada, variando entre: escola, curso de idiomas, universidade, aulas particulares e

moradia em um país francófono; logo a gramática estudada pelos informantes não é

homogênea, isto é, há professores que se formaram pela gramática dedutiva, enquanto outros,

pela gramática indutiva. O método utilizado durante a aprendizagem destes informantes passa

pelo livro didático, pela gramática e pelas folhas avulsas. Portanto, encontramos professores

que estiveram em instituições cujo foco era a gramática, do mesmo modo que há professores

Page 103: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

103

que tiveram enfoque em situações de comunicação (fala). Em outros termos, é possível que

haja informantes que estudaram francês língua estrangeira pela metodologia tradicional

centralizada na gramática, como aqueles formados pela abordagem comunicativa. O

questionário revela que 61,50% dos informantes estudaram em uma instituição que enfatizava

a gramática (Gráfico 1).

Gráfico 1 - A centralização no ensino de professores

Apesar de a formação inicial parecer ter sido diferente entre os informantes, os

professores questionados passaram pela mesma formação final fornecida pela instituição onde

trabalham. Esta formação é obrigatória a todos os professores desta instituição, a fim de que

haja uma melhora contínua na qualidade de ensino do francês língua estrangeira. “A formação

contínua permite seja atenuar a insuficiência de uma formação inicial, seja modernizar uma

formação inicial muito antiga” (TAGLIANTE, 2006, p.19).

4.2 O PAPEL DA GRAMÁTICA

Embora a maioria dos professores de FLE tenha tido a gramática como centro de

aprendizagem de francês durante sua formação inicial, a maneira como o professor encara o

ensino e a aprendizagem de uma língua estrangeira passou por várias mudanças no decorrer

dos anos. A metodologia estudada na formação desses professores não é a mesma adotada e

ensinada pelos centros de idioma nos dias atuais. O curso privado, onde trabalham os

61,50%

38,50%

Gramática Situação de comunicação

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104

informantes desta pesquisa, emprega a perspectiva acional, apresentada no Quadro Europeu

Comum de Referência, como abordagem de ensino/aprendizagem de francês língua

estrangeira, logo outros aspectos são considerados importantes entre os professores, como é

possível verificar no Gráfico 2:

Apenas 15% dos informantes afirmam que a gramática é o mais importante a ser

ensinado, diferentemente dos 61,50% professores que tiveram uma aprendizagem focada na

gramática (Gráfico 1). A tendência de simplesmente reproduzir as práticas de ensino com as

quais os professores foram confrontados quando alunos, ainda existe, embora em menor

quantidade. Quando não há condições adequadas para incorporar as inovações metodológicas,

essa tendência costuma prevalecer. No entanto, a instituição, onde os treze professores

trabalham, oferece uma formação de seis meses aos professores que engloba: metodologia,

método, avaliação e sequência pedagógica. Os professores são incentivados pela coordenação

e direção pedagógica a utilizar a perspectiva acional e o material didático adotados pelo curso.

O Gráfico 2 revela que 23% dos informantes declaram que o mais importante na aula

de línguas é a civilização, reforçando a ideia de pluriculturalismo divulgado pelo QECR. “A

língua não é apenas um aspecto fundamental da cultura, mas é também um meio de acesso a

manifestações culturais” (CONSELHO DA EUROPA, 2001, p.25). Esses dados revelam que

um número considerável dos professores questionados adotam em suas aulas de FLE o

princípio da perspectiva acional, isto é, tendem a valorizar mais a civilização do que a

15%

15%

23%

8%

8%

8%

23%

A gramática O léxico

A civilização A conversação

A produção oral A produção oral em interação

O conjunto

Gráfico 2 - Considerado o mais importante para os professores atualmente

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105

gramática, embora a maioria destes professores tenha estudado francês com enfoque na

gramática. Portanto, “os professores [...] fizeram escolhas que são resultados de uma

compressão que lhes é pessoal: eles guardaram apenas os elementos que lhes pareceram ser

mais representativos das teorias linguísticas que estudaram durante a formação ou às quais se

referem.” (CUQ; GRUCA, 2005, p.385)

4.3 MATERIAL SUPLEMENTAR

Todos os professores garantem utilizar a parte do livro didático dedicada aos pontos

gramaticais, justificando ser bom, pois permite que o aprendiz construa as regras a partir da

observação e análise. Em termos gerais, a maneira como os professores utilizam os pontos

gramaticais é diversa, contudo a maioria das formas parece seguir a perspectiva acional. Em

outros termos, grande parte dos professores não deixa de utilizar os exemplos para a

construção gramatical, exatamente como o Quadro Europeu Comum de Referência indica, ao

afirmar que espera ou exige que os aprendizes desenvolvam a competência gramatical de

modo indutivo (CONSELHO DA EUROPA, 2001, p.212). Entre as formas de ensino

desenvolvidas pelos informantes encontram-se: o ponto gramatical completado somente pelos

aprendizes; o professor e os aprendizes construindo juntos as regras e, os professores que

variam a forma como preenchem os pontos gramaticais de acordo com a situação e com as

regras a serem trabalhadas (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Ensino de gramática

38,50%

30,75%

30,75%

O professor dá tempo ao aprendiz para completar as regras

O professor completa as regras com o aprendiz

Depende das regras gramaticais

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106

Apesar da boa utilização da perspectiva acional a fim de construir a competência

gramatical – segundo o QECR – 69% dos professores fazem uso de materiais suplementares

para ensinar os pontos gramaticais do FLE (Gráfico 4). Entre os materiais, estão: gramática,

outros livros didáticos, sites pré-selecionados pelos professores, folhas avulsas e materiais

elaborados pelos próprios professores.

Gráfico 4 - Utilização do material suplementar

Os 30,75% dos professores (Gráfico 3), que afirmam depender das regras gramaticais

para determinar como preencher a parte do livro dedicada ao ensino gramatical, integram os

69% (Gráfico 4) que utilizam algum material suplementar. Em outros termos, a utilização do

livro gramatical – professores (4) e (12) – e a razão pela qual esses professores recorrem a

outro material suplementar – professores (8) e (13) – indicam que os informantes fazem uso

da abordagem dedutiva ao complementar o material didático da instituição. Além do livro

gramatical adotar a abordagem dedutiva, a preocupação de melhor explorar o assunto e o

imediatismo são características que confirmam esta abordagem.

(4) Para completar o assunto.

(8) Muitos exercícios de gramática são assimilados com exercícios repetitivos. Acho

importantes (sic) as folhas avulsas com uma explicação mais detalhada que a do

[livro] e com exercícios de fixação.

69%

31%

Sim Não

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107

(12) se os alunos pedem e sentem necessidade de praticar mais para que a regra se

torne mais imediata

(13) Dependendo do assunto, o aluno com sua ansiedade pede por mais informações.

