redes de conhecimento

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Redes de conhecimento.

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  • 1

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    Redes de Conhecimento em Cincias e o Compartilhamento do

    Conhecimento

    Maria do Rocio Fontoura Teixeira

    Porto Alegre

    2011

  • 2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EDUCAO EM CINCIAS: QUMICA DA VIDA E SADE.

    REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-Graduao Educao em Cincias: Qumica da Vida e Sade, da Universidade

    Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Doutora em Educao em Cincias.

    Maria do Rocio Fontoura Teixeira

    Orientador Prof. Dr. Diogo Onofre Gomes de Souza

    Porto Alegre 2011

  • CIP - Catalogao na Publicao

    Elaborada pelo Sistema de Gerao Automtica de Ficha Catalogrfica da UFRGS com osdados fornecidos pelo(a) autor(a).

    Teixeira, Maria do Rocio Fontoura Redes de Conhecimento em Cincias e oCompartilhamento do Conhecimento / Maria do RocioFontoura Teixeira. -- 2011. 141 f.

    Orientador: Diogo Onofre Gomes de Souza.

    Tese (Doutorado) -- Universidade Federal do RioGrande do Sul, Instituto de Cincias Bsicas daSade, Programa de Ps-Graduao em Educao emCincias: Qumica da Vida e Sade, Porto Alegre, BR-RS, 2011.

    1. Redes de Conhecimento. 2. Educao em Cincias.3. Anlise de Redes Sociais. 4. Compartilhamento doConhecimento. 5. Redes Sociais. I. Souza, DiogoOnofre Gomes de, orient. II. Ttulo.

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Ao chegar ao fim desta caminhada, gostaria de agradecer a muitas

    pessoas que me ajudaram em diferentes momentos e, sem esquecer ningum

    e, ao mesmo tempo, incluindo todos, mas particularmente....

    ....ao meu grande mestre e amigo Prof. Diogo Onofre de Souza por todo

    incentivo, apoio e, principalmente, por ter acreditado e compartilhado do meu

    sonho acadmico;

    ....aos meus colegas (eles e elas) do Grupo de Educao em Cincias, alguns

    hoje soltos pelo mundo e outros ainda percorrendo seus caminhos: Eliane

    Flores, Helosa Junqueira, Mrcia Finimundi, Isabela Barin, Carla Teacher,

    Luciana Calabr Berti, Eduardo Rico;

    ....aos professores do PPG Educao em Cincias pelos ensinamentos ao

    longo deste curso;

    .... Cleia e os bolsistas da Secretaria por nos ajudarem sempre;

    ....aos meus colegas do Grupo de Pesquisa LEIA, Lizandra Estabel, Eliane

    Moro, Iara Neves, Maria Lcia Dias por toda a fora e o entusiasmo com que

    acompanharam o desenvolver do meu trabalho;

    ....ao meu colega Rodrigo Caxias por ter, um dia ao entrar na minha sala na

    FABICO e me ver desanimada sem saber onde ancorar um trabalho de quase

    10 anos, me mandado, literalmente, atravessar a rua e tentar a sorte no PPG

    Educao em Cincias;

    ....a minha famlia que acompanha minha peregrinao acadmica nestes

    ltimos anos e sempre me apoiou em tudo: meu grande companheiro de todas

    as horas Higino, minha filha artista Amanda, meu filho parceiro de tantos

    trabalhos Joo Vicente e meu lindinho Vicente;

    ....ao meu amadssimo irmo Luiz Eduardo pela garra dos Fontouras;

    ....e, por fim, mas no menos importante e, creio eu mais importante que tudo e

    todos, memria de minha me que sempre me disse vai...vai ser feliz! e, ela

    pode estar certa que isto que persigo at hoje!

  • 4

    RESUMO

    Esta Tese de Doutorado tem com tema principal o estudo das

    redes de conhecimento no campo cientfico, tambm entendidas como redes

    sociais, em suas relaes internas e no tocante ao uso de fontes de

    informao. A metodologia de pesquisa se caracterizou sob a perspectiva

    cognitivista, descritiva, exploratria e qualitativa, realizada por meio de uma

    pesquisa de campo, baseada na amostragem no probabilstica por

    convenincia com trs turmas de alunos. Foram utilizadas matrizes,

    sociogramas e grficos de mensurao das propriedades de centralidade e

    densidade das turmas, alm da descrio e compreenso das redes de

    conhecimento. A metodologia especfica foi a de Anlise de Redes Sociais

    (ARS), que possibilitou a anlise e avaliao das redes de conhecimento e as

    fontes de informao. Inicialmente, apresenta um olhar histrico com a

    finalidade de mostrar a emergncia do estudo das redes de conhecimentos nas

    diferentes reas do conhecimento e, por conseqncia, no mbito das cincias.

    Faz um levantamento terico acerca do conceito de redes, das redes sociais,

    das redes de conhecimento, do campo cientfico na perspectiva de Bourdieu,

    das fontes de informao e da educao em cincias. A sociedade atual

    caracteriza-se por ser uma sociedade conectada, uma sociedade em rede, e

    neste cenrio, as iniciativas de entender como essas redes funcionam, como

    seus fluxos atuam e como as pessoas podem delas se aproveitar para

    compartilhar e, mesmo construir conhecimento, so mais do que necessrias.

    Conclui que ainda h um longo caminho a ser trilhado na busca de conhecer

    melhor como se comportam as redes de conhecimento em cincias e como os

    processos educativos se inserem para melhor entend-las e capitalizar seus

    recursos em prol de uma melhoria do ensino em cincias.

    PALAVRAS-CHAVE: Redes de Conhecimento; Compartilhamento do

    Conhecimento; Educao em Cincias; Anlise de Redes Sociais.

  • 5

    ABSTRACT

    This PhD Thesis is the main theme in the study of knowledge networks in

    science, also understood as social networks, and in its internal relations

    regarding the use of information sources. The research methodology was

    characterized in the cognitive perspective, descriptive, exploratory and

    qualitative, through a field research based on non-probability convenience

    sample of three classes of students. Matrices were used, graphics and

    sociograms for measuring the properties of centrality and density classes,

    beyond description and understanding of knowledge networks. The specific

    methodology was the Social Network Analysis (ARS), which allowed the

    analysis and evaluation of knowledge networks and information sources.

    Initially, it presents a historical perspective in order to show the emergence of

    the study of knowledge networks in different areas of knowledge and,

    consequently, in the context of science.This study does a survey on the

    theoretical concept of networks, social networks, networks of knowledge, the

    scientific field in Bourdieu's perspective, the sources of information and science

    education. Contemporary society is characterized by being a connected society,

    a network society, and in this scene, the initiatives to understand how these

    networks work, how their work flows and how people can take advantage of

    them to share and even build knowledge, are more than necessary. Finally, it

    concludes that there is still a long way to go in search of better understanding

    how they behave knowledge networks in science and how educational

    processes are embedded to better understand them and capitalize on its

    resources towards a better education in science.

    KEYWORDS: Knowledge Networks; Knowledge Sharing; Science

    Education; Social Networks Analysis.

  • 6

    SUMRIO

    1 INTRODUO...................................................................................10

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 Redes.....................................................................................................12

    2.2 Redes Sociais........................................................................................17

    2.3 Redes de Conhecimento......................................................................19

    2.4 Anlise de Redes Sociais (ARS)..........................................................21

    2.5 Campo Cientfico..................................................................................32

    2.6 Fontes de Informao...........................................................................37

    2.7 Educao em Cincias.........................................................................42

    Referncias.................................................................................................43

    3 ARTIGO: REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E O USO

    DAS FONTES DE INFORMAO: primeiros resultados da

    pesquisa.

    3.1 Introduo..............................................................................................50

    3.2 Procedimento Metodolgico................................................................51

    3.3 Anlise de Redes Sociais (ARS).........................................................51

    3.4 As Fontes de Informao......................................................................52

    3.5 A Rede Identificada...............................................................................52

    3.6 Concluses.............................................................................................55

    3.7 Bibliografia..............................................................................................56

    4 ARTIGO: REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E O USO

    DAS FONTES DE INFORMAO

    4.1 Introduo..............................................................................................57

    4.2 Objetivos................................................................................................57

    4.3 Abordagem Metodolgica....................................................................58

    4.4 Corpus da Pesquisa..............................................................................58

    4.5 Procedimentos Metodolgicos ...........................................................58

    4.6 Reviso da Literatura............................................................................58

    4.6.1 Anlise de Redes Sociais (ARS).......................................................58

    4.6.2 Fontes de Informao........................................................................60

  • 7

    4.6.3 Redes de Conhecimento...................................................................60

    4.7 Rede Identificada..................................................................................61

    4.8 Resultados.............................................................................................62

    4.8.1Os alunos e os Professores ..............................................................62

    4.8.2 Fontes de Informao Pessoais: Pacientes.....................................71

    4.8.3 Fontes de Informao Bibliogrficas................................................72

    4.8.4 Internet.................................................................................................73

    4.9 Concluses............................................................................................73

    4.10 Referncias ........................................................................................74

    5 ARTIGO: REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS E SUAS

    RELAES DE COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

    5.1 Introduo............................................................................................. 76

    5.2 Bases Tericas......................................................................................77

    5.3 Material e Mtodos ...............................................................................79

    5.4 Resultados e Discusso.......................................................................80

    5.4.1 Anlise Estrutural das Redes ...........................................................80

    5.4.2 Densidade das Redes........................................................................82

    5.4.3 Centralidade das Redes.....................................................................86

    5.4.4 Indice de Centralizao......................................................................87

    5.4.5 Grau de Intermediao.......................................................................89

    5.4.6 Grau de Proximidade .........................................................................90

    5.4.7 Centralidade de Bonacich .................................................................91

    5.5 Concluses............................................................................................92

    5.6 Referncias............................................................................................93

    6 ANLISE DAS REDES DE CONHECIMENTO EM CINCIAS:

    interaes das turmas 2009/2, 2010/1 E 2010/2

    6.1 Introduo..............................................................................................96

    6.2 Caracterizao das Trs Redes............................................................97

    6.3 Construo do Questionrio................................................................98

    6.4 Rede de Interaes entre os Atores..................................................102

    6.5 Densidade da Rede..............................................................................110

    6.6 Grau de Centralidade..........................................................................117

  • 8

    6.7 ndice de Centralizao.......................................................................123

    6.8 Grau de Intermediao........................................................................124

    6.9 Grau de Proximidade ..........................................................................130

    6.10 Discusso Geral dos Resultados.....................................................134

    6.11 Referncias........................................................................................138

    7 CONCLUSES.....................................................................................139

  • 9

    1 INTRODUO

    O estudo de redes tem adquirido importncia relevante e fundamental na

    vida em sociedade, especialmente num cenrio de mundo conectado e

    dominado, cada dia mais, pelas tecnologias de informao e comunicao.

