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reflexões sobre o diálogo 3:: cotidiano e território: processos de ocupação- desocupação- reocupação
Os acontecimentos relatados neste jogo de discursos assumem uma certa
imprecisão temporal. Conta-se sobre as ocupações empreendidas no Forte desde
1982. Entretanto, a condição instável assumida por muitos processos e personagens
neste campo de forças torna as falas de nossos interlocutores lacunares. A respeito de
inúmeras pessoas citadas como Tião, China, Lourimbau, Cafuné não se sabe o tempo
que permaneceram no Forte, quando chegaram e muitas vezes, contrariam-se as
afirmações acerca das salas que ocupavam.
Isto acentua o caráter de fluxo, de movimento de passagem, cujo tempo
remete-se à invenção de temporalidades, tais como muito tempo, mais de ano, de dois
anos, talvez três, talvez fim de 80. O <pesquisador> fala sobre a não fixidez, de
maneira que se interrompeu este diálogo sem esgotar as passagens que se deram no
Forte.
Uma diversidade de outras apropriações não mencionadas aqui, tais como
festa de casamento, feitiçaria, Carurus, festa de aniversário do bairro Santo Antônio,
construção de trio elétrico, compõem a tônica de burburinho deste diálogo. Deste
conjunto ruidoso emerge uma parcela de emoção, o sentido de um aporte de vida,
proposto por Santos, ao discorrer sobre cotidiano.
O relato do <artista> sobre a popularidade do bar Ubuzu, as diversas
sonoridades produzidas por Luís Melodia, Gilberto Gil, Ilê Aiyê, João do Vale, pela
própria capoeira, entre tantos outros, criam a atmosfera desta reflexão. Múltiplas
temporalidades conformando um cotidiano, múltiplos cotidianos engajando-se num
lugar, o Forte, onde se constituem múltiplas territorialidades. A cada nova prática,
incorpora-se outra textura neste chão de historicidade, e torna-se mais espessa a
trama das relações sociais, abordadas nesta cartografias.
No Forte configura-se a idéia de cotidiano enquanto mundo vivido, acúmulo de
inscrições das experiências ordinárias nele empreendidas. O ato, numa acepção
simbólica e ao mesmo tempo como uma ação espacializada, associa-se à idéia de
ocupação, no sentido da constituição de território. Nesta perspectiva, o Forte é
ocupado a partir de uma relação constante de disputa. Trata-se da dimensão de
poder inerente à produção de territórios.
A disputa pressupõe nesse caso, a demarcação, a inserção de uma linha de
estratificação, de propriedade nas ações espacializadas pelos moradores, pelo Ilê
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Aiyê, pelo GCAP, entre outros. Estas linhas sobrepõem-se às linhas da cartografia do
urbanismo, são traçadas pelos praticantes deste espaço.
Linhas-gestos reveladoras de processos de singularização, acionados na
constituição de territórios, como o banho de folhas, relatado pelo <pesquisador>. Este
ato realizou-se a partir dos preceitos da religiosidade do candomblé, com a
participação da Mãe Hilda do Curuzu, Vovô do Ilê, liderança da referida instituição, e
do <pesquisador>. Territorialização investida de um aporte de vida, de uma técnica-
estética singular, de uma racionalidade irredutível aos princípios pragmáticos, da
repetição e do número.
Entretanto, no discurso do <artista> aparece uma contradição com relação ao
conceito de território, proposto nesta reflexão. Ainda que o <artista> mobilize um ato
cunhado sobre a dimensão do vivido e sobre a inscrição de saberes- poderes e modos
de subjetivação singulares no Forte, neste espaço, ele não se sente em casa. A
expressão “Senzala do Barro Preto” atribuída à quadra no bairro do Curuzu não se
reterritorializou sobre o Forte. A Senzala do Barro Preto, onde o Ilê Aiyê realizava os
ensaios antes do Centro de Cultura Popular, configura uma criação, uma inventividade
deste ato de territorialização, que conforma um território, onde se sente em casa.
O Curuzu é o bairro para onde o Ilê Aiyê volta depois que desocupa o Forte de
Santo Antônio Além do Carmo, além de ser o território onde reside a quase totalidade
dos integrantes de suas atividades artísticas e sócio- educativas na atualidade. A
relação deste bairro com a proposta político-ideológica do Ilê Aiyê cunhada sob a
égide do movimento negro na Bahia é uma trama complexa, impossível torná-la
perceptível nesta breve pontuação. Entretanto, a relação entre estes três estratos,
sentir-se em casa, Ilê Aiyê e Curuzu é absolutamente singular e, portanto, relevante na
compreensão de território do ponto de vista do aporte de vida e de uma emoção
social.
Outros atos compõem os processos de territorialização no Forte e inscrevem
demarcações simultâneas, sobrepostas e tensionadas na cartografia dos praticantes
deste território. As inúmeras territorializações remetem-se às imprevisibilidades e
constantes emergências ali verificadas. Território em disputa e em constante
construção compõe a atmosfera do burburinho do bar deste jogo de diálogos.
O <mestre> fala sobre situações conflitivas quanto à negociação pelo espaço
ocupado, em que o ato de invasão é associado à idéia de dono, desde que este o
ocupasse e assim o declarasse, “esse espaço tem dono, sou eu”. Neste caso a
técnica-estética é a da apropriação do edifício, da demarcação pelo cadeado, que
torna efetivo o sentido da propriedade, conforme descreve o <mestre>, acerca da
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ocupação da sala de Mestre Ezequiel por parte do GCAP e o conflito com o Ilê Aiyê
quando da ocupação da referida sala.
