reescrevendo o aprendizado - … · hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de...

23
ED. 06 - 2014 as novas tecnologias têm muito a nos ensinar REESCREVENDO O APRENDIZADO:

Upload: dangthuy

Post on 09-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

ED. 05 - 2014ED. 06 - 2014

as novas tecnologias têm muito a nos ensinar

REESCREVENDO O APRENDIZADO:

Page 2: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Rubem Azevedo Alves (1933 - 2014) foi psicanalista, educador e escritor brasileiro. Autor de livros educacionais, é considerado um dos maiores pedagogos brasileiros de todos os tempos.

A revista Pense foi projetada para que você possa refletir sobre o mundo atual em diversas plataformas. Baixe nosso aplicativo IBM Pense na App Store ou no Google Play, acesse a comu-nidade da revista no Connections, pelo link bit.ly/ibmpense, para compartilhar sua opinião com outros IBMistas, ou siga o nosso blog: http://revistapense.wordpress.com.

EXPLORE

“Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.”

Rubem Alves

Page 3: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Arte 3D Conheça o trabalho do polonês Pawel Nolbert, renomado artista gráfico que explora as fronteiras de cores e formas. Em uma de suas séries, que usamos para ilustrar esta edição, ele trabalhou com números e letras em pinturas tridimensionais.

Os novos rumos da educação“Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.” A frase é de um dos maiores educadores brasileiros, Paulo Freire (1921-1997). Ele fala sobre essa percepção recente de que aprender não é linear e acumulativo. Não basta simplesmente sentar-se em uma carteira durante vários anos, passar no vestibular e fazer uma faculdade para ingressar no mercado de trabalho. Aprender, hoje, tem muito mais a ver com expandir sua visão de mundo, racio-cinar de uma forma mais inteligente, trocar experiências e utilizar bem os recursos à nossa volta. A tecnologia entra nesse processo como uma chave para muitas portas. No final das contas, é o aluno quem vai decidir o caminho.

E são muitos caminhos a escolher. O tablet que tem o conteúdo da aula também tem a rede social que distrai. A aula que você perdeu hoje estará disponível em vídeo na internet amanhã, então... Por que ir à escola mesmo? Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios feitos especialmente para turbinar o seu aprendizado e mantê-lo motivado. E que tal aprender diretamente de um computador, fazendo perguntas e recebendo as respostas?

Essas questões, cada vez mais latentes, são resultado da união inevitável e transformadora da tecnologia com a educação. Embora a maior parte das instituições de ensino ainda esteja dando os primeiros passos nesse mundo digital, experimentando caminhos com o apoio da iniciativa privada e pública, já podemos concluir que a educação está mudando para me-lhor, muito melhor. E esse novo universo de possibilidades só nos dá a certeza de que, num mundo onde tudo evolui tão rápido, todos ainda temos muito a aprender. Portanto, sente-se confortavelmente; a aula vai começar!

Seja bem-vindo. Conheça, explore, reflita: pense!

#06

5

Quando você pensa em educação, você pensa em li-vros, lousa com giz, enciclopédia? Ou você já pensa em slides interativos, tablets e sites de busca? Muito se tem discutido sobre o inevitável casamento da educa-ção com a tecnologia. Mas a discussão não é apenas sobre o que o aluno usa na escola: se um computador ou um caderno. É bem mais do que isso.

Com apenas um dispositivo móvel e uma conexão wi-fi, podemos ter acesso aos melhores cursos das melhores universidades do mundo – muitas vezes sem pagar por isso. A tecnologia torna um mundo de conhecimentos acessível a qualquer um de nós, de qualquer parte do planeta. Por outro lado, com a tecnologia conectando nossas vidas a tudo o que há em volta, vivemos a era do excesso de informação, que pode distrair os alunos do foco da aula, do aprendizado. Mas é fato que, en-quanto os adultos sofrem para acompanhar o ritmo, os mais jovens estão pensando e assimilando uma quanti-dade infinita de informações de maneira diferente.

Nesse cenário, há outras transformações em jogo, como novas ferramentas ingressando no dia a dia do aluno, mudança do papel do professor - que passa a atuar como um facilitador -, a aquisição de conheci-mento fora dos moldes da escola e a necessidade de atualização das grades curriculares para a realidade dos nossos tempos. E esta nova escola, sem fronteiras, es-tá se fundindo a empresas como a IBM, que pensaram em um novo modelo de ensino no qual o conhecimento adquirido em anos de negócio vira matéria obrigató-ria. Dessa forma, o aluno sai mais preparado para o mercado de trabalho. Ou seja, é a educação mudando também a dinâmica de contratação de profissionais. E isso está apenas começando.

Nesta edição da Pense, vamos falar sobre como a educação vai acompanhar o ritmo da evolução da tecnologia e observar a revolução pela qual os sis-temas de aprendizado estão passando – e que não tem data para acabar. Sabemos que a educação é a base da sociedade e que o potencial da tecno-logia nesse campo é enorme. Estou certo de que os alunos só têm a ganhar com este casamento. Abraços,Rodrigo Kede

O que a tecnologia ensina

Rodrigo Kede Presidente da IBM Brasil

Insi

ght

nesta edição

Page 4: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

7

EntrevistaO coordenador do Grupo de Depen-dências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da USP, Doutor Cristiano Nabuco, fala sobre o impacto da tecnologia na vida e no aprendizado de crianças e adolescentes

26

28

6 OlharesQuem colaborou nesta edição

8 Nossa CaraWalter Espírito Santo é um professor dentro da IBM

10 HorizontesUm tablet pode mudar a vida de uma criança. Conheça a história de Rogério Andrade, IBMista, pai e professor

26 CrônicaPor que a escola se tornou um ambiente de desinteresse para os alunos e como virar esse jogo

36 BastidoresParceiros da educação: conheça o trabalho da IBM junto a universidades e institutos de ensino do Brasil

38 Top 5As principais tendências de tecnologia que vão transformar o ensino nos próximos anos

40 TechmobLeve a educação no bolso: os aplicativos mais usados pelos IBMistas para aprender a qualquer hora, em qualquer lugar

42 Ponto finalA inspiradora história de André Melo, jovem acreano autodidata em inglês, que hoje estuda nos Estados Unidos

CapaOs novos rumos da educação: com a tecnologia como aliada em diversas frentes, o que o aluno do futuro deve esperar?

MemóriaAprender não tem idade. Conheça Ivanete e José Cláudio Palumbo, um casal que, depois dos 70, mer-gulhou no mundo da tecnologia

14 a 23

www.ibm.com/br

[email protected]

A revista Pense é uma publicação trimestral da IBM Brasil

IBM Brasil:

Presidente: Rodrigo Kede

Diretor de Marketing e Comunicação: Mauro Segura

Edição: Flávia Apocalypse - [email protected] e Giulia De Marchi - [email protected]

Comunicação Invitro:

Publisher: Bruno Chaves

Coordenação de Atendimento: Carla Uyara

Atendimento: Simone Vargas

Editora e Repórter: Daniela Varanda e Flávia Pegorin

Jornalista Responsável: Daniela Varanda

Projeto Editorial: Comunicação Invitro

Projeto Gráfico: Maysa Simão

Designer Responsável: Maysa Simão

Designers: Ladylaine Machado, Murillo Prestes e Rogério Chagas

Ilustração: Caio Lessa

Fotografias: Caio Kenji e Daniela Toviansky

Editora Digital: Comunicação Invitro

Revisão: Lis Silva Hall

Gráfica: Igil

Tiragem: 18.000 exemplares

Mantenha o planeta limpo

EXPEDIENTE #06ANO 2 - NOVEMBRO ‘14

Esta edição contou com os pontos de vista de:

1 2 1. Rogério AndradeO IBMista descobriu na tecnologia uma maneira de acelerar o aprendizado de suas filhas.

2. Isadora FaberA autora da página “Diário de Classe”, no Facebook, fala sobre a educação que os jovens querem.

3. André MeloProva de que a educação abre muitas portas, André conta sua trajetória de Rio Branco a Universidade de Yale.

3

Artista de CapaConheça mais sobre o trabalho do artista e designer gráfico Pawel Nolbert, acesse www.nolbert.com

SELO FSC

Page 5: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

9

Nome:Walter Espírito Santo Profissão:Administrator de EmpresasCargo: Facilitador de Sales Learning Local:IBM Rio de Janeiro

Compartilhar experiências faz parte da rotina de Walter Espírito Santo. Também pu-dera. Há 38 anos na IBM, já passou por mais de uma dezena de áreas. “Costumo dizer que tive 12 empre-gos sem precisar trocar o crachá”, brinca o IBMista que, em 2008, decidiu que era hora de se dedicar a transmitir o conhecimen-to adquirido durante todo esse tempo. Naquele ano, tornou-se parte do time de Learning da empresa.

Desde então, Walter atua como professor em cursos para o time de vendas da companhia e para os geren-tes. A área também fornece treinamentos técnicos, como gerenciamento de projetos e arquitetura. “Aqui na IBM, dizemos que somos facilita-dores, não apenas orienta-dores”, comenta Walter, que considera a atualização fun-damental para sua atividade.

Mesmo com a rotina frenética de treinamentos e viagens, já que muitas das aulas são ministradas no exterior, Wal-ter garante que arranja tem-po para se dedicar à própria educação. “O estudo é funda-mental, porque a velocidade das mudanças, hoje em dia, é muito grande.” A a experiên-cia também conta bastante. “A turma gosta muito de ouvir fatos vivenciados; é gratifi-cante quando podemos con-tar histórias”, completa.

foto

Dan

iela

Tov

ians

ky

Nos

sa C

ara

Saiba mais sobre o trabalho de Walter lendo a Pense no seu tablet

Page 6: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Um tablet na mão e muita dedicação

Rogério Carneiro de Andrade é especialista em tecnologia na IBM e professor em casa. Ele conta à Pense como usa as tecnologias do dia a dia para acelerar o desenvolvimento de suas filhas

Texto Rogério Andrade Foto Daniela Toviansky

Posso dizer que sou uma pessoa bastante curiosa. E a IBM sempre me permitiu entrar em contato com o que é novo. Tive a felicidade de fazer parte de times vencedo-res, participando de treinamentos cheios de novidades, o que casa-va muito bem como o fato de eu acreditar muito na construção de um futuro brilhante por meio da educação, do aprendizado. Educar significa mostrar uma série de pos-

sibilidades para se desempenhar vários papéis, seja como filho, ma-rido, amigo, pai ou profissional.