    Estamos cada vez mais envolvidos com o discurso de redes e, cada

    vez mais comum encontrarmos no discurso da mdia citaes variadas de

    redes de negcios, rede de relacionamentos sociais, rede neural, rede digital,

    rede de cientistas e, at mesmo rede terrorista. Assim que somos uma

    sociedade em rede, mesmo sem a conscincia disto.

    A pergunta necessria: o que uma rede? Na verdade, uma teia de

    ns (elementos) e links (conexes) entre esses ns. Tanto na natureza quanto

    na sociedade, a maioria das redes dinmica, em razo da mudana de

    comportamento de seus elementos, entrada e sada destes e alterao tanto

    das conexes entre os elementos quanto da natureza das interaes entre os

    elementos conectados.

    Como a dinmica de vrias redes assemelha-se a sistemas complexos e

    como tal so estudados, muitos sistemas complexos so estudados como se

    fossem redes.

    O estudo atual das redes insere-se num contexto mais amplo do avano

    da cincia, cujas fronteiras esto sendo desafiadas pelas chamadas cincias

    da complexidade, que esto em constante evoluo no estudo dos sistemas

    complexos.

    Mais do que conhecer as partes, necessrio compreender a dinmica

    organizacional por trs da formao da rede, que faz emergir a configurao da

    rede em determinado momento, a configurao do todo. Entender as inter-

    relaes simultneas e seus resultados no planejados essencial para tratar

    os problemas complexos em rede que enfrentamos, tais como apages

    eltricos, epidemias, crises financeiras e at mesmo questes sociais mais

    amplas, como a distribuio de riquezas.

    Este trabalho se prope a caracterizar as redes de conhecimentos que

    atuam no campo cientfico, em suas relaes entre os atores e com o uso de

    fontes de informao.

  • 10

    Para tanto, iniciamos o texto com uma contextualizao terica sobre

    redes, redes sociais e redes de conhecimento. Depois passamos a abordar,

    mais detalhadamente, a metodologia de Anlise de Redes Sociais (ARS) e

    como ela pode nos ajudar a conhecer melhor as redes. A seguir,

    contextualizamos o campo cientfico da perspectiva de Pierre Bourdieu para

    entendermos as relaes que se estabelecem entre as redes e a cincia. Por

    fim, conceituamos as diferentes fontes de informao disponveis, neste

    ambiente conectado, chegando educao em cincias como forma de

    mostrar a importncia e a relevncia da temtica das redes no mbito do

    ensino de cincias.

    Logo aps o referencial terico, temos o artigo Redes de Conhecimento

    em Cincias e o Uso das Fontes de Informao: primeiros resultados da

    pesquisa, apresentado oralmente e publicado nos Anais do III Congreso

    Iberoamericano de Filosofa de La Ciencia y de La Tecnologa, na seo

    Sociologia da Cincia e da Tecnologia, em Buenos Aires (AR), em setembro de

    2010.

    Em continuidade, apresentamos o artigo Redes de Conhecimento em

    Cincias e o Uso das Fontes de Informao, trabalho que traz as anlises

    finais, abordadas preliminarmente no artigo anterior e, em submisso ao

    peridico Dilogos & Cincia.

    Em sequncia, temos o artigo Redes de Conhecimento em Cincias e

    suas Relaes de Compartilhamento do Conhecimento, apresentado

    oralmente e publicado nos Anais do VIII ENPEC Encontro Nacional de

    Pesquisa em Educao em Cincias, na seo Formao de Professores em

    Cincias, em Campinas (SP), em dezembro de 2011.

    Conclumos a tese apresentando o trabalho Anlise das Redes de

    Conhecimento em Cincias: interaes das turmas 2009/2, 2010/1 E 2010/2,

    que traz com maior detalhamento, incluindo tabelas, quadros e histogramas, as

    anlises de compartilhamento do conhecimento das redes estudadas.

    Finalmente, a concluso mostra a importncia do presente estudo, alm

    de ressaltar a necessidade de aprofundamento da temtica das redes no

    ensino de cincias.

  • 11

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 REDES

    A temtica da rede nunca esteve to presente na linguagem e no

    pensamento atual. Castells (1999) atribui ao desenvolvimento da

    microeletrnica e das tecnologias de comunicao, baseadas em softwares, o

    grande interesse pelo assunto redes, quando as redes aparecem para ser a

    forma organizada da vida, incluindo a vida social. Sylvain Allemand (2000)

    props uma viso panormica do fenmeno e observou que a noo de rede

    apresenta fatos novos (NTIC, empresa em rede,...) e antigos (crculo, cl,

    dispora, etc.). Contudo, evidente que o interesse pela noo de rede traduz

    uma mudana no modo de observar a realidade, particularmente quando se

    observa as relaes que o indivduo mantm com outro, preferentemente sua

    categoria social.

    Originalmente o termo rede refere-se a um pequeno filet para pegar

    pssaros ou caa mida (PEREIRA, 2008). A partir do sculo XVI, passa a

    designar, de forma mais ampla, uma pea em forma de rede com malhas mais

    ou menos largas e, por analogia, um tecido formado de pequenas malhas

    chamado, mais tarde, de arrasto. Pode tambm significar um conjunto de

    pessoas, ou organizaes que trabalham comunicando-se entre si.

    A integrao propiciada pelas redes remete-se uma das importantes

    experincias ocorrida no sculo XVIII a Teoria dos Grafos que contribuiu

    para a formao da teoria das redes. Foi realizada por Leonhard uler na

    criao do primeiro teorema da teoria dos grafos (CARDOSO e SILVA, 2011).

    O estudo de redes tem tido objeto do estudo de diferentes autores, tais

    como Callon (1989), Callon e Latour (1991), Latour (1983, 1990, 2000), Latour

    e Woolgar (1997), Knorr-Cetina (1981, 1982), Castells (1999), de acordo com

    interesses e formulaes bastante distintas, seja enfocando a atividade

    cientfico-tecnolgica contempornea a tecnocincia -, utilizando noes de

    laboratrio expandido (Callon), redes de atores (Latour) e arenas

    transepistmicas (Knorr-Cetina), seja abordando as transformaes mais

    amplas na sociedade, mediante conceitos como informacionalismo, espaos

    de fluxos e tempo intemporal (Castells).

  • 12

    Parte-se ento do conceito de rede, expresso na obra de Castells

    (1999), onde rede um conjunto de ns interconectados e, n o ponto no

    qual uma curva se entrecorta. De forma concreta, o que um n representa

    depende do tipo de redes concretas. A topologia definida por redes determina

    que a distncia (ou intensidade e freqncia da interao) entre dois pontos (ou

    posies sociais) menor (ou mais freqente, ou mais intensa), se ambos os

    pontos forem ns de uma rede do que se no pertencerem mesma rede.

    Assim, as redes so estruturas abertas capazes de expandir de forma

    ilimitada, integrando ns desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou

    seja, desde que compartilhem os mesmos cdigos de comunicao, por

    exemplo, valores ou objetivos de desempenho.

    Os diagramas propostos originalmente por Paul Baran (1964), num

    documento em que descrevia a estrutura de um projeto que mais tarde se

    converteria na Internet, apresentava a estrutura de rede centralizada,

    descentralizada e distribuda, conforme a figura abaixo

    Fonte: Baran (1964).

    Entre a monocentralizao (o grau mximo de centralizao, que no

    diagrama de Baran aparece como rede centralizada) e a distribuio mxima

    (todos os caminhos possveis, correspondendo ao nmero mximo de

    conexes para um dado nmero de nodos - que no aparece no terceiro grafo

    do diagrama de Paul Baran, por razes de clareza de visualizao), existem

  • 13

    muitos graus de distribuio. entre esses dois limites que se realiza a maioria

    das redes realmente existentes. Portanto, no parece muito consistente falar

    de rede centralizada ou rede distribuda, a no ser, em termos matemticos,

    como limites.

    A partir de certo nmero de nodos, nenhuma rede social real consegue

    ser totalmente centralizada (isso seria supor a inexistncia de conexes entre

    os nodos, mas apenas de conexes entre o nodo central e os outros nodos).

    Ora, a partir de certo nmero de nodos impossvel que isso acontea, pois

    o prprio tamanho (social) do mundo que impe um determinado nmero

    mnimo de conexes entre quaisquer nodos escolhidos aleatoriamente. Assim,

    mesmo que no queiramos, os nodos ligados a um centro tendem tambm a

    estar ligados entre si em alguma medida. Esse nmero de nodos a partir do

    qual uma rede no conseguir mais permanecer centralizada depende do

    mundo em que se est, dos seus graus de separao.

    Por sua vez, as atividades biotecnolgicas constituem-se,

    fundamentalmente, em fenmenos de redes; ou seja, em "sistemas de

    arquitetura aberta". Tais sistemas se apresentam como prticas sociais

    complexas, compondo mltiplas articulaes inter-organizacionais, com

    fronteiras no muito delimitadas no mbito de cada unidade organizacional,

    sistemas normativos altamente instveis e muito dinmicos, e trocas intensas

    entre vrios pontos, conexes e atores componentes das redes (CALLON,

    1989; CALLON & LATOUR, 1991).

    Trigueiro (2006) diz que, ao se pensar a prtica biotecnolgica como um

    fenmeno de redes, pretende-se insistir em diferentes tipos de atores

    conectados entre si e possibilitando ampla variedade de trocas. Assim,

    conforme o autor, as grandes cadeias de indstrias so responsveis pelo

    fornecimento de insumos, equipamentos e recursos tecnolgicos

    indispensveis prtica biotecnolgica montante do processo de pesquisa;

    cientistas, empresrios, tcnicos e estudantes das mais distintas formaes e

    perfis acadmicos atuam na transformao de insumos e conhecimentos em

    produtos, processos e novos resultados biotecnolgicos; e outro conjunto bem

    diversificado de indstrias e interesses comerciais e cientficos utiliza tais

    resultados, gerando produtos de grande interesse prtico econmico e social,

  • 14

    atingindo vrios outros setores da sociedade, consumidores, governantes e o

    pblico em geral.