Outros mecanismos inscrevem tais linhas demarcatórias nesta cartografia.
Tanto pode ser o uso de um cadeado, no período anterior à reforma, como a cobrança
de uma taxa de entrada, já na fase Forte da Capoeira, em 2008. Nestes dois casos,
pode-se associar o sentido da horizontalidade na demarcação dos praticantes, dada a
proximidade com o território e a apreensão nos termos do absoluto local.
No caso da cobrança, realiza-se o sentido da verticalidade, em que uma
determinação alheia aos praticantes ordinários deste território, define uma linha
demarcatória, neste caso, inscrita na cartografia do urbanismo. Ainda que se realizem
a partir de sentidos distintos, tais inscrições horizontais e verticais, consistem em
entidades da ordem da fixidez, da sedimentação e, portanto, linhas estratificadas tanto
na cartografias dos praticantes, quanto do urbanismo.
As inscrições relatadas neste diálogo são produzidas a partir de uma técnica
híbrida, que interpõe apropriação e construção, numa reelaboração circunstancial de
arranjos, aberturas, vedações, acessos, desníveis. Revelam-se o caráter do
improviso, da bricolagem, condições inerentes às práticas que lidam com o resíduo e
com a circunstância imediata, o absoluto local, de um território. O mestre, os
moradores, os alunos, os artistas, e inúmeros outros personagem que ocuparam o
Forte realizaram continuamente a construção-ocupação-territorialização, como ações
concomitantes.
O <mestre> e o <professor> mencionam processos de resignificação-
construção- apropriação, tal como a caixa d’água, transformada em palco do Ilê Ayê; o
banheiro do GCAP construído após a derrubada de um matagal do platô anexo à
salda de Mestre Ezequiel; as vedações das celas- moradias no sentido de criar uma
privacidade; e os carros abandonados apropriados como parque pelas crianças.
O relato do <professor> revela duas situações de estranhamento no tocante
aos processos de territorialização efetivadas pelo “outro”, seja o urbanismo, sejam os
praticantes ordinários de determinado espaço. Mestre João Pequeno após a reforma
do Forte não reconhece sua sala, confundindo-a com a Igreja que freqüenta, e
atribuindo a sua cadeira ao Dr. Leal.
O <Estado> não reconhece a reforma realizada todo ano na sala do CECA,
próximo do aniversário de Mestre João Pequeno, para prepará-la para as
comemorações. Nas palavras do <professor> a ilegibilidade revela-se no seguinte
argumento, “Nunca era a reforma que eles queriam, mas pra gente era uma grande
reforma.”
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Deflagram-se as práticas ilegíveis, à medida que uma territorialização não é
apreendida como linha- textura- significado- fluxo de vida, produtor e produto de
determinado território. As linhas de visibilidades constituem-se à depender do plano
de observação, dos dispositivos acionados para fazer ver e falar as dimensões do
absoluto local e do global relativo equacionadas no território.
No espaço tecnocraticamente construído, escrito e funcionalizado onde circulam, as suas (referindo-se aos praticantes ordinários) trajetórias formam frases imprevisíveis, “trilhas” em partes ilegíveis. Embora sejam compostas com os vocabulários de línguas recebidas e continuem submetidas a sintaxes preescritas, elas desenham as astúcias de interesses outros e de desejos que não são nem determinados nem captados pelos sistemas onde se desenvolvem. (CERTEAU,1994 :45)
Modos de construir formam “trilhas” ilegíveis na relação entre a cartografia do
urbanismo e dos praticantes do Forte. O modo de dançar e praticar este espaço, no
caso relatado sobre Jorge Vatusi e Cafuné, também assume esta condição. Estes
personagens aparecem em diversos relatos, tal como partículas soltas, pulsantes,
impregnadas de um pretexto subversivo, astúcias engendradas nas performances,
show, feitiçarias artísticas realizadas no Forte.
Territorializações sobre sintaxes preescritas, ilegíveis pelos sistemas molares
que reificam a potente relação entre experiência e território. O território apreendido e
constituído numa relação de proximidade corporal, efetivada na esfera do absoluto
local, no sentido da co-presença entre personagens, formas de construir, de criar
territorialidades, de dançar, de ocupar, e etc.
Território enquanto heterogênese permeada de negociações acerca das
singularidades correlatas a estes personagens e modos. O cotidiano na acepção da
coexistência num espaço contíguo, em que a proximidade e o absoluto local referente
às territorializações, efetivam-se pela interação entre dois fenômenos a cooperação e
conflito.
A variação contínua dos vetores de territorialização, o fluxo constante de
personagens- práticas citado no início desta discussão, e os modos de construir-
ocupar este espaço provocam a referida interação. Retoma-se uma questionamento
produzido a partir do trajeto Aquidabã-Santo Antônio, a fim de provocar outro jogo de
diálogo:
<cartógrafa> Tantas coletividades compartilhando o mesmo espaço, delineando
os limites do espaço banal e das horizontalidades, de fato traçaram uma esfera
comum, ao inserirem-se numa zona de contigüidades?
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<mestre> A gente virou comunidade, nós éramos comunidade, então todo mundo
respeitava os nossos espaços. Quem vendia droga nem olhava pra gente e a gente
não olhava pra eles e passávamos e saíamos e entrávamos e tínhamos trânsito, a
gente circulava, eles também circulavam, todo mundo fazia sua parte.