Minha jornada como IBMista teve início em 2007, em Hor-tolândia. Baseado em minha ad-miração pela corporação, pela história de transformação da em-presa no mundo e sua colabora-ção em diversas áreas do conhe-cimento, comecei a me informar

sobre suas áreas técnicas com meu irmão Renato (também IBMis-ta), que me apresentou à área de servidores Intel. Passei a estudar por conta própria as tecnologias da Microsoft, Citrix, Vmware e conceitos básicos de ITIL. Minha impressão daquele ambiente foi a melhor possível: um local com pessoas de formações diversas, imensos desafios e as ferramentas certas para superá-los.

horizontes

11

Hor

izon

tes Veja mais fotos e dicas de aplicativos para

trabalhar o desenvolvimento de crianças autistas lendo a Pense no seu tablet

Rogério e as gêmeas Julia e Elis: diversão e

aprendizado

Page 7: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Rogério Carneiro de Andrade tem 36 anos, é casado com Noeli, professora e e nfermeira, e é pai das gêmeas Julia e Elis.

IBMista desde 2007, atualmente trabalha como consultor de segurança e conformidade na área de auditorias em GTS, Global Technology Services. Já foi cirurgião-dentista e professor assistente em cursos de especialização em cirurgia e implantodontia.

A tecnologia aliada à educação Mudamos para Sorocaba, minha cida-de natal, onde há bons recursos para terapias e integração familiar. A IBM me apoiou durante todo esse proces-so, com a aprovação do home office oficial. Para desenvolver as habilida-des de nossas filhas, os médicos nos recomendaram, logo no início, de 30 a 60 minutos por dia para atividades nos tablets, já que as crianças precisam desenvolver de maneira lúdica suas competências abstratas. Começamos a trabalhar com aplicativos que es-timulam a fala, com animais virtuais emitindo sons - dos mais básicos e engraçados até conversas envolvendo cores, formas e tipos diferentes de ali-mentos. Assim, elas tinham a chance de experimentar virtualmente uma centena de oportunidades para um desenvolvimento intenso, com a nos-sa participação conduzindo a ativida-de. As crianças têm uma plasticidade cerebral sem limites, adaptando-se muito rapidamente aos novos gadgets dentro de um ambiente favorável ao desenvolvimento. No caso dos tablets , a identificação foi imediata.

A maior parte do dia era dedicada a atividades lúdicas, com brinquedos e muita atividade física, para estimular corpo e alma. Quando a Julia e a Elis sentam para brincar após o almoço, é realmente uma experiência mágica, um momento de conhecerem ou-tros mundos. Também no tablet, elas aprenderam a brincar com bonecas ao verem crianças as vestindo em outros países ou outras cidades do Brasil. Percebo que, se não fosse pela tecno-logia, elas teriam dificuldade em fan-tasiar, criar histórias e interagir com objetos virtuais e reais. Minhas filhas fazem parte de uma revolução que facilita o aprendizado, quando bem direcionado e com acompanhamento adequado. São ferramentas que pavi-mentam a estrada do saber.

A evoluçãoJulia e Elis frequentam uma escola regular em Sorocaba, onde encontra-mos uma equipe engajada e amorosa, que as incluiu em todas as atividades desde o início, pois o contato social e a criação de vínculos é de extrema importância, além de muito divertida. Semanalmente, elas ainda frequentam

fonoaudiólogas, psicopedagogas e te-rapia ocupacional.

Vemos claramente que, a cada mês, elas evoluem, e cada passo é comemorado com profunda gratidão, pois essa época maravilhosa em que vivemos, com tec-nologia acessível, é realmente fantásti-ca. Por meio da educação, conseguimos tornar ainda mais florido o caminho de quem amamos, e o futuro do Brasil cer-tamente será mais brilhante.

Agora, em 2014, as meninas comple-tam 5 anos de idade. Ambas estão sen-do alfabetizadas, já escrevem os nomes, adoram desenhar, dançar e cantar, têm amiguinhos e são queridas nos locais que frequentam. Cada nova palavrinha que aprendem é uma celebração. Aliás, elas adoram dizer “Eu consigo”. E nós temos certeza disso.

13

horizontes

Da formação à transformação Antes de me dedicar à tecnologia, me formei em Odontologia, em 2001. Na época, tive a satisfação de contribuir para uma centena de casos de reabilita-ções orais, reconstruções ósseas e implantodontia - uso de implantes artifi-ciais em cirurgias. Além disso, fui convidado a apresentar inúmeras palestras sobre prevenção de câncer bucal, noções de higiene e promoção da saúde em comunidades carentes. Com esse contato com o público, ficou nítido em meu coração o poder transformador da educação.

Paralelamente, comecei a atuar como professor de inglês. Nesse universo, percebi que o mundo da educação estava cada vez mais dinâmico e inte-ressante, pois cada aula deveria ser uma miniapresentação teatral para o envolvimento dos alunos.

E da transformação à revolução Em 2009, tive a maravilhosa notícia de que seria pai. Minha esposa, Noeli, e eu ficamos duplamente animados ao saber que teríamos as gêmeas Julia e Elis – oportunidade perfeita para colocar em prática toda a preparação, dedicação e amor que aprendi na área da educação.

No ano seguinte, tive uma oportunidade fantástica na IBM: fui convidado a ingressar na área que responde pelas auditorias em GTS (Global Technology Services) , o time de Business Compliance, o que representava um horizonte para trocar a área técnica em servidores pela administrativa. Tive a oportunidade, pela primeira vez, de participar do programa de home office da companhia, pois, com as meninas chegando aos 2 anos de idade, eu precisava trabalhar um pouco de casa para ajudar a Noeli a estimulá-las o máximo possível.

Tudo estava perfeito, porém, nessa época, percebemos que nossas filhas estavam com dificuldade na comunicação verbal, então as levamos a uma neuropediatra, que nos apresentou, de forma muito clara, o diagnóstico de transtorno global do desenvolvimento em grau leve. O transtorno faz parte do espectro de autismo e, felizmente, no caso delas, o quadro não demonstrava alteração genética ou dificul-dade de mobilidade. Mas é claro que, como pai, confesso que gostaria que minhas filhas não tivessem de atravessar nenhuma estrada com pedras. Ao mesmo tempo, tive a consciência de que os tropeços no caminho ajudam a formar características positivas, como senso de justiça, confiança e capacidade de compartilhar.

Nossa preocupação inicial foi quanto aos estímulos necessários e à nossa com-preensão sobre elas - quando ainda eram muito pequenas, com a comunicação limitada a gestos, era necessária uma ginástica física e mental para entendermos seus diversos pedidos. Apesar do susto inicial (e realmente existe um período para se acostumar com a ideia de que deveríamos ser pais ainda mais presentes), nosso esforço tinha a finalidade de que ambas participassem de todas as atividades so-ciais voltadas a qualquer criança da idade delas. Minha esposa e eu nos enchemos de otimismo e já saímos da sala da médica com indicação de terapeutas, fonoaudi-ólogas e alternativas para colaborar no desenvolvimento das duas, e um dos astros nesse tratamento seria o tablet e seus maravilhosos aplicativos.

Page 8: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Cap

a

15

Page 9: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Desde o dia em que, com uma conexão discada e um computador, você percebeu que não precisava mais de uma enciclopédia ou do seu professor para saber sobre algo novo, a educação nunca mais foi a mesma. No momento em que vivemos, tanto a maneira como aprendemos como os diversos sistemas de ensino ao redor do mundo estão se transformando. E essa transformação tem uma mãozinha da tecnologia - uma enorme e decisiva mãozinha. Enquanto adultos se recordam de histórias sobre como faziam para decorar a tabuada ou sobre a pressa para anotar o que estava na lousa antes de o professor apagar o conteúdo, seus filhos enfrentam o desafio de usar dispositivos móveis como auxílio no estudo mantendo o foco na aula além de ter que administrar uma agenda de aulas presenciais e virtuais. Já seus netos, então, terão um futuro inteiro para continuar reescrevendo os modelos de ensino, a partir de novos estímulos e motivações num mundo cada vez mais conectado, no qual o acesso ao conhecimento é praticamente imediato.

Antes da internet, a educação era simples como dois e dois são quatro: a escola era a fornecedora de conteúdo, baseado em livros didáticos, enciclopédias e periódicos. “Com a web, a transmissão unidirecional de conhecimento deixa de fazer sentido, pois o volume de informações passou a ser muito grande, sendo impossível a qualquer professor explorar tudo o que surge sobre um determinado tema”, comenta a diretora do Instituto Crescer para a Cidadania, Luciana Allan. Ela e outros especialistas na área educacional vêm procurando entender o que acontece quando as novas tecnologias tornam-se o passaporte para a viagem do aprendizado, quando já não há mais necessariamente uma mediação humana entre o aluno e o conhecimento que ele deseja adquirir.