    O uso das redes no se restringe apenas aos estudos sociolgicos,

    alcanando outras esferas do conhecimento e chegando at a arte. Mark

    Lombardi, pesquisador da arte e artista, acumulou um enorme arquivo sobre

    escndalos financeiros e suas implicaes polticas, e organizou suas notas

    com a ajuda de esquemas, chamados por ele de estruturas narrativas, os quais

    se converteram, em 1993, no prprio objeto de seu trabalho: intrincados

    diagramas que tornam visvel a trama de relaes entre o poder poltico e

    econmico em escala transnacional.

    O desenho de Lombardi, como mostra a Figura 1, oferece uma estrutura

    visual a um conjunto de dados e relaes aparentemente desconexos, que, de

    outra maneira, seriam impossveis de entender como sistema e,

    estruturalmente semelhantes aos sociogramas, o tipo de desenho grfico

    utilizado no campo da anlise de redes sociais. Baseados inteiramente em

    arquivos de acesso pblico, como a imprensa, livros e a internet, os desenhos

    de Lombardi apresentam relaes comprovveis, sem estabelecer

    necessariamente a dimenso de causalidade entre os fatos. Entretanto, seu

    valor documental inegvel, como fica provado pelo fato de que um de seus

    desenhos, BCCI-ICIC & FAB, 1972-91, foi analisado detalhadamente pela CIA,

    a raiz dos ataques do 11 de setembro de 2001, em Nova York (HOBBS, 2003).

  • 15

    Figura 1: World Finance Corporation and Associates, c. 1970-84: Miami, Ajman, and Bogota-Caracas (Brigada 2506: Cuban Anti-Castro Bay of Pigs Veteran), 7th version. 1999. Detalhe. Lpis colorido e grafite sobre papel. 176 x 213,5 x 6 cm. Coleo Susan Swenson e Joe. (Fonte: 8 Bienal do Mercosul) Marteleto (2001) menciona que o conceito de redes tributrio de um

    conflito permanente entre diferentes correntes nas cincias sociais, que criam

    os pares dicotmicos - indivduo/sociedade; ator/estrutura; abordagens

    subjetivistas/objetivistas; enfoques micro ou macro da realidade social -,

    colocando cada qual a nfase analtica em uma das partes.

    Assim, as redes surgem como um novo instrumento face aos

    determinismos institucionais. Entretanto, ainda pouco se sabe sobre sua

    natureza, suas caractersticas bsicas, formas de existncia e seu

    funcionamento.

  • 16

    2.2 REDES SOCIAIS

    Uma rede social pode ser considerada uma estrutura social, composta

    por pessoas ou organizaes, conectadas por um ou vrios tipos de relaes,

    que compartilham valores e objetivos comuns. Uma das caractersticas

    fundamentais na definio das redes sua abertura e porosidade,

    possibilitando relacionamentos horizontais e no hierrquicos entre os

    participantes. Redes no so, portanto, apenas outra forma de estrutura, mas

    quase uma no estrutura, no sentido de que parte de sua fora est na

    habilidade de se fazer e desfazer rapidamente, afirmam Duarte e Frei (2008).

    J Marteleto (2001) relata que a rede social, derivando do conceito de rede

    como um sistema de nodos e elos, ou uma estrutura sem fronteiras, ou uma

    comunidade no geogrfica, ou ainda um sistema de apoio ou um sistema

    fsico que se parea com uma rvore ou uma rede, passa a representar um

    conjunto de participantes autnomos, unindo idias e recursos em torno de

    valores e interesses compartilhados.

    Muito embora um dos princpios da rede seja sua abertura e porosidade,

    por ser uma ligao social, a conexo fundamental entre as pessoas se d

    atravs da identidade. "Os limites das redes no so limites de separao, mas

    limites de identidade. (...) No um limite fsico, mas um limite de expectativas,

    de confiana e lealdade, o qual permanentemente mantido e renegociado

    pela rede de comunicaes" (CAPPRA, 2008, p.156).

    As redes sociais tm adquirido importncia crescente na atual sociedade

    e, caracterizam-se primariamente pela autogerao de seu desenho, por sua

    horizontalidade e sua descentralizao.

    Um ponto em comum dentre os diversos tipos de rede social o

    compartilhamento de informaes, conhecimentos, interesses e esforos em

    busca de objetivos comuns. A intensificao da formao das redes sociais,

    nesse sentido, reflete um processo de fortalecimento da sociedade civil, em um

    contexto de maior participao democrtica e mobilizao social.

    Para Machado (2009, p. 45), existem trs fatores motivadores principais

    na formao das redes sociais:

    As pessoas: partindo do pressuposto da atrao em torno de uma

    personalidade carismtica ou de algum que disponha de um conhecimento

    que interessa a outros;

  • 17

    As idias: troca de idias sobre interesses diversos, pode ser um grupo

    de estudos temticos, podendo ser um agrupamento de pessoas em torno de

    um tema polmico;

    Os projetos: empreendimento temporrio ou uma seqncia de

    atividades com comeo, meio e fim, que tem por objetivo fornecer um produto

    singular, que contribua, para o crescimento pessoal, profissional ou

    educacional de todo o grupo.

    Por sua vez, as redes sociais online podem operar em diferentes nveis,

    como redes de relacionamentos, como Facebook, Orkut, Myspace, Twitter, que

    so um servio online, plataforma ou site que foca em construir e refletir redes

    sociais ou relaes sociais entre pessoas, que, p.ex., compartilham interesses

    e/ou atividades; redes profissionais, como Linkedln, prtica conhecida como

    networking, que procura fortalecer a rede de contatos de um indivduo, visando

    futuros ganhos pessoais ou profissionais; redes comunitrias, como as redes

    sociais em bairros ou cidades, em geral tendo a finalidade de reunir os

    interesses comuns dos habitantes, melhorar a situao do local ou prover

    outros benefcios; redes polticas e outras. Tais redes permitem analisar a

    forma como as organizaes desenvolvem a sua atividade, como os indivduos

    alcanam os seus objetivos ou medir o capital social o valor que os indivduos

    obtm da rede social.

    Assim, as redes sociais so uma representao de entidades - pessoas,

    empresas, entre outros - ligadas entre si, atravs de uma ou mais relaes

    especficas. As redes sociais podem ser analisadas em diferentes nveis, como,

    por exemplo, definir e analisar uma rede social na qual cada n uma empresa

    dentro de um ecossistema (incluindo toda a cadeia de valor), assim como se

    pode analisar a dinmica de redes sociais menores, como uma equipe ou

    grupos de equipes especficos.

    O conceito de redes sociais no provm de um campo de estudos

    referentes comunicao. Vlez (2010) menciona que, grande valor dado s

    representaes sociais, aos imaginrios e anlises de contedos e discursos.

    Entretanto, a proposta relacional, resultante da anlise de redes sociais ou

    qualquer conceito relacional, est ausente das anlises da comunicao.

    O mbito de estudos em redes sociais abrange uma amplitude de

    campos de pesquisa e unidades de anlise. Cresce o interesse cientfico e

  • 18

    prtico em compreender como atores estabelecem articulaes e interagem

    configurando redes sociais. Tais unidades de anlise inserem-se em um campo

    de pesquisa dotado de ferramentas conceituais e metodolgicas, que permitem

    a anlise de elementos estruturais e da dinmica relacional dos atores,

    rompendo nveis de anlises isolados, exclusivamente centrados no indivduo

    ou em uma estrutura social independente e soberana. Ribeiro e Bastos (2011)

    afirmam que o mapeamento de redes de relaes entre atores (indivduos ou

    entidades coletivas), as posies ocupadas por esses, a quantidade, a

    natureza e os sentidos dos fluxos de informao disponveis so eixos centrais

    de anlise de muitos fenmenos.

    2.3 REDES DE CONHECIMENTO

    As redes de conhecimento podem ser definidas como espaos onde

    ocorrem a troca de informaes e experincias entre profissionais de diversas

    reas (SCHWARTZ, 2002). A popularizao dos estudos sobre os processos

    de constituio e dinmicas organizacionais das redes de conhecimento so

    recentes e se devem, principalmente, aos seguintes fatores:

    - o conhecimento, em suas mais variadas formas, tornou-se

    determinante para a competitividade tanto de empresas como de pases

    (TERRA, 2000);

    - a difuso na utilizao dos meios eletrnicos de produo de contedo

    e comunicao permitiu transformar a informao anteriormente vinculada a

    uma localizao fsica em bits digitais. Esta informao digital passa a ser

    transmitida, reproduzida, copiada e alterada, de forma bastante simples, e a um

    custo bastante reduzido (FLEURY, 2001).

    Surgem a partir da necessidade que empresas e indivduos tem em

    conhecer novos temas ou aprofundarem-se naqueles temas em que so

    especialistas, motivadas pela realidade multidisciplinar e multicultural

    vivenciada atualmente, e que demanda o domnio de diversas disciplinas e das

    interaes existentes entre as mesmas (SIMON, 2001).

    Para que o conhecimento possa ser transformado em patrimnio, ele

    deve ser gerenciado, e para isto, alguns procedimentos devem ser

    considerados (SPENDER, 2001):

  • 19

    - o conhecimento deve ser identificado, sendo transformado de tcito

    (aquele conhecimento pessoal, particular e de difcil comunicao) para

    explcito (aquele registrado, documentado e de fcil apropriao por qualquer

    pessoa);

    - para que possa ser considerado como um ativo corporativo, o

    conhecimento deve ter seus custos de criao ou aquisio, manuteno,

    armazenagem, transferncia e aplicao contabilizadas;

    - polticas administrativas de transporte, armazenagem, comercializao

    e armazenagem de conhecimento devem ser estabelecidas.