<artista> Pessoas que moravam lá, que às vezes não tinham uma vida muito regular,
mas que davam um apoio. Eu me lembro bem de um cara que vendia amendoim
inclusive. Ele era até meu chará e tinha uns irmãos lá que não eram muito certo, mas
ele era um cara que assim. Ele tinha um certo respeito e um poder de controle sobre
os irmãos, eles mesmo se nos acontecesse qualquer coisa, mesmo durante a semana
que nós não estivéssemos lá, quando chegava o fim de semana ele me chamava pra
me relatar quem foi que fez isso ou aquilo. Ali teve uma vez que aconteceu um caso
interessante, que sumiu umas gambiarras nossa de iluminação que nós deixamos ali,
porque era grande a área. E um rapaz lá, um morador, ele até não morava no Forte,
mas morava numa rua ali próxima, chegou lá uma vez e tirou a gambiarra, quando eu
cheguei lá eles me falaram quem foi. O cara tinha pegado pra vender, eles foram lá
onde tinha vendido e recuperaram. E quem passava essas informações eram os
próprios moradores. As pessoas que moravam lá que sabiam o que era do Ilê.
Aconteciam de alguns espaços lá as pessoas entrarem e arrancarem cadeado e o
nosso do Ilê nunca aconteceu esse tipo de confronto com os moradores.
<mestre> Então nós estávamos lá, fazendo nossa palestra super interessante, com
pessoas que eram da militância, como Juca Ferreira, Zulu Araújo, presidente da
Fundação Palmares, a professora Yeda Castro. Aí o Ilê botava esse tamborzão, aí a
gente tinha que descer lá e dizer “Por favor, dá mais 40 minutos aí e tal... e as vezes
eles diziam “Não eu tenho que afinar os instrumentos que à noite vai ter ensaio, vocês
tem que trabalhar e a gente também”. Às vezes tinha um impasse aqui, uma
negociação, sempre deu pra negociar.
<artista> Dia de sábado, ia pra lá com um grupo de meninos, nós íamos todos de
manhã, chegava lá de manhã aí tinha uma pessoa que eu levava e preparava o
almoço lá. Aí de manhã chegava tinha que arma som, prepara os instrumentos, varrer
a quadra toda, lavar os banheiros, aí quando terminava pra uma hora duas horas, aí
os meninos iam joga bola, depois almoçava e além de almoça, aquelas pessoas ali do
próprio forte que almoçava também, a gente dava comida. E de noite, os meninos não
varriam, eu acertava com eles, e eles mesmos que varriam. E eu dava um trocado pra
eles lá e segunda feira chegava lá, tinham varrido tudo. E depois quando nós
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começamos a trabalhar com cerveja em lata, aí já não dava dinheiro nenhum.
Falavam, “Não a lata aí é nossa, não precisa dar dinheiro nenhum”.
<estado> Uma mulher chamada Suely Ribeiro, que trabalhou comigo na Fundação
Cultural na época ela era uma representante da União dos Ternos de Reis. Ela foi que
me procurou e levou pra lá. Então até a retomada dos ternos na época passou pelo
Forte. O irmão dela chamava Buia, ele tinha um equipamento de som que ficava
guardado numa das salas do Forte. E todo evento que nós precisávamos então ele
emprestava. Tinha um bloco que chamava os Lord’s que guardava os instrumentos lá.
<artista> Tinha uma senhora mesmo que tinha uma barraca ali em frente ao Forte,
Dona Conceição, tinha uma barraca de chapa. Ela era relações públicas do Ilê Aiyê,
porque ela funcionava lá a semana toda. Ela abria a barraca dela lá a semana toda,
ela vendia cerveja, vendia as coisas. Porque as pessoas durante o dia que chegavam
lá, ela tava sempre convidando pro ensaio. E no sábado é lógico aumentava a
rentabilidade dela e a garantia de o Ilê fazer o ensaio ali com mais de 5000 pessoas e
a segurança de não ter nenhum tipo de atrito de confusão.
Os modos de negociação e apropriação dos ocupantes do Forte revelam
situações estabelecidas a partir da articulação proposta por Santos, cooperação no
conflito e conflito na cooperação. Esta interação, tem no Forte, um campo de forças
potente, para a compreensão do cotidiano em termos da contigüidade, da co-
presença e, das manifestações do indivíduo, pessoa e lugar.
O Forte compreendido no sentido do espaço banal e das práticas ordinárias,
como por exemplo, o preparo para os ensaios e a feijoada; a instalação e posterior
vigilância de sistemas paralelos de captação de energia, citada pelo <artista> como
gambiarras; a Dona Conceição da barraca de chapa, que funcionava como relações
públicas dos Ilê; as palestras e a afinação dos instrumentos; a forma como circulavam
os próprios usuários de droga; o empréstimo do som de Buia, irmão de Suely, para os
dias de eventos e festas no Forte; inúmeras situações que configuram a interação
entre cooperação e conflito.
Da coexistência entre cooperação e conflito emergem cotidianos múltiplos, em
que ambos os fenômenos realizam-se a partir da definição de regras quanto aos
horários, às permissões de entrada, os pagamentos, a troca de informações na esfera
do absoluto local. As regras de sociabilidade manifestadas num gesto de cumplicidade
na vigilância do espaço do outro; ou contraditoriamente da própria intenção de invasão
e de disputa observada entre o GCAP e o Ilê Aiyê no episódio da sala de Mestre
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Ezequiel, são estabelecidas a partir de horizontalidades, ainda que envolvidas por um
tenso campo de forças e relações de saberes- poderes e territórios ocupados.