A gramática, produto editorial que propaga as normas sociais sob forma de “bons” e

“maus” empregos da língua (BEACCO, 2010, p.16), é utilizada como material suplementar

para reforçar as explicações, assim como complementar o ponto gramatical trabalhado no

material didático. Para a coleta e a análise dos dados, foram elaboradas as seguintes questões:

“Você faz uso de material suplementar para ensinar os pontos gramaticais?”, “Que tipo de

material?’ e “Por que razão?”. As justificativas daqueles que responderam “gramática” como

material suplementar estão transcritas abaixo:

(1) Acredito que às vezes [o livro]39 precisa ser reforçado por explicações e exercícios

extras.

(4) Para completar o assunto.

(12) Se os alunos pedem e sentem necessidade de praticar mais para que a regra se

torne mais imediata.

Em geral, os livros gramaticais seguem a abordagem dedutiva, isto é, designam o

ensino da gramática partindo das regras para os exemplos. Com o emprego da metalinguagem

gramatical, este material pode ampliar as explicações, do mesmo modo que complementa as

regras, uma vez que o livro gramatical, ao contrário do material didático utilizado pela

instituição, apresenta os pontos gramaticais de forma integral. Diferentemente do que pensam

alguns autores, como é o caso de Courtillon (2003), a metalinguagem pode auxiliar no ensino

gramatical. A metodologia utilizada pelos professores questionados – perspectiva acional –

em sua apresentação no QECR incentiva tal estratégia: “pela apresentação de paradigmas,

quadros estruturais, etc. seguidos de explicações metalinguísticas em L2 ou L1”

(CONSELHO DA EUROPA, 2001, p.212). Vale ressaltar que os livros gramaticais

destinados ao FLM e ao FLE são diferentes. A distinção é apenas didática, baseada nos

métodos de apropriação e nos objetivos diferentes, uma vez que não existe, do ponto de vista

linguístico, distinção entre francês língua materna e francês língua estrangeira. Cuq e Gruca

(2005, p.398) indicam que a gramática de francês língua estrangeira:

39 Nesta pesquisa, preferimos omitir todos os nomes dos métodos citados pelos informantes.

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108

[...] ne peut se fonder que sur un sujet préparlant une ou d’autres langues que le

français, mais qui devient aussi très vite un parleur minimal (et espérons-le, de

moins en moins minimal) de français. Elle doit donc avoir pour priorité d’aider par

le raisonnement à accélérer l’appropriation linguistique, et à créer des réflexes

intuitifs.40

Os professores de francês que ensinam para falantes nativos ou estrangeiros

normalmente fazem uso da gramática de referência, isto é, utilizam a gramática para aprender;

e não a gramática para construir, denominada gramática de aprendizagem. Cuq (1996, p.106)

exemplifica algumas gramáticas de referência. Entre elas estão: a Grammaire Larousse du

français contemporain, de Chevalier, Arrivé, Blanche-Benveniste e Peytard; a Grammaire du

sens et de l’expression, de Charaudeau; a Grammaire du français classique et moderne, de

Wagner e Pichon; a Grammaire textuelle du français, de Weinrich e Le bon usage, de

Grevisse.

Algumas gramáticas que se encontram no mercado editorial parecem ambíguas. O

livro gramatical é voltado para um público mais global, embora seja possível identificá-lo

destinado pelo menos ao nível intermediário ou avançado e aos professores. Em outros

termos, o livro gramatical, ao contrário do livro de exercício, não está centrado nos níveis

iniciante, intermediário e avançado. A declaração vista em (1) conduz a uma obra híbrida, ou

seja, livro gramatical, que além das explicações, apresenta exercícios. Jean-Pierre Cuq

exprime brevemente o prefácio de uma gramática híbrida que não revela a ideia da

“descoberta de um saber pré-construído”: a Grammaire progressive du français. “O prefácio

descreve como uma ‘gramática pedagógica’, ‘uma gramática de aprendizagem por etapas’ que

‘pode se utilizar em complemento de um método ou mais pontualmente para estudar uma

dificuldade particular’.” (CUQ, 1996, 109).

Vigner (2004, p.13) questiona a utilização do livro gramatical para ensinar o francês,

indicando que é necessário definir o contexto no qual o manual vai ser utilizado no ambiente

didático e pedagógico; assim como para qual público se destina este ensino. Em outras

palavras, se os aprendizes de FLE, que farão uso deste livro gramatical, já possuem uma

cultura gramatical em sua língua materna ou se dispõem apenas de saberes ordinários41 em

sua língua. Assim como o livro gramatical, o livro didático – material suplementar utilizado

pelos informantes (4) e (13) – depende de algumas condições. De acordo com Piccardo e

40 [...] só pode basear-se em um sujeito que pré-fala uma ou outras línguas além do francês, mas que rapidamente

torna-se também um falante mínimo (e esperamos, cada vez menos mínimo) de francês. Ela deve então ter como

prioridade ajudar pelo raciocínio a acelerar a apropriação linguística, e a criar as reflexões intuitivas. (tradução

nossa) 41 Saberes sociais compostos por representações sociais (BEACCO, 2010, p.27).

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109

Yaïche (2005, p.453), os manuais são adaptados às necessidades do professor, do aprendiz e

da cultura, do mesmo modo que às restrições particulares e gerais, como, por exemplo, as

exigências institucionais e as orientações do Conselho da Europa, respectivamente. No

entanto, o professor que, por escolha própria, faz uso de outro livro didático para

complementar o ensino de gramática pode não estar preocupado em seguir tais exigências.

Em outros termos, o professor pode optar ou por um manual que adota a gramática indutiva

como propõe o QECR ou utilizar outra abordagem. Apesar desses professores recorrerem aos

manuais para o ensino gramatical, ambos os professores fazem uso de outros materiais como:

a gramática e o material elaborado pelo próprio professor, como pode-se verificar a seguir.

(4) Material de outros livros ou gramática.

(13) Cópia de outros materiais ou material elaborado por mim.

As folhas extras também são utilizadas para o ensino de gramática de língua

estrangeira. Segundo os informantes, as folhas são empregadas para visar a uma aula mais

dinâmica e para reforçar o conteúdo de maneira diversificada. Além de dar uma explicação

mais detalhada, as folhas propõem outras atividades gramaticais que seguem a mesma

característica do exercícios do livro didático, isto é, exercícios de fixação. Este tipo de

material pode adotar a gramática dedutiva, como podemos conferir na resposta (8) em que o

professor revela utilizar folhas para uma explicação com maior número de detalhes; do

mesmo modo que pode empregar a gramática indutiva como indica o informante (9). A

seguir, além das respostas (8) e (9) mencionadas acima, encontram-se outras justificativas dos

professores que fazem uso de folhas para ensinar os pontos gramaticais:

(2) Porque gosto de uma aula dinâmica e variada.