O que está mudando, afinal? Como os jovens de hoje, que já nascem conectados a pessoas e informações, vão aprender melhor no futuro? Como essas mudanças no perfil de aprendizado afetam o mercado de trabalho, criando novos profissionais, novos líderes? As escolas estão preparadas para tirar todo o potencial desse novo aluno? Nesse processo ainda em transição, a resposta não é tão simples: muitas alternativas podem estar corretas.

capa

17

No aplicativo da Pense, veja mais exemplos de como a tecnologia está transformando a educação

Por Daniela VarandaArtista Pawel Nolbert

O ensino está em revolução – e escolas, professores e alunos agora reveem seus papéis, conteúdos e formatos, não apenas para acompanhar os avanços da vida moderna, mas para reescrever as bases da educação

ensina uma lição

A tecnologia

Page 10: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

19

vas tecnologias, ele propôs a seus alunos que mapeassem o entorno da escola com a ajuda do Google Maps. “Não houve nenhum re-

sultado significativo dessa ma-neira, pois todos executaram a tarefa de forma automática. Mas, no momento em que os orientei a sair na rua e obser-var o bairro detalhadamente,

acompanhados de um GPS, e só depois executar o mape-amento pelo site, aí sim pude notar o envolvimento dos alu-nos”, conta o jovem profes-

sor, que acredita que a tecno-logia só é realmente relevante

se utilizada com um propósito. “Precisamos criar um cultura di-gital em que o aluno aprenda a olhar para o outro, a produzir em coautoria. Isso é muito maior do que simplesmente ter um tablet em uma sala de aula na qual as cadei-ras continuam enfileiradas e a es-trutura não é flexível”, desabafa.

A IBM vem há muito tempo pen-sando em como introduzir a tec-nologia com valor dentro do con-texto escolar. Por meio da área de Cidadania Corporativa, a em-presa leva a escolas de todo o mundo projetos como o Reading Companion, um software desen-volvido por pesquisadores da IBM em parceria com escolas e ONGs do meio, que usa tecno-logia de reconhecimento de fala para ensinar jovens e adultos a ler em inglês. “Outra maneira que a IBM está levando tecnologia para as escolas é o projeto Teacher’s TryScience, um site com ativida-des e recursos para professores engajarem seus alunos em temas

de ciência, despertando neles o interesse pela inovação que vai formar os futuros profissionais de tecnologia do futuro”, diz Al-cely Barroso, executiva de Cida-dania Corporativa da IBM Brasil. Por enquanto, o TryScience está disponível em inglês e espanhol.

Mas o que querem, afinal, os alunos? O que esperam absor-ver dentro de uma classe? Para Chaves, a forma de aprender não mudou, mas a capacidade crítica do aluno, sim. “A criança continua aprendendo da mesma maneira e, principalmente, já ab-sorveu muito do que realmente interessa a ela antes de chegar à escola – falar, andar, nadar, andar de bicicleta. A diferença é que agora ela tem muito mais recursos – como a internet, a TV a cabo e o tablet –, o que a tor-na também mais capaz de avaliar se aquela informação que recebe em classe é do seu interesse ou não”, comenta.

Já o nosso cérebro não é mais o mesmo, afinal, atualmente ele recebe uma quantidade de es-tímulos inf initamente maior do que no passado, quando está-vamos acostumados a real izar apenas uma tarefa por vez, nos comunicando basicamente com aqueles que estivessem em nos-so campo de visão. O “novo cé-rebro” pode avançar muito mais – em diversas direções. E as escolas ainda estão estudando a melhor maneira de manter os alunos interessados e motivados para competir com essa avalan-che de estímulos.

capa

“A aprendizagem é o processo por meio do qual nos tornamos capazes de adquirir capacidades, compe-tências e habilidades observando o outro, tentan-do, recebendo feedback e aperfeiçoando a prática desde que saímos do berço”, define o professor na área de filosofia e consultor de educação Edu-ardo Chaves. Se aprender é mesmo um movimento ativo, aquela antiga via de mão única – que consistia simplesmente em receber informações do professor – vem ganhando cada vez mais pontes, bifurcações e re-tornos. Há espaço para que o estudante conteste as ideias do educador e, em contrapartida, o ensine tam-bém. “Se na internet não há hierarquias, não faz sentido tê-las dentro de uma sala de aula”, afirma o jornalista e professor Caio Dib, autor do livro Caindo no Brasil, que mapeou iniciativas inovadoras na educação.

A tecnologia é certamente uma das grandes responsá-veis por essa nova forma de repensar o ensino, já que permitiu o acesso à informação de uma maneira demo-crática, ampliando o alcance do conhecimento e fazen-do com que crianças, jovens e adultos desenvolvessem novas habilidades e maneiras de aprender ao derrubar qualquer barreira entre quem ensina e quem recebe o conteúdo. O pesquisador indiano Sugata Mitra, profes-sor de Tecnologia Educacional da Newcastle University, na Inglaterra, quis testar os limites do autoaprendiza-do com uma experiência social: colocou um compu-tador no meio de uma favela indiana sem explicações ou alguém para ajudar. A máquina tinha monitoramento remoto e estava equipada com teclado, mouse e um mecanismo de busca na web. O resultado foi surpre-endente: os jovens da comunidade surfaram na rede e ensinaram uns aos outros a operar aquele aparelho, até mesmo a lidar com o inglês, uma língua desconhecida. Esse estudo faz parte da teoria de Mitra de que a auto-educação será muito mais relevante no futuro do que a presença de um professor, que assumirá cada vez mais a função de propor atividades e questionamentos. De resto, o aluno corre atrás.

Mas não basta apenas adotar a tecnolo-gia na sala de aula, é necessário pensar na melhor maneira de trabalhar com ela. Caio Dib sentiu isso na pele. Com o objetivo de realizar uma atividade que envolvesse no-

Mestres de nós mesmos

Page 11: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

capa

A frase de Paulo Freire é quase uma cola do que hoje vem sendo considerado o “aluno do futuro”. Não se tra-ta de um jovem com movimentos biônicos e ausência de sentimentos. Pelo contrário. Esse estudante é capaz de pensar coletivamente, gerando uma compreensão colaborativa. “É como na vida: educamos a criança por meio da interação, da discussão e da negociação. Por isso, sempre vai haver figuras que exerçam o papel de mentores, de coaches, de instigadores da aprendiza-gem”, esclarece Chaves.

O aluno do futuro também dará origem ao profissional do novo século. E, enquanto muitas teorias apontam para o fato de que hoje o jovem possui uma capacidade muito menor de concentração – “É que a possibilida-de de distração é sempre tentadora”, brinca Caio Dib –, outras já conseguem prever características bastante positivas que deverão fazer parte da personalidade dos novos especialistas munidos de ferramentas tecnológi-cas. “São as chamadas competências do século XXI: as habilidades socioemocionais”, define Rafael Parente. Resiliência, capacidade de se relacionar, empreendedo-rismo e habilidade para a comunicação são alguns des-ses atributos. “Trata-se de qualidades humanas, que não têm mais a ver só com o que o sujeito sabe, mas com a forma como ele se comporta”, diz Dimenstein.

“Ninguém educa ninguém, tampouco a gente se educa sozinho.”

O desafio da atualidadeAtualização definitivamente é palavra de ordem entre os especialistas no contexto em que estamos inse-ridos. “A informação aumentou em volume e é atu-alizada constantemente. Hoje a possibilidade que a internet nos traz de interação, a qualquer momen-to e de qualquer lugar, e colaboração, por meio de comunidades virtuais, faz com que pesquisadores, cientistas e especialistas de diferentes áreas troquem conhecimentos permanentemente, o que tem colabo-rado para que sejam feitas novas descobertas”, diz Luciana Allan.

Chaves concorda: “A tecnologia expande, aprofunda e enriquece as nossas possibilidades de aprender em relação ao que existia antes. Ela torna tudo disponí-vel, mas as pessoas precisam continuar buscando a informação e continuar desenvolvendo ambientes que gerem incentivo ao seu uso, que não restrinjam essa prática”, comenta. Está aí um desafio a ser combati-do dentro da realidade brasileira. Políticas públicas e programas sociais têm sido desenvolvidos por dife-rentes esferas do poder para superar os muros que ainda impedem o acesso das crianças e dos adoles-centes a uma educação de qualidade. Porém, pela dificuldade de articular essas políticas públicas num país tão vasto e complexo, há muito tempo a iniciativa privada investe na educação como parte da respon-sabilidade social corporativa.

A IBM é uma das empresas que escolheram se en-volver na melhoria do acesso ao conhecimento, de-senvolvendo projetos que ampliam a capacitação dos futuros profissionais de tecnologia. A P-TECH (Pa-thways in Technology Early College High Schools) é um exemplo disso. Trata-se de um novo modelo de ensino – desenvolvido pela IBM em parceria com o governo dos Estados Unidos – que visa a direcionar melhor a formação do aluno para o ingresso no mer-cado. O conceito deu origem a uma escola piloto em Nova Iorque, em 2011, voltada para a comunidade mais carente, mas com grande interesse em tecnolo-gia. “Empregos que envolvem as disciplinas de ciên-cias, tecnologia, engenharia e matemática costumam remunerar melhor, então a P-TECH investe nesse re-torno a quem possui menos recursos”, explica Alcely Barroso. O modelo já está presente em três escolas nos EUA, e tem potencial para ser expandido para outras partes do mundo, contando-se com um enten-dimento prévio daquilo de que a região necessita e o que o seu governo pode oferecer.

21

Enquanto o modelo de ensino de professor à frente e alunos enfileirados não deve perder espaço, a boa notícia é que muitos especialistas estão investindo em novas maneiras de transmitir conteúdo aos jovens, gerando mais interesse e motivação. “A tecnologia tem nos conduzido a uma disseminação do conhecimento, a uma interatividade que deu poder ao ser humano de um jeito comparável a grandes re-voluções, como a máquina a vapor e a eletricidade”, crava o jornalista e educador Gilberto Dimenstein, idealizador da plataforma Catraca Livre, que nasceu com o objetivo de ser um projeto educacional por vias alternativas, entregando um aces-

so amplo à cultura e ao conhecimento fora da sala de aula. “Nós acreditamos que é a partir da diversidade de experiências como ir ao cinema e ver uma exposição que o jovem realmente aprende e desenvolve seu senso crítico”, completa Lia Roitburd, diretora da plataforma.

A iniciativa de Dimenstein em um novo modelo de ensino se justifica. “A escola que temos hoje é inadequada à forma de assimilação que a criança carrega consigo naturalmente. O conteúdo que querem que ela aprenda não tem nenhuma relação com o que ela quer absorver ou planeja ser no futuro. Por que tanta matemática, se o aluno deseja ser um escritor? Assim o colégio acaba limitando horizontes”, pontua Eduardo Chaves.