A troca engendrada num gesto, numa informação quanto ao roubo de uma
propriedade não assegurada por mecanismos oficiais de vigilância, tal como as
gambiarras; num pagamento por pequenos serviços e sua posterior conversão em
troca por latinhas de cerveja; na convivência com a diferença, tal como relatada pelo
<mestre> no episódio dos usuários de drogas; na apropriação da circunstância do
ensaio do Ilê Aiyê como estratégia de aumento de vendas e de movimentação de uma
economia efetivada no absoluto local; no empréstimo do equipamento de som em
troca do armazenamento do mesmo; entre inúmeras outras práticas de sociabilidade,
articuladas em torno das micropolíticas do espaço.
A esfera do cotidiano discuta por Lefebvre, do ponto de vista da tensão entre a
precisão-fixidez, referenciada sobre a idéia de número; e o irredutível atrelado à
dimensão do drama, no caso do Forte, intensifica dos processos de banalização do
espaço, que se faz e refaz à partir de constantes des- re- territorializações. A força da
banalização deste espaço realiza-se a partir da desestabilização das referências fixas,
da reelaboraração contínua do território, da conexão dos estratos horizontalmente e da
produção de mecanismos de convivência – coexistência a partir da interação dos
fenômenos cooperação e conflito.
A centralidade assumida pelas três instituições ocupantes do Forte desde o
início das atividades do Centro de Cultura Popular, o CECA, o Ilê Aiyê, e o GCAP,
tencionam incessantemente os fluxos que o perpassaram ao longo deste período.
Portanto, é importante assinalar, que neste campo de forças, horizontalidades e
verticalidades engendram especificidades no tocante às relações de forças, quando se
trata de territórios sedimentados, deflagradores de hegemonias subjacentes, tais como
os territórios concernentes a estas instituições.
Neste jogo de diálogos, por exemplo, o Ilê insere-se em inúmeros episódios da
ordem da cooperação e do conflito. Ele pode ser compreendido como um vetor-força
contundente, do ponto de vista da sustentabilidade econômica do Forte enquanto
ocupou este espaço. A idéia de hegemonias subjacentes operam a partir de relações
correlatas à noção de anteparo, proposta na discussão sobre os mestres-referências.
Estas se associam à instituição de racionalidades-territorialidades híbridas, ainda que
hegemônicas, dissidentes do absoluto global e dos processos de homogeneização
centralizados noutros planos molares.
Linhas gestos inscritas na cartografia dos praticantes, entretanto, ilegíveis na
cartografia do urbanismo. Inscritas numa perspectiva molar-molecular, em que vetores
de força, tencionam incessantemente as horizontalidades, entrecortam-se com as
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verticalidades, desestabilizam seu sentido e são também afetados por ele. Nas
intermitências do molar e do molecular, da cartografia dos praticantes, do urbanismo e
deste relato cartográfico, percebe-se a abertura ininterrupta de outros planos de
observação.
Os discursos colocados anteriormente estão potentes de outras relações, de
outras leituras, entretanto, a heterogênese de processos imanentes à constituição do
território Forte, nos impede de esgotá-los. As linhas de vida, de trajeto e de diálogo
mobilizam olho- míssil e ollho fóssil, em busca de rugosidades, de oscilações, de
emergências nesta trama relacional, mas outras deflagram-se incessantemente.
Estas não param de se fazer e refazer a cada dia, em cada escola, nas
relações entre os grupos que hoje lá se encontram, nos eventos, nas rodas cotidianas,
no 5 de abril, ou no 20 de novembro. Múltiplas territorialidades, de celebração; de
estabilização de mitos; de restituição das referências; de esquivas estratégicas com
relação às verticalidades; de oscilação dos personagens em articulações híbridas
como Estado/ONG, Estado capitão- do- mato, homem- resistente-vigoroso, Zumbimba,
Pastinha, entre outras.
Os momentos finais da roda de capoeira são anunciados, canta-se um o
adeus, adeus, boa viagem, uma emoção conecta os últimos movimentos, nem sempre
se percebe a desaceleração dos corpos, a estabilização das partículas sonoras. A
emoção da conexão e da interrupção subseqüentes intensifica as vibrações dos
corpos-sonoridades. Partimos para os movimentos finais deste jogo, em que inúmeras
intenções permanecem contidas, impossíveis de se manifestarem nesta circunstância
e sobrepõem-se àquelas que encontraram canais de efetivação, de provocar o
movimento do corpo, da leitura e da imaginação criadora.
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IV. INTERRUPÇÃO DO JOGO: considerações finais
“Cartógrafo”, quando querem os enfatizar que
ele não “revela” sentidos (o mapa da mina), mas
os “cria”, já que não está dissociado de seu
corpo vibrátil: pelo contrário, é através desse
corpo, associado ao uso molar de seus olhos,
que procura captar o estado das coisas, seu
clima, e para eles criar sentido. (ROLNIK, 2006:
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A investigação construída na perspectiva da “criação” de sentidos remete-se a
uma prática sensível operada pelo corpo vibrátil e pelo olho-molar, correlata à
dimensão da experiência. Estes dois dispositivos agenciaram-se, nesta pesquisa, e a
captura do estado de coisas realizou-se a partir de movimentos do olho míssil- fóssil-
câmera, dos planos e lentes de observação e das circunstâncias do jogo da capoeira.