(5) Reforçar o conteúdo de formas variadas.

(8) Muitos exercícios de gramática são assimilados com exercícios repetitivos. Acho

importantes (sic) as folhas avulsas com uma explicação mais detalhada que a do

[livro] e com exercícios de fixação.

(9) Folhas avulsas que seguem a estrutura usada pelo [livro] - ou seja, para que os

alunos possam entender e completar as regras. Uso, principalmente, com os livros

3 e 4, pois, neles, o [livro] é uma pequena revisão dos principais pontos e não

gosto de usá-las.

(11) No intuito de complementar ou “melhorar” a explicação para a aquisição de

regras.

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110

A utilização do material suplementar parece evocar o ecletismo metodológico, visto

que o professor tem a autonomia para selecionar seu próprio material, recorrendo a diferentes

abordagens. O professor que fotocopia a página de uma obra gramatical, por exemplo, faz uso

da abordagem dedutiva, visto que esse tipo de material a adota. No entanto, há professores

que produzem seus próprios materiais suplementares para ensinar os pontos gramaticais e que

preferem seguir as orientações metodológicas da gramática indutiva, isto é, continuam a

adotar a perspectiva acional para a construção da competência gramatical no ensino de FLE.

A escolha da maioria dos professores por materiais suplementares não é sinônimo de

descontentamento com o método adotado pela instituição, já que alguns professores

continuam seguindo a abordagem indutiva proposta pelo QECR; mas sim uma forma de

variar a didática empregada em sala. Como afirma Courtillon, 2003, p.31):

Si l’éclectisme est une méthode en philosophie, appliqué à l’enseignement des

langues, ce concept sera plutôt interprété par la majorité des enseignants comme la

possibilité de choisir, dans la gamme des activités et exercices existants, ceux qui

leur paraîtront les plus intéressants, agréables, et parfois de ‘varier pour varier’. 42

Os dados analisados nesta pesquisa indicam a existência de professores que acreditam

na eficácia da abordagem indutiva, seja pela preferência desta abordagem em materiais

suplementares, seja pela não utilização de material suplementar explorando apenas o livro

didático indicado pela instituição. 31% dos informantes, conforme explicitado no Gráfico 4,

preferem não se valer de nenhum material suplementar para ensinar as regras gramaticais,

alegando que o material didático adotado no curso de idioma em que trabalham é adequado e

completo.

(3) Normalmente não vejo necessidade.

(6) Ele é completo e faz o aluno chegar até a construção da regra.

(7) Normalmente, o [livro] é satisfatório.

(10) Na maioria das vezes o [livro] é completo.

42 Se o ecletismo é um método em filosofia, aplicado no ensino das línguas, o conceito será mais interpretado

pela maioria dos professores como a possibilidade de escolher, na gama de atividades e exercícios existentes,

aqueles que lhes parecerão mais interessantes, agradáveis e às vezes ‘variar por variar’. (tradução nossa)

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111

4.4 GRAMÁTICA DEDUTIVA

Uma vez que os professores evocam a gramática dedutiva no material suplementar,

também é possível que utilizem esta abordagem ao ensinar a gramática através do material

didático, mesmo que o manual defenda a gramática indutiva. Este é o caso dos 15% dos

professores que não fazem uso de material suplementar, mas que declaram empregar a

abordagem dedutiva; consequentemente esta abordagem é executada no manual didático,

desprendendo-se da perspectiva acional. O professor recorre ao ecletismo metodológico

quando evita a abordagem recomendada pelo material didático, pela instituição e pela própria

metodologia, fazendo uso de sua autonomia na escolha das abordagens gramaticais. No

entanto, "estes critérios de seleção e distribuição ao longo do ensino não são especificados e

deixam todo o problema da seleção das formas a serem ensinados" (BEACCO, 2010, p.10).

Para que o professor decida qual tipo de abordagem gramatical utilizar no ensino de FLE é

preciso que tenha consciência da polissemia da palavra gramática. De acordo com

Bertocchini e Costanzo (2008, p.183), para chegar a esta conclusão o professor terá que

responder a uma das três opções expostas abaixo, para a pergunta: “Qual é a sua definição de

‘gramática’?”

A. Um certo funcionamento interno característico de uma língua dada.

B. A explicação mais ou menos metódica do conjunto das regras que determinam o

funcionamento interno de uma língua.

C. Uma teoria sobre o funcionamento interno das línguas, o método de explicitação

seguida.

Aqueles que escolhem a opção B, relacionam a noção de gramática no ensino de

língua estrangeira à gramática explícita. Esta, por sua vez, pode adotar a abordagem indutiva

ou dedutiva. Ao indagar se às vezes os professores de FLE utilizam a gramática dedutiva em

sala de aula para ensinar regras gramaticais, 85% dos informantes disseram que sim (Gráfico

5). Destes professores, 91% aplicam a abordagem dedutiva quando o aprendiz tem

dificuldades em certo ponto gramatical.

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112

Apenas 9% dos professores questionados empregam a abordagem dedutiva para

revisar os pontos gramaticais. Estes professores não utilizam a dedução para a construção das

regras gramaticais, mas a utilizam como uma forma de recordar e revisar os pontos

gramaticais que os aprendizes já construíram e aprenderam. Portanto, o professor que faz uso

da abordagem dedutiva para revisar um ponto gramatical já estudado, não abandona os

princípios do Quadro Europeu Comum de Referência, posto que a aquisição gramatical ocorre

por meio de exemplos que levaram às regras gramaticais, ou seja, a gramática revisada pela

abordagem dedutiva é primeiramente estruturada pela abordagem indutiva.

Contudo, a maioria dos informantes que aplicam a abordagem dedutiva justifica esta

escolha com o fato de acreditar que os aprendizes têm dificuldade num dado ponto gramatical.

É importante destacar que a análise do emprego da abordagem dedutiva, nesta pesquisa, não é

feita do ponto de vista do aprendiz, mas da concepção que o professor tem do aprendiz. Em

outras palavras, o objetivo deste trabalho não é verificar se o aprendiz adquire a competência

gramatical pela abordagem dedutiva ou indutiva, mas o motivo e os meios que os professores

de francês língua estrangeira utilizam para esta escolha. Além da opção respondida por 91%

dos informantes, havia como opções de respostas para a pergunta “Por que você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?”: “Sinto-me a vontade, pois acredito que os alunos

aprendem melhor desta forma”; “Aprendi assim, por isso me sinto mais seguro desta forma”;

“Acho que dessa forma gasto menos tempo. O aluno parece aprender mais rapidamente” e

“Outros”. Vale ressaltar que na opção “Outros” o professor questionado poderia acrescentar a

15%

9%

91%

85%

Não

Sim - a fim de revisar um ponto gramatical já estudado

Sim - quando o aprendiz tem dificuldade em algum ponto gramatical

Gráfico 5 - Uso da gramática dedutiva

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113

sua resposta, exatamente como fizeram aqueles que responderam que empregam a abordagem

dedutiva para revisar a gramática.

