reflexões acerca da deontologia da engenharia

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 REFLEXÕES ACERCA DA DEONTOLOGIA DA ENGENHARIA  Júlio César Firmino Leão  Mateus Luis de Almeida Mendes Vilmara Paula [email protected] Centro Universitário Uni-bh TIG (Trabalho Interdisciplinar de Graduação) – Tacyana Arce RESUMO: O presente artigo propõe uma reflexão sobre a responsabilidade que cabe a um engenheiro enquanto profissional de uma área que impacta diretamente nas transformações do modo de vida da sociedade, a partir do que é estudado por eles. Toma c omo r efere ncia p ara análi se, reportagem do site G1 com o título: “Após 4 anos, justiça decide se réus da cratera do Metrô vão a julgamento” e entrevista de André Assis, integrante da comissão responsável por investigar as falhas ocorridas no co lapso d o Metrô Pinheiros para prod uzir relatório técni co do IPT ( In stitut o de Pesquisa Tecnológica de São Paulo) PALAVRAS-CHAVE: Deontologia; Engenharia, Colapso, Desmoronamento Metrô

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Trabalho de TIG - turmas de 1º e 2º períodos de jornalismo do UNI-BH - 2º sem de 2011.

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REFLEXÕES ACERCA DA DEONTOLOGIA DA ENGENHARIA Júlio César Firmino Leão

 Mateus Luis de Almeida Mendes

Vilmara Paula

[email protected] 

Centro Universitário Uni-bhTIG (Trabalho Interdisciplinar de Graduação) – Tacyana Arce

RESUMO:

O presente artigo propõe uma reflexão sobre a responsabilidade que cabe a umengenheiro enquanto profissional de uma área que impacta diretamente nastransformações do modo de vida da sociedade, a partir do que é estudado por eles.Toma como referencia para análise, reportagem do site G1 com o título: “Após 4

anos, justiça decide se réus da cratera do Metrô vão a julgamento” e entrevista deAndré Assis, integrante da comissão responsável por investigar as falhas ocorridasno colapso do Metrô Pinheiros para produzir relatório técnico do IPT ( Instituto de

Pesquisa Tecnológica de São Paulo)

PALAVRAS-CHAVE:

Deontologia; Engenharia, Colapso, Desmoronamento Metrô

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SUMÁRIO

RESUMO ______________________________________________________ página 01

PALAVRAS CHAVE _____________________________________________ pagina 01

INTRODUÇÃO __________________________________________________ pagina 03

DEONTOLOGIA PROFISSIONAL _________________________________ página 05

A REPORTAGEM _______________________________________________ pagina 05

O LAUDO _______________________________________________________ página 06

O DESENVOLVIMENTO DO LAUDO E A RELAÇÃO DEONTOLÓGICA

Analisando entrevista _______________________________________ página 08

CONSIDERAÇÕES FINAIS _______________________________________ página 12

REFERENCIAS __________________________________________________ página 12

FONTES CONSULTADAS _________________________________________ página 13

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INTRODUÇÃO

É dito: “a formação do engenheiro, a qual – em sua grande maioria – é voltada, ainda,

para cálculos simulações e projetos, indivíduo objetivo” (CREMASCO, 2009, p. 4). No

entanto, o engenheiro se relaciona com subordinados, entidades empregadoras e,principalmente, comunidades. Dessa forma, desenvolver habilidades de caráter humano deve

fazer parte da formação de um profissional da engenharia. Marco Aurélio Cremasco, em

artigo com o título “A Responsabilidade Social na Formação de Engenheiros ”, comenta que

não basta ao profissional ser bom técnico, se não for capaz de entender de forma abrangente o

sentido da atividade que está exercendo, por meio de três habilidades interconectadas:

Explicando os elementos da pirâmide, Marco Aurélio escreve que a habilidade técnica

diz respeito ao profissional “executar sua habilidade específica”, ou seja, na área em que atua

  já a habilidade humana, se refere a “desenvolver o relacionamento humano pró-ativo” e o

somatório das duas habilidades implicará ao engenheiro desenvolver a habilidade conceitual

que está diretamente associada à coordenação e a integração de todas as atitudes e interesses

da organização a qual pertence e presta serviço.

