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REDES DE PLANEJAMENTO PERT/CPM: UM ESTUDO DE CASO APLICADO À MANUTENÇAO PREVENTIVA DE HELICÓPTEROS H- 60L FRANCISCO RENATO VASCONCELOS ÁVILA DA COSTA (UFAM) [email protected] Nilson Rodrigues Barreiros (UFAM) [email protected] A análise PERT/CPM é utilizada neste estudo de caso para examinar redes de atividades de manutenção preventiva de helicópteros, com o objetivo de demonstrar a possibilidade do aumento da disponibilidade de tais aeronaves. Para tanto, foi esscolhida um tipo de inspeção, dos vários tipos que são realizadas, no intuito de servir de modelo. As tarefas que são executadas na manutenção preventiva advêm de manuais, os quais fornecem também informações sobre recursos humanos a serem utilizados. Além dos manuais, informações coletadas no local do estudo de caso alimentaram a programação das atividades e serviram de referência para a comparação com os ganhos teoricamente obtidos. O seqüenciamento das atividades foi feito utilizando-se de ferramenta computacional, onde podem ser visualizadas mais facilmente as restrições que determinam a duração das atividades. Como resultados teóricos foram obtidos ganhos significativos de tempo e, por conseguinte, comprovando ser possível um aumento da disponibilidade dos helicópteros. Pode-se inferir, portanto, que a aplicação de análises de redes de atividades constitui- se em ferramenta de grande valia para o aumento da disponibilidade de aeronaves. Palavras-chaves: PERT/CPM, Manutenção Preventiva, Helicópteros. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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REDES DE PLANEJAMENTO

PERT/CPM: UM ESTUDO DE CASO

APLICADO À MANUTENÇAO

PREVENTIVA DE HELICÓPTEROS H-

60L

FRANCISCO RENATO VASCONCELOS ÁVILA DA COSTA

(UFAM)

[email protected]

Nilson Rodrigues Barreiros (UFAM)

[email protected]

A análise PERT/CPM é utilizada neste estudo de caso para examinar

redes de atividades de manutenção preventiva de helicópteros, com o

objetivo de demonstrar a possibilidade do aumento da disponibilidade

de tais aeronaves. Para tanto, foi esscolhida um tipo de inspeção, dos

vários tipos que são realizadas, no intuito de servir de modelo. As

tarefas que são executadas na manutenção preventiva advêm de

manuais, os quais fornecem também informações sobre recursos

humanos a serem utilizados. Além dos manuais, informações coletadas

no local do estudo de caso alimentaram a programação das atividades

e serviram de referência para a comparação com os ganhos

teoricamente obtidos. O seqüenciamento das atividades foi feito

utilizando-se de ferramenta computacional, onde podem ser

visualizadas mais facilmente as restrições que determinam a duração

das atividades. Como resultados teóricos foram obtidos ganhos

significativos de tempo e, por conseguinte, comprovando ser possível

um aumento da disponibilidade dos helicópteros. Pode-se inferir,

portanto, que a aplicação de análises de redes de atividades constitui-

se em ferramenta de grande valia para o aumento da disponibilidade

de aeronaves.

Palavras-chaves: PERT/CPM, Manutenção Preventiva, Helicópteros.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

A disponibilidade de aeronaves é fator de grande relevância para as organizações que as

operam, sendo de seu interesse que o programa de manutenção preventiva seja cumprido

dentro dos requisitos necessários à segurança de vôo. Um dos fatores de indisponibilidade das

aeronaves é o cumprimento do cronograma de inspeções relativas à manutenção preventiva,

as quais são necessárias para a redução das paradas e aumento da segurança de vôo.

O objetivo deste estudo é analisar as redes de atividades das manutenções preventivas a fim

de se verificar a possibilidade de redução do tempo de execução de tais serviços. Isto pode ser

atingido através de uma melhoria do seqüenciamento das atividades, reduzindo o tempo de

indisponibilidade, aumentando o número de dias de equipamento disponível ao final de um

ano.

Para alcançar o objetivo proposto foi realizada uma pesquisa bibliográfica abordando

manutenção preventiva e as ferramentas escolhidas para análise de redes de atividades, as

quais são Critical Path Method – CPM, e a Program Evaluation Review Technique – PERT.