Embora grande parte dos professores tenha aprendido francês com o livro gramatical

durante sua formação inicial, ou seja, tenha estudado pela abordagem dedutiva, esta não foi a

razão pela qual o professor, ao ensinar os pontos gramaticais, aplica, em alguns momentos, a

dedução gramatical. Este dado revela que os professores, geralmente, seguem os princípios da

sua formação final fornecida pela instituição que preconiza a perspectiva acional,

consequentemente a abordagem indutiva. A formação inicial não influencia a seleção da

abordagem dedutiva no ensino de regras gramaticais, uma vez que os professores só fazem

uso da dedução quando os aprendizes têm dificuldade. O professor de FLE não acredita que a

abordagem dedutiva contribua para eliminar ou até mesmo diminuir a dificuldade do

aprendiz; do contrário, optaria pela resposta “Sinto-me a vontade, pois acredito que os alunos

aprendem melhor dessa forma”. De certo modo, o professor não coloca o ensino como parte

central ao evocar a dedução gramatical, mas sim a aprendizagem, visto que não adota a

abordagem dedutiva por se sentir mais confortável ou para otimizar o tempo de ensino.

Um dos temas do questionário destinado aos professores de FLE aborda a questão do

tempo (Gráfico 6): “Em relação ao emploi du temps...”. As opções de respostas são: “O ensino

de gramática de forma indutiva parece tomar muito tempo da aula, pois nem sempre os alunos

parecem apreender o conteúdo com tanta rapidez”; “O ensino da gramática de forma dedutiva

parece tomar menos tempo da aula, pois a apreensão do conteúdo é mais rápido”; “Acho

exatamente o contrário do que foi dito nas opções anteriores” e “Acho indiferente o ensino

indutivo ou dedutivo da gramática quanto ao tempo”.

Page 114: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

114

Gráfico 6 - Emploi du temps

46,20% dos informantes não associam o tipo de abordagem gramatical ao tempo no

ensino das regras gramaticais. Encontram-se entre estes professores, aqueles que utilizam a

gramática dedutiva, assim como os que preferem a gramática indutiva. Os outros 23,10%

afirmam que a abordagem indutiva toma menos tempo, pois o aprendiz apreende com mais

rapidez, logo a abordagem dedutiva leva mais tempo. No entanto, há entre estes professores,

os que acreditam na rapidez da abordagem indutiva, mas que recorrem a dedução quando os

aprendizes têm dificuldade. Por fim, embora 30,80% dos professores tenham respondido que

acreditam na otimização do tempo de ensino pela abordagem dedutiva, eles declaram que o

motivo para essa seleção no ensino de gramática não é o tempo de aula. Em outros termos, a

escolha pela abordagem dedutiva não está relacionada ao tempo de aula disponibilizado ao

professor para ensinar o conteúdo gramatical nas aulas de línguas, mas são os aprendizes,

segundo os professores, que solicitam a abordagem dedutiva, como é possível constatar no

Gráfico 7.

30,80%

23,10%

46,20%

Abodagem indutiva toma muito tempo

Abodagem dedutiva toma menos tempo

O oposto das opções anteriores

O tipo de abordagem não influencia no tempo

Page 115: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

115

Gráfico 7 - Os aprendizes e as abordagens gramaticais

Todos os professores, que não utilizam a abordagem dedutiva, isto é, que seguem

fielmente a abordagem indutiva indicada pela perspectiva acional no QECR, afirmam que os

aprendizes gostam da forma como a gramática é ensinada, fazendo referência à abordagem

indutiva. Outros 15% dos informantes também declaram que os aprendizes gostam da forma

como a gramática é ensinada, porém, além de utilizarem a abordagem indutiva do manual

didático, estes mesmos professores fazem uso da abordagem dedutiva quando o aprendiz tem

dificuldade em um ponto gramatical. Consequentemente, o aprendiz só gostaria deste modo

de ensino gramatical porque o professor, além da indução, faz uso da abordagem dedutiva no

momento em que os aprendizes têm dificuldade. Em outros termos, estes aprendizes não

solicitam a dedução, mas gostam da maneira como essas duas abordagens se combinam: uma

abordagem mista; diferentemente dos outros 15% dos aprendizes que solicitam uma gramática

mais dedutiva, reforçando a razão pela qual os professores aplicam esta abordagem ao ensinar

um determinado ponto gramatical. Ainda há aqueles professores que não sabem informar a

opinião dos aprendizes, já que estes não se manifestam sobre o ensino gramatical. Por fim,

40% dos aprendizes demandam mais exercícios para fixar melhor o conteúdo gramatical.

4.5 EXERCÍCIO GRAMATICAL

Para que o aprendiz de língua possa produzir o conhecimento gramatical adquirido, é

preciso que exercite as regras gramaticais através dos exercícios estruturais; do contrário, a

competência gramatical não será completa e, por conseguinte, os aprendizes descontentes

15%

15%

15%40%

15%

Gostam da gramática indutiva

Gostam das duas abordagens gramaticais

Solicitam mais gramática dedutiva

Solicitam mais atividades gramaticais

Não se manifestam

Page 116: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

116

solicitarão ao professor mais exercícios gramaticais. No entanto, alguns dos 40% dos

aprendizes que solicitam mais exercícios, segundo alguns professores de FLE que

responderam o questionário, já apreendiam as regras gramaticais com a utilização das

atividades de fixação, isto é, com os exercícios gramaticais. O ensino gramatical estabelecido

a todos esses aprendizes (que solicitam mais exercícios) varia entre: atividade de fixação;

atividade de produção escrita ou oral e a combinação das atividades de fixação com as de

produção (Gráfico 8).