Marcio Fonte-Boa Cortez, e Roberto Márcio de Andrade afirmam que “as atividades

da engenharia tem um impacto na natureza e na vida humana. É importante que os

profissionais desta área sejam capazes de compreender e predizer a natureza dos processos

envolvidos nos problemas técnicos com que venham a se defrontar.” (CORTEZ, 2002, p. 12)

Eles também propõem um quadro esquemático de atividades profissionais da engenharia.

 

Fig.01: “Habilidades desejadas para um

engenheiro” (CREMASCO, 2009, p.4)

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Sendo assim, quando erra um engenheiro, é desencadeado traumas, as vezes, de

proporções gigantescas. A exemplo, o colapso provocado pelo desabamento do túnel das

obras de construção da Estação Pinheiros, em São Paulo, no ano de 2007, vitimou fatalmente

7 pessoas e trouxe um prejuízo enorme à população vizinha as obras e empresas responsáveis

pelo projeto.

Motivados por reportagem apresentada no site G1: o portal de notícias da globo,

publicada no dia 27/setembro/2011, sobre o julgamento dos envolvidos no caso, propomos

uma análise do fato ocorrido, a partir do que foi repercutido e gerado por ele.

Antes, porém, de expor a reportagem é oportuno fazer uma breve referencia ao

conceito de Deontologia na engenharia.

Fig. 02: “Atividades dos profissionais da engenharia” (CORTEZ, 2002, p. 13; fonte:http://www.demec.ufmg.br/ema863/Pr%E1tica%20Cient%EDfica%20na%20Engenharia.pdf 

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DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

“A deontologia elabora sistematicamente os ideais e as normas que devem orientar a

atividade profissional” (GUEDES, Ética: Ensino e Responsabilidade Social). A deontologia

da engenharia se pauta por um conjunto de artigos contidos no Código de Ética Profissionalda Engenharia, da Arquitetura, da Agronomia, da Geologia, da Geografia e da Meteorologia,

desenvolvido (2002) – a ultima atualização/revisão, sob resolução n° 1002 – pelo Ceden

(Colégio de Entidades Nacionais) e sendo adotado unanimemente por todo o sistema Confea-

Crea no país. Implica ao profissional:

“normas e preceitos de conduta acerca do exercício profissional, explicitando direitos e

deveres, definindo também princípios éticos capazes de nortear ações atuais e futuras em vista

de aprimorar o ideal, fundamento do sistema Confea-Crea, de capacitar a Instituição e seus

filiados a enfrentarem os desafios éticos que atravessam, tanto em nível pessoal quanto técnico,social e político, a consciência moral de cada profissional na complexa realidade de nosso

país”. (MELO, Eng. Civ. Marcos Túlio de; Presidente do Confea – Gestão 2006/2008 e

2009/2011)

O CONFEA é o órgão central, de âmbito federal, que coordena órgãos regionais, para

fiscalização e orientação de trabalhos e exercício profissional da engenharia, arquitetura,

agronomia, geologia, geografia e meteorologia.

Os CREA’s são os órgãos regionais subordinados ao Confea.

O CEDEN, segundo informa o Crea-MG, é composto por “Entidades de Classe,

diferentes organizações que representam as diversas modalidades profissionais ligadas às

áreas de Engenharia, Arquitetura, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia, tanto de

nível superior quanto de nível técnico.” Compõem o Plenário para avaliação e julgamento de

desvios éticos-disciplinares.

A REPORTAGEM

O engenheiro não se relaciona apenas com os elementos técnicos utilizados e

construídos, ele influencia adequações comportamentais de pessoas que se modificam a partir

do que é produzido por ele.

No artigo citado na introdução deste, Marco Aurélio Cremasco, elabora a influencia do

engenheiro na vida da população:

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“Abertura de crateras que engolem ruas, casas e pessoas, para dar passagem a metrô. Poluição

de rios, cujas águas abastecem cidades e permitem a sobrevivência de populações ribeirinhas.