Esta captura, ao abrir planos simultâneos de observação e ao alternar lentes
por onde se enquadra um território, pretendeu abarcar os movimentos de expansão e
contenção dos corpos, das expressões dos personagens e das energias sociais
mobilizadas na constituição dos territórios existenciais. A pesquisa capturada entre o
vibrátil e o molar, ou nos termos desta narrativa, o molecular e molar.
O ato cartográfico em questão revelou-se uma possibilidade de
experimentação metodológica, à medida que a criação, neste caso abarcou também a
idéia de método, enquanto invenção circunstanciada pelas capturas que se deram no
decorrer da pesquisa. A narrativa procedeu no ímpeto do jogo, do encaixa e
desencaixa, da busca pelo golpe- estratégia- tempo apropriado à determinada
circunstância.
As linhas de trajetos traçaram conexões entre Porto, Aquidabã, Sé, Barbalho e
Santo Antônio, bairros do entorno imediato do Forte; as linhas de vida atravessaram
personagens e territórios entre Salvador e Rio de Janeiro e abriram canais de
efetivação de territórios-existenciais ligados à capoeira como angola, patrimônio,
cotidiano, regional, crime, mito, identidade nacional; os diálogos produziram a
sobreposição de linhas da cartografia do urbanismo e dos praticantes ordinários numa
atmosfera conflitante e polifônica.
Inúmeras outras linhas, outras cartografias-estratos não foram abarcados por
estes planos de observação, escaparam a nossa captura. O horizonte metodológico
definido pela lógica da incompletude assimila a idéia destas linhas virem a ser outros
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diálogos, outros trajetos e outros personagens. Destas se desdobrarem em
movimentos pelas margens, virar ou-tros seres (SALOMÃO), traçarem direções
tangenciais absolutamente imprevistas pelas estratégias de captura e definirem outras
linhas, outras cartografias.
O vir a ser outro pode ser associado ao devir, fluxo permanente, potência
imanente aos processos urbanos, ao engendramento de territórios e à emergência de
outras configurações entre os vetores de forças. A investigação também é atravessada
por este fluxo constante, e solicita uma atenção comprometida da cartógrafa-artesã no
sentido de, em algum momento estabilizar as lentes de observação, definir sobre que
plano deterá seu olho câmera-míssil-fóssil e com quais dispositivos irá experienciar
este campo de forças.
O ato cartográfico territeralizou-se, constituiu um território investigativo, idéia
avessa à noção de um território a priori, no qual se pode adentrar a partir de uma
fronteira pré-determinada. O território enquanto ato configura-se à medida que se
caminha, encontra as singularidades de cada trajeto, escapa numa linha de fuga e
deflagra a experiência, a dimensão do vivido.
Uma experiência implicada num determinado campo de forças, onde as lentes
de observação alternaram-se entre míssil, fóssil e câmera direcionando-se
simultaneamente para os planos molar e molecular. O território investigativo delimita-
se por fronteiras e singularidades e também desencaixa o cotidiano do cartógrafo,
insere-o noutro campo de experiências.
Neste caso, a cartógrafa- artesã movimenta-se entre fluxos de vida, estratifica-
se pelo estado de coisas, recoloca as individualidades em instâncias de poder, tais
como <mestre>, <professor>, <estado>, <pai>, <capitão do mato>, <artista> e
depara-se com um campo de forças, permeado pela noção de jogo. Os
agenciamentos e as multiplicidades operados nestas instâncias de poder funcionam
como dispositivos, estratégias de encaixe e desencaixe de discursos e
territorialidades, como o forte- ruína e o forte-patrimônio.
As interações entre as instâncias de poder provocam a emergência de linhas,
enquanto processos, passagens de fluxos de vida entre as diversas configurações do
Forte, cartografadas a partir da configuração do Centro de Cultura Popular, em 1982.
Seus possíveis desdobramentos como ruína, interditada por tapumes, onde
permaneceram somente GCAP e CECA; como Centro Popular de Cultura, em que
todos os mestres ali instalados teriam um único espaço para a capoeira; como Casa
das Filarmônicas, onde não permaneceria nenhum mestre com seu referido espaço;
estabilizam-se por ora, em Forte da Capoeira.
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Nesta configuração tem-se 7 mestres instalados, distribuídos em 6 academias,
e a capoeira-patrimônio corresponde ao território existencial hegemônico dos seus
enredamentos. A tônica da narrativa pretende não enquadra-la numa perspectiva
absolutamente estabilizada, compreendendo que mesmo diante da estabilidade,
operam vetores de diferenciação.
Entretanto, a produção de territórios sob o viés hegemônico do vetor
espetáculo, transversal aos processos de constituição da capoeira-patrimônio,
imobiliza algumas dimensões espaço-tempo no Forte. Atribui-lhes sentidos fixos e
homogêneos, compacta a espessura de uma complexa trama relacional de saberes-
poderes-modos de subjetivação.
O estado das coisas capturado entrelaça à capoeira-patrimônio, tardes diante
de um pátio vazio, silencioso, esporadicamente visitado por turistas, muitos dos quais
estrangeiros; noites polifônicas, cadenciadas por sonoridades simultâneas de
berimbaus, atabaques, coros e pandeiros tocados nas diferentes escolas;
efervescentes dias de festa, uma ebulição de pessoas, dezenas, centenas de
capoeiristas e apreciadores, de falas enfáticas e eloqüentes sobre mestres anciãos;
entre outros acontecimentos ordinários vivenciados nas tradicionais rodas de sábado
à noite do CECA e do GCAP; nas últimas sextas feiras de cada mês, quando acontece
cinema no CECA e samba no bar da esquina do Largo do Santo Antônio; nas
pequenas e grandes ritualidades, desde uma vela solitária acessa num canto de uma
das salas às homenagens institucionais em nome das entidades molares da capoeira.