    Logo, para que o conhecimento se transforme em riqueza individual ou

    corporativa, ele deve ser desenvolvido; caso contrrio, volta a ser um

    aglomerado de informaes, sem valor prprio. O processo de

    desenvolvimento do conhecimento, individual ou corporativo, deve ser formal, e

    as redes de conhecimento devem dispor de ferramentas e procedimentos que

    contribuam para a formalizao deste conhecimento. Uma das maneiras mais

    eficazes de transformar informaes em conhecimento numa rede atravs do

    envolvimento dos participantes no desenvolvimento de projetos cooperativos.

    A rede de conhecimento o processo de virtualizao que se utiliza da

    rede concreta. Isto no tem nada a ver com rede material, pois os

    computadores que formam a rede tambm so mquinas abstratas. A

    virtualizao o processo de criao. A virtualizao envolve a repetio de

    onde brota a diferena. Existe tambm a repetio do mesmo, mas esta no

    criadora, o que cria a repetio que gera o diferente (Deleuze e Gattari,

    2001).

    As redes de conhecimento contemporneas so espaos de

    reconhecimento hbridos, nos quais pulsam fluxos de informao analgicos e

    digitais, locais e globais, controlados e autnomos, centralizados e

    descentralizados, certificados e annimos. Participar dessas redes, ou seja,

    estar alfabetizado digitalmente , sem dvida, uma incluso (Schwartz, 2005).

    O artigo Redes de conhecimento, de Maria Ins Tomal, traz uma

    viso ampla sobre as redes de conhecimento, com abordagens da Cincia da

    Informao e da Administrao. Defendendo a importncia da cooperao

    entre os atores envolvidos no processo mostra o aliceramento de ideias para

    um fim maior, proporcionando interao entre os membros. Para que isto

  • 20

    ocorra, segundo Tomal (2008), [...] necessrio estar acessvel ampliao

    ou ao recuo das fronteiras de aes individuais e organizacionais, estar livre

    a negociaes e predisposto a compartilhar informao e conhecimento para o

    bem comum.

    Aproveitando o ensejo de Castells (1999, p. 498 apud TOMAL, 2008),

    as redes permitem outros/novos mtodos de organizao do poder e

    estruturao social. Isso se d a partir da essencial participao de todos

    envolvidos no processo, em vrios pontos.

    O conceito de redes pode ser um instrumento importante para auxiliar na

    compreenso dos processos de interao institucional e de gerao do

    conhecimento. As redes podem ser identificadas como um conjunto de ns e

    suas relaes, e compreendidas a partir de um novo modelo de interaes e

    organizaes sociais, onde a informao o elemento chave e seu fluxo entre

    as redes constitudas pelos atores dessa teia social, representa a energia

    dessa estrutura (DIDRIKSSON, 2000).

    2.4 ANLISE DE REDES SOCIAIS (ARS)

    A anlise de redes sociais surgiu como uma tcnica chave na sociologia

    moderna, vinda de um conceito da Sociologia e Antropologia Social. No final do

    sculo XX, o termo passou a ser olhado como um novo paradigma das cincias

    sociais, vindo a ser aplicada e desenvolvida no mbito de disciplinas to

    diversas como a antropologia, a biologia, os estudos de comunicao, a

    economia, a geografia, as cincias da informao, a psicologia social , no

    servio social e, mais particularmente, no mbito da sade.

    A ideia de rede social comeou a ser usada h cerca de um sculo

    atrs, para designar um conjunto complexo de relaes entre membros de um

    sistema social em diferentes dimenses, desde a interpessoal internacional.

    Em 1954, J. A. Barnes comeou a usar o termo sistematicamente para mostrar

    os padres dos laos, incorporando os conceitos tradicionalmente usados quer

    pela sociedade quer pelos cientistas sociais: grupos bem definidos (ex.: tribos,

    famlias) e categorias sociais (ex.: genero, grupo tnico). Estudiosos e

    acadmicos como S.D. Berkowitz, Stephen Borgatti, Ronald Burt, Kathleen

    Carley, Martin Everett, Katherine Faust, Linton Freeman, Mark Granovetter,

    David Knoke, David Krackhardt, Peter Marsden, Nicholas Mullins, Anatol

  • 21

    Rapoport, Stanley Wasserman, Barry Wellman, Douglas R. White ou Harrison

    White expandiram e difundiram o uso sistemtico da anlise de redes sociais,

    conforme aponta Freeman (2006).

    No Brasil, Balancieri (2010) afirma que parte das pesquisas em redes

    sociais vem sendo desenvolvidas por pesquisadores do campo da cincia da

    informao (MATHEUS; SILVA, 2006), seja na anlise de fluxos de

    transferncia de informao (MARTELETO, 2001), do compartilhamento de

    informao e conhecimento em organizaes (ALCAR et al., 2006; TOMAL

    et al., 2005; TOMAL; MARTELETO, 2006) ou no estudo de redes de

    colaborao cientfica (PARREIRAS et al., 2006; SILVA et al., 2006b) e de

    interdisciplinaridade (SILVA et al., 2006a). H tambm pesquisadores de outros

    campos da cincia utilizando-se das redes sociais para estudar os fluxos de

    informaes e conhecimento (FREITAS; PEREIRA, 2005; PEREIRA et al.,

    2007). Alm disso, diversos pesquisadores dedicam-se a desenvolver

    pesquisas no sentido de identificar e avaliar propriedades estatsticas de redes

    sociais (AMARAL et al., 2000; NEWMAN et al., 2001; WATTS; STROGATZ,

    1998).

    Em teoria, na estrutura das redes sociais os atores sociais se

    caracterizam mais por suas relaes do que por seus atributos (gnero, idade,

    classe social). Tais relaes tm uma densidade varivel, pois a distncia que

    separa dois atores maior ou menor e, alguns atores podem ocupar posies

    mais centrais que outros. Este fenmeno explicado por alguns toricos

    apontando a existncia de laos fortes e fracos e a dos buracos estruturais,

    onde se encontram os atores que no podem comunicar entre si, a no ser por

    intermdio dum terceiro (PEREIRA, 2008).

    No estudo da estrutura das redes sociais necessrio incluir as relaes

    de parentesco de seus membros, redes sociomtricas, capital social, redes de

    apoio, de mobilizao, interconexes entre empresas e redes de poltica

    pblica. Compem-se de trs elementos bsicos: Ns ou atores, Vnculos,

    Fluxos de informao (unidirecional ou bidimensional).

    A anlise de redes sociais (ou Social Network Analysis SNA) verifica

    as relaes sociais na forma de grficos de pontos interligados (grafos). Cada

    ligao entre dois pontos representa uma relao entre pares de indivduos

    (quem se comunica com quem, por exemplo).

  • 22

    Uma rede social (do ingls social network) consiste de um ou mais

    conjuntos finitos de atores [e eventos] e todas as relaes definidas entre eles

    (WASSERMAN e FAUST, 1994). Um ator em Anlise de Redes Sociais uma

    unidade discreta que pode de diferentes tipos: uma pessoa, ou um conjunto

    discreto de pessoas agregados em uma unidade social coletiva, como

    subgrupos, organizaes e outras coletividades. Estudos recentes apresentam

    um modelo de anlise que, entre outras coisas, procura identificar as pessoas

    que funcionam como conectores e brokers nas redes sociais. Os

    Conectores so pessoas que, constantemente, ligam um ator a outro.

    A noo do que se chamam redes sociais e os mtodos de anlise

    dessas redes tm sido bastante usados na comunidade cientfica para analisar

    relacionamentos entre entidades sociais e os padres e implicaes desses

    relacionamentos (WASSERMAN e FAUST, 1994, p. 3).

    Esses relacionamentos podem ser de diversos tipos (e.g. econmicos,

    polticos, afetivos e sociais). Trata-se, portanto, de um instrumental distinto dos

    tradicionais mtodos estatsticos e de anlise de dados. A anlise de redes

    sociais tem sido incorporada na cincia social, subsidiando pesquisadores para

    descrever fenmenos empricos onde se d importncia s interaes entre os

    atores de um determinado contexto social.

    A ARS considerada por Cross, Parker e Borgatti (2000) um importante

    instrumento para estudar relacionamentos que fomentam o compartilhamento

    da informao e do conhecimento. uma ferramenta que permite a

    identificao de indicadores de padres de relacionamentos que aprimoram a

    cooperao. Pode-se consider-la um recurso que identifica os atores mais

    influentes na rede, e est tornando-se, cada vez mais, um recurso estratgico

    na estruturao e criao de ligaes importantes.

    Alm da importncia s relaes entre os atores, Wasserman e Faust

    (1994, p. 4) destacam tambm que a anlise de redes sociais baseia-se nas

    seguintes premissas:

    Os atores e suas aes so vistas como interdependentes e, cada ator

    uma unidade autnoma;

    As ligaes ou as relaes entre atores so canais para transferir ou

    fluir recursos, sejam materiais ou imateriais;

  • 23

    Modelos de redes focalizam vises individuais do ambiente estrutural

    de rede, provendo oportunidades para as restries sobre aes individuais;

    Modelos de redes conceitualizam estruturas sociais, econmicas ou

    outras parecidas como os ltimos padres de relaes entre os atores.

    A anlise de redes sociais no toma como unidade de anlise o ator

    individual que faz parte da rede em estudo, mas a coleo de atores ou

    indivduos e as suas interaes. Segundo Wasserman e Faust (1994, p. 4), as

    regularidades ou padres de ligaes entre os atores so denominadas de

    estruturas. As ligaes podem ser de qualquer tipo de relacionamento entre os

    atores, como por exemplo: transaes comerciais, fluxos de recursos, fluxos de

    informaes, avaliao afetiva de uma pessoa em relao outra etc. O objeto

    da anlise de redes sociais estudar estas estruturas, seus impactos e

    evoluo.

    Segundo Marterleto (2001, p. 73), as redes nas cincias sociais

    designam normalmente mas no exclusivamente os movimentos

    fracamente institucionalizados, reunindo indivduos e grupos em uma

    associao cujos termos so variveis e sujeitos a uma reinterpretao em

    funo dos limites que pesam sobre suas aes. composta de indivduos,

    grupos ou organizaes, e sua dinmica est voltada para a perpetuao, a

    consolidao e o desenvolvimento das atividades de seus membros.