Os dados foram identificados, coletados e descritos para então aplicar-se a simulação do

seqüenciamento das atividades através do MS Project 2003®

e seus resultados serem

analisados.

Este estudo partiu da observação do autor de que é possível encurtar a duração das inspeções

utilizando-se de técnicas reconhecidas para este tipo de finalidade. O local onde se passou esta

pesquisa foi uma Unidade Aérea militar, da Força Aérea Brasileira, que opera helicópteros

modelo H-60L Black Hawk na cidade de Manaus, Brasil. A otimização das inspeções aumenta

o índice de disponibilidade devido à redução do tempo em reparo, o que significa que a

organização objeto deste estudo seria capaz de aumentar sua capacidade tendo como

conseqüência o aumento da eficiência na utilização de seus helicópteros.

2. Conceitos de Manutenção

Xenos (1998) define manutenção como o conjunto de atividades desenvolvidas com o objetivo de

manter a função original de equipamentos e evitar a degradação destes causada pelo desgaste

natural ou pelo uso.

A confiabilidade de um item (equipamento, peça, sistema, etc.) é a capacidade deste de

permanecer cumprindo suas funções, durante um tempo estabelecido, independente de

condições favoráveis ou adversas. A definição técnica é fornecida a seguir:

Por confiabilidade entende-se a probabilidade de um produto fabricado de

conformidade com dado projeto operar durante um período especificado de tempo

sem apresentar falhas indicáveis, desde que sujeito a manutenção de conformidade

com as instruções do fabricante e que não tenha sofrido tensões superiores àquelas

estipuladas por limites indicados pelo fornecedor, não tenha sido exposto a

condições ambientais adversas de conformidade com os termos de recebimento ou

aquisição. (NEPOMUCENO, 1989, p. 63)

A taxa de falha é a freqüência com que uma falha ocorre. Bérgamo (1997) explica que a taxa

de falhas é usada para exprimir a confiabilidade de componentes, indicando a velocidade de

ocorrência das falhas. Como exemplo pode-se citar que em um motor a taxa de falhas é a

quantidade de falhas em um período de tempo.

A NBR 5462 (confiabilidade e mantenabilidade) caracteriza falha como sendo a perda total ou

parcial da capacidade de um item em desempenhar a função requerida levando a um estado de

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indisponibilidade. O termo falha possui sinônimos como “quebra”, “enguiço” e “pane”, sendo

este último amplamente utilizado pelos técnicos da área de aviação.

Almeida (2001) complementa explicando que a definição de falha pode ser feita em função do

objetivo ao qual o item ou sistema se destina, podendo ser classificada em função de:

Seus efeitos (sistêmico, parcial, etc.);

Sua origem (configuração, composição material);

Sua causa (anormalidade de fabricação, fora de condições operacionais, operação

indevida).

Um outro importante conceito é a disponibilidade de um item, Nepomuceno (1989)

aborda a disponibilidade como a proporção de tempo em que um produto permaneceu pronto

para o uso em relação ao tempo total. O tempo total é a soma do tempo disponível com o

tempo em que o produto não esteve apto para o uso. A equação a seguir facilita a

compreensão:

O autor explica que a disponibilidade é um índice adimensional que permite avaliar os

custos de manutenção, pois relaciona tempo disponível para operação, o que não quer dizer

que o equipamento esteve sendo utilizado, e tempo total do equipamento.

O entendimento de disponibilidade completa-se com a compreensão do Tempo Médio

entre Falhas (TMEF) e do Tempo Médio para Reparo (TMR). Segundo a NBR 5462 o TMEF

é o valor médio entre duas falhas consecutivas, já o TMPR é o tempo médio gasto com

reparos. Portanto a disponibilidade pode ser entendida como:

Uma preocupação existente no gerenciamento da manutenção é o custo-benefício do

investimento. Como explica Slack (2002), uma manutenção preventiva pouco freqüente

proporcionará baixos custos, porém, alta probabilidade de manutenção corretiva, elevando o

custo total. Se o contrário ocorrer, haverão poucas paradas não planejadas com alto custo de

manutenção preventiva e elevado custo total. Portanto, há um ponto de equilíbrio no qual o

menor custo total é atingido, como mostrado na figura 1(a).

Figura 1- (a) Manutenção Preventiva versus Corretiva. (b) Perspectiva dos custos de manutenção com o

deslocamento do nível ótimo de manutenção preventiva para a direita.