Nada disso significa que a escola ou o professor deixarão de existir, e sim que se deve pensar em novos conteúdos e novas funções para eles. “Com a quantidade de informações a que temos acesso hoje, inclusive passando de um modelo de internet conteudista para outro totalmente

interativo, é preciso oferecer uma mediação. Esse é o novo papel do pro-fessor”, sugere Luciana Allan. A própria organização oferece capacitação

aos docentes por meio do projeto Crescer em Rede, que possibilita aos pro-fessores estudar e entender a concepção contemporânea de educação e a se aprofundar nas tecnologias em ascensão.

O coordenador do programa Global Education Leaders (Gelp) no Brasil – comunidade de formadores de opinião voltada para o

conhecimento e as habilidades do estudante do século XXI –, Ra fael Parente, também levanta a bandeira de uma formação diferenciada para o docente. “Em 2050, os jovens deverão ter no bolso dispositivos móveis com mais capacidade do que todos os cérebros do planeta juntos. Se queremos que os professores entendam que existe um novo tempo na educa-ção, os cursos de formação não podem ser tradicionais”, su-gere o educador. Para ele, as universidades e especializações precisam estar mais próximas de inovações e de novos pen-samentos que já fazem parte do dia a dia dos alunos, como o design thinking (a ampliação de perspectivas para abordagem

de problemas), as plataformas adaptativas (com softwares que propõem atividades di-ferentes para cada tipo de aluno) e a gamifi-cação (que utiliza características típicas dos games como incentivo à assimilação, preparando os professores para reverem as suas práticas). “Eles precisam traba-

lhar como arquitetos da aprendizagem”, completa Parente.

Revisão geral

Page 12: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

“A tecnologia tem levado a uma disseminação do conhecimento,

a uma interatividade que deu poder ao ser humano de um jeito

comparável a grandes revoluções.”Gilberto Dimenstein

Fabio Gandour, cientista-chefe da Divisão de Pesquisas da IBM Brasil, diz não ter dúvidas de que a tecnologia vai realmente modificar todo o processo de educação e alterar substancial-mente seus resultados. “A tecnologia já evo-luiu o suficiente para permitir que as máquinas começassem a aprender. E aprender, nesse caso, significava apenas adquirir conhecimen-to. Agora, ao iniciarmos o que chamamos de era da computação cognitiva, acredita-se que o conhecimento poderá ser automaticamente transformado em saber”, diz Gandour. Ou seja, segundo ele, as máquinas vão além de simples repositórios de informação, elas passam a cru-zar dados e dar respostas. Resta saber se as novas gerações vão querer buscar soluções prontas sem opinar ou reagir, apenas consul-tando sistemas que entregam o conhecimento armazenado, ou se vão interagir com eles, pro-duzindo conteúdo diferenciado e usando pro-fessores como facilitadores nesse processo.

Enquanto a computação cognitiva não en-tra na sala de aula, boas ideias, inovações

e gente disposta a promover a transfor-mação do ensino não faltam. “Nunca se teve tanto acesso à informação e pessoas desenvolvendo formas de personalizá-la, criando ferramentas e a possibilidade de se utilizar softwares e computadores a favor do aprendizado. Somos todos gestores do conhecimento”, diz Dimenstein. O desafio agora? Assumir este papel e nossa respon-sabilidade no próprio aprendizado, em um mundo onde tempo e atenção são as mo-edas mais valiosas. “Temos de ser eternos estudantes, constantemente atualizados, sempre em busca de estar com gente que entenda mais do que nós, para estarmos suficientemente informados, nunca sozi-nhos”, orienta Eduardo Chaves. A tecnolo-gia já provou por A mais B que pode nos dar as ferramentas necessárias para que a educação seja mais democrática, mais inteligente e que faça mais sentido para o jovem de hoje. Para mudar, basta acredi-tar, botar a mão na massa e desbravar esse mundo de possibilidades.

A máquina do saber

capa

Salas de aula em construção – mas sem paredesSe pensarmos que 3,7 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos, no Brasil, estão fora da escola (segundo dados da Unicef), transfor-mar a educação parece mesmo uma utopia. “É difícil apostarmos no desen-volvimento de habilidades em professo-res e alunos para o aprimoramento do conhecimento sobre novas tecnologias quando, muitas vezes, as instituições brasileiras ainda sofrem com a falta de uma lousa e um giz”, alerta o gerente de conteúdo do Movimento Todos pela Educação, Ricardo Falzetta. Ele propõe que o professor mantenha uma atuali-zação constante e que as escolas invis-tam na qualidade de sua infraestrutura, a fim de receber os alunos em melhores condições. “Não podemos deixar que a tecnologia vire apenas mais um recurso qualquer no ensino”, completa.

Caio Dib, que rodou o Brasil procu-rando projetos que estivessem tra-balhando para transformar o ensino, encontrou bons exemplos por aqui. “Conheci projetos que usam novas ferramentas como maneira de empo-derar estudantes, como o EMITec, um programa da Secretaria de Educação da Bahia que estabeleceu um modelo de ensino médio promovido por aulas via satélite, que permite que mais de 15 mil estudantes de todo o estado aprendam ao vivo com professores diretamente de Salvador”, conta.

E há muitas instituições privadas aqui no Brasil que já entenderam o real sen-tido de utilizar a tecnologia com um propósito. A Escola Santi e o Dante Alighieri, ambos da capital paulista, são modelos de inovação que aplicam fer-ramentas digitais à rotina das aulas. O primeiro já utiliza a plataforma Moodle – ambiente virtual colaborativo de en-sino – para postar planos de estudo e potencializar aquilo que foi aprendido

em sala. Já no Dante, onde já se vê o uso de um tablet por aluno, há um for-te investimento no blended learning, ou seja, no recebimento das informações pela internet antes de a aula ser dada.

O blended learning, aliás, é uma forte tendência que a tecnologia trouxe para a educação, que pode ser vista nas várias plataformas virtuais que estão sendo desenvolvidas por uma educa-ção com mais qualidade, acessível a qualquer pessoa, em qualquer lugar. Um dos melhores exemplos disso é a Khan Academy, plataforma criada pelo americano Salman Khan com o objetivo de oferecer videoaulas gratui-tas de especialistas de todo o mundo, sobre vários temas, de uma forma leve e que facilite o aprendizado. A ideia surgiu de uma inicia-tiva pessoal de Salman de divulgar vídeos explicando matemática de maneira fácil e divertida em seu canal do YouTube. Mas o sucesso dos vídeos foi tão grande que ele criou a Khan Academy e hoje tem uma rede de espe-cialistas no mundo todo disseminando conheci-mento sobre ciências, programação, história, arte, economia e muitos outros assuntos, além da matemática.

Outra tendência é o ensino adaptativo, que consiste em personali-zar o estudo de acordo com o perfil de cada alu-no. No Brasil, quem tem inovado nesse conceito com ajuda da tecnologia é a empresa Geekie, ven-cedora do prêmio IBM

SmartCamp da América Latina 2013, dado a startups com ideias inovado-ras. Uma ferramenta desenvolvida por eles usa algoritmos para entender a melhor maneira de o estudante en-tender as matérias. A partir disso, os exercícios são montados para otimizar o aprendizado de acordo com as ca-racterísticas de cada aluno. Os profes-sores podem acompanhar o progres-so dos jovens, que são desafiados da maneira correta para continuarem engajados. Quando se une tecnologia e matemática em prol da educação, a soma é sempre positiva.

23

Page 13: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

A tecnologia nas escolas é uma forma mui-to eficiente de prender a atenção dos alunos, embora muitos professores ainda trabalhem apenas com um quadro-negro e um giz. Eles alegam que, apesar da chance de usar o computador ou o tablet em sala, têm medo de não dominar esses aparelhos como os jo-vens, correndo o risco de perder o controle da aula. Atualmente, o sistema de lousa e giz já não é o bastante para concorrer com as novas tecnologias, e, com a possibilidade de se ter um desses aparelhos em mãos, assistir a um professor apenas falando e escrevendo é realmente muito cansativo.

Muitas escolas ainda precisam se atualizar, prin-cipalmente as públicas. Eu me lembro de como eram as aulas no meu antigo colégio: sempre a mesma coisa e muito entediantes. Hoje, estudo em um colégio particular, onde temos lousas di-

gitais que auxiliam muito os professores a pas-sar vídeos e slides com o conteúdo das aulas. Alguns, inclusive, deixam atividades e gabaritos no site do colégio para os interessados, e ou-tros até criam músicas para ajudar os estudan-tes na compreensão da matéria. São iniciativas que, para mim, fazem toda a diferença.

A internet funciona como uma ótima ferra-menta de comunicação, inclusive na área da educação. Conheço alguns casos que se destacaram, na minha opinião, como o de uma professora que possui um blog em que posta fotos para dar os parabéns aos alunos com as notas mais altas, fazendo com que muitos se esforcem para ser destaque na pá-gina. Também conheci um professor que usa grupos de mensagens para enviar quizzes para os alunos aos finais de semana. Além desses exemplos, existem hoje vários sites de docentes que gravam videoaulas ou se co-nectam com os alunos, respondendo às suas perguntas na hora ou elaborando exercícios para treinamento, com acesso on-line.

O mais interessante da tecnologia atual é que você pode estudar em qualquer lugar, a qualquer hora. Basta se conectar à internet para acompanhar a informação que desejar. Se souber usar bem esse recurso, só será beneficiado, porque a rede nos permite ter acesso à comunicação, a notícias atualizadas e também a pesquisas e estudos. Admito que adoro ir até a biblioteca estudar e não gosto muito de ler obras literárias no computador, mas, sem dúvida, é muito mais fácil fazer uma pesquisa on-line do que procurar o mesmo conteúdo em várias publicações.