    Esta rea do conhecimento vem expandindo suas aplicaes e obtendo

    resultados surpreendentes que ajudam o entendimento sobre as relaes

    sociais. Por exemplo, o conceito de small-world, mundo pequeno, que surgiu

    de um experimento de Stanley Milgram, em 1967, foi um dos primeiros estudos

    quantitativos da estrutura de redes sociais (MILGRAM, 1967). Milgram lanou-

    se em um experimento social com o objetivo de encontrar a distncia entre

    duas pessoas quaisquer nos EUA, sendo que a pesquisa consistiu em enviar

    60 cartas a vrias pessoas em Nebraska, solicitando-lhes que as remetessem

    para outras pessoas residentes em Massachusetts.

    A condio que as pessoas deveriam passar as cartas em mos para

    outras pessoas de suas relaes pessoais que fossem capazes de alcanar os

    destinatrios, ou seja, diretamente ou via a opo amigo de um amigo. Parte

    das cartas alcanou seu destino e Milgram concluiu que ocorreram, em mdia,

    seis pessoas participarem na cadeia que levou uma carta de Nebraska para

  • 24

    Massachusetts. O nmero mdio de pessoas para fazer chegar uma carta ao

    alvo foi de 5,5, que arredondado 6 - os famosos seis graus de separao. Ao

    contrrio do que muitas pessoas pensam, no foi Milgram que cunhou a

    expresso seis graus de separao. Essa expresso teve sua origem em uma

    pea de teatro criada por John Guare, em 1990. A principal contribuio de

    Milgram foi chamar a ateno para o quanto estamos conectados e o

    fenmeno revelado pela pesquisa passou a ser conhecido pelo conceito de

    mundo pequeno (small-world). Conhecendo ou no os estudos de Erds e

    Rnyi (1958-68), Milgram escreveu que a sociedade no construda por

    conexes randmicas entre pessoas, mas que tende a ser fragmentada em

    classes e cliques sociais, antecipando algo que veio a ser provado

    analiticamente no ocaso do sc. XX.

    O experimento certamente continha possveis fontes de erros. Contudo,

    Freitas e Pereira (2005) mencionam, em seu trabalho, que resultados de vrias

    pesquisas constatam que dois atores escolhidos aleatoriamente podem estar

    conectados por uma cadeia de relaes intermedirias, determinando assim o

    efeito small-world.

    Outro estudo extremamente relevante foi o de Euler (1707-1782), que

    tornou-se o pai da Teoria dos Grafos quando resolveu um famoso problema de

    sua poca, chamado de Problema das Pontes de Knigsberg. No sc. XVIII, a

    cidade de Knigsberg, atualmente Kaliningrad, na Rssia, tinha sete pontes,

    cinco das quais ligavam a ilha Kneiphof, cercada pelo rio Pregel, com o

    restante da cidade. Um intrigante problema assolava a populao local: seria

    possvel encontrar um caminho atravessando as sete pontes sem nunca

    atravessar uma mesma ponte duas vezes?, conforme a Figura 2a. O problema

    era comear em qualquer uma das quatro reas, caminhar por cada ponte

    exatamente uma vez e retornar ao ponto de partida. Ao provar que o problema

    no tinha soluo, Euler substituiu cada rea de terra por um ponto e cada

    ponte por uma linha unindo os pontos correspondentes, assim produzindo um

    grafo. Este grafo mostrado na Figura 2b, onde os pontos esto rotulados de

    forma correspondente s quatro reas da Figura 2a. Mostrar que o problema

    no tem soluo equivalente a mostrar que o grafo da Figura 2b no pode ser

    atravessado.

  • 25

    Euler generalizou o problema e desenvolveu um critrio para que um

    dado grafo pudesse ser atravessado. O grafo deveria estar conectado e cada

    ponto deveria ser incidente a um nmero par de linhas. O grafo da Figura 2b,

    embora esteja conectado, no possui ponto nenhum que seja incidente a um

    nmero par de linhas. A partir do grafo das Pontes de Knigsberg, ele provou

    que no havia uma rota que cruzasse cada ponte apenas uma vez. Era

    necessrio inserir pelo menos mais uma ponte para tornar possvel esta

    soluo.

    Aps a descoberta de Euler, menciona Balancieri (2010) pode-se

    destacar as redescobertas da mesma teoria por Kirchhoff, em 1847, e Cayley,

    em 1857, que tratavam de aplicaes reais da teoria respectivamente na

    anlise de redes eltricas e de ismeros qumicos. No sculo XX, Lewin

    apresentou uma aplicao dos grafos na rea da Psicologia. Enfim, os grafos

    podem representar tpicos dentro das mais diversificadas temticas (HARARY,

    1972).

    Figura 2 a) Problema das Pontes de Knigsberg; b) Grafo do

    Problema das Pontes de Knigsberg; (HARARY, 1972, p.2)

    , no inicio do sc. XX, que surge a ideia de rede social, a ideia de que

    as relaes sociais compem um tecido que condiciona a ao dos indivduos

    nele inseridos. A metfora de tecido ou rede foi inicialmente usada na

    sociologia, para associar o comportamento individual estrutura a qual ele

    pertence e transformou-se em uma metodologia denominada sociometria, cujo

    instrumento de anlise se apresenta na forma de um sociograma. Apesar de

    haver um grande consenso entre os cientistas sociais de que Jacob Moreno,

    com seu trabalho sobre padres de amizade, em 1934, foi o fundador da

    sociometria, Freeman (1996) argumenta que h trabalhos anteriores de Almack

  • 26

    (1922), Wellman (1926), Cheveleva-Janovskaja (1927), Bott (1928), Hubbert

    (1929) e Hagman (1933), anteriores ao trabalho de Moreno (1934).

    Cientistas vm estudando as estruturas das redes sociais em diferentes

    reas (p.ex., comunicao, epidemiologia, psicologia, etc.). Um estudo

    freqente o fenmeno da inovao atravs das redes sociais, que significa

    considerar as relaes de trocas espontneas e procurar entender at que

    ponto a dinmica da inovao interfere nesse processo e vice-versa. Para

    tanto, usa-se a matemtica que, atravs da teoria dos grafos, estatstica,

    modelos algbricos, modelos de small-worlds e a teoria da probabilidade,

    refora e d suporte aos fundamentos tericos da anlise de redes sociais.

    Os conceitos fundamentais que compem a anlise de redes sociais

    so:

    Ator: Conforme j definido anteriormente, entende-se como ator

    qualquer entidade existente no contexto da aglomerao territorial que participe

    ou no dos processos de inovao podendo ser uma unidade coletiva,

    corporativa ou individual. Exemplos de atores so: pessoas de um grupo,

    turmas, equipes, departamentos de uma empresa, organizaes, agregados

    coletivos, cidades, estados, naes;

    Vnculo relacional: uma ligao mantida entre atores. So exemplos

    de vnculos relacionais: a avaliao de uma pessoa por outra, associao ou

    afiliao a um evento ou um clube, interao comportamental como falar com o

    outro, conexo fsica como uma estrada, relaes formais como a

    subordinao de pessoas etc.;

    Relao: Uma coleo de vnculos relacionais de um tipo especfico

    entre atores de um grupo. So exemplos de relaes: os amigos entre os pares

    de alunos de uma escola ou as ligaes formais diplomticas mantidas entre

    pares de naes do mundo;

    Subgrupo: um subconjunto de atores e todos os vnculos relacionais

    entre eles;

    Rede social: Uma rede social consiste de um conjunto finito de atores e

    as relaes existentes entre eles. A representao matemtica de uma rede

    baseada em: o um conjunto A contendo n atores e denotado por A = {a1, a2,

    ...., an}; o um conjunto R de pares de atores dado por R ={(an, aj), .... (ak, aj)},

    representando as relaes entre eles. O conjunto R composto de n atores

  • 27

    contm no mximo n(n-1)/2 pares considerando que independe a ordem entre

    os atores de um par, ou seja, que o par (an, aj) igual ao par (aj, an).

    Uma rede formada por atores A e relaes R, denotada pelo grafo G,

    representada graficamente por pontos ou ns (i.e. atores) e arcos entre os ns

    (i.e. relaes entre atores), i.e. G = (A, R). A rede social representa um

    conjunto de participantes autnomos, unindo idias e recursos em torno de

    valores e interesses compartilhados.

    As relaes podem ser direcionais ou no direcionais e as redes podem

    ter mais de uma relao. Um par de atores que formam uma relao denomina-

    se uma dade. Para cada conjunto de dades tem-se um grafo. O objetivo da

    anlise de redes sociais demonstrar que a anlise de uma dade s tem

    sentido em relao ao conjunto das outras dades da rede, porque sua posio

    estrutural tem necessariamente um efeito sobre sua forma, seu contedo e sua

    funo (MARTELETO, 2001, p. 72).

    Ao considerar apenas os fluxos de informaes entre atores ou ns de

    uma rede, distinguem-se as redes informacionais em trs tipos: espacial,

    organizacional e emergente (LAZER, 2003). Uma rede espacial aquela cujas

    conexes didicas so determinadas pela proximidade: cada ator comunica-se

    exclusivamente com outros atores na sua proximidade. Uma rede

    organizacional resultante das comunicaes dentro de uma organizao. As

    redes emergentes so resultantes de interesses e decises dos atores

    individuais que do ou no ateno a uma forma de relacionamento.

    Dentro do contexto apresentado, cabe tecer alguns comentrios sobre a

    representao matemtica de redes sociais. Uma rede de n atores de uma

    determinada relao pode ser representada por uma sociomatriz de n linhas e

    n colunas e o valor da ligao do ator ai para o ator aj colocada no elemento

    (i, j)-simo da matriz.

    Outra forma de representar uma rede a matriz de incidncia para

    representar uma relao rk = (ai, aj), onde h uma linha para cada ator e uma

    coluna para cada relao. Cada elemento dessa matriz zero, se o ator ai no

    participa da relao r, e igual a um caso contrrio. Esta matriz binria, no

    necessariamente uma matriz quadrada, e esse tipo de representao a mais

    adequada para o estudo proposto.

  • 28

    Uma vez definida a representao mais adequada para o estudo, busca-

    se identificar e selecionar um conjunto inicial de mtricas com vistas anlise

    proposta. Nesse sentido, considerou-se como aspecto importante para o

    diagnstico proposto a quantidade direta de relaes entre os atores da rede.