No caso da aviação este modelo não seria totalmente aplicável. O mesmo autor ajuda a

esclarecer esta idéia: levando em consideração os efeitos catastróficos de uma falha séria em

vôo, seus custos tangíveis e intangíveis, não é admissível trabalhar com um nível de

(1)

(2)

(a) (b)

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manutenção preventiva abaixo do que é possível ser alcançado, pois, desta forma, estar-se-ia

admitindo uma probabilidade mais elevada de falha, prejudicando a segurança de vôo.

O efeito gráfico do exposto acima é o deslocamento do ponto ótimo de manutenção

preventiva para a direita, visto na figura 1(b), significando um aumento de sua importância.

Segundo Slack et al (2002), a existência de um programa de manutenção aumenta a segurança

de equipamentos, diminuindo a probabilidade de uma falha ocorrer, portanto, aumentando a

confiabilidade e reduzindo os custos de operação, já que o equipamento terá uma melhor

relação custo-benefício. Devido o aumento da confiabilidade, aumenta também o tempo de

vida do produto, e, no caso de venda deste produto, este terá um valor final maior, pois foi

melhor preservado.

3. Redes de planejamento PERT/CPM

O Project Management Body of Knowledge, PMBOK®

, que se trata de uma publicação com o

objetivo de aglomerar as melhores práticas em gerenciamento de projetos já adotadas, define

projeto da seguinte forma: esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou

resultado único.

Slack et al (2002) acrescenta mais informações à definição ora em tela esclarecendo que

projeto é um conjunto de atividades que tem um ponto inicial e um estado final definidos,

persegue uma meta definida e usa um conjunto definido de recursos.

Como exemplos de projetos pode-se citar: produção de um programa de televisão, projeto de

uma aeronave, redecoração de um hotel, limpeza após o vazamento de um tanque de óleo.

O planejamento de um projeto, segundo Geng (2004), é um plano detalhado que descreve

como e por quem as tarefas serão realizadas. Incluído neste planejamento estão os recursos

humanos necessários, estudos e análises preliminares, objetivos do projeto e um cronograma

detalhado para a fase de execução.

Para Slack et al (2002) o planejamento de um projeto envolve cinco passos: identificar

atividades; estimar tempos e recursos; identificar relacionamentos e dependências; identificar

limitações de programação; corrigir a programação.

O autor esclarece ainda que o processo de planejamento e controle de projetos utiliza em larga

escala técnicas para lidar com a complexidade e a natureza temporal dos projetos. Como

ferramenta universalmente adotada para planejar o cronograma e controlar o andamento do

projeto é utilizado o PERT/CPM, que é a junção de duas técnicas desenvolvidas nos anos 50

nos Estados Unidos.

A análise Critical Path Method – CPM – ou método do caminho crítico e a Program

Evaluation Review Technique – PERT – surgiram no final dos anos 50. Davis et al (2001)

esclarece que o PERT foi desenvolvido sob o patrocínio do escritório de projetos da marinha

americana (U.S. Navy Special Projects Office) em 1958 como uma ferramenta de

gerenciamento para a programação e o controle do projeto Polaris, já a análise CPM foi

desenvolvida em 1957 por J. E. Kelly e M. R. Walker para auxiliar na programação de

manutenções e paradas da fábricas de processamento químico.

3.1. O método do caminho crítico (CPM – Critical Path method)

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O método modela o projeto, esclarecendo os relacionamentos entre as atividades. A forma de

ilustrar utilizada para representar as atividades pode ser o gráfico de setas. Onde a lógica dos

relacionamentos é mostrada como um diagrama de arcos em que cada atividade é

representada por uma seta.

Figura 2- Diagrama de redes com atividades nas setas.

No início e no fim de cada atividade, como ilustra a figura 2, encontram-se círculos que

representam eventos, os quais são momentos no tempo em que ocorrem o início ou fim de

cada atividade. Os círculos (eventos) não têm duração e não são de natureza definida. As

redes desse tipo são compostas somente de atividades e eventos.

O autor explica que em todos os diagramas de rede em que as atividades têm algum

relacionamento paralelo, haverá mais de uma seqüência de atividades que levam do início ao

final do projeto. Desta forma, o caminho que contém a seqüência mais longa de atividades é

chamado de caminho crítico da rede. Este caminho não apresenta folga para a execução das

atividades, portanto, qualquer atraso significará atraso do projeto.