Gráfico 8 - Relação das atividades à percepção do aprendiz, segundo o professor

A competência gramatical no ensino de línguas realiza-se pela construção das regras

gramaticais, assim como pelas etapas dessa aquisição; portanto, integram-se nesta aquisição

gramatical, os exercícios estruturais. Verifica-se no gráfico acima que 23% dos professores

afirmam que os aprendizes gostam da forma como a gramática é ensinada. No entanto, há

entre os informantes, professores que declaram que os aprendizes exigem mais exercícios para

fortalecer sua aquisição. De acordo com os informantes, o aprendiz sente a necessidade de

praticar a gramática ensinada, através dos exercícios estruturais, somente quando esse tipo de

atividade já foi adotada pelo professor. Em outras palavras, é possível verificar no Gráfico 8

que o pedido por mais exercícios só ocorre ao professor que faz uso ou da atividade de

fixação ou que une a atividade de fixação com a de produção escrita e/ou oral. Embora a

porcentagem desta solicitação varie, 15% dos informantes afirmam que os aprendizes

solicitam atividades de fixação, apesar de o professor já utilizar após o ensino de gramática,

8% 8%

15%

23%23%

8%

15%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Fixação PO ou PE Fixação e PO ou PE

Explicação mais dedutiva Pedem mais exercícios

Gostam de como é ensinada Não se sabe

Page 117: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

117

este tipo de atividade, ou seja, eles pedem mais exercícios estruturais. Outros 23% dos

aprendizes, que demandam um maior número de exercícios para fixar melhor o conteúdo

gramatical, o fazem quando o professor combina as atividades de fixação com as de produção.

Acredita-se que, talvez, este aprendiz não se sinta preparado para empregar na produção

escrita ou oral as regras gramaticais no momento em que o professor combina as atividades.

Conclui-se que apenas os aprendizes habituados a praticarem as regras gramaticais, através da

atividade de fixação, criam, de certa forma, uma dependência por esse tipo de recurso.

O exercício gramatical é um dos elementos que compõe a sequência pedagógica. Em

outros termos, este tipo de exercício pertence a uma unidade composta por uma série de

atividades docentes organizada pelo professor ou pelo manual, que segue uma ordem lógica a

fim de contribuir com o alcance dos objetivos de ensino/aprendizagem, pelo que se pode

depreender dos trabalhos de Courtillon (2003). Baseando-se na abordagem indutiva, visto que

a perspectiva acional a defende, as etapas são divididas, respectivamente, em: sensibilização,

que consiste na descoberta do aprendiz de forma implícita sobre o tema; compreensão

(global e/ou detalhada) em que o aprendiz, com seu conhecimento de mundo, responde a

questões sobre um documento, seja ele escrito ou oral; observação dos exemplos e a

exposição do aprendiz às novas formas, a fim de descobrir uma regra; conceituação, em que

o aprendiz por meio da reflexão formaliza as novas regras; reemprego de regras de maneira

sistemática através de exercícios estruturais, normalmente relacionados à gramática ou ao

léxico e, por fim, produção (escrita e/ou oral), etapa em que o aprendiz utiliza todo seu

conhecimento adquirido durante a sequência para uma produção contextualizada.

A variedade na escolha entre exercícios de produção e atividades de fixação no pós-

ensino de gramática é compreensível, visto que o Quadro Europeu Comum de Referência, não

aborda a sequência pedagógica. Em outros termos, o QECR não define a ordem linear das

atividades que auxiliam no ensino e aprendizagem de LE; apenas cita os exercícios formais:

“c) como b), mas com recurso posterior a explicações e exercícios formais” (CONSELHO DA

EUROPA, 2001, p.212); e em seguida parece demonstrar uma certa dispensabilidade ao

apresentar, sem profundidade, os tipos de exercícios.

Se forem utilizados exercícios formais, podem ser usados os tipos seguintes:

a) textos para preenchimento de espaços;

b) construção de frases a partir de um modelo dado;

c) escolha múltipla;

d) exercícios de substituição numa mesma categoria (p. ex.: singular/plural,

presente/passado, activa/passiva, etc.);

e) combinação de frases (p. ex.: orações relativas, adverbiais e nominais, etc.);

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118

f) tradução de frases de L1 para L2;

g) perguntas/respostas envolvendo o uso de determinadas estruturas;

h) exercícios de desenvolvimento da fluência linguística centrados na gramática.

(Conselho da Europa, 2001, p.212)

Page 119: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

119

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados nesta pesquisa evidenciam a indução empregada pelos

professores de francês língua estrangeira para ensinar as regras gramaticais; mais

especificamente, quando a instituição em que trabalham adota manuais cuja abordagem é

indutiva. Não há resistência à perspectiva acional, no que concerne ao ensino gramatical, por

parte dos professores. O professor de francês língua estrangeira acredita que a indução

contribui para a reflexão do aprendiz, visto que é preciso, a partir da observação e da análise

dos exemplos, formular as regras gramaticais. Entretanto, este mesmo professor, que utiliza a

gramática indutiva, também recorre à dedução. Deste modo, constata-se que a abordagem

dedutiva se revela necessária para o ensino/aprendizagem dos pontos gramaticais em francês

língua estrangeira.

Uma consideração que parecia ser fundamental para esta pesquisa era a

heterogeneidade na formação inicial dos professores de francês língua estrangeira. Analisa-se,

consequentemente, a aprendizagem desses professores com o objetivo de verificar se a

formação inicial influencia, de alguma forma, na escolha pela abordagem dedutiva. No

entanto, apesar da aprendizagem de grande parte dos informantes ter sido centrada no ensino

de gramática – característico da metodologia tradicional cuja abordagem era dedutiva – o

professor não opta primeiramente pela dedução. Essa escolha primária pela abordagem

indutiva determina, em parte, a eficácia da formação contínua que apresenta a indução àqueles

que desconheciam a perspectiva acional e intensifica aos que já a empregavam, seguindo o

modelo exigido pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas.

Em termos gerais, embora a formação contínua dos informantes fosse a mesma

fornecida a todos os professores de FLE, isto é, a instituição não fizesse distinção entre a faixa

etária dos professores, a experiência na empresa e a carga horária no momento de sua

formação; é possível identificar características marcantes nas aulas de FLE que não estão

associadas às condições preconizadas pela instituição de ensino. Em outros termos, a

perspectiva acional e suas características defendidas pela instituição não estão totalmente

presentes nas aulas de francês língua estrangeira no que concerne ao ensino de gramática. Por

conseguinte, nota-se que o professor de francês língua estrangeira tem, de certa forma,

autonomia para decidir sua metodologia, métodos e mecanismos no ensino das regras

gramaticais, mesmo que não tenha correlação com a perspectiva acional.

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120

Independentemente da formação que o professor de francês língua estrangeira tenha

recebido, seja inicial seja contínua, ele ainda poderá recorrer ao uso de material suplementar

para a aplicação da gramática. No entanto, uma boa formação permite que o professor possa

escolher que tipo de metodologia utilizar em suas aulas; assim como, quais recursos estão

disponíveis e de que forma poderá executá-los. O Quadro Europeu Comum de Referência não

tem o papel de definir ou estabelecer a utilização dos materiais suplementares, apenas

apresentá-los como aceitáveis ou não no ensino de FLE pela perspectiva acional. Cabe à

instituição, através de suas formações, guiar este professor para que não haja ausência de

metodologia. Conclui-se que o livro gramatical, os manuais didáticos, as folhas avulsas, os

sites pré-selecionados e os materiais preparados pelos próprios professores – todos os

materiais suplementares utilizados pelos informantes – não são sinônimos de ausência

metodológica, uma vez que os professores questionados sabem como pôr em prática o

ecletismo metodológico.