    Alm do mais, sendo a rede um ambiente de comunicao e troca, as

    informaes que circulam nela atingem tambm os atores de forma indireta.

    Assim, as mtricas escolhidas foram aquelas que indicam os aspectos

    relacionais diretos e indiretos entre os atores:

    Cliques: De acordo com Gross e Yellen (1999, p. 50), uma clique de

    um grafo G um subconjunto mximo de vrtices adjacentes mtuos em G.

    Isto significa que a medida de cliques de uma rede determina o subconjunto de

    ns, que so adjacentes a cada outro, e no existem outros ns que sejam

    tambm adjacentes a todos os ns do clique. A definio de clique um ponto

    de partida til para especificar a propriedade coesiva de subgrupos. Segundo

    essa definio, deve haver no mnimo trs ns para compor um clique. Os

    cliques podem representar uma instituio, um subgrupo especfico e mesmo

    identificar a movimentao em torno de um determinado problema

    (MARTELETO, 2001, p. 76). nos cliques que existe uma densidade maior de

    comunicao (LAZER, 2003, p. 4), ou seja, mais eficiente compartilhar

    informaes dentro de um grupo. Dentro deste contexto, as cliques emergem

    de uma necessidade coletiva para produzir alguma coisa de que todos se

    beneficiem e para a qual certa escala de atores requerida.

    Centralidade: A centralidade de um ator significa a identificao da

    posio em que se encontra em relao s trocas e comunicao na rede

    (MARTELETO, 2001, p.76). Assim, corresponde quantidade de relaes que

    se coloca entre um ator e outros atores. Por exemplo, em uma rede do tipo

    estrela, onde participam n atores e um ator ai tem ligaes com os outros n-1

    atores, a centralidade de ai a maior de todas. Essa medida d a indicao da

    visibilidade de um ator na rede. Um ator com grande centralidade est em

    contato direto e adjacente para muitos outros atores e, reconhecido pelos

    outros como o maior canal de informaes. Por sua vez, aqueles atores com

    baixo grau de centralidade so perifricos na rede, isto , se este ator for

    excludo ou removido, no h efeitos significativos nas relaes presentes. A

  • 29

    centralidade de uma rede dada pela variabilidade das medidas individuais

    dos atores e representada pelo desvio padro em relao ao valor mdio.

    Marteleto (2001, p.76) adverte para o fato de os indivduos, com mais

    contatos diretos em uma rede, no serem necessariamente aqueles que

    ocupam as posies mais centrais e esta ocorrncia pode ser explicada

    atravs do conceito de abertura estrutural. Um indivduo com poucas relaes

    diretas pode estar muito bem posicionado em uma rede por meio da utilizao

    estratgica de suas aberturas estruturais.

    Centralidade de proximidade: Denomina-se de centralidade de

    proximidade de um ator a sua independncia em relao aos outros e ele

    to mais central quanto menor o caminho que ele precisa percorrer para

    alcanar os outros elos da rede (MARTELETO, 2001, p. 78). Este tipo de

    centralidade depende no apenas das relaes diretas, mas das relaes

    indiretas, especialmente quando dois atores no esto adjacentes. O

    distanciamento de um ator a soma das distncias geodsicas (i.e. menor

    caminho entre os dois atores ai e aj e representada por d(ai, aj)) para todos os

    outros atores. O inverso do distanciamento a centralidade de proximidade.

    Centralidade de intermediao: Segundo Marteleto (2001, p. 79) a

    centralidade de intermediao (betweeness centrality) o potencial daqueles

    atores que servem de intermedirios. Representa o quanto um ator atua como

    ponte, facilitando o fluxo de informao em uma determinada rede. Ou seja, a

    interao entre dois atores no adjacentes pode depender de outros atores do

    conjunto de atores, especialmente daqueles que participam no caminho entre

    os dois. Estes outros atores podem, potencialmente, ter algum controle sobre

    as interaes entre os dois atores no adjacentes. Por exemplo, a distncia

    entre os atores a2 e a3 dada por a2, a1, a4, a3, i.e., o caminho mais curto

    entre estes atores tem que passar atravs de dois outros atores (a1 e a4),

    ento podemos dizer que os dois atores contidos no caminho pode ter controle

    sobre a interao entre a2 e a3. Vale ressaltar que o papel da mediao

    implica um exerccio de poder, de controle e de filtro de informaes que

    circulam na rede.

    Coeficiente de agrupamento: Define-se o coeficiente de agrupamento c

    como a frao mdia de pares de atores prximos de um ator que tambm so

    prximos de outros. Em uma rede completamente conectada, na qual todos

  • 30

    conhecem todos, o coeficiente de agrupamento c = 1. A aplicao desta

    mtrica para um arranjo produtivo d medida que os atores que dele

    participam so relacionados entre si e explica de alguma forma o grau de

    sinergia possvel do grupo como um todo (WASSERMAN & FAUST, 1994).

    Reafirma-se a possibilidade de entender o fenmeno das redes de

    conhecimento, no contexto das cincias, atravs da anlise de redes sociais,

    pois esta considera as relaes de trocas e procura entender at que ponto a

    dinmica do conhecimento cientfico compartilhado e interfere nesse

    processo e vice-versa. A anlise das mtricas propostas propiciar elementos

    para apontar possveis intervenes que permitam aperfeioar as interaes

    entre os atores para fins de compartilhamento do conhecimento cientfico.

    A organizao do estudo est baseada em uma idia que Leroy-Pineau

    (1994:24) chamou de "eficcia" das redes. Segundo Marteleto (2007), o

    conceito de rede tem, em termos gerais, uma dupla aplicao (ou eficcia): a

    "utilizao esttica" e a "utilizao dinmica".

    A utilizao esttica explora a rede estrutura, ou seja, lana mo da idia

    de rede para melhor compreender a sociedade ou um grupo social por sua

    estrutura, seus ns e suas ramificaes. Essa foi a contribuio que o enfoque

    de redes sociais deu sociologia e a outras cincias. A utilizao dinmica

    explicita a rede sistema, o que significa trabalhar as redes como uma estratgia

    de ao no nvel pessoal ou grupal, para gerar instrumentos de mobilizao de

    recursos. Para o pesquisador, a idia de redes tem a utilizao esttica. Para

    os grupos estudados, a utilizao dinmica.

    A anlise de redes sociais como ferramenta de pesquisa permite

    identificar e compreender relaes entre atores a partir da visualizao grfica

    das interaes e dos clculos de indicadores macro e microestruturais. Sua

    utilizao necessita ser complementada por dados empricos que permitam a

    identificao e anlise das relaes entre atores, seus atributos e as

    implicaes disso no contexto especfico do estudo. Integrar posio dos atores

    e papis que exercem, descrevendo-os em funo das relaes que

    estabelecem, e no apenas em funo de seus atributos, significa considerar

    as relaes em si mesmas to importantes quanto os atores que a

    estabelecem (Degenne & Fors, 2004; Marteleto, 2001).

  • 31

    Neste estudo foram utilizados esses dois caminhos, ou seja, tanto o

    conceito de redes, que contribuiu ao trazer uma nova metodologia para as

    cincias, quanto s novas possibilidades que ele traz, na prtica, para grupos

    organizados no ambiente acadmico.

    2.5 O CAMPO CIENTFICO

    Aqui se aborda a teoria dos campos de Pierre Bourdieu, que constitui o

    referencial terico-metodolgico utilizado nesta pesquisa e o espao onde as

    redes de conhecimento se configuram e atuam, trazendo o conceito de campo

    e de habitus e desenvolvendo a Teoria do Espao Social.

    A sociologia da cincia um ramo de estudo da sociologia, dentro do

    campo da sociologia do conhecimento, que estuda a influncia de fatores

    externos no desenvolvimento da cincia. Possui estreitas ligaes com a

    Histria da Cincia e, ganhou grande impulso com a publicao de A Estrutura

    das Revolues Cientficas, de Thomas Kuhn. Com a radicalizao da posio

    kuhniana, surgiram estudos cada vez mais radicais que pensavam a verdade

    cientfica como algo puramente conformado por fatores sociais, como as

    posies da Escola de Edimburgo e seu Programa forte de Sociologia, a

    antropologia da cincia de Bruno Latour, e toda uma vertente de estudos ps-

    kuhnianos e ps-modernos.

    A principal contribuio terica de Bruno Latour, ao lado de outros

    autores como Michel Callon, o desenvolvimento da ANT - Actor Network

    Theory (Teoria ator-rede) que, ao analisar a atividade cientfica, considera,

    enquanto variveis, tanto os atores humanos como os no humanos, estes

    ltimos devido sua vinculao ao princpio de simetria generalizada.

    Conhecido por seus livros que descrevem o processo de pesquisa cientfica,

    dentro da perspectiva construtivista que privilegia a interao entre o discurso

    cientfico e a sociedade, os de maior destaque so: Jamais Fomos Modernos e

    Cincia em Ao (LATOUR, 1983).

    Nesta vertente ainda aparece o filsofo de formao, Pierre Bourdieu,

    que desenvolveu, ao longo de sua vida, mais de 300 trabalhos abordando a

    questo da dominao e , sem dvida, um dos autores mais lidos, em todo o

    mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia, cuja contribuio alcana as

    mais variadas reas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas

  • 32

    como educao, cultura, literatura, arte, mdia, lingustica e poltica. Tambm

    escreveu muito analisando a prpria Sociologia enquanto disciplina e prtica.

    Dirigiu, por muitos anos, a revista "Actes de la recherche en sciences sociales"

    (1975) e presidiu o CISIA (Comit Internacional de Apoio aos Intelectuais

    Argelinos), sempre se posicionado clara e lucidamente contra o liberalismo e a

    globalizao.

    Sua discusso sociolgica centrou-se, ao longo de sua obra, na tarefa

    de desvendar os mecanismos da reproduo social que legitimam as diversas

    formas de dominao. Para empreender esta tarefa, Bourdieu (2002)

    desenvolveu conceitos especficos, retirando os fatores econmicos do

    epicentro das anlises da sociedade, a partir de um conceito concebido por ele

    como violncia simblica, no qual advoga acerca da no arbitrariedade da

    produo simblica na vida social, advertindo para seu carter efetivamente

    legitimador das foras dominantes, que expressam por meio delas seus gostos

    de classe e estilos de vida, gerando o que ele pretende ser uma distino

    social. O mundo social, para Bourdieu, deve ser compreendido luz de trs

    conceitos fundamentais: campo, habitus e capital.