Conhecendo o caminho crítico é possível, inclusive, otimizar o projeto através da redução dos

tempos de execução das atividades críticas. Além disto, calcula-se a duração do projeto

sabendo-se a soma dos tempos das atividades que o compõem.

3.2. Técnica PERT de revisão e avaliação de programa

De acordo com Slack et al (2002), como visto anteriormente, esta técnica teve sua origem em

grandes projetos de defesa da Marinha dos Estados Unidos. Esta análise obteve grandes

ganhos em ambientes bastante incertos. A técnica absorve efeitos de imprevisibilidade da

duração de algumas atividades, aplicando a probabilidade para estimar tempos de duração das

tarefas.

São utilizadas três estimativas de tempo para cada atividade do projeto: otimista, provável e

pessimista. Assumindo que os tempos estimados são condizentes com a distribuição de

probabilidades beta.

A distribuição de tempo ao longo dos caminhos da rede será uma média, a qual é a soma das

médias das atividades que compõem este caminho, e a variância de um caminho será a soma

das variâncias. Geralmente pressupõe-se que a distribuição de probabilidades final de cada

caminho e do projeto será a normal. Esta informação é importante para que se avalie o risco

de cada uma das atividades e do projeto como um todo.

Durante a elaboração do planejamento, como explica Slack et al (2002), o responsável por tal

tarefa pode se deparar com limitações de recursos, os quais são requisitos técnicos do próprio

projeto. Tal limitação afeta os relacionamentos entre as atividades na medida em que os

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recursos humanos e materiais disponíveis podem fazer com que algumas atividades tenham

que esperar por outras mesmo que não haja uma dependência rígida entre elas, passando então

a ser estabelecida uma dependência lógica.

4. Metodologia

Do ponto de vista de sua natureza esta pesquisa caracteriza-se por ser aplicada tendo como

objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática envolvendo a solução de problemas

específicos, como abordam Silva e Menezes (2001). O trabalho trata o problema de forma

qualitativa e também de maneira quantitativa, pois, como explicam as autoras, além de o

ambiente de estudo ser a fonte direta para coleta de dados objetiva-se traduzir em números

opiniões e informações para classificá-las e analisá-las, requerendo o uso de técnicas

estatísticas.

Este artigo apresenta ainda caráter exploratório, pois, segundo Silva e Menezes (2001),

proporciona maior familiaridade com o tema com vistas a torná-lo explícito, envolvendo

levantamento bibliográfico e análise do problema de pesquisa.

4.1. Estudo de caso

O Brasil é uma das principais nações do planeta e almeja um melhor posicionamento na

geopolítica global. Tal percepção, formalizada na Estratégia Nacional de defesa aprovada pelo

decreto n. 6703 de 18 de dezembro de 2008, levou o governo brasileiro a concluir que precisa

de forças armadas compatíveis com importância política e econômica do país. Este impulso

acerca da nova orientação estratégica de defesa despertou no alto comando da FAB e nas

esferas governamentais a necessidade de se equipar melhor a força para que possa cumprir

sua missão, principalmente na região amazônica.

A atual configuração de aeronaves da Base Aérea de Manaus -BAMN, principalmente em se

tratando dos modernos C – 105A e H – 60L, é conseqüência dos esforços do alto comando da

FAB para dotar a região amazônica de uma boa estrutura, tendo em vista que estas aeronaves

substituíram os antigos C-115 Búfalo e H-1H Huey, respectivamente. Em conjunto com a

aquisição de novas plataformas de combate ainda há a criação de novas bases aéreas nos

municípios de Vilhena – RO, São Gabriel da Cachoeira – AM e Eirunupé – AM, melhorando

a infra-estrutura para o cumprimento da missão da FAB na região.

Neste processo de transição de equipamentos antigos e cuja estrutura logística estava

plenamente implantada na FAB para novas plataformas que exigem um salto tecnológico,

investimento em treinamento dos recursos humanos e mudança dos processos logísticos, a

organização objeto do estudo tem vivido uma fase de adaptação a uma nova realidade.