Degelo de calotas polares devido à emissão de gases na atmosfera que põe em risco a vida

neste planeta.( CREMASCO, 2009, p.1)

E ele ainda pergunta: “a questão que aflora é: até onde se estende a responsabilidade

do engenheiro em tais catástrofes?”

Publicada no ultimo 27 de setembro, no portal de notícias da Globo, G1, a reportagem

com o título “Após 4 anos, justiça decide se réus da cratera do metrô vão a julgamento”, de

Kleber Tomaz, expõe as ultimas informações acerca do caso. 14 são os acusados do

desabamento que matou sete pessoas no dia 12 de janeiro de 2007, são engenheiros e técnicos

da CVA , Consorcio Via Amarela (OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Correia eAndrade Gutierrez). Eles respondem em liberdade pelo crime contra incolumidade pública,

que é de deixar de tomar medidas necessárias, no caso específico, de segurança contra o risco

de desmoronamento, informa a reportagem. São acusados de desabamento culposo, com

morte culposa (sem intenção de matar). A juíza Aparecida Angélica Correia ouviria

testemunhas e decidir se os acusados devem ser levados a julgamento ou não. Para o

Ministério Público, houve imperícia e negligencia , “na véspera do acidente, havia ocorrido

um rebaixamento do teto, mas engenheiros do CVA optaram por reforçar as paredes sem

  parar o serviço”, conta a reportagem, informando ainda que a área não foi interditada. É

descrito as vitimas do trágico acidente e cita o laudo feito para investigação das causas.

O link para a reportagem na íntegra é colocado na parte que cabe a referencias, no

final deste.

O LAUDO

O Instituto de Pesquisas tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT-SP) , foi

convocado para redigir e investigar as causas que levaram ao colapso provocado pelo

desmoronamento. Segundo o Laudo do relatório técnico, “às 14h53 do dia 12 de janeiro de

2007, durante o processo de escavação, houve a manifestação em superfície do colapso de

grande parte do túnel-estação sentido Faria Lima, abrindo uma cratera de quase 2.200 m²

entre a rua Capri e o canteiro de obras e provocando o desabamento de parte do poço de

acesso aos túneis da estação (...)”(Relatório Técnico, 2008, p. 1)

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Fig 03: Imagem extraída do vídeo “Obra do Metrô desaba e abre cratera em São Paulo”, disponível

em: <http://www.youtube.com/watch?v=ZgMEgmFu_QQ&feature=related>

No que diz respeito às agressões a terceiros, o relatório técnico diz:

“Em conseqüência do acidente, sete pessoas vieram a falecer (...) Duas semanas de trabalho

dos bombeiros foram necessárias para localização e resgate dos corpos. Seis casas precisaram

ser demolidas, mais de sessenta foram interditadas, mais de duzentas pessoas ficaram

Fig. 06: esboço desmoronamento Fig. 07: situação real da obra após desmoronamento

Fig. 04: esboço do túnel Fig. 05: medidas do túne

Imagens extraídas do vídeo “Obra do Metrô desaba e abre cratera em São Paulo”, disponível em:<http://www.youtube.com/watch?v=ZgMEgmFu_QQ&feature=related>

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desalojadas, dezenas de veículos e equipamentos foram avariados ou completamente perdidos

(...) (Relatório Técnico, 2008, p. 1)

Termina a apresentação do acidente, dizendo que “os prejuízos financeiros e sociais

resultantes do colapso e do atraso das obras são significativos.”

O acidente tomou proporções gigantescas, obrigando a mobilização de órgãos

importantes do Estado – Ministério Público do Estado de São Paulo, Promotoria da Justiça

Criminal; Promotoria da Justiça da Habitação e Urbanismo; 3ª Delegacia Seccional da Polícia

Civil do Estado de São Paulo e Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo. Também

funcionários das empresas envolvidas na construção da Estação Pinheiros: Metrô de São

Paulo e Consórcio Via Amarela (incluindo as empresas componentes do Consórcio Projetista

e da instrumentação geotécnica), bem como a Secretaria de Estado do Meio Ambiente,

Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica e outros órgãos governamentais e decomunicação, segundo o que diz no laudo técnico.