Em um dos eventos de que participei re-centemente, um palestrante abordava o assunto da tecnologia nas escolas, quando disse que “os professores são analógicos, enquanto os alunos são digitais”. É a mais pura realidade, porém, pelo bem da educa-ção, isso tem que mudar.

Na Pense para tablet, conheça um pouco mais sobre a ONG Isadora Faber e acesse sua página “Diário de Classe” no Facebook

Autora:

ISADORA FABER, 14, é estudante e autora da página “Diário de Classe”, no Facebook, que ganhou projeção ao relatar os problemas de sua escola e de outras escolas públicas no Brasil. Isadora acabou de transformar o projeto em livro (Diário de Classe - A Verdade, pela Editora Gutenberg) e fundou a ONG Isadora Faber, que tem o compromisso de vigiar escolas do Brasil e realizar projetos educacionais transformadores.

capa - crônica

Crô

nica Cap

aPor uma escola mais digitalA tecnologia já vem ocupando um espaço importante dentro das instituições de ensino no Brasil, mas ainda vivemos um confronto: os professores são analógicos e os alunos, digitais

Ilustrador Caio Lessa

25

Page 14: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

2727

Em busca do equilíbrio

Estamos sempre conectados. Do momento em que acordamos até a hora em que va-mos deitar, o celular nos acompanha, o computador fica ligado, o tablet está à mão. Tudo muito prático. Mas como essa onipresença da tecnologia em nossas vidas afeta a nossa forma de ver o mundo e, especialmente nas crianças, qual o seu impacto no aprendizado e na construção das relações sociais?

A Pense conversou com o coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria da USP, Doutor Cristiano Nabuco, psicólogo que recebe uma enorme demanda de casos de um dos novos males da vida moderna: a depen-dência de internet e celular. Ele fala sobre como a tecnologia é capaz de estimular o cérebro e sobre o impacto das ferramentas digitais no dia a dia do jovem, e deixa um alerta para pais e escolas: “A luz vermelha acende quando a criança deixa de realizar suas atividades cotidianas para preferir o universo virtual”.

Pense: Em se tratando de capacida-de de aprendizado, essa overdose de informações que a tecnologia trou-xe para o nosso cotidiano tem um efeito positivo ou negativo?

Cristiano Nabuco: O aluno está bem menos bem-educado hoje em dia, e não porque ele não assimi-le conhecimento, mas porque tem menos tolerância à frustração. O fato de a internet ser um modelo horizontal de relacionamento faz com que os jovens desconheçam os protocolos. Recentemente, fui en-trevistado por uma grande empresa de comunicação que havia contra-

tado cem estagiários, priorizando aqueles que viessem de boas univer-sidades, e o resultado foi um caos: eles se recusavam a fazer trabalhos, mandavam e-mails diretamente ao diretor-presidente… Isso desorga-niza os padrões sociais, criando um humor disfórico, ou seja, as pessoas não vivem seu próprio temperamen-to e encontram conforto na internet, onde a insubordinação é permitida. O aprendizado continua existin-do, mas o comportamento mudou muito. Tanto é que essa empresa foi obrigada a recorrer a profissionais menos gabaritados, mas com maior habilidade para se relacionar.

Como a vida excessivamente digital está interferindo no nosso

cérebro e no nosso aprendizado?Por Daniela Varanda

Imag

em d

e di

vulg

ação

Page 15: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

2929

ter o que chamamos, na psicologia, de “recrudescimento”, perdendo as habilidades de manejar emoções. Respondendo a sua pergunta, a criança de hoje, que já nasce ex-posta aos efeitos da tecnologia, não consegue modular a intensidade de seus sentimentos, tornando-se muito mais insubordinada.

Pense: Podemos afirmar que os jo-vens superconectados de hoje terão mais facilidade nos estudos futuros por conta da maior experiência para assimilar informações?

Cristiano Nabuco: Durante muitos anos, acreditava-se que as conexões cerebrais não se modificavam ao lon-go dos anos, mas agora já se sabe que, quanto mais a pessoa estimula sua mente, maior a sua intensidade para fazer essas conexões. O cérebro possui um fenômeno chamado neurogênese: a capacidade de ir se regenerando e se desenvolvendo. Com a estimulação do ambiente, também provocada pelo contato com as ferramentas digitais, o cérebro reage, mas ainda não se sabe do que esse estímulo é capaz. A tec-nologia gera uma capacidade maior de acelerar seu raciocínio: o indiví-duo se torna mais ágil na assimilação de dados, porém não necessariamente mais inteligente.

Pense: Então, quais foram as consequências do uso massivo de tecnologia no nosso cérebro?

Cristiano Nabuco: Já se sabe que nossa memória ficou mais fraca e que, segundo uma pesquisa recen-te da Universidade do Estado da Califórnia, a capacidade de ler as emoções dos outros e de reconhe-cer nossas próprias emoções está prejudicada. É importante notar que não existe uma dose correta

para se lidar com tecnologia, mas a luz vermelha deve acender quan-do o indivíduo passa a se abster dos eventos do seu dia a dia para preferir as formas de comunicação mediadas pela mídia virtual. É uma questão de bom senso.

Pense: De que maneira o senhor acha que o modelo atual de edu-cação deve evoluir para que pos-samos explorar melhor o poten-cial de aprendizado dos jovens conectados de hoje?

Cristiano Nabuco: Eu vejo a for-mação dos novos alunos com preo-cupação. Essas crianças e jovens se preocupam demais com sua imagem social e sua onipresença e, por es-tarem pulverizados em diversas realidades, acabam se tornando ra-sos, perdendo a capacidade de ter uma opinião mais sensata sobre o mundo. A escola e os pais devem demonstrar interesse por aquilo que o aluno quer aprender e inse-rir stoppers (interruptores) nesse constante contato com a tecnologia, para criar hiatos de uso, oferecen-do atividades que concorram com ela até o momento em que o jovem passe a entender a necessidade de equilíbrio por si só.

Pense: No livro que o senhor aju-dou a organizar, Vivendo Esse Mundo Digital (Artmed, 2013), há uma passagem que diz que é preciso ter cautela ao tornar ra-pidez mental e capacidade inte-lectual global sinônimos. O se-nhor pode falar mais sobre essa diferença?

Cristiano Nabuco: A tecnologia e as inovações podem ser benéficas. Li um artigo recentemente que di-zia que jovens que, na sua infância,

fizeram uso de jogos multiusuários - como RPG -, quando candidatos à carreira de cirurgiões, exibiram ha-bilidades manuais semelhantes às de cirurgiões sêniores, pois se relacio-navam bem com a terceira dimensão e tinham habilidade de visualização. Ou seja, o estímulo é verdadeiro e a aceleração do raciocínio é real. Mas nada disso comprova que a capaci-dade intelectual de alguém que te-nha contato com a tecnologia seja maior do que de um indivíduo que não possua essa oportunidade.

Pense: Os professores hoje dis-putam a atenção do aluno com todas as informações e conversas que chegam até eles em tempo real. Como as escolas deveriam contornar esse fenômeno para atrair a atenção do aluno? Proi-bir o uso de dispositivos móveis é uma opção a se considerar? O que o senhor acredita que possa ser eficaz no longo prazo?

Cristiano Nabuco: No livro Viven-do Esse Mundo Digital, são apon-tadas cinco estratégias a serem ex-ploradas pela escola: incluir em suas grades a formação ética dos alunos em relação ao mundo virtual, mos-trar que a internet não é sua única opção de atividade, apresentar as oportunidades de crescimento pos-síveis com a tecnologia, promover a formação adequada dos professores quanto ao uso das ferramentas di-gitais e desenvolver uma orientação dos pais que desconhecem os bene-fícios e malefícios das questões vir-tuais. A vida escolar não pode estar dissociada da vida direta do jovem, para que se possa criar uma cultura de ética no uso das ferramentas di-gitais. Mais uma vez, o bom senso e o equilíbrio devem falar mais alto.

Na Pense para tablet, acesse o Blog do Dr. Cristiano Nabuco: http://bit.ly/cristianonabuco

Pense: O senhor tem alguma dica para “dri-blar” esse excesso prejudicial de informações e transformá-lo em um incentivo para o cérebro?

Cristiano Nabuco: Primeiramente, precisa-mos definir o que é esse excesso de informa-ções a que estamos expostos. A tecnologia está criando uma forma de condicionamento em que a relação com o mundo acaba se alterando. A vida digital não ocorre mais esporadicamente, como dez anos atrás: estamos on-line 24 horas por dia. Isso faz com que os jovens tenham um terceiro braço, ou seja, estão se relacionando com o que acontece em um universo paralelo: a internet. São muitos os estímulos e as ações si-multâneas exigidas desse jovem, então o segre-do para a absorção é o tempo: dentro ou fora da escola, a criança ou o adolescente deve parar, pensar, refletir sobre um assunto e compreen-dê-lo. Se o jovem for simplesmente bombarde-ado por informações, ele não fará nada direito, pois perderá a capacidade de selecionar aquilo que deve aprender.

Pense: Quais os efeitos, para crianças, jovens e adultos, de se passar muito tempo “vivendo” nesse universo digital?