Esta organização é uma Unidade Aérea (UAe) operadora dos helicópteros H-60L Black

Hawk, fundada em 1986, a qual cumpre missões de defesa da amazônia e de integração

nacional na região. Destacando-se as missões de demarcação de fronteiras, vacinação de

comunidades isoladas e resgate de aeronaves acidentadas.

A fase de adaptação em que a Unidade está imersa, desde julho de 2007, quando da chegada

do primeiro H-60L, caracteriza-se por dificuldades logísticas externas e internas à UAe. No

âmbito externo, a FAB tem encontrado dificuldades em fazer chegar ao hangar da referida

unidade o suprimento necessário a uma operação mais eficiente, refletindo nos índices de

disponibilidade da frota. No âmbito interno o gerenciamento da manutenção poderia adotar

ferramentas de gerência de produçao, dentre elas o PERT/CPM, com o objetivo de diminuir o

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tempo gasto em atividades de manutenção preventiva, sem reduzir a qualidade do trabalho e

sem prejudicar a segurança de voo. A figura 3 expõe esta situação, utilizando-se de dados

condensados de 01/07/2007 a 17/10/2009.

Figura 3 - Participação dos fatores de indisponibilidade da frota.

Como pode ser observado na figura 3, os problemas concernentes à logística de aquisição e

transporte de peças foram preponderantes nos primeiros dezoito meses de operação do

helicóptero na FAB. Porém, com a maturação do sistema logístico dedicado a este

helicóptero, a falta de suprimentos perdeu a liderança em participação como fator de

indisponibilidade. A manutenção preventiva ou programada das aeronaves assumiu tal posto

no ano de 2009, devido este fato, percebe-se a necessidade de redução do tempo gasto com

tais atividades a fim de elevar a disponibilidade de aeronaves, pois, como se pode observar

pela equação 1, a diminuição do tempo em reparo aumenta o valor de tal índice.

Para a realização deste estudo de caso foi empregada a seguinte sistemática: definição do

conhecimento necessário para o estudo, identificação e coleta dos dados necessários,

aplicação da análise PERT/CPM e análise dos resultados da simulação.

Após a fase de definição do conhecimento necessário para a realização deste estudo, teve

início a identificação dos dados necessários e coleta das informações, tais como: dados de

disponibilidade, dificuldades encontradas pelo setor de manutenção e o tempo médio gasto

efetivamente em atividades de manutenção preventiva. Tal etapa se fez necessária para um

melhor conhecimento do problema, a fim de aplicar os conhecimentos teóricos necessários

para sua solução.

A coleta de dados foi realizada utilizando-se de duas fontes: a primeira é a base de dados de

gerenciamento de logística, uma plataforma de tecnologia da informação, onde foi possível

retirar as informações de disponibilidade, utilizadas neste estudo. A segunda fonte de coleta

de dados foram os relatórios de manutenção preventiva arquivados, onde constam

informações de problemas encontrados para a realização da inspeção, pessoal utilizado, datas

de início e término, dentre outras. Um resumo destes dados é apresentado na tabela 1.

Tipo de Inspeção Duração média (tempo

em reparo)

Participação na indisponibilidade por

manutenção preventiva

40 horas de voo 6 horas 4,66 %

120 horas de voo 2 dias 8,38 %

8

360 horas de voo 23 dias 16,41 %

720 horas de voo 120 dias 70,55 %

Fonte: Arquivo de relatórios de inspeções realizadas

Tabela 1 - Resumo da participação das inspeções na indisponibilidade por manutenção preventiva

Estes dados ajudarão a estimar o impacto sobre a disponibilidade dos helicópteros, após a

obtenção do encurtamento da rede de atividades da inspeção escolhida para realização deste

estudo.

Um outro dado coletado a partir dos relatórios de atividades de manutenção preventiva foram

os motivos de atrasos na execução das tarefas previstas, ilustrado pela figura 4. Os técnicos

têm suas atividades paralisadas por diversas razões, como falta de material de apoio (panos,

EPI, ferramentas, equipamentos), afastamento para executarem outras funções (atividade

aérea, viagens, segurança, etc.), sistema de informática inoperante ocasionando atraso na

retirada de material do estoque.

Figura 4- Motivos de atrasos em atividades de manutenção preventiva

Para o estudo de caso, foi escolhida a inspeção de 360 horas de vôo, pois possui duração de

poucas semanas sendo possível observar de forma mais rápida se o método empregado é

realmente capaz de otimizar a execução da inspeção, no caso deste estudo vir a ser colocado

em prática.