Verifica-se, portanto, que uma formação completa no que se refere ao emprego de

métodos, manuais didáticos, livros gramaticais e sites, permite que o professor de FLE faça

um bom uso do ecletismo metodológico. Tais resultados contrapõem a hipótese inicial de que

alguns professores de francês língua estrangeira não seguem as características nem as

necessidades do contexto pedagógico que devem ser respeitadas para o ensino das regras

gramaticais ao adotarem o ecletismo metodológico, uma vez que a instituição não evidencia o

ensino gramatical. Deste modo, a pesquisa ilustra que, embora, não haja por parte da

instituição um enfoque no ensino da gramática, a formação contínua auxilia o professor a

descobrir quais métodos empregar para aplicar a gramática do francês língua estrangeira.

A maioria dos informantes declara utilizar, às vezes, a abordagem dedutiva em sala de

aula. Conclui-se que ainda há uma intensa predisposição entre os professores de francês em

aplicar, em um determinado momento, um aspecto tradicionalista para as regras gramaticais.

Na primeira parte da dissertação, foram tratados alguns conceitos de língua e linguagem

fundamentais para o ensino e aprendizagem de línguas e, consequentemente, para a acepção

gramatical. No caso da perspectiva acional, o professor aplica a abordagem indutiva ao

acreditar que a linguagem não transmite apenas uma informação, mas sim que constitui

relações sociais por meio da interação verbal, ao contrário da metodologia tradicional que, ao

empregar a dedução no ensino da gramática, compreende a linguagem como algo individual,

sem menção do outro. No entanto, a adoção da abordagem tradicionalista da gramática,

mesmo que utilizada em um segundo momento, não interfere na construção da competência

comunicativa.

Page 121: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

121

Conforme visto na segunda parte da dissertação, mostramos o aspecto histórico do

ensino de gramática em diferentes metodologias a fim de compreender o seu papel, o emprego

das abordagens gramaticais e as suas contribuições nas aulas de línguas estrangeiras. Ao

estudar cada uma das metodologias, nota-se que todas foram de extrema importância para a

sua época, além de continuar a interferir nos dias de hoje. O estudo da parte histórica do

ensino de gramática permite a compreensão dos mecanismos utilizados, atualmente, pelos

professores de FLE ao ensinar as regras gramaticais. É possível identificar e distinguir as

diversas funções que a abordagem indutiva e dedutiva exercem nas metodologias de ensino de

línguas estrangeiras, principalmente na perspectiva acional, uma vez que a abordagem

indutiva é claramente apresentada no Quadro Europeu Comum de Referência com o intuito de

os aprendizes desenvolverem sua competência gramatical somente pelo modo indutivo.

Na terceira parte da dissertação, a fim de fundamentar a gramática do francês língua

estrangeira nos diversos fatores da competência comunicativa, abordamos alguns aspectos,

como, por exemplo, os exercícios gramaticais. Verifica-se, nesta pesquisa, que apenas o

enfoque no conhecimento das regras gramaticais não é suficiente para comunicação em língua

estrangeira. É preciso que o professor também se dedique na aplicação da aquisição

gramatical, ou seja, nos exercícios de reemprego. Observa-se, portanto, que o professor de

FLE sabe identificar o tipo de abordagem gramatical a ser empregado; assim como o método

a ser utilizado; porém, esquece de aprofundar a seleção dos exercícios estruturais e de

produção e a forma de aplicá-los; consequentemente, o professor de francês língua estrangeira

não atende às necessidades do aprendiz no que concerne a aplicação das regras gramaticais.

Na prática, constata-se que tanto a abordagem indutiva quanto a dedutiva são

utilizadas, atualmente, na construção da competência gramatical, sem que haja interferência

na competência comunicativa. A forma como o aprendiz constrói a gramática não visa a um

melhor desempenho ou estruturação comunicativa. A abordagem gramatical preocupa-se com

o papel do aprendiz na aquisição gramatical e, consequentemente, no método que o professor

utilizará no ensino de gramática. Portanto, a escolha da perspectiva acional pela gramática

indutiva está relacionada à importância do indivíduo no processo de aprendizagem, não na

competência comunicativa. Percebe-se que, apesar da preferência pela indução, as duas

abordagens permitem que o aprendiz atinja a aquisição gramatical, embora cada abordagem

promova uma atuação distinta do aprendiz, seja ativa seja passiva.

Constata-se que o professor de francês língua estrangeira não recorre, nem ao menos

se preocupa, no momento em que ensina gramática, com o fator comunicação. Sua atenção

está voltada para aquisição gramatical. Esta transição na escolha da abordagem dedutiva ou

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122

indutiva, ao que tudo indica, não interfere na comunicação, tampouco na formação de sentido.

Defendemos, portanto, a utilização das duas abordagens gramaticais – dedutiva e indutiva – a

fim de ensinar as regras do francês língua estrangeira, visto que as abordagens gramaticais

não atingem a competência comunicativa; ao mesmo tempo em que ambas as abordagens

conseguem assumir uma boa função na competência gramatical. Diante desta consideração,

pretendemos possibilitar alguma contribuição para os estudos de didática de línguas

estrangeiras, ao incitar uma reflexão sobre a forma como a gramática vem sendo posta em

prática na perspectiva acional.

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127

<http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/reihm/article/view/501/492>. Acesso em

20/08/2017.

_____________. Métodos de Ensino de Línguas Estrangeiras: fundamentos, críticas e

ecletismo. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades. v. VII, n. XXVI, p. 73-88,

jul./set. 2008. Disponível em:

<http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/reihm/article/viewFile/43/78>. Acesso em:

23/06/2016.

VINCENT, F.; DEZUTTER, O.; LEFRANÇOIS, P. Enseigner la grammaire selon une

approche inductive ou déductive? W: Québec français. n. 170, p. 93-94, 2013.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO

43A primeira pergunta trata-se de uma autorização para que os resultados fossem divulgados, logo todos os dados

a seguir foram autorizados pelos informantes, isto é, os professores responderam “sim”.

Perguntas Opções de respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área43:

Sim.

Não.

2. Quantos anos você tem? Resposta livre.

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

Escola

Universidade

Outros ________________________.

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De gramática

Apenas do livro didático

De folhas avulsas

De todas as opções anteriores

Outros ________________________.

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

Não.

Qual era o foco do ensino? (Se a resposta

da 5 for “não”)

Leitura

Situações de comunicação (fala)

Expressão escrita

Outros ________________________.