Cristiano Nabuco: À medida que eu me rela-ciono com muita frequência com um novo espa-ço – a internet –, essa ação faz com que regras deste espaço migrem para a vida real. Hoje em dia, quando um jovem vai conversar com uma garota, já se sabe que muito do jeito de ele abor-dá-la segue os padrões que o rapaz utiliza na in-ternet. Isso é o que chamamos de personalidade eletrônica – ou e-personalidade: mais sexualiza-da e confrontativa. É como se nossa personali-dade atual fosse uma arena de encontro entre a real e a virtual, e um adulto também pode pas-sar por esses mesmos problemas. Os indivíduos que se tornam viciados em tecnologia passam a

“A tecnologia gera uma capacidade maior de acelerar seu raciocínio: o indivíduo se torna mais ágil na assimilação de dados, porém não necessariamente mais inteligente”

Page 16: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Mem

ória

Cap

a

Os pais de Gabriela Palumbo já tinham passado dos 70 anos e não imaginavam que ainda tinham algo novo a aprender – ainda mais que fossem conhecimentos tão distantes de sua realidade. Até que a saudade colocou esse casal nos tempos modernos da tecnologiaPor Daniela VarandaFotos Caio Kenji

Ensina-mea clicar

Assista ao vídeo desta entrevista no aplicativo da Pense e veja como Dona Ivonete e Sr. Cláudio estão aprendendo a usar as novas tecnologias

Foi um baque quando Dona Ivanete, 73 anos, ficou saben-do que a filha mais velha, Flávia, iria se mudar com o marido para a Romênia, na distante Europa, a 10 mil quilômetros de distância de um abraço apertado. Desconectada de toda a aparelhagem que rodeia os mais jovens, ela percebeu, en-tão, que a salvação da saudade poderia estar na tecnologia. Ivanete rapidamente identificou quem seria a melhor fonte de informações e mentora técnica para a entrada no futuro das comunicações: sua caçula, a IBMista Gabriela Palumbo, que foi destacada para a missão de trazer para os dias modernos a mãe e o pai - porque José Cláudio, 74 anos, também anda-va bem perdido nesse universo tecnológico. E foi assim que, depois dos 70, esse casal passou a adicionar muitos bits de memória a sua nova vida. E a mostrar uma nata capacidade de absorver algo totalmente novo.

O processo de aprender a usar as máquinas e pilotar a nave nos caminhos da informação nem sempre foi fá-cil, é verdade. “Ficávamos muito irritados no começo”, lembra José Cláudio. “Há alguns anos, minhas filhas me deram um celular, e eu fui obrigado a aprender sobre como usar aquilo”, comenta ele. Gabriela confirma a informação: “Meu pai, especialmente, era muito impa-ciente para aprender a utilizar qualquer aparelho novo. A função touchscreen era algo muito diferente para ele, então por muitas vezes eu o via desistir antes de en-tender”. Para comprovar que todo o esforço da IBMista tinha valido a pena, a Pense foi visitar a casa dos Palum-bo – ou a “Palumbada”, de acordo com o título do grupo no WhatsApp de José Cláudio, agora todo irreverente no domínio de um smartphone.

31

capa - memória

Page 17: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

33

Ret

ranc

aretranca

Tecnologia que aproxima Com a reportagem da Pense em visita, Dona Ivanete fez ques-tão de pegar o tablet para colo-car a filha Flávia on-line. “Lá em Bucareste são seis horas a mais do que aqui. Se não fosse pela tecnologia, eu ficaria ainda mais distante dela”, comenta a mãe. A filha logo aparece na tela, e a exigente Ivanete chega a criticar a conexão romena, sempre tão efi-ciente, mas um pouco mais lenta naquele dia. “Parabéns pela con-quista!”, exclama Flávia, logo que vê o rosto do pai pelo tablet. Ela está se referindo ao último apren-dizado dele, o uso do WhatsApp.

“Às vezes precisamos falar rapidi-nho e é aí que a tecnologia ajuda muito, especialmente estando tão longe assim”, comenta a filha do ex-terior. E, mesmo sendo íntima dos gadgets – foi Flávia quem apresen-tou o tablet aos pais –, ela se mos-tra surpresa com os rápidos avan-ços dos “novatos”. “Há dez anos, eu morava nos Estados Unidos e, para conseguir conversar sem ter

de apelar para o telefone fixo, ini-ciava uma longa troca de e-mails. Enviava um, levava um tempão, vol-tava outro... Era bem mais difícil do que hoje”, recorda Flávia.

“É uma realização pessoal entrar na onda da tecnologia que os filhos usam depois de tanto tempo fora da escola”, comemora Ivanete. “Real-mente nos dá uma grande alegria poder estar mais próximos da famí-

lia, mesmo quando ela está longe, receber fotos e saber o que acon-tece em qualquer lugar do mun-do com tanta facilidade.” Gabriela também se sente orgulhosa com sua contribuição para que os pais continuem aprendendo sem parar. “Tenho muita satisfação quando os vejo mexendo em algo novo, provando que a idade não importa quando existe a vontade de apren-der: basta querer.”

“Às vezes precisamos falar rapidinho e é aí que a tecnologia ajuda muito, especialmente estando tão longe assim”

O casal conversa com a filha Flávia, na Romênia, por videochamada

capa - memória

A rotina dos Palumbo foi, evidente-mente, toda reformulada pela tec-nologia. Enquanto segura a filha Izabela, de 3 anos, no colo, Gabriela carrega um notebook, que usa quan-do trabalha de casa. Ao mesmo tem-po, Dona Ivanete vai buscar o tablet, pelo qual inicia uma videoconferên-cia para se comunicar com Flávia lá na Romênia – e com os netos que moram em outras cidades do Bra-sil. No outro canto da casa, o pai envia uma mensagem instantânea para o grupo da família, combinando um encontro no fim de semana. Já Izabela se mostra incomodada com toda a movimentação na casa dos avós e resolve acessar um joguinho no tablet, para se distrair do agito.

Gabriela vai todas as manhãs à casa dos pais tomar café e deixar a filha antes de sair para trabalhar. Na IBM, é consultora de Recursos Humanos e possui, sob sua responsabilidade, cerca de dez estagiários. “O pesso-al da empresa costuma dizer ‘a Gabi gosta de ensinar, o segredo está no jeito dela de passar as informações para as pessoas’”, conta a IBMista.

“É que, assim como faço em casa com meus pais, não dou as respos-tas de imediato para quem ensino; prefiro mostrar o caminho para que o outro as encontre. Desse modo, to-dos aprendem melhor, e acaba sen-do benéfico para a pessoa e também para mim”, acrescenta.

Gabriela comenta que, na escola, nunca foi uma aluna muito dedicada. “Sentava no fundo e gostava de con-versar. Em época de provas, estuda-va um dia antes e conseguia me sair bem. Para mim, o importante mesmo era o relacionamento com os ami-gos”, admite. Apesar disso, a paixão por ensinar sempre esteve à flor da pele. “Ensinar é empolgante porque torna possível aprender também. Na hora em que mostro algo de novo para os meus pais, me lembro de tudo o que aprendi com eles, da edu-cação que tive, e isso é fascinante.”

A falta de paciência dos pais poderia ser uma barreira na rotina de ensina-mentos de Gabriela, mas ela acredita em suas diretrizes e percebe os avan-ços da tripulação nessa “excursão

tecnológica”. “Minha filha já deixa tudo configurado para que, em um clique, eu possa entrar em contato com a Flávia na Europa”, diz Dona Ivanete. “Mas a melhor parte é que ela nos in-centiva a praticar de verdade, fazendo sozinhos, para que que nós saiba-mos mexer com a tecnologia também quando ela não está aqui”, elogia.

Foi por tudo isso que seu carinho e paciência acabaram substituindo a presença de um professor parti-cular de computação que a família Palumbo contratou por um certo período. “Com ele, sempre havia uma desculpa para não fazer a aula. Comigo, meus pais se sentem mais à vontade e falam mais o que pen-sam, mesmo que seja uma reclama-ção”, brinca Gabriela. Dona Ivanete concorda. “Hoje em dia, nós apren-demos de uma forma muito mais gradual. Eu era uma ótima aluna na escola, mas não precisava ficar treinando tantas vezes até apren-der algo”, conta, lembrando que, naquele tempo, os instrumentos de estudo eram apenas lápis, caderno e livro, bem fáceis de manusear.

Ensinamentos diários

Gabriela, a filha Izabela, Dona Ivanete e Sr. José Cláudio, na casa dos Palumbo

Page 18: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Ret

ranc

a

A IBMista Gabriela Palumbo, que todos os dias visita a casa dos pais e aproveita para inseri-los no mundo da tecnologia: “É um or-gulho vê-los usando essas ferramentas. Uma prova de que, com vontade, tudo é possível”.

A professora Gabriela diz que o próximo passo de aprendi-zado na família Palumbo deve ser o uso do Facebook – mas os membros mais seniores ainda estão um pouco relutantes quanto às redes sociais. “Acho muita exposição, ficam apa-recendo coisas que eu não quero ver ou mostrar”, diz Ivanete.

Vídeos e fotos, ainda que não compartilhados, já são uma ro-tina em casa (é nessa hora que José Cláudio pega o tablet e mostra a filmagem das aulas de dança que o casal faz todas as semanas, junto a um grupo de amigos, na própria casa). “É bom para estudarmos nossos erros nos passos”, diz a esposa.

Outro tabu a ser superado são as compras on-line. “Muito arriscado”, define logo Ivanete. Mas Gabriela se sente sa-tisfeita com os avanços dos pais em direção às inovações. “Não importa quantos anos a pessoa tem ou a resistência: se ela acredita e tem vontade, consegue o que quiser”, diz. Ela lembra, inclusive, que os Palumbo conseguiram economi-zar ao passar a utilizar novos recursos, como a televisão on demand. “Eles deixaram de comprar tantos DVDs. E o pró-ximo caminho em direção ao desapego é reciclar o aparelho de fax”, diverte-se. Os pais concordam: “Não há nenhuma tecnologia antiga que nos faça falta hoje em dia”, diz José Cláudio, convicto. “É isso mesmo: minha vida é daqui para frente”, filosofa Ivanete, mais do que segura para embarcar rumo a novas jornadas no admirável mundo novo da tecno-logia – provando que essa viagem não tem limite de idade.

O futuro não tem fim

O casal e sua troca de experiências tecnológicas

capa - memória

Facilitando a vidaJosé Cláudio trabalha com distribuição de medica-mentos, recebendo receitas ao longo do dia e se co-municando com seus clientes para retirar pedidos. Nem sempre foi assim, mas hoje sua rotina é toda in-formatizada. “Nós compramos um computador, pela IBM, há alguns anos, mas ele inventava que a máquina estava quebrada para fazer com que os clientes lhe enviassem os arquivos por fax”, denuncia Gabriela. O pai assume a responsabilidade: “E o pior de tudo é que nem por telefone as pessoas querem falar mais. Eu precisava ter acesso a e-mails, senão iria prejudicar o meu trabalho”, admite, jurando não sentir falta do antigo aparelho.