    O eixo do trabalho de Bourdieu est situado na discusso das relaes

    de foras e dos processos que regulam as sociedades modernas, ou seja, na

    mediao entre o agente social e a sociedade. Sua problemtica terica funda-

    se em trs premissas bsicas, as quais articulam toda sua produo: o

    conhecimento praxiolgico, a noo de habitus e o conceito de campo. De

    forma genrica, pode-se dizer que Bourdieu substitui a idia de sociedade por

    "campos sociais".

    As idias do socilogo francs Pierre Bourdieu, utilizadas em diferentes

    domnios do conhecimento, apresentam possibilidades interpretativas

    extremamente profcuas para a leitura das redes de conhecimento em cincias.

    Bourdieu (2002) procura superar a oposio entre o subjetivismo e o

    objetivismo mediante uma relao suplementar, vertical, que medeia entre o

    sistema de posies objetivas e disposies subjetivas de indivduos e

    coletividades. O habitus referido a um /campo/, e se acha entre o sistema

    imperceptvel das relaes estruturais, que moldam as aes e as instituies,

    e as aes visveis desses atores, que estruturam as relaes.

  • 33

    O social constitudo por campos, microcosmos ou espaos de relaes

    objetivas, que possuem uma lgica prpria, no reproduzida e irredutvel

    lgica que rege outros campos. O campo tanto um campo de foras, uma

    estrutura que constrange os agentes nele envolvidos, quanto um campo de

    lutas, em que os agentes atuam conforme suas posies relativas no campo

    de foras, conservando ou transformando a sua estrutura (BOURDIEU, 1996,

    p.50). Os campos no so estruturas fixas. So produtos da histria das suas

    posies constitutivas e das disposies que elas privilegiam (BOURDIEU,

    2001, p.129). O que determina a existncia de um campo e demarca os seus

    limites so os interesses especficos, os investimentos econmicos e

    psicolgicos que ele solicita a agentes dotados de um habitus e as instituies

    nele inseridas. O que determina a vida em um campo a ao dos indivduos e

    dos grupos, constitudos e constituintes das relaes de fora, que investem

    tempo, dinheiro e trabalho, cujo retorno pago consoante a economia

    particular de cada campo (BOURDIEU, 1996, p.124).

    Assim, para Bourdieu, o espao social formado por diferentes campos.

    Para ele, o espao social compara-se a um espao geogrfico no interior do

    qual se recortam regies, ou seja, campos, sendo esse espao social

    construdo de maneira que quanto mais prximos estiverem os grupos ou

    instituies ali situados, mais propriedades eles tero em comum; quanto mais

    afastados, menos propriedades em comum eles tero (BOURDIEU, 2004,

    p.153).

    Os campos resultam de processos de diferenciao social, da forma de

    ser e do conhecimento do mundo. Como tal, cada campo cria o seu prprio

    objeto (artstico, educacional, poltico etc.) e o seu princpio de compreenso.

    So espaos estruturados de posies em um determinado momento. Podem

    ser analisados independentemente das caractersticas dos seus ocupantes,

    isto , como estrutura objetiva. So microcosmos sociais, com valores (capitais,

    cabedais), objetos e interesses especficos (BOURDIEU, 1990, p.32). O

    conceito de campo fruto do estruturalismo gentico de Bourdieu. Um

    estruturalismo que se detm na anlise das estruturas objetivas dos diferentes

    campos, mas que as estuda como produto de uma gnese, isto , da

    incorporao das estruturas preexistentes (BOURDIEU, 1990, p.24). Os

    campos so mundos, no sentido em que falamos no mundo literrio, artstico,

  • 34

    poltico, religioso, cientfico. So microcosmos autnomos no interior do mundo

    social. Todo campo se caracteriza por agentes dotados de um mesmo habitus.

    O campo estrutura o habitus e o habitus constitui o campo. O habitus a

    internalizao ou incorporao da estrutura social, enquanto o campo a

    exteriorizao ou objetivao do habitus.

    Para Bourdieu (1990, p. 89), campos so "espaos estruturados de

    posies (ou de postos) cujas propriedades dependem das posies nestes

    espaos, podendo ser analisadas independentemente das caractersticas de

    seus ocupantes (em parte determinadas por elas)".

    Independentemente de sua especificidade, os campos possuem leis

    gerais invariveis e propriedades particulares que se expressam como funes

    variveis secundrias. Com efeito, os conhecimentos adquiridos com um

    campo especfico so teis para se interrogar e interpretar outros campos.

    justamente nesse n que Bourdieu desenhou a "Teoria dos Campos".

    Um campo estrema-se, entre muitos aspectos, pela definio dos

    objetos de disputas e dos interesses especficos do prprio campo. Esses

    objetos e interesses so percebidos apenas por pessoas com formao

    apropriada para adentrarem no campo.

    Para que um campo funcione, entende Bourdieu (1983, p. 89), " preciso

    que haja objetos de disputas e pessoas prontas para disputar o jogo, dotadas

    de habitus que impliquem no conhecimento e reconhecimento das leis

    imanentes do jogo, dos objetos de disputas, etc.".

    A existncia do habitus , ao mesmo tempo, condio de existncia de

    um determinado campo e produto de seu funcionamento dentro de uma

    estrutura especfica. Para Bourdieu (1983, p. 90), a estrutura do campo um

    estado da relao de fora entre os agentes ou as instituies engajadas na

    luta ou, se preferirmos, da distribuio do capital especfico que, acumulado no

    curso das lutas anteriores, orienta as estratgias ulteriores. Esta estrutura, que

    est na origem das estratgias destinadas a transform-la, tambm est

    sempre em jogo: as lutas cujo espao o campo tm por objeto o monoplio

    da violncia legtima (autoridade especfica) que caracterstica do campo

    considerado, isto , em definitivo, a conservao ou a subverso da estrutura

    da distribuio do capital especfico.

  • 35

    Dentro dessa relao de fora, os agentes que monopolizam o capital

    especfico, mais ou menos completamente, tendem a estratgias que visem a

    manuteno da ordem estabelecida, freqentemente, com intransigncia em

    relao s mudanas no estado. Os agentes que possuem menos capital,

    inversamente, tendem a estratgias de subverso e rompimento com o estalo,

    dentro de certos limites.

    A transposio desses limites pode determinar a excluso dos mesmos

    do campo. Assim, as transformaes impostas por esses agentes so

    revolues parciais, ou seja, so revolues que no colocam em questo os

    fundamentos do objeto de disputas (jogo). Bourdieu (1983, p. 91) considera

    que [...] um dos fatores que coloca os diferentes jogos ao abrigo das

    revolues totais, cuja natureza destri no apenas os dominantes e a

    dominao, mas o prprio jogo precisamente a prpria importncia do

    investimento, em tempo, em esforos, etc., que supe a entrada no jogo e que,

    como as provas dos ritos de passagem contribuem para tornar praticamente

    impensvel a destruio pura e simples do jogo.

    Todos os agentes engajados num determinado campo possuem

    determinados interesses especficos comuns. Entre esses, o principal deles a

    existncia do prprio campo. A luta entre esses antagonistas pressupe um

    acordo sobre o que merece ser disputado e produz a crena no valor dessa

    disputa.

    Outro fator considerado como relevante a conservao do que se

    produzido dentro do campo. Essa conservao ocorre, normalmente, ligada a

    apario de um corpo de conservadores do passado e do presente e serve,

    aos detentores do capital especfico, para conservar e se conservar

    conservando. O autor considera tal atitude ou estratgia com o passado e com

    o presente como um dos ndices mais seguros da constituio de um campo.

    Tais estratgias, mesmo que objetivamente orientadas em relao a fins

    que no podem ser subjetivamente almejados, no buscam a maximizao de

    um lucro especfico. Elas ocorrem como relao inconsciente entre um habitus

    e um campo.

    Para Bourdieu, o habitus uma possibilidade vivel de construo de

    uma cincia das prticas isenta de finalismo e mecanicismo. O delineamento

    dado ao conceito o seguinte: o habitus, sistema de disposies adquiridas

  • 36

    pela aprendizagem implcita ou explcita que funciona como um sistema de

    esquemas geradores gerador de estratgias que podem ser objetivamente

    afins aos interesses objetivos de seus autores sem terem sido expressamente

    concebidos para esse fim. H toda uma reeducao a ser feita para escapar

    alternativa entre finalismo ingnuo [...] e a explicao do tipo mecanicista (que

    tornaria esta transformao por um efeito direto e simples de determinaes

    sociais). Quando basta deixar o habitus funcionar para obedecer necessidade

    imanente do campo, e satisfazer s exigncias inscritas (o que em todo campo

    constitui a prpria definio de excelncia, sem que as pessoas tenham

    absolutamente conscincia de estarem se sacrificando por um dever e menos

    ainda o de procurarem a maximizao do lucro especfico). Eles tm assim, o

    lucro suplementar de se verem e serem vistos como perfeitamente

    desinteressados (BOURDIEU, 1983, p. 94).

    2.6 FONTES DE INFORMAO

    Este trabalho aborda as relaes entre as redes de conhecimento e o

    uso que tais redes fazem das diferentes fontes de informao. Assim que,

    entendemos que a informao pode estar fixada na memria de uma pessoa, e

    como tal considerada uma fonte de informao, para dar continuidade a um

    conhecimento adquirido ao longo de sua vida. Da mesma forma, a informao

    pode estar em diferentes suportes e esta diversidade propicia a necessidade

    de estudos sobre as relaes entre as pessoas e as fontes de informao.

    De acordo com Martn Veja (1995), as fontes de informao podem ser

    todo vestgio ou fenmeno que forneam uma notcia, informao ou dados.

    Da, o uso mais corrente e vulgar com que se emprega a expresso fontes de

    informao, ao lado de sua considerao cientfica como sistematizao de

    alguns conhecimentos, o que as identifica com a origem da informao, seja

    de que tipo for. Com muita freqncia, os meios de comunicao denominam

    de fontes as pessoas que possam fornecer informaes relevantes para seus

    profissionais.