Entendendo ensino indutivo da gramática

como sendo o estímulo do interesse dos

aprendizes em observar e avaliar as

regras gramaticais de maneira autônoma;

e dedutivo como sendo a exibição das

regras gramaticais de maneira clara pelo

professor ou pelo material didático

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

Nunca parei pra pensar.

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129

44Nesta pesquisa, preferimos omitir todos os nomes que identificariam os métodos citados pelos informantes.

seguido de exercícios de fixação,

passemos as demais questões:

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]44?

Não gosto. Preferiria ensinar a

gramática de forma mais dedutiva.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Pede para que os aprendizes

preencham o [livro] em casa.

Disponibiliza um tempo em sala de

aula para que o aprendiz preencha o

[livro].

Completa o [livro] em conjunto com a

turma.

Preenche as lacunas explicando os

pontos gramaticais.

Utiliza mais de uma das alternativas

anteriores, dependendo do ponto

gramatical.

Outros ________________________.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Não.

Que tipo de material? (Se a resposta da 8

for “sim”)

Resposta livre

9. Por que razão? Resposta livre

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

Atividade de produção escrita ou oral.

Outros_________________________.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Não.

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula? (Se a resposta

Sinto-me mais à vontade, pois acredito

que os alunos aprendem melhor dessa

forma.

Aprendi assim, por isso me sinto mais

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130

da 11 for “sim”)

seguro dessa forma.

Acho que dessa forma gasto menos

tempo. O aluno parece aprender mais

rapidamente.

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

Outros ________________________.

Por que você não faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula? (Se a resposta

da 11 for “não”)

Prefiro seguir as orientações

metodológicas e acredito que a forma

indutiva é a melhor para se ensinar

gramática.

Sinto que os alunos aprendem melhor

dessa forma.

Não me sinto tão seguro(a) pra ensinar

gramática de forma dedutiva.

Outros ________________________.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Civilização

Fonética

Gramática

Léxico

Outros ________________________.

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles gostam da forma como a

gramática é ensinada.

Eles sempre pedem mais exercícios

para fixar melhor o conteúdo.

Eles sempre solicitam uma explicação

mais dedutiva.

Não sei dizer. Meus alunos não se

manifestam sobre isso.

14. Em relação ao emploi du temps:

O ensino da gramática de forma

indutiva parece tomar muito tempo da

aula, pois nem sempre os alunos parecem

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131

apreender o conteúdo com tanta rapidez.

O ensino da gramática de forma

dedutiva parece tomar menos tempo da

aula, pois a apreensão do conteúdo é mais

rápida.

Acho exatamente o contrário do que

foi dito nas opções anteriores.

Acho indiferente o ensino indutivo ou

dedutivo de gramática quanto ao tempo

gasto na sala de aula.

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132

APÊNDICE B – RESPOSTAS DO PROFESSOR 1

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 29

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Morei 7 anos na França, mas nunca fiz

estudei francês em escolas ou curso de

idiomas.

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

Ver resposta 3.

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Não.

Qual era o foco do ensino? Ver resposta 3.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Completa o [livro] em conjunto com a

turma.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material? Gramática.

9. Por que razão?

Acredito que às vezes [o livro] precisa

ser reforçado por explicações e exercícios

extras

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática Só o faço quando percebo que os

Page 133: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

133

dedutiva em sala de aula? alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Civilização

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Não sei dizer. Meus alunos não se

manifestam sobre isso.

14. Em relação ao emploi du temps:

O ensino da gramática de forma

dedutiva parece tomar menos tempo da

aula, pois a apreensão do conteúdo é mais

rápida.

Page 134: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

134

APÊNDICE C – RESPOSTAS DO PROFESSOR 2

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 33 anos

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

Universidade

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Disponibiliza um tempo em sala de

aula para que o aprendiz preencha o

[livro].

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material? Folhas extras

9. Por que razão? 10. Porque gosto de uma aula dinâmica e

variada

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

Page 135: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

135

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Léxico

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles gostam da forma como a

gramática é ensinada.

14. Em relação ao emploi du temps:

Acho indiferente o ensino indutivo ou

dedutivo de gramática quanto ao tempo

gasto na sala de aula.

Page 136: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

136

APÊNDICE D – RESPOSTAS DO PROFESSOR 3

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 25

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

Escola

Universidade

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Completa o [livro] em conjunto com a

turma.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Não.

9. Por que razão? Normalmente não vejo necessidade.

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

Atividade de produção escrita ou oral.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita Conversação

Page 137: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

137

ser mais importante?

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles sempre pedem mais exercícios

para fixar melhor o conteúdo.

14. Em relação ao emploi du temps: Acho exatamente o contrário do que

foi dito nas opções anteriores.

Page 138: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

138

APÊNDICE E – RESPOSTAS DO PROFESSOR 4

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 45 anos

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Não.

Qual era o foco do ensino? Situações de comunicação (fala)

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Utiliza mais de uma das alternativas

anteriores, dependendo do ponto

gramatical.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material? Material de outros livros ou gramática.

9. Por que razão? Para completar o assunto.

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática Só o faço quando percebo que os

Page 139: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

139

dedutiva em sala de aula? alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Gramática

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles gostam da forma como a

gramática é ensinada.

14. Em relação ao emploi du temps:

Acho indiferente o ensino indutivo ou

dedutivo de gramática quanto ao tempo

gasto na sala de aula.

Page 140: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

140

APÊNDICE F – RESPOSTAS DO PROFESSOR 5

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 26

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

Universidade

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Não.

Qual era o foco do ensino? Situações de comunicação (fala)

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Completa o [livro] em conjunto com a

turma.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material? Folhas, exercícios...

9. Por que razão? Reforçar o conteúdo de formas variadas

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

Atividade de produção escrita ou oral.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

Page 141: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

141

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Civilização

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles sempre pedem mais exercícios

para fixar melhor o conteúdo.

14. Em relação ao emploi du temps: Acho exatamente o contrário do que

foi dito nas opções anteriores.

Page 142: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

142

APÊNDICE G – RESPOSTAS DO PROFESSOR 6

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 38

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Aula particular

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De folhas avulsas

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Disponibiliza um tempo em sala de

aula para que o aprendiz preencha o

[livro].

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Não.

9. Por que razão? Ele é completo e faz o aluno chegar até a

construção da regra.

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de produção escrita ou oral.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

Page 143: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

143

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Gramática.

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles sempre solicitam uma explicação

mais dedutiva.

14. Em relação ao emploi du temps:

O ensino da gramática de forma

dedutiva parece tomar menos tempo da

aula, pois a apreensão do conteúdo é mais

rápida.