Os trabalhos de investigação se iniciaram em janeiro de 2007 e terminaram em junho

de 2008, quase 17 meses após o acidente.

O DESENVOLVIMENTO DO LAUDO E A RELAÇÃO DEONTOLÓGICA

Analisando entrevista

Em entrevista à revista da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia

Geotécnica (e-ABMS), o prof. André Assis, integrante da comissão responsável por elaborar

o Relatório Técnico do IPT-SP, comentou sobre alguns pontos relevantes na condução desse

relatório – tais comentários observamos segundo os artigos 8°, 9° e 10°, do Código de Ética

Profissional, por ser estes os artigos que se relacionam diretamente com a ação do

profissional. Os antecessores denotam atribuições às profissões no geral.

Sendo assim, já a partir da citação subseqüente, chamamos a atenção para os conceitos

de deontologia da engenharia. Segue:

“A linha do metrô tem de passar onde há gente, onde há demanda por transporte público. Não

adianta construir uma estação 500 metros antes ou 500 metros depois do local de concentração

da demanda. Não temos que discutir se a linha está no melhor lugar ou não. Fica para a

engenharia a responsabilidade de encontrar a solução técnica mais adequada. (e-ABMS,

conforme ASSIS, 2008, p. 6)

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Deontologicamente, o parágrafo II – da natureza da profissão –, do artigo 8° – dos

  princípios éticos – comenta que a profissão, é “bem cultural da humanidade construído (...)

pelos conhecimentos técnicos e científicos (...) colocado a serviço da melhoria da qualidade

de vida do homem”(ÉTICA, o Código de; 2002, pags 28 e 29)

De fato nesse ponto não houve descumprimento dos técnicos envolvidos na tragédia.

Os trabalhos a serem executados iriam satisfazer o conforto dos usuários do metrô. No entanto

o relatório do IPT levantou erros que foram além da catástrofe do dia 12\jan\2007. Houve

falhas contratuais do metrô e o consorcio Via Amarela foi conivente. André Assis afirma queo contrato de execução da obra foi alterado logo de início, com a inclusão de uma nova

estação que não estava prevista no projeto licitado. Segue:

“Não é recomendável queimar ‘gorduras’ financeiras contratuais, através de um aditivo que

altera o preço anterior para incluir a nova estação. Esse fato já demonstra que a obra teve

problemas de gestação. Depois de tanto tempo de análise e estudos, como é que se deixa de

incluir uma estação que, de repente, passa a ser importante?” (e-ABMS, por ASSIS, 2008, p.8)

No parágrafo III – da honradez da profissão – do mesmo artigo 8°, comenta: “a

profissão é alto título de honra e sua prática exige conduta honesta, digna e cidadã.” Sendoassim, houve descumprimento ético dos envolvidos, a este parágrafo citado e ao V – do

relacionamento profissional – “a profissão é praticada através do relacionamento honesto,

  justo e com espírito progressista dos profissionais para com os gestores, ordenadores,

destinatários, beneficiários e colaboradores de seus serviço, com igualdade de tratamento

entre os profissionais e com lealdade na competição” (ÉTICA, o Código de; 2002, pag e 29).

O desvio pode também observando o artigo 9° – dos deveres – segundo o parágrafo IV – nas

Fig. 08: Imagem extraída do vídeo “Obra do Metrô desaba e abre cratera em São Paulo”,disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ZgMEgmFu_QQ&feature=related

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relações com os demais profissionais – item a): “atuar com lealdade no mercado de trabalho,

observando o princípio da igualdade de condições” (ÉTICA, o Código de; 2002, pag e 32).

Várias outras interrogações acerca dos erros da engenharia foram levantadas norelatório e mencionadas por Assis: o pessoal da obra tinha percepção de que poderia haver um

acidente(?), por que falharam os sistemas de salva-guardas (?), por que não foram tomadas

decisões visando interromper a obra, fazer um reforço ou, no mínimo, evacuar as pessoas das

áreas próximas e interditar as ruas (?), disse ele. E ainda completa: “alguma coisa falhou na

parte da gestão da obra no que se refere à ações de emergência”.