Territorializações em constate movimento, que não cessam de configurar
novas relações entre as três instâncias envolvidas nas micropolíticas do espaço,
saberes-poderes e modos de subjetivação. Interpõem-se horizontalidades e
verticalidades, o absoluto local e o global relativo, entretanto as hegemonias
sedentarizam os movimentos das linhas, despotencializam seus fluxos de vida, e
desmobilizam o gesto criador de singularidades.
Uma parcela de emoção é enquadrada em entidades rígidas, mitos que
passam a circular em outros sistemas mitológicos. Nestes a produção da imagem, das
luminosidades segregadas, e das opacidades criminalizadas, engendra a inserção de
linhas duras nesta cartografia. Compreender a emergência destas linhas duras na
perspectiva relacional das micropolíticas é tarefa árdua. O plano molar é delineado por
traços contundentes, de natureza dubiamente rígida e flexível, capaz de assimilar as
singularidades mais dissidentes e convertê-las em imagens sem malícia nem
malandragem.
A idéia do não enquadramento depara-se como a contundência destas linhas,
a exatidão de suas direções, a dimensão fixa das suas definições espaciais, a
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s cotidianas.
capacidade de medir, estriar e provocar rupturas ao encontrar outras linhas de vida.
No Forte, percebeu-se a interferência da dimensão, direção e natureza destas linhas
no momento da constituição da ONG Forte da Capoeira e posteriormente, na reforma
do referido espaço.
Ainda que se admita suas variações e devires, a produção do território-
existencial patrimônio, implica uma força ativa que investe os espaços e os
personagens, de um determinado sentido, atrelado a uma imagem e a um discurso.
Sentido- imagem-discurso enquanto instâncias articuladas, que revelam a dimensão
de poder implicada nestes enredamentos.
Num dispositivo em que todas as linhas são investidas de força, direciona-se
nestes argumentos finais, o foco de nossas lentes de observação para a força do
espaço. A produção do espaço Forte da Capoeira remete-se à força ativa de
configuração de fluxos de vida, de definição de temporalidades, de mestres-
referências e por conseguinte, de constituição de territórios enquanto aporte de vida e
de emoção. Cabe questionar que vida e que emoção são investidas nestes territórios?
As múltiplas territorialidades percebidas a partir da cartografia dos praticantes
ordinários desde 1982 quando se tratava de Centro de Cultura Popular, são drenadas
para o pólo capoeira. O vetor espetáculo provoca a iluminação deste patrimônio,
holofotes como os da Semana Iguatemi Moda 2009 e do Bailinho Carioca49
direcionam seus focos simétricos para o Forte da Capoeira e confirmam algumas
nuances do espetáculo, atreladas ao consumo e à alienação do território enquanto
aporte de vida e de emoçõe
Trata-se da força do vetor espetáculo mobilizado na produção deste espaço. A
questão sobre a vida e a emoção sociais investidas neste território retoma a noção de
hegemônico e contra-hegemônico. A narrativa cartográfica propôs a apreensão das
opacidades, no sentido de não se deter sobre o que se vê com o olho-câmera.
Entretanto, é relevante, compreender que a força mobilizada pelas hegemonias e
pelas contra-hegemonias tem potencial de inserção e de produção de espaços
absolutamente distintas.
Portanto, mesmo do ponto de vista relacional das micropolíticas, é fato
consolidado no Forte, a inexistência das inscrições que se remetem à Casa de
Detenção, às moradias, ao burburinho do bar, ao canavial, aos ensaios do Ilê, à
serralheria, ao sapateiro, à gráfica, entre outros. Inscrições que não significam
49 Estes dois eventos foram realizados em setembro de 2009 e configuram uma manifestação contundente do vetor-espetáculo no campo de forças em questão. Insere-se uma breve colocação sobre estes dois acontecimentos na tentativa de apontar como esta linha de força tem delineado hegemonicamente os enredamentos neste espaço.
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referências estratificadas em suportes fixos da memória, mas à produção de um
espaço que assimile os vetores de variação, as sonoridades-temporalidades múltiplas,
do funcionamento de máquinas de impressão, das pessoas discutindo o uso do
espaço para estender roupa, para confeccionar picolé, para dar uma palestra, das
rodas de capoeira, das percussões do Ilê, dos carteados no bar.
A força das paredes lisas, da iluminação homogênea e simétrica, dos
mecanismos de controle do que pode ou não ser feito, em que tempo e mediante que
solicitação não anula em absoluto as inúmeras iniciativas pontuais, efêmeras e
singulares daqueles que atualmente ocupam ou freqüentam o Forte. Entretanto, tais
iniciativas deparam-se com mais freqüência com intervenções de natureza ordenatória
ou proibitiva e, estão sujeitas à perderam sua potência de investimento de novos
territórios. Ainda que não se acione a lógica da submissão, a hierarquia está
consolidada, e esta efetiva a sedentarização de instâncias de saberes-poderes.
Nestes momentos finais do jogo, retoma-se com prudência a idéia das voltas
do mundo, em que os vetores de forças dão voltas sobre si mesmos, dobram-se na
direção do ataque, ou esquivam-se para fora do território existencial hegemônico. A
volta do mundo como movimento do qual emergem inúmeras possibilidades de
constituição de outras territorialidades- temporalidades- sonoridades.