    Para Sainero et al. (1994), as fontes de informao constituem um

    conceito muito amplo, podendo ser considerados fontes de informao, os

    materiais ou produtos, originais ou elaborados, que fornecem notcias ou

    testemunhos, atravs dos quais se alcana o conhecimento, qualquer que seja

  • 37

    este. Segundo os autores, estes materiais ou produtos, que constituem as

    fontes de informao so passos, testemunhos ou conhecimentos, fornecidos

    pelo homem no transcorrer do tempo e podem ser restos biolgicos,

    monumentos, documentos, livros ou produtos digitais, todo aquele que

    contenha uma notcia, uma informao ou um dado.

    Esta considerao evidencia a amplitude do conceito de fontes de

    informao. Nele cabem todos aqueles elementos que, submetidos

    interpretao, podem transmitir conhecimento, tal como um hierglifo, uma

    cermica, um quadro, uma partitura musical, uma fotografia, um discurso, um

    livro, uma tese de doutorado e outros.

    O primeiro problema que surge na hora de definir-se o que so fontes

    de informao sua designao. Josefa Emilia Sabor, em 1957, j oferecia um

    extenso e detalhado trabalho sobre as mais significativas e utilizadas fontes de

    informao nas bibliotecas para satisfazer as necessidades informacionais de

    seus usurios.

    Trata-se, pois, de um termo composto por dois elementos justapostos

    que contam independentemente com uma grande carga semntica: fontes /

    informao. O segundo unido ao primeiro mediante uma preposio implica

    pertencimento. Termo muito genrico que, ao menos em dois setores, se

    identifica com um significado muito concreto, como o dos recursos

    necessrios para poder acessar-se a informao e o conhecimento em geral.

    E, no campo da Biblioteconomia se aplica, englobando todos os instrumentos

    que usa ou cria o profissional da informao para satisfazer as demandas e

    necessidades informativas dos usurios de qualquer unidade de informao,

    seja um arquivo, biblioteca ou centro de documentao.

    A primeira classificao, conforme Sainero et al. (1994), que se pode

    fazer em relao s fontes de informao diferenci-las em fontes

    documentais e fontes bibliogrficas. As fontes documentais relacionam-se

    quase que exclusivamente investigao histrica, estando extremamente

    vinculadas Heurstica, ou ainda, parte do mtodo que trata da busca e

    conhecimento das fontes da Histria. Por sua vez, as fontes bibliogrficas so,

    principalmente, livros, artigos e uma grande srie de produtos elaborados por

    diferentes especialistas que permitem obterem-se informaes.

  • 38

    Podemos considerar informao bibliogrfica aquela que se obtm de

    forma escrita, contida num documento que pode ser lido de maneira lgica,

    completa e independente. Tais fontes de informao esto relacionadas

    diretamente com os livros e, tem sua origem na bibliografia. Os livros so um

    dos primeiros meios de transmitir informao, seja direta ou indiretamente,

    encontrando-se disposio dos usurios, gerais ou especializados, segundo

    demandem literatura de divulgao ou cientfica, respectivamente.

    Porm, as fontes no se fixam unicamente em documentos, mas

    tambm contemplam e reconhecem a informao procedente de instituies,

    pessoas e, inclusive, dos prprios acontecimentos sociais. Como disse

    Gonzalez et al. (2007), considerada fonte de informao todo objeto ou

    sujeito que gere, contenha, administre ou transfira informao. Outro texto, de

    Armando Asti Vera (1976), menciona que nas cincias positivas, em especial

    as cincias fatuais, as fontes so os trabalhos de laboratrio, as observaes e

    os experimentos; nas disciplinas humansticas, como nas cincias formais

    (matemtica, fsica terica, lgica matemtica) so os livros, os artigos

    tcnicos, os documentos de arquivos e, em outros casos (Psicologia Social,

    Sociologia, Economia, etc.), tambm os resultados dos trabalhos de campo.

    A expresso fontes de informao adquire, pouco a pouco, maior

    relevncia a cada dia, sobretudo a partir dos anos 60 e do desenvolvimento da

    informtica aplicada Documentao.

    A fronteira entre fonte e documento no to demarcativa e profunda

    como indica o famoso tringulo da consolidao de Saracevic (1978),

    referindo-se s relaes entre informao, comunicao e cincia da

    computao. As fontes de informao no so iluses, no so conceitos

    abstratos. Ao contrrio, tem uma essncia material, so e devem ser

    perfeitamente observveis; em conseqncia so documentos. Alguns

    fenmenos como a inspirao ou a revelao podem considerar-se fontes,

    porm de conhecimento.

    A origem das fontes pode ser pessoal, institucional ou documental. As

    fontes pessoais so as pessoas que possuem conhecimentos destacveis

    sobre determinado assunto. Podem ser de carter individual ou coletivo e seus

    conhecimentos so graduados de acordo com a experincia profissional ou

    vivncias. As fontes de carter individual so as pessoas-fonte que garantiro a

  • 39

    autoridade acerca de determinado assunto, segundo seu grau de

    conhecimento e suas relaes profissionais. Pessoas-fonte so facilmente

    localizadas em diretrios, biografias, dicionrios biogrficos, sites da web,

    bancos de dados e ndices especializados.

    Por sua vez, as fontes de carter coletivo constituem-se em associaes

    profissionais, comunidades cientficas, sindicatos e outras agregaes de

    pessoas que tem como objetivo comum a troca de experincias e informaes.

    O acesso a essas pessoas se d em congressos e outros eventos.

    As fontes institucionais caracterizam-se por aquelas instituies que so

    o prprio objeto de interesse e fonte de informao sobre suas atividades e

    valores. O acesso a essas fontes d-se por meio de indivduos da prpria

    instituio ou por documentos, como relatrios, organogramas, catlogos e

    informes.

    E por fim, as fontes documentais so as fontes oriundas da investigao

    histrica e vinculadas Heurstica, conforme Carrizo Sainero, Irureta-Goyena

    Snchez e Quintana Senz (1994). So aquelas que buscam o levantamento

    de informaes para validar algum conhecimento por meio de um documento

    comprobatrio.

    Diferentemente das fontes bibliogrficas que contm informaes que se

    obtm de forma escrita, contida num documento que permite sua leitura de

    maneira lgica, completa e independente.

    A partir da informatizao da sociedade e do desenvolvimento das

    tecnologias de informao e comunicao, surge a internet com todo seu

    potencial de fonte.

    A internet, enquanto fonte de informao, apresenta um grande potencial

    que no se restringe ao nmero de conexes, nem tampouco s interaes

    proporcionadas por ela. Ela amplia a divulgao e o acesso, na maioria dos

    casos gratuitos, s informaes, reconfigurando a maneira como os usurios

    buscam e lidam com o conhecimento.

    Os usurios da internet buscam um nvel de interao que possibilite a

    comunicao, de forma multilateral, ou seja, de vrios atores para vrios

    atores, alastrando, na velocidade de um clique, informaes em diversos nveis

    e formatos (CARDOSO e SILVA, 2011).

  • 40

    A pesquisa realizada por Cardoso e Silva (2011) aponta que, quando

    perguntados sobre as principais alteraes trazidas pelas redes sociais em

    suas vidas, os estudantes universitrios consideram a aquisio de novas

    habilidades (29%) e a aquisio de novos conhecimentos (27%). As autoras

    afirmam que esses dados demonstram que as interaes online propiciam

    amplamente o acesso e o compartilhamento do contedo, dentro de uma rede

    de relacionamentos, no entanto, enfatizam que apenas 7% dos alunos

    responderam melhoria no desempenho profissional.

    A internet tambm permite o acesso fontes de informao

    automatizadas, as chamadas bases de dados, que possibilitam a pesquisa de

    modo interativo, atravs do computador.

    Na rea da sade, a base de dados mais utilizada a National Library of

    Medicine, responsvel pelo Medline, encontrado no endereo

    http://www.pubmed.gov . O Medline de domnio pblico e pode ser

    pesquisado na internet, a partir dos portais, pginas de peridicos e de

    servios. O MeSH, acrnimo de Medical Subject Headings, o vocabulrio

    usado para indexar artigos no Medline e no Index Medicus. As demais bases

    de dados (Capes, Scielo, SIBiNet-USP, BVS-Bireme, BioMed Central, Free

    Medical Journals, Ovid, Science Direct) apresentam caixas de dilogo

    interativas, com procedimentos semelhantes e podem ser acessadas a partir

    de portais da internet (BERNARDO, NOBRE e JATENE, 2004). A literatura

    cientfica publicada em revistas cientficas independentes, p.ex. peridicos

    internacionalmente reconhecidos, uma fonte de informao mais fidedigna,

    uma vez que h uma seleo mais cuidadosa e exigente, quanto qualidade

    dos artigos publicados. Esses peridicos encontram-se indexados e podem ser

    exemplificados, dentre outros, por British Medical Journal, New England

    Journal of Medicine, Lancet, Journal of the American Medical Association,

    American Journal of Health-System Pharmacy, Journal of the American

    Pharmaceutical Association (PEPE e CASTRO, 2000).

    Outras fontes de informao, na rea da sade, so: literatura publicada

    em revistas no indexadas, algumas delas financiadas pela indstria; fontes de

    informao de cunho formativo produzida em locais de graduao e ps-

    graduao, constitudos de material apostilado e resumido, distribudos e lidos

    durante a formao mdica; fontes de informao oficiais, produzidas por

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    organizaes internacionais, como a Organizao Mundial de Sade (OMS) e

    outras; fontes de informao produzidas pela indstria farmacutica, desde de

    prospectos at compilaes de bulas; livros-textos, contendo informaes mais

    gerais ou mais especficas, conforme o caso; informaes trocadas entre os

    profissionais, em reunies promovidas nos locais de trabalho, como centros de

    estudos, discusso de casos, congressos, reunies cientficas e cursos

    realizados nas sociedades ou associaes profissionais; farmacopias e

    outras.

    2.7 A EDUCAO EM CINCIAS

    A pesquisa educacional tem como um dos seus objetos de anlise o

    indivduo, tornando fundamental conhecer o estudante, o p