Novamente chama-se a atenção para o descumprimento deontológico, pois no

parágrafo IV – da eficácia profissional – do artigo 8° – dos princípios éticos – cita: “a

profissão realiza-se pelo cumprimento responsável e competente dos compromissos

profissionais, munindo-se de técnicas adequadas, assegurando os resultados propostos e a

qualidade satisfatória nos serviços e produtos e observando a segurança nos seus

procedimentos” (ÉTICA, o Código de; 2002, pag 29) .

As conclusões apresentadas pelo relatório apontam falha da engenharia.

“a parte causal do colapso está ligada aos processos de engenharia, a falhas de projeto e de

construção, ao controle de qualidade e à gestão da obra. E houve também falhas nas ações de

emergência, que produziram impactos e conseqüências muito graves. Os trabalhadores que

estavam no túnel conseguiram sair antes do acidente. Mas não houve a interdição das ruas

próximas e a evacuação dos transeuntes. As pessoas ficaram ali esperando, filmando,

comentando, aguardando alguma coisa acontecer...” (e-ABMS, por ASSIS, 2008, p. 9)

Essas palavras atestam para mais erros ético. No parágrafo VI – da intervenção

 profissional sobre o meio – do também artigo 8°, é interessante observar o que diz respeito a

incólume: “a profissão é exercida com base (...) na incolumidade das pessoas, de seus bens e

de seus valores” (ÉTICA, o Código de; 2002, pag 29 e 30). Houve vítimas fatais – sete ao

todo – além de incontáveis prejuízos materiais e sociais a outras tantas. Equipamentos e

imóveis foram perdidos. Um caos tomou conta dos arredores de onde era executada a obra em

São Paulo.

Quanto ao trabalho do IPT, foi minuciosamente bem elaborado. Segundo o professor

André Assis, ao todo juntaram-se quase 3.000 páginas e um filme de 20 minutos. O IPT-SP

cumpriu os preceitos éticos que cabem ao profissional técnico, e para ilustrar citamos o tópico

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d), do parágrafo III – nas relações com os clientes, empregadores e colaboradores – do artigo

9° - dos deveres – :“atuar com imparcialidade e impessoalidade em atos arbitrais e periciais”.

Também cumpriu o tópico c), do parágrafo II – ante a profissão – do artigo 10° – das

condutas vedadas – “omitir ou ocultar fato de seu conhecimento que transgrida à éticaprofissional”. Tudo que foi apurado, foi documentado. Assim o prof. Assis afirma:

“Desde o início do trabalho, tínhamos o propósito claro de não deixar a sociedade sem

respostas. Queríamos responder a todas as principais dúvidas e indagações sobre o acidente (. ..)

Levantamos todos os principais questionamentos públicos em relação ao acidente (...) a

modalidade contratual, a qualidade do material, da solda, enfim, tudo aquilo que saiu na

imprensa naquela época, além de outras dúvidas técnicas.” (e-ABMS, conforme ASSIS, 2008,

p.5)

Concluindo sobre as análises feitas com o relatório, André Assis afirma que “acidenteem túnel não é mal exclusivo de país pobre ou em desenvolvimento”. Ele cita catástrofes

acontecidas em países mais influentes como Inglaterra, por exemplo, (no Aeroporto de

Heatrow) e França (queda de estruturas no teto do Aeroporto Charles de Gaule), também

Coréia e Cingapura. “Os acidentes acontecem hoje em todo lugar. Por isso, ninguém vai olhar

para nós e dizer: ‘a engenharia brasileira está uma porcaria”.

Com o mesmo tom consciente e positivo, Paulo Helene, engenheiro civil, presidente

do Instituto Brasileiro de Concreto (IBRACON), professor universitário, afirma:

“Falha zero é impossível e inviável economicamente. Reduzir riscos de falhas e aprendizado

permanente é obrigação da Engenharia. Cabe agora aprender a lição e daqui pra frente

fortalecer as ações naquela fase do processo que mais falhou. (CREA-MT, conforme

HELENE, 2007\2008)

André Assis é otimista quanto aos resultados, vê ganhos de amplitude mundial.