Os gráficos a seguir demonstram o status atual de uma inspeção deste tipo. O primeiro ilustra

como vem se comportando as durações das inspeções (figura 5), tal gráfico tem relevância na

medida em que demonstra que a atual forma de executar consegue um tempo mínimo de 15

dias, além disto, apresenta uma média de 23 dias e um desvio-padrão de 5,12 dias.

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Figura 5 - Duração em dias de todas as inspeções de 360 horas já realizadas

A figura 6 propicia ao gestor responder quanto à probabilidade de uma inspeção terminar ou

não em um determinado número de dias, além disto, fica perceptível o quanto é, no atual

modo de se realizar a inspeção, difícil que esta tenha duração inferior a 15 dias.

Figura 6- Distribuição de probabilidades para a duração da inspeção de 360 horas de vôo

A etapa seguinte foi a análise PERT/CPM, para tanto, utilizou-se como plataforma o software

MS Project 2003®

. Através deste programa foi possível inserir as atividades, os recursos

necessários, a rede de precedências e visualizar a alocação dos recursos e o gráfico de Gantt

de uma forma prática e dinâmica.

O primeiro passo foi identificar as atividades, as quais estão disponíveis no relatório de

inspeção, onde cada setor da manutenção tem suas atividades descritas. O passo seguinte foi

estimar tempos e recursos a serem empregados na execução de cada atividade.

A alocação de tempos e recursos tem como referência a quantidade de homem-hora prevista

no manual 1-1520-237-PMI (Phased Maintenance Inspections), porém, devido os técnicos da

Unidade ainda não estarem plenamente adaptados ao novo equipamento, estes levam tempos

DIAS

10

maiores em atividades mais complexas do que os técnicos americanos, que serviram de

referência para o referido manual. Sendo assim, foram estimadas alocações de recursos, em

determinadas atividades, mais condizentes com a realidade do operador do helicóptero.

Ainda como parte da análise foram identificadas as relações e dependências entre as

atividades assim como as limitações de programação, utilizando como fontes o manual

supracitado e o relatório de inspeção.

A etapa seguinte foi a programação do MS Project 2003®

através da inserção das atividades e

recursos necessários (figura 7) . Tal etapa se deu utilizando-se dos conhecimentos advindos de

Chatfield (2008). Este programa de computador é capaz de criar um cronograma de atividades

fornecendo informações sobre custos, alocação de recursos, esforço empreendido, recursos

materiais e possui um recurso de reagendamento automático de tarefas, para o caso de

mudanças nas durações das atividades.

Figura 7 - Amostra da inserção de informações no MS Project 2003®

Com o software alimentado de todas as informações necessárias, chega-se à ultima etapa da

programação do seqüenciamento das atividades. Nesta etapa devem ser feitas as correções

para solucionar a superalocação de atividades aos recursos bem como redefinir o

seqüenciamento das atividades de forma a concluir a inspeção no menor tempo sem interferir

na segurança de voo.

A fim de obter-se uma análise PERT para a duração da inspeção, foram inseridos no MS

Project estimativas pessimistas, realista e otimistas de duração de cada atividade, com isto, foi

possível recalcular a duração de cada atividade e obter datas finais da inspeção nos três

cenários analisados, como visto na figura 8.

Figura 8 - Análise PERT da inspeção de 360 horas

5. Análise dos resultados

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No intuito de aumentar a disponibilidade das aeronaves, a análise PERT/CPM mostrou-se

eficaz. A tabela 2 mostra um comparativo entre o status atual do valor médio da duração de

uma inspeção de 360 horas de vôo, assim como de seu desvio padrão, e do status que pode ser

alcançado caso a análise PERT/CPM seja aplicada.

Atual Teórica Redução (%) Redução (dias)

Média (dias) 23 4,5 80,43 % 18,5

Desvio padrão (dias) 5,12 0,4 92,18 % 4,72

Tabela 2 - Comparativo entre o status atual e o teórico

O resultado gráfico da aplicação deste estudo de caso pode ser mais bem esclarecido pela

comparação entre as distribuições de probabilidades atual (figura 6) e a que pode ser

alcançada (figura 9). Percebe-se o deslocamento da média para e esquerda no eixo das

abscissas e o estreitamento da curva como resultado de uma menor variabilidade, advinda de

um seqüenciamento mais eficiente das atividades a serem executadas na inspeção objeto deste

estudo de caso.