A interação instabilidade-estabilidade orientou a ação das lentes e dos planos
de observação desta narrativa. Assim, mesmo que a volta do mundo deflagre a
potência do devir, do vir a ser outro jogo, tem-se em mente, os movimentos do jogo
que está prestes a terminar. Neste, ainda que a instabilidade opere incessantemente
suas configurações, não é possível deter-se somente nela, à medida que algo se
estabilizou, seja no tocante ao espaço, aos discursos, às imagens, às temporalidades,
enfim as múltiplas dimensões atreladas ao território.
Percorrer trajetos metodológicos relativos à dimensão do vivido dificulta o
momento das conclusões. A pretensão conclusiva é remetida à interrupção, tal como
se colocou nas linhas de vida. Por ora, interrompe-se o fluxo mobilizador dos passos
em direção ao Forte, ao encontro dos personagens nas rodas imaginárias e as
articulações das falas em diálogos.
Na capoeira, não se trata de um jogo que se ganha ou que se perde, pois o
capoeirista entra nos fluxos das voltas do mundo e não compreende que o jogo com
determinado capoeirista termina no momento em que apertam as mãos e saem da
roda. Ao deixar este território onde a disputa espreitou a exatidão do ataque, e ao
espreitá-la converteu movimentos em interações, suas direções em assimilações e
deslocamentos do sentido do movimento do outro.
151
Em se tratando de um jogo onde tantos impasses se colocaram e tantos
movimentos engendraram hegemonias e contra-hegemonias, ouve-se o chamado do
berimbau, o toque que anuncia a interrupção. As matérias de expressão apreendidas
nesta investigação e resignificadas neste relato cartográfico assumem, nos momentos
finais deste jogo, uma saturação dos movimentos. A música anuncia o término, os
instrumentos comunicam-se entre si pelos olhares dos capoeiristas na bateria que
avisam uns aos outros o momento da interrupção.
Por vezes, chama-se os jogadores ao pé do berimbau para interromperem,
outras vezes não, interrompe-se com o jogo correndo solto. E num "de repente”
praticamente acordado entre todos ali dispostos, a roda fecha-se num sonoro iê,
acentuado na vogal final. Fechamento numa imagem turbilhonar e não cíclica, de
vetores emaranhados e não subseqüentes e, de incompletas e inconclusas conexões.
152
IV. FONTES
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3. ARQUIVO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA (IPAC): Ante Projeto para ocupação social do Forte de Santo Antônio além do Carmo para a implantação do Centro de Cultura Popular, 1975. Fundação do Patrimônio
Artístico e Cultural da Bahia- Setor de Planejamento e Pesquisas Sociais.
Projeto de Restauração e agenciamento do Forte do Largo de Santo Antônio além do Carmo: projeto arquitetônico e aspectos financeiros do Centro de Cultura Popular, 1980. Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC),
Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (FPACB), Prefeitura Municipal de
Salvador (PMS), Ministério da Educação e Cultura, Secretaria do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional SPHAN/ Pró- memória
Carta de intenções do BID – Restauração do Forte de Santo Antônio além do Carmo para a implantação do Centro Popular de Cultura, 1989. Instituto do
Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).
Inventário de proteção do acervo cultural: projeto de recuperação do imóvel tombado a nível estadual para a ocupação do mesmo com o Projeto “Filarmônicas”, 1996. Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), Secretaria
da Indústria e do Comércio- coordenação de fomento ao turismo, Secretaria da
Cultura e Turismo.
4. INSTITUTO JAIR MOURA
DANNEMANN, Maria de Fátima. Forte de Santo Antônio está abandonado há mais de dez anos. A TARDE. Salvador: 12/ 06/ 1997. DANNEMANN, Maria de Fátima. Viagem no tempo pelos fortes de Salvador. A TARDE. Salvador: 18/07/1999. MEIRELLES, June. Forte até quando? BAHIA HOJE. Salvador: 27/11/1993. SAMPAIO, Maristela. Fortaleza de Santo Antônio aguarda reforma há 20 anos. A TARDE. Salvador: 15/04/2001. SOUZA, Marconi. Governo não cumpre promessa e Forte vira antro de marginais. A TARDE. Salvador: 26/08/1996.
158
TAVARES, Luís Guilherme Ponte. Cultura Popular vai ter casa no Forte de Santo Antônio. A TARDE. Salvador: 14/09/1981 Capoeiristas vivem dupla celebração. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Salvador, BA. Número 18.733. 24/12/2004. Inaugurado o Centro Esportivo de Capoeira. A TARDE. Salvador: 03/05/1982 caderno 2. (autoria não identificada) Forte de Santo Antônio será Forte da Capoeira. TRIBUNA DA BAHIA. Salvador: 22/12/2005. Caderno Salvador. Página 8. (autoria não identificada) 5. ENTREVISTAS: realizadas em 2008
Frederico José de Abreu
Antônio Carlos dos Santos (Vovô do Ilê)
Vivaldo Benvindo dos Santos,
Zé Virgílio Leal de Figueiredo
Cleonel Pereira dos Santos
José Augusto de Azevedo Leal
Mestres: Moraes, Gildo Alfinete, Boca Rica, Itapoã e Poloca
Professores: Nany, Zoinho
Contra- mestre: Aranha
6. OUTROS:
Novo Estatuto Social da ONG Associação Brasileira de Preservação da Capoeira –
Forte da Capoeira, 2002.
Registro em áudio da reunião realizada em 06/04/2008 no Forte de Santo Antônio
Além do Carmo, em que se encontrava presente o atual Secretário de Cultura: Márcio
Meirelhes.