Até então o membro mais relutante da família, José Cláudio realmente se entregou às novas ferramentas. “No dia em que esquece o celular em casa, ele fica desesperado”, entrega Ivanete. Jornalista aposenta-do, José viveu uma época em que nem nas redações havia computador. Em outro período ainda, ao traba-lhar em uma casa de câmbio, no setor de contabili-dade, ele conta que elaborava um livro-caixa manual-mente, depois digitalizado por um auxiliar. “Naquele tempo eu achava que tecnologia era ‘coisa de jovem’. Mas percebi, na prática, que não dá mais para viver sem ela”, diz.

“Ele fica desesperado quando esquece o celular em casa”, denuncia Dona Ivanete

35

Page 19: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

bastidores

A IBM sabe que é nas universidades que os grandes pro-fissionais nascem, e seus parceiros também vêm desenvol-vendo essa percepção. “Muitos dos nossos clientes têm en-trado em contato conosco para saber de onde estão saindo os estudantes mais capacitados para trabalhar com eles”, orgulha-se Marcela.

Por isso, uma das iniciativas da área é a certificação, que per-mite que um estudante (não necessariamente matriculado em um curso que tem parceria com a IBM) ou um profis-sional de TI faça uma prova e ateste o seu conhecimento

em determinada solução ou produto IBM, acrescentando um diferencial a seu currículo.

Outra oferta que vai ao encontro dessa necessidade é o Smart Professional Solutions, um programa por meio do qual universi-tários de instituições parceiras fazem um período de estágio re-munerado (de acordo com disponibilidade e análise interna), em uma empresa também parceira, para ajudar no desenvolvimento de soluções. “Através dessas ações, formaremos profissionais que não sejam apenas técnicos, mas que tenham uma visão de gestão de negócios, fundamental para o mercado”, conclui Marcela.

Veja no seu tablet cursos on-line gratuitos com conteúdo da IBM

Bas

tido

res

Conheça a área que faz parcerias junto a universidades e escolas técnicas para formar um profissional mais completo e atender às demandas de um mercado cada vez mais exigente

Nem só de criação e desenvolvimento de novas ferramentas vive uma empresa. Com tanto conhecimento sobre todo tipo de tecnologia dentro dessas paredes, é nosso dever compartilhá-lo. É por isso que a IBM tem uma área voltada para alguns dos principais difusores de informação – as universidades e escolas técnicas –, e passou a colaborar na elaboração do conteúdo de suas grades curriculares. “Os profissionais do futuro, mesmo que trabalhem em áreas diferentes, precisam ter base em TI. É isso que o nosso time busca oferecer nessas instituições”, explica Marcela Vairo, gerente da área responsável por esse trabalho – Desenvolvimento de Ecosistema (EcoD) –, que envolve desenvolvedores, universidades, startups e empresas nestes esforços pela educação.

O pilar responsável pela iniciativa dentro de EcoD é o IBM Academic Initiative, que atua em diferentes tecnologias, principalmente nas chamadas CAMSS – cloud, analytics, mobile,

social e security –, as maiores tendências de TI, preparando estudantes para trabalhar com essas novas áreas e atender o mercado, que está ávido por profissionais que dominem essas ferramentas.

Só em junho deste ano, seis grandes universidades do Brasil, que possuem cursos voltados à área de tecnologia, anunciaram a abertura de graduações, pós-graduações e MBAs (veja no box) - em parceria com a IBM - direcionados à formação de especialistas em Big Data, um dos fenômenos mais promissores do mercado. “Nós auxiliamos as instituições na composição curricular dos cursos, não necessariamente focando apenas nas nossas tecnologias”, esclarece Marcela. Essas parcerias podem, inclusive, gerar um conhecimento para além dos limites da faculdade, como é o caso dos laboratórios de TI, que permitem ao usuário colocar em prática o conhecimento adquirido em sala de aula, testando softwares e desenvolvendo aplicações.

As parcerias da IBM não se resumem à geração de conteúdo curricular em conjunto. “Ajudamos na capacitação dos professores, oferecemos softwares gratuitos para uso exclusivo acadêmico, partici-pamos das semanas de TI e dos Hackatons – as maratonas de tecnologia que incluem competições entre os alunos - das instituições e promovemos palestras nas universidades”, conta Marcela.

Cursos on-line também ganharam espaço nas ações da área para aperfeiçoar o conhe-

cimento das pessoas em algumas tecnologias IBM, além de divulgar novidades dos softwa-res e plataformas, atualizando o mercado. Hoje, os conteúdos presentes no ensino à dis-tância são social business, mobilidade, ban-co de dados, processos de negócios, Bluemix – plataforma de desenvolvimento em cloud -, entre outros. Com isso, o profissional faz um curso de um mês, duas horas ou um dia e ganha mais competência naquele conteúdo, sem pre-cisar sair de casa.

PARCEIROS DOCONHECIMENTO

37

Muito além da sala de aula

Formando um novo profissional

Page 20: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

No aplicativo da Pense, acesse e conheça o projeto New Media Consortium

Um estudo publicado em 2013 pela Associação Americana de Psicologia revelou o impacto cognitivo, emocional e social benéfico que os games possuem nos seres hu-manos. Na educação, a “gamificação” vem estimulando o senso crítico dos alunos, a criatividade para resolução de problemas e a capacidade de trabalhar em grupo. Por isso, cada vez mais veremos a integração de elementos dos games em situações e cenários que não estejam relacionados ao mundo dos jogos, com o objetivo de educar pessoas. O próprio Ministério da Educação já conta com 50 cursos de jogos digitais, em geral oferecidos pela rede particular.

4. LEARNING ANALYTICSEA análise de dados não deve ficar só entre as empresas para avaliar o comportamento do consumidor e prever tendências. Na educação, ela é capaz de traçar perfis de alu-nos, entendendo tanto o seu comportamento individual como o em grupo, para avaliar suas principais necessidades de aprimoramento e seus maiores interesses. Ao realizar atividades on-line, essa análise possibilita o rastreamento de informações, fornecendo dados aos educadores e permitindo a construção de metodologias personalizadas. Um exemplo é a plataforma Moodle, um ambiente de aprendizado virtual que registra as ações praticadas pelos alunos - quais matérias foram acessadas, de quais fóruns eles par-ticiparam, as postagens que efetuaram -, gerando relatórios aos docentes.

Se você pensou em ferramentas tecnológicas para se vestir, acertou. Relógios e óculos inteligentes, como o Google Glass, possibilitam identificar não apenas os hábitos do aluno, mas também seus desejos e objetivos, além de permitirem ao estu-dante acessar informações pessoais – como e-mails e arquivos – sem precisar portar qualquer outro dispositivo que não sejam aqueles que ele próprio está vestindo. Em estudos de campo, como visitas a museus ou cidades históricas, os alunos podem armazenar fotos e dados daquilo que veem para usar no trabalho mais tarde.

A tendência de que os objetos que usamos no dia a dia estarão conectados em rede, pro-movendo a integração entre o mundo real e o virtual, também vai chegar à educação. Logo, os alunos poderão utilizar esse recurso como forma de tagear objetos de estudo ao longo das pesquisas de campo - ou seja, colocar uma “etiqueta virtual”, o chamado transponder, naquilo que se está pesquisando - sem a necessidade de retornar ao espaço onde ele se encontra para reestudá-lo: basta acessar a rede para localizar seus dados. O ensino de línguas deverá se beneficiar dessa inovação: ao tocar um objeto real tageado pelo professor, o aluno terá acesso direto à sua tradução via web, unindo a realidade ao universo virtual para reforçar o aprendizado. Isso, sim, é noção de mundo conectado.

5. TECNOLOGIA “VESTÍVEL”

6. INTERNET DAS COISAS

3. GAMES E “GAMIFICAÇÃO”

em 4 ou 5 anos

em 2 ou 3 anos

O New Media Consortium é uma organização não governamental dedicada à pesquisa de novas mídias e tecnologias aplicadas ao aprendizado. Anualmente, publica o Horizon Report, com as principais tendências da educação.

39

top 5

Seu filho já leva o tablet para a escola? Isso é só o começo! O mais recente Horizon Report, do New Media Consortium, apontou as seis principais tecnologias que devem ser aplicadas à educação nos próximos anos. Confira essa lista de inovações

Cloud Computing se refere ao armazenamento de dados em servidores com-partilhados e interligados via internet, o que permite que sejam acessados de qualquer lugar, preservando a memória do computador. Essas nuvens podem ser públicas ou privadas, garantindo também o compartilhamento de informações - o Google Drive e o Dropbox são exemplos delas. Seu principal objetivo é facili-tar a vida do aluno, que pode imprimir ou visualizar um trabalho ou um material didático de qualquer dispositivo com acesso à internet, já que eles não estão armazenados na sua máquina. A atenção a se tomar com o uso dessa tecnologia é garantir que as redes interligadas sejam seguras e inibam falhas de privacidade.

2. COMPUTAÇÃO EM NUVEM

em 1 ano ou menos

Bring Your Own Device, como o próprio nome entrega, é a possibilidade de se levar para a escola ou para qualquer ambiente de aprendizagem - inclusive o do trabalho - seus próprios aparelhos. O uso de smartphones, tablets e notebooks pessoais deve se intensificar nas escolas à medida que os professores forem capacitados para trabalhar essas ferramentas junto aos alunos, gerando engajamento, não dispersão. Tudo depende de políticas de utilização bem estipuladas. As instituições também devem perceber os benefícios financeiros da prática, já que ela não cria a necessidade de se adquirir novos equipamentos. Essa tendência já chegou até a IBM, que mantém controle sobre aspectos críticos que envolvam o BYOD, como ga-rantir que o conteúdo dos dispositivos possa ser apagado em caso de perda ou roubo.