Page 144: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

144

APÊNDICE H – RESPOSTAS DO PROFESSOR 7

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 31

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Universidade

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Disponibiliza um tempo em sala de

aula para que o aprendiz preencha o

[livro].

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Não.

9. Por que razão? Normalmente, o [livro] é satisfatório.

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Revisão de um ponto já estudado

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Produção oral em interação

Page 145: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

145

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles sempre pedem mais exercícios

para fixar melhor o conteúdo.

14. Em relação ao emploi du temps:

O ensino da gramática de forma

dedutiva parece tomar menos tempo da

aula, pois a apreensão do conteúdo é mais

rápida.

Page 146: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

146

APÊNDICE I – RESPOSTAS DO PROFESSOR 8

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 30

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Não.

Qual era o foco do ensino? Situações de comunicação (fala)

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Utiliza mais de uma das alternativas

anteriores, dependendo do ponto

gramatical.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material? Folhas avulsas

9. Por que razão?

Muitos exercícios de gramática são

assimilados com exercícios repetitivos.

Acho importantes (sic) as folhas avulsas

com uma explicação mais detalhada que

a do [livro] e com exercícios de fixação.

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

Atividade de produção escrita ou oral.

11. Algumas vezes, você faz uso da Sim.

Page 147: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

147

gramática dedutiva em sala de aula?

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Produções orais

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles sempre pedem mais exercícios

para fixar melhor o conteúdo.

14. Em relação ao emploi du temps:

Acho indiferente o ensino indutivo ou

dedutivo de gramática quanto ao tempo

gasto na sala de aula.

Page 148: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

148

APÊNDICE J – RESPOSTAS DO PROFESSOR 9

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 28

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Universidade

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De folhas avulsas

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Disponibiliza um tempo em sala de

aula para que o aprendiz preencha o

[livro].

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material?

Folhas avulsas que seguem a estrutura

usada pelo [livro] - ou seja, para que os

alunos possam entender e completar as

regras. Uso, principalmente, com os

livros 3 e 4, pois, neles, [a parte dedicada

à gramática] é uma pequena revisão dos

principais pontos e não gosto de usá-las.

9. Por que razão? Explicação na resposta anterior

10. Após ensinar a gramática, costuma Atividade de fixação.

Page 149: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

149

passar: Atividade de produção escrita ou oral.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Não.

Por que você não faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Sinto que os alunos aprendem melhor

dessa forma.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Todos os itens, mas não gosto do termo

civilização.

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles gostam da forma como a

gramática é ensinada.

14. Em relação ao emploi du temps:

Acho indiferente o ensino indutivo ou

dedutivo de gramática quanto ao tempo

gasto na sala de aula.

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150

APÊNDICE K – RESPOSTAS DO PROFESSOR 10

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 41

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Não.

Qual era o foco do ensino? Situações de comunicação (fala)

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Disponibiliza um tempo em sala de

aula para que o aprendiz preencha o

[livro].

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Não.

9. Por que razão? Na maioria das vezes o [livro] é completo

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Não.

Por que você não faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Prefiro seguir as orientações

metodológicas e acredito que a forma

indutiva é a melhor para se ensinar

Page 151: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

151

gramática.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Civilização

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles gostam da forma como a

gramática é ensinada.

14. Em relação ao emploi du temps: Acho exatamente o contrário do que

foi dito nas opções anteriores.

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152

APÊNDICE L – RESPOSTAS DO PROFESSOR 11

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 32

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Universidade

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Completa o [livro] em conjunto com a

turma.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material? Folhas avulsas, sites pré-selecionados

9. Por que razão?

No intuito de complementar ou

"melhorar" a explicação para a aquisição

de regras.

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

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153

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Léxico

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Não sei dizer. Meus alunos não se

manifestam sobre isso.

14. Em relação ao emploi du temps:

O ensino da gramática de forma

dedutiva parece tomar menos tempo da

aula, pois a apreensão do conteúdo é mais

rápida.

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154

APÊNDICE M – RESPOSTAS DO PROFESSOR 12

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 41

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Utiliza mais de uma das alternativas

anteriores, dependendo do ponto

gramatical.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material?

Xerox de livros de gramática ou links de

sites

9. Por que razão?

Se os alunos pedem e sentem necessidade

de praticar mais para que a regra se torne

mais imediata

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Page 155: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

155

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

Todos os pontos acima

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles sempre pedem mais exercícios

para fixar melhor o conteúdo.

14. Em relação ao emploi du temps:

Acho indiferente o ensino indutivo ou

dedutivo de gramática quanto ao tempo

gasto na sala de aula.

Page 156: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

156

APÊNDICE N – RESPOSTAS DO PROFESSOR 13

Perguntas Respostas

1. Autorizo o uso das citações para o

desenvolvimento da pesquisa, desde que

seja respeitado o anonimato. Do mesmo

modo que autorizo a publicação e a

apresentação dos resultados em eventos

científicos da área:

Sim.

2. Quantos anos você tem? 34

3. Em que instituição você aprendeu

francês?

Curso de idiomas

Universidade

4. Ao ensinar francês nesta instituição,

seu professor fazia uso...

De todas as opções anteriores

5. O ensino de francês dessa instituição

era focado na gramática?

Sim.

6. O que acha da aquisição gramatical

dos conteúdos abordados no [livro]?

Bom, pois permite que o aprendiz

construa as regras gramaticais a partir da

observação e da análise.

7. Atualmente, ao ensinar gramática,

você:

Utiliza mais de uma das alternativas

anteriores, dependendo do ponto

gramatical.

8. Você faz uso de material suplementar

para ensinar os pontos gramaticais?

Sim.

Que tipo de material?

Cópia de outros materiais ou material

elaborado por mim

9. Por que razão?

Dependendo do assunto, o aluno com sua

ansiedade pede por mais informações

10. Após ensinar a gramática, costuma

passar:

Atividade de fixação.

Atividade de produção escrita ou oral.

11. Algumas vezes, você faz uso da

gramática dedutiva em sala de aula?

Sim.

Page 157: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL DA GRAMÁTICA NO ENSINO DE … · Figura 13 - Exercício de substituição ... 1.1 CONCEITO DE LÍNGUA E LINGUAGEM ..... 19 1.2 CONCEITO E TIPOS DE GRAMÁTICA

157

Por que você faz uso da gramática

dedutiva em sala de aula?

Só o faço quando percebo que os

alunos têm muita dificuldade num dado

ponto gramatical.

12. Nas aulas de língua, o que acredita

ser mais importante?

O conjunto.

13. Como seus alunos veem o ensino da

gramática?

Eles sempre solicitam uma explicação

mais dedutiva.

14. Em relação ao emploi du temps:

Acho indiferente o ensino indutivo ou

dedutivo de gramática quanto ao tempo

gasto na sala de aula.