159
VI. LISTA DE FIGURAS
21 A: Diagrama de atividades do projeto do centro de cultura popular com
interferências da pesquisa de campo. Fonte: Projeto de Restauração e agenciamento
do Forte do Largo de Santo Antônio além do Carmo: projeto arquitetônico e aspectos
financeiros do Centro de Cultura Popular, 1980.
22 A: Diagrama de atividades previstas no projeto do centro de cultura popular:
Fonte: idem, 1980
24 A: Jornal Correio da Bahia “Gueto de resistência e miséria”. 20 novembro de 1996.
27 A: Fotos das placas de identificação das academias instaladas no Forte da
Capoeira. Fonte: pesquisadora, 2008.
32 A: Foto aérea da cidade de Salvador. Fonte: goolge earth: 2009 Mapa de localização do Forte. Fonte: goolge earth: 2009 32 B: Mapa do entorno do Forte com algumas interferências da pesquisadora relativa
à cartografia proposta “Forte além do Carmo, sobre o Porto, entre a encosta e o
Barbalho”. Fonte: projeto de restauração e agenciamento do Forte do Largo do Santo
Antônio além do Carmo: 1980 e arquivos pesquisadora.
34 A: Jornal Diário de Notícias “Vagabundos e desordeiros” publicado em 21 de
outubro de 1911. Fonte: DIAS, 2006.
35 A: Jornal A Tarde “Turistas ameaçados por capoeiristas na cidade” e “Emtursa
ameaça proibir as exibições de capoeira”. 1986.
38 A: Foto dos bonecos cenários “capoeirista e baiana” e turista no Pelourinho. Fonte:
pesquisadora: 2008.
70 A: Foto do portão de entrada do Forte após a reforma. Fonte: pesquisadora, 2008.
70 B: Fotos da fachada do Forte após a reforma. Fonte: pesquisadora, 2008.
160
98 A: Fotos das placas em homenagem a Vicente Ferreira Pastinha, no Casarão n.
19, atualmente restaurante SESC- SENAC no Pelourinho. Fonte: pesquisadora, 2008.
103 A: Planta - terréo do Forte. Fonte: inventário de proteção do acervo cultural -
IPAC, Secretaria da Indústria e do Comércio e Secretaria da Cultura e Turismo: 1996.
103 B: Planta - pavimento 1 e Corte AA, com destaque para os acréscimos realizados
no Forte durante o século XX. Fonte: idem.
103 C: Foto da vista A com Igreja de Santo Antônio ao fundo. Fonte: Jornal a Tarde:
1997.
Corte BB. Fonte: inventário de proteção do acervo cultural - IPAC, Secretaria da
Indústria e do Comércio e Secretaria da Cultura e Turismo: 1996.
Foto do pátio central do Forte com destaque para antiga caixa d’água onde se instalou
o palco do ilê. Fonte: idem.
103 D: Foto da vista B. Fonte: Jornal A Tarde: 1997.
Foto da fachada onde se encontravam os espaços do CECA (térreo) e do GCAP
(pavimento 1). Fonte: Jornal a Província: 1996
Foto do pátio interno e da fachada onde se encontravam os espaços ocupados pelo
Ilê Aiyê. Fonte: Correio da Bahia: 1997
108 A: Planta – terréo. Fonte: inventário de proteção do acervo cultural - IPAC,
Secretaria da Indústria e do Comérico e Secretaria da Cultura e Turismo: 1996
Corte AA. Fonte: idem.
108 B: Desenho da planta do Forte elaborado por Caldas em “Notícia Geral de Toda
a capitania de Bahia desde seu descobrimento até o presente ano de 1759. Fonte:
idem
Imagem da fachada do projeto após a reforma. Fonte: idem
Corte BB. Fonte: idem.
108 C: Foto da vista A. Fonte: pesquisadora
Foto de placa instalada no Terreiro de Mandinga. Fonte: idem
108 D: Foto da vista B, pátio central e cisterna. Fonte: idem
161
Foto da área dos baluartes com vista para Igreja de Santo Antônio ao fundo. Fonte:
idem
Foto da Torre Principal do Forte. Fonte: idem
131 A: Foto de apresentação artística de Jorge Vatusi no Centro de Cultura Popular:
1982. Fonte: Zé Virgílio Leal de Figueiredo
131 B: Foto de apresentação de Jorge Vatusi e Cafuné, ao fundo barracas de feira-
centro de cultura popular: 1982. Fonte: idem
Foto de roda de capoeira, com Mestre Ezequiel ao centro, na sala ocupada
posteriormente pelo GCAP. Ao fundo Mestre João Pequeno de Pastinha e Mestre
Moraes:1982. Fonte: idem
137 A: Foto da roda de Mestre João Pequeno de Pastinha no pátio central do forte,
entre 1980-1995. Fonte: imagem capturada pela pesquisadora nas paredes da referida
academia, 2008.
cartaz de divulgação das atividades do CECA. Fonte: Fred Abreu, s/ data.
137 B: Folder de divulgação produzido pelo CECA com o anúncio de diversas
atividades do centro de cultura popular. Fonte: Fred Abreu, 1982.
162
VII. LISTA DE SIGLAS
ABCA: Associação Brasileira de Capoeira Angola
BIRD: Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
CECA: Centro Esportivo de Capoeira Angola
Coplan: Coordenação de Planejamento e Pesquisas Sociais
GCAP: Grupo de Capoeira Angola Pelourinho
IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
IPAC: Instituto do Patrimônio Artístico-Cultural da Bahia
SPHAN: Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional