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Movimento ISSN: 0104-754X [email protected] Escola de Educação Física Brasil Detsch, Cíntia; Tarrago Candotti, Claudia A incidência de desvios posturais em meninas de 6 a 17 anos da cidade de Novo Hamburgo Movimento, vol. VII, núm. 15, 2001, pp. 43-56 Escola de Educação Física Rio Grande do Sul, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115318170005 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Movimento

ISSN: 0104-754X

[email protected]

Escola de Educação Física

Brasil

Detsch, Cíntia; Tarrago Candotti, Claudia

A incidência de desvios posturais em meninas de 6 a 17 anos da cidade de Novo Hamburgo

Movimento, vol. VII, núm. 15, 2001, pp. 43-56

Escola de Educação Física

Rio Grande do Sul, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115318170005

Como citar este artigo

Número completo

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Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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A incidência de desvios posturais emmeninas de 6 a 17 anos da cidade deNovo Hamburgo

Cíntia Detsche Claudia Tarrago Candotti

Resumo

O objetivo deste estudo foi verificar a incidên-

cia de desvios posturais em escolares. Foram

realizadas avaliações posturais estáticas,

goniométricas e medições das distancias

escapulares em meninas entre 6 e 17 anos de

idade (n=154). Os resultados indicaram que é

comum a ocorrência de desvios posturais, prin-

cipalmente a partir dos 10 anos, quando passa

a ocorrer também um percentual maior de

assimetrias entre as medidas do lado direito e

esquerdo da cintura escapular e pélvica. Anali-

sando as faixas etárias como um todo, os desvi-

os mais observados foram: anteriorizaçao da

coluna cervical (66,23%), protusão de ombros

(47,40%), abdução escapular (80,52%),

nipercifose dorsal (10,39%), hiperlordose lom-

bar (31,17%) e cifolordose (29,22%).

Unitermos: escolares, avaliação postural,

goniometria.

Abstract

The objective of this study was to identify theincidence of postural deformity in students.Assessments of static posture, goniometrics andscapular measurements were mada in girls from 6to 17 years old (n=154). The results indícate thatthe occurrence of postural deviation is common,specially from 10years old, when also starts tooccur i righer percentage of asymmetry betweenthe left and right sides of both the scapular andpelvic girths. The deformities most frequentlyobserved were: anteriorization of the cervicalspine

(66,23%), protrusion of the shoulders (47,40%),scapular abduction (80,52%), dorsal kyphosis(10,39%), lombar lordosis (31,17%) andkypholordosis (29,22%).

Introdução

A infância e a adolescência representam dois pe-ríodos da vida do ser humano em que ele se de-para com inúmeras descobertas a respeito domundo e a respeito de si próprio. Nestas fases ascrianças e os adolescentes passam por uma sériede alterações psicológicas, afetivas, sociais e físi-cas. Em relação às alterações físicas, assim comoexistem mudanças na estatura e no peso corpo-ral, existem também mudanças em relação à pos-tura do indivíduo, de acordo com as vivênciascorporais experimentadas por cada um, nas dife-rentes fases da vida.

Diversas são as definições de postura encontra-das na literatura, sendo que algumas salientamaspectos somáticos, enquanto outras salientamaspectos biomecânicos. Desse modo, entendemosque ao mesmo tempo em que a postura corporalé uma característica individual e depende da ima-gem que o próprio indivíduo faz do seu corpo, é

também um arranjo relativo das partes do corpona busca do equilíbrio (KNOPLICH, 1985,1986; KENDALL, McCREARY & PROVAN-CE, 1995). A postura é a posição que o corpoassume no espaço em função do equilíbrio dosquatro constituintes anatômicos da coluna ver-tebral: vértebras, discos, articulações e músculos.

A postura do ser humano sofreu grandes altera-

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ções iniciadas há milhares de anos. Segundo a evo-lução do Homo erectus, de acordo com a teoria deDarwin, o atual ser humano galgou etapas de evolu-ção que se iniciaram numa vida aérea, vivendo emárvores para, em um segundo estágio, passar a vi-ver no solo firme, em quatro apoios, e deste para aatual posição bípede. Porém, a coluna vertebralnão se adaptou perfeitamente a esta nova configu-ração no espaço. Somente às custas de algumasmodificações em sua estrutura original, que eraquase reta, este segmento corporal foi se acomo-dando à posição vertical. Isso foi conseguido com

a mudança de umacurvatura espinhal

simples para uma emforma de "s". A colunavertebral, se observada deperfil, apresenta quatrocurvas fisiológicas, quetêm por objetivo distribuiras forças que atuam sobreo corpo humano(ASHER, 1976; BLACK,1993).

Essas alterações ana-tômicas, já incorporadasà espécie e à colunavertebral, são novamentemodificados com a idade,hábitos, tipo de trabalho e

outros fatores (KNOPLICH, 1985). A evoluçãode cada ser humano, desde o períodoembrionário até a vida adulta, passa por fasesdistintas, influenciadas por um grande númerode fatores, desde os genéticos aos psicológicos,fisiológicos, experiências físico-motoras e víciosposturais, sendo que estes últimos podemcontribuir negativamente para a posição final dapostura do indivíduo, causando sériasperturbações da coluna vertebral (BLACK,1993).

E importante observar e identificar os desviosposturais acentuados ou persistentes no indiví-

duo em crescimento, bem como é importantereconhecer que não se espera que as crianças seconformem ao alinhamento padrão do adulto.Isso é válido por uma série de razões, mas, prin-cipalmente, pelo fato do indivíduo em desenvol-vimento exibir uma mobilidade e flexibilidademuito maiores que as do adulto (KENDALL,McCREARY & PROVANCE, 1995).

A maioria dos desvios posturais na criança emcrescimento são classificados como desvios dedesenvolvimento e, quando os padrões se tornamhabituais, podem resultar em defeitos posturais.O diagnóstico e tratamento precoces de doençasda coluna vertebral proporcionam melhores re-sultados no sentido da minimização dos efeitosdos desvios posturais (MURAHOVSCHI, 1998).Segundo KNOPLICH (1985, p. 7) "talvez umadas maneiras mais adequadas de diminuir a gran-de multidão de adultos sofredores de dorescrônicas da coluna vertebral, seja procurar fazeruma orientação preventivas nas crianças e ado-lescentes".

Desse modo, a realização de avaliações posturaise testes específicos de flexibilidade e de forçamuscular, bem como avaliações goniométricas,podem fornecer informações sobre as adapta-ções que cada criança está fazendo na sua pos-tura durante os anos escolares, em função de seucrescimento e desenvolvimento e de seushábitos cotidianos. Este tipo de informação écom certeza um valioso meio de prevenção defuturos desvios posturais.

Em função destas questões os objetivos deste es-tudo foram: (1) verificar a incidência de desviosposturais em meninas de 6 a 17 anos de idade e(2) verificar a correlação entre os resultados dasavaliações posturais estáticas e das avaliaçõesgoniométricas passivas, em relação à postura dacintura pélvica e escapular.

Nossas hipóteses foram: (Hl) meninas entre 6 e17 anos apresentam diferentes desvios posturaise (H2) existe correlação significativa entre a ava-

"Talvez uma dasmaneiras maisadequadas de

diminuir a grandemultidão de adultos

sofredores de dorescrônicas da coluna

vertebral, sejaprocurar fazer

uma orientaçãopreventivas

nas crianças eadolescentes"

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liação postural estática e a avaliação goniométricapassiva, quanto à avaliação escapular e pélvica.

Material e métodos

Amostra: Esta pesquisa foi descritiva do tipo diag-nóstico. A amostra do trabalho foi composta de154 alunas entre 6 e 17 anos de idade, todas estu-dantes da Instituição Evangélica de Novo Ham-burgo, selecionadas pelo processo de amostragemintencional. As alunas foram divididas em 6 gru-pos conforme a faixa etária (Tabela 1).

como, em anexo, uma autorização para a participaçãodas alunas neste estudo, o qual deveria ser assinadapelos responsáveis. As avaliações ocorreram naprópria Instituição, sendo que as alunas foramencaminhadas, duas a duas, para a sala da avaliação,vestidas adequadamente. Todas as avaliações foramrealizadas uma única vez, pela mesma avaliadora. Osdados foram preenchidos em fichas de avaliaçãoindividual.

Avaliação Postural Estática

Para a realização desta avaliação, a menina avaliadaficou em pé entre o posturógrafo e o fio de prumo, deperfil direito voltado para a avaliadora, com os pésafastados na mesma distância da largura do quadril, oolhar na horizontal e membros superiores soltos aolongo do corpo. O ponto exatamente em frente aomaléolo lateral direito foi alinhado com o fio deprumo (GENOT et al., 1989; KENDALL,McCREARY & PRO-VANCE, 1995). Na figura 1pode-se observar uma menina sendo avaliada noposturógrafo.

Procedimentos: Foram realizadas avaliações dapostura corporal através de: (1) avaliação posturalestática; (2) medição das simetrias escapulares eabdução escapular e (3) medição da obliqüidadesagital escapular e pélvica.

Foi encaminhado aos pais/responsáveis e àsalunas, um documento constando os objetivosdo estudo, os profissionais responsáveis pelainvestigação, o local, a data, a vesti-menta apropriada para a avalia-ção, a metodologia aplicada, bem

Figura 1 - Avaliação Postural Estática

utilizando Posturógrafo e Fio de Prumo

Para que os dados fossem coletados, observamosum intervalo de tempo de aproximadamente 15segundos para que as meninas pudessem relaxara musculatura e adotar sua postura padrão. Aseguir, os pontos de referência da menina foramcomparados com os pontos de

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referência padrão e a postura foi classificada emnormal, hipercifótica dorsal, hiperlordótica lom-bar ou cifolordótica.

Os pontos de referência padrão que serviram paraperfilar lateralmente a postura estática das alunasforam referidos por KENDALL, McCREARY &PROVANCE (1995) e correspondem à: (1)ponto em frente ao maléolo lateral; (2) articula-ção do quadril; (3) articulação do ombro e (4)meato auditivo externo.

Para a realização desta avaliação, foi necessárioassumir que a posição pélvica normal era aquelaque tracejasse a linha de fio de prumo exatamenteno ponto do corpo tido como referência padrãono alinhamento ideal. Desse modo, foi conside-rada anteversão pélvica a projeção da pelve parafrente da linha do fio de prumo, aumentando oângulo da curvatura lombar e retroversão pélvicaa projeção da pelve para trás do fio de prumo,diminuindo o ângulo da curvatura lombar.

Do mesmo modo, assumiu-se que o ombro nor-mal era aquele no qual o fio de prumo passasseno centro de sua articulação. Portanto, o ombrorodado era aquele que apresentasse uma rotaçãona sua articulação; protuso o ombro no qual suaarticulação passasse em frente ao fio de prumo eretraído o ombro no qual sua articulaçãopassasse atrás do fio de prumo. Por fim,assumiu-se que a postura da coluna cervical eranormal se o fio de prumo passasse no meatoauditivo externo; anteriorizada se o ponto dereferência passasse em frente ao fio de prumo eretraída se o ponto de referência passasse atrásdo fio de prumo.

Medição das SimetriasEscapulares e AbduçãoEscapular

Para a realização desta avaliação, foi utilizada umarégua acrílica de 50cm, com um nível acoplado(Figura 2).

Figura 2 - (a) Régua com Nível utilizada na

medição da abdução escapular e das

simetrias escapulares; (b) Goniómetro

utilizado na avaliação goniométrica das

obliqüidades sagitais escapulares e pélvicas

A menina era posicionada de pé, voltada de cos-tas para a avaliadora. Em seguida, com uma ca-neta, foram demarcados pequenos pontos nosprocessos espinhosos das vértebras torácicas T3,T4, T5, T6 e T7; pontos nos ângulos superiorese nos ângulos inferiores das escápulas direita eesquerda. A localização dos processos espinhososde T3 a T7 ocorreu a partir da localização doprocesso espinhoso da vértebra C7, consideradoo mais proeminente. Para isso, foi solicitado quea aluna flexionasse a coluna cervical para que oprocesso espinhoso sobressaísse. O processo es-pinhoso foi localizado através da palpação, e emseguida solicitou-se que a aluna voltasse à posi-ção de referência e a pele retomasse sua tensão derepouso (Dufour et al, 1989), para a avaliadoramarcar os demais processos espinhosos necessá-rios (na figura 3 pode-se observar a avaliadoralocalizando a vértebra C7).

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Partindo desta marcação, utilizou-se uma réguaplástica com um nível fixo à ela para verificar asdistâncias entre as bordas escapulares superioresesquerda e direita) e inferiores (esquerda e direi-ta) e seus processos espinhosos correspondentes,conforme pode ser observado na figura 4.

Para a coleta dos dados, foi convencionado que,se a distância entre os ângulos superiores dasescápulas e os processos espinhosos correspon-dentes fosse igual nos lados direito e esquerdo, asdistâncias seriam simétricas e se a distância entreos ângulos superiores das escápulas e os proces-sos espinhosos correspondentes não fosse igualnos lados direito e esquerdo, as distâncias seriamassimétricas. A mesma convenção foi utilizadapara os ângulos inferiores das escápulas.

Esta avaliação também permite verificar a pre-sença ou não de escápulas abduzidas. Utiliza-mos a convenção proposta por KENDALL,McCREARY & PROVANCE (1995) que afir-mam que um bom alinhamento as escápulas fi-cam planas contra a coluna superior, aproxima-damente entre a segunda e sétima vértebrastorácicas, e cerca de 10 cm afastadas (mais oumenos, dependendo do tamanho da pessoa). Emnosso estudo foi convencionado que se a dis-tância entre as escápulas fosse igual a lOcm, as

escápulas seriam normais e se esta distância fosseacima de 10 cm (10,1 cm ou mais), as escápulasestariam abduzidas.

Goniometria Passiva

Para esta avaliação, foram utilizados umgoniômetro e uma régua com nível para avaliaras obliqüidades sagitais escapulares e pélvicas (Fi-gura 2). O goniômetro usado era constituído deduas hastes móveis com um nível, tendo um eixocomum e um mostrador graduado em torno desseeixo. Este aparelho permite quantificar umaangulação articular e foi utilizado para a medi-ção das obliqüidades sagitais das escápulas e pelve(GÉNOT et al., 1989). Através da goniometriapassiva foi possível avaliar as obliqüidades sagitaisdas escápulas e da pelve.

a) Medição da Obliqüidade Sagital da Escápula

Para esta avaliação, foram localizados, através dométodo de palpação, e marcados com caneta, ospontos de referência citados por GÉNOT et al.(1989) que são: os bordos inferiores das escápulasdireita e esquerda e o centro da cabeça do úmerode ambos os lados (situado a cerca de dois dedosabaixo do meio da borda lateral do acrômio).

A menina, então, era posicionada em pé, de perfilpara a avaliadora. A examinadora colocava-se emfrente ao ombro da menina e uma auxiliar coloca-va-se atrás da estudante, segurando e nivelando arégua no bordo inferior da escápula correspondenteao lado da menina voltado para a avaliadora.

Para medir a obliqüidade sagital da escápula, aponta central do goniômetro foi colocada no cen-tro da cabeça do úmero. Uma haste do aparelhofoi mantida fixa enquanto a outra foi aberta atéencostar na régua segurada pelo auxiliar. Então aavaliadora realizava a leitura da medida angular(Figura 5).

A medição da obliqüidade sagital da escápula foirealizada em ambos os lados, para verificar a si-

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metria ou não entre os lados direito e esquerdo.Foi convencionado que, se os ângulos entre oslados direito e esquerdo fossem iguais, aobliqüidade sagital entre as escápulas seria simé-trica e caso os ângulos entre os lados fossem dife-rentes, a obliqüidade sagital seria assimétrica.

b) Medição da Obliqüidade Sagital da Pelve

Para esta avaliação, foram localizados, através dométodo de palpação, e marcados com caneta, asEspinhas Ilíacas Ântero-Superiores (E.I.A.S.) eas Espinhas Ilíacas Póstero-Inferiores (E.I.P.I.).

Para esta avaliação, a menina ficou posicionadaem pé, de perfil para a avaliadora, com os mem-bros inferiores estendidos e pés levemente afas-tados e paralelos, com o membro superior cor-respondente ao lado da avaliação flexionadojunto ao peito e o outro ao longo do corpo. Aexaminadora colocava-se ao lado da pelve damenina e um auxiliar colocava-se atrás da estu-dante, segurando e nivelando a régua sobre aE.I.P.I. correspondente ao lado da menina vol-tado para a avaliadora.

Para medir a obliqüidade sagital pélvica, ogoniômetro foi aberto em um ângulo de 180°, esua ponta central colocada sobre a lateral daE.I.A.S. Uma haste do aparelho foi mantida fixahorizontalmente enquanto a outra foi movimen-tada até encostar na régua segurada pelo auxiliar.Nesta posição a avaliadora realizava a leitura da

medida angular, conforme a Figura 6.

A medição da obliqüidade foi realizada em am-bos os lados, pois esta avaliação além de deter-minar a inclinação pélvica, objetiva verificar asimetria entre os lados. Em um bom equilíbriopélvico, a E.I.A.S e a E.I.P.I. encontram-se nomesmo plano horizontal, com tolerância de 1cm para anteversão na mulher, cuja bacia é lar-ga, e 1 cm de retroversão no homem, cuja baciaé alta. Para crianças de até 13 anos, não há tole-rância. Se a E.I.A.S for mais baixa que a E.I.P.I.,a cintura pélvica está em anteversão e a colunalombar está em lordose; se a E.I.A.S. for maisalta que a E.I.P.I., a cintura pélvica está emretroversão e a coluna lombar está em cifose(BIENFAIT, 1995).

Em nosso estudo foi convencionado que o valorangular considerado neutro era de 180°. A partirdesse valor, foram adicionados os graus deobliqüidade de pelve. Assim, entre 179 e 181°, oresultado foi classificado como a pelve em posi-ção normal; abaixo de 179° considerou-seretroversao e acima de 182° considerou-seanteversão (CANDOTTI, MARTINI & PINTO,1998). Em relação às simetrias, foiconvencionado que, se os ângulos entre os ladosdireito e esquerdo fossem iguais, a obliqüidadesagital de pelve seria simétrica e caso os ângulosentre os lados fossem diferentes, a obliqüidadepélvica seria assimétrica.

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Tratamento Estatístico

A análise estatística foi realizada utilizando-se osoftware SPSS 8.0 e os seguintes testes estatísticosforam utilizados: (1) qui-quadrado (x2) de inde-pendência: para verificar a relação entre as faixasetárias e posição da cervical, ombros, abduçãoescapular, coluna vertebral; simetria da distânciadas bordas superiores e inferiores das escápulas;simetria pélvica; relação entre obliqüidade sagitaldas escápulas e distância escapular inferior, (2)análise de variância: para verificar relação entre asfaixas etárias com a média de obliqüidade sagital¿a escapula direita; a média de obliqüidade sagitalda escápula esquerda; a média da obliqüidadepélvica direita e a média da obliqüidade pélvicaesquerda. O teste de Tukey foi utilizado para veri-ficar naquelas situações em que a Análise deVariância apontou diferença significativa, se os ele-mentos se diferem significamente de um grupopara outro e (3) análise de discriminante para ve-rificar a correlação entre os resultados obtidos en-tre a avaliação postural estática e a avaliaçãogoniométrica passiva, realizando uma análise deproporções de acertos. O nível de significânciaadotado foi de 0,05.

Apresentação e discussãodos resultados

Após a coleta de dados, procedeu-se com a análi-se dos resultados obtidos.

A relação entre as observações subjetivas da postu-la pelo posturógrafo e as faixas etárias foi analisa-da utilizando o teste x2 de independência, e os re-

sultados indicaram uma relação significativa entreas faixas etárias e a posição da cervical (p = 0,00).

O mesmo pode ser afirmado no que se refere àposição dos ombros (p = 0,028). A relação entre asfaixas etárias e a normalidade da coluna vertebraltambém foi significativa (p = 0,00). Na figura 7pode-se observar a incidência dos desvios posturais

relacionados com a coluna lombar e dorsal.

A análise de relação entre as medições es-capulares, com a régua acrílica, e as faixas etárias,utilizando o teste x2 de independência, permitiuverificar que existe relação significativa entre assimetrias das distâncias escapulares direita eesquerda e a faixa etária. A relação foi signi-ficativa tanto para as bordas superiores (p =0,003) como para as bordas inferiores dasescápulas (p = 0,002).

Figura 7 - Incidência (%) dos desvios da

coluna vertebral em cada faixa etária

A relação entre as simetrias das obliqüidadessagitais das escápulas, medidas através dogoniômetro, e as faixas etárias, utilizando o testex2 de independência foi significativa (p = 0,014).Assim como também foi significativa a relaçãoentre as simetrias das obliqüidades sagitais dapelve e as faixas etárias (p = 0,000) (Figura 8).

Figura 8 - Incidência (%) de simetrias e

assimetrias das obliqüidades sagitais

escapulares e pélvicas

Ao analisar se havia diferença entre as faixas etáriasem relação à média das obliqüidades sagitais dasescápulas e da pelve, através da análise de variânciaverificamos que não houve diferença significati-

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va entre as faixas etárias com relação à média daobliqüidade sagital da escapula direita (p =0,230), porém houve diferença significativa rela-cionado-se as faixas etárias com a média daobliqüidade sagital da escápula esquerda (p =0,008). Em relação às faixas etárias e a média daobliqüidade pélvica, percebemos uma diferençasignificativa, tanto para a média da obliqüidadedireita (p = 0,003) quanto para a média daobliqüidade esquerda (p = 0,003).

Ao se realizar a comparação entre grupos de fai-xas etárias para as médias das obliqüidades sagitaisescapulares e pélvicas, utilizando o teste deTukey,verificamos, no que se refere à média deobliqüidade sagital da escápula esquerda, que afaixa etária de 6 a 7 anos diferenciou-se significa-tivamente da faixa etária de 14 e 15 anos, en-quanto que as demais não apresentaram diferen-ça significativa entre elas. E no que se refere àmédia de obliqüidade sagital pélvica tanto direi-ta quanto esquerda, a faixa etária de 6 e 7 anosdiferenciou-se significativamente da faixa etáriade 10 a 17 anos, enquanto que as demais nãoapresentaram diferença significativa entre elas.

Os resultados das duas avaliações, postural está-tica e goniométrica passiva, em relação à cinturapélvica, apresentam 72,08% de acertos entre elas.Este resultado indica que há correlação entre asduas avaliações, ou seja, o resultado de uma ava-liação postural estática realizada no posturógrafotem satisfatória probabilidade de ser confirmadoem uma avaliação goniométrica passiva.

Análise por Faixa Etária

Os resultados percentuais da ocorrência dos des-vios foram subdivididos de acordo com as faixasetárias das meninas avaliadas (Tabela 2).

E de consenso que a postura do indivíduo e acoluna vertebral sofrem várias alterações no de-correr do crescimento do ser humano. A partirdo estudo realizado, verificamos que, de todas asmeninas avaliadas, 66,23% (n=102) apresenta-

ram cervical anteriorizada. Nossos resultados di-ferem dos de FERRONATTO, CANDOTTI &PINTO (1998) que observaram que a maioriados avaliados apresentou a coluna cervical emposição normal e vem ao encontro aos resultadosde WEIS & MÜLLER (1994b) nos quais umgrande percentual dos avaliados apresentaramcervical anteriorizada.

A partir do teste estatístico e análise dospercentuais realizados no presente estudo, verifi-camos que há maior probabilidade das meninasde 6 a 9 anos de idade apresentarem a cervicalem posição normal, enquanto que há maior pro-babilidade das meninas de 10 a 17 anos apresen-tarem a cervical em posição anteriorizada.

WEIS & MÜLLER (1994b) afirmam que o altoíndice de crianças com alterações na coluna cervicalindica que muitos alunos em idade escolar nãoapresentam uma postura adequada da cabeça du-rante as atividades, principalmente em sala de aula,o que provoca uma acentuada curva na regiãocervical, prejudicando o equilíbrio corporal.

No que se refere aos ombros, 74,68% (n=115)das meninas avaliadas possuíam os ombros comalgum desvio (protusão, rotação ou retração). Odesvio de maior incidência foi a protusão, pre-sente em 47,40% (n=73) das meninas. Algunsestudos (GONÇALVES et al, 1989; PINHO &DUARTE, 1995; FERRONATTO, CANDOTTI& PINTO, 1998) apresentaram resultadossemelhantes aos nosso, pois um grandepercentual dos seus avaliados apresentaramprotusão de ombros e houve um estudo (ROSANETO, 1991) em que o resultado diferiu donosso, pois apresentou um percentual muito bai-xo de avaliados com ombros protusos.

Segundo teste estatístico e análise de percentuais,observamos que há maior probabilidade das me-ninas de 6 a 9 anos apresentarem os ombros emposição normal, enquanto que há maior proba-bilidade das meninas de 10 a 17 anos apresentarombros em posição desviada.

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Em relação às escápulas, verificamos que em to-das as faixas etárias houve grande incidência deabdução escapular, sendo que no total 80,51%(n=124) das meninas apresentaram escápulasabduzidas. A maior incidência (acima de 80%)ocorreu nas faixas etárias de 8 e 9 anos, 10 e 11anos e na faixa de 16 e 17 anos. No estudo de

FERRONATTO, CANDOTTI & PINTO(1998) 100% dos avaliados apresentaramescápulas abduzidas. Em ambos os grupos opercentual foi bastante alto.

Segundo RASCH & BURKE (apud BRIGHETTI& BANKOFF, 1986) a abdução escapular comodefeito postural, resulta de um trabalho prolonga-

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do com os braços mantidos à frente do tronco.Quando se escreve ou se segura um livro em posi-ção para ler e em inúmeras outras ocupações, osbraços e os ombros se mantém para a frente, per-mitindo que a escápula se abduza.

Acreditamos que o alto índice de crianças comdesvios posturais (da coluna cervical, dos ombros

e das escápulas) a par-tir dos 10 anos estejarelacionado com asmudanças de hábitos devida. O que se observa nasescolas é que a partir da 5a

série do nívelfundamental, série escolarda maioria das crianças de10 anos, as criançasapresentam maior cargahorária escolar e maior

número de disciplinas, conseqüentemente,necessitam permanecer mais tempo sentadas nassalas de aula, carregar mais materiais nasmochilas e dedicar mais tempo aos temas decasa. E também um período em que a criançapermanece muito tempo em frente aocomputador e à TV (MORO, NASSER &FISCHER, 1999) e muitas crianças já começama apresentar uma vida mais sedentária que na pri-meira infância, pois a partir dos 10 anos já nãoparticipam mais tanto de brincadeiras de corri-das, de saltos. Adotando uma vida sedentária, acriança pode apresentar alterações no peso cor-poral (devido a um possível aumento no índicede gordura corporal), e pode perder aos poucos aforça e a flexibilidade muscular, fatores que sãoimportantes influenciadores da postura. Nestafaixa etária, também, a menina passa por váriasmudanças físicas, como o desenvolvimento dosquadris e dos seios. Dependendo da maneiracomo a menina encara este desenvolvimento,poderá adotar uma postura inadequada deprotusão de ombros ou assumindo uma posiçãode hipercifose torácica, na tentativa de esconderos seios. O problema é que esta postura, se não

corrigida, poderá persistir por toda a sua vida.

Em relação às simetrias entre as distânciasescapulares, 35,71% (n=55) das meninas avalia-das apresentaram assimetria entre as distânciasdireita e esquerda das bordas superiores dasescápulas. Em relação à simetria entre as bordasinferiores direita e esquerda das escápulas,40,91% (n=63) apresentaram assimetria entre asdistâncias. No que se refere à simetria entre asobliqüidades sagitais das escápulas direita e es-querda, 36,36% (n=56) apresentaram assimetriaentre as obliqüidades direita e esquerda. Utili-zando teste estatístico e análise dos percentuais,constatamos que há maior probabilidade dasmeninas de 6 a 9 anos apresentarem simetria dasbordas superiores e inferiores das escápulas eobliqüidades escapulares, enquanto que há maiorprobabilidade das meninas a partir dos 10 anos deapresentarem assimetrias.

Consideramos este resultado preocupante, pois,segundo LAPIERRE (1982), a assimetria entreas escápulas direita e esquerda normalmenteacompanha a escolióse, um desvio lateral da co-luna vertebral, que segundo BIENFAIT (1995) éuma afecção de crescimento e um grande pro-blema que atinge mais de 20% da população in-fantil. BIENFAIT (1995) salienta que é evidenteque nem todas as crianças que apresentam al-guma anomalia estática observada em uma ava-liação postural desenvolverão escolioses. De qual-quer forma, toda criança que apresenta anomali-as estáticas merece uma vigilância atenta.

Acreditamos que a grande incidência de meninas,a partir dos 10 anos, que apresentam assimetriaentre as medidas do lado direito e esquerdo, deve-se, além dos fatores hereditários, aos hábitos devida incorretos. À medida que a criança cresce, vaideixando de executar atividades e brincadeiras naqual ela sempre usou os dois lados do corpo e vaiadquirindo responsabilidades e afazeres sociais. Issofaz com que ela comece a utilizar mais um lado docorpo (lado predominante) para executar tarefasdo dia-a-dia: escrever, comer, apanhar e carregar

Em nosso estudo,verificamos que a

incidência demeninas com desvios

lombares foi maiorque a incidência de

meninas com desviosdorsais

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objetos. Além disso, muitas meninas também aca-bam adotando hábitos errados: costumam carre-gar bolsas ao invés de mochilas, o que faz com queadotem uma postura de flexão lateral da coluna;muitas estudam na cama, o que as obriga a deitarsempre no mesmo lado, afim liberar o braço e mãopredominantes para a escrita.

Em relação à coluna vertebral, apenas 29,22%(n=45) das meninas avaliadas apresentaram a co-luna vertebral sem nenhum desvio enquanto que70,78% (n=109) apresentaram alguma alteraçãopostural da coluna vertebral (hipercifose dorsal,hiperlordose lombar ou cifolordose). A partir dostestes estatísticos e análise de percentuais, obser-vamos que há maior probabilidade das meninasde 8 e 9 anos de idade apresentarem a coluna ver-tebral normal enquanto que as meninas de 10 a17 anos têm maior probabilidade de apresenta-rem coluna em posição fora da normalidade(hipercifose, hiperlordose ou cifo-lordose). O des-vio mais incidente foi a hiperlordose, verificadaem 31,17% (n=48) das meninas, seguida dacifolordose 29,22% (n=45). A hipercifose foi ob-servada em 10,38% (n=l6) das meninas. Estamaior incidência de hiperlordose nas meninas tam-bém foi verificada em vários outros estudos, comoo de RESENDE & SANCHES (1992) e o de PI-NHO & DUARTE (1995).

Para melhor avaliar os percentuais de meninascom desvios dorsais ou lombares e assim podercomparar os resultados deste estudo com outros,dividimos as meninas em dois grupos, de acordocom suas características posturais: hipercifose ouhiperlordose, uma vez que existem poucos estu-dos que avaliam a cifolordose. Assim, as meninascortadoras de cifolordose fizeram parte dos doisgrupos, pois apresentam características de am-bos os dois. Após o agrupamento, verificamos que39,61% (n=6l) das meninas apresentaramrúpercifose dorsal e 60,39% (n=93) apresentamhiperlordose lombar. Em relação à alteração nacoluna lombar, observamos que é um percentualbastante alto, superando inclusive o percentual

de meninas com desvios torácicos.

Outros estudos (BRIGHETTI & BANKOFF,1986; GONÇALVES et al., 1989; RESENDE &SANCHES, 1992; FERRONATTO, CAN-DOTTI & PINTO, 1998) apresentaram per-centuais semelhantes aos nosso, em relação àhipercifose dorsal. Os resultados dos estudos deROSA NETO (1991); WEIS & MÜLLER(1994b); PINHO & DUARTE (1995) apresen-taram um percentual muito baixo de avaliadoscom o desvio, sendo que para WEIS &MÜLLER (1994b) a posição cifótica encontradaem crianças em idadeescolar é devida a váriascausas, como classes ina-dequadas para todos osalunos, tentativa dasmeninas de esconderemos seios, e falta deconscientização dosalunos quanto à posturacorreta.

Em nosso estudo tambémobservamos que as alunasde 16 a 17 anos são asque apresentam a maiormédia de obliqüidadesagital da pelve direita(acima de 187 graus) e asalunas de 12 a 17 anos sãoas que apresentam a maiormédia de obliqüidade sagital da pelve esquerda(acima de 187 graus). Este resultado difere como estudo de ASHER (1976), que indica que naadolescência a inclinação pélvica tende adiminuir, porém confere com a afirmação deKENDALL, McCREARY & PROVANCE(1995) que relatam que por volta dos 9 anos deidade parece haver uma tendência para oaumento da lordose da coluna lombar. Uma vezque na adolescência a menina já apresenta umaconsiderável estabilidade postural e não

A partir de avaliaçõesposturais, osprofessores deEducação Física terãocondições de orientaralunos e demaisprofessores para aadoção de posturascorretas nasatividades do dia-a-dia, como medida deprevenção de possíveisdesvios e, casonecessário,encaminhar o aluno aum especialista

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necessita mais buscar o equilíbrio corporal atra-vés da protusão abdominal nem do aumento nainclinação pélvica, a hiperlorodose lombar nestafaixa etária não pode mais ser classificada comodesvio de desenvolvimento. Se trata mesmo deum desvio postural, ou defeito postural, comoclassificam KENDALL, McCREARY & PRO-VANCE (1995), que deve ser tratados, afim deevitar problemas mais sérios.

Outros estudos (RESENDE & SANCHES,1992; PINHO & DUARTE, 1995; CAN-DOTTI, MARTINI & PINTO 1998) tambémapresentaram um percentual alto de avaliadoscom hiperlordose lombar enquanto que alguns(GONÇALVES et al. 1989; ROSA NETO,1991) apresentaram um percentual mais baixode avaliados com o desvio lombar.

Em nosso estudo, verificamos que a incidênciade meninas com desvios lombares foi maior quea incidência de meninas com desvios dorsais.Procurar meios de tratar uma hiperlodose lombaré fundamental, uma vez que tal desvio podetrazer sérias conseqüências. Segundo KRAMER(apud BLACK, 1993) mais da metade dos pro-blemas na coluna vertebral encontram-se na re-gião lombar do corpo humano. A partir destesdados, verifica-se como é importante a meninamanter a curvatura lombar em posição corretadesde a infância, para que ela não se torne umamulher com problemas lombares.

Com base nos resultados encontrados no presenteestudo, aceitamos a hipótese experimental (Hl)que afirma que existe diferença nas curvaturasfisiológicas da coluna vertebral e assimetriasescapulares e pélvicas, entre meninas de diferen-tes faixas etárias e aceitamos a hipótese experi-mental (H2) que afirma que existe relação entrea avaliação postural estática no posturógrafo e aavaliação goniométrica passiva utilizando ogoniômetro, quanto à avaliação pélvica, pois en-controu-se relação entre as avaliações pélvicas.

GÉNOT et al. (1989) e BIENFAIT (1995) afir-

mam que os exames estáticos pélvicos através daanálise subjetiva da postura ou de medidas an-gulares da pelve demonstram as alterações doequilibrio pélvico, estando sempre esse equilíbrioassociado a alterações na coluna lombar,; umaanteversão com um postura lordótica e umaretroversão com uma postura cifótica, uma situ-ação equilibrando a outra.

CANDOTTI, MARTINI & PINTO (1998) ob-servam a importância da avaliação posturalpélvica e a necessidade de novas investigaçõessobre os desvios pélvicos e, principalmente, a ne-cessidade do uso de medidas angulares, capazesde oferecer resultados mais objetivos, que comple-mentam a avaliação postural estática.

KNOPLICH (1986) aponta que cerca de 80% dapopulação adulta tem probabilidade de apre-sentar problemas posturais e estes problemas sãoa segunda causa do afastamento de trabalhadoresdo serviço, perdendo apenas para doençascardiovasculares. Este é mais um motivo para ser-vir de alerta a todos, sobre a importância da pre-venção e tratamentos precoces dos desviosposturais: evitar que as crianças se tornem adul-tos portadores de problemas na coluna vertebral.

Em nosso estudo, observamos uma grande inci-dência de desvios posturais nas meninas entre 6e 17 anos, principalmente a partir dos 10 anos deidade. Estas faixas etárias correspondem aoperíodo escolar. Analisando a realidade escolar,verificamos que não é muito comum a prática daavaliação postural nestes estabelecimentos. E umfato preocupante, uma vez que tais avaliações sãode fundamental importância para a detecção pre-coce de possíveis alterações posturais, pois umaboa postura é fundamental para a saúde.

A partir de avaliações posturais, os professores deEducação Física terão condições de orientar alu-nos e demais professores para a adoção de postu-ras corretas nas atividades do dia-a-dia, como me-dida de prevenção de possíveis desvios e, caso ne-cessário, encaminhar o aluno a um especialista e,

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ao mesmo tempo, prescrever atividades coerentes,de acordo com a necessidade individual dos alu-nos. (WEIS & MÜLLER, 1994a, b). CANTÓ &JIMÉNEZ (1998) aconselham que a educação dapostura deve ser orientada de tal forma, que a cri-ança leve a sério todas aquelas mobilizações queoriginem a consciência proprioceptiva necessária.

A postura corporal adotada pelas crianças no dia-a-dia depende de seus hábitos de vida, das exigênciasdas atividades básicas impostas pela sociedade e dosequipamentos ou mobiliários que utilizam para tal.Estes fatores influenciam diretamente no seu futu-ro desenvolvimento como indivíduo. Através de umestudo realizado com 230 alunos da cidade deFlorianópolis - SC, com uma média de idade de 11anos, foi verificado que estas crianças permaneci-am, em média, 7,3 horas na posição sentada, sendoque desse tempo a maior ocorrência foi na escola(4,4 horas) e em casa assistindo TV Os autores tam-bém apontaram que 60% não praticavam esporteou atividade física. Chegando à conclusão que estascrianças possuíam um alto índice de sedentarismo,com hábitos posturais pouco saudáveis, reduzidaatividade física ou esportiva, agravado principalmen-te pela postura sentada, que induz comprometimen-tos a nível da coluna, podendo prejudicar assim ofuturo desenvolvimento físico (MORO, NASSER& FISCHER, 1999).

Diante destas constatações, acreditamos ser im-portante implantar nas escolas um programa deprevenção de desvios posturais, através de avalia-ções semestrais ou anuais de postura, tanto noplano sagital como no plano frontal. Além disso,os professores de Educação Física devem incluirnas suas aulas exercícios de fortalecimento e alon-gamento dos músculos relacionados com a pos-tura além de sempre alertar sobre a importânciada prática de exercícios físicos regulares e da ma-nutenção da boa postura, afim de evitar que estascrianças se tornem adultos sedentários e comdesvios posturais.

Conclusões

Os resultados deste estudo sugerem que a maio-ria dos desvios posturais observados nas meninasiniciam a partir dos 10 anos de idade, sendo queos desvios posturais mais observados foram:anteriorização da coluna cervical, protusão deombros, hipercifose torácica, hiperlordose lom-bar, cifolordose e abdução escapular. Os resulta-dos também demonstraram que existe 72,08% deacerto na correlação entre a avaliação posturalestática no posturógrafo e a avaliação gonio-métrica passiva da pelve. Uma vez que houve umagrande incidência de meninas com assimetriasentre as medições nos lados direito e esquerdo,seria interessante realizar uma avaliação posturalafim de detectar possíveis casos de escolióse e,juntamente, um estudo longitudinal para verifi-car a progressão dos desvios.

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Notas

Cíntia Detsch é Graduada em Educação Física pela

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

e especialista em Fisiología do Exercício pela ESEF/

UFRGS

Cláudia Tarragô Candotti é Mestre em Ciências do

Movimento Humano pela ESEF/UFRGS, professora

adjunta do curso de Educação Física da UNISINOS,

e doutoranda do programa de Pós-Graduação em

Ciências do Movimento da ESEF/UFRGS

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