“O mundo técnico está muitíssimo interessado em saber onde houve o erro neste caso para corrigir. Até o

final deste ano, o Relatório IPT deverá traduzido para o inglês e divulgado à comunidade internacional.

Acredito que o documento se transformará num marco para a engenharia tuneleira (...)” (e-ABMS,

conforme ASSIS, 2008, p.9)

Também com olhar otimista, porém pensando mais no imediatismo, Helene afirma

que “conhecer o diagnóstico permitirá também saber se há hoje uma deficiência crônica e

patológica de forma de contratação, de insuficiente formação universitária, de incorreta

legislação profissional, de ausência de normalização e/ou outras que precisem sofrer uma

revisão e evolução” (CREA-MT, por HELENE 2007\2008)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o resultado positivo e principalmente negativo do trabalho de um

engenheiro influi significativamente na vida de pessoas pouco envolvidas com suas ações

profissionais, mas sim com o que virá no final delas. Vale apena despreocupar-se com o queestá ao redor? Acelerar processos, burlar etapas e desconsiderar normas pré- estabelecidas?

São vidas que estiveram em jogo. Famílias traumatizadas. E no final, o elemento técnico a ser

construído foi finalmente construído – a Estação Pinheiro foi inaugurada – no entanto sete

vidas se perderam. O engenheiro lida com forças muito intensas e a condução de seu trabalho

não pode se pautar pura e simplesmente por observações técnicas – o social tem que estar

envolvido – Na verdade, o agir ético é a fusão de conhecimentos técnicos com respeito a

todos os envolvidos direta e indiretamente.

REFERENCIAS

SITE G1, reportagem “Após 4 anos, justiça decide se réus da cratera do Metrô vão a

 julgamento”, disponível em: <http://g1.globo.com/saopaulo/noticia/2011/09/apos-4-anos-

 justica-decide-se-reus-da-cratera-do-metro-vao-julgamento.html> Acesso em 04 out 2011.

RESOLUÇÃO N° 1.002, de 26 de novembro de 2002; Código de Ética da

Engenharia; disponível em:

<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAADqAAB/resolucao-1002-02> CREMASCO, Marco Aurélio. A responsabilidade social na formação de engenheiros.

Disponível em:

<http://www.demec.ufmg.br/ema863/Pr%E1tica%20Cient%EDfica%20na%20Engenharia.pdf 

>. Acesso em: 04 out. 2011.

CORTEZ, Marcio Fonte-Boa; ANDRADE, Marcio de Andrade, Prática científica na

engenharia, 2002, Universidade Federal de Minas Gerais, disponível:

<ftp://www.demec.ufmg.br/ema863/Pr%E1tica%20Cient%EDfica%20na%20Engenharia.pdf>

Acesso em 04 out. 2011.

REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MECÂNICA DOS SOLOS E

ENGENHARIA GEOTÉCNICA – e-ABMS, Ed. n° 26, 30 jun 2008. disponível em:

<http://www.ie.org.br/site/ieadm/arquivos/arqnot812.pdf >

HELENE, Paulo, artigo escrito em pagina eletrônica do CREA-MT, disponível em:

<http://www.crea-mt.org.br/palavraprofissional.asp?id=101> Acesso em 04 out 2011.

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RELATÓRIO TÉCNICO DO INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO

ESTADODE SÃO PAULO (IPT) n° 99 642-205 - 1\384, sobre investigação do colapso no

metrô da Estação Pinheiros, 2008.

FONTES CONSULTADAS

51° CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO (IBRACON 2009). Disponível em:

<http://www.ibracon.org.br/News/51cbc/51CBC_jun09_2.htm>

REPORTAGEM COMO EVITAR OS DANOS CAUDADOS POR DESASTRES

NATURAIS, site Massa Cinzenta, 26 jan 2010, disponível em:

<http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/como-evitar-os-danos-causados-

por-desastres-naturais/>

RESOLUÇÃO 1.004, de junho de 2003, disponível em:<http://www.confea.org.br/media/Res_1004.pdf>