A tabela 3 ilustra qual seria o intervalo de duração de uma inspeção de 360 horas de vôo para

um nível de confiança de 95 %.

Nível de confiança Intervalo atual (dias) Intervalo Teórico (dias)

95 % 13 – 33 4,31 – 4,82

Tabela 3 - Intervalo de duração um nível de confiança de 95 %.

A tabela 3 ilustra a incerteza, no momento atual, de se prever o quanto vai durar a inspeção.

Através da aplicação da análise nota-se uma conseqüência do encurtamento da rede, a redução

Figura 9- Distribuição de probabilidades para uma inspeção de 360 horas de vôo após análise

PERT/CPM.

DIAS

12

do intervalo de confiança. Em um primeiro momento com uma faixa de 20 dias, e, como

resultado teórico, este intervalo pôde ser reduzido para 0,5 dia.

Como os dados de disponibilidade são sigilosos, será mostrado um exemplo, próximo da

realidade, do impacto de tal redução no aumento da disponibilidade: tomando-se um total de

cinco helicópteros, com disponibilidade de 60 %, e a realização de 3 inspeções de 360 horas

de voo em um ano, o quadro seria o seguinte:

Dias totais: 5 x 365 = 1825

Dias de disponibilidade: 1825 X 60% = 1095

Dias realizando inspeção de 360 horas (tabela 1: média atual): 3 x 23 = 69

Dias realizando inspeção de 360 horas (tabela 2: resultado teórico): 3x4,5= 13,5

Dias de redução devido aplicação da análise PERT/CPM: 69 – 13,5 = 55,5

Dias de disponibilidade (teórico): 1095 + 55,5 = 1150,5

Aumento na disponibilidade: 5 %

Como explicado na seção 4.1, a inspeção de 360 horas de vôo foi escolhida para realização do

estudo de caso, apesar de não ser a principal inspeção, por se tratar de uma atividade de

relativa complexidade e de duração adequada para o estudo, de tal forma que serviria de

projeto – piloto para uma possível aplicação prática deste estudo de caso.

Como citado no exemplo, é possível aumentar em 5 % a disponibilidade da frota aplicando a

análise PERT/CPM em inspeções de 360 horas a um custo zero, pois não há qualquer

aumento de recursos previsto para tal.

6. Cosiderações finais

A aplicação da análise PERT/CPM mostrou-se valiosa em projetos de defesa norte-

americanos reduzindo até pela metade o tempo planejado para a execução. Para o estudo de

caso ora apresentado uma redução significativa, mesmo que ainda teórica, da duração das

atividades de inspeção de helicópteros é plenamente possível, devido o resultado obtido.

Com isto, ficou demonstrado que a utilização da técnica PERT/CPM para encurtar a rede de

atividades de manutenção preventiva dos helicópteros H-60L incide positivamente sobre o

índice de disponibilidade destas aeronaves, a custo zero, e sem prejudicar a segurança de voo.

Todas as atividades previstas para a consecução de uma inspeção de 360 horas foram

abordadas, com estimativas de tempo condizentes com a realidade e o seqüenciamento das

tarefas foi adequado às exigências técnicas. A alocação de recursos humanos seguiu a

disponibilidade encontrada na unidade aérea e a coleta de dados foi realizada utilizando-se de

números reais e corretamente medidos.

Como mencionado, a análise aplicada a uma inspeção de 360 horas serviu como modelo. A

mesma análise aplicada a inspeções com durações maiores, portanto, com possibilidades de

reduções maiores da duração das inspeções implicaria em um aumento mais significativo da

disponibilidade dos helicópteros.

13

Como sugestão para futuras pesquisas propõe-se verificar a influência do uso de técnicas de

gerenciamento utilizadas pelo setor privado na condução da estratégia de órgãos públicos.

Outro tema para pesquisa seria o estudo da influência da cultura organizacional das forças

armadas quanto à implantação de programas de melhorias e alcance de metas, aos moldes do

que ocorre na iniciativa privada.

Referências

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Bookman Editora, 2008.

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