1. BYOD EM

Top

5 Prevendo o futuro da educação

Page 21: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

ROSETTA COURSEO aplicativo para tablet e smartphone do famoso método de aprendizagem de idio-mas Rosetta Stone possui as mesmas funcionalidades do software disponível para o computador e foi ganhador do Academics Choice Smart Media Award e finalista do Tabby Awards deste ano. Seu grande trunfo é a forma de ensinar: sem traduções, investindo em uma “imersão dinâmica”, que auxilia o usuário a pensar em uma nova língua, promovendo associações entre palavras e imagens em contextos do mundo real. Ele ainda impressiona pela quantidade de idiomas disponíveis: 22, incluindo as variações de inglês e espanhol. Disponível para os sistemas iOS e Android.

KHAN ACADEMY Este aplicativo permite que o usuário tenha acesso a uma biblioteca de mais de 4 mil vídeos e artigos do acervo da Khan Academy – organização sem fins lucrativos com o objetivo de fornecer uma educação de qualidade para todos, seja aluno ou professor. “É definitivamente o melhor app para o ensino de ma-temática”, define a IBMista Paula Tristao. Com ele, é possível navegar pelas suas videosséries, fazer down-load das favoritas, monitorar o progresso do usuário e visualizar seus resultados utilizando um dispositivo móvel com sistema iOS. Para facilitar ainda mais o acesso, muito desse conteúdo foi traduzido para o português pela Fundação Lemann. Um detalhe: ao baixá-lo, verifique se está mesmo adquirindo a versão oficial, pois há genéricas para o sistema Android.

TEDComo o slogan do projeto diz, são “ideias que vale a pena espalhar” por aí. O app concentra palestras de alto nível, com variados temas – de computação quântica a psicologia e saúde. “São conferências de alguns dos melhores pesquisadores e experts do mundo”, comenta o IBMista Carlos Demetrio, fã do aplicativo. O TED ainda permite que se faça o download dos vídeos, já legendados em português, ou que se crie sua própria playlist. Atualizado quase diariamente, possui um acervo de mais de 1,7 milhão de palestras, também presentes em seu canal no YouTube, no qual é possível encontrar suas variações, como o TEDEd, voltado à educação. Dis-ponível para os sistemas iOS e Android.

Veja estes aplicativos na versão da Pense para tablet

41

Se antes as grandes inovações no ensino aconteciam dentro da sala de aula, hoje não há mais paredes - e os aplicativos se tornaram os protagonistas dessa revolução. Conheça alguns dos apps de aprendizado mais usados pelos IBMistas.

Professores de bolso

HELLO TALKO Hello Talk é outro campeão na lista de aplicativos usados para aprender idiomas, mas com uma peculiaridade: promove um intercâmbio linguístico entre as redes sociais. Por meio dele, é possível encontrar falantes nativos da língua que se quer aprender – que irão ensinar sua língua materna em troca de aulas sobre o idioma de seu “aluno” – e compartilhar fotos e informações sobre o dia a dia e a cultura de seus países. É possível entrar em contato com várias línguas simultaneamente, além de fazer amigos. Uma ótima opção para estudantes sociáveis e interativos. Disponível para os sistemas iOS e Android.

DUOLINGOA medalha de ouro dos aplicativos de ensino de idiomas vai para o Duolingo. Popular, fácil de usar e gratuito, é um claro exemplo de como a “gamificação” pode ser aplicada ao ensino. O usuário aprende a ler, ouvir e falar respondendo a desafios e ganhando recompensas (inclusive “vidas”, como nos games). “O aplicativo é ótimo, e você vai passando de módulo, como no ensino tradicional”, comenta a IBMista Karinne Cardoso. Ou-tra vantagem é conectá-lo a amigos das redes sociais, como o Facebook, criando uma tabela de pontos. Disponível para os sistemas iOS e Android.

COURSERAO Coursera é uma plataforma de ensino à distância em parceria com mais de 80 universidades renomadas do mundo todo. Em de-zembro do ano passado, ela chegou também aos smartphones, nos quais é possível se inscrever e assistir às aulas, como no site. Os vídeos podem ser acompanhados via download ou streaming, in-clusive em português, uma forma de permitir o acesso de gente de todos os países a grandes especialistas em assuntos que vão desde genética até dicas de liderança. “E ainda ganhamos um certificado ao final dos cursos”, acrescenta a IBMista Suzie Guimarães, usuá-ria do aplicativo. Disponível para os sistemas iOS e Android.

Page 22: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

Na

Pró

xim

a E

diçã

oEnquanto isso... A sua revista Pense já chegou ao fim, mas a discussão continua nas redes sociais e você é nosso convidado. Acesse a comunidade da revista no Connections, para compartilhar sua opinião com outros IBMistas, pelo link bit.ly/ibmpense, ou siga o nosso blog: revistapense.wordpress.com.

O consumo é o que move a economia. Mas o que move o consumidor?

Desde o tempo em que a família se reunia em torno do rádio ou da TV e cantarolava músi-cas dos comerciais publicitários da vez, o mundo deu muitas voltas. Superconectados, es-tamos mais informados, mais exigentes, mais certos do que queremos. O desafio é gran-

de e tem tirado o sono dos varejistas: como conquistar o consumidor do futuro?

Na próxima edição da Pense, você vai entender como a tecnologia é, ao mesmo tempo, a cau-sa e a solução dessa equação. Como as marcas estão lutando com esse gigante chamado Big Data, para garantir que a oferta ideal chegue ao consumidor na hora certa? E, enquanto as pes-quisas apontam que as novas gerações confiam cada vez menos na publicidade e mais em ex-periências compartilhadas na hora de escolher um produto, como isso está transformando a in-

dústria do marketing como conhecemos hoje? No futuro, quem define o consumo é você.

Consumidor do futuro

A beleza das estradas menos viajadasO jovem André Lucas Melo é um dos grandes exemplos de que a força de vontade pode transformar vidas. Nascido numa família simples de Rio Branco, aprendeu inglês sozinho e hoje estuda em Yale. Conheça essa história inspiradora

Há quatro anos, em uma humilde escola pública de Rio Branco, no Acre, meu professor entrega-va uma página com o poema The Road Not Taken, de Robert Frost, seguido da tradução. Ele falava sobre o poder das nossas escolhas e a decisão de Frost por trilhar a estrada menos viajada, mesmo sabendo que seria a mais difícil de percorrer. Além da enorme inspiração trazida por aquelas palavras, eu percebia como era bonito o idioma. Crescia ali um sonho antigo de aprender inglês.

Venho de uma família simples - filho de pais adotivos, um carpinteiro e uma policial civil. Mas a limitação financeira nunca foi barreira para minha motivação em estudar. Meu pai nasceu e cresceu no interior da Amazônia e abandonou a escola ainda no ensino fun-damental, para cuidar de seus irmãos mais novos após a morte dos pais. Foi ele que sempre me fez acreditar que a educação era a única ferramenta capaz de mudar minha vida para melhor. Com um computador antigo e muita vontade de aprender, comecei, àquela época, minha jornada de aprendizado mais transformadora: imerso em gramáticas pela internet, filmes on-line, músicas britânicas e todo tipo de material que conse-guisse encontrar na rede, me comprometi a aprender inglês. A cada verbo ou expressão, a cada frase que en-tendia, nascia um novo incentivo.

Seria impossível descrever o impacto que essa deci-são teve na minha vida. Com 17 anos, em dois anos

como autodidata de inglês, fui um dos dez jovens ao redor do mundo selecionados pela Unesco para a criação de uma publicação oficial da ONU sobre Educação Global em Londres. Daí em diante, coor-denei conferências estudantis fora do país, desenvol-vi projetos na Alemanha e na Espanha, tive a opor-tunidade de ir ao Oriente Médio como o primeiro brasileiro a ser parte do WISE Learners’ Voice, no Qatar - rede global de jovens comprometidos em inovar a educação - e trabalho atualmente em um projeto social para conectar voluntários no ensino de inglês pelo mundo a centros comunitários em favelas brasileiras.

Há exatos três meses, me despedia da minha famí-lia no Acre com destino aos Estados Unidos, como primeiro brasileiro de escola pública estadual aceito para graduação na Universidade de Yale. Foi tri-lhando a estrada menos percorrida, inspirado por aquele poema de Robert Prost, que aprendi que, com pouco, podemos fazer muito mais do que ima-ginamos. Não existem barreiras para a dedicação e para o sonho. Sou eternamente grato às opor-tunidades que tive na vida, e factual ao dizer que qualquer um de nós também pode criá-las. Mi-nha motivação, hoje, é a perspectiva de estender ao maior número possível de pessoas as oportu-nidades que construí nesta curta, porém intensa, jornada como estudante, ativista, filho e – acima de tudo - sonhador.

André Lucas Melo tem 19 anos e cursa Economia e Relações Internacionais na Universidade de Yale. Foi premiado pela Hesselbein Global Academy, nos Estados Unidos, pelos projetos de liderança social em que esteve envolvido desde o ensino médio.

Pon

to F

inal

43

Page 23: REESCREVENDO O APRENDIZADO - … · Hoje em dia, um software pode mapear suas preferências de estudo melhor do que qualquer professor já conseguiu, e dar a você um plano de exercícios

cruzeirosfeitos com

IBM Cloudfeitos comfeitos com

IBM, o logo IBM, ibm.com e Made with IBM são marcas registradas e de titularidade da International Business Machines Corporation em diversos países em todo o mundo. Uma lista atualizada das marcas registradas e de titularidade da IBM está disponível na internet, em www.ibm.com/trademark. ©International Business Machines Corp. 2014.

Feito com IBM

A Princess Cruises conecta 18 navios com ferramentas de redes sociais gerenciadas pela IBM Cloud. Agora, uma rede global de milhares de funcionários pode compartilhar ideias e conhecimento pelos oceanos.ibm.com/madewithibm/br

32997_137103_IBM_BRAND_SMART_PLANET_PRINT_20,8x27,6cm.indd 1 10/17/14 4